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Introdução
Para dar início à investigação, fez-se todo o levantamento das questões e propostas de
produção presentes na terceira parte de cada livro didático, intitulada Redação e
leitura.
Nota-se, no volume 1, o trabalho com os gêneros textuais, principalmente a tirinha de
jornal, o anúncio publicitário, as ilustrações (para o ensino da linguagem verbal
e não-verbal), os poemas, a charge, e os gêneros orais, como a discussão, o debate
e a apresentação. Dos dez capítulos existentes, vê-se a preeminência de tais
gêneros presentes nos capítulos 1, 2 e 5 do material; todos estes trabalhando com
gêneros orais (discussão e debate); ressalte-se que o quinto capítulo, além de
abordar a discussão, também apresenta a compreensão de resumo.
Já no capítulo 4 do mesmo exemplar, intitulado “As modalidades clássicas:
descrever, narrar, dissertar”, encontram-se os conceitos básicos da categoria de
produção textual, exemplos através de textos contemporâneos, literários, e até
um trecho de depoimento jornalístico, sem falar nas atividades e propostas de
produção. A abordagem de algumas atividades visa o ponto de vista do aluno, como
no excerto (1):
(1) Qual é a sua opinião sobre o texto lido? Você concorda com a
tese nele defendida? Por quais razões? Dê o seu ponto de
vista sobre o tema, por meio de um texto argumentativo de 15
linhas. Em seguida, leia-o para os colegas e ouça aqueles
produzidos por eles, de modo a:
Expor e defender seu ponto de vista;
Conhecer as posições alheias, a fim de reafirmar
e/ou rever suas opiniões, enriquecendo-as o
máximo possível;
E quanto a este texto? Qual a sua estrutura, o seu
tema e o ponto de vista que defende? (AMARAL et
al., 2013, p. 343).
(4)
2. Leia atentamente o texto e, em seguida, faça o que se pede. Pensar já é sustentar-se no vazio. É
como nadar ou equilibrar- se. É um exercício que deve ser aprendido. Uma prática a qual é
necessário iniciar-se por certo, mas sobretudo ser iniciado. Para pensar é preciso ter
aprendido a se sustentar no vazio. Em outras palavras, é preciso ter podido tomar apoio,
pelo menos uma vez, num outro que já se sustentava no vazio, um outro que tinha aprendido
isso de um outro ainda. É para isso que serve – vamos ter que dizer no imperfeito? – os mestres.
Fazer o aprendizado de pensar não é, portanto, muito simples. Trata-se não só de aprender,
mas também e sobretudo de aprender a aprender. Não só de conhecer o que foi aprendido,
mas de deixar o apoio no que foi aprendido do outro. Pois continuar a se apoiar não seria
realmente pensar, já que pensar é manter-se sem apoio. Ou, em todo caso, unicamente com a
memória do apoio. Logo, é preciso largar esse apoio e, a partir dali, manter-se. É isso pensar:
sustentar-se no vazio, enquanto a vida durar.
LEBRUN, Jen-Pierre. A perversão comum: viver junto sem o outro.Rio de Janeiro: Cia de Freud,
2008.
a) Identifique os trechos que correspondem ao
desenvolvimento e à conclusão, justificando sua resposta. Escreva uma introdução para esse
texto (AMARAL et al., 2013, p. 312).
Tal constatação sugere uma dificuldade, por parte do material didático, de estabelecer
a devida compreensão dos distanciamentos e aproximações entre
dissertação e argumentação, conforme explorado no referencial teórico desta
pesquisa. Embora a “argumentatividade” (KOCH, 2011) seja uma propriedade
inerente a todos os atos linguísticos, visto que nenhum deles é desprovido de
intenção e ideologia, a argumentação é um ato linguístico específico, de caráter
eminentemente cognitivo-discursivo (LEITÃO, 2011, p. 15) e, por isso, carece de um
tratamento didático particular, que vise desenvolver no aluno as competências e
habilidades que lhe permitam produzir um texto persuasivo com eficácia.
No processo de análise dos enunciados e das estruturas das questões
classificadas como relativas ao trabalho com a competência III (19,4%),
constatou-se, ainda, que a maior parte delas estava engajada em solicitar do aluno
ações do tipo “localizar”, “identificar”, “copiar” aspectos argumentativos
presentes nos textos envolvidos nessas questões. Tais ações alinham-se, ainda, a um
tipo de trabalho didático distanciado das perspectivas que preconizam os
documentos oficiais, centrados na tríade uso-reflexão-uso. Vejamos em (5).
(5)
2. Observe que, no terceiro parágrafo, a autora mantém as estratégias argumentativas
presentes no primeiro: o tom interrogativo e o uso de elementos descritivos.
a) Selecione dois trechos desse parágrafo que retomam o
sentido da expressão “circo midiático”, utilizada no
primeiro parágrafo para caracterizar o ambiente em que
ocorrem os desfiles de moda.
b) Que palavras são utilizadas para contrapor os “perfis
esguios, de longas pernas e ventres torneados” dos
modelos ao mundo das pessoas comuns? (AMARAL et al.,
2013, p. 320).
Considerações finais
Referências
AMARAL, Emília [et al.]. Novas Palavras: 1º ano. 2. Ed. São Paulo: FTD, 2013a.
AMARAL, Emília [et al.]. Novas Palavras: 2º ano. 2. Ed. São Paulo: FTD, 2013b.
AMARAL, Emília [et al.]. Novas Palavras: 3º ano. 2. Ed. São Paulo: FTD, 2013c.
AUSTIN, J. L. Howto do thingswithwords. Oxford: Clarendon Press, 1962.
BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares
Nacionais do Ensino Médio: Linguagens, códigos e suas tecnologias. Brasília: MEC/SEF, 1998.
BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto.PCN+ Ensino Médio: Orientações Educacionais
Complementares aos Parâmetros Curriculares Nacionais: Linguagens, códigos e suas tecnologias.
Brasília: MEC/SEMTEC, 2002.
BRASIL, Ministério da Educação. Instituto de Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira.Exame Nacional do Ensino
Médio 2014 – manual do candidato. Brasília: MEC/Inep, 2014.
BRASIL, Ministério da Educação. Instituto de Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira.Guia do Participante: A
redação no Enem 2014. Brasília: MEC, 2014.
KOCH, Ingedore G. Villaça. Argumentação e linguagem. 4 ed. São Paulo: Cortez Editora, 2011. LEITÃO, Selma. O
lugar da argumentação na construção do conhecimento em sala de aula. In: LEITÃO, Selma; DAMIANOVIC, Maria
Cristina (orgs.). Argumentação na escola: o conhecimento em construção. Campinas, SP: Pontes Editores, 2011.
pp. 13 – 46.
SEARLE, John. Expressão e significado: estudos da teoria dos atos de fala. (Tradução de Ana Cecília G. A. de
Camargo e Ana Luiza Marcondes Garcia). 2 ed. São Paulo: Martins Fontes, 2002.
PERELMAN, Chaïm; OLBRECHTS-TYTECA, Lucie. Tratado da argumentação: a nova retórica. (Tradução Maria
Ermantina de Almeida Prado Galvão). 2 ed. São Paulo: Martins Fontes, 2005.