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SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................ 4
11 BIBLIOGRAFIA ...................................................................................... 53
3
1 INTRODUÇÃO
Prezado aluno!
A Rede Futura de Ensino, esclarece que o material virtual é semelhante ao da
sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um aluno
se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma pergunta
, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é que esse
aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a resposta.
No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas poderão
ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em tempo hábil.
Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa
disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das
avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que
lhe convier para isso.
A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser
seguida e prazos definidos para as atividades.
Bons estudos!
4
2 FAMÍLIA PSICOSSOMÁTICA
Fonte: portaleducacao.com.br
Famílias psicossomáticas são famílias que dão uma ênfase excessiva nos
papéis de cuidado funcionando melhor quando alguém está doente (fisicamente).
Minuchin (1982) diz que famílias psicossomáticas são caracterizadas principalmente
pela falta de definições de limites, por fronteiras difusas e tendência a apoiar a
expressão somática dos conflitos.
No entanto a família é perfeita, sem problema, superprotetora, não percebe sua
disfunção, é difícil trabalhar, querem cooperar, não brigam, família ideal, porem as
famílias psicossomáticas apresentam uma vida de fantasia empobrecida, com maior
propensão ao raciocínio concreto, preocupação com o sucesso e disposição para falar
de sintomas corporais. A fantasia predominante nessas famílias é a de um corpo
único, portanto inseparável.
3 O SISTEMA FAMILIAR
6
Cada indivíduo do grupo familiar desempenha um determinado papel, com
funções distintas e bem definidas. O filho deve agir como criança no sistema parental
para que o pai possa agir como adulto. Qualquer alteração a estas regras pode
significar a disfuncionalidade da família como um todo.
O subsistema conjugal constitui a referência base de cada criança fruto da
relação, sendo a forma ideal de demonstrar o afeto, de demonstrar como se relacionar
com um parceiro sem dificuldades, e de como lidar com o conflito entre iguais, levando
à preparação de cada descendente para o mundo exterior, através da imposição e
transferência dos seus valores morais e afetivos.
7
Com o aparecimento de várias crianças na família rapidamente se constata a
existência de um terceiro subsistema entre os irmãos, designado de subsistema
fraternal, em que as crianças se apoiam mutuamente, divertem-se e atacam-se.
Com esta relação, conseguem desenvolver capacidades de cooperação e
competição, ao mesmo tempo que desenvolvem as capacidades de fazer amigos e
lidar com inimigos.
Em famílias com um único filho, este subsistema não existe, podendo por vezes
ser substituído por uma relação com um amigo ou outra criança. No entanto, a
inexistência deste subsistema pode explicar um conjunto de disfunções,
principalmente ao nível da criança, mas que afetam a família como um todo.
Por outro lado, a inexistência deste subsistema sobrecarrega o subsistema
parental com um conjunto de funcionalidades que não lhe são características e que
por vezes são antagónicas.
4 O LUGAR DO SUJEITO
9
Esses papéis fornecem um esquema útil para as ações sociais, porém reduzem
a flexibilidade e a capacidade da família em se posicionar de forma adequada diante
de situações inusitadas.
Por desempenhar papéis pré-estabelecidos as famílias demonstram sua
incapacidade de tolerar ambivalências ou padrões não estabelecidos miticamente,
elas dependem, para reafirmar o mito, de uma fixação de seus membros a seus
respectivos papéis.
O mais curioso e estranho de tudo isso, é que aceitamos realizar o papel que
nos é atribuído, como se fosse parte do nosso dever de vida, ainda que nos faça
sofrer.
Os “ mitos familiares” foram definidos por Antônio Ferreira (1971), como:
5 FAMÍLIA DISFUNCIONAL
10
Os modelos masculinos (pai), e feminino (mãe), são insuficientes para remeter
valores saudáveis e consistentes à criança. Modelos inconsistentes: quando pai ou
mãe são negligentes, passam mensagens contraditórias, são autoritários ou omissos,
ausentes ou superprotetores, agressivos, ou fazem uso abusivo de substancias
químicas.
Quando há falta de amor e respeito à criança que é dependente dos pais, e
estes sendo seus modelos primários, tendem a passar valores inadequados à
criança, impedindo assim, um desenvolvimento emocional saudável, sufocando e
determinando segundo estes valores deteriorados o que eles, os pais, consideram ser
o melhor para o filho.
Muitas vezes a criança se considera um estorvo e instala-se já neste período
um sentimento de culpa e inadequação, como se ela, a criança, fosse também um dos
responsáveis pela problemática familiar.
Uma família disfuncional é reconhecida quando um ou ambos os pais são
mentalmente desequilibrados, frustrados, carecendo de uma visão realista do mundo,
com autoimagem distorcida, imaturos, ou ainda, quando um ou ambos os pais são
dependentes químicos, ou compulsivos por trabalho, alimentos, compras, afetos,
sexo, etc.
Nas famílias disfuncionais os filhos crescem tendo raramente aprendido as
combinações de papéis que contribuem para moldar personalidades saudáveis,
condição que pode ser extrapolada para grupos.
Não tendo vivenciado estas combinações satisfatórias de papéis, necessitam
criar outros padrões que trazem alguma estabilidade em suas vidas.
O Modelo pernicioso da família disfuncional:
Tanto os modelos positivos ou negativos da família, são aprendidos através da
dinâmica no núcleo familiar, iniciado pelos avós, que passam para os pais e estes
para os seus filhos, dando origem ao padrão trigeracional a um funcionamento de três
gerações de uma família, gerando assim, um ciclo pernicioso de padrão
comportamental, passado de geração para geração.
11
Fonte: suliblet.wordpress.com
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Nas famílias cindidas os membros não conseguem se relacionar entre si,
encontram-se divididos, dispersos. Funcionam e se relacionam como se, ao ficarem
juntos, todos corressem riscos do ponto de vista emocional.
