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Introdução à
farmacologia
Dreisson Aguilera de Oliveira
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Sumário
Unidade 1
Introdução à farmacologia��������������������������������������������������������������������������� 7
Seção 1
História da farmacologia������������������������������������������������������������������� 8
Seção 2
Conceitos básicos�����������������������������������������������������������������������������23
Seção 3
Subdivisões da farmacologia�����������������������������������������������������������35
Palavras do autor
B
em-vindo!
Daremos início aos estudos sobre a farmacologia, que é tida como
uma das principais disciplinas do curso de Farmácia e que consegue
atingir seus objetivos quando aplicada em conjunto às disciplinas básicas das
áreas biológicas e da saúde, como a anatomia, fisiologia, histologia, biologia
celular, entre outras.
De fato, o domínio da farmacologia, no contexto das suas principais
subdivisões, a farmacocinética e a farmacodinâmica condicionam o profis-
sional farmacêutico para o entendimento, qualitativo e quantitativo, final das
alterações provocadas pelos fármacos nos tecidos biológicos. Esses conhe-
cimentos levam ao desenvolvimento de habilidades que se tornam grandes
ferramentas para o farmacêutico ter em seu favor no auxílio do paciente
e de toda a equipe de saúde; tais conhecimentos, ainda, podem levar ao
uso racional dos medicamentos, criando a diferença entre um tratamento
adequado e outro que pode prejudicar a saúde do usuário de medicamentos.
A disciplina de farmacologia desenvolverá os conceitos iniciais dessa área
de estudo e proporcionará meios para que você, estudante, possa diferenciar
as subdivisões da farmacologia e os conceitos básicos sobre as caracterís-
ticas dos tipos de medicamentos que permitirão aplicar os conhecimentos
para solucionar problemas na prática diária farmacêutica, considerando os
diversos campos de trabalho, nas diferentes áreas de atuação.
O desenvolvimento de novos fármacos também é um assunto a ser
aplicado para que o estudante de farmácia possa se tornar um profissional
capaz de resolver situações que envolvam os processos determinantes da
colocação de um novo fármaco no mercado a partir dos critérios regulatórios
nacionais e internacionais existentes. Isso será mostrado de maneira favorável
às situações da vida profissional que envolvam a aplicação dos conheci-
mentos sobre os fármacos, a influência dos seus receptores e os efeitos finais
desencadeados pela ação dos mesmos, com o objetivo de contribuir para o
fortalecimento do rastreamento e notificação das reações adversas causadas
pelos fármacos, de gerir o risco de sua utilização e de favorecer o uso racional
de medicamentos.
O estudo da farmacologia, proposta neste material, está dividido em
quatro unidades: a primeira unidade abordará a introdução à farmacologia;
a segunda mostrará os processos de desenvolvimento e regulamentação de
novos fármacos no mercado; a terceira desenvolverá os principais conceitos
de passagem dos fármacos pelas membranas biológicas, os receptores e os
principais mecanismos de ação dos fármacos; e, finalmente, a quarta unidade
abordará as reações adversas aos fármacos e a avaliação de risco quanto ao
uso dos medicamentos.
Você pode imaginar quantos medicamentos são prescritos diariamente
e quantas pessoas dependem do uso deles? Você já pensou sobre o impacto
que os conhecimentos em farmacologia podem ter na vida dessas pessoas? A
partir do domínio desse conteúdo, você estará mais próximo da pesquisa e do
desenvolvimento de novos fármacos, bem como de manipulá-los de maneira
adequada para diversos pacientes que depositarão, em suas mãos, parte da
responsabilidade de uma boa resposta do sucesso terapêutico de suas doenças.
Agora, convido você a conhecer e dominar essa ciência tão importante e
tão nobre da área farmacêutica.
Unidade 1
Dreisson Aguilera de Oliveira
Introdução à farmacologia
Convite ao estudo
Caro estudante, podemos perceber um grande salto tecnológico ocorrido
nesses últimos anos, fruto de muita pesquisa e desenvolvimento de novos
recursos, mas você já pensou como foi o desenvolvimento da farmacologia
ao longo da história da humanidade?
Essa área de estudo é tão antiga quanto a própria medicina, já que, para o
tratamento de uma doença, os curandeiros ou médicos exploravam diversos
recursos naturais, como chás e extratos, além da busca pela cura junto ao
sobrenatural, o que trazia, junto às tradições de cada povo, crenças a certas
divindades. Você consegue imaginar como foi essa época, frente a tantos
avanços que temos hoje na medicina? Por isso, a disciplina de farmaco-
logia torna-se cada vez mais importante para o entendimento da ação dos
fármacos dentro da sua diversidade de áreas de atuação e de suas relações
com outras disciplinas e profissões.
Nesta unidade, iremos conhecer a evolução histórica e as subdivisões da
farmacologia bem como os conceitos básicos sobre as características dos tipos
de medicamentos que permitirão aplicar os conhecimentos para solucionar
problemas na prática diária farmacêutica, considerando as diversas áreas
de atuação. Dessa forma, você será capaz de realizar uma análise crítica dos
conceitos apresentados para direcionar os conhecimentos sobre a evolução
da farmacologia e suas subáreas, com vista a otimizar o embasamento cientí-
fico e o entendimento mais aprofundado da disciplina. Considere o estudo
da farmacologia, uma incrível jornada aos conhecimentos de uma das princi-
pais disciplinas das ciências farmacêuticas.
Seção 1
História da farmacologia
Diálogo aberto
O estudo da farmacologia se torna um dos principais assuntos traba-
lhados na formação de um farmacêutico, pois é a partir dela que passamos
a conhecer um pouco melhor a ação das drogas e seus efeitos biológicos,
as quais podem ser utilizadas como medicamentos, para o diagnóstico,
prevenção e tratamento dos diversos problemas de saúde. Popularmente a
palavra droga representa um grupo de substâncias que podem causar depen-
dência ou alterar a consciência. Mas será apenas esse o conceito de droga?
Qual seria a diferença de droga, fármaco e medicamento?
Esses conceitos são apenas alguns dos temas que serão estudados nessa
unidade de introdução à farmacologia. Nesta seção, daremos especial atenção
aos aspectos históricos da farmacologia e sua evolução, desde a antiguidade,
até o surgimento da farmacologia moderna. Assim como outras disciplinas
da área da saúde, ela não tem fronteiras delimitadas pelos seus conteúdos ou
áreas de atuação, pois integra conhecimentos que permitem grande inter-
disciplinaridade ao longo da formação do profissional farmacêutico, envol-
vendo, por exemplo, as áreas da fisiologia, botânica, veterinária, biotecno-
logia, economia, entre muitas outras.
Para nos ajudar a trilhar esse caminho, iremos acompanhar a rotina de
um aluno de Farmácia que divide seu tempo entre os seus estudos e as ativi-
dades de estágio supervisionado em uma drogaria. Este estágio é uma das
modalidades do seu curso, que contempla o cenário de fármacos, medica-
mentos e assistência farmacêutica. Será que sua rotina de estágio, os conhe-
cimentos sobre a farmacologia e sua evolução serão utilizados? Conhecer a
diferença entre os conceitos de fármaco e droga, assim como sobre as subdi-
visões da farmacologia irão ajudar em sua rotina?
Ao longo dessa disciplina vamos nos deparar com diversas situações que
mostram a importância dos temas abordados pelo estudo da farmacologia,
sendo esse nosso principal objetivo. Trabalhando com alguns recursos de
pesquisa e um olhar desafiador sobre esse assunto, investigaremos melhor
cada situação para chegar em hipóteses mais assertivas, possibilitando uma
melhor formação profissional.
