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EsPCEx

Cadetes

a. Geografia Geral: 1) Localizando-se no Espaço: orientação e localização: coordenadas


geográficas e fusos horários; e cartografia: a cartografia e as visões de mundo, as várias formas
de representação da superfície terrestre, projeções cartográficas, escalas e convenções
cartográficas. ............................................................................................................................ 1
2) O Espaço Natural: estrutura e dinâmica da Terra: evolução geológica; deriva continental;
placas tectônicas; dinâmica da crosta terrestre; tectonismo; vulcanismo; intemperismo; tipos de
rochas e solos; formas de relevo e recursos minerais; as superfícies líquidas: oceanos e mares;
hidrografia; correntes marinhas – tipos e influência sobre o clima e a atividade econômica;
utilização dos recursos hídricos e situações hidroconflitivas; a dinâmica da atmosfera: camadas
e suas características; composição e principais anomalias – El Niño, La Niña, buraco na
camada de ozônio e aquecimento global: elementos e fatores do clima e os tipos climáticos; os
domínios naturais: distribuição da vegetação e características gerais das grandes paisagens
naturais; e impactos ambientais: poluição atmosférica, erosão, assoreamento, poluição dos
recursos hídricos e a questão da biodiversidade. ................................................................... 22
3) O Espaço Político e Econômico: indústria: o processo de industrialização; a primeira, a
segunda e a terceira revolução industrial; tipos de indústria; a concentração e a dispersão
industrial; os conglomerados transnacionais; os novos fatores de localização industrial; as
fontes de energia e a questão energética; impactos ambientais; agropecuária: sistemas
agrícolas; estrutura agrária; uso da terra; agricultura e meio ambiente; produção agropecuária;
comércio mundial de alimentos e a questão da fome; globalização e circulação: os fluxos
financeiros; transportes; os fluxos de informação; o meio tecnocientífico-informacional;
comércio mundial; blocos econômicos; os conflitos étnicos e as migrações internacionais; a
Divisão Internacional do Trabalho (DIT) e as trocas desiguais; a Nação e o Território, os Estados
territoriais e os Estados nacionais: a organização do Estado Nacional; e poder global; nova
ordem mundial; fronteiras estratégicas. .................................................................................. 70
4) O Espaço Humano: demografia: teorias demográficas; estrutura da população;
crescimento demográfico; transição demográfica e migrações; urbanização: processo de
urbanização; espaço urbano e problemas urbanos; e principais indicadores socioeconômicos.
............................................................................................................................................. 113
b. Geografia do Brasil: 1) O Espaço Natural: características gerais do território brasileiro:
posição geográfica, limites e fusos horários; geomorfologia: origem, formas e classificações do
relevo: Aroldo de Azevedo, Aziz Ab’Saber e Jurandyr Ross e a estrutura geológica; a atmosfera
e os climas: fenômenos climáticos e os climas no Brasil; domínios naturais: distribuição da
vegetação, características gerais dos domínios morfoclimáticos, aproveitamento econômico e
problemas ambientais; e recursos hídricos: bacias hidrográficas, aquíferos, hidrovias e
degradação ambiental. ......................................................................................................... 128
2) O Espaço Econômico: a formação do território nacional: economia colonial e expansão do
território, da cafeicultura ao Brasil urbano-industrial e integração territorial; a industrialização
pós-Segunda Guerra Mundial: modelo de substituição das importações, abertura para
investimentos estrangeiros; dinâmica espacial da indústria; polos industriais; a indústria nas
diferentes regiões brasileiras e a reestruturação produtiva; o aproveitamento econômico dos
recursos naturais e as atividades econômicas: os recursos minerais; fontes de energia e meio
ambiente; o setor mineral e os grandes projetos de mineração; agricultura brasileira: dinâmicas
territoriais da economia rural; a estrutura fundiária; relações de trabalho no campo; a

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modernização da agricultura; êxodo rural; agronegócio e a produção agropecuária brasileira; e
comércio: globalização e economia nacional; comércio exterior; integração regional (Mercosul
e América do Sul); eixos de circulação e custos de deslocamento. ...................................... 151
3) O Espaço Político: formação territorial – território; fronteiras; faixa de fronteiras; mar
territorial e Zona Econômica Exclusiva (ZEE); estrutura político-administrativa; estados;
municípios; distrito federal e territórios federais; a divisão regional, segundo o IBGE, e os
complexos regionais; e políticas públicas. ............................................................................ 203
4) O Espaço Humano: demografia: transição demográfica, crescimento populacional,
estrutura etária; política demográfica e mobilidade espacial (migrações internas e externas);
mercado de trabalho: estrutura ocupacional e participação feminina; desenvolvimento humano:
os indicadores socioeconômicos; ......................................................................................... 234
Urbanização brasileira: processo de urbanização; rede urbana; hierarquia urbana; regiões
metropolitanas e Regiões Integradas de Desenvolvimento (RIDEs); espaço urbano e problemas
urbanos. ............................................................................................................................... 258

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a. Geografia Geral: 1) Localizando-se no Espaço: orientação e localização:
coordenadas geográficas e fusos horários; e cartografia: a cartografia e as
visões de mundo, as várias formas de representação da superfície terrestre,
projeções cartográficas, escalas e convenções cartográficas.

FUNDAMENTOS DE CARTOGRAFIA1

Cartografia

Observe a tirinha de Calvin e Haroldo.

Na tirinha acima, Calvin e Haroldo estão nos Estados Unidos e planejam ir a Yukon, um território
localizado no noroeste do Canadá. Para ir até lá, saindo do estado de Washington, por exemplo, é
necessário atravessar toda a província canadense da Colúmbia Britânica, ou seja, cerca de 1.500
quilômetros em linha reta, e bem mais que isso indo de carro. Eles consultaram um globo terrestre para
terem uma ideia da distância e do tempo de viagem.
Será que foi uma boa opção?

Situar-se no espaço geográfico sempre foi uma preocupação dos grupos humanos. Nos primórdios,
isso acontecia em virtude da necessidade de se deslocar para encontrar abrigo e alimentos. Com o passar
do tempo, as sociedades se tornaram mais complexas e surgiram muitas outras necessidades.
Isso explica a crescente importância da Cartografia.

Segundo a Associação Cartográfica Internacional (ACI), em definição estabelecida em 1966 e


ratificada pela UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) no
mesmo ano: “A Cartografia apresenta-se como o conjunto de estudos e operações científicas, técnicas e
artísticas que, tendo por base os resultados de observações diretas ou da análise de documentação, se
voltam para a elaboração de mapas, cartas e outras formas de expressão ou representação de objetos,
elementos, fenômenos e ambientes físicos e socioeconômicos, bem como a sua utilização”.

Formas de Orientação

O ser humano sempre necessitou de referências para se orientar no espaço geográfico: um rio, um
morro, uma igreja, um edifício, à direita, à esquerda, acima, abaixo, etc.
Também por muito tempo se orientou pelo Sol e pelas estrelas. Mas, para ter referências um pouco
mais precisas, inventou os pontos cardeais e colaterais.
Observe a imagem da Rosa dos ventos.

1
SENE, Eustáquio de. Geografia geral e do Brasil. Volume único. Eustáquio de Sene, João Carlos Moreira. 6ª edição. São Paulo: Ática, 2018.

1
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São pontos cardeais:
N → Norte;
E → Leste;
S → Sul;
W → Oeste

São pontos colaterais:


NE → Nordeste;
SE → Sudeste;
SW → Sudoeste;
NW → Noroeste

A Rosa dos Ventos possibilita encontrar a direção de qualquer ponto da linha do horizonte (numa
abrangência de 360º).
O nome foi criado no século XV por navegadores do mar Mediterrâneo em associação aos ventos que
impulsionavam suas embarcações.
A Rosa dos Ventos indica os pontos cardeais e colaterais e aparece no mostrador da bússola, que tem
uma agulha sempre apontando para o norte magnético. Observe a imagem.

O uso da Bússola associada à rosa dos ventos permite encontrar rumos em mapas, desde que ambos
estejam com direção norte apontada corretamente. Assim, o usuário pode encontrar os outros pontos
cardeais e colaterais, orientando-se no espaço geográfico.
A bússola foi inventada pelos chineses provavelmente no século I, porém só foi utilizada no século XIII
em embarcações venezianas. A partir do século XV, foi fundamental para orientar os marinheiros nas
Grandes Navegações.
Podemos perceber que quando uma pessoa está perdida em algum lugar, costuma-se dizer que ela
está “desnorteada”, ou seja, perdeu o norte ou “desorientada”, ou seja, perdeu o oriente.
Atualmente, com o avanço tecnológico, é muito mais preciso se orientar pelo GPS.

Orientação Pelo Sol


Um dos aspectos mais importantes para a utilização eficaz e satisfatória de um mapa diz respeito ao
sistema de orientação empregado por ele.

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O verbo orientar está relacionado com a busca do Oriente, palavra de origem latina que significa
“nascente”. Assim, o “nascer” do sol, nessa posição, relaciona-se à direção (ou sentido) leste, ou seja, ao
Oriente.
Possivelmente, o emprego dessa convenção está ligado a um dos mais antigos métodos de orientação
conhecidos. Esse método se baseia em estendermos nossa mão direita (braço direito) na direção do
nascer do sol, apontando, assim, para a direção leste ou oriental; o braço esquerdo esticado,
consequentemente, se prolongará na direção oposta, oeste ou ocidental; e a nossa fronte estará voltada
para o norte, na direção setentrional ou boreal. Finalmente, as costas indicarão a direção do sul,
meridional, ou ainda, austral.
A representação dos pontos cardeais se faz por leste (E ou L); oeste (W ou O); norte (N); e sul (S). A
figura abaixo apresenta essa forma de orientação.

ATENÇÃO!
Deve-se tomar cuidado ao fazer uso dessa maneira de representação, já que, dependendo da posição
latitudinal do observador, nem sempre o Sol estará exatamente na direção leste.

Fusos Horários

Em razão do movimento de rotação da Terra, em um mesmo momento, diferentes pontos longitudinais


da superfície do planeta têm horários diversos.
Desde que foi criada uma forma de marcar o tempo, inicialmente com o relógio de Sol, cada localidade
adotava seu próprio horário. Com a invenção do relógio mecânico e o gradativo ganho de precisão,
lugares muito próximos em termo de longitude chegavam a apresentar diferenças de minutos em seus
horários.
No século XIX, com o desenvolvimento do transporte ferroviário e o consequente aumento da
circulação de pessoas e mercadorias, essas pequenas diferenças de horários entre localidades muito
próximas começaram a causar grandes transtornos. Para resolver esse problema, em um encontro da
Sociedade Geodésica Internacional, realizado em 1883 em Roma (Itália), foi decidida a criação de um
sistema internacional de marcação do tempo.
Para isso, foram definidos os fusos horários. Dividindo-se os 360 graus da esfera terrestre pelas 24
horas de duração aproximada do movimento de rotação2, resultam 15 graus.
Portanto, a cada 15 graus que a Terra gira, passa-se uma hora, e cada uma dessas 24 divisões recebe
o nome de Fuso Horário.
Em 1824, 25 países se reuniram na Conferência Internacional do Meridiano, realizada em Washington,
capital dos Estados Unidos. Nesse encontro ficou decidido que as localidades situadas num mesmo fuso
adotariam um único horário. Foi também acordado pela maioria dos delegados dos países participantes
que o meridiano que passa por Greenwich seria a linha de referência para definir as longitudes e acertar
os relógios em todo o planeta.
Para estabelecer os fusos horários, definiu-se o seguinte procedimento: o fuso de referência se
estende de 7º30’ para leste a 7º30’ para oeste do meridiano de Greenwich, o que totaliza uma faixa de
15 graus.
Portanto, a longitude na qual termina o fuso seguinte a leste é 22º30’E (e, para o fuso correspondente
a oeste, é 22º30’W). Somando continuamente 15º a essas longitudes, obteremos os limites teóricos dos
demais fusos do planeta.
As horas mudam, uma a uma, à medida que passamos de um fuso a outro. No entanto, como as linhas
que os delimitam atravessam várias unidades político-administrativas, os países fizeram adaptação
estabelecendo, assim, os limites práticos dos fusos.

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O Movimento de Rotação consiste em uma volta completa da Terra em torno de seu eixo. Dura 23 horas, 56 minutos e 4 segundos.

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Nesses casos, os limites dos fusos coincidem com os limites políticos-administrativos, na tentativa de
manter, na medida do possível, um horário unificado num determinado território. A China, por exemplo,
apesar de ser cortada por três fusos teóricos, adotou apenas um horário (+8 h) para todo seu território.
Alguns poucos países utilizam um horário intermediário, como a Índia, que adota um fuso de +5 h 30
min em relação a Greenwich.
Observe abaixo o mapa-múndi com os fusos horários.

https://www.apolo11.com/tictoc/fuso_horario_mundial.php

Com a adoção dos limites práticos, em alguns territórios os fusos podem medir mais ou menos que os
tradicionais 15º, como se pode verificar no mapa acima.
Observe que as horas aumentam para leste e diminuem para oeste, a partir de qualquer referencial
adotado. Isso ocorre porque a Terra gira do oeste para o leste. Como o Sol nasce a leste, à medida que
nos deslocamos nessa direção, estamos indo para um local onde o Sol nasce antes e, portanto, as horas
estão “adiantadas” em relação ao local de onde partimos. Quando nos deslocamos para oeste, entretanto,
estamos nos dirigindo a um local onde o Sol nasce mais tarde e, portanto, as horas estão “atrasadas” em
relação ao nosso ponto de partida.
Além da mudança das horas, tornou-se necessário definir um meridiano para a mudança da data no
mundo. Na Conferência de 1884, ficou estabelecido que o meridiano 180º, conhecido como antimeridiano,
seria a Linha Internacional de Mudança de Data (ou simplesmente Linha de Data). Observe novamente
o mapa acima.
O fuso horário que tem essa linha como meridiano central tem uma única hora, como todos os outros,
entretanto em dois dias diferentes. A metade situada a oeste dessa linha estará sempre um dia adiante
em relação à metade a leste. Com isso, ao se atravessar a Linha de Data indo do leste para o oeste é
necessário aumentar um dia.
Por exemplo: Numa hipotética viagem de São Paulo (Brasil) para Tóquio (Japão) via Los Angeles
(Estados Unidos), um avião entrou no fuso horário da Linha de Data às 10 horas de um domingo.
Imediatamente após cruzar essa linha, ainda no mesmo fuso, continuarão sendo 10 horas, mas do dia
seguinte, uma segunda-feira.
Já na viagem de vota ocorrerá o contrário, pois essa será do oeste para o leste, e quando o avião
cruzar a Linha de Data deve-se diminuir um dia.
Esse exemplo pode causar certa estranheza, já que estamos acostumados a observar, no planisfério
centrado em Greenwich, o Japão situado a leste, mas como o planeta é esférico, podemos ir a esse país
voando para o oeste.
Como observamos no mapa de fusos horários, a partir do meridiano de Greenwich, as horas vão
aumentando para o leste e diminuindo para o oeste. Entretanto, diferentemente do que muitas vezes se
pensa, ao atravessar a Linha de Data indo para o leste deve-se diminuir um dia e, ao contrário, indo para
o oeste, aumentar um dia.

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Assim como os meridianos que definem os fusos horários civis, a Linha Internacional de Mudança de
Data também adota limites práticos, caso contrário alguns países-arquipélago do Pacífico, como Kiribati,
teriam dois dias diferentes em seus territórios. Na metade do fuso localizada a leste da Linha Internacional
de Mudança de Data é domingo e na metade a oeste, segunda-feira.
Perceba que a referência aqui considerada foi a Linha de Data, assim a metade do fuso situada a leste
dela está a oeste em relação a Greenwich (portanto, no hemisfério ocidental), e a outra metade, situada
a oeste dela, está a leste do meridiano principal (no hemisfério oriental).

Lembre-se!
A definição dos pontos cardeais (e colaterais) depende sempre de um referencial.

Fusos Horários Brasileiros


No Brasil, até 1913 as cidades tinham sua própria hora. Por exemplo, segundo o Observatório
Nacional, “quando na Capital Federal, atual cidade do Rio de Janeiro, eram 12 horas, em Recife eram 12
h 33” e em Porto Alegre eram 11 h 28”.
Com o desenvolvimento dos transportes isso começou a provocar muita confusão, tornando-se
necessária a adoção de fusos horários.
Em 18 de junho de 1913, o então presidente Hermes da Fonseca sancionou um Decreto (nº 2.784)
criando quatro fusos horários no país, situação que perduro até 2008.
Apesar da adoção do fuso horário prático, dois estados brasileiros extensos, Pará e Amazonas,
permaneceram “cortados ao meio”.
Em 24 de abril de 2008, foi aprovada uma lei (nº 11.662) que eliminou o antigo fuso de -5 horas em
relação a Greenwich e reduziu a quantidade de fusos horários brasileiros para três.
O sudoeste do estado do Amazonas e todo o estado do Acre, que antes estavam no fuso -5 horas,
foram incorporados ao fuso -4 horas. O estado do Pará deixou de ter dois fusos horários e seu território
ficou inteiramente no fuso de -3 horas em relação a Greenwich.
No entanto, grande parte da população do Acre não ficou satisfeita com essa mudança, pois causava
transtornos em seu dia a dia. Por exemplo: de manhã, muitos estudantes e trabalhadores saíam de casa
com o céu ainda escuro. Por isso, num plebiscito realizado em 31 de outubro de 2010, mesmo dia em
que se voltou para presidente da República, a maioria da população decidiu pela volta do antigo fuso.
O eleitor acriano respondeu à seguinte pergunta: “Você é a favor da recente alteração do horário legal
promovida em se estado? ” Do total de eleitores, 56,9% responderam não, e com isso abriu-se a
possibilidade de tramitação de uma nova lei no Congresso Nacional, regulamentando o desejo da maioria
a população do Acre. Em 30 de outubro de 2013, foi aprovada a Lei nº 12.876, que revogou a legislação
de 2008 e reintroduziu o fuso -5 horas (essa mudança entrou em vigor em 10 de novembro de 2013).
Observe o mapa abaixo.

5
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Fusos Horários do Brasil3

Podemos observar no mapa que o estado do Acre e o sudoeste do estado do Amazonas voltaram a
fazer parte do quarto fuso brasileiro ( -5 horas em relação a Greenwich e -2 horas em relação ao horário
de Brasília, diferença que aumentava para 3 horas quando o horário de verão estava em vigor).

ATENÇÃO!

O atual presidente Jair Bolsonaro assinou, no dia 25 de Abril de 2019, o Decreto que acaba com o
horário de verão no Brasil. A justificativa foi que o fim do período aumentaria a produtividade do
trabalhador4.

No mapa pode-se observar que não houve mudança com o estado do Pará, que permanece
inteiramente no segundo fuso brasileiro (UTC5 -3 horas).
Quando o horário de verão ainda estava em vigência, a hora oficial do país se igualava ao horário do
nosso primeiro fuso, e o horário dos estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, que estão no terceiro
fuso, igualava-se ao horário do Pará e dos estados da região Nordeste, localizados no segundo fuso.
O fuso UTC – 2 horas (em relação a Greenwich) é exclusivo de ilha oceânicas. O fuso UTC – 3 horas
corresponde ao horário de Brasília, a Hora Oficial do Brasil. O limite entre os fusos UTC -4 e -5 é uma
linha imaginária que se alonga do município de Tabatinga, no estado do Amazonas, até o município de
Porto Acre, no estado do Acre.

3
http://www.horalegalbrasil.mct.on.br/Fusbr.htm
4
https://g1.globo.com/politica/noticia/2019/04/25/bolsonaro-assina-decreto-que-acaba-com-o-horario-de-verao.ghtml
5
Sigla em inglês para Tempo Universal Coordenado, que é definido com base em relógios atômicos muito precisos. O fuso do meridiano de Greenwich é UTC
0.

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Questões

01. (UFF – Técnico de Laboratório – Geografia – UFF) A bússola é um instrumento de orientação.


É formada por uma agulha imantada que se apoia num eixo vertical. Essa agulha gira sobre um fundo
onde estão indicados os pontos de orientação. A ponta da agulha da bússola indica, aproximadamente,
a direção:
(A) sul;
(B) leste;
(C) norte;
(D) oeste;
(E) sudeste.

02. (SEDUC/RJ – Professor Docente I – CEPERJ) Se os alunos observarem diariamente o nascer e


o pôr do sol, perceberão a regularidade dos pontos de nascente e poente. Ficará fácil a determinação dos
pontos cardeais usando a seguinte convenção:
(A) O Norte é definido como o ponto à frente de quem, com os braços estendidos, aponta o Leste com
a mão direita e o Oeste com a mão esquerda, ficando o Sul às suas costas.
(B) O Sul é definido como o ponto à frente de quem, com os braços estendidos, aponta o Leste com a
mão direita e o Oeste com a mão esquerda, ficando o Norte às suas costas.
(C) O Norte é definido como o ponto à frente de quem, com os braços estendidos, aponta o Oeste com
a mão direita e o Leste com a mão esquerda, ficando o Norte às suas costas.
(D) O Leste é definido como o ponto à frente de quem, com os braços estendidos, aponta o Sul com a
mão direita e o Norte com a mão esquerda, ficando o Oeste às suas costas
(E) O Oeste é definido como o ponto à frente de quem, com os braços estendidos, aponta o Norte com
a mão direita e o Sul com a mão esquerda, ficando o Leste às suas costas.

03. (IBGE – Técnico em Informações de Geografia e Estatística – CESGRANRIO) No espaço aéreo


brasileiro, uma aeronave se desloca, em linha reta, de Palmas, no Tocantins, para Brasília, no Distrito
Federal.
De acordo com os pontos cardeais, essa aeronave descreve uma trajetória no sentido
(A) sul – norte
(B) leste – oeste
(C) norte – sul
(D) nordeste – sudoeste
(E) sudoeste – nordeste

04. (IBGE – Agente de Pesquisas e Mapeamento – CESGRANRIO) Um avião de pequeno porte se


desloca, em linha reta, do aeroporto internacional de Brasília, no Distrito Federal, em direção a Belém,
capital do estado do Pará.
Considerando a margem de diferença de menos de 1° de longitude entre essas duas cidades e os
pontos cardeais, a aeronave se deslocou no sentido
(A) Norte – Sul
(B) Sudeste – Nordeste
(C) Norte – Sudeste
(D) Sul – Norte
(E) Norte – Nordeste

Gabarito

01.C / 02.A / 03.C / 04.D

Comentários

01. Resposta: C
A agulha imantada da bússola aponta sempre para o norte magnético.

02. Resposta: A
Ao estendermos nossa mão direita (braço direito) na direção do nascer do sol, apontando, assim, para
a direção leste ou oriental; o braço esquerdo esticado, consequentemente, se prolongará na direção

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oposta, oeste ou ocidental; e a nossa fronte estará voltada para o norte, na direção setentrional ou boreal.
Finalmente, as costas indicarão a direção do sul, meridional, ou ainda, austral. Observe a imagem:

03. Resposta: C
Para responder essa questão, deve-se ter em mente a localização de Palmas e Brasília no mapa do
Brasil. Observando o mapa, verifica-se que Palmas localiza-se ao norte de Brasília.
O avião sai de Tocantins (cima) que fica ao norte de Brasília (baixo), portanto a rota do avião que sai
do Norte é em direção ao sul de Tocantins, onde fica Brasília; assim, letra C - norte – sul.

04. Resposta: D
Para responder essa questão, é preciso ter em mente a localização de Brasília e de Belém no mapa
do Brasil. Levando em conta a margem de diferença de menos de 1º de longitude permitida pelo
examinador, percebe-se que Belém se encontra quase acima de Brasília. Nesse sentido, o deslocamento
de um avião de Brasília para Belém iria seguir o trajeto Sul para o Norte. Portanto, a letra correta é a D.

COORDENADAS GEOGRÁFICAS6

As coordenadas nos auxiliam na localização precisa de elementos no espaço geográfico. Elas podem
ser geográficas ou alfanuméricas7

Coordenadas Geográficas

O globo terrestre pode ser dividido por uma rede de linhas imaginárias que permitem localizar
qualquer ponto em sua superfície. Essas linhas determinam dois tipos de coordenada: a latitude e a
longitude, que em conjunto são chamadas de coordenadas geográficas. Num plano cartesiano
matemático, a localização de um ponto é determinada pelo cruzamento das coordenadas x e y. Numa
esfera, o processo é semelhante, mas as coordenadas são medidas em graus.
As coordenadas geográficas funcionam como “endereços” de qualquer localidade do planeta. O
equador corresponde ao círculo máximo da esfera, traçado num plano perpendicular ao eixo terrestre, e
determina a divisão do globo em dois hemisférios (do grego hemi, “metade”, e sphaera, “esfera”): o norte
e o sul. A partir do equador, podemos traçar círculos paralelos que, à medida que se afastam para o norte
ou para o sul, diminuem de diâmetro. A latitude é a distância em graus desses círculos, chamados
paralelos, em relação ao equador, e varia de 0º a 90º tanto para o norte (N) quanto para o sul (S).
O trópico de Câncer e o trópico de Capricórnio são linhas imaginárias situadas à latitude aproximada
de 23º N e de 23º S, respectivamente. Os círculos polares também são linhas imaginárias, situadas à
latitude aproximada de 66º N e de 66ºS.

6
SENE, Eustáquio de. Geografia geral e do Brasil. Volume único. Eustáquio de Sene, João Carlos Moreira. 6ª edição. São Paulo: Ática, 2018.
7
As coordenadas alfanuméricas são utilizadas para localizar algo em um mapa ou em uma planta. Elas não são tão precisas como as coordenadas geográficas,
mas auxiliam na localização de elementos da paisagem, como uma rua, uma praça, um teatro, uma estação de trem ou ônibus, na planta de uma cidade.

8
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https://mundoeducacao.bol.uol.com.br/geografia/latitudes-longitudes.htm

Conhecer apenas a latitude de um ponto, porém, não é suficiente para localiza-lo. Ao procurar-se, por
exemplo, um ponto a 20º ao sul do equador, se encontrará não apenas um, mas inúmeros pontos situados
ao longo do paralelo 20ºS. Por isso, é necessária uma segunda coordenada que permita-se localizar um
determinado ponto.
Para determinar a segunda coordenada, a longitude, foram traçadas linhas que cruzam os paralelos
perpendicularmente. Essas linhas, que também cruzam o equador, são denominadas meridianos (do
latim meridiánus, “de meio-dia, relativo ao meio-dia”). Os meridianos são semicircunferências que têm o
mesmo tamanho e convergem para os polos.
Como referência, convencionou-se internacionalmente adotar como meridiano 0º o que passa pelo
Observatório Real de Greenwich, nas proximidades de Londres (Inglaterra), e o meridiano oposto, a 180º,
foi chamado de “antimeridiano”.
Esses meridianos dividem a Terra em dois hemisférios: ocidental, a oeste de Greenwich, e oriental, a
leste. Assim, os demais meridianos podem ser identificados por sua distância, medida em graus, ao
meridiano de Greenwich. Essa distância é a longitude e varia e 0º a 180º tanto para leste (E) quanto para
oeste (W).

Grade de paralelos e meridianos (coordenadas geográficas)8

Se procurarmos, por exemplo, um ponto de coordenadas 51ºN e 0º, será fácil encontrá-lo: estará no
cruzamento do paralelo 51ºN com o meridiano 0º. Consultando um mapa, verificaremos que este ponto
está muito próximo do Observatório de Greenwich, na Inglaterra.
Para localizar com exatidão um ponto no território, indicam-se as medidas em graus (º), minutos (’) e
segundos (’’). As coordenadas geográficas do Observatório de Greenwich, por exemplo, são 51º28’38’’N
e 0º00’00”. Perceba que sem a latitude é possível identificarmos o meridiano de Greenwich, mas não o
observatório inglês que foi utilizado como referência para a definição do meridiano zero.

8
https://escolakids.uol.com.br/geografia/paralelos-e-meridianos.htm

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Movimentos da Terra e Estações do Ano

Não se sabe exatamente quando o ser humano descobriu que a Terra é esférica, mas sabe-se que
Eratóstenes (276 a.C. – 194 a.C.), astrônomo e matemático grego, foi o primeiro a calcular, há mais de
2 mil anos, com precisão, a circunferência do planeta. A diferença entre a circunferência calculada por
Eratóstenes (40.000 quilômetros) e a determinada hoje, com o auxílio de métodos muito mais precisos
(40.075 quilômetros, no equador), como se vê, é bem pequena.
A esfericidade do planeta é responsável pela existência das diferentes zonas climáticas (polares,
temperadas e tropicais), pois os raios solares atingem a Terra com diferentes inclinações e intensidades.
Próximo ao equador, os raios solares incidem perpendicularmente sobre a superfície, porém, quanto mais
nos afastamos dessa linha, mais inclinada é essa incidência. Consequentemente, a mesma quantidade
de energia se distribui por uma área cada vez maior, diminuindo, portanto, sua intensidade. Esse fato
torna as temperaturas progressivamente mais baixas à medida que nos aproximamos dos polos.
O eixo da Terra é inclinado em relação ao plano de sua órbita ao redor do Sol (movimento de
translação). Uma consequência desse fato é a ocorrência das estações do ano.
Em 21 ou 22 de dezembro (a data e a hora de início das estações variam de um ano para outro), o
hemisfério sul recebe os raios solares perpendicularmente ao trópico de Capricórnio; dizemos, então, que
está ocorrendo o solstício de verão.
O solstício (do latim solstitium, “Sol estacionário”) define o momento do ano em que os raios solares
incidem perpendicularmente ao trópico de Capricórnio, dando início ao verão no hemisfério sul. Depois
de incidir nessa posição, parecendo estacionar por um momento, o Sol inicia seu movimento aparente
em direção ao norte. Esse mesmo instante marca o solstício de inverno no hemisfério norte, onde os
raios estão incidindo com inclinação máxima.
Seis meses mais tarde, em 20 ou 21 de junho, quando metade do movimento de translação já se
completou, as posições se invertem: o trópico de Câncer passa a receber os raios solares
perpendicularmente (solstício de verão), dando início ao verão no hemisfério norte e ao inverno no
hemisfério sul.
Em 20 ou 21 de março e em 22 ou 23 de setembro, os raios solares incidem sobre a superfície terrestre
perpendicularmente ao equador. Dizemos então que estão ocorrendo os equinócios (do latim
aequinoctium, “igualdade dos dias e das noites”), ou seja, os hemisférios estão iluminados por igual. No
mês de março iniciam-se o outono no hemisfério sul e a primavera no hemisfério norte; no mês de
setembro, o inverso (primavera no sul e outono no norte).
O dia e a hora do início dos solstícios e dos equinócios mudam de um ano para outro;
consequentemente, a duração de cada estação também varia.
Em virtude da inclinação do eixo terrestre, os raios solares só incidem perpendicularmente em pontos
localizados entre os trópicos (a chamada zona tropical), que, por isso, apresentam temperaturas mais
elevadas. Nas zonas temperadas (entre os trópicos e os círculos polares) e nas zonas polares, o Sol
nunca fica a pino, porque os raios sempre incidem obliquamente.
Outra consequência da inclinação, associada ao movimento de rotação da Terra, é a duração
desigual do dia e da noite ao longo do ano. Nos dois dias de equinócio, quando os raios solares incidem
perpendicularmente ao equador, o dia e a noite têm 12 horas de duração em todo o planeta, com exceção
dos polos, que têm 24 horas de crepúsculo9.
Quando é dia de solstício de verão em um hemisfério, ocorrem o dia mais longo e a noite mais curta
do ano nessa metade da Terra; no mesmo momento, no outro hemisfério, sob o solstício de inverno,
acontecem a noite mais longa e o dia mais curto.
No equador não há variação no fotoperíodo10, mas à medida que nos afastamos dele, essa diferença
aparece. Conforme aumenta a latitude, tanto para o norte como para o sul, os dias ficam mais longos no
verão e mais curtos no inverno.

Representações Cartográficas, Escalas e Projeções

Para localizar um determinado lugar é importante utilizar a representação e a escala mais adequadas.
Por exemplo, para encontrar uma rota de viagem por terra, o ideal é utilizar um mapa rodoviário, e não o
mapa-múndi ou o globo, como fizeram Calvin e Haroldo no quadrinho acima.
O globo terrestre é feito numa escala muito pequena, ou seja, os elementos representados nele são
muito reduzidos. Por isso, o lugar para onde Calvin e Haroldo pretendiam ir lhes pareceu perto.

9
Crepúsculo é a claridade no céu entre o fim da noite e o nascer do sol ou entre o pôr do sol e a chegada da noite.
10
Fotoperíodo é o período em que um ponto qualquer da superfície terrestre fica exposto à incidência dos raios solares.

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Imagine quantas vezes o planeta Terra e os elementos sociais e naturais que o compõem foram
reduzidos para caber num globo como o que eles consultaram ou num planisfério do tamanho de uma
folha. O uso da escala adequada é fundamental para a localização exata do local procurado.
O globo terrestre, embora mantenha as características do planeta em termos de formas e distâncias,
tem utilização prática reduzida: é difícil transportá-lo em viagens ou fazer medidas em sua superfície. Por
isso, os cartógrafos inventaram projeções que permitem representar o planeta esférico numa superfície
plana.
O problema é que qualquer projeção provoca algum tipo de distorção. Por que isso ocorre?
Em um planeta esférico em movimento no espaço sideral não existe acima nem abaixo. No entanto, a
maioria dos mapas impressos apresenta o norte na parte de “cima” da representação.
Por que quase sempre vemos o hemisfério norte em destaque nos mapas? Podemos, em vez disso,
mostrar o hemisfério sul em destaque? Ou mesmo o leste ou o oeste? Vejamos abaixo.

Representação Cartográfica

Evolução Tecnológica
A observação da paisagem é o primeiro procedimento para a compreensão do espaço geográfico,
seguido do registro do que foi observado, daí a importância do mapa.
Em um mapa, os elementos que compõem o espaço geográfico são representados por pontos, linhas,
texturas, cores e textos, ou seja, são usados símbolos próprios da Cartografia. Diante da complexidade
do espaço geográfico, algumas informações são sempre priorizadas em detrimento de outras. Seria
impossível representar todos os elementos, físicos, econômicos, humanos e políticos, num único mapa.
Seu objetivo fundamental é permitir o registro e a localização dos elementos cartografados e facilitar a
orientação no espaço geográfico. Portanto, qualquer mapa será sempre uma simplificação da realidade
para atender ao interesse do usuário.
Além das coordenadas geográficas ou alfanuméricas (localização) e da indicação dos pontos
cardeais (orientação) um mapa precisa ter:
→ Título: informa os fenômenos representados;
→ Legenda: mostra o significado dos símbolos utilizados;
→ Escala: indica a proporção entre a representação e a realidade, e permite calcular as distâncias no
terreno com base em medidas feitas no mapa.
O mapa é uma das mais antigas formas gráficas de comunicação, precedendo mesmo a própria
escrita. Os primeiros mapas foram esculpidos em pedra ou argila. O mais antigo que se tem registro é o
mapa de Ga-Sur. Ele foi encontrado em 1930 nas ruínas dessa cidade, situada a cerca de 300 quilômetros
ao norte da antiga Babilônia. Ele é um esboço rústico esculpido num pedaço de argila cozida. Estima-se
que esse mapa tenha sido feito por volta de 2500 a.C. na Mesopotâmia, pelos sumérios. Observe abaixo
esse mapa e uma interpretação dele.

http://www.servicemap.com.br/historia-da-cartografia.php

Com o tempo, os mapas passaram a ser desenhados em tecido, couro, pergaminho ou papiro. Com a
invenção da imprensa, começaram a ser gravados em originais de pedra ou metal e, em seguida,

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impressos em papel. Hoje, são processados em computador e podem ser analisados diretamente na tela
digital.
O aprimoramento dos satélites e dos computadores permitiu grandes avanços nas técnicas de coleta,
processamento, armazenamento e representação de informações da superfície terrestre, causando
grande impacto nos processos de elaboração de mapas e nos conceitos de Cartografia.

Tipos de Produtos Cartográficos


Os mapas podem ser classificados em topográficos (ou de base) e temáticos. Num mapa
topográfico, representa-se a superfície terrestre o mais próximo possível da realidade, dentro das
limitações impostas pela escala pequena. Na carta topográfica, feita em escala média ou grande, há
mais precisão entre a representação e a realidade.
Na carta topográfica, as variáveis da superfície da Terra são representadas com maior grau de
detalhamento e a localização é mais precisa. Isso torna possível identificar a posição planimétrica, que
é a representação de fenômenos geográficos no plano, na horizontal, e a altimétrica, que é a
representação vertical, altitude do relevo, de alguns elementos visíveis do espaço. Mapas e cartas
topográficas são resultantes de levantamentos sistemáticos11 feitos por órgãos governamentais ou
empresas privadas. Os mapas topográficos servem de base para os mapas temáticos.
Um mapa temático contém informações selecionadas sobre determinado fenômeno ou tema do
espaço geográfico: naturais, como geologia, relevo, vegetação, clima, etc., ou sociais, como população,
agricultura, indústrias, urbanização, etc.
Nesse tipo de mapa, a precisão planimétrica ou altimétrica tem importância menor, as representações
quantitativa e qualitativa dos temas selecionados são mais relevantes.

Escala e Representação Cartográfica

Inicialmente é importante fazer uma distinção entre escala geográfica e escala cartográfica. A
primeira define a escala da análise geográfica, o recorte espacial, ou seja, local, regional, nacional ou
mundial.
A segunda define a escala de representação, ou seja, indica a relação entre o tamanho dos objetos
representados na planta, carta ou mapa e o tamanho deles na realidade.
Ao estudarmos a escala cartográfica e suas relações matemáticas, vamos perceber sua permanente
relação com a escala geográfica. Por exemplo, a análise de fenômenos locais necessita de plantas em
escala grande, já análise de fenômenos mundiais exige mapas em escala pequena. Ou seja, quanto maior
a escala de análise geográfica, menor a escala cartográfica, e vice-versa.
É impossível encontrar uma rua de qualquer cidade brasileira em um mapa-múndi ou no mapa político
do Brasil. A escala utilizada nessa representação – 1:34000000 – é pequena; nela 1 cm equivale a 340
quilômetros e até mesmo uma metrópole se tora apenas um ponto.
Para representar uma rua, é preciso usar uma escala grande, na qual seja possível visualizar os
quarteirões, como a de 1:10000. Perceba que, dependendo da escala utilizada, um mesmo fenômeno
espacial, pode ser representado como ponto ou como área.

Representação Cartográfica
O uso de planta, carta ou mapa está diretamente associado à necessidade do usuário. Se uma pessoa
tem a intenção de:
→ Procurar uma rua, a opção será por uma planta da cidade, na escala grande – cerca de 1:10000;
→ Localizar os bairros do entorno, deverá utilizar a carta da cidade, na escala média – cerca de
1:50000;
→ Identificar as cidades vizinhas, deverá consultar um mapa do estado, na escala pequena –
1:1000000.
Conforme a escala vai gradativamente ficando menor, ocorre um aumento da área representada e uma
diminuição do grau de detalhamento dos elementos cartografados.
Nessas representações cartográficas não há legenda porque o objetivo é apenas destacar as
diferentes escalas.

11
Levantamento sistemático é o conjunto de medidas planimétricas e altimétrica precisas de uma parte da superfície terrestre que atendem a uma série de regras
fixas, como a precisão da escala, do traçado das coordenadas e das curvas de nível.

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Globo

https://pt.wikipedia.org/wiki/Imagem_de_sat%C3%A9lite

Representação cartográfica sobre uma superfície esférica, em escala pequena, dos aspectos naturais
e artificiais de uma figura planetária, com finalidade cultural e ilustrativa.

Mapa e suas Características


Representação plana;
Geralmente em escala pequena;
Área delimitada por acidentes naturais (bacias, planaltos, chapadas, etc.), limites político-
administrativos;
Destinado a fins temáticos, culturais ou ilustrativos.
A partir dessas características pode-se generalizar o conceito:
“Mapa é a representação no plano, normalmente em escala pequena, dos aspectos geográficos,
naturais, culturais e artificiais de uma área tomada na superfície de uma figura planetária, delimitada por
elementos físicos, político-administrativos, destinada aos mais variados usos temáticos, culturais e
ilustrativos”.

Carta e suas Características


Representação plana;
Escala média ou grande;
Desdobramento em folhas articuladas de maneira sistemática;
Limites das folhas constituídos por linhas convencionais;
Destinada à avaliação precisa de direções e distâncias e à localização de pontos, áreas e detalhes.
Da mesma forma que da conceituação de mapa, pode-se generalizar:
“Carta é a representação no plano, em escala média ou grande, dos aspectos superficiais e naturais
de uma área tomada de uma superfície planetária, subdividida em folhas delimitas por linhas
convencionais, paralelos e meridianos, com a finalidade de possibilitar a avaliação de pormenores, com
grau de precisão compatível com a escala”.

Planta
A planta é um caso particular de carta. A representação se restringe a uma área muito limitada e a
escala é grande, consequentemente o número de detalhes é bem maior.
“Carta que representa uma área de extensão suficientemente restrita para que a sua curvatura não
precise ser levada em consideração, e que, em consequência, a escala possa ser considerada constante”.

Usando a Escala

Vamos desenvolver um exemplo de como a escala pode ser usada. Considere as seguintes
convenções:
Escala = 1/N
N = Denominador da escala
D = Distância na superfície terrestre
d = Distância no documento cartográfico

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Suponhamos o seguinte problema:
Um motorista, vindo pela BR-376, após entrar na BR-101, percorrerá que distância até cruzar o
oleoduto da Petrobras? Na carta apresentada, essa distância mede cerca de 8 centímetros.
Temos:
Escala da carta = 1/50000 (N = 50000), pode-se ler também 1:50000 (um por cinquenta mil).
Logo, 1 centímetro na carta equivale a 50000 centímetros ou 500 metros ou ainda 0,5 quilômetro na
superfície terrestre.
Assim, temos o denominador da escala já convertido para quilômetro, a distância na carta e queremos
saber a distância na superfície terrestre.

N = 0,5 km
d = 8 cm
D=?

Aplicando uma regra de três simples:

1 cm – 0,5 km
8 cm – D
D = 8 x 0,5
D = 4 km

Portanto:

D=dxN

A resposta do problema: A distância a ser percorrida pelo motorista é de 4 quilômetros.


Agora vamos supor que temos a distância na superfície terrestre, o denominador da escala e queremos
encontrar a distância na carta:

D = 4 km
N = 0,5 km
d=?
1 cm – 0,5 km
d – 4 km
d x 0,5 = 1 x 4
d = 4/0,5
d = 8 cm

Portanto:

d = D/N

Finalmente, supondo que temos a distância na superfície terrestre e na carta e queremos saber o
denominador da escala:

D = 4 km
d = 8 cm
Escala = ?
1 cm – N
8 cm – 4 km
Nx8=1x4
N = 4/8
N = 0,5 km (que equivale a 50000 cm)
Escala = 1/N
Escala = 1/50000 ou 1: 50000

Portanto:

N = D/d

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Uma escala pode ser expressa de duas formas:

Numérica

1:50000

Gráfica

Em alguns mapas, abaixo da escala (numérica ou gráfica) ainda há um lembrete, por exemplo: “1 cm
no mapa corresponde a 0,5 quilômetros no terreno”.

Para medir em uma carta ou mapa a extensão de linhas sinuosas, como rodovias, ferrovias, rios, etc.,
utiliza-se um curvímetro, como aparece na foto abaixo.

Não dispondo desse aparelho, um modo prático de fazer medidas, embora não muito preciso, é
estender um barbante sobre o traço de, por exemplo, uma rodovia, medi-lo com uma régua e,
considerando a escala, fazer o cálculo da distância; ou então, se houver escala gráfica, estica-lo
diretamente sobre ela.

Projeções Cartográficas

Uma projeção cartográfica é o resultado de um conjunto de operações que permite representar no


plano, tendo como referência paralelos e meridianos, os fenômenos que estão dispostos na superfície
esférica. Quando vista do espaço sideral, a Terra parece ser uma esfera perfeita, mas nosso planeta
apresenta uma superfície irregular e é levemente achatado nos polos. Por isso, os cartógrafos geógrafos
e outros profissionais que produzem mapas fazem seus cálculos utilizando uma elipse12, que ao girar em
torno de seu eixo menor forma um volume, o elipsoide de revolução.
O elipsoide de revolução é uma superfície teórica regular, criada para fins cartográficos, que
evidencia o achatamento nos polos terrestres.
Segundo o IBGE, “o elipsoide é a superfície de referência utilizada nos cálculos que fornecem
subsídios para a elaboração de uma representação cartográfica”.
Ao fazerem a transferência de informações do elipsoide para o plano, os cartógrafos se deparam com
um problema insolúvel: qualquer que seja a projeção adotada, sempre haverá algum tipo de distorção
nas áreas, nas formas ou nas distâncias da superfície terrestre representadas.
Não há distorção perceptível somente em representações de escala suficientemente grande, como é
o caso das plantas, nas quais não é necessário considerar a curvatura da Terra.
As projeções podem ser classificadas em conformes, equivalentes, equidistantes ou afiláticas,
dependendo das propriedades geométricas presentes na relação globo terrestre/mapa-múndi. Além
disso, podem ser agrupadas em três categorias principais, dependendo da figura geométrica empregada
em sua construção: cilíndricas (as mais comuns), cônicas, azimutais ou planas. Observe-as a seguir.

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Elipse é o lugar geométrico dos pontos de um plano cujas distâncias a dois pontos fixos desse plano têm soma constante; interseção de um cone circular reto
e um plano que corta todas as suas geratrizes.

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Projeção Cilíndrica

https://www.coladaweb.com/geografia/projecoes-cartograficas

Observe que na projeção cilíndrica o globo terrestre parece estar envolvido por um cilindro de papel
no qual são projetados os paralelos e os meridianos.

Projeção cônica

https://www.coladaweb.com/geografia/projecoes-cartograficas

Na projeção cônica, o globo parece estar envolvido por um cone de papel no qual são projetados os
paralelos e os meridianos.

Projeção azimutal ou plana

https://www.coladaweb.com/geografia/projecoes-cartograficas

Na projeção azimutal ou plana, a Terra parece ser tangenciada em qualquer ponto por um pedaço
de papel no qual são projetados os paralelos e os meridianos. Quando o globo é tangenciado num dos
polos, dizemos que se trata de uma projeção polar.

Conformes

Projeção conforme é aquela na qual os ângulos são idênticos aos do globo, seja em um mapa-múndi,
seja em um mapa regional. Nesse tipo de projeção, as formas terrestres são representadas sem distorção,
porém, com alteração do tamanho de suas áreas. Apenas nas proximidades do centro de projeção, neste
caso o equador, é que se verifica distorção mínima. Quanto maior o distanciamento a partir dessa linha
imaginária, maior é a distorção. Por essa razão, quando se utiliza esse tipo de projeção, geralmente só
são reproduzidos os territórios situados até 80º de latitude.
A mais conhecida projeção conforme é a de Mercator, cartógrafo e matemático belga cujo nome
verdadeiro era Gerhard Kremer (1512-1594). Em 1569, época em que os europeus comandavam a

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Expansão Marítima, Mercator abriu novas perspectivas para a cartografia, ao construir uma projeção
cilíndrica conforme que imortalizou seu codinome.

Projeção de Mercator Original

Essa representação foi elaborada para facilitar a navegação, pois permitia representar com precisão,
no mapa, a rede de coordenadas geográficas e os ângulos obtidos pela bússola (pontos cardeais).
O mapa-múndi de Mercator, no qual a Europa aparece numa posição central, superior e, por se situar
em altas latitudes, proporcionalmente maior do que é na realidade, acabou se transformando no principal
representante da visão eurocêntrica do mundo. Durante séculos, foi uma das projeções mais usadas na
elaboração de planisférios e, apesar do surgimento posterior de muitas outras, ainda hoje é bastante
usada.
Esses primeiros mapas-múndi, especialmente o de Mercator, colocavam a Europa em destaque, no
“centro” da representação, e o hemisfério norte, onde está localizada, na parte de “cima”. Os europeus
estavam explorando o mundo e fundando colônias; portanto, era natural que ao representar o planeta se
visem dessa foram. É isso que chamamos de visão eurocêntrica.

Projeção de Mercator Atual

https://www.coladaweb.com/geografia/projecoes-cartograficas

Quando representada na projeção de Mercator, a Groelândia parece ser maior que o Brasil e até
mesmo que a América do Sul. O mapa originalmente feito por Mercator, não mostrava os continentes de
forma precisa como este planisférico, produzido de acordo com a projeção por ele criada, mas com as
técnicas cartográficas disponíveis atualmente.

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Equivalentes

Num mapa-múndi ou regional com projeção equivalente, as áreas mantêm-se proporcionalmente


idênticas às do globo terrestre, embora as formas estejam deformadas em comparação com a realidade.
Um exemplo desse tipo de projeção é o mapa-múndi de Peters, elaborado pelo historiador e cartógrafo
alemão Arno Peters (1916-2002) e publicado pela primeira vez em 1973. Observe-a abaixo.

Projeção de Peters

http://www.curso-objetivo.br/vestibular/roteiro_estudos/projecoes_cartograficas.aspx

Embora essa projeção não tenha rompido completamente com a visão eurocêntrica, acabou dando
destaque aos países de baixa latitude. Ela atendia aos anseios dos Estados que se tornaram
independentes após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), nessa época considerados
subdesenvolvidos, situados em grande parte ao sul das regiões mais desenvolvidas. Em alguns países,
essa projeção chegou a ser impressa de forma invertida em relação à convenção cartográfica dominante,
mostrando o sul em destaque. O mapa-múndi de Hobo-Dyer, outra projeção equivalente, também
representa o mundo de forma “invertida”. Portanto, não há uma forma certa ou errada de representar o
mundo. Cada uma das representações cartográficas expressa um ponto de vista de um Estado nacional,
de um povo ou mesmo de uma religião.
Na projeção de Peters parece que os continentes e países foram alongados nos sentidos norte-sul. Há
uma distorção em suas formas, mas todos mantêm seu tamanho proporcional. Por exemplo, a Groelândia,
embora irreconhecível, aparece bem menor que o Brasil e a América do Sul, como é na realidade.

Projeção de Hobo-Dyer

https://projetogeografando.blogspot.com/2010/08/projecao-de-hobo-dyer.html

Esse mapa-múndi é uma projeção cilíndrica equivalente, semelhante à de Peters, e foi criado em 2002
para mostrar uma visão alternativa do mundo. Fo encomendado por Bob Abramms e Howard Bronstein,
respectivamente, fundador e presidente da empresa ODT Maps (sediada em Amherst, Estados Unidos),

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ao cartógrafo inglês Mick Dyer. O nome da projeção resulta da junção das duas sílabas iniciais dos nomes
de Howard e Bob com o sobrenome Mick. Está centrada na África e mostra o sul em destaque.

Equidistantes

Nos mapas-múndi e com projeção azimutal ou plana equidistante, a representação das distâncias
entre dois lugares é precisa. Elaborada pelo astrônomo e filósofo francês Guillaume Postel (1510-1581)
e publicada no ano de sua morte, adota como centro da projeção um ponto qualquer do planeta para que
seja possível medir a distância ente esse ponto e qualquer outro. Por isso, esse tipo de projeção é utilizado
especialmente para definir rotas aéreas ou marítimas.
A projeção equidistante mais comum é centrada em um dos polos, geralmente o polo norte.

Projeção Azimutal Centrada no Polo Norte

http://www.curso-objetivo.br/vestibular/roteiro_estudos/projecoes_cartograficas.aspx

No centro da projeção pode-se situar a capital de um país, uma base aérea, a sede de uma empresa
transnacional, etc. Entretanto, ela apresenta enorme distorções nas áreas e nas formas dos continentes,
que aumentam com o afastamento do ponto central.
Na projeção azimutal equidistante, as distâncias só são precisas se traçadas radialmente do centro,
no caso dessa, o polo norte, até um ponto qualquer do mapa.

Afiláticas

Atualmente é comum a utilização de projeções com menores índices de distorção para o mapeamento
da superfície terrestre, como a de Robinson.

Projeção de Robinson

https://atlasescolar.ibge.gov.br/conceitos-gerais/o-que-e-cartografia/as-projec-o-es-cartogra-ficas.html

Essa projeção foi desenvolvida em 1961 pelo geógrafo e cartógrafo americano Arthur H. Robinson
(1915-2004). Segundo o IBGE: “É uma projeção afilática (não é conforme nem equivalente ou
equidistante) e pseudocilíndrica (não possui nenhuma superfície de projeção, porém apresenta
características semelhantes às da projeção cilíndrica)”.

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Questões

01. (Itaipu Binacional – Porfessor de Geografia – NC – UFPR/2019) A Projeção de Mercator é uma


projeção:
(A) conforme e equivalente, sendo utilizada em escalas maiores que 1:250000.
(B) conforme e equivalente, sendo utilizada em escalas menores que 1:250000.
(C) conforme e cilíndrica.
(D) equivalente e cilíndrica.
(E) equidistante e cilíndrica.

02. (IF/MT – Professor de Geografia – IF/MT) Observe a figura.

Essa figura simboliza a Organização das Nações Unidas (ONU), que apresenta uma conotação política
e também técnica das projeções cartográficas. A qual projeção ela é categorizada?
(A) Cônica
(B) Azimutal
(C) Cilíndrica
(D) Senoidal

03. (SEDUC/PI – Professor de Geografia – NUCEPE) Acerca da existência dos mapas, há registros
de que estes são anteriores à escrita, o que lhes atribui um papel relevante na representação do espaço
pela humanidade.
Sobre os mapas é INCORRETO afirmar:
(A) Os mapas se constituem um produto de informação da cultura de um povo a partir de seu
conhecimento sobre seu próprio espaço.
(B) Figura ou qualquer produto que possa representar uma parte específica da superfície da Terra se
constitui em um mapa.
(C) O mapa é um instrumento para transmitir informações sobre objetos, formas e relações presentes
em determinado espaço.
(D) Os mapas temáticos são elaborados a partir de um contexto no qual se tem como finalidade o
conhecimento e esclarecimento sobre uma determinada situação real.
(E) São representações gráficas de determinado espaço geográfico, de forma reduzida, que utilizam
símbolos e projeções cartográficas.

04. (Colégio Pedro II – Professor de Geografia – Colégio Pedro II/2018) Observe os mapas a seguir.

Disponível em: https://encrypted-tbn0.gstatic.com. Acesso em: 9 ago. 2018.

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“A escolha de uma projeção depende do que se deseja representar.” SAMPAIO, Fernando dos Santos. Para viver juntos:
9º ano do ensino fundamental. São Paulo: SM, 2015, p.140-141.
O planejamento de uma aula de geografia sobre projeções cartográficas deve mostrar que o mapa de
(A) Mercator é realizado com base numa projeção cilíndrica conforme, provocando distorções diversas
nas áreas dos países presentes no planisfério.
(B) Peters é realizado com base numa projeção plana tangente ao polo, alterando as áreas dos locais
representados, destacando sua posição geopolítica.
(C) Peters é uma projeção azimutal equivalente desvinculada do eurocentrismo, já que as áreas da
Terra conservam o tamanho por meio da correção das distâncias longitudinais.
(D) Mercator é uma projeção plana interrompida associada à visão eurocêntrica do mundo, já que as
áreas da Terra conservam a forma por meio da correção das distâncias latitudinais.

05. (Enem) Um determinado município, representado na planta abaixo, dividido em regiões de A a I,


com altitudes de terrenos indicadas por curvas de nível, precisa decidir pela localização das seguintes
obras:
1. instalação de um parque industrial.
2. instalação de uma torre de transmissão e recepção.

Considerando impacto ambiental e adequação, as regiões onde deveriam ser, de preferência,


instaladas indústrias e torre, são, respectivamente:
(A) E e G.
(B) H e A.
(C) I e E.
(D) B e I.
(E) E e F.

Gabarito

01.C / 02.B / 03.B / 04.A / 05.C

Comentários

01. Resposta: C
Em 1569, época em que os europeus comandavam a Expansão Marítima, Mercator abriu novas
perspectivas para a cartografia, ao construir uma projeção cilíndrica conforme que imortalizou seu
codinome.

02. Resposta: B
O símbolo da ONU é uma projeção azimutal, cujo centro escolhido foi um ponto no Polo Norte, um
local neutro e que permite a visualização de todos os continentes.

03. Resposta: B
Mapa é a representação no plano, normalmente em escala pequena, dos aspectos geográficos,
naturais, culturais e artificiais de uma área tomada na superfície de uma figura planetária, delimitada por
elementos físicos, político-administrativos, destinada aos mais variados usos temáticos, culturais e
ilustrativos.

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04. Resposta: A
Tal como ocorre em toda projeção cilíndrica, na projeção de Mercator os meridianos são representados
por segmentos de reta paralelos entre si e que são perpendiculares aos paralelos terrestres. Por se tratar
de uma projeção conforme, a escala não varia com a direção e os ângulos são conservados em todos os
pontos.

05. Resposta: C
Um parque industrial deve ser preferencialmente instalado em um terreno com topografia plana para
evitar grandes cortes ou aterros, que podem expor a área à erosão. Não é adequada a instalação de um
parque industrial no interior de cidades onde há poucos terrenos disponíveis, por isso pode agravar a
poluição e o trânsito. O ideal é que ele seja instalado numa área fora da cidade (mas não muito distante,
porque necessita de mão de obra) e onde haja um bom sistema de transportes que permita a chegada
de matérias-primas e o escoamento dos bens produzidos. Considerando tudo isso e os elementos
mostrados na plana, o melhor local para instalação de um parque industrial é a área I do município, ao
lado da rodovia.
A instalação de uma torre de comunicação deve ficar nas proximidades da cidade. Mas num terreno
de altitude mais elevada para que seu funcionamento seja mais eficiente; portanto, o melhor local para
sua instalação é a área E. Assim, a alternativa que responde corretamente ao problema proposto é a C.

2) O Espaço Natural: estrutura e dinâmica da Terra: evolução geológica; deriva


continental; placas tectônicas; dinâmica da crosta terrestre; tectonismo;
vulcanismo; intemperismo; tipos de rochas e solos; formas de relevo e recursos
minerais; as superfícies líquidas: oceanos e mares; hidrografia; correntes
marinhas – tipos e influência sobre o clima e a atividade econômica; utilização
dos recursos hídricos e situações hidroconflitivas; a dinâmica da atmosfera:
camadas e suas características; composição e principais anomalias – El Niño,
La Niña, buraco na camada de ozônio e aquecimento global: elementos e fatores
do clima e os tipos climáticos; os domínios naturais: distribuição da vegetação e
características gerais das grandes paisagens naturais; e impactos ambientais:
poluição atmosférica, erosão, assoreamento, poluição dos recursos hídricos e a
questão da biodiversidade.

FORMAÇÃO DA TERRA13

A Terra – Dinâmica, Estrutura, Forma e Atividades Humanas

Segundo os cientistas, a Terra surgiu há aproximadamente 4,5 bilhões de anos, resultando da


agregação de poeira cósmica provocada pela atração gravitacional.

Agregação trata-se de uma das teorias mais atuais sobre a formação do universo, conhecida por
Teoria da Agregação.

Os choques entre essas partículas de poeira ocasionaram reações químicas explosivas, aquecendo o
planeta e transformando-o numa gigantesca massa incandescente. A partir desse momento, um longo
processo de resfriamento solidificou a parte mais externa da superfície terrestre.
De sua origem até o estágio atual, a Terra passou por diversas transformações, que são estudadas a
partir da disposição das camadas rochosas e dos fósseis nelas encontrados. Essas camadas
representam registros dos acontecimentos passados, e permitem compreender a evolução do planeta.

As Eras Geológicas
A Geologia (ciência que estuda o conjunto da origem, da formação e das contínuas transformações
da Terra, assim como dos materiais orgânicos que a constituem), divide a história da Terra em eras
geológicas, que correspondem a grandes intervalos de tempo divididos em períodos que, por sua vez,
são subdivididos em épocas e idades. Cada uma dessas subdivisões corresponde a algumas importantes
alterações ocorridas na evolução do planeta.

13
GARCIA, Hélio Carlos; GARAVELLO, Tito Márcio. Geografia do Brasil. 3ª edição. São Paulo: Anglo.
LUCCI, Elian Alabi. Geografia Geral e do Brasil. Elian Alabi Lucci; Anselmo Lazaro Branco e Cláudio Mendonça. 3ª edição. São Paulo: Saraiva.

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A Estrutura Interna da Terra

O conhecimento da estrutura interna da Terra é essencial ao entendimento dos fenômenos que se


manifestam em sua superfície, como o vulcanismo e os terremotos, responsáveis por modificações na
modelagem da superfície terrestre. Os terremotos, por exemplo, afetam a vida de milhões de pessoas e
provocam graves catástrofes naturais na Califórnia (Estados Unidos), no Japão, no Chile, na Turquia e
em diversos outros países. O vulcanismo, outro fenômeno natural causado pelas forças internas da Terra,
acarreta também graves desastres naturais.
A atividade mineradora também depende do conhecimento da estrutura interna da Terra. Os recursos
minerais são matérias-primas básicas para a produção das mercadorias e para a geração da maior parte
da energia consumida no mundo.
Os estudos do interior da Terra baseiam-se em observações indiretas, pois até o momento, o poço
mais profundo – o da península de Kola, na Rússia, perfurado em 1987 – atingiu apenas 13 km. Todo o
material que sai pelos vulcões vem de profundidade de, no máximo, 200 km. Essas medidas, se
comparadas com o raio da Terra – 6380 km -, são muito pequenas.
As observações indiretas são obtidas por meio da análise dos tremores que ocorrem no interior da
Terra, cujas ondas, chamadas sísmicas, propagam-se em diferentes direções, algumas atingindo o
núcleo do planeta. A intensidade destas ondas é registrada por sismógrafos, aparelhos que também
medem a sua velocidade e, portanto, o tempo que elas levam para se deslocar do hipocentro (local do
interior da Terra onde se origina o terremoto) até os locais onde essas ondas sísmicas se manifestam na
superfície terrestre - o epicentro.
A partir dessas observações, os cientistas chegaram à conclusão de que a Terra é formada
basicamente por três camadas: a crosta terrestre ou litosfera, o manto e o núcleo.
Na crosta terrestre – camada eterna – são encontradas rochas relativamente leves, constituídas
principalmente por silício e alumínio. Essa camada apresenta uma espessura variável: sob os continentes

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varia de 20 a 70 km (a espessura máxima verifica-se nos locais sob as montanhas) e, sob os oceanos,
onde predominam o silício e o magnésios, varia de 5 a 15 km.
O manto – camada intermediária – é formado por rochas mais pesadas, como os basaltos, constituídas
principalmente por magnésio, ferro e silício. Na parte externa do manto há uma região conhecida por
astenosfera, formada de um material pastoso chamado magma. Nela ocorrem movimentos de
convecção: o magma aquecido sobe das porções mais internas da Terra em direção à crosta e, depois,
volta para o interior à medida que se resfria. Os movimentos de convecção dão origem a terremotos e
erupções vulcânicas.
O limite máximo interior do manto é de, aproximadamente, 2900 km, onde começa a camada mais
interna: o núcleo.
O núcleo, que tem como limite máximo interior a medida do raio da Terra, é constituído por níquel e,
principalmente, por ferro. Ele se encontra subdividido em duas camadas: o núcleo externo, que parece
ser líquido e vai até 5100 km; e o núcleo interno, que é sólido.

A isostasia
Dá-se o nome de isostasia (do grego isso: igual; e stásis: equilíbrio) ao estado de equilíbrio dos blocos
continentais da crosta terrestre que flutuam sobre a camada do manto.
Segundo a teoria do cientista inglês George B. Airy (1801-1892), considerando a crosta terrestre
formada por blocos da mesma densidade e admitindo-se como correta a hipótese de que no manto existe
uma zona de material viscoso em estado de fusão, quanto mais alto for o bloco montanhoso ou
continental, maior será sua raiz mergulhada no manto.
Para termos uma imagem similar desse fenômeno basta apreciarmos alguns blocos de gelo boiando
na água. Quanto mais espessos forem, mais emergem e imergem. (Adaptado de Glossário de termos geológicos. Associação
Profissional dos Geólogos de Pernambuco. Em: www.agp.org.br/glossario-i.html).

As Rochas e Solos que Formam a Crosta Terrestre

A crosta terrestre é formada principalmente por rochas, como, por exemplo, a areia, o granito, o
mármore, o calcário e a argila. As rochas, por sua vez, são constituídas por um agregado de minerais ou
por um único mineral solidificado. Minerais são elementos ou compostos inorgânicos encontrados na
crosta terrestre. O granito, por exemplo, é composto por três minerais: quartzo, mica e feldspato.

Quanto à origem, as rochas classificam-se em magmáticas ou ígneas, sedimentares e


metamórficas.
As rochas magmáticas resultam da consolidação de material, em estado de fusão, proveniente do
manto. Elas constituem aproximadamente 80% da crosta terrestre e se subdividem em dois tipos:

Extrusivas ou vulcânicas – que se formaram na superfície (exemplo: basalto).

Intrusivas ou plutônicas – que se formaram internamente (exemplo: granito).

As rochas magmáticas intrusivas aparecem na superfície quando a erosão remove as outras rochas
que as encobrem. Sãos os afloramentos. O granito é muito utilizado no revestimento de pisos, em
paredes e na fabricação de tampos de pias. A decomposição do basalto, por sua vez, dá origem,
geralmente, a solos férteis, como a terra roxa, encontrada nos estados de São Paulo e Paraná.

As rochas sedimentares resultam da deposição de detritos de outras rochas e/ou de acúmulo de


detritos orgânicos (sedimentos). Normalmente a deposição ocorre em camadas horizontais. Quanto à
origem, as rochas sedimentares são classificadas em:

Detríticas – constituídas pela acumulação de fragmentos de outras rochas (magmáticas, metamórficas


ou mesmo sedimentares). Exemplos: areia, arenito, argila, folhelho, varvito, conglomerado e tilito.
Químicas – provenientes de transformações químicas que alguns materiais em suspensão sofrem na
água. Exemplo: o sal-gema, que corresponde a depósitos de cloreto de sódio, os quais são encontrados
em áreas onde possivelmente havia mar.
Orgânicas – formadas pela ação de animais e vegetais ou pela acumulação dos seus dejetos.
Exemplo: o calcário, resultante da acumulação de restos de conchas, corais, etc. Essa é uma das rochas
mais abundantes e mais utilizadas pelo ser humano. Outro exemplo é o carvão mineral, que formou-se
da decomposição de restos vegetais que permaneceram enterrados por milhões de anos.

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As rochas sedimentares têm grande importância econômica, pois nelas se encontram riquezas
minerais, como o carvão mineral e o petróleo. A areia, o varvito e o calcário também são muito utilizados
pelo setor de construção civil.

As rochas metamórficas resultam da transformação (metamorfização), em condições de pressão e


de temperatura bastante elevadas, de rochas preexistentes. As principais rochas metamórficas são: o
gnaisse, formado a partir da transformação do granito; a ardósia, resultado da metamorfose do xisto; e o
mármore, que resulta da transformação do calcário. A ardósia e principalmente, o mármore, são bastante
empregados não setor de construção civil.

São os principais tipos de solo e suas características14:

Latossolos – L
Formados sob ação de lavagens alcalinas em regiões quentes e úmidas florestadas. Parte da sílica
perde-se por eluvião, permanecendo os óxidos de ferro e de alumínio.

Podzólicos e podgolizados – P
Formados sob ação de lavagens ácidas, sobre material de origem arenoso em regiões úmidas e
florestadas. Como consequência de tais lavagens, as argilas são arrastadas para o horizonte B, ficando
as camadas superficiais mais arenosas.

Hidromórficos – Hi
Formados sob excesso de água, portanto, em condições de aeração deficiente.

Litossolos – Li
São solos geologicamente recentes. Pouco desenvolvidos e de pequena espessura, assentados
diretamente sobre as rochas consolidadas ou não. Os fatores de formação ainda não tiveram tempo para
diferenciar-lhe os horizontes.
Regossolos – R
São solos recentes, em início de formação. São profundos, arenosos, com drenagem excessiva.

Solos aluviais – Al
Recentes, ainda em formação, a partir de sedimentos aluviais. Distingue-se apenas o horizonte A1
sobre o horizonte C. São profundos, com perfil pouco diferenciado.

A Crosta Terrestre em Movimento

Em 1912, o cientista alemão Alfred Wegener elaborou a teoria da deriva dos continentes.
Observando a semelhança entre os contornos dos litorais da América, Europa e África, e também de suas
rochas, Wegener propôs que, há cerca de 200 milhões de anos, os continentes estariam todos unidos,
formando um único bloco, chamado Pangeia, rodeado por um único oceano, a Pantalassa, que teria
começado a se fragmentar com o aparecimento de fendas ou fraturas. Aos poucos, os fragmentos teriam
se afastado uns dos outros.
Observe a figura abaixo:

14
http://www.iqsc.usp.br/iqsc/servidores/docentes/pessoal/mrezende/arquivos/SOLO.pdf.

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Essa teoria foi contestada pela maioria dos geólogos da época. Um dos poucos que a apoiaram, o
inglês Arthur Holmes, elaborou, em 1928, a hipótese da expansão dos fundos oceânicos, baseando-se
nos movimentos de convecção do magma na atmosfera, camada situada logo abaixo da crosta. Para
Holmes, o movimento circulatório do magma empurraria os continentes.
Em 1967, Janson Morgan confirmou a hipótese de Holmes: os fundos oceânicos estão se deslocando
a partir das dorsais, que são cordilheiras situadas na porção central dos oceanos (meso-oceânicas).
Constatou-se também que as idades das rochas dos fundos oceânicos aumentam à medida que se
distanciam das dorsais, ou seja, quanto mais próximas dos continentes, mais antigas são as rochas.
A partir dessas constatações, chegou-se à conclusão de que o envoltório da Terra (crosta) é
descontínuo e fragmentado em vários blocos, os quais são formados por partes continentais e oceânicas
(o fundo ou assoalho dos oceanos). Cada bloco corresponde a uma placa tectônica (Ramo da Geologia
que estuda o dinamismo das forças que interferem na movimentação das camadas da crosta terrestre),
que se desloca pelos movimentos de convecção do magma. A teoria da deriva dos continentes foi
substituída pela teoria da tectônica de placas. Assim:

Ao mesmo tempo em que há o processo de afastamento (expansão) entre placas tectônicas, como,
por exemplo, nas cordilheiras meso-oceânicas, também chamadas zonas de divergência de placas,
verifica-se também o processo de fricção entre essas placas, pelo qual elas são pressionadas umas
contra as outras – são as chamadas zonas de convergência de placas. Nas zonas de convergência, o
contato entre as placas pode ser de dois tipos:

Subducção – as placas movem-se uma em direção a outra e a placa oceânica (mais densa)
“mergulha” sob a continental (menos densa). A placa oceânica entra em estado de fusão no manto.

Obducção ou colisão – choque entre duas placas na porção continental. Acontece em virtude da
grande espessura dos trechos nos quais estão colidindo. É o que ocorre entre a placa Indo-australiana e
a Euro-asiática Ocidental.

Por meio de raios laser emitidos de satélites artificiais, obteve-se a confirmação do movimento das
placas tectônicas, pois foi possível medir o afastamento dos continentes. A América do Sul, por exemplo,
afasta-se cerca de 3 cm por ano da África, levando a um alargamento do oceano Atlântico.

Terremotos
Nas áreas próximas aos limites entre as placas ocorrem muitos terremotos (abalos sísmicos) e a
atividade vulcânica é intensa. As grandes cadeias montanhosas da Terra, situadas nessas áreas,
surgiram por causa da colisão (ou obducção) de placas, como a cordilheira do Himalaia, ou pelo processo
de subducção, como a cordilheira dos Andes.
O atrito entre as placas tectônicas produz acúmulo de pressão e descarga de energia, que se propaga
em forma de ondas sísmicas. A propagação dessas ondas provoca a vibração das rochas e grande
impacto nas áreas de montanhas próximas à região de atrito.
O abalo sísmico recebe o nome de maremoto quando ocorre no fundo dos oceanos, provocando
ondas de movimento acelerado e grande altura ao se aproximarem da costa. Se a onda que se forma for
muito grande, recebe o nome de tsunami, como a que afetou diversas regiões da Ásia e da África no
final de 2004, matando mais de 280 mil pessoas, considerada uma das maiores catástrofes de origem
ambiental já registrada na história.

Terremotos no Brasil
O público leigo, de forma geral, aceita a ideia de que o território brasileiro está a salvo de terremotos.
No meio científico, porém, há relatos de abalos sísmicos no Brasil desde o início do século 20. Uma

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pesquisa sobre o tema contribuiu para diminuir o fosso entre o senso comum e a realidade científica: uma
equipe coordenada pelo geomorfólogo Allaoua Saadi, professor da Universidade Federal de Minas
Gerais, elaborou o Mapa neotectônico do Brasil e identificou a existência de 48 falhas-mestras no território
nacional. “É justamente ao longo do traçado dessas falhas que se concentram as ocorrências de
terremotos”, explica Saadi. (...)
Terremotos constituem uma resposta a rupturas da crosta terrestre provocadas pelo deslocamento dos
blocos (subdivisões das placas tectônicas) ao longo de uma falha. As rochas comportam-se como corpos
elásticos, deformando-se e acumulando energia proveniente do contato e do movimento entre os blocos.
“No momento da ruptura, a energia ‘represada’ durante o período de acumulação do stress anterior é
liberada de uma só vez ou em episódios mais ou menos próximos”, esclarece Saadi.
Os grandes abalos ocorrem principalmente na região de encontro entre as placas, onde se localizam
as falhas maiores de escala continental. O globo terrestre é constituído por (...) placas e o território
[brasileiro] está totalmente situado no interior da Placa Sul-Americana – daí a ideia de que não haveria
tremores de terra no país. No Brasil, os terremotos intraplacas, onde o tamanho das falhas tem dimensões
variadas, costumam ser mais brandos e dificilmente atingem mais de 4,5 graus de magnitude. Porém,
ainda precisam ser mais estudados. No início do século 20 um terremoto de grandes proporções – 8
graus – ocorreu na costa leste dos Estados Unidos, região de atividade sísmica semelhante à do Brasil.
“Comparados aos da região andina, situada exatamente na fronteira entre a placa de Nazca e a placa
Sul-Americana, os abalos sísmicos brasileiros são menos frequentes e intensos”, explica Saadi. Eles não
devem, no entanto, ser desprezados. Há registros no Brasil de terremotos com magnitude acima de 5
graus. Em 1986 a cidade de João Câmara (RN) foi palco de vários tremores que chegaram a destruir e
danificar cerca de 4000 casas. KUCK, Denis Weisz. Ciência Hoje on-line, 06/11/02.
Os terremotos podem ser medidos quanto à magnitude e à intensidade.
A magnitude é a quantidade de energia liberada no foco do sismo, sendo medida a partir de uma
escala estabelecida pelo sismólogo norte-americano Charles Richter. Essa escala – escala Richter –
começa no grau zero e, teoricamente, não tem um limite superior. Ela também é logarítmica, ou seja, um
terremoto de magnitude 5, por exemplo, produz efeitos 10 vezes maiores que um outro de magnitude 4.
Um dos terremotos mais violentos já registrado atingiu 9,2 graus, no Japão, em 1992, liberando um milhão
de vezes mais energia que a bomba atômica lançada sobre Nagasaki. Não houve mortes porque a região
atingida era desabitada.
A intensidade baseia-se na constatação dos efeitos provocados pelo terremoto na superfície, que,
provavelmente, vão ser menores à medida que se distancie do seu epicentro. A escala de intensidade
sísmica mais utilizada é a de Mercalli modificada, que varia de I (danos mínimos) a XII (danos máximos),
quando ocorre o desaparecimento quase que total de vestígio de construção humana; objetos são
lançados para o alto, formam-se grandes fendas no terreno e consideráveis transformações no relevo.
De todas as áreas sujeitas a terremotos no mundo, o Japão e a Califórnia (Estados Unidos) são as
mais bem preparadas para enfrentar sismos. Isso decorre do próprio nível de desenvolvimento desses
países, de suas condições econômicas, que possibilitam investimentos em pesquisas no setor de
construção civil, no treinamento da população, nos equipamentos para previsão de tremores, na
manutenção de cientistas, etc.

A Estrutura Geológica

Nas áreas emersas, a crosta terrestre é formada por três tipos de estruturas geológicas, as quais são
caracterizadas pelos tipos de rochas predominantes e o seu processo de formação, e pelo tempo
geológico em que surgiram. Essas estruturas geológicas são os dobramentos modernos, os maciços
antigos e as bacias sedimentares.
Os dobramentos modernos são os trechos da crosta de formação recente e, por essa razão,
compostos por rochas mais flexíveis e maleáveis, situadas relativamente próximas às zonas de contato
entre placas (zonas convergentes). Devido à pressão de uma placa sobre a outra, esta parte da crosta
dobra-se num processo lento e contínuo, dando origem às montanhas.
Os dobramentos modernos são denominados de tectonismo horizontal ou movimento orogenético.
(Orogênese: Resulta do movimento horizontal, responsável pela formação das montanhas. Esse
movimento provém do choque entre as placas em suas zonas de contato, que provoca a deformação da
crosta, formando dobras em alguns trechos dessas placas).
O deslocamento vertical dos blocos rochosos nas regiões de falhamento da crosta é denominado
movimento epirogenético. (Epirogênese: Resulta de movimentos verticais nas regiões de ocorrência
de “falhas”. Esses movimentos provocam soerguimento ou rebaixamento de blocos rochosos da crosta

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terrestre, em regiões afastadas das zonas de contato e, consequentemente, em áreas em que são
encontradas rochas mais sólidas e estáveis).
Os maciços antigos, também chamados escudos cristalinos, são os terrenos mais antigos da crosta
terrestre. Datam da era Pré-Cambriana (Arqueozoica e Proterozoica) e são constituídos basicamente por
rochas magmáticas e metamórficas. Nos maciços que se formaram na era Proterozoica ocorrem as
jazidas de minerais metálicos, como, por exemplo, as de ferro, ouro, manganês, prata, cobre, alumínio,
estanho.
A pressão do magma sobre estas estruturas antigas provoca fraturas ou falhas na litosfera e,
posteriormente, o deslocamento vertical de grandes blocos, soerguendo e rebaixando a superfície.
As bacias sedimentares começaram a se formar apenas na era Paleozoica. Resultam da acumulação
de sedimentos provenientes do desgaste das rochas; de organismos vegetais ou animais; ou mesmo de
camadas de lavas vulcânicas solidificadas. É nestas estruturas que se formam importantes recursos
minerais energéticos, como o petróleo e o carvão mineral.
As bacias sedimentares abrangem cerca de 64% do território brasileiro; os maciços (escudos) e os
dobramentos antigos respondem por carca de 36% dessa área, na qual 32% dos terrenos formaram-se
no período Arqueozoico, e apenas 4%, no Proterozoico. Nesses últimos, concentram-se, sobretudo,
rochas metamórficas, nas quais estão presentes as mais importantes jazidas de minerais metálicos do
país.

A Estrutura Geológica do Brasil


A estrutura geológica do Brasil apresenta maciços (escudos) antigos e bacias sedimentares, não se
verificando a existência de dobramentos modernos.
O território brasileiro encontra-se distante da zona de instabilidade tectônica – a mais próxima
encontra-se junto ao oceano Pacífico, nos países andinos. Nessa posição geográfica, está livre de
vulcanismo. Alguns tremores de terra já foram detectados, mas sem registro de destruição de edifícios,
pontes ou cidades, o que acontece na Colômbia, no Chile e Peru, situados próximo às regiões onde
ocorre o choque entre as placas Sul-americana e de Nazca.
O conhecimento da estrutura geológica do território brasileiro é de fundamental importância para se
compreender o modelado da superfície do país – o seu relevo – e atuar racionalmente sobre ele, tanto na
exploração dos recursos minerais e energéticos como na agricultura e na sua conservação, evitando-se
processos erosivos prejudiciais à economia e ao meio ambiente.
A estrutura geológica do Brasil é caraterizada por três tipos de terrenos:
a) Escudos cristalinos:
Terrenos de formação pré-cambriana, que afloram em cerca de 36% do território do país. Nos terrenos
arqueozoicos (32% do território), encontramos rochas como o granito e elevações como a serra do Mar.
Nos terrenos proterozóicos (4% do território), encontramos rochas metamórficas que formam jazidas
minerais, principalmente de ferro e manganês, como as localizadas na serra dos Carajás, no Pará.

b) Bacias sedimentares:
Formações recentes, que recobrem cerca de 58% do território brasileiro. Nas áreas de formação
paleozoica, o destaque são as jazidas carboníferas do sul, e nas áreas de formação mesozoica, os
depósitos petrolíferos do litoral.
Nos terrenos cenozoicos, destacam-se as planícies.

c) Terrenos vulcânicos:
Áreas que durante a era Mesozoica sofreram a ação de intensos derrames vulcânicos. Na bacia do
Paraná, particularmente, as lavas esparramaram-se por cerca de 1 milhão de quilômetros quadrados e
originaram rochas como o basalto e o diabásio. Nas áreas de ocorrência dessas rochas, é comum a
presença de um dos tipos de solo mais férteis do Brasil: a terra roxa, formada da decomposição do
basalto.

Os agentes do relevo:
O relevo terrestre está em constante transformação, e os fenômenos naturais causadores dessa
dinâmica são agrupados em dois grandes conjuntos: agentes da dinâmica interna e da dinâmica externa.

Agentes da dinâmica interna:


Considerados agentes formadores do relevo, são fenômenos que atingem a superfície terrestre, mas
que têm origem nas altas temperaturas e pressões do interior do globo. São eles:

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* o tectonismo – movimentos da crosta terrestre que originam dois tipos de processos: dobramentos
(quando afetam rochas plásticas, características de áreas sedimentares) e falhamentos (quando afetam
rochas rígidas, características de áreas de formação cristalina do período Pré-Cambriano);

* o vulcanismo – rompimento da crosta terrestre pela ação da forte pressão feita pelo magma. Ocorre
quando, através de falhas ou fraturas, o magma em fusão sobe até a superfície terrestre, acompanhado
ou não de gases e cinzas;

* os abalos sísmicos (terremotos e maremotos) – tremores que afetam a superfície terrestre e que
se devem aos rápidos movimentos do interior do planeta causados pelo vulcanismo ou pelo tectonismo.

Agentes da dinâmica externa:


Considerados agentes modeladores do relevo, na maioria das vezes são fenômenos vinculados à
ação do clima. Dentre eles, destacam-se:

* as águas correntes – são os principais agentes modeladores externos da crosta terrestre. Abrangem
o trabalho dos rios (erosão, transporte e acumulação fluvial, das chuvas e enxurradas (erosão, transporte
e acumulação pluvial) e do mar (abrasão);

* a dinâmica glacial – o avanço ou o recuo de geleiras intensifica o processo de desagregação das


rochas, contribuindo para mudar as formas do relevo. O material rochoso erodido, transportado e
acumulado pela ação do degelo é denominado moraina ou morena;

* os ventos – são os agentes mais atuantes na modelação do relvo das áreas áridas ou semiáridas,
onde é comum a formação de dunas, devida ao trabalho eólico de erosão, transporte e acumulação e à
ausência de ação hídrica;

* o intemperismo – alteração do modelado terrestre por ação do clima sobre as rochas. Estas podem
sofrer degradação (quando a alteração é fundamentalmente produzida por processos físicos, ligados a
temperatura e pressão) ou decomposição (quando a alteração resulta de processos químicos, quase
sempre pela ação da umidade). Nos dois casos, a alteração é acelerada pela ação biológica,
particularmente de microrganismos.

A ação do homem:
Paralelamente aos fenômenos naturais internos e externos que interferem no relevo terrestre, um outro
agente modificador está em atuação constante: o homem.
Com recursos cada vez mais sofisticados, a ação humana acelera a erosão, sobretudo nas partes mais
altas do relevo, intensifica a sedimentação das partes mais baixas, particularmente nos vales fluviais, e,
o que é mais grave, acelera o processo de assoreamento dos rios, aumentando a frequência e a
intensidade das enchentes.
Entre as principais formas de atuação do homem que repercutem negativamente no relevo, estão:

* a derrubada de matas em áreas serranas ou de declives acentuados, que favorece o deslizamento


de terras e rochas – material que, transportado para o leito dos rios, causa o seu assoreamento, tornando-
se mais rasos e, assim, provocando enchentes;

* a derrubada de matas em áreas aplainadas, que favorece a infiltração excessiva de água no solo,
cujos componentes passam a ser dissolvidos com mais intensidade;

* as queimadas, que, além de eliminarem os nutrientes do solo, matam as raízes vegetais que o fixam,
favorecendo a erosão pela enxurrada;

* o uso inadequado do solo, com a utilização intensiva de máquinas agrícolas e o cultivo em áreas de
declive – ambas práticas que facilitam o processo erosivo, especialmente quando este é provocado pela
ação das águas pluviais;

* a ocupação inadequada dos solos para a implantação de moradias – nas áreas serranas, por exemplo
– e o uso econômico das áreas de cabeceira dos rios.

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Questões

01. (FUB – Geólogo – CESPE) Com relação às eras geológicas, julgue o item a seguir.
Os dinossauros viveram no período quaternário.
(....) Certo (....) Errado

02. (FUB – Geólogo – CESPE) Com relação às eras geológicas, julgue o item a seguir.
O supercontinente Pangeia começou a se desagregar no início da era mesozoica.
(....) Certo (....) Errado

Gabarito

01. Errado/02. Certo

Comentários

01. Resposta: Errado.


Período Quaternário:
* Dobramentos modernos (atuais montanhas);
* Surgimento de aves, mamíferos e primatas;
* Atuais continentes.

02. Resposta: Certo.


Era Mesozoica:
* Divisão do grande continente da Pangeia, em Laurásia e Gondwana (130 milhões de anos);
* Surgimento dos grandes répteis (como os dinossauros).

ROCHAS E SOLOS

Rochas - Material de Origem de Formação dos Solos

O material de origem depende da classificação genética das rochas. Classificar as rochas significa
usar critérios que permitam agrupá-las segundo características semelhantes.
Uma das principais classificações é a genética, em que as rochas são agrupadas de acordo com o seu
modo de formação na natureza. Sob este aspecto, as rochas dividem-se em três grandes grupos:
- Ígneas ou magmáticas;
- Sedimentares;
- Metamórficas.

Rochas Ígneas ou Magmáticas


Resultantes do resfriamento de material rochoso fundido, chamado magma. Exemplo:

São chamadas de rocha ígnea intrusiva, quando o resfriamento ocorrer no interior do globo terrestre,
e de rocha ígnea extrusiva ou vulcânica, se o magma conseguir chegar à superfície.

30
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Para reconhecer se a rocha é intrusiva ou extrusiva, é necessário avaliar sua textura.
O resfriamento dos magmas intrusivos é lento, dando tempo para que os minerais em formação
cresçam o suficiente para serem facilmente visíveis. Alguns cristais podem chegar a vários centímetros.
O resfriamento dos magmas extrusivos é muito mais rápido. Muitas vezes, não há tempo suficiente
para os cristais crescerem muito. A rocha extrusiva tende a ter, portanto, uma textura de granulação fina.

A cor das rochas ígneas é muito variável, podendo ser classificadas como:
- Máficas – são as rochas ígneas escuras ricas em minerais contendo magnésio e ferro;
- Félsicas – são claras, mais ricas em minerais, e contêm sílica e alumínio (siálicas), que incluem os
feldspatos e o quartzo ou sílica.

Rochas Sedimentares
Parte das rochas sedimentares é formada a partir da compactação e/ou cimentação de fragmentos
produzidos pela ação dos agentes intempéricos e pedogênese sobre uma rocha preexistente, após serem
transportados pela ação dos ventos, das águas que escoam pela superfície ou pelo gelo, do ponto de
origem até o ponto de deposição. Exemplo:

As rochas sedimentares, quanto a sua textura, podem ser classificadas como:


a) Clástica – quando a rocha sedimentar é constituída por partículas preexistentes. A litificação ocorre
em condições geológicas de baixa pressão e baixa temperatura e, por isso, as rochas clásticas não têm,
salvo raras exceções, a mesma consistência dura das rochas ígneas.
b) Químicas ou Não-Clásticas – são formadas pela precipitação dos radicais salinos, que foram
produzidos pelo intemperismo químico e agora se encontram dissolvidos nas águas dos rios, lagos e
mares.
c) Orgânicos – são acúmulos de M.O. (material orgânico) tais como restos de vegetais, conchas de
animais, excrementos de aves etc. que, por compactação, acabam gerando, respectivamente, turfa,
coquina e guano. São pseudorrochas porque as suas partículas não são minerais.

Rochas Metamórficas
Resultam da transformação de uma rocha preexistente no estado sólido.
O processo geológico de transformação se dá por aumento de pressão e/ou temperatura sobre a rocha
preexistente, sem que o ponto de fusão dos seus minerais seja atingido. Exemplo:

31
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O metamorfismo pode ser regional, local e dinâmico. O regional ocorre em grandes extensões da
superfície do globo terrestre, em consequência de eventos geológicos de grande porte como, por
exemplo, edificação de cadeias de montanhas.
Dependendo dos valores alcançados pela variação de pressão e temperaturas, têm-se os
metamorfismos regionais de baixo, médio e alto grau.
Muitas rochas metamórficas são reconhecidas graças a sua estrutura de foliação, ou seja, a orientação
preferencial que os minerais placoides assumem, bem como a sua estrutura de camadas dobradas,
devido às deformações que acompanham o metamorfismo regional.
O metamorfismo local restringe-se a domínios de terreno que variam entre centímetros e dezenas de
metros de extensão. O metamorfismo termal ou de contato ocorre quando o aumento de temperatura
predomina.
O metamorfismo dinâmico ocorre quando predomina o aumento de pressão no fenômeno da
transformação das rochas como em zonas de falhas.
Quando a temperatura do metamorfismo ultrapassa um certo limite, determinado pela natureza
química da rocha e pela pressão vigente, frequentemente na faixa de 700 - 800º C, as rochas começam
a se fundir, produzindo novamente um magma.

Solos - Gênese e Classificação do Solo

De modo geral, os solos vêm sendo formados há milhões de anos. São frutos de um processo contínuo
que se iniciou com o processo de decomposição de uma rocha matriz, que também pode ser chamada
de rocha-mãe.
À medida que a rocha matriz vai sofrendo a ação do intemperismo (ação da água, vento e seres vivos),
ocorre a liberação de fragmentos de rocha que, por sua vez, se misturam a outros sedimentos, como
restos de animais e plantas, e, portanto, dão origem a um determinado tipo de solo15.

Introdução à Pedologia e seus Conceitos Básicos


As bases da Pedologia, ramo do conhecimento relativamente recente, ou Ciência do Solo como
também é chamada, foram lançadas em 1880 na União Soviética por Dokuchaiev, ao reconhecer que o
solo não era um simples amontoado de materiais não consolidados, em diferentes estágios de alteração,
mas resultava de uma complexa interação de inúmeros fatores genéticos: clima, organismos e topografia,
os quais, agindo durante certo período de tempo sobre o material de origem, produziam o solo16.
A preocupação inicial de Dokuchaiev, de cunho pedológico - explicar a formação dos solos e
estabelecer um sistema de classificação - era, sem dúvida, uma preocupação oportuna em definir uma
nova área de estudo e delimitar lhe o espaço dentro do contexto do campo da Ciência. A expansão dos
estudos pedológicos decorreu, em grande parte, da necessidade de:
- corrigir a fertilidade natural dos solos, depauperada ao longo dos anos de exploração agrícola e
agravada pela erosão;
- elevar a fertilidade natural de solos originalmente depauperados;
- neutralizar a acidez do solo;
- agrupar solos apropriados para determinadas culturas;
- preservar os solos contra os perigos da erosão.

Intemperismo
Meteorização ou intemperismo é o processo natural de decomposição ou desintegração de rochas e
solos, e seus minerais constituintes, por ação dos efeitos químicos, físicos e biológicos que resultam da
sua exposição aos agentes externos.
Esses agentes podem ocorrer simultaneamente na natureza e acabam por se complementarem no
processo de formação das rochas. Isso fica demonstrado quando analisamos o efeito da temperatura e
da água nas rochas.
Variações climáticas podem levar ao trincamento das rochas e, por conseguinte, a água irá penetrar
essas trincas atacando quimicamente os minerais. Pode ocorrer também, que o congelamento da água
nas trincas leve ao fissuramento da rocha devido às tensões geradas.
Ressalta-se17 que os processos de intemperismo físico reduzem o tamanho das partículas,
aumentando sua área de superfície e facilitando o trabalho do intemperismo químico. Já os processos

15
<http://www.universiaenem.com.br/sistema/faces/pagina/publica/conteudo/textohtml.xhtml?redirect=51704978228430979754772414673>
16
IBGE. Manual Técnico de Pedologia. 2ª Edição. Rio de Janeiro. 2007.
MACHADO, S. l. (2002) – “Apostila Mecânica dos Solos” – Universidade Federal da Bahia (UFBA) – Departamento de Geotécnica da Escola Politécnica de
17

Engenharia.

32
1634532 E-book gerado especialmente para GRAZIELA CRISTINA LEOTE
químicos e biológicos podem causar a completa alteração física da rocha e alterar suas propriedades
químicas18.

O Intemperismo físico não altera a composição química da rocha. Os principais tipos são:
- Variações de Temperatura: da física sabemos que todo material varia de volume em função de sua
temperatura. Estas variações de temperatura ocorrem entre o dia e a noite e durante o ano, e sua
intensidade será função do clima local. Acontece que uma rocha é geralmente formada de diferentes tipos
de minerais, cada qual possuindo uma constante de dilatação térmica diferente, o que faz a rocha
deformar de maneira desigual em seu interior, provocando o aparecimento de tensões internas que
tendem a fraturá-la. Mesmo rochas com uma uniformidade de componentes não têm uma arrumação que
permita uma expansão uniforme, pois grãos compridos deformam mais na direção de sua maior
dimensão, tendendo a gerar tensões internas e auxiliar no seu processo de desagregação.
- Repuxo coloidal: é caracterizado pela retração da argila devido à sua diminuição de umidade, o que
em contato com a rocha pode gerar tensões capazes de fraturá-la.
- Ciclos gelo/degelo: as fraturas existentes nas rochas podem se encontrar parcialmente ou
totalmente preenchidas com água. Esta água, em função das condições locais, pode vir a congelar,
expandindo-se e exercendo esforços no sentido de abrir ainda mais as fraturas preexistentes na rocha,
auxiliando no processo de intemperismo (a água aumenta em cerca de 8% o seu volume devido à nova
arrumação das suas moléculas durante a cristalização). Vale ressaltar também que a água transporta
substâncias ativas quimicamente, incluindo sais que ao reagirem com ácidos provocam cristalização com
aumento de volume.

- Alívio de pressões: irá ocorrer em um maciço rochoso sempre que da retirada de material sobre ou
ao lado do maciço, provocando a sua expansão, o que por sua vez, irá contribuir no fraturamento,
estricções e formação de juntas na rocha. Estes processos, isolados ou combinados (caso mais comum)
"fraturam" as rochas continuamente, o que permite a entrada de agentes químicos e biológicos, cujos
efeitos aumentam o fraturamento e tende a reduzir a rocha a blocos cada vez menores.

Por outro lado, o intemperismo químico irá provocar alterações na estrutura química das rochas. A
hidrólise, hidratação (responsável pela expansão da rocha) e carbonatação (principalmente em rochas
calcárias) são os exemplos clássicos de intemperismo químico.

- Hidrólise: dentre os processos de decomposição química do intemperismo, a hidrólise é a que se


reveste de maior importância, porque é o mecanismo que leva a destruição dos silicatos, que são os
compostos químicos mais importantes da litosfera. Em resumo, os minerais na presença dos íons H+
liberados pela água são atacados, reagindo com os mesmos. O H+ penetra nas estruturas cristalinas dos
minerais desalojando os seus íons originais (Ca++, K+, Na+, etc.) causando um desequilíbrio na estrutura
cristalina do mineral e levando-o a destruição.

- Hidratação: é a entrada de moléculas de água na estrutura dos minerais. Alguns minerais quando
hidratados (feldspatos, por exemplo) sofrem expansão, levando ao fraturamento da rocha.

- Carbonatação: o ácido carbônico é o responsável por este tipo de intemperismo. O intemperismo


por carbonatação é mais acentuado em rochas calcárias por causa da diferença de solubilidade entre o
CaCO3 e o bicarbonato de cálcio formado durante a reação.

O intemperismo biológico é resultante da ação de esforços mecânicos induzidos por raízes de


vegetais, escavação de roedores e, até mesmo, a própria ação humana.
Enfatiza-se19 que o conjunto desses processos ocorre mais frequentemente em climas quentes e que,
consequentemente, os solos serão misturas de partículas pequenas que se diferenciam pelo tamanho e
pela composição química.
Analisando a formação dos solos face aos tipos de intemperismo, verifica-se que os solos resultantes
de intemperismo físico irão apresentar composição química semelhante à da rocha que lhes originou.
Por outro lado, o intemperismo químico irá formar solos mais profundos e mais finos do que os solos
formados onde há predominância do intemperismo físico.

18
PAULO CÉSAR LODI. Mecânica dos Solos. Volume I. UNESP.
19
PINTO, C. S. (2000). Curso Básico de Mecânica dos Solos em16 Aulas, 247 págs., Oficina de Textos, São Paulo.

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Produtos do Intemperismo
O solo é o principal produto resultante da ação do intemperismo, no qual as ações em torno dele como
a erosão também são consequências.
Conforme definição do Instituto de Terras, Cartografia e Geologia do Paraná, o solo é “Produto do
intemperismo físico e químico das rochas, situado na parte superficial do manto de intemperismo.
Constitui-se de material rochoso desintegrado e decomposto20”.

Fatores Pedogenéticos
Os principais fatores ligados à formação dos solos são:
- O relevo na formação dos solos21

A ação do relevo reflete diretamente sobre a dinâmica da água, tanto no sentido vertical (infiltração)
como lateral (escorrimentos superficiais – enxurradas – e dentro do perfil); e indiretamente sobre o clima
dos solos (temperatura e umidade), através da incidência diferenciada da radiação solar, do decréscimo
da temperatura com o aumento das altitudes, e sobre os seres vivos – os tipos de vegetação natural
importantes na formação dos solos.
A água que cai sobre um terreno e não evapora tem apenas dois caminhos: ou penetra no solo ou
escorre pela superfície.
Geralmente, segue concomitantemente ambos os caminhos, com maior ou menor participação de um
ou outro, dependendo das condições do relevo (declividade e comprimento da vertente); da cobertura
vegetal; e de fatores intrínsecos do solo.
Em terrenos declivosos, a quantidade de água que penetra no solo é, em igualdade de incidência de
precipitação pluvial, normalmente menor que nos menos inclinados.
Na coexistência de ambas as situações, compartilhando uma porção da paisagem, as áreas menos
declivosas recebem o acréscimo de água do escoamento superficial e subsuperficial proveniente das
áreas mais altas.
Os solos de relevo íngreme são submetidos ao rejuvenescimento, através dos processos erosivos
naturais e, em geral, apresentam clima mais seco do que aqueles de relevo mais suaves.
Os solos rasos e pouco profundos das vertentes declivosas são naturalmente coabitados por matas
mais secas do que as dos terrenos contíguos menos íngremes.
Disso resultam solos menos profundos e evoluídos do que os situados em condições de relevo mais
suave, onde as condições hídricas determinam ambiente úmido mais duradouro.
Em terrenos aplainados, a eliminação da água pelo escorrimento superficial é diminuta; assim, há um
acentuado fluxo de água através do perfil, favorecendo a lixiviação (extração ou solubilização dos
constituintes químicos de uma rocha, mineral ou solo) em sistema de drenagem livre.
Nos terrenos de relevo subaplainado ou deprimido, em ambiente de drenagem impedida, determinando
sistema fechado, as condições são ideais para os fenômenos de redução, devido ao prolongado
encharcamento, resultando em solos particulares, denominados hidromórficos.
Outra implicação importante do relevo é sobre a taxa de radiação e, consequentemente, sobre o clima
do solo em diferentes situações de exposição dos terrenos à ação solar.
Em regiões montanhosas, por exemplo, dependendo da orientação das encostas, a variação de
incidência da radiação solar é significativa.

O Clima na Formação dos Solos


O clima constitui um dos mais ativos e importantes fatores de formação do solo.
De seus elementos, destacam-se, em nosso país, pela ação direta na pedogênese:

- a temperatura;
- a precipitação pluvial
- a deficiência e o excedente hídrico

A latitude influi diretamente nos regimes térmicos regionais. É muito importante no desenvolvimento
dos solos, pois a velocidade das reações químicas que neles se processam é maior e diretamente
proporcional ao aumento da temperatura.
Além da temperatura, a quantidade de água de chuva que atinge, penetre, permaneça ou escorra na
superfície é um fator igualmente importante no processo de formação do solo.

20
<http://www.mineropar.pr.gov.br/modules/glossario/conteudo.php?conteudo=S>
21
Geografia Física II / Fernando Moreira da Silva, Marcelo dos Santos Chaves, Zuleide Maria C. Lima. – Natal, RN: EDUFRN, 2009.

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Regiões com farta disponibilidade de água excedente apresentam, normalmente, solos mais evoluídos
do que regiões secas.
O enorme volume de água que flui através dos solos nas regiões úmidas promove a hidratação de
constituintes e favorece a remoção dos cátions liberados dos minerais pela hidrólise, acelerando as
transformações de constituintes e, consequentemente, o processo evolutivo do solo.
Da conjugação de variados regimes de temperatura e umidade, resulta essencialmente a ocorrência
de climas distintos ao longo do território brasileiro e, por conseguinte, de ações formadoras de solo
também diferenciadas.
Entre os baixos platôs amazônicos quentes e úmidos, o sertão nordestino quente e semiárido e os
planaltos sulinos frios e úmidos, há diferenças apreciáveis no que concerne à formação de solos, em
consequência das disparidades de condições pedoclimáticas.
Na região amazônica, a conjunção de alta temperatura e alta precipitação pluvial, ao longo do ano,
favorece a efetivação das reações químicas que se processam nos solos. Por exemplo: solos bastantes
intemperizados, profundos, essencialmente cauliníticos, muito pobres quimicamente, com reações
bastante ácidas.
No Nordeste semiárido, a escassez de umidade contribui para diminuição da velocidade e intensidade
dos processos pedogenéticos, resultando em solos pouco desenvolvidos, rasos ou pouco profundos,
cascalhentos ou pedregosos e/ou com relativa abundância de minerais primários pouco alterados e
minerais de argila de elevada atividade coloidal. Por exemplo: solos pouco lixiviados, quimicamente ricos,
pouco ácidos e ligeiramente alcalinos ou mesmo com altos teores de sais solúveis e de sódio trocáveis.
Nos planaltos sulinos, as baixas temperaturas e a constante umidade favorecem a formação de solos
com espessas camadas superficiais escuras e ricas em M.O (Molibdênio), conferindo-lhes particular
morfologia, além de influenciar mais ativamente os processos de transformações e neoformações. Por
exemplo: solos não muito desenvolvidos, pouco profundos, por vezes pedregosos, quimicamente pobres,
muito lixiviados, de reação bastante ácida e consideravelmente ricos em constituintes orgânicos.

Os Organismos na Formação dos Solos


Os organismos – microflora e macroflora, microfauna e macrofauna – pelas suas manifestações de
vida, quer na superfície quer no interior dos solos, atuam como agentes de sua formação.
O homem também faz parte desse contexto, pois, pela sua atuação, pode modificar intensamente as
condições originais do solo.
Dos organismos, sobressai por sua intensa e mais evidente ação como fator pedogenético a
macrofauna.

Qual a importância da cobertura vegetal para o solo?


A cobertura vegetal tem uma ação passiva como agente atenuante do clima; porém, é como agente
ativo na formação do solo que ela se destaca. Sua ação protetora depende de sua estrutura e tipo. Por
exemplo: na Amazônia, a cobertura vegetal é eficaz (protege o solo contra a ação das chuvas).
Na região de caatinga semiárida do nordeste, o efeito protetor é pouco efetivo na proteção do solo,
resultando em acentuadas enxurradas de forte poder erosivo.
O anteparo da cobertura vegetal exerce efeito atenuador na temperatura da parte mais superficial dos
solos, repercutindo na diminuição da evapotranspiração.
A ação pedológica passiva da cobertura vegetal desempenha ainda outras funções protetoras,
intervindo na fixação de materiais sólidos, como nas dunas ou nas planícies aluviais.
A vegetação tem participação ativa nos processos de TC (condições de drenagem através do tempo)
no material do solo, pela ação do contato direto das raízes com as superfícies coloidais além da relevante
participação no estoque de nutrientes do sistema, os quais retornam aos solos devolvidos pelos resíduos
vegetais.
A ação mais importante da cobertura vegetal ocorre, nos fenômenos de adição, tanto na superfície,
através dos resíduos vegetais aí depositados, como no interior do solo, mediante restos que se
decompõem.
A macrofauna tem importância como agente homogeneizador dos solos. Nessa situação em particular,
são muito citados os efeitos dos cupins, das formigas, dos tatus e de muitos roedores que cavam buracos.
As minhocas, abrindo galerias, melhoram a aeração dos solos. Os micróbios, por sua vez, têm ação
marcante na decomposição dos compostos orgânicos, na fixação de nitrogênio e em processos de
oxidação e/ou redução.
E o homem? Constitui um elemento perturbador da constituição e arranjo das camadas dos solos,
através das modificações que imprime na paisagem, como:
- desmatamento,

35
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- reflorestamento,
- abertura de estradas,
- aplainamento
- escavações,

Ou através de alterações que realiza diretamente no solo, como:


- aplicação de corretivos e fertilizantes,
- arações,
- irrigação,
- drenagem e deposição de restos da sua fauna diária.

O Tempo na Formação dos Solos


Dos fatores de formação, o tempo é o mais passivo: não adiciona, não exporta material nem gera
energia que possa acelerar os fenômenos de intemperismo mecânico e químico, necessário à formação
de um solo
Contudo, o estado do sistema solo não é estático: varia no transcorrer das transformações, transportes,
adições e perdas que têm lugar na sua formação e evolução. O conhecimento da duração do período de
gestação dos solos é, contudo, muito complexo.
A Geomorfologia ensina que, no Brasil, é possível encontrar desde materiais de origem recente até os
mais velhos de que se têm notícias na Terra. Onde são encontrados exemplos de solos de cronologia
recente? Nas planícies aluviais que ainda recebem, através das inundações, adições periódicas de
material.
Onde são encontrados exemplos de solos de cronologia mais antiga? Nos planaltos que constituem
os divisores dos grandes sistemas hidrográficos, como por exemplo o Planalto Central Brasileiro. Seu
início se deu há milhões de anos.
Qual a diferença entre idade e maturidade dos solos? A idade (cronologia) é a medida dos anos
transcorridos desde seu início até determinado momento, enquanto a maturidade (evolução) é expressa
pela evolução sofrida, manifestada por seus atributos em dado momento de sua existência.
Assim, alguns solos podem apresentar idade absoluta relativamente pequena e serem bem mais
maduros que outros com idade absoluta bem maior.

Questões

01. (IGP/SC – Perito Criminal Ambiental – IESES/2017) No tocante à formação dos solos, assinale
a alternativa correta:
(A) O solo é formado a partir de processos internos do planeta Terra, como o vulcanismo e o movimento
das placas tectônicas.
(B) Os solos se formam com mais facilidade em áreas com pouca ação dos ventos, da chuva, das
variações climáticas e interferência dos seres vivos.
(C) O solo se forma a partir dos processos de intemperismo, que aceleram a decomposição das rochas
de origem.
(D) Os solos do planeta Terra formaram-se há milhares de anos a partir do acúmulo de sedimentos
que caíram no planeta Terra oriundos dos meteoros.

02. (FUNAI – Engenheiro Agrônomo – ESAF/2016) Os solos são um importante recurso natural
renovável suportando a vida e as atividades humanas economicamente, com notável importância nas
práticas agropecuárias com vistas à geração de alimentos. Os solos são formados a partir da
decomposição das rochas de origem, que daí adquirem morfologia variada e oportunizam diferentes
classificações. Considerando pois, a origem, morfologia e classificação dos solos, assinale a opção
correta.
(A) Os termos aluviais e eluviais permitem classificar os solos quanto à origem: aluviais são os solos
formados por rochas encontradas no mesmo local da formação, isto é, a rocha matriz que foi decomposta
e se alterou para a formação do solo e se encontra no mesmo local do solo; enquanto os eluviais são os
solos formados por transporte e sedimentação do material de rochas localizadas em outros lugares,
graças à ação das águas e dos ventos.
(B) O Intemperismo físico, mediado por variações de temperatura, calor ou pelo congelamento de água
em fissuras, não promove alteração na composição da rocha.

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(C) A classificação dos solos discrimina os horizontes em um perfil a partir da rocha mãe, ou material
de origem que, por isso, recebe a denominação de horizonte O; a partir deste, em sentido ascendente,
denominam-se outros horizontes numa sequência alfabética sucessiva: A, B, C.
(D) Quanto mais velho é o solo, maior é o tempo de atuação dos fatores de formação e dos processos
resultantes, bem como maior é a relação deste solo com o material de origem.
(E) Todo material de origem animal ou vegetal incorporado ao solo, independente do estado de
decomposição, é caracterizado como matéria orgânica que contribui para melhorar a textura do solo,
aumentar a aeração e a taxa de infiltração via aumento de sua densidade.

Gabarito

01.C / 02.B

Comentários

01. Resposta: C.
Meteorização ou intemperismo é o processo natural de decomposição ou desintegração de rochas e
solos, e seus minerais constituintes, por ação dos efeitos químicos, físicos e biológicos que resultam da
sua exposição aos agentes externos.

02. Resposta: B.
O Intemperismo físico não altera a composição química da rocha.

CONTINENTES E OCEANOS22

Ao observarmos a superfície da Terra, utilizamos um globo terrestre, um mapa-múndi ou fotografias


tiradas por satélites artificiais, chegamos facilmente à conclusão de que as massas líquidas (oceanos e
mares) superam a superfície das terras emersas (continentes e ilhas).de fato, os 510 milhões de
quilômetros quadrados da superfície terrestre estão assim distribuídos:

149.000.000 Km² terras emersas (continentes e ilhas)

361.000.000 Km²águas (oceanos e mares)

Os mares podem ser abertos ou costeiros, interiores ou continentais e fechados ou isolados.


* Mares abertos – estão inteiramente ligados às águas oceânicas (das Antilhas, da China, do Japão,
de Hudson, de Bering, de Omã ou da Arábia).
* Mares interiores – estão quase totalmente envolvidos pelas terras, embora se mantenham ligados
aos oceanos por meio de estreitos e canais (Báltico, Vermelho, Negro e Mediterrâneo).
* Mares fechados – estão totalmente separados dos oceanos (Cáspio, Aral e Morto).

Principais Características dos Continentes

Continente Americano
Alongado no sentido norte-sul, é cortado pela linha do Equador, pelos trópicos de Câncer (ao norte) e
de Capricórnio (ao sul) e pelo Círculo Polar Ártico em sua porção setentrional. Limita-se a leste com o
Oceano Atlântico e a oeste com o Oceano Pacífico, sendo ainda banhado pelas águas geladas do Glacial
Ártico ao norte. São dois grandes blocos unidos por um istmo que corresponde à porção continental da
América Central.

Continente Eurasiano
O maior dos blocos continentais é cortado pelo Círculo Polar Ártico, pelo Trópico de Câncer e pelo
Equador (somente na parte insular – Malaísia e Indonésia). Banhado a leste pelo Oceano Pacífico, a
oeste pelo Atlântico, ao norte pelo Glacial Ártico e ao sul pelo Índico, este continente é circundado ainda
por vários mares: Mediterrâneo, Vermelho, Arábico, Cáspio, Negro, de Bering e do Norte. Caracteriza-se
pelo grande povoamento (Europa) e população absoluta (Ásia), incluindo áreas conhecidas como
“formigueiros humanos”.

22
COLEÇÃO OBJETIVO – Sistema de Métodos de Aprendizagem. Livro 23 – Geografia Geral. Editora Sol

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Continente Africano
Apresenta-se isolado artificialmente da Eurásia pela abertura do Canal de Suez (1869), que liga os
mares Mediterrâneo e Vermelho. Extenso, seus 30 milhões de quilômetros quadrados são banhados pelo
Oceano Atlântico a oeste, pelo Índico a leste, e pelos mares Mediterrâneo e Vermelho. É o mais maciço
dos continentes, sendo cortado simetricamente pelo Trópico de Câncer ao norte, pela linha do Equador
ao centro e pelo Trópico de Capricórnio ao sul.

Continente Australiano (Oceania)


Considerado o menor dos continentes, tem, no entanto, uma área superior à do território brasileiro.
Situa-se no Hemisfério Sul, na latitude do Trópico de Capricórnio e suas costas são banhadas pelo
Oceano índico (oeste) e pelo Pacífico (leste).

Continente Antártico (Antártida)


Recoberto por gelo, a quase totalidade de suas terras é contornada pelo Círculo Polar Antártico. É
banhado pelas águas do Oceano Pacífico, Atlântico e Índico.

A Ocupação dos Continentes

Em termos de ocupação, existe grande diferenciação entre os continentes. Dessa forma,


convencionou-se uma denominação específica para cada um deles, a partir do tempo de sua ocupação
pelo homem.

* Velho Mundo ou Antigo Continente (Eurásia e África) – região de onde partiram os colonizadores.

* Novo Mundo ou Novo Continente (América) região descoberta por Cristóvão Colombo no século
XV e colonizada pelos europeus.

* Novíssimo Continente (Austrália, Nova Zelândia e ilhas do Pacífico) – região ocupada pelos
europeus a partir do século XVIII, é também denominada Oceania ou Continente Australiano.
Dentro da linguagem geográfica também são empregados os termos Mundo Oriental e Mundo
Ocidental, tornando-se como referência a longitude inicial de Greenwich.

HIDROGRAFIA MUNDIAL23

A Terra é quase toda coberta por uma imensa massa líquida (a hidrosfera), que compreende os
oceanos, mares e as águas continentais (rios, lagos e geleiras).
No entanto, apesar de cerca de 70% da superfície terrestre encontrar-se coberta por água, apenas
menos de 3% deste volume é de água doce, cuja maior parte está concentrada em geleiras (geleiras
polares e neves eternas24 das montanhas).
A grande preocupação é que restam menos de 1% de águas superficiais para as atividades humanas.

Os Oceanos

Mais da metade da população mundial vive numa faixa de cerca de 100 km junto ao litoral dos
continentes. Grandes e pequenas cidades, aldeias de pescadores e pequenas vilas desenvolvem
atividades relacionadas à vida marinha.
A biodiversidade dos ecossistemas marinhos, que fornece 90% do pescado mundial, pode ser
considerada equivalente à biodiversidade dos ecossistemas terrestres.
As águas oceânicas também constituem um meio fundamental para o transporte, as atividades
portuárias de importação e exportação de mercadorias (90% do comércio internacional), a navegação de
cabotagem, a aquicultura (criação de peixes, ostras, mariscos e crustáceos), a extração de minerais (sal
e petróleo), além de oferecer possibilidades para o desenvolvimento do turismo e do lazer.
É, portanto, um ambiente sujeito a múltiplas influências e perturbações, cujas causas são produzidas
principalmente no continente, de onde são lançados dejetos e resíduos produzidos pelas atividades
humanas, os quais podem ser provenientes de acidentes no próprio mar, como o derramamento de
petróleo.

23
LUCCI, Elian Alabi. Geografia Geral e Geografia do Brasil. 3ª edição. São Paulo: Saraiva, 2014.
24
Neve eterna consiste em camadas de neve formadas no cume de montanhas muito elevadas. A baixa temperatura local faz com que elas não derretam,
mesmo durante os meses do verão, quando a radiação solar é mais intensa.

38
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Calcula-se que os dejetos urbanos residenciais e industriais sejam responsáveis por 80% da poluição
das águas do mar.

A Oceanografia
O estudo dos oceanos é realizado pela Oceanografia, ciência que estuda os diferentes aspectos
físicos, químicos e biológicos da água do mar. Além disso, estuda também a dinâmica geológica das
estruturas da litosfera25 oceânica, o relevo submarino e a exploração mineral.
A Organização Internacional de Hidrografia (lHO - International Hydrographic Organization) passou a
considerar, a partir do ano 2000, a existência de cinco oceanos: Pacífico, Atlântico, índico, Glacial Ártico
e Meridional (Antártico).

O Relevo Submarino
As características do relevo continental e submarino são semelhantes, embora no caso do submarino,
devido à predominância do trabalho de modelagem da água, exista uma maior suavidade nos contornos.
Para efeito de estudo, o relevo submarino pode ser dividido em:

Plataforma continental - prolongamento submerso dos continentes, com apenas algumas


modificações promovidas pela erosão marinha ou por depósitos sedimentares26. Sua profundidade varia
entre 10 e 500 m, sendo a média de 200 m.

https://www.infoescola.com/oceanografia/plataforma-continental/

São consideráveis as riquezas existentes na plataforma continental. Nesta unidade de relevo extrai-se
a totalidade dos recursos minerais e é realizada a maior parte das atividades pesqueiras.

Talude continental - inclinação mais aprofundada que a plataforma, chegando a até 3 mil metros de
profundidade.

https://conceitos.com/talude-continental/

25
Litosfera é a camada exterior sólida da superfície da Terra, que inclui a crosta e a parte superior do manto terrestre.
26
Depósito sedimentar é o local onde os sedimentos se acumularam, gerando posteriormente a rocha sedimentar.

39
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Bacia oceânica - abrange a maior superfície e se estende a partir do limite do talude continental até
aproximadamente 5 mil metros de profundidade.

https://www.portaleducacao.com.br/conteudo/artigos/biologia/bacias-oceanicas/33452

É constituída por extensas bacias, de topografia27 mais ou menos plana, por vezes interrompida por
dorsais ou cordilheiras e também por fossas abissais.

Dorsais - constituem as grandes cordilheiras e acompanham, em certos casos, o contorno dos


continentes. As dorsais encontradas nos oceanos Atlântico e Pacífico apresentam altitudes que variam
entre 2 e 4 km acima do fundo oceânico, emergindo em diversos pontos sob a forma e ilhas e
arquipélagos. O mais marcante exemplo de dorsal é a Meso-atlântica.

https://brasilescola.uol.com.br/geografia/dorsais-oceanicas.htm

Fossas abissais - localizam-se próximo continentes; formam as regiões de mais profundo relevo
submarino.

http://meioambiente.culturamix.com/natureza/fossas-oceanicas-ou-abissais

27
Topografia é a descrição ou delineação exata e pormenorizada de um terreno, de uma região, com todos os seus acidentes geográficos.

40
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As Correntes Marinhas
As correntes marinhas, cujo fluxo deve ter velocidade superior a 12 milhas marítimas por dia, são os
movimentos mais importantes que as águas do mar apresentam. Elas podem ser comparadas a rios de
água salgada, com temperatura diferente da massa de água oceânica por onde passam.
Além disso, elas circulam em outra velocidade em função da diferença de temperatura e salinidade,
que modificam a sua densidade.
Essa diferença de densidade entre as águas que forma as correntes e as que circundam no oceano
faz que elas tenham velocidade própria e sigam sempre uma direção regular e relativamente precisa.
O movimento e a direção das correntes dependem de ventos regulares, destacando-se os alísios28, do
movimento de rotação da Terra e do contorno dos continentes.
A importância prática do estudo das correntes marinhas reside no fato de que nelas encontram-se os
alimentos necessários à vida marinha, pois são ricas em microrganismos (plânctons) e servem de base
para a alimentação dos peixes.
Por isso as correntes constituem lugares favoráveis ao desenvolvimento de grandes cardumes e,
consequentemente, à atividade pesqueira.
Além disso, as correntes, quando se aproximam do continente, influenciam o clima das regiões
situadas junto à costa litorânea.

Alimento Marinho29
Os recursos pesqueiros são renováveis. Portanto, podemos subtrair uma parte para consumo humano,
sem prejuízo do estoque. Porém, há uma limitação na capacidade de renovação desse estoque, que é
chamada de produção máxima sustentável. Se ultrapassado esse limite, o estoque entrará no colapso e
não poderá mais recuperar aquela parte perdida.
O fator complicador de recursos pesqueiros é que a produção máxima sustentável de um estoque varia
de acordo com a disponibilidade da população e apresenta uma variação anual bastante grande. Então,
a grande questão de exploração de recursos pesqueiros é saber o quanto podemos subtrair do mar, sem
prejuízo dos estoques existentes.

Salinidade e Temperatura das Águas Marítimas


Dos minerais encontrados nas águas marinhas, o mais abundante é o cloreto de sódio, comumente
conhecido por "sal de cozinha". Além dele, aparecem também outros sais em menor quantidade, como o
cloreto de magnésio, o sulfato de magnésio e o sulfato de cálcio.
A salinidade varia de um local para outro devido à temperatura, à evaporação, às chuvas e ao
desaguamento dos rios. O valor médio da salinidade é de 35, ou seja, 35 gramas de sais por 1.000 gramas
(1 litro) de água, o que equivale a 3,5%.
Nas áreas onde a evaporação é intensa e a quantidade de chuva é pequena, a salinidade apresenta-
se mais elevada.
Já nas regiões mais frias, a salinidade é menor, devido à pequena intensidade da evaporação e à
diluição da água do mar pelo derretimento das neves.
Os mares tropicais pouco profundos (onde a evaporação é mais intensa) são mais salgados que os
situados próximo aos polos, nos quais os gelos glaciares aportam. Também são menos salgados os
mares onde deságua um maior número de rios, cujas águas, carregando diversos materiais em
suspensão, reduzem o índice de salinidade.
A temperatura das águas depende da quantidade de insolação recebida pela superfície. Como a água
demora mais tempo do que a terra para aquecer e para resfriar, a temperatura dos oceanos é mais
uniforme.
Se a temperatura das águas marinhas depende da insolação, ela será mais elevada na superfície do
que em profundidades maiores e mais elevada também na linha do Equador do que nos polos.

Poluição Marinha
Grande parte da poluição marinha é provocada por fontes terrestres:
→ indústrias e residências que despejam toneladas de detritos e rejeitos nas águas dos rios;
→ cidades que utilizam a água do mar como emissário de esgotos;
→ uso de fertilizantes e agrotóxicos em atividades agrícolas, cujo excesso é transportado pelas águas
dos rios;
→ excrementos animais nas áreas de criação, cujo excesso também é transportado pelas águas dos
rios;
28
Os ventos alísios são, por definição, deslocamentos de massas de ar em direção à Zona de Convergência Intertropical do globo terrestre.
29
MATSUURA, Yasunobu. O Estado de S. Paulo. São Paulo, 31/12/1995, p. D-3, Caderno 2.

41
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→ acidentes no transporte marítimo de mercadorias;
→ elementos tóxicos utilizados nas atividades mineradoras e rejeitos das áreas de extração de
minérios, etc.
O combate à poluição marinha inclui um conjunto de normas e atitudes que depende dos processos
de controle das atividades humanas realizadas nos continentes.

As Águas Continentais
Os rios são de grande importância para a organização do espaço, haja vista que as primeiras grandes
civilizações fixaram-se às margens de rios como o Tigre, o Eufrates, o Nilo, o Indo e outros.
Diversas regiões de elevada densidade demográfica, nas quais, em muitos casos, surgiram grandes
cidades, estruturaram-se às suas margens.
Os rios podem ser usados para a irrigação (inclusive de regiões em que há pouca ocorrência de
chuvas), para a geração de energia elétrica e como via de transporte. Além disso, a pesca constitui
importante fonte de alimentação.

Água como Recurso Renovável Limitado


A água é um recurso renovável; no entanto, a forma como vem sendo utilizada, com intenso nível de
poluição, por exemplo, pode impor limites à sua disponibilidade futura.
O ciclo da água é contínuo: inclui transpiração, evaporação, condensação, precipitação, escoamento
e infiltração. Tal processo ocorre da seguinte maneira:
A água que abastece rios e lagos provém da evaporação dos oceanos, de águas no solo, da
transpiração da vegetação e dos próprios rios e lagos. Essa água se condensa e precipita-se, em forma
de chuva, neve ou granizo.
Ela então escoa pelos rios ou para debaixo da terra, preenchendo os lençóis freáticos30. Parte dela
retorna ao oceano, reiniciando o ciclo. Outra parte é absorvida, por exemplo, por plantas.

https://brasilescola.uol.com.br/biologia/ciclo-agua.htm

A distribuição do consumo mundial de água doce, de acordo com as atividades humanas, estrutura-
se, a grosso modo, da seguinte forma: a água consumida destina-se 20% às indústrias e 10% às
residências.
Nas indústrias, os ramos siderúrgico, químico e de papel são os grandes consumidores de água. Daí
a importância da reciclagem, ou seja, do tratamento e reaproveitamento da água feito pelas mesmas.
Na agricultura, a quase totalidade de água utilizada vai para a irrigação, cujo papel é importantíssimo,
pois, apesar de somente 15% das terras empregadas para a prática agrícola serem irrigadas, cerca de
metade da produção de alimentos é obtida das mesmas. A irrigação e o desperdício podem provocar
impactos ambientais irreversíveis.

30
Lençóis freáticos são os reservatórios naturais de águas subterrâneas que se acumulam entre as rachaduras das rochas.

42
1634532 E-book gerado especialmente para GRAZIELA CRISTINA LEOTE
Nas regiões onde a água doce é abundante, muitas vezes ela é desperdiçada, pois são poucos os que
têm consciência do quanto ela é essencial e dos limites de sua capacidade de renovação.
Causas como o desmatamento, a compactação do solo e a impermeabilização dos asfaltos e das
edificações das cidades dificultam a infiltração da água das chuvas e diminui o volume das águas das
fontes.
Áreas de mananciais31 são constantemente ocupadas e poluídas pelos esgotos domésticos (lixo de
todo tipo é lançado nas águas dos rios).
Além do mau uso da água, a demanda por recursos hídricos tem sido cada vez maior com a ampliação
das atividades econômicas e o crescimento populacional. Por outro lado, se a demanda por água tem
crescido, o mesmo não ocorre no ambiente, no qual se verifica a manutenção de sua quantidade ou
mesmo sua redução.
Portanto, apesar de renovável, a água é um recurso finito e muitos povos do mundo sofrem com a
escassez deste recurso vital à sobrevivência humana.

A Poluição dos Rios


Os rios são de grande importância para a organização do espaço geográfico, trazendo enormes
benefícios para a sociedade. No entanto, sofrem consequências bastante negativas, como por exemplo,
o lançamento de dejetos de diversos tipos em suas águas, transformando-os em verdadeiros esgotos a
céu aberto.
Essa é a situação em que se encontra a grande maioria dos rios, os quais são muitas vezes
considerados subprodutos da sociedade urbano-industrial, que encara a natureza como fonte de matéria-
prima ou como depósito de resíduos.
Ao lado do lançamento de esgotos urbanos sem tratamento, a morte dos rios em diversos lugares do
mundo está basicamente relacionada a outros dois fatores principais: o lançamento tanto de produtos
utilizados na agricultura (como pesticidas e fertilizantes químicos), como de resíduos industriais.
Além do lançamento de resíduos, representados por diversos produtos químicos, como os metais
pesados (cobre, mercúrio, chumbo, cádmio), as indústrias são responsáveis pela chamada poluição
térmica, causada pelas usinas termelétricas que lançam nos rios água com temperatura muito superior à
existente neles.
Como os animais aquáticos são muito sensíveis à alternância brusca de temperatura, acabam
morrendo. Até porque a temperatura elevada também retira o oxigênio dos rios.
Um dos exemplos mais significativos de recuperação de rios é o da Grã-Bretanha, a pioneira na
Revolução Industrial e, por consequência, também na poluição fluvial. Foi realizado um controle rigoroso
nas indústrias, os esgotos urbanos passaram a ser tratados, e seus encanamentos foram trocados. Nas
áreas agrícolas, inspetores implementaram visitas a fazendas para impedir que pesticidas fossem jogados
nos rios.
Esse trabalho resultou na volta da vida aos rios, como o Tâmisa, que passou a ser frequentado por
focas, o Mersey, cujos afluentes recebem atualmente muitas lontras, e o Humber, cujo estuário é visitado
pela lampreia do mar, espécie de peixe bastante primitiva que só sobrevive em águas limpas.

Rio Tâmisa

https://escola.britannica.com.br/artigo/rio-T%C3%A2misa/482665

31
Mananciais são todas as fontes de água, superficiais ou subterrâneas, que podem ser usadas para o abastecimento público.

43
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Rio Mersey

https://es.wikipedia.org/wiki/R%C3%ADo_Mersey

Rio Humber

https://www.istockphoto.com/br/fotos/rio-humber?sort=mostpopular&mediatype=photography&phrase=rio%20humber

Água como uma Questão Geopolítica do Século XXI32


Em 2015, os países tiveram a oportunidade de adotar a nova agenda de desenvolvimento sustentável
e chegar a um acordo global sobre a mudança climática.
As ações tomadas nesse ano resultaram nos novos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS),
que no tocante à “água”, seguem os seguintes objetivos33:

Objetivo 6. Assegurar a disponibilidade e gestão sustentável da água e saneamento para todas


e todos
6.1 Até 2030, alcançar o acesso universal e equitativo a água potável e segura para todos;
6.2 Até 2030, alcançar o acesso a saneamento e higiene adequados e equitativos para todos, e acabar
com a defecação a céu aberto, com especial atenção para as necessidades das mulheres e meninas e
daqueles em situação de vulnerabilidade;
6.3 Até 2030, melhorar a qualidade da água, reduzindo a poluição, eliminando despejo e minimizando
a liberação de produtos químicos e materiais perigosos, reduzindo à metade a proporção de águas
residuais não tratadas e aumentando substancialmente a reciclagem e reutilização segura globalmente;
6.4 Até 2030, aumentar substancialmente a eficiência do uso da água em todos os setores e assegurar
retiradas sustentáveis e o abastecimento de água doce para enfrentar a escassez de água, e reduzir
substancialmente o número de pessoas que sofrem com a escassez de água;
6.5 Até 2030, implementar a gestão integrada dos recursos hídricos em todos os níveis, inclusive via
cooperação transfronteiriça, conforme apropriado;
6.6 Até 2020, proteger e restaurar ecossistemas relacionados com a água, incluindo montanhas,
florestas, zonas úmidas, rios, aquíferos e lagos;

32
https://nacoesunidas.org/pos2015/.
33
https://nacoesunidas.org/pos2015/agenda2030/.

44
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6.a Até 2030, ampliar a cooperação internacional e o apoio à capacitação para os países em
desenvolvimento em atividades e programas relacionados à água e saneamento, incluindo a coleta de
água, a dessalinização, a eficiência no uso da água, o tratamento de efluentes, a reciclagem e as
tecnologias de reuso;
6.b. Apoiar e fortalecer a participação das comunidades locais, para melhorar a gestão da água e do
saneamento.

Objetivo 14. Conservação e uso sustentável dos oceanos, dos mares e dos recursos marinhos
para o desenvolvimento sustentável
14.1 Até 2025, prevenir e reduzir significativamente a poluição marinha de todos os tipos,
especialmente a advinda de atividades terrestres, incluindo detritos marinhos e a poluição por nutrientes;
14.2 Até 2020, gerir de forma sustentável e proteger os ecossistemas marinhos e costeiros para evitar
impactos adversos significativos, inclusive por meio do reforço da sua capacidade de resiliência, e tomar
medidas para a sua restauração, a fim de assegurar oceanos saudáveis e produtivos;
14.3 Minimizar e enfrentar os impactos da acidificação dos oceanos, inclusive por meio do reforço da
cooperação científica em todos os níveis;
14.4 Até 2020, efetivamente regular a coleta, e acabar com a sobrepesca, ilegal, não reportada e não
regulamentada e as práticas de pesca destrutivas, e implementar planos de gestão com base científica,
para restaurar populações de peixes no menor tempo possível, pelo menos a níveis que possam produzir
rendimento máximo sustentável, como determinado por suas características biológicas;
14.5 Até 2020, conservar pelo menos 10% das zonas costeiras e marinhas, de acordo com a legislação
nacional e internacional, e com base na melhor informação científica disponível;
14.6 Até 2020, proibir certas formas de subsídios à pesca, que contribuem para a sobrecapacidade e
a sobrepesca, e eliminar os subsídios que contribuam para a pesca ilegal, não reportada e não
regulamentada, e abster-se de introduzir novos subsídios como estes, reconhecendo que o tratamento
especial e diferenciado adequado e eficaz para os países em desenvolvimento e os países menos
desenvolvidos deve ser parte integrante da negociação sobre subsídios à pesca da Organização Mundial
do Comércio;
14.7 Até 2030, aumentar os benefícios econômicos para os pequenos Estados insulares em
desenvolvimento e os países menos desenvolvidos, a partir do uso sustentável dos recursos marinhos,
inclusive por meio de uma gestão sustentável da pesca, aquicultura e turismo;
14.a Aumentar o conhecimento científico, desenvolver capacidades de pesquisa e transferir tecnologia
marinha, tendo em conta os critérios e orientações sobre a Transferência de Tecnologia Marinha da
Comissão Oceanográfica Intergovernamental, a fim de melhorar a saúde dos oceanos e aumentar a
contribuição da biodiversidade marinha para o desenvolvimento dos países em desenvolvimento, em
particular os pequenos Estados insulares em desenvolvimento e os países menos desenvolvidos;
14.b Proporcionar o acesso dos pescadores artesanais de pequena escala aos recursos marinhos e
mercados;
14.c Assegurar a conservação e o uso sustentável dos oceanos e seus recursos pela implementação
do direito internacional, como refletido na UNCLOS [Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do
Mar], que provê o arcabouço legal para a conservação e utilização sustentável dos oceanos e dos seus
recursos, conforme registrado no parágrafo 158 do “Futuro Que Queremos”.

Questões

01. (COPASA – Engenheiro do Meio Ambiente – FUMARC/2018) É comum ouvir entre os leigos a
expressão “a água está acabando”, quando se noticia sobre o nível das barragens nos períodos secos.
Considerando os conhecimentos sobre o ciclo hidrológico e suas diversas etapas, podemos esclarecer
a esses leigos que
(A) as perdas de água ocorrem com o escoamento superficial, a erosão e a evaporação excessiva.
(B) a quantidade de água que circula no planeta é a mesma desde a consolidação do planeta Terra.
(C) é a monocultura que está acabando com a água, devido à exposição superficial do solo.
(D) o desmatamento e o preparo do solo para agricultura vêm reduzindo a água que circula na Terra.

02. (SEGEP/MA – Oceanógrafo – FCC) Oceanos e mares apresentam relevo submarino diverso e
peculiar contendo várias feições. A feição que se caracteriza por localizar-se na borda da plataforma
continental e apresentar inclinação acentuada, podendo atingir até três mil metros de profundidade,
denomina-se

45
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(A) dorsais.
(B) bacia oceânica.
(C) plataforma continental.
(D) talude continental.
(E) fossas abissais.

03. (Prefeitura de Fortaleza – Ciências – Prefeitura de Fortaleza) A sequência de processos


envolvidos no ciclo da água é:
(A) precipitação – escoamento pelos rios – evaporação no mar.
(B) precipitação – evaporação no mar – escoamento pelos rios.
(C) escoamento pelos rios – precipitação – evaporação no mar.
(D) evaporação no mar – transpiração – escoamento pelos rios.

Gabarito

01.B / 02.D / 03.A

Comentários

01. Resposta: B
Estudos apontam que a quantidade de água hoje existente no planeta é a mesma existente há pelo
menos 600 milhões de anos passados.

02. Resposta: D
Talude continental refere-se à inclinação mais aprofundada que a plataforma, chegando a até 3 mil
metros de profundidade.

03. Resposta: A
A água se condensa e precipita-se, em forma de chuva, neve ou granizo. Ela então escoa pelos rios
ou para debaixo da terra, preenchendo os lençóis freáticos. Parte dela retorna ao oceano, reiniciando o
ciclo.

EL NIÑO E LA NIÑA34

Alguns fenômenos provocam alterações no comportamento das chuvas, dos ventos e das
temperaturas em várias regiões, além de intrigarem a comunidade científica internacional. Entre esses
fenômenos, destacam-se o EI Niño e o La Niña.
Eles têm em comum o fato de originarem-se no Oceano Pacífico e trazerem consequências para o
clima de todo o mundo, embora de formas diferentes.
O EI Niño recebeu esse nome em homenagem ao menino Jesus, porque foi percebido por pescadores
peruanos na época do Natal.
Já o La Niña foi assim chamado por ter características opostas ao EI Nino.

EI Niño

O EI Niño caracteriza-se pelo aquecimento anormal das águas do oceano Pacífico, no litoral do Peru.
Tal fenômeno não tem as causas totalmente conhecidas e altera o padrão de ventos na região,
caracterizando a mudança no comportamento dos ventos alísios.
Em situação normal, esses ventos sopram sobre esse trecho do oceano, empurrando as águas mais
quentes da superfície em direção à Austrália. Desse modo, na costa do Peru as águas frias da corrente
de Humboldt vêm à superfície (fenômeno conhecido como ressurgência), tornando a região uma das mais
ricas áreas de pesca do mundo. Isso porque as baixas temperaturas permitem o desenvolvimento de
algas, que servem de alimento para várias espécies de peixes.
Em certos anos, não se sabe exatamente por quê, os ventos alísios diminuem sua velocidade sobre o
Pacífico ocidental e podem mudar de sentido. As águas quentes, que seriam arrastadas para o sul da
Austrália, acumulam-se na costa do Peru. Desse modo, as águas frias vão para as camadas mais
profundas e provocam a diminuição da quantidade de peixes.

34
https://mundoedu.com.br/uploads/pdf/5372709ba2a14.pdf.

46
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O aumento da temperatura das águas oceânicas faz aumentar a evaporação, provocando a formação
de nuvens e alterando o sistema global de circulação de ar. Ao alterar o sistema global de circulação do
ar, responsável pelo comportamento das temperaturas e das chuvas nos oceanos e nos continentes, o
EI Niño provoca mudanças no clima em todo o mundo. Desse modo, chove mais que o normal em alguns
lugares e há secas prolongadas em outros.
A influência do EI Niño atinge Brasil, Peru. Chile. Estados Unidos, Austrália, índia. Filipinas e Indonésia.

Abaixo a figura demonstra a circulação dos ventos observada no oceano Pacífico ocidental em
situação normal, sem a presença do El Niño. As setas vermelhas representam os ventos alísios, que
sopram próximo à superfície, de leste para oeste, ou seja, da América para a Ásia e a Oceania; as cores
avermelhadas representam as águas mais quentes, e as azuladas, as águas mais frias.

Já no caso da próxima figura, a circulação dos ventos observada no oceano Pacífico ocidental com a
presença do El Niño. Os ventos alísios, que sopram com menos velocidade, podem mudar de sentido,
indo de oeste para leste, ou seja, da Ásia e da Oceania para a América.
As águas quentes, representadas pelas cores avermelharias, podem ser observadas em quase toda a
sua extensão.

La Niña

La Niña, que é o resfriamento do Pacífico ocidental, vem sendo estudado há mais de dez anos, mas
sabe-se menos dele do que do EI Niño.
No Brasil, no ano de ocorrência do La Niña, faz mais frio. Principalmente no Acre, em Rondônia, no
Centro-Oeste e no Sudeste.
No Sul, ocorrem secas de modo geral, ao passo que, no litoral do Nordeste, as chuvas são mais
frequentes.
Sob a influência do La Nina, têm ocorrido mais chuvas, tempestades, furacões e invernos recordes na
América do Norte, chuvas intensas na índia e na Indonésia e frio e inundações no Chile e no Peru.

47
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Observe a imagem abaixo:

A imagem seguinte demonstra os efeitos de ambos fenômenos no Brasil.

Questões

01. (FUVEST) “Menino travesso: El Niño retorna mais poderoso e ameaça enlouquecer o tempo em
todo mundo”. (Revista “Veja” 27/08/97 p. 42-43). A notícia anterior exemplifica a ampla cobertura da mídia sobre esse
fenômeno, geralmente relacionado à
(A) atuação inesperada da massa de ar úmida que, ao resfriar as águas do Oceano Pacífico, eleva os
índices de evaporação e intensifica as chuvas de monções no SE asiático.
(B) presença de correntes marítimas com baixas temperaturas na costa ocidental americana,
justificando a diminuição dos cardumes no Chile e as estiagens no SE do Brasil e dos EUA.
(C) inversão térmica oceânica que aquece parte das águas superficiais do Pacífico, aumenta o número
de tempestades marítimas e desregula os índices de chuva na região tropical.
(D) temporada de furacões e episódios de secas nas costas ocidentais americanas, devido ao aumento
da força dos ventos tropicais que sopram da Ásia em direção à América do Sul.
(E) formação de ondas que trazem à tona as águas mais frias do fundo do Oceano Pacífico,
intensificando os índices de aridez no Peru e Sul do Brasil e as inundações na Ásia tropical.

02. (EsPCEx) Sobre os principais efeitos do fenômeno “El Niño” nas diferentes regiões do Brasil, pode-
se afirmar que
(A) na Região Sul, o volume de chuva se reduz significativamente, sobretudo no fim do outono e
começo do inverno.
(B) prejudica a pecuária e compromete o abastecimento de água no Sertão, podemos atingir também
o Agreste e a Zona da Mata Nordestina.
(C) provoca grandes inundações na porção leste da Amazônia, prejudicando a atividade agrícola na
região.
(D) traz mais benefícios do que prejuízos à agricultura no Sul do País, uma vez que interrompe os
longos períodos de estiagem característicos do clima subtropical litorâneo.
(E) ao contrário da “La Niña”, intensifica o volume de chuvas e aumenta a temperatura média em todas
as regiões do País.

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03. (PUC-RIO)

O aumento da temperatura média do oceano Pacífico nos meses de dezembro, janeiro e fevereiro
entre a América do Sul e a Oceania, apresentado como uma mancha na gravura ao lado, é um velho
fenômeno reconhecido por navegadores europeus e pelo povo inca, desde o século XVI, mas que só
passou a ser estudado a partir do final do século XX. Sobre esse fenômeno, é CORRETO afirmar que se
trata do (a):
(A) El Niño, que se forma nos meses de inverno no hemisfério sul do planeta, acarretando chuvas
desenfreadas em algumas regiões do planeta e secas em outras;
(B) La Niña, que ocorre no verão e provoca veranicos na costa ocidental da América do Norte e
ressacas violentas na América do Sul;
(C) El Niño, que provoca chuvas intensas no litoral ocidental da América do Sul, seca no Nordeste e
enchentes no Sul brasileiro;
(D) La Niña, que é um evento frio que promove estiagem no Sul e chuvas no Nordeste do Brasil;
(E) Nenhuma das afirmações anteriores está correta.

04. (UDESC) O nosso planeta vem sofrendo mudanças climáticas há muito tempo.
Entre as mudanças, pode-se destacar a ocorrência do EL Niño, um fenômeno climático que se
manifesta como um aquecimento das águas do Oceano Pacífico nas proximidades do Equador. Uma das
consequências para o Brasil da ocorrência deste fenômeno são:
(A) seca no Brasil meridional e seca intensa no nordeste do Brasil.
(B) enchentes no Brasil meridional e seca na região do clima semiárido nordestino e extremo norte do
país.
(C) seca no Brasil meridional e ocorrência de chuvas acima da média no norte do Brasil.
(D) enchentes no sudeste do Brasil e chuvas acima da média no nordeste do Brasil.
(E) enchentes no Brasil meridional e enchentes na região sudeste do Brasil.

05. (UFT) El Niño é um fenômeno oceânico caracterizado pelo aquecimento incomum das águas
superficiais nas porções central e leste do oceano pacífico, nas proximidades da América do Sul, mais
particularmente na costa do Peru. A corrente de águas quentes que ali circula, em geral, na direção sul
no início do verão, somente recebe o nome de El Niño quando a anomalia térmica atinge proporções
elevadas (1º C) ou muito elevadas (de 4 a 6º C) acima da média térmica, que é de 23º C. Este fenômeno
se faz notar com maior evidência nas costas peruanas, pois as águas provenientes do fundo oceânico
(fenômeno conhecido como ressurgência) e da corrente marinha de Humboldt são interceptadas por
águas quentes oriundas do norte e oeste. Essa alteração regional assume dimensões continentais e
planetárias à medida que provoca desarranjos de toda a ordem em vários climas da Terra. (Mendonça e Danni-
Oliveira, 2007)
Ainda sobre a influência do fenômeno El Niño na dinâmica climática mundial pode-se afirmar que:
I. Afetando a dinâmica climática em escala global, a ocorrência do fenômeno gera bruscas alterações
climáticas no mundo.
II. Influenciando a dinâmica climática em escala global, o fenômeno gera impactos generalizados sobre
as atividades humanas causados por inúmeras catástrofes ligadas a severas secas, inundações e
ciclones.
III. Mesmo com maior influência nas costas peruanas, o fenômeno não interfere na dinâmica climática
local e regional.
IV. Além de atuar na costa pacífica da América do Sul, o El Niño provoca graves perturbações
climáticas (secas anormais ou, ao contrário, ciclones e chuvas com totais pluviométricos extremamente
elevados em relação às normais locais e regionais) em regiões isentas de tais eventos.

49
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V. Apesar de atuar na costa pacífica da América do Sul este fenômeno não traz mudanças climáticas
significativas para a região.
Com base no texto, as assertivas verdadeiras são:
(A) I, II, III e IV.
(B) I, III, IV e V.
(C) II, IIII, e IV.
(D) I, II, e IV.
(E) II, IV e V.

Gabarito

01.C / 02.B / 03.C / 04.B / 05.D

QUESTÕES AMBIENTAIS DO PLANETA35

Os Problemas Ambientais: A Degradação Ambiental e seus Impactos

Como introdução ao conteúdo de problemas ambientais mundiais, iniciemos observando a seguinte


manchete:
“As marcas da destruição do planeta - Nações Unidas radiografam em quinze fotos, a saúde da
Terra e advertem que os Estados não estão no caminho certo para cumprir os principais tratados
internacionais sobre meio ambiente”. (https://brasil.elpais.com/brasil/2019/03/13/album/1552476582_773089.html#foto_gal_5)
Vamos observar abaixo as fotos chocantes e suas legendas:

1) Caranguejo preso em um copo de plástico no mar na Passagem de Isla Verde, nas Filipinas, em 7
de março de 2019.

2) Algumas vacas atravessando a lagoa seca de Aculeo, em Paine (Chile), em 9 de janeiro de 2019.

35
TAMDJIAN, James Onning. Geografia: estudos para compreensão do espaço. 2ª edição. São Paulo: FTD, 2013.

50
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3) Poluição causada por veículos em uma rua em Nova Delhi (Índia), em 14 de novembro de 2017.

4) Cão sobre uma montanha de lixo em Nova Delhi (Índia), em 5 de março de 2019.

5) Casal junto a seus animais, resgatados de uma inundação em Burgaw, Carolina do Norte (Estados
Unidos), em 17 de setembro de 2018.

6) Chaminés de uma refinaria de petróleo no estado de Utah (Estados Unidos), em 10 de dezembro


de 2018.

51
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7) Voluntários limpando a baía de lixo de Lampung em Sumatra, em 21 de fevereiro de 2019.

8) Edifícios envoltos por uma nuvem de poluição em Seul (Coréia do Sul), em 6 de março de 2019.

9) Grupo de trabalhadores protegendo-se da poluição com máscaras durante uma manifestação em


Seul (Coreia do Sul) em 6 de março de 2016.

10) Vista aérea de uma área desmatada da floresta amazônica, no sudeste do Peru, causada pela
mineração ilegal, em 19 de fevereiro de 2019.

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11) Bombeiros tentando apagar um incêndio na aldeia grega de Kineta, em 24 de julho de 2018.

12) Vista aérea da ponte ferroviária derrubada por um deslizamento de terra após o colapso, em 25 de
janeiro de 2019, de uma barragem em uma mina de minério de ferro em Brumadinho, Minas Gerais.

13) Restos mortais de um urso polar morto como resultado da falta de comida devido à mudança
climática, fotografado em julho de 2013, no oeste de Svalbard (Groenlândia).

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14) Vista aérea do desaparecimento do mar de Aral em 2018, no Uzbequistão.

15) Mergulhadores nadando em uma cama de corais mortos na Ilha Tioman da Malásia, em 2018.

Feita a análise das fotos acima, podemos concluir que a humanidade está diante de uma terrível crise
ambiental.
O modelo de desenvolvimento econômico calcado no avanço do industrialismo, no consumismo
desenfreado e na exploração cada vez mais intensa dos recursos naturais do planeta tem levado tanto
ao agravamento quanto ao surgimento de novos problemas ambientais.
Diante dos problemas ambientais existentes no passado, os sintomas da crise ambiental
contemporânea adquiriram proporções jamais alcançadas, atingindo, inclusive, as áreas mais remotas e
inóspitas do planeta, como as regiões polares, que já sofrem os efeitos das alterações climáticas
desencadeadas pela intensa poluição atmosférica.
Esse exemplo do derretimento das geleiras polares no Ártico, decorrente do aquecimento atmosférico
global, nos revela também outra face da problemática ambiental contemporânea, em que os problemas
ambientais deixaram de se restringir no âmbito local ou regional para se tornarem questões de ordem
planetária.

As Origens dos Problemas Ambientais

Desde a Antiguidade, o ambiente é um tema discutido pelas sociedades. Na Grécia antiga, por
exemplo, os filósofos já debatiam sobre qual era a essência de tudo o que existe no mundo, especialmente
da água, da terra, do fogo e do ar.
As poucas, mas significativas, descobertas feitas por eles levaram-nos a acreditar que a Terra era
perfeitamente harmônica, concebida por algo divino e de extrema inteligência.

54
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Aristóteles (c. 485 a.C-420 a.C.), um dos maiores pensadores gregos, defendia que todas as coisas
na Terra, vivas e não vivas (como as rochas), tinham uma profunda ligação entre si e até mesmo uma
essência comum, sendo úteis para a sobrevivência. Pouco a pouco se desenvolveu a ideia de que a Terra
é um gigantesco ser vivo.
Na Revolução Industrial (séculos XVIII e XIX), o ambiente passou a ser tratado isoladamente, como
se fosse um conjunto de elementos que não tinham nenhuma relação com a sociedade e existiam apenas
para atender às suas necessidades.
Dentro desse contexto histórico, com suas características sociais, econômicas e políticas, os
interesses econômicos privados tomaram-se explícitos e prevaleceram sobre qualquer alerta de
problemas ambientais que poderiam surgir em longo prazo.
De meados do século XIX até os nossos dias, ocorreu um verdadeiro saque aos recursos naturais e
uma destruição de muitos elementos da natureza.

A Sociedade de Consumo
Vivemos em uma sociedade marcada e dominada pela lógica do consumo. Todos os seus
componentes, jovens, adultos e idosos, sejam eles ricos ou pobres, estão inseridos nesse contexto.
Grande parte dos meios de comunicação faz uma ligação entre o consumo e o prazer. São centenas
de milhares de produtos apresentados como necessários para se alcançar a felicidade.
É cada vez mais comum observarmos que o ato de consumir é colocado como uma das formas que
permite ao cidadão ou ao indivíduo sentir-se inserido na sociedade.
A expansão acelerada do consumismo acarreta alta demanda de energia, minérios, água e tudo o que
é necessário à produção e ao funcionamento dos bens de consumo. Esse padrão vem se difundindo em
todo o globo, por uma espécie de globalização do consumo, que vem crescendo a cada ano.
Extensos estudos feitos pela ONU, por meio do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento,
alertam para a velocidade de utilização dos recursos naturais, que já é muito maior que a capacidade de
regeneração da natureza, uma vez que a reposição de alguns elementos é impossível, pois a escala de
tempo para a sua formação é milhões de vezes maior que a da vida média dos seres humanos.

O Consumo e seus Impactos no Espaço Urbano


O consumo crescente também altera a paisagem urbana. As melhores áreas e as mais centrais, ou
ainda com melhor acessibilidade, normalmente são dominadas pelo setor comercial, gerando uma
hipervalorizarão dos imóveis em seu entorno.
Essa especulação imobiliária nos grandes centros urbanos empurrou e ainda empurra um grande
número de trabalhadores para locais distantes dos seus postos de trabalho. Quanto maiores forem os
deslocamentos, maiores serão os custos de transporte e a poluição gerada.
Um exemplo disso é a produção de veículos, que por sua vez está atrelada à produção de aço,
petróleo, ferramentas e máquinas. Em uma sociedade de consumo, o investimento em transporte deve
se manter vinculado à produção de mercadorias a serem transportadas. Portanto, mais consumo, maior
produção; maior produção, mais transportes; mais transportes, maior emissão de poluentes.
Por fim, a produção de energia deve também acompanhar o crescimento de todas essas atividades
econômicas, o que demanda também maior produção de equipamentos. Note, portanto, que estamos
praticamente em um ciclo vicioso.

O Desenvolvimento Sustentável

Apesar de relativamente recente, a ideia de desenvolvimento sustentável vem ganhando espaço com
o desenvolvimento das relações internacionais intensificadas pelo aumento das trocas comerciais,
principalmente nos últimos 200 anos.
Depois da Segunda Guerra Mundial (1939-1945) é que essas preocupações ganharam relevância.
Uma das principais razões para isso foi a tragédia das bombas atômicas de Hiroshima e Nagasaki (1945),
que mataram centenas de milhares de pessoas. Ao deixar um rastro de radioatividade, as bombas
ampliaram muito as ocupações ambientais de uma considerável parcela da população mundial.
Com a criação da ONU, em 1945, as relações internacionais passaram por uma mudança que também
atingiu a questão ambiental. Em 1949 ocorreu a conferência das Nações Unidas para a Conservação e
Utilização dos Recursos (Unscur), em Nova York.
Em 1968, intelectuais, empresários e líderes políticos criaram uma organização voltada ao debate
sobre o futuro da humanidade, o chamado Clube de Roma, que financiava pesquisas para publicação de
relatórios importantes.

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Em 1972 eles lançaram o relatório Limites do crescimento, em conjunto com cientistas do
Massachusetts Institute of Technology (MIT). Esse relatório gerou muita polêmica, pois basicamente
afirmava que, se continuassem os ritmos de crescimento da população, da utilização dos recursos
naturais e da poluição, a humanidade correria sérios riscos de sobrevivência no final do século XXI.

Um Novo Patamar de Discussões a partir de 1972


Em 1972, a ONU organizou a Conferência de Estocolmo, conhecida também como a Primeira
Conferência Internacional para o Meio Ambiente Humano.
Já se sabia que a economia do planeta consumia um volume cada vez maior de combustíveis fósseis
e recursos não renováveis, lançando bilhões de toneladas de dióxido de carbono na atmosfera, criando
assim, uma grande instabilidade climática.
Era preciso reduzir o impacto das atividades econômicas, mas, para isso, fazia-se necessário reduzir
o consumo e o desperdício. Começava, então, uma corrida para se atingir o desenvolvimento sustentável.
Efetivamente, poucos avanços foram conseguidos ao final desse encontro em 1972. Porém, a
sensibilização das lideranças da comunidade internacional acabou levando a ONU a criar, naquele
período, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, conhecida pela sigla Pnuma.
No entanto, tanto os países em desenvolvimento quanto os muito pobres não estavam interessados
em abrir mão das vantagens do desenvolvimento econômico em nome da preservação ambiental. Assim,
como havia muitas discussões sem solução, foi adotado um primeiro conceito chamado
“ecodesenvolvimento36”.
Somente em 1987 o Pnuma divulgou o relatório Nosso futuro comum, sendo o primeiro grande
documento científico que apresentou com detalhes as causas dos principais problemas ambientais e
ecológicos.
A grande contribuição desse documento foi a popularização do chamado desenvolvimento
sustentável, como um aperfeiçoamento do ecodesenvolvimento.
Para atingir o desenvolvimento sustentável seria necessário:
→ A implantação de projetos econômicos baseados em tecnologias menos agressivas ao ambiente
como uma forma de ajuda ao combate das instabilidades e do subdesenvolvimento, que representavam
um risco para o equilíbrio ecológico, justamente pela falta de recursos para implementar as mudanças
necessárias;
→ O combate da pobreza humana, uma vez que populações desempregadas e desamparadas tendem
a retirar recursos da natureza de forma descontrolada para sua sobrevivência, incluindo assim, o conceito
de desenvolvimento social;
→ A tomada de decisões sobre os caminhos a serem tomados, com ampla participação da sociedade,
para que fossem revertidos em resultados positivos ao equilíbrio ambiental, incluindo assim, a
democracia.
Assim, definiu-se o conceito de desenvolvimento sustentável:
Desenvolvimento sustentável é aquele que satisfaz as necessidades da geração presente sem
comprometer a capacidade de as gerações futuras satisfazerem as suas próprias necessidades.

Eco 92

Em junho de 1992, a ONU organizou na cidade do Rio de Janeiro a Conferência das Nações Unidas
sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (Cnumad), que ficou conhecida como Cúpula da Terra ou Eco
92.
Entre os objetivos principais dessa conferência, destacaram-se:
→ Examinar a situação ambiental mundial desde 1972 e suas relações com o estilo de
desenvolvimento vigente;
→ Estabelecer mecanismos de transferência de tecnologias não poluentes aos países
subdesenvolvidos;
→ Incorporar critérios ambientais ao processo de desenvolvimento;
→ Prever ameaças ambientais e prestar socorro em casos emergenciais;
→ Reavaliar os organismos da ONU, eventualmente criando novas instituições para implementar as
decisões da conferência.
Abaixo vamos conhecer algumas resoluções e documentos importantes da ECO-92.

36
O ecodesenvolvimento é um conjunto de ideias e procedimentos que dão prioridade ao processo criativo de transformação do meio em que vivemos, porém,
com a ajuda de técnicas ecologicamente corretas e que sejam adequadas a da um dos lugares. São as populações desses lugares que devem se envolver, se
organizar, utilizar os recursos naturais de forma prudente e procurar soluções que em a um futuro digno.

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A Convenção do Clima
A Convenção do Clima atribuiu aos países desenvolvidos a responsabilidade pelas principais emissões
poluentes, dando a eles os encargos mais importantes no combate às mudanças do clima. Aos países
em desenvolvimento, concedeu-se a prioridade do desenvolvimento social e econômico, mantendo,
porém, a tarefa de controlar suas parcelas de emissões de poluentes na medida em que se
industrializassem. As recomendações da convenção foram:
→ Adotar políticas que promovessem eficiência energética e tecnologias mais limpas;
→ Reduzir as emissões do setor agrícola;
→ Desenvolver programas que protegessem os cidadãos e a economia contra possíveis impactos da
mudança do clima;
→ Apoiar pesquisas sobre o sistema climático;
→ Prestar assistência a outros países em necessidade;
→ Promover a conscientização pública sobre essa questão.
Infelizmente os acordos da Eco 92 ficaram apenas no plano das boas intenções.

A Convenção da Biodiversidade
Nessa convenção, estava prevista a transferência de parte dos recursos ou lucros obtidos com a
exploração e comercialização dos recursos naturais para o seu local de origem, que receberia esse
volume de dinheiro para aplicar em programas de preservação e de educação ambiental.
Esse tratado visava a favorecer o diálogo Norte-Sul, ou seja, as relações entre os países desenvolvidos
e as nações em desenvolvimento. Porém, muito pouco foi feito.
A evolução dos estudos genéticos levou a biotecnologia a adquirir a capacidade de alterar e reproduzir
organismos, como plantas e seres vivos em geral. Esse fato dotou os países ricos da possibilidade de
explorar produtos naturais e modificá-los geneticamente, adquirindo o direito de patentear tais espécies.
Isso abriu espaço para a biopirataria.

A Agenda 21
Esse documento, assinado pela comunidade internacional durante a Eco 92, assumiu compromissos
para a mudança do padrão de desenvolvimento no século XXI. Ou seja, a Agenda 21 procurou traduzir
em ações o conceito de desenvolvimento sustentável.
O termo "agenda" teve, nesse caso, o sentido de intenções, isto é, de propostas de mudanças, visando
a criar um modelo de civilização pelo qual sejam possíveis a convivência e a simultaneidade do equilíbrio
ambiental com a justiça social entre as nações.
A Agenda 21 buscava:
→ Geração de emprego e de renda;
→ Diminuição das disparidades regionais e interpessoais de renda;
→ Mudança nos padrões de produção e consumo;
→ Construção de cidades sustentáveis;
→ Adoção de novos modelos e instrumentos de gestão.
No entanto, para alcançar essas metas, era preciso mobilizar, além dos governos, todos os segmentos
da sociedade.

Uma Nova Etapa Pós Eco 92: o Protocolo de Kyoto

Como estava previsto na Convenção do Clima, assinada durante a Eco 92, deveria ocorrer um novo
encontro internacional para se discutir a redução da emissão de gases responsáveis pelo aumento da
temperatura do planeta.
Tal reunião ocorreu em 1997, em Kyoto, no Japão, onde líderes de 160 nações assinaram um
compromisso que ficou conhecido como Protocolo de Kyoto.
Esse documento previa, entre 2008 e 2012, um corte de 5,2% nas emissões dos gases causadores do
efeito estufa, em relação aos níveis de 1990.
Para entrar em vigência, o Protocolo de Kyoto deveria ser ratificado por, no mínimo, 55 governos, que,
se somados, representariam no mínimo 55% das emissões de CO² produzidas pelos países
industrializados. Essa porcentagem foi adotada para que os Estados Unidos, um dos maiores poluidores
do planeta, não pudesse impedir, sozinho, a adoção dessas medidas.

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A Rio+10

Em 2002, mais uma vez a ONU tentou estabelecer ações globais para a melhoria da qualidade de
vida. Tal medida ficou conhecida como Rio+10, a Cúpula Mundial sobre o Desenvolvimento Sustentável,
que se realizou em Johanesburgo, na África do Sul. Os principais temas então abordados foram:
Clima e energia: foi estabelecido o uso de energias limpas, mas não foram determinadas as metas.
Por isso, os ambientalistas protestaram, afirmando que o texto permitia a inclusão da energia nuclear, já
que incentivava as energias avançadas;
Subsídio agrícola: segundo muitos críticos, a superficialidade do texto fortaleceu a OMC, controlada
pelos países ricos, e esvaziou o papel mediador da ONU;
Protocolo de Kyoto: desde o protocolo, pouco mudou, pois os países que não haviam assinado até
então, apenas prometeram que estudariam o caso (exceto os Estados Unidos, que até mesmo abandonou
a reunião antes de seu final);
Biodiversidade: decidiu-se reduzir o ritmo de desaparecimento de espécies em extinção e repassar
os recursos obtidos pela exploração de produtos naturais para seus locais de origem;
Água e saneamento: foi decidido que se devia aumentar o número de pessoas com acesso à água
potável. Os críticos afirmaram, porém, que o texto poderia ser mais específico quanto aos procedimentos
conjuntos a serem adotados;
Transgênicos: foram objeto de polêmica, pois as organizações supranacionais recomendaram que
regiões com fome crônica adotassem esses alimentos. Por outro lado, o mesmo documento dizia que os
países teriam o direito de rejeitar os transgênicos até o surgimento de estudos mais conclusivos;
Pesca e oceano: o tema constituiu a maior conquista da reunião, já que previa a criação de áreas de
proteção marinha e a abolição imediata de qualquer subsídio à atividade pesqueira irregular.

O Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC)

No fim dos anos 1980, aumentou-se a percepção de que as atividades humanas eram cada vez mais
prejudiciais ao clima do planeta. A ONU convocou cientistas do mundo todo para acompanhar esse
processo e, com a colaboração de 130 governos, criou-se o Painel Intergovernamental de Mudanças
Climáticas (IPCC).
O principal papel desse organismo foi o de criar relatórios e documentos para acompanhar a situação
ambiental do planeta e também o de fornecer essas informações para a Convenção do Quadro das
Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, órgão responsável por essas discussões.
Em 2007, o IPCC recebeu, junto com o ex-vice-presidente estadunidense AI Gore, o prêmio Nobel da
paz, pelo trabalho de divulgação e busca de conscientização sobre os riscos das mudanças climáticas.
Veja os principais alertas do IPCC:
→ A temperatura da Terra deve subir entre 1,8ºC e 4ºC, nas próximas décadas, o que aumentaria a
intensidade de tufões e secas, ameaçaria um terço das espécies do planeta e provocaria epidemias e
desnutrição;
→ O derretimento das camadas polares poderia fazer com que os oceanos se elevassem entre 18 e
58 cm até 2100, fazendo desaparecer pequenas ilhas e, assim, obrigando centenas de milhares de
pessoas a aumentar o fluxo dos chamados "refugiados ambientais".

A Conferência de Copenhague

Em dezembro de 2009, realizou-se em Copenhague, Dinamarca, a Cop-15 (Conferência da ONU sobre


Mudanças do Clima), tendo como princípio norteador, as responsabilidades comuns, porém
diferenciadas. Mas o que seria isso?
Os países industrializados, que historicamente foram os primeiros a lançar uma quantidade maior de
CO² e outros gases de efeito estufa na atmosfera, teriam uma responsabilidade maior no corte de
emissões. Acreditava-se que eles fossem assumir plenamente uma meta de 25 a 40% de redução até
2020. Os países emergentes seguiriam o mesmo caminho, mas com outras metas.

A Rio+20

Em 2012, o Rio de Janeiro foi sede de um evento para marcar o 20º aniversário da Conferência das
Nações Unidas sobre Desenvolvimento do meio Ambiente, realizada em 1992, conhecida como Rio 92.
O encontro foi popularmente chamado de Rio+20.

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A meta principal foi fazer um balanço dos últimos anos na busca de um modelo econômico baseado
no desenvolvimento sustentável. Uma das principais resoluções foi transformar o Programa das Nações
Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) numa agência da ONU, como por exemplos, a Organização
Mundial da Saúde (OMS) ou a Organização Mundial do Comércio (OMC), o que lhe daria mais poderes
e recursos.
Um exemplo de avanço na Rio+20 foram acordos para a redução da emissões de gases causadores
de efeito estufa.

Os Principais Problemas Ambientais do Planeta

Poluição Atmosférica
A poluição do ar consiste no lançamento e acúmulo de partículas sólidas e gases tóxicos que se
concentram na atmosfera terrestre alterando suas características físico-químicas.
De maneira geral, os poluentes atmosféricos podem ser produzidos por fontes primárias ou
secundárias.
Os poluentes primários são aqueles liberados diretamente das fontes de emissão, como os gases que
provém de queimadas em florestas ou da queima de combustíveis fósseis (petróleo e carvão), lançados
do escapamento dos veículos automotores e também das chaminés das fábricas, entre eles, monóxido
de carbono (CO), dióxido de carbono (CO²), dióxido de enxofre (SO²) e metano (CH4).
Os poluentes secundários, por sua vez, são aqueles formados na atmosfera a partir de reações
químicas entre poluentes primários e componentes naturais da atmosfera, como o ácido sulfúrico
(H²SO4), ácido nítrico (HNO³) e ozônio (O³). A esses poluentes somam-se ainda materiais particulados
que abrangem um grande conjunto de poluentes formados por poeiras, fumaças, materiais sólidos e
líquidos, que se mantêm suspensos na atmosfera.
Desde o início da Revolução Industrial, em meados do século XVIII, o nível de poluentes na atmosfera
terrestre vem aumentando exponencialmente com o avanço da industrialização, dos meios de transportes
e demais atividades econômicas que se desenvolvem apoiadas na queima de combustíveis fósseis.
Milhares de toneladas de gases poluentes são lançados todos os dias na atmosfera terrestre,
desencadeando uma série de problemas ambientais, com impactos que ocorrem tanto em escalas local
e regional (como o fenômeno das inversões térmicas e das chuvas ácidas) quanto em escala global (como
a diminuição da camada de ozônio e a ocorrência do efeito estufa).
A alta concentração de poluentes no ar forma uma camada de partículas em suspensão, parecida com
uma neblina, conhecida como smog, fazendo com que a visibilidade diminua. Também causa muitos
problemas de saúde, principalmente relacionados ao sistema respiratório e cardiovascular.
Em grandes centros urbanos dos países industrializados, é frequente os níveis de poluição do ar
ultrapassarem os limites estabelecidos pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Esses gases
poluentes são provenientes da queima de florestas e, em especial, de combustíveis fósseis (petróleo e
carvão). Os principais agentes poluidores são os veículos automotores e as indústrias, sobretudo as
termelétricas, siderúrgicas, metalúrgicas, químicas e refinarias de petróleo.
Um exemplo disso é a população chinesa, que é aconselhada constantemente a usar máscara para
sair às ruas, evitar exercícios ao ar livre e, em dias críticos, é alertada a permanecer no interior de suas
casas, devido aos altos níveis de poluição do ar encontrados em diversas províncias do país. Foram
registradas milhares de mortes, principalmente na última década, decorrentes de problemas respiratórios
e cardiovasculares agravados pela poluição do ar.

Inversão Térmica
Em condições normais, o ar presente na Troposfera37 costuma circular em movimentos ascendentes,
o que ocorre em razão das diferenças de temperatura entre o ar mais aquecido e, portanto, mais leve,
nas camadas mais baixas, e o ar mais frio e mais denso, nas camadas mais elevadas.
Em regiões afetadas por intensa poluição atmosférica, como os grandes centros urbanos, a fuligem e
os gases poluentes lançados pelas chaminés das fábricas e pelo escapamento dos veículos automotores
tendem a se dispersar por meio dessas correntes ascendentes.
Em dias mais frios, com baixas temperaturas e pouco vento, típicos do outono e do inverno, a ausência
de corrente de ar dificulta a dispersão dos poluentes atmosféricos. Nessa situação, o ar em contato com
a superfície mais fria também se resfria, ficando aprisionado pela camada de ar mais quente acima, o que
impede a dispersão dos poluentes atmosféricos.

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A troposfera é a camada mais baixa da atmosfera terrestre, sendo a região em que vivemos e onde ocorrem os fenômenos meteorológicos.

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https://www.todamateria.com.br/inversao-termica/

Tem-se, assim, uma inversão da temperatura do ar atmosférico, a chamada inversão térmica,


fenômeno que pode ser observado na forma de uma faixa cinza-alaranjada no horizonte dos grandes
centros urbanos.

https://www.ecycle.com.br/4175-inversao-termica.html

Com a ausência dos ventos ascendentes, os poluentes atmosféricos deixam de dispersar e


concentram-se próximos à superfície, o que compromete a qualidade do ar e gera problemas de saúde
aos habitantes das grandes cidades.
Quando expostas aos altos índices de poluição, muitas pessoas apresentam sintomas como dores de
cabeça, coceira na garganta e irritação nos olhos, crises alérgicas e pulmonares, problemas que afetam
principalmente crianças e idosos, mais sensíveis à poluição.

As Mudanças Climáticas
A humanidade já passou por períodos mais quentes que o atual e por períodos muito frios também.
Dessa forma, muitos podem afirmar que as preocupações com o aquecimento são exageradas e que
a Terra vai passar por períodos de resfriamento tal qual já ocorreu.
Isso não é verdade. O problema está no fato de que se ampliou muito a emissão de CO² na atmosfera
desde o início da Revolução Industrial.
As fábricas e as indústrias usavam e ainda usam carvão mineral para gerar energia. Com o avanço
das tecnologias, o petróleo passou a ser usado também como matéria-prima e fonte de combustíveis para
muitos sistemas de transporte.
Apesar de a emissão de poluentes não ser igual em todos os países e de os mais industrializados
terem responsabilidade maior nesse processo, hoje já é possível afirmar que se trata de um problema
global.
Grandes quantidades de poluição produzidas em um lugar podem atingir outras localidades do planeta,
em função da circulação das massas de ar que transportam esses rejeitos.

O Desequilíbrio no Efeito Estufa


O principal problema causado pelo CO² e por outros poluentes é o desequilíbrio no efeito estufa.
Efeito estufa é um fenômeno natural, em que alguns gases funcionam como retentores de calor,
condição fundamental para manter a existência de vida no planeta.

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https://www.grupoescolar.com/a/b/A6A65.jpg

As temperaturas médias no mundo subiram muito nos últimos 150 anos, e a explicação está no
acúmulo de gases causadores do efeito estufa.
O metano é outro gás muito agressivo. Sua capacidade de reter calor na atmosfera é 23 vezes maior
que a do gás carbônico. Cerca de 30% das emissões mundiais de metano estão ligadas à pecuária, mas
o metano é liberado também por outras fontes, como a queima de gás natural, de carvão e de material
vegetal e também por campos de arroz inundados, esgotos, aterros e lixões.
Entre os exemplos mais bem-sucedidos de combate à poluição atmosférica podemos citar a
estruturação de áreas urbanas com base na circulação de transporte público e bicicletas ao longo de
corredores e ciclovias, o que contribui para reduzir as emissões provenientes dos automóveis.
Promover o uso de combustíveis alternativos, como o etanol e o biodiesel, que emitem menos gases
poluentes do que a gasolina e o diesel convencional, além do desenvolvimento de carros elétricos,
também podem ser medidas válidas para minimizar a poluição; porém, elas não reduzem a dependência
da população em relação ao automóvel, objetivo que deve estar na agenda de qualquer sociedade
sustentável.

O Buraco na Camada de Ozônio


No final do século XVIII e início do século XIX, o cientista holandês Martin van Marum, descobriu um
gás com cheiro muito forte durante algumas experiências com reações químicas.
Anos depois, o cientista alemão Christian Friedrich Schönbein, chamou esse gás de ozônio, quando
percebeu que ele era liberado nos processos químicos de purificação da água.
Schönbein também notou que esse gás subia pelo ar rapidamente e adquiria uma cor azul bem pálida.
Ele acreditava então que o ozônio existia em grande quantidade nas altas camadas da atmosfera, fato
que veio a ser comprovado por Gordon Miller Bourne Dobson por volta dos anos 1920.
Por meio dessas pesquisas foi possível perceber que a camada de ozônio é um filtro natural para a
Terra. A constituição química do gás detém os raios solares nocivos à saúde humana, portanto, a camada
de ozônio é um dos elementos mais importantes para a manutenção da vida.
A destruição dessa camada tem relação direta com o modo de vida e o modelo produtivo adotado pela
economia mundial nos últimos tempos.
Para refrigerar os alimentos usavam-se, no início do século XX, gases extremamente perigosos, como
a amônia e o enxofre. No final dos anos 1920, Thomas Midgley Jr. descobriu um gás proveniente da
combinação do carbono com o flúor e o cloro, trata-se do clorofluorcarboneto (CFC), depois registrado
pela empresa dona da patente como gás fréon.
Com inúmeras vantagens em relação aos outros gases, o fréon passou a ser usado largamente e
permitiu a popularização das geladeiras domésticas, que eram impensáveis quando se usavam os outros
gases.
As pesquisas também permitiram a fabricação de espumas, produtos de limpeza, sprays e uma
quantidade infinita de derivados desse gás.
Em meados dos anos 1980, descobriu-se a existência de uma falha nessa camada protetora da Terra.
Cientistas britânicos e estadunidenses anunciaram que havia um buraco de milhões de quilômetros
quadrados na atmosfera sobre a Antártida.

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As pesquisas apontavam que esse buraco era causado pela emissão de gases fréon, que, quando
sobem às altas camadas, destroem o ozônio e permitem a passagem dos raios solares nocivos à vida. O
problema reside no fato de que esses gases duram na atmosfera entre 20 e 90 anos.

https://www.bbc.com/portuguese/geral-45558884

Na imagem acima, observa-se a Camada de ozônio sobre o Polo Sul, em setembro de 2018. Em roxo
e azul estão as áreas que têm menos ozônio, enquanto em amarelo e vermelho, as que têm mais.
O buraco está principalmente sobre a Antártica, mas já se notam pequenas falhas também no
Hemisfério Norte. Sabe-se que existe um sistema mundial de circulação de ar que acumula os gases
fréon sobre a Antártica em quantidade máxima justamente nos meses mais frios, quando o ar fica mais
denso e circula somente nas proximidades dessa área. Quando os raios solares mais fortes chegam a
essa região no verão, as reações químicas quebram o ozônio e permitem a passagem dos raios nocivos.
A solução para esse problema está ligada à redução da emissão de gás CFC, fato que já foi registrado
muitas vezes por cientistas credenciados pela ONU. Para se chegar a esse pequeno avanço, foi assinado
em 1987 o Protocolo de Montreal (Canadá), que previa a erradicação gradual da produção de CFC.
Entre 1988 e 1995, o consumo do gás diminuiu quase 80% em escala mundial. Mesmo assim,
especialistas acreditam existir um mercado paralelo e ilegal de CFC que movimenta milhares de toneladas
de gás por ano.
Esse quadro influencia diretamente a saúde humana. Especialistas na área de medicina afirmam que
problemas como casos de catarata e câncer de pele vêm se avolumando em grande escala no planeta.

A Devastação das Florestas


As atividades agropecuárias, a urbanização e a industrialização podem ser caracterizadas de maneira
geral como os processos que iniciaram a devastação das florestas.
Com o desenvolvimento da tecnologia em todos os campos da ação humana, surgiram métodos que
aceleraram o desmatamento e acabaram afetando vastas áreas ricas em biodiversidade.
Como exemplos, podem-se citar extensas áreas florestais da Europa e dos Estados Unidos
praticamente extintas no final do século XIX e início do século XX. Esse processo esteve ligado ao
desenvolvimento e ao avanço das relações capitalistas que se materializavam no território.
Infelizmente esse processo de destruição continua até hoje e de forma cada vez mais preocupante. A
instalação de atividades econômicas sobre áreas praticamente intactas é resultado da expansão da
indústria madeireira, das atividades mineradoras, em especial as ilegais, e da corrida por novas áreas
pela agricultura comercial, fato que ficou conhecido como expansão das fronteiras agrícolas.
A partir dos anos 1980, principalmente, a consciência ecológica levou muitos países, em especial os
mais desenvolvidos, a realizar programas de replantio de espécies nativas, o que possibilitou a
recuperação de antigas áreas devastadas. Em contrapartida, nos países mais pobres e nas nações em
desenvolvimento, essa tragédia natural tem crescido ano a ano.
A atuação de grandes empresas exploradoras que operam em regiões florestais do planeta gera outros
graves problemas. As populações das regiões florestais extremamente pobres viviam dos frutos das
florestas de forma racional, uma vez que o ritmo de exploração das matas permitia a sua regeneração.
Com a chegada das grandes empresas exploradoras, ocorreu uma radical mudança na vida dessas
pessoas.
Desprovidos de áreas para exercer suas atividades, os trabalhadores pobres empregam-se nessas
companhias, recebendo baixíssimos salários. Aqueles que não trabalham nessas empresas acabam

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derrubando a mata para vender a madeira de forma ilegal e assim obter recursos para sustentar suas
famílias.
Nos últimos anos as preocupações estão cada vez maiores, pois mapeamentos detalhados mostram
que a devastação põe em risco principalmente as florestas localizadas em regiões úmidas do planeta.
São áreas de mata inundadas ou saturadas de água, como as várzeas dos rios, manguezais, florestas
em áreas costeiras e próximas de grandes bacias hidrográficas.
Na Ásia, a maior parte das terras úmidas florestadas estão ameaçadas pela expansão da agricultura
comercial do arroz e pela exploração de madeira, como no caso da Indonésia, que já perdeu grande parte
de sua cobertura florestal original.
Todos os relatórios e avisos feitos pelos cientistas alertam que essas áreas úmidas devem ser
preservadas, pois ajudam a regular o fluxo e o abastecimento de depósitos subterrâneos de água. Caso
essas regiões entrem em colapso natural, isso pode gerar um efeito desastroso para a sociedade, que
ficaria sem água.
Uma experiência que merece menção é a da Finlândia. Quase 80% do território finlandês é coberto
por florestas, o que é a maior taxa de ocupação florestal da Europa, em razão de as florestas terem sido
consideradas patrimônio ecológico, social, cultural e econômico do país. Nas últimas décadas, as áreas
plantadas vêm superando as áreas cortadas em 20 a 30% anualmente.
Um dos grandes segredos desse sucesso está no replantio de espécies nativas; na Finlândia somente
podem ser replantadas madeiras originais daquela região. Isso permite uma atividade econômica mais
sustentável e não tão agressiva ao solo, ao clima e aos animais que habitam essas matas.
Os defensores da silvicultura (atividade que se dedica ao manejo e estudo de florestas plantadas)
finlandesa afirmam que a estrutura do replantio é semelhante à das florestas naturais e que os seres
humanos a exploram desde sempre.
Dessa forma, a indústria florestal é um dos maiores setores da economia do país, e a comercialização
de madeira, papel, polpa de papel e outros derivados da celulose chega a representar cerca de 30% de
suas exportações.
Para combater o mercado clandestino de madeira e o desmatamento em todo o mundo, foi criada a
certificação florestal pelo Conselho de Manejo Florestal (FSC), uma entidade ambientalista mundial.
Esse certificado garante ao consumidor final de madeira e de seus derivados que aquele produto é
fruto de um reflorestamento não agressivo ou mesmo de uma exploração sustentável, que preserva e
respeita o ritmo de regeneração da natureza. Já existem milhares de itens e produtos que contam com
essa certificação. Portas, pisos, móveis e até mesmo papel higiênico são certificados para comprovar que
não vieram de uma matéria-prima fruto da devastação.

A Destruição dos Recursos Hídricos


O modelo econômico que vigora em nossos dias é marcado por um consumo crescente de mercadorias
das mais variadas. No entanto, para se produzir nessa larga escala, estamos assistindo a um desenfreado
consumo de água.
Em função desse modelo econômico, o processo de industrialização e de urbanização dá origem a um
volume cada vez maior de esgotos domiciliares, lixo e outros resíduos, que são lançados nos rios e mares
cotidianamente. Isso afeta qualidade das águas, tanto as superficiais quanto as dos aquíferos, em vários
pontos do planeta.

Escassez de Água: Uma Crise Anunciada


Os rios e os lagos, que formam os ecossistemas de água doce, são considerados o meio de vida
natural mais ameaçado do planeta.
Embora ocupem apenas 1% da superfície terrestre, os ecossistemas de água doce abrigam cerca de
40% das espécies de peixes e 12% dos demais animais.
Para se ter uma ideia da diversidade desses ecossistemas, o Rio Amazonas, sozinho, possuiu mais
de 3 mil espécies de peixe.
Todos os estudos feitos recentemente apontam que 34% das espécies de peixes de água doce
encontradas em todo o mundo correm o risco de extinção, ameaçadas, principalmente, pela construção
de represas, canalização dos rios e poluição.
Entre 1950 e os nossos dias atuais, o número de grandes barragens no mundo passou de 5.750 para
mais de 41 mil, fato que alterou radicalmente a dinâmica da vida aquática.
Esse cenário alarmante é agravado pela pequena disponibilidade de água para o consumo humano.
Embora 75% da superfície terrestre seja recoberta por água, os seres humanos só podem usar uma
pequena porção desse volume, porque nem sempre ela é adequada ao consumo.

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É o caso da água salgada dos mares e oceanos, que representa cerca de 97% da quantidade total de
água disponível na Terra.
Dos cerca de 3% restantes, apenas um terço é acessível, em rios, lagos, lençóis freáticos superficiais
e na atmosfera. Os outros dois terços são encontrados nas geleiras, calotas polares e lençóis freáticos
muito profundos.
Além de ser um recurso finito, a água é cada vez mais consumida no mundo todo. Ao longo do século
XX, por exemplo, a população mundial cresceu três vezes, enquanto as superfícies irrigadas cresceram
seis vezes e o consumo global, sete vezes.
Esse aumento exponencial do consumo mundial de água está gerando um fenômeno conhecido como
estresse hídrico, isto é, carência de água. Segundo o Banco Mundial, essa situação ocorre quando a
disponibilidade de água não chega a 1.000 metros cúbicos anuais por habitante.

O Mal Uso da Água e a Salinização dos Solos


São consideradas regiões que sofrem com a salinização aquelas que perdem seu rendimento
econômico na agricultura.
Salinização é a concentração de sais, provocada pela evapotranspiração máxima ou intensa,
principalmente em locais de climas tropicais áridos ou semiáridos, onde normalmente existe drenagem
ineficiente.
Os solos apresentam sais em níveis diferenciados. Quando este nível se eleva, chegando a uma
concentração muito alta, pode prejudicar o desenvolvimento de algumas plantas mais sensíveis, ou
mesmo impedir o desenvolvimento de praticamente todas as espécies.
A salinização do solo pode ser causada pelo mau manejo da irrigação em regiões áridas e semiáridas,
caracterizadas pelos baixos índices pluviométricos e intensa evapotranspiração.
A baixa eficiência da irrigação e a drenagem insuficiente nessas áreas contribuem para a aceleração
do processo de salinização, tornando-as improdutivas em curto espaço de tempo.
Os solos mais sujeitos a esse problema são os que estão em regiões mais secas. Neles, qualquer tipo
de irrigação mal conduzida pode gerar uma forte salinização se não estiver presente um adequado
sistema de drenagem.
Abaixo seguem dois exemplos de solos salinizados.

https://alunosonline.uol.com.br/geografia/salinizacao-solo.html

https://pt.wikipedia.org/wiki/Saliniza%C3%A7%C3%A3o

A Organização das Nações Unidas para Alimentação e agricultura estima que, dos 250 milhões de
hectares irrigados em todo o planeta, cerca de metade já tem problemas de salinização, e uma grande
parte é abandonada todo ano por esse motivo. Por isso, a irrigação precisa ser feita com muito cuidado.
Entendemos que a água está cada vez mais escassa em todo o globo. A combinação de fatores
naturais e socioeconômicos como pressão demográfica e uso irracional gera desertificação, salinização
e poluição desenfreada.

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O aumento do estresse hídrico já reduziu de forma considerável as reservas hídricas disponíveis no
planeta. Em quase metade das localidades habitadas, já existem problemas de escassez, e cerca de 20
a 30% da população mundial não têm acesso a redes satisfatórias de água e esgoto. Esse quadro fica
ainda mais grave uma vez que a escassez desse recurso se soma a problemas políticos entre povos e
nações.
No Oriente Médio, por exemplo, há inúmeras disputas pela posse da água que se misturam a
rivalidades criadas por décadas de conflitos.
Israelenses e palestinos têm na água um dos maiores pontos de discórdia. Eles disputam as águas
oriundas da nascente do Rio Jordão e do Lago Tiberíades nas proximidades das Colinas de Golã. Além
disso, 90% dos canais de abastecimento de água são controlados por Israel.
Organismos internacionais afirmam que a disponibilidade per capita de água é quatro vezes maior em
Israel do que nos territórios palestinos, fato que potencializa epidemias, queda da produtividade agrícola
e tantos outros problemas.
Outro exemplo de tensão em razão da disputa pela água ocorre entre Síria, Turquia e Iraque. A Turquia
tem um plano de desenvolvimento que inclui a construção de mais de 20 barragens ao longo dos rios
Tigre e Eufrates.
Essas obras de grande porte alteram radicalmente a vazão de água dos rios e ameaçam o
abastecimento de grandes áreas em países vizinhos, como o Iraque e a Síria. Esses países discutem
hoje um estatuto comum para a administração desses rios, visto que não foram poucas as vezes que eles
entraram em alerta para uma possível guerra: um temendo perder o enorme volume de água, fundamental
para seu povo, outro temendo perder as barragens, fundamentais para seu desenvolvimento.

A Destruição dos Oceanos


A intensificação do comércio internacional nas últimas décadas tem deixado marcas negativas nos
oceanos.
Nos mares de quase todas as regiões do planeta existem gigantescas manchas de petróleo. Em parte,
essas manchas ocorrem por descaso e pelo uso de equipamentos obsoletos que causam vazamentos.
Além disso, muitos navios petroleiros chegam a lavar seus reservatórios nas costas de países pobres,
especialmente africanos, que não têm sistemas de vigilância eficientes para evitar esse crime.
Outro grave problema é a pesca predatória, que também contribui para o esgotamento dos estoques
de pescados oceânicos. Cerca de 90% das espécies comerciais, ou seja, pescadas, processadas e
vendidas, correm risco iminente de destruição em razão da pesca predatória.
Grandes grupos econômicos ligados direta e indiretamente ao setor alimentício são os responsáveis
por essa destruição. Eles permitem a prática da pesca predatória, que, na busca do lucro imediato, não
respeita, em muitos casos, o período de reprodução das espécies, fato que minimamente garantiria a
reposição dos estoques.
O mar também sofre a partir das terras costeiras. Grupos imobiliários promovem a ocupação irregular
de áreas litorâneas pela construção de casas, condomínios e hotéis em áreas de manguezal, alterando
o equilíbrio ambiental.
É importante lembrar que os oceanos são fundamentais para o equilíbrio ecológico de todo o planeta.
Eles concentram 97% das águas e produzem cerca de um sexto do oxigênio da atmosfera, além de serem
os principais responsáveis pela recomposição dos estoques de água doce, graças à umidade que geram.
Por todos esses fatores, os oceanos são fundamentais para a manutenção das características climáticas
do planeta.

A Degradação dos Solos (Desertificação)


A degradação do solo geralmente é causada pela associação de situações climáticas extremas, como
exemplos, a seca ou o excesso de chuvas, práticas predatórias, como o desmatamento de áreas
florestais, expansão das pastagens, utilização intensiva de agrotóxicos e a mineração descontrolada.
Essas atividades alteram e destroem a cobertura vegetal natural do solo, deixando-o exposto à ação
de ventos e chuvas, que gradualmente desgastam o solo desnudo de vegetação.
Esse processo erosivo pode evoluir, e a rocha bruta, base do solo, chegar a ficar exposta. Quando
isso ocorre, está se iniciando o processo de desertificação.
O manejo agrícola inadequado é um dos grandes responsáveis pela degradação dos solos. Quase
metade das áreas agrícolas do planeta tem algum problema que afeta a sua produção de alimentos.
Esse problema está longe de ser somente ambiental. Ele tem profunda relação com a sociedade e a
economia, uma vez que a perda de grãos com a desertificação chega a mais de 20 milhões de toneladas,
cifra suficientemente grande para atenuar o problema da fome no mundo.

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As consequências nefastas da degradação do solo afligem também grandes contingentes
populacionais. Calcula-se que 30 milhões de pessoas morreram, nas últimas décadas, de fome,
ocasionada pelo esgotamento de suas áreas naturais, e mais de 120 milhões realizaram o êxodo rural
nos últimos 50 anos.
As soluções para esse problema passam sempre pela alteração do modelo produtivo ou pela aplicação
de enormes recursos financeiros na recuperação de áreas.
Em 1994 foi assinada a Convenção das Nações Unidas de Combate à Desertificação. A principal
decisão foi a aplicação de vastos recursos financeiros para promover a educação ambiental,
principalmente em sociedades agrárias, para que estas sejam reprodutoras das práticas e dos
conhecimentos voltados à conservação dos solos.

Resíduos Sólidos: Recurso e Problema


Diariamente milhões de toneladas de resíduos sólidos são lançadas no ambiente. A prática de
depositar resíduos ao ar livre, lançá-los na água, descartá-los em terrenos baldios e queimar os restos
inaproveitáveis teve início nas civilizações antigas, em que os métodos de lidar com os descartes
consistiam em depositá-los bem longe das moradias.
Essa solução vigorou durante muito tempo e se incorporou à cultura cotidiana de muitas populações.
Hoje é evidente que o crescimento populacional e o aumento do consumo levaram a humanidade a uma
enorme produção de resíduos, que causam graves problemas quando manipulados e depositados de
forma inadequada.
Após a década de 1950, iniciou-se uma mudança de mentalidade em relação ao resíduo sólido, a
princípio nos países mais ricos. Antes visto como desprezível e problemático, gradualmente ele passou
a ser encarado como energia, matéria prima e parte da solução para alguns problemas.
Atualmente, processos como a reciclagem reduzem o volume de resíduos sólidos descartado e
interferem no processo produtivo, economizando energia, água e matéria-prima, além de reduzir
sensivelmente a poluição da água, do ar e do solo. Mesmo assim, a quantidade de lixo reciclada é muito
pequena perante a total.
Uma das soluções que podem ajudar a solucionar esse problema é a coleta seletiva de lixo, ou seja,
o processo pelo qual se separam os materiais encontrados no lixo. Essa separação é fundamental para
o reaproveitamento dos resíduos, pois a coleta potencializa o reaproveitamento dos materiais. A
reciclagem passou a ser uma obrigação em função do enorme volume de resíduos que a sociedade
produz.

As Consequências das Mudanças Climáticas e Ambientais

A Chuva Ácida
A atmosfera, como vimos, vem sendo contaminada por compostos químicos como o enxofre e o
nitrogênio, que vão se concentrando no vapor de água e, consequentemente, nas nuvens. Estas, quando
muito carregadas, despejam uma chuva extremamente ácida.
Até a década de 1990, a chuva ácida era comum apenas nos países de industrialização mais antiga,
mas depois, com a expansão mundial do processo industrial, ela passou a ocorrer em grande quantidade
também na Ásia, em países como China, Índia, Tailândia e Coreia do Sul, que hoje são os grandes
responsáveis pela emissão de óxido nitroso (NO) e dióxido de enxofre (SO²).
Grande parte desse problema foi surgindo conforme a produção industrial se expandia. Isso significou
maior uso de termelétricas que geram energia por meio do carvão e do petróleo (combustíveis altamente
poluentes), maior circulação de carros e outros meios de transportes.
Nos últimos anos há incidência de chuva ácida praticamente em todo o mundo. Em alguns lugares
onde não existem atividades industriais poluentes, ela ocorre em razão do deslocamento das massas de
ar vindas de países emissores de poluição.

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https://escolakids.uol.com.br/geografia/chuva-acida.htm

Entre as consequências da chuva ácida, destacam-se:


→ Alteração da composição do solo e das águas, tanto dos rios quanto dos lençóis freáticos;
→ Destruição da cobertura florestal (No Brasil, isso é visível por exemplo, em trechos das encostas da
Serra do Mar nas proximidades de Cubatão, no litoral de São Paulo, importante polo industrial
petroquímico que já foi conhecido mundialmente pela péssima qualidade do ar);
→ Contaminação das lavouras;
→ Corrosão de edifícios, estátuas e monumentos históricos.
Abaixo, uma imagem de um grande impacto ambiental, com destruição dos galhos e folhas de árvores
de montanhas polonesas, causado pela chuva ácida.

https://brasilescola.uol.com.br/o-que-e/quimica/o-que-e-chuva-acida.htm

Poluição Atmosférica e Aquecimento Global: O Aumento da Temperatura do Planeta


As razões do aumento da temperatura do planeta ainda geram muitos debates entre os cientistas.
Causas naturais e provocadas pelos seres humanos têm sido propostas para explicar o fenômeno.
A principal evidência do aquecimento vem das medidas de temperatura de estações meteorológicas
em todo o globo desde 1860. Os dados mostram que houve um aumento médio da temperatura durante
o século XX.
Para explicar essas mudanças, os cientistas usam ainda evidências secundárias, como a variação da
cobertura de gelo e neve em certas áreas, o aumento do nível dos mares e das quantidades de chuvas,
entre outras.
Diversas montanhas já perderam enormes áreas geladas e nevadas, e a cobertura de gelo no
Hemisfério Norte na primavera e no verão também diminuiu drasticamente.
O aumento da temperatura global pode levar um ecossistema a graves mudanças, forçando algumas
espécies a sair de seus habitats, invadindo outros ecossistemas, ou potencializando a extinção.
Outra situação que causa grande preocupação é o aumento do nível do mar, de 20 a 30 cm por década.
Algumas ilhas no Oceano Pacífico já sofrem com esse problema.
Deve-se lembrar que a subida dos mares ocorre principalmente por causa da expansão térmica da
água dos oceanos, ou seja, as águas dilatam. No entanto, as preocupações com o futuro incluem também

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o derretimento das calotas polares e dos glaciares, que guardam enormes quantidades de água na forma
de gelo. Alguns cientistas afirmam que as mudanças podem ocorrer de forma sutil e mesmo imperceptível.
Na imagem abaixo, um urso polar sofre com o derretimento das calotas polares.

http://meioambiente.culturamix.com/recursos-naturais/derretimento-das-calotas-polares

Tudo isso leva a uma situação preocupante. Previsões feitas pela ONU alertam que entre 50 e 100
milhões de pessoas podem abandonar suas casas temporária ou definitivamente por problemas
relacionados a questões ambientais nas próximas décadas, tornando-se refugiados ambientais.
Nesses números estão incluídos grupos humanos, comunidades inteiras que serão levadas a migrar
em razão da poluição das águas, de enchentes, do desgaste dos solos, do fim da disponibilidade de
peixes e da subida do nível dos oceanos.
É certo que essa situação exigirá uma legislação internacional, uma vez que países e regiões inteiras
vão ser evacuados, e os refugiados poderão ser levados em circunstâncias emergenciais a outros países.

Sustentabilidade38

A qualidade de vida das gerações atuais e futuras começou a se tornar preocupante, tendo em vista o
estilo de vida e a relação que temos com o meio ambiente, provedor de matérias-primas para a nossa
sobrevivência. Por causa disso, a sustentabilidade hoje é um tema bastante discutido em escolas,
universidades, redes sociais e países de modo geral.

O que é uma Sociedade Sustentável?


A defesa de uma sociedade sustentável baseia-se na ideia de o ser humano estabelecer uma relação
com o espaço que o rodeia de modo que seu estilo de vida não prejudique as futuras gerações. Ou seja,
a sustentabilidade tem como premissa uma exploração do meio ambiente que respeite os limites do
planeta e minimize os efeitos da ação do ser humano.
Atualmente, pensar sobre esses limites é uma tarefa cada vez mais importante e emergencial, pois se
o nível de consumo mundial dos recursos naturais continuar no mesmo patamar, será insustentável sua
manutenção para, consequentemente, usufruto das gerações futuras.
Mesmo garantindo nossa própria sobrevivência, a qualidade de vida de toda a população também deve
ser um motivo de preocupação. Nesse sentido, a própria desigualdade social pode ser considerada
insustentável, pois favorece uns em detrimento de outros.

As Construções Alternativas
As paisagens urbanas têm cada vez mais se distanciado da forma original da natureza, de modo que
não proporciona um vínculo entre a dinâmica das cidades e o meio ambiente. Atualmente, 60% dos
resíduos sólidos urbanos provêm da construção civil, o que também provoca grande demanda de
madeira, contribuindo para o desmatamento de áreas de floresta.
Inseridas no pensamento sustentável, as construções alternativas começam a ser disseminadas com
o intuito de minimizar a desarmonia entre o ambiente natural e o construído, reduzindo os impactos
ambientais envolvidos na construção civil.
Essas construções são baseadas em uma arquitetura que considera a necessidade de transformar
sem agredir o ambiente, promovendo a utilização de matérias-primas biodegradáveis e de maneira
proveniente de reservas extrativistas sustentáveis, além do emprego de tecnologias que reduzam o
desperdício de água e energia e que facilitem a reutilização.

38
FURQUIM JR, Laercio. Geografia cidadã. 1ª edição: São Paulo, editora AJS, 2015.

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Para que essas construções atendam a esses objetivos, os elementos do clima local devem ser sempre
considerados; assim, é possível executar um planejamento voltado à iluminação e ao aquecimento
natural, por exemplo.
A aplicação de coberturas verdes e o uso da energia solar, captada por painéis fotovoltaicos, são
exemplos que se encaixam na construção sustentável. No entanto, pelo fato de exigirem maior
investimento, essas construções não são tão comuns quanto deveriam.

Questões

01. (Transpetro – Técnico Ambiental Júnior – CESGRANRIO/2018) Conforme o Painel


Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, mais conhecido pelas iniciais em inglês — IPCC, o
aumento da temperatura média global nos últimos anos deve-se principalmente às emissões de Gases
do Efeito Estufa (GEEs), provocadas pelo homem.
A esse aquecimento é dado o nome de
(A) aquecimento global antropogênico
(B) aquecimento global dos mares
(C) aquecimento global primário
(D) aquecimento global devido à variabilidade natural
(E) potencial de aquecimento global

02. (Câmara de Natividade/RJ – Analista Legislativo – IDECAN/2017) “_________________ é


aquele que considera a preservação de recursos naturais e dos ecossistemas, bem como o bem-estar e
a melhoria da qualidade de vida da sociedade em geral, a longo prazo.” Assinale a alternativa que
completa corretamente a afirmativa anterior.
(A) Impacto ambiental
(B) Aquecimento global
(C) Novo código florestal
(D) Desenvolvimento sustentável

03. (PC/RO – Delegado de Polícia Civil – FUNCAB) Em setembro de 2013, os cientistas do Painel
Intergovernamental Sobre Mudanças Climáticas (IPCC) da ONU divulgaram novo relatório sobre
aquecimento global. De acordo com esse relatório:
(A) o aquecimento global retrocedeu significativamente na última década, devido à maior absorção do
calor pelas águas dos oceanos.
(B) os países emergentes, como China e índia, são os mais afetados no mundo pelo aquecimento
global, e, portanto, os principais interessados em reverter esse processo.
(C) o aumento do aquecimento global é um processo natural, que não está relacionado às ações
humanas.
(D) o desmatamento das áreas de floresta, especialmente no Brasil, é a principal causa do
aquecimento global.
(E) as ações humanas estariam intensificando o efeito estufa e provocando aumento do aquecimento
global.

Gabarito

01.A / 02.D / 03.E

Comentários

01. Resposta: A
Aquecimento global é o processo de aumento da temperatura média dos oceanos e da atmosfera da
Terra causado por massivas emissões de gases que intensificam o efeito estufa, originados de uma série
de atividades humanas (daí o termo antropogênico), especialmente a queima de combustíveis fósseis e
mudanças no uso da terra, como o desmatamento, bem como de várias outras fontes secundárias.

02. Resposta: D
Desenvolvimento sustentável significa obter crescimento econômico necessário, garantindo a
preservação do meio ambiente e o desenvolvimento social para o presente e gerações futuras.

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03. Resposta: E
No fim dos anos 1980, aumentou-se a percepção de que as atividades humanas eram cada vez mais
prejudiciais ao clima do planeta. A ONU convocou cientistas do mundo todo para acompanhar esse
processo e, com a colaboração de 130 governos, criou-se o Painel Intergovernamental de Mudanças
Climáticas (IPCC).

3) O Espaço Político e Econômico: indústria: o processo de industrialização; a


primeira, a segunda e a terceira revolução industrial; tipos de indústria; a
concentração e a dispersão industrial; os conglomerados transnacionais; os
novos fatores de localização industrial; as fontes de energia e a questão
energética; impactos ambientais; agropecuária: sistemas agrícolas; estrutura
agrária; uso da terra; agricultura e meio ambiente; produção agropecuária;
comércio mundial de alimentos e a questão da fome; globalização e circulação:
os fluxos financeiros; transportes; os fluxos de informação; o meio
tecnocientífico-informacional; comércio mundial; blocos econômicos; os
conflitos étnicos e as migrações internacionais; a Divisão Internacional do
Trabalho (DIT) e as trocas desiguais; a Nação e o Território, os Estados
territoriais e os Estados nacionais: a organização do Estado Nacional; e poder
global; nova ordem mundial; fronteiras estratégicas.

INDUSTRIALIZAÇÃO MUNDIAL

Indústria e Transformações no Espaço Geográfico

Não é exagero afirmar que o espaço geográfico contemporâneo é resultado, em boa medida, das
transformações promovidas pela Revolução Industrial em diferentes etapas. E o modo de vida atual é
reflexo, direta ou indiretamente, das inovações da tecnologia industrial.
A atividade industrial manifesta-se não só em sua ocorrência no espaço físico, mas também nos
produtos consumidos pela população local, nos meios de comunicação e nos meios de transporte.
A indústria foi responsável pelas grandes transformações urbanas, pela multiplicação de diversos
ramos de serviços que caracterizam a cidade moderna e pelo desenvolvimento dos meios de transporte
e comunicação que atualmente interligam todo o espaço mundial. Ela também foi responsável pelo
aumento da produção agrícola, graças à mecanização das atividades de criação, plantio e colheita, além
do uso de insumos de origem industrial. Enfim, por causa da indústria criou-se um novo modelo de vida,
com novos hábitos de consumo e novas profissões, ocorreu uma nova estratificação da sociedade e
modificou-se significativamente a relação da sociedade com a natureza.

O que é Indústria?
A indústria consiste em um processo de produção de instalações, a fábrica, usando máquinas e o
trabalho humano, que transforma e combina as matérias-primas para produzir uma mercadoria. Nos dias
atuais a indústria utiliza tecnologias cada vez mais sofisticadas, como robôs (em trabalhos que eram
realizados pelo ser humano) e equipamentos de grande precisão.
As atividades industriais podem ser classificadas em:

1. indústria extrativa – extração de recursos naturais de origens diversas, principalmente de minerais;

2. indústria de transformação – produção de bens a partir da transformação de matérias – primas;


de acordo com o destino desses bens. Podem ser divididas em:

* indústrias de base ou de bens de produção – produzem matérias – primas para outras indústrias,
como alumínio (metalúrgica), aço (siderúrgica), cimento e derivados de petróleo (petroquímica), que serão
utilizadas para fabricação de outros produtos;

* indústrias de bens de capital – produzem máquinas, peças e equipamentos para outras indústrias;

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* indústrias de bens de consumo – produzem mercadorias diretamente para o consumidor; os bens
de consumo podem ser duráveis (móveis, aparelhos eletrônicos, eletrodomésticos, automóveis,
computadores, etc.) e não-duráveis (alimentos, bebidas, cigarros, vestuário, calçados, etc.).
As atividades industriais podem, ainda, ser individualizadas nos seguintes setores:

* indústria da construção civil – construção de edifícios, usinas para produção de energia, pontes,
etc.;

* indústria da construção naval – construção de navios;

* indústria aeronáutica – construção de aviões;

* indústria bélica – produção de armas, tanques, navios e aviões de guerra.

É possível considerar três estágios bem distintos na evolução do processo de modernização da


produção industrial fabril:
* a Primeira Revolução Industrial (1750-1870);
* a Segunda Revolução Industrial (1870-1945);
* a Terceira Revolução Industrial ou Revolução Técnico-científica (após 1945).

As Revoluções Industriais e o Perfil do Trabalhador

Com a Primeira Revolução Industrial, em meados do século XVIII na Inglaterra, houve uma
reestruturação da força de trabalho. Os cercamentos levaram à expulsão dos camponeses, que migraram
para as cidades, em busca de trabalho.
As manufaturas ofereciam empregos braçais e repetitivos para operários sem qualificação profissional,
pois nesse processo, os trabalhadores sofreram duas expropriações: do seu conhecimento e, ainda, dos
seus meios de subsistência. Os salários eram baixos e as jornadas de trabalho muito longas, fatos que
impeliam todos os membros da família ao trabalho.
A despeito das lutas dos trabalhadores, a exploração se acentuou com a entrada maciça de mulheres
no mercado de trabalho, que recebiam salários inferiores aos pagos aos homens.
Um século depois, diversas nações europeias e também dos EUA faziam parte da era industrial.
A chamada Primeira Revolução Industrial resultou em várias alterações nas relações sociais de
produção.
Os artesãos perderam autonomia com as primeiras tecnologias e máquinas que apareceram no
processo produtivo. Tais máquinas eram propriedade de um pequeno grupo da burguesia que buscou
extinguir as condições anteriormente existentes de produção, baseadas no artesanato. Essa fase da
Revolução Industrial foi caracterizada também pelos seguintes fatores:
→ invenção do tear mecânico e do descaroçador de algodão, promovendo o desenvolvimento da
indústria têxtil e o aumento da produção de tecidos;
→ invenção da máquina a vapor, em substituição às tradicionais fontes de energia (eólica e hidráulica)
e à tração animal, o que possibilitou a expansão do mercado e das trocas;
→ uso do coque para a fundição do ferro e seu uso, por exemplo, nas estradas de ferro que
dinamizaram o transporte e a distribuição de mercadorias;
→ redefinição da urbanização possibilitando um adensamento da mão de obra nas grandes cidades,
que se consolidaram como o lugar da realização do capital, e ao mesmo tempo, a organização da classe
trabalhadora, que passou a lutar contra a exploração exacerbada da burguesia industrial.

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A Primeira Revolução Industrial

A Revolução Industrial introduziu uma forma mais eficiente de produzir mercadorias; maior quantidade
em menor tempo e com menores custos. Isso foi possível com o agrupamento dos trabalhadores nas
fábricas e com a divisão do trabalho, de modo que cada trabalhador realizasse uma etapa do processo
produtivo. Essas mudanças foram introduzidas em meados do século XVIII, na Inglaterra, e logo
difundiram-se para outros países da Europa.
A primeira mudança foi, sem dúvida, a invenção da máquina a vapor, que utilizava a energia produzida
pela queima do carvão mineral, recurso abundante em vários países da Europa.
Com a utilização da máquina a vapor, as fábricas puderam se localizar perto das cidades. Antes, as
pequenas fábricas existentes se encontravam dispersas, pois utilizavam energia hidráulica e precisavam
ser instaladas próximo de rios.
As invenções voltadas para a produção de mercadorias refletiram em todas as instâncias da vida
social. Por exemplo, do ponto de vista das comunicações e transportes, ampliaram as relações entre
regiões distantes. Além disso, intensificaram a urbanização nos países industrializados.
Nas fábricas, os operários eram obrigados a trabalhar no ritmo definido pela necessidade de produção.
Devido à extenuante jornada de trabalho, que chegava a 16 horas por dia, os operários, na maioria das
vezes vindos do campo, preferiram ocupar habitações muito precárias junto das fábricas, formando
bairros miseráveis.
A industrialização ampliou a divisão social do trabalho dentro da unidade de produção (a fábrica) e
no interior da sociedade de cada país.
Ao mesmo tempo em que ampliou divisão social do trabalho, a Revolução Industrial estabeleceu uma
divisão internacional do trabalho entre os países industriais (que produziam e exportavam manufaturas)
e as regiões fornecedoras de produtos agrícolas e minerais (que produziam e exportavam matérias-
primas e alimentos).
O crescimento da população industrial na Inglaterra e a necessidade de ampliar o mercado para além
das próprias fronteiras deram origem ao liberalismo econômico, uma nova maneira de pensar a economia.
O liberalismo considerava nociva a intervenção do Estado na produção e na distribuição das riquezas e
defendia a livre concorrência entre as empresas e os países. Naquele momento, as ideias liberais
interessavam à Inglaterra, que não encontrava concorrentes devido ao seu avançado estágio de
desenvolvimento tecnológico e a sua grande capacidade de transporte propiciada por sua imensa frota
naval.

A Segunda Revolução Industrial e o Imperialismo

Novas tecnologias, novas fontes de energia e a expansão da atividade industrial marcaram uma nova
etapa do desenvolvimento capitalista, na segunda metade do século XIX. É o início da Segunda
Revolução Industrial. As hidrelétricas e o petróleo ampliaram a capacidade de geração de energia e
acrescentaram novas possibilidades à tecnologia de produção e, portanto, ao aparecimento de novos
produtos. Surgiram as grandes siderúrgicas e as indústrias químicas. A marinha mercante multiplicou a
sua frota em diversos países europeus, nos Estados Unidos e no Japão. As ferrovias se expandiram por
todo o mundo, como meio de transporte e como atividade empresarial. A evolução e a ampliação dos
sistemas de transporte estimularam o desenvolvimento da atividade industrial e criaram novas
possibilidades em relação à localização geográfica de alguns setores industriais.
Nessa fase, a livre concorrência das pequenas e médias empresas da Primeira Revolução Industrial
foi praticamente substituída pelo monopólio praticado por empresas gigantescas, comandadas por
grandes bancos que passaram a investir, também, na produção. O empresário, isolado, não tinha como
realizar investimentos tão elevados.
O domínio econômico das grandes empresas intensificou as disputas comerciais entre os países e
ampliou as disputas territoriais para muito além de suas fronteiras. No final do século XIX, a Inglaterra,
que mantinha o maior império colonial do planeta, não era a única potência industrial. Os países que se
industrializaram nesse período incorporaram as tecnologias mais recentes e modernas, enquanto
algumas indústrias inglesas eram consideradas “velharias” da Primeira Revolução Industrial. Alemanha,
Itália, França, Japão e Estados Unidos competiam em pé de igualdade com a indústria inglesa e, em
diversos setores, até com superioridade. Todos queriam ampliar seus mercados e suas fontes de
matérias-primas.
Os Estados Unidos já exerciam domínio sobre o continente americano. A Itália, a Alemanha e o Japão
não tinham colônias para ampliar a base de sua produção industrial. O mundo industrializado criou um

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vasto império colonial que se estendeu por todo o planeta com ocupação direta de territórios, guerras e
acordos econômicos com as elites das novas colônias. É a fase do imperialismo ou neocolonialismo.
A Segunda Revolução Industrial, no século XIX, trouxe novidades tecnológicas também nas relações
de trabalho. O carvão, componente energético da Primeira Revolução Industrial, foi sendo,
paulatinamente, substituído pelos derivados do petróleo. Os motores a explosão levaram ao
desenvolvimento dos automóveis que se tornaram gênero de produção em série.
Diversos postos de trabalho requeriam mão de obra com especialização, muito embora os salários
continuassem baixos.
Foram desenvolvidas as práticas do fordismo e do taylorismo com o objetivo de aumentar a
produtividade e, consequentemente, o lucro empresarial.

Tecnologias de Processo – Fordismo e Taylorismo


A evolução da produtividade não depende apenas das máquinas. Foi o que demonstraram os Estados
Unidos no início do século XX, em plena Segunda Revolução Industrial, com a introdução de novas
técnicas de produção industrial, que possibilitaram uma racionalização extrema no processo do trabalho
no interior da fábrica: o taylorismo e o fordismo.
O taylorismo, idealizado pelo inventor Frederick Winslow Taylor (1856-1915), partia da concepção de
que o trabalho fabril era um conjunto de tarefas totalmente independentes da profissão do trabalhador.
Para Taylor, o melhor operário não é nada mais que um operário. O conhecimento do processo produtivo
era uma tarefa exclusiva do gerente, que deveria determinar e fiscalizar cada etapa dos trabalhos a serem
feitos no menor espaço de tempo e sem perda de qualidade.
O fordismo foi implantado pelo empresário Henry Ford (1863-1947) na produção de automóveis, no
início do século XX. O modelo de produção fordista associada a linha de montagem às técnicas de
organização do taylorismo. O automóvel, em processo de montagem, deslocava-se no interior da fábrica
para a realização de cada etapa de produção. O trabalhador, especializado, realizava sua tarefa num
tempo determinado e o automóvel continuava a se deslocar até a instalação da última peça, do último
acabamento.
Método de otimização da produção, o fordismo baseava-se na linha de produção em série com os
funcionários desempenhando cada um uma única função em ritmo acelerado.
A produção era verticalizada, contando com uma rígida hierarquia de chefes e subchefes, com ordens
encaminhadas do alto para o baixo escalão.
Ao fordismo foi acoplado o taylorismo, método desenvolvido pelo engenheiro Frederick Winslow Taylor
em que o tempo de produção das máquinas e dos operários era rigidamente controlado para se obter a
máxima produtividade. O taylorismo era inflexível com horários e metas de produção.

Chaplin em “Tempos modernos”, 1936: uma denúncia da alienação e da violência na produção industrial.

A produtividade aumentou e, com ela, o lucro. Essa equação era muito interessante para os
empresários da época, exceto por um aspecto: o mercado consumidor não acompanhava o ritmo da
produção, o que gerava estoques e capital estagnado.
Ao longo da década de 1920, a crise da superprodução e dos baixos salários gerou falências e
desemprego, fatos que colocaram o sistema capitalista em situação de colapso.
Em 1929, a crise deflagrou a quebra da bolsa de valores de Nova York.
A década de 1930 apresentou uma depressão econômica que motivou fortes insatisfações, que
contribuíram para a erupção da Segunda Guerra Mundial.

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A Reestruturação do Sistema Capitalista

Com o final da Segunda Guerra Mundial, as nações europeias criaram o "Estado do Bem-Estar Social",
conhecido como Welfare State, para dar garantias de sobrevivência, moradia, saúde e educação aos
cidadãos de maneira indistinta. O programa do Bem-Estar Social foi se aprimorando ao longo das décadas
do século XX, criando o sistema previdenciário para gerar segurança para a população.
O Welfare State apoiou-se nas ideias do economista britânico John Maynard Keynes (1883-1946).
Para Keynes, o Estado deveria ser o interventor e o articulador da economia. Os investimentos seriam
necessários para tirar os países da crise em que se encontravam e garantir, a longo prazo, a estabilidade
do emprego, o que resultaria na estabilidade da demanda e, consequentemente, evitaria novas crises.
Com mais de 20 milhões de desempregados, sendo 14 milhões nos EUA no pós-guerra, os países
centrais não tinham outra solução a não ser promover uma política de fortalecimento do Estado e das
bases sociais para garantir o funcionamento do próprio sistema.
Com as medidas do Welfare State, as populações da Europa e dos EUA passaram a desfrutar de
avanços sociais significativos. Obviamente, os custos empresariais se elevaram com o aumento dos
salários, as jornadas de trabalho reduzidas e os impostos mais altos.
Para as empresas, os países centrais viraram sinônimos de mercado consumidor e mão de obra
qualificada, pois agora contavam com escolarização, enquanto nos países periféricos, as políticas
públicas de bem-estar social não haviam sido implantadas.
Os países periféricos, dessa forma, tornaram-se interessantes como áreas de exploração da mão de
obra e dos recursos naturais. Mudava-se a concepção da função dos países centrais e periféricos na
chamada DIT (Divisão Internacional do Trabalho e da produção).
Diversos países periféricos, sobretudo da América Latina (Brasil, Argentina e México) e posteriormente
da Ásia (na época chamados de Tigres e Novos Tigres Asiáticos), industrializaram-se seguindo os
interesses das empresas transnacionais, que ansiavam por lucros mais expressivos.
Os governos dos países periféricos incumbiram-se de criar a infraestrutura necessária para a
implantação das indústrias estrangeiras, recorrendo a empréstimos internacionais.
Sabemos que o preço de um produto é fixado, primeiramente, pelo seu custo e valor agregado. Quanto
maior a tecnologia empregada, maior será o valor final. Dessa forma, o trabalho intelectual, o de criação
tecnológica, tem um valor muito maior do que o de ação mecânica, isto é, o da produção do gênero em
série. Assim, para equilibrar os valores gastos nas importações de tecnologia - produtos de alto valor
agregado e máquinas - os países periféricos são obrigados a produzir gêneros em quantidades cada vez
maiores.
Em última instância, o dinheiro é remetido, por meio do sistema financeiro internacional, para locais
mais seguros ou lucrativos, ou seja, nem sempre quem produziu ficará com o resultado para futuros
investimentos.
É por isso que vemos a situação do PIB (Produto Interno Bruto) dos países de forma tão discrepante
no mundo.
A política do Bem-Estar Social incentivou a qualificação profissional e o desenvolvimento de novas
tecnologias. O mercado de trabalho passou a valorizar indivíduos que têm a noção do todo e não apenas
de uma parte da produção.
Se as condições de vida melhoraram, pode-se dizer o mesmo para a economia dos países centrais. A
nova DIT contribuiu para a acumulação de riquezas, explorando os países periféricos, além de também
ter gerado uma massa de consumidores de elevado poder aquisitivo, principalmente nos países
desenvolvidos.
Contudo, fatores de ordem econômica e tecnológica implicaram uma nova dinâmica de produção e
consumo, nas décadas de 1970 e 1980. Vejamos alguns destaques:
→ As crises do petróleo (1973 e 1979) aumentaram muito os preços dos combustíveis fósseis,
símbolos da Segunda Revolução Industrial;
→ O insucesso norte-americano da Guerra do Vietnã. Apesar dessa derrota, a indústria bélica norte-
americana, em decorrência do conflito, passou por um forte desenvolvimento do Complexo Industrial-
Militar.
A geração de novas tecnologias, sobretudo no campo da informática e da robótica, pelos países
capitalistas, aumentou a eficiência da economia ocidental. Sem essa eficiência, o bloco socialista ficou
em defasagem na produção industrial e militar, o que contribuiu para a sua crise, o desmoronamento e o
fim da Guerra Fria.

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A Terceira Revolução Industrial e o Desemprego Estrutural

O fim do bloco socialista, a vitória do capitalismo e a chegada da Nova Ordem Mundial determinaram
o fim da disputa ideológica típica da Guerra Fria. E, sem a necessidade de mostrar o sistema capitalista
como o mais benéfico para os trabalhadores, as grandes empresas ficaram livres para reduzir os seus
custos, principalmente os de mão de obra.
A era da informatização ou Terceira Revolução Industrial trouxe agilidade, interligou o planeta por meio
dos sistemas de comunicação e transportes muito eficientes, incorporou máquinas e robôs na produção.
Postos de trabalho foram eliminados permanentemente, configurando o desemprego estrutural.
Nesse mesmo período, o neoliberalismo ganhou força, defendido, principalmente, pelos governos dos
EUA e da Inglaterra. Para estes, a economia se "autorregula" e, portanto, o Estado não precisa intervir
na economia.
Ora, o fim da "mão protetora do Estado" ficou muito evidente nos antigos países socialistas, quando o
socialismo real ruiu. Os neoliberais queriam mais. Mais abertura econômica e o fim dos benefícios sociais-
conquistados. Seria o fim do Welfare State?
E em países em que ele sequer foi implantado de forma significativa?
No plano da propaganda, o neoliberalismo prega que o bem-estar é uma conquista individual, adquirida
por meio da competência, em vez do paternalismo do Estado.
Dessa forma, o discurso se afasta do campo das "oportunidades" e se finca no aspecto da competência
individual. Assim, a responsabilidade sobre o sucesso ou o fracasso cabe, exclusivamente, ao indivíduo.
Com excesso de mão de obra no mercado, os processos seletivos são cada vez mais rigorosos,
enquanto os salários estão cada vez mais baixos.
O aprimoramento das técnicas e as novas relações de trabalho, avalizadas pelo Estado, trouxeram
uma acumulação de capital como nunca se tinha visto.
Se o poder econômico interfere no poder político, podemos concluir que os grandes conglomerados
ditam as normas mundiais.
O pensamento do historiador Immanuel Wallerstein resume a atual fase capitalista monopolista e de
concentração pessoal de renda: Acumula-se capital a fim de se acumular mais capital. Os capitalistas são
como camundongos numa roda, correndo sempre mais depressa a fim de correrem ainda mais depressa.

Terceira Revolução Industrial e Tecnopolos


Com a Terceira Revolução Industrial, ocorreu ainda a formação dos tecnopolos, a partir da
necessidade de acumulação capitalista em maior volume. São áreas onde a produção se faz com uso de
tecnologias de ponta e ocorre um controle sobre o trabalho mais eficaz, ora por omissão do Estado ora
por debilidade sindical.
Estes tecnopolos são produzidos em áreas onde podem se associar empregos especializados e
desenvolvimento por pesquisas. Os tecnopolos caracterizam-se por:
→ Uma produção no modelo just-in-time, que produz de acordo com a demanda ou os pedidos.
Associado a isso pode ocorrer o just-in-case, que é a produção mediante existência de estoque mínimo;
→ Uma forte ligação entre fábricas e centros de pesquisa e universidades;
→ Estabelecimento de uma nova relação entre os oligopólios e as pequenas e médias empresas, que
arcam com os riscos e custos de pesquisas tecnológicas para o desenvolvimento das grandes empresas,
gerando uma alta competitividade.
A Terceira Revolução Industrial – ou Revolução Técnico-científica – começou a tomar forma no final
da Segunda Guerra Mundial, mas os seus efeitos têm se manifestado em todo o mundo, de forma mais
intensa, há cerca de duas décadas. Esse processo de desenvolvimento da atividade industrial vem
repercutindo fortemente nos demais setores econômicos, nas relações sociais e nas relações sociedade-
natureza. Uma das suas características mais importantes é a interação entre a informática e as
telecomunicações – a telemática -, mas podemos citar também outros de seus aspectos característicos:
* o avanço nos sistemas de telecomunicações (satélites artificiais, cabos de fibra óptica);
* o desenvolvimento da informática, tanto nos equipamentos (hardware) quanto nos programas e
sistemas operacionais (software);
* o desenvolvimento da microeletrônica, da robótica, da engenharia genética;
* a utilização da energia nuclear.
A Revolução Técnico-científica, ao mesmo tempo em que gera riquezas e amplia as taxas de lucros,
responde também pelo desemprego de milhões de pessoas em todo o mundo, pois vem permitindo
produzir mais mercadorias e gerar mais serviços com menor número de trabalhadores. E isso é válido
para a indústria, a agropecuária, o extrativismo, o comércio e os serviços.

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A ciência, no estágio atual, está estreitamente ligada à atividade industrial e às outras atividades
econômicas: agropecuária, comércio, serviços. O desenvolvimento científico e tecnológico é um
componente fundamental para as empresas, pois é convertido em novos produtos e em redução de
custos, permitindo maior capacidade de competição num mercado cada vez mais disputado. As grandes
empresas multinacionais possuem seus próprios centros de pesquisa e tem sido crescente o investimento
na aquisição de novos conhecimentos científicos, em relação ao conjunto da atividade produtiva.
O Estado, por meio de universidades e de instituições de pesquisa, também estimula o
desenvolvimento tecnológico, preparando novos profissionais e capacitando-os para as funções de
pesquisa na área industrial ou agrícola, assim como no desenvolvimento de tecnologias, transferidas ou
adaptadas às novas mercadorias de consumo ou aos novos equipamentos de produção. Nesse sentido,
a pesquisa científica aplicada ao desenvolvimento de novos produtos tornou-se parte do planejamento
estratégico do Estado, visando ao desenvolvimento econômico.
Um exemplo desse apoio estatal ao desenvolvimento de novas tecnologias é o MITI (Ministério da
Indústria e Comércio Exterior), do Japão. Por intermédio do MITI – que recebe verbas das empresas e do
governo japonês -, desenvolvem-se pesquisas que serão aplicadas à criação e ao aperfeiçoamento de
produtos pela indústria. Outro exemplo é o MIT (Massachusetts Institute of Tecnology), situado no
nordeste dos Estados Unidos, considerado um dos principais centros de pesquisa do mundo, mantido
pelo governo norte-americano e por grandes empresas privadas.
Outro exemplo do desenvolvimento de novas tecnologias mediante parcerias entre empresas
industriais e universidades é o caso da Universidade de Stanford, em torno da qual surgiu o Vale do
Silício, onde se concentra o maior conjunto de indústrias de informática de todo o mundo. Nos países
capitalistas, sobretudo nos Estados Unidos, boa parte das conquistas tecnológicas foi adaptada e
estendida à criação de uma infinidade de bens de consumo, mesmo na época da Guerra Fria, quando o
investimento em tecnologia estava voltado para a corrida armamentista ou espacial.
Com a Revolução Técnico-científica, o tempo entre qualquer inovação e sua difusão, na forma de
mercadorias ou de serviços, é cada vez mais curto. Alguns produtos industriais classificados, em princípio,
como bens de consumo duráveis (especialmente aqueles ligados aos setores de ponta, como a
microeletrônica e informática), são cada vez menos duráveis e tornam-se obsoletos devido à rapidez com
quem são incorporadas novas tecnologias.

Tecnologia de Processo – Toyotismo


Foi no Japão que ocorreu a transformação do processo de produção de mercadorias na Terceira
Revolução Industrial. Por ser um país com um território pequeno, dependente da importação de matérias-
primas e com pouco espaço para estocar os seus produtos, nesse país a produção foi organizada de um
modo diferente do tradicional modelo fordista.
Essa nova organização da produção ficou conhecida pelo nome de just-in-time (literalmente, tempo
justo) e foi implementada pela primeira vez, em meados do século XX, na fábrica de motores da Toyota.
Depois, foi incorporada pelas principais indústrias do mundo.
No interior da fábrica, as diferentes etapas de produção, desde a entrada das matérias-primas até a
saída do produto, são realizadas de forma combinada entre fornecedores, produtores e compradores. A
matéria-prima que entra na fábrica corresponde exatamente à quantidade de mercadorias que serão
produzidas. Essas mercadorias são feitas dentro do prazo estipulado e de acordo com o pedido dos
compradores. Além da eficiência, o sistema just-in-time permite diminuir o custo de estocagem e o volume
da produção fica diretamente relacionado à capacidade do mercado de consumo, evitando-se perdas de
estoque ou diminuição do preço, caso ocorra uma defasagem tecnológica do produto.
O trabalho especializado e rotineiro da linha de montagem do sistema fordista foi substituído por um
sistema flexível, em que o trabalhador pode ser deslocado para realizar diferentes funções, de acordo
com as necessidades da produção em cada momento.
Nesse novo sistema, a modificação e a atualização nos modelos das mercadorias podem ser feitas a
partir de pequenas reestruturações da mesma fábrica, utilizando-se os mesmos equipamentos. Os
recursos da microeletrônica, da robótica e da informática, intensivamente utilizados nesse sistema,
viabilizam essas frequentes mudanças.
Essa flexibilidade industrial tornou-se importante num mundo em que a evolução tecnológica acarreta
constante criação e modificação de produtos, com consequente diminuição da vida útil das mercadorias.
É preciso ressaltar, no entanto, que a difusão do toyotismo trouxe uma ampliação nos fluxos de
mercadorias, inclusive, num ritmo mais acelerado, demandando novas exigências ao setor de transportes.

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A Sociedade da Informação
Os computadores invadiram a vida cotidiana. Apesar de não estarem presentes em todas as
residências do mundo, indiretamente atingem todas as pessoas. Eles coletam, armazenam e divulgam
informações de forma maciça e instantânea, ligando o mundo numa grande rede, e estão presentes em
diversos momentos do dia-a-dia. Por exemplo, o ato de usar o caixa eletrônico só é possível mediante
informações transmitidas a um computador central, que autoriza ou não a transação. No supermercado,
um terminal, no caixa, lê o código de barras do produto, informa o preço à máquina registradora, dá baixa
do produto no estoque e encaminha essa informação ao departamento de compras, para a reposição do
estoque.
Em muitas residências, o computador faz parte dos equipamentos básicos do dia-a-dia. Por
computador, usando a Internet, pode-se acessar informações em qualquer parte do mundo para realizar
pesquisas, pagar contas, transferir dinheiro de uma conta de banco para outra, ou comprar mercadorias
e serviços.
Tais atividades, já corriqueiras para uma pequena parcela da população mundial, dependem de um
complexo sistema de infra-estrutura que usa desde satélites artificiais de comunicação em órbita
permanente até fios telefônicos e cabos de fibra óptica que atravessam oceanos. Enfim, trata-se de um
novo modo de vida que combina mercadoria industrial com serviços. Aparelhos diversos – computadores,
telefones e televisores – têm que estar ligados a uma ampla rede de serviços para que possam ser
utilizados.
Foi essa Revolução Técnico-científica, caracterizada também pelo desenvolvimento dos meios de
transporte, que possibilitou a descentralização da produção industrial para os mais distantes recantos do
mundo.

Trabalho, sua Relação com o Meio Ambiente

O trabalho39 é um elemento transformador, não apenas do homem que trabalha, mas também da
natureza, fonte já não tão inesgotável de recursos, além de modificador também das relações que se
estabelecem na sociedade.
A ampliação do processo do trabalho ensejou que o trabalhador passasse a ter garantido, por meio de
leis e regulamentos, certos direitos frente ao tomador de seus serviços. Todavia, ainda que tenha havido
progressos nesse âmbito, visto que constantemente novos direitos vão sendo incluídos no rol dos já
existentes, nada ou quase nada foi feito para se garantir que os trabalhadores fossem capazes de tomar
ciência dos efeitos de seu trabalho sobre o meio ambiente, assim como pouco tem sido feito no sentido
de se procurar novas alternativas menos agressivas, no sentido de incluir o trabalhador na busca de
desenvolver atividades cada vez menos nocivas à integridade dos recursos naturais.
Primeiramente, porque a eles, na maioria das vezes, não cabe maior poder de decisão sobre a
administração da organização; segundo, porque a busca por novas alternativas demanda, inicialmente,
um dispêndio de valores que nem sempre as corporações estão dispostas a bancar.
Todos os avanços referentes ao trabalho do ser humano demandam uma nova adaptação frente à
degradação ambiental: é preciso uma educação ambiental para que ainda haja tempo de preservar o que
resta da natureza.
Desde a pré-história, o homem subsistia com aquilo que conseguia colher manualmente na natureza,
consumindo, principalmente, frutas, legumes, raízes, além da carne obtida por meio da caça e da pesca.
Sua atividade consistia, basicamente, em procurar e colher tais recursos da natureza, pouco
interferindo no meio ambiente.
Tal atuação não implicava em maior dano aos recursos naturais, visto que eram atividades
desempenhadas estritamente para manutenção do indivíduo, o qual se apossava de recursos renováveis
da natureza, produzidos de forma periódica e em decorrência de seu ciclo normal de reprodução.
Tal fato, no entanto, foi incapaz de garantir recursos suficientes para satisfazer as necessidades
alimentares de uma população que crescia constantemente, forçando, ao final, a busca por novos
recursos.
Aos poucos, o homem passa a desenvolver novas habilidades, tornando-se, então, um produtor de
alimentos e, de certa maneira, interferindo e modificando o meio em que vive. Disso, prosperam novas
alternativas, fazendo com que o processo produtivo acelere, assim como se constituam novas formas de
organização do indivíduo em sociedade.
Os modelos econômicos adotados, feudalista, capitalista, etc., exerceram grande influência nesse
processo, em razão de terem favorecido o aprimoramento do setor produtivo e da organização social.

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https://repositorio.ucs.br/xmlui/bitstream/handle/11338/1010/Dissertacao%20Fabio%20Rodrigues.pdf?sequence=1&isAllowed=y

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No entanto, embora esse avanço, num primeiro instante, possa representar melhores condições de
vida para os seres humanos, também tem acarretado graves danos ao meio ambiente, face o aumento
da extração de recursos não renováveis, passível de levar ao seu consequente esgotamento.
Nesse enfoque, destaca-se o modelo capitalista de produção, que, mesmo significando um novo
estímulo à produção de bens e ao progresso econômico, tende a aprofundar ainda mais o fosso formado
entre o desequilíbrio ambiental e a geração e acumulação de riquezas, gerando riscos ao meio ambiente
e desigualdades sócio econômicas.
Esse modelo econômico tem proporcionado, de um lado, uma melhoria da produtividade,
desencadeada, predominantemente, pelos resultados alcançados em pesquisas tecnológicas e
científicas, pela competitividade, pela possibilidade de acumulação de bens materiais e, em alguns casos,
a criação de tipos novos de ocupação; enquanto, por outro lado, tem sido fonte, dentre outras coisas, da
precarização da qualidade de vida de uma parcela significativa da população, gerando mais desemprego,
menos oportunidade de acesso aos benefícios alcançados com o progresso, mais desequilíbrio na
distribuição das riquezas, além de um crescimento exagerado da exploração dos recursos naturais.
Cientes de que o planeta apresenta uma limitação na sua capacidade de gerar recursos, de fornecer
matéria-prima e que a capacidade de reprodução dos seres humanos continua crescendo, acarretando
um aumento da demanda por novos recursos, torna-se imperiosa a busca por alternativas capazes de
conciliar a satisfação dessas necessidades com progresso econômico e preservação ambiental, a fim de
que seja possível ter uma qualidade digna de vida.

Exploração do Trabalho e da Natureza40


Sendo o toyotismo um sistema de organização voltado para a produção de mercadorias,
paralelamente ao mesmo, se difundiram novas relações de trabalho, caracterizadas pelos salários baixos
e direitos trabalhistas restritos ou inexistentes.
A maioria desses empregos foram criados em países em desenvolvimento, onde ainda em grande
parte se mantinham o método de produção fordista41, baseado na super exploração dos trabalhadores.
No entanto, em muitos deles, como a China, a Índia e o Brasil, também há indústrias modernas e a
introdução do toyotismo.
Também em diversos países desenvolvidos a flexibilização da legislação trabalhista, com a redução
dos salários e dos benefícios sociais e previdenciários, tem levado ao enfraquecimento do movimento
sindical.
Vários fatores contribuem para tal situação: a competição das novas tecnologias e dos novos
processos produtivos, a desconcentração da produção industrial e a concorrência dos trabalhadores mal
remunerados, numerosos nos países em desenvolvimento.
Entretanto, para milhões de trabalhadores da periferia do sistema capitalista, que estavam fora do
processo de produção, as condições de vida melhoraram.
A vida na cidade, em geral, é melhor do que na zona rural. Isso é particularmente verdadeiro na China,
cuja economia atraiu grande volume de investimentos estrangeiros por causa dos baixos custos de sua
mão de obra.
Segundo o Banco Mundial, o número de chineses que viviam na pobreza extrema caiu de 756 milhões
(67% da população total), em 1990, para 19 milhões (1,4% da população), em 2014.
Em menor escala, isso também ocorreu no Brasil, no México, na Índia e em outros países emergentes.
Além de permitir a exploração do trabalhador, durante muito tempo, a legislação ambiental dos países
em desenvolvimento era, em sua maior parte, frágil. Esse fato permitia produzir a custos menores e
contribuía para atrair indústrias poluidoras.
Embora isso ainda aconteça na atualidade, a crescente preocupação mundial com o desenvolvimento
sustentável tem pressionado os dirigentes das fábricas a desenvolver métodos de produção que causem
menos impactos ambientais.
Vem se firmando a ideia de que o desenvolvimento sustentável pode contribuir para aumentar a
produtividade das empresas e, consequentemente, a competividade e os lucros, além de reforçar a
imagem positiva resultante da certificação com um “selo verde”.

40
SENE, Eustáquio de. Geografia Geral e do Brasil. Volume único. Eustáquio de Sene, João Carlos Moreira. 6ª edição. São Paulo: Ática, 2018.
41
O Fordismo é um modo de produção em massa baseado na linha de produção idealizada por Henry Ford. Foi fundamental para a racionalização do processo
produtivo e na fabricação de baixo custo e na acumulação de capital.

78
1634532 E-book gerado especialmente para GRAZIELA CRISTINA LEOTE
ENERGIA MUNDIAL

A Infraestrutura Energética no Mundo42

Um Mundo Carente de Energia


As transformações verificadas no decorrer da Revolução Técnico-científica, ou Terceira Revolução
Industrial, foram acompanhadas por uma demanda acelerada de energia. Além disso, o crescimento
econômico e a urbanização crescente na Ásia e na América Latina ampliaram a necessidade de fontes
energéticas. O crescimento do número de automóveis em circulação, um aspecto marcante das
sociedades que se industrializam, também passou a exigir maior volume de combustíveis fósseis
(originados de restos de seres vivos que habitaram a Terra há milhões de anos. Exemplos: petróleo,
carvão mineral, gás natural, xisto pirobetuminoso), (petróleo e gás natural), apesar de os veículos
produzidos atualmente, consumirem, em média, 50% menos combustível do que os modelos de 30 anos
atrás.
Dessa forma, a ampliação dos recursos energéticos é um dos principais problemas das sociedades
contemporâneas. Mas essa ampliação deve considerar a degradação do ambiente, utilizando fontes
menos poluidoras e renováveis. Trata-se de uma tarefa difícil, considerando que a principal fonte
energética para os transportes no mundo inteiro ainda é petróleo.
Os combustíveis fósseis representam praticamente 85% da matriz energética mundial; ou seja,
considerando-se todas as fontes utilizadas no mundo e todas as modalidades de energia – elétrica,
mecânica, térmica -, o petróleo, o carvão mineral e o gás natural são responsáveis por 85% da energia
gerada.

Energia, Desenvolvimento Econômico e Condições Sociais


O desenvolvimento econômico e social está intimamente ligado ao desenvolvimento das fontes de
energia. Pode-se dizer que há uma interdependência: o progresso econômico e social resulta da ativação
de fontes de energia, que, por sua vez, ocorre em consequência das demandas da economia e da
sociedade.
Assim, os países mais desenvolvidos são grandes consumidores de energia e precisam importar
recursos energéticos para suprir suas necessidades. Em geral, esse alto consumo exige também a
utilização de diversas fontes.

As Fontes de Energia e Suas Origens


As fontes de energia podem ser divididas em renováveis e não-renováveis, primárias e secundárias.
A primeira se relaciona à capacidade da fonte em se recompor ou não. O petróleo, gerado através de
decomposição do material orgânico, ao longo de milhares de anos, é uma fonte não-renovável. A
velocidade com que o combustível é produzido pela natureza não permite recompor as quantidades dele
retiradas pela sociedade contemporânea. O álcool, pelo contrário, é um combustível renovável, pois
provém do processamento de matéria orgânica viva, a cana-de-açúcar. O ritmo de crescimento da cana
acompanha o consumo do combustível.
A segunda divisão se refere à utilização das fontes. Ela é primária quando a energia fornecida é usada
diretamente para um trabalho ou geração de calor. O uso da lenha para cozinhar alimentos é um exemplo
de energia primária. Mas se se usa lenha ou carvão para alimentar uma caldeira, que por sua vez gera
energia elétrica, esta última é uma energia secundária.
Há ainda uma terceira divisão: a energia pode ser convencional ou alternativa. São consideradas como
convencionais aquelas usadas em grande quantidade e de forma difundida na sociedade contemporânea.
Por exemplo: o petróleo. São energias alternativas aquelas utilizadas em menor quantidade, e que se
encontram ainda em fase de pesquisas. Por exemplo: a energia solar. (Revista Ecologia e Desenvolvimento, ano 2, nº 31,
setembro de 1993, p.10).

As fontes de energia primária mais utilizadas no mundo atual são, respectivamente, o petróleo, o
carvão mineral, o gás natural, o urânio e a hidráulica (da água). Sendo recursos naturais, as fontes de
energia podem ser classificadas em renováveis, como o sol, a água dos rios, o vento, etc.; e não-
renováveis, como o petróleo, o carvão mineral e o urânio.
As fontes não-renováveis podem se esgotar, ao contrário das fontes renováveis.

42
TAMDJIAM, James Onnig. Geografia Geral e do Brasil: estudos para compreensão do espaço: ensino médio/volume único. James & Mendes. São Paulo: FTD,
2013.

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1634532 E-book gerado especialmente para GRAZIELA CRISTINA LEOTE
Energia Hidrelétrica
A utilização da água como fonte de energia é muito antiga e remonta aos tempos dos moinhos movidos
pelas rodas d’água. Atualmente, o movimento natural das águas é utilizado principalmente para a
produção de energia elétrica, a qual é obtida em usinas hidrelétricas. Essas usinas utilizam basicamente
o mesmo princípio empregado nas antigas rodas d’água.

A Energia das Águas


Barragens para o represamento de água e seu uso na movimentação de rodas que acionam moinhos
datam da Idade Média. Pelo que se sabe através de documentos do geógrafo Estrabão (século I a.C.),
moinhos movidos pela força d’água já existiam, pelo menos, nos anos 60 a. C. Porém, a primeira notícia
de barragem com a finalidade de regularizar as vazões para uma série de moinhos industriais refere-se
a instalações construídas no século XII, no rio Garone, sul da França.
As rodas d’água ainda hoje existem nos engenhos de pequenos sítios por todo o nosso país e
desempenharam importante papel, nos séculos passados, em relação a todos os processos de produção
de farinha e açúcar. Ao girar, pela força d’água, movimentam mós de pedra – conjunto de martelos-pilões
-, para socar o milho ou a mandioca, ou ainda pesados cilindros de ferro para esmagar a cana, extraindo
o precioso caldo açucarado com o qual são fabricados o melado, a rapadura, o açúcar, a aguardente e o
álcool. (BRANCO, Samuel Murgel. Energia e Meio Ambiente. São Paulo, Moderna, 1990, p.37).

A energia hidrelétrica é o resultado de uma série contínua de transformações de energia. A energia


inicial é a força da água em movimento encontrada na própria natureza e conhecida como energia
potencial. Por essa razão, a usina deve ser construída em rios que tenham um determinado volume de
água e apresentem desníveis em seu curso.
A barragem construída para a formação de represa garante maior acúmulo de agua e aumenta o
desnível do rio. Dessa forma, a água entra pelas tubulações da usina com maior velocidade e força, o
que acarretará a movimentação das turbinas. Essa movimentação das turbinas pela água constitui a
primeira etapa de transformação de energia – a energia potencial da água é transformada em energia
mecânica (movimento das turbinas).
As turbinas, por sua vez, estão ligadas a um gerador, que transforma a energia mecânica em energia
elétrica, caracterizando a segunda etapa do processo.
As usinas hidrelétricas suprem 18% das necessidades de energia elétrica do mundo, mas apenas em
pouco mais de vinte países as hidrelétricas são responsáveis pela quase totalidade de eletricidade gerada
(mais de 90%), como é o caso do Brasil.
Os países que possuem grande potencial hidráulico são: Estados Unidos, Canadá, Brasil, Rússia e
China. Os Estados Unidos constituem o país que mais aproveita esse potencial, sendo responsável pela
produção de praticamente 1/5 do total da hidroeletricidade produzida no mundo. Mesmo assim, as usinas
hidrelétricas norte-americanas suprem apenas 5% das necessidades energéticas do país. A China
construiu a maior hidrelétrica do mundo – Três Gargantas, no rio Yang-tsé-kiang, que gerou, em 2009, 18
milhões de kwh, suprindo cerca de 10% das necessidades energéticas dos chineses. A usina de Itaipu,
no Brasil, gera 12,6 milhões de kwh e é, a segunda maior hidrelétrica do mundo.
O fato de ser renovável e de não poluir a atmosfera, ao contrário do que ocorre com os combustíveis
fósseis (carvão mineral, petróleo e mesmo gás natural), são duas grandes vantagens a utilização de
energia hidrelétrica. Além disso, o tempo de vida das usinas é bastante longo e o custo de manutenção
é relativamente baixo.
Porém, a construção de usinas hidrelétricas costuma causar grande impacto socioambiental. Com o
represamento do rio, as barragens formam um grande lago.
A inundação destrói extensas áreas de vegetação natural, comprometendo a vida animal naquele
habitat modificado pela ação humana. Até mesmo pequenas barragens provocam danos ambientais,
como a destruição das matas ciliares, o desmoronamento das margens e o assoreamento do leito dos
rios. Outra consequência da modificação do ciclo natural da água é o comprometimento da vida aquática
e da reprodução dos peixes.
Uma hidrelétrica também pode afetar a vida das pessoas que moram na região em que a usina for
construída. O represamento da água, que acarreta a formação de imensos lagos artificiais, pode
desabrigar populações ribeirinhas, povos indígenas, pequenos agricultores e inundar completamente
vilas, povoados e até pequenas cidades.

As Fontes Alternativas
A enorme participação das fontes não-renováveis na oferta mundial de energia coloca o mundo diante
de um desafio: a busca por fontes alternativas de energia. E isso é urgente, pois o mundo pode,

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1634532 E-book gerado especialmente para GRAZIELA CRISTINA LEOTE
literalmente, entrar em colapso se forem mantidos os atuais modelos de desenvolvimento
socioeconômico, com base no consumo de petróleo.
As resoluções estabelecidas pela maioria dos países as conferências sobre o clima do planeta, como
o Protocolo de Kyoto (segundo esse protocolo, que os Estados Unidos se negaram a ratificar, alegando
que isso traria prejuízos para a sua economia, os países industrializados, entre 2008 e 2012, deveriam
reduzir em 5,2% as emissões de gases-estufa, principalmente o dióxido de carbono, em relação ao que
lançavam na atmosfera em 1990), que envolvem questões ligadas ao aumento das temperaturas médias
do ar na Terra, exigem uma nova postura por parte dos governos em relação à produção de energia. Isso
só pode ser conseguido com investimentos em tecnologias para a geração de energia limpa.
É preciso considerar também o fato de que um terço da população mundial não tem acesso à energia
elétrica e que o fornecimento de eletricidade é uma condição básica para a melhoria da qualidade de vida
das pessoas, sobretudo no contexto da Terceira Revolução Industrial, em que a informática dinamizou o
acesso à informação, via Internet, e traz novas exigências para a inserção no mercado de trabalho.
Há diversas fontes alternativas disponíveis, exigindo desenvolvimento tecnológico para que possam
ser rentáveis e, consequentemente, utilizadas em maior escala. Entre elas, destacam-se o sol, o álcool,
o vento, o calor da Terra, o carvão vegetal e o biogás.

O Sol
O aproveitamento da energia solar oferece grandes vantagens: não polui, é renovável e existe em
abundância. Entretanto, pelo fato de a sua utilização em larga escala (grandes usinas) para a geração de
energia elétrica estar em fase relativamente inicial de desenvolvimento tecnológico, a energia solar ainda
não é viável economicamente, ou seja, os custos financeiros para sua obtenção superam os benefícios.
A geração de energia elétrica tendo o sol como fonte pode ser obtida de forma direta ou indireta.
A forma direta de obtenção acontece por meio de células fotovoltaicas (trata-se de dispositivos que
desempenham força eletromotriz pela ação da luz. As células fotovoltaicas só produzem corrente elétrica
quando estão iluminadas), geralmente feitas de silício, um dos elementos mais abundantes na crosta
terrestre. A luz solar, ao atingir as células, é diretamente convertida em eletricidade. Apesar de o preço
dessas células estar caindo nos últimos anos, elas ainda são caras.
Para obter energia elétrica a partir do sol de forma indireta, constroem-se usinas em áreas de grande
insolação (áreas desérticas, por exemplo), onde são instaladas centenas de espelhos côncavos (coletores
solares) direcionados para um determinado local, que pode ser uma tubulação de aço inoxidável, como
ocorre no deserto de Mojave, na Califórnia (EUA), ou um compartimento contendo simplesmente ar, como
ocorre em Israel.
No caso das usinas da Califórnia, pela tubulação de aço inoxidável circula um tipo de óleo, que é
aquecido pelo calor do sol concentrado. O óleo aquece a água que circula em outra tubulação. A água
vira vapor, que irá mover as turbinas e acionar os geradores elétricos.
Na usina de Israel, o calor aquece o ar existente no compartimento até 1300ºC, quando este aciona
uma turbina e gera eletricidade.

O Álcool
O álcool é produzido principalmente a partir da cana-de-açúcar, do eucalipto e da beterraba. Como
fonte de energia, pode ser utilizado para fazer funcionar motores de veículos (álcool etílico, da cana-de-
açúcar, e da beterraba; e metanol, do eucalipto) ou para produzir energia elétrica.
Como combustível para automóveis, o álcool tem a vantagem de ser uma fonte renovável e menos
poluidora que a gasolina, além de ter possibilitado, no caso brasileiro, o desenvolvimento de uma
tecnologia nacional de produção de motores. Mas o álcool nunca suprirá a necessidade total de
combustível dos veículos automotores. Para se ter ideia, os EUA possuem uma frota de quase 200
milhões de veículos; se quisessem utilizar apenas o álcool para abastece-los, necessitariam de uma área
de plantio de cana-de-açúcar de 1 000 000 km², aproximadamente, o que representaria mais de 10% de
todo o território norte americano.

Energia Eólica
Como o sol e a água, o vento também é um recurso energético abundante na natureza. Quando intenso
e regular, pode ser utilizado para produzir energia a preços relativamente competitivos. Este custo poderá
cair ainda mais quando a energia dos ventos estiver mais difundida.
A tecnologia atualmente empregada na construção dos cata-ventos que geram eletricidade é bastante
sofisticada e consegue explorar a força de ventos que sopram a mais de 10 metros por segundo. As
imensas pás dos rotores, com até 100 metros de comprimento, são agora construídas em fibra de vidro

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1634532 E-book gerado especialmente para GRAZIELA CRISTINA LEOTE
(as primeiras, de aço, deterioravam rapidamente), giram a frequências que não interferem nas
transmissões de rádio e TV e são controladas por computadores.
Alguns países europeus já projetam rotores com potência e até 4 mil quilowatts, enquanto a NASA,
nos EUA, pensa em atingir a potência de muitos megawatts, em colaboração com o Departamento de
Energia.

O Calor da Terra
Outra fonte alternativa de energia é representada pelas centrais geotérmicas, que transformam o calor
do interior da Terra em fonte de energia.
A principal vantagem da energia geotérmica é a escala de exploração, que pode ser adequada ás
necessidades, permitindo o seu desenvolvimento em etapas, à medida que aumenta a demanda.
Uma vez concluída a instalação, os seus custos de operação são baixos.
Já existem algumas dessas centrais encravadas em zonas de vulcanismo, onde a água quente e o
vapor afloram à superfície ou se encontram a pequena profundidade.
Costa Rica, Guatemala e, principalmente, a Islândia, já utilizam esse tipo de energia.
Atualmente a exploração da energia geotérmica estende-se a outras regiões, além das vulcânicas,
cuja superfície apresenta claros indícios de vapores subterrâneos.

O Biogás
O biogás, constituído principalmente pelo gás metano, é obtido a partir de reações anaeróbicas (sem
oxigênio) da matéria orgânica existente no lixo, que é recolhido nas cidades e depositado nos aterros
sanitários energéticos. Ele tem sido utilizado para gerar gás combustível de uso doméstico ou combustível
de veículos, solucionando ainda um sério problema, especialmente para as metrópoles: a destinação do
lixo.
O biogás também pode ser obtido por meio de aparelhos chamados biodigestores, nos quais se
processa a fermentação de esterco, folhas de árvores e outros compostos orgânicos, constituindo-se uma
excelente alternativa para as áreas rurais.

A Sociedade de Consumo e o Consumismo

O modelo de acumulação capitalista calcado na obtenção de lucros se reproduz, em grande parte, no


aumento crescente dos níveis de produção e de consumo de bens e serviços. Mas essa expansão da
sociedade de consumo em escala também crescente pode ser apontada como uma das causas
estruturais da degradação ambiental contemporânea promovida pelo capitalismo.
A cultura do consumo, que se coloca como condição básica para a manutenção do mercado, depende
do aumento da produção, o que, por sua vez, aumenta a pressão sobre os recursos naturais, acarretando
os mais avariados impactos e problemas ambientais. Embora o consumo seja condição vital para que as
pessoas satisfaçam suas necessidades básicas de sobrevivência (alimentos, roupas, medicamentos,
moradias, escolas, hospitais, etc.), o modelo econômico e a lógica do mercado têm estimulado as pessoas
a consumir exageradamente, o que nos permite dizer, portanto, que estamos vivendo em um mundo cada
vez mais consumista.
Associado a um conjunto de práticas sociais, culturais e econômicas, esse comportamento consumista
está inserido na lógica mercantil, sendo motivado por causas múltiplas. Na disputa pelo domínio de fatias
cada vez maiores do mercado, os segmentos produtivos utilizam inúmeros mecanismos e estratégias de
venda. Por meio do marketing, por exemplo, anúncios publicitários veiculados na mídia (rádio, televisão,
jornais, revistas, outdoors, etc.) procuram estimular o consumo, despertando nas pessoas o desejo de
adquirir mais e mais produtos).
A rapidez com que as inovações tecnológicas ocorrem também contribui para o aumento do consumo.
Com as empresas lançando produtos cada vez mais sofisticados e avançados do ponto de vista
tecnológico, as pessoas tendem a substituir produtos ainda novos pelos que acabam de chegar às lojas
do comércio. Estrategicamente planejado pelas empresas, o lançamento de novos produtos que inundam
as lojas do comércio aumenta em muito suas vendas gerando, portanto, novos hábitos consumistas.
Mas, para garantir essa expansão do consumo e estimular as pessoas a comprar cada vez mais, o
mercado também se encarregou de criar inúmeras estratégias de venda. Os estabelecimentos
comerciais, sobretudo as grandes redes, apostam na realização de promoções e liquidações e oferecem
formas de pagamento “facilitadas” como crediários, prestações, parcelamento em cartões de crédito, etc.
as instituições financeiras, por outro lado, oferecem linhas de crédito, como financiamento e empréstimos
que permitem a aquisição de produtos sem que o consumidor tenha de fazer o pagamento imediato da
compra. Embora essas opções facilitem o acesso ao consumo, elas induzem ao consumismo,

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aumentando também o endividamento individual, uma vez quem muitos consumidores acabam tendo
dificuldades de efetuar o pagamento dos compromissos assumidos no ato da compra.

Desigualdade e Consumo no Mundo


Ainda que o nível de consumo da sociedade contemporânea continue se expandindo, ele ocorre de
maneira bastante desigual entre os países do mundo. Como o consumo de uma população é determinado
em grande parte pelo nível de sua renda, pode-se concluir que existem grandes diferenças de consumo
entre os países ricos e desenvolvidos e os países subdesenvolvidos. Nos países ricos, a renda per capita
anual da população está, em média, em 40 mil dólares, como ocorre nos Estados Unidos, Canadá,
Alemanha, França, Bélgica, Japão e Austrália. Já em países mais pobres, essa mesma renda não chega
a 800 dólares ao ano, caso do Haiti, Bangladesh, Afeganistão, Serra Leoa, Níger e Ruanda.

Recursos Naturais: Escassez e Abundância x Riqueza e Pobreza


Faz-se hoje uma grande comparação entre o crescimento econômico de um país e suas implicações
sobre a oferta de recursos naturais. Não é difícil notar que um país desenvolvido consome muito mais
produtos, inclusive descartáveis, aumentando a pressão sobre os recursos naturais. Vejamos um exemplo
simplificado de um estudo publicado nos Estados Unidos.

Os países desenvolvidos, tendo um maior poder aquisitivo, são os responsáveis pelo maior consumo
no planeta, muitas vezes de maneira impulsiva e desnecessária.
Esse estilo de vida baseado no “consumo como forma de obter felicidade” foi mais uma estratégia
capitalista de ampliação de negócios que, nos Estados Unidos, recebeu o nome de American Way of Life.
Basta mensurar tal comportamento pelo lixo produzido:
. Produção de lixo mundial por dia: 2 milhões de toneladas;
. Média mundial/dia por habitante de áreas urbanas: 700 g;
. Média de produção de lixo por habitante/dia na cidade de Nova York (EUA): 3 KG.

Os países industrializados apresentam menos de 25% da população mundial, mas consomem 75% da
energia global, 80% dos combustíveis comercializados e cerca de 85% dos produtos madeireiros.
Em contrapartida, nos países subdesenvolvidos, a renda média equivale a apenas 5% da obtida em
países industrializados, indicando que o consumo nesses países se restringe ao necessário ou a menos
que isso. Mesmo assim, a pobreza também exerce pressão negativa sobre o meio ambiente, uma vez
que, em muitos casos, o comportamento de quem vive na miséria e na pobreza é predatório. Poderíamos
citar como exemplos de comportamentos predatórios contra o meio ambiente:
. a coivara – queimada -, técnica primitiva de agricultura;
. o garimpo ilegal e a contaminação de rios com mercúrio;
. a ocupação irregular das margens de mananciais pelas favelas em expansão, nos países pobres.
Mananciais são fontes de água doce, superficiais ou subterrâneas, que podem ser utilizadas para
consumo humano ou desenvolvimento de atividades econômicas. (Fonte: Ministério do Meio Ambiente).

O Despertar da Consciência Ecológica


A preocupação com o agravamento dos problemas ambientais levou, a partir das décadas de 1960 e
1970, ao surgimento de movimentos ambientalistas organizados pela sociedade civil como forma de
protestar, alarmar e cobrar mudanças para reverter o preocupante cenário de degradação da natureza
promovido pela sociedade.
A emergência dos movimentos ambientalistas eclodiu juntamente com um conjunto de outras
manifestações de caráter social, das quais fazem parte o movimento das mulheres, dos negros e dos
pacifistas, por meio de determinados segmentos sociais engajados na luta por melhores condições de
existência e de vida no planeta. Uma característica singular dos movimentos ambientalistas ecológicos,
em comparação com outros movimentos sociais, reside no fato de que, na prática, nenhum outro
movimento passou a questionar, de maneira tão ampla, temas tão distintos quanto aqueles que
perpassam pela questão ambiental.

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Os movimentos ambientalistas começaram a se fortalecer primeiro na Europa e nos Estados Unidos a
partir de alguns grandes desastres ambientais ocorridos antes d década de 1970, tais como: a
contaminação do ar nas cidades de Nova York e Londres, entre 1952 e 1960; a intoxicação por mercúrio
nas baías de Minamata e Niigata, entre 1953 e 1965, no Japão; o acidente com o navio superpetroleiro
Torrey Canyon, ocorrido no canal da Mancha, entre a Inglaterra e a França, em 1967; a redução da vida
aquática em alguns dos Grandes Lagos, nos Estados Unidos; a morte de aves causada pelos efeitos de
pesticidas, como o DDT. Nos países subdesenvolvidos, como o Brasil, esses movimentos chegaram um
pouco mais tarde, já no final da década de 1970 e início dos anos 1980.
Paralelamente a acontecimentos como esses que despertaram a opinião pública, a questão ambiental
também se tornou alvo de maior preocupação da comunidade científica, sobretudo com os avanços da
ecologia e ciências correlatas, como a biologia, por exemplo. Uma nova literatura começou, então, a
questionar os imites da degradação ambiental no planeta, que, no plano político internacional, também
se tornaram alvo de maior preocupação.
Em 1968, especialistas de diversos países se reuniram em Roma, Itália, a fim de formularem projeções
sobre o futuro do planeta, alertando para os riscos ambientais promovidos pelo modelo econômico
vigente, baseado na exploração dos recursos naturais. Esse acontecimento assinalou a fundação do
Clube de Roma que, em 1972, publicou o estudo intitulado Os limites do crescimento. Ao apontar os
limites da exploração do planeta, algo até então inquestionável, esse estudo estimulou a consciência da
sociedade e da tomada de atitude de governos de diferentes países a respeito da problemática ambiental.
Foi nesse contexto que a temática ambiental adquiriu projeção e ganhou espaço nas grandes
discussões internacionais. Ainda em 1972, a ONU realizou em Estocolmo, Suécia, a I Conferência das
Nações Unidas sobre o Homem e o Meio Ambiente. Contando com representantes de mais de 100 países
e outras centenas de instituições governamentais e não governamentais, foram discutidas questões como
o controle da poluição do ar, a proteção dos recursos marinhos, a preservação e o uso dos recursos
naturais, entre outras.
Na década de 1980, a ONU deu continuidade ao debate da questão ambiental com a Comissão
Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, criada para estudar a problemática ambiental. Em
1987, esses estudos foram concluídos com a elaboração do documento Our Common Future (Nosso
futuro comum), conhecido como Relatório Brundtland. Como forma de conciliar o crescimento
econômico com a preservação do meio ambiente, o documento trouxe à tona a necessidade de se
promover um novo modelo de crescimento, o chamado “desenvolvimento sustentável”, como sendo
aquele que atende as necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras
atenderem as suas necessidades.
Em 1992, vinte anos após o encontro em Estocolmo, a cidade do Rio de Janeiro sediou a Conferência
das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, mais conhecida como Eco-92 ou Rio-92.
Além de reafirmar a importância do desenvolvimento sustentável, como meta para conciliar o crescimento
econômico, com justiça social e conservação ambiental, o encontro contribuiu para ampliar a
conscientização sobre os problemas ambientais, fortalecendo ainda maios os movimentos ambientalistas
e ecológicos.
Em 1997, na cidade japonesa de Kyoto, foi formalizado um protocolo que instituiu metas para a redução
progressiva na emissão de gases poluentes, sobretudo daqueles que agravam o efeito estufa, como o
dióxido de carbono (CO²). De acordo com esse documento, os países mais ricos e industrializados
deveriam se comprometer a reduzir a emissão desses gases. Embora aceito pela grande maioria dos
países, o protocolo foi recusado pelos Estados Unidos (que respondem por cerca de 25% da emissão
total de CO² na atmosfera) enquanto outros países se opõem a ratificar o tratado que prevê cortes ainda
maiores nas emissões desses gases.
Em 2002, foi realizada em Johanesburgo, na África do Sul, a Conferência da Cúpula Mundial para o
Desenvolvimento Sustentável, a Rio +10, com o objetivo de fazer um balanço das ações realizadas e dos
resultados obtidos com base nos acordos firmados entre os países que participaram da Rio-92. Além das
questões relacionadas à conservação ambienta, também foram discutidas temáticas em âmbito social,
como a meta de redução do número de pessoas que vivem abaixo da linha da pobreza. Nesse encontro,
entretanto, houve pouco comprometimento das nações envolvidas em assumir realmente ações que
tivessem como resultado a melhoria socioambiental, como o cancelamento da dívida externa de países
subdesenvolvidos, a substituição de parte da energia provinda de combustível fóssil por fontes
energéticas renováveis (como a eólica, a solar, etc.).
Em junho de 2012, objetivando um encontro entre representantes do governo, ONGs, empresas
provadas e setores da sociedade civil em geral de grande parte dos países do mundo, foi realizada, no
Rio de Janeiro, a Conferência das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20. Nesse
encontro, fez-se um balanço do que foi efetivamente realizado nos últimos vinte anos sobre as questões

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ambientais, em especial, as estratégias mais eficientes para se promover a sustentabilidade ambiental e
também para se combater e eliminar a pobreza extrema no mundo.

Questões

01. (Transpetro – Economista – CESGRANRIO/2018) A matriz energética de um país, de uma


região, ou mesmo do mundo, mostra a importância relativa das diversas fontes de energia.
O exame das matrizes, brasileira e mundial, sugere que, quantitativamente, a (s)
(A) mais importante fonte de energia no mundo atual é a hidroelétrica.
(B) energia nuclear no mundo é menos importante do que no Brasil.
(C) energia do petróleo é a mais importante fonte no Brasil.
(D) energia do carvão é mais importante no Brasil do que no mundo.
(E) fontes fósseis de energia (petróleo, gás natural e carvão) são mais importantes no Brasil do que no
mundo.

02. (Prefeitura de Venda Nova do Imigrante – ES – Assistente Social – CONSULPLAN) Petróleo,


gás natural e carvão mineral suprem mais de 80% da demanda mundial de energia, mas o
desenvolvimento de novas tecnologias tem ampliado as alternativas de geração energética a partir de
fontes renováveis e menos poluentes. Com base nessas informações, associe corretamente o tipo de
energia à sua fonte geradora.
1. Energia eólica.
2. Energia geotérmica.
3. Energia solar.
4. Energia maremotriz.
( ) Obtida do calor proveniente do interior da Terra.
( ) Do vento.
( ) Do movimento (ondas, marés e correntes).
( ) Do sol.
A sequência está correta em
(A) 2, 3, 4, 1
(B) 2, 1, 4, 3
(C) 2, 1, 3, 4
(D) 2, 4, 1, 3

Gabarito

01.C / 02.B

AGRICULTURA MUNDIAL43

Políticas Agrícolas no Mundo Desenvolvido

A agricultura é uma das atividades básicas da humanidade e provavelmente foi responsável pela
primeira grande transformação no espaço geográfico. Surgiu há cerca de 12 mil anos, no período
Neolítico, quando as comunidades primitivas passaram de um modo de vida nômade, baseado na caça
e na coleta de alimentos, para um modo de vida sedentário, viabilizado pelo cultivo de plantas e pela
domesticação de animais.
Inicialmente foi praticada às margens de grandes rios, como o Tigre e o Eufrates (antiga Mesopotâmia,
atual Iraque), o Nilo (no Egito), o Yang-tse-kiang (na China), o Ganges e o Indo (na Índia). Foi justamente
nessas áreas que se desenvolveram as primeiras grandes civilizações.
Com a evolução da agricultura começou a haver excedente de produção, o que possibilitou o
desenvolvimento do comércio, inicialmente baseado na troca de produtos. Nos locais onde ocorriam as
trocas, surgiram várias cidades.

Da Revolução Agrícola à Revolução Verde


Graças à Revolução Industrial, evoluíram as técnicas agrícolas, o que possibilitou aumento da
produção sem a necessidade de ampliar a área de cultivo, com base apenas no aumento da

43
LUCCI, Elian Alabi. Geografia Geral e do Brasil. Elian Alabi Lucci; Anselmo Lazaro Branco e Cláudio Mendonça. 3ª edição. São Paulo: Saraiva, 2014.

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produtividade. Esse desenvolvimento tecnológico aplicado à agricultura ficou conhecido como Revolução
Agrícola.
Esse aumento de produtividade foi necessário em decorrência do aumento da população em geral, da
elevação percentual da população urbana (cujas atividades de subsistência eram limitadas a alguns
gêneros apenas) e da diminuição proporcional da população rural, responsável pela produção agrícola.
As bases técnicas da Revolução Agrícola foram propiciadas pelas indústrias consumidoras de matérias-
primas ou fornecedoras de insumos para a agricultura (máquinas e fertilizantes, por exemplo).
Os períodos de expansão colonial constituíram fases importantes da expansão agrícola. Tanto nas
terras conquistadas pelos europeus na América, desde o século XVI, quanto naquelas tomadas durante
a expansão imperialista na África e na Ásia, no século XIX, os colonizadores implantaram um sistema
agrícola para a produção de gêneros alimentícios e de matérias-primas voltado ao abastecimento do
mercado europeu. Esse sistema ficou conhecido como plantation e era baseado na produção
monocultora de gêneros tropicais para fins de exportação, praticada em grandes propriedades
(latifúndios), com mão-de-obra barata (ou escrava).
Após a Segunda Guerra Mundial, com o processo de descolonização em marcha, os países
desenvolvidos criaram uma estratégia de elevação da produção agrícola mundial: a Revolução Verde.
Concebida nos Estados Unidos, objetivava combater a fome e a miséria nos países subdesenvolvidos,
por meio da introdução de um “pacote tecnológico”, contendo: novas técnicas de cultivo; equipamentos
para mecanização; fertilizantes; defensivos agrícolas e sementes selecionadas.
No entanto, essas sementes selecionadas, produzidas nos laboratórios dos países desenvolvidos, não
eram geneticamente capazes de enfrentar as condições climáticas típicas da região dos trópicos (clima
muito quente), algumas doenças e certas espécies de insetos. A solução consistia na utilização de
adubos, defensivos e fertilizantes, também importados dos países que haviam subvencionado essas
novas formas de cultivo, aumentando a dependência dos países subdesenvolvidos em relação aos países
desenvolvidos.
Nos países subdesenvolvidos, a Revolução Verde aumentou a distância entre os grandes agricultores,
que tiveram acesso ao “pacote tecnológico”, e os pequenos agricultores, que não tiveram condições de
competir com os novos parâmetros de produtividade. O aumento da produção abaixou o preço dos
produtos agrícolas a valores inviáveis para os pequenos agricultores.
Essas novas circunstâncias de mercado criadas pela Revolução Verde contribuíram para o abandono
e/ou a venda de pequenas propriedades, que foram sendo incorporadas pelos grandes latifúndios. Nesse
sentido, apesar de a Revolução Verde ter contribuído para um aumento significativo da produção de
alimentos no planeta, acentuaram-se ainda mais os problemas da concentração de propriedade agrícola
em vários países do mundo, como Índia, Paquistão, Indonésia e Brasil.

A Biotecnologia e a Nova Revolução Agrícola


A biotecnologia é o conjunto de tecnologias aplicadas à Biologia, utilizadas para manipular
geneticamente plantas, animais e micro-organismos por meio de seleção, cruzamentos naturais e
transformações no código genético. Ela teve grande desenvolvimento nas décadas de 1970 e 1980, mas
vem sendo estudada e aplicada desde os anos 1950, em vários países do mundo. A própria Revolução
Verde, que criou semente híbridas, foi uma das detonadoras da biotecnologia. Embora, em boa parte, ela
se associe à atividade agrícola, tem aplicabilidade também em outros setores. As suas atividades estão
ligadas à clonagem, à indústria farmacêutica (na manipulação de novas fórmulas de medicamentos, por
exemplo), à fabricação de plásticos biodegradáveis e de conservantes de alimentos e a outras aplicações
ainda em fase de desenvolvimento.
Uma das aplicações modernas da biotecnologia consiste na alteração da composição genética dos
seres vivos, quando se inserem, por exemplo, genes de outros organismos vivos no DNA (sigla em inglês
para ácido desoxirribonucleico) dos vegetais. Por esse processo pode-se alterar o tamanho das
plantas, retardar a deterioração dos produtos agrícolas após a colheita ou torna-los mais resistentes às
pragas, aos herbicidas e aos pesticidas durante a fase do plantio, assim como possibilitar maior
adequação dos vegetais aos diferentes tipos de solos e climas. Os vegetais derivados da alteração
genética são chamados de transgênicos.
Nos produtos agrícolas criados através da engenharia genética, os traços genéticos naturais
indesejáveis podem ser eliminados, e outros implantados artificialmente para aprimorar a sua qualidade.
A biotecnologia utilizada para estimular o aumento da produtividade na agropecuária tem sido aplicada
já há algum tempo e a avaliação dos resultados é bastante controvertida. Na pecuária, são utilizadas
injeções de hormônios para aumentar a capacidade reprodutiva, o crescimento e o peso dos animais. O
uso de anabolizantes é outra técnica bastante utilizada na atividade criatória, inclusive no Brasil: eles
permitem maior absorção dos nutrientes pelo organismo do animal, promovendo uma elevação

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substancial da massa, que pode atingir até 20% em relação ao processo de criação natural. Os efeitos
desses produtos alimentícios para a saúde humana estão sendo estudados.
Na agricultura, também há muitas controvérsias sobre os possíveis danos dos vegetais transgênicos
não só para a saúde das pessoas, mas também para os ecossistemas. De modo geral, os crítico ao uso
dos organismos geneticamente modificados (OGMs) apontam para a necessidade de se fazer testes mais
amplos e específicos, ou seja, para cada produto transgênico.
Além disso, as novas variedades genéticas são produzidas por grandes corporações multinacionais.
Essas novas variedades só podem ser utilizadas mediante o uso das patentes e do pacote tecnológico
necessário à sua produção. Com isso, é reduzida a quantidade de beneficiados por essa tecnologia, além
de acentuar a dependência tecnológica dos países subdesenvolvido em relação aos desenvolvidos.
Além disso, a biotecnologia não está totalmente isenta de danos generalizados na produção de
alimentos. Com ela, haverá uma homogeneidade cada vez maior das espécies cultivadas, pois os
agricultores optarão pela plantação das mais produtivas e mais resistentes.
Nos últimos tempos, o desafio da engenharia genética tem sido a criação de produtos sintéticos em
laboratórios. O impacto desses produtos deverá ser ainda mais intenso que aquele provocado pela
introdução de novas tecnologias nos setores industriais e de serviços.

A Agricultura Orgânica
Ao mesmo tempo em que a engenharia genética enfrenta desafios e a biotecnologia avança a passos
largos, a prática da agricultura orgânica ganha muitos adeptos não só nos países desenvolvidos,
sobretudo europeus, mas também em vários países subdesenvolvidos, com a utilização de métodos
naturais para correção do solo e controle de pragas, por exemplo.
Vários problemas – como carne bovina contaminada (“doença da vaca louca”, na Europa), verduras
com excessos de agrotóxicos, águas poluídas por pesticidas, esgotamento do solo por causa do uso
intensivo de irrigação – têm forçado as pessoas envolvidas no processo de produção agropecuária a
representarem os métodos utilizados. A agricultura orgânica é, desse modo, uma prática que pode
contribuir para a redução dos danos causados aos ecossistemas, muitos deles já bastante afetados pela
aplicação das técnicas próprias da agricultura moderna, que contribuem para a degradação dos solos, a
poluição dos lençóis freáticos, córregos e rios, a destruição de espécies vegetais e animais.
Os consumidores deste início do século XXI, por sua vez, estão cada vez mais conscientes em relação
aos problemas ecológicos e muitos têm optado por produtos naturais, que apresentam a desvantagem
de serem mais caros que os tradicionais, além de, n ocaso de frutas, verduras e legumes, terem menor
volume.

Política Agrícola e Mercado no Mundo Desenvolvido

A política agrícola da maior parte dos países ainda não se adaptou à economia globalizada e à
liberalização da economia mundial. De um lado, os países subdesenvolvidos não dispõem de recursos
financeiros volumosos para subvencionar seus agricultores. De outro, os países desenvolvidos, como
Japão, Estados Unidos e integrantes da União Europeia, mantêm uma política agrícola com subsídios
aos agricultores e protecionismo de mercado.
Entre os temas mais polêmicos na OMC (Organização Mundial do Comércio) estão as queixas dos
países subdesenvolvidos, que pedem redução dos subsídios para a produção agrícola e o fim da proteção
dos mercados internos (os países protecionistas impõem tarifas elevadas às importações de alimentos e
matérias-primas de origem agropecuária).
Essa elevada taxação, reforçada por uma redução nas cotas de importação por parte dos três
principais centros da economia mundial (EUA, Japão e União Europeia), agrava ainda mais os problemas
econômicos e sociais dos países que dependem da exportação agrícola e dificulta as importações de
produtos fundamentais ao seu desenvolvimento, como máquinas, equipamentos industriais e
implementos agrícolas.
Do ponto de vista do consumidor que vive nos países desenvolvidos, as políticas agrícolas têm sido
duplamente prejudicais. Primeiro, porque os recursos (subsídios) destinados aos agricultores são pagos
indiretamente por todos os contribuintes. Segundo, porque as altas tarifas para as importações elevam
também o preço pago pelos consumidores no mercado interno desses países. Essa situação não pode
ser generalizada, mas ela atinge a maioria da população que vive nos países desenvolvidos.
Por fim, é preciso ressaltar também que os países subdesenvolvidos, de modo geral, exportam,
principalmente, gêneros que não são de primeira necessidade, ocorrendo o oposto em relação aos países
desenvolvidos. Costuma-se afirmar, com base nisso, que os países subdesenvolvidos exportam a
“sobremesa”, enquanto os desenvolvidos, “o prato principal”.

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O Espaço Agrário no Mundo Subdesenvolvido

As Atividades Agrícolas no Mundo Subdesenvolvido


Os países subdesenvolvidos já foram caracterizados como exportadores de produtos agrícolas e de
matérias-primas. Apesar de tal caracterização continuar válida para a maioria dos países desse grupo,
são os países desenvolvidos que respondem pelo maior volume da produção e exportação de produtos
agrícolas.
Nos países desenvolvidos, a modernização da produção e os enormes incentivos destinados à
atividade agrícola têm gerado cada vez mais excedentes, colocando-os na liderança mundial das
exportações do setor. Além disso, as políticas protecionistas de seus mercados dificultam o acesso da
produção agrícola dos países subdesenvolvidos.
Desde a década de 1950, a participação dos produtos agrícolas no mercado mundial vem diminuindo
gradativamente. Em parte, isso se deve à expansão odo comércio mundial de mercadorias e à
diversificação dos produtos negociados internacionalmente, sobretudo nas últimas décadas com a
consolidação da globalização.
Para defender seus produtores, os países desenvolvidos utilizam subsídios e aplicam elevadas tarifas
de importação aos produtos agrícolas, contrariando as regras da OMC (Organização Mundial do
Comércio). Mas barreiras não-tarifárias, como barreiras zoossanitárias e fitossanitárias, são aplicadas
também, de forma indiscriminada e não raro injustificada (apesar de estar de acordo com as normas da
OMC), prejudicando as exportações do mundo subdesenvolvido que já são afetadas pelas barreiras
tarifárias e pelas cotas de importação.
Entre 1950 e 1973, a produção mundial de cereais duplicou, fazendo cair os preços no mercado
internacional. A partir de 1973, o crescimento da produção de cereais passou a atingir a média de 2% ao
ano, índice inferior ao crescimento da população mundial. No continente africano, por exemplo, onde a
população tem sido bastante afetada por problemas de subnutrição, o crescimento populacional
ultrapassa a média de 2,5% a.a. (ao ano), enquanto o aumento da produção de cereais gira em torno de
1% a.a. e até decresce em vários países.
A defasagem entre a produção de alimentos básicos e o crescimento demográfico aumentou o déficit
alimentar em vários países do mundo, em particular na África subsaariana (países que se situam ao sul
do deserto do Saara). Essa situação tem se agravado com o fato de que boa parte da produção agrícola
dos países subdesenvolvidos é destinada à exportação. Os produtos agrícolas (e também os minerais)
constituem a fonte de divisa básica dessa parte do mundo, sem as quais as importações tornam-se
inviáveis.

A Questão Agrária na América Latina


A questão agrária é um problema grave que afeta historicamente a população da maioria dos países
latino-americanos. A colonização da América Latina foi baseada na exploração mineral e na produção
agrícola de produtos de exportação, praticada em latifúndios monocultores e com utilização de trabalho
escravo. Esse modelo agrícola é denominado plantation. Após o processo de independência latino-
americana, no século XIX, a oligarquia rural escravocrata manteve o modelo colonizador.
Atualmente, a produção agropecuária ainda é praticada em grandes propriedades e concentra os
investimentos em produtos com ampla aceitação e competitividade no mercado internacional.
Em vário países da América Latina, mais da metade dos pobres e miseráveis habitam áreas rurais.
São milhões de trabalhadores sem terras e sem trabalho, que possuem alguma forma de renda apenas
nas épocas de plantio e colheita, como mão-de-obra contratada. É o caso do México, dos países da
América Central (Honduras, Guatemala, Nicarágua, entre outros), dos países andinos (Peru e Colômbia,
entre outros), e do Paraguai. Também é o caso do Brasil, embora aqui exista a particularidade de os
pobres das cidades superarem numericamente os pobres das áreas rurais.
Em contraste com essa situação, na maioria desses países há abundância de terras, dominadas por
grandes fazendas comerciais que são responsáveis pelo maior volume de produção agrícola.
Os países andinos formam um grupo de seis países sul-americanos situados onde se estende a
cordilheira dos Andes: Chile, Bolívia, Peru, Equador, Colômbia e Venezuela. A maioria da população é
de origem indígena e, desde as últimas décadas do século XX, tem se organizado contra a exclusão
social e pela reforma agrária.

Estrutura Fundiária nos Países Subdesenvolvidos


Do ponto de vista econômico, a produção de cana, soja, café, cacau, algodão e outros produtos típicos
da agricultura dos trópicos não se adapta à pequena propriedade. Essas culturas exigem solo, clima e
relevo adequados e grandes extensões cultivadas para que o empreendimento seja rentável e

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competitivo. A concentração fundiária, explicada pelo passado colonial, ganhou um retoque de
modernidade com a Revolução Verde e a mecanização rural.
A Revolução Verde exclui ainda mais os pequenos proprietários, incapacitados financeiramente para
adquirir a parafernália tecnológica que ela trouxe consigo: herbicidas, pesticidas, adubos químicos,
máquinas e outros implementos agrícolas. Ela também não incentivou a agricultura voltada para o
mercado interno, que não gera dividas no Comércio Exterior. Na maior parte dos países subdesenvolvidos
do planeta, o desenvolvimento tecnológico da Revolução Verde resultou em concentração fundiária e
marginalização dos trabalhador rural.
Não foi por acaso que várias rebeliões e revoluções populares nas últimas duas décadas do século
XX tiveram como lema a reforma agrária. A necessidade de reformas na estrutura de produção agrícola
e de redistribuição da propriedade rural são aspectos que precisam ser atendidos simultaneamente e são
urgentes nos países subdesenvolvidos.

A Reforma Agrária consiste na adoção de medidas para melhorar a distribuição da terra, promovendo
a justiça social, criando condições de melhoria de vida do trabalhador rural, elevando a produção e a
produtividade agropastoris. A redistribuição das terras é apenas uma parte do processo de reforma
agrária, que deve incluir apoio técnico, infraestrutura adequada à produção, sistema de armazenamento
e transporte, garantia de preços mínimos, crédito ao pequeno agricultor, orientação para a criação de
cooperativas e de pequenas agroindústrias, entre outros aspectos.

A reforma agrária é um processo mais amplo que a simples redistribuição de terras. Criar as condições
para que o trabalhador rural torne-se proprietário e possa produzir sua própria subsistência é apenas o
primeiro passo de um conjunto de medidas que incluem assessoria técnica e administrativa, inclusive um
sistema de crédito especial. Cabe ao Estado, enfim, estimular e garantir a produção agrícola dos
pequenos agricultores e criar os mecanismos necessários para coloca-los no mercado. Aliás, muito mais
que isso já foi e é feito para os grandes proprietários e para as empresas rurais, mediante mecanismos
de crédito a juros mais baixos, outros subsídios e medidas protecionistas.

Reforma Agrária e Geração de Renda


Além dos conflitos e das convulsões sociais constantes, a concentração da propriedade da terra é
responsável por uma variedade de relações de trabalho no meio rural. O arrendamento (aluguel) e a
parceria (pagamento em espécie pelo uso da terra em cotas estipuladas entre o parceiro e o proprietário),
para citar duas modalidades bastante difundidas, obrigam o agricultor a dividir o resultado de seu trabalho
com o proprietário da terra.
Essas formas de relações de trabalho no mundo subdesenvolvido tornam pouco estimulante e
economicamente inviável o investimento em aprimoramento técnico, visando à melhoria da qualidade e
da produtividade agrícola, para aqueles que de fato trabalham a terra.
Assim, a reforma agrária também deve ser vista como geradora de ocupação de mão-de-obra nos
países subdesenvolvidos, principalmente naqueles que apresentam um percentual significativo da
população economicamente ativa no setor primário. Além de geradora de emprego e de renda, que
dinamiza o restante da economia, a reforma agrária constitui a única forma possível de diminuir o êxodo
rural, que pressiona o mercado de trabalho urbano e agrava a crise social das cidades.

Questões

01. (SEDU/ES – Professor de Geografia – FCC) Considere o texto abaixo.


A. I.., como muitos chamaram a evolução da agricultura no terço final do século vinte, proporcionou
aumentos significativos de produtividade que garantiram, junto com a expansão das fronteiras agrícolas,
o abastecimento de alimento para uma população mundial em explosivo crescimento neste período.
Apesar disso, as técnicas convencionais e a expansão da área de terras agricultáveis chegando ao seu
limite, estamos correndo o risco de comprometer seriamente alguns recursos naturais, como flora, fauna
e mananciais de água. Portanto, é imperativo que se busque alternativas para uma maior oferta de
alimentos. É onde entra a. II. (Disponível em: www.beefpoint.com.br/cadeia-produtiva/espaco-aberto/a-polemica-dos-transgenicos-no-brasil-5323/)
O conteúdo do texto destaca duas grandes transformações I e II que afetaram a produção agrícola em
escala mundial, desde a década de 1940 até dos dias atuais. Preenchem, correta e respectivamente, as
lacunas do texto em:
(A) Revolução Verde − biotecnologia
(B) Reforma Agrária − indústria.
(C) Modernização do Campo − agricultura orgânica.

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(D) Globalização Produtiva − abertura econômica.
(E) Segunda Revolução Industrial − reforma agrária.

02. (IBGE – Agente de Mapeamento – CESGRANRIO) As atividades agrícolas estão em constante


processo de inovação para obter maior produtividade. Nesse contexto, durante a década de 1950, ocorreu
de forma mais intensa o processo de modernização da agricultura que envolveu um grande aparato
tecnológico provido de variedades de plantas modificadas geneticamente em laboratório, espécies
agrícolas que foram desenvolvidas para alcançar alta produtividade, uma série de procedimentos técnicos
com uso de defensivos agrícolas e de maquinários. Disponível em: <http://educador.brasilescola.uol.com.br/estrategias- -ensino/a-
modernizacao-agricultura.htm>. Acesso em: 31 maio 2016.
Nesse contexto histórico, o processo de modernização mencionado caracteriza, especificamente,
(A) as Reformas de Base
(B) a Revolução Verde
(C) o Milagre Econômico
(D) a Nova República
(E) o Estado Novo

Gabarito

01.A / 02.B

NOVA ORDEM MUNDIAL, ESPAÇO GEOPOLÍTICO E GLOBALIZAÇÃO44

Uma ordem mundial diz respeito às configurações gerais das hierarquias de poder existentes entre
os países do mundo. Dessa forma, as ordens mundiais modificam-se a cada oscilação em seu contexto
histórico. Portanto, ao falar de uma nova ordem mundial, estamos nos referindo ao atual contexto das
relações políticas e econômicas internacionais de poder.
Durante a Guerra Fria, existiam duas nações principais que dominavam e polarizavam as relações de
poder no globo: Estados Unidos e União Soviética.
Essa ordem mundial era notadamente marcada pelas corridas armamentista e espacial e pelas
disputas geopolíticas no que se refere ao grau de influência de cada uma no plano internacional. Este era
o mundo bipolar.
A partir do final da década de 1980 e início dos anos 1990, mais especificamente após a queda do
Muro de Berlim e do esfacelamento da União Soviética, o mundo passou a conhecer apenas uma grande
potência econômica e, principalmente, militar: os EUA. Analistas e cientistas políticos passaram a nomear
a então ordem mundial vigente como unipolar.
Entretanto, tal nomeação não era consenso. Alguns analistas enxergavam que tal soberania pudesse
não ser tão notável assim, até porque a ordem mundial deixava de ser medida pelo poderio bélico e
espacial de uma nação e passava a ser medida pelo poderio político e econômico.
Nesse contexto, nos últimos anos, o mundo assistiu às sucessivas crescentes econômicas da União
Europeia e do Japão, apesar das crises que estas frentes de poder sofreram no final dos anos 2000.
De outro lado, também vêm sendo notáveis os índices de crescimento econômico que colocaram a
China como a segunda maior nação do mundo em tamanho do PIB (Produto Interno Bruto). Por esse
motivo, muitos cientistas políticos passaram a denominar a Nova Ordem Mundial como mundo multipolar.
Mas é preciso lembrar que não há no mundo nenhuma nação que possua o poderio bélico e nuclear
dos EUA.

44
http://mundoeducacao.bol.uol.com.br/geografia/nova-ordem-mundial.htm.

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1634532 E-book gerado especialmente para GRAZIELA CRISTINA LEOTE
Esse país possui bombas e ogivas nucleares que, juntas, seriam capazes de destruir todo o planeta
várias vezes.
A Rússia, grande herdeira do império soviético, mesmo possuindo tecnologia nuclear e um elevado
número de armamentos, vem perdendo espaço no campo bélico em virtude da falta de investimentos na
manutenção de seu arsenal, em razão das dificuldades econômicas enfrentadas pelo país após a Guerra
Fria.
É por esse motivo que a maior parte dos especialistas em Geopolítica e Relações Internacionais,
atualmente, nomeia a Nova Ordem Mundial como mundo unimultipolar. “Uni” no sentido militar, pois os
Estados Unidos é líder incontestável. “Multi” em razão das diversas crescentes econômicas de novos
polos de poder, sobretudo a União Europeia, o Japão e a China.

A Divisão do Mundo entre Norte e Sul

Durante a ordem geopolítica bipolar, o mundo era rotineiramente dividido entre leste e oeste.
O Oeste era a representação do Capitalismo liderado pelos EUA, enquanto o Leste demarcava o
mundo Socialista representado pela URSS. Essa divisão não era necessariamente fiel aos critérios
cartográficos, pois no Oeste havia nações socialistas (a exemplo de Cuba) e no leste havia nações
capitalistas.
Contudo, esse modelo ruiu. Atualmente, o mundo é dividido entre Norte e Sul, de modo que no Norte
encontram-se as nações desenvolvidas e, ao sul, encontram-se as nações subdesenvolvidas ou
emergentes. Tal divisão também segue os ditames da Nova Ordem Mundial, em considerar
preferencialmente os critérios econômicos em detrimento do poderio bélico.

Em vermelho, os países do sul subdesenvolvido e, em azul, os países do norte desenvolvido

Observa-se que também nessa nova divisão do mundo não há uma total fidelidade aos critérios
cartográficos, uma vez que alguns poucos países localizados ao sul pertencem ao “Norte” (como a
Austrália) e alguns países do norte pertencem ao “Sul” (como a China).

A Economia Capitalista Hoje

Vivemos na segunda década da Nova Ordem Internacional. Suas características tornam-se a cada dia
mais claras. Suas raízes econômicas remontam às transformações iniciadas com as tecnologias dos anos
de 1970, que influenciam as potências atuais de forma marcante.
No campo geopolítico, essa nova era configurou-se com a crise do socialismo, o fim da Guerra Fria e
a valorização dos problemas sociais e ambientais.
Na atualidade, o grupo de países desenvolvidos, formado por 23 nações (Estados Unidos, Canadá,
Japão, Austrália, Nova Zelândia, Islândia, Noruega, Suíça e os 15 membros da União Europeia), torna-
se cada vez mais rico. Em 2005, a população dessas nações somava 900 milhões de pessoas (13% do
total mundial) e produzia cerca de 32 trilhões de dólares (80% do PIB mundial), o que dava uma renda
per capita de mais de 35 mil dólares. Em 1960, os mesmos países tinham cerca de 20% da população
mundial e controlavam cerca de 60% do PIB do mundo.
Uma das características político-econômicas mais importantes da Nova Ordem Internacional foi o
crescente uso dos princípios teóricos do neoliberalismo.
Especialistas acreditam que os neoliberais criaram, com seu pragmatismo, um conjunto de regras
econômicas muito claro, que se resume aos seguintes aspectos:
* O Estado deve se restringir a algumas funções públicas;
* O déficit público deve ser evitado e, se existir, reduzido;
* As empresas estatais devem ser privatizadas;
* O Banco Central de cada país deve ser independente;
* A moeda deve ser estável, com um mínimo de inflação;

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* Os fluxos financeiros não devem sofrer restrições;
* Os mercados devem ser abertos, liberalizados e desregulamentados;
* A produção industrial deve ser internacionalizada, buscando-se mão-de-obra mais barata;
* As empresas devem ser modernizadas, enxutas e competitivas.

Frente às crises e ao aumento da miséria nos países subdesenvolvidos, alguns neoliberais modernos
defendem que esse receituário não tem dado certo por culpa dos governos. Seria necessário apenas
conter os monopólios privados, supervisionar os bancos com mais atenção, investir em educação e
aumentar a poupança interna.
Dentro da Nova Ordem Internacional, o controle que os países desenvolvidos exerciam sobre o
comércio de exportação no mundo continuou, embora sua participação no total tenha sido um pouco
reduzida. Essa redução foi consequência do crescimento das exportações conquistado pelos países
subdesenvolvidos industrializados.
A participação dos países subdesenvolvidos no comércio mundial de exportação vinha decrescendo
desde o início da Ordem da Guerra Fria (era de cerca de 31% do total mundial em 1950 e caiu para cerca
de 20% em 1985). Essa situação começou a se reverter no início da Nova Ordem Internacional. Nos dez
anos seguintes, os países pobres passaram a controlar maiores parcelas do comércio mundial de
exportação.
Esse aumento das exportações, por si só, não foi suficiente para elevar o padrão de riqueza dos países
subdesenvolvidos como um todo. A maior parte desse aumento foi de responsabilidade de um restrito
grupo de países subdesenvolvidos industrializados, enquanto a grande maioria dos mais de 150 países
subdesenvolvidos continuou a assistir à queda dos preços de suas mercadorias de exportação
(commodities) e a redução de sua participação no comércio mundial, exceto os exportadores de petróleo.
Mesmo assim, o crescimento do comércio internacional é apontado como um dos indicadores da
aceleração do processo de globalização, que criou uma maior dependência das economias nacionais em
relação à economia internacional, pois uma grande parcela das atividades produtivas e dos trabalhadores
fica dependente do desempenho de seus países no mercado mundial.
Esse crescimento do comércio e essa maior dependência das economias nacionais são o resultado
das políticas de liberalização alfandegária colocadas em prática desde o final da Segunda Guerra Mundial.
Desde então, as taxas alfandegárias médias dos países mais desenvolvidos do mundo caíram de 40%
para menos de 5%. Por outro lado, o crescimento do comércio internacional foi fruto da maior integração
e complementação econômica dos conjuntos de países que formaram organizações ou zonas de livre
comércio, como a União Europeia e o Nafta.

Características da Nova Ordem Internacional45

A Nova Ordem Internacional já pode ser caracterizada por um amplo conjunto de aspectos. Citaremos
todos, porém, nos atentaremos mais detalhadamente, à Globalização.
São eles:
* Investimentos em P&D;
* Os blocos econômicos;
* Dívida externa;
*Desemprego;
* As economias em transição;
* O problema da pobreza.

Globalização
A Globalização não é nenhuma novidade. Há séculos ela evolui na forma de ciclos, intensificando os
fluxos de pessoas, bens, capital e hábitos culturais. Ela se originou com a primeira fase da expansão
capitalista europeia, impulsionada pelas Grandes Navegações do final do século XV. Entre 1870 e 1890,
a globalização foi novamente intensificada, graças à aceleração dos investimentos internacionais, a
ampliação do comércio e o aperfeiçoamento dos meios de transportes e comunicações. Posteriormente,
durante o período que se estende entre 1910 e 1920, houve nova aceleração desse processo, associada
ao crescente militarismo, que culminaria com a Primeira Guerra Mundial. Um terceiro pico ocorreu durante
a década de 1930, antecedendo a Segunda Guerra Mundial.

45
SCALZARETTO, Reinaldo. Geografia Geral – Geopolítica. 4ª edição. São Paulo: Anglo.
TERRA, Lygia; et. al. Conexões: estudos de geografia geral e do Brasil. 2ª edição. São Paulo: Moderna.

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Após a Segunda Guerra Mundial, o processo de globalização foi mais lento, amarrado pelas relações
limitadas entre os países capitalistas e os socialistas e pelas políticas comerciais altamente protecionistas.
Somente na década de 1990 os investimentos internacionais retornariam ao patamar de 1941.

Corporações Transnacionais46
As transnacionais correspondem às corporações industriais, comerciais e de prestação de serviços
que atuam em distintos territórios dispersos no mundo. Nesse caso, ultrapassam os limites territoriais dos
países de origem das empresas.
Grande parte das empresas transnacionais é oriunda de países industrializados e desenvolvidos que
detêm um grande capital acumulado; o excedente, nesse caso, é direcionado para países em todos os
continentes.
Os investimentos dessas empresas são altíssimos, uma vez que a matriz emite os recursos para as
filiais localizadas em muitos países pobres. Nesses países, as transnacionais exercem funções
importantes como acelerar o desenvolvimento industrial, além de gerar postos de trabalho.
No entanto, essas empresas não têm objetivo social no momento em que se instalam em um
determinado país. Pelo contrário, para sua instalação acontecer, o governo oferece uma série de
benefícios e incentivos, tais como isenção parcial ou total de tributos, até mesmo dos lucros. Esses países
se submetem a essas exigências a fim de atrair novos investimentos estrangeiros e também garantir a
permanência das empresas.
As transnacionais estão ligadas à globalização da produção, na qual um único produto pode ter várias
origens, isso por que os seus componentes têm origens distintas e são montados em uma determinada
localidade do mundo. Esse fluxo produtivo visa unicamente verticalizar os lucros, diminuindo os custos,
consolidando-se no mercado como empresas competitivas que buscam alcançar grandes parcelas do
mercado internacional.
Há pouco tempo essas empresas eram denominadas multinacionais, porém gradativamente esse
termo não mais está sendo usado, uma vez que a expressão emite uma ideia de uma empresa que possui
diversas nacionalidades. Dessa forma, empresas com essas características recebem o nome de
transnacionais, possuem sede em um país e desempenham atividades em diversos outros.
Atualmente, existem em funcionamento cerca de 40 mil empresas transnacionais, muitas originadas
de países desenvolvidos, porém existem ainda corporações oriundas da Coreia, Índia, México e Brasil.
As transnacionais exercem influência que transcende a economia, pois interfere em governos e nas
relações entre países.
Essas empresas surgiram efetivamente a partir da Segunda Guerra Mundial, quando empresas de
países ricos migraram suas atividades para lugares espalhados pelo mundo.
Com a expansão das transnacionais, a partir da década de 1950, a globalização foi acelerada. Hoje, a
Terceira Revolução Industrial, que gerou um sistema de produção econômica com regras que se
uniformizam e se universalizam rapidamente, está criando uma nova onda de globalização. Suas
instituições passam a controlar e organizar essa economia em que as fronteiras perdem a importância e
muitos Estados disputam o direito de abrigar as sedes ou as filiais das grandes corporações, que
controlam a oferta de empregos e investimentos.
Dessa forma, o espaço geográfico mundial tem caminhado em direção a uma crescente
homogeneização, fruto da imposição de um sistema econômico e social globalizado sobre toda a
superfície da Terra. Nas últimas décadas, esse processo sofreu uma forte aceleração, especialmente
porque o polo de oposição ao capitalismo, que durante 45 anos compartia o mundo, criando a bipolaridade
da Guerra Fria, entrou em crise.
Os investimentos internacionais são realizados de forma direta, pelas empresas transnacionais que
implantam ou ampliam suas unidades produtivas, ou indireta, quando se relacionam aos fluxos de capital
que entram por meio de empréstimos, moeda trazida por estrangeiros, pagamentos de exportações,
vendas de títulos públicos no exterior e investimentos no mercado financeiro (especialmente em bolsas
de valores). Observe sua evolução recente:
Os investimentos internacionais foram acelerados na Nova Ordem. Eles saltaram de 924 bilhões de
dólares em 1991 para mais de 5,4 trilhões em 2001.
Na era da globalização, quando as informações são instantâneas, um observador pode acompanhar
a abertura e o fechamento das mais importantes bolsas de valores do mundo durante 22 horas seguidas:
se ele estiver em São Paulo, a Bolsa de Tóquio abre às 21 horas (hora de Brasília) e fecha às 5 horas do
dia seguinte. Uma hora mais tarde, abre a Bolsa de Londres e, às 11 horas, a de Nova Iorque, que só
fecha às 19 horas.

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https://mundoeducacao.bol.uol.com.br/geografia/transnacionais.htm.

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Podemos notar facilmente que a maior parte dos investimentos tem sido sempre no mercado
financeiro, ou seja, nas bolsas de valores. É o que se chama de capital volátil. Esses investimentos entram
nos países e saem muito rapidamente, circulando diariamente no mundo, de uma bolsa para outra, mais
de 3 trilhões de dólares.
O mercado financeiro de ações comercializadas em bolsas de valores estocava um patrimônio coletivo
de 47 trilhões de dólares em 2005. Com o desenvolvimento da informática, o mercado financeiro se
acelerou como forma de investimento.
Os investimentos financeiros diretos também cresceram bastante, aumentando mais de sete vezes
nesse período, principalmente por meio da compra de empresas privatizadas, dentro da política
neoliberal. As privatizações se expandiram muito desde o início da década de 1990. Entre 1988 e 2003,
houve mais de 9 mil privatizações em cerca de 120 países, que somaram mais de 410 bilhões de dólares
de transações.
Grande parte das pessoas acredita que as privatizações, na atualidade, só ocorrem em países
subdesenvolvidos ou nos países socialistas que estão em transição para a economia de mercado. Na
verdade, a década de 1990 foi marcada pelo aumento das privatizações em diversos países
desenvolvidos.
Embora a globalização seja comandada pelos agentes financeiros e econômicos, há uma profunda
relação entre seus interesses e as ações políticas desenvolvidas pelos Estados. Na atualidade, vemos
uma espécie de privatização do Estado, que é colocado a serviço dos interesses do grande capital.
Hoje, mais do que em qualquer outra época da modernidade, a elite econômica colocou o Estado a
serviço de seus interesses. São os governos dos países mais ricos do mundo que promovem, numa ação
política bem orquestrada, a globalização, preparando encontros, ampliando o raio de ação das
organizações internacionais, realizando acordos comerciais, que favorecem a quem controla a economia.
Recentemente, por causa das transformações econômicas em direção à globalização, a redução das
taxas alfandegárias e a liberação do movimento dos capitais, muitos estudiosos passaram a acreditar que
o Estado nacional estava em fase de dissolução. Em verdade, ocorreu a sua transformação: as relações
entre o Estado e a economia se internacionalizaram, e a privatização tornou-se norma. Dessa forma, o
Estado abandonou o papel de agente econômico, desfazendo-se dos seus ativos, e passou a exercer o
papel de organizador e gestor de uma economia globalizada, no qual o conceito de soberania nacional
passou por uma revisão.
As aquisições e fusões que têm caracterizado a globalização desde o início da década de 1990 não
pretendem aumentar a produção, criar novas fábricas e ampliar os empregos. A função dessa onda de
fusões é cortar as atividades redundantes, reduzir a concorrência e aumentar a concentração de capitais.
O resultado final tem sido sempre a elevação das taxas de desemprego e o aumento da monopolização.
O volume das transações financeiras provocadas pelas fusões de grandes empresas tem ampliado o
mercado de ações e acelerado a movimentação de capitais.
No contexto da globalização, os países subdesenvolvidos ou periféricos não têm peso na definição
desse novo panorama geopolítico mundial, ficando, cada mais uma vez, atrelados aos países líderes.
Assim, com a decadência do bloco socialista, resta para o capitalismo resolver, num futuro próximo, três
graves problemas:

Desigualdade – Há uma crescente desigualdade de padrão de vida entre os países desenvolvidos e


os subdesenvolvidos, além das diferenças de renda dentro dos próprios países desenvolvidos. Segundo
Hobsbawm, a ameaça que a expansão socialista representou após 1945 impulsionou a formação do
Welfare State (Estado de bem-estar social), com reformas sociais nos países desenvolvidos, criando-se
uma parceria entre capital e trabalho organizado (sindicatos), sob os auspícios do Estado. Isso gerou a
consciência de que a democracia liberal precisava garantir a lealdade da classe trabalhadora, com caras
concessões econômicas. O abandono dessas políticas sociais tem ampliado o quadro da desigualdade
social, até mesmo em países desenvolvidos.

Conflitos Étnicos – Ascensão do racismo e crescente xenofobia, especialmente na Europa e nos


Estados Unidos, devido ao grande fluxo de imigrantes das regiões mais pobres para os países
industrialmente mais desenvolvidos.

Meio Ambiente – Crise ecológica mundial, que alerta para a necessidade de solucionar as agressões
ao meio ambiente, que podem afetar todo o planeta.

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Globalização e Subdesenvolvimento

Subdesenvolvimento não é fruto da globalização. Ele se caracteriza por graves problemas sociais e
grande desigualdade no interior da sociedade e pela capacidade limitada de desenvolvimento tecnológico,
entre outros fatores. Os países incluídos nesse grupo também são diferentes entre si. Alguns possuem
elevada capacidade de produção instalada e atraem volumes expressivos de investimentos do exterior,
como é o caso do Brasil. Outros estão excluídos da ordem econômica mundial e dependem de ajuda
humanitária para a sobrevivência da população faminta, sem oportunidades de trabalho e sem condições
de obter renda.

Origens do Subdesenvolvimento
A origem do processo de formação dos países desenvolvidos e subdesenvolvidos remonta às grandes
navegações empreendidas pelos Estados-nações recém-formados na Europa, a partir do século XV.
Nessa época, esses Estados expandiram o comércio, explorando os produtos e recursos da América, da
África e da Ásia e passaram a exercer forte domínio sobre os povos desses continentes, controlando a
extração e a produção neles realizadas.
As terras conquistadas e dominadas (as colônias) não possuíam autonomia administrativa, e seus
recursos e riquezas eram explorados intensamente, em benefício de alguns países, como Portugal,
Espanha, Holanda, França e Inglaterra (as metrópoles).
A exploração dos recursos das colônias, como metais preciosos, minérios e produtos agrícolas,
proporcionou de fato um grande enriquecimento às metrópoles.
Poucas foram as exceções a essa forma de colonialismo. São os casos da Austrália, Nova Zelândia,
Canadá e dos EUA.
Mas, ainda nas duas últimas décadas, o processo de globalização acentuou a distância entre o mundo
rico e o mundo pobre, e a quantidade de pessoas vivendo em condições de pobreza elevou-se inclusive
nos países ricos. Segundo o economistas, no início do século XXI, cerca de 2/3 da população do planeta
encontra-se à margem dos benefícios propiciados pelo aumento na capacidade de produção de
mercadorias e de geração de serviços, e pelo processo de globalização (por exemplo, ampliação dos
fluxos de informações, capitais e mercadorias).

Mundialização do Planeta
Os processos de exclusão que estamos observando no mundo inteiro não afetam unicamente os
países do sul, mas representam a principal preocupação dos países industriais. Tal como se processa a
globalização nas formas atuais, muita gente está ficando de fora. Segundo estimativas de autores
americanos, inclui um terço e deixa fora dois terços da população mundial. Metaforicamente, está
havendo uma terceiro-mundialização do planeta.
Apesar de a globalização ter acentuado os problemas sociais nos países do norte, esses problemas
são extremamente mais graves nos países do sul, onde a capacidade de solução dessas questões é
bastante limitada.

Divisão Norte-Sul
A divisão Norte-Sul simboliza a separação entre os mundos desenvolvido e subdesenvolvido. Os
países desenvolvidos estão situados quase todos no hemisfério Norte (com exceção da Austrália e Nova
Zelândia, que também são classificados como países do norte) e os subdesenvolvidos estão situados ao
sul do bloco dos países desenvolvidos. Por esta razão a expressão norte passou a ser sinônimo de
desenvolvimento e sul, do inverso.
Considerando a situação atual dos países do mundo, as diferenças são gritantes. Os países do G-8
(grupo que inclui os sete países mais ricos: Estados Unidos, Japão, Alemanha, França, Itália, Reino Unido
e Canadá, além da Rússia) são responsáveis pela produção de cerca de 56% de toda a riqueza do mundo.
Todos os demais países reunidos, onde vivem 85% da população mundial, produzem os 44% restantes.
As distâncias socioeconômicas entre os países tendem a aumentar a cada ano com o desenvolvimento
técnico-científico acelerado e concentrado nos países mais desenvolvidos. Segundo o Relatório 2002 do
Fundo de População das Nações Unidas, em 1960 o rendimento dos 20% mais pobres no mundo era 30
vezes menor que o dos 20% mais ricos. Essa diferença havia aumentado para 74 vezes em 2002. O
mesmo relatório aponta que cerca de três milhões de pessoas vivem com menos de dois dólares por dia.
Considerando que o desenvolvimento tecnológico é um elemento importante para o processo de
globalização, o Brasil, no início do século XXI, ocupava a desconfortável 43ª posição no mundo em
conquistas tecnológicas.

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O Conselho de Washington
O Conselho de Washington refere-se a um conjunto de receitas econômicas criadas, em 1989, visando
acelerar o desenvolvimento da América Latina. O economista John Williamson reuniu o pensamento das
grandes instituições financeiras (FMI, Banco Mundial, BIRD) e também do governo norte-americano, que
pretendiam resolver a crise dos países pobres e particularmente os da América Latina, e propor caminhos
para o desenvolvimento.
Entre essas instituições havia “consenso” sobre alguns pontos principais. De acordo com o Conselho
de Washington, os países deveriam:
* promover uma reforma fiscal, isto é, uma reforma no sistema de atribuição e de arrecadação de
impostos, para que as empresas pudessem pagar menos e adquirir maior competitividade.
* promover o corte de salários e demissão dos funcionários públicos em excesso, e realizar mudanças
na previdência social, nas leis trabalhistas e no sistema de aposentadoria, para diminuir a dívida do
governo (chamada dívida pública).
Além disso, o Conselho de Washington propunha a abertura comercial, o aumento de facilidades para
a entrada e saída de capitais e a privatização de empresas estatais.

Risco-País
Numa economia internacional muito integrada, s maiores investidores têm grande “controle” ou “poder”
sobre a situação econômico-financeira de um país, conforme a dependência desse país em relação aos
investimentos externos. As agências internacionais de investimentos, por sua vez, divulgam relatórios
constantemente sobre a capacidade dos países para pagar seus compromissos externos e avaliam o
“nível de segurança” de cada país. Essa classificação recebe o nome de risco-país, e os investidores
levam em conta esses relatórios ao aplicarem seu capital.
Enfim, nesse mundo globalizado, o sistema financeiro internacional acaba tendo forte influência na
vida das sociedades dos diversos países, com consequências muitas vezes negativas.

O que é risco-país?
É uma classificação baseada na diferença entre o juro pago por um papel (título) e a taxa oferecida
por um título com prazo de vencimento semelhante pelo Tesouro dos Estados Unidos, título este
considerado o papel mais seguro do planeta, de risco praticamente zero. Essa avaliação é realizada por
agências de investimentos como Moody`s, Standard & Poor`s (S&P) e Fitch (todas norte-americanas).
A classificação reflete, na visão dos investidores, qual é a possibilidade de o país pagar ou não suas
dívidas interna e principalmente externa.
Quanto maior a taxa de risco de um país, mais altos serão os juros que o governo terá de pagar para
renovar ou obter novos empréstimos, e menos para receber novos investimentos. (Adaptado de Folha de São Paulo,
13/06/2002, p. B-4 e 22/10/2002, p. B-1).
Os países, para serem confiáveis, deveriam cumprir as normas e as sugestões do “Consenso”. Nada
era obrigatório, mas seguir suas determinações básicas era condição para receber ajuda financeira
externa e atrair capitais estrangeiros.

A Escala Regional na Ordem Global

Em novembro de 2012, a Assembleia Geral da ONU reconheceu, por maioria, a Palestina como Estado
observador não membro (Nova York, Estados Unidos). Para muitos analistas, esse reconhecimento
poderia ter significado a retomada do processo de paz.

Comércio Desigual e Regionalização na Economia Global


De acordo com a inserção na economia mundial, é possível identificar grandes conjunto de países. A
profunda desigualdade na participação no comércio mundial está relacionada com as mudanças nos
padrões da divisão internacional do trabalho.

Inserção Desigual dos Países na Economia Mundial


Os países não se inserem na economia mundial da mesma maneira. O atraso econômico de muitos
países é resultado de um processo histórico. O crescimento econômico das nações nos últimos séculos
se confunde com a própria história do desenvolvimento do capitalismo, que desde o século XVI
estabeleceu uma divisão internacional do trabalho. Os países dominantes ficavam com a maior parte da
riqueza produzida, enquanto as colônias tinham a função de contribuir para a acumulação de capital nas
metrópoles.

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A economia capitalista se desenvolveu concentrando riqueza e poder nas mãos das elites,
principalmente das potências dominantes, criando em contrapartida regiões pouco desenvolvidas
economicamente e pouco industrializadas, chamadas a partir da segunda metade do século XX de
subdesenvolvidas.
Esse termo tem sido questionado, pois a maior parte dos países chamados subdesenvolvidos esteve
durante muito tempo na condição de colônia, e a exploração de seus recursos naturais e humanos
impediu o seu crescimento econômico e seu desenvolvimento social. Ou seja, dentro de um mesmo
processo, o crescimento econômico de uns foi conseguido em detrimento de outros.
Podemos dizer que as desigualdades econômicas e sociais dividem o mundo em dois grandes grupos:
o dos países ricos, mais industrializados, desenvolvidos, com menores problemas sociais, e o dos países
pobres, menos industrializados, que contam com inúmeros problemas sociais, incluindo enorme
quantidade de pessoas que vivem em precárias condições de vida. Esses grupos não são homogêneos,
apresentando grandes diferenças.

Grandes Conjuntos de Países


Muitos países subdesenvolvidos, após a Segunda Guerra Mundial, passaram a investir na indústria,
ficando conhecidos como países em subdesenvolvimento. Como a Primeira Revolução Industrial
ocorreu no século XVIII e a Segunda Revolução Industrial no século XIX, esse processo é considerado
industrialização tardia ou retardatária. E o caso do Brasil, México, Argentina e Tigres Asiáticos
(Coreia do Sul, Taiwan, Cingapura e Hong Kong, na China).
Os países ricos e pobres já receberam diversas denominações. Uma delas, a partir da década de
1980, refere-se à localização geográfica. Os mais desenvolvidos passaram a ser chamados de países
do Norte, pois na sua maior parte encontravam-se no Hemisfério Norte. Os subdesenvolvidos,
localizados majoritariamente no Hemisfério Sul, ficaram conhecidos como países do Sul.
Mais recentemente, com a expansão e a internacionalização dos mercados, os países foram divididos
em países centrais, mercados emergentes (ou semiperiféricos) e países periféricos.
Em parte dos países em desenvolvimento (Brasil, México e Argentina), o processo de industrialização
apoiou-se no modelo de substituição de importações, que incluía a proteção do mercado interno, a
proibição da entrada de manufaturados estrangeiros e o fortalecimento de indústrias locais (nacionais e
transnacionais).
Outros países, como os que compõem os Tigres Asiáticos, industrializaram-se a partir do modelo de
plataformas de exportação, no qual empresas transnacionais se instalam em determinado país e
passam a exportar sua produção para outros países, onde o produto final é montado.

Mudanças nos Padrões de Divisão Internacional do Trabalho


Desde o final do século XX têm ocorrido algumas mudanças nos padrões da divisão da produção e do
comércio internacional, com o crescimento da participação dos países em desenvolvimento nas
exportações de manufaturados.
No início do século XX, diversos países subdesenvolvidos, incluindo o Brasil, eram predominantemente
agroexportadores. Na tradicional divisão internacional do trabalho essas economias estavam
assentadas principalmente na exportação de matérias primas ou produtos primários (agropecuários,
extrativos, minerais) para os países ricos. Por outro lado, os países subdesenvolvidos recebiam dos
países desenvolvidos produtos do setor secundário (industrializados) e do setor terciário (comércio,
capital, tecnologia). Os produtos exportados pelos países subdesenvolvidos tinham menor valor que os
exportados pelos países desenvolvidos. Na produção industrial e tecnológica estão os produtos de maior
valor agregado, ou seja, com maior quantidade de riqueza incorporada.
Desde as últimas décadas do século XX, os países em desenvolvimento têm encontrado algumas
brechas para produzir e colocar produtos manufaturados no comércio mundial. No entanto, em grande
parte, ainda exportam produtos que agregam apenas tecnologia tradicional.
O êxito no mercado internacional, com entrada significativa de divisas, não ocorre apenas para
produção e exportação de grande volume de mercadorias. O que importa mais é o valor agregado à
mercadoria. No caso, os países desenvolvidos agregam alta tecnologia.
A maior parte do aumento da participação dos países em desenvolvimento no mercado de bens
manufaturados provém da Ásia Oriental e do Pacífico.
Somente um pequeno grupo de países participa das exportações de alta e média tecnologia (China e
Taiwan, Coreia do Sul, Malásia, Cingapura, Índia, além do México, na América Latina).
O mesmo acontece com as exportações de manufaturados com utilização de baixa tecnologia, nas
quais se destacam China, Taiwan, Coreia do Sul, México e índia.

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Outros fatores como o custo dos transportes a distância entre os mercados mundiais influem no
comércio.

Nova Divisão Internacional do Trabalho


Atualmente, tem-se estabelecido entre os países uma nova divisão internacional do trabalho,
destacando-se três grupos de países: os industrializados centrais, os industrializados semiperiféricos e
as economias periféricas, predominantemente agroexportadoras.
Os países industrializados centrais iniciaram sua industrialização ainda no século XIX, formando
uma indústria nacional e consolidando um mercado interno. Atualmente fabricam e exportam produtos da
indústria de ponta (informática, aeroespacial e outras), os quais agregam alta tecnologia.
Podemos citar como exemplos os Estados Unidos, alguns países da Europa Ocidental (Alemanha,
França, Reino Unido, Itália, Holanda, Bélgica, Suíça e Suécia), Japão e Canadá.
O grupo das sete nações mais industrializadas (Estados Unidos, Japão, Alemanha, França, Itália,
Reino Unido e Canadá) é conhecido como G-7. Em alguns casos a Rússia integra esse grupo, que passa
a ser denominado G-8.
Os países industrializados semiperiféricos formam um grupo muito diversificado e a maior parte
tem pouca porcentagem de participação nas exportações de produtos manufaturados.
Além das áreas centrais da Europa, outros países europeus (como Polônia, Espanha, Portugal e
Grécia) ou ex-colônias europeias (Austrália, Nova Zelândia, África do Sul) funcionam como espaços de
produção industrial anexos dos países centrais.
Alguns países da Comunidade de Estados Independentes (CEI), como Rússia, Cazaquistão, Belarus
e Ucrânia, tentam se reorganizar industrialmente após o abandono do regime socialista.
Também fazem parte desse grupo países da América Latina, como México, Brasil e Argentina, que
fabricam e exportam produtos industrializados utilizando principalmente baixa e média tecnologia, mas
também exportam produtos agrícolas, matérias-primas minerais e vegetais.
Os países semiperiféricos da Ásia têm aumentado sua participação nas exportações mundiais,
representando 31,5% do total em 2010, ano em que a China ultrapassou os Estados Unidos tornando-se
a primeira potência comercial do mundo. Os Tigres Asiáticos constituíram uma indústria nacional voltada
para o mercado internacional, abastecendo-o com produtos de tecnologia avançada (computadores,
automóveis e aparelhos eletrônicos). Investimentos em educação produziram uma mão de obra
qualificada, embora barata.
Os Novos Tigres Asiáticos, conjunto formado por Malásia, Indonésia, Filipinas e Tailândia, procuram
aumentar sua produção e exportação de manufaturados. Esses países se industrializaram na década de
1970, na mesma época da industrialização de Chile, Egito, Turquia, Ilhas Maurício, Venezuela, Colômbia,
Peru, Argélia e Marrocos.
Entre os países semiperiféricos, os exportadores mais dinâmicos, que respondem por até 80% das
exportações dos países em desenvolvimento, de baixa, média e alta tecnologia, são apenas sete: China,
Coreia do Sul, Malásia, Cingapura, Taiwan, México e Índia.
A China e a Índia, economias que têm crescido muito, integram-se ao esquema de produção e
comercialização fabricando, entre outros, partes de componentes para computadores ou carros.
Contando com um terço da população mundial e com grandes taxas de crescimento econômico, apesar
de apresentarem grandes problemas sociais, uma aliança entre essas duas potências emergentes
poderia redefinir o poder mundial.
Especialistas do mundo dos negócios dizem que no final da primeira metade do século XXI será
impossível ignorar a sigla Brics – iniciais de Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul (South Africa).
Inicialmente, os quatro primeiros países constituíram o Bric, um grupo de cooperação que realizava
reuniões anuais com o objetivo de aumentar sua importância geopolítica no cenário mundial. Em 2011, a
África do Sul foi formalmente incluída no grupo, por apresentar desenvolvimento similar. Esses países
são considerados a elite dos mercados emergentes com crescente importância na economia global.
Segundo prognósticos, esses cinco países deverão estar entre as maiores economias do planeta,
desbancando potências como o Japão e a Alemanha.
Os países de fraca industrialização (ou periféricos) constituem-se de parte dos países asiáticos,
parte dos latino-americanos e a maioria dos africanos. Contando com pouca industrialização e tendo por
base uma economia agroexportadora, participam marginalmente do mercado mundial, fornecendo
principalmente produtos primários.
Na África, destacam-se as exportações de cacau (Costa do Marfim), de tabaco (Zimbábue) e de
minérios, como o diamante (Botsuana e Namíbia) e o cobre (Zâmbia e Namíbia). Na América Central e
América do Sul, Jamaica e Suriname exportam bauxita; a Bolívia, gás natural; e o Chile, cobre. Na Ásia,
o Sri Lanka depende das exportações de chá.

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As cotações das commodities (mercadorias em estado bruto ou produtos primários) são fixadas pelos
países ricos, sendo constantemente depreciadas. Além disso, os países ricos mantêm um conjunto de
barreiras protecionistas e de subsídios agrícolas, desfavorecendo ainda mais os países periféricos.

Interesses Econômicos e Comércio Internacional


Pouco antes do final da Segunda Guerra Mundial, a Conferência de Bretton Woods, realizada em 1944
nos Estados Unidos, estabeleceu novas regras financeiras e comerciais mundiais. O sistema monetário
internacional utilizava o padrão-ouro para definir o valor das moedas a partir do peso do ouro ou
equivalente (1870-1914). A substituição do padrão-ouro pelo padrão dólar-ouro (1944-1971), definido
na Conferência de Bretton Woods, fez do dólar dos Estados Unidos a principal moeda internacional,
assegurando seu predomínio nos bancos centrais dos países e no comércio mundial. Os Estados Unidos
se comprometiam a trocar, sempre que necessário, dólares por ouro.
Cada país era obrigado a declarar o valor de sua moeda em dólar e em ouro para o Fundo Monetário
Internacional (FMI), um dos organismos criados nessa conferência, que tinha a função de garantir a
estabilidade do sistema financeiro para favorecer a expansão e o desenvolvimento do comércio mundial.
Posteriormente esse organismo passou a supervisionar as dívidas externas dos países.
Como resultado da Conferência de Bretton Woods foi criado também o Banco Mundial, em 1945, que
financiou a reconstrução da Europa no pós-guerra. Atualmente realiza empréstimos para países
periféricos ou semiperiféricos. Uma das principais instituições que compõem o Banco Mundial é o Banco
Internacional para a Reconstrução e o Desenvolvimento (Bird).
Na fase da globalização financeira, déficits na balança de pagamentos dos Estados Unidos levaram o
país a declarar, em 1971, que não mais converteriam dólar em ouro. Em 1979, foi estabelecido o padrão
financeiro de câmbio flutuante, adotando-se o sistema de taxas de câmbio flutuantes entre divisas.
Dessa maneira, abriu-se o caminho para os programas de reajuste estrutural, impostos pelo FMI aos
países periféricos, e para a liberalização do comércio externo. Os países subdesenvolvidos obtiveram
permissão para contrair empréstimos junto ao FMI. Assim, ao final de 2003, os países em
desenvolvimento tinham uma dívida de mais de 2,5 bilhões de dólares oprimindo-os e impedindo-lhes o
desenvolvimento.
Muitas dívidas, contraídas em períodos de ditaduras, foram consideradas “odiosas” por alguns
economistas e organizações, pois não serviam aos interesses do povo. Mesmo o pagamento de enormes
quantias tem sido insuficiente para quitar parte dessa dívida externa diante dos altos encargos de juros e
dos serviços da dívida (reembolso anual de capital e interesses vencidos). Estima-se que a África
Subsaariana pagou duas vezes o montante de sua dívida externa, entre 1980 e 1996, mas encontra-se
três vezes mais endividada. Sendo assim, os países pobres passam a depender de mais empréstimos de
instituições como o FMI e o Banco Mundial para manter esse círculo vicioso, submetendo-se às
imposições de ajustes estruturais.
Outro organismo que estabelece regras para o comércio internacional, visando diminuir barreiras
comerciais, é a Organização Mundial do Comércio (OMC), criada em 1995 em substituição ao Acordo
Geral de Tarifas e Comércio (Gatt), de 1947. Em diversas negociações, esse organismo tem favorecido
os países mais industrializados, como entre 1986 e 1994, na Rodada do Uruguai; em 1999, na Rodada
do Milênio; e, em 2001, na Rodada de Doha.
De fato, a taxa de abertura econômica dos países mais ricos – 13,5% para os Estados Unidos e Japão,
e 14,3% para os da União Europeia – é muito inferior à dos países mais pobres (cerca de 30%). Isso se
deve ao fato de que a pressão da União Europeia e dos Estados Unidos foi maior para exportar seus
produtos industriais e serviços a taxas aduaneiras mais baixas do que a diminuição de subvenções e
créditos protecionistas aos seus produtos agrícolas. Esse fato acentuou ainda mais a desigualdade de
condições dos países no comércio mundial.
Por causa dessas dificuldades, outras organizações exercem um poder político importante no contexto
internacional. Esse é o caso da Conferência das Nações Unidas sobre o Comércio e o
Desenvolvimento (Unctad), que desde 1964 presta auxílio técnico aos países em desenvolvimento para
a integração no comércio mundial. Por considerar discriminatórias as políticas da OMC, esses países
apoiam-se na Unctad para negociar com os países ricos.
A organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) também é um bom exemplo de
organização paralela de defesa de interesses.

Fluxos do Comércio Internacional


Desde as duas últimas décadas do século XX, o comércio internacional tem apresentando crescimento
acelerado, ciclo que foi momentaneamente interrompido com a crise financeira dos Estados Unidos, no
final de 2008.

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O mercado imobiliário americano passou por uma fase de expansão acelerada desde 2001, estimulado
pela queda gradativa de juros e incorporação de segmentos da sociedade de renda mais baixa e com
dificuldade de comprovar sua capacidade de pagamento de débitos. Esses negócios estimularam o
mercado de títulos de maior risco até gerar uma reação em cadeia de inadimplência que quebrou o
mercado de créditos imobiliários. Essa crise imobiliária provocou uma crise mais ampla no mercado
financeiro americano, afetando o desempenho da economia mundial.
Por causa dessa crise, as economias do mundo rico encolheram 3,2% em 2009 e cresceram, em
média, 2% em 2010. O desemprego também aumentou nesses países, atingindo patamares acima de
8%. Em contrapartida, no Bric, a crise teve um impacto menor.
Por sua vez, o comércio mundial encontra-se fortemente concentrado nos países mais ricos, e os
principais prejudicados da crise financeira foram os mais pobres. Segundo projeções do Banco Mundial,
o número de pessoas muito pobres será maior até 2020 do que poderia ser se o crescimento econômico
não tivesse diminuído desde 2008 e os programas sociais não tivessem sido afetadas.

Questões

01. (PC/PI – Escrivão de Polícia Civil – UESPI) No início dos anos 1990, o mundo assistiu à
derrocada do chamado Bloco Socialista, comandado pela ex-União Soviética, tendo como consequência
o fim da Guerra Fria e o surgimento de uma Nova Ordem Mundial, que apresenta como características,
EXCETO,
(A) o controle do mercado mundial por grandes corporações transnacionais.
(B) aprofundamento da Globalização da economia e consolidação da tendência à formação de blocos
econômicos regionais.
(C) processos pacíficos de Fragmentação territorial sem ocorrência de conflitos étnicos, a exemplo da
ex-Iugoslávia.
(D) ampliação das desigualdades internacionais.
(E) a existência de uma realidade mais complexa, com múltiplas oposições ou tensões econômicas,
étnicas, religiosas, ambientais etc.

02. (Prefeitura de Martinópole/CE – Agente Administrativo – CONSULPAM) A nova economia


internacional possui elementos característicos onde os que se destacam são os que se referem ao quadro
geral determinado pela Globalização. Com isso podemos AFIRMAR que o atual cenário mundial é
assinalado pela:
(A) bipolaridade
(B) unimultipolaridade
(C) velha ordem mundial
(D) Nova Guerra Fria

03. (SEDU/ES – Professor de Geografia – CESPE) Com relação à geografia política mundial, julgue
o item a seguir.
A nova ordem mundial apresenta uma faceta geopolítica e outra econômica. Na geopolítica, houve
uma mudança para um mundo multipolar, onde as potências impõem mais por seu poder econômico que
pelo poder bélico. Na economia, o que aconteceu foi o processo de globalização e a formação de blocos
econômicos supranacionais.
(....) Certo (....) Errado

04. (IF/SE – Analista – IF/SE) "Com a derrocada do socialismo real e da União Soviética, entre 1989
e 1991, surgiu uma nova ordem mundial que, a princípio, parecia ser unipolar, com uma única
superpotência, os Estados Unidos. Mas essa ideia parece ser aplicável somente a um breve período
transitório, pois o poderio estadunidense vem se enfraquecendo, em termos relativos (isto é, em
comparação com o crescimento da China, da Europa unificada, da Índia etc.)." Vesentini, Wiliam - 2009. Assinale
a afirmativa correta sobre os fatos da nova ordem mundial:
(A) O ponto fraco da União Europeia é o rápido envelhecimento e o baixo poder aquisitivo de sua
população.
(B) Apesar da crise na transição do socialismo real para a economia, a herdeira da Ex União Soviética,
Rússia, voltou a ser uma superpotência, apesar da fragilidade do setor de tecnologia de ponta.
(C) Uma das dificuldades para o Japão na formação de um Megabloco na Ásia é a desconfiança de
algumas importantes nações, como China e Coréia do Sul, que o consideram um país imperialista,

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sobretudo pela brutalidade e pelo racismo demonstrado pelas tropas japonesas quando da ocupação de
seus territórios.
(D) A China atualmente é o Estado nacional que poderia ameaçar a hegemonia estadunidense, em
função do crescimento econômico e do regime político democrático.
(E) A Índia é outro país que vem se modernizando, e é favorecida pela abundância de recursos
minerais e ausência de problemas étnicos, sociais e político territoriais.

05. (IF/SP – Professor de Geografia – FUNDEP) O processo de mundialização da economia


capitalista inaugurou uma nova divisão internacional do trabalho porque
(A) a diversidade das plantas industriais, até então vigentes nas mais diferentes economias do planeta,
sofreram homogeneização, excluindo a complementaridade.
(B) a divisão do mundo em países produtores de bens industrializados e países unicamente produtores
de matérias-primas, quer agrícolas, quer minerais, já não bastava.
(C) a expansão industrial sobrepôs uma divisão horizontal à antiga divisão vertical do trabalho,
mediante eliminação de níveis de qualificação dentro de cada ramo industrial
(D) a indústria multinacional restringiu sua atuação aos mercados de países centrais e criou bases
produtivas adaptadas às necessidades de seus mercados nacionais.

06. (Instituto Rio Branco – Diplomata – CESPE) A mundialização não diz respeito apenas às
atividades dos grupos empresariais e aos fluxos comerciais que elas provocam. Inclui também a
globalização financeira, que não pode ser abstraída da lista das forças às quais deve ser imposta a
adaptação dos mais fracos e desguarnecidos. François Chesnais. A mundialização do capital. São Paulo: Xamã, 1996 (com adaptações).
Tendo como referência inicial o fragmento de texto apresentado, julgue (C ou E) o item subsequente.
Mundialização do capital ou globalização refletem a capacidade estratégica de grandes grupos
oligopolistas, voltados para a produção industrial ou para as principais atividades de serviços, em adotar,
por conta própria, enfoque e conduta globais.
(....) Certo (....) Errado
07. (Instituto Rio Branco – Diplomata – CESPE) A mundialização não diz respeito apenas às
atividades dos grupos empresariais e aos fluxos comerciais que elas provocam. Inclui também a
globalização financeira, que não pode ser abstraída da lista das forças às quais deve ser imposta a
adaptação dos mais fracos e desguarnecidos. François Chesnais. A mundialização do capital. São Paulo: Xamã, 1996 (com adaptações).
Tendo como referência inicial o fragmento de texto apresentado, julgue (C ou E) o item subsequente.
O princípio geográfico da localização, no mundo globalizado economicamente competitivo, é superado
pelos sistemas técnicos e de informação.
(....) Certo (....) Errado

08. (Instituto Rio Branco – Diplomata – CESPE) A mundialização não diz respeito apenas às
atividades dos grupos empresariais e aos fluxos comerciais que elas provocam. Inclui também a
globalização financeira, que não pode ser abstraída da lista das forças às quais deve ser imposta a
adaptação dos mais fracos e desguarnecidos. François Chesnais. A mundialização do capital. São Paulo: Xamã, 1996 (com adaptações).
Tendo como referência inicial o fragmento de texto apresentado, julgue (C ou E) o item subsequente.
No mundo globalizado, observa-se uma tendência de compartimentação generalizada dos territórios,
onde se associam e se chocam o movimento geral da sociedade do trabalho e o movimento particular de
cada fração espacial: do nacional ao regional e ao local.
(....) Certo (....) Errado

Gabarito

01.C/ 02.B / 03.Certo / 04.C / 05.B / 06.Certo / 07.Errado / 08. Certo

Comentários

01. Resposta: C
Com a crise do bloco socialista, no final dos anos 1980, uma nova fase se abriu para a história da
Iugoslávia. Em 1991, Croácia, Eslovênia e Macedônia declararam sua independência, sendo que apenas
esta última de maneira pacífica. A separação da Croácia e da Eslovênia foi acompanhada por intensos
conflitos militares liderados pelo então presidente sérvio Slobodan Milosevic. Em 1992, a Bósnia declarou
sua independência, passando a enfrentar militarmente a Croácia, em disputa por territórios, e sobretudo
a Sérvia, contrária ao movimento separatista de mais uma região iugoslava.

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02. Resposta: B
Nova Ordem Mundial é a lógica internacional da ordem de poder entre os Estados nacionais no período
que sucede a Guerra Fria. A Nova Ordem Mundial é caracterizada pela UNIMULTIPOLARIDADE, uma
vez que temos a supremacia dos Estados Unidos no campo bélico e político, e a emergência de várias
potências no campo econômico: China, União Europeia, Japão e o próprio EUA.

03. Resposta: Certo


Com a queda do Muro de Berlim, em 1989, a comunidade internacional passa por uma reformulação
das estruturas de poder e força entre os Estados Nacionais, gerando uma nova configuração geopolítica
e econômica que foi chamada de Nova Ordem Mundial. Uma das mudanças principais desse novo plano
geopolítico internacional foi o estabelecimento de uma multipolaridade, onde o poderio militar não era
mais o critério determinante de poder global de um Estado Nacional, perdendo lugar para o poderio
econômico. Já a área econômica passa por um processo de globalização, gerando fluxos crescentes de
bens, serviços e capitais que perpassam as fronteiras nacionais. Além disso, a formação de blocos
econômicos supranacionais visam atender tanto os interesses de corporações transnacionais, que
almejam a eliminação das barreiras alfandegárias, como os Estados Nacionais que tentam garantir
algumas vantagens políticas.

04. Resposta: C
O Japão apesar de ser o mais rico da Ásia em outrora buscou seu domínio nos países do pacífico com
ocupações territoriais, principalmente durante a 2ª guerra, desde então os asiáticos não fecham em um
bloco econômico com receio de um novo domínio japonês, através da economia sobre eles.

05. Resposta: B
O processo de mundialização da economia capitalista monopolista teve como pressuposto básico a
necessidade de uma nova divisão internacional do trabalho. Já não bastava um mundo dividido em países
produtores de bens industrializados e países unicamente produtores de matérias-primas, quer agrícolas,
quer minerais. A mundialização da economia pressupõe uma descentralização da atividade industrial e
sua instalação e difusão por todo o mundo. Pressupõe também um outro nível de especialização dos
produtos oriundos dos diferentes países do mundo para o mercado internacional. Assim,
simultaneamente, a indústria multinacional implanta-se nos mercados existentes em todos os países
(através de filiais, fusões, associações, franquias etc.) e cria bases para a produção industrial adaptada
às necessidades desses mercados nacionais. Ao mesmo tempo, atua de forma a aprimorar a exploração
e a exportação das matérias-primas requeridas pelo mercado internacional. Esse processo de expansão
industrial sobrepôs uma divisão vertical à antiga divisão horizontal do trabalho. Agora combina-se a antiga
divisão por setores (primário: agrícola e mineiro, e secundário: industrial) em níveis de qualificação dentro
de cada ramo industrial.

06. Resposta: Certo


A globalização pode ser interpretada sob 4 linhas básicas:
1) Globalização como um período histórico;
2) Globalização como compressão do tempo e do espaço;
3) Globalização como hegemonia dos valores liberais; e
4) Globalização como fenômeno socioeconômico. Nesta concepção, François Chesnay, economista
da OCDE, entende que a globalização traduz a capacidade estratégica do grande grupo oligopolista em
adotar abordagem e conduta globais, relativas simultaneamente a mercados compradores, fontes de
aprovisionamento, localização da produção industrial e estratégias dos principais concorrentes.

07. Resposta: Errado


Apesar da maior integração e na diminuição do tempo e custo necessários para a circulação de
informações e mercadorias, o princípio geográfico da localização não foi superado. A rede global não
flutua no ar, ela se entrelaça em nós, em locais estratégicos dentre os quais é possível citar grandes
áreas de produção industrial, portos de redistribuição mundial como Singapura e Rotterdam, centros de
decisão como o Vale do Silício nos Estados Unidos, dentre outras. Também mostra como o princípio de
localização não foi superado a elevação de fenômenos de valorização regional, que crescem como
antinomia ao global. Um exemplo disso são os selos de origem regional europeus, que valorizam produtos
oriundos de regiões específicas por suas características únicas e exclusivas, como o Champanhe francês.

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08. Resposta: Certo
Os territórios tendem a uma compartimentação generalizada, onde se associam e se chocam o
movimento geral da sociedade planetária e o movimento particular de cada fração, regional ou local, da
sociedade nacional. Esses movimentos são paralelos a um processo de fragmentação que rouba às
coletividades o comando do seu destino, enquanto os novos atores também não dispõem de instrumentos
de regulação que interessem à sociedade em seu conjunto.

CONFLITOS ÉTNICO-NACIONALISTAS47

A disputa pela soberania sobre territórios e pela definição de novas fronteiras tem ocasionado
numerosos conflitos pelo mundo. Muitos desses conflitos também são gerados pelas divergências entre
povos de culturas diferentes.
Essas questões geradoras de instabilidades têm estado cada vez menos isoladas, repercutindo
mundialmente e influenciando questões econômicas, políticas e militares no atual mundo globalizado.
Estudaremos alguns dos principais conflitos no mundo e sua repercussão internacional.

Um refugiado é uma pessoa que, “receando, com razão, ser perseguida em virtude da sua raça,
religião, nacionalidade, filiação em certo grupo social ou das suas opiniões políticas, se encontre fora do
país de que tem a nacionalidade e não possa ou, em virtude daquele receio, contar com a proteção
daquele país...” (ONU, Acnur – Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados. The 1951 Convention relating to the Status of Refugees. Em:
www.unhcr.ch).

Globalização e Fragmentação

Nas últimas décadas do século XX, ao mesmo tempo em que se intensificava o processo de
globalização, ampliavam-se os conflitos étnico-nacionalistas, muitos deles relacionados a movimentos
separatistas. A ampliação desses conflitos revela uma situação aparentemente contraditória, pois, ao
mesmo tempo em que a reprodução da modernidade, em nível global, tende a homogeneizar hábitos por
meio do consumo e da indústria cultural, e integrar mercados por meio das organizações supranacionais,
diversos povos lutam por sua autonomia, fragmentando o mundo num número cada vez maior de países.
No entanto, se por um lado, a busca pela independência, pela afirmação da identidade nacional e dos
valores culturais próprios pode ser vista como reação à globalização, por outro lado, a capacidade que a
modernidade tem de se reproduzir não depende do fato de existirem mais ou menos países no mundo.
Os conflitos étnico-nacionalistas estão relacionados, de modo geral, com a formação de Estados ou
países que abrigam diversas nações (multinacionais ou multiétnicas).

Estado e Nação
O conceito de nação está diretamente relacionado ao de cultura. Mas é importante ressaltar que, entre
os estudiosos, não há consenso em relação à definição de nação. Optamos por empregar a conceituação
que diferencia nação de Estado-nação.
Estado-nação é uma entidade político-administrativa, personificada por diversas instituições (Forças
Armadas; poderes Executivo, Legislativo e Judiciário), que possui um território delimitado, sobre o qual
age soberanamente.
Nação é um conjunto de pessoas que têm em comum o passado histórico, a língua, os costumes, os
valores sociais, culturais e morais, e, quase sempre, a religião. Tudo isso confere à nação uma identidade
cultural, uma consciência nacional, que contribui para que os seus indivíduos compartilhem determinadas
aspirações, como, por exemplo, o desejo de permanecerem unidos, de se promoverem em termos sociais
e econômicos, e de preservarem sua identidade nacional (aspecto importantíssimo no conceito de nação).

No mundo, a maioria dos países é constituída por diversas nações, ou seja, os Estados são
multinacionais ou multiétnicos. As principais razões das lutas separatistas de cunho nacionalista são
explicadas pela não-aceitação das diferenças étnicas e culturais, pela existência de privilégios impostos
pela supremacia de um grupo sobre outro, pelos interesses econômicos de determinados grupos sociais
e pelo desejo de nações em constituírem seus próprios Estados.
Mas nem todo movimento nacionalista parte de interesses legítimos. Outra concepção de
nacionalismo prega o uso da força para defender seus interesses, e considera o outro, em função das
diferenças étnicas ou raciais, como inimigo e adversário. Nesta concepção o nacionalismo confunde-se

47
LUCCI, Elian Alabi. Geografia Geral e do Brasil. Elian Alabi Lucci; Anselmo Lazaro Branco; Cláudio Mendonça. 3ª edição. São Paulo: Saraiva, 2014.
MARTINEZ, Rogério; GARCIA, Wanessa. Novo olhar: Geografia. 1ª edição. São Paulo: FTD, 2013.

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com o racismo e a xenofobia. Foi essa concepção de nacionalismo que Hitler colocou em prática na
Alemanha.
Portanto, as lutas étnicas e nacionalistas, que se multiplicaram nas duas últimas décadas do século
XX, devem ser analisadas a partir dos aspectos peculiares a cada uma delas e dos diferentes contextos
histórico-geográficos em que se desenvolveram.

O Fundamentalismo Islâmico
O Islamismo é a religião que mais cresce no mundo. Conta, atualmente, com cerca de 1 bilhão e 200
milhões de fiéis espalhados, sobretudo, pelo Oriente Médio, norte da África e sudeste asiático, onde se
encontra a Indonésia, país com a maior população islâmica do mundo. Essa religião foi fundada por
Maomé, no século VII, e baseia-se no Corão ou Alcorão, também chamado de Livro de Deus (Kitab Alah).
Os seguidores do Islamismo são denominados muçulmanos.
Mas a interpretação do Corão não é a mesma para todos os muçulmanos. Para vários deles, certos
aspectos das sociedades ocidentais, como, por exemplo, a liberdade de expressão e de religião, e a
igualdade de direitos entre homens e mulheres, são incompatíveis com as leis do Corão.
Para os fundamentalistas, o Ocidente, com seus valores, constitui uma ameaça à sociedade
muçulmana. Superado o “perigo vermelho”, representado pela URSS, o fundamentalismo islâmico surge
como um dos grandes “vilões” do Ocidente. Após os atentados de 11 de setembro de 2001, essa imagem
tem sido muito explorada pelos Estados Unidos, que relacionam os grupos fundamentalistas ao
terrorismo.
Além dos esforços de preservação cultural, o crescimento do fundamentalismo islâmico está
relacionado aos sucessivos fracassos econômicos e políticos dos governos de vários países muçulmanos
da Ásia e do norte da África, os quais, com o término da Segunda Guerra Mundial, conquistaram sua
independência e passaram a ter governos próprios.
Desde então, o caos econômico e social, aliado ao autoritarismo e à corrupção da classe política
dirigente, passou a representar um terreno extremamente fértil para a expansão do fundamentalismo
islâmico em alguns países. A população muçulmana foi depositando cada vez mais suas esperanças nas
próprias raízes religiosas e culturais, já que a chegada da modernidade só trouxe benefícios para uma
minoria – a elite econômica.
Além disso, a independência política conquistada por esses países também não significou a eliminação
das interferências externas das grandes potências mundiais. A posição das grandes potências mundiais
– sobretudo dos Estados Unidos – em relação aos governos dos países islâmicos, sempre foi ambígua.
No Oriente Médio, por exemplo, o petróleo foi o fio condutor que determinou o apoio norte-americano a
um ou outro governante, de acordo com as vantagens econômicas e estratégicas que pudessem ser
abertas nessa região.

Principais Conflitos Étnicos na Europa

Os conflitos no centro e leste da Europa estão relacionados ao fim dos governos socialistas de cunho
centralizador e autoritário, os quais foram implantados em diversos países dessa região após a Segunda
Guerra Mundial. No entanto, a história da diversidade e dos conflitos étnicos na região é antiga. Ela resulta
da expansão dos impérios Russo, Otomano e Austro-Húngaro, e da decomposição desses dois últimos
entre o final do século XIX e as duas primeiras décadas do século XX. Esses impérios controlaram
diversas nações – praticamente as mesmas que foram submetidas aos regimes comunistas do pós-guerra
– e foram responsáveis pela instabilidade nas fronteiras dessa região europeia.
Os conflitos nacionalistas também estão relacionados, muitas vezes, à falta de perspectivas de
melhoria das condições de vida da população mais atingida pelas más condições socioeconômicas de
determinado país. Soma-se, a tudo isso, o sentido nacionalista – a vontade de ver os símbolos da nação
não mais submetidos a outro poder. Esse sentimento, apesar de ser um elemento aglutinador, de criar
laços de solidariedade, pode ser facilmente manipulado por líderes inescrupulosos.

Conflito nos Bálcãs: Esfacelamento da Iugoslávia


Bálcãs é uma região peninsular localizada no sudeste da Europa, onde hoje estão situadas a Bulgária,
Albânia, Grécia, Turquia (trecho europeu), Iugoslávia, Croácia, Eslovênia, Macedônia e Bósnia –
Herzegovina. O termo balcanização é uma referência aos diversos conflitos étnico-nacionalistas que
ocorreram e ocorrem na região, onde a instabilidade das fronteiras é uma marca. Esse termo é utilizado
para se referir aos movimentos separatistas que se alastram por todo o mundo.

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Até 1991, a Iugoslávia era formada por seis repúblicas (Sérvia, Croácia, Eslovênia, Bósnia-
Herzegovina, Macedônia, Montenegro) e duas regiões autônomas (Kosovo e Vojvodina) pertencentes à
Sérvia.
A população iugoslava compunha-se de várias nacionalidades (sérvios, croatas, eslovenos,
macedônios, albaneses, húngaros) e alguma delas encontravam-se espalhadas em praticamente todas
as seis repúblicas. Além disso, no país predominavam três religiões (muçulmana, cristã ortodoxa católica
romana) e falavam-se cinco idiomas (sérvio-croata, esloveno, albanês, húngaro, macedônio).
Essa complexa composição étnica manteve-se unida sob o governo de Josip Broz (marechal Tito),
líder de origem croata, que, devido ao carisma e habilidade política e apoio do aparato militar, conseguiu
congregar, num único Estado, toda a diversidade nacional, religiosa e étnica.
A morte de Tito, em 1980, comprometeu esta relativa estabilidade. Em 1990, o fim da URSS fortaleceu
os movimentos separatistas que desabrocharam em todas as repúblicas iugoslavas. O poderio militar da
federação iugoslava, em grande parte controlado pelos sérvios, tentou impedir a independência destas
repúblicas e, para isso, conto com o apoio dos sérvios que nelas viviam.
Em junho de 1991, a Eslovênia e a Croácia declararam independência, que foi reconhecida pela
Iugoslávia após breve período de violentos conflitos. A Macedônia seguiria o mesmo alguns meses
depois. Neste caso, não houve guerra com o governo central. Em abril de 1992, a Bósnia-Herzegovina
também declarou independência, dando origem ao mais violento e intenso conflito da região balcânica.

A Independência da Bósnia
A Bósnia-Herzegovina era a república iugoslava etnicamente mais heterogênea: 39,5% de
muçulmanos, 32% de sérvios, 18,4% de croatas.
Após ter sua independência reconhecida por diversos países europeus, pelos Estados Unidos e pela
ONU, croatas, muçulmanos e sérvios passaram a disputar fatias do território bósnio. A guerra civil da
Bósnia teve início em 1992 e tornou-se acirrada quando o líder sérvio, Radovan Karadzic, contrário à
separação, proclamou a formação da República Sérvia da Bósnia-Herzegovina, não reconhecendo a
independência do país. A guerra se estendeu até 1995, apresentando um saldo de mais de 200 mil mortos
e 2 milhões de refugiados muçulmanos. Essa guerra foi marcada pelo extermínio (“limpeza étnica”) dos
não-sérvios que viviam na ex-república iugoslava, o qual contou com o apoio do então presidente da nova
Iugoslávia, Slobodan Milosevic.

Limpeza étnica é a situação em que um Estado ou governante promove a expulsão e/ou extermínio
de um grupo étnico, geralmente minoritário, em seu território. Os métodos utilizados também envolvem
perversidades e atrocidades, como a morte indiscriminada de civis, estupro de mulheres, incêndio de
residências, etc. O objetivo é amedrontar a população e promover a fuga em massa do território. Busca-
se, desta forma, um equilíbrio étnico favorável ao grupo que detém o poder.

Em 1995, um acordo de paz selou o fim da guerra na Bósnia. Esse acordo dividiu o país em uma
Federação muçulmano-croata, que controla 51% do território bósnio, e uma República Sérvia da Bósnia,
que controla 49%. O governo é regido por uma presidência colegiada, com representantes das três etnias.
No entanto, a permanência de povos inimigos históricos e com ambições territoriais e nacionalistas no
mesmo país e as dificuldades de uma administração conjunta tornam a região bastante instável.
Apesar do acordo de paz ter sido assinado em Paris, ele ficou conhecido por Acordo de Dayton, nome
da cidade dos Estados Unidos em que está situada a Base Aérea de Wright-Patterson, local em que as
negociações foram realizadas.

A Guerra de Kosovo
A partir de 1998, os conflitos passam a se desenrolar na região de Kosovo, habitada
predominantemente por população de origem albanesa (90% dos dois milhões de habitantes) e que,
desde 1989, tinha perdido parte da autonomia em relação ao poder central iugoslavo, como o direito ao
ensino em língua albanesa e a uma polícia própria.
Para fazer frente ao crescimento do movimento separatista armado, liderado pelo ELK (Exército de
Libertação de Kosovo), o então presidente da Iugoslávia, Slobodan Milosevic, contra-atacou com violência
a região de Kosovo. Alegando combater os separatistas e defender a integridade do país, promoveu um
massacre à população civil. Em 1999, a OTAN negociou com a Iugoslávia o fim do conflito e a volta da
autonomia de Kosovo. Diante da recusa iugoslava, as tropas da OTAN lançaram um intenso ataque ao
país. A guerra de Kosovo terminou após 78 dias de bombardeiros liderados pelos Estados Unidos. Essa
ação, classificada pelo governo norte-americano de “defesa humanitária”, não foi decidida no âmbito do
Conselho de Segurança da ONU, constituindo, portanto, um desrespeito às normas internacionais.

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Num sinal claro de que a solução para os problemas étnicos era bastante complexa, o Parlamento da
Iugoslávia, com o acompanhamento da União Europeia, aprovou, em fevereiro de 2003, a Constituição
do novo Estado da Sérvia e Montenegro. Nesse novo Estado, a diplomacia e a segurança são conjuntas,
mas tanto Sérvia como Montenegro têm grande autonomia, a ponto de cada uma ter o seu Banco Central.
Sob pressão de Montenegro, que queria a independência total, acertou-se a realização de um referendo,
em 2006, para decidir se as repúblicas continuariam unidas.

A Questão Basca
Há cerca de cinco mil anos, o povo basco habita uma área de quase 21 mil Km² entre o norte da
Espanha e o sudoeste da França. Os bascos vivem espalhados em quatro províncias espanholas: Álava,
Biscaia, Guipúzcoa e Navarra; e três províncias francesas: Labourd, Baixa Navarra e Soule. Ao longo dos
séculos, os bascos receberam poucas influências culturais ou de miscigenação de outros povos,
preservando assim suas características biológicas, étnicas, culturais e linguísticas. O euskara, a língua
basca, é falado no cotidiano das famílias, nas escolas e no trabalho.
Assim como outras minorias étnicas espalhadas pelo mundo, os bascos alimentam um sentimento
nacionalista, ou seja, aspiram à conquista de soberania política e territorial em relação ao Estado ao qual
estão subordinados. A ideia de um país basco começou a surgir com o Partido Nacionalista Basco, criado
no final do século XIX. Havia um plano efetivo para a instituição do país basco em 1934, mas foi
interrompido pela ditadura (vigente entre 1939-1975) imposta na Espanha pelo governo do general
Francisco Franco. Nesse período, o Partido Nacionalista Basco foi considerado uma organização ilegal,
sofrendo censura e perseguição política, o que também se estendeu a povo basco, que foi impedido de
falar e ensinar sua língua nas escolas, assim como de hastear sua bandeira e promover manifestações
tradicionais de sua cultura.
Nesse contexto de forte repressão política, surgiu um movimento separatista em prol da libertação dos
bascos chamado Euskadi Ta Askatasuna ou “Pátria Basca e Liberdade”, mais conhecido como ETA,
criado em 1959 por dissidentes do Partido Nacionalista Basco. Nas décadas seguintes, o ETA passou a
defender a independência dos bascos por meio da luta armada, sobretudo com ações terroristas. Ao
longo de sua história, os ataques do ETA provocaram a morte de mais de 800 pessoas, entre políticos,
militares e civis, as maiores vítimas.
Em 2006, o ETA declarou cessar-fogo, mas a duração desse ato foi de poucos meses. Em dezembro
do mesmo ano, a organização promoveu o maior atentado terrorista de sua história. O episódio foi
marcado pela explosão de um carro-bomba em um dos terminais do aeroporto de Madri, que destruiu
parte das edificações e deixou dezenas de civis feridos e dois mortos. O uso da violência, no entanto,
comprometeu a imagem da organização perante a opinião PÚBLICA. O ETA perdeu prestígio e apoio
popular, enfraquecendo-se politicamente. Em 2011, a organização divulgou comunicado informando seu
fim definitivo. Ainda assim, a questão está longe de ser resolvida. Na Espanha, a esquerda nacionalista
continua se articulando para criar novas organizações supostamente comprometidas a usar apenas meios
pacíficos para atingir seus fins políticos. O governo espanhol, por sua vez, tem impedido a legalização de
tais organizações.

A Questão Irlandesa
A ilha da Irlanda foi dominada pela Inglaterra no século XII e, desde então, começou a receber grande
quantidade de imigrantes ingleses e escoceses. Em 1800, a Irlanda passou a pertencer ao Reino Unido
(formado, atualmente, pelos países da Grã-Bretanha (Inglaterra, Escócia e País de Gales) e a Irlanda do
Norte), por decreto do rei da Inglaterra na época, dando início à organização da luta pela independência.
Mas foi no início do século XX que os conflitos entre Irlanda e Inglaterra ganharam maiores proporções
com a criação do Sinn Fein, partido político representante do separatismo irlandês, e do Exército
Republicano Irlandês (IRA), que organizou a luta armada contra o domínio britânico.
Os conflitos obrigaram o Reino Unido a realizar uma consulta popular na Irlanda sobre a
independência. As províncias do centro e do Sul, de maioria católica e de população de origem irlandesa,
votaram pela separação do Reino Unido; as províncias do Norte (Ulster), de maioria protestante e de
população de origem inglesa, posicionaram-se contra essa separação.
Em 1921, assinou-se tratado pelo qual as províncias do centro e do Sul poderiam formar um Estado
independente. Esse processo de independência encerrou-se somente em 1937, quando foi instituída a
constituição do novo país, denominado República do Eire. O Reino Unido reconheceria essa
independência apenas em 1949. Em relação à independência das províncias do Norte, o Reino Unido até
hoje mantém-se intransigente em concedê-la.
A ação do IRA tornou-se mais intensa na segunda metade do século XX, através da realização de
atentados terroristas, os quais visavam, inicialmente, atingir as autoridades e instituições britânicas, mas,

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num segundo momento, estendeu suas ações a toda população civil protestante. A reação dos britânicos
contra os irlandeses foi igualmente violenta, intensificando o conflito nas províncias do Norte.
Depois de anos de luta armada, os dois lados do conflito entraram em negociação e, em 1999,
assinaram um acordo de paz que determinou a deposição das armas pelo IRA e a instalação de um
governo compartilhado entre católicos e protestantes. A Irlanda do Norte permaneceu ligada ao Reino
Unido, mas o acordo admite a separação futura caso a população, em sua maioria, tome esta decisão.
Nem todos os irlandeses são favoráveis a este acordo de paz. A violência de ambas as partes, tanto
dos católicos separatistas como dos protestantes unionistas, tem alimentado, por décadas, o ódio entre
esses dois grupos. Por essa razão, muitos acreditam que novos conflitos poderão ressurgir a qualquer
momento.

Os Conflitos no Cáucaso
O Cáucaso, região montanhosa situada a sudeste da Europa, entre o Mar Negro e o Mar Cáspio,
constitui uma da áreas de grande tensão geopolítica, mercada pela eclosão de uma série de guerras civis,
conflitos separatistas e étnicos, além de confrontos fronteiriços pela disputa de territórios entre países
vizinhos.
A região abrange o território de três países – Armênia, Geórgia e Azerbaijão -, além de várias
repúblicas russas, como Ossétia do Norte, Chechênia, Daguestão e Inguchétia, com uma população de
aproximadamente 21 milhões de pessoas, que se destaca pela grande diversidade étnico-cultural. São
mais de 100 grupos étnicos com costumes, línguas e dialetos próprios, que, em sua grande maioria,
seguem a região cristã ou islâmica. Essas diferenças étnico-religiosas estão na base da maioria dos
conflitos que eclodem na região.
Esses conflitos se tornaram mais intensos a partir da desintegração da União Soviética no início da
década de 1990. Até então, essa região esteve sob o domínio do governo soviético, que controlou com
mão de ferro, pelo uso da força, qualquer tipo de rebelião nessas suas repúblicas.
Com o fim da União Soviética, algumas dessas repúblicas se tornaram países independentes,
formando novos países, e outras passaram ao controle da Rússia, principal herdeira do império soviético.
Com o novo arranjo político-territorial e as diferenças étnico-religiosas existentes, foi praticamente
inevitável a eclosão de grandes conflitos na região.
No início da década de 1990, o fortalecimento de um movimento separatista levou a Chechênia, de
população majoritariamente muçulmana, a declarar sua independência em relação à Rússia. O governo
Russo, no entanto, não reconheceu a proclamação dos chechenos e respondeu com um violento ataque
militar aos separatistas, que deixou um saldo de aproximadamente 80 mil mortos, e ficou conhecido como
Guerra da Chechênia (1994-1996). Desde então, o conflito se encontra em estado latente, com os
separatistas chechenos promovendo ataques terroristas contra alvos russos, como ocorreu em 2004,
quando terroristas chechenos invadiram uma escola na república da Ossétia do Norte e detonaram
explosivos, causando a morte de 344 pessoas, sendo 186 crianças.
No Daguestão, outra república russa, grupos muçulmanos lutam para criar um Estado islâmico,
movimento também combatido pelas forças russas que buscam manter o controle da região, rica em
reservas de petróleo. Na Geórgia, os conflitos separatistas envolvem as repúblicas da Ossétia do Sul
(maioria persa e cristã) e da Abkházia (maioria muçulmana ortodoxa), que desde 1991 lutam contra os
georgianos (cristãos) para se tornar independentes. Em 2008, a Geórgia lançou uma ofensiva militar
contra os ossetas, o que levou à intervenção dos russos, que invadiram o território da Ossétia do Sul,
para desalojar tropas georgianas. A participação da Rússia no conflito, no entanto, provocou um
acirramento das tensões com os Estados Unidos, que têm a Geórgia como aliada na região.
A região de Nagorno-Karabakn é alvo de disputa entre a Armênia e o Azerbaijão. Embora esteja
encravada no território do Azerbaijão, país de origem muçulmana, quase 80% de sua população é cristã
e de origem armênia. Assim, desde o início da década de 1990, quando os soviéticos saíram da região,
os armênios reivindicaram a posse do território, fato que já levou esses países a se confrontarem
militarmente entre 1992 e 1994. Apesar das negociações em curso desde o cessar-fogo, o impasse pelo
controle da região ainda persiste.

Territórios e Conflitos na África


Muitos dos conflitos existentes hoje no mundo envolvendo disputa por territórios, como aqueles que
ocorrem em várias partes do continente africano, têm origem histórica ligada ao processo de expansão
do capitalismo ao longo dos últimos dois séculos e suas implicações na delimitação das fronteiras dos
Estados nacionais.
Nas últimas décadas do século XIX, o continente africano, até então habitado por povos de diferentes
grupos étnicos, passou a ser mais efetivamente ocupado e exaltado pelas potências econômicas

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europeias. Em plena Revolução Industrial, países como Inglaterra, França, Bélgica, Holanda e Alemanha
necessitavam de matérias-primas em grande escala e a baixos custos para abastecer seus parques
industriais em expansão. Para assegurar seu suprimento esses países se apropriaram do vasto território
africano (e também de extensas regiões do continente asiático) como forma de explorar os recursos
naturais nele existentes e utilizar suas terras para o cultivo de grandes monoculturas tropicais, as
chamadas plantations. Para isso, estabeleceram a divisão ou partilha do território africano em um acordo
selado em 1885 durante a Conferência de Berlim.
As alterações resultantes dessa divisão desestruturaram a organização política, econômica e social da
maioria dos povos africanos. As fronteiras traçadas de maneira arbitrária elos europeus, por exemplo,
ignoraram as diferenças técnicas dos inúmeros reinos e grupos tribais existentes no continente. Assim,
em muitos casos, essa divisão colocou no território de uma mesma colônia antigos povos rivais, ou, ainda,
separou povos com a mesma identidade histórico-cultural. Os colonizadores também escravizaram
populações e impuseram suas línguas, costumes e valores morais e étnicos aos povos colonizadores.
Muitas vezes, os povos nativos sofreram intensa dominação cultural, sendo obrigados a aprender a língua
do colonizador, a mudar seus hábitos alimentares e a se vestirem como os europeus. Os povos que
tentaram resistir a colonização foram brutalmente reprimidos em violentos conflitos. Mais bem armados,
os soldados europeus massacraram os movimentos de resistência que, em certos casos, exterminaram
grupos tribais inteiros.
Somente a partir de meados do século XX, com o enfraquecimento político, econômico e militar dos
países europeus devastados pelos conflitos da Segunda Guerra Mundial é que a luta contra o colonialismo
no continente ganhou impulso. Surgiram movimentos de independência em praticamente todas as
colônias europeias na África, reivindicando a ruptura dos laços mantidos com as metrópoles.
Alguns desses rompimentos foram pacíficos, enquanto outros ocorreram por meio de violentos
conflitos que se arrastam por várias décadas, opondo a população local e os colonizadores. Os
movimentos de independência das colônias africanas (e também a Ásia) após a Segunda Grande Guerra
ficou conhecido, historicamente, como processo de descolonização.
Contudo, mesmo após a independência política, muitos desses países mantiveram praticamente os
mesmos limites territoriais traçados pelos colonizadores europeus.
A desorganização étnico-cultural herdada do traçado dessas antigas fronteiras tem sido a causa de
inúmeros conflitos territoriais e guerras civis que, ao longo da história, assolam muitos países africanos.

Conflitos Étnico-Nacionalistas na Ásia


Há uma grande quantidade de conflitos étnico-nacionalistas na Ásia. O continente abriga cerca de 60%
da população mundial e milhares de etnias. Nas duas últimas décadas do século XX, alguns desses
conflitos se destacaram pelo grande número de pessoas envolvidas e pela violência empregada.

Os Confrontos na Índia: Hindus e Muçulmanos


A tensão entre hindus (28% da população indiana) e muçulmanos (12%) iniciou-se com a chegada dos
árabes à região, no século VII, os quais difundiram o Islamismo no país. Essa religião conquistou muitos
adeptos nas camadas mais pobres da sociedade indiana, que viam nela um caminho para se
desvencilharem do sistema de castas da religião hindu (o Hinduísmo), que estrutura a sociedade indiana.
O sistema de castas, apesar de extinto por lei, tem ainda forte presença nas relações sociais na Índia.
Segundo esse sistema, cada indivíduo pertence a uma casta desde o nascimento, não é permitido o
casamento entre pessoas de castas diferentes nem existe mobilidade de uma casta para outra.
A sociedade hindu divide-se basicamente em quatro castas ou ordens principais: os brâmanes
(monges), os xátrias (guerreiros), os vaixás (comerciantes e artesãos) e, na base da pirâmide, os sudras
(camponeses e serventes). Os indivíduos considerados impuros pelas outras castas denominam-se
párias e exercem profissões como coveiro e faxineiro.

Os Conflitos na Caxemira
Situada nas encostas da cordilheira do Himalaia, a região da Caxemira constitui um dos focos de maior
tensão geopolítica no Sul da Ásia, alvo de conflitos que se arrastam há mais de 60 anos. Desde que
deixaram de ser colônia do Império Britânico, em 1947, Índia e Paquistão disputam a posse da região,
que tem aproximadamente 220 mil quilômetros de extensão e abriga cerca de 12 milhões de pessoas.
Logo após a retirada dos britânicos, indianos e paquistaneses entraram em guerra pela posse da região.
O conflito terminou em 1948, quando o Paquistão ficou com um terço da Caxemira e Índia com dois terços.
O Estado islâmico do Paquistão, no entanto, passou a reivindicar a anexação total da região ao seu
território, já que os muçulmanos compõem a grande maioria da população caxemire. Além de não estar
disposta a perder parte de seu território, a Índia ainda acusou o Paquistão de apoiar ações terroristas

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realizadas por grupos extremistas islâmicos favoráveis ao separatismo. O governo indiano reprime a ação
de tais grupos para manter o controle sobre a região e também para evitar que uma eventual onda de
movimentos separatistas se espalhe em certas regiões do país também habitadas por outras minorias
étnicas, como a dos sikhs, que reivindicam autonomia sobre a província do Punjab.
A disputa pela região já levou esses países a se enfrentarem em outras duas guerras, ocorridas em
1965 e 1971. Assim como os conflitos entre grupos islâmicos paquistaneses e grupos hindus indianos,
essas guerras deixaram milhares de vítimas. A questão geopolítica na região tornou-se ainda mais
complexa com o envolvimento da China, que, desde 1962, também se apossou de parte da Caxemira,
após guerra travada com os indianos.
Assim, a disputa pela posse da Caxemira levou a uma crescente militarização da região, utilizada
inclusive para justificar a corrida armamentista que levou o Paquistão e a Índia a desenvolverem armas
nucleares, das quais a China já dispunha. A instabilidade política na região tem sido alvo de grande
preocupação internacional, já que a eclosão de uma nova guerra entre esses países poderia ter
consequências imprevisíveis.

Os Curdos e o Curdistão
Estimativas não muito precisas, pela falta de levantamentos estatísticos oficiais, sugerem que existam
entre 26 e 40 milhões de curdos espalhados pelo território de vários países do Oriente Médio. Esse povo
forma o maior grupo étnico sem Estado do mundo. O território ocupado pelos curdos, chamado Curdistão,
estende-se por uma região montanhosa com 530 mil quilômetros quadrados, que abrange áreas do Irã,
Iraque, Síria, Turquia, Armênia, Geórgia e Azerbaijão.
Na Turquia, onde vive a maioria dos curdos (cerca de 15 milhões, o que representa 20% da população
do país), surgiu o mais atuante grupo armado que luta pela formação de um Estado curdo independente:
o Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK). Criado no final da década de 1970, tornou-se uma
organização separatista engajada na luta armada pela causa do povo curdo, que aspira a soberania
política e territorial do Curdistão. A luta por essa soberania vem sendo reprimida de maneira violenta pelas
forças governamentais, especialmente na Turquia, onde o governo considera o PKK uma organização
terrorista. Estima-se que somente no conflito curdo-turco tenham morrido mais de 37 mil pessoas.
A enorme resistência que os países da região colocam à criação de um Estado curdo não se justifica
somente por causa da perda de parte de seu território. Essa região dispõe de imensas reservas de
petróleo em seu subsolo. A Turquia extrai praticamente todo seu petróleo da região curda, enquanto cerca
de 40% das reservas petrolíferas iraquianas também estão em áreas curdas. Com o objetivo de conter a
luta dos curdos pela independência em seu território e de manter o controle sobre os campos de petróleo,
o governo iraquiano, no final da década de 1980, promoveu ataques que destruíram mais de duas mil
aldeias curdas e provocaram o massacre de milhares de pessoas, incluindo crianças e mulheres (as
estimativas oscilam entre 50 e 100 mil mortos).
A complexidade que envolve a questão curda está ligada à grande instabilidade política nessa
conturbada região do Oriente Médio, marcada pela presença de países com os mais diversos problemas
de ordem interna e externa. Com a eclosão da guerra civil na Síria, em 2011, grupos armados curdos
assumiram o controle das áreas no nordeste do país aproveitando-se da fragilidade das forças sírias,
recrutadas para conter os conflitos que s intensificaram no país.

Os Conflitos no Oriente Médio


O domínio que o Império Turco-Otomano exercia sobre boa parte do Oriente Médio, o qual prevaleceu
até a Primeira Guerra Mundial, foi praticamente substituído pela ocupação inglesa e francesa, que se
prolongou até a década de 1940.
Durante esse último período, ocorreu um processo de grande fragmentação territorial desta região.
Após essa década, os ingleses e franceses foram afastados do Oriente Médio, o que consolidou o
processo de independência de vários países e favoreceu a criação do Estado de Israel, foco permanente
dos conflitos étnico-nacionalistas que opõem os árabes e palestinos aos judeus.
No entanto, a independência de diversos países não significou o fim dos conflitos na região. Pelo
contrário, após a Segunda Guerra Mundial, o Oriente Médio transformou-se no principal foco de tensão
mundial em função da criação do Estado de Israel, em 1948; dos interesses econômicos e estratégicos
das grandes potências, que buscam o controle das jazidas de petróleo; das disputas internas pelo poder
numa região marcada por regimes autoritários; dos conflitos religiosos e da má condição de vida da
maioria da população.
A herança da Guerra Fria é outro importante fator de instabilidade e de intensificação dos conflitos. Os
Estados Unidos e a URSS armaram exércitos e grupos de oposição, fortalecendo ditaduras e grupos

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terroristas. Atualmente, cerca de 40% das vendas de armas dos Estados Unidos destinam-se a países
do Oriente Médio.

Israel e a Questão Palestina


Localizada no Oriente Médio, a região da Palestina tem sido palco de um dos conflitos de maior
repercussão em todo o mundo. Trata-se do confronto entre árabes e judeus pela posse dos territórios
ocupados por esses dois povos, cujas raízes são tão antigas quanto a própria ocupação daquelas terras.
Há cerca de 2000 anos a.C., os hebreus, que depois passariam a ser chamados de judeus, ocupavam
as terras da Palestina. Devido à sua posição geográfica, que a situa estrategicamente entre a Europa, a
Ásia e a África, essa região foi alvo de muitas disputas, e foi submetida ao domínio de vários reinos e
impérios. Os assírios e os babilônios, por exemplo, dominaram e escravizaram os hebreus séculos antes
da era cristã. Sob o domínio dos romanos desde o início da era cristã, os hebreus (judeus) foram expulsos
de suas terras e se dispersaram pelo mundo em um movimento conhecido como diáspora judaica.
Entre o século VII e o século XV, após a longa ocupação romana, a Palestina foi ocupada pelos povos
árabes, também chamados de palestinos, quase todos muçulmanos, que até o início do século XX
permaneceram na região sob o domínio do Império Turco-Otomano, quando passaram para o controle
do protetorado britânico.

O Movimento Sionista
Mesmo dispersos pelo mundo durante tanto tempo, os judeus preservaram sua identidade histórico-
cultural e sempre alimentaram o sonho de constituir um território judaico soberano e independente. No
final do século XIX, surgiu na Europa o movimento sionista, que defendia a imigração dos judeus para a
Palestina (antiga terra dos hebreus). Esse movimento propunha a criação de um Estado judeu nos
arredores do Monte Sião (daí a origem do nome sionismo), uma das colinas que cercam as terras da
cidade de Jerusalém, considerada santa para judeus, cristãos e muçulmanos.
Vítimas de perseguições e massacres sistemáticos, comunidades judaicas espalhadas em várias
partes do mundo se deslocaram, então, para aquela região, estabelecendo-se em colônias agrícolas e
em bairros judaicos. O movimento sionista se fortaleceu após a declaração de Balfour, em 1917, por meio
da qual os britânicos apoiaram o retorno dos judeus, caso a Inglaterra conseguisse derrotar o Império
Otomano eu, mesmo enfraquecido, ainda dominava a região.
Contudo, a imigração de judeus para a Palestina se intensificou ainda mais com a perseguição
promovida pelo regime nazista alemão, sobretudo durante a Segunda Guerra Mundial e nas décadas
seguintes.

A Formação do Estado de Israel


Em meados da década de 1940, quando os judeus somavam quase um terço da população Palestina,
os britânicos decidiram abandonar o plano de construção do estado judaico, deixando tal tarefa a cargo
da ONU, que também herdou o imbróglio entre judeus e palestinos, eu entraram em conflito para disputa
daquele território. Muito pressionada pela comunidade judaica internacional e também com o apoio dos
Estados Unidos, que buscavam ampliar sua influência política na região, a Assembleia Geral da ONU
aprovou em 1947 a partilha da Palestina, criando dois Estados: um árabe e outro judaico.
Os territórios foram divididos de acordo com a população predominante em cada região. A cidade de
Jerusalém, considerada sagrada por judeus e árabes, permaneceu sob controle internacional. O plano,
porém, foi rejeitado pelos palestinos, que teriam de ceder parte de seus territórios para os judeus, o que
acirrou ainda mais os conflitos entre esses povos. Em 1948, os judeus declararam oficialmente a
independência do Estado de Israel, ocupando cerca de 56% de toda a Palestina.
A reação árabe foi praticamente imediata. Na tentativa de impedir a implantação do novo Estado, os
exércitos dos países árabes vizinhos (Egito, Jordânia, Iraque, Líbano e Síria) declararam guerra a Israel.
Mais bem preparado e equipado militarmente, Israel derrotou as forças árabes pondo fim à primeira guerra
árabe-israelense.
Com a vitória, Israel ampliou seus domínios sobre os territórios palestinos. A área da Faixa de Gaza
passou a ser controlada militarmente pelo Egito, e a Cisjordânia, assim como a parte oriental de
Jerusalém, passaram a ser controlados pela Jordânia. Assim, o território reservado no início aos
palestinos praticamente desapareceu, levando-os a se refugiarem em várias localidades no entorno da
região. Desde então, os palestinos lutam pela criação de seu Estado, uma luta que atualmente é chamada
de “questão palestina”.
Foi nesse contexto que surgiram movimentos e organizações político-partidárias em defesa da criação
de um Estado Palestino, a exemplo da OLP (Organização para a Libertação da Palestina), formada por
vários grupos paramilitares controlados pelos países árabes. Com o fortalecimento dos grupos radicais

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dentro dessas organizações, como a organização política e militar Fatah (“conquista” em árabe), criada
em 1964, seus membros passaram a cometer atentados terroristas contra Israel.
Em 1967, temendo uma nova reação dos países árabes, Israel organizou um grande ataque militar,
que tomou, em menos de uma semana, a Faixa de Gaza e a península do Sinai, do Egito; a Cisjordânia
e Jerusalém, da Jordânia; e as colinas de Golã, da Síria. Após a Guerra dos Seis Dias, como esse conflito
ficou conhecido, Israel ampliou significativamente seu domínio territorial.
Em 1973, o Egito e a Síria tentaram recuperar os territórios que haviam sido perdidos na Guerra dos
Seis Dias, dando início a uma nova ofensiva militar a Israel. No dia do feriado religioso judaico conhecido
como Yom Kippur (Dia do Perdão), tropas egípcias e sírias atacaram Israel de surpresa, conseguindo
grande vantagem nos primeiros dias de conflito, ao que parecia ser uma vitória fácil sobre o exército
israelense.
Contudo, Israel teve uma rápida recuperação, impedindo o avanço das tropas egípcias e sírias. A fim
de amenizar a tensão latente na região, a ONU aconselhou a devolução dos territórios árabes ocupados
por Israel. No entanto, o governo israelense se recusou a isso, fato que resultou numa crise diplomática
entre Israel e a ONU e desgastou a imagem daquele país perante a opinião internacional. No final da
década de 1970, Israel e os países vizinhos assinaram os primeiros acordos que marcaram o início do
processo de paz entre árabes e israelenses. Por meio desses acordos, Israel devolveu a península do
Sinai ao Egito, que em troca reconheceu formalmente o direito de existência do Estado judeu, e também
parte das colinas de Golã à Síria.
Desde o final da década de 1980, a OLP abandonou a luta armada e o terrorismo para se empenhar
na construção do Estado Palestino buscando uma solução para a coexistência pacífica entre árabes e
israelenses na região. A OLP reconheceu oficialmente a existência do Estado de Israel, e este reconheceu
a OLP como legítima representante do povo palestino. As negociações de paz iniciadas naquela época,
os Acordos de Oslo (1993 e 1995), previam a retirada dos soldados e a devolução da maior parte da
Faixa de Gaza e da Cisjordânia aos palestinos. Nessa ocasião, foi criada também a ANP (Autoridade
Nacional Palestina), uma instituição estatal com a atribuição de administrar o futuro Estado palestino.
Impasses e divergências nas negociações, como o fato de Israel não aceitar o retorno dos refugiados
que vivem nos países vizinhos e nem de reconhecer a parte oriental da cidade de Jerusalém como futura
capital palestina, impediram avanços mais promissores no processo de paz. As negociações se tornaram
ainda mais difíceis após a vitória da direita conservadora, representada pelo partido Likud, nas eleições
israelenses de 2001. Na tentativa de inviabilizar a devolução dos territórios aos palestinos, Israel retomou
a construção de colônias judaicas em áreas da Cisjordânia e da Faixa de Gaza.
A partir de então, os grupos extremistas árabes retomaram suas ações terroristas, promovendo
ataques contra Israel. Com o argumento de se proteger desses ataques, o governo israelense iniciou a
construção de uma barreira de segurança para isolar as comunidades judaicas e palestinas na
Cisjordânia. Embora o controle da Faixa de Gaza tenha sido transferido para a Autoridade Nacional
Palestina em 2005, o governo israelense vem aumentando a construção de assentamentos judaicos na
Cisjordânia. Assim, o conflito entre árabes e israelenses, que já se arrasta por mais de seis décadas,
ainda parece longe de ser solucionado.

A Morte de Arafat e a Cúpula de Sharm El-Sheik


Em novembro de 2004, morreu o líder palestino Yasser Arafat. Nas eleições que ocorreram no mês
seguinte, Mahmoud Abbas foi escolhido presidente da Autoridade Nacional Palestina.
No início de 2005, após quatro anos de conflitos (Nesse período ocorreram outras tentativas de acordo
de paz, mas sem sucesso, como a reunião realizada em Madri – 2003, patrocinada por EUA, Rússia,
União Europeia e ONU – Quarteto de Madri, que previa a criação de um Estado Palestino em 2005), e
cerca de 3 mil mortos de ambos os lados, abriu-se nova perspectiva de paz, com o encontro de Abbas e
Sharon, mediado pelos líderes do Egito e da Jordânia. No encontro, conhecido como a Cúpula de Sharm
el-Sheik (referência ao balneário egípcio onde ocorreu) ficaram acertadas a suspensão de ataques
mútuos, a libertação de prisioneiros, a retirada gradual de Israel de territórios palestinos, entre outros
aspectos. Mas ainda há vários impasses para um acordo de paz definitivo: a questão do “Muro de
Proteção”; a definição dos limites entre Israel e o futuro Estado Palestino; a situação de Jerusalém, cidade
que Israel declara como capital indivisível do país e os palestinos, por sua vez, não abrem mão de
incorporá-la ao seu Estado; a situação dos assentamentos judaicos em território da Autoridade Nacional
Palestina. Além dessas e outras questões, há sempre o risco da reação ao processo de negociação por
parte dos grupos extremistas judeus e palestinos e incertezas de como Israel e ANP irão controlar a
atuação desses grupos.

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Questões

01. (USP) Leia o texto e observe a imagem.


Numa guerra não se matam milhares de pessoas.
Mata-se alguém que adora espaguete, outro que é gay, outro que tem uma namorada. Uma
acumulação de pequenas memórias....
Nós que aqui estamos, por vós esperamos. Direção de Marcelo Masagão. Brasil, 1999.

A partir do texto e da imagem, pode se afirmar corretamente que


(A) a história das guerras se resume a um teatro de combates travados no front por estadistas e
militares.
(B) os relatos que abordam os conflitos apenas com base nos tratados e armistícios são parciais e
limitados.
(C) o fim dos impérios, a xenofobia e a consolidação do projeto federativo garantiram a paz mundial.
(D) a banalização da morte e a experiência do exílio expressam a retração dos nacionalismos nos
séculos XX e XXI.
(E) as políticas de inclusão foram capazes de controlar os fluxos migratórios globais.

02. (USP) Cada vez mais pessoas fogem da guerra, do terror e da miséria econômica que assolam
algumas nações do Oriente Médio e da África. Elas arriscam suas vidas para chegar à Europa. Segundo
estimativas da Agência da ONU para Refugiados, até novembro de 2015, mais de 850 mil refugiados e
imigrantes haviam chegado por mar à Europa naquele ano. Garton Ash, Timothy. Europa e a volta dos muros. O Estado de S.
Paulo, 29/11/2015. Adaptado.
Sobre a questão dos refugiados, no final de 2015, considere as três afirmações seguintes:
I. A criação de fronteiras políticas no continente africano, resultantes da partilha colonial, incrementou
os conflitos étnicos, corroborando o elevado número de refugiados, como nos casos do Sudão e Sudão
do Sul.
II. Além das mortes em conflito armado, da intensificação da pobreza e da insegurança alimentar, a
guerra civil na
Síria levou um contingente expressivo de refugiados para a Europa.
III. A política do apartheid teve grande influência na Nigéria, país de origem do maior número de
refugiados do continente africano, em decorrência desse movimento separatista.
Está correto o que se afirma em
(A) I, apenas.
(B) I e II, apenas.
(C) III, apenas.
(D) II e III, apenas.
(E) I, II e III.

03. (Prefeitura de Resende/RJ – Professor – CONSULPLAN) Apesar de estarmos longe de um


grande conflito internacional generalizado, como aconteceu em dois momentos no século XX, tornando-
se conhecidos como 1ª e 2ª guerras mundiais existem hoje, no planeta, diversos conflitos localizados que
muito preocupam as autoridades internacionais. Sobre estes conflitos, NÃO se pode afirmar que:
(A) Os separatistas bascos que habitam a região localizada entre a Espanha e a França organizaram
o ETA (Pátria Basca e Liberdade), que luta pela independência do país Basco, utilizando ações
consideradas terroristas por diversos povos.

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(B) Com a dissolução da Iugoslávia – país multiétnico que tem hegemonia dos sérvios –, na década
de 90, eclodiram diversos conflitos, lutas por independência e por separação, envolvendo as seis
repúblicas e duas regiões autônomas (Kosovo, Voivodina) que compunham esse país.
(C) Considerada a maior etnia sem Estado do mundo, os curdos, que ocupam territórios da Turquia,
do Iraque, da Síria, do Irã e da Armênia lutam pela formação do Estado Curdo, o Curdistão.
(D) Na Federação Russa ocorrem diversos conflitos étnicos, como por exemplo, nas repúblicas da
Chechênia e do Daguestão, ambas, de maioria muçulmana, que exigem a formação de um Estado
islâmico independente.
(E) Confrontos decorrentes do expansionismo e de invasões estrangeiras, como por exemplo, os que
têm ocorrido no Oriente Médio, envolvendo Israel, Palestina, Síria, Líbano, Egito e Jordânia ocorrem
porque os libaneses lutam pelo reconhecimento e pela demarcação de fronteiras que configurem um
Estado independente.

Gabarito

01.B / 02.B / 03.E

4) O Espaço Humano: demografia: teorias demográficas; estrutura da


população; crescimento demográfico; transição demográfica e migrações;
urbanização: processo de urbanização; espaço urbano e problemas urbanos; e
principais indicadores socioeconômicos.

POPULAÇÃO MUNDIAL

Crescimento Populacional no Mundo

População é o conjunto de pessoas que reside em determinada área. Ela pode ser caracterizada de
acordo com vários aspectos, como gênero, faixa etária, religião, etnia, idioma, local de moradia, atividade
econômica praticada, entre outros.
As condições de vida e o comportamento da população, no entanto, são retratados por meio de
indicadores sociais, ou seja, taxas de natalidade e mortalidade, expectativa de vida, índices de
analfabetismo, participação na renda, etc.
A dinâmica da população varia bastante entre os países. Nas economias desenvolvidas o crescimento
demográfico é inexpressivo, sendo até mesmo negativo em alguns locais.
Nos países em desenvolvimento e emergentes ocorrem as mais variadas situações: em algumas
nações, o elevado crescimento populacional compromete a busca pelo desenvolvimento sustentável; em
outras, a população tende a se estabilizar nas próximas décadas, como é o caso do Brasil.
Segundo o Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA), em 2017, o planeta Terra era habitado
por 7,5 bilhões de pessoas, distribuídas de maneira distinta pelos países e pelas regiões.

População Mundial
Em 2013, segundo o relatório World Development Indicators 2017, do Banco Mundial,
aproximadamente 11% da população vivia em condições de pobreza extrema. A maior parte estava em
países em desenvolvimento da África subsaariana e da Ásia meridional.
Muitos países apresentaram um expressivo crescimento econômico e as condições de vida de suas
populações melhoraram, principalmente durante a segunda metade do século XX e o início do século
XXI.
De acordo com o Banco Mundial, em 1990 cerca de 1,9 bilhão de pessoas viviam em condições de
pobreza extrema (com menos de US$ 1,90 por dia). Esse número foi reduzido quase pela metade, apesar
do crescimento populacional do período.
No período de 2010 a 2020, segundo o UNFPA, nos países desenvolvidos a esperança de vida média
era de 76 anos para os homens e 82 anos para as mulheres; na América Latina e no Caribe, 72 e 79; e
na África ocidental e na África central, 56 e 58 anos.
Tais diferenças se explicam pela deficiência ou, muitas vezes, pela completa falta de acesso a ´[agua
potável; a coleta e tratamento de esgoto; a alimentação, educação e condições de habitação adequadas
e, principalmente, a bons programas de saúde destinados à população, incluindo campanhas de
vacinação, hospitais e maternidade de qualidade, entre outros.

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As Taxas – Fundamentos Básicos para a Leitura dos Dados Demográficos

Taxa de natalidade: número de nascidos vivos em um ano por mil habitantes. É a relação entre os
nascimentos e a população total, expressa por mil habitantes.

Exemplo:
Nascimentos anuais: 775 000;
População total: 55 173 000 habitantes;
Taxa de natalidade: 775 000 x 1000 = 14%
Ou seja, para cada grupo de 1000 habitantes, nasceram 14 crianças vivas num ano.

Taxa de mortalidade: número de óbitos em um ano por mil habitantes. É calculada a partir da relação
entre óbitos anuais, multiplicados por mil, e a população total.

Exemplo:
Óbitos anuais: 335 000;
População total: 55 173 000 habitantes;
Taxa de mortalidade: 335 000 x 1000 = 6%
Ou seja, para cada grupo de 1000 habitantes, morreram 6 pessoas num ano.

Obs.: As taxas de natalidade e de mortalidade também são expressas em porcentagem. Assim,


baseando-se nos dados dos exemplos anteriores: taxa de natalidade, 1,4%; taxa de mortalidade, 0,6%.

Taxa de crescimento vegetativo: diferença entre a taxa de natalidade e a taxa de mortalidade.


Conforme os exemplos de taxas de natalidade e mortalidade anteriores:

Taxa de natalidade: 14%;


Taxa de mortalidade: - 6%;
Crescimento vegetativo: 8% ou 0,8%

Obs.: A taxa de crescimento vegetativo é também denominada taxa de crescimento natural.

Taxa de fecundidade: número médio de filhos por mulher em idade de procriar, entre 15 e 49 anos.

Taxa de mortalidade infantil: é o número de óbitos de crianças com menos de u mano de vida, a
cada mil nascidas vivas, considerando-se o período de um ano.

A Revolução Industrial e o Crescimento Demográfico

A Revolução Industrial, nos séculos XVIII e XIX, teve forte repercussão na organização socioespacial.
Passaram a ocorrer um intenso processo de migração do campo para as cidades, mudanças de hábitos
e novas relações de trabalho. As condições de vida nas áreas industriais eram inicialmente precárias,
mas aos poucos nas cidades foram ocorrendo melhorias sanitárias significativas e a população urbana
passou a ter maior acesso aos serviços de saúde. A Revolução Industrial, enfim, não foi apenas uma
transformação no modo de produzir mercadorias, mas uma transformação tecnológica e cientifica que
atingiu todas as áreas do conhecimento, entre as quais a medicina.
A solução de problemas sanitários e o avanço na medicina contribuíram para a diminuição da
mortalidade infantil e da mortalidade da população em geral. A elevação da média de vida provocou o
aumento do número de habitantes nos países que primeiramente se industrializaram. A vacina contra a
varíola, entre o final do século XVIII e o início do XIX, foi a descoberta médica mais importante para o
crescimento populacional, já que houve redução das taxas de mortalidade e a natalidade permaneceu
por longo tempo ainda em patamares elevados.
Alguns pesquisadores do período da Revolução Industrial consideram outros fatores também
responsáveis pela elevação do crescimento populacional nos países industrializados do século XIX. Por
exemplo, a utilização generalizada da mão-de-obra infantil nesse período pode ter estimulado o aumento
do número de filhos para ampliar a renda das famílias. Assim, o crescimento populacional teria resultado
não apenas da diminuição da mortalidade, mas também do aumento da natalidade.

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Crescimento da População e a Primeira Teoria Populacional – o Malthusianismo
A Grã-Bretanha, pioneira na Revolução Industrial, tinha pouco mais de 5 milhões de habitantes por
volta de 1750. A partir daí o processo de crescimento populacional foi rápido. Em 1840 haviam atingido
mais de 10 milhões de habitantes. Meio século depois passou a marca dos 20 milhões. Essa tendência
generalizou-se nos demais países europeus que acompanharam a primeira fase da Revolução Industrial.
Foi justamente a partir da observação da etapa inicial desse processo que surgiu a primeira e mais
polêmica teoria sobre o crescimento populacional.
Em 1798, Thomas Robert Malthus, um pastor protestante, escreveu a obra Ensaio sobre o Princípio
da População. Malthus acreditava que a população tinha um potencial de crescimento ilimitado enquanto
a natureza tem recursos limitados para alimentar a crescente população. Afirmava que as populações
humanas cresciam em progressão geométrica (2, 4, 16, 32 ...), enquanto a produção de alimentos crescia
em progressão aritmética (2, 4, 6, 8, 10 ...).
Colocava-se assim a fatalidade de a humanidade ter que conviver no futuro com subnutrição, fome,
doenças, epidemias, infanticídio, guerras por disputas de terras para ampliar a produção de alimentos e,
consequentemente, com a desestruturação de toda a vida social.
Para evitar a tragédia anunciada, Malthus defendia o “controle moral”. Descartava a utilização de
métodos contraceptivos para limitar o crescimento populacional, conforme a sua formação religiosa. Do
ponto de vista prático, pregava uma série de normas de conduta que incluíam a abstinência sexual e o
adiamento dos casamentos, que só deveriam ser permitidos mediante capacidade comprovada de renda
para sustenta a provável prole. É evidente que tais normas atingiam apenas os pobres, que Malthus
considerava os grandes responsáveis pela própria pobreza, devido à tendência de se casarem cedo e se
reproduzirem em excesso.
A principal refutação às ideias malthusianas foi elaborada por Karl Marx, para quem o grande
responsável pela fome e pela carência da população era o sistema capitalista. As injustiças sociais e a
má distribuição de riquezas entre as classes sociais seriam os verdadeiros responsáveis pela fome e pela
miséria. Argumentava que os empresários capitalistas mantinham estrategicamente certo número de
desempregados (Exército Industrial de Reserva) para manter baixos os salários, e que manipulavam
esses desempregados de acordo com as necessidades do mercado de trabalho.
Para Marx, Malthus subestimava a capacidade da tecnologia em elevar a quantidade de alimentos
produzidos no mundo. De fato, a validade desse argumento foi comprovada pela própria história. A fome,
que condena quase 1 bilhão de seres humanos nos dias atuais, não se deve à incapacidade de produção
de alimentos e sim à má distribuição dos alimentos produzidos, devido às desigualdades sociais e
econômicas.

O Baby Boom
A partir do final da Segunda Guerra Mundial, a população dos países desenvolvidos teve um rápido
surto de crescimento. Esse fenômeno ficou conhecido como Baby Boom e foi o resultado do grande
número de casamentos, adiados durante o período da guerra. Esse fenômeno atingiu principalmente os
países europeus, o Japão, os Estados Unidos e outros diretamente envolvidos no conflito. Depois de dois
ou três anos as taxas de crescimento voltaram a declinar.

A Estabilização Demográfica no Mundo Desenvolvido


As migrações em massa da população europeia em direção à América e a outros continentes, e a
Revolução Agrícola, que elevou a produção de alimentos, diluíram os efeitos do grande crescimento
populacional na Europa do século XIX.
O estágio de desenvolvimento europeu no final do século XIX e início do XX refletiu na demografia. As
taxas de natalidade e mortalidade começaram a cair devido à urbanização de parcela significativa da
sociedade, ao atendimento médico e hospitalar, ao aumento das possibilidades de acesso à informação
e às mudanças no papel da mulher, que passou a participar ativamente do mercado de Trabalho industrial.
As taxas de crescimento entraram em declínio na Europa e continuaram caindo durante todo o século
XX.
Nos últimos 50 anos, o mundo desenvolvido, em geral – sobretudo os países europeus -, entrou num
processo de crescimento lento, com a efetivação do modo de vida urbano para a maioria de seus
habitantes.
Nas cidades, o custo de criação dos filhos é maior do que no campo; os jovens ingressam mais tarde
no mercado de trabalho; o trabalho feminino extradomiciliar leva à necessidade do cuidado dos filhos por
outras pessoas ou instituições, gerando outros gastos para as famílias. Nesse contexto, a invenção da
pílula anticoncepcional, em 1960, e a consolidação de algumas conquistas femininas – como a ampliação

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de sua participação no mercado de trabalho e nas relações familiares – foram fundamentais nesse
processo.
No final do século XX, as duas taxas (mortalidade e natalidade) estavam praticamente em equilíbrio,
determinando taxas de crescimento vegetativo em torno de 0% ao ano e inaugurando uma nova fase,
conhecida como estabilização demográfica. Essa situação também foi denominada por alguns
demógrafos de implosão demográfica.
A partir da década de 1980, vários países do continente europeu registraram, em alguns anos,
crescimento natural negativo, pois as taxas de mortalidade superaram as taxas de natalidade.
Como visto, o processo de urbanização, interligado a outros fatores, como a presença marcante da
mulher no mercado de trabalho, a redefinição de seu papel na família e o modo de vida baseado na
preservação da individualidade são questões incorporadas pela cultura europeia ao longo do tempo.
Muitos filhos significam, nesse sentido, abrir mão dessa individualidade e, no caso das mulheres, podem
constituir uma barreira às suas perspectivas profissionais.

Explosão Demográfica e Novas Teorias Populacionais

A explosão demográfica do século XX foi um fenômeno do mundo subdesenvolvido, que a partir da


década de 1950 passou a registrar elevadas taxas de crescimento demográfico. Alguns países
subdesenvolvidos chegaram a dobrar a sua taxa de crescimento em menos de uma geração.
É importante ressaltar que a expressão explosão demográfica é criticada por alguns demógrafos,
pois sugere um crescimento descontrolado da população, o qual tornaria caótica a vida humana na Terra.
Foram esses países que mais contribuíram para o crescimento da população mundial no século XX.
Atualmente concentram mais de 80% da população do planeta e esse índice tende a ampliar-se.
Muitas doenças infecciosas que assolavam principalmente os países subdesenvolvidos foram
derrotadas com a descoberta de novas vacinas e dos antibióticos. Esses avanços na medicina obtidos
nos países desenvolvidos foram estendidos a várias regiões do mundo e provocaram um declínio
significativo nas taxas de mortalidade, com consequente crescimento da população.
Com o avanço do processo de urbanização em vários países do mundo subdesenvolvido, sobretudo
nos que industrializaram, as taxas de crescimento vegetativo também têm se mostrado declinantes nas
últimas duas décadas.
No continente africano, onde a maioria dos países ainda se verificam índices de população urbana
inferiores a 50%, as taxas de crescimento vegetativo permaneceram superiores a 2% ao ano.
A taxa de fecundidade nos países subdesenvolvidos é praticamente o dobro da registrada nos países
subdesenvolvidos. No entanto, se na África o número médio de filhos por mulher está próximo de 5, na
América Latina, onde a urbanização tem sido intensa, essa taxa é praticamente a metade da africana.

As Teorias Antinatalistas da Segunda Metade do Século XX


O fenômeno da explosão demográfica contribuiu para que surgissem novas teorias relacionadas ao
crescimento populacional. As primeiras teorias associavam o crescimento demográfico à questão do
desenvolvimento e propunham soluções antinatalistas para os problemas econômicos enfrentados pelos
países subdesenvolvidos. Ficaram conhecidas como teorias neomalthusianas, por serem catastrofistas
e por apontarem o controle populacional como única saída. Mas, ao contrário de Malthus, os
neomalthusianos eram favoráveis ao uso de métodos anticoncepcionais e propunham a sua difusão em
massa nos países do mundo subdesenvolvido.
Argumentavam que os países que mantêm elevadas taxas de crescimento veem-se obrigados a
investir doa parte de seus recursos em educação e saúde, devido à grande porcentagem de jovens que
abrigam. Essas elevadas somas de investimentos poderiam ser aplicadas em atividades produtivas,
ligadas à agricultura, à indústria, aos transportes, etc., que dinamizariam a economia do país.
Os neomalthusianos ressaltavam ainda que o crescimento acelerado da população de um país
acarretava a diminuição da sua renda per capita. Portanto, para aumentar a renda média dos habitantes,
era necessário controlar o crescimento populacional.
Os argumentos convincentes dos neomalthusianos foram desfeitos pela dinâmica demográfica real.
Os países que tiveram quedas acentuadas em suas taxas de natalidade foram aqueles cujas conquistas
econômicas estenderam-se à maioria dos habitantes, na forma de maior renda e melhoria do padrão
cultural. A história comprovou que havia uma inversão no pensamento neomalthusiano. A redução do
crescimento populacional não é o ponto de partida para a conquista do desenvolvimento social e
econômico, mas o ponto de chegada.
Essa dinâmica demográfica já havia sido apontada pelos reformistas, que destacavam as conquistas
socioeconômicas como responsáveis pela redução das taxas de crescimento populacional. Para os

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reformistas, uma melhor distribuição de renda e o maior acesso à cultura e à educação podem modificar
os padrões de crescimento e promover a melhoria da qualidade de vida das pessoas.
Outra visão antinatalistas surgiu com alguns ecologistas já no final da década de 1960, com a
publicação do livro A bomba populacional de Paul Ehrlich. Mas esses ecologistas não se limitaram à
questão demográfica para discutir as ameaças dos problemas ambientais. Ressaltaram o papel negativo
do consumismo da população dos países desenvolvidos e, portanto, a necessidade de transformação do
modelo econômico do mundo atual.

O Método para os Estudos de População


As características de uma determinada população mudam em função de condições socioeconômicas,
políticas e territoriais, submetidas a múltiplas determinações culturais.
A análise da orientação, do ritmo e da natureza do crescimento dessa população, a par dos
deslocamentos, permite entender seu comportamento e fazer projeções para o futuro.
O termo técnico mais comum para designar esse comportamento populacional é dinâmica
demográfica.
Em geral, a análise da dinâmica demográfica considera um período de tempo predeterminado.

Crescimento, Composição Etária e Impactos Sociais


Os padrões demográficos gerais de um país ou região (natalidade, mortalidade, migrações)
determinam a distribuição da população por faixas de idade.
Essa distribuição, ao mesmo tempo que resulta do estágio de desenvolvimento, causa impacto na
economia e na distribuição dos recursos em saúde, educação, formação profissional e outros.
Não existe um único critério para a distribuição da população por faixa etária, mas o mais utilizado e
adotado (inclusive pelo IBGE atualmente) divide a população em jovens (0-14 anos), adultos (15-65 anos)
e idosos (acima de 65 anos).
Essa divisão tem por base a população ligada ao mercado de trabalho (pessoas de 15 a 65 anos),
empregada ou não, e as pessoas que são consideradas fora desse mercado (com menos de 15 anos e
com mais de 65 anos).
É evidente que tal critério não atende ás condições de diversos países em que, entre as camadas
sociais pobres, o trabalho infantil é um fato comum e os idosos veem-se, em muitos casos, obrigados a
trabalhar até morrerem ou se tornarem incapazes de qualquer atividade por motivo de doença ou de
incapacidade física.
Segundo dados da OIT (Organização Internacional do Trabalho), em 2000, quase três milhões de
crianças entre cinco e 14 anos trabalhavam no Brasil.
O subemprego é uma forma precária de complementação de renda para os idosos que não conseguem
reingressar no mercado de trabalho formal.

Fundamentos Básicos para a Análise de um Histograma de Distribuição Etária e Sexual e as


Fases de Crescimento Demográfico
A pirâmide etária é uma representação da população por sexo e idade em um gráfico conhecido como
histograma. Deve ser analisado a partir dos percentuais de homens e mulheres em cada faixa etária com
relação à população total. O tamanho de cada barra corresponde à proporção de cada grupo de idade,
conforme o sexo: masculino, cujas barras estão no lado esquerdo da pirâmide; ou feminino, cujas barras
estão no lado direito.
No eixo horizontal do gráfico (base) está registrado o percentual da população por sexo. No eixo
vertical estão indicadas as diferentes faixas etárias da população. Por meio das pirâmides etárias é
possível analisar algumas alterações demográficas dos países e as tendências dessas alterações.

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Como as barras da base da pirâmide correspondem às faixas de idade, uma pirâmide de base larga
com formato piramidal (triangular) representa um país de população jovem acentuada e menor
expectativa de vida, como os países subdesenvolvidos, que ainda permanecem em fase de crescimento
acelerado, ou na primeira fase da transição demográfica.

As pirâmides que apresentam pequeno estreitamento na base mas o restante da pirâmide triangular,
como as de alguns países subdesenvolvidos industrializados (Brasil, México, Argentina) ou de nível
sociocultural mais elevado (Chile, Uruguai, Costa Rica) estão na segunda fase da transição
demográfica.
As pirâmides com formas irregulares e topo largo correspondem aos países com predomínio de
população adulta e população envelhecida, caso dos países desenvolvidos que atingiram a fase de
estabilização demográfica.

A Questão Etária nos Países Subdesenvolvidos de Elevado Crescimento Demográfico


Nos países subdesenvolvidos que ainda mantêm um elevado padrão de crescimento populacional, o
número de jovens é superior às demais faixas etárias da população. Os custos de manutenção e de
formação da população na faixa etária dos jovens são um sério problema nos países onde o Estado, além
de desprovido dos recursos necessários, está mal estruturado para atender às necessidades de saúde e
educação.
Além disso, o grande número de jovens coloca as populações dos países mais pobres numa situação
desfavorável. A necessidade de sustentar um número maior de filhos limita a formação da poupança
familiar e dificulta oferecer a educação necessária à ascensão social e ao progresso econômico. De um
ponto de vista mais amplo, os países subdesenvolvidos são impedidos de aproveitar seu melhor recurso,
o humano.
No estágio atual da globalização econômica e transformações tecnológicas, os trabalhadores menos
qualificados têm sido os mais afetados pelo desemprego, e a tendência é de que as inovações dos
processos de produção os afastem ainda mais do mercado de trabalho. O baixo investimento na formação
educacional dos jovens, que ainda por algumas décadas constituirão a parcela maior da população do
planeta, aponta questões difíceis de serem resolvidas a curto e a médio prazos.

A Questão Etária nos Países Desenvolvidos


Nos países desenvolvidos o crescimento da população que não trabalha decorre basicamente do
aumento da população idosa, pois as baixas taxas de fecundidade não contribuem para a formação de
um grupo etário numeroso. Enquanto a média mundial de fecundidade da mulher situa-se em torno de
2,6 filhos, nos países desenvolvidos é de 1,5 e nos países subdesenvolvidos é de 2,8 filhos. Para que um
país mantenha a sua população em volume constante é preciso que a taxa seja de 2 filhos para cada
mulher, necessária para a reposição da população que morre.
O processo de aumento na participação dos idosos no conjunto total da população é denominado
envelhecimento da população, o qual obriga os países desenvolvidos (cuja população com mais de 65
anos, a maioria fora do mercado de trabalho, é superior à 15% da população total) a destinarem um
volume crescente de recursos ao sistema de previdência. No Japão, na Itália, Alemanha e Grécia, por
exemplo, 1 em cada 5 pessoas tem mais de 65 anos de idade.
Nos países classificados pela ONU como “emergentes”, caso do Brasil, a situação também é
preocupante. Nesses países, embora o índice de crescimento populacional venha diminuindo (e,
consequentemente, o número de jovens), o índice da população idosa vem aumentando.

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Envelhecimento Populacional e Previdência Social
A questão da previdência social pode, segundo alguns economistas – sobretudo os de orientação
neoliberal -, acarretar consequências negativas para os orçamentos dos governos e ter repercussões
também ruins no mercado financeiro mundial quando o número da população idosa for bem superior ao
de contribuintes inseridos no mercado de trabalho. Esse problema ameaça tanto os países desenvolvidos
quanto os subdesenvolvidos, nos quais é ainda mais grave. É o que ocorreu com o Brasil no começo
deste século. Os países desenvolvidos enriqueceram e depois “envelheceram”, mas alguns países
subdesenvolvidos estão “envelhecendo” antes de enriquecerem.
Se, por um lado, a elevação da expectativa de vida prolongou o tempo de recebimento dos benefícios
da aposentadoria, por outro lado, a redução da fecundidade provocará, a médio e longo prazos, a
diminuição do número de contribuintes ao sistema previdenciário.

Distribuição da População por Sexo


Há pouco mais de um século havia equilíbrio entre o número de homens e o de mulheres na
composição da população mundial.
Porém, desde o final do século XIX, os recenseamentos vêm acusando um aumento progressivo no
número de mulheres.
Ocorre que até o século XIX as principais causas de mortalidade eram as doenças infectocontagiosas,
que atingiam proporcionalmente homens e mulheres.
A partir do século XX, gradativamente, aumenta o número de mortes resultantes de doenças
cardiovasculares, que afetam especialmente os homens.
Assim, há um número um pouco maior de mulheres na faixa etária dos idosos.
Naquela época, o IBGE registrou uma expectativa de média de vida de 71 anos, no Brasil.
Para os homens era de 67,3 anos, enquanto a das mulheres chegava a 74,9.
Atualmente, a média está entre 75,2 anos, no geral.
No caso brasileiro influi significativamente o fato de que os homens são as principais vítimas da
violência.
Os homicídios e acidentes atingem principalmente os homens na faixa de idade entre 15 e 35 anos.
A alteração do papel da mulher na sociedade, ao mesmo tempo que representa uma conquista, tem
elevado a taxa de estresse da população feminina.
São comuns, também, os casos em que mulheres separadas são obrigadas a assumir sozinhas a
responsabilidade de cuidar dos filhos e garantir os custos de subsistência e de formação.
Os países ou regiões que atraem imigrantes apresentam um predomínio da população masculina.
Ocorre o contrário nos países ou regiões de emigração, onde há predomínio de mulheres.
No caso brasileiro, esse fator manifesta-se por um número superior de população feminina e mesmo
de mulheres “chefes de família” na região Nordeste, devido à emigração da população masculina para
outras regiões.

URBANIZAÇÃO MUNDIAL48

Espaço Geográfico e Urbanização

A cidade é a mais impressionante forma de transformação do espaço geográfico realizada pelo ser
humano. Hoje é muito difícil imaginar a vida fora da cidade ou mesmo fugir da influência urbana.
O processo de urbanização – que atingiu, em níveis diferentes, praticamente todos os países do mundo
– é um fato relativamente novo na história da humanidade. Tornou-se um fenômeno mundial a partir da
Revolução Industrial, no século XIX, e as cidades transformaram-se no principal centro produtivo,
tecnológico, cultural e de irradiação da modernidade. As grandes cidades dos países desenvolvidos
concentram os centros de pesquisas e as sedes das multinacionais, e delas são comandados os fluxos
financeiros nacionais e internacionais.
Para o geógrafo Milton Santos, “a cidade (principalmente a grande) é o lugar ideal, porque é o lugar
onde todo mundo se comunica mais do que em outra parte. A cidade grande é o lugar da sociodiversidade.
E quanto mais sociodiversidade, mais riqueza”.
É importante observar que a diversidade social e cultural se enriquece quando a interdependência
entre as pessoas não é pautada pela intolerância e pelas grandes desigualdades sociais.
De forma contínua e acelerada, o espaço das grandes cidades sofre transformações diversas,
promovidas por aqueles que nela atuam: o poder público, as empresas de construção, as imobiliárias e a

48
LUCCI, Elian Alabi. Geografia Geral e do Brasil. Elian Alabi Lucci; Anselmo Lazaro Branco; Cláudio Mendonça. 3ª edição. São Paulo: Saraiva, 2015.

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sociedade civil. As diferenças sociais refletem-se nas moradias, na localização dos serviços públicos e
privados e na disputa pela ocupação do solo urbano.
No Brasil, a desigualdade no espaço urbano é marcada pela marginalização espacial dos mais pobres,
verificando-se grandes distâncias da moradia em relação aos diversos serviços públicos básicos, aos
locais de trabalho, de consumo e de lazer. Além disso, a mobilidade da população é dificultada pela
situação precário dos meios de transporte coletivo.
O contraste na paisagem urbana não pode ser reduzido apenas à questão da moradia. Os jardins,
passeios públicos, centros culturais, teatros, cinemas, parques, estão situados próximos às regiões
centrais. A periferia torna-se basicamente local de moradia; as modalidades de lazer são criadas, muitas
vezes, pela ação da própria comunidade, raramente contando com apoio governamental. O direito ao
exercício da cidadania é podado pela própria configuração espacial das grandes cidades.

A Urbanização Mundial
A cidade é uma forma organização sócio espacial complexa; seu desenvolvimento depende de
infraestrutura tecnológica, cultural e administrativa.
As experiências de cada indivíduo em relação aos diversos espaços da cidade resultam de uma série
de fatores, incluindo sua condição sócio econômica.
Os espaços urbanos ou rurais vivenciados por nós acabam tendo um significado especial, pois neles
moramos, nos relacionamos com outras pessoas, trocamos experiências, estudamos, trabalhamos, nos
divertimos – enfim, desenvolvemos nosso cotidiano. Cada um desses espaços que vivenciamos
concretamente é denominado lugar. O mesmo lugar pode ter um significado diverso para diferentes
pessoas, de grupos sociais distintos. Uma rua, por exemplo: para uma pessoa que simplesmente a
percorre de carro, é vivida de uma forma; para as crianças que nela brincam, é vivida de outra maneira.
O vendedor ambulante que trabalha num parque público percebe esse lugar de modo distinto das pessoas
que o frequentam para lazer. O shopping center pode ser um lugar de compras para os clientes e de
trabalho para os funcionários das lojas. Os exemplos são muitos, e estão relacionados à questão da
cidadania: por direito, podemos usar os espaços públicos e temos o dever de lutar para a ampliação, a
conservação e o uso democrático desses espaços.
Num sentido amplo, o pleno exercício da cidadania diz respeito ao conjunto de direitos e deveres
políticos, sociais e econômicos de cada pessoa na sociedade. Assim, votar, eleger-se, expressar
livremente suas ideias, adquirir conhecimento, trabalhar, morar, dispor de assistência médica, locomover-
se livremente pelo país, conservar os espaços públicos, fazem parte desse conjunto.

Cidade e Cidadania
Cidade, cidadão e cidadania têm o mesmo radical latino: civitas, o lugar em que os homens vivem em
conglomerados urbanos, tendo certo direitos e deveres mutuamente respeitados. Para Lúcio Costa, o
urbanista que desenhou o Plano Piloto de Brasília, a cidade é a “expressão palpável da necessidade
humana de contato, comunicação, organização e troca – numa determinada circunstância físico-social e
num contexto histórico”.
Na versão mais simples da palavra, cidadão refere-se ao habitante da cidade. Na Antiguidade
Clássica, o conceito de cidadão tinha como foco principal o direito de participação política nos negócios
da polis (vocabulário grego que significa cidade). Era o que Benjamin Constant chamava de “liberdade
antiga”. No século 19, o foco passou a ser a proteção dos indivíduos contra o poder arbitrário do Estado,
e com isso os direitos civis passaram a predominar sobre os direitos políticos – era a “liberdade moderna”,
também segundo Constant. Em seu sentido integral, que é o vigente hoje, a cidadania inclui os dois focos,
o democrático e o liberal, a autodeterminação exercida na polis pelo povo soberano e as disposições que
garantem a segurança e a integridade dos indivíduos. A cidadania é, por um lado, a capacidade de intervir
no Estado e, por outro, o poder de exigir do Estado o respeito e a plena concretização dos direitos
individuais. (FREITAG, Barbara. Correio Brasiliense, 16/06/2002).

A Cidade e a Revolução Industrial

A cidade surgiu com as primeiras civilizações da Antiguidade, mas foi a partir da Revolução Industrial,
no século XIX, que ocorreu o maior desenvolvimento urbano de toda a história. Desde então, as cidades
consolidaram o papel de comando na economia e sociedade europeias e no desenvolvimento capitalista.
Assim, grande parte dos estudos de Geografia urbana analisa a industrialização e a urbanização com
processos que caminham paralelamente.
Apesar de ser um espaço típico da produção industrial, a cidade também centralizou e comercializou
a produção do campo. As novas oportunidades de trabalho na zona urbana atraíram pessoas que haviam

120
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perdido terras e emprego no campo, com a introdução das novas tecnologias para produção agrícola.
Neste novo contexto, a população urbana passou a ter crescimento superior ao da população rural;
formaram-se grandes aglomerações e novas formas de administração do território foram articuladas. A
cidade torna-se “poderosa”: nela se viabilizam, com maior facilidade, as articulações políticas, a
organização da produção e o consumo.

Urbanização e Crescimento Urbano


A urbanização não corresponde ao crescimento das cidades em consequência do crescimento natural
ou vegetativo da população urbana. Ela ocorre a partir da migração rural-urbana, que faz com que a
cidade passe a ter um crescimento maior do que o campo. Quando a população urbana e a rural crescem
em igual proporção ocorre o crescimento urbano.
O crescimento populacional das cidades teoricamente não tem limites, ao contrário do que ocorre com
a urbanização, que corresponde a um aspecto espacial ou territorial proveniente de modificações sócio
econômicas. A Revolução Industrial, por exemplo, provocou profundas alterações espaciais e
econômicas, acelerando o processo de urbanização: o meio urbano cresceu e passou a comandar o meio
rural.

Urbanismo e Planejamento Urbano


A industrialização e a urbanização tornaram-se um fenômeno mundial na segunda metade do século
XIX; a partir de então, o debate sobre os problemas urbanos nos países industrializados se intensificou.
Sobre esses países pairava uma constatação: o crescimento econômico conquistado com a
industrialização não havia levado à melhoria da qualidade de vida da população urbana.
A miséria e as condições insalubres de moradia do proletariado urbano constituíam ameaças
permanentes de convulsões sociais e revoltas populares. Nas cidades industriais europeias do século
XIX, um número crescente de trabalhadores vivia em habitações deterioradas, em locais sem saneamento
básico nem serviço de coleta de lixo. Nessa época, os socialistas acreditavam que a insatisfação latente
das camadas populares em relação aos problemas sociais levaria à Revolução Socialista. Diante da
situação, o Estado adotou o planejamento urbano para resolver os problemas sociais causados pelo
desenvolvimento do capitalismo industrial: procurou reorganizar as cidades para estabelecer uma relação
mais equilibrada entre o espaço urbano e a sociedade.
As intervenções urbanas no século XIX, que marcaram a origem do urbanismo, não tiveram objetivos
e concepções idênticos. Algumas não partiram de uma perspectiva progressista e reformista, e não tinham
a preocupação em resolver de fato os problemas da miséria e das grandes disparidades existentes entre
as camadas sociais.
A remodelação de cidades como Viena, Londres, Florença e Paris atendeu a problemas comuns: a
melhoria sanitária, a criação e preservação de espaços públicos, o alargamento de ruas e avenidas. Mas
cada cidade tinha seus aspectos peculiares e visões distintas de como reorganizar sua estrutura e o modo
de vida urbana.
Um exemplo ilustrativo de intervenção urbana nesse período foi o projeto de remodelação de Paris,
concretizado pelo Prefeito George Eugène Haussmann (1809-1891). A abertura de largas avenidas
(bulevares) na cidade teve função estratégica: conter as convulsões sociais. O sistema viário dos
bulevares facilitava o rápido deslocamento das tropas de cavalaria e artilharia, além de impossibilitar a
formação de barricadas pelo movimento operário em confrontos com a polícia.
O austríaco Camillo Sitte (1843-1903), um dos percursores do urbanismo, ressaltava a importância do
espaço público (praças, monumentos e edificações históricas) para a vida do homem urbano. Apontava
a influência positiva que o meio externo poderia trazer ao espírito humano. Suas ideias humanistas – que
precederam o chamado urbanismo culturalista – influenciaram vários projetos no mundo inteiro,
inclusive nas cidades do Rio de Janeiro, Santos e São Paulo, no início do século XX.
No Reino Unido, o modelo de planejamento urbano conhecido como cidades-jardins (Garden cities)
marca até hoje a paisagem. As habitações foram erguidas com um generoso espaço verde as separando.
Esse modelo, adotado também nos Estados Unidos, ressaltava a interação do urbano com a natureza.

Urbanismo no Século XX

No século XX, o urbanismo utilizou os avanços tecnológicos da Segunda Revolução Industrial. O


concreto armado, o ferro, o aço, o alumínio, o vidro e outros materiais foram incorporados às obras
arquitetônicas e criaram novas possibilidades de instalações urbanas e de moradia. O arranha-céu gerou
o crescimento verticalizado e ampliou o adensamento populacional.

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1634532 E-book gerado especialmente para GRAZIELA CRISTINA LEOTE
O urbanismo da primeira metade do século XX foi marcado pelo funcionalismo ou racionalismo, isto
é, o planejamento urbano e o projeto arquitetônico passaram a ser vistos com finalidade funcional
(utilitária) e racional (prática). A estética devia estar a serviço das necessidades básicas e da vida social
do ser humano; as novas conquistas tecnológicas deviam ser incorporadas na construção dos edifícios e
das cidades, em perfeita harmonia com a vida cotidiana.
A sintonia do movimento racionalista com a vida moderna e a era da máquina pode ser observada na
frase “A casa é uma máquina de morar”, expressa pelo arquiteto suíço Le Corbusier – o mais famoso
urbanista do século XX. Nesse sentido, a moradia deveria ser produzida em série, como os automóveis
e outros objetos industriais.
Le Corbusier também destacava que “a finalidade do urbanismo não é outra que satisfazer as quatro
necessidades urbanas de caráter primordial: habitar, trabalhar, recrear o corpo e o espírito e circular”. A
partis destes quatro princípios elementares, defendia “a necessidade de assegurar aos habitantes da
cidade alojamentos sãos, minimamente ensolarados (não menos de duas horas diárias) e rodeados de
espaços verdes. Tais alojamentos deveriam estar convenientemente equipados, tendo ao seu redor os
serviços indispensáveis à satisfação das necessidades cotidianas da população urbana”. (LE CORBUSIER.
Princípios de urbanismo. Barcelona, Planeta-Agostin, 1986, p. VI).
O exemplo mais importante da influência do urbanismo racionalista no Brasil é a cidade de Brasília,
projetada no final da década de 1950 pelo urbanista Lúcio Costa (projeto da cidade – plano-piloto) e pelo
arquiteto Oscar Niemeyer (projeto dos prédios públicos e dos blocos residenciais). O projeto de Brasília
acrescentou aos princípios do urbanismo moderno aspectos próprios da conjuntura econômica da época,
marcada pela instalação da indústria automobilística no país. Além do traçado arrojado de suas ruas e
avenidas, da configuração de sua estrutura urbana e de seus edifícios – adaptados a uma estética
funcional e rodeados de áreas verdes -, Brasília é o grande símbolo do espaço do automóvel. Apesar das
críticas que pesam sobre essa cidade e dos objetivos que nortearam sua construção, ela se transformou
num símbolo mundial do urbanismo racionalista e da arquitetura moderna.
O planejamento urbano do século XX não ficou restrito às concepções do urbanismo racionalista, mas
nenhuma outra corrente teve a mesma difusão e influência mundiais.

A Urbanização Atual

Em 1975, a taxa de urbanização mundial era de apenas 37%. Em 2001, aproximadamente metade da
população já vivia em áreas urbanas, e calcula-se que essa proporção atingirá 60% em 2025. A
intensidade da urbanização explica-se principalmente pelo aspecto qualitativo: muitos aspectos da vida
urbana estenderam-se à vida do campo, como o acesso ao saneamento básico e à energia elétrica, a
presença de hospitais e escolas. As telecomunicações (como TV, rádio, telefone e, em alguns casos, até
Internet) integram atualmente os habitantes do campo e da cidade numa mesma rede de informação.
Assim, os limites territoriais das cidades não são mais os limites do modo de vida urbano.

As Cidades e a Urbanização no Mundo Desenvolvido - Desmetropolização


No mundo desenvolvido, a população urbana ultrapassa, em média, os 75%, e em muitos países já se
verifica uma estabilidade da porcentagem da população urbana em relação ao total da população.
A partir do final do século XIX, houve nos países desenvolvidos um processo de suburbanização ou
desmetropolização da população de maior poder aquisitivo, que procurava distanciar-se das
concentrações populacionais e industriais e dos problemas ambientais dos centros urbanos. Esse
processo mostrou-se mais intensa na segunda metade do século XX, graças ao incremento dos meios
de transporte e de comunicação; isso também possibilitou a descentralização das atividades econômicas,
que passaram a ocupar a periferia das grandes cidades e outras de menor tamanho.
Em alguns países, como os Estados Unidos, esse processo de suburbanização e a expansão das
grandes cidades levaram à ampliação da mancha urbana, caracterizada pela presença de algumas
metrópoles e diversas cidades. Formou-se a megalópole: um imenso aglomerado urbano, praticamente
contínuo, com algumas poucas áreas rurais.
Nos países europeus, o crescimento urbano ocorreu sem que a mancha urbana preexistente se
estendesse de modo significativo. Com exceção de cidades como Paris, Londres, Milão e Moscou, as
cidades europeias são pouco populosas, apesar de a grande maioria da população habitar em áreas
urbanas.
Nas grandes cidades do mundo desenvolvido, a preservação do espaço público e do patrimônio
histórico e as especificações de novas edificações (como localização, altura e recuo) são criteriosamente
regulamentadas e fiscalizadas pelo governo. Muitas intervenções realizadas nas cidades marcam
decisivamente determinados períodos e aspectos da paisagem urbana.

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1634532 E-book gerado especialmente para GRAZIELA CRISTINA LEOTE
As Cidades e a Urbanização no Mundo Subdesenvolvido
No mundo subdesenvolvido, grupos de países apresentam diferenças no que se refere à urbanização.
Os maiores índices da população urbana nesse conjunto verificam-se na América Latina: em média, entre
65 e 70 % dos habitantes vivem em cidades. Os mais baixos ocorrem na África e na Ásia: entre 35 e 40%,
em média. Em virtude da intensidade do processo de urbanização nos países subdesenvolvidos, esses
índices devem aumentaram rapidamente.
Nesses grupos, as possibilidades econômicas estão concentradas nas grandes cidades, que
constituem “ilhas” de progresso. Em alguns países, especialmente da América Latina, a população, a
renda, os investimentos econômicos e a participação na pauta de exportações de uma única cidade
chegam a atingir cifras correspondeste à metade do total do país.
Em 1950, havia oito aglomerações urbanas com mais de 5 milhões de habitantes, e apenas duas se
encontravam em países desenvolvidos. Já em 2000, das 37 aglomerações com esse número de
habitantes no mundo, 27 se localizavam em países subdesenvolvidos, e várias superavam os 10 milhões
de habitantes.

Urbanização e Planejamento nos Países Subdesenvolvidos


A partir da década de 1950, houve uma ampliação considerável da superfície ocupada pelas cidades
nos países subdesenvolvidos, num ritmo muito mais acentuado do que o verificado nos países onde a
urbanização acontecera há mais tempo.
De modo geral, a expansão das cidades nos países subdesenvolvidos deu-se praticamente sem
orientação ou planejamento, agravando o quadro de exclusão social no espaço urbano. Na periferia das
cidades, vários terrenos e loteamentos – a maioria clandestinos e desprovidos de infraestrutura – foram
ocupados pela população mais carente para estabelecer sua moradia.
Esse fenômeno é comum a várias cidades, apesar das diferenças existentes na organização espacial
e no grau da ocupação da superfície de cada uma delas. Na Cidade do México, em Lima e em São Paulo,
por exemplo, a expansão da superfície construída aconteceu em ritmo mais intenso que o próprio
crescimento da população.
Apesar do crescimento populacional elevado, em alguns períodos não se verificou um aumento na
densidade demográfica em algumas cidades mais pobres. Isso se deve ao fato de elas apresentarem
uma expansão desordenada e um crescimento “horizontalizado”. Esse crescimento horizontal cria
grandes dificuldades para a implantação de infraestrutura adequada (como transporte, coleta de lixo e
saneamento básico) em lugares mais distantes.

A Rede Hierárquica de Cidades - Metropolização

As cidades estão ligadas entre si por uma estrutura de transportes e de meios de comunicação,
formando uma rede urbana onde se estabelecem fluxos de mercadorias, pessoas e informações. As
relações nessa rede urbana são hierárquicas, pois algumas cidades exercem papel de comando, estando
no topo da hierarquia urbana: são as cidades globais e as metrópoles.

As Cidades Globais
As cidades globais são aquelas que concentram a movimentação financeira, as sedes de grandes
empresas ou escritórios filiais de multinacionais, importantes centros de pesquisas e as principais
universidades. São dotadas de infraestrutura necessária para a realização de negócios nacionais e
internacionais: aeroportos e portos, bolsa de valores e sistemas de telecomunicações, além de uma ampla
rede de hotéis, centros de convenções e eventos, bancos e comércio. Possuem serviços bastante
diversificados, como jornais, tetros, cinemas, editoras, agências de publicidade, etc.

A Cidade Global
O processo atual de modernização leva a que todos os lugares se globalizem, graças à difusão
generalizada das técnicas e da informação.
Criam-se, assim, lugares globais simples e lugares globais complexos. Esses são, geralmente, as
metrópoles, em que um grande número de variáveis típicas de nossa época se combina.
Mas as metrópoles se caracterizam não apenas por esse lado moderno de sua realidade atual, mas
também pelo fato de que guardam numerosos aspectos herdados de épocas anteriores, em virtude da
resistência da paisagem metropolitana às mudanças gerais. É um equívoco considerar as metrópoles
como se fossem inteiramente modernizadas e globalizadas. Aliás, o seu cosmopolitismo (qualidade do
que é cosmopolita – que apresenta características sociais, econômicas e culturais de vários países),
apenas é garantido pelo fato de que esses lugares complexos contêm elementos com diversas origens e

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idades que lhes asseguram o enriquecimento da variedade e da multiplicidade, o que inclui a possibilidade
de abrigarmos mais diversos tipos de capital, trabalho e cultura.
Uma classificação rigorosa levará a incluir entre as metrópoles globais apenas algumas poucas: Nova
York, Los Angeles, Tóquio, Londres, Paris..., capazes de exercer um papel de comando efetivo e de
regulação sobre o qual se faz nas outras cidades e no resto do mundo. Pode-se incluir também nesse rol,
ainda que num segundo nível, localidades como São Paulo, Cidade do México, Johanesburgo, cujo papel
reitor apenas se impõe a áreas menores e mais delimitadas do planeta.
Desse modo, pode-se considerar que as cidades globais são aquelas que dispõem, dos instrumentos
de comando da economia e sociedade em escala mundial (....). (SANTOS, Milton. Folha de São Paulo, 13/04/1997, Mais!, p. 5-
9).

As Metrópoles
As metrópoles são cidades populosas, adaptadas à economia globalizada, mas não necessariamente
formam uma megacidade. Em geral, preservam suas tradições, sua arquitetura e seu patrimônio histórico,
como é o caso principalmente das cidades europeias. Constituem grandes polos de atração de
investimentos e estão articuladas com as cidades globais – em alguns casos, podem ser classificadas
como tais. No entanto, sua importância e capacidade de comando geralmente estão restritas ao território
nacional.
Par alguns estudiosos do urbanismo, também deveriam estar associadas ao conceito de metrópole
características como direitos humanos e de cidadania (o direito à moradia, à educação, à saúde, ao
emprego, à segurança, etc.), o que limitaria este conceito a algumas cidades do mundo desenvolvido.

A Metrópole na Visão de um Importante Geógrafo


A ideia de metrópole nos remete a uma outra ideia, a de hierarquia. Como na história política dos
povos, onde algumas nações comandam as outras, com suas peculiaridades políticas, econômicas e
culturais, as metrópoles também disporiam do papel de comando em relação ao conjunto de cidades. As
metrópoles seriam as entidades mais altas na hierarquia, em virtude de deterem as melhores condições
econômicas, sociais, culturais e políticas: daí sua posição de comando.
A história nos fez juntar a ideia de metrópole à ideia de tamanho. Mas não seria apenas quantitativo,
mas também qualitativo – a grande cidade se torna metrópole por reunir condições, fruto em parte de seu
tamanho e da sua força reunida. É por isso que as metrópoles aparecem como lugar onde é possível
conviver com a sofisticação. (...). É o que distinguiria as nossas metrópoles das do norte, porque nas
nossas metrópoles a sofisticação não está ao alcance senão de uma parte muito pequena da população.
Entraríamos, portanto, em uma outra forma de distinguir as metrópoles, a qual limitaria a definição de São
Paulo como metrópole, porque poucas pessoas têm acesso ao que há aqui de sofisticado, diferentemente
de uma cidade como Paris, Londres ou Nova York, ou mesmo como Viena, que não é tão grande. (Santos,
Milton. Revista Caramelo. São Paulo, Grêmio da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, 1994, nº 7, p. 62).

Especulação Imobiliária49

Especulação imobiliária é a compra ou aquisição de bens imóveis com a finalidade de vendê-los ou


alugá-los posteriormente, na expectativa de que seu valor de mercado aumente durante o lapso de tempo
decorrido.
Se uma pessoa, empresa, ou grupo de pessoas ou empresas compra imóveis, em grandes áreas ou
quantidades e numa mesma região, isto eleva a demanda de imóveis no lugar, e, por consequência, há
um aumento artificial dos preços de todos os imóveis daquela região (segundo a lei de oferta e procura).
A expressão tem conotação pejorativa, por deixar implícito que o comprador do imóvel não irá utilizá-
lo para fins produtivos ou habitacionais, e ainda retira de outras pessoas, de menor poder aquisitivo e,
portanto, mais necessitadas, a possibilidade de fazê-lo.
No Brasil, o Estatuto das cidades pretende regular a especulação imobiliária. Aqui, as capitais
nordestinas são as que mais sofrem com a especulação imobiliária.

O que é Especulação Imobiliária?


Este é um termo muito utilizado em praticamente todas as considerações sobre os problemas das
cidades atualmente.
No entanto, tenho percebido que não são muitas as pessoas que conseguem definir com clareza o
que seja especulação imobiliária.

49
http://www.ufjf.br/pa8/files/2015/03/7B1_ESPECULA%C3%87%C3%83O-IMOBILI%C3%81RIA.pdf

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Na maioria dos casos, elas associam o termo à construção de prédios em altura e, mais
especificamente, a uma intensa ocupação do solo urbano.
Mas será que é isso que significa especulação imobiliária?
Campos Filho (2001, p. 48) define especulação imobiliária, em termos gerais, como [...] uma forma
pela qual os proprietários de terra recebem uma renda transferida dos outros setores produtivos da
economia, especialmente através de investimentos públicos na infraestrutura e serviços urbanos[...].
A especulação imobiliária, portanto, caracteriza-se pela distribuição coletiva dos custos de melhoria
das localizações, ao mesmo tempo em que há uma apropriação privada dos lucros provenientes dessas
melhorias.

A Forma Básica da Especulação


Mas o que isso quer dizer? Como é possível “melhorar” uma localização se ela não pode ser mudada?
Afinal de contas, um terreno é um bem imóvel. Essas melhorias que acabam valorizando os terrenos
podem dar-se de muitas formas; as mais comuns referem-se à provisão de infraestrutura (água, esgoto,
energia), serviços urbanos (creches, escolas, grandes equipamentos urbanos) e às melhorias realizadas
nas condições de acessibilidade (abertura de vias, pavimentação, sistema de transporte, etc.).
Tais melhorias, quando realizadas no entorno de um terreno, acabam agregando-lhe maior valor.
Terrenos com boa infraestrutura são mais caros que terrenos sem nenhuma infraestrutura. O mesmo vale
para a pavimentação das vias. Outro caso relativamente comum é o de terrenos que não são muito bem
localizados, até que uma nova avenida ou rua importante é aberta, melhorando suas condições de
acessibilidade. Seu preço, por consequência, acaba aumentando quase que instantaneamente.
Outra forma de melhoria da localização acontece pelo simples acréscimo de novas edificações no seu
entorno, o que por si só torna sua acessibilidade melhor em relação ao conjunto da cidade. Em outras
palavras, a ocupação por atividades (residenciais, comerciais, etc.) ao redor de um terreno torna-o mais
próximo – e portanto com maior acessibilidade – a uma nova gama de possibilidades de interação com o
resto da cidade.
Essa possibilidade de interação, por sua vez, é um aspecto valorizado pelas pessoas no momento de
escolher um determinado local e, por isso, acaba também contribuindo para o aumento do preço do solo.

Por que a Especulação Imobiliária é Injusta?


Como vimos, o que se chama de “melhoria” de uma localização é o processo através do qual a
qualidade da localização de um terreno em relação à disponibilidade de infraestrutura e a outros terrenos
(e portanto a outras atividades e centros de interesse) é aumentada. Dessa forma, os terrenos chamados

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“de engorda” ficam vazios, à espera de que o desenvolvimento da cidade se encarregue de valorizá-los,
sem que nenhum investimento tenha sido feito pelo proprietário (a não ser, é claro, o IPTU, que no entanto
é irrisório comparado à valorização da terra). Todo o investimento foi feito pelo Poder Publico,
principalmente no caso das infraestruturas, e por outros proprietários privados.
Muitos contribuem para a valorização, mas poucos ficam com os lucros.
Para entender esse ponto de vista, é interessante fazer uma comparação: imagine um empreendedor
qualquer, que queira ter lucro através da realização de uma determinada atividade. Para conseguir isso,
ele tem que investir uma certa quantia de capital e correr um risco, proporcional à probabilidade de o
negócio dar certo ou não. Os ganhos, por sua vez, também serão proporcionais ao risco corrido. Ele
presta um serviço que, de uma maneira ou de outra, é útil à coletividade e, em troca desse serviço
prestado, recebe sua compensação financeira. Nesse processo, ele gera empregos e movimenta a
economia.
Por outro lado, o especulador imobiliário que investir a mesma quantia de capital em um terreno ocioso
não está contribuindo em nada para a sociedade. Não gera empregos, não presta nenhum tipo de serviço,
e pior: ainda traz inúmeros prejuízos para a coletividade, conforme será visto mais adiante. Ainda assim,
por causa da valorização imobiliária conseguida através de investimentos feitos por outros setores da
sociedade, alcança lucros muitas vezes bastante grandes.

A Dispersão Urbana e a Especulação


Outra maneira de “melhorar” a localização de uma área é melhorar a qualidade dessa localização em
relação ao resto das áreas disponíveis no mercado, através do acréscimo de novas áreas que sejam
piores que elas. Assim, às vezes o preço de um determinado terreno sobe sem que haja nenhuma
modificação no seu entorno. Isso acontece porque loteamentos são criados nas piores localizações,
normalmente na periferia, isolados do tecido urbano e em condições precárias de infraestrutura.
Entretanto, mesmo esses loteamentos têm que, no mínimo, cobrir seus gastos de produção e conferir
algum lucro ao empreendedor, definindo, portanto, os menores preços do mercado de terras.
Com isso, o “ranking” de localizações é rearranjado, pela introdução, na sua base, de uma nova “pior”
localização. As outras localizações, por consequência, passam a ser mais valorizadas, por estarem agora
mais “distantes” da pior localização e mais próximas das áreas mais interessantes da cidade, ao menos
em comparação com essas novas áreas que agora passaram a fazer parte do tecido urbano. Quando um
terreno deixa de ser uma das piores localizações, pela adição de novas piores localizações, seu preço
sobe automaticamente.
Na maioria das vezes, esse mecanismo está associado também à forma mais básica da especulação
imobiliária, uma vez que deve ser feita provisão de infraestrutura para atender a essas piores localizações,
e que essa infraestrutura acaba passando pelos terrenos mais bem localizados, valorizando-os ainda
mais.

Os Problemas Urbanos Gerados pela Especulação Imobiliária


Apesar de gerar lucro para alguns poucos investidores, a prática da especulação imobiliária é
extremamente prejudicial para as cidades. Por causa dela, os tecidos urbanos tendem a ficar
excessivamente rarefeitos em alguns locais e densificados em outros, gerando custos financeiros e
sociais.
A infraestrutura, por exemplo, é sobrecarregada em algumas áreas e subutilizada em outras, tornando-
se, em ambos os casos, mais cara em relação ao número de pessoas atendidas.

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A especulação gera maiores distâncias a serem percorridas, subutilização da infraestrutura e aumento
artificial do preço da terra.
As dificuldades de deslocamento da população de mais baixa renda, especialmente nas grandes
cidades, também é, em grande parte, decorrente dessa lógica especulativa, que aumenta as distâncias
entre habitação e empregos. A urbanização de “piores” localizações empurra a ocupação para lugares
cada vez mais distantes, e com isso as distâncias que os novos moradores têm que percorrer acabam
aumentando.
Outra possível consequência da retenção especulativa de imóveis é a dificuldade de deslocamento
gerada pela escassez de vias e de possíveis caminhos para quem se desloca. Isso acontece quando os
terrenos ociosos são grandes, e impedem o surgimento de conexões entre áreas da cidade pelo fato de
não estarem parcelados. Todo o fluxo, portanto, precisa desviar-se dessas glebas, causando
estrangulamento em alguns pontos e concentração excessiva de tráfego em algumas poucas ruas.

Possíveis Soluções
Diante da constatação desse problemas advindos da especulação imobiliária, alguns instrumentos
urbanísticos vêm sendo utilizados para tentar coibi-la, com destaque especial para aqueles
regulamentados pelo Estatuto da Cidade.
O IPTU progressivo no tempo, por exemplo, permite ao poder público sobretaxar aqueles imóveis que
não estiverem cumprindo sua função social, isto é, que estiverem sendo subaproveitados em áreas que
possuam infraestrutura.
A outorga onerosa do direito de construir busca recuperar parte dos investimentos do poder público
em infraestrutura decorrentes do aumento de densidade acarretado por aquelas edificações cuja área
ultrapasse a área do terreno (coeficiente 1).
A contribuição de melhoria permite que o poder público cobre dos proprietários beneficiados por obras
de melhoria urbana o valor do investimento.
Entretanto, a aplicação de tais instrumentos nem sempre são implementadas, mesmo com a nova leva
de planos diretores participativos, principalmente por causa de hábitos e crenças há muito tempo
arraigados na cultura do brasileiro. Como explicar a alguém que sempre viu seus pais e avós segurando
a venda de terras para esperar os melhores preços que agora ele não poderá mais fazer isso, sob pena
de pagar mais impostos? Tarefa difícil, mas que deve ser levada a cabo paulatina e constantemente, para
que seja possível modificar essa mentalidade e criar cidades mais justas para todos.

Questões

01. (SEDF – Estudantes Universitários – CESPE) Com relação à geografia urbana no Brasil, julgue
o item que se seguem.
Os fatores que propiciam o crescimento populacional no interior do Brasil incluem a atração de
indústrias para as cidades de médio porte.
(....) Certo (....) Errado

02. (SEDF – Estudantes Universitários – CESPE) Com relação à geografia urbana no Brasil, julgue
o item que se seguem.
O processo de industrialização foi o fator responsável pelo desenvolvimento das cidades brasileiras,
cujos territórios se transformaram devido ao aumento da atividade produtiva no campo.
(....) Certo (....) Errado

03. (IBGE – Tecnologista/Geografia – FGV) Na organização do espaço urbano brasileiro na


contemporaneidade, observa-se uma expansão impulsionada por duas lógicas, a da localização dos
empregos nos núcleos das aglomerações e a da localização das moradias nas áreas periféricas. A
incorporação de novas áreas residenciais, o aumento da mobilidade e a oferta de transporte eficiente
favorecem a formação de arranjos populacionais de diferentes magnitudes que aglutinam diferentes
unidades espaciais. Adaptado de: IBGE. Arranjos populacionais e concentrações urbanas no Brasil. Rio
de Janeiro: IBGE, 2015. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) identificou 294 arranjos
populacionais no País, formados por 938 municípios e que representam 55,9% da população residente
no Brasil em 2010.
Os critérios utilizados na identificação dos arranjos populacionais empregam a noção de integração,
medida:
(A) pelos movimentos pendulares para trabalho e estudo e/ou pela contiguidade urbana;
(B) pelas funções urbanas e/ou pelo rendimento dos responsáveis por domicílio;

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(C) pelos fluxos telefônicos e/ou pelas unidades locais das empresas de serviços à produção;
(D) pela densidade demográfica e/ou pela estrutura da População Economicamente Ativa;
(E) pelo tamanho populacional e/ou pelo fluxo de bens, mercadorias, informações e capitais.

Gabarito

01.Certo / 02.Errado / 03.A

Comentários

01. Resposta: Certo.


Um assunto que tem estado bastante em voga na economia brasileira desde o final do século XX é a
descentralização de indústrias, processo que, de acordo com o geógrafo Paulo Inácio Vieira Carvalho,
“tem início na década de 1980, quando as fábricas começam a deixar as regiões metropolitanas em
direção a municípios do interior”.
Inicialmente, as indústrias se retiraram das capitais do Rio de Janeiro e de São Paulo visando
estabelecer-se em cidades do interior desses estados, mas, posteriormente, o projeto estendeu-se
também para estados menos industrializados do país.

02. Resposta: Errado.


Os territórios se transformaram devido ao aumento da atividade produtiva NAS CIDADES e não no
campo, além disso, o processo de industrialização foi um dos fatores responsáveis pelo desenvolvimento
das cidades brasileiras, porém, não o único.

03. Resposta: A.
Os movimentos pendulares são cada vez mais importantes para o entendimento da dinâmica urbana.
São utilizados para estudar a organização funcional dos espaços regionais e delimitar regiões
metropolitanas; dimensionar e caracterizar os fluxos gerados para o estudo e para o trabalho; para o
planejamento urbano, em especial o de transportes, entre outros (MOURA, CASTELLO BRANCO; FIRKOWSKI, 2005;
CASTELLO BRANCO, 2006).

b. Geografia do Brasil: 1) O Espaço Natural: características gerais do território


brasileiro: posição geográfica, limites e fusos horários; geomorfologia: origem,
formas e classificações do relevo: Aroldo de Azevedo, Aziz Ab’Saber e Jurandyr
Ross e a estrutura geológica; a atmosfera e os climas: fenômenos climáticos e
os climas no Brasil; domínios naturais: distribuição da vegetação,
características gerais dos domínios morfoclimáticos, aproveitamento econômico
e problemas ambientais; e recursos hídricos: bacias hidrográficas, aquíferos,
hidrovias e degradação ambiental.

DOMÍNIOS MORFOCLIMÁTICOS E ECOSSISTEMAS NO BRASIL50

Elementos Formadores das Paisagens Naturais

Transcorridos mais de cinco séculos desde o início da colonização portuguesa, o Brasil ainda guarda
em seu território uma impressionante diversidade de paisagens naturais, o que constitui inestimável
tesouro. Montanhas recobertas por florestas tropicais, campos de gramíneas estendendo-se a perder de
vista, planícies inundáveis, a maior floresta equatorial do mundo e serras que abrigam grandes extensões
de pinheiros nativos são alguns exemplos da exuberante natureza brasileira.
No entanto, é preciso alertar que essas paisagens naturais, mais do que nunca, correm o risco de
desaparecer devido à incessante degradação imposta pelo homem, que age destrutivamente na busca
do lucro imediato.

50
ANTUNES, Vera Lúcia da Costa. Geografia do Brasil: Quadro Natural e Humano. Coleção Objetivo. Editora Sol.
GARCIA, Hélio Carlos; e GARAVELLO, Tito Márcio. Geografia do Brasil. 4ª edição: Anglo.
LUCCI, Elian Alabi. Geografia Geral e do Brasil. 3ª edição. São Paulo: Saraiva.
TAMDJIAN, James Onnig. Geografia geral e do Brasil: estudos para compreensão do espaço. São Paulo: FTD.

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Um dos maiores geógrafos brasileiros, o professor Aziz Nacib Ab’Saber, classificou as paisagens
brasileiras sob o ponto de vista morfoclimático, pois resultam da interação dos seguintes fenômenos
naturais:
* estrutura geológica e relevo;
* clima;
* formação vegetal;
* rede hidrográfica.

Para que possamos melhor compreender as paisagens morfoclimáticas identificadas pelo professor
Ab’Saber, bem como apontar algumas ameaças à sua existência, é necessário, antes, estudar cada um
dos elementos naturais que as compõem.

A Base do Território: Estrutura Geológica e Relevo

Estrutura geológica é a base de um território. Corresponde à sua composição rochosa. Já o relevo


é a forma apresentada pelo território aos nossos olhos: montanhas mais altas, montanhas rebaixadas,
planícies, depressões.

O território brasileiro é parte integrante da placa sul-americana. Esta, juntamente com as demais placas
tectônicas, constitui a crosta terrestre, invólucro rochosos do planeta com cerca de 30 quilômetros de
espessura. A crosta terrestre flutua sobre o manto, material pastoso em estado de fusão genericamente
chamado de magma.
Ao flutuar sobre o magma, as placas tectônicas frequentemente se chocam, provocando
simultaneamente terremotos e elevações montanhosas (desdobramentos modernos). Nessas áreas é
comum surgirem vulcões, já que a presença das fendas que individualizam as placas permite o
extravasamento do magma.
Entretanto, nada disso ocorre no território brasileiro, que está localizado no centro da placa sul-
americana. Longe da borda dessa placa, local que fica à colisão com outras placas tectônicas, em nosso
país raramente são registrados abalos sísmicos ou vulcanismo atuante. Essa teoria pode ser comprovada
visualmente, pois no Brasil só ocorrem dois dos três tipos principais de estrutura geológica (escudos
cristalinos, bacias sedimentares e dobramentos modernos) encontradas na crosta terrestre:

Maciços antigos ou escudos cristalinos – são o embasamento mais antigo da crosta terrestre.
Formados no período geológico Pré-cambriano, apresentam rochas cristalinas magmáticas e
metamórficas.

Rochas cristalinas – No Brasil, as rochas cristalinas não fazem parte do ciclo de solidificação,
transformação (por temperatura e pressão) e fusão, que só ocorre nas áreas de vulcanismo atuante.
Bacias sedimentares – formadas por rochas originárias da deposição de sedimentos nas
concavidades da crosta terrestre. Por isso, essas rochas recebem o nome de sedimentares, tendo sido
formadas no Paleozoico, Mesozoico e Cenozoico a partir de sedimentos transportados pelos agentes
externos que modelam o relevo: as intempéries – chuva, vento, neve, etc.

Dobramentos Modernos
Além desses dois tipos de relevo, há um terceiro: os desdobramentos modernos ou montanhas jovens.
Constituem as maiores elevações da Terra, formadas no período Terciário da Era Cenozoica. Essas
montanhas ocorrem nas áreas de contato entre as placas tectônicas, que são também os locais mais
vulneráveis à pressão que ainda hoje é exercida pelas forças internas oriundas do magma. Nessas áreas,
costumam ser frequentes abalos sísmicos (terremotos) e atividades vulcânicas (vulcões ativos).
Contudo, em épocas mais remotas, ocorreu intenso tectonismo no território brasileiro, especialmente
na atual região Sudeste. Nesse caso, movimentos de placas tectônicas geraram, simultaneamente, o
soerguimento de algumas áreas e o rebaixamento de outras. Daí surgiram as chamadas Terras Altas do
Sudeste, parcialmente entremeadas pelo vale do rio Paraíba, que se encaixa entre a Serra da Mantiqueira
e a Serra do Mar, entre os estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais.

Agentes da Mudança
O relevo terrestre sofre a ação de agentes endógenos e exógenos. Os agentes endógenos,
especialmente os tectonismos, têm origem na ação de forças internas sobre a estrutura da Terra. É esse

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movimento da crosta terrestre que forma o relevo. Os agentes exógenos são os fatores externos que
modelam o relevo, como o vento, a chuva e o calor.

* Orogênese: processo tectônico causado por movimentos horizontais da crosta terrestre que, por sua
vez, resultam no choque de placas tectônicas. Esse fenômeno originou os grandes cinturões de
montanhas, como os Alpes, os Andes e o Himalaia;

* Epirogênese: movimento tectônico causado por pressões verticais do magma, oriundas de suas
variações térmicas. Esse fenômeno formou as serras do Mar e da Mantiqueira, bem como o vale do rio
Paraíba.

Relevo e estrutura geológica são conceitos diferentes. O relevo corresponde à forma apresentada
pela superfície terrestre, estudada por um ramo da ciência chamado geomorfologia. A estrutura
geológica corresponde à natureza das rochas que compõem o relevo. As rochas podem ser de três tipos:
Magmáticas – são as rochas resultantes da solidificação do magma. Dividem-se em dois grandes
grupos:
* Intrusivas, quando a solidificação ocorre no interior da crosta terrestre. Esse processo de
solidificação é mais lento, o que permite o desenvolvimento de grandes cristais visíveis a olho nu. Esses
cristais formam as rochas cristalinas, como o granito e o quartzo;
* Extrusivas, formadas na superfície, de origem vulcânica. Como o resfriamento e a solidificação são
muito rápidos, não há tempo para a formação de grandes cristais. O exemplo mais comum desse grupo
de rochas é o basalto.
Metamórficas – rochas oriundas da transformação físico-química de outras previamente existentes.
São exemplos desse tipo de rocha o mármore, resultante da transformação do calcário, e o gnaisse, da
transformação do granito.
Sedimentares – são as rochas formadas sobretudo pela deposição de detritos. Esses detritos podem
ser de rochas preexistentes, caso do arenito, ou de matéria orgânica, caso do carvão mineral, que resulta
da decomposição, sedimentação e compactação de antigas florestas.

O relevo brasileiro é modelado principalmente pelas intempéries, isto é, pelas variações rigorosas dos
elementos climáticos, como a temperatura, o vento e a chuva, que atuam sobre as rochas causando
alterações físicas e químicas. Essa atuação é chamada de intemperismo. Nas regiões de alta pluviosidade
prevalece o intemperismo químico, que leva ao desgaste das rochas pela transformação dos minerais por
oxidação e outras reações químicas com a água. Nas regiões de menor pluviosidade, como o sertão
nordestino e o Centro-Oeste, prevalece o intemperismo físico, fenômeno de dilatação e contratação das
rochas pela oscilação de temperatura, o que provoca a sua fragmentação.
A esculturação do relevo é muitas vezes acelerada pela ação antrópica (humana), que pode alterar
tanto o processo de erosão como o de sedimentação.

As Bacias Sedimentares
Já sabemos que as rochas sedimentares são formadas de detritos dos mais variados tipos de rochas,
que foram submetidas ao intemperismo, processo físico-químico responsável pela sua desagregação e
transformação. Esses detritos, transportados pela água, vento ou gelo, depositam-se nas grandes
depressões da superfície terrestre, formando as bacias sedimentares.
Durante a era Mesozoica, quando a bacia sedimentar do Paraná estava sendo formada, ocorreu uma
intensa atividade vulcânica no território brasileiro, basicamente sob forma de imensos derrames de lava.
Esses derrames vulcânicos formaram rochas basálticas, cuja decomposição originou a terra roxa, solo
extremamente fértil que determinou a vocação agropecuária do oeste do estado de São Paulo e norte do
estado do Paraná.
A bacia sedimentar do Paraná também se destaca pela ocorrência de outro magnífico recurso
estratégico: um imenso depósito de água potável. Trata-se do Aquífero Guarani, um gigantesco lençol
freático que ocupa uma área total de 1.200.000 km², estendendo-se por terras brasileiras e dos outros
três países do Mercosul.

Os Escudos Cristalinos
Os afloramentos dos escudos cristalinos correspondem a 36% do território brasileiro. São áreas ricas
em ocorrências minerais de grande valor comercial. Esses minerais podem ser não-metálicos, como o
granito e as pedras preciosas, ou metálicos, como o ferro e a bauxita.

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Os minerais metálicos são abundantes no Brasil. Encontrados principalmente em rochas que se
formaram durante a era Proterozoica, os mais importantes são:
* o ferro, explorado principalmente no Quadrilátero Ferrífero, em Minas Gerais, e na Serra dos Carajás,
no Pará;
* o manganês, cujas principais jazidas situam-se no maciço de Urucum (MS) e na Serra do Navio
(AP); a extração, porém, é maior em Conselheiro Lafayette (MG) e na Serra dos Carajás (PA);
* a bauxita, explorada no vale do rio Trombetas, no Pará, e a cassiterita, principalmente em Rondônia
e Minas Gerais.
O Brasil possui ouro encontrado principalmente em Minas Gerais, explorado em minas profundas, e
no Pará, onde geralmente é extraído em garimpos clandestinos.
Impulsionada pelo Estado, a exploração desses e de outros minérios constituiu um dos pilares que
sustentaram o início do processo de industrialização, nas décadas de 1940 e 1950. O marco dessa época
foi a criação da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), em Volta Redonda (RJ), em 1941.
Todavia, desde os anos 1950, tem crescido gradualmente a participação do capital estrangeiro no
setor, especialmente dos Estados Unidos, Inglaterra, Canadá, Alemanha e Japão. Exemplo disso é a
atual política de flexibilização dos monopólios estatais, que muitas vezes resultou na privatização de
empresas. Foi o caso da Companhia Vale do Rio Doce (CVRD), privatizada em 1997.

O Relevo Brasileiro e suas Classificações

A classificação do Relevo de Aroldo de Azevedo


Uma das mais antigas divisões do relevo foi feita na década de 1940 pelo professor Aroldo de Azevedo
e serviu de base para todas as outras divisões feitas posteriormente. Ao elaborar sua divisão, ele levou
em conta principalmente as diferenças de altitude.
Desse modo, as planícies foram classificadas como as partes do relevo relativamente planas com
altitudes inferiores a 200 metros. Por sua vez, os planaltos foram considerados as formas de relevo
levemente onduladas, cujas altitudes superam 200 metros.
Essa classificação divide todo o território brasileiro em planaltos, cuja área total ocupa 59% de toda a
superfície do país, e planícies, que ocupam os 41% restantes.

A Classificação do Relevo de Aziz Ab’Saber


No final da década seguinte, de 1950, o professor Aziz Nacib Ab’Saber aperfeiçoou a divisão do
professor Aroldo de Azevedo, introduzindo critérios geomorfológicos, especialmente as noções de
sedimentação e de erosão. As áreas nas quais o processo de erosão é mais intenso do que o de
sedimentação foram chamadas de planaltos. As áreas em que o processo de sedimentação supera o de
erosão foram denominadas planícies.
Nota-se, assim, que essa classificação não leva em conta as cotas altimétricas do relevo, mas os
aspectos de sua modelagem, ou seja, a geomorfologia.

Compare as duas classificações:

A Classificação do Relevo de Jurandyr Ross


Em 1989 o professor Jurandyr Ross elaborou uma outra classificação do relevo, dessa vez usando
como critério três importantes fatores geomorfológicos:
* a morfoestrutura – origem geológica;
* o paleoclima – ação de antigos agentes climáticos;

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* o morfoclima – influência dos atuais agentes climáticos.
Trata-se de uma divisão inovadora, que conjuga o passado geológico e o passado climático com os
atuais agentes escultores do relevo.
Com base nesses critérios, o professor Ross identifica três tipos de relevo:
* planaltos – porções residuais salientes do relevo, que oferecem mais resistência ao processo
erosivo;
* planícies – superfícies essencialmente planas, nas quais o processo de sedimentação supera o de
erosão;
* depressões – áreas rebaixadas por erosão que circundam as bordas das bacias sedimentares,
interpondo-se entre estas e os maciços cristalinos.

Clima → Situação Geográfica

A maior parte do território brasileiro (92%) localiza-se na zona intertropical, sendo cortado, ao sul (SP,
MS, PR), pelo Trópico de Capricórnio. Nesta zona climática estão as maiores médias térmicas do planeta.
No entanto, deve-se lembrar que o Brasil também é atravessado pelo Equador (AP, AM, RR, PA),
apresentando 93% de sua superfície no Hemisfério Sul, que se caracteriza por um relativo equilíbrio entre
massas continentais e massas oceânicas, justificando temperaturas mais amenas e maior umidade.

Classificação Climática
Segundo Lísia Bernardes, existem no Brasil cinco tipos climáticos principais:

Equatorial
Abrange a maior parte da Amazônia Brasileira. Apresenta temperaturas elevadas o ano todo, pequena
amplitude térmica anual, chuvas abundantes e bem distribuídas durante o ano todo (2.000 – 3.000
mm/ano);

Tropical
Tipo climático predominante no Brasil (Centro-Oeste, Meio-Norte, maior parte da Bahia e Agreste).
Apresenta temperaturas elevadas (verão 25º C, inverno 21º C), com duas estações bem definidas: verão
chuvoso e inverno seco;

Tropical de Altitude
Abrange o domínio de mares de morros no Sudeste (maior parte de Minas Gerais e trechos do Espírito
Santo, Rio de Janeiro e São Paulo). É um clima mesotérmico, com temperaturas amenas (verão 25º C,
inverno 18º C) e com chuvas concentradas no verão;

Semiárido
Característico do Sertão Nordestino, abrangendo o Vale Médio do São Francisco e norte de Minas
Gerais, apresenta temperaturas elevadas (superiores a 25º C), chuvas escassas e irregulares.
Caracterizado pelas estiagens bem pronunciadas;

Subtropical
Predominante na porção meridional do Brasil (parte de São Paulo, Paraná, além de Santa Catarina e
Rio Grande do Sul). Mesotérmico, com temperaturas amenas, apresenta grande amplitude térmica (verão
25º C, inverno 15º C) e chuvas distribuídas regularmente durante o ano todo, sem estação seca, com
índices pluviométricos entre 1.700/1.900 mm/ano.

Paisagens Vegetais

A distribuição dos vegetais na superfície terrestre está intimamente relacionada com as caraterísticas
climáticas de cada lugar, havendo até quem afirme que a vegetação é o reflexo do clima.
Assim, para analisar a distribuição das principais formações vegetais brasileiras, é preciso considerar
também os diversos domínios climáticos existentes no país.

A Vegetação Brasileira
Entre outras classificações de nossa vegetação, uma das mais didáticas (proposta pela geógrafa Dora
Amarante Romariz) é a que identifica no Brasil quatro grandes formações vegetais: florestais, complexas,
campestres e litorâneas).

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Formações Florestais
Segundo suas características, as formações florestais classificam-se em dois tipos: latifoliadas e
aciculifoliadas.
As latifoliadas caracterizam-se pela presença de árvores que têm folhas largas e que se agrupam
densamente. Quase todas atingem grande altura e abrigam sob suas copas árvores menores, arbustos
e herbáceas. Distribuem-se amplamente no Brasil, graças ao predomínio de climas quentes e úmidos.
As aciculifoliadas compõem-se de espécies com folhas pontiagudas, adaptadas às baixas
temperaturas. No Brasil, ocorrem especialmente nas áreas mais elevadas da bacia do Paraná, onde se
verifica o clima subtropical, com verões brandos.

Floresta Latifoliada Equatorial


Também conhecia como Floresta Amazônica ou Hileia, essa formação ocupa cerca de 40% do
território brasileiro, estendendo-se pela quase totalidade da região Norte, pela porção setentrional de Mato
Grosso e pela porção ocidental do Maranhão.
Característica de clima quente e super úmido, é uma floresta extremamente heterogênea e densa,
apresentando-se dividida em três estratos:
Igapó – corresponde à parte da floresta que se assenta sobre o nível mais inferior da topografia, onde
o solo está permanentemente inundado. Sua principal área de ocorrência é o baixo Amazonas;
Várzea – ocupa parte de média altitude do relevo, onde as inundações são periódicas;
Terra firme – localiza-se na parte mais elevada do relvo, livre das inundações, e por isso é o trecho
mais desenvolvido e exuberante da floresta.

Floresta Latifoliada Tropical


Formação exuberante, bastante parecida com a floresta equatorial. Heterogênea, intrincada e densa,
aparece em diferentes pontos do país onde há temperaturas elevadas e alto teor de umidade.
No litoral, com o nome de Mata Atlântica, estendia-se do Rio Grande do Norte ao Rio Grande do Sul,
porém foi intensamente devastada pela cultura canavieira desde o período colonial, sobretudo na região
Nordeste. No litoral sudeste e sul, a presença da serra do Mar dificultou a ocupação humana e a
exploração florestal, mas vem ocorrendo devastação, por causa das empresas madeireiras e da
construção de estradas; além disso, a vegetação é destruída pela poluição industrial, como ocorreu em
Cubatão, na Baixada Santista.
No interior da região Sudeste, aparecia em quase toda a área drenada pelo rio Paraná e seus afluentes,
sendo por isso denominada Mata da Bacia do Paraná. Com o avanço da cultura cafeeira em São Paulo
e Minas Gerais, no final do século XIX e início do século passado, foi quase toda devastada, restando
como vestígios, hoje, estreitas faixas de árvores que margeiam os rios da região, denominadas matas
galerias ou ciliares.

Mata dos Cocais


Formação de transição, concentrada no Meio-Norte ou Nordeste Ocidental (região composta pelos
estados do Maranhão e do Piauí), ladeada por climas opostos – o equatorial super úmido a oeste e o
semiárido a leste.
Na área um pouco mais úmida, que abrange o Maranhão, o oeste do Piauí e o norte de Tocantins, é
comum a ocorrência de babaçu. Na área menos úmida, que abrange o leste do Piauí e os litorais do
Ceará e do Rio Grande do Norte, encontra-se a carnaúba.

Floresta Aciculifoliada Subtropical


A floresta aciculifoliada é uma formação típica do clima subtropical, menos quente e úmido que o
equatorial e o tropical. Suas árvores têm folhas finas e alongadas (em forma de agulha), o que evita a
excessiva perda de umidade. Relativamente homogênea, apresenta poucas variedades, predominado a
Araucária angustifólia ou pinheiro-do-paraná.
Estendia-se orginalmente do sul de São Paulo ao norte do Rio Grande do Sul. Mas o fato de ser uma
formação aberta facilitou sua exploração intensa e não racional.

Formações Complexas
As formações complexas correspondem aos domínios do cerrado, da caatinga e do Pantanal, onde
extratos arbóreos, arbustivos e herbáceos convivem na paisagem:

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O Cerrado
Também denominado savana-do-brasil, o cerrado é a segunda formação vegetal mais extensa do país.
Ocupava originariamente quase 25% do nosso território, mas vem se reduzindo cada vez mais.
Típico de áreas de clima tropical com duas estações bem marcadas – verão chuvoso e inverno seco -
, aparece em quase todo o Brasil Central, isto é, na Região Centro-Oeste e arredores, como o sul do Pará
e do Maranhão, o interior de Tocantins, o oeste da Bahia e de Minas Gerais e o norte de São Paulo.
Caracteriza-se pelo domínio de pequenas árvores e arbustos bastante retorcidos, com casca grossa,
geralmente caducifólios (cujas folhas caem, impedindo o vegetal de perder água) e com raízes profundas.
Sua origem é uma incógnita: alguns a atribuem ao clima com alternância entre as estações úmida e
seca durante o ano; outros, ao solo extremamente ácido e pobre; outros, ainda, à ação conjunta desses
dois fatores. Além disso, deve-se levar em conta a ação humana: certos tipos de cerrado resultam da
realização de queimadas sucessivas num mesmo local. Em escala mais ampla, o aproveitamento
econômico dos domínios do cerrado vem destruindo a vegetação natural para a prática da pecuária e da
agricultura comercial mecanizada (cultivo de soja).

A Caatinga
A caatinga, formação típica do clima semiárido do sertão nordestino, ocupa cerca de 11% do território
brasileiro. É composta por plantas xerófilas (como as cactáceas, com folhas em espinhos), caducifólias e
pela carnaubeira, cujas folhas se recobrem de uma cera que evita a transpiração.
O principal uso econômico dos domínios da caatinga é a agropecuária, que apresenta baixos
rendimentos e afeta negativamente o equilíbrio ecológico. Seria preciso adotar técnicas de uso do solo
mais racionais do que as empregadas hoje e expandir a construção de açudes e de canais de irrigação,
para impedir uma provável desertificação, a médio ou longo prazo, do já muito seco sertão nordestino.

O Pantanal
O Pantanal, uma grande depressão localizada no interior de Mato Grosso e de Mato Grosso do Sul,
com altitude média de 100 m acima do nível do mar, tem uma porção inundável em que apenas nas
estiagens de inverno se desenvolve vegetação – uma formação rasteira apropriada à prática da pecuária.
Na sua porção de alagamento eventual, à vegetação rasteira misturam-se arbustos. Nas áreas altas,
encontramos espécies típicas dos cerrados, que, em alguns pontos mais úmidos, misturam-se as
espécies arbóreas da floresta tropical.
A economia tradicional do Pantanal sempre foi a pecuária, praticada em harmonia com o ambiente,
sem destruí-lo. Mais recentemente, porém, a região tornou-se objeto de novas formas de ocupação:
envolvendo o investimento de grandes capitais, a implantação da agricultura comercial, a utilização de
agrotóxicos e a construção de estradas, com a barragem das águas realizada por pontes, têm ocasionado
sérios desequilíbrios ecológicos. Além desses problemas, surgiram outros, como a caça ilegal de jacarés
e a pesca predatória, especialmente na piracema.

Formações Herbáceas
As formações herbáceas – também denominadas campestres -, compostas de vegetação rasteira, com
gramíneas e pequenos arbustos, são encontradas em todas as regiões brasileiras e diferenciam-se de
acordo com as características climáticas e pedológicas (do solo) das áreas de ocorrência, que são:
Os campos meridionais, destacando-se a Campanha Gaúcha, no Rio Grande do Sul – onde se
encontra a área de gramíneas mais extensa e homogênea (denominada “campos limpos”) – e os Campos
de Vacaria, em Mato Grosso do Sul. A pecuária é a atividade econômica mais comum nessas regiões;
Os campos da Hileia, que correspondem às áreas inundáveis da Amazônia oriental, como o litoral do
Amapá, a ilha de Marajó e o Golfão Maranhense;
Os campos de altitude, na serra da Mantiqueira (no Sudeste) e na região serrana dos Planaltos
Residuais Norte-Amazônicos, chamados Campos de Roraima (na Amazônia).

Formações Litorâneas
As formações litorâneas estendem-se por toda a costa brasileira e apresentam constituições variadas,
condicionadas ao tipo de solo e ao nível de umidade:
Nos mangues, há vegetais adaptados à intensa salinidade e à falta de oxigenação do solo, em áreas
alagadas periodicamente pelas águas do mar. São arbustos misturados a espécies arbóreas, quase
sempre de tronco muito fino e raízes aéreas. É nos mangues que se pratica a extração de caranguejos
como atividade econômica;
Nas restingas, misturam-se espécies herbáceas, arbustivas e arbóreas, como a aroeira-de-praia e o
cajueiro, favorecendo a formação de dunas;

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Nas dunas, são comuns vegetais rasteiros, com raízes profundas e grande extensão horizontal,
formando verdadeiros cordões vegetais;
Nas praias, são comuns as espécies halófilas, que proliferam em lugares ricos em sal, como a salsa-
de-praia e o jundu, vegetação arbóreo-arbustiva do litoral paulista.

Domínios Morfoclimáticos do Brasil

O imenso território brasileiro apresenta uma grande variedade de climas, vegetação, relevo e rios. A
interação desses elementos resulta na formação de uma extraordinária diversidade de paisagens
naturais.
O geógrafo Aziz Ab’Saber classificou essas paisagens em domínios morfoclimáticos, separados uns
dos outros por faixas de transição – paisagens heterogêneas, compostas por elementos vegetais de dois
ou mais domínios. Essa classificação considera a interação do relevo com os outros elementos naturais,
como o clima, a vegetação, o solo, a estrutura geológica, etc.

A Divisão Morfoclimática e as Províncias Fitogeográficas de Aziz Ab’Saber


Domínios Morfoclimáticos
Amazônico – Terras baixas florestadas equatoriais;
Mares de Morros – Áreas mamelonares tropicais-atlânticas florestadas;
Cerrado – Chapadões tropicais interiores com cerrados e florestas-galerias;
Caatingas – Depressões intermontanas e interplanálticas semiáridas;
Araucária – Planaltos subtropicais com araucárias;
Pradarias – Coxilhas subtropicais com padrarias mistas.

Faixas de Transição
Não-Diferenciadas.

Domínio amazônico: terras baixas florestadas equatoriais


Caracteriza-se pela presença de baixos planaltos e planícies, drenados pela bacia hidrográfica do rio
Amazonas. Essa paisagem, marcada pela presença da Floresta Amazônica, latifoliada, densa e bastante
heterogênea, é dominada pelo clima equatorial (sempre quente e úmido).
Apesar de constituir o ambiente mais preservado do país, esse domínio vem sofrendo profunda
degradação, marcada pelo desmatamento indiscriminado, que ocorre sobretudo para viabilizar a
expansão da pecuária bovina e das áreas de garimpo.

Domínio da caatinga: depressões semiáridas entre chapadas


A irregularidade e a relativa escassez das chuvas são responsáveis por uma vegetação ímpar existente
no Brasil: a caatinga, uma associação de cactáceas e gramíneas. A erosão típica local é a pediplanação:
o intemperismo físico e o vento aplainam o topo dos morros mais resistentes à erosão. Formam-se assim
as chapadas, como a Diamantina, na Bahia.
A histórica concentração fundiária reduz a área ocupada pela agricultura de subsistência, confinada
nos brejos: áreas mais úmidas localizadas nas encostas das chapadas e nos vales fluviais.

Domínio do cerrado: chapadões interiores com cerrados e florestas-galerias


O cerrado ocupa o Brasil Central, área de atuação do clima tropical típico (alternância de verões
quentes e úmidos e invernos amenos e secos). Caracteriza-se por ser uma vegetação complexa, uma
vez que reúne estratos arbóreos e herbáceos ao lado do estrato dominante, o arbustivo. Este é composto
por espécies de caules tortuosos envolvidos por cascas grossas. Possuem ainda raízes profundas, uma
adaptação à longa estação seca.
A partir dos anos 1970, graças ao uso da calagem para corrigir a acidez de seu solo, passou a ser
intensamente ocupado. Suas terras são muito valorizadas, estando ocupadas principalmente pela soja.
Por isso, foi recentemente considerado pela ONU como bioma seriamente ameaçado de extinção.

Domínio das araucárias: planaltos subtropicais com araucárias


As araucárias são ainda encontradas no Sul do País, precisamente entre o centro-sul do Paraná e
norte do Rio Grande do Sul, locais dominados por altitudes acima dos 800 metros. O clima subtropical
(grande amplitude térmica e chuvas regulares) é acentuado por essa altitude, o que resulta
frequentemente em nevascas e geadas durante o inverno.

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A vegetação marcante, a floresta aciculifoliada (composta principalmente por araucárias), foi quase
destruída. Esse fato se deu não só devido à expansão da agricultura, mas também em decorrência da
exploração de sua madeira pela indústria da construção civil e pela indústria de papel e celulose. Assim,
resta atualmente menos de 5% da cobertura original.

Domínio das pradarias: coxilhas subtropicais com pradarias mistas


Esse domínio é formado por extensos campos que recobrem os baixos planaltos do centro-sul gaúcho.
Denominada também campanha gaúcha e região dos pampas, essa vegetação atravessa fronteiras para
recobrir todo o Uruguai e o centro-leste da Argentina. O relevo dessa área é levemente ondulado, e suas
colinas são chamadas regionalmente de coxilhas.
Seja pelo relevo suave, seja pelas pastagens naturais, a principal atividade econômica do domínio das
pradarias é a pecuária, destacando-se a bovina e a ovina.

Domínio dos mares de morros: áreas mamelonares tropicais atlânticas florestadas


Essa paisagem é constituída por maciços antigos que datam do período Pré-Cambriano. Tais
formações apresentam-se levemente onduladas, lembrando o aspecto de meia-laranja (mares de morros
ou áreas mamelonares). Originalmente eram recobertos pela Mata Atlântica. Área de predominância do
clima tropical de altitude, apresenta temperaturas amenas. Coincide com as terras altas do Sudeste,
segundo a classificação do relevo de Aziz Ab’Saber. Em parte, a intensa degradação desse domínio deve-
se ao fato de que abriga grandes centros urbanos, como São Paulo e Belo Horizonte.
Também abriga em seu interior a agricultura comercial. Como acontece com o cerrado, a sua cobertura
vegetal também está sob séria ameaça de extinção, segundo a ONU. No estado de São Paulo, por
exemplo, restam apenas 3% de sua cobertura vegetal original.

O Exuberante e Maltratado Litoral Brasileiro


O leste do Brasil é delimitado por uma vasta costa litorânea, que se estende do cabo do Orange,
situado no estado do Amapá, até o arroio Chuí, córrego que faz a fronteira do Rio Grande do Sul com o
Uruguai.
Duas correntes marinhas quentes atuam ao longo dos mais 8 mil quilômetros desse litoral:
a corrente das Guianas, que banha os litorais setentrionais;
a corrente Brasileira, que banha um longo trecho que se estende desde o litoral nordestino até
o extremo sul do Rio Grande do Sul.
A vastidão do litoral brasileiro origina uma sucessão de paisagens naturais: ilhas, restingas, falésias,
encostas, lagunas, mangues, baías, além da foz de inúmeros rios, recifes de corais e de arenitos.
Esses ambientes costeiros estão sendo cada vez mais alterados pelas ações do homem,
responsáveis. Por exemplo, pela edificação de cidades.
Contudo, não são apenas as áreas urbanas que alteram o litoral brasileiro. A especulação imobiliária
também proporciona profundas feridas nas paisagens costeiras. Condomínios de luxo proliferam ao longo
de toda a costa, provocando o avanço do desmatamento e da poluição. No limite, essa intervenção
antrópica desenfreada compromete o equilíbrio de ecossistemas inteiros, além de promover a remoção
das comunidades indígenas.

A Ação do Homem

É preciso ressaltar que o fator antrópico (a ação do homem) está presente no processo de degradação
de todos esses domínios morfoclimáticos do Brasil. Todavia, as transformações impostas pelo homem
foram mais intensas nas regiões economicamente mais desenvolvidas.
Nelas, consequentemente, registram-se os mais sérios problemas ambientais do nosso país. Dentre
esses problemas, destacam-se os grandes movimentos de massas, isto é, os deslizamentos, provocados
sobretudo pelas seguintes condições:
* intensas atividades antrópicas;
* elevados índices pluviométricos;
* estrutura das rochas superficiais, muito vulneráveis a esses deslizamentos;
* topografia muito íngreme, com elevado ângulo de inclinação;
* retirada da cobertura vegetal original.

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Problemas Ambientais

Como todos os países do mundo, o Brasil também registrou uma intensa destruição do meio ambiente
ao longo de sua história. E as causas de tal destruição estão vinculadas intimamente ao modelo de
desenvolvimento econômico adotado desde o início da colonização. Aqui, da mesma forma que nos
países mais desenvolvidos, a busca do lucro foi sempre prioritária, em detrimento da natureza.
A expansão da agricultura demonstra, mais claramente do que qualquer outro processo, esse perverso
mecanismo de destruição. Em geral, o caminho para a implantação da imensa maioria dos cultivos é
aberto por um desmatamento descontrolado. Assim aconteceu com o cultivo da cana-de-açúcar na Zona
da Mata nordestina, durante o século XVI, quando foi devastada grande parte da Mata Atlântica; com o
cultivo do café em São Paulo, no século XIX, que repetiu essa mesma destruição no Sudeste; com o
cultivo da soja no Centro-Oeste, que em pouco mais de três décadas alterou radicalmente o ecossistema
do cerrado.

Principais Problemas Ambientais no Mundo e no Brasil


Os problemas ambientais no mundo podem ser divididos em três níveis:
a) alterações climáticas;
b) formas distintas de poluição;
c) extinção de espécies e desmatamento.

A Vida Cercada de Ameaças


Dentre as alterações climáticas podemos citar:
Destruição dos Habitats – é a causa principal da crescente perda de biodiversidade no mundo.
Plantas e animais morrem em consequência da destruição do seus locais de origem;
Efeito Estufa – provocado pela poluição, é acusado de ser o responsável pelo aumento da
temperatura e pelo degelamento das zonas polares, ameaçando a vida de várias espécies;
Desertificação – cálculos alarmantes indicam que cerca de 1/3 das terras cultiváveis do mundo
acabará se desertificando;
Exploração de Madeira – as motosserras que roncam nas florestas tropicais, da Amazônia às ricas
áreas vegetais da Malásia, devem seu vigor aos lucros obtidos com a extração ilegal de madeira;
Sobrepesca Marinha – a pesca de arrastão, o envenenamento por resíduos tóxicos e a pesca com
explosivos estão entre as maiores ameaças à biodiversidade marinha;
Caça – sob a mira dos caçadores, milhares de jacarés foram mortos. Várias espécies de extinguiram
ou estão ameaçadas por causa da caça;
Urbanização e Crescimento – também são causadores diretos da destruição dos habitats. Cerca de
92,7% da Mata Atlântica foi destruída em nome de urbanização;
Poluição – a chuva ácida, o envenenamento dos rios e do ar das cidades, entre outros efeitos,
provocam a morte de peixes, pássaros, pequenos mamíferos e até seres humanos;
Expansão de Pastagens – pastagens muitas vezes escondem a razão real da sua criação; a
ampliação de latifúndios. São perdidos 15 milhões de hectares de florestas tropicais a cada ano por causa
delas;
Expansão da Fronteira Agrícola – enormes extensões de florestas tropicais são dizimadas a cada
ano, geralmente por meio de queimadas, em nome de monoculturas.

Os Campeões da Biodiversidade
Apenas 17 das 200 nações existentes no mundo conseguem reunir 70% da diversidade biológica do
planeta. Países como o Brasil, Colômbia, Peru, Venezuela, Indonésia e Malásia, por possuir grandes
porções de florestas tropicais em seus territórios, concentram a maior parte da biodiversidade terrestre.

Formas de Poluição
Do Ar – concentrado de dióxido de carbono pela queima de combustíveis fósseis;
Hídrica – contaminação dos rios, lagos e represas, onde são necessários muitos esforços para
despoluição;
Do Solo – por meio de resíduos (lixo) sólidos não-degradáveis, ou que demoram muito tempo para
desaparecer no ambiente, como o vidro, que leva cerca de 5 mil anos para se decompor, ou ainda pelo
uso de componentes químicos. São as principais fontes de poluição do solo: inseticidas, solventes,
produtos farmacêuticos, plásticos, herbicidas, incineração de lixo, componentes eletrônicos, fluidos
hidráulicos, luzes fluorescentes, tintas, gasolinas, processamento de zinco e fertilizantes, baterias.

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Legislação Ambiental
Preservação
Impede qualquer interferência humana em um dado ambiente para evitar dano, degradação ou
destruição dos ecossistemas, áreas geográficas definidas ou espécies animais e vegetais.

Conservação
Prevê o manejo sustentável, isto é, a exploração econômica de recursos de uma região, desde que
seja baseada em pesquisas e levantamentos e feita de acordo com certas normas e treinamento
específico, além de respeitar a legislação em vigor.

Poluição Sonora – principalmente nos grandes centros urbanos, dores de cabeça, mal-estar e
redução auditiva;
Poluição Visual – causada pelo excesso de placas, propagandas, outdoors, que tiram a atenção
principalmente dos motoristas, pode ser um dos motivos de acidentes de trânsito.

Extinção de Espécies e Desmatamento


São estimados no mundo cerca de 5 milhões e 15 milhões, respectivamente, de exemplares de flora
e de fauna incluídos os microrganismos. Desse total, de 4 a 8 milhões seriam insetos, 300 mil plantas e
50 mil animais vertebrados, 10 mil aves, 5 mil anfíbios e 4 mil mamíferos.
O desmatamento, a caça e a pesca predatórias colocam em risco essas espécies.
O crescimento econômico e demográfico ampliam a demanda de espécies e pressionam a extinção.

São exemplos de Fauna Ameaçadas de Extermínio no Brasil

Aves
Arara-azul, arara-azul-de-lear, ararajuba, ararinha-azul, gavião-real, guará, papagaio-charão,
papagaio-de-cara-roxa, pica-pau-de-cara-amarela, pica-pau-de-coleira, pintor-verdadeiro.

Mamíferos
Ariranha, jaguatirica, lobo-guará, mico-leão-dourado, muriqui, onça-pintada, tamanduá-bandeira, tatu-
canastra, uacari-vermelho, veado-campeiro.

Répteis
Lagartixa-de-areia, tartaruga-de-couro, tartaruga-de-pente, tartaruga-verde.
Importância das Florestas
Constituem ecossistemas ricos em biodiversidade e sua destruição representa um grande risco
ambiental; pois, além de comprometer as espécies, a absorção de carbono é outra função muito
importante, que atua como filtros que limpam o ar dos gases causadores do efeito estufa.

As atividades agrárias, a construção de estradas e usinas hidrelétricas são as grandes responsáveis


pelos desmatamentos e queimadas.

A Devastação das Florestas


O processo de degradação ambiental no Brasil já ocorria no período colonial. Os portugueses iniciaram
a devastação das florestas brasileiras com a exploração do pau-brasil, que inseriu o país em uma série
de ciclos econômicos voltados aos interesses das metrópoles europeias.
A madeira era usada principalmente como matéria-prima para a fabricação de produtos para tingir
tecidos e para a fabricação de móveis. Calcula-se que mais de 80% das árvores de pau-brasil foram
derrubadas, restando pequenas amostras, geralmente em áreas de preservação ambiental, nos Estados
do Rio de Janeiro, Espírito Santo e Bahia.
Essa árvore faz parte de uma complexa formação florestal, a Mata Atlântica, que foi o primeiro
elemento do ambiente brasileiro agredido pela ocupação humana.
A Mata Atlântica estende-se sobre um relevo de morros baixos, formação conhecida como “mares de
morros”. Dada a sucessiva ondulação do terreno, as árvores constituiriam uma proteção contra
deslizamentos de terra provocados por chuvas fortes. Posteriormente, esses morros não dispunham mais
dessa capa protetora de vegetação.
As últimas áreas de Mata Atlântica do interior de São Paulo foram destruídas pela expansão acelerada
da cafeicultura, na segunda metade do século XIX e no início do século XX.

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Para fortalecer a fiscalização, surgiram diversas ONGs (organizações não-governamentais) que lutam
para implantar formas de manejo adequadas a essa região. Uma das mais conhecidas é a SOS Mata
Atlântica, que se transformou em uma entidade muito forte e organizada.

A Questão Amazônica
Durante séculos, essa imensa parcela do espaço brasileiro representou uma fronteira preservada e
praticamente desabitada, a ser conquistada pela “civilização” que se ergueu no Centro-Sul do país.
Seus primeiros habitantes já haviam estabelecido uma forma equilibrada de relacionamento com a
gigantesca floresta. Se compararmos a sua forma de ocupação com aquela que viria a ser imposta por
nossa sociedade ocidentalizada, podemos observar que os índios viviam em harmonia com seu espaço.
As primeiras incursões de grande porte ocorreram no final do século XIX e início do século XX,
motivadas pela exploração da Hevea brasiliensis (seringueira). A região recebeu nessa época um grande
contingente de pessoas, mas as picadas (nome popular de uma trilha em ambiente florestal) e as poucas
estradas não resultaram em grande devastação. Podemos afirmar que até meados da década de 1970 a
Amazônia permaneceu preservada.
Nessa década, os governos militares brasileiros, segundo a doutrina de Segurança Nacional elaborada
por eles, acreditavam que era necessário ocupar a fronteira norte do país, pois temiam que, se
continuasse desabitada (os indígenas, numerosos na região, não eram levados em conta), a região
amazônica constituiria um grave risco estratégico.
Por isso foi implementado um plano de ocupação e aproveitamento da região. Em linhas gerais,
destacam-se os seguintes pontos:
* Criação da zona franca de Manaus;
* Promoção de uma reforma agrária;
* Construção da Transamazônica;
* Implantação de grandiosos projetos de exploração agrícola mineral.
Esse conjunto de iniciativas promoveu o “descobrimento” dessa importante parcela do território
nacional. Em meados da década de 1970 muitos agricultores do Sul dispuseram-se a emigrar para as
terras mais baratas do Centro-Oeste e para as bordas da Floresta Amazônica propriamente dita, fato que,
infelizmente, contribuiu de forma decisiva para agravar a devastação da área.
Na década de 1980 muitos grupos econômicos, especialmente empresas multinacionais e
especuladores, desencadearam o loteamento e a exploração desse importante conjunto de terras
florestadas. Vários desses grupos são madeireiras, que continuam devastando gigantescas áreas em
pouco tempo e criando imensas clareiras na floresta.
Na década de 1990, esse processo de degradação se acelerou devido à chegada de grandes
madeireiras da Malásia e da Indonésia. Sentindo o esgotamento dos recursos na Ásia, essas empresas
passaram a atuar na Amazônia, associando-se a grupos brasileiros e japoneses.
Já no século XXI grandes empresas de mineração ainda destruíam a cobertura vegetal para explorar
o subsolo. Nem sempre seus dirigentes consideravam a necessidade de recompor a área.

Os planos de manejo, obrigatórios no Brasil, apresentam estudos denominados EIA e RIMA (Estudos
de Impacto Ambiental e Relatórios de Impacto Ambiental, respectivamente) antes de explorar qualquer
área, dificilmente podem recuperar locais intensamente afetados, cujo aspecto lembra as paisagens
lunares.

O caráter predatório da agricultura e da pecuária itinerante também agride a floresta por meio das
queimadas, técnica antiquada para abrir espaços de forma rápida para o plantio e a criação.
Em muitos lugares a devastação está ligada à obtenção de carvão vegetal. Além disso, segundo muitas
denúncias e vários flagrantes policiais, essa atividade ainda utiliza trabalho escravo e trabalho infantil.
De qualquer modo, a floresta continua correndo grave risco. Até 1970, somente 2% da mesma havia
desaparecido. Passados pouco mais de trinta anos, aproximadamente 20% já estavam devastados.
Esse rico ambiente bio diverso, posteriormente passou a gerar a cobiça de novos grupos econômicos.
O desenvolvimento da biotecnologia desviou para a Amazônia a atenção de inúmeros laboratórios e
órgãos de pesquisa de países ricos. Tais instituições têm o conhecimento de que o ambiente amazônico
contém plantas ainda pouco estudadas, om imenso potencial para a produção de medicamentos.
Apesar das dificuldades, tem-se desenvolvido uma consciência em relação a essa questão no Brasil.
Desde os anos de 1980, o líder seringueiro Chico Mendes, assassinado em 1988, fazia seguidas
denúncias sobre a atuação de fazendeiros e especuladores na região. Segundo Chico Mendes, os
mesmos eram a ponta-de-lança do grande capital, que vinha em busca de madeira, minérios e produtos
medicinais.

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Assim, a partir de suas denúncias, surgiu a ideia de criar as chamadas reservas extrativistas, que
visavam alcançar o que atualmente chama-se desenvolvimento autossustentado ou desenvolvimento
sustentável.

Trata-se de garantir a exploração de recursos florestais para as populações locais, que tem
conhecimento e respeito do ritmo de regeneração das plantas e, portanto, são capazes de explorar tais
recursos sem devasta-los.

A Questão da Água
Em nível mundial, é provável que a água tenha se tornado a questão mais debatida em todos os fóruns
de discussão sobre o meio ambiente. No Brasil, dois problemas têm gerado uma crescente preocupação
da sociedade: a deterioração sistemática dos recursos hídricos e sua crescente escassez.
A deterioração da qualidade dos recursos hídricos, especialmente nos rios e represas, é causada
principalmente pela poluição. Esta, por sua vez, tem como origem principal os esgotos urbanos e os
rejeitos agrícolas.
Os esgotos urbanos são produzidos tanto pelas residências quanto pelas empresas, principalmente
pelas indústrias.
A escassez da água tem como causa principal o mau uso desse recurso, especialmente o desperdício.
Outras causas são a ocupação das áreas de mananciais por loteamentos irregulares e a destruição das
matas que protegem as nascentes dos rios. Além disso, a expansão acelerada da agricultura tem
promovido a devastação da mata ciliar, a floresta nativa que acompanha o curso dos rios. Sem essa
vegetação, as margens dos rios ficam expostas à erosão pelas enxurradas, são destruídas e acarretam
o assoreamento dos leitos, que constitui a principal causa de diminuição do volume de água nos rios.
Os portos de areia, áreas de extração muito comuns nas várzeas dos rios que drenam terrenos
sedimentares, também causam assoreamento. Nessas várzeas de onde se extrai areia o rio forma
meandros e, portanto, fica mais lento, reduzindo sensivelmente o volume de água a jusante.

O Impacto da Agricultura sobre o Meio Ambiente


A modernização da agricultura também causa profunda deterioração dos recursos hídricos, devido à
utilização de agrotóxicos em larga escala. É cada vez mais comum a utilização de insumos como adubos
químicos, pesticidas, inseticidas e herbicidas, que, uma vez aplicados nos cultivos, são levados pelas
águas das chuvas aos rios, além de penetrarem no solo e atingirem o lençol freático.
O Brasil ainda enfrenta muitos outros problemas ambientais oriundos da agricultura. É o caso das
queimadas, até hoje uma prática comum durante a colheita da cana-de-açúcar nos estados do Centro-
Sul. A fuligem produzida por elas atinge as cidades e provoca uma verdadeira “chuva negra”, que polui o
ar e suja as roupas estendidas nos varais das residências. A queimada também destrói os nutrientes do
solo, o que exige uso ainda maior de produtos químicos sob forma de adubos e corretivos; cria-se,
portanto, um risco maior de poluição do mananciais.
A monocultura acelera também o processo de erosão do solo. Ao longo dos anos, esse processo dá
origem às voçorocas – profundos e extensos sulcos na terra resultantes da ação das enxurradas sobre o
solo desprotegido. Os prejuízos decorrentes desse fenômeno são enormes: terras cultiváveis e férteis
simplesmente desaparecem, transformando-se em milhões de toneladas de areia que vão assorear os
rios, ao mesmo tempo que geram a desertificação de extensas áreas, como o sudoeste gaúcho, antes
recoberto por pastagens e plantações de soja.
Finalmente, faz-se necessário o registro da expansão rápida da cultura da soja nos estados das regiões
Centro-Oeste e Norte do Brasil.

Poluição Litorânea
A pior agressão à biomassa litorânea tem sido a ocupação humana do litoral. O crescimento das
cidades na faixa costeira foi uma das marcas do processo de ocupação do território no Brasil, onde
concentrava-se a maior parte da população.
Os grandes e pequenos aglomerados que lá se instalaram quase sempre comprometem a diversidade
da vida e o equilíbrio do ambiente. Em muitos pontos da costa, as cidades litorâneas se desenvolveram
sem nenhum planejamento, e a rede de água e esgoto não foi suficientemente organizada para apresentar
um modelo satisfatório de qualidade d vida.
Uma das situações mais graves envolve a sobrevivência dos manguezais, formações vegetais que se
erguem nas áreas de encontro entre as águas dos rios e do mar, um ambiente muito rico para a
reprodução de inúmeras espécies. Os solos extremamente permeáveis, constituídos por uma profunda

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camada de lama, permitem o desenvolvimento de plantas de médio porte, criando um bioma único, cujos
ecossistemas têm equilíbrio muito frágil.

Bioma é uma porção da superfície terrestre que se individualiza geograficamente na paisagem natural,
pois apresenta características de clima, solo, vegetação e fauna que a tornam única.

Problemas Ambientais Urbanos


Os problemas ambientais também são dramáticos nas cidades brasileiras. No Estado de São Paulo,
metade dos municípios ainda utiliza aterros sanitários (lixões). Tal fato é muito preocupante, uma vez que
o chorume – resíduo altamente tóxico produzido pela decomposição do lixo urbano – pode facilmente
penetrar no subsolo e, consequentemente, contaminar os recursos hídricos. Esse problema é
particularmente grave nas cidades em que a maior parte da água consumida provém de lençóis freáticos
pouco profundos, facilmente contaminados por aterros sanitários.
Em tempos mais remotos, o lixo era produzido em pequenas quantidades e era basicamente composto
por sobras de alimentos.
A Revolução Industrial e a chegada da “era dos descartáveis” aumentaram o voluma de resíduos, que
hoje são variados e vão desde embalagens de plástico, papel, até móveis, calçados, pneus,
eletrodomésticos, implementos de informática e o próprio computador.
A desova clandestina do lixo não respeita os lugares e a natureza é vítima do descaso.
O destino do lixo é um problema: as propostas para soluciona-lo sempre trazem algumas
desvantagens ou colocam em risco a saúde pública, poluem o solo, a água e o ar.

Lixões ou vazadouros a céu aberto


São mais comuns, mas possuem aspectos negativos: são poluidores e exalam um cheiro fétido no ar;

Aterros sanitários
Têm resíduos compactados e cobertos com terra, sã ode baixo custo, mas se não forem bem
administrados, podem se transformar em depósitos de ratos e insetos;

Incineração
Transforma o lixo em cinzas, diminui o volume, mas tem um alto custo e a fumaça polui o ar;

Compostagem
Consiste em transformar restos de comida, esterco de animais e podes de árvores em adubo; também
reduz o volume e pode ser usada como cobertura para aterros sanitários, mas o processo é lento, e os
gases que produz exalam mal cheiro;

Reciclagem
Considerada a solução ideal pelo governo e por ecologistas, consiste no processamento e
reaproveitamento de determinados produtos. Mas, para tanto, algumas providências terão de ser
tomadas, como a coleta seletiva, reutilização de vasilhames, latas, sacolas, doação do que não se usa,
não atirar as coisas aleatoriamente, entre outras medidas.

Desertificação
É o empobrecimento dos ecossistemas áridos ou sub úmidos em virtude do efeito combinado das
atividades humanas e da seca (Nairóbi, 1077).
É a degradação das terras áridas e semiáridas e sub úmidas resultante de vários fatores, incluindo
variações climáticas e atividades humanas (Rio/92).

Usualmente a desertificação manifesta-se através de:


* Redução da biomassa (aumento do solo nu);
* Elevação do albedo (índice de refração solar);
* Agravamento da erosão e empobrecimento do solo;
* Voçorocamento das encostas e assoreamento dos vales.

As causas são, basicamente, duas:


* Crescimento demográfico e pressão sobre os recursos, com destruição irreversível dos
ecossistemas;

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* Anomalias de comportamento climático, resultando em mudanças significativas na distribuição
espacial e temporal da precipitação (Mudanças climáticas globais – Prof. José Bueno Couto).

“(...) é o poluidor obrigado, independentemente de existência de culpa, a indenizar ou reparar os danos


causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados por sua atividade. O Ministério Público da União e dos
Estados terá legitimidade para propor ação de responsabilidade civil e criminal por danos causados ao
meio ambiente”. (Citado por Clarita Müller – Plantenberg e Aziz N. Ab`Sáber, Previsão de impactos, p. 81).

HIDROGRAFIA BRASILEIRA51

Um aspecto importante propiciado pelo relevo é o grande potencial hidráulico existente no território
brasileiro. Esse fato ocorre porque 59% da superfície do nosso país situa-se acima dos 200 metros de
altitude, e essa imensa área é percorrida por extensos rios de planalto.
O Brasil dispõe de 12% das reservas de água doce do planeta. Toda essa água flui por uma vasta e
densa rede hidrográfica. Nela, é possível identificar as duas maiores bacias hidrográficas do mundo: a
Amazônica e a Platina.
Outro destaque é a maior bacia hidrográfica inteiramente brasileira, a São-Franciscana, de grande
importância socioeconômica para o nosso país.

Bacias Hidrográficas

Bacia Hidrográfica corresponde à área drenada por um rio principal, seus afluentes e subafluentes,
que formam, dessa maneira, uma rede hidrográfica.

Subafluente é o rio que escoa suas águas para um afluente do rio principal da bacia hidrográfica.

Os limites entre as bacias hidrográficas encontram-se nas partes mais altas do relevo e são
denominados divisores de água, pois separam as águas de bacias. O declive entre o divisor de água e
o rio principal, por onde correm as águas dos afluentes, chama-se vertente. As águas são depositadas
no leito do rio que, em época de cheia, pode transbordar para as margens baixas e planas que o
acompanham, que constituem a sua várzea.
O Brasil dispõe de uma das mais densas redes hidrográficas da Terra, que representam cerca de 14%
das reservas mundiais de água doce. No entanto, o abastecimento das regiões mais desenvolvidas
economicamente e mais populosas muitas vezes fica comprometido, pois é cada vez maior não só o
consumo de água provocado pelo crescimento populacional e urbano, como o de energia elétrica. Quando
os níveis dos reservatórios estão baixos, em decorrência da falta de chuvas, as hidrelétricas limitam o
fornecimento de água para não faltar energia elétrica, o que tem provocado racionamentos de água e até
mesmo de energia.
Esses grandes centros urbanos também estão situados distantes dos rios de maior navegabilidade,
nos quais o transporte fluvial poderia construir uma excelente alternativa de transporte. No Sudeste, na
bacia do Paraná – que cobre boa parte dessa região – estão sendo feitos investimentos em obras que
viabilizem a navegação dos rios que cortam áreas economicamente importantes.
De acordo com a classificação de relevo de Jurandyr Ross, os principais dispersores de água das
maiores bacias brasileiras estão situados:
* na Cordilheira dos Andes, onde nascem os formadores do rio Amazonas;
* nos Planaltos Norte-amazônicos, origem dos rios da margem esquerda do rio Amazonas;
* no Planalto e na Chapada dos Parecis, que separam a bacia Amazônica de rios da bacia Platina (rio
Paraguai);
* nos Planaltos e nas Serras de Goiás-Minas e nos Planaltos e nas Chapadas da Bacia do Parnaíba,
que são divisores de água das bacias do Tocantins e São Francisco;
* nos Planaltos e nas serras do Atlântico-Leste-Sudeste, onde nascem o rio São Francisco, os rios
formadores do Paraná (Paranaíba e Grande) e os seus afluentes da margem esquerda.
De modo geral, os rios brasileiros recebem águas das chuvas. Por isso, em sua maioria, são
caracterizados pelo regime pluvial.

Regime de um rio é a variação de água de um rio durante um ano, a qual está relacionada à origem
das suas águas. Quando a variação do nível depende das chuvas, o regime é pluvial, como, por exemplo,

51
LUCCI, Elian Alabi. Geografia Geral e do Brasil – Elian Alabi Lucci; Anselmo Lazaro Branco; Cláudio Mendonça. 3ª ed. São Paulo: Saraiva.

142
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ocorre em todos os rios brasileiros. Quando a variação depende de degelo, o regime é nival. O Amazonas
é considerado um ri ode regime misto, pois as águas próximas à nascente dependem do degelo dos
Andes, mas maior parte é alimentada pelas chuvas abundantes da região equatorial.

A Plataforma Continental Brasileira


Em 1993 foi promulgada a lei que define a soberania brasileira sobre sua plataforma continental, Lei
n° 8.617/93, que delimita três regiões a que o país tem determinados direitos: o mar territorial, a zona
contígua e a zona econômica exclusiva.
O mar territorial brasileiro compreende uma faixa de doze milhas marítimas de largura, a partir do
litoral continental e insular. O Brasil tem soberania sobre esta faixa oceânica e seu espaço aéreo e
acrescenta este território ao restante da parte continental.
A zona contígua brasileira estende uma faixa de mais de doze milhas a partir do limite do mar
territorial e corresponde a uma zona em que pode exercer fiscalização de navios e reprimir as infrações
cometidas de acordo com as leis brasileiras.
A zona econômica exclusiva brasileira compreende uma faixa que se estende até duzentas milhas
marítimas, onde o Brasil exerce soberania para fins de exploração e aproveitamento, conservação e
gestão dos recursos naturais, das águas do mar e do seu subsolo, para fins econômicos e investigação
científica.

Bacias Hidrográficas do Brasil

Bacia hidrográfica corresponde à área drenada por um rio principal, seus afluentes e subafluentes,
que formam, dessa maneira, uma rede hidrográfica.
Os limites entre as bacias hidrográficas encontram-se nas partes mais altas do relevo e são
denominados divisores de água, pois separam as aguas de bacias. O declive entre o divisor de água e o
rio principal, por onde correm as águas dos afluentes, chama-se vertente.
As águas são depositadas no leito do rio que, em época de cheia, pode transbordar para as margens
baixas e planas que o acompanham, que constituem a sua várzea.
O Brasil dispõe de uma das mais densas redes hidrográficas da Terra, que representam cerca de 4%
das reservas mundiais de água doce. No entanto o abastecimento das regiões mais desenvolvidas
economicamente e mais populosas muitas vezes fica comprometido, pois é cada vez maior não só o
consumo de água provocado pelo crescimento populacional e urbano, como de energia elétrica.
Quando os níveis dos reservatórios estão baixos, em decorrência da falta de chuvas, as hidrelétricas
limitam o fornecimento de água para não faltar energia elétrica, o que tem provocado racionamentos de
água e até mesmo de energia.
Esses grandes centros urbanos também estão situados distantes dos rios de maior navegabilidade,
nos quais o transporte fluvial poderia constituir uma excelente alternativa transporte. No Sudeste, na bacia
do Paraná que cobre boa parte dessa região - estão sendo feitos investimentos em obras que viabilizem
a navegação nos rios que cortam áreas economicamente importantes.

De acordo com a classificação de relevo de Jurandyr Ross, os principais dispersores de água das
maiores bacias brasileiras estão situados:
• na Cordilheira dos Andes, onde nascem os formadores do rio Amazonas;
• nos Planaltos Norte-amazônicos, origem dos rios da margem esquerda do rio Amazonas;
• no Planalto e na chapada dos Parecis, que separam a bacia Amazônica de rios da bacia Platina (rio
Paraguai);
• nos Planaltos e nas serras de Goiás-Minas e nos Planaltos e nas chapadas da Bacia do Paraíba, que
são divisores de água das bacias do Tocantins e São Francisco;
• nos Planaltos e nas serras do Atlântico-Leste;
• no Sudeste, onde nascem o rio São Francisco, os rios formadores do Paraná (Paranaíba e Grande)
e os seus afluentes da margem esquerda.

De modo geral, os rios brasileiros recebem águas das chuvas. Por isso, em sua maioria, são
caracterizados pelo regime pluvial.

As Principais Bacias Brasileiras


As quatro maiores bacias – Amazônica, Tocantins-Araguaia, São Francisco e Platina (Paraná,
Paraguai e Uruguai) – cobrem mais de 80% do território brasileiro.

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São principais Bacias Brasileiras:
* Bacia Amazônica;
* Bacia do Tocantins – Araguaia;
* Bacia do São Francisco;
*Bacia Platina;
* Bacia do Paraná;
* Bacia do Paraguai;
* Bacia do Uruguai.

As Bacias Secundárias
As bacias secundárias reúnem um conjunto de bacias localizadas nas proximidades do litoral;
apresentam rios de pequena extensão, geralmente com poucos afluentes. São consideradas bacias
secundárias:
* Bacias do Nordeste;
* Bacias do Leste;
* Bacias do Sudeste-Sul.

A bacia Amazônica, considerada a maior bacia hidrográfica do mundo, drena uma área superior à
metade do território brasileiro (6,5 milhões de km) e também abrange áreas de outros seis países sul-
americanos. De toda a água dos rios lançada nos oceanos, 20% desembocam da foz do rio Amazonas.
Sobretudo em território brasileiro, o rio Amazonas atravessa uma área plana e pouco profunda; é um
rio largo e que apresenta grande volume de água. Essas também são características dos trechos de
afluentes situados próximo ao Amazonas, tomando a navegação fluvial o principal meio de transporte da
região.
Pelo Amazonas também são transportados produtos. A safra de soja do norte do Mato Grosso é
transportada pelo rio Madeira (afluente do Amazonas). Como o custo do frete do transporte fluvial é menor
que o do transporte rodoviário e ferroviário (muito usados nas zonas centro e sul do país), o custo final
do Produto também é menor.
Além de usados para navegação, o rio é meio essencial de vida para a população ribeirinha e diversos
povos indígenas. Os rios Amazônia têm a maior fauna fluvial do mundo e o número de espécies
conhecidas é surpreendente.
A bacia Amazônica possui o maior potencial para geração de energia hidrelétrica do país. No entanto,
a produção de energia é pequena. Isso se explica pela distância dos grandes centros econômicos e
populacionais, situados no Sul e Sudeste do país.
A bacia do Tocantins-Araguaia está ligada ao mesmo ecossistema da Bacia Amazônica e os e os rios
também têm grande importância na organização do espaço regional da Amazônia Oriental. A sua maior
extensão drena terrenos elevados, que garante boas possibilidades para geração de energia.
Nela está situada a usina de Tucuruí, no rio Tocantins, no Pará - a maior hidrelétrica totalmente
brasileira. É ela que alimenta os grandes projetos minerais implantados nesse estado, como o Grande
Carajás, e, principalmente, as grandes indústrias de alumínio, orno a Alcoa; a Albrás (Alumínio Brasileiro
SI A), pertencente à Companhia Vale do Rio Doce; e a Nippon, entre outros.
A linha de transmissão de Tucuruí tem mais de 1 200 quilômetros de extensão e abastece, além dos
projetos minerais, várias cidades do Pará e do Nordeste.
Essas indústrias, que pelo enorme consumo energético são chamadas de eletro intensivas, consomem
mais de 60% da hidreletricidade gerada por Tucuruí. A construção da hidrelétrica, por sua vez, exigiu
vultosos investimentos do governo brasileiro no final dos anos 1970 e início dos anos 1980, os quais
favoreceram, principalmente, grandes grupos empresariais estrangeiros e Nacionais.
A bacia do São Francisco é alongada e situa-se quase totalmente em área de depressão, conforme
classificação do prof. Jurandyr Ross. O extenso São Francisco (cerca de 3 100 km) tem afluentes de
pequena extensão e boa parte deles são temporários, ou seja, eram no período das estiagens escassez
de chuvas). Esse rio nasce na Serra da Canastra (Minas Gerais) e deságua no Atlântico, na divisa entre
Alagoas e Sergipe, depois de percorrer longo trecho do sertão nordestino.
Corre no sentido geral Sul-Norte, e foi por longo tempo meio de ligação entre as regiões Nordeste e
Sudeste, onde se estruturaram os núcleos de povoamento mais antigos do Brasil. Possui declives
acentuados em trechos próximo à nascente ou à foz, o que lhe confere a posição de segunda bacia em
produção energética do Brasil.
Abastece tanto a região Sudeste, com a usina de Três Marias (Minas Gerais), como a Nordeste, com
a usinas de Sobradinho (PE/BA). Paulo Afonso (AL/BA), Xingó (AL/SE), Itaparica (PE/BA) e Moxotó
(AL/BA). O São Francisco também apresenta longo trecho navegável em seu curso médio.

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1634532 E-book gerado especialmente para GRAZIELA CRISTINA LEOTE
O garimpo, o uso excessivo da água para irrigação, a poluição por defensivos agrícolas, a destruição
da mata ciliar na cabeceira e a erosão das suas margens são alguns problemas que provocam forte
impacto ambiental. A poluição das águas afeta diretamente os recursos da pesca e a vida da população
ribeirinha do São Francisco.

A bacia Platina reúne as bacias dos rios Paraná, Paraguai e Uruguai, que nascem em território
brasileiro e drenam, também, os países platinos (Paraguai, Uruguai e Argentina). Na fronteira da
Argentina e Uruguai todas as águas se juntam no estuário da Prata e deságuam no oceano Atlântico. É
a segunda bacia em área da América do Sul.
A bacia do Paraná, é essencialmente planáltica, ocupando o primeiro lugar em produção hidrelétrica
do país. No rio Paraná estão situadas as usinas de Ilha Solteira e Jupiá (complexo de Urubupungá),
Engenheiro Sérgio Motta (porto Primavera) e Itaipu (usina binacional brasileira e paraguaia).
A bacia do Paraguai é típica de planície. Sua maior extensão no Brasil está situada no Complexo do
Pantanal, destacando-se pelo aproveitamento como hidrovia interligada outras bacias (especialmente à
do Paraná) através dos rios Pardo e Coxim. A navegação na bacia é internacional, pois o rio Paraguai
bani terras do Brasil, Bolívia, Paraguai e Argentina. Destaca-se a importância do porto fluvial Corumbá
(MS).
A bacia do Uruguai abrange grande trecho de relevo planáltico. O rio Uruguai, que nasce confluência
dos rios Canoas e Pelotas, é utilizado como limite em boa parte da divisa entre os dos do Rio Grande do
Sul e de Santa Catarina bem como em parte do trecho da fronteira entre o Brasil e a Argentina e em toda
a fronteira entre a Argentina e o Uruguai.

Hidrovia do Mercosul
A hidrovia Tietê-Paraná está entre os grandes projetos da Bacia do Paraná. O obstáculo a ser superado
é a usina de Itaipu, onde, para superar os 130 metros de desnível no trecho do rio em que ela foi
construída, será necessário grande investimento na construção de eclusas.
Por enquanto, a carga transportada precisa ser baldeada caminhões e percorrer 80 km de estrada
para retomar à hidrovia.
Os projetos para o rio Paraguai preveem a retificação de trechos do rio, o que tornará o percurso mais
rápido seguro, bem como o controle da vazão das suas águas, que diminuem muito na época da seca
(outono-inverno) impossibilitando, em alguns casos, a navegação.
No entanto, obras de grande impacto para estabelecer o controle da vazão poderão ocasionar graves
danos ao ecossistema do Pantanal, a alternância do volume de água do rio é fator responsável pela
diversidade e abundância da fauna e da flora região.
Agregam-se, ainda, a este conjunto de hidrovias, mais 500 km de águas da rede do rio Uruguai.

Principais Rios Brasileiros52


O Brasil é o país que possui a maior reserva de água doce no mundo (12%). Entre os rios brasileiros,
cinco se destacam pelas oportunidades produtivas que oferecem as mais diversas comunidades do
território nacional. O primeiro deles e o mais importante é o Amazonas.
A Amazônia é conhecida mundialmente pela quantidade de água doce que ela oferece aos brasileiros,
sendo que o Rio Amazonas é o principal da região. Para se ter ideia do volume da bacia hidrográfica
desse rio, a sua produção de água teria capacidade para abastecer 74% de toda a demanda do país, de
acordo com a Agência Nacional de Água (ANA).
Quem se beneficia diretamente com essa grande quantidade de água são as pessoas que vivem no
Acre, Amazonas, Roraima, Rondônia, Mato Grosso, Pará e Amapá.
O segundo Rio da lista é o Rio São Francisco, conhecido também como Velho Chico. Ele nasce na
Serra da Canastra, em Minas Gerais, e corta todo o Nordeste com seus quase três mil km de extensão.
Apesar de sua vital importância para os mais de 16 milhões de pessoas que habitam sua bacia
hidrográfica, infelizmente, hoje o São Francisco carece de cuidados.
O assoreamento em alguns trechos, a poluição e o desmatamento de matas ciliares, que são aquelas
que protegem as nascentes, rios e lagos, colocam em risco esse provedor tão importante.
O terceiro Rio é o Tocantins. Este nasce no planalto de Goiás e tem impressionantes 2.699 km de
extensão, sendo um dos maiores rios brasileiros que nasce dentro do território nacional.
Ele corta quatro estados – Goiás, Tocantins, Maranhão e Pará, antes de desaguar no mar, na Ilha de
Marajó, no Pará, a maior ilha do país. O rio Tocantins abriga importantes usinas hidrelétricas, sendo a

52
NORDESTE RURAL. Os principais rios brasileiros e a importância deles para as comunidades. Nordeste Rural. Disponível em: < http://nordesterural.com.br/os-
principais-rios-brasileiros-e-a-importancia-deles-para-as-comunidades/>.

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1634532 E-book gerado especialmente para GRAZIELA CRISTINA LEOTE
principal a de Tucuruí, que abastece grande parte do consumo de energia nos estados do Pará, Maranhão
e Tocantins, que juntos somam quase 16,6 milhões de pessoas.
O quarto é o Rio Paraná. Ele compõe a bacia do Paraná, que é uma das mais importantes do país.
Para se ter uma ideia, a usina de Itaipu, que está localizada no Rio Paraná, gera cerca de 15% de toda a
energia consumida no Brasil.
Isso significa aproximadamente 30 milhões de pessoas. Além disso, o Rio Paraná é considerado o
segundo maior em extensão da América do Sul com quase quatro mil km de extensão, distância
aproximada de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul a Belém, no Pará.
Finalmente, o quinto rio é o Paulista de nascimento, o Rio Tietê, com seus mais de mil quilômetros,
atravessa todo o estado de São Paulo e desaguando no rio Paraná.
Esse rio tem grande importância desde a época da colonização do Brasil tanto pela produção de água,
quanto pela geração de energia. Hoje, a chamada hidrovia Tietê-Paraná é muito importante para o
escoamento de grãos e outros produtos pelo porto de Santos.
A estimativa da Secretaria de Logística e Transporte de São Paulo é que um comboio no rio consiga
transportar a mesma quantidade de carga do que 200 caminhões.
Infelizmente, o Tietê é um dos rios mais poluídos do Brasil, logo depois da nascente, ao passar pela
Região Metropolitana de São Paulo.

As Águas Subterrâneas e o Aquífero Guarani

O subsolo do território brasileiro armazena grande quantidade de água, inclusive sob as áreas
semiáridas do Nordeste. As águas subterrâneas nem sempre são apropriadas para consumo.
O volume das águas encontradas próximo à superfície, as quais formam os lençóis freáticos, não só é
pequeno como pode estar contaminado. Essas águas, bastante exploradas, podem conter toxinas
oriundas tanto da agricultura como de atividades industriais.
Os reservatórios subterrâneos, localizados a centenas de metros de profundidade e que apresentam
enorme volume de água (centenas de milhares de km), são denominados aquíferos. Esses aquíferos
provavelmente não estão contaminados.
Num trecho do subsolo brasileiro encontra-se parte do maior aquífero do mundo - o Sistema Aquífero
Guarani -, localizado justamente numa das áreas de maior concentração populacional e de maior
consumo de água do país.
As águas desse aquífero também ocupam trechos do subsolo da Argentina, do Paraguai e do Uruguai.
Portanto, para preservar esse imenso manancial de água doce e de boa qualidade, é necessário implantar
uma política conjunta de exploração e de controle ambiental.

O aquífero Guarani Um Tesouro Escondido


Argentinos, uruguaios, paraguaios e brasileiros têm um tesouro sob seus pés. No subsolo desses
países fica o maior aquífero do mundo, o Reservatório Guarani. Confinado entre formações da Serra
Geral, ele tem nada menos que 1,2 milhão de km.
Composto de pouca argila e muita areia, o aquífero é de excelente qualidade, possuindo uma camada
de basalto de até 1700 metros recobre 90% do Guarani, garantindo proteção contra contaminações.
Os estudos mostram que o reservatório poderia fornecer água, anualmente, para cerca de 150 milhões
de pessoas. (Revista Galileu, nº 119, junho de 2001, p. 47.)

Questões

01. (MPOG – Geógrafo – CESPE) O clima do Brasil, fortemente influenciado pela intensidade de
interferência das massas de ar equatorial, tropical e polar, pode ser dividido em: equatorial úmido, tropical
seco e úmido, tropical seco, litorâneo úmido e subtropical úmido. A maioria dos estados brasileiros
apresenta um ou dois tipos climáticos, com exceção da Bahia que apresenta três tipos.
Com relação a essas classes climáticas do Brasil, julgue o item que se segue.
No estado do Mato Grosso, predominam os climas equatorial úmido e tropical seco e úmido.
(....) Certo (....) Errado

02. (MPOG – Geógrafo – CESPE) O clima do Brasil, fortemente influenciado pela intensidade de
interferência das massas de ar equatorial, tropical e polar, pode ser dividido em: equatorial úmido, tropical
seco e úmido, tropical seco, litorâneo úmido e subtropical úmido. A maioria dos estados brasileiros
apresenta um ou dois tipos climáticos, com exceção da Bahia que apresenta três tipos.
Com relação a essas classes climáticas do Brasil, julgue o item que se segue.

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1634532 E-book gerado especialmente para GRAZIELA CRISTINA LEOTE
O clima predominante no bioma Pantanal é o equatorial úmido.
(....) Certo (....) Errado

03. (MPOG – Geógrafo – CESPE) O clima do Brasil, fortemente influenciado pela intensidade de
interferência das massas de ar equatorial, tropical e polar, pode ser dividido em: equatorial úmido, tropical
seco e úmido, tropical seco, litorâneo úmido e subtropical úmido. A maioria dos estados brasileiros
apresenta um ou dois tipos climáticos, com exceção da Bahia que apresenta três tipos.
Com relação a essas classes climáticas do Brasil, julgue o item que se segue.
Na região litorânea brasileira, que se estende do Rio Grande do Norte ao Rio Grande do Sul, predomina
o clima litorâneo úmido, com chuvas denominadas orográficas, cujo volume atinge médias anuais em
torno de 1.500 mm.
(....) Certo (....) Errado

04. (Adaptada) Segundo uma organização mundial de estudos ambientais, em 2025, “duas de cada
três pessoas viverão situações de carência de água, caso não haja mudanças no padrão atual de
consumo do produto”.
Uma alternativa adequada e viável para prevenir a escassez, considerando-se a disponibilidade global,
seria:
(A) Desenvolver processos de reutilização de água.
(B) Explorar leitos de água subterrânea.
(C) Ampliar a oferta de água, captando-a em outros rios.
(D) Captar águas pluviais.
(E) Importar água doce de outros estados.

05. (MPE/GO – Secretário – MPE/GO) A seguir estão descritas paisagens brasileiras cuja a
caracterização é feita pela correlação de clima, vegetação e aproveitamento econômico.
Uma não está corretamente caracterizada, identifique-a:
(A) Campos Cerrados - clima tropical semiúmido com estações seca e chuvosa bem distintas; solos
em grande parte pobre; paisagem vegetal aberta e de fácil locomoção, permitindo assim a prática da
pecuária extensiva.
(B) Caatinga - clima semiárido, área de chuvas escassas e irregularmente distribuídas; solo de
pequena espessura e quase sempre pedregoso; vegetação heterogênea do tipo xerófilo; importante
atividades agropastoris com a criação de caprinos e cultivo de algodão.
(C) Campanha gaúcha - região de topografia suave, clima subtropical e vegetação de campos;
pecuária de cortes abastece numerosos frigoríficos sulinos.
(D) Mata dos Pinhais - clima tropical com má distribuição de chuvas; vegetação heterogênea e fechada,
pouco explorada economicamente devido à grande densidade vegetal.
(E) Floresta Amazônica – clima equatorial, áreas de chuvas abundantes e temperaturas elevadas;
solos heterogêneos do tipo higrófilo, compacto; atividade econômica predominante; extrativismo.

06. (TJ/PR – Titular de Serviços de Notas e de Registros – IBFC) Acerca dos tipos climáticos do
Brasil, assinale a opção incorreta:
(A) São eles: clima equatorial, tropical, tropical litorâneo, tropical de altitude, tropical semiárido e
subtropical.
(B) O clima equatorial é encontrado em altas latitudes, nas proximidades da linha do Equador, na
região amazônica e se caracteriza pelas elevadas temperaturas e alta amplitude térmica.
(C) Friagem é a diminuição atípica da temperatura, oriunda de Massa Polar Atlântica, fria e úmida, que
se desloca pela depressão do Chaco, entre a Cordilheira dos Andes e o Planalto Central do Brasil,
alcançando a região Norte do Brasil.
(D) O clima subtropical ou temperado ocorre ao sul do Trópico de Capricórnio e sofre influência da
massa Polar Atlântica, com as quatro estações do ano bem definidas.

07. (SEDUC/PI – Professor de Geografia – NUCEPE) Para análise das paisagens naturais brasileiras
o geógrafo Ab’Saber (1967) propôs uma classificação em domínios morfoclimáticos.
Marque a alternativa que apresenta CORRETAMENTE os aspectos relacionados à concepção da
leitura das paisagens por Ab’Saber.
(A) Expressa a relação intrínseca entre as condições fitogeográficas, flutuações climáticas e as formas
do modelado da superfície terrestre.

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(B) As delimitações geográficas dos domínios morfoclimáticos brasileiros são precisas, a partir das
condições específicas de cada um, sem áreas de transição ou interconexão entre eles.
(C) Os domínios morfoclimáticos brasileiros são propostos considerando os aspectos geológicos e
geomorfológicos das bacias hidrográficas.
(D) Utiliza como critério para classificação o endemismo como o que ocorre no Cerrado e na Caatinga,
domínios morfoclimáticos brasileiros exclusivos da região Nordeste.
(E) Considera os aspectos inerentes à classificação dos macrocompartimentos do relevo brasileiro
como planícies, planaltos e depressões.

08. (IF/MT – Professor de Geografia – IF/MT) A originalidade dos sertões no Nordeste brasileiro
reside num compacto feixe de atributos: climático, hidrológico e ecológico. Fatos que se estendem por
um espaço geográfico de 720 mil quilômetros quadrados [...]. Na realidade, os atributos do Nordeste seco
estão centrados no tipo de clima semiárido regional, muito quente e sazonalmente seco, que projeta
derivadas radicais para o mundo das águas, o mundo orgânico das caatingas e o mundo socioeconômico
dos viventes dos sertões. (AB’SÁBER, A. N. Os Domínios de natureza no Brasil: potencialidades [...]. São Paulo: Ateliê Editorial, 2003.)
O texto descreve os sertões do Nordeste brasileiro como
(A) uma paisagem, onde os aspectos climáticos, entre eles a temperatura, quase sempre muito
elevada, e as precipitações anuais que geralmente variam entre 1500 e 1800 mm, influenciam nas
formações vegetais, nas características hidrológicas e na vida social e econômica dos sertanejos.
(B) um lugar onde a hidrologia regional do Nordeste úmido independe do ritmo climático sazonal que
ocorre, área habitada pela população pobre com baixo poder econômico.
(C) um mundo orgânico, caracterizado pelos elevados índices pluviométricos que determinam a
originalidade ecológica, climática, hidrológica e a vida dos sertanejos.
(D) uma vereda hidrológica e ecológica, onde as águas dos rios temporários fluem mesmo na época
das precipitações com cerca de 3500 mm anuais, possibilitando as atividades econômicas dos habitantes
dos sertões.

09. (MPU – Analista em Geografia – CESPE) De acordo com o geógrafo Aziz Ab’Saber, em um
estudo integral do relevo de determinada área, utilizado para o planejamento de ocupação do espaço,
devem ser considerados alguns níveis de abordagem pertinentes à geomorfologia. No que se refere a
esses níveis, julgue o item a seguir.
A estrutura superficial é um estudo que representa a ação dos processos morfodinâmicos que agem
atualmente sobre determinada área. Esses processos, constantemente, derivam de modificações
causadas pelo homem, que interfere nas atividades evolutivas do modelado original.
(....) Certo (....) Errado

10. (MPU – Analista em Geografia – CESPE) De acordo com o geógrafo Aziz Ab’Saber, em um
estudo integral do relevo de determinada área, utilizado para o planejamento de ocupação do espaço,
devem ser considerados alguns níveis de abordagem pertinentes à geomorfologia. No que se refere a
esses níveis, julgue o item a seguir.
A análise da fisiologia da paisagem apresenta os diferentes graus de risco de determinada área,
oferecendo, assim, subsídios quanto à forma racional de ocupação.
(....) Certo (....) Errado

11. (IBGE – Tecnologista em Geografia – CESGRANRIO) Em nosso projeto ambientalista, a ideia


central era que, em certas áreas rurais degradadas, a gente incentivasse e reservasse um pequeno setor
para árvores de espécies de crescimento rápido em propriedades pequenas e médias, para reativá-las
economicamente. Isso se daria da seguinte maneira: dentro da propriedade, seria escolhido um lugar
exato para colocar os bosques plantados; depois, seriam reintroduzidas espécies nativas ao longo e no
entorno das cabeceiras de drenagem e dos canais de escoamento que vão dar em pequenos rios da
região. Cooperativas seriam organizadas nos municípios para fornecer as mudas. E as pessoas donas
dessas terras poderiam vender a madeira entre o período das colheitas. AB’SABER, A. O que é ser geógrafo. Rio de Janeiro:
Record, 2011, p. 138. Adaptado.
A ideia central desse projeto ambientalista consiste em reativar áreas com o plantio de
(A) florestas sociais
(B) espécies ornamentais
(C) culturas de exportação
(D) monoculturas comerciais
(E) policulturas de subsistência

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12. (TJ/SC – Técnico Auxiliar – TJ/SC) De acordo com o geógrafo Aziz Ab’Saber, existem no Brasil
seis grandes áreas que se caracterizam pelo predomínio de uma paisagem natural, são os Domínios
Naturais ou Morfoclimáticos. Sobre eles e suas principais características, assinale as proposições
corretas:
I O Domínio das Pradarias, localiza-se em uma área de planície inundável, solos férteis e coberto por
uma vegetação de gramíneas. Por estar distante dos grandes centros industriais do país, apresenta uma
menor interferência pelas atividades humanas.
II O Domínio da Caatinga, corresponde ao Sertão Nordestino e é constituído por formações xerófitas
e arbustos espinhentos e caducifólios.
III As condições de aridez e a pequena diversidade biológica do Domínio da Caatinga explicam porque
este domínio apresenta menores índices de degradação ambiental.
IV O Domínio de “Mares de Morros” recebe esta denominação em virtude da sua forma de relevo que
se caracteriza por apresentar morros arredondados, intensamente desgastados pela erosão,
correspondendo aos planaltos e serras do Sudeste que já estiveram recobertos por uma floresta tropical
úmida, a Mata Atlântica, hoje quase totalmente devastada.
Estão corretas as proposições:
(A) Todas as proposições estão corretas
(B) I, II e III
(C) II, III e IV
(D) I e II
(E) II e IV

13. (TJ/SC – Técnico Auxiliar – TJ/SC) “No cinturão de máxima diversidade biológica do planeta –
que tornou possível o advento do homem- a Amazônia se destaca pela extraordinária continuidade de
suas florestas, pela ordem de grandeza de sua principal rede hidrográfica e pelas sutis variações de seus
ecossistemas, em nível regional e de altitude.” Ab’Saber, Aziz- Os Domínios de Natureza do Brasil: Potencialidades Paisagísticas. São
Paulo: Ateliê Editorial, 2003, p. 65.
Sobre a Amazônia, suas características e aspectos fisionômicos, todas as alternativas estão corretas,
EXCETO:
(A) A Amazônia é caracterizada pela predominância de terras baixas florestadas, delimitadas pelas
bordas dos planaltos ao norte e ao sul.
(B) A região é caracterizada pelo predomínio do clima equatorial que apresenta médias térmicas
elevadas e pequena amplitude térmica anual. Os índices pluviométricos são elevados, superiores a 2 000
mm anuais.
(C) O processo de degradação e devastação da região Amazônica pode-se facilmente ser observado
pelas imagens de satélite, o “arco do desmatamento,” que avança de Rondônia e Mato Grosso para o sul
e sudeste do Pará.
(D) Os fatores responsáveis pelo desmatamento da Amazônia são: o avanço das fronteiras agrícolas,
com a soja, a exploração madeireira, a criação de gado, com a queimada das vegetação para a instalação
das pastagens e os grandes projetos mineralógicos da região.
(E) A Amazônia apresenta a maior diversidade biológica do planeta e isto está diretamente relacionada
com a grande variação latitudinal da região.

14. (MPU – Analista em Geografia- CESPE) No que concerne à zoogeografia e à fitogeografia, julgue
o item seguinte.
Segundo a classificação de Ab'Saber para a vegetação brasileira, os domínios morfoclimáticos
apresentam uma distribuição zonal.
(....) Certo (....) Errado

Gabarito

01.Certo / 02.Errado / 03.Errado / 04.A / 05.D / 06.B / 07.A / 08.A / 09.Errado / 10.Errado / 11.A / 12.E
/ 13.E / 14.Certo

Comentários
01. Resposta: Certo
Basta associar à vegetação predominante: Floresta Amazônica e Cerrado;
Clima Equatorial Úmido: Floresta Amazônica.
Clima Tropical Seco e Úmido: Cerrado.

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02. Resposta: Errado
No Pantanal, o clima, predominantemente tropical, apresenta características de continentalidade, com
diferenças bem marcantes entre as estações seca e chuvosa.

03. Resposta: Errado


O Clima Litorâneo ou úmido se estende pela região costeira do estado do Rio Grande do Norte ao
Estado de São Paulo, e não até o Rio Grande do Sul.

04. Resposta: A
Com a tendência do crescimento do consumo per capita e do aumento da população absoluta, a
escassez de água é, nas próximas décadas, algo iminente. A questão não se restringe apenas em ampliar
o volume de água disponível nem remanejar os depósitos conhecidos à disposição, com captação de
água subterrânea ou de lugares distantes. É imperativo utilizar racionalmente os recursos hídricos, e a
reutilização da água é a forma mais viável.

05. Resposta: D
Aspecto marcante da região climática da Mata dos Pinhais é a regularidade na distribuição das chuvas
durante o ano.

06. Resposta: B
Essa região climática, situada próxima ao Equador, apresenta elevadas temperaturas e grande
umidade durante todo o ano. Caracteriza-se pela baixa amplitude térmica e pelas chuvas de convecção,
uma vez que as elevadas temperaturas das regiões de clima equatorial provocam um processo contínuo
de evapotranspiração, ascensão do ar úmido, resfriamento nas altitudes mais elevadas, condensação e
precipitação.

07. Resposta: A
O geógrafo Aziz Ab’Saber classificou essas paisagens em domínios morfoclimáticos, separados uns
dos outros por faixas de transição – paisagens heterogêneas, compostas por elementos vegetais de dois
ou mais domínios. Essa classificação considera a interação do relevo com os outros elementos naturais,
como o clima, a vegetação, o solo, a estrutura geológica, etc.

08. Resposta: A
Vegetação do clima semiárido – caatinga: A relativa escassez de água, somada à pobreza dos
solos, ofereceu condições naturais para o desenvolvimento da caatinga.
A caatinga é caracterizada pela predominância de espécies arbustivas, especialmente cactáceas,
entremeadas por gramíneas e por algumas árvores de maior porte. Por isso, é considerada uma
vegetação complexa. As plantas têm muitos espinhos, caules grossos e poucas folhas. Enfim, são
caracteristicamente plantas xerófitas (adaptadas a climas secos).

09. Resposta: Errado


A estrutura superficial é um estudo que se ocupa pelo entendimento histórico da formação e evolução
do terreno, e não "processo morfodinâmicos que agem atualmente".

10. Resposta: Errado


A análise da fisiologia da paisagem preocupa-se em entende os processos morfodinâmicos atuais,
inserindo-se na analise o homem como sujeito modificador. O estudo da compartimentação morfológica
é que se encarregará de apresentar os diferentes graus de risco de determinada área.

11. Resposta: A
O pesquisador da USP Aziz Ab’Saber procurou introduzir no Brasil as florestas sociais, ou seja, o
aproveitamento de solos pobres para o plantio de árvores de alta rotação, reconhecendo que o eucalipto
seria uma das espécies que melhor se enquadraria na proposta.

12. Resposta: E
As assertivas II e IV estão corretas e as afirmativas I e III estão incorretas. Na assertiva I, há vários
erros. Primeiramente, a pradaria brasileira, também conhecida por pampas, localizada no sul do país, é
uma planície, mas não é inundável. A região está, de fato, distante dos grandes centros industriais do
país, mas isso não significa que há menor interferência humana. A interferência humana na região é

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bastante significativa, com a prática de agropecuária, plantação de monoculturas e queimadas
propositais, que geram impactos ambientais graves, como a arenização. Já a assertiva III está incorreta
por afirmar que a caatinga apresenta pouca diversidade biológica e menores impactos ambientais. A
caatinga tem biodiversidade ambiental considerável, embora a vegetação seja semelhante visualmente,
o que dá a impressão de que se está diante de baixa diversidade. Vale lembrar que a caatinga é
considerada o único bioma exclusivamente brasileiro, pois grande parte de seu patrimônio biológico só é
encontrado lá. Quanto aos impactos ambientais, a caatinga tem sofrido bastante com a ação antrópica.
Aproximadamente 50% do bioma já foi desmatado e uma das principais causas disso é a utilização da
madeira para a produção de carvão vegetal. A título de explicação, na assertiva II, xerófita significa flora
adaptada à escassez de água, e caducifólia é uma característica de determinadas plantas que significa a
perda de folhas em determinada época do ano.53

13. Resposta: E
Vegetação do clima equatorial – Floresta Amazônica – O calor e a umidade constantes favoreceram
o aparecimento da formação vegetal mais exuberante do planeta. Trata-se da Floresta Amazônica
(também denominada Hileia, floresta pluvial ou floresta equatorial).
A Floresta Amazônica caracteriza-se pela grande diversidade: um hectare contém mais de trezentas
espécies. É uma floresta densa, úmida e latifoliada, isto é, composta por árvores de folhas largas, que
propiciam uma intensa evapotranspiração.

14. Resposta: Certo


O geógrafo Aziz Ab’Saber classificou essas paisagens em domínios morfoclimáticos, separados uns
dos outros por faixas de transição – paisagens heterogêneas, compostas por elementos vegetais de dois
ou mais domínios. Essa classificação considera a interação do relevo com os outros elementos naturais,
como o clima, a vegetação, o solo, a estrutura geológica, etc.

2) O Espaço Econômico: a formação do território nacional: economia colonial e


expansão do território, da cafeicultura ao Brasil urbano-industrial e integração
territorial; a industrialização pós-Segunda Guerra Mundial: modelo de
substituição das importações, abertura para investimentos estrangeiros;
dinâmica espacial da indústria; polos industriais; a indústria nas diferentes
regiões brasileiras e a reestruturação produtiva; o aproveitamento econômico
dos recursos naturais e as atividades econômicas: os recursos minerais; fontes
de energia e meio ambiente; o setor mineral e os grandes projetos de mineração;
agricultura brasileira: dinâmicas territoriais da economia rural; a estrutura
fundiária; relações de trabalho no campo; a modernização da agricultura; êxodo
rural; agronegócio e a produção agropecuária brasileira; e comércio:
globalização e economia nacional; comércio exterior; integração regional
(Mercosul e América do Sul); eixos de circulação e custos de deslocamento.

FORMAÇÃO E ORGANIZAÇÃO DO TERRITÓRIO BRASILEIRO54

A cartografia da formação territorial brasileira revela, em diferentes períodos, os processos que


levaram o Brasil a chegar até a forma territorial e as divisões internas atuais. Desde 1500, o país passou
por diversas conformações territoriais, fruto de diferentes organizações políticas e administrativas.
Observe o mapa.

53
Autor: Melina Campos Lima, Prof.ª de Direito Internacional da UFRJ, Mestra e Doutoranda em Economia Internacional (UFRJ).
54
FURQUIM Junior, Laercio. Geografia cidadã. 1ª edição. São Paulo: Editora AJS, 2015.
TAMDJIAN, James Onnig. Geografia: estudos para compreensão do espaço. James Onnig Tamdjian, Ivan Lazzari Mendes. 2ª edição. São Paulo: FTD, 2013.

151
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Brasil: Capitanias Hereditárias (1534-1536)

A doação de uma capitania era feita por meio de dois documentos: a Carta de Doação e a Carta Foral.
Pela primeira, o donatário recebia a posse da terra, podendo transmiti-la para seus filhos, mas não vendê-
la. Recebia também uma sesmaria de dez léguas da costa na extensão de toda a capitania. Devia fundar
vilas, construir engenhos, nomear funcionários e aplicar a justiça, podendo até decretar a pena de morte
para escravos, índios e homens livres. Adquiria alguns direitos: isenção de taxas, venda de escravos
índios e recebimento de parte das rendas devidas à Coroa.
A Carta Foral tratava, principalmente, dos tributos a serem pagos pelos colonos. Definia ainda, o que
pertencia à Coroa e ao donatário. Se descobertos metais e pedras preciosas, 20% seriam da Coroa e, ao
donatário, caberiam 10% dos produtos do solo. A Coroa detinha o monopólio do comércio do pau-brasil
e de especiarias. O donatário podia doar sesmarias aos cristãos que pudessem colonizá-las e defendê-
las, tornando-se assim colonos.
O modelo de colonização adotado por Portugal baseava-se na grande propriedade rural voltada para
a exportação. Dois fatores influíram nesta decisão: a existência de abundantes terras férteis no litoral
brasileiro e o comércio altamente lucrativo do açúcar na Europa.
Num primeiro momento os portugueses lançaram mão do trabalho escravo do índio e, depois, do negro
africano. A colonização iniciou-se, então, apoiada no seguinte tripé: a grande propriedade rural, a
monocultura de produto agrícola de larga aceitação no mercado europeu e o trabalho escravo.
As dificuldades iniciais eram muitas. Bem maiores do que os donatários podiam calcular. Era difícil a
adaptação às condições climáticas e a um tipo de vida totalmente diferente do da Europa. Além disso, o
alto custo do investimento não trazia retorno imediato. Alguns donatários nem chegaram a tomar posse
das terras, deixando-as abandonadas.

A cartografia da formação territorial do Brasil

Com a chegada de Cristóvão Colombo na América, em 1492, o território americano passou a ser
cobiçado pelos principais países europeus. Em 1494, após anos de negociação mediada pela Igreja
Católica, Portugal e Espanha assinaram o Tratado de Tordesilhas, que repartia as novas terras entre
esses dois países. Observe o mapa a seguir.

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Brasil: o Tratado de Tordesilhas

Definiu-se que as terras situadas a leste da linha de Tordesilhas seriam de posse de Portugal e aquelas
localizadas a oeste seriam de propriedade espanhola. Contudo, a existência do Tratado não garantiu na
prática a posse dos territórios na América. Primeiro porque esses territórios não estavam vazios, ou seja,
encontravam-se ocupados por diferentes grupos indígenas. Os portugueses e espanhóis teriam de
conquistar suas terras, o que envolveu muitas batalhas. Em segundo lugar, outros Estados (como França,
Inglaterra e Holanda) não reconheciam a legitimidade do tratado nem o direito de Portugal e Espanha
sobre essas terras e também as disputavam.
No caso português, a ocupação de suas terras na América ocorreu de fato a partir de 1530. Até então,
Portugal limitou-se a criar postos de comércio no litoral para a comercialização de pau-brasil – as feitorias.
Porém, devido a constantes invasões de piratas e expedições estrangeiras, o rei viu-se obrigado a ocupar
o território para garantir o seu domínio.
Foi a partir de então que começaram as primeiras expedições de exploração e colonização do litoral
brasileiro e de algumas regiões no interior mais próximas. Ao longo do século XVI, a exploração e o
povoamento da colônia pouco avançaram em direção ao seu interior. No século XVII, o desenvolvimento
da economia açucareira e de algumas atividades voltadas para abastecer o pequeno mercado interno
proporcionou a exploração e ocupação de novos territórios – uma vez que era necessário espaço para
desenvolvê-las. Observe o mapa a seguir.

Brasil: povoamento no século XVI

A exploração e a ocupação de novas terras na Colônia acompanharam o processo de desenvolvimento


da economia local, conforme é possível observar o mapa anterior. É importante ressaltar que o
desenvolvimento econômico e as consequentes possibilidades de enriquecimento serviam de estímulo
para promover o povoamento da Colônia.
É possível notar ainda que, no século XVII, a maior parte de cidades e vilas ainda se concentrava no
litoral. Porém, graças às atividades como a pecuária e a procura pelas chamadas drogas do sertão, ervas

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encontradas na região amazônica, foi possível conhecer e ocupar novos territórios no continente –
ultrapassando, inclusive, os limites da Linha de Tordesilhas.
Porém, ainda havia uma grande parcela de terras a leste de Tordesilhas que não tinha sido explorada
pelos portugueses. Por mais que, segundo o tratado, pertencessem à Portugal, na prática esses territórios
ainda eram controlados por indígenas. Portanto, para serem conquistados, eles deveriam ser explorados
e ocupados.
A exploração desses territórios deu-se a partir do século XVII, por meio das entradas e bandeiras. As
entradas eram expedições oficiais de exploração do território da Colônia, financiados pela Coroa
Portuguesa. Já as bandeiras, apesar de também possuírem um caráter exploratório, eram expedições
particulares, movidas por interesses econômicos e comandadas por homens conhecidos como
bandeirantes.

As Bandeiras e os Bandeirantes

Grande parte das bandeiras originou-se das vilas de São Vicente e São Paulo. Devido às dificuldades
econômicas enfrentadas no sul da Colônia, muitos homens viram-se forçados a explorar novos territórios
em busca de riquezas minerais (como ouro e prata) e de escravos indígenas para vender. Outra atividade
comum era a captura de escravos negros fugitivos.
Os comandantes dessas expedições, os bandeirantes, foram responsáveis pela exploração de grande
parte do atual território brasileiro. Apesar das contribuições dadas ao processo de expansão do território
brasileiro, as ações dos bandeirantes são alvo de controvérsia. Não devemos esquecer que eles foram
responsáveis pela escravização e morte de diversos povos indígenas. Observe o mapa a seguir, que
mostra as principais bandeiras dos séculos XVII e XVIII.

Brasil: principais bandeiras (séculos XVII e XVIII)

Atlas histórico escolar. Rio de Janeiro: FAE, 1991

Observando o mapa, é possível notar que as bandeiras que partiam de São Paulo tinham como direção
o interior da Colônia, ultrapassando os limites do Tratado de Tordesilhas. Essas expedições foram
responsáveis pela exploração de áreas e a criação de vilas nas regiões Sul, Centro-Oeste e Norte do país
– que até então haviam sido nada ou pouco exploradas.
É importante ressaltar que, entre 1580 e 1640, Portugal permaneceu sob domínio espanhol, época
conhecida como a União Ibérica. Assim, durante todo esse período, o Tratado de Tordesilhas passou a
ser invalidado de fato, o que facilitou a exploração e ocupação de territórios além de seus limites por parte
dos bandeirantes.
Foi apenas em 1750 que Portugal e Espanha assinaram um tratado que substituía o de Tordesilhas.
Ambos os países reconheciam que os limites estabelecidos em Tordesilhas não foram historicamente
respeitados. Assim, naquele ano foi assinado o Tratado de Madri, que teve como objetivo regularizar a
fronteira entre suas colônias.

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Segundo os termos do Tratado de Madri, as fronteiras das colônias deveriam ser estabelecidas como
base na lógica de Uti Possidetis, expressão em latim que significa que quem ocupa determinado território
tem a posse sobre ele. O mapa a seguir mostra como ficou a fronteira brasileira após o Tratado de Madri.

O território brasileiro após o Tratado de Madri (1750)

Repare como o território brasileiro se expandiu para além dos imites do Tratado de Tordesilhas –
aproximando-se, inclusive, de seus limites atuais.
Pode-se dizer que a expansão territorial do Brasil ocorreu graças à ação exploratória dos bandeirantes,
que foram responsáveis por explorar e povoar essas novas áreas e garantir a posse delas no Tratado de
Madri, em 1750.
Apesar do novo tratado, ele não significava o fim das questões referentes a territórios e fronteiras na
região. Até o fim do período colonial, o Uruguai e parte do Rio Grande do Sul foram disputados entre
Brasil e Espanha.

A Organização Política e Administrativa do Brasil

Em 1621, durante a União Ibérica, o rei Felipe III decretou a separação da Colônia portuguesa em dois
estados: Estado do Maranhão, com capital em São Luís, e o Estado do Brasil, com capital no Rio de
Janeiro. Cada um desses Estados encontrava-se dividido em várias capitanias, conforme representa o
mapa que mostra a divisão das capitanias em 1709. Nesse ano, o Estado do Maranhão era composto
pelas capitanias do Grão-Pará e do Maranhão, tendo sua capital transferida para a cidade de Belém. Em
1763, foi a vez de mudar a capital do Estado do Brasil, passando de Salvador para o Rio de Janeiro. Em
1774, a Coroa portuguesa decretou a reunificação da Colônia, que permaneceu assim até a sua
independência.
Observe e compare os mapas das divisões territoriais do Brasil em 1709 e em 1822, ano da
independência do país.

Divisão Territorial do Brasil (1709) - São Paulo no seu Máximo


A partir de 1709, o Brasil já estava dividido em sete estados. Onde hoje abrange parte da Amazônia,
no Norte do país, localizava-se a província do Grão-Pará. Abaixo, na área que pertence atualmente a
Rondônia, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Tocantins, Minas Gerais, Goiás, São Paulo e parte do
Paraná, era dominada pelo Estado de São Paulo. O estado do Nordeste era ocupado apenas por
Maranhão, Pernambuco e Bahia. Na região Sul, apenas a província de São Pedro. A Sudeste, o Rio de
Janeiro.

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Divisão territorial do Brasil (1822)

Em 1822, ano da independência brasileira, o território brasileiro configurava-se assim:

Brasil em 1822

Observe que, em 1822, os limites do território brasileiro assemelhavam-se aos atuais. Nesse caso,
deve-se destacar a região da Cisplatina, que na época pertencia ao Brasil. Pouco tempo depois, a
Cisplatina tornou-se independente do Brasil e passou a se chamar Uruguai.

1823: Províncias Imperiais

No ano de 1823, um ano após a Declaração da Independência, foram acrescentados ainda mais
territórios. O Brasil ganhou os estados do Rio Grande do Norte, Pernambuco, Paraíba, Alagoas, Ceará e
Piauí. No Sul, houve o acréscimo do estado de Santa Catarina e da Província da Cisplatina, o atual
Uruguai.

Divisão territorial do Brasil (1889)

Na época da independência, a divisão político-administrativa brasileira era baseada em províncias, e


não em estados, como hoje em dia. Repare como as diversas províncias existentes em 1822, assim como
suas fronteiras, deram origem a muitos estados atuais.
Até o fim do Império e a formação da República, em 1889, o território brasileiro sofreu algumas
pequenas modificações. Da mesma forma, alguns territórios deixaram de pertencer a algumas províncias
e foram incorporados a outras, como mostra o mapa acima.
Com a instauração da República, a divisão político-administrativa brasileira, que antes compunha
várias províncias, passou a se basear em estados. Dessa forma, o Brasil tornou-se uma República
Federativa, composta por diferentes unidades.
Desde 1889 foram criados alguns estados novos, bem como uma nova divisão político-administrativa:
os territórios federais. Esses territórios integravam diretamente a União, sem pertencer a nenhum
estado. Em 1988, os territórios federais existentes foram extintos e suas áreas foram incorporadas a
estados vizinhos.

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As Unidades Federativas do Brasil

As unidades federativas são entidades político-administrativas e territoriais vinculadas ao Estado


Nacional – no caso brasileiro, à República Federativa.
Elas possuem autonomia no que diz respeito à eleição de seus governantes, à criação de determinadas
leis e à cobrança de impostos.
Atualmente, o Estado brasileiro é composto por 27 unidades federativas: 26 estados e o Distrito
Federal, onde se localiza Brasília, a capital do país.
O estado é composto por diversos municípios. Todos os estados possuem um governador e uma
assembleia legislativa que são responsáveis por gerir e regular as políticas dentro de seu território.

O Brasil no Mundo: Localização e Extensão

Posição Geográfica e Noções Cartográficas do Brasil


Os pontos extremos do Brasil são: setentrional – nascente do Rio Ailã, no Monte Caburaí (em Roraima,
fronteira com a Guiana); meridional: Arroio Chuí (no Rio Grande do Sul, fronteira com o Uruguai); oriental:
Ponta do Seixas (na Paraíba); ocidental: a nascente do Rio Moa, na Serra do Divisor ou Contamana (no
Acre, na fronteira com o Peru).

O gigantismo do território brasileiro se confirma pelos 15.719 quilômetros de fronteiras que o Brasil
possui com quase todos os países da América do Sul (exceto Chile e Equador), bem como pelos 7.367
quilômetros de costa atlântica.
Cerca de 90% de seu território se encontra entre a Linha do Equador e o Trópico de Capricórnio, e que
o predomínio das terras nas baixas latitudes confere ao Brasil características típicas de um país tropical.
A expressiva amplitude longitudinal do Brasil explica a adoção de diferentes fusos horários.

A Posição Latitudinal do Brasil e suas Implicações


A latitude corresponde ao ângulo formado pela distância de um lado paralelo em relação à Linha do
Equador.
A variação latitudinal implica mudanças da obliquidade, isto é, da inclinação com a qual os raios solares
incidem sobre a superfície terrestre.
No território brasileiro, dadas as suas grandes dimensões, essa mudança da inclinação da incidência
solar é relativamente perceptível.
O extremo sul do Brasil recebe raios oblíquos, que implicam temperaturas médias anuais mais baixas
e, consequentemente, climas mais amenos em comparação àqueles dominantes na maior parte do país.
Quanto a extensão latitudinal do Brasil e a localização espacial do extremo sul, essa porção do território
brasileiro está situada ao sul do Trópico de Capricórnio, o que implica obliquidade maior. Por isso, é
dominada pelo clima zonal temperado, cujas temperaturas médias estão entre as mais baixa registradas
no país.

A Posição Longitudinal do Brasil e suas Implicações


A longitude corresponde ao ângulo formado pela distância de um ponto qualquer da superfície
terrestre em relação ao meridiano de Greenwich, que, divide a Terra em dois hemisférios: o Ocidental e
o Oriental.
A longitude varia de zero a 180 graus a partir do Meridiano de Greenwich, tanto para o leste, como
para oeste. O território brasileiro se localiza integralmente no Hemisfério Ocidental.

Fronteiras Marítimas do Brasil

Nas últimas décadas do século XX, uma nova fronteira chamou a atenção da sociedade e do governo
brasileiro: e as águas do Oceano Atlântico que banham nosso território.
Isso tem um motivo: a tecnologia desenvolvida durante a Segunda Guerra Mundial criou navios mais
rápidos que os anteriores e com maior capacidade de carga, que podem viajar a grandes distâncias,
explorando economicamente as águas longe de seus territórios de origem. Gigantescos navios frigoríficos
japoneses e europeus, por exemplo, passaram a dispor de recursos que lhes permitem explorar, até a
exaustão, os cardumes que se deslocam em alto-mar.
Essa acelerada evolução tecnológica trouxe novas perspectivas às nações, que passaram a considerar
o mar não só uma via de transportes ou fonte de alimentos, mas um grande gerador de riquezas e

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matérias-primas. Assim, os mares e oceanos tornaram-se estratégicos, e muitos países passaram a tentar
incorporar áreas marítimas aos seus territórios.
Depois da Segunda Guerra Mundial, a ONU patrocinou diversas reuniões sobre os limites marinhos.
Elas ficaram conhecidas como Conferências das Nações Unidas sobre o Direito do Mar. Nessa época,
muitos defendiam que os recursos dos fundos marinhos, situados além das jurisdições nacionais, fossem
considerados patrimônio comum da humanidade. Dessa maneira, passou a ser necessário determinar os
limites marítimos de cada Estado costeiro.
Enquanto ocorriam essas negociações, o Brasil adotou, em 1970, para resguardar os interesses
econômicos do país e por razões de segurança nacional, o limite de 200 milhas náuticas (cerca de 370
quilômetros) para exploração das águas territoriais brasileiras.
Nessas águas – cerca de 2 milhões de quilômetros quadrados de superfície aquática – somente navios
brasileiros e de empresas estrangeiras com autorização do governo brasileiro poderiam exercer alguma
atividade. Navios estrangeiros sem licença pagariam multas e seriam apreendidos.
Em 1982, na Jamaica, foi assinada a Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar (CNUDM).
Foi nessa convenção que os limites marítimos dos países foram definidos, da seguinte forma:

* mar territorial: compreende a faixa de 12 milhas marítimas (cerca de 22 quilômetros) de largura,


medidas a partir do litoral e das ilhas brasileiras. Nesse espaço marítimo, o Estado costeiro tem total
controle sobre as águas, o espaço aéreo e o fundo do mar;

* zona contígua: delimitada por 12 milhas além do limite do mar territorial. Essa faixa é importante,
pois se trata de uma área de segurança, onde os países podem fiscalizar todas as embarcações que nela
navegarem;

* zona econômica exclusiva: área que se estende até 200 milhas além do mar territorial. Pela
convenção da ONU, os Estados costeiros têm o direito de explorar e a obrigação de conservar os recursos
(sejam eles minerais ou pesqueiros) que se encontram em toda essa região. Desde o início da década
de 1980, o Brasil vem realizando estudos para identificar o potencial de pesca no Oceano Atlântico e zelar
pela manutenção dele;

* plataforma continental: conforme a convenção de 1982, corresponde ao leito e ao subsolo das


áreas submarinas que se estendem além do seu mar territorial.

Os países que tiverem intenção de ampliar sua atuação para além das 200 milhas devem apresentar
um relatório para a Convenção da ONU, provando que a plataforma continental se prolonga para além de
200 milhas.
Para cumprir essa determinação, o governo brasileiro criou, na década de 1980, o projeto
Levantamento da Plataforma Continental (Leplac). Cientistas, militares e técnicos da Petrobras
participaram dessa empreitada, e o relatório em 2013 já havia sido praticamente todo aprovado pela
comissão da ONU. Assim, o Brasil controlaria a área de 4,5 milhões de quilômetros quadrados no mar, o
que praticamente equivale, em extensão territorial, a uma nova Amazônia. Foi por isso que muitos
passaram a chamar essa região de Amazônia Azul.
Nessa área ocorre quase 80% da exploração petrolífera brasileira. Muitos especialistas afirmam que
em um futuro próximo será possível explorar outros minerais que existem no fundo do mar.
Por esse tratado, o Brasil também é responsável, por exemplo, por operações de resgate em uma área
muito maior que a Amazônia Azul. Trata-se de uma nova fronteira que ainda precisa ser muito estudada
e conhecida.

A Divisão Regional do IBGE

Os primeiros estudos de divisão regional datam de 1941 e foram realizados sob a coordenação do
engenheiro, geógrafo e professor Fábio Macedo Soares Guimarães (1906-1979). Ao avaliar as diversas
propostas de divisão regional que já existiam naquela época, esse trabalho visava a elaborar uma única
divisão regional do Brasil para a divulgação de dados estatísticos sobre a realidade socioespacial de
nosso país.
Foi assim que, em 1942, surgiu a primeira divisão regional do IBGE, que levava em conta sobretudo
as características naturais. Era constituída por cinco grandes regiões: Norte, Nordeste, Leste, Sul e
Centro-Oeste. A região Nordeste foi subdividida em Nordeste Ocidental e Nordeste Oriental. Por sua vez,
a região Leste foi subdividida em Leste Setentrional e Leste Meridional.

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Em 1945, o IBGE divulgou uma nova divisão regional do Brasil, levando em consideração, agora, sub-
regiões denominadas zonas fisiográficas, baseadas no quadro físico do território, com vistas ao
agrupamento de dados estatísticos municipais, em unidades espaciais de dimensão mais reduzida que
as das unidades da federação.
Desde então, uma sucessão de divisões regionais foi proposta pelo IBGE.
Ressalta-se que, em todas as divisões regionais propostas pelo IBGE, há um aspecto importante em
comum: os limites das regiões coincidem com os limites estaduais.
Evidentemente, essas divisões regionais não levam em conta as especificidades naturais do nosso
país. O norte de Minas Gerais, por exemplo, apesar de abrigar paisagens naturais típicas do Sertão
nordestino, integra a região Sudeste.

Lista do Estados e Capitais por região

Região Norte
Acre – Capital: Rio Branco.
Amapá – Capital: Macapá.
Amazonas – Capital: Manaus.
Pará – Capital: Belém.
Rondônia – Capital: Porto Velho.
Roraima – Capital: Boa Vista.
Tocantins – Capital: Palmas.

Região Nordeste
Alagoas – Capital: Maceió.
Bahia – Capital: Salvador.
Ceará – Capital: Fortaleza.
Maranhão – Capital: São Luís.
Paraíba – Capital: João Pessoa.
Pernambuco – Capital: Recife.
Piauí – Capital: Teresina.
Rio Grande do Norte – Capital: Natal.
Sergipe – Capital: Aracaju.

Região Centro-Oeste
Goiás – Capital: Goiânia.
Mato Grosso – Capital: Cuiabá.
Mato Grosso do Sul – Capital: Campo Grande.
Distrito Federal – Capital: Brasília.

Região Sudeste
Espírito Santo – Capital: Vitória.
Minas Gerais – Capital: Belo Horizonte.
São Paulo – Capital: São Paulo.
Rio de Janeiro – Capital: Rio de Janeiro.

Região Sul
Paraná – Capital: Curitiba.
Rio Grande do Sul – Capital: Porto Alegre.
Santa Catarina – Capital: Florianópolis.

Questões

01. (Instituto Rio Branco – Diplomata – CESPE) Julgue (C ou E) o próximo item, relativo à formação
histórica do território brasileiro.
A formação histórica do território brasileiro iniciou-se com a assinatura do Tratado de Madri, que
determinou, por meio da criação de uma linha imaginária, o primeiro limite territorial da colônia portuguesa
nas Américas.
(....) Certo (....) Errado

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02. (TJ/SC – Analista Administrativo – TJ/SC) Sobre o território brasileiro, sua localização geográfica
e sua organização política-territorial, todas as alternativas estão corretas, EXCETO:
(A) O Brasil é uma república federativa formada por 27 unidades sendo, 26 estados e um Distrito
Federal.
(B) A divisão política do território brasileiro tem mudado no decorrer do tempo, assim até a Constituição
de 1988 existia no Brasil a denominação de Território Federal.
(C) Os Territórios Federais eram divisões internas do país administradas diretamente pelo governo
federal.
(D) Na divisão política-administrativa do Brasil, em 1988 é extinto o Território Federal de Fernando de
Noronha, que passa a fazer parte do Estado de Pernambuco.
(E) O Brasil ocupa a porção centro-ocidental da América do Sul, portanto, apresenta fronteiras com
quase todos os países sul-americanos exceto, o Chile e Equador.

03. (DPE/SP – Oficial de Defensoria Pública – FCC) O Estado Brasileiro organiza-se, política e
administrativamente, sob a forma de
(A) confederação democrática.
(B) república parlamentarista.
(C) república federativa.
(D) federação parlamentarista.
(E) confederação parlamentarista.

04. (IF/PI – Assistente em Administração – FUNRIO) A organização político-administrativa da


República Federativa do Brasil compreende
(A) a União e os Estados, somente.
(B) a União, os Estados e o Distrito Federal, somente.
(C) a União e o Distrito Federal, somente.
(D) os Estado, o Distrito Federal e os Municípios, somente.
(E) a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios.

Gabarito

01. Errado / 02.E / 03.C/ 04.E

Comentários

01. Resposta: Errado


A colonização foi um dos processos que definiram a formação populacional brasileira.
A partir do século XV, os europeus – especialmente os portugueses, seguidos dos espanhóis –
iniciaram a expansão marítima que os levou à conquista de terras até então desconhecidas – na África,
na Ásia e na América.

02. Resposta: E
O Brasil é considerado um país continental, se encaixa entre os cinco maiores países do mundo. Ocupa
a porção centro-oriental do continente, fazendo fronteira com quase todos os países sul-americanos
(exceção do Chile e do Equador).

03. Resposta: C
A organização do Estado Brasileiro segue a seguinte fórmula: A forma de Estado é a Federação. A
forma de governo é a República. O sistema de governo é o Presidencialismo e o Regime de Governo é a
Democracia.
Portanto, a organização do Estado política e administrativamente é na forma da República Federativa.

04. Resposta: E
Artigo 18, CF/88: A organização político-administrativa da República Federativa do Brasil compreende
a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, todos autônomos, nos termos desta Constituição.

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A INDUSTRIALIZAÇÃO BRASILEIRA55

No início do século XX era necessária uma grande quantidade de trabalhadores nas linhas de produção
e as indústrias impulsionaram grandes transformações no espaço geográfico. Como por exemplo, o
aumento dos fluxos migratórios, de produtos e de serviços, a construção de moradias, o surgimento de
novos bairros, o investimento em transportes coletivos, etc.
Para entendermos o atual estágio de desenvolvimento econômico brasileiro, é necessário conhecer o
contexto histórico do processo de industrialização e de desenvolvimento das atividades terciárias no país.
Desde o período colonial, o desenvolvimento econômico brasileiro, e consequentemente a
industrialização, foram comandados por grupos e setores que pressionaram os governos a atender a seus
interesses políticos e econômicos.
Assim, só é possível entender as etapas da industrialização brasileira se for analisada a conjuntura
econômica (brasileira e mundial) e política de cada momento histórico.
Como exemplo, podemos citar os investimentos em infraestrutura de energia, transportes e
comunicações, que impulsionaram diversos setores da economia. Entretanto, a construção de grandes
usinas hidrelétricas sempre envolve questões socioambientais, como inundações de pequeno ou grande
porte e deslocamento de povos indígenas e de moradores locais.

Origens da Industrialização

A industrialização brasileira teve início, embora de forma incipiente, na segunda metade do século XIX,
período em que se destacaram importantes empreendedores, como o barão de Mauá, no eixo São Paulo-
Rio de Janeiro, e Delmiro Gouveia, em Pernambuco.
Foi principalmente a partir da Primeira Guerra Mundial (1914-1918) que o país passou por um
significativo desenvolvimento industrial e maior diversificação do parque fabril, pois, em virtude do conflito
na Europa, houve redução da entrada de mercadorias estrangeiras no Brasil. Observe a tabela abaixo.

Brasil: estabelecimentos industriais existentes em 1920, de acordo com a data de fundação


das empresas
Data de fundação Número de estabelecimentos Valor da produção (%)
Até 1884 388 8,7
1885-1889 248 8,3
1890-1894 452 9,3
1895-1899 472 4,7
1900-1904 1080 7,5
1905-1909 1358 12,3
1910-1914 3135 21,3
1915-1919 5936 26,3
Data desconhecida* 267 1,6
*Corresponde a estabelecimentos industriais existentes em 1920 cuja data de fundação era desconhecida ou não informada.

Em 1919, período posterior à Primeira Guerra Mundial, as fábricas brasileiras eram responsáveis por
70% da população industrial nacional e produziam tecidos, roupas, alimentos e bebidas (indústrias de
bens de consumo não duráveis, com predomínio de investimentos de capital privado nacional). No início
da Segunda Guerra Mundial (1939), essa porcentagem caiu para 58%, porque houve ingresso de
empresas estrangeiras em setores como aço, máquinas e material elétrico.
Apesar da importância dos setores industrial e agrícola na economia brasileira, as atividades terciárias
(como o comércio e os serviços) apresentavam índices de crescimento econômico superiores. Isso
porque é no comércio e nos serviços que circula toda a produção agrária e industrial.
A agricultura cafeeira, principal atividade econômica nacional até então, exigia a construção de uma
eficiente rede de transportes. Assim, as ferrovias foram se desenvolvendo no país para escoar a produção
do interior para os portos. Também se estabeleceram s]um sistema bancário integrado à economia
mundial e um comércio para atender às crescentes necessidades nas cidades.
Nessa época, as indústrias utilizavam muitos trabalhadores nas linhas de produção e impulsionaram
importantes transformações, como o desenvolvimento de transportes coletivos.
Embora tenha passado por importantes períodos de crescimento, como o da Primeira Guerra, a
industrialização brasileira sofreu seu maior impulso apenas a partir de 1929, com a crise econômica

55 SENE, Eustáquio de. Geografia geral e do Brasil. Volume único. Eustáquio de Sene, João Carlos Moreira. 6ª edição. São Paulo: Ática, 2018.

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mundial decorrente da quebra da Bolsa de Valores de Nova York. Na região Sudeste do Brasil,
principalmente, essa crise se refletiu na redução do volume de exportações de café e na perda da
importância dessa atividade no cenário econômico, contribuindo para a diversificação da produção
agrícola brasileira.
Outro acontecimento que contribuiu para o desenvolvimento industrial brasileiro foi a Revolução de
1930, que tirou a oligarquia56 agroexportadora paulista do poder e criou novas possibilidades político-
administrativas em favor da industrialização, ema vez que o grupo que tomou o poder com Getúlio Vargas
era nacionalista e favorável a tornar o Brasil um país industrial. Apesar disso, a agricultura continuou
responsável pela maior parte das exportações brasileiras até a década de 1970.
A partir da crise de 1929, as atividades industriais passaram a apresentar índices de crescimento
superiores aos das atividades agrícolas. O colapso econômico mundial diminuiu a entrada de mercadorias
estrangeiras que poderiam competir com as nacionais incentivando o desenvolvimento industrial nacional.
É importante destacar que o cultivo do café permitiu o acúmulo de capitais que serviram para dinamizar
e impulsionar a atividade industrial. Os barões do café, que residiam nos centros urbanos, sobretudo na
cidade de São Paulo, aplicavam enorme quantidade de capital no sistema financeiro, para cuidar da
comercialização da produção nos bancos e investir na Bolsa de Valores. Parte desse capital aplicado
ficou disponível para montar indústrias e investir em infraestrutura. Todas as ferrovias, construídas, com
a finalidade principal de escoar a produção cafeeira para o porto de Santos, interligavam-se na capital
paulista e constituíam um eficiente sistema de transporte. Havia também grande disponibilidade de mão
de obra imigrante que foi liberada dos cafezais pela crise ou que já residia nas cidades, além de
significativa produção de energia elétrica.
A associação desses fatores favoreceu o processo de industrialização, que passou a crescer
notadamente na cidade de São Paulo, onde havia maior disponibilidade de capitais, trabalhadores
qualificados e uma infraestrutura básica, mas também em algumas regiões dos estados do Rio de Janeiro,
Rio Grande do Sul e Minas Gerais.
Na instalação de novas indústrias predominava, com raras exceções, o capital de origem nacional,
acumulado em atividades agroexportadoras. A política industrial comandada pelo governo federal era a
de substituir as importações, visando à obtenção de um superávit cada vez maior na balança comercial
e no balanço de pagamentos, para permitir um aumento nos investimentos nos setores de energia e
transportes.

O Governo Vargas e a Política de “Substituição de Importações”

Getúlio Vargas governou o país pela primeira vez de 1930 a 1945. Tomou posse com a Revolução de
1930, caracterizada pelo aspecto modernizador. Até então, o mundo capitalista acreditava no liberalismo
econômico, ou seja, que as forças do mercado deveriam agir livremente para promover maior
desenvolvimento e crescimento econômico. Com a crise, iniciou-se um período em que o Estado passou
a intervir diretamente na economia para evitar novos sobressaltos do mercado.
De 1930 a 1956, a industrialização no país caracterizou-se por uma estratégia governamental de
criação de indústrias estatais nos setores de bens intermediários e de infraestrutura de transportes e
energia. A Companhia Vale do Rio Doce (CVRD) foi uma das importantes indústrias que se destacaram
no período, na extração de minerais. Outras de grande destaque foram a Petrobras, para extração de
petróleo e petroquímica; a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN); a Fábrica Nacional de Motores (FNM),
que, além de caminhões e automóveis, fabricava máquinas e motores; e também a Companha
Hidrelétrica do São Francisco (Chesf), para produção de energia hidrelétrica.
Foi necessário um investimento inicial muito elevado para o desenvolvimento desses setores
industriais e para a infraestrutura estratégica. Entretanto, por dar retorno a logo prazo, esse investimento
não interessava ao capital privado, seja nacional, seja estrangeiro. Por isso, o próprio governo o assumiu.
A ação do Estado foi decisiva para impulsionar e diversificar os investimentos no parque industrial do
país, combatendo os principais obstáculos ao crescimento econômico e fornecendo, a preços mais
baixos, os bens intermediários e os serviços de que os industriais privados necessitavam. Era uma política
de caráter nacionalista.
Embora a expressão substituição de importações possa ser utilizada desde que a primeira fábrica
foi instalada no país, foi o governo de Getúlio Vargas que iniciou a adoção de medidas cambiais e fiscais
que caracterizaram uma política industrial voltada à produção interna de mercadorias.
As duas principais medidas adotadas foram a desvalorização da moeda nacional (réis até 1942 e, em
seguida, cruzeiro) em relação ao dólar, o que tornava o produto importado mais caro (desestimulando as
56 Oligarquia é um regime político sob o controle de um pequeno grupo de pessoas pertencentes a um partido, classe ou família. O poder é exercido somente
por pessoas desse pequeno grupo.

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importações), e a introdução de leis e tributos que restringiam, e às vezes proibiam, a importação de bens
de consumo e de produção que pudessem ser fabricados internamente.
Em 1934, Getúlio Vargas promulgou uma nova Constituição, que incluiu a regulamentação das
relações de trabalho, como a criação do salário mínimo, as férias anuais e o descanso semanal
remunerado, o que garantiu o apoio da classe trabalhadora. Com base no apoio popular, Vargas aprovou
uma nova Constituição em 1937, que o manteve no poder como ditador até ser deposto, ao fim da
Segunda Guerra, em 1945, período que ficou conhecido como Estado Novo.
A intervenção do Estado possibilitou um forte crescimento da produção industrial, com exceção do
período da Segunda Guerra. Durante os seis anos desse conflito, em razão da carência de indústrias de
base e das dificuldades de importação, o crescimento industrial brasileiro foi de 5,4%, uma média inferior
a 1% ao ano. Veja a tabela abaixo.

Brasil: taxas de crescimento da produção industrial (em %) – 1939/1945


Metalúrgicas 9,1
Material de transporte -11,0
Óleos vegetais 6,7
Têxteis 6,2
Calçados 7,8
Bebida e fumo 7,6
Total 5,4

Observe que houve um significativo crescimento na produção interna em diversos setores que
sofreram restrições durante a guerra, mas o setor de transportes, cuja expansão não poderia ocorrer sem
a importação de veículos, máquinas e equipamentos, sofreu forte redução.

Política Econômica e Industrialização Brasileira do Pós-Guerra à Ditadura Militar

O final da Segunda Guerra levou muitos países ao enfrentamento dos problemas que aconteceram
durante os anos do conflito e que prejudicaram o desenvolvimento de muitas atividades econômicas.
No caso brasileiro, entre o final da Segunda Guerra e o início da ditadura militar (1946-1964), houve
alternância de diretrizes na política econômica e de estratégias de desenvolvimento ao longo dos
governos que se sucederam nesse período: Dutra, retorno de Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek, Jânio
Quadros e João Goulart.

Políticas Econômicas

O Governo Dutra (1946-1951)


O general Eurico Gaspar Dutra assumiu a presidência em 1946 e instituiu o Plano Salte, destinando
investimentos ao setores de saúde, alimentação, transportes, energia e educação.
No decorrer do governo Dutra, as reservas de capital acumuladas durante a Segunda Guerra foram
utilizadas com:
a) importação de máquinas e equipamentos para as indústrias têxteis e mecânicas;
b) reequipamento do sistema de transportes;
c) incremento da extração de minerais metálicos, não metálicos e energéticos.
Houve também abertura à importação de bens de consumo, o que contrariava os interesses da
indústria nacional.
Os empresários nacionais defendiam a reserva de mercado.

O Retorno de Getúlio e da Política Nacionalista (1951-1954)


Em 1951, Getúlio Vargas retornou à presidência eleito pelo povo e retomou seu projeto nacionalista:
a) investiu em setores que impulsionaram o crescimento econômico, como sistemas de transportes,
comunicações, produção de energia elétrica e petróleo, e restringiu a importação de bens de consumo;
b) dedicou-se à criação do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, o BNDES
(1952) e da Petrobras (1953).
O projeto nacionalista de Getúlio acabou sendo derrotado pelos liberais, que argumentavam que:
a) com a economia fechada ao capital estrangeiro, a modernização e a expansão do parque
industrial nacional tornavam-se dependentes do resultado da exportação de produtos primários;

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b) qualquer crise ou queda de preço desses produtos, particularmente do café, resultava em crise
na modernização e na expansão do parque industrial.
Em 1954, em meio à séria crise política, Vargas suicidou-se. Café Filho, seu vice-presidente,
assumiu o poder, permanecendo até 1956.

Juscelino Kubitschek e o Plano de Metas (1956-1961)


Durante o governo de JK foi implantado o Plano de Metas, com as seguintes estratégias:
a) investir em agricultura, saúde, educação, energia, transportes, mineração e construção civil para
atrair investimentos estrangeiros;
b) fazer o país crescer “50 anos em 5”;
c) transferir a capital federal do Rio de Janeiro (litoral) para Brasília (centro do país), buscando
promover a ocupação do interior do território;
d) direcionar 73% dos investimentos aos setores de energia e transportes;
e) facilitar o ingresso de capital estrangeiro, principalmente nos setores automobilístico, químico-
farmacêutico e de eletrodomésticos.
O parque industrial brasileiro passou a contar com significativa produção de bens de consumo
duráveis, o que deu continuidade à política de substituição de importações.
Ao longo do governo JK consolidou-se o tripé da produção industrial nacional, formado pelas
indústrias:
a) de bens de consumo não duráveis, com amplo predomínio do capital privado nacional;
b) de bens intermediários e bens de capital, que contaram com investimento estatal nos governos
de Getúlio Vargas;
c) de bens de consumo duráveis, com forte participação de capital estrangeiro.
Com a concentração do parque industrial no Sudeste, as migrações internas intensificaram-se e os
maiores centros urbanos registram crescimento desordenado.
O crescimento econômico acelerado e o aumento da dívida externa provocaram o aumento da
inflação.
A partir de 1959 foram criados diversos órgãos de planejamento com a estratégia de descentralizar
investimentos produtivos por todas as regiões do país.

O Governo João Goulart e a Tentativa de Reformas (1961-1964)


João Goulart, conhecido como Jango, então vice-presidente, assumiu a Presidência do Brasil após
a renúncia do presidente Jânio Quadros, empossado poucos meses antes.
A renúncia de Jânio agravou os problemas econômicos herdados do governo JK, como a elevada
dívida externa e a inflação.
A posse de Jango, em 7 de setembro de 1961, ocorreu após a instauração do parlamentarismo, que
reduziu os poderes do chefe do Executivo (presidente).
Durante o período parlamentarista do governo João Goulart (até início de 1963), a inflação e o
desemprego aumentaram, e as taxas de crescimento reduziram-se.
Em 6 de janeiro de 1963 houve o retorno ao presidencialismo e foram encaminhadas as reformas
de base, com as seguintes diretrizes:
a) reforma dos sistemas tributário, bancário eleitoral;
b) regulamentação dos investimentos estrangeiros e da remessa de lucros ao exterior;
c) reforma agrária;
d) maiores investimentos em educação e saúde.
Tal política foi tachada de comunista pelos setores mais conservadores da sociedade civil e militar,
criando as condições para o golpe de 31 de março de 1964.

Organização Espacial das Indústrias

Por causa da própria experiência na economia cafeeira, que criou condições materiais para o processo
de industrialização, a Região Sudeste, sobretudo o estado de São Paulo, concentrou desde o começo as
atividades industriais e acabou polarizando economicamente o setor industrial e o de serviços. Além disso,
o Brasil não possuía até então uma unidade territorial tão marcada, parecia mais uma espécie de
arquipélago, pois as regiões pouco se relacionavam economicamente entre si.
Ao longo do século XX, a indústria tornou-se o carro-chefe de nossa economia em nível nacional, tendo
a cidade como seu par espacial. A partir dos anos 1950, por causa da emergente indústria automobilística,
a rodovia substituiu a ferrovia como meio preponderante de circulação de mercadorias e pessoas. Devido
ao interesse das grandes empresas, e com o auxílio do Estado, expandiu-se a lógica do automóvel.

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1634532 E-book gerado especialmente para GRAZIELA CRISTINA LEOTE
As rodovias foram direcionadas sobretudo para o interior, mesma concepção de construção de Brasília,
que era a de acabar com o cenário de “Brasil arquipélago”. As rodovias tiveram um papel importante
nesse movimento junto à indústria, a qual, embora concentrada no Sudeste, possuía o mercado
consumidor em todo território.
Na metrópole de São Paulo, principalmente na região do “ABCD paulista” (Santo André, São Bernardo,
São Caetano e Diadema), encontramos o paradigma dessa concentração industrial naquele estado do
Sudeste. Ali estavam as maiores indústrias automobilísticas de todo o país. Ao redor dessas indústrias,
gravitam outras que se concentraram também ali para abastecê-las: borracha, plásticos, vidros, peças,
etc.
O Sudeste, ao longo do século XX, exerceu uma posição de dominância econômica pela capacidade
de polarizar a indústria e os serviços em torno dela. Por isso, passou a abastecer o mercado das outras
regiões brasileiras, que também fornecem matéria-prima e mão-de-obra. Nos anos 1970, durante a
ditadura militar (1964-1958), foram criados diversos órgãos de desenvolvimento econômico regional –
Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia (Sudam); Superintendência do Desenvolvimento do
Nordeste (Sudene); Superintendência do Desenvolvimento do Centro-Oeste (Sudeco); e
Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa), que tinham a intenção de diversificar a produção
espacial industrial do país.
Contudo, desde a década de 1990 vem ocorrendo um processo chamado de “desconcentração
industrial”, que se refere ao deslocamento de empresas em direção a outros estados do país, motivadas
pelo aumento dos preços do terreno, congestionamento, impostos e outras características que encarecem
e dificultam a produção nas tradicionais cidades industriais brasileiras. As cidades e os estados que
recebem essas indústrias, por sua vez, oferecem vantagens para atraí-las, que vão desde isenções de
pagamento de impostos até a construção de obras de infraestrutura.
Porém, mesmo com esse movimento de desconcentração industrial, o Sudeste continua despontando
como a região que polariza esse setor, como mostra o mapa a seguir.

http://mundoeducacao.bol.uol.com.br/upload/conteudo/distribuicao-industria-brasil.jpg.

Regiões Industriais do Brasil: Regiões Tradicionais e Descentralização Industrial

As indústrias, ao se instalarem em determinados lugares, consideravam estrategicamente a presença


ou proximidade dos seguintes elementos:
* mercado consumidor;
* disponibilidade de matérias-primas;
* oferta de energia;
* custos com transportes;
* mão de obra.

Esses elementos determinaram, durante muito tempo, a localização espacial das indústrias. Desse
modo, a presença desses elementos na região Sudeste, especialmente em São Paulo, favoreceu um
processo de concentração espacial das atividades industriais no Brasil, no entanto, deve-se considerar
que existem diversas regiões industriais no Brasil.

Áreas Industriais Tradicionais


Áreas industriais tradicionais são aquelas caracterizadas por um processo mais antigo de
industrialização, assentando no padrão fordista-taylorista de produção.

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Esse modelo de produção na indústria pode ser caracterizado, de modo geral, por:
* economia de escala;
* produção estandardizada (padronizados);
* competição via preços;
* existência de um mercado de consumo de massas;
* combinação entre a utilização de equipamentos automatizados e trabalhadores não qualificados;
* divisão e especialização do trabalho;
* separação entre a concepção e a execução das tarefas.

A partir das mudanças e novas demandas do processo produtivo, as áreas industriais baseadas nesse
modelo sofreram profundos impactos econômicos e sociais. Esse processo, denominado genericamente
desindustrialização, caracterizou-se pelo fechamento e/ou deslocamento das indústrias para outras
áreas, atraídas por maiores possibilidades de realização de lucros. Um exemplo mundialmente conhecido
desse processo é a cidade de Detroit, nos Estados Unidos, que, a partir da década de 1980, assistiu ao
fechamento de inúmeras empresas e ao aumento do desemprego em massa.

Região Sudeste
A região Sudeste representa uma das regiões do Brasil de mais antiga e intensa industrialização.
Suas principais regiões industriais são centros polindustriais, na medida em que nessas cidades
encontramos praticamente todos os ramos da indústria.
A partir das décadas de 1980-90, as indústrias localizadas na região metropolitana de São Paulo
assistiram a um crescente deslocamento rumo ao interior do Estado, utilizando os principais eixos viários
como os sistemas Anchieta-Imigrantes, Anhanguera-Bandeirantes e a Rodovia Dutra.
Historicamente, o estado de São Paulo também concentrou a indústria automobilística instalada no
Brasil até a década de 1970. A partir de então, essa indústria passou a se deslocar para outros estados.
São exemplos dessas transferências da indústria automobilística:
* a implantação da fábrica da Fiat, em Minas Gerais, na década de 1970;
* a implantação dos parques industriais da Renault e da Audi/VW, na década de 1990, no Paraná;
* a implantação da Ford em Camaçari, na Bahia, em 2001.

Região Sul
A industrialização da Região Sul associa-se à sua produção agropecuária, à influência da imigração
europeia e à proximidade com a principal área industrial do Brasil – São Paulo. Destacam-se indústrias
metalúrgicas, têxtis, de material mecânico e transporte, automobilísticas, alimentícias, de bebidas,
calçados, madeiras e móveis.
As principais regiões industriais do Sul são:
Porto Alegre, Caxias do Sul, Garibaldi, Bento Gonçalves, São Leopoldo e Novo Hamburgo, no Rio
Grande do Sul.
Blumenau, Brusque (Vale do Itajaí), Joinville, Criciúma e Siderópolis (zona Carbonífera), em Santa
Catarina.
Curitiba, no Paraná.

Região Nordeste
O processo de industrialização da região Nordeste é associado à ação da Sudene (Superintendência
de Desenvolvimento do Nordeste, criada em 1959). Entre as ações da Sudene para impulsionar a
industrialização dessa região, podemos citar:
* doação de terrenos;
* concessão de empréstimos a juros muito baixos;
* isenção de impostos;
* concessão de subsídios à produção.

Associada à Sudene, destaca-se a criação da CHESF (Companhia Hidrelétrica do São Francisco),


que, ao elevar a oferta de energia para a região, tornou-se também fator de atração das empresas.
As principais regiões industriais do Nordeste são:
Salvador, Polo Petroquímico de Camaçari e Distrito Industrial de Aratu, na Bahia;
Recife e os Distritos Industriais de Cabo e Paulista, em Pernambuco;
Fortaleza, no Ceará.

Região Norte

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O processo de industrialização dessa região associa-se à ação da SUDAM (Superintendência de
Desenvolvimento da Amazônia), e, sobretudo, da SUFRAMA (Superintendência da Zona Franca de
Manaus).
Nessa região, existem indústrias de produtos eletroeletrônicos, atraídas por benefícios como isenção
de impostos, concessão de subsídios, doação de terrenos. Em termos de áreas industriais, o destaque é
para a Zona Franca de Manaus no Amazonas e para o polo extrativo-mineral de Carajás, no Pará,
implantado para explorar as ricas jazidas minerais dessa região.

Região Centro-Oeste
Nessa região, predominam indústrias ligadas ao beneficiamento da produção agropecuária, como
empresas alimentícias, de bebidas, têxteis e calçadistas. As principais áreas industriais localizam-se
próximas às cidades de Goiânia, Brasília, Anápolis, Corumbá e Campo Grande.

Desconcentração Industrial

A partir do final da década de 1980, com progressiva abertura da economia brasileira e profundas
transformações nos processos produtivos nas empresas, genericamente denominados “toyotismo”, as
indústrias procuraram reordenar os padrões de localização espacial, tendo por pressupostos:
* a proximidade ou facilidade do escoamento da produção, em detrimento da localização dos recursos;
* a crescente utilização de tecnologia, exigindo mão de obra cada vez mais qualificada, o que levou as
empresas a buscarem proximidades com centros produtores de ciência em detrimento do excedente de
mão de obra pouco qualificada;
* o deslocamento de empresas intensivas em mão de obra para áreas cada vez mais periféricas e com
legislações trabalhista e ambiental cada vez mais flexíveis.

Tal processo é genericamente conhecido como “desconcentração industrial”.


Nesse caso, não necessariamente o “cérebro” da empresa se desloca. O deslocamento ocorre nas
linhas de produção, sendo que as decisões mais importantes e os lucros permanecem concentrados em
outro lugar, geralmente um centro financeiro mais importante.

Reconcentração Espacial

A partir de meados da década de 1990, o processo de desconcentração industrial tendeu a diminuir


ou mesmo reverter seu fluxo rumo a uma reconcentração espacial nas regiões mais ricas e
industrializadas do Brasil (Sudeste e Sul).
Entre as causas desse processo de reconcentração, podemos citar:
* novos requisitos locacionais da acumulação flexível (“toyotismo”);
* melhor oferta de recursos humanos qualificados nas regiões de industrialização mais antiga;
* maior proximidade com os centros de produção do conhecimento e de tecnologia;
* maior e mais eficiente dotação de infraestrutura;
* mudanças tecnológicas que reduzem os custos de investimento;
* abertura comercial, favorecendo “focos exportadores”;
* a criação do Mercosul, que reforça a tendência a arrastar o crescimento industrial para as regiões
Sul e Sudeste.

Desse modo, configura-se uma nova espacialização da indústria brasileira dentro de um polígono que
envolve as cidades de Belo Horizonte (MG), Uberlândia (MG), Maringá (PR), Porto Alegre (RS),
Florianópolis (SC) e Curitiba (PR), fechando-se novamente em Belo Horizonte (MG). Os processos de
concentração e desconcentração espacial (e industrial) demonstram o caráter seletivo dos investimentos
industriais, que privilegiam alguns espaços específicos nas regiões brasileiras.
Atualmente, a tendência é de que os investimentos mais dinâmicos se concentrem nas regiões onde
se iniciou e se consolidou a atividade industrial brasileira (Sudeste e Sul).
As metrópoles globais (São Paulo e Rio de Janeiro) também têm suas principais funções modificadas:
de centros industriais, especializam-se cada vez mais em atividades do setor terciário (serviços), na área
financeira e no desenvolvimento de novas tecnologias. Desse modo, as indústrias estratégicas atuais
continuam a concentrar-se nessas metrópoles, assim como a sede das empresas, o mercado financeiro
e o setor de serviços.
Aquelas indústrias mais leves, que exigem menores investimentos e utilizam muita mão de obra (em
vez de muita tecnologia), e que, portanto, apresentam um custo menor, tendem, por sua vez, a se

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concentrar em regiões de menor nível de desenvolvimento e custo de mão de obra (como o Nordeste, o
Norte e o Centro-Oeste).
Outra diferença desse processo em relação à concentração anterior (das décadas de 1950 a 70) refere-
se à atração locacional exercida por cidades de porte médio (em torno de 100 mil habitantes),
especialmente por aquelas cidades localizadas próximas a eixos de transportes (portanto, com boas
condições de acesso), em vez da concentração industrial nas metrópoles.
Além dessa reconcentração espacial da indústria, observa-se, no Brasil, uma tendência à constituição
de clusters (ou aglomerados industriais).
Portanto, a formação de clusters parece ser uma outra tendência da economia brasileira. Exemplos de
clusters em alguns estados brasileiros:
* a indústria do mobiliário em Votuporanga, São Paulo;
* a indústria de joias em Limeira, São Paulo;
* a produção de artefatos de couros e calçados em Franca, São Paulo;
* produção de móveis em Uberlândia, Minas Gerais;
* indústrias de software em Campina Grande, Paraíba;
* indústrias de software em Juiz de Fora, Minas Gerais, cuja especialização está nos aplicativos para
o setor de agronegócios;
* indústrias de software em Fortaleza, Ceará;
* indústrias de software em Petrópolis, Rio de Janeiro;
* indústrias de software em Pato Branco, Paraná, em que se destacam os produtos para apoio,
avaliação e terapia de fala e linguagem; gestão e avaliação de escolas de idiomas; software educacionais
multimídia;
* empresas de informática em Ilhéus, na Bahia.

Impactos Ambientais do Modelo Urbano-industrial

As cidades estão cada vez mais cheias de pessoas, e o fenômeno urbano expande-se em direção ao
mundo rural de maneira massiva. Todos nós estamos cercados desses produtos criados por indústrias,
e muitas vezes não temos dimensão de todo o processo que ocorreu até eles chegarem em nossas mãos.
A seguir veremos alguns desses impactos ambientais em decorrência do modelo urbano-industrial
brasileiro.

Poluição das Águas


Um dos grandes problemas das cidades brasileiras na atualidade é a poluição das águas pelos dejetos
domésticos e industriais. Muitas nem sequer contam com uma rede de coleta e tratamento de esgoto, o
qual é jogado diretamente nos rios e mares, ocasionando a extinção de muitas espécies animais e
vegetais, além de oferecer muito risco para a saúde das pessoas.
Além disso, há um histórico de acidentes ambientais envolvendo indústrias. A indústria petroleira é
uma delas. A mineração é outra grande poluidora; o mercúrio que é usado no processo de separação do
ouro é jogado nos rios e é muito prejudicial para a vida humana e aquática.

Poluição Atmosférica
As fumaças liberadas pelos carros e pelas indústrias afetam em nível local a saúde das pessoas,
dificultando a respiração e causando doenças respiratórias. Além disso, há indícios de que esse tipo de
poluição afeta o efeito estufa. Nas cidades, também há formação de ilhas de calor. A retirada de
vegetação, somada à concentração de concreto, asfalto, vidros, metais e poluentes, faz que a temperatura
média das cidades seja maior em comparação ao meio rural, porque os componentes dos poluentes
atmosféricos possuem a capacidade de reter o calor.
As chuvas em geral são ácidas, mas a concentração de poluentes na atmosfera das cidades, quando
combinada com o oxigênio, produz uma chuva capaz de danificar construções pela corrosão, além de
oferecer perigo à saúde e contaminar rios e lagos.

Poluição Sonora e Visual


O ritmo frenético da vida nas cidades grandes e nas metrópoles, sobretudo nas áreas comerciais e
grandes avenidas, gera muito ruído, o que aumenta o estresse e afeta a sensação de bem-estar da
população. Além disso, a quantidade de informações e propagandas espalhadas ao redor também
prejudica a qualidade de vida da população.

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O Direito à Cidade

Assim como gera impactos ambientais, o modelo discutido acima também possui uma dimensão social,
baseada na economia. A forma como são estruturadas as cidades tem como objetivo tornar o modelo
produtivo economicamente vantajoso, capaz de gerar cada vez mais lucros, a fim de que as pessoas
continuem consumindo cada vez mais.
Porém, esse modelo está se mostrando ecológica e socialmente insustentável. As cidades são os
lugares onde se concentra a maior parte da população, formando moradias precárias e favelas, que não
possuem um adequado sistema de esgoto e água e são construídas em lugares pouco seguros.
Contudo, o poder público não dá conta de oferecer satisfatoriamente os serviços básicos para toda a
população: hospitais, educação, lazer, cultura, saneamento básico, moradia, transporte, lixo,
pavimentação, segurança, entre outros.

A Indústria de Turismo (Perspectiva para a Economia Brasileira)57

Conforme dados do Plano Nacional de Turismo 2018- 2022 (BRASIL, 2018), que serão mostrados
neste item, o turismo é a atividade do setor terciário que mais cresce no Brasil. Mesmo passando por
contratempos impostos pela conjuntura econômica, em 2016, movimentou R$ 530,5 bilhões, entre
atividades diretas, indiretas e induzidas. Quando considerada apenas a contribuição direta, a participação
do turismo é de R$ 198 bilhões, estimado em 3,4% do PIB.
A importância econômica da indústria do turismo nacional é tão grande que o PIB do turismo brasileiro
é maior do que o PIB global de mais de 100 países ao redor do mundo, entre os quais o Uruguai, Costa
Rica e Panamá.

O setor gerou mais de 7 milhões de empregos em 2016, o que representa 7,8% do emprego total. É
uma atividade que necessita constantemente de mão de obra, diferentemente de outras, onde novas
tecnologias estão substituindo muitos postos de trabalho.
Estão incluídas, como geradoras de empregos diretos, as atividades relacionadas a hotelaria, agências
de turismo, companhias aéreas, demais tipos de transportes de passageiros e turistas, além de
restaurantes e empreendimentos de lazer.
O mercado turístico brasileiro é pulverizado, com a presença de diversas empresas nos diferentes
ramos do setor, sendo a maioria de micro e pequenas empresas.
Entretanto, o nível de concentração do setor se modifica de acordo com a categoria de turismo
analisada. No caso das companhias aéreas, o segmento é altamente concentrado.
Alguns indicadores refletem a força do nosso mercado interno: o crescimento das chegadas de
estrangeiros (6,3 milhões), o aumento da receita cambial (US$ 6 bilhões), a expansão dos créditos para
a indústria do turismo (R$ 13,38 bilhões) e a melhoria da competitividade de muitos destinos turísticos
brasileiros.
De acordo com o relatório do Fórum Econômico Mundial, divulgado em 2017, o país foi considerado a
27ª economia do turismo mais competitiva no mundo e o 8º no ranking mundial de recursos culturais e
viagens de negócios (BRASIL, 2017).

57
https://www.bnb.gov.br/documents/80223/4296541/59_turismo.pdf/abf03c9a-5d73-3b1e-42d4-7cbfcfa47fd7

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A Argentina é o maior emissor de turistas internacionais para o Brasil, seguida pelos Estados Unidos,
o que representou, respectivamente, 34,9% e 8,7% do total de turistas em 2016.

Para os turistas estrangeiros, o lazer é a principal motivação de viagem ao Brasil, tendo representado
56,8% do mercado internacional em 2016. Os turistas que viajam ao Brasil a negócios ou para participar
de feiras e convenções representam uma parcela importante, mas o número vem diminuindo ao longo
dos anos. Em 2016, por exemplo, esse segmento caiu 4% em relação a 2015.
A maioria dos turistas que vem ao Brasil em viagens a lazer não são os que mais gastam no país. Em
2016, esses visitantes gastaram, em média, US$ 61,41 por dia, enquanto os estrangeiros que vieram a
negócios deixaram no país cerca de US$ 82,54. É nesse contexto que é preciso intensificar as ações
para retomar a participação do Brasil no mercado internacional de eventos.
A Receita Cambial Turística, em 2017, registrou US$ 5,8 bilhões (3,6% menor do que os US$ 6 bilhões
auferidos em 2016), um pouco abaixo da média (US$ 5.982 milhões) computada dos últimos 10 anos.
A utilização do transporte aéreo no Brasil tem apresentado um crescimento excepcional. Em 2015, por
exemplo, o número de desembarques domésticos mais que dobrou (97,8 milhões), em comparação com
os resultados de 2006 (46,3 milhões). Em 2016, após sete anos de crescimento, o indicador apresentou
redução (7,8%), em virtude da crise econômica. Já em 2017, o número de desembarques de passageiros
nos aeroportos brasileiros voltou a crescer e registrou um aumento de 2,1% em relação ao ano anterior.

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Outro indicador da expansão do turismo nacional é o volume de empréstimos concedidos pelos bancos
oficiais (Caixa, Banco do Brasil, Banco do Nordeste, Banco da Amazônia e BNDES) às empresas do setor
de turismo. As linhas de crédito destinam-se a construção e reformas de hotéis, bares, restaurantes,
agências de turismo, parques temáticos e outras atividades relacionadas.
De 2003 – ano de criação do Ministério do Turismo – até setembro/2017, os investimentos no setor
totalizaram R$ 94,8 bilhões.
O Gráfico 4 demonstra que o maior volume de empréstimos foi concedido nos anos de 2012 a 2015,
período preparatório para a realização dos megaeventos – Copa do Mundo de Futebol FIFA 2014 e Jogos
Olímpicos Rio 2016. Foram construídos e ampliados meios de hospedagem, aeroportos, além de
realizadas melhorias para garantir a mobilidade urbana e acessibilidade para pessoas com deficiência,
promovendo um salto de qualidade na infraestrutura básica e turística do País.
Nos anos de 2016 e 2017, observa-se uma queda na obtenção de financiamentos, reflexo da crise
econômica.

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Quanto aos investimentos no setor, desde a sua criação, o Ministério do Turismo destinou R$ 13,47
bilhões, recursos não onerados do Orçamento Geral da União, para investimentos em estruturação de
destinos. Esses investimentos possibilitaram a implantação de infraestrutura turística pública, a
elaboração de planos para desenvolvimento territorial do turismo e projetos de estruturação e
ordenamento, por meio do Programa de Apoio a Projetos de Infraestrutura Turística e do Programa de
Apoio ao Desenvolvimento Nacional do Turismo – PRODETUR, mediante a celebração de contratos de
repasse e convênios com entes federativos, envolvendo mais de 18,8 mil empreendimentos, dos quais
cerca de 13 mil estão concluídos.

Fórum Econômico Mundial


O último relatório do Fórum Econômico Mundial (WEF), intitulado The Travel & Tourism
Competitiveness Report (TTCR), realizado em 2017, colocou o Brasil na 27ª colocação num ranking de
136 países analisados.
A tabela a seguir mostra o ranking global dos dez primeiros classificados desde 2007 e do Brasil, que,
em 10 anos, avançou 32 posições.

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Segundo o relatório, o Brasil é considerado o primeiro colocado do planeta no quesito diversidade de
recursos naturais, além de se destacar como 8º classificado no item recursos culturais. No entanto, apesar
desta vantagem comparativa, no quesito “priorização do setor”, fica na 106ª posição e no item “ambiente
de negócios”, em 129º, devido à ineficiência do arcabouço legal, burocracia e impostos elevados.

Essas informações demonstram que os nossos melhores resultados (recursos culturais e naturais) são
as potencialidades do nosso país. Já as outras variáveis são os pontos que precisam ser trabalhados e
aprimorados.

Plano Nacional de Turismo 2018-2022


O Plano Nacional de Turismo 2018-2022 é o instrumento que estabelece diretrizes e estratégias para
a implementação da Política Nacional de Turismo. O objetivo principal do documento é ordenar as ações
do setor público, orientando o esforço do Estado e a utilização dos recursos públicos para o
desenvolvimento do turismo. Foi elaborado de forma coletiva, com o apoio das áreas técnicas do
Ministério do Turismo, Embratur e agentes públicos e privados, por meio da Câmara Temática do Plano
Nacional de Turismo, constituída dentro do Conselho Nacional de Turismo. Este item é dedicado a
apresentar de forma sucinta as metas, diretrizes e linhas de atuação deste documento.

Metas
• Meta 1: Aumentar a entrada anual de turistas estrangeiros de 6,5 para 12 milhões
O turismo é o setor onde a diferença entre o potencial e o realizado fica mais nítida no Brasil. Apesar
de todos os atrativos, o país recebe menos de 0,6% das pessoas que viajam pelo mundo e fatura apenas
0,4% do valor global movimentado pelo setor de viagens. Nesse sentido, medidas como o aumento da
promoção internacional e do número de voos e a implantação de vistos eletrônicos para desburocratizar
a vinda de estrangeiros para o país serão fundamentais para ampliar o número de turistas internacionais
no Brasil.

• Meta 2: Aumentar a receita gerada pelos visitantes internacionais de US$ 6,5 para US$ 19
bilhões
Existe uma forte correlação entre o ambiente econômico e a expansão da atividade turística.
Aproveitando o cenário de recuperação econômica em países considerados importantes mercados
emissores de turistas para o Brasil e por meio da promoção de destinos e produtos turísticos
segmentados, a exemplo do Ecoturismo, do Turismo de Aventura, Cultural, de Negócios e Eventos, entre
outros, o Ministério do Turismo pretende incrementar a atração de turistas estrangeiros que permaneçam
mais tempo no Brasil, visitem mais lugares e gastem mais durante sua estada.

• Meta 3: Ampliar de 60 para 100 milhões o número de brasileiros viajando pelo país
O mercado doméstico é a mola propulsora do turismo brasileiro. Em 2016, foram realizadas em torno
de 200 milhões de viagens domésticas, segundo estimativa do MTur. Os gastos realizados nessas
viagens representam 93,5% do PIB do setor de viagens e turismo no Brasil, enquanto que as
internacionais contribuem com 6,5%. Para se ter uma ideia da dimensão e do potencial do mercado

173
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doméstico, atualmente, somente 60 milhões de brasileiros, menos de um terço da população, viajam pelo
País.

• Meta 4: Ampliar de 7 para 9 milhões o número de empregos no turismo


O turismo impacta mais de cinquenta segmentos da economia, gerando emprego e renda para cerca
de sete milhões de brasileiros. Com o aumento das viagens domésticas e do número de turistas
internacionais no país, o mercado de trabalho do setor deverá se aquecer.

Diretrizes
Cada vez mais, destinos turísticos competem em escala global para atrair o interesse de viajantes de
todo o mundo para visitarem seus atrativos. Da mesma forma competem entre si hotéis, agências e
operadoras de turismo, transportadoras terrestres e aéreas e demais prestadores de serviços do setor. O
turismo, assim como os mais diversos setores da economia, tem sido transformado pelas empresas de
base tecnológica, que já surgem digitais.
Inovação e a criatividade se tornaram ferramentas vitais.

• Fortalecimento da regionalização
A Lei nº 11.771, de 17 de setembro de 2008 (Lei do Turismo), principal marco legal do turismo no país,
definiu como um dos objetivos da Política Nacional de Turismo: promover, descentralizar e regionalizar o
turismo, estimulando estados, Distrito Federal e municípios a planejar, em seus territórios, as atividades
turísticas de forma sustentável e segura, inclusive entre si, com o envolvimento e a efetiva participação
das comunidades receptoras nos benefícios advindos da atividade econômica.

• Melhoria da qualidade e competitividade


Para alcançar um patamar mais elevado em competitividade no setor de turismo, é necessária a
implementação de políticas públicas voltadas à melhoria do desempenho do Brasil, no que se refere,
especialmente, à abertura para o mercado internacional, ao ambiente de negócios, ao desenvolvimento
sustentável, à segurança pública e à infraestrutura aérea, terrestre e portuária, para que o setor de turismo
se torne um dos principais impulsionadores do progresso socioeconômico e para que o país ocupe
posição de destaque entre os principais destinos turísticos mundiais até 2022.
Avanços significativos foram observados, mas ainda há muito que se fazer para possibilitar maior
competitividade dos destinos brasileiros, como por exemplo, a melhoria nos serviços de segurança
pública, a qualificação dos recursos humanos e a ampliação de investimentos governamentais ao setor.

• Incentivo à inovação
Embora existam diferentes definições sobre inovação, pode-se dizer que se trata de um conceito
econômico e social que representa algo diferente do que já foi feito, ou seja, é a implementação de uma
novidade. Inovação não está, necessariamente, ligada à tecnologia, mas implica na geração de valor para
uma empresa ou para a sociedade.
A Organização Mundial do Turismo considera a inovação como essencial para a competividade e a
sobrevivência econômica do turismo.
É importante, portanto, que o ator público incentive e apoie a inovação constante nas empresas do
setor e, ao mesmo tempo, busque soluções legais para permitir a concorrência justa entre elas.

• Promoção da sustentabilidade
A Assembleia Geral das Nações Unidas declarou 2017 como o Ano Internacional do Turismo
Sustentável. Vale ressaltar que a sustentabilidade no turismo é entendida de forma ampla, de maneira a
garantir a preservação não apenas dos recursos naturais, mas da cultura e da integridade das
comunidades visitadas. Esses princípios permeiam os planos nacionais de turismo e o Programa de
Regionalização do Turismo.
Além da sustentabilidade ambiental sejam: a sustentabilidade sociocultural, que assegura que o
desenvolvimento, preserve a cultura local e os valores morais da população, fortaleça a identidade da
comunidade e contribua para o seu desenvolvimento; a sustentabilidade econômica, que assegura que o
desenvolvimento seja economicamente eficaz, garanta a equidade na distribuição dos benefícios
advindos desse desenvolvimento e gere os recursos de modo que possam suportar as necessidades das
gerações futuras; e, por fim, a sustentabilidade político-institucional, que assegura a solidez e
continuidade das parcerias e dos compromissos estabelecidos entre os diversos agentes e agências
governamentais dos três níveis de governo e nas três esferas de poder, além dos atores situados no
âmbito da sociedade civil.

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Linhas de Atuação
Propõe-se a adoção de cinco linhas estratégicas:
Ordenamento, gestão e monitoramento;
Estruturação do turismo brasileiro;
Formalização e qualificação no turismo;
Incentivo ao turismo responsável; e
Marketing e apoio à comercialização.

Questões

01. (TJ/SC – Analista Jurídico – TJ/SC) Sobre o espaço econômico brasileiro, suas características e
o processo industrial do Brasil, todas as alternativas abaixo estão corretas, EXCETO:
(A) Dentre os fatores responsáveis pela concentração industrial na região Sudeste, podemos afirmar
que a região foi se organizando como área de atração da população e de capital, tornando-se região
concentradora de riquezas. O mercado consumidor que aí se formou, o desenvolvimento do sistema
rodoviário, os recursos naturais favoráveis e a imigração contribuíram para a concentração industrial
nesta região.
(B) São Paulo concentra a maior parte da produção industrial do país, cujas raízes encontram-se nas
etapas iniciais do processo da industrialização do Brasil. Mas, nos últimos anos, a participação relativa
do Estado começa a diminuir, o que reflete o início do processo de dispersão industrial espacial, no país.
(C) O processo industrial brasileiro se firmou nos anos 70, os anos do “milagre brasileiro”, baseado em
um tripé, representado pela forte participação do capital estatal, pelos grandes conglomerados
transnacionais e um mercado consumidor em ascensão.
(D) Uma das características do processo industrial atual do Brasil, corresponde à forte dispersão
financeira das empresas e à grande concentração espacial.
(E) Uma das influências diretas da inserção do Brasil nos mercados globais é a disseminação no
território brasileiro dos polos tecnológicos próximos de centros universitários e de pesquisas.

02. (Prefeitura de Nilópolis/RJ – Professor de Geografia – FUNCEFET) A industrialização promove


a concentração espacial da riqueza e dos recursos financeiros e produtivos. Em certo ponto do
desenvolvimento econômico, a tendência de concentração espacial da indústria arrefece e dá lugar a
movimentos de desconcentração.
Assinale a alternativa que indica os movimentos geradores de desconcentração industrial no Brasil.
(A) Evolução das tecnologias, infraestrutura de transportes e comunicações
(B) Escassez de mão de obra e poluição
(C) Segregação espacial e ação dos movimentos sociais
(D) Concentração de infraestrutura e poluição

03. (Instituto Rio Branco – Diplomata – CESPE) A partir de meados da década de 90 do século
passado, a denominada guerra fiscal entre os estados brasileiros intensificou-se. A abertura econômica
atraía, então, novos fluxos externos de investimentos industriais para o país e estimulava a guerra dos
lugares.
A respeito desse assunto, julgue (C ou E) o item que se segue.
O processo de desconcentração regional da indústria brasileira favorece o prolongamento da disputa
entre as unidades federativas com base na renúncia fiscal.
(....) Certo (....) Errado

04. (Petrobras – Profissional Júnior – CESGRANRIO) Como tantos outros países periféricos, o
Brasil era exportador de matérias-primas e importador de produtos manufaturados. Há um momento em
que o minério de ferro do Brasil impressiona os técnicos das indústrias siderúrgicas da Europa e dos
Estados Unidos, mas o Brasil importa até as grades de ferro que cercarão as árvores da recém-aberta
Avenida Central, no Rio.
Nessas poucas palavras, sobre a coação da história a estrangular o futuro dos países como o Brasil,
encerra-se toda a política econômica da Revolução de 30, do presidente que a levou ao poder e de toda
a Era Vargas: fazer do Brasil um país que transforme em aço o ferro de seu subsolo, que explore seu
petróleo e suas fontes de energia elétrica, que produza tratores, caminhões, automóveis e até aviões, um
país não mais vítima, mas protagonista e criador de seu futuro. RIBEIRO, José Augusto. A Era Vargas, o suicídio e o petróleo.
Revista Caros Amigos, São Paulo, n.209, p.41, ago. 2014.

175
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Com base no texto, é possível associar a realidade socioeconômica e a política brasileira da Era
Vargas
(A) à expansão da agroindústria
(B) à opção pelo neoliberalismo
(C) ao modelo de substituição de importações
(D) ao processo produtivo de acumulação flexível
(E) às privatizações no setor de produção de energia

Gabarito

01.D / 02.A /03.Certo / 04.C

Comentários

01. Resposta: D
Com a evolução das tecnologias e infraestruturas de transportes e comunicações houve a redução nos
custos de transferência de bens, de modo que o espaço se tornou mais fluido, abrindo novas localizações
adequadas para a indústria.
O que ocorre é um processo de desconcentração espacial das indústrias. Tal fato deve-se a maior
abertura econômica e pelo desenvolvimento técnico-científico, associado a informática e comunicação.

02. Resposta: A
Com os avanços tecnológicos nos meios de transporte e comunicações, não eram mais necessárias
uma aglomeração industrial e, tampouco, a proximidade entre indústria e mercado consumidor. Por isso,
muitas empresas resolveram migrar para regiões interioranas e cidades médias, longe dos problemas
relacionados às grandes cidades.

03. Resposta: Certo


As disputas fiscais entre os estados em torno do aumento da arrecadação geraram um cenário instável
de busca desenfreada pelo estabelecimento de indústrias, em troca da concessão de benefícios fiscais
como geração de créditos e isenções, transformando-se em verdadeira “guerra fiscal”.

04. Resposta: C
A política nacionalista dos governos de Getúlio Vargas era caracterizada pela decisiva intervenção do
Estado na economia. Transformado em agente fomentador da industrialização, o Estado brasileiro
realizou pesados investimentos, graças os quais foram implantadas uma moderna infraestrutura e
inúmeras indústrias de base. Foram construídos muitos portos, além de sistemas de transporte terrestre
e de geração de energia. Foram fundadas grandes companhias de capital estatal. A disponibilidade das
matérias-primas produzidas por essas indústrias de base estatais estimulou a criação de diversas
indústrias privadas de capital nacional. Equipadas com uma tecnologia menos sofisticada que as
indústrias de bens de consumo duráveis, a instalação de indústrias de bens de consumo não-duráveis
necessita de menos investimentos. Por isso foi registrado um aumento maior do número de indústrias
privadas de bens de consumo não-duráveis, como tecelagens, fábricas de produtos alimentícios e de
bebidas, fábricas de calçados, estabelecimentos de torrefação de café, etc.

RECURSOS MINERAIS E FONTE DE ENERGIA58

A Natureza Como Fonte de Recursos: As Sociedades e Suas Técnicas

Ainda que o desenvolvimento das técnicas, acompanhado do expressivo avanço do conhecimento


científico dos últimos dois séculos tenha se tornado uma característica marcante dos mais diversos
setores da nossa sociedade, não podemos esquecer que nem todas as sociedades evoluíram
tecnicamente da mesma forma. Ainda hoje, existem diversas delas que garantem sua subsistência por
meio de técnicas rudimentares e pouco elaboradas. Como exemplo, temos as agrícolas tradicionais, que

58
ANGLO: GARCIA, Hélio Carlos; GARAVELLO, Tito Márcio. Geografia do Brasil. São Paulo, 4ª edição: Anglo.
COLEÇÃO OBJETIVO – Sistema de Métodos de Aprendizagem – ANTUNES, Vera Lúcia da Costa. Geografia do Brasil: Quadro Natural e Humano.
LUCCI, Elian Alabi. Geografia Geral e do Brasil. Elian Alabi Lucci; Anselmo Lazaro Branco; Cláudio Mendonça. 3ª ed. São Paulo: Saraiva.
MARTINEZ, Rogério. Novo olhar: Geografia. Rogério Martinez, Wanessa Pires Garcia Vidal. 1ª edição. São Paulo: FTD, 2013.
MARTINI, Alice de. Geografia. Alice de Martini, Rogata Soares Del Gaudio. 3ª edição. São Paulo: IBEP, 2013.

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vivem da caça, da pesca e da coleta, e se dedicam quase que exclusivamente ao cultivo de subsistência,
e as sociedades que sobrevivem do pastoreio nômade.
Ao longo de sua história na Terra, o ser humano vem acumulando e adquirindo novos conhecimentos
e habilidades, assim como, aprimorando e desenvolvendo instrumentos e técnicas de trabalho para extrair
da natureza os recursos necessários à sua sobrevivência. Além disso, necessita garantir sua existência
por meio da produção de alimentos, construção de moradias, fabricação de roupas, utensílios,
ferramentas de trabalho, etc.
Nos últimos dois séculos, porém, com os constantes avanços científicos e tecnológicos da sociedade
capitalista industrial, as condições técnicas foram aprimoradas a um ritmo jamais alcançado antes. Ao
serem aplicadas no processo produtivo, essas técnicas ampliaram de forma extraordinária a capacidade
humana de intervir e, consequentemente, de explorar com maior intensidade os recursos naturais, a
exemplo dos solos, crescentemente aproveitados para a formação de lavouras e pastagens e das fontes
hídricas, cada vez mais exploradas para pesca, navegação, irrigação de cultivos, abastecimento de
cidades ou, ainda, para a geração de energia elétrica.
Tudo o que a sociedade humana utiliza para produzir os bens de que precisa ou de que faz uso são
obtidos de elementos existentes na natureza, também chamados recursos naturais.

“Falar de recursos naturais é falar de recurso que, por sua própria natureza, existem
independentemente da ação humana e, assim, não estão disponíveis de acordo com o livre-arbítrio de
quem quer que seja”. (PORTO GONÇALVES, Carlos Walter. O desafio ambiental. Rio de Janeiro: Record, 2004, p.66).

A exploração dos recursos naturais promovida pelas atividades humanas começou a se tornar mais
intensa nos últimos 250 anos, a partir da Revolução Industrial. A expansão da produção econômica,
apoiada principalmente no desenvolvimento das atividades industriais, promoveu o aumento da produção
em larga escala, exigindo, como consequência, a utilização cada vez maior de matérias primas e de fontes
energéticas cuja exploração alcançou níveis sem precedentes em toda a história.
Com o advento da sociedade industrial e o desenvolvimento científico e tecnológico voltado para o
aumento crescente da produção, arraigou-se na sociedade capitalista a ideia da natureza como
fornecedora de recursos econômicos, vistos como bens que podem ser explorados a fim de gerar riquezas
e lucros. Com essa mentalidade estritamente econômica, a natureza passou a ser tratada como um
simples estoque de matérias-primas, fonte inesgotável de recursos necessários para sustentar e garantir
a própria reprodução do modo de produção.
Dessa forma, a lógica que sustenta o industrialismo econômico em expansão ao longo dos últimos
séculos está centrada na concepção de natureza como recurso infinito e inesgotável. Isso significa,
portanto, que o sistema econômico moderno está organizado e orientado para a utilização cada vez mais
eficaz da natureza e de seus recursos. Assim, pode-se dizer que as raízes do intenso processo de
degradação da natureza e o agravamento dos problemas ambientais que presenciamos em nossa época
ligam-se diretamente a esse modelo econômico predatório do ponto de vista ambiental.

De maneira geral, os recursos naturais podem ser classificados ou agrupados e duas categorias:

Recursos Naturais Renováveis: aqueles que podem ser repostos ou recriados (renovados) pela
natureza em um período de tempo relativamente curto, desde que utilizados de maneira racional. Entre
esses recursos estão florestas, solos e fontes hídricas (rios, lagos, oceanos);
Recursos Naturais Não Renováveis: aqueles que não podem ser repostos pela sociedade e que
levam milhões de anos para serem repostos pela natureza. Os minerais, como bauxita, ferro, ouro, etc.;
e os combustíveis fósseis, como o petróleo, são exemplos de recursos que vão se esgotando à medida
que são extraídos da natureza.

De modo simples, podemos entender por indústria “o ato de transformar, com ajuda de um certo
trabalho, a matéria-prima em bens de produção e consumo”.

As indústrias podem ser divididas em:

a) Extrativas: Aquelas que extraem certos produtos da natureza, sem, contudo, alterar suas
características. Compreendem dois tipos principais: a indústria extrativa vegetal e a indústria extrativa
mineral.

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1634532 E-book gerado especialmente para GRAZIELA CRISTINA LEOTE
b) De Transformação: São aquelas que transformam as matérias-primas em bens. Compreendem
dois tipos: as indústrias de bens de consumo e as indústrias de bens de produção.
A importância da mineração no contexto da economia nacional é reforçada quando se verifica o valor
da produção da indústria de transformação mineral (metalurgia, siderurgia, fertilizantes, cimento,
petroquímica, etc.).

Os Recursos Minerais, as Fontes de Energia e os Impactos Ambientais


Sobre a superfície da Terra, vamos encontrar basicamente dois tipos de minerais: os fósseis e os não-
fósseis. Os minerais fósseis são aqueles originários da decomposição de restos de animais e vegetais
que ficaram depositados em camadas de rochas sedimentares como o carvão, o petróleo e o xisto. Já os
minerais não-fósseis são os compostos químicos metálicos e não-metálicos que se consolidaram no
interior das rochas, geralmente cristalinas, como, por exemplo, o ouro, o manganês, o ferro, o silício, o
caulim.
Isso significa que os diversos elementos vão surgir em uma determinada região, de acordo com o tipo
de formação geológica do local. É evidente que, quanto maior for a área de um país, maior será a
possibilidade desse país contar com todos os tipos de rochas e assim possuir todos os tipos de minerais.
Entretanto, mesmo para um país de enormes dimensões como o Brasil, que contém todos os tipos de
rochas, os minerais não surgirão na quantidade que a nossa economia exige. Assim, poderíamos
classificar os minerais quanto à disponibilidade em três tipos:
a) abundantes: aqueles que surgem em enormes quantidades, sendo usados tanto internamente
quanto exportados, como por exemplo, o ferro, o manganês, o alumínio, o nióbio.
b) suficientes: os que existem em quantidade suficiente apenas para o abastecimento interno, não
podendo ser exportados.
c) carentes: aqueles cuja quantidade seja insuficiente para atender às necessidades internas como,
por exemplo, o carvão mineral.

A Importância dos Recursos Minerais


Os recursos minerais são vitais para o desenvolvimento de um país, por sua importância como matéria-
prima para a indústria – em particular para os setores industriais de base, como a metalurgia e a química
pesadas (assim qualificadas por utilizarem muita matéria-prima. Na primeira, destacam-se as unidades
produtivas voltadas para a fabricação de metais como aço, alumínio, cobre, chumbo e estanho. Na
segunda, aquelas voltadas para a fabricação de ácidos como o sulfúrico, o nítrico e o clorídrico.

Minerais Metálicos e Não-metálicos


Como observamos, segundo a sua composição, os recursos minerais classificam-se como metálicos
– como ferro, manganês, cobre e estanho. E não-metálicos – como enxofre, calcário e cloreto de sódio.
As rochas em cuja composição a incidência de minerais metálicos é suficiente para viabilizar sua
exploração econômica denominam-se minérios metálicos. São exemplos a hematita (minério de ferro),
a bauxita (minério de alumínio) e a cassiterita (minério de estanho).

A produção siderúrgica é uma das mais importantes no processo industrial brasileiro. Sua implantação,
porém, é de custo muito elevado, o que fez com que o Estado assumisse essa incumbência nas décadas
de 1940 a 1970.
O minério de ferro é a base da produção do aço, o que explica a implantação das siderúrgicas bastante
próximas das grandes jazidas desse minério.

178
1634532 E-book gerado especialmente para GRAZIELA CRISTINA LEOTE
Como as produções minerais têm caráter estratégico no processo industrial, historicamente os países
desenvolvidos buscaram controlar reservas minerais dentro e também fora dos seus limites territoriais. A
ação das suas empresas mineradoras é bastante sensível nos países subdesenvolvidos, que dispõem de
grandes reservas minerais mas de recursos escassos para explorá-las.
O Brasil, enquadrado nessa descrição, teve de acolher muitas empresas estrangeiras do setor mineral.

A produção mineral brasileira

O Brasil é um dos países mais ricos do mundo em quantidade e diversidade de recursos minerais,
dentre os quais se destacam os minérios de ferro, de estanho, de manganês e de alumínio.
Um aspecto revelador da importância dessa atividade na economia brasileira é a participação relativa
da sua produção e da produção dos metais no total exportado pelo país, destacando-se dentre as
exportações os minérios de ferro, de alumínio e de manganês e, entre os metais, o aço e o alumínio.
A dependência externa do setor mineral é relativamente pequena (ao contrário do que ocorre com os
recursos energéticos, como o petróleo e o carvão), porque o Brasil importa apenas alguns produtos cuja
produção nacional ainda não basta para atender as exigências do mercado interno, como cobre, enxofre
e mercúrio.

Os Principais Minérios do Brasil


Ferro:
O ferro é obtido pela redução dos seus óxidos. Seus principais minérios são:
Magnetita, com 72,4% de teor de ferro;
Hematita, com 70,0% de teor de ferro;
Limonita, com 59,9% de teor de ferro;
Siderita, com 48,0% de teor de ferro.
A ocorrência de minério de ferro no Brasil foi revelada no final do século XVIII e o seu aproveitamento
teve início na segunda década do século XIX, em Minas Gerais.
Em 1996, o Brasil possuía 8,6% das reservas mundiais, classificando-se em 5º lugar entre os países
detentores do maior volume de minério. Porém, devido ao alto teor de ferro contido em seus minérios, do
tipo hematita e itabirito (60%), o Brasil ocupa posição privilegiada em relação ao ferro produzido
mundialmente. Entre os produtores e exportadores, o Brasil coloca-se entre os maiores.
As grandes jazidas do Brasil encontram-se em Minas Gerais (Quadrilátero do ferro), Pará (Serra dos
Carajás) e Mato Grosso do Sul (Morro do Urucum).

Manganês:
O manganês é um metal encontrado na crosta terrestre em formas combinadas (óxidos, silicatos,
carbonatos, etc.). A quantidade de minerais de manganês é muito grande (mais de 100), sendo o principal
a pirolusita.
A principal utilidade do manganês (95%) é na indústria siderúrgica, na qual se utilizam 30 Kg de minério
de manganês para cada 1 tonelada de aço. Devido ao seu grande emprego, é um minério considerado
estratégico, sendo que os maiores consumidores (EUA, França, Alemanha, Inglaterra e Japão) não
possuem grandes reservas, exceto a Rússia.
As reservas brasileiras são cerca de 53.790 mil toneladas (cerca de 1,07% das reservas mundiais). As
principais jazidas estão: na Serra dos Carajás (PA), e no Quadrilátero do Ferro (MG).
O Brasil possui a 6ª reserva do mundo, atrás da África do Sul (a maior do mundo), Ucrânia, Gabão,
China e Austrália.

Outros Minérios

Alumínio
O alumínio é um metal branco, leve e que não se deixa tocar pela corrosão. É utilizado pela indústria
elétrica, material de transporte, construção civil, utensílios domésticos, etc.
O principal minério é a bauxita. De um total de reservas mundiais de 28,8 bilhões de toneladas, o Brasil
possui depósitos de bauxita de boa qualidade avaliados em 3,8 bilhões de toneladas, ou seja, 13,5% do
total, sendo o terceiro país em reservas de alumínio. Os depósitos encontram-se principalmente nas áreas
do rio Trombetas, de Paragominas, Juriti e Almerim, todas na região Amazônica, e em Poços de Caldas
e Muriaé (MG), Amapá, Rio de Janeiro, São Paulo e Santa Catarina. Em 1996 houve um acréscimo de
20,5% na produção brasileira (aproximadamente 2 milhões de toneladas), principalmente em razão do
incremento na produção da Mineração do Rio do Norte S.A. (MRN), uma das mais importantes empresas

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produtoras, respondendo por 78,6% do total produzido pelo país naquele ano. Outra grande empresa é a
Companhia Brasileira de Alumínio S.A. (CBA), com 10,1% do total de 1996.
No que se refere ao metal propriamente dito, o alumínio (metal primário), a produção brasileira
apresentou uma variação não muito significativa, passando de 1,18 para 1,19 milhão de toneladas, mas
que nos situou em quinto lugar (5,8%) na produção mundial.

Cobre
É um metal conhecido desde os primórdios dos tempos da metalurgia, em razão da facilidade de sua
obtenção e pelo seu poder de combinação com outros metais, resultando em famílias de bronzes, latões
e alpacas.
Tem por características principais a dificuldade de corrosão, alto grau de condutibilidade térmica e
elétrica, maleabilidade tanto a quente quanto a frio e é facilmente soldável. Tornou-se o terceiro metal de
maior consumo, sendo superado apenas pelo ferro e pelo alumínio.
Os principais minerais do cobre são sulfetos contendo de 0,5% a 2,0% de cobre (a calcopirita ou cuprita
é um dos mais importantes).
As principais reservas de cobre do mundo estão situadas no Chile, com 27,3%, e Estados Unidos, com
15,1%, perfazendo quase metade das reservas mundiais (42,4%). Entretanto, uma razoável quantidade
desses minérios encontra-se nos países do terceiro mundo, fazendo destes os maiores fornecedores para
os países do primeiro mundo (maiores consumidores).
O Brasil, com 1,9% dessas reservas e uma produção de 46.000 t, que representa, aproximadamente,
0,4% da produção mundial, tem nesse metal uma de suas principais carências, sendo um importante
comprador no mercado mundial.
As maiores jazidas de minério de cobre no Brasil são a de Camaquã (RS), a de Caraíba (BA) e a de
Carajás (Pará).
Os maiores fornecedores de cobre ao Brasil são: o Chile, o Canadá, o Peru e o México.

Estanho
Metal brilhante de aparência semelhante à prata. Extremamente maleável, facilmente amoldável e
fusível (dos metais é o que tem um dos mais baixos pontos de fusão). O estanho é conhecido desde a
Grécia Antiga e era ali considerado precioso juntamente com o ouro e a prata. Geralmente é utilizado na
indústria elétrica, na fabricação de ligas metálicas, empregado com o revestimento em outros metais a
fim de evitar a corrosão (principalmente nas folhas-de-flandres). Até meados dos anos 60, o Sudeste
Asiático reunia os maiores produtores do metal, com Malásia, Indonésia, Tailândia e China entre os mais
importantes. Nessa época, a maior exploração brasileira era realizada por garimpagem no Estado de
Rondônia. Em 1971, a garimpagem foi proibida e uma modificação na estrutura produtiva resultou num
aumento significativo da produção brasileira, tendo-se o estanho tornado o principal metal não-ferroso a
suprir a demanda interna (consumo local), passando a ser exportável.
Os maiores produtores do minério de estanho no Brasil, a cassiterita, são os Estados do Amazonas,
responsável por 60%, e Rondônia, com 40% (estanho contido). Em relação à produção do estanho
metálico, São Paulo é o principal responsável, com a empresa Mamoré e Metalurgia S.A. respondendo
por 83% dessa produção e a ERSA de Ariquemes – RO com 14%.

Chumbo
O chumbo é um metal conhecido desde a Roma Antiga e possui certos caracteres marcantes que o
diferencia de outros metais: baixo ponto de fusão, muito pouco duro (chega a ser facilmente riscado pela
unha) e possui uma alta capacidade de combinação com outros metais, originado ligas com as mais
diversas aplicações. É utilizado na indústria de baterias, cabos e isolantes para instalações nucleares. Ao
contrário de outros metais, tem tido o seu uso reduzido (como aditivo na gasolina).
O minério de onde mais se extrai o chumbo é a galena (sulfeto de chumbo – PbS).
As reservas brasileiras desse metal são pouquíssimas e pouco significativas, somando, em metal
contido, algo em torno de 350 mil toneladas.

Ouro
Foi um dos primeiros metais a ser conhecido e trabalhado pelo homem em razão de suas propriedades
como dureza, maleabilidade, ductilidade e um dos metais de mais antiga exploração na América e
também no Brasil. Utilizado na indústria de ferramentas médicas, ourivesaria e na indústria eletrônica de
precisão.

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1634532 E-book gerado especialmente para GRAZIELA CRISTINA LEOTE
A exploração de ouro no País de faz principalmente por garimpagem (ouro de aluvião, o mais
frequente) principalmente nos rios da Amazônia, o que tem trazido sérios problemas de destruição
ambiental em função do excesso de mercúrio lançado aos rios.
Os maiores produtores mundiais de ouro são: África do Sul, Estados Unidos, Austrália e Rússia. O
Brasil, no ano de 1996, apresentou uma redução de 6% em relação ao ano anterior, tendo produzido 60
toneladas, com 41 toneladas de participação de empresas de mineração (41 no total, entre elas a CVRD,
Grupo Morro Velho, Rio Paracatu Mineração, Mineração Serra Grande) e 19 toneladas dos garimpos.
Nossas principais áreas produtoras estão em Minas Gerais, na Serra de Paracatu e Quadrilátero
Ferrífero, Goiás e no Estado da Bahia. O Pará, após a grande produção na mina a céu aberto de Serra
Pelada, viu suas reservas acabar rapidamente.

Sal Marinho
Ocupa uma posição de destaque no setor da indústria extrativa mineral; é utilizado na pecuária, na
alimentação humana e na indústria química.
As principais áreas produtoras são Rio Grande do Norte e Rio de Janeiro.

Fontes de Energia - Energia Renovável e Não-Renovável

A maior parte da energia produzida no mundo (mais de 80%) é obtida de fontes não-renováveis, isto
é, que não podem ser repostas –como os combustíveis fósseis (petróleo, carvão mineral, gás natural) e
os minérios radioativos (urânio, tório). Dentre as fontes renováveis, ainda pouco aproveitadas, destacam-
se a energia elétrica de origem hidráulica e a biomassa (que abrange, entre outras matérias orgânicas, a
lenha, o carvão vegetal, o álcool e o bagaço de cana).
O Brasil é relativamente pobre em recursos energéticos não-renováveis: as suas reservas de minerais
radioativos são expressivas, mas as de combustíveis fósseis são relativamente pequenas. Entretanto o
país é muito rico em recursos energéticos renováveis, principalmente de origem hidráulica, pois é bem
servido de rios planálticos, com muitas quedas-d’água, e assim as bacias hidrográficas em geral têm
levada potência hidrelétrica.

Petróleo: Origem e Importância


Em períodos geológicos distantes, restos de animais e vegetais (plâncton) depositaram-se no fundo
de mares e lagos. Sofrendo intensa sedimentação, calor, pressão e a ação de microrganismos, essa
matéria orgânica transformou-se em petróleo – um óleo natural, constituído principalmente de
hidrocarbonetos, necessário tanto para a obtenção de gasolina, óleo diesel, querosene e gás de cozinha,
como para a fabricação de plásticos, borrachas sintéticas, fertilizantes, inseticidas, pesticidas e alguns
tipos de medicamentos e produtos químicos.

A exploração econômica de uma jazida petrolífera depende de uma conjunção de fatores: existência
de rocha-mãe, condições propícias à transformação química e bioquímica (temperatura e pressão),
ocorrência de processos migratórios (presença de água), existência de rocha porosa e de estruturas
acumuladoras (suaves dobramentos).

Como fonte de energia e matéria-prima, trata-se de um produto estratégico, por ser indispensável para
os transportes e as indústrias em todo o mundo. Em razão disso, em praticamente todos os países, sua
exploração só pode ser realizada, mesmo por empresas privadas, com autorização governamental – ou
melhor, ela é regulamentada pelo Estado. Não-renovável e distribuído de forma desigual pela natureza,
o petróleo ganhou tal importância no contexto econômico mundial ao longo do século XX, que já motivou
diversos conflitos internacionais.

O Petróleo no Brasil
A história do petróleo no Brasil confunde-se com a da Petrobras, criada pelo governo Getúlio Vargas
em 1953, numa conjuntura política marcada pelo nacionalismo. Em defesa da soberania nacional na
exploração do petróleo presente no sobsolo brasileiro, estabeleceu-se que a empresa responsável pelo
setor seria uma companhia mista, devendo pertencer à União, por lei, no mínimo 51% das suas ações.
Nos artigos da Constituição de 1988 referentes às atividades petrolíferas sob monopólio estatal,
observa-se que os contratos de risco (autorizados na década de 1970) foram eliminados, o que impediria
a participação de empresas particulares, nacionais ou estrangeiras, no processo de prospecção e lavra
do petróleo, em território nacional.

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Com as transformações de cunho neoliberal que marcaram os anos de 1990 no país, o monopólio
estatal do petróleo passou a ser questionado por poderosas forças políticas e econômicas nacionais.
Assim, por uma emenda constitucional de 1995, aprovada no Congresso Nacional em dois turnos
(primeiro na Câmara Federal e depois no Senado), a União agora pode contratar empresas privadas ou
estatais, nacionais ou estrangeiras, para atuar no setor petrolífero, que a Petrobrás dominou com
exclusividade por 42 anos.
Entretanto, a importância dessa empresa, que é a maior da América Latina, não deve diminuir. Além
de não haver concorrente nacional ou internacional capaz de lhe fazer frente na exploração do petróleo
brasileiro, ela atua, por meio de subsidiárias, também nos setores de distribuição de derivados (Petrobrás
Distribuidora), produção petroquímica (Petroquisa), prospecção e exploração de petróleo no exterior
(Braspetro), entre outros.

As Reservas e Produções Brasileiras de Petróleo


As reservas de petróleo do Brasil já comprovadas são de aproximadamente 12 bilhões de barris.
Comparadas com as das grandes áreas produtoras no mundo – como o Oriente Médio, cujas reservas
são pequenas, mas a nossa produção (em torno de 1,7 milhão de barris/dia) supre cerca de 90% do
consumo interno.
A maior parte dessa produção provém da plataforma continental, destacando-se dentre as principais
áreas produtoras as bacias dos estados do Rio Grande do Norte, Sergipe, Bahia (Recôncavo Baiano),
Ceará, Espírito Santo, Alagoas e, mais que todas elas, a bacia de Campos, no Rio de Janeiro, responsável
por mais da metade da produção nacional.
Foi sobretudo graças à intensificação dos trabalhos de prospecção em águas profundas, em particular
nessa bacia, que as reservas brasileiras saltaram de aproximadamente 760 milhões de barris, em 1975,
para o volume atual.

Programa Nacional do Álcool – Proálcool


O Programa Nacional do Álcool (Proálcool) foi definido em 1975 e teve sua implantação acelerada em
1979, com o segundo choque do petróleo, cujos efeitos desastrosos se pretendia minimizar usando álcool
como fonte energética alternativa – seja misturado à gasolina em substituição ao chumbo tetraetila,
altamente poluente, à proporção de 23% (álcool anidro, isto é, sem água), seja substituindo a própria
gasolina (álcool hidratado ou etanol), como combustível de veículos especialmente fabricados para esse
fim.
Para expandir a produção, era preciso ampliar a cultura da cana-de-açúcar, e o governo canalizou
esforços para as tradicionais áreas de concentração das usinas, como o planalto Ocidental Paulista e a
Zona da Mata nordestina.
O setor usineiro, interessado em ampliar a produção e o mercado, aderiu à proposta governamental,
incluindo-se entre os beneficiários dos investimentos destinados aos setores ligados à produção do álcool
no país, na forma de créditos ou subsídios, num montante que se acredita ter superado 10 bilhões de
dólares.
Todas as metas estabelecidas foram cumpridas e até extrapoladas. Para se ter uma ideia, em 1985,
no auge do programa, cerca de 91% dos veículos produzidos no país eram movidos a álcool. Mas, a partir
de 1986, com o declínio dos preços internacionais do petróleo, o resultado de tanto esforço começou a
cair por terra, e vários aspectos do Proálcool foram questionados, especialmente os seguintes:
* Em muitos casos, a expansão da cultura da cana ocupou espaços agrícolas antes usados para o
cultivo de gêneros alimentícios;
* O álcool substitui a gasolina, mas não o petróleo, e sua produção depende de derivados petrolíferos,
pois os caminhões que transportam a cana e distribuem o álcool são movidos a diesel;
* O uso do álcool gerou excedentes de gasolina de difícil comercialização, uma vez que os baixos
preços desse derivado no mercado internacional eram incompatíveis com os altos custos da Petrobrás.
Nesse contexto, a manutenção do Proálcool passou a depender de subsídios governamentais e da
vontade política da Petrobrás de arcar com pesados prejuízos na sua revenda.
No início dos anos de 1990, entre outras medidas drásticas, o governo orientou as montadoras de
automóveis a priorizar a produção de carros a gasolina – e em 1996(quando o barril de álcool custava 34
dólares, contra 19 dólares do barril de gasolina) apenas 4,6% dos veículos produzidos no Brasil eram a
álcool.
A situação agravou-se em 1997 com a resolução do governo de suspender os subsídios direcionados
ao setor produtor de álcool, ameaçando a sobrevivência de muitas usinas em funcionamento no país.
Nos anos 2000, a produção de álcool combustível cresceu de forma bastante rápida, tanto no Brasil
como no resto do mundo, o que resultou em uma produção da ordem de 46 bilhões de litros. Entre os

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fatores responsáveis por tal crescimento está a elevação acelerada nos preços mundiais do petróleo, o
que levou a uma maior procura por fontes alternativas e, no Brasil, a criação de carros bicombustíveis
(flex), expandido o mercado consumidor interno de álcool.

Carvão Mineral
O carvão mineral é um combustível fóssil originado do soterramento de antigas florestas, em ambiente
com pouco oxigênio, particularmente no período Paleozoico (permocarbonífero). Dependendo das
condições ambientais e da época da sua formação, ele pode ser encontrado em diferentes estágios, como
a turfa, o linhito, a hulha e o antracito.
As reservas brasileiras são relativamente pequenas e de baixa qualidade, pois apresentam, como
regra, baixo poder calorífico e alto teor de cinzas, o que dificulta seu aproveitamento como fonte
energética ou como matéria-prima no setor siderúrgico.
Em razão dessas deficiências, o país importa 50% do carvão mineral que consome.
As maiores reservas de carvão mineral do Brasil ocorrem nos terrenos permocarboníferos do Sul.
O carvão brasileiro tem baixa qualidade, é altamente poluente, e seu aproveitamento envolve elevados
custos de transporte. Por isso, só foi cogitado seriamente como fonte energética em épocas de crise.
Foi o que se viu na década de 1970, quando os choques do petróleo fizeram que se atentasse para as
reservas sulinas, particularmente as de carvão vapor, antes tratadas como entulho, por falta de consumo.
Para incrementar a produção e o consumo, foram então adotadas diversas medidas, como: oferta de
financiamentos e facilidades às companhias carboníferas que elevassem o nível técnico da extração;
instalação de termoelétricas, sobretudo próximo às áreas produtoras de carvão ( o que explica a
concentração de tais usinas no sul do país); incentivos à vários setores industriais para substituírem o
óleo diesel por carvão vapor no processo de aquecimento das caldeiras (caso das indústrias de cimento);
desenvolvimento no setor carboquímico, para aproveitamento dos subprodutos derivados no processo de
extração do carvão (caso da pirita carbonosa, composta de ferro e enxofre).

O Gás Natural
As reservas de gás natural do Brasil, em 2005, eram relativamente pequenas, da ordem de 326 bilhões
de metros cúbicos, o que correspondia a cerca de 40% das reservas de hidrocarbonetos no país. O
consumo também era relativamente pequeno: a participação do gás natural na matriz energética brasileira
era próxima de 4,8%, apenas, sobretudo porque ele foi historicamente tratado no país como fonte
energética de importância secundária.
Por volta de 2007, graças ao avanço tecnológico dos equipamentos que possibilitavam o uso do gás
natural, o Brasil, acompanhando uma tendência mundial, procurou estimular o aumento da produção e
do consumo interno desse produto, visto ser o menos poluente dos combustíveis fósseis.
Em 1993, foi assinado com a Bolívia um acordo de fornecimento com a intenção de provocar
expressiva elevação da participação dessa fonte na matriz energética nacional.
Segundo o Anuário 2005, a Agência Nacional de Petróleo (ANP), O Brasil importou em 2004 cerca de
8 bilhões de m³ de gás natural, o que representou 46% do consumo total do país.

Lenha e Carvão Vegetal


A produção de lenha e carvão vegetal é ainda bastante expressiva no Brasil. A lenha é utilizada
principalmente no âmbito doméstico, sendo mais da metade de seu consumo (cerca de 56%) verificado
na região Nordeste. O carvão vegetal é empregado sobretudo no setor siderúrgico, sendo mais da metade
do seu consumo (cerca de 53%) observado no estado de Minas Gerais.
O uso desses dois produtos tem sido apontado como uma das causas do intenso desmatamento que
ocorre em nosso território. Para compensar a perda das florestas nativas, nas áreas siderúrgicas de Minas
Gerais, as empresas do setor passaram a ser obrigadas a desenvolver um acelerado processo de
reflorestamento.
Desde o início do processo de ocupação colonial, as florestas brasileiras vêm sendo destruídas para
ser utilizadas como fonte de energia, na forma de lenha ou carvão vegetal. O absurdo é que, depois de
cinco séculos, ainda exista esse tipo de utilização da vegetação que resta no país.

Exploração Mineral e Problemas Ambientais

A formação das jazidas minerais resulta de processos geológicos que ocorreram ao longo de milhões
de anos. Elas constituem recursos esgotáveis e, se forem mantidos os atuais níveis de exploração
mineral, em pouco tempo poderão faltar matérias-primas essenciais à transformação industrial.

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Em várias regiões do mundo já são encontradas gigantescas áreas nas quais havia exploração
mineral. Essas jazidas esgotadas ficam, muitas vezes, abandonadas, deixando um rastro de imensas
crateras, nas quais o processo de erosão tende a intensificar os danos ambientais. Em diversos países,
as mineradoras que encerram suas atividades em determinada área de extração são obrigadas, por lei,
a reflorestá-la. Contudo, esse reflorestamento não garante a recuperação do hábitat natural.
No Brasil, as mineradoras simplesmente abandonam as jazidas que se tornaram economicamente
inviáveis, o que agrava os danos ambientais. O esgotamento de jazidas também aumenta as tensões
sociais, pois deixa um grande número de trabalhadores sem emprego e, portanto, sem condições de
sobrevivência.
Durante o processo de exploração, os problemas ambientais são imensos. Para dar início à exploração
é necessária a devastação da vegetação local, comprometendo a sobrevivência da fauna que faz parte
do seu ecossistema. Outro problema são os rejeitos – aquilo que não tem utilidade econômica numa
jazida – depositados em qualquer local e transportados pelo ventou ou pela água das chuvas para outros
lugares, atingindo os rios e provocando o assoreamento dos seus leitos.
Assoreamento é a deposição de sedimentos no leito de um rio, os quais podem impedir a livre
circulação das águas, provocar cheias em determinados trechos e vazantes em outros. Os trechos
assoreados acumulam dejetos dos mais diversos tipos, cuja decomposição contribui para a poluição das
águas.

No Brasil, boa parte do garimpo de ouro ocorre em rios da Amazônia e do Pantanal. Os garimpeiros
utilizam o mercúrio para agregar as pepitas menores, espalhadas na água. Depois de agregadas, o
material é aquecido, o que permite separar o ouro do mercúrio.
O mercúrio é um metal líquido, altamente tóxico e, dependendo da quantidade ingerida pelo organismo
humano, pode comprometer o sistema nervoso, provocar cegueira, debilidade mental e levar a pessoa à
morte. Atinge, em primeiro lugar, o próprio garimpeiro; e, seguida, os peixes e a fauna do rio em que o
garimpo é feito; e, por fim, as populações ribeirinhas e todos os que consomem o produto da pesca do rio
contaminado.
Entre os diversos minerais explorados, o petróleo é, sem dúvida, o grande vilão do ambiente. Além da
poluição causada pelo consumo de seus múltiplos derivados, são cada vez mais frequentes as tragédias
ambientais decorrentes tanto do processo de extração como de distribuição. O derrame de óleo por navios
petroleiros, que forma as chamadas “marés negras”, e o rompimento de oleodutos têm causado impactos
ambientais de difícil reparação.
Entre o final do século XX e o início deste século, já ocorreram no Brasil diversos acidentes
relacionados à extração e ao transporte de petróleo, como o naufrágio da plataforma P-36, na bacia de
Campos (RJ) – principal região de produção petrolífera do país; e o rompimento do oleoduto da refinaria
de Araucária (PR), que provocou o vazamento de cerca de um bilhão de litros de óleo para os rios Birigui
e Iguaçu.
Um desses acidentes – o rompimento de um duto da refinaria de Duque de Caxias (RJ), que, em
janeiro de 2000, poluiu a baía de Guanabara – é considerado o maior desastre ambiental marítimo do
país; grande quantidade de óleo atingiu os manguezais, provocando a morte de muitos animais e
vegetais. Esse acidente afetou a atividade pesqueira na região e a vida de milhares de pescadores.
Os sucessivos governos brasileiros ainda não adotaram uma ampla política para a exploração racional
dos recursos minerais, a qual priorizasse o desenvolvimento econômico sustentável, a preservação da
natureza e a conservação dessas jazidas.

A Energia Hidrelétrica no Brasil


O Brasil possui cerca de 450 usinas hidrelétricas em funcionamento, entre as quais duas das dez
maiores do mundo.
De modo geral, as bacias dos principais rios que banham estados do Nordeste e do Sudeste estão
com o seu potencial bastante aproveitado. Já as bacias do Uruguai, do Tocantins e do Amazonas
oferecem ainda muito potencial a ser explorado.
Na Amazônia, tanto as hidrelétricas em operação quanto as planejadas têm provocado muita polêmica.
Embora a Eletronorte alegue que elas são uma opção para todo o Brasil, a transmissão dessa energia
para o Centro-Sul tem um custo muito alto em razão das enormes distâncias. Na realidade, em parte,
foram construídas na região para fornecer energia aos projetos mineradores de grandes empresas,
principalmente as produtoras de alumínio, que consomem muita eletricidade (eletrointensivas): cerca de
um terço da energia elétrica gerada por Tucuruí. No Rio Tocantins, no Pará, é consumido pelas indústrias
de alumínio que atuam na região amazônica.

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As usinas hidrelétricas são, em sua maioria, empresas estatais. A partir de 1995, o setor de geração
de energia, antes restrito à esfera governamental, foi aberto às empresas privadas, as quais poderiam
adquirir as empresas estatais em leilão. No entanto, apenas algumas estatais do setor hidrelétrico foram
vendidas e, a maior parte delas, pelo preço mínimo.
Se, de um lado, as empresas privadas mostravam-se desinteressadas em investir no setor de geração
de energia, por outro lado, havia grande interesse em outro setor – o de distribuição de energia, o qual
apresentava perspectivas de retorno mais rápido dos investimentos. Desde o final do século passado e
início do século XXI, a distribuição da maior parte da energia elétrica produzida no Brasil está sob a
responsabilidade das grandes empresas do setor privado.

Quem controla o setor elétrico no Brasil?


Dentre os órgãos governamentais controlam o setor de produção de eletricidade no Brasil, destacam-
se os pioneiros – a ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica) e o ONS (Operador Nacional do
Sistema).
A ANEEL foi criada em 1996. É responsável pela regulamentação e fiscalização de todos os setores
elétricos ligados à produção e distribuição de energia.
O ONS foi criado em agosto de 1998. Coordena e controla a operação da geração e transmissão de
energia elétrica entre as diversas usinas e sistemas de distribuição espalhados pelo país.

O modelo energético brasileiro

Hidrelétricas e Termelétricas
Como vimos, no Brasil, a maior parte da produção de energia elétrica é obtida mediante
aproveitamento da força hidráulica. Essa fonte gera aproximadamente 85% da eletricidade total
consumida no país. É abundante devido à densa rede hidrográfica brasileira, composta em boa parte por
rios de planalto extensos e caudalosos.
No entanto, ao longo de 2001, o Brasil enfrentou um importante racionamento de energia elétrica. Na
origem desse problema, que foi precipitado pela redução no nível dos reservatórios das usinas
hidrelétricas, encontra-se a falta de investimentos em geração e transmissão de energia, somada ao modo
como foram estruturadas as normas que regulam o setor de energia após o processo de privatização da
maior parte das empresas estatais do setor (tarifas, investimentos, expansão da geração e das redes).
Ou seja, a principal razão da crise de energia em 2001 foi a incapacidade do Estado brasileiro para realizar
novos investimentos. Endividado, repassou para a iniciativa privada a incumbência de realizar novos
investimentos no setor, mas tais investimentos não interessavam aos compradores das grandes estatais.
Em 2001, foi imposta aos consumidores de algumas regiões a redução de 20% do consumo de energia
elétrica em residências, indústrias, lojas e outros estabelecimentos. Isso afetou negativamente o
crescimento da economia brasileira. O episódio demonstrou a necessidade de investimentos em novas
fontes de energia, exigindo mudanças de hábitos e levou os brasileiros a refletir sobre a importância da
eletricidade e a melhor maneira de utiliza-la.

O Programa Nuclear
Alegando escassez de combustíveis fósseis e esgotamento dos recursos hídricos, o governo brasileiro
adotou um programa nuclear visando a geração de energia elétrica a partir de usinas termonucleares que
utilizam urânio como combustível.
O país entrou na era nuclear comprando de uma empresa americana (Westinghouse), em 1969, uma
usina com 626 mil kW de potência. Essa compra não implicou transferência de tecnologia do ciclo nuclear,
mas apenas utilização dos equipamentos.
Coube ao Brasil, por meio da Nuclebrás, escolher o lugar da instalação da usina – batizada de Angra
I – e responsabilizar-se pelo andamento das obras de construção civil, que ficaram a a cargo de Furnas
(subsidiária da Eletrobrás).
Em 1974, decidiu-se construir mais duas usinas, Angra II e Angra III, de origem alemã. Ambas estão
vinculadas a um acordo de cooperação nuclear, assinado em 1975, segundo o qual compraríamos da
República Federal Alemã (hoje denominada só Alemanha), além de 8 usinas, a tecnologia de materiais e
de processamento do combustível (urânio).
Tal acordo, que teoricamente possibilitaria ao Brasil autossuficiência em tecnologia de instalação e
funcionamento de termonucleares, hoje está desfeito.

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A escolha de Angra dos Reis como área de implantação da primeira usina termonuclear no Brasil
deveu-se, segundo justificativas apresentadas na época, à sua posição intermediária entre os dois
maiores polos de desenvolvimento do país, São Paulo e Rio de Janeiro.

Em julho de 2000, o governo brasileiro inaugurou oficialmente a Usina de Angra 2, reacendendo uma
antiga polêmica em torno do custo de construção dessa usina (que ultrapassou 10 bilhões de reais, dos
quais cerca de 70% foram para o pagamento de juros).
Os seus defensores argumentaram com a necessidade de gerar mais eletricidade para atender a
demanda crescente a partir do uso de fontes alternativas aos combustíveis fósseis (altamente poluidores
do ambiente) e à hidroeletricidade, que apresentou sérios problemas quanto à localização.
Os críticos da energia nuclear contrapuseram com a imensa disponibilidade de recursos hídricos no
país para serem aproveitados (argumentaram que somente 25% do potencial brasileiro eram
aproveitados) e com o custo operacional, que em uma hidrelétrica era (em média) de 35 reais por MW/h,
enquanto em Angra 2 seria de 45 reais por MW/h.
Segundo a Eletronuclear: “O objetivo desta fonte alternativa não é o de concorrer, a curto prazo, comas
hidrelétricas, e sim o de complementar e diversificar este sistema. Um dos fatos que atestam a
necessidade de investimentos em fontes alternativas de energia é a baixa capacidade de expansão da
produção hidrelétrica no Sudeste, região de maior consumo do país. As usinas nucleares de Angra podem
estabilizar o fornecimento para a região e diminuir os riscos de blecautes”.
Um dos aspectos considerado na defesa da energia nuclear do País é a existência em nosso território
da sexta maior reserva mundial de urânio (cerca de 300 mil toneladas), embora tenhamos que importar o
urânio enriquecido, necessário para movimentar a usina.

Angra 3 será a terceira usina da Central Nuclear Almirante Álvaro Alberto (CNAAA), localizada na praia
de Itaorna, em Angra dos Reis (RJ). Quando entrar em operação comercial, a nova unidade com potência
de 1.405 megawatts, será capaz de gerar mais de 12 milhões de megawatts-hora por ano, energia
suficiente para abastecer as cidades de Brasília e Belo Horizonte durante o mesmo período. Com Angra
3, a energia nuclear passará a gerar o equivalente a 50% do consumo do Estado do Rio de Janeiro.
Angra 3 é irmã gêmea de Angra 2. Ambas contam com tecnologia alemã Siemens/KWU (hoje, Areva
ANP). As etapas de construção da Unidade incluem as obras civis, a montagem eletromecânica, o
comissionamento de equipamentos e sistemas e os testes operacionais.
O início oficial das obras foi em 1 de junho de 2010. Deveria ter entrado em operação em 2015 de
acordo com o Governo Brasileiro. Em 2011, porém, de acordo com o Plano Decenal de Expansão de
Energia 2020, a previsão de início das operações foi adiada para 2018, no entanto, as obras encontram-
se paradas e comenta-se em nova previsão de início apenas entre 2023 e 2027.

Questões

01. (SEDUC/AL – Professor de Geografia – CESPE/2018) Com relação à exploração de recursos


naturais pelos seres humanos, julgue o item subsecutivo.
O pau-brasil foi o primeiro elemento da rica natureza brasileira explorado pelo mercantilismo europeu.
(....) Certo (....) Errado

02. (SEDUC/AL – Professor de Geografia – CESPE/2018) Com relação à exploração de recursos


naturais pelos seres humanos, julgue o item subsecutivo.
Os processos de destruição ambiental no Brasil foram denunciados ainda no início do processo de
colonização portuguesa.
(....) Certo (....) Errado

03. (ARTESP – Economia – FCC/2017) Ao considerar os recursos ambientais e naturais, é correto


afirmar que
(A) a utilização de fontes de energia renovável afeta os rendimentos imediatos dos recursos naturais
sem afetar o longo prazo desses mesmos recursos.
(B) a reciclagem pode gerar benefício econômico a curto prazo e exercer impacto nulo no estoque de
capital natural.
(C) se regeneram, e o consumo presente de recursos não gera impacto de longo prazo no estoque de
capital natural.
(D) o extrativismo pode comprometer o estoque de recursos ambientais e naturais do planeta.
(E) na área ambiental não existe um dilema de decisão intertemporal quanto à utilização desses
mesmos recursos, já que os recursos naturais se renovam.

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1634532 E-book gerado especialmente para GRAZIELA CRISTINA LEOTE
Gabarito

01.Certo / 02.Errado / 03.D

AGROPECUÁRIA59

Agropecuária é a denominação dada para as atividades que usam o solo com fins econômicos e que
são voltadas à produção agrícola associada à criação de animais.

Distribuição e Função Social da Terra no Brasil

No Brasil, a distribuição de terras é considerada historicamente desigual. Uma das características mais
marcantes das áreas de produção agropecuária é a concentração da propriedade de terras, também
chamada de concentração fundiária. Isso significa que há grandes propriedades de terra, conhecidas
como latifúndios, concentradas nas mãos de poucos indivíduos.
As propriedades rurais brasileiras apresentam não só tamanhos diferentes, mas também distintas
formas de organização do trabalho. Como a agricultura familiar, aquela em que a mão de obra
predominante é composta por integrantes da família proprietária da terra. Geralmente trata-se de
pequenas propriedades onde é praticado o policultivo, ou seja, o cultivo de diferentes espécies.
Já nas grandes propriedades, onde se pratica o agronegócio60, a mão de obra é contratada, e a
produção, altamente mecanizada. Além disso, uma característica marcante é o monocultivo, ou seja, o
cultivo de uma única espécie.
Embora as propriedades sejam menores, em termos gerais, na agricultura familiar trabalham mais
pessoas do que na agricultura não familiar.
Existem estabelecimentos rurais de propriedade familiar que vendem sua produção para grandes
empresas agrícolas. No entanto, é a agricultura familiar que produz uma parcela significativa dos
alimentos consumidos no Brasil.
Pode-se dizer que a agricultura familiar garante o abastecimento de produtos básicos. Estes, porém,
não geram muita renda aos produtores, motivo pelo qual não são cultivados pelos empresários do
agronegócio.
Os grandes latifúndios são destinados à produção em larga escala de mercadorias destinadas
principalmente ao mercado externo, como soja, algodão, milho e cana-de-açúcar.

Condições de Trabalho no Campo

Estrutura Agrária Brasileira


A propriedade de terras é uma questão importante no Brasil desde o período colonial. Devido ao papel
da agricultura em nossa economia, é por meio da terra que historicamente se produziu e acumulou
riquezas no país. Até hoje, é da agricultura e da pecuária que vem grande parte de nosso Produto Interno
Bruto (PIB).

Sesmarias no Período Colonial


O primeiro mecanismo oficial de distribuição de terras no território brasileiro foi o sistema de doação
de sesmarias, enormes parcelas de terra que eram concedidas pela Coroa Portuguesa ou pelo
governador-geral, visando promover a colonização de terras e implantar o sistema de plantation na
colônia. As sesmarias vigoraram no Brasil até 1822, ano de sua independência.
Obviamente, essa concessão de terras abrangia apenas as pessoas nobres ou ricas – que possuíam
algum tipo de relação com a Coroa portuguesa e teriam condições de desenvolver economicamente suas
propriedades. Nesse caso, as doações de sesmarias correspondiam às áreas produtivas e já exploradas
no litoral ou próximas dessa região.
Ao receber uma sesmaria na Colônia e produzir em suas terras, o proprietário tinha o direito de posse
por toda a vida, repassando-as para seus herdeiros depois da sua morte. Nesse contexto, a Colônia
assistia à formação de uma elite, composta por famílias que concentravam em suas mãos as maiores
terras e, consequentemente, a riqueza local oriunda da exportação do açúcar que produziam.
Apesar da necessidade de concessão por parte da Coroa ou do governador-geral para obtenção de
sesmarias, essa não era a única forma de se conseguir a posse de terras na Colônia. Devido à abundância

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FURQUIM Junior, Laercio. Geografia cidadã. 1ª edição. São Paulo: Editora AJS, 2015.
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Agronegócio é a denominação das atividades comerciais e industriais que envolvem a produção de alimentos em larga escala, desde o cultivo na propriedade
rural até a chegada aos consumidores.

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de áreas inexploradas no território e ao baixo número de habitantes europeus na Colônia, as terras do
interior não possuíam valor comercial.
Outro aspecto referente à propriedade de terras nesse período diz respeito à mão de obra disponível.
Para produzir em grande escala, era necessário o uso intenso de trabalhadores – os africanos
escravizados. Os maiores proprietários rurais eram aqueles que possuíam maior número de escravos.
Por isso, na condição de mais ricos da colônia, os maiores proprietários de terra eram aqueles que podiam
comprar mais escravos.
As pessoas que penetravam no interior do território e se mostravam dispostas a enfrentar indígenas e
a desbravar as áreas virgens podiam ocupar um pedaço de terra, no qual podiam produzir a fim de
conseguir a sua posse. Mesmo assim, apesar de ter a posse não contestada da terra, esses colonos não
possuíam a propriedade legal, uma vez que ela só era obtida por meio de uma concessão oficial.
A partir daí, surgiu no Brasil a figura do posseiro – pessoa que ocupa uma área territorial para obter a
sua posse, mas sem ter a sua propriedade. Geralmente, os posseiros eram colonos que não possuíam
capital para comprar escravos e, por isso, tinham uma produção de pequena escala voltada para a
subsistência ou para o abastecimento do mercado interno. Dessa forma, no período colonial, coexistiam
grandes latifúndios de famílias ricas ligadas ao poder local e pequenas propriedades pertencentes aos
camponeses locais.

Surgimento do Trabalho Assalariado e a Lei de Terras


No dia 4 de setembro de 1850 foi assinada a Lei Eusébio de Queirós, que proibia o tráfico de escravos
no Brasil. Apesar de não ter surtido efeito prático imediato, a Lei Eusébio de Queirós foi um marco no
processo de abolição da escravidão no país. Ao criar uma perspectiva de término desse tipo de relação
de trabalho, ela estimulou o surgimento do trabalho assalariado no território brasileiro.
Nesse contexto, a Lei de Terras foi assinada no mesmo mês. Mesmo com a independência do Brasil
e a formação do Estado brasileiro, em 1822, não houve nenhuma política de regulamentação das
propriedades rurais até a criação da Lei de Terras em 1850. Até então, deu-se continuidade ao processo
de obtenção de terras por meio da posse, sem a sua devida documentação.
Além de propor a regularização das propriedades não documentadas no país, a Lei de Terras buscou
criar uma política para regulamentar a apropriação das terras não exploradas. Com ela, estabeleceu-se
que as terras não exploradas passariam a pertencer ao Estado e só poderiam ser adquiridas por meio da
compra – e não mais pela ocupação e exploração do território.
Segundo a Lei de Terras, para realizar esse processo, os posseiros deveriam legalizar as suas terras
em cartórios localizados nas cidades, os quais, na época, eram de difícil acesso para a população rural,
pois não havia facilidades de deslocamentos como hoje em dia. Além disso, a maioria deles não possuía
recursos para pagar taxas de registro e oficializar sua propriedade.
Os proprietários não legalizados (os posseiros) deveriam registra-las em cartórios para regularizar a
sua documentação. Caso contrário, a propriedade da terra não seria reconhecida. Ao definir a compra
como a única forma de obtenção de terras, o Estado excluiu a possibilidade da população pobre como
posseiros, ex. escravos, tornar-se proprietário rural.
Em contrapartida, favorecia a minoria rica do país, que se via em condições de adquirir as maiores e
melhores terras. Isso resultou no monopólio das terras nas mãos de uma minoria a abundância de
trabalhadores livres necessária para substituir futuramente os escravos.
Além de alto número de terras ocupadas sem registro legal, suas demarcações eram feitas de modo
impreciso. Os limites das propriedades, eram, muitas vezes, vagamente definidos por elementos naturais
como rios, quedas d’agua ou morros. Esse cenário foi agravado pelo início de um intenso processo de
apropriação ilegal de terras no país denominado grilagem de terra.
Muitos apropriaram-se das facilidades políticas e dos conhecimentos legais que possuíam para
registrar terras que não lhes pertenciam – fossem elas ocupadas por posseiros, indígenas ou de
propriedade do Estado. Em um contexto no qual a grande maioria da população era analfabeta, os únicos
aptos a produzir tais documentos eram os integrantes da minoria letrada do país.
Em muitos casos, essas terras não foram incorporadas com fins produtivos. Ao se apropriarem delas,
os grileiros tinham como objetivo esperar a sua valorização para, posteriormente, vendê-las a um preço
alto. Devido ao seu caráter excludente com relação à distribuição de terras, a Lei de Terras resultou em
uma estrutura fundiária extremamente desigual e que se perpetua até os dias de hoje no Brasil.

Movimentos Sociais e a Reforma Agrária

A má distribuição de terras foi responsável por uma série de problemas nas zonas rurais brasileiras. A
difusão do processo de grilagem resultou na expulsão forçada de diversos posseiros de suas terras.

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Naturalmente, os posseiros não costumavam aceitar passivamente a expulsão das terras que
ocupavam há anos, ou mesmo há gerações. Os conflitos envolvendo a disputa por terras costumavam
ser resolvidos por meio da intimidação e, principalmente, da violência física.
Outro aspecto relacionado à concentração fundiária no Brasil diz respeito à pobreza no campo. Esse
fenômeno é consequência da existência de uma massa de trabalhadores rurais conhecidos como sem-
terra, que, para sobreviver, dependem de trabalhos com salários significativamente baixos.
Além desse fator, as condições de vida do trabalhador rural são agravadas pelo desenvolvimento
tecnológico no campo. O uso cada vez maior de máquinas reduz a necessidade de contratação de muitos
trabalhadores, o que aumenta o desemprego no campo.

Debate sobre a reforma agrária no Brasil


Os problemas envolvendo a má distribuição de terras motivaram o debate sobre a necessidade ou não
de se fazer uma reforma agrária no país.

Reforma agrária consiste em uma proposta de mudança na política de distribuição de terras, feita
com o objetivo de diminuir ou acabar com a concentração fundiária – e assim reduzir os impactos sociais
negativos acarretados por ela.

A questão da reforma agrária é abordada na atual Constituição brasileira, de 1988. Nela, afirma-se que
as propriedades rurais que não cumprem sua função social, por serem improdutivas, devem ser
desapropriadas pelo Estado e distribuídas para trabalhadores sem-terra.
Com isso espera-se que haja diminuição da desigualdade social no campo e o aumento da
produtividade agrícola no país.
De fato, a concentração de terras pode acarretar em uma menor produtividade, já que, devido às suas
condições econômicas e ao tamanho de suas terras, os pequenos agricultores veem-se obrigados a
produzir o máximo em suas propriedades de modo a garantir a maior renda possível. Em contrapartida,
muitos dos grandes produtores se dão ao luxo de não produzir em toda a área de suas propriedades.
Devido ao caráter mercadológico que a propriedade fundiária adquiriu após a Lei de Terras,
desenvolveu-se no país uma prática de especulação, por meio da qual grandes proprietários mantêm
vastas áreas improdutivas, com o intuito de revende-las quando estiverem valorizadas.
Ao garantir maior produtividade agrícola, a reforma agrária também implicaria no aumento da oferta de
alimentos no país e, com isso, poderia provocar uma diminuição do preço desses produtos. Enquanto a
produção dos latifúndios é voltada para o mercado externo, são os pequenos produtores os responsáveis
pela maior parte do abastecimento de alimentos no mercado interno nacional.

Polêmicas da Reforma Agrária


A vida e a economia no campo brasileiro carregam uma série de contradições. Por um lado, a produção
agrícola para exportação apresenta um alto grau de desenvolvimento tecnológico e uso de mecanização.
Essa atividade também possui grande participação na economia brasileira, sendo responsável por boa
parte das exportações.
Porém, é nas zonas rurais que se encontram as regiões mais pobres do país, onde as condições de
trabalho são as piores. Da mesma forma, existem muitos pequenos produtores que não têm condições
financeiras de desfrutar do desenvolvimento tecnológico nas suas produções, contrastando com os
grandes produtores.
A proposta de reforma agrária implica uma distribuição mais justa das terras que, espera-se, resultar
em um número maior de pessoas empregadas no campo. Como consequência, haveria uma diminuição
significativa do êxodo rural61.
Mesmo assim, apesar do alto número de terras improdutivas no país, pouco se fez pela reforma agrária
ao longo da História brasileira. Obviamente, mesmo com os benefícios sociais que seriam alcançados, as
políticas de distribuição de terras prejudicariam os interesses econômicos de diversos grupos.
Não se pode esquecer de que a exportação agrícola baseada no cultivo em latifúndios ainda é
responsável pela maior parte da economia brasileira. Por isso, alguns grupos defendem que a distribuição
de terras seria prejudicial ao país, pois diminuiria a arrecadação obtida por meio da economia
agroexportadora.
Outra questão polêmica envolvendo a reforma agrária diz respeito aos critérios de classificação do que
seriam terras improdutivas ou que produzem abaixo de sua capacidade. No caso da pecuária, por
exemplo, os defensores da reforma agrária argumentam que existem muitas terras subaproveitadas. De
61
Êxodo rural é o termo pelo qual se designa a migração do campo por seus habitantes, que, em busca de melhores condições de vida, se transferem de
regiões consideradas de menos condições de sustentabilidade a outras, podendo ocorrer de áreas rurais para centros urbanos.

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fato, existe no Brasil um número alto de fazendas em que uma cabeça de gado ocupa, em média, uma
área maior do que um minifúndio ou uma pequena propriedade. Por outro lado, os proprietários alegam
que estão produzindo no local e, por isso, não deveriam perder sua terra.
No Brasil, a desigualdade social no campo está diretamente relacionada à concentração fundiária e,
assim como em outros lugares do mundo, tal desigualdade provocou uma série de mobilizações sociais.
O principal movimento social organizado de camponeses no mundo é a Via Campesina. Essa
organização internacional, criada em 1993, é composta por mais de 170 movimentos sociais ligados à
terra de países da América, Ásia, Europa e África. Entre os seus integrantes estão milhões de
trabalhadores rurais sem-terra, pequenos e médios proprietários, indígenas e migrantes que se opõem
ao agronegócio vigente em muitos países pobres ou emergentes.
Eles defendem o incentivo ao pequeno produtor e a distribuição de terras, de modo a atingir um modelo
de produção socialmente mais justo e menos impactante ao meio ambiente.
No Brasil, os movimentos sociais de luta pela terra foram historicamente combatidos tanto pelo Estado
como pelos grandes proprietários de terra. Esses movimentos abrangem tanto comunidades indígenas
como posseiros e trabalhadores rurais sem terra. Ao longo da história, as disputas por terra no país foram
marcadas pela violência e pela apropriação à força dos territórios.
Alguns dos primeiros expoentes dessa luta no Brasil foram as Ligas Camponesas, criadas pelo Partido
Comunista Brasileiro (PCB). Elas tiveram uma atuação política intensa ao Nordeste durante as décadas
de 1950 e 1960, período em que muitas de suas lideranças foram assassinadas. Com o governo militar
(1964 -1985) a perseguição contra as Ligas Camponesas se intensificou e suas atividades rapidamente
se extinguiram.
Porém, apesar do fim das Ligas Camponesas, a luta pela terra continuou durante o período da ditadura
militar. Nos anos 1970, os principais conflitos ocorreram na Amazônia, entre posseiros, indígenas e
grileiros. Eles se deram, em grande parte, devido às políticas do Estado brasileiro de incentivo ao
desenvolvimento da agropecuária na região, o que motivou o interesse de grandes empreendedores
sobre as terras locais.
Nessa época foram criadas importantes organizações sociais vinculadas à Igreja Católica, como a
Comissão Pastoral da Terra (CPT) e o Conselho Indigenista Missionário (CIMI) – a primeira ligada aos
colonos e posseiros, e a segunda, aos indígenas.
Hoje em dia, a principal organização de camponeses do Brasil é o Movimento dos Trabalhadores
Rurais Sem Terra (MST). Esse movimento social foi criado na década de 1980 e tem como principal
bandeira a luta pela reforma agrária no país.
A principal forma de ação do MST é a ocupação de terras. Essa prática costuma ocorrer em latifúndios
considerados improdutivos ou com histórico de grilagem. Por isso, essas práticas costumam ser mais
intensas na região Norte do país, onde os índices de grilagem e terras improdutivas são maiores.
Ao ocupar as terras, os integrantes do MST constroem acampamentos nas propriedades, podendo se
estabelecer lá por anos até conseguirem sua posse por meio do Estado ou serem expulsos pelos
proprietários.
Além das ocupações, o MST promove outros tipos de ações, como marchas, ocupações de prédios
públicos, acampamentos em cidades e manifestações. Por ser a sede do poder político brasileiro, Brasília
é geralmente escolhida para sediar esses atos.
As ações políticas do MST são alvo de muitas críticas por parte de diversos setores da sociedade
brasileira. A maior parte delas diz respeito às ocupações de terras que o movimento alega serem
improdutivas, condição tal negada pelos proprietários. Por isso, é comum os opositores do movimento
chamarem esses atos de invasões e não de ocupações.
A maior parte dos conflitos relacionados ao MST envolve os proprietários que tiveram suas terras
ocupadas, ou invadidas, e o Estado na busca da garantia e da defesa do direito à propriedade provada.
Esses conflitos costumam ser violentos e muitas vezes resultam em mortes.
Se, por um lado, os movimentos sociais estruturam organizações para reivindicarem seus direitos,
assim o fazem também os fazendeiros, chamados de ruralistas. Desde 1985 eles organizam-se na União
Democrática Ruralista (UDR), associação de fazendeiros que luta pelos direitos da propriedade privada
no campo. As entidades dos movimentos sociais e a UDR opõem-se declaradamente, pois seus objetivos
são conflitantes.

Interdependência entre Campo e Cidade

Muitas vezes, cidade e campo são concebidos como lugares opostos. Assim, a cidade seria o espaço
do desenvolvimento, das tecnologias e da modernização, onde se encontram as infraestruturas mais
modernas e as condições de vida são melhores. Em contrapartida, o campo muitas vezes é idealizado

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como um lugar pouco desenvolvido, onde as infraestruturas e as tecnologias são menos avançadas e as
condições de vida são piores.
Porém, no campo, coexistem a riqueza e a pobreza, bem como a modernização associada ao
desenvolvimento tecnológico. O mesmo ocorre nas cidades, onde é possível notar uma grande
desigualdade social que se reflete nas condições de vida da população e nos tipos de serviços acessíveis
a ela.
Historicamente, zonas urbanas e zonas rurais sempre se relacionaram de alguma forma. Por serem
locais de prática do comércio, é nas cidades que se comercializa a produção agrícola do campo. Por outro
lado, elas dependem das regiões rurais para abastece-las com alimentos e outros tipos de produtos
agrícolas indispensáveis à vida e ao dia a dia das pessoas. Das zonas rurais são obtidas as matérias-
primas utilizadas na fabricação de produtos que são consumidos principalmente pela população urbana.

Áreas Produtivas e as Questões Ambientais

Se, por um lado, a estrutura da produção agropecuária moderna envolve o uso de máquinas e técnicas
com avançadas tecnologias, por outro implica em sérias questões ambientais. O modelo atual explora os
recursos naturais de tal forma que muitas vezes leva-os ao esgotamento.
O desmatamento é uma prática muito comum para a realização da agropecuária. A retirada da
cobertura vegetal resulta em inúmeras consequências: redução da biodiversidade, erosão e redução dos
nutrientes do solo, assoreamento dos corpos hídricos, entre outros.
No caso da pecuária, além da retirada da cobertura vegetal e de sua substituição por pastagens, o
pisoteio do rebanho de animais provoca a compactação dos solos, o que dificulta a infiltração de água no
terreno.
Além do desmatamento, em algumas áreas também é comum a utilização de queimadas, o que pode
trazer inúmeros danos, como a perda de fertilidade do solo.
Outro agravante muito discutido é a utilização de insumos químicos – fertilizantes, inseticidas e
herbicidas, conhecidos como agrotóxicos -, que causam contaminação do solo e das águas.
Os insumos são conduzidos pelas águas da chuva: uma parte penetra no solo, atinge o lençol freático
e o contamina, e outra parte é levada até os mananciais.
Desde 2008, o Brasil é o país que mais usa agrotóxicos no planeta.

Sistemas Agroflorestais
Com o crescimento dos danos ambientais provocados pelo modelo agrícola atual, muitas pessoas vêm
buscando criar e resgatar alternativas de produção de alimentos de forma a gerar menos impactos ao
meio ambiente. Uma dessas alternativas é chamada de agroflorestal.
Um Sistema Agroflorestal, também chamado de SAF, é um tipo de uso da terra no qual se resgata a
forma ancestral de cultivo, combinando árvores com cultivos agrícolas e/ou animais.
A agrofloresta busca utilizar ao máximo todos os recursos naturais disponíveis no local, sem recorrer
a agentes externos, como insumos químicos. Assim, torna-se um sistema extremamente benéfico ao meio
ambiente, além de muito mais barato para o agricultor, já que elimina os gastos com insumos químicos.

Expansão da Fronteira Agrícola


O conceito de fronteira agrícola é utilizado para designar as áreas limítrofes entre o chamado meio
natural e o local onde se praticam atividades agropecuárias.
A tendência dessas áreas é a de se expandir constantemente, acompanhando o ritmo da produção
agrícola.
A expansão da fronteira agrícola traz uma série de mudanças no espaço geográfico, implicando uma
nova organização espacial. São ampliadas infraestruturas de transporte, comunicação e geração de
energia, o que eleva a concentração populacional e impulsiona o desenvolvimento econômico das regiões
em questão.
No Brasil, a partir da década de 1960, houve o avanço da fronteira agrícola para a Região Centro-
Oeste, estimulados pelos projetos do governo federal de ocupação e desenvolvimento do interior do país.
Nesse período, foram oferecidos diversos incentivos, como créditos agrícolas e vendas de lotes de
terra a preços baixos, com o objetivo de atrair agricultores do Sul, Sudeste e Nordeste para a região.
Atualmente, a fronteira agrícola expande-se em direção à Amazônia.
A expansão traz sérios danos ambientais, como o desmatamento e poluição dos solos e dos rios. Além
disso, como a expansão da fronteira agrícola geralmente é baseada na mecanização e na utilização de
insumos químicos, o que agrava o problema da questão fundiária, já que pequenos proprietários rurais
são obrigados a vender suas terras por não terem condições de arcar com os custos da produção.

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Revolução Verde
A partir dos anos 1960, o espaço agrícola brasileiro passou por intensas mudanças, ligadas
principalmente à implantação de novas tecnologias na agropecuária. Essas transformações estão ligadas
a um processo mundial, conhecido como Revolução Verde.
A Revolução Verde iniciou-se na década de 1950, nos Estados Unidos, e consistia na aplicação da
ciência ao desenvolvimento de técnicas agrícolas com o objetivo de aumentar a produtividade da
agricultura e da pecuária.
Nas décadas seguintes, esse conjunto de mudanças foi implantado em vários países, inclusive no
Brasil, com o objetivo de erradicar a fome por meio do aumento na produção de alimentos.
A indústria química desenvolveu os agrotóxicos. Os laboratórios de genética criaram sementes
padronizadas e mais resistentes a doenças, pragas e aos próprios agrotóxicos. A indústria mecânica
desenvolveu tratores, colheitadeiras e outros equipamentos para o plantio, a colheita e a criação de
animais.
Esse conjunto de transformações tinha como objetivo aproximar a agricultura de um padrão industrial
de produção. Portanto, uma das propostas da Revolução Verde era a adoção do mesmo padrão de cultivo
em todos os lugares do mundo, desconsiderando as variações locais das condições naturais, como o
clima ou a fertilidade natural do solo, e as necessidades e possibilidades dos agricultores.
A adoção de monoculturas, largas propriedades de terra destinadas ao cultivo de uma única espécie,
foi outra medida imposta pela Revolução Verde, já que a eficiência dos insumos químicos e do maquinário
dependia da uniformidade do cultivo.
No Brasil, a implantação da Revolução Verde foi estimulada por meio de políticas públicas que
promoviam o financiamento e a assistência técnica aos produtores rurais, oferecendo créditos e
subsídios. Houve um significativo aumento na produção, maior até que o aumento na área plantada. Isso
porque os cultivos tornaram-se mais produtivos.
No entanto, tal processo foi feito às custas de danos ao meio ambiente e de aumento de desemprego
no campo, já que muitos trabalhadores foram substituídos por máquinas.
Esse processo de modernização da agricultura não se deu de forma uniforme e igualitária ao longo do
território brasileiro. Além disso, gerou desemprego e concentração de renda, beneficiando somente os
grandes produtores.

Transgênicos, biotecnologia e agroindústria


Nas áreas onde se implantaram as técnicas agrícolas consideradas modernas, observou-se a
concentração de indústrias de equipamentos agrícolas e de agrotóxicos e também de estabelecimentos
comerciais. Além disso, houve a rápida instalação e expansão das chamadas agroindústrias, que têm
como objetivo transformar gêneros agrícolas e pecuários em produtos industrializados. Por isso,
geralmente, estão localizadas nas proximidades dos lugares onde se produz tais gêneros, o que reduz
significativamente o custo com transporte da matéria-prima.
Com o desenvolvimento e avanço da ciência, novas técnicas foram criadas e incorporadas às práticas
agrícolas. Uma das mais polêmicas é a biotecnologia, o desenvolvimento de técnicas voltadas à
adaptação ou ao aprimoramento de características de organismos vivos, animais e vegetais, visando
torna-los mais produtivos.
Por meio dessas técnicas é possível, por exemplo, cultivar plantas de clima temperado em lugares de
clima tropical, acelerar o ritmo de crescimento de plantas e animais, aumentar o tempo entre o
amadurecimento e a deterioração das frutas, entre tantas outras mudanças.
Em meados da década de 1990, surgiu um novo ramo dentro da biotecnologia, ligado à pesquisa dos
genes dos organismos, o qual gerou um dos campos mais controversos da agricultura moderna: a
produção e manipulação de transgênicos.
Eles são gerados por meio de técnicas que possibilitam a introdução de um gene ou de um grupo de
genes em um organismo. Esses genes podem ser de outra variedade, espécie, gênero, ou até mesmo de
até mesmo de outro reino.
Como por exemplo, a utilização de sementes transgênicas que está atrelada a um pacote tecnológico
que envolve a utilização de maquinários, agroquímicos e monocultura associada a grandes propriedades.
Os agricultores ficam condenados a utilizar esse pacote tecnológico no momento em que adquirem a
semente transgênica, justamente para garantir a sua produtividade.
Essas sementes modificadas são programadas para não se reproduzirem depois de determinada
geração, o que obriga o produtor a adquiri novas sementes constantemente. Além disso, os laboratórios
que desenvolvem tais técnicas fazem parte de grandes conglomerados agroindustriais que se fortalecem
a cada dia. Muitas vezes, os fabricantes de sementes transgênicas são os mesmos que fabricam
agrotóxicos e fertilizantes.

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Não existem estudos conclusivos sobre os impactos dos transgênicos na saúde humana. Depois de
fortes pressões exercidas por movimentos sociais que lutam contra a difusão dos transgênicos, o governo
federal criou uma lei que obriga as agroindústrias a identificar as embalagens dos alimentos que contêm
transgênicos com um símbolo.

Questões

01. (IPERON/RO – Tecnologia da Informação – UERR/2018) O processo denominado de expansão


da fronteira agrícola possui diferentes fases históricas de ocorrência. Atualmente, a expansão da fronteira
agrícola promove diversas consequências, com maior ou menor impacto. Entre as alternativas a seguir,
a que melhor apresenta a principal consequência da expansão da fronteira agrícola é:
(A) ampliação das unidades de conservação ambiental para mais de 70% do território.
(B) diminuição das áreas agrícolas e aumento das áreas urbano-industriais.
(C) degradação ambiental com desmatamento das vegetações naturais.
(D) manutenção permanente das paisagens naturais da floresta amazônica.
(E) substituição da floresta amazônica pelas espécies típicas do cerrado.

02. (IF/MT – Professor de Geografia – UFMT) Sobre a Geografia Agrária, assinale a afirmativa
INCORRETA.
(A) Dentre os agentes que compõem a questão agrária no Brasil, estão os latifundiários, os agricultores
familiares/camponeses.
(B) A Lei de Terras de 1850 possibilitou que o processo de acesso à terra no Brasil fosse facilitado
para os nativos do país.
(C) Dentro dos estudos da geografia agrária na geografia brasileira, muitos se concentram no
Paradigma da Questão Agrária (PQA) e no Paradigma do Capitalismo Agrário (PCA).
(D) A política fundiária brasileira assume que a função social da terra é produzir, portanto, se um
estabelecimento não cumprir essa função, poderá ser desapropriado.

03. (UNESP – Assistente em Engenharia Ambiental – VUNESP) O uso de agrotóxicos, sem dúvida,
foi um dos fatores que contribuiu para o aumento da produção agropecuária por meio do controle de
pragas e doenças. Hoje, porém, discute-se como aumentar a produção agropecuária orgânica, pois o uso
de agrotóxicos
(A) é uma tecnologia ultrapassada, somente utilizada em países subdesenvolvidos.
(B) sempre intoxica os seres humanos que utilizam produtos dessa cadeia alimentar.
(C) pode contribuir para contaminação ambiental em larga escala.
(D) estimula o desenvolvimento de outras metodologias mais caras para produção de alimentos.
(E) melhora a qualidade do solo e garante o aumento no número de empregos nas áreas rurais.

Gabarito

01.C / 02.B / 03.C

Comentários

01. Resposta: C
A expansão traz sérios danos ambientais, como o desmatamento e poluição dos solos e dos rios.

02. Resposta: B
Através da Lei de Terras a terra se transformava em uma mercadoria de alto custo, acessível a uma
pequena parte da população brasileira. Com isso, pessoas com condição financeira inferior, como ex
escravos, imigrantes e trabalhadores livres, tinham grandes dificuldades em obter um lote, legitimando o
desmando e a ampliação de terras dos grandes proprietários.

03. Resposta: C
Um agravante muito discutido é a utilização de agrotóxicos, que causam contaminação do solo e das
águas. Os mesmos são conduzidos pelas águas da chuva: uma parte penetra no solo, atinge o lençol
freático e o contamina, e outra parte é levada até os mananciais.

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BLOCOS ECONÔMICOS62

Os blocos econômicos são associações criadas entre os países, a fim de estabelecer relações
econômicas entre si. Eles surgiram do reflexo da constante competição de economias que estão sempre
buscando o crescimento. Além disso, é um movimento cada vez mais comum no mercado mundial para
aguentar o ritmo acelerado dos países.
Essa união acontece por interesses mútuos e pela possibilidade de crescimento em grupo. Esse
crescimento passou a ser bem visto porque logo se percebeu que, por mais forte que fosse uma
economia, ela não poderia competir de igual para igual com grupos de economias unidas entre si.
Exemplos disso seguem abaixo.

Organização das Nações Unidas (ONU)

Após o fim da Segunda Guerra Mundial, a preocupação com o diálogo entre as nações se intensificou.
Em 24 de outubro de 1945 foi realizada na cidade de São Francisco, nos Estados Unidos, a Conferência
das Nações Unidas para a Organização Internacional, com a participação de 51 governos, na qual foram
discutidos temas como a paz, a segurança e a garantia do desenvolvimento econômico e social. Por fim,
todos os representantes assinaram uma carta ratificando o compromisso de cooperação entre as nações.
Assim nasceu a Organização das Nações Unidas (ONU), que passou a desempenhar um papel
essencial no estabelecimento de acordos e projetos coletivos entre os países, com ações voltadas a
solucionar conflitos e dar assistência à população de regiões envolvidas, assim como promover a
valorização dos direitos humanos. Posteriormente, os países-membros da ONU também se preocuparam
em firmar um documento no qual foram listados os direitos inalienáveis do ser humano, denominado
Declaração Universal dos Direitos Humanos, aprovado em 1948, afirmando a igualdade entre os
indivíduos das mais diferentes etnias e religiões.

O Papel da ONU Hoje


Atualmente, a ONU segue promovendo a multilateralidade de decisões para garantir a soberania das
nações, organizando acordos e projetos coletivos entre os países-membros, que já contabilizam ao todo
193 integrantes. A sede das Nações Unidas fica na cidade de Nova York, e o posto mais alto na
organização é o de secretário-geral, cargo em 2015 ocupado pelo coreano Ban Ki-Moon, que em 2007
substituiu o ganês Kofi Annan.
O atual secretário-geral, António Guterres, assumiu em 2017 o lugar de Ban Ki-moon, que completou
dois mandatos na função.
Dentre os fóruns de discussão competentes destaca-se a Assembleia Geral das Nações Unidas,
que delibera resoluções referentes a temas que incluem paz e segurança internacional, saúde, educação,
desarmamento, preservação dos recursos naturais, entre outros. Dessa assembleia participam todos os
países-membros, que possuem igualdade de voto na hora de determinar resoluções. Porém, o que se
determina na Assembleia não é obrigatório, apenas recomendado.
Já o Conselho de Segurança das Nações Unidas, por sua vez, dedica-se exclusivamente aos
assuntos de segurança e ás ameaças à paz internacional. O que é nele decidido torna-se obrigatório, e
seu cumprimento será exigido por todos os membros da organização. Esse conselho é composto apenas
por quinze membros, dos quais cinco são permanentes – Estados Unidos, China, Rússia, Reino Unido e
França -, e os outros dez são eleitos a cada dois anos para compor as discussões. Os membros
permanentes possuem poder de veto nas deliberações.
As ações principais da ONU no cenário internacional envolvem as chamadas operações de paz, ou
missões de paz, desenvolvidas pela organização para ajudar países devastados por conflitos a criar as
condições para alcançar a paz.
Desde que a primeira operação de paz foi estabelecida em 1948, quando o Conselho de Segurança
autorizou o envio de soldados da ONU para o Oriente Médio com a finalidade de monitorar um acordo
entre Israel e seus vizinhos árabes, mais de sessenta missões desse tipo já foram criadas ao redor do
mundo. Inicialmente, essas missões eram desenvolvidas para lidar com conflitos internacionais; no
entanto, recentemente a ONU tem realizado cada vez mais operações de paz em países assolados por
conflitos internos e guerras civis.
Os soldados da organização, que formam as chamadas tropas de paz, atuam conforme as
deliberações do Conselho de Segurança e podem tanto agir como observadores, proporcionando apoio

62 FURQUIM JUNIOR, Laercio. Geografia cidadã. 1ª edição. São Paulo: AJS, 2015.
MARTINEZ, Rogério. Novo olhar: geografia.1ª edição. São Paulo: FTD, 2013.
MARTINI, Alice de. Geografia. Alice de Martini, Rogata Soares Del Gaudio. 3ª edição. São Paulo: IBEP, 2013.

194
1634532 E-book gerado especialmente para GRAZIELA CRISTINA LEOTE
e segurança essenciais a milhões de pessoas em zonas de conflitos, como também realizar operações
militares, desde que a deliberação em questão permita tal intervenção.

Multilateralismo/Multipolaridade ou Regionalismo

O fortalecimento do multilateralismo comercial ocorrido ao longo das últimas décadas tem sido
acompanhado, paradoxalmente, por um processo de regionalização do espaço, provocado pela tendência
mundial de constituição de grandes blocos econômicos, o que decorre do avanço da globalização.
Embora pareça contraditório, a formação de grandes mercados regionais estabelecidos por meio de
alianças e acordos econômicos e comerciais tornou-se uma necessidade imposta pelo acirramento da
concorrência internacional, gerada pela própria expansão do capitalismo em escala planetária. Com a
formação dos blocos econômicos, os países buscam ampliar a participação no comércio mundial,
sobretudo com o aumento de suas exportações, com vistas a se tornarem mais competitivos. Para tanto,
os acordos comercias e econômicos firmados entre os países (redução ou mesmo eliminação das tarifas
alfandegárias, uniformização de políticas monetárias e financeiras, desburocratização do setor aduaneiro
etc.) procuram facilitar o fluxo e a circulação de mercadorias, serviços e capitais entre os parceiros do
bloco, estratégia que atende às necessidades de acumulação de capital inerentes à expansão das
economias capitalistas.

Formação de Regiões e Blocos Econômicos


[ ... ] o fenômeno da integração verifica-se normalmente em uma dada região. Região [econômica], por
sua vez, pode ser definida como um grupo de Estados situados em uma determinada área geográfica
que gozam de alto grau de interação em comparação com as relações extra regionais, dividem certos
interesses comuns e podem cooperar entre si por meio de organizações que abrangem um número
limitado de participantes. [...]
[ ... ] O surgimento dos blocos econômicos regionais é um dos mais importantes fenômenos da
atualidade. Como foi visto, a formação desses blocos apresenta-se como uma solução, no contexto da
globalização, para o aumento da produtividade e da competitividade dos Estados na economia mundial.
Isso porque garante um aumento do mercado consumidor, propicia economias de escala e possibilita aos
países que dela participam aproveitar a complementaridade de suas economias. [ ... ] MATIAS, Eduardo Felipe
Pérez. A humanidade e suas fronteiras: do Estado soberano à sociedade global. São Paulo: Paz e Terra, 2005. p. 283-290.

Surge, então, uma questão crucial: a formação dos blocos econômicos significaria um retrocesso ou
mesmo uma barreira ao processo de globalização, que poderia levar à formação de um possível mercado
global único? Na opinião de muitos especialistas, em vez de ameaçar ou mesmo colocar em xeque o
processo de integração econômica mundial, o surgimento dos blocos econômicos reforça e amplia as
relações comerciais em âmbito mundial. Isso porque, se as trocas comerciais e os fluxos de capitais no
interior dos blocos aumentaram aceleradamente nas últimas décadas, o comércio e os investimentos
entre os diferentes blocos existentes também vêm se expandindo de maneira significativa com o
estabelecimento de acordos e negociações comerciais entre eles.
Desse modo, observa-se que o aumento do número de blocos econômicos já efetivamente formados
e de outros que estão em processo de consolidação não contradiz, pelo contrário, reforça a própria
globalização ao se inserir como uma das etapas desse processo.

Os Diferentes Tipos de Integração Regional


Os blocos econômicos existentes na atualidade apresentam diferentes níveis de integração, conforme
a intensidade de suas relações e os acordos estabelecidos entre os países-membros. Alguns desses
blocos já se encontram em estágios de integração mais avançados, outros ainda estão em processo inicial
de integração.

Área de livre-comércio: em uma área de livre-comércio, os países eliminam progressivamente as


tarifas alfandegárias para estimular os fluxos de comércio e investimentos entre si. No entanto, cada país
do bloco tem autonomia para conservar sua política tarifária em relação aos países que não pertencem
ao bloco. É o caso, por exemplo, do Nafta, bloco econômico que reúne os Estados Unidos, o Canadá e o
México.

União aduaneira: em uma união aduaneira, além do livre-comércio estabelecido pela eliminação das
barreiras alfandegárias, os países também adotam uma tarifa externa comum (TEC), cobrando os

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1634532 E-book gerado especialmente para GRAZIELA CRISTINA LEOTE
mesmos impostos e taxas alfandegárias sobre os produtos importados de países de fora do bloco. O
Mercosul é um exemplo desse tipo de bloco.

Mercado comum: além do livre-comércio de mercadorias e serviços, o mercado comum também


estabelece a livre movimentação de capitais (investimentos) e de pessoas (trabalhadores) entre os
países-membros. Implica o estabelecimento de coordenações econômicas e a harmonização das
legislações nacionais (trabalhistas, tributárias, previdenciárias etc.). A União Europeia é um exemplo de
mercado comum.

União econômica e monetária: é o estágio mais avançado de integração regional; seu funcionamento
prevê a adoção de uma moeda única e de um Banco Central também único, a criação de instituições
supranacionais (tribunais de justiça e de contas, conselhos de ministros, parlamentos etc.) e a
padronização de políticas econômicas e monetárias necessárias para garantir, entre os países-membros,
níveis compatíveis de inflação, taxas de juros, déficits públicos etc. É o caso da União Europeia.

União Europeia

A União Europeia (UE) foi criada pelo Tratado de Roma, assinado em 25 de março de 1957, e passou
a vigorar em 1º de janeiro de 1958, com o nome de Comunidade Econômica Europeia (CEE). O nome
atual só foi adotado no início da década de 1990.
Os primeiros países integrantes foram França, Alemanha Ocidental, Itália, Bélgica, Países Baixos e
Luxemburgo, grupo chamado “Europa dos Seis”. Desde então, o bloco não parou de se expandir.
Em 2018, além dos 28 membros, havia cinco países candidatos: Albânia, Antiga República Iugoslava
da Macedônia, Montenegro, Sérvia e Turquia.
Os objetivos iniciais da CEE eram recuperar os países-membros, enfraquecidos econômica e
politicamente após a Segunda Guerra, conter a ameaça do comunismo e, ao mesmo tempo, deterá
crescente influência dos Estados Unidos. Esses objetivos foram atingidos gradativamente. Somente em
1986, com a assinatura do Ato Único, acordo que complementou o Tratado de Roma, começou a
instauração do mercado comum. Esse documento definiu objetivos precisos para a integração e
estabeleceu o ano de 1993 para o fim de todas as barreiras à livre circulação de mercadorias, serviços,
capitais e pessoas. Naquele ano, começou a funcionar plenamente o Mercado Comum Europeu, e os três
primeiros objetivos foram postos em prática.
A livre circulação de pessoas começou a valer em 1995, quando entrou em vigor a Convenção de
Schengen, acordo assinado nessa cidade luxemburguesa que prevê a supressão de controle fronteiriço
entre os países signatários. No entanto, nem todos os membros da União Europeia aderiram à Convenção
de Schengen (Reino Unido e Irlanda não fazem parte). Por outro lado, alguns países que não são
membros da UE aderiram a esse acordo de livre circulação de pessoas (Noruega e Suíça fazem parte).
Em 1991, os países-membros do Mercado Comum Europeu assinaram o Tratado de Maastricht, nome
da cidade dos Países Baixos onde se realizou o encontro, por meio do qual foram definidas as etapas
seguintes da integração e mudada a denominação do bloco para União Europeia. Nesse mesmo tratado,
os integrantes do bloco também decidiram adotar uma moeda única, o euro, que começou a circular em
1º de janeiro de 2002.
Assim, a UE tornou-se uma união econômica e monetária cuja moeda passou a ser controlada pelo
Banco Central Europeu, sediado em Frankfurt (Alemanha). Porém, não são todos os países-membros
que fazem parte da chamada zona do euro. Em 2018, dezenove países da UE adotavam a moeda única;
dos nove que não faziam parte da união monetária, dois, Reino Unido e Dinamarca, optaram por manter
suas moedas nacionais, e os sete restantes ainda não tinham preenchido as condições jurídicas e
econômicas exigidas.
A União Europeia é o maior bloco comercial do planeta: em seus domínios estão cinco países da lista
dos dez principais países exportadores, Alemanha, Países Baixos, França, Itália e Reino Unido, mas há
também pequenas economias com um comércio externo reduzido, como Chipre e Malta. Em 2016,
segundo a OMC, o comércio exterior do conjunto dos países da UE atingiu em torno de 5,4 trilhões de
dólares. Entretanto, 64% desse intercâmbio de mercadorias foi intrabloco.

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União Europeia: indicadores socioeconômicos em 2016
Membros População PIB (bilhões de Exportações Importações
(milhões de dólares) (bilhões de (bilhões de
habitantes) dólares) dólares)
28 512 17.024 5.374 5.330

Desde a assinatura do Tratado de Maastricht, o Parlamento europeu se fortaleceu gradativamente.


Esse órgão, sediado em Estrasburgo (França), representa os cidadãos dos Estados-membros: seus
parlamentares são eleitos diretamente e tomam decisões que afetam toda a UE. O número de
representantes é proporcional à população de cada país. Em 2018, de um total de 751 deputados, a
Alemanha, o país mais populoso da UE, com 81 milhões de habitantes, possuía 96 parlamentares; no
outro extremo, Malta, o menos populoso, com 400 mil moradores, possuía seis.
A UE também dispõe de um poder executivo, a Comissão Europeia, que representa o interesse comum
do bloco e tem como principal função pôr em prática as decisões do Conselho e do Parlamento. Sua sede
fica em Bruxelas (Bélgica), considerada a capital da UE. O Conselho da União Europeia representa cada
um dos Estados-membros e é o principal órgão de tomada de decisões no âmbito do bloco.
Em junho de 2016, o Reino Unido da Grã-Bretanha realizou um plebiscito para decidir se permanecia
ou não na UE. A opção pela saída venceu com 52% dos votos, fato que ficou conhecido como Brexit
(junção de Britain e exit).
Em março de 2017, o país notificou o Conselho da União Europeia de sua intenção de deixar o bloco.
A partir daí começaram as negociações entre representantes britânicos e europeus para definir os termos
da saída.

Nafta

A formalização de acordos comerciais entre Estados Unidos, Canadá e México deu origem ao Acordo
de Livre-Comércio da América do Norte, do inglês North America Free Trade Agreement (Nafta), a mais
importante área de livre-comércio das Américas. O bloco entrou efetivamente em vigor em 1º de janeiro
de 1994, quando os países-membros decidiram eliminar aos poucos as barreiras alfandegárias em suas
transações comerciais.
Entre outros motivos, a criação desse bloco Nafta: fluxos comerciais tentaram fazer frente ao
fortalecimento econômico da União Europeia, alcançado graças ao processo de integração ocorrido
naquele continente. Ao contrário do bloco europeu, que caminha para uma integração política e
econômica completa, o Nafta se restringe muito mais a um acordo comercial, não prevendo o avanço
para uma união aduaneira ou um mercado comum.
Seu grande destaque fica por conta da poderosa economia dos Estados Unidos, a maior do mundo,
que responde sozinha por 84% do PIB total do bloco, enquanto a participação das economias canadense
e mexicana representa apenas 10 e 6% respectivamente. Se a pujança econômica dos Estados Unidos
não se compara com a do Canadá e a do México, a formação do Nafta vem consolidando ainda mais a
influência econômica estadunidense em relação aos seus vizinhos.
O impulso alcançado pela economia canadense ao longo do século passado, por exemplo, dependeu
de grandes investimentos e capital estadunidense. Com o Nafta, a economia do Canadá se tornou ainda
mais subordinada aos interesses dos empresários estadunidenses, que detêm o controle acionário de
boa parte das empresas canadenses, inclusive daquelas ligadas aos setores estratégicos ou mais
avançados tecnologicamente (informática, aeroespacial, eletroeletrônicos, química fina). Por isso, alguns
especialistas consideram o território canadense uma extensão da economia dos Estados Unidos.
Já no México, a influência do capital estadunidense se fortaleceu com o avanço das chamadas
maquiladoras - empresas estadunidenses que se instalaram em território mexicano na fronteira com os
Estados Unidos, em cidades como Tijuana, Mexicali e Ciudad Juarez. Entre essas empresas, destaca-se
um grande número de indústrias do setor automobilístico (montadores de automóveis, autopeças,
acessórios), montadoras de produtos eletroeletrônicos e de informática, cuja produção se destina
sobretudo ao abastecimento do gigantesco mercado de consumo estadunidense.

Apec

Criada em 1989, a Cooperação Econômica da Ásia e do Pacífico, do inglês Asia-Pacifíc Economic


Cooperation (Apec), é formada por diversos países do sul, leste e sudeste asiático, da Oceania e também
Hong Kong região administrativa especial chinesa), envolvendo ainda Chile e Peru países que também
possuem acordos comerciais dentro do Nafta).

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Seu objetivo central é a criação de uma grande zona de livre-comércio de mercadorias e de capitais
entre seus membros, prevista para ser concluída até 2020. A integração completa do bloco, entretanto,
terá que superar inúmeros problemas, como as grandes disparidades políticas existentes entre seus
membros. Alguns países, como a China, possuem projetos nacionais de desenvolvimento que não
contribuíram para a abertura completa do seu mercado.
A diminuição das desigualdades socioeconômicas é outro grande problema a ser superado. Ao lado
das duas maiores potências econômicas mundiais (Estados Unidos e Japão) e de nações com os mais
elevados índices de desenvolvimento humano, como o Canadá e a Austrália, a Apec também abrange
países bem menos desenvolvidos socioeconomicamente, como Papua Nova Guiné.
Embora o processo de integração econômica ainda não esteja efetivado, os países da Apec já formam
o bloco economicamente mais dinâmico do mundo. Atualmente, o bloco reúne uma população de mais
de 2,7 bilhões de pessoas, cerca de 39 dos habitantes do planeta, e sua produção econômica soma um
PIB superior a 38 trilhões de dólares, o que equivale a 54 da produção mundial.
Apesar a esses desafios, o processo de construção do bloco já provocou um grande crescimento
econômico, impulsionado pela expansão das trocas comerciais entre os países-membros. Com o
estreitamento de suas relações comerciais, a uma maior complementaridade entre as economias do
bloco. Os recursos minerais e os combustíveis fósseis explorados em abundância na Austrália, por
exemplo, passaram a abastecer o mercado do Japão, que apresenta escassez de matérias-primas
naturais em seu território. Atualmente, cerca de 9% do total das exportações australianas são para o
Japão.

CEI

A Comunidade dos Estados Independentes (CEI) é um bloco econômico regional, constituído, hoje,
por onze países que se formaram com a dissolução da antiga União Soviética (URSS), ocorrida em 1991.
Nesse mesmo ano, com a assinatura do Tratado de Alma-Ata, no Cazaquistão, das 15 repúblicas
soviéticas que formavam a URSS, 12 aderiram à formação do bloco. As exceções foram Estônia, Letônia
e Lituânia, países bálticos que optaram por romper todos os vínculos com os russos, seus opressores
desde a Segunda Grande Guerra. Em 2008, a Geórgia, que até então pertencia ao bloco, se desligou por
motivos políticos.
O propósito principal da CEI era intensificar as relações econômicas e políticas entre os países-
membros que haviam acabado de surgir com o fim da Guerra Fria e do império soviético, acontecimentos
que redesenharam em boa parte as fronteiras territoriais do continente asiático.
Submetidos ao socialismo durante quase todo o século XX, com economias estatizadas e controladas
pelo Estado, os novos países da CEI passaram por um drástico processo de transição para a economia
capitalista de mercado, movida pela acirrada concorrência, pela elevada competitividade e pela
participação do capital privado. Essas mudanças acarretaram uma forte desaceleração da economia,
diante da crise que surgiu com a transição político-econômica, tendo como consequência o aumento do
endividamento externo, do desemprego, da inflação, e a piora de outros indicadores sociais, como o
aumento da pobreza e da concentração da renda, que acompanharam a turbulência econômica.
Apesar dos acordos de integração já realizados entre seus membros, muitas são as dificuldades para
sua consolidação efetiva, como as divergências que marcam as relações políticas e diplomáticas entre a
Rússia e a Ucrânia, dois dos mais importantes países do bloco. Além disso, a CEI tem se caracterizado
pela ocorrência de disputas entre os estados-membros e pelo não cumprimento de acordos
estabelecidos.

SADC

A Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral, do inglês Southern African Develapment


Cammunity (SADC), é o acordo comercial mais importante do continente africano. Criada em 1992 para
assegurar a cooperação econômica na região sul do continente, essa comunidade é formada atualmente
por 14 países-membros.
Do ponto de vista econômico, a África do Sul é o país mais importante do bloco. Com um parque
industrial diversificado, sua produção econômica responde por aproximadamente 62% do PIB total do
bloco. E possui também um dos maiores mercados consumidores da região, formado por uma população
de aproximadamente 50 milhões de pessoas, o que representa cerca de 24 dos habitantes da
comunidade.
Os objetivos da SADC vão muito além da busca do desenvolvimento econômico da região por meio
da criação de um mercado comum, estabelecido por acordos comerciais entre os países parceiros, como

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1634532 E-book gerado especialmente para GRAZIELA CRISTINA LEOTE
a redução e a unificação de tarifas alfandegárias. Para além desses objetivos, o bloco também procura
diminuir a pobreza e melhorar as condições de vida da população; promover o combate à Aids, doença
que se tornou uma epidemia em vários países da região; reafirmar os legados socioculturais africanos;
estabelecer a paz e a cooperação política como forma de evitar a ocorrência de conflitos e guerras civis,
como os que já eclodiram recentemente nessa comunidade.

Outros blocos regionais, menos importantes do ponto de vista econômico, também atuam no
continente africano, entre eles, a Comunidade Econômica e Monetária da África Central (EMCCA, do
inglês Ecanamic and Manetary Cammunity ot Central Africa) e a Comunidade Econômica dos Estados da
África Ocidental (ECOWAS, do inglês Ecanamic Cammunity af West African States). No entanto, os
processos de integração entre os países que os compõem são prejudicados pelas frágeis condições
políticas e socioeconômicas existentes em boa parte do continente: guerras civis, pobreza, fome,
epidemias, baixo nível de industrialização, forte dependência econômica e carência de infraestrutura
básica e produtiva.

ALCA

A Área de Livre Comércio das Américas (ALCA) é um projeto de bloco econômico que reúne países
da América, tanto do sul, central e do norte. É considerado um projeto porque, ao longo das reuniões que
foram feitas pelos países participantes, surgiram discordâncias entre eles e no fim de 2005, as
negociações pararam. A proposta foi feita pelos Estados Unidos, no dia 09 de dezembro de 1994, em
Miami63.
A criação desse bloco não agradou a todos no continente, especialmente os latino-americanos. Os
Estados Unidos foram os idealizadores da ALCA que, se estivesse em vigor, englobaria todos os países
da América, com exceção de Cuba.

Objetivos da ALCA
Um dos principais objetivos da ALCA é a área de livre comércio no espaço americano, cujas taxas
alfandegárias seriam reduzidas. Isso possibilitaria a passagem de mercadorias e a chance de um aumento
significativo de comércio entre os países americanos.

Países-membros da ALCA
Se o bloco entrar em funcionamento, os países participantes serão Antígua e Barbuda, Argentina,
Bahamas, Barbados, Belize, Bolívia, Brasil, Canadá, Chile, Colômbia, Costa Rica, Dominica, El Salvador,
Equador, Estados Unidos, Granada, Guatemala, Guiana, Haiti, Honduras, Jamaica, México, Nicarágua,
Panamá, Paraguai, Peru, República Dominicana, Santa Lúcia, São Cristóvão e Neves, São Vicente e
Granadinas, Suriname, Trinidad e Tobago, Uruguai e Venezuela.

Outros Blocos Econômicos Regionais

Existem ainda vários outros blocos econômicos pelo mundo, cujo objetivo central é a cooperação
comercial entre seus membros; entre eles estão:
• Comunidade Andina (CAN) ou Pacto Andino: criado em 1969, é formado por Bolívia, Peru,
Equador, Colômbia. São membros associados o Brasil, Argentina, Chile, Paraguai e Uruguai.
• Caricom (Comunidade do Caribe): criada em 1973, tem como membros Antígua e Barbuda,
Bahamas, Barbados, Belize, Dominica, Granada, Guiana, Haiti, Jamaica, Montserrat, Santa Lúcia, São
Cristóvão e Névis, São Vicente e Granadinas, Suriname, Trinidad e Tobago, além dos associados
Anguilla, Bermuda, Ilhas Virgens Britânicas, Ilhas Caiman e ifurks e Caicos.
• Asean (Associação das Nações do Sudeste Asiático): criada em 1967, é composta por Brunei,
Camboja, Indonésia, Laos, Malásia, Myanmar, Filipinas, Singapura, Tailândia e Vietnã.
• OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico): é uma organização
internacional e intergovernamental que agrupa o chamado “clube dos países ricos e desenvolvidos”.

63 ALCA. Blocos Econômicos. http://blocos-economicos.info/alca.html.

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1634532 E-book gerado especialmente para GRAZIELA CRISTINA LEOTE
Geoeconomia e Geopolítica da América do Sul

A Integração da América do Sul


Os países que compõem a América do Sul formam um arquipélago caracterizado historicamente pelo
distanciamento. Podemos observar, entre outras coisas, a inexistência de interligação entre os sistemas
de transporte, energia e comunicação, isso sem contar com o desconhecimento cultural e histórico que
temos dos nossos vizinhos.
Isso ocorre por diversos motivos, desde um passado colonial em que a integração não fazia parte dos
objetivos das potências colonizadoras (Portugal e Espanha), até a presença de fatores naturais que
propiciam o isolamento, principalmente a Floresta Amazônica e a Cordilheira dos Andes. Nem o processo
de independência dos países da região ou mesmo os ideais de Simon Bolívar, que pregava a união da
América Latina, acabaram gerando resultados significativos.
A partir da segunda metade do século XX, porém, governos sul-americanos passaram a,
gradualmente, colocar em prática iniciativas que visavam unir os países da região. Entre sucessos e
falhas, a integração da América do Sul começou a ser levada mais a sério, tanto sob o ponto de vista
econômico como também político, social e cultural.

Organizações Intergovernamentais
As organizações intergovernamentais são organizações internacionais compostas por governos para
diferentes fins, entre eles a integração regional. Um exemplo claro desse tipo de organização são os
blocos econômicos, que possibilitam a realização de acordos comerciais visando à redução de tarifas
alfandegárias e ao fluxo livre de mercadorias, entre outros objetivos.
A formação dos blocos econômicos e de outras organizações intergovernamentais no subcontinente
sul-americano se deu a partir da segunda metade do século XX, em uma tentativa de impulsionar a
industrialização e o crescimento econômico dos países da região.
Durante os anos de 1980 e 1990 houve a criação da maioria dos blocos atualmente existentes na
América do Sul, sendo que, no século XXI, o viés ideológico vem ganhando cada vez mais destaque nas
relações entre os países membros desses grupos, após vários governos de esquerda terem ascendido
ao poder, incluindo a Venezuela.

Associação Latino-Americana de Integração (Aladi)


Na década de 1960 foi formada a Associação Latino-Americana de Livre-Comércio (Alalc), que, no
entanto, não durou nem sequer um ano, pois a Argentina e o Brasil ganhavam vantagens em relação a
outros países. A Guerra Fria também colaborou para que os EUA intervissem no continente, manipulando
governos da região de acordo com seus interesses, entre os quais não estava a integração sul-americana.
Em 1980 a Alalc transformou-se na Associação Latino-Americana de Integração (Aladi), cujo
objetivo era impulsionar economicamente a região e desenvolver um mercado comum latino-americano
por meio de acordos comerciais. Atualmente compõem o bloco países de toda a América Latina:
Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Cuba, Equador, México, Paraguai, Peru, Uruguai, Venezuela,
Cuba, Panamá e Nicarágua.

Aliança do Pacífico
Com o objetivo de estabelecer relações mais diretas com áreas estratégicas do comércio internacional,
sobretudo a Ásia (que é atualmente um gigante comercial), alguns países latino-americanos com acesso
ao Oceano Pacífico (Peru, México, Colômbia e Chile) formaram a Aliança do Pacífico, que ainda pode
ganhar como membros Costa Rica e Panamá nos próximos anos.
Acordos já foram firmados entre os países-membros na área comercial e também relacionados à
cooperação científica, por meio do intercâmbio entre pesquisadores de diferentes universidades.
Atualmente, os países que compõem esse bloco são caracterizados por governos neoliberais,
alinhados aos EUA e que possuem economias de poder semelhante, ao contrário do Mercosul, por
exemplo, no qual o Brasil representa uma economia muito superior em relação a outros países-membros.

Alternativa Bolivariana para as Américas (Alba)


Inicialmente proposta pelo ex-presidente venezuelano Hugo Chávez (1954-2013) durante a Cúpula da
Associação de Estados do Caribe, realizada em Cuba no ano de 2001 e criada oficialmente em 2004, a
Alternativa Bolivariana para as Américas (Alba) é a organização com maior viés ideológico entre as
apresentadas, uma vez que se coloca claramente em oposição à política econômica dos EUA para a
região e evoca os ideais de Simon Bolívar.

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Formada por Venezuela, Bolívia, Cuba e Nicarágua, a Alba difere de outras iniciativas que visam à
relação com o comércio exterior, à exportação de commodities e às alianças com outros blocos,
focalizando seus esforços na diminuição das desigualdades sociais, na priorização dos pequenos e
médios empresários, além do desenvolvimento de uma economia solidária.

Mercado Comum do Sul (Mercosul)


O Mercosul (Mercado Comum do Cone Sul) é o mais importante bloco econômico da América Latina,
integrando a economia da Argentina, Brasil, Paraguai, Uruguai e Venezuela como participantes efetivos.
A origem dessa cooperação foi o Tratado de Integração, Cooperação e Desenvolvimento, assinado
entre Brasil e Argentina em 1988, que fixou como meta o estabelecimento de um mercado comum, ao
qual outros países latino-americanos poderiam se unir.
Formado inicialmente pelos países que compõem o Cone-Sul (Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai),
o Mercado Comum do Sul (Mercosul) foi fundado em 1991 através do Tratado de Assunção, realizado
na cidade de mesmo nome, capital do Paraguai.
Em 2012 o grupo ganhou um novo integrante, a Venezuela, e além dos países-membros ainda há a
categoria de países associados (Bolívia, Chile, Colômbia, Equador, Peru). O Paraguai chegou a ser
suspenso do bloco nesse mesmo ano, em função da destituição do então presidente do país, Fernando
Lugo (considerada antidemocrática pelos países-membros), mas a decisão foi revogada em 2013.
Já a Bolívia está em processo de se tornar um novo membro; o México e a Nova Zelândia, por sua
vez, atuam como países observadores, tendo como função fiscalizar as relações internacionais entre os
estados participantes e associados.
Como uma organização intergovernamental de livre-comércio, os países associados compartilham
tarifas alfandegárias em comum e possuem acordos firmados em diversas áreas, permitindo a livre
circulação de pessoas, bens e serviços. Esses acordos, além de facilitarem o comércio, ajudam a
promover o turismo e a cooperação científica.
Além de incrementar as relações entre os países-membros, também é objetivo da associação estreitar
as relações comerciais em conjunto com outros países e blocos, por meio de acordos com a União
Europeia, o Egito, Israel e Paquistão, por exemplo. Em 2014, Dilma Rousseff assumiu a presidência da
entidade, que realiza encontros de chefes de Estado com frequência para tratar de questões políticas,
econômicas e sociais.
Embora a sede da organização se localize em Montevidéu, no Uruguai, o Brasil responde por cerca de
80% do PIB somado dos países do bloco e também pela maior parte das exportações do Mercosul para
o mundo.
A disparidade de poder entre as economias do Brasil e dos outros países que integram o Mercosul
intensificou-se ainda mais em função da crise econômica vivida pela Argentina nos últimos anos e
configura um desafio às negociações comerciais entre os membros do bloco.

O atual estágio do Mercosul é o de união aduaneira, ou seja, os participantes negociam uma


integração comercial mais elevadas mantêm uma tarifa externa (cobrança de taxas alfandegárias) única
para os países de fora do bloco.
Os países da Comunidade Andina e também o Chile são considerados como países associados, com
vistas à integração no Mercosul.

Comunidade Andina de Nações (CAN)


Organização que tem origem no Pacto Andino, firmado em 1969 por países que compartilham a
Cordilheira dos Andes (Bolívia, Colômbia, Equador, Peru, Chile e Venezuela), a Comunidade Andina de
Nações (CAN) ganhou seu nome atual em 1996 e hoje inclui como membros apenas os quatro primeiros
países citados, pois o Chile e a Venezuela saíram do bloco original.
Essa organização caracteriza-se também por possuir tarifas alfandegárias comuns, assim como uma
área de livre-comércio entre os países-membros. Além disso, possui uma estreita relação comercial com
o Mercosul, bloco comercial que pode ser considerado um parceiro econômico.
Atualmente a CAN tem tido suas relações marcadas por embates ideológicos entre os países-
membros, em função principalmente da oposição entre a Colômbia e os demais integrantes do bloco.
Isso ocorre porque a Bolívia, o Equador e o Peru elegeram, nos últimos anos, governo considerados
de esquerda e representados respectivamente pelos presidentes Evo Morales, Rafael Correa e Ollanta
Humala, deixando o presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos (considerado de direita) isolado.

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União de Nações Sul-Americanas (Unasul)
Organização que agrega todos os países sul-americanos, com exceção da Guiana Francesa (por se
tratar de um território ainda dependente da França), a União de Nações Sul-Americanas (Unasul) surgiu
para substituir a Comunidade Sul-Americana de Nações (Casa) e foi criada em 2008 na cidade de Brasília.
Ao contrário dos outros blocos, a Unasul não visa a um mercado comum, pois entende as diferenças
existentes entre os países que conformam a região, e tem como objetivo principal criar um espaço de
interlocução. Ela busca, por exemplo, fazer uma ponte entre o Mercosul e a Aliança do Pacífico, que
possuem políticas e estratégias econômicas muitas vezes antagônicas.
Anualmente são organizadas conferências diplomáticas com todos os presidentes dos países
membros. Chamada de Cúpula Sul-Americana, tal conferência discute as estratégias de integração
comercial do grupo.
Ocasionalmente também são realizados encontros especiais, como um março de 2015, quando o
grupo se reuniu para discutir as sanções econômicas dos EUA sobre a Venezuela e para denunciar uma
tentativa de desestabilização do governo do presidente Nicolás Maduro.
A criação do Conselho de Defesa Sul-Americano, que se configura como uma alternativa regional por
tratar de conflitos geopolíticos, surgiu como uma forma de preservar a paz e a soberania dos países
envolvidos e se destaca como uma das iniciativas mais importantes da Unasul, assim como a iniciativa
de integração da Infraestrutura Regional Sul-Americana (lirsa), que tem como objetivo uma série projetos
de integração física entre os países sul-americanos.

Questões

01. (TJ/PR – Administrador – TJ/PR) Sobre o tema blocos econômicos, assinale a alternativa correta.
(A) A União de Nações Sul-Americanas (UNASUL) é formada pelos doze países da América do Sul. O
tratado constitutivo da organização foi aprovado durante a Reunião Extraordinária de Chefes de Estado
e de Governo, realizada em Brasília. A UNASUL tem-se revelado um instrumento útil para a solução
pacífica de controvérsias regionais e para o fortalecimento da proteção da democracia na América do Sul.
(B) A Associação Latino-Americana de Integração (ALADI) é um bloco comercial latino-americano
criado formalmente no Chile. O bloco agrupa Chile, Colômbia, México e Peru. Em maio de 2013, foi
decidido acolher a Costa Rica como membro pleno.
(C) A Aliança do Pacífico é um bloco comercial com sede nas Filipinas, do qual fazem parte os países
asiáticos e a Oceania, criado para fortalecer o livre comércio entre os países participantes e incrementar
as exportações para outros países.
(D) O Tratado Norte-Americano de Livre Comércio (NAFTA), por ser uma zona de livre comércio,
estabeleceu o fim das barreiras alfandegárias entre Estados Unidos e Canadá.

02. (PC/PI – Perito – NUCEPE) O MERCOSUL, um dos importantes blocos econômicos da atualidade,
teve origem:
(A) nos acordos políticos entre os regimes ditatoriais dos países do “Cone Sul”.
(B) na imposição feita pelos Estados Unidos ao Brasil e ao Uruguai para o estabelecimento de
fronteiras econômicas na América do Sul.
(C) nos acordos comerciais entre Brasil e Argentina, assinados em meados dos anos 1980.
(D) No processo político que acabou com a Guerra Fria e instalou a democracia na Argentina e no
Paraguai
(E) na estruturação de uma Zona de Livre Comércio entre Brasil, Argentina e Chile, com o apoio dos
Estados Unidos e da Inglaterra, no final da década de 1970.

03. (INSS – Analista – CESPE) Acerca de economias regionais e blocos econômicos, julgue o item
abaixo.
A União Europeia, um dos blocos econômicos mais conhecidos, foi oficializada pelo Tratado de
Maastricht.
(....) Certo (....) Errado

04. (TJ/AL – Analista – CESPE) Acerca de blocos econômicos, acordos internacionais e retaliações,
assinale a opção correta.
(A) O Acordo de Livre Comércio da América do Norte (NAFTA) é uma área de livre comércio, pois os
países envolvidos têm tratamento diferenciado, em relação às tarifas de importação, somente entre eles.
(B) Nas áreas de livre comércio, os países integrantes de cada bloco econômico estabelecem, entre
eles, tarifas de importação com alíquotas zero e, em relação a terceiros, tarifas comuns.

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1634532 E-book gerado especialmente para GRAZIELA CRISTINA LEOTE
(C) Em uma união aduaneira, os países envolvidos, além de terem alíquotas diferenciadas entre eles,
estabelecem alíquotas comuns frente a terceiros.
(D) Nos acordos preferenciais de comércio, os países envolvidos estabelecem tarifas comuns aos
produtos oriundos de terceiros.
(E) O Mercado Comum do Sul (MERCOSUL) é considerado um mercado comum por possuir tarifa
externa comum e livre circulação dos fatores de produção.

05. (ABIN – Agente de Inteligência – CESPE) O mercado é a instituição central do processo de


globalização. Um dado fundamental é a evidência de que o mercado se tornou mundial. Isso não quer
dizer que tombaram os muros das fronteiras nacionais ou dos protecionismos, mas que nunca tantos
produtos cruzaram oceanos e continentes. As barreiras estabelecidas pelos blocos nacionais ou pelos
acordos comerciais visam mais normatizar a competição em favor dos interesses comerciais particulares
de cada país do que bloquear essa circulação. É, pois, no mercado e nas expectativas de consumo que
ele propicia que se materialize a globalização. Iná E. Castro. Bertrand do Brasil, 2006, p. 233 (com adaptações).
Tendo em vista o tema da globalização, tratado no texto acima, julgue os itens a seguir.
A globalização econômica produziu a segmentação do espaço econômico mundial, expressa por meio
da formação de blocos econômicos regionais como o MERCOSUL.
(....) Certo (....) Errado

Gabarito

01.A / 02.C / 03.Certo / 04.A / 05.Certo

3) O Espaço Político: formação territorial – território; fronteiras; faixa de


fronteiras; mar territorial e Zona Econômica Exclusiva (ZEE); estrutura político-
administrativa; estados; municípios; distrito federal e territórios federais; a
divisão regional, segundo o IBGE, e os complexos regionais; e políticas
públicas.

REGIÕES BRASILEIRAS64

Introdução

O que é Região?
Provavelmente, você já ouviu alguém referir-se a algum lugar como região. Esse termo aparece
bastante em nosso cotidiano.
Para a Geografia, região é um conceito muito importante e que vem sendo debatido há muitos anos.
Podemos entender região como uma área de determinado território onde se localizam lugares com
características semelhantes, levando em consideração a combinação entre elementos naturais, a
economia e aspectos sociais.
Abaixo seguem as 5 regiões brasileiras e seus principais aspectos:

Região Nordeste

O Nordeste apresenta pontos de elevado dinamismo econômico, tanto no campo quanto nas cidades.
Porém, a elevada concentração fundiária e a persistência de graves problemas sociais representam um
entrave ao desenvolvimento regional.

Obstáculos e Perspectivas
Apesar de não se destacar em grande parte dos indicadores econômicos e sociais, a Região Nordeste
passa por um processo de integração econômica com as outras regiões do país e com o mundo,
apresentando alternativas para o desenvolvimento em diferentes setores.
Se comparados o índice de desenvolvimento humano do Brasil com o dos estados do Nordeste,
observamos que todos eles, apresentam IDH menor que a média nacional, o que evidencia a defasagem
social dessa região em relação ao Brasil.

64 TERRA, Lygia. Conexões: estudos de geografia geral e do Brasil – Lygia Terra; Regina Araújo; Raul Borges Guimarães. 2ª edição. São Paulo: Moderna,
2013.

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Entre os estados nordestinos, a Bahia conta com a maior participação no PIB brasileiro. Sua economia
é diversificada e produz riqueza com atividades da agropecuária, da indústria e de serviços.

Ocupação Territorial
A ocupação do Nordeste ocorreu paralelamente à implantação de atividades econômicas, como a
produção de cana-de-açúcar nas áreas litorâneas e, posteriormente, a agricultura de subsistência no
Agreste e a pecuária do Sertão.
A Região Nordeste é formada por nove estados: Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte,
Paraíba, Pernambuco (incluindo o Distrito Estadual de Fernando de Noronha), Alagoas, Sergipe e Bahia.
Com área de 1.554.257 km², equivalente a 18,25% do país, concentrava, em 2011, 27,77 da população
brasileira, ou seja, 54.226.000 habitantes à época.
Durante os séculos XVI e XVII, a produção de açúcar para exportação sustentou a economia colonial,
baseada no latifúndio monocultor e no sistema escravista. A cana-de-açúcar desenvolveu-se bem nos
solos de massapé presentes no litoral dos atuais estados de Pernambuco e Bahia.
Entre as atividades complementares implementadas na América portuguesa estavam os cultivos de
subsistência e a pecuária. A criação de gado, inicialmente feita na Zona da Mata (litoral), foi empurrada
para o interior (Sertão) de Pernambuco, para o Vale do Rio São Francisco e para os estados do Piauí, do
Ceará e do Maranhão, promovendo a ocupação efetiva dessas áreas.
Nos séculos XVIII e XIX, a descoberta de minerais preciosos no interior do país e a transferência da
capital de Salvador para o Rio de Janeiro (1763), entre outros fatores, acentuaram o declínio da produção
de açúcar e aumentaram os problemas econômicos e sociais da região.
As grandes propriedades rurais sempre foram controladas por latifundiários ou coronéis, como ficaram
conhecidos os grandes fazendeiros nordestinos. Ainda no século XX, a débil economia regional sob o
domínio do coronelismo acentuou a extrema pobreza da população nordestina, em especial a do
sertanejo, habitante das vastas áreas de caatinga. Para a maioria dessa população, castigada pelo
precário desenvolvimento econômico, não restou outra opção senão migrar para outras regiões do país.

O Nordeste Atual: Economia, Recursos Naturais e População


A implantação de polos industriais e de agricultura modernizada vem transformando a economia
nordestina. Porém, apesar dos avanços econômicos, o Nordeste ainda figura abaixo da média nacional
no que diz respeito ao desenvolvimento humano e à qualidade de vida.
A economia nordestina mostrou-se mais dinâmica desde as últimas décadas do século XX. Entre as
razões desse dinamismo estão o desenvolvimento industrial e o avanço dos setores agrário e de serviços.
Com a criação da Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (Sudene) em 1959, o setor
secundário ou industrial do Nordeste recebeu a maior parte dos investimentos. Como consequência,
houve a montagem de importantes e modernos centros industriais. No entanto, apenas uma parcela muito
reduzida da população nordestina foi beneficiada, já que as indústrias se concentraram principalmente
em três estados (Bahia, Pernambuco e Ceará), particularmente nas capitais, com destaque para as de
transformação e de confecções.
Com a política de desconcentração industrial, a partir da década de 1990, os governos estaduais da
Região Nordeste têm investido em infraestrutura e oferecido vantagens, como incentivos fiscais visando
atrair indústrias para seus territórios. Entretanto, a implantação de uma indústria, em geral bastante
automatizada, abre poucos postos de trabalho, quase sempre mais qualificados, além de contribuir com
impostos reduzidos. Assim, apenas algumas empresas transnacionais ou de capital nacional acabam
sendo as mais beneficiadas.
Quanto ao setor agrícola, destacam-se duas importantes monoculturas cultivadas na Zona da Mata;
a cana-de-açúcar, especialmente em Alagoas e Pernambuco, e o cacau, no sul da Bahia.
No Meio-Norte, além da agricultura tradicional (cana, soja, mandioca, arroz) e do extrativismo
vegetal (babaçu, carnaúba), têm crescido as plantações de soja no sul dos estados do Maranhão e do
Piauí – cultivo que se estende até o sertão, chegando ao oeste da Bahia.
No Sertão, caracterizado pelo clima semiárido, solos pedregosos e vegetação de caatinga, subsiste a
agricultura tradicional cultivada nos vales mais úmidos e nas encostas e pés de serras. Milho, arroz, feijão,
mandioca, algodão e cana-de-açúcar são as principais culturas.
A fruticultura irrigada do Nordeste adquire cada vez mais importância não apenas no mercado
interno, mas também para a exportação. É desenvolvida no Vale do Rio São Francisco (uva, manga), no
Vale do Rio Açu no Rio Grande do Norte (melão, manga) e no Sertão do Ceará (acerola, melão). A maior
região produtora de melão no país localiza-se no polo Açu/Mossoró, no Rio Grande do Norte, e o polo
Petrolina/Juazeiro firmou-se como grande exportador de manga, banana, coco, uva, goiaba, melão e
pinha.

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Mão de obra barata e disponível, preços atrativos das terras e a localização da Região Nordeste em
relação à Europa e aos Estados Unidos (reduzindo o tempo e o custo de transporte) conferem vantagens
à fruticultura na região. O desenvolvimento de tecnologias (criação de variedades de frutas, produção
integrada, produção de mudas sadias, entre outras) e o aperfeiçoamento de técnicas de irrigação foram
essenciais para o crescimento da atividade.
Na pecuária predomina a criação de animais de pequeno porte como asininos (jumentos, mulas e
burros), caprinos (cabras), ovinos (ovelhas) e suínos (porcos). A criação de bovinos (bois),
tradicionalmente desenvolvida no Sertão de forma extensiva, vem crescendo também em áreas do
Agreste próximas ao Sertão, com solos de baixa fertilidade e pouca umidade, e em áreas do Maranhão.
A pecuária leiteira, na modalidade extensiva e voltada para o abastecimento da Zona da Mata, é praticada
no Agreste.
No Agreste ainda se desenvolve a policultura comercial para o abastecimento da Zona da Mata, em
médias e pequenas propriedades. É praticada em solos férteis com boas condições de umidade, na
fronteira com a Zona da Mata.
O turismo desenvolvido a partir das potencialidades naturais é outra atividade econômica de grande
importância para a região.

Turismo Garante Expansão Regional


“No ranking das dez cidades mais visitadas do Brasil por estrangeiros em 2008, o Nordeste emplacou
três capitais. Salvador, Recife e Fortaleza ocuparam o terceiro, o sexto e sétimo postos, respectivamente,
na escolha dos visitantes internacionais. À sua maneira, com sol, praias e características culturais
diferenciadas, a região contribuiu para que o país se tornasse o sétimo maior destino mundial dos turistas
estrangeiros no ano de 2012 – e o mais movimentado ponto de desembarque de visitantes com origem
na América Latina, desbancando o México. [...] A multiplicação dos voos regulares entre capitais como
Salvador e Recife – no ano 2000 havia apenas uma linha regular – e diferentes pontos da Europa e dos
Estados Unidos contribuiu de maneira decisiva para o incremento do fluxo de turistas estrangeiros. Os
desembarques internacionais na região cresceram 11,9% em 2008 em relação ao ano anterior. O maior
volume de chegadas de estrangeiros teve um reflexo direto na elevação das taxas de emprego no setor
de turismo na região, com um aumento de 5,7% no mesmo período”. (ROCHA, M.; DAMIANI, M. Turismo garante expansão
regional. O Estado de São Paulo, São Paulo, 10 dezembro 2009).

O Nordeste conta com diversos parques nacionais, entre eles o da Serra da Capivara (PI), com grande
concentração de sítios arqueológicos e pinturas rupestres, o Parque Nacional Marinho de Fernando de
Noronha (Distrito Estadual de Pernambuco) e o Parque Nacional da Chapada Diamantina (BA). Entre os
eventos culturais que atraem turistas estão o carnaval (com destaque para Salvador, Olinda e Recife), as
festas juninas (Caruaru, Campina Grande, etc.), as danças e comidas típicas e o artesanato (rendas,
cerâmicas) da região.
A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), ligada à ONU,
instituiu uma lista de sítios e monumentos de valor excepcional e de interesse universal, que integram o
Patrimônio Mundial, Cultural e Natural da Humanidade. O objetivo é a preservação desses sítios para
as gerações futuras. A Região Nordeste abriga grande número de Patrimônios Culturais e Naturais da
Humanidade, como o centro histórico de Olinda (PE), de São Luís (MA) e de Salvador (BA), com o
Pelourinho, além dos sítios arqueológicos de São Raimundo Nonato no Parque Nacional da Capivara
(PI).
Em relação aos recursos naturais, o Rio Grande do Norte se sobressai como o maior produtor de sal
marinho do país. Destacam-se também o petróleo e o gás natural, extraídos no Ceará, Sergipe, Rio
Grande do Norte e na Bahia.

Indicadores Sociais e Urbanização


A Região Nordeste ainda responde pelos índices de qualidade de vida mais baixos do país. Problemas
sociais como elevadas taxas de mortalidade infantil e de analfabetismo, baixos salários, grande
concentração de renda e terras também alcançaram números que superam os de outras regiões.
Em 2009, 6,8% das crianças de 7 a 14 anos de idade não sabiam ler e escrever no país. No Nordeste,
esse percentual chegava a 11,8%. A média de anos de estudo da população de 15 anos ou mais de
idade, naquele mesmo ano, era mais baixa no Nordeste, de 6,3 anos, enquanto no Sudeste chegava a
8,2 anos. Cerca de 36,3% dos núcleos familiares nordestinos tinham rendimento de até meio salário
mínimo per capita, contra apenas 12,2% no Sudeste.

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De povoamento antigo, a Zona da Mata continua sendo a sub-região mais importante do Nordeste,
concentrando seis capitais e a maior parte da população. Salvador e Recife são as principais cidades,
destacando-se ainda como áreas industriais.

As Sub-Regiões Geoeconômicas
Considerando os aspectos econômicos, é possível identificar sete sub-regiões no Nordeste brasileiro.
Em cada uma delas, existem polos de intensa modernização, que convivem com as atividades
econômicas tradicionais:

Litoral - concentra cerca da metade da maior parte da população e abriga os três maiores polos
urbano-industriais nordestinos: Salvador, Recife e Fortaleza. Na Grande Salvador, o destaque é o Polo
Petroquímico de Camaçari, principal complexo industrial do Nordeste, que integra o refino de petróleo, a
petroquímica básica e intermediária e a produção de resinas. A Grande Recife, por sua vez, abriga o
Porto Digital, principal polo tecnológico do Nordeste, e o Complexo Industrial-Portuário de Suape,
instalado na década de 1970, com cerca de 100 empresas e no qual se encontram em implantação uma
refinaria de petróleo, uma siderúrgica e um grande estaleiro. Em Fortaleza, destacam-se as indústrias
intensivas em mão de obra, tais como a têxtil e a de calçados, e o Complexo Industrial e Portuário do
Pecém, inaugurado em 2002 e concebido para receber indústrias de base tais como a Companhia
Siderúrgica do Pecém, um consórcio entre a brasileira Vale e duas empresas coreanas, em implantação.

Pré-Amazônia - inserida apenas no Maranhão, essa região geoeconômica apresenta predomínio de


atividades agrícolas tradicionais, marcadas pela baixa produtividade. Entretanto, nos últimos anos, a
região vem registrando aumento da área dedicada ao cultivo de grãos, em especial soja e milho, bem
como uma intensa atividade de exploração madeireira.

Parnaíba - abriga o polo de Teresina, maior aglomeração industrial interiorizada do Nordeste, com
destaque para as indústrias têxtil, de alimentos, de cerâmica e madeireira.

Sertão - embora haja a predominância da pecuária e da agricultura tradicionais, abriga polos industriais
modernos, tais como o setor calçadista em Sobral e Crato, no Sertão cearense, e o polo gesseiro do
Araripe, no Sertão pernambucano.

Agreste - o dinamismo econômico da sub-região vem crescendo com a implantação de indústrias


têxteis, de calçados e de confecções, especialmente em Campina Grande (PB), Caruaru (PE) e Feira de
Santana (BA), e pelo aumento da produtividade das bacias leiteiras, instaladas em Pernambuco e
Alagoas.

São Francisco - destaque para as práticas de fruticultura irrigada, especialmente nos polos geminados
de Petrolina (PE) e Juazeiro (BA).

Cerrado - sub-região de intenso crescimento econômico, devido à implantação da agroindústria da


soja, do milho e do algodão. Alguns de seus centros urbanos, tais como Barreiras (BA), Luis Eduardo
Magalhães (BA) e Balsas (MA), vêm apresentando grande crescimento econômico, graças à instalação
de modernas indústrias de beneficiamento, produzindo principalmente óleo e farelo. A maior parte da
produção destina-se à exportação e é escoada pelas ferrovias Norte-Sul e Carajás até o porto de Itaqui
(MA).

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Nordeste: sub-regiões geoeconômicas

Região Sudeste

Grande parte do território da Região Sudeste é dominada por formações planálticas, com destaque
para os Planaltos e Serras do Atlântico Leste-Sudeste, constituídos pelos cinturões orogênicos, e
os Planaltos da Bacia Sedimentar no Paraná.
O surguimento da Placa Tectônica Sul-Americana, entre o final do Período Cretáceo e o início do
Paleógeno, movimentou antigas linhas de falha e provocou a formação de escarpas acentuadas com
elevadas altitudes, como as da Serra da Mantiqueira e da Serra do Mar. Assim, com exceção dos picos
do Maciço das Guianas, no extremo norte do país, é no Espírito Santo, Rio de Janeiro e Minas Gerais
que se encontram os pontos mais altos do Brasil. Em 2004, o IBGE, em parceria com o Instituto Militar de
Engenharia (IME), revisou as altitudes desses pontos, utilizando recursos mais modernos de sistema de
navegação e posicionamento por satélites.
A Serra do Espinhaço corta Minas Gerais desde as proximidades de Belo Horizonte até o Vale do
Rio São Francisco, podendo ser subdividida em dois compartimentos de planaltos: o planalto meridional
e o planalto setentrional, ricos em minérios (ferro, bauxita, ouro). Em 2005, a Unesco reconheceu esse
conjunto de planaltos da Serra do Espinhaço como Reserva da Biosfera, pela diversidade ambienta e
histórica do local. Além de integrar pontos culturais importantes como Congonhas, Ouro Preto e
Diamantina, é o divisor de águas entre as bacias hidrográficas do São Francisco, Doce e Jequitinhonha,
e apresenta a biodiversidade florística mas risca dos campos rupestres do planeta.
A superfície do Planalto Atlântico foi bastante desgastada pelos processos erosivos, formando um
relevo dominante de morros com topos convexos, denominados mares de morros. Entre os Planaltos e
as Chapadas da Bacia Sedimentar do Paraná e o Planalto Atlântico, encontram-se as depressões
periféricas, superfícies bastante erodidas entre o Paleógeno e o Quaternário (há cerca de 70 milhões de
anos). Nesses compartimentos do relevo da Região Sudeste, os terrenos apresentam altitudes menores,
sendo delimitados pelos Planaltos Sedimentares da Bacia do Paraná por escarpas denominadas frentes
de cuestas.
Do norte do Espírito Santo ao sul do Estado de São Paulo, há um conjunto diversificado de ambientes
costeiros. Nesse trecho do litoral brasileiro, de formação cenozoica, existem inúmeras restingas, baías
e ilhas costeiras. Entre as primeiras, destacam-se as de Marambaia e Cabo Frio, ambas localizadas no
litoral do Rio de Janeiro. Entre as baías, as mais conhecidas são as de Guanabara (RJ), Parati (RJ),
Vitória (ES), Angra dos Reis (RJ) e Santos (SP).
O clima tropical predomina na Região Sudeste. No oeste paulista, parte do Triângulo Mineiro e na
porção centro-norte de Minas Gerais, o padrão climático tropical apresenta duas estações bem
demarcadas, com o verão muito chuvoso e o inverno seco. Na faixa litorânea, o volume e a frequência
das chuvas são maiores. Ao contrário, no norte de Minas Gerais, as chuvas são escassas e irregulares.

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O clima tropical de altitude abrange as regiões serranas de São Paulo, Rio de Janeiro e sul de Minas
Gerais. Por fim, o clima subtropical ocorre no extremo meridional do território paulista, ao sul do Trópico
de Capricórnio.
Originalmente, a mata tropical era a cobertura de vegetação dominante no Sudeste, refletindo o
padrão climático regional. Na depressão periférica e nas regiões mineiras com a estação seca mais
acentuada, predominavam os cerrados. Tanto a Mata Atlântica como o Cerrado foram amplamente
devastados no processo de formação territorial da Região Sudeste.

População e Dinâmica Espacial


O Sudeste é a região mais populosa do Brasil. Em 2011, contava com mais de 82 milhões de
habitantes, o que representava 42% do total da população brasileira. No entanto, esse contingente
populacional está desigualmente distribuído pelo território. São Paulo concentrava 41,3 milhões, Minas
Gerais, 19,6 milhões e o Rio de Janeiro, quase 16 milhões de pessoas. Entre esses estados mais
populosos, o Rio de Janeiro possuía a maior densidade demográfica (365,23 hab./km²), seguido por São
Paulo (166,25 hab./km²). Ainda que a densidade demográfica média, na época, era de apenas 86,92
habitantes por km², as regiões litorâneas são mais densamente povoadas, podendo atingir 10 mil
habitantes por km² nas maiores cidades.
A partir de 1940, São Paulo tornou-se o estado mais povoado do Brasil. Esse crescimento foi povoado
pelos fluxos internos de migrantes em busca de trabalho, sobretudo do Nordeste. Na década de 1970,
os migrantes foram responsáveis por mais de 40% do crescimento demográfico do estado.
Além disso, houve também grande mobilidade populacional entre os estados da própria região. Entre
2005 e 2010, mais de 500 mil pessoas de Minas Gerais se deslocaram em direção a São Paulo, um
contingente superior aos migrantes da Bahia, que representaram 21% dos fluxos de chegada, cerca de
230 mil pessoas. Apesar do registro de fluxos de regresso de São Paulo para os estados de origem, entre
2005 e 2010 São Paulo registrou saldo migratório positivo, indicando que o território paulista ainda exerce
atração da população migrante. Nesse intervalo, São Paulo foi o Estado que recebeu o maior número de
migrantes (1,1 milhão), seguido do Rio de Janeiro (270 mil). Entretanto, a participação no componente
migratório no crescimento da população do estado vem perdendo intensidade desde a década de 2000.
Entre as regiões brasileiras, a Sudeste foi a primeira a se tornar majoritariamente urbana e é também
a que apresenta a maior taxa de urbanização. Enquanto o cruzamento das curvas de crescimento das
populações rural e urbana no Brasil ocorreu na década de 1960, essa reversão de proporcionalidade no
Sudeste ocorreu já nos anos 1950.

Região Norte

Desafios Estratégicos
O desenvolvimento socioeconômico da Região Norte é uma questão nacional estratégica que se
relaciona com a exploração dos recursos da Amazônia brasileira. A região, que conta com mais de 15,8
milhões de habitantes, que produzem 5,3% do PIB brasileiro, ainda é defasada em muitos indicadores
sociais.
Referente ao conflito entre o modelo de desenvolvimento econômico da Região Norte e a preservação
ambiental, observa-se que ao mesmo tempo que as atividades agropecuária e mineradora contribuem
para a geração de riqueza na Amazônia, causam degradação ambiental de grandes áreas de floresta.
Quanto à distribuição da população da Região Norte, ela se concentra, sobretudo, nas capitais dos
dois maiores estados da região: Belém e Manaus. A ocupação mais efetiva de Rondônia, de Tocantins e
da porção leste do Pará denota o avanço da atividade agropecuária sobre a Floresta Amazônica.
A região amazônica pertence a sete países, além do Brasil. A construção de diversos eixos rodoviários
garantiu a articulação da região ao território nacional.

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Evolução do desmatamento na Amazônia Legal (1988-2016)

http://www.inpe.br/noticias/arquivos/imagens/img02_291116.jpg.

A Conquista da Amazônia
Colonizada inicialmente pelos espanhóis e cobiçada por ingleses, franceses e holandeses, a bacia
amazônica foi ocupada pelos portugueses, o que garantiu a posse ao Império brasileiro.

Com cerca de 7,8 milhões de km² que abrangem oito países - Brasil, Peru, Bolívia, Equador, Colômbia,
Venezuela, Guiana e Suriname - e a Guiana Francesa, a Amazônia Internacional é uma região natural
formada pela floresta equatorial e por seus ecossistemas associados. A maior parte dessa área, marcada
pelos climas quentes e úmidos, está assentada no interior da bacia fluvial amazônica.
Com exceção da Guiana Francesa, departamento da França, os outros países firmaram em 1978 o
Tratado de Cooperação Amazônica (TCA), cujas metas são a cooperação científica, a preservação
ambiental, o uso racional dos recursos hídricos e o desenvolvimento regional. O Brasil ocupa um papel
de destaque nas políticas do TCA, pois abriga mais de 64% região.
No sentido político, porém, a Amazônia começou a se configurar antes mesmo da independência
desses países, quando a região passou a ser explorada pelas Coroas de Espanha e de Portugal.

Amazônia Internacional

http://2.bp.blogspot.com/-pqRZs_1PEjo/VqZlvt5749I/AAAAAAAACnI/acPXCXEwenE/s1600/amazonia-legal-brasileira-regiao-norte-2.jpg.

Na Amazônia Internacional há outros países com percentual maior de superfície territorial coberta pela
Floresta Amazônica, como o Peru, a Guiana e o Suriname. Porém, o Brasil detém a maior parte do bioma
amazônico.

A Amazônia Internacional – Porção do bioma amazônico em cada país (% da superfície)

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A Amazônia Internacional – Repartição do bioma amazônico entre os países (em %)

A Ocupação Portuguesa
Nos termos do Tratado de Tordesilhas (1494), grande parte da Bacia Amazônica pertencia à Coroa
espanhola. Em 1541, uma expedição comandada pelo espanhol Gonzalo Pizarro, irmão do conquistador
do Império Inca, Francisco Pizarro, partiu de Quito em busca dos lugares lendários que supostamente
havia nessas terras florestadas: o "País da Canela", onde a especiaria brotava em abundância, e o "EI
Dorado", com suas enormes jazidas de ouro.
Ninguém sabe ao certo quantas pessoas integraram essa expedição, mas estima-se que ela contava
com algumas centenas de soldados espanhóis e milhares de indígenas, muitos dos quais padeceram de
fome e de frio na travessia da Cordilheira dos Andes.
Em algum ponto da viagem, quando os expedicionários já estavam bastante debilitados, Gonzalo
encarregou um grupo, liderado por seu primo Francisco de Orellana, de seguir pelo rio em busca de
alimentos.
Entretanto, em vez de retornar com as provisões, o grupo de Orellana prosseguiu no curso do rio que
hoje chamamos de Amazonas, viajando nove meses até alcançar a foz, em agosto de 1542.
O diário de viagem do frei Gaspar de Carvajal, um dos integrantes do grupo, é o primeiro relato de uma
jornada completa pelo Rio Amazonas, dos Andes até o Oceano Atlântico. Apesar de seu valor histórico,
o diário não é um documento confiável, já que o frei se esforça em ressaltar os percalços enfrentados
durante a viagem para justificar o descumprimento da ordem de regressar o mais rápido possível, levando
alimentos para a expedição de Pizarro. A descrição do terrível combate travado com as guerreiras
amazonas, que lutavam com a força comparada à de muitos homens e exerciam o poder sobre diversas
tribos indígenas, reforça o caráter fantasioso do documento.
Nos anos seguintes, diversas outras expedições comandadas pelos espanhóis percorreram trechos
da Bacia Amazônica, sempre animadas pela busca de tesouros. Porém, o interesse pela região logo seria
ofuscado pela descoberta das imensas jazidas de prata na região de Potosí (atual Bolívia), que atraiu
grande parte dos exploradores e aventureiros espanhóis.
Enquanto isso, franceses, ingleses e holandeses, inimigos tradicionais dos espanhóis, estabeleciam
feitorias no baixo curso do Rio Amazonas.
Durante a União Ibérica (1580-1640), período no qual Portugal e Espanha formaram uma única
monarquia, os portugueses começaram a se estabelecer na foz do Amazonas. No início do século XVII,
as expedições pelo Amazonas tornaram-se oficiais. Partiam da foz e eram organizadas para expulsar
holandeses e ingleses, senhores de muitas feitorias ao longo do curso dos rios, e impedir o contrabando
de produtos nativos, como madeira e pescado.
Com o fim da União Ibérica, a Coroa portuguesa intensificou a ocupação militarizada da região,
erguendo uma rede de fortificações lusitanas ao longo da calha central do Rio Amazonas. Entre eles,
destaca-se o Forte de São José do Rio Negro, criado em 1668, em torno do qual surgiu o arraial de Lugar
da Barra, mais tarde elevado à categoria de vila e, depois, de cidade, com o nome de Barra do Rio Negro.
Em 1856, a cidade foi rebatizada e passou a se chamar Manaus, em homenagem aos índios da etnia
manaó.
Para preservar a hegemonia na região, a Coroa ainda estimulou a ação das missões religiosas, que
utilizavam a mão de obra indígena na coleta das "drogas do sertão" e na produção de alimentos.
No entanto, foi em meados do século XVIII que o Império Português de fato consolidou sua soberania
na área, criando o estado do Grão-Pará, com capital em Belém. Na nova