Você está na página 1de 15

A ÉTICA DE UM PSICOPEDAGÓGO NA INSTITUIÇÃO

António Paulino

1. Resumo
O presente artigo tem por objectivo conhecer e apresentar a relevância da ética do Psicopedagogo
no assessoramento dos diversos aspectos do processo de ensino aprendizagem. O psicopedagogo
contribui no esclarecimento de dificuldades de aprendizagem que não têm como causa apenas
deficiências do aluno, mas que são consequências de problemas escolares. Seu papel é analisar e
assinalar os factores que favorecem, intervêm ou prejudicam uma boa aprendizagem em uma
instituição. O Psicopedagogo na instituição assumirá o compromisso com a transformação da
realidade escolar, à medida que se propõe a fazer uma reorientação do processo de ensino-
aprendizagem reflectindo os métodos educativos e numa atitude investigativa descobrir as causas
dos problemas de aprendizagem que se apresenta na instituição e que se depara em sala de aula.
Seu papel é analisar e assinalar os factores que favorecem, intervêm ou prejudicam uma boa
aprendizagem em uma instituição. Entende-se que são vários os factores que influenciam a
aprendizagem, e o reconhecimento destes são vantajosos para que as intervenções alcancem seus
objectivos, propondo e auxiliando no desenvolvimento de projectos favoráveis sobre as
mudanças educacionais, visando evitar processos que conduzam a dificuldades da construção do
conhecimento. Na instituição educacional o psicopedagogo observa e analisa os diferentes
sectores em todos os aspectos, como por exemplo, a dinâmica das respectivas rotinas, a estrutura
organizacional, o procedimento da distribuição do trabalho, os relacionamentos, as questões
metodológicas do ensino, etc., desenvolvendo uma abordagem reflexiva e crítica junto à equipe
pedagógica e docente, com objectivo de contribuir para a redução do fracasso escolar. Observa-se
atualmente que as instituições que pretendem oferecer qualidade de ensino, preocupam-se em
criar espaços e acções pedagógicas tanto quanto desenvolver proposta de formação continuada à
equipe docente.

Palavra chave: ética; um psicopedagogo; uma instituição; e um carácter e a moral.

Summary
The aim of this article is to know and present the relevance of the Psychopedagogist's ethics in
advising on the various aspects of the teaching-learning process. The psychopedagogist
contributes to clarifying learning difficulties that are not only caused by the student's deficiencies,
but which are consequences of school problems. Its role is to analyze and point out the factors
that favor, intervene or hinder good learning in an institution. The Psychopedagogist in the
institution will assume the commitment with the transformation of the school reality, as it
proposes to make a reorientation of the teaching-learning process, reflecting the educational
methods and in an investigative attitude to discover the causes of the learning problems that
present itself in the institution and that comes across in the classroom. Its role is to analyze and
point out the factors that favor, intervene or hinder good learning in an institution. It is
understood that there are several factors that influence learning, and the recognition of these are
advantageous for interventions to reach their goals, proposing and assisting in the development of
1
favorable projects on educational changes, aiming to avoid processes that lead to difficulties in
the construction of the knowledge. In the educational institution, the psychopedagogue observes
and analyzes the different sectors in all aspects, such as, for example, the dynamics of the
respective routines, the organizational structure, the procedure of work distribution, relationships,
the methodological issues of teaching, etc., developing a reflective and critical approach with the
pedagogical and teaching team, with the aim of contributing to the reduction of school failure. It
is currently observed that institutions that intend to offer quality teaching are concerned with
creating spaces and pedagogical actions as well as developing a proposal for continuing
education for the teaching team.

Keyword: ethics; a psychopedagogue; an institution; and a character and morals.

2. Introdução
Diante do conjunto de problemas que a educação vivencia actualmente, a valorização da ética no
currículo escolar seria um dos parâmetros mais considerados para o equilíbrio social. A sua
presença torna-se necessária tendo em vista a imprescindibilidade de sua orientação para a nova
realidade na vida social e por saber que ela encontra-se sempre presente nas discussões relativas
ao comportamento humano.
A pesar de serem distintas a ética e a moral são indissociáveis, pois possuem significados comuns
e apresentam-se inseridas na mesma pasta dos valores humanos. É um dos grandes pilares de
preocupação, reflexão e discussão entre indivíduos para o discernimento entre o certo ou o errado
e que deve sinalizar o conciliamento dos interesses tanto individuais quanto sociais.

