Gamba, João Roberto Gorini Teoria geral do Estado e ciência política. Atlas, 2019.
§1º - O autor inicia o presente texto com aspectos históricos. Nesse sentido, ele destaca
que, em nome da coletividade, as discussões entre diferentes visões políticas dentro de
todas as espécies de sociedades que possibilitam, em algum grau, a liberdade de
pensamento e de expressão, foram obviamente naturais. Desse modo, ele aponta que
esse encontro entre diferentes ideais possibilitou a existência de grupos que se juntaram
em torno de ideologias comuns. E isso é verificado, segundo o autor, ainda que em
sentido abrangente e impreciso, desde a democracia ateniense até na Roma antiga,
quando plebeus e patrícios discutiam sobre a concessão ou não de direitos aos plebeus.
Todavia, ressalta ele, essa discussão entre grupos com ideias distintas em regimes
autoritários era impraticável, e foi apenas na modernidade, que eles passaram a figurar
como principais atores políticos nas democracias liberais, o que nos permitiu falar
propriamente de partidos políticos.
§2º - A partir daí, o autor destaca um pluralismo muito forte, que possibilitou distintas
formas de ver e agir no mundo a partir de ideias, princípios e regras que não são as
mesmas entre todos. Exemplo: a multiplicidade de religiões.
§3º - Ademais, ele destaca que entre os séculos XVII e XVIII, no contexto das Pré-
Revoluções Liberais, diversos grupos políticos já se reuniam para implementar suas
ideias compartilhadas. Porém, isso só ocorre no século XIX, quando se passa a falar, de
fato, de partidos políticos. Nesse sentido, ele ressalta que apenas com a crescente ideia
de democracia que o partido político se solidifica na vida pública para preencher cargos
representativos e implementar seu programa político.
§4º - Notadamente, no contexto da Revolução Francesa, Jacobinos e Girondinos
lutavam pelo controle da Revolução e tinham o poder de mudar os rumos do
movimento, a depender das ideias a serem aplicadas. A posteriori, ainda na França, o
autor destaca que as crescentes universalizações do direito de voto, os partidos
precisaram ir às ruas para captar os anseios populares. Aqui, portanto, verifica-se o
aumento da vinculação entre população e partidos políticos.
§5º - Partindo deste histórico, o autor aponta que o conceito de partido político se
consolidou tal como o conhecemos hoje, ou seja, os membros do partido se reúnem em
torno de ideias comuns, objetivando alcançar cargos representativos para efetivar essas
ideias através de um programa político.
§6º - Desse modo, o autor relata que os partidos políticos são a mais efetiva forma de
intermediar ideias e anseios da população com o exercício do poder, ou seja, contrapõe-
se ao autogoverno (do povo, pelo povo e para o povo), o qual encontra dificuldades para
aplicação prática. Sendo assim, o autor destaca a necessidade de modelos
representativos de democracia através de grupos organizados: os partidos.
§7º - Nesse sentido, o autor aponta que existem outras formas de tentar influenciar
ações estatais além dos partidos políticos, como passeatas ou greves, mas estas estão
afastadas do poder, enquanto os membros dos partidos ocupam postos de poder, como
Presidente, Governador, Prefeito, etc.
§8º - Ademais, o autor ressalta a gama de pessoas ligadas aos partidos, além dos
filiados, tais como, simpatizantes e militantes, que se identificam com o programa
político e com as ideias do partido.
§9º - Por fim, sobre a importância dos partidos políticos, o autor destaca que eles são
instrumentos necessários de qualquer democracia representativa, porque canalizam os
anseios populares para efetivar os interesses coletivos.
§10º - Não obstante, o autor ressalta que há quem defenda candidaturas avulsas, ou seja,
sem vínculo partidário. Por duas razões: 1) ausência de partidos que representem a
ideologia do candidato, consequentemente, o impossibilitando de filiar-se; 2) a
descrença com relação à política/políticos. Dessa forma, neste contexto, o autor destaca
a figura do outsider, ou seja, alguém de fora do jogo político que carrega a esperança de
trazer algo novo para a política.
