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ISBN 978-85-7304-324-2
Impresso no Brasil
O SALVADOR-SERVO
Em contraste com as questões profundas
reveladas no Evangelho de João, Marcos mostra o
Senhor como o Salvador-Servo. Esse livro não traz o
Salvador-Deus, como João, ou o Salvador-Rei, como
Mateus, ou o Salvador-Homem, como Lucas, mas
apresenta um aspecto especial de Cristo: o
Salvador-Servo. Em João temos Deus; em Mateus, o
Rei; em Lucas, o Homem e em Marcos, o Servo. Não
devemos esperar coisas excelentes, profundas e
maravilhosas de um servo. Em certo sentido, não é
fácil falar do Evangelho de Marcos.
No Estudo-Vida de Tiago ressaltamos o contraste
entre os escritos de Paulo e os de Tiago: os de Paulo
são muito mais elevados do que os de Tiago. Os
escritos de Paulo estão no nível divino, o nível de
Deus, e revelam o dispensar divino para o
cumprimento de Seu propósito eterno. Portanto, nas
Epístolas de Paulo temos urna revelação da economia
divina. O livro de Tiago está em plano inferior;
enquanto os escritos de Paulo estão no nível divino; o
livro de Tiago está no nível humano e ressalta a
perfeição cristã prática. Em sua Epístola, Tiago lida
com questões de piedade e caráter. As diferenças
entre a Epístola de Tiago e os escritos de Paulo são,
na verdade, muito grandes. Como se pode comparar
algo do nível humano com algo do nível divino? Como
se pode comparar a perfeição cristã prática com a
economia divina, ou comparar um viver cheio de ética
com um viver cheio de Cristo? Não há comparação.
Se quisermos saber o significado da perfeição
cristã prática, precisamos ir à Epístola de Tiago, pois
sobre esse assunto nada é melhor do que esse livro.
Considere por exemplo o que ele diz acerca da
sabedoria: “A sabedoria, porém, lá do alto é,
primeiramente, pura; depois, pacífica, indulgente,
tratável, plena de misericórdia e de bons frutos,
imparcial, sem fingimento” (Tg 3:17). Diz também:
“Ora, é em paz que se semeia o fruto da justiça, para
os que promovem a paz” (v. 18). Esse ensinamento
certamente é muito mais elevado do que o de
Confúcio. No que tange à perfeição cristã e à ética
humana, o livro de Tiago é excelente. Nesses
aspectos, todos precisamos respeitá-lo. Não obstante,
não importa quão excelente sejam seus escritos no
que diz respeito à perfeição cristã, ele permanece no
nível humano, e o nível humano não pode ser
comparado com o divino.
Até certo ponto, podemos usar o contraste entre
o nível dos escritos de Paulo e dos de Tiago como
ilustração do contraste entre Marcos e os demais
Evangelhos. Como, por exemplo, podemos comparar
um servo com Deus? Além disso, como podemos
comparar um servo com um rei? Aparentemente, o
Evangelho de Marcos está num nível bem inferior do
que o de João, Mateus e Lucas. João registra que o
Senhor disse coisas profundas como: “Eu sou [...] a
vida” (Jo 14:6); “Eu sou a luz do mundo” (8:12), e:
“Eu sou a ressurreição” (11:25). Essas palavras não se
encontram no Evangelho de Marcos, mas nele temos
o excelente registro do maravilhoso Servo. No
Evangelho de Marcos temos algo que não pode ser
encontrado em João, Mateus ou Lucas.
O Senhor Jesus é maravilhoso e todo-inclusivo.
Até mesmo Seu nome é Maravilhoso (Is 9:6). O
Senhor é maravilhoso não apenas em Sua divindade
mas também em Sua humanidade. Onde podemos
ver um retrato de Sua humanidade? É correto dizer
que o Evangelho de Lucas ressalta a humanidade do
Senhor. Nesse livro Lucas apresenta o Senhor como
homem normal, que atinge plenamente o padrão, no
qual vemos virtude, excelência e beleza humana.
Entretanto, nem mesmo tudo isso pode ser
comparado com o aspecto da humanidade do Senhor
vista em Marcos. Em Marcos vemos uma bela
expressão das virtudes de Cristo em Sua humanidade.
Creio que mais virtudes excelentes do Senhor podem
ser vistas em Sua humanidade no livro de Marcos do
que no livro de Lucas.
Dentre os quatro Evangelhos, somente o de João
fala da divindade do Senhor. Os outros três,
chamados sinóticos, falam de Sua humanidade. O
termo “sinótico” indica que os Evangelhos de Mateus,
Marcos e Lucas têm o mesmo ponto de vista: a
humanidade do Senhor. Neles vemos diferentes
aspectos de Cristo em Sua humanidade: Sua
humanidade em ser Rei (Mateus), em ser homem
(Lucas) e em ser Servo (Marcos).
Suponha que o presidente dos Estados Unidos,
após completar o mandato, trabalhe como faxineiro;
depois de ser presidente, ele voluntariamente se
rebaixe ao posto de faxineiro para servir outros. Não
seria excelente? A excelência desse homem na
presidência não se compara com sua excelência no
fato de ser faxineiro. Creio que a maioria da
população gostaria mais dele como faxineiro do que
como presidente. No presidente não vemos muito da
beleza em sua humanidade. Se ele, porém, se tomasse
faxineiro a fim de servir os outros, veríamos a beleza,
a virtude, em sua humanidade. Que bonito seria se
uma pessoa, depois de ocupar um alto posto de
presidente da nação, se tomasse faxineiro! Duvido
que algum de nós se sentiria à vontade na presença
do presidente da nação, mas todos ficaríamos à
vontade com um faxineiro. Seria excelente ver um
ex-presidente trabalhar como faxineiro, pois o
veríamos em sua virtude humana excelente!
Que tipo de pessoa você prefere: um presidente
ou um faxineiro? Eu prefiro estar com um faxineiro a
estar com um presidente. Se um presidente me
convidasse para passar a noite na Casa Branca, eu
não me sentiria em casa. Mas se um ex-presidente se
tomasse faxineiro e me convidasse a passar a noite
em sua casa, eu me sentiria muito bem.
Uso essa ilustração para nos ajudar a ver a
posição do Evangelho de Marcos em relação aos
demais. Em Mateus vemos o Senhor Jesus em Sua
realeza, mas no de Marcos nós O vemos em Sua
servidão. Qual você prefere: o Senhor como Rei ou
como Servo? Você prefere o Rei Jesus ou o Servo
Jesus? Naturalmente, podemos estar inclinados a
gostar do Senhor como Rei mais do que como Servo.
Mas todos precisamos apreciá-Lo como
Salvador-Servo revelado em Marcos. Se O
apreciarmos desse modo, entenderemos o valor desse
Evangelho.
No Evangelho de Marcos temos um registro
vívido da humanidade do Senhor como Servo. Os
seus últimos capítulos são especialmente longos e
detalhados, e o motivo disso é que o propósito do
autor é fornecer um registro detalhado a fim de
mostrar a beleza do Senhor como Servo em Suas
virtudes humanas.
As Promessas
A promessa certamente abrange as dispensações
da inocência, da consciência, do governo humano e
da promessa. Isso vai desde Adão até a lei ser dada a
Moisés. Gênesis, particularmente, é um livro sobre a
promessa de Deus.
Você se lembra qual foi a primeira promessa
dada por Deus em Gênesis? Está registrada em
Gênesis 3:15: “Porei inimizade entre ti e a mulher,
entre a tua descendência e o seu descendente. Este te
ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar”. Essa
promessa foi dada logo depois da queda do homem.
Provavelmente Adão e Eva temiam e tremiam devido
a sua desobediência, mas Deus lhes deu maravilhosa
promessa: o descendente da mulher viria para ferir a
cabeça da serpente. O calcanhar do descendente da
mulher iria ser ferido, mas ele mesmo iria esmagar a
cabeça da serpente. Que promessa grandiosa!
O evangelho é o cumprimento da promessa de
que o descendente da mulher iria esmagar a cabeça
da serpente. Sabemos que Cristo, o descendente da
mulher, veio. Ele nasceu de uma virgem, como
cumprimento da promessa em Gênesis 3:15. Esse é o
Salvador-Servo apresentado no Evangelho de
Marcos.
Outra promessa, também a respeito do
descendente, foi dada a Abraão. De acordo com
Gênesis 22:17 e 18 o Senhor prometeu a Abraão:
“Deveras te abençoarei e certamente multiplicarei a
tua descendência como as estrelas dos céus e como a
areia na praia do mar; a tua descendência possuirá a
cidade dos seus inimigos, nela serão benditas todas as
nações da terra, porquanto obedeceste à minha voz”.
Aqui temos a promessa de que a descendência de
Abraão seria grande bênção para toda a humanidade,
pois todas as nações seriam abençoadas por meio
dela.
Novamente, essa descendência se refere ao
Senhor Jesus.
A respeito disso Paulo disse em Gálatas 3:16:
“Ora, as promessas foram feitas a Abraão e ao seu
descendente. Não diz: E aos descendentes, como se
falando de muitos, porém como de um só: E ao teu
descendente, que é Cristo”. Cristo nasceu como
descendente de Abraão, na raça chamada, assim, era
a descendência de Abraão.
Como descendente da mulher, Cristo destruiu
Satanás e dessa forma solucionou o problema do
universo. O universo tem sofrido uma só perturbação:
a serpente. Na Bíblia podemos ver a linha ou o
desenvolvimento da serpente. Ela primeiramente
apareceu em Gênesis 3. Em Apocalipse 12:9,
chamada de “a antiga serpente”, ela se tornou um
grande dragão. Segundo o livro de Apocalipse, essa
serpente, o diabo, Satanás, será amarrada e lançada
no abismo durante o milênio (20:2-3), depois será
solta e se rebelará novamente. Então será lançada no
lago de fogo (v. 10).
O item crucial aqui é que o descendente da
mulher, prometido em Gênesis 3:15, visa a lidar com
essa serpente. Devemos proclamar isso ao pregar o
evangelho. Porém, raramente hoje os evangelistas
ressaltam que o descendente da mulher em Gênesis
3:15 visa a destruição da serpente.
Com respeito ao Senhor como descendente da
mulher para destruir a serpente, Hebreus 2:14 diz:
“Visto, pois, que os filhos têm participação comum de
carne e sangue, destes também ele, igualmente,
participou, para que, por sua morte, destruísse aquele
que tem o poder da morte, a saber, o diabo”. Em João
3:14 o Senhor disse que, assim como Moisés levantou
a serpente no deserto, assim o Filho do Homem seria
levantado. A serpente de bronze levantada por Moisés
representava o julgamento da antiga serpente.
Quando foi levantado na cruz, o Senhor a destruiu.
Assim, como descendente da mulher, o Senhor
cumpriu a destruição da serpente venenosa pela qual
a humanidade foi mordida e envenenada. Fomos
envenenados pela serpente, por isso sua natureza
serpentina foi injetada em nós. Mas o descendente da
mulher se tornou carne e sangue a fim de destruir
essa serpente por meio da morte na cruz. Essa parte
do evangelho é grandiosa.
Enquanto o descendente da mulher visa à
destruição da serpente, o descendente de Abraão visa
a que a bênção de Deus chegue a nós. O descendente
da mulher acaba com a serpente e o descendente de
Abraão traz a bênção do Deus Triúno. Em Gálatas
3:14 Paulo fala a respeito dessa bênção: “Para que a
bênção de Abraão chegasse aos gentios, em Jesus
Cristo, a fim de que recebêssemos, pela fé, o Espírito
prometido”. De acordo com esse versículo, a bênção é
o Espírito. Que é o Espírito? É a consumação do Deus
Triúno. Quando recebemos o Espírito, recebemos o
Deus Triúno e O temos como nossa bênção. Além
disso, essa bênção é nossa vida eterna. O Espírito é
igual ao Deus Triúno, o Deus Triúno é a vida eterna e
a vida eterna é a bênção que recebemos.
Agora podemos ver mais plenamente o que é o
evangelho; é o cumprimento de duas grandes
promessas: a promessa do descendente da mulher
para a destruição da serpente e a promessa do
descendente de Abraão para trazer a bênção do
Espírito, que é a consumação do Deus Triúno como
vida eterna, a fim de ser nossa bênção.
A Lei e os Profetas
Antes de essas promessas se terem cumprido,
Deus deu a lei a fim de manter o povo escolhido sob
custódia. No tempo em que o povo de Deus foi
mantido no aprisco da lei, Deus levantou profetas.
Isso significa que após as promessas temos a custódia
da lei e que, no período dessa custódia, Deus deu
profecias a fim de confirmar as promessas.
Já enfatizamos que em Gênesis 3:15 temos a
promessa a respeito do descendente da mulher. Em
Isaías 7:14 temos uma profecia que confirma essa
promessa: “Eis que a virgem conceberá e dará à luz
um filho e lhe chamará Emanuel”. Outras profecias
também são confirmações das promessas dadas por
Deus na dispensação da promessa.
TÉRMINO E GERMINAÇÃO
Marcos 1:1 e 2 diz: “Princípio do evangelho de
Jesus Cristo, Filho de Deus. Conforme está escrito no
profeta Isaías: 'Eis que Eu envio diante da Tua face o
Meu mensageiro, o qual preparará o Teu caminho”'.
O princípio do evangelho do Salvador-Servo é até
mesmo escrito em Isaías acerca do ministério de João
Batista. Isso indica que a pregação que João fazia do
batismo de arrependimento também era parte do
evangelho de Senhor Jesus. Essa pregação pôs fim à
dispensação da lei e a substituiu com a dispensação
da graça. Portanto a dispensação da graça teve início
com o ministério de João antes do ministério do
Salvador-Servo.
O princípio do evangelho é o término da lei e a
germinação da graça. O princípio do evangelho pôs
fim à dispensação da lei e não 'só iniciou a da graça,
como também a germinou. Começar é algo exterior,
mas germinar é fazer ter um princípio interior de
vida.
O princípio do evangelho é o término de toda a
dispensação antiga, a da lei, porém, para que um
término seja chamado de princípio, ele deve ser
seguido de germinação. Essa germinação envolve a
injeção divina, e essa injeção foi a iniciação do
Salvador-Servo.
O BATISMO DE ARREPENDIMENTO
Como quem representava o término da antiga
dispensação com a antiga cultura e religião, João
Batista pregava batismo de arrependimento para
perdão de pecados. Arrepender-se é mudar de
parecer, de modo de pensar, voltando-a para o
Salvador-Servo; batizar é sepultar os arrependidos,
pondo fim a eles, para que o Salvador-Servo os faça
germinar por meio da regeneração (10 3:3, 5-6). O
termo grego traduzido por “para” nesse versículo [Mc
1:4], também quer dizer com “vistas a”. O
arrependimento com o batismo visa ao perdão de
pecados, resulta nesse perdão, para que o obstáculo
da queda do homem seja removido e o homem se
reconcilie com Deus.
Ao pregar, João Batista enfatizava o
arrependimento. Arrepender-se é mudar de parecer,
tirar a mente de tudo o que não é Deus, inclusive
cultura, religião, conhecimento, educação e vida
social, e voltá-la para Deus. Religião, cultura,
civilização, sociedade, conhecimento e educação
distraem as pessoas e as afastam de Deus. Agora que
a antiga dispensação passou, devemos
arrepender-nos e voltar a mente para Deus.
De acordo com o Evangelho de Marcos, João
Batista não ensinava aos que se arrependiam o que
deveriam fazer; antes, simplesmente os sepultava.
Esse sepultamento representa término. No deserto,
João pregava o arrependimento e terminação para
todos os que se arrependiam. Isso é parte do princípio
do evangelho de Jesus Cristo, o Filho de Deus.
O EVANGELHO DE JESUS CRISTO, O FILHO
DE DEUS
Marcos 1:1 fala do evangelho de Jesus Cristo, o
Filho de Deus. O termo “Jesus Cristo” denota a
humanidade do Senhor. O evangelho é de um homem
chamado Jesus Cristo, e esse Jesus Cristo é o filho de
Deus. Marcos 1:1 não diz “Jesus Cristo e o Filho de
Deus”; mas “Jesus Cristo, o Filho de Deus”, o que
indica que a expressão “Filho de Deus” é aposto de
“Jesus Cristo”. Isso quer dizer que Jesus Cristo é o
Filho de Deus e o Filho de Deus denota Jesus Cristo.
O título “Filho de Deus” denota a deidade do Senhor.
Por isso, o fato de o evangelho ser de Jesus Cristo, o
Filho de Deus, quer dizer que é de humanidade e de
deidade. Esse evangelho é pleno de humanidade e
também pleno da deidade. Esse título duplo usado
em relação ao evangelho revela que nele estão tanto
as virtudes humanas como os atributos divinos. Ele é
pleno da humanidade do Senhor em virtude e
perfeição e também pleno de Sua deidade em glória e
honra. Portanto, o evangelho é da humanidade plena
de virtude e perfeição e da deidade repleta de glória e
honra. Todos esses aspectos podem ser vistos nos
dezesseis capítulos do Evangelho de Marcos.
UM PONTO DE REFERÊNCIA
Se lermos os versículos 1 e 2 do capítulo um com
cuidado, veremos que o princípio do evangelho foi a
vinda de João Batista a pregar o batismo de
arrependimento para perdão de pecados. Quando
João saiu de modo não civilizado nem religioso,
anunciando arrependimento, esse foi o princípio do
evangelho. Como já vimos, o princípio do evangelho
envolve o término da dispensação da lei e a
germinação da dispensação da graça. A dispensação
da lei terminou com a vinda de João Batista e a da
graça começou também com ele.
Entre os teólogos há debate acerca do início da
dispensação da graça. Alguns dizem que começou no
dia de Pentecostes, e outros alegam que começou com
a crucificação e ressurreição de Cristo. Outros têm
ainda opiniões distintas. Segundo a Bíblia, o princípio
do evangelho, que é o princípio da dispensação da
graça, foi a saída de João Batista; por isso, a vinda
dele é um pondo de referência, um divisor de águas, e
o início da dispensação da graça.
O CAMINHO E AS VEREDAS
Marcos 1:2 indica que João Batista veio preparar
o caminho do Senhor e o versículo 3 diz: “Voz do que
clama no deserto: Preparai o caminho do Senhor,
endireitai as Suas veredas”. Nesses versículos temos o
caminho e as veredas. Preparar o caminho do Senhor
é mudar o parecer das pessoas; é fazê-las voltar o
pensamento para o Salvador-Servo e tornar o coração
delas reto, endireitando cada parte dele por meio do
arrependimento, para que o Salvador-Servo entre
nelas, seja sua vida e tome posse delas (Lc 1:17).
Precisamos entender a diferença entre caminho e
veredas. Preparar o caminho do Senhor é
arrepender-se. Já vimos que arrepender-se é mudar
de parecer, de modo de pensar. Mudar de parecer é
preparar o caminho para o Senhor entrar. Esse
caminho no versículo 3 refere-se à nossa mente.
Precisamos preparar o caminho, deixá-lo pronto para
o Senhor, por meio do arrependimento. João Batista
fez um excelente trabalho de preparação da mente
dos que se arrependiam para a entrada do Senhor.
As veredas são menores, são seções interiores de
nosso ser: pensamentos, gostos e preferências,
intenções, desejos, decisões. Se compararmos a
mente com uma rodovia, podemos comparar as
veredas com ruas e estradas secundárias. A rodovia e
todas as estradas de nosso ser devem ser preparadas
para o Senhor.
Como seres humanos não somos simples; pelo
contrário, somos interiormente muito complicados.
Considerem quantas “ruas” e “avenidas” temos em
nós. Considere também como a mente das pessoas
está distante de Deus e ocupada com filosofias e
culturas. Como Cristo pode, então, entrar nelas? Para
que Ele entre em alguém, o caminho e as veredas
interiores devem ser preparados.