Nenhuma sociedade ganharia progressão ascendente se não fosse levado em conta um conjunto
de princípios ou normas que delineassem o comportamento socialmente ajustado como ético. No
entanto, o trabalho ético é aquele que globaliza a sua prática quotidiana com reflexões que
proporcionem o equilíbrio do pensamento e a prática de acções norteadoras. A ética na prática
pedagógica, por exemplo, tende a valorizar os conhecimentos dos educandos e harmonizar a
convivência entre todos que ali encontram-se inseridos.

Por se considerar a ética um conjunto de valores que norteiam o comportamento humano, em


relação aos outros, na mesma sociedade em que vive, esta deve ser instituída nos
estabelecimentos de ensino com o objectivo de formalizar o bem – estar social. Raras são as
vezes em que a ética tem sido discutida de maneira explícita no currículo pedagógico.

2
A ética é a teoria ou a ciência do comportamento moral dos homens em sociedade, ou seja, é a
ciência de uma forma específica de comportamento humano, enquanto conhecimento científico, a
ética deve aspirar a racionalidade e a objectividade mais completas e, ao mesmo tempo, deve
proporcionar conhecimentos sistemáticos, metódicos e, no limite do possível, comprováveis.
(VASQUEZ, 2003, p. 23).

Portanto, apregoar a ética no espaço pedagógico é, ao mesmo tempo, oferecer desafios no


segmento do ensino-aprendizagem em busca de supostas atitudes críticas. Isso proporcionaria
condições para o avanço do desenvolvimento social e autonomia dos educandos além de
oferecer-lhes capacidades de posicionamento mediante acções colectivas realizadas.

Comunga-se com MORETTO, 2001, quando diz: “A acção do educador deve pautar-se na ética
profissional vista como o compromisso de o homem respeitar os seus semelhantes, no trato da
profissão que exerce.” Com essa afirmação, conclui-se que a tarefa pedagógica exige ética, uma
vez que a mesma representa um compromisso político-social, relações recíprocas e respeito ao
conjunto de normas e regras sociais.

3. ÉTICA E MORAL NO AMBIENTE ESCOLAR

Tanto a ética quanto a moral são assuntos que devem ser trabalhados no ambiente escolar com o
intuito de nortear o comportamento dos indivíduos na sociedade em que vivem. Por ser a escola a
verdadeira formadora de cidadãos, cabe-lhe a tarefa de orientar o comportamento ético e
moralista dos seus educandos. A partir do momento em que o indivíduo não adulterar
documentos ou produtos para obter vantagens, tratar as pessoas com respeito, não falar palavrões
etc., estaria cumprindo com as normas da ética e da moral adquirida na instituição educacional.

Os temas “ética e moral” são normas que necessariamente deveriam estar inclusas nos Projectos
Políticos – Pedagógicos (PPPs) e nos Regimentos Escolares (RE) para que fossem disciplinados
ao longo dos estudos, sentenciando assim, o fim das desigualdades sociais. Segundo os
Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), a questão central da moral e da ética é desenvolver
uma visão crítica nos educandos, de como proceder diante dos outros.

3
O cumprimento da ética torna-se, às vezes, complexo diante de um dilema. Esses desafios
deveriam ser apresentados aos alunos para discussões a respeito do cumprimento ético no
contexto histórico social. “Uma escola ética é aquela que orienta os seus educandos a se
comportarem com honestidade, rectidão e responsabilidade para a efetivação dos princípios
morais na sociedade em que eles encontram-se inseridos.”

