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Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul – PUCRS

Faculdade de Engenharia - FENG


Núcleo de Engenharia de Materiais Metálicos – NUCLEMAT

CIÊNCIA DOS MATERIAIS

Prof. Carlos Alexandre dos Santos


Março / 2011
Apostila – Ciência dos Materiais – Prof. Carlos Alexandre dos Santos

ÍNDICE
Capítulo 1. Introdução aos Materiais
1.1. Importância dos Materiais
1.2. Classificação dos Materiais
1.3. Ligação Atômica nos Sólidos
1.4. Energias e Forças de Ligações
1.5. Ligações Interatômicas Primárias
1.6. Ligação de Var Der Waals
Exercícios Propostos
Referências Bibliográficas
Capítulo 2. Materiais Cristalinos
2.1. Estrutura Cristalina: Conceitos Fundamentais, Célula Unitária
2.2. Sistemas Cristalinos
2.3. Alotropia ou Polimorfismo
2.4. Direções e Planos Cristalinos
2.5. Anisotropia
2.6. Determinação de Estruturas Cristalinas por Difração de Raios-X
Exercícios Propostos
Referências Bibliográficas
Capítulo 3. Imperfeições Cristalinas
3.1. Defeitos Pontuais
3.2. Defeitos de Linha
3.3. Defeitos de Interface
3.4. Defeitos Volumétricos
3.5. Observação da Macro e Microestrutura
3.6. Macroestrutras da Solidificação
3.7. Microestruturas de Materiais Metálicos
Exercícios Propostos
Referências Bibliográficas
Capítulo 4. Difusão Atômica
4.1. Mecanismos de Difusão
4.2. Fatores que Influem na Difusão
4.3. Difusão no Estado Estacionário
4.4. Difusão no Estado Não-Estacionário
Exercícios Propostos
Referências Bibliográficas

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CAPÍTULO 01

INTRODUÇÃO AOS MATERIAIS

O material disponibilizado nesta apostila do curso de Ciência dos Materiais objetiva


apresentar os fundamentos e a interrelação entre os diferentes níveis de estrutura que constituem
os materiais de engenharia e as principais propriedades apresentadas pelos mesmos, o que
implicará em suas seleções para diversas aplicações.

1.1. IMPORTÂNCIA DOS MATERIAIS

Os materiais apresentam importância fundamental para o ser humano desde o início da


civilização, desempenhando papel principal durante a evolução do homem, onde os primeiros
primitivos utilizavam ferramentas de pedra e argila moldada, passando pela descoberta do ouro,
cobre, bronze e ferro, e seus processos de obtenção e fabricação. O conhecimento dos materiais
definiu as diversas idades da história da humanidade, podendo-se citar: Idade da Pedra, Idade do
Bronze, Idade do Ferro. A Figura 1.1 apresenta uma ilustração esquemática da evolução humana
durante as diferentes etapas da evolução dos metais.

Figura 1.1 – Representação esquemática da evolução dos materiais metálicos.

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1.2. CLASSIFICAÇÃO DOS MATERIAIS

Os materiais de engenharia podem ser classificados em três categorias principais:


metálicos, cerâmicos e poliméricos. No entanto, atualmente se utiliza uma classificação mais
ampla, incluindo os materiais compósitos, os materiais biocompatíveis e os materiais
semicondutores. A Figura 1.2 mostra a classificação dos materiais de engenharia, apresentando
exemplos de alguns na Figura 1.3.

Figura 1.2 – Classificação dos principais materiais de engenharia.

Figura 1.3 – Exemplos dos principais materiais de engenharia.

Além das classificações citadas anteriormente, os materiais podem ser classificados pela
sua aplicação, pelo seu grau de evolução tecnológica, morfologia estrutural e comportamento.
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Os engenheiros devem conhecer a estrutura interna dos materiais e suas propriedades


para optar pelos mais adequados para cada aplicação ou criar melhores processos de fabricação
(Figura 1.4). As principais áreas do conhecimento que abordam o tema são:
- Ciência dos Materiais: conhecimento básico da estrutura interna dos materiais, suas
propriedades e processos de fabricação,
- Engenharia de Materiais: interesse no emprego do conhecimento dos materiais para
processá-los em produtos.

Figura 1.4 – Informações sobre estruturas atômicas.

Os critérios que um engenheiro deve adotar para selecionar um material devem


compreender: 1.) condições de serviço e propriedades requeridas para tal aplicação, 2.) fatores de
degradação de propriedades, como temperatura, agentes corrosivos, radiações, 3.) propriedades
de interesse e qual o desempenho e limitações no uso, 4.) disponibilidade de matéria-prima e
viabilidade técnica de processamento, 5.) impacto ambiental e reciclabilidade após uso; 6.) custo
total. Raramente um material reúne uma combinação ideal de propriedades, ou seja, muitas vezes
é necessário reduzir uma em benefício da outra, como por exemplo: resistência e ductilidade,
onde geralmente um material de alta resistência apresenta ductilidade limitada, exigindo que se
estabeleça um compromisso (comprometimento) razoável entre duas ou mais propriedades.

