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“Cui Bono” (finalmente): quem matou

Marielle? E por quê?


21/11/2019 Romulus Maya 72 Comments "cui bono", "Evangelistão do Pó", "Patriot Act"
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Segurança Institucional, General Augusto Heleno, General Mourão, GSI, guerra híbrida, Jair Bolsonaro, Luis
Nassif, Marcelo Freixo, Marcola, Marielle Franco, Olavo de Carvalho, operação em pinça, operação
psicológica, PCC, Pepe Escobar, Piero Leirner, Primeiro Comando da Capital, PSOL, Romulus Maya, tráfico
de drogas 54 min de leitura
Sim, os Bolsonaro são parte da trama. Mas de forma ainda mais sinistra do que vem
especulando o senso comum na atualidade.
Dossiê completo, no estilo D.E. (relatos de fontes, devidamente checados, links e
prints. Muitos prints…)
Mais — EXCLUSIVO: as “esquisitices” apontadas pelos laudos da perícia criminal
do local do assassinato, contradizendo a narrativa oficial em diversos pontos. Sim,
temos os laudos! E também a análise dos mesmos, feita por perito veterano, amigo do
blog.

Publicado 3/nov/2019 — 01:26


Atualizado 3/nov/ 2019 — 13:45 — EXCLUSIVO: as “esquisitices” apontadas pelos laudos da
perícia criminal do local do assassinato.
Atualizado 21/nov/2019 — 17:55 — (i) o segundo carro envolvido, ocultado pelos
“investigadores”; (ii) o esquema de placas fantasma; (iii) a impossibilidade física; (iv) o plano dos
mandantes do crime.
Por Romulus Maya, para o Duplo Expresso
Já está se tornando recorrente o celebrado jornalista Pepe Escobar abrir
suas participações no Programa Duplo Expresso dizendo que só o D.E. faz
jornalismo investigativo no Brasil:

Exagero à parte, é certo que ninguém no chamado “PIGuinho Vermelho” – os


veículos que (interessadamente) orbitam o PT desde os tempos em que esse
passou a poder oferecer banners de estatais federais em seus sites a R$ 200
mil/ mês cada – faz a pergunta mais básica do jornalismo investigativo: “cui
bono?”. Do latim, “quem sai ganhando?”.
É certo também que, “estranhamente”, mesmo alertados – às vezes até em
reveladoras intervenções ao vivo em suas transmissões (mais de uma) –,
nenhum desses veículos ousa falar dos Projetos de Lei que constituem as
pernas do chamado “Patriot Act” Tabajara, que permitem o fechamento – de
fato – do regime (PL 2418/ 2019, PL 1595/ 2019, PL 443/2019, PL 3389/ 2019):

Tais PLs tramitam na Câmara desde o primeiro semestre deste ano, no mais
absoluto sigilo. Ou melhor, assim caminhavam – até o Duplo Expresso, e o
bravo Deputado Glauber Braga, entrarem em campo e furarem o muro de silêncio
avençado entre governo e “oposição”. Entre PIG e “PIGuinho vermelho”.
E por que falamos disso agora? Em artigo intitulado “‘Cui Bono’ (finalmente):
quem matou Marielle? E por quê?”. Ora, porque uma coisa está intimamente
ligada à outra.
Desde o dia seguinte ao assassinato da ex-vereadora Marielle Franco, o
Duplo Expresso ousou fazer a (perturbadora) pergunta – “cui bono?”:
O nome da rosa: Marielle
15/mar/2018
A vereadora foi assassinada dentro do carro a tiros na noite de 14/03/18, na Rua Joaquim Palhares,
no bairro do Estácio, região central da cidade do Rio de Janeiro. O motorista também foi baleado e
morto, enquanto a assessora que a acompanhava, Fernanda, sobreviveu.
A notícia do assassinato a sangue frio da vereadora caiu como uma bomba – também semiótica.
Fontes na Polícia do Rio rapidamente se colocaram à disposição. Enfáticas, afirmam que o caso é um
enigma. As milícias são uma espécie de “inimiga íntima” da Polícia, velhas conhecidas. Estranharam,
portanto, a execução (i) de uma autoridade (ii) em período já extremamente conturbado: não apenas
eleições se aproximam como, com a intervenção federal, todos os refletores voltam-se, justamente,
para o Rio de Janeiro – e para as falhas na sua política de segurança pública. Tal “ousadia” foge aos
padrões de atuação das milícias, que preferem sempre as sombras. Ao contrário, a execução de
Marielle coloca um refletor de alta potência voltado para a ferida aberta da segurança pública e para
as hordas criminosas que, como tumores, surgem no corpo enfermo da polícia do Estado.
Cui bono? A quem beneficia? E, no verso da moeda, a quem prejudica?
(…)
Marielle parece ser um dos casos em que as “instituições” tentarão nos empurrar o “óbvio”. No
entanto, depois da sofisticação dos ataques híbridos de que tem sido vítima, espera-se que a sociedade
brasileira relute em sucumbir, mais uma vez, a sugestionamento. Assim como em “O nome da rosa”,
somente uma investigação – sem concessões – poderá revelar a verdade, por mais terrível que essa
possa ser.

Voltamos ao presente. Depois da (não) “polêmica” nesta semana com Luis


Nassif, blogueiro de conduta “controversa”, sobre se havia ou não sistema de
interfone no condomínio em que mora Jair Bolsonaro (ver “Exclusivo: porteiro
some; interfone aparece — live especial” – 31/out/2019) – e há! –, a questão
ganha novos contornos.
Importante registrar – apenas 36h depois, de próprio punho, Luis Nassif
admite que mentia. A conclusão, mais uma vez: “Duplo Expresso: a verdade
chega primeiro”.

*
Voltemos ao caso Marielle.
Antes de ser fulminada pela confissão do próprio Nassif de que mentira, a
(não) “polêmica” sobre o interfone havia incendiado as seções de comentário
de sites e blogs. E foi nesse contexto que fui notificado pelo Facebook da
marcação do meu nome na (simpática) postagem abaixo:
Romulus Maya é o mais independente jornalista do país hoje, que está revelando os podres do
jornalismo de “esquerda” que não passa de uma das pernas do mesmo processo de guerra híbrida.
Acompanhem o Duplo Expresso, seu canal, que tem colaboradores preciosos.
Hoje ele desmente a mentira de Luis Nassif, segundo a qual não existe interfone no condomínio de
Bolsonaro. Existe sim. E o porteiro não está de férias, está desaparecido.
Continuo duvidando dos interesses que Bolsonaro e sua família teriam em matar um vereadora
combatente mas ainda pouco expressiva à época em que foi executada. Não que eles não fossem
capazes, mas ainda é muito nebuloso o nexo entre um e outro.
De qualquer maneira, não é publicando barrigada e mentiras facilmente refutáveis que vai se chegar à
verdade nesse caso.