Admite-se que a ética esteja consagrada no bojo da família, da escola e da comunidade por ser a
base de uma sociedade mais justa e igualitária e que, portanto, carece de um olhar humano mais
aprofundado, pois ela é uma forma racional humana de viver em harmonia com outros humanos.
Nossos educandos devem ter em mente a importância do carácter democrático da sociedade,
levando em consideração a promoção da liberdade, do respeito e da tolerância para vivenciar a
diversidade que lhes rodeia. Nesse contexto, cabe a escola orientar e viabilizar meios que possam,
de fato, tomar parte nessa construção e tornarem-se livres para pensarem e tomarem decisões.

A reflexão ética traz à luz a discussão sobre a liberdade de escolha. A ética interroga sobre a
legitimidade de práticas e valores consagrados pela tradição e pelo costume. Abrange tanto a
crítica das relações entre os grupos, dos grupos nas instituições e perante elas, quanto a dimensão
das acções pessoais.” (PCNs, p. 29-30. 2001).

Todavia, a ética norteia os princípios morais e os valores necessários aos indivíduos em suas
acções com outros membros da sociedade da qual fazem parte. Com base nos Parâmetros
Curriculares Nacionais – PCNs, uma reflexão realizada pela ética reflectirá na transformação da
moral. Não se poderia fazer cidadania se fosse deixado de lado a ética, e o lócus propício para o
seu aprendizado e o seu exercício, é a escola. Cabe a escola trabalhá-la  no seu âmbito, ensinando
e exigindo a sua prática, propiciando assim um resultado qualitativo.

Na prática pedagógica, é essencial que se considere as relações entre produção escolar e as


oportunidades reais que a sociedade dá às diversas classes sociais. A escola e a sociedade não
podem ser vistas isoladamente, pois o sistema de ensino (público ou privado) reflecte a sociedade

4
na qual está inserido. Observa-se que alunos de baixa renda ainda são estigmatizados, na questão
do aprendizado, como deficientes.
Segundo Gasparian (1997, p:24), ̋ a escola caracteriza-se como um espaço concebido para
realização do processo de ensino/aprendizagem do conhecimento historicamente construído;
lugar no qual, muitas vezes, os desequilíbrios não são compreendidos ̋ .

Ao chegar numa instituição escolar, muitos acreditam que o psicopedagogo vai solucionar todos
os problemas existentes (dificuldade de aprendizagem, evasão, indisciplina, desestimulo docente,
entre outros). No entanto, o psicopedagogo não vem com as respostas prontas. O que vai
acontecer será um trabalho de equipe, em parceria com todos que fazem a escola (gestores,
equipe técnica, professores, alunos, pessoal de apoio, família). O psicopedagogo entra na escola
para ver o "todo" da instituição.

Barbosa afirma que "a escola caracteriza-se como um espaço concebido para realização do


processo de ensino/aprendizagem do conhecimento historicamente construído; lugar no qual,
muitas vezes, os desequilíbrios não são compreendidos”. A aprendizagem escolar, durante várias
décadas, foi vista como algo distante do prazer e entendida como um mal necessário. Então, o
grande desafio das escolas, nos dias de hoje, é despertar o desejo dos alunos para que possam
sentir prazer no aprender.
E essa reprodução de valores impostos pela sociedade está sempre sendo feita com as orientações
do que é certo ou errado. Actualmente, é comum assistir-se a noticiários de comportamentos
reprováveis pela sociedade.

4. A ÉTICA NO AMBIENTE PROFISSIONAL

Na área profissional, a ética de um psicopedagogo tem o objectivo de formar uma consciência


livre e conduta compatível com os preceitos estatutários. Algumas qualidades como honestidade,
competência, perseverança, prudência, respeito, imparcialidade entre outras, são virtudes
essenciais para a eficiência do trabalho profissional de um psicopedagogo. É preciso que se tenha
a responsabilidade individual para a realização de certas tarefas. As vezes, seria melhor o

5
recusamento e a justificativa da inviabilidade de um trabalho que não pudesse ser executado, do
que uma vez aceito, deixasse-o à desejar.