O evangelho não é mera questão objetiva, pois é
na verdade o próprio Jesus Cristo como a
corporificação do Deus vivo. Como tal, o Senhor
espera que as pessoas se abram a Ele para que entre
nelas. Entretanto, elas têm a mente ocupada e cheia
de muitas coisas. Por isso os melhores evangelistas
são os que conseguem abrir caminho na mente delas
e assim prepará-lo para a entrada do Senhor. Se
pregarmos o evangelho adequadamente, por fim o
caminho será preparado para Cristo entrar nas
pessoas e ocupá-las.
A INICIAÇÃO DO SALVADOR-SERVO
Batizado
Marcos 1:9 diz: “E aconteceu naqueles dias que
veio Jesus de Nazaré da Galiléia e foi batizado por
João no rio Jordão”. A Galiléia era chamada de
“Galiléia dos gentios”, uma região sem honra;
portanto, desprezada (10 7:52). Nazaré era uma
cidade desprezada dessa região desprezada (1:46). O
humilde Servo de Deus procedeu desse lugar e
cresceu nele.
Como Servo de Deus, o Salvador-Servo foi
batizado, o que representa que estava disposto a
servir a Deus e não o faria de modo natural, mas
serviria mediante a morte e a ressurreição. Esse
batismo foi a iniciação do Seu serviço.
O Senhor foi batizado a fim de permitir que Ele
mesmo fosse morto e ressuscitado para ministrar não
de modo natural, mas em ressurreição. Sendo
batizado, Ele viveu e ministrou em ressurreição
mesmo antes de Sua morte e ressurreição, que
ocorreram de fato três anos e meio depois.
Desde que o batismo de João era de
arrependimento, alguns podem imaginar por que era
necessário que o Senhor Jesus fosse batizado por ele.
Talvez digam: “Esse era um batismo de
arrependimento. Será que o Salvador-Servo precisava
arrepender-se? Certamente não!”. Se tivermos esse
conceito, não veremos o significado real do
arrependimento. Arrepender-se é pôr fim ao velho
pensamento, conceito, filosofia e maneira de fazer as
coisas. Portanto, arrepender-se não é mera
lamentação pelo que se fez de errado. Essa
compreensão de arrependimento é muito superficial.
Mesmo que alguém não erre, ainda precisa
arrepender-se, mudar de parecer e deixar de fazer as
coisas por si mesmo ou ser alguém em si mesmo.
Arrepender-se quer dizer que deixamos de viver,
trabalhar e existir em nós mesmos e para nós
mesmos. Se percebermos isso, veremos que a ida do
Senhor para ser batizado indica que Ele não queria
viver, agir, falar ou fazer a obra por Si mesmo. O
Senhor queria pôr fim a Si mesmo e ser sepultado.
Portanto, o batismo do Senhor indica que Ele não
queria viver, falar ou fazer nada por Si próprio, mas
viver, andar e ministrar por Deus. Ele queria ser um
Servo de Deus e para Deus. É por isso que foi
batizado. Seu batismo foi o primeiro passo da Sua
iniciação no serviço evangélico, que é o ministério do
evangelho.
Em I:10 e 11 está escrito acerca do Senhor Jesus:
“E imediatamente, ao subir da água, viu os céus se
rasgarem e o Espírito, como pomba, descendo sobre
Ele. E ouviu-se uma voz dos céus: Tu és o Meu Filho
amado, em Ti me comprazo”. Ao relatar a vida do
Salvador-Servo, Marcos não reflete o esplendor da
condição social de Sua pessoa, mas a diligência de
Seu serviço. Isso se nota pelo fato de o termo
imediatamente e seus sinônimos logo e no mesmo
instante serem usados quarenta e duas vezes neste
Evangelho (alguns manuscritos alternativos trazem
uma vez mais).
O fato de os céus se abrirem para o
Salvador-Servo demonstra que Sua oferta voluntária
de Si mesmo como Servo de Deus foi bem aceita por
Deus, e o fato de o Espírito como pomba descer sobre
Ele significa que Deus O ungiu com o Espírito para
Seu serviço a Ele (Lc 4:18-19) uma pomba é dócil e
seus olhos só conseguem ver uma coisa de cada vez.
Por isso, ela representa docilidade e singeleza no
olhar e no propósito. Pelo fato de o Espírito de Deus
descer sobre Ele como pomba, o Senhor Jesus
ministrou em gentileza e singeleza, com olhos apenas
para a vontade de Deus.
Nos versículos 10 e 11, temos o Deus Triúno.
Enquanto a descida do Espírito é a unção de Cristo, a
fala do Pai é um testemunho Dele como o Filho
amado. Aqui temos um quadro da Trindade divina: o
Filho subiu da água, o Espírito desceu sobre o Filho e
o Pai falou acerca do Filho. Isso prova que o Pai, o
Filho e o Espírito existem simultaneamente. Isso visa
ao cumprimento da economia divina.
Posto à Prova
Já vimos que o primeiro passo na iniciação do
Senhor no Seu ministério foi o batismo. Agora
precisamos ver também que o segundo passo foi o
fato de ser posto à prova. Depois de batizado, Ele
precisava ser posto à prova a fim de que Sua
integridade fosse testada.
A esse respeito, o versículo 12 diz: “E
imediatamente o Espírito O impeliu para o deserto”.
Após Deus aceitar e ungir o Salvador-Servo, a
primeira coisa que o Espírito fez com Ele foi
impeli-Lo ao deserto para pôr à prova Sua
integridade. o verbo impelir é enfático. Indica que,
depois do batismo, o Senhor estava totalmente sob a
mão de Deus. Visto que não vivia nem se movia por Si
só, o Espírito de Deus podia impeliLo ao deserto, e o
Senhor foi submisso a Ele. Se tivesse vontade forte
para resistir a isso, o Senhor não poderia ser impelido
pelo Espírito. Como o Jesus batizado era submisso, o
Espírito Santo pôde impeli-Lo para o deserto. Sua
submissão ao Espírito prova que Ele era
completamente fiel a Seu batismo. Para o Senhor, já
não era “eu” mas Deus.
O versículo 13 diz: “E esteve no deserto quarenta
dias, sendo tentado por Satanás; estava com as feras,
e os anjos O serviam”. O número quarenta representa
período de prova e sofrimento (Dt 9:9, 18:1Rs 19:8).
Satanás, o inimigo de Deus, foi usado para pôr à
prova o Servo de Deus. Os animais da terra, no
sentido negativo, e os anjos do céu, no sentido
positivo, também foram usados nessa prova. Louvado
seja o Senhor que passou na prova do deserto!
Por meio desses dois passos de Sua iniciação
(batismo e prova), o Senhor foi introduzido no
serviço. Depois de ser posto à prova e ficar provado
que Ele era a pessoa certa para levar a cabo esse
serviço, Ele podia então entrar no Seu serviço a Deus.
ESTUDO-VIDA DE MARCOS
MENSAGEM CINCO
O CONTEÚDO DO SERVIÇO EVANGÉLICO DO SALV
ADOR-SERVO (1)
O EVANGELHO E O REINO
De acordo com 1:14, o Senhor pregava o
evangelho de Deus. Alguns manuscritos acrescentam
“do reino de” e assim falam do evangelho do reino de
Deus. O evangelho de Jesus, Cristo (v. 1) é o
evangelho de Deus (Rm 1:1) e o evangelho do reino de
Deus (ver Mt 4:23). Em 1:15 o Senhor Jesus disse: “O
tempo está cumprido, e o reino de Deus está próximo;
arrependei-vos e crede no evangelho”. O reino de
Deus é o governo e domínio divino com toda a sua
bênção e desfrute. É o objetivo do evangelho de Deus
e de Jesus Cristo (ver notas 32 e 263 no capítulo
quatro de Marcos — VR). A fim de entrar nesse reino,
as pessoas precisam arrepender-se dos pecados e crer
no evangelho, para que os pecados sejam perdoados e
elas sejam regeneradas por Deus para receber a vida
divina, vida que condiz com a natureza divina desse
reino (10 3:3, 5). Todos os crentes em Cristo podem
partilhar do reino na era da igreja para desfrutar
Deus em Sua justiça, paz e alegria no Espírito Santo
(Rm 14:17). Esse reino se tornará o reino de Cristo e
de Deus, que os crentes vencedores herdarão e
desfrutarão na era vindoura (1Co 6:9-10; GI5:21; Ef
5:5), para reinar com Cristo mil anos (Ap 20:4, 6).
Então, como reino eterno, será uma bênção eterna da
vida eterna de Deus, para o desfrute de todos os Seus
redimidos no novo céu e nova terra pela eternidade
(Ap 21:1-4; 22:1-5, 14, 17). Era esse reino de Deus que
estava próximo, no qual o evangelho do
Salvador-Servo introduziria Seus crentes. Com vistas
a esse reino, o Salvador-Servo disse às pessoas que se
arrependessem e cressem no evangelho. (Ver notas 33
em João 3, 281 em Hebreus 12, e 34 em Mateus 5 —
VR).
ENSINAR A VERDADE
Marcos 1:21-22 diz: “E entraram em Cafarnaum,
e, logo no sábado, indo Ele à sinagoga, pôs-se a
ensinar. E estavam atônitos com o Seu ensinamento,
porque os ensinava como quem tem autoridade, e não
como os escribas”. O versículo 2 1 fala da sinagoga,
um lugar de reuniões onde os judeus liam e
aprendiam as Sagradas Escrituras (Lc 4:16-17; At
13:14-l5).
Na sinagoga, o Senhor Jesus ensinou as pessoas
com autoridade. A queda do homem no pecado fez
romper sua comunhão com Deus, tornando todos os
homens ignorantes do conhecimento de Deus. Essa
ignorância resultou primeiramente em trevas e
depois em morte. O Salvador-Servo, como a luz do
mundo (10 8:12; 9:5), veio como grande luz para a
Galiléia, a terra de trevas, para resplandecer sobre os
que estavam sentados na sombra da morte (Mt
4:12-16). Seu ensinamento liberou a palavra da luz
para iluminar os que estavam nas trevas da morte,
para que recebessem a luz da vida (10 1:4). A segunda
coisa que o Servo de Deus realizou em Seu serviço,
como Salvador-Servo para os homens caídos, foi levar
a cabo esse ensinamento (2:13; 4:1; 6:2, 6, 30, 34;
10:1; 11:17; 12:35; 14:49) para tirar as pessoas das
trevas satânicas e introduzi-las na luz divina (At
26:18).
Foi pela soberania e providência divina que o
Senhor Jesus foi criado na região da Galiléia e
também começou a pregar e ensinar a partir da
Galiléia, e não da Judéia. De acordo com o relato
bíblico, a Galiléia não era apenas uma região
desprezada, mas também lugar de trevas. A esse
respeito, Mateus 4:15-16 diz: “Terra de Zebulom e
terra de Naftali, caminho do mar, além do Jordão,
Galiléia dos gentios: O povo que estava sentado em
trevas viu grande luz, e aos que estavam sentados na
região e sombra da morte, raiou-lhes a luz”. Isso
indica que quando o Senhor Jesus andava pela
Galiléia, ele era uma grande luz a brilhar nas trevas e
resplandecer sobre os que se sentavam na região e
sombra da morte. Especialmente o ensinamento do
Salvador-Servo era o brilho de grande luz. Cada
palavra que saía de Sua boca era iluminadora.
Portanto, enquanto ensinava às pessoas, a luz
brilhava sobre elas. Desse modo o povo em trevas foi
iluminado pelo ensinamento do Senhor.
De acordo com Marcos 1:22, os que estavam na
sinagoga ficaram atônitos com o ensinamento do
Senhor e diziam que Ele ensinava como quem tem
autoridade e não como os escribas. Os que a si
mesmos designavam escribas e por si mesmos
ensinavam conhecimento vão, não tinham nenhuma
autoridade nem poder; porém esse Servo autorizado
por Deus, que mediante Deus ensinava realidade,
tinha não somente poder espiritual para subjugar as
pessoas mas também autoridade divina para
submetê-las ao governo divino.
EXPULSAR DEMÔNIOS
Em 1:23-28, temos o caso da expulsão de
demônios. Um homem com espírito imundo bradou e
o Senhor Jesus o repreendeu, dizendo: “Cala-te, e sai
dele. Então o espírito imundo, convulsionando-o e
bradando em alta voz, saiu dele” (vs. 23-25). Esse
espírito imundo não era um anjo caído, mas um
demônio (vs. 32, 34, 39; Lc 4:33), espírito
desencarnado de um dos seres viventes que havia na
era pré-adâmica e foram julgados por Deus quando se
uniram à rebelião de Satanás (ver Estudo-vida de
Gênesis, Mens. Dois). Os anjos caídos operam com
Satanás nos ares (Ef 2:2; 6:11-12), e esses espíritos
imundos, os demônios, movem-se com ele na terra.
Ambos agem malignamente sobre o homem a favor
do reino de Satanás. A possessão demoníaca sobre as
pessoas representa a usurpação de Satanás sobre o
homem, que Deus criou para Seu propósito. A
terceira coisa que o Salvador-Servo, que veio destruir
as obras de Satanás (1Jo 3:8), fez como parte de Seu
serviço a Deus, foi expulsar esses demônios das
pessoas possessas (vs. 34, 39; 3:15; 6:7, 13; 16:17)
para que fossem libertas da escravidão de Satanás (Lc
13:16), tirando-as da autoridade das trevas de Satanás
(At 26:18; Cl 1:13) e introduzindo-as no reino de Deus
(v. 15). Cinco casos são registrados neste Evangelho
para ilustrar isso (vs. 23-27; 5:2-20; 7:25-30; 9:17-27;
16:9).
Marcos 1:27 diz: “Todos ficaram pasmados a
ponto de discutirem entre si, dizendo: Que é isso? Um
novo ensinamento! com autoridade Ele dá ordens até
aos espíritos imundos, e eles Lhe obedecem!”. Esse
versículo não fala do poder, e sim da autoridade do
Senhor para expulsar demônios. Para Seu serviço, o
Salvador-Servo tinha autoridade divina não somente
para ensinar as pessoas (v. 22) mas também para
expulsar demônios.
Muitos anos atrás, um missionário chamado Dr.
Nevius escreveu um livro que descrevia muitos casos
de possessão demoníaca na China. Em todo país
havia casos de possessão, e em seu livro ele dá os
detalhes. Hoje, num país culto e altamente civilizado
como os Estados Unidos, aparentemente não há mais
casos de possessão demoníaca. Entretanto, Satanás é
sutil e busca possuir as pessoas de outras formas. Em
sua sutileza, ele tem uma forma de possuir as pessoas
dos países altamente civilizados assim como em
países subdesenvolvidos. Portanto, mesmo hoje, na
maior nação culta do planeta, Satanás é capaz de usar
vários meios de possuir as pessoas. Por isso, em nossa
pregação do evangelho, devemos ter não somente o
ensinamento correto mas também a expulsão de
demônios, a expulsão das coisas usadas por Satanás
para possuir as pessoas. A fim de fazer isso,
precisamos aprender a orar para receber o poder,
mesmo a autoridade, de expulsar os elementos
possuidores. Uma vez que recebemos esse poder e
autoridade, então nossa pregação e ensinamento
sairão com o poder de expulsar os elementos
possuidores do inimigo.
Precisamos de poder para expulsar os elementos
satânicos usados pelo inimigo para possuir as pessoas
nos países modernos de hoje. Satanás, a serpente
sutil, é muito esperta e sabe possuir as pessoas com
meios modernos. Num país não civilizado, talvez use
meios incultos para possuir as pessoas, mas num país
moderno e culto ele usará meios modernos e cultos
para usurpá-las. Por exemplo, nas maiores faculdade
e universidades ele possuirá as pessoas com meios
intelectuais. Não podemos derrotar a possessão do
inimigo da humanidade simplesmente com pregação
e ensinos comuns a fim de expulsar os demônios de
hoje; em nosso ensino e pregação devemos ter
autoridade e poder divinos, que só podem ser
exercidos em o nome de Jesus. Por isso, precisamos
invocar o nome do Senhor e exercitar a autoridade
divina que há nesse nome e por meio dele. Se o
fizermos, então nossa pregação e ensino terão poder e
autoridade para expulsar os elementos possuidores
malignos do inimigo. A expulsão de demônios,
portanto, é o terceiro item do conteúdo do evangelho.
CURAR OS ENFERMOS
Em 1:29-39 vemos o Senhor curando enfermos.
O versículo 30 diz: “A sogra de Simão achava-se
acamada, com febre; e imediatamente Lhe falaram a
respeito dela”. Essa febre pode representar a índole
desenfreada de alguém, isto é, um temperamento
anormal e imoderado.
De acordo com o versículo 31, o Senhor foi até a
sogra de Simão, tomou-a pela mão, levantou-a e a
febre a deixou. Segundo o versículo 34: “Ele curou
muitos doentes de diversas enfermidades”. A
enfermidade resulta do pecado e é sinal da condição
anormal do homem diante de Deus por causa do
pecado. A quarta coisa que o Salvador-Servo fez para
resgatar os pecadores, como outro item do Seu
serviço evangélico, foi curar a condição física e
espiritualmente enferma deles e restaurá-los à
normalidade (v. 34; 3:10; 6:5, 13, 56) para que
pudessem servi-Lo. Nove casos são registrados neste
Evangelho para ilustrar essa cura (vs. 30-31, 40-45;
2:3-12; 3:1-5; 5:22-43; 7:32-37; 8:22-26; 10:46-52).
Hoje cada ser humano caído está enfermo,
muitos fisicamente e todos espiritualmente. Visto que
todos as pessoas caídas estão espiritualmente
doentes, nós nas igrejas temos de aprender a pregar o
evangelho e ensinar a verdade como médicos. Isso
quer dizer que em nossa pregação e ensino devemos
dar às pessoas uma receita médica espiritual, uma
prescrição divina para a cura delas. Todos os santos
entre nós devem aprender a pregar o evangelho e
ensinar a verdade dessa forma para que os outros
sejam curados. Enquanto ensinamos e pregamos,
devemos dar aos outros uma injeção espiritual para
que sejam curados.
Entre os irmãos no movimento pentecostal, há
muita ênfase nas curas miraculosas. Essa ênfase é na
cura do lado físico. Contudo, precisamos cuidar mais
da cura espiritual do que da cura física. Os irmãos da
igreja devem estar tão bem equipados que ao pregar e
ensinar dispensem remédio espiritual aos outros a
fim de que sejam curados espiritualmente.
De acordo com Marcos 1:32, ao cair da tarde, o
Senhor curou muitos que estavam doentes. Cedo na
manhã seguinte Ele se levantou e, “estando ainda
escuro, saiu e foi para um lugar deserto, e ali orava”.
O Senhor orava a fim de ter comunhão com Deus,
buscando a vontade e o prazer de Deus para Seu
serviço evangélico. O Salvador-Servo executou o
serviço evangélico não por Si mesmo, independente
de Deus e segundo a própria vontade, mas segundo a
vontade e prazer de Deus, sendo um com Ele para
cumprir o Seu propósito.
De acordo com o versículo 37, Simão e os que
estavam com ele disseram ao Senhor: “Todos Te
buscam”. O Senhor lhes disse: “Vamos a outros
lugares, às povoações vizinhas, a fim de que eu pregue
também ali, pois para isso é que eu saí” [v. 38]. Como
Servo de Deus, o Salvador-Servo O servia no Seu
evangelho para levar a cabo não a própria vontade ou
a proposta das pessoas, mas a vontade de Deus, que O
havia enviado (Jo 6:38; 4:34).
PURIFICAR OS LEPROSOS
Em 1:40-45 temos o caso da purificação de um
leproso.
O versículo 40 diz: “Veio a Ele um leproso
rogando-Lhe, e, pondo-se de joelhos, Lhe diz: Se
quiseres, podes purificar-me”. Um leproso retrata um
pecador típico. A lepra é a doença mais contagiosa e
nociva, muito mais séria do que a febre (v. 30),
fazendo com que sua vítima fique isolada de Deus e
dos homens. De acordo com os exemplos das
Escrituras, lepra resulta de rebelião e desobediência.