Assim, as pessoas não podem ter um relacionamento afetivo, são frias entre si.
A doença dessas famílias cindidas está na dificuldade de convívio. Os membros
percebem que ao conviverem entre si eles se machucam e se afetam negativamente
uns aos outros.
Já no extremo oposto, temos as famílias simbióticas, aquelas em que os
membros da família vivem num estado de fusão. Não há diferenciação entre os papéis
familiares, estes são confusos e não divididos. As pessoas sentem dificuldades em
viver independente dos outros membros da família, estão num estado de constante
grude.
Em ambos os casos, está-se falando de doenças familiares do ponto de vista
do desenvolvimento afetivo, relacional e de ordem psíquica, as disfunções de
relacionamento de papéis dentro das famílias podem afetar seus membros
psicologicamente, tanto no contexto individual, quanto no familiar.
As famílias estão doentes e podem eleger um dos membros para representar
a doença familiar. Este “paciente identificado” ou “bode expiatório “ familiar é quem irá
assumir ou representar toda doença da família.
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Além do caso já citado das psicoses e esquizofrenias, vale lembrar a situação
também bastante comum entre a família de dependentes químicos.
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“ A família tem geralmente identificado num membro a localização do
problema. (...) E espera que o terapeuta se concentre nesse indivíduo,
trabalhando para muda-lo.
Para o terapeuta da família, o paciente identificado é somente o portador
do sintoma; a causa do problema são as transações disfuncionais da
família; e o processo de cura envolverá a mudança destas transações
disfuncionais”. (Minuchin & Fishman).
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Fonte: cinematographe.it
Por ser o primeiro contato do indivíduo com o meio externo, a relação primal
tem um valor fundamental para o desenvolvimento da estrutura psíquica do indivíduo.
O ego para ser forte precisa ter passado por boas experiências com o materno a fim
de desenvolver um sentimento de confiança básica. O sentimento de valor próprio na
criança é decorrente da valorização e acolhimento fornecido pela mãe.
Isto porque nesta relação inicial a criança não discrimina eu-outro e a
percepção que terá sobre si mesma, e começa a ser desenhada pelo olhar e o desejo
dos pais, muitas vezes até mesmo antes do nascimento.
É justamente pela importância destas relações com as figuras parentais que
torna-se necessário que os pais estejam em contato com as próprias sombras, pois
caso contrário terão dificuldade em aceitar o lado escuro da criança e lidar com a
sombra dos filhos. (Sanford, 1988).
Muitas vezes as questões não resolvidas pelos pais são passadas
inconscientemente para os filhos.
E é neste contexto que pode se estabelecer a identificação com o material da
sombra familiar, que caracteriza a vivência de adultos identificados com o complexo
de bode expiatório.
16
apresentar um comportamento inaceitável e tornar-se um bode expiatório
para a projeção da sombra alheia. (Perera 1991, apud, Zweig & Abrams,
1994).
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6 A PSICODINÂMICA FAMILIAR
Segundo Dias, essas partes podem ser aspectos seus, que o indivíduo
considere tanto bons como ruins. Pela complementaridade, o outro recebe
tais projeções e se transforma em cúmplice da configuração, num processo
conivente de interação (num pacto inconsciente), (Dias 1990).
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dessa família (geralmente o mais susceptível) passa a se utilizar a dinâmica
familiar como forma de exteriorizá-lo. Sendo assim, por identificação projetiva
os conflitos que eram internos passam a ser vivenciados como externos e
relativos a algum outro membro da família, (Meyer 1987).
Toda essa interação acaba por produzir no núcleo familiar um “ objeto interno
compartilhado” elaborado a partir da percepção e diferenciação de um conjunto de
relacionamentos formados pelos “ intercâmbios familiares”. Esse objeto, formado pela
experiência de interação familiar, é denominado por Meyer de “familidade”.
Por sua vez, Soifer (1989) em linha de raciocínio semelhante, parte da hipótese
que a doença dos filhos obedece à impossibilidade dos pais em transmitir-lhes certa
aprendizagem psicológica por não terem podido, eles mesmos, incorporá-las
satisfatoriamente no momento histórico apropriado de suas vidas.
Bowen (1959) denomina projeção ao mecanismo predominante na relação
mãe-filho, através do qual se dá o aparecimento da esquizofrenia a mãe nega seus
próprios desejos de ser protegida e sentimento de impotência, projetando – os no filho
e percebendo-os dessa forma como uma pessoa desprotegida e desemparada.
Essa percepção da mãe é tida por parte da família e pelo próprio filho como
sendo realidade. O filho introjeta então as inadequações projetadas pela mãe, ficando
mais preocupado em responder as exigências materna do que em manifestar suas
próprias demandas. Bowen reconhece a semelhança desse dilema com a situação
familiar descrita por Bateson e seus colegas ao formularem o conceito de duplo
vínculo.
Esse conceito enfatiza então que, quando duas pessoas ou mais pessoas
interagem, elas constantemente reforçam e estimulam o que está sendo dito e feito,
de tal forma que o padrão da comunicação dos participantes define o relacionamento
entre eles.
Dentro dessa análise, a importância de uma mensagem não está vinculada
somente a uma questão de significado, mas à influência que ela exerce no
comportamento, nas atitudes das pessoas em interação. Padrões de comunicação
podem ser tão constantes que, quando ocorre qualquer mudança inesperada, existe
uma contradição trazendo-a de volta ao usual.
21
6.2 Tratar a família ou o individuo
23
A saúde depende como estamos nos relacionando com o objeto, se de formar
obsessiva, narcísica, persecutória, perversa, pois é no grupo que somos ameaçados,
afinal todo sujeito depende do outro, vive delírios psicóticos em menor ou maior grau.
