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DIREITO PENAL MILITAR

TEORIA DO CRIME MILITAR E CULPABILIDADE

Por Fernanda Evlaine e Bruna Daronch


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SUMÁRIO

1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS...............................................................................................................3
2. TEORIA DO CRIME...........................................................................................................................4
3. IMPUTABILIDADE..........................................................................................................................21
4. DISPOSITIVOS PARA O CICLOS DE LEGISLAÇÃO..............................................................................27
5. BIBLIOGRAFIA UTILIZADA..............................................................................................................27
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ATUALIZADO EM 01/07/2017

CRIMES MILITARES

1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS:

Durante o estudo, é necessário que se faça uma análise a partir da letra do Código Penal Militar e
a comparação com o sistema do Direito Penal comum.

O CPM não passou pela reforma de 1984, motivo pelo qual o Código possui disposições
desatualizadas e em desacordo com a sistemática atual. Mas em alguns momentos a especialidade da
lei penal militar irá prevalecer.

Assim, o CPM tem uma estrutura causalista e não uma estrutura finalista. O CP comum não é
puramente finalista, possuindo disposições de natureza causalista, a exemplo da conditio sine qua non
do art. 13 do CP comum, que também se repete no CPM.

Na visão da Teoria Clássico-Neoclássica (psicológico-normativa), dolo e culpa são elementos da


culpabilidade. Este é o entendimento presente no CPM. Já, no finalismo, dolo e a culpa foram
transportados para o fato típico.
#SELIGANATABELA #VOCÊPRECISALEMBRARDISSO:
Teoria Psicológica da Teoria Psicológica-Normativa Teoria Normativa Pura da
Culpabilidade da Culpabilidade Culpabilidade
Base Causalista Base Neokantista Base Finalista
Espécies Não tem espécies Não tem espécies.
a) Dolo normativo Elementos: Elementos:
b) Culpa  Imputabilidade  Imputabilidade
Pressuposto:  Dolo normativo e  Potencial consciência da
● Imputabilidade culpa ilicitude
 Exigibilidade conduta  Exigibilidade de
diversa conduta diversa

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As FUCS são constantemente atualizadas e aperfeiçoadas pela nossa equipe. Por isso, mantemos um canal aberto de
diálogo (setordematerialciclos@gmail.com) com os alunos da #famíliaciclos, onde críticas, sugestões e equívocos,
porventura identificados no material, são muito bem-vindos. Obs1. Solicitamos que o e-mail enviado contenha o título do
material e o número da página para melhor identificação do assunto tratado. Obs2. O canal não se destina a tirar dúvidas
jurídicas acerca do conteúdo abordado nos materiais, mas tão somente para que o aluno reporte à equipe quaisquer dos
eventos anteriormente citados.
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Elementos: Faz com que o dolo e a culpa,


● Imputabilidade que pertenciam à culpabilidade,
● Exigibilidade de conduta migrem para o FATO TÍPICO, no
diversa qual, o dolo é constituído de:
● Culpa 1) Consciência;
●Dolo normativo: 2) Vontade.
1) Consciência;
2) Vontade; ● É um dolo despido do
3) Consciência atual da elemento normativo é o
ilicitude (elemento chamado DOLO NATURAL.
normativo). ● O elemento normativo fica
na própria culpabilidade como
potencial consciência da
ilicitude.

Culpabilidade tem como


elementos:
1) Imputabilidade;
2) Exigibilidade de conduta
diversa;
3) POTENCIAL consciência da
ilicitude.

#OLHAOGANCHO: A teoria normativa pura da culpabilidade se subdivide em outras duas:


Extrema/Estrita e Limitada. Para ambas, os elementos da culpabilidade são os mesmos, mudando,
tão somente, o tratamento conferido às descriminantes putativas. O CP adota a Teoria Limitada da
Culpabilidade! Portanto, não confunda com o CPM!!!!!

Em vez de discorrermos sobre toda a teoria do crime, vamos elencar as diferenças de tratamento
existentes entre o CP e o CPM, que é o efetivamente cobrado em provas (#VAICAIRNASUAPROVA).

2. TEORIA DO CRIME:
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2.1. RELAÇÃO DE CAUSALIDADE:

O art. 29 do CPM fala da relação de causalidade, havendo a adoção da conditio sine qua non,
com influência do causalismo. Este artigo é a repetição do supramencionado art. 13, CP comum.

Relação de Causalidade
CP CPM
Art. 13 - O resultado, de que depende a existência Art. 29. O resultado de que depende a existência
do crime, somente é imputável a quem lhe deu do crime somente é imputável a quem lhe deu
causa. Considera-se causa a ação ou omissão sem causa. Considera-se causa a ação ou omissão sem
a qual o resultado não teria ocorrido. a qual o resultado não teria ocorrido.
§ 1º - A superveniência de causa relativamente § 1º A superveniência de causa relativamente
independente exclui a imputação quando, por si independente exclui a imputação quando, por si
só, produziu o resultado; os fatos anteriores, só, produziu o resultado. Os fatos anteriores,
entretanto, imputam-se a quem os praticou. imputam-se, entretanto, a quem os praticou.
§ 2º - A omissão é penalmente relevante quando § 2º A omissão é relevante como causa quando o
o omitente devia e podia agir para evitar o omitente devia e podia agir para evitar o
resultado. O dever de agir incumbe a quem: resultado. O dever de agir incumbe a quem tenha
a) tenha por lei obrigação de cuidado, proteção por lei obrigação de cuidado, proteção ou
ou vigilância; vigilância; a quem, de outra forma, assumiu a
b) de outra forma, assumiu a responsabilidade de responsabilidade de impedir o resultado; e a
impedir o resultado; quem, com seu comportamento anterior, criou o
c) com seu comportamento anterior, criou o risco risco de sua superveniência.
da ocorrência do resultado.

Observemos que o §1º trata da causa superveniente relativamente independente e o §2º trata da
figura do garantidor, ambos são reprodução do CP comum.

