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Comitê Científico
Prof. Luiz Antonio Silveira Lopes (Presidente)
Instituto Militar de Engenharia - IME
Fone: (+55 21) 3820-4199
e-mail: laslopes@ime.eb.br
Comitê Executivo
Marcia Estrada Braga
Programa de Engenharia de Transportes COPPE/UFRJ
e-mail: comite@riodetransportes.org.br
Artigos
RESUMO
O atendimento de emergências médicas envolve diversos fatores, com altos graus de incerteza. As decisões têm
que ser obtidas de forma rápida e com alta qualidade. Dentro do aspecto operacional, a decisão de qual rota uma
ambulância deve tomar para chegar ao local de atendimento de uma vítima no menor tempo possível pode ser
crucial para a sobrevivência do paciente. O presente artigo utilizou a metodologia ProKnow-C para realizar uma
seleção do portfólio bibliográfico e uma análise da literatura do Problema da Roteirização de Ambulâncias.
Pesquisas relevantes foram selecionadas, suas abordagens e métodos de solução evidenciadas, assim como as
possibilidades de pesquisas complementares sobre o Problema da Roteirização de Ambulâncias.
ABSTRACT
Emergency medical care involves several factors, with high degrees of uncertainty. Decisions must be obtained
quickly and with high quality. Within the operational aspect, the decision of which route an ambulance to take to
get to a victim service location in the shortest possible time may be crucial for patient survival. This paper used
ProKnow-C methodology to perform a selection of bibliographic portfolio and analysis of the recent Ambulance
Routing Problem literature. Relevant studies were selected, their approaches and evidenced solution methods, as
well as the possibilities for further research about Ambulance Routing Problem.
PALAVRAS-CHAVE:
problema de roteirização de ambulâncias; proknow-c; revisão bibliográfica
1. INTRODUÇÃO
Devido à natureza do atendimento realizado pelos SEMs, a rapidez com que é realizado
é crucial para a vida do acidentado e também para que não haja sequelas mais graves. Assim,
com um atendimento rápido e eficaz, é possível reduzir não apenas o número de óbitos, mas
também as sequelas e o tempo de internação do paciente decorrentes da falta de socorro precoce.
Para a seleção do portfólio bibliográfico, foram seguidas as seguintes etapas (Figura 1):
(a) seleção de bases de dados alinhadas com a área da pesquisa: Compedex (Engineering
Village), Science Direct (Elsevier), Web of Science (Thomson Routers Sientific), Emerald
Insigth, Wiley Online Library e SciELO.ORG. Na etapa (b) foram selecionadas palavras-chave
relacionadas a roteirização de ambulâncias e ao serviço de emergências médicas:
routing, ambulance, emergency vehicle, vehicle routing problem, ambulance routing problem,
emergency vehicle routing, e emergency medical services. Com essa seleção, na etapa (c),
realizou-se uma busca abrangente (nos títulos, resumos e palavras-chave) de artigos utilizando
combinações das palavras-chaves citadas no item anterior. Na etapa (d), construiu-se um banco
de artigos, com todos os resultados obtidos, no software EndNote X7.5, afim de facilitar a
manipulação das informações e para eliminação de resultados duplicados.
Os resultados das etapas (c) e (d) resultaram num total de 1.687 artigos científicos os
quais se realizou a leitura os títulos e avaliação quanto a aderência ao tema da pesquisa,
conforme item (e) na Figura 1. Foram identificados 207 artigos. Na etapa (f), análise quanto ao
reconhecimento acadêmico, quantas vezes cada um dos artigos foi citado no Google Scholar,
foi adotado critério de seleção de artigos que tivessem ao menos uma citação. Todavia, artigos
de 2016 e 2017 que não possuíam nenhuma citação foram selecionados, já que não poderia ter
havido tempo hábil para o dado artigo ser citado em outro periódico e ser contabilizado pelo
Google Scholar (Servare Junior e Cardoso, 2016). O resultado final dessa etapa foi a seleção
de 52 artigos. Nesse conjunto de artigos, se realizou a (g) análise do alinhamento do resumo em
relação ao tema da pesquisa. Avaliou-se a correlação entre o assunto proposto pelo artigo e o
tema investigado. Dessa, foram selecionados um grupo de 28 artigos não duplicados, com título
e resumo alinhados e com reconhecimento científico.
Com o fim da etapa de filtragem do banco de dados bruto de artigos, nos 28 artigos
selecionados foi realizada (h) a análise em relação ao alinhamento do texto integral com o tema
da pesquisa. Verificou-se que cinco não possuíam texto completo disponível de forma gratuita
ou com acesso disponibilizado pelo portal de periódicos da CAPES e, assim, foram excluídos
da análise final. Para análise do texto de forma integral, avaliou-se a qualidade da
fundamentação teórica, a compatibilidade dos objetivos da pesquisa com o que se propunha e
conclusões satisfatórias das pesquisas. Ao final do processo, foram selecionados 11 artigos que
compõem o portfólio bibliográfico da pesquisa, expostos na Tabela 1.
Tabela 1 - Portfólio bibliográfico da pesquisa
Autor (es) Ano País Título Periódico
HAGHANI, Ali; 2004 EUA Simulation model for real-time emergency Transportation Research
TIAN, Qiang; vehicle dispatching and routing Record: Journal of the
HU, Huijun. Transportation Research
Board
JOTSHI, Arun; 2009 EUA Dispatching and routing of emergency Socio-Economic Planning
GONG, Qiang; vehicles in disaster mitigation using data Sciences
BATTA, Rajan. fusion
KERGOSIEN, 2011 França A tabu search heuristic for the dynamic European Journal of
Yannick et al. transportation of patients between care units Operational Research
WILSON, 2013 Reino Evaluation of centralised and autonomous Safety Science
Duncan T. et al. Unido routing strategies in major incident response.
WEX, Felix et al. 2014 Alemanha Emergency response in natural disaster European Journal of
management: Allocation and scheduling of Operational Research
rescue units
TALARICO, 2015 Bélgica Ambulance routing for disaster response with Computers & Operations
Luca; et al. patient groups Research
PINTO, L. R. et 2015 Brasil A generic method to develop simulation Simulation Modelling
al. models for ambulance systems Practice and Theory
KNYAZKOV, 2015 Rússia Evaluation of Dynamic Ambulance Routing Procedia Computer Science
Konstantin et al. for the Transportation of Patients with Acute
Coronary Syndrome in Saint-Petersburg
ZHANG, 2016 EUA Performance measure for reliable travel time Transportation Research Part
Zhenhua et al. of emergency vehicles. C: Emerging Technologies
LEO, Gianmaria 2016 Itália Emergency department management in Lazio, Omega
et al. Italy.
ARINGHIERI, R. 2017 Itália Emergency Medical Services and beyond: Computers & Operations
et al. Addressing new challenges through a wide Research
literature review.
Fonte: Elaborado pelo Autor.
O modelo de simulação foi validado com dados reais da cidade de Belo Horizonte, MG.
Para ilustrar os benefícios da padronização e reutilização, os autores aplicaram o modelo a um
contexto no Reino Unido, obtendo resultados satisfatórios, segundo publicação dos autores.
Em outra linha, Jotshi et al. (2009) desenvolveram uma metodologia para o despacho e
encaminhamento de veículos de emergência em um ambiente pós-desastre, como terremotos,
tsunamis, erupções vulcânicas, etc., com o apoio de data fusion. Dado um fluxo de informações
Com outra abordagem, Zhang et al. (2016) estudaram o tempo de viagem de veículos
de emergência, utilizando quatro anos de dados com 76.00 registros de tempo de viagens para
determinar o desempenho de ambulâncias, viaturas policiais ou corpo de bombeiros,
considerando que tais veículos de emergência são autorizados a quebrar as regras de trânsito
convencionais para chegar ao destino em menor tempo.
Um SEM opera, geralmente, com mais de um tipo de ambulância. Pode-se destacar dois
grupos principais: a Ambulância de Suporte Básico e a ambulância de Suporte Avançado ou
UTI Móvel. Dentro do portfólio bibliográfico da pesquisa, apenas Pinto et al. (2015) tratou
explicitamente deste componente nos seus estudos. Kergosien et al. (2011) consideraram tipos
diferentes de transporte, mas não é claro em relação se esse tipo de transporte só pode ser
realizado por um tipo específico de veículo, como diferentes tipos de ambulância. Wex et al.
(2014), por sua vez, verifica se uma unidade de resgate específica é capacitada ou não para
atender um tipo específico de acidente.
Quanto à rota a ser percorrida, Pinto et al. (2015), Knyazkov et al. (2015) e Jotshi et al.
(2009) consideram explicitamente as variações de tráfego nos seus estudos. Leo et al. (2016),
Talarico et al. (2015), Wilson et al. (2014) e Haghani et al. (2004) consideram apenas tempos
genéricos de deslocamento, atrelados à distância a ser percorrida pela ambulância.
Em relação à verificação dos resultados, Zhang et al. (2016), Leo et al. (2016), Pinto et
al. (2015), Knyazkov et al. (2015), Wilson et al. (2014), Kergosien et al. (2011) e Jotshi et al.
(2009), apresentaram estudos de caso dos respectivos modelos aplicados com dados reais.
Para solução dos problemas de roteirização, foram abordadas diversas técnicas, sendo
que artigos mais antigos utilizaram a simulação e, as mais recentes, ferramentas de modelagem
matemática de otimização, utilizando principalmente programação inteira mista. Alguns
artigos, como exposto anteriormente, também utilizaram de heurísticas e metaheurísticas como
método de solução, principalmente com intuito de se obter respostas de boa qualidade num
tempo razoavelmente baixo.
Por fim, destaca-se que não foram encontrados nessa pesquisa modelos matemáticos
que abordem, por exemplo, heterogeneidade de frota e priorização de paciente de forma
simultânea, sendo esse um possível gap para pesquisas futuras.
6. CONCLUSÕES
Agradecimentos
Os autores agradecem a Fundação de Amparo a Pesquisa e Inovação do Espírito Santo (FAPES) pelo
apoio concedido por meio de bolsa de mestrado que viabiliza o desenvolvimento dessa pesquisa.
ARINGHIERI, R. et al. (2017) Emergency medical services and beyond: Addressing new challenges through
a wide literature review. Computers & Operations Research, v. 78, p. 349-368, 2// 2017. ISSN 0305-0548.
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ZHANG, Z. et al. (2016) Performance measure for reliable travel time of emergency vehicles. Transportation
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http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0968090X16000346 >.
Wesley Braytiner
Instituto Militar de Engenharia – IME
wesleybraytiner@gmail.com
RESUMO
A construção da matriz de origem e destino (matriz O/D) é um processo fundamental para um eficaz plano
de transporte. As técnicas atuais de coleta de dados para construção de matriz O/D ainda possuem grande
dependência do fator humano, fazendo com que tenham alto custo financeiro, tamanho de amostra limitado,
consumo elevado de tempo e muitos fatores que aumentam a probabilidade de erros. O futuro do
planejamento de transporte caminha para implantação de arquiteturas de inteligência de transportes e indica
que a telefonia móvel se apresenta como uma das tecnologias mais promissoras na detecção de dados úteis.
Este trabalho mostra como uma das funções de uso do celular, especificamente os aplicativos planejadores
de viagem, podem ajudar na criação de banco de dados capaz de confeccionar matrizes de origem e destino
de uma cidade ou região metropolitana. O objetivo principal do trabalho é demonstrar a qualidade das
informações obtidas através dos celulares e seus aplicativos, para isso, montou-se diversas matrizes de
origem e destino com essa base de dados e as comparou com as matrizes oficiais determinadas pelo PDTU
(Plano Diretor de Transporte Urbano). Utilizou-se critérios de aperfeiçoamento de seleção de amostras e
calibração das ferramentas estatísticas com o propósito de encontrar a correta metodologia de comparação
das bases de dados.
ABSTRATIC
The construction of the origin and destination matrix (O / D matrix) is a fundamental process for an effective
transportation plan. The current techniques of data collect for O / D matrix construction still have great
dependence on the human factor, making them have a high financial cost, limited sample size, high time
consumption, and many factors that increase the probability of errors. The future of transportation planning
goes to the deployment of transport intelligence architectures and indicates that mobile telephony is one of
the most promising technologies in the detection of useful data. This work shows how one of the functions
of using the mobile phone, specifically the travel planner applications, can help in the creation of database
capable of building destination matrices of a city or metropolitan region. The main aim of the work is to
demonstrate the quality of information obtained through cell phones, to this end, several origin and
destination matrices were assembled with this database and compared with the official matrices determined
by the PDTU (Urban Transport Master Plan). Sampling selection and calibration of statistical tools were
used in order to find the correct methodology for comparing databases.
1.Introdução
Para se adequar a oferta de transportes (implementar ou melhorar), faz-se necessário
quantificar a demanda por transporte e saber como a mesma se distribui dentro da área de
estudo (CAMPOS, 2013). Desta forma surge o planejamento de transporte, cujo
procedimento mais tradicional para sua realização é o modelo de 4 etapas, que consiste
no processo de: geração de viagens, distribuição das viagens, divisão modal e alocação
das viagens.
O PDTU dividiu o montante de viagens em função das diferentes horas do dia, criando,
portanto, 2 (dois) grupos temporais: pico da manhã e pico da tarde. Embora os dados do
Moovit permitem analisar as viagens em qualquer hora do dia restringiu-se a investigação
apenas para o período do pico da tarde, isto é, viagens iniciadas entre 17:30 e 18:30. A
Figura 3 – Matriz O/D Moovit para o pico da tarde. Fonte: Pesquisa do Autor.
A figura 4, denominada de “Matriz Primária PDTU 2 A”, retrata a matriz O/D oficial
adotada pela Secretaria de Transportes do Governo do Estado do Rio de Janeiro, com
valores médios de viagens realizadas no pico da tarde, no ano de 2012 e em dias típicos
(terça, quarta e quinta feira, excetuando os feriados). Assim como a matriz Moovit, a
matriz PDTU carrega consigo as informações do total de viagens estimadas no pico da
tarde (971.445), o total de viagens produzidas e atraídas por região e o percentual de
viagens produzidas e atraídas correspondente para cada região.
Figura 4 – Matriz O/D PDTU para o pico da tarde. Fonte: PDTU (2012).
Figura 5 – Matriz O/D Moovit em percentual para o pico da tarde. Fonte: Pesquisa do
Autor.
Figura 6 – Matriz O/D PDTU em percentual para o pico da manhã. Fonte: PDTU (2012).
Para efeito didático a figura 7 compara as macrozonas que possuem os três maiores
índices de fluxo de viagens com base nos dados do Moovit e do PDTU. Observou-se
discrepância na intensidade de fluxo de viagens entre a Matriz Moovit e a Matriz PDTU,
caracterizada pela manutenção do perfil de interações intensas espalhadas pela região
metropolitana detectado pelo PDTU e fluxo intenso mais concentrado determinado pelo
Moovit. Além das polarizações distintas, a questão intrigante é que essas áreas são
Figura 8– Mapa de distribuição das viagens originadas em AP-2 no pico da tarde. Fonte:
Pesquisa do Autor e adaptado de PDTU (2012).
De acordo com SILVA,P.A.L (1998) existem duas hipóteses para qualquer teste: a
hipótese nula H0 e a hipótese alternativa H1. Ainda segundo o autor a hipótese nula
representa o cenário atual, isto é, a circunstância que está sendo testada. O objetivo dos
testes de hipóteses é sempre tentar rejeitar a hipótese nula. A hipótese alternativa
representa o que se deseja provar ou estabelecer, tendo como objetivo contradizer a
hipótese nula.
(Equação I):
Onde,
Oj – representa os valores observados em “j” eventos.
Ej – representa os valores esperados em “j” eventos.
k – Valor de grau de liberdade para o nível de confiança requerido.
Para a aplicação dessa ferramenta estatística na análise de dados apresentada pela figura
9, entendeu-se que os valores de Moovit são os valores observados – Oj - e os valores de
PDTU são os valores esperados - Ej –, isto é, são os valores considerados como
referenciais no padrão de distribuição de viagens. Então a fórmula utilizada é
demonstrada pela Equação II.
∑(𝑴𝒐𝒐𝒗𝒊𝒕−𝑷𝑫𝑻𝑼)𝟐
𝑿𝟐 (𝒄𝒂𝒍𝒄𝒖𝒍𝒂𝒅𝒐) = (Equação II):
𝑷𝑫𝑻𝑼
TELEBRAS. (2016). Mapa de Antenas de Telefonia Móvel (ERB) na cidade do Rio de Janeiro. Disponível
em: < http://telecocare.teleco.cl9.com.br/telebrasil/erbs/ >.
WANG, P., Hunter, T., Bayen, A.M., Schechtner, K., González, M.C. (2012). Understanding Road Usage
Patterns in Urban Areas. Scientific Reports, 2.
RESUMO
Os planos de contingência de trânsito para Faixas Olímpicas definiram previamente estratégias e ações a serem
tomadas em caso de obstruções viárias, com o intuito de manter confiável o deslocamento de atletas, árbitros e
de toda a Família Olímpica. Este artigo tem como objetivo apresentar o processo metodológico utilizado para
desenvolver e executar planos de contingência de trânsito das Faixas Olímpicas nos Jogos Olímpicos Rio2016.
São abordados os conceitos gerais adotados, a divisão em trechos, as análises de risco e vulnerabilidade e a
atuação das equipes de campo na execução dos planos durante o evento. Como resultado, observou-se que,
apesar das previsões negativas, não houve registro de problemas significativos no trânsito durante os Jogos e que
as medidas de trânsito adotadas se mostraram eficazes. Dessa forma, entende-se que a metodologia utilizada se
mostrou relevante para as operações de tráfego e para a resiliência da cidade durante os Jogos Rio2016.
PALAVRAS CHAVE
Olimpíadas, Faixas Olímpicas, Planos de Contingência.
ABSTRACT
Traffic contingency plans for Olympic Lanes means previous planning of strategies and actions to be taken in
case of road obstructions. The main goal is to maintain displacements of athletes, referees and Olympic Family
reliable. This document aims to present the methodological process used in order to develop and execute road
contingency plans for Rio2016 Olympic lanes. It presents general concepts, division of the road network into
sections, risk analysis, vulnerabilities and operational teams’ performance when dealing with these plans. The
result is that despite negative forecasts there were no significant traffic problems during the Games. Thus, transit
measures were considered effective and the proposed methodology proved to be relevant for traffic operations
and city’s resilience during the event.
KEY WORDS
Olympic Games, Olympic Lanes, Road Contigency Plans, Traffic Operations.
1. INTRODUÇÃO
O Comitê Olímpico Internacional (2005) define faixas olímpicas como vias ou faixas
dedicadas aos veículos olímpicos durante o período dos Jogos. De acordo com o Comitê
Olímpico Internacional (2007) apud Kangjing HE (2012), a cidade sede precisa
obrigatoriamente incluir esquemas de gerenciamento de tráfego, como a rede de faixas
olímpicas, no seu planejamento de transporte a fim de garantir deslocamentos rápidos,
seguros e com tempos confiáveis para a Família Olímpica. Três grupos são considerados no
planejamento geral de tráfego e transporte de uma olímpiada: a população local, os
espectadores e a Família Olímpica (atletas, árbitros, patrocinadores, etc).
Segundo Hirst (2012), é desde a edição de Sidney, em 2000, que as cidades sedes dos Jogos
Olímpicos passam a adotar a utilização de Faixas Olímpicas. Isto é, essas faixas visam
priorizar as viagens dos atletas para os locais de competição e aumentar a confiabilidade dos
tempos de viagem, ou seja, minimizar incertezas.
O mesmo autor também cita o caso de Atenas, quando as faixas olímpicas foram implantadas
onze dias antes do inicio dos Jogos e Pequim que iniciou a operação da rede de faixas
dezenove dias antes da Cerimônia de Abertura. Bovy (2008) afirma que a existência de uma
rede de faixas olímpicas é um dos principais ensinamentos, no caso especifico de transporte
dos Jogos Olímpicos.
Corroborando com essa necessidade, lições aprendidas com os eventos anteriores que a cidade
do Rio de Janeiro recebeu indicavam que a definição prévia de rotas principais e de rotas
alternativas seria uma medida útil para otimização tanto dos recursos quanto dos processos. O
posicionamento de reboques e de painéis de mensagens variáveis, por exemplo, pode assim
ser estrategicamente focado nas rotas pré-estabelecidas, planejando para que os recursos
Além disso, o Comitê Olímpico Internacional (2005) mostra que a cidade sede deve tomar
decisões estratégicas sobre como entregar os serviços de transporte olímpico e, para isso, é
necessário identificar os desafios de cada cidade.
Os Jogos Olímpicos foram planejados para não se concentrar em apenas uma região da
cidade, espalhando-se em quatro clusters regionais e induzindo desenvolvimento em diversos
bairros da cidade. Isso significa que a rede de rotas para a Família Olímpica no Rio de Janeiro
foi considerada extensa, chegando a quase 400km de extensão.
Nesse contexto, foi necessário planejar ações operacionais, rotas de desvio e fluxos de
comunicação, prevendo os diversos incidentes passíveis de ocorrer nessa extensa rede de rotas
da Família Olímpica, onde o comportamento viário varia muito em função de diversos
parâmetros como: local, sentido da via, dia da semana e horário do dia.
Essa atividade, que se mostrou desafiadora e complexa, só foi possível ser operacionalizada
ao adotar cinco conceitos chave principais, dividir o plano e as equipes por trechos, e dotar as
equipes com autonomia e responsabilidade para atuar nos casos de emergência com base em
treinamentos realizados anteriormente.
Qualquer falha na atuação das equipes de trânsito com relação a obstruções viárias que
comprometessem os tempos de viagem da Família Olímpica poderiam gerar sérios impactos
negativos na imprensa nacional e internacional. Assim, o presente artigo tem o objetivo de
apresentar o processo metodológico utilizado para desenvolver e executar planos de
contingência de trânsito das Faixas Olímpicas nos Jogos Olímpicos Rio2016, de forma a
contribuir para o estudo sistêmico do tema.
Apesar da integração entre os órgãos na operação de trânsito da cidade, este documento foca
apenas na atuação da Companhia de Engenharia de Tráfego do Rio de Janeiro (CET-Rio) e
em seus planos de contingência.
Dentre os recursos de trânsito disponíveis para situações de contingência nos Jogos Olímpicos
pela CET-Rio pode-se citar:
Operadores de tráfego. Atendem 24h por dia, monitorando e transmitindo
informações. Atuam preventivamente e intervêm quando necessário, controlando os
fluxos, no fechamento de vias, implantando desvios com os equipamentos de trânsito
como cones e barreiras.
2. Simulações práticas. Entendeu-se que a elaboração das “fichas de ação rápida” não
bastava, uma vez que a estratégia deveria chegar até a ponta operacional, até às
equipes que atuam em campo. Tanto a operação quanto o fluxo de comunicação
durante uma contingência de trânsito deveriam ser testados e aprimorados. Foram
então levantados 3 tipos de simulações possíveis: simulações de mesa, simulações
com acionamentos e simulações totais. Em 2015, foram realizadas 7 simulações: 6
simulações com acionamentos e 1 simulação total. As simulações com acionamentos
ocorreram inopinadamente, em dias e horários que não comprometeriam a mobilidade
na cidade. Os agentes foram orientados a efetuar todos os acionamentos e
comunicações necessários e a se deslocar para os pontos de operação pré-definidos,
juntamente com os equipamentos necessários para realizar bloqueios ou atuar nas rotas
de trânsito alternativas. Apesar de o deslocamento ser feito, não houve bloqueio
efetivo das vias durante as simulações com acionamentos, a fim de não comprometer a
mobilidade real da cidade. Mensagens codificadas também foram enviadas para os
painéis de mensagens variáveis e confirmadas pela equipe que fazia o controle e
media os tempos de resposta da Companhia na pista. Procurou-se treinar o maior
número de equipes diferentes possíveis, tanto em quantidade de regiões quanto em
diferentes turnos.
3. Reuniões para aperfeiçoamento. Avaliações foram feitas com cada grupo responsável
separadamente, a fim de melhorar continuamente os resultados observados. Além de
avaliações qualitativas relativas ao processo interno que puderam ser observadas, foi
também possível medir e comparar resultados quantitativos como: tempo para cobrir
pontos de bloqueio, tempo para cobrir rotas alternativas, tempo para divulgar
mensagens nos painéis de mensagens variáveis.
Além disso, os planos existentes na cidade não atendiam as rotas olímpicas em sua totalidade,
conforme observado na sobreposição de mapas apresentado na Figura 2.
Assim, foram elaborados planos de contingência específicos para as rotas olímpicas, que
contaram com as seguintes premissas:
Ponto de decisão: a distância entre o veículo e a obstrução viária em uma rota olímpica
interferiria na escolha do plano a ser seguido. Veículos olímpicos ainda na origem
poderiam optar pela melhor rota alternativa, levantada e acordada previamente,
Figura 2: Mapa com planos de contingência da cidade sobre a rede de faixas olímpicas
Minnis et al (2006) relacionam uma série de diferenças entre a rede de transporte de atletas
por essas faixas exclusivas das redes clássicas de transporte:
Essas diferenças mostram a importância de terem faixas bem sinalizadas e que proporcionem
tempos de viagem confiáveis.
Para fazer com que o planejamento se tornasse um modelo operacional aplicável, os planos
foram simplificados em apenas cinco “macro conceitos” a serem adotados em toda a rede.
No caso de obstrução apenas da faixa olímpica, foi definido um único conceito, identificado
como “Faixa Adjacente (A)”, Figura 3.
Já no caso de obstrução total da via, foram definidos outros quatro possíveis conceitos a
serem aplicados: “Pista Lateral (L)”, no caso de haver pista lateral que possa ser utilizada com
rota de desvio; ”Cinturão (C)”, solução adotado caso o desvio local for impossível; ”Desvio
local (D)”, solução prioritária quando não houver pista lateral; “Faixa reversível (R)”, esse
conceito podia ser utilizado nos casos em que fosse necessário priorizar apenas um sentido e o
desvio por outras vias não fossem favoráveis. Todos os exemplos são mostrados na Figura 4.
Para definir as ações a serem tomadas em cada situação, toda a rede de rotas olímpicas foi
dividida em 17 trechos, conforme Figura 5. Além disso, cada trecho foi dividido em diferentes
sub-trechos, de acordo com as características viárias.
Além disso, mapeou-se o posicionamento dos recursos de tráfego disponíveis para atender às
ocorrências de trânsito em cada sub-trechos: câmeras, operadores, motociclistas, reboques e
PMVs.
Dessa forma, foi feita uma análise de vulnerabilidade, onde o impacto de uma obstrução no
tráfego urbano depende de uma série de parâmetros como:
Dia da semana. Nos dias de semana tem-se maior volume de veículos circulando e,
portanto, maior risco de impacto;
Horário do dia. Nos horários de pico (de 6h às 10h e de 17h às 20h) o trânsito fica
mais carregado e, portanto, há risco de maior impacto;
Direção do tráfego. A gravidade da obstrução depende do sentido do fluxo naquela
via no dia e no horário do incidente;
Duração da obstrução. A natureza do incidente vai indicar o tempo necessário para
desobstruir a via e fazer voltar a sua normalidade. Quanto maior o tempo de
duração da ocorrência, maior o impacto.
Áreas críticas, onde as características da via geram mais dificuldades para manter a
fluidez em caso de obstruções - há menos opções de desvios, de saídas (vias
confinadas). São as áreas onde as equipes deveriam ficar mais atentas e o tempo de
ação seria crucial.
Área de criticidade média, onde havia opções satisfatórias de desvios, porém com
alto volume de tráfego.
Áreas menos críticas, onde as características da via sugeririam baixas probabilidades
de incidentes graves, presença de pistas laterais, adicionando opções de desvios
simples, variadas opções de rotas alternativas satisfatórias, ou regiões de fluxo
controlado (dentro do perímetro das instalações olímpicas).
Com o reconhecimento das áreas mais críticas, foi possível posicionar e quantificar
estrategicamente os recursos e equipamentos em cada trecho. Assim, a CET-Rio pode
responder no menor tempo possível em caso de incidentes viários.
Cada equipe operacional ficou responsável por um trecho ou sub-trecho, de acordo com o
grau de criticidade e localização, e foi orientada sobre as suas responsabilidades de monitorar,
desbloquear, implantar desvios, manter a fluidez das rotas, interagir com o COR, dentre outras
ações do plano de contingências e de trânsito.
Na Linha Amarela, foram implantados dois tipos de conceitos: “A-faixa adjacente” e “D-
Desvio local”, onde os veículos foram desviados para rotas fora da Linha Amarela e
retornaram para a rota olímpica mais à frente (Figura 8).
Figura 8: Implantação do plano de contingência (conceito “A. Faixa adjacente”) na Linha Amarela
A Avenida Prefeito Mendes de Morais, em São Conrado, recebeu a primeira ocorrência sobre
a rede de faixas olímpicas e essa avenida tem alto grau de criticidade. O impacto de um
incidente nessa região poderia ter sido muito alto, principalmente nos primeiros dias dos
Jogos em que o fluxo ainda está se acomodando. No entanto, com o treinamento prévio, as
respostas das equipes foram rápidas e eficazes.
Cabe ressaltar que, mesmo com a ocorrência de incidentes viários e a implantação de planos
de contingência em diversos momentos, não foram registrados casos de reflexos significativos
no trânsito da cidade durante os Jogos Olímpicos.
5. CONCLUSÕES
Neste artigo foi apresentado o processo metodológico utilizado pela cidade do Rio de Janeiro
para desenvolver e testar planos de contingência relacionados a obstruções de tráfego durante
os Jogos Olímpicos. O método desenvolvido foi baseado em práticas consolidadas e
incorporou técnicas de War Games para testar os planos de contingência e treinar as equipes
envolvidas.
Assim, a definição das rotas olímpicas foi essencial para alocação de recursos no período dos
Jogos e os planos de contingências adotados se mostraram apropriados, uma vez que os
incidentes de trânsito foram atendidos em tempo adequado e que não foram registrados casos
de impactos significativos nem na mobilidade da cidade e nem nos trajetos da frota olímpica.
No entanto, cabe ressaltar que cada cidade tem suas próprias características e que os eventos
também são diferentes, em termos de perfil de público, horários, locais de provas, dentre
outras características.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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bovy.ch/resources/20_HITE.Athens-07.pdf>. Acessado em novembro de 2016.
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Athens 2004 Olympic Games”. Transport Revie, Volume 28, Issue 2, pp.259- 280.
Resumo
Abstract
In this work, we present an algorithm of imputation of missing data obtained from traffic
counting instruments. The missing data are estimated from an evaluation of the type of day
where the anomalous count occurred. Learning the different types of day for each fixed
counting apparatus is achieved through a hybrid unsupervised machine learning algorithm
for high dimensional data. We present some applications of this method for the treatment of
data from the National Traffic Counting Plan (PNCT) under supervision of the National
Department of Transport Infrastructure (DNIT). The tests show that PNCT data
reconstructions obtained through the algorithm proposed in this work are precise and robust.
The computational method proposed in this work, besides being highly effective for the
imputation problem, is also able to reveal complex structural patterns of traffic of a given
counting point, which may be of interest for the implementers of traffic intervention policies
on the Brazilian highways.
1 Introdução
Figura 1 – À esquerda: Ilustração de um bloco de dados ausentes obtido através da contagem de tráfego de um dos
equipamentos do PNCT. À direita: Ilustração do funcionamento do algoritmo de imputação aqui proposto. Nas duas
figuras, O eixo x representa os 96 intervalos de 15 minutos em 1 dia, e o eixo y representa a contagem de tráfego.
Daqui por diante este artigo está assim dividido. A Seção 2 apresenta conceito de
reconhecimento de padrões utilizados para elaboração do algoritmo. A Seção 3 apresenta
a técnica de Imputação Múltipla implementada. Por último, as conclusões são
apresentadas na Seção 4.
Figura 2 – Matriz de frequência do Equipamento PNCT No 188 (Minas Gerais, BR 040 KM 551) no
sentido crescente. As colunas representam a contagem dos veículos passando por este trecho em cada
intervalo de 15 minutos (0:00 – 0:15, 0:15 – 0:30, ..., 23:45 – 24:00).
Figura 3 – Ilustração gráfica da matriz de contagem de tráfego da BR-116, Km 292. Cada linha contém os
dados de tráfego de um dia fixo, distribuídos em 96 colunas, onde cada coluna representa um intervalo de
15 minutos de contagem daquele dia.
Figura 4 – Informações sobre o cluster de dias obtido pelo Equipamento PNCT localizado na BR-116,
Km 56. No canto superior esquerdo a matriz de outliers (representados na cor vermelha). No canto
inferior esquerdo, o mapa de calor de contagens. No canto superior direito, a dispersão dos dados de
contagem para um cluster. No canto inferior direito, o histograma de dias da semana neste cluster.
Para a estimativa de erro padrão geral, primeiro deve-se calcular a variância intra-
imputação:
1 2
𝑈= 𝑈. (2)
2 -31 -
e a variância inter-imputação,
1
𝐵 = 251 2 -31(𝑄- − 𝑄) .