A ética de um profissional da educação exige a honestidade para o zelo da prática do respeito e


consideração ao direito do outro. O indivíduo comprometido com a ética não se deixa corromper,
em nenhuma circunstância, mesmo que conviva com problemas ao extremo. Na área de um
psicopedagogo, a prudência é imprescindível para que o sujeito analise as situações,
minuciosamente, e com maior profundidade evitando, assim, atropelamentos e julgamentos
conflituosos ou equivocados. Contudo, praticar a ética é, ao mesmo tempo, praticar a
imparcialidade e a justiça, pois a primeira assume as qualidades e cumprimento dos deveres e a
segunda depende, essencialmente, da primeira.
A ética é o pivô que dá sustentação e equilíbrio às tarefas profissionais no dia-a-dia e que,
portanto, deveria estar presente em todos os sectores da sociedade. Para ser ético, o
profissionalismo exige a tomada de consciência dos actos, o cumprimento das normas e o
respeito mútuo.

Admite-se que a ética apresenta grande influência na vida profissional de qualquer indivíduo, em
meio a sociedade na qual ele opera a sua profissão. A ética é um resquício do que se aprende na
família, responsável pela construção dos alicerces e definição de virtudes e caracteres do homem,
ensinando como se comportar diante da sociedade. A liberdade do homem garante acções dentro
dos limites exigidos pela ética e parte do respeito aos direitos dos outros.

Um psicopedagogo que não cultiva a ética, perde a confiança e a credibilidade no espaço social
em que desenvolve as suas actividades. Portanto, deixa de ser um mero e autêntico profissional
para ser um suicida da profissão, contribuindo para o descrédito irreversível.
Segundo Cortella, a ética é um conjunto de valores e princípios que usamos para responder a três
grandes questões da vida: quero? devo? posso? Pois nem tudo que eu quero eu posso; nem tudo
que eu posso eu devo; e nem tudo que eu devo eu quero. Você tem paz de espírito quando aquilo
que você quer é ao mesmo tempo o que você pode e o que você deve.

6
Todo psicopedagogo, ao concluir a sua formação, faz um juramento de honradez a sua profissão,
que sinaliza a sua adesão, o seu comprometimento e a sua responsabilidade com a categoria. E ao
cumprir com esse juramento o psicopedagogo estaria efectivando os seus princípios éticos dentro
de sua área.

Enfim, o psicopedagogo ético é aquele que procura oferecer o melhor dos seus conhecimentos,
como o médico que se preocupa com as suturas internas antes de realizar as externas, o professor
que se preocupa com estratégias que propiciem ao aluno a pensar e resolver desafios, o
engenheiro que demonstra certa preocupação com o melhor material para a construção da
passarela, além de outras acções que objectivam a consumação de um trabalho seguro e de
credibilidade. De modo que a ética efectiva acções e consolida metas que podem comprometer ou
favorecer o sucesso desses profissionais.

De acordo com o primeiro princípio, o psicopedagogo deve trabalhar para possibilitar a todas as
crianças o direito de aprender. No segundo princípio a leitura e a escrita são ferramentas
fundamentais para o acesso ao saber acumulado representado pela cultura, o psicopedagogo
deverá contribuir para que o educando supere o problema de aprendizagem e consiga ter acesso a
esse saber.  Com o terceiro princípio o psicopedagogo deve respeitar a individualidade do ser
humano e ajudá-lo na superação de suas dificuldades.
O quarto princípio levanta questões de fronteiras com outras áreas, assim, o psicopedagogo deve
requerer a plena preparação e utilização de recursos disponíveis no acervo científico para uma
actuação competente e responsável. O quinto princípio acentua a necessidade de o psicopedagogo
reconhecer o papel da família e actuar orientando-a para fazê-la analisar e compreender factores
de sua dinâmica que interferem na aprendizagem do sujeito. Já o sexto princípio destaca a
necessidade de se reconhecer a escola como espaço para transmissão de cultural, assim como sua
responsabilidade, na maioria das vezes, pelos problemas de aprendizagem. Observa-se que estes
princípios contribuem para a postura ética do psicopedagogo, embora a psicopedagogia ainda não
seja uma profissão e sim uma prestação de serviços.

7
O código de ética da Psicopedagogia comporta uma aprendizagem especial na área de seu
conhecimento sistemático e orgânico, sendo este instrumento consequência de organizações,
actividades e obrigações, inclusive estabelece que

A terceira condição para que uma actividade se torne profissão é que ela deve dispor de
organizações adequadas com actividades, obrigações e comportar responsabilidades com
consciência de grupo. A própria Associação Brasileira de Psicopedagogia contribui para que esta
condição seja preenchida.
Levando-se em conta as três condições estabelecidas por CAMARGO (1999) para que uma
actividade seja considerada profissão, pode-se concluir que, neste sentido, a Psicopedagogia, de
fato, é uma profissão. Inclusive, fazendo com que a Psicopedagogia está trabalhando para que ela
venha a ser, oficialmente, uma profissão.

Contudo, a tentativa de reconhecer a psicopedagogia como uma profissão regularizada vem


trazendo à tona o questionamento do Conselho Regional de Psicologia (CRP), pois este órgão
reclama para os psicólogos o direito exclusivo de atender os clientes que apresentam problemas
de aprendizagem. Destarte, é essencial o Psicopedagogo conhecer o código de ética e a sua
regulamentação, pois a mesma tem o propósito de estabelecer parâmetros e orientar os
profissionais da Psicopedagogia quanto aos princípios, normas e valores ponderados à boa
conduta profissional.
A ética situa-se no campo dos princípios morais e dos valores que orientam os homens em suas
acções, tomando como referência outros indivíduos de determinada sociedade. Sendo um produto
histórico social, a ética ilumina a consciência humana à medida que “ sustenta e dirige as acções
do homem, norteando a conduta individual e social, e define o que é a virtude, o bem ou o mal, o
certo ou o errado, permitindo ou proibindo, para cada cultura e sociedade.” (SOUZA, 1995, p.
187).

É percebível que a ética procura equilibrar a conduta do cidadão, do profissional e,


principalmente, do psicopedagogo, suscitando nesses indivíduos uma profunda reflexão,
incitando-os ao cumprimento da responsabilidade e a realização de previsões das supostas
consequências resultantes de suas decisões.

8
Considera-se que além da família, a escola é o espaço extremamente propício para a formação
ética do cidadão, tendo em vista, que ela participa da formação dos seus educandos, explicitando
regras e valores através dos professores, do material didáctico pedagógico, do comportamento e
da hibridização de costumes e saberes dos alunos. A ética é, pois, um objecto de reflexão que
contribui com o convívio da pluralidade em todos os sectores públicos, inclusive nas instituições
educacionais, principais formadoras da cidadania.

5. A ÉTICA E A PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO

Quando se fala de ética, refere-se a questão exclusivamente humana por que ela pressupõe,
escolha e decisão. Ética tem a ver com liberdade, liberdade reflexiva e responsável. Ao tomar
uma decisão, o indivíduo deve usar do conhecimento que possui porque o conhecimento tem a
ver com a ética. Agir sem pensar nas consequências, é agir com máscaras cínicas e nessa hora o
perigo se avizinha.
O indivíduo que tem a ousadia de buscar vantagens sobre o prejuízo de terceiros, aniquila os seus
conhecimentos e burla a sua ética pessoal. É preciso que se tenha o cuidado para o zelo da
integridade, mantendo-se inteiro, transparente e verdadeiro. Zelar pela ética é, ao mesmo tempo,
zelar pela morada do humano pois ela oferece abrigo, garante identidade e sustenta a verdadeira
marca do ser social.

Sendo a ética a habitação humana, questiona-se: Como encontra-se essa morada? Abriga ou
desabriga? Inclui ou exclui? O vínculo da ética à produção do conhecimento relaciona-se a
capacidade de descartar a ideia de desigualdade dentro da mesma sociedade. A percepção e a
reflexão são os melhores exercícios da ética. François já dizia: “Conheço muitos que não
puderam, quando deviam, porque não quiseram, quando podiam.”