Voltando à análise da rotina do nosso aluno de farmácia, vimos que, parti-
cularmente esta semana, ele estava muito animado com uma viagem para a
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cidade de Ouro Preto, em Minas gerais, onde iria participar de um congresso
na área farmacêutica na Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP). Nesse
mesmo evento serão comemorados os 180 anos da Escola de Farmácia de
Ouro Preto com uma programação especial para essa ocasião. Chegando à
cidade, nosso aluno logo visitou o Museu da Farmácia da UFOP, que, em seu
acervo, abriga instrumentos e equipamentos da época da sua fundação, em
1839, além de livros históricos e muitos documentos que demonstram a vasta
experiência adquirida com as viagens transcontinentais entre a Europa e as
Américas por volta dos séculos XV a XVII com a chamada Matéria Médica,
que reunia a prática da medicina, a botânica medicinal e as farmacopeias.
Nosso aluno, impressionado com o saber e as crenças da época, quis
conhecer um pouco mais sobre a história da farmácia, bem como as formas
de tratamento que eram praticadas naquele período e sua evolução com o
passar do tempo. Em uma das atividades do museu, nosso aluno observava
atentamente as orientações do guia do evento, quem explanava sobre como
eram os atendimentos médicos na época, o ofício dos boticários, também
chamados de apotecários, e quem eram as pessoas que tinham acesso a esses
serviços. O guia, então, direcionou algumas perguntas para nosso aluno e
dentre elas havia uma sobre os conhecimentos que tinha acerca da história
da farmácia e da farmacologia. Como foi o desenvolvimento da farmacologia
no período barroco e, antes disso, na idade média? E quando começamos a
chamar essa ciência de farmacologia moderna? Você, no lugar do aluno de
Farmácia, como responderia a essas questões?
Que tal fazermos uma viagem histórica para conhecermos um pouco do
que foi preciso para que, nos dias de hoje, pudéssemos desfrutar dos muitos
avanços advindos da evolução tecnológica nessa área? Embarque nessa para
conhecer nossas raízes farmacêuticas!
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descrições de fórmulas e de doenças existentes entre os anos 3000 e 2500 a.C.
na Mesopotâmia e no Egito antigo.
O Período Greco-romano
Foi um período marcado pela mitologia, cujos deuses desempenhavam as mais
diversas funções: na Grécia, Hecate, ou Pharmakis, era considerada a deusa da
magia, que possuía o saber para usar plantas medicinais; suas sacerdotisas eram
chamadas de pharmakides. Apolo, que foi o fundador da medicina e médico dos
deuses, era responsável pela ação de várias drogas. Sua irmã, Artemis, possuía o
poder da cura. Uma figura mitológica bem conhecida, o Centauro Quirón, que
era metade cavalo e metade homem, dominava o uso das plantas medicinais e teve
como discípulo Asclépio, que, em Roma, passou a ser chamado de Esculápio.
Asclépio, filho de Apolo, é considerado o deus da medicina e, em sua história,
teria sido ensinado por uma serpente a usar uma planta que daria vida aos mortos;
é daí, portanto, que vem o símbolo da medicina: o cajado com a serpente (cajado de
Asclépio). Segundo a lenda, uma cobra enrolou-se em seu cajado e, no momento
em que ela ia picá-lo, ele olhou para a serpente e disse: “se queres me fazer mal, de
nada adiantará que me firas, pois tenho no corpo o antídoto contra tua peçonha.
Se estás com fome, te alimentarei” (SILVA, 2011, p. 22). Nesse momento, pegou
sua taça, onde fazia as misturas medicinais, colocou leite e ofereceu à serpente, que
desceu do cajado e enrolou-se na taça para beber o leite, dando, assim, origem à
história do símbolo da farmácia: a serpente envolvendo a taça.
Tendo em vista essa simbologia, a Figura 1.1 retrata a metáfora da dupla
face dos medicamentos (ao mesmo tempo, veneno e remédio), conhecidos e
administrados com maestria pelo médico.
Figura 1.1 | Asclépio coroado oferece uma bebida à serpente
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Os filhos de Asclépio possuem lugares de destaque na área da saúde:
Panaceia possui o remédio para todos os males e Higea é a deusa da saúde
e da higiene, que ficou mais vinculada à farmácia, pois, diferentemente de
outros deuses gregos, Higeia era cuidadosa e cooperava com os mais deversos
serviços que surgiam, executando-os com perfeição.
Também conhecida como a taça de Higeia, o símbolo da farmácia
possui duas partes representativas, a cobra, trazendo em si o significado da
sabedoria, da imortalidade e da cura, e a taça, significando a cura por meio
daquilo que se ingere, ou seja, os medicamentos.
Figura 1.2 | Serpente envolvendo a taça que representa o símbolo da farmácia
Fonte: Shutterstock .
11
Assimile
A filosofia de Hipócrates, de que a vida era mantida pelo equilíbrio dos
quatro humores, foi mantida por vários médicos e filósofos da época e
transmitida para seus discípulos como terapia humoral, tendo passado
por Galeno e chegado até o final do século XVIII.
Segundo Dias (2005, p. 11), cada um desses humores teria diferentes
qualidades: o sangue era quente e úmido, a fleuma era fria e úmida,
a bílis quente e seca e a bílis negra fria e seca. Segundo o predomínio
natural de um desses humores na constituição dos indivíduos, teríamos
os diferentes tipos fisiológicos: o sanguíneo, o fleumático, o bilioso
ou colérico e o melancólico. A doença seria devida a um desequilíbrio
entre os humores, tendo como causa principal as alterações devidas
aos alimentos, os quais, ao serem assimilados pelo organismo, davam
origem aos quatro humores.
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Da mesma forma, as técnicas médicas e farmacêuticas tiveram grande
importância na cultura árabe, como o desenvolvimento de técnicas físico-
-químicas: destilação, sublimação, cristalização e filtração. Foi um dos
primeiros povos a separar as atribuições do médico e do farmacêutico.
Exemplificando
Um exemplo interessante para a propagação do conhecimento da
história da ciência médica é que, no início do século VI, com a ascensão
do Império Árabe, a medicina árabe teve um grande impulso através do
trabalho dos nestorianos, seita religiosa dominada por tribos islâmicas
nas terras da Mesopotâmia, Síria e Pérsia. Os nestorianos
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Os boticários se tornaram cada vez mais especializados na manipulação
dos medicamentos, e essa habilidade diferenciou o boticário dos médicos,
que passaram a exercer suas profissões separadamente. O boticário também
deixou de ser apenas um comerciante de produtos e matérias-primas e
passou a se envolver também com o preparo destes.
Na Idade Média, com o surgimento das Corporações de Ofícios e os
seus fiscais (muhtasib), o trabalho com os medicamentos e os produtos de
artesanais começou a ter os seus próprios regulamentos, e a formação e o
juramento passaram a ser obrigatórios.
Boticários eram os profissionais da saúde responsáveis pelos ervanários
e boticas. A palavra botica tem origem no grego apotheke, cujo significado é
depósito, armazém e que passa a ser um estabelecimento fixo para a comer-
cialização dos medicamentos, como aquelas mantidas pelos cônegos de Santo
Agostinho e pelos dominicanos. Há registros em Portugal, no século XIII, do
surgimento dos primeiros boticários como estabelecimentos separados de
um consultório ou atendimento médico.
