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Teoria do Conhecimento

Locke e o argumento da tabula rasa 

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Nesta webaula, estudaremos a epistemologia e empirismo em John Locke.

Epistemologia e empirismo em John Locke

Contrapondo-se ao racionalismo, ou seja, à convicção de que temos ideias inatas e de que o conhecimento se
encontra em nossa mente, surge o empirismo que sustenta que nascemos tabula rasa (quadro vazio, em latim) e
que aos poucos vamos adquirindo conhecimentos por meio da experiência. Entre os principais expoentes do
empirismo estão Bacon, Hobbes, Locke, Berkeley e Hume. Hume também é considerado um dos grandes
expoentes do ceticismo moderno.

Para os empiristas, o conhecimento do mundo exterior depende da experiência, e podemos conhecê-lo pela
observação e o raciocínio indutivo; o fundamento do conhecimento está no que experimentamos aqui e
agora, ou naquilo que lembramos das nossas experiências passadas. “Experiências deixam impressões em
nossas mentes, como um carimbo em cera derretida, permitindo-nos acumular conhecimento. Para os
empiristas, o conhecimento sem experiência é difícil ou impossível” (LAW, 2008, p. 70).

Mas o que é o empirismo? No dicionário de filosofia de Nicolas Abbagnano encontramos a seguinte definição:

“Em geral, essa corrente caracteriza-se pelo seguinte: negação do caráter absoluto da verdade ou, ao menos, da verdade
acessível ao homem; e reconhecimento de que toda verdade pode e deve ser posta à prova, logo eventualmente
modificada, corrigida ou abandonada. Portanto, o empirismo não se opõe à razão ou não a nega, a não ser quando a razão
pretende estabelecer verdades necessárias, que valham em absoluto, de tal forma que seria inútil ou contraditório
submetê-las a controle. [...] O racionalismo defende a tese da necessidade da razão como “concatenação das verdades”, e
não como faculdade, no sentido de que ela não pode ser diferente do que é e, portanto, não pode sofrer desmentidos e
não exige confirmações. A tese do empirismo é de que essa necessidade não existe. 


— (ABBAGNANO, 2003, p. 326s).

Teoria do Conhecimento

É com John Locke que tem início, propriamente, a teoria do conhecimento, pois ele se propõe a analisar cada uma
das formas de conhecimento que possuímos, a origem de nossas ideias e nossos discursos, a finalidade das
teorias e as capacidades do sujeito cognoscente relacionadas com os objetos que ele pode conhecer (CHAUÍ,
2010).

Em sua obra Ensaio sobre o entendimento humano, de 1690, John Locke defende que toda ideia tem origem na
experiência sensível. O intelecto humano, partindo da experiência, por abstração, produz ideias. A mente
humana, ao nascer, se assemelha a uma folha em branco que, ao passar do tempo, receberá impressões
sensíveis. Portanto, não temos ideias inatas e obtemos conhecimentos à medida que começamos observar os
fenômenos da natureza e aprendemos a tirar nossas conclusões a partir destas observações, embora não
consigamos observar as causas dos fenômenos ou as relações estabelecidas entre eles. 

Deste modo, entende Locke, que as duas fontes de nossas ideias são a sensação e a reflexão e deduz que 

“só temos acesso às nossas próprias sensações e devemos inferir delas a natureza do mundo lá fora. [...] só pode haver
conhecimento das características observáveis dos objetos, não do que realmente são. Assim, ele abre espaço para que o
cético questione nosso conhecimento da realidade. 


— (LAW, 2008, p. 283).

Tudo o que temos em nossa mente, ou seja, nossas ideias, passaram por nossos sentidos e foi por meio da
reflexão que as organizamos em simples ou complexas. A reflexão funciona como um sentido interno, ou
internalizado, que opera quando a mente se dobra sobre ela mesma e suas próprias operações, avançando
desde as ideias simples até chegar às mais complexas, mas jamais deixando de lado as coisas materiais
externas, “como objeto de sensação, e as operações de nossas próprias mentes como objeto da reflexão”
(COTRIM, 2008, p. 151). Contudo, vale ressaltar que Locke também aceitava a existência de conhecimentos não
ligados a experiência sensível, tais como o conhecimento matemático, o qual tem validade em termos lógicos,
mas não tem base na experiência sensível. Assim sendo, pode-se dizer que Locke não era um empirista radical.

Diz John Locke que “se considerarmos atentamente as crianças recém-nascidas, temos poucas razões para crer
que elas trazem consigo muitas ideias ao mundo” (LOCKE, 1999, p. 51). Resumindo, podemos dizer que segundo
os racionalistas nascemos com ideias e conceitos, ou seja, temos ideias inatas, mas para Locke isto não é
confirmado pois não há verdades encontradas em todos nós desde o nascimento e também porque não há ideias
universais encontradas em pessoas de todas as culturas e em todos os lugares, o que nos obriga a concluir que
tudo o que sabemos é adquirido a partir da experiência e que “o conhecimento de nenhum homem pode ir além
de sua própria experiência” (BUCKINGHAM, 2011, p. 130).

Para finalizar esta webaula, sugerimos a leitura do tópico 1. Sobre o livro III, das palavras (das páginas 151 a
157), do seguinte artigo:

MOREIRA, C. B. a teoria da linguagem em John Locke. In: REVELL, v.3, n.14, dez.-16, p. 150-166. 

O artigo analisa o papel da linguagem no pensamento dos séculos XVII e XVIII, atingindo inclusive diversas
discussões atuais. É apresentado um breve panorama da importância do terceiro livro de Ensaios acerca do
entendimento humano para o estudo da linguagem. 

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