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Todos nós nos lembramos em João 11 quando Ele chorou no túmulo de Lázaro, e antes de
seu pranto, como Ele gemeu profundamente dentro de Si mesmo quando viu o impacto do pecado e
da morte. Nós nos lembramos do registro de Lucas, capítulo 19, versículo 41, onde Jesus olha para
a cidade de Jerusalém, vê aquela população má, ímpia e incrédula e chora. Ele realmente é um
homem de dores e que conhece o sofrimento. Mas não houve tristeza em Sua vida, nem a tristeza
da doença, ou incredulidade, ou desobediência, ou ignorância, ou rejeição que pode se comparar à
tristeza que O vemos experimentando no texto lido nesta manhã.
Sabemos que Jesus após a celebração da Ceia se dirigiu com os discípulos para o Monte das
Oliveiras (v.30), numa caminhada provável de 5km. Na base do Monte ficava o Getsêmani (lagar
ou prensa de azeite), um horto ou um jardim. João nos informa que Jesus ia a esse lugar
frequentemente com seus discípulos (Jo 18.2)
Há um Getsêmani em todas as nossas vidas. Pode haver muitos deles. Pode haver muitas
experiências amargas, provações e tentações agonizantes. Parece haver uma profunda tristeza e
provação pela qual todos devemos passar mais cedo ou mais tarde. A hora sombria da morte
espreita a todos nós, e o cálice amargo que bebemos em algum momento ou outro, e talvez o
bebamos com frequência. E nossa natureza social nos empurra em direção ao homem, para
alcançar os homens em busca de nossa força, e esperamos muito deles. Mesmo nossos mais
queridos e santos amigos, não nos ajudarão em momentos difíceis.
E Jesus teve que travar sua luta a sós. Isso também é certo de todos os homens. Há
certas coisas que o homem deve enfrentar, e certas decisões que deve tomar na terrível solidão de
sua alma; há momentos em que a ajuda fracassa e o consolo desaparece, mas nessa solidão temos a
presença dAquele que, no Getsêmani, experimentou o mesmo e o superou
O ministério de Jesus começou e terminou com uma grande tentação. Quando tudo
começou em Mateus 4, Satanás veio a Ele, após 40 dias de jejum no deserto para o tentar, naquela
ocasião em três áreas diferentes. Agora, vemos Jesus em seu momento final e por três vezes indo
diante de Deus em oração. E Jesus foi vitorioso em ambos, no início e no fim do Seu ministério. E
o que é tão maravilhoso sobre eles é que ambos eram muito pessoais, muito íntimos, solicitações
muito particulares para o mal.
Na primeira onda de tentação no início de Seu ministério, Jesus respondeu todas as vezes
com a Escritura. Na segunda vez, Ele respondeu a cada onda de tentação com oração. E a lição
que Ele ensina é que quando você enfrenta a tentação, você a enfrenta com duas armas. As armas
de nossa guerra não são carnais, mas espirituais, são as armas da Palavra de Deus e da oração.
Aqui estão as armas da nossa guerra, e se os discípulos nunca aprendessem nada além disso,
isso seria o suficiente para enfrentar o inimigo. E então Jesus está completando a lição que Ele
começou em Sua primeira tentação, ensinando-lhes que se você vai lidar com a tentação, você deve
lidar com a força da Palavra de Deus e o poder de Deus buscado por meio da oração.
Sua angústia não foi causada pelo medo do sofrimento e da morte. Por que Jesus estava
triste, então? Era porque ele sabia que Judas estava se aproximando com a turba assassina? Era
porque estava dolorosamente consciente de que Pedro o negaria? Era porque sabia que o Sinédrio o
condenaria? Era porque sabia que Pilatos o sentenciaria? Era porque sabia que o povo gritaria
diante do pretório romano: “Crucifica-o, crucifica-o”? Era porque sabia que seus inimigos
cuspiriam em seu rosto e lhe esbordoariam a cabeça? Era porque sabia que o seu povo preferiria
Barrabás a ele?