Miriã ficou leprosa por ter-se rebelado contra a
autoridade delegada de Deus (Nm 12:1-10). A lepra de
Naamã foi purificada por causa da sua obediência
(2Rs 5:1, 9-14). Todos os seres humanos caídos
tornaram-se leprosos aos olhos de Deus por causa da
sua rebelião. Visto que a lepra isolava suas vítimas
tanto de Deus como do homem, a purificação do
leproso representa a restauração do pecador à
comunhão com Deus e com os homens. Esse foi o
último item do serviço evangélico do Salvador-Servo
de acordo com o registro desse capítulo.
Marcos 1:41 e 42 diz: “E Jesus, compadecido,
estendeu a mão, tocou-o e disse-lhe: Quero, fica
limpo! E imediatamente foi-se-lhe a lepra, e ficou
limpo”. O Senhor Jesus ficou compadecido. A
compaixão e a disposição do Salvador-Servo,
resultantes do Seu amor, eram preciosas ao leproso
sem esperança. O 'Senhor estendeu a mão e o tocou.
Isso mostrou Sua comiseração e intimidade para com
o leproso miserável, a quem ninguém ousava tocar.
De acordo com o versículo 42, a lepra imediatamente
o deixou e ele ficou limpo. Esse versículo diz que o
leproso não somente foi curado, mas limpo. Como
doença, a lepra requer cura; como pecado (1Jo 1:7),
também requer purificação por causa da sua natureza
imunda e contaminadora.
Todos precisamos ser profundamente
impressionados com as cinco questões envolvidas no
serviço evangélico do Salvador-Servo: (1) pregar (vs.
14-15, 38-39), para anunciar as boas-novas às pessoas
miseráveis que estavam sob escravidão; (2) ensinar
(vs. 21-22), para iluminar com a luz divina da verdade
os ignorantes que estavam em trevas; (3) expulsar
demônios (vs. 25-26), para aniquilar a usurpação de
Satanás sobre o homem; (4) curar a condição
enferma do homem (vs. 30-31), para que ele possa
servir ao Salvador-Servo; e (5) purificar o leproso (vs.
41-42), para restaurar o pecador à comunhão com
Deus e com os homens. Que obra maravilhosa e
excelente!
Em nossa pregação do evangelho também
devemos exercer as funções de pregar, ensinar,
expulsar demônios, curar e purificar. Se nossa
pregação for fraca, alguns talvez sejam salvos, mas
não purificados. Talvez sejam salvos no sentido de
receber o perdão do pecado, mas não purificado da
natureza contaminadora do pecado. Por isso,
precisamos seriamente considerar o fato de essa
figura do serviço evangélico do Senhor concluir com a
purificação do leproso. O Senhor pregou, ensinou,
expulsou demônios, curou os doentes e por fim
purificou o leproso. Essa purificação é a consumação
máxima do conteúdo do serviço evangélico do
Senhor.
Após-purificar o leproso, o Senhor Jesus
recomendou energicamente: “Olha, não digas nada a
ninguém; mas vai, mostra-te ao sacerdote e oferece
pela tua purificação o que Moisés determinou, para
servir de testemunho a eles” [v. 44]. Essa ordem,
dada em todo o relato do serviço evangélico do
Salvador-Servo, é bem categórica (5:43; 7:36; 9:9). É
semelhante ao que foi profetizado em Is 42:2 com
relação ao Seu caráter quieto. Ele queria que Sua obra
fosse feita nos limites de um mover absolutamente de
acordo com o propósito de Deus e não promovido
pelo entusiasmo e divulgação do homem. Em todo o
Seu ministério, o Salvador-Servo, como Servo de
Deus, não gostava de notoriedade.
De acordo com 1:45, o que fora purificado não
cumpriu o que o Senhor lhe dissera; antes, “tendo
saído, começou a proclamar muito e a divulgar a
notícia, de modo que Jesus já não podia entrar
publicamente numa cidade, mas permanecia fora, em
lugares desertos; e de toda parte vinham ter com Ele”.
Aqui vemos que a atividade do homem, que é
segundo o conceito natural, estorva o serviço do
Salvador-Servo, que é segundo o propósito de Deus.
ESTUDO-VIDA DE MARCOS
MENSAGEM SETE
AS MANEIRAS PELAS QUAIS
O SALVADOR-SERVO LEVOU A CABO SEU SERVIÇO
EVANGÉLICO (1)
A Humanidade e a Deidade do
Salvador-Servo
Nesse incidente vemos tanto a humanidade
como a deidade do Salvador-Servo. Quando se referiu
ao paralítico como filho, o Senhor agiu de forma
muito humanitária. Ele se dirigiu a ele de maneira
íntima, cheia de bondade humana. Mas, quando disse
a ele que se levantasse, tomasse o leito e fosse para
casa, manifestou Sua deidade. Assim, a deidade do
Senhor foi manifestada em Sua humanidade. Sua
humanidade era cheia de virtude e Sua deidade era
cheia de autoridade. A glória do Senhor era a
expressão de Sua autoridade. A palavra do Senhor ao
enfermo, que se levantasse, pegasse o leito e fosse
para casa, não era um ensinamento, e sim uma
palavra de autoridade. Foi confirmada pelo fato de
que o paralítico então recebeu a habilidade, a energia
para se levantar, tomar o leito e andar. Todos os que
estavam ali reunidos viram a autoridade, a glória e a
honra do Senhor. Portanto, nesse caso vemos Sua
humanidade mostrada em virtude e perfeição e Sua
deidade manifestada em glória e honra.
Quando o paralítico tomou o leito e foi embora
andando, a boca dos opositores, os escribas e fariseus,
estava fechada. O Senhor lhes calou a boca com a
autoridade em Sua deidade e também pela bondade
em Sua humanidade. Vemos aqui um servo, porém,
Nele Deus é manifestado. Por ter visto a deidade do
Senhor manifestada em Sua humanidade, muitos O
seguiram.
A Alegria da Salvação
Nos dois casos relatados em 2:1-12 e 2:13-17 (os
incidentes do perdão de pecados dos enfermos e do
festejar com pecadores) vemos a melhor maneira de
levar a cabo o serviço evangélico. Ou seja, ajudar as
pessoas a ter os pecados perdoados a fim de entrar no
desfrute de Deus. Festejar com o Senhor Jesus é
desfrutar Deus com Ele.
Todos os pecadores perderam Deus e também o
desfrute de Deus. Eles foram levados cativos para
longe de Deus e Seu desfrute, tornando-se escravos
de Satanás. Todos são escravos debaixo da autoridade
de Satanás. Por ser tais escravos, eles não têm
desfrute nem paz. Ao levar a cabo o serviço
evangélico, o Senhor Jesus primeiro perdoa os
pecados e então nos introduz no desfrute de Deus.
Após ter sido salvo, você não experimentou
desfrute como numa festa? Se você foi salvo sem ter
tido essa festa, isso quer dizer que você não teve a
alegria da salvação de Deus. Nesse sentido sua
experiência de salvação não foi adequada, não foi
completa. A salvação completa inclui perdão dos
pecados e alegria que está em Deus. Essa alegria é o
desfrute de Deus, e esse desfrute é uma festa.
Ainda me lembro da alegria que provei quando
fui salvo. Embora eu tivesse nascido e sido criado
num lar cristão e educado em colégio cristão, só fui
salvo aos dezenove anos. Oh! que alegria tive no dia
em que fui salvo! Eu estava muito feliz e parecia que
tudo, tanto no céu como na terra, me eram
agradáveis. Esse era o desfrute de Deus, a alegria da
salvação. A alegria da salvação é uma festa. Quando a
temos, festejamos com o Senhor Jesus.
Muitos podemos testificar que quando nos
lembramos da experiência de salvação ainda
podemos provar da alegria que experimentamos
então. Depois de salvos e de descobrir que os nossos
pecados foram perdoados, houve alegria em nosso
interior. Considerávamos o Senhor Jesus como o
mais maravilhoso, e estávamos alegres com Ele e
festejando com Ele.
Essa alegria da salvação, o desfrute de Deus, é
prova categórica de que fomos conduzidos de volta a
Deus. A alegria da salvação testifica que já não
estamos longe de Deus, mas fomos trazidos de volta.
A maneira adequada de levar a cabo o serviço
evangélico é ajudar as pessoas a experimentar o
perdão dos pecados a fim de ter a alegria da salvação,
o desfrute de Deus.
Desfrute
A palavra que descreve o segundo incidente é
desfrute. Nesse incidente relatado em 2:13-17, o
Salvador-Servo como médico festejava com
pecadores. Portanto, aqui temos o desfrute de festejar
com o Salvador. Os que festejaram com Ele
desfrutaram a bondade do Salvador-Servo, que é a
corporificação de Deus. Desse modo, na realidade o
que experimentaram foi o desfrute do próprio Deus.
Por isso, a palavra desfrute é um resumo desse
incidente.
Alegria
Podemos usar uma palavra muito simples para
descrever o terceiro incidente: alegria. Assim, nos
três primeiros incidentes temos: perdão, desfrute e
alegria.
De acordo com 2:18-22, alguns fatores básicos
devem existir para que estejamos alegres. O primeiro
é o Noivo: “Respondeu-lhes Jesus: Podem acaso
jejuar os companheiros do noivo enquanto o noivo
está com eles? Enquanto têm consigo o noivo, não
podem jejuar” (v. 19). A pessoa mais agradável que
existe é o noivo. Portanto, no capítulo dois de Marcos
o fator básico de nossa alegria é o Salvador como
Noivo.
Outros dois fatores da alegria são o pano novo (v.
21) e o vinho novo (v. 22). O pano novo é para fazer
roupas a fim de nos cobrir e embelezar. Pano novo
não é encolhido pois ainda não foi tratado ou
trabalhado, e é para fazer veste nova. Essa veste nova,
que na realidade é o próprio Cristo, nos cobre e
embeleza. O vinho novo nos satisfaz e alegra.
Exteriormente, temos o pano novo; interiormente, o
vinho novo. Além disso, estamos com o Noivo. Agora
temos esses fatores básicos para estar alegres.
Nenhum filósofo poderia proferir uma palavra
como a que foi falada pelo Senhor Jesus em 2:18-22.
Em Sua sabedoria, Ele usa coisas comuns como pano
e vinho para ilustrar itens maravilhosos. O Senhor
fala de noivo, pano novo e vinho novo a fim de nos
mostrar como podemos estar alegres. Podemos estar
alegres porque estamos com o Noivo, porque temos
veste nova para nos cobrir e embelezar, e vinho novo
para nos encher, satisfazer e alegrar muito. Assim, no
terceiro incidente temos alegria.
Satisfação
O quarto incidente, registrado em 2:23-28, é
aquele no qual o Senhor se importa antes com a fome
de Seus seguidores do que com os preceitos da
religião. Marcos 2:23-24 diz: “E aconteceu atravessar
Jesus, em dia de sábado, as searas, e os Seus
discípulos, enquanto iam, começaram a colher
espigas. Diziam-Lhe os fariseus: Vê! Por que fazem
aos sábados o que não é lícito?”. Aqui vemos que o
Salvador-Servo importou-se antes com a fome de
Seus seguidores do que com os preceitos da religião.
Visto que seguimos o Senhor, não estamos famintos,
e sim satisfeitos. Uma vez satisfeitos, podemos
testificar: “Não nos preocupamos em guardar os
preceitos religiosos e permanecer com fome. Os
preceitos religiosos sempre nos deixam com fome.
Mas, como seguidores do Salvador-Servo, não
estamos mais famintos. Cada dia da semana,
inclusive sábado, Ele nos dá de comer. Agora estamos
satisfeitos. Não nos importamos se os outros nos
condenam segundo seus preceitos religiosos. Os
outros podem importar-se com os preceitos
religiosos, mas nós nos importamos em estar
satisfeitos no Senhor”. Esse caso, portanto, pode ser
resumido pela palavra satisfação.
Liberdade
Liberdade é a palavra que melhor resume o
quinto incidente, em que o Salvador-Servo se importa
antes com o alívio do que sofre do que com os ritos da
religião (3:1-6). Nesse incidente vemos que, no
sábado, Ele restaurou a mão ressequida de um
homem. Ele não se importou com o rito da religião;
importou-se com o alívio do que sofria. Ele queria
aliviá-lo, libertá-lo. Portanto, nesse incidente temos a
liberdade.
O JEJUM DA RELIGIÃO
Agora vamos considerar 2:18-22 com mais
detalhes. Depois que o Senhor disse' aos escribas que
tinha vindo como médico para cuidar dos doentes,
dois grupos de discípulos (os de João e os dos
fariseus) vieram a Ele: “Os discípulos de João e os
fariseus estavam jejuando. Eles vieram e Lhe
perguntaram: Por que jejuam os discípulos de João e
os discípulos dos fariseus, mas os Teus discípulos não
jejuam?” (2:18). Os dois grupos de discípulos
praticavam o jejum. Isso indica que, se estamos na
religião, precisamos jejuar. Os que estão na religião
estão vazios e famintos; não têm nada que os
satisfaça. Ser discípulo em qualquer religião é ter
problemas, fome, sede, cansaço e ansiedade. Ao falar
isso, não estou criticando nada, estou apenas falando
a verdade. As pessoas na religião certamente têm
motivo para jejuar. A religião requer e exige,
dizendo-nos que não podemos fazer isso e aquilo.
Contudo, ela não nos capacita a cumprir seus
requisitos. Assim, por não conseguir cumprir os
requisitos da religião, é preciso jejuar. Por isso, tanto
os discípulos de João como os dos fariseus jejuavam.
O Verdadeiro Davi
Em Marcos 2:25-26 vemos a resposta do Senhor
aos fariseus: “Nunca lestes o que fez Davi quando se
viu em necessidade e teve fome, ele e os que com ele
estavam? Como entrou na Casa de Deus, no tempo do
sumo sacerdote Abiatar, e comeu os pães da
proposição, os quais não é lícito comer, senão só aos
sacerdotes, e deu também aos que estavam com ele?”.
Os fariseus disseram que não era lícito que os
discípulos do Senhor pegassem espigas nas searas e
as comessem. Os fariseus os condenaram por agir
contra a Escritura. Mas o Senhor lhes perguntou:
“Nunca lestes?”. Ele lhes mostrou outro aspecto da
verdade nas Escrituras, que justificava a Ele e aos
discípulos. Isso condenou os fariseus por não ter
conhecimento adequado das Escrituras.
A resposta do Senhor nesses versículos indica
que Ele devia ter uma maneira excelente de estudar a
Bíblia. Aqui Ele parecia dizer aos fariseus: “Nunca
leram o que fez Davi? Vocês, fanáticos, respeitam a
Bíblia ao máximo. Nunca leram que Davi entrou na
casa de Deus, comeu do pão da proposição e também
deu aos que estavam com ele? Vocês não sabem que
Davi levou seus seguidores a fazer isso? Vocês
querem dizer que ele os conduziu ao erro nessa
questão?”. Quão excelente é a maneira de o Senhor
estudar a Bíblia! Todos precisamos aprender com Ele.
Aos olhos dos judeus, o Senhor era iletrado. Eles
admiravam e diziam a Seu respeito: “Como sabe este
letras, sem ter estudado?” (107:15). Esse, que
aparentemente não havia estudado as Escrituras,
questionou os escribas, antigos estudiosos da Bíblia, a
respeito do conhecimento das Escrituras. Embora
fossem tidos como estudiosos da Bíblia, eles apenas a
conheciam de maneira superficial e somente como
doutrina em letras mortas. O Senhor expôs o
conhecimento inadequado que eles tinham das
Escrituras quando lhes perguntou se nunca leram o
que fez Davi quando ele e seus companheiros estavam
em necessidade e com fome.
A palavra do Senhor aos fariseus é muito sábia e
rica em implicações. Ela aqui implica que Ele é o
verdadeiro Davi. Nos tempos antigos, Davi e seus
seguidores, quando rejeitados, entraram na casa de
Deus e comeram dos pães da proposição,
aparentemente violando a lei levítica. Agora o
verdadeiro Davi e Seus seguidores, também
rejeitados, foram comer, aparentemente contra o
regulamento sabático. Assim como Davi e seus
seguidores não foram considerados culpados,
também Cristo e Seus discípulos não devem ser
condenados.
Além disso, a palavra do Senhor aqui implica
uma mudança dispensacional do sacerdócio para a
realeza. No passado, a vinda de Davi-mudou a
dispensação da era dos sacerdotes para a dos reis,
para a era em que os reis estavam acima dos
sacerdotes. Na era dos sacerdotes, o líder do povo
deveria ouvir o sacerdote (Nm 27:21-22). Mas na era
dos reis o sacerdote devia se submeter ao rei (1Sm
2:35-36). Portanto, o que Davi e seus seguidores
fizeram não era ilícito. Agora, com a vinda de Cristo, a
dispensação também mudou, dessa vez da era da lei
para a era da graça, na qual Cristo está acima da lei. O
que quer que Ele faça está correto.
Vimos que a palavra do Senhor aos fariseus
implica que Ele é o verdadeiro Davi. Mateus, o
cobrador de impostos, era um dos seguidores desse
Davi, que lutava pelo reino de Deus. Quando Davi
levou seus companheiros para a casa de Deus, ele
estava lutando pelo reino. Da mesma forma, como o
verdadeiro Davi, Cristo e Seus seguidores também
lutavam pela vinda do reino. Além disso, com a vinda
do Senhor houve uma mudança de dispensação.
Em 2:27 o Senhor ainda disse aos fariseus: “O
sábado foi feito para o homem, e não o homem para o
sábado”. O homem não foi criado para o sábado, mas
o sábado foi ordenado para o homem, a fim de que
este pudesse desfrutá10 com Deus (Gn 2:2-3).
O Senhor do Sábado
No versículo 28 temos uma demonstração
contundente de quem é o Senhor: “De sorte que o
Filho do Homem é Senhor até do sábado”. Isso indica
a deidade do Salvador-Servo em Sua humanidade.
Ele, o Filho do Homem, era o próprio Deus que havia
ordenado o sábado, e tinha o direito de mudar o que
ordenara a respeito do sábado. Como Senhor do
sábado, Ele tinha o direito de mudar as leis do
sábado.
O Senhor mostrou aos fariseus condenadores
que Ele era o verdadeiro Davi, o Rei do reino
vindouro de Deus e também Senhor do sábado.
Portanto, podia fazer o que quisesse no sábado, e o
que quer que fizesse estaria justificado pelo que Ele é.
Ele estava acima de todos os ritos e regras. Uma vez
que Ele estava presente, ninguém deveria dar atenção
a ritos e regras.
Gostaria de chamar sua atenção à palavra “até”
em 2:28. Aqui o Senhor diz que o Filho do Homem é
Senhor até do sábado. O fato de usar a palavra até
aqui, implica que Ele não é meramente o Senhor de
algo, mas de tudo, inclusive do sábado.
A palavra do Senhor implica e indica que Ele é o
Deus Todo-Poderoso, o mesmo que ordenou o sábado
em Gênesis 2. Como Aquele que tinha autoridade
para ordenar o sábado, Ele também tinha o direito de
mudá-lo. Assim Ele poderia ter dito aos fariseus: “Por
que vocês Me perturbam? Eu sou o Senhor que
ordenou o sábado, e tenho plena posição e direito de
mudá-lo. Ordenando o sábado ou mudando-o, Eu o
faço para o homem. O sábado veio a existir por causa
do homem, e não o homem por causa do sábado.
Vocês, fariseus, da forma com que guardam o sábado,
são capazes até de deixar alguém morrer. Mas Eu, no
sábado, preocupo-me em alimentar Meus seguidores.
Em Gênesis 2 ordenei o sábado porque queria que o
homem tivesse descanso. Assim, o sábado veio a
existir por causa do homem. Mas, agora que estou
aqui, quero cancelar o sábado a fim de alimentar
Meus seguidores. Como Senhor do sábado,
certamente tenho o direito de fazê-lo”.