§11º - Ademais, o autor ressalta a necessidade de se questionar a efetiva possibilidade
de um candidato outsider, portanto, nesse sentido, ele aponta a falácia no argumento de
neutralidade de ideias deste, haja vista que o candidato de fora da política carrega uma
ideologia específica que sem a presença de um partido tende a não ser abertamente
apresentada aos eleitores.
§12º - Na sequência, o autor apresenta a previsão constitucional e legal dos partidos
políticos. Desse modo, nessa esteira, ele destaca o Art.17 da Constituição Federal de
1988, que consagra os partidos como sendo pessoas jurídicas de direito privado. Isso
significa, portanto, que estão sujeitos ao registro perante o Registro Civil de Pessoas
Jurídicas, nos termos da Lei dos Registros Públicos brasileira, sendo que o partido deve,
a posteriori, registrar seu estatuto perante o Tribunal Superior Eleitoral – TSE.
§13º - Paralelamente, o autor destaca a liberdade partidária e a autonomia como
princípios que regem a organização e o funcionamento do partido.
§14º - De volta a análise do Art.17 da CF/88, o autor ressalta o que diz seu caput. Desse
modo, ele destaca, dentre outras, a livre criação, fusão, incorporação e extinção de
partidos, resguardado a soberania nacional, assim como o regime democrático, o
pluripartidarismo e os direitos fundamentais da pessoa humana. Ademais, aponta a
proibição de financiamento de entidade ou governo estrangeiro ou a subordinação a
estes, e a necessidade de prestação de contas à Justiça Eleitoral.
§15º - Nesse contexto, o autor retoma a discussão sobre a liberdade partidária para
destacar a impossibilidade do Estado de interferir na criação ou extinção de partidos,
como visto, por exemplo, durante a Ditadura Civil-Militar, que extinguiu todos os
partidos e abriu caminho para a existência de apenas dois: Arena e MDB. Todavia, ele
ressalta que é livre a criação de novos partidos, desde que sejam observadas as regras
aplicáveis pela legislação vigente, como a proibição de organização paramilitar, ou seja,
de grupos armados.
§16º - Na sequência, o autor retoma o princípio da autonomia partidária e destaca que o
art.17 da CF/88 garante que não cabe ao Estado regrar os aspectos de organização
interna dos partidos ou interferir nas tratativas que estes fazem para estabelecer
coligações para as eleições majoritárias. Ademais, o ele esclarece que a partir da EC
97/2017, o texto do presente artigo foi alterado no sentido de proibir coligações
partidárias para fins de eleições pelo sistema proporcional, como de Vereadores e
Deputados Estaduais e Federais, sendo possível apenas a coligação para as eleições
majoritárias.
§17º - Nessa esteira, o autor ressalta que os partidos não costumam realizar prévias
internamente para escolher o candidato do partido, porque este é escolhido por
lideranças do partido, apelidados de caciques, caracterizando um procedimento não
democrático.
§18º - Por fim, o autor apresenta três diferentes sistemas partidários, sem deixar de levar
em consideração o ambiente democrático que garante a liberdade para a criação de
partidos de acordo com as leis vigentes.
§19º - Nesse sentido, primeiramente, ele destaca que o sistema unipartidário se
caracteriza pela existência de um único partido em todo o Estado, vedada a criação de
outros. Ou seja, toda a política e todos os candidatos a cargos representativos
concentram-se neste único partido. Desse modo, o autor relata que neste sistema a
liberdade de expressão é suprimida, haja vista a impossibilidade de se abrir o espectro
ideológico para além da ideologia do partido único. Já em relação ao eleitor, o autor
aponta que este sistema restringe o pluralismo político e, consequentemente, impede
substancialmente as possibilidades de voto. Portanto, nesse contexto, o autor ressalta
que o unipartidarismo se coloca bastante afastado dos ideais democráticos modernos,
apresentando-se como modelo de regimes totalitários do século XX, bem como de
algumas ditaduras hodiernas.