Entre os séculos XIV e XV foram vivenciadas muitas tragédias pela
população mundial, como epidemias de peste e guerras, além de um enalte-
cimento dos altos cargos da igreja católica e de práticas corruptas vindas
dessas mesmas pessoas. Na tentativa de um distanciamento das doutrinas
escolásticas medievais (período de intenso domínio da igreja católica sobre
toda a Europa), vários pensadores como Dante, Petrarca e outros iniciam, na
Itália, o movimento do Renascimento, que, ao longo dos séculos XIV, XV e
XVI, foi disseminado por toda Europa, dando ênfase ao humano e ao divino
com inspiração nos clássicos da antiguidade greco-romana.
Esse período de revolução científica teve um grande avanço depois que as
experiências e comprovações voltaram a ser realizadas com o corpo humano
e a natureza de modo geral, principalmente após o desenvolvimento de
novos instrumentos de análise e teorias como o heliocentrismo (o sol sendo
o centro do universo, contrapondo-se ao geocentrismo e ao teocentrismo),
proposta por Copérnico em 1530. Essa teoria foi reforçada por Giordano
Bruno (condenado pela Inquisição), mais tarde demonstrada por Galileu
(forçado a refutar a teoria para não ser condenado pela Inquisição) e foi, por
fim, matematicamente comprovada por Kepler com sua teoria da gravitação,
a qual foi base para os estudos de Isaac Newton.
Após o declínio das teorias galenistas no final da Idade Média e início
do Renascimento, a anatomia humana se destacou no campo da medicina
com os estudos de Andreas Vesálius (1514-1564), que contestava as teorias
galênicas e marcava uma época com inovações e descobertas. Podemos citar
14
também as obras e contribuições de Leonardo Da Vinci, Michelangelo, entre
outros, como se vê na Figura 1.3, que mostra os esboços de Da Vinci sobre
a anatomia humana. A propagação do conhecimento se torna mais eficaz
com a produção de livros impressos após a invenção da imprensa tipográ-
fica de Gutenberg, em meados do século XV, que conseguia reproduzir livros
impressos com muito mais rapidez e precisão.
Figura 1.3 | Representação anatômica do membro superior feita por Leonardo da Vinci
Fonte: Shutterstock.
Assimile
Durante o Renascimento houve um grande aumento
de interesse por plantas medicinais, sendo que
dentre as publicações existentes, a mais popular foi
The Herball, or General Historie of Plants, de John
Gerard, em 1597, uma das poucas que continuou
sendo impressa na língua inglesa por cerca de 400
anos. O livro, com 1.392 páginas e 2.200 imagens de
plantas medicinais, foi apreciado por diversas autori-
dades no assunto e muitos médicos prescreviam a
enfermos plantas ali relacionadas, incluindo Digitalis
purpurea. (DIAS, 2005, p. 26)
15
farmacêutica a partir da descoberta e cultivo de novas drogas vegetais de
grande interesse terapêutico, além das especiarias advindas das mais diversas
partes do mundo, principalmente América, Índia e África.
As bases para a Idade Moderna vieram do século XVII com as revolu-
ções intelectuais em diversas áreas, como as artes, a filosofia, a literatura e
principalmente a ciência, que foi o centro das mais importantes discussões e
avanços nas ciências da natureza, humana e outras. Em consequência disso,
marcado pelo contraste entre o humano e o divino, partindo do consciente
racional e não do intuitivo, surge o movimento barroco no qual, do ponto
de vista terapêutico, os boticários e os médicos passam a fazer uso de uma
farmácia mais química do que na galênica com suas substâncias naturais e
misturas complexas. Paracelso e o movimento iatroquímico, rompendo as
teorias galênicas, passam a utilizar equipamentos laboratoriais mais elabo-
rados e princípios ativos purificados, além de sais metálicos e substâncias
obtidas por preparações mais complexas como extrações destiladas.
Todas essas inovações trazem a luz ao século XVIII com novas ideias
e pensamentos, surgindo assim o período Iluminista. Exemplificando essa
questão, podemos citar Kant e a sua teoria sobre a saída do ser humano da
menoridade, o qual passa a pensar por si só.
Reflita
Todo esse movimento tem o centro das atenções na Europa, mas com
as grandes navegações e as colonizações para expansão do domínio
europeu no mundo, ocorrem as descobertas de novas plantas com
propriedades medicinais e novos tratamentos.
E o Brasil? Qual foi a contribuição ou participação do nosso país no desen-
volvimento da farmacologia no período pós-colonização entre os séculos
XVI e XVIII? Como foi a relação Brasil-Portugal sobre essa questão?
16
Nesse período, final do século XIX, a maioria dos medicamentos utili-
zados ainda seguiam uma formulação muito centrada no uso de princípios
ativos obtidos de plantas medicinais, mas com pouco isolamento e estudos
químicos. Após a estruturação da química orgânica e da química analítica, as
opções de tratamento começaram a aumentar com as primeiras drogas sinté-
ticas, como é o caso do ácido acetilsalicílico, a Aspirina, sintetizada em 1897
por Felix Hoffman, do laboratório Bayer a partir do isolamento da salicilina.
Em decorrência das sínteses medicamentosas, ocorre um crescimento na
industrialização do medicamento no início do século XX.
Além da produção do medicamento, seja na farmácia comunitária com as
manipulações de fórmulas ou na indústria, o farmacêutico passa a atuar em
uma área cuja atividade tem sua sustentação em bases científicas e não mais
apenas empíricas por observações de tentativa e erro. A profissão farmacêu-
tica passa a atuar em diversas outras áreas, entre elas o controle analítico e
garantia da qualidade dos princípios ativos.
Assimile
Frente à crescente demanda de profissionais farmacêuticos devida-
mente habilitados, o ensino de farmácia brasileiro se iniciou em 1824,
como uma cadeira da escola de medicina em Minas Gerais e outra
em 1829 no Rio de Janeiro. Depois, em 1839, em Minas Gerais, foram
criadas duas escolas de farmácia, uma em Ouro Preto (então capital da
província de Minas Gerais) e outra em São João del Rey, sendo que em
30 de março de 1851 foi fundada a Sociedade Farmacêutica Brasileira.
Porém, apesar das diversas instituições de ensino de farmácia distribu-
ídas pelo país, no século XIX, a passagem do comércio de botica para
farmácia, com um farmacêutico formado em sua direção, não foi nada
fácil (PEREIRA; NASCIMENTO, 2011, p. 246).
17
panorama foi se alterando com o aumento da industrialização dos medica-
mentos a partir dos anos 1930 e a farmácia perdeu a sua função da produção
ou manipulação para a mera distribuição das especialidades farmacêuticas.
Reflita
Após esse distanciamento do farmacêutico das suas funções assisten-
ciais de acompanhamento e orientação do paciente, o que você pode
concluir ao relacionar as colocações sobre a Farmácia Clínica da década
de 1960 e os conceitos de Atenção Farmacêutica da década de 1980 e
1990? Você acredita que, de alguma forma, tenha havido um realinha-
mento da atuação do farmacêutico junto ao cuidado com o paciente?
18
materiais, de uma forma mais sistematizada e racional, a partir da classi-
ficação dos medicamentos utilizados e de uma preocupação com o uso
adequado de suas fórmulas prescritas para que tivesse o melhor resultado
terapêutico. A teoria galênica teve seu legado construído até o século XVII,
junto ao período do Renascimento, pois, a partir daí, a Farmácia Química
começou a substituir as complexas fórmulas de produtos naturais de Galeno.