9
(3)
A variância total de (𝑄 − 𝑄) é definida por:
1
𝑇 = 𝑈 + 1 + 𝐵. (4)
2
O erro padrão geral é a raiz quadrada de T. Intervalos de confiança são obtidas ao
tomar a estimativa geral mais ou menos um certo número de erros padrões, onde este
número é um quantil da distribuição t-Student com graus de liberdade:
2A
𝑑𝑓 = 𝑚 − 1 1+ , (5)
2B1 C
veja [4] para mais detalhes e outros métodos alternativos.
O algoritmo de imputação proposto pelo grupo de Minnesota em [3] é um método
simples de Bootstrap não-bayesiano. Este algoritmo é descrito a seguir:
Figura 7 – Figuras superiores exibem o gráfico de dispersão das contagens volumétricas para todos os
dias de um cluster obtidos da contagem de tráfego da BR-101, km 154, no Estado de Santa Catarina. As
figuras inferiores mostram o histograma da distribuição de dias de semana para este cluster. Note que o
Cluster 2 é quase inteiramente composto por segundas-feiras.
Figura 9 – Mapa de calor da contagem de tráfego da BR-101, km 154, SC (2014-2017). Cada coluna
fixada representa a contagem de um dia distinto, distribuído nos seus 96 intervalos de 15 minutos.
Esse algoritmo foi aplicado aos dados do PNCT e alguns exemplos são
apresentados a seguir. Por exemplo, é fácil notar nas Figuras 8 e 9 que mesmo dentro de
cada cluster, existem algumas diferenças significativas entre os dias considerados. É por
esta razão que o passo de bootstrap não aplicado diretamente sobre todo o cluster, mas
sim sobre o subcluster dos dias mais parecidos com respeito à projeção.
A Figura 10 apresenta o resultado da aplicação do algoritmo de imputação a uma
simulação de evento de ausência de dados obtidos da leitura diária de um dos
equipamentos do PNCT localizado na BR-116, Km 292.
O cálculo do erro padrão T, necessário para o cálculo do intervalo de confiança,
envolve uma estimativa do erro intra-imputação, 𝑈, e do erro inter-imputação, B. O erro
intra-imputação é inerente à escolha do modelo. O modelo estudado é o modelo de
clusters. Desta forma, é definido 𝑈 como o desvio padrão amostral para cada intervalo de
15 minutos, pertencentes ao intervalo relativo aos dados ausentes, restritos aos dias no
mesmo cluster do dia com o referido dado anômalo.
Figura 10 - Em preto é exibida a curva de contagem real. Em magenta, representa-se a curva imputada
pelo algoritmo proposto neste trabalho. As curvas pontilhadas representam os limites da faixa de
confiança (±2 𝑇, onde T está definido em (4) da Seção 3). Dados obtidos da matriz de contagem de
tráfego da BR-116, Km 292.
Na fórmula acima R é o conjunto de dias sem anomalias nos dados, denotado por
i, com um certo número de entradas selecionadas propositalmente ignoradas, denotadas
por j. O símbolo I significa o número total de intervalos imputados no teste. Reconst (i, j)
Referências Bibliográficas
RESUMO
É comum a existência de Shopping Centers nas grandes cidades, principalmente em áreas mais populosas, onde
a oferta de consumidores é mais atrativa. Porém o oposto também pode acontecer, a implantação de um Polo
Gerador de Viagens (PGV) atraindo o adensamento urbano. Este trabalho tem como principal objetivo realizar
uma análise no tráfego viário local provocado pelo aumento expressivo de construções de condomínios
residenciais verticais após a inauguração de um Shopping Center no bairro Ponta Negra em Manaus, através de
revisão bibliográfica e pesquisa de campo, considerando os condomínios residenciais verticais, inaugurados
recentemente, englobados na área de influência deste Polo Gerador de Viagens e realizar uma estimativa de
contribuição veicular ao tráfego viário local por um empreendimento em fase final de construção, onde serão
implantados mais dois condomínios verticais. Com isso, tornar-se de fácil visualização dados técnicos como o
Fator Horário de Pico e o Nível de Serviço para a via local e corroborar para a proposição de estratégias de
ordenamento ao trânsito local no horário de pico matinal em decorrência das viagens provocadas,
principalmente, por origens/destinos escolar e/ou de trabalho.
ABSTRACT
Shopping malls in large cities are common, especially in more populated areas, where the consumer offer is
more attractive. However, the opposite can also happen, the implementation of a Travel Generator Pole (TGP)
attracting urban density. This work has as main objective to analyze the local road traffic caused by the
expressive increase of vertical residential condominium buildings after the inauguration of a Shopping Center in
the Ponta Negra neighborhood in Manaus, through bibliographical review and field research, considering the
residential condominiums vertical, recently inaugurated, encompassed in the area of influence of this Travel
Generator Pole and make an estimate of vehicular contribution to the local road traffic for a project in the final
phase of construction, where two more vertical condominiums will be implemented. In this way, technical data
such as the Peak Time Factor and the Service Level for the local route can be easily viewed and corroborated for
the proposition of local traffic planning strategies in the morning peak hours because of the trips caused, mainly,
by school and / or work origins / destinations.
1. INTRODUÇÃO
Em 2012, após a implantação e inauguração do Shopping Ponta Negra, no bairro Ponta Negra
– Zona Oeste de Manaus, tendo mais de 1.600 vagas de estacionamento e gerando 2.500
postos de emprego, aliado à uma elevada oferta de imóveis em forma de condomínios
horizontais e verticais com estrutura de lazer completo nos solos urbanos valorizados de
Manaus (Martins, 2008), provocaram um adensamento de dez condomínios verticais no
entorno do Shopping Center, mudando significativamente o trânsito local que é composto de
apenas uma via principal (Avenida Coronel Teixeira) de ligação aos demais bairros e ao
centro da cidade.
Para Grigolon e Silva (2006), a ocupação dos lotes no entorno do PGV seriam os
empreendimentos mais novos, cujos lotes teriam sido retidos para valorização imobiliária
pois, à medida que se afastam do Polo, a “idade” dos imóveis comerciais cresce devido à
influência de empreendimentos já existentes nas vizinhanças tendo como consequência de
menores valores dos imóveis, fazendo com que a ocupação desses lotes valorizados propicie
impactos diretos para os sistemas de transporte.
Dessa maneira, este trabalho tem por finalidade estudar de forma quantitativa o impacto
viário, na única e principal avenida que liga o bairro Ponta Negra ao centro de Manaus, em
decorrência dos novos condomínios verticais e realizar uma estimativa de contribuição
veicular na via local de um determinado empreendimento imobiliário com dois condomínios
(complexo residencial Reserva Inglesa), que está em construção e previsto para ser entregue
em 2017.
2. METODOLOGIA
Após pesquisa e revisão bibliográfica, onde foi possível entender as definições e conceitos
sobre Polos Geradores de Viagens e saturação viária, e a realização de três pesquisas de
campo para coletas de dados, sendo necessárias e oportuna para analisar o comportamento de
ocupação do solo no entorno de PGV do tipo Shopping Center, e os demais PGV’s do tipo
residencial (em vermelho), conforme demonstra a Figura 1, promovendo uma visualização
clara e identificação dos fenômenos de forma antecipada e objetiva.
Em uma segunda fase, uma nova pesquisa de campo foi realizada para realizar uma contagem
veicular na Avenida Coronel Teixeira, no trecho que compreende os acessos aos condomínios
verticais, construídos e à concluir, para determinar o volume de tráfego viário e a hora de pico
matinal utilizando os métodos de contagem com utilização de filmagens realizadas em pontos
estratégicos, onde não possuíam semáforos, desvios ou possibilidades de duplicações
veiculares, facilitando a visualização dos deslocamentos veiculares de forma direcional,
conforme preconizadas no Manual de Estudos de Tráfego (DNIT, 2006).
Com os dados extraídos das pesquisas de campo, foi possível definir o Fator Horário de Pico
(FHP) para avaliar a intensidade de trânsito existente e, posteriormente, verificar, por
estimativa, o acréscimo veicular provocado pelos condomínios em construção, comparando
com a capacidade da via e os níveis de serviço, utilizando como parâmetros o Highway
Capacity Manual - HCM para vias Classe II (DNIT, 2006).
Reserva Inglesa
A Capital Rossi Em construção 360
(Liverpool)
Reserva Inglesa
B Capital Rossi Em construção 288
(London)
Premium
H Turim Premium 2011 416
Engenharia
Weekend Club
I Direcional S.A. 2012 900
Ponta Negra
TOTAL 4.028
Fonte: Coletado nas Incorporadoras - 2017
Segundo o conceito do Manual de Estudos de Tráfego (DNIT, 2006), o Fator Horário de Pico
é o volume da hora de pico do período de tempo considerado, dividido pelo quádruplo do
volume do período de quinze minutos da Hora de Pico com maior fluxo de tráfego,
representada pela fórmula:
(1)
onde:
FHP = fator horário de pico
Vhp = volume da hora de pico
V15max = volume do período de quinze minutos com maior fluxo de tráfego dentro
da hora de pico
Assim, para verificar a hora de pico matinal no trecho delimitado foi realizada uma contagem
veicular com início às 06h15min e término às 08h15min, contabilizando a cada 15 minutos,
utilizando câmeras posicionadas nos dois retornos e acessos da Avenida Coronel Teixeira do
trecho compreendidos na área de influência e durante a semana (quarta-feira), tomando o
cuidado de escolher uma semana onde não tivesse feriados e em período escolar, de forma a
obter dados consistentes e dentro da realidade do cotidiano dos moradores de Manaus,
gerando a Tabela 2.
O horário escolhido foi proposital de forma que o FHP matinal não sofresse influência de
viagens geradas pelo Shopping Center, pois o interesse é analisar o impacto viário provocado
pelos condomínios surgidos posteriormente ao PGV citado.
Constatando assim, que o horário de pico, no período matinal (período escolar), ficou
compreendido de 06:45 h às 07:45 h, ficando bem próximo do horário de pico indicado por
Portugal e Goldner (2003), e o tendo o volume da hora pico com 4.055 veículos no sentido
centro e 2.389 veículos no sentido bairro. Já o FHP teve como resultado o valor de 0,854, que
é considerado normal para áreas urbanas, já que os valores nessas áreas geralmente situam-se
entre 0,80 e 0,98. Porém, valores acima de 0,95 são indicativos de grande volume de tráfego,
podendo ter, inclusive, restrições de capacidade durante o horário de pico (DNIT, 2006).
No horário de pico (06:45 à 07:45) um total de 773 veículos dos 4.055 do volume da hora de
pico foi somente dos condomínios residenciais verticais construídos após a implantação do
Shopping Center instalado no Bairro Ponta Negra, perfazendo uma contribuição de 23,55 %
para o acréscimo no tráfego local.
Por meio dos dados expostos nas Tabelas 1 e 3 foi possível montar o Gráfico 1, que expõe a
taxa de contribuição por empreendimento.
Possibilitando assim o cálculo das taxas de geração de viagens veiculares para cada
viagens
Analisando essa estimativa, o volume veicular passaria para 4.341, durante horário de pico,
contribuindo para um aumento de 7 % no volume existente, o que corroboraria para uma
aproximação acentuada da capacidade máxima da via, que é de 5.100 carros de passeio por
hora para vias Classe II (HCM apud DNIT, 2006), o que definiria a via com Nível de Serviço
do tipo D e para o tipo E, se considerarmos os demais empreendimentos com todas as
unidades ocupadas.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Antes da implantação do Shopping Ponta Negra no bairro Ponta Negra, em Manaus, o volume
veicular era de 3.282 na Avenida Coronel Teixeira, tendo como Nível de Serviço do tipo do C
para conforto de trafegabilidade e capacidade da via durante o horário de pico - manhã.
Outro fator a considerar é que alguns dos PGV do tipo residencial já inaugurados
apresentaram uma baixa taxa de geração de viagens, como o Parque Ponta Negra (0,13) e o
River Side Ponta Negra (0,05), inaugurados, respectivamente em 2016 e 2017, ou seja, muito
recente. O que pode indicar a existência de diversas unidades não ocupadas, já que o país
passou recentemente por um período difícil na economia, principalmente no mercado
imobiliário.
De tal forma que, caso realmente sejam esses motivos da baixa taxa de geração de viagens
supracitados, ao longo do tempo, essas mesmas taxas subirão e causarão maior impacto
negativo para a Avenida Coronel Teixeira.
Quanto às Taxas de Geração de Viagens por hora de pico referenciadas pela tabela do ITE
(Figura 3), com média de 0,44 para condomínios residenciais, utilizando como parâmetro, as
unidades disponíveis, fica evidente que essa taxa será o dobro da encontrada nesta pesquisa de
campo (0,22), visto que essa taxa tende a aumentar quando mais unidades forem sendo
ocupadas naqueles empreendimentos lançados recentemente.
É possível observar que o volume de veículos na área de influência do Shopping Ponta Negra
aumentou de forma expressiva nos últimos cinco anos e que, através da pesquisa de campo,
foi possível identificar que a capacidade da via em estudo está próxima do seu limite, assim
Por isso, este estudo pode ser aproveitado para proposições de medidas mitigadoras, ou até
mesmo, para soluções práticas e consistente para os efeitos negativos do adensamento urbano
com relação ao trânsito local, tais como melhorias no transporte público, inclusão e incentivo
de novos modais, investimentos em infraestrutura, ampliação da malha viária, entre outras,
visto que tais análises tempestivas podem contribuir para decisões futuras.
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Cybis, H. B.; Lindau, L. A.; Araújo, D. R. C. (1999) avaliando o impacto atual e futuro de
um pólo gerador de tráfego na dimensão de uma rede viária abrangente. Transportes, v.
7, n. 1, p. 64-85.
RESUMO
Este artigo destaca a importância de análise das necessidades de se investir na mobilidade sustentável,
incentivando transportes alternativos, especialmente, o ciclismo e a implantação ou melhoria das
ciclovias e ciclofaixas. Definir e estabelecer modelos já existentes com a utilização do método de Nível
de Serviço para Bicicleta (NSB) escolhido para a investigar a influência da topografia no nível de
serviço (NS) percebido ao longo de uma rota entre um par de origem e destino específicos para fins de
definição de rotas cicláveis e utilizando-se de técnicas de geoprocessamento, para a construção de
mapas temáticos georreferenciados que permita gerar planos de informação para rotas mais adequadas.
PALAVRAS CHAVE
Ciclovia; Transporte cicloviário; Rotas cicláveis; Nível de serviço para bicicletas; Critério de rampas;
Keywords
Bike lane; bicycle transportation; bicycle routes; bicycle level of service; gradient criteria;
ABSTRACT
This work detaches the importance of analyzing the needs of investing in sustainable mobility by
encouraging alternative transportation, especially cycling and the deployment or improvement of bike
lanes and cycle lanes. Define and establish models already using the bicycle level of service (BLOS)
chosen to investigate the influence of topography on the service level (NS) perceived along a route
between a specific source and destination pair for the purpose of defining cyclable routes and using
geoprocessing techniques, For the construction of georeferenced thematic maps to generate information
plans for more appropriate routes.
Key words: bicycle transportation; bicycle routes; bicycle level of service; gradient criteria; shortest
path.
1.INTRODUÇÃO
2.REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
3. METODOLOGIA
3. Nível de Serviço das Vias: Qualificação da rota a ser traçada para a inclusão
no sistema cicloviário ; hierarquização viária da área de estudo de caso ,tendo
as vias coletoras, arteriais,locais para a definição da rede cicloviária.
4.3. PlanMob (
Mobilidade por Bicicleta nas Cidades )
Figura 3: Levantamento dos dados: Escolas, Conjuntos Habitacionais, UBS, Shopping, Aeroporto.
Por meio dos polos geradores de viagem (escolas, ubs, área central,
uiversidades,etc.) e declividades definidos pelos três manuais foram identificados 33
vias para a composição de uma rede preliminar .As informações acerca dos aclives
para o cálculo de inclinações médias foram obtidos pelo Google Earth (2017).
Foi definido, para estudo de rotas, dois trechos a serem traçados em vias
paralelas aos cursos d'água, onde temos a menor declividade, no perímetro urbano e
três trechos abrangendo conjuntos habitacionais e áreas mais afastadas, formando uma
rede de interligação entre estes polos:
Trecho1 (Ciclovia Rio Lavapés): início cruzamento Av. Dr. Vital Brasil com
Av. Marechal Floriano Peixoto finalizando na rotatória da Av. Mário
Barberies.
Trecho2 (Ciclovia Rio Tanquinho): início Av. Dr. Vital Brasil finalizando pela
Rodovia Prof. João Hipólito Martins até entrada do Shopping Botucatu.
Trecho 4: (Ciclovia Rodovia Gastão Dal Farra): início Av. Itália atravessa pela
Rodovia Marechal Rondon segue pela Rodovia Gastão Dal Farra até Av. Prof.
Antônio Sidney Ribeiro Faria.
Trecho 5: (Ciclofaixa Ligação): inicio Rua Antônio Proti finaliza Rua Carlos
Gaudanini.
5.BIBLIOGRAFIA:
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com dados de sensores remotos. Rio de Janeiro: IBGE, 1979
FHWA - Federal Highway Administration (1979). A bikeway criteria digest: The ABCD's of
bikeways.
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In Planning for cycling: Principles, Practice and solutions for urban planners. Woodhead
Publishing, Cambridge, 2002.
MINISTÉRIO DAS CIDADES (2207). Programa Brasileiro de Mobilidade por Bicicleta - Bicicleta
Brasil. Caderno de Referência para Elaboração de Plano de Mobilidade por Bicicleta nas
Cidades. Brasília: Ministério das Cidades..
TRB. Highway Capacity Manual. (2000) Transportation Research Board, National Research Council,
Washington, D.C.,EUA
RESUMO:
Este artigo apresenta o Estado da Arte referente a mobilidade Urbana dos Municípios de Nova
Iguaçu, São João de Meriti, Nilópolis, Belford Roxo e Mesquita localizados na Baixada
Fluminense, Região Metropolitana do Rio de Janeiro. Estão incluídos neste artigo os principais
aspectos que impactam e influenciam no deslocamento dos munícipes da região, sobretudo,
trabalhadores e estudantes que realizam deslocamentos diários em condições muitas vezes
desfavoráveis e inadequadas. São apresentados também aspectos relevantes e recomendações
para futuros estudos e ações mitigadoras.
ABSTRACT:
This article presents the State of the Art referring to the urban mobility of the Municipalities of
Nova Iguaçu, São João de Meriti, Nilópolis, Belford Roxo and Mesquita located in the Baixada
Fluminense, Metropolitan Region of Rio de Janeiro. Included in this article are the main aspects
that impact and influence the displacement of the region's residents, especially workers and
students who travel daily in often unfavorable and inadequate conditions. Relevant aspects and
recommendations for future mitigation studies and actions are also presented.
PALAVRAS CHAVE:
Mobilidade Urbana
Baixada Fluminense
Transporte Público
1. APRSENTAÇÃO
De acordo com o último Censo realizado em 2010 pelo IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística, a população do Estado do Rio de Janeiro é de 15.989 habitantes. Cerca de 74%
residem na RMRJ. A capital tem participação de 40% da população estadual e 53% da
população metropolitana. A tabela 1 apresenta os dados referentes a população dos municípios
que constituem a RMRJ. Os municípios em realce correspondem ao objeto de estudo do
Diagnóstico da Mobilidade Urbana.
Nova Iguaçu
Belford Roxo
S.J.Meriti
Mesquita
Nilópolis
A área possui dois terminais rodoviários localizados na região central de Nova Iguaçu e
Nilópolis. Em 2015 o Terminal Rodoviário de Nova Iguaçu contabilizou 814.419 partidas. O
Terminal de Nilópolis registrou 205.217 partidas, quatro vezes menos que o anterior
(CODERTE 2016). Aproximadamente 7.000 Pontos de Embarque e Desembarque - PED
complementam também a infraestrutura de transporte da região. Nova Iguaçu é o município
que possui maior concentração de PED’s (40%), seguido de Belford Roxo e São João de Meriti
como mostra o gráfico 1.
50%
43%
40%
30%
30%
20%
9% 9%
10% 6%
3%
1%
0%
Informação Recuo Banco Placas Abrigo Iluminação Nada
2.1. Entrevistas
O segmento “Comércio, Indústria e Serviço” é constituído por Associações Comerciais da
região, Fetranscarga, Firjan e a CCR NOVADUTRA. O segmento “Operadores” é constituído
por Empresas de Transporte Coletivo, Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros de
Nova Iguaçu, Fetranspor, MetrôRio e a Supervia. O segmento “Poder Público” é constituído
pelo Governo do Estado do Rio de Janeiro através da Câmara Metropolitana, Secretaria de
Estado de Transporte e RioTrilhos, além das Secretarias dos Municípios da região.
Tabela 3: Distribuição da amostra por segmento
Segmento Quantidade
Comércio, Indústria e Serviço 5
Operadores 11
Poder Público 9
Total 25
Para melhor visualização das respostas foi utilizada a técnica de nuvem de tags (nuvem de
palavras) que permitiu identificar a quantidade de vezes que determinado item fora mencionado
pelos entrevistados relacionando-o com o tamanho da palavra. Logo, as maiores palavras foram
as que mais vezes se repetiram. Independente do segmento, para os entrevistados o
Congestionamento é o principal problema e aspecto mais relevante para ações mitigadoras. A
má conservação da infraestrutura de transporte (vias, calçadas e abrigos) e a precária integração
intermodal foram também bastante citadas. A figura 2 apresenta o resultado das entrevistas.
Operadores
Para os Operadores o aspecto de maior destaque também é o congestionamento. O segundo
aspecto mais relevante é a integração (ou falta de) entre modos prioritariamente assinalada pelos
representantes do MetrôRio e Supervia. Neste caso a menção a integração deve-se
principalmente pelo histórico recente dos projetos e obras executadas na RMRJ que pouco
consideraram o item como premissa.
Poder Público
Os Gestores Públicos consideraram não apenas um aspecto, mas um conjunto de fatores que
impacta negativamente a mobilidade urbana nos municípios da região e afeta diretamente a
qualidade de vida dos munícipes. A má conservação da infraestrutura de transportes (vias,
terminais e pontos de embarque), o congestionamento e o crescimento do serviço de moto-taxi
são alguns dos principais aspectos apontados pelos representantes deste segmento.
Congestionamento Integração
Infraestrutura Terminais
Nos anos de 2013 e 2015 a Fundação Getúlio Vargas - FGV realizou uma pesquisa
encomendada pelo TransÔnibus para identificar o grau de satisfação dos usuários de transporte
público nos municípios da região estudada com o serviço ofertado e potenciais mercados. Para
tal foram realizadas 1.200 entrevistas. De acordo com os entrevistados o “tempo médio de
espera” pelo transporte é um aspecto negativo e precisa melhorar na região. A tabela 4 apresenta
o tempo médio que os usuários aguardam o transporte público.
O tempo de espera pelo ônibus é um efeito que pode haver causas variadas e envolver diferentes
atores tornando a mitigação do problema algo complexo e abrangente. Abaixo estão indicados
atores diretamente envolvidos e prováveis causas.
As matrizes de transporte coletivo por motivo trabalho mostram grande participação dos
municípios de Belford Roxo, Nova Iguaçu e São João de Meriti na origem das viagens. Os pares
O/D mais representativos são: Belford Roxo – AP3 (3,1%), Belford Roxo – Belford Roxo
(3,8%), Belford Roxo – Nova Iguaçu (3,3%), Nova Iguaçu – Centro do Rio de Janeiro ou AP1
(2,1%), Nova Iguaçu – AP3 (3,1%), Nova Iguaçu – Nova Iguaçu (16,2%), Nova Iguaçu –
Queimados (1,9%), São João de Meriti – AP1 (2,5%), São João de Meriti – AP3 (5,5%), São
João de Meriti – Duque de Caxias (2,9%) e São João de Meriti – São João de Meriti (4,8%).
Algumas das principais vias da região apresentam consideráveis congestionamentos nos picos
da manhã e da tarde. Através da ferramenta de “trânsito em tempo real” do Google Maps foram
identificadas as vias mais congestionadas nos dois períodos como ilustra a figura 8.
Pico da Manhã Pico da Tarde
Destacam-se as vias:
Nova Iguaçu: Via Light, no centro de Nova Iguaçu; Marechal Floriano; Antiga Estrada
de Madureira; Av. Henrique Duque Estrada Mayer;
Belford Roxo: Avenida Joaquim da Costa Lima; Avenida José Mariano Passos;
Avenida Doutor Carvalhães; Avenida Coelho da Rocha;
3. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES
Este diagnóstico retrata o grande drama que precisa ser solucionado no que tange a mobilidade
urbana nos municípios estudados. A atual situação é de bastante desgaste e congestionamentos
cada vez maiores e mais frequentes. A região necessita com urgência de projetos e ações que
permitam e assegurem ao cidadão o direito de ir e vir com segurança, conforto e preço justo. O
transporte coletivo é muito expressivo e o principal responsável pelo maior contingente de
viagens principalmente entre os municípios da Baixada Fluminense.
Grande parte dos investimentos em transporte e mobilidade nos últimos anos concentrou-se em
eixos já bastante carregados. Isto é importante e necessário para melhorar a mobilidade urbana,
porém muito pouco tem sido feito para reduzir a necessidade de viagens longas através de
políticas e investimentos de uso de solo integrado visando alcançar uma metrópole polinucleada
a médio e longo prazo.
A precária integração física, operacional e tarifária entre os modos, prejudica a eficácia geral
da oferta de transportes para atender à demanda e aumenta os custos econômicos urbanos além
de diminuir a qualidade de vida da população. Há perda de produtividade na jornada de trabalho
e eleva as despesas das empresas por maior custo de seus colaboradores.
Aspectos como acessibilidade, conforto, segurança e confiabilidade, estão muito abaixo do que
poderia ser oferecido à população em termos de nível de serviço, apesar dos investimentos
significativos que foram executados nos últimos 8 anos face os megaeventos recém realizados.
FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS (2013) Banco de dados de Usuário. Rio de Janeiro, RJ.
FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS (2016) Banco de dados de Usuário. Rio de Janeiro, RJ.
Prefeitura Municipal de Belford Roxo (2007) Plano Diretor do Município de Belford Roxo.
Belford Roxo, RJ.
Prefeitura Municipal de Nova Iguaçu (2008) Plano Diretor Participativo da Cidade de Nova
Iguaçu. Nova Iguaçu, RJ.
Prefeitura Municipal de São João de Meriti (2006) Plano Diretor do Município de São João de
Meriti. São João de Meriti, RJ.
ANÁPOLIS, GOIÁS
FAMA – Faculdade Metropolitana de Anápolis, Av. Fernando Costa, n° 49, Vila Jaiara, Anápolis – GO. (62) 9
9165-3034. leticiacasari@hotmail.com;
FAMA – Faculdade Metropolitana de Anápolis, Av. Fernando Costa, n° 49, Vila Jaiara, Anápolis – GO (62) 9
9142-1609. fernanda.mendonca@faculdadefama.edu.br
RESUMO
Pessoas se movem por motivos de trabalho, saúde, educação, lazer e precisam reduzir o tempo de deslocamento,
isto propicia o uso do automóvel. Os motivos no qual algumas cidades estão incentivando o uso de modais ativos
(bicicleta e a pé) são: economia de tempo e dinheiro, qualidade vida e ambiental. Este artigo fala da restauração
de uma via ciclável em Anápolis.
PALAVRAS-CHAVES
deslocamento, modais ativos, bicicleta.
ABSTRACT
People move for reasons of work, health, education, leisure and need to reduce the time of displacement, this
propitiates the use of the automobile. The motives in which some cities are encouraging the use of active modalities
(bicycle and walking) are: saving time and money, quality of life and environmental. This article talks about the
restoration of a cycle route in Anápolis.
KEY WORDS
displacement, active modal, bicycle.
1. INTRODUÇÃO
Em uma pesquisa rápida, foi perguntado à população por que não utilizavam a bicicleta
ou por que não se deslocavam a pé diariamente, foi alegado a falta ou a inadequação da
infraestrutura, os perigos da “invisibilidade” dos ciclistas e pedestres, mas não se ouviu um
discurso de aversão ao modal.
Necessário se faz pensar em uma maneira exequível, ou seja, uma proposta que seja
econômica e tecnicamente viável e que conte com a participação da opinião pública. Assim, a
inclusão de uma infraestrutura cicloviária pode ser elemento fundamental para se ampliar o
conceito de Mobilidade Urbana. Esta é uma forma de reduzir o custo da locomobilidade das
pessoas, criar alternativas de deslocamento e reduzir a degradação ambiental. Valorizar a
mobilidade mais humana é o desafio e a solução a ser enfrentada pelas políticas públicas.
A falta de uma infraestrutura adequada e a falta de manutenção fazem com que o espaço
urbano deixe de ser utilizado pelas pessoas, porque o descaso com as políticas públicas refletem
no abandono para com os usuários. Então pode-se dizer que a urbanização, a melhoria e a
restauração de uma infraestrutura cicloviária consolidada, poderá atrair novos usuários?
A bicicleta é tida como um veículo econômico e limpo, pois não agride o meio ambiente,
ocupa um pequeno espaço, pode ser conduzida por pessoas de todas as idades e, o seu papel na
redução do congestionamento e da poluição sonora e atmosférica, a resume em um transporte
simples e prático. Faz-se necessário discutir a importância das rotas clicáveis para motivar a
cultura cicloviária. Conhecer o perfil dos usuários de bicicletas e os problemas e as
potencialidades do seu uso.
Nos bairros que surgem em uma cidade podem ser identificados o desenvolvimento dos
diversos grupos sociais. Anápolis, município de médio porte, localizada a 57km da capital
Goiânia e a 155km de Brasília, capital federal, teve um grande crescimento populacional após
1970 quando fundado o Distrito Agroindustrial de Anápolis – DAIA, que importa
medicamentos, alimentos, etc. para as capitais citadas e para todo o Brasil, com isso, o número
de automóveis começou a ser representativo e, atualmente a cidade de Anápolis vive o ciclo
vicioso do transporte individual com espaço urbano desigual para modais ativos.
No caso dos bairros em estudo não é diferente, localizados no setor oeste de Anápolis,
Bairro da Lapa e Vila Fabril (Figura 1) mantém as características de periferias operárias, com
atividades industriais e cerâmicas ainda em funcionamento desde 1930. Os bairros contam com
vias cicláveis que os cruzam e sua implantação foi desenvolvida para os trabalhadores que
mesmo sem condições de visibilidade ou segurança ainda fazem uso do modal bicicleta para
acessar as indústrias.
Na década de 1930 o Bairro Fabril começou a ser ocupado por fabricas de produtos de
construção civil e frigorífico que tiveram como papel abastecer a nova capital do estado e
cidades circunvizinhas (BERNARDES et al, 2008). É nesse cenário que se impulsionou a
Por ser perto, moradias e indústrias, a maioria dos trabalhadores iam a pé ou de bicicleta
até o trabalho, desta forma, parte das vias GO 330, Rodovia que liga o município de Campo
Limpo à Anápolis, e Av. Fabril foi segregada, sendo caracterizada como ciclovia pelo perfil de
sua estrutura, porém, sem sinalização, sem iluminação, sem arborização e sem manutenção da
sua infraestrutura ao longo do tempo. A ciclovia mais parece inexistente, e mesmo sem qualquer
investimento, ela vem sendo utilizada até os tempos de hoje (Figura 2).
Figura 2: Ciclistas fazendo uso de vias não apropriadas para atividades cicloviárias – Vila Fabril e Lapa.
Fonte: Arquivo fotográfico do próprio autor, 2016.
A Vila Fabril e o Bairro da Lapa, Setor Oeste da cidade de Anápolis ainda apresentam
a mesma formatação (Figura 3) e são predominantemente residenciais. Permanecem com a
mesma proposta de que quando criada. Não houve investimento para crescimento e, para acesso
a hipermercados, shoppings, parques, e outros. Os moradores precisam se deslocar até o bairro
mais próximo – Setor Central – para suprir suas necessidades.
As pessoas, na maioria homens, entre 34 a 40 anos, que trabalham nas indústrias de
cerâmicas ou alimentícias, fazem uso da bicicleta ou se deslocam a pé, por entenderem que a
bicicleta é: eficiente e barata e, assim, chega-se mais rápido ao trabalho. Preferem não depender
do ônibus, pois estes não tem horários flexíveis o que se julga ideais para esses trabalhadores
ou mesmo não chegam até a entrada das indústrias na GO 330, pois não fazem parte do
município de Anápolis.
Na entrevista com alguns ciclistas, foi relatado que para as atividades cotidianas, como
ir à escola, a mercados ou a casa de parentes eles usam a bicicleta (Figura 4). Contudo, como
os bairros não contam com parques, praças, hipermercados, bancos, e outros equipamentos,
alguns entrevistados e boa parte dos moradores dos bairros adquiriram o veículo individual ou
moto para facilitar seus deslocamentos e acessarem os equipamentos urbanos no Setor Central
de Anápolis, a 6km de distância do Bairro da Lapa.
