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Num Bairro Moderno Cânticos do Realismo

1. Lê o início do poema “Num Bairro Moderno”.

Num Bairro Moderno


A Manuel Ribeiro

Dez horas da manhã; os transparentes1

Matizam uma casa apalaçada;


Pelos jardins estancam-se os nascentes,
5 E fere a vista, com brancuras quentes,
A larga rua macadamizada.

Rez-de-chaussée2 repousam sossegados,


Abriram-se, nalguns, as persianas,
E dum ou doutro, em quartos estucados,
10 Ou entre a rama dos papéis pintados,
Reluzem, num almoço, as porcelanas.

Como é saudável ter o seu conchego,


E a sua vida fácil! Eu descia,
Sem muita pressa, para o meu emprego,
15 Aonde agora quase sempre chego
Com as tonturas duma apoplexia3.

E rota, pequenina, azafamada,


Notei de costas uma rapariga,
Que no xadrez marmóreo duma escada,
20 Como um retalho de horta aglomerada,
Pousara, ajoelhando, a sua giga4.

E eu, apesar do sol, examinei-a:


Pôs-se de pé; ressoam-lhe os tamancos;
E abre-se-lhe o algodão azul da meia,
25 Se ela se curva, esguedelhada, feia,
E pendurando os seus bracinhos brancos.
1. transparentes: vidros.

Do patamar responde-lhe um criado: 2. rez-de-chaussée: rés do chão.


“Se te convém, despacha; não converses.
3. apoplexia: suspensão súbita, completa ou
Eu não dou mais.” E muito descansado, incompleta, do movimento e da sensação
30 Atira um cobre lívido5, oxidado6,
Que vem bater nas faces duns alperces. relacionada com uma afeção cerebral.

VERDE, Cesário (2015). O Livro de Cesário Verde. Porto: Porto Editora [pp. 28-29}. 4. giga: cesta de vime arredondada.

Encontros • Português, 11.º ano ©Porto Editora


Num Bairro Moderno Cânticos do Realismo

2. Associa a cada espaço uma expressão textual que o caracterize.

“…transparentes
a. casa
Matizam uma casa apalaçada;”

“…estancam-se os nascentes,
b. jardim
E fere a vista, com brancuras quentes,”

“…A larga rua macadamizada.”


c. rua

“…. Abriram-se, nalguns, as persianas,

E dum ou doutro, em quartos estucados,


d. interior e exterior de outras casas
Ou entre a rama dos papéis pintados,

Reluzem, num almoço, as porcelanas.”

3. Associa a cada espaço uma expressão textual que o caracterize.

deambula pela cidade perceção sensorial sinestesias visuais e táteis sinestesia

a. O sujeito poético observa o real, enquanto sinestesia.


b. A deambula pela da cor e da luz marca a sua observação.
c. Ao longo do poema predominam as sensações visuais e táteis.
d. O predomínio de sensações realça a expressividade das sinestesias.
e. A expressão “brancuras quentes” é uma perceção sensorial.

4. O sujeito poético observa duas classes sociais distintas.


4.1. Identifica-as, indicando as personagens que as representam.
As classes que sujeito poético observa são a burguesia e o povo. O sujeito poético representa
a burguesia e a vendedora e o “criado “representa o povo.
4.2. Por qual revela maior empatia? Justifica a tua opção.
O sujeito poético revela maior empatia pela vendedora pois o criado demonstra impaciência
(“Se te convém, despacha; não converses.” )e uma atitude de arrogância (“E muito
descansado, Atira um cobre lívido, oxidado”).

5. A caracterização da vendedora de legumes apresenta vários contrastes.


5.1. Transcreve os seus elementos caracterizadores, completando a tabela seguinte.

Aspetos positivos/valorativos Aspetos negativos/depreciativos

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Num Bairro Moderno Cânticos do Realismo
“rota, pequenina, azafamada,
“ressoam-lhe os tamancos;
Notei de costas uma rapariga”
E abre-se-lhe o algodão azul da meia “
“esguedelhada”
“pendurando os seus bracinhos brancos”

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Num Bairro Moderno Cânticos do Realismo

1. Lê o segundo excerto do poema “Num bairro moderno”.

Subitamente, – que visão de artista! –


Se eu transformasse os simples vegetais,
À luz do sol, o intenso colorista,
Num ser humano que se mova e exista
5 Cheio de belas proporções carnais?!