2.2. CRIME CONSUMADO E CRIME TENTADO:

O art. 30, CPM fala do crime consumado e tentado (iter criminis). O crime consumado é aquele
que reúne todos os elementos da definição legal, ou seja, um critério objetivo. Os incisos I e II são
semelhantes ao art. 14, CP comum.

Crime Consumado e Crime Tentado


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CP CPM
Art. 14. Diz-se o crime: Art. 30. Diz-se o crime:
I - consumado, quando nele se reúnem todos os I - consumado, quando nele se reúnem todos os
elementos de sua definição legal; elementos de sua definição legal;
II - tentado, quando, iniciada a execução, não se II - tentado, quando, iniciada a execução, não se
consuma por circunstâncias alheias à vontade do consuma por circunstâncias alheias à vontade do
agente. agente.
Parágrafo único - Salvo disposição em contrário, Parágrafo único. Pune-se a tentativa com a pena
pune-se a tentativa com a pena correspondente correspondente ao crime, diminuída de um a
ao crime consumado, diminuída de um a dois dois terços, podendo o juiz, no caso de
terços. excepcional gravidade, aplicar a pena do crime
consumado.

No parágrafo único do art. 30 do CPM, há, como regra, a aplicação da Teoria Objetiva
Temperada, pois se pune a tentativa com a pena correspondente ao crime, diminuída de um a dois
terços. Trata-se de um critério objetivo que leva em consideração a proximidade da consumação.
Quanto mais próximo da consumação, menor a redução e quanto mais longe da consumação, maior a
redução.

#PERAÍCOACH #VAMOSLEMBRAR #NEVERFORGET


Teorias sobre a punibilidade da tentativa:
Um crime tentado deveria suportar a
Teoria subjetiva, voluntarística ou monista mesma pena de um crime consumado. Por ela,
não há redução de pena.
A tentativa revela, ao menos, a
Teoria sintomática periculosidade do agente. O Estado deveria
aplicar uma medida de segurança.
Objetivamente a tentativa ofende o bem
Teoria objetiva, realística ou dualista jurídico, mas como a lesão ao bem jurídico é
menor, a pena também deve ser menor.

Na segunda parte do parágrafo único o art. 30, CPM há uma inovação. O juiz pode aplicar a pena
do crime consumado (sem redução) a depender da gravidade do fato, sendo uma exceção subjetiva.
Neste ponto, o CPM diverge do CP comum.
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Pela Teoria Objetiva Temperada, em regra, quanto à punição da tentativa há a redução de um a
dois terços. Mas ela é temperada (mitigada) porque comporta exceções, a exemplo daquela trazida
pelo CPM, em que o juiz pode aplicar a pena do crime consumado em caso de especial gravidade, a
depender do caso concreto.

Mas, atenção, o Juiz “pode”, ou seja, há uma faculdade e este posicionamento deve ser exercido
de forma fundamentada. Não há violação à individualização da pena, uma vez que a regra é a redução
e apenas como exceção é que existe a possibilidade de se aplicar a pena do crime consumado. Há uma
flexibilização da norma.

Quando é aplicada a pena de morte, também existe a possibilidade de o Juiz aplicar a pena
privativa de liberdade, sem redução. Isso significa que, em caso de guerra, quando há previsão no CPM
de aplicação da pena de morte no grau máximo e reclusão no grau mínimo, se não houver aplicação
da pena de morte, a pena privativa de liberdade será aplicada sem redução, em que pese se esteja
diante de uma tentativa. Trata-se de outro exemplo de exceção à Teoria Objetiva.

O CPM é dotado de exceções subjetivas, o CP comum não é composto por elas. Assim, o CP
comum também segue a Teoria Objetiva Temperada, mas não traz exceções subjetivas. Exemplo:
Crimes de atentado ou empreendimento, ou, ainda, nas contravenções penais não se pune a tentativa.

#ATENÇÃO Quando se fala que o CPM é dotado de exceções de caráter subjetivo, não está se
referindo à Teoria Subjetiva da tentativa, mas sim, que essas exceções demandam análise subjetiva, ou
seja, ficam a critério do juiz. Por isso que se diz que o CP comum não é dotado de exceções subjetivas,
pois todas as possibilidades de crimes que não admitem a forma tentada derivam diretamente da lei. 2

#ATENÇÃO: Todas as exceções devem ser legais.

#NEVERFORGET #LOUCOSPORTABELAS
Culposos, salvo culpa imprópria.
Contravenções
Habituais
Crimes que NÃO admitem tentativa: Unissubsistentes
Preterdolosos
Atentado ou empreendimento
Omissivos próprios
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Muita atenção para não confundir essa informação com as teorias que cuidam da punibilidade da tentativa.
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2.3. CRIME IMPOSSÍVEL:

O art. 32, CPM traz a hipótese de crime impossível, sem quaisquer inovações. O legislador segue
a Teoria Objetiva Temperada, sendo semelhante ao art. 17 do CP comum.

Crime Impossível
CP CPM
Art. 17 - Não se pune a tentativa quando, por Art. 32. Quando, por ineficácia absoluta do meio
ineficácia absoluta do meio ou por absoluta empregado ou por absoluta impropriedade do
impropriedade do objeto, é impossível objeto, é impossível consumar-se o crime,
consumar-se o crime. nenhuma pena é aplicável.

2.4. DESISTÊNCIA VOLUNTÁRIA E ARREPENDIMENTO EFICAZ:

No art. 31, CPM há a desistência voluntária e arrependimento eficaz. A previsão é semelhante ao


art. 15 do CP comum.

Desistência Voluntária e Arrependimento Eficaz


CP CPM
Art. 15 - O agente que, voluntariamente, desiste Art. 31. O agente que, voluntariamente, desiste de
de prosseguir na execução ou impede que o prosseguir na execução ou impede que o resultado
resultado se produza, só responde pelos atos já se produza, só responde pelos atos já praticados.
praticados.

