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07/08/2017 Grande Depressão: quando a lógica do livre mercado quase destruiu o próprio Capitalismo

Grande Depressão: quando a lógica do livre mercado quase


destruiu o próprio Capitalismo
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23/03/2017

“Os pequenos proprietários não tardavam a mudar-se para as cidades, onde esgotavam o seu crédito, os seus
amigos, as suas relações. E depois eles também caíam nas estradas. E as estradas estavam cheias de homens
ávidos de trabalho, prontos para matar pelo trabalho (…) as companhias e os bancos trabalhavam para sua própria
ruína, mas não sabiam disso. Os campos estavam prenhes de frutas, mas nas estradas marchavam homens que
morriam de fome. Os celeiros repletos, mas as crianças pobres nasciam raquíticas. (…) As grandes companhias
não sabiam o quão tênue era a linha divisória entre a fome e a ira”.

Este relato pungente foi escrito em 1939 por John Steinbeck em seu romance célebre “As Vinhas da Ira”, um
vívido testemunho da desolação e agonia gerados pela Grande Depressão, também conhecida como a Crise de
1929.

Os mercados financeiros começaram afundar, a confiança despencou, as pessoas correram para sacar suas
economias nos bancos, o comércio internacional se esvaía, pânico generalizado, desemprego, fome, suicídios,
mortes. Muitas mortes. Nos Estados Unidos, 659 bancos faliram em 1929, 1352 em 1930, 2294 em 1931 [1]. De
1929 a 1931 a produção industrial dos EUA despencou 30%. A da Alemanha caiu 16% e a da França 15%. O
comércio global tombou em 60%. O PIB mundial caiu 15% [2]. O nível de desemprego dos EUA chegou a quase
30% em 1932, na Inglaterra a quase 25%, na Alemanha quase 45%. O desemprego servia para imprimir queda
nos salários pagos e impor condições de trabalho mais insalubres. O investimento privado interno bruto dos EUA
caiu de US$16,2 bilhões em 1929 para US$1,0 bilhão em 1932 [3]. As taxas salariais nos Estados Unidos caíram
30% entre 1929 e 1932, sem impedir o desemprego em massa, porque o nível de preços caiu um pouco mais,
dada a queda na demanda [4]. Deterioravam-se as coesões sociais. Imaginou-se ter chegado ao ocaso do
capitalismo. A tônica geral: os mercados estavam insanos.

Passou-se a ser considerado como “natural” os Estados atuarem para solucionar falhas de mercado,
descoordenações de mercado, para regular monopólios naturais, construir mercados para novos setores, etc. Uma
grande onda de nacionalizações tomou conta do panorama geral das economias no mundo [5].

Pode-se dizer que, com exceção óbvia das economias dos países pertencentes à URSS, hoje todas as economias
nacionais contam com participação do Estado bem maior do que antes de 1929 [6].

Também houve uma tentativa para arranjar uma estrutura institucional que pudesse recuperar a confiança na
sociedade, reforçar o que mais tarde passou a ser chamado como “coesão nacional” e reagir a pressões que
empurravam a economia em direção ao socialismo. Este foi o New Deal, arquitetado por economistas
institucionalistas.

Porém, esse conturbado período da história dos EUA, cuja gravidade quase comprometeu a existência do próprio
capitalismo, tornou-se alvo de inúmeros textos revisionistas produzidos por alguns grupos sectários. Da mesma
forma que criacionistas, que novos defensores da ideia da terra plana, dos que acreditam que as pirâmides
construídas por extraterrestres, dos negacionistas do Jesus histórico e outros possuem muitos seguidores, esse
grupo de revisionistas históricos busca convencer adeptos explicando da seguinte forma as causas da Grande
Depressão:

1) Os mercados foram vítimas do FED na crise de 1929, órgão recente criado pelo governo estadunidense que,
segundo esses revisionistas, foi criado equivocadamente e adotava práticas equivocadas, como uma suposta
excessiva emissão de dinheiro.