É, pois a família, o centro estratégico para se compreender as tramas e
distúrbios emocionais bem como para intervir naquelas forças psíquicas das suas
reações que tem a ver com a saúde e a patologia.
Em outras palavras, o grupo familiar pode gerar ou desestruturar a saúde
mental tendo esse poder na medida em que influencia cada aspecto do
desenvolvimento humano e suas reações. Uma vez que a família funciona como
organismo vivo, sistemas e subsistemas, como ente social com redes concatenadas
de pessoas formando um ego grupal, e nada mais.
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evento primordial desta etapa do desenvolvimento: mudança. Mudar pode representar
a perda ou ameaça da segurança e proteção experimentadas somente dentro do
ambiente familiar.
O sintoma de recusa da alimentação pode ser entendido como uma forma de
o adolescente manter sua identidade infantil, visto que o papel de paciente fortalece
ainda mais seus laços de dependência com os pais, evitando, assim, uma separação
ativa da família (Onnis, 1994).
Neste sentido, segundo Abuchaim, Somenzi e Duchesne (1998), a anorexia
vem servir ou funcionar como uma espécie de padrão de contenção psicológica para
manter a homeostase adquirida, com o objetivo de preservar um estado psicológico
frágil. A natureza do transtorno visa à autopreservação, embora suas consequências
sejam auto- destrutivas.
Paradoxalmente, a negação de comer consiste em uma tentativa desesperada
de individuação, que se apresenta sob a forma de um "protesto mudo" e visa também
à introdução de conflitos em famílias que evitam qualquer situação que ameace o
status quo do sistema (Onnis, 1994).
Nesta mesma linha, a anorexia nervosa pode ser compreendida como uma
resposta à tensão social e ao temor à definição sexual gerada pelas mudanças físicas
da puberdade, o que conduz a uma evitação fóbica dos alimentos (Crisp, 1980).
Alguns traços de personalidade típicos de meninas anoréxicas são descritos
por Hercovici e Bay (1997), como grande necessidade de aprovação externa e falta
de respostas às necessidades internas, conformismo, perfeccionismo e
escrupulosidade.
Tais características correspondem a indivíduos com expectativas pessoais
elevadas e com extrema necessidade de agradar e satisfazer os desejos dos outros.
Segundo Falceto e colaboradores (1993), é característico que os pais considerem que
suas filhas sempre foram exemplares, estudantes-modelo, dóceis e colaboradoras até
a instalação da enfermidade.
Nunes e Ramos (1998) concordam com tais afirmações alegando que as
anoréxicas são vistas por suas famílias como ótimas filhas, meigas e obedientes.
Baseadas em sua experiência clínica, Fasolo e Diniz (1998) também percebem as
figuras parentais de adolescentes com anorexia como muito exigentes e possuidoras
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de altas expectativas em relação às filhas, esperando que sejam passivas, carinhosas
e que correspondam ao padrão estético vigente.
Os pais referem-se às meninas como inteligentes e bem-sucedidas, não
compreendendo como podem ter desenvolvido sintomas tão graves. Apresentam-se,
também, muito confusos e tomados por um sentimento de culpa e fracasso que os
paralisa, não permitindo que reajam frente à doença da filha.
Para Selvini Palazzoli, Cirillo, Selvini e Sorrentino, (1998), o sintoma anoréxico
só pode surgir da confluência de uma série de fatores, reagrupados em duas
categorias fundamentais: fatores específicos da cultura ocidental e modalidade
organizacional- evolutiva das interações na família. Nos países em que a comida é
abundante e até mesmo imposta existe, paradoxalmente, uma imposição da magreza
como ideal de beleza.
Em relação à modalidade interacional típica, os autores enfatizam um
subsistema parental confuso, com provocações mútuas contínuas, as quais
impossibilitam a solução dos problemas e nas quais a filha desde pequena é
envolvida. As exigências que cada uma das figuras parentais faz aos filhos são
opostas.
No subsistema conjugal, a configuração mais comum é a do marido passivo,
silencioso, que aceita tudo e aparenta ser incapaz de impedir os comportamentos
invasivos, irritantes e controladores da esposa. Menos frequente é o caso do pai
centralizador e autoritário.
Neste caso, a esposa assume o papel de se apresentar ou ser percebida como
vítima, mas uma vítima provocadora na medida em que protesta contra a cruz que
carrega e reivindica seus direitos de mulher, apelando para o marido os deveres de
um bom pai.
A partir de sua prática clínica, Selvini Palazzoli (1990) desenvolveu um modelo
sistêmico de tratamento, chamado de comunicacional, e agrupou algumas
características típicas de famílias anoréxicas:
Comunicação:
As famílias possuem uma boa capacidade de comunicação, de focalizar
a atenção e desenvolver temas complexos. Geralmente conseguem
expressar suas ideias tanto em nível verbal quanto não-verbal, mas a
dificuldade está em poder ouvir e aceitar as opiniões dos outros
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membros. Cada um quer impor as suas regras na relação, não havendo,
assim, uma sintonia comunicacional.
Liderança:
O sistema parental é confuso, devido à incapacidade dos pais em
assumir a liderança na família. Não existem normas e limites claros, pois
a mensagem que circula é de que os atos devem ser realizados em
consideração às exigências de um terceiro. Assim, o espaço para os
desejos individuais também fica muito reduzido.
Alianças:
As famílias anoréxicas apresentam alianças encobertas e negadas entre
seus membros. O maior problema reside no fato de que a filha
sintomática encontra-se triangulada com seus pais, satisfazendo
secretamente os desejos e carências de cada um em relação ao seu
cônjuge.
Subsistema parental:
Este parece ser o subsistema mais prejudicado e empobrecido em
termos afetivos e sexuais. Os pais possuem relacionamentos muito
insatisfatórios. A desilusão é mútua, mas a incapacidade de assumir os
conflitos e a necessidade de manter a aparência de um casal ideal
impede a promoção de mudanças significativas.