Nos comentários, deparei-me com uma tentativa de análise do fator “cui


bono” no assassinato de Marielle Franco. Mas muuuito “insatisfatória” ainda,
digamos:

Como nós mesmos falávamos — desde o dia do assassinato e novamente


nesta semana — sobre o “cui bono”, resolvi fazer as devidas pontuações:
(…)
Transcrição do comentário:
(ora complementado com abundância de prints e links, no estilo D.E. de dossiê)

Pois é. Não passa no teste da verossimilhança. Março de 2018. Eleições em


apenas sete meses, com Bolsonaro já favorito. O (suposto) “embate” de
Carlos Bolsonaro com Mariele, levantado agora em veículos do PIGuinho
Vermelho, foi… um ano antes. Em maio de 2017. E nem foi com ela. Foi com
assessor que foi dar um tour da Câmara de Vereadores para amigos que o
visitavam e, provocador, “emancipado” e “empoderado”, parou na porta do
gabinete do “Carluxo” para “lacrar”: disse em viva voz que “o filho de um
deputado ‘ultraconservador’ que beirava o ‘fascismo’” dava expediente ali.
Era verdade.
Mas o “empoderado lacrador” esperava que um “fascista” ouvisse isso
calado?
Sempre ouvi que vingança era um prato que se comia frio. Mas nunca vi tanta
desproporção numa reação:
(1) Assessor fala que Bolsonaro é fascista na frente do filho;
(2) Os Bolsonaro, então, mandam matar a sua… CHEFE;
(3) Mas, “apenas”, 1 ano depois (!)
(incidentalmente, apenas 7 meses antes da votação presidencial em que o chefe do
clã era favorito;
e em que lograria eleger, ainda, todos os filhos que se candidataram a cargos
eletivos naquele ano)
Em tempo: o tal assessor, ofensor da honra familiar, segue… vivo.
Essa de “recado” para Freixo é nova para mim. rs
Recado para quê?
O que Freixo estava fazendo que poderia parar de fazer, em março de 2018,
caso submetido a pressão, ameaça, “recado”?
Só consigo pensar, naquele momento histórico, em criticar veementemente –
e colocar lupa – na intervenção militar na Segurança do Rio de Janeiro de
Temer/ General Etchegoyen. E nas ações de tomada de território da facção
criminosa Comando Vermelho pelas Forças Armadas. Que, na verdade,
longe de serem “liberadas” e ocupadas pelos Estado eram repassadas, de
forma branca, à administração por facção criminosa rival ao Comando
Vermelho. Não por acaso, a associada local do PCC paulista:
Sim, o PCC… aquele capaz de celebrar – e fazer observar na sua hinterland –
a “pax paulista”, pactada clandestinamente com o PSDB (que dirige SP há
três décadas): em pagando o “pedágio” devido, pode traficar à vontade. Em
troca, o PCC compromete-se a coibir assassinatos e enfrentamentos com a
polícia na sua área de atuação. Proibindo, inclusive, o porte de armamento
ostensivo. E, até mesmo, o uso de fuzis. A intervenção federal visava,
justamente, a exportar o modelo para o Rio de Janeiro. Plano piloto para o
que viria na sequência: o projeto “Evangelistão do pó”.
Hoje, com os Generais sucessores de Etchegoyen no GSI e com a
Juristocracia peessedebista no Ministério da Justiça, já se caminha para a
exportação da “pax paulista” para todo o Brasil. É nesse contexto que se
compreende a “estranha” relocação, neste ano (2019), dos “capi” do PCC e
do CV para certos presídios federais. Quase todo o comando do PCC foi
levado para Brasília. Ou seja, do ladinho de Sergio Moro e dos Generais do
GSI. Incluindo até mesmo Marcola. E “Marcolinha”, o seu irmão e principal
conselheiro:
Dali, de Brasília, Juristocracia, Generais do GSI e PCC administram a
associação entre essa facção criminosa e o CV, antes inimigas (literalmente)
mortais. A intervenção federal tocada pelo mesmo GSI, então do General
Etchegoyen, visou justamente a enfraquecer a posição relativa do CV, para
que esse fosse forçado a entrar no “acordão”. Como sinal – mafioso – de sua
“boa-fé” nas negociações, Beira-Mar havia mandado no final de 2018 uma de
suas filhas, sozinha, para uma “visita” em favela de SP controlada pelo PCC
(evento conhecido pela cúpula da segurança pública de mais de um Estado).
Poderia voltar em pedaços. Afinal, meses antes, membros do CV e do PCC
decapitavam-se, literalmente, em presídios Brasil afora:
Com o sucesso nas negociações entre PCC e CV, contando com a mediação
de Juristocracia e Generais, contudo, a filha de Fernandinho Beira-Mar
retornou sã e salva para casa, dias depois. Um armistício foi selado. De lá
para cá, do final de 2018 até março de 2019, os termos do “tratado de paz” e
da associação comercial entre as duas facções – e também Juristocracia e
Generais, evidentemente – foram negociados. Para a “cerimônia de
assinatura”, o Ministério da Justiça de Sergio Moro reuniu por um mês, em
um mesmo presídio federal (Porto Velho), Marcola, pelo PCC, e Fernandinho
Beira-Mar, pelo CV (cronologia, com links, abaixo).
É assim que se explica o “estranho” périplo de ambos pelos presídios
federais do Brasil nos primeiros meses do governo Bolsonaro, terminando
com a reunião de ambos em Porto Velho-RO.
Cronologia:
– 25/05/2017 – Fernandinho Beira-Mar é mandado para o presídio federal de
Porto Velho-RO.
(onde ficaria até maio de 2019)
– 13/02/2019 – Marcola também é mandado para o presídio federal de Porto-
Velho-RO. Ele e Beira-Mar ficarão aí reunidos por cerca de um mês, fechando
os termos finais do acordo de associação entre PCC e CV.
– 23/03/2019 – no mês seguinte (!), Marcola é mais uma vez transferido. Desta
vez para … Brasília, onde já se encontrava o restante da liderança do PCC
(incluindo seu irmão, “Marcolinha”), mandada para a Capital Federal apenas 10
dias antes.
Obviamente, quem também se encontra em Brasília?
– Juristocracia e os Generais do GSI, patrocinadores — e terceiros
intere$$ado$ — no acordo.
De lá, PCC, Ministério da Justiça e Generais supervisionarão a sua
implementação em campo.
– 26/05/2019 – Fernandinho Beira-Mar é mandado para o presídio federal de
Mossoró-RN.
Com a “Pax brasileira” a caminho (mais uma vez, articulação conhecida nas
cúpulas da Segurança Pública de mais de um Estado), consolida-se a
superestrutura coercitiva – a oficial e a mafiosa – no “Evangelistão do Pó”,
território outrora conhecido como “República Federativa do Brasil”. Tal qual
São Paulo, as taxas de homicídio despencarão – pelas mãos do PCC –,
sendo falsamente atribuídas ao Governo Federal e sua “política anti-crime”
(exatamente como ocorre em SP). Ao mesmo tempo, as taxas de lucro do
tráfico explodirão. Agradecem, além dos sócios locais no Estado e fora dele,
três das principais destinações da droga que passa pelo Brasil:
(i) Máfia Italiana – a ‘Ndrangheta (distribuição na Europa Ocidental);
(ii) Máfia Sérvia – Clã Šarić (distribuição no Leste Europeu); e
(iii) Máfia Israelense – Clã Abergil (distribuição na África e na Ásia).
Ah, como o movimentado Porto de Santos vai brilhar à noite…
*
Nota (1): sobre o tema da importância do tráfico de droga na atual ordem
global, não deixar de conferir: “Geopolítica da droga, os EUA e os golpes na
América Latina” — 11/mai/2019. Textos de Pepe Escobar, Romulus Maya e
Eduardo Jorge Vior.
Nota (2): sobre o modelo paulista de coerção mafiosa “subcontratada” pelo
Estado (!), ver “MP: Paulo Preto deu R$ 740 mil a grupo ligado ao PCC por
obra no Rodoanel” — 19/jun/2019 (UOL). No caso, o PCC foi pago para coagir
moradores a aceitarem as indenizações — baixas — oferecidas pelas
desapropriações para a construção do “RoBo-Anel”. Pois esse é o modelo a
ser nacionalizado no marco do “Evangelistão do Pó”.
Nota (3): “batom na cueca” — a prova, estatística!, da origem do modelo do
“Evangelistão do Pó”: São Paulo. Como se sabe — até filme indicado pelo
Brasil ao Oscar há a respeito — a última grande confrontação entre a PM-SP e
o PCC se deu em 2006, quando a facção determinou um “Salve, Geral!”
(ataques violentos “aleatórios” em todo o Estado, “terroristas”), como
resposta à insatisfação de seus membros com uma política penitenciária
rigorosa e o isolamento imposto às lideranças (em regime disciplinar
diferenciado — RDD). O PCC ganhou a parada, botando o Estado de joelhos.
Depois da guerra, celebrou-se a paz. E, como resultado, o Sudeste, que
sempre foi a região mais violenta do país, viu os seus índices de homicídios
desabar — puxados pela tal “Pax Paulista” PSDB/ PCC –, passando
à última (!) colocação no ranking de homicídios.
2006 — Sudeste lidera, com folga, ranking de homicídios. Ano do “Salve,
Geral” — que termina com o pacto com o PSDB:

Celebrada a “Pax Paulista” PCC/ PSDB, em apenas dois anos (!) o Sudeste
— puxado pelos números de SP — cai da primeira para a última posição (!):
E os números seguem caindo:
Animação (evolução de 1980 a 2017):
Tocador de vídeo
00:00
02:34
*
Neste grampo, Marcola gaba-se do fato de que quem reduziu os homicídios
em SP foi ele mesmo:
Tocador de vídeo
00:00
05:26
*
Ah, Sergio Moro…
Ah, General Augusto Heleno…
Vamos aplicar o tal “domínio do fato” aos dois??
*
Voltemos ao contexto do assassinato de Marielle Franco. Ocorrido —
lembrem — enquanto as FFAA enfraqueciam a posição relativa do CV em
favor do PCC, para que se chegasse mais à frente à “Pax do Evangelistão do
Pó”, como acabamos de ver. As críticas do padrinho político de Marielle,
Marcelo Freixo, à intervenção militar na Segurança do RJ – antes e depois do
crime – foram bem protocolares. Para além de tardias. O que era criticado até
por correligionários seus. Talvez, fruto de instinto de sobrevivência eleitoral,
para alguém com as suas ambições.
Pois sabe quem se colocava muito vocalmente contra a intervenção federal
então (pelas razões erradas), mesmo em ano eleitoral? E mesmo com o
entusiástico apoio à mesma de sua base?
– Jair Bolsonaro!
Pois é. Que coisa, não?
Olhando concretamente, Marcelo Freixo saiu com consagradores 350 mil
votos da eleição do ano passado. Muito em função da comoção com Marielle.
Foi o segundo mais votado. O primeiro, um candidato Bolsonarista.
Quem?
O tal “Helio Negão”.
Natural: nada acionou mais a cismogênese naquele ano do que o assassinato
de Marielle.
Que símbolo!
Que bomba semiótica, o seu assassinato!
De um lado, desembargadora aloprada falando que “ela era do Comando
Vermelho”, brutamontes asqueroso quebrando placa com seu nome (e
recebendo rios de votos por isso – e se elegendo inclusive –), ampla vitória
no Estado de Bolsonaro para Presidente e Wilson Witzel para Governador.
Ou seja, nas eleições majoritárias.
Do lado outro (ou seria “inverso”?), Freixo, o padrinho de Marielle,
nacionalizando o seu nome com o drama e recebendo 350 mil votos,
“solidários”. Conseguindo assim arrastar toda uma bancada (David Miranda,
marido do ubíquo Glenn Greenwald, p.e., teve míseros 17 mil votos e está lá na
Câmara Federal agora). Logrou ainda fazer com que seu partido, o PSOL,
ultrapassasse a cláusula de barreira, recém-estabelecida. Objetivo esse
muito incerto no inicio do ano, antes do assassinato de Marielle. Aliás, até por
isso lançaram todos os políticos do partido, com peso eleitoral – como Freixo
–, para a disputa FEDERAL proporcional:
Candidaturas (formalmente) “majoritárias” como as de “Professor Tarcisio”
para o Governo do Estado do RJ e do então Deputado Chico Alencar para o
Senado eram, na verdade, palanques para alavancar a votação proporcional,
para a Câmara Federal. Era essa que contava para o cálculo da cláusula de
barreira. O partido foi para o tudo ou nada, com o terreno prioritário sendo o
RJ. Conheço várias pessoas na burocracia do PSOL. Antes do assassinato
de Marielle já se faziam planos de contingência para o caso do fim do acesso
ao fundo partidário, se não se atingisse a barreira.
No final, contudo, sucesso:
Objetivamente, em boa medida graças à – justa – comoção com o
assassinato brutal de Marielle. Aliás, saíram eleitas justamente várias
“Marielles” Brasil afora, como Áurea Carolina, a “Marielle de Belo Horizonte”,
e Taliria Petrone, a “Marielle de Niterói”.