1.3. LIGAÇÃO ATÔMICA NOS SÓLIDOS

O tipo de ligação interatômica influencia nas propriedades dos materiais. Os elementos se


ligam para formar os sólidos com uma configuração mais estável: geralmente oito elétrons na
camada de valência (= gases nobres He , Ne , Ar , Kr , Xe , Rn) (Figura 1.5). A ligação química é
formada pela interação dos elétrons de valência através de: - Ganho de elétrons, - Perda de
elétrons, - Compartilhamento de elétrons (parcial ou total).

Figura 1.5 – Informações básicas sobre estruturas atômicas.

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Figura 1.6 – Tabela periódica dos materiais [Callister, 1994].


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1.3.1. ENERGIAS E FORÇAS DE LIGAÇÕES

A distância entre dois átomos é determinada pelo balanço das forças atrativas e
repulsivas. Quanto mais próximos os átomos, maior a força atrativa entre eles, mas maior ainda
são as forças repulsivas devido à sobreposição das camadas mais internas. Quando a soma das
forças atrativas e repulsivas é zero, os átomos estão na chamada distância de equilíbrio (E),
conforme ilustra a Figura 1.7.

Figura 1.7 – Relação entre distância atômica e forças envolvidas.

A Tabela 1.1 apresenta alguns valores para as energias de ligação atômica e as


temperaturas de fusão de alguns materiais.

Tabela 1.1 – Energias de ligação e temperaturas de fusão de algumas ligações [Callister, 1994].

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1.3.2. LIGAÇÕES INTERATÔMICAS PRIMÁRIAS

As ligações principais são classificadas em função da interação dos elétrons de valência,


que podem ser doados/recebidos, podem ser compartilhados (parcial ou total), ou podem ser
livres e comuns. A seguir apresentam-se as principais características para as ligações primárias.

Iônica:
Átomos perdem ou ganham elétrons na camada de valência;
Ocorre entre elementos metálicos (1e-, 2e-, 3e-) e não-metálicos (5e-, 6e-, 7e-) (diferentes
eletronegatividade e opostos horizontalmente na Tabela Periódica);
Metálicos perdem elétrons (+) e os não-metálicos ganham elétrons (-);
Todos os átomos ficam com a camada de valência completa;
Forças atrativas são Forças de Coulomb (fracas). Não direcional;
Formação de íons positivos (+ cátions) e íons negativos (- ânions);
Sólidos iônicos apresentam altas Temperaturas de Fusão (TF);
Ligação forte. Estrutura organizada. Materiais duros e quebradiços;
Bons isolantes térmicos e elétricos. Predominante nos cerâmicos.

Figura 1.8 – Exemplos de estruturas em sólidos iônicos.

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Covalente:
Estabilidade é conseguida pelo compartilhamento de elétrons;
Os dois átomos contribuem com elétrons (alta eletronegatividade);
Máximo número de elétrons compartilhados é 4 (C, Si, Ge, etc);
Comuns entre elementos não metálicos e semi-metais, e inorgânicos;
Ligações muito fortes, o que confere alta dureza, porém elevada fragilidade;
Materiais apresentam altas Temperaturas de Fusão (TF);
Materiais são bons isolantes térmicos e elétricos;
Ligação direcional, com ângulos definidos (orbitais);
Ligação bastante comum também nos polímeros e cerâmicos.

Figura 1.9 – Exemplos de estruturas em sólidos covalentes.

Alguns materiais podem apresentar tanto ligação iônica como covalente. Pode-se
determinar o caráter iônico entre os elementos A e B empregando a Equação (1.1):

% caráter iônico = { 1 - exp [- (0,25) x (XA - XB ) 2 ] } x 100 (1.1)

onde XA e XB são as eletronegatividades dos elementos A e B (tabelado).


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Metálica:
Formação de uma “nuvem de elétrons” ao redor dos núcleos;
Combinação de elementos metálicos com baixa eletronegatividade (máx. 3 e-);
Nuvem se forma pelos elétrons de valência (última camada);
Elétrons (-) movimentam-se livremente ao redor dos núcleos (+);
Metais são bons condutores de calor e eletricidade (pelos e-);
São materiais não transparentes;
Apresentam boa capacidade de deformação e tratamentos térmicos;
Comportam-se com boa ductilidade (plasticidade);
Ligação não-direcional, geralmente forte.

Figura 1.10 – Exemplos de estruturas em sólidos metálicos.

1.3.3. LIGAÇÃO DE Van Der Waals

Forças de ligação surgem de dipolos atômicos;


Ligações fracas. Não-direcional;
Ligação resulta de uma atração Coulombiana;
Também chamadas de Ponte de Hidrogênio;
Dipolos podem ser induzidos ou permanentes.

Figura 1.11 – Exemplos de estruturas em sólidos com ligações de Van Der Waals.

