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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

ANÉZIO MARTINS SANTANA

A IMPORTÂNCIA DA LINGUAGEM CINEMATOGRÁFICA NA


EDUCAÇÃO CONTEMPORÂNEA

CUIABÁ
06/02/2014
ANÉZIO MARTINS SANTANA

A IMPORTÂNCIA DA LINGUAGEM CINEMATOGRÁFICA NA


EDUCAÇÃO CONTEMPORÂNEA

Projeto de Pesquisa apresentado ao


Programa de Pós-graduação em Educação
da Universidade Federal de Mato Grosso,
linha de pesquisa Cultura Escolares e
Linguagens, como avaliação parcial da
disciplina Seminário de Pesquisa em
Educação I, ministrada pelas professoras
Rute Cristina Domingos da Palma, Irene
Cristina de Mello e Tânia Maria Lima.
Orientador: Evando Carlos Moreira

Cuiabá
06/02/2014
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .............................................................................................................................
JUSTIFICATIVA..........................................................................................................................
PROBLEMATIZAÇÃO ...............................................................................................................
HIPÓTESES ....................................................................................................................................
OBJETIVOS ..................................................................................................................................
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ...............................................................................................
METODOLOGIA .........................................................................................................................
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................................
INTRODUÇÃO

A necessidade de preparar-se para uma inserção plena na sociedade, a fim de


conquistar espaços estabelecidos, como trabalho e continuidade nos estudos através do
concurso vestibular, perpassa, nos dias atuais, por aquisições cognitivas dinâmicas
como os conhecimentos relacionados ao universo das artes, bem como, a Linguagem
cinematográfica. Porém a simples conclusão da etapa reservada ao Ensino Médio não
deve ser confundido com competência para domínio desses saberes.
Em termos de qualidade de ensino formal na escola, principalmente no que
tange ao sistema de educação pública, sabemos que, ou por falta de condições físicas e
materiais, ou por ausência de recursos humanos especializados para se estabelecer
informações e princípios próprios do universo artístico, tecnológico e visual da nossa
era, pouco se avança nesses conhecimentos.
A proposta da presente pesquisa é verificar a possibilidade de inserção da
Linguagem Cinematográfica como conteúdo curricular na etapa de nível médio da
formação humana, observando o processo histórico de evolução e construção das
linguagens e os indicadores do Ministério da Educação para novos projetos
educacionais.
Os referenciais para fundamentação deste trabalho amparam-se nos princípios
dos estudos relacionados às linguagens e os conceitos relevantes da linguagem
cinematográfica. Também será refletido o poder simbólico e as questões levantadas por
Bourdieu, em que mostrará, mediante o uso e domínio da linguagem, marcas simbólicas
que consistem na estabilização da linguagem desde os primeiros registros em cavernas,
como símbolos revestidos de poder. Segundo o pensamento defendido pelo autor, só
sobreviverão os que conseguem interagir a partir do domínio da linguagem simbólica.
Considerando que a linguagem imagética faculta o rompimento de possíveis
fronteiras, simbólicas e geográficas, observaremos que a Semiótica é ferramenta
indispensável para se pensar conceitualmente a Linguagem Cinematográfica, portanto,
esta pesquisa à terá como âncora fundamental para sua base teórica.

