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INTRODUÇÃO À FÍSICA DO

ESTADO SÓLIDO
MARCOS G. MENEZES
INSTITUTO DE FÍSICA, UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO
FÍSICA DA MATÉRIA CONDENSADA
Da Wikipedia (português, adaptado):
“Física da matéria condensada é o campo da Física que trata das propriedades físicas da
matéria. Em particular, é a que se ocupa com a fase "condensada" que aparece quando o
número de constituintes de um sistema (átomos, elétrons, etc.) é extremamente grande e as
interações entre os constituintes são fortes. Os exemplos mais familiares de fases condensadas
são sólidos e líquidos, que se originam a partir das forças elétromagnéticas entre os átomos.”

• Busca-se entender o comportamento dessas fases a partir das leis da mecânica quântica,
eletromagnetismo e mecânica estatística.
• Emergência de propriedades macroscópicas inusitadas a partir das interações entre os
constituintes microscópicos: superfluidez e supercondutividade, ferromagnetismo e
antiferromagnetismo, fases topológicas, ...
FÍSICA DA MATÉRIA CONDENSADA
Historicamente:
~1940’s: Diferentes áreas, como cristalografia, metalurgia, elasticidade, magnetismo, etc.,
foram agrupadas sob o nome de Física do estado sólido.
~1960’s: Inclusão do estudo de líquidos e outras fases deu origem a uma área mais ampla,
denominada Física da matéria condensada.
Atualmente:
• Área da Física com maior número de pesquisadores e produção científica no Brasil e no
mundo.
• Desperta interesse tanto do ponto de vista fundamental quanto do aplicado.
PRÊMIOS NOBEL EM FMC
Mais de 30 prêmios em diversos tópicos, incluindo desenvolvimento de técnicas de caracterização, identificação e descrição de
fases exóticas da matéria e aplicações!

2016 F. Duncan M. Haldane and J. Michael Kosterlitz "for theoretical


discoveries of topological phase transitions and topological phases of matter."
FASES EXÓTICAS EM NANOESTRUTURAS
Supercondutividade em bicamadas de grafeno rodadas
Cao et al, Nature 556, 43 (2018)
Ferromagnetismo variável com o número de
camadas empilhadas de 𝐶𝑟𝐼3
Huang et al, Nature 546, 270 (2017)

Efeito Hall Quântico de Spin em TMDC’s (teórico)


Qian et al, Science 346, 1344 (2014)
Roteiro
1. Estrutura cristalina 4. Exemplos adicionais
• Rede de Bravais e base cristalina • Materiais 2D
• Exemplos de estruturas 2D e 3D • Experimentos de fotoemissão
2. Rede recíproca • Propriedades vibracionais e
• Definição e construção espectroscopia Raman
• Planos cristalinos
• Difração de raios-X, elétrons ou nêutrons
• Visualização de estruturas e coesão cristalina
3. Estrutura eletrônica
• Aproximações básicas
• Teorema de Bloch
• Estrutura de bandas
• Metais, semicondutores e isolantes
• Propriedades ópticas
ESTRUTURA CRISTALINA
Um sólido cristalino é constituído por um arranjo periódico de átomos. Como caracterizá-lo?
1. Rede de Bravais: Conjunto infinito e discreto de pontos com arranjo e orientações idênticos.

Estrutura honeycomb (favo de mel)


Rede Triangular (ou Hexagonal) NÃO é uma rede de Bravais!
é uma rede de Bravais
Qualquer ponto de uma rede de Bravais pode ser descrito por uma combinação linear de
vetores primitivos da rede com coeficientes inteiros:

𝑹
𝑹 = 𝑛1 𝒂𝟏 + 𝑛2 𝒂𝟐 𝑛1 e 𝑛2 inteiros (2D)

𝒂𝟏 , 𝒂𝟐 : vetores primitivos da rede

Rede Triangular (ou Hexagonal)

Note que:
• Em 3 dimensões, um terceiro vetor primitivo da rede é necessário.
• Escolha de vetores primitivos não é única!
Célula unitária: região do espaço que, ao ser repetida, reproduz o cristal
Célula primitiva: célula unitária de menor tamanho (contém um único ponto da rede)
Célula de Wigner-Seitz: célula primitiva formada pelo conjunto de pontos mais próximos de um
dado ponto da rede do que de qualquer outro

Note que:
• Escolha de célula unitária ou célula primitiva não é
única!
• Célula de Wigner-Seitz é única!
Redes cúbicas