A via ciclável em estudo, atualmente tem uma extensão de 3,1km, parte dela é ciclovia
e outras, faixa compartilhada (Figura 5). Entretanto, em nenhum trecho é identificado qualquer
sinalização, vertical ou horizontal, ou qualquer elemento de segurança para o ciclista, que
mesmo nas condições atuais, faz uso desta via ciclável.
Para que haja a integração entre os modais bicicleta e transporte coletivo é necessário a
construção de paraciclos nos pontos de ônibus, onde o ciclista possa deixar a bicicleta e se
deslocar por ônibus para outro bairro mais distante.
3. PROPOSIÇÕES E RESULTADOS
Para melhor locomobilidade dos modais ativos e coletivos, projeta-se pontos de parada
Com isso, o espaço viário se torna justo e igualitário para os modais ativos, beneficiando a
cidade com qualidades ambientais e os usuários que se sentiram seguros, respeitados e
valorizados e, a partir da periferia motivar em longo prazo a criação de novas e futuras vias
cicláveis e caminháveis para toda a cidade de Anápolis.
4. CONCLUSÕES
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Renan Favero
Universidade Federal de Santa Maria
Bárbara Chaves
Universidade Federal de Santa Maria
RESUMO
O controle do limite máximo de velocidade em uma via é uma estratégia de gerenciamento da segurança e fluxo
de tráfego. Este artigo tem como objetivo avaliar os impactos no trânsito da mudança de limite de velocidade
máxima. Para isso, realizaram-se contagens volumétricas e, de forma amostral, obteve
obteve--se a demanda de carros e
ônibus que trafegam na avenida de acesso ao Campus
Campus da UFSM, com base nesses dados, a hora pico foi
simulada para diferentes velocidades limites. Os resultados indicaram que a estratégia de limite de velocidade é
fundamental para a segurança dos pedestres e que para o local de estudo o limite de velocidade de 40 km/h
apresentou maiores benefícios quanto ao fluxo e tempo de viagem.
ABSTRACT
Controlling the maximum speed limit on a route is a strategy for traffic safety and flow management. This article
aims to evaluate the impacts on the traffic of the maximum speed limit change. For that, volumetric counts were
made and, in a sample, the demand for cars and buses that traveled in the avenue of access to the UFSM Campus
was obtained, based on these data, the peak hour was simulated for different speeds. The results indicated that
the speed limit strategy is fundamental for the safety of pedestrians and that for the place of study the speed limit
of 40 km / h presented greater benefits in terms of flow and travel time.
1. INTRODUÇÃO
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Para realizar a análise de tráfego proposto neste artigo, optou-se o software AIMSUN
que possui sua empresa sediada em Barcelona, Espanha, é um software com foco na
microssimulação, e mesossimulação, com uma grande riqueza de detalhes, o software simula
a demanda de veículos em uma infraestrutura desenhada pelo usuário e avalia de forma
estatística os resultados dos indicadores. O software considera cada veículo uma partícula e
utiliza técnicas como car-following e aceitação de brechas para simular o comportamento do
veículo e as decisões do condutor.
O Aimsun é capaz de fazer distinção entre os diferentes tipos de veículos e condutores,
permitindo uma gama de traçados e geometria da rede, além de considerar possíveis
incidentes, manobras conflitantes, entre outros (TSS, 2013a).
Com base em estudos como estes, a Europa adotou as chamadas Zona 30 que são
compostas de um grupo de ruas onde o limite de velocidade
velocidade é reduzido para 30 km/h pela
introdução de medidas moderadoras do tráfego. Os dispositivos de Zona 30 estão previstos
Segundo a Austroads (2010), um dos maiores obstáculos para a redução dos limites de
velocidade é o receio de que a medida resulte em perda de capacidade da via e aumento nos
tempos de viagem. Entretanto, estudos indicam que a velocidade média de circulação sofre
uma redução equivalente a apenas 25% da redução promovida no limite de velocidade. É o
que demonstra estudos realizados na Austrália por Haworth (2001), onde a redução do limite
de velocidade em vias urbanas de 60 para 50 km/h estimara um aumento médio nos tempo de
viagem de apenas 9 segundos por habitante e preveniram 2900 acidentes com vítimas por ano.
3. METODOLOGIA
Para avaliar os impactos no fluxo dos veículos causado pela alteração da velocidade
máxima simularam-se a demanda atual de veículos em diferentes limites de velocidade para a
via. As simulações foram realizadas no software AIMSUN 8.0.
A escolha do local do estudo se justifica por ser a avenida principal do Campus da
universidade de Santa Maria e por apresentar crescentes índices de congestionamentos em
horários de pico.
Para estimar a demanda atual, realizaram-se contagens volumétricas manuais do fluxo
de veículos em três dias úteis: terça-feira, quarta-feira, quinta-feira, conforme prescreve DNIT
(2006). As contagens volumétricas devem ser feitas por 8 horas, incluindo o horário de pico,
mas em casos onde há falta de recursos, as contagens deverão ser executadas pelo menos três
dias, incluindo o provável pico horário
horário semanal e adotando uma contagem classificatória de
acordo com as classes: carros de passeio, ônibus, veículos de carga e divididas em intervalos
de 15 minutos, para determinar as variações dentro da própria hora de pico.
A demanda de tráfego escolhida para para o experimento foram os 15 minutos de tráfego
mais intenso e esta demanda é multiplicada por quatro para haver uma expansão e uma
simulação virtual equivalente à 1 hora.
A modelagem da via foi realizada com base em imagens de satélite onde foram
desenhadas no software AIMSUN as faixas existentes da Avenida Roraima de acordo com
suas dimensões reais, com os acessos aos núcleos de ensino e demais dependências da
Universidade Federal de Santa Maria. Em uma segunda etapa foram definidas as conversões
permitidas em cada cruzamento, as paradas de ônibus, faixa de pedestre e canalizações das
vias a fim de representar o cenário atual de infraestrutura de transportes no local de estudo.
Para demanda de transporte público foram realizadas contagens nos mesmos períodos
de ônibus que entravam e saíam da universidade, sabendo-se a quantia de veículos públicos
nos 15 minutos de maior fluxo, pode-se estimar a média de veículo/minuto.
As simulações foram realizadas cinco vezes para ponderar possíveis incidentes.
Dimensões físicas dos veículos foram adotadas as prescritas pelo Manual de Estudo de
Tráfego, DNIT (2006), e os demais parâmetros pertinentes à aceleração, velocidades,
frenagem foram estimados inicialmente conforme propostos pelo Manual do Usuário (TSS,
2013).
A calibração e validação do experimento são etapas necessárias para obter-se maior
representatividade nas simulações, para tal, os parâmetros de aceleração, velocidade média e
mínima foram ajustados a fim de que a formação de filas representa-se o cenário atual de
trânsito nos horários de pico.
Simulado o cenário atual, alteraram-se as velocidades máximas das vias para avaliar os
impactos causados por esta ferramenta de gerenciamento de tráfego.
4. RESULTADOS
A contagem de carros foi realizada nos possíveis horários de picos, e conforme figura
3 observou-se que o congestionamento alternava os sentidos. Para a escolha do horário mais
crítico escolheu-se o maior pico absoluto, representado pelo horário das 13:30.
O resultado do período de 15 minutos foi poster
posteriormente
iormente extrapolado para obter a
unidade de veículo/hora e acrescido de 20% a fim de ponderar possíveis erros humanos na
contagem de fluxos e pelo fato da universidade estar com alguns cursos em greve na data da
contagem, dados na tabela 1.
400
em 15 minutos
300
200
100
0
15
10
5
0
06:00
06:45
07:30
08:15
09:00
09:45
10:30
11:15
12:00
12:45
13:30
14:15
15:00
15:45
16:30
17:15
18:00
18:45
19:30
20:15
21:00
21:45
22:30
23:15
Centro-UFSM UFSM-Centro
Mesmo o pico de ônibus sendo no turno da manhã, optou-se por selecionar os valores
de ônibus do turno da tarde, pois é o horário de maior congestionamento das vias, e para
poder simular um cenário o mais próximo possível com a realidade. Adotando desta forma os
valores da demanda de ônibus conforme tabela 2.
Velocidade Média
Velocidade (km/h)
60
40
20
Figura 6-. Velocidade média dos veículos. Fonte: adaptado AIMSUN (2016)
Densidade
(veículos/km)
Densidade
40
20
0
60 km/h 50 km/h 40 km/h 30 km/h 20 km/h
Figura 7-. Densidade de veículos nas vias. Fonte: adaptado AIMSUN (2016)
2500
2400
2300
2200
Figura 8-.
-. Fluxo de veículos. Fonte: adaptado AIMSUN (2016)
Fila Média
100
Veículos
10
Tempo (minutos)
Tempo Médio de Viagem
10,00
5,64
3,46 4,27
5,00 2,26
1,91
0,00
12. Conclusões
Este artigo demonstrou o uso da estratégia de redução no limite de velocidade das vias
de uma avenida de acesso à Universidade Federal de Santa Maria. Através das simulações
com o software AIMSUN, foi realizada uma modelagem do local com a demanda de
automóveis e ônibus e alterando os limites de velocidade a fim de determinar qual limite
proporciona melhores condições de tráfego.
Resultados indicaram que o limite de velocidade de 50km/h proporciona menor
formação de fila de veículos, contudo, o limite de velocidade de 40 km/h proporciona um
comparado o tempo médio de viagem, observa-se
maior fluxo de veículos por hora. Quando comparado
que uma redução de 50 km/h para 40 km/h implicaria em um acréscimo de apenas 1,2
minutos e, a probabilidade de morte de pedestres, de acordo com OPAS (2012) cairia de 80%
para 40%, reduzindo desta forma a metade da chance de mortes.
Limites de velocidades como 20 km/h reduziria muito as condições de fluxo dos
veículos, e limites acima de 50 km/h além de aumentar significativamente chance de morte
em caso de acidentes, não proporcionariam grandes benefícios em termos de fluxo de
veículos.
Neste artigo foi testado apenas variar o parâmetro velocidade máxima das vias.
Recomenda-se para estudos futuros que a modelagem inclua a interação com pedestres e a
implementação de outras estratégias como passagem em nível ppara ara pedestres, duplicação do
viaduto entre outras, para avaliar possíveis melhorias no local e seus benefícios.
Por fim, a estratégia demonstrou-se concisa em variar as características do tráfego e o
software apresentou ser robusto e prático para avaliação
avaliação de multicritérios quando antecede a
implementação de melhorias nas viárias, com baixos custos e simulações próximas as
condições reais.
11
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VASCONCELOS, E. T, Mobilidade urbana sem Acidentes com Vítimas Graves, (2012) Dissetação de
Mestrado – UFRJ/ COPPE – Engenharia de Transportes, Rio de Janeiro.
12
RESUMO
Por quê acontece o acidente aeronáutico? A resposta de tal pergunta é fundamental à prevenção de novas ocorrências
no transporte aéreo. O objetivo deste artigo é sugerir a necessidade de adoção de um modelo de gerenciamento de
risco comum aos diversos operadores de táxi aéreo, através da análise dos fatores contribuintes apontados no
Relatório Final do acidente que envolveu o helicóptero PP-MUM, em 26 de fevereiro de 2008, ressaltadas as
peculiaridades da operação de aeronaves no transporte offshore de passageiros na Bacia de Campos.
PALAVRAS CHAVE:
offshore, safety management e helicópteros.
ABSTRACT
Why does the aeronautical accident occur? The answer to such question is essential to prevent new accidents in this
kind of transport. The purpose of this paper is to suggest the adoption of a general risk management model by the
aerial taxi operators, through the analysis of the contributing factors highlighted in the Final Report of the accident
involving the helicopter PP-MUM, on February 26th, 2008, mentioning the peculiarities of the offshore passengers’
transport in the Bacia de Campos.
1. INTRODUÇÃO
Para contribuir para o endosso de tal sugestão, o presente artigo contém um estudo de caso sobre
o acidente envolvendo o helicóptero PP-MUM em 2008 e objetiva analisar o Relatório Final A-
039/CENIPA/2012 originado pela respectiva investigação, apontar fatores contribuintes
identificados no documento e estabelecer eventuais parâmetros componentes de um modelo do
gerenciamento de risco operacional.
2. METODOLOGIA
3. DESENVOLVIMENTO
Na Bacia de Campos, as distâncias da costa variam entre 70 e 187 quilômetros, ao passo que os
campos mais recentemente descobertos na Bacia de Santos, situam-se entre 140 e 300
quilômetros, Petrobras (2017a) e Petrobras (2017b).
Tais dados evidenciam a vocação brasileira para o uso deste tipo de transporte, explorada em
grande parte por operadores contratados pela Petrobras, caso do acidente estudado.
As investigações têm como única finalidade a prevenção de novas ocorrências, por meio da
identificação dos fatores contribuintes, direta ou indiretamente, na ocorrência investigada, e
emissão de recomendações de segurança que possibilitem uma ação direta, ou tomada de decisão,
para eliminar aqueles fatores, ou minimizar as suas consequências, Brasil (2014b).
Dentro desse contexto, a prevenção de acidentes aeronáuticos pode ser relacionada tanto às
circunstâncias que propiciaram as condições geradoras das ocorrências, quanto àquelas
identificadas após as atividades de investigação. O escopo deste artigo trata das atividades que
podem influenciar as circunstâncias pré-existentes aos acidentes, como programas de prevenção,
atividades educativas e gerenciamento do risco operacional, objeto principal deste estudo, com
conceitos associados discriminados na sequência.
Norteia a administração dos recursos de uma organização em prol da análise e redução dos riscos.
Operadores de aeronaves devem possuir métodos de gerenciamento capazes de, através de
parâmetros pré-estabelecidos, o acompanhamento e a redução dos riscos, visando à melhoria
contínua da segurança de voo. Nesse processo as organizações devem considerar os efeitos das
defesas já existentes e a necessidade de implantação de novas barreiras, Brasil (2013).
O conceito de perigo pode ser associado a uma condição capaz de produzir resultados adversos,
sejam eles danos ou degradação da capacidade de desempenhar uma função. Já o conceito de
risco está relacionado à quantificação da ameaça decorrente da exposição ao perigo, expresso
pela gravidade das possíveis consequências e respectiva probabilidade. Assim, como mencionado
anteriormente, a segurança pode ser definida como a percepção desse risco em níveis aceitáveis,
Brasil (2011). Dessa forma, nenhum dos conceitos é absoluto, pois a percepção de perigo, risco
ou segurança depende de interpretação e é diretamente proporcional ao conhecimento que o
indivíduo tem sobre o tema.
Medida motivada pela necessidade de redução do risco, por influenciar de forma positiva na
gravidade das consequências, nas probabilidades correlatas, na exposição ou qualquer
combinação destas, Brasil (2011).
IDENTIFICAÇÃO
EFICAZES? SIM DE
PERIGOS
AVALIAÇÃO
SUPERVISÃO
DOS
RISCOS
NÃO
MEDIDAS DECISÃO
DE DE
CONTROLE RISCO
Dentro dessas definições, mais uma vez se evidencia a importância da precisa identificação dos
perigos envolvidos e dos respectivos riscos associados. Somente um mapeamento das tarefas e
processos envolvidos pode criar condições para a criação de um modelo de gerenciamento do
risco, Nascimento et al (2016).
A plataforma de produção P-18 possuía um helideque e tinha capacidade para receber aeronaves
de até 9 toneladas, desde que em condições de voo visual. Não havia qualquer plano similar a um
Plano de Emergência Aeronáutica em Aeródromo (PEAA), tampouco existia avaliação
sistemática da eficácia dos equipamentos de salvamento e resgate, bem como dos procedimentos
de emergência. Menciona-se também a inexistência de médico na enfermaria da P-18.
Apesar de ser considerado como uma referência profissional por seus pares, com 3.485 horas de
voo apenas naquele modelo de aeronave, o piloto possuía histórico de dificuldade na operação em
voo por instrumentos e, dessa forma, evitava o voo em condições meteorológicas naquelas
condições.
Houve relatos do responsável pela segurança de voo da empresa da sua falta de autonomia para
processar a análise de risco das operações, apesar de encaminhar periodicamente percepções de
perigos ao setor responsável pela garantia da qualidade. Além disso, também foi reportada a
inexistência de processos que possibilitassem a divulgação de informações afetas à prevenção.
Segundo dados coletados dos gravadores de voo, houve comentários dos tripulantes quanto à
precariedade das condições de visibilidade do helideque. De forma coerente com tal informação,
o copiloto solicitou um plano de voo para condições de voo por instrumentos logo após a
decolagem, realizada em condições visuais. Apesar da imposição de realizar a primeira curva
para a esquerda, de forma a evitar formações meteorológicas nas proximidades da plataforma, o
sentido de deslocamento da aeronave para o aeródromo de Macaé demandava uma curva à
direita.
Ressalta-se que, apesar de não ser o caso dos tripulantes envolvidos, até 2006, a BHS não
proporcionava o treinamento em simulador de voo de forma periódica para os seus pilotos.
Logo após a decolagem, o helicóptero, ainda em curva para a esquerda, atingiu a atitude cabrada
de 20º e teve o seu piloto automático engajado pelo copiloto, mesmo estando a aeronave com
atitude em desacordo com a limitação daquele equipamento. A hipótese mais provável para
aquela atitude anormal foi uma eventual desorientação espacial, possivelmente motivada por
movimentos sucessivos da cabeça dos pilotos para a direita, sentido de deslocamento para Macaé,
e para a esquerda, lado escolhido para evitar as citadas formações.
4. RESULTADOS E ANÁLISE
Destaca-se o fator associado à análise de risco por parte do operador, que se feita de forma
adequada, poderia ter antecipado muitas das condições identificadas na investigação, quaisquer
que fossem os agentes em questão. Quanto à classificação do acidente, a evidência da
contribuição das condições meteorológicas adversas pode ser interpretada como um efeito
amplificador das características individuais ressaltadas do piloto da aeronave.
6. BIBLIOGRAFIA
ALMEIDA, C. A.; NASCIMENTO, J. V.; FARIAS, J. L. et al. Helicópteros - Sumário Estatístico 2006-2015. Centro
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RESUMO
São Pedro da Aldeia é um município do interior do estado do Rio de Janeiro e faz parte da Região dos Lagos. A
região possui grande destaque no turismo estadual recebendo milhares de turistas em feriados prolongados, férias
e verão, devido suas belezas naturais. Trechos das rodovias estaduais estão localizados dentro do perímetro urbano
do município de São Pedro da Aldeia gerando diversos conflitos com o trânsito local.
Neste estudo foram identificados os locais onde se concentram os acidentes, nas rodovias estaduais no município
de São Pedro da Aldeia, através de método numérico com a Técnica da Severidade dos Acidentes proposto no
Programa PARE (MT, 2002). Foram realizadas visitas nas rodovias, cada trecho crítico foi estudado e soluções
foram propostas com o objetivo de melhorar a segurança viária. O presente estudo pode ser utilizado como base
para outros estudos nos municípios vizinhos e espera-se que seja mais uma fonte de informação para que os
governantes possam direcionar suas ações para tornar o trânsito mais seguro.
PALAVRAS CHAVE: Acidentes de tráfego. Pontos críticos. Fatores contribuintes para acidentes de tráfego. São
Pedro da Aldeia
ABSTRACT
São Pedro da Aldeia is a municipality in the interior of the state of Rio de Janeiro and is part of the Lakes Region,
which has a great prominence in state tourism receiving thousands of tourists on long holidays, vacations and
summer due to its natural beauty. The state highways that give access to the Region of the Lakes pass through the
urban perimeter of the municipality of São Pedro da Aldeia generating several conflicts with the local traffic.
In this study, the locations where the accidents are concentrated, on the state highways in the municipality of São
Pedro da Aldeia, using a numerical method with the Severity of Accidents technique proposed in the PARE
Program (MT, 2002). Visits were carried out at the sites and studied each critical section, solutions were proposed
with the aim of improving road safety. The present study can be used as a basis for other studies in the neighboring
municipalities and it is expected that it will be another source of information so that the rulers can direct their
actions in order to make the traffic in the municipality of São Pedro da Aldeia more secure.
KEYWORDS: Traffic accidents. Critical points. Contributing factors for traffic accidents. São Pedro da Aldeia
1 INTRODUÇÃO
O Município de São Pedro da Aldeia tem seu perímetro urbano cortado pelas rodovias RJ-106,
RJ-140 e RJ-124 que também são as principais rotas de acesso a toda Região dos Lagos. Nas
rodovias estaduais dentro do município de São Pedro da Aldeia há um grande fluxo de tráfego
de passagem em direção às cidades vizinhas e também há grande fluxo local devido a rodovia
ser o único acesso da área central aos bairros mais populosos do município. Muitos conflitos
ocorrem neste perímetro urbano causando diversos tipos de acidentes como abalroamentos,
colisões, choques, capotamentos e atropelamentos.
A RJ-124 era uma rodovia de 30 km que ligava os municípios de Rio Bonito a Araruama. Em
1997 a concessionária da Rodovia dos Lagos iniciou as obras de ampliação da ligação viária
Rio Bonito/Araruama/São Pedro da Aldeia e em dezembro de 1998 foi inaugurada a rodovia
2 ACIDENTES DE TRÂNSITO
Segundo Gold (1998) acidente de trânsito é um evento não intencional que produz ferimentos
ou danos, e que envolve ao menos um veículo motorizado ou não.
Acidente de trânsito é a ocorrência fortuita ou não, em decorrência do desenvolvimento em
proporções variáveis do homem, do veículo, da via e demais elementos circunstanciais, da qual
tenha resultado ferimento, dano, estrago, avaria, ruína etc. (DNIT, 2010a).
Segundo Dossiê do Trânsito (ISP, 2011) os tipos de acidentes são:
• Colisão: choque entre dois ou mais veículos.
• Abalroamento: o mesmo que colisão, só que em sentido lateral por parte do
veículo atingido.
• Atropelamento: acidente em que pedestre ou animal sofre impacto de um
veículo.
• Capotagem: acidente de trânsito em que o veículo acidentado emborca, ficando
de rodas para cima ou mesmo voltando a ficar sobre as rodas, depois de girar sobre si
mesmo.
• Choque com objeto fixo: Acidente em que há impacto de um veículo contra
qualquer objeto fixo (poste, árvore, muro, veículo parado em estacionamento).
• Tombamento: o mesmo que capotagem, porém permanecendo em repouso sob
uma das faces laterais.
Acidentes sem vítima são acidentes com danos materiais sem que haja vítimas. Acidentes com
vítimas são acidentes que geram ferimentos a uma ou mais pessoas e acidentes com vítimas
fatais são os que geram óbito.
Segundo Dossiê do Trânsito (ISP, 2011) as circunstâncias dos acidentes avaliados:
1. Acidente de trânsito com vítima.
2. Acidente de trânsito com vítima não-fatal, trabalhando com as hipóteses
abaixo elencadas:
Atendimento de policiais no local do acidente; e
Encaminhamento direto das vítimas por outrem (testemunhas) ao
hospital.
O Ministério dos Transportes (MT, 2002) define ponto crítico de uma interseção ou trecho entre
interseções consecutivas que apresentem uma frequência de acidentes excepcionalmente elevada,
se comparadas às demais interseções ou trechos entre interseções da malha viária.
O estudo desses locais problemáticos é um meio apropriado de se estabelecer uma política de
melhoramento dos níveis de segurança da rede rodoviária, permitindo uma definição de prioridades
(DNIT, 2009).
O município de São Pedro da Aldeia possui a taxa mais elevada de óbitos por acidente de
trânsito terrestre por 100.000 habitantes da Região dos Lagos. O município de Cabo Frio que
possui a maior população, e é para onde a maior parte do tráfego é direcionado, não ocorrem
tantos acidentes devido as ações para controle da velocidade dos veículos solicitados pelo
4 TRECHO EM ESTUDO
O trecho em estudo destaca as rodovias do estado do Rio de Janeiro com denominação estadual
RJ-106, RJ-140 e a interseção da RJ-124 com a RJ-106, situada no sudeste do estado do Rio de
Janeiro, no município de São Pedro da Aldeia. O trecho inicia-se na divisa entre os municípios
de Iguaba Grande, a RJ-106, e finaliza na divisa com o município de Cabo Frio, RJ-140,
totalizando uma extensão de 17,7 km.
Abalroamento 2 1 0 2 2 0
Atropelamento 0 0 0 0 0 0
Atropelamento Animal 0 0 0 1 0 1
Capotamento 0 0 0 0 0 0
Choque 0 0 0 2 1 0
Colisão 0 0 0 0 0 0
Outros 0 0 0 1 0 0
Tombamento 0 0 0 0 0 0
TOTAL 2 1 0 6 3 1
Fonte: BPRV
Abalroamento 14 19 1 24 27 1
Atropelamento 2 1 1 6 3 2
Atropelamento Animal 0 0 0 0 0 0
Capotamento 7 18 0 3 4 1
Choque 3 6 0 3 2 1
Colisão 1 1 0 18 17 2
Outros 0 0 0 1 0 0
Tombamento 0 0 0 9 14 0
TOTAL 27 45 2 64 67 7
Fonte: BPRV
Devido ao alto número de acidentes fatais nos quilômetros 105 e 106 os moradores dos bairros
lindeiros realizaram manifestações no mês de agosto de 2016 solicitando ondulações
transversais como medida moderadora de velocidade para conter os acidentes que ocorriam
quase que diariamente no local, o Departamento de Estradas de Rodagem (DER-RJ) atendeu as
solicitações e foram instalados quatro ondulações transversais nos quilômetros 105 e 106. Esses
locais foram excluídos deste estudo como orienta o manual do Ministério dos Transportes:
Excluir os locais/trechos onde ocorreram intervenções físicas, inclusive sinalizações,
após o período de referência (se forem realizadas intervenções no local em questão,
Abalroamento 13 18 24 29 0
Atropelamento 6 6 1 6 5 3
Atropelamento Animal 1 0 0 1 1 0
Capotamento 1 1 0 2 7 1
Choque 8 9 0 9 10 3
Colisão 13 20 0 13 17 1
Outros 0 0 0 0 0 0
Tombamento 1 3 0 2 3 0
TOTAL 43 57 1 57 72 8
Fonte: BPRV
Comparando os dados dos acidentes registrados nos anos de 2015 e 2016 do mesmo período,
observamos um aumento de 32% no número de acidente e um aumento de 700% nos óbitos.
Outro destaque está nos números de colisões principalmente nos retornos, muitos veículos
sobem o canteiro central e colidem com os postes de iluminação. Há dois anos a rodovia
encontra-se com diversos trechos escuros porque os postes foram derrubados em acidentes.
Neste ano a rodovia encontra-se em estado de perigo iminente.
A RJ-140 foi pioneira no estado do Rio de Janeiro a ser pavimentada com asfalto borracha pelo
DER-RJ. Porém em apenas 9 anos, seu pavimento encontra-se já com trincas por fadigas,
devido ao alto fluxo de veículos, especialmente veículos pesados.
8 RESULTADO DO ESTUDO
O estudo apontou 5 trechos como críticos nas rodovias estaduais no perímetro urbano do
município de São Pedro da Aldeia.
1º. km 15 - RJ-140 3º. km 21 - RJ-140 5º. km 19 - RJ-140
2º. km 22 - RJ-140 4º. km 110 - RJ-106
Somente no km 21,9 existe uma passarela, a maioria dos pedestres utilizam a passarela
principalmente os mais vulneráveis como crianças, mães com bebês, pais com filhos pequenos,
idosos, deficientes e pessoas com algum tipo de limitação física além dos pedestres que não
querem arriscar-se.
Figura 04: Ciclistas trafegando no acostamento sem Figura 05: Abrigo de passageiros de ônibus
segurança somente assentado na calçada
Fonte: Arquivo pessoal (2016) Fonte: Arquivo pessoal (2016)
Observa-se no local excesso de velocidade dos veículos e não existe sinalização de advertência
para reduzir a velocidade, pois nas curvas dos retornos sempre ocorrem acidentes, nem placas
educativas para respeitarem a sinalização. Não há travessia segura de pedestres na Unidade de
Pronto Atendimento Pediátrica (UPA), local com grande fluxo de pais com crianças doentes,
se tornam ainda mais vulneráveis no trânsito, além da via estar sem iluminação.
No sentido Cabo Frio, o retorno no km 19, está localizado próximo a uma curva vertical convexa
seguida da curva horizontal do retorno, muitos condutores perdem o controle do veículo e caem na
vala às margens da rodovia. Se um condutor trafega na velocidade permitida é requisitado muita
atenção. Se um condutor inicia a curva vertical acima da velocidade máxima permitida da via, ele
tem dificuldade na manobra ainda mais se não conhece o local. A cerca de 150m existia um ponto
de ônibus pré-moldado que foi destruído duas vezes com choques de veículos que perderam
controle no retorno, o local é uma parada de ônibus muito utilizada gerando grande risco aos
10
9 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES
Após encontrados os pontos críticos por métodos numéricos, confirmou-se o resultado do estudo
visitando os locais como condutora de veículo, como pedestre em plenas condições físicas e também
com mobilidade reduzida. Toda conclusão aqui apresentada englobará essas três percepções, além
da literatura consultada, métodos numéricos e análise técnica.
Concluiu-se que os fatores predominantes dos acidentes de tráfego nas rodovias estaduais no
município de São Pedro da Aldeia são: deficiência na sinalização rodoviária, ausência de
fiscalização, falta de manutenção rodoviária, excesso de velocidade, desrespeito às leis de trânsito
e falta de segurança ao pedestre. Nossa obrigação como engenheiros é fazer com que a rodovia seja
segura para condutores e pedestres, mesmo que algum deles errem em suas escolhas, ninguém pode
ser sentenciado à morte.
É papel dos gestores da rodovia realizar a manutenção rodoviária, educar os usuários, adverti-los
sobre os perigos que irão encontrar, controlar a velocidade máxima dos veículos e assegurar que
em caso de erro, ou evento fortuito, um acidente seja evitado ou pelo menos que sua gravidade seja
minimizada.
Recomendamos a redução da velocidade máxima da rodovia para 50km/h, igualando a velocidade
máxima da mesma rodovia nos municípios vizinhos. A Justificativa é a grande população nos
bairros lindeiros que utilizam a rodovia diariamente e elevado número de pedestres e ciclistas
atravessando a rodovia. O alto fluxo de veículos dificulta manobras do tráfego local e não oferece
oportunidade de travessia segura ao pedestre, segundo o Manual Segurança de Pedestres da
Organização Mundial da Saúde (OMS, 2013) em caso de atropelamento o pedestre tem apenas
20% de chances de sobrevivência se o veículo estiver trafegando com velocidade média de 60 km/h
e 50% de chances em velocidade próxima a 50 km/h.
Verificamos a presença de muitos pedestres e ciclistas ao longo de toda rodovia, por isso a
necessidade de se controlar a velocidade dos veículos e proporcionar segurança nas travessias com
a construção de faixas de pedestres e passarelas junto às paradas de ônibus, as últimas são muito
questionadas pela sociedade alegando a falta de uso de pedestres que preferem cruzar a rodovia em
nível, porém foi observado que a maioria dos pedestres optam por atravessar a rodovia pela
passarela, foi observado também que todas as crianças e muitos dos jovens utilizam as passarelas
assim como mães com crianças de colo ou carrinho de bebê, idosos e deficientes, somente por estes
já se justifica a instalação de passarelas nas rodovias pois eles são os pedestres mais vulneráveis.
Sugerimos a construção de dois portais um no km 108 da RJ-140 e outro km 105 da RJ-106,
ele indicará o início do perímetro urbano, essa é uma medida de traffic calming utilizada para
acalmar o trânsito e fazer com que o condutor reduza a velocidade instintivamente. Sugerimos
também que seja construído ilhas de separação de fluxos no km 21 da RJ-140, onde a via
marginal foi anexada a rodovia, gerando conflitos e acessos diretos à rodovia. Aconselhamos
que seja realizado um estudo para a duplicação da RJ-106 do km 103 ao km 107, pois há grande
fluxo de veículos, os acidentes só foram reduzidos após a instalação de quatro ondulações
transversais. No local existe uma ideal faixa de domínio e os postes de iluminação estão
posicionados em local adequado para futura duplicação.
Sugerimos também um estudo para troca ou recuperação do pavimento da RJ-140 que já perdeu
suas propriedades mecânicas em longos trechos. O trecho duplicado no ano de 2007 da RJ-106 e da
RJ-140 foi muito bem projetado, é uma ótima rodovia, porém devido ao aumento no tráfego ao
11
12 REFERÊNCIAS
BPRV - BATALHÃO DE POLÍCIA RODOVIÁRIA DO ESTADO RIO DE JANEIRO. Estatísticas de acidentes
ocorridos nas rodovias estaduais no município de São Pedro da Aldeia, RJ de Janeiro a Setembro de 2015 e 2016.