§20º - Na sequência, o autor apresenta o sistema bipartidário, o caracterizando pela
centralização do poder político em dois grandes partidos que se alternam no governo, ou
seja, enquanto um exerce o poder, o outro assume o papel de oposição. Notadamente, o
autor cita o caso dos Estados Unidos, onde há a existência de diversos partidos, mas
apenas dois são protagonistas: Partido Democrata e o Partido Republicano. Ambos
centralizam todo o sistema com esmagadora maioria dos congressistas e sempre
elegendo o Presidente. Segundo o autor, esse sistema é consequência das restrições e
dificuldades impostas aos pequenos partidos e cita que o Brasil já teve o bipartidarismo
durante a Ditadura Civil-Militar, quando o Ato Institucional nº2 extinguiu todos os
partidos, mantendo apenas dois: Arena e MDB.
§21º - Por fim, o autor apresenta o sistema pluripartidário, também conhecido como
multipartidário, cuja existência permite a criação livre de novos partidos dentro das
regras do jogo democrático, ou seja, dentro dos limites previstos na CF/88. Nesse
sentido, o autor ressalta que o pluripartidarismo rompe com a polarização característica
do sistema bipartidário, pois promove a atuação de partidos grandes, médios e
pequenos, cujas ideologias são as mais variadas. Por conseguinte, amplia-se a liberdade
de expressão e a representação de correntes ideológicas minoritárias, bem como a
defesa de direitos de minorias. A título de exemplo, o autor destaca que este sistema
vigora no Brasil e está previsto na Constituição Cidadã de 1988. Hoje, há mais trinta e
três partidos legalizados no cenário eleitoral brasileiro.
§22º - Após apresentar o cenário dos sistemas partidários, o autor destaca alguns pontos
positivos e negativos destes.
§23º - Segundo ele, a liberdade de expressão e a representatividade de minorias é um
ponto positivo do pluripartidarismo, haja vista que possibilita uma representação no
Congresso, ainda que em percentual pequeno, de causas minoritárias ou específicas
demandadas pela sociedade. De forma contrária, ou seja, como aspecto negativo, o autor
aponta o sufocamento de ideais minoritários pelos grandes partidos no sistema
bipartidário. Igualmente, no sistema unipartidário, ele aponta como negativa a falta de
representação de direitos de minorias devido a impossibilidade de criação de outros
partidos defensores destas bandeiras minoritárias.
§24º - Já sobre a formação de consensos, o autor revela que o sistema bipartidário leva
vantagem, pois é mais fácil obter consenso com apenas dois partidos, ao contrário do
que ocorre no pluripartidarismo, onde há o choque de interesses de vários partidos em
torno de ideais, causas ou projetos. Desse modo, o autor destaca que o bipartidarismo
promove a governabilidade plena, enquanto que o pluripartidarismo necessita da
formação de coalização entre os mais variados partidos e ideologias a fim de compor
uma base de sustentação. Consequentemente, isso gera desgaste para o governo, bem
como a necessidade de buscar meios de agradar a sua base governista. Ademais, como
essa base é heterogênea, o modelo pode ser considerado extremamente instável. Por
fim, o autor destaca que no sistema de partido único, o consenso é inviável, haja vista
que as decisões são sempre unilaterais.
§25º - Em relação à eficiência, o autor aponta que o sistema unipartidário leva vantagem
e relação aos demais sistemas, justamente por não comportar vários partidos, ou seja,
várias opiniões e ideias, que tornam as decisões mais demoradas, como se pode verificar
nos sistemas pluripartidários.
§26º - Ademais, o autor explica que um modelo autoritário pode, sim, ser extremamente
eficiente, mas o é, porque ignora os anseios populares e atua em prol de apenas um
grupo político dominante. Portanto, nesse sentido, o autor destaca que a democracia
nunca foi posta como exemplo de eficiência, mas como um modelo garantidor do
Estado de direito, dos direitos e garantias fundamentais e dos direitos políticos.
Portanto, a democracia jamais terá a eficiência administrativa de uma ditadura, pois ela
respeita os direitos individuais e repudia as condenações sumárias de governos
autocráticos.
§27º - Em derradeiro, o autor destaca a importância dos sistemas eleitorais na formação
dos diferentes sistemas partidários, imputando às eleições de um turno, a promoção do
bipartidarismo, e às de dois turnos, a consagração do multipartidarismo.