𝒂𝟑 𝑎
𝒂𝟏 𝒂𝟑 𝒂𝟐
𝒂𝟐
𝒂𝟏
𝒂𝟏 𝑎

Cúbica Simples (SC) Cúbica de Corpo Cúbica de Face


Centrado (BCC) Centrada (FCC)

Elemento Estrutura a (Å)


Note que: Ag FCC 4.09
• Células unitárias das redes BCC e FCC mostradas Al FCC 4.05
acima não são primitivas (células convencionais).
Au FCC 4.08
• Vetores primitivos indicados acima.
Cu FCC 3.61
• Aresta do cubo 𝑎 = parâmetro de rede
Fe BCC 2.87
Na BCC 4.24
Como descrever um material como o grafeno, que possui a estrutura honeycomb?
2. Base: posições dos átomos em uma célula unitária com relação a um ponto da rede de
Bravais

Note que:
• Repetição da célula primitiva (em verde) com os
átomos A e B reproduz a estrutura.
• De forma equivalente, a translação dos átomos A e
𝒂𝟐 𝑩 B por vetores da rede de Bravais reproduz a
𝑨 estrutura.
𝒂𝟏 • Estrutura honeycomb = rede de Bravais triangular
(ou hexagonal) + base de dois átomos

Estrutura honeycomb (favo de mel)

De forma geral: Estrutura Cristalina = Rede de Bravais + Base


Alguns materiais 2D com rede de Bravais hexagonal

Grafeno h-BN, h-BP, ...

TMDCs (𝑀𝑜𝑆2 , 𝑊𝑆2 , … ):


Siliceno, Germaneno, Estaneno Base de 3 átomos
Outras estruturas cristalinas importantes
Diamante Blenda de Zinco

Rede de Bravais FCC + base de dois átomos

Material a (Å) Material a (Å)


Note que:
• Cada átomo se encontra no centro de um tetraedro C 3.57 ZnS 5.41
formado por seus quatro primeiros vizinhos. Si 5.43 AlAs 5.62
Ge 5.66 GaAs 5.65
𝛼-Sn 6.49 InAs 6.04
Outras estruturas cristalinas importantes
Sal de Cozinha Cloreto de Césio

Rede de Bravais FCC + base de Rede de Bravais SC + base de


dois átomos dois átomos

Material a (Å) Material a (Å)

NaCl 5.64 CsCl 4.12


MgO 4.21 CsBr 4.29
CsF 6.01 CsI 4.57
Outras redes de Bravais (3D)

• 14 redes de Bravais em 3D.


• Combinação com diferentes bases (simetrias)
resulta em 230 grupos espaciais distintos!
REDE RECÍPROCA
O conceito de rede recíproca é utilizado em diversos aspectos da teoria do estado sólido:

• Teoria de difração de raios-X, elétrons ou nêutrons


• Análise de funções com a periodicidade da rede de Bravais, como o potencial cristalino e a
densidade eletrônica
• Análise da estrutura de bandas de um cristal

Definição: Dada uma rede de Bravais com vetores de rede 𝑹, um vetor da rede recíproca 𝑮 deve
satisfazer:

𝑒 𝑖𝑮.𝑹 = 1 para todo vetor de rede 𝑹

• Definida a partir de uma rede de Bravais (rede direta ou real).


• Não depende da base da estrutura cristalina!
• Ondas planas com vetor de onda 𝑮 possuem a mesma periodicidade da rede de Bravais!
Construção da rede recíproca
Pode-se mostrar que a rede recíproca também é uma rede de Bravais. Seus vetores de rede
primitivos podem ser obtidos pelas expressões:

𝒂𝟐 × 𝒂 𝟑
𝒃𝟏 = 2𝜋
𝒂𝟏 . (𝒂𝟐 × 𝒂𝟑 )
𝒂𝒊 ⋅ 𝒃𝒋 = 2𝜋𝛿𝑖𝑗
𝒂𝟑 × 𝒂𝟏
𝒃𝟐 = 2𝜋
𝒂𝟏 . (𝒂𝟐 × 𝒂𝟑 ) 1, 𝑖=𝑗
𝛿𝑖𝑗 =
0, 𝑖≠𝑗
𝒂𝟏 × 𝒂𝟐
𝒃𝟑 = 2𝜋
𝒂𝟏 . (𝒂𝟐 × 𝒂𝟑 )