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GOLD, P. A. Segurança de Trânsito. Aplicações de Engenharia para Reduzir Acidentes. Banco Interamericano
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Disponível em http://arquivos.proderj.rj.gov.br/isp_imagens/Uploads/DossieTransito2012.pdf. Acessado em
02/10/2016.
ISP – INSTITUTO DE SEGURANÇA PÚBLICA – Dossiê de Trânsito. Rio de Janeiro, RJ, 2011. 77p. Disponível
em http://arquivos.proderj.rj.gov.br/isp_imagens/Uploads/DossieTransito2011.pdf Acessado em 02/10/2016.
OMS - ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. Segurança de pedestres: Manual de segurança viária para
gestores e profissionais da área. 2013. 120p. Disponível em
http://apps.who.int/iris/bitstream/10665/79753/7/9789275718117_por.pdf. Acessado em 06/09/2016.
12
CAPACIDADE
RESUMO
Este trabalho visa analisar a importância da última milha no transporte urbano de alta capacidade de passageiros.
Algumas cidades, como São Paulo, México, Nova York e Paris, concentram uma enorme população que geram
demandas cada vez maiores por serviços de transporte. As cidades do primeiro mundo contam com sistemas
eficientes de transporte ferroviário, entretanto sua construção é cara, fazendo com que seu crescimento seja
lento. Nos países em desenvolvimento, os sistemas de transporte não são completamente eficientes, uma vez que
nas grandes cidades são incapazes de atender a demanda de forma adequada, e nas pequenas e médias cidades
não possuem sistemas que permitam atender a população. O transporte de alta capacidade atrai passageiros de
diferentes áreas através de vários modos. Esses sistemas, devido a sua alta capacidade, necessitam de grandes
terminais para embarque e desembarque de passageiros, além de integrações destes meios com outros modais,
buscando facilitar o transporte "porta a porta", no sentido de ter acesso ao seu destino final. Portanto, para que os
sistemas de alta capacidade possam ser bem utilizados é necessário ter disponível alguma forma para se atingir o
último estágio da viagem, ou seja, a “última milha”.
ABSTRACT
This paper aims to analyze the importance of the last mile in urban high capacity passenger transport. Some
cities, such as São Paulo, Mexico, New York and Paris, have a large population that generates ever greater
demands for transportation services. The cities of the first world count on efficient systems of rail transport,
however its construction is expensive, causing that its growth is slow. In developing countries, transportation
systems are not completely efficient, since in large cities they are unable to adequately meet demand, and in
small and medium-sized cities they do not have systems to meet the population. High-capacity transport attracts
passengers from different areas through various modes. These systems, due to their high capacity, require large
terminals for boarding and disembarking passengers, in addition to integrations of these means with other modes,
seeking to facilitate "door to door" transportation in order to have access to their final destination. Therefore, for
high-capacity systems to be well used, some form must be available to reach the last stage of the journey, the
"last mile".
PALAVRAS CHAVE
Transporte de alta capacidade, última milha, BRT.
Em metrópoles brasileiras, nas quais tipicamente não se observa uma rede estruturante
cobrindo o território de forma equitativa e integrada (Mello e Portugal, 2017), a última milha
assume um papel ainda mais relevante. O caso da Região Metropolitana do Rio de Janeiro
(RMRJ), em particular os ramais ferroviários, exemplificam esta situação (Gonçalves, 2006).
2. METODOLOGIA
A metodologia desenvolvida para este artigo foi revisão bibliográfica, onde as pesquisas
foram realizadas em sites de publicações acadêmicas, tais como: Minerva, Google Acadêmico
Cervero (2007) afirma que o declínio do uso de transporte público no total das viagens é
um problema universal, que vem se acentuando desde a primeira metade da década de 1990,
devido ao domínio crescente do automóvel (facilidade de aquisição) e descentralização.
Um transporte urbano bem planejado reduz o número de veículos nas vias e aumenta a
fluidez do trânsito. O transporte de alta capacidade atrai passageiros de diferentes áreas
através de vários modos de acesso, tais como: linhas alimentadoras de ônibus, bicicletas,
automóveis ou até mesmo a pé. Esta área de captação é importante no planejamento do
intercâmbio e integração do trânsito.
No Brasil, os sistemas de transporte não são eficientes, uma vez que nas grandes
cidades são incapazes de atender a demanda de forma adequada, e nas pequenas e médias
cidades não possuem sistemas que permitam atender a população, com pouca necessidade de
transbordo e pouco intervalo de tempo.
Algumas cidades como São Paulo, México, Nova York e Paris, concentram uma
enorme população que geram demandas cada vez maiores por serviços de transporte.
Enquanto cidades do primeiro mundo contam com sistemas eficientes de transporte
metroferroviário, os países em desenvolvimento buscam criar um sistema de transporte que
atendam de maneira eficiente sua população.
Como nosso objetivo é chegar ao destino final, vamos considerar como transporte
urbano de alta capacidade os modos que possuam capacidade de transportar mais de 160
passageiros por viagem, conforme tabela 1.
Todos os sistemas de alta capacidade devem ser alimentados por modalidades de menor
capacidade, segundo uma concepção integrada, na qual a última milha precisa ser
contemplada.
Um exemplo, o BRT – Bus Rapid Transit, que em português significa sistema rápido de
ônibus, aparece como uma das soluções para o transporte de passageiros, com investimentos
baixos. Esses sistemas são compostos por ônibus de grande capacidade, biarticulados, e que
circulam por corredores exclusivos.
Para Reis (2013), o sistema de BRT foi implementado com sucesso em cidades como
Curitiba e Bogotá. Esses sistemas possuem alta capacidade de transporte e um custo de
construção bem menor que outros sistemas utilizados, sendo visto como uma alternativa
viável para melhoria dos transportes coletivos.
Para que não haja problemas na pista, o BRT possui uma estrutura que foi idealizada
para não ter a presença de pedestres, veículos e animais. Além disso, para evitar questões que
impliquem em perdas operacionais. Esta estrutura criada promove a acessibilidade dos
Segundo Rebelo (2010), o que diferencia o BRT dos outros modais é a flexibilidade da
oferta. Assim este sistema pode começar com uma operação mínima, de três mil
passageiros/hora, e comportar uma demanda de até quarenta e cinco mil passageiros por hora.
TRANSPORTE DE
PRIMEIRA ÚLTIMA
ORIGEM ALTA CAPACIDADE DESTINO
MILHA DE PASSAGEIROS MILHA
5. EXPERIÊNCIAS NO MUNDO
Figura 2: A espinha dorsal do sistema de trânsito multimodal em Singapura - Rede MRT o planejado e existente
(Fonte: LTA (2002b).
Figura 3: Foto com os modais de transporte de Singapura (Fonte: site: www.24brasil.com, 2017).
Segundo Duarte e Rojas (2012) o BRT de Curitiba está atingindo sua capacidade
máxima, transportando mais de 2.2 milhões de passageiros diários e se estende por mais de 72
km. Suas principais características são os projetos que incluem plataformas de ônibus no
mesmo nível que o piso do ônibus, tarifas pré-pagas, cobrança automatizada de tarifas, maior
espaçamento entre paradas de ônibus (de 500 m a 3 km) e integração de linhas alimentadoras
nas estações principais.
A frota consiste em 1.915 ônibus, dos quais 60 funcionam com biocombustíveis e 185
correm em corredores segregados (Lindau et al., 2010; Hagen 2009)
Todo o transporte público em Curitiba faz parte da rede integrada de transporte (RIT),
conforme Figura 2, que também fornece cobertura parcial nas cidades vizinhas. É executado
pela URBS, uma empresa pública de 99,9%, cujo presidente é nomeado pelo Prefeito de
Curitiba.
Bogotá implementou seu sistema de BRT no final da década de 1990. Uma empresa
privada, chamada Transporte del Tercer Milenio Transmilenio SA, foi criada para planejar e
operar o novo sistema. Desde então, seu nome tornou-se sinônimo do sistema inteiro (Gómez
2003).
As linhas principais, que são operadas com ônibus biarticulados, são alimentadas no
terminal por linhas alimentadoras a partir da área metropolitana.
6. CONCLUSÃO E RECOMENDAÇÃO
No entanto, é importante lembrar que outros fatores também podem contribuir para a
não utilização destes transportes e merecem ser melhor estudados. Portanto, uma consideração
a ser feita e que pode ser explorada em novos trabalhos é que mesmo com a disponibilização
de modos de integração para a realização da última milha as pessoas podem optar por não
utilizar os transportes de alta capacidade, seja por superlotação, ou por falta de segurança ou
até mesmo pela comodidade de utilização dos veículos particulares.
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RESUMO
Este artigo tem como objetivo estudar o acesso terrestre de funcionários em aeroportos, analisando os
modais de transporte disponíveis e as políticas utilizadas para sua melhoria, de modo a diminuir o
congestionamento. O artigo terá início com o embasamento teórico retirado da bibliografia disponível. Em seguida
será feito um estudo de caso no Aeroporto Internacional de Viracopos incluindo uma pesquisa de campo visando
obter dados que possibilitem entender a estrutura atual do aeroporto para estudar possíveis cenários de melhoria
de acesso. Como resultado deste trabalho, espera-se conhecer as diversas formas de acesso terrestre por
funcionários a aeroportos, além de serem apresentadas propostas que estimulem o uso do transporte público.
ABSTRACT
This article aims to study the ground access of airport staff, analyzing the transportation modes available
and the policies used to improve it, in order to reduce congestion. The article begins with a theoretical basis from
the existing bibliography. Next, a case study will be done at the Viracopos International Airport, including a field
survey to collect data to understand the current airport structure to study possible access improvement scenarios.
As a result of this work, it is expected to know the various forms of ground access to airports by employees, as
well as to present solutions that stimulates the use of public transportation.
PALAVRAS CHAVE
aeroporto, transporte, funcionários
1. INTRODUÇÃO
O tráfego aéreo tem dobrado a cada 10 anos desde a década de 1970 e, em resposta, tem
se adaptado com novas pistas e maior capacidade dos terminais. No entanto, durante a década
de 1990 o acesso aos aeroportos tem se tornado um dos componentes de capacidade críticos do
sistema de transporte aéreo. A capacidade aeroportuária depende e é determinada por controle
do tráfego aéreo, pistas de pouso e decolagem, terminais e acesso. Qualquer dessas áreas que
apresente limitação pode gerar repercussões sérias no funcionamento do aeroporto (Humphreys
e Ison, 2005).
Segundo Caves e Gosling (1999), governos ao redor do mundo tem tentado dar aos
aeroportos a responsabilidade de prover acesso viário e de aumentar a parcela de viagens feita
por transporte público. Um modelo desta prática funciona com o governo só aprovando o
aumento da capacidade de um aeroporto caso haja incrementos na capacidade de acesso
terrestre, como novas ligações ferroviárias, rodoviárias e melhorias nos serviços de transporte
público.
Nos últimos anos, o modelo de operação dos aeroportos tem seguido uma direção mais
comercial, visando maximizar receitas e renda através do desenvolvimento de áreas próximas
ou mesmo dentro do sítio aeroportuário para atividades correlatas. Com essa tendência, é
provável que o problema de acesso terrestre se agrave ainda mais (De Neufville et al, 2013). Os
autores classificam os principais componentes do tráfego aeroportuário em três grupos, cujas
características devem ser avaliadas pelos planejadores: passageiros, funcionários e
fornecedores.
Graham (2001) diz que a relação da gerência aeroportuária com os funcionários é difícil,
visto que apenas cerca de 7% dos funcionários de um aeroporto são da empresa administradora.
Assim, para implantar políticas de mudança do meio de transporte, o aeroporto deve trabalhar
em conjunto com as diversas outras empresas terceirizadas. No aeroporto de Manchester, por
exemplo, existem mais de cem empresas empregando um montante aproximado de 15.500
funcionários. Estudos conduzidos no Reino Unido identificaram que os funcionários da própria
administradora devem tomar a iniciativa de utilizar transportes que não o individual, de modo
a servir de exemplo às demais empresas instaladas na área do aeroporto.
Figura 1. Acesso terrestre a aeroportos por transporte público (%) para passageiros e funcionários (Humphreys e
Ison, 2005)
- Tempo de viagem: Para a maioria dos funcionários, o transporte público deve competir
com a conveniência proporcionada pelo automóvel individual, sendo que o tempo de viagem
deve ser, não necessariamente igual ou menor, mas comparável ao último. Outro fator relevante
é a frequência do serviço de transporte que, se for alta, reduz a espera do funcionário e aumenta
sua flexibilidade de horário.
- Conforto: Fatores que geram desconforto ao usuário com relação ao transporte público
são o tempo de espera e a necessidade de fazer baldeação.
Os planos de transporte visam diminuir o uso de carros ocupados apenas pelo motorista.
Medidas adotadas nestes planos incluem: incentivar o home office, aumentar a consciência
sobre o transporte público, dar descontos sobre o transporte público, favorecer o uso da
bicicleta, estimular contratações ligadas a áreas servidas por transporte público e implantar
sistemas de carro compartilhado. Uma limitação da abrangência dos planos de transporte é o
fato da maioria deles serem feitos pelas empresas que administram os aeroportos, atingindo
somente os funcionários diretamente ligados a elas. Empresas terceirizadas, já instaladas no
sítio, podem não ser muito suscetíveis às mudanças propostas para o aceso terrestre; contudo,
uma estratégia eficiente é impor a apresentação de um plano diretor de transporte de novas
4.3 Carro
É difícil definir o ideal para o acesso aeroportuário. Os grandes aeroportos geram fluxos
grandes e diversos, incluindo passageiros e transporte de mercadorias, e estes fluxos podem
tanto convergir quanto se dispersarem, saindo ou chegando ao aeroporto. No caso da cidade
possuir um significativo sistema de transporte ferroviário, este facilmente torna-se o principal
meio de acessar este setor; caso contrário e o que geralmente se observa é a necessidade de
estradas, acessos rodoviários e estacionamentos adequados nos aeroportos (De Neufville et al,
2013). O transporte de alta capacidade, além de atrair passageiros com sua velocidade e
conforto, pode eliminar o trânsito de milhares de automóveis diariamente, reduzindo
congestionamentos e emissão de poluentes. O modal sobre trilhos, geralmente o metrô, é o
cerne do sistema de transportes das grandes cidades dos países desenvolvidos, sendo o ônibus
um serviço complementar, com a função de abastecer as linhas ferroviárias. (IACD, 2006).
Os principais parâmetros da pesquisa, que serão estudados neste artigo, são: modal de
transporte utilizado para deslocamentos ao trabalho, custo do estacionamento (válido para os
usuários de transporte individual), percepção do transporte público e modal de preferência do
usuário, caso todas as opções fossem acessíveis.
𝜕2 .𝑝.𝑞.𝑁
𝑛 = 𝑒 2 .(𝑁−1)+𝜕2 .𝑝.𝑞 (1)
Onde,
𝑛 = amostra que será calculada
N = universo; 4274
𝜕 = nível de confiança; 1,96 (que representa um nível de confiança de 95%)
𝑒 = erro amostral; 5 (erro admissível de 5%)
p.q = porcentagem pelo qual o fenômeno acontece; 80.20 (supondo uma população
homogênea, onde praticamente todos os entrevistados realizam viagens diárias ao aeroporto)
Obtemos assim uma amostra mínima de 233. Outro critério para uma amostra de
população finita ser válida é de ser no mínimo 5% do total; no caso seria preciso uma amostra
de 214. Portanto, a amostra obtida de 259 atende a ambos os critérios de validade.
6. RESULTADOS
Aqui se observa uma divisão muito próxima entre o transporte público e fretado,
somando 51%, e o transporte individual, com bicicleta, moto e carro, somando 49%. Nota-se
somente 8% compartilham a viagem de carro com outros funcionários, sendo o percentual que
viaja sozinho de carro bastante representativo; aproximadamente um terço do total de viagens.
8%
32%
26%
8%
25%
14%
35%
22%
2%
24%
3%
As parcelas de funcionários que consideram o transporte público muito ruim ou ruim, somam
59% do total, desencorajando o uso deste modal de transporte.
10%
11%
36%
Muito ruim Ruim Adequado Bom Muito bom Não sabe opinar
Observa-se que mesmo se oferecido com qualidade, o transporte público por ônibus
circulares teria apenas 15% de aderência e o transporte ferroviário 11%. O automóvel individual
seria a opção de 25% dos funcionários e o ônibus fretado 43%, mostrando-se o modal preferido.
0% 11%
2%
25%
15%
4%
43% 0%
7. RECOMENDAÇÕES
Com um aumento da oferta do ônibus fretado, o atual índice de adesão de 25% subiria
8. CONCLUSÕES
A questão do acesso torna-se ainda mais relevante, uma vez que se conecta diretamente
com a mobilidade terrestre no entorno do aeroporto, sendo determinante para evitar
congestionamentos.
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RESUMO
A Prioridade Semafórica para o Transporte Público (TSP) tem se mostrado um elemento cada vez mais importante
para os sistemas de BRT, que na tentativa de diminuir o tempo de viagem e aumentar a previsibilidade do sistema,
utilizam estratégias cada vez mais sofisticadas. Os tipos de estratégias de TSP existentes se diferem em vários
sentidos, como nos custos de implantação e resultados obtidos, além disso, a adoção de uma mesma estratégia de
prioridade semafórica para dois corredores com características distintas apresentam ganhos operacionais
diferentes. Nesse contexto, o presente artigo tem como objetivo, examinar a nível operacional, os impactos, no
tempo de viagem, da programação semafórica nos corredores de BRT, bem como apresentar estratégias das duas
principais categorias (Prioridade Passiva e Ativa) de prioridade semafórica para sistemas de transporte público
em interseções com vias de tráfego misto, e ainda analisar a velocidade média dos corredores para ônibus de acordo
com o tipo de prioridade semafórica empregada.
ABSTRACT
Transit Signal Priority (TSP) has been an increasingly important element for BRT systems, which, in an attempt
to reduce travel time and increase system predictability, apply increasingly sophisticated strategies. There are
several existing TSP strategies, which differ in both the essence of the technique and the implementation costs and
results obtained. In this context, the objective of this article is:
Examine, at an operational level the impacts of traffic signal programming on BRT corridors;
Show TSP strategies for public transport systems at intersections with mixed traffic routes;
Analyze the average speed of the corridors for buses according to the type of traffic light priority used.
1. INTRODUÇÃO
O BRT é o modo de transporte de média capacidade que mais ganhou força nos últimos anos,
especialmente nos países em desenvolvimento, em virtude da relativa facilidade de
implementação associada ao baixo custo, se comparado com os modos sobre trilhos (metrô,
trem urbano e VLT). De acordo com o BRT Data, só na América Latina já são mais de 218
corredores de BRT, sendo 125 só no Brasil. Acentua-se que por haver diferença no modo de
operação e na infraestrutura dos BRT´s, mudanças de desempenho podem ser constatadas.
Por fim, esta pesquisa pretende verificar os impactos gerados, no tempo de viagem, pelas
interseções semaforizadas, nos corredores de BRT, além de apresentar técnicas de programação
semafórica que podem ajudar a melhorar a eficiência do sistema de transporte.
2. SISTEMAS BRT
O sistema BRT é “um modo de transporte público sobre pneus, veloz e flexível, que combina
estações, veículos, serviços, vias e elementos de sistema inteligente de transporte (ITS) em um
sistema integrado com uma forte identidade positiva que evoca uma única imagem” (ITDP,
2008). Cinco características essenciais definem o BRT:
Vuchic deduz a definição dos modos de transportes a partir de três características: ROW right-
of-way (significa “direito de passagem”, em tradução direta), tecnologia e tipo de operação.
Entretanto, o direito de passagem é considerado o recurso mais importante, uma vez que ele é
o responsável por determinar as características básicas dos modos de transporte e exerce
influência direta na seleção da tecnologia do sistema, tipo de veículo a ser utilizado e recursos
operacionais (1981).
O ROW, por sua vez, é dividido em três categorias, A, B e C, que são classificadas de acordo
com o nível de interferência que os modos sofrem de outro tipo de tráfego, como apresentado
abaixo:
Categoria C – Modos que operam junto com o tráfego geral, sem nenhum tipo de separação;
Categoria B – Sistemas que transitam em corredores parcialmente separados dividindo
apenas os cruzamentos com pedestres, ciclistas e veículos do tráfego geral.
Em outra pesquisa o autor ainda afirma que o BRT está inserido na classe B, pois apesar de
trafegar em faixas exclusivas, este modo divide espaço, em alguns trechos, com automóveis,
além de não ser completamente protegido de pedestres (Vuchic, 2002). Contudo, essa
classificação não é suficiente para universalizar o conceito de BRT, uma vez que este modo
apresenta uma gama de variações de acordo com o local que é implantado, podendo mudar
substancialmente.
É importante ressaltar os requisitos mínimos que a ferramenta estabelece para que um corredor
seja considerado BRT:
Observa-se que o tratamento dado as interseções é um dos elementos do “BRT Básico”, ou seja,
é um dos principais elementos que caracterizam esse modo de transporte, ele pode aumentar ou
deduzir a pontuação do corredor no Padrão de Qualidade do BRT, contudo, isso vai depender
da quantidade de conversões proibidas na via exclusiva, percentual de interseções com
prioridade semafórica e fiscalização da prioridade de passagem nesses pontos, quanto maior for
a prioridade do BRT nesses pontos, maior será sua pontuação.
Existem inúmeras maneiras de reduzir a perda de tempo dos ônibus nos cruzamentos, variando
entre técnicas de programação semafórica a construção de obras de arte especiais, que
proporcionam separação de nível nos cruzamentos, como pontes, viadutos e trincheiras. Tem-
se que as proibições de conversões e construção de obras de artes especiais, são as medidas de
prioridade mais eficazes, contudo, são limitadas pois nem sempre podem ser adotadas devido
limitações orçamentárias, falta de espaço, fluxo da via transversal, tempo de construção, índice
de reclamação, alteração do fluxo do tráfego misto entre outros problemas. Assim, as técnicas
de programação semafórica surgem como uma opção mais versátil em relação às anteriores.
Destaca-se que ao longo dos últimos anos, algumas pesquisas buscaram estudar novas
estratégias de priorização semafórica, com foco na melhoria do desempenho do transporte
público coletivo e não apenas na capacidade da interseção. Alguns países já têm incorporado
TSP em seus projetos de transporte público, mostrando que a utilização de semáforos em
interseções, entre vias de tráfego misto com corredores de transporte coletivo, vem ganhado
força, para fornecer alguma prioridade aos veículos do sistema de transporte público, com
objetivo de melhorar o desempenho destes (Peron, 2015; Xu et al., 2010).
Atraso parado – Inicia quando o veículo para completamente e termina quando ele começa
a acelerar.
Atraso de aproximação – É a soma do atraso parado com o tempo de desaceleração e
aceleração até o retorno à velocidade em que trafegava.
A grande vantagem das estratégias de prioridade passiva é o seu custo relativamente baixo e a
facilidade de implementação e operação, uma vez que não há necessidade de adquirir
equipamentos para detectar a presença dos veículos do sistema de transporte público. No
entanto, a prioridade passiva pode causar atrasos significativos de forma desnecessária para os
veículos não-prioritários, especificamente em pontos onde o fluxo do tráfego misto é pesado,
devido as temporizações preferenciais mesmo quando não há ônibus. Dentre as estratégias de
prioridade semafórica passiva destacam-se o ajuste do tempo de ciclo, a divisão de fase e os
planos de temporização de área (Shalaby et al., 2006). Segue a descrição detalhada de algumas
estratégias (Peron, 2015; Smith et al., 2009).
Esta estratégia consiste em dividir o estágio, que fornece o direito de passagem aos ônibus nas
interseções isoladas, em dois ou mais estágios dentro do ciclo, reduzindo o atraso destes
veículos sem alterar o tempo de ciclo. Como consequência a capacidade do cruzamento é
reduzida devido aos tempos adicionais de entreverdes ao fim de cada estágio.
A prioridade ativa fornece tratamento prioritário aos veículos do sistema de transporte público
a partir da sua detecção do ônibus, geralmente próxima à interseção (Smith et al., 2009).
Conduto, sua implantação requer investimentos em uma infraestrutura adicional, como a
aquisição de dispositivos básicos para detecção dos ônibus, comunicação com o controlador da
interseção e sistema de controle da sinalização mais sofisticado (complexo) (Koehler et al.,
2008).
O ônibus pertence a não
Portland?
sim
O ônibus está prestando não
serviço regular?
sim
Figura 2: Lógica do TSP condicional em Portland, EUA, (Peron, 2015 apud Koonce, 2009)
não Há um
ônibus
detectado?
Semáforo não
está na fase
verde?
sim
Fim
Figura 3: Representação da prioridade semafórica Incondicional (absoluta), (Peron, 2015 apud Eikeila, Esayed,
2009)
As estratégias podem ser aplicadas de forma incondicional ou condicional (ver figuras 2 e 3),
no primeiro caso a prioridade é fornecida independentemente do status do ônibus, isto é,
independentemente do veículo realmente precisar ser tratado de maneira especial na sua
aproximação a um cruzamento controlado por semáforo, a título exemplificativo, o veículo
pode estar adiantado de sua programação original, logo não necessita de nenhum tratamento
prioritário. Ao passo que no fornecimento de prioridade condicional, como o próprio nome
sugere, as decisões são tomadas com base em uma ou mais condições, isto pressupõe que o
sistema de controle conheça o estado de funcionamento do veículo que se aproxima do
cruzamento (Garyfalia et al., 2015).
Embora seja mais eficiente que a prioridade passiva, por ter o potencial de reduzir a
probabilidade de parar em um sinal vermelho, a prioridade ativa pode causar a falta de
coordenação do sistema de tráfego, caso a programação, que fornece prioridade, seja baseada
apenas no comportamento local de uma interseção desprezando as outras que influenciam na
rede. Situação que pode ser evitada ou minimizada a partir da aplicação de estratégias baseadas
nas condições da rede. As principais estratégias utilizadas são: extensão de verde, verde
antecipado, supressão de fases, reordenação de fases extensão e estágio especial (Garyfalia et
al., 2015).
Este método consiste em estender o tempo da fase verde para priorizar os veículo do transporte
público que se aproximam da interseção pouco depois da duração normal do tempo verde. É
Esta estratégia pode ser considerada mais agressiva que a anterior, uma vez que realoca a ordem
das fases, ou seja, ativa uma fase que seria acionada somente mais tarde, com o objetivo de
sincronizar a chegada do transporte coletivo com a fase que fornece verde a este.
O método de estágio especial é alocado para a passagem dos ônibus e é introduzido na sequência
normal de estágios na primeira oportunidade possível, em ordem de suprir uma necessidade de
prioridade. Isso pode significar que outros estágios sejam truncados para seus tempos de verde
mínimos ou totalmente omitidos. A introdução da fase especial simultaneamente com o
truncamento de outras fases é por vezes chamada de fase especial dupla.
O BRTdata é o banco de dados mais completo, de acesso público, com informações sobre os
sistemas prioritários para ônibus. Nele, os usuários podem acessar dados de sistemas de BRT,
Bus with High Level of Service (BHLS) ou corredores prioritários para ônibus de 205 cidades
em todo o mundo. A plataforma consolida dados de uma variedade de fontes, incluindo
pesquisadores, agências de trânsito, municípios e ONGs.
35 31
Número de Corredores
30
25
20
14
15
10 7
4 5
5 2 3
1 1 1
0
até 12,9 13–15,9 16–19,9 20 ou maior
Velocidade Média Operacional (km/h)
Figura 4: Distribuição dos corredores por velocidade média operacional e tipo de prioridade semafórica
Outro ponto importante é que a maior velocidade média operacional observada foi de 80km/hr
no corredor “North East Busway” em Adelaide - AUS, que possui prioridade ativa. Por outro
lado a menor velocidade operacional (10 km/h) pertence a “Línia 64 Barceloneta –
Pedralbesum” em Barcelona – ESP, que também utiliza o método de prioridade semafórica
ativa. Todavia, as características da área nas quais eles estão inseridos são completamente
diferentes, o desenho urbano de Barcelona conta com quadras de aproximadamente 100 metros,
que implica em maior número de interseções, a operação é realizada em faixa preferencial para
ônibus, mas não segregada, enquanto que o corredor de Adelaide praticamente não sofre
Gardner et al., concluíram após uma pesquisa em 29 corredores, que os resultados oriundos da
prioridade semafórica devem ser vistos com cuidado, uma vez que os sistemas são diferentes
entre si, e portanto, os resultados variam conforme:
Apesar das especificidades, todas as cidades que realizaram uma avaliação econômica de seus
sistemas de prioridade relataram retornos econômicos satisfatórios, com sistemas se pagando
dentro de 3 a 16 meses, a partir dos benefícios operacionais gerados como: redução do tempo
de viagem, aumento da velocidade média e outros, embora também constatados impactos
negativos no tráfego não priorizado (2009).
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Em suma, a prioridade semafórica ativa é mais eficiente que a passiva, por fornecer prioridade
apenas quando necessário, entretanto para ambos os casos, os ganhos observados em um
corredor não podem ser transferidos diretamente para outro em outra cidade, uma vez que as
particularidades de cada cenário influem diretamente no desempenho. Logo, recomenda-se
realizar estudos de simulação computacional e/ou testes em campo, com os dois tipos de
prioridade, e comparar os resultados para um mesmo local que se deseja implantar a prioridade
semafórica.
A partir da análise das velocidades operacionais pelo tipo de prioridade semafórica, verificou-
se uma proximidade de desempenho entre os dois métodos. Contudo, isso não infere que a
escolha do tipo de prioridade semafórica é indiferente, uma vez que não foram realizadas
simulações para cada corredor com os dois tipos de prioridade, é preciso estudar cada
interseção, realizar simulações e então escolher a técnica mais adequada para a situação.
Tecnicamente a prioridade semafórica ativa incondicional é a que fornecerá melhor
desempenho, contudo, limitações de recursos financeiros e divisão do espaço com carros e
pedestres muitas vezes inviabilizam sua implantação e por isso, na maioria dos casos, o método
mais adequado de estratégia de prioridade é a combinação de vários elementos das técnicas de
prioridade existentes.
Como sugestões para pesquisas futuras em elementos que interferem no desempenho dos
sistemas de BRT, aponto o estudo do traçado geométrico dos corredores.
AGRADECIMENTOS
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URBS – Urbanização de Curitiba S. A. Transporte coletivo tem prioridade de passagem pelos semáforos de
HORIZONTE
1
Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais - Departamento de Engenharia de Transportes
2
Universidade Federal de Minas Gerais – Instituto de Geociências
3
Empresa de Transportes e Trânsito de Belo Horizonte – BHTRANS S/A
RESUMO
Esse artigo visa analisar a influência da rede econômica de Belo Horizonte sobre sua rede de transportes. Utilizou-se
como referência o conceito de redes urbanas proposto pelo geógrafo francês Pierre George. Analisou-se os itinerários,
origens e destinos das linhas que compõe o sistema de transporte público coletivo por ônibus estruturante e também
o número de linhas que realizam o atendimento e a relação geográfica com o polo econômico local. Foi possível
concluir que há uma interdependência entre a rede econômica e a rede de transportes.
PALAVRAS-CHAVE
Redes econômica, rede de transportes, regiões administrativas.
ABSTRACT
This article aims to analyze the influence of the economic network of Belo Horizonte on its transport network. The
concept of urban networks proposed by the French geographer Pierre George was used as reference. The itineraries,
origins and destinations of the lines that make up the collective public transport system by structuring buses were
analyzed, as well as the number of lines that perform the service and the geographic relation with the local economic
pole. It was possible to conclude that there is an interdependence between the economic network and the transport
network.
1 INTRODUÇÃO
Segundo George (1970) a noção de rede em três sentidos básicos: polarização de pontos de
atração e difusão (redes urbanas); projeção concreta de linhas de relações e ligações (redes
técnicas territoriais); projeção abstrata (meridianos e paralelos do globo). A análise deste artigo
vai partir da primeira noção apresentada por George: a de redes urbanas.
SANTOS (1996) defende que uma visão atual de redes envolve o conhecimento de seus
objetos, da quantidade e da distribuição delas, dos usos que lhe são dados, das relações que tais
Frente ao exposto o enfoque deste artigo é analisar os impactos que a rede econômica traz para
a rede de transportes do município de Belo Horizonte.
As redes econômicas, por sua dimensão e importância, influenciam diretamente nas redes
sociais, políticas e urbanas. Na área de influência das redes urbanas, a rede de transportes sofre
grande impacto. De acordo com Santos (1996) os fluxos são mais importantes que as redes, já que
no processo global de produção, a circulação é prevalente. A circulação de uma população, voltada
para os setores econômicos, é ponto essencial e norteador das políticas públicas em transportes.
