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SUMÁRIO

1. Introdução...................................................................... 3
2. Irrigação Arterial.......................................................... 3
3. Drenagem Venosa...................................................... 7
4. Drenagem Linfática.................................................... 9
5. Inervação......................................................................11
6. Histologia do Estômago.........................................13
7. Fisiologia do Estômago..........................................21
Referências Bibliográficas .........................................26
ESTÔMAGO 3

1. INTRODUÇÃO do estômago (Fig. 1). A artéria gástri-


ca esquerda se origina diretamente
O estômago é a parte mais larga do
do tronco celíaco. A artéria esplênica
trato alimentar, e se encontra entre o
dá origem às artérias gástricas curtas
esôfago e o duodeno. Ele está situado
e à artéria gastromental esquerda, e
no abdome superior, estendendo-se
pode ocasionalmente dar origem a
do quadrante superior esquerdo para
uma artéria gástrica posterior. A arté-
baixo, para a frente e para a direita,
ria hepática dá origem à artéria gás-
disposto nas áreas hipocondríaca es-
trica direita e à artéria gastroduode-
querda, epigástrica e umbilical. Ele
nal, a qual por sua vez dá origem à
ocupa um recesso abaixo do diafrag-
artéria gastro-omental direita.
ma e da parede abdominal anterior
que é delimitado pelas vísceras abdo-
minais superiores em cada lado. Artéria Gástrica Esquerda
É especializado para o acúmulo do A artéria gástrica esquerda é o menor
alimento ingerido, que ele prepara ramo do tronco celíaco (Fig. 1). Ela as-
química e mecanicamente para a di- cende à esquerda da linha mediana e
gestão e passagem para o duodeno. atravessa logo acima da extremidade
O estômago mistura os alimentos e inferior ou abaixo do nível da origem
atua como reservatório; sua princi- do pilar esquerdo do diafragma, abai-
pal função é a digestão enzimática. O xo do peritônio da parede posterior
suco gástrico converte gradualmente superior do bolsa omental. Aqui ela
a massa de alimento em uma mis- se encontra adjacente à artéria frêni-
tura semilíquida, o quimo, que passa ca inferior esquerda e medial ou ante-
rapidamente para o duodeno. O es- rior à glândula suprarrenal esquerda.
tômago vazio tem calibre apenas li- Segue adiante para a porção superior
geiramente maior que o do intestino do omento menor, adjacente à extre-
grosso; entretanto, é capaz de se ex- midade superior da curvatura menor,
pandir muito e pode conter 2 a 3 litros e se volta anteroinferiormente para
de alimento. seguir ao longo da curvatura menor
entre os dois folhetos peritoneais do
omento menor.
2. IRRIGAÇÃO ARTERIAL
No ponto mais alto de seu trajeto, ela
O suprimento arterial para o estôma-
dá origem a um ou mais ramos esofá-
go advém predominantemente do
gicos (Fig. 1). Em seu curso ao longo
tronco celíaco, embora existam anas-
da curvatura menor, a artéria gástri-
tomoses intramurais com vasos de
ca esquerda origina múltiplos ramos
outras origens nas duas extremidades
ESTÔMAGO 4

que seguem por sobre as superfícies anastomosam com a artéria gástrica


anterior e posterior do estômago e se direita na região da incisura angular.

SAIBA MAIS!
A artéria gástrica esquerda raramente se origina a partir da artéria hepática comum ou de
seus ramos. A mais recorrente dessas raras variações tem sua origem a partir da artéria he-
pática esquerda. Outras variações possuem a mesma origem que a artéria hepática comum.

Artérias Gástricas Curtas


Apresentam-se em quantidade vari- Artéria Gástrica Posterior
ável, comumente entre cinco e sete. Uma distinta artéria gástrica posterior
Elas se originam a partir da artéria pode estar presente. Quando exis-
esplênica ou de suas divisões, ou da tente, ela se origina a partir da artéria
artéria gastro-omental esquerda pro- esplênica em sua seção intermediá-
ximal, e passam entre as camadas do ria, posterior ao corpo do estômago.
ligamento gastroesplênico para suprir Ela ascende posterior ao peritônio do
o óstio cárdico e o fundo gástrico (Fig. bolsa omental em direção ao fundo e
1). Elas se anastomosam com ramos atinge a superfície posterior do estô-
das artérias gástrica esquerda e gas- mago na prega gastrofrênica.
tro-omental esquerda. Uma artéria
gástrica esquerda acessória pode se
originar com estes vasos a partir da Artéria Gástrica Direita
artéria esplênica distal. A artéria gástrica direita (Fig. 1) se
origina a partir da artéria hepática
Artéria Gastro-omental Esquerda própria. Segue entre as camadas pe-
ritoneais do omento menor logo aci-
A artéria gastro-omental é o maior ma da extremidade medial da curva-
ramo da artéria esplênica (Fig. 1). Ori- tura menor, passa superiormente ao
gina-se próximo ao hilo esplênico e longo da curvatura menor, originando
segue, anteroinferiormente entre as múltiplos ramos sobre as superfícies
camadas do ligamento gastroesplê- anterior e posterior do estômago, e
nico, para a parte superior do omen- se anastomosa com a artéria gástrica
to gastrocólico. Encontra-se entre as esquerda. A origem da artéria gás-
camadas de peritônio próximas à cur- trica direita frequentemente varia: as
vatura maior, seguindo inferiormente origens alternativas mais comuns são
para se anastomosar com a artéria a partir das artérias hepática comum,
gastro-omental direita (Fig. 1).
ESTÔMAGO 5