É interessante salientar que, apesar dessas trocas afetivas pobres nos
subsistemas parentais das famílias anoréxicas, um estudo conduzido por Martinez-
Gonzalez e colaboradores (2003) indica que qualquer status marital que não o de "pais
casados" é um fator de risco para o desenvolvimento de transtornos alimentares na
adolescência.
Outro modelo desenvolvido para a compreensão e tratamento da anorexia,
denominado "Sistêmico Estrutural", foi criado por Salvador Minuchin (1978). O autor
preocupa-se em compreender a história familiar pregressa e seu funcionamento atual,
com o objetivo de verificar a importância das interações disfuncionais na manutenção
dos sintomas.
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Neste modelo, as famílias anoréxicas são consideradas famílias
psicossomáticas, caracterizadas, fundamentalmente, pela falta de definições de
limites, por fronteiras difusas, tendência a apoiar a expressão somática dos conflitos
e tensões psicológicas como meio de proteger a lealdade e bem-estar familiar
(Minuchin, 1982).
Segundo o autor, sistemas familiares que apresentam como queixa uma
enfermidade psicossomática de um dos membros são caracterizados por uma ênfase
excessiva nos papéis de cuidado, funcionando melhor quando alguém está doente.
Esses sistemas são percebidos socialmente como uma família típica, muitas vezes
dando ideia de um funcionamento ideal (Minuchin & Fishman, 1984).
As características relacionais típicas dessas famílias psicossomáticas
estão descritas a seguir:
Famílias aglutinadas:
São aquelas cujos membros estão extremamente envolvidos uns com os
outros. Neste tipo de família, mudanças em um dos membros ou no relacionamento
entre dois deles repercutem em todo o sistema. Os diálogos tornam- se rapidamente
difusos, pela interrupção de um ou mais membros.
A um nível individual, a diferenciação interpessoal num sistema aglutinado é
extremamente pobre. O indivíduo perde-se no sistema. Os membros da família
intrometem – se nos sentimentos e pensamentos do outro, existe excessiva união e
partilha, o que leva à ausência de privacidade, os membros de uma família aglutinada
desenvolvem identidade grupal e possuem, portanto, uma percepção indiferenciada
do outro e de si mesmos. Sendo assim refere a extremas formas de proximidade e
intensidade nas interações familiares. Tem implicações em todos os níveis: indivíduo,
família e subsistemas.
Em uma família totalmente enredada, as mudanças em um membro ou entre
dois membros reverberam para os membros da família e pode bloquear a
comunicação de um terceiro com o todo da família. Os limites subsistêmicos em
famílias enredadas são pobremente diferenciados e frágeis.
O aglutinamento ou emaranhamento é representado por uma proximidade
interacional intensa entre os membros da família. As fronteiras são difusas e há um
empobrecimento das percepções de si mesmo e dos outros membros.
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A superproteção:
A superproteção das famílias psicossomáticas mostra – se no alto grau de
preocupação que estes têm com o bem-estar dos outros. Respostas estão sempre
sendo pedidas. Os membros da família são hipersentivos a sinais de tensão como
queixas e aproximações de perigosos níveis de tensões ou conflitos. As famílias
relacionada com a superproteção dos pais retarda o desenvolvimento das criança , a
autonomia , a competência e os interesses fora da família.
A criança, por sua vez, principalmente se ela é uma criança psicossomática,
sente grande responsabilidade em proteger a família. Para ela a experiência de
proteger a família, usando seus sintomas, pode ser um reforço maior para a sua
cabeça (tirania infantil). Sendo assim a superproteção refere-se a uma preocupação
exagerada com o bem-estar de todos os membros.
Á medida que interagem, as respostas de cuidado e proteção surgem
continuamente, interferindo assim, no desenvolvimento natural da autonomia e no
reconhecimento e expressão de outros interesses fora do ambiente familiar protetor.
As famílias rígidas:
As famílias rígidas são altamente comprometidas em manter o statu quo. Em
fases em que a mudança e o crescimento são necessários, elas experimentam
grandes dificuldades. Por exemplo, em fases em que uma criança ganha a
adolescência, sua família pode mudar seus papéis e regras transiocionais de um
modo tal que não permita uma autonomia apropriada á idade, embora ainda
preservando uma continuidade familiar.
Mais uma família de uma criança psicossomática doente insiste em reter os
métodos costumeiros de interação. Se a família não muda , há um acréscimo de
rigidez , tal sistema pode se tornar patológico , os membros do sistema não mais se
experimentam como apoiadores. Forma – se uma jaula , a exploração das alternativas
é diminuída e bloqueada.
Então a rigidez diz respeito a necessidade de manter o status quo e a harmonia
familiar estabelecida. Há uma grande resistência ás mudanças características da
adolescência. Permanece, então, o mesmo funcionamento de quando os filhos ainda
estavam na infância, o qual, com a chegada da puberdade, torna- se disfuncional.
Para este tipo de família, um filho doente pode servir como desculpa legítima para
permanência da união.
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As familías que tedem as mudanças (conflitos):
Assim tais como as trocas sobre autonomias individuais , não se permitem vir
á superfície, quando as mundanças estão sendo negociadas. Mesmo quando vêm á
terapia , essas famílias se dizem sempre sem problemas , a não ser pelo fato de
abrigar um membo enfermo.
Tais famílias são altamente vulneráveis a eventos externos , tais como
mudança ocupacional e a perda de um parente. Quase todos os eventos externos
podem sobrecarregar seus mecanismos de copying disfuncionais , provocando
doença.
A rigidez e a superproteção das famílias psicossomáticas , combinadas com as
constantes invasões mútuas características dos padrões de enredamento , tornam os
limiares de conflitos destas famílias muito baixos.