2) Havia um grupo “de esquerda” infiltrado no Partido Republicano, que confabulou para moldar uma situação na
qual pudessem justificar grandes investimentos públicos. Segundo essa perspetiva, essas lideranças republicanas
precipitaram a crise devido a um descontrole fiscal.
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3) Pouco antes houve a crise de 1921-1922, que só teria sido sanada pelo fato do FED e do governo federal terem
confiado nas medidas de auto-regulação do mercado.

Iremos aqui mostrar como tal apologia é improcedente, revelando as falácias embutidas em cada uma das
alegações e explicando os reais fatores da Crise que quase destruiu o capitalismo.

O que foi a crise de 1921 e como foi superada: a urgência da intervenção estatal como a
última esperança

Alemães protestando contra o Tratado de Versalhes (1919).

Após a 1ª Guerra Mundial, os Estados Unidos despontavam como os maiores exportadores de produtos agrícolas
e industriais; o dólar passou a ser a unidade de conta do comércio internacional e os EUA estavam com
estrondosos volumes de créditos para receber da Europa por ter financiado suas despesas da guerra. Desta
maneira os EUA conseguem grandes superávits da balança de pagamentos e acumulam vultosas quantidades de
reservas em ouro.

Houve um período crítico entre os anos de 1920 e 1921, quando o padrão monetário vigente, o Padrão Ouro,
dependia estritamente do equilíbrio de balança de pagamentos dos países dos principais bancos centrais de então:
Alemanha, Estados Unidos, França e Inglaterra.

O Tratado de Versalhes, assinado em 1919, impôs à Alemanha as indenizações dos custos da guerra da França,
da Inglaterra e outros aliados. Estes, por sua vez, saíram do conflito como grandes devedores dos Estados Unidos.
O país alemão atravessou uma crise de hiperinflação nunca vista em sua história, hiperinflação stricto sensu:
suspendem-se as transações de compra e venda entre comerciantes e industriais e o Marco fica sem valor. Tal
fenômeno contagiou, sob forma de inflação galopante, a Polônia e os países emergidos do esfacelamento do
Império Austro-Húngaro. A inflação passa a ser controlada em 1923, a partir da estabilização cambial propiciada
pela atuação do presidente do “Comitê de Pagamentos de Reparação”, Charles Dawes, com reestruturação e
alguns abonos parciais da dívida alemã, pelo que foi agraciado com o Nobel da Paz. A partir daí, dirimiu-se a
necessidade do tesouro alemão gerar extremos superávits em contas correntes para quitar juros da dívida e o
Marco pôde novamente se estabilizar ante ao dólar [7].

Pelo lado dos EUA, a atuação política-econômica de sua diplomacia, para equalização monetária internacional, se
deu no bojo da recuperação do “breve” período de recessão entre janeiro de 1920 a julho de 1921, quando, no
âmbito interno, trataram e superaram a recessão com as seguintes medidas:
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1) cortes da taxa de desconto [8] por parte do Federal Reserve (indo de 7% em janeiro de 1920 a 4% em junho de
1921);

2) triplicação do estoque de títulos do governo por parte do FED em operações de compra a mercado aberto;

3) concessão de crédito agrícola [9], estimulando assim o mercado internacional;

4) financiamento da exportação por parte da organização estatal War Finance Corporation em 1921;

5) financiamento de obras públicas por meio de um déficit limitado.

Porém, após 1926, conforme tais medidas eram cortadas, seus efeitos foram perdendo fôlego.

Esclarecendo as falácias sobre a inflação e política monetária

A partir da compreensão destes fatos podemos verificar que, ao contrário do que os defensores do Estado Minimo
preconizam, de 1920 até 1940 a inflação acumulada nos EUA estava em queda [10a].

Um dos argumentos dos revisionistas, como já dito


anteriormente, é que a atuação do FED criou inflação
devido a emissão descontrolada de moeda, o que seria
uma das causas da crise de 29. Porém, basta conferir
o histórico [10b] da inflação nos EUA de quando estourou
a crise de 1929 e como ela se comportou após, mesmo
com as atuações anticíclicas do governo, e perceba-
se não haver pressão inflacionaria do nível de preços; a
produção por trabalhador cresceu 43% entre 1922 e 1929
[11]:

Não havia, assim, superabundância de crédito devido ao Os nºs invalidam a apologética que diz que o FED inundava a
FED às vésperas do desabamento do preço das ações e economia imprimindo dinheiro

cadeia de falências. Nem havia processo inflacionário nos


EUA a despeito do crescente endividamento das famílias
para compra de bens de consumo duráveis, dado que se
acumulava reservas e liquidez internacional. O financiamento
do consumo das famílias, que realmente se elevava, não era
engrossado pelas instituições bancárias propriamente ditas,
mas por empresas de financiamento ao consumo, sem
regulação: em 1919, havia poucas empresas de
financiamento ao consumo, mas em 1925 havia cerca de
1.500 dessas instituições [12].

