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© 1985 Living Stream Ministry

Edição para a Língua Portuguesa


© 2008 Editora Árvore da Vida

Título do original Inglês:


Life-Study of Mark

ISBN 978-85-7304-324-2

1ª Edição-Março/2008 — 5.000 exemplares

Traduzido e publicado com a devida autorização do Living Stream Ministry e todos os


direitos reservados para a língua portuguesa pela Editora Árvore da Vida.

Editora Árvore da Vida


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Impresso no Brasil

As citações bíblicas são da Versão Revista e Atualizada de João Ferreira de


Almeida, 2ª Edição, e Versão Restauração (Evangelhos), salvo quando indicado pelas
abreviações:
BJ— Bíblia de Jerusalém
lit. — tradução literal do original grego ou hebraico
IBB-Rev. — Imprensa Bíblica Brasileira, versão Revisada
KJV — King James Version
NVI — Nova Versão Internacional TB — Tradução Brasileira
VRC — Versão Revista e Corrigida de Almeida
ESTUDO-VIDA DE MARCOS
MENSAGEM UM
INTRODUÇÃO (1)

Leitura Bíblica: Is 42:1-4, 6-7; 49:5-7; 50:4-7;


52:13-53:12; Mc 10:45
Com esta mensagem iniciamos o Estudo-Vida do
Evangelho de Marcos. Esse não é um Evangelho tão
profundo quanto o de João nem contém tantos
ensinamentos quanto os que são encontrados em
Mateus. Alguns leitores do Novo Testamento talvez
pensem que Marcos era o “galileu” entre os quatro
Evangelhos. Entretanto o Senhor Jesus veio da
Galiléia.

O MOVER DO SENHOR NA GALILÉIA E


JUDÉIA
O Evangelho de João é principalmente um
registro do mover do Senhor na Judéia e das palavras
profundas que Ele proferiu ali. Marcos, pelo
contrário, é um registro principalmente do ministério
do Senhor na Galiléia; esse livro não registra muito de
Seu mover ou ensinamento na Judéia.
Se quisermos ter a história da vida e do
ministério do Senhor na terra, precisamos aprender a
juntar os Evangelhos de Marcos e de João. Quando
esses livros se juntam, podemos ver o mover do
Senhor nas regiões da Galiléia e da Judéia. A Judéia
era uma província altamente estimada e a cidade de
Jerusalém situava-se ali. Mas a província da Galiléia
era menosprezada e depreciada. O mover do Senhor
na Galiléia cobre um período mais longo do que Seu
mover na Judéia. Precisamos ver que o registro do
Evangelho de Marcos é primordialmente sobre o
mover do Senhor na Galiléia, e não na Judéia.
No primeiro capítulo do Evangelho de João
temos um relato de questões profundas relacionadas
com a encarnação de Cristo. Os versículos 1 e 14
revelam que no princípio era o Verbo, e o Verbo
estava com Deus e era Deus, e que o Verbo tomou-se
carne e armou tabernáculo entre nós. De acordo com
João 1:14, os discípulos também viram a glória do
Senhor, glória como do Unigênito do Pai. No
primeiro capítulo de seu Evangelho, João ainda diz
que a lei foi dada por Moisés, mas a graça e a
realidade vieram por meio de Jesus Cristo (v. 17). No
versículo 18, João diz: “Ninguém jamais viu a Deus; o
Filho unigênito, que está no seio do Pai, esse O deu a
conhecer”. Além disso, João nos diz que no Verbo
estava a vida, e a vida era a luz dos homens (v. 4).
Todas essas questões são muito profundas.

O SALVADOR-SERVO
Em contraste com as questões profundas
reveladas no Evangelho de João, Marcos mostra o
Senhor como o Salvador-Servo. Esse livro não traz o
Salvador-Deus, como João, ou o Salvador-Rei, como
Mateus, ou o Salvador-Homem, como Lucas, mas
apresenta um aspecto especial de Cristo: o
Salvador-Servo. Em João temos Deus; em Mateus, o
Rei; em Lucas, o Homem e em Marcos, o Servo. Não
devemos esperar coisas excelentes, profundas e
maravilhosas de um servo. Em certo sentido, não é
fácil falar do Evangelho de Marcos.
No Estudo-Vida de Tiago ressaltamos o contraste
entre os escritos de Paulo e os de Tiago: os de Paulo
são muito mais elevados do que os de Tiago. Os
escritos de Paulo estão no nível divino, o nível de
Deus, e revelam o dispensar divino para o
cumprimento de Seu propósito eterno. Portanto, nas
Epístolas de Paulo temos urna revelação da economia
divina. O livro de Tiago está em plano inferior;
enquanto os escritos de Paulo estão no nível divino; o
livro de Tiago está no nível humano e ressalta a
perfeição cristã prática. Em sua Epístola, Tiago lida
com questões de piedade e caráter. As diferenças
entre a Epístola de Tiago e os escritos de Paulo são,
na verdade, muito grandes. Como se pode comparar
algo do nível humano com algo do nível divino? Como
se pode comparar a perfeição cristã prática com a
economia divina, ou comparar um viver cheio de ética
com um viver cheio de Cristo? Não há comparação.
Se quisermos saber o significado da perfeição
cristã prática, precisamos ir à Epístola de Tiago, pois
sobre esse assunto nada é melhor do que esse livro.
Considere por exemplo o que ele diz acerca da
sabedoria: “A sabedoria, porém, lá do alto é,
primeiramente, pura; depois, pacífica, indulgente,
tratável, plena de misericórdia e de bons frutos,
imparcial, sem fingimento” (Tg 3:17). Diz também:
“Ora, é em paz que se semeia o fruto da justiça, para
os que promovem a paz” (v. 18). Esse ensinamento
certamente é muito mais elevado do que o de
Confúcio. No que tange à perfeição cristã e à ética
humana, o livro de Tiago é excelente. Nesses
aspectos, todos precisamos respeitá-lo. Não obstante,
não importa quão excelente sejam seus escritos no
que diz respeito à perfeição cristã, ele permanece no
nível humano, e o nível humano não pode ser
comparado com o divino.
Até certo ponto, podemos usar o contraste entre
o nível dos escritos de Paulo e dos de Tiago como
ilustração do contraste entre Marcos e os demais
Evangelhos. Como, por exemplo, podemos comparar
um servo com Deus? Além disso, como podemos
comparar um servo com um rei? Aparentemente, o
Evangelho de Marcos está num nível bem inferior do
que o de João, Mateus e Lucas. João registra que o
Senhor disse coisas profundas como: “Eu sou [...] a
vida” (Jo 14:6); “Eu sou a luz do mundo” (8:12), e:
“Eu sou a ressurreição” (11:25). Essas palavras não se
encontram no Evangelho de Marcos, mas nele temos
o excelente registro do maravilhoso Servo. No
Evangelho de Marcos temos algo que não pode ser
encontrado em João, Mateus ou Lucas.
O Senhor Jesus é maravilhoso e todo-inclusivo.
Até mesmo Seu nome é Maravilhoso (Is 9:6). O
Senhor é maravilhoso não apenas em Sua divindade
mas também em Sua humanidade. Onde podemos
ver um retrato de Sua humanidade? É correto dizer
que o Evangelho de Lucas ressalta a humanidade do
Senhor. Nesse livro Lucas apresenta o Senhor como
homem normal, que atinge plenamente o padrão, no
qual vemos virtude, excelência e beleza humana.
Entretanto, nem mesmo tudo isso pode ser
comparado com o aspecto da humanidade do Senhor
vista em Marcos. Em Marcos vemos uma bela
expressão das virtudes de Cristo em Sua humanidade.
Creio que mais virtudes excelentes do Senhor podem
ser vistas em Sua humanidade no livro de Marcos do
que no livro de Lucas.
Dentre os quatro Evangelhos, somente o de João
fala da divindade do Senhor. Os outros três,
chamados sinóticos, falam de Sua humanidade. O
termo “sinótico” indica que os Evangelhos de Mateus,
Marcos e Lucas têm o mesmo ponto de vista: a
humanidade do Senhor. Neles vemos diferentes
aspectos de Cristo em Sua humanidade: Sua
humanidade em ser Rei (Mateus), em ser homem
(Lucas) e em ser Servo (Marcos).
Suponha que o presidente dos Estados Unidos,
após completar o mandato, trabalhe como faxineiro;
depois de ser presidente, ele voluntariamente se
rebaixe ao posto de faxineiro para servir outros. Não
seria excelente? A excelência desse homem na
presidência não se compara com sua excelência no
fato de ser faxineiro. Creio que a maioria da
população gostaria mais dele como faxineiro do que
como presidente. No presidente não vemos muito da
beleza em sua humanidade. Se ele, porém, se tomasse
faxineiro a fim de servir os outros, veríamos a beleza,
a virtude, em sua humanidade. Que bonito seria se
uma pessoa, depois de ocupar um alto posto de
presidente da nação, se tomasse faxineiro! Duvido
que algum de nós se sentiria à vontade na presença
do presidente da nação, mas todos ficaríamos à
vontade com um faxineiro. Seria excelente ver um
ex-presidente trabalhar como faxineiro, pois o
veríamos em sua virtude humana excelente!
Que tipo de pessoa você prefere: um presidente
ou um faxineiro? Eu prefiro estar com um faxineiro a
estar com um presidente. Se um presidente me
convidasse para passar a noite na Casa Branca, eu
não me sentiria em casa. Mas se um ex-presidente se
tomasse faxineiro e me convidasse a passar a noite
em sua casa, eu me sentiria muito bem.
Uso essa ilustração para nos ajudar a ver a
posição do Evangelho de Marcos em relação aos
demais. Em Mateus vemos o Senhor Jesus em Sua
realeza, mas no de Marcos nós O vemos em Sua
servidão. Qual você prefere: o Senhor como Rei ou
como Servo? Você prefere o Rei Jesus ou o Servo
Jesus? Naturalmente, podemos estar inclinados a
gostar do Senhor como Rei mais do que como Servo.
Mas todos precisamos apreciá-Lo como
Salvador-Servo revelado em Marcos. Se O
apreciarmos desse modo, entenderemos o valor desse
Evangelho.
No Evangelho de Marcos temos um registro
vívido da humanidade do Senhor como Servo. Os
seus últimos capítulos são especialmente longos e
detalhados, e o motivo disso é que o propósito do
autor é fornecer um registro detalhado a fim de
mostrar a beleza do Senhor como Servo em Suas
virtudes humanas.

UM REGISTRO DOS ATOS DO SENHOR E


UMA DESCRIÇÃO DE SUAS VIRTUDES
HUMANAS
A chave para entender o Evangelho de Marcos é
que nele vemos muito mais dos atos do Senhor do que
de Suas palavras. O autor não registra muito do que o
Senhor ensinou. Por exemplo, ele não inclui a
mensagem que o Senhor deu no monte (Mt 5-7), nem
as longas profecias e muitas parábolas encontradas
em Mateus e Lucas. Em sua maioria, Marcos dá um
registro detalhado dos atos do Senhor. Ele inclui
muitos pormenores a fim de apresentar um retrato da
beleza e excelência da humanidade de Cristo como
Salvador-Servo. Se virmos isso, amaremos o livro de
Marcos.
O segredo para entender o Evangelho de Marcos
é ver que esse livro descreve de modo vívido e
detalhado as excelentes e maravilhosas virtudes
humanas do Senhor Jesus. Na verdade, é muito difícil
falar desse Evangelho. Seriam necessárias mais de
vinte mensagens para abordar apenas os primeiros
três capítulos, pois o registro da humanidade do
Senhor nesse Evangelho é muito vívido e detalhado.
Que maravilhoso é o quadro das virtudes da
humanidade do Senhor no Evangelho de Marcos! O
Senhor precisa conceder-nos vocabulário especial a
fim de falar dessas questões. Através dos anos, eu me
acostumei a falar do Cristo todo-inclusivo, da igreja e
do Espírito composto e processado que habita em
nós, mas, quando chegamos ao Evangelho de Marcos,
sinto que preciso de outro vocabulário, e busco o
Senhor por isso.

O AUTOR DO EVANGELHO DE MARCOS


O autor desse Evangelho foi Marcos, também
chamado João (At 12:25), filho de uma das Marias
(que era próxima do apóstolo Pedra na igreja em
Jerusalém — At 12:12). Ele também era primo de
Barnabé (Cl 4:10) e acompanhou Barnabé e Saulo em
seu ministério (At 12:25), acompanhando-os na
primeira viagem ministerial para os gentios (13:5).
Entretanto, Marcos os deixou em Perge (v. 13). Pelo
fato de ele ter voltado, foi rejeitado por Paulo em sua
segunda viagem. Marcos então juntou-se a Barnabé
em sua obra, quando Barnabé se separou de Paulo
(15:36-40). Entretanto Marcos aproximou-se de
Paulo novamente anos mais tarde (Cl 4:10; Fm 24) e
foi útil a ele para o ministério até o martírio de Paulo
(2Tm 4:11). Ele era bem próximo de Pedro,
provavelmente o tempo todo, pois este o considerava
como filho (1Pe 5:13).

ASPECTOS DO EVANGELHO DE MARCOS


Desde os primórdios da igreja, o Evangelho de
Marcos tem sido considerado um relato escrito da
apresentação oral de Pedra, que acompanhou o
Salvador em Seu serviço evangélico desde o início
(Mc 1:16-18) até o fim (14:54, 66-72). O registro é
segundo a seqüência histórica e fornece mais detalhes
de fatos históricos do que os demais Evangelhos. O
livro todo é resumido nas palavras de Pedra em Atos
10:36-42.
Com relação ao Evangelho de Marcos,
precisamos ter três questões em mente: 1) é o relato
escrito da apresentação de Pedra da história de Jesus
Cristo, o Filho de Deus; 2) foi escrito segundo a
seqüência histórica; 3) fornece mais detalhes de fatos
históricos do que os demais Evangelhos. Esse livro
pode ser de fato considerado o Evangelho de Pedra,
que apresentou a história do Senhor Jesus oralmente
a Marcos, e este a escreveu. Esse Evangelho também
fornece uma biografia do Senhor em ordem
cronológica. O registro de Mateus, pelo contrário,
fornece um registro de acordo com a doutrina. Se
quisermos saber a seqüência histórica dos
acontecimentos da vida do Senhor, precisamos do
Evangelho de Marcos. Além disso, ele nos dá mais
detalhes dos fatos históricos do que os outros
Evangelhos. Como já ressaltamos, Marcos dá muito
mais atenção às ações do Senhor do que ao que Ele
falou. Isso se encaixa ao propósito de Marcos de
retratar o Senhor como Servo. Um servo trabalha;
não é alguém que fala muito. Portanto, Marcos
apresenta os detalhes das ações do Senhor.
João apresenta o Salvador-Deus, ressaltando Sua
deidade em Sua humanidade. Mateus apresenta o
Salvador-Rei; Marcos, o Salvador-Servo e Lucas, o
Salvador-Homem. Mateus, Marcos e Lucas são
sinóticos no que tange à humanidade do Salvador, em
diferentes aspectos, com Sua deidade. Uma vez que
Marcos apresenta o Salvador como Servo, ele não
mostra Sua genealogia e status, pois os ancestrais de
um Servo não são dignos de nota. Marcos também
não quer impressionar-nos com as palavras
maravilhosas do Servo (como o faz Mateus com Seus
ensinamentos e parábolas maravilhosos acerca do
reino dos céus, e como o faz João com Suas revelações
profundas das verdades divinas), mas nos
impressiona com os feitos excelentes do Senhor em
Seu serviço evangélico, fornecendo mais detalhes que
os outros evangelistas, a fim de retratar a diligência, a
fidelidade e outras virtudes do Salvador-Servo em
Seu serviço salvador que da parte de Deus prestou aos
pecadores. No Evangelho de Marcos há o
cumprimento da profecia acerca de Cristo como o
Servo de Jeová registrada em Isaías 42:1-4, 6-7;
49:5-7; 50:4-7; 52:13-53:12 e os detalhes do
ensinamento acerca de Cristo como Servo de Deus em
Filipenses 2:5-11. Sua diligência no trabalho, Sua
necessidade de alimento e descanso (Mc 3:20-21;
6:31), Sua ira (3:5), Seu gemido (7:34) e Sua afeição
(10:21) demonstram com beleza Sua humanidade em
virtude e perfeição. Seu senhorio (2:28), onisciência
(2:8), poder miraculoso e autoridade para expulsar
demônios (1:27; 3:15), perdoar pecados (2:7, 10) e
fazer calar o vento e o mar (4:39) manifestam
plenamente Sua deidade em glória e honra. Que
Servo de Deus! Quão amável e admirável! Esse Servo
serviu aos pecadores como Salvador-Servo, dando a
vida em resgate por eles (10:45), a fim de cumprir o
propósito eterno de Deus, de quem era Servo.
ESTUDO-VIDA DE MARCOS
MENSAGEM DOIS
INTRODUÇÃO (2)

Leitura Bíblica: Is 42:1-4, 6-7; 49:5-7; 50:4-7;


52:13-53:12; Mc 10:45
Esta mensagem é continuação da introdução ao
Estudo-Vida do Evangelho de Marcos. Já vimos que
esse Evangelho retrata a excelência das virtudes de
Cristo em Sua humanidade como Servo. O Evangelho
de João apresenta-O como Salvador-Deus, o de
Mateus, como Salvador-Rei e o de Lucas, como
Salvador-Homem. Mas Marcos apresenta Cristo
como o Salvador-Servo. Portanto o assunto desse
livro é o Servo de Deus como Salvador-Servo dos
pecadores. Primeiro precisamos ver o Senhor como
Servo de Deus e depois como Salvador-Servo dos
pecadores (10:45)

SERVO DE DEUS Como Profetizou Isaías


Nesta mensagem vamos concentrar-nos na
profecia de Isaías acerca do Servo de Jeová.

A Escolha de Deus e Seu Deleite


Isaías 42:1 diz: “Eis aqui o meu servo, a quem
sustenho; o meu escolhido, em quem a minha alma se
compraz”. Jesus Cristo, o Servo de Deus, foi escolhido
por Deus entre bilhões de seres humanos. Por ser Ele
a escolha de Deus, Deus se comprazia Nele, por isso
Ele se tornou o deleite do coração divino.
Subir perante Deus como Renovo
Isaías 53:2 e 3 diz: “Porque foi subindo como
renovo perante ele e como raiz de uma terra seca; não
tinha aparência nem formosura; olhamo-lo, mas
nenhuma beleza havia que nos agradasse. Era
desprezado e o mais rejeitado entre os homens;
homem de dores e que sabe o que é padecer; e, como
um de quem os homens escondem o rosto, era
desprezado, e dele não fizemos caso”. Se você ler o
capítulo dois do Evangelho de Lucas, verá que Cristo
subiu (ou cresceu) como renovo e como raiz duma
terra seca. Ele foi criado no lar de um carpinteiro
pobre na cidade desprezada de Nazaré e na província
depreciada da Galiléia. Esse foi o cumprimento da
terra seca em Isaías.
O Senhor não tinha beleza nem formosura;
antes, era desprezado e rejeitado pelos homens,
homem de dores, que sabia o que era sofrer. A vida do
Senhor foi uma vida de dores e sofrimento.

Desfigurado, Mais do que Outro Qualquer


Acerca do Senhor Jesus, Isaías 52:14 profetiza:
“Como pasmaram muitos à vista dele (pois o seu
aspecto estava mui desfigurado, mais do que o de
outro qualquer, e a sua aparência, mais do que a dos
outros filhos dos homens)”. Isso indica que a
aparência do Senhor, Seu semblante, era desfigurada.
O termo desfigurado é enfático e indica que a
aparência do Senhor era até certo ponto danificada e
arruinada.
Muitos anos atrás, certo artista pintou um
quadro que retrata o Senhor como um homem bonito.
Essa figura é totalmente falsa, contudo a maioria dos
cristãos tem uma cópia dela em casa. Enquanto eu
viajava no centro da China em 1936, fazendo a obra
de pregação do evangelho, encontrei um caso de
possessão demoníaca ligada a essa figura. Uma jovem
ficara endemoninhada e os que a tentavam ajudar
contaram-me o acontecido. Eu lhes disse que, na
maioria das vezes, a possessão demoníaca se dá por
causa da adoração de ídolos, e perguntei se havia
algum ídolo na casa. Eles me disseram que não havia
ídolos, mas havia uma cópia dessa figura bem
conhecida de Jesus. Eu lhes disse que a figura era um
ídolo e que deveriam tirá-la e queimá-la. Depois que
fizeram isso, o demônio saiu da jovem. Ter essa figura
de Jesus é totalmente contrário às Escrituras. Meu
propósito em contar essa história é ressaltar esse fato.
De acordo com a Bíblia, o Senhor Jesus não tinha
rosto bonito; antes, Sua aparência era desfigurada,
arruinada.

Desprezado dos Homens, Aborrecido das


Nações e Servo dos Tiranos
Isaías 49:7 diz: “Assim diz o SENHOR, o
Redentor e Santo de Israel, ao que é desprezado, ao
aborrecido das nações, ao servo dos tiranos: Os reis o
verão, e os príncipes se levantarão; e eles te adorarão
por amor do SENHOR, que é fiel, e do Santo de
Israel, que te escolheu”. De acordo com esse versículo
o Senhor Jesus era desprezado pelos homens, odiado
pelas nações e era servo dos tiranos. Em hebraico a
expressão servo dos tiranos quer dizer escravizado
pelos tiranos. O Senhor era servo mantido em
escravidão pelos tiranos.

Ofereceu as Costas aos que O Feriam e o


Rosto, aos Perseguidores
Isaías 50:6 diz: “Ofereci as costas aos que me
feriam e as faces, aos que me arrancavam os cabelos;
não escondi o rosto aos que me afrontavam e me
cuspiam”. Essa é uma boa descrição de como o
Senhor se comportava como Servo. Ele voltou o rosto
aos que O perseguiam e não ocultou a face da
vergonha.

Não Clamou nem Ergueu a Voz


Isaías 42:2 indica que o Senhor não clamou nem
ergueu a voz: “Não clamará, nem gritará, nem fará
ouvir a sua voz na praça”. Isso quer dizer que o
Senhor não gritou nem fez estardalhaço. Em vez de
gritar para manifestar a voz nas ruas, Ele era calmo e
sossegado.

Não Quebrou a Cana Esmagada nem Apagou


a Torcida que Fumegava
Isaías 42:3 e 4 diz: “Não quebrará a cana
rachada, nem apagará a torcida que fumega; com
verdade fará sair o juízo. Não se apagará nem será
quebrado, até que estabeleça o juízo na terra; e as
ilhas esperarão a sua lei” (VRC). Segundo esses
versículos, o Senhor não quebraria a cana rachada
nem apagaria a torcida que fumegava. Os judeus
costumavam fazer flautas de cana. Quando uma cana
rachava, eles a quebravam. Também faziam torcidas,
ou pavios, para queimar com azeite. Quando o azeite
acabava, a torcida produzia fumaça, e eles a
apagavam. Alguns do povo do Senhor são como cana
rachada que não produz som musical; outros são
como torcida fumegante que não fornece luz.
Contudo o Senhor não “quebra” os “rachados”, que
não conseguem produzir som musical, tampouco
“apaga” os “fumegantes”, que não conseguem emitir
luz. Por um lado, Ele não quebra a cana rachada nem
apaga a torcida que fumega; por outro, de acordo com
esses versículos, Ele mesmo não se apaga como a
torcida que fumega nem pode ser quebrado como a
cana rachada.

Com Língua de Eruditos


Em Isaías 50:4 vemos que, como Servo de Deus,
o Senhor tinha língua de eruditos: “O SENHOR Deus
me deu língua de eruditos, para que eu saiba dizer
boa palavra ao cansado. Ele me desperta todas as
manhãs, desperta-me o ouvido para que eu ouça
como os eruditos”. Embora, como Servo, o Senhor
não instruísse, Ele tinha língua de eruditos. Ele foi
instruído por Deus em como dar apoio ao cansado
com boa palavra. Visto que fora instruído por Deus,
podia sustentar o cansado com boa palavra. Essa
palavra pode ministrar vida mais do que uma longa
mensagem.

Confiou em Deus e Fez Seu Rosto como Seixo


Isaías 50:7 diz: “Porque o SENHOR Deus me
ajudou, pelo que não me senti envergonhado; por
isso, fiz o meu rosto como um seixo e sei que não serei
envergonhado”. Aqui vemos que o Senhor confiava
em Deus e fez Seu rosto como um seixo, uma rocha
dura. Enquanto andava no caminho de Deus para
cumprir a vontade divina, o Senhor Jesus tinha o
rosto como rocha dura. Na questão de cumprir a
vontade de Deus, Ele era extremamente rígido.
Tomou Nossas Enfermidades e Levou Nossas
Dores
Em Isaías 53:4 e 5, temos esta palavra acerca do
Senhor Jesus: “Certamente, ele tomou sobre si as
nossas enfermidades e as nossas dores levou sobre si;
e nós o reputávamos por aflito, ferido de Deus e
oprimido. Mas ele foi traspassado pelas nossas
transgressões e moído pelas nossas iniqüidades; o
castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas
suas pisaduras fomos sarados”. O que esses versículos
descrevem está relacionado com a morte do Senhor
na cruz. Ele tomou nossas enfermidades e levou
nossas dores. Foi traspassado por nossas
transgressões e moído por nossas iniqüidades. O
castigo que nos traz a paz, isto é, o castigo que produz
nossa paz, estava sobre Ele e por Suas pisaduras
fomos sarados.

Sofreu Opressão e Humilhação


De acordo com Isaías 53:7, o Senhor não abriu a
boca quando foi oprimido e afligido: “Ele foi
oprimido e humilhado, mas não abriu a boca; como
cordeiro foi levado ao matadouro; e, como ovelha
muda perante os seus tosquiadores, ele não abriu a
boca”. Isso quer dize que quando foi levado à cruz, o
Senhor era como ovelha muda perante os
tosquiadores. Quando foi oprimido e humilhado, não
disse uma só palavra.
Deus Fez Cair sobre Ele a Iniqüidade de Nós
Todos Isaías 53:6 diz: “Todos nós andávamos
desgarrados como ovelhas; cada um se desviava pelo
caminho, mas o SENHOR fez cair sobre ele a
iniqüidade de nós todos”. E o versículo dez continua:
“Todavia, ao SENHOR agradou moê-lo, fazendo-o
enfermar; quando der ele a sua alma como oferta pelo
pecado, verá a sua posteridade e prolongará os seus
dias; e a vontade do SENHOR prosperará nas suas
mãos”. Nesse trecho podemos ver que Deus fez cair
sobre Ele a iniqüidade de todos nós, moeu-O, fê-Lo
enfermar e fez de Sua alma uma oferta pelo pecado.

Derramou Sua Alma na Morte


Isaías 53:12 diz: “Por isso, eu lhe darei muitos
como a sua parte, e com os poderosos repartirá ele o
despojo, porquanto derramou a sua alma na morte;
foi contado com os transgressores; contudo, levou
sobre si o pecado de muitos e pelos transgressores
intercedeu”. O Senhor derramou a alma ao morrer na
cruz. Foi crucificado entre dois malfeitores e assim
contado com os transgressores. O fato de Ele ter
levado sobre Si o pecado de muitos e intercedido
pelos transgressores foi cumprido pela oração do
Senhor na cruz: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem
o que fazem” (Lc 23:34a).

Foi Cortado da Terra dos Viventes


De acordo com Isaías 53:8, o Senhor Jesus “foi
cortado da terra dos viventes”. Isso quer dizer que foi
morto.

Ressuscitou para Ver o Fruto de Seu Penoso


Trabalho
O versículo 11 revela que o Senhor foi
ressuscitado para ver o fruto de Seu penoso trabalho:
“Ele verá o fruto do penoso trabalho de sua alma e
ficará satisfeito; o meu Servo, o Justo, com o seu
conhecimento, justificará a muitos, porque as
iniqüidades deles levará sobre si”. É em ressurreição
que o Senhor vê o fruto de Seu trabalho. Agora, após
ressuscitar, como Servo justo de Deus, Ele justifica
muitos, pois levou sobre Si as iniqüidades deles.

Exaltado, Elevado e Mui Sublime


Isaías 52:13 fala sobre a exaltação do Senhor:
“Eis que o meu Servo procederá com prudência; será
exaltado e elevado e será mui sublime”. Depois da
ressurreição, o Senhor foi exaltado e elevado às
alturas.

Mediador da Aliança com o Povo e Luz para


os Gentios
Isaías 42:6 diz: “Eu, O SENHOR, te chamei em
justiça, tomar-te-ei pela mão, e te guardarei, e te farei
mediador da aliança com o povo e luz para os
gentios”. Após ascender, o Senhor se tomou aliança
com os judeus e luz para os gentios. Isso quer dizer
que em ascensão Ele mesmo se tornou a nova aliança,
o novo testamento, para o povo de Deus. Também se
tornou luz para os gentios, para os ímpios, por meio
da pregação do evangelho realizada pelos discípulos.

A Salvação de Deus até a Extremidade da


Terra
Em Isaías 49:6, vemos que o Senhor é a salvação
de Deus até a extremidade da terra: “Sim, diz ele:
Pouco é o seres meu servo, para restaurares as tribos
de Jacó e tornares a trazer os remanescentes de
Israel; também te dei como luz para os gentios, para
seres a minha salvação até à extremidade da terra”.
Cristo em ascensão é agora a salvação de Deus até a
extremidade da terra. Essa profecia acerca do Senhor
Jesus foi falada por Isaías setecentos anos antes de
Seu nascimento.
No livro de Isaías temos profecias detalhadas
acerca do Senhor Jesus como Servo de Deus. Nem
mesmo no Novo Testamento podemos encontrar um
registro como esse. Ao considerar as profecias de
Isaías acerca de Cristo como Servo de Deus, podemos
entender mais plenamente o que se encontra no
Evangelho de Marcos acerca Dele como Servo.

O que Paulo Disse acerca de Cristo como


Servo
Em Filipenses 2:5-11, temos o que o apóstolo
Paulo disse acerca de Cristo como Servo.

Subsistir em Forma de Deus


Em Filipenses 2:5 e 6, Paulo diz: “Tende em vós o
mesmo sentimento que houve também em Cristo
Jesus, pois ele, subsistindo em forma de Deus, não
julgou como usurpação o ser igual a Deus”. Aqui
vemos que o Senhor não somente existia com Deus,
mas subsistia em forma de Deus.
O termo grego traduzido por “subsistir” denota
“existir desde o princípio”. Isso implica a
pré-existência eterna do Senhor. Dizer que Cristo
existia em forma de Deus quer dizer que Ele subsistia
na expressão do ser divino (Hb 1:3), que era
identificado com a essência e natureza da Pessoa
divina. Isso se refere à deidade de Cristo.
De acordo com Filipenses 2:6, embora Cristo
subsistisse em forma de Deus, Ele não considerou
que o ser igual a Deus fosse coisa que devesse usurpar
e reter; antes, estava disposto a vir à terra como
homem.

Esvaziou-Se, Assumindo a Forma de Servo


No versículo 7, Paulo prossegue: “Antes, a si
mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo,
tornando-se em semelhança de homens; e,
reconhecido em figura humana”. O Senhor Se
esvaziou de Sua posição e glória e de outras questões
relacionadas com Sua Deidade. Naturalmente, Ele
não Se esvaziou da Deidade em si. Uma vez que Se
esvaziou a Si mesmo, Ele veio como homem,
assumindo a forma de Servo e tornando-se em
semelhança de homens.
Em Lucas 2 podemos ver o Senhor como homem.
Quando foi a Jerusalém com Seus pais, Ele era um ser
humano, um menino. Ali não vemos o Senhor como
Servo. Só O vemos como Servo quando Ele saiu a
ministrar. Enquanto ministrava, Ele era Servo. Por
exemplo, quando lavou os pés dos discípulos, estava
na forma de Servo (Jo 13:4-5). Primeiro Ele se tornou
homem na semelhança de homens; depois procedeu
como Servo na forma de Servo.
Se um irmão se levanta para falar na reunião da
igreja, certamente tem a forma de homem.
Entretanto, se esse mesmo irmão puser roupas de
trabalho e começar a aspirar o pó do carpete, diremos
que tem a forma de faxineiro. Primeiro ele é homem e
depois tem a forma de faxineiro. Essa ilustração
simples talvez ajude a entender como o Senhor se
tomou homem e por fim ministrou na forma de
Servo.
Quando os discípulos discutiam acerca de quem
seria o maior entre eles, o Senhor lhes disse que Ele
veio para servir como Servo: “Pois até o Filho do
Homem não veio para ser servido, mas para servir e
dar a Sua vida em resgate por muitos” (Mc 10:45).
Aqui Ele parece dizer: “Olhem para Mim. Vim para
servir como Servo, disposto até a dar a vida. Estou
pronto para dar a vida como resgate”. Por meio disso
vemos que em Seu ministério o Senhor serviu na
forma de Servo.

Humilhou-Se e Foi Obediente até a Morte


Em Filipenses 2:8 Paulo diz: “A si mesmo se
humilhou, tomando-se obediente até à morte e morte
de cruz”. O fato de o Senhor Se humilhar foi um passo
além em relação a Se esvaziar. Humilhar-Se
manifesta Seu esvaziar-Se. Ele foi obediente até a
morte, e morte de cruz. A morte do Senhor na cruz foi
o clímax de Sua humilhação. Para os judeus a morte
na cruz era urna maldição (Dt 21:22-23), e para os
gentios era urna sentença de morte imposta a
malfeitores e escravos (Mt 27:16-17, 20-23). Portanto,
era algo vergonhoso (Hb 12:2).

Foi Exaltado e Recebeu o Nome que Está


acima de Todo Nome
Em Filipenses 2:9 Paulo diz: “Pelo que também
Deus o exaltou sobremaneira e lhe deu o nome que
está acima de todo nome”. O Senhor Se humilhou ao
máximo, mas Deus O exaltou ao ponto mais elevado.
Desde a ascensão do Senhor, não há na terra nome
mais elevado do que o de Jesus. A palavra de Paulo
nesse versículo acerca da exaltação do Senhor é
semelhante à que foi profetizada em Isaías 52:13.
Sem Registro de Genealogia ou Status
No Evangelho de Marcos não há registro da
genealogia do Senhor nem de Seu status. Visto que
Marcos apresenta o Salvador como Servo, ele não nos
relata Sua genealogia nem status, já que os ancestrais
de um servo não são dignos de nota.

Com o Registro Principalmente de Seus


Feitos Excelentes
O registro acerca de Cristo como Servo de Deus
no Evangelho de Marcos não é principalmente sobre
Suas palavras maravilhosas. Antes, é um registro dos
feitos excelentes do Senhor, que manifestaram tanto
Sua humanidade maravilhosa em virtude e perfeição
como Sua deidade em glória e honra. Precisamos ser
impressionados com o fato de que em Marcos vemos
um Servo com humanidade maravilhosa em virtude e
perfeição e com deidade em glória e honra.

O SALVADOR-SERVO DOS PECADORES


O Evangelho de Marcos apresenta o Senhor
Jesus como Servo de Deus e como Salvador-Servo dos
pecadores. Como tal, Ele serviu pecadores e por eles
deu a vida em resgate (10:45). Ao dar a vida em
resgate pelos pecadores, como Salvador-Servo, Ele
realizou o propósito eterno de Deus, a quem serviu
como Servo.
ESTUDO-VIDA DE MARCOS
MENSAGEM TRÊS
O PRINCÍPIO DO EVANGELHO E A INICIAÇÃO DO
SALVADOR-SERVO (1)

Leitura Bíblica: Mc 1:1-13


No Evangelho de Marcos, Cristo é apresentado
como o Salvador-Servo. Nesse Evangelho o
Salvador-Servo tem as características da humanidade
mesclada com a deidade. A humanidade do Senhor é
amável em virtude e perfeição, e Sua deidade é
magnificente em glória e honra. Ao ler o Evangelho
de Marcos podemos ver esses aspectos de Cristo. A
humanidade do Senhor é revelada em virtude e
perfeição e Sua deidade, em glória e honra.
Precisamos ser impressionados por esses aspectos do
Senhor. Assim, ao estudar Marcos, veremos que
maravilhoso Salvador-Servo é o Senhor. É o próprio
Deus que se fez servo para nos servir dando a vida em
resgate por nós.
Nesta mensagem abordaremos o princípio do
Evangelho e a iniciação do Salvador-Servo (1:1-13).
Marcos 1:1 diz: “Princípio do evangelho de Jesus
Cristo, Filho de Deus”. A palavra evangelho significa
boa notícia, boa-nova (Rm 10:15). O evangelho é o
serviço, o ministério, do Salvador-Servo como servo
de Deus para servir Seu povo. Mateus inicia com a
genealogia real do Rei, Cristo (Mt 1:1-17), Lucas com a
genealogia humana do Homem, Jesus (Lc 3:23-28), e
João, com a origem eterna do Filho de Deus (10
1:1-2). Marcos inicia com o princípio do evangelho, o
serviço de Jesus como humilde servo de Deus (Fp 2:7;
Mt 20:27-28), e não com a origem de Sua Pessoa.
Geralmente é o serviço, e não a pessoa de um servo,
que importa.

O EVANGELHO DE JESUS CRISTO


De acordo com Marcos 1:1, o evangelho é o
evangelho de Jesus Cristo, Filho de Deus. Esse
Evangelho é uma biografia do Salvador-Servo, que
era Deus encarnado como servo a fim de salvar os
pecadores. No título composto “Jesus Cristo, Filho de
Deus”, Jesus Cristo denota a humanidade do Senhor,
e Filho de Deus, Sua deidade. Tanto Sua humanidade
como Sua deidade foram adequadamente expressas
por Suas virtudes humanas e atributos divinos em
Seu ministério e mover para Seu serviço evangélico,
como relata o Evangelho de Marcos.
Embora reconheçamos que a palavra evangelho
significa boa-nova, precisamos considerar mais
profundamente o que na realidade é o evangelho.
Alguns dentre nós, que têm sido cristãos há anos,
talvez não percebam o que é o evangelho. O
evangelho é o cumprimento de todo o Antigo
Testamento. Assim, a fim de saber o que é o
evangelho, precisamos ler os trinta e nove livros do
Antigo Testamento e ser iluminados a respeito da
revelação dada ali.

A DISPENSAÇÃO NAS ESCRITURAS


Os mestres da Bíblia têm dito que nas Escrituras
há sete dispensações (alguns as reduzem a quatro),
que abrangem desde Gênesis 1 até Apocalipse 20. A
primeira delas é a dispensação da inocência, na qual
não havia pecado, e abrange apenas os dois primeiros
capítulos de Gênesis.
Após a dispensação da inocência, temos a
dispensação da consciência, que vai desde a queda do
homem, em Gênesis 3, até o dilúvio.
Depois da queda, a exigência era que o homem
vivesse de acordo com sua consciência. Mas, como o
homem fracassou nisso, a terceira dispensação (o
governo humano) veio substituir a segunda. Depois
do dilúvio, Deus exigiu que o homem se submetesse
ao controle do governo humano, porque havia
fracassado em viver de acordo com a consciência.
Nessa dispensação, diversas nações se formaram e
diversos governos se estabeleceram. Essa
dispensação também fracassou.
A quarta dispensação iniciou quando Deus
chamou Abraão da raça humana caída, corrupta e
rebelde. Ao chamá10, Deus lhe deu uma promessa.
Por isso, a quarta dispensação é conhecida como a
dispensação da promessa.
Vimos que as primeiras quatro dispensações
foram: inocência, consciência, governo humano e
promessa. Não era a intenção de Deus cumprir
imediatamente a promessa feita a Abraão. Assim,
enquanto a promessa não se cumpria, Deus decretou
a lei por meio de Moisés, com a intenção de que fosse
usada como aprisco para manter Seu povo sob
custódia a fim de que fosse preservado. A lei pode ser
comparada a um aprisco, onde as ovelhas estão
seguras durante a noite. A lei dada por meio de
Moisés era esse aprisco, a fim de guardar o povo
escolhido de Deus. Assim, a quinta dispensação é a
dispensação da lei.
Depois dela, Cristo veio. A respeito da vinda de
Cristo, João 1:17 diz: “Porque a lei foi dada por
intermédio de Moisés; a graça e a realidade vieram
por meio de Jesus Cristo”. Como a graça veio por
meio de Jesus Cristo, a sexta dispensação é chamada
de dispensação da graça.
A dispensação da graça irá durar até a segunda
vinda do Senhor, quando Ele estabelecerá o reino na
terra. O reino durará mil anos e esse período é
chamado de milênio. A sétima dispensação, portanto,
é a dispensação do reino.
Por meio dessas sete dispensações, Deus irá
cumprir plenamente Seu propósito. Depois do
milênio, tudo será renovado. Então haverá um novo
universo com novo céu e nova terra, com a Nova
Jerusalém como centro na eternidade. Na Nova
Jerusalém, Deus e Seus redimidos desfrutarão a vida
eterna.
Como mencionamos, alguns mestres da Bíblia
preferem dizer que nas Escrituras há quatro
dispensações principais. Romanos 5 diz que de Adão
até Moisés não havia lei. Esse longo período, que
inclui as dispensações da inocência, da consciência,
do governo humano e da promessa, pode ser
considerado como uma única dispensação, a
dispensação anterior à lei. Assim, de acordo com
esse entendimento, a segunda dispensação, que vai
desde Moisés até Cristo, é a dispensação da lei. A
terceira dispensação é a dispensação da graça, que
vai desde a primeira vinda de Cristo até Sua segunda
vinda. Finalmente temos a quarta dispensação, a
dispensação do reino, que vai desde a segunda vinda
do Senhor até o fim dos mil anos. Esse entendimento
das dispensações é fácil de lembrar. Nessa
abordagem há quatro dispensações: a dispensação
anterior à lei, a dispensação da lei, a dispensação da
graça e a dispensação do reino.

O CONTEÚDO DO ANTIGO TESTAMENTO


Dissemos que o evangelho é o cumprimento do
Antigo Testamento. Agora, precisamos perguntar
qual é o conteúdo do Antigo Testamento. Podemos
usar três palavras para expressá-lo: promessa, lei e
profecia.

As Promessas
A promessa certamente abrange as dispensações
da inocência, da consciência, do governo humano e
da promessa. Isso vai desde Adão até a lei ser dada a
Moisés. Gênesis, particularmente, é um livro sobre a
promessa de Deus.
Você se lembra qual foi a primeira promessa
dada por Deus em Gênesis? Está registrada em
Gênesis 3:15: “Porei inimizade entre ti e a mulher,
entre a tua descendência e o seu descendente. Este te
ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar”. Essa
promessa foi dada logo depois da queda do homem.
Provavelmente Adão e Eva temiam e tremiam devido
a sua desobediência, mas Deus lhes deu maravilhosa
promessa: o descendente da mulher viria para ferir a
cabeça da serpente. O calcanhar do descendente da
mulher iria ser ferido, mas ele mesmo iria esmagar a
cabeça da serpente. Que promessa grandiosa!
O evangelho é o cumprimento da promessa de
que o descendente da mulher iria esmagar a cabeça
da serpente. Sabemos que Cristo, o descendente da
mulher, veio. Ele nasceu de uma virgem, como
cumprimento da promessa em Gênesis 3:15. Esse é o
Salvador-Servo apresentado no Evangelho de
Marcos.
Outra promessa, também a respeito do
descendente, foi dada a Abraão. De acordo com
Gênesis 22:17 e 18 o Senhor prometeu a Abraão:
“Deveras te abençoarei e certamente multiplicarei a
tua descendência como as estrelas dos céus e como a
areia na praia do mar; a tua descendência possuirá a
cidade dos seus inimigos, nela serão benditas todas as
nações da terra, porquanto obedeceste à minha voz”.
Aqui temos a promessa de que a descendência de
Abraão seria grande bênção para toda a humanidade,
pois todas as nações seriam abençoadas por meio
dela.
Novamente, essa descendência se refere ao
Senhor Jesus.
A respeito disso Paulo disse em Gálatas 3:16:
“Ora, as promessas foram feitas a Abraão e ao seu
descendente. Não diz: E aos descendentes, como se
falando de muitos, porém como de um só: E ao teu
descendente, que é Cristo”. Cristo nasceu como
descendente de Abraão, na raça chamada, assim, era
a descendência de Abraão.
Como descendente da mulher, Cristo destruiu
Satanás e dessa forma solucionou o problema do
universo. O universo tem sofrido uma só perturbação:
a serpente. Na Bíblia podemos ver a linha ou o
desenvolvimento da serpente. Ela primeiramente
apareceu em Gênesis 3. Em Apocalipse 12:9,
chamada de “a antiga serpente”, ela se tornou um
grande dragão. Segundo o livro de Apocalipse, essa
serpente, o diabo, Satanás, será amarrada e lançada
no abismo durante o milênio (20:2-3), depois será
solta e se rebelará novamente. Então será lançada no
lago de fogo (v. 10).
O item crucial aqui é que o descendente da
mulher, prometido em Gênesis 3:15, visa a lidar com
essa serpente. Devemos proclamar isso ao pregar o
evangelho. Porém, raramente hoje os evangelistas
ressaltam que o descendente da mulher em Gênesis
3:15 visa a destruição da serpente.
Com respeito ao Senhor como descendente da
mulher para destruir a serpente, Hebreus 2:14 diz:
“Visto, pois, que os filhos têm participação comum de
carne e sangue, destes também ele, igualmente,
participou, para que, por sua morte, destruísse aquele
que tem o poder da morte, a saber, o diabo”. Em João
3:14 o Senhor disse que, assim como Moisés levantou
a serpente no deserto, assim o Filho do Homem seria
levantado. A serpente de bronze levantada por Moisés
representava o julgamento da antiga serpente.
Quando foi levantado na cruz, o Senhor a destruiu.
Assim, como descendente da mulher, o Senhor
cumpriu a destruição da serpente venenosa pela qual
a humanidade foi mordida e envenenada. Fomos
envenenados pela serpente, por isso sua natureza
serpentina foi injetada em nós. Mas o descendente da
mulher se tornou carne e sangue a fim de destruir
essa serpente por meio da morte na cruz. Essa parte
do evangelho é grandiosa.
Enquanto o descendente da mulher visa à
destruição da serpente, o descendente de Abraão visa
a que a bênção de Deus chegue a nós. O descendente
da mulher acaba com a serpente e o descendente de
Abraão traz a bênção do Deus Triúno. Em Gálatas
3:14 Paulo fala a respeito dessa bênção: “Para que a
bênção de Abraão chegasse aos gentios, em Jesus
Cristo, a fim de que recebêssemos, pela fé, o Espírito
prometido”. De acordo com esse versículo, a bênção é
o Espírito. Que é o Espírito? É a consumação do Deus
Triúno. Quando recebemos o Espírito, recebemos o
Deus Triúno e O temos como nossa bênção. Além
disso, essa bênção é nossa vida eterna. O Espírito é
igual ao Deus Triúno, o Deus Triúno é a vida eterna e
a vida eterna é a bênção que recebemos.
Agora podemos ver mais plenamente o que é o
evangelho; é o cumprimento de duas grandes
promessas: a promessa do descendente da mulher
para a destruição da serpente e a promessa do
descendente de Abraão para trazer a bênção do
Espírito, que é a consumação do Deus Triúno como
vida eterna, a fim de ser nossa bênção.

A Lei e os Profetas
Antes de essas promessas se terem cumprido,
Deus deu a lei a fim de manter o povo escolhido sob
custódia. No tempo em que o povo de Deus foi
mantido no aprisco da lei, Deus levantou profetas.
Isso significa que após as promessas temos a custódia
da lei e que, no período dessa custódia, Deus deu
profecias a fim de confirmar as promessas.
Já enfatizamos que em Gênesis 3:15 temos a
promessa a respeito do descendente da mulher. Em
Isaías 7:14 temos uma profecia que confirma essa
promessa: “Eis que a virgem conceberá e dará à luz
um filho e lhe chamará Emanuel”. Outras profecias
também são confirmações das promessas dadas por
Deus na dispensação da promessa.

O CUMPRIMENTO DAS PROMESSAS E


PROFECIAS E A REMOÇÃO DA LEI
Vimos que primeiro Deus deu promessas.
Depois, decretou a lei, para a preservação de Seu povo
escolhido e então enviou profetas que profetizassem a
fim de confirmar as promessas. Finalmente, veio
Aquele que fora prometido, o descendente da mulher
e descendente de Abraão. Não apenas veio, como
também teve Sua iniciação.
Aqui usamos a palavra “iniciação” não no sentido
de originar algo, mas de conduzir alguém a uma nova
esfera. Assim, em nosso uso particular, iniciação
equivale a inauguração, posse. Podemos usar a posse
de um presidente como ilustração. Após a eleição, o
presidente é conhecido como o presidente eleito.
Mais tarde, no dia da posse, ele é empossado no cargo
de presidente. Essa posse é sua iniciação na
presidência. Isso ilustra como o Senhor tem a
iniciação em Seu ministério.
O Senhor Jesus nasceu como descendente da
mulher e descendente de Abraão a fim de ser nosso
Salvador-Servo para destruir a serpente e trazer o
Deus Triúno como bênção de vida eterna. Mas aos
trinta anos era necessário que fosse iniciado no
ministério. Os sacerdotes do Antigo Testamento
tinham a iniciação no sacerdócio aos trinta anos.
Semelhantemente, o Senhor, também aos trinta anos,
teve a iniciação de Seu ministério. Assim, como
cumprimento das promessas e profecias do Antigo
Testamento, o Senhor Jesus nasceu como
descendente da mulher e descendente de Abraão e,
mais tarde, teve a iniciação no ministério.
Agora, abordadas essas questões, podemos dizer
que o evangelho é o cumprimento das promessas e
profecias e também a remoção da custódia da lei. Isso
significa que é o cumprimento das promessas e
profecias a respeito do descendente único,
descendente da mulher e descendente de Abraão. O
evangelho também cancela, anula e remove a
custódia da lei. Agora não somos mais dependentes
das promessas, da lei ou das profecias do Antigo
Testamento, pois chegou Cristo, o descendente único.
Esse descendente é o cumprimento de todas as
preciosas promessas. Nós O temos, por isso todas as
promessas são cumpridas. Como o cumprimento das
promessas, Ele também é o cumprimento das
profecias, dadas para confirmar as promessas. Além
disso, com Ele está a remoção da custódia da lei.
Assim, o singular descendente é o cumprimento das
promessas e profecias e a remoção da custódia da lei.
A vinda de Cristo representou o cumprimento
das promessas e profecias e o cancelamento da lei. A
lei foi removida e o povo escolhido de Deus não está
mais sob sua custódia. Ressaltamos que a lei pode ser
comparada a um aprisco, um lugar onde as ovelhas
passam a noite. Quando o dia amanhece elas podem
sair. Assim também, uma vez que Cristo veio como
cumprimento das promessas e profecias, não é mais
necessário que os escolhidos de Deus estejam debaixo
da custódia da lei. No sentido positivo a lei era uma
custódia, mas no sentido negativo era uma prisão,
uma escravidão. Mas agora alei já passou, juntamente
com as promessas e profecias. O descendente da
mulher destruiu a serpente e o descendente de
Abraão trouxe a bênção do Deus Triúno. Mais que
isso, também removeu a lei. Agora não estamos mais
na dispensação da lei, promessas ou profecias, pois
temos Cristo.
Se virmos isso, entenderemos o que aconteceu no
monte da transfiguração quando Pedro propôs que se
fizessem três tendas: uma para Moisés, uma para
Elias e uma para o Senhor Jesus. Essa sugestão era
uma ofensa aos céus. Por isso, Mateus 17:5 diz:
“Falava ele ainda, quando uma nuvem luminosa os
cobriu; e eis, vindo da nuvem, uma voz que dizia: Este
é o Meu Filho amado, em quem me comprazo; a Ele
ouvi”. Então o versículo 8 prossegue: “E, levantando
os olhos, a ninguém viram, senão só a Jesus”. Moisés
representava a lei e Elias, os profetas. Cristo, o
singular, é tudo. É o cumprimento das promessas e
profecias e também a remoção da lei. Isso significa
que Ele é o substituto pleno de todo o Antigo
Testamento. Isso é o evangelho, a boa-nova, a boa
notícia. Louvado seja o Senhor pelo evangelho!
Louvamos a Deus porque Cristo é o cumprimento das
promessas e profecias, e também a remoção da lei!
Se entendermos o que é o evangelho, veremos
que Tiago cometeu um grande deslize, em Atos 21 e
em sua epístola, ao levar os crentes de volta para a lei.
Por um lado, Tiago pregava a Cristo, por outro lado,
ainda mantinha os crentes debaixo da lei, no velho
aprisco, que Deus abandonara. Exatamente o item
que Deus havia removido, Tiago trouxe de volta.
Precisamos ser impressionados com o fato de que, no
evangelho, não temos mais a dispensação da lei, as
promessas e as profecias; em vez disso, temos o
cumprimento das promessas e profecias, e também a
remoção da lei.
Hoje, muitos cristãos têm apenas um
entendimento superficial das Escrituras. Eles podem
saber os termos da Bíblia, mas não tocam as
profundezas de suas riquezas. Vamos tomar a palavra
“evangelho” como exemplo. Em vez de entender essa
questão de modo superficial, precisamos ver que o
evangelho é o cumprimento de todas as promessas e
profecias, e também a remoção da lei. Por esse
motivo, os três discípulos no monte da
transfiguração, no fim, não viram ninguém, senão só
a Jesus. Eles não tinham mais as promessas, as
profecias nem a lei, mas tinham o Senhor Jesus como
descendente da mulher e descendente de Abraão. Ele
é o nosso Salvador-Servo e na, realidade, Ele mesmo
é o evangelho.

O CUMPRIMENTO DAS PREFIGURAÇÕES


O evangelho é também o cumprimento de algo
mais, é o cumprimento dos tipos, ou prefigurações,
do Antigo Testamento. Assim, no evangelho temos o
cumprimento das promessas, das profecias e dos
tipos.
Na palavra do Senhor em Gênesis 3:15 a respeito
do descendente da mulher temos uma promessa, mas
no fato de o Senhor ter feito roupas de peles e ter
vestido Adão e sua mulher temos um tipo, ou
prefiguração (Gn 3:21). O sacrifício de Abel, sacrifício
aceito por Deus, é outro tipo; o cordeiro oferecido por
Abraão em lugar de seu filho também. Outros tipos
do Antigo Testamento são: o cordeiro pascal, o maná
no deserto, a rocha fendida com as muitas águas
fluindo e o tabernáculo. Além disso, pessoas como
Davi e Salomão também são tipos. O evangelho é o
cumprimento desses tipos. João Batista, o precursor
do Senhor Jesus, apontou para Ele e disse: “Eis o
Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo!” (Jo
1:29). Assim, Cristo é o cumprimento da prefiguração
do cordeiro. Em João 1:14 temos esta palavra: “E o
Verbo tornou-se carne, e armou tabernáculo entre
nós”. Isso indica que Cristo é o cumprimento do
tabernáculo. O evangelho, então, não é apenas o
cumprimento das promessas e profecias, mas
também dos tipos. Além disso, o evangelho também é
a remoção da lei. Essa é uma definição completa do
evangelho.
ESTUDO-VIDA DE MARCOS
MENSAGEM QUATRO
O PRINCÍPIO DO EVANGELHO E A INICIAÇÃO DO
SALVADOR-SERVO (2)

Leitura Bíblica: Mc 1:1-13


Nesta mensagem continuaremos a considerar o
início do evangelho e a iniciação do Salvador-Servo

TÉRMINO E GERMINAÇÃO
Marcos 1:1 e 2 diz: “Princípio do evangelho de
Jesus Cristo, Filho de Deus. Conforme está escrito no
profeta Isaías: 'Eis que Eu envio diante da Tua face o
Meu mensageiro, o qual preparará o Teu caminho”'.
O princípio do evangelho do Salvador-Servo é até
mesmo escrito em Isaías acerca do ministério de João
Batista. Isso indica que a pregação que João fazia do
batismo de arrependimento também era parte do
evangelho de Senhor Jesus. Essa pregação pôs fim à
dispensação da lei e a substituiu com a dispensação
da graça. Portanto a dispensação da graça teve início
com o ministério de João antes do ministério do
Salvador-Servo.
O princípio do evangelho é o término da lei e a
germinação da graça. O princípio do evangelho pôs
fim à dispensação da lei e não 'só iniciou a da graça,
como também a germinou. Começar é algo exterior,
mas germinar é fazer ter um princípio interior de
vida.
O princípio do evangelho é o término de toda a
dispensação antiga, a da lei, porém, para que um
término seja chamado de princípio, ele deve ser
seguido de germinação. Essa germinação envolve a
injeção divina, e essa injeção foi a iniciação do
Salvador-Servo.

O MINISTÉRIO DE JOÃO BATISTA NO


DESERTO
Marcos 1:3 fala de uma “voz do que clama no
deserto”. O princípio do ministério do evangelho do
Salvador Servo foi apenas uma voz, e não um grande
movimento. Além disso, a pregação do evangelho do
Salvador-Servo não começou no centro da civilização,
mas no deserto, longe da influência da cultura
humana.
Foi segundo profecia que João Batista começou
seu ministério no deserto, o que indica que a
introdução da economia neotestamentária de Deus
não foi acidental, mas planejada e predita por Deus
mediante o profeta Isaías. Isso implica que Deus
queria que Sua economia neotestamentária
começasse de modo absolutamente novo. João
Batista não pregou no templo santo na cidade santa,
onde os religiosos e cultos adoravam a Deus segundo
as ordenanças das Escrituras, e sim no deserto, sem
guardar nenhum regulamento da antiga maneira.
Isso indica que a antiga maneira de adorar a Deus
segundo o Antigo Testamento fora repudiada, e uma
nova maneira seria produzida. O deserto é um lugar
sem cultura, religião ou coisa alguma da sociedade ou
civilização humana. O uso do termo “deserto” aqui
indica que a nova maneira da economia
neotestamentária de Deus é totalmente contrária a
religião e cultura humana.
O versículo 4 diz: “Apareceu João batizando no
deserto e pregando batismo de arrependimento para
perdão de pecados”. João nasceu sacerdote (Lc
1:8-13, 57-63); por isso, deveria ter um viver
sacerdotal no templo a fim de realizar o serviço
sacerdotal. Mas ele foi ao deserto e pregou o
evangelho, o que indica que a era do sacerdócio de
oferecer sacrifícios a Deus fora substituída pela era do
evangelho a fim de conduzir pecadores a Deus para
que Ele os ganhe e eles ganhem Deus.
Marcos 1:6 diz: “João se vestia de pêlos de
camelo, trazia um cinto de couro à cintura, e comia
gafanhotos e mel silvestre”. O modo de viver de João
quer dizer que sua vida e obra estavam totalmente
numa nova dispensação, e não eram segundo o modo
da antiga religião, cultura e tradição. Como sacerdote,
segundo os regulamentos da lei, João deveria usar
vestimenta sacerdotal, feita principalmente de linho
fino (Êx 28:4, 40-41; Lv 6:10; Ez 44:17-18). Também
deveria comer a comida dos sacerdotes, composta
principalmente da fina for de farinha e da carne dos
sacrifícios oferecidos a Deus pelo povo (Lv 2:1-3;
6:16-18, 25-26; 7:31-4). Entretanto, ele fazia o
contrário: vestia-se de pêlos de camelo, usava cinto
de couro e comia gafanhotos e mel silvestre. Esses
itens não são civilizados e cultos nem estão de acordo
com os regulamentos religiosos. Para um sacerdote,
usar pêlos de camelo era um golpe drástico na mente
religiosa, pois o camelo era considerado impuro nos
regulamentos levíticos (Lv 11:4). Além disso, João
não vivia em lugar civilizado, e sim no deserto (Lc
3:2). Tudo isso indica que ele havia abandonado
completamente a dispensação do Antigo Testamento,
a qual caíra numa espécie de religião misturada com
cultura humana. Seu comissionamento era introduzir
a economia neotestamentária de Deus, constituída
somente de Cristo e o Espírito da vida.

O BATISMO DE ARREPENDIMENTO
Como quem representava o término da antiga
dispensação com a antiga cultura e religião, João
Batista pregava batismo de arrependimento para
perdão de pecados. Arrepender-se é mudar de
parecer, de modo de pensar, voltando-a para o
Salvador-Servo; batizar é sepultar os arrependidos,
pondo fim a eles, para que o Salvador-Servo os faça
germinar por meio da regeneração (10 3:3, 5-6). O
termo grego traduzido por “para” nesse versículo [Mc
1:4], também quer dizer com “vistas a”. O
arrependimento com o batismo visa ao perdão de
pecados, resulta nesse perdão, para que o obstáculo
da queda do homem seja removido e o homem se
reconcilie com Deus.
Ao pregar, João Batista enfatizava o
arrependimento. Arrepender-se é mudar de parecer,
tirar a mente de tudo o que não é Deus, inclusive
cultura, religião, conhecimento, educação e vida
social, e voltá-la para Deus. Religião, cultura,
civilização, sociedade, conhecimento e educação
distraem as pessoas e as afastam de Deus. Agora que
a antiga dispensação passou, devemos
arrepender-nos e voltar a mente para Deus.
De acordo com o Evangelho de Marcos, João
Batista não ensinava aos que se arrependiam o que
deveriam fazer; antes, simplesmente os sepultava.
Esse sepultamento representa término. No deserto,
João pregava o arrependimento e terminação para
todos os que se arrependiam. Isso é parte do princípio
do evangelho de Jesus Cristo, o Filho de Deus.
O EVANGELHO DE JESUS CRISTO, O FILHO
DE DEUS
Marcos 1:1 fala do evangelho de Jesus Cristo, o
Filho de Deus. O termo “Jesus Cristo” denota a
humanidade do Senhor. O evangelho é de um homem
chamado Jesus Cristo, e esse Jesus Cristo é o filho de
Deus. Marcos 1:1 não diz “Jesus Cristo e o Filho de
Deus”; mas “Jesus Cristo, o Filho de Deus”, o que
indica que a expressão “Filho de Deus” é aposto de
“Jesus Cristo”. Isso quer dizer que Jesus Cristo é o
Filho de Deus e o Filho de Deus denota Jesus Cristo.
O título “Filho de Deus” denota a deidade do Senhor.
Por isso, o fato de o evangelho ser de Jesus Cristo, o
Filho de Deus, quer dizer que é de humanidade e de
deidade. Esse evangelho é pleno de humanidade e
também pleno da deidade. Esse título duplo usado
em relação ao evangelho revela que nele estão tanto
as virtudes humanas como os atributos divinos. Ele é
pleno da humanidade do Senhor em virtude e
perfeição e também pleno de Sua deidade em glória e
honra. Portanto, o evangelho é da humanidade plena
de virtude e perfeição e da deidade repleta de glória e
honra. Todos esses aspectos podem ser vistos nos
dezesseis capítulos do Evangelho de Marcos.

UM PONTO DE REFERÊNCIA
Se lermos os versículos 1 e 2 do capítulo um com
cuidado, veremos que o princípio do evangelho foi a
vinda de João Batista a pregar o batismo de
arrependimento para perdão de pecados. Quando
João saiu de modo não civilizado nem religioso,
anunciando arrependimento, esse foi o princípio do
evangelho. Como já vimos, o princípio do evangelho
envolve o término da dispensação da lei e a
germinação da dispensação da graça. A dispensação
da lei terminou com a vinda de João Batista e a da
graça começou também com ele.
Entre os teólogos há debate acerca do início da
dispensação da graça. Alguns dizem que começou no
dia de Pentecostes, e outros alegam que começou com
a crucificação e ressurreição de Cristo. Outros têm
ainda opiniões distintas. Segundo a Bíblia, o princípio
do evangelho, que é o princípio da dispensação da
graça, foi a saída de João Batista; por isso, a vinda
dele é um pondo de referência, um divisor de águas, e
o início da dispensação da graça.

O CAMINHO E AS VEREDAS
Marcos 1:2 indica que João Batista veio preparar
o caminho do Senhor e o versículo 3 diz: “Voz do que
clama no deserto: Preparai o caminho do Senhor,
endireitai as Suas veredas”. Nesses versículos temos o
caminho e as veredas. Preparar o caminho do Senhor
é mudar o parecer das pessoas; é fazê-las voltar o
pensamento para o Salvador-Servo e tornar o coração
delas reto, endireitando cada parte dele por meio do
arrependimento, para que o Salvador-Servo entre
nelas, seja sua vida e tome posse delas (Lc 1:17).
Precisamos entender a diferença entre caminho e
veredas. Preparar o caminho do Senhor é
arrepender-se. Já vimos que arrepender-se é mudar
de parecer, de modo de pensar. Mudar de parecer é
preparar o caminho para o Senhor entrar. Esse
caminho no versículo 3 refere-se à nossa mente.
Precisamos preparar o caminho, deixá-lo pronto para
o Senhor, por meio do arrependimento. João Batista
fez um excelente trabalho de preparação da mente
dos que se arrependiam para a entrada do Senhor.
As veredas são menores, são seções interiores de
nosso ser: pensamentos, gostos e preferências,
intenções, desejos, decisões. Se compararmos a
mente com uma rodovia, podemos comparar as
veredas com ruas e estradas secundárias. A rodovia e
todas as estradas de nosso ser devem ser preparadas
para o Senhor.
Como seres humanos não somos simples; pelo
contrário, somos interiormente muito complicados.
Considerem quantas “ruas” e “avenidas” temos em
nós. Considere também como a mente das pessoas
está distante de Deus e ocupada com filosofias e
culturas. Como Cristo pode, então, entrar nelas? Para
que Ele entre em alguém, o caminho e as veredas
interiores devem ser preparados.
O evangelho não é mera questão objetiva, pois é
na verdade o próprio Jesus Cristo como a
corporificação do Deus vivo. Como tal, o Senhor
espera que as pessoas se abram a Ele para que entre
nelas. Entretanto, elas têm a mente ocupada e cheia
de muitas coisas. Por isso os melhores evangelistas
são os que conseguem abrir caminho na mente delas
e assim prepará-lo para a entrada do Senhor. Se
pregarmos o evangelho adequadamente, por fim o
caminho será preparado para Cristo entrar nas
pessoas e ocupá-las.

OS QUE SE ARREPENDERAM FORAM


APRESENTADOS AO SALVADOR-SERVO
Marcos 1:5 diz: “Saíam a ter com ele toda a região
da Judéia e todos os habitantes de Jerusalém; e,
confessando os seus pecados, eram batizados por ele
no rio Jordão”. A Judéia era a região da cidade santa,
do templo santo e da cultura elevada; por isso, era
uma região honrada. Não obstante, o versículo 5 diz
que toda a região da Judéia e todos os habitantes de
Jerusalém saíam a ter com João Batista. Quando se
arrependiam por meio da pregação dele, ele os
imergia na água de morte a fim de sepultá-los, pôr
fim a eles. Desse modo ele os preparava para ser
ressuscitados pela germinação do Salvador-Servo
com o Espírito Santo, por meio da confissão dos
pecados.
Batizar alguém é imergi-lo, sepultá-lo na água.
Assim o batismo representa a morte. João Batista
batizava as pessoas para indicar que esses que se
arrependeram só serviam para o sepultamento. Esse
batismo também representa o término da velha
pessoa e indica que um novo começo pode ser
percebido na ressurreição por meio de Cristo, como
Aquele que dá vida. Portanto, depois do ministério de
João, Cristo veio. O batismo de João não somente
punha fim aos que se arrependiam, mas também os
apresentava a Cristo para obter vida. O batismo na
Bíblia implica morte e ressurreição. Ser batizado na
água é ser morto e sepultado, e sair da água significa
ser ressuscitado da morte.
Marcos 1:7 fala que João Batista “pregava,
dizendo: Depois de mim vem Aquele que é mais forte
do que eu, do qual não sou digno de, abaixando-me,
desatar-Lhe a correia das sandálias”. Embora ele
pregasse o batismo de arrependimento, a meta de seu
ministério era uma Pessoa maravilhosa, Jesus Cristo,
o Filho de Deus. João não fez de si mesmo o centro do
ministério; não tentou atrair os outros a si como um
ímã. Ele percebia que era apenas um mensageiro
enviado por Jeová dos Exércitos para conduzir as
pessoas ao Seu Filho Jesus Cristo e exaltá-Lo como o
alvo do seu ministério.
João Batista pregava arrependimento e batizava
os que se arrependiam. Por meio do batismo a velha
vida dos que se arrependiam tinha fim. Esse término
preparava o caminho e endireitava as veredas para o
Salvador-Servo entrar neles. Em seu ministério João
apresentava as pessoas ao Salvador-Servo. Por isso,
ele disse a elas que seu ministério não era para ele
mesmo, mas para outro, alguém maior, que viria. Ele
até disse que não era digno de, abaixando-se,
desatar-Lhe a correia das sandálias.