De novo — Marielle: que símbolo. Que bomba semiótica.


E – como visto – com dois gumes, simétricos, beneficiando ao mesmo tempo
ambos os polos da cismogênese.
Elege o padrinho; elege também o proto-fascista que quebra a placa com o
seu nome.
*
*
Atenção: não sugiro, de forma nenhuma, que alguém no PSOL pudesse ter
algo a ver com o assassinato.
Isso é apenas para que se veja como a pergunta do “cui bono” – ou “quem se
beneficiou” – leva a questão a outras dimensões. Sendo desinteligente, no
mínimo, falar em prejuízo ao PSOL ou “recado a Marcelo Freixo”.
Ao mesmo tempo, o “cui bono” afasta a verossimilhança da hipótese de
envolvimento dos Bolsonaro, que caminhavam para eleição tranquila dos
membros juniores do clã, com o patriarca sendo o favorito na corrida principal
(na ausência de Lula). Nunca foram, sequer, forças concretamente
contraditórias no panorama eleitoral. Na dinâmica de cismogênese, identitários
“lacradores” e proto-fascistas “mitadores” sempre foram “melhores inimigos”.
Um catapulta o outro. Dentro e fora do Brasil.
(ver, p.e., a prioridade editorial de canais de extrema-direita no mundo anglófono,
como o competente — e diabólico — Paul Joseph Watson).
Bolsonaro não teria virado “mito”, nacionalizado, com tanta facilidade, se não
fossem as sucessivas “dobradinhas” altamente midiatizadas com Jean
Wyllys, Maria do Rosario e o restante do bonde da “lacração empoderada”.
Dobradinhas em que um servia de escada para a projeção do outro, na sua
respectiva bolha. “Lacradas” vs. “mitadas”, sempre. Cismogênese na veia.
Tudo direto para as redes sociais e para os “CQC” e “Pânicos na TV” da
vida…
*
Mas…
… o pessoal vai preferir dizer algo reducionista como “o macho branco hétero
(de sobrenome europeu), num crime de ódio, matou a mulher negra,
favelada, lésbica, periférica, esquerdista…”. Estou vendo várias postagens de
influenciadores – identitários – no twitter com essa pegada:

Pouco importa que o cara estivesse com um pé no Palácio do Planalto.


E que não tivesse nada a ganhar.
E tudo a perder.
Razão para que se, para nos acalmar, (paradoxalmente) temos emoção?
E afetos?
(de sinais positivo e negativo)
E – fundamentalmente – viés cognitivo de confirmação pra “resolver a
questão”?
Trazendo-nos de volta para a zona de conforto (psicológico-cognitivo)?
*
Se for para especular, como essa de “recado para o Freixo” (?), muito mais
sentido fariam outras hipóteses. Há diversas nos círculos de inteligência na
Segurança Pública. E até inteligências fora do Brasil. Inclusive algumas em
“camadas”. “Conspiração dentro da conspiração”. Estilo cebola.
Eis uma, por exemplo, que ao contrário de “o Bolsonaro mandou matar”,
passa nos testes de (i) verossimilhança; e (ii) cui bono:
Tratou-se de uma sofisticada operação orquestrada por grupos poderosos,
com fortes interesses, para terem uma grande arma de dissuasão, nuclear,
contra aquele que agiriam para colocar, pouco depois, na Presidência da
República. A ser traduzida em decisões econômicas de grande vulto, com a
arbitragem presidencial para a escolha dos vencedores. E traduzidas também
em alinhamentos políticos. Dentro do Brasil, com a agenda de certas
tendências ideológicas e corporações no Estado, mas também fora, com a
adesão irrestrita a certos interesses geopolíticos bem demarcados.
Mais: quem sabe até, dependendo das contingências de um grande
planejamento estratégico, bomba nuclear essa a ser finalmente acionada em
algum dado momento futuro, para liberar a cadeira presidencial para um
eventual sucessor…
Isso, no caso de Bolsonaro, à frente, tornar-se inconveniente. Até aqui, longe
disso. Muito pelo contrário. Em várias dimensões e sentidos, não é mesmo?
Até como “para-raios” o “tosco” Bolsonaro serve, para o consórcio civil-militar
aboletado no poder.
Consegue imaginar ator(es) que pudesse(m) planejar – e executar – algo
parecido?
Com tamanha capacidade de inteligência e operativos com as competências
requeridas para uma execução sem falhas desse roteiro?
Até mesmo conseguindo envolver um VIZINHO de Bolsonaro na trama?
(i.e., a trama aparente, a “para o público”)
Ainda que sem nenhuma verossimilhança para a hipótese de o vizinho em
questão ser ‘o’ executor”, na real? O cara que puxou o gatilho?
(po, o cara mora num condomínio de luxo!
Com atores da Globo!
Eu sei: já fui lá.
Várias vezes!)