A realidade da política de crédito – para entender


o que os revisionistas não conseguem

Ao contrário então do que é pregado pelos partidários do


Estado Mínimo, o FED não “forçou” os juros pra baixo; ao invés, preocupado com a força da especulação, segurou
mais o crédito e subiu as taxas de juros já a partir de 1928, em vez de reduzir os juros e oferecer mais liquidez ao
sistema. O preço médio das ações dispara em 40% e a taxa de lucro dos bancos era super-favorável. Houve na
época de 1929 uma forte deflação da dívida privada, com posterior queda do consumo para amortecimento das
dívidas, e nisto, queda da confiança dos consumidores

No livro de Milton Friedman e Anna Schwartz sobre a história monetária dos Estados Unidos. Friedman
considera como ponto-chave para explicar a tardia, tímida e insegura atuação do Banco Central em intervir como
emprestador de última instância à morte de Benjamin Strong, conselheiro do FED, que se relacionava com o Banco
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da Inglaterra e fora um dos


formuladores do FED em
1907. Os autores pregam que
a recalcitrância da autoridade
monetária oficial em agir
como emprestadora de última
instância dinamizou a Grande
Depressão.

Com efeito, apesar da ampla


concordância acerca de que
parte do diagnóstico de
Schwartz e Friedman sobre a
crise esteja consistente,
quanto ao atraso da ação do
FED, hoje em termos gerais
sua tese foi superada devido
a ampliação da perspectiva Os preços caíram após a intervenção estatal na crise de 1920 e no período que abrangeu a Grande Depressão

sobre a criação e circulação


da moeda proporcionada por um conjunto de pesquisas de economistas. Demonstram que, nas economias de
mercado, a moeda é criada sobretudo por forças de caráter mercadológico, puxada pela demanda.

As autoridades monetárias não têm efetivamente domínio do conjunto de valores monetários circulantes, mas
podem trabalhar em cima do custo do dinheiro para amortecer pressões para amplas flutuações nas taxas de juros,
diminuindo a instabilidade. Essas pressões são impulsionadas, cumulativamente, nas ações das instituições
financeiras de emitirem empréstimos, registrarem a emissão em formas de ativos e colocarem na conta dos
tomadores como um passivo; esta lógica básica, que na prática se dá sob muitas formas que variam em
complexidade, reflete o processo de criação de unidades monetárias, criação de dinheiro[13].

Bolhas, caos no
mercado e
procedimentos
anticíclicos

Esta nova perspectiva aberta


pela pesquisa aparece no
cerne de uma das maiores
dificuldades que os adeptos
da apologia mercadista
possuem para entender
aquele processo histórico;
seus ideólogos não
conseguem investigar – nem
possuem ferramentas
apropriadas para tal em seu
aparato – forças motoras
subjacentes aos fenômenos
sistêmicos do mercado Os níveis de endividamento privado ilustram as bolhas formadas pelas forças do mercado

monetário. E isso implica que


algo deve se encaixar nas suas deduções a priori caso a realidade ainda possa fazer sentido para eles. Postulam
que o capital de investimento e a liquidez são derivados sobretudo do produto das decisões dos indivíduos de
poupar e não poupar. E nesta visão, tal se relacionaria com as taxas de juros vigentes, que se alteram de acordo
com o somatório das decisões. Logo, sempre as bolhas teriam de ser explicadas pela política de juros dum banco
central, porque não se poderiam formar (nessa tese) pelo saldo das decisões dos indivíduos que de um jeito ou de
outro se corrigiriam pelos sinais do cálculo econômico.
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Portanto não dão conta de se aperceberem que as instituições financeiras


criam valor monetário (não necessariamente em forma da moeda impressa),
antecipando e captando valor do futuro, com uma expectativa tacitamente
compartilhada de que será realizado com os negócios e, trazendo este valor
para o presente, lucrando com diferenciais de juros – entre futuro e presente –
que cobram de acordo com a expectativa da realização do próprio valor. E
conferindo substância a produtos derivados desta captação, com instrumentos
diversos para isso, a partir da expectativa da realização autorreplicante deste
valor que (virtualmente) deverá ser gerado, geram outros esquemas
financeiros multiplicadores. Como pirâmides.