BATISMO NA ÁGUA E NO ESPÍRITO SANTO


De acordo com 1:8, João Batista disse: “Eu vos
tenho batizado em água; Ele, porém, vos batizará no
Espírito Santo”. A água representa morte e sepultura
para pôr fim aos que se arrependem. O Espírito Santo
é o Espírito da vida e ressurreição para fazer
germinar as pessoas que tiveram fim. A água é sinal
do ministério de arrependimento de João; o Espírito
é sinal do ministério de vida do Salvador-Servo. João
sepultava na água de morte os que se arrependiam; o
Salvador-Servo as ressuscitava para que obtivessem
regeneração no Espírito de Sua vida de ressurreição.
A água de morte, que indicava e representava a morte
todo-inclusiva de Cristo, na qual os Seus crentes são
batizados (Rm 6:3), sepultava não somente as
pessoas mas também seus pecados, o mundo e toda a
sua vida e história pregressa (assim como o Mar
Vermelho sepultou Faraó e o exército egípcio para os
filhos de Israel-Êx 14:26-28; 1Co 10:2), e os separava
do mundo abandonado por Deus e sua corrupção
(assim como o dilúvio separou Noé e sua família do
mundo e sua corrupção — 1Pe 3:20-21). O Espírito
Santo, no qual o Salvador-Servo batizou os que Nele
creram, é o Espírito de Cristo e o Espírito de Deus
(Rm 8:9). Portanto, ser batizado no Espírito Santo é
ser batizado em Cristo (013:27; Rm 6:3), no Deus
Triúno (Mt 28:19) e até mesmo no Corpo de Cristo
(1Co 12:13), que está unido a Cristo em um só Espírito
(1Co 6:17). É mediante esse batismo nessa água e
nesse Espírito que os crentes em Cristo são
regenerados e entram no reino de Deus, na esfera da
vida divina e do governo divino (10 3:3, 5), para que
vivam pela vida eterna de Deus em Seu reino eterno.

A INICIAÇÃO DO SALVADOR-SERVO
Batizado
Marcos 1:9 diz: “E aconteceu naqueles dias que
veio Jesus de Nazaré da Galiléia e foi batizado por
João no rio Jordão”. A Galiléia era chamada de
“Galiléia dos gentios”, uma região sem honra;
portanto, desprezada (10 7:52). Nazaré era uma
cidade desprezada dessa região desprezada (1:46). O
humilde Servo de Deus procedeu desse lugar e
cresceu nele.
Como Servo de Deus, o Salvador-Servo foi
batizado, o que representa que estava disposto a
servir a Deus e não o faria de modo natural, mas
serviria mediante a morte e a ressurreição. Esse
batismo foi a iniciação do Seu serviço.
O Senhor foi batizado a fim de permitir que Ele
mesmo fosse morto e ressuscitado para ministrar não
de modo natural, mas em ressurreição. Sendo
batizado, Ele viveu e ministrou em ressurreição
mesmo antes de Sua morte e ressurreição, que
ocorreram de fato três anos e meio depois.
Desde que o batismo de João era de
arrependimento, alguns podem imaginar por que era
necessário que o Senhor Jesus fosse batizado por ele.
Talvez digam: “Esse era um batismo de
arrependimento. Será que o Salvador-Servo precisava
arrepender-se? Certamente não!”. Se tivermos esse
conceito, não veremos o significado real do
arrependimento. Arrepender-se é pôr fim ao velho
pensamento, conceito, filosofia e maneira de fazer as
coisas. Portanto, arrepender-se não é mera
lamentação pelo que se fez de errado. Essa
compreensão de arrependimento é muito superficial.
Mesmo que alguém não erre, ainda precisa
arrepender-se, mudar de parecer e deixar de fazer as
coisas por si mesmo ou ser alguém em si mesmo.
Arrepender-se quer dizer que deixamos de viver,
trabalhar e existir em nós mesmos e para nós
mesmos. Se percebermos isso, veremos que a ida do
Senhor para ser batizado indica que Ele não queria
viver, agir, falar ou fazer a obra por Si mesmo. O
Senhor queria pôr fim a Si mesmo e ser sepultado.
Portanto, o batismo do Senhor indica que Ele não
queria viver, falar ou fazer nada por Si próprio, mas
viver, andar e ministrar por Deus. Ele queria ser um
Servo de Deus e para Deus. É por isso que foi
batizado. Seu batismo foi o primeiro passo da Sua
iniciação no serviço evangélico, que é o ministério do
evangelho.
Em I:10 e 11 está escrito acerca do Senhor Jesus:
“E imediatamente, ao subir da água, viu os céus se
rasgarem e o Espírito, como pomba, descendo sobre
Ele. E ouviu-se uma voz dos céus: Tu és o Meu Filho
amado, em Ti me comprazo”. Ao relatar a vida do
Salvador-Servo, Marcos não reflete o esplendor da
condição social de Sua pessoa, mas a diligência de
Seu serviço. Isso se nota pelo fato de o termo
imediatamente e seus sinônimos logo e no mesmo
instante serem usados quarenta e duas vezes neste
Evangelho (alguns manuscritos alternativos trazem
uma vez mais).
O fato de os céus se abrirem para o
Salvador-Servo demonstra que Sua oferta voluntária
de Si mesmo como Servo de Deus foi bem aceita por
Deus, e o fato de o Espírito como pomba descer sobre
Ele significa que Deus O ungiu com o Espírito para
Seu serviço a Ele (Lc 4:18-19) uma pomba é dócil e
seus olhos só conseguem ver uma coisa de cada vez.
Por isso, ela representa docilidade e singeleza no
olhar e no propósito. Pelo fato de o Espírito de Deus
descer sobre Ele como pomba, o Senhor Jesus
ministrou em gentileza e singeleza, com olhos apenas
para a vontade de Deus.
Nos versículos 10 e 11, temos o Deus Triúno.
Enquanto a descida do Espírito é a unção de Cristo, a
fala do Pai é um testemunho Dele como o Filho
amado. Aqui temos um quadro da Trindade divina: o
Filho subiu da água, o Espírito desceu sobre o Filho e
o Pai falou acerca do Filho. Isso prova que o Pai, o
Filho e o Espírito existem simultaneamente. Isso visa
ao cumprimento da economia divina.

Posto à Prova
Já vimos que o primeiro passo na iniciação do
Senhor no Seu ministério foi o batismo. Agora
precisamos ver também que o segundo passo foi o
fato de ser posto à prova. Depois de batizado, Ele
precisava ser posto à prova a fim de que Sua
integridade fosse testada.
A esse respeito, o versículo 12 diz: “E
imediatamente o Espírito O impeliu para o deserto”.
Após Deus aceitar e ungir o Salvador-Servo, a
primeira coisa que o Espírito fez com Ele foi
impeli-Lo ao deserto para pôr à prova Sua
integridade. o verbo impelir é enfático. Indica que,
depois do batismo, o Senhor estava totalmente sob a
mão de Deus. Visto que não vivia nem se movia por Si
só, o Espírito de Deus podia impeliLo ao deserto, e o
Senhor foi submisso a Ele. Se tivesse vontade forte
para resistir a isso, o Senhor não poderia ser impelido
pelo Espírito. Como o Jesus batizado era submisso, o
Espírito Santo pôde impeli-Lo para o deserto. Sua
submissão ao Espírito prova que Ele era
completamente fiel a Seu batismo. Para o Senhor, já
não era “eu” mas Deus.
O versículo 13 diz: “E esteve no deserto quarenta
dias, sendo tentado por Satanás; estava com as feras,
e os anjos O serviam”. O número quarenta representa
período de prova e sofrimento (Dt 9:9, 18:1Rs 19:8).
Satanás, o inimigo de Deus, foi usado para pôr à
prova o Servo de Deus. Os animais da terra, no
sentido negativo, e os anjos do céu, no sentido
positivo, também foram usados nessa prova. Louvado
seja o Senhor que passou na prova do deserto!
Por meio desses dois passos de Sua iniciação
(batismo e prova), o Senhor foi introduzido no
serviço. Depois de ser posto à prova e ficar provado
que Ele era a pessoa certa para levar a cabo esse
serviço, Ele podia então entrar no Seu serviço a Deus.
ESTUDO-VIDA DE MARCOS
MENSAGEM CINCO
O CONTEÚDO DO SERVIÇO EVANGÉLICO DO SALV
ADOR-SERVO (1)

Leitura Bíblica: Mc 1:14-45


Se você consultar o esboço do Evangelho de
Marcos impresso na Versão Restauração, verá que ele
é composto de seis sessões principais:1Jo princípio do
evangelho e a iniciação do Salvador-Servo (1:1-13); 2)
Seu ministério para a propagação do evangelho
(1:14-10:52); 3) Sua preparação para Seu serviço
redentor (11:1-14:42); 4) Sua morte e ressurreição
para o cumprimento da redenção de Deus
(14:43-16:18); 5) Sua ascensão para Sua exaltação
(16:19); e 6) a propagação universal de Seu evangelho
efetuada por meio de Seus discípulos (16:20). Nas
mensagens anteriores consideramos o princípio do
evangelho e a iniciação do Salvador-Servo. Nesta
começaremos a considerar Seu ministério para a
propagação do evangelho.
Vimos que o Salvador-Servo foi iniciado em Seu
ministério mediante dois passos: batismo e prova. De
1:14 a 10:52 Ele leva a cabo o ministério no qual fora
iniciado, um ministério que visa à propagação do
evangelho.
Na terceira mensagem deste Estudo-Vida vimos
que o evangelho é o cumprimento das promessas,
profecias e tipos do Antigo Testamento e a remoção
da lei. Esses itens todos são urna Pessoa viva, Jesus
Cristo. O próprio Cristo é o cumprimento e Ele
mesmo é a remoção da lei. Que, então, é o princípio
desse evangelho? O princípio do evangelho, na
realidade, é a introdução dessa Pessoa viva. Hoje
Cristo é tudo para nós. Desde que O tenhamos, temos
tudo. Não temos promessas, ternos Cristo. Não temos
profecias, temos Cristo. Não ternos tipos, ternos
Cristo. Não nos esforçamos para guardar a lei, porque
Cristo está aqui, e nós O temos. Em nosso dicionário
espiritual o único vocábulo é Cristo.
Agora que já vimos o que é o evangelho,
precisamos considerar o conteúdo do serviço
evangélico revelado em 1:14-45. De acordo com essa
seção de Marcos, o conteúdo do serviço evangélico
inclui cinco itens: pregar o evangelho (vs. 14-20),
ensinar a verdade (vs. 21-22), expulsar demônios (vs.
23-28), curar enfermos (vs. 29-39) e purificar os
leprosos (vs. 40-45). Simplificando, o conteúdo do
serviço evangélico do Salvador-Servo é pregar,
ensinar, expulsar demônios, curar e purificar.
Pode-se ler várias vezes 1:14-45 sem se perceber que
esses versículos retratam o conteúdo do serviço
evangélico. Agora vamos considerar o que 1:14-20
relata em relação à pregação do evangelho.

A PREGAÇÃO DO EVANGELHO Numa Região


Desprezada
Marcos 1:14 diz: “Depois de João ter sido preso,
foi Jesus para a Galiléia, pregando o evangelho de
Deus”. O aprisionamento de João era um sinal da
rejeição do evangelho, especialmente na região de
honra. Assim, o Salvador-Servo a deixou e voltou à
região desprezada, para Seu serviço evangélico.
Embora João Batista ministrasse no deserto e
não no templo santo e cidade santa, seu ministério
era na Judéia, próximo dos “itens santos”. Visto que
as pessoas rejeitaram João, o Senhor Jesus foi à
Galiléia a fim de iniciar o Seu serviço evangélico,
longe do templo santo e da cidade santa. Isso ocorreu
soberanamente para cumprir a profecia de Isaías
9:1-2. A Galiléia tinha população mista, tanto de
judeus como de gentios, por isso, era chamada de
“Galiléia dos gentios (ou, nações)” e era desprezada
pelos judeus ortodoxos (Jo 7:41, 52).
O serviço evangélico foi iniciado pelo ministério
do precursor do Salvador-Servo (1:1-11) na Judéia,
região de honra. Mas continuou pelo ministério do
Salvador-Servo na Galiléia, a região desprezada, por
aproximadamente três anos (1:14-9:50). Marcos não
narra nada a respeito do ministério do
Salvador-Servo em Jerusalém e Judéia nesse tempo,
como João o faz em seu evangelho (Jo 1:29-42;
2:13-3:36; 5:1-47; 7:10-11:57). Marcos não narra nada
do ministério do Salvador-Servo na Judéia até que
Ele deixou a Galiléia e foi para Jerusalém pela última
vez (10:1), a fim de cumprir a obra de redenção. A
seguir o serviço evangélico continuou mediante Seu
ministério no caminho para Jerusalém, em Jerusalém
e arredores (10:1-14:42). Foi concluído com Sua
morte redentora, ressurreição que infunde vida,
ascensão para exaltação e continuidade do serviço
evangélico, pela pregação dos discípulos a toda a
criação (14:43-16:20). Mas o apóstolo João em seu
evangelho narra eventos em Jerusalém e na Judéia
antes de Marcos 10, não incluídos em Marcos (ver Jo
1:29-42; 2:13-36; 5:1-47; 7:10-11:57).
De acordo com Marcos 1:14, Jesus foi à Galiléia
pregando o evangelho de Deus. A pregação do
Salvador-Servo visava anunciar as boas novas de
Deus ao povo miserável em escravidão. Seu
ensinamento (vs. 21-22) visava iluminar os
ignorantes em trevas com a luz divina da verdade.
Sua pregação implicava ensinamento, e Seu
ensinamento implicava pregação (Mt 4.:23). Essa foi
a primeira coisa que Ele fez em Seu ministério, e era a
estrutura todo-abrangente do Seu serviço evangélico
(Mc 1:38-39; 3:14; 6:12; 14:9; 16:15, 20).

Desenvolver a Habilidade de Pregar o


Evangelho
O primeiro item do serviço evangélico do
Salvador-Servo foi pregar o evangelho. Já
ressaltamos que Sua pregação sempre implicava
ensino e Seu ensino implicava pregação. Isso nos
mostra algo importante em relação à pregação do
evangelho hoje. Muitos têm encargo de pregar o
evangelho. Realmente desejam pregá-lo aos parentes,
vizinhos, amigos, colegas de escola e de trabalho. Mas
muitos tiveram a experiência de não saber o que dizer
quando tentaram pregá10. A razão disso é que,
embora tenham encargo, não desenvolveram a
habilidade de pregá-lo. Se não soubermos ensinar,
também não seremos capazes de pregar eficazmente.
A pregação do evangelho depende do ensino.
Encorajo todos os irmãos que são fiéis ao Senhor
em Sua restauração a aprender não apenas a pregar o
evangelho, mas também a ensiná-la. Por exemplo, ao
falar de Deus, alguém pode dizer: “Amigos, no
universo há apenas um Deus verdadeiro. Além Dele
não há outro. Quem disser que é Deus é falso. O
verdadeiro Deus é o Deus que adoramos”. Essa
maneira de falar a respeito de Deus é muito limitada.
Nessa pregação não se ensina aos outros a respeito de
Deus. Uso isso como exemplo da necessidade de
desenvolver tanto a habilidade de ensinar como a de
pregar o evangelho. Assim, encorajo os presbíteros
nas igrejas a despender muito tempo e energia para
se aprofundar na Palavra e ajudar os irmãos a
aprender as diversas verdades do evangelho e
também aprender a apresentá-las aos outros.
Primeiro, todos os irmãos precisam eles mesmos
aprender as verdades. Então, precisam desenvolver a
habilidade de apresentá-las aos outros.
As reuniões das igrejas devem ser
todo-inclusivas. Espiritualmente falando, a igreja é
lar, restaurante, hospital, hotel, ginásio de esportes e
também escola. Quanto à necessidade de desenvolver
a habilidade de ensinar o evangelho, certas reuniões
da igreja devem ser como aula de instrução. Nelas os
irmãos podem ser ajudados a conhecer a verdade e
apresentá-la.
Quanto a essa necessidade, gostaria de dizer uma
palavra aos presbíteros. É muito difícil ser presbítero,
porque deve ser capaz de fazer várias coisas
diferentes. Como a igreja é um lar, o presbítero deve
saber criar filhos espirituais. Como ela é um
restaurante, ele deve saber preparar comida
espiritual nutritiva para os irmãos. Como é um
hospital, ele deve aprender a cuidar dos irmãos como
médico espiritual. Como é um hotel, ele deve
aprender a servir os santos. Como é um ginásio de
esportes, ele deve saber a ser técnico, treinando os
membros do “time” no exercício espiritual coletivo.
Como ela também é escola, ele deve saber ensinar os
santos. Esse ensino se dá em diferentes níveis: jardim
da infância, primeiro grau, segundo grau, faculdade e
até mesmo pós-graduação. O presbítero deve ser
capaz de ensinar itens espirituais aos santos em todos
esses níveis. Embora a responsabilidade dele a
respeito de todos esses itens seja extremamente
pesada, pela misericórdia do Senhor o presbítero
precisa aprender a fazê-los.
O caminho da restauração do Senhor é estreito,
por isso, não esperamos que grande número de
pessoas o tome. Porém, se o número atual de irmãos
na restauração do Senhor for adequadamente
treinado, então todos serão capazes de apresentar a
verdade no viver diário na escola, no trabalho e na
vizinhança. Onde quer que estejam, irão pregar
ensinando e ensinar pregando. Se pregar dessa
maneira, a pregação surtirá efeito.
Muito da nossa pregação do evangelho não tem
sido eficaz nem frutífera. A razão disso é que a
pregação de alguns carece de conteúdo. Ao falar com
outros precisamos ter algo rico para lhes apresentar.
Por exemplo, certamente não é adequado dar a
alguém um copo com somente algumas gotas de
água. Mas deveria dar-lhe um copo bem cheio. Isso é
uma ilustração de como precisamos estar cheios das
riquezas divinas, de modo que, sempre que formos
falar com os outros, possamos suprir-lhes essas
riquezas.
Suponha que você encontre alguém que diga que
a Igreja é herética ou é uma seita. Em vez de negar
tudo isso, você deve aproveitar a oportunidade para
lhe dar um “diamante” da verdade. Por exemplo, você
pode falar-lhe a respeito da promessa feita por Deus
em Gênesis 3:15 de que o descendente da mulher
esmagaria a cabeça da serpente. Então, pode
prosseguir, dizendo que o Senhor Jesus, como o
descendente da mulher, é o cumprimento dessa
promessa, e que na cruz Ele esmagou a cabeça de
Satanás, destruindo assim o inimigo de Deus.
Quando tiver outra oportunidade, você pode
compartilhar outro aspecto da verdade com essa
pessoa. Talvez, então, após algum tempo, ela expresse
o desejo de ir a uma reunião com você. A maneira
correta de lidar com os que nos acusam de ser
heréticos ou uma seita é compartilhar com eles as
preciosas verdades da Palavra de Deus.
Embora tenhamos as riquezas, muitos não
sabemos apresentá-las aos outros. Não temos
intenção de vendê-las, queremos dá-las, mas
podemos não saber fazê-lo. Se você for discutir com a
pessoa, negando a falsa acusação de que somos uma
seita, provavelmente não poderá dar-lhe nenhum
“diamante”. Em vez de discutir com os outros
devemos dar-lhes uni. diamante após o outro.
Percebo que muitos santos amam os
treinamentos e desfrutam as mensagens de
estudos-vida. Mas talvez os irmãos tenham apenas
uma idéia geral do que está contido nelas. O
verdadeiro conteúdo das mensagens pode não ter
sido constituído neles. Vamos usar novamente o
exemplo da promessa em Gênesis 3:15. Se estivermos
constituídos, seremos capazes de apresentar aos
outros numa conversa breve, como no intervalo de
cinco minutos no trabalho, a verdade a respeito do
descendente da mulher.
Atualmente [1983] há cerca de sete mil e
quinhentos irmãos na restauração do Senhor nos
Estados Unidos. Embora esse número, na realidade,
seja bastante pequeno, considere qual seria o efeito se
todos os santos fossem treinados para apresentar a
verdade dia a dia. Creio que após alguns anos haveria
grande impacto em todo o país. Assim, embora
tenhamos encargo de pregar o evangelho, precisamos
da habilidade adequada para ensinar a verdade. Em
nossa pregação deve haver ensino.

A Necessidade tanto de Pregação como de


Ensino
Segundo o mesmo princípio, quando ensinamos
a verdade, também devemos pregar. Não devemos
ensinar na forma de letras mortas. Isso quer dizer que
nosso ensino deve ser vivo, e não o ensino de mera
doutrina. Por exemplo, se estudarmos que Cristo
nasceu de uma virgem somente de forma doutrinária,
esse estudo terá efeito mortífero, primeiro em nós e
depois também nos outros. Em nosso ensino
devemos ter uma pregação viva. Sempre que
ensinarmos aos outros um versículo da Bíblia,
também devemos pregar a eles. Em nosso ensino da
santa Palavra o evangelho deve fluir. Essa foi a
prática do Senhor no Evangelho de Marcos. Sempre
que pregava, Ele ensinava; e sempre que ensinava,
pregava. Essa combinação de ensino e pregação é
maravilhosa.
Os seres humanos caídos precisam ouvir tanto a
pregação como o ensino do evangelho. Que terrível
ignorância há, entre as pessoas caídas, a respeito de
Deus e das coisas divinas! Embora nossa sociedade
enfatize a importância da educação, as pessoas ainda
não conhecem as verdades divinas. Não conhecem a
Deus, não sabem o sentido da vida humana nem de
onde vieram ou para onde vão. Em vez disso, em sua
ignorância, preocupam-se com os desejos da carne e
prazeres do mundo. Por isso, as pessoas hoje
necessitam do ensino adequado da Palavra de Deus, o
ensino que irá iluminá-las.
Como Servo servindo a Deus, o Senhor Jesus
pregava o evangelho e ensinava a verdade aos
ignorantes em trevas. A igreja como continuação do
Senhor, como Seu aumento e expansão, deve fazer a
mesma coisa hoje: pregar o evangelho e ensinar a
verdade às pessoas caídas nas trevas. Espero que
todos os irmãos na restauração do Senhor se tornem
bons pregadores do evangelho e mestres da Bíblia.
Se todos nos tornarmos bons pregadores e
mestres, o Senhor terá como apressar Sua volta. A
situação atual não permite que o Senhor volte, pois
nada está pronto para isso. Portanto, precisamos ser
fiéis em seguir Seus passos em pregar o evangelho e
ensinar a verdade. Ele era um bom pregador e
mestre, e precisamos aprender Dele a ser bons
pregadores e mestres. A respeito disso, espero
principalmente que os jovens sejam fiéis ao Senhor
em Sua restauração. Jovens, há um longo caminho a
sua frente, por isso eu os encorajo a ser fiéis na
restauração do Senhor quanto a pregar o evangelho e
ensinar a verdade.

O EVANGELHO E O REINO
De acordo com 1:14, o Senhor pregava o
evangelho de Deus. Alguns manuscritos acrescentam
“do reino de” e assim falam do evangelho do reino de
Deus. O evangelho de Jesus, Cristo (v. 1) é o
evangelho de Deus (Rm 1:1) e o evangelho do reino de
Deus (ver Mt 4:23). Em 1:15 o Senhor Jesus disse: “O
tempo está cumprido, e o reino de Deus está próximo;
arrependei-vos e crede no evangelho”. O reino de
Deus é o governo e domínio divino com toda a sua
bênção e desfrute. É o objetivo do evangelho de Deus
e de Jesus Cristo (ver notas 32 e 263 no capítulo
quatro de Marcos — VR). A fim de entrar nesse reino,
as pessoas precisam arrepender-se dos pecados e crer
no evangelho, para que os pecados sejam perdoados e
elas sejam regeneradas por Deus para receber a vida
divina, vida que condiz com a natureza divina desse
reino (10 3:3, 5). Todos os crentes em Cristo podem
partilhar do reino na era da igreja para desfrutar
Deus em Sua justiça, paz e alegria no Espírito Santo
(Rm 14:17). Esse reino se tornará o reino de Cristo e
de Deus, que os crentes vencedores herdarão e
desfrutarão na era vindoura (1Co 6:9-10; GI5:21; Ef
5:5), para reinar com Cristo mil anos (Ap 20:4, 6).
Então, como reino eterno, será uma bênção eterna da
vida eterna de Deus, para o desfrute de todos os Seus
redimidos no novo céu e nova terra pela eternidade
(Ap 21:1-4; 22:1-5, 14, 17). Era esse reino de Deus que
estava próximo, no qual o evangelho do
Salvador-Servo introduziria Seus crentes. Com vistas
a esse reino, o Salvador-Servo disse às pessoas que se
arrependessem e cressem no evangelho. (Ver notas 33
em João 3, 281 em Hebreus 12, e 34 em Mateus 5 —
VR).

ARREPENDER-SE E CRER NO EVANGELHO


Como é usado em Marcos 1:15, o verbo
“arrepender-se” significa literalmente “passar a
pensar diferentemente”, isto é, mudar o modo de
pensar. Arrepender-se é mudar o modo de pensar,
sentindo pesar pelo passado e tomando novo rumo
para o futuro. Do lado negativo, arrepender-se diante
de Deus não é apenas arrepender-se dos pecados e
males cometidos, mas também do mundo e sua
corrupção, que usurpam e corrompem as pessoas que
Deus criou para Si, e ainda da vida pregressa longe de
Deus. Do lado positivo, arrepender-se é voltar-se para
Deus em todos os aspectos e em tudo, para o
cumprimento de Seu propósito ao criar o homem. É
“arrependimento para com Deus” e “arrepender-se e
converter-se a Deus” (At 20:21; 26:20).
Em Sua pregação o Senhor dizia às pessoas que
se arrependessem e cressem no evangelho. O
arrependimento ocorre principalmente na mente, e o
crer, principalmente no coração (Rm 10:9). Crer em
algo é ser introduzido naquilo em que se crê. Também
é receber interiormente aquilo em que se crê. Crer no
evangelho é primordialmente crer no Salvador-Servo
(At 16:31), e crer Nele (Jo 3:15-16) é entrar Nele e O
receber em nós (Jo 1:12), para nos unir
organicamente a Ele. Tal fé em Cristo (Gl 3:22) nos é
dada por Deus (Ef 2:8) quando ouvimos a palavra da
verdade do evangelho (Rm 10:17; Ef 1:13). Essa fé nos
introduz em todas as bênçãos do evangelho (GI3:14).
Assim sendo, é preciosa para nós (2Pe 1:1). Tal fé
preciosa deve ser precedida de arrependimento.
Crer é receber o Salvador-Servo não apenas para
perdão de pecados (At 10:43), mas também para
regeneração (1Pe 1:21, 23), a fim de que os que crêem
se tornem filhos de Deus (10 1:12-13) e membros de
Cristo (Ef 5:30) numa união orgânica com o Deus
Triúno (Mt 28:19).

O EVANGELHO DE JESUS CRISTO, O


EVANGELHO DE DEUS E O EVANGELHO DO
REINO DE DEUS
Em Marcos 1:15 o Senhor Jesus pregou
especificamente que devemos crer no evangelho. Esse
é o evangelho de Jesus Cristo, Filho de Deus (v. 1), o
evangelho de Deus e o evangelho do reino de Deus.
É o evangelho de Jesus Cristo, o Filho de Deus,
pois Ele é o seu conteúdo (Rm 1:2-4; Lc 2:10-11; 1Co
15:1-4; 2Tm 2:8) com todos os processos pelos quais
passou (como encarnação, crucificação, ressurreição
e ascensão) e toda a obra redentora que realizou.
É também o evangelho de Deus, visto que foi
planejado, prometido e cumprido por Deus (Ef 1:8-9;
At 2:23; Rm 1:2; 2Co 5:21; At 3:15) e é o poder de
Deus para a salvação de todos os crentes (Rm 1:16), a
fim de que se reconciliem com Deus (2Co 5:19) e
sejam regenerados por Ele (1Pe 1:3) para se tornar
Seus filhos (10 1:12-13; Rm 8:16) e desfrutar todas as
Suas riquezas e bênçãos como a herança (Ef 1:14).
É ainda o evangelho do reino de Deus, pois
introduz os crentes na esfera do governo divino, a fim
de que participem das bênçãos da vida divina no
reino divino (1Ts 2:12).
Assim o seu conteúdo é o mesmo que o do Novo
Testamento com todos os seus legados. Quando
cremos nesse evangelho, herdamos como porção
eterna o Deus Triúno com Sua redenção, Sua salvação
e Sua vida divina com suas riquezas.
ESTUDO-VIDA DE MARCOS
MENSAGEM SEIS
O CONTEÚDO DO SERVIÇO EVANGÉLICO DO
SALVADOR-SERVO (2)

Leitura Bíblica: Mc 1:14-45


As primeiras duas seções do Evangelho de
Marcos dizem respeito ao princípio do evangelho e
iniciação do Salvador-Servo (1:1-13) e Seu ministério
para a propagação do evangelho (1:14-10:52). Na
mensagem passada, começamos a falar sobre o
conteúdo do serviço evangélico revelado em 1:14-45.
Vimos que esse serviço inclui cinco questões: pregar o
evangelho (vs. 14-20), ensinar a verdade (vs. 21-22),
expulsar demônios (vs. 23-28), curar os enfermos (vs.
29-39) e purificar os leprosos (vs. 40-45). Visto que já
consideramos com alguns detalhes a pregação do
evangelho, vamos nesta mensagem abordar o
ensinamento da verdade, a expulsão de demônios, a
cura de enfermos e a purificação dos leprosos.

ENSINAR A VERDADE
Marcos 1:21-22 diz: “E entraram em Cafarnaum,
e, logo no sábado, indo Ele à sinagoga, pôs-se a
ensinar. E estavam atônitos com o Seu ensinamento,
porque os ensinava como quem tem autoridade, e não
como os escribas”. O versículo 2 1 fala da sinagoga,
um lugar de reuniões onde os judeus liam e
aprendiam as Sagradas Escrituras (Lc 4:16-17; At
13:14-l5).
Na sinagoga, o Senhor Jesus ensinou as pessoas
com autoridade. A queda do homem no pecado fez
romper sua comunhão com Deus, tornando todos os
homens ignorantes do conhecimento de Deus. Essa
ignorância resultou primeiramente em trevas e
depois em morte. O Salvador-Servo, como a luz do
mundo (10 8:12; 9:5), veio como grande luz para a
Galiléia, a terra de trevas, para resplandecer sobre os
que estavam sentados na sombra da morte (Mt
4:12-16). Seu ensinamento liberou a palavra da luz
para iluminar os que estavam nas trevas da morte,
para que recebessem a luz da vida (10 1:4). A segunda
coisa que o Servo de Deus realizou em Seu serviço,
como Salvador-Servo para os homens caídos, foi levar
a cabo esse ensinamento (2:13; 4:1; 6:2, 6, 30, 34;
10:1; 11:17; 12:35; 14:49) para tirar as pessoas das
trevas satânicas e introduzi-las na luz divina (At
26:18).
Foi pela soberania e providência divina que o
Senhor Jesus foi criado na região da Galiléia e
também começou a pregar e ensinar a partir da
Galiléia, e não da Judéia. De acordo com o relato
bíblico, a Galiléia não era apenas uma região
desprezada, mas também lugar de trevas. A esse
respeito, Mateus 4:15-16 diz: “Terra de Zebulom e
terra de Naftali, caminho do mar, além do Jordão,
Galiléia dos gentios: O povo que estava sentado em
trevas viu grande luz, e aos que estavam sentados na
região e sombra da morte, raiou-lhes a luz”. Isso
indica que quando o Senhor Jesus andava pela
Galiléia, ele era uma grande luz a brilhar nas trevas e
resplandecer sobre os que se sentavam na região e
sombra da morte. Especialmente o ensinamento do
Salvador-Servo era o brilho de grande luz. Cada
palavra que saía de Sua boca era iluminadora.
Portanto, enquanto ensinava às pessoas, a luz
brilhava sobre elas. Desse modo o povo em trevas foi
iluminado pelo ensinamento do Senhor.
De acordo com Marcos 1:22, os que estavam na
sinagoga ficaram atônitos com o ensinamento do
Senhor e diziam que Ele ensinava como quem tem
autoridade e não como os escribas. Os que a si
mesmos designavam escribas e por si mesmos
ensinavam conhecimento vão, não tinham nenhuma
autoridade nem poder; porém esse Servo autorizado
por Deus, que mediante Deus ensinava realidade,
tinha não somente poder espiritual para subjugar as
pessoas mas também autoridade divina para
submetê-las ao governo divino.

EXPULSAR DEMÔNIOS
Em 1:23-28, temos o caso da expulsão de
demônios. Um homem com espírito imundo bradou e
o Senhor Jesus o repreendeu, dizendo: “Cala-te, e sai
dele. Então o espírito imundo, convulsionando-o e
bradando em alta voz, saiu dele” (vs. 23-25). Esse
espírito imundo não era um anjo caído, mas um
demônio (vs. 32, 34, 39; Lc 4:33), espírito
desencarnado de um dos seres viventes que havia na
era pré-adâmica e foram julgados por Deus quando se
uniram à rebelião de Satanás (ver Estudo-vida de
Gênesis, Mens. Dois). Os anjos caídos operam com
Satanás nos ares (Ef 2:2; 6:11-12), e esses espíritos
imundos, os demônios, movem-se com ele na terra.
Ambos agem malignamente sobre o homem a favor
do reino de Satanás. A possessão demoníaca sobre as
pessoas representa a usurpação de Satanás sobre o
homem, que Deus criou para Seu propósito. A
terceira coisa que o Salvador-Servo, que veio destruir
as obras de Satanás (1Jo 3:8), fez como parte de Seu
serviço a Deus, foi expulsar esses demônios das
pessoas possessas (vs. 34, 39; 3:15; 6:7, 13; 16:17)
para que fossem libertas da escravidão de Satanás (Lc
13:16), tirando-as da autoridade das trevas de Satanás
(At 26:18; Cl 1:13) e introduzindo-as no reino de Deus
(v. 15). Cinco casos são registrados neste Evangelho
para ilustrar isso (vs. 23-27; 5:2-20; 7:25-30; 9:17-27;
16:9).
Marcos 1:27 diz: “Todos ficaram pasmados a
ponto de discutirem entre si, dizendo: Que é isso? Um
novo ensinamento! com autoridade Ele dá ordens até
aos espíritos imundos, e eles Lhe obedecem!”. Esse
versículo não fala do poder, e sim da autoridade do
Senhor para expulsar demônios. Para Seu serviço, o
Salvador-Servo tinha autoridade divina não somente
para ensinar as pessoas (v. 22) mas também para
expulsar demônios.
Muitos anos atrás, um missionário chamado Dr.
Nevius escreveu um livro que descrevia muitos casos
de possessão demoníaca na China. Em todo país
havia casos de possessão, e em seu livro ele dá os
detalhes. Hoje, num país culto e altamente civilizado
como os Estados Unidos, aparentemente não há mais
casos de possessão demoníaca. Entretanto, Satanás é
sutil e busca possuir as pessoas de outras formas. Em
sua sutileza, ele tem uma forma de possuir as pessoas
dos países altamente civilizados assim como em
países subdesenvolvidos. Portanto, mesmo hoje, na
maior nação culta do planeta, Satanás é capaz de usar
vários meios de possuir as pessoas. Por isso, em nossa
pregação do evangelho, devemos ter não somente o
ensinamento correto mas também a expulsão de
demônios, a expulsão das coisas usadas por Satanás
para possuir as pessoas. A fim de fazer isso,
precisamos aprender a orar para receber o poder,
mesmo a autoridade, de expulsar os elementos
possuidores. Uma vez que recebemos esse poder e
autoridade, então nossa pregação e ensinamento
sairão com o poder de expulsar os elementos
possuidores do inimigo.
Precisamos de poder para expulsar os elementos
satânicos usados pelo inimigo para possuir as pessoas
nos países modernos de hoje. Satanás, a serpente
sutil, é muito esperta e sabe possuir as pessoas com
meios modernos. Num país não civilizado, talvez use
meios incultos para possuir as pessoas, mas num país
moderno e culto ele usará meios modernos e cultos
para usurpá-las. Por exemplo, nas maiores faculdade
e universidades ele possuirá as pessoas com meios
intelectuais. Não podemos derrotar a possessão do
inimigo da humanidade simplesmente com pregação
e ensinos comuns a fim de expulsar os demônios de
hoje; em nosso ensino e pregação devemos ter
autoridade e poder divinos, que só podem ser
exercidos em o nome de Jesus. Por isso, precisamos
invocar o nome do Senhor e exercitar a autoridade
divina que há nesse nome e por meio dele. Se o
fizermos, então nossa pregação e ensino terão poder e
autoridade para expulsar os elementos possuidores
malignos do inimigo. A expulsão de demônios,
portanto, é o terceiro item do conteúdo do evangelho.

CURAR OS ENFERMOS
Em 1:29-39 vemos o Senhor curando enfermos.
O versículo 30 diz: “A sogra de Simão achava-se
acamada, com febre; e imediatamente Lhe falaram a
respeito dela”. Essa febre pode representar a índole
desenfreada de alguém, isto é, um temperamento
anormal e imoderado.
De acordo com o versículo 31, o Senhor foi até a
sogra de Simão, tomou-a pela mão, levantou-a e a
febre a deixou. Segundo o versículo 34: “Ele curou
muitos doentes de diversas enfermidades”. A
enfermidade resulta do pecado e é sinal da condição
anormal do homem diante de Deus por causa do
pecado. A quarta coisa que o Salvador-Servo fez para
resgatar os pecadores, como outro item do Seu
serviço evangélico, foi curar a condição física e
espiritualmente enferma deles e restaurá-los à
normalidade (v. 34; 3:10; 6:5, 13, 56) para que
pudessem servi-Lo. Nove casos são registrados neste
Evangelho para ilustrar essa cura (vs. 30-31, 40-45;
2:3-12; 3:1-5; 5:22-43; 7:32-37; 8:22-26; 10:46-52).
Hoje cada ser humano caído está enfermo,
muitos fisicamente e todos espiritualmente. Visto que
todos as pessoas caídas estão espiritualmente
doentes, nós nas igrejas temos de aprender a pregar o
evangelho e ensinar a verdade como médicos. Isso
quer dizer que em nossa pregação e ensino devemos
dar às pessoas uma receita médica espiritual, uma
prescrição divina para a cura delas. Todos os santos
entre nós devem aprender a pregar o evangelho e
ensinar a verdade dessa forma para que os outros
sejam curados. Enquanto ensinamos e pregamos,
devemos dar aos outros uma injeção espiritual para
que sejam curados.
Entre os irmãos no movimento pentecostal, há
muita ênfase nas curas miraculosas. Essa ênfase é na
cura do lado físico. Contudo, precisamos cuidar mais
da cura espiritual do que da cura física. Os irmãos da
igreja devem estar tão bem equipados que ao pregar e
ensinar dispensem remédio espiritual aos outros a
fim de que sejam curados espiritualmente.
De acordo com Marcos 1:32, ao cair da tarde, o
Senhor curou muitos que estavam doentes. Cedo na
manhã seguinte Ele se levantou e, “estando ainda
escuro, saiu e foi para um lugar deserto, e ali orava”.
O Senhor orava a fim de ter comunhão com Deus,
buscando a vontade e o prazer de Deus para Seu
serviço evangélico. O Salvador-Servo executou o
serviço evangélico não por Si mesmo, independente
de Deus e segundo a própria vontade, mas segundo a
vontade e prazer de Deus, sendo um com Ele para
cumprir o Seu propósito.
De acordo com o versículo 37, Simão e os que
estavam com ele disseram ao Senhor: “Todos Te
buscam”. O Senhor lhes disse: “Vamos a outros
lugares, às povoações vizinhas, a fim de que eu pregue
também ali, pois para isso é que eu saí” [v. 38]. Como
Servo de Deus, o Salvador-Servo O servia no Seu
evangelho para levar a cabo não a própria vontade ou
a proposta das pessoas, mas a vontade de Deus, que O
havia enviado (Jo 6:38; 4:34).

PURIFICAR OS LEPROSOS
Em 1:40-45 temos o caso da purificação de um
leproso.
O versículo 40 diz: “Veio a Ele um leproso
rogando-Lhe, e, pondo-se de joelhos, Lhe diz: Se
quiseres, podes purificar-me”. Um leproso retrata um
pecador típico. A lepra é a doença mais contagiosa e
nociva, muito mais séria do que a febre (v. 30),
fazendo com que sua vítima fique isolada de Deus e
dos homens. De acordo com os exemplos das
Escrituras, lepra resulta de rebelião e desobediência.
Miriã ficou leprosa por ter-se rebelado contra a
autoridade delegada de Deus (Nm 12:1-10). A lepra de
Naamã foi purificada por causa da sua obediência
(2Rs 5:1, 9-14). Todos os seres humanos caídos
tornaram-se leprosos aos olhos de Deus por causa da
sua rebelião. Visto que a lepra isolava suas vítimas
tanto de Deus como do homem, a purificação do
leproso representa a restauração do pecador à
comunhão com Deus e com os homens. Esse foi o
último item do serviço evangélico do Salvador-Servo
de acordo com o registro desse capítulo.
Marcos 1:41 e 42 diz: “E Jesus, compadecido,
estendeu a mão, tocou-o e disse-lhe: Quero, fica
limpo! E imediatamente foi-se-lhe a lepra, e ficou
limpo”. O Senhor Jesus ficou compadecido. A
compaixão e a disposição do Salvador-Servo,
resultantes do Seu amor, eram preciosas ao leproso
sem esperança. O 'Senhor estendeu a mão e o tocou.
Isso mostrou Sua comiseração e intimidade para com
o leproso miserável, a quem ninguém ousava tocar.
De acordo com o versículo 42, a lepra imediatamente
o deixou e ele ficou limpo. Esse versículo diz que o
leproso não somente foi curado, mas limpo. Como
doença, a lepra requer cura; como pecado (1Jo 1:7),
também requer purificação por causa da sua natureza
imunda e contaminadora.
Todos precisamos ser profundamente
impressionados com as cinco questões envolvidas no
serviço evangélico do Salvador-Servo: (1) pregar (vs.
14-15, 38-39), para anunciar as boas-novas às pessoas
miseráveis que estavam sob escravidão; (2) ensinar
(vs. 21-22), para iluminar com a luz divina da verdade
os ignorantes que estavam em trevas; (3) expulsar
demônios (vs. 25-26), para aniquilar a usurpação de
Satanás sobre o homem; (4) curar a condição
enferma do homem (vs. 30-31), para que ele possa
servir ao Salvador-Servo; e (5) purificar o leproso (vs.
41-42), para restaurar o pecador à comunhão com
Deus e com os homens. Que obra maravilhosa e
excelente!
Em nossa pregação do evangelho também
devemos exercer as funções de pregar, ensinar,
expulsar demônios, curar e purificar. Se nossa
pregação for fraca, alguns talvez sejam salvos, mas
não purificados. Talvez sejam salvos no sentido de
receber o perdão do pecado, mas não purificado da
natureza contaminadora do pecado. Por isso,
precisamos seriamente considerar o fato de essa
figura do serviço evangélico do Senhor concluir com a
purificação do leproso. O Senhor pregou, ensinou,
expulsou demônios, curou os doentes e por fim
purificou o leproso. Essa purificação é a consumação
máxima do conteúdo do serviço evangélico do
Senhor.
Após-purificar o leproso, o Senhor Jesus
recomendou energicamente: “Olha, não digas nada a
ninguém; mas vai, mostra-te ao sacerdote e oferece
pela tua purificação o que Moisés determinou, para
servir de testemunho a eles” [v. 44]. Essa ordem,
dada em todo o relato do serviço evangélico do
Salvador-Servo, é bem categórica (5:43; 7:36; 9:9). É
semelhante ao que foi profetizado em Is 42:2 com
relação ao Seu caráter quieto. Ele queria que Sua obra
fosse feita nos limites de um mover absolutamente de
acordo com o propósito de Deus e não promovido
pelo entusiasmo e divulgação do homem. Em todo o
Seu ministério, o Salvador-Servo, como Servo de
Deus, não gostava de notoriedade.
De acordo com 1:45, o que fora purificado não
cumpriu o que o Senhor lhe dissera; antes, “tendo
saído, começou a proclamar muito e a divulgar a
notícia, de modo que Jesus já não podia entrar
publicamente numa cidade, mas permanecia fora, em
lugares desertos; e de toda parte vinham ter com Ele”.
Aqui vemos que a atividade do homem, que é
segundo o conceito natural, estorva o serviço do
Salvador-Servo, que é segundo o propósito de Deus.
ESTUDO-VIDA DE MARCOS
MENSAGEM SETE
AS MANEIRAS PELAS QUAIS
O SALVADOR-SERVO LEVOU A CABO SEU SERVIÇO
EVANGÉLICO (1)

Leitura Bíblica: Mc 2:1-12

UM GRUPO DE CINCO CASOS


Em 1:14-45 vimos que o conteúdo do serviço
evangélico inclui cinco itens: pregar o evangelho (vs.
14-20), ensinar a verdade (vs. 21-22), expulsar
demônios (vs. 23-28), curar enfermos (vs. 29-39) e
purificar leprosos (vs. 40-45). Depois disso, em
2:1-3:6 vemos as maneiras de levar a cabo o serviço
evangélico. Nessa seção temos cinco casos: perdoar
os pecados do enfermo (2:1-12), comer com
pecadores (2:13-17), fazer seus seguidores se alegrar,
sem ter de jejuar (2:18-22), importar-se antes com a
fome de seus seguidores do que com os preceitos da
religião (2:23-28), importar-se antes com o alívio do
que sofre do que com os ritos da religião (3:1-6).
Esses cinco casos formam um único grupo.
É difícil fazer um esboço do Evangelho de
Marcos, pois um caso vem depois do outro, sem
ordem ou arranjo aparente. Por isso, podemos lê-lo
várias vezes e mesmo assim ser incapazes de fazer um
esboço dele ou dividi-lo em seções. Mas pela
misericórdia do Senhor creio que conseguimos fazer
um esboço útil, que nos ajuda a estudar todas as suas
seções. Segundo esse esboço, o capítulo um apresenta
todo o conteúdo do evangelho e no dois e primeira
parte do três vemos a maneira pela qual o Senhor leva
a cabo esse rico evangelho.
Os cinco incidentes vivamente relatados em
2:1-3:6 formam um grupo especial a mostrar a
maneira pela qual o Salvador-Servo, como Servo de
Deus, levou a cabo Seu serviço evangélico a fim de
cuidar da necessidade das pessoas caídas, capturadas
por Satanás, afastadas de Deus e de Seu desfrute. O
Senhor se preocupou com a necessidade deles para
que fossem resgatados do cativeiro e conduzidos de
volta ao desfrute divino.
Primeiro, o Senhor perdoou os pecados da vítima
da enfermidade. Como Deus, Ele tinha autoridade
divina para isso, a fim de libertá-la da opressão de
Satanás (At 10:38) e restaurá-la para Deus. Os
escribas consideraram isso contrário à teologia de sua
religião (2:1-12).
Segundo, como médico para os enfermos e
miseráveis, Ele comeu com cobradores de impostos
(desleais e infiéis para com os da própria raça) e
pecadores (desprezados e excluídos da sociedade),
para que provassem a misericórdia de Deus e fossem
restaurados ao desfrute divino. Isso foi condenado
pelos escribas dos fariseus, justos aos próprios olhos,
porém sem misericórdia (vs. 13-17).
Terceiro, qual noivo com Seus companheiros, Ele
fez que Seus seguidores se alegrassem e ficassem
contentes, sem que tivessem de jejuar. Assim, anulou
a prática dos discípulos de João (os novos fanáticos) e
dos fariseus (os antigos fanáticos), para que Seus
seguidores fossem libertados das práticas da religião
e introduzidos no desfrute do Cristo de Deus como
Noivo, tendo Sua justiça como veste exterior e Sua
vida como vinho interior, na economia
neotestamentária de Deus (vs. 18-22).
Quarto, Ele permitiu que Seus seguidores
colhessem espigas nas searas no sábado, para saciar a
fome. Assim, aparentemente, violaram o
mandamento de Deus com respeito ao sábado, mas,
na verdade, agradaram a Deus, pois sua fome foi
satisfeita por meio de Cristo, assim como a de Davi e
seus seguidores foi saciada com os pães da proposição
da casa de Deus. Isso indica que, na economia
neotestamentária de Deus, a questão não é guardar os
preceitos da religião, mas desfrutar satisfação em
Cristo e por meio de Cristo como o verdadeiro
descanso sabático (vs. 23-28).
Quinto, no sábado Ele curou um homem que
tinha uma das mãos ressequidas, não se importando
com a observância do sábado, e sim com a saúde de
Suas ovelhas. Assim, deu a entender que, na
economia neotestamentária de Deus, a questão não é
guardar preceitos, mas infundir vida. Por essa razão,
foi odiado pelos fariseus fanáticos (3:1-6).
Essas cinco maneiras demonstram a
misericórdia e o dinamismo com os quais o
Salvador-Servo levava a cabo o serviço evangélico.
Elas eram contrárias à religião formal e tradicional e,
portanto, abominadas pelos líderes religiosos carnais,
obstinados e sem vida.
Precisamos ser profundamente impressionados
com o fato de que o capítulo um de Marcos diz
respeito ao evangelho. Ele nos diz o que é o
evangelho, quando começou e qual é seu conteúdo. Aí
vemos a natureza, substância, essência, elemento,
conteúdo e realidade do evangelho. Creio que as
igrejas irão levar a cabo esse rico evangelho por meio
de seu serviço evangélico.
Tendo visto o conteúdo do serviço evangélico no
capítulo um, precisamos ver a maneira de levá-lo a
cabo em 2:1-3:6. É muito significativo que em Marcos
o Senhor Jesus não nos ensine com palavras como
devemos levar a cabo o serviço evangélico; antes, Ele
é retratado como Aquele que trabalha e serve, e não
como alguém que fala. Portanto, em Marcos, é
principalmente pela maneira de o Senhor agir, e não
pelas Suas palavras, que aprendemos a levar a cabo o
serviço evangélico.
Em 2:1-3:6 o Senhor não nos diz como levar a
cabo o serviço evangélico, mas faz as coisas, e dessa
forma, por meio dos cinco incidentes relatados nesse
trecho, mostra-nos como levar a cabo esse serviço.
Assim, se queremos saber como executar esse serviço,
precisamos considerar o que o Senhor fez ao perdoar
os pecados do enfermo, ao comer com pecadores, ao
fazer com que os Seus seguidores se alegrassem, sem
ter de jejuar, ao importar-se antes com a fome de
Seus seguidores do que com os preceitos da religião e
ao importar-se antes com o alívio do que sofre do que
com os ritos da religião.
Muitos leitores desfrutam as histórias do
Evangelho de Marcos. Podem tomar os cinco
incidentes relatados em 2:13:6 como meras histórias,
usadas em reuniões de crianças ou lidas na hora de
dormir. Sem dúvida, esses incidentes são ótimas
histórias. A Bíblia é um livro sagrado e contém as
melhores histórias. Mas não devemos satisfazer-nos
meramente em saber as histórias do Evangelho de
Marcos.
Como eu não estava satisfeito com esse
conhecimento, mas buscava o Senhor para ganhar luz
a respeito desse evangelho, Ele me mostrou que, em
Marcos 1, o evangelho é plenamente mostrado em
Seu serviço evangélico. Em nenhum outro capítulo da
Bíblia temos uma demonstração tão completa do
evangelho como no capítulo um de Marcos. Nem
mesmo nos escritos de Paulo podemos achar um
capítulo que nos dê demonstração tão detalhada e
completa do evangelho em sua natureza e conteúdo.
Contudo, precisamos ser iluminados para ver o que é
revelado aqui. Alguém pode memorizar esse capítulo
e mesmo assim não ter luz a seu respeito. Ou então
pode estudá-lo exaustivamente no grego, sabendo o
significado de cada palavra e mesmo assim não ter luz
a respeito do evangelho mostrado ali. Creio que, pela
misericórdia do Senhor, ganhamos visão clara do
evangelho mostrado nesse capítulo. Agora também
devemos ter visão clara da maneira pela qual o
Senhor leva a cabo o serviço evangélico, ou seja, visão
clara do que Ele pratica em Seu serviço. Vamos então
ver o primeiro incidente relacionado com isso: o
perdão de pecados do enfermo (2:1-12).

PERDOAR OS PECADOS DO ENFERMO

Um Pecador Paralisado pelo Pecado


Enquanto o Senhor estava numa casa em
Cafarnaum, falando aos que ali se haviam ajuntado,
trouxeram-Lhe um paralítico, carregado por quatro
homens (2:1-3). Esse paralítico representa um
pecador paralisado pelo pecado, alguém incapaz de
andar e se mover diante de Deus.
Marcos 2:4 diz: “E, não podendo trazê-lo a Ele,
por causa da multidão, descobriram o telhado onde
Ele estava e, tendo cavado uma abertura, baixaram o
leito em que jazia o paralítico”. O zelo deles em
buscar a cura do Salvador-Servo compeliu os que O
buscavam a transpor as barreiras convencionais, o
que pode ser considerado um ato impetuoso. Então,
através do telhado, baixaram o leito, um pequeno
colchão ou almofada, sobre o qual o enfermo estava
deitado.
O versículo 5 diz: “Vendo-lhes a fé, Jesus disse ao
paralítico: Filho, perdoados são os teus pecados”.
Essa fé, que resulta de se ouvir a palavra de Cristo
(Rm 10:17), indica que os que O buscavam haviam
ouvido o Salvador-Servo. Vendo-lhes a fé, o Senhor
chamou o paralítico de “filho”. Essa palavra amorosa
implica bondade; nisso, Sua virtude humana foi
expressa.
O Senhor disse ao paralítico: “Perdoados são os
teus pecados”. Os pecados eram a causa da
enfermidade. A palavra do Salvador-Servo tocou a
causa da enfermidade para produzir o efeito da cura.
Uma vez perdoados os pecados, a enfermidade foi
curada.
É importante e significativo que o primeiro
incidente nessa seção sobre levar a cabo o serviço
evangélico seja um caso do perdão de pecados de um
enfermo. Isso indica que ao levar a cabo o evangelho a
primeira coisa a ser feita é ajudar as pessoas a ter os
pecados perdoados.

Nosso Problema Básico


Como seres humanos caídos, nosso problema
básico é o pecado. Quando Deus criou o homem, ele
era puro, limpo e sem pecado. No final de Gênesis 1,
Deus olhou para a criação e disse: “Muito bom”. É
algo grandioso Deus dizer “muito bom”. O homem foi
criado à imagem e semelhança de Deus. Além disso,
Deus soprou o fôlego de vida no homem, que passou a
ser alma vivente (Gn 2:7). Esse fôlego de vida
tornou-se o espírito do homem nele. Assim, na
criação, o homem tem a imagem e a semelhança de
Deus e o espírito em seu interior. Como criatura, ele
era limpo, puro e completo. Mas, de acordo com
Gênesis 3, o maligno, o diabo, o inimigo de Deus, veio
envenená-lo. O homem foi “picado” pela serpente e o
pecado foi injetado em seu ser.
Todos os problemas humanos provêm do pecado.
Devido ao pecado, a situação do homem caído é sem
esperança. Todos foram corrompidos pelo pecado.
Você não crê que a humanidade, inclusive você, foi
corrompida? Não crê que sua vizinhança, cidade e
país foram corrompidos pelo pecado? Todo o mundo
foi corrompido pelo pecado. Portanto, ao levar a cabo
o serviço evangélico a primeira coisa a fazer é mostrar
às pessoas como ter os pecados perdoados. Visto que
todos os problemas da humanidade são resultado do
pecado, este deve ser resolvido a fim de que as
pessoas sejam restauradas para Deus.
Muitos entre nós podem testificar que no
passado nos esforçamos para ter boa educação a fim
de ter futuro promissor. Contudo, o problema do
pecado permanecia sem resolução e causava mais e
mais corrupção. Mas, no dia em que cremos no
Senhor Jesus e O recebemos, nossos pecados foram
perdoados.
Em Marcos 2:1-12 temos um caso que nos mostra
que a primeira tarefa executada pelo Senhor como o
Salvador-Servo ao realizar Seu serviço evangélico foi
perdoar pecados. Por isso Ele disse: “Filho,
perdoados são os teus pecados” (v. 5). Essa palavra
provavelmente foi um choque para o paralítico e para
os quatro que o levaram ao Senhor. Eles, sem dúvida,
nunca pensaram que a causa de sua enfermidade
fosse o pecado. Mas, para surpresa deles, o Senhor
disse ao paralítico que seus pecados foram
perdoados.

O Arrazoamento dos Escribas


De acordo com os versículos 6 e 7, quando os
escribas ouviram essa palavra, ficaram arrazoando no
coração: “Mas alguns dos escribas estavam
assentados ali e arrazoavam em seus corações: Por
que fala este assim? Ele blasfema! Quem pode
perdoar pecados, senão um só, que é Deus?”. Os
escribas e os fariseus, como fanáticos da velha e
morta religião, eram motivados e usados por Satanás,
o inimigo de Deus, para se opor e resistir ao serviço
evangélico do Servo de Deus e estorvá-Lo em todo o
Seu ministério (2:16, 24; 3:22; 7:5; 8:11; 9:14; 10:2;
11:27; 12:13, 28). Eles achavam que adoravam a Deus
e eram zelosos por Ele, não sabendo que o próprio
Deus de seus pais, o Deus de Abraão, Isaque e Jacó,
estava ali, diante deles, na forma de servo para
servi-los. Estavam cegados pela religião tradicional e
assim não podiam vê-Lo na economia divina, e
procuravam matá-Lo (3:6; 11:18; 14:1). Mais tarde
realmente O mataram (8:31; 10:33; 14:43, 53; 15:1,
31). Os escribas arrazoadores, que se consideravam
“bíblicos” e “teológicos”, reconheciam o
Salvador-Servo somente como homem, um nazareno
desprezível (10 1:45-46), não percebendo que quem
perdoou os pecados ao paralítico era o próprio Deus
perdoador, encarnado na forma de homem humilde.
Os escribas, supondo que conheciam as Escrituras,
pensavam que somente Deus tinha autoridade para
perdoar pecados e Jesus, que aos olhos deles era
apenas um homem, blasfemou de Deus quando disse:
“Perdoados são os teus pecados”. Isso nos mostra que
não perceberam que o Senhor era Deus. Ao
pronunciar tais palavras, eles O rejeitaram. Essa foi a
primeira rejeição por parte dos líderes da religião
judaica.
No coração os escribas acusavam o Senhor de
blasfemar de Deus. Pareciam dizer: “Quem é esse que
se considera capaz de perdoar pecados? Somente
Deus tem autoridade para isso. Esse homem é
nazareno. Como pode um nazareno desprezível
perdoar os pecados de alguém?”.
Os escribas não perceberam que o Senhor sabia o
que eles arrazoavam no coração. A respeito disso o
versículo 8 diz: “E Jesus percebendo imediatamente
em Seu espírito que eles assim arrazoavam dentro de
si, disse-lhes: Por que arrazoais sobre essas coisas em
vossos corações?
Literalmente a palavra grega traduzida como
perceber significa conhecer plenamente. O
Salvador-Servo conhecia a fé dos que O buscavam, os
pecados do enfermo (v. 5) e os arrazoamentos ocultos
dos escribas; isso indica que Ele era onisciente. Essa
onisciência, que manifestou Seu atributo divino,
desvendou Sua deidade, demonstrando que Ele é o
Deus onisciente.
Os escribas devem ter ficado chocados com a
palavra do Senhor. Talvez tenham pensado: “Nós não
dissemos nada. Como Ele sabe que estávamos
arrazoando no coração?”. o Senhor conhecia seus
arrazoamentos porque não era apenas um nazareno;
também era o Deus onisciente.
Um aspecto impressionante do Evangelho de
Marcos é apresentar o Senhor em semelhança de
homem e forma de servo. Os escribas não perceberam
que na humanidade desse Servo havia deidade. O
modo de agir do Senhor indicava que em Sua
humanidade havia deidade. Ele era um nazareno na
forma de servo, mas tinha onisciência. Por tê-la, Ele
sabia o que os escribas diziam no coração. Em vez de
discutir com eles, apenas relatou os fatos.

A Autoridade para Perdoar Pecados


Segundo o versículo 9, o Senhor prosseguiu
fazendo esta pergunta aos escribas: “Qual é mais fácil,
dizer ao paralítico: Perdoados são os teus pecados, ou
dizer: Levanta-te toma o teu leito e anda?”. Aqui o
Senhor não disse: “Qual é mais difícil?”, porque para
Ele nada é difícil. Para Ele, era mais fácil dizer:
“Perdoados são os teus pecados”, do que: “Levanta-te,
toma o teu leito e anda”.
Nos versículos 10 e 11 Ele diz: “Mas para que
saibais que o Filho do Homem tem sobre a terra
autoridade para perdoar pecados — disse ao
paralítico: A ti te digo: Levanta-te, toma o teu leito e
vai para tua casa”. O Salvador-Servo era o próprio
Deus encarnado. Como tal Ele não considerou o fato
de ser igual a Deus algo a que devesse aferrar-se. Por
fora, tinha a semelhança e a figura de homem, até
mesmo a forma de servo, mas, por dentro, era Deus
(Fp 2:6-7). Era o Salvador-Servo, e o Salvador-Deus
também. Portanto, não só possuía a habilidade de
salvar os pecadores mas também a autoridade para
perdoar-lhes os pecados. Nesse incidente, embora,
como Deus, perdoasse os pecados das pessoas, Ele
afirmou ser o Filho do Homem. Isso indica que era o
verdadeiro Deus e homem autêntico, que possuía
deidade e humanidade. Nele os homens podiam ver
tanto os atributos divinos como as virtudes humanas.
Esses versículos indicam que, para mostrar que
tinha autoridade para perdoar pecados, o Senhor
disse ao paralítico: “Levanta-te, toma o teu leito e vai
para tua casa”. Essa foi a cura do paralítico. A
salvação do Senhor não apenas perdoa os pecados,
como também nos leva a “levantar e andar”. Não é
primeiro levantar e andar e depois ser perdoado dos
pecados; isso seria por meio de obras. Mas é primeiro
ser perdoado dos pecados e depois levantar e andar;
isso é pela graça.
No versículo 12 temos uma palavra conclusiva a
respeito desse incidente: “E ele se levantou e, no
mesmo instante, tomando o leito, saiu diante de
todos, de modo que todos ficaram pasmados e
glorificaram a Deus, dizendo: Jamais vimos coisa
assim”. Esse é o cumprimento da palavra do
Salvador-Servo: “Levanta-te, toma o teu leito”. Foi
mais fácil dizer: “Perdoados são os teus pecados” do
que dizer: “Levanta-te, toma o teu leito e anda”. Já
que a última palavra foi cumprida, certamente a
primeira, a mais fácil, também o seria. Isso é uma
evidência incontestável de que o Salvador-Servo tem
autoridade para perdoar pecados na terra.
O paralítico se levantou, tomou o leito e saiu
diante de todos. O Senhor o capacitou não apenas a
caminhar mas também a tomar o leito e andar. Antes
o leito o carregava, agora ele carregava o leito. Esse é
o poder da salvação de Deus. Além disso, o paralítico
foi trazido ao Senhor por outros, mas foi para casa
por si próprio. Isso indica que não é que o pecador
possa vir ao Senhor, e sim que o pecador pode ir do
Senhor por meio da Sua salvação.

A Humanidade e a Deidade do
Salvador-Servo
Nesse incidente vemos tanto a humanidade
como a deidade do Salvador-Servo. Quando se referiu
ao paralítico como filho, o Senhor agiu de forma
muito humanitária. Ele se dirigiu a ele de maneira
íntima, cheia de bondade humana. Mas, quando disse
a ele que se levantasse, tomasse o leito e fosse para
casa, manifestou Sua deidade. Assim, a deidade do
Senhor foi manifestada em Sua humanidade. Sua
humanidade era cheia de virtude e Sua deidade era
cheia de autoridade. A glória do Senhor era a
expressão de Sua autoridade. A palavra do Senhor ao
enfermo, que se levantasse, pegasse o leito e fosse
para casa, não era um ensinamento, e sim uma
palavra de autoridade. Foi confirmada pelo fato de
que o paralítico então recebeu a habilidade, a energia
para se levantar, tomar o leito e andar. Todos os que
estavam ali reunidos viram a autoridade, a glória e a
honra do Senhor. Portanto, nesse caso vemos Sua
humanidade mostrada em virtude e perfeição e Sua
deidade manifestada em glória e honra.
Quando o paralítico tomou o leito e foi embora
andando, a boca dos opositores, os escribas e fariseus,
estava fechada. O Senhor lhes calou a boca com a
autoridade em Sua deidade e também pela bondade
em Sua humanidade. Vemos aqui um servo, porém,
Nele Deus é manifestado. Por ter visto a deidade do
Senhor manifestada em Sua humanidade, muitos O
seguiram.

AJUDAR OUTROS A TER OS PECADOS


PERDOADOS
Segundo o incidente em 2:1-12, a primeira coisa
que precisamos aprender na pregação do evangelho é
ajudar outros a ter os pecados perdoados. É
significativo que o Senhor não disse ao paralítico:
“Sinto muito que você esteja doente, mas quero que
saiba que essa enfermidade vem de pecado. Como
você está paralítico, deve ter cometido algum pecado.
Você sabe quais pecados cometeu”. Se o Senhor ti
vesse pregado assim, o paralítico poderia ter
discutido com Ele: “Não, sempre fui boa pessoa.
Tenho sido bom com os outros. Mas, de repente,
fiquei paralítico”. Devemos aprender com o Senhor
Jesus a não discutir com os outros a respeito de seus
pecados. Isso apenas os deixa irritados e os faz não
prestar atenção ao que temos para lhes dizer.
Devemos seguir o Senhor Jesus, dizendo-lhes que
seus pecados são perdoados. Naturalmente isso não
quer dizer que devamos literalmente repetir as
palavras: “Perdoados são os teus pecados”. O que
quero dizer é que devemos seguir o princípio visto
aqui.
Quando nos aproximamos das pessoas para
pregar o evangelho, devemos orar interiormente. Mas
não devemos deixá-las perceber isso. Então o Senhor
pode levar-nos a dizer algo como: “Queridos amigos,
apenas o Senhor Jesus, como o Filho de Deus e nosso
Redentor, tem autoridade, poder e habilidade para
perdoar nossos pecados”. Em vez de dizer “seus
pecados”, devemos dizer “nossos pecados”. O Senhor
podia dizer os “teus pecados” porque não era pecador.
Mas nós precisamos incluir-nos, pois sabemos que
também somos pecadores. Ou seja, não devemos
dizer as pessoas que elas são pecaminosas, mas
devemos dizer-lhes que somente o Senhor tem a
capacidade de perdoar os pecados. Podemos
acrescentar: “Em nossa vida humana, todos os
problemas e dificuldades vêm dos pecados.
Precisamos que sejam perdoados, e somente o
Senhor Jesus tem a autoridade para fazê-lo”.
Se apresentarmos o evangelho às pessoas da
maneira adequada, o Espírito Santo honrará nosso
falar. Assim, os que nos ouvirem ficarão
profundamente impressionados com a palavra de que
somente o Senhor Jesus pode perdoar os pecados.
Então o resultado será que essa palavra a respeito de
perdão será plantada neles como a semente do
evangelho.
Outra maneira de ajudar as pessoas a
experimentar o perdão dos pecados é ler Marcos
2:1-12 com elas de forma viva. Podemos tirar uma
versão de bolso do Evangelho de Marcos e lê-la de
maneira prevalecente, a fim de impressioná-las com o
fato de que apenas o Senhor Jesus pode perdoar os
pecados. Então podemos ajudá-las a ver que, como
resultado de ter os pecados perdoados, temos paz. De
acordo com a seqüência dos casos em 2:1-3:6, a
primeira forma de levar a cabo a pregação do
evangelho é ajudar as pessoas a ter os pecados
perdoados.
ESTUDO-VIDA DE MARCOS
MENSAGEM OITO
AS MANEIRAS PELAS QUAIS O SALVADOR-SERVO
LEVOU A CABO SEU SERVIÇO EVANGÉLICO (2)

Leitura Bíblica: Mc 2:13-17


Na mensagem anterior ressaltamos que em
2:1-3:6 são relatados cinco incidentes que demostram
como o Salvador-Servo, como Servo de Deus, levou a
cabo Seu serviço evangélico para cuidar das
necessidades das pessoas caídas: perdoou os pecados
dos enfermos (2:1-12), comeu com pecadores
(2:13-17), fez com que Seus seguidores se alegrassem,
sem ter de jejuar (2:18-22), importou-se antes com a
fome de Seus seguidores do que com os preceitos da
religião (2:23-28), e importou-se antes com o alívio
daquele que sofre do que com os ritos da religião
(3:1-6). Já consideramos o primeiro incidente, o do
perdão dos pecados dos enfermos. Nesta mensagem
vamos prosseguir, considerando o incidente do
Senhor comendo com pecadores.
Marcos 2:13 diz: “De novo saiu Jesus para junto
do mar, e toda a multidão vinha ter com Ele, e Ele os
ensinava”. Vimos que o Salvador-Servo, como a luz
do mundo (Jo 8:12; 9:5), foi à Galiléia, a terra das
trevas, onde as pessoas estavam sentadas na região e
sombra da morte, e foi como grande luz para brilhar
sobre eles (Mt 4:12-16). Seu ensinamento liberou a
palavra de luz para iluminar os que estavam nas
trevas de morte a fim de que recebessem a luz da vida
(101:4) e fossem resgatados das trevas satânicas para
a luz divina (At 26:18).
COMER COM PECADORES O Chamamento de
Mateus
Marcos 2:14 diz: “Quando ia passando, viu a
Levi, filho de Alfeu, sentado na coletoria, e disse-lhe:
Segue-Me. Ele se levantou e O seguiu”. A coletoria era
um telônio, lugar onde se recolhiam os impostos para
os romanos. Levi, também conhecido como Mateus,
era um dos cobradores de impostos, provavelmente
de alta posição (Mt 10:3). Os cobradores de impostos
eram condenados, desprezados e odiados pelos
judeus (Lc 18:11; Mt 5:46). A maioria deles abusava
de sua função exigindo mais do que era devido,
usando de falsas acusações (Lc 3:12-13; 19:2, 8).
Pagar impostos ao governo romano era algo muito
amargo para os judeus. Os que cobravam esses
impostos eram desprezados pelas pessoas e
considerados indignos de qualquer respeito (Lc
18:9-10). Por isso, eram classificados com os
pecadores (Mc 2:16). Embora Mateus fosse cobrador
de impostos, ele foi chamado pelo Salvador-Servo e
mais tarde escolhido e designado como um dos doze
apóstolos (3:18). Que misericórdia!
O relato do chamamento de Mateus é muito
simples. Ele era cobrador de impostos, alguém
considerado traidor pelos judeus, porque ajudava os
imperialistas romanos. No Novo Testamento esses
cobradores foram classificados com as prostitutas.
Contudo, um deles, Mateus, foi chamado pelo
Salvador-Servo. O Senhor simplesmente lhe disse:
“Segue-Me!”. Lemos então que Mateus se levantou e
O seguiu. Segundo o relato aqui, parece que essa foi a
primeira vez que o Senhor esteve com Mateus. Devia
haver algum poder de atração no Senhor, em Sua
palavra ou aparência, que fez com que Mateus O
seguisse.
Seguir o Senhor inclui crer Nele. Ninguém O
segue a não ser que creia Nele. Crer no Senhor é ser
salvo (At 16:31), e segui-Lo é entrar pela porta estreita
e andar no caminho apertado (Mt 7:13-14).
Esse não é o primeiro caso registrado no
Evangelho de Marcos do Senhor chamando pessoas
para segui-Lo. Em 1:16, Ele viu Simão e André que
lançavam rede ao mar. Então, lhes disse: “Vinde após
Mim, e Eu farei com que vos torneis pescadores de
homens. E eles, deixando imediatamente as redes, O
seguiram” (vs. 17-18). Logo em seguida, chamou
Tiago, filho de Zebedeu e João seu irmão, que
estavam num barco, consertando as redes (v. 19).
Quando Ele os chamou, eles deixaram seu pai
com os empregados e foram após Ele (v. 20). Temos
uma situação semelhante no capítulo dois. O Senhor
viu Levi, ou Mateus, na coletoria e lhe disse que O
seguisse, e Mateus simplesmente se levantou e O
seguiu. Sua atitude em resposta ao chamamento do
Salvador-Servo implica que ele abandonou seu
trabalho sujo e vida pecaminosa.