Usualmente um código religioso ou ético muito rudimentar é usado como uma
forma racional de evitar conflitos. Como um resultado , os problemas ficam não
resolvidos , tende a ameaçar sempre .
Baixa tolerância:
Outra característica é a baixa tolerância e a falta de resolução de conflitos,
resultantes do aglutinamento, superproteção e rigidez. A estrutura familiar é
extremamente inflexível na resolução de problemas. Não há possibilidade de
negociação, o que contribui para o surgimento de sintomas em membros mais
fragilizados.
Paciente identificado:
A participação do paciente identificado nos conflitos parentais é referente à
tendência de evitar os problemas através da formação de uma tríade com o filho
sintomático. A doença do adolescente funciona como reguladora e mantenedora do
funcionamento familiar (Minuchin, Rosman & Baker, 1978).
Contiamente ativando os circuitos de avoidance:
cada estrutura idiossincrática de uma família psicossomática funciona em
termos de evitar conflito.
Geralmente uma esposa é uma (avoider-evitar) , quando o não-avoider busca
áreas de diferenciação, o avoider consegue o desvio (detour-devedor) da
confrontação impedindo a discussão e reconhecimento da situação (ou a sua
solução).
31
Muitas famílias psicossomáticas negam a existência de tais problemas, elas
acham que não necessitam de discórdias e que são altamente investidas em
consenso e harmonia. Outras famílias psicossomáticas discordam abertamente , as
frequentes interrupções e temas individuais obscurecem qualquer assunto antes que
este possa aparecer.
os membros da família se mobilizam rapidamente para manter um limiar
manuseável de conflito, eles adquirem este controle através de posições divididas ou
manobras de distração. Se as famílias com crianças psicossomáticas doente evitam
ou diluem os temas , uma incapacidade para confrontar diferenças ou negociar uma
resolução é então característica de todas as famílias.
As famílias normais são capazes de discordar. Estas são as estruturas gerais
e características funcionais que identificamos como típicas destas famílias com uma
criança enferma.
Entretanto , enquanto elas são descritivas de um contexto familiar indutor de
estresse apara uma criança vulnerável , a indentificção destas características
sozinhas não nos move de uma explicação linear para uma sistêmica.
Foi a observação da circularidade do feedback que necessitou uma nova
ordem de explicação. Observando de um ponto de vista transacional , o sistema do
paciente adquire uma nova signficação como um fator regulador do sistema familiar.
Mais especificamente, torna – se aparente que o fator principal suportando o sintoma
familiar é o envolvimento da criança no conflito parental.
Este fator , então , é mais uma característica da família psicossomática. Dentro
do conterxto de uma família psicossomática a criança é envolvida nos conflitos
parentais de muitos modos.
Os pais são incapazes de lidar uns com outros em união para cuidar da doença
dos filhos, evitando conflitos por protetores detour-devedor.
Ou um conflito conjugal é transformado em parental , apesar do paciente e do
seu manjo. Em tais familías as crianças são recrutadas , tomando partidos pelos pais
ou se introduzem elas mesmas como mediadoras ou apoiadoras.
Há três padrões: triangulação , coalizão pai –filho e desvio:
Nos dois primeiros padrões , os pais estão francamente separados ou em
conflito e a criança só pode expressar – se tomando partido de um pai contra o outro.
32
Frases que impõem uma escolha são usadas com este fim. Na colizão pai – criança
ela tem uma ligação estável com um dos pais.
No terceiro padrão:
O desvio , a (díade-grupo de dois par), está ostensivamente unida. Os pais
submergem seus conflitos numa postura de proteger ou lamentar o filho doente , o
único problema da família. Em algumas famílias , os pais reivindicam que os filhos
digam que eles são bons e que se preocupam com as familías. Os pais, por vezes
vacilam entre o cuidar dos filhos e o fardo que estes representam , deixando de cuidar
de si mesmos.
Estes padrões não são classificações , são sequências transicionais , em
resposta a conflitos familiares. Tais sequências estão dentro dos métodos que uma
família usa para lidar com conflitos.
Todavia , as famílias normais , usam outros métodos de confrontação e
negociação. As famílias psicossomáticas usam sequências mal – adaptativas sempre.
Fasolo e Diniz (1998) conduziram um estudo com 11 famílias anoréxicas e
constataram que toda a amostra podia ser incluída na descrição de Minuchin de
famílias psicossomáticas. As famílias passavam a imagem de um convívio
harmonioso, não expressando agressividade e hostilidade.
As dificuldades de trazer os conflitos à tona, de reconhecer e resolver
problemas também estavam presentes. Kaplan (1992) concorda que os vínculos
familiares dos membros dessas famílias são emaranhados, embora elas se
apresentem como normais, bem organizadas e harmônicas.
Dois modelos distintos típicos das famílias anoréxicas:
33
Goldbloom e Garfinkel (1992) concordam que não é possível estabelecer um
padrão único de relacionamento nessas famílias, nem mesmo uma tipologia familiar
característica, mas sim um leque de fatores de risco que podem predispor o
desenvolvimento do transtorno.
Nunes e Ramos (1998) também acreditam na inexistência de uma família
tipicamente anoréxica, mas postulam que alguns padrões específicos de
relacionamento disfuncional podem ser identificados.
Fonseca, Ireland e Resnick (2002) diz que sobre as famílias com anorexias,
para os meninos, os fatores de risco para o desenvolvimento de transtornos
alimentares incluíram muita supervisão ou monitoramento parental e história de abuso
sexual. Já os fatores de proteção encontrados foram o reconhecimento de
expectativas parentais, presença materna e conexão com pares e adultos.
Para as meninas, o fator de risco significativo foi a ocorrência de abuso sexual
e os fatores considerados protetivos foram a conexão familiar, comunicação familiar
positiva, supervisão parental e presença materna.