Pois bem, recapitulando a conjuntura[14], com a subida das ações da Bolsa


nova-iorquina, os produtores reclamavam de escassez de crédito, que era
concentrado em compras de ações por parte dos banqueiros; essas ações por
sua vez serviam como instrumentos de garantia para fornecimento de
empréstimos e compras
de novas ações, um
esquema de pirâmide
típico de mercados
desregulamentados…

Em sete anos, de junho


de 1922 a junho de 1929,
as atividades
especulativas dos bancos
privados, em formas de
empréstimos,
aumentaram em mais de
46% (especialmente
imobiliários, que em si
aumentaram 108%)[15].

Comparem na tabela
abaixo a diferença das
A disparidade das tendências dos níveis da dívida privada com a inflação na véspera da crise
participações em
hipotecas da parte de
especulações privadas com as de fundos públicos:

% da participação de fundos públicos no mercado hipotecário.


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O excesso especulativo de
Wall Street nos anos 20 foi
financiado pela bolha da
dívida privada. Apesar do
efeito explosivo no
mercado de ações, este foi
um reflexo da Crise, mas a
força mais profunda esteve
no Mercado de obrigações.
Era neste mercado que as
empresas se financiavam
emitindo os títulos
denominados “obrigações”
em formas de empréstimos
com juros e vencimento
para o reembolso da
dívida. E a espiral era Mesmo com o boom do mercado e a crescente urbanização, a participação pública não chegou a metade e foi
alimentada com a compra estável de 27 a 29
destes títulos pelos bancos
que precificavam os juros
com analise de risco e retorno. O crash do mercado de títulos aconteceu em 1931-32, e ele destruiu muito mais
dinheiro do que o crash do mercado de ações de 1929.

O crash fatal de 1931-32 foi o do mercado de títulos, mostrado no gráfico a seguir [16]:

Houve a corrida bancária e


a desregulamentação
fizera com que o nível de
empréstimos estivesse
completamente
desvinculado de lastros. O
nível do valor dos
depósitos sangrava sob
efeito do próprio processo
multiplicador bancário da
moeda. Os empréstimos
caíram porque enfim os
bancos se mancaram da
necessidade de manter as
reservas excedentes, e o
FED interveio tardiamente
tentando justamente salvar
o padrão-ouro que fiava o
funcionamento da
circulação desregulada do
mercado de então – em
Taxas de obrigações emitidas – o mercado louco
condição de assincronia
dos Bancos Centrais das
principais economias, às expensas da economia interna. Mas a queda dos depósitos pelo efeito manada foi muito
maior do que a moeda em circulação.

Assim, o presidente republicano Herbert Hoover tentou equilibrar o orçamento com cortes públicos, e alimentou a
espiral deflacionária e recessiva – como mesmo o ultraliberal Hayek admitiu [17] mais tarde, o remédio assim tem
que ser investimentos públicos. O comércio internacional colapsava devido à queda das demandas internas devido
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às principais economias estarem primando pelo equilíbrio orçamentário. Isto implicou na queda da demanda
internacional. As pessoas ficaram à mercê da maré financeira liberal e os governos acuados.

Foi a insuficiência de gastos, não correspondendo à quantidade de bens e serviços que a economia demandava
produzir para manter o ritmo, que agravou a recessão. As primeiras medidas de Hoover até 1929 foram cortes
drásticos no orçamento para tentar equilibrá-lo em face do desaquecimento. O PIB dos EUA despencou 31,8%
entre 1929 e 1932, mas o governo incrementou no orçamento fiscal meros 0,3% [18]. A crise estoura em 1929; o
primeiro New Deal foi realizado em 1933 e o segundo em 1935. A “Teoria Geral do Juro, do Emprego e da Moeda”
de J.M. Keynes foi escrita em 1936.