Os Doentes Precisam de Médico


O versículo 15 indica que Mateus não apenas
seguiu o Senhor, mas também preparou uma grande
festa para Ele: “E sucedeu estar Ele reclinado à mesa
na casa de Levi e reclinavam-se com Jesus e Seus
discípulos muitos cobradores de impostos e
pecadores; porque estes eram em grande número, e O
seguiam”. Mateus convidou muitos cobradores de
impostos e pecadores para essa festa. Se nós
tivéssemos sido convidados para essa festa,
provavelmente teríamos declinado do convite, não
querendo festejar com tais pessoas. Mas o Senhor
Jesus foi a essa festa. Se lermos o Evangelho de
Marcos com cuidado, perceberemos que os escribas
seguiam o Senhor como espiões aonde quer que Ele
fosse. O versículo 16 diz: “Os escribas dos fariseus,
vendo que Ele comia com os pecadores e cobradores
de impostos, perguntavam aos discípulos Dele: Por
que come Ele com os cobradores de impostos e
pecadores?”. Já vimos que esses escribas, como
fanáticos da velha e morta religião, eram motivados e
usados por Satanás, o inimigo de Deus, para se opor e
resistir ao serviço evangélico do Servo de Deus e
estorvá-Lo em todo o Seu ministério (2:16, 24; 3:22;
7:5; 8:11; 9:14; 10:2; 11:27; 12:13, 28). No versículo 16
os escribas consideravam-se justos ao condenar o
Salvador-Servo por comer com cobradores de
impostos e pecadores. As palavras dos escribas para
os discípulos do Senhor indicam que, ao se considerar
justos, eles não conheciam a graça de Deus. Julgavam
que Deus lida com o homem apenas de acordo com a
justiça. No versículo 16 os escribas continuaram com
a oposição que começou em 2:6-7.
Tendo ouvido o que os escribas disseram aos
discípulos, o Senhor lhes disse: “Os sãos não
precisam de médico, e, sim, os doentes; não vim
chamar justos, e, sim, pecadores” (v. 17). Essa palavra
indica que o Salvador-Servo considerava-Se como
médico para as pessoas que tinham a enfermidade do
pecado. Ao chamá-las para segui-Lo, o Senhor
ministrava como médico, e não como juiz. O
julgamento do juiz é de acordo com a justiça,
enquanto a cura do médico é de acordo com a
misericórdia e a graça. O Senhor veio ministrar como
médico, isto é, veio curar, restaurar, vivificar e salvar
as pessoas.
A palavra do Senhor de que os sãos não precisam
de médico mostra que os escribas, que se
consideravam justos, não perceberam que
necessitavam Dele como médico. Eles achavam que
eram sãos. Assim, cegados pela justiça própria, não
sabiam que estavam doentes.
No versículo 17 o Senhor disse que não veio
chamar justos, e sim pecadores. Isso indica que o
Salvador-Servo é o Salvador dos pecadores. Na
verdade, não há justo, nem um sequer (Rm 3:10). Os
que se consideram justos são hipócritas. O
Salvador-Servo não veio chamar esses 'justos”, mas
pecadores.
No versículo 17 o Senhor parece dizer aos
escribas: “Os sãos não precisam de médico. Os
doentes, no entanto, sabem que precisam. Vocês
escribas, são fortes ou são fracos? Doentes ou sãos?
São mais doentes do que esses cobradores de
impostos, mas não querem admiti-lo. Como não
admitem sua necessidade, eu não posso curá-los. Vim
como médico para curá-los, mas vocês não admitem
que estão doentes. Ademais, não vim chamar justos,
mas pecadores”.

A Alegria da Salvação
Nos dois casos relatados em 2:1-12 e 2:13-17 (os
incidentes do perdão de pecados dos enfermos e do
festejar com pecadores) vemos a melhor maneira de
levar a cabo o serviço evangélico. Ou seja, ajudar as
pessoas a ter os pecados perdoados a fim de entrar no
desfrute de Deus. Festejar com o Senhor Jesus é
desfrutar Deus com Ele.
Todos os pecadores perderam Deus e também o
desfrute de Deus. Eles foram levados cativos para
longe de Deus e Seu desfrute, tornando-se escravos
de Satanás. Todos são escravos debaixo da autoridade
de Satanás. Por ser tais escravos, eles não têm
desfrute nem paz. Ao levar a cabo o serviço
evangélico, o Senhor Jesus primeiro perdoa os
pecados e então nos introduz no desfrute de Deus.
Após ter sido salvo, você não experimentou
desfrute como numa festa? Se você foi salvo sem ter
tido essa festa, isso quer dizer que você não teve a
alegria da salvação de Deus. Nesse sentido sua
experiência de salvação não foi adequada, não foi
completa. A salvação completa inclui perdão dos
pecados e alegria que está em Deus. Essa alegria é o
desfrute de Deus, e esse desfrute é uma festa.
Ainda me lembro da alegria que provei quando
fui salvo. Embora eu tivesse nascido e sido criado
num lar cristão e educado em colégio cristão, só fui
salvo aos dezenove anos. Oh! que alegria tive no dia
em que fui salvo! Eu estava muito feliz e parecia que
tudo, tanto no céu como na terra, me eram
agradáveis. Esse era o desfrute de Deus, a alegria da
salvação. A alegria da salvação é uma festa. Quando a
temos, festejamos com o Senhor Jesus.
Muitos podemos testificar que quando nos
lembramos da experiência de salvação ainda
podemos provar da alegria que experimentamos
então. Depois de salvos e de descobrir que os nossos
pecados foram perdoados, houve alegria em nosso
interior. Considerávamos o Senhor Jesus como o
mais maravilhoso, e estávamos alegres com Ele e
festejando com Ele.
Essa alegria da salvação, o desfrute de Deus, é
prova categórica de que fomos conduzidos de volta a
Deus. A alegria da salvação testifica que já não
estamos longe de Deus, mas fomos trazidos de volta.
A maneira adequada de levar a cabo o serviço
evangélico é ajudar as pessoas a experimentar o
perdão dos pecados a fim de ter a alegria da salvação,
o desfrute de Deus.

TRÊS CASOS DE ENFERMIDADE


Até agora abordamos três casos de enfermidade
no Evangelho de Marcos. O primeiro foi o da sogra de
Pedro (1:30-31), a qual estava com febre.
Mencionamos que essa febre pode significar um
temperamento anormal e imo? erado. Marcos usa
uma mulher para ilustrar essa condição. E muito fácil
as mulheres aparecerem com essa “febre”, uma febre
que as deixa muito sensíveis. Para ajudar alguém que
tenha essa febre, nós mesmos devemos
primeiramente estar calmos e, então, gradualmente a
outra pessoa se acalmará.
O segundo caso de enfermidade nesse evangelho
é o do leproso (1:40-45), que representa um pecador
típico. Lepra, a doença que mais contamina, a mais
contagiosa e a mais destruidora, isola a pessoa tanto
de Deus como do homem. Faz com que a vítima perca
a comunhão com Deus e o homem. Assim, a
purificação do leproso em 1:40-45 significa a
restauração do pecador à comunhão com Deus e os
homens. O leproso não só precisava de cura como
também de purificação. O caso do leproso era muito
mais sério do que o da sogra de Pedro, pois ela não
necessitava de purificação; apenas de cura.
O terceiro caso de enfermidade no Evangelho de
Marcos é o do paralítico (2:1-12), um homem inválido
pela paralisia. O caso da sogra de Pedro e o do
paralítico indicam que os homens estão aleijados
devido ao pecado e que as mulheres têm febre devido
ao pecado. Em outras palavras, a mesma coisa que
deixa os homens inválidos, isto é, o pecado, também
faz com que as mulheres tenham febre alta. Portanto,
podemos dizer que as mulheres estão enfermas com
febre e os homens estão enfermos com paralisia,
aleijados. Além disso, tanto homens como mulheres
são leprosos que necessitam de purificação.
Esses três casos revelam que o Salvador-Servo
serve aos que estão doentes com febre, aos que estão
paralíticos e aos que são leprosos. O Senhor nos serve
com Sua autoridade que perdoa e com Seu poder de
purificação. Ele nos perdoa os pecados, purifica e traz
de volta para Deus. Ele restaura nossa comunhão com
Deus e o homem. Por causa Dele, os pecados vão
embora e temos Deus como tudo para nós. Agora
desfrutamos Deus como nossa vida, nossa luz, nosso
tudo. Estamos festejando com o Senhor. Esse é o
evangelho, e também é a maneira de levar a cabo o
serviço evangélico.
ESTUDO-VIDA DE MARCOS
MENSAGEM NOVE
AS MANEIRAS PELAS QUAIS O SALVADOR-SERVO
LEVOU A CABO SEU SERVIÇO EVANGÉLICO (3)

Leitura Bíblica: Mc 2:18-3:6


O Evangelho de Marcos não é um livro de
doutrina. Como biografia, ele foi escrito de acordo
com os fatos históricos. Portanto, seu relato é de
acordo com a seqüência histórica.

CINCO PALAVRAS-CHAVE Perdão


Vimos que os cinco incidentes relatados em
2:1-3:6 formam um grupo. Esses cinco incidentes são:
perdoar os pecados dos enfermos (2:1-12), comer com
pecadores (2:13-17), fazer que Seus seguidores se
alegrassem sem ter de jejuar (2:18-22), importar-se
antes com a fome de Seus seguidores do que com os
preceitos da religião (2:23-28) e importar-se antes
com o alívio do que sofre do que com os ritos da
religião (3:1-6). Cada um desses incidentes pode ser
resumido por uma palavra especial. A palavra para
resumir o primeiro incidente é perdão. Em 2:1-12
temos um caso em que o Filho do Homem, que era o
Deus compassivo encarnado na forma de Servo,
perdoa eis pecados. Em 2:5, o Senhor Jesus disse ao
paralítico: “Filho, perdoados são os teus pecados”.
Quando os escribas ouviram isso, arrazoaram no
coração: “Ele blasfema! Quem pode perdoar pecados,
senão um só, que é Deus?” (v. 7). Finalmente o
Senhor disse: “Mas para que saibais que o Filho do
Homem tem sobre a terra autoridade para perdoar
pecados — disse ao paralítico: A ti te digo: Levanta-te,
toma o teu leito e vai para tua casa” (vs. 10-11).
Mesmo estando na forma de servo, o Filho do
Homem tinha autoridade para perdoar pecados. Aqui
temos forte indício de que o Deus que perdoa estava
presente na forma desse Homem, alguém que era
servo. Assim, o primeiro dessa série de cinco
incidentes se refere ao perdão.

Desfrute
A palavra que descreve o segundo incidente é
desfrute. Nesse incidente relatado em 2:13-17, o
Salvador-Servo como médico festejava com
pecadores. Portanto, aqui temos o desfrute de festejar
com o Salvador. Os que festejaram com Ele
desfrutaram a bondade do Salvador-Servo, que é a
corporificação de Deus. Desse modo, na realidade o
que experimentaram foi o desfrute do próprio Deus.
Por isso, a palavra desfrute é um resumo desse
incidente.

Alegria
Podemos usar uma palavra muito simples para
descrever o terceiro incidente: alegria. Assim, nos
três primeiros incidentes temos: perdão, desfrute e
alegria.
De acordo com 2:18-22, alguns fatores básicos
devem existir para que estejamos alegres. O primeiro
é o Noivo: “Respondeu-lhes Jesus: Podem acaso
jejuar os companheiros do noivo enquanto o noivo
está com eles? Enquanto têm consigo o noivo, não
podem jejuar” (v. 19). A pessoa mais agradável que
existe é o noivo. Portanto, no capítulo dois de Marcos
o fator básico de nossa alegria é o Salvador como
Noivo.
Outros dois fatores da alegria são o pano novo (v.
21) e o vinho novo (v. 22). O pano novo é para fazer
roupas a fim de nos cobrir e embelezar. Pano novo
não é encolhido pois ainda não foi tratado ou
trabalhado, e é para fazer veste nova. Essa veste nova,
que na realidade é o próprio Cristo, nos cobre e
embeleza. O vinho novo nos satisfaz e alegra.
Exteriormente, temos o pano novo; interiormente, o
vinho novo. Além disso, estamos com o Noivo. Agora
temos esses fatores básicos para estar alegres.
Nenhum filósofo poderia proferir uma palavra
como a que foi falada pelo Senhor Jesus em 2:18-22.
Em Sua sabedoria, Ele usa coisas comuns como pano
e vinho para ilustrar itens maravilhosos. O Senhor
fala de noivo, pano novo e vinho novo a fim de nos
mostrar como podemos estar alegres. Podemos estar
alegres porque estamos com o Noivo, porque temos
veste nova para nos cobrir e embelezar, e vinho novo
para nos encher, satisfazer e alegrar muito. Assim, no
terceiro incidente temos alegria.

Satisfação
O quarto incidente, registrado em 2:23-28, é
aquele no qual o Senhor se importa antes com a fome
de Seus seguidores do que com os preceitos da
religião. Marcos 2:23-24 diz: “E aconteceu atravessar
Jesus, em dia de sábado, as searas, e os Seus
discípulos, enquanto iam, começaram a colher
espigas. Diziam-Lhe os fariseus: Vê! Por que fazem
aos sábados o que não é lícito?”. Aqui vemos que o
Salvador-Servo importou-se antes com a fome de
Seus seguidores do que com os preceitos da religião.
Visto que seguimos o Senhor, não estamos famintos,
e sim satisfeitos. Uma vez satisfeitos, podemos
testificar: “Não nos preocupamos em guardar os
preceitos religiosos e permanecer com fome. Os
preceitos religiosos sempre nos deixam com fome.
Mas, como seguidores do Salvador-Servo, não
estamos mais famintos. Cada dia da semana,
inclusive sábado, Ele nos dá de comer. Agora estamos
satisfeitos. Não nos importamos se os outros nos
condenam segundo seus preceitos religiosos. Os
outros podem importar-se com os preceitos
religiosos, mas nós nos importamos em estar
satisfeitos no Senhor”. Esse caso, portanto, pode ser
resumido pela palavra satisfação.

Liberdade
Liberdade é a palavra que melhor resume o
quinto incidente, em que o Salvador-Servo se importa
antes com o alívio do que sofre do que com os ritos da
religião (3:1-6). Nesse incidente vemos que, no
sábado, Ele restaurou a mão ressequida de um
homem. Ele não se importou com o rito da religião;
importou-se com o alívio do que sofria. Ele queria
aliviá-lo, libertá-lo. Portanto, nesse incidente temos a
liberdade.

A VERDADEIRA SEQÜÊNCIA HISTÓRICA


Vamos rever as cinco palavras usadas para
descrever esses cinco incidentes: perdão, desfrute,
alegria, satisfação e liberdade. Que seqüência
maravilhosa temos aqui! Imagine a diferença se
perdão viesse por último e não primeiro. De acordo
com a seqüência histórica registrada em Marcos,
primeiro temos o perdão e depois os demais itens. O
fato de o Senhor nos perdoar os pecados sempre
resulta em desfrute, alegria, satisfação e liberdade.
Podemos testificar isso pela nossa experiência.
Esses incidentes não foram arranjados por
Marcos a fim de apresentar uma doutrina, mas
segundo os fatos e a seqüência histórica. Em outras
palavras, aconteceram na seqüência em que Marcos
os colocou. Esses cinco casos aconteceram, debaixo
da soberania de Deus, de acordo com a verdadeira
seqüência do desfrute de Sua salvação. O primeiro
item é o perdão de pecados. Podemos testificar pela
nossa experiência da salvação do Senhor que, quando
temos o perdão de pecados, também temos desfrute e
alegria. Essa alegria é seguida de satisfação e
liberdade. Que maravilhoso!
Ao considerar a seqüência desses cinco
incidentes em Marcos, percebemos novamente que a
Bíblia de fato é a Palavra de Deus. Sem a inspiração
do Espírito Santo, nenhum ser humano poderia
compor um escrito como o de Marcos. Não creio que
Marcos tenha tido educação elevada ou conhecimento
abrangente do grego. Para ser exato, o grego no seu
Evangelho não é tão elevado como em Lucas ou nas
Epístolas de Paulo. Mas, embora a linguagem de
Marcos possa não ser especialmente esmerada, os
cinco incidentes nessa seção estão arranjados numa
seqüência maravilhosa, que corresponde totalmente à
nossa experiência da salvação do Senhor. De acordo
com essa seqüência temos: perdão, desfrute, alegria,
satisfação e liberdade.
Precisamos adorar o Senhor ao considerar o
relato de Marcos, porque realmente é parte de Sua
Palavra santa. Não é mera composição escrita por
alguém com instrução limitada. Não. É o sopro do
Deus soberano. Toda a Escritura, incluindo o
Evangelho de Marcos, é inspirada por Deus (2Tm
3:16). Isso significa que a narrativa 2:1-3:6 é soprada
por Deus. Para se lembrar dessa seqüência,
recomendo que você escreva as palavras perdão,
desfrute, alegria, satisfação e liberdade próximo a
essas seções na sua Bíblia.

O JEJUM DA RELIGIÃO
Agora vamos considerar 2:18-22 com mais
detalhes. Depois que o Senhor disse' aos escribas que
tinha vindo como médico para cuidar dos doentes,
dois grupos de discípulos (os de João e os dos
fariseus) vieram a Ele: “Os discípulos de João e os
fariseus estavam jejuando. Eles vieram e Lhe
perguntaram: Por que jejuam os discípulos de João e
os discípulos dos fariseus, mas os Teus discípulos não
jejuam?” (2:18). Os dois grupos de discípulos
praticavam o jejum. Isso indica que, se estamos na
religião, precisamos jejuar. Os que estão na religião
estão vazios e famintos; não têm nada que os
satisfaça. Ser discípulo em qualquer religião é ter
problemas, fome, sede, cansaço e ansiedade. Ao falar
isso, não estou criticando nada, estou apenas falando
a verdade. As pessoas na religião certamente têm
motivo para jejuar. A religião requer e exige,
dizendo-nos que não podemos fazer isso e aquilo.
Contudo, ela não nos capacita a cumprir seus
requisitos. Assim, por não conseguir cumprir os
requisitos da religião, é preciso jejuar. Por isso, tanto
os discípulos de João como os dos fariseus jejuavam.

OS FILHOS DA CÂMARA NUPCIAL


Ao contrário dos discípulos de João e dos
fariseus, que jejuavam, os discípulos do Senhor
estavam cheios de alegria. Como poderiam jejuar se o
Noivo, o fator mais importante de sua alegria, estava
com eles? Em 2:19 o Senhor disse aos discípulos de
João e aos fariseus: “Podem acaso jejuar os
companheiros do noivo enquanto o noivo está com
eles? Enquanto têm consigo o noivo não podem
jejuar”. Aqui o Senhor se refere aos discípulos como
os companheiros do noivo 1 Jejuar na presença do
Noivo seria uma vergonha para Ele.
Suponha que você seja o melhor amigo do noivo
e, bem na festa; você jejua. Isso seria uma ofensa para
o noivo. Nenhum noivo gostaria de ver seu melhor
amigo jejuar no seu casamento, e sim alegrar-se, bem
vestido com roupas boas e a desfrutar a comida ali
servida. Isso é uma ilustração da palavra do Senhor
em 2:19. Aqui Ele parece dizer aos discípulos de João
e aos fariseus: “Por que vocês Me perguntam por que
os Meus discípulos não jejuam? Eu sou o Noivo e eles
todos são os filhos da câmara nupcial, um melhor
amigo corporativo. Mateus, o cobrador de impostos, é
um dos filhos da câmara nupcial. Eles não podem
jejuar enquanto estou com eles”.
Você é um discípulo de João ou dos fariseus, ou é
um dos filhos da câmara nupcial, parte do “melhor
amigo” coletivo do Senhor Jesus? Todos devemos
testificar categoricamente que somos parte do
“melhor amigo” coletivo do Senhor. Todos os que
tiveram os pecados perdoados por Ele tomaram-se
filhos da câmara nupcial. No segundo capítulo de
Marcos vemos que até os cobradores de impostos e
1
Lit.: filhos da câmara nupcial. (N. do T.)
pecadores se tornaram filhos da câmara nupcial.

O DEUS QUE PERDOA E O MÉDICO


Em 2:12 vemos o Deus que perdoa, como homem
verdadeiro, na forma de servo. A deidade estava na
humanidade, e a humanidade continha a deidade. O
Deus que perdoa, como verdadeiro homem, é uma
Pessoa maravilhosa. Nele vemos a beleza da virtude
humana e a glória dos atributos divinos, pois vemos
tanto humanidade como divindade numa Pessoa
completa. O incidente registrado em 2:1-12 retrata
essa Pessoa, Aquele que é o verdadeiro Deus e
verdadeiro homem. Que retrato maravilhoso do
Senhor em Sua virtude humana com Seu atributo
divino!
No segundo incidente (2:13-17), nós O vemos
como médico, cuidando dos doentes. Seus “pacientes”
são retratados aqui festejando com Ele. O versículo 15
diz: “E sucedeu estar Ele reclinado à mesa na casa de
Levi, e reclinavam-se com Jesus e Seus discípulos
muitos cobradores de impostos e pecadores; porque
estes eram em grande número, e O seguiam”.
Enquanto se reclinavam à mesa com o Senhor,
tiveram um maravilhoso desfrute com Ele. Quando os
escribas dos fariseus viram que Ele comia com
pecadores e cobradores de impostos, disseram a Seus
discípulos: “Por que come Ele com cobradores de
impostos e pecadores?”. Quando o Senhor ouviu isso,
disse aos escribas: “Os sãos não precisam de médico,
e, sim, os doentes; não vim chamar justos, e, sim,
pecadores” (v. 17). Aqui o Senhor parece dizer aos
escribas: “Eu sou o grande Médico cuidando dos
pacientes. Eles foram curados e agora estão felizes a
desfrutar uma festa Comigo”.
PANO NOVO, VINHO NOVO E ODRES
NOVOS
Como já comentamos, depois do incidente do
Senhor festejando com cobradores de impostos e
pecadores, os discípulos de João, os novos fanáticos,
e os dos fariseus, os antigos fanáticos, perguntaram
ao Senhor por que Seus discípulos não jejuavam.
Parece que queriam que os discípulos do Senhor se
unissem a eles no jejum. Para eles era necessário
jejuar, porque, segundo eles, o Messias e o reino
ainda não tinham vindo. Como ainda aguardavam a
vinda do Messias e do reino, eles estavam jejuando.
O Senhor não respondeu aos discípulos de João e
aos fariseus de forma direta, e sim usando certas
figuras de linguagem. Em Sua resposta, Ele se referiu
a Si mesmo como o Noivo, e também falou do pano
novo e do vinho novo. O Senhor parecia dizer: “Por
que Meus discípulos iriam jejuar se têm tudo o que
precisam para deixá-las alegres? Eles têm a Mim
como Noivo e também como justiça, o pano novo, e
como o vinho novo, que representa a vida. Eu sou
tudo o que precisam. Sou Deus e sou homem; sou
Médico e Noivo, a Pessoa mais agradável. É ridículo
que jejuem quando têm a Mim. Eu sou a veste que os
cobre e embeleza, e a Minha vida é o verdadeiro vinho
que os enche, anima e satisfaz. Em vez de jejuar, eles
estão cheios de alegria. Vocês pedem que eles jejuem,
mas Eu digo que isso é impossível, porque o Noivo
está aqui com eles, o pano novo está sobre eles e o
vinho novo está neles”. Quão sábias e maravilhosas
foram a resposta do Senhor e Sua Palavra a respeito
do Noivo, do pano e do vinho!
Talvez devêssemos fazer uma reunião de
pregação do evangelho, dizendo às pessoas que Jesus
Cristo hoje é o Noivo que, como nossa justiça, é o
pano para cobrir nossa nudez e nos embelezar; e Sua
vida divina é o vinho que bebemos para nossa
satisfação. Esse é o verdadeiro evangelho: uma
Pessoa viva com justiça e vida. Aleluia! temos o
Noivo, e O temos como justiça exteriormente e vida
interiormente!
Em 2:21 o Senhor fala do pano novo. A palavra
grega traduzida como novo também significa não
encolhido, cru, não trabalhado. A palavra grega é
agnaphós, formada pelo prefixo a que significa não, e
gnápto, que significa cardar ou pentear lã; portanto,
escovar ou tratar o pano. Assim, essa palavra
significa não cardado, não pisoado, não acabado,
não encolhido, não tratado. Esse pano novo
representa Cristo, desde a encarnação até a
crucificação, como peça de pano novo, não tratado e
não acabado. A veste nova, em Lucas 5:36 simboliza
Cristo após ter sido tratado em Sua crucificação,
como veste nova. Em Marcos 2:21 a palavra grega
para novo é kainós. Primeiro Cristo era o pano não
encolhido para se fazer veste nova, e depois, por meio
de Sua morte e ressurreição Ele foi feito veste nova
para nos cobrir como justiça diante de Deus, a fim de
que fôssemos justificados por Deus e nos
tornássemos aceitáveis a Ele (Lc 15:22; Gl 3:27; 1Co
1:30; Fp 3:9).
A veste velha aqui simboliza o bom
comportamento do homem, as boas obras e as
práticas religiosas em sua vida natural, a vida da
velha criação. Se um remendo de pano novo é
costurado em veste velha, ele arrancará parte da
veste, e a rotura será pior. Imitar o que o Senhor
Jesus fez na vida humana na terra pode ser
comparado a colocar um remendo de pano novo em
veste velha. Alguns tentam imitar as obras humanas
do Senhor a fim de melhorar o comportamento, em
vez de crer no Jesus crucificado como seu Redentor e
no Cristo ressurreto como sua justiça a fim de que
sejam justificados por Deus e se tornem aceitáveis a
Ele. Devemos tomar o Cristo crucificado e ressurreto
como nossa veste nova para nos cobrir, como nossa
justiça diante de Deus. Não devemos tentar melhorar
o comportamento imitando as obras humanas do
Senhor.
Em 2:22 o Senhor Jesus prossegue dizendo: “E
ninguém põe vinho novo em odres velhos; do
contrário, o vinho romperá os odres, e tanto se perde
o vinho como os odres. Mas põe-se vinho novo em
odres novos”. A palavra grega para novo nesse
versículo é neós, que significa novo no tempo,
recente, recém-adquirido. O vinho novo aqui
representa Cristo como a nova vida, cheia de vigor,
que anima as pessoas. O Salvador-Servo não é
somente o Noivo com vistas a nosso desfrute, mas
também a veste nova para que sejamos equipados e
qualificados exteriormente a participar das bodas.
Além disso, Ele é a nova vida que nos desperta
interiormente, para que O desfrutemos como Noivo.
Para desfrutá-Lo como Noivo precisamos Dele como
veste nova exteriormente e vinho novo interiormente.
Os odres velhos em 2:22 representam práticas
religiosas, tais como o jejum mantido pelos fariseus,
que pertenciam à antiga religião e pelos discípulos de
João, que pertencia à nova religião. Todas as religiões
são odres velhos. Vinho novo em odres velhos faz
romper os odres pelo poder de fermentação. Pôr
vinho novo em odres velhos é colocar Cristo como
vida animadora em qualquer forma de religião. Em
vez de tentar encaixar Cristo em diferentes rituais e
formalidades religiosas, devemos colocar o vinho
novo em odres novos.
A palavra grega para novos aqui é kainós, que
quer dizer novos em natureza, qualidade ou forma;
desacostumados, não usados; portanto, novos. Os
odres novos representam a vida da igreja como o
recipiente do vinho novo, que é o próprio Cristo como
vida animadora. Nós, como os que crêem no Senhor,
somos pessoas regeneradas, que constituímos o
Corpo de Cristo e nos tornamos a igreja (Rm 12:5; Ef
1:22-23). O Corpo de Cristo, como Sua plenitude, é
também chamado “Cristo” (1Co 12:12), referindo-se
ao Cristo coletivo. O Cristo individual é o vinho novo,
a vida animadora interior, e o Cristo coletivo é o odre
novo, o recipiente exterior que contém o vinho novo.
A questão hoje não é o jejum ou outras práticas
religiosas, e sim a vida da igreja, com Cristo como
conteúdo. Temos a Ele, a Pessoa viva, como nosso
Médico, Noivo, pano novo e vinho novo. Ele é nosso
desfrute pleno a fim de que sejamos o odre novo, Seu
Corpo, a igreja, para contê-Lo.
ESTUDO-VIDA DE MARCOS
MENSAGEM DEZ
AS MANEIRAS PELAS QUAIS O SALVADOR-SERVO
LEVOU A CABO SEU SERVIÇO EVANGÉLICO (4)

Leitura Bíblica: Mc 2:23-3:6


Nesta mensagem continuaremos a ver as
maneiras pelas quais o Salvador-Servo levou a cabo
Seu serviço evangélico. De acordo com 2:23-28, Ele
se importou antes com a fome de Seus seguidores do
que com os preceitos da religião. E, de acordo com
3:1-6, Ele se importou antes com o alívio daquele que
sofria do que com os ritos da religião.

IMPORTAR-SE ANTES COM A FOME DE


SEUS SEGUIDORES DO QUE COM OS
PRECEITOS DA RELIGIÃO
Marcos 2:23 diz: “E aconteceu atravessar Jesus,
em dia de sábado, as searas, e os Seus discípulos,
enquanto iam, começaram a colher espigas”. Creio
que o Senhor Jesus propositadamente levou Seus
seguidores às searas no sábado. Ele certamente sabia
que era sábado. Segundo a lei, Ele não deveria ter
decidido passar pelas searas no sábado, pois isso era
quebrar a regra a respeito de guardar o sábado.
Contudo, como Pastor, Ele levou todos os Seus
seguidores, Suas ovelhas, para as searas, que se
tornaram o pasto delas. O versículo 23 diz que: “Os
Seus discípulos, enquanto iam, começaram a colher
espigas”. Comendo, eles foram satisfeitos.
No versículo 24 lemos: “Diziam-Lhe os fariseus:
Vê! Por que fazem aos sábados o que não é lícito?”. O
sábado era para que os judeus se lembrassem de Deus
como Criador (Gn 2:2), guardassem com eles o sinal
da aliança de Deus (Ez 20:12) e se lembrassem que
Deus os redimiu (Dt 5:15). Portanto, profaná-lo era
sério aos olhos dos fariseus religiosos. Para eles não
era lícito e era contra as Escrituras que os discípulos
do Senhor colhessem espigas no sábado. Como
veremos, os fariseus não tinham conhecimento
adequado das Escrituras. De acordo com seu escasso
conhecimento, eles se preocupavam com o rito de
guardar o sábado, e não com a fome das pessoas. Que
loucura observar um rito vão!

O Verdadeiro Davi
Em Marcos 2:25-26 vemos a resposta do Senhor
aos fariseus: “Nunca lestes o que fez Davi quando se
viu em necessidade e teve fome, ele e os que com ele
estavam? Como entrou na Casa de Deus, no tempo do
sumo sacerdote Abiatar, e comeu os pães da
proposição, os quais não é lícito comer, senão só aos
sacerdotes, e deu também aos que estavam com ele?”.
Os fariseus disseram que não era lícito que os
discípulos do Senhor pegassem espigas nas searas e
as comessem. Os fariseus os condenaram por agir
contra a Escritura. Mas o Senhor lhes perguntou:
“Nunca lestes?”. Ele lhes mostrou outro aspecto da
verdade nas Escrituras, que justificava a Ele e aos
discípulos. Isso condenou os fariseus por não ter
conhecimento adequado das Escrituras.
A resposta do Senhor nesses versículos indica
que Ele devia ter uma maneira excelente de estudar a
Bíblia. Aqui Ele parecia dizer aos fariseus: “Nunca
leram o que fez Davi? Vocês, fanáticos, respeitam a
Bíblia ao máximo. Nunca leram que Davi entrou na
casa de Deus, comeu do pão da proposição e também
deu aos que estavam com ele? Vocês não sabem que
Davi levou seus seguidores a fazer isso? Vocês
querem dizer que ele os conduziu ao erro nessa
questão?”. Quão excelente é a maneira de o Senhor
estudar a Bíblia! Todos precisamos aprender com Ele.
Aos olhos dos judeus, o Senhor era iletrado. Eles
admiravam e diziam a Seu respeito: “Como sabe este
letras, sem ter estudado?” (107:15). Esse, que
aparentemente não havia estudado as Escrituras,
questionou os escribas, antigos estudiosos da Bíblia, a
respeito do conhecimento das Escrituras. Embora
fossem tidos como estudiosos da Bíblia, eles apenas a
conheciam de maneira superficial e somente como
doutrina em letras mortas. O Senhor expôs o
conhecimento inadequado que eles tinham das
Escrituras quando lhes perguntou se nunca leram o
que fez Davi quando ele e seus companheiros estavam
em necessidade e com fome.
A palavra do Senhor aos fariseus é muito sábia e
rica em implicações. Ela aqui implica que Ele é o
verdadeiro Davi. Nos tempos antigos, Davi e seus
seguidores, quando rejeitados, entraram na casa de
Deus e comeram dos pães da proposição,
aparentemente violando a lei levítica. Agora o
verdadeiro Davi e Seus seguidores, também
rejeitados, foram comer, aparentemente contra o
regulamento sabático. Assim como Davi e seus
seguidores não foram considerados culpados,
também Cristo e Seus discípulos não devem ser
condenados.
Além disso, a palavra do Senhor aqui implica
uma mudança dispensacional do sacerdócio para a
realeza. No passado, a vinda de Davi-mudou a
dispensação da era dos sacerdotes para a dos reis,
para a era em que os reis estavam acima dos
sacerdotes. Na era dos sacerdotes, o líder do povo
deveria ouvir o sacerdote (Nm 27:21-22). Mas na era
dos reis o sacerdote devia se submeter ao rei (1Sm
2:35-36). Portanto, o que Davi e seus seguidores
fizeram não era ilícito. Agora, com a vinda de Cristo, a
dispensação também mudou, dessa vez da era da lei
para a era da graça, na qual Cristo está acima da lei. O
que quer que Ele faça está correto.
Vimos que a palavra do Senhor aos fariseus
implica que Ele é o verdadeiro Davi. Mateus, o
cobrador de impostos, era um dos seguidores desse
Davi, que lutava pelo reino de Deus. Quando Davi
levou seus companheiros para a casa de Deus, ele
estava lutando pelo reino. Da mesma forma, como o
verdadeiro Davi, Cristo e Seus seguidores também
lutavam pela vinda do reino. Além disso, com a vinda
do Senhor houve uma mudança de dispensação.
Em 2:27 o Senhor ainda disse aos fariseus: “O
sábado foi feito para o homem, e não o homem para o
sábado”. O homem não foi criado para o sábado, mas
o sábado foi ordenado para o homem, a fim de que
este pudesse desfrutá10 com Deus (Gn 2:2-3).

O Senhor do Sábado
No versículo 28 temos uma demonstração
contundente de quem é o Senhor: “De sorte que o
Filho do Homem é Senhor até do sábado”. Isso indica
a deidade do Salvador-Servo em Sua humanidade.
Ele, o Filho do Homem, era o próprio Deus que havia
ordenado o sábado, e tinha o direito de mudar o que
ordenara a respeito do sábado. Como Senhor do
sábado, Ele tinha o direito de mudar as leis do
sábado.
O Senhor mostrou aos fariseus condenadores
que Ele era o verdadeiro Davi, o Rei do reino
vindouro de Deus e também Senhor do sábado.
Portanto, podia fazer o que quisesse no sábado, e o
que quer que fizesse estaria justificado pelo que Ele é.
Ele estava acima de todos os ritos e regras. Uma vez
que Ele estava presente, ninguém deveria dar atenção
a ritos e regras.
Gostaria de chamar sua atenção à palavra “até”
em 2:28. Aqui o Senhor diz que o Filho do Homem é
Senhor até do sábado. O fato de usar a palavra até
aqui, implica que Ele não é meramente o Senhor de
algo, mas de tudo, inclusive do sábado.
A palavra do Senhor implica e indica que Ele é o
Deus Todo-Poderoso, o mesmo que ordenou o sábado
em Gênesis 2. Como Aquele que tinha autoridade
para ordenar o sábado, Ele também tinha o direito de
mudá-lo. Assim Ele poderia ter dito aos fariseus: “Por
que vocês Me perturbam? Eu sou o Senhor que
ordenou o sábado, e tenho plena posição e direito de
mudá-lo. Ordenando o sábado ou mudando-o, Eu o
faço para o homem. O sábado veio a existir por causa
do homem, e não o homem por causa do sábado.
Vocês, fariseus, da forma com que guardam o sábado,
são capazes até de deixar alguém morrer. Mas Eu, no
sábado, preocupo-me em alimentar Meus seguidores.
Em Gênesis 2 ordenei o sábado porque queria que o
homem tivesse descanso. Assim, o sábado veio a
existir por causa do homem. Mas, agora que estou
aqui, quero cancelar o sábado a fim de alimentar
Meus seguidores. Como Senhor do sábado,
certamente tenho o direito de fazê-lo”.
O Senhor lidou com a situação em 2:23-28 de
forma maravilhosa! Ele certamente é o melhor
advogado, um advogado celestial. O que quer que
diga está correto. Ao discutir com Ele, os fariseus não
conseguiram nada, pois Ele é o Senhor
todo-poderoso.

IMPORTAR-SE ANTES COM O ALÍVIO


DAQUELE QUE SOFRE DO QUE COM OS
RITOS DA RELIGIÃO
Em 3:1-6 vemos que o Senhor levou a cabo Seu
serviço evangélico importando-se antes com o alívio
daquele que sofria do que com os ritos da religião.
Aqui temos o último dos cinco incidentes registrados
em 2:1-3:6, o caso da cura de um homem que tinha a
mão ressequida. Essa cura também se deu no sábado
(3:2).

O Mover do Senhor em Dois Sábados


Marcos 2:23-3:6 relata o mover do Senhor em
dois sábados (Lc 6:1, 6). O que Ele fez no primeiro
sábado indica que Ele agia como Cabeça do Corpo.
Como tal, Ele é o verdadeiro Davi e o Senhor do
sábado. O que fez no segundo significa que Ele se
importava com Seus membros. Nesse sábado Ele
curou um homem que tinha a mão ressequida. A mão
é um membro do corpo. O Senhor faria qualquer
coisa para a cura de Seus membros. Sendo sábado ou
não, o Senhor está interessado em curar os membros
de Seu Corpo que estão com necessidade, e até
mesmo curar os que estiverem mortos. Ordenanças
não importam, mas a cura dos membros de Seu
Corpo representa tudo para Ele.
Nesses dois trechos temos dois casos de quebra
do sábado. O primeiro aconteceu nas searas e o
segundo, numa sinagoga (3:1). O primeiro se
relacionava com satisfação e o segundo com
libertação. Podemos estar satisfeitos, mas ainda não
estar libertos. Não necessitamos apenas de satisfação,
mas também de libertação. Você foi libertado? foi
emancipado? está plenamente livre? Talvez esteja
bastante satisfeito porque aprendeu a se alimentar do
Senhor Jesus. Contudo, talvez não tenha segurança
para afirmar que foi libertado. Na verdade,
precisamos mais de libertação do que de satisfação.
Segundo a seqüência do Evangelho de Marcos, a
libertação vem depois da satisfação. Se ainda não
fomos satisfeitos, não sentiremos a necessidade de
libertação. Nossa necessidade imediata é ter a fome
saciada. Primeiro o Senhor nos sacia a fome, e depois,
como Cirurgião divino, faz uma cirurgia em nós. Uma
vez que estejamos satisfeitos, Ele nos traz para a “sala
de cirurgia” onde nos cura e somos libertados. Em
3:1-6 a sala de cirurgia era a sinagoga. Foi ali que o
homem da mão ressequida teve a mão restaurada (v.
5).
No versículo 4 o Senhor disse aos que estavam na
sinagoga: “É lícito aos sábados fazer o bem ou fazer o
mal? Salvar a vida ou matar?”. Essas palavras
indicam que o Salvador-Servo era o Emancipador,
que libertou da escravidão do rito religioso aquele
que sofria.

Nossa Necessidade de Total Libertação


Em 2:1-12 temos o caso do paralítico, alguém
totalmente paralisado. Mas em 3:1-6 temos o caso de
alguém com a mão ressequida. É alguém que está
parcialmente livre, mas não de todo. Você está
totalmente livre? Talvez tenha dificuldade para
responder a essa pergunta e diga: “Por um lado, não
posso dizer que estou totalmente livre; por outro, não
seria verdade dizer que não estou nem um pouco
livre. Devo responder que estou parcialmente livre”.
Assim como o homem da mão ressequida, precisamos
estar totalmente libertos. Esse homem não estava
morrendo. Ele conseguia movimentar-se e fazer
coisas com uma das mãos. Mas a outra estava
ressequida. Isso indica que ele precisava ser
libertado.
É significativo que o caso do homem da mão
ressequida seja o último dos cinco. casos em 2:1-3:6.
No primeiro incidente (2:1-12) temos o perdão de
pecados; no segundo (2:13-17), a entrada no desfrute
de Deus; no terceiro (2:18-22), alegria por meio do
Cristo vivo como Noivo, Aquele que tem uma veste
para nos cobrir e embelezar, e tem a vida divina para
nos encher; e no quarto (2:23-28), satisfação ao ser
alimentado do Senhor. Agora, no quinto incidente
temos plena liberdade: uma pessoa que está
totalmente livre.
Se colocarmos juntos esses cinco incidentes,
veremos um quadro completo de uma pessoa
plenamente salva, o quadro de alguém que desfruta a
salvação ao máximo. De acordo com esse quadro, a
salvação do Senhor inclui perdão, desfrute, alegria,
satisfação e liberdade. Que todos experimentemos
esses cinco aspectos da salvação do Senhor!

A Deidade Expressa na Humanidade


Marcos 3:5 diz: “Olhando em redor para eles com
ira, muito contristado com a dureza dos seus
corações, disse ao homem: Estende a tua mão. Ele a
estendeu, e a sua mão foi restabelecida”. O Salvador
mostrou-se irado com os opositores e ficou muito
contristado com a dureza do coração deles; mas
mostrou-se compassivo com o enfermo e lhe
restaurou o membro ressequido. Ira e tristeza podem
ser consideradas a expressão da autenticidade de Sua
humanidade, ao passo que compaixão e cura são a
fusão da virtude humana com o poder divino,
manifestados simultaneamente aos homens. Assim,
Sua deidade foi novamente expressa em Sua
humanidade. A restauração da mão ressequida
demonstrou o poder da deidade do Salvador-Servo.
O Senhor disse ao homem: “Estende a tua mão”.
Na palavra do Senhor estava a vida vivificadora. Ao
estender a mão, o homem tomou a palavra vivificante
do Senhor, e assim a mão ressequida foi restaurada
pela vida que há em Sua palavra.
A Oposição dos Fanáticos
Em 3:6 temos a conclusão desse incidente:
“Saindo os fariseus, imediatamente deliberaram em
conselho com os herodianos contra Ele, sobre como O
destruiriam”. Aos olhos dos fariseus religiosos, ao
violar o sábado, o Senhor estava destruindo a aliança
de Deus com a nação de Israel, ou seja, destruindo o
relacionamento entre Deus e Israel. Portanto,
deliberaram em conselho com os herodianos sobre
como poderiam destrui-Lo. A violação do sábado fez
com que os judeus fanáticos rejeitassem o
Salvador-Servo. Como fanáticos da velha e morta
religião, eles foram motivados e usados por Satanás
para fazer oposição e resistência e causar estorvo ao
serviço evangélico do Salvador-Servo por todo o Seu
ministério. Cegados pela religião tradicional e
impossibilitados de vê-Lo na economia de Deus,
deliberaram matá-Lo.
ESTUDO-VIDA DE MARCOS
MENSAGEM ONZE
OS ATOS AUXILIARES DO SALVADOR-SERVO PARA O
SERVIÇO EVANGÉLICO (1)

Leitura Bíblica: Mc 3:7-35


Vimos que no capítulo um do Evangelho de
Marcos há cinco itens que são o conteúdo do serviço
evangélico do Salvador-Servo: pregar o evangelho
(1:14-20), ensinar a verdade (vs. 21-22), expulsar
demônios (vs. 23-28), curar enfermos (vs. 29-39) e
purificar leprosos (vs. 40-45). Também vimos em
2:1-3:6 cinco maneiras pelas quais o Salvador-Servo
levou a cabo esse serviço evangélico: perdoar os
pecados dos enfermos (2:1-12), comer com pecadores
(2:13-17), fazer com que Seus seguidores se alegrem,
sem ter de jejuar (2:18-22), importar-se antes com a
fome de Seus seguidores do que com os preceitos da
religião (2:23-28), importar-se antes com o alívio
daquele que sofre do que com os ritos da religião
(3:1-6). Em 3:7-35 temos outro grupo de cinco itens
que são os atos auxiliares para o serviço evangélico:
escapar do aperto da multidão (vs. 7-12), designar os
apóstolos para pregar (vs. 13-19), deixar de comer por
causa da necessidade urgente (vs. 20-21), amarrar
Satanás e saquear-lhe a casa por meio do Espírito
Santo (vs. 22-30) e não permanecer no
relacionamento da vida natural, e sim no da vida
espiritual (vs. 31-35). Em cada item dos três grupos
vemos a excelência do Senhor Jesus. Nesta
mensagem e na próxima, consideraremos os atos
auxiliares para o serviço evangélico do
Salvador-Servo.

ESCAPAR DO APERTO DA MULTIDÃO


Ao levar a cabo um ministério que Deus nos
comissionou, encontramos problemas, oposição e
estorvos. Certos problemas acontecem pelo que é
feito de forma natural com a intenção de nos ajudar.
O Senhor encontrou esse tipo de estorvo em Seu
ministério. Enquanto levava a cabo o ministério de
Seu serviço evangélico, Ele se deparou com
problemas.
Em 3:7-12 temos o problema da multidão
apertando o Senhor. O versículo 7 diz que grande
multidão seguiu a Ele e aos discípulos, e no versículo
8 vemos que: “Uma grande multidão, ouvindo
quantas coisas Jesus fazia, veio ter com Ele”. A
multidão se reuniu a Sua volta porque ouvira o que
Ele fazia. Essa multidão foi um estorvo para o
ministério do Senhor.
Muitos pregadores e evangelistas hoje gostam de
ter grande multidão junto a si. Porém a multidão não
é uma ajuda para o verdadeiro ministério de vida.
Pelo contrário, no máximo pode ajudar-nos a ter um
movimento, mas não ajuda o ministério em vida.

Apertar e Tocar
Em 3:7-12 duas palavras significativas são usadas
a respeito da multidão: apertar (vs. 9-10) e tocar (v.
10). O versículo 9 diz: “Então disse a Seus discípulos
que Lhe tivessem pronto um barquinho junto Dele,
por causa da multidão, a fim de não O apertarem”. O
Senhor queria entrar num barco para evitar o aperto
da multidão. O aperto impedia que os que eram
sinceros viessem ao Senhor e O tocassem
diretamente. Se estivermos entre os que meramente
apertam o Senhor, não receberemos nada Dele. A fim
de receber algo Dele, precisamos tocá-Lo. Portanto,
nesse trecho do Evangelho de Marcos, a palavra
apertar é usada no sentido negativo, enquanto tocar
tem significado positivo.
De acordo com o registro dos Evangelhos, muitas
vezes as pessoas apertaram o Senhor, mas somente os
que O tocaram receberam algum benefício. É tocando
diretamente o Senhor que a vida emana Dele para
nós. A essa infusão de vida chamamos de
transmissão. Outro termo é dispensação. Quando
contatamos o Senhor diretamente, recebemos o
dispensar divino. Mas apertar o Senhor não resulta
em nada no que diz respeito ao dispensar divino que
experimentamos apenas ao tocar diretamente o
Senhor. Percebendo isso, Ele queria separar-se da
multidão. Por essa razão retirou-se com os discípulos
para o mar.

Um Barquinho
Embora o Senhor se retirasse da multidão, ela
continuava a segui-Lo. Por causa disso, mesmo na
praia, ela procurava apertá-Lo. Assim, Ele disse aos
discípulos que Lhe tivessem pronto um barquinho
junto Dele. Ele não queria que a multidão O
apertasse. O barco era um modo de estar separado da
multidão.
Em figura, o barquinho que o Senhor queria que
estivesse pronto junto Dele representa a igreja. Em
Mateus 13 o barco tem esse significado. A igreja é
diferente da nação de Israel, representada pela terra,
e do mundo gentio, tipificado pela água. A igreja é
algo separado da terra e está sobre a água. Portanto,
ela não está nem na terra nem dentro d'água. Embora
o “barco” da igreja esteja sobre a água, ele não está
dentro dela nem ela dentro dele. Assim, a terra
simboliza a nação de Israel, o mar prefigura o mundo
gentio e o barco, separado tanto da terra como do
mar, representa a igreja. Por meio disso podemos ver
que a igreja. está separada tanto da nação de Israel
como do mundo gentio. Esse entendimento está de
acordo com a palavra de Paulo em 1 Coríntios 10:32 a
respeito dos judeus, dos gregos (os gentios) e da
igreja de Deus.
Hoje o Senhor ministra Sua vida para os que
estão na igreja e de dentro da igreja ministra também
para outros. Esse é o significado do barco. Se virmos
isso, perceberemos que, fora da igreja, se tentarmos
ministrar às pessoas, poderemos sofrer o aperto da
multidão. Hoje muitos ministérios são transmitidos
para a multidão, sem haver barco. Contudo, o
ministério adequado é no barco, um ministério que
infunde o suprimento de vida, não para os que
apertam o Senhor, mas para os que sinceramente
desejam tocá-Lo.
O que o Senhor fez em relação à multidão deve
ser exemplo para nós, e devemos seguir Seus passos.
Mas muitos pregadores e evangelistas hoje apreciam
a multidão. Quanto maior a multidão, mais felizes
eles ficam. Mas os fatos históricos indicam que
grandes multidões causam perda e não benefício para
o autêntico ministério de vida.
Aqui vemos que a maneira do Senhor é diferente
da do homem. Em vez de gostar de multidão, Ele
procurou evitá-la. Quando a multidão O seguiu, Ele
pediu que Lhe tivessem pronto um barquinho a fim
de se retirar da multidão que O apertava.

Receber o Ministério de Vida


Embora o Senhor procurasse evitar a multidão,
Ele queria que os que eram sinceros tivessem a
possibilidade de tocá-Lo. Se formos apenas parte da
multidão, não receberemos nada do Senhor.
Precisamos distinguir-nos da multidão e tocá-Lo
direta e honestamente. Se fizermos isso, receberemos
o ministério de vida.
O primeiro dos atos auxiliares para o serviço
evangélico do Salvador-Servo foi evitar o aperto da
multidão. Com respeito a isso precisamos aprender
com Ele. Freqüentemente os pregadores são
enganados porque têm uma multidão a segui-los.
Quando uma multidão nos circunda, isso pode ser
enganoso e também um estorvo. Portanto,
precisamos evita-la. Mas isso não quer dizer que
devamos desistir das pessoas. Não; enquanto
evitamos a multidão, precisamos deixar que outros
nos contatem e nos toquem diretamente a fim de
receber o genuíno ministério de vida.

Os Espíritos Imundos
Marcos 3:11-12 diz: “E os espíritos imundos,
quando O viam, prostravam-se diante Dele e
gritavam: Tu és o Filho de Deus. E Jesus lhes advertia
repetidamente que não O tornassem conhecido”. O
que os demônios gritavam com relação ao
Salvador-Servo era outro estorvo a Seu serviço
evangélico. Por isso, Ele os advertia e os proibia.

DESIGNOU OS APÓSTOLOS PARA PREGAR


Vimos que o Salvador-Servo primeiro necessitou
do mar e então de um barquinho para evitar o aperto
da multidão, o que indica que isso era um estorvo
para Seu serviço evangélico. Para escapar da
multidão o Senhor foi ao mar. Mais tarde, foi do mar
à montanha.
As ações do Senhor aqui são muito interessantes.
Para evitar o aperto da multidão, Ele foi ao mar, onde
ministrou às pessoas sinceras que o tocaram
diretamente. Por fim, depois que elas receberam Seu
ministério de vida, Ele foi ao monte.
Marcos 3:13-15 nos diz por que o Senhor foi ao
monte: “Depois subiu ao monte e chamou a Si os que
Ele mesmo queria, e foram a Ele. E designou doze,
aos quais deu também o nome de apóstolos, para
estarem com Ele e para os enviar a pregar, e a ter
autoridade para expulsar os demônios”. Aqui vemos
que o objetivo de o Senhor subir ao monte era chamar
alguns e fazê-los Seus apóstolos. Isso visava à
expansão do serviço evangélico do Salvador-Servo.
De acordo com os versículos 14 e 15, os doze
foram designados por Ele para pregar o evangelho e
expulsar demônios. Pregar o evangelho é ministrar
Deus às pessoas; expulsar demônios é afastar Satanás
delas. Esses dois itens constituem o principal objetivo
do serviço evangélico do Salvador-Servo.

Segundo a Vontade do Pai


O Evangelho de Lucas indica que o Senhor Jesus
orou antes de designar os doze apóstolos: “Aconteceu,
naqueles dias, que Ele saiu para o monte a fim de
orar, e passou a noite toda em oração a Deus. E
quando amanheceu, chamou a Si os Seus discípulos e
escolheu doze dentre eles, aos quais deu também o
nome de apóstolos” (Lc 6:12-13). Muitos haviam
recebido o ministério de vida do Senhor. Isso significa
que Ele tinha suprido muita vida às pessoas sinceras
que O tocaram diretamente e elas receberam Seu
suprimento de vida. Então Ele teve encargo de
escolher alguns e designá-los para ajudá-Lo em Seu
ministério evangélico. Por essa razão, Ele foi ao
monte e orou. Lucas indica que Ele orou a noite toda.
O Senhor deve ter orado a respeito da escolha dos
doze apóstolos entre os muitos que receberam Seu
ministério de vida.
Sabemos que um dos doze escolhidos pelo
Senhor foi Judas Iscariotes, que O traiu (Mc 3:19). Na
verdade o Senhor Jesus sabia que Judas iria traí-Lo.
Creio que antes de fazer a escolha, o Senhor
consultou o Pai em oração. A designação dos doze, na
verdade, não foi a execução da Sua vontade, e sim a
vontade de Deus Pai. Creio que o Pai O encarregou de
escolher alguns, inclusive Judas. O Senhor fez Sua
escolha de acordo com a vontade do Pai.

Aprender a Levantar Outros


Precisamos aprender com o Senhor Jesus a não
levar a cabo nosso ministério por nós mesmos. Nem
mesmo Ele levava a cabo Seu ministério por Si
mesmo. Primeiro Ele escolheu os doze e mais tarde,
os setenta. Com isso vemos que tanto no ministério
como na vida da igreja precisamos aprender a ser
diligentes e fiéis, e também a levantar alguns que nos
ajudem.
Não é muito difícil levar a cabo nosso ministério
por nós mesmos. Na realidade, existe a tendência de
que mestres e pregadores façam tudo sozinhos. Entre
os cristãos hoje não há o costume de compartilhar o
ministério com outros, de ensinar, designar e
aperfeiçoar outros para cumprir o mesmo ministério.
Mas, de acordo com a palavra de Paulo em Efésios 4,
o ministério dos apóstolos, profetas, evangelistas, e
pastores e mestres visa ao aperfeiçoamento dos
santos, a fim de que levem adiante a obra do
ministério. O ministério do Senhor era aperfeiçoar os
apóstolos, e o dos apóstolos era aperfeiçoar os santos.
Por meio disso vemos que o mover de Deus na terra
não é com indivíduos, mas com grupos de pessoas.
Nos Evangelhos primeiramente temos um grupo
de doze e mais tarde outro de setenta. A designação
dos apóstolos para pregar certamente é um ato
auxiliar significativo para Seu serviço evangélico.
Todos precisamos seguir o Senhor nessa questão. Os
presbíteros numa igreja precisam aprender a levantar
outros. Após um período, os presbíteros não devem
mais estar sozinhos no cuidado da igreja; devem
levantar outros que se unam a eles nessa
responsabilidade.

Não a Visão Natural, mas a Visão segundo a


Percepção Espiritual
No início do Seu ministério, o Senhor escolheu os
doze, que certamente não eram muito maduros. Dois
deles, Tiago e João, filhos de Zebedeu, receberam o
nome de Boanerges, que significa filhos do trovão. A
palavra grega Boanerges vem do aramaico. Esse
nome foi acrescentado a Tiago e a João pelo Senhor,
devido à impetuosidade deles (ver Lc 9:54-55; Mc
9:38). No capítulo nove de Marcos temos um exemplo
do “trovejar” de João. Mas, quando ele escreveu seu
Evangelho, as Epístolas e Apocalipse o trovejar
perdeu o barulho.
Outro entre os doze escolhidos pelo Senhor Jesus
foi Simão, o cananeu (Mc 3:18). A palavra cananeu
vem do hebraico kanná, zeloso. Isso se refere a uma
seita da Galiléia conhecida como os zelotes; não se
refere à terra de Canaã (Lc 6:15; At 1:13). Os zelotes
eram extremamente patrióticos e amavam as
tradições e práticas judaicas. O Senhor escolheu um
deles para ser apóstolo.
Um dos doze, Mateus, havia sido cobrador de
impostos. Em sua lista dos doze apóstolos Mateus
especificamente se designa como o cobrador de
impostos (Mt 10:3). Isso provavelmente indica que
ele se lembrava de sua salvação com gratidão. Até
mesmo um cobrador de impostos, desprezado e
pecador, podia tornar-se apóstolo do Salvador-Servo.
O último dos doze mencionados por Marcos é
Judas Iscariotes. O termo Iscariotes, uma palavra
grega, provavelmente vem do hebraico e significa
homem de Queriote. Queriote ficava em Judá (Js
15:25). Assim, Judas era o único apóstolo da Judéia,
todos os outros eram galileus.
Ao considerar que irmãos podem ser presbíteros
numa igreja, pode parecer-nos que nenhum está
qualificado. Por exemplo, talvez digamos: “Esse
irmão parece ser muito bom e ama bastante o Senhor.
Mas e seus antecedentes?”. Se o Senhor Jesus tivesse
considerado os doze dessa forma, quem poderia ser
escolhido? Mateus certamente seria excluído. Como
poderia o Senhor escolher um cobrador de impostos
para ser um dos doze apóstolos? Podemos pensar que
o Senhor deveria ter escolhido um escriba. Mas um
dos que Ele escolheu foi, de fato, cobrador de
impostos.
Precisamos aprender com o Senhor que a visão
natural é diferente da visão segundo a percepção
espiritual. O Senhor fez Sua escolha de acordo com a
percepção espiritual, e não de acordo com o ponto de
vista humano natural. Tiago e João tinham
temperamento terrível, capaz de trovejar. Nós nunca
os teríamos escolhido para apóstolos, mas o Senhor
os escolheu. Do ponto de vista natural, ninguém
estaria qualificado para ser apóstolo do Senhor Jesus.
Tiago e João, Simão, o Zelote, Mateus, o cobrador de
impostos — nenhum deles estaria qualificado.
Louvado seja o Senhor que Ele não fez a escolha de
acordo com o ponto de vista natural!
Com uma visão natural dos irmãos na vida da
igreja, podemos pensar que somos os únicos
qualificados para fazer certas coisas. Por exemplo,
pode haver apenas um presbítero em certa cidade.
Talvez ele diga que há a necessidade de pelo menos
mais dois. Porém ele pode dizer também: “Sim, tal
irmão de certa forma é bom. Mas não é tão bom”.
Finalmente, de acordo com o ponto de vista natural,
apenas ele mesmo é qualificado. Podem passar-se
anos e ele permanecer como o único que parece
adequado para assumir a responsabilidade do
presbitério. Não há os “doze”, muito menos os
“setenta”, para ajudá-lo. Ele é o único em sua igreja
qualificado para ser presbítero.
Mas o Senhor Jesus escolheu os desqualificados
para apóstolos. Os doze não eram qualificados e nós
também não o somos. Contudo, no mover do Senhor
há a necessidade de ajudantes; por isso, um dos atos
auxiliares do Senhor para levar a cabo Seu ministério
foi escolher alguns desqualificados para apóstolos.
Finalmente, Pedro foi confirmado pelo que
aconteceu no dia de Pentecostes. Não creio que ele
tivesse alto grau de instrução. Contudo, pouco depois
de o Senhor Jesus ter sido crucificado e ressuscitado,
ele pôde levantar-se no dia de Pentecostes como o
apóstolo líder. A Igreja Romana considera Pedro o
primeiro papa. Mas esse “papa” era um pescador
escolhido pelo Senhor e então confirmado no dia de
Pentecostes.
É muito importante que aprendamos a não ver o
ministério do Senhor ou a igreja de acordo com o
conceito natural. O Senhor não escolheu Nicodemos
para ser um dos doze; não escolheu nenhum de muita
instrução. Pelo contrário, os que escolheu pareciam
meio esquisitos. Vimos que para Tiago e João Ele até
mesmo deu o nome de “filhos do trovão”.
Freqüentemente quando falavam, eles trovejavam. Se
estivéssemos lá, talvez nossa atitude fosse: “Coloque
esses dois de lado até que parem de trovejar. Uma vez
que tenham mudado e seu trovão tenha perdido o
barulho, então poderemos usá-los no ministério”.
Esse é nosso conceito, o conceito natural, mas não é o
ponto de vista do Senhor Jesus. Em sua cidade você é
capaz de usar os filhos do trovão no serviço da igreja?
Precisamos aprender do Senhor a usar até mesmo
esses no serviço evangélico.
Vimos que o Senhor Jesus retirou-se da multidão
e então pediu que tivessem pronto um barquinho
para Ele. Ele não agia de modo natural; tudo o que
fazia era no espírito. Semelhantemente, a designação
dos doze não foi natural, mas totalmente no espírito.
Embora soubesse que Judas iria traí-Lo, Ele ainda o
designou como um dos doze. Naturalmente falando,
ninguém designaria alguém como Judas. Mas, agindo
pelo espírito, o Senhor Jesus escolheu até mesmo ele.
DEIXAR DE COMER POR CAUSA DA
NECESSIDADE URGENTE
Marcos 3:20-21 diz: “E Ele entrou numa casa. E
ajuntou-se de novo a multidão, de tal modo que nem
podiam comer. E quando Seus parentes ouviram isso,
saíram para O prender; porque diziam: Está fora de
Si”. Isso indica quão ocupado, diligente e fiel era o
Salvador-Servo como Servo de Deus em Seu serviço
evangélico.
Não é fácil analisar ou sistematizar as ações do
Senhor. Parece haver uma contradição entre Seu
comportamento de evitar a multidão em 3:7-12 e Sua
atitude em 3:20-21. Primeiro Ele evitou a multidão,
mas, quando estava em casa e a multidão se ajuntou,
Ele não tentou se retirar dela. Pelo que tinha feito em
3:7-12, era de se esperar que se mantivesse afastado
da multidão a fim de acabar de comer. Esperaríamos
que Ele dissesse: “Estou comendo agora, não tenho
tempo para estar com vocês”. Mas Ele agiu de forma
diferente: parou de comer e cuidou da necessidade
urgente dos que estavam na multidão.
Quando os parentes do Senhor ouviram falar
dessa situação, saíram para O prender, dizendo que
Ele estava fora de Si. Essa exclamação expressava a
preocupação natural dos parentes do Salvador-Servo.
Como veremos na próxima mensagem, isso abriu a
porta para que os escribas blasfemassem Dele (v. 22).
Os parentes do Senhor, talvez Seus irmãos na
carne, pensaram que Ele estivesse fora de Si. Estavam
preocupados porque Ele só atentava para a multidão
e não para Sua alimentação.
Não devemos tentar analisar de forma natural o
que parece ser um comportamento contraditório do
Senhor. Quando a multidão O apertou, Ele procurou
evitá-la. Mas, quando ela Lhe proporcionou
oportunidades de ministrar vida, Ele não se
preocupou com a própria alimentação. Precisamos
discernir essas duas questões: o aperto da multidão e
a oportunidade de ministrar vida.
ESTUDO-VIDA DE MARCOS
MENSAGEM DOZE
OS ATOS AUXILIARES DO SALVADOR-SERVO PARA O
SERVIÇO EVANGÉLICO (2)

Leitura Bíblica: Mc 3:22-35


Em 3:7-35 vemos cinco atos auxiliares para o
serviço evangélico do Salvador-Servo: escapar do
aperto da multidão (vs. 7-12), designar os apóstolos
para pregar (vs. 13-19), deixar de comer por causa da
necessidade urgente (vs. 20-21), amarrar Satanás e
saquear-lhe a casa por meio do Espírito Santo (vs.
22-30), e não permanecer no relacionamento da vida
natural, e sim no da vida espiritual (vs. 31-35). Na
mensagem anterior consideramos os primeiros três
desses atos auxiliares. Nesta consideraremos os dois
últimos: amarrar Satanás e não permanecer no
relacionamento da vida natural.