O período renascentista foi marcado pelas novas descobertas e pelo
desenvolvimento científico, e a farmácia teve um grande avanço, principal-
mente pela evolução da medicina e pela necessidade de tratamentos e preparo
de medicamentos, desvinculando o boticário, a ser chamado de farmacêutico
em breve, dos médicos que propunham os tratamentos.
Nosso aluno lembrou ainda de diversas passagens literárias, políticas e econô-
micas que marcaram essa época, comentando também com seus colegas que,
logo em seguida, o período Barroco foi um marco de crise para o Renascimento,
trazendo a exuberância das formas e dos contrastes entre corpo e alma, caracte-
rísticas que se fizeram presentes em diversos momentos, junto com a tentativa de
um domínio religioso católico no movimento da Contrarreforma.
Foi nesse momento que o estudante da UFOP se deu conta da neces-
sidade de todos esses eventos para que pudéssemos usufruir atualmente
de todas as evoluções propostas nas áreas médicas e farmacológicas do
período Moderno e para que analisássemos de forma mais crítica os pensa-
mentos vigentes, visto que entre os séculos XIX e XX iniciam-se as sínteses
e a produção em larga escala de medicamentos na indústria farmacêutica,
popularizando o uso medicamentoso e salvando vidas nas guerras mundiais
com os antibióticos, analgésicos e outros.
Avançando na prática
Da assistência à industrialização
19
Considerando esse contexto, o consultor farmacêutico de uma empresa
de capacitação farmacêutica que está realizando o treinamento de um grupo
desses profissionais e de técnicos em farmácia de uma grande rede de droga-
rias. Nas atividades iniciais do treinamento, o consultor apresentou um
contexto histórico da profissão farmacêutica. Assim, o consultor, aprovei-
tando que os ouvintes já tinham visto uma perspectiva sobre a história
recente da Farmácia, direcionou uma pergunta para um dos farmacêuticos
participantes, indagando-o sobre quais foram os principais fatores que
levaram a profissão farmacêutica a se distanciar da área clínica ao longo da
sua história. Isso pode ser visto como um fator negativo ou positivo para a
profissão? Qual tipo de movimento ou de vertente de estudos propõe um
olhar para um cuidado farmacêutico mais próximo ao paciente? No lugar do
farmacêutico ouvinte, como você responderia a essas questões?
Resolução da situação-problema
Para responder aos questionamentos do consultor, poderíamos dizer que
a prática farmacêutica vem se modificando ao longo do tempo, desde o ofício
dos boticários e suas manipulações até as mais novas e recentes descobertas
sobre medicamentos e processos industriais.
Nos artigos de Holland e Nimmo (1999a, 1999b, 1999c, 1999d, 1999e),
os autores propuseram a evolução profissional em paralelo com a história da
Farmácia em cinco períodos:
1. Manufatura.
2. Manipulação de medicamentos.
3. Distribuição de medicamentos e dispensação.
4. Farmácia clínica, dispensação e aconselhamento.
5. Atenção farmacêutica.
Essa evolução pode ser resumida em três principais momentos: o
primeiro foi o do ofício tradicional, com a atividade dos boticários, no final
do século XIX, voltada ao cuidado na manipulação do medicamento (ativi-
dade magistral do farmacêutico) e às devidas orientações sobre o seu uso;
essas características marcaram um período assistencial, e a farmácia passou a
ser um espaço socialmente frequentado por muitas pessoas.
O segundo momento ocorreu por volta da década de 1930 e marcou o
início de um período de transição, pois o farmacêutico começou a migrar
suas atividades para o setor industrial, o qual passou a ser a principal
estrutura financeira da profissão na época. Em consequência disso,
20
houve o distanciamento desse profissional da farmácia e da manipu-
lação dos fármacos, assim como dos pacientes, que passaram a receber
o medicamento já pronto e padronizado. Para o paciente, havia se criado
a ilusão de que uma melhora significativa no atendimento na farmácia
havia acontecido, mas um olhar um pouco mais aprofundado revelou um
aspecto muito negativo junto ao profissional, que deixava de ser o “mago
das poções” para ser um entregador de medicamentos já prontos, o que
descaracterizou toda a profissão.
E o terceiro momento foi marcado pelo desenvolvimento da farmácia
clínica, na década de 1960, e pelos trabalhos publicados na década de 1990
por vários autores, com ênfase em Hepler e Strand, na prática da Atenção
Farmacêutica, os quais buscavam uma reaproximação das atividades assis-
tenciais e clínicas do farmacêutico quanto ao uso racional e ao cuidado
farmacoterapêutico junto ao paciente.
Essa poderia ser uma das formas de resolução. Discuta com seus colegas
e aponte outros caminhos para responder o que foi questionado.
21
II. Galeno é considerado o pai da Farmácia por ter elaborado a teoria
dos quatro humores corpóreos.
III. As grandes navegações, entre os séculos XV e XVII, trouxeram um
grande crescimento na área farmacêutica pela descoberta de novas
plantas medicinais vindas da América e da África.
IV. A contribuição dos árabes para a Farmacologia foi muito pequena,
pois eles não eram grandes navegadores e detinham pouco conheci-
mento sobre esse assunto.
É correto apenas o que se afirma em:
a. I e III.
b. II e III.
c. II e IV.
d. III e IV.
e. II, III e IV.
22
Seção 2
Conceitos básicos
Diálogo aberto
Veja como a história é importante para entendermos a evolução de
uma ciência. Em nosso contexto de aprendizagem, estamos acompa-
nhando a rotina de um aluno de Farmácia que desenvolve seus estudos
na faculdade juntamente com as atividades do estágio supervisionado,
o qual, na visão desse aluno, enriquece muito suas experiências acadê-
micas, já que pode aprender com situações como a que vivenciou certa
vez na farmácia em que trabalha, quando uma paciente chegou para um
atendimento e foi logo avisando que só compraria o medicamento se
este fosse de referência.
Muito solícito, nosso aluno foi atender essa paciente e pediu a prescrição
médica para ver o que poderia ser feito. Quando acabou de ler o receitu-
ário, percebeu que o médico havia prescrito um medicamento similar para
a paciente. Nesse momento, ele começou a pensar de que forma poderia
explicar para a senhora quais medicamentos ela poderia escolher para
comprar e lembrou que até existia uma legislação para essa situação, inclusive
para os medicamentos genéricos.
Imagine-se no lugar do aluno-estagiário. Como você explicaria para a
paciente quais medicamentos podem ser intercambiáveis?
Certas situações exigem um conhecimento específico e um posicionamento
assertivo, principalmente quando estamos atendendo um paciente na farmácia,
local que pode promover a saúde das pessoas com uma boa orientação.
Para ajudá-los nessa demanda, estudaremos os conceitos de droga e
fármaco com o intuito de entender as diferenças entre os conceitos no
contexto de sua utilização em determinadas situações. Além disso, veremos
o que são formas farmacêuticas e sua relação com efeito final dos fármacos.
Entenderemos o que são os medicamentos de referência e suas particulari-
dades atuais e confrontaremos os conceitos de medicamento de referência
versus medicamento genérico versus medicamento similar. Além disso,
veremos também os conceitos de princípio ativo versus fármacos versus
medicamentos versus remédios. Vamos nessa! Nesta unidade você estudará
conceitos que lhe serão úteis durante toda a sua vida profissional, sendo
assim, foco nos estudos e vamos em frente!