JUSTIFICATIVA

Entende-se como Linguagem Cinematográfica o conjunto de planos, ângulos,


movimentos de câmera e recursos de montagem, somados à luz e as trilhas sonoras e o
silêncio, que compõem o universo de um filme, fundamental à comunicação através de
imagens.
Para a construção e transmissão de uma determinada ideia, em qualquer que
seja a língua, necessita-se certo conhecimento estrutural da linguagem a que se está
utilizando: à escrita se faz necessário a compreensão dos verbos, dos substantivos, dos
adjetivos, dos advérbios e todas as especificidades gramaticais para que a ideia seja
transmitida de forma clara ao leitor; à oralidade importa as peculiaridades da narrativa,
que por sua vez, tem maior compromisso com a semiologia das palavras, superando as
limitações gramaticais. Vejamos, por exemplo, a literatura de cordel, intrinsecamente
oral e totalmente liberta das limitações formais da gramática. Quanto à Linguagem
Cinematográfica não é diferente, para se comunicar através desta linguagem, também é
necessário um determinado conhecimento prévio de seus mecanismos, passivo de se
aprender e ser ensinado em ambiente escolar, assim como o ensino de qualquer língua
ou disciplinas do desenvolvimento da sapiência.
Considerando que o universo contemporâneo, no qual estamos inseridos, é
dinâmico virtual, entendemos que a Linguagem Cinematográfica possibilita interação
universal e, portanto, poderosíssimo instrumento de poder, caracterizado em nossa
contemporaneidade. Desse prisma, há que se considerar que uma escola1 de formação
humana que pretenda cumprir com a função de instrumentalizar o cidadão
contemporâneo para a vida prática e não inclui a linguagem cinematográfica no seu
currículo pedagógico, não estaria cumprindo plenamente seu propósito.
A motivação que nos impulsionou ao exercício do pensamento em tal
possibilidade de estudo, partiu de inquietação surgida quando da participação no projeto
de pesquisa Tic-Proj (Formação continuada de professores para integração das
Tecnologias da Informação e da Comunicação aliada à Metodologia de Projetos), que
estudava a utilização do cinema como ferramenta metodológica, desenvolvido na Escola
Paulo Freire da Rede Pública de Ensino Fundamental e Médio na cidade de Sinop, MT.
Neste projeto verificou-se a necessidade de se trabalhar os conceitos de
Linguagem Cinematográfica, com os alunos envolvidos na pesquisa. Portanto, faz-se
necessário discutir a importância de se incluir este conhecimento como disciplina de
Ensino Fundamental e Médio.

1
Entenda-se escola como sistema educacional e não como unidade escolar
Pensar em educação de qualidade é pensar em manter-se atualizado, o que
confere relevância às políticas de formação continuada para os professores que atuam na
área de Linguagens. Portanto, a importância do estudo em questão, também se estende à
formação do estudante/pesquisador que, oriundo do curso de Letras, deve entrar em
contato com a dinamicidade peculiar ao universo das linguagens, em que atuará,
enquanto profissional da Educação.

PROBLEMATIZAÇÃO

A partir da participação em projeto de pesquisa que visava atividades através


de projetos relacionados com a Tecnologia da Informação, durante a graduação,
surgiram perguntas como:
Existe a possibilidade de se inserir a Linguagem Cinematográfica como
conteúdo inerente ao ensino formal em nível Fundamental e Médio? Como poderia ser
incluído esse conhecimento no âmbito escolar?

Hipóteses

São hipóteses de pesquisa:


a) É possível que para além das possibilidades de aprendizagem e domínio das
questões técnicas para a comunicação através da Linguagem Cinematográfica, os alunos
vejam nessa nova realidade, mais palpável pelo fato de a televisão fazer parte tão
intensamente da vida de nossos jovens, um novo interesse para se envolverem com os
demais conteúdos ensinados nas escolas, o que seria um ganho enorme, pois sabemos
que comprometer os estudantes com a aprendizagem tem sido uma problemática
indissociável e constante no universo da educação.
b) É possível que se perceba a existência da necessidade de capacitação de
profissionais para atuarem com conteúdos inerentes a Linguagem Cinematográfica.
Sabemos que para se desenvolver uma determinada atividade de ensino é preciso, antes,
disponibilidade de recursos humanos especializados para desenvolvê-la com
propriedade.

OBJETIVOS
GERAL: Fomentar um pensamento que discuta a possibilidade de inserção da
Linguagem Cinematográfica como conteúdo educacional disponível e acessível.
Observamos que a socialização de todo e qualquer conhecimento deve ser feito de
forma concreta, através da atuação na escola de Ensino Fundamental e Médio, para
que seu uso seja objetivo e natural na vida do cidadão adulto. No caso do
audiovisual, ou seja, a Linguagem Cinematográfica, trata-se de conhecimento
importante à realidade contemporânea.
ESPECÍFICOS: a) conhecer as políticas curriculares do Ministério da Educação, no
que diz respeito ao ensino aprendizagem das linguagens, no Ensino Fundamental e
Médio, para verificar se existe oferta, ou aberturas às novas formas de linguagens
artísticas como programa de ensino. b) Verificar a possibilidade concreta de
proporcionar o conhecimento das técnicas de Linguagem Cinematográfica aos
estudantes de Ensino Fundamental e Médio.