Belo Horizonte possui uma população estimada de 2.491.109 milhões (IBGE, 2015) e sua
Região Metropolitana, composta por 34 cidades, possui aproximadamente 5.056.206 habitantes
(Agência de Desenvolvimento da Região Metropolitana, 2013). Belo Horizonte funciona como
polo de sua Região Metropolitana, atraindo diversas viagens todos os dias. A rede econômica de
Belo Horizonte é composta por mais de 132 mil estabelecimentos econômicos (PBH, 2010), dentre
os quais se exerce as mais variadas funções.
i) Linha Alimentadora ou Circular: linha que tem como objetivo atender a demanda que se
desloca na própria região ou alimenta uma Estação de Integração; ii) Linha Troncal: linha de alta
capacidade, que opera nos principais eixos do sistema viário; iii) Linha Diametral: linha com
itinerário ligando dois bairros de diferentes regiões administrativas e passando pelo Centro; iv)
Linha Perimetral: linha com itinerário ligando dois bairros de diferentes regiões administrativas,
sem passar pelo Centro; v) Linha Radial ou Semi-Expressa: linha com itinerário ligando um bairro
à Área Central.
3 METODOLOGIA
A análise da rede de transportes foi feita seguindo a ordem decrescente das regionais com maior
influência da Rede Econômica no âmbito da Rede de Transportes do município de Belo Horizonte.
A Figura 1, apresentada a seguir, mostra as regiões administrativa de Belo Horizonte e as RTS.
. .
FIGURA 1 – Regiões Administrativas e Regiões de Operação das Redes do Transporte Coletivo por Ônibus
FONTE: PBH, 2016 e BHTRANS, 2008.
Esta influência permanece nas redes de linhas semi-expressas (25 linhas) e perimetrais (8
linhas), conforme ilustra a figura 2.
Figura 2 – Rede de transporte coletivo por ônibus, do tipo diamentral e perimetral, respectivamente, que atende à
Área Central.
FONTE: BHTRANS, 2017.
Outro aspecto que prova a influência da rede econômica na rede de transportes da Área Central
é a queda no número de linhas que operam aos domingos e feriados, dias em que o comércio
apresenta grande queda no número de lojas e instituições abertas. As linhas perimetrais, que em
dias úteis operam com 8 itinerários, reduzem para 2 aos domingos e feriados. As linhas circulares,
aos dias úteis percorrem 12 itinerários e aos domingos e feriados, apenas 4 operam.
Esses dois pontos comerciais também são utilizados como rotas dos bairros periféricos à
regional Centro-Sul da cidade. Desta forma, as linhas que ligam a Região Noroeste à Centro-Sul
passam por esses pontos e realizam grande embarque e desembarque de passageiros. Na Figura 4
ilustra todas as linhas estruturantes que trafegam por esses dois polos comerciais.
Figura 3 – Rede de transporte coletivo por ônibus que atende aos principais polo econômico dos Bairros Padre
Eustáquio e Avenida Dom Pedro II.
FONTE: BHTRANS, 2017.
Assim como as regionais Noroeste e Pampulha, a regional Leste carece de linhas circulares
realizando trajetos curtos entre seus bairros. Atualmente este atendimento é realizado por apenas
uma linha. Os polos econômicos da Avenida Silviano Brandão, Rua Niquelina, Bairro Santa
Tereza e Santa Efigênia possuem poucas ligações para os demais bairros da regional.
Parte da regional é troncalizada nas Estações de Integração São Gabriel e José Cândido, o que
facilita a mobilidade inter-regional e o crescimento econômico nas proximidades desses polos de
transportes.
A rede de transporte estruturante, que atende esta região, apresenta dois polos de concentração:
região comercial do Barreiro de Baixo e bairro Diamante. Ambas concentrações se justificam pela
presença de duas Estações de Integração, uma em cada polo.
O primeiro caso chama atenção pelo modelo de concentração de usuários. Inaugurada em 2002,
a Estação de Integração Barreiro, conta com um Shopping Center, o Via Shopping Barreiro,
localizada em seus andares superiores. Apenas esse Shopping movimenta cerca de 30 mil
pessoas/dia. A proximidade desta Estação de Integração com o centro comercial do Barreiro é
outro importante ponto. Por dia, cerca de 100 mil usuários utilizam a Estação de Integração
Barreiro, que opera com 25 linhas de transporte coletivo, gerenciadas pela BHTRANS. Na Figura
8, observa-se a concentração das demandas inter-regionais da Regional Barreiro na Estação de
Integração Barreiro. As Estações de Integração Barreiro e Diamante funcionam como locais
concentradores de demanda. Observa também o fluxo que as linhas do transporte coletivo realizam
quando levam usuários da regional Barreiro para outras regionais.
Observa-se uma clara concentração da demanda das linhas troncais, diametrais e perimetrais da
região do Barreiro, com fortes fluxos para as regiões Centro-Sul e Oeste, em especial para as
Avenidas Amazonas e Nossa Senhora do Carmo. Essa concentração ocorre, pois, como já dito
anteriormente, a Região Centro-Sul possui a maior rede econômica do município, com 38% de
todos os estabelecimentos comerciais (PBH, 2010). A Regional Oeste vem em terceiro lugar, com
11% dos estabelecimentos municipais. As duas avenidas com maior fluxo de veículos do
transporte coletivo oriundos do Barreiro – Amazonas e Nossa Senhora do Carmo – justificam essa
demanda pelo alto número de comércio e instituições econômicas ao seu redor.
Outro importante ponto econômico da região é o Shopping Estação BH, localizado acima da
Estação de Integração Vilarinho e que, sozinho, abriga 207 lojas. Ressalta-se ainda que esta
Estação de Integração se localiza próxima a duas faculdades e ao mais importante Hospital da
região. Na Figura 9, observa-se a concentração das linhas do Transporte Coletivo nas Estações de
Integração e no Centro Comercial.
No que tange as ligações extra-regionais e, por sua localização periférica, Venda Nova exerce
relações bilaterais com diversas outras regionais da cidade, ou seja: Venda Nova gera e recebe
demanda, com a característica de maior geração do que recepção de demandas. Toda a Regional é
atendida pelo sistema tronco-alimentador, operado pelo BRT-MOVE, sendo assim, toda a
demanda é concentrada em poucas linhas de alta capacidade, o que indica o grande volume de
usuários que realiza esse translado.
Da Regional para o principal polo econômico da cidade, a Região Centro-Sul, são traçados dois
itinerários principais: via Regional Pampulha (Avenida Presidente Antônio Carlos) e via Regional
Nordeste (Avenida Cristiano Machado).
Duas exceções se observam na rede troncal de Venda Nova: a linha que realiza a ligação com
a Regional Barreiro, que conecta as duas regiões mais distantes da cidade, e a linha que atende a
Cidade Administrativa do Governo do Estado de Minas Gerais, que opera em horários específicos
para atender apenas a esta demanda.
Com uma grande parte de seu sistema troncalizado, a demanda desta Regional se concentra em
duas saídas rumo à Regional Centro-Sul: uma principal, com saída via Nordeste (Avenida
Cristiano Machado), e uma saída secundária, via Pampulha (Avenida Presidente Antônio Carlos).
A Figura 10 apresenta essas duas concentrações.
Outra demanda nesta Regional é com direção à Venda Nova, devido ao grande Centro
Comercial existente nesta Regional. Esta demanda é expressiva e apresenta-se com um maior
número de linhas do sistema de transporte coletivo por ônibus, comparada com a saída para a Área
Central via Pampulha.
4 CONCLUSÃO
Pode-se concluir dois pontos principais referentes a relação que as redes econômicas e de
transportes criam: o primeiro ponto parte da criação e manutenção de uma rede de transportes para
atender a uma demanda ocasionada pela rede econômica; o segundo ponto parte da criação de
polos econômicos através da disposição da rede de transportes no território. Ambos os casos são
visíveis em Belo Horizonte e se estabelecem de maneira legítima, com base no atendimento das
demandas existentes em uma sociedade composta por redes.
Conclui-se também, que em algumas regiões da capital mineira, a rede de transportes não se
apodera por completo das necessidades e da força que a rede econômica apresenta, deixando
pontos sem atendimento ou com atendimento precário, o que, por outro lado, diminui o potencial
econômico da região, na medida em que afasta usuários do transporte coletivo.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Horizonte. Disponível em: <http://metropolitana.mg.gov.br/as-regioes-metropolitanas-de-minas-gerais/rmbh>.
Acesso em mai. de 2017.
BHTRANS – EMPRESA DE TRANSPORTES E TRÂNSITO DE BELO HORIZONTE S/A. BRT/MOVE.
Disponível em: <http://www.bhtrans.pbh.gov.br/move>. Acesso em mai. de 2017.
BHTRANS – EMPRESA DE TRANSPORTES E TRÂNSITO DE BELO HORIZONTE S/A. Meu Ônibus.
Disponível em: <http://servicosbhtrans.pbh.gov.br/bhtrans/e-servicos/e-servicos.asp?servico=S01&opcao=qh>.
Acesso em mai. de 2017.
CÂMERA DE DIRIGENTES LOJISTAS DE BELO HORIZONTE. Cidadão. Disponível em:
<http://www.cdlbh.com.br/portal/3>. Acesso em mai. e jun. de 2017.
GEITS – GERÊNCIA DE SISTEMAS INTELIGENTES DE TRANSPORTES. BHTRANS – EMPRESA DE
TRANSPORTES E TRÂNSITO DE BELO HORIZONTE S/A. Sistemas internos. Acesso em jun. de 2017.
RESUMO
A mobilidade urbana refere-se a capacidade de deslocamento de pessoas e bens no espaço urbano de maneira
econômica e sustentável. Consequentemente, este termo engloba a demanda de transportes e o uso da terra. Devido
à complexidade dos sistemas de transportes e do espaço urbano, os planejadores de transportes utilizam sistemas
computacionais como, por exemplo, os Sistemas de Informação Geográfica (SIG) para auxiliar o processo de
tomada de decisão. Portanto, este artigo possui o objetivo de aplicar a técnica de análise bibliométrica para avaliar
o uso do SIG como ferramenta para a análise da mobilidade urbana. Como resultado, é apresentado ao final deste
artigo as variáveis bibliográficas (artigos, autores, periódicos e palavras-chave) de destaque sobre este tema. Além
disso, observa-se que os Estados Unidos é o país com o maior número de publicações sobre o assunto.
PALAVRAS-CHAVE
Mobilidade Urbana, Sistemas de Informação Geográfica, Bibliometria.
ABSTRACT
Urban mobility refers to the people and goods’ ability to move in urban space in an economic and sustainable way.
Consequently, this term encompasses the demand for transportation and land use. Due to the complexity of
transport systems and urban space, the transport planners use computer systems as, for example, Geographic
Information Systems (GIS) to assist the decision-making process. This article aims to apply the bibliometric
analysis technique to evaluate the use of GIS as a tool for analysis of urban mobility. As a result, it is presented at
the end of this article the prominence bibliographic variables (papers, authors, journals and keywords) on this
topic. In addition, it is noted that the United States is the country with the largest number of publications on the
subject.
KEY WORDS
Urban Mobility, Geographic Information Systems, Bibliometrics.
1. INTRODUÇÃO
A Mobilidade urbana refere-se à capacidade de deslocamento de pessoas e cargas no
espaço urbano. Entretanto, o conceito de mobilidade vai além do número de deslocamentos que
uma pessoa pode realizar. Segundo Kneib (2012), o termo mobilidade urbana é recente e possui
diversos conceitos e definições relacionados a ele.
Além da expansão do tema para além dos aspectos relativos ao tráfego, estes conceitos
relacionam a mobilidade a outros aspectos importantes, tal como a acessibilidade. Segundo
VTPI (2017), acessibilidade consiste na capacidade de atingir bens desejados, serviços,
atividades e destinos, ou seja, refere-se ao acesso físico aos bens, serviços e destinos (também
chamado de oportunidades) que as pessoas costumam realizar com transporte.
Segundo Rajak (2013), SIG é uma aplicação da tecnologia da informação que captura,
armazena, analisa e mapeia as características da terra e, por isso, é uma importante ferramenta
nos processos de planejamento. Esses sistemas permitem organizar e atualizar digitalmente
dados espaciais e fornecem informações de maneira simples, rápida e com um baixo custo
(Kadupitiya, 2013).
Este artigo está estruturado em quatro seções, sendo esta primeira de caráter introdutório
sobre o tema de pesquisa. A Seção 2 aborda a metodologia empregada neste artigo e a Seção 3
apresenta uma revisão bibliométrica sobre o uso do SIG como uma ferramenta para a análise
da mobilidade urbana. Por fim, as considerações finais e as sugestões para futuras pesquisas
são apresentadas na Seção 4.
2. METODOLOGIA
A análise bibliométrica, também conhecida como bibliometria, consiste no
desenvolvimento de indicadores e identificação de padrões sobre publicações e atividades
científicas a partir da aplicação de métodos quantitativos (Silva et al., 2011). Os métodos
bibliométricos são bastante utilizados pela comunidade científica para analisar o impacto de um
Para atingir o objetivo apresentado na seção anterior, a metodologia deste artigo é baseada
no processo Knowledge Development Process – Constructivist (ProKnow-C), proposto por
Ensslin e Ensslin (2007). O ProKnow-C é um procedimento que parte do interesse do
pesquisador sobre um determinado tema e consiste na aquisição do conhecimento científico
para que o mesmo possa iniciar uma pesquisa com fundamentação (Lacerda et al., 2012). Como
pode ser visto na Figura 1, o ProKnow-C é composto de quatro etapas: (a) seleção de um
portfólio de artigos sobre o tema da pesquisa; (b) análise bibliométrica; (c) análise sistêmica; e
(d) definição da pergunta de pesquisa e objetivo de pesquisa.
Optou-se por utilizar a base Web of Science para a busca do portfólio bibliográfico, pois
esta base abrange mais de 12 mil títulos de periódicos (Deodurg et al., 2013). Foram utilizadas
três palavras-chave no processo de busca dos artigos: “Geographic Information System and
Urban Mobility”, “Geographic Information System and Sustainable Urban Mobility” e
“Geographic Information System and Urban Accessibility”.
O processo de padronização dos dados dos artigos do portfólio bibliográfico foi realizado
com auxílio do aplicativo computacional Microsoft Excel. Além disso, também foi utilizado o
software bibliométrico VOSviewer que permite visualizar padrões e tendências na literatura a
partir da construção de mapas baseados nos dados dos artigos (Eck et al., 2010).
3. ANÁLISE BIBLIOMÉTRICA
O primeiro artigo sobre mobilidade urbana utilizando SIG foi publicado em 1994. Como
pode ser visto na Figura 2, o número de publicações sobre esta tema aumentou no ano de 2006,
sendo 2016 o ano com o maior número de publicações. Até a data da seleção do portfólio
bibliográfico, foram encontrados apenas oito artigos publicados sobre o tema no ano de 2017.
35
Número de publicações por ano
600
200
10
5 100
0 0
2003
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
2012
2013
2014
2015
2016
2017
Figura 2: Número de publicações e citações por ano
O portfólio bibliográfico possui mais de 800 autores. Dentre este total, Karen Witten,
Suzanne Mavoa e Mei-Po Kwan se destacam com cinco publicações cada sobre o tema. Além
disso, buscou-se identificar os periódicos com o maior número de publicações sobre o assunto.
Por fim, buscou-se identifica o país de origem dos autores do portfólio bibliográfico. A
Figura 4 apresenta a rede de autoria do portfólio bibliográfico. De maneira análoga a rede de
palavras-chave, cada nó desta rede representa um país e o tamanho do nó significa o número de
publicações. Sendo assim, observa-se que os Estados Unidos e o Canadá são os países que
possuem o maior número de publicações sobre o tema com 104 e 39 artigos, respectivamente.
Outros países de destaque são: China, Inglaterra e França. Já o Brasil possui oito publicações
sobre o tema.
Além de ser o país com o maior número de publicações, os Estados Unidos possui o
maior número de conexões com os outros países. Dos 55 países pertencentes a rede de autoria,
os Estados Unidos está conectado com 49, ou seja, realiza 49 das 54 possíveis conexões. Como
pode ser visto na Figura 4, o Estados Unidos é o país mais centralizado na rede de autoria.
Segundo Marteleto (2001), “quanto mais central é um indivíduo, mais bem posicionado ele está
em relação às trocas e à comunicação, o que aumenta seu poder na rede”.
Para evidenciar o poder dos Estados Unidos nesta rede, a Figura 5 apresenta a densidade
da rede de autoria. Segundo Eck e Waltman (2011) as cores representam a densidade da rede,
sendo o vermelho as regiões com maior densidade e o azul as regiões com menor densidade.
Quanto maior for o número de itens na vizinhança e quanto maior for o peso dos itens vizinhos,
mais próxima de vermelho será a cor do ponto (Eck; Waltman, 2016). De maneira análoga,
quanto menor for o número de itens na vizinhança e quanto menor for o peso dos vizinhos, mais
próxima de azul será a cor do ponto. Sendo assim, observa-se que os Estados Unidos é o país
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este artigo buscou identificar a atual situação do uso do SIG como ferramenta de análise
da mobilidade urbana pela comunidade científica. Para isso, foi realizada uma análise
bibliométrica para evidenciar os principais artigos, autores, periódicos e palavras-chave sobre
este tema. Portanto, foi possível identificar o comportamento da comunidade científica sobre o
assunto.
Vale ressaltar que a bibliometria é uma análise quantitativa e, por isso, não foi analisado
o conteúdo dos artigos. Em vista disso, sugere-se para pesquisas futuras a realização de uma
análise sistêmica do portfólio bibliográfico. Além disso, este trabalho utilizou apenas a base
Web of Science. Por isso, podem existir artigos sobre o tema analisado que não estão presentes
nesta base e, consequentemente, ausentes neste trabalho. Portanto, sugere-se também a
realização desta pesquisa utilizando outras bases de busca.
RESUMO
Este artigo busca abordar e relacionar duas temáticas muito presentes no planejamento urbano do século XXI: o
uso da bicicleta como transporte e o desenvolvimento orientado ao transporte sustentável (TOD, do inglês,
transit oriented development). São analisadas duas metodologias de avalição TOD, verificando-se como a
bicicleta é abordada em cada uma delas e, a partir de dados de dez cidades brasileiras, avaliando-se se os
critérios considerados são satisfatórios e compatíveis com a realidade urbana do país. A partir desta análise, foi
possível constatar alguns aspectos relevantes que devem ser inseridos nos critérios avaliativos do TOD quando
se trata do cenário brasileiro.
ABSTRACT
This paper intends to address and relate two themes that are very present in 21st century urban planning: the use
of cycling as transport and the transit oriented development (TOD). Two assessment methodologies are
analyzed, verifying how the bicycle is approached in each of them and examining, from data from ten Brazilian
cities, whether the criteria considered are satisfactory and compatible with the urban reality of the country.
From this analysis, it was possible to verify some relevant aspects that should be inserted in the evaluation
criteria of the TOD when it comes to the Brazilian scenario.
PALAVRAS CHAVE
TOD, ciclismo urbano brasileiro, mobilidade sustentável
1. INTRODUÇÃO
Nos anos 60 e 70, as periferias dos grandes centros urbanos brasileiros cresceram de forma
descontrolada, processo conhecido como espraiamento e que gerou a criação dos subúrbios.
Essa configuração urbana foi influenciada pelo modelo de planejamento urbano que
predominou nos Estados Unidos durante a segunda metade do século XX. O padrão norte-
americano priorizou a qualidade da viagem nos modos rodoviários, focalizando esforços e
investimentos no melhoramento das condições e do nível de serviço para o automóvel
(Villada, 2015).
Ao longo dos anos, foi possível verificar que esse padrão de distribuição residência-emprego
gera movimentos pendulares que vão da periferia ao centro pela manhã, e do centro à periferia
no final do dia. Essa configuração e suas consequências, entretanto, mostram-se
incompatíveis com o conceito de mobilidade sustentável que se vem buscando dentro do
planejamento urbano no decorrer dos últimos anos (Villada, 2015).
A mobilidade sustentável é um tema atual que tem por base dois conceitos da área de
transportes: a mobilidade e a acessibilidade. Segundo Hansen (1959) (apud Mello, 2015) a
mobilidade é definida como o potencial para o movimento, enquanto a acessibilidade é
caracterizada como o potencial de interações, levando-se em conta as relações entre o
transporte, o uso do solo e aspectos locacionais. A mobilidade sustentável, portanto, trata-se
da mobilidade incrementada pela acessibilidade. Busca-se, por meio dela, uma abordagem
alternativa ao modelo tradicional de planejamento de transportes, priorizando-se as pessoas
em vez do automóvel. Para tanto, há o esforço por realizar ações que diminuam a necessidade
de viagens e sua extensão, encorajando a substituição de modais e a busca de maior eficiência
nos transportes.
Este artigo tratará de um ponto específico da mobilidade sustentável que é o uso da bicicleta
como transporte público, verificando como esse aspecto é considerado dentro da filosofia do
desenvolvimento orientado ao transporte sustentável. Portanto, tem-se por objetivo analisar
metodologias de avaliação do TOD no que diz respeito ao uso da bicicleta, a fim de verificar a
compatibilidade dos critérios adotados com a realidade das cidades brasileiras.
A maneira como esses objetivos são priorizados varia de acordo com os interesses e pontos de
vista dos planejadores, mas, de uma maneira geral, busca-se incentivar práticas mais
sustentáveis da mobilidade urbana, isto é, a mobilidade sustentável.
O padrão é uma ferramenta de avaliação que pretende atender aos grupos interessados no
desenvolvimento urbano, dando-lhes recursos para examinar tanto os empreendimentos e
estações existentes quanto aqueles em fase de planejamento. Ele mede as características do
desenho e planejamento urbanos que podem ser observadas de forma independente e objetiva,
especialmente em lugares onde é difícil obter dados de boa qualidade.
O ITDP definiu oito princípios de desenvolvimento urbano orientado ao transporte. São eles:
A cada um desses princípios foi atribuída uma pontuação, a partir de 21 métricas que, ao final,
totalizam 100 pontos. Segundo o instituto, as métricas e a distribuição dos pontos buscam
refletir o consenso geral entre especialistas, acadêmicos e profissionais, sobre os aspectos de
desenho, planejamento e política urbana que mais interferem na redução do uso de veículos
motorizados.
Como este artigo tem por foco principal a análise dos critérios voltados à bicicleta, o princípio
2| Pedalar será explorado com mais detalhes no tópico 3.1.1.
Entretanto, apesar de tantas vantagens, os ciclistas estão entre os usuários mais vulneráveis
das ruas, submetidos à falta de segurança, tanto no que diz respeito a acidentes, quanto a
roubos e vandalismo. Sendo assim, os objetivos escolhidos para avaliar esse princípio são
voltados, de uma maneira geral, à segurança do ciclista.
Para analisar e pontuar este princípio são utilizadas 4 métricas, cujos indicadores podem
variar de acordo com o tipo de projeto, que pode ser um empreendimento urbano ou uma área
de estação. Para esta última, o ITDP recomenda que se utilizem como limites aplicáveis a
Uma vez definidos os critérios, faz-se a avaliação de acordo com o tipo de projeto. Para o
caso de um empreendimento, são avaliadas as ruas internas do próprio empreendimento. Já
quando se trata de uma estação, deve-se identificar dentro da área da estação qual o edifício
que se encontra mais afastado a pé das ruas de uso seguro de bicicletas e fazer a pontuação de
acordo com a distância medida. A tabela 1 apresenta a referida pontuação.
Singh et al. (2015), a partir da percepção de que, apesar de haver muitos estudos qualitativos
sobre o TOD, há uma escassez de análises quantitativas, buscaram desenvolver um “índice
TOD” que quantificasse as características chaves do modelo e as combinasse dentro de uma
“pontuação TOD”. O índice tem o objetivo de avaliar as condições espaciais para o
planejamento de empreendimentos TOD, analisando as características de acessibilidade ao
transporte público em uma área. Segundo os autores, o índice contribui como uma ferramenta
que avalia o desenvolvimento e aplicação do TOD através de metas mensuráveis de
performance.
Ambos os índices tem a pontuação variando entre 0 e 1, de forma que, quanto mais próximo
do 1, melhores são as condições de acesso ao sistema. No caso do estudo, é avaliada a região
das cidades de Arnhem e Nijmegen, no Reino dos Países Baixos, obtendo-se resultados
esperados para o Actual Index, uma vez que os grandes centros urbanos da região tiveram
maior pontuação (a maior pontuação obtida foi da estação de Arnhem, com 0,76) e as aldeias
Até 2015 havia um escasso conhecimento sobre o perfil do usuário de bicicleta nas cidades
brasileiras, quando, a fim de preencher essa lacuna, foi realizada a primeira pesquisa brasileira
sobre o perfil dos ciclistas urbanos com abrangência nacional, realizada pela Parceria
Nacional pela Mobilidade por Bicicletas.
A pesquisa foi realizada em dez cidades das diferentes regiões brasileiras: Aracaju, Belo
Horizonte, Brasília, Porto Alegre, Manaus, Niterói, Recife, Rio de Janeiro, Salvador e São
Paulo. Mais de 100 pesquisadores, durante os meses de julho e agosto de 2015, entrevistaram
5.012 pessoas, durante dias úteis, aplicando um questionário de 13 perguntas. A partir das
respostas dos usuários, foi possível desenvolver um relatório, do qual se podem extrair
algumas informações relevantes para este artigo a respeito das características do ciclismo
urbano nas cidades brasileiras.
De acordo com os dados da pesquisa é possível concluir que o uso da bicicleta como meio de
transporte ainda é uma cultura muito recente e em crescimento nas cidades brasileiras, uma
vez que cerca de metade dos entrevistados (45,5%) começaram a utilizar a bicicleta com este
intuito em uma data igual ou posterior a 2 anos antes da pesquisa. Segundo os dados, a maior
motivação para esta escolha é a sua rapidez e praticidade.
Segundo a pesquisa, a maioria das viagens feitas por bicicleta são rotineiras, havendo a
predominância dos trajetos com ocorrência todos os dias da semana, ou todos os dias úteis.
Esse dado é ratificado pela informação de que o principal destino apontado pelos
O tempo de trajeto mais frequente está entre 10 e 30 minutos (56,2%), seguido pelo tempo de
30 minutos à 1 hora, ao qual correspondem 22,8% dos entrevistados. Nota-se, portanto, que os
ciclistas urbanos brasileiros, em sua maioria, quando utilizam a bicicleta, não fazem uso de
outro transporte, de forma que apenas um quarto dos entrevistados informaram utilizar a
bicicleta como modo de integração aos transportes de alta capacidade.
Nota-se, pela figura 1 que o maior problema enfrentado pelo ciclista é a falta de respeito dos
condutores motorizados (34,6%). Essa resposta é justificada pela alarmante informação dada
pelo gráfico da figura 2, mostrando que, a cada 5 ciclistas, 1 havia sofrido acidentes de
trânsito durante os 3 anos anteriores à pesquisa. São também apontados como problemas
significativos a falta de segurança no trânsito (22,7%) e a falta de infraestrutura adequada
(26,6%). Esta última é reafirmada como um problema ao analisar-se o gráfico da figura 3, que
indica que exatamente metade dos entrevistados pedalariam mais se houvesse aumento da
infraestrutura cicloviária.
19,9
Sim
Não
79,1
Figura 2: Ocorrência de acidentes de trânsito durante o uso da bicicleta nos últimos 3 anos
Outros
11,8
A partir dos dados levantados pela Parceria Nacional pela Mobilidade por Bicicletas é
possível verificar a compatibilidade dos indicadores abordados pelas metodologias de
avaliação do TOD apresentadas com os principais aspectos informados pelos ciclistas
entrevistados. A tabela 8 mostra de maneira mais clara este comparativo:
Tabela 8: Quadro-síntese
Fatores relevantes para o ciclismo urbano nas cidades Métricas Métricas
brasileiras ITDP Singh et al.
Infraestrutura cicloviária adequada 2.1 3
Respeito por parte dos condutores motorizados x x
Segurança no trânsito x x
Segurança contra assalto x x
Estacionamento seguro de bicicletas 2.3/ 2.4/ 2.5 8
Arborização das vias x x
A falta de respeito dos condutores motorizados foi apresentada como principal problema
enfrentado pelos ciclistas brasileiros, havendo também um outro item similar a este com
Outro fator relevante é a segurança contra assalto, que é medida no que diz respeito a
estacionamentos seguros, mas que não é considerada ao longo do percurso. Este item,
portanto, refere-se à segurança pública, de forma que, para medí-lo, seria necessário
relacioná-lo a dados da cidade que vão além da realidade do transporte.
Por fim, tem-se a arborização das vias, fator que se torna relevante pela posição geográfica do
Brasil e, consequentemente, seu clima. Os verões de elevadas temperaturas em diversas
cidades proporcionam desconforto aos ciclistas, influenciando, muitas vezes, na sua escolha
modal. Portanto, para a realidade brasileira, é importante que se considere a arborização das
vias como um dos critérios da infraestrutura cicloviária.
6. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES
A busca pela mobilidade sustentável é um desafio para as cidades brasileiras, que sofreram
um processo de crescimento desordenado na segunda metade do século XX, gerando a criação
dos subúrbios e uma configuração de cidade que fere os princípios da sustentabilidade. Não só
no Brasil, mas em diversos países ao redor do mundo, têm sido desenvolvidos políticas e
métodos que possam desestimular o uso do automóvel e priorizar o pedestre, o ciclista e o uso
do transporte público.
Nesse contexto, o TOD representa uma alternativa de planejamento urbano que leva em
consideração os princípios dessa nova mentalidade. Entretanto, desenvolvido nos Estados
Unidos, ele precisa de adaptações para ser aplicado e se adequar à realidade das cidades
brasileiras.
Este trabalho trata de uma das características do TOD, que é o incentivo do uso da bicicleta
como meio de transporte. Para tal fim, fez-se uso de duas metodologias de avaliação do TOD,
uma desenvolvida pelo ITDP em 2014 e outra por Singh et al.em 2015, comparando-as com
Uma vez apresentadosos três fatores indicados neste trabalho como itens a ser incluídos na
avaliação TOD das cidades brasileiras no quesito bicicleta, sugere-se para trabalhos futuros o
estudo de métricas de avaliação e quantificação desses itens, que possam atuar como
parâmetros mensuráveis a ser agregados aos métodos existentes, a fim de permitir a aplicação
efetiva das sugestões deste artigo.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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cicloviário. Universidade de São Paulo.
Grieco, E.P. (2015)Índice do Ambiente Construído Orientado à Mobilidade Sustentável. Universidade
Federal do Rio de Janeiro.
Institute for TransportationandDevelopmentPolicy - ITPD. (2014) TOD Standard, disponível em www.itdp.org
Mello, A. J. R. (2015) A acessibilidade ao emprego e sua relação com a mobilidade e o desenvolvimento
sustentáveis: O caso da Região Metropolitana do Rio de Janeiro. Universidade Federal do Rio de
Janeiro.
Parceria Nacional pela Mobilidade por Bicicleta (2015) Pesquisa Nacional sobre o Perfil do Ciclista
Brasileiro.
Singh.Y.J.; Lukman.A.; He.P.; Flacke.J.; Zuidgeest.M.; Maarseveen. M. (2015) Planning for Transit Oriented
Development (TOD) using a TOD index. TransportResearchBoard 94th Annual Meeting. Washington
D.C.
Villada, C. A. G.; Portugal, L. D. S. (2015).Mobilidade sustentável e o desenvolvimento orientado ao
transporte sustentável. Anais do XXIX Congresso de Pesquisa e Ensino em Transportes da ANPET,(p.
2743-2754).
RESUMO
Este artigo visa contribuir para o tema, mobilidade urbana e suas relações com a pobreza a partir da revisão
bibliográfica sobre os conceitos de transporte e exclusão social, mobilidade urbana e direito à cidade. A
mobilidade urbana tem sido um tema bastante debatido no país, principalmente após as manifestações de 2013.
O transporte, por ser uma atividade meio, é o instrumento que possibilita às pessoas acessarem outras atividades
e oportunidades. O objetivo é mostrar, são necessárias medidas que facilitem o acesso à cidade por parte da
população, principalmente a população com menor renda, a fim de que todos possam exercer seus direitos e seu
papel cidadão, e a partir da Pesquisa de Orçamentos Familiares do IBGE, mostrar a importância do transporte no
orçamento familiar.
ABSTRACT
This article aims to contribute to the theme, urban mobility and its relationship with poverty, based on a
bibliographical review on the concepts of transportation and social exclusion, urban mobility and the right to the
city. Urban mobility has been a hotly debated issue in the country, especially after the demonstrations in 2013.
Transportation, as a medium activity, is the instrument that enables people to access other activities and
opportunities. The objective is to show that measures are needed to facilitate access to the city by the population,
especially the lower income population, so that everyone can exercise their rights and their citizen role. And
from the IBGE Family Budget Survey, we will analyze the relationship between family income and
transportation expenses.
PALAVRAS CHAVE
1. INTRODUÇÃO
A falta de planejamento e/ou a inadequada fiscalização das leis existentes geram uma
ocupação desordenada e padrões irracionais do uso do solo, o que contribui para um número
Assim, parte-se da ideia de que uma cidade é formada por sistemas que se relacionam e são
interdependentes. Por exemplo, um sistema de transporte público sustentável melhoraria a
qualidade de vida e de saúde pública, pois diminuiria os gastos energéticos, ajudaria a
preservar a herança natural e cultural por meio da redução de emissões de poluentes e
permitiria a redução dos tempos de viagens urbanas.