23
Não pode faltar
Reflita
A partir desses dois conceitos que trabalhamos, podemos chegar à
conclusão de que todo fármaco é uma droga, mas nem toda droga é um
24
fármaco. Você concorda com essa afirmação? Discuta com seus colegas
para chegarem a uma conclusão sobre esse assunto.
Exemplificando
Entre os compostos a seguir: ecstasy, agrotóxico, paracetamol, hidró-
xido de alumínio, LSD (Dietilamida do Ácido Lisérgico), folhas de boldo e
dipirona, quais podem ser considerados como fármacos?
Se sua resposta inclui o paracetamol, o hidróxido de alumínio e a
dipirona, você entendeu a diferença entre eles; os outros compostos
podem ser considerados drogas, ou, no caso das folhas de boldo, uma
matéria-prima vegetal, a qual somente será uma droga vegetal depois
de coletada, seca, estabilizada e preparada para o uso como princípio
ativo de um medicamento fitoterápico.
Exemplificando
Caso você vá até uma farmácia, peça um medicamento para dor de
cabeça e o farmacêutico faça a indicação do ibuprofeno, ele mostrará a
25
você que existem vários nomes que podem ser comprados. Depois de
orientar a sua escolha, ao final, você estará levando um fármaco ou um
medicamento para casa?
Perceba que nesse caso, o que se está comprando na farmácia é um
medicamento que possui o fármaco ibuprofeno. O medicamento é a
forma final que será usada pelo paciente.
Reflita
Partindo desses novos conceitos, podemos chegar à conclusão de
que todo medicamento é um remédio, mas nem todo remédio é um
medicamento. Você concorda com essa afirmação? Discuta com os seus
colegas para chegarem a uma conclusão sobre esse assunto.
26
Figura 1.4 | Principais vias de administração e eliminação de fármacos
Administração Absorção e distribuição Eliminação
Bile
Percutânea Pele
Intramuscular Músculo
Cérebro
Placenta
Intratecal Líquor
Feto
Inalação Pulmão Ar expirado
Assimile
As formas farmacêuticas sólidas orais podem apresentar duas formas
básicas de liberação, a imediata que são desenvolvidas para liberar o
fármaco rapidamente após a administração e as modificadas para que
tenham um tempo maior de ação, modulando a liberação do fármaco,
retardando ou prolongando a sua dissolução. Neste último caso, quando
se observa o nome dos medicamentos, é possível ver uma sigla que o
27
complementa, como AP (Ação Prolongada), XR (liberação estendida,
do inglês Extended Release), entre outras como SR [Sustained Release
(Liberação Sustentada)] e CR [Controlled Realese (Liberação Controlada)].
28
está realizando sua missão, visto que essa autarquia do Ministério da Saúde
tem por finalidade institucional promover a proteção da saúde da população,
por intermédio do controle sanitário da produção e consumo de produtos e
serviços submetidos à vigilância sanitária.
Com a promulgação da RDC nº 58, de 2014, algumas medidas foram
adotadas para que a intercambialidade de medicamentos equivalentes pudesse
ocorrer de forma adequada. Essa determinação prevê a intercambialidade de
medicamentos da seguinte maneira: (I) entre medicamento genérico e seu
respectivo medicamento de referência e (II) entre o medicamento similar e
o seu respectivo medicamento de referência, descritos em listas disponíveis
no Portal da Anvisa. Assim, não estão previstos nessa RDC a equivalência
entre medicamento similar-similar e entre similares e genéricos. Para ajudar
nessa questão, observe a Figura 1.5, que trata dos tipos de medicamentos
cujas trocas podem ser realizadas.
Figura 1.5 | Intercambialidade de medicamentos no Brasil
29
É importante ressaltar que a adequação de equivalentes terapêuticos tem
como objetivo principal garantir a qualidade e a eficácia dos medicamentos
comercializados no País, mas o desconhecimento da população ainda é
grande sobre os conceitos desses medicamentos e, muitas vezes, as pessoas
acabam optando pelo menor preço e confiando no profissional que o atendeu
no estabelecimento de saúde.
Podemos levantar outra questão com relação aos processos de compras
de medicamentos pelo governo, visto que a licitação nem sempre tem a
garantia de compra de medicamentos de referência, genéricos ou similares e
que serão distribuídos para a população, independentemente de a prescrição
médica ter o nome de referência, genérico ou similar.
Observa-se, então, uma necessidade de conhecer todos os caminhos legais
para que o atendimento farmacêutico possa realmente auxiliar o paciente da
melhor maneira, garantindo, assim, um tratamento de qualidade.
30
equivalência terapêutica com o medicamento similar prescrito para ela,
mesmo sendo o mesmo princípio ativo, pois a equivalência e os testes da
indústria são estabelecidos para o medicamento de referência e, por isso, ele
não poderia fazer essa substituição.
Esse seria um tipo de atendimento que encantaria a paciente, pois seria
realizado com prestatividade. É quase uma certeza de que a paciente não
sabia que existiam essas regras de substituição. Ele poderia também citar
as normativas sanitárias que determinam todas essas regras com o intuito
de assegurar a qualidade dos produtos que serão comercializados. O bom
atendimento e o conhecimento sobre o assunto muitas vezes são os diferen-
ciais para que uma situação não saia do controle ou para que o paciente possa
ser bem orientado, o que melhora sua adesão ao tratamento e a sua percepção
de segurança quanto ao uso dos medicamentos.
Esta seria uma forma adequada de lidar com essa situação, discuta com
seus colegas e imagine outras possibilidades. A partir do que discutimos
nesta seção, você tem subsídio para tal.
Avançando na prática
31
Resolução da situação-problema
Para atender à solicitação, você deve entender que essa é uma questão
que envolve diversos fatores; mas, dentro dos conteúdos estudados, é possível
definir uma linha de ação para o registro de um medicamento genérico.
Sabendo que a legislação que norteia esse tipo de ação é a RDC 200/2017, o
primeiro passo é entrar com um pedido de registro junto à Anvisa, que irá
solicitar uma série de documentos sobre a sua empresa e o medicamento a
ser registrado, devendo constar os insumos que serão utilizados, o tipo de
embalagem, entre outros.
Após essa verificação, é necessária a comprovação de equivalência, que é
sempre comparada ao medicamento de referência. Para isso, são realizados
os testes de equivalência farmacêutica, por meio dos quais se comprova que
se trata do mesmo fármaco, e o teste de biodisponibilidade, que relaciona a
quantidade absorvida e a velocidade de absorção do medicamento utilizado.
É realizado também o teste de bioequivalência, desenvolvido em três etapas:
clínica, analítica e estatística. Todos esses testes têm por objetivo garantir a
qualidade e a eficácia do medicamento genérico ao usuário e a apresentação das
mesmas características físico-químicas e do efeito desejado dos medicamentos.
Esse é um caminho que pode ser abordado para a resolução dessa situação-
-problema. Junto aos seus colegas formule ou complemente a mesma resolução.
32
a. I e II.
b. II e III.
c. III e IV.
d. I e III.
e. II e IV.
33
III. A via intravenosa (IV) é quando ocorre a administração de medica-
mento diretamente na veia do paciente e essa via não apresenta a
etapa de absorção do fármaco.
É correto o que se afirma apenas em:
a. I.
b. II.
c. III.
d. I e III.
e. I, II e III.