O Senhor lidou com a situação em 2:23-28 de
forma maravilhosa! Ele certamente é o melhor
advogado, um advogado celestial. O que quer que
diga está correto. Ao discutir com Ele, os fariseus não
conseguiram nada, pois Ele é o Senhor
todo-poderoso.
Apertar e Tocar
Em 3:7-12 duas palavras significativas são usadas
a respeito da multidão: apertar (vs. 9-10) e tocar (v.
10). O versículo 9 diz: “Então disse a Seus discípulos
que Lhe tivessem pronto um barquinho junto Dele,
por causa da multidão, a fim de não O apertarem”. O
Senhor queria entrar num barco para evitar o aperto
da multidão. O aperto impedia que os que eram
sinceros viessem ao Senhor e O tocassem
diretamente. Se estivermos entre os que meramente
apertam o Senhor, não receberemos nada Dele. A fim
de receber algo Dele, precisamos tocá-Lo. Portanto,
nesse trecho do Evangelho de Marcos, a palavra
apertar é usada no sentido negativo, enquanto tocar
tem significado positivo.
De acordo com o registro dos Evangelhos, muitas
vezes as pessoas apertaram o Senhor, mas somente os
que O tocaram receberam algum benefício. É tocando
diretamente o Senhor que a vida emana Dele para
nós. A essa infusão de vida chamamos de
transmissão. Outro termo é dispensação. Quando
contatamos o Senhor diretamente, recebemos o
dispensar divino. Mas apertar o Senhor não resulta
em nada no que diz respeito ao dispensar divino que
experimentamos apenas ao tocar diretamente o
Senhor. Percebendo isso, Ele queria separar-se da
multidão. Por essa razão retirou-se com os discípulos
para o mar.
Um Barquinho
Embora o Senhor se retirasse da multidão, ela
continuava a segui-Lo. Por causa disso, mesmo na
praia, ela procurava apertá-Lo. Assim, Ele disse aos
discípulos que Lhe tivessem pronto um barquinho
junto Dele. Ele não queria que a multidão O
apertasse. O barco era um modo de estar separado da
multidão.
Em figura, o barquinho que o Senhor queria que
estivesse pronto junto Dele representa a igreja. Em
Mateus 13 o barco tem esse significado. A igreja é
diferente da nação de Israel, representada pela terra,
e do mundo gentio, tipificado pela água. A igreja é
algo separado da terra e está sobre a água. Portanto,
ela não está nem na terra nem dentro d'água. Embora
o “barco” da igreja esteja sobre a água, ele não está
dentro dela nem ela dentro dele. Assim, a terra
simboliza a nação de Israel, o mar prefigura o mundo
gentio e o barco, separado tanto da terra como do
mar, representa a igreja. Por meio disso podemos ver
que a igreja. está separada tanto da nação de Israel
como do mundo gentio. Esse entendimento está de
acordo com a palavra de Paulo em 1 Coríntios 10:32 a
respeito dos judeus, dos gregos (os gentios) e da
igreja de Deus.
Hoje o Senhor ministra Sua vida para os que
estão na igreja e de dentro da igreja ministra também
para outros. Esse é o significado do barco. Se virmos
isso, perceberemos que, fora da igreja, se tentarmos
ministrar às pessoas, poderemos sofrer o aperto da
multidão. Hoje muitos ministérios são transmitidos
para a multidão, sem haver barco. Contudo, o
ministério adequado é no barco, um ministério que
infunde o suprimento de vida, não para os que
apertam o Senhor, mas para os que sinceramente
desejam tocá-Lo.
O que o Senhor fez em relação à multidão deve
ser exemplo para nós, e devemos seguir Seus passos.
Mas muitos pregadores e evangelistas hoje apreciam
a multidão. Quanto maior a multidão, mais felizes
eles ficam. Mas os fatos históricos indicam que
grandes multidões causam perda e não benefício para
o autêntico ministério de vida.
Aqui vemos que a maneira do Senhor é diferente
da do homem. Em vez de gostar de multidão, Ele
procurou evitá-la. Quando a multidão O seguiu, Ele
pediu que Lhe tivessem pronto um barquinho a fim
de se retirar da multidão que O apertava.
Os Espíritos Imundos
Marcos 3:11-12 diz: “E os espíritos imundos,
quando O viam, prostravam-se diante Dele e
gritavam: Tu és o Filho de Deus. E Jesus lhes advertia
repetidamente que não O tornassem conhecido”. O
que os demônios gritavam com relação ao
Salvador-Servo era outro estorvo a Seu serviço
evangélico. Por isso, Ele os advertia e os proibia.
O REINO DE DEUS
Embora possamos ter, nessas três seções, uma
visão completa a respeito do evangelho, não vemos,
no entanto, sua essência intrínseca, objetivo e
resultado, nem ainda para que é o evangelho; por
isso, no capítulo quatro, o registro de Marcos chega
ao tema do reino de Deus.
Em I:15 temos a primeira elocução do Senhor
Jesus em Sua pregação do evangelho: “O tempo está
cumprido e o reino de Deus está próximo,
arrependei-vos e crede no evangelho”. Esse versículo
indica claramente que o evangelho é para o reino, não
o reino do homem nem o de Israel, mas o de Deus.
Que é o reino de Deus? Não é fácil defini-lo. Para
entendê-lo precisamos considerar todo o Antigo
Testamento, pois ali temos uma visão clara do reino.
Podemos dizer que reino é a esfera, ou área de
atividade, onde alguém realiza algo. Às vezes dizemos
que certa pessoa tem seu reino. Isso significa que ela
tem uma área de atividade, uma esfera, onde pode
trabalhar para atingir seu objetivo ou cumprir seu
plano. Portanto, reino é o âmbito onde alguém faz o
que quer fazer. De acordo com o Antigo Testamento,
há o âmbito chamado de o reino de Deus, que é uma
esfera para Deus levar a cabo Seu propósito eterno e
atingir Seu objetivo.
Após criar os céus, a terra e bilhões de itens,
Deus criou o homem. De acordo com o livro de
Gênesis, Ele o criou com duplo objetivo. Do lado
positivo, Deus criou o homem à Sua imagem para
expressá-Lo. Do lado negativo, deu ao homem
domínio sobre todas as coisas criadas. Domínio
significa autoridade numa esfera específica. Domínio,
portanto, está relacionado com o reino de Deus. Em
Gênesis 1 vemos que o homem tem a imagem e o
domínio de Deus. A imagem visa a Sua expressão e o
domínio visa a Seu reino.
Deus, em Sua criação, queria que o homem O
expressasse. Para isso, Ele precisa de uma esfera, e
essa esfera é um reino, um ambiente onde Ele pode
exercitar Sua autoridade. Deus deu ao homem Sua
autoridade e o estabeleceu como cabeça de todas as
coisas criadas. Por meio disso podemos ver que,
imediatamente depois da criação do homem, Deus
estabeleceu um reino na terra. Portanto, o reino de
Deus pode ser visto no primeiro capítulo de Gênesis.
No devido tempo, após a queda do homem, Deus
chamou Abraão, Isaque e Jacó. O livro de Gênesis
registra a experiência desses patriarcas e dos filhos de
Israel e sua peregrinação no Egito. De acordo com o
registro de Êxodo, Deus os tirou do Egito. Êxodo 19:6
revela o propósito de Deus em fazê-lo: “Vós me sereis
reino de sacerdotes e nação santa”. Ele os tirou a fim
de fazer deles um reino de sacerdotes, um reino no
qual cada um seria sacerdote, alguém que serve a
Deus. Portanto, o objetivo de Deus era ter um reino
de sacerdotes.
De Êxodo 19 até o fim do Antigo Testamento
temos o registro da história de um reino. Não
devemos considerá-lo meramente como o reino de
Israel, mas o reino de Deus expresso no reino de
Israel.
Ao estudar o Antigo Testamento vemos que Deus
não conseguiu cumprir Seu propósito com Adão, Noé
nem com a nação de Israel. Embora o reino de Deus
fosse expresso pelo reino de Israel, Deus não
conseguiu atingir Seu objetivo por meio dos israelitas.
Por isso, finalmente, o próprio Deus veio mediante a
encarnação.
Como não conseguiu cumprir Seu propósito por
meio do primeiro Adão e seus descendentes, Deus
veio mediante a encarnação como último Adão. Como
o Deus encarnado, o Senhor Jesus veio estabelecer o
reino de Deus, um ambiente no qual Deus pode levar
({ cabo Seu propósito pelo exercício de Sua
autoridade. Essa foi a razão de o Senhor ensinar aos
discípulos que orassem pela vinda do reino (Mt 6:10).
Foi por isso também que, em Sua pregação do
evangelho, Ele dizia às pessoas que se arrependessem
para o reino de Deus. O Senhor declarou que o reino
de Deus estava próximo e as pessoas precisavam
arrepender-se para entrar nele. Os que se
arrependem porque está próximo o reino de Deus
poderão participar do cumprimento do propósito
eterno de Deus.
O OBJETIVO E O RESULTADO DO
EVANGELHO
Freqüentemente o reino de Deus é negligenciado
na pregação do evangelho, a qual, hoje, dá a
impressão de que o evangelho visa apenas ganhar
almas, transferir as pessoas do inferno para o céu e
ajudá-las a ter paz, alegria e a bênção eterna. No Novo
Testamento, no entanto, temos uma impressão
diferente do evangelho. Quando o Senhor Jesus o
pregava, Ele falava a respeito do reino de Deus e lhes
dizia que se arrependessem para o reino.
Um dia, em Seu treinamento aos discípulos, o
Senhor os levou à Cesaréia de Filipe, situada na
região norte da Terra Santa, perto da fronteira, ao pé
do Monte Hermom. Então Ele começou a
perguntar-lhes a respeito Dele mesmo: “Quem dizem
os homens ser o Filho do Homem? (...) Mas vós,
perguntou-lhes Ele, quem dizeis que Eu sou?” (Mt
16:13, 15). Respondendo Pedro, disse: “Tu és o Cristo,
o Filho do Deus vivo” (v. 16). Pedro O reconheceu
como o Cristo, o Filho do Deus vivo. Isso significa que
o Filho do Deus vivo foi designado Ungido de Deus, o
Cristo. Depois que Pedro recebeu essa revelação a
respeito do Senhor, o Senhor continuou: “Sobre essa
rocha edificarei a Minha igreja... Dar-te-ei as chaves
do reino dos céus” (vs. 18-19). Nesses versículos as
palavras igreja e reino são usadas uma em lugar da
outra. Primeiro o Senhor disse: “Edificarei a Minha
igreja”, e então: “Dar-te-ei as chaves do reino dos
céus”. Isso indica que para a igreja ser edificada, o
reino precisa ser aberto. Em outras palavras, abrir o
reino é a maneira de iniciar a edificação da igreja.
Precisamos ver esse item crucial de que a
essência intrínseca do evangelho é o reino. O
evangelho é pregado visando o reino, e o reino é uma
esfera divina para Deus levar a cabo Seu plano, um
ambiente onde Ele pode exercer Sua autoridade para
cumprir Sua intenção. A única maneira de Deus
alcançar Seu objetivo é o reino, portanto, há uma
seção de Marcos que revela o objetivo do evangelho:
ter o reino. O reino de Deus é o objetivo da pregação
do evangelho.
O reino de Deus não é apenas o objetivo mas
também o resultado do evangelho. Quando o
evangelho é pregado, que acontece? Qual é o
resultado do evangelho? É o reino. A pregação do
evangelho visa produzir o reino.
Apenas em Mateus é que o Senhor fala da igreja.
Não há menção da igreja em Marcos, Lucas ou João.
Precisamos perceber, no entanto, que na mente do
Senhor a igreja e o reino são uma coisa só. A igreja é o
reino e o reino é a igreja.
A VIDA DO REINO
Na restauração do Senhor, estamos acostumados
a usar a expressão “a vida da igreja”. Freqüentemente
dizemos aos outros que estamos na vida da igreja. Eu
recomendaria que de agora em diante digamos não
apenas que estamos na vida da igreja, mas também
na vida do reino. Por vezes talvez seja até melhor falar
da vida do reino do que da vida da igreja. Se usarmos
a expressão “vida do reino” juntamente com “vida da
igreja”, isso talvez nos lembre que hoje estamos na
vida do reino. Estar na vida da igreja é estar no reino,
pois a igreja hoje é o reino, e o reino é a realidade da
vida da igreja.
ESTUDO-VIDA DE MARCOS
MENSAGEM CATORZE
AS PARÁBOLAS DO REINO (2)
A SEMENTE DO EVANGELHO
Vamos iniciar nossas considerações a respeito do
reino fazendo a seguinte pergunta: Que é o
evangelho? Pode-se dizer que é uma Pessoa
maravilhosa, um maravilhoso Homem-Deus. O
evangelho nos diz que um dia o próprio Deus
encarnou-se. Esse maravilhoso Deus encarnado era o
Homem-Deus. Quando atingiu a idade de trinta anos,
Ele saiu a pregar o evangelho. Como ressaltamos
numa das mensagens anteriores, o evangelho é o
substituto de todo o Antigo Testamento, pois é o
cumprimento das promessas, profecias e tipos, e
também é a remoção da lei. Com a vinda do
Homem-Deus, Jesus Cristo, o Antigo Testamento
acabou. Jesus Cristo é, Ele mesmo, o evangelho. O
evangelho, portanto, é Esse maravilhoso
Homem-Deus.
De acordo com o relato do capítulo quatro do
Evangelho de Marcos, podemos dizer que o
evangelho é o maravilhoso Homem-Deus vindo
semear-Se como semente de vida contida na palavra
do Senhor. A esse respeito, Marcos 4:2-3 diz: “E
muitas coisas lhes ensinava em parábolas, e lhes dizia
no Seu ensinamento: Ouvi: Eis que o semeador saiu a
semear”. No grego, bem como em português, o verbo
ensinava está no imperfeito, indicando uma ação que
se repete no passado. A palavra semeador indica que
o Salvador-Servo, que era o Filho de Deus, veio
semear-Se como semente de vida em Sua palavra (v.
14) nos corações dos homens, a fim de crescer neles,
viver neles e ser expressado a partir do interior deles.
A semente semeada aqui é a palavra que procedeu da
boca do Salvador-Servo. Assim, Sua palavra é a
semente, e nela está a vida divina. Na realidade, a
semente da vida divina é o próprio Senhor.
A semente semeada no capítulo quatro de
Marcos é a semente do evangelho. Assim como uma
semente de cravo é, na verdade, o próprio cravo,
assim a semente do evangelho é o próprio evangelho.
Como Homem-Deus, Jesus Cristo é a semente do
evangelho. Quando falamos de semente do
evangelho, queremos dizer que a semente é o
evangelho, assim como a semente do cravo é cravo.
Em Marcos 4 temos a semente do evangelho ou o
evangelho como semente. De acordo com 4:3, ao
ensinar, o Senhor semeava. Esse semear era a
pregação do evangelho de Deus pelo Salvador-Servo,
que introduziu o reino de Deus (1:14-15). A palavra
falada por Ele foi o semear da semente de vida, como
vemos em 4:26. Isso indica que Seu serviço
evangélico consistia em semear a vida divina nas
pessoas a quem Ele servia. O crescimento dessa vida
depende da condição dos que são servidos por Ele, e o
resultado, assim, varia de acordo com as diversas
condições, como retrata a parábola do semeador
(4:1-20).
O Senhor Jesus plantou a semente no coração do
homem. Em Marcos 4 e Mateus 13 o coração do
homem é comparado ao solo. O nosso coração é o
campo, o solo, no qual o Senhor Jesus semeou a Si
mesmo como a semente de vida, que é a semente do
evangelho. Na parábola do semeador, o Senhor Jesus
é tanto o Semeador como a semente plantada. Como
Semeador, Ele semeia a Si mesmo como semente de
vida por meio de Sua palavra.
Na própria parábola do semeador o reino de
Deus não é mencionado. Por exemplo, em 4:3 o
Senhor não diz nada sobre o reino, mas diz que o
semeador saiu a semear. Por que não há menção do
reino em 4:1-8? A razão é que, embora o reino de
Deus estivesse próximo, ele ainda não tinha chegado.
Mas, em 4:26 vemos que o reino já havia chegado, por
isso o Senhor podia dizer: “O reino de Deus é [...]”.
Então, em 4:30 o Senhor prosseguiu: “A que
compararemos o reino de Deus?”. Na parábola da
semente (vs. 26-29) e na parábola do grão de
mostarda (vs. 30-34Jo reino de Deus estava lá. Mas
na primeira parábola, a do semeador, ele ainda não
havia chegado. Como vimos, nessa parábola a
semente do reino é plantada.
Quando plantou a semente do reino de Deus, o
Senhor semeou a Si mesmo nos discípulos. Então,
essa semente passou por um processo de
desenvolvimento neles por três anos e meio. Como
resultado, quando veio o dia de Pentecostes, o reino
de Deus estava presente com eles. O tempo desde que
o Senhor saiu a pregar o evangelho até o dia de
Pentecostes foi menos de quatro anos. Esse foi um
período para que a semente plantada na “terra”
crescesse. A semente continuou a crescer e se
desenvolver até o dia de Pentecostes, quando o reino
estava claramente presente em Pedro e os cento e
vinte.
É fácil falar do aspecto exterior do reino. Mas é
difícil falar do reino de Deus no aspecto interior de
vida. Precisamos ser impressionados com o fato de
que o reino de Deus é muito diferente do reino do
homem. O reino do homem é uma organização. O
reino de Deus não; antes, é absolutamente uma
questão de vida.
Que é o reino de Deus? É, na verdade, o
Homem-Deus, Jesus Cristo, plantado como semente
em Seus crentes. Depois de plantada, essa semente
irá crescer neles e por fim se desenvolverá num reino.
Jesus Cristo é a semente do reino de Deus,
semeada nos que crêem Nele. Agora, ela cresce e se
desenvolve neles. Finalmente, esse crescimento e
desenvolvimento terão um resultado: o reino. Então
esse resultado, o reino, fará com que todos os crentes
do Senhor atinjam o objetivo. Esse objetivo também é
o reino. O capítulo quatro do Evangelho de Marcos
presta-se ao propósito específico de revelar-nos o
reino dessa forma.
O ELEMENTO INTRÍNSECO DO
EVANGELHO
Nesta mensagem não estou preocupado com um
estudo versículo por versículo de 4:1-34, nem mesmo
com um estudo das diversas parábolas. O meu
encargo é que vejamos o que é o reino de Deus. É
crucial ver que o evangelho é o evangelho do reino de
Deus. Esse evangelho, na verdade, é o Homem-Deus,
Jesus Cristo, semeado em nós como semente de vida,
que é a semente do reino. Essa semente agora cresce e
se desenvolve em nós. Finalmente, um reino resultará
desse crescimento e desenvolvimento.
Se dissermos que na restauração do Senhor
estamos praticando a vida do reino, precisamos
perceber que esse reino não é uma organização. Não;
é algo da vida interior, uma vida que, na verdade, é o
próprio Senhor Jesus Cristo. Ele foi plantado em
nosso ser como semente e agora cresce e se
desenvolve em nós. Louvado seja o Senhor, porque
essa semente está em cada um de nós e agora cresce e
se desenvolve! O crescimento e o desenvolvimento da
semente resultarão no reino. Além disso, o reino nos
levará ao destino de modo que o objetivo de Deus seja
atingido. Você sabe qual é esse objetivo? É o pleno
desenvolvimento do reino de Deus.
Já enfatizamos que Marcos registra as atividades
do Senhor. Nos primeiros três capítulos vemos o
conteúdo do serviço evangélico (1:14-45), as maneiras
de levar a cabo tal serviço (2:1-3:6) e os atos
auxiliares para esse serviço (3:7-35). Agora, no
capítulo quatro vemos o que é o evangelho. De acordo
com esse capítulo, o evangelho é a semente de vida
plantada nos que crêem no Senhor Jesus, de modo
que cresça, se desenvolva e resulte no reino.