No presente artigo, vamos fazer uma breve revisão bibliográfica do que já foi estudado acerca
mobilidade urbana, direito à cidade e exclusão social, e verificar a importância do transporte
no orçamento familiar brasileiro.
Para tratar destes assuntos o artigo foi dividido em 4 (quatro) partes, sendo a primeira esta
introdução. A segunda uma revisão bibliográfica sobre os temas de mobilidade urbana e
direito à cidade, e transporte e exclusão social. Na terceira, através das pesquisas de
orçamento familiar observamos a relevância do transporte no orçamento familiar e fazemos
uma contextualização à nível Brasil. E a quarta parte contém as considerações finais.
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Mas o acesso à cidade está longe de estar ao alcance de todos. Ainda vemos entraves a esse
acesso, principalmente pela população mais pobre, que mora em favelas. Estas deveriam ser
reconhecidas como espaços tão parte da cidade em que se localiza quanto qualquer outro
local. A ideia de ser cidadão na favela e ser cidadão na cidade são coisas opostas e
excludentes. Exercer a cidadania deve ser igual em qualquer espaço e, portanto, a voz de um
cidadão não deveria se sobrepor a do outro.
Segundo Harvey (2008), “O direito à cidade é muito mais do que a liberdade individual para
acessar os recursos urbanos: é o direito de mudar a nós mesmos, mudando a cidade. Aliás,
com frequência, não se trata de um direito individual uma vez que esta transformação
depende, inevitavelmente, do exercício de um poder coletivo para remodelar os processos de
urbanização. A liberdade de criar e recriar nossas cidades e a nós mesmos é, eu quero
argumentar, um dos mais preciosos e dos mais negligenciado dos nossos direitos humanos”.
Segundo o PDTU de 2003, que foi um Plano Diretor de Transporte Urbano realizado na
região metropolitana do estado do Rio de Janeiro, 46% da população não realizou nenhuma
viagem durante o dia. Pensando no transporte como uma demanda derivada da necessidade
realizar viagens para acessar atividades, e vendo que 46% da população da Região
Metropolitana do Rio não realizou nenhuma viagem, observamos uma alta taxa de
imobilidade e fica nítida a falta de acessibilidade das pessoas à cidade e suas oportunidades,
acentuando desigualdades já existentes, como veremos no próximo tópico. Mesmo
entendendo que para se reverter esse quadro são necessárias ações plurais, que integrem
transportes e uso de solo, esse artigo irá se limitar a destacar o papel do transporte no
orçamento familiar.
Rosa (2006) afirma que os mais pobres, com rendimento de 0 a 1 salário mínimo, têm as
maiores limitações para alcançar as oportunidades mais distantes. Em seu trabalho, também
foi observado que a renda tem uma forte ligação com a mobilidade, e, pela insuficiência de
arcar com os custos de transporte, pode potencializar a condição de exclusão dessa população,
pela falta de acesso as oportunidades. O que mantém o indivíduo de menores rendas limitado
na busca de oportunidades. O autor também destaca a necessidade de medidas compensatórias
para a população de baixa renda, principalmente a que recebe até um salário mínimo.
Segundo Lucas (2010), as desigualdades de transporte também podem ser observadas quando
falamos em transporte privado, não só em transporte público. Em 2003, a primeira pesquisa
de viagens na África do Sul, identificou que a maioria das famílias mais pobres também
possui acesso extremamente difícil a veículos particulares e serviços de transporte público.
Em média, apenas 26% das famílias de quintil de renda mais baixa tinham acesso a um carro,
mais de 75% não tinham acesso a uma estação de trem e quase 40% não tinham acesso a um
serviço de ônibus. Enquanto 83% da população branca possui uma carteira de motorista,
apenas 10% da população negra possuem. Como resultado, a maioria dos negros sul-africanos
passa por dificuldades ao tentar acessar o trabalho, a educação, a saúde, a assistência social e
os membros da família visitantes.
A Pesquisa de Orçamento Familiar (POF) é realizada pelo IBGE e tem como objetivo a
análise orçamentária das famílias. Por meio dos dados obtidos é possível traçar um perfil das
condições de vida da população e observar a composição de gastos segundo as classes de
rendimento. Por tratar de temas distintos essa pesquisa possui inúmeras aplicações, dentre elas
o estudo dos impactos econômicos causados pelo transporte. Além de fazer uma análise
orçamentária dos domicílios e sobre as condições de vida da população, a pesquisa também
inclui a percepção subjetiva da qualidade de vida.
A POF (2008-2009) foi realizada em todo o território brasileiro, inclusive nas áreas rurais. Os
resultados são publicados nos seguintes níveis: Brasil, Grandes Regiões (Norte, Nordeste,
Sudeste, Sul e Centro-Oeste) para situações urbanas e rurais. Para as Unidades de Federação
os resultados contemplam o total e a situação urbana. Nas nove regiões metropolitanas e nas
capitais das Unidades de Federação, os resultados correspondem à situação urbana.
Em 2009, 45% das famílias brasileiras tinham gastos mensais com transporte público,
comprometendo em média 3,64% da sua renda com este item de despesa, de acordo com
resultados obtidos pela POF (2008-2009). Dentre o transporte público, os serviços de ônibus
possuem os maiores dispêndios da população. A maior porcentagem deste gasto foi nas
famílias residentes em cidades do colar metropolitano do Brasil, que são mais dependentes
deste transporte em função da renda mais baixa e por estarem mais afastados dos grandes
centros urbanos que concentram a oferta de empregos. Nesse mesmo período, pouco mais da
metade da população apresentavam gastos mensais com transporte privado (51,44%) que
comprometiam aproximadamente 16,2% de suas rendas. Os dispêndios com sistemas de táxi,
por sua vez, apresentam maior porcentagem nas capitais, seguido das cidades interioranas,
sendo pouco expressivo no orçamento familiar das regiões periféricas, possivelmente, devido
ao menor poder aquisitivo destas pessoas.
Na definição das classes de rendimento total e variação patrimonial mensal familiar para as
tabelas apresentadas, optou-se por utilizar sete grupamentos, definidos em salários mínimos,
sendo que a categoria “sem rendimento” foi incluída na primeira classe.
Porcentagem da População
3,8
5,2
7,2 21,6 Até 2 SM
Entre 2 e 3 SM
Entre 3 e 6 SM
15,4 Entre 6 e 10 SM
17,4 Entre 10 e 15 SM
Entre 15 e 25 SM
Mais de 25 SM
29,4
A figura 3 apresenta os gastos das famílias com transporte público e privado, separados pelos
grupamentos de renda.
Mais de 25 SM
Classes de rendimento total mensal familiar (R$)
Entre 15 e 25 SM
Entre 10 e 15 SM
Entre 2 e 3 SM
Até 2 SM
- 5 10 15 20
Figura 3: Porcentagem de gastos com transporte público e privado, variando pelo intervalo
de renda familiar.
Fonte: Pesquisa de Orçamento Familiar (POF) 2008-2009 – Adaptado
Observamos que quanto menor a renda da família, menos ela gasta com transporte público. E,
quanto maior a renda, maior o gasto com transporte privado. As camadas que tem renda
familiar até dois salários mínimos, e de dois à três salários mínimos, apresentam menos de 5%
dos seus gastos em transporte público, indicando um alto grau de imobilidade dessa camada
da população.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O transporte é uma demanda derivada da necessidade das pessoas de realizar viagens, com o
objetivo final de acessar atividades e oportunidades. Quando uma pessoa com baixa renda, deixa
de acessar o serviço de transporte por motivos financeiros, ela está deixando acessar
oportunidades, como trabalho, educação ou saúde, que contribuiriam possibilitando um aumento
na sua renda, mas não é feito porquê não foi possível se deslocar. Assim, estamos frente à um
ciclo vicioso. O sistema de transporte está relacionado com o problema da exclusão social.
O valor da tarifa, que hoje não cumpre uma função social, vai de encontro ao lucro do
empresário, deve ter sua função repensada, já que poderia e deveria ser um instrumento
facilitador do acesso das pessoas à cidade, e hoje funciona como um limitante.
Existe uma questão econômica, política e social bem mais ampla dos processos de exclusão, o
que não exime o transporte, evidentemente, de sua parcela de contribuição na minimização
dos problemas sociais, através da importância de se articular um transporte público de
qualidade.
Uma estratégia de combate à exclusão social, é a garantia do acesso aos direitos básicos, entre
eles o transporte coletivo. A inexistência de um serviço de transporte público acessível e de
qualidade, implica na diminuição da mobilidade dos mais pobres, restringindo suas
capacidades e oportunidades.
BIBLIOGRAFIA
Bergman, L. e Rabi, N. (2005) Mobilidade e Política Urbana: Subsídios para uma Gestão Integrada. Rio de
Janeiro: IBAM; Ministério das Cidades.
Carvalho, C. H. R., Pereira, R. H. M. (2012) Efeitos da variação da tarifa e da renda da população sobre a
demanda de transporte público coletivo urbano no Brasil, Transportes v. 20, n. 1, p. 31–40.
Cervero, R. (2013) Linking urban transport and land use in developing countries. The Journal of Transport and
Land Use, v. 6, n.1, p. 7–24.
Gastos das famílias brasileiras com transporte urbano público e privado no Brasil: Uma análise da POF 2003 e
2009. Brasília: Ipea, 2012. (Texto para Discussão n. 1803).
Gastos das famílias das regiões metropolitanas brasileiras com transporte urbano. Brasília: IPEA, 2012.
(Comunicado Número 154)
Harvey, D. The right to the city. New Left Review, n. 53. 2008.
RESUMO
Este trabalho descreve um procedimento metodológico, que possui o objetivo de investigar a relação entre o
headway e o tempo de ocupação de trens em plataformas metroviárias. As análises foram realizadas na faixa de
horário crítico operacional do metrô do Rio de Janeiro e o headway, por ser um parâmetro de tráfego sensível
aos atrasos operacionais, é um dos fatores chave no estudo. Busca-se comprovar a hipótese que existe uma forte
dependência entre o headway e o tempo que o trem ocupa a plataforma. Tal modelo pode ser utilizado para
tomar decisões de planejamento a nível estratégico, tático e operacional. Uma aplicação do procedimento é
apresentada para a linha 1 do metrô do Rio. Utilizam-se as ferramentas de simulação Arena®, no que diz
respeito à operação metroviária e o Legion® com foco no fluxo de passageiros. Um modelo linear que propõem
uma relação entre tempo de ocupação e headway é apresentado ao final.
Palavras chave: Metrô, Simulação, headway
ABSTRACT
This paper describes a methodological procedure, which aims to investigate a relationship between the headway
and the occupancy rate of trains in subway platforms. The analyzes were carried out in the Rio de Janeiro
subway during peak hours, and the headway, being a sensitive traffic parameter to operational delays, is one of
the key factors in the study. In this paper we try to prove a hypothesis that there is a strong dependency between
the headway and the occupancy time of the train in the platform. Such model can be used to make strategic,
tactical and operational planning decisions. An application of the procedure is presented for the Rio de Janeiro’s
line 1 subway stations. Arena® simulation, for metro operation and Legion® focused on the flow of passengers,
are the computational tools required in this analysis. A linear model that proposes a relation between the
occupancy time and the headway is presented at the end.
1. INTRODUÇÃO
As sociedades modernas transitam entre origens e destinos diferentes, todos os dias utilizando
as ferrovias. Por outro lado, acredita-se que existe uma demanda reprimida em virtude da
oferta de metrô não acompanhar a geração de viagens. Isto pode ser visto nas grandes
metrópoles globais como São Paulo, Rio de Janeiro, Nova York, Tóquio e Londres.
Nestas, o embarque e desembarque de passageiros tende a ser maior nos horários de pico,
acarretando em plataformas e trens superlotados. Estas evidências levam a crer que se a oferta
de metrô fosse superior, acomodaria uma parcela maior da demanda total de transporte que
iria migraria do outros modos para o metrô. Contudo, realizar o aumento de capacidade
ferroviária é dispendioso, por isso uma boa prática de planejamento requer um estudo da
capacidade de transporte atual, antes da aplicação do capital.
Uma busca pela eficiência da operação ferroviária envolve o controle dos tempos de
embarque e desembarque nas estações, o controle da velocidade de tráfego e dos tempos de
fila para obtenção de um headway que permita uma frequência que atenda a demanda de
centenas de milhares de passageiros nas plataformas diariamente, sobretudo nos horários de
pico.
O problema de minimizar tempos de ocupação de trens e filas de embarque são por vezes,
inviáveis de serem estudados em campo, simulando operações in loco. Então, engenheiros e
planejadores propõem modelos de simulações computacionais de eventos discretos.
Sendo assim, um procedimento que trás como etapas a coleta de dados em campo, a
construção de modelos de simulações de tráfego, de embarque e de desembarque em horário
de pico é apresentado neste trabalho. Através do uso da regressão linear foi possível encontrar
um modelo de previsão do headway em função do tempo de ocupação de plataforma.
Por consequência, maior será a oferta de capacidade de transporte para passageiros por
unidade de tempo no sistema. Uma revisão extensiva do tema capacidade foi realizada por
Ratton e Carvalho (2016) e motivaram investigações em torno do headway. Pois tal parâmetro
é particularmente interessante de ser estudado em horários de pico, onde a demanda pelo
sistema aumenta consideravelmente e os sistemas ferroviários são forçados a operar próximo
da saturação da capacidade.
Segundo Marinov et al (2013), a busca por uma operação que se aproxime da ideal, passa pelo
combate aos atrasos operacionais e este são motivados por:
Indisponibilidades dos materiais rodantes ou de via férrea não programadas;
Condições climáticas severas;
Conflitos de interação entre trens consecutivos;
Transferência de Maquinista entre cabines das extremidades em horários de pico;
Reprogramação de grades horárias de trens.
Trabalhos que datam desde a década de 90 possuem uma preocupação com os conflitos
gerados pelas diversidades de headways possíveis de ocorrerem na circulação e buscam
soluções em modelos para reprogramar a grade de trens (Cordeau et al, 1998 e Harrod, 2012).
Neste trabalho, o parâmetro headway será estudado sobre a abordagem da interação dos trens
com as infraestruturas de embarque/desembarque dos passageiros, em busca de um modelo de
previsão de headway em função do tempo de ocupação de plataforma. Acredita-se que
controlando os tempos de ocupação através da minimização sistemática dos tempos de porta
aberta seja possível minimizar os conflitos de grade. É importante ressaltar que este trabalho
não aborda estudos de resolução desses conflitos. Para estes, ver Dunda e Sahin (2015).
Para melhor leitura das próximas seções, segue a seguinte lista de variáveis:
To – tempo de ocupação;
Tc – tempo de chegada do trem: contado do momento que avança o sinal de entrada da
plataforma até parar;
Esse tempo de ocupação é afetado pelo tempo de embarque e desembarque ao longo de todo o
tempo de operação. Ele deve ser controlado, especialmente na faixa horária de pico.
O Centro de Controle Operacional (CCO) possui a posição dos trens em todas as seções da
malha ferroviária em um painel eletrônico, chamado painel mímico. As informações são
extraídas de circuitos presentes na via ferroviária. Mesmo os sistemas de controle mais
sofisticados do mundo, possuem um CCO para observar e controlar o tráfego ferroviário.
A primeira trata de verificar como mudanças nas normas operacionais ferroviárias afetam a
operação dos trens. Em otimização, é avaliado basicamente como mudanças na grade dos
trens e na utilização de algum recurso (estação, operadores de tráfego, etc) afetam custo,
efetividade e eficiência da operação ferroviária. A última linha trata de simular como as
mudanças que podem ser feitas na superestrutura e infraestrutura ferroviária podem afetar a
operação ferroviária (SI). Este trabalho irá utilizar as metodologias de SI e de SPT.
5. O PROCEDIMENTO METODOLÓGICO
(b) Cantagalo -distribuição triangular ( 1.34; 1.66 ; 1.79 ) com p valor >5% aceita-se a hipótese nula
Para os tempos de ocupação, optou-se por adotar a distribuição encontrada para Cinelândia
por ser a menos afetada por um “efeito de borda”;i.e; nas estações de ponta como Central e
General Osório os trens permanecem mais tempo para embarque e desembarque. Então, uma
interestação como Cinelândia, sofre menos esse efeito.
Figura 4: Distribuição triangular à esquerda dos headways medidos para os trens Uruguai –
General Osório
No teste K-S o p-valor foi maior que 5%, i.e, aceita-se a hipótese nula, sendo assim a
distribuição é triangular com 95% de confiança. No teste Qui-Quadradoop-valor foi menor
que5%,sendo assim não há desvios significativos entre os dados esperados e os observados na
amostra de headway. Foi considerado então a distribuição mais adequada que seria uma
distribuição triangular (1.68; 3.09 ; 4.49) com 1,7 % de erro quadrado.
Figura 5: Distribuição triangular à esquerda dos headways medidos para os trens Pavuna –
Botafogo
Analogamente a análise para os trens que seguem a rota Pavuna – Botafogo provaram-se ter
headways aderentes a distribuição triangular (1,17,2.74, 7) erro quadrado 2,3 % possui p-
valor < 5% no teste Qui Quadrado e p –valor > 15% no teste K-S.
Esta estrutura se repete até chegar a última estação da linha 1, que é a General Osório
apresentada abaixo:
A simulação ocorreu por 3 horas, que seria o tempo correspondente a faixa horária onde a
demanda atende um pico alto das 06 às 09 horas da manhã. Foi repetida 30 vezes, com
período de aquecimento de 30 minutos. Esse procedimento foi repetido para três distribuições,
correspondentes a tempos de ocupação que foram alocados no bloco de
embarque/desembarque das estações. As abaixo:
Cenário mais eficiente – triangular (1.0; 1.25; 1.5)
Cenário de base -triangular(1.2; 1.5; 1.8)
Cenário menos eficiente – triangular ( 2.2; 2.6; 3.0)
A velocidade dos passageiros, colhida em campo, resultou em uma distribuição normal com
média de 1,5 e valores máximos e mínimos de 1,7 e 1,3 respectivamente. A circunferência
média (área física ocupada) medida das entidades foi de 25 cm de raio. A origem e destino de
cada passageiro foram estabelecidos através de uma matriz OD(tabela 6).
Para o metro, utilizou-se uma distribuição triangular com tempos de 02:20min, 02:42min,
02:54min para representar o Headway, um tempo de ocupação de 1,5 min (coletado)e um
tempo de porta aberta ( tempo efetivo para entrada e saída de passageiros) também como uma
distribuição triangular de 20,30,40 ,50 e 60segundos.Sendo que em cada um dos casos foi
considerado um intervalo de 5 segundos iniciais apenas para a saída de passageiros do trem,
para se aproximar da realidade.
O período escolhido para simulação foi de 6:00 às 9:00 da manha, por ser considerado um
horário de pico onde o sistema funciona com sua maior demanda e as medidas forma retiradas
da estação de General Osório em Ipanema.
9. ANÁLISE DOSRESULTADOS
Os dados de headway e tempo de ocupação obtidos da simulação foram analisados usando
regressão linear. O modelo mais adequado, encontrado é apresentado na figura 7 abaixo:
2,5
y = 0,3244x + 1,8371
2,0
R² = 0,724
1,5
1,0
0,5
0,0
0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0
tempo de ocupação
Figura 7: Headway x tempo de ocupação
Tabela 7: Análise dos resultados para o tempo de ocupação médio de 1,5 min
% de melhoria
H (min) Pessoas em relação
TPA em calculado Embarcadas( % ao headway
TPA (min) TO (min)
segundos com segundo melhoria oficial do metrô
modelo 1 Legion) Rio em horário
de pico
60 1,0 1,5 2,31 9799 8%
50 0,83 1,3 2,26 9814 2,3% 10%
40 0,7 1,2 2,20 9830 4,6% 12%
30 0,5 1,0 2,15 9813 6,9% 14%
20 0,33 0,8 2,10 9855 9,2% 16%
10. CONCLUSÃO
A presente pesquisa está em um estágio preliminar, porém, conseguiu modelar a relação entre
headway e tempo de ocupação. Tal abordagem é complementar as formas de controle de
headway mais tradicionais como algoritmos genéticos e redes neurais.
Tal melhoria motiva estudos futuros que viabilizem a redução do tempo de porta aberta com
melhoria da quantidade de oferta de trens e consequente aumento de passageiros
transportados.
MENSURAR?
RESUMO
O tema deste artigo se relaciona com o conceito de acessibilidade nos sistemas de transporte e a sua relação com a
população usuária, residente ou visitante nas áreas ao redor destes. Este trabalho visa contribuir com a ampliação do
estudo a cerca deste conceito, mais especificamente de questões relacionadas à necessidade de considerar indicadores
de acessibilidade na análise e no desenvolvimento do planejamento de sistemas de transportes. A partir da
apresentação das diferentes perspectivas e componentes da acessibilidade, é realizada uma aplicação de um indicador
de acessibilidade na cidade do Rio de Janeiro. Os resultados obtidos buscam exemplificar e mostrar a importância de
considerar no planejamento de transportes indicadores de acessibilidade, quer seja para projetos futuros ou para
medir o desempenho do sistema em atender as necessidades da população.
ABSTRACT
The theme of this article is related to the concept of accessibility in transportation systems and its relation with users,
residents or visitors in the areas around them. This paper aims to contribute to the expansion of the study about this
concept, more specifically of issues related to the need to consider indicators of accessibility in the analysis and in
the development of transportation systems planning. Through the presentation of the different perspectives and
components of accessibility, it is done an application of an accessibility indicator in the city of Rio de Janeiro. The
results obtained seek to exemplify and demonstrate the importance of considering accessibility indicators in
transportation planning, whether for future projects or to measure the performance of the system to incorporate the
needs of the population.
PALAVRAS CHAVE
acessibilidade; transporte público; transporte de média e alta capacidade
1. INTRODUÇÃO
O acentuado crescimento das populações urbanas nos últimos anos tem gerado um aumento dos
problemas enfrentados pelas cidades, como as más condições de habitação e inserção urbana da
parcela mais pobre da população; a quantidade crescente de serviços a serem prestados e
infraestrutura a ser disponibilizada; questões atreladas ao meio ambiente e a saúde da população
residente nas cidades; entre outros (Silva, 2007).
O presente artigo conta com uma apresentação da importância do transporte urbano coletivo e da
acessibilidade para o aprimoramento da mobilidade urbana dos cidadãos (seção 2), dos
componentes e perspectivas de análise para mensuração da acessibilidade (seção 3), com uma
justificativa quanto a escolha de um indicador e a aplicação do mesmo na cidade do Rio de
Janeiro (seção 4), e por fim, as considerações finais (seção 5).
2. A MOBILIDADE URBANA
Nas cidades as oportunidades, atividades e serviços se encontram espalhados pelo território
urbano, gerando uma necessidade de efetuar diversas viagens e de se movimentar na cidade de
acordo com os padrões de vida de cada indivíduo presente nele, quer seja por trabalho, por lazer,
por questões de saúde ou por turismo (Lima, 2013). Para que as viagens às diversas partes do
território urbano possam então ser realizadas, os residentes e visitantes presentes nas cidades
fazem uso de algum modo de transporte para efetuar seus deslocamentos, quer seja ele
motorizado ou não motorizado.
A escolha referente ao modo de transporte urbano a ser utilizado pelos passageiros e usuários
depende de diversos fatores. Os usuários que utilizam o sistema de transporte para movimentar
seus bens e cargas avaliam principalmente a qualidade do serviço e os custos atrelados, quer seja
monetário ou de tempo para a realização dos mesmos (Rodrigues e Sorratini, 2008). Para os
passageiros, esta decisão é influenciada pelas questões econômicas, pela qualidade e conforto do
serviço prestado, pela disponibilidade, e pela proximidade com os lugares de início da viagem -
estação ou ponto de origem - e a proximidade ou tempo gasto para chegar até o destino final
(Rodrigues e Sorratini, 2008).
2.2. Acessibilidade
O conceito de acessibilidade é amplamente difundido e pesquisado em diversos campos
científicos, entretanto, não existe ainda uma definição única a seu respeito. Segundo Bath et al.
(2000, apud Curtis e Scheurer, 2007), a acessibilidade é a facilidade que um indivíduo tem para
alcançar uma atividade de um tipo desejado, em um local desejado, por um modo desejado e em
um momento desejado. Para Zegras (2005), a acessibilidade significa proporcionar aos indivíduos
facilidade de alcançar atividades e oportunidades, através dos sistemas de transporte,
aprimorando as relações interpessoais e econômicas, sem impactar negativamente o meio
ambiente. Apesar das diferentes formas de conceituação, a relação entre a infraestrutura do
sistema de transporte e o uso e ocupação do solo é apontada como característica intrínseca da
acessibilidade (Mello, 2015), quer seja implicitamente ou explicitamente.
A acessibilidade pode estar vinculada a diversos aspectos na relação entre estes componentes,
podendo variar de acordo com a escala de análise, perspectiva e o escopo de estudo. Com relação
ao escopo, há dois fatores ao se considerar a acessibilidade nos transportes públicos. Um é a
acessibilidade ao sistema de transporte público ou às suas estações dentro de uma área de análise
(quer seja de pedestres, bicicleta ou veículos motores), e o outro é a acessibilidade dentro do
sistema de transporte público em si (Curtis e Scheurer, 2007). A acessibilidade ao sistema de
transporte mede a facilidade de o usuário chegar ao sistema ao sair de sua moradia, trabalho e
outros (Cardoso, 2008). A acessibilidade dentro do sistema, mensura as impedâncias para se
chegar aos destinos desejados, após já ter acessado o transporte - podendo ser expressada pelo
tempo necessário para os deslocamentos através do meio de transporte utilizado (Cardoso, 2008).
Quantidade e
Tempo de viagem Restrições temporais para Acessibilidade é
distribuição espacial
Indivíduo entre localizações
das atividades
atividades e tempo disponível analisada no nível
das atividades para atividades individual
ofertadas
A decisão a respeito da metodologia a ser utilizada possui impactos diretos nos resultados da
avaliação, principalmente quanto a equidade de acesso aos serviços urbanos (Neutens et al.,
2010). Diversos critérios teóricos são apontados para avaliar a utilidade e a limitação para a
definição da metodologia a ser utilizada (Geurs e van Wee, 2004), como por exemplo a
interpretabilidade e fácil comunicação, com o objetivo de ter um maior impacto no processo de
elaboração de políticas públicas.
Tabela 2: Requisitos para a qualificação de sistemas de transporte como média e alta capacidade.
Modo de Transporte Características
Corredores que tenham classificação mínima de Básico segundo
BRT e VLT
requisitos do Padrão de Qualidade de BRT - ITDP.
Corredores que apresentarem via exclusiva no interior das áreas
Metrô e outros sistemas de urbanas; Cobrança da tarifa fora das composições; Espaçamento
transporte sobre trilhos, como os padrão entre estações (menor que 5 km, excluindo corpos hídricos);
trens metropolitanos Operação em frequências menores que 20 minutos em ambas as
direções, nos horários a partir das 6h até às 22h; Carros designados
para priorizar capacidade ao invés da disponibilidade de assentos.
Sistema de Barcas - analisados Aqueles que operem em intervalos menores que 20 minutos para
apenas na cidade do Rio de ambas direções e com horário de funcionamento de pelo menos 6h
Janeiro. às 22h.
Faixas dedicadas e corredores de
ônibus convencionais, bondes em
Não são qualificados como sistemas de transporte de média e alta
tráfego misto, sistemas de
capacidade.
transporte especiais coletivos e
individuais (paratrânsito)
Fonte: ITDP, 2016a
Para o cálculo do PNT nas cidades brasileiras são utilizados dados estatísticos e malhas digitais
georreferenciadas do Censo Demográfico de 2010, disponibilizados pelo IBGE. Para os valores
de população, é utilizado os valores presentes na variável V002 da tabela Básico, que se refere à
população residente em domicílios particulares permanentes em cada setor censitário. As malhas
digitais georreferenciadas dos setores censitários utilizadas fazem parte da base de geociências do
IBGE, e foram utilizados apenas aqueles referentes ao Censo de 2010. O indicador PNT é
calculado com a utilização de um Sistema de Informação Geográficas (SIG), através dos passos
descritos a seguir (Oliveira et al., 2016):
Etapa 2. Interseção entre área de cobertura do sistema de transporte de média e alta capacidade
RT e malha de setores censitários
a. É feito um buffer com raio de 1 km a partir de cada estação. É importante não sobrepor
áreas referentes a pontos distintos, o que implicaria em dupla contagem de população
residente. Para isso deve mesclar os buffers que possuem sobreposições utilizando a
ferramenta "dissolver";
b. É feita a interseção entre o shapefile dos setores censitários e o shapefile de área de
cobertura do sistema de transportes, referente ao buffer de 1km. Para cada setor censitário
contemplado integral ou parcialmente dentro do buffer de 1km, a área proveniente dessa
interseção é então calculada.
c. É dividida a área intersectada pela área total de cada setor censitário, encontrando assim a
porcentagem de cada setor presente no buffer, denominada rácio.
(1)
Onde:
é o rácio (de 0 a 1) do setor censitário i contido dentro do buffer de 1 km
definido a partir das estações do sistema de transporte considerado.
d. A tabela com os rácios dos setores censitários é exportada e o mesmo é atrelado em
planilha Excel aos registros dos setores contendo os dados demográficos.
(2)
Em relação aos sistemas de transporte de alta capacidade, a cidade apresenta três linhas de metrô
com um comprimento total de 59 km e 41 estações (MetrôRio, 2016), todas dentro da própria
cidade do Rio de Janeiro. Oito ramais de trem que percorrem a cidade e a conecta com diversos
municípios da RMRJ, ao longo de 270 km e 102 estações (Supervia, 2016). Atualmente os
sistemas de média capacidade da cidade são o sistema de BRT, com uma extensão total atual de
123 km, e o VLT, que teve sua primeira linha inaugurada em junho de 2016, com 12,9 km de
extensão (VLT Rio, 2016).
Tabela 3: Corredores e Estações de transporte que se qualificam como média e alta capacidade.
Modo Corredores Considerados Número de estações consideradas
TransCarioca 46
TransOeste 55
BRT
TransOeste Lote 0 6
TransOlímpica 18
Ramal Deodoro
35
Trem Ramal Santa Cruz
Ramal Japeri 2
Ramal Saracuruna 11
VLT Linha 1 20
O mapeamento de todas estas estações e seus corredores foi extraído da base de dados
georreferenciados disponibilizada pelo ITDP (ITDP, 2016b).
Dos 160 bairros analisados, 33 não contam com nenhuma estação de transporte de média e alta
capacidade ou não apresentam nenhuma parte do seu território presente dentro do raio de alcance
estipulado a partir destas estações, como pode ser visto na Tabela 4. Pode-se então concluir que
nenhuma parcela da população que reside nestes bairros se encontra a uma distância considerada
ideal para se ter acesso a sistemas de transporte que permitam alcançar as mais diversas partes da
cidade. Essa parcela corresponde a aproximadamente 8,3% da população total da cidade do Rio
de Janeiro e a cerca de 20% dos bairros da mesma.
Em contraponto, apenas 23 dos bairros da cidade têm seus residentes completamente cobertos
pelas estações de transporte de média e alta capacidade, como pode ser visto na Tabela 5, o que
reforça a situação de oferta inadequada de transporte pela cidade do Rio de Janeiro. Dessa
maneira, apenas 8,7% da população total da cidade está inteiramente coberta por estas estações,
Figura 1: Porcentagem da População residente nos bairros da cidade de acordo com os valores encontrados de PNT.
Dos 46 bairros que tiveram valores de PNT inferiores à média e diferentes de zero, 24%
pertencem à AP5 - cerca de 52% do total dos bairros da AP5 - Área de Planejamento da cidade
que é considerada a mais distante das centralidades (SMS, 2010), localizadas no Centro e na
Barra da Tijuca, é a que menos apresenta estações de transporte de média e alta capacidade no
alcance de seus residentes. Essa carência pode ser mostrada de maneira ainda mais evidente ao se
Dos 58 bairros que tiveram valores de PNT diferentes de 100% e maiores que a média, 65,5%
destes pertencem a AP3, Área de Planejamento que teve seu crescimento e urbanização atrelado a
criação do sistema de trens urbanos na época (SMS, 2010). Dos bairros da AP3, 60%
apresentaram valor de PNT maiores que a média e igual a 100%. Outra AP de destaque é a AP2,
que apresenta 52% dos seus bairros também com estes valores de PNT. Por ser a região com a
população que apresenta maior poder aquisitivo - é a AP que conta com os maiores rendimentos
salariais da cidade, cerca de 1.600 reais (SMS, 2010) – se torna claro a preferência política por
investimentos nesta área e a não necessidade em priorizar a incorporação de mais sistemas de
transporte de média e alta capacidade nestes bairros, principalmente aqueles com PNT igual a
100%: Catete, Copacabana, Flamengo, Glória, Ipanema, Maracanã e Praça da Bandeira.