hepática esquerda, gastroduodenal gastroduodenal posterior à primeira


ou supraduodenal. parte do duodeno, anteriormente à ca-
beça do pâncreas. Passa inferiormen-
te em direção à linha mediana, entre
Artéria Gastroduodenal as camadas do omento gastrocólico,
A artéria gastroduodenal (Fig. 1) se que é inferior ao piloro, segue lateral-
origina a partir da artéria hepática mente ao longo da curvatura maior e
comum, posterior e superiormente à termina se anastomosando com a ar-
primeira parte do duodeno. Nela, ori- téria gastro-omental esquerda.
ginam-se as artérias gastro-omental A artéria gastro-omental direita origi-
direita e pancreaticoduodenal supe- na ramos gástricos, que sobem sobre
rior na margem inferior da primeira as superfícies anterior e posterior do
parte do duodeno. antro e da parte inferior do corpo do
estômago, ramos omentais, que des-
Artéria Gastro-omental Direita cem para o omento maior, e ramos
que contribuem para o suprimento
A artéria gastro-omental direita da face inferior da primeira parte do
(Fig. 1) se origina a partir da artéria duodeno.

Ramo esofágico da a.
gástrica esquerda

Aa. Gástricas curtas


A. Gástrica esquerda

A. Hepática própria

A. Gástrica direita A. Gastro-omental esquerda

A. Hepática comum
A. Esplênica
A. Gastroduodenal

A. Gastro-omental direita

Figura 1. Artérias do Estômago. Fonte: NETTER, Frank H.


ESTÔMAGO 6

MAPA MENTAL – IRRIGAÇÃO ARTERIAL

IRRIGAÇÃO
ARTERIAL

Tronco Celíaco

A. Gástrica A. Hepática
A. Esplênica
esquerda comum

A. Hepática A. Gastroduodenal Aa. Gástricas A. Gástrica A. Gastro-omental


Ramos esofágicos trocar
própria curtas posterior esquerda

A. pancreatico- A. Gastro-
A. Gástrica direita
duodenal superior omental direita
ESTÔMAGO 7

3. DRENAGEM VENOSA posterior do corpo do estômago e o


omento maior adjacente por múltiplas
As veias que drenam definitivamen-
tributárias. Segue superolateralmente
te o estômago desembocam na veia
ao longo da curvatura maior, entre as
porta. Uma rica rede venosa submu-
camadas do omento gastrocólico, e
cosa e intramural dá origem a veias
drena para a veia esplênica dentro do
que usualmente acompanham as
ligamento gastroesplênico.
artérias correspondentes e drenam
para as veias esplênica ou mesentéri-
ca superior, embora algumas passem Veia Gastro-omental Direita
diretamente para a veia porta.
A veia gastro-omental direita (Fig. 2)
drena o omento maior, a parte distal
Veias Gástricas Curtas do corpo e o antro do estômago. Pas-
sa medialmente, inferior à curvatura
Quatro ou cinco veias gástricas cur-
maior, na porção superior do omento
tas drenam o fundo gástrico e a par-
gastrocólico. Bem proximal à cons-
te superior da curvatura maior para a
trição pilórica, passa posteriormente
veia esplênica ou uma de suas gran-
para drenar para a veia mesentérica
des tributárias (Fig. 2).
superior, abaixo do colo do pâncreas.

Veia Gasto-omental Esquerda


A veia gastro-omental esquerda (Fig.
2) drena as superfícies anterior e

SAIBA MAIS!
A veia gastro-omental direita pode receber a veia pancreaticoduodenal superior próximo à
sua entrada na veia mesentérica superior.