Qualquer ponto da rede recíproca pode ser descrito por uma combinação linear desses vetores com
coeficientes inteiros:

𝑮 = 𝑚1 𝒃𝟏 + 𝑚2 𝒃𝟐 + 𝑚3 𝒃𝟑 𝑚1 , 𝑚2 e 𝑚3 inteiros
Exemplo 1: Rede trigonal e estrutura honeycomb
Espaço recíproco e 1ª ZB
Espaço real

𝒂𝟐 𝑩
𝑨
𝒂𝟏

• Rede recíproca também é trigonal (ou hexagonal), mas girada de 30º com relação à rede direta.
• Grafeno, h-BN, 𝑀𝑜𝑆2 , etc. possuem a mesma rede recíproca!
• Célula de Wigner-Seitz da rede recíproca é conhecida como 1ª Zona de Brillouin (ZB).
• Pontos indicados na ZB são pontos de alta simetria da rede.
Exemplo 2: Redes cúbicas

SC BCC FCC

Note que:
• A rede recíproca da rede BCC é uma rede FCC, e
vice-versa!
• Estruturas do diamante, blenda de zinco e sal de
cozinha possuem a mesma rede de Bravais FCC,
portanto possuem a mesma recíproca.
Zonas de Brillouin associadas
Planos cristalinos
Plano cristalino: plano contendo um conjunto de pontos da rede de Bravais (direta)
Família de planos cristalinos: conjunto de planos cristalinos paralelos.

Exemplo: Rede cúbica simples (SC)

𝑑′
𝑑′′

Existem diversas famílias de planos, cada uma com separações diferentes entre planos adjacentes.
Planos cristalinos e rede recíproca
Pode-se mostrar que os planos cristalinos são perpendiculares a um dado conjunto de vetores da
rede recíproca. O menor deles, 𝑮𝒎, tem módulo:

2𝜋 𝑑 = separação entre planos cristalinos


𝐺𝑚 = adjacentes
𝑑

𝑮𝒎 Exemplo: Rede cúbica simples (SC)

𝑮′′
𝒎
𝑑
𝑮′𝒎

𝑑′
𝑑′′

Inversamente, a cada vetor da rede recíproca corresponde uma família de planos cristalinos!
Planos cristalinos e índices de Miller
O vetor 𝑮𝒎 pode ser escrito em termos dos vetores primitivos da rede recíproca:

𝑮𝒎 = ℎ𝒃𝟏 + 𝑘𝒃𝟐 + 𝑙𝒃𝟑

Os índices ℎ, 𝑘, 𝑙 (inteiros) são conhecidos como índices de Miller.

Uma família de planos cristalinos é representada por (ℎ𝑘𝑙). Sinais negativos são representados por barras
acima do número.

Exemplo: Rede cúbica simples (SC)


𝑮𝒎

𝑑=𝑎 Em um sistema cúbico com parâmetro de rede 𝑎:


𝑮′𝒎
𝑎
𝑎 𝑑=
𝑑′ = ℎ2 + 𝑘 2 + 𝑙 2
2
Difração de raios-X, nêutrons e elétrons
Para “enxergar” a estrutura cristalina de um material por meio de padrões de difração, devemos utilizar
radiação ou partículas com:

ℎ𝑐
𝐸= ∼ 1000 𝑒𝑉 = 1 𝑘𝑒𝑉 luz (raios-X)
𝜆

2
1 ℎ
𝜆∼𝑎∼Å ℎ 𝐸= ∼ 10 − 100 𝑒𝑉 elétrons
𝑝= 2𝑚𝑒 𝜆
𝜆
2
1 ℎ nêutrons
𝐸= ∼ 0.01 − 0.1 𝑒𝑉
2𝑚𝑛 𝜆

A difração de elétrons e nêutrons é uma manifestação de suas propriedades ondulatórias!


Condição de Bragg: interferência construtiva de ondas refletidas por planos cristalinos
adjacentes

Diferença de caminho entre duas


reflexões sucessivas
W. Bragg
𝑛𝜆 = 2𝑑 𝑠𝑒𝑛 𝜃 𝑛 = 1, 2, 3, ...