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

A Linguagem: um breve relato

Pode-se dizer que a linguagem é a abstração mais pura que a natureza humana
concebeu para exprimir os sentimentos humanos e comunicá-los de forma que estes
possam ser verbalizados e compreendidos. Sentimentos íntimos, individuais ou
coletivos, podem passar a fazer sentido para outrem através da linguagem; até mesmo as
manifestações mais ímpares da natureza são possíveis de ser abstraídas e traduzidas pela
linguagem. Uma pessoa que nunca esteve em alto mar e, tampouco, viu uma tempestade
de perto não faz ideia nem imagina o quão tenebroso o são, entretanto, situações
tempestuosas do universo natural como, por exemplo, uma avalanche de gelo descendo
de uma geleira ou uma tempestade em alto mar possivelmente são experimentadas por
quem assiste ao filme limite vertical ou pelo leitor de Camões. Sentimento a catártico é
verdade, pois mesmo a catarse só é promovida pela riqueza fantástica que a abstração da
linguagem nos concede através dos variados códigos que atualmente utilizamos para
nos comunicar, transmitir nossos pensamentos, promover culturas e organizar o
universo humano tal qual o conhecemos.

O mínimo esforço dedicado à compreensão desse legado que usufruímos da


linguagem conduzirá nosso pensamento à percepção de que não se trata de algo
imanente, inato à humanidade, trata-se do fruto de esforços há séculos envidados por
estudiosos que se ocuparam do exercício de organizar, estruturar os diversos elementos
constituintes do léxico da linguagem.

Segundo consta no Curso de Linguística Geral de Saussure:

Começou-se por fazer o que se chamava de ‘Gramática’. Este estudo,


inaugurado pelos gregos, e continuado principalmente pelos franceses, é
baseado na lógica e está desprovido de qualquer visão científica e
desinteressada da própria língua; visa unicamente formular regras para
distinguir as formas corretas das incorretas. (SAUSSURE, p 31, 2012)

Para o autor, tudo começou no berço da civilização ocidental, com os gregos


que se propunham a estudar o que se chamava de “Gramática”, porém sem o propósito
de estudar a língua propriamente dita. Com referência aos estudos da gramática desse
período, Saussure (2012 p. 31) definiu, “Esse estudo, inaugurado pelos gregos, e continuado
principalmente pelos franceses, é baseado na lógica e está desprovido de qualquer visão
científica e desinteressada da própria língua; visa unicamente formular regras para distinguir as
formas corretas das incorretas”.

Vale ressaltar que, ao que pese a importância dos estudos saussureano para a
edificação da história da linguagem, ao afirmar que o princípio dos estudos que
culminaram no que conhecemos hoje como sendo uma ciência, a ciência da linguagem,
iniciou-se na Grécia, o autor não considerou os estudos da linguagem desenvolvidos
pelos hindus na antiguidade. Câmara Junior nos apresenta uma outra perspectiva da
história da linguagem:

Na antiguidade o estudo da linguagem foi totalmente desenvolvido na


Índia e na Grécia. Encontramos em ambos os países ‘Estudo do Certo
e Errado’, ‘O Estudo Filosófico’ e ‘O Estudo Filológico da
Linguagem’. Na Índia prevaleceu o aspecto ‘filológico’ da linguagem,
porém ‘O Estudo do Certo e Errado’ se origina dele. A preocupação
principal foi a compreensão correta dos antigos textos religiosos dos
‘Vedas’. Com vistas a isto surgiu um estudo analítico sob o nome de
‘Vyãkarana’ que, em sânscrito, quer dizer ‘Análise’.
O Mais antigo tratado da linguagem preservado até hoje, na Índia, é o
de Yâska, um autor que viveu no IV século a.C. (CAMARA JUNIOR,
2011, P 22).