Veia Gástrica Esquerda Veia Gástrica Direita


A veia gástrica esquerda (Fig. 2) dre- A veia gástrica direita (Fig. 2) é tipi-
na a parte superior do corpo e o fundo camente pequena e segue ao longo
do estômago. Drena para a veia porta da extremidade medial da curvatu-
diretamente no nível da margem su- ra menor, passando sob o peritônio
perior da primeira parte do duodeno. à medida que ele se reflete da face
posterior do piloro e da primeira parte
ESTÔMAGO 8

do duodeno sobre a parede posterior vasos pequenos. Quando presentes,


do omento menor. Drena diretamente acompanham a artéria gástrica pos-
para a veia porta no nível da primeira terior a partir da metade da superfície
parte do duodeno. posterior do estômago e drenam para
a veia esplênica.
Veias Gástricas Posteriores
Veias gástricas posteriores distintas
podem existir às vezes como múltiplos

V. Gástrica esquerda

V. Porta

V. Gástrica direita
Vv. Gástricas curtas

V. Esplênica

V. Mesentérica superior
V. Gastro-omental esquerda
V. Gastro-omental direita

Figura 2. Veias do Estômago. Fonte: NETTER, Frank H.


ESTÔMAGO 9

MAPA MENTAL – DRENAGEM VENOSA

V. Gástrica esquerda

V. Porta

V. Gástrica direita

V. Gastro-omental esquerda

DRENAGEM
Vv. Gástricas curtas V. Esplênica
VENOSA

Vv. Gástricas posteriores

V. Gastro-omental direita V. Mesentérica superior

4. DRENAGEM LINFÁTICA artérias gástricas curtas e dos vasos


gastromentais esquerdos para os lin-
Os vasos linfáticos gástricos (Fig. 3)
fonodos pancreaticoesplênicos.
acompanham as artérias ao longo
das curvaturas maior e menor do es- A linfa dos dois terços direitos do ter-
tômago. Eles drenam linfa de suas fa- ço inferior do estômago drena ao lon-
ces anterior e posterior em direção às go dos vasos gastromentais direitos
suas curvaturas, onde estão localiza- até os linfonodos pilóricos. A linfa do
dos os linfonodos gástricos e gastro- terço esquerdo da curvatura maior
mentais. Os vasos eferentes desses drena para os linfonodos pancreati-
linfonodos acompanham as grandes coduodenais, que estão situados ao
artérias até os linfonodos celíacos. longo dos vasos gástricos curtos e
esplênicos.
A linfa dos dois terços superiores do
estômago drena ao longo dos vasos
gástricos direito e esquerdo para os
linfonodos gástricos; a linfa do fundo
gástrico e da parte superior do corpo
gástrico também drena ao longo das
ESTÔMAGO 10

Linfonodos gástricos esquerdos

Linfonodo pancreático
superior direito

Linfonodos suprapilóricos
Linfonodos esplênicos

Linfonodo gastro-omental
Linfonodos subpilóricos esquerdo

Linfonodos gastro-omentais direitos

Figura 3. Vasos linfáticos e linfonodos do estômago. Fonte: NETTER, Frank H.

MAPA MENTAL – DRENAGEM LINFÁTICA

DRENAGEM
LINFÁTICA

Fundo e parte sup.


2/3 superiores 1/3 inferior
do corpo gástrico

Linfonodos gástricos Linfonodos


Linfonodos pilóricos
direito e esquerdo pancreáticoesplênicos

Linfonodos
pancreáticoduodenais
ESTÔMAGO 11

5. INERVAÇÃO vagais anterior e posterior (Fig. 4). O


nervo vagal anterior é, em geral, du-
O estômago é inervado por fibras
plo ou até mesmo triplo, e fornece fi-
simpáticas e parassimpáticas.
lamentos para o óstio cárdico. O ner-
vo está intimamente posicionado na
Inervação Simpática musculatura externa da parte abdo-
minal do esôfago e se divide próximo
O suprimento simpático para o estô- à extremidade esofágica da curvatura
mago se origina a partir do quinto ao menor em ramos gástricos e pilóricos/
décimo segundo segmentos espinais hepáticos.
torácicos e é distribuído principal-
mente para o estômago através dos Os ramos gástricos anteriores supe-
nervos esplâncnicos maior e menor riores se irradiam sobre a superfície
(Fig. 4) via plexo celíaco. Plexos pe- anterior da parte superior do corpo e
riarteriais se formam ao longo das ar- do fundo. O principal ramo gástrico é
térias e suprem o estômago a partir denominado de nervo gástrico ante-
do eixo celíaco. rior maior, e se encontra no omento
menor próximo à curvatura menor;
Uma inervação adicional advém de fi- ramos derivados deste nervo passam
bras do plexo hepático (Fig. 4), o qual para o corpo e para o antro com ra-
passa para a parte superior do corpo mos do suprimento arterial gástrico.
e para o fundo pelo limite superior do
omento menor e por ramos diretos O segundo nervo usualmente se ori-
derivados dos nervos esplâncnicos gina a partir do nervo gástrico ante-
maiores. rior maior durante seu trajeto e segue
inferomedialmente até o antro pilóri-
Os nervos gástricos simpáticos são co, onde ramos pilóricos se formam
vasoconstritores para a vasculariza- e ramos hepáticos seguem superior-
ção gástrica e inibitórios para a mus- mente para contribuir para o plexo
culatura gástrica. O suprimento sim- hepático. Variações no nervo anterior
pático para o piloro é motor e causa a incluem ramos pilóricos acessórios,
constrição pilórica. O suprimento sim- ramos gástricos longos com um tron-
pático gera também impulsos aferen- co nervoso em posição alta, e uma
tes de comportamento que medeiam origem baixa do ramo pilórico com um
sensações, incluindo a dor. tronco nervoso em posição inferior.
O nervo posterior tende a se dispor
Inervação Parassimpática mais medialmente do que o anterior, e
está frequentemente a uma curta dis-
O suprimento parassimpático para
tância da parede da parte abdominal
o estômago é derivado dos nervos
do esôfago. Ele produz dois grupos
ESTÔMAGO 12