Condição de von Laue: vetores de onda das ondas incidente e refletida devem diferir por um L. Bragg
vetor da rede recíproca do cristal

2𝜋
𝑮 = 𝒏𝑮𝒎 = 𝑛 𝒏
𝒌′ − 𝒌 = 𝑮 𝑑
𝑘′ = 𝑘 (espalhamento elástico)
von Laue
𝑛𝜆 = 2𝑑 𝑠𝑒𝑛 𝜃

• Para um comprimento de onda 𝜆 fixo, diferentes picos são observados como função de 𝜃.
• Cada pico corresponde a uma família de planos cristalinos (hkl) e uma ordem n de difração.
• Espectro permite a determinação da estrutura cristalina!
• Presença de defeitos e aumento da temperatura levam a um alargamento dos picos.
Densidade eletrônica e coesão cristalina
Sal de cozinha (NaCl)
Estruturas do diamante e blenda de zinco
Densidade eletrônica no plano (100)
Densidades eletrônicas calculadas no plano (110)
obtida a partir de difração de raios-X

Na Cl Na

Cl Na Cl

Na Cl Na

Visualização da densidade eletrônica permite a identificação da coesão cristalina (caráter iônico, covalente,
metálico, etc...)
Imagens STM de materiais 2D
Vacâncias em uma folha de grafeno
Adsorção de H em uma folha de grafeno
Yu Zhang et al, Phys. Rev. Lett. 166801 (2016)
Héctor González-Herrero et al, Science 352, 437 (2016)

Heteroestruturas Planares de TMDC’s


Gong et al, Nature Materials 13, 1135 (2014)

• STM permite a visualização direta de estruturas, incluindo


defeitos.
• Propriedades eletrônicas e magnéticas induzidas por defeitos
podem ser observadas.
ESTRUTURA ELETRÔNICA
Primeiros princípios
• Átomo: íons (núcleo e elétrons de caroço) + elétrons de valência (camadas mais
externas)
• Em um sólido ou uma molécula, os elétrons de valência são os principais
responsáveis pela formação de ligações químicas entre átomos
• Sólido: interações eletromagnéticas envolvendo íons e elétrons de valência

Na: ligação metálica NaCl: ligação iônica

Interação eletrostática entre os


íons Na+ e Cl− dá a coesão
cristalina
Todas as interações podem ser incluídas em um operador “energia” (Hamiltoniana cristalina):

Energia cinética dos Energia cinética dos interação


elétrons + interação íons + interação íon-íon elétron-íon
elétron-elétron

Equação de Schrodinger para o cristal: elétrons


íons

Impossível de resolver analiticamente. Aproximações são necessárias!


1. Aproximação de Born-Oppenheimer:

• Íons são muito mais pesados que os elétrons (fator ~ 10^4), então se movem muito mais lentamente.
• Podemos separar os graus de liberdade iônicos e eletrônicos, supondo os ions fixos para o
problema eletrônico:

Coordenadas
iônicas fixas

Função de onda eletrônica


Constante

• Configuração eletrônica entra como potencial efetivo para o problema iônico → modos normais
de vibração, fônons, ...
• Interação entre elétrons e vibrações (fônons) não é levada em conta nesta aproximação →
fundamental para supercondutividade BCS e outros fenômenos.
2. Aproximação de um elétron

Problema eletrônico ainda é muito complicado devido à interação elétron-elétron:

Simplificação: substituir este problema por um problema de um elétron sob a ação de um potencial
efetivo:
Funções de onda de um
elétron

• Potencial efetivo descreve a interação com outros elétrons, íons e campos externos (se presentes).
• Potencial pode ser obtido a partir de formalismos como a teoria do funcional da densidade (DFT) ou a
aproximação GW baseada na teoria de muitos corpos.
Teorema de Bloch
Em um cristal, o potencial efetivo tem a periodicidade da rede de Bravais:

𝑉𝑒𝑓𝑓 𝒓 + 𝑹 = 𝑉𝑒𝑓𝑓 (𝒓) para todo vetor 𝑹 da rede Felix Bloch

Teorema de Bloch: a função de onda de um elétron sob a ação de um potencial periódico tem a forma:

𝜙𝑛𝒌 (𝒓) = 𝑒 𝑖𝒌⋅𝒓 𝑢𝑛𝒌 (𝒓)


onde:
𝑢𝑛𝒌 (𝒓 + 𝑹) = 𝑢𝑛𝒌 (𝒓) função com a periodicidade da rede

𝒌: momento cristalino. “Número” quântico associado à simetria de translação da rede de Bravais.