Foi estabelecida a Corporação Financeira para a Reconstrução (RFC) em 1932, para a qual foi dada a autoridade
para conceder empréstimos aos bancos para estabilizar o setor financeiro. O congresso aprovou a Lei Glass-
Steagall em 1932, que criou o seguro federal de depósitos e aumentou a capacidade dos bancos de tomarem
empréstimos junto ao FED. Com a posse de Roosevelt em 1933, em março foram adotadas as medidas de
emergência que davam à RFC poderes extraordinários para estabilizar e reestruturar o setor financeiro mediante
oferta de capital e comprando ações preferenciais de bancos, separando também os bancos nas categorias de
bancos comerciais e de investimentos. Implementou-se uma regulação que impedia os comerciais de pagarem
juros a conta correntes. Só depois de todas estas medidas que ganharam impulso as medidas de planejamento
anticíclico e estímulo à demanda. Como comentado no início do texto, uma grande onda de estatizações vagou
pelo mundo, movida pela força dos acontecimentos, em governos de todo espectro, inclusive à direita.

Epílogo

Cada um dos três pilares da ideologia do “Estado Minimo + Mercado Desregulado” foi desconstruido, assim como a
totalidade da apologia quanto a sua isenção da culpa quanto a Grande Depressão. A cobiça egoísta, os moinhos
desenfreados do Mercado e as pás de seus poderosos agentes desencadearam um processo de terror.

A principio, o procedimento padrão foi usar a crise para precarizar mais a classe trabalhadora – algo recorrente. Em
2008, quando esta força novamente vinha à tona para dominar, trilhões de dólares do contribuinte foram
necessários para se evitar o mesmo. Outra vez, em consequência, forças de cunho fascista começaram a se
generalizar em escala global.

Em 1933 houve um complô de grupos financeiros e industriais, incluindo os grupos familiares mais
economicamente poderosos dos Estado Unidos, conspirando para depor e prender o presidente Roosevelt e
instaurar uma ditadura de cunho fascista controlada por estes grupos de negócios [19]. Tentaram cooptar
veteranos do Exército, tendo sido denunciados pelo major-general Semedley Darlington-Butler. O objetivo era
reverter as garantias aos trabalhadores e a liberdade sindical proporcionadas pelo New Deal, que visavam
restabelecer a coesão social e a convivência democrática entre as classes.
Não podemos deixar estes males tomarem conta da vida social humana novamente. Sessenta anos antes da
queda do muro de Berlim, a ideologia mercadista ruiu com a economia. E quase derruba os alicerces da sociedade.

Notas

[1] John Kenneth Gailbraith em “Moeda: de onde veio, para onde foi?”. Pioneira Editora, 1983, 2ª edição, pg.201[2]
New Economic Perspectives – Comparing Unemployment During the Great Depression and the Great
RecessionMeasuring Worth – What Was the U.S. GDP Then?MADSEN, Jakob B. – “Trade Barriers and the
Collapse of World Trade during the Great Depression”, Southern Economic Journal, Southern Economic Journal
(2001) pgs.848–868KRUGMAN, Paul – “Protectionism and the Great Depression“. Retrieved 2016-10-23.[3] N.
Gregory Mankiw e David Romer – eds. (1991) New Keynesian Economics, 2 volumes.Cambridge, MA: MIT Press[4]
Ranjit S. Dighe e Elizabeth Dunne Schmitt – “Did U.S. Wages Become Stickier between the World Wars?” (2010)
North American Journal of Economics and Finance 21(2):165‐181[5] Cambridge – The Rise and Fall of State-
Owned Enterprise in the Western World[6] Mesmo no período do auge mundial de privatizações, entre 1996 a
2000, a proporção de empresas sob controle estatal nos países ricos da OCDE não caiu significativamente, com
exceção de bens de capital, transportes e serviços de utilidade pública. E os governos mantiveram participações
em ações das empresas privatizadas:
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Pardue University – Government Control of Privatized Firms