AMARRAR SATANÁS E SAQUEAR-LHE A


CASA PELO ESPÍRITO SANTO
De acordo com 3:21, os parentes do Senhor
“saíram para O prender; porque diziam: Está fora de
Si”. Essa exclamação, expressando a preocupação
natural dos parentes do Salvador-Servo, abriu a porta
para que os escribas O blasfemassem. O versículo 22
diz: “Os escribas que haviam descido de Jerusalém
diziam: Ele-está possesso de Belzebu, e: É pelo
príncipe dos demônios que Ele expulsa os demônios”.
Essa foi uma palavra de blasfêmia, causada pela
expressão da preocupação natural no versículo 21.
Por não conseguir entendê-Lo, os parentes do
Senhor disseram que Ele estava fora de Si. Essa
palavra abriu a porta para que os escribas, os
opositores, difamassem o Senhor. Os escribas
poderiam ter dito: “Veja, até mesmo Seus parentes
dizem que Ele está fora de Si. Você sabe por que ele
está fora de si? É porque tem demônio, e esse
demônio é Belzebu, o príncipe dos demônios”. O
Salvador-Servo expulsava demônios, os obreiros
malignos do reino das trevas de Satanás; contudo, os
opositores disseram que Ele o fazia pelo príncipe dos
demônios. Que sutileza do maligno, que motivou
esses opositores malignos a dizer isso! Eles eram seus
cooperadores e até mesmo eram um com ele.
Baal-Zebube significa o senhor das moscas, o
nome de um deus dos ecronitas (2Rs 1:2). Os judeus
com desdém mudaram o nome para Belzebu, que
significa senhor do monte de esterco e era usado para
o príncipe dos demônios (Mt 12:24; Lc 11:15, 18-19).
Os escribas insultaram o Salvador-Servo dizendo que
Ele expulsava os demônios pelo príncipe dos
demônios. Esse nome extremamente blasfemo
expressava a mais forte objeção e rejeição deles.
Sem dúvida, o nome Belzebu se refere ao diabo.
O diabo é senhor das moscas e senhor do monte de
esterco. Os escribas não poderiam ter escolhido
termo pior para difamar o Senhor Jesus. Eles não
apenas disseram que Ele tinha demônio, mas estava
sob a autoridade de Belzebu, o maioral dos demônios.
Essa blasfêmia era tão séria que mais tarde o Senhor
indicou que era imperdoável, pois era blasfêmia
contra o Espírito Santo (Mc 3:28-30).
Precisamos lembrar que a palavra dos parentes é
que abriu a porta para tal difamação, a palavra de que
Ele estava fora de Si. Eles o acusaram de ser anormal,
e isso deu aos escribas oportunidade para difamá-Lo.
Os escribas talvez tenham dito: “Ele certamente é
anormal, pois tem demônio, Belzebu”. Por meio disso
podemos ver que a porta para Satanás pode ser aberta
pelo amor natural dos parentes por nós.
Marcos 3:23-25 diz: “Tendo-os chamado a Si,
dizia-lhes em parábolas: Como pode Satanás expulsar
a Satanás? Se um reino estiver dividido contra si
mesmo, tal reino não pode subsistir; se uma casa
estiver dividida contra si mesma, tal casa não poderá
subsistir”. A palavra do Senhor aqui indica que
Satanás não somente possui uma casa, mas também
um reino. Sua casa é uma casa de pecado (1Jo 3:8,
10), e seu reino, de trevas (Cl 1:13). Os pecadores
pertencem tanto à sua casa como ao seu reino. Os
demônios pertencem ao seu reino, e para esse reino
se apoderam das pessoas. Satanás é o príncipe deste
mundo (Jo 12:31) e o príncipe da potestade do ar (Ef
2:2). Ele tem sua autoridade (At 26:18) e seus anjos
(Mt 25:41), que são seus subordinados como
principados, potestades e dominadores deste mundo
tenebroso (Ef 6:12). Portanto, ele tem o próprio reino:
a autoridade das trevas (Cll:13).
Vimos que Satanás tem tanto uma casa como um
reino. O reino de Satanás é contrário ao reino de
Deus, e a casa de Satanás é contrária à casa de Deus.
Em Marcos 3:26, o Senhor mostra que se
“Satanás se levantou contra si mesmo, e está dividido,
não pode subsistir, antes é chegado o seu fim”. Então
Ele continua no versículo 27: “Ninguém pode entrar
na casa do homem forte e saquear-lhe
completamente os bens se primeiro não amarrar o
homem forte; e então lhe saqueará completamente a
casa”. Os bens aqui são os pecadores mantidos na
casa de Satanás para seu reino. O Salvador-Servo
amarrou Satanás, o homem forte, e entrou em sua
casa para saquear-lhe os bens, para que os pecadores,
pela regeneração, fossem introduzidos na casa de
Deus (Ef 2:19) no reino de Deus (Jo 3:5). Enquanto
realizava Seu serviço evangélico, o Salvador-Servo
amarrava o homem forte, Satanás. O serviço
evangélico é uma guerra para destruir Satanás e seu
reino de trevas.
A palavra do Senhor no versículo 27 indica que,
enquanto pregava o evangelho, Ele estava amarrando
o homem forte a fim de destruir seu reino
saqueando-lhe a casa. Em outras palavras, a pregação
do Senhor era um saquear. Satanás capturou todos os
pecadores e os colocou em sua casa, que é uma prisão.
Assim, todos os pecadores se tomaram seus cativos.
Mas o Senhor Jesus, que tem o poder do Espírito,
veio para pregar o evangelho. Veio saquear a casa de
Satanás e libertar os cativos.
Se não tivéssemos a palavra do Senhor registrada
no versículo 27, não iríamos perceber que quando
pregamos o evangelho devemos saquear a casa de
Satanás. Talvez pensemos que a pregação do
evangelho seja simplesmente ganhar almas, salvar
pecadores perdidos. O Senhor, contudo, tem um
conceito diferente: pregar o evangelho para salvar
pecadores é saquear a casa de Satanás para libertar os
cativos. Para ser exato, esse saquear destrói o reino de
Satanás.
A palavra em 3:27 corresponde ao que o Senhor
diz a Paulo em Atos 26:18: “Para lhes abrires os olhos
e os converteres das trevas para a luz e da potestade
de Satanás para Deus”. Quando Paulo foi chamado
por Deus para pregar o evangelho, foi-lhe dito que
convertesse as pessoas das trevas para a luz, e da
autoridade (ou potestade) de Satanás para Deus. A
autoridade de Satanás é simplesmente seu reino.
Hoje, quando pregamos o evangelho aos pecadores,
também devemos converter os cativos de Satanás da
autoridade das trevas para Deus e Seu reino.
Em Marcos 3:28-29 o Senhor também disse aos
escribas: “Em verdade vos digo que todos os pecados
serão perdoados aos filhos dos homens, e quaisquer
blasfêmias que proferirem. Aquele, porém, que
blasfemar contra o Espírito Santo não tem perdão
para sempre, mas é réu de pecado eterno”. A palavra
do Senhor aqui a respeito do Espírito Santo mostra
que o serviço evangélico do Salvador-Servo,
especialmente ao expulsar demônios para destruir o
reino tenebroso de Satanás, dava-se pelo Espírito
Santo, com quem Ele foi ungido e por quem era
guiado continuamente em Seu mover (Lc 4:18, 1; Mc
1:12).
Ao pregar o evangelho, o Senhor estava
destruindo o reino de Satanás pelo poder do Espírito
Santo. Ao tempo de Seu batismo Ele negou a Si
mesmo, tendo sido sepultado nas águas de morte. O
Senhor não fazia nada pelo próprio poder, força ou
energia; pelo contrário, fazia tudo pelo Espírito
Santo. Em especial, pelo Espírito Santo Ele pregou o
evangelho, a fim de saquear a casa de Satanás e
destruir-lhe o reino.
Mateus 12:28 mostra que ao destruir o reino de
Satanás pela pregação do evangelho, o Senhor Jesus
estava introduzindo o reino de Deus: “Se, porém, Eu
expulso os demônios pelo Espírito de Deus, então é
chegado o reino de Deus sobre vós”. O Espírito de
Deus é o poder do reino de Deus. Onde está o Espírito
de Deus em poder, aí está o reino de Deus, e aí os
demônios não têm vez.
Quão maravilhoso é o ato auxiliar para o serviço
evangélico do Salvador-Servo descrito em Marcos
3:22-30! Pelo que é retratado aqui, aprendemos que
quando pregamos o evangelho precisamos orar para
contatar a Deus como nossa fonte a fim de receber
mais do Espírito Santo e ser por Ele fortalecidos com
poder. Então, ao pregar o evangelho, iremos saquear
a casa de Satanás e destruir-lhe o reino. Isso é
grandioso, e é muito importante que todos o vejamos.
O serviço evangélico não se restringe a pregar;
também envolve lutar e saquear. Os pecadores são os
“bens” capturados por Satanás e mantidos na
fortaleza de sua casa. Portanto, os incrédulos não
apenas precisam ser convencidos e subjugados, mas
também a casa de Satanás precisa ser saqueada a fim
de que eles possam ser libertos do cativeiro. Para
libertar os cativos de Satanás, precisamos de poder e
autoridade. O Espírito Santo é nosso poder e
autoridade. Por meio do ato auxiliar do Senhor aqui,
percebemos nossa necessidade de ser fortalecidos
com poder pelo Espírito Santo para pregar o
evangelho.
Em 3:28-29 o Senhor diz que todos os pecados e
blasfêmias serão perdoados aos filhos dos homens,
mas quem blasfemar contra o Espírito Santo “não
tem perdão para sempre, mas é réu de pecado
eterno”, um pecado que não será perdoado para
sempre. A blasfêmia contra o Espírito Santo difere de
ultrajar ou insultar o Espírito (Hb 10:29). Insultar o
Espírito é desobedecê-Lo voluntariamente. Muitos
crentes fazem isso. Se confessarem esse pecado, serão
perdoados e purificados pelo sangue do Senhor (1Jo
1:7, 9). Mas blasfemar contra o Espírito Santo é
difamá-Lo, como os escribas o fizeram em Marcos
3:22. Foi pelo Espírito Santo que o Senhor expulsou o
demônio, mas os escribas, ao vê-lo, disseram que Ele
o fazia por Belzebu, maioral dos demônios. Isso foi
uma blasfêmia contra o Espírito Santo.
Na economia do Deus Triúno, o Pai concebeu o
plano de redenção (Ef 1:5, 9), o Filho cumpriu a
redenção de acordo com o plano do Pai (1Pe 2:24; Gl
1:4) e o Espírito alcança os pecadores para aplicar a
redenção efetuada pelo Filho (1Co 6:11; 1Pe 1:2). Se
um pecador blasfemar contra o Filho, assim como o
fez Saulo de Tarso, o Espírito ainda tem como
trabalhar nele e fazê-lo arrepender-se e crer no Filho
a fim de ser perdoado (ver 1Tm 1:13-16). Mas se um
pecador blasfemar contra o Espírito, o Espírito não
terá base para trabalhar nele, e assim não haverá
mais ninguém que possa fazê-lo arrepender-se e crer.
Logo, é impossível tal pessoa ser perdoada. Isso não é
somente lógico, de acordo com a razão, mas também
é governamental, segundo o princípio administrativo
de Deus, como é revelado aqui pela palavra do
Senhor.

NÃO PERMANECER NO RELACIONAMENTO


DA VIDA NATURAL, E SIM NO DA VIDA
ESPIRITUAL
Em Marcos 3:31-35 vemos o quinto ato auxiliar
para o serviço evangélico do Salvador-Servo: não
permanecer no relacionamento da vida natural, e sim
no da vida espiritual. Marcos 3:31-32 diz: “Chegaram
então Sua mãe e Seus irmãos, e, ficando do lado de
fora, mandaram chamá-Lo. Uma multidão estava
assentada ao redor Dele, e Lhe disseram: Eis que Tua
mãe, Teus irmãos e Tuas irmãs estão lá fora e Te
procuram”. Depois da blasfêmia dos opositores
instigada por Satanás, os parentes do Salvador-Servo
vieram novamente perturbá-Lo com sua preocupação
natural por Ele. Sem dúvida, isso também foi
motivado pelo maligno.
De acordo com os versículos 33 a 35, o Senhor
disse: “Quem é Minha mãe e Meus irmãos? E,
olhando em redor para os que estavam assentados à
Sua volta, disse: Eis Minha mãe e Meus irmãos!
Porque qualquer que fizer a vontade de Deus, esse é
Meu irmão, irmã e mãe”. A palavra do Senhor aqui
indica que Ele rejeitou a preocupação natural dos
parentes. Para derrotar os ardis do maligno e cumprir
Seu serviço evangélico, Ele se recusou a manter
qualquer relacionamento na vida natural. Isso
demonstrou que Ele, em Sua humanidade, era
absoluto para Deus.
Olhando em redor para os que estavam
assentados à volta, o Senhor disse: “Eis Minha mãe e
Meus irmãos!”, depois disse também que qualquer
pessoa que fizesse “a vontade de Deus, era Seu irmão,
irmã e mãe”. Aqui vemos que o relacionamento do.
Senhor com Seus seguidores não é na carne, mas no
espírito. Qualquer que fizer a vontade de Seu Pai é
Seu irmão para ajudar, irmã para se solidarizar e mãe
para amar ternamente.
Por meio de Seu serviço evangélico, o
Salvador-Servo fez dos pecadores que Nele creram
Seus parentes espirituais. Estes se tomaram Seus
muitos irmãos (Rm 8:29; Hb 2:11) na casa de Deus
(Hb 3:5) e Seus muitos membros para a edificação de
Seu Corpo místico (Ef 5:30; 1Co 12:12), a fim de fazer
a vontade de Deus.
Hoje a Igreja Católica Romana considera Maria a
mãe de Deus. Mas aqui o Senhor Jesus negou Seu
relacionamento natural com ela e disse que quem
fizer a vontade de Deus é Sua mãe. Isso quer dizer que
uma irmã que faz a vontade de Deus pode ter a
ousadia de declarar que é mãe para o Senhor Jesus.
Além disso não é presunção nossa dizer com ousadia
que somos Seus irmãos.
Em Marcos 3:31-35 vemos que o Senhor não
permaneceu no relacionamento da vida natural, mas
Seu relacionamento com Seus seguidores era da vida
espiritual. A partir desse ato auxiliar podemos ver
que, para ser poderosos no ministério de Deus,
precisamos negar os relacionamentos naturais. O
maior obstáculo para o ministério de Deus é o
relacionamento natural com pai ou mãe, esposo ou
esposa, filhos ou parentes. O Senhor Jesus evitou esse
obstáculo negando o relacionamento natural.
Nesses cinco atos auxiliares para o serviço
evangélico do Salvador-Servo, vemos que não há base
para o conceito, entendimento ou relacionamento
natural. Nesses atos auxiliares tudo é espiritual, santo
e divino, totalmente contrário ao conceito humano.
Se quisermos seguir o Senhor a fim de ter esses atos
auxiliares hoje, não devemos dar margem aos
conceitos ou relacionamentos naturais. Para seguir o
Senhor nessas questões, tudo deve ser espiritual,
divino, santo e de acordo com Deus. Então teremos a
base e a ousadia para levar a cabo a obra de Deus.
Espero que todos, especialmente os jovens,
sejamos ajudados e impressionados por meio desses
atos auxiliares para o serviço evangélico do Senhor.
Principalmente, precisamos ser impressionados para
nunca considerar a restauração, o ministério e o
mover do Senhor de maneira natural. Não devemos
medir a restauração segundo o entendimento natural.
Todos os fatos registrados no Evangelho de
Marcos ocorreram debaixo da soberania do Senhor.
Primeiro, em Marcos 1:14-45 temos cinco questões
que formam o conteúdo do serviço evangélico do
Salvador-Servo. Então, em 2:1-3:6 temos cinco
incidentes que mostram as maneiras pelas quais Ele
levou a cabo esse serviço evangélico. Também vimos
que há cinco atos auxiliares em 3:7-35. Esses cinco
casos, cinco incidentes e cinco atos aconteceram, pela
soberania de Deus, numa seqüência excelente. Se
virmos isso, saberemos como levar a cabo o
ministério de Deus. Se virmos o conteúdo, as
maneiras e os atos, saberemos o que é o serviço
evangélico do Senhor, saberemos levar a cabo esse
serviço e saberemos ter a base e a posição para
realizar a obra de Deus.
ESTUDO-VIDA DE MARCOS
MENSAGEM TREZE
AS PARÁBOLAS DO REINO (1)

Leitura Bíblica: Mc 4:1-34


Nesta mensagem chegamos ao capítulo quatro
do Evangelho de Marcos, um capítulo crucial a
respeito do reino de Deus.
Novamente eu gostaria de chamar sua atenção à
seqüência da narrativa de Marcos. Em 1:14-45 temos
o conteúdo do serviço evangélico: pregar o evangelho,
ensinar a verdade, expulsar demônios, curar
enfermos e purificar o leproso. Depois, em 2:1-3:6,
vemos as maneiras pelas quais Ele levou a cabo o
serviço evangélico: perdoar os pecados dos enfermos,
comer com pecadores, fazer com que Seus seguidores
se alegrassem, sem ter de jejuar, importar-se antes
com a fome de Seus seguidores do que com os
preceitos da religião e importar-se antes com o alívio
de quem sofre do que com os ritos da religião. A
seguir, em 3:7-35, temos cinco atos auxiliares para o
serviço evangélico: escapar da pressão da multidão,
designar os apóstolos para pregar, deixar de comer
por causa da necessidade urgente, amarrar Satanás e
saquear-lhe a casa por meio do Espírito Santo, e não
permanecer no relacionamento da vida natural, e sim
no da vida espiritual.

O REINO DE DEUS
Embora possamos ter, nessas três seções, uma
visão completa a respeito do evangelho, não vemos,
no entanto, sua essência intrínseca, objetivo e
resultado, nem ainda para que é o evangelho; por
isso, no capítulo quatro, o registro de Marcos chega
ao tema do reino de Deus.
Em I:15 temos a primeira elocução do Senhor
Jesus em Sua pregação do evangelho: “O tempo está
cumprido e o reino de Deus está próximo,
arrependei-vos e crede no evangelho”. Esse versículo
indica claramente que o evangelho é para o reino, não
o reino do homem nem o de Israel, mas o de Deus.
Que é o reino de Deus? Não é fácil defini-lo. Para
entendê-lo precisamos considerar todo o Antigo
Testamento, pois ali temos uma visão clara do reino.
Podemos dizer que reino é a esfera, ou área de
atividade, onde alguém realiza algo. Às vezes dizemos
que certa pessoa tem seu reino. Isso significa que ela
tem uma área de atividade, uma esfera, onde pode
trabalhar para atingir seu objetivo ou cumprir seu
plano. Portanto, reino é o âmbito onde alguém faz o
que quer fazer. De acordo com o Antigo Testamento,
há o âmbito chamado de o reino de Deus, que é uma
esfera para Deus levar a cabo Seu propósito eterno e
atingir Seu objetivo.
Após criar os céus, a terra e bilhões de itens,
Deus criou o homem. De acordo com o livro de
Gênesis, Ele o criou com duplo objetivo. Do lado
positivo, Deus criou o homem à Sua imagem para
expressá-Lo. Do lado negativo, deu ao homem
domínio sobre todas as coisas criadas. Domínio
significa autoridade numa esfera específica. Domínio,
portanto, está relacionado com o reino de Deus. Em
Gênesis 1 vemos que o homem tem a imagem e o
domínio de Deus. A imagem visa a Sua expressão e o
domínio visa a Seu reino.
Deus, em Sua criação, queria que o homem O
expressasse. Para isso, Ele precisa de uma esfera, e
essa esfera é um reino, um ambiente onde Ele pode
exercitar Sua autoridade. Deus deu ao homem Sua
autoridade e o estabeleceu como cabeça de todas as
coisas criadas. Por meio disso podemos ver que,
imediatamente depois da criação do homem, Deus
estabeleceu um reino na terra. Portanto, o reino de
Deus pode ser visto no primeiro capítulo de Gênesis.
No devido tempo, após a queda do homem, Deus
chamou Abraão, Isaque e Jacó. O livro de Gênesis
registra a experiência desses patriarcas e dos filhos de
Israel e sua peregrinação no Egito. De acordo com o
registro de Êxodo, Deus os tirou do Egito. Êxodo 19:6
revela o propósito de Deus em fazê-lo: “Vós me sereis
reino de sacerdotes e nação santa”. Ele os tirou a fim
de fazer deles um reino de sacerdotes, um reino no
qual cada um seria sacerdote, alguém que serve a
Deus. Portanto, o objetivo de Deus era ter um reino
de sacerdotes.
De Êxodo 19 até o fim do Antigo Testamento
temos o registro da história de um reino. Não
devemos considerá-lo meramente como o reino de
Israel, mas o reino de Deus expresso no reino de
Israel.
Ao estudar o Antigo Testamento vemos que Deus
não conseguiu cumprir Seu propósito com Adão, Noé
nem com a nação de Israel. Embora o reino de Deus
fosse expresso pelo reino de Israel, Deus não
conseguiu atingir Seu objetivo por meio dos israelitas.
Por isso, finalmente, o próprio Deus veio mediante a
encarnação.
Como não conseguiu cumprir Seu propósito por
meio do primeiro Adão e seus descendentes, Deus
veio mediante a encarnação como último Adão. Como
o Deus encarnado, o Senhor Jesus veio estabelecer o
reino de Deus, um ambiente no qual Deus pode levar
({ cabo Seu propósito pelo exercício de Sua
autoridade. Essa foi a razão de o Senhor ensinar aos
discípulos que orassem pela vinda do reino (Mt 6:10).
Foi por isso também que, em Sua pregação do
evangelho, Ele dizia às pessoas que se arrependessem
para o reino de Deus. O Senhor declarou que o reino
de Deus estava próximo e as pessoas precisavam
arrepender-se para entrar nele. Os que se
arrependem porque está próximo o reino de Deus
poderão participar do cumprimento do propósito
eterno de Deus.

O OBJETIVO E O RESULTADO DO
EVANGELHO
Freqüentemente o reino de Deus é negligenciado
na pregação do evangelho, a qual, hoje, dá a
impressão de que o evangelho visa apenas ganhar
almas, transferir as pessoas do inferno para o céu e
ajudá-las a ter paz, alegria e a bênção eterna. No Novo
Testamento, no entanto, temos uma impressão
diferente do evangelho. Quando o Senhor Jesus o
pregava, Ele falava a respeito do reino de Deus e lhes
dizia que se arrependessem para o reino.
Um dia, em Seu treinamento aos discípulos, o
Senhor os levou à Cesaréia de Filipe, situada na
região norte da Terra Santa, perto da fronteira, ao pé
do Monte Hermom. Então Ele começou a
perguntar-lhes a respeito Dele mesmo: “Quem dizem
os homens ser o Filho do Homem? (...) Mas vós,
perguntou-lhes Ele, quem dizeis que Eu sou?” (Mt
16:13, 15). Respondendo Pedro, disse: “Tu és o Cristo,
o Filho do Deus vivo” (v. 16). Pedro O reconheceu
como o Cristo, o Filho do Deus vivo. Isso significa que
o Filho do Deus vivo foi designado Ungido de Deus, o
Cristo. Depois que Pedro recebeu essa revelação a
respeito do Senhor, o Senhor continuou: “Sobre essa
rocha edificarei a Minha igreja... Dar-te-ei as chaves
do reino dos céus” (vs. 18-19). Nesses versículos as
palavras igreja e reino são usadas uma em lugar da
outra. Primeiro o Senhor disse: “Edificarei a Minha
igreja”, e então: “Dar-te-ei as chaves do reino dos
céus”. Isso indica que para a igreja ser edificada, o
reino precisa ser aberto. Em outras palavras, abrir o
reino é a maneira de iniciar a edificação da igreja.
Precisamos ver esse item crucial de que a
essência intrínseca do evangelho é o reino. O
evangelho é pregado visando o reino, e o reino é uma
esfera divina para Deus levar a cabo Seu plano, um
ambiente onde Ele pode exercer Sua autoridade para
cumprir Sua intenção. A única maneira de Deus
alcançar Seu objetivo é o reino, portanto, há uma
seção de Marcos que revela o objetivo do evangelho:
ter o reino. O reino de Deus é o objetivo da pregação
do evangelho.
O reino de Deus não é apenas o objetivo mas
também o resultado do evangelho. Quando o
evangelho é pregado, que acontece? Qual é o
resultado do evangelho? É o reino. A pregação do
evangelho visa produzir o reino.
Apenas em Mateus é que o Senhor fala da igreja.
Não há menção da igreja em Marcos, Lucas ou João.
Precisamos perceber, no entanto, que na mente do
Senhor a igreja e o reino são uma coisa só. A igreja é o
reino e o reino é a igreja.

O REINO DE DEUS NÃO FOI SUSPENSO


Alguns mestres da Bíblia não têm um
entendimento preciso do reino de Deus. Dizem que
Cristo veio com o reino e o apresentou aos judeus,
mas eles rejeitaram o Senhor Jesus. Segundo esses
mestres, quando o Senhor foi rejeitado, o reino que
trouxe Consigo também o foi. Esses mestres também
dizem que, depois que o Senhor e o reino foram
rejeitados, Ele suspendeu o reino e começou a
edificar a igreja. E vão além, dizendo que a presente
dispensação, a era da graça, é a dispensação da igreja.
Nesta dispensação da graça, dizem eles, o Senhor está
edificando a igreja. Então, após a era da igreja, ao
tempo de Sua volta, o Senhor trará o reino, o qual,
dizem, foi suspenso, e o estabelecerá na terra no
milênio, a era do reino. De acordo com esse ponto de
vista, a era atual é a era da igreja e a próxima será a do
reino.
Em certo sentido esse entendimento tem algo de
verdade, mas não é totalmente preciso. Na verdade, o
Senhor Jesus não suspendeu o reino. No Estudo-Vida
de Mateus ressaltamos que no final de Mateus 13 a
rejeição do Senhor Jesus por parte dos judeus foi
completa. Contudo, Ele não suspendeu o reino, pois
em Mateus 16 Ele continuou falando da edificação da
igreja e também das chaves do reino. Isso indica clara
e definitivamente que o reino não foi suspenso.
No livro de Atos temos mais indicações de que o
Senhor não suspendeu o reino. Atos 1:3 diz que, aos
apóstolos, o Senhor “se apresentou vivo, com muitas
provas incontestáveis, aparecendo-lhes durante
quarenta dias e falando das coisas concernentes ao
reino de Deus”. Aqui vemos que nos quarenta dias
entre a ressurreição e a ascensão o Senhor falou aos
discípulos a respeito do reino. Em Atos 8:12 é-nos
dito que Filipe “os evangelizava a respeito do reino de
Deus e do nome de Jesus Cristo”. Em Atos 14:22
Paulo falou aos crentes a respeito de entrar no reino
de Deus, dizendo que “através de muitas tribulações,
nos importa entrar no reino de Deus”. Atos 19:8 nos
diz que “durante três meses, Paulo freqüentou a
sinagoga, onde falava ousadamente, dissertando e
persuadindo com respeito ao reino de Deus”. Em Atos
20:25 vemos que Paulo pregou o reino de Deus entre
os crentes de Éfeso. Além disso, Atos 28:23 e 31 diz
que Paulo “lhes fez uma exposição em testemunho do
reino de Deus” e estava “pregando o reino de Deus”.
Por meio desses versículos vemos que Paulo ensinava
e pregava as coisas concernentes ao reino de Deus.
Romanos 14:17 fala do relacionamento do reino
de Deus e da vida da igreja: “Porque o reino de Deus
não é comida nem bebida, mas justiça, e paz, e alegria
no Espírito Santo”. Esse versículo é prova categórica
de que a igreja nesta era é o reino de Deus, porque o
contexto aqui fala da vida da igreja na era atual.
Nesse capítulo Paulo escreve a respeito de
acolher os mais fracos. Não devemos rejeitar os mais
fracos quanto à questão de comida, porque o reino de
Deus não é comida nem bebida, mas justiça, paz e
alegria no Espírito Santo. De acordo com esse
versículo, a vida da igreja hoje é o reino. Praticar a
vida da igreja é praticar o reino. Portanto, a vida da
igreja na restauração do Senhor é a prática do reino
de Deus.
Em 1 Coríntios, Gálatas e Efésios, Paulo também
fala a respeito do reino de Deus. Em 1 Coríntios
6:9-10 ele menciona certas pessoas que não herdarão
o reino de Deus. Em Gálatas 5:21 diz que os que
praticam as obras da carne não herdarão o reino de
Deus. Em Efésios 5:5 novamente fala dos que não
“têm herança no reino de Cristo e de Deus”. O
contexto de todos esses versículos a respeito do reino
de Deus é a vida da igreja.
Em Apocalipse 1:9 João testificou que ele e os
Outros estavam no reino de Deus: “Eu, João, irmão
vosso e companheiro na tribulação, no reino e na
perseverança, em Jesus”. Como João poderia estar no
reino se o reino tivesse sido suspenso? O fato de João
estar no reino novamente prova que o reino não foi
suspenso.

A VIDA DIVINA E O REINO DIVINO


No terceiro capítulo do Evangelho de João vemos
que não podemos entrar no reino de Deus, a menos
que sejamos regenerados: “Em verdade, em verdade
te digo: Se alguém não nascer da água e do Espírito,
não pode entrar no reino de Deus” (10 3:5). Aqui
vemos que a regeneração não visa ir para o céu, e sim
entrar no reino de Deus. “Ir para o céu” seria algo
futuro, enquanto entrar no reino de Deus é para o
presente. Quando cremos no Senhor Jesus, fomos
regenerados. A regeneração foi a entrada no reino de
Deus.
A única maneira de entrar em qualquer reino é
nascer nele. Por exemplo, um animal entra no reino
animal nascendo. Se um animal pudesse entrar no
reino humano, precisaria nascer da vida humana.
Com esses exemplos vemos que o nascimento é a
entrada em determinado reino. Nós nascemos no
reino humano. No mesmo princípio, nós renascemos,
nascemos de Deus, para estar no reino divino.
Como é que entramos no reino do homem, o
reino humano? Entramos nesse reino mediante o
nascimento humano. Por esse nascimento recebemos
a vida humana e agora, por essa vida, conhecemos as
coisas do reino humano. De forma semelhante, a fim
de entrar no reino de Deus, devemos nascer de Deus.
Para estar no reino divino precisamos ter a vida
divina. Para entender as coisas do reino de Deus
precisamos da vida de Deus. Fora da vida divina
somos incapazes de entender o reino divino.
Pelo fato de termos nascido de Deus e recebido a
vida divina, estamos no reino de Deus. Louvado seja o
Senhor, pois fomos regenerados e agora estamos no
reino divino! Uma vez regenerados, estamos no reino
de Deus. De acordo com Romanos 14, pela prática da
vida da igreja, praticamos agora a vida do reino.

A VIDA DO REINO
Na restauração do Senhor, estamos acostumados
a usar a expressão “a vida da igreja”. Freqüentemente
dizemos aos outros que estamos na vida da igreja. Eu
recomendaria que de agora em diante digamos não
apenas que estamos na vida da igreja, mas também
na vida do reino. Por vezes talvez seja até melhor falar
da vida do reino do que da vida da igreja. Se usarmos
a expressão “vida do reino” juntamente com “vida da
igreja”, isso talvez nos lembre que hoje estamos na
vida do reino. Estar na vida da igreja é estar no reino,
pois a igreja hoje é o reino, e o reino é a realidade da
vida da igreja.
ESTUDO-VIDA DE MARCOS
MENSAGEM CATORZE
AS PARÁBOLAS DO REINO (2)

Leitura Bíblica: Mc 4:1-34


A Palavra reino, sem dúvida, denota governo.
Dizer que praticamos a vida do reino significa que
estamos debaixo do governo de Deus. Nesta
mensagem, contudo, consideraremos o reino de Deus
de um ponto de vista bem diferente.

A SEMENTE DO EVANGELHO
Vamos iniciar nossas considerações a respeito do
reino fazendo a seguinte pergunta: Que é o
evangelho? Pode-se dizer que é uma Pessoa
maravilhosa, um maravilhoso Homem-Deus. O
evangelho nos diz que um dia o próprio Deus
encarnou-se. Esse maravilhoso Deus encarnado era o
Homem-Deus. Quando atingiu a idade de trinta anos,
Ele saiu a pregar o evangelho. Como ressaltamos
numa das mensagens anteriores, o evangelho é o
substituto de todo o Antigo Testamento, pois é o
cumprimento das promessas, profecias e tipos, e
também é a remoção da lei. Com a vinda do
Homem-Deus, Jesus Cristo, o Antigo Testamento
acabou. Jesus Cristo é, Ele mesmo, o evangelho. O
evangelho, portanto, é Esse maravilhoso
Homem-Deus.
De acordo com o relato do capítulo quatro do
Evangelho de Marcos, podemos dizer que o
evangelho é o maravilhoso Homem-Deus vindo
semear-Se como semente de vida contida na palavra
do Senhor. A esse respeito, Marcos 4:2-3 diz: “E
muitas coisas lhes ensinava em parábolas, e lhes dizia
no Seu ensinamento: Ouvi: Eis que o semeador saiu a
semear”. No grego, bem como em português, o verbo
ensinava está no imperfeito, indicando uma ação que
se repete no passado. A palavra semeador indica que
o Salvador-Servo, que era o Filho de Deus, veio
semear-Se como semente de vida em Sua palavra (v.
14) nos corações dos homens, a fim de crescer neles,
viver neles e ser expressado a partir do interior deles.
A semente semeada aqui é a palavra que procedeu da
boca do Salvador-Servo. Assim, Sua palavra é a
semente, e nela está a vida divina. Na realidade, a
semente da vida divina é o próprio Senhor.
A semente semeada no capítulo quatro de
Marcos é a semente do evangelho. Assim como uma
semente de cravo é, na verdade, o próprio cravo,
assim a semente do evangelho é o próprio evangelho.
Como Homem-Deus, Jesus Cristo é a semente do
evangelho. Quando falamos de semente do
evangelho, queremos dizer que a semente é o
evangelho, assim como a semente do cravo é cravo.
Em Marcos 4 temos a semente do evangelho ou o
evangelho como semente. De acordo com 4:3, ao
ensinar, o Senhor semeava. Esse semear era a
pregação do evangelho de Deus pelo Salvador-Servo,
que introduziu o reino de Deus (1:14-15). A palavra
falada por Ele foi o semear da semente de vida, como
vemos em 4:26. Isso indica que Seu serviço
evangélico consistia em semear a vida divina nas
pessoas a quem Ele servia. O crescimento dessa vida
depende da condição dos que são servidos por Ele, e o
resultado, assim, varia de acordo com as diversas
condições, como retrata a parábola do semeador
(4:1-20).
O Senhor Jesus plantou a semente no coração do
homem. Em Marcos 4 e Mateus 13 o coração do
homem é comparado ao solo. O nosso coração é o
campo, o solo, no qual o Senhor Jesus semeou a Si
mesmo como a semente de vida, que é a semente do
evangelho. Na parábola do semeador, o Senhor Jesus
é tanto o Semeador como a semente plantada. Como
Semeador, Ele semeia a Si mesmo como semente de
vida por meio de Sua palavra.
Na própria parábola do semeador o reino de
Deus não é mencionado. Por exemplo, em 4:3 o
Senhor não diz nada sobre o reino, mas diz que o
semeador saiu a semear. Por que não há menção do
reino em 4:1-8? A razão é que, embora o reino de
Deus estivesse próximo, ele ainda não tinha chegado.
Mas, em 4:26 vemos que o reino já havia chegado, por
isso o Senhor podia dizer: “O reino de Deus é [...]”.
Então, em 4:30 o Senhor prosseguiu: “A que
compararemos o reino de Deus?”. Na parábola da
semente (vs. 26-29) e na parábola do grão de
mostarda (vs. 30-34Jo reino de Deus estava lá. Mas
na primeira parábola, a do semeador, ele ainda não
havia chegado. Como vimos, nessa parábola a
semente do reino é plantada.
Quando plantou a semente do reino de Deus, o
Senhor semeou a Si mesmo nos discípulos. Então,
essa semente passou por um processo de
desenvolvimento neles por três anos e meio. Como
resultado, quando veio o dia de Pentecostes, o reino
de Deus estava presente com eles. O tempo desde que
o Senhor saiu a pregar o evangelho até o dia de
Pentecostes foi menos de quatro anos. Esse foi um
período para que a semente plantada na “terra”
crescesse. A semente continuou a crescer e se
desenvolver até o dia de Pentecostes, quando o reino
estava claramente presente em Pedro e os cento e
vinte.
É fácil falar do aspecto exterior do reino. Mas é
difícil falar do reino de Deus no aspecto interior de
vida. Precisamos ser impressionados com o fato de
que o reino de Deus é muito diferente do reino do
homem. O reino do homem é uma organização. O
reino de Deus não; antes, é absolutamente uma
questão de vida.
Que é o reino de Deus? É, na verdade, o
Homem-Deus, Jesus Cristo, plantado como semente
em Seus crentes. Depois de plantada, essa semente
irá crescer neles e por fim se desenvolverá num reino.
Jesus Cristo é a semente do reino de Deus,
semeada nos que crêem Nele. Agora, ela cresce e se
desenvolve neles. Finalmente, esse crescimento e
desenvolvimento terão um resultado: o reino. Então
esse resultado, o reino, fará com que todos os crentes
do Senhor atinjam o objetivo. Esse objetivo também é
o reino. O capítulo quatro do Evangelho de Marcos
presta-se ao propósito específico de revelar-nos o
reino dessa forma.

O ELEMENTO INTRÍNSECO DO
EVANGELHO
Nesta mensagem não estou preocupado com um
estudo versículo por versículo de 4:1-34, nem mesmo
com um estudo das diversas parábolas. O meu
encargo é que vejamos o que é o reino de Deus. É
crucial ver que o evangelho é o evangelho do reino de
Deus. Esse evangelho, na verdade, é o Homem-Deus,
Jesus Cristo, semeado em nós como semente de vida,
que é a semente do reino. Essa semente agora cresce e
se desenvolve em nós. Finalmente, um reino resultará
desse crescimento e desenvolvimento.
Se dissermos que na restauração do Senhor
estamos praticando a vida do reino, precisamos
perceber que esse reino não é uma organização. Não;
é algo da vida interior, uma vida que, na verdade, é o
próprio Senhor Jesus Cristo. Ele foi plantado em
nosso ser como semente e agora cresce e se
desenvolve em nós. Louvado seja o Senhor, porque
essa semente está em cada um de nós e agora cresce e
se desenvolve! O crescimento e o desenvolvimento da
semente resultarão no reino. Além disso, o reino nos
levará ao destino de modo que o objetivo de Deus seja
atingido. Você sabe qual é esse objetivo? É o pleno
desenvolvimento do reino de Deus.
Já enfatizamos que Marcos registra as atividades
do Senhor. Nos primeiros três capítulos vemos o
conteúdo do serviço evangélico (1:14-45), as maneiras
de levar a cabo tal serviço (2:1-3:6) e os atos
auxiliares para esse serviço (3:7-35). Agora, no
capítulo quatro vemos o que é o evangelho. De acordo
com esse capítulo, o evangelho é a semente de vida
plantada nos que crêem no Senhor Jesus, de modo
que cresça, se desenvolva e resulte no reino.
Aparentemente, o evangelho é questão de pregação,
ensinamento, expulsão de demônios, cura de
enfermos e purificação de leprosos. Na verdade, o
elemento intrínseco do evangelho é a semente divina,
o Homem-Deus, o Deus encarnado, plantado em
nosso ser. Esse elemento intrínseco do evangelho é
negligenciado por muitos cristãos de hoje.
No evangelho há uma semente interior, que,
como seu elemento intrínseco, é o Homem-Deus.
Sempre que formos pregar o evangelho, precisamos
ministrar Cristo aos que nos ouvem e recebem nossa
palavra, pois no evangelho há um elemento
intrínseco. Sempre que alguém recebe o evangelho,
recebe o Deus encarnado como elemento intrínseco a
semente, do evangelho. Isso significa que, uma vez
que a pessoa receba o evangelho, recebe tal semente.
Por meio do evangelho o Deus encarnado é semeado
em seu ser.

O DEUS TRIÚNO HABITA EM NÓS


Tem havido discussão teológica entre os cristãos
a respeito do fato de Cristo habitar nos crentes. A
pergunta é a seguinte: Está Cristo realmente em nós
ou não? Alguns dizem que Ele é grande demais e nós,
pequenos demais para contê-Lo. De acordo com os
que mantêm esse conceito, Cristo pode estar nos
céus, mas não em nós. Assim, segundo essa visão,
apenas o Espírito Santo, como Seu representante, é
que estaria em nós.
Alguns admitem que Cristo, o Filho, está em nós,
mas negam que o Pai está em nós. Podem então
prosseguir nessa linha, dizendo que o Pai e o Filho
são duas Pessoas separadas. Afirmam que na deidade
há três Pessoas separadas, que são o Pai, o Filho e o
Espírito. Esses que afirmam que o Filho está em nós,
mas o Pai não, dizem que, enquanto o Filho vive em
nós, o Pai está no trono nos céus. Quanto ao fato de o
Pai habitar em nós, precisamos considerar a palavra
de Paulo em Efésios 4:6: “Um só Deus e Pai de todos,
o qual é sobre todos, age por meio de todos e está em
todos”. De acordo com esse versículo, o Pai é sobre
todos, age por meio de todos e está em todos. Como,
então, podemos dizer que o Pai não está em nós?
Tanto pelo Novo Testamento como por nossa
experiência sabemos que o Pai, o Filho e o Espírito
estão em nós. Vimos que Efésios 4:6 indica que o Pai
está em nós. Colossenses 1:27 e 2 Coríntios 13:5
provam definitivamente que Cristo, o Filho, está em
nós. João 14:17 e Romanos 8:9 revelam que o Espírito
habita em nós. Além disso em João 14:23 o Senhor
Jesus disse: “Se alguém Me ama, guardará a Minha
palavra; e Meu Pai o amará, e viremos a ele e faremos
com ele morada”. Aqui vemos que quando o Filho
vem, o Pai vem com Ele. O Pai não permanece no céu
e o Filho vem para estar em nós. Não; o Pai e o Filho
vêm juntos fazer morada em quem ama o Senhor
Jesus.
O Deus Triúno está em nós. O Deus Triúno que
habita em nós é a própria semente do evangelho.
Vimos que essa semente é o Homem-Deus. Portanto,
a semente do evangelho é o Deus Triúno em Sua
humanidade.
No caso do perdão dos pecados do paralítico
registrado em Marcos 2, vemos o Deus Triúno em Sua
humanidade. Aqui vemos tanto a deidade como a
humanidade do Salvador-Servo. O Salvador-Servo
sabia da fé dos que O buscavam, dos pecados do
enfermo e dos arrazoamentos interiores dos escribas.
Isso indica que Ele era onisciente. Essa onisciência,
que manifesta Seu atributo divino, revelou Sua
deidade. Contudo, o Salvador-Servo prosseguiu em
2:10 falando de Si como o Filho do homem. Ele era o
próprio Deus encarnado, mas, como tal, não
considerou o ser igual a Deus coisa a que devesse se
aferrar. Ele exteriormente tinha a semelhança dos
homens, até mesmo a forma de servo, mas
interiormente era Deus (Fp 2:6-7 — IBB). Ele era
tanto o Salvador-Servo como o Salvador-Deus. Assim,
Ele não tinha apenas a capacidade de salvar
pecadores, mas também a autoridade para perdoar
seus pecados. No incidente registrado em 2:1-12, Ele
perdoou os pecados do homem como Deus, mas
afirmou que era o Filho do Homem. Isso indica que
Ele era o verdadeiro Deus e um homem autêntico.
Nele vemos tanto a deidade como a humanidade. De
acordo com o capítulo quatro, esse maravilhoso
Homem-Deus é a semente do reino. Isso é
exatamente o que esse capítulo nos ensina.
O capítulo quatro do Evangelho de Marcos nos
capacita a ver que o evangelho anunciado por João
Batista e pregado pelo próprio Senhor Jesus é o Deus
Triúno, em Sua humanidade, como semente de vida,
semeado em nosso coração. Para conhecer o que é o
reino de Deus, precisamos ver essa questão
sumamente importante.

O GENE DO REINO
A fim de esclarecer essa questão, gostaria de
tomar emprestado um termo da biologia: o gene. O
Deus Triúno em Sua humanidade semeado em nosso
ser é o gene do reino. Sabemos que sem genes
humanos é impossível haver a vida humana. Nosso
nascimento, nosso ser e nossa existência começaram
todos com um gene. Agora precisamos ver que o Deus
Triúno em Sua humanidade foi semeado em nós para
ser o gene do reino. Louvado seja o Senhor porque
esse gene está em nós! Por fim, esse gene resultará no
reino.
Primeiro, o reino é o resultado do evangelho, e
depois é o objetivo do evangelho. Entre o resultado e
o objetivo temos a igreja. Você sabe o que é a igreja? É
a continuação do resultado do gene do reino.
Esse entendimento do reino certamente é
diferente do conceito superficial de muitos cristãos de
hoje. Vimos que, um dia, o Deus Triúno tornou-se um
homem chamado Jesus Cristo, o Homem-Deus. Ao
perdoar o paralítico em Marcos 2 Sua deidade e Sua
humanidade foram manifestadas. Agora
,
Ele, pela pregação do evangelho, foi semeado em
nós. Para contatá-Lo hoje, não há necessidade de
ninguém descobrir o telhado como fizeram aquelas
pessoas zelosas em Marcos 2. O Senhor foi semeado
em nosso coração! Ele é o gene do reino, o Deus
Triúno em Sua humanidade. Essa pessoa
Maravilhosa é nosso Deus, Senhor, Salvador,
Redentor, Mestre e vida.
Visto que o Homem-Deus, como gene do reino,
foi semeado em nós, espontaneamente amamos uns
aos outros e desfrutamos comunhão maravilhosa.
Podemos dizer que a igreja na restauração do Senhor
é o verdadeiro cadinho' das diferentes raças,
nacionalidades e culturas. Na verdade, nós não
apenas estamos misturados, mas também
entremesclados. Você sabe por que amamos uns aos
outros? Por causa do
'Vaso metálico ou de material refratário,
utilizado em operações químicas a temperaturas
elevadas; crisol; daí, lugar onde as coisas se
misturam, se fundem. (N. do T.) gene que está em
nós. Ele contém o elemento com o qual amamos uns
aos outros.
Dia a dia, a semente do reino cresce e se
desenvolve em nós. Tenho encargo de que todos
sejamos impressionados com o fato de que essa
semente, esse gene, foi semeada em nós e é o Deus
Triúno encarnado, o próprio Deus em Sua
humanidade. Aquele que perdoou o paralítico está
agora em nós como a semente do reino.
Oh! que todos tenhamos encargo de contar aos
outros essas boas novas! Podemos esquecer-nos de
muitas coisas, mas devemos lembrar-nos do gene que
está em nós. O Deus Triúno em Sua humanidade foi
plantado em nós como semente de vida para crescer,
desenvolver-se e produzir o reino. Assim, o reino é o
resultado do evangelho e será seu objetivo. Entre o
resultado e o objetivo temos a vida da igreja como
continuação do resultado desse maravilhoso gene que
está em nós.
ESTUDO-VIDA DE MARCOS
MENSAGEM QUINZE
AS PARÁBOLAS DO REINO (3)

Leitura Bíblica: Mc 4:1-34


O Evangelho de Marcos nos dá um relato das
atividades do Salvador-Servo. Como já ressaltamos,
não é a intenção desse Evangelho dar-nos um registro
das palavras ou ensinamentos do Salvador-Servo.
Naturalmente, ele nos diz que o Senhor Jesus
ensinava, contudo não enfatiza Suas palavras.
O capítulo quatro, que pode ser considerado uma
inserção, difere do restante do Evangelho de Marcos,
pelo fato de nos dar um registro de quatro das
parábolas do Senhor. Em 4:1-34 não temos uma
descrição da atividade ou mover do Salvador-Servo,
mas um registro de Seu ensinamento a respeito do
reino de Deus. Esse capítulo acerca de ensinamento é
crucial.
Se compararmos o capítulo quatro de Marcos
com o capítulo treze de Mateus, veremos que Marcos
4 é muito mais curto do que Mateus 13. Em Mateus 13
temos sete parábolas, mas em Marcos 4 só temos
quatro: a parábola do semeador (vs. 1-20), a da
lâmpada (vs. 21-25), a da semente (vs. 26-29), e a do
grão de mostarda (vs. 30-34). Dessas quatro, apenas
a parábola da lâmpada não está incluída em Mateus
13.

O CRESCIMENTO E O DESENVOLVIMENTO
DA SEMENTE DO REINO
A questão crucial revelada no capítulo quatro do
Evangelho de Marcos é a semente ou o gene do reino.
O reino de Deus não é produzido por atividade nem
por organização. Na verdade, é o próprio Deus
semeado nos seres humanos e desenvolvendo-se
neles até se tornar um reino.
Precisamos ser impressionados com o fato de
que o reino de Deus não é questão de ensinamento,
atividade e organização; pelo contrário, é o Deus
Triúno em Sua encarnação semeado em Seus
escolhidos para crescer e desenvolver-se neles
tornando-se um reino.
Nessa breve definição do reino temos uma
afirmação do elemento intrínseco de todo o
ensinamento neotestamentário. Que nos ensina o
Novo Testamento? Ensina que o Deus Triúno
encarnou-se para ser semeado em Seus escolhidos e
Se desenvolver num reino. Esse é o elemento
intrínseco do ensinamento do Novo Testamento.
Se lermos o Novo Testamento sob essa luz,
veremos que o Deus Triúno tornou-se um homem.
Quando esse homem, Jesus Cristo, começou a pregar
o evangelho e ensinar a verdade, estava semeando a
Si mesmo nos outros. Isso quer dizer que Sua
pregação do evangelho e ensino da verdade foram, de
fato, um semear de Si mesmo nos que O ouviram. Ao
pregar e ensinar, Ele semeava Sua palavra nos
ouvintes. Sua palavra O transmitia a eles. Portanto,
mediante a palavra, Ele mesmo, como Homem-Deus
o Deus Triúno em humanidade, foi semeado em Seus
escolhidos. A pregação e o ensinamento foram Sua
maneira de Se semear como a semente do reino.
Quando os escolhidos de Deus ouviram a palavra
desse Homem-Deus e a receberam, na verdade
receberam uma Pessoa maravilhosa, Aquele que é
tanto o Deus Triúno como homem autêntico. Isso é o
que está registrado nos quatro Evangelhos.
Os quatro Evangelhos revelam o Deus Triúno
encarnado. Esse Homem-Deus por fim saiu a Se
semear nos escolhidos de Deus pregando e
ensinando. Quando os escolhidos de Deus ouviram
Sua palavra e a receberam, receberam a semente, o
gene, do reino. Essa semente, esse gene, é o Deus
encarnado, o Deus Triúno em Sua humanidade. Nos
Evangelhos temos a semeadura da semente do reino.
Em Atos temos a propagação e o espalhar dessa
semeadura. Nos Evangelhos temos alguma
propagação, primeiro de um Semeador para doze e
depois de doze para setenta. Mas em Atos centenas e
mesmo milhares de semeadores foram levantados.
Todos eles receberam a semente, o gene, e por isso
foram capazes de semeá-la nos outros. Dessa forma
temos a propagação da semeadura e da semente.
Nas epístolas vemos o crescimento da semente, o
gene do reino. Vemos isso especialmente no capítulo
três de 1 Coríntios, em que Paulo diz: “Lavoura de
Deus [...] sois vós” (v. 9b). Ainda no mesmo capítulo
ele diz: “Eu plantei, Apolo regou; mas o crescimento
veio de Deus” (v. 6). Nesse capítulo temos o
crescimento, o desenvolvimento da semente.
Podemos ver mais desenvolvimento do gene do
reino em 2 Pedro 1:3, que diz: “Pelo seu divino poder,
nos têm sido doadas todas as cousas que conduzem à
vida e à piedade”. Todas as coisas pertencentes à vida
divina nos foram dadas com o objetivo de
desenvolvimento. Temos uma descrição desse
desenvolvimento nos versículos 5 a 7: “Por isso
mesmo, vós, reunindo toda a vossa diligência,
associai com a vossa fé a virtude; com a virtude, o
conhecimento; com o conhecimento, o domínio
próprio; com o domínio próprio, a perseverança; com
a perseverança, a piedade; com a piedade, a
fraternidade; com a fraternidade, o amor”. Aqui
temos os passos do desenvolvimento da semente até a
maturidade. Pedro nos mostra o resultado de tal
desenvolvimento: “Pois desta maneira é que vos será
amplamente suprida a entrada no reino eterno de
nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo” (v. 11). Assim,
temos claramente nas epístolas o desenvolvimento da
semente do reino.
A colheita dessa semente está no último livro do
Novo Testamento, Apocalipse. De acordo com
Apocalipse 14, primeiro temos as primícias e então a
colheita. Apocalipse 14:4 fala dos que “foram
redimidos dentre os homens, primícias para Deus e
para o Cordeiro”. Então no versículo 15 vemos que “a
seara da terra já amadureceu!”.
Aqueles que são as primícias, mencionadas em
Apocalipse 14, estarão entre os que reinarão
juntamente com Cristo no milênio. O milênio será o
pleno desenvolvimento do gene do reino. Nesse
período, muitos dos que receberam o gene do reino
serão co-reis com Cristo. Então nosso Pai poderá
gabar-Se diante do inimigo: “Pequeno Satanás, onde
está você? Você está no abismo. Eu peço que você
olhe para o Meu reino, especialmente para os que
agora são coreis com Cristo. Muitos que creram em
Meu Filho e receberam o gene do reino tornaram-se
reis juntamente com Ele. Meu Filho é o Rei, e todos
os santos vencedores são Seus co-reis. Satanás, olhe
para o Rei e os co-reis. Que reino maravilhoso!”.
Nosso Deus é eterno e com Ele não há o elemento
tempo. “Para o Senhor, um dia é como mil anos, e mil
anos, como um dia” (2Pe 3:8). Do ponto de vista de
Deus, os mil anos do milênio serão simplesmente
como um dia, para Ele mostrar Seu maravilhoso
reino. Mas para Satanás essa demonstração do reino
durará mil anos. Nesse tempo Satanás estará
amarrado no abismo.
No fim do milênio, Satanás será solto e lhe será
permitido rebelar-se novamente. A respeito disso,
Apocalipse 20:7-8 diz: “Quando, porém, se
completarem os mil anos, Satanás será solto da sua
prisão e sairá a seduzir as nações que há nos quatro
cantos da terra, Gogue e Magogue”. Embora vá
instigar rebelião entre as nações, ele não será capaz
de tocar os coreis, pois já terão sido transformados
pelo gene do reino. Todo o elemento rebelde da
humanidade caída desses co-reis terá sido eliminado
pelo gene do reino. Dessa forma, será impossível
Satanás, o maligno, instigar o “povo do gene real” a se
rebelar contra Deus. Contudo, grande número dos
que estarão nas nações restauradas o seguirá.
Apocalipse 20:9 nos mostra o resultado dessa última
rebelião: “Marcharam, então, pela superfície da terra
e sitiaram o acampamento dos santos e a cidade
querida; desceu, porém, fogo do céu e os consumiu”.
As pessoas dentre as nações restauradas que não se
unirem à rebelião serão transferidas para a nova
terra.
No novo céu e nova terra Deus terá um reino
eterno com a Nova Jerusalém como capital. A Nova
Jerusalém será uma composição de reis, e regerão as
nações plenamente restauradas. Então Deus terá um
reino eterno como pleno desenvolvimento do gene
semeado nos Evangelhos por Jesus de Nazaré, que
era o Deus Triúno em humanidade.
Que maravilhoso é o gene do reino semeado nos
Evangelhos! Por fim esse gene se desenvolverá no
reino milenar mencionado em Apocalipse 20 e no
reino eterno de Deus em Apocalipse 21 e 22. Louvado
seja o Senhor por esse quadro do gene do reino e seu
desenvolvimento!

CRESCIMENTO E TRANSFORMAÇÃO NA
VIDA DA IGREJA
Onde fica a igreja nesse quadro do gene do reino
e seu desenvolvimento e consumação? As igrejas
estão no período do desenvolvimento do gene, que
ocorre por crescimento e transformação. Na vida da
igreja estamos crescendo e sendo transformados.
Em 1 e 2 Coríntios, Paulo fala do crescimento e
transformação que experimentamos na vida da igreja.
Em 1 Coríntios 3 temos o crescimento em vida e em 2
Coríntios 3, a transformação da vida. Em 1 Coríntios
3:7 Paulo fala de “Deus, que dá o crescimento”. Aqui
temos o crescimento em vida. Em 2 Coríntios 3:18
Paulo diz: “E todos nós, com o rosto desvendado,
contemplando, como por espelho, a glória do Senhor,
somos transformados, de glória em glória, na sua
própria imagem, como pelo Senhor, o Espírito”. Aqui
temos a transformação em vida. Portanto, em 1 e 2
Coríntios temos, respectivamente, um capítulo que
trata do crescimento em vida e outro que trata da
transformação em vida. Agora, na vida da igreja,
experimentamos esse crescimento e transformação
em vida.
Já ressaltamos que a vida da igreja é a
continuação do resultado do gene do reino. Essa
continuação finalmente alcançará o pleno
desenvolvimento. Então o reino será manifestado no
milênio. Todos os que, através dos séculos, receberam
o gene se tomarão reis pelo desenvolvimento desse
gene. A totalidade desses reis será o reino eterno de
Deus. Portanto, o reino eterno de Deus é o pleno
desenvolvimento do gene semeado pelo
Homem-Deus, Jesus de Nazaré.
Hoje, na vida da igreja, experimentamos o
desenvolvimento do gene do reino pelo crescimento e
transformação em vida. Por fim, esse crescimento e
transformação atingirão a consumação extrema.
Então todos seremos co-reis com Cristo, todos os que
experimentamos o pleno desenvolvimento do gene do
reino.
No presente estamos no processo de
desenvolvimento. Mas é certo que um dia todos
seremos co-reis. Quando esse dia chegar olharemos
um para o outro e diremos: “Irmão, você se lembra
daquelas reuniões nas quais ouvimos falar do gene do
reino? Quando estávamos na vida da igreja,
estávamos desenvolvendo o gene. Agora estamos
todos aqui como co-reis de Cristo. Podemos ver o
pleno desenvolvimento do gene do reino”. Esse pleno
desenvolvimento será uma exibição para as nações,
para os anjos e para o Diabo, Satanás.
Precisamos ler o capítulo quatro de Marcos à luz
do que vimos a respeito do gene do reino. Se o lermos
nessa luz, perceberemos que em Marcos 4 temos o
elemento intrínseco do evangelho.

O MISTÉRIO DO REINO DE DEUS


Em 4:1-8 o Senhor conta a parábola do
semeador, e em 4:11 Ele prossegue, dizendo aos
discípulos: “A vós é dado conhecer o mistério do reino
de Deus, mas aos de fora tudo se faz em parábolas”. A
economia de Deus a respeito de Seu reino era um
mistério oculto, desvendado aos discípulos do
Salvador-Servo. Mas, como a natureza e o caráter do
reino de Deus são totalmente divinos, e os elementos
pelos quais ele é gerado são a vida e a luz divina, o
reino ainda é um total mistério para o homem
natural, especialmente em sua realidade, que é a
igreja autêntica nesta era (Rm 14:17).

A PARÁBOLA DA LÂMPADA
Em 4:21-25 temos a parábola da lâmpada. Nos
versículos 21 e 22 o Senhor diz: “Vem, porventura, a
lâmpada para ser posta debaixo do alqueire ou da
cama? Não vem antes para ser colocada no
candelabro? Pois nada há oculto senão para ser
manifesto; e nada há escondido senão para que venha
à luz”. A lâmpada que brilha indica que o serviço
evangélico do Salvador-Servo não apenas semeia vida
nas pessoas a quem Ele serve, mas também lhes traz
luz. Portanto, esse serviço divino resulta nos crentes
como luzeiros (Fp 2:15) e nas igrejas como
candelabros (Ap 1:20), brilhando nessa era de trevas
como Seu testemunho e culminando na Nova
Jerusalém com as notáveis características de vida e
luz (Ap 22:1-2; 21:11, 23-24).
Marcos 4:24-25 diz: “E dizia-lhes: Atentai no que
ouvis. Com a medida com que medirdes,
medir-se-vos-á, e se vos acrescentará. Pois ao que
tem, se lhe dará; e ao que não tem, até o que tem lhe
será tirado”. Em Mateus 7:2 e Lucas 6:38 a palavra do
Senhor a respeito de medir é aplicada à maneira
como lidamos com os outros. Em Marcos 4:24 é
aplicada à maneira como ouvimos a palavra do
Senhor. O quanto nos pode ser dado pelo Senhor
depende da medida com que ouvimos. Da mesma
forma, o que o Senhor diz no versículo 25 também se
refere a como ouvimos Sua palavra. O mesmo vale
para Mateus 13:10-13 e Lucas 8:18.

A PARÁBOLA DA SEMENTE
Em 4:26-29 temos a parábola da semente. O
versículo 26 diz: “E dizia: O reino de Deus é assim
como se um homem lançasse a semente à terra”. O
reino de Deus é a realidade da igreja produzida pela
vida de ressurreição de Cristo, mediante o evangelho
(1Co 4:15). Regeneração é a entrada do reino (Jo 3:5)
e o crescimento da vida divina nos crentes é o
desenvolvimento (2Pe 1:3-11).
O homem em Marcos 4:26 é o semeador do
versículo 3, é o Salvador-Servo como Semeador. Ele
era o Filho de Deus vindo semear-Se no coração dos
homens como semente de vida contida em Sua
palavra (v. 14) a fim de neles crescer e viver, e
expressar-Se de dentro deles.
A semente no versículo 26 é a semente da vida
divina (1Jo 3:9; 1Pe 1:23) semeada nos crentes do
Salvador-Servo. Lançar a semente aqui indica que o
reino de Deus, que é o resultado e objetivo do
evangelho do Salvador-Servo, e a igreja nesta era (Rm
14:17), são uma questão de vida, a vida de Deus, que
brota, cresce, produz fruto, amadurece e produz a
colheita. Não são uma organização sem vida
conduzida por meio da sabedoria e habilidade do
homem. As palavras dos apóstolos em 1 Coríntios
3:6-9 e em Apocalipse 14:4, 15-16 confirmam isso.
Marcos 4:27 continua, dizendo: “E dormisse e se
levantasse, de noite e de dia, e a semente germinasse
e crescesse, não sabendo ele como”. As palavras
“dormisse e se levantasse, de noite e de dia” e “não
sabendo ele como”, não devem ser aplicadas ao
Salvador-Servo. Esse versículo ilustra a
espontaneidade do crescimento da semente (v. 28).
O versículo 28 diz: “A terra por si mesma
frutifica: primeiro a erva, depois a espiga, e, por fim o
grão cheio na espiga”. A terra aqui é a boa terra (v. 8)
e representa o bom coração que Deus criou (Gn 1:31)
para Sua vida divina crescer no homem. Tal coração
coopera com a semente da vida divina nele semeada,
permitindo que ela cresça e frutifique
espontaneamente para expressar Deus. O que é dito
aqui nos capacita a ter fé nesse processo espontâneo.
Assim, aqui, em contraste com Mateus 13:24-30, não
se menciona o joio, no aspecto negativo. As palavras
por si mesma significam que o crescimento é
espontâneo.
O versículo 29 conclui: “E, quando o fruto já está
maduro, logo lhe mete a foice, porque é chegada a
ceifa”. A foice significa os anjos enviados pelo Senhor
para ceifar a colheita (Ap 14:16; Mt 13:39).

A PARÁBOLA DO GRÃO DE MOSTARDA


Em 4:30-34 temos a parábola do grão de
mostarda. Nos versículos 30 a 32, o Senhor diz: “A
que compararemos o reino de Deus? Ou com que
parábola o apresentaremos? É como um grão de
mostarda, que, quando semeado na terra, é menor do
que todas as sementes sobre a terra; mas, depois de
semeado, cresce e-se torna maior do que todas as
hortaliças, e deita grandes ramos, de modo que as
aves do céu podem aninhar-se à sua sombra”. A
ilustração da semente nos versículos 3 e 26 e da
lâmpada no versículo 21 desvendam a natureza e a
realidade interior do reino de Deus; ao passo que a
ilustração do crescimento anormal do grão de
mostarda, o que é contrário à sua espécie, e das aves
que se aninham à sua sombra, fala da corrupção e da
aparência exterior do reino de Deus.
Em Mateus 13:31 e 32 vemos que o grão de
mostarda não apenas se toma maior do que todas as
hortaliças, mas por fim se toma uma árvore. A igreja,
que é a corporificação do reino, deve ser como uma
hortaliça para produzir comida. Entretanto, sua
natureza e função mudaram de modo que se tomou
uma árvore, morada para as aves. (Isso é contrário à
lei da criação de Deus, qual seja, que cada planta deve
ser segundo a sua espécie — Gn 1:11-12). Isso
aconteceu na primeira parte do quarto século quando
Constantino, o Grande, misturou a igreja com o
mundo. Ele introduziu milhares de falsos crentes no
cristianismo, tomando-o a cristandade, e não mais a
igreja. Assim, essa terceira parábola corresponde à
terceira das sete igrejas em Apocalipse 2 e 3, a igreja
em Pérgamo (Ap 2:12-17). A mostarda é uma erva
sazonal, ao passo que a árvore é uma planta perene. A
igreja, segundo sua natureza celestial e espiritual,
deve ser semelhante à mostarda, isto é, peregrina na
terra. Mas, com sua natureza mudada, a igreja
tornou-se profundamente arraigada e estabelecida,
como uma árvore na terra com muitas ramificações
(seus empreendimentos florescentes) nos quais
muitas pessoas e coisas malignas se alojam. Isso
resultou na formação da organização exterior da
aparência exterior do reino dos céus.
Na parábola do semeador, “vieram as aves e
devoraram” a semente que caiu à beira do caminho
(Mc 4:4). De acordo com o versículo 15, isso indica
que Satanás vem e tira a palavra que neles foi
semeada. Uma vez que as aves nessa parábola
representam o maligno, Satanás, as aves na parábola
do grão de mostarda devem se referir aos espíritos
malignos de Satanás e também às pessoas e coisas
malignas motivadas por eles. Eles se aninham nos
ramos da grande árvore, isto é, nos empreendimentos
da cristandade.
Em 4:33-34, temos a conclusão dessa sessão do
Evangelho de Marcos acerca das parábolas do reino
de Deus: “E com muitas parábolas semelhantes lhes
falava a palavra, conforme eram capazes de ouvir. E
sem parábola não lhes falava; tudo, porém, explicava
em particular aos Seus próprios discípulos”. Essas
parábolas demonstraram a sabedoria e o
conhecimento divino do Salvador-Servo (Mt
13:34-35).
ESTUDO-VIDA DE MARCOS
MENSAGEM DEZESSEIS
A IGREJA E O REINO

Leitura Bíblica: Mc 4:26-29; Mt 16:16-19; 1Co 3:9b;


Ap 14:4, 14-16
Nas mensagens anteriores vimos o reino de Deus
revelado no capítulo quatro do Evangelho de Marcos.
Em especial demos atenção à semente do reino como
elemento intrínseco do reino. Agora vamos
prosseguir, considerando a relação entre a igreja e o
reino.
A igreja e o reino estão entre os maiores assuntos
da Bíblia. Se lermos cuidadosa e adequadamente o
Novo Testamento, veremos a importância deles.
Em Mateus 3, bem próximo ao início do Novo
Testamento, temos uma palavra a respeito do reino.
João Batista veio, pregando no deserto da Judéia
dizendo: “Arrependei-vos, porque está próximo o
reino dos céus” (Mt 3:2). A pregação de João Batista
foi a iniciação da economia neotestamentária de
Deus. O arrependimento na pregação de João Batista,
como abertura da economia divina, era voltar-se para
o reino dos céus. Isso nos mostra que a economia
neotestamentária de Deus concentrava-se em Seu
reino.

O FUNDAMENTO DA IGREJA
Em Mateus 16, o Senhor Jesus levou os
discípulos para Cesaréia de Filipe e ali
'perguntou-lhes: “Quem dizem os homens ser o Filho
do Homem?” (Mt 16:13). Depois que eles
responderam, o Senhor continuou: “Mas vós, [...]
quem dizeis que Eu sou?” (v. 15). Tendo recebido uma
revelação do Pai, Simão Pedro respondeu: “Tu és o
Cristo, o Filho do Deus vivo” (v. 16).
De acordo com Efésios 5:32, existe um grande
mistério composto de duas partes: Cristo e a igreja.
Como a revelação do Pai a respeito de Cristo é apenas
a primeira metade desse grande mistério, o Senhor
prosseguiu e falou a respeito da igreja: “Também Eu
te digo que tu és Pedro, e sobre essa rocha edificarei a
Minha igreja” (v. 18). Isso indica definitivamente que
a igreja é algo de Cristo e para Cristo. Primeiro, Cristo
foi reconhecido, conhecido e até mesmo obtido.
Depois, o Senhor disse que sobre “essa rocha” Ele
edificaria Sua igreja. Essa rocha não se refere
somente a Cristo, mas também à revelação a Seu
respeito, revelação que Pedro recebeu do Pai. A igreja
é edificada sobre essa revelação com respeito a Cristo.
Assim, a rocha aqui não é meramente o próprio
Cristo, mas também é a percepção, o conhecimento, a
experiência e a posse de Cristo.
Hoje muitos afirmam reconhecer que Cristo é o
fundamento da igreja. Contudo, não viram que o
verdadeiro fundamento para a edificação da igreja é a
percepção de Cristo. Se não percebermos Cristo em
nossa experiência, não teremos o fundamento para a
edificação da igreja. Portanto, precisamos
conhecê-Lo; assim, nosso conhecimento, experiência,
desfrute e posse de Cristo serão o fundamento sobre o
qual Ele irá edificar a igreja.