Certamente, essas coisas estavam incluídas na sua tristeza, mas não era por essas razões que
Jesus estava triste até a morte. Jesus estava tomado de pavor e angústia pela antevisão de que seria
desamparado pelo Pai (27.46). Este era o cálice amargo que estava prestes a beber (Jo 18.11) e que
o levou ao forte clamor e lágrimas (Hb 5.7). O mestre provou a borra amarga do cálice da morte
pelo pecado. Rendeu-se completamente à vontade do Pai e bebeu o cálice da ira de Deus contra o
pecado até a última gota.
Hernandes Lopes diz que a essência da tristeza de Jesus estava no seu extremo horror ao
pecado. Jesus sentia que a pureza imaculada de sua alma seria manchada e completamente
enegrecida pelo pecado não dele, mas dos pecadores. Ele sentia a realidade da maldição da cruz.
Sentia que seria maldito pela justíssima lei de Deus.
Sentia que a espada da justiça divina cairia, inexorável, sobre ele, traspassando-lhe o
coração. Muitas pessoas já o haviam deixado (Jo 6.66), e os seus discípulos também o
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abandonariam (26.56). Pior de tudo era que, na cruz, ele clamaria: Deus meu, Deus meu, por que
me desamparaste? (27.46). Robert Mounce diz, com razão, que a agonia de Jesus no Getsêmani não
foi a antecipação da dor e crueldade da crucificação, mas a verdade horripilante de que ele era o
cordeiro prestes a ser sacrificado pelos pecados do mundo.
A tristeza de Jesus era porque sua alma pura estava recebendo toda a carga do nosso
pecado. O Getsêmani foi o prelúdio do Calvário. Ele foi a porta de entrada para a cruz. Foi no
Getsêmani que Jesus travou a maior de todas as guerras. Ele se entristeceu porque sorveu o cálice
da ira de Deus e sofreu a condenação que nós deveríamos sofrer.
Jesus não apenas orou no Getsêmani, mas também ordenou que os discípulos orassem e
apontou a vigilância e a oração como um modo de escapar da tentação (26.41).
a) Em primeiro lugar, a posição com que Jesus orou (26.39). O Verbo eterno, o criador
do universo, o Sustentador da vida, está de joelhos, com o rosto em terra, prostrado em posição de
humildade. Jesus se esvaziou, descendo do céu à terra. Agora, aquele que sempre esteve em glória
com o Pai está de joelhos, prostrado, angustiado, orando com forte clamor e lágrimas.
b) Em segundo lugar, a atitude com que Jesus orou (26.39, 42,44). Três coisas nos
chamam a atenção sobre a atitude de Jesus na oração, como vemos a seguir.
b.1) submissão. Jesus orou: Pai, se possível, passe de mim este cálice! Todavia, não seja
como eu quero, e sim como tu queres (26.39). Lucas registra assim: Pai, se queres, passa de mim
este cálice; contudo, não se faça a minha vontade, e sim a tua (Lc 22.42). Tanto a “hora” como o
“cálice” se referem à mesma coisa: o derramar da ira de Deus! E a entrega do filho do homem nas
mãos dos pecadores, à mercê da ação deles. Aquele que estava ligado a Deus como nenhum outro
haveria de tornar-se alguém abandonado por Deus como nenhum outro.
O “seja feita a minha vontade, e não a tua” levou o primeiro Adão a cair. Mas “o seja feita a
tua vontade, e não a minha” abriu a porta de salvação para os pecadores. Jesus não apenas teve de
sofrer, mas no fim também quis sofrer. Sua cruz foi, a cada momento, apesar das lutas imensas, sua
própria ação e seu caminho trilhado conscientemente (Jo 10.18; 17.19). Ele foi entregue, mas
também entregou a si mesmo (G1 1.4; 2.20).
b.2) perseverança. Jesus orou três vezes, sempre focando o mesmo aspecto. Ele suou gotas
como de sangue não para fugir da vontade de Deus, mas para fazer a vontade de Deus. Oração não é
buscar que a vontade do homem seja feita no céu, mas desejar que a vontade de Deus seja feita na
terra. O evangelista Lucas esclarece que a persistência de Jesus era dupla: ele orou não apenas três
vezes, mas mais intensamente (Lc 22.44).