5. CONCLUSÃO
Este artigo teve como objetivo contribuir com a ampliação de estudo relacionados a
acessibilidade, principalmente na importância de sua análise e consideração para o
monitoramento e desenvolvimento do planejamento de sistemas de transportes. Esta é capaz de
apontar a facilidade dos indivíduos em alcançar atividades e oportunidades no território, através
do uso de sistemas de transporte. Desta forma, é indicada por diversos autores como um dos
principais conceitos e ferramentas para promover e estimular uma mobilidade urbana mais
sustentável.
Entretanto, devido a suas diversas formas de análise e de mensuração, torna a definição quanto a
metodologia a ser adotada uma difícil decisão. Este trabalho buscou salientar as suas
características de modo que a decisão quanto a metodologia possa ser coerente com as utilizações
e percepções da população. Quando coerente, os resultados da análise devem ser incorporados, de
forma complementar ao planejamento da rede de transporte e nas suas rotas. Esta integração,
quando considerada desde a etapa do planejamento, é essencial para a promoção de um padrão de
mobilidade mais sustentável e que promova maior acesso às oportunidades e maior inclusão
social, e consequentemente, melhorando a qualidade de vida dos habitantes.
UM ENFOQUE BIBLIOGRÁFICO
RESUMO
Os planos de manutenção em via permanente ferroviária são fundamentais para garantir a produtividade
e a segurança da operação de trens. Entretanto, existem políticas de manutenção adotadas por diversas companhias
ferroviárias que preconizam intervenções corretivas, adiando manutenções preditivas que possibilitariam
economia de recursos e maior produtividade. Para entender esse contexto, o presente artigo realizou uma pesquisa
bibliográfica focada nos componentes da via, na sua deterioração e os aspectos relevantes levantados pelos autores
estudados acerca da postergação da manutenção, inclusive com um enfoque nacional. De maneira geral, os autores
pesquisados convergem sobre a importância fundamental da efetivação da manutenção dos componentes e da
geometria da via, contudo aspectos econômicos e operacionais foram observados como os principais motivadores
do adiamento de manutenções. Além disso, fatores ligados à programação da manutenção também norteiam o
entendimento desse cenário.
ABSTRACT
Maintenance plans for the railway track are essential to ensure the productivity and safety of the operation
of the trains. However, there are maintenance policies adopted by several railway companies that adopt corrective
interventions, postponing predictive maintenance that would allow savings in resources and higher productivity.
To understand this context, this paper has carried out a bibliographical research focused on the components of the
track, the deterioration of these components and the relevant aspects raised by the authors studied about the
postponement of maintenance, including a focus on national railroads. In general, the authors converge on the
importance of maintenance of components and track geometry, however, economic and operational aspects were
observed as the main motivators of postponement of maintenance. In addition, factors related to maintenance
scheduling also guide the understanding of this scenario.
1. INTRODUÇÃO
Dessa forma, frente à desvantagem em se operar trens em vias deterioradas, poder-se-ia supor
a preferência das companhias pela atenção a excelência na manutenção das vias permanentes,
An, Lin e Huang (2013), destacam a periculosidade dos acidentes ferroviários, e dentre as
diversas causas de incidentes como descarrilamentos, por exemplo, estão aspectos ligados à
gestão e realização da manutenção. Nacionalmente também são observados desvios quanto à
qualidade da manutenção, o que se converte em indicadores negativos para o setor, como a
baixa velocidade das composições brasileiras de carga, que em média não passam de 28 Km/h.
Esse paradoxo entre a adoção de uma política de manutenção que admite o adiamento de
manutenções e os possíveis transtornos econômicos e operacionais decorrentes dela, desperta
um questionamento sobre o porquê de algumas ferrovias postergarem as manutenções de alguns
trechos, assumindo o risco de acidentes e a baixa produtividade.
Portanto, visando entender o contexto descrito acima, esse artigo apresenta uma pesquisa
bibliográfica sobre a manutenção requerida pelas vias permanentes ferroviárias, focando
posteriormente na interpretação que alguns autores possuem acerca do assunto, listando
possíveis motivos que podem explicar as práticas de postergação da manutenção.
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
2.1. O Componente Via Permanente
A via permanente é entendida como o constituinte da linha férrea que engloba as estruturas
civis responsáveis por possibilitar e suportar o tráfego do material rodante, sendo comumente
subdividida em duas estruturas, a saber: a infraestrutura, formada pelas obras destinadas a
compor a plataforma da linha férrea (aterros, taludes, túneis); e a superestrutura, que recebe e
distribui os impactos diretos das cargas oriundas da circulação do material rodante. A
superestrutura ferroviária é comumente designada como via permanente, sendo assim, este
trabalho seguirá esta tendência adotando tal nomenclatura. (CASTELLO BRANCO et al. Apud
COIMBRA, 2008, p. 52).
1. Lastro: Material granular geralmente rochoso (pedra britada), alocado acima do solo
ou sublastro (lastro de menor granulometria), tendo a função de distribuir de maneira
uniforme para a plataforma, as resultantes das cargas dos veículos que trafegam, tendo
importância no suporte e estabilidade dos dormentes e ainda na drenagem do sistema;
2. Dormente: Componente no formato de viga instalado de forma transversal aos trilhos,
com função de receber e transmitir ao lastro os esforços de flexão produzidos pela
circulação ferroviária, exercendo ainda a função de suporte para a fixação dos trilhos.
Suas dimensões variam de acordo com a bitola e a aplicação, bem como seus
componentes;
2.2. Manutenção
Os estudos sobre a deterioração da via permanente são uma das principais atribuições da
engenharia ferroviária, devido às sérias consequências a segurança e a operação dos trens em
vias deterioradas. (ISHIKAWA; SEKINE; MIURA, 2011)
Diante das solicitações estruturais que a via permanente recebe durante a circulação das
composições, bem como sua exposição a diversos agentes climáticos, ocorre a degradação de
seus componentes ao longo do tempo. Dessa forma, todos os seus principais itens apresentados
anteriormente, em algum momento demandarão alguma intervenção, seja ela decorrente de
alguma necessidade corretiva, seja pela troca programada. Nesse sentido, o objetivo básico da
manutenção da via é manter o traçado em planta e perfil, eliminando possíveis defeitos
potencialmente prejudiciais ao tráfego, proporcionando uma plataforma estável e bem drenada,
um lastro limpo e enquadrado, um alinhamento e nivelamento perfeitos e superelevação
adequada.
1. Nos Trilhos: As anomalias nos trilhos ferroviários podem ser fruto de defeitos
metalúrgicos ou originadas através do uso, manifestando-se internamente e
externamente, respectivamente. Podem-se dividir os problemas inerentes a esse ativo,
em anomalias (COIMBRA, 2008, p.75):
a) Longitudinais: Trinca Vertical; Trinca Horizontal; Trinca na concordância
boleto/alma; Trinca na concordância alma/patim; Trinca estelar na furação;
b) Transversais: Fratura Transversal; Fratura Composta; Fratura de Fragmentação;
c) Superficiais: Fissuração do canto da bitola; Escamação no boleto; Estilhamento
do canto da bitola; Despedaçamento do canto da bitola; Shelling na superfície
do boleto; Patinagem; Escoamento; Esmagamento; Sulco no boleto;
d) Desgastes: Desgaste lateral; Desgaste Vertical Anormal; Desgaste Ondulatório;
e) Soldas e juntas: Caroço; Canoa; Martelamento; Trincas;
Na figura 2 são demonstradas algumas das anomalias listadas nos grupos acima.
1. Na Bitola: A bitola é a distância entre as partes internas dos trilhos que compõem a via
permanente. As anomalias que podem ocorrer à bitola podem ser divididas em:
a) Alargamento de bitola: Quando o valor real apresentado é maior que a tolerância
máxima permitida. Geralmente estão associados à deterioração dos dormentes
e/ou dos elementos de fixação;
b) Estreitamento de bitola: Quando o valor da medida entre os trilhos é inferior ao
tolerável. É causado normalmente por defeitos em trilhos, dormentes ou placas
de apoio.
2. No nivelamento vertical e horizontal: Este parâmetro refere-se ao nível dos trilhos em
relação à sua extensão horizontal, que deve estar perfeitamente nivelado. Geralmente o
desnivelamento está associado a problemas de lastro, mas também pode se manifestar
pela existência de dormentes defeituosos, juntas desniveladas, drenagem insuficiente.
Da mesma forma, porém no sentido horizontal, os trilhos podem ficar desalinhados em
relação ao resto do conjunto transversalmente;
3. No Alinhamento: Trata-se do alinhamento da via em relação ao seu eixo central
original. Quando os valores das medições extrapolam o limite admitido, configura-se
Segundo Gallo et. al. (2017), a manutenção da via pode ser divida em dois grupos principais:
manutenção preventiva que irá prever falhas de desgaste, reparação e renovações em uma linha,
além de estudar a compensação e as renovações do lastro, elaborando diferentes políticas de
manutenção; e a manutenção corretiva que irá focar quais defeitos reparar imediatamente e
quais adiarem, utilizando modelos de predição estatística para a degradação da via. Somam-se
a essas definições ainda três outras próprias do ambiente ferroviário: a conserva, a remodelação
e a renovação.
1. Conserva: Objetiva manter as características da via dentro das tolerâncias de uso, sem,
contudo, manter a qualidade inicial da construção, ficando progressivamente mais baixa
a cada intervenção de conservação;
2. Remodelação: Troca de grande quantidade de componentes, fazendo com que a via
readquira a “qualidade inicial” da construção;
3. Renovação: Manutenção, que por intermédio de uma alteração das características da
via, a dotaria de uma qualidade superior àquela inicial de sua construção.
Essas inspeções podem ser realizadas por meio dos métodos indiretos, que usam aparelhos
como acelerômetros ou rodeiros instrumentados, analisando basicamente as acelerações
verticais, transversais e longitudinais em relação à via, e os esforços dinâmicos; ou métodos
diretos, que através de um veículo de avaliação da via, verifica dinamicamente todos os
parâmetros da geometria.
Uma vez detectadas anomalias, justificam-se intervenções de manutenção. Essas são numerosas
em seus tipos, definidas pelas características dos problemas, indo desde trocas de materiais, até
correções geométricas. A realização da manutenção pode ser feita manualmente, demandando
geralmente numerosas equipes; ou automatizadas, realizadas por veículos ferroviárias especiais
de grande dimensão e elevada produtividade. Contudo, como destaca Xavier (2008), todas as
manutenções geram impacto na circulação dos trens, sendo a via totalmente paralisada para
circulação na maioria das intervenções. Na figura 5 são apresentados alguns equipamentos
automatizados de manutenção da via.
Castro (2002), ao analisar aspectos econômicos do transporte ferroviário, conclui que 99,9% de
sua receita total advêm diretamente de sua operação, evidenciando a necessidade de se manter
o sistema operacional e operando.
Nessa mesma linha, e adentrando mais propriamente na temática em questão, Brochado e Pires
(2007), além de ressaltarem tal afirmação, salientam que o desempenho econômico de uma
ferrovia está diretamente ligado ao seu nível de rendimento em relação a menores interrupções
do tráfego, e que uma via permanente deteriorada é responsável direta pela perda de segurança,
redução da disponibilidade, restrições de uso, fadiga do material rodante e desgaste nos trilhos.
Sgavioli, Bernucci e Motta (2015), também se referem à segurança da operação. Segundo eles,
falhas e imperfeições na via permanente são as maiores causas de ocorrências ferroviárias nos
Estados Unidos, constatação também abordada e ratificada por Gallo et al. (2017). Dessa forma,
a condição da via permanente de ferrovias de carga tende a degradar-se rapidamente, e o
conhecimento do processo de degradação é essencial para mitigar problemas futuros na área
operacional.
Santos, Teixeira e Antunes (2015) destacam que nesse contexto, dada as restrições
orçamentárias que as empresas possuem atualmente, seria inviável economicamente que as
companhias mantivessem padrões de manutenção elevados em função dos custos insustentáveis
que estes demandariam, sendo dessa forma, fundamental a gestão dos investimentos de forma
racional, dirigindo as intervenções com foco no atendimento dos padrões de segurança e
desempenho, compatíveis com a realidade orçamentária.
Dada essas características, justificam-se cada vez mais o emprego das novas tecnologias de
inspeção de via, tal qual as apresentadas neste trabalho, buscando uma precisão de diagnóstico
cada vez mais refinada, como ratificam Brochado e Pires (2007). As principais ferrovias do
mundo vêm utilizando inovações no processo de manutenção preditiva para avaliação do estado
da superestrutura, possibilitando otimizar a utilização dos componentes, mantendo a segurança,
mitigando os níveis de acidentes e interdições corretivas.
Em adição, Sgavioli, Bernucci e Motta (2015), definem que, apesar dos custos dos processos
de manutenção serem elevados, adotar práticas com uma abordagem mais preditiva pode se
converter, paradoxalmente, em economia de recursos para as empresas, já que pequenas
mudanças na estratégia de manutenção podem estender a vida útil do ativo em cerca de 10%,
resultando na melhoria do retorno sobre o investimento. Assim, para os gestores de
infraestrutura ferroviária, o aspecto custo se revela um grande direcionador dos rumos que os
processos de manutenção tomarão, guardando a eficiência e a economia em alguma dimensão,
segundo as próprias diretrizes organizacionais (ANDRADE; TEIXEIRA, 2015).
Santos, Teixeira e Antunes (2015) descrevem que para os operadores, a correta percepção de
como as degradações se desenvolvem ao longo do tempo, e acima de tudo a correta
programação das atividades, é crucial para que os processos sejam realizados com a precisão
necessária, dentro dos parâmetros estipulados. Nesse tocante, como Guler (2013) apresenta,
essa correta compreensão possibilita que as ferrovias estabeleçam de maneira mais adequada
as políticas de manutenção que nortearão como as intervenções ocorrerão ao longo do tempo.
Essa previsão, contudo, é tarefa complexa, uma vez que cada trecho possui suas próprias
características, com padrões de construção diferentes, com tráfegos diferentes, e assim, modelos
que sejam capazes de satisfazer com eficácia o planejamento da evolução dos problemas,
auxiliando o correto dimensionamento das atividades, são extremamente variados, orientados
segundo diversas formas de abordagens e ferramentas, como pode ser visto nos trabalhos de
Guler (2013); Guler, Jovanovis e Evren (2011) e Santos, Teixeira e Antunes (2015).
Ferramentas de apoio à decisão que empregam os conceitos do custo do ciclo de vida dos
componentes (LCC – Life Cycle Costing), custos marginais, ou mesmo análises estatísticas são
Uma outra abordagem pertinente em relação aos custos, porém relacionado ao tráfego das
próprias composições ferroviárias é feita por Xavier (2008), que destaca que os diversos
padrões temporais de manutenção, muitas vezes levando em conta diversas formas de atraso e
postergação, podem se dar frente à necessidade da não paralização do tráfego, sendo sua
realização adiada a um momento de intervalo para manutenção programada. Dessa forma, no
período entre a identificação da necessidade da manutenção e a sua efetivação, a empresa
assume o risco de ocorrência de algum problema no trecho afetado.
Este é um aspecto importante, contudo, deve ser analisado com critério, principalmente quanto
a sua generalização. A postergação da manutenção através da abordagem dos autores, pode se
justificar frente ao prejuízo da constante paralização do tráfego, sendo então plausível o seu
adiamento até um período de manutenção programada. Entretanto, a criação das janelas
operacionais que possibilitam a efetivação da manutenção deve obrigatoriamente ocorrer e em
um volume satisfatório, sendo dessa forma fundamental que a política de manutenção adotada
seja dirigida de forma a estabelecer padrões de tolerâncias que compreendam tais questões.
Vale destacar ainda, que muitos são os trechos operacionais, com muitos exemplos no Brasil,
que o volume de tráfego é baixo, tendo poucas circulações diárias ou mesmo semanais. Nesses
casos, a análise da postergação da manutenção recai sobre aspectos econômicos novamente, em
função de que até que ponto seria viável comprometer as receitas da empresa para a efetivação
das manutenções sendo que as receitas geradas pelo trecho são relativamente baixas, ou seja,
teoricamente seria mais economicamente viável assumindo as diversas restrições fruto dos
baixos padrões de qualidade da via ou invés de serem empregado elevados valores para a
realização da manutenção.
Em adição a esse contexto, Guler (2013) destaca a importância da definição do momento certo
para a manutenção da via. Segundo ele, os trabalhos de manutenção e renovação das linhas
devem ser realizados no momento certo, sendo essa definição crucial para a realização de planos
eficientes e otimizados, que levem em consideração todas essas características tanto de tráfego
quanto de custos, buscando sempre aumentar a vida útil dos componentes da via, haja vista que
a manutenção tardia certamente é insegura, além de aumentar exponencialmente os custos.
A julgar pelos processos apresentados, e mais especificamente pelas conclusões dos autores, as
motivações para a postergação das manutenções podem estar centradas na programação da
manutenção e nos custos envolvidos, uma vez que dada a complexidade das ações, e guardado
o foco em segurança, as manutenções em uma via de carga em operação não permitem
coexistência com o tráfego, além de demandarem grande investimento financeiro para sua
efetivação. Isto posto, remonta-se à questão norteadora deste trabalho, agora podendo levantar
algumas hipóteses factíveis a problemática “postergação da manutenção”. São elas:
1. Dado o elevado custo dos materiais, as empresas podem buscar utilizá-los ao máximo;
2. Frente à necessidade de paralização do tráfego para a realização dos processos de
manutenção, as empresas precisam adiar as intervenções e programar uma janela
operacional para a sua realização;
3. Em alguns casos, como em algumas companhias americanas, a questão centra-se na
política de manutenção adotada pela empresa, embasada em intervenções de caráter
corretivo.
Com isso, como sugestão a trabalhos futuros, propõem-se abordagens que sejam capazes de
vislumbrar os impactos negativos da postergação da manutenção ferroviária nas receitas das
empresas, principalmente em âmbito nacional, buscando avaliações que explorem inclusive,
quanto do investimento em manutenção se reverte em ganho produtivo operacional.
Ainda em uma abordagem econômica, uma temática pertinente seria a realização de estudos
com foco na compreensão, ou mesmo definição, de um ponto ótimo em uma análise Receita
Operacional X Custo da Manutenção, que atenderia as necessidades da empresa.
Outro viés importante são pesquisas voltadas ao estudo de técnicas de manutenção preditiva
para esse contexto ferroviário, pautadas principalmente na programação das manutenções.
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
RESUMO
O grande volume de problemas decorrentes ou relacionados aos deslocamentos urbanos na Região Metropolitana da Grande
Vitória (RMGV) - ES, tais como acidentes, congestionamentos, poluição sonora e atmosférica, tem se tornado bastante
expressivo nos dias atuais. Na maioria das vezes, esses problemas podem estar associados ao aumento expressivo, nos últimos
10 anos, na quantidade de automóveis circulando pela região da RMGV. Apesar do aumento contínuo da Taxa de motorização,
a maior parte dos bairros nas cidades da RMGV não sofreram alterações significativas nas estruturas das ruas e avenidas. O
Bairro Mata da Praia é um dos importantes e mais valorizados bairros da região e foi utilizado neste artigo para uma análise
sobre a necessidade de reestruturação das vias de transporte do bairro, uma vez que o mesmo apresenta constantemente
problemas de congestionamento nas principais vias de acesso as regiões vizinhas ao bairro e até mesmo em relação as ruas
principais do bairro. A utilização dos conceitos de otimização e inteligência artificial na área dos sistemas de transportes cada
vez mais está se tornando uma necessidade primordial para a garantia do êxito de novos projetos, dessa forma, desenvolver
um estudo que utilize técnicas de otimização no processo de reestruturação de vias urbanas pode servir de subsídio para a
tomada de decisão sobre como resolver os problemas associados a locomoção na região de estudo. Inserindo-se nesse
contexto, o presente trabalho tem como objetivo avaliar o uso da metaheurística Greedy Randomized Adaptive Search
Procedure (GRASP) como solução para este problema, contribuindo para o desenvolvimento dessa nova área de pesquisa
que em poucos anos já se mostrou bastante promissora. Foram desenvolvidos seis cenários e serviram como testes para o
método desenvolvido e os resultados da aplicação do método é avaliado segundo duas abordagens. A primeira considera a
topologia real do bairro e a segunda uma possível reestruturação das ruas. Em todos os cenários avaliados o método apresentou
resultados satisfatórios para a reestruturação do sistema.
PALAVRAS CHAVES: Problemas de Congestionamento, Reestruturação, Técnicas de Otimização.
ABSTRACT
The great volume of problems arising from or related to urban displacements in the Greater Vitória Area – ES,
such as accidents, traffic congestion, air-pollution and noise pollution, it has become quite significant nowadays.
For the most part of the time, these problems may be associated with the expressive increase, in the last 10 years,
in the amount of automobiles in the Greater Vitória Area. In spite of continuous increase of the number of vehicles,
most part of the neighborhood in Greater Vitória Area cities did not change significantly the structures of streets
and avenues. The Mata da Praia neighborhood is one of the most important and valued neighborhoods in the region
and was used in this article for an analysis of the need for restructuring the neighborhood's transportation routes,
since it presents constantly problems with traffic congestion in the main access roads to the neighbouring regions
and even in the main streets of the neighborhood. The use of the concepts of optimization and artificial intelligence
in the area of transport systems is increasingly becoming a primary need to guarantee the success of new projects,
in this way, to develop a study that uses optimization techniques in the process of restructuring urban roads can be
used as a tool for decision-making on how to solve the problems associated with the locomotion in the region of
study. Inserting in this context, the present study aims to measure the use of metaheuristic Greedy Randomized
Adaptive Search Procedure (GRASP) as a solution to this problem, contributing to the development of this new
area of research that in a few years has proved to be promising. Six different scenarios were developed and was
used as tests for the developed method and the results of the application of the method evaluated according to two
approaches. The first one considers the real topology of the neighborhood and the second one, a possible
restructuring of the streets. In all the evaluated scenarios the method presented has satisfactory results for the
restructuring of the system.
KEYWORDS: Metaheuristic, Traffic, Urban Roads, Transportation, Restructuring, Traffic Jam
Os mecanismos de transportes são responsáveis pela movimentação de bens e pessoas, entre dois
pontos quaisquer, tendo um papel fundamental na comunidade moderna. O desempenho desse sistema
como um todo pode provocar impactos amplos sobre o sistema socioeconômico, influenciando
diretamente no desenvolvimento de qualquer região, urbana ou rural (LOPEZ-GARCIA et al., 2016).
De acordo com Kneib et al. (2014) as cidades que possuem um centro econômico desenvolvido
criam uma relação diretamente proporcional entre a mobilidade urbana, os sistemas de transporte e as
centralidades vizinhas. Dessa forma, os centros urbanos têm atraído cada vez mais um número maior de
veículos, sejam estes de transporte individual ou de transporte coletivo, provocando o comprometimento
da mobilidade. Em razão da saturação dos principais pontos desenvolvidos, novos centros vão se
formando, rumo às áreas mais acessíveis. Consequentemente, são criados os chamados subcentros ou
centralidades, que em muitos casos o sistema de transporte público não consegue se desenvolver na
mesma velocidade em que esses são criados (MENDONÇA, 2016).
Freitas et al. (2015) destacam que o processo de urbanização da maioria das cidades brasileiras
se deu de forma rápida, desordenada, mal estruturada e ainda tiveram a maioria delas, o modelo de vias
de transporte baseado no automóvel como principal mecanismo de deslocamento. Tal afirmação pode
ser evidenciada ao observar a taxa de crescimento da frota de automóveis, que no Brasil saltou de 23,7
milhões de automóveis em 2003, para quase 51,3 milhões até dezembro de 2016, um aumento de
aproximadamente 117% (DEPARTAMENTO NACIONAL DE TRÂNSITO, 2017).
Nas cidades de Vitória, Vila Velha e Cariacica, os Sistemas Municipais de Transporte Coletivo
(SMTC) empregam exclusivamente o modo de transporte por ônibus. No período de 10 anos (2006 -
2016) houve um aumento significativo do número de automóveis e da população nas três cidades,
enquanto que o percentual de aumento do quantitativo da frota de ônibus não cresceu na mesma
proporção. A Figura 01 apresenta, por meio de um gráfico esses dados.
Esse fato se torna preocupante visto que apesar desses aumentos impactantes, a grande maioria
dos bairros permaneceu com a estrutura viária inalterada durante a última década, ou seja, a massificação
do uso do automóvel, que eleva a taxa de motorização nas cidades pode gerar os grandes problemas de
congestionamento, quando as estruturas de locomoção não apresentam mudanças ao passar dos anos. O
Bairro Mata da Praia é um desses bairros e foi a área escolhida para o estudo deste trabalho.
A grande Vitória possui uma população de 1.687.704 de habitantes estimada em 2016 pelo IBGE
representando 48 % da população do Estado. Dentre as cidades que compõe a RMGV, a cidade de
Vitória, capital do Espírito Santo, está localizada na faixa litorânea deste Estado, na Latitude Sul 20º 10’
09” e Longitude Oeste 40º 20’ 50” de Greenwich. É composta por 34 ilhas e uma parte continental, com
área total de 93,3 km2, enfatizando-se que 40% da área de seu território é coberta por morros. Segundo
os dados do último senso do IBGE, Vitória ocupa o segundo lugar, entre todas as capitais brasileiras, no
ranking do Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) com pontuação de 0,845, perdendo
apenas para a cidade de Florianópolis (IDHM de 0,847). Adicionalmente, Vitória está localizada em um
ponto estratégico na Região Sudeste, pois está próxima dos principais centros econômicos do país.
Limita-se ao Norte com o município da Serra, ao Sul com Vila Velha, a Leste com o Oceano Atlântico
e a Oeste com o município de Cariacica.
Um sistema de transporte pode ser modelado como um grafo G = (V,E), o qual V representa o
conjunto de vértices, também chamados de nós, e E representa o conjunto de arestas também chamadas
de ligações ou conexões. Dessa forma, um cruzamento ou interseção de uma rua com outra rua pode ser
determinado como um vértice V e a própria rua ou avenida como uma aresta E.
A Figura 03 apresenta a representação do Bairro Mata da Praia como um grafo a ser tratado neste
trabalho, as arestas com traços contínuos indicam a presença de uma conexão entre dois vértices
quaisquer. Já as arestas descontinuas são indicadas como ligações que, no modelo atual do bairro, não
possibilitam a passagem de automóveis. Dessa forma, o modelo permite mapear quais são as possíveis
rotas de conexão entre dois pontos (vértices) analisando a possibilidade de se utilizar uma das rotas que
na estrutura atual não permitem a passagem de veículos (arestas descontínuas).
Foi realizada uma pesquisa de frequência e ocupação visual, na Avenida Dante Michelini, na
Avenida Fernando Ferrari e na Avenida Adalberto Simão Nader, as três principais avenidas locais do
campo de estudo. Todos os levantamentos foram realizados em horários de pico da manhã e da tarde e
em dias típicos (de terça a quinta-feira), em semanas sem feriados. Dessa pesquisa foram constatados
Entretanto, as ruas e avenidas incorporadas ao bairro Mata da praia não apresentam o mesmo
problema das outras avenidas analisadas. Assim, a Av. Des. Dermeval Lyrio, a Av. Hugo Viola, a Av.
Carlos Gomes de Sá e a Av. Nicolau Von Schilgen por uma análise visual e por uma pesquisa com
moradores locais, nos horários de pico (07h30min-8h40min e 17h20min-19h30min), indicam um fluxo
tranquilo de veículos sem problemas de congestionamento ou acidentes constantes. Para tanto,
desenvolver um método que sirva de auxilio sobre a tomada de decisão em relação aos pontos de acesso
a essas avenidas pode servir como uma forma de reduzir os problemas de congestionamento nessas
avenidas, que são consideradas como os principais pontos de locomoção da região local.
A metaheurística Greedy Randomized Adaptive Search Procedure (GRASP) foi proposta por Feo
e Resende (1995) e pode ser utilizada para a obtenção de soluções dos problemas de otimização em geral.
Esta metaheurística é dividida em duas fases principais: a fase construtiva, que é baseada em um
Algoritmo Heurístico Construtivo (AHC), responsável por gerar uma solução, elemento a elemento; e a
fase de melhoria local, na qual um ótimo local na vizinhança da solução construída é pesquisado. A
melhor solução encontrada ao longo de todas as iterações GRASP é retornada como uma possível solução
para o problema.
Na primeira fase do GRASP, isto é a fase de construção, deve ser utilizada uma heurística
construtiva parcialmente gulosa. Basicamente, a diferença entre a heurística gulosa e a heurística
parcialmente gulosa é que nas heurísticas gulosas sempre se escolhe o melhor elemento (aquele que
minimiza ou maximiza a função de avaliação) para compor a solução. Já na heurística parcialmente
gulosa, a escolha do seguinte elemento é realizada de forma aleatória dentre aqueles que compõem uma
lista restrita dos melhores elementos candidatos (LRC). A construção parcialmente gulosa é, portanto,
caracterizada pela escolha aleatória de um dos melhores candidatos da LRC, enquanto a construção
gulosa é caracterizada pela escolha do melhor elemento (PEREIRA et al., 2014).
Na fase de melhoria local é utilizado um algoritmo de busca local com o objetivo de procurar na
vizinhança da solução fornecida pela fase construtiva a melhor solução para o problema. O GRASP pode
contar ainda com uma fase de pré-processamento, na qual as informações sobre o problema são pré-
processadas e avaliadas com o objetivo de diminuir o espaço de busca do problema caso seja possível.
Em seguida, é apresentado um pseudo-código da GRASP. Na linha 1 do pseudo-código a melhor solução
e a sua função objetivo são inicializadas. Na linha 2 são lidos os dados de entrada do problema, para o
problema de em questão, os dados carregados correspondem a matriz de conectividade, os pontos em
que se deseja pesquisar, a opção se é possível usar todas as áreas ou não e ainda a distância entre cada
um dos vértices como pesos das arestas que interligam dois vértices quaisquer. As iterações GRASP são
realizadas das linhas 3 à 9 e terminadas após realizado o número máximo de iterações (MaxIter), se
tornando a condição de parada do algoritmo. Na linha 4 é executada a fase de construção, enquanto na
linha 5 é a fase de busca local. Na linha 6 é feita a verificação se a solução obtida pela iteração é melhor
do que a melhor solução encontrada até o momento; em caso positivo, na linha 7 é feita a atualização da
melhor solução e da sua função de avaliação.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
BOTEA, A.; RINTANEN, J.; BANERJEE, D. Optimal reconguration for supply restoration with informed aast search. Smart
Grid, IEEE Transactions on, v. 3, n. 2, p. 583 - 593, 2012.
CAMILLO, M. H. M. ; FANUCCHI, R. Z. ; ROMERO, M. E. V. ; SOARES, T. W. L. ; SOARES, A. S. ; DELBEM, A. C. B. ;
MARQUES, L. T. ; MACIEL, C. D. ; London, Jr., J. B. A. Combining Exhaustive Search and Multi-Objective Evolutionary
Algorithm for Service Restoration in Large-Scale Distribution Systems. Electric Power Systems Research, v. 134, p. 1-8,
Marcia Aps
Ana Carolina da Silva Mendes
Jader Magno Ribeiro Ferreira
Nina Masutti
Universidade Católica De Santos
Centro de Ciências Exatas, Arquitetura e Engenharia
Curso de Engenharia Civil
RESUMO
Este trabalho possui dois objetivos, o primeiro conhecer o perfil dos usuários do sistema
cicloviário da Região Metropolitana da Baixada Santista e o segundo identificar na cidade de
Santos as ciclovias existentes e suas características gerais. Nesse contexto, a pesquisa
consistiu na identificação e na localização dos espaços projetados para este fim na cidade de
Santos, na verificação da integração do sistema com os demais meios de transporte e
conectividade com os demais componentes do sistema. O incentivo ao uso da bicicleta traz
benefícios além da melhoria da mobilidade urbana como, por exemplo, a saúde, a economia, a
cidade em geral e seus projetos futuros.
ABSTRACT
This work has two objectives, the first to know the profile of users of the cycle system of the
Metropolitan Region of Baixada Santista and the second to identify in the city of Santos the
existing bicycle paths and their general characteristics. In this context, the research consisted
in the identification and location of the spaces designed for this purpose in the city of Santos,
in the verification of the integration of the system with the other means of transport and
connectivity with the other components of the system. Encouraging bicycle use brings
benefits beyond improving urban mobility such as health, the economy, the city in general,
and future projects.
PALAVRAS CHAVE
Ciclovias; Mobilidade urbana; Sustentabilidade.
A cidade plana e o clima litorâneo de Santos, litoral paulista, favorecem o uso da bicicleta
como meio de transporte. Em 2000, o jardim da orla da praia de Santos entrou para o Guinness
Book of Records, o livro dos recordes, como o maior jardim de orla do mundo e em 2003 a cidade
ganhou uma nova ciclovia na orla, que possui 21 km de extensão. Na cidade de Santos, a
construção das ciclovias foi a saída encontrada pelos seus administradores para colaborar com
o sistema de transportes, pois a cidade que possui um acelerado ritmo de verticalização e não
tem mais para onde crescer. Além dos moradores da cidade, Santos recebe da cidade vizinha
Guarujá, do sistema de travessias de balsa, aproximadamente 11 mil ciclistas diariamente no
período da manhã e tem movimento intenso no sentido contrário no final da tarde (DERSA,
2014).
