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A Olimpíada do laissez-faire
Desde 1995, a Heritage Foundation e o Wall Street Journal publicam anualmente um Índice de Liberdade
Econômica, classificando os países de acordo com sua fidelidade aos preceitos do livre mercado e do livre
comércio.
O Índice de Liberdade classifica os países em uma escala de 1 a 5, de acordo com 50 critérios, que cobrem áreas
como políticas comerciais, impostos, regulação econômica, inflação e direitos de propriedade. Os autores do
relatório são surpreendentemente reticentes nessa questão, permitindo que o leitor conclua que as virtudes da
“liberdade” (com o significado de liberdade para fazer negócios, não liberdade face à vontade, obviamente) são
auto-evidentes. Eles dedicam meia página para argumentar que países que melhoraram sua classificação no índice
apresentam melhores taxas de crescimento econômico e uma página inteira para mostrar o quanto países mais
ricos têm classificações melhores.
Porém, como qualquer pessoa que frequentou um curso de estatística básica pelo menos uma semana sabe,
correlação não implica causalidade; é possível que o crescimento da riqueza faça com que o índice aumente, não o
contrário. Crescimento econômico atrai investimento estrangeiro, o que poderia aumentar automaticamente a
pontuação de um país no ranking. A expansão econômica também pode valorizar a moeda do país, ao passo que
sua retração pode ter o efeito oposto. Esses fatores também podem afetar comparações internacionais de
crescimento (se a moeda de um país se fortalece, seus números são apreciados ao convertê-los para a língua
franca de todas as comparações internacionais, o dólar estadunidense; se ela se enfraquece, o desempenho do
país aparenta estar pior. Uma vez que o mercado de câmbio oscila desproporcionalmente aos acontecimentos do
mundo real, o uso desses preços de mercado pode levar a conclusões enganosas). A corrupção diminui a
pontuação de um país, mas em tempos de fartura ela é percebida com mais dificuldade. A redução de impostos
aumenta a pontuação no índice de liberdade e pode estimular o crescimento de curto prazo, mas esse tipo de
estímulo normalmente é temporário. Despesas governamentais com fatores como seguro-desemprego podem se
elevar em tempos difíceis, diminuindo a pontuação (e vice-versa). Além disso — para não macular a integridade de
um bando de ideólogos de direita, é claro — sempre existe a chance do conhecimento sobre o desempenho
econômico de um país afetar a pontuação atribuída por um avaliador.
Um teste aprimorado
Um teste mais interessante que o da Heritage seria verificar como as pontuações dos países em um ano base se
correlacionam com o crescimento subsequente. Os planejamentos de investimentos e escolhas profissionais são
feitos com base em expectativas a respeito do futuro. Por sua vez, as expectativas são geradas principalmente por
condições do presente e do passado recente. Além disso, é raro que estruturas políticas, econômicas e sociais
mudem radicalmente em poucos anos. Portanto, assumindo que o índice significa alguma coisa, ele deve
influenciar o desempenho futuro.
Veremos como as pontuações de 1996 se correlacionam com o crescimento econômico nos anos subsequentes.
Também analisaremos mais detidamente a versão da Heritage/Wall Street Journal, nas mudanças na liberdade e
sua correlação com crescimento econômico.
(O índice original de 1995 contemplava apenas 101 países, deixando de fora países importantes como Nova
Zelândia e Países Baixos. Em 1996, a abrangência subiu para 139 países, e atualmente o índice totaliza 178).
Em vez de usar o PIB convertido em dólares, como às vezes é feito, é melhor desconsiderar as mudanças do
mercado de câmbio puro usando valores de paridade de poder de compra (PPC), que tentam expressar os
07/08/2017 O Índice de Liberdade Econômica da Heritage Foundation é confiável? A Olimpíada do laissez-faire
rendimentos em taxas de câmbio que correspondem ao poder de compra real (a Heritage poderia muito bem ter
usado PPC — é o ela faz neste gráfico — mas não especifica ao longo do texto qual foi a métrica utilizada). Não é
uma medida perfeita — existem muitas estimativas e culpabilidades envolvidas — mas ela se tornou padrão para
comparações econômicas internacionais.
Além disso, em vez de usar o PIB agregado, como faz o relatório, é mais esclarecedor usar valores per capita. Se a
economia de um país cresce tão rápido quanto sua população, esta última fica melhor materialmente. Obviamente,
o PIB per capita também é uma métrica bastante imperfeita. Ela simplesmente divide o valor monetário da
produção econômica de um país por sua população. Não diz como a renda e a riqueza são distribuídas, e muito
menos a real distribuição de bem-estar material. Mas a métrica de comparação ortodoxa é igualmente imperfeita, e
não inútil como guia para o bem-estar relativo através do tempo e do espaço. É sensato testar o índice de liberdade
econômica contra métricas ortodoxas, uma vez que ele emerge de fontes cujo único ranço com a ortodoxia atual é
que ele não é capitalista o suficiente.
Não surpreende o número de vezes que a expressão “insignificante” aparece neste texto. É muito divertido estar à
direita – você está livre da obrigação de fazer sentido.