34
Seção 3
Subdivisões da farmacologia
Diálogo aberto
Caro aluno, você já deve ter ouvido falar em algum momento de sua vida
sobre uma pessoa que fez uso de um certo medicamento e que obteve bons
efeitos e melhorou de uma determinada doença. Essa pessoa teve de tomar
o medicamento de maneira correta, no horário estabelecido, longe das refei-
ções, e, durante o uso do medicamento, foi-lhe recomendado não consumir
álcool. Mas por que de tudo isso? Será que estes detalhes são recomendações
importantes para se obter os efeitos finais de um medicamento de maneira
adequada? Na farmacologia há alguma subdivisão que permite conhecer
melhor todas as caraterísticas de um fármaco e as perspectivas de uso, consi-
derando o medicamento que contenha determinado ativo? Nesta seção,
abordaremos as principais subdivisões da farmacologia e as características
de cada uma delas no contexto da contribuição que essas trazem para a
compressão dos fármacos e seus direcionamentos clínicos terapêuticos.
Lembrando que estamos acompanhando a rotina de um aluno de
farmácia que além de suas atividades acadêmicas realiza o seu estágio super-
visionado em uma farmácia sem manipulação. Esse aluno constantemente
se depara com situações que o levam a conhecer um pouco mais sobre a
área farmacêutica, como certa vez em seu estágio, quando o seu preceptor
local, farmacêutico, o colocou em uma situação que o levou a refletir sobre
a importância dos conhecimentos em farmacologia para a sua atuação junto
clientes da farmácia, que são consumidores de medicamentos.
Assim, chegamos à situação-problema desta seção: o farmacêutico
preceptor da farmácia estava em atendimento a uma cliente que lhe pergun-
tara sobre “como os medicamentos agem no nosso corpo? Todos agem de
maneira igual? Nosso organismo modifica os medicamentos?”. Vindo de uma
cliente, que não se mostrava tão leiga sobre o assunto, essa pergunta intrigou
o preceptor que imediatamente chamou o estagiário para que ele percebesse a
importância de se estar preparado para atender clientes com diferentes perfis
de conhecimentos e a partir disso demonstrar para o futuro farmacêutico
que esse será sempre um desafio de rotina – também em outros segmentos
de atuação do profissional farmacêutico. Diante da situação visando desafiar
seu estagiário e ver o nível de experiência que o mesmo adquiriu em relação
ao período de estagio que já cumpriu, o preceptor direcionou a pergunta da
cliente para o estagiário. No lugar do estagiário, como você responderia à
35
cliente sobre como ocorre a ação de um fármaco que está contido em deter-
minado medicamento e como o nosso organismo modifica um medicamento
depois que ele é ingerido? Além disso, o preceptor pediu que o estagiário
explicasse para a cliente sobre a farmacologia e suas subáreas para que ela
pudesse entender melhor de onde vêm os conhecimentos sobre os fármacos
e os medicamentos e também explicar por que os fármacos não agem da
mesma forma em todos os organismos.
Deparando-se com essas questões, veja quão ampla é a área de estudo da farma-
cologia. Nesta seção, vamos explorar juntos as caraterísticas das principais subáreas
da farmacologia e descobriremos como cada uma irá contribuir para o entendi-
mento dos detalhes da ação dos fármacos em nosso organismo. Vamos nessa!
Farmacocinética/ Farmacologia
metabolismo dos fármacos bioquímica
Farmacologia
Farmacologia
molecular Quimioterapia
Farmacologia de sistemas
36
A partir do que vimos anteriormente – a história da farmacologia e as
principais definições – pode-se observar a inter-relação entre as diversas
áreas biomédicas e a farmacologia, além das áreas de inovação como os
estudos das terapias genéticas e dos tratamentos monoclonais.
Para o estudo das principais áreas da farmacologia é interessante enten-
dermos inicialmente a relação do fármaco com o organismo, por isso a
farmacocinética e a farmacodinâmica se tornam tão importantes agora.
Elas mostram tanto as modificações que o organismo promove no fármaco
quanto as que o fármaco pode promover ao organismo.
Reflita
Você poderia relacionar o caminho que o fármaco deve fazer no
organismo para chegar até o seu local de ação, quando esse é adminis-
trado, por exemplo, via oral?
Farmacocinética e farmacodinâmica
Os estudos farmacocinéticos têm sua fundamentação na necessidade de
se administrar a dose correta de medicamento para chegar até o seu local
de ação, prevendo todas as variáveis nesse caminho através das membranas
e barreiras fisiológicas. O efeito do medicamento é variável, podendo ser
desejado ou adverso (indesejado) dependendo da dose, da concentração e
do local de ação do fármaco nos diferentes compartimentos do organismo,
como pode-se ver na Figura 1.7.
Figura 1.7 | Relação entre a posologia do fármaco e a farmacocinética e farmacodinâmica
Farmacocinética Farmacodinâmica
Exposição do Efeitos
Posologia do desejados e
organismo
fármaco adversos
ao fármaco
37
sanguínea e passa a ser distribuído pelo organismo atingindo uma concen-
tração ideal para a realização da sua ação ao acoplar-se a um receptor
endógeno que é modificado, desencadeado os efeitos.
O estudo da farmacocinética compõe a compreensão dos eventos que
ocorrem quando da modificação dos fármacos, causadas pelo organismo em
que foi administrado. Isso está relacionado inclusive com a forma farmacêu-
tica do medicamento utilizado, que determina a via de administração, pois
a partir desta, o fármaco estará mais ou menos disponível para a absorção e
chegada na corrente sanguínea.
A via de administração do medicamento está relacionada a dois princi-
pais fatores: I) características químicas do fármaco, como a lipo ou hidros-
solubilidade, capacidade de ionização, características ácidas ou básicas, entre
outras e II) objetivos do tratamento proposto, visto que alguns tratamentos
devem ter efeito imediato e outros por um período maior, bem como o local
de ação que muitas vezes é específico para um determinado fármaco. Por isso
para cada esquema terapêutico são definidas as melhores vias de adminis-
tração que podem ser enterais (oral, sublingual, retal), tópicas, parenterais
(intramuscular, subcutânea, intravenosa), entre outras.
Assimile
Hidrossolubilidade e lipossolubilidade de um fármaco se relacionam
com a sua capacidade de ter maior ou menor afinidade com as estru-
turas lipídicas ou aquosas do nosso organismo. Sabemos que água e
óleo não se dissolvem e isso acontece devido as suas características
quanto à afinidade química. A água é uma substância polar (possui polos
ou cargas elétricas positivas e negativas em suas ligações covalentes),
já o óleo é uma substância apolar (não possui polos em sua molécula),
devido a essa diferença química não acontece a dissolução dessas
substâncias. No caso dos medicamentos é a mesma coisa, levando em
consideração que o meio de dissolução serão os tecidos do organismo.
Então, um fármaco mais lipossolúvel ou lipofílico terá maior afinidade
para tecidos com maiores teores lipídicos, já um fármaco mais hidros-
solúvel ou hidrofílico (normalmente na forma ionizada) terá maior afini-
dade com estruturas aquosas ou polares do organismo.
38
longo da sua permanência no organismo e, consequentemente, responsável
por influenciar os efeitos, até sua completa eliminação, como pode ser obser-
vado na Figura 1.8.
Figura 1.8 | Processos farmacocinéticos dos fármacos no organismo
Receptores Reservatórios
livre ligado residuais
livre ligado
Circulação
sistêmica
Metabólitos
(ativos e
Fármaco ligado inativos)
à proteína
Metabolismo
Fonte: Golan et al. (2016, p. 28).