Embora seja importante localizar-se na história da linguagem para a proposta


desse estudo, pouco importa os prógonos. Portanto esse trabalho não se propõe
cronológico e tampouco organizar uma antologia dos estudos linguísticos, será
implementado esforços para situar-se na dinamicidade da linguagem e a participação
efetiva desta na organização do pensamento humano. À proporção que a sociedade se
desenvolve e torna-se mais complexa cria condições para o desenvolvimento dos
estudos da linguagem, contudo, não sem promover impactos consideráveis tanto sociais
como culturais. Camara Junior aponta alguns fatores importantes para o que chamou de
novo clima na vida social em relação à linguagem e seu estudo. Um desses fatores,
aquele que o autor elegeu como sendo o primeiro, situa-se na diferenciação de classes.
Com relação a esse aspecto da linguagem, escreveu o seguinte:

Numa sociedade estruturada de maneira complexa a linguagem de um


dado grupo social reflete-o tão bem quanto suas outras formas de
comportamento. Deste modo, essa linguagem vem a ser uma marca
desse status social.
As classes superiores dão-se conta desse fato e tentam preservar os
traços linguísticos pelos quais se opõem às classes inferiores. Tais
traços são considerados corretos e passa a haver um esforço
persistente para transmiti-los de geração a geração. Esta atitude cresce
em intensidade à medida que o impacto das classes inferiores se torna
cada vez maior. O estudo da linguagem surge a fim de conservar-se
inalterada a linguagem correta das classes superiores em seu contato
com os outros modos de falar dentro dessa sociedade. . (CAMARA
JUNIOR, 2011, P 26)

Considerando o fato acima, torna-se necessário voltar o olhar para a questão


do signo linguístico, pois todo o leque de sinais que representa o processo comunicativo
só faz sentido quando articulado de forma que estabeleça significado. O conceito de
signo, entretanto, é complexo e diverso. Estudos cuja pretensão de organizar o
pensamento linguístico a partir da interpretação do signo representa a espinha dorsal do
empreendimento de renomados estudiosos, no caso de Charles Sanders Peirce, por
exemplo, que dedicou mais de vinte anos de ostensivo trabalho sobre o tema, como
podemos ler em Samantella, se considerarmos apenas os oito volumes dos Collected
papers (1931-58), de Peirce, é possível encontrar entre vinte e trinta formulações
distintas de sua definição de signo. No entanto a autora afirma que “se considerarmos o
corpo completo da obra peirceana integrando as oitenta mil páginas de manuscritos
ainda não publicados, perto de uma centena ou mais variantes da definição poderão
ainda ser encontradas” SAMANTELA (2000, p. 11).