principais de ramos, gástricos e celía- Grandes ramos celíacos se originam


cos (Fig. 4). Os ramos gástricos se ori- do nervo posterior como espessos
ginam e em seguida seguem posterior feixes que transportam a maioria
ao óstio cárdico e da parte superior do das fibras que formam o nervo para
corpo do estômago. Eles se estendem o plexo celíaco. Ramos hepáticos são
por sobre a superfície posterior do cor- frequentemente pequenos e se origi-
po e do fundo até a parte proximal do nam a partir dos ramos celíacos.
antro, mas normalmente não atingem O suprimento parassimpático gástrico
o esfíncter pilórico. O maior é deno- é secretomotor para a mucosa gástri-
minado de nervos gástrico posterior ca e motor para a musculatura gástri-
maior, e segue posteriormente ao lon- ca. Ele é responsável pelo relaxamen-
go da curvatura menor. to coordenado do esfíncter pilórico
durante o esvaziamento gástrico.

SAIBA MAIS!
A maioria das sensações de dor que se originam a partir do estômago é mal localizada e
referida na região epigástrica. A dor que se origina da região da junção gastroesofágica é
comumente referida para as áreas retroesternal inferior e subxifoide.

Tronco vagal anterior

Ramo hepático do tronco


vagal anterior

Ramo do plexo hepático Ramo celíaco do tronco


para a cárdia vagal posterior

Nervo esplâncnico maior direito


Ramo gástrico anterior do
tronco vagal anterior
Plexo hepático

Nervo esplâncnico maior esquerdo

Nervo esplâncnico menor esquerdo

Figura 4. Nervos do estômago. Fonte: NETTER, Frank H.


ESTÔMAGO 13

MAPA MENTAL – INERVAÇÃO

INERVAÇÃO

Simpática Parassimpática

Nervos esplâncnicos Nervos vagais


maior e menor anterior e posterior

Plexo hepático

As regiões do fundo e corpo apresen-


6. HISTOLOGIA DO tam estrutura microscópica idêntica
ESTÔMAGO e, portanto, apenas três regiões são
consideradas histologicamente. As
Além da digestão parcial dos alimen- camadas mucosa e submucosa do
tos, o estômago é responsável pela estômago não distendido repousam
secreção de enzimas e hormônios sobre dobras direcionadas longitudi-
(funções exócrinas e endócrinas). No nalmente. Quando o estômago está
estômago são identificadas quatro distendido pela ingestão de alimen-
regiões: cárdia, fundo, corpo e piloro tos, essas dobras se achatam.
(ou antro) (Figura 5).
ESTÔMAGO 14

Área cárdica

Áreas do corpo
e do fundo

Área pilórica
Figura 5. Regiões do estômago. Fonte: NETTER, Frank H.

Mucosa músculo liso, a muscular da mucosa


(Figuras 6 e 7). Quando a superfície
A mucosa gástrica é formada por
luminal do estômago é observada ao
epitélio glandular, cuja unidade se-
microscópio em pequeno aumento,
cretora é tubular e ramificada e de-
numerosas invaginações do epité-
semboca na superfície, em uma área
lio de revestimento são vistas; são
denominada fosseta gástrica (Fig.
as aberturas das fossetas gástricas.
6). Em cada região do estômago, as
O epitélio que recobre a superfície
glândulas apresentam morfologia ca-
do estômago e reveste as fossetas
racterística. Todo o epitélio gástrico
é colunar simples, e todas as células
está em contato com o tecido conjun-
secretam muco alcalino, composto
tivo frouxo (lâmina própria), que con-
por água, glicoproteínas e lipídios. O
tém células musculares lisas e células
bicarbonato, também secretado por
linfoides.
essas células, forma um gradiente
Separando a mucosa da submuco- de pH que varia de 1 a 7. A parte do
sa adjacente existe uma camada de muco que está firmemente aderida
ESTÔMAGO 15