Exemplificando
A via de administração de um fármaco está relacionada com o tempo
de ação deste, visto que o transporte do fármaco saindo do local
de administração até a corrente sanguínea pode conter diferentes
barreiras, podendo ser definida uma curva do fármaco no sangue e seu
pico máximo de concentração diferente para cada caso, como mostra a
Figura 1.9. Vale a pena ressaltar que a via intravenosa (IV) não possui a
etapa de absorção, já que ela será administrada diretamente na circu-
lação sanguínea do organismo.
39
Figura 1.9 | Curvas de biodisponibilidade de acordo com a via de administração
Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Biodisponibilidade#/media/Ficheiro:Curva_biodisponibili�
-
dade.jpg. Acesso em: 12 dez. 2019.
40
Para auxiliar na eliminação do fármaco, o organismo dispõe do processo
de metabolização, que não é exclusivo aos produtos xenobióticos, mas para
toda substância que sofre absorção e precisa ser transformada para uma
determinada função no organismo, como a maioria das macromoléculas
orgânicas, para posteriormente serem eliminadas.
A metabolização ou biotransformação dos fármacos acontece em maior
quantidade no fígado por intermédio de um grupo de enzimas dos hepató-
citos conhecidas como enzimas do citocromo P-450. Essa via de metaboli-
zação é importante no planejamento de um fármaco ou no esquema posoló-
gico divido à redução da biodisponibilidade do fármaco, conhecido como
efeito de primeira passagem quando os fármacos são administrados por via
oral. A metabolização tem como objetivo final tornar o fármaco mais hidros-
solúvel para que a sua eliminação renal possa acontecer de forma mais fácil.
Nesse processo há modificação do fármaco criando várias moléculas inter-
mediárias que podem gerar efeitos positivos e negativos para o organismo,
como indicado na Figura 1.10.
Figura 1.10 | Esquema de resultados da metabolização dos fármacos
Metabólito
ina�vo
Fármaco a�vo
Metabólito
Metabolismo a�vo ou tóxico
do fármaco
Pró-fármaco Metabólito
ina�vo a�vo
41
organismo também faz eliminação por vias biliares (pode ser detectado nas
fezes) e outros órgãos.
Uma das formas de medir a taxa de eliminação do fármaco do organismo
é a medida de depuração ou clearance que consiste na taxa de redução da
concentração de um fármaco que está presente em um organismo compa-
rado à sua concentração plasmática máxima.
metabolismo + excreção
Depuração = Equação 1.1
conc. do fármaco no plasma
42
A célula ou estrutura-alvo do fármaco terá suas atividades bioquí-
micas ou moleculares alteradas no momento em que os receptores forem
ocupados e estes promoverem os sinais de alterações intracelulares. Esses
sinais podem ser causados por alterações iônicas (influxo ou efluxo),
participação de segundos mensageiros, fosforilação de estruturas, entre
outras. A partir dessa transdução do sinal do receptor celular será
desencadeado o efeito farmacológico que pode ser de forma agonista
ao receptor, intensificando a ação daquela via estimulada, ou de forma
antagonista que irá inibir a ação da via estimulada, como pode ser obser-
vado na Figura 1.11.
Figura 1.11 | Esquema de fármacos agonistas e antagonistas
Agonista Antagonista
43
Figura 1.12 | Relação detalhada entre a dose (farmacocinética) e o efeito (farmacodinâmica)
do fármaco
Produto químico
Paciente Ambiente
Farmacocinética
Cadeia
alimentar
Efeitos
terapêuticos
Efeitos Mais
tóxicos organismos
Farmacologia e Toxicologia
toxicologia médicas ambiental
Farmacogenética e farmacogenômica
A farmacologia tem avançado ultimamente em duas áreas com vínculos
na genética: a farmacogenômica e a farmacogenética. Inicialmente, a farma-
cogenética foi inserida como uma área de estudo relacionada à hereditarie-
dade na variação da resposta aos fármacos, trazendo luz a algumas explica-
ções que não se relacionavam com interações medicamentosas e eram classi-
ficadas como idiossincrasias.
Farmacogênomica, o estudo de fatores genéticos que estão por trás da
variação na resposta a fármacos, é um termo moderno para farmacogené-
tica. Farmacogênomica implica um reconhecimento de que mais de uma
variante genética pode contribuir para variação na resposta a fármacos.
Historicamente, o campo começou com observações de reações adversas
graves a fármacos em certos indivíduos, os quais abrigam variantes genéticas
em enzimas metabolizadoras de fármacos.
Posteriormente, a farmacogenômica surgiu como uma vertente da farma-
cogenética que se caracterizou pelo aprimoramento da farmacoterapia,
44
melhorando a efetividade e reduzindo os efeitos adversos a partir do mapea-
mento genético. Isso traz um avanço para os tratamentos com a personali-
zação ou individualização desses.
Exemplificando
Segundo Ingrid F. Metzger e colaboradores (2006), a varfarina é um
anticoagulante amplamente utilizado para a prevenção de eventos
tromboembólicos. Devido à baixa faixa terapêutica e ao risco de
complicações hemorrágicas, a terapia com varfarina é individualizada
por meio do monitoramento do tempo de protrombina normalizado.
Sabe-se que muitos pacientes são extremamente sensíveis aos efeitos
anticoagulantes, mesmo com baixas doses de varfarina, e que esses
efeitos exacerbados podem resultar em episódios de sangramentos.
Dessa forma, a terapia com varfarina tem de ser ajustada devido à
grande variabilidade de resposta dos pacientes a este medicamento
(METZGER et al., 2006).
A varfarina é hidroxilada a um metabólito inativo, inicialmente, por uma
enzima hepática do citocromo P450, a CYP2C9. Há forte evidência de
que a genotipagem para polimorfismos da CYP2C9 antes do início da
terapia com varfarina auxilia o ajuste de dose para pacientes com os
alelos variantes, reduzindo assim as complicações severas associadas a
esta droga (METZGER et al., 2006).
Assimile
As variações enzimáticas ocorrem devido ao polimorfismo genético. As
alterações normais na codificação genética de cada pessoa acontecem
devido ao polimorfismo de nucleotídeo único que pode ser classificado
45
como codificador ou não. Essas alterações resultam nas sequências dos
nucleotídeos formando as cadeias genéticas do DNA.
Farmacologia clínica
Considerando a necessidade de vislumbramos e descrevermos os efeitos
dos fármacos de maneira a se conhecer tantos os aspectos terapêuticos como
também os toxicológicos, antes que o fármaco vá para o mercado, os ensaios
clínicos são a forma mais adequada de se mapear esses efeitos em humanos e
garantir a segurança e a eficácia dos medicamentos.
Para Anelvira de Oliveira Florentino e colaboradores (2019), o desenvol-
vimento de toda pesquisa clínica ou ensaio clínico é caracterizado como um
dos processos de construção do conhecimento com o intuito de descobrir ou
verificar os efeitos clínicos, farmacológicos e/ou outros efeitos farmacodinâ-
micos de um produto (medicamento, instrumento ou equipamento) e/ou
de identificar qualquer evento adverso a estes e, ainda, estudar a absorção,
distribuição, metabolismo e excreção de produtos medicamentosos com o
objetivo de averiguar sua segurança e/ou eficácia.
Segundo Penildo Silva (2010), a conscientização progressiva da neces-
sidade de aperfeiçoamento dos métodos dos ensaios clínicos foi acelerada
pelo encadeamento de uma sequência de fatos historicamente propícios.