AS CHAVES DO REINO
Em Mateus 16:19, logo após ter falado a respeito
da igreja, o Senhor também falou do reino: “Dar-te-ei
as chaves do reino dos céus; e o que quer que
amarrares na terra, terá sido amarrado nos céus; e o
que quer que soltares na terra, terá sido solto nos
céus”. A frase reino dos céus aqui pode alternar-se
com o termo igreja do versículo anterior. Eu não diria
que esses termos são sinônimos, contudo nos
versículos 18 e 19 são permutáveis. Isso é prova
contundente de que a igreja verdadeira é o reino dos
céus nesta era, o que é confirmado por Romanos
14:17, um versículo que se refere à adequada vida da
igreja.
A palavra do Senhor a Pedro, em Mateus 16:19, a
respeito das chaves do reino dos céus foi cumprida no
livro de Atos. O primeiro aspecto desse cumprimento
está em Atos 2 e o segundo em Atos 10. Nesses dois
momentos Pedro usou duas chaves. Em Mateus 16:19
o Senhor falou de chaves, e não de chave. Pedro usou
uma delas para abrir a porta para que os judeus
entrassem no reino, no dia de Pentecostes, como
registra Atos 2. Então, na casa de Cornélio, como
registra Atos 10, ele usou a segunda chave para abrir a
porta a fim de que os gentios entrassem. Essa é a
razão de se ver em Efésios 2 que tanto gentios como
judeus são edificados na única igreja: “Assim, já não
sois estrangeiros e peregrinos, mas concidadãos dos
santos, e sois da farm1ia de Deus, edificados sobre o
fundamento dos apóstolos e profetas, sendo ele
mesmo, Cristo Jesus, a pedra angular” (vs. 19-20).
Precisamos ser impressionados com o fato de
que em Mateus 16:18 temos a igreja e no versículo
seguinte, o reino, mostrando-nos que na primeira
menção da igreja no Novo Testamento ela é citada em
relação ao reino. Além disso, conforme já vimos,
nesses versículos a igreja e o reino são termos
permutáveis.

A REALIDADE DO REINO NA IGREJA


Embora a igreja seja claramente mencionada em
Mateus 16, nada é dito a respeito dela no Evangelho
de Marcos. No capítulo quatro, em particular, o
Senhor fala do reino de Deus. Em Marcos 4:26-29
temos a parábola da semente. “E dizia: O reino de
Deus é assim como se um homem lançasse a semente
à terra” (v. 26). Essa parábola revela que o reino é
questão de vida, que brota, cresce, dá fruto,
amadurece e produz uma colheita. Nos versículos 27
e 28 vemos o crescimento espontâneo da semente.
Então no 29 temos a colheita. Essa parábola é uma
breve ilustração do reino.
Será que a igreja está, de alguma forma, incluída
na parábola da semente? Naturalmente, ela não é
mencionada diretamente, contudo deve estar incluída
aqui de algum modo. Nessa parábola temos o
Semeador, a semente plantada, o campo, o
desenvolvimento da semente e a colheita. É um
quadro completo do reino. Mas onde nesse quadro
temos a igreja? Isso merece nossa consideração.
Para nos ajudar a responder a essa pergunta de
onde está a igreja em Marcos 4:26-29, vamos ver a
palavra de Paulo sobre a lavoura de Deus. Em 1
Coríntios 3:9b, ao se dirigir à igreja em Corinto, Paulo
diz: “Lavoura de Deus [...] sois vós”. Literalmente, a
palavra grega traduzida por lavoura significa terra
cultivada. A igreja é a lavoura de Deus, Seu campo,
Sua terra cultivada. Se considerarmos as palavras de
Paulo em 1 Coríntios 3:9 juntamente com a parábola
da semente em Marcos 4:26-29, veremos que o que
Paulo diz nos ajuda a entender a relação entre a igreja
e o reino.
Podemos usar jardinagem como ilustração da
relação entre a igreja e o reino. No pátio de minha
casa há um pequeno jardim, que podemos chamar de
reino: o reino das plantas. Ele ilustra o reino que foi
semeado como semente nos Evangelhos. Nas
Epístolas essa semente cresce e se desenvolve, e, por
fim, em Apocalipse, haverá uma colheita. Apocalipse
14 fala das primícias (v. 4) e depois da ceifa (vs.
14-16). Essa colheita será o pleno desenvolvimento do
reino e, de acordo com 1 Coríntios 3:9, o campo no
qual a colheita cresce é a igreja. Assim, usando a
ilustração do meu jardim, podemos dizer que o
jardim em si retrata a igreja e as plantas crescendo
nele retratam o reino. Essa ilustração nos ajuda a ver
como o reino está na igreja. O Evangelho de Mateus,
em especial, revela que na igreja hoje temos a
realidade do reino.
Suponha que no meu pátio só houvesse o chão, o
solo, sem nenhuma planta. Será que esse chão sem
nada seria um jardim? Não, seria somente um pátio
com terra. Como, então, poderia tomar-se um
jardim? Apenas tendo plantas a crescer nele. Quanto
mais plantas crescerem no pátio, tanto mais o pátio se
tomará um jardim. Semelhantemente, quanto mais a
semente do reino crescer na terra cultivada, a
lavoura, da igreja, mais a igreja será a realidade do
reino.
Na vida da igreja hoje, muitas plantas crescem.
Se não tivéssemos sido regenerados, mas fôssemos
meramente pessoas do mundo, seríamos apenas um
pátio com terra virgem. Mas, visto que fomos
regenerados, todos somos plantas a crescer na
lavoura de Deus. Portanto, somos Seu campo, Seu
jardim. Então, que é o reino? É, na verdade, a
realidade das muitas plantas a crescer na lavoura de
Deus. Quanto mais crescemos em vida, mais a
realidade do reino está presente em nós.
O Novo Testamento fala do reino de Deus e do
reino dos céus. Isso, contudo, não significa que haja
dois reinos. Há apenas um reino, o único reino de
Deus; e o reino dos céus é parte desse único reino.
Podemos comparar o reino de Deus a uma nação
como o Brasil e o reino dos céus à sua capital,
Brasília, D. F. , o distrito onde está localizada a sede
do governo federal. O Brasil e Brasília não são duas
nações. Não, Brasília é um distrito especial, um
distrito governamental, da nação brasileira. Podemos
dizer que o reino dos céus é uma Brasília espiritual, o
distrito governante do reino de Deus. Portanto, o
reino de Deus e o reino dos céus não são dois reinos,
mas o reino de Deus é o único reino, e o reino dos
céus é parte dele.
Gostaria de pedir que você, nesse momento,
consulte o diagrama do reino, impresso nesta
mensagem. De acordo com o diagrama, dois círculos
compõem o reino dos céus: um círculo para a
dispensação da graça e outro para a dispensação do
reino. Na dispensação da graça temos a igreja, e
dentro da igreja, como indica o círculo pontilhado,
temos os crentes vencedores, os que estão na
realidade do reino dos céus.
Na ilustração do jardim no pátio de minha casa, a
realidade do reino dos céus é retratada pelo
crescimento das plantas. Quanto mais elas crescem,
mais da realidade do jardim há em meu pátio.
Suponha que todas as árvores e plantas do meu
jardim morressem; em tal situação, o jardim não teria
nenhuma realidade.
Precisamos considerar quanta realidade há entre
nós, na vida da igreja. O tanto de realidade depende
do tanto de crescimento de vida. Se você visitar meu
jardim e vir plantas e árvores saudáveis e belas,
poderá exclamar: “Que lindo jardim!”. Você veria um
jardim cheio de realidade. Isso é uma ilustração do
que queremos dizer com a realidade do reino na
igreja.

ABSOLUTAMENTE UMA QUESTÃO DE VIDA


A igreja é um jardim, e o reino é o crescimento
dos santos como as plantas nesse jardim. Quando os
santos, as plantas, atingem a maturidade, estão
qualificados para ser reis com Cristo no reino de
Deus. Quando o Senhor voltar, todos os que
cresceram até atingir a maturidade estarão
qualificados para ser reis com Ele na manifestação do
reino no milênio. Como o diagrama indica, a
manifestação do reino será na era vindoura.
O Novo Testamento não apresenta o reino de
Deus como mera doutrina objetiva ou profecia. Não, o
Novo Testamento ensina a verdade do reino como
realidade de vida. O reino de Deus é totalmente uma
questão da vida divina.
O livro de Primeira Coríntios indica que o reino
de Deus é uma questão da vida de Deus. Em 1
Coríntios 1:2 temos a igreja, pois essa epístola é
dirigida à “igreja de Deus que está em Corinto”. Nela
Paulo repetidamente se refere à igreja e também às
igrejas (4:17; 6:4; 7:17; 10:32; 11:16, 18, 22; 12:28;
14:4, 5, 12, 19, 23, 28, 33, 34, 35; 15:9; 16:1, 19).
Enfatizamos que em 1 Coríntios 3:9 vemos que a
igreja é a lavoura de Deus. No capítulo seis, versículos
9 a 11, Paulo prossegue falando a respeito do reino de
Deus, e diz que crentes pecaminosos não estarão
qualificados para herdar o reino de Deus. Portanto,
no capítulo um temos a igreja; no três, a lavoura; e no
seis, o reino. No capítulo quinze de 1 Coríntios, Paulo
novamente fala a respeito do reino de Deus (vs. 24,
50).
No Novo Testamento temos o conceito de que o
reino é absolutamente uma questão de vida. A
semente dessa vida é o Cristo todo-inclusivo. Ele foi
plantado em nós como semente, que agora cresce e se
desenvolve em nós até atingir a maturidade.
Conforme essa semente cresce em nós, Cristo nos
substitui Consigo mesmo. Quando atingirmos a
maturidade, teremos Cristo como nosso pleno
substituto e Ele será tudo para nós. Esse também será
o tempo da colheita e o tempo quando estaremos
qualificados para reinar com Cristo. Nesta era temos
a realidade do crescimento da vida divina, e na
próxima teremos a manifestação do reino, quando
Cristo e os co-reis reinarem sobre todo o mundo.
Todos precisamos ver que o reino é questão de
vida. O reino de Deus foi iniciado quando a semente
de vida foi plantada em nós. Essa semente é o Cristo
todo-inclusivo como essência da vida, para crescer,
desenvolver-se e amadurecer em nós. Em relação a
essa semente, temos Cristo, a igreja e o reino. Cristo é
a semente, a igreja é a lavoura ou jardim, e o reino é a
realidade.
ESTUDO-VIDA DE MARCOS
MENSAGEM DEZESSETE
O MOVER DO SERVIÇO EVANGÉLICO DO
SALVADOR-SERVO (1)

Leitura Bíblica: Mc 4:35-5:43


Nesta mensagem iniciaremos outra longa seção
do Evangelho de Marcos a respeito do mover do
serviço evangélico do Salvador-Servo (4:35-10:52).
Consideraremos 4:35-5:43, trecho em que temos três
questões: acalmar o vento e o mar para a viagem
(4:35-41), expulsar uma legião de demônios (5:1-20),
curar uma mulher com fluxo de sangue e ressuscitar
uma menina (5:21-43).

SUBJUGAR A REBELIÃO
O capítulo quatro de Marcos é maravilhoso e fala
a respeito da semente, o gene, do reino e seu pleno
desenvolvimento. Talvez nos surpreenda que, no final
desse capítulo, tenhamos o relato de um temporal no
mar. E você talvez indague como a última parte do
capítulo se encaixa com os versículos 1 a 34, em que
temos as parábolas do reino.
Primeiro, o capítulo quatro de Marcos fala a
respeito do reino de Deus. Então, imediatamente
após o registro do reino, há um registro de rebelião'.
Marcos 4:37 diz que se levantou grande temporal de
vento, e as ondas se arremessavam para dentro do
barco. Isso é um quadro de rebelião. Por meio disso
vemos que, no final desse capítulo sobre o reino de
Deus, a rebelião ainda está presente.
Não é suficiente usar apenas uma palavra como
título para o capítulo quatro. Nesse capítulo temos o
reino e depois o subjugar da rebelião. Do ponto de
vista de Deus, o reino é o desenvolvimento do próprio
Deus como semente de vida. Mas, do ponto de vista
do inimigo de Deus, o reino é o subjugar da rebelião.
Imediatamente após ter falado categoricamente
sobre o reino de Deus, o Salvador-Servo disse aos
discípulos: “Passemos para a outra margem. E eles,
deixando a multidão, O levaram consigo assim como
estava, no barco; e havia outros barcos com Ele” (vs.
35-36). O rebelde, Satanás, usou então seus anjos no
ar e demônios na água para incitar a rebelião. Devido
a isso: “Levantou-se grande temporal de vento e as
ondas se arremessavam para dentro do barco, de
sorte que o barco já estava a encher-se de água” (v.
37). Com esse temporal foi bastante difícil para o
barco, que levava o Senhor e os discípulos, cruzar o
mar.

O Senhor Dormia no Barco


O versículo 38 diz: “E Jesus estava na popa,
dormindo sobre a almofada; eles O despertaram e
Lhe disseram: Mestre, não Te importa que
pereçamos?”. O Salvador-Servo dormia e descansava
no barco castigado pelo temporal de vento, enquanto
os discípulos se sentiam ameaçados. Isso indica que
Ele estava acima da tormenta ameaçadora e não se
incomodava com ela. Enquanto os discípulos O
tivessem consigo no barco, deveriam, pela fé Nele (v.
40), ter partilhado de Seu descanso e desfrutado Sua
paz.
O Senhor descansava em paz, mas os discípulos
estavam atemorizados. Por causa do medo, eles O
despertaram e Lhe disseram: “Mestre, não Te
importa que pereçamos?”.
O versículo 39 diz: “E Ele, despertando,
repreendeu o vento e disse ao mar: Cala-te, emudece!
E cessou o vento, e fez-se grande bonança”. Enquanto
os discípulos O seguiam, o Salvador-Servo, como
homem com autoridade divina, controlou a
tempestade que os ameaçava.
Por que o Senhor repreendeu o vento e falou ao
mar?
Não se repreendem coisas sem vida, e sim coisas
com personalidade. O Salvador-Servo repreendeu o
vento e ordenou ao mar que se calasse, porque no
vento estavam os anjos caídos de Satanás (Ef 6:12) e
no mar, os demônios (Mt 8:32). Os anjos caídos no ar
e os demônios na água colaboravam entre si para
estorvar o Salvador-Servo em Sua ida para o outro
lado do mar, porque sabiam que Ele iria lá expulsar
os demônios (Mc 5:1-20).

O Senhor Repreende o Vento


O Senhor repreendeu o vento e ordenou que o
mar se calasse devido aos anjos e demônios rebeldes
que estavam por trás da cena. O Senhor sabia que o
temporal fora instigado por esses anjos e demônios
para impedi-Lo de ir ao outro lado do mar expulsar a
legião de demônios. Quando o Senhor expulsou
aqueles demônios, isso foi a vinda do reino.
Agora podemos ver que no capítulo quatro o
Senhor falou a respeito do reino, e no capítulo cinco
Ele levou a cabo o reino expulsando demônios. Entre
a palavra a respeito do reino e levar a cabo o reino, há
o incidente do mar tempestuoso. Depois que o Senhor
repreendeu o vento e falou ao mar, o vento cessou e
houve grande bonança, pois a rebelião dos anjos
malignos no ar e dos demônios na água foi subjugada.
Portanto, em 4:35-41 vemos o reino como o poder
para subjugar rebeliões.
A seqüência nesse capítulo é significativa. Logo
depois da revelação do reino, temos o subjugar da
rebelião. Isso visa levar a cabo o reino de Deus.
Marcos 4:41 diz que os discípulos “ficaram
possuídos de grande temor e diziam uns aos outros:
Quem é este que até o vento e o mar Lhe obedecem?”.
O fato de o Senhor repreender o vento e o mar não
somente demonstrou a autoridade divina do
Salvador-Servo, mas também testificou que Ele era o
próprio Criador do universo (Gn 1:9; Jó 38:8-11).

EXPULSAR DEMÔNIOS E PURIFICAR A


INDÚSTRIA IMUNDA
Como a rebelião foi subjugada, o Salvador-Servo
e Seus discípulos “chegaram à outra margem do mar,
à região dos gerasenos” (5:1). O relato em 5:1-20 é
muito mais detalhado do que o de Mateus 8:28-34.
Isso é uma evidência categórica de que o Evangelho
de Marcos, como biografia do Servo de Deus, enfatiza
Sua obra em vez de Sua palavra, e dá mais detalhes do
que os outros Evangelhos.
Marcos 5:2 diz: “Ao sair Ele do barco, logo veio
ao Seu encontro, dos túmulos, um homem possesso
de espírito imundo”. A respeito desse homem o
versículo 7 diz: “E, gritando em alta voz, disse: Que
tenho eu Contigo, Jesus, Filho do Deus Altíssimo?
Adjuro-Te por Deus que não me atormentes”. Isso
indica que o possesso tinha sido usurpado pelo
espírito imundo a ponto de ser levado por este a atuar
como se fosse o próprio espírito.
Assim que o Senhor Jesus entrou na terra dos
gerasenos, a situação ficou exposta para Ele e Seus
discípulos. Havia um homem possuído por uma
legião de demônios e as pessoas naquela terra tinham
um negócio de criação de porcos (vs. 11-14). Que
indústria terrível!
Em Sua sabedoria, o Salvador-Servo cuidou de
dois problemas ao mesmo tempo: expulsou os
demônios do possesso e purificou a indústria imunda
de criação de porcos. Antes de Ele ir a terra dos
gerasenos, aquele lugar estava cheio de demônios e
porcos. Você gostaria de morar com a família num
lugar assim? Na verdade, nenhuma pessoa normal
gostaria de viver em tal lugar. Contudo, o Senhor
Jesus foi lá para expulsar os demônios e purificar a
indústria imunda. Os discípulos não sabiam por que o
Senhor lhes disse que passassem para o outro lado
(4:35). O Senhor, naturalmente, sabia por que queria
ir à terra dos gerasenos.
O povo de Deus não devia ter um negócio de
criação de porcos, e sim de ovelhas, dessa forma
teriam sacrifícios adequados para oferecer a Deus.
Mas os que habitavam a terra dos gerasenos estavam
no negócio sujo de criar porcos.
O mesmo princípio vale hoje para os incrédulos.
Sempre que os seres humanos estiverem ocupados
por demônios, estarão envolvidos em algum negócio
sujo ou indústria suja. Eles precisam que o Senhor
Jesus venha expulsar os demônios e purificar todas as
suas atividades impuras.
Marcos 5:13 diz: “Então, saindo os espíritos
imundos, entraram nos porcos; e a manada, que era
cerca de dois mil, precipitou-se despenhadeiro
abaixo, para dentro do mar, e no mar se afogaram”.
Aqui vemos que havia cerca de dois mil porcos.
Certamente, devia haver grande número de demônios
para precipitá-los no mar. Se houvesse apenas vinte
demônios, cada demônio teria de levar consigo cem
porcos precipício abaixo, para dentro do mar. O
ponto importante aqui é a relação entre os demônios
e a indústria suja. O motivo pelo qual os incrédulos
hoje estão envolvidos com atividades sujas e formas
pecaminosas de entretenimento é que estão sob a
influência de demônios. .

A CURA DE UMA MULHER COM FLUXO DE


SANGUE E A RESSURREIÇÃO DE UMA
MENINA
Em 5:21-43 temos o registro da cura de uma
mulher com fluxo de sangue e a ressurreição de uma
menina. Nesse relato, também dos feitos miraculosos
do Servo de Deus em Seu serviço evangélico, Marcos
nos dá mais detalhes que Mateus. É uma
apresentação viva, retratando especialmente os
sofrimentos de duas enfermas e a ternura e bondade
do Salvador-Servo para com elas em Seu serviço
salvador. Essa apresentação detalhada também
indica que Pedro estava presente nesses momentos.
Marcos 5:22-23 diz: “E chegou um dos chefes da
sinagoga, de nome Jairo, e, vendo-O, prostrou-se a
Seus pés, e muito Lhe suplicava, dizendo: Minha
filhinha está à morte; rogo-Te que venhas e imponhas
as mãos sobre ela, para que seja curada e viva”. O
chefe da sinagoga não tinha muita fé, por isso é que
suplicou ao Senhor Jesus que fosse à sua casa. O
Senhor concordou e foi com ele.

A Fusão dos Dois Casos


De acordo com o versículo 24: “Grande multidão
O seguia, e O apertavam”. Nos versículos 25 a 34
vemos que uma mulher que havia doze anos tinha um
fluxo de sangue veio na multidão que vinha atrás do
Senhor, tocou Sua veste e foi curada. Como o caso
dessa mulher se funde com o caso da filha do chefe, e
como os doze anos de sua doença são a idade da
menina, e ambas do sexo feminino, uma mais velha e
a outra mais nova, esses dois casos podem ser
considerados um caso completo, de uma só pessoa.
Desse ponto de vista, a menina nasceu, por assim
dizer, na doença mortal da mulher e doze anos mais
tarde morreu dessa doença. Quando a enfermidade
da mulher foi curada pelo Salvador, a criança morta
ressuscitou. Isso significa que toda pessoa caída nasce
com a enfermidade mortal do pecado e está morta em
pecado (Ef 2:1). Quando sua enfermidade mortal do
pecado é curada pela morte redentora do Salvador
(1Pe 2:24), ela ressuscita da morte para a vida (Jo
5:24-25).

Foi Tocado pela Sequiosa


Marcos 5:28-29 diz: “Porque dizia: Se eu lhe
tocar ao menos as vestes, serei curada. E
imediatamente se lhe secou a fonte do sangue, e
sentiu no corpo estar curada do flagelo”. A palavra
grega traduzida como curada no versículo 28
também pode ser traduzida como ficar sã.
Literalmente, a palavra significa ser salvo. Doença é
uma opressão exercida pelo diabo sobre o enfermo.
Assim, a cura que o Salvador-Servo realizou foi um
serviço salvador prestado à vítima em sofrimento,
para que desfrutasse alívio e libertação da opressão
do maligno (At 10:38).
Como havia uma multidão a apertar o
Salvador-Servo, era difícil para os que O buscavam
genuinamente tocá-Lo. Mas essa mulher achou uma
maneira de tocá-Lo e, quando o fez, foi curada.
“Jesus, percebendo imediatamente em Si mesmo que
Dele saíra poder, virando-se no meio da multidão,
perguntou: Quem tocou nas minhas vestes?” (v. 30).
O Senhor tinha a sensação interior de que Sua
virtude, Seu poder, tinha saído Dele e tinha sido
infundido em alguém. Essa foi a razão de ter
perguntado quem havia tocado Suas vestes. Os
discípulos, sendo naturais e vendo a multidão a
apertá-Lo disseram: “Vês que a multidão Te aperta, e
dizes: Quem Me tocou?” (v. 31). A multidão que O
apertava nada recebeu do Salvador, mas a mulher que
O tocou foi curada.
O Salvador-Servo era Deus encarnado como
homem (Jo 1:1, 14). Suas vestes representam Sua
conduta perfeita em Sua humanidade: Sua perfeição
nas virtudes humanas. Tocar Suas vestes era, na
verdade, tocá-Lo em Sua humanidade, na qual Deus
estava corporificado (Cl 2:9). Mediante esse toque,
Seu poder divino foi transfundido, por meio da
perfeição de Sua humanidade, naquela que O tocara e
isso foi sua cura. O Deus que habita em luz inacessível
tomou-se tocável na pessoa do Salvador-Servo,
mediante Sua humanidade, para a salvação e desfrute
dela. Esse foi o serviço que o Salvador-Servo prestou,
como Servo de Deus, à pecadora enferma.
No versículo 34 o Senhor disse à mulher: “Filha,
a tua fé te salvou; vai-te em paz, e sê curada do teu
flagelo”. O poder que o Salvador-Servo tinha para
curar expressava Sua deidade (v. 30); e a palavra que
Ele falava, com amor, bondade e comiseração,
expressava Sua humanidade. Nesse caso, Sua deidade
e Sua humanidade novamente se fundiram para
expressá-Lo.

O Significado da Enfermidade da Mulher


Qual é O significado da enfermidade da mulher?
Escoamento de vida. O fluxo de sangue simboliza o
vazamento da essência de vida. Desde a queda do
homem, todo descendente de Adão está enfermo
dessa maneira. Como pecadores caídos, todos
estamos flagelados com o vazamento da essência de
nossa vida. Devido a esse flagelo, todo descendente de
Adão, todo pecador caído, está morrendo dia a dia.
Assim que nasce, o ser humano começa a morrer. Que
significa morrer? É experimentar o vazamento da
essência de vida. Se você considerar a sociedade de
hoje, perceberá que em cada pecador há a doença do
vazamento da essência de vida.

UM RETRA TO DA SOCIEDADE HUMANA


Em 4:35-5:43 temos três coisas: 1) o subjugar da
rebelião, 2) a expulsão dos demônios e a purificação
da indústria imunda de criação de porcos, e 3) a cura
da mulher com fluxo de sangue. Esses três casos
retratam a situação da sociedade. Primeiro, entre os
seres humanos há o “mar tempestuoso” da rebelião.
Na sociedade não há ambiente pacífico. Pelo
contrário, há tempestade após outra. Além disso, na
sociedade a situação real é de possessão demoníaca e
de “criação de porcos”. Em todos os países as pessoas
estão envolvidas em algum tipo de indústria suja para
ganhar a vida. Todo o mundo está envolvido na
indústria de criação de porcos porque está debaixo do
controle de legiões de demônios possuidores.
Ademais, todas as pessoas caídas estão morrendo;
isto é, sofrem do vazamento da essência de vida. As
características da sociedade atual certamente são
estas: rebelião, possessão demoníaca com criação de
porcos e vazamento da vida. É por isso que temos
encargo de sair para pregar o evangelho. Precisamos
que o Senhor Jesus venha subjugar a rebelião,
expulsar os demônios e purificar a indústria de
criação de porcos, e curar o flagelo do vazamento da
vida.
Vimos que o relato em 5:21-43 funde o caso da
mulher com fluxo de sangue com o da filha do chefe.
Isso indica que os dois casos retratam a situação de
uma só pessoa. Podemos dizer que a menina nasceu
na doença mortal da mulher. Essa também é a
situação de todo ser humano. Todos nascemos com
uma doença mortal; todos nascemos para morrer. De
acordo com o registro aqui, quando essa doença
mortal atinge o ápice, nós morremos, assim como a
menina. A menina nasceu com a doença da mulher e
com ela morreu. Mas o Salvador-Servo veio para
curá-la. Quando a doença da mulher foi curada, a
menina reviveu. Isso indica que a cura da mulher foi o
reviver da menina.
A cura da mulher e a ressurreição da menina
prefiguram nossa experiência ao receber o evangelho.
Quando o evangelho veio a nós, nós o ouvimos,
recebemos e fomos curados da enfermidade do
vazamento da essência de vida. Então, uma vez
curados, fomos vivificados e avivados. Nascemos com
uma doença mortal, mas recebendo o evangelho
fomos curados e vivificados.
UMA DEMONSTRAÇÃO DO REINO
Em 4:35-5:43 temos uma demonstração do
reino, na qual vemos o subjugar da rebelião, a
expulsão da legião de demônios, a purificação da
indústria imunda, a cura da enfermidade mortal e a
ressurreição da que havia morrido. Isso significa que
em 4:35-5:43 a rebelião é subjugada, demônios são
expulsos, a indústria de porcos é purificada, a
enfermidade mortal é curada e a pessoa morta é
ressuscitada. Isso é o reino de Deus. Onde há o reino
não pode haver rebelião, demônios, criação de porcos
nem doença mortal; antes, tanto os velhos como os
jovens são curados e vivificados. Isso é o reino, isso é
o evangelho e essa também é nossa experiência na
vida da igreja.
Todo ser humano tem os problemas de rebelião,
demônios, indústria de criação de porcos, doença e
morte. Encontramos essas coisas na sociedade e em
cada indivíduo. Mas quando o Senhor Jesus vem
como a semente do reino, todos esses problemas são
resolvidos. Então temos o reino de Deus.
Estamos contentes por poder testificar que o
Senhor Jesus lidou com a rebelião, com o “mar
tempestuoso” em nosso ambiente. Agora temos um
caminho livre para prosseguir com Ele. Além disso,
estávamos possuídos por demônios e envolvidos com
a indústria imunda. Mas os demônios foram expulsos
e a indústria de criação de porcos, purificada.
Também podemos testificar que fomos curados e
vivificados, e agora estamos na vida da igreja, no
reino. Como desfrutamos o serviço evangélico de
nosso Salvador-Servo!
ESTUDO-VIDA DE MARCOS
MENSAGEM DEZOITO
O MOVER DO SERVIÇO EVANGÉLICO DO
SALVADOR-SERVO (2)

Leitura Bíblica: Mc 6:1-44


Nesta mensagem veremos 6:1-44. Nessa seção do
Evangelho de Marcos temos quatro assuntos: o
Salvador-Servo sendo desprezado pelos nazarenos
(vs. 1-6), o envio dos doze para pregar (vs. 7-13), o
martírio do precursor do evangelho (vs. 14-29) e o
alimentar dos cinco mil (vs. 30-44).
Quando lemos 6:1-44, pode parecer-nos que essa
seção não é impressionante em relação à vida. Pode
parecer-nos que os quatro incidentes registrados aqui
sejam meras histórias. Contudo, cremos que esse
relato é parte da Escritura Sagrada soprada por Deus.
Naturalmente, foi escrito por Marcos, contudo é um
trecho da Palavra inspirada por Deus. Portanto,
precisamos pedir ao Senhor que nos dê visão para
que nos aprofundemos nesse relato.

UM QUADRO DE REJEIÇÃO
Primeiro, em 6:1-6 o Senhor foi desprezado e
rejeitado pelos nazarenos. Na verdade essa rejeição
não O perturbou nem desapontou. Embora Ele os
deixasse porque fora rejeitado por eles, isso não
significa que estivesse desapontado ou desistira deles.
O Salvador-Servo queria fazer algo pelos nazarenos,
mas eles não queriam se abrir para Ele. Marcos 6:5
diz: “E não podia fazer ali nenhum milagre, senão
curar uns poucos enfermos, impondo-lhes as mãos”.
A incredulidade dos nazarenos impediu-O de fazer
muitos milagres entre eles.
Em vez de ficar desencorajado e desapontado
pela rejeição dos nazarenos, o Senhor estava
encorajado. Isso é provado pelo fato de, em 6:7-13, ter
enviado os doze para fazer a mesma coisa que Ele
fazia. Especialmente, “deu-lhes autoridade sobre os
espíritos imundos” (v. 7). O Senhor designou os doze
para fazer o que Ele fazia.
Em 6:14-29 temos o martírio do precursor do
evangelho, João Batista. Humanamente falando, isso
deve ter sido muito desalentador, mas na verdade o
Senhor Jesus não estava desapontado nem mesmo
com o martírio de João Batista. Depois desse temos o
caso do alimentar e satisfazer cinco mil. A rejeição
dos judeus em Sua terra não O desapontou, mas O
encorajou a enviar os discípulos. Assim também, o
martírio de Seu precursor não O desapontou; em vez
disso, encorajou-O a alimentar mais pessoas.
Em 4:35-5:43 vimos como o reino de Deus
atende à necessidade da condição humana. Como
ressaltamos, a situação da sociedade é retratada
nessa seção do Evangelho de Marcos. A sociedade,
bem como cada ser humano individualmente, é cheia
de “tempestades” de rebelião, demônios, indústria
imunda (criação de porcos), enfermidade mortal e
morte. Essa é a verdadeira situação do homem. Mas o
Salvador-Servo nos trouxe o reino, que é a resposta à
condição do homem caído. O reino subjuga a
rebelião, expulsa demônios, purifica a indústria
imunda, cura o enfermo e ressuscita os mortos. Em
4:35-5:43 vemos uma demonstração do reino de Deus
atendendo às necessidades da sociedade. Que quadro
maravilhoso!
Em 6:1-44 Marcos apresenta outro quadro, no
qual vemos rejeição, ódio e martírio. A despeito de
quanta bênção seja introduzida pelo reino e pela
pregação do evangelho, o mundo ainda odeia e rejeita
o Salvador-Servo e os que trabalham com Ele. Em
6:1-44, portanto, vemos a atitude das pessoas do
mundo em relação ao evangelho. Que fazer diante de
tal atitude? Que fazer quando somos desprezados,
rejeitados e odiados, e até mesmo alguns são mortos?
ficar desapontados? parar de pregar as boas novas e
parar nosso trabalho pelo reino? Certamente não! Em
vez de ficar desapontados, devemos ficar encorajados
pela atitude negativa demonstrada pelas pessoas do
mundo em relação ao evangelho.

DESPREZADO PELOS NAZARENOS


Imediatamente depois de ter feito a maravilhosa
obra de introduzir as bênçãos do reino, Ele foi à Sua
terra. Marcos 6:1 diz: “Saiu Jesus dali e veio para a
Sua terra, e os Seus discípulos O seguiram”. Os
versículos 2 e 3 mostram que Ele foi desprezado e
rejeitado pelos nazarenos: “Chegando o sábado,
começou a ensinar na sinagoga; e muitos, ouvindo-O,
ficavam atônitos, dizendo: Donde vêm a este essas
coisas? Que sabedoria é essa que Lhe foi dada? E
como se fazem tais milagres por Suas mãos? Não é
este o carpinteiro, filho de Maria, irmão de Tiago,
José, Judas e Simão? E não estão aqui entre nós Suas
irmãs? E escandalizavam-se Dele”. Aqui vemos que
os nazarenos conheciam o Salvador-Servo segundo a
carne, e não segundo o Espírito (2Co 5:16). Eles
estavam cegados pelo conhecimento natural.
O Senhor Jesus então lhes disse: “Não há profeta
sem honra senão na sua terra, entre os seus parentes
e na sua casa” (v. 4). Essa palavra indica que,
provavelmente, até mesmo alguns da própria casa do
Senhor se uniram aos outros para desprezá-Lo e
rejeitá-Lo.

Cumprimento de Profecia
A palavra dos desprezadores cegos aqui pode ser
considerada o cumprimento da profecia a respeito do
Salvador-Servo em Isaías 53:2-3: “Como raiz de uma
terra seca; não tinha aparência nem formosura;
olhamo-lo, mas nenhuma beleza havia que nos
agradasse. Era desprezado e o mais rejeitado entre os
homens”. Isso era conhecê-Lo segundo a carne em
Sua humanidade, e não segundo o Espírito em Sua
deidade (Rm 1:4). Em Sua humanidade, Ele era uma
raiz de uma terra seca, um rebento do tronco de Jessé
e um renovo das suas raízes (Is 11:1), um Renovo a
Davi (Jr 23:5; 33:15), o Renovo que era um homem e
o servo de Jeová (Zc 3:8; 6:12), e segundo a carne veio
da descendência de Davi (Rm 1:3). Em Sua deidade,
Ele era o Renovo de Jeová para beleza e glória (Is
4:2), designado Filho de Deus com poder segundo o
Espírito (Rm 1:4).

Uma Pessoa de Baixa Condição Social


Apenas no Evangelho de Marcos o Senhor Jesus
é chamado de carpinteiro. Os que O rejeitaram
perguntaram: “Não é este o carpinteiro?”. Eles
usaram a palavra carpinteiro em tom de desprezo.
Eles estavam atônitos com Seu ensinamento,
sabedoria e milagres. Mas O consideravam alguém de
baixa condição social. Nas palavras de hoje, podem
ter-se perguntado que qualificações, que diploma, Ele
tinha.
O verbo escandalizar-se no versículo 6:3 indica
que os nazarenos rejeitaram o Salvador-Servo. Por
que se escandalizaram Nele? Por um lado ouviram
palavras maravilhosas de Sua boca e viram alguns dos
Seus feitos maravilhosos, mas, por outro,
consideravam que Ele não tinha uma condição social
elevada nem diploma. Viam-No apenas como
carpinteiro. Por isso, escandalizavam-se Dele e O
desprezavam.
O princípio é o mesmo hoje. Muitos cristãos se
preocupam com a condição social ou com o diploma
dos outros e querem saber dessas coisas. Alguns anos
atrás tive uma conversa com certo pregador que se
promovia muito. Ele me perguntou quantos entre nós
tinham título de doutor. Não respondi nada. Meu
silêncio era uma indicação de que não estamos
preocupados em saber quantos irmãos na igreja têm
título de doutor. Ele então continuou a conversa
gabando-se de quantas pessoas em seu grupo tinham
doutorado. Isso é uma ilustração da preocupação dos
cristãos hoje em dia a respeito da condição social e
dos títulos.
Muitos dos que têm um título de doutor em
teologia não têm muita experiência do Cristo vivo.
Também não têm muito das riquezas de Cristo nem
do conhecimento das profundezas das verdades na
palavra de Deus. Seu entendimento da Bíblia, pelo
contrário, pode ser bastante superficial.

As Riquezas de Cristo e as Profundezas da


Verdade
No capítulo 6 do Evangelho de Marcos vemos o
Senhor Jesus como carpinteiro. Ele não tinha título
nem condição social elevada. Mas certamente tinha
as riquezas do Deus Triúno e também conhecia as
profundezas da verdade nas Escrituras. Seus ouvintes
estavam grandemente surpresos com Seu
conhecimento bíblico.
Esse relato no capítulo seis deve fazer com que
perguntemos a nós mesmos o que queremos e a que
damos valor. Será que queremos diploma elevado ou
alta condição social? Na restauração do Senhor
queremos Jesus e queremos as riquezas de Cristo. Em
vez de querer as doutrinas superficiais da Bíblia,
queremos as profundezas das verdades divinas na
palavra de Deus. Queremos seguir o Senhor Jesus em
ministrar as riquezas do Deus Triúno às pessoas e em
apresentar-lhes as profundezas das verdades divinas
nas Escrituras Sagradas. É isso que queremos e é
ISSO que desejamos fazer.
Não devemos pensar que se temos as riquezas de
Cristo e as profundezas da verdade, seremos sempre
bem recebidos. Não, essa não é a era em que a
verdade do Senhor será bem recebida na terra. Pelo
contrário, essa é uma era na qual o Senhor e Seus
discípulos são desprezados e rejeitados.
Ninguém pode ser comparado ao Senhor Jesus.
Ele tinha as riquezas do Deus Triúno e as profundezas
da verdade. Mas, a despeito de quão rico fosse e de
quanto conhecesse a verdade nas Escrituras
Sagradas, Ele foi desprezado e rejeitado em vez de
bem recebido.
Embora o Senhor nos tenha mostrado algo das
profundezas da verdade divina na Palavra, nós, que
estamos na restauração do Senhor, não somos bem
recebidos. Freqüentemente os que têm apenas um
conhecimento superficial da verdade bíblica são os
primeiros a nos rejeitar e a se opor ao que
apresentamos. Alguns chegaram até a fazer falsas
acusações contra nós. Uma dessas falsas acusações é
que somos panteístas, que cremos que tudo no
universo é Deus. Também já nos acusaram de ser
facciosos e heréticos. Mas embora nos acusem
falsamente, desprezem e rejeitem, não estou
desapontado. Pelo contrário, estou encorajado.
Quando o Senhor Jesus foi rejeitado, Ele enviou os
doze. Cremos que, quanto mais formos rejeitados,
mais os santos na restauração do Senhor sairão para
pregar o evangelho, apresentar a verdade e ministrar
vida.

O ENVIO DOS DOZE PARA PREGAR


Em 6:7-13 temos o envio dos doze para pregar.
De acordo com o versículo 7, o Senhor os chamou
para Si e os enviou de dois em dois. Em 6:12-13 diz:
“Então, saindo eles, proclamavam que todos se
arrependessem; expulsavam muitos demônios, e
ungiam muitos enfermos com óleo e os curavam”.
Aqui vemos que os doze foram enviados para fazer
três coisas: pregar, expulsar demônios, e ungir os
enfermos e curá-los.

Expulsar Demônios Apresentando a Verdade


Ao considerar as três coisas para as quais os doze
foram enviados, perceberemos que correspondem a
três questões: pregar o evangelho, apresentar a
verdade e ministrar vida. O primeiro item, pregar o
evangelho, é claramente o mesmo e não necessita de
maiores comentários aqui. Contudo, precisamos ver a
conexão entre expulsar demônios e apresentar a
verdade.
Suponha que você diga a alguém: “Você está
possuído por demônios e eu vim para expulsá-los”. Se
você falar assim, ninguém irá dar-lhe atenção. Em
princípio, a melhor maneira de expulsar demônios
hoje é apresentar a verdade a partir da palavra de
Deus. Ao conversar com um incrédulo, pode
apresentar-lhe a verdade a respeito da Pessoa e da
obra de Cristo. Ao conversar com um cristão, pode
apresentar-lhe uma verdade específica sobre a vida
cristã. Por exemplo, você pode apresentar a verdade
sobre a transformação. Ao fazê10, você pode dizer:
“Vamos ler juntos 2 Coríntios 3:18”. Então, leia esse
versículo: “E todos nós, com o rosto desvendado,
contemplando, como por espelho, a glória do Senhor,
somos transformados, de glória em glória, na sua
própria imagem, como pelo Senhor, o Espírito”.
Depois disso, você pode falar um pouco sobre a
verdade da transformação. Certamente um cristão
genuíno e sequioso será atraído pela apresentação de
tal verdade.
Apresentar a verdade é expulsar demônios. A
sociedade atual está cheia de demônios. Esses
demônios podem ser comparados a germes.
Precisamos apresentar a verdade como remédio que
evita que os germes dos demônios se alastrem.
Devemos apresentar, não apenas a verdade do
crescimento em vida e transformação pela vida, mas
até mesmo a verdade da salvação inicial.
Percebo que em alguns livros cristãos há certa
quantidade de riquezas divinas. Mas na sua maior
parte essas riquezas foram enterradas ou escondidas.
Raramente foram tocadas pelos crentes. O resultado
disso é que a situação geral entre os cristãos hoje é de
pobreza espiritual. Por exemplo, muitos cristãos
autênticos não sabem o que significa ser
transformado. Nunca ouviram a verdade a respeito da
transformação. Da mesma forma há muitos que não
conhecem o verdadeiro significado de santificação.
Nunca ouviram falar que a santificação verdadeira
tem dois aspectos: o posicional e o disposicional.
Talvez tenham apenas um entendimento geral sobre a
santificação, não sabendo de fato o que significa ser
santificado.
Um exemplo da pobreza com respeito à verdade
divina é a afirmação de certo teólogo de que Cristo na
verdade não estaria nos crentes, mas seria
representado neles pelo Espírito Santo. De acordo
com o conceito desse homem, o Espírito Santo é o
representante de Cristo nos crentes. Esse
ensinamento está bem distante da verdade das
Escrituras. Isso é uma ilustração de como os
“demônios” de hoje dominam, possuem a mente das
pessoas e lhes cobre o entendimento.
Que faremos a respeito dessa situação?
Precisamos espalhar, como remédio, todas as
verdades que o Senhor nos tem mostrado em Sua
restauração e apresentá-las como “antídoto” aos
germes demoníacos. Podemos testificar que cada
verdade que o Senhor nos mostra na Palavra é um
remédio útil para matar esses germes. Agora, de
maneira adequada, precisamos apresentá-las aos
outros.
Ao apresentá-las precisamos ser sábios. Não
devemos dizer: “Você tem muitos germes e nós
viemos com o remédio que irá matá-los”. Se falar
assim, certamente as pessoas se levantarão contra
você.
Nem sempre é sábio o médico dizer ao paciente o
diagnóstico completo. Em vez de dizer aos outros que
eles têm germes, devemos simplesmente
apresentar-lhes o remédio da verdade sob a forma de
comida espiritual nutritiva que irão receber e
desfrutar. Ao ingeri-la, receberão o remédio de que
precisam para eliminar os germes em seu interior.
Vamos usar a verdade sobre a santificação como
ilustração. Você pode dizer a um irmão: “Você
percebe que, de acordo com o Novo Testamento, a
santificação tem dois aspectos? Na Bíblia temos a
santificação posicional e a santificação disposicional”.
Se apresentar adequadamente a verdade a respeito da
santificação, as pessoas a receberão. Então talvez
digam: “Sim, isso que você está me falando é verdade.
Quando cri no Senhor Jesus, fui santificado
posicionalmente. Agora vejo que, disposicionalmente,
ainda não fui muito santificado. No que diz respeito à
minha disposição ainda não sou santo; antes, em
muitos aspectos ainda sou comum”.
Aprendamos a ser bons “garçons”, que servem
aos outros o nutritivo alimento da verdade.
Aprendamos a ser hábeis em apresentar as verdades
bíblicas. Na situação de hoje, a maneira de expulsar
demônios é apresentar a verdade.

Ungir o Enfermo Ministrando Vida


Vimos que todos na restauração do Senhor
devem sair para pregar o evangelho, apresentar a
verdade e ministrar vida. Vimos que apresentar a
verdade é expulsar demônios. Agora precisamos
ainda ver que ministrar vida aos outros é igual a ungir
os enfermos com óleo e curá-los.
Muitos de nossos irmãos cristãos estão
espiritualmente enfermos pela falta de nutrição.
Como podemos nutri-los? A melhor maneira é
dar-lhes testemunho de nossa experiência de Cristo.
Um testemunho autêntico de nossa experiência
espiritual é a melhor comida.
Testificar aos outros é também ungi-los. A
verdadeira necessidade hoje não é a imposição
externa de mãos, praticada por muitos nos
movimentos carismáticos e pentecostais. A
necessidade é testificar de nossa experiência de
Cristo. Você pode testificar como foi salvo e
capturado pelo Senhor, como Ele o satisfaz, e como
você O experimenta e desfruta dia a dia. Com tal
testemunho, os outros receberão uma rica unção, por
meio da qual serão supridos e curados
espiritualmente. Assim, ministrar vida aos outros é
nutri-los e ungi-los com nosso testemunho.
O Deus Triúno Torna-se o Nosso Desfrute Diário
Todos precisamos de mais experiências de desfrutar o
Senhor. Então, precisamos testificar aos outros a
respeito de nosso desfrute.
Para muitos cristãos pode soar estranha a
questão de desfrutar o Senhor. Muitos nunca ouviram
falar que é possível desfrutá-Lo. Talvez digam: “Como
assim? você desfruta o Senhor”! Deus é grande e
poderoso. Como podemos ousar desfrutá-Lo?”. Em
vez de discutir sobre isso, simplesmente dê-lhes um
testemunho de como o Deus Triúno se tornou seu
desfrute diário. Esse testemunho os ungirá, nutrirá e
alimentará.
Todos devemos seguir o Senhor e os doze quanto
a pregar o evangelho, expulsar demônios e curar os
enfermos. Espero que todos saiamos para pregar,
expulsar demônios apresentando a verdade, e ungir e
curar outros dando-lhes nosso testemunho. Dessa
forma iremos alimentar os outros, ungi-los e
ministrar-lhes vida.
ESTUDO-VIDA DE MARCOS
MENSAGEMDEZENOVE
O MOVER DO SERVIÇO EVANGÉLICO DO SALV
ADOR-SERVO (3)

Leitura Bíblica: Mc 6:1-56


Na mensagem anterior vimos que em 6:1-6 o
Salvador-Servo foi desprezado pelos nazarenos e em
6:7-13 enviou os doze para pregar. Chamamos a
atenção ao fato de que, assim como os doze pregaram,
expulsaram demônios e ungiram os enfermos, nós
hoje precisamos pregar o evangelho, apresentar a
verdade a fim de expulsar os demônios e ministrar
vida aos outros ungindo-os com nossos testemunhos
da experiência de Cristo. Nesta mensagem
prosseguiremos considerando 6:14-56, um trecho do
Evangelho de Marcos que abrange quatro
questões:1Jo martírio do precursor do evangelho (vs.
14-29), 2Jo Senhor alimenta os cinco mil (vs. 30-44),
3) caminhar sobre o mar (vs. 45-52) e 4) cura em
todos os lugares (vs. 53-56).

O MARTÍRIO DO PRECURSOR DO
EVANGELHO
Não devemos pensar que, se pregarmos o
evangelho, apresentarmos a verdade e ministrarmos
vida, seremos bem recebidos. Não. Assim como João
Batista, o Senhor Jesus e os discípulos, nós também
devemos esperar ser rejeitados.
Depois de rejeitado pelos nazarenos, Ele enviou
os doze.
Então, depois do envio dos doze, João Batista, o
precursor do evangelho, foi martirizado. O martírio
de João Batista denota o ódio de Satanás para com o
fiel precursor do Salvador-Servo, expresso mediante
as trevas e injustiça das pessoas do mundo que
estavam no poder.
Como foi que João Batista foi executado? Essa
execução foi levada a cabo a pedido de Herodias.
Marcos 6:17-19 nos diz que Herodes “mandara
prender a João e atá-lo no cárcere, por causa de
Herodias, mulher de Filipe, seu irmão, porquanto se
casara com ela. Pois João dizia a Herodes: Não te é
lícito possuir a mulher de teu irmão. De modo que
Herodias lhe guardava rancor e queria matá-lo, mas
não podia”. João foi assassinado pela política trevosa,
pelas trevas dos que estavam no poder. Em Herodes
não havia justiça: ele havia cometido fornicação com
Herodias, mulher de seu irmão, e ela odiava João
Batista.
Herodes sabia que João era homem justo e santo,
e até certo ponto tinha consideração por ele.
“Herodes temia a João, sabendo que era homem justo
e santo, e o tinha em segurança. E quando o ouvia,
ficava muito perplexo, contudo o escutava com
prazer” (v. 20). Certamente era injusto esse homem
justo e santo estar atado na prisão.
O versículo 21 diz: “Chegando um dia oportuno,
em que Herodes no seu aniversário deu um banquete
aos seus dignitários, aos oficiais militares e aos
principais da Galiléia”. Durante esse banquete, a filha
de Herodias entrou e dançou, agradando a Herodes e
aos que se reclinavam com ele à mesa. Drogado e
enganado pela dança dela, Herodes lhe disse:
“Pede-me o que quiseres e eu te darei” (v. 22).
Seguindo as instruções da mãe, Herodias, ela pediu a
cabeça de João Batista. Assim, como resultado de
ódio, trevas e da indulgência para com a
concupiscência, o justo e santo precursor do
evangelho foi levado à morte. Esse é um quadro
vívido da rejeição do mundo ao evangelho.
Em 4:35-5:43 temos uma figura da sociedade
humana atual. De acordo com essa figura, a sociedade
está cheia de rebelião, demônios, indústria imunda,
doença e morte.
Em 6:1-29 vemos outro quadro: de rejeição,
injustiça e ódio para com o evangelho e para com os
que o pregam. Considerando isso, não devemos
esperar ser bem recebidos pelo mundo. Nunca
devemos esperar ser honrados ou ser levados em alta
conta. Não pode haver tal coisa para os que servem o
Senhor no evangelho. Se formos fiéis ao Senhor em
Seu ministério, seremos desprezados e sofreremos
rejeição, injustiça, ódio e talvez até martírio. Contudo
não devemos ficar desapontados com isso. Pelo
contrário, devemos estar encorajados.

ALIMENTOU CINCO MIL


Depois que o precursor do evangelho foi
martirizado, o Salvador-Servo disse aos discípulos:
“Vinde vós, à parte, a um lugar deserto e descansai
um pouco” (v. 31). A fim de poderem descansar
“foram sós no barco para um lugar deserto”. Contudo,
grande multidão os seguiu. Por um lado, nesse
capítulo temos rejeição, ódio e injustiça; por outro, a
multidão continuava a seguir o Senhor.
Marcos 6:34 diz: “Saindo Jesus, viu uma grande
multidão, e compadeceu-se deles, porque eram como
ovelhas que não têm pastor. E começou a
ensinar-lhes muitas coisas”. Sua expressão de
compaixão demonstra a virtude do Salvador-Servo
em Sua humanidade. Essa virtude foi levada a cabo
pelo poder de Sua deidade.
Quando os discípulos sugeriram ao Senhor que
despedisse a multidão, Ele respondeu: “Dai-lhes vós
mesmos de comer” (vs. 35-37). O Salvador-Servo
tinha compaixão do povo e queria alimentá-lo.

Cinco Pães e Dois Peixes


Todos sabemos que o Senhor usou cinco pães e
dois peixes para alimentar cinco mil homens (vs.
38-42). João 6:9 nos diz que esses cinco pães eram de
cevada. Em tipologia, cevada significa o Cristo
ressurreto (Lv 23:10). Assim, os pães de cevada
representam Cristo em ressurreição como comida
para nós. Os pães procedem da vida vegetal, o que
representa o aspecto gerador da vida de Cristo, mas
os peixes são da vida animal, o que representa o
aspecto redentor de Sua vida. Para satisfazer nossa
fome espiritual, precisamos da vida geradora de
Cristo e também da Sua vida redentora. Ambos os
aspectos são representados por pequenos itens: pães
e peixes.

Oferecer o que Temos


Os cinco pães e dois peixes também indicam que
tudo o que tivermos recebido do Senhor precisamos
trazer para Ele, a fim de que se torne grande bênção
para muitos outros. O Senhor freqüentemente usa o
que Lhe oferecemos para suprir a necessidade de
outros.
Não devemos menosprezar nossa experiência e
dizer: “Não ternos muito do Senhor. Não
experimentamos muito Dele”. Veja o que o Senhor
pôde fazer com cinco pães e dois peixes. Ele não exige
mais do que ternos. Se Lhe dermos o que ternos, Ele o
abençoará. Quando Lhe apresentamos o que ternos,
Ele derrama a bênção, concedendo Sua bênção
ilimitada sobre o que Lhe apresentamos.
O versículo 43 diz: “E recolheram doze cestos
cheios dos pedaços de pão e dos peixes”. Aqui vemos
o resultado da bênção do Senhor. Isso não somente
demonstrou o poder da deidade do Salvador-Servo
como Criador, que chama à existência as coisas que
não existem (Rm 4:17), mas também representou o
suprimento abundante e inesgotável de Sua vida
divina (Ef 3:8; Fp 1:19).
Tenho encargo de que você seja impressionado
com os quadros em 4:35-5:43 e 6:1-44. Não devemos
ficar perturbados nem desapontados pelo fato de que
o número de irmãos na restauração do Senhor neste
país ainda é bastante pequeno. É nosso destino que
sejamos desprezados e rejeitados. Podemos até dizer
que Deus nos predestinou para isso. Até mesmo o
homem-Deus foi desprezado e rejeitado. Se Ele foi
rejeitado, então não devemos esperar nada diferente.
Além disso, o precursor do Senhor, João Batista, que
foi um marco na história, foi aprisionado e
martirizado. Se isso aconteceu com João Batista, não
devemos esperar nada melhor.
Não devemos ficar amedrontados pelo fato de
que é nosso destino ser rejeitados, odiados,
aprisionados e mesmo martirizados. Em vez de ficar
desencorajados em tomar o caminho do Senhor em
Sua restauração, devemos ser encorajados a
apresentar o que temos ao Senhor. Talvez tenhamos
só cinco pães e dois peixes, mas podemos dar isso a
Ele para que os abençoe. Se dermos ao Senhor o que
temos, Ele concederá Sua bênção sobre o que Lhe
oferecemos. O resultado será que outros serão
alimentados e satisfeitos, e sobejarão doze cestos.
Não importa quanta rejeição, ódio e injustiça
possa haver; temos a vida do reino hoje. Nessa vida as
pessoas são curadas, nutridas, alimentadas e
satisfeitas, e há sobejo abundante. Esse é um quadro
preciso da vida da igreja hoje.

UM RETRATO DA VIDA DA IGREJA


A vida da igreja é retratada pelos quadros em
4:35-5:43 e 6:1-44. No primeiro quadro temos
tempestades, demônios, porcos, doença e morte.
Mas, em meio a tal situação deplorável, o
Salvador-Servo vem para subjugar a rebelião,
expulsar os demônios, purificar a indústria imunda,
curar a enfermidade e ressuscitar os mortos. Como
resultado, todos somos curados, vivificados e
ressuscitados.
De acordo com o segundo quadro, seremos
desprezados e experimentaremos rejeição, ódio,
injustiça e martírio. Contudo, mesmo em tal situação,
a multidão é satisfeita. Todos são alimentados e estão
felizes. Nós oferecemos tudo que temos ao Senhor e
então recebemos Dele muito mais do que ofertamos.
Essa é a vida do reino, a vida da igreja. Somos muito
abençoados por poder estar na vida do reino hoje.
Embora pareça que perdemos tudo, na verdade, no
Senhor ganhamos tudo.
No capítulo quatro de Marcos temos a semente
do reino. Numa das mensagens anteriores
consideramos a história do crescimento e
desenvolvimento dessa semente. Vimos que, do
ponto de vista de Deus, o reino é o desenvolvimento
Dele mesmo como semente plantada em nós. Mas, do
ponto de vista de Satanás, o reino é o subjugar da
rebelião. Esse é o significado de o relato do subjugar
do temporal no capítulo quatro vir imediatamente
depois do ensinamento do Senhor a respeito do reino
de Deus. Então, no capítulo cinco, temos a
demonstração do reino quando o Salvador-Servo
expulsou demônios, purificou a indústria imunda e
curou a doença mortal. Pela vinda de uma Pessoa,
Jesus Cristo, Deus encarnado, cinco categorias de
coisas negativas são eliminadas: rebelião, demônios,
indústria impura, enfermidade e morte. Louvado seja
o Senhor por esse quadro maravilhoso do reino de
Deus!
Um segundo quadro do reino está em 6:1-44, em
que vemos a atitude do mundo para com o
Salvador-Servo. Por valorizar quem tem condição
social elevada, as pessoas do mundo desprezam e
rejeitam o evangelho. No registro sobre a execução de
João Batista, vemos as trevas e a injustiça da política
do mundo. Esse é de fato um quadro do mundo de
hoje.
O mundo despreza o evangelho e o rejeita. Mas o
Senhor Jesus não ficou desapontado por isso. Em vez
disso, como alguém rejeitado, Ele enviou os doze. E
depois do martírio do precursor do evangelho, o
Senhor ganhou os cinco mil, alimentou-os e os
satisfez.
Depois que o inimigo mata um, o Senhor gera
cinco mil. Essa tem sido a história no mover do
Senhor pelos séculos, e creio que também continuará
a se repetir conosco.
ANDOU SOBRE O MAR
Em 6:45-52 temos o relato do Salvador-Servo
andando sobre o mar. Marcos 6:45-46 diz: “Logo em
seguida, compeliu Jesus os Seus discípulos a entrar
no barco e ir adiante para o outro lado, a Betsaida,
enquanto Ele despedia a multidão. E, tendo-se
despedido deles, foi ao monte para orar”. O Senhor
orou a fim de ter comunhão com Deus, buscando Sua
vontade e prazer para Seu serviço evangélico. Ele não
realizou esse serviço por Si mesmo e de acordo com a
própria vontade, como alguém independente de
Deus. Pelo contrário, levou a cabo o serviço
evangélico de acordo com a vontade e o prazer de
Deus, sendo um com Deus a fim de cumprir Seu
propósito.
O versículo 48 diz: “E, vendo-os atormentados a
remar, porque o vento lhes era contrário, por volta da
quarta vigília da noite veio ter com eles, andando
sobre o mar; e queria passar-lhes adiante”. Em 4:38 o
Salvador-Servo dormia num barco castigado por um
temporal de vento que amedrontava Seus seguidores.
Aqui Ele caminhava sobre o mar, enquanto eles, ao
remar, estavam atormentados devido às ondas do
mar. Esses incidentes mostram que o Salvador-Servo,
como o Criador e Soberano do universo (Jó 9:8), não
se perturbou por nenhuma circunstância e se
preocupou com os problemas de Seus seguidores na
jornada com Ele.
Quando viram o Senhor andando sobre o mar, os
discípulos gritaram e ficaram atemorizados. Mas Ele
lhes disse: “Tende ânimo! Sou Eu. Não temais! E
subiu para junto deles no barco, e cessou o vento” (vs.
50-51). Esse milagre não apenas testifica que o
Senhor é o Criador e Soberano dos céus e da terra,
mas também indica que Ele se preocupa com as
dificuldades de Seus seguidores enquanto eles O
seguem. Quando temos o Senhor no barco o vento
cessa. O relato dos dois milagres nesse capítulo
implica que, enquanto Cristo estava sendo rejeitado,
Ele e Seus seguidores estavam num lugar deserto e
num mar tempestuoso. Em qualquer situação, Ele foi
capaz de lhes suprir as necessidades e, em meio às
adversidades, conduzi-los ao destino.

CUROU EM TODA PARTE


Em 6:53-56 temos um breve registro do
Salvador-Servo curando em toda parte. Ele e Seus
discípulos atravessaram o mar e chegaram a
Genesaré. Logo as pessoas O reconheceram e
começaram a trazer-Lhe os enfermos. O versículo 56
diz: “Onde quer que Ele entrasse, nas aldeias, nas
cidades ou nos campos, punham os enfermos nas
praças, e rogavam-Lhe que os deixasse tocar ao
menos a franja da Sua veste; e todos quantos O
tocavam eram curados”. A veste de Cristo representa
Seus atos de justiça e a franja representa o governo
celestial (Nm 15:38-39). Dos feitos de Cristo
celestialmente governados emana a virtude que se
toma o poder de cura. Todos quantos O tocavam
dessa forma eram curados.
ESTUDO-VIDA DE MARCOS
MENSAGEM VINTE
O MOVER DO SERVIÇO EVANGÉLICO DO SALV
ADOR-SERVO (4)

Leitura Bíblica: Mc 7:1-23


O Evangelho de Marcos foi escrito de maneira
progressiva. Nele temos um relato de acordo com a
seqüência dos fatos ocorridos na vida do Senhor
Jesus. Cremos que foi devido à soberania de Deus que
tudo na vida do Senhor aconteceu em determinada
ordem e de maneira progressiva.

FARISEUS E ESCRIBAS QUESTIONAM O


SENHOR
Em 6:45-52 temos um relato do Senhor andando
sobre o mar. Então, em 6:53-56 temos um registro do
Senhor curando por toda parte. A situação naquele
momento era maravilhosa. Ele e os discípulos tinham
atravessado o mar tempestuoso e as pessoas em toda
parte desfrutavam a cura que Ele proporcionava.
Então, de repente, certos “espiões” religiosos,
certos fariseus e escribas, “reuniram-se a Jesus [...]
vindos de Jerusalém” (7:1). Esses estudiosos, líderes
da religião judaica, vieram ao Senhor
propositadamente para espioná-Lo. Jerusalém ficava
bem ao sul, e o Senhor Jesus estava no norte, na
Galiléia. Contudo, os fariseus e os escribas
percorreram todo esse caminho a fim de observar o
que Ele fazia.
Marcos 7:2 diz que os fariseus e escribas que
vieram espionar o Senhor Jesus viram “que alguns
dos discípulos Dele comiam pão com as mãos
comuns, isto é, por lavar”. Marcos 7:3-4 explica que
os fariseus, retendo a tradição dos anciãos, não
comiam sem lavar cuidadosamente as mãos. Quando
voltavam da praça, não comiam sem se lavar.
De acordo com o versículo 5, os fariseus e os
escribas questionaram o Senhor Jesus: “Por que não
andam os Teus discípulos conforme a tradição dos
anciãos, mas comem pão com as mãos comuns?”. A
palavra anciãos aqui, assim como no versículo 3,
refere-se aos antigos, às pessoas de gerações
anteriores. Os fariseus e escribas achavam que
tinham base para criticar o Senhor, porque Seus
discípulos praticavam algo contrário às tradições que
os judeus tinham recebido dos antepassados.

A CONDIÇÃO INTERIOR DO HOMEM


Ao ler o Evangelho de Marcos, pode parecer-nos
que o relato em 6:45-7:23 é meramente uma história.
Nesse trecho é-nos dito como o Senhor Jesus passou
pelo mar tempestuoso, curou muitas pessoas e foi
questionado pelos fariseus e escribas. Contudo, se
buscarmos o Senhor a fim de que Ele nos ilumine a
respeito dessa seção, perceberemos que, por ocasião
do capítulo sete, havia a necessidade de o Senhor
lidar com a condição interior do homem. As coisas
que aconteceram antes desse capítulo estão
relacionadas com a situação humana exterior, e não
interior. O evangelho, no entanto, é para todo o nosso
ser. O problema da condição interior do homem é
muito mais sério do que o da sua situação exterior. Na
verdade, nossa condição interior é a raiz de todos os
problemas.
Nos primeiros seis capítulos do Evangelho de
Marcos muitas coisas são abordadas. Mas até esse
momento não se havia tocado na condição interior da
humanidade caída. Agora, no capítulo sete, ao ser
questionado pelos fariseus e escribas, o Senhor teve a
oportunidade de falar a respeito da situação interior
do homem. A intenção dos fariseus e escribas era
condenar o Salvador-Servo. Mas eles foram usados
por Deus em Sua soberania, pois sem eles o Senhor
talvez não tivesse tido a oportunidade de falar a
respeito da condição interior do homem.
Os fariseus e escribas certamente não tinham
intenção de tocar a situação interior do homem.
Estavam preocupados com a formalidade exterior,
com o lavar e limpar exterior. Não estavam nem um
pouco interessados na condição interior do homem.
No entanto, deram ao Senhor excelente oportunidade
e até mesmo abriram caminho para Ele revelar a
condição humana interior. O Senhor Jesus expôs esse
assunto não apenas para os fariseus e escribas, mas
também para a multidão e especialmente para os
discípulos (v. 17).
Em 7:1-23 temos três grupos de pessoas: toda a
multidão, incluindo os fariseus e escribas; parte da
multidão (v. 14); e os discípulos do Senhor, Seus
seguidores íntimos. O versículo 17 diz: “Quando
entrou numa casa, deixando a multidão, os Seus
discípulos O interrogaram acerca da parábola”.
Então, o Senhor revelou-lhes plenamente a condição
interior do homem. Por fim foram os seguidores
íntimos do Senhor que receberam o benefício.
Puderam ver claramente, não apenas a situação
exterior do homem, mas também a sua condição
interior.
Como Pessoa humano-divina, o Senhor Jesus
cura a situação do homem. Essa cura não atinge
apenas nossa doença exterior, mas especialmente a
interior. A respeito disso, no capítulo sete do
Evangelho de Marcos temos um passo importante no
serviço evangélico do Salvador-Servo. Como já vimos,
antes desse capítulo o serviço evangélico do Senhor
dizia respeito a situação exterior do homem. Mas os
fariseus e escribas, como opositores, deram-Lhe
excelente oportunidade para tocar na condição
interior do homem caído.
No capítulo seis vemos oposição e rejeição. Esse
capítulo relata o martírio de João Batista, o precursor
do Salvador-Servo. A causa desse martírio foi o ódio
que Herodias tinha de João. No final desse capítulo, o
Senhor atravessou o mar e, então, entrou numa terra
onde as pessoas receberam Sua cura. Os discípulos do
Senhor deviam estar felizes e empolgados com esses
acontecimentos. Aonde quer que o Senhor fosse,
davam-Lhe as boas vindas e pessoas eram curadas. Se
estivéssemos entre os seguidores do Salvador-Servo
naquele tempo, certamente estaríamos contentes com
a situação.
Podemos dizer que os fariseus e escribas, no
capítulo sete, eram opositores profissionais.
Provavelmente, antes de descer de Jerusalém ao
lugar onde o Senhor Jesus estava, foram treinados
para espioná-Lo, a fim de ter alguma base para
prendê-Lo e levá-Lo à morte. Os fariseus e escribas
talvez tenham dito uns aos outros: “Esse é um diabo,
precisamos livrar-nos Dele. Precisamos achar algo
que convença o governo romano a matá-Lo”. Esses
espiões profissionais treinados pensavam que tinham
base para acusar o Senhor Jesus na questão de comer
sem antes lavar as mãos. Na verdade, eles
simplesmente abriram a porta para Ele falar a
respeito da condição do coração do homem.
Podemos comparar o Senhor Jesus, no capítulo
sete, a um cirurgião operando um paciente. Também
podemos dizer que os opositores profissionais
prepararam a “sala de cirurgia” para a “operação” do
Senhor. Então, Ele abriu o coração do homem e expôs
sua condição interior.