A Linguagem Cinematográfica

O mundo globalizado, tem imposto exigências de conhecimentos que


demandam novas competências e requer cada vez mais dinamicidade dos seres que
permeiam o universo contemporâneo das relações humanas, onde as capacidades de
criar, interpretar, planejar, associar, mobilizar, prever não restringem à mera execução
de tarefas. Este contexto nos remete a desafios que extrapolam a noção de centralização
de poder e autoridade no ensino. É preciso estimular o estudante para o exercício de
reflexão da sua realidade, de modo que o conteúdo do currículo atenda suas
necessidades, para conduzi-lo ao desenvolvimento de saberes que o possibilite
prosseguir, na prática do dia-a-dia, dando lhe subsídios que o preserve de agruras e
surpresa ao descobrir, muitas vezes na vida adulta, que não aprendeu determinado
conteúdo, quando este se fizer necessário.
Desta perspectiva ressalta-se a importância da semiótica e sua utilização para
compreender melhor os significados da proposta aqui defendida. “O nome semiótica
vem da raiz grega semeion, que quer dizer signo. Semiótica, portanto, é a ciência dos
signos, é a ciência de toda e qualquer linguagem” (SANTAELLA, 1992, pg. 7).
Entende-se, a partir desta definição, que todas as necessidades, as quais a pós-
modernidade possa apresentar, perpassa pela linguagem, localizada no campo de
estudos da Semiótica.
Em se tratando de Linguagem Cinematográfica como disciplina de formação
humana, que é o propósito principal desta pesquisa, não se pode perder de vista a
relação desta com o princípio da linguagem aprendida como natural, anterior à língua
materna. Segundo (ECO, 1991 pg. 67), “na linguagem infantil chamada de holofrástica,
a expressão /gato/ pode ser usada em um tom exclamativo para dizer que há um gato no
telhado”, dando ideia de uma comunicação completa, pois quando a criança olha para o
telhado e diz: gato, ninguém ao seu redor tem dúvida quanto ao significado desta
expressão, todos sabem que a criança está se referindo a um gato. Entretanto, na
linguagem cinematográfica, um ângulo pode ser exclamativo e transmitir uma ideia
completa, como por exemplo, a imagem das mãos algemadas de um sujeito que
apareceu anteriormente sendo perseguido pela polícia, mesmo que não se diga nenhuma
palavra e não se mostre mais nada a respeito, conclui-se a ideia de que o sujeito foi
preso, e, se no enredo, o sujeito for mostrado duas horas depois saltando de pára-
quedas, sabe-se que adquiriu a liberdade. Segundo (AUMONT, 2004, pg. 246), “É
muito comum que imagens, fisicamente perceptíveis como imagens únicas, represente
vários episódios de uma mesma história”.
Embora existam, no âmbito das linguagens, situações evidentes, como as
relatadas anteriormente, também é possível deparar-se com situações complexas que
exijam grau elevado de compreensão da língua/linguagem. Na linguagem
cinematográfica, muitas vezes, a pessoa que está assistindo a um determinado filme é
alguém passivo, indiferente ao conteúdo do filme, mas caso queira compreender a
mensagem veicula através das imagens, precisa articular determinados conhecimentos
inerentes ao universo fílmico para que as reflexões e apreensão de imagens, do som ou
do silêncio presentes na obra, como um todo, faça sentido e dialogue com o enredo.
Segundo (AUMONT, 2004, pg. 245), em relação à imagem:

diversos códigos são mobilizados, alguns quase universais (os que


resultam da percepção), outros relativamente naturais, porém já mais
estruturados socialmente (...) o domínio desses diferentes níveis de
códigos será desigual segundo os sujeitos e sua situação histórica, e
as interpretações resultantes serão proporcionalmente diferentes.

É nessas diferenças e os motivos que às identificam, que a proposta desta


pesquisa se sustenta, uma vez que tem como objetivo amainá-las e possibilitar que um
maior número de pessoas consigam interpretar e se comunicar através de mais esse
código: a Linguagem Cinematográfica.

METODOLOGIA

À guisa da teoria metodológica, a realização deste estudo será pautada no


prisma da pesquisa-ação, conforme Michel Thiollent (2007). Thiollent adverte que
pesquisa-ação será aplicada nas situações em que os pesquisadores estiverem imbuídos
do objetivo de implementar uma possível transformação ou de resolução de problemas,
pois a pesquisa-ação é "orientada em função da resolução de problemas ou de objetivos
de transformação" (ibid. p. 9), no caso desta pesquisa, trata-se de transformação. Outro
aspecto importante caracterizado pela pesquisa-ação é o pressuposto da "aprendizagem"
por parte da população envolvida: "As ações investigadas envolvem produção e
circulação de informação, elucidação e tomada de decisões, e outros aspectos supondo
uma capacidade de aprendizagem dos participantes" (ibid. p.72). Neste projeto, a
aprendizagem é o tema central, pois os participantes, serão postos automaticamente em
situação de busca na medida em que se engajarem na tarefa de produzir vídeos (que
deverão ser temáticos) que impulsionem os educandos à produção dos conhecimentos
articulados.
No plano prático, lançaremos mão de técnicas de cinema. A primeira fase, da
construção do roteiro, será buscada a interdisciplinaridade de forma automática através
da aprendizagem de conteúdos articulados, uma vez que os atores participantes serão
alunos de uma escola da rede pública. A segunda fase, a produção dos vídeos
propriamente ditos, colocará os participantes em uma situação diferenciada, pois a
conversão da linguagem escrita para a linguagem audiovisual, constituir-se-á em
situação inusitada para todos, novos conhecimentos haverão de ser mobilizados, tais
como, técnicas de filmagem, de iluminação, de interpretação, de edição. Não
esqueçamos que a tarefa de produzir o significado com imagens coloca a tarefa de
ressignificar os resultados produzidos na primeira fase, provocando "movimento", ou
seja, "aprendizagem".
No plano da Pesquisa científica, o pesquisador do projeto deverá atuar em
duas frentes: como mais um entre os demais sujeitos da pesquisa, em situação de
permanente aprendizagem, da mesma forma, e como Orientador geral a partir de sua
atividade científica organizada. Estudos avançados acerca da Metodologia da Educação
através de Projetos, em foco as Tecnologias da Informação e da Comunicação, com
destaque para produção de vídeos educacionais, serão realizados. O que se projeta é que
o desenvolvimento de nossa intervenção seja comunicado e receba contribuições em
Congressos científicos de área.