Boiam aromas, fumos de cozinha;


Com o cabaz às costas, e vergando,
Sobem padeiros, claros de farinha;
10 E às portas, uma ou outra campainha
Toca, frenética, de vez em quando.

E eu recompunha, por anatomia,


Um novo corpo orgânico, aos bocados.
15 Achava os tons e as formas. Descobria
Uma cabeça numa melancia,
E nuns repolhos seios injetados.

As azeitonas, que nos dão o azeite,


20 Negras e unidas, entre verdes folhos,
São tranças dum cabelo que se ajeite;
E os nabos – ossos nus, da cor do leite,
E os cachos de uvas – os rosários de olhos.

25 Há colos, ombros, bocas, um semblante7


Nas posições de certos frutos. E entre
As hortaliças, túmido8, fragrante9,
Como de alguém que tudo aquilo jante,
Surge um melão, que me lembrou um ventre.

E, como um feto, enfim, que se dilate,


Vi nos legumes carnes tentadoras,
Sangue na ginja vívida10, escarlate, 7. semblante: rosto.
Bons corações pulsando no tomate 8. túmido: dilatado; inchado.
E dedos hirtos, rubros, nas cenouras.
9. fragrante: aromático.
VERDE, Cesário, Op. cit. [pp. 29-31]

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Num Bairro Moderno Cânticos do Realismo

2. Assinala a opção correta.


2.1. Ao observar a vendedora de legumes, o sujeito poético
a. cria uma figura imaginada resultado da transfiguração do real.
b. pensa no que poderia fazer com os legumes na realidade.
c. x desenha uma figura imaginada resultado da transfiguração do real.

3. Transcreve os versos em que o sujeito poético dá a conhecer a sua vontade de


transfigurar o real.
“Se eu transformasse os simples vegetais,
À luz do sol, o intenso colorista,
Num ser humano que se mova e exista “
3.1. Completa o esquema, mostrando de que forma se cria essa figura.

“simples vegetais” “ser humano que se mova e exista / Cheio de belas proporções
carnais”
“melancia" “cabeça”

“repolhos” “seios injetados”

“verde folhas” “tranças dum cabelo”

“nabos” “ossos nus”

cachos de uvas “rosários de olhos”

“melão” “ventre”

“legumes” “carnes tentadoras”

“ginja” “Sangue”

“tomate” “corações”

“cenouras” “dedos”

4. Transcreve do texto os seguintes recursos expressivos:


a. comparação: “Surge um melão, que me lembrou um ventre /E, como um feto, enfim, que se
dilate”

b. enumeração: “Há colos, ombros, bocas, um semblante”

c. metáfora :”Toca, frenética, de vez em quando.

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Num Bairro Moderno Cânticos do Realismo
E eu recompunha, por anatomia,

Um novo corpo orgânico, aos bocados.

Achava os tons e as formas. Descobria

Uma cabeça numa melancia,

E nuns repolhos seios injetados.

As azeitonas, que nos dão o azeite,

Negras e unidas, entre verdes folhos,”

d. uso expressivo do adjetivo: “túmido”,”frangante”

1. Lê o final do poema.

O sol dourava o céu. E a regateira,


Como vendera a sua fresca alface
E dera o ramo de hortelã que cheira,
Voltando-se, gritou-me prazenteira:
5 “Não passa mais ninguém!… Se me ajudasse?!…”

Eu acerquei-me dela, sem desprezo;


E, pelas duas asas a quebrar,
Nós levantámos todo aquele peso
Que ao chão de pedra resistia preso,
10 Com um enorme esforço muscular.

“Muito obrigada! Deus lhe dê saúde!”