Para que haja desenvolvimento educacional, para que se construa o autêntico conhecimento e
para que se efective o carácter do indivíduo em meio as pressões hodiernas resultantes do modo
de viver, exigido pela sociedade, os valores éticos e morais são imprescindíveis. Somente com
acções que direccionem esses valor à produção do conhecimento é que se propiciaria consumação
da verdadeira cidadania. O comportamento do homem na sociedade depende da reflexão exigida
pela ética sobre os sistemas morais produzidos por ele no dia-a-dia.
9
Exercer a ética é algo que requer certo esforço pois tem a ver com a prática da capacidade e da
responsabilidade da pessoa. O conhecimento construído com ética torna-se muito mais
consistente e eficaz além da consolidação de uma sociedade mais justa.
Se a ética é a ciência normativa que conduz ideais promissores dentro da comunidade, uma vez
que o ser humano é um animal social, seria inútil compreendê-la como ciência para indivíduos
isolados. Na verdade tudo o que o indivíduo produz ou realiza, reflecte consequências que podem
atingir outras pessoas. No contexto social, da actualidade, é comum observar alguém querendo
sobressair-se melhor em relação ao outro, sendo mais esperto, apegando-se ao jeitinho Angolano
e a muitas outras práticas indecentes e reprovadas pela cidadania. Essas atitudes ou maus
costumes são características de uma sociedade que, pela ausência do respeito, do civismo e da
consideração colectiva macula a verdadeira cidadania.
A Constituição da república, garantem: “A educação, dever da família e do Estado, inspirada nos
princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno
desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para
o trabalho”. Contudo, é a actividade ética que materializa tanto a cidadania quanto a qualificação
do indivíduo pois são construídas e reflectidas pelas suas práticas e acções diárias.

Os princípios éticos nascem de um sentimento social com a apregoação do respeito, da


honestidade e da solidariedade aos seus semelhantes. O progresso humano se dá a partir da
valorização do trabalho, da fraternidade e principalmente da liberdade. Dessa forma a ética vai
interferindo, orientando e conduzindo o homem ao cumprimento de sua função social e,
consequentemente, de sua cidadania. O comportamento do indivíduo em sociedade deve ser
ajustado buscando sempre um desempenho virtuoso em prol do bem comum.

Com as mudanças que estão ocorrendo na sociedade, como a banalização da informação, a


revolução digital, da nova política, da nova economia e dos desequilíbrios familiares, torna-se
necessário que o professor faça dos conteúdos habituais de suas disciplinas instrumentos, que
além de qualificarem para a vida, estimulem capacidade e competências, com o intuito de
estimular todas as inteligências de seus alunos (ANTUNES, 2002, p.47).

10
O professor deve se reconstruir, criando no aluno um ser crítico, auxiliando na formação de sua
personalidade. Valorizando a luta pelo seu espaço na sociedade, derrubando barreiras e vencendo
obstáculos que a vida possa lhe proporcionar. Se os docentes têm a intenção de estimular em seus
alunos o amor pelo saber e o respeito pela diversidade e criação, devem buscar o contraste crítico
e reflexivo (GÓMEZ, 2001, p.304).

Segundo Pombo (2000, p.80), o educador deveria ter por objetivo preparar adultos livres de
traumas psicológicos, pessoas que não estivessem intencionadas de tirar dos outros a felicidade
que delas próprias foi retirada.

A interacção professor aluno vem se tornando muito mais dinâmica nos últimos anos. O professor
tem deixado de ser um mero transmissor de conhecimentos para ser mais um orientador, um
estimulador de todos os processos que levam os alunos a construírem seus conceitos, valores,
atitudes e habilidades que lhes permitam crescer como pessoas, como cidadãos e futuros
trabalhadores, desempenhando uma influência construtiva.
A Educação deve não apenas formar trabalhadores para as exigências do mercado de trabalho,
mas cidadãos críticos capazes de transformar um mercado de exploração em um mercado que
valorize uma mercadoria cada vez mais importante: o conhecimento. Dentro deste contexto, é
imprescindível proporcionar aos educandos uma compreensão racional do mundo que a cerca,
levando-os a um posicionamento de vida isento de preconceitos ou superstições e a uma postura
mais adequada em relação a sua participação como indivíduo na sociedade em que vive e do
ambiente que ocupa.