ao glicocálice das células epiteliais é


muito efetiva na proteção, enquanto SE LIGA! Diversos fatores exógenos de
a parte menos aderida é mais solú- agressão podem desorganizar a cama-
da epitelial e levar à irritação e ulcera-
vel, sendo parcialmente digerida pela
ção, como: estresse emocional, fatores
pepsina e misturada com o conteúdo psicossomáticos, substâncias ingeridas,
luminal. Assim, o muco forma uma como fármacos anti-inflamatórios não
espessa camada que protege as cé- esteroidais, etanol, cigarro, hiperosmola-
ridade na dieta e alguns microrganismos
lulas da acidez do estômago. (ex., Helicobacter pylori).

Fosseta
Esôfago
Fundo
Junção entre base da
fosseta e glândula
Cárdia
Lâmina própria
Glândulas em corte
transversal
Muscular da Corpo
Esfíncter
mucosa Cárdia pilórico

Canal Piloro
pilórico
Duodeno

Célula mucosa
de revestimento
na fosseta

Fosseta Istmo

Colo

Glândula
Glândula Nódulo
linfoide Base
Lâmina própria
Muscular da
mucosa

Figura 6. Regiões do estômago e sua estrutura histológica. Fonte: Histologia básica, 2013.
ESTÔMAGO 16

Fosseta

Istmo

Colo

Glândula

Base

Figura 7. Fotomicrografia de um cor-


te de estômago mostrando as glân-
dulas gástricas na região do corpo.
Fonte: Histologia básica, 2013.

Regiões do Estômago células parietais produtoras de H+ e


Cl- também podem ser encontradas.
Cárdia
A cárdia é uma banda circular estrei-
ta, com cerca de 1,5 a 3,0 cm de lar- Corpo e Fundo
gura, na transição entre o esôfago e o A mucosa nas regiões do fundo e
estômago (Fig. 5). Sua mucosa con- corpo está preenchida por glându-
tém glândulas tubulares simples ou las tubulares, das quais três a sete
ramificadas, denominadas glândulas abrem-se em cada fosseta gástrica.
da cárdia. As porções terminais des- As glândulas contêm três regiões
sas glândulas são frequentemente distintas: istmo, colo e base (Fig. 6). A
enoveladas, com lúmen amplo. Mui- distribuição dos diferentes tipos celu-
tas das células secretoras produzem lares epiteliais nas glândulas gástri-
muco e lisozima, mas algumas poucas cas não é uniforme.
ESTÔMAGO 17

O istmo tem células mucosas em dife- próximos da superfície apical. O


renciação que substituirão as células tipo de mucina secretada é dife-
da fosseta e as superficiais, células- rente daquela proveniente das cé-
-tronco e células parietais (oxínticas). lulas epiteliais mucosas da super-
O colo contém células-tronco, mu- fície e tem inclusive propriedades
cosas do colo e parietais; a base das antibióticas.
glândulas contém principalmente cé-
• Células Parietais (oxínticas):
lulas parietais e zimogênicas (princi-
Células parietais são observadas
pais) (Fig. 7). Células enteroendócri-
principalmente no istmo e colo das
nas estão distribuídas pelo colo e pela
glândulas gástricas e são mais es-
base das glândulas.
cassas na base. São células arre-
• Células-tronco: Encontradas em dondadas ou piramidais, com um
pequena quantidade na região núcleo esférico que ocupa posição
do istmo e colo, as células-tronco central e citoplasma intensamente
são colunares baixas com núcleos eosinofílico.
ovais próximos da base das célu-
las. Estas células apresentam uma
elevada taxa de mitoses. Algumas As características mais marcantes
células já comprometidas com a li- observáveis ao microscópio eletrô-
nhagem de células superficiais mi- nico em células que estão secretan-
gram nesta direção para repor as do ativamente são a abundância de
células mucosas, que se renovam mitocôndrias (eosinofílicas) e a inva-
a cada 4 a 7 dias. Outras células- ginação circular profunda da mem-
-filhas migram mais profundamen- brana plasmática apical, formando
te nas glândulas e se diferenciam um canalículo intracelular (Fig. 8). Na
em células mucosas do colo ou célula em repouso, muitas estruturas
parietais, zimogênicas ou entero- tubulovesiculares podem ser obser-
endócrinas. Essas células são re- vadas na região apical logo abaixo da
postas muito mais lentamente que membrana plasmática (Fig. 8 à es-
as células mucosas superficiais. querda). Nesta fase a célula contém
poucos microvilos.
• Células Mucosas do Colo: Essas
Quando estimulada a produzir H+ e
células são observadas agrupadas
Cl-, as estruturas tubulovesiculares
ou isoladamente entre as células
se fundem com a membrana celu-
parietais no colo das glândulas
lar para formar o canalículo e mais
gástricas. Elas têm formato irre-
microvilos, provendo assim um au-
gular, com os núcleos na base das
mento generoso na superfície da
células e os grânulos de secreção
membrana celular (Fig. 8, à direita). A
ESTÔMAGO 18