Consegue imaginar algum(ns) ator(es) que tivesse(m), até mesmo, a


presença de campo ideal para tal operação, naquele momento da intervenção
federal na segurança pública do Rio de Janeiro?
Que símbolo era – e continua sendo – Marielle Franco, não é mesmo?
Até jardim em Paris, com o seu nome, tem agora…
Pobre Marielle: os identitários tem razão em dizer que ela foi morta por tudo o
que representava: mulher, negra, lésbica, favelada, periférica e esquerdista
militante dos direitos humanos.
A questão é que não teve nada de “crime de ódio”.
Foi, e continua sendo, muito útil.
*
*
*
P.S.: Um “a propósito”, direto do túnel do tempo: “Operação Gládio” e os false
flags (operação de falsa bandeira).
Quem ordenou o sequestro e o assassinato do ex-Primeiro-Ministro italiano
Aldo Moro?
Cui bono? Quem ganhou com o mesmo?
Quais foram suas consequências jurídicas – e políticas – na Itália dos “anos
de chumbo”?
O que se obteve, concretamente, em termos de controle estatal dos
indivíduos?
Quais foram as consequências geopolíticas do episódio, na Guerra Fria (i.e.,
a anterior)?
(Em tempo: sobre a operação Gládio, ver levantamento de textos e documentários
reunidos por leitor na seção de comentários, aqui)
*
*
*
Atualização 3/nov/2019 — 13:45: os pontos problemáticos
identificados no laudo da perícia criminal sobre a cena do crime
Comentário enviado por perito criminal veterano, de SP
Parabéns pela coragem. Não se ousa falar no acordo PCC/ CV/ militares fora
das cúpulas da inteligência da segurança pública.
Aguns fatos chamam a atenção quando se lê os laudos do assassinato da
vereadora Marielle Franco e de seu motorista, Anderson Gomes.
A saber:
(i) AEC COM ESQUEMA LESÕES MARIELLE
(ii) AEC COM ESQUEMA LESÕES ANDERSON
(iii) LAUDO LOCAL
[D.E.: atenção! Conteúdo com imagens muito fortes, não adequado para
pessoas sensíveis!]
É importante entende-los para se ter uma visão mais clara do acontecido.
Um dos fatos que chama a atenção no laudo de Exame de Necropsia de
Anderson e Marielle é que Anderson foi atingido pelas costas, através da
janela e do banco do carro, com projétil de arma de fogo padrão, totalmente
encamisado: “parcialmente deformado na ponta, revestido de metal amarelo”.
Já no caso de Marielle, o mesmo laudo indica “projétil de arma de fogo,
chumbo nu deformado”. Ou seja, um projétil parcialmente encamisado. I.e.,
não padrão.
O que isso indica?
Que foram utilizados dois tipos diferentes de munição. E que havia dois
atiradores.
Explico: existem vários tipos de projéteis de armas de fogo (projétil é a parte
da munição que sai do cano). O que vários elementos da perícia no local e
nos corpos indicam é que pelo menos uma parte dos projéteis era do tipo
“ponta oca semi-encamisada”, não compatível com o lote desviado da PF,
suposta “origem” da munição. “Ponta oca”: para fazer estrago, visível, gráfico,
provocar impacto (midiático?). Essa foi a munição usada em Marielle,
apenas.
Aliás, essa alegada “origem”, em si, do lote já é uma “saga” à parte, com
versões sucessivas, contraditórias entre si. Tudo muito esquisito, para dizer o
mínimo.
[D.E.: sobre o desencontro de versões, refletidos em matérias da grande
imprensa da época, ver os links reunidos pelos expressonautas neste fio]
Já os outros projéteis eram “totalmente encamisados” (compatíveis com um
lote da PF). Tendo também pontas, não eram aptos a provocar as mesmas
“crateras” (midiatizáveis?) deixadas no corpo de Marielle. Independentemente
de detalhes mais técnicos isso indica que o “famoso” “lote desviado da
Polícia Federal, lote UZZ-18” só conta parte da história. Tudo indica que
foram utilizados os estojos desse lote para uma recarga (estojo é a parte da
munição que contém pólvora e espoleta). Sim, os estojos são recicláveis, o
que – convenientemente – torna a identificação da origem virtualmente
impossível por meios de perícia.
Esquema de munição 9mm com projétil “ponta oca encamisada”, mais o estojo que
contém o propelente, a espoleta e o projétil. O estojo pode ser reaproveitado.

Outro detalhe que chama a atenção é relativo à posição dos tiros e dos três
ocupantes do veículo:
Não se nota nas fotos do laudo pericial do local que teria havido qualquer
tentativa de alvejar a assessora de Marielle de nome Fernanda. Os tiros
foram – exclusivamente – dirigidos a Marielle e Anderson. Moça de sorte.
Muita sorte…
Tem mais: pela descrição, o carro possuía vidros cobertos de “insulfilm”. Ou
seja, não permitiria ver os ocupantes. No entanto, os assassinos sabiam
exatamente a posição das vítima dentro do veículo. Ao ponto de poderem
planejar – e executar – a ação de modo a atingir alvos específicos. Apenas
dois de três.
*
Atualização (4/nov/2019):
Em tempo: Fernando Nogueira Martins Jr., Professor de Direito Penal e
Processo Penal da Universidade Federal de Lavras, revelou no Duplo
Expresso que, à época do assassinato, ele e outros colegas veteranos de
militância pelos direitos humanos (como um policial civil com 20 anos de
experiência), com o know-how portanto de acompanhamento de
investigações policiais, acostumados por ofício a desmontar manipulações,
falhas e até mesmo farsas e “plantações” nas mesmas, ofereceram a
Deputados do PSOL, como Jean Wyllys e Marcelo Freixo, trabalho —
voluntário — de acompanhamento da investigação policial no caso Marielle.
Não houve abertura. Ou interesse.
*
Atualização (21/nov/2019):
(i) Eis matéria publicada — e depois “apagada” (!) — pelos editores
do Intercept, que corrobora o que o Duplo Expresso levanta no
presente artigo: há mais envolvidos, ocultados pelos
“investigadores”!
Polícia ignorou registro de segundo carro clonado no dia do assassinato
de Marielle
10/11/2019

Por Marina Lang/ Intercept Brasil (!)