E recebi, naquela despedida,
As forças, a alegria, a plenitude,
Que brotam dum excesso de virtude,
15 Ou duma digestão desconhecida.

E enquanto sigo para o lado oposto,


E ao longe rodam umas carruagens,
A pobre afasta-se, ao calor de agosto,
Descolorida nas maçãs do rosto,
20 E sem quadris na saia de ramagens.

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Num Bairro Moderno Cânticos do Realismo
Um pequerrucho rega a trepadeira
Duma janela azul; e, com o ralo
Do regador, parece que joeira11
Ou que borrifa estrelas; e a poeira
25
Que eleva nuvens alvas a incensá-lo.

Chegam do gigo12 emanações sadias,


Oiço um canário – que infantil chilrada! –
Lidam ménages13 entre as gelosias14,
E o sol estende, pelas frontarias,
30
Seus raios de laranja destilada.

E pitoresca e audaz, na sua chita15, 11. joeira: passa pelo crivo.


O peito erguido, os pulsos nas ilhargas16, 12. gigo: cesto.
13. ménages: empregadas domésticas.
Duma desgraça alegre que me incita, 14. gelosias: persianas.

35
Ela apregoa, magra, enfezadita, 15. chita: tecido de algodão estampado a cores.

As suas couves repolhudas, largas. 16. ilhargas: partes laterais do corpo acima das ancas.

E como as grossas pernas dum gigante,


Sem tronco, mas atléticas, inteiras,
Carregam sobre a pobre caminhante,
Sobre a verdura rústica, abundante,
40 Duas frugais abóboras carneiras17. 17. abóboras carneiras: variedade de abóbora.

VERDE, Cesário, Op. cit. [pp. 231-33]

2. Transcreve os versos que comprovam as seguintes afirmações.


a. A vendedora de legumes dirigiu-se ao sujeito poético.
gritou-me prazenteira

b. O sujeito poético levantou a pesada giga com grande esforço.


Com um enorme esforço muscular.

c. As emoções do sujeito poético foram tocadas pelas palavras da vendedora.


As forças, a alegria, a plenitude,

d. Sujeito poético e vendedora seguiram em direções opostas.


E enquanto sigo para o lado oposto

e. A cesta da vendedora, simbolizando o campo, parece invadir a cidade.


Chegam do gigo emanações sadias,

3. Faz um levantamento das expressões que caracterizam a vendedora de legumes nesta


fase do poema.
Frágil – “pelas duas asas a quebrar,”;” Descolorida nas maçãs do rosto,”

“E sem quadris na saia de ramagens”

Educada- “Muito obrigada! Deus lhe dê saúde!”

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Num Bairro Moderno Cânticos do Realismo

4. O sujeito poético retorna à realidade pelo contacto direto com a vendedora e pela
observação final da realidade circundante.
4.1. Concordas com a afirmação anterior? Justifica a tua resposta.
Concordo, porque a vendedora chama pelo sujeito poético e ele a responde e , o sujeito
volta a descrever o que vê ao seu redor e a vendedora .

5. Analisa a estrutura estrófica e métrica do poema, preenchendo os espaços.

O poema “Num bairro moderno” é constituído por a. 20 estrofes. Cada estrofe tem b. 5
versos, sendo uma c. quintilha. Quanto ao número de sílabas métricas, cada verso apresenta d.10
sílabas, ou seja, trata-se de versos e. decassilábicos.

5.1. Divide os seguintes versos em sílabas métricas.


E como as grossas pernas dum gigante, E co-mo as-gro-ssas-per-nas-dum-gi-gan-te
Sem tronco, mas atléticas, inteiras, Sem-tron-co-mas-a-tlé-ti-cas-in-tei-ras
Carregam sobre a pobre caminhante, Ca-rre-gam-so-bre a –po-bre-ca-mi-nhan-te
Sobre a verdura rústica, abundante, So-bre a-ver-du-ra-rús-ti-ca a-bun-dan-te
Duas frugais abóboras carneiras. Du-as-fru-gais-a-bó-bo-ras-car-nei-ras

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