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JANEIRO
CENTRO DE EDUCAÇÃO E HUMANIDADES
FACULDADE DE EDUCAÇÃO
FUNDAÇÃO CECIERJ /Consórcio CEDERJ / UAB
Curso de Licenciatura em Pedagogia – Modalidade EAD
Matrícula: 19112080046
Orientações
Retome a leitura da Aula 8 e faça uma relação dos conceitos e ideias centrais
explorados nesta aula. Em seguida, leia, com atenção, o poema “Lição de biologia”,
e escreva um comentário sobre este texto, destacando que características permitem
que ele seja um exemplo de texto literário.
Eu plantei um pé de amor
no fundo da minha vida
a semente foi brotando
primeiro criou raiz
da raiz nasceu o broto
do broto nasceu o caule
do caule nasceu o galho
do galho nasceu a folha
da folha nasceu a flor
e da flor nasceu o fruto
e o fruto que era verde
depressa ficou maduro
e com ele eu fiz um doce
que eu dei pra você provar
que eu dei pra você querer
que eu dei pra você gostar.
Leia este trecho de “O Cavalinho Azul”, obra de Maria Clara Machado, encenado
no Teatro Tablado no Rio de Janeiro pela primeira vez maio de 1960. Retome o estudo
da Aula 17, e faça uma pesquisa, se quiser, para ampliar seu entendimento sobre este
tipo de texto. Faça um resumo explicando com suas palavras o que caracteriza o
gênero dramático.
(...)
4.ª CENA
VELHO
Foi assim que conheci Vicente. Uns achavam que ele era um
menino mentiroso porque inventava coisas; via cavalos azuis,
circos enormes, campinas verdes; achava que um vagabundo
como eu era Deus, imaginem vocês.
Outros achavam que ele era louquinho. Cá para mim, acho que
ele nem era mentiroso, nem louco. Apenas via as coisas
diferentes e acreditava mesmo no que via. Só sei que ele andou
pelo mundo atrás de seu cavalo. Será que encontrou? Vamos
ver por onde ele anda agora. Depois de muito caminhar chegou
primeiro a um circo numa cidade pequena perto da cidade dele.
(O velho puxa a pequena arquibancada.) Os donos deste circo são aqueles três
músicos que vêm ali (O velho volta ao tamborete. Os músicos entram com suas
cadeiras, solenemente. Um gordo e alto, o segundo alto e magro, e o terceiro,
baixinho. O gordo leva um violino, o alto leva um piano, e o baixinho, um
contrabaixo, que vão buscar fora de cena depois de colocarem as cadeiras no fundo
da cena. Estes instrumentos são feitos de madeira compensada, bem leves para serem
carregados e a música é tocada nos bastidores enquanto os músicos de cena apenas
pretendem que tocam como em instrumentos de brinquedo. O gordo abre a portinhola
de seu violino que só tem a utilidade de guardar dinheiro, e retira uma flauta. Os três
começam a tocar a música n.º 5A, enquanto chega a meninazinha que cumprimenta
os velhos e senta na arquibancada. Os velhos usam fraque e cartola, barbas postiças e
pedaços de cabelos saindo das cartolas.)
VELHO
Estes velhos alugaram um palhaço para fazer graça enquanto eles tocavam e
ganhavam dinheiro.
(Tambor forte para a chegada do palhaço.)
PALHAÇO
Caro público! Boa tarde, bom dia e boa noite! Este é o nosso grande circo americano!
Boa tarde, bom dia e boa noite! Os melhores (Acentuando.) trapezistas do mundo vão
voar por este teto! Cinco elefantes vermelhos, domesticados, educados, amestrados,
vão cantar! Cantar, caro público, cantar com voz de elefantes! Um cachorro chamado
Doly vai tocar violino... Tocar violino, caro público, com pata de cachorro... Um gato
vai cantar... Um gato cantor, caro públicos com voz de barítono... Uma foca bailarina
e uma bailarina gente vão dançar ao mesmo tempo, ao mesmo tempo, caro público,
em cima de cinco cavalos... cinco cavalos, caro público... Um homem que engole fogo
e cospe gelo, cospe gelo, caro público. (Ouve-se um tambor forte. Segue-se grande
silêncio.)
PALHAÇO
Tudo por cinco cruzeiros!
(O palhaço passa pela arquibancada esperando quem pague, enquanto os músicos
terminam a valsinha. A menina se levanta e tira de uma bolsinha cinco cruzeiros, que
entrega ao palhaço; este leva o dinheiro para o gordo, que abre a portinhola de seu
violino e guarda o dinheiro.)