atividade secretora de células parie- são potentes estimulantes da produ-


tais é estimulada por vários mecanis- ção de ácido clorídrico, sendo ambos
mos, como o estímulo parassimpático secretados pela mucosa gástrica. A
(terminações nervosas colinérgicas), gastrina também apresenta um efeito
histamina e um polipeptídio denomi- trófico na mucosa gástrica, estimu-
nado gastrina. Gastrina e histamina lando o seu crescimento.

Canalículo
intracelular
Sistema tubulovesicular

Golgi

Microvilos
Canalículo
intracelular

Mitocôndrias

Repouso Atividade

Figura 8. Diagrama de célula parietal mostrando as diferenças estruturais entre uma célula em repouso e uma célula
ativa. Fonte: Histologia básica, 2013.

• Células Zimogênicas: Células zi- deve-se ao retículo endoplasmá-


mogênicas predominam na região tico granuloso abundante. Os grâ-
basal das glândulas gástricas e nulos em seu citoplasma contêm
apresentam todas as caracterís- uma proenzima, o pepsinogênio.
ticas de células que sintetizam e O pepsinogênio é rapidamente
exportam proteínas. Sua basofilia convertido na enzima proteolítica
ESTÔMAGO 19

pepsina após ser secretado no secretam muco, assim como quanti-


ambiente ácido do estômago. Há dades apreciáveis da enzima lisozima.
sete pepsinas diferentes no suco A região pilórica contém ainda muitas
gástrico humano, e todas ativas células G, intercaladas com células
em pH menor que 5. Em humanos, mucosas. Estímulo parassimpático,
as células zimogênicas também presença de aminoácidos e aminas
produzem a enzima lipase. no lúmen, bem como distensão da
parede do estômago, estimulam di-
SE LIGA! Em casos de gastrite atrófica, retamente a atividade das células G,
tanto células parietais quanto zimogê- que liberam gastrina, a qual, por sua
nicas são muito menos numerosas, e o
vez, ativa a produção de ácido pelas
suco gástrico apresenta pouca ou ne-
nhuma atividade de ácido ou pepsina. células parietais.

• Células Enteroendócrinas: Célu-


las enteroendócrinas são encon-
tradas principalmente próximas da
base das glândulas gástricas. Di-
versos hormônios são secretados
ao longo do trato gastrintestinal.
Na região do corpo do estôma-
go, a serotonina e a ghrelina são
os principais produtos de secre-
ção. No antro, a gastrina constitui
o principal hormônio secretado, e
é essencial para diversas funções
gástricas.

Piloro
O piloro contém fossetas gástricas
profundas, nas quais as glândulas
pilóricas tubulosas simples ou ramifi-
cadas se abrem. Comparada à região
da cárdia, a região pilórica apresen-
ta fossetas mais longas e glândulas
mais curtas (Fig. 9). Essas glândulas Figura 9. Fotomicrografia de um corte da região do
antro pilórico do estômago. Fonte: Histologia básica,
2013.
ESTÔMAGO 20

MAPA MENTAL – HISTOLOGIA DO ESTÔMAGO

HISTOLOGIA
GÁSTRICA

Mucosa Cárdia Corpo e Fundo Piloro

Epitélio colunar simples Glândulas tubulares


Glândulas tubulares Células G
pilóricas

Secretor de muco Glândulas tubulares Gastrina

Ístmo Colo Base

Células mucosas Células mucosas Células


Células-tronco Células parietais Células zimogênicas
do ístmo do colo enteroendócrinas