O sentido do ensino-aprendizagem dependerá do entusiasmo do educador, da fantasia, de se


educar com alegria sem pensar nos problemas em que estão envolvidos sabendo separar a sala de
aula do que se passa em sua vida particular. O que torna necessário uma reflexão por parte dos
educadores da importância da sua actuação profissional e da necessidade de se tomar
conhecimento de si mesmo.

Dessa forma, Antunes (2002, p.109) complementa afirmando que é essencial todo educador
desenvolver a consciência de sua profissão e o sentido de solidariedade e justiça que a mesma
11
expressa. Deixando claro o lado humano e cidadão de cada professor, susceptível de crítica e
ávido de aprimoramento profissional, envolvido na consciência de um construtor da sociedade.
Partindo deste princípio pode-se considerar o docente como principal agente no processo de
ensino, tendo um papel activo na formação de seus alunos, auxiliando e incitando a reconstrução
dos esquemas de pensamento, sentimento e comportamento de cada indivíduo.

Esta concepção inclui tanto despertar a activa participação intelectual do próprio educando como
facilitar o contraste com as formulações alternativas das representações críticas da cultura
intelectual (GÓMEZ, 2001, p.300).

Os professores estão muitos presentes na vida de milhares de famílias, que lhes conferem a
enorme responsabilidade pela educação de seus filhos, sabendo que, não faltará a sua atribuição e
competência.

A   participação   dos  pais  na  vida  escolar  de  seus  filhos  é  condição  indispensável para que 
a  criança  se  sinta  amada  e motivada a obter avanços em sua aprendizagem.  Sendo assim a
família e a escola   precisam ser parceiras para que os alunos possam realmente ter um maior
aproveitamento na aprendizagem, não basta apenas à escola se  preocupar  na  aprendizagem, e 
os  pais  não   se preocuparem. O conhecimento e o aprendizado não são adquiridos somente na
escola, mas também são construídos pela criança em contacto com o social, dentro da família e
no mundo que a cerca. A família é o primeiro vínculo da criança e é responsável por grande parte
da sua educação e da sua aprendizagem.

O que a família pensa, seus anseios, seus objectivos e expectativas com relação ao
desenvolvimento de seu filho também são de grande importância para o psicopedagogo chegar a
um diagnóstico. Considerando o exposto, cabe ao psicopedagogo intervir junto à família das
crianças que apresentam dificuldades na aprendizagem, por meio, por exemplo, de uma entrevista
e de uma anaminese com essa família para tomar conhecimento de informações sobre a sua vida
orgânica, cognitiva, emocional e social. Nessa perspectiva, o psicopedagogo não é um mero
“resolvedor” de problemas, mas um profissional que dentro de seus limites e de sua
especificidade, pode ajudar a escola a remover obstáculos que se interpõem entre os sujeitos e o
12
conhecimento e a formar cidadãos por meio da construção de práticas educativas que favoreçam
processos de humanização e reapropriação da capacidade de pensamento crítico.

As acções realizadas pelo psicopedagogo junto com o sujeito com


transtorno procura promover a reelaboração do processo de
aprendizagem, assim sendo essa intervenção propicia uma mudança na
acção do sujeito em relação à aprendizagem. (Serrat, 2002, p.56)

Dessa forma, acredita-se que o trabalho da Psicopedagogia quando encontra consonância e


parcerias na escola, pode promover efeitos muito positivos para a minimização das dificuldades
que emergem no contexto escolar, apesar de representar um constante desafio, pois requer o
envolvimento de toda a equipe, e um desejo permanente de mudanças, para que as
transformações, de fato, ocorram.
O progresso traz muitas alterações à sociedade, uma delas é o desaparecimento de algumas
profissões e o surgimento de outras.

BARONE (1987) esclarece que o que caracteriza o aparecimento de qualquer profissão é a


existência de pessoas exercendo essa função antes de sua formalização. Ressalta ainda alguns
motivos para o aparecimento de toda profissão, sendo eles a demanda social, os recursos para
atender à demanda e pessoas que organizam e recriam os recursos disponíveis para a demanda.
No caso da psicopedagogia, a demanda é a existência de crianças normalmente desenvolvidas
que não conseguem sucesso na escola, fato que justifica a prática psicopedagógica.