Aparentemente, o evangelho é questão de pregação,
ensinamento, expulsão de demônios, cura de
enfermos e purificação de leprosos. Na verdade, o
elemento intrínseco do evangelho é a semente divina,
o Homem-Deus, o Deus encarnado, plantado em
nosso ser. Esse elemento intrínseco do evangelho é
negligenciado por muitos cristãos de hoje.
No evangelho há uma semente interior, que,
como seu elemento intrínseco, é o Homem-Deus.
Sempre que formos pregar o evangelho, precisamos
ministrar Cristo aos que nos ouvem e recebem nossa
palavra, pois no evangelho há um elemento
intrínseco. Sempre que alguém recebe o evangelho,
recebe o Deus encarnado como elemento intrínseco a
semente, do evangelho. Isso significa que, uma vez
que a pessoa receba o evangelho, recebe tal semente.
Por meio do evangelho o Deus encarnado é semeado
em seu ser.
O GENE DO REINO
A fim de esclarecer essa questão, gostaria de
tomar emprestado um termo da biologia: o gene. O
Deus Triúno em Sua humanidade semeado em nosso
ser é o gene do reino. Sabemos que sem genes
humanos é impossível haver a vida humana. Nosso
nascimento, nosso ser e nossa existência começaram
todos com um gene. Agora precisamos ver que o Deus
Triúno em Sua humanidade foi semeado em nós para
ser o gene do reino. Louvado seja o Senhor porque
esse gene está em nós! Por fim, esse gene resultará no
reino.
Primeiro, o reino é o resultado do evangelho, e
depois é o objetivo do evangelho. Entre o resultado e
o objetivo temos a igreja. Você sabe o que é a igreja? É
a continuação do resultado do gene do reino.
Esse entendimento do reino certamente é
diferente do conceito superficial de muitos cristãos de
hoje. Vimos que, um dia, o Deus Triúno tornou-se um
homem chamado Jesus Cristo, o Homem-Deus. Ao
perdoar o paralítico em Marcos 2 Sua deidade e Sua
humanidade foram manifestadas. Agora
,
Ele, pela pregação do evangelho, foi semeado em
nós. Para contatá-Lo hoje, não há necessidade de
ninguém descobrir o telhado como fizeram aquelas
pessoas zelosas em Marcos 2. O Senhor foi semeado
em nosso coração! Ele é o gene do reino, o Deus
Triúno em Sua humanidade. Essa pessoa
Maravilhosa é nosso Deus, Senhor, Salvador,
Redentor, Mestre e vida.
Visto que o Homem-Deus, como gene do reino,
foi semeado em nós, espontaneamente amamos uns
aos outros e desfrutamos comunhão maravilhosa.
Podemos dizer que a igreja na restauração do Senhor
é o verdadeiro cadinho' das diferentes raças,
nacionalidades e culturas. Na verdade, nós não
apenas estamos misturados, mas também
entremesclados. Você sabe por que amamos uns aos
outros? Por causa do
'Vaso metálico ou de material refratário,
utilizado em operações químicas a temperaturas
elevadas; crisol; daí, lugar onde as coisas se
misturam, se fundem. (N. do T.) gene que está em
nós. Ele contém o elemento com o qual amamos uns
aos outros.
Dia a dia, a semente do reino cresce e se
desenvolve em nós. Tenho encargo de que todos
sejamos impressionados com o fato de que essa
semente, esse gene, foi semeada em nós e é o Deus
Triúno encarnado, o próprio Deus em Sua
humanidade. Aquele que perdoou o paralítico está
agora em nós como a semente do reino.
Oh! que todos tenhamos encargo de contar aos
outros essas boas novas! Podemos esquecer-nos de
muitas coisas, mas devemos lembrar-nos do gene que
está em nós. O Deus Triúno em Sua humanidade foi
plantado em nós como semente de vida para crescer,
desenvolver-se e produzir o reino. Assim, o reino é o
resultado do evangelho e será seu objetivo. Entre o
resultado e o objetivo temos a vida da igreja como
continuação do resultado desse maravilhoso gene que
está em nós.
ESTUDO-VIDA DE MARCOS
MENSAGEM QUINZE
AS PARÁBOLAS DO REINO (3)
O CRESCIMENTO E O DESENVOLVIMENTO
DA SEMENTE DO REINO
A questão crucial revelada no capítulo quatro do
Evangelho de Marcos é a semente ou o gene do reino.
O reino de Deus não é produzido por atividade nem
por organização. Na verdade, é o próprio Deus
semeado nos seres humanos e desenvolvendo-se
neles até se tornar um reino.
Precisamos ser impressionados com o fato de
que o reino de Deus não é questão de ensinamento,
atividade e organização; pelo contrário, é o Deus
Triúno em Sua encarnação semeado em Seus
escolhidos para crescer e desenvolver-se neles
tornando-se um reino.
Nessa breve definição do reino temos uma
afirmação do elemento intrínseco de todo o
ensinamento neotestamentário. Que nos ensina o
Novo Testamento? Ensina que o Deus Triúno
encarnou-se para ser semeado em Seus escolhidos e
Se desenvolver num reino. Esse é o elemento
intrínseco do ensinamento do Novo Testamento.
Se lermos o Novo Testamento sob essa luz,
veremos que o Deus Triúno tornou-se um homem.
Quando esse homem, Jesus Cristo, começou a pregar
o evangelho e ensinar a verdade, estava semeando a
Si mesmo nos outros. Isso quer dizer que Sua
pregação do evangelho e ensino da verdade foram, de
fato, um semear de Si mesmo nos que O ouviram. Ao
pregar e ensinar, Ele semeava Sua palavra nos
ouvintes. Sua palavra O transmitia a eles. Portanto,
mediante a palavra, Ele mesmo, como Homem-Deus
o Deus Triúno em humanidade, foi semeado em Seus
escolhidos. A pregação e o ensinamento foram Sua
maneira de Se semear como a semente do reino.
Quando os escolhidos de Deus ouviram a palavra
desse Homem-Deus e a receberam, na verdade
receberam uma Pessoa maravilhosa, Aquele que é
tanto o Deus Triúno como homem autêntico. Isso é o
que está registrado nos quatro Evangelhos.
Os quatro Evangelhos revelam o Deus Triúno
encarnado. Esse Homem-Deus por fim saiu a Se
semear nos escolhidos de Deus pregando e
ensinando. Quando os escolhidos de Deus ouviram
Sua palavra e a receberam, receberam a semente, o
gene, do reino. Essa semente, esse gene, é o Deus
encarnado, o Deus Triúno em Sua humanidade. Nos
Evangelhos temos a semeadura da semente do reino.
Em Atos temos a propagação e o espalhar dessa
semeadura. Nos Evangelhos temos alguma
propagação, primeiro de um Semeador para doze e
depois de doze para setenta. Mas em Atos centenas e
mesmo milhares de semeadores foram levantados.
Todos eles receberam a semente, o gene, e por isso
foram capazes de semeá-la nos outros. Dessa forma
temos a propagação da semeadura e da semente.
Nas epístolas vemos o crescimento da semente, o
gene do reino. Vemos isso especialmente no capítulo
três de 1 Coríntios, em que Paulo diz: “Lavoura de
Deus [...] sois vós” (v. 9b). Ainda no mesmo capítulo
ele diz: “Eu plantei, Apolo regou; mas o crescimento
veio de Deus” (v. 6). Nesse capítulo temos o
crescimento, o desenvolvimento da semente.
Podemos ver mais desenvolvimento do gene do
reino em 2 Pedro 1:3, que diz: “Pelo seu divino poder,
nos têm sido doadas todas as cousas que conduzem à
vida e à piedade”. Todas as coisas pertencentes à vida
divina nos foram dadas com o objetivo de
desenvolvimento. Temos uma descrição desse
desenvolvimento nos versículos 5 a 7: “Por isso
mesmo, vós, reunindo toda a vossa diligência,
associai com a vossa fé a virtude; com a virtude, o
conhecimento; com o conhecimento, o domínio
próprio; com o domínio próprio, a perseverança; com
a perseverança, a piedade; com a piedade, a
fraternidade; com a fraternidade, o amor”. Aqui
temos os passos do desenvolvimento da semente até a
maturidade. Pedro nos mostra o resultado de tal
desenvolvimento: “Pois desta maneira é que vos será
amplamente suprida a entrada no reino eterno de
nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo” (v. 11). Assim,
temos claramente nas epístolas o desenvolvimento da
semente do reino.
A colheita dessa semente está no último livro do
Novo Testamento, Apocalipse. De acordo com
Apocalipse 14, primeiro temos as primícias e então a
colheita. Apocalipse 14:4 fala dos que “foram
redimidos dentre os homens, primícias para Deus e
para o Cordeiro”. Então no versículo 15 vemos que “a
seara da terra já amadureceu!”.
Aqueles que são as primícias, mencionadas em
Apocalipse 14, estarão entre os que reinarão
juntamente com Cristo no milênio. O milênio será o
pleno desenvolvimento do gene do reino. Nesse
período, muitos dos que receberam o gene do reino
serão co-reis com Cristo. Então nosso Pai poderá
gabar-Se diante do inimigo: “Pequeno Satanás, onde
está você? Você está no abismo. Eu peço que você
olhe para o Meu reino, especialmente para os que
agora são coreis com Cristo. Muitos que creram em
Meu Filho e receberam o gene do reino tornaram-se
reis juntamente com Ele. Meu Filho é o Rei, e todos
os santos vencedores são Seus co-reis. Satanás, olhe
para o Rei e os co-reis. Que reino maravilhoso!”.
Nosso Deus é eterno e com Ele não há o elemento
tempo. “Para o Senhor, um dia é como mil anos, e mil
anos, como um dia” (2Pe 3:8). Do ponto de vista de
Deus, os mil anos do milênio serão simplesmente
como um dia, para Ele mostrar Seu maravilhoso
reino. Mas para Satanás essa demonstração do reino
durará mil anos. Nesse tempo Satanás estará
amarrado no abismo.
No fim do milênio, Satanás será solto e lhe será
permitido rebelar-se novamente. A respeito disso,
Apocalipse 20:7-8 diz: “Quando, porém, se
completarem os mil anos, Satanás será solto da sua
prisão e sairá a seduzir as nações que há nos quatro
cantos da terra, Gogue e Magogue”. Embora vá
instigar rebelião entre as nações, ele não será capaz
de tocar os coreis, pois já terão sido transformados
pelo gene do reino. Todo o elemento rebelde da
humanidade caída desses co-reis terá sido eliminado
pelo gene do reino. Dessa forma, será impossível
Satanás, o maligno, instigar o “povo do gene real” a se
rebelar contra Deus. Contudo, grande número dos
que estarão nas nações restauradas o seguirá.
Apocalipse 20:9 nos mostra o resultado dessa última
rebelião: “Marcharam, então, pela superfície da terra
e sitiaram o acampamento dos santos e a cidade
querida; desceu, porém, fogo do céu e os consumiu”.
As pessoas dentre as nações restauradas que não se
unirem à rebelião serão transferidas para a nova
terra.
No novo céu e nova terra Deus terá um reino
eterno com a Nova Jerusalém como capital. A Nova
Jerusalém será uma composição de reis, e regerão as
nações plenamente restauradas. Então Deus terá um
reino eterno como pleno desenvolvimento do gene
semeado nos Evangelhos por Jesus de Nazaré, que
era o Deus Triúno em humanidade.
Que maravilhoso é o gene do reino semeado nos
Evangelhos! Por fim esse gene se desenvolverá no
reino milenar mencionado em Apocalipse 20 e no
reino eterno de Deus em Apocalipse 21 e 22. Louvado
seja o Senhor por esse quadro do gene do reino e seu
desenvolvimento!
CRESCIMENTO E TRANSFORMAÇÃO NA
VIDA DA IGREJA
Onde fica a igreja nesse quadro do gene do reino
e seu desenvolvimento e consumação? As igrejas
estão no período do desenvolvimento do gene, que
ocorre por crescimento e transformação. Na vida da
igreja estamos crescendo e sendo transformados.
Em 1 e 2 Coríntios, Paulo fala do crescimento e
transformação que experimentamos na vida da igreja.
Em 1 Coríntios 3 temos o crescimento em vida e em 2
Coríntios 3, a transformação da vida. Em 1 Coríntios
3:7 Paulo fala de “Deus, que dá o crescimento”. Aqui
temos o crescimento em vida. Em 2 Coríntios 3:18
Paulo diz: “E todos nós, com o rosto desvendado,
contemplando, como por espelho, a glória do Senhor,
somos transformados, de glória em glória, na sua
própria imagem, como pelo Senhor, o Espírito”. Aqui
temos a transformação em vida. Portanto, em 1 e 2
Coríntios temos, respectivamente, um capítulo que
trata do crescimento em vida e outro que trata da
transformação em vida. Agora, na vida da igreja,
experimentamos esse crescimento e transformação
em vida.
Já ressaltamos que a vida da igreja é a
continuação do resultado do gene do reino. Essa
continuação finalmente alcançará o pleno
desenvolvimento. Então o reino será manifestado no
milênio. Todos os que, através dos séculos, receberam
o gene se tomarão reis pelo desenvolvimento desse
gene. A totalidade desses reis será o reino eterno de
Deus. Portanto, o reino eterno de Deus é o pleno
desenvolvimento do gene semeado pelo
Homem-Deus, Jesus de Nazaré.
Hoje, na vida da igreja, experimentamos o
desenvolvimento do gene do reino pelo crescimento e
transformação em vida. Por fim, esse crescimento e
transformação atingirão a consumação extrema.
Então todos seremos co-reis com Cristo, todos os que
experimentamos o pleno desenvolvimento do gene do
reino.
No presente estamos no processo de
desenvolvimento. Mas é certo que um dia todos
seremos co-reis. Quando esse dia chegar olharemos
um para o outro e diremos: “Irmão, você se lembra
daquelas reuniões nas quais ouvimos falar do gene do
reino? Quando estávamos na vida da igreja,
estávamos desenvolvendo o gene. Agora estamos
todos aqui como co-reis de Cristo. Podemos ver o
pleno desenvolvimento do gene do reino”. Esse pleno
desenvolvimento será uma exibição para as nações,
para os anjos e para o Diabo, Satanás.
Precisamos ler o capítulo quatro de Marcos à luz
do que vimos a respeito do gene do reino. Se o lermos
nessa luz, perceberemos que em Marcos 4 temos o
elemento intrínseco do evangelho.
A PARÁBOLA DA LÂMPADA
Em 4:21-25 temos a parábola da lâmpada. Nos
versículos 21 e 22 o Senhor diz: “Vem, porventura, a
lâmpada para ser posta debaixo do alqueire ou da
cama? Não vem antes para ser colocada no
candelabro? Pois nada há oculto senão para ser
manifesto; e nada há escondido senão para que venha
à luz”. A lâmpada que brilha indica que o serviço
evangélico do Salvador-Servo não apenas semeia vida
nas pessoas a quem Ele serve, mas também lhes traz
luz. Portanto, esse serviço divino resulta nos crentes
como luzeiros (Fp 2:15) e nas igrejas como
candelabros (Ap 1:20), brilhando nessa era de trevas
como Seu testemunho e culminando na Nova
Jerusalém com as notáveis características de vida e
luz (Ap 22:1-2; 21:11, 23-24).
Marcos 4:24-25 diz: “E dizia-lhes: Atentai no que
ouvis. Com a medida com que medirdes,
medir-se-vos-á, e se vos acrescentará. Pois ao que
tem, se lhe dará; e ao que não tem, até o que tem lhe
será tirado”. Em Mateus 7:2 e Lucas 6:38 a palavra do
Senhor a respeito de medir é aplicada à maneira
como lidamos com os outros. Em Marcos 4:24 é
aplicada à maneira como ouvimos a palavra do
Senhor. O quanto nos pode ser dado pelo Senhor
depende da medida com que ouvimos. Da mesma
forma, o que o Senhor diz no versículo 25 também se
refere a como ouvimos Sua palavra. O mesmo vale
para Mateus 13:10-13 e Lucas 8:18.
A PARÁBOLA DA SEMENTE
Em 4:26-29 temos a parábola da semente. O
versículo 26 diz: “E dizia: O reino de Deus é assim
como se um homem lançasse a semente à terra”. O
reino de Deus é a realidade da igreja produzida pela
vida de ressurreição de Cristo, mediante o evangelho
(1Co 4:15). Regeneração é a entrada do reino (Jo 3:5)
e o crescimento da vida divina nos crentes é o
desenvolvimento (2Pe 1:3-11).
O homem em Marcos 4:26 é o semeador do
versículo 3, é o Salvador-Servo como Semeador. Ele
era o Filho de Deus vindo semear-Se no coração dos
homens como semente de vida contida em Sua
palavra (v. 14) a fim de neles crescer e viver, e
expressar-Se de dentro deles.
A semente no versículo 26 é a semente da vida
divina (1Jo 3:9; 1Pe 1:23) semeada nos crentes do
Salvador-Servo. Lançar a semente aqui indica que o
reino de Deus, que é o resultado e objetivo do
evangelho do Salvador-Servo, e a igreja nesta era (Rm
14:17), são uma questão de vida, a vida de Deus, que
brota, cresce, produz fruto, amadurece e produz a
colheita. Não são uma organização sem vida
conduzida por meio da sabedoria e habilidade do
homem. As palavras dos apóstolos em 1 Coríntios
3:6-9 e em Apocalipse 14:4, 15-16 confirmam isso.
Marcos 4:27 continua, dizendo: “E dormisse e se
levantasse, de noite e de dia, e a semente germinasse
e crescesse, não sabendo ele como”. As palavras
“dormisse e se levantasse, de noite e de dia” e “não
sabendo ele como”, não devem ser aplicadas ao
Salvador-Servo. Esse versículo ilustra a
espontaneidade do crescimento da semente (v. 28).
O versículo 28 diz: “A terra por si mesma
frutifica: primeiro a erva, depois a espiga, e, por fim o
grão cheio na espiga”. A terra aqui é a boa terra (v. 8)
e representa o bom coração que Deus criou (Gn 1:31)
para Sua vida divina crescer no homem. Tal coração
coopera com a semente da vida divina nele semeada,
permitindo que ela cresça e frutifique
espontaneamente para expressar Deus. O que é dito
aqui nos capacita a ter fé nesse processo espontâneo.
Assim, aqui, em contraste com Mateus 13:24-30, não
se menciona o joio, no aspecto negativo. As palavras
por si mesma significam que o crescimento é
espontâneo.
O versículo 29 conclui: “E, quando o fruto já está
maduro, logo lhe mete a foice, porque é chegada a
ceifa”. A foice significa os anjos enviados pelo Senhor
para ceifar a colheita (Ap 14:16; Mt 13:39).
O FUNDAMENTO DA IGREJA
Em Mateus 16, o Senhor Jesus levou os
discípulos para Cesaréia de Filipe e ali
'perguntou-lhes: “Quem dizem os homens ser o Filho
do Homem?” (Mt 16:13). Depois que eles
responderam, o Senhor continuou: “Mas vós, [...]
quem dizeis que Eu sou?” (v. 15). Tendo recebido uma
revelação do Pai, Simão Pedro respondeu: “Tu és o
Cristo, o Filho do Deus vivo” (v. 16).
De acordo com Efésios 5:32, existe um grande
mistério composto de duas partes: Cristo e a igreja.
Como a revelação do Pai a respeito de Cristo é apenas
a primeira metade desse grande mistério, o Senhor
prosseguiu e falou a respeito da igreja: “Também Eu
te digo que tu és Pedro, e sobre essa rocha edificarei a
Minha igreja” (v. 18). Isso indica definitivamente que
a igreja é algo de Cristo e para Cristo. Primeiro, Cristo
foi reconhecido, conhecido e até mesmo obtido.
Depois, o Senhor disse que sobre “essa rocha” Ele
edificaria Sua igreja. Essa rocha não se refere
somente a Cristo, mas também à revelação a Seu
respeito, revelação que Pedro recebeu do Pai. A igreja
é edificada sobre essa revelação com respeito a Cristo.