A molécula de água apresenta polarização de carga (formação de dipolos): positiva


próxima aos átomos de H e negativa onde os elétrons de valência do O estão localizados. Isto
produz forças de Van der Waals entre as moléculas, fazendo com que as mesmas tendam a
alinhar os pólos negativos com positivos. Como o ângulo de ligação é 109,5o, as moléculas
formam uma estrutura quase hexagonal. O gelo tem estrutura hexagonal devido a este tipo de
ligação. É menos denso, por isso flutua sobre a água.
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EXERCÍCIOS PROPOSTOS

1.) Qual a massa, em gramas, de um átomo de Cu ? Quantos átomos de Cu há em 1 g de Cu ?


Dados: massa atômica Cu = 63,54 g/mol
63,54 g / mol Cu x g Cu 6,02.10 23 átomos / mol x átomos Cu
23
= =
6,02.10 átomos / mol 1 átomo 63,54 g / mol Cu 1 g Cu

x = 1,05.10 −22 g x = 9,47.10 21 átomos

2.) Em uma liga 75% em peso de Cu e 25% em peso de Ni, qual é a proporção atômica de Cu e
Ni ? Dados: massa atômica Cu = 63,54 g/mol , massa atômica Ni = 58,69 g/mol

75 g ⎛ 1,1803 mol ⎞
Núm. moles Cu = = 1,1803 mol % atômica Cu = ⎜⎜ ⎟⎟.100 = 73,5 %
63,54 g / mol ⎝ 1,6063 mol ⎠

25 g ⎛ 0,4260 mol ⎞
Núm. moles Ni = = 0,4260 mol
58,69 g / mol % atômica Ni = ⎜⎜ ⎟⎟.100 = 26,5 %
⎝ 1,6063 mol ⎠

Grama − mol Total = 1,6063 mol

3.) Cite as principais características apresentadas pelas seguintes classes de materiais, dando um
exemplo para cada uma delas:
Metais Cerâmicos
Polímeros Compósitos
Semicondutores Biomateriais

4.) Cite de forma resumida as principais diferenças entre ligação iônica, covalente e metálica.

5.) Qual o tipo de ligação química é usualmente presente nos seguintes materiais?
Metais Cerâmicos
Polímeros Compósitos
Semicondutores Biomateriais (Mat. Biocompatíveis))

6.) Qual o tipo de ligação você esperaria que se formasse para os seguintes compostos: Bronze
(liga de Cu e Sn), GaSb, Al2O3 e nylon.

7.) Dê a sua opinião sobre a seguinte afirmação : Quanto maior a diferença nas
eletronegatividades mais covalente é a ligação.
8.) Por que em geral os metais apresentam alta condutividade térmica e elétrica?

9.) Explique porque geralmente materiais covalentes são menos densos que metálicos e iônicos.

10.) Com base nas ligações químicas, explique porque a água se expande quando solidifica.

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11.) Explique porque os metais geralmente se expandem ao serem aquecidos.

12.) Considerando a seguinte afirmação correta “quantos mais próximos os átomos maior a força
de atração entre eles“, explique então porque estes não se chocam.

13.) O que determina a distância de equilíbrio entre dois átomos?

14.) O que você entende por força de ligação?

15.) Como a energia e força de ligações estão relacionadas?

16.) Uma solda contêm 52% em peso de estanho e 48% em peso de chumbo. Quais são as
porcentagens atômicas de Sn e Pb na solda?
R: Sn = 65,4 % atômica e Pb = 36,4 % atômica

17.) Um composto intermetálico tem a fórmula química geral NixAly , aonde x e y são números
inteiros simples, e é formado por 42,04% em peso de Ni e 57,96 % em peso de Al. Qual a
fórmula mais simples desse composto.
Dados: massa atômica Ni = 58,761 g/mol
massa atômica Al = 26,98 g/mol
R: x = 0,25 e y = 0,73 ou NiAl3

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. CALLISTER, Willian D., Materials Science and Engineering: An Introduction. 3ª Edição,


New York, John Wiley & Sons, 1994.

2. VAN VLACK, Lawrence H., Princípio de Ciências e Tecnologia dos Materiais. 4ª Edição, Rio
de Janeiro, Campus, 1984.

3. ASKELAND, Donald R., The Science and Engineering of Materials. 2ª Edição, London,
Chapman and Hall, 1991.

4. SMITHS, W.; Hashemi, J. Fundamentos de Ciência e Engenharia de Materiais, Editora


McGrall-Hill, 1998.

5. SMITH, William F., Materials Science and Engineering. New York, McGraw-Hill Publ. Co., 2ª
Ed. 1989.

6. MEYERS, Marc A.; Chawla, Krishan K., Princípios de Metalurgia Mecânica. São Paulo, Edgar
Blücher, 1982.

7. SHACKELDFORD, James F., Introduction to Materials Science for Engineers. New Jersey,
Prentice-Hall, Inc., 4ª Ed. 1996.

8. REED-HILL, W., Physical Metallurgy. McGraw- Hill, 1998.

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