Fase itrodutória
Em princípio será contatada a escola na qual realizarei a pesquisa para fazer a
proposta e discutir as possibilidades de execução da mesma. Uma vez acertado com a
escola, o próximo passo será o contato com os alunos. Para isso farei uma proposta
aberta de atividades envolvendo no máximo vinte alunos, preferencialmente
matriculados no ensino médio, abrindo uma possibilidade de se trabalhar com o máximo
de cinco alunos matriculados no ensino fundamental e quinze do ensino médio. Essa
proposta será aberta no sentido de que serão os próprios alunos quem decidirão pela
participação no projeto. Ou seja, farei uma divulgação em salas de aulas e marcarei uma
data para as inscrições, cujo interesse deve partir do próprio aluno. Mesmo porque, em
suma, essa atividade será realizada em horário diferente das aulas regulares da escola.
Após a definição de quais alunos participarão das atividades, realizarei um
encontro para nos conhecermos, e nessa oportunidade definiremos juntos as datas e
horários dos próximos encontros. Apresentarei detalhadamente a proposta e
discutiremos as possíveis temáticas que trabalharemos na produção de audiovisual. As
atividades com os alunos serão organizadas, basicamente, em três fases: fase
introdutória, fase intermediária e fase avançada.

Fase Introdução

Considerando que a prática de produção é o elemento lúdico que envolverá a


atenção dos partícipes da pesquisa, lançaremos mão desse recurso logo de início. Nesta
fase, a atividade será focada na manipulação dos instrumentos audiovisuais, como
câmeras em geral, celular, projetor, microcomputador. A proposta será para que cada
aluno faça uma pequena filmagem (dois minutos de imagens), filmando pequenos
trechos de imagens de seus cotidianos; uma forma de exploração da curiosidade visual e
individual de cada aluno. Depois aprenderão a capturar estas imagens.
O passo seguinte constituir-se-á de produção de pequenas sequências através
de processos rudimentares de Montagem. Montagem, em Cinema, é o coração da
mensagem cinematográfica, uma vez que se localiza na conjunção entre os processos
mais propriamente de criação, situados nos campos da Roteirização e da Direção, e os
executivos, da Edição e Finalização. Na Montagem, os alunos da Escola, colocarão suas
sensibilidades a produzir sentidos. Na Montagem, articularão ainda técnicas de trilha
sonora e musical, completando as primeiras noções de produção audiovisual. A ideia é
que esse trabalho inicial culmine na construção de um único vídeo, cujo o tempo de
duração seja em torno de dez minutos.
Esse exercício os colocará em contato com uma realidade pouco conhecida no
que diz respeito à produção audiovisual, que é a importância do tempo. Considerando
que serão vinte alunos e cada um filmará dois minutos, teremos um tempo total de
quarenta minutos para editarmos, cortarmos, escolhermos as melhores imagens e
montarmos um vídeo final que utilize em torno de um quarto do tempo das imagens
registradas.