Assim, a rocha aqui não é meramente o próprio
Cristo, mas também é a percepção, o conhecimento, a
experiência e a posse de Cristo.
Hoje muitos afirmam reconhecer que Cristo é o
fundamento da igreja. Contudo, não viram que o
verdadeiro fundamento para a edificação da igreja é a
percepção de Cristo. Se não percebermos Cristo em
nossa experiência, não teremos o fundamento para a
edificação da igreja. Portanto, precisamos
conhecê-Lo; assim, nosso conhecimento, experiência,
desfrute e posse de Cristo serão o fundamento sobre o
qual Ele irá edificar a igreja.
AS CHAVES DO REINO
Em Mateus 16:19, logo após ter falado a respeito
da igreja, o Senhor também falou do reino: “Dar-te-ei
as chaves do reino dos céus; e o que quer que
amarrares na terra, terá sido amarrado nos céus; e o
que quer que soltares na terra, terá sido solto nos
céus”. A frase reino dos céus aqui pode alternar-se
com o termo igreja do versículo anterior. Eu não diria
que esses termos são sinônimos, contudo nos
versículos 18 e 19 são permutáveis. Isso é prova
contundente de que a igreja verdadeira é o reino dos
céus nesta era, o que é confirmado por Romanos
14:17, um versículo que se refere à adequada vida da
igreja.
A palavra do Senhor a Pedro, em Mateus 16:19, a
respeito das chaves do reino dos céus foi cumprida no
livro de Atos. O primeiro aspecto desse cumprimento
está em Atos 2 e o segundo em Atos 10. Nesses dois
momentos Pedro usou duas chaves. Em Mateus 16:19
o Senhor falou de chaves, e não de chave. Pedro usou
uma delas para abrir a porta para que os judeus
entrassem no reino, no dia de Pentecostes, como
registra Atos 2. Então, na casa de Cornélio, como
registra Atos 10, ele usou a segunda chave para abrir a
porta a fim de que os gentios entrassem. Essa é a
razão de se ver em Efésios 2 que tanto gentios como
judeus são edificados na única igreja: “Assim, já não
sois estrangeiros e peregrinos, mas concidadãos dos
santos, e sois da farm1ia de Deus, edificados sobre o
fundamento dos apóstolos e profetas, sendo ele
mesmo, Cristo Jesus, a pedra angular” (vs. 19-20).
Precisamos ser impressionados com o fato de
que em Mateus 16:18 temos a igreja e no versículo
seguinte, o reino, mostrando-nos que na primeira
menção da igreja no Novo Testamento ela é citada em
relação ao reino. Além disso, conforme já vimos,
nesses versículos a igreja e o reino são termos
permutáveis.
SUBJUGAR A REBELIÃO
O capítulo quatro de Marcos é maravilhoso e fala
a respeito da semente, o gene, do reino e seu pleno
desenvolvimento. Talvez nos surpreenda que, no final
desse capítulo, tenhamos o relato de um temporal no
mar. E você talvez indague como a última parte do
capítulo se encaixa com os versículos 1 a 34, em que
temos as parábolas do reino.
Primeiro, o capítulo quatro de Marcos fala a
respeito do reino de Deus. Então, imediatamente
após o registro do reino, há um registro de rebelião'.
Marcos 4:37 diz que se levantou grande temporal de
vento, e as ondas se arremessavam para dentro do
barco. Isso é um quadro de rebelião. Por meio disso
vemos que, no final desse capítulo sobre o reino de
Deus, a rebelião ainda está presente.
Não é suficiente usar apenas uma palavra como
título para o capítulo quatro. Nesse capítulo temos o
reino e depois o subjugar da rebelião. Do ponto de
vista de Deus, o reino é o desenvolvimento do próprio
Deus como semente de vida. Mas, do ponto de vista
do inimigo de Deus, o reino é o subjugar da rebelião.
Imediatamente após ter falado categoricamente
sobre o reino de Deus, o Salvador-Servo disse aos
discípulos: “Passemos para a outra margem. E eles,
deixando a multidão, O levaram consigo assim como
estava, no barco; e havia outros barcos com Ele” (vs.
35-36). O rebelde, Satanás, usou então seus anjos no
ar e demônios na água para incitar a rebelião. Devido
a isso: “Levantou-se grande temporal de vento e as
ondas se arremessavam para dentro do barco, de
sorte que o barco já estava a encher-se de água” (v.
37). Com esse temporal foi bastante difícil para o
barco, que levava o Senhor e os discípulos, cruzar o
mar.
UM QUADRO DE REJEIÇÃO
Primeiro, em 6:1-6 o Senhor foi desprezado e
rejeitado pelos nazarenos. Na verdade essa rejeição
não O perturbou nem desapontou. Embora Ele os
deixasse porque fora rejeitado por eles, isso não
significa que estivesse desapontado ou desistira deles.
O Salvador-Servo queria fazer algo pelos nazarenos,
mas eles não queriam se abrir para Ele. Marcos 6:5
diz: “E não podia fazer ali nenhum milagre, senão
curar uns poucos enfermos, impondo-lhes as mãos”.
A incredulidade dos nazarenos impediu-O de fazer
muitos milagres entre eles.
Em vez de ficar desencorajado e desapontado
pela rejeição dos nazarenos, o Senhor estava
encorajado. Isso é provado pelo fato de, em 6:7-13, ter
enviado os doze para fazer a mesma coisa que Ele
fazia. Especialmente, “deu-lhes autoridade sobre os
espíritos imundos” (v. 7). O Senhor designou os doze
para fazer o que Ele fazia.
Em 6:14-29 temos o martírio do precursor do
evangelho, João Batista. Humanamente falando, isso
deve ter sido muito desalentador, mas na verdade o
Senhor Jesus não estava desapontado nem mesmo
com o martírio de João Batista. Depois desse temos o
caso do alimentar e satisfazer cinco mil. A rejeição
dos judeus em Sua terra não O desapontou, mas O
encorajou a enviar os discípulos. Assim também, o
martírio de Seu precursor não O desapontou; em vez
disso, encorajou-O a alimentar mais pessoas.
Em 4:35-5:43 vimos como o reino de Deus
atende à necessidade da condição humana. Como
ressaltamos, a situação da sociedade é retratada
nessa seção do Evangelho de Marcos. A sociedade,
bem como cada ser humano individualmente, é cheia
de “tempestades” de rebelião, demônios, indústria
imunda (criação de porcos), enfermidade mortal e
morte. Essa é a verdadeira situação do homem. Mas o
Salvador-Servo nos trouxe o reino, que é a resposta à
condição do homem caído. O reino subjuga a
rebelião, expulsa demônios, purifica a indústria
imunda, cura o enfermo e ressuscita os mortos. Em
4:35-5:43 vemos uma demonstração do reino de Deus
atendendo às necessidades da sociedade. Que quadro
maravilhoso!
Em 6:1-44 Marcos apresenta outro quadro, no
qual vemos rejeição, ódio e martírio. A despeito de
quanta bênção seja introduzida pelo reino e pela
pregação do evangelho, o mundo ainda odeia e rejeita
o Salvador-Servo e os que trabalham com Ele. Em
6:1-44, portanto, vemos a atitude das pessoas do
mundo em relação ao evangelho. Que fazer diante de
tal atitude? Que fazer quando somos desprezados,
rejeitados e odiados, e até mesmo alguns são mortos?
ficar desapontados? parar de pregar as boas novas e
parar nosso trabalho pelo reino? Certamente não! Em
vez de ficar desapontados, devemos ficar encorajados
pela atitude negativa demonstrada pelas pessoas do
mundo em relação ao evangelho.
Cumprimento de Profecia
A palavra dos desprezadores cegos aqui pode ser
considerada o cumprimento da profecia a respeito do
Salvador-Servo em Isaías 53:2-3: “Como raiz de uma
terra seca; não tinha aparência nem formosura;
olhamo-lo, mas nenhuma beleza havia que nos
agradasse. Era desprezado e o mais rejeitado entre os
homens”. Isso era conhecê-Lo segundo a carne em
Sua humanidade, e não segundo o Espírito em Sua
deidade (Rm 1:4). Em Sua humanidade, Ele era uma
raiz de uma terra seca, um rebento do tronco de Jessé
e um renovo das suas raízes (Is 11:1), um Renovo a
Davi (Jr 23:5; 33:15), o Renovo que era um homem e
o servo de Jeová (Zc 3:8; 6:12), e segundo a carne veio
da descendência de Davi (Rm 1:3). Em Sua deidade,
Ele era o Renovo de Jeová para beleza e glória (Is
4:2), designado Filho de Deus com poder segundo o
Espírito (Rm 1:4).
O MARTÍRIO DO PRECURSOR DO
EVANGELHO
Não devemos pensar que, se pregarmos o
evangelho, apresentarmos a verdade e ministrarmos
vida, seremos bem recebidos. Não. Assim como João
Batista, o Senhor Jesus e os discípulos, nós também
devemos esperar ser rejeitados.
Depois de rejeitado pelos nazarenos, Ele enviou
os doze.
Então, depois do envio dos doze, João Batista, o
precursor do evangelho, foi martirizado. O martírio
de João Batista denota o ódio de Satanás para com o
fiel precursor do Salvador-Servo, expresso mediante
as trevas e injustiça das pessoas do mundo que
estavam no poder.
Como foi que João Batista foi executado? Essa
execução foi levada a cabo a pedido de Herodias.
Marcos 6:17-19 nos diz que Herodes “mandara
prender a João e atá-lo no cárcere, por causa de
Herodias, mulher de Filipe, seu irmão, porquanto se
casara com ela. Pois João dizia a Herodes: Não te é
lícito possuir a mulher de teu irmão. De modo que
Herodias lhe guardava rancor e queria matá-lo, mas
não podia”. João foi assassinado pela política trevosa,
pelas trevas dos que estavam no poder. Em Herodes
não havia justiça: ele havia cometido fornicação com
Herodias, mulher de seu irmão, e ela odiava João
Batista.
Herodes sabia que João era homem justo e santo,
e até certo ponto tinha consideração por ele.
“Herodes temia a João, sabendo que era homem justo
e santo, e o tinha em segurança. E quando o ouvia,
ficava muito perplexo, contudo o escutava com
prazer” (v. 20). Certamente era injusto esse homem
justo e santo estar atado na prisão.
O versículo 21 diz: “Chegando um dia oportuno,
em que Herodes no seu aniversário deu um banquete
aos seus dignitários, aos oficiais militares e aos
principais da Galiléia”. Durante esse banquete, a filha
de Herodias entrou e dançou, agradando a Herodes e
aos que se reclinavam com ele à mesa. Drogado e
enganado pela dança dela, Herodes lhe disse:
“Pede-me o que quiseres e eu te darei” (v. 22).
Seguindo as instruções da mãe, Herodias, ela pediu a
cabeça de João Batista. Assim, como resultado de
ódio, trevas e da indulgência para com a
concupiscência, o justo e santo precursor do
evangelho foi levado à morte. Esse é um quadro
vívido da rejeição do mundo ao evangelho.
Em 4:35-5:43 temos uma figura da sociedade
humana atual. De acordo com essa figura, a sociedade
está cheia de rebelião, demônios, indústria imunda,
doença e morte.
Em 6:1-29 vemos outro quadro: de rejeição,
injustiça e ódio para com o evangelho e para com os
que o pregam. Considerando isso, não devemos
esperar ser bem recebidos pelo mundo. Nunca
devemos esperar ser honrados ou ser levados em alta
conta. Não pode haver tal coisa para os que servem o
Senhor no evangelho. Se formos fiéis ao Senhor em
Seu ministério, seremos desprezados e sofreremos
rejeição, injustiça, ódio e talvez até martírio. Contudo
não devemos ficar desapontados com isso. Pelo
contrário, devemos estar encorajados.
Maus Pensamentos
O primeiro item citado pelo Salvador-Servo que
procede do coração do homem são maus
pensamentos. Pensamentos, naturalmente, vêm da
mente. O Novo Testamento nos diz que a mente do
homem caído é reprovável (Rm 1:28). Como a mente
humana é reprovável, nada que venha dela pode ser
aceito ou justificado por Deus, pelo contrário, os
pensamentos da mente caída do homem são
condenados e rejeitados por Deus. Como nossa mente
caída é reprovável, nossos pensamentos são
malignos, a despeito de quão bons possam parecer.
Fornicações e Furtos
Depois de maus pensamentos, o Senhor citou
fornicações. Precisamos ser impressionados com o
fato de que o Senhor não falou dessas coisas de
maneira descuidada, pelo contrário, conhecendo a
situação interior do homem, Ele fala de maneira
cuidadosa sobre o que procede do coração humano.
Primeiro vêm os maus pensamentos e depois
fornicações. Isso indica que os maus pensamentos
estão relacionados à fornicação.
O terceiro item no versículo 21 é furtos. Alguns
podem contestar dizendo que nunca roubaram nada.
Mas o fato é que todo mundo tem cometido furtos de
uma maneira ou de outra. Na verdade, a própria
fornicação é um tipo de furto, pois é obter algo
impropriamente. Roubar é pegar algo ilegalmente.
Em princípio, fornicação está nessa categoria, pois é
seguir um caminho ilegal, não ordenado por Deus.
Qualquer coisa tomada ilegalmente não só é furto,
como também está no princípio da fornicação.
Embora sejamos salvos, filhos de Deus, nossa
natureza caída, incluindo o velho coração, ainda está
conosco. Em particular, as duas coisas malignas
(fornicação e furto) estão “agachadas” atrás de nós,
aguardando uma oportunidade de nos arruinar.
Através dos séculos, muitos cristãos, inclusive
pastores e ministros, caíram na armadilha da
fornicação. Até mesmo muitos dos que amam o
Senhor Jesus caíram nessa armadilha. Muitos
desconsideraram o fato de que o coração é maligno,
por isso não mantiveram a devida distância do sexo
oposto e caíram em fornicação.
No sentido verdadeiro, a vida da igreja é uma
vida social. Homens e mulheres freqüentemente têm
contato uns com os outros. Devido ao perigo da
fornicação, precisamos manter-nos a uma distância
adequada do sexo oposto.
Gostaria de enfatizar que, embora tenhamos sido
regenerados, de acordo com o ensinamento do Novo
Testamento, a velha natureza permanece conosco.
Nunca devemos esquecer-nos desse fato. Até o dia em
que o corpo for redimido, transfigurado, a natureza
caída estará conosco. Não importa quão santo você
possa ser, você precisa perceber que ainda tem a
natureza caída. É por isso que aconselho os santos a
não ficar sozinhos num aposento com alguém do sexo
oposto.
Aprecio e respeito muito este país2. Contudo, me
preocupo pelo fato de que homens e mulheres são
livres demais no contato uns com os outros. Muitas
mulheres não se dão conta do perigo de ser
corrompidas. Se tivessem tal consciência, iriam
manter distância adequada do sexo oposto.
Como mencionamos, na pregação do evangelho
precisamos tocar a condição do coração do homem.
2
Estados Unidos, onde estas mensagens foram dadas. (N. do T.)
Especificamente, precisamos expor o fato de que, em
princípio, todas as pessoas caídas são fornicadores e
ladrões. Quando eu pregava o evangelho na China,
costumava dizer: “Vocês, damas e cavalheiros,
parecem ser muito bons. Mas, suponham que eu
pudesse tirar um raio-X daquilo que vocês são
interiormente. Se eu fosse fazer isso, vocês não teriam
coragem de permanecer aqui. Vocês sabem que,
interiormente, são malignos e impuros. Talvez até ao
ouvir essa mensagem vocês estejam pensando em
coisas malignas. Vocês têm a aparência de damas e
cavalheiros, mas em sua condição interior vocês são
sujos”. É um fato que maus pensamentos procedem
do coração do homem e estão relacionados com
fornicação e furto.
É muito significativo que, no capítulo sete de
Marcos, o Salvador-Servo em Seu serviço evangélico
toque na condição interior do homem. Devemos
lembrar que a palavra do Senhor em 7:21-23 não é
dirigida à multidão, mas a Seus seguidores íntimos. O
Senhor ali parece dizer: “Pedro, João, Tiago, vocês
todos precisam perceber que do coração procedem
maus pensamentos, fornicações e furtos”.
Homicídios e Adultérios
O próximo item mencionado pelo Senhor como
procedente do coração do homem é homicídio.
Muitos homicídios são cometidos devido à fornicação
ou furto. Fornicação e furto freqüentemente resultam
em homicídio.
Então o Senhor passa a falar sobre adultérios. Há
diferença entre adultério e fornicação. Se uma pessoa
casada comete pecado com outra pessoa casada, isso
é adultério. Mas, se uma pessoa solteira comete
pecado com outra pessoa solteira, isso é fornicação.
Aqui o Senhor fala a respeito da fornicação e também
do adultério.
Avareza
O Senhor a seguir fala sobre avareza. Paulo nos
diz que conseguia vencer outras coisas, mas não a
avareza (Rm 7:7-8). Ele conseguia guardar todos os
Dez Mandamentos, menos o mandamento a respeito
da cobiça. “Pois não teria eu conhecido a cobiça, se a
lei não dissera: Não cobiçarás. Mas o pecado,
tomando ocasião pelo mandamento, despertou em
mim toda sorte de concupiscência” (Rm 7:7-8). A
razão por que Paulo não conseguia guardar o
mandamento a respeito da cobiça é que esse
mandamento está relacionado com a condição
interior do homem, enquanto os outros se referem à
conduta exterior. Cobiça, como as outras coisas
malignas mencionadas pelo Senhor, procede da
corrupção do coração humano.
Dolo e Devassidão
Em 7:22 o Senhor continua, falando sobre
maldade, dolo, devassidão, inveja, blasfêmia,
arrogância e insensatez. A palavra grega traduzida
por dolo também pode ser traduzida por fraude.
Fornicação, adultério e devassidão pertencem a
uma categoria. Já ressaltamos a diferença entre
adultério e fornicação. Aqueles que são indulgentes
com a fornicação ou com o adultério são pessoas
devassas. O Senhor certamente conhece a real
situação do homem, essa é a razão de usar essas
palavras.
Inveja e Blasfêmia
Podemos perguntar-nos o que a inveja3 tem a ver
com o coração. Pode parecer-nos que o olho não pode
estar no coração. Contudo, se considerarmos essa
questão, veremos que às vezes em nosso coração
podemos ter um olho maligno. De acordo com a
palavra do Senhor, um olho maligno é algo que
procede de nosso coração.
No versículo 22, depois da inveja, temos
blasfêmia. Inveja é para com os outros, mas
blasfêmia é principalmente dirigida a Deus.
Arrogância e Insensatez
Os dois últimos itens mencionados pelo Senhor
são arrogância e insensatez. Arrogância é até mesmo
mais forte do que orgulho. Insensatez aqui denota
tolice. Muito do que procede de nosso coração é
insensatez e tolice.
ALIMENTAR E DISPENSAR
Alimentar é dispensar. Em meu estudo da
palavra grega para dispensação (oikonomía), aprendi
que ela vem de uma raiz que significa distribuir
comida. Um exemplo de alguém que distribuiu
comida é José no Egito. Como alguém que distribuía
comida às pessoas, ele era bom despenseiro. Essa
administração era uma oikonomía, um dispensar do
suprimento de comida.
Podemos dizer que o verdadeiro José é o Senhor
Jesus, o Salvador-Servo. No capítulo sete de Marcos,
nós O vemos dispensando-Se como pão, como
comida nutritiva. Ele Se dispensa como o elemento
supridor de vida para satisfazer os famintos.
Quando uma mulher siro-fenícia, uma típica
gentia, veio a Ele e Lhe pediu que expulsasse um
demônio de sua filha, Ele Se abriu, a fim de que ela
soubesse o que Ele era. Ele Se revelou a ela como pão.
Ele a fez perceber que era pão para alimentar os filhos
famintos e Se distribuía às pessoas como suprimento
de vida.