[7] FRANCO, Gustavo – Origins and factors for hyperinflations (PDF)

[8] FRED Economic Data – Discount Rates, Federal Reserve Bank of New York for United States

[9] WRIGHT, Ivan – Bank credit and agriculture

[10 a b] Inflation Data – Cumulative Inflation since 1913

[11] The Balance – U.S. Inflation Rate by Year: 1929 – 2018


ARNDT, De W. “The Economic Lessons of the Nineteen-Thirties“. Londres: Oxford University Press, 1944. P.15

[12] Taylor and Francis – Consumer Credit and the Propensity to Consume: Evidence from 1930

[13] Banco da Inglaterra

http://www.bankofengland.co.uk/publications/Documents/quarterlybulletin/2014/qb14q102.pdf

Stephen W. Rousseas https://www.abebooks.com/servlet/BookDetailsPL?bi=21190452244


KEEN, Steve – The dynamics of the monetary circuit
WRAY, Randall – The Endogenous Money Approach
Randall Wray e Éric Tymoigne – Modern Money Theory 101: A Reply to Critics
MINSKY, P. Hyman – Estabilizando uma Economia Instável
TCHERNEVA, Pavlina R. – The Nature, Origins, and Role of Money: Broad and Specific Propositions and Their
Implications for Policy (PDF)

[14] AHAMED, Liaquat – Lords of Finance: The Bankers Who Broke the World

[15] Charles E. Persons, “Credit Expansion, 1920 to 1929, and its Lessons.” The Quarterly Journal of Economics
Vol. 45, No. 1 (November 1930): 94-130.

POPE, Ryan M. – Essays in Monetary Theory and Policy: On the Nature of Banking

[16] Peak Prosperity – Do Stock Markets Make Sustainability Impossible?

[17] Quanto à admissão de Hayek, mencionada acima, em palavras dele:

“Embora eu não considere a deflação como a causa original de um declínio na atividade empresarial, tal reação
tem inquestionavelmente a tendência de induzir um processo de deflação – para causar o que há mais de 40 anos
chamei de “deflação secundária” – o efeito que pode ser pior, e na década de 1930 certamente foi pior, do que o
que a causa original da reação tornou necessária, o qual não tem função de direção para executar. Devo confessar
que há quarenta anos eu argui diferentemente. Desde então alterei minha opinião – não sobre a explicação teórica
dos eventos, mas sobre a possibilidade prática de remover os obstáculos ao funcionamento do sistema de uma
maneira particular.” – na página 206 de “New Studies in Philosophy, Politics, Economics and the History of Ideas”.

Indo mais além, Hayek reconhece:

“Mesmo que haja muitas preocupações sobre a organização ad hoc de obras públicas durante uma depressão,
tudo clama a favor de se ter agências públicas durante uma depressão para executar quaisquer atividades de
investimento necessárias de serem realizadas em qualquer caso e pode possivelmente ser adiado até então. É o
momento dessas despesas que representa um problema, uma vez que os fundos são muitas vezes extremamente
difíceis de levantar em meio a uma grave depressão e a acumulação de reservas em tempos bons geralmente
enfrenta as objeções mencionadas acima. Há pouca dúvida de que, em épocas de desemprego geral, o Estado
deve intervir para mitigar as dificuldades reais, quer através do desembolso de uma compensação de desemprego,
quer, como em épocas anteriores, da legislação para ajudar os pobres.” – em “The Gold Problem”. S. Kresge (ed.),
The Collected Works of F. A. Hayek. Volume 5. Good Money, Part 1. The New World, Routledge, London. 169–185.

[18] BBC – Stephanie Flanders em Protectionism wasn’t the problem


07/08/2017 Grande Depressão: quando a lógica do livre mercado quase destruiu o próprio Capitalismo

C. Dow. Major. “Recessions: Britain and the World”, 1920-1995. Oxford University Press, 1998. p.137, 164, 182 e
192

[19] DELTON, Sally – The Plots Against the President

Kennedys and King – The Attempted Coup Against FDR

DELACENSERIE, Katie L. – Wall Street’s Search for a Man on a White Horse: The Plot to Overthrow Franklin
Delano Roosevelt

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