“When I started to think about it, I felt that the main problem was to explain how the electrons could sneak by all the ions
in a metal so as to avoid a mean free path of the order of atomic distances… By straight Fourier analysis I found to my
delight that the wave differed from the plane wave of free electrons only by a periodic modulation” (Felix Bloch)
Consequências
Como consequência do teorema, a função de onda também deve satisfazer:

𝜙𝑛𝒌 (𝒓 + 𝑹) = 𝑒 𝑖𝒌⋅𝑹 𝜙𝑛𝒌 (𝒓) para todo vetor 𝑹 da rede

Assim, para um vetor 𝐺 qualquer da rede recíproca:

𝜙𝑛,𝒌+𝑮 𝒓 + 𝑹 = 𝑒 𝑖 𝒌+𝑮 ⋅𝑹
𝜙𝑛,𝒌+𝑮 𝒓 = 𝑒 𝑖𝒌⋅𝑹 𝜙𝑛,𝒌+𝑮 𝒓

Portanto, podemos tomar:

𝜙𝑛,𝒌+𝑮 (𝒓) = 𝜙𝑛,𝒌 (𝒓) Função de onda e energia têm a


periodicidade da rede recíproca!
𝜖𝑛,𝒌+𝑮 = 𝜖𝑛,𝒌

Basta então considerar valores de 𝒌 contidos em uma célula primitiva do espaço recíproco. Em geral,
utiliza-se a 1ª Zona de Brillouin (ZB).
Estrutura de bandas
Exemplo: Silício

𝒏: índice de banda. Rotula as diferentes (infinitas) soluções do


problema para um dado valor de 𝒌.

1 2
− 𝛻 + 𝑉𝑒𝑓𝑓 𝑟 𝜙𝑛𝒌 𝒓 = 𝜖𝑛𝒌 𝜙𝑛𝒌 𝒓
2

• Para um dado valor de 𝑛, 𝜖𝑛𝑘 é uma função analítica de 𝒌


e periódica no espaço recíproco.
• 𝜖𝑛𝑘 é limitada → banda de energia
• Estrutura de bandas: conjunto de bandas para diferentes
valores de 𝑛.
• Costuma-se plotar as bandas ao longo de caminhos de
alta simetria na ZB.
Ocupação das bandas

Princípio da exclusão de Pauli: dois elétrons (ou férmions, em geral) não podem ter o mesmo
estado quântico.

W. Pauli
• Num cristal, um estado quântico é caracterizado pelos Exemplo: Silício
índices 𝑛, 𝒌 e pelo spin 𝜎.
• Na ausência de efeitos de polarização de spin, cada banda bandas vazias
acomodará 2 elétrons por ponto 𝒌.
• Pode-se mostrar que o número de pontos 𝒌 é igual ao
número de células unitárias do cristal, de forma que cada
banda acomoda 2 elétrons por célula unitária. gap de energia
• Bandas são preenchidas da mais baixa para mais alta
energia.
• Há faixas de energia proibidas no espectro, conhecidas bandas ocupadas
como gaps de energia.
Metais, semicondutores e isolantes
Silício (semicondutor) Cobre (metal)

bandas vazias
estados vazios

Nível ou
gap de energia Energia de
Fermi

bandas ocupadas estados ocupados

Semicondutores e isolantes (de banda): possuem bandas completamente preenchidas e um gap de energia
separando-as da primeira banda vazia → deve-se fornecer uma energia maior que o gap para excitar
elétrons (“ligados”).
Metais: possuem ao menos uma banda parcialmente preenchida → elétrons facilmente excitáveis (“livres”)
Semicondutores intrínsecos (puros)

• Gap direto x indireto: posições do topo da banda


de valência e do fundo da banda de condução
coincidentes x não-coincidentes
Ge Si GaAs • Materiais de gap direto são de grande interesse
para aplicação em dispositivos optoeletrônicos.