E, para começar, o grande palhaço, o mais engraçado do mundo, vai fazer um número
de corda bamba. Este palhaço sou eu e aqui está a corda bamba.
(O palhaço estica no chão uma corda, abre um guarda-chuva mirim e começa a fingir
que se equilibra no clássico número. Os músicos acompanham o número. A menina
bate palmas.)
PALHAÇO
Muito obrigado! Muito obrigado, caro público! E agora o grande palhaço do grande...
(Neste momento entra Vicente; o palhaço faz uma pausa para olhá-lo, depois do
grande circo americano vai fazer o número de contorcionismo. (Vicente,
entusiasmado, começa a bater palmas. O palhaço fica nervoso com tanto entusiasmo
e desanda a fazer uma série de números e evoluções, sempre com Vicente e a menina
batendo palmas, até que, exausto, se senta no chão.)
VICENTE
(Aproximando-se.) Grande palhaço do grande circo americano, quer fazer o favor de
me dizer se o meu cavalo azul está aqui?
PALHAÇO
O quê? Um cavalo azul? Nunca vi. (Põe-se de pé. Os músicos também.)
VICENTE
Com um rabo enorme, branco!
PALHAÇO
Isto existe? Um cavalo azul?
VICENTE
O meu. É lindo. Dança, canta e voa.
PALHAÇO
(Correndo para os músicos.) Cavalo azul... Cavalo azul... Deve ser mentira... Deixa
de bobagem, menino. Não vê que estou trabalhando? Não atrapalhe meu número
contando coisas (meio em dúvida) que não existem... Sai daí. (Num canto,
desconfiado.) Cavalo azul!
PALHAÇO
Se quiser assistir, tem que pagar.
VICENTE
Mas eu não tenho dinheiro.
(...)
R: O gênero dramático dá nome aos textos literários que são produzidos para serem
representados no palco. A ação humana nesse caso é representada em um mundo
objetivado, com tempo e espaço bem definidos, tal como se encontra no gênero
narrativo. Se difere deste último pelo seu objetivo de ser escrito para ser encenado. A
origem do gênero dramático remonta a Grécia Antiga, onde se faziam presentes as
festas religiosas dedicadas aos deuses. Com o passar dos anos, o gênero dramático se
desprendeu da religiosidade que o caracterizava e se adaptou aos contextos em que
esteve presente durante a história, incorporando características de momentos literários
desde a sua criação em que foi produzido, lido e encenado a exemplo das peças
famosas como o Rei Édipo, de Sófocles e Alulária, de Plauto. Contudo, o gênero
dramático ainda possui subgêneros, que são a tragédia, a comédia e o drama, não
possui narradores e possui elementos que sofrem transformação quando encenados,
como a ação, os personagens e o tempo.
4ª Questão: (valor: 2,0 pontos)
Leia o texto “Palavra boa é bicho solto”, publicado na Revista Emília 1e imagine
que você tenha de redigir uma carta para essa Revista se posicionando criticamente
sobre o texto, elegendo algum trecho para comentar. Escreva um texto de até 15 linhas
explorando sua visão e interpretação.
É com alegria, artigo raro nesses tempos, mas tão imprescindível quanto respirar, comer e
Por que ali do outro lado tem gente. E tem quem esteja na força bruta e linda das experiências
iniciais. E sempre haverá. É imperativo a gente nascer, crescer e buscar viabilidade nesse mundo.
E não conheço viabilidade maior e mais vinculadora do que encontrar um eixo narrativo para si.
Eu explico. A percepção acachapante de se perceber parte de uma narrativa. É forte e faz querer
seguir adiante.
E as possibilidades da palavra fazer esse elo são muitas. Palavra falada, cantada, narrada com
corpo ou só voz, palavra brincada, comida como receita ajeitada, como quadrinha, trava língua
1
Disponível em: Palavra boa é bicho solto | Revista Emília (revistaemilia.com.br) . Acesso em: maio,
2021
improvisada como repente regular com ou sem métrica solta ou escolhida a dedo e virtuose.
Palavra em registro histórico ou palavra dos grandes mestres dos terreiros e quintais. Palavras
de tantas sonoridades ressoando em tantos corpos de uma malha rompida e refeita de tessitura
complexa como são as palavras faladas no Brasil.