Até agora, a investigação sobre o assassinato de Marielle Franco apontava que os
matadores usaram um carro no ataque: um Cobalt prata de placas clonadas. Mas um
relatório da Polícia Civil até hoje inédito, anexado ao inquérito, mostra que um segundo
Cobalt, com as mesmas placas clonadas, estava circulando na cidade no mesmo horário a
50 km do local da morte da vereadora e de seu motorista, Anderson Gomes.
A informação foi ignorada pela polícia ao longo das investigações.
A presença do segundo Cobalt clonado no relatório levanta algumas hipóteses, então
entramos em contato com a delegacia responsável pelo caso e perguntamos: há de fato um
segundo carro com a mesma placa clonada e que circulou no mesmo dia do assassinato? Se
sim, por que foi ignorado? Ou o registro no laudo foi um erro de digitação? A polícia não
respondeu, informando apenas que “o caso corre sob sigilo”.
A dona do Cobalt prata original com as placas KPA-5923 legítimas conseguiu comprovar
que, na hora do crime, o veículo estava estacionado no Leblon. O inspetor responsável pelo
laudo também descartou a possibilidade dela ter passado na Avenida Brasil, km 50,7, no dia
do crime. “Em suas declarações, [a dona do veículo] informou que sempre utilizou seu
veículo para deslocar-se de sua residência em Nova Iguaçu até seu local de trabalho no
Leblon. A análise das OCRs [sistema de fiscalização eletrônica da Prefeitura do Rio] e o GPS
instalado em seu veículo confirmaram a versão da declarante”, informou Carlos Alberto
Paúra Jr. em seu relatório de investigação.
A suspeita de um possível segundo carro na emboscada contra Marielle e Anderson
apareceu nas primeiras hipóteses da Polícia Civil, mas foi descartada com base nos
depoimentos de testemunhas que assistiram às execuções. A informação do segundo Cobalt
circulando na mesma hora e com a mesma placa, a 51 km da rota do crime, traz a hipótese à
tona novamente.
Um áudio anexado na denúncia da ex-procuradora geral da República, Raquel Dodge, que
transcreve uma conversa gravada entre o vereador do Rio Marcello Siciliano, do PHS, e o
miliciano Jorge Alberto Moreth, o Beto Bomba, aponta que o major Ronald Paulo Alves
Pereira estaria em um segundo carro em apoio à empreitada criminosa. A gravação foi feita
pelo parlamentar e entregue às autoridades federais.
Um registro ignorado
O trecho do relatório policial intitulado “Da Movimentação do Veículo Clonado Chevrolet
Cobalt KPA-5923” inclui uma planilha informando que o veículo foi detectado nas imediações
de Campo Grande, bairro da zona oeste do Rio. Às 18h10 de 14 de março de 2018, ele
estava exatamente na Avenida Brasil, km 50,7, trafegando em sentido Centro. Esse local fica
a cerca de 51 km da rota percorrida pelos assassinos – com um veículo idêntico – momentos
antes do crime.
Mapa: Rodrigo Bento/The Intercept Brasil
Um minuto antes, às 18h09, o carro que transportava os criminosos que mataram Marielle e
Anderson — também um Cobalt prata com placas KPA-5923 clonadas – foi flagrado pela
CET e pelo COR na rua Conde do Bonfim, 256, na Tijuca, zona norte do Rio. A rota consta
no relatório da polícia, mas em outra parte do inquérito, em que quadros das câmeras de
segurança documentam o trajeto feito pelo Cobalt usado pelos assassinos para chegar à
Casa das Pretas, na Lapa, região central do Rio.
Ali, eles ficariam parados por pouco mais de duas horas a fim de monitorar o veículo em que
a vereadora, seu motorista e a assessora Fernanda Chaves estavam no momento da
emboscada no cruzamento entre as ruas Joaquim Palhares e João Paulo I, no Estácio, por
volta das 21h10 daquela noite.
O relatório de 21 de fevereiro deste ano, assinado pelo inspetor da Polícia Civil Carlos
Alberto Paúra Jr., afirma que a primeira aparição de um Cobalt prata com as placas KPA-
5923 clonadas ocorreu em 27 de outubro de 2016. Deste dia até 12 de março de 2018, o
carro foi visto transitando pela Avenida Brasil em 33 registros, conforme
o Intercept contabilizou na tabela anexa ao relatório.
Ainda de acordo com o documento, após passar exatamente um mês longe das câmeras de
monitoramento de tráfego, o veículo foi avistado na Barra da Tijuca justamente no dia do
homicídio, 14 de março de 2018, “e deslocou-se até o bairro do Estácio para cometimento do
crime investigado”, escreveu o inspetor. Em sua análise, Paúra Jr. ignorou o longínquo registro
de um carro idêntico na Avenida Brasil, às 18h10, a 51 km de distância da rota usada pelos
assassinos e apontada pela polícia em outra parte do inquérito. Tivesse prestado atenção nisso, o
policial veria que teriam de ser dois carros diferentes, pois àquele horário o tempo previsto para
ir de um ponto a outro seria de mais de uma hora.
Trecho do inquérito.
Aquela havia sido a 34ª aparição de um Cobalt Prata de placas clonadas KPA-5923 na Avenida
Brasil, segundo o relatório policial que detalhou o trajeto do veículo. Curiosamente, neste
registro da planilha da polícia, não há detalhes da localização do equipamento de fiscalização da
CET no km 50,7, sentido Centro, da Avenida Brasil. Outros registros da mesma tabela e na
mesma quilometragem, contudo, indicam que o local fica na região de Campo Grande.
Procurado, o COR declarou que cabe à CET informar o local preciso do radar, seu endereço
aproximado ou mesmo o bairro. Já a CET foi procurada em seis ocasiões pelo Intercept e
não forneceu a localização precisa do radar que flagrou o carro em Campo Grande.
O laudo afirma que o Cobalt clonado deixou de circular pela Avenida Brasil, na altura de
Campo Grande, às vésperas do crime, em fevereiro, para então iniciar suas aparições na
rota da Barra da Tijuca (de onde o carro saiu em 14 de março) até a Tijuca (bairro em que
Marielle residia), por, ao menos, quatro datas no mês anterior ao atentado. “Por quatro
vezes, nas nos dia 1, 2, 7 e 14 de fevereiro, o Chevrolet Cobalt realizou o mesmo trajeto,
merecendo destaque o fato de que o veículo ‘surgia’ primeiramente na OCR da Barra da
Tijuca e após deslocar-se até a Tijuca, este voltava para a Barra”, escreveu.
Há de fato um segundo carro com a mesma placa clonada e que circulou no mesmo dia do
assassinato? Se sim, por que foi ignorado?
Após o duplo homicídio de Marielle e Anderson, o carro clonado apareceu em pontos
diferentes da cidade em ao menos 26 dias distintos entre 15 março e 2 de dezembro,
segundo a polícia. Dentre estas datas, em 13 dias diferentes ao longo de nove meses após
os assassinatos o carro transitou pela Avenida Brasil novamente. O último registro foi datado
de 2 de dezembro de 2018, segundo o relatório. Nesta data, o Cobalt clonado também
passou pela Avenida Brasil, no sentido do bairro Santa Cruz, também na zona oeste do Rio,
às 11h05, para nunca mais ser rastreado.
Um delegado da Polícia Civil do Rio, que falou ao Intercept sob condição de anonimato, disse que
a menção a esse ponto da investigação que ficou oculto é importante. “Não ficou claro este ponto
e ele deve ser investigado ainda, mas não pode se ter uma conclusão de que houve
intencionalidade ou não [na omissão do registro].” Segundo ele, como o objetivo do inquérito é
identificar a autoria e a materialidade do crime e os autores foram vistos na rua Conde de
Bonfim [no bairro da Tijuca], o outro carro não serviria para fins de identificação. Mas ele
pode ajudar a esclarecer outros pontos da investigação. “Acho que isso deve ser levado ao
segundo inquérito que identifica o mandante e outros possíveis partícipes que contribuíram
para o crime”, analisou.
Solicitei à Polícia Civil, em três ocasiões, o contato direto para uma entrevista com o inspetor
da DH que assina o relatório, mas os pedidos não foram respondidos.
Responsável pela clonagem também foi assassinado
A investigação da Divisão de Homicídios do Rio de Janeiro também aponta que Lucas Prado
do Nascimento da Silva, um dos suspeitos de ter feito a clonagem do Chevrolet Cobalt usado
no crime contra Marielle, foi assassinado 20 dias depois das execuções da vereadora e de
seu motorista.
Conhecido como Todynho, Silva foi executado em 3 de abril de 2018, em uma provável queima
de arquivo em decorrência do atentado contra Marielle. Ele foi apontado por ter feito as
alterações no documento do veículo usado pelos assassinos. O crime segue sob
investigação pela Delegacia de Homicídios.
A Polícia Civil do Rio ainda busca por Antônio Carlos Lima da Silva, o Nem Queimadinho,
que teria montado e adulterado os chassis e número de identificação do veículo. Seu
paradeiro ainda é desconhecido. No relatório final produzido pela DH em março, Giniton
Lages, delegado que comandou a primeira fase do inquérito, ponderou que, apesar das
informações de inteligência da polícia, a autoria da clonagem ainda não foi assegurada pelos
investigadores e que isso é tema de um outro inquérito.
Outro carro, outros implicados
Ronald Pereira, major da ativa da Polícia Militar – e que estaria em um segundo carro,
segundo a denúncia de Dodge –, foi preso na Operação Intocáveis em janeiro deste ano. Na
gravação, outros nomes também foram apontados como executores do crime: Leonardo
Gouveia da Silva, o Mad, Leonardo Luccas Pereira, o Leléo, e Edmilson Gomes Menezes, o
Macaquinho. Todos eles seriam membros do Escritório do Crime, um grupo de milicianos
que executa assassinatos sob encomenda e que estaria sob comando do ex-capitão
do BopeAdriano Magalhães da Nóbrega, considerado foragido pela justiça desde a operação
que prendeu Pereira.
Relacionado
Seis testemunhas apontam ex-policial do Bope como assassino de Marielle Franco
Ainda de acordo com o mesmo áudio, o provável suposto mandante do crime seria
Domingos Brazão, ex-deputado estadual pelo MDB e conselheiro afastado do Tribunal de
Contas do Estado do Rio. Ele nega qualquer tipo de participação no crime. Beto Bomba, por
sua vez, se entregou à polícia em 24 de maio. Ele foi preso após os desabamentos dos prédios em
Muzema, na zona oeste do Rio, área controlada pela milícia de Rio das Pedras.
Embora parte das investigações que apuram o mandante do crime esteja sob sigilo, o
Intercept apurou que a polícia já investigou os apontados pelo áudio entre Siciliano e Beto
Bomba como executores dos assassinatos, mas acredita que os indícios mais fortes ainda
pairam sobre os réus denunciados pelo Ministério Público do Rio, o sargento da PM
reformado Ronnie Lessa e o ex-policial Élcio Queiroz — apontados, respectivamente, como o
atirador que executou Marielle e Anderson e o motorista que dirigiu o carro durante a
empreitada criminosa. Eles foram presos em 12 de março e prestaram depoimento na DH
em 24 de janeiro.
Queiroz retornaria à delegacia dias depois, em 1º de fevereiro, com o intuito de entregar
documentações relativas à sua rotina. Constam nos autos do inquérito fotos dele com Ronnie
em local público logo antes da visita de Élcio à Divisão de Homicídios da Capital. Segundo os
investigadores, isso evidencia que eles combinaram versão antes do segundo depoimento.
Ambos alegaram inocência ao prestar depoimento em audiência no Tribunal de Justiça do Rio em 4 de
outubro.
Câmeras mostram o carro com os assassinos no local onde Marielle estava antes de ser
assassinada. GIF: Reprodução
Siciliano, por sua vez, já foi apontado em uma falsa denúncia como suposto mandante do crime,
implicando o miliciano Orlando da Curicica, conforme revelado pelo jornal O Globo em maio de 2018.
Duas pessoas já são rés no Tribunal de Justiça do Rio em decorrência desta falsa denúncia,
que nada mais foi do que uma tentativa de embaraçar as investigações: o PM Rodrigo Jorge
Ferreira, o Ferreirinha, e sua advogada, Camila Nogueira.
Ainda assim, tanto a Polícia Civil do Rio quanto o MP do Rio questionaram Élcio Queiroz e
Ronnie Lessa sobre se conheciam Siciliano, assim como Mad, Leléo e Macaquinho. Ambos
relacionaram que conheceram o vereador superficialmente em outras ocasiões, mas
negaram que mantivessem contato constante com o parlamentar carioca. Também negaram
ter conhecido os nomes mencionados na gravação de Siciliano anexada aos autos da PGR.
Na denúncia que implica Ronnie Lessa como executor de Marielle e Anderson, feita
anonimamente à DH em 25 de outubro de 2018, o vereador Siciliano é apontado como o
provável mandante do duplo homicídio, conforme documenta o inquérito da DH. Desde que
seu nome veio à tona nas investigações, o parlamentar também nega qualquer tipo de
envolvimento com os assassinatos.
*
(ii) O esquema de carros clonados, com placas fantasma, utilizado
pelos F.E. (Forças Especiais) das Forças Armadas
Fonte na inteligência da Segurança Pública do RJ, lendo o artigo, lembrou
imediatamente do caso abaixo — devidamente abafado à época. O carro em
questão não pertencia a nenhum dos militares mortos no acidente, nem
tampouco ao Exército (não oficialmente). Além disso, a placa — cujo número
aparece na foto — era… clonada!
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(iii) A impossibilidade física (!) — para muito além do politicamente
correto