Muitos dos que receberam benefício do
ministério do Senhor não perceberam que, ao
ministrar-lhes, Ele os alimentava. De forma
semelhante, muitos cristãos hoje não percebem que o
Senhor deseja distribuir-Se como pão. Alguns
apreciam curas e milagres, mas alguma vez você já
ouviu dizer que curas e milagres autênticos visam
alimentar os famintos? Contudo é exatamente essa
questão que é revelada pelo Senhor Jesus à mulher
siro-fenícia.
Em Sua conversa com ela, o Senhor revelou que o
que Ele estava fazendo não era meramente realizar
milagres, mas alimentar. Na realidade, Ele não estava
realizando milagres; estava dispensando-Se como
pão, como suprimento de comida.
Nas seções anteriores de Marcos, temos o
conteúdo do serviço evangélico, as maneiras de levar
a cabo o serviço, as ações que auxiliam no serviço, a
palavra a respeito do elemento intrínseco do reino,
um quadro da sociedade humana, um quadro da
atitude das pessoas do mundo em relação ao
evangelho e a exposição da condição do coração
humano. Depois de tudo isso, precisamos ver em
7:24-30 que o Senhor Se distribui como suprimento
de que todos necessitamos. Na verdade, não
necessitamos de milagre nem mesmo de cura. Nossa
verdadeira necessidade é pão, é o suprimento de vida.
Portanto, o Senhor Jesus Se dispensa a nós como
comida.
A CURA DE UM SURDO-MUDO
Em 7:31-37 temos a cura de um surdo-mudo.
Antes do capítulo sete, a maioria das curas no
Evangelho de Marcos eram da pessoa toda. Por
exemplo, a sogra de Pedro estava enferma com febre
(1:30-31). Ela foi curada, e essa foi a cura de uma
pessoa completa. Outro exemplo desse tipo de cura é
a do paralítico (2:3-12). Quando ele foi curado, toda a
sua pessoa o foi. O mesmo ocorreu na purificação do
leproso (1:40-45). Mas em 7:31-37 não temos a cura
de uma pessoa toda, em vez disso, temos a cura de
órgãos específicos. Na verdade todas as curas depois
de Marcos 7 são de órgãos específicos, e não de toda a
pessoa. Essas curas são principalmente de três
órgãos: olhos, ouvidos e língua.
Podemos dizer que em Marcos temos a seguinte
seqüência no que diz respeito às curas: curas gerais, a
exposição da condição do coração humano, o Senhor
como pão, como suprimento de vida, e a cura de
órgãos específicos. Essa também é a seqüência em
nossa experiência espiritual. Quando fomos salvos
experimentamos uma cura geral. Mais tarde, a
condição de nosso coração foi exposta. Então,
provavelmente, depois de entrar na vida da igreja,
aprendemos a desfrutar o Senhor interiormente como
nosso pão, como nosso suprimento de vida. Depois
disso, temos a cura dos ouvidos, língua e olhos.
Alguns que estão na vida da igreja há anos ainda
necessitam da cura específica desses órgãos.
A CURA DE UM CEGO
Em 8:22-36 temos a cura de um cego: “Então
chegaram a Betsaida; e trouxeram-Lhe um cego, e
rogaram-Lhe que o tocasse”. Esse cego representa
alguém que perdeu a visão interior, alguém cego
espiritualmente (At 26:18; 2Pe 1:9).
a versículo 23 diz: “Jesus, tomando o cego pela
mão, levou-o para fora da aldeia e, cuspindo-lhe nos
olhos e impondo-lhe as mãos, perguntou-lhe: Vês
alguma coisa?”. Ao tomar o cego pela mão, a
humanidade do Salvador-Servo se expressou no Seu
cuidado íntimo e amoroso pelo necessitado.
a Senhor levou o cego para fora da aldeia. Isso
parece indicar que Ele não queria que a multidão
visse ou soubesse o que estava para fazer por esse
cego, uma vez que lhe ordenou nem sequer entrar na
aldeia (v. 26). Espiritualmente isso dá a entender que
Ele queria que o cego passasse um tempo íntimo com
Ele, em particular, a fim de poder infundir-lhe o
elemento com o qual sua visão seria restabelecida.
Todos os que são espiritualmente cegos precisam
desse tempo com o Salvador-Servo.
Para essa cura adicional específica, o Senhor
então cuspiu nos olhos do cego e impôs as mãos nele.
A cegueira relaciona-se com trevas (At 26:18). Para
ver, é preciso luz. A saliva do Salvador-Servo pode
representar a palavra que procede de Sua boca,
palavra essa que transmite a divina luz da vida a
quem a recebe, para restabelecer-lhe a visão. A saliva
do Salvador-Servo, acompanhada da imposição de
mãos, era muito mais rica do que um mero toque Seu,
que havia sido solicitado pelos que ajudavam o cego.
O fato de o Senhor impor as mãos no cego indica Sua
identificação com ele a fim de transfundir-lhe Seu
elemento de cura.
Quando o Senhor perguntou ao cego se via algo,
ele respondeu: “Vejo os homens, porque como
árvores os vejo, andando” (v. 24). Isso pode ilustrar a
visão espiritual de uma pessoa: no estágio inicial de
seu restabelecimento espiritual, ela vê coisas
espirituais como esse cego via homens, como se
fossem árvores andando; num estágio mais avançado
de restabelecimento, passa a ver tudo claramente.
a versículo 25 diz: “Então novamente lhe impôs
as mãos nos olhos, e ele, olhando atentamente, ficou
restabelecido; e tudo via claramente”. Isso pode
indicar que após receber a cura completa dos olhos,
temos visão clara a respeito das coisas de Deus.
a versículo 26 conclui: “E mandou-o Jesus para
casa, dizendo: Nem sequer entres na aldeia”. Em todo
o Seu ministério, o Salvador-Servo, o Servo de Deus,
não gostava de publicidade.
Nesta mensagem vimos que o Salvador-Servo
deu um passo adiante no que diz respeito a curar as
pessoas especificamente nos órgãos de audição, fala e
visão. Depois de curados dessa forma, temos a
habilidade de ver as coisas concernentes a Deus. Por
isso, na próxima seção, os discípulos começaram a
ver Cristo e conhecê-Lo.
ESTUDO-VIDA DE MARCOS
MENSAGEM VINTE E QUATRO
O MOVER DO SERVIÇO EVANGÉLICO DO
SALVADOR-SERVO (8)
Ter Fim
Muitos cristãos entendem mal a cruz. Pensam
que tomar a cruz é sofrer dificuldades. Esse era meu
conceito há mais de quarenta anos. Eu dizia aos
outros que as dificuldades em seu ambiente lhes eram
uma cruz. Por exemplo, se seu marido ou esposa lhe
está criando problemas, isso é cruz. Mas, quando o
Senhor Jesus fala de tomar a cruz, Ele não quer dizer
isso. Ele quer dizer que devemos aplicar a cruz a
nosso viver. O verdadeiro significado da cruz não é
sofrimento: é término. Nos tempos antigos,
crucificação não era utilizada meramente para trazer
sofrimentos, e sim para matar. Assim crucificação é
igual a morte, término.
Tomar a cruz visa que tenhamos fim. Gostaria de
enfatizar que a cruz visa ao término, e não ao
sofrimento. Às vezes os crentes não são ajudados
pelos sofrimentos. Conheci certas pessoas que
sofreram muito e como resultado tomaram-se muito
obstinadas. Quanto mais uma pessoa sofre em si
mesma, mais sua obstinação é fortalecida. Os que
passaram por dificuldades na vida e se tomaram de
vontade forte são extremamente difíceis de ser
tocados. Finalmente, quando uma pessoa assim
atinge os sessenta ou setenta anos, pode ter ficado tão
forte em sua vontade que talvez não mude mais.
O conceito de que a cruz é sofrimento é contrário
à revelação da palavra do Senhor em 8:34. Nesse
versículo Ele diz: “Se alguém quer seguir após Mim, a
si mesmo se negue, tome a sua cruz e siga-Me”. Aqui
o Senhor fala de negar a si mesmo, negar o ego. Negar
o ego é desistir dele; não é preservá-lo, de modo que,
assim, ele sofra.
Moisés e Elias
No versículo 4 O relato continua: “E
apareceu-lhes Elias com Moisés, e estavam
conversando com Jesus”. Moisés morreu e Deus
escondeu seu corpo (Dt 34:5-6), e Elias foi tomado
por Deus ao céu (2Rs 2:11), Deus fez essas duas coisas
de propósito para que Moisés e Elias pudessem
aparecer com Cristo no monte de Sua transfiguração.
Eles foram preservados por Deus para ser as duas
testemunhas na grande tribulação (Ap 11:3-4).
Moisés representa a lei, e Elias, os profetas; a lei e os
profetas compõem o Antigo Testamento como pleno
testemunho de Cristo (10 5:39). Agora Moisés e Elias
aparecem e conversam com Cristo a respeito de Sua
morte (Lc 9:31), da qual já se profetizara no Antigo
Testamento (Lc 24:25-27, 44; 1Co 15:3).
Com o Senhor Jesus no monte, Pedro, Tiago e
João tiveram um antegozo do reino vindouro. Aqui
vemos uma miniatura do milênio. Temos os santos do
Antigo Testamento (Moisés e Elias) e os santos do
Novo Testamento (Pedra, Tiago e João). Podemos
dizer que Moisés, um dos santos do Antigo
Testamento, representa os ressurretos, e Elias, Pedro,
Tiago e João, todos vivos, representam os que são
arrebatados.
Ouvir o Filho
Marcos 9:7 diz: “E veio uma nuvem que os
cobriu; e da nuvem saiu uma voz: Este é o Meu Filho
amado; a Ele ouvi”. Essa declaração, dada pelo Pai
para vindicar Seu Filho, foi proferida pela primeira
vez quando Cristo subiu da água do batismo, que
representava Sua ressurreição dos mortos. Esta é a
segunda vez que o Pai faz essa declaração, agora para
vindicar o Filho em Sua transfiguração, que prefigura
o reino vindouro.
No versículo 7 Deus ordena que ouçamos Seu
Filho. Na economia de Deus, depois que Cristo veio,
devemos ouvir somente a Ele; não mais devemos
ouvir a lei ou os profetas, visto que estes se
cumpriram em Cristo e por meio Dele.
O versículo 8 continua: “E, de repente, olhando
ao redor, a ninguém mais viram, senão só a Jesus
com eles”. Pedro propôs manter Moisés e Elias, ou
seja, a lei e os profetas, com Cristo; Deus, porém, os
levou embora, não deixando ali ninguém, senão só
Jesus. A lei e os profetas eram sombras e profecias, e
não a realidade; a realidade é Cristo. Agora que
Cristo, a realidade, está aqui, as sombras e profecias
não são mais necessárias. Ninguém além de Jesus
deve permanecer no Novo Testamento. Ele é o Moisés
de hoje; como tal, infunde a lei da vida em Seus
crentes. É também o Elias de hoje; como tal, fala por
Deus e declara Deus em Seus crentes. Essa é a
economia neotestamentária de Deus.
Na era do Novo Testamento trata-se de “só
Jesus”. Devemos ouvi-Lo, e não a lei representada
por Moisés ou os profetas representados por Elias. O
próprio Cristo é o Novo Testamento. No capítulo nove
de Marcos uma miniatura do milênio apareceu
brevemente como exemplo para os discípulos do
Senhor. Depois a cena voltou à era do Novo
Testamento.
A Ressurreição de Cristo
Marcos 9:9 diz: “Ao descerem do monte,
ordenou-lhes Jesus que a ninguém contassem o que
tinham visto, senão quando o Filho do Homem
ressuscitasse dentre os mortos”. Isso indica que só se
pode ter uma visão clara do Jesus transfigurado e
glorificado na ressurreição de Cristo.
O versículo 10 diz: “Eles guardaram essa palavra,
discutindo entre si o que seria o ressuscitar dentre os
mortos”. Naquele tempo Pedro, Tiago e João não
entendiam o que o Senhor queria dizer quando falou
que o Filho do Homem iria ressuscitar dentre os
mortos. Eles haviam tido uma visão, mas não a
entenderam plenamente. Mas, no dia de Pentecostes,
quando Pedro se levantou com os onze, ele tinha
clareza e pôde testificar categoricamente a respeito da
ressurreição de Cristo. No dia de Pentecostes, o ponto
central de sua pregação foi a ressurreição do Senhor
Jesus. Ele não apenas veio a entender o que é a
ressurreição, como também ele mesmo estava nela.
Ele passou a viver Cristo em Sua morte e
ressurreição.
ESTUDO-VIDA DE MARCOS
MENSAGEM VINTE E SEIS
O MOVER DO SERVIÇO EVANGÉLICO DO
SALVADOR-SERVO (10)
CURAR E ALIMENTAR
Não devemos considerar o Evangelho de Marcos
um mero livro de histórias. É um relato a nos mostrar
como o Senhor Jesus, enquanto Salvador-Servo,
serve os pecadores. Esse serviço se inicia no capítulo
um e continua no sete, onde o Senhor expôs a
condição do coração humano. Pode-se dizer que em
Marcos 7 o Salvador-Servo se conduz como cirurgião,
pois abre nosso coração e expõe sua condição.
No capítulo sete, vemos o Senhor não apenas
como Cirurgião divino, mas também como quem nos
alimenta com Ele mesmo que é o pão. Isso indica que
nossa necessidade básica é pão, é o suprimento de
vida. O Salvador-Servo não apenas nos cura, restaura
e traz de volta à comunhão com Deus; mas também
nos alimenta, e o faz com Ele mesmo como pão. Ele
4
O termo natural nesse versículo é literalmente animico, em grego. (N. do T.)
mesmo é nosso suprimento de vida.
Primeiro experimentamos o Senhor a nos
alimentar com Ele mesmo como pão. Como resultado
disso, espontaneamente experimentamos Sua cura de
maneira específica: Ele nos cura os ouvidos surdos, a
língua muda e os olhos cegos.
O SUBSTITUTO TODO-INCLUSIVO
Agora chegamos a um assunto crucial.
Precisamos ver que, aos olhos de Deus, tudo no
universo, exceto Ele mesmo, precisa ser substituído.
Cristo com Sua morte e ressurreição é o substituto
singular no universo. Ele é o substituto completo e
todo-inclusivo. Cristo com Sua morte e ressurreição
substitui todos e tudo que não seja o próprio Deus.
Ele substitui Moisés, Elias e a nós. Substitui nosso
ego, nossa alma e nossa mente. Ele mesmo substitui
todas as outras pessoas, coisas e questões em todo o
universo. É por isso que dizemos que Ele é o
substituto completo e todo-inclusivo.
Quando o Senhor Jesus revelou aos discípulos
Sua morte e ressurreição, talvez eles tenham ficado
confusos. Pedro, especialmente, não entendeu e
chegou a repreendê-Lo (v. 32). Então o Senhor
repreendeu Pedro dizendo: “Para trás de Mim,
Satanás! porque não cogitas nas coisas de Deus, e,
sim, nas dos homens” (v. 33). O Senhor ainda disse:
“Se alguém quer seguir após Mim, a si mesmo se
negue, tome a sua cruz e siga-Me” (v. 34). Você sabe o
que significa negar a si mesmo? Negar a si mesmo é
ser substituído por Cristo.
Aqui o Senhor parecia dizer, especialmente a
Pedro: “Já que você viu Cristo, então precisa ser
substituído por Ele. Precisa ser colocado de lado e
permitir que Cristo se tome você. Você precisa negar
a si mesmo e ser substituído por Cristo”.
SUBSTITUÍDO POR CRISTO POR MEIO DA
MORTE E RESSURREIÇÃO
Como é possível ser substituído por Cristo?
Somente por meio da Sua morte e ressurreição. Sem
elas, Cristo não teria como substituir-nos e também
seria impossível sermos substituídos por Ele. Essa
substituição somente pode ser levada a cabo pela
morte e ressurreição de Cristo.
Precisamos perceber que é necessário negar
nosso ego. Nossa atitude deve ser de querer ser
substituído. Também precisamos ver que uma
substituição foi preparada para nós, e essa
substituição é Cristo. Nas palavras de Paulo em
Gálatas 2:20, não devemos mais ser nós que vivemos,
mas Cristo deve viver em nós.
Quando vivemos, vivemos segundo nosso
coração corrupto. Vivemos de acordo com nós
mesmos e em nosso interior temos um coração
maligno. Se queremos ser livrados do que somos em
nós mesmos, livrados do coração maligno,
precisamos negar a nós mesmos que, na verdade,
significa ser substituído por Cristo mediante Sua
morte e ressurreição.
A morte de Cristo na cruz nos incluiu. Isso
significa que quando Ele morreu, nós morremos
também. Agora precisamos perceber esse fato e
aplicá-lo a nosso viver — isso é toma a cruz. Portanto,
tomar a cruz significa admitir que tivemos fim pela
morte de Cristo e aplicar esse término a nós. Ao
fazê-lo, a vida de ressurreição surge.
Em nosso viver diário, o Cristo crucificado e
ressurreto é o Espírito que dá vida. A realidade da
ressurreição? e Cristo é, de fato, o Espírito que dá
vida. Sempre que aplicamos a cruz de Cristo, o
Espírito que dá vida, como realidade da ressurreição
de Cristo, surge para ser nosso verdadeiro substituto.
Então podemos dizer: “Fui crucificado com Cristo, já
não sou mais eu quem vive, mas Cristo vive em mim”.
Invocar o Senhor
Na verdade, não precisamos fazer uma longa
oração. Basta chamar: “Ó Senhor Jesus!”. Até mesmo
essa pequena oração mostra que é “não mais eu, mas
Cristo”. Sua oração testifica que você não exercita o
esforço próprio para lidar com a situação, e sim aplica
Cristo. Isso é praticar a visão de Cristo, com Sua
morte e ressurreição, como nosso substituto.
Você não deve tentar expulsar demônios pelo
esforço próprio. Para expulsá-los é preciso orar.
Como já ressaltamos, oração significa “não mais eu,
mas Cristo”. Portanto o caso de 9:14-29 nos mostra
que, se quisermos ser substituídos por Cristo,
precisamos orar, em vez de tentar expulsar os
demônios por nós mesmos.
A TOLERÂNCIA DO SALVADOR-SERVO
Como falamos na mensagem anterior, no
versículo 38 João disse ao Senhor Jesus: “Mestre,
vimos alguém que em Teu nome expulsava demônios,
e nós lho proibimos, porque não nos seguia”. Esse foi
um ato impetuoso de João como filho do trovão. Esse
ato era contra a virtude do Salvador-Servo, a quem
ele seguia. Isso está provado pela reação do Senhor
no versículo 39: “Não lho proibais; porque ninguém
há que faça milagre em Meu nome e em seguida possa
falar mal de Mim”. Isso demonstra a tolerância do
Salvador-Servo, na prática do serviço evangélico, para
com os crentes que eram diferentes dos mais
chegados a Ele.
Nos versículos 40 a 50 há muitas coisas que nos
deixam perplexos. No versículo 40 o Senhor Jesus
disse: “Pois quem não é contra nós é por nós”. Esse
versículo me incomodou por anos e eu tinha
dificuldade para entendê-la, porque achava que
contradizia a palavra do Senhor em Mateus 12:30. Na
verdade, não há contradição. Os dois trechos vieram
da boca do Salvador-Servo e podem ser considerados
máximas6. A máxima em 9:40 fala da conformidade
exterior na prática e diz respeito às pessoas que não
são contra Ele (v. 39); a de Mateus 12:30 fala da
unidade interior no propósito e diz respeito a quem é
contra Ele (Mt 12:24). Para manter a unidade
interior, precisamos praticar a palavra de Mateus e,
no que concerne à conformidade exterior, devemos
praticar a palavra aqui, tolerando os crentes que
diferem de nós.