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O membro da família amiúde com frequência têm uma conduta de insistir que
não há razões para a criança agir desse modo. Em alguns casos, eles podem oferecer
uma variedade de dados históricos, indicando acontecimentos externos à família
normal, feliz. O mais efetivo modo de mudar o sintoma é mudar os padrões que o
mantêm.
O “gol” da terapia não é mudar o indivíduo, mas o sistema familiar funcional
em que se podem encontrar as necessidades de todos os seus membros por
autonomia e suporte.
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A criação de limites sem limites e dramas ou rituais adjetivos são igualmente
relacionados a uma necessidade para elevar a “ intensidade” em famílias rígidas.
É importante para o terapeuta perceber que as palavras transmitem somente
como algo passageiro é como se fosse de curta duração para a família anorética.
A representação da matéria e o desenvolvimento de temas concretos e de
tarefas claramente diferenciadas são muito mais efetivos.
Para combater o enredamento, a superproteção, o conflito (avoidance, evitar)
e a rigidez, pede que um terapeuta seja capaz de trabalhar em momentos altamente
afetivos, que possa criar e estar confortável em momentos de intensidade dramática
e que possa manter sua intensidade sem ser “ arrancado” em sua “ ajuda”, por meio
disso, diluindo a intensidade.
A tarefa requer um terapeuta que possa se sentir confortável, aliando- se a um
membro da família contra o outro, sendo eticamente injusto terapeuticamente correto.
As matérias de ética e moralidade são importantes, mas elas devem diminuir, ou
prejudicar o processo de cura.
36
7.4 Mudando o enredamento
37
Essas operações são necessárias ao longo da terapia, os membros da família
são consistentemente alertados para o fato de que eles não podem dizer “nós” sem
primeiro checar um ao outro, não podem falar pelo outro, revelar a história de outro,
terminar a frase de alguém.
Com frequência o terapeuta pode rastrear o conteúdo da comunicação familiar
para encontrar uma metáfora que comunica a sua carência de diferenciação. Essa é
uma família em que não se pode fechar as portas.
Nessa família, todo mundo observa todo mundo. Essa é uma família sem sinais
de trânsito. ” Se o terapeuta for consistente, os membros da família tornar – se
autoconscientes de suas manobras intrusivas, e a separação torna – se marcada
como uma operação para a saúde.
O terapeuta deve encontrar meios de bloquear a intrusão e realçar o desejo
de ter claros limites, mas sem ficar envolvido no conteúdo, na situação.
O terapeuta deve dizer ao intruso:
“ Você perguntou se eles querem a sua participação?
Ele pode dizer à díade: Vocês pediram ajuda?
Ou ele pode ser mais específico: “ Isso é uma matéria que concerne a
seus pais, não a vocês. ”
Deixe as suas crianças trabalharem por elas mesmas. ” A criança necessita de
oportunidades para aprender a acomodar – se a posições quando ela tem pouco poder
e a atuar autonomamente em situações de mais poder.
O terapeuta diz que os sistemas sociais humanos e vivos já são em si
organizados hierarquicamente. Faz sentido para a criança aprender como negociar e
a acomodar em situações hierarquicamente inferiores.
7.5 Sintetizando
38
A síndrome foi incorporada em settings transacionais já existentes, mas o papel
da criança conduz a privilégios especiais dos quais ela não quer desistir. Entretanto,
a anorexia é desenvolvida por ambos os pais e a criança responde. Ela pode ser
altamente resistente ás tentativas do terapeuta de criar mudanças.
O terapeuta usa duas diferentes modalidades para aumentar a força dos limites
entre os pais e a criança. Algumas vezes ele usa sua autoridade dentro do sistema
terapêutico para bloquear as manobras intrusivas de pais e filhos e isso requer um
terapeuta que funcione como diretor, trabalhando a uma certa distância da família.
Em outras vezes, o terapeuta usa a si mesmo, num estilo próximo do que
caracteriza a família, afiliando e interagindo em coalizões contra alguns membros que
embalançam o sistema familiar.
No processo de proteção (proteger um membro da família triangular), o
terapeuta pode afiliar – se com ele muito estreitamente. Os trianguladores podem ser
desafiados, mas eles também devem ser apoiados.
O terapeuta tem que trabalhar com ambos os lados, afiliando – se
simultaneamente com todos os membros da família de tal modo que eles se sintam
respeitados, ouvidos e afirmados.
Essas famílias parecem inteiramente normais, família típica. Seus membros
são bons vizinhos. Não reclame com ninguém este tipo de família é distinguido pela
lealdade e proteção que prevalece nele, em suma, é a família ideal.
Um dos problemas com os quais o terapeuta tropeça nessas famílias é apenas
seu personagem agradável. Seus membros parecem ansiosos sobre responder o
terapeuta que pode acreditar que eles cooperam com ele, apenas sentindo-se
novamente desapontado pelos problemas que o opõem, bem como a facilidade com
que o absorvem nas dobras sua política de paz a qualquer preço.
39
Jaeger, Seminiotti e Falceto (2011) observou que os mecanismos de controle
estão sempre presentes nesses transtornos, e contaminam todos os membros da
família. Primeiramente há o controle dos pacientes sobre o seu próprio corpo, sobre
as calorias, alimentos e líquidos ingeridos, e o controle do seu peso através de
comportamentos purgativos e ou a realização excessiva de exercícios.
A partir de um momento os papéis se invertem, e eles passam a ser controlados
por esses comportamentos. O pensamento passa a ter características obsessivas e a
vida dos pacientes passa a girar em torno da conduta alimentar.
Hercovici e Bay (1997a) afirmam que a pessoa com transtorno alimentar não é
a única a sofrer as consequências. Quando descoberta, a anorexia nervosa se torna
a principal preocupação de toda a família.