A expectativa:
A realidade:
*
(iv) O plano dos mandantes do crime
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Da seção de comentários: o beabá do ataque híbrido ao Brasil —
cascata de manipulações; mais uma “cebola”
Por “FAN”
Genial o artigo. Lembremos: aqui mesmo no D.E. o Embaixador Samuel Pinheiro
Guimarães deixou escapar, mais de uma vez, que após a reforma da previdência os
Generais viriam com tudo pra cima de Bolsonaro. Conhecido nas FFAA me dizia
que o Etchegoyen não suportava ele. Quem suportaria? Ainda mais um militar,
General 4 estrelas, com senso de hierarquia e disciplina, e com postura. Pense em
ter Bolso como chefe pra alguém assim?
Explicando de forma um pouco mais didática a interação de 3 coisas: (a) a
conspiração em camadas de cebola; (b) o pastoreio da opinião pública com 2
pastores (falsamente) antagonistas (também chamado de método da pinça, que
precisa de 2 lados para manipular um objeto); e (c) o uso de forças especiais não
oficiais para intensificação-afrouxamento da violência urbana para realização de
operações reais para manipulação da opinião pública:
[Uma cascata de manipulações. Outra “cebola”]
(i) alguns poderes (famílias banqueiras, sionismo, sociedades secretas) manipulam
o Deep State americano e sua oposição, que acham que estão no controle;
(ii) o Deep State americano manipula o “Deep State” brasileiro (Heleno + Moro) e
sua “oposição”, que acham que estão no controle;
(iii) o Deep State brasileiro manipula(va?) a opinião pública e a política brasileira
controlando cada lado das seguintes (falsas ou simuladas) dicotomias identidários
X bolsonaristas, PIG X PIGuinho vermelho, lideranças evangélicas X lideranças
gays, feministas e pró-maconha, PCC X forças de segurança, PCC X milícias,
violência urbana X direitos humanos, aumento da violência X combate e diminuição
da violência, corrupção X direitos civis.
Com o controle sobre o que dizem os porta-vozes (donos do “lugar de fala” como
preferem os identitários) de cada lado desses dilemas é possível levar a opinião
pública, as votações no Congresso Nacional, as manifestações públicas e os votos
nas eleições para qualquer direção que se deseja, por mais irracional que seja essa
direção em termos dos interesses verdadeiros daqueles que estão sendo manipulados
pela introversão do mecanismo reflexo (pavloviano) de ação reação.
Mecanismo, aliás, idêntico àquele introvertido pelos torcedores fanáticos de time de
futebol que vivem e reagem puramente a partir do critério da disputa contra os
torcedores de times “antagonistas” (aliás, ótimo nome para um site de política que
cultive essa manipulação, não é mesmo?).
Um dos fatores mais poderosos de controle pavloviano da opinião pública é o uso
da violência (urbana ou terrorista), porque a violência provoca fortes reações
emocionais e incontroláveis sobre o ser humano, como medo, horror, ódio etc. Por
isso controlar as redes de crime organizado (ou de terroristas) seja tão importante
para o poder que pretende manipular a população e a opinião pública com esse tipo
de método.
Além do impacto psicológico, o controle funcional e amigável do Deep State sobre
as redes de crime organizado (ou terroristas) é importante para servir de efetivos
operacionais e justificativas simbólicas para ações de forças especiais não oficiais,
que interagindo em pinça no nível midiático contra as forças especiais oficiais são
capazes de realizar qualquer tipo de teatro de operações midiatizável, como um
assassinato de grande impacto simbólico, e, portanto, fazer a população acreditar
em qualquer coisa e reagir da forma não planejada, ainda que por antagonismo.
E se nada disso der certo, essas forças especiais oficiais ou não oficiais servem
também para eliminar (ou ameaçar) aquelas ovelhas que não estejam aceitando
serem conduzidas pelo pastoreio dos dois pastores (falsamente) “antogonistas”.