2.5. ARREPENDIMENTO POSTERIOR:

O art. 16 do CP comum que trata do arrependimento posterior não tem equivalência no CPM.
Por conta disso, não se pode utilizar o art. 16 do CP comum para suprir a lacuna do CPM quanto ao
arrependimento posterior, pois estamos diante de um caso de silêncio eloquente. Não se trata de
lacuna involuntária porque embora não exista arrependimento posterior como causa de redução de
pena no CPM, na parte especial alguns crimes patrimoniais praticados sem violência possuem previsão
atenuada. (Ex: Furto Atenuado).

Art. 240, CPM § 1º - Se o agente é primário e é de pequeno valor a coisa furtada, o juiz pode
substituir a pena de reclusão pela de detenção, diminuí-la de um a dois terços, ou considerar a infração
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como disciplinar. Entende-se pequeno o valor que não exceda a um décimo da quantia mensal do mais
alto salário mínimo do país.
§ 2º A atenuação do parágrafo anterior é igualmente aplicável no caso em que o criminoso,
sendo primário, restitui a coisa ao seu dono ou repara o dano causado, antes de instaurada a ação
penal.

Arrependimento Posterior
CP CPM
Art. 16 - Nos crimes cometidos sem violência ou
grave ameaça à pessoa, reparado o dano ou
restituída a coisa, até o recebimento da
Sem previsão correspondente.
denúncia ou da queixa, por ato voluntário do
agente, a pena será reduzida de um a dois
terços.

Vejamos alguns crimes do CPM que trazem a forma atenuada:

Art. 240, CPM § 1º - Se o agente é primário e é de pequeno valor


a coisa furtada, o juiz pode substituir a pena de reclusão pela de
detenção, diminuí-la de um a dois terços, ou considerar a
infração como disciplinar. Entende-se pequeno o valor que não
Furto exceda a um décimo da quantia mensal do mais alto salário
(Arts. 240 e 241) mínimo do país.
§ 2º A atenuação do parágrafo anterior é igualmente aplicável no
caso em que o criminoso, sendo primário, restitui a coisa ao seu
dono ou repara o dano causado, antes de instaurada a ação
penal.
Apropriação indébita Art. 250. Nos crimes previstos neste capítulo, aplica-se o disposto
(Arts. 248 e 249) nos §§ 1º e 2º do art. 240.
Estelionato Art. 253. Nos crimes previstos neste capítulo, aplica-se o disposto
(Arts. 250, 251 e 252) nos §§ 1º e 2º do art. 240.
Receptação
Parágrafo único. São aplicáveis os §§ 1º e 2º do art. 240.
(Art. 254)
Dano atenuado Art. 260. Nos casos do artigo anterior, se o criminoso é primário e
(Art. 260) a coisa é de valor não excedente a um décimo do salário mínimo,
o juiz pode atenuar a pena, ou considerar a infração como
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disciplinar.
Parágrafo único. O benefício previsto no artigo é igualmente
aplicável, se, dentro das condições nele estabelecidas, o
criminoso repara o dano causado antes de instaurada a ação
penal.
Cheque sem fundos § 2º Ao crime previsto no artigo aplica-se o disposto nos §§ 1º e
(Art. 313) 2º do art. 240.

#JÁCAIU #CESPE #DPU: O direito penal militar contempla o arrependimento posterior como causa
obrigatória de redução da pena.3

2.6. CULPABILIDADE:

O art. 33 é uma demonstração de que o CPM adota a visão clássica causalista (você lembra, né?
O dolo e culpa como espécies de culpabilidade). O legislador fala da culpa consciente e da culpa
inconsciente. Equivale ao art. 18, CP comum, com a ressalva de que neste já se adota a visão finalista
(você lembra, né? O dolo e culpa encaixados no fato típico).

Além disso, é importante ressaltar que ambos preveem a excepcionalidade do crime culposo.

Culpabilidade
CP CPM
Art. 18. Diz-se o crime: Art. 33. Diz-se o crime:
I - doloso, quando o agente quis o resultado ou I - Doloso, quando o agente quis o resultado ou
assumiu o risco de produzi-lo; assumiu o risco de produzi-lo;
II - Culposo, quando o agente, deixando de
empregar a cautela, atenção, ou diligência
II - Culposo, quando o agente deu causa ao ordinária, ou especial, a que estava obrigado em
resultado por imprudência, negligência ou face das circunstâncias, não prevê o resultado que
imperícia. podia prever (culpa inconsciente) ou, prevendo-o,
supõe levianamente que não se realizaria ou que
poderia evitá-lo (culpa consciente).
Parágrafo único - Salvo os casos expressos em
Parágrafo único. Salvo os casos expressos em lei,
lei, ninguém pode ser punido por fato previsto
ninguém pode ser punido por fato previsto como
como crime, senão quando o pratica
crime, senão quando o pratica dolosamente.
dolosamente.
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Errado!
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O art. 34, CPM é equivalente ao art. 19, CP comum. Temos o princípio da culpabilidade e a
agravação pelo resultado.

Agravação pelo resultado


CP CPM
Art. 34. Pelos resultados que agravam
Art. 19 - Pelo resultado que agrava
especialmente as penas só responde o agente
especialmente a pena, só responde o agente
quando os houver causado, pelo menos,
que o houver causado ao menos culposamente.
culposamente.

2.7. ERRO DE DIREITO E ERRO DE FATO:

Enquanto no CP temos o erro de tipo e o erro de proibição, no CPM o assunto é tratado como
erro de fato e erro de direito.

Erro de Fato e Erro de Tipo


CP CPM
Erro sobre elementos do tipo Erro de fato
Art. 20 - O erro sobre elemento constitutivo Art. 36. É isento de pena quem, ao praticar o
do tipo legal de crime exclui o dolo, mas crime, supõe, por erro plenamente escusável,
permite a punição por crime culposo, se a inexistência de circunstância de fato que o
previsto em lei. constitui ou a existência de situação de fato
que tornaria a ação legítima.
Descriminantes putativas
§ 1º - É isento de pena quem, por erro
Erro culposo
plenamente justificado pelas circunstâncias,
§ 1º - Se o erro deriva de culpa, a este título
supõe situação de fato que, se existisse,
responde o agente, se o fato é punível como
tornaria a ação legítima. Não há isenção de
crime culposo.
pena quando o erro deriva de culpa e o fato é
punível como crime culposo.
Erro provocado
Erro determinado por terceiro
§ 2º - Se o erro é provocado por terceiro,
§ 2º - Responde pelo crime o terceiro que
responderá este pelo crime, a título de dolo
determina o erro.
ou culpa, conforme o caso.
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O que se verifica no cotejo desses dispositivos é que o CP distingue o dolo da consciência da
ilicitude, pois o erro dos elementos constitutivos do tipo exclui o dolo, ao passo que o erro sobre uma
causa de justificação exclui a culpabilidade ("é isento de pena"), por não haver consciência da ilicitude (o
agente crê que sua ação é legítima).

No CPM, não há essa distinção, excluindo-se a culpabilidade em ambos os casos, indistintamente.

Erro de Proibição e Erro de Direito


CP CPM
Art. 21 - O desconhecimento da lei é Art. 35. A pena pode ser atenuada ou
inescusável. O erro sobre a ilicitude do fato, substituída por outra menos grave quando o
se inevitável, isenta de pena; se evitável, agente, salvo em se tratando de crime que
poderá diminuí-la de um sexto a um terço. atente contra o dever militar, supõe lícito o
Parágrafo único - Considera-se evitável o erro fato, por ignorância ou erro de interpretação
se o agente atua ou se omite sem a da lei, se escusáveis.
consciência da ilicitude do fato, quando lhe #ATENÇÃO para a exceção: “salvo em se
era possível, nas circunstâncias, ter ou atingir tratando de crime que atente contra o dever
essa consciência. militar”.

O erro de direito contempla ignorância legis (desconhecimento da lei) e erro de interpretação da


lei (o sujeito supõe lícito o fato). Tanto no erro de direito (CPM) como no erro de proibição (CP
comum), não há isenção de pena para quem alega a ignorância legis.

#ATENÇÃO: O art. 21, parágrafo único, do CP prevê a hipótese de o agente atuar com dolo, mas sem
consciência da ilicitude. Enquanto que o CP permite a isenção de pena por erro de proibição (exclui a
culpabilidade), no CPM, permite-se, no máximo, a redução da pena.

Importante ressaltar que o art. 73 do CPM supre lacunas, ou seja, quando a lei falar em
atenuação, mas não disser o quantum, considerar-se-á um quinto a um terço.

Art. 73. Quando a lei determina a agravação ou atenuação da pena sem mencionar o quantum,
deve o juiz fixá-lo entre um quinto e um terço, guardados os limites da pena cominada ao crime.

2.8. ERRO SOBRE A PESSOA E ERRO NA EXECUÇÃO:


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O art. 37 do CPM traz o erro sobre a pessoa (error in personam) e erro na execução (aberratio
ictus). São erros acidentais e periféricos. Equivale ao art. 20, §3º e 73 do CP comum.

O ponto comum é que o erro é de pessoa para pessoa, mas a diferença é que pode ser um erro
de representação na identificação da vítima (no caso do error in personam) ou um erro na execução, ou
seja, um desvio no golpe, em que se atinge pessoa diversa da pretendida (no caso do aberratio ictus).

Erro sobre a pessoa e erro na execução


CP CPM
Art. 20, § 3º - O erro quanto à pessoa contra a
qual o crime é praticado não isenta de pena.
Não se consideram, neste caso, as condições Art. 37. Quando o agente, por erro de
ou qualidades da vítima, senão as da pessoa percepção ou no uso dos meios de execução,
contra quem o agente queria praticar o crime. ou outro acidente, atinge uma pessoa em vez
Art. 73 - Quando, por acidente ou erro no uso de outra, responde como se tivesse praticado
dos meios de execução, o agente, ao invés de o crime contra aquela que realmente
atingir a pessoa que pretendia ofender, atinge pretendia atingir. Devem ter-se em conta não
pessoa diversa, responde como se tivesse as condições e qualidades da vítima, mas as
praticado o crime contra aquela, atendendo- da outra pessoa, para configuração,
se ao disposto no § 3º do art. 20 deste qualificação ou exclusão do crime, e
Código. No caso de ser também atingida a agravação ou atenuação da pena.
pessoa que o agente pretendia ofender,
aplica-se a regra do art. 70 deste Código.

Ex.: Um soldado queria atingir o comandante, mas errou na execução e acabou atingindo outro
soldado. Nesse caso, ele responderá como se tivesse atingido o comandante que tem um rigor maior
que a simples lesão corporal (art. 157, CPM).

Art. 157. Praticar violência contra superior:


Pena - detenção, de três meses a dois anos.

Da mesma forma, se o soldado queria atingir outro soldado, mas erra e atinge o tenente, o
sujeito irá responder como se tivesse atingido o soldado.
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Isso significa que há a substituição das pessoas para o prejuízo ou benefício do réu.

2.9. RESULTADO DIVERSO DO PRETENDIDO:

O art. 37, §1º, CPM traz a hipótese de resultado diverso do pretendido (aberratio criminis).
Equivale ao art. 74, CP comum. Aqui, o erro é de execução.

Resultado diverso do pretendido


CP CPM
Art. 74 - Fora dos casos do artigo anterior,
quando, por acidente ou erro na execução do
§ 1º Se, por erro ou outro acidente na
crime, sobrevém resultado diverso do
execução, é atingido bem jurídico diverso do
pretendido, o agente responde por culpa, se o
visado pelo agente, responde este por culpa,
fato é previsto como crime culposo; se ocorre
se o fato é previsto como crime culposo.
também o resultado pretendido, aplica-se a
regra do art. 70 deste Código.

Assim, o agente que praticar o crime contra a coisa e atingir pessoa será responsabilizado a título
de culpa, se o fato é punível na forma culposa.

#SELIGANOEXEMPLO: Sujeito arremessa uma pedra a fim de danificar uma vidraça do alojamento de
praças, mas o alvo e acaba atingindo um militar que passava naquele local. Nesse caso, o agente não
responderá pela tentativa de dano, mas por lesão corporal culposa.

O art. 37, §2º, CPM estabelece que se for atingida também a pessoa (duplicidade de resultado),
aplica-se a regra do concurso formal.

#SELIGANADIFERENÇA: A regra do concurso formal no CPM é a soma de penas e depois é aplicada


uma redução, conforme será estudado posteriormente.

Duplicidade do resultado
§ 2º Se, no caso do artigo, é também atingida a pessoa visada, ou, no caso do parágrafo anterior,
ocorre ainda o resultado pretendido, aplica-se a regra do art. 79.
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2.10. DA INEXIGIBILIDADE DE CONDUTA DIVERSA:

O art. 38, CPM trata da inexigibilidade de conduta diversa.

Inexigibilidade de conduta diversa


CP CPM
Art. 38. Não é culpado quem comete o crime:
Coação irresistível
a) Sob coação irresistível ou que lhe suprima
a faculdade de agir segundo a própria
vontade;
Art. 22 - Se o fato é cometido sob coação
Obediência hierárquica
irresistível ou em estrita obediência a ordem,
b) Em estrita obediência a ordem direta de
não manifestamente ilegal, de superior
superior hierárquico, em matéria de serviços.
hierárquico, só é punível o autor da coação ou
§1° Responde pelo crime o autor da coação ou
da ordem.
da ordem.
§2° Se a ordem do superior tem por objeto a
prática de ato manifestamente criminoso, ou
há excesso nos atos ou na forma da
execução, é punível também o inferior.

Lembra que o CPM é causalista, e, por consequência, o dolo e culpa são espécies de
culpabilidade? Esta alínea trata da coação irresistível que pode ser física ou moral. O CPM estabelece
que a coação irresistível não é culpável, pois o dolo está na culpabilidade.

No CP comum, por outro lado, a coação física leva à atipicidade, pois não há conduta voluntária4.
A coação moral irresistível no CP comum está prevista no art. 22 (inexigibilidade de conduta diversa).

#ATENÇÃO #VAICAIR
Art. 40. Nos crimes em que há violação do dever militar, o agente não pode invocar coação irresistível
senão quando física ou material.

Dessa forma, impõe-se que o militar deve conhecer o dever militar. Contudo, a coação física
irresistível pode ser aplicada ao crime contra o dever militar.
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Lembre que o crime, segundo a teoria tripartida é fato típico, ilícito e culpável.
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Erro de Direito Coação Moral Irresistível Coação física irresistível


Não se aplica ao crime contra o Não se aplica ao crime contra o Aplica-se ao crime contra o
dever militar dever militar dever militar

Vale lembrar que existe ainda a coação resistível, que funciona como circunstância atenuante,
prevista no art. 41, CPM. Serve para os artigos 38, alíneas “a” e “b”, e art. 39, CPM.

Art. 41. Nos casos do art. 38, letras “a” e “b”, se era possível resistir à coação, ou se a ordem não era
manifestamente ilegal; ou, no caso do art. 39, se era razoavelmente exigível o sacrifício do direito
ameaçado, o juiz, tendo em vista as condições pessoais do réu, pode atenuar a pena.

E, Coach, como se dá essa ordem não manifestamente ilegal?

Para os militares, a ordem deve ser direta, advinda de superior hierárquico e em matéria de
serviço.

Se a ordem é estranha ao serviço, ainda que venha de superior hierárquico, o militar pode não
cumprir e, inclusive, pedir esclarecimentos ou orientação. Deve-se ter em mente que ordem errada
não se cumpre.

O §2º do art. 38, CPM traz a hipótese de ordem para prática de ato manifestamente criminoso.

§2° Se a ordem do superior tem por objeto a prática de ato manifestamente criminoso, ou há
excesso nos atos ou na forma da execução, é punível também o inferior.

#MEMORIZAISSOTUDO #LINKSMENTAIS: Assim, vislumbramos três situações:

a) A ordem de superior hierárquico em matéria de serviço deve ser cumprida;


b) A ordem duvidosa pode ser questionada (art. 41, CPM). Se a ordem não era manifestamente
ilegal é duvidosa. Se o militar não pede esclarecimentos podendo fazê-lo, ele responde pelo fato, mas
terá uma atenuante por ter cumprido a ordem.
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c) A ordem manifestamente criminosa não se cumpre. O militar é obrigado a recusar e, se
cumprir, responderá pelo fato, não pode alegando estrita obediência hierárquica para excluir a
culpabilidade por inexigibilidade de conduta diversa.

2.11. EXCLUDENTES DE ILICITUDE:

O art. 42, CPM traz as excludentes de ilicitude (causas de justificação) e corresponde ao art. 23,
CP comum.

Excludentes de Ilicitude
CP CPM
Art. 23 - Não há crime quando o agente Art. 42. Não há crime quando o agente pratica
pratica o fato: o fato:
I - em estado de necessidade; I - em estado de necessidade;
II - em legítima defesa; II - em legítima defesa;
III - em estrito cumprimento de dever legal ou III - em estrito cumprimento do dever legal;
no exercício regular de direito. IV - em exercício regular de direito.

A legítima defesa (art. 25, CP comum e art. 44, CPM), o estrito cumprimento do dever legal e o
exercício regular de direito possuem o mesmo tratamento no CP comum e no CPM, razão pela qual
focaremos no Estado de Necessidade, que é comumente cobrado em provas5.

O CPM adota a teoria diferenciadora do Estado de Necessidade, enquanto que o CP comum adota
a Teoria Unitária, vejamos:

Teoria diferenciadora Teoria Unitária


Adotada pelo CPM Adotada pelo CP
Justificante Ex c ulpante Justificante –
Nesse caso, o bem
Nesse caso, o bem Nesse caso, o bem A teoria unitária não
protegido vale menos
protegido vale protegido vale mais ou a adota o estado de
ou a mesma coisa que
mais que o bem mesma coisa que o bem necessidade
o bem jurídico
jurídico sacrificado. jurídico sacrificado. exculpante.
sacrificado.

→ Exclui a ilicitude. → Exclui a ilicitude. → Reduz a pena de 1/3 a


→ Exclui a
5
Tema cobrado na segunda fase do V concurso da DPU.
18
culpabilidade.
#OLHAADICA:
2/3.
exCulpante 
Culpabilidade.
+ – ou = + ou = –

Assim, para a teoria unitária, adotada pelo nosso Código Penal, todo estado de necessidade é
justificante, ou seja, tem a finalidade de eliminar a ilicitude do fato típico praticado pelo agente.

#JÁCAIU #CEPSE (MPE/2010): No sistema penal militar, o estado de necessidade segue a teoria
diferenciadora do direito penal alemão, que faz o balanço dos bens e interesses em conflito. O estado
de necessidade pode ser exculpante ou justificante. O primeiro é causa de exclusão da culpabilidade e o
segundo, de exclusão de ilicitude.6

Temos ainda o art. 45, CPM que trata do excesso nas causas de justificação.

Se o agente exceder culposamente irá responder, se o fato for punível a título de culpa.

Excesso culposo
Art. 45. O agente que, em qualquer dos casos de exclusão de crime, excede culposamente os limites
da necessidade, responde pelo fato, se este é punível, a título de culpa.
Excesso escusável
Parágrafo único. Não é punível o excesso quando resulta de escusável surpresa ou perturbação de
ânimo, em face da situação.

No excesso exculpante ou escusável, o agente excede uma causa de justificação. Diferentemente


do CP comum, o Código castrense prevê de forma expressa o excesso exculpante, que não é punível
quando resulta de escusável surpresa ou perturbação de ânimo, em face da situação. Trata-se de
inexigibilidade de conduta diversa.

Leva-se em consideração o estado emocional ou psicológico. Pode ser uma perturbação psíquica
momentânea, em que o agente não mede a sua reação e não raciocina corretamente. Normalmente,
isso irá caracterizar o excesso intensivo, que é quando o agente intensifica a sua reação

6
Correto!
19
exageradamente por conta da sua perturbação naquele momento. Isso é possível, sobretudo em se
tratando de militares, em que o sujeito pode estar em situação de confronto.

O CP comum não traz previsão de figura semelhante. A doutrina sugere como causa supralegal
de inexigibilidade.

Excesso Doloso
CP CPM
Excesso punível Excesso doloso
Parágrafo único - O agente, em qualquer das Art. 46, CPM. O juiz pode atenuar a pena
hipóteses deste artigo, responderá pelo ainda quando punível o fato por excesso
excesso doloso ou culposo. doloso.

No direito penal comum, o excesso doloso pode ser classificado em duas modalidades: stricto
sensu e aquele que deriva de um erro de proibição indireto quanto ao limite. No primeiro caso, o
sujeito excede porque sabe e porque quer exceder. Já no segundo caso, o sujeito juridicamente não
percebe corretamente o limite. Vejamos como o tema se aplica ao CPM:

Excesso Doloso em sentido estrito Excesso decorrente de erro de direito


Ocorre quando, após iniciada a ação justificada,
Ocorre quando o agente, após iniciar a sua
em virtude de erro de interpretação da lei quanto
conduta conforme o direito, conscientemente e
aos limites da causa de justificação, o sujeito
voluntariamente extrapola os limites de sua
acredita que pode prosseguir albergado pela
atuação, desejando o resultado ilícito.
excludente do crime.
É somente nessa situação de erro de direito que
O agente responde pelo seu excesso intencional.
se aplica o art. 46 do CPM!

Deve-se correlacionar o art. 46, CPM com o art. 35, CPM (erro de direito). Se o erro é escusável, o
sujeito excedeu dolosamente, mas por erro de interpretação da lei, há uma atenuante.

Art. 35. A pena pode ser atenuada ou substituída por outra menos grave quando o agente, salvo
em se tratando de crime que atente contra o dever militar, supõe lícito o fato, por ignorância ou erro de
interpretação da lei, se escusáveis.
20
Portanto, no excesso doloso, que só faz sentido quando há um erro de direito à luz do art. 35,
CPM (erro escusável salvo nos crimes contra o dever militar), a pena pode ser atenuada pelo juiz. Se o
excesso é em sentido estrito, não há atenuação.

Se há algum erro de interpretação quanto ao limite da causa de justificação isso seria um erro de
proibição indireto no direito penal comum. Para o direito penal militar, é um erro de direito.

Estado de Necessidade Exculpante


(art. 39, CPM).
Quais são as situações de inexigibilidade de Coação Irresistível (art. 38, CPM).
conduta diversa para o CPM? Estrita Obediência Hierárquica (art. 38, CPM).
Excesso Exculpante (art. 45, parágrafo único,
CPM).
#ATENÇÃO #SELIGANESSADIFERENÇA #VAICAIR:
O CP comum só reconhece expressamente a coação irresistível e a estrita obediência hierárquica (art.
22, CP). As demais são consideradas supralegais.

Para finalizar, temos ainda a excludente de ilicitude do comandante (art. 42, parágrafo único do
CPM), vejamos:

Parágrafo único. Não há igualmente crime quando o comandante de navio, aeronave ou praça de
guerra, na iminência de perigo ou grave calamidade, compele os subalternos, por meios violentos, a
executar serviços e manobras urgentes, para salvar a unidade ou vidas, ou evitar o desânimo, o terror,
a desordem, a rendição, a revolta ou o saque.

3. IMPUTABILIDADE:

4.1. ALIENAÇÃO MENTAL:

O art. 48, CPM equivale ao art. 26, caput, CP comum. Trata da inimputabilidade por alienação
mental. Nesse caso, o critério é o biopsicológico foi adotado nos dois sistemas.

Inimputabilidade
CP CPM
Art. 26 - É isento de pena o agente que, por Art. 48. Não é imputável quem, no momento
21
doença mental ou desenvolvimento mental da ação ou da omissão, não possui a
incompleto ou retardado, era, ao tempo da capacidade de entender o caráter ilícito do
ação ou da omissão, inteiramente incapaz de fato ou de determinar-se de acordo com esse
entender o caráter ilícito do fato ou de entendimento, em virtude de doença mental,
determinar-se de acordo com esse de desenvolvimento mental incompleto ou
entendimento. retardado.

#JÁCAIU #CESPE #DPU O Código Penal Militar adotou o critério do sistema biopsicológico para aferição
da inimputabilidade.7

Semi-Imputabilidade
CP CPM
Parágrafo único - A pena pode ser reduzida Parágrafo único. Se a doença ou a deficiência
de um a dois terços, se o agente, em virtude mental não suprime, mas diminui
de perturbação de saúde mental ou por consideravelmente a capacidade de
desenvolvimento mental incompleto ou entendimento da ilicitude do fato ou a de
retardado não era inteiramente capaz de autodeterminação, não fica excluída a
entender o caráter ilícito do fato ou de imputabilidade, mas a pena pode ser
determinar-se de acordo com esse atenuada, sem prejuízo do disposto no art.
entendimento. 113.

A semi-imputabilidade é tratada como uma atenuante facultativa no art. 73 do CPM e a


atenuação é de um quinto a um terço. Por outro lado, no art. 26, parágrafo único, do CP comum
temos a redução obrigatória de um a dois terços. O CP comum é mais benéfico e a pena pode ser
reduzida aquém do mínimo legal.

É fundamental ter em mente que o CPM também consagra o sistema vicariante, ou seja, o art.
113, CPM permite a substituição da pena por medida de segurança, se o juiz entender que há uma
necessidade de especial tratamento curativo.

Vale ressaltar que ao contrário do Código Penal comum, no CPM não há tratamento
ambulatorial, sendo possível somente a internação.

#VAMOSLEMBRAR:

7
Certo!
22
Medidas de Segurança no Código Penal comum
Detentiva (internação) Restritiva (tratamento ambulatorial)
Consiste na internação do agente em um hospital Consiste na determinação de que o agente se
de custódia e tratamento psiquiátrico. sujeite a tratamento ambulatorial.
Crimes punidos com reclusão. Crimes punidos com detenção.

Manicômio judiciário
CPM, Art. 112. Quando o agente é inimputável (art. 48), mas suas condições pessoais e o fato
praticado revelam que ele oferece perigo à incolumidade alheia, o juiz determina sua internação em
manicômio judiciário.

Substituição da pena por internação


Art. 113, CPM. Quando o condenado se enquadra no parágrafo único do art. 48 e necessita de
especial tratamento curativo, a pena privativa de liberdade pode ser substituída pela internação em
estabelecimento psiquiátrico anexo ao manicômio judiciário ou ao estabelecimento penal, ou em seção
especial de um ou de outro.
4.2. EMBRIAGUEZ:

4.2.1. Embriaguez involuntária completa:

Embriagar-se é diferente de simplesmente beber. Pode-se definir a embriaguez como a


intoxicação aguda do organismo humano por álcool ou por substância de efeitos análogos. Em caso de
embriaguez involuntária completa, há exclusão da responsabilidade penal.

A embriaguez involuntária pode se dar por caso fortuito ou força maior. O caso fortuito decorre
de situação imprevisível, geralmente envolve o desconhecimento do caráter embriagante/intoxicante
da substância ingerida. A força maior, por outro lado, é oriunda de ação humana.

#NÃOESQUEÇA A embriaguez involuntária completa é causa de exclusão da imputabilidade tanto no


Direito Penal comum quanto no Direito Penal Militar.

Embriaguez involuntária completa


CP CPM
§ 1º - É isento de pena o agente que, por Art. 49. Não é igualmente imputável o agente
embriaguez completa, proveniente de caso que, por embriaguez completa proveniente de
fortuito ou força maior, era, ao tempo da caso fortuito ou força maior, era, ao tempo da
23
ação ou da omissão, inteiramente incapaz de
ação ou da omissão, inteiramente incapaz de
entender o caráter ilícito do fato ou de
entender o caráter criminoso do fato ou de
determinar-se de acordo com esse
determinar-se de acordo com esse
entendimento. (Redação dada pela Lei nº
entendimento.
7.209, de 11.7.1984)

O CPM também prevê a embriaguez involuntária incompleta, vejamos:


Embriaguez involuntária incompleta
CP CPM
§ 2º - A pena pode ser reduzida de um a dois
Art. 49, Parágrafo único. A pena pode ser
terços, se o agente, por embriaguez,
reduzida de um a dois terços, se o agente por
proveniente de caso fortuito ou força maior,
embriaguez proveniente de caso fortuito ou
não possuía, ao tempo da ação ou da
força maior, não possuía, ao tempo da ação ou
omissão, a plena capacidade de entender o
da omissão, a plena capacidade de entender o
caráter ilícito do fato ou de determinar-se de
caráter criminoso do fato ou de determinar-se
acordo com esse entendimento. (Redação
de acordo com esse entendimento.
dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

MUITO cuidado com essa hipótese: Enquanto que no caso de semi-imputabilidade o CPM prevê
a redução da pena de 1/5 até 1/3, sendo menos favorável que o Código Penal, quando se trata da
redução da pena por embriaguez involuntária incompleta, a redução é a mesma do Direito Penal
comum.

#ATENÇÃO: Apesar da embriaguez patológica ser voluntária, ela é vista como doença mental, sendo
caso de inimputabilidade por alienação mental.

4.2.2. Teoria da Actio Libera in Causa:

Essa teoria surgiu na Itália e foi criada para solucionar os crimes cometidos em estado de
embriaguez preordenada, para isso, promove a antecipação do momento da análise da
imputabilidade. Dessa forma, é antecipada para o momento anterior àquele em que o agente
livremente se colocou no estado de embriaguez.