Gastrina, grelina,
HCl e Fator intrínseco Pepsinogênio
serotonina
ESTÔMAGO 21

7. FISIOLOGIA DO o tronco encefálico e de volta para o


ESTÔMAGO estômago reduz o tônus da parede
muscular do corpo do estômago, de
Funções Motoras Gástricas
modo que a parede se distende, aco-
As funções motoras do estômago es- modando mais e mais alimento até o
tão associadas a: (1) armazenamento limite, que é de 0,8 a 1,5 litro, no estô-
de grande quantidade de alimento, mago completamente relaxado.
até que ele possa ser processado no
estômago no duodeno e nas demais
Mistura e Propulsão do Alimento
partes do intestino delgado; (2) mis-
turar esse alimento com secreções Os sucos digestivos do estômago são
gástricas até formar o quimo; (3) esva- secretados pelas glândulas gástricas
ziar lentamente o quimo do estômago presentes em quase toda a extensão
para o intestino delgado, vazão com- da parede do corpo do estômago. Es-
patível com a digestão e a absorção sas secreções entram imediatamente
adequadas pelo intestino delgado. em contato com a porção do alimento
Em termos anatômicos, o estôma- nas proximidades da mucosa do es-
go normalmente é dividido em duas tômago. Enquanto o alimento estiver
partes principais: (1) o corpo; e (2) o no estômago, ondas constritivas pe-
antro. Em termos fisiológicos, ele se ristálticas fracas, denominadas ondas
divide mais apropriadamente em (1) de mistura, iniciam-se nas porções
porção “oral”, abrangendo cerca dos média a superior da parede gástrica
primeiros dois terços do corpo; e (2) e deslocam-se na direção do antro,
porção “caudal”, abrangendo o res- uma a cada 15 a 20 segundos.
tante do corpo mais o antro. À medida que as ondas constritivas
progridem do corpo para o antro, ga-
nham intensidade, algumas ficando
Armazenamento
extremamente intensas, gerando po-
À medida que o alimento entra no tente potencial de ação peristáltica,
estômago, formam-se círculos con- formando anéis constritivos que for-
cêntricos de alimento na porção oral çam o conteúdo antral sob pressão
do estômago; o alimento mais re- cada vez maior na direção do piloro.
cente fica mais próximo da abertura Esses anéis constritivos também
esofágica e, o alimento mais antigo, têm função importante na mistura
mais próximo da parede externa do dos conteúdos gástricos da seguin-
estômago. Normalmente, quando o te maneira: cada vez que uma onda
alimento distende o estômago, o “re- peristáltica percorre a parede antral
flexo vago-vagal” do estômago para na direção do piloro, ela comprime o
ESTÔMAGO 22

conteúdo alimentar no antro em di- grande parte do conteúdo antral pre-


reção ao piloro. Porém, a abertura mido pelo anel peristáltico é lançada
do piloro é pequena e apenas alguns de volta na direção do corpo do estô-
mililitros do conteúdo antral são eje- mago, e não pelo piloro. Desse modo,
tados para o duodeno, a cada onda o movimento do anel constritivo pe-
peristáltica. À medida que cada onda ristáltico, combinado com essa ação
peristáltica se aproxima do piloro, o de ejeção retrógrada, denominada
próprio músculo pilórico muitas vezes “retropulsão”, é mecanismo de mis-
se contrai, o que impede ainda mais tura extremamente importante no
o esvaziamento pelo piloro. Assim, estômago.

SAIBA MAIS!
Mais: Além das contrações peristálticas que ocorrem quando o alimento está no estômago,
outro tipo de contração intensa, denominada contração de fome, ocorre quando o estômago
fica vazio por várias horas. São contrações peristálticas rítmicas no corpo do estômago. Elas
são mais intensas em indivíduos jovens, sadios, com tônus gastrointestinal elevado. A pessoa
pode apresentar ainda dor epigástrica, denominada pontadas de fome. As pontadas de fome,
em geral, não são observadas até 12 a 24 horas após a última ingestão de alimento.

Esvaziamento Gástrico Regulação do Esvaziamento


Gástrico
Na maior parte do tempo, as contra-
ções rítmicas do estômago são fracas A velocidade/intensidade com que
e servem para misturar o alimento o estômago se esvazia é regulada
com as secreções gástricas. Entre- por sinais tanto do estômago como
tanto, por cerca de 20% do tempo em do duodeno. Entretanto, os sinais do
que o alimento está no estômago, as duodeno são bem mais potentes,
contrações ficam mais intensas, co- controlando o esvaziamento do qui-
meçando na porção média do órgão e mo para o duodeno com intensida-
progredindo no sentido caudal como de não superior à que o quimo pode
constrições peristálticas fortes, for- ser digerido e absorvido no intestino
mando anéis de constrição que cau- delgado.
sam o esvaziamento do estômago.
ESTÔMAGO 23