b.3) agonia. Jesus não apenas foi tomado de pavor e angústia (26.37), não apenas disse que
sua alma estava profundamente triste até a morte (26.38), mas o evangelista Lucas registra: E,
estando em agonia, orava mais intensamente. E aconteceu que o seu suor se tornou como gotas de
sangue caindo sobre a terra (Lc 22.44). A ciência médica denomina esse fenômeno de diapédesi,
dando como causa uma violenta comoção mental. E foi esse, realmente, o ponto culminante do
sofrimento de Jesus, à sombra da cruz.
O fenômeno de suar sangue é muito, muito raro - muito raro. Pode ser melhor explicado
com simplicidade desta forma: quando uma pessoa entra em extrema angústia e sensibilidade, como
nosso Senhor aqui, a tensão resultante pode ir tão longe a ponto de finalmente causar a dilatação dos
capilares subcutâneos, os capilares logo abaixo do lenço de papel. E quando eles começam a se
dilatar sob esse tipo de intensidade, eles podem explodir. E então o sangue que flui desses capilares
rompidos tem que encontrar seu caminho para fora, e o faz através das glândulas sudoríparas
c) Em terceiro lugar, o triunfo da oração (26.45,46). Depois de orar três vezes e mais
intensamente pelo mesmo assunto, Jesus se apropriou da vitória. Ele encontrou paz para o seu
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coração e estava pronto a enfrentar a prisão, os açoites, o escárnio, a morte. Marcos registra o que
Jesus disse a seus discípulos: Basta! Chegou a hora (Mc 14.41). Jesus se levantou não para fugir,
mas para ir ao encontro da turba (Jo 18.4-8). Ele estava preparado para o confronto. Jesus não mais
falará de seu sofrimento. A preparação para o sofrimento e a morte de Jesus está concluída; a paixão
começa.
Nesse momento, as mãos de Deus se retiram, e os pecadores põem as mãos nele (26.57; Mc
14.46). Spurgeon, nessa mesma linha de pensamento, escreve: “O esmagamento na prensa de azeite
estava acabado. A longa espera pela hora da traição terminou; e Jesus se levantou calmamente,
divinamente fortalecido para passar pelas terríveis provações que ainda esperavam por ele antes que
cumprisse plenamente a redenção do seu povo eleito”.
Os discípulos de Jesus não oraram nem vigiaram, por isso dormiram. Os seus olhos
estavam pesados de sono, porque o seu coração estava vazio de oração. Porque não oraram,
caíram em tentação e fugiram (26.56). Sem oração, a tristeza nos domina (Lc 22.45). Sem oração,
agimos na força da carne (Jo 18.10). Pedro, aquele que acabara de se apresentar para o martírio, não
possui nem mesmo a força de manter os olhos abertos. A queda de Pedro passou por vários degraus:
a justiça própria, o sono, a fuga e a negação.
Basicamente, a palavra grega para “vamos” significa avançar para encontrar um inimigo que
avança. É um termo militar. Ele diz: “Levante-se, vamos encontrá-los. Não há nada nas Escrituras
que diga “fuja do diabo”. A Escritura diz "resista ao diabo e ele" - o que - "fugirá de você". Você
resiste a ele com a força da oração e com a força da Palavra de Deus.
Conclusão
Jesus entrou cheio de pavor e angustiado no jardim de Getsêmani e saiu consolado. Sua
oração tríplice e insistente trouxe-lhe paz depois da grande tempestade. Ele se dirigiu ao Pai,
clamando: Aba, Pai (Mc 14.36). Lucas menciona o suor de gotas como de sangue e também a
consolação angelical (Lc 22.43). Jesus se levanta da oração sem pavor, sem tristeza, sem angústia.
A partir de agora, ele caminha para a cruz como um rei caminha para a coroação. Ele triunfou de
joelhos no Getsêmani e está pronto a enfrentar os inimigos e a morrer vicariamente na cruz