Conforme o autor, os principais são:
1. a sedimentação dos conceitos experimentais básicos no âmbito
da terapêutica;
2. a descoberta do prontosil, precursor da sulfanilamida, em 1934,
marcando o início de uma era de pesquisa químico-farmacêutica
agressiva visando ao desenvolvimento de potentes fármacos para a
cobertura de hiatos terapêuticos essenciais e, daí, através dos monopó-
lios, assegurar altíssimos retornos financeiros para a indústria;
3. a consequente “explosão das drogas” (Modell), pela adoção da política
industrial, acontecida nos países desenvolvidos durante e após a
Segunda Guerra Mundial, quando mais 7.000 novas especialidades
46
farmacêuticas foram introduzidas no arsenal terapêutico entre 1948
e 1963;
4. a modificação, em 1938, do Food, Drugs and Cosmetics Act ameri-
cano, após o acidente ocorrido com o xarope de sulfanilamida devido
ao excipiente nefrotóxico, o dietilenoglicol, ou seja, a introdução do
NDA (New Drug Application) determinando a exigência, pelo Food
and Drug Administration (FDA), de demonstração científica de
segurança dos fármacos candidatos à liberação para uso;
5. a adoção, pelo FDA, de uma legislação ainda mais rígida, em seguida
à Harry-Kefauver Amendment de 1962, que, após o acidente da
talidomida, passou a exigir o IND (Investigational New Drug) com
a utilização formal das técnicas dos ensaios clínicos duplo-cegos,
“randomizados” e controlados como forma de comprovar não só a
segurança, mas também a eficácia dos fármacos candidatos à comer-
cialização. Em seguida, a Declaração de Helsínqui, de 1964, veio a
constituir muito no avanço das relações éticas na pesquisa clínica no
contexto da farmacologia.
Nesta seção discutimos muitos aspectos ligados à farmacologia e suas
subdivisões principais, considerando o contexto de como estas subáreas
podem contribuir para o entendimento e a evolução da ciência dos fármacos
que está constante desenvolvimento.
47
mecanismos de ação deles. Assim, você poderia relacionar as principais
modificações que ocorrem no momento em que se toma um medicamento,
pois o organismo provoca modificações nesse medicamento, dissolvendo,
absorvendo e distribuindo o fármaco (aspectos da farmacocinética) que
levam ao seu local de ação. Além disso, é necessário estabelecer uma
concentração mínima necessária para o seu efeito. A paciente entendera
que essas modificações no fármaco são causadas pelo organismo e que são
necessárias para provocar o efeito desejado.
Ele poderia explicar também que quando o fármaco chega até o local
de ação, as estruturas receptoras (proteínas) acoplariam essas moléculas que
iriam desencadear as respostas biológicas. Lembrando que essas respostas já
existem, elas apenas são acentuadas ou inibidas pelos fármacos e não criadas.
Nesse momento, ele estaria relacionando os fatores farmacodinâmicos na
ação do medicamento tomado.
O aluno deveria deixar claro, ainda, que um medicamento não faz efeito
para sempre e por isso se lembraria dos efeitos de metabolização e elimi-
nação dos fármacos que provocam a redução da concentração da substância
no organismo e que isso reduziria o seu efeito. Ele poderia listar as principais
enzimas que metabolizam o fármaco para que se torne mais hidrossolúvel e
possa ser eliminado, principalmente por via renal.
Dessa forma, a cliente entenderia que o efeito provocado por um medica-
mento no organismo está relacionado a diversos fatores e que esses deveriam
atender às ligações do fármaco em seus receptores e os efeitos que poderiam
causar como agonistas ou antagonistas. Deveria também enfatizar que os
fármacos agem de maneira diferente e de acordo com os receptores que os
mesmos podem se ligar, tendo efeitos diferentes, dependendo do organismo
– cada indivíduo expressa diferenças genéticas que podem afetar o compor-
tamento dos fármacos no organismo.
Além das alterações que ocorrem quando tomamos um medicamento, o
aluno poderia mostrar as áreas de estudo que se relacionam com a farmaco-
logia. Tanto a farmacocinética como a farmacodinâmica já seriam identifi-
cadas por ele em razão da ação do fármaco no organismo. O próximo passo
seria reconhecer a farmacologia, mais individual e específica para cada
paciente, com base na qual ele verificaria a farmacogenética e a farmacoge-
nômica, as quais relacionam os tratamentos farmacológicos com as variações
genéticas de cada envolvido, sendo também campos passíveis de apresen-
tação na situação proposta.
Essas seriam ótimas conclusões sobre o efeito dos medicamentos no
organismo e que resultariam no efeito desejado, bem como mostrariam as
48
principais áreas de estudo da farmacologia. Por meio do que discutimos, você
ainda pode apontar uma nova resolução para esta situação, vá em frente!
Avançando na prática
Um efeito indesejado
Resolução da situação-problema
Uma forma de atender essa demanda seria explicando que após a consulta
nos sites de referência para a checagem das interações, foi constatado que
o uso concomitante de dois anticoagulantes, varfarina e enoxaparina, pode
causar um risco muito elevado de sangramento no paciente, mas se torna
necessário pois a varfarina causa uma saturação nas proteínas plasmáticas
(efeito de distribuição farmacocinética) e praticamente não provoca o seu
49
efeito esperado nos cinco primeiros dias de tratamento, por isso a paciente
manteve-se internada para que o monitoramento dos fatores de coagulação
pudessem ser estabilizados.
Outra constatação foi a interação entre a carbamazepina e a varfarina.
Sabe-se que a carbamazepina pode levar à diminuição do efeito anticoagu-
lante da varfarina, provavelmente devido à indução das enzimas microsso-
mais hepáticas (enzimas do citocromo P-450) pela carbamazepina e também
por um possível aumento da depuração metabólica (eliminação hepática) do
anticoagulante. Com isso, a dose da varfarina foi dobrada e após dois dias
com a nova dose a paciente respondeu à anticoagulação desejada.
Perceba que, nesse caso, também existe um risco à paciente, caso ela
venha a alterar a dose da carbamazepina se ainda estiver usando a mesma
dose de varfarina. Uma redução na dose da carbamazepina pode aumentar
o risco de sangramento com a redução brusca dos fatores de coagulação da
paciente, assim como o aumento na dose da carbamazepina pode reduzir
ainda mais os efeitos anticoagulantes da varfarina, deixando a paciente com
um risco aumentado de uma trombose.
O cuidado integral de um paciente internado ou ambulatorial deve ser
responsabilidade de todos e por isso a área de farmacologia clínica tem os
seus objetivos voltados para o uso racional dos medicamentos e a atuação
junto ao paciente e à equipe de saúde, que formam uma outra área de estudo
da farmacologia que é a farmacoterapia com os cuidados necessários para
oferecer o melhor tratamento farmacológico ao paciente.
50
Concentração sérica média ug/ml
6
Formulação A
5
4
Formulação B
3
2 CME
0
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20
Tempo após administração (horas)
Fonte: Bernoulli Resolve (2006, [s.p.]).
51
III. Para um fármaco ser considerado eficaz, ele deve apresentar concen-
tração necessária para produzir 50% de sua resposta máxima.
IV. O efeito farmacológico provocado por um fármaco quando se liga a
um receptor celular é denominado de afinidade.
É correto o que se afirma apenas em:
a. I e II.
b. II e IV.
c. II e III.
d. III e IV.
e. I, II e IV.
52
Referências
BRASIL. Farmacopeia Brasileira. 5. ed. Brasília: ANVISA, 2010. Disponível em: http://portal.
anvisa.gov.br/documents/33832/260079/5a+edição+-+Volume+1/4c530f86-fe83-4c4a-b-
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E-book. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788580555974/
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