*
*
*
P.P.S.: “Duplo Expresso – a verdade chega primeiro”
Po, Nassif!
Me ajuda a te ajudar! “Não tinha interfone” (sic) e agora você quer saber o
sistema do…
– … “interfone”?!
– Tinha “fonte fidedigna dentro do condomínio” (sic) e agora pede informação
– do condomínio… – a TODA A INTERNET BRASILEIRA?!

*
*
– Obrigado, universo!

*
*
*
P.P.P.S.: Clã Bolsonaro parece estar começando a entender o jogo. Talvez
orientados pelo mais novo “expressonauta”, Olavo de Carvalho (!).
Cui bono, Bolsonaros…
Abordagem indireta…
Guerra híbrida!
(sobre a referência acima, ver ““Kompromat”: sexo, crime, dinheiro, chantagem –
o explosivo submundo da disputa pelo PT” — 21/out/2019)
*
*

*
Há quantas andam os alertas na “imprensa independente” sobre o “Patriot
Act” Tabajara e o fechamento — clandestino — do regime que porporciona?
Que nada…

E os “liberais de direita”?
Bem, nada ainda…

Enquanto isso, do “outro” (sic!) lado do espectro ideológico…


Percebe o que é operação em pinça PIG/ PIGuinho vermelho?
Domínio de espectro total?
Pastoreio (herding) do “debate” público?
Pois é.
Mas piora…
*
Experientes “jornalistas” fingindo-se de tontos. Ah, o “PIGuinho
vermelho”…

Antes…

Pois eis que, um ano depois, chega a hora de ser “babaca”, sim, já que —
além de pagar o óbulo ao “PIGuinho Vermelho” e passar a nos detonar como
os demais — Rodrigo Vianna agora também se faz de tonto para alimentar a
armação — com objetivos sinistros — para cima de Bolsonaro:
(…)
*
“Domínio de espectro total”: Globo e Brasil 171

*
Às vezes, mesmo o “expressonauta” cede a velhos vícios…

*
Sim, seguiremos, General Heleno…
(dublê de Senador/ Chanceler/ Imperador Palpatine, de “Star Wars” (apud Leirner))
*
*
*
*
Atualização 4/nov/2019 — 11:25: vídeos
– “Quem matou Marielle: a live”:

– “O plano ‘Evangelistão do Pó’ (fardado!)”:


*
*
*
Cui bono…

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