O SENHOR REPREENDE OS FARISEUS E


ESCRIBAS
O Senhor disse aos fariseus e escribas: “Bem
profetizou Isaías a respeito de vós, hipócritas, como
está escrito: Este povo honra-Me com os lábios, mas o
seu coração está longe de Mim. Mas em vão Me
adoram, ensinando mandamentos de homens como
ensinamentos” (vs. 6-7). Aqui o Senhor parecia dizer:
“Vocês, hipócritas, só se preocupam com a situação
exterior. Não se preocupam com a condição interior
do homem. Lavar ou não as mãos antes de comer não
significa nada. O que importa é a condição interior.
Deixe-Me abrir o coração de vocês e expor a condição
dele”. Nesse capítulo, o Senhor continua a expor a
condição maligna do coração do homem caído.
Os fariseus e escribas vieram com o objetivo de
achar uma falha no Senhor Jesus, mas o resultado foi
que foram repreendidos por Ele. O Senhor é
autêntico; Ele nunca finge. Por um lado é bondoso e
tem compaixão dos que O buscam, mas por outro,
como indica o relato do capítulo sete, é franco com os
opositores profissionais, chamando-os de hipócritas.
Nos versículos 8 e 9 o Senhor prosseguiu: “Deixando
o mandamento de Deus, retendes a tradição dos
homens. [...] Habilmente pondes de lado o
mandamento de Deus para guardardes a vossa
tradição”. E também no versículo 13 Ele disse que eles
estavam: “Destituindo assim a palavra de Deus de sua
autoridade pela vossa tradição, que vós transmitistes;
e fazeis muitas coisas semelhantes a essas”.
Aqui o Senhor parecia dizer: “Vocês, hipócritas,
vêm para achar falhas em Mim, porém Eu aproveito
essa oportunidade para expô-los. Vocês perguntam
por que Meus discípulos não guardam as tradições,
mas Eu lhes pergunto por que vocês invalidam a
palavra de Deus por meio de suas tradições. Vocês
servem a Deus com a boca, mas vou expor o que está
em seu coração”.
Nos versículos 10 a 12 o Senhor disse aos fariseus
e escribas: “Porque Moisés disse: Honra a teu pai e a
tua mãe, e: Quem maldisser a seu pai ou a sua mãe,
seja punido de morte. vós, porém, dizeis: Se um
homem disser a seu pai ou a sua mãe: Aquilo que
poderias aproveitar de mim é agora Corbã (isto é,
oferta a Deus), não mais lhe permitis fazer coisa
alguma por seu pai ou por sua mãe”. Com isso
podemos ver que os fariseus e escribas não só
estavam errados na questão de adoração a Deus, mas
até mesmo na maneira de lidar com os pais. Quanto a
honrar pai e mãe, eles invalidaram o mandamento de
Deus guardando sua tradição.
A palavra corbã no versículo 11 vem da palavra
hebraica qorban, uma oferta, um presente,
significando qualquer coisa oferecida a Deus. Essa
palavra é usada várias vezes nos sete primeiros
capítulos de Levítico, a respeito dos diversos tipos de
ofertas. Na verdade, a palavra oferta em português
em Levítico 1-7 é a tradução da palavra hebraica
qorban.
O Senhor repreendeu os fariseus e escribas pois
estavam errados na questão de honrar os pais e
cuidar deles. Na verdade, ensinavam os outros a
negligenciar o honrar os pais e, ao fazer isso,
invalidaram os mandamentos de Deus. A pessoa deve
gastar um tempo para cuidar dos pais. Mas, de acordo
com os fariseus e escribas, se essa pessoa fizesse um
corbã a Deus, uma oferta a Deus, não havia
necessidade de cuidar dos pais. No que diz respeito a
essa tradição, o Senhor Jesus repreendeu
energicamente os fariseus e escribas, dizendo-lhes
que estavam destituindo a palavra de Deus pela
tradição deles.
A ousada repreensão do Senhor silenciou os
opositores profissionais. Ele os havia exposto
publicamente. Que vergonha para os fariseus e
escribas, que eram versados na lei mosaica e
provavelmente se consideravam superiores aos
galileus! Mas na frente da multidão o Senhor os expôs
e repreendeu, chamando-os de hipócritas. Ele disse
que eles adoravam a Deus com a boca, mas o coração
estava longe de Deus. Ele até mesmo os expôs porque
invalidaram a lei de Deus, por tomá-la sem efeito. Ele
os expôs não apenas por enganar a Deus, mas
também por enganar os pais. Que repreensão séria!
Por meio dela os fariseus e escribas foram
amordaçados. Sem dúvida, saíram de cena
silenciosamente.

AS COISAS QUE CONTAMINAM O HOMEM


Depois que os fariseus e escribas desapareceram,
o Senhor chamou a multidão a Si novamente e lhes
disse: “Ouvi-Me todos e entendei. Nada há fora do
homem que, entrando nele, o possa contaminar; mas
o que sai do homem é o que contamina o homem” (vs.
14-15). Aqui o Senhor está indicando que as coisas
que contaminam o homem são as que saem do seu
coração. Por isso não devemos ater-nos às coisas
exteriores, porque não nos podem contaminar. Mas
devemos estar muito atentos às coisas interiores, pois
são as que nos contaminam.
O versículo 17 diz: “Quando entrou numa casa,
deixando a multidão, os Seus discípulos O
interrogaram acerca da parábola”. Como não haviam
entendido a palavra do Senhor, os discípulos Lhe
pediram que a explicasse. O Senhor disse: “Assim
também vós estais sem entendimento? Não
compreendeis que tudo o que de fora entra no
homem não o pode contaminar, porque não lhe entra
no coração, mas no ventre, e sai para a latrina? (Ao
dizer isso, tomou puros todos os alimentos.) [...] O
que sai do homem, isso é o que contamina o homem”
(vs. 18-20). De acordo com essa palavra do Senhor, o
que contamina o homem é aquilo que sai do seu
coração. Jeremias disse que a condição do coração do
homem é incurável (Jr 17:9). O coração do homem
caído é corrupto, cheio de germes contaminadores.
Nos versículos 21 e 22 o Senhor continua a fazer
uma lista de coisas contaminadoras do coração do
homem: “Porque de dentro, do coração dos homens,
procedem os maus pensamentos, fornicações, furtos,
homicídios, adultérios, avarezas, maldades, dolo,
devassidão, inveja, blasfêmia, arrogância,
insensatez”. Então no versículo 23 Ele conclui:
“Todas essas coisas malignas procedem de dentro e
contaminam o homem”. As coisas malignas que
procedem de dentro são os resultados malignos da
natureza caída e pecaminosa do homem (Rm 7:18).
Precisamos aplicar essa palavra a nós mesmos e
perceber que tudo que sai de nós contamina. Nada
que tenha sua fonte em nós é puro. Naturalmente
falando, somos uma constituição de coisas malignas.
É algo muito significativo que, no capítulo sete de
Marcos, o Salvador-Servo em Seu serviço evangélico
analise a condição interior do homem. O Senhor fez
isso em benefício dos discípulos, Seus seguidores
íntimos. Ele queria que soubessem que qualquer
coisa que procede do seu coração contamina os
outros. O Senhor parecia dizer-lhes: “Cuidem para
não contaminar os outros, e também cuidem para não
ser contaminados pelos outros. Nenhum de vocês
está limpo. Não importa quantas vezes lavem as
mãos, vocês não vão conseguir limpar o coração. As
coisas que os contaminam são as que estão no
coração. Vocês precisam ver que tudo o que sai do
coração é impuro e pode contaminar vocês e os
outros”.
ESTUDO-VIDA DE MARCOS
MENSAGEM VINTE E UM
O MOVER DO SERVIÇO EVANGÉLICO DO
SALVADOR-SERVO (5)

Leitura Bíblica: Mc 7:1-23


Na mensagem anterior ressaltamos que no
capítulo sete a oposição dos fariseus e escribas deu ao
Senhor Jesus excelente oportunidade de expor a
condição interior do homem, a condição do seu
coração.
Em 7:15 o Senhor disse à multidão: “Nada há fora
do homem que, entrando nele, o possa contaminar;
mas o que sai do homem é o que contamina o
homem”. Quando Ele entrou numa casa, os discípulos
vieram perguntar-Lhe a respeito dessa palavra. Então
o Senhor prosseguiu: “Assim também vós estais sem
entendimento? Não compreendeis que tudo o que de
fora entra no homem não o pode contaminar, porque
não lhe entra no coração, mas no ventre, e sai para a
latrina? (Ao dizer isso, tornou puros todos os
alimentos.)” (vs. 18-19). No versículo 19 o Senhor se
refere ao coração. No versículo 20 Ele continua: “O
que sai do homem, isso é o que contamina o homem”.
Depois disso o Senhor nos dá uma lista de algumas
das coisas malignas que procedem do coração
humano (vs. 21-22).

UMA CONSTITUIÇÃO DE COISAS MALIGNAS


Em 7:21-22 o Senhor diz: “Porque de dentro, do
coração dos homens, procedem os maus
pensamentos, fornicações, furtos, homicídios,
adultérios, avarezas, maldades, dolo, devassidão,
inveja, blasfêmia, arrogância, insensatez”. Aqui Ele
define de que parte do homem procedem as coisas
malignas: o coração. O coração humano é podre,
corrupto. O coração do homem caído é tão corrupto
que é incurável (Jr 17:9). Portanto, não devemos
pensar que somos bons no coração. Talvez você seja
bom exteriormente, mas não há nada de bom no
coração. Por isso Paulo podia confessar que nele não
habitava bem nenhum (Rm 7:18).
Nesse capítulo as profundezas da condição do
homem são expostas pelo Salvador-Servo. Em nossa
pregação do evangelho também devemos tocar na
condição do coração humano. Porém, muitas
pregações hoje deixam de fazê-lo.
Pela palavra do Senhor, no capítulo sete de
Marcos, precisamos ver qual realmente é a nossa
condição interior. A verdadeira condição do nosso
coração é que ele é uma constituição de coisas
malignas. Como nosso coração é corrupto, nunca
devemos pensar que ele é bom. Crer que ele é bom é
ser enganado e crer em mentira. Todo o que pensa ter
bom coração está enganado. Nosso coração é
corrupto e não devemos confiar nem um pouco nele.
No versículo 21 o Senhor Jesus usou o verbo
proceder. De acordo com esse versículo, maus
pensamentos, fornicações, furtos, e homicídios
procedem do coração do homem. O termo proceder
indica continuidade. As coisas malignas não apenas
vêm do coração humano, mas continuamente
procedem dele, uma após outra.

Maus Pensamentos
O primeiro item citado pelo Salvador-Servo que
procede do coração do homem são maus
pensamentos. Pensamentos, naturalmente, vêm da
mente. O Novo Testamento nos diz que a mente do
homem caído é reprovável (Rm 1:28). Como a mente
humana é reprovável, nada que venha dela pode ser
aceito ou justificado por Deus, pelo contrário, os
pensamentos da mente caída do homem são
condenados e rejeitados por Deus. Como nossa mente
caída é reprovável, nossos pensamentos são
malignos, a despeito de quão bons possam parecer.

Fornicações e Furtos
Depois de maus pensamentos, o Senhor citou
fornicações. Precisamos ser impressionados com o
fato de que o Senhor não falou dessas coisas de
maneira descuidada, pelo contrário, conhecendo a
situação interior do homem, Ele fala de maneira
cuidadosa sobre o que procede do coração humano.
Primeiro vêm os maus pensamentos e depois
fornicações. Isso indica que os maus pensamentos
estão relacionados à fornicação.
O terceiro item no versículo 21 é furtos. Alguns
podem contestar dizendo que nunca roubaram nada.
Mas o fato é que todo mundo tem cometido furtos de
uma maneira ou de outra. Na verdade, a própria
fornicação é um tipo de furto, pois é obter algo
impropriamente. Roubar é pegar algo ilegalmente.
Em princípio, fornicação está nessa categoria, pois é
seguir um caminho ilegal, não ordenado por Deus.
Qualquer coisa tomada ilegalmente não só é furto,
como também está no princípio da fornicação.
Embora sejamos salvos, filhos de Deus, nossa
natureza caída, incluindo o velho coração, ainda está
conosco. Em particular, as duas coisas malignas
(fornicação e furto) estão “agachadas” atrás de nós,
aguardando uma oportunidade de nos arruinar.
Através dos séculos, muitos cristãos, inclusive
pastores e ministros, caíram na armadilha da
fornicação. Até mesmo muitos dos que amam o
Senhor Jesus caíram nessa armadilha. Muitos
desconsideraram o fato de que o coração é maligno,
por isso não mantiveram a devida distância do sexo
oposto e caíram em fornicação.
No sentido verdadeiro, a vida da igreja é uma
vida social. Homens e mulheres freqüentemente têm
contato uns com os outros. Devido ao perigo da
fornicação, precisamos manter-nos a uma distância
adequada do sexo oposto.
Gostaria de enfatizar que, embora tenhamos sido
regenerados, de acordo com o ensinamento do Novo
Testamento, a velha natureza permanece conosco.
Nunca devemos esquecer-nos desse fato. Até o dia em
que o corpo for redimido, transfigurado, a natureza
caída estará conosco. Não importa quão santo você
possa ser, você precisa perceber que ainda tem a
natureza caída. É por isso que aconselho os santos a
não ficar sozinhos num aposento com alguém do sexo
oposto.
Aprecio e respeito muito este país2. Contudo, me
preocupo pelo fato de que homens e mulheres são
livres demais no contato uns com os outros. Muitas
mulheres não se dão conta do perigo de ser
corrompidas. Se tivessem tal consciência, iriam
manter distância adequada do sexo oposto.
Como mencionamos, na pregação do evangelho
precisamos tocar a condição do coração do homem.
2
Estados Unidos, onde estas mensagens foram dadas. (N. do T.)
Especificamente, precisamos expor o fato de que, em
princípio, todas as pessoas caídas são fornicadores e
ladrões. Quando eu pregava o evangelho na China,
costumava dizer: “Vocês, damas e cavalheiros,
parecem ser muito bons. Mas, suponham que eu
pudesse tirar um raio-X daquilo que vocês são
interiormente. Se eu fosse fazer isso, vocês não teriam
coragem de permanecer aqui. Vocês sabem que,
interiormente, são malignos e impuros. Talvez até ao
ouvir essa mensagem vocês estejam pensando em
coisas malignas. Vocês têm a aparência de damas e
cavalheiros, mas em sua condição interior vocês são
sujos”. É um fato que maus pensamentos procedem
do coração do homem e estão relacionados com
fornicação e furto.
É muito significativo que, no capítulo sete de
Marcos, o Salvador-Servo em Seu serviço evangélico
toque na condição interior do homem. Devemos
lembrar que a palavra do Senhor em 7:21-23 não é
dirigida à multidão, mas a Seus seguidores íntimos. O
Senhor ali parece dizer: “Pedro, João, Tiago, vocês
todos precisam perceber que do coração procedem
maus pensamentos, fornicações e furtos”.

Homicídios e Adultérios
O próximo item mencionado pelo Senhor como
procedente do coração do homem é homicídio.
Muitos homicídios são cometidos devido à fornicação
ou furto. Fornicação e furto freqüentemente resultam
em homicídio.
Então o Senhor passa a falar sobre adultérios. Há
diferença entre adultério e fornicação. Se uma pessoa
casada comete pecado com outra pessoa casada, isso
é adultério. Mas, se uma pessoa solteira comete
pecado com outra pessoa solteira, isso é fornicação.
Aqui o Senhor fala a respeito da fornicação e também
do adultério.

Avareza
O Senhor a seguir fala sobre avareza. Paulo nos
diz que conseguia vencer outras coisas, mas não a
avareza (Rm 7:7-8). Ele conseguia guardar todos os
Dez Mandamentos, menos o mandamento a respeito
da cobiça. “Pois não teria eu conhecido a cobiça, se a
lei não dissera: Não cobiçarás. Mas o pecado,
tomando ocasião pelo mandamento, despertou em
mim toda sorte de concupiscência” (Rm 7:7-8). A
razão por que Paulo não conseguia guardar o
mandamento a respeito da cobiça é que esse
mandamento está relacionado com a condição
interior do homem, enquanto os outros se referem à
conduta exterior. Cobiça, como as outras coisas
malignas mencionadas pelo Senhor, procede da
corrupção do coração humano.

Dolo e Devassidão
Em 7:22 o Senhor continua, falando sobre
maldade, dolo, devassidão, inveja, blasfêmia,
arrogância e insensatez. A palavra grega traduzida
por dolo também pode ser traduzida por fraude.
Fornicação, adultério e devassidão pertencem a
uma categoria. Já ressaltamos a diferença entre
adultério e fornicação. Aqueles que são indulgentes
com a fornicação ou com o adultério são pessoas
devassas. O Senhor certamente conhece a real
situação do homem, essa é a razão de usar essas
palavras.
Inveja e Blasfêmia
Podemos perguntar-nos o que a inveja3 tem a ver
com o coração. Pode parecer-nos que o olho não pode
estar no coração. Contudo, se considerarmos essa
questão, veremos que às vezes em nosso coração
podemos ter um olho maligno. De acordo com a
palavra do Senhor, um olho maligno é algo que
procede de nosso coração.
No versículo 22, depois da inveja, temos
blasfêmia. Inveja é para com os outros, mas
blasfêmia é principalmente dirigida a Deus.

Arrogância e Insensatez
Os dois últimos itens mencionados pelo Senhor
são arrogância e insensatez. Arrogância é até mesmo
mais forte do que orgulho. Insensatez aqui denota
tolice. Muito do que procede de nosso coração é
insensatez e tolice.

UM DIAGNÓSTICO DE NOSSA CONDIÇÃO


INTERIOR
Em 7:21-22 o Senhor cita treze itens. Paulo dá
uma lista bem mais longa em sua descrição da
humanidade caída no capítulo um de Romanos. Mas
os treze itens citados pelo Senhor são suficientes para
descrever a verdadeira condição e situação do coração
do homem caído. Precisamos perceber que todas
essas coisas ainda estão em nosso velho e corrupto
coração. É essa a condição de nosso coração descrita
pelo Senhor em Marcos 7.
3
O termo inveja, segundo o original grego, quer dizer olho maligno. É uma expressão semítica que se
refere ao olho que tem a intenção de fazer o mal e, por extensão, à hostilidade, ao ciúme ou à inveja —
nota 2 em Mc 7:22 — VR. (N. do T.)
Quando jovem, eu amava o Evangelho de João
porque fala sobre a vida. De acordo com João 10:10, o
Senhor Jesus veio para que tivéssemos vida, e vida
em abundância. Em Marcos podemos não encontrar
o termo vida, mas nesse livro, se não temos a vida em
terminologia, temo-la em realidade. Por exemplo, a
semente em Marcos 4 implica vida. O Senhor veio
plantar a semente do reino. Isso significa que veio
infundir vida. Plantar a semente é infundir vida. O
que temos em Marcos, portanto, é um relato a
respeito da vida, escrito de maneira prática.
No capítulo sete, Marcos não apenas nos diz que
o coração do homem é maligno. Falar assim seria
doutrinário, o que ele faz é registrar a palavra do
Senhor Jesus a respeito do que sai de nosso coração.
Isso é lidar com o coração de maneira prática. Com
isso podemos ver que Marcos não é um livro de
doutrinas; mas de praticabilidade, de realidade.
No capítulo sete de Marcos o Senhor
propositadamente cita as coisas malignas que saem
de nosso coração. Nenhum de nós é exceção. Esse
capítulo é extraordinário pelo fato de tocar a condição
humana interior.
Em Seu serviço evangélico, o Salvador-Servo
aproveitou a oportunidade concedida pelos
opositores para expor, analisar e diagnosticar a
condição interior do homem. Em 7:21-22 temos o
diagnóstico da condição de nosso coração. Todo ser
humano tem problema de coração, e o diagnóstico do
Senhor da condição do coração humano se aplica a
cada um de nós.
Concluindo o diagnóstico sobre o coração do
homem, em 7:23 o Senhor diz: “Todas essas coisas
malignas procedem de dentro e contaminam o
homem”. As coisas malignas que procedem de dentro
são os resultados malignos da natureza humana caída
e pecaminosa (Rm 7:18). Essas coisas malignas não
apenas estão no coração, mas também procedem e
saem de dentro de nós. Isso significa que há uma
procissão de coisas malignas que saem do coração
humano, uma procissão que contamina.
Quando as pessoas do mundo voltam ao trabalho
depois de um fim-de-semana, freqüentemente falam
das coisas malignas com as quais foram indulgentes.
A conversa delas é uma procissão de coisas malignas
provindas do coração. Podem ser educadas e ter boas
maneiras, mas do coração e por meio da boca sai uma
procissão de coisas malignas e que contaminam.
O evangelho do Senhor é capaz de lidar com a
condição do coração do homem. No capítulo sete, no
entanto, temos apenas o diagnóstico; ainda não
temos o tratamento de maneira positiva. Nesse
capítulo o Senhor abre nosso coração e o expõe, e
então parece deixar-nos na “mesa de operação”. Mas
o capítulo sete não é o fim do livro. Nos demais
capítulos de Marcos veremos como o Senhor é o
especialista em coração, o qual conhece o coração
humano e sabe como cuidar de sua condição.
O quadro retratado no capítulo sete é bem
diferente dos quadros nos capítulos anteriores. Antes
do capítulo sete temos quadros da sociedade, do
mundo. Mas no capítulo sete temos um quadro de
nossa condição interior, da situação interior de nosso
coração.

TRÊS QUESTÕES CRUCIAIS Os Dez


Mandamentos
Se estudarmos 7:1-23 cuidadosamente veremos
que a palavra do Senhor aqui, na verdade, abrange
todos os Dez Mandamentos. O Senhor até mesmo usa
a palavra mandamento no versículo 8: “Deixando o
mandamento de Deus, retendes a tradição dos
homens”. Então, no versículo 9, Ele continua:
“Habilmente pondes de lado o mandamento de Deus
para guardardes a vossa tradição”. No versículo 13,
Ele fala da palavra de Deus, ressaltando que os
religiosos estavam destituindo a palavra de Deus por
sua tradição. Nesse trecho de Marcos, os
mandamentos são a palavra de Deus.
Ao estudar esse trecho de Marcos, vemos que a
palavra do Senhor se refere à adoração a Deus. Os
primeiros quatro mandamentos estão relacionados
com a adoração a Deus. O quinto é sobre honrar os
pais. No versículo 10, o Senhor especificamente se
refere a ele. O restante da palavra do Senhor aqui
trata dos últimos cinco mandamentos, a respeito de
fornicação, roubo, homicídio, falso testemunho e
cobiça.
Se considerarmos esses itens como um todo,
veremos que a conversa do Senhor com os fariseus e
escribas, com a multidão e com os discípulos estava
baseada nos Dez Mandamentos. O fato de os fariseus
e escribas destituírem a palavra de Deus significava
que estavam destituindo os Dez Mandamentos. É
importante ver que, nessa seção de Marcos, os Dez
Mandamentos são abrangidos pela palavra do
Senhor.

A Tradição e o Coração do Homem


Marcos 7:1-23 na verdade abrange três pontos
cruciais:1Jo mandamento do Senhor, a palavra de
Deus; 2) a tradição do homem; e 3) a verdadeira
condição do coração humano. A condição do coração
humano sempre é exposta pela palavra de Deus, ou
por Seus mandamentos. Mas a tradição humana
sempre esconde a condição do coração. Por isso, onde
quer que a tradição seja mantida, ali há hipocrisia.
Em vez de expor a real situação humana, a tradição a
cobre. O Senhor até mesmo disse que os fariseus e
escribas “habilmente punham de lado o mandamento
de Deus” a fim de manter sua tradição (v. 9).
Aparentemente as tradições são boas; na verdade
são sutis e os que as retêm são hipócritas. Na religião,
hoje, há muita hipocrisia, porque há muita tradição
para esconder a verdadeira condição humana. Mas a
palavra de Deus sempre expõe a situação interior do
homem.
Nesse curto trecho de Marcos, os Dez
Mandamentos são aplicados. O Senhor Jesus na
verdade os repete e usa para expor a condição interior
do homem. Enquanto isso os fariseus e escribas
estavam preocupados com o lavar as mãos, sendo que
nem há menção disso nos Dez Mandamentos. O que é
importante na aplicação dos Dez Mandamentos não é
que lavemos as mãos, e sim que adoremos a Deus
com coração sincero, honremos aos pais e fielmente
levemos a cabo as obrigações. Os mandamentos de
Deus não expõem a sujeira nas mãos do homem;
expõem a imundície no coração. Assim, o Senhor
repete os Dez Mandamentos a fim de expor a
verdadeira condição do coração humano. Encorajo
você a olhar para esse trecho do Evangelho de Marcos
de acordo com esses pontos.
ESTUDO-VIDA DE MARCOS
MENSAGEM VINTE E DOIS
O MOVER DO SERVIÇO EVANGÉLICO DO
SALVADOR-SERVO (6)

Leitura Bíblica: Mc 7:24-30


O Evangelho de Marcos é progressivo, um relato
da vida do Senhor na terra. Sem dúvida todas as
coisas pelas quais Ele passou estavam debaixo da
soberania de Deus, que arranjou o ambiente de forma
que o Senhor experimentasse determinadas coisas ao
viver na terra.
Até agora vimos o conteúdo do serviço evangélico
do Salvador-Servo, as maneiras de levar a cabo esse
serviço e os atos auxiliares para o serviço. Também
vimos que, no capítulo quatro, o Senhor Jesus falou
categoricamente a respeito do elemento intrínseco do
reino de Deus. Depois disso, exerceu Sua autoridade,
a autoridade do reino, a fim de lidar com a situação
exterior do homem. A respeito disso, temos em
Marcos um quadro da sociedade humana. Também
temos um quadro a mostrar a atitude das pessoas do
mundo para com o evangelho do Senhor. Então, no
capítulo sete, há uma mudança: em vez de lidar com a
situação humana exterior, passa-se a lidar com a
condição interior do coração.

A MULHER SIRO-FENÍCIA E O PÃO DOS


FILHOS
Nessa mensagem consideraremos o caso da
mulher siro-fenícia (7:24-30). Marcos 7:24 nos diz
que o Senhor “partiu para os confins de Tiro”. Então
uma mulher, cuja filhinha tinha um espírito imundo,
veio e prostrou-se a Seus pés (v. 25). “A mulher era
grega, de origem siro-fenícia”. Ela era síria de língua e
fenícia de origem (cf. At 21:2-3). Visto que os fenícios
descendiam dos cananeus, ela era cananéia (Mt
15:22). O que a tornou grega, se religião, casamento,
ou outro fator, é difícil determinar. No Novo
Testamento o termo grego é usado em relação ao
mundo gentio. Essa mulher era uma gentia típica.
Podemos dizer que era multiformemente gentia, pois
era grega, siro-fenícia e cananéia, contudo, foi pedir
ao Senhor que fizesse algo por ela: que expulsasse um
demônio de sua filha (v. 26).
Como essa mulher siro-fenícia era gentia, o
Senhor lhe disse: “Deixa primeiro que se fartem os
filhos, porque não é bom tomar o pão dos filhos e
lançá-lo aos cachorrinhos” (v. 27). Aqui Ele parecia
dizer a ela: “Como gentia, você é um cachorrinho, e
Eu não posso lançar o pão dos filhos para você. Você
não está qualificada para ser filha; só está qualificada
para ser gentia. Como preciso satisfazer primeiro os
filhos, não lhes devo tomar o pão e lançá-lo para
você”.
No capítulo seis de João o Senhor disse
claramente aos judeus que Ele era o pão da vida (10
6:35). Ele mostrou-lhes que era o pão de Deus,
Aquele que “desce do céu e dá vida ao mundo” (Jo
6:33). Ele desceu do céu para ser o pão da vida a fim
de satisfazer a fome do mundo. Embora isso seja
claramente citado em João 6, não há tal menção nos
Evangelhos sinóticos: Mateus, Marcos ou Lucas. Mas
em Marcos 7:27 o Senhor usou a palavra pão. Disse
que o pão devia primeiro ser dado aos filhos.
Isso que o Senhor disse a respeito do pão dos
filhos no versículo 27 indica que Ele não veio
simplesmente para fazer milagres; veio para
alimentar os filhos famintos. O que Ele aqui indica
claramente é que, nos capítulos anteriores, Ele estava
alimentando as pessoas.

ALIMENTAR E DISPENSAR
Alimentar é dispensar. Em meu estudo da
palavra grega para dispensação (oikonomía), aprendi
que ela vem de uma raiz que significa distribuir
comida. Um exemplo de alguém que distribuiu
comida é José no Egito. Como alguém que distribuía
comida às pessoas, ele era bom despenseiro. Essa
administração era uma oikonomía, um dispensar do
suprimento de comida.
Podemos dizer que o verdadeiro José é o Senhor
Jesus, o Salvador-Servo. No capítulo sete de Marcos,
nós O vemos dispensando-Se como pão, como
comida nutritiva. Ele Se dispensa como o elemento
supridor de vida para satisfazer os famintos.
Quando uma mulher siro-fenícia, uma típica
gentia, veio a Ele e Lhe pediu que expulsasse um
demônio de sua filha, Ele Se abriu, a fim de que ela
soubesse o que Ele era. Ele Se revelou a ela como pão.
Ele a fez perceber que era pão para alimentar os filhos
famintos e Se distribuía às pessoas como suprimento
de vida.
Muitos dos que receberam benefício do
ministério do Senhor não perceberam que, ao
ministrar-lhes, Ele os alimentava. De forma
semelhante, muitos cristãos hoje não percebem que o
Senhor deseja distribuir-Se como pão. Alguns
apreciam curas e milagres, mas alguma vez você já
ouviu dizer que curas e milagres autênticos visam
alimentar os famintos? Contudo é exatamente essa
questão que é revelada pelo Senhor Jesus à mulher
siro-fenícia.
Em Sua conversa com ela, o Senhor revelou que o
que Ele estava fazendo não era meramente realizar
milagres, mas alimentar. Na realidade, Ele não estava
realizando milagres; estava dispensando-Se como
pão, como suprimento de comida.
Nas seções anteriores de Marcos, temos o
conteúdo do serviço evangélico, as maneiras de levar
a cabo o serviço, as ações que auxiliam no serviço, a
palavra a respeito do elemento intrínseco do reino,
um quadro da sociedade humana, um quadro da
atitude das pessoas do mundo em relação ao
evangelho e a exposição da condição do coração
humano. Depois de tudo isso, precisamos ver em
7:24-30 que o Senhor Se distribui como suprimento
de que todos necessitamos. Na verdade, não
necessitamos de milagre nem mesmo de cura. Nossa
verdadeira necessidade é pão, é o suprimento de vida.
Portanto, o Senhor Jesus Se dispensa a nós como
comida.

UM PASSO ADIANTE NO SERVIÇO


EVANGÉLICO DO SALVADOR-SERVO
Em 7:24-30 o Salvador-Servo dá um passo
adiante para levar a cabo Seu serviço evangélico.
Vimos que em 7:1-23 Ele usa os Dez Mandamentos
para expor a condição do coração humano. Isso
também foi um passo adiante em Seu serviço
evangélico. Depois de dar esse passo, Ele continua
mostrando que, em Seu serviço evangélico, Ele não
estava meramente realizando milagres. Esse não era
o significado interior de Seu serviço evangélico, e sim
que Se distribuía como comida.
O Senhor Jesus parecia dizer à mulher
siro-fenícia: “Você pensa que precisa de Mim para
curar sua filha, mas, na verdade, sua necessidade é
que Eu seja seu pão. Também preciso dizer a você
qual é sua posição: é a de um cachorrinho gentio.
Como cachorrinho você não tem direito de desfrutar a
porção dos filhos. Eu sou a porção dos filhos, e os
filhos são os israelitas, o povo escolhido. Eu vim do
Pai para alimentar Seus filhos”.
Alguma vez você já percebeu que Marcos revela o
Senhor Jesus como nosso pão? Como o relato nesse
evangelho é progressivo, indo passo a passo e subindo
de um nível para outro, ele por fim nos conduz ao
ponto crucial do Senhor Jesus como nosso pão.
Se não tivéssemos a palavra do Senhor sobre Si
mesmo como pão dos filhos, não iríamos perceber
que em Seu serviço evangélico Ele Se distribuía como
pão. Não é muito difícil entender como o Senhor é o
Médico, o Noivo e o Emancipador. É fácil conhecê-Lo
dessas formas, mas quem iria imaginar que Ele é pão?
Sim, como Homem-Deus, Ele é o Médico, o Noivo e o
Emancipador. Mas agora vemos, por Sua resposta à
mulher siro-fenícia, que Ele é o pão dos filhos. Que
maravilhoso!

ESTAR NA POSIÇÃO CORRETA


Vamos ler novamente o versículo 27: “Deixa
primeiro que se fartem os filhos, porque não é bom
tomar o pão dos filhos e lançá-lo aos cachorrinhos”.
No grego cachorrinhos são cãezinhos de estimação,
domésticos.
No versículo 28 temos a resposta da mulher
siro-fenícia: “Sim, Senhor, mas até os cachorrinhos
debaixo da mesa comem das migalhas das crianças”.
Em sua resposta, ela parecia dizer: “Sim, Senhor, Tu
estás certo. Não nego que sou um cachorrinho, mas
até os cachorrinhos debaixo da mesa têm o direito de
comer das migalhas das crianças”.
A resposta dela indica que ela tomou a palavra do
Senhor como base para Lhe pedir algo. Qual era a sua
base? Era que ela era um cachorrinho, um cãozinho
de estimação, debaixo da mesa. Segundo a palavra:
grega utilizada, ela não era um cão selvagem, mas de
estimação. Isso indica que, como gentia, ela era um
dos “animais de estimação” de Deus. Podemos dizer
que os gentios hoje também são os “cães de
estimação” de Deus.
A mulher siro-fenícia usando a base correta
podia dizer: “Senhor, posso ser um cachorrinho, mas
não sou um cão selvagem, um vira-latas, sou um
cãozinho de estimação que fica debaixo da mesa
enquanto o Dono alimenta os filhos. Como sou Seu
cachorrinho de estimação, Tu tens prazer em mim.
Sim, Tu amas Teus filhos, mas também tens prazer
em mim. Enquanto Teus filhos comem à mesa, Teu
cãozinho está debaixo da mesa. Senhor, acaso não
sou Teu cachorrinho de estimação? Não Te sou
agradável? Não tenho lugar à mesa, mas certamente
tenho lugar debaixo dela”.

O PÃO SOBRE A MESA E O PÃO DEBAIXO DA


MESA
Podemos dizer que a mulher siro-fenícia pegou o
Senhor pela própria palavra Dele. Ele usou a
expressão cachorrinhos. Imediatamente, como se
estivesse esperando por essa palavra, ela disse:
“Muito bem, Senhor! Tu disseste que sou um
cachorrinho de estimação. Isso me é suficiente. Não
preciso ser um filho à mesa. Desde que eu seja um
cachorrinho de estimação debaixo da mesa, tenho a
posição para comer as migalhas que caem”.
Num sentido bastante concreto, em 7:24-30 o
Senhor Jesus não era o pão sobre a mesa, mas estava
debaixo da mesa. Precisamos lembrar-nos que esse
incidente ocorreu nos distritos de Tiro, ao norte da
terra santa, região que pode ser chamada de “debaixo
da mesa”. A terra santa era a mesa, mas os judeus,
como filhos “malcriados”, deixaram cair as migalhas
debaixo da mesa. Como migalhas sob a mesa, o
Senhor agora podia ser a porção dos cachorrinhos
gentios.
Sabemos pelo versículo 29 que o Senhor Jesus
disse à mulher siro-fenícia: “Por causa dessa palavra,
vai; o demônio já saiu de tua filha”. Quando ela voltou
para casa “achou a criança deitada na cama, e o
demônio já tinha saído” (v. 30). Contudo, o ponto
crucial aqui não é a expulsão do demônio da filha da
mulher siro-fenícia, e sim que, em Seu serviço
evangélico, o Senhor Jesus Se distribui às pessoas
como pão e suprimento interior.

NECESSITAMOS DO SENHOR COMO


SUPRIMENTO DE VIDA
A falta de percepção da necessidade do Senhor
Jesus como pão, como suprimento de vida, talvez seja
a maior deficiência do movimento pentecostal ou
carismático. As pessoas nesse movimento talvez
apreciem curas exteriores e milagres, mas podem não
apreciar o Senhor como pão, para ser seu suprimento
de vida interior. Mesmo se recebemos cura do
Senhor, ainda precisamos Dele como suprimento de
vida. Ter experiência de milagre sem receber o
Senhor como suprimento interior de vida é vão. Entre
os que enfatizam coisas miraculosas, pode haver
algumas curas ou milagres autênticos, mas há muito
pouca percepção de alimentar-se interiormente do
Senhor como suprimento de vida. Precisamos
perceber que, mesmo quando nos cura, o Senhor
Jesus é nosso pão.
No capítulo sete de Marcos o Senhor Se abriu
para a mulher siro-fenícia, a fim de que ela soubesse
que Ele era sua comida. Ela precisava Dele, não
apenas como quem iria curar-lhe a filha, mas
especialmente como alimento, como pão.
A revelação em 7:24-30 é mais profunda do que a
de 7:1-23 Na etapa do serviço evangélico relatada em
7:1-23, o Senhor expôs a verdadeira condição do
coração humano, a fim de que soubéssemos qual é
nossa necessidade, que não é exterior, e sim interior.
Não precisamos do lavar exterior, mas de purificação
interior, purificação do coração. Então em 7:24-30 o
Senhor avança mais um passo, a fim de que vejamos
que, se temos apenas purificação interior, ainda
estamos vazios. Não é suficiente o coração estar limpo
e purificado. Um coração limpo pode ainda estar
vazio. Assim, além da purificação do coração, do lado
negativo, precisamos do suprimento de pão, do lado
positivo. Até mesmo mais do que do limpar,
precisamos do Senhor Jesus como nosso pão. Essa
revelação Dele como nosso pão é um passo à frente
dado pelo Senhor para levar a cabo Seu serviço
evangélico.
ESTUDO-VIDA DE MARCOS
MENSAGEM VINTE E TRÊS
O MOVER DO SERVIÇO EVANGÉLICO DO SALV
ADOR-SERVO (7)

Leitura Bíblica: Mc 7:31-8:26


Nesta mensagem consideraremos 7:31-8:26.
Essa seção do Evangelho de Marcos abrange cinco
questões: a cura de um surdo-mudo (7:31-37), o
alimentar de quatro mil (8:1-9), não dar nenhum
sinal aos fariseus (8:10-13), fazer advertência aos
discípulos sobre o fermento dos fariseus e de Herodes
(8:14-21) e a cura de um cego em Betsaida (8:22-26).

A CURA DE UM SURDO-MUDO
Em 7:31-37 temos a cura de um surdo-mudo.
Antes do capítulo sete, a maioria das curas no
Evangelho de Marcos eram da pessoa toda. Por
exemplo, a sogra de Pedro estava enferma com febre
(1:30-31). Ela foi curada, e essa foi a cura de uma
pessoa completa. Outro exemplo desse tipo de cura é
a do paralítico (2:3-12). Quando ele foi curado, toda a
sua pessoa o foi. O mesmo ocorreu na purificação do
leproso (1:40-45). Mas em 7:31-37 não temos a cura
de uma pessoa toda, em vez disso, temos a cura de
órgãos específicos. Na verdade todas as curas depois
de Marcos 7 são de órgãos específicos, e não de toda a
pessoa. Essas curas são principalmente de três
órgãos: olhos, ouvidos e língua.
Podemos dizer que em Marcos temos a seguinte
seqüência no que diz respeito às curas: curas gerais, a
exposição da condição do coração humano, o Senhor
como pão, como suprimento de vida, e a cura de
órgãos específicos. Essa também é a seqüência em
nossa experiência espiritual. Quando fomos salvos
experimentamos uma cura geral. Mais tarde, a
condição de nosso coração foi exposta. Então,
provavelmente, depois de entrar na vida da igreja,
aprendemos a desfrutar o Senhor interiormente como
nosso pão, como nosso suprimento de vida. Depois
disso, temos a cura dos ouvidos, língua e olhos.
Alguns que estão na vida da igreja há anos ainda
necessitam da cura específica desses órgãos.

Incapaz de Ouvir a Voz de Deus e Falar por


Ele
Marcos 7:32 diz: “Então Lhe trouxeram um
surdo, que falava com dificuldade, e Lhe suplicaram
que impusesse a mão sobre ele”. Esse surdo-mudo
representa alguém espiritualmente incapaz de ouvir a
voz de Deus e louvá-Lo (Is 35:6) e falar por Ele (Is
56:10). A mudez dessa pessoa se devia à sua surdez. A
salvação do Salvador-Servo, que traz a cura, é
plenamente capaz de curar a surdez e mudez de
alguém assim, cuidando primeiro dos ouvidos e
depois tocando-lhe a língua.
Em 7:33-34 lemos: “Jesus, tirando-o da
multidão, à parte, pôs-lhe os dedos nos ouvidos e,
cuspindo, tocou-lhe a língua; e, erguendo os olhos ao
céu, gemeu e disse-lhe: Efatá, que quer dizer:
Abre-te”. A palavra grega traduzi da como pôs no
versículo 33 também pode ser traduzida como meteu.
O Salvador-Servo meteu os dedos nos ouvidos do
surdo para tratar seu órgão auditivo (cf. Is 50:4-5; Jó
33:14-16), e tocou-lhe a língua com a saliva para
ungir-lhe o órgão falante com a palavra que procede
de Sua boca. Isso o curou.

Um Retrato de Nossa Condição


O surdo-mudo em 7:31-37 retrata nossa condição
hoje. O versículo 32 nos diz que ele falava com
dificuldade. Sua situação não é esta? nas reuniões da
igreja você não fala com dificuldade? Creio que
muitos entre nós admitem que têm dificuldade para
falar nas reuniões. Portanto, o caso do surdomudo no
capítulo sete descreve a necessidade de todos nós.
Freqüentemente surdez é a causa de mudez. Em
muitos casos, alguém que é surdo também é mudo. A
razão disso é que o falar baseia-se no ouvir. Uma
criança aprende a falar ouvindo os outros. Por fim ela
fala o que ouve. Por meio disso, podemos ver que a
criança aprende a falar ouvindo. Podemos dizer que
esse ouvir se torna seu falar.
Você sabe por que falamos com dificuldade nas
reuniões? Porque somos descuidados em ouvir o falar
do Senhor. Se formos mais cuidadosos ao ouvir,
falaremos espontaneamente.
Precisamos ter a prática de ouvir o falar do
Senhor. Ao ouvir a palavra, ela penetrará em nosso
ser e, assim, seremos capazes de falar fluentemente.
Mas muitos não conseguem falar com facilidade,
porque não ouvem adequadamente. Se atentarmos à
maneira como ouvimos a palavra de Deus, esse ouvir,
por fim, se tornará nosso falar.
Às vezes os líderes na igreja encorajam os irmãos
a falar nas reuniões. Mas quando alguns tentam falar
parecem não ter nada a dizer. O problema está em seu
ouvir. Sem ouvir a palavra, não temos o que dizer nas
reuniões.
Alimentar, Ouvir e Falar
A cura do surdo-mudo segue o relato a respeito
do Senhor como o pão dos filhos. Isso indica que,
depois de desfrutar o alimentar do Senhor,
necessitamos de mais cura. Especificamente
precisamos ser curados da surdez e mudez. A cura é
outro passo, um passo adiante, para levar a cabo o
serviço evangélico do Salvador-Servo.
Enfatizamos que Marcos é um livro progressivo.
Passo a passo, vamos do alimentar do Senhor para a
cura da nossa surdez e mudez. Precisamos dizer: “Ó
Senhor Jesus, obrigado pelo Teu alimentar. Tu me
alimentas para me curar. Senhor, Teu alimentar visa
curar minha surdez e mudez”.
Sem desfrutar o alimentar do Senhor, será muito
difícil falar por Ele. Muitos podem testificar que antes
de desfrutar o alimentar do Senhor na vida da igreja
era difícil orar em público. Não apenas não tínhamos
o ouvir adequado, o ouvir que se torna nosso falar;
também não desfrutávamos o Senhor como comida.
Mas, desde que viemos para a vida da igreja, nós O
temos desfrutado como pão. O alimentar segue a
exposição do coração e é seguido pela cura da surdez
e mudez. De acordo com a seqüência em Marcos 7,
depois do caso da mulher siro-fenícia, temos a cura
do surdo-mudo.
Enfatizamos que falar depende de ouvir. Não
devemos tentar falar sem ouvir. Se falarmos sem
ouvir, nosso falar será sem sentido. Primeiro
precisamos do ouvir adequado, então seremos
capazes de falar. Precisamos ouvir com a intenção de
falar, com a intenção de repetir o que ouvimos. Se
todos ouvirmos dessa forma, muitos serão capazes de
falar sem dificuldade nas reuniões da igreja. Visto que
não somos mais surdos, já não temos dificuldades
para falar.

Experimentar a Cura dos Ouvidos e da Língua


É bastante fácil ser curado de maneira geral. Para
experimentar essa cura, pode não ser necessário que
o Senhor Jesus nos toque. Por exemplo, no capítulo
cinco a mulher foi curada simplesmente tocando a
orla de Suas vestes. Contudo, se queremos receber a
cura específica dos ouvidos e da língua, precisamos
que o Senhor nos toque de modo definido.
De acordo com o versículo 33, o Senhor tirou o
surdo-mudo da multidão, à parte, meteu os dedos nos
ouvidos dele e tocou-lhe a língua. Isso indica que, se
queremos que os ouvidos sejam curados, precisamos
que o Senhor nos tire para um lugar à parte. Então,
em particular, Ele irá meter os dedos em nossos
ouvidos e tocar nossa língua com saliva.
A cura dos ouvidos requer apenas que o Senhor
meta os dedos neles. Mas para a cura da língua
precisamos que algo que procede da boca do Senhor
seja aplicado a ela. Isso significa que precisamos que
nosso órgão da fala seja ungido com a palavra que
procede da boca do Senhor.
Oh! como precisamos que o Senhor nos abra os
ouvidos! Nossos ouvidos estiveram fechados para a
palavra do Senhor, para o falar de Deus, por muito
tempo. Também precisamos que a essência de Sua
palavra seja aplicada à nossa língua. Não
conseguimos falar, somos mudos, porque nos falta a
“saliva”, a essência da palavra que procede de Sua
boca. Nossa língua precisa ser tocada por essa
essência. Precisamos deixar que a essência da palavra
do Senhor se torne um ungüento aplicado à nossa
língua. Se deixarmos o Senhor nos ungir a língua com
a essência da Sua palavra, então nossa língua gaga
será capaz de falar fluentemente.

ALIMENTAR OS QUATRO MIL


Depois de curar o surdo-mudo, o Salvador-Servo
alimentou os quatro mil (8:1-9). Marcos 8:2 diz:
“Tenho compaixão da multidão, porque já faz três
dias que permanecem Comigo e não têm o que
comer”. As virtudes do Salvador-Servo (compaixão,
comiseração e cuidado terno) foram demonstradas
aqui de modo vívido e encantador em Sua
humanidade.
O caso de alimentar os quatro mil indica que
depois de curados e podendo ouvir e falar, estamos
qualificados para alimentar os outros. Muitos cristãos
hoje não estão qualificados para alimentar outros,
porque eles mesmos ainda estão surdos e mudos. Se
não ouvirmos cuidadosamente o falar de Deus nem
tivermos uma língua ungida, não seremos capazes de
alimentar os outros. Apenas depois de curados de
forma específica, e não só de maneira geral, é que
estaremos qualificados para alimentar outros.
No caso da mulher siro-fenícia, o Senhor Jesus
era o único que alimentava, mas no caso dos quatro
mil, todos os discípulos se tornaram alimentadores.
Isso indica que, depois de experimentar a cura dos
órgãos de audição e fala, tornamo-nos capazes de
alimentar os outros. Espero que essa seja a situação
na restauração do Senhor. Creio que quando os
irmãos estiverem curados, particularmente nos
órgãos de audição e fala, todos se tornarão
alimentadores. Serão capazes de alimentar outros
apresentando-lhes a verdade. Para isso, necessitamos
de cura específica, a cura dos ouvidos e da língua.

OS F ARISEUS BUSCAM SINAL


Depois que os quatro mil foram alimentados,
“saíram os fariseus e puseram-se a discutir com Ele,
buscando da parte Dele um sinal do céu, para pô-Lo à
prova” (8:11). Gemendo em Seu espírito, o Senhor
Jesus disse: “Por que busca esta geração um sinal?
Em verdade vos digo: A esta geração nenhum sinal
será dado” (v. 12). Dessa vez os fariseus não vieram
acusá-Lo ou achar falhas, mas buscar sinal. Assim
como muitos hoje, eles fingiam ser espirituais.
Contudo o Senhor Jesus conhecia o coração deles e
recusou-se a dar-lhes sinal.
Hoje, alguns cristãos são sinceros. Eles
receberam a cura específica do Senhor, e se tomaram
capazes de alimentar outros. Mas, enquanto isso,
alguns são fingidos, hipócritas; fingem buscar sinais
espirituais; fingem ter objetivo espiritual.

ADVERTÊNCIA SOBRE O FERMENTO


Em 8:14-21 o Senhor Jesus prossegue,
advertindo os discípulos a respeito do fermento dos
fariseus e de Herodes. No versículo 15 Ele diz:
“Cuidado! Guardai-vos do fermento dos fariseus e do
fermento de Herodes”. Na Bíblia, fermento significa
coisas malignas (1Co 5:6, 8) e doutrinas malignas (Mt
16:6, 11-12). O fermento dos fariseus era a hipocrisia
(Lc 12:1), e o de Herodes era a corrupção e injustiça
na política. O Senhor advertiu os discípulos que
tomassem cuidado com esses dois tipos de fermento,
o fermento farisaico da hipocrisia e o fermento
herodiano da injustiça.

OS DISCÍPULOS NÃO ENTENDERAM


Em 8:16-21 vemos que os discípulos não
entenderam a palavra do Senhor a respeito do
fermento. Estavam ocupados pensando em pão: “E
eles arrazoavam uns com os outros, dizendo: É
porque não temos pão” (v. 16). Quando ouviram a
palavra fermento, imediatamente pensaram em pão,
porque tinham-se dado conta de que não haviam
trazido suprimento adequado com eles no barco.
Hoje freqüentemente somos como os discípulos:
podemos ouvir uma mensagem, mas não a
interpretamos corretamente.

A CURA DE UM CEGO
Em 8:22-36 temos a cura de um cego: “Então
chegaram a Betsaida; e trouxeram-Lhe um cego, e
rogaram-Lhe que o tocasse”. Esse cego representa
alguém que perdeu a visão interior, alguém cego
espiritualmente (At 26:18; 2Pe 1:9).
a versículo 23 diz: “Jesus, tomando o cego pela
mão, levou-o para fora da aldeia e, cuspindo-lhe nos
olhos e impondo-lhe as mãos, perguntou-lhe: Vês
alguma coisa?”. Ao tomar o cego pela mão, a
humanidade do Salvador-Servo se expressou no Seu
cuidado íntimo e amoroso pelo necessitado.
a Senhor levou o cego para fora da aldeia. Isso
parece indicar que Ele não queria que a multidão
visse ou soubesse o que estava para fazer por esse
cego, uma vez que lhe ordenou nem sequer entrar na
aldeia (v. 26). Espiritualmente isso dá a entender que
Ele queria que o cego passasse um tempo íntimo com
Ele, em particular, a fim de poder infundir-lhe o
elemento com o qual sua visão seria restabelecida.
Todos os que são espiritualmente cegos precisam
desse tempo com o Salvador-Servo.
Para essa cura adicional específica, o Senhor
então cuspiu nos olhos do cego e impôs as mãos nele.
A cegueira relaciona-se com trevas (At 26:18). Para
ver, é preciso luz. A saliva do Salvador-Servo pode
representar a palavra que procede de Sua boca,
palavra essa que transmite a divina luz da vida a
quem a recebe, para restabelecer-lhe a visão. A saliva
do Salvador-Servo, acompanhada da imposição de
mãos, era muito mais rica do que um mero toque Seu,
que havia sido solicitado pelos que ajudavam o cego.
O fato de o Senhor impor as mãos no cego indica Sua
identificação com ele a fim de transfundir-lhe Seu
elemento de cura.
Quando o Senhor perguntou ao cego se via algo,
ele respondeu: “Vejo os homens, porque como
árvores os vejo, andando” (v. 24). Isso pode ilustrar a
visão espiritual de uma pessoa: no estágio inicial de
seu restabelecimento espiritual, ela vê coisas
espirituais como esse cego via homens, como se
fossem árvores andando; num estágio mais avançado
de restabelecimento, passa a ver tudo claramente.
a versículo 25 diz: “Então novamente lhe impôs
as mãos nos olhos, e ele, olhando atentamente, ficou
restabelecido; e tudo via claramente”. Isso pode
indicar que após receber a cura completa dos olhos,
temos visão clara a respeito das coisas de Deus.
a versículo 26 conclui: “E mandou-o Jesus para
casa, dizendo: Nem sequer entres na aldeia”. Em todo
o Seu ministério, o Salvador-Servo, o Servo de Deus,
não gostava de publicidade.
Nesta mensagem vimos que o Salvador-Servo
deu um passo adiante no que diz respeito a curar as
pessoas especificamente nos órgãos de audição, fala e
visão. Depois de curados dessa forma, temos a
habilidade de ver as coisas concernentes a Deus. Por
isso, na próxima seção, os discípulos começaram a
ver Cristo e conhecê-Lo.
ESTUDO-VIDA DE MARCOS
MENSAGEM VINTE E QUATRO
O MOVER DO SERVIÇO EVANGÉLICO DO
SALVADOR-SERVO (8)

Leitura Bíblica: Mc 8:27-9:13


Nesta mensagem chegamos a Marcos 8:27-9:13.
Esse trecho pode ser considerado o ponto alto do
contato do Senhor Jesus com os discípulos.

CONDUZIDOS A CESARÉIA DE FILIPE


Para conduzir os discípulos ao ponto descrito em
8:279:13, foi necessário que eles passassem por vários
estágios. Podemos tomar Pedra como exemplo. No
capítulo um de Marcos, ele foi chamado pelo Senhor e
começou a segui-Lo. Do capítulo um ao oito, Pedra e
os outros fiéis seguidores passaram por diferentes
estágios, avançando passo a passo, cada vez mais alto,
até ser conduzidos a um lugar chamado Cesaréia de
Filipe.
Marcos 8:27 diz: “E Jesus e os Seus discípulos
saíram para as aldeias de Cesaréia de Filipe. E, no
caminho, perguntou a Seus discípulos: Quem dizem
os homens que sou Eu?”. Cesaréia de Filipe era na
parte norte da Terra Santa, próximo à fronteira, ao
sopé do monte Hermom, no qual o Senhor foi
transfigurado. Ficava distante da cidade santa e do
templo santo, onde a atmosfera da antiga religião
judaica penetrava cada pensamento humano, não
deixando espaço algum para Cristo, o Salvador-Servo.
O Senhor levou os discípulos propositadamente a
esse lugar de atmosfera límpida, para que seus
pensamentos fossem libertados dos efeitos do
ambiente religioso da cidade santa e do templo santo,
e para que Ele lhes revelasse algo novo com relação a
Si próprio. Foi ali que a visão a respeito Dele como o
Cristo foi dada a Pedro.
Gostaria de enfatizar que o Senhor Jesus
conduziu os discípulos a Cesaréia de Filipe a fim de
que estivessem numa atmosfera límpida, uma
atmosfera sem nuvens nem nevoeiro. Ele sabia que
em tal atmosfera o entendimento e a visão espiritual
deles estariam claros.
O Senhor levou Seus seguidores do rio Jordão e
do Mar da Galiléia para Cesaréia de Filipe. Deve ter
levado pelo menos dois anos para o Senhor fazê-los
passar por todos os passos que os capacitaram a
chegar a esse ponto. Esses passos estão registrados
nos capítulos anteriores de Marcos. Em especial, três
dos discípulos do Senhor — Pedro, João e Tiago-,
estavam plenamente qualificados para ver o que
nenhum outro ser humano tinha sido capaz de ver.
Foram capazes de ver uma Pessoa maravilhosa, uma
Pessoa que é o segredo do universo e um mistério
para toda a humanidade. Ele também é o segredo da
economia eterna de Deus. Embora fosse um homem,
e até mesmo um homem na forma de servo, Ele era
alguém excelente, maravilhoso e misterioso.
A fim de ganhar a visão a respeito dessa Pessoa,
os discípulos tinham de passar pelos passos
registrados nos capítulos anteriores. Precisavam ser
curados de forma geral e então de forma específica.
Cada função de seu ser — audição, visão e fala-,
precisava ser curada. Após ter experimentado tanto a
cura geral como a específica, estavam qualificados e
capacitados para receber a visão a respeito de quem é
o Senhor.

A REVELAÇÃO A RESPEITO DE CRISTO


No versículo 27 o Senhor perguntou aos
discípulos: “Quem dizem os homens que sou Eu?”.
Como homem, Cristo era um mistério, não apenas
para aquela geração como também para as pessoas
hoje. Os discípulos responderam assim a pergunta do
Senhor: “João Batista; outros: Elias; e outros: Um dos
profetas” (v. 28). Isso indica que sem revelação as
pessoas, no máximo, conseguem perceber que Jesus é
o maior dos profetas. Sem revelação celestial,
ninguém pode saber que Ele é verdadeiramente o
Cristo.
O versículo 29 diz: “Mas vós, quem dizeis que Eu
sou? Respondendo Pedro, disse-Lhe: Tu és o Cristo”.
Aqui vemos que Pedro tomou a dianteira para
declarar que Jesus é o Cristo. Ele não falou do Senhor
simplesmente de maneira genérica como Cristo,
como um ungido, mas disse: “Tu és o Cristo”. Esse
termo pode não ser tão impressionante para nós hoje
como foi no tempo dos discípulos. Pedro declarava
que Jesus era o Cristo, o Ungido, o Messias.
Quando fez a declaração de que Jesus era o
Cristo, talvez Pedro não tivesse muita clareza a
respeito desse ponto, contudo, viu que o Senhor não
era comum, não era uma pessoa corriqueira. Ele
percebeu algo muito especial a respeito do Senhor:
que Ele é o Cristo, o Ungido de Deus, o Messias.
Como já ressaltamos, para que Pedro pudesse ter essa
visão, foi necessário que ele e os outros discípulos
passassem por todos os passos dos capítulos
anteriores, a fim de ser conduzidos ao estágio de
receber a visão a respeito da Pessoa de Cristo.
A REVELAÇÃO A RESPEITO DA
CRUCIFICAÇÃO E RESSURREIÇÃO DE
CRISTO
Depois que Pedro fez a declaração de que Jesus é
o Cristo, “Ele lhes advertiu que a ninguém dissessem
isso a Seu respeito” (v. 30). Então: “Começou Ele a
ensinar-lhes que era necessário ao Filho do Homem
sofrer muitas coisas, ser rejeitado pelos anciãos, pelos
principais sacerdotes e pelos escribas, ser morto e,
depois de três dias, ressuscitar” (v. 31). Aqui vemos
que depois da revelação do mistério de Cristo, temos
a revelação de Sua crucificação e ressurreição. A fim
de cumprir o propósito de Deus, Cristo tinha de ir ao
centra religioso, passar pela crucificação e entrar na
ressurreição.
No versículo 31 o Senhor abriu alguns dos
mistérios da economia divina a respeito de Si mesmo
como o Cristo, o Ungido de Deus. Nesse versículo o
Senhor se refere a Si mesmo como o Filho do
Homem. Depois que Pedra teve a visão de que o
nazareno Jesus era o Cristo, o Senhor prosseguiu
desvendando que Ele, o Ungido de Deus, é o Filho do
Homem. Ver que o Messias é o Filho do Homem é
grandioso.
No versículo 31 o Senhor prosseguiu, revelando
que o Messias, que é o Filho do Homem, devia sofrer
e ser rejeitado. Em vez de ser honrado, respeitado e
exaltado, Ele seria desonrado, desprezado e rejeitado.
O Senhor disse que iria sofrer muitas coisas, ser
rejeitado pelos anciãos, pelos principais sacerdotes e
pelos escribas e até mesmo ser morto.

PEDRO REPREENDE O SENHOR E O


SENHOR REPREENDEPEDRO
A revelação sobre a rejeição, o sofrimento e a
morte de Cristo devem ter chegado a Pedro como
uma grande surpresa. Ele pode ter ficado chocado
com essa revelação. Para ser exato, Pedra nunca
imaginou que o Messias seria perseguido e até
mesmo executado. Desde a juventude, entre os
judeus, Pedra tinha ouvido muitas coisas a respeito
do Messias e certamente esperava que o Messias
vindoura fosse honrado e exaltado, tido na mais alta
conta. Ele nunca tinha ouvido falar que o Messias iria
sofrer e ser morto.
No final do versículo 31, o Senhor Jesus indica
claramente que Ele, o Cristo, iria ressuscitar após três
dias. Assim, de maneira breve, Ele falou a respeito de
Sua ressurreição, mas duvido que isso tenha
impressionado Pedra. Ele não tinha nenhum
entendimento sobre o que significava o Senhor
ressuscitar após três dias. Ou Pedra não ouviu essa
palavra ou não tinha idéia do que se tratava.
Em 8:32 é-nos dito que o Senhor “falava essa
palavra abertamente”. Esse versículo diz ainda:
“Pedro, tomando-O à parte, começou a
repreendê-Lo”. Pedro realmente começou a
repreender o Senhor Jesus! Repreender alguém
implica que ele está errado e necessita ser ajustado.
Se alguém não está errado, não há necessidade de
repreendê10 e assim corrigi-lo. O fato de Pedro
repreender o Senhor indica que ele pensava que o
Senhor estivesse errado ao dizer que o Messias seria
desprezado, sofreria perseguição e seria morto. Pedra
parecia dizer: “Senhor, que dizes? Tu és o Messias.
Certamente estás errado ao dizer-nos que o Messias
será desprezado, rejeitado e morto. Preciso
corrigir-Te a esse respeito”.
De acordo com o versículo 32, Pedro até mesmo
tomou o Senhor à parte a fim de repreendê-Lo,
Aparentemente Pedra se esforçava para treinar o
Senhor, ensiná-Lo e abrir Seus olhos a fim de ver o
que Pedra via. Nem Mateus nem Lucas nos dão esse
detalhe a respeito de Pedra ter tomado o Senhor à
parte, apenas o Evangelho de Marcos o faz. Marcos
recebeu esse relato do próprio Pedro. Pedra, então,
deve ter contado a Marcos que tomara o Senhor à
parte e começara a repreendê-Lo.
Será que o Senhor concordou com Pedro quando
ele fez isso? Parece que sim. Mas, depois que Pedra
começou a repreendê-Lo, Ele repreendeu Pedra.
Pedro tentou corrigir o Senhor e, então, o Senhor o
corrigiu.
No versículo 33 vemos como o Senhor
repreendeu Pedro: “Mas Ele, virando-se e olhando
para os Seus discípulos, repreendeu a Pedro e disse:
Para trás de Mim, Satanás! porque não cogitas nas
coisas de Deus, e, sim, nas dos homens”. Nos quatro
Evangelhos talvez essa seja a palavra negativa mais
forte pronunciada pelo Senhor Jesus. Ele discerniu
que não era Pedro, e, sim, Satanás que ° estorvava de
tomar a cruz. Isso nos revela que nosso homem
natural, que não quer tomar a cruz, é um com
Satanás. Quando não cogitamos nas coisas de Deus,
isto é, não colocamos a mente nas coisas de Deus, e
sim nas dos homens, nós nos tornamos Satanás, uma
pedra de tropeço para o Senhor cumprir o propósito
de Deus.

COGITAR NAS COISAS DOS HOMENS


No versículo 33 o Senhor disse especificamente
que Pedro não cogitava nas coisas de Deus, e sim nas
dos homens. Trata-se dos maus pensamentos
mencionados em 7:21. O coração corrupto do homem
está cheio de maus pensamentos. Aqui o Senhor
parece dizer a Pedro: “Pedro, há maus pensamentos
em teu coração. Em especial, tu tens maus
pensamentos em teu interior a respeito da Minha
palavra sobre Eu ser morto. Primeiro arrazoas e então
Me repreendes. Esse arrazoamento indica que tua
mente está posta nas coisas do homem caído, e não
nas de Deus”.
A palavra do Senhor aqui nos faz lembrar da
palavra de Paulo a respeito da mente em Romanos
8:6: “Porque o pendor I da carne dá para a morte,
mas o do Espírito, para a vida e paz”. Sem dúvida,
nesse momento Pedro tinha posto a mente na carne.
Quando arrazoava a respeito dos sofrimentos e morte
de Cristo, ele estava pondo a mente na carne.
'o vocábulo pendor, em grego, é mente. (N. do T.)

SEGUIR APÓS O SENHOR


O versículo 34 diz: “E, chamando a Si a multidão
com os Seus discípulos, disse-lhes: Se alguém quer
seguir após Mim, a si mesmo se negue, tome a sua
cruz e siga-Me”. Seguir após o Senhor é tê-Lo,
experimentá-Lo, desfrutá-Lo e ter parte Nele. Se
queremos ganhar o Senhor dessa maneira,
experimentando-O, desfrutando-O e participando
Dele, precisamos negar a nós mesmos. Se
permanecermos em nós mesmos em vez de nos
negarmos, o Senhor se irá. Se queremos ter o Senhor,
precisamos negar a nós mesmos.
Em mensagem anterior a respeito do Senhor
expondo a condição de nosso coração, ressaltei que
no final do capítulo sete não temos a solução para a
condição interior do homem. Aqui, no capítulo oito,
temos a solução. A solução é que, como pessoas
caídas com coração maligno, precisamos ter Cristo.
Precisamos segui-Lo, participar Dele, desfrutá-Lo, e
experimentá-Lo. Então Ele mesmo será o “remédio”
para curar nosso coração maligno. Portanto, a
solução para a condição de nosso coração maligno é o
próprio Cristo.
No capítulo oito de Marcos temos não apenas a
revelação da maravilhosa Pessoa de Cristo, mas
também de Sua maravilhosa morte. Em Sua morte
somos crucificados, anulados e temos fim. Portanto,
quando chegamos para ganhar Dele, precisamos
negar a nós mesmos; isto é, colocar-nos de lado e
esquecer de nós mesmos.

A NECESSIDADE DAS EPÍSTOLAS DE PAULO


Na verdade, a fim de definir a palavra do Senhor
aqui a respeito da Sua morte precisamos de todas as
Epístolas escritas pelo apóstolo Paulo. Sem um
entendimento adequado das Epístolas de Paulo, não
seremos capazes de compreender plenamente a
palavra do Senhor em 8:34-37. De acordo com a
revelação nas Epístolas de Paulo, Cristo passou pelo
processo de morte por Deus e por nós. Sua morte
todo-inclusiva lidou com os pecados, nossa natureza
pecaminosa, o ego, a carne, a velha criação, o diabo, o
mundo e todas as ordenanças. Por meio dessa morte,
nós tivemos fim. Agora, se queremos desfrutar Cristo
e partilhá-Lo, precisamos perceber que já tivemos
fim. Baseados no fato de que já fomos crucificados
com Cristo (Gl 2:20), devemos negar a nós mesmos,
tomar a cruz e seguir o Senhor.
ESTUDO-VIDA DE MARCOS
MENSAGEM VINTE E CINCO
O MOVER DO SERVIÇO EVANGÉLICO DO
SALVADOR-SERVO (9)

Leitura Bíblica: Mc 8:27-9:13


Em 8:34 o Senhor Jesus diz: “Se alguém quer
seguir após Mim, a si mesmo se negue, tome a sua
cruz e siga-Me”. Na mensagem anterior vimos que
seguir após o Senhor é ganha-Lo, experimentá-Lo,
desfrutá-Lo e partilhá-Lo. Se queremos seguir após o
Senhor dessa maneira, precisamos negar a nós
mesmos, tomar a cruz e segui-Lo. Vamos ver agora o
que significa tomar a cruz.

TOMAR NOSSA CRUZ

Ter Fim
Muitos cristãos entendem mal a cruz. Pensam
que tomar a cruz é sofrer dificuldades. Esse era meu
conceito há mais de quarenta anos. Eu dizia aos
outros que as dificuldades em seu ambiente lhes eram
uma cruz. Por exemplo, se seu marido ou esposa lhe
está criando problemas, isso é cruz. Mas, quando o
Senhor Jesus fala de tomar a cruz, Ele não quer dizer
isso. Ele quer dizer que devemos aplicar a cruz a
nosso viver. O verdadeiro significado da cruz não é
sofrimento: é término. Nos tempos antigos,
crucificação não era utilizada meramente para trazer
sofrimentos, e sim para matar. Assim crucificação é
igual a morte, término.
Tomar a cruz visa que tenhamos fim. Gostaria de
enfatizar que a cruz visa ao término, e não ao
sofrimento. Às vezes os crentes não são ajudados
pelos sofrimentos. Conheci certas pessoas que
sofreram muito e como resultado tomaram-se muito
obstinadas. Quanto mais uma pessoa sofre em si
mesma, mais sua obstinação é fortalecida. Os que
passaram por dificuldades na vida e se tomaram de
vontade forte são extremamente difíceis de ser
tocados. Finalmente, quando uma pessoa assim
atinge os sessenta ou setenta anos, pode ter ficado tão
forte em sua vontade que talvez não mude mais.
O conceito de que a cruz é sofrimento é contrário
à revelação da palavra do Senhor em 8:34. Nesse
versículo Ele diz: “Se alguém quer seguir após Mim, a
si mesmo se negue, tome a sua cruz e siga-Me”. Aqui
o Senhor fala de negar a si mesmo, negar o ego. Negar
o ego é desistir dele; não é preservá-lo, de modo que,
assim, ele sofra.