2. PESQUISA DE CAMPO
O primeiro objetivo deste trabalho foi conhecer o perfil dos usuários das ciclovias da Baixada
Santista e para tal foi realizado uma pesquisa nos noves municípios que integram a Região
Entre os 305 entrevistados, os estudantes representam uma parcela significativa dos ciclistas,
à média aproximada de 1 em cada 3 entrevistado (37,60%) e em seguida com uma média de 1
para 5 (21,64%) são de usuário desempregados ou sem renda (Gráfico 3). Os ciclistas
entrevistados relataram também que 57,77% já sofreram algum tipo de acidente e 42,23%
foram roubados ou assaltados, como pode ser visto na Tabela 2.
40
35
30 A
25 B
C
20
D
15
E
10 F
5 G
0
Bertioga Cubatão Guarujá Itanhaém Mongaguá Peruíbe Praia Santos São
Grande Vicente
A- Profissionais do ramo alimentício (garçom, cozinheiro, atendente de bar, etc.);
B- Comerciários (vendedores, balconistas, etc.);
C- Prestadores de serviços domésticos (lavadora, faxineiras, diaristas, jardineiros, etc);
D- Pessoas sem renda (desempregadas, por exemplo);
E- Aposentados e pensionistas
F- Profissionais da construção civil (pedreiros, serventes, etc)
G- Estudante
Gráfico 3: Porcentagem de pessoas por atividade
A predominância do modelo popular (sem marcha) é quase total, com 83,72% deste tipo de
bicicleta contra 16,28% de modelo com marcha. Trata-se de um veículo com custo de
aquisição mais baixo, resistente, de manutenção simples e de menor custo e perfeitamente
adequada para transitar em terrenos planos. A grande maioria das bicicletas dos entrevistados
estava em bom ou em estado regular de conservação: das 305 bicicletas, (52,73%)
encontravam-se em bom estado 40,50% estavam em estado regular de conservação e somente
(6,77%) foram consideradas em mau estado de conservação (Gráfico 4).
Portanto, baseando-se nos dados levantados, podemos inferir que o perfil padrão do usuário
do sistema cicloviário da Região Metropolitana da Baixada Santista pode ser homem ou
mulher, na faixa etária entre 20 a 40 anos, estudante, utilizando-se da bicicleta modelo
simples em bom estado como meio de transporte, pedalando mais de 4 dias por semana, para
ir de casa ao trabalho ou escola e não faz uso de equipamento de segurança.
Além das entrevistas pode-se observar o potencial para o uso e o incentivo ao uso de
bicicletas na cidade de Santos, pois grande parte de sua população (99,93%) mora em na área
Tendo em vista o potencial da cidade de Santos a segunda parte dessa pesquisa buscou
verificar em campo se as ciclovias existentes atendem a população e as especificações
recomendadas em normas, manuais e ou cartilhas. Primeiramente para caracterizar, a cidade
de Santos possui 43,31km de ciclovias (Tabela 5) que delineiam toda orla, ligando Santos a
São Vicente e o Guarujá, no decorrer da área portuária e as quais cruzam cidade da praia ao
centro ligando a zona noroeste da cidade.
A zona Noroeste de Santos com cerca de 120mil habitantes (28,63% da população total)
possui uma modesta malha de ciclovia, atendendo apenas a Avenida Principal de acesso (Av
Nossa Senhora de Fátima), Av Eleonor Rosevelt e recentemente as Ruas Aprovada e Afonso
Schimit que mal adentram os bairros. Observa-se que ainda há muita expansão a ser realizada,
principalmente para o usuário que precise fazer uso de mais de um tipo de meio de transporte
durante o seu trajeto.
As vias que ligam a orla da praia à área central da cidade, onde se localizam a grande maioria
das universidades também não possuem uma interligação satisfatória, sendo necessário os
Em toda a sua extensão, a malha é composta por ciclovias bidirecionais, possuindo ciclo
faixas apenas em cruzamentos. As ciclovias da orla são separadas pelo gramado do jardim, as
ciclovias da Avenida Ana Costa, Avenida Afonso Pena, Rua Cláudio Luís, Avenida Nossa
Senhora de Fátima, Avenida Portuária e Avenida Rangel Pestana seguem no canteiro central;
as do Canal 1, 4, 6 e da Rua Eleanora Rosevelt seguem paralelas aos canais enquanto as vias
da Rua Aprovada, Avenida João Pessoa e Rua Afonso Schimit percorrem ao lado da calçada
sendo separadas pelo jardim. A pavimentação das vias é em sua maioria de concreto de
cimento Portland pigmentado (18,49km) em seguida pavimento asfáltico (15,55km) e por
último concreto de cimento Portland pintado (9,27km).
Existem na cidade os paraciclos, locais para estacionamento das bicicletas, mas eles ficam nos
pontos de destino dos ciclistas e não ao longo do trajeto. A iluminação das vias é adequada,
em especial a da Orla da Praia que possui conjuntos de postes e luminárias com lâmpadas de
vapor metálico de 150 W, posicionadas diretamente para a ciclovia. As sinalizações verticais
e horizontais estão de acordo, sendo a manutenção das mesmas feitas de forma rotineira pela
CET. A dimensão mínima efetiva na cidade não está de acordo com as medidas recomendadas
pelo GEIPOT (2001) onde, por exemplo, na Avenida da Praia que possuí uma largura de
2,20m deveria possuir a dimensão de 4,0m a 6,0m por ter um trânsito de 2500 ciclistas/hora
nos horários de pico.
Apesar da malha cicloviária santista vir crescendo constantemente nos últimos anos, a
ausência de bicicletários públicos e demais itens para uma infraestrutura adequada está entre
as principais queixas entre os usuários e também entre aqueles que ainda não se aventuraram
em trocar o transporte coletivo ou até mesmo o uso de carro próprio pela bicicleta. Faltam
locais onde os ciclistas possam deixar suas bicicletas estacionadas em Santos, como podemos
observar pelas ruas da cidade, há muitas bicicletas sendo colocadas com cadeados em postes,
árvores, muros e outros.
A cidade conta com um limitado número de paraciclos que tem como finalidade servir de
estacionamento para paradas mais rápidas, pois não oferecem muita segurança aos usuários. O
ideal é que qualquer item pertencente ao sistema cicloviário esteja localizado em local
estratégico, próximo às ciclovias já existentes, praças para lazer, ou local de paradas como
comércios, entre outros. No mapa apresentado na Figura 1 estão identificados na cor cinza os
treze paraciclos existentes na cidade de Santos, localizados em 13 praças públicas, como
segue: Praça Almirante Gago Coutinho, Recanto Paulo Augusto Bueno Wolf, Recanto em
Desde 2012 a cidade incentiva também o uso de bicicletas compartilhadas por meio do
sistema Bike Santos, porém o município ainda não conta com nenhum bicicletário público. De
acordo o presidente da Associação dos Ciclistas, Jesse Teixeira Félix existe um projeto para
O projeto Bike Santos é uma parceria entre a prefeitura de Santos e a Empresa Samba e foi
implantado na cidade de Santos no ano de 2012. O sistema compartilha bicicletas e seu
gerenciamento é feito através de um cadastro realizado pelo usuário no site da empresa. O
projeto busca oferecer aos usuários uma opção saudável de transporte e mais econômica,
diminuindo o excesso de veículos automotores nas ruas. O uso das bicicletas visa os
benefícios à saúde da população, o transporte sustentável com a redução de poluição na
cidade, além de promover a responsabilidade das pessoas para com a boa utilização das
bicicletas e suas estações. O mapa com a localização dos pontos com Bicicletas
Compartilhadas em Santos pode ser visto em: http://www.mobilicidade.com.br/bikesantos.
4. DISCUSSÕES DO RESULTADO
A pesquisa apontou a grande relevância que a bicicleta possui por ser um meio de transporte
de baixo custo e capaz de se associar às demais formas de transporte urbano, colaborando, do
ponto de vista ambiental, para reduzir a emissão de gases poluentes à atmosfera, na
perspectiva econômica, redução de custos e agilidade no deslocamento individual de pessoas
e na saúde combatendo o sedentarismo.
A cidade de Santos por possuir uma área insular pequena, muito populosa e estrutura viária
limitada, enfrenta problemas graves de mobilidade devido o aumento expressivo da população
e por ser uma cidade polo da Baixada Santista sendo diariamente o destino de muitas pessoas
Existem na cidade os paraciclos, locais para estacionamento das bicicletas, mas eles ficam nos
pontos de destino dos ciclistas e não ao longo do trajeto. O que reflete o resultado da Tabela
12 onde 45,90% dos entrevistados utilizam postes e árvores como estacionamento. A cidade
de Santos possui também um sistema de bicicletas compartilhadas chamado Bike Santos, uma
parceria da prefeitura santista com a empresa Samba. Atualmente existem 37 estações
divididas pela cidade em pontos estratégicos e são conectadas a uma central via wireless e
alimentadas por energia solar. A praticidade da utilização junto com o baixo custo foi uma
aposta certeira para incentivar o uso da bicicleta, ainda mais se considerarmos que de acordo
com os entrevistados cerca de um a cada três disseram possuir apenas uma bicicleta para a
família.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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DERSA, Desenvolvimento Rodoviário S/A. Governo do Estado de São Paulo. Travessias.2014. Disponível em:
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cicloviário: diagnóstico nacional. Brasília, DF. 2001.
Jornal A Tribuna. Santos ganha mais ciclovias porém usuários reclamam da infraestrutura.2014.
Disponível em: <http://www.atribuna.com.br/noticias/detalhe/noticia/santos-ganha-mais-ciclovias-porem-
usuarios-reclamam-de-infraestrutura/?cHash=800524b0777999a75ec1f18b7177f400>
Mendes, Ana Carolina da Silva; Ferreira, Jader Magno Ribeiro; Masutti, Nina. Levantamento do sistema
cicloviário de Santos. Trabalho de Conclusão de Curso. Universidade Católica de Santos. 2015.
BAND Trânsito SP.. São Paulo tem recorde de congestionamento. 2015. Disponível em: <
http://noticias.band.uol.com.br/transito-sp/noticia/100000739993/sao-paulo-tem-recorde-de-
congestionamento.html>.
RESUMO
O conceito de Mobilidade Urbana Sustentável tem sido amplamente difundido nos dias atuais; entretanto, pouco
é falado sobre a necessidade de articulação entre seus modelos e as diferentes escalas que abrangem o território
urbano. Considerando a cidade como um conjunto de sistemas sobrepostos, muitos destes sistemas apresentam-se
como barreiras para a consolidação de uma estrutura viária acessível e eficiente. O Planejamento urbano atual tem
canalizado suas forças visando questões de deslocamento, mas, segundo Bertaud (2002), os modelos adotados
insistem em adaptar os sistemas urbanos existentes às dinâmicas de transporte (e não o contrário), forçando a
cidade a se comportar de forma artificial e descontextualizada. O principal intuito deste estudo está na contribuição
para literatura a respeito do tema, apresentando implicações das intervenções nas diversas escalas para o uso e
ocupação do solo e para o sistema de transportes, além de considerações conclusivas importantes para o
planejamento urbano e da mobilidade. Dentre as conclusões ressalta-se a relevância da diferenciação e articulação
entre as escalas, a influência que uma exerce sobre as outras, as peculiaridades de cada uma e a relação destas com
os conceitos de uso do solo urbano e infraestrutura de transportes.
ABSTRACT
The concept of Sustainable Urban Mobility has been widely disseminated nowadays; however, little is said about
the need of articulation between its models and the different scales that covers the urban territory. Considering the
city as a set of overlapping systems, many of these systems are presented as barriers to the consolidation of an
accessible and efficient transport structure. Current urban planning has channeled its forces to address issues of
displacement, however, according to Bertaud (2002), the models adopted insist on adapting existing urban systems
to transport dynamics, (and not vice versa), forcing the city to behave in an artificial and decontextualized way.
The main purpose of this study is to contribute to the literature of the subject, presenting implications of the
interventions at different scales for land use and for the transportation system, as well as important conclusive
considerations for urban planning and mobility.Among the conclusions, underscores the relevance of the
differentiation and articulation between scales, the influence that one exerts on the others, the peculiarities of each
and the relation between these scales and the concepts of urban land use and transport infrastructure.
PALAVRAS-CHAVE
Mobilidade Urbana Sustentável, Escalas Urbanas, Microescala, Mesoescala, Macroescala.
1. INTRODUÇÃO
As cidades chamadas naturais (ou seja, não planejadas em sua origem) são formadas por uma
junção de sistemas simples que se sobrepõem, formando uma complexa trama (Alexander,
1965). Nestas cidades, o sistema de transportes não possui autonomia sobre a malha viária e,
portanto, tem seu crescimento limitado por este. Adicionado a este fato, o planejamento nas
escalas menores é constantemente desassistido, prejudicando a acessibilidade aos sistemas
maiores e resultando em uma dependência de modos alternativos para acessar os destinos
desejáveis (Grieco,2015) (ainda que estes destinos sejam os próprios sistemas de transportes).
Apesar de alguns autores tratarem o tema da mobilidade de forma mais abrangente, como
Ewing e Cervero (2010) e os seus “5 d’s” (densidade, diversidade, design, transporte público e
destinos acessíveis), a falta de um planejamento voltado – especificamente – para as escalas
menores têm demonstrado o desequilíbrio entre as forças deste sistema, que a princípio
deveriam ser integradas, mas que constantemente lutam por espaço no território urbano. Por
este motivo, muitas estratégias têm apresentado falhas (atendem a alguns requisitos, mas
deixam a desejar em outros), ferindo o conceito de mobilidade sustentável desejado ao afetar
os pilares que o sustentam.
2. ABORDAGEM
O método escolhido como lente para canalização da pesquisa foi a revisão bibliográfica,
considerando, no tema escolhido, a sua importância histórica frente à sociedade e sua ideologia
afirmada ao longo do tempo, a partir de visões historicamente construídas.
3. CONCEITOS GERAIS
Para entender a maneira como as escalas devem se articular para atender à Mobilidade Urbana
Sustentável, é necessário, primeiramente, expor alguns conceitos que esta envolve, de forma a
compreender a dimensão abrangida por esta.
A respeito dos transportes, entende-se que, ao longo das décadas, seu sistema tornou-se
essencial e indispensável de deslocamento, constituindo um vetor de crescimento urbano que
No entanto, as condições em que as pessoas e bens fazem uso deste sistema, a chamada
Mobilidade Urbana (Brasil, 2012), pode ser encarada de forma mais consciente e eficiente, a
fim de minimizar o impacto gerado pelos transportes.
Segundo Campos (2006), este tipo de mobilidade tem ênfase no uso e ocupação do solo, na
acessibilidade e gestão de transportes e nos impactos das tecnologias de transportes no meio
ambiente. De forma ainda mais específica, Berger et al. (2014) sugere que a sustentabilidade
pode interferir na mobilidade, tornando-a mais eficiente (através de novas tecnologias), mais
variada (através de um aumento da acessibilidade com um Transporte Público com maior
frequência e qualidade para atender aos deslocamentos já existentes) ou menos necessária
(através da redução ou supressão de deslocamentos desnecessários, substituídos por de meios
de comunicação mais modernos, como videoconferência).
Desta forma, é possível observar que o conceito de Mobilidade Urbana Sustentável engloba
os pilares da Sustentabilidade e se apresenta através de atributos próprios, associados aos
padrões de viagens, levantados por Mello (2017) e Villada (2016). São atributos:
Para este artigo, escolheu-se ressaltar o indicador da acessibilidade, pois trata-se de uma
característica que:
3.3 Acessibilidade
De acordo com Litman (2017), a menos que a mobilidade tenha um fim em si mesma, ela tem
a função de ligar as pessoas à oportunidades. A esta função, dá-se o nome de acessibilidade.
De acordo com Geurs e Van Wee (2004), a acessibilidade pode ser definida a partir de 4
componentes:
Apesar da dificuldade em se mensurar este conceito, Geurs e van Wee (2004) esboçam em seus
estudos um certo padrão que a acessibilidade deve seguir: estar diretamente relacionada à
variações, qualidade (nível de serviço) e impedância de viagens; variar de forma diretamente
proporcional às mudanças no uso do solo; variar de forma inversamente proporcional às
restrições de atividades em determinado local; e manter-se neutra em relação a alterações em
setores ou grupos específicos (melhorias ou pioras em um setor ou grupo não devem alterar a
acessibilidade de todos).
Nos trabalhos apresentados, estas escalas possuem distintas classificações, de acordo com a
ênfase das pesquisas existentes e com os critérios adotados por cada pesquisador. Jan Gehl
(2015), por exemplo, aborda escalas a partir da variação entre velocidades, utilizando as escalas
lenta e a rápida. Mello e Portugal (2017), por sua vez, subdividem as escalas em diferentes
níveis, que variam de acordo com as distâncias das viagens (curta, média e longa), as
características do uso do solo, e o sistema de transportes adequados a cada uma. Bertolini et al.
(2005) também apresentam diferentes classificações, utilizando tipos de transporte para definir
Estes pontos relacionam as escalas adotadas ao tipo de transporte e ao uso do solo. Neste
sentido, adotou-se conceitos de uso do solo definidos por Hepner (2010) e Deák (2010). Hepner
(2010) caracteriza a Forma Urbana como as relações sociais existentes no espaço associadas a
aspectos funcional, qualitativo, quantitativo e figurativo, e o Desenho Urbano, por sua vez,
como um reflexo racional da forma urbana, traduzido por meio da produção, configuração e
meios de promoção, intervenção e ordenação da arquitetura. Já a Estrutura Urbana se apresenta
como produto da evolução histórica, resultante de um conjunto de infraestruturas dispostas ao
longo do tempo, de acordo com as necessidades em determinada época no local (Deák, 2010)
Jane Jacobs, já em 1961, atribuía à rua um poder de autogestão a partir da vizinhança que esta
detém. Este poder compreende a instituição colaborativa de redes de confiança, controle social,
vigilância, proteção, segurança, integração e solicitação de auxílio a entidades maiores
(prefeituras de bairros, por exemplo) (Jacobs, 1961).
Em seu livro, Gehl (2015) afirma que espaços e distâncias reduzidas remetem a um ambiente
urbano mais caloroso, pessoal e convidativo, enquanto ambientes amplos e de maiores
dimensões trazem consigo a sensação de impessoalidade e de baixa atratividade. O autor
demonstra, ainda, estratégias de atratividade como calçadas bem pavimentadas, niveladas,
arborizadas e sombreadas; diversidade de usos e de mobiliário urbano; e fachadas compactas,
com testadas estreitas, variedade de texturas, ritmos, transparências, detalhes, entre outros.
É possível compreender, portanto, que quanto mais variada e convidativa a ambiência da rua se
apresentar, maior atratividade e sensação de segurança ela transmitirá. Além disso, a
diversidade de usos também contribui para a redução de viagens em maior escala, reduzindo a
Estas intenções primárias corroboram o fato de que nenhuma malha urbana surge totalmente ao
acaso. Os elementos físicos e estruturais que norteiam estas malhas, condicionam também as
futuras instalações e atividades, que classificam o local de acordo com os seus usos e atributos
simbólicos ali implementados (Medeiros et al., 2011). Neste sentido, as malhas implementadas
possuem características específicas que se enquadram em um conjunto mais amplo.
Ainda segundo Medeiros et al. (2011), a grelha reticulada constitui eixos maiores, mais
integrados e articulados pela predominância dos ângulos retos, e um caráter menos
“labiríntico”, mais compreensível por sua melhor associação com escalas maiores. A malha
irregular ou orgânica, por sua vez, apresenta características mais variáveis, sendo interessante
em escalas menores e evitável em escalas maiores, uma vez que o tamanho de seus eixos podem
ser menores ou maiores, resultando em uma conectividade, inteligibilidade e integração mais
alta quando em eixos menores ou mais baixa quando em eixos maiores.
Além do traçado urbano, Mello e Portugal (2017) e Banister (2008) ressaltam também a
importância da proximidade entre diferentes usos e a densidade destes, visando uma maior
autonomia da área e o suprimento das necessidades da rede estruturante em geral. Esta
preocupação também está contida também na microescala, como foi falado anteriormente, e
visa a redução da necessidade de deslocamentos motorizados, uma sociedade mais equitativa e
uma economia local mais dinâmica.
Toda esta possibilidade de variação nas malhas urbanas reflete diretamente nas malhas viárias,
influenciando nas rotas acessíveis de transportes em geral, mas, principalmente, dos
motorizados, que dependem de uma área maior para circular. Pode-se dizer assim que a
mesoacessibilidade precisa sempre ser meticulosamente pensada ao se implementar novas redes
de transporte, pois as rotas projetadas podem interferir diretamente na dinâmica dos usuários,
independente da função que exercem na região (Grieco, 2015).
Esta disparidade pode ser melhor entendida quando analisamos o conceito de cidades
monocêntricas. Segundo Bertaud (2002) e Cervero (2013), os padrões de viagens das cidades
são orientados para as áreas centrais. Quando a região possui apenas uma centralidade, gera-se
uma concentração e aglomeração em torno desta. Se esta configuração não for bem observada
e planejada, com investimentos voltados ao crescimento urbano, a mesma poderá ter seus
setores desconectados, resultando em uma rápida deseconomia.
Além disso, Grieco (2015) observa que este tipo de configuração de cidade, monocêntrica,
dispersa ou espraiada, tende a agrupar empregos e oportunidades em determinadas áreas,
resultando em disparidades sociais e na conformação de clusters centrais, de alta renda (elites)
e de baixa renda (periferias), potencializando a segregação espacial e fortalecendo a
perpetuação das cidades-dormitórios, movimentos pendulares e a utilização do transporte
privado e de meios alternativos, como vans e moto-táxis.
No âmbito dos transportes, a rede estrutural pública nesta escala deve ser de alta capacidade e
integrada ao transporte local, buscando atender ao território em sua totalidade (Mello e
Portugal, 2017); esta rede também deve apresentar um nível de serviço (custo, conforto, rapidez
e comodidade) capaz de incentivar pessoas a mudar dos modos particulares para os coletivos,
apresentando-se como uma opção mais equitativa, inclusiva, segura e verde.
É importante ressaltar que a implementação desta “megaestrutura” pode atingir outras redes
que coexistem nas regiões menores, já que que atuam na cidade de forma desintegrada com a
microescala. Neste caso, é necessário um maior cuidado na estruturação de projetos de modo a
garantir soluções integradas, e não novos problemas segregados, para a região em questão.
A partir dos dados analisados, é possível observar que, dependendo da densidade do território,
a escala macroscópica é incapaz de subsistir com uma única centralidade, simplesmente porque
ela não comporta a demanda existente. Quando não assistida com uma visão sistêmica, a
resposta da cidade para este fenômeno é o aparecimento de pequenos centros periféricos e a já
citada segregação espacial.
5. DISCUSSÃO E CONCLUSÕES
Com base nas referências apresentadas e trabalhadas, foi elaborado um quadro-resumo com as
principais implicações que as diferentes escalas urbanas podem exercer no uso do solo e nos
transportes a fim de se atingir a Mobilidade Urbana Sustentável:
Tabela 4: Quadro-resumo
Velocidade Implicações no Implicações nos
Escalas Modo
(esperada) uso do solo transportes
Incentivo à utilização do
Forma urbana – Foco nas modo através da melhoria
relações sociais das relações pessoais e de
Transporte desenho urbano
Lenta
Micro não - Desenvolvimento de bairros
(contemplativa)
motorizado multifuncionais, reduzindo a Adoção de medidas
necessidade de grandes restritivas, taxativas ou
deslocamentos que dificultem a utilização
do transporte privado.
Transporte integrado à
malha urbana local,
Desenho urbano – Foco no aumentando a oferta,
ambiente construído frequência e
Transporte
confiabilidade do modo
público de
Meso Média Estruturação e consolidação da em questão
média
malha urbana visando adequar
capacidade
os sistemas subjacentes da Adoção de medidas
melhor forma possível. restritivas, taxativas ou
que dificultem a utilização
do transporte privado.
O quadro-resumo aponta como cada escala, quando separada pelo modo de transporte,
influencia diretamente no ambiente urbano, revelando uma relação direta de
complementariedade entre elas. As análises realizadas também permitem uma visão mais
abrangente no que diz respeito à necessidade de estratégias de articulação entre-escalas a fim
de se alcançar efetivamente a Mobilidade Urbana Sustentável:
5.1 A diferenciação e articulação entre as escalas é feita de forma tímida, ainda pouco
explorada.
Muito é falado acerca das intervenções que promovem a Mobilidade Urbana Sustentável, mas
a preocupação com a escala que estas intervenções atingem ainda se mostrou pouco explorada.
Faltam, inclusive, conceitos que definam, de forma completa e segura, a diversidade entre as
escalas da acessibilidade sustentável.
5.2 Considerando a divisão de escalas escolhida para este trabalho, quanto maior a escala
abordada, mais distantes os conceitos de uso do solo urbano e infraestrutura de
transportes se apresentam.
Esta constatação ocorre uma vez que as velocidades e distâncias percorridas aumentam. É
importante relembrar aqui as escalas de velocidade abordadas por Gehl (2015). Quanto maior
a distância, mais rápida a velocidade proposta, e mais o sistema de transportes se “desprende”
do uso do solo, que neste sentido é visto como um entrave à velocidade e ao desejo de se
alcançar outros lugares. Percebemos assim que, quanto maior a velocidade de um sistema de
transportes, mais difícil será a sua conciliação com a escala micro. Por isso, quando maior a
velocidade, mais complexa, densa, variada e integrada deverá ser a oferta de transportes na
região, reduzindo o impacto da macroescala a partir de elementos menores, que garantam
capilaridade ao transporte de alta-capacidade (este item será retomado no ponto 5.5).
5.4 A microescala possui enorme influência na Mobilidade Urbana Sustentável, mas esta
ainda é pouco explorada pelos gestores públicos.
A microescala, quando bem trabalhada, abriga pessoas envolvidas com suas comunidades,
resultando na autogestão (Jacobs, 1961) e na preocupação do público como sendo “de todos”,
e não “de ninguém”. Este envolvimento popular é essencial para a conscientização coletiva,
para a equidade em todas as escalas e para a manutenção do modelo sustentável de
acessibilidade.
Em alguns casos, transporte de alta capacidade tende, ainda, a fixar limites de crescimento
urbano, balizando a oferta de áreas disponíveis e forçando uma maior densidade em locais
específicos, que se desenvolverão mais próximos das áreas em que o Transporte público é
ofertado, gerando uma nova segregação espacial, indo contra os princípios da Mobilidade
Urbana Sustentável.
Por este motivo, observa-se que, quanto maior a escala da intervenção, maiores os impactos
gerados, e ainda maior a necessidade de um planejamento que articule todas as escalas em
questão a fim de se garantir a Mobilidade Urbana Sustentável.
REFERÊNCIAS
Alexander, C. (1965) A city is not a tree. Architectural Forum, 122(1), 58–62. Obtido de
http://www.cronologiadourbanismo.ufba.br/arquivo.php?idVerbete=1334
Banister, D. (2008) The sustainable mobility paradigm. Transport Policy, 15(2), 73–80.
doi:10.1016/j.tranpol.2007.10.005
RESUMO
Na maior parte das cidades brasileiras o modelo de financiamento de transporte público se baseia totalmente na
cobrança de tarifa sobre o usuário do serviço, tal modelo se mostra injusto ao cobrar somente de uma parcela da
sociedade, que em geral é a parcela mais pobre, o custeio de um serviço público que beneficia a todos. Há outras
formas de financiamento que abrangem outros setores da sociedade sendo usadas em diversas cidades ao redor do
mundo, no Brasil o movimento é pequeno por mais que o cenário geral se mostre favorável e a necessidade esteja
bem clara. Captura de valor de um imóvel, taxas sobre o automóvel ou o emprego são alguns exemplos de modelos
não usuais de financiamento de transporte público estudados nessa revisão bibliográfica e implantação destes
requer o entendimento e apoio popular além de vontade e transparência dos políticos e planejadores de transporte
urbano.
ABSTRACT
Most brazilian towns have a transit financing model based entirely on the fares payed by the service users, such
model is unfair because it only charges a share of society, generally the poorest, for the benefit of all. There are
other forms of financing, forms that include other shares of society for example, being used in cities around the
world. In Brazil, there is not a lot of action being taken in this matter but the scenario is favorable and the need for
change is clear. The captation of a real estate value, taxes on automobiles are just a few examples of non-usual
models of transit financing studied in this literature review and the implantation of these requires public
understanding and support as well as willingness and transparency of politicians and urban planners.
1 INTRODUÇÃO
LEAL (2015) define mobilidade sustentável como um sistema de transporte que atende de
forma adequada as necessidades de deslocamento de todas as camadas da população, de forma
eficiente e com o menor impacto, ligando assim as dimensões social, econômica e ambiental da
sustentabilidade, conforme figura 1. Na maior parte das cidades brasileiras o princípio da
sustentabilidade parece não ter o apoio devido pois, o modelo de financiamento baseado na
tarifa sobre o usuário, que é utilizado em tais cidades se mostra injusto ao cobrar somente de
uma parcela da sociedade, que em geral é a parcela mais pobre, o custeio de um serviço público
que beneficia a todos.
O objetivo deste artigo é realizar uma revisão bibliográfica e descritiva dos diferentes modelos
de financiamento de transportes e tentar entender de que formas a sociedade pode contribuir na
divisão dos custos do transporte público nas cidades, uma vez que inclusive os usuários de
A ideia deste artigo é contribuir com esse debate, com base na revisão de literatura especializada
e alguns dados e informações acerca de modelos de financiamento do Transporte público
adotados em outros países. Além disso, serão apresentados dados relativos à matriz de
transportes brasileira visando mostrar que a implantação dessas políticas em cidades brasileiras
não só é necessária como poderia trazer grandes avanços em qualidade e redução de tarifas do
serviço de transporte público.
CARVALHO (2016) diz que quando ocorre alguma paralisação ou greve no sistema fica muito
clara a universalização dos benefícios do transporte público, devido ao impacto em todas as
atividades econômicas e no tráfego de veículos. Taxas sobre propriedades, sobre o uso ou
propriedade de automóveis, sobre o emprego ou empregador, dentre outros são modelos de
financiamento, são utilizadas em diversos locais do mundo. Inglaterra, Cingapura, China e EUA
são apenas alguns dos países que aplicaram políticas de taxação como essas em algumas cidades
de forma a subsidiar o transporte público coletivo e também conter o aumento do uso do
transporte individual.
O transporte público em geral tem altos custos fixos iniciais e custos variáveis ou marginais
relativamente baixos. Um dos motivos para se subsidiar o transporte público é que se a tarifa
de transporte for igual ao custo marginal (que é menor que o custo médio) o operador amargará
prejuízos. UBBELS et AL. (2001) cita também as externalidades positivas geradas pelo
transporte público e o princípio da equidade como razões para se fundamentar a necessidade
dos subsídios ao transporte público. A primeira se explica pela menor geração de poluentes,
barulho e congestionamentos e consequentemente menores custos externos em relação ao uso
do transporte individual. A equidade se dá pela grande dependência do transporte público que
alguns setores da sociedade apresentam, geralmente os mais pobres, idosos e que não podem
ou não querem dirigir.
Um transporte público de qualidade tem utilidade e benefícios para toda a sociedade que vive
ou transita por sua área de influência. O empregador utiliza como forma de acesso da mão-de-
obra e o proprietário/usuário de um imóvel tem no incremento da acessibilidade de seu imóvel
um grande benefício. Os automobilistas por fim, tem no transporte público uma forma de
melhorar a fluidez do trânsito e aumentar a disponibilidade de vagas de estacionamento,
reduzindo assim o tempo de viagem diariamente.
Como uma alternativa para evitar que os custos de operação do transporte público recaiam
exclusivamente sobre os usuários, uma parcela pode ser custeada por subsídios do governo local
com recursos vindos do orçamento geral. CARVALHO et al. (2013) apresenta tal modelo
justificando que a sociedade como um todo se beneficia do transporte público e como tal deve
arcar também com seus custos. O comprometimento do orçamento geral dos governos é visto
como uma desvantagem devido as restrições orçamentárias as quais a maioria está submetida.
A cidade de São Paulo, com 22% das receitas do sistema de transporte advindas da prefeitura
Uma outra forma de subsídio estatal com vistas a redução da tarifa seria utilizar fundos setoriais
para financiar gratuidades de setores específicos da sociedade, com a justificativa de que o
transporte está inserido em qualquer política social. Uma vantagem seria evitar os subsídios
cruzados que ocorrem quando o usuário arca com os custos das gratuidades e um exemplo é o
financiamento dos passes escolares, realizados pelo FUNDEF/FUNDEB - Fundo de
Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério/Fundo
de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da
Educação.
2.2 Empregado/Empregador