Fase Intermediária

Já familiarizados com a linguagem cinematográfica, esta fase consiste na


exibição de filmes, basicamente uma apresentação dos dois principais tipos de cinema
(documentário e cinema de ficção) e dos elementos significativos da linguagem
cinematográfica, ou seja, o sistema de significação que o cinema se utiliza para
estruturar sua linguagem: iluminação, ângulo, som, silêncio, etc. A proposta contará
com exibições de variados gêneros cinematográficos, seguidos de debates sobre as
temáticas dos filmes e as condições de produção destes por seus realizadores.
Documentários, cujas temáticas se relacionem aos movimentos populares e sociais serão
valorizados, sempre seguidos de discussões acerca dos temas que devem emergir destes,
propiciando um direcionamento para suas formações políticas. Assim como a literatura
exerce considerável influência no desenvolvimento da aprendizagem do código da
escrita gráfica, entendemos que para se desenvolver a aprendizagem da linguagem
cinematográfica também é fundamental o exercício de assistir a filmes. Nos debates
acerca dos curtas e longas-metragens apresentados, os alunos entrarão em contato com
disciplinas como História, Geografia, Educação Física, Sociologia, Língua Portuguesa.
Também serão mostrados vídeos como, recriando o olhar, 9 min. e o olhar recortado,
13 min, oriundos de produções escolares que discutem a produção audiovisual. Alguns
making off de filmes Também serão exibidos.

Fase Avançada

Nesta última fase, nos ocuparemos em reunir esforços para a produção de um


vídeo final que se ocupe do diálogo com conteúdos relacionados às disciplinas
curricular do programa da escola. Trata-se de uma escola localizada no campo, fruto de
movimento social, portanto, os participantes poderão projetar um documentário para
mostrar algum tema de interesse dentro de seus cotidianos, com foco na sustentabilidade
do Assentamento onde vivem. As necessidades de técnicas e produção de roteiros, ainda
não aprendidas anteriormente, aflorarão, na medida em que o trabalho for se realizando,
na perspectiva real da produção de roteiro e utilização das técnicas inerentes a produção
do vídeo.
Essa etapa requer muito cuidado, pois, mais que importante, é fundamental
que a temática do filme de finalização seja um conteúdo de interesse comum do grupo
envolvido. Essa escolha, portanto, deverá partir dos alunos. Professores de disciplinas,
cujos conteúdos inerentes à produção do vídeo se relacionem, serão convidados a
participar de reuniões com todos os envolvidos para ajudar-nos na orientação da
pesquisa que culminará na produção final do vídeo. Também será possível a realização
de duas ou mais atividades com temáticas díspares, pois, dependendo do envolvimento
e interesse dos alunos, há a possibilidade de dividir em equipes que pesquisarão
conteúdos diferentes, que articulem elementos de diferentes disciplinas curricular da
escola e, no caso de ser essa a proposta, abrem-se possibilidades: poderão ser realizados
dois vídeos com conteúdos diferentes, ou seja, dois projetos de produção, ou ainda,
conjugar os trabalhos das equipes, constituindo uma única produção de vídeo que,
combine ambas as pesquisas realizadas.
Vale ressaltar que, embora se tenha previamente organizado certa ordem para
a sequência das atividades acima citadas, sempre temos que levar em consideração a
natureza um tanto flexiva da pesquisa-ação. Segundo THIOLLENT (2007, p 51),

O planejamento de uma pesquisa-ação é muito flexível.


Contrariamente a outros tipos de pesquisa, não se segue uma série de
fases rigidamente ordenadas. Há sempre um vaivém entre várias
preocupações a serem adaptadas em função das circunstâncias e da
dinâmica interna do grupo de pesquisadores no seu relacionamento
com a situação investigada.

CRONOGRAMA DE ATIVIDADES
• Pesquisa Bibliográfica para a construção do aporte teórico: todo o ano de
2013:
• Campo: atividades práticas: fevereiro e março de 2014
• Compreensão dos dados: abril a setembro 2014
• Entrega da dissertação para a qualificação: Setembro de 2014
• Qualificação: Outubro de 2014
• Defesa da dissertação: Fevereiro de 2015

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Bibliografia Específica
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