A teoria do actio libera in causa é uma decorrência lógica da teoria conditio sine qua non (artigo
29 do CPM), mas não se confundem. A teoria da actio libera in causa é uma criação doutrinária, não
24
estando prevista expressamente no CPM. O pensamento dessa teoria pode ser resumido no fato de
que a embriaguez é a causa do resultado.

Assim, três situações devem ser analisadas na esfera militar:

a) Embriaguez culposa;
b) Embriaguez voluntária (dolosa);
c) Embriaguez preordenada.

CPM, Art. 70. São circunstâncias que sempre agravam a pena, quando não integrantes ou
qualificativas do crime:
II - ter o agente cometido o crime:
c) depois de embriagar-se, salvo se a embriaguez decorre de caso fortuito, engano ou força
maior;

A embriaguez não precisa ser preordenada para agravar a pena.

Parágrafo único. As circunstâncias das letras “c”, salvo no caso de embriaguez preordenada, “l”,
“m” e “o”, só agravam o crime quando praticado por militar.

Isso significa que o militar, qualquer que seja a embriaguez, tem sempre a pena agravada
(exceto em caso fortuito ou força maior, como diz o artigo).

Para o civil, (na esfera federal, já que civil nunca é julgado na justiça militar estadual), só é
agravada a pena se a embriaguez for preordenada.

Além disso, é bom ter em mente o crime de embriaguez em serviço, que possui como elementar
o fato de o Militar encontrar-se embriagado:

Embriaguez em serviço
Art. 202. Embriagar-se o militar, quando em serviço, ou apresentar-se embriagado para prestá-lo:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos.

#RESUMO #LOUCOSPORTABELAS #VOCÊPRECISASABER:


25
CP CPM
Inimputabilidade Inimputabilidade
Isenta de pena
Isenta de pena
“Não é igualmente imputável”
Semi-imputabilidade Semi-imputabilidade
Redução 1/3 até 2/3 Redução de 1/5 até 1/3
Embriaguez involuntária completa Embriaguez involuntária completa
Isenta de pena
Isenta de pena
“Não é igualmente imputável”
Embriaguez involuntária incompleta Embriaguez involuntária incompleta
Redução de 1/3 até 2/3 Redução de 1/3 até 2/3
Embriaguez Voluntária Embriaguez Voluntária
Se for Militar, SEMPRE
No CP comum a embriaguez voluntária só agrava Se for Civil, só agrava
agrava a pena (exceto
a pena se for preordenada se for preordenada
caso fortuito/força maior)
.
Inimputabilidade Isenta de pena
Semi-imputabilidade Redução 1/3 até 2/3
Embriaguez involuntária completa Isenta de pena
CP
Embriaguez involuntária incompleta Redução 1/3 até 2/3
No CP só a embriaguez preordenada
Embriaguez Voluntária
agrava
Inimputabilidade Isenta de pena
Semi-imputabilidade Redução 1/5 até 1/3
Embriaguez involuntária completa Isenta de pena
CPM Embriaguez involuntária incompleta Redução 1/3 até 2/3
Se for militar Se for civil só
Embriaguez Voluntária sempre agrava agrava se for
(exceto CF/FM) preordenada

4.3. INIMPUTABILIDADE POR MENORIDADE:

Dispõem os art. 50, 51 e 52 do CPM:

Menores
Art. 50. O menor de dezoito anos é inimputável, salvo se, já tendo completado dezesseis anos,
revela suficiente desenvolvimento psíquico para entender o caráter ilícito do fato e determinar-se de
acordo com este entendimento. Neste caso, a pena aplicável é diminuída de um terço até a metade.
Equiparação a maiores
Art. 51. Equiparam-se aos maiores de dezoito anos, ainda que não tenham atingido essa idade:
26
a) os militares;
b) os convocados, os que se apresentam à incorporação e os que, dispensados temporariamente
desta, deixam de se apresentar, decorrido o prazo de licenciamento;
c) os alunos de colégios ou outros estabelecimentos de ensino, sob direção e disciplina militares,
que já tenham completado dezessete anos.
Art. 52. Os menores de dezesseis anos, bem como os menores de dezoito e maiores de dezesseis
inimputáveis, ficam sujeitos às medidas educativas, curativas ou disciplinares determinadas em
legislação especial.

Como podemos observar, o CPM traz ressalva em que se possibilita a responsabilidade penal de
menores de 18 anos em determinados casos. Contudo, a referida disposição NÃO foi recepcionada pela
CF/88, em razão do art. 228: CF/88, Art. 228. São penalmente inimputáveis os menores de dezoito
anos, sujeitos às normas da legislação especial.

Assim, pode-se concluir que pela redação literal do CPM, adota-se o critério biopsicológico.
Contudo, a CF/88 optou pelo critério biológico puro, considerando como penalmente inimputáveis os
menores de dezoito anos, em qualquer caso. Isso, inclusive, já foi cobrado pelo CESPE em prova,
vejamos:

(Analista/STM – 2011): Um adolescente com dezessete anos de idade que, convocado ao serviço
militar, após ser incorporado, praticar conduta definida no CPM como crime de insubordinação
praticado contra superior será alcançável pela lei penal militar, a qual adotou, para os menores de
dezoito e maiores de dezesseis anos de idade, o sistema biopsicológico, em que o reconhecimento da
imputabilidade fica condicionado ao seu desenvolvimento psíquico.

A assertiva possui dois erros: O primeiro é que a referida norma não foi recepcionada pela CF/88, e o
segundo, é que no sistema biopsicológico a imputabilidade fica condicionada a condição mental do
agente, bem como sua capacidade de entendimento e autodeterminação no momento da conduta. Ou
seja, não basta só o desenvolvimento psíquico.

4. DISPOSITIVOS PARA O CICLO DE LEGISLAÇÃO

DIPLOMA DISPOSITIVO
Código Penal Militar Arts. 29º ao 52º
27

5. BIBLIOGRAFIA UTILIZADA

Esse material é uma fusão das seguintes fontes:


1. Anotações pessoais de aulas de diversas fontes.
2. Direito Penal Militar, coleção Sinopses – Marcelo Uzeda – Editora Juspodivm.

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