Banda de condução: primeira


gap indireto banda desocupada
gap direto

Banda de valência: última


banda ocupada por elétrons
Propriedades ópticas (semicondutores e isolantes)
Absorção de luz Luz promove a transição de um elétron da banda de valência
Banda de condução para a banda de condução → par elétron-buraco
𝑒−
fóton Energia do fóton = ℎ𝜈
Eg
• Se h < Eg: não há absorção (transparência!)
h
ℎ+ • Se h > Eg: há absorção (criação de par e-b)
Banda de valência

• Conservação do momento cristalino: kfóton = kelétron Variação de momento


• Tipicamente, h ~ 1-2 eV => kfóton ~ 106 m-1 cristalino do elétron é
desprezível
• Dimensões da 1a ZB ~ 1/a => kZB ~ 1010 m-1 (transições verticais)

Transições indiretas podem se dar por meio da interação com vibrações coletivas da estrutura (fônons),
mas com probabilidade muito menor.
“Engenharia” do gap

• Utilização de ligas permite a manipulação do


gap eletrônico
• Utilização de mais de um tipo de semicondutor
aumenta a eficiência de células solares (maior
absorção em todo o espectro)
Éxcitons
Banda de condução
Éxciton: par elétron-buraco ligado pela interação atrativa
𝑒− (coulombiana) entre eles
Eb
fóton
Eg
Interação leva a uma diminuição da energia de excitação:
h
ℎ+ Ω = 𝐸𝑔 − 𝐸𝑏
Banda de valência
Energia de ligação do par

Silício (3D) h-BN (2D)


• Em materiais usuais: 𝐸𝑏 ∼ 0.01 − 0.1 𝑒𝑉
• Em materiais 2D: 𝐸𝑏 ∼ 0.1 − 1.0 𝑒𝑉

Éxcitons podem alterar fortemente o espectro de


absorção de um material, em especial materiais 2D!
Propriedades ópticas (metais)

• Ausência de gap leva a absorção e rápida re-emissão de


luz (reflexão)
• Aparência brilhosa devido à alta refletividade
• Espectro de refletividade depende da estrutura de
bandas do material, resultando em cores distintas
• Uma fina camada de prata é comumente utilizada em
espelhos, devido à alta refletividade em toda a região
do visível

Todos acima possuem a mesma


estrutura FCC!
EXEMPLOS ADICIONAIS
Alguns materiais 2D
Grafeno h-BN

• Semicondutor de gap zero/ semimetal • Isolante (gap ~ 5.5 eV)


• Dispersão linear a baixas energias → • Absorve/emite luz na faixa do UV
férmions de Dirac sem massa Utilizado para encapsular outros
• Condutividade elétrica e térmica elevadas materiais 2D
• Transparente para luz visível • Transparente para luz visível

Heteroestruturas de grafeno/h-BN: potenciais aplicações em displays flexíveis, spintrônica, ...


Alguns materiais 2D
TMDCs

• Semicondutores (fase 2H, a maioria)


• Potenciais aplicações em LEDs, fotodetectores e células
solares
• Acoplamento spin-vale → aplicações em valetrônica e
spintrônica
Zhu et al, Phys. Rev. B 84, 153402 (2011)
Kin Fai Mak and Jie Shan, Nature Photonics 10, 216 (2016)
Experimentos de fotoemissão Bicamada de grafeno dopada
T. Ohta et al, Science 313, 951 (2006)

Fósforo Negro (bulk)


Ehlen et al, Phys. Rev. B 94, 245410 (2016)

• Conservação de energia e momento


determinam a estrutura de bandas.
• Fotoemissão direta mede estados ocupados
• Fotoemissão inversa mede estados vazios
Propriedades vibracionais e espectroscopia Raman
Espalhamento elástico vs inelástico
• Íons vibram em torno das posições de equilíbrio
da estrutura cristalina (modos normais de
vibração)
• Frequências de vibração possuem dispersão, de
forma similar à estrutura de bandas dos elétrons
• Energia vibracional é quantizada (fônons)

Grafeno e multicamadas • Espalhamento Raman (inelástico): luz incidente


é re-emitida com frequência e energia diferentes
devido à absorção ou emissão de fônons
• Descrição do espalhamento Raman requer o
cálculo do acoplamento elétron-fônon!
• Ferramenta extremamente poderosa para a
identificação de nanoestruturas!

L.M. Malard et al., Physics Reports 473, 5187 (2009)


Referências

• Ashcrof & Mermin, Solid State Physics


• Charles Kittel, Introduction to Solid State Physics
• Steven H. Simon, The Oxford Solid State Physics Basics
• Walter H. Harrison, Electronic Structure and Properties of Solids
• Walter H. Harrison, Elementary Electronic Structure
• E. Kaxiras, Atomic and Electronic Structure of Solids
• Marvin L. Cohen & Steven G. Louie, Fundamentals of Condensed Matter Physics
• O. Madelung, Introduction to Solid State Theory
• Richard M. Martin, Electronic Structure: Basic Theory and Practical Methods

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