A NA (Anorexia nervosa) depois de descoberta pela família, frente aos graves
sintomas decorrentes da inanição da jovem, desorganiza o sistema e determina um
superenvolvimento dos familiares, e os sentimentos de sofrimento aparecem. A BN
(Bulimia nervosa), normalmente demora mais para aparecer, pois é mais facilmente
escondida.
A paciente pode vomitar, ou adotar outros métodos para controle de peso por
muitos anos, sem que a família perceba, porque a doença não é visível, pois
geralmente as bulímicas tem peso normal. Portanto, é comum que os casos de BN
cheguem para tratamento anos após o seu início (Herzog, Hartmann, Andholz, &
Stammer, 1991).
O principal objetivo da terapia familiar é auxiliar os membros da família a
melhorarem o nível de diferenciação do eu. Geralmente os membros estão em fusão
uns com os outros, e por mais que digam que estão separados, as relações entre eles
estão emaranhadas.
Minuchin (1985) afirmou que as famílias das anoréxicas tem uma característica
predominante: estão embaraçadas a tal ponto em que as fronteiras são muito fracas
para proteger os indivíduos que fazem parte do sistema.
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O conceito de diferenciação do eu está relacionado com a maneira com a qual
o indivíduo vai se diferenciando emocionalmente de seus pais, esse processo
acontece na adolescência, pois é nessa época da vida em que os jovens se deparam
pela primeira vez com a chance de conquistar sua independência.
As sessões de terapia devem ocorrer de forma que os papéis dos membros do
sistema sejam bem definidos, desfazendo-se os emaranhados.
A função do terapeuta de família é ajudar a paciente e a família, facilitando a
transformação do sistema familiar. Segundo Minuchin (1982), esse processo tem três
passos essenciais: o terapeuta se une à família, ocupando uma posição de liderança;
ele descobre e avalia a estrutura familiar, e cria circunstâncias que permitirão a
transformação dessa estrutura. Facilitando a comunicação, a terapia se propõe a
possibilitar que o casal se depare com seus conflitos na tentativa de buscar
resoluções. Neste sentido, o terapeuta redefine as fronteiras, deixando claros os
papéis dos subsistemas conjugal e parental.
As mudanças são positivas para todos os membros da família, mas
principalmente para o paciente que pode ser liberado da triangulação com o casal.
Além disso, procura-se produzir alterações na estrutura de funcionamento familiar,
reforçando o exercício da função parental, validando a participação do pai e ajudando
a mãe a investir energia em si mesma e no casal, permitindo que a filha possa dirigir-
se no sentido de buscar autonomia.
A literatura existente a respeito dos TAs (Transtornos alimentares) é escassa
em relação ao papel do pai nestas famílias. Apesar disso, sabe-se que o pai costuma
exercer uma posição claramente passiva, ficando geralmente sobre a
responsabilidade da mãe as decisões familiares.
Mesmo que o pai esteja presente fisicamente, ele não costuma ter autonomia,
parece não exercer a função paterna. A relação com a filha costuma ser superficial,
pois o pai sendo uma figura apagada, não evidencia valor nas relações familiares
(Dorfman & Rossato, 2016).
Nodin e Leal (2005), citando Marcelli e Braconnier (1989) referem-se ao pai da
anoréxica como sendo um sujeito fraco, passivo e de estrutura obsessiva. Geralmente
permissivo, pouco interferindo nas decisões familiares.
Percebe-se que o pai tem sido citado como tendo dificuldade em exercer sua
função paterna, e se mantem à sombra da mãe. A mãe não permite a entrada do pai,
41
e este não se impõe para estabelecer corte necessário na simbiose mãe-filha,
processo importante para o início da vida adulta.
Estes aspectos do funcionamento familiar, nos quais estão implicados pai, mãe
e filho sintomático, devem necessariamente receber atenção específica no tratamento
dos TAs. Ou seja, é importante que dentro de uma abordagem multidisciplinar, a
terapia familiar seja incluída com o objetivo de ajudar a família a redefinir seus papéis
e funções, favorecendo assim a autonomia do familiar sintomático (Dorfman &
Rossato, 2016).
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Segundo Gimeno, esta transmissão ocorre principalmente através da família.
Os modelos familiares configuram-se praticamente em todas as culturas
como numa estrutura vital na transmissão da sabedoria popular. Cada família
tem os seus modelos familiares próprios, ao mesmo tempo que estabelece
limites entre o desejável e o proibido entre a norma e o desvio (Gimeno,
2001).
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Um outro aspecto de conflito na relação entre pais e filhos é ainda do foro
econômico e enfoca – se na forma como os idosos gerem o seu dinheiro e tomam as
suas decisões. Um outro aspecto não menos importante são as relações pais-filhos
afetadas pelas expectativas dispares.
Os pais esperam que os filhos os visitem mais e gostam de se sentir mais
próximos, mas os filhos têm a sua vida e centram – se mais na sua família
descendentes.
9.3 Conflitos
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As crises familiares são conflitos, mas com mais alta tensão, com maior impacto
na vida familiar e que dura um período de tempo relativamente superior ao do conflito,
podendo durar semanas ou meses.
Neste período a família desestabiliza-se e surge a necessidade de mudanças
e reestruturações profundas uma vez que os valores, as metas, as expectativas e
papéis são afetados: os existentes não servem são difíceis de harmonizar.
Reavivam – se conflitos passados, constata-se a disfuncionalidade e
insatisfação, enquanto se percebe a situação familiar como estando à deriva. Nos
períodos de crise, a angústia e a hostilidade podem ser elevadas e terem tendência
para distorcer o sistema.
Pittman (1990) diferencia quatro tipos principais de crises: desgraças
inesperadas, crises de desenvolvimentos; crises estruturais; crises de desamparo.