Bossa (2000), acredita que o psicopedagogo sabe que sua profissão consiste na transmissão de
conhecimentos, não sendo uma actividade neutra para ambas as partes (o sujeito que necessita de
ajuda e o psicopedagogo), pois a relação de afecto que se estabelece entre o psicopedagogo e o
aprendente é necessária ao desenvolvimento da relação educativa. Assim, considera a autora que
o papel do psicopedagogo é levar a criança a integrar-se novamente à vida normal, respeitando
sua individualidade.

13
6. CONCLUSÃO

Após reflectir-se sobre o tema, percebeu-se a grandeza de sua importância e o imensurável valor
de sua conduta inserido nas acções humanas no dia-a-dia. Conduzir uma missão ou exercer uma
actividade que a sua profissão lhe propiciou sem, no entanto--o, considerar os princípios éticos e
morais de sua conduta, seria mera contradição de um juramento que deixou de cumprir com as
suas normas.
Torna-se necessário que se reflicta no sentido de que novas acções sejam realizadas com o intuito
de tornar as pessoas mais sensíveis, mais responsáveis e mais conscientes das actividades que
praticam em qualquer espaço da vida. O individualismo e a ganância pelo poder vem quebrando
valores, burlando regras e eliminando o verdadeiro sentido da ética e da moral diante da
sociedade.
A ética na educação torna-se concebida a partir do momento em que os valores forem
considerados e o exercício profissional um propiciador de acções humanizadoras. A sociedade
vem exigindo dos indivíduos uma postura aceitável com acções e responsabilidades que possam,
de fato, oferecer respostas que sinalizem a mais perfeita harmonia para o bem-estar social. E,
para que isso se concretize, a ética deve estar impregnada nas acções realizadas no dia-a-dia, nas
mais diversas áreas e nas mais distintas profissões.
Certas classes sociais e políticas relegam a ética, quebrando valores e burlando princípios em prol
do individualismo, ignorando-a e desnorteando-a do seu sentido. No entanto, é preciso que se
discuta conceitos e dialogue as discrepâncias existentes entre sujeitos e sociedades, com o intuito
de abolir-se as práticas errôneas do cenário que vivencia. O sentido da solidariedade, da
consideração e do respeito parece escassearem, tendo em vista que a dedicação absoluta passou a
ser exclusiva do próprio “eu”.

14
BIBLIOGRAFIA

Barbosa LMS. (2001); A Psicopedagogia no âmbito da instituição escolar. Curitiba: Expoente;


Bossa, Nadia A. ( 2007) A Psicopedagogia no Brasil: contribuições a partir da prática
Chauí, Marilena. (2002); Convite à Filosofia. 13ª ed. São Paulo: ática.
Cortella, Mário Sérgio (2010); Inquietações propositivas sobre gestão, liderança e ética. 9ª ed.
GASPARIAN, Maria Cecília Castro (1997); Contribuições do modelo relacional sistêmico
para a psicopedagogia institucional, -São Paulo: Lemos Editorial.
Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDBEN / Lei nº 9.394 de 20 de dezembro de
1996.
Machado, A. M. (1997); Avaliação e fracasso: a produção coletiva da queixa escolar. In:
AQUINO, Júlio G. (Coord.). Erro e fracasso na escola: alternativas teóricas e práticas. São
Paulo.
Massadar, Cláudia Toledo. (1993); Psicopedagogia na Escola: reflexões sobre intervenção
institucional possível. Rio de Janeiro.
Parâmetros Curriculares Nacionais – PCNs, p. 29-30, 2001.
SOUZA, Sónia Maria Ribeiro de. (1995); Um outro olhar: filosofia. São Paulo: FTD.
VAZQUEZ, Adolfo Sanches. (2003); Ético Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 24ª ed.,.
WEISS, Maria L. L. (1997); Psicopedagogia clínica: Uma visão diagnóstica dos problemas de
aprendizagem escolar. 5. Ed. Rio de Janeiro.

15

Você também pode gostar