Em 9:41 o Senhor prossegue: “Porque qualquer
que vos der a beber um copo de água, por terdes o
nome de que sois de Cristo, em verdade vos digo que
de modo algum perderá o seu galardão”. No versículo
38 vemos que João portou-se como quem exercia
influência sobre os outros. A sábia palavra do
Salvador-Servo no versículo 40 fez com que ele e os
demais discípulos se tornassem pessoas que recebiam
cuidados dos outros. Isso implicava que todos, quer
discípulos quer outros crentes, estavam sob o cuidado
do Senhor, pois eram todos Dele. Quer fosse o
relacionamento deles para com os outros crentes,
quer fosse o dos outros para com eles, tudo o que se
fizesse em nome do Senhor, até mesmo dar um copo
d'água, seria por Ele galardoado.
No versículo 41 o Senhor fala de alguém que dá
um copo d'água em Seu nome a um discípulo por ele
ser de Cristo. Isso indica que o Salvador-Servo
reconhecia que aquele a quem João proibira de
expulsar demônios em Seu nome era um crente
autêntico que Lhe pertencia. Isso deve ter sido uma
lição para João.
6
Máxima, “princípio básico e indiscutível” — Dicionário Aurélio. (N. do T.)
UM GALARDÃO NO FUTURO
Em 9:41 o Senhor diz que quem der a um
discípulo um copo d'água “de modo algum perderá o
seu galardão”. Esse galardão será dado na era
vindoura do reino (Lc 14:14); é algo adicional à
salvação eterna. A salvação eterna é pela fé, nada
tendo a ver com nossas obras (Ef 2:8-9), enquanto o
galardão é em função de nossas obras depois de
salvos (1Co 3:8, 14). Pode acontecer que deixemos de
receber galardão e soframos perda, mesmo sendo
salvos, porque temos carência na obra que o Senhor
aprova (1Co 3:15). Na volta do Senhor o galardão será
dado segundo nossas obras (Mt 16:27; Ap 22:12; 1Co
4:5). Isso será decidido pelo tribunal de Cristo (2Co
5:10) e desfrutado no reino vindouro (Mt 25:21, 23).
Em Marcos 9:42 o Senhor continua: “E a
qualquer que fizer tropeçar a um destes pequeninos
que crêem em Mim, melhor lhe fora que se lhe
pusesse ao pescoço uma grande pedra de moinho, e
fosse lançado no mar”. Aqui o Salvador-Servo deixou
de lidar apenas com João e os demais discípulos e
passou a falar dos crentes em geral, a quem Ele
considerava pequeninos (nada tendo a ver com as
crianças do versículo 37), inclusive João, os demais
discípulos e os que eles proibiram de expulsar
demônios em nome do Senhor. Isso pode ser
considerado uma advertência a João e aos demais,
para não fazer tropeçar nenhum dos crentes que
seguiam ao Senhor de modo diferente.
O PERIGO DE CONSIDERAR-NOS
MELHORES DO QUE OS OUTROS
Em 8:27-9:13 temos uma visão de Cristo como
nosso substituto todo-inclusivo por meio de Sua
morte e ressurreição. Por todo o capítulo nove o
Senhor ensinou os discípulos a perceber que
precisavam ter fim e não ser nada. Contudo em
9:33-37 vemos que eles discutiam entre si sobre quem
era o maior. O Senhor ensinava os discípulos e
tentava ajudá-los a perceber que não deveriam ser
nada, mas eles discutiam em seu esforço para ser
alguém, até mesmo alguém maior que os outros. Por
isso em 9:33-37 temos o ensinamento do Senhor a
respeito da humildade.
Em 9:38 João disse ao Senhor Jesus: “Mestre,
vimos alguém que em Teu nome expulsava demônios,
e nós lho proibimos, porque não nos seguia”. O
restante desse capítulo é a respeito do ensinamento
do Senhor sobre a tolerância com vistas à unidade,
um ensinamento dado em resposta à afirmação de
João no versículo 38.
Precisamos ver que, se proibimos os outros como
João fez no versículo 38, isso indica que nos
consideramos maiores do que eles. Além disso,
quando proibimos os outros, achando que somos
maiores, também os fazemos tropeçar. Enquanto os
fazemos tropeçar, também fazemos a nós mesmos
tropeçar. O maligno pode usar os membros do nosso
corpo (mão, pé ou olho) para expressar
concupiscência e fazer-nos tropeçar. Precisamos ser
muito cuidadosos a esse respeito.
Não devemos considerar-nos grandes, mas
precisamos perceber que não somos ninguém e não
somos nada. Se tivermos essa percepção, então
iremos orar e esse fato mostra que percebemos que
não somos nada e nada podemos fazer. Precisamos de
outro (o próprio Cristo) para nos substituir.
Se não nos considerarmos grandes, maiores do
que os outros, não faremos ninguém tropeçar. Mas se
pensarmos que somos grandes, faremos os outros
tropeçar. Ao mesmo tempo, abriremos as portas para
o inimigo usar a concupiscência em nossos membros
para nos fazer tropeçar.
Os membros do corpo, especialmente os olhos,
são cheios de concupiscência. Se fizermos os outros
tropeçar considerando-nos maiores do que eles,
talvez tenhamos um olho maligno (ou sejamos
invejosos). Então abrir-se-á caminho para o inimigo
utilizar a concupiscência em nossos membros e nos
fazer tropeçar.
Todos precisamos aprender a tomar e carregar a
cruz, e a aplicar a morte “terminadora” do Senhor à
nossa situação. Se levarmos a nós mesmos à morte
dessa forma, não nos consideraremos grandes, e sim
nos consideraremos nada. Assim não haverá base
para o inimigo entrar e utilizar os membros de nosso
corpo para nos fazer tropeçar.
Se não tomarmos a cruz e não a aplicarmos a nós,
não apenas faremos os outros tropeçar, como
também faremos com que nós mesmos tropecemos
continuamente. A concupiscência na mão, pé e olho
nos fará tropeçar. Se nossa situação for essa, então,
no final, quando vier a era do reino, necessitaremos
ser salgados porque ainda estaremos cheios de
“germes”.
SAL E GRAÇA
Devido à situação existente entre os crentes,
cheia de tropeços, necessitamos urgentemente da
visão de Cristo que os discípulos receberam no monte
da transfiguração. Marcos 9:7 diz: “E veio uma
nuvem que os cobriu; e da nuvem saiu uma voz: Este
é o Meu Filho amado; a Ele ouvi”. Nós também
precisamos ouvir a Cristo, o amado de Deus. Não
devemos ouvir a nós mesmos nem nenhuma outra
pessoa.
Necessitamos de visão, não apenas de Cristo,
mas também de Sua morte todo-inclusiva e
ressurreição. Precisamos ser substituídos por Cristo
por meio de Sua morte e ressurreição. Isso significa
que precisamos aplicar Sua morte a nós e então
receber o rico suprimento em Sua maravilhosa
ressurreição. Se formos substituídos por Cristo dessa
forma, seremos curados dos “germes” em nosso
interior. Seremos salgados agora mesmo, nesta era:
não haverá necessidade de esperar pela era vindoura.
Ser salgado nesta era é ser salgado pela graça por
meio da morte e ressurreição de Cristo. Mas se
formos esperar para ser salgados na era vindoura,
seremos salgados pelo fogo. Se nos salgarmos hoje
por meio da morte e ressurreição de Cristo,
ganharemos graça.
Em Colossenses 4:6 (IBB) Paulo coloca junto
graça e sal: “A vossa palavra seja sempre com graça,
temperada com sal, para saberdes como deveis
responder a cada um”. Em Efésios 4:29 Paulo se
refere às palavras que transmitem graça aos que
ouvem: “Não saia da vossa boca nenhuma palavra
torpe, e sim unicamente a que for boa para edificação,
conforme a necessidade, e, assim, transmita graça aos
que ouvem”. Graça é Cristo como nosso desfrute e
suprimento. Nosso falar deve transmitir essa graça
aos outros. A palavra que edifica sempre ministra tal
graça aos ouvintes. Dizer que nosso falar é com graça
é dizer que Cristo é expresso por meio de nossas
palavras. Isso quer dizer que elas devem ser a
expressão e elocução de Cristo. Cada palavra deve ser
a expressão de Cristo como graça.
De acordo com Colossenses 4:6, nosso falar
também deve ser temperado com sal. O sal torna as
coisas agradáveis ao paladar. A palavra temperada
com sal nos manterá em paz uns com os outros. É por
isso que o Senhor em Marcos 9:50 nos diz que
tenhamos sal em nós mesmos e então paz uns com os
outros. Se nossas palavras forem com graça e sal,
farão com que todas as coisas sejam agradáveis.
Quando nos salgamos com a morte e
ressurreição de Cristo, recebemos graça. Caso
contrário, perdemos a oportunidade de receber graça
e, como conseqüência, seremos salgados com fogo
como punição na era vindoura.
Encorajo você a ler-orar 9:38-50. Lendo-orando
esses versículos você será iluminado e perceberá que
nunca deve ser faccioso, não deve proibir os outros e
nunca deve força-los a segui-lo.
DUAS MÁXIMAS7
ABENÇOAR AS CRIANÇAS
Considerei muito por que está inserido no
capítulo dez o relato a respeito da bênção do
Salvador-Servo para as crianças (vs. 13-16). Como
resultado de minhas considerações, o Senhor me
iluminou para ver que isso indica que os que estão a
caminho para entrar no reino de Deus não devem
envelhecer. Antes, devem permanecer jovens, até
mesmo como crianças.
Talvez a velhice seja o item mais difícil para os
cristãos no que diz respeito a entrar no reino de Deus.
Grande parte dos ensinamentos, doutrinas e teologia
existentes entre os cristãos hoje é velha. Se queremos
entrar no reino de Deus, precisamos estar jovens e
cheios de frescor.
Eu me preocupo muito sempre que vejo os santos
na restauração do Senhor a envelhecer na vida
espiritual. Trinta anos atrás você era jovem e cheios
de frescor, mas agora talvez esteja velho. Hoje os
cristãos são barrados de prosseguir com o Senhor
pela velhice e também pelos ensinamentos velhos.
Talvez esses ensinamentos sejam fundamentais e até
mesmo bíblicos e corretos, mas são velhos.
Em 10:14-15 o Senhor Jesus diz: “Deixai vir a
Mim as crianças, não as impeçais, porque das tais é o
reino de Deus. Em verdade vos digo: Quem não
receber o reino de Deus como uma criança, de modo
algum entrará nele”. Tendo dito isso, o Senhor tomou
as crianças nos braços e as abençoou (v. 16). Daí
vemos que o Senhor Jesus as apreciava e as abraçou.
Ao tomá-las nos braços e abençoá-las, o Senhor
demonstrava a Seus seguidores que eles não deviam
envelhecer; antes, que todos fossem como crianças a
fim de entrar no reino.
Em 9:38, João, um dos filhos do trovão, disse ao
Senhor: “Mestre, vimos alguém que em Teu nome
expulsava demônios, e nós lho proibimos, porque não
nos seguia”. O fato de João ter proibido alguém de
expulsar demônios em nome do Senhor era um
indicativo de que João tinha envelhecido,
espiritualmente falando.
Os discípulos de João Batista também
envelheceram. Eles seguiram João por menos de três
anos, mas mesmo nesse curto período ficaram velhos
e por fim formaram uma religião. Em princípio, o
mesmo pode ocorrer entre nós hoje. Estou
preocupado porque a velhice pode penetrar
sorrateiramente na restauração do Senhor. Uma vez
que ela entre, não mais teremos frescor dia a dia.
Podemos usar a coleta do maná no Antigo
Testamento como ilustração da necessidade de estar
novos e frescos cada dia. o princípio era que o maná
era colhido uma vez por dia. Exceto no sábado,
qualquer maná que sobrasse para o dia seguinte iria
cheirar mal e criar vermes. Isso retrata nossa
necessidade de ser refrescados e renovados
diariamente. Dia a dia devemos ficar mais novos e
frescos.
Creio que a verdade contida no Evangelho de
Marcos pode ser apresentada de maneira mais fresca
do que nessas mensagens. Naturalmente não
alteramos a verdade, mas podemos ter um modo mais
fresco de apresentá-la. Por exemplo, embora a terra
permaneça a mesma, os meios de transporte
evoluíram. De semelhante modo, a verdade de Deus
não muda, mas a maneira de apresentá-la deve ser
sempre mais nova e fresca.
O reino de Deus veio de maneira nova. Para
entrar nele, era necessário que os fariseus e escribas
renascessem. Que significa renascer? Renascer é ser
renovado. Como a velhice não tem nada a ver com o
reino de Deus, precisamos renascer, ser renovados, a
fim de entrar nele.
Um grande problema entre os cristãos hoje é a
velhice. Muitos se voltam para velhas exposições ou
se agarram a velhos ensinamentos da sua
denominação. Os luteranos, por exemplo, podem
conferir as questões pelo que Lutero diz. Sem dúvida,
a justificação pela fé é um item básico da verdade.
Contudo, no que diz respeito a essa verdade,
precisamos ser renovados e refrescados.
Em mensagem anterior falamos de Cristo como
nosso substituto completo e universal. Antes daquela
mensagem eu nunca tinha usado tal expressão. Foi
durante meu falar que ela surgiu. Desconheço outra
expressão tão útil em transmitir a verdade de Cristo a
nos substituir. Uso isso como exemplo de que não
devemos permanecer no velho conhecimento.
Todos devemos estar novos e nosso ensinamento
também deve ser de acordo com nova luz. A partir do
capítulo sete, vimos que o Senhor Jesus é um
cirurgião operando em nosso coração e expondo sua
condição. Isso não é um entendimento novo e fresco
do modo de o Senhor lidar com nosso coração?
Não quero ficar velho de maneira nenhuma.
Também não quero ser limitado por velhas maneiras
de expressar a verdade da palavra de Deus. Antes de
1949, nunca falamos sobre ser um Espírito com o
Senhor e não usamos o termo “Espírito que dá vida”.
Ademais, nunca mencionamos nada sobre o Espírito
sete vezes intensificado. Todas essas são expressões
novas entre nós.
Até mesmo a questão de invocar o nome do
Senhor é nova, no que diz respeito à nossa prática.
Quando estávamos na China, não enfatizamos isso.
Alguns dizem que fui eu que inventei isso. Não
inventei essa prática. No máximo, eu descobri essa
questão na Bíblia. Já em Gênesis 4 o homem começou
a invocar o nome do Senhor. Pela misericórdia do
Senhor, Ele nos usou para descobrir essa questão,
mas certamente não a inventamos. Muitos irmãos
têm sido abençoados invocando o nome do Senhor.
Mas mesmo isso deve ser novo e fresco.
Numa das mensagens anteriores vimos que a
oração na verdade é questão de “não eu, mas Cristo”.
Você já tinha ouvido isso? Posso testificar que esse
entendimento sobre oração é novo para mim. Isso é
outra ilustração da nossa necessidade de ser novos,
jovens e frescos.
Tenha certeza de que no futuro coisas novas
aparecerão e palavras e expressões impressionantes
serão usadas. Mediante novos termos e novas
expressões podemos receber mais luz e graça.
Portanto, não vamos manter nossa velhice, mas
sejamos renovados e refrescados diariamente.
MENDIGOS CEGOS
Como veremos mais detalhadamente na próxima
mensagem, ao fazer seu pedido, Tiago e João eram,
na verdade, filhos cegos de Timeu, mendigos cegos (v.
46). A palavra deles a respeito de sentar à direita e à
esquerda do Senhor em Sua glória era falada por
cegos.
Podemos até mesmo dizer que Tiago e João
eram, na realidade, mendigos cegos. No capítulo dez
os vemos mendigando por posição à direita e à
esquerda do Senhor. Portanto é significativo que esse
capítulo termina com a cura do cego Bartimeu. Tiago
e João certamente precisavam, eles mesmos, desse
tipo de cura. Como cegos mendigando por posição,
precisavam que o Senhor lhes abrisse os olhos, a fim
de vê-Lo e à Sua morte e ressurreição. Precisamos
aprender por meio de Marcos 10 que, se ainda somos
ambiciosos por posição na vida da igreja, também
somos filhos de Timeu, mendigos pobres e cegos
necessitando da cura do Senhor.
ESTUDO-VIDA DE MARCOS
MENSAGEM TRINTA E TRÊS
O MOVER DO SERVIÇO EVANGÉLICO DO
SALVADOR-SERVO (17)
AMBIÇÃO E CEGUEIRA
Em 10:35, Tiago e João, os filhos de Zebedeu,
vieram ao Senhor Jesus e Lhe disseram: “Mestre,
queremos que nos faças o que Te pedirmos”. Quando
Ele lhes perguntou o que eles queriam que fizesse por
eles, eles Lhe disseram: “Concede-nos que na Tua
glória nos assentemos um à Tua direita e outro à Tua
esquerda” (vs. 36-37).
Esses dois irmãos tinham seguido o Senhor
desde o princípio. Foram chamados por Ele logo
depois de Pedro e André. Mas, embora O seguissem
por mais de três anos, ainda estavam em sua cegueira
e necessitavam de mais cura, uma cura específica do
órgão da visão. João e Tiago não foram capazes de ver
Cristo e Sua morte e ressurreição. O Senhor lhes
falara três vezes a respeito de Sua morte, mas, como
estavam cegos, eles não foram capazes de entender o
que Ele dizia.
Em 10:46 é-nos dito que o Senhor e os discípulos
vieram a Jericó, lugar de maldição. Foi de acordo com
a soberania de Deus que chegaram ali.
Marcos 10:32 diz: “Estavam no caminho,
subindo para Jerusalém, e Jesus ia adiante deles. Eles
estavam pasmados, e os que seguiam atrás estavam
com medo”. O Senhor andava ousadamente adiante
dos discípulos, e eles estavam pasmados e até mesmo
com medo. Enquanto estavam a caminho, Ele lhes
disse que ia para Jerusalém a fim de levar a cabo uma
morte todo-inclusiva, que poria fim aos discípulos e
os introduziria na ressurreição. Como já ressaltamos,
visto que os discípulos estavam cegos, não
conseguiam entender a palavra do Senhor a respeito
de Sua morte, mesmo depois que Ele a revelara pela
terceira vez.
Antes de chegar a Jerusalém, cidade de paz, eles
chegaram a Jericó, cidade de maldição. É muito
significativo que, perto de Jericó, encontrassem um
cego: “Ao sair Ele de Jericó, com os Seus discípulos e
numerosa multidão, Bartimeu, mendigo cego, filho
de Timeu, estava assentado à beira do caminho”
(10:46). Esse cego, como aquele em 8:22, representa
alguém que perdeu a visão interior, alguém
espiritualmente cego (At 26:18; 2Pe 1:9).
Podemos dizer que cegueira é a pior maldição.
Quando alguém está cego, está amaldiçoado.
Ademais, cegueira é questão de trevas e trevas é
resultado de pecado e morte. Portanto cegueira indica
trevas, que são uma composição de pecado e morte.
Onde houver cegueira, ali há trevas, e onde houver
trevas, há pecado e morte.
Embora os discípulos do Senhor já O seguissem
por mais de três anos, no capítulo dez eles ainda
estavam cegos. Isso significa que, estando em
cegueira, estavam em trevas, e pecado e morte
estavam presentes. Assim necessitavam de visão clara
do que o Senhor Jesus iria fazer em Jerusalém, a
visão de que Ele iria entrar na morte a fim de pôr fim
à situação de maldição. Sua morte eliminaria a
cegueira, as trevas, o pecado e a morte, e introduziria
as pessoas na ressurreição. Portanto foi devido à
soberania de Deus que o Senhor e os discípulos
vieram a Jericó, lugar onde havia um cego.
O caso de Bartimeu, o mendigo cego, indica que
todos os discípulos estavam cegos. A ambição deles
por posição era sinal de sua cegueira, e também de
que ainda estavam debaixo da maldição. É muito
significativo que, logo depois que João e Tiago
fizeram o pedido de sentar à direita e à esquerda do
Senhor em Sua glória, todos vieram a Jericó, cidade
de maldição.