Fatores Gástricos que Promovem o propulsivas da “bomba pilórica” e, em


Esvaziamento segundo lugar, aumentam o tônus do
esfíncter pilórico.
Efeito do Volume Gástrico de Ali-
mento no Ritmo de Esvaziamento: Os fatores no duodeno que podem
Volume de alimentos maior promove desencadear reflexos inibidores en-
maior esvaziamento gástrico devido terogástricos, incluem os seguintes:
a dilatação da parede gástrica, a qual 1. Distensão do duodeno. 2. Presen-
desencadeia reflexos mioentéricos ça de qualquer irritação da mucosa
locais que acentuam bastante a ativi- duodenal. 3. Acidez do quimo duo-
dade da bomba pilórica e, ao mesmo denal. 4. Osmolalidade do quimo. 5.
tempo, inibem o piloro. Presença de determinados produtos
de degradação química no quimo, es-
Efeito do Hormônio Gastrina sobre
pecialmente de degradação química
o Esvaziamento Gástrico: A gastri-
das proteínas e, talvez em menor es-
na tem efeitos estimulantes brandos
cala, das gorduras.
a moderados sobre as funções mo-
toras do corpo do estômago, e pare- O Feedback Hormonal a Partir do
ce intensificar a atividade da bomba Duodeno Inibe o Esvaziamento
pilórica. Assim, é muito provável que Gástrico: Os hormônios liberados
também promova o esvaziamento pelo trato intestinal superior inibem
gástrico. também o esvaziamento gástrico. O
estímulo para a liberação desses hor-
mônios inibidores é basicamente a
Fatores Duodenais que Inibem o entrada de gorduras no duodeno.
Esvaziamento
Os hormônios são transportados
Efeito Inibitório dos Reflexos Ner- pelo sangue para o estômago, onde
vosos Enterogástricos de Origem inibem a bomba pilórica, ao mesmo
Duodenal: Quando o quimo entra no tempo em que aumentam a força da
duodeno, são desencadeados múlti- contração do esfíncter pilórico. Es-
plos reflexos nervosos com origem na ses efeitos são importantes, porque
parede duodenal. Eles voltam para o a digestão de gorduras é mais lenta
estômago e retardam ou, mesmo, in- quando comparada à da maioria dos
terrompem o esvaziamento gástrico, outros alimentos.
se o volume de quimo no duodeno for Não se sabe exatamente quais hor-
excessivo. mônios causam o feedback inibitório
Esses reflexos têm dois efeitos sobre do estômago. O mais potente des-
o esvaziamento do estômago: primei- ses hormônios parece ser a colecis-
ro, inibem fortemente as contrações tocinina (CCK), liberada pela mucosa
ESTÔMAGO 24

do jejuno em resposta a substâncias


gordurosas no quimo. Esse hormô-
nio age como inibidor, bloqueando o
aumento da motilidade gástrica cau-
sado pela gastrina. Outros possíveis
inibidores do esvaziamento gástrico
são os hormônios secretina e o pep-
tídeo insulinotrópico dependente de
glicose, também chamado de peptí-
deo inibidor gástrico (GIP).

MAPA MENTAL – FISIOLOGIA DO ESTÔMAGO

FUNÇÕES
MOTORAS
GÁSTRICAS

Armazenamento Mistura e propulsão Esvaziamento

Promovem Inibem

Fatores Gástricos Fatores Duodenais

Regulamentação
ESTÔMAGO 25

MAPA MENTAL – ESTÔMAGO

Secretor de Epitélio colunar simples Simpática V. Gástrica esquerda


Mucosa
muco V. Porta
Nervos esplâncnicos
maior e menor V. Gástrica direita
Glândulas tubulares Cárdia
Plexo hepático V. Gastro-omental
Glândulas tubulares pilóricas Piloro esquerda
Parassimpática
Gastrina Células G Corpo e Fundo Vv. Gástricas curtas V. Esplênica
Nervos vagais anterior e
posterior
Células mucosas Glândulas tubulares Vv. Gástricas
do ístmo posteriores
V.
Inervação V. Gastro-omental Mesentérica
Células-tronco Ístmo direita superior
HCl e Fator Células parietais
intrínseco Histologia Gástrica Drenagem Venosa
Colo
Células mucosas
do colo ESTÔMAGO
Gastrina, Funções Motoras
ghrelina, Células Irrigação Arterial
serotonina enteroendócrinas Gástricas
Base Ramos esofágicos
Pepsinogênio Células
zimogênicas
A. Gástrica A. Gástrica direita
Drenagem Linfática
esquerda
Armazenamento Esvaziamento A. Hepática própria
Linfonodos gástricos A. Hepática
direito e esquerdo 2/3 superiores comum A. Gastroduodenal
Promovem Inibem
Mistura e propulsão
Linfonodos Fundo e parte sup. A. pancreatico-
Fatores Gástricos Fatores Duodenais pancreáticoesplênicos do corpo gástrico Tronco Celíaco duodenal superior
A. Gastro-omental
Regulamentação Linfonodos pilóricos 1/3 inferior direita
A. Esplênica
Linfonodos Aa. Gástricas curtas
pancreáticoduodenais
A. Gástrica
posterior
A. Gastro-omental
esquerda
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REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
Hall, John E. Tratado de fisiologia médica. 13. ed. - Rio de Janeiro: Elsevier, 2017.
Moore, Keith L. et al. Anatomia orientada para a clínica. 7. ed. Rio de Janeiro: Koogan, 2014.
Junqueira, Luiz Carlos Uchoa. Histologia básica. 12. Ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan,
2013.
Susan Standring et al. Gray’s, anatomia. 40 ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010.
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