Aplicar o que Cristo Realizou na Cruz


Tomar a cruz não é questão de sofrimento, e sim
de aplicar à nossa vida aquilo que Cristo realizou na
cruz para pôr fim a nós mesmos. Portanto tomar a
cruz é aplicar esse término a nós mesmos. Dia a dia
necessitamos aplicar esse término. Se o fizermos,
perceberemos não que estamos sofrendo, e sim que
chegamos ao fim.
Suponha que um irmão diga: “Agradeço ao
Senhor, porque em Sua soberania, Ele me deu uma
esposa que me faz sofrer e carregar a cruz. A minha
esposa é uma cruz dada a mim por Deus e agora
preciso carregá-la”. Esse entendimento sobre tomar a
cruz é um erro sério e, na verdade, está relacionado
com o entendimento encontrado no catolicismo. Até
certo ponto, pelo menos, esse entendimento errôneo
a respeito da cruz foi promovido por um livro famoso
chamado A Imitação de Cristo.
Um irmão casado não necessita aprender a
sofrer, mas precisa perceber que, como marido, já
teve fim em Cristo e agora deve viver como um
marido terminado, simplesmente desfrutando o
término de Cristo. Então poderá dizer à esposa:
“Querida, não estou tentando ser bom marido, ser um
marido bondoso e gentil. Estou aqui como um marido
terminado, Quanto mais eu me dispuser a
experimentar o término de Cristo, melhor serei como
marido, pois então Cristo viverá em mim. Ao viver em
mim, Ele será seu marido por meio de mim” '.
Seguir após o Senhor é participar Dele,
desfrutá-Lo, experimentá-Lo e deixá-Lo se tomar
nosso ser. Para isso precisamos negar a nós mesmos.
Precisamos aplicar a nós o término que Cristo
realizou na cruz. Isso quer dizer que tomar a cruz é
aplicar o término de Cristo a nós. Quando o fazemos,
tomamo-nos uma pessoa eliminada, e não uma
pessoa que sofre. Então poderemos testificar: “Estou
crucificado com Cristo; logo, já não sou eu quem
v:ive, mas Cristo vive em mim”.
A palavra de Cristo a respeito de tomar a cruz é
um mistério. Não poderíamos entendê-la se
tivéssemos apenas 8:34. Para entendê-la
adequadamente necessitamos das catorze Epístolas
de Paulo.
A cruz não é meramente um sofrimento; é
também um matar. A cruz mata e põe fim ao
criminoso. Cristo primeiro carregou a cruz e depois
foi crucificado. Nós, Seus crentes, primeiro fomos
crucificados com Ele e depois carregamos a cruz, dia a
dia. Para nós, carregar a cruz é permanecer sob o
aniquilar da morte de Cristo para o término de nosso
ego, vida natural e velho homem. Ao fazê-lo, negamos
nosso ego para seguir o Senhor.
Antes da crucificação do Senhor, os discípulos O
seguiram de forma exterior. Mas, a partir de Sua
ressurreição, nós O seguimos de maneira interior.
Como em ressurreição Ele se tornou o Espírito que dá
vida (1Co 15:45) que habita em nosso espírito (2Tm
4:22), nós O seguimos em nosso espírito (GI5:16-25).

MENTE, EGO E VIDA DA ALMA


Em 8:35 o Senhor prossegue: “Quem quiser,
pois, salvar a sua vida da alma, perdê-la-á; mas quem
perder a sua vida da alma por causa de Mim e do
evangelho, salvá-la-á”. Nesse versículo o Senhor fala a
respeito da vida da alma e no anterior, a respeito do
ego. Na verdade os termos vida da alma e ego são
sinônimos. A vida da alma é o ego, e ego é a vida da
alma. Nós mesmos somos uma alma.
Em 8:33-35 três questões estão
inter-relacionadas: mente, ego e vida da alma. A
mente é a expressão do ego, e o ego é a corporificação
da vida da alma. A vida da alma está corporificada no
ego e é vivida por ele, e o ego é expresso mediante a
mente, pensamento, conceito, opinião. Quando
colocamos a mente nas coisas do homem, e não nas
coisas de Deus, ela aproveita a oportunidade para agir
e se expressar. Foi isso que aconteceu com Pedro. Por
isso o Senhor disse que devemos negar o ego e não
salvar a vida da alma. Em vez de salvar a vida da
alma, devemos perdê-la. Perder a vida da alma é a
realidade de negar o ego. Isso é tomar a cruz.
PERDER A VIDA DA ALMA POR CAUSA DE
CRISTO E DO EVANGELHO
No versículo 35 o Senhor fala sobre salvar e
perder a vida da alma. Podemos dizer que salvar a
vida da alma é deixar a alma ter desfrute e não sofrer.
Perder a vida da alma é fazê-la sofrer a perda de
desfrute. Se os seguidores do Salvador-Servo
permitirem que sua alma tenha desfrute nesta era,
eles a farão sofrer a perda do desfrute na era vindoura
do reino. Se permitirem que a alma sofra a perda do
desfrute nesta era por causa do Senhor e do
evangelho, eles a farão ter desfrute na era vindoura
do reino.

Não se Trata de Mero Comportamento


No versículo 35 O Senhor fala de perder a vida da
alma por Sua causa e do evangelho. Muitos leitores de
Marcos interpretam mal essas palavras. Talvez alguns
digam: “As palavras 'por causa de Mim' significam
para o propósito e glória do Senhor. A expressão 'por
causa do evangelho' deve significar por causa da
pregação do evangelho, por causa da eficácia e
resultado do evangelho. Por causa da glória do
Senhor e da pregação do evangelho, devo
comportar-me bem”. Esse conceito está errado. Não é
uma interpretação correta da palavra do Senhor aqui.

Viver Cristo e o Evangelho


Qual, então, é o entendimento correto de “por
causa de Mim e do evangelho”? Aqui, por causa do
Senhor na verdade significa “não mais eu, mas o
evangelho”. Tivemos fim em Cristo. Agora
precisamos aplicar esse término a nós mesmos e a
cada aspecto de nosso viver. Assim em nosso viver
será “não mais eu, mas Cristo; não mais eu, mas o
evangelho”. Isso significa que viveremos Cristo e
viveremos o evangelho. É bem diferente de tentar
comportar-nos adequadamente como cristãos por
causa da glória do Senhor e da eficácia do evangelho.
Vamos ilustrar a diferença entre viver Cristo e o
evangelho, e tentar comportar-se adequadamente por
causa de Cristo e do evangelho. Suponha que
determinado irmão trabalhe num escritório, Ele pode
dizer para si mesmo: “Meus colegas, aqui no
escritório, percebem que sou cristão e que estou na
igreja na restauração do Senhor. Recentemente
preguei o evangelho a eles, por isso, agora preciso
comportar-me e tomar muito cuidado com o que digo
e faço. Por causa do evangelho preciso ser cuidadoso
com meus colegas. Agora que preguei o evangelho a
eles e lhes disse que estou na igreja, preciso ser muito
vigilante em relação à minha conduta”. Na verdade,
isso é esforço próprio do irmão. Além disso, é um
entendimento absolutamente incorreto da palavra do
Senhor em 8:35.
Se esse irmão tiver o entendimento correto da
palavra do Senhor, dirá para si mesmo: “Como
seguidor do Senhor Jesus, tenho parte Nele. Fui
crucificado com Ele, por isso, já não sou eu quem
vive, mas Cristo vive em mim. Não preciso tentar
comportar-me bem no trabalho nem me policiar para
ser cuidadoso. Antes, devo simplesmente viver Cristo
dia a dia. Quando acordo de manhã, preciso invocar o
Senhor Jesus e inspirá-Lo. Conforme invoco, Ele se
toma minha respiração, o elemento intrínseco e
essencial do meu ser interior, a essência do meu
viver. Então no escritório eu simplesmente vivo
Cristo. Não tentarei deliberadamente pregar o
evangelho a meus colegas nem irei preocupar-me
pelo fato de ter-lhes dito que estou na igreja. Só me
preocupo com uma coisa: viver Cristo. O dia todo
quero inspirar Cristo e então vive-Lo”. Esse é o
entendimento correto sobre perder a vida da alma
por causa de Cristo.
O princípio é o mesmo quanto a viver por causa
do evangelho. Quando vivemos Cristo, certamente
viveremos o evangelho. Quando vivermos Cristo, os
outros verão o evangelho em nosso viver e não apenas
o ouvirão. Nosso viver será Cristo, e esse Cristo se
tomará o evangelho aos outros de forma real e
prática. Por meio disso vemos que viver por causa de
Cristo e do evangelho não é questão de
comportamento; mas de viver Cristo de modo
prático. A respeito disso, gostaria de dizer novamente
que necessitamos das Epístolas de Paulo para ter um
entendimento adequado da palavra do Senhor no
versículo 35.
Em 8:27-38 não temos apenas a revelação da
Pessoa maravilhosa do Senhor, como também da Sua
morte e ressurreição. Essa revelação também inclui
nossa aplicação da morte do Senhor e nosso viver em
Sua ressurreição. Por meio da aplicação da morte de
Cristo a nós, podemos viver em Cristo em
ressurreição.

A TRANSFIGURAÇÃO DO SENHOR: A VINDA


DO REINO DE DEUS COM PODER
Após a revelação da Pessoa de Cristo, como
também de Sua morte e ressurreição, o Senhor disse
em 9: I: “Em verdade vos digo que alguns há, dos que
aqui se encontram, que de maneira nenhuma
provarão a morte até que vejam ter chegado o reino
de Deus com poder”. Isso foi cumprido pela
transfiguração do Senhor no monte (9:2-13). Sua
transfiguração foi a vinda do reino de Deus com
poder. Isso foi visto por três de Seus discípulos:
Pedro, Tiago e João.
A transfiguração do Senhor no monte foi a vinda
do reino. Esse reino é, na verdade, a expansão de
Cristo. Primeiro, Cristo é plantado como semente em
nosso coração. Essa semente então cresce e se
desenvolve até ser manifestada em glória. Esse é o
reino. Ainda não chegou o tempo de o reino ser
plenamente manifestado. Contudo, por meio de Sua
transfiguração, Cristo demonstrou para três de Seus
discípulos qual é a realidade do reino. Isso foi uma
amostra da manifestação do reino de Deus.

Num Alto Monte


Marcos 9:2 diz: “Seis dias depois, tomou Jesus
Consigo a Pedro, a Tiago é a João, e os levou sós, em
particular, a um alto monte. E foi transfigurado
diante deles”. Como a transfiguração do Senhor
ocorreu seis dias depois da revelação a respeito de
Cristo, da Sua morte e ressurreição no capítulo oito
(dada no sopé do monte Hermom), o alto monte aqui
deve ser o monte Hermom. A fim de que recebamos a
revelação a respeito de Cristo, de Sua morte e
ressurreição, precisamos estar longe do ambiente
religioso. Mas para ganhar a visão do Cristo
transfigurado precisamos estar num alto monte,
muito acima do nível terreno.

Moisés e Elias
No versículo 4 O relato continua: “E
apareceu-lhes Elias com Moisés, e estavam
conversando com Jesus”. Moisés morreu e Deus
escondeu seu corpo (Dt 34:5-6), e Elias foi tomado
por Deus ao céu (2Rs 2:11), Deus fez essas duas coisas
de propósito para que Moisés e Elias pudessem
aparecer com Cristo no monte de Sua transfiguração.
Eles foram preservados por Deus para ser as duas
testemunhas na grande tribulação (Ap 11:3-4).
Moisés representa a lei, e Elias, os profetas; a lei e os
profetas compõem o Antigo Testamento como pleno
testemunho de Cristo (10 5:39). Agora Moisés e Elias
aparecem e conversam com Cristo a respeito de Sua
morte (Lc 9:31), da qual já se profetizara no Antigo
Testamento (Lc 24:25-27, 44; 1Co 15:3).
Com o Senhor Jesus no monte, Pedro, Tiago e
João tiveram um antegozo do reino vindouro. Aqui
vemos uma miniatura do milênio. Temos os santos do
Antigo Testamento (Moisés e Elias) e os santos do
Novo Testamento (Pedra, Tiago e João). Podemos
dizer que Moisés, um dos santos do Antigo
Testamento, representa os ressurretos, e Elias, Pedro,
Tiago e João, todos vivos, representam os que são
arrebatados.

A Proposta Absurda de Pedro


Pedra estava muito eufórico e disse ao Senhor
Jesus: “Rabi, bom é estarmos aqui; façamos três
tendas: uma para Ti, outra para Moisés e outra para
Elias” (v. 5). A proposta absurda de Pedro era colocar
Moisés e Elias no mesmo nível que Cristo; isto é,
igualou a lei e os profetas a Cristo. Isso é
absolutamente contrário à economia de Deus, na qual
a lei e os profetas são somente um testemunho de
Cristo; portanto, jamais devem ser colocados no
mesmo nível que Ele.

Ouvir o Filho
Marcos 9:7 diz: “E veio uma nuvem que os
cobriu; e da nuvem saiu uma voz: Este é o Meu Filho
amado; a Ele ouvi”. Essa declaração, dada pelo Pai
para vindicar Seu Filho, foi proferida pela primeira
vez quando Cristo subiu da água do batismo, que
representava Sua ressurreição dos mortos. Esta é a
segunda vez que o Pai faz essa declaração, agora para
vindicar o Filho em Sua transfiguração, que prefigura
o reino vindouro.
No versículo 7 Deus ordena que ouçamos Seu
Filho. Na economia de Deus, depois que Cristo veio,
devemos ouvir somente a Ele; não mais devemos
ouvir a lei ou os profetas, visto que estes se
cumpriram em Cristo e por meio Dele.
O versículo 8 continua: “E, de repente, olhando
ao redor, a ninguém mais viram, senão só a Jesus
com eles”. Pedro propôs manter Moisés e Elias, ou
seja, a lei e os profetas, com Cristo; Deus, porém, os
levou embora, não deixando ali ninguém, senão só
Jesus. A lei e os profetas eram sombras e profecias, e
não a realidade; a realidade é Cristo. Agora que
Cristo, a realidade, está aqui, as sombras e profecias
não são mais necessárias. Ninguém além de Jesus
deve permanecer no Novo Testamento. Ele é o Moisés
de hoje; como tal, infunde a lei da vida em Seus
crentes. É também o Elias de hoje; como tal, fala por
Deus e declara Deus em Seus crentes. Essa é a
economia neotestamentária de Deus.
Na era do Novo Testamento trata-se de “só
Jesus”. Devemos ouvi-Lo, e não a lei representada
por Moisés ou os profetas representados por Elias. O
próprio Cristo é o Novo Testamento. No capítulo nove
de Marcos uma miniatura do milênio apareceu
brevemente como exemplo para os discípulos do
Senhor. Depois a cena voltou à era do Novo
Testamento.

A Ressurreição de Cristo
Marcos 9:9 diz: “Ao descerem do monte,
ordenou-lhes Jesus que a ninguém contassem o que
tinham visto, senão quando o Filho do Homem
ressuscitasse dentre os mortos”. Isso indica que só se
pode ter uma visão clara do Jesus transfigurado e
glorificado na ressurreição de Cristo.
O versículo 10 diz: “Eles guardaram essa palavra,
discutindo entre si o que seria o ressuscitar dentre os
mortos”. Naquele tempo Pedro, Tiago e João não
entendiam o que o Senhor queria dizer quando falou
que o Filho do Homem iria ressuscitar dentre os
mortos. Eles haviam tido uma visão, mas não a
entenderam plenamente. Mas, no dia de Pentecostes,
quando Pedro se levantou com os onze, ele tinha
clareza e pôde testificar categoricamente a respeito da
ressurreição de Cristo. No dia de Pentecostes, o ponto
central de sua pregação foi a ressurreição do Senhor
Jesus. Ele não apenas veio a entender o que é a
ressurreição, como também ele mesmo estava nela.
Ele passou a viver Cristo em Sua morte e
ressurreição.
ESTUDO-VIDA DE MARCOS
MENSAGEM VINTE E SEIS
O MOVER DO SERVIÇO EVANGÉLICO DO
SALVADOR-SERVO (10)

O PONTO ALTO DO EVANGELHO DE


MARCOS

Leitura Bíblica: Mc 8:27-9:13


Em 8:27-9:13 temos a revelação do mistério da
Pessoa do Senhor e de Sua morte e ressurreição.
Podemos dizer que o que está registrado aqui é o
ponto alto de Marcos. Aqui o relato nesse Evangelho
atinge o clímax.
No capítulo oito, o Salvador-Servo curou um
cego em Betsaida. Ele fez mais nessa cura do que em
qualquer outro caso. Por exemplo, o primeiro caso de
cura em Marcos é o da sogra de Pedro. Essa cura foi
facilmente levada a cabo. O Senhor simplesmente
tomou-a pela mão e a levantou. Então a febre a
deixou e ela os serviu (1:31). Desde essa primeira
cura, esse livro avança passo a passo, até que, no
capítulo sete, temos a exposição do coração humano,
da condição interior do homem.
Depois de expor a condição do coração humano,
o Senhor Jesus revelou ser Ele o pão, nosso
suprimento de vida. Ele não é apenas o Deus que
perdoa, mas também nosso Médico, o Noivo, o Davi
de hoje e o Emancipador. Ele também é, tanto Aquele
que alimenta, como também o pão.
Depois que o Senhor Se revelou como pão para
nos nutrir interiormente, temos os relatos das curas
feitas de forma específica: a cura dos ouvidos e da
língua do surdo-mudo, e também a dos olhos de um
cego. Após essas curas específicas, podemos dizer que
temos uma pessoa completa cujos órgãos foram
curados de maneira específica. Agora essa pessoa está
preparada e qualificada para receber a revelação da
Pessoa de Cristo e de Sua morte e ressurreição.
A fim de revelar Sua Pessoa e Sua morte e
ressurreição, o Senhor Jesus levou os discípulos para
longe da região religiosa, para Cesaréia de Filipe.
Enquanto estavam a caminho, Ele perguntou aos
discípulos: “Quem dizem os homens que sou Eu?”
(8:27). Depois que responderam, o Senhor continuou
a perguntar: “Mas vós, quem dizeis que Eu sou?” (v.
29). Nesse momento Pedro teve a visão de que Jesus é
o Cristo, e declarou: “Tu és o Cristo”.
A revelação dada em Cesaréia de Filipe é o
estágio mais elevado, o clímax do livro de Marcos.
Antes de os discípulos serem levados pelo Senhor
para Cesaréia de Filipe, seus olhos foram curados.
Assim, tinham condições de ver não itens comuns ou
materiais, mas misteriosos e divinos.
Especificamente seus olhos foram abertos para ver
Cristo, Sua morte todo-inclusiva e Sua maravilhosa
ressurreição. Na esfera dos itens divinos e
misteriosos, a revelação de Cristo e de Sua morte e
ressurreição está em primeiro lugar.

UM MISTÉRIO PARA O HOMEM NATURAL


A esfera dos itens misteriosos e divinos está
totalmente oculta do homem natural. Como Paulo
nos diz em 1 Coríntios 2, o homem natural não
entende as coisas nessa esfera: “Ora, o homem
natural 4 não aceita as coisas do Espírito de Deus,
porque lhe são loucura; e não pode entendê-las,
porque elas se discernem espiritualmente” (v. 14). O
homem natural, ou anímico, vive na esfera da alma, e
não na do espírito. Ele não recebe as coisas do
Espírito de Deus; antes, as rejeita.
O Senhor Jesus é um mistério para o homem
natural e para a mente natural. Até mesmo hoje,
alguns estudiosos judeus estudam quem foi Jesus.
Também estudam Sua crucificação. Como a Pessoa de
Cristo e Sua morte e ressurreição são as questões
mais elevadas na esfera dos itens misteriosos e
divinos, até mesmo alguns professores cristãos de
teologia e também estudiosos judeus não tiveram
visão a esse respeito.

CURAR E ALIMENTAR
Não devemos considerar o Evangelho de Marcos
um mero livro de histórias. É um relato a nos mostrar
como o Senhor Jesus, enquanto Salvador-Servo,
serve os pecadores. Esse serviço se inicia no capítulo
um e continua no sete, onde o Senhor expôs a
condição do coração humano. Pode-se dizer que em
Marcos 7 o Salvador-Servo se conduz como cirurgião,
pois abre nosso coração e expõe sua condição.
No capítulo sete, vemos o Senhor não apenas
como Cirurgião divino, mas também como quem nos
alimenta com Ele mesmo que é o pão. Isso indica que
nossa necessidade básica é pão, é o suprimento de
vida. O Salvador-Servo não apenas nos cura, restaura
e traz de volta à comunhão com Deus; mas também
nos alimenta, e o faz com Ele mesmo como pão. Ele
4
O termo natural nesse versículo é literalmente animico, em grego. (N. do T.)
mesmo é nosso suprimento de vida.
Primeiro experimentamos o Senhor a nos
alimentar com Ele mesmo como pão. Como resultado
disso, espontaneamente experimentamos Sua cura de
maneira específica: Ele nos cura os ouvidos surdos, a
língua muda e os olhos cegos.

CRISTO E SUA MORTE E RESSURREIÇÃO


Precisamos encaixar vários trechos de Marcos
como se fossem peças de quebra-cabeça. Quando
cada peça estiver no lugar, veremos um quadro. Em
Marcos vemos um retrato de algumas pessoas
escolhidas por Deus, as quais não são apenas curadas
de maneira genérica, como a sogra de Pedro, o
leproso, o paralítico, mas também especificamente
nos órgãos da audição, da fala e da visão. Essas curas
específicas envolvem a unção do Senhor,
representada por Sua saliva. Uma vez que esses
escolhidos foram nutridos ao receber o suprimento de
vida (o Senhor como seu pão), seus órgãos foram
curados. Como resultado, podiam ouvir, falar e ver.
Seus órgãos passaram a funcionar adequadamente.
Assim, nesse momento, o Salvador-Servo os levou a
Cesaréia de Filipe, um lugar onde a atmosfera
espiritual era límpida.
Já dissemos que ali o Senhor Jesus falou aos
discípulos a respeito de Si mesmo. Ao falar-lhes, Ele
lhes abriu a esfera dos itens divinos e misteriosos.
Pelo menos um dos discípulos chegou a ver que Ele
era o Cristo. Mas ainda viu a Pessoa de Cristo de
forma limitada. Não viu nada a respeito de Sua morte
e ressurreição. Por essa razão o Senhor a seguir lhes
disse que seria crucificado e após a morte
ressuscitaria. Ao falar sobre Sua morte e ressurreição,
o Senhor abriu mais a esfera dos itens misteriosos e
divinos. Ele lhes mostrou não apenas Sua Pessoa;
mas também lhes revelou Sua maravilhosa morte e
Sua maravilhosa ressurreição.

O SUBSTITUTO TODO-INCLUSIVO
Agora chegamos a um assunto crucial.
Precisamos ver que, aos olhos de Deus, tudo no
universo, exceto Ele mesmo, precisa ser substituído.
Cristo com Sua morte e ressurreição é o substituto
singular no universo. Ele é o substituto completo e
todo-inclusivo. Cristo com Sua morte e ressurreição
substitui todos e tudo que não seja o próprio Deus.
Ele substitui Moisés, Elias e a nós. Substitui nosso
ego, nossa alma e nossa mente. Ele mesmo substitui
todas as outras pessoas, coisas e questões em todo o
universo. É por isso que dizemos que Ele é o
substituto completo e todo-inclusivo.
Quando o Senhor Jesus revelou aos discípulos
Sua morte e ressurreição, talvez eles tenham ficado
confusos. Pedro, especialmente, não entendeu e
chegou a repreendê-Lo (v. 32). Então o Senhor
repreendeu Pedro dizendo: “Para trás de Mim,
Satanás! porque não cogitas nas coisas de Deus, e,
sim, nas dos homens” (v. 33). O Senhor ainda disse:
“Se alguém quer seguir após Mim, a si mesmo se
negue, tome a sua cruz e siga-Me” (v. 34). Você sabe o
que significa negar a si mesmo? Negar a si mesmo é
ser substituído por Cristo.
Aqui o Senhor parecia dizer, especialmente a
Pedro: “Já que você viu Cristo, então precisa ser
substituído por Ele. Precisa ser colocado de lado e
permitir que Cristo se tome você. Você precisa negar
a si mesmo e ser substituído por Cristo”.
SUBSTITUÍDO POR CRISTO POR MEIO DA
MORTE E RESSURREIÇÃO
Como é possível ser substituído por Cristo?
Somente por meio da Sua morte e ressurreição. Sem
elas, Cristo não teria como substituir-nos e também
seria impossível sermos substituídos por Ele. Essa
substituição somente pode ser levada a cabo pela
morte e ressurreição de Cristo.
Precisamos perceber que é necessário negar
nosso ego. Nossa atitude deve ser de querer ser
substituído. Também precisamos ver que uma
substituição foi preparada para nós, e essa
substituição é Cristo. Nas palavras de Paulo em
Gálatas 2:20, não devemos mais ser nós que vivemos,
mas Cristo deve viver em nós.
Quando vivemos, vivemos segundo nosso
coração corrupto. Vivemos de acordo com nós
mesmos e em nosso interior temos um coração
maligno. Se queremos ser livrados do que somos em
nós mesmos, livrados do coração maligno,
precisamos negar a nós mesmos que, na verdade,
significa ser substituído por Cristo mediante Sua
morte e ressurreição.
A morte de Cristo na cruz nos incluiu. Isso
significa que quando Ele morreu, nós morremos
também. Agora precisamos perceber esse fato e
aplicá-lo a nosso viver — isso é toma a cruz. Portanto,
tomar a cruz significa admitir que tivemos fim pela
morte de Cristo e aplicar esse término a nós. Ao
fazê-lo, a vida de ressurreição surge.
Em nosso viver diário, o Cristo crucificado e
ressurreto é o Espírito que dá vida. A realidade da
ressurreição? e Cristo é, de fato, o Espírito que dá
vida. Sempre que aplicamos a cruz de Cristo, o
Espírito que dá vida, como realidade da ressurreição
de Cristo, surge para ser nosso verdadeiro substituto.
Então podemos dizer: “Fui crucificado com Cristo, já
não sou mais eu quem vive, mas Cristo vive em mim”.

O QUE DEUS QUER


Você viu o que é revelado em 8:27-9:13? Aqui
temos a revelação da Pessoa de Cristo e Sua morte e
ressurreição. Oh! todos necessitamos ver isso!
Preocupo-me que alguns ainda não viram as questões
cruciais da Pessoa do Cristo todo-inclusivo, de Sua
maravilhosa morte e maravilhosa ressurreição. Se as
virmos, diremos: “Amém! Amém para Cristo! Amém
para a morte de Cristo! Amém para a ressurreição de
Cristo! Amém para meu término! Por ter tido fim, já
não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim. Cristo
é o substituto completo nesse universo. Deus não
quer Moisés, não quer Elias e não quer a mim naquilo
que eu sou. Digo amém ao fato de que Deus só quer
Cristo”.
Deus não quer nada que sejamos em nós
mesmos. Ele não quer nossa carne e não quer nosso
coração em corrupção. Só quer Cristo, pois Cristo é o
substituto singular e todo-inclusivo.
Em 9:7 Deus declarou: “Este é o Meu Filho
amado; a Ele ouvi”. Precisamos ouvi-Lo, e não a nós
mesmos. Não devemos ouvir nossa mente, emoção ou
vontade. Não devemos ouvir o que pensamos,
imaginamos ou amamos. Devemos ouvir a Cristo.
Cristo é o amado de Deus, Seu favorito. É o que
substitui todos e tudo. Assim Ele deve ter toda a base
em nosso viver. Tudo em nosso viver deve ser
entregue a Ele.
VIVER CRISTO MEDIANTE SUA MORTE E
RESSURREIÇÃO
Como nosso substituto, Cristo foi crucificado. Na
cruz Ele passou por uma morte todo-inclusiva, morte
que nos incluiu e pôs fim a nós. Depois de passar por
tal morte, Ele ressuscitou. Agora, em ressurreição,
Ele é o Espírito que dá vida para ser a realidade de
nossa vida. Quando aplicamos Sua morte como nosso
término, o Espírito tem a plena base para tomá-Lo
real para nós, e assim desfrutamos verdadeira
substituição. Como resultado, podemos declarar que
fomos crucificados com Cristo e já não vivemos, mas
Cristo vive em nós. Até mesmo podemos dizer com
Paulo: “Para mim o viver é Cristo” (Fp 1:21). Em tudo,
quer pela vida, quer pela morte, vivemos Cristo e O
engrandecemos (Fp 1:20).
Para interpretar esses versículos dos capítulos
oito e nove de Marcos precisamos das catorze
Epístolas escritas por Paulo. Com a ajuda delas
podemos ver um quadro nos primeiros oito capítulos
e meio de Marcos. Que possamos ser tão
profundamente impressionados por esse quadro, que
jamais venhamos a esquecê-lo! Louvado seja o
Senhor porque esse quadro nos inclui! Estamos numa
esfera divina vivendo Cristo mediante Sua morte e
ressurreição. Que maravilhoso! Louvado seja o
Senhor por esse clímax do Evangelho de Marcos, em
que temos a revelação de Cristo com Sua morte e
ressurreição!
ESTUDO-VIDA DE MARCOS
MENSAGEM VINTE E SETE
O MOVER DO SERVIÇO EVANGÉLICO DO SALV
ADOR-SERVO
(11)

Leitura Bíblica: Mc 9:14-50


Na mensagem anterior vimos que em 8:27-9:13
temos a revelação de Cristo com Sua morte e
ressurreição como o substituto universal de tudo que
não é o próprio Deus. Nesta mensagem iremos
prosseguir, considerando 9:14-50.
Não é fácil entender o que é revelado em Marcos
9:14-50. Qual é o assunto principal desse trecho? Se
dividirmos essa seção em trechos menores,
poderemos ter algum entendimento de tópicos
específicos. Mas, que vemos quando colocamos todos
esses versículos juntos?

A EXPULSÃO DE UM ESPÍRITO MUDO


Esse trecho, de trinta e sete versículos, começa
com o caso da expulsão de um espírito mudo do filho
de um homem (9:14-29). Isso aconteceu
imediatamente depois que o Senhor e três dos
discípulos desceram do monte da transfiguração.
“Quando chegaram para junto dos discípulos, viram
numerosa multidão ao redor deles, e alguns escribas
discutiam com eles. E logo que toda a multidão O viu,
ficou surpreendida, e, correndo para Ele, O
saudavam” (vs. 14-15)-. Quando o Senhor lhes
perguntou a respeito da discussão, “um dentre a
multidão respondeu-Lhe: Mestre, trouxe-Te meu
filho, que tem um espírito mudo; e este, onde quer
que o apanha, lança-o por terra, e ele espuma, rilha os
dentes e vai definhando. Pedi a Teus discípulos que o
expulsassem, mas eles não puderam” (vs. 17-18).
Aqui vemos que se tratava de um espírito mudo;
não era o caso de a pessoa toda necessitar de cura. No
versículo 25 vemos que foi um espírito mudo e surdo
que foi expulso do menino. Portanto, novamente
houve a necessidade de cura específica dos órgãos da
audição e da fala.

A Razão pela qual os Discípulos Fracassaram


O pai do menino havia pedido aos discípulos do
Senhor que expulsassem o demônio, mas eles não o
conseguiram. Como aprendizes, eles deveriam ter
sido capazes de expulsá-lo. Mas, como não foram
capazes de fazê-lo, houve séria discussão. Quando o
Senhor desceu do monte da transfiguração,
encontrou essa situação. Ele, então, expulsou o
espírito surdo e mudo.
Marcos 9:28 diz: “Quando entrou na casa, os
Seus discípulos Lhe perguntaram em particular: Por
que não pudemos nós expulsá-lo?”, Os discípulos
pareciam dizer ao Senhor: “Somos Teus seguidores e
temos aprendido de Ti por longo tempo. Foi fácil para
Ti expulsar o demônio, mas por que nós não fornos
capazes de expulsá-lo?”.
No versículo 29 ternos a resposta do Senhor à
pergunta dos discípulos: “Essa casta não pode sair
por meio de coisa alguma senão por meio de oração”.
A palavra do Senhor aqui indica que os discípulos não
oraram, e essa foi a razão de não poder expulsar o
demônio.
Oração e o Negar do Ego
Você sabe o que significa orar? Significa que
percebemos que não somos nada e não podemos fazer
nada. Isso implica que oração é o verdadeiro negar do
ego. Orar, portanto, é negar a nós mesmos, sabendo
que não somos nada e somos incapazes de fazer
qualquer coisa. Além disso, orar é, na verdade,
declarar: “Não eu, mas Cristo”.
Em vez de orar, os discípulos tentaram expulsar
o demônio. Talvez tenham pensado: “Já há mais de
dois anos temos observado o Senhor expulsar
demônios, e já aprendemos. Devemos ser capazes de
expulsar o demônio desse menino”. Mas, embora
tentassem, não tiveram sucesso. Podemos dizer que
tentaram expulsar o demônio sem o poder, a energia,
a eletricidade divina necessária.
Quero enfatizar que a palavra “oração” em 9:29
na verdade indica “não mais eu, mas Cristo”, Com
respeito a essa questão, precisamos entender por que
esse caso vem imediatamente depois da revelação de
Cristo como nosso substituto e da palavra do Senhor
sobre negar a nós mesmos. Precisamos negar a nós
mesmos a fim de que Cristo seja nosso substituto e se
tome tudo para nós. Embora os discípulos tenham
tido essa revelação, eles não a praticaram, não
viveram de acordo com ela. Obter a revelação é uma
coisa, mas viver de acordo com ela é outra.

Aplicar a Revelação a respeito de Cristo como


Nosso Substituto
Marcos 9:14-50, na verdade, é a prática da
revelação de Cristo como nosso substituto. Havia sido
revelado aos discípulos que Cristo é o substituto
completo, mediante Sua morte e ressurreição. A
morte põe fim a nós e a ressurreição nos traz Cristo, e
o resultado é: “Não mais eu, mas Cristo”. Mas como
essa revelação pode ser aplicada? De acordo com o
caso da expulsão do espírito mudo do menino, ela é
aplicada pela oração.
Como seres humanos, todos temos problemas
com o temperamento. Assim; podemos usar essa
questão, especialmente na vida matrimonial, como
ilustração do fato de que, certos “demônios” só
podem ser expulsos por meio de oração. Na vida
matrimonial é fácil o marido ou a mulher ter
problema de temperamento. Com certeza, todo
marido tem problemas com isso e toda mulher
também. Temperamento é um problema sério na vida
conjugal e uma das causas de separação e divórcio. Se
um casal nunca trocasse palavras ásperas nem tivesse
problema com o temperamento, a maioria dos
problemas na vida matrimonial seria eliminada. Mas
o temperamento é um problema. Por isso, certamente
precisamos de Cristo na vida conjugal. Eu diria que
em nenhum aspecto do viver humano precisamos
mais Dele do que na vida conjugal.
Você sabe como ter a melhor vida conjugal? É
praticar: “Não eu, mas Cristo”. Mas como podemos
praticar isso? A maneira é orar. Por exemplo, você
não deve tentar subjugar o temperamento. Se tentar
subjugá-lo por si mesmo, no final terá um problema
mais sério com ele. Quanto mais lutar para subjugar o
temperamento, mais “depósitos” fará no “banco do
temperamento”. Cedo ou tarde você irá explodir de
forma mais séria. Isso é tentar expulsar o “demônio”
do temperamento por esforço próprio, em vez de
fazê-lo pela oração.
Em vez de tentar subjugar o temperamento, você
deve orar. Se perguntar ao Senhor por que você não é
capaz de expulsar o demônio do temperamento, Ele
poderá dizer: “Essa casta não pode sair por meio de
coisa alguma senão por meio de oração. Você precisa
orar”.

Invocar o Senhor
Na verdade, não precisamos fazer uma longa
oração. Basta chamar: “Ó Senhor Jesus!”. Até mesmo
essa pequena oração mostra que é “não mais eu, mas
Cristo”. Sua oração testifica que você não exercita o
esforço próprio para lidar com a situação, e sim aplica
Cristo. Isso é praticar a visão de Cristo, com Sua
morte e ressurreição, como nosso substituto.
Você não deve tentar expulsar demônios pelo
esforço próprio. Para expulsá-los é preciso orar.
Como já ressaltamos, oração significa “não mais eu,
mas Cristo”. Portanto o caso de 9:14-29 nos mostra
que, se quisermos ser substituídos por Cristo,
precisamos orar, em vez de tentar expulsar os
demônios por nós mesmos.

A SEGUNDA REVELAÇÃO DA MORTE E


RESSURREIÇÃO DO SENHOR
Em 9:30-32 o Senhor Jesus revela Sua morte e
ressurreição pela segunda vez. O versículo 31 diz:
“Porque ensinava os Seus discípulos e lhes dizia: O
Filho do homem está sendo entregue nas mãos dos
homens, e eles O matarão; e, morto Ele, depois de
três dias ressuscitará”. Contudo, como diz no
versículo 32, os discípulos “não compreendiam essa
palavra5, e temiam interrogá-Lo”.

O ENSINAMENTO ACERCA DA HUMILDADE


Depois do fracasso em expulsar o demônio, os
discípulos devem ter ganho algum entendimento de
que orar trata-se de “não eu, mas Cristo”, que a
oração implica que negamos a nós mesmos e
percebemos que não somos nada, não podemos fazer
nada e precisamos ser substituídos por Cristo. Para
ser substituídos por Ele, precisamos orar para que Ele
entre na situação e seja tudo para nós. Mas não
podemos ser treinados para a prática disso apenas
uma vez, pois um caso específico é limitado em seu
alcance. Portanto em 9:33-37 temos outro caso (o
ensinamento a respeito da humildade) no qual o
mesmo tópico é enfatizado.
Marcos 9:33-34 diz: “E chegaram eles a
Cafarnaum. Estando Ele na casa, perguntou-lhes:
Sobre que arrazoáveis pelo caminho? Mas eles
ficaram em silêncio; porque pelo caminho haviam
discutido entre si sobre quem era o maior”. Nenhum
dos discípulos ousou responder. Mas o Senhor já
sabia que eles discutiram sobre quem era o maior.
Então Ele prosseguiu, ensinando a respeito da
humildade. “Chamou os doze e lhes disse: Se alguém
quer ser o primeiro, será o último de todos e servo de
todos” (v. 35). Então tomou uma criança, colocou-a
no meio deles e, tomando-a nos braços disse-lhes:
“Qualquer que acolher uma destas crianças por causa
de Meu nome, a Mim Me acolhe; e qualquer que a
Mim Me acolhe, não acolhe a Mim, mas ao que Me
enviou” (vs. 36-37). Ao tomar a criança nos braços, o
5
Literalmente, esse vocábulo é rhêma, em grego. (N. do T.)
Senhor expressou Sua humanidade em Seu terno
amor para com os pequeninos.
Você percebe o que é humildade? Assim como
oração, humildade significa que não somos nada.
Humildade significa “não mais eu, mas Cristo”.
Aqui o Senhor ensinou aos discípulos a mesma
lição, como na expulsão do espírito mudo. Os
discípulos haviam ganho a visão a respeito da Pessoa
de Cristo, de Sua morte para pôr fim a eles e de Sua
ressurreição para fazê-Lo ser a substituição deles.
Mas, embora essa visão lhes tivesse sido revelada,
eles ainda precisavam praticá-la. Na questão de
expulsar demônios, eles precisavam praticá-la
orando. Orar é testificar que se trata de “não mais eu,
mas Cristo”. Quanto à questão de grandeza, os
discípulos precisavam praticar a visão aprendendo a
ser humildes. Quando discutiam para ver quem era o
maior, estavam negligenciando a visão de Cristo
como substituto deles e a visão de Sua morte que
punha fim a eles e de Sua ressurreição que os supria.
Portanto foi necessário que o Senhor os treinasse a
praticar a visão a respeito Dele mesmo como
substituto deles.

O ENSINAMENTO ACERCA DA TOLERÂNCIA


COM VISTAS À UNIDADE
Em 9:38 João, um dos filhos do trovão, de
repente disse ao Senhor: “Mestre, vimos alguém que
em Teu nome expulsava demônios, e nós lhe
proibimos, porque não nos seguia”. Esse foi um ato
impetuoso de João, o filho do trovão, contrário à
virtude do Salvador-Servo a quem acompanhava. A
atitude de João foi como a de Josué em Números
11:28.
Talvez a intenção de João tenha sido mudar de
assunto. Talvez ele e Tiago, os filhos do trovão, é que
tenham instigado a discussão sobre quem seria o
maior. Creio que eles representaram os papéis
principais nessa discussão.
Em vez de repreender João, o Senhor Jesus
respondeu de modo muito sábio. O restante desse
capítulo é dedicado à resposta do Senhor ao que João
disse no versículo 38.
No versículo 39 o Senhor Jesus disse: “Não lho
proibais; porque ninguém há que faça milagre em
Meu nome e em seguida possa falar mal de Mim”.
Isso demonstrou a tolerância do Salvador-Servo, na
prática do serviço evangélico, para com os crentes que
eram diferentes dos mais chegados a Ele. Nesse
aspecto, a atitude do apóstolo Paulo em Filipenses
1:16-18 e a de Moisés em Números 11:26-29 são iguais
à Dele, mas a do impetuoso João, não.
É muito significativo que esse trecho (vs. 38 a 50) dê
continuidade ao anterior (vs. 33 a 37) no qual o
Salvador-Servo ensinou humildade a Seus
seguidores, pois haviam discutido entre si sobre
quem era o maior. Nessa discussão, provavelmente os
dois filhos do trovão, Tiago e João, representaram os
papéis principais (cf. 10:35-45). Aqui o mesmo João
não queria ser tolerante para com um crente
diferente. Sua ação impetuosa provavelmente se
relacionava com a ambição de ser grande. Pode ter
sido essa ambição que causou sua intolerância para
com a prática diferente de outros crentes. Esse é um
fator básico de divisão entre os cristãos. O
Salvador-Servo certamente não concordava com João
nessa questão.
ESTUDO-VIDA DE MARCOS
MENSAGEM VINTE E OITO
O MOVER DO SERVIÇO EVANGÉLICO DO
SALVADOR-SERVO (12)

Leitura Bíblica: Mc 9:38-50


Nesta mensagem iremos considerar 9:38-50.

A TOLERÂNCIA DO SALVADOR-SERVO
Como falamos na mensagem anterior, no
versículo 38 João disse ao Senhor Jesus: “Mestre,
vimos alguém que em Teu nome expulsava demônios,
e nós lho proibimos, porque não nos seguia”. Esse foi
um ato impetuoso de João como filho do trovão. Esse
ato era contra a virtude do Salvador-Servo, a quem
ele seguia. Isso está provado pela reação do Senhor
no versículo 39: “Não lho proibais; porque ninguém
há que faça milagre em Meu nome e em seguida possa
falar mal de Mim”. Isso demonstra a tolerância do
Salvador-Servo, na prática do serviço evangélico, para
com os crentes que eram diferentes dos mais
chegados a Ele.
Nos versículos 40 a 50 há muitas coisas que nos
deixam perplexos. No versículo 40 o Senhor Jesus
disse: “Pois quem não é contra nós é por nós”. Esse
versículo me incomodou por anos e eu tinha
dificuldade para entendê-la, porque achava que
contradizia a palavra do Senhor em Mateus 12:30. Na
verdade, não há contradição. Os dois trechos vieram
da boca do Salvador-Servo e podem ser considerados
máximas6. A máxima em 9:40 fala da conformidade
exterior na prática e diz respeito às pessoas que não
são contra Ele (v. 39); a de Mateus 12:30 fala da
unidade interior no propósito e diz respeito a quem é
contra Ele (Mt 12:24). Para manter a unidade
interior, precisamos praticar a palavra de Mateus e,
no que concerne à conformidade exterior, devemos
praticar a palavra aqui, tolerando os crentes que
diferem de nós.
Em 9:41 o Senhor prossegue: “Porque qualquer
que vos der a beber um copo de água, por terdes o
nome de que sois de Cristo, em verdade vos digo que
de modo algum perderá o seu galardão”. No versículo
38 vemos que João portou-se como quem exercia
influência sobre os outros. A sábia palavra do
Salvador-Servo no versículo 40 fez com que ele e os
demais discípulos se tornassem pessoas que recebiam
cuidados dos outros. Isso implicava que todos, quer
discípulos quer outros crentes, estavam sob o cuidado
do Senhor, pois eram todos Dele. Quer fosse o
relacionamento deles para com os outros crentes,
quer fosse o dos outros para com eles, tudo o que se
fizesse em nome do Senhor, até mesmo dar um copo
d'água, seria por Ele galardoado.
No versículo 41 o Senhor fala de alguém que dá
um copo d'água em Seu nome a um discípulo por ele
ser de Cristo. Isso indica que o Salvador-Servo
reconhecia que aquele a quem João proibira de
expulsar demônios em Seu nome era um crente
autêntico que Lhe pertencia. Isso deve ter sido uma
lição para João.

6
Máxima, “princípio básico e indiscutível” — Dicionário Aurélio. (N. do T.)
UM GALARDÃO NO FUTURO
Em 9:41 o Senhor diz que quem der a um
discípulo um copo d'água “de modo algum perderá o
seu galardão”. Esse galardão será dado na era
vindoura do reino (Lc 14:14); é algo adicional à
salvação eterna. A salvação eterna é pela fé, nada
tendo a ver com nossas obras (Ef 2:8-9), enquanto o
galardão é em função de nossas obras depois de
salvos (1Co 3:8, 14). Pode acontecer que deixemos de
receber galardão e soframos perda, mesmo sendo
salvos, porque temos carência na obra que o Senhor
aprova (1Co 3:15). Na volta do Senhor o galardão será
dado segundo nossas obras (Mt 16:27; Ap 22:12; 1Co
4:5). Isso será decidido pelo tribunal de Cristo (2Co
5:10) e desfrutado no reino vindouro (Mt 25:21, 23).
Em Marcos 9:42 o Senhor continua: “E a
qualquer que fizer tropeçar a um destes pequeninos
que crêem em Mim, melhor lhe fora que se lhe
pusesse ao pescoço uma grande pedra de moinho, e
fosse lançado no mar”. Aqui o Salvador-Servo deixou
de lidar apenas com João e os demais discípulos e
passou a falar dos crentes em geral, a quem Ele
considerava pequeninos (nada tendo a ver com as
crianças do versículo 37), inclusive João, os demais
discípulos e os que eles proibiram de expulsar
demônios em nome do Senhor. Isso pode ser
considerado uma advertência a João e aos demais,
para não fazer tropeçar nenhum dos crentes que
seguiam ao Senhor de modo diferente.

CAUSAR TROPEÇO PARA OS OUTROS E


PARA SI MESMO
O versículo 43 diz: “Se a tua mão te faz tropeçar,
corta-a; melhor te é entrar na vida aleijado do que,
tendo as duas mãos, ir para a Geena, para o fogo
inextinguível”. Aqui o que faz tropeçar já não é uma
pessoa, mas um membro do corpo físico do crente. Os
crentes não devem fazer tropeçar uns aos outros nem
devem tropeçar por causa dos membros do próprio
corpo. Isso indica a preciosidade dos crentes aos
olhos do Salvador-Servo. Todos devem ser
completamente preservados para Ele. Todos os
fatores que fazem os crentes tropeçar devem ser
eliminados.
No versículo 43 vida se refere à vida eterna, que
os crentes vencedores desfrutarão no reino vindouro.
Herdar a vida eterna (Mt 19:29) é ser galardoado na
era vindoura (Lc 18:29-30) com o desfrute da vida
divina na manifestação do reino.
Geena é o termo grego equivalente ao hebraico Ge
Hinnom, 'vale de Hinom'. Era um vale profundo e
estreito próximo a Jerusalém, usado como depósito
de lixo da cidade, onde se lançava todo tipo de
imundícia bem como os cadáveres dos criminosos
executados. Também chamado Tofete (2Rs 23:10; Is
30:33; Jr 19:13). Por causa do seu fogo contínuo,
tomou-se o símbolo do lugar do castigo eterno, o lago
de fogo (Ap 20:15).
Em Marcos 9:43 fogo inextinguível está em
aposição a Geena, e, segundo o contexto, denota o
castigo dispensacional dos crentes derrotados, como
sofrer o dano da segunda morte, mencionado em
Apocalipse 2:11. Nesse versículo fogo inextinguível
não se refere à perdição eterna.
Em 9:45 o Senhor diz: “Se o teu pé te faz
tropeçar, corta-o; melhor te é entrar na vida coxo do
que, tendo os dois pés, ser lançado na Geena”. Isso é
bastante semelhante à palavra no versículo 43. (Nos
vs. 44 e 46, alguns manuscritos inserem: “Onde não
lhes morre o verme, e o fogo não se extingue”.)
No versículo 47 o Senhor continua: “E se o teu
olho te faz tropeçar, lança-o fora; melhor te é entrar
no reino de Deus com um só olho do que, tendo dois
olhos, ser lançado na Geena”. Entrar no reino de Deus
é entrar no desfrute da vida eterna na era vindoura.
O versículo 48 diz a respeito da Geena: “Onde
não lhes morre o verme, e o fogo não se extingue”.
Essa palavra é uma citação de Isaías 66:24.

SALGADO COM FOGO


O versículo 49 diz: “Porque cada um será salgado
com fogo”. O objetivo disso é matar e eliminar os
germes da corrupção que se introduziram por meio
do pecado, para preservar os crentes pecadores (cf. Lv
2:13; Ez 43:24).
O fogo em Marcos 9:49 é o fogo refinador
(MI3:2), que purifica e purga, como em 1 Coríntios
3:13, 15 (cf. Is 33:14), o qual, como punição
dispensacional na era do reino, purgará os crentes
que cometem pecado e não se arrependem nesta era.
Mesmo nesta era Deus purga os crentes por meio das
provações, como que pelo fogo (1Pe 1:7; 4:12, 17). A
punição dispensacional por meio do fogo na era
vindoura segue o mesmo princípio do castigo de Deus
nesta era por meio dos sofrimentos, como que pelo
fogo.
No versículo 50 o Senhor Jesus conclui: “Bom é o
sal; mas se o sal se tomar insulso, com que o
temperareis? Tende sal em vós' mesmos, e vivei em
paz uns com os outros”. O sal por natureza é uma
substância que mata e elimina os germes da
corrupção. Dizer que um crente se tomou insulso é o
mesmo que dizer que ele perdeu a sua função de
salgar. Nesse caso tomou-se igual às pessoas terrenas
e já não pode ser distinguido dos incrédulos.
A aplicação da palavra do Senhor aqui a respeito
do sal difere da de Mateus 5:13 e Lucas 14:34. Em
Mateus e Lucas, o sal, retratando a influência dos
crentes no mundo, é para salgar o mundo corrupto; o
sal aqui, em aposição ao fogo purgador, visa salgar os
crentes pecadores, assim como os castigos de Deus
são para os crentes pecadores nesta era. Logo os
crentes devem ter sal em si mesmos para ser
purificados não somente dos pecados mas também de
qualquer elemento de divisão, e estar assim em paz
uns com os outros. O elemento de divisão foi
demonstrado pelo impetuoso João ao proibir um
irmão diferente dele de expulsar demônios em nome
do Senhor, e ao discutir sobre quem era o maior. Essa
purificação visa que eles “vivam em paz uns com os
outros”. Esse sal purgador purifica a palavra dos
crentes com graça (Ef 4:29), para que mantenham
paz uns com os outros (Cl 4:6). O que o Senhor disse
aqui indica que as palavras que João havia dito ao
irmão diferente não haviam sido purgadas. Assim
todo esse trecho (vs. 38-50) apresenta o ensinamento
do Salvador-Servo sobre a tolerância dos crentes por
causa da unidade.

ACHA VE PARA ESSE TRECHO DE MARCOS


Precisamos entender 9:38-50 à luz da visão dada
em 8:27-9:13 a respeito de Cristo e de Sua morte e
ressurreição. Doutra forma não temos como entender
esse trecho de Marcos. A chave que abre esses
versículos é Cristo com Sua morte e ressurreição.
Já enfatizamos que em 9:38 João disse ao Senhor
Jesus que eles haviam visto alguém expulsando
demônios em Seu nome o qual não seguia os
discípulos, e o haviam proibido, porque não os seguia.
João parecia dizer: “Esse homem estava expulsando
demônios em Teu nome, Senhor. Mas ele não nos
queria seguir. Ele é faccioso, sectário. Como ele causa
problemas, nós o proibimos de expulsar demônios em
Teu nome. Eu disse a ele que ou ele segue conosco ou
deve parar de expulsar demônios em Teu nome”.
Será que nessa situação João podia dizer que
vivia Cristo, que agora não era mais ele, mas Cristo?
Certamente não. Acaso João havia sido terminado
pela morte de Cristo, e Sua ressurreição, trabalhada
nele? De forma alguma! Em Marcos 9:38 João ainda
era filho natural do trovão; ainda estava em si
mesmo, até mesmo num ego expandido. Quando o
Senhor falava aos discípulos a respeito da humildade,
João até mesmo mudou de assunto no versículo 38.
A resposta do Senhor no versículo 39 deve ter
sido uma grande surpresa para João: “Não lho
proibais; porque ninguém há que faça milagre em
Meu nome e em seguida possa falar mal de Mim”.
Aqui o Senhor Jesus dizia a João: “Tu não deves
proibi-lo, ele não é contra Mim; pelo contrário, é por
Mim. Todos os crentes são Meus”.
No versículo 41 o Senhor prosseguiu: “Porque
qualquer que vos der a beber um copo de água, por
terdes o nome de que sois de Cristo, em verdade vos
digo que de modo algum perderá o seu galardão”.
Aqui Ele parecia dizer: “Em vez de proibi-lo de
expulsar demônios em Meu nome, tu deverias dar-lhe
um copo d'água para beber. Se ele servir um copo de
água para um de vós, Eu Me lembrarei disso.
Qualquer pessoa que em Meu nome vos der um copo
d' água para beber receberá galardão na era
vindoura”.

UMA PALAVRA SÉRIA A RESPEITO DE


FAZER TROPEÇAR
No versículo 42 o Senhor prossegue falando
seriamente acerca de fazer tropeçar os que Nele
crêem: “E a qualquer que fizer tropeçar a um destes
pequeninos que crêem em Mim, melhor lhe fora que
se lhe pusesse ao pescoço uma grande pedra de
moinho, e fosse lançado no mar”. Como é sério fazer
tropeçar os que crêem no Senhor! João pode ter
ficado chocado com essa palavra acerca da seriedade
de fazer outro crente tropeçar. Ele pode ter dito para
si mesmo: “Se eu fizer outro crente tropeçar, meu
futuro pode ser pior do que o de alguém lançado no
mar com grande pedra de moinho ao pescoço”.
Nos versículos 43 a 48 o Senhor já não fala da
questão de fazer os outros tropeçar, e sim de fazer
com que nós mesmos tropecemos. Ele mostra que
podemos tropeçar por causa da mão, pé ou olho. É
sério fazer com que outro crente tropece e também é
sério que nós mesmos tropecemos devido a qualquer
parte do corpo físico. A seriedade disso está indicada
pelo fato de que se um membro do corpo nos fizer
tropeçar, podemos ser lançados na Geena, no fogo
inextinguível.

GALARDÃO E PUNIÇÃO NA ERA VINDOURA


Alguns podem ficar muito surpresos ao ouvir que
um crente pode ser lançado no fogo inextinguível.
Podem perguntar-se como é possível que uma pessoa
salva seja punida com fogo. A respeito disso
precisamos considerar a palavra do Senhor Jesus. Foi
Ele que disse que se um membro do nosso corpo nos
fizer tropeçar, podemos ser lançados no fogo
inextinguível.
Em 9:41 o Senhor fala de galardão e em 9:42-48,
de punição. Tanto o galardão como a punição
ocorrerão na era vindoura, na era do reino. O que der
de beber um copo de água fria para um discípulo
porque ele é de Cristo será galardoado na era
vindoura. Da mesma forma a punição falada nesses
versículos também será na era vindoura.
Em 9:43 o Senhor fala sobre entrar na vida. Um
aspecto da punição na era vindoura é perder o
desfrute da vida eterna. Como vimos, aqui não se
trata de receber a vida eterna, e sim de entrar nela.
Nós recebemos a vida eterna quando fomos
regenerados. Mas entrar na vida eterna ocorrerá na
era vindoura, era na qual o reino de Deus será
manifestado. Ainda não está definido se vamos ou
não entrar no desfrute da vida eterna na era vindoura.
Podemos ser impedidos pela concupiscência da mão,
do pé ou do olho. A concupiscência em nossos
membros pode fazer-nos perder o desfrute da vida
eterna na era vindoura do reino. Podemos, em vez de
entrar no desfrute, ser punidos com fogo.
Quando alguns ouvem que os crentes podem
sofrer na era vindoura, talvez digam: “Isso é sério!
Como é possível um redimido sofrer tal punição? A
redenção de Cristo não é completa e adequada?”. Sim,
certamente a redenção de Cristo é completa e
adequada. Contudo é fato que os redimidos
freqüentemente recebem alguma punição de Deus
nesta era. De acordo com 1 Pedro 1:7 e 4:12 e 17, os
crentes podem ser purificados por meio de provas
como que pelo fogo. Por exemplo, 1 Pedro 4:12 diz:
“Amados não estranheis o fogo ardente que surge no
meio de vós, destinado a provar-vos, como se alguma
coisa extraordinária vos estivesse acontecendo”. A
palavra grega traduzida por fogo ardente é pyrosis.
Essa palavra significa queima e representa a queima
de um cadinho para a purificação de ouro e prata (Pv
27:21; Sl 66:10). Pedro considerava a perseguição
sofrida pelos crentes como tal cadinho usado por
Deus para lhes purificar a vida. Essa é a maneira de
Deus lidar com os crentes no juízo de Sua
administração governamental, que começa pela
própria casa (1Pe 4:17-19).
Muitos mestres da Bíblia percebem que é
possível que os redimidos de Deus sofram a punição
de Deus nesta era. Já que os redimidos podem sofrer
a punição de Deus nesta era, por que iríamos achar
que não lhes é possível também sofrer a punição de
Deus na era vindoura? Quem tem base para afirmar
que os crentes não podem sofrer a punição de Deus
na era vindoura? A Bíblia não diz tal coisa. Pelo
contrário, a Bíblia revela que Deus sabe como
executar Sua punição tanto nesta era como na
vindoura. Por exemplo, um pai pode considerar qual
é a melhor maneira de disciplinar o filho: pode fazê-lo
imediatamente ou preferir esperar um pouco. Ele irá
considerar qual é a melhor hora para ministrar
disciplina ao filho. De forma semelhante, Deus sabe
qual é a hora mais adequada para disciplinar os
filhos, e também qual é a melhor maneira.
O Novo Testamento nos mostra que crentes
autênticos, os que foram plenamente redimidos por
Cristo, ainda podem sofrer a disciplina, a punição de
Deus. O fato de Deus poder disciplinar os crentes não
significa que a redenção de Cristo não seja completa
ou adequada. Embora seja completa e adequada,
ainda precisamos tomar Cristo e ser substituídos por
Ele. Ainda precisamos orar e assim ser capazes de
dizer de maneira prática: “Não mais eu, mas Cristo”.
Se não tomarmos Cristo dessa forma, poderemos
tropeçar devido à concupiscência da mão, do pé ou do
olho. Nesse caso, em vez de desfrutar a vida eterna na
era vindoura do reino, sofreremos a punição de Deus.

A MANEIRA DE ENTRAR NO REINO


VINDOURO
Se iremos desfrutar a vida eterna ou sofrer
punição na era vindoura depende de como vivemos
hoje. Precisamos ter uma vida de oração e
continuamente invocar o nome do Senhor,
dizendo-Lhe: “Senhor, não sou mais eu, mas Tu.
Senhor, que em cada item de meu viver seja não mais
eu, mas Tu. Senhor, eu Te tomo como meu substituto.
Substitui-me mediante Tua morte e ressurreição.
Percebo que tive fim na cruz, e também que em Tua
ressurreição Tu vives em mim. Agora posso dizer na
minha experiência que já não sou eu quem vive, mas
Tu, Senhor, vives em mim”.
Se essa for a sua experiência, então você irá
vencer a concupiscência da mão, do pé e do olho.
Você será alguém que toma Cristo como substituto,
desfrutando-O como tudo no viver diário e vivendo-O
de maneira prática. Como resultado, nada o fará
tropeçar, tampouco você fará os outros tropeçarem.
Porque você está cheio e saturado de Cristo, nenhuma
parte de seu ser será capaz de fazê-lo tropeçar. Em
vez de tropeçar, você poderá louvar o Senhor e dizer:
“Aleluia, não mais eu, mas Cristo! Aleluia por Cristo!
Aleluia por Sua morte e ressurreição!”. Esse desfrute
hoje o introduzirá no desfrute da vida eterna na era
vindoura do reino. Isso é entrar no reino vindouro e
ser mantido fora da punição dispensacional de Deus
na era do reino, uma punição que é temporária, por
certo período.
Em 9:49 o Senhor diz: “Porque cada um será
salgado com fogo”. Isso indica que o fogo funcionará
como sal, e seremos salgados com ele. Esse sal mata
os germes da concupiscência que estão em nós.
Embora tenhamos sido salvos e sejamos filhos de
Deus, ainda temos muitos “germes” em nós. Assim
precisamos do “sal” de “fogo” para matar esses
germes e nos purificar. Não é mera punição, mas é
também preservação. Esse sal de fogo nos preservará
de ser corrompidos eternamente.
Se virmos o que está revelado nesses versículos,
iremos orar: “Senhor Jesus, que não seja mais eu,
mas Tu em meu viver diário. Em todas as coisas e em
relação a todas as pessoas, que não seja eu, mas Tu.
Senhor, preciso ser uma pessoa de oração. Pela
oração posso vencer a concupiscência que está em
mim. Senhor, fui crucificado Contigo, e agora Tu
vives em mim”.
Pela cruz tivemos fim, e em ressurreição Cristo
foi introduzido em nós. Agora devemos desfrutá-Lo e
vivê-Lo. Dia a dia devemos levar uma vida em Sua
morte e ressurreição. Então de fato será: “Não mais
eu, mas Cristo”. Com tal vida, não causaremos
tropeço aos outros nem seremos levados a tropeçar
por nenhuma concupiscência interior. Então nesta
era iremos desfrutar Cristo e na era vindoura
entraremos num desfrute mais pleno da vida eterna,
o desfrute do reino vindouro.
ESTUDO-VIDA DE MARCOS
MENSAGEM VINTE E NOVE
O MOVER DO SERVIÇO EVANGÉLICO DO
SALVADOR-SERVO (13)

Leitura Bíblica: Mc 9:38-50


Nesta mensagem daremos uma palavra adicional
sobre 9:38-50. Já ressaltamos que nesse trecho de
Marcos temos o ensinamento do Senhor com respeito
à tolerância com vistas à unidade.

O PERIGO DE CONSIDERAR-NOS
MELHORES DO QUE OS OUTROS
Em 8:27-9:13 temos uma visão de Cristo como
nosso substituto todo-inclusivo por meio de Sua
morte e ressurreição. Por todo o capítulo nove o
Senhor ensinou os discípulos a perceber que
precisavam ter fim e não ser nada. Contudo em
9:33-37 vemos que eles discutiam entre si sobre quem
era o maior. O Senhor ensinava os discípulos e
tentava ajudá-los a perceber que não deveriam ser
nada, mas eles discutiam em seu esforço para ser
alguém, até mesmo alguém maior que os outros. Por
isso em 9:33-37 temos o ensinamento do Senhor a
respeito da humildade.
Em 9:38 João disse ao Senhor Jesus: “Mestre,
vimos alguém que em Teu nome expulsava demônios,
e nós lho proibimos, porque não nos seguia”. O
restante desse capítulo é a respeito do ensinamento
do Senhor sobre a tolerância com vistas à unidade,
um ensinamento dado em resposta à afirmação de
João no versículo 38.
Precisamos ver que, se proibimos os outros como
João fez no versículo 38, isso indica que nos
consideramos maiores do que eles. Além disso,
quando proibimos os outros, achando que somos
maiores, também os fazemos tropeçar. Enquanto os
fazemos tropeçar, também fazemos a nós mesmos
tropeçar. O maligno pode usar os membros do nosso
corpo (mão, pé ou olho) para expressar
concupiscência e fazer-nos tropeçar. Precisamos ser
muito cuidadosos a esse respeito.
Não devemos considerar-nos grandes, mas
precisamos perceber que não somos ninguém e não
somos nada. Se tivermos essa percepção, então
iremos orar e esse fato mostra que percebemos que
não somos nada e nada podemos fazer. Precisamos de
outro (o próprio Cristo) para nos substituir.
Se não nos considerarmos grandes, maiores do
que os outros, não faremos ninguém tropeçar. Mas se
pensarmos que somos grandes, faremos os outros
tropeçar. Ao mesmo tempo, abriremos as portas para
o inimigo usar a concupiscência em nossos membros
para nos fazer tropeçar.
Os membros do corpo, especialmente os olhos,
são cheios de concupiscência. Se fizermos os outros
tropeçar considerando-nos maiores do que eles,
talvez tenhamos um olho maligno (ou sejamos
invejosos). Então abrir-se-á caminho para o inimigo
utilizar a concupiscência em nossos membros e nos
fazer tropeçar.
Todos precisamos aprender a tomar e carregar a
cruz, e a aplicar a morte “terminadora” do Senhor à
nossa situação. Se levarmos a nós mesmos à morte
dessa forma, não nos consideraremos grandes, e sim
nos consideraremos nada. Assim não haverá base
para o inimigo entrar e utilizar os membros de nosso
corpo para nos fazer tropeçar.
Se não tomarmos a cruz e não a aplicarmos a nós,
não apenas faremos os outros tropeçar, como
também faremos com que nós mesmos tropecemos
continuamente. A concupiscência na mão, pé e olho
nos fará tropeçar. Se nossa situação for essa, então,
no final, quando vier a era do reino, necessitaremos
ser salgados porque ainda estaremos cheios de
“germes”.

PURIFICADOS E PRESERVADOS POR FOGO


O salgar do qual falo é o salgar com fogo. A esse
respeito o Senhor disse: “Porque cada um será
salgado com fogo” (v. 49). Aqui temos o “sal de fogo”,
ou fogo como sal. Na era vindoura, alguns podem ser
colocados no fogo a fim de ser salgados. Esse salgar
pelo fogo os purificará. Em certo sentido, esse
purificar é uma disciplina, um castigo, uma punição.
Mas em outro sentido essa purificação faz com que os
crentes sejam preservados. Portanto essa purificação
não é mera punição, mas também preservação que
guarda o que foi purificado de perecer, de estar
eternamente perdido.
Como já enfatizamos, o fogo em 9:49 é um fogo
refinador (MI3:2), que purifica e purga. Como em 1
Coríntios 3:13 e 15, esse fogo, como punição
dispensacional na era do reino, purgará os crentes
que cometem pecado e não se arrependem nesta era.
Mesmo nesta era, Deus purga os crentes por meio das
provações, como que pelo fogo (1Pe 1:7; 4:12, 17). A
punição dispensacional por meio do fogo na era
vindoura segue o mesmo princípio do castigo de Deus
nesta era por meio dos sofrimentos, como que pelo
fogo.