Até que a menina saiba cantar sua folha frase, do relato presente no emocionante trabalho de
pesquisa de Estela Caputo. Há de estar mergulhada nelas as palavras e as histórias. Mas preciso
alertar você que lê. Há uma selvageria misteriosa que rege a aderência das palavras ao corpo, ao
intelecto ao coração de cada um de nós.
Não é toda história, palavra ou música que adere em cada corpo. Como uma bromélia não se
hospeda em qualquer árvore. Por isso a vastidão de possibilidades importa. Importa também a
terra fértil do tempo e dos sentidos construídos coletivamente no terreiro onde se planta
palavra, se cultiva silêncios, se refaz no tempo o espaço de palavra florescer.
Diante de olhos pequenos, ávidos, imaginações abertas é uma alegria incandescente quando uma
história vira um livro. Essa carta de amor que se pode morar nela. É uma força que adultos
desenham, escrevem e juntos consolidam o espaço da literatura para a infância. Para a juventude
também e para a vida adulta por que até depois de existir ainda seremos as histórias. É essencial
que se preserve cada etapa da criação literária os debates a noção de que escrever e ilustrar para
criança é algo cuja complexidade deve ser preservada como floresta vasta e absolutamente viva.
Volto agora ao começo. Acesso importa. Ao livro. Às histórias. E é nessa intersecção que nascem
minhas perguntas. O livro ilustrado para a infância é nesse momento, ou a maior parte dele
escrito no sudeste. Ainda que muitos pesquisadores circulem até outros territórios e teçam
escutas e pesquisas preciosas, são suas as narrativas a respeito do que ouviram ou é seu o
projeto gráfico as escolhas as parcerias os direitos sobre a obra.
Lembro muito pouco de conhecer o nome das fontes. História narrada por José Maria de tal
cidade. Foto não lembro de nenhuma.
As histórias têm um refúgio chamado tradição oral, uma fonte energeticamente tão consistente
como magma que circula no centro da terra como sangue nas veias como pertencimento líquido
para onde sempre podemos voltar mas, vejo aí um perigo. A invisibilidade. Quem são as
comunidades? As pessoas? As fontes? Se o samba bebeu dos terreiros, quais foram? O que
protege seus direitos autorais? O que nessa lógica da propriedade privada sobre o patrimônio
intelectual preserva os donos, guardiões da oralidade?
Talvez seja romântico pensar que são encantados e desprovidos dessas necessidades
capitalistas. Vivem no sagrado Brasil Profundo. Que possam ganhar a superfície do
reconhecimento material e sejam erguidos ao status de mestres, como vi uma vez serem os
criadores Nordestinos repentistas, xilogravuristas e tantos outros em uma bonita Bienal do
Ceará em um tempo não tão distante.
Percebo que há dois pesos e duas medidas: o direito à propriedade intelectual no livro publicado
e a terra livre da oralidade. Quem dera todos tivessem nome e direitos. Percebo por que circulo
entre esses universos há quase 24 anos como narradora e escritora. E nesse tempo que me
emociono, agora já quase um quarto de século, vi muita gente corajosa cruzando estradas, rios,
atravessando verdades, despindo saberes, calando diante do desconhecido com malas grandes
e pequenas trabalhos consistentes outros mais frágeis (para usar as palavras do meu bonito
amigo Giuliano Tierno que para falar de trabalhos ainda com muito a descobrir chamou de frágil
e achei a coisa mais bonita de se dizer quando como a gente olha para um bebê prematuro e ao
chamar de frágil já pressupõe que sua força não tarda a vir).
Que gente bonita se dispõe a correr quilômetros para fazer chegar palavra. Que gente bonita
chama pra perto todo tipo de história em festivais, escolas, bibliotecas, praças públicas. Que
gente bonita canta toda noite de festa as coisas que não podemos esquecer. Quem dera
soubéssemos sempre a origem e seus nomes e seus rostos para dar crédito. Quem dera não
dependessem dos pesquisadores do sudeste para serem reescritos.
Do outro lado do livro há crianças, infâncias, contextos, perguntas e experiências que carecem
de palavras diversas e farta. Narradores diversos e vastos. Professores diversos com seus corpos
e entendimentos únicos. Um desafio gigantesco num país de proporção continental uma
tessitura de saberes maravilhosamente complexa. E sonho o dia que esses saberes feitos de
palavra e gente sejam tão reconhecidos remunerados e creditados.
R:
Prezados redatores da Revista Emília,
Atenciosamente,
Jacqueline Dias
Pedagoga
Referências Bibliográficas: