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Arte e Criatividade
Reuben Fine
O Papel do Ego
À época da Primeira Guerra Mundial, estava bem determinado que os impulsos
instintivos encontrados em neuróticos estavam presentes universalmente em todas as
pessoas. O artista apenas encontrou um meio de expressar impulsos proibidos de uma
forma socialmente aprovada. Assim, o artista não era louco nem gênio, como se supunha
anteriormente. Mas que tipo de homem era ele? Ou, nos termos mais técnicos da
psicanálise, o seu id era como o das outras pessoas, mas como era o seu ego? Foi esta
questão que a pesquisa psicanalítica abordou a partir da década de 1920, especialmente
depois que Freud formulou sua teoria da psicologia do ego, em 1923.
Freud permaneceu ambivalente a respeito da psicologia do artista. De um lado, ele
sustentava que as pessoas sadias não criam fantasias, o que fazia do artista, per se, um
neurótico. De outro lado, ele afirmava que a psicanálise não pode explicar o gênio.
Assim, ele ficou preso ao velho dilema: o artista é um louco ou um gênio? O resumo final
e amadurecido da posição de Freud pode ser encontrado em suas Conferências
Introdutórias (1916-1917), onde ele escreve:
Há um caminho que leva de volta, da fantasia para a realidade – o caminho da arte. Um artista é
mais uma vez, em rudimentos, um introvertido, não muito distante da neurose. É oprimido por
necessidades instintivas excessivamente poderosas. Deseja honrarias, poder, riqueza, fama e o amor das
mulheres; mas não tem meios de atingir estas satisfações. Conseqüentemente, como qualquer homem
insatisfeito, ele se afasta da realidade e transfere todo o seu interesse, e também sua libido, para as
construções de desejo da sua vida de fantasia, um caminho que pode levar à neurose...
Para os que não são artistas, o prazer a ser obtido com as fontes de fantasia é muito limitado...
Um homem que é um verdadeiro artista tem mais à sua disposição. Em primeiro lugar, ele sabe como
elaborar seus devaneios de maneira a fazer com que eles percam o que é pessoal demais e repele os
estranhos, e a tornar possível que outros partilhem do gozo. Ele também compreende como atenuá-los, de
forma que eles não traiam facilmente sua origem de fontes proscritas. Ademais, ele possui o misterioso
poder de moldar algum material particular até que ele se torne uma imagem fiel de sua fantasia; e sabe
ainda como ligar uma fonte de prazer tão grande a esta representação e sua fantasia inconsciente, de
forma que, pelo menos no momento, as repressões são superadas e suspensas. Se é capaz de conseguir
tudo isto, ele faz com que outras pessoas possam mais uma vez extrair consolação e alívio de suas
próprias fontes de prazer em seu inconsciente, que se tornaram inacessíveis a elas; ele obtém sua gratidão
e admiração, e assim obteve através de sua fantasia o que originalmente só tinha conseguida na sua
fantasia: honrarias, poder e o amor das mulheres.
As idéias de Federn foram adotadas por muitos outros autores analíticos, muitas vezes em
linguagem diferente. Uma exposição mais clara, embora com as mesmas idéias
essenciais, encontra-se no artigo de Erich Fromm sobre “Egoísmo e Auto-Amor” (1939).
Nas palavras de Fromm, o amor por outros e o amor por nós mesmos não são
alternativas. Pelo contrário, uma atitude de amor em relação a si próprio será encontrada
em todos aqueles que são capazes de amar outros. O amor, em princípio, é indivisível, no
que diz respeito à ligação entre objetos e o eu próprio. O amor genuíno é uma expressão
de produtividade e implica em atenção, respeito, responsabilidade e conhecimento. Não é
um “afeto”, no sentido de ser afetado por alguém, mas um anseio ativo pelo crescimento
e felicidade da pessoa amada, enraizado na capacidade própria de amar.
A memória da boa situação, onde o ego da criança continha todo o objeto amado, e a
compreensão de que ele foi perdido pelos próprios ataques dela leva a um intenso sentimento de
perda e culpa, e ao desejo de restaurar e recriar o objeto amado perdido, fora e dentro do ego. Este
desejo de restaurar e recriar é a base da sublimação e criatividade posterior. 17
Rickman (1940) igualou “feio” a destruído, o objeto incompleto. A beleza, um ritmo
não-perturbado num todo composto, parece corresponder ao estado em que nosso mundo
interior está em paz. Contudo, tanto a beleza como a feiúra devem estar presentes para
uma plena experiência estética.
Uma série de estudos de artistas e obras de arte mostrou a relevância desta teoria de
culpa e reparação. Levey (1938) mostrou como uma paciente sua usava a poesia como
defesa contra suas ansiedades, e como seus poemas refletiam as vicissitudes da
transferência. Joan Riviere (1955) ofereceu inúmeros exemplos da fantasia inconsciente
de um mundo interior refletido em exemplos da literatura; o tratamento deste mundo
interior pela autora toca o âmago do processo criativo. Bunker (1953) mostrou como um
escritor levou isto mais adiante, fazendo da mãe má o objeto perseguidor que não lhe
permitiria publicar sua poesia. Bergler (1949) mostrou que tal orientação masoquista é o
conflito central de muitos artistas.
Como muitos observaram (v. Peters, 1961), a arte recria, une, restaura e retém objetos
perdidos. O artista pode descatexizar o que é perdido e depois recatexizar o objeto recém-
criado. Talvez o objetivo final da arte seja conquistar a morte ou o medo da morte, e
assim atingir a imortalidade. Com efeito, este é um motivo bastante consciente e
difundido entre os próprios artistas, que freqüentemente falam de obras de arte “grandes”,
“imortais”, “eternas”, e são constantemente perseguidos pelo medo de que sua obra será
esquecida. Pollock observa que, antes que possa haver uma nova criação, deve haver um
processo de luto pela artista, seja ela o objeto perdido, o ideal perdido ou a criação
perdida.
Parece improvável que uma atividade tão universal... que tem início tão cedo no transcurso
da vida de cada indivíduo, possua um significado mental único. Parece mais plausível encarar o
impulso criativo como comparável a uma função biológica, como a respiração ou o parto, que sob
certas circunstâncias pode tornar-se veículo de uma imensidade de significados psicológicos e
conseqüentemente largas flutuações de funcionamento. 20
Estudos de Artistas
O primeiro estudo de um grande artista foi o livro de Freud sobre Leonardo da Vinci,
e, 1910. Desde então, surgiram inúmeros ensaios sobre uma grande variedade de pintores,
escritores, escultores e outros indivíduos criativos famosos, assim como sobre suas
produções criativas. Embora não haja mais objetivo teórico neste material, o fascínio
inerente à “dissecação” de uma grande personalidade permanece tão forte que não cessa o
fluxo de publicações.
De Levita (em Grinberg, 1972) dividiu os escritos psicanalíticos sobre a arte em
quatro fases de desenvolvimento:
1. Uma obra de arte é utilizada para ilustrar mecanismos psíquicos, como por
exemplo o “Gradiva” de Freud (1907), no qual ele abordou a questão de se um
sonho num romance pode ser interpretado da mesma maneira que um sonho na
vida real.
2. O estabelecimento de conexões entre dados biográficos do artista e elementos de
sua obra, como por exemplo o estudo de Freud sobre Leonardo. Shakespeare foi
tema de dezenas de estudos, talvez centenas (Holland, 1966).
3. A questão abordada a seguir é a distinção entre produção artística e outros
fenômenos psíquicos. Um exemplo é o estudo de Kafka por Selma Fraiberg.
4. Finalmente, há o esboço da atividade artística como um processo.
Repetidamente expus a hipótese de que o objeto bom primal, o seio da mãe, forma o núcleo
do ego e contribui vitalmente para o seu crescimento, e muitas vezes descrevi como a criança sente
que internaliza concretamente o seio e o leite que ele fornece. Também há já em sua mente alguma
ligação definida entre o seio e outras partes e aspectos da mãe... Se este objeto primal, que é
introjetado, enraíza-se no ego com relativa segurança, está lançada a base para um desenvolvimento
satisfatório. 21
Contudo, presa como estava à absurda teoria da pulsão de morte, Melanie Klein
nunca deixou claro que o objeto bom é na realidade uma incorporação da mãe boa. Ela
escreveu (1957):
Identificação primária. Todo o mundo é tomado como parte do ego. Isto, de acordo
com Freud, é a primeira relação objetal. Está na base da projeção e introjeção primária,
precursora da formação de símbolos, todos eles na raiz da formação do ego [superego].
Não está sempre mantido claramente distante da identificação [secundária], que só pode
ter lugar se o ego já existe.
Seria mais correto falar da fase inicial da completa ausência de distinção do ego e do
mundo exterior, e considerar a diferenciação gradual em ego e mundo exterior. Isto
tornaria o termo desnecessário.
Identificação secundária [identificação]. A inclusão de características de um ente
estranho no ego. Há uma grande variedade de formas diferentes de identificação, não
suficientemente conhecidas ou mantidas à parte.
Introjeção. Uma incorporação instintiva à mente.
Este termo ainda é usado vagamente, muitas vezes, para indicar qualquer inclusão na
mente, segundo a concepção original [de Ferenczi]. Cada vez mais, contudo, é usado para
designar a natureza instintiva de tal absorção, que, filo-geneticamente falando, ao menos,
era uma verdadeira ingestão.
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Apessoalização. Adoção de parte das emoções, experiências e ações de outra
pessoa.
Projeção. As tendências inconscientes, de uma pessoa são atribuídas a outras pessoas,
muitas vezes depois de transformação, especialmente no oposto. Novamente, deve-se
considerar a grande variedade de formas de projeção.
Ejeção. Correspondente à introjeção, o ato instintivo de transplantar para o mundo
exterior; por exemplo, eliminação anal ou oral num plano mental
Resumo e Crítica
A exploração do mundo interior nos três primeiros anos de vida levou, especialmente
em conjunção com a observação direta das crianças, a enormes percepções da vida
psíquica inicial. Em lugar de uma ênfase nos impulsos, o destaque passou para as
relações objetais, ou relações interpessoais, e a patologia foi encarada primordialmente
nestes termos, em vez de em termos dos impulsos. Isto assinala um importante passo à
frente na teoria e também na prática. Contudo, embora se atribua tanta significação ao
ambiente inicial, as características do ambiente tendem a ser negligenciadas pela maioria
dos autores citados nesta seção; as restrições de Kernberg (1969) à teoria de Melanie
Klein podem ser aplicadas igualmente à sua própria teoria atual. Por outro lado, as
pessoas que lidam com o ambiente – teóricos da família, sociólogos e assim por diante –
tendem geralmente a negligenciar os fatores internos. Assim, criou-se uma divisão que
indubitavelmente será transposta no futuro próximo.
Linguagem e Comunicação
O poeta inglês Francis Thompson escreveu:
* N.T.: “Falamos uma linguagem que não sabemos como foi ensinada
E aquilo que de nós flui
Sabe melhor o ouvinte do que o orador.”
Isto pode ser tomado facilmente como texto da teoria psicanalítica da linguagem e
comunicação. Como se indicou anteriormente, embora tivesse feito vários comentários
sobre o tópico, Freud não atentou sistematicamente para a questão da linguagem. Em
conformidade, ela foi investigada mais intensamente desde sua morte.
Assim que se reconheceu o significado dos sonhos, imediatamente tornou-se claro
que, como as pessoas não comunicam seus sonhos, muito que é de importância vital entre
as pessoas permanece não-verbalizado. À medida que a população de pacientes de
psicanálise começou a mudar para os grupos mais normais (v. Cap. 19), os teóricos
passaram a compreender crescentemente que mesmo o indivíduo mais normal sofre de
uma variedade de problemas de comunicação. 29
As Neuroses Sintomáticas (Clássicas)
Freud já tinha descoberto que os sintomas clássicos das neuroses são formas
inconscientes de comunicação. Na histeria, o paciente fala na linguagem dos sintomas, o
que se torna possível porque o ouvinte não compreende o significado do sintoma. Assim,
por exemplo, a cena típica da dama vitoriana que desmaiou na sala de visitas e a quem
logo se aplicaram sais aromáticos, desapareceu hoje, porque todos saberiam que ela
estava apenas tentando receber atenção, e correriam para chamar o psiquiatra mais
próximo. A posição arc-de-cercle da mulher nunca é vista hoje, porque é obviamente
uma apresentação sexual. Na neurose obsessiva, idéia e afeto isolam-se um do outro; têm
de ser desenredados para que se chegue ao que está sendo comunicado. Acredita-se
geralmente hoje em dia que as neuroses mistas (ou neuroses de “caráter”) são a norma na
prática clínica. Nestas, o estudo da comunicação torna-se parte do estudo da estrutura
total do ego.
Rose Spiegel (1959) propôs uma classificação em cinco tipos da comunicação
manipulativa: cruamente destrutiva, autoritária, disjuntiva, pseudocomunicativa e não-
comunicativa. Isto pode ser útil na compreensão de todos os tipos de material.
Lingüística e Psicanálise
O desenvolvimento da lingüística como uma disciplina quase-independente foi muito
recente. Como ocorreu com outras áreas da psicologia cognitiva, a contribuição da
psicanálise à teoria básica foi pequena, na medida em que a linguagem é uma função
autônoma do ego. A contribuição da psicanálise, desde o princípio, foi uma compreensão
das interferências do id no funcionamento do ego (Freud, 1901).
Ekstein (1965) distingue seis estágios nas conceitualizações psicanalíticas do
desenvolvimento da linguagem:
1. O modelo freudiano primitivo de 1895, desenvolvido no contexto de
considerações neurofisiológicas, atribuiu o surgimento da fala ao desamparo
inicial da criança. Isto foi uma estrutura inicial útil.
2. No início do século, a origem da linguagem foi ligada especulativamente a
diversos fatores psicossexuais.
3. Na década de 1920, alguns autores, utilizando reconstruções a partir da análise
de adultos e crianças, frisaram o relacionamento mãe-filho pré-edipiano e a
importância da “fala amorosa primitiva”, em termos das necessidades a serem
satisfeitas pela linguagem materna.
4. A partir dos anos 50, o domínio da psicologia do ego tornou-se sempre mais
claro, juntamente com o ponto de vista adaptativo e noções de diferenciação
de funções psíquicas. Considerações moleculares da mecânica da fala e
suposições freqüentemente literais demais sobre a origem dos elementos da
fala deram lugar a modelos mais sofisticados, ligando a origem da fala ao
desenvolvimento das funções do ego (Edelheit, 1969).
5. Desde a década de 1960, a ênfase voltou-se para a observação direta de
crianças, tanto sob condições empíricas como experimentais (Emde et al.,
1976). Nesta fase houve uma disposição crescente de colaborar com outros
cientistas comportamentais.
6. Todo este tempo estudou-se a linguagem na esquizofrenia e distúrbios afins,
particularmente por ocorrerem estes distúrbios na infância. Apareceram
teorias cada vez mais sofisticadas, com o crescente conhecimento da
psicologia do ego, a partir da obra de Spitz sobre as origens do diálogo (Não e
Sim, 1959).
Dentre as mais interessantes interações da psicanálise e a lingüística está o trabalho
de Victor Rosen, que chefiou um grupo de estudos especiais sobre este tema no Instituto
Psicanalítico de Nova Iorque durante muitos anos a partir dos anos 60 (Rosen, 1977).
Samuel Atkin, na introdução ao livro de Rosen, divide a pesquisa de Rosen em quatro
categorias: a aplicação da lingüística a problemas especiais da psicologia do ego; a
psicologia do desenvolvimento, na qual ele tentou demonstrar o desenvolvimento
interativo e correlacionado da faculdade da linguagem e as fases psicológicas do
desenvolvimento da personalidade; a informação que a psicanálise e a psicolingüística
partilham; uma crítica da psicanálise e psicolingüística como ciências, e uma
conceituação de um modelo teórico que acomoda ambas no mesmo campo. As regras da
linguagem entram na operação das funções do ego, desenvolvimento do superego, regras
sociais e o relacionamento da linguagem com o pensamento. Rosen (1977) também
publicou um exame dos distúrbios da comunicação na psicanálise, distinguindo entre
distúrbios paraverbais, paramimétricos, de símile e da contigüidade.
A despeito do progresso feito, toda a área é ainda território quase virgem.
Comunicação Não-Verbal
Embora pareça intuitivamente óbvio que o corpo pode ser e é usado por todos em
diversas comunicações, tem sido extremamente difícil traduzir este conhecimento
cotidiano numa teoria científica. Os primeiros estudos de Freud sobre a histeria e outras
neuroses estabeleceram o sentido comunicativo de muitas ações não-verbais, mas não
resultou qualquer princípio geral, exceto, talvez, aquele de que a comunicação verbal está
num nível genético superior à não-verbal.
Uma das contribuições mais significativas nesta área foi a de Wilhelm Reich (1933),
com sua noção de couraça do corpo ou couraça do caráter. Reich julgava que o
endurecimento do ego, expresso em constelações corporais típicas, tem lugar
essencialmente com base em três processos: identificação com a realidade frustrante,
especificamente com a pessoa principal que representa esta realidade; o desvio contra si
próprio da agressão que foi mobilizada contra as pessoas frustrantes e que causava
ansiedade; a formação pelo ego de atitudes reativas com relação aos impulsos sexuais e o
uso das energias destas atitudes reativas para manter à distância estes impulsos.
Muitos outros autores descreveram diversos aspectos da comunicação corporal.
Sandor Feldman (1959) estendeu algumas das observações de Freud sobre as parapraxias
(lapsos freudianos) (v. Também Cap. 7).
A despeito destes artigos sugestivos e de outros, toda a área da comunicação não-
verbal está ainda em sua infância. O campo não-analítico quanto a este tópico continua
especulativo (Birdwhistell, 1970).
Chistes e Humor
Os chistes e o humor, em geral, são importantes expressões da fantasia. O livro de
Freud sobre os chistes (1905) ainda é o tratamento clássico do assunto; outras
contribuições foram basicamente elaboração de suas teses.
Freud deixa bem claro que o chiste é uma forma de comunicação:
A experiência reconhecida de modo geral, de que ninguém pode satisfazer-se m fazer um chiste para
si próprio... Eu mesmo não posso rir de um chiste que me ocorreu, que eu fiz, a despeito do prazer
inconfundível que ele me dê. É possível que minha necessidade de comunicar o chiste a outra pessoa esteja
de alguma forma ligada ao riso que é produzido por ele, que me é negado mas está manifesto na outra
pessoa. 32
O efeito agradável dos chistes, segundo Freud, depende de dois fatores: uma técnica
especial e a tendência do chiste. Num chiste com um jogo de palavras, a técnica mais
comum é a condensação. Também se observam outros mecanismos semelhantes aos
encontrados nos sonhos. Quanto ao objetivo dos chistes, os inocentes apenas oferecem
prazer; os tendenciosos, contudo, provêm da liberação de desejos sexuais e agressivos.
Num artigo subseqüente sobre “Humor” (1927), escrito depois de ter sido formulado o
sistema estrutural, Freud atribui parte do prazer à mitigação da severidade do superego,
fazendo do chiste novamente, assim, um exercício de comunicação. Freud chega a
sustentar que, em regra geral, há três pessoas envolvidas num chiste: o contador, o
ouvinte e uma terceira pessoa que é o personagem do chiste; assim, o chiste é
verdadeiramente um processo social-interpessoal. 33
Uns poucos estudos posteriores suplementam a obra de Freud. Wolfenstein (1954)
estudou o desenvolvimento do humor das crianças, mostrando as mudanças de
desenvolvimento na atitude em relação aos chistes. Grotjahn (1957) considerou o
humorista como um tipo de personalidade. Murdock (1949) resumiu as evidências sobre
relacionamentos chistosos em outras sociedades, mostrando que em geral tal
relacionamento só é permitido entre parentes com relacionamento sexual potencial
mútuo. Israel Zwerling (1955) e Joseph Richman (dados não publicados) mostraram
como se podem extrair conclusões de diagnósticos dos chistes que os pacientes contam.
(Extraído de A História da Psicanálise, LTC/EDUSP, 1981. Tradução de Ronald Fucs e Bernardo Jablonski)