EM PAZ UNS COM OS OUTROS


Em 9:50, que é a conclusão do Senhor nesse
trecho, vemos o verdadeiro significado dessa seção de
Marcos. Nesse versículo o Senhor diz: “Bom é o sal;
mas se o sal se tornar insulso, com que o
temperareis? Tende sal em vós mesmos, e vivei em
paz uns com os outros”. Aqui vemos que o significado
implícito desse trecho é que devemos viver em paz
uns com os outros.
Enfatizamos que 9:38-40 se inicia com a palavra
de João a respeito de proibir alguém de expulsar
demônios em nome do Senhor, porque essa pessoa
não seguia os discípulos. Como resposta à palavra de
João, o Senhor parecia dizer nesses versículos: “Esse
que expulsou demônios em Meu nome não seguiu
vocês, contudo, apesar disso é um dos Meus crentes, e
vocês precisam estar em paz com ele. Contudo vocês
não estavam em paz com ele porque se consideraram
maiores do que ele. Vocês também se consideraram
mais próximos de Mim do que ele. Vocês acham que
são melhores do que ele. Esse pensamento o faz
tropeçar e também abre as portas para o inimigo
entrar e fazer com que vocês tropecem, usando seus
membros concupiscentes”.
Na verdade, esse trecho de Marcos é profundo.
Aqui vemos a verdadeira causa das divisões entre os
cristãos de hoje. Eles certamente não estão em paz
uns com os outros. Em 9:50 o Senhor diz: “Tende sal
em vós mesmos, e vivei em paz uns com os outros”.
Mas a situação toda entre os crentes hoje é o oposto.
Não podemos dizer que estão em paz uns com os
outros.
A razão pela qual os crentes não estão em paz uns
com os outros é que muitos se consideram
importantes e pensam que são maiores do que os
outros. O resultado é que isso faz com que os outros
tropecem e a porta está aberta para o inimigo utilizar
os membros concupiscentes do corpo dos crentes a
fim de fazê-los tropeçar. Assim a imensa maioria dos
crentes, por fim, tem sido levada a tropeçar.
Onde estão os cristãos que não foram levados a
tropeçar, quer por outros quer por si próprios? A
situação é que fazem os outros tropeçar e então
Satanás entra para usar as mãos, pés e olhos deles
para fazer com que eles mesmos também tropecem.
Assim, os crentes levam uns aos outros a tropeçar e
cada um faz a si mesmo tropeçar também.

SAL E GRAÇA
Devido à situação existente entre os crentes,
cheia de tropeços, necessitamos urgentemente da
visão de Cristo que os discípulos receberam no monte
da transfiguração. Marcos 9:7 diz: “E veio uma
nuvem que os cobriu; e da nuvem saiu uma voz: Este
é o Meu Filho amado; a Ele ouvi”. Nós também
precisamos ouvir a Cristo, o amado de Deus. Não
devemos ouvir a nós mesmos nem nenhuma outra
pessoa.
Necessitamos de visão, não apenas de Cristo,
mas também de Sua morte todo-inclusiva e
ressurreição. Precisamos ser substituídos por Cristo
por meio de Sua morte e ressurreição. Isso significa
que precisamos aplicar Sua morte a nós e então
receber o rico suprimento em Sua maravilhosa
ressurreição. Se formos substituídos por Cristo dessa
forma, seremos curados dos “germes” em nosso
interior. Seremos salgados agora mesmo, nesta era:
não haverá necessidade de esperar pela era vindoura.
Ser salgado nesta era é ser salgado pela graça por
meio da morte e ressurreição de Cristo. Mas se
formos esperar para ser salgados na era vindoura,
seremos salgados pelo fogo. Se nos salgarmos hoje
por meio da morte e ressurreição de Cristo,
ganharemos graça.
Em Colossenses 4:6 (IBB) Paulo coloca junto
graça e sal: “A vossa palavra seja sempre com graça,
temperada com sal, para saberdes como deveis
responder a cada um”. Em Efésios 4:29 Paulo se
refere às palavras que transmitem graça aos que
ouvem: “Não saia da vossa boca nenhuma palavra
torpe, e sim unicamente a que for boa para edificação,
conforme a necessidade, e, assim, transmita graça aos
que ouvem”. Graça é Cristo como nosso desfrute e
suprimento. Nosso falar deve transmitir essa graça
aos outros. A palavra que edifica sempre ministra tal
graça aos ouvintes. Dizer que nosso falar é com graça
é dizer que Cristo é expresso por meio de nossas
palavras. Isso quer dizer que elas devem ser a
expressão e elocução de Cristo. Cada palavra deve ser
a expressão de Cristo como graça.
De acordo com Colossenses 4:6, nosso falar
também deve ser temperado com sal. O sal torna as
coisas agradáveis ao paladar. A palavra temperada
com sal nos manterá em paz uns com os outros. É por
isso que o Senhor em Marcos 9:50 nos diz que
tenhamos sal em nós mesmos e então paz uns com os
outros. Se nossas palavras forem com graça e sal,
farão com que todas as coisas sejam agradáveis.
Quando nos salgamos com a morte e
ressurreição de Cristo, recebemos graça. Caso
contrário, perdemos a oportunidade de receber graça
e, como conseqüência, seremos salgados com fogo
como punição na era vindoura.
Encorajo você a ler-orar 9:38-50. Lendo-orando
esses versículos você será iluminado e perceberá que
nunca deve ser faccioso, não deve proibir os outros e
nunca deve força-los a segui-lo.

DUAS MÁXIMAS7

Com respeito à Conformidade Exterior na


Prática
Nesta mensagem eu também gostaria de
impressioná-lo com duas máximas expressadas pelo
Senhor Jesus, a primeira em Mateus 12:30 e a
segunda em Marcos 9:40. Em 9:40 o Senhor diz:
“Pois quem não é contra nós é por nós”. A máxima
aqui fala da conformidade exterior na prática e diz
respeito às pessoas que não são contra o Senhor (v.
39). Segundo o versículo 38, alguém expulsava
demônios em nome do Senhor, embora não seguisse
os discípulos que estavam próximos a Ele. Aqui temos
a conformidade exterior. Tanto essa pessoa como os
discípulos do Senhor expulsavam demônios. Contudo
a pessoa não seguia o Senhor da mesma maneira que
os discípulos. Aqui vemos uma diferença de prática
exterior. A maneira dos discípulos era seguir o
Senhor Jesus, mas a maneira da outra pessoa, não. Os
discípulos expulsavam demônios seguindo o Senhor;
a outra pessoa expulsava demônios não seguindo o
Senhor, mas em nome do Senhor. O que temos aqui é
uma diferença na forma exterior.
7
Máxima, princípio básico e indiscutível (Dicionário Aurélio). (N. do T.)
Quanto a diferenças na forma exterior
precisamos ser muito abertos. A pessoa mencionada
no versículo 38 expulsava demônios em nome do
Senhor Jesus. Estava correto fazer isso, pois fazia a
mesma coisa que os discípulos. Da mesma forma,
pode haver crentes hoje que preguem o evangelho de
modo diferente de nós, mas tanto eles como nós
ainda pregamos o evangelho. Isso é conformidade
exterior na prática, e precisamos ser gerais em nossa
atitude a esse respeito.

Com respeito à Unidade Interior


A segunda máxima está em Mateus 12:30:
“Quem não é Comigo, é contra Mim; e quem Comigo
não ajunta, espalha”. Essa palavra fala da unidade
interior no propósito e diz respeito aos que eram
contra o Senhor. Ela foi falada especificamente a
respeito dos fariseus, que haviam dito: “Este não
expulsa os demônios senão por Belzebu, príncipe dos
demônios” (Mt 12:24). Os fariseus não eram um com
o Senhor Jesus, pelo contrário, eram contra Ele. Em
vez de ajuntar com Ele, eles espalhavam para longe
Dele. Portanto, estavam absolutamente separados
Dele e se uniram ao Seu inimigo, Satanás.
Precisamos ver que a máxima em Mateus 12:30
relaciona-se à unidade interior no propósito. Essa
máxima certamente se aplica a nós hoje na
restauração do Senhor. Como estamos aqui por causa
da restauração, temos de ser um uns com os outros.
Não é possível alguém entre nós dizer: “Embora não
sejamos um com vocês, ainda somos pela restauração
do Senhor”. Não cremos que alguém possa ser pela
restauração e ainda assim não ser um com os que
estão na restauração. Deve haver unidade interior no
propósito.
Com respeito a essas duas máximas, precisamos
ver a diferença entre prática e propósito. Quanto à
prática, precisamos ser gerais. Mas, quanto ao
propósito, precisamos ser específicos. Com respeito à
prática exterior o Senhor diz: “Pois quem não é contra
nós é por nós”. Mas, quanto à unidade interior no
propósito, Ele diz: “Quem não é Comigo, é contra
Mim”.
ESTUDO-VIDA DE MARCOS
MENSAGEM TRINTA
O MOVER DO SERVIÇO EVANGÉLICO DO SALV
ADOR-SERVO(14)

Leitura Bíblica: Mc 10:1-31


Nesta mensagem chegamos ao capítulo dez de
Marcos. No versículo 1 temos uma palavra a respeito
da vinda do Senhor para a Judéia.
E então, em 10:2-31 temos Seu ensinamento a
respeito do divórcio (vs. 2-12), Sua bênção para as
crianças (vs. 13-16) e Seu ensinamento a respeito dos
ricos e o reino de Deus (vs. 17-31).

UM CAPÍTULO PARA OS QUE ESTÃO NO


PONTO ALTO DA REVELAÇÃO DIVINA
Muitos leitores do Novo Testamento não
consideram Marcos tão profundo quanto Mateus,
João, ou mesmo Lucas. Alguns talvez até o
enxerguem como um livro de histórias infantis.
Agradecemos ao Senhor por nos iluminar a respeito
das várias seções desse Evangelho. Como
ressaltamos, em 8:27-9:13 somos introduzidos no
clímax, na visão principal a respeito de questões na
esfera das coisas divinas e misteriosas. Essa visão se
refere a Cristo com Sua morte todo-inclusiva e
ressurreição maravilhosa para ser nosso substituto
completo e universal.
Em 9:14-50 temos o treinamento dos discípulos à
luz do que fora revelado nos capítulos anteriores. Em
especial, eles foram treinados a viver em paz uns com
os outros, a fim de manter a unidade. Essa paz e
unidade entre os crentes visam à vida do Corpo.
Depois desse treinamento, o Senhor prossegue no
capítulo dez, dando-nos um treinamento adicional.
O capítulo dez de Marcos não visa ao estudo
teológico. É um capítulo de ensinamento para os que
estão no clímax da revelação divina nesse Evangelho.
É para os que viram a Pessoa viva de Cristo com Sua
morte e ressurreição para ser seu substituto. Se
tivermos essa visão, estaremos na posição e esfera
adequada para receber o que é revelado nesse
capítulo.
Não devemos isolar nenhuma parte do capítulo
dez da visão a respeito de Cristo, com Sua morte e
ressurreição, para ser nosso substituto. Por exemplo,
em 10:14 o Senhor Jesus diz: “Deixai vir a Mim as
crianças, não as impeçais, porque das tais é o reino de
Deus”. Não devemos considerar isso apenas como
uma palavra para ser lida para as criancinhas na hora
de dormir. Mas devemos ver isso em relação à visão
celestial a respeito de Cristo, com Sua morte e
ressurreição.

TOMAR CRISTO COMO NOSSO SUBSTITUTO


A FIM DE ENTRAR NO REINO VINDOURO
Em 10:2-31 são abordados três assuntos:
casamento, crianças e riquezas. Todas essas questões
estão relacionadas com o reino de Deus, mais
especificamente com nossa entrada no reino.
Se quisermos entrar no reino de Deus,
precisamos de Cristo como nosso substituto, da
aplicação de Sua morte e do desfrute de Sua
ressurreição. Segundo o que foi revelado com respeito
ao coração humano no capítulo sete, somos
interiormente impuros, impuros no coração. O
coração é uma composição de coisas impuras. Como o
coração está em tal condição, precisamos ser
substituídos por Cristo. Precisamos ter fim por meio
de Sua morte e necessitamos de Sua ressurreição para
introduzir o próprio Senhor como nosso suprimento
de vida, como nosso verdadeiro pão da vida.
Se tivermos Cristo como nosso substituto e
experimentarmos Sua morte que põe fim a nós e Sua
ressurreição que nos supre, seremos capazes de lidar
com as questões de casamento, idade ou velhice, e
riquezas. Então estaremos qualificados para entrar
no reino. Caso contrário, não estaremos adequados
para o reino; não entraremos no reino. Sem Cristo
como nosso substituto, sem Sua morte para pôr fim a
nós e sem Sua ressurreição para nos suprir Dele
mesmo como pão que dá vida, não teremos como
entrar no reino.
Estudar a Bíblia não é usar a mente natural para
meramente ler as letras pretas no papel branco. Se
queremos ganhar a visão revelada na Bíblia e por ela
transmitida, necessitamos de luz divina, bem como
alguma experiência no Senhor. Se nos faltar luz
divina e se tivermos pouca experiência, não seremos
capazes de ver muita coisa na palavra, se é que vamos
chegar a ver alguma coisa. Agradecemos ao Senhor
por nos mostrar algo maravilhoso a respeito de
Cristo, com Sua morte e ressurreição, a fim de ser
nosso substituto. Isso é algo que a mente natural não
consegue compreender. Para ver isso necessitamos de
luz celestial e experiência espiritual.
Gostaria de enfatizar que precisamos ler o
capítulo dez de Marcos à luz do que está revelado nos
capítulos sete, oito e nove. Em especial, precisamos
ler o capítulo dez de acordo com a visão de Cristo com
Sua morte e ressurreição, sendo nosso substituto
todo-inclusivo. Em 8:27-9:13 temos o clímax e o
capítulo dez é apresentado segundo esse clímax. Sem
8:27-9:13, não poderíamos ter o clímax. Agora, ao
considerar o capítulo dez, não devemos pensar que
são meras histórias infantis. Pelo contrário, tudo
nesse capítulo está relacionado com a visão de Cristo
e Sua morte e ressurreição.

A VINDA PARA OS CONFINS DA JUDÉIA


Marcos 10:1 diz: “Levantando-se Jesus dali, veio
para os confins da Judéia e além do Jordão. E outra
vez as multidões se reuniram a Ele, e, como de
costume, de novo Ele as ensinava”. Nesse versículo,
dali se refere a Cafarnaum, que está na Galiléia. Até
esse momento o ministério do Salvador-Servo havia
sido na Galiléia. Mas agora, de acordo com esse
versículo, Ele se levanta da cidade de Cafarnaum na
Galiléia e entra nos confins da Judéia, a região ao
redor de Jerusalém. Esse versículo também fala do
Jordão, lugar onde o Salvador-Servo teve Sua
iniciação. Assim o Jordão nos lembra do início do
evangelho e da iniciação do Salvador-Servo. Em
nosso estudo de Marcos, precisamos descobrir
porque o escritor menciona a Judéia e o Jordão.
O Salvador-Servo ministrou em Seu serviço
evangélico por mais de três anos na região
desprezada da Galiléia, distante do templo santo e da
cidade santa onde haveria de morrer para cumprir o
plano eterno de Deus. Como Cordeiro de Deus (Jo
1:29), Ele tinha de ser oferecido a Deus no monte
Moriá, onde Abraão oferecera Isaque e desfrutara a
provisão divina de um carneiro como substituto para
seu filho (Gn 22:2, 9-14), e onde o templo foi
edificado em Jerusalém (2Cr 3:1). Tinha de ser ali que
Ele iria ser entregue, segundo o desígnio determinado
pela Trindade da Deidade (At 2:23), aos líderes
judeus (9:31; 10:33) e ser rejeitado por eles, os
construtores do edifício de Deus (8:31; At 4:11).
Também tinha de ser ali que Ele iria ser crucificado
segundo a forma romana de pena capital (10
18:31-32; 19:6, 14-15) para cumprir a prefiguração
com respeito ao tipo de morte que deveria sofrer (Nm
21:8-9; Jo 3:14). Ademais, segundo a profecia de
Daniel 9:24-26, aquele seria o exato ano em que o
Messias (Cristo) seria cortado (morto). Também,
como cordeiro pascal (1Co 5:7), Ele tinha de ser
morto no mês da Páscoa (Êx 12:1-11). Assim, o Senhor
tinha de ir para Jerusalém (v. 33; 11:1, 11, 15, 27; Jo
12:12) antes da Páscoa (1012:1; Mc 14:1) para ali
morrer no dia da Páscoa (14:12-17; Jo 18:28), no
lugar e hora ordenados de antemão por Deus.
O serviço evangélico fora iniciado pelo ministério
de João Batista, o precursor do Salvador-Servo, na
Judéia (1:1-11), a região de honra. Mas continuou com
o ministério do Salvador-Servo na Galiléia, região
desprezada, por aproximadamente três anos
(1:14-9:50). Ao contrário de João, Marcos em seu
Evangelho não narra nada do ministério do
Salvador-Servo em Jerusalém e na Judéia nesse
tempo, até que Ele deixou a Galiléia indo para
Jerusalém pela última vez, a fim de cumprir Sua obra
de redenção. Daí o serviço evangélico continuou por
meio do Seu ministério no caminho para Jerusalém,
em Jerusalém e em seus arredores (10:1-14:42). Ele
foi concluído por Sua morte redentora, Sua
ressurreição que infunde vida, Sua ascensão de
exaltação e pela continuação do Seu serviço
evangélico mediante a pregação de Seus discípulos
para toda a criação (14:43-16:20).

O LUGAR E O TEMPO ORDENADOS POR


DEUS
Como cristãos, sabemos que era necessário que o
Senhor Jesus morresse por nós. Em nossa leitura da
Bíblia, precisamos perguntar-nos onde e quando Ele
morreria. Segundo o Antigo Testamento, tanto o
lugar como a hora foram ordenados por Deus. O
Salvador-Servo era servo de Deus e assim não tinha
escolha quanto ao lugar e hora da morte. Tanto o
lugar como a hora foram determinados por Seu
Senhor. Ademais, já havia sido determinado por um
conselho da Trindade da Deidade que o
Salvador-Servo seria entregue aos líderes judeus e
rejeitado por eles (At 2:23).
Precisamos perguntar-nos por que, depois de ter
ministrado na Galiléia por cerca de três anos, o
Salvador-Servo de repente se levantou e foi para o sul,
para os confins da Judéia e além do Jordão. Ele fez
isso porque o tempo da Sua morte se aproximava; Ele
tinha de morrer no ano profetizado por Daniel. Além
disso, de acordo com a prefiguração do Cordeiro
Pascal, tinha de morrer na Páscoa, isto é, no décimo
quarto dia do primeiro mês do calendário judaico.
Portanto, é bastante significativo que, segundo 10:1, o
Senhor deixou a Galiléia e foi para a Judéia.

DEIXAR DE LADO OS ENSINAMENTOS


TRADICIONAIS E VOLTAR À PURA
PALAVRA DE DEUS
Embora os escribas se dedicassem ao estudo das
Escrituras, eles não viram, no capítulo nove de
Daniel, o ano em que o Messias seria cortado, isto é,
morto. Daniel 9 nos diz que desde o decreto da
edificação de Jerusalém “até ao Ungido, ao Príncipe,
sete semanas e sessenta e duas semanas [...] Depois
das sessenta e duas semanas, será morto o Ungido e
já não estará” (vs. 25-26). As semanas aqui se
referem a anos: cada semana equivale a sete anos.
Portanto o tempo desde “a saída da ordem para
restaurar e para edificar Jerusalém” até a morte do
Messias são quatrocentos e oitenta e três anos. Teria
sido bem fácil para os escribas calcular o ano no qual
o Messias seria morto. Contudo, como estavam
preocupados com a tradição e ocupados com ela, em
vez de cuidar da Palavra pura, eles não viram essa
questão.
Assim como os escribas estavam ocupados com a
tradição e não com a Palavra pura, assim hoje a
maioria dos cristãos se ocupa com ensinamentos
tradicionais em vez de se ocupar com a Palavra pura
de Deus. Muitos não querem voltar-se à Palavra e
estudá-la diretamente de modo puro. Se os antigos
escribas tivessem esquecido os ensinamentos
tradicionais e estudado as Escrituras de maneira
pura, teriam sabido o ano exato no qual o Messias
seria morto. Além disso, teriam percebido que, nesse
mesmo ano, estavam tentando prender o Senhor
Jesus.
Embora os escribas não soubessem quando o
Messias seria morto, o Senhor Jesus sabia quando Ele
seria morto. Sabia o ano, o mês e o dia. Sabia que
seria morto na Páscoa, isto é, no décimo quarto dia do
primeiro mês do calendário judaico. Sabendo disso,
Ele foi ousadamente para a Judéia, não querendo
atrasar-se. Ele sabia que teria de estar em Jerusalém
quatro dias antes da Páscoa. Esse era o período no
qual o cordeiro pascal era examinado.
O Senhor Jesus certamente conhecia todas as
profecias e prefigurações a respeito de Sua morte. Em
especial, sabia que seria crucificado no monte Moriá,
outro nome do monte Sião. Sabia que não deveria ser
crucificado na Galiléia. Era necessário que fosse
crucificado no monte Moriá, no mesmo lugar onde
Abraão ofereceu Isaque e recebeu a provisão de Deus.
Também sabia que seria morto pela crucificação,
sendo levantado no madeiro, como foi prefigurado
pela serpente de bronze em Números 21:8-9.
Embora as questões relativas à morte de Cristo
estivessem claramente profetizadas e prefiguradas no
Antigo Testamento, mesmo assim, os escribas, os que
se intitulavam “doutores” da lei, não as conheciam.
Isso deve servir de advertência para nós. Se cairmos
sob a influência dos ensinamentos tradicionais,
nossos olhos também ficarão vendados, de modo que
não poderemos ver a revelação na Palavra pura. Por
isso, precisamos colocar de lado os ensinamentos
tradicionais e voltar à pura palavra de Deus. Se o
fizermos, receberemos muita luz do Senhor.
Marcos 10:1 diz que quando o Senhor veio para
os confins da Judéia, ensinou as pessoas, como
costumava fazer. Em 10:15 vemos que Ele ensinou
acerca do reino de Deus: “Em verdade vos digo:
Quem não receber o reino de Deus como uma criança,
de modo algum entrará nele”. Esse versículo é forte
indicativo de que Seu ensinamento em 10:13-16 a
respeito das crianças está diretamente relacionado
com o reino de Deus.
RECEBER O REINO E ENTRAR NELE
No versículo 15 vemos dois aspectos a respeito do
reino: recebê-lo e entrar nele. Você recebeu o reino de
Deus? A essa pergunta, todos podemos responder:
“Amém! Certamente recebi o reino de Deus”. Você
também tem certeza de que entrará nele? Talvez
hesitemos ao responder a essa pergunta, pois,
embora nos esforcemos para isso, não temos a plena
segurança de que o alcançaremos.

RIQUEZAS E O REINO VINDOURO


O ensinamento a respeito das riquezas em
10:17-31 também está relacionado com o reino de
Deus. Por exemplo, no versículo 24 o Senhor diz:
“Filhos, quão difícil é para os que confiam nas
riquezas entrar no reino de Deus!”. Então, no
versículo 25 o Senhor prossegue: “É mais fácil passar
um camelo pelo fundo de uma agulha, do que entrar
um rico no reino de Deus”. Esses versículos nos
mostram que o que temos em 10:17-31 não é mera
história para crianças, e sim uma palavra solene a
respeito do reino de Deus.
No versículo 26 vemos a resposta dos discípulos
à palavra do Senhor sobre entrar no reino de Deus:
“Eles ficaram sobremodo atônitos, dizendo entre si:
Então quem pode ser salvo?”. Aqui vemos que,
embora o Senhor ensinasse a respeito de entrar no
reino de Deus, a mente dos discípulos estava ocupada
com a questão de ser salvo. No versículo 27 o Senhor
continuou: “Para os homens é impossível, mas não
para Deus, porque para Deus tudo é possível”.
No versículo 28 Pedro, falando francamente,
começou a dizer ao Senhor: “Eis que nós tudo
deixamos e Te seguimos”. Aprecio a franqueza de
Pedro. Ele parecia dizer: “Senhor, nós deixamos todas
as coisas para Te seguir. Deixamos a família, os
barcos de pesca e até mesmo o mar da Galiléia. Será
que isso não vale nada?”.
Nos versículos 29 e 30 temos a resposta do
Senhor: “Em verdade vos digo: Ninguém há que
tenha deixado casa, ou irmãos, ou irmãs, ou mãe, ou
pai, ou filhos, ou campos, por causa de Mim e por
causa do evangelho, que não receba cem vezes mais
agora, neste tempo, casas, irmãos, irmãs, mães, filhos
e campos, com perseguições; e no século vindouro a
vida eterna”. Aqui a vida eterna não é mencionada em
relação à nossa salvação. Nesse versículo a vida
eterna é um galardão, como desfrute na era vindoura.
No reino vindouro os crentes vencedores desfrutarão
a vida eterna. Entrar nesse desfrute na era vindoura é
entrar no reino vindouro e participar do seu desfrute
da vida eterna.
Agora podemos ver que o que está contido no
capítulo dez relaciona-se com o reino. A palavra do
Senhor aqui se relaciona com receber o reino de Deus
e, em especial, a entrar nele na era vindoura.

TRÊS ITENS QUE NOS PODEM IMPEDIR DE


ENTRAR NO REINO DE DEUS
Em 10:2-31 vemos três questões que nos podem
impedir de entrar no reino vindouro: casamento,
velhice e riquezas. Os discípulos haviam sido trazidos
para o caminho que leva ao reino. Agora, no capítulo
dez, era-lhes necessário ser ensinados a respeito de
três coisas que podem estorvá-los de entrar no reino
de Deus.
Se quisermos entrar no reino de Deus,
precisamos aprender a lidar corretamente com essas
três questões: casamento, idade ou velhice, e
dinheiro. Precisamos cuidar do casamento de acordo
com a ordenação de Deus, precisamos ser guardados
de ficar velhos espiritualmente e precisamos lidar
adequadamente com o dinheiro. Que sejamos
impressionados com o fato de que o ensinamento do
Senhor com respeito a essas questões, no capítulo
dez, está relacionado com entrar no reino de Deus.
ESTUDO-VIDA DE MARCOS
MENSAGEM TRINTA E UM
O MOVER DO SERVIÇO EVANGÉLICO DO
SALVADOR-SERVO(15)

Leitura Bíblica: Mc 10:1-31


Nesta mensagem continuaremos a considerar
Marcos 10:1-31. Nesse trecho temos quatro questões:
a vinda do Senhor para a Judéia (v. 1), o ensinamento
a respeito do divórcio (vs. 2-12), a bênção para as
crianças (vs. 13-16), e o ensinamento a respeito dos
ricos e o reino de Deus (vs. 17-31). Na mensagem
anterior mostramos que três coisas podem estorvar
nossa entrada no reino de Deus: casamento, velhice e
riquezas. Vimos que, se formos substituídos por
Cristo, por certo teremos a maneira de lidar
adequadamente com essas questões. Vamos agora
olhar com mais detalhes o que o Senhor diz em
10:2-31 a respeito delas.

O ENSINAMENTO CONTRA O DIVÓRCIO


Quando Deus criou o homem, Ele não criou ao
mesmo tempo todas as pessoas de que precisava para
o Seu propósito. Se quisesse criar um grande número
de pessoas ao mesmo tempo, Ele certamente poderia
tê-lo feito. Poderia ter criado bilhões de pessoas.
Contudo, essa não foi a maneira de Deus. Antes, Ele
criou um casal e lhes encarregou de se multiplicar e
encher a terra. Segundo a ordenação de Deus, a
propagação da humanidade se dá pelo casamento. O
casamento, portanto, só fica atrás da criação de Deus.
Nunca devemos desprezar o casamento. Hebreus
13:4 diz: “Digno de honra entre todos seja o
matrimônio”. O matrimônio é santo e temos de
honrá-lo.
A humanidade veio a existir por meio da criação
de Deus, e Deus ordenou que a humanidade se
propagasse mediante o casamento.
Precisamos ver que o casamento é honrado e
santo, pois foi ordenado para a propagação da
humanidade com vistas ao cumprimento do
propósito de Deus. Sem a criação do homem e sua
propagação mediante o casamento, não pode ocorrer
o cumprimento do propósito de Deus. Precisamos
olhar para o casamento a partir desse ponto de vista.
Se o considerarmos dessa maneira, nós o
honraremos. Perceberemos que ele visa a propagação
da humanidade para o cumprimento do propósito
eterno de Deus.
Na vida conjugal precisamos ser honestos, fiéis e
puros. Se não, ofenderemos a Deus de forma muito
séria. De acordo com a Bíblia, Deus condena a
fornicação e o adultério. Hebreus 13:4b (VRC) diz:
“Aos que se dão à prostituição e aos adúlteros Deus os
julgará”. Fornicação (ou prostituição) e adultério só
perdem para a idolatria, entre os pecados mais
ofensivos a Deus. Por isso precisamos cuidar do
casamento de forma adequada diante de Deus.
Precisamos ver que fornicação e adultério prejudicam
a propagação adequada do homem. É por isso que
Deus não permite o divórcio.
Como o casamento é algo tão sério, recomendo
aos jovens que não entrem nele às pressas. Jovens,
antes de se casar, orem e considerem muito. Não
considerem o casamento apenas de seu ponto de
vista, mas principalmente do ponto de vista de Deus.
Não se casem apressadamente, pois, uma vez
casados, vocês não terão mais alternativas. Divórcio é
altamente ofensivo a Deus.
Como estamos no caminho para entrar no reino
de Deus, precisamos especialmente ser firmes com
respeito ao casamento. Precisamos perceber que,
uma vez casados, não deve haver divórcio.
Todos os casados devem ser “cegos” para os
defeitos do cônjuge. Não devem tentar descobrir as
falhas dele. Toda investigação com respeito à outra
parte deve ser feita antes do noivado. Depois de noivo
e especialmente depois de casado, deve-se fechar os
olhos para os defeitos do outro e ser cego. Se você não
estiver disposto a ser cego dessa forma, não terá vida
conjugal adequada.
De acordo com 10:2 os fariseus perguntaram ao
Senhor se era “lícito ao homem repudiar sua mulher”.
Quando Ele perguntou o que Moisés havia ordenado,
eles responderam: “Moisés permitiu escrever carta de
divórcio e repudiar” (v. 4). Esse mandamento não era
parte da lei básica, mas um suplemento dado por
Moisés, e não era de acordo com a ordenação inicial
de Deus, mas algo temporário, devido à dureza do
coração do homem.
Em 10:5-8 o Senhor continua dizendo: “Por
causa da dureza do vosso coração é que Ele vos
escreveu esse mandamento; mas, desde o princípio
da criação, Deus os fez homem e mulher. Por esta
causa deixará o homem a seu pai e mãe, e se unirá à
sua mulher, e serão os dois uma só carne. De modo
que já não são dois, mas uma só carne”. Aqui a
palavra do Senhor não apenas reconhece a criação do
homem por parte de Deus, como também confirma a
ordenação quanto ao casamento, isto é, um só
homem e uma só mulher são unidos e jungidos como
uma só carne e não devem ser separados por homem
algum. O mandamento dado por Moisés com relação
ao divórcio é um desvio da ordenação divina original
sobre o matrimônio, mas Cristo o restaurou de volta à
ordenação de Deus no princípio.
Em 10:9 o Senhor diz: “Portanto, o que Deus
ajuntou não o separe o homem”. Aqui vemos que o
divórcio não é apenas contra a lei de Deus, mas é
contra o próprio Deus. O que Deus ajuntou o homem
não deve separar.
Por um lado casamento é uma necessidade. Por
outro, a vida conjugal é difícil. Contudo precisamos
aprender a amar essa dificuldade e até mesmo cuidar
dela com afeição. Isso quer dizer que devemos amar o
casamento e cuidar bem dele. De outra forma,
seremos impedidos de entrar no reino de Deus.
Cremos que Deus é verdadeiro, e também que
Sua palavra, a Bíblia, é verdadeira. Assim precisamos
honrar o que Deus diz na Palavra a respeito do
casamento. É sério não lidar adequadamente com a
vida conjugal. Falhar nisso, de acordo com Deus, fará
com que não entremos no reino. Sim, agora estamos a
caminho do reino, mas ainda não é certo que
efetivamente entraremos nele na era vindoura. De
acordo com o capítulo dez de Marcos, entrar no reino
na era vindoura depende primeiro de como cuidamos
da vida conjugal.

ABENÇOAR AS CRIANÇAS
Considerei muito por que está inserido no
capítulo dez o relato a respeito da bênção do
Salvador-Servo para as crianças (vs. 13-16). Como
resultado de minhas considerações, o Senhor me
iluminou para ver que isso indica que os que estão a
caminho para entrar no reino de Deus não devem
envelhecer. Antes, devem permanecer jovens, até
mesmo como crianças.
Talvez a velhice seja o item mais difícil para os
cristãos no que diz respeito a entrar no reino de Deus.
Grande parte dos ensinamentos, doutrinas e teologia
existentes entre os cristãos hoje é velha. Se queremos
entrar no reino de Deus, precisamos estar jovens e
cheios de frescor.
Eu me preocupo muito sempre que vejo os santos
na restauração do Senhor a envelhecer na vida
espiritual. Trinta anos atrás você era jovem e cheios
de frescor, mas agora talvez esteja velho. Hoje os
cristãos são barrados de prosseguir com o Senhor
pela velhice e também pelos ensinamentos velhos.
Talvez esses ensinamentos sejam fundamentais e até
mesmo bíblicos e corretos, mas são velhos.
Em 10:14-15 o Senhor Jesus diz: “Deixai vir a
Mim as crianças, não as impeçais, porque das tais é o
reino de Deus. Em verdade vos digo: Quem não
receber o reino de Deus como uma criança, de modo
algum entrará nele”. Tendo dito isso, o Senhor tomou
as crianças nos braços e as abençoou (v. 16). Daí
vemos que o Senhor Jesus as apreciava e as abraçou.
Ao tomá-las nos braços e abençoá-las, o Senhor
demonstrava a Seus seguidores que eles não deviam
envelhecer; antes, que todos fossem como crianças a
fim de entrar no reino.
Em 9:38, João, um dos filhos do trovão, disse ao
Senhor: “Mestre, vimos alguém que em Teu nome
expulsava demônios, e nós lho proibimos, porque não
nos seguia”. O fato de João ter proibido alguém de
expulsar demônios em nome do Senhor era um
indicativo de que João tinha envelhecido,
espiritualmente falando.
Os discípulos de João Batista também
envelheceram. Eles seguiram João por menos de três
anos, mas mesmo nesse curto período ficaram velhos
e por fim formaram uma religião. Em princípio, o
mesmo pode ocorrer entre nós hoje. Estou
preocupado porque a velhice pode penetrar
sorrateiramente na restauração do Senhor. Uma vez
que ela entre, não mais teremos frescor dia a dia.
Podemos usar a coleta do maná no Antigo
Testamento como ilustração da necessidade de estar
novos e frescos cada dia. o princípio era que o maná
era colhido uma vez por dia. Exceto no sábado,
qualquer maná que sobrasse para o dia seguinte iria
cheirar mal e criar vermes. Isso retrata nossa
necessidade de ser refrescados e renovados
diariamente. Dia a dia devemos ficar mais novos e
frescos.
Creio que a verdade contida no Evangelho de
Marcos pode ser apresentada de maneira mais fresca
do que nessas mensagens. Naturalmente não
alteramos a verdade, mas podemos ter um modo mais
fresco de apresentá-la. Por exemplo, embora a terra
permaneça a mesma, os meios de transporte
evoluíram. De semelhante modo, a verdade de Deus
não muda, mas a maneira de apresentá-la deve ser
sempre mais nova e fresca.
O reino de Deus veio de maneira nova. Para
entrar nele, era necessário que os fariseus e escribas
renascessem. Que significa renascer? Renascer é ser
renovado. Como a velhice não tem nada a ver com o
reino de Deus, precisamos renascer, ser renovados, a
fim de entrar nele.
Um grande problema entre os cristãos hoje é a
velhice. Muitos se voltam para velhas exposições ou
se agarram a velhos ensinamentos da sua
denominação. Os luteranos, por exemplo, podem
conferir as questões pelo que Lutero diz. Sem dúvida,
a justificação pela fé é um item básico da verdade.
Contudo, no que diz respeito a essa verdade,
precisamos ser renovados e refrescados.
Em mensagem anterior falamos de Cristo como
nosso substituto completo e universal. Antes daquela
mensagem eu nunca tinha usado tal expressão. Foi
durante meu falar que ela surgiu. Desconheço outra
expressão tão útil em transmitir a verdade de Cristo a
nos substituir. Uso isso como exemplo de que não
devemos permanecer no velho conhecimento.
Todos devemos estar novos e nosso ensinamento
também deve ser de acordo com nova luz. A partir do
capítulo sete, vimos que o Senhor Jesus é um
cirurgião operando em nosso coração e expondo sua
condição. Isso não é um entendimento novo e fresco
do modo de o Senhor lidar com nosso coração?
Não quero ficar velho de maneira nenhuma.
Também não quero ser limitado por velhas maneiras
de expressar a verdade da palavra de Deus. Antes de
1949, nunca falamos sobre ser um Espírito com o
Senhor e não usamos o termo “Espírito que dá vida”.
Ademais, nunca mencionamos nada sobre o Espírito
sete vezes intensificado. Todas essas são expressões
novas entre nós.
Até mesmo a questão de invocar o nome do
Senhor é nova, no que diz respeito à nossa prática.
Quando estávamos na China, não enfatizamos isso.
Alguns dizem que fui eu que inventei isso. Não
inventei essa prática. No máximo, eu descobri essa
questão na Bíblia. Já em Gênesis 4 o homem começou
a invocar o nome do Senhor. Pela misericórdia do
Senhor, Ele nos usou para descobrir essa questão,
mas certamente não a inventamos. Muitos irmãos
têm sido abençoados invocando o nome do Senhor.
Mas mesmo isso deve ser novo e fresco.
Numa das mensagens anteriores vimos que a
oração na verdade é questão de “não eu, mas Cristo”.
Você já tinha ouvido isso? Posso testificar que esse
entendimento sobre oração é novo para mim. Isso é
outra ilustração da nossa necessidade de ser novos,
jovens e frescos.
Tenha certeza de que no futuro coisas novas
aparecerão e palavras e expressões impressionantes
serão usadas. Mediante novos termos e novas
expressões podemos receber mais luz e graça.
Portanto, não vamos manter nossa velhice, mas
sejamos renovados e refrescados diariamente.

O ENSINAMENTO ACERCA DOS RICOS E DA


ENTRADA NO REINO DE DEUS
Vimos que duas coisas podem impedir-nos de
entrar no reino de Deus: a maneira como lidamos
com o casamento e a velhice. Em 10:17-31 vemos que
as riquezas são outro item que nos pode impedir de
entrar no reino.
No versículo 210 Senhor Jesus olhou para o
homem que Lhe havia perguntado o que deveria fazer
para herdar a vida eterna, e lhe disse: “Só uma coisa
te falta: Vai, vende o que tens e dá aos pobres, e terás
um tesouro no céu; depois vem e segue-Me”. Quando
li isso, muitos anos atrás, fiquei perturbado. Como
estudante, eu me preocupava, porque não seria capaz
de cumprir o mandamento do Senhor sobre vender
tudo. Gradativamente, estudando o Novo
Testamento, comecei a ver que Paulo não orientou os
coríntios a vender todas as posses e dá-las aos pobres.
Paulo não lhes disse: “Coríntios, se vocês são sérios
com o Senhor, precisam vender tudo o que têm e dar
aos outros”. Em nenhum dos escritos de Paulo temos
tal palavra. Contudo Paulo enfatiza, sim, o fato de que
nenhum dos crentes deve estar debaixo da escravidão
das riquezas. Não devemos estar escravizados às
riquezas, de nenhuma forma. Pelo contrário, a
escravidão às riquezas deve ser anulada. Não somos
para as riquezas, mas as riquezas são para nós.
Precisamos estar livres das coisas materiais e usar as
riquezas para cumprir o propósito de Deus.
Naturalmente, como seres humanos, precisamos
de dinheiro para viver. Porém nunca devemos ser
escravizados por ele. O dinheiro não deve ser nosso
senhor; pelo contrário, deve estar sob nossa
administração e ser usado para o propósito de Deus.
Se o dinheiro não estiver sob nosso controle e não for
usado para o propósito de Deus, seremos escravos
dele. Como resultado, não estaremos aptos a entrar
no reino de Deus.
Se estivermos cheios de Cristo, seremos capazes
de lidar com as questões de casamento, velhice e
riquezas. Trataremos dessas três questões com Cristo.
Isso significa que nelas fomos substituídos por Cristo
a fim de entrar no reino de Deus.
Que fiquemos impressionados com o fato de que
a melhor maneira de lidar com a vida conjugal é
tomar Cristo como nosso substituto e experimentar
Sua morte e ressurreição. Da mesma forma, o melhor
jeito de nos manter novos, frescos e jovens, é tomar
Cristo mediante Sua morte e ressurreição. Além
disso, o melhor modo de lidar com o dinheiro é Cristo
com Sua morte e ressurreição. Sem Cristo com Sua
morte e ressurreição, não teremos como lidar com
estas três coisas: casamento, velhice e riquezas. A
única maneira de lidar com elas adequadamente é ser
substituídos por Cristo mediante Sua morte
todo-inclusiva e Sua maravilhosa ressurreição.
ESTUDO-VIDA DE MARCOS
MENSAGEM TRINTA E DOIS
O MOVER DO SERVIÇO EVANGÉLICO DO
SALVADOR-SERVO (16)

Leitura Bíblica: Mc 10:32-52


Nesta mensagem começaremos a considerar
Marcos 10:32-52. Essa é a última seção a respeito do
mover do serviço evangélico do Salvador-Servo.

NO CAMINHO PARA JERUSALÉM


O capítulo dez descreve uma série de
acontecimentos no caminho para Jerusalém. Já
comentamos que em 10:1 o Senhor Jesus se levantou
da Galiléia e veio para os confins da Judéia. Ele fez
isso deliberadamente, a fim de morrer em Jerusalém
para o cumprimento do plano eterno de Deus.
Portanto estar a caminho de Jerusalém é estar a
caminho para entrar na morte de Cristo. Então, pela
morte, entramos em Sua ressurreição. Assim o
caminho para Jerusalém é o caminho para entrar na
morte e ressurreição de Cristo.
Depois do capítulo dez não há mais milagres de
cura registrados nesse Evangelho. No final de Marcos
10, o mover do serviço evangélico do Salvador-Servo
conclui com a cura de Bartimeu, um mendigo cego.
Depois dessa cura, o Senhor e Seus seguidores foram
para Jerusalém. o objetivo deles era entrar na morte,
ressurreição e até mesmo ascensão. Os últimos seis
capítulos de Marcos (de onze a dezesseis) revelam
como Cristo e Seus seguidores entraram na morte
todo-inclusiva, na ressurreição maravilhosa e na
ascensão esplêndida.
Como já enfatizamos em mensagens anteriores,
enquanto o Senhor e os discípulos estavam a caminho
de Jerusalém, Ele ensinou Seus seguidores a lidar
com as questões de casamento, velhice e dinheiro.
Cada uma dessas questões está intimamente
relacionada com a entrada no reino de Deus. Os
incidentes em 10:32-52 também aconteceram no
caminho para Jerusalém.
Marcos 1O:32a diz: “Estavam no caminho,
subindo para Jerusalém, e Jesus ia adiante deles. Eles
estavam pasmados, e os que seguiam atrás estavam
com medo”. Aqui vemos que o Senhor Jesus era forte,
intrépido e estava com pressa. Indo adiante dos
discípulos, Ele tomou a dianteira em subir para
Jerusalém com avidez. Seus seguidores estavam
muito surpresos, talvez até chocados, por Sua
intrepidez. Esse versículo diz que os que O seguiam
estavam com medo.
Por que o Senhor era tão intrépido para subir a
Jerusalém? A esse respeito, Lucas 9:51 diz: “E
aconteceu que, estando para completar-se os dias
para Ele ser levado para cima, manifestou a firme
resolução de ir para Jerusalém”. O rosto do Senhor
estava firme como um seixo, pois Ele sabia que o
tempo de Sua morte estava muito próximo. Aqui
havia aproximadamente uma semana até o dia em
que seria levado à morte. Ele não queria ser
impedido, estorvado nem atrasado de forma alguma
em Seu propósito de subir para Jerusalém. Se O
atrasassem, Ele perderia o dia da Páscoa, o dia em
que deveria morrer como Cordeiro de Deus. Por essa
razão era tão intrépido, andando na frente de todos os
discípulos no caminho para Jerusalém.
A TERCEIRA REVELAÇÃO DA MORTE E
RESSURREIÇÃO DO SENHOR
De acordo com Marcos 10:32b-34, enquanto
subia para Jerusalém, o Senhor revelou Sua morte e
ressurreição pela terceira vez: “E, tomando
novamente Consigo os doze, começou a dizer-lhes as
coisas que estavam para Lhe acontecer: Eis que
subimos para Jerusalém, e o Filho do Homem será
entregue aos principais sacerdotes e aos escribas. Eles
O condenarão à morte e O entregarão aos gentios;
escarnecê-Lo-ão, cuspirão Nele, açoitá-Lo-ão e O
matarão; e depois de três dias ressuscitará”. A
primeira vez que o Senhor revelou Sua morte aos
discípulos foi em Cesaréia de Filipe, antes da
transfiguração (8:31). A segunda vez foi na Galiléia,
após a transfiguração (9:31). Agora precisamos ver
que a terceira revelação ocorreu no caminho para
Jerusalém. Essa revelação foi uma profecia,
totalmente estranha ao conceito natural dos
discípulos, porém foi literalmente cumprida em cada
detalhe.

INCLUÍDOS NA MORTE DO SENHOR


Visto que a hora da Sua morte estava próxima,
Ele subiu voluntariamente para Jerusalém, indo até
mesmo adiante de Seus seguidores, com pressa e
intrepidez tais que os deixou pasmados. Dessa forma
Ele obedeceu a Deus até a morte (Fp 2:8), segundo o
desígnio divino (At 2:23), para o cumprimento de Seu
plano redentor (Is 53:10).
O Senhor Jesus sabia que por meio da morte
seria glorificado em ressurreição (Lc 24:25-26) e Sua
vida divina seria liberada para produzir muitos
irmãos para Sua expressão (Jo 12:23-24; Rm 8:29).
Pela alegria que Lhe estava proposta, Ele desprezou a
ignomínia (Hb 12:2) e voluntariamente entregou-Se
aos líderes dos judeus usurpados por Satanás, e foi
por eles condenado à morte. Por isso Deus O exaltou
aos céus, assentou-O à Sua destra (16:19; At 2:33-35),
concedeu-Lhe um nome que está acima de todo nome
(Fp 2:9-10), fê-Lo Senhor e Cristo (At 2:36) e com
glória e honra O coroou (Hb 2:9).
A morte do Senhor Jesus em Jerusalém incluiu
não apenas o próprio Senhor, mas também Seus
seguidores. Na verdade, nós também fomos incluídos
nela. Quando o Senhor entrou na morte
todo-inclusiva, Ele introduziu Seus seguidores nessa
morte com Ele. É importante ter essa visão ao
considerar o restante do capítulo dez e então os
últimos seis capítulos de Marcos.
Quando o Senhor Jesus morreu na cruz, todos os
crentes morreram com Ele. Segundo o relato de
Marcos, podemos ver que especialmente Pedro, João
e Tiago foram levados à morte com Ele. Ele
propositadamente introduziu os três e os outros com
Ele na morte. Por isso, podiam ter parte em Sua
ressurreição e até mesmo ser testemunhas de Sua
ascensão.
No dia de Pentecostes, dez dias após a ascensão
do Senhor, o Espírito, que é na verdade o próprio
Senhor, foi derramado sobre todos os que entraram
na morte de Cristo, tiveram parte em Sua
ressurreição e viram Sua ascensão. Com Cristo, como
Espírito que dá vida, derramado sobre eles, eles
podiam perceber na experiência que de fato estavam
na morte, ressurreição e ascensão de Cristo.
Consequentemente podiam aplicar a crucificação,
ressurreição e ascensão do Senhor a seu viver. Por
isso, no dia de Pentecostes, Pedro e os cento e vinte
eram pessoas na morte, ressurreição e ascensão de
Cristo. Eram um com Cristo e na realidade eram Sua
corporificação. Naquele dia eles viviam Cristo. Todos
precisamos ver esse quadro maravilhoso.
Não foi por acaso que no dia de Pentecostes os
cento e vinte foram testemunhas do Cristo
crucificado, ressurreto e ascendido. Todos O tinham
seguido e passado com Ele pela morte e ressurreição.
Também viram Sua ascensão. No dia de Pentecostes
estavam na realidade da morte, ressurreição e
ascensão de Cristo.

A CEGUEIRA DOS SEGUIDORES DO


SENHOR
Enquanto o Senhor Jesus e os discípulos iam
para Jerusalém, Ele queria impressioná-los com
respeito à Sua morte todo-inclusiva e maravilhosa
ressurreição. Assim Ele lhes falou a respeito disso
pela terceira vez. Mas os discípulos não tinham olhos
para ver. Mesmo depois que Ele repetiu essa palavra
pela terceira vez, eles ainda não foram capazes de
entendê-la.
Os incidentes registrados em 10:35-45 provam
que os discípulos do Salvador-Servo estavam cegos
com respeito à visão de Sua morte e ressurreição.
Imediatamente depois que Ele as revelou pela
terceira vez, Tiago e João vieram a Ele e disseram:
“Mestre, queremos que nos faças o que Te pedirmos”
(v. 35). O Senhor lhes perguntou: “Que quereis que
Eu vos faça? Responderam-Lhe: Concede-nos que na
Tua glória nos assentemos um à Tua direita e outro à
Tua esquerda” (vs. 36-37). Esse pedido expõe o fato
de que João e Tiago ainda eram filhos do trovão
naturais. Certamente não haviam sido substituídos
por Cristo nem tinham sido crucificados e
introduzidos na ressurreição do Senhor.
Segundo o relato de Mateus, foi a mãe dos filhos
de Zebedeu que fez esse pedido (Mt 20:20-21). Ela
era irmã de Maria, mãe do Senhor, portanto era tia
Dele. Assim, podemos ver que Tiago e João eram
primos do Senhor. Pode ter sido com base no
relacionamento natural próximo que eles Lhe
pediram um favor: sentar à Sua direita e à Sua
esquerda na glória.
O Senhor tinha dito aos discípulos que estava
para morrer, mas eles tinham a ambição de sentar à
Sua direita e à Sua esquerda. O pedido deles era
totalmente natural.

O CÁLICE DO SENHOR E SEU BATISMO


Em Marcos 10:38 o Senhor disse a Tiago e a
João: “Não sabeis o que pedis. Podeis vós beber o
cálice que Eu bebo, ou ser batizados com o batismo
com que Eu sou batizado?”. Tanto o cálice como o
batismo referem-se à morte do Salvador-Servo (10
18:11; Lc 12:50). O cálice indica que Sua morte foi a
porção dada a Ele por Deus, porção que Ele tomou
para redimir os pecadores para Deus. O batismo
denota que Sua morte foi ordenada por Deus como
caminho que Ele teria de percorrer para realizar a
redenção divina pelos pecadores.
Pela resposta do Senhor, podemos ver que os que
querem sentar à Sua direita e à Sua esquerda em Sua
glória devem estar preparados para “beber o cálice”
do sofrimento. Sofrer a cruz é o modo de entrar no
reino (At 14:22). O pedido egoísta de João e Tiago
proporcionou ao Senhor a oportunidade de revelar o
modo de entrar no reino.
Quando Tiago e João disseram ao Senhor que
eram capazes de beber Seu cálice e ser batizados com
Seu batismo, Ele lhes disse: “Bebereis o cálice que Eu
bebo e sereis batizados com o batismo com que Eu
sou batizado; porém, o assentar-se à Minha direita ou
à Minha esquerda, não Me compete concedê-lo; mas
é para aqueles para quem está preparado” (vs.
39-40). Aqui vemos que o Senhor permaneceu na
posição de homem. Nessa posição, Ele era totalmente
submisso ao Pai. Não assumiu o direito de fazer
qualquer coisa fora do Pai.

A MANEIRA DE ENTRAR NO REINO


Os dez ficaram indignados com Tiago e João (v.
41). Então, chamando-os todos para Si, o Senhor lhes
disse: “Sabeis que os que são considerados
governantes dos gentios senhoreiam sobre eles, e
sobre eles os seus grandes exercem autoridade. Mas
não é assim entre vós; pelo contrário, quem quiser
tomar-se grande entre vós, será esse o que vos sirva; e
quem quiser ser o primeiro entre vós, será servo de
todos” (vs. 42-44). A palavra do Senhor aqui é
absolutamente contrária à mente natural, que busca o
interesse próprio. A indignação dos dez também
proporcionou ao Senhor a oportunidade de revelar o
modo de entrar no reino. O modo é querer servir os
outros como servo, até mesmo como escravo, em vez
de governá-los.

O SERVO DE DEUS SERVE AOS PECADORES


No versículo 45 o Senhor prossegue: “Pois até o
Filho do Homem não veio para ser servido, mas para
servir e dar a Sua vida em resgate por muitos”. Essa é
a afirmação mais enfática de que o Salvador-Servo,
como Filho do Homem na Sua humanidade, era
Servo de Deus para servir aos pecadores, até mesmo
dando a vida, a alma. Além disso, a palavra resgate
aqui indica que mesmo a redenção do Salvador-Servo
era um serviço que Ele prestava aos pecadores em
prol do plano de Deus.

MENDIGOS CEGOS
Como veremos mais detalhadamente na próxima
mensagem, ao fazer seu pedido, Tiago e João eram,
na verdade, filhos cegos de Timeu, mendigos cegos (v.
46). A palavra deles a respeito de sentar à direita e à
esquerda do Senhor em Sua glória era falada por
cegos.
Podemos até mesmo dizer que Tiago e João
eram, na realidade, mendigos cegos. No capítulo dez
os vemos mendigando por posição à direita e à
esquerda do Senhor. Portanto é significativo que esse
capítulo termina com a cura do cego Bartimeu. Tiago
e João certamente precisavam, eles mesmos, desse
tipo de cura. Como cegos mendigando por posição,
precisavam que o Senhor lhes abrisse os olhos, a fim
de vê-Lo e à Sua morte e ressurreição. Precisamos
aprender por meio de Marcos 10 que, se ainda somos
ambiciosos por posição na vida da igreja, também
somos filhos de Timeu, mendigos pobres e cegos
necessitando da cura do Senhor.
ESTUDO-VIDA DE MARCOS
MENSAGEM TRINTA E TRÊS
O MOVER DO SERVIÇO EVANGÉLICO DO
SALVADOR-SERVO (17)

Leitura Bíblica: Mc 10:32-52


Nesta mensagem continuaremos a considerar
10:32-52, a última seção do Evangelho de Marcos a
respeito do mover do serviço evangélico do
Salvador-Servo. Aqui temos três questões: a subida
do Senhor para Jerusalém e a revelação, pela terceira
vez, de Sua morte e ressurreição (10:32-34), Seu
ensinamento acerca do caminho para o trono no
reino de Deus (vs. 35-45), e Sua vinda para Jericó e a
cura de Bartimeu (vs. 46-52).

AMBIÇÃO E CEGUEIRA
Em 10:35, Tiago e João, os filhos de Zebedeu,
vieram ao Senhor Jesus e Lhe disseram: “Mestre,
queremos que nos faças o que Te pedirmos”. Quando
Ele lhes perguntou o que eles queriam que fizesse por
eles, eles Lhe disseram: “Concede-nos que na Tua
glória nos assentemos um à Tua direita e outro à Tua
esquerda” (vs. 36-37).
Esses dois irmãos tinham seguido o Senhor
desde o princípio. Foram chamados por Ele logo
depois de Pedro e André. Mas, embora O seguissem
por mais de três anos, ainda estavam em sua cegueira
e necessitavam de mais cura, uma cura específica do
órgão da visão. João e Tiago não foram capazes de ver
Cristo e Sua morte e ressurreição. O Senhor lhes
falara três vezes a respeito de Sua morte, mas, como
estavam cegos, eles não foram capazes de entender o
que Ele dizia.
Em 10:46 é-nos dito que o Senhor e os discípulos
vieram a Jericó, lugar de maldição. Foi de acordo com
a soberania de Deus que chegaram ali.
Marcos 10:32 diz: “Estavam no caminho,
subindo para Jerusalém, e Jesus ia adiante deles. Eles
estavam pasmados, e os que seguiam atrás estavam
com medo”. O Senhor andava ousadamente adiante
dos discípulos, e eles estavam pasmados e até mesmo
com medo. Enquanto estavam a caminho, Ele lhes
disse que ia para Jerusalém a fim de levar a cabo uma
morte todo-inclusiva, que poria fim aos discípulos e
os introduziria na ressurreição. Como já ressaltamos,
visto que os discípulos estavam cegos, não
conseguiam entender a palavra do Senhor a respeito
de Sua morte, mesmo depois que Ele a revelara pela
terceira vez.
Antes de chegar a Jerusalém, cidade de paz, eles
chegaram a Jericó, cidade de maldição. É muito
significativo que, perto de Jericó, encontrassem um
cego: “Ao sair Ele de Jericó, com os Seus discípulos e
numerosa multidão, Bartimeu, mendigo cego, filho
de Timeu, estava assentado à beira do caminho”
(10:46). Esse cego, como aquele em 8:22, representa
alguém que perdeu a visão interior, alguém
espiritualmente cego (At 26:18; 2Pe 1:9).
Podemos dizer que cegueira é a pior maldição.
Quando alguém está cego, está amaldiçoado.
Ademais, cegueira é questão de trevas e trevas é
resultado de pecado e morte. Portanto cegueira indica
trevas, que são uma composição de pecado e morte.
Onde houver cegueira, ali há trevas, e onde houver
trevas, há pecado e morte.
Embora os discípulos do Senhor já O seguissem
por mais de três anos, no capítulo dez eles ainda
estavam cegos. Isso significa que, estando em
cegueira, estavam em trevas, e pecado e morte
estavam presentes. Assim necessitavam de visão clara
do que o Senhor Jesus iria fazer em Jerusalém, a
visão de que Ele iria entrar na morte a fim de pôr fim
à situação de maldição. Sua morte eliminaria a
cegueira, as trevas, o pecado e a morte, e introduziria
as pessoas na ressurreição. Portanto foi devido à
soberania de Deus que o Senhor e os discípulos
vieram a Jericó, lugar onde havia um cego.
O caso de Bartimeu, o mendigo cego, indica que
todos os discípulos estavam cegos. A ambição deles
por posição era sinal de sua cegueira, e também de
que ainda estavam debaixo da maldição. É muito
significativo que, logo depois que João e Tiago
fizeram o pedido de sentar à direita e à esquerda do
Senhor em Sua glória, todos vieram a Jericó, cidade
de maldição.

A MORTE COMO PORÇÃO E COMO


PROCESSO
Quando Tiago e João pediram para sentar à direita e
à esquerda do Senhor, Ele lhes disse: “Não sabeis o
que pedis. Podeis vós beber o cálice que Eu bebo, ou
ser batizados com o batismo com que Eu sou
batizado?” (v. 38). Vimos que tanto o cálice como o
batismo se referem à morte do Salvador-Servo (Jo
18:11; Lc 12:50). O cálice indica que Sua morte foi a
porção dada a Ele por Deus, porção que Ele tomou
para redimir os pecadores para Deus. O batismo
denota que Sua morte foi ordenada por Deus como
caminho que Ele teria de percorrer para realizar a
redenção.
Em 10:40 o Senhor ainda disse a João e Tiago:
“O assentar-se à Minha direita ou à Minha esquerda,
não Me compete concedê-lo; mas é para aqueles para
quem está preparado”. Aqui o Senhor parece dizer:
“Vocês Me pedem para sentar à Minha direita e à
Minha esquerda, mas Eu não tenho a posição para
lhes dar esses lugares, pois Eu mesmo sou um servo.
Vocês devem pedir isso ao Meu Senhor. Não venham
a Mim com esse pedido; como servo não posso fazer
nada a esse respeito”.
A resposta do Senhor a João e Tiago expôs a
ambição e independência deles, e ao mesmo tempo
mostrou que Ele era totalmente dependente do Pai
como Seu Senhor. Como Ele não era independente do
Pai, não tinha base para dar posição a ninguém.
Como servo, Ele sabia que só o Pai podia designar
uma posição para alguém. Ademais, a resposta sábia
do Senhor indicava que os discípulos estavam nas
trevas, não sabiam o que pediam. Ao fazer esse
pedido foram além dos limites, foram longe demais.
Vimos que no versículo 38 o Senhor perguntou a
Tiago e João se podiam beber o cálice que Ele iria
beber e ser batizados com o batismo com o qual Ele
seria batizado. Quando Lhe disseram que podiam, Ele
prosseguiu: “Bebereis o cálice que Eu bebo e sereis
batizados com o batismo com que Eu sou batizado”
(v. 39). Aqui o Senhor parecia dizer: “Vocês sabem
que significa o cálice? Significa morte, e o batismo
também significa morte. Vocês sabem qual é a porção
de vocês? A porção de vocês não é uma posição; a
porção de vocês é a morte. Vocês querem uma
posição, mas posição não é o que precisam. Vocês
precisam perceber que uma porção foi preparada
para vocês, e não uma posição; essa porção é a Minha
morte. Preciso morrer e vocês precisam morrer
Comigo. Essa morte é também um batismo, um
processo pelo qual preciso passar. Vocês irão passar
por esse processo Comigo. Não tenho posição para
vocês, pois não é Meu direito dar-lhes isso. A
necessidade de vocês é tomar sua porção e passar por
esse processo, ambos os quais se referem à morte”.
Qual é a sua porção na vida da igreja hoje? Será
que é certa posição? é ser presbítero ou líder num
grupo de serviço? Todos precisamos perceber que
nossa porção na vida da igreja é a morte. Precisamos
beber o cálice da crucificação, do término. Nossa
porção na vida da igreja não é posição, mas é o
término. Você quer ser presbítero? Se quiser, precisa
ter fim. Quer ser líder num grupo de serviço? Se
quiser, precisa ter fim. Nossa porção na vida da igreja
é o término, e não posição.
Na igreja temos a morte não apenas como porção
para beber, mas também como processo pelo qual
temos de passar. Como aqueles que estão na vida da
igreja, estamos no batismo da morte do Senhor.
Passamos hoje pelo longo processo de morte.
Quando alguns ouvem sobre a porção e o
processo de morte na vida da igreja, talvez digam:
“Irmão Lee, estamos com medo. Sua palavra nos
amedronta”. Contudo não fui o primeiro a falar sobre
o cálice e o batismo da morte. Foi o Senhor Jesus que
disse que beberemos de Seu cálice e seremos
batizados com Seu batismo. Como vimos essa palavra
foi dada a João e Tiago, os filhos do trovão, que
queriam sentar à direita e à esquerda do Senhor. Ele
parecia dizer-lhes: “Vocês não sabem o que pedem.
Em vez de estar à Minha direita ou à Minha esquerda,
vocês precisam estar no Meu túmulo. Em vez de
promovidos à Minha direita e à Minha esquerda,
vocês serão enterrados Comigo. Tenho de beber o
cálice, que se tornará seu cálice. Serei batizado no
processo de morte, e vocês serão batizados no mesmo
processo. Sem passar por esse processo, vocês não
poderão entrar em Minha ressurreição”.
Vimos que Cristo é o substituto singular e
seremos substituídos por Ele. Mas para isso
precisamos passar pelo processo de Sua morte.
Também, para entrar no reino de Deus, precisamos
beber do cálice de Sua morte. Tanto o cálice como o
batismo referem-se à morte de Cristo. Agora
necessitamos tomar o cálice e passar pelo processo.
Hoje entre muitos cristãos o ensinamento a
respeito da morte do Senhor, como nossa porção e o
processo pelo qual devemos passar, tem sido
negligenciado. Assim os crentes freqüentemente
consideram o capítulo dez de Marcos como um trecho
de histórias. Mas o que temos aqui não é o mero
relato de algumas histórias. Aqui o Senhor revela o
que é a vida do reino e qual é o caminho para entrar
nele.
O caminho para entrar no reino é tomar a porção
da morte e andar pelo processo da morte. Isso é
tomar a morte de Cristo como a nossa. Nosso
testemunho deve ser que cada dia bebemos de Sua
morte e andamos através dela. Então, poderemos
dizer: “Agora não sou mais eu, mas Cristo. Hoje bebo
Sua morte aniquiladora e ando através dela como
processo”. Tomando essa porção e passando por esse
processo é que estamos em ressurreição. Em
ressurreição, não mais eu, mas Cristo é realidade.
A CURA DO MENDIGO CEGO
Todos os discípulos, representados pelos dois
filhos do trovão, necessitavam da cura da cegueira.
Perto de Jericó encontraram um mendigo cego,
Bartimeu. Marcos 10:47 diz: “E, ouvindo que era
Jesus, o Nazareno, pôs-se a clamar: Jesus, Filho de
Davi, tem misericórdia de mim!”. Muitos o
repreendiam para que se calasse; ele, porém, gritava
cada vez mais: “Filho de Davi, tem misericórdia de
mim!” (v. 48).
Então, parando Jesus, disse: “Chamai-o”. A
despeito da repreensão de muitos, o Salvador-Servo
os mandou chamar o pobre mendigo cego. Isso de
novo expressou Sua humanidade em Sua comiseração
para com os miseráveis. Bartimeu, então, lançando de
si a capa, levantou-se de um salto e foi ter com Jesus
(v. 50).
O Senhor Jesus lhe disse: “Que queres que Eu te
faça?” (v. 51). Que amor sincero para com o
necessitado! Isso expressou a humanidade do
Salvador-Servo num grau inimaginável.
Respondeu-Lhe o cego: “Rabôni, que eu recupere
a vista”. O Senhor lhe disse: “Vai, a tua fé te salvou”
(v. 52). Imediatamente Bartimeu recuperou a vista, e
seguia o Senhor.
Se lermos 10:35-52 cuidadosamente veremos que
os dois filhos do trovão eram um com o mendigo
cego. Nossa base para afirmar isso é que o Senhor fez
a mesma pergunta tanto para Tiago e João como para
Bartimeu: “Que quereis que Eu vos faça?” e “Que
queres que Eu te faça?” (vs. 36, 51). No entendimento
do Senhor, os dois filhos do trovão eram iguais ao
mendigo cego. Mas havia uma diferença
fundamental: Tiago e João pediram da maneira
errada e Bartimeu, da maneira correta. Tiago e João
pediram para sentar à direita e à esquerda do Senhor,
mas Bartimeu pediu para receber visão.
Cremos que, no significado espiritual, a cura da
cegueira de Bartimeu foi também a cura da cegueira
de Tiago, João e os outros discípulos. O Senhor não
lhes deu posição à Sua direita ou à Sua esquerda, mas
certamente queria curar a cegueira deles. Ele sabia
que viera para ser a luz do mundo, por isso, desejava
dar visão aos cegos.

LANÇAR FORA A VESTE DA POSIÇÃO


Marcos 10:50, falando do cego Bartimeu, diz:
“Lançando de si a capa, levantou-se de um salto, e
veio ter com Jesus”. Lançar de si a capa significa não
se importar com posição. Uma capa ou uniforme
significa posição. Por exemplo, o uniforme usado por
um policial ou enfermeira significa posição. Quando
um policial não está em serviço, ele tira o uniforme.
Bartimeu não se importava com nenhuma posição.
Seu único desejo era ter visão. Por isso, ao ouvir que
Jesus o chamava, imediatamente lançou de si a capa e
foi ter com Ele para receber visão.
Em princípio, todos na vida da igreja precisamos
lançar fora as “capas”. Se você considera o
presbiterato uma posição, precisa lançar fora a capa
do presbiterato. Igualmente os que desejam liderar
algum grupo de serviço devem lançar fora a capa da
liderança. Devemos lançar fora todas as capas de
posição e nos importar apenas em receber visão
espiritual. Assim como Bartimeu, todos necessitamos
de visão.
Podemos dizer que o Senhor Jesus morreu a fim
de que os que Nele crêem recebam visão. Morrendo
com Ele, saímos da cegueira e entramos em Sua
ressurreição. Então em ressurreição recebemos visão.

RECEBER VISÃO EM RESSURREIÇÃO


A cura no final do capítulo dez é o último milagre
desse tipo registrado no Evangelho de Marcos. O
último milagre de cura foi a cura da cegueira. Sou
muito grato ao Senhor por ter curado totalmente a
minha cegueira. Aleluia! recebi visão! Não me
importo com nenhuma “capa”, com nenhuma
posição.
Depois da cura da cegueira em Marcos 1 0, os
seguidores do Senhor estavam prontos para entrar
em Sua morte. Entrando com Ele em Sua morte,
também seriam capazes de entrar em Sua
ressurreição.
Precisamos ser impressionados com o fato de
que o Senhor Jesus não era o único que iria passar
pela morte para estar em ressurreição e ascensão.
Todos os Seus seguidores entrariam juntamente com
Ele na morte, a fim de entrar em Sua ressurreição e
ascensão. No capítulo dezesseis de Marcos temos
uma cena gloriosa na qual todos os seguidores do
Senhor entram em Sua ascensão, mediante Sua morte
e ressurreição. Ao final do capítulo dez os discípulos
estavam qualificados e preparados para passar pela
morte e ressurreição, a fim de estar com Ele em Sua
ascensão.
Você já chegou ao final do capítulo dez em sua
experiência espiritual? Já recebeu a cura final, a cura
da cegueira? Louvado seja o Senhor porque podemos
dizer que nossa cegueira foi curada! Aleluia! não
temos mais cegueira, trevas, pecado e morte! Agora
estamos prontos para ir com o Salvador-Servo para a
morte, passar por Sua ressurreição e entrar em Sua
ascensão.

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