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JESUS NO GETSÊMANI - Mateus 26.36-46

Todos nós nos lembramos em João 11 quando Ele chorou no túmulo de Lázaro, e antes de
seu pranto, como Ele gemeu profundamente dentro de Si mesmo quando viu o impacto do pecado e
da morte. Nós nos lembramos do registro de Lucas, capítulo 19, versículo 41, onde Jesus olha para
a cidade de Jerusalém, vê aquela população má, ímpia e incrédula e chora. Ele realmente é um
homem de dores e que conhece o sofrimento. Mas não houve tristeza em Sua vida, nem a tristeza
da doença, ou incredulidade, ou desobediência, ou ignorância, ou rejeição que pode se comparar à
tristeza que O vemos experimentando no texto lido nesta manhã.

“Em seguida, foi Jesus com eles a um lugar chamado Getsêmani...”

Sabemos que Jesus após a celebração da Ceia se dirigiu com os discípulos para o Monte das
Oliveiras (v.30), numa caminhada provável de 5km. Na base do Monte ficava o Getsêmani (lagar
ou prensa de azeite), um horto ou um jardim. João nos informa que Jesus ia a esse lugar
frequentemente com seus discípulos (Jo 18.2)

O lugar certamente era propriedade particular de um parente ou amigo de Jesus. Ele é


mais uma daquelas pessoas maravilhosas sem nome que vieram em auxílio de Jesus Cristo no fim
de Sua vida. Você se lembra que alguém providenciou o animal para ele cavalgar. Há o anfitrião
sem nome que lhe forneceu o cenáculo. E aqui temos um Jardim sem que saibamos o nome do
dono. William Barclay, fala que num deserto de ódio, existem alguns oásis de amor, e algumas
pessoas sem nome, que não são desconhecidas por Deus, deram a Jesus naquelas horas finais o que
Ele precisava.
Jesus admite sua angústia para si (26.37), para seus discípulos mais achegados (26.38) e para
o Pai (26.39). Jesus sabia que a hora agendada na eternidade havia chegado (Mc 14.35). Não havia
improvisação nem surpresa. Essa hora passaria pelas angústias do Getsêmani e pela agonia do
Calvário. Ele queria reclusão, não queria pessoas vindo para tentar incomodá-lo. Ele não queria
nenhuma intrusão em Seu tempo com o Pai. E então Ele colocou os discípulos, por assim dizer,
como uma guarda, para guardá-Lo e também para orar. Não devemos nos esquecer que Jesus já
havia dito aos discípulos que aquela seria uma noite difícil para eles (v.31). A propósito, não há
nenhuma indicação de que eles sequer proferiram sequer uma oração.

“...levando consigo a Pedro e aos dois filhos de Zebedeu, começou a entristecer-se e a


angustiar-se.”
Estes discípulos (Pedro, Tiago e João - os filhos de Zebedeu) estavam lá quando o Senhor
ressuscitou a filha de Jairo dos mortos, estavam lá em Sua transfiguração, quando Ele se mostrou na
glória. E, a propósito, eles adormeceram lá também. Comentaristas ao longo dos anos perguntaram:
“Por que Ele levou Pedro, Tiago e João?” Por algumas razões: a) Jesus não poderia levar todos
eles, porque se os levasse a todos, não haveria ninguém para guardar o portão; b) Ele teve que
deixar gente suficiente no portão para que houvesse um guarda significativo ali; c) caso um grupo
de pessoas viesse procurá-lo, eles seriam capazes de detê-los. Além disso, se o grupo de discípulos
estivesse no portão, eles atrairiam a atenção de qualquer um que viesse e procurasse por Ele até que
Ele terminasse sua oração. Então Ele teve que deixar um grande grupo ali.
Mas por que Ele levaria esses três? Ele queria que aqueles que mais o amavam passassem
algum tempo com ele e fossem simpáticos e o apoiassem. Outra pessoa disse que Jesus os levou
porque eram os mais fracos do grupo, e Ele não podia deixá-los fora de Sua vista. E se você estudar
o Novo Testamento e observar Pedro, Tiago e João, não chegará a essa conclusão. A verdade é que
Ele os levou porque eram os três líderes. Ele os pegou porque havia uma lição que tinha que ser
ensinada aos demais.
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O Senhor quer ensiná-los a enfrentar a tentação, a provação - não com uma


autoconfiança presunçosa, não negando a possibilidade de fracasso, não se imaginando invencível,
mas através da dependência de Deus em oração fervorosa para enfrentar uma provação.