Malpique (1999) aponta que a ausência de pai é um fator patogénico que pode
levar a psicoses, neuroses, tentativas de suicídio, deficiências intelectuais.
A presença do pai ou de um substituto é o agente fundamental da
diferenciação, é a sua presença que abre para a criança o caminho à identidade
sexual, ou seja, à diferença. Balancho (2005) é da mesma opinião.
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Chouhy (2005) apresenta as conclusões de vários estudos sobre adolescentes
onde a figura paterna é presente ou ausente, referindo alguns dos aspectos relevantes
ao nível da personalidade e formação sociopsicológica.
Assim, o risco da interrupção dos estudos do ensino obrigatório é, para os filhos
de pais ausentes, cerca de duas vezes superior, em relação ao grupo de jovens em
que o pai está presente.
Refere ainda que a ausência do pai provoca problemas emocionais e de
conduta na criança, referindo que neste grupo a probabilidade de enfermidade mental
é superior, havendo maior dificuldade no controlo dos impulsos e uma maior
vulnerabilidade à pressão exercida pelos seus pares.
Para além disso, a prevalência de problemas com a lei é também superior.
Angel e Angel (1993) citado por Chouhy (2005), afirmam que a falta do pai constitui
um fator de risco para a saúde mental da criança.
A perda do pai por falecimento gera uma depressão e uma idealização do pai
perdido. Se for por uma separação, é mais conflitual e pode gerar uma imagem
negativa do pai, dependendo tudo da relação que o pai e a criança tinham
estabelecido e da imagem que a mãe oferece à criança após a separação.
A estrutura monoparental é um fator de risco para o desenvolvimento
psicológico da criança. Neste tipo de família existe um sentimento de desamparo e de
abandono (Malpique, 1999).
A mãe deprimida tem um papel muito difícil: por um lado não pode corresponder
ao apelo do amor dos filhos, mas por outro lado não suporta o seu afastamento e a
sua necessidade de autonomia fazendo com que o seu desenvolvimento psicológico
fique bloqueado.
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A depressão da mãe parece ser a nota dominante deste tipo de famílias, logo
são incapazes de mudança, pouco aptas a promover o desenvolvimento e saúde
mental dos filhos (Malpique, 1999).
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Esta triangulação constitui a chave de todas as relações humanas, uma vez
que, numa relação a dois é usual o aumento da angústia, e a consequente procura de
uma terceira pessoa para a confidência e libertação da pressão gerada (Relvas,
2003). O triângulo é a molécula base de qualquer sistema emotivo, e o sistema mais
pequeno das relações estáveis.
Minuchin e Fishman (2003) falam sobre o ninho vazio, que ocorre quando os
filhos crescem e saem de casa e a família tem de se reorganizar. A este período
chama-se de ninho vazio e normalmente vem associado à depressão da mulher.
Mas este período de perda pode tornar-se num período de grande
desenvolvimento se os cônjuges, como indivíduos e como casal, aproveitarem as
relações acumuladas, sonhos que agora podem atingir que até então não era
necessário por causa da educação dos filhos.
9.11 Segredo
Ausloos (2003) e Sampaio e Gameiro (2004) indicam que todas as famílias têm
as suas leis próprias e ela própria define aquilo que pode ou não ser feito ou dito.
Segundo este autor a culpabilidade que resulta da transgressão de uma dessas regras
que vai dar origem ao segredo. Os segredos e as regras que eles originam, contribuem
para manter a homeostasia da família e evitar as mudanças vividas como
ameaçadoras.
Segundo os mesmos autores, os segredos nos primeiros tempos podem ser
úteis, mas com o passar do tempo tornam-se prisões impedindo a evolução do sistema
familiar. Ele encerra-se em si próprio levando a um empobrecimento das suas
comunicações e uma rigidez progressiva das suas estruturas relacionais.
Gimeno (2001) diz que todas as famílias têm os seus mitos que trazem
felicidade à família, onde se misturam simultaneamente todas as heranças próprias
da família de origem e um número não conhecido de desejos não satisfeitos.
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Refere este autor que os mitos familiares pretendem encobrir as realidades
mais perturbadoras, daí que desmascarar o mito e construir um mapa familiar pode
muitas vezes ser uma tarefa muito dolorosa.
Seguem-se alguns exemplos de mitos potencialmente existentes numa família:
marido trair a mulher; conhecer o ódio entre irmãos. O desmantelar desde segredo e
a sua divulgação no seio da família, significa para a díade parental, assumir o fracasso
como pais.
9.12 Suicídio
9.13 Ciúme
Figueiredo (1985) diz que o homem sente humilhação quando a mulher que
lhe pertence é seduzida por outro o que pode ser compreendido a diversos níveis.
Um homem que fica sem a sua mulher revela a sua fraqueza, mas também o
homem que cede a sua mulher a outro, em particular a irmã ou a filha que lhe são
proibidas pelo tabu do incesto, pode também ter sentimentos de ciúme associados.
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10 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AUSLOOS, G. (2003). A competência das famílias, tempo, caos, processo (2ª ed.).
Coleção: Sistemas, Famílias e Terapias. Lisboa: Climepsi Editores.
FILHO, J. M.; BURD, M. Doença e família. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2010.
SAMPAIO D., & GAMEIRO J. (1998). Terapia familiar. (4ª ed.). Porto: Edições
Afrontamento.
SAMPAIO D., & GAMEIRO J. (2004). Terapia familiar (5ª ed.). Porto: Edições
Afrontamento
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11 BIBLIOGRAFIA
AMON, DENISE / Livro: Psicologia social da comida/ Denise Amon. Petrópolis, Rj:
Vozes,2014. (Coleção Psicologia Social) / Bibliografia: ISNB- 978-85-326-4734-
4/1.Hábitos alimentares – aspectos psicológicos 2. Psicologia social. I. Título. II.
Série.[ 13-14033/ CDD-150]
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