Há um Getsêmani em todas as nossas vidas. Pode haver muitos deles. Pode haver muitas
experiências amargas, provações e tentações agonizantes. Parece haver uma profunda tristeza e
provação pela qual todos devemos passar mais cedo ou mais tarde. A hora sombria da morte
espreita a todos nós, e o cálice amargo que bebemos em algum momento ou outro, e talvez o
bebamos com frequência. E nossa natureza social nos empurra em direção ao homem, para
alcançar os homens em busca de nossa força, e esperamos muito deles. Mesmo nossos mais
queridos e santos amigos, não nos ajudarão em momentos difíceis.

E Jesus teve que travar sua luta a sós. Isso também é certo de todos os homens. Há
certas coisas que o homem deve enfrentar, e certas decisões que deve tomar na terrível solidão de
sua alma; há momentos em que a ajuda fracassa e o consolo desaparece, mas nessa solidão temos a
presença dAquele que, no Getsêmani, experimentou o mesmo e o superou

O ministério de Jesus começou e terminou com uma grande tentação. Quando tudo
começou em Mateus 4, Satanás veio a Ele, após 40 dias de jejum no deserto para o tentar, naquela
ocasião em três áreas diferentes. Agora, vemos Jesus em seu momento final e por três vezes indo
diante de Deus em oração. E Jesus foi vitorioso em ambos, no início e no fim do Seu ministério. E
o que é tão maravilhoso sobre eles é que ambos eram muito pessoais, muito íntimos, solicitações
muito particulares para o mal.

Na primeira onda de tentação no início de Seu ministério, Jesus respondeu todas as vezes
com a Escritura. Na segunda vez, Ele respondeu a cada onda de tentação com oração. E a lição
que Ele ensina é que quando você enfrenta a tentação, você a enfrenta com duas armas. As armas
de nossa guerra não são carnais, mas espirituais, são as armas da Palavra de Deus e da oração.
Aqui estão as armas da nossa guerra, e se os discípulos nunca aprendessem nada além disso,
isso seria o suficiente para enfrentar o inimigo. E então Jesus está completando a lição que Ele
começou em Sua primeira tentação, ensinando-lhes que se você vai lidar com a tentação, você deve
lidar com a força da Palavra de Deus e o poder de Deus buscado por meio da oração.

Sua angústia não foi causada pelo medo do sofrimento e da morte. Por que Jesus estava
triste, então? Era porque ele sabia que Judas estava se aproximando com a turba assassina? Era
porque estava dolorosamente consciente de que Pedro o negaria? Era porque sabia que o Sinédrio o
condenaria? Era porque sabia que Pilatos o sentenciaria? Era porque sabia que o povo gritaria
diante do pretório romano: “Crucifica-o, crucifica-o”? Era porque sabia que seus inimigos
cuspiriam em seu rosto e lhe esbordoariam a cabeça? Era porque sabia que o seu povo preferiria
Barrabás a ele?
Certamente, essas coisas estavam incluídas na sua tristeza, mas não era por essas razões que
Jesus estava triste até a morte. Jesus estava tomado de pavor e angústia pela antevisão de que seria
desamparado pelo Pai (27.46). Este era o cálice amargo que estava prestes a beber (Jo 18.11) e que
o levou ao forte clamor e lágrimas (Hb 5.7). O mestre provou a borra amarga do cálice da morte
pelo pecado. Rendeu-se completamente à vontade do Pai e bebeu o cálice da ira de Deus contra o
pecado até a última gota.
Hernandes Lopes diz que a essência da tristeza de Jesus estava no seu extremo horror ao
pecado. Jesus sentia que a pureza imaculada de sua alma seria manchada e completamente
enegrecida pelo pecado não dele, mas dos pecadores. Ele sentia a realidade da maldição da cruz.
Sentia que seria maldito pela justíssima lei de Deus.
Sentia que a espada da justiça divina cairia, inexorável, sobre ele, traspassando-lhe o
coração. Muitas pessoas já o haviam deixado (Jo 6.66), e os seus discípulos também o
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abandonariam (26.56). Pior de tudo era que, na cruz, ele clamaria: Deus meu, Deus meu, por que
me desamparaste? (27.46). Robert Mounce diz, com razão, que a agonia de Jesus no Getsêmani não
foi a antecipação da dor e crueldade da crucificação, mas a verdade horripilante de que ele era o
cordeiro prestes a ser sacrificado pelos pecados do mundo.

A tristeza de Jesus era porque sua alma pura estava recebendo toda a carga do nosso
pecado. O Getsêmani foi o prelúdio do Calvário. Ele foi a porta de entrada para a cruz. Foi no
Getsêmani que Jesus travou a maior de todas as guerras. Ele se entristeceu porque sorveu o cálice
da ira de Deus e sofreu a condenação que nós deveríamos sofrer.
Jesus não apenas orou no Getsêmani, mas também ordenou que os discípulos orassem e
apontou a vigilância e a oração como um modo de escapar da tentação (26.41).

Consideremos a seguir alguns aspectos especiais dessa oração de Jesus.

a) Em primeiro lugar, a posição com que Jesus orou (26.39). O Verbo eterno, o criador
do universo, o Sustentador da vida, está de joelhos, com o rosto em terra, prostrado em posição de
humildade. Jesus se esvaziou, descendo do céu à terra. Agora, aquele que sempre esteve em glória
com o Pai está de joelhos, prostrado, angustiado, orando com forte clamor e lágrimas.

b) Em segundo lugar, a atitude com que Jesus orou (26.39, 42,44). Três coisas nos
chamam a atenção sobre a atitude de Jesus na oração, como vemos a seguir.
b.1) submissão. Jesus orou: Pai, se possível, passe de mim este cálice! Todavia, não seja
como eu quero, e sim como tu queres (26.39). Lucas registra assim: Pai, se queres, passa de mim
este cálice; contudo, não se faça a minha vontade, e sim a tua (Lc 22.42). Tanto a “hora” como o
“cálice” se referem à mesma coisa: o derramar da ira de Deus! E a entrega do filho do homem nas
mãos dos pecadores, à mercê da ação deles. Aquele que estava ligado a Deus como nenhum outro
haveria de tornar-se alguém abandonado por Deus como nenhum outro.
O “seja feita a minha vontade, e não a tua” levou o primeiro Adão a cair. Mas “o seja feita a
tua vontade, e não a minha” abriu a porta de salvação para os pecadores. Jesus não apenas teve de
sofrer, mas no fim também quis sofrer. Sua cruz foi, a cada momento, apesar das lutas imensas, sua
própria ação e seu caminho trilhado conscientemente (Jo 10.18; 17.19). Ele foi entregue, mas
também entregou a si mesmo (G1 1.4; 2.20).
b.2) perseverança. Jesus orou três vezes, sempre focando o mesmo aspecto. Ele suou gotas
como de sangue não para fugir da vontade de Deus, mas para fazer a vontade de Deus. Oração não é
buscar que a vontade do homem seja feita no céu, mas desejar que a vontade de Deus seja feita na
terra. O evangelista Lucas esclarece que a persistência de Jesus era dupla: ele orou não apenas três
vezes, mas mais intensamente (Lc 22.44).
b.3) agonia. Jesus não apenas foi tomado de pavor e angústia (26.37), não apenas disse que
sua alma estava profundamente triste até a morte (26.38), mas o evangelista Lucas registra: E,
estando em agonia, orava mais intensamente. E aconteceu que o seu suor se tornou como gotas de
sangue caindo sobre a terra (Lc 22.44). A ciência médica denomina esse fenômeno de diapédesi,
dando como causa uma violenta comoção mental. E foi esse, realmente, o ponto culminante do
sofrimento de Jesus, à sombra da cruz.
O fenômeno de suar sangue é muito, muito raro - muito raro. Pode ser melhor explicado
com simplicidade desta forma: quando uma pessoa entra em extrema angústia e sensibilidade, como
nosso Senhor aqui, a tensão resultante pode ir tão longe a ponto de finalmente causar a dilatação dos
capilares subcutâneos, os capilares logo abaixo do lenço de papel. E quando eles começam a se
dilatar sob esse tipo de intensidade, eles podem explodir. E então o sangue que flui desses capilares
rompidos tem que encontrar seu caminho para fora, e o faz através das glândulas sudoríparas

c) Em terceiro lugar, o triunfo da oração (26.45,46). Depois de orar três vezes e mais
intensamente pelo mesmo assunto, Jesus se apropriou da vitória. Ele encontrou paz para o seu
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coração e estava pronto a enfrentar a prisão, os açoites, o escárnio, a morte. Marcos registra o que
Jesus disse a seus discípulos: Basta! Chegou a hora (Mc 14.41). Jesus se levantou não para fugir,
mas para ir ao encontro da turba (Jo 18.4-8). Ele estava preparado para o confronto. Jesus não mais
falará de seu sofrimento. A preparação para o sofrimento e a morte de Jesus está concluída; a paixão
começa.
Nesse momento, as mãos de Deus se retiram, e os pecadores põem as mãos nele (26.57; Mc
14.46). Spurgeon, nessa mesma linha de pensamento, escreve: “O esmagamento na prensa de azeite
estava acabado. A longa espera pela hora da traição terminou; e Jesus se levantou calmamente,
divinamente fortalecido para passar pelas terríveis provações que ainda esperavam por ele antes que
cumprisse plenamente a redenção do seu povo eleito”.

Os discípulos de Jesus não oraram nem vigiaram, por isso dormiram. Os seus olhos
estavam pesados de sono, porque o seu coração estava vazio de oração. Porque não oraram,
caíram em tentação e fugiram (26.56). Sem oração, a tristeza nos domina (Lc 22.45). Sem oração,
agimos na força da carne (Jo 18.10). Pedro, aquele que acabara de se apresentar para o martírio, não
possui nem mesmo a força de manter os olhos abertos. A queda de Pedro passou por vários degraus:
a justiça própria, o sono, a fuga e a negação.

“Levantai-vos, vamos! Eis que o traidor se aproxima”

Basicamente, a palavra grega para “vamos” significa avançar para encontrar um inimigo que
avança. É um termo militar. Ele diz: “Levante-se, vamos encontrá-los. Não há nada nas Escrituras
que diga “fuja do diabo”. A Escritura diz "resista ao diabo e ele" - o que - "fugirá de você". Você
resiste a ele com a força da oração e com a força da Palavra de Deus.

Conclusão
Jesus entrou cheio de pavor e angustiado no jardim de Getsêmani e saiu consolado. Sua
oração tríplice e insistente trouxe-lhe paz depois da grande tempestade. Ele se dirigiu ao Pai,
clamando: Aba, Pai (Mc 14.36). Lucas menciona o suor de gotas como de sangue e também a
consolação angelical (Lc 22.43). Jesus se levanta da oração sem pavor, sem tristeza, sem angústia.
A partir de agora, ele caminha para a cruz como um rei caminha para a coroação. Ele triunfou de
joelhos no Getsêmani e está pronto a enfrentar os inimigos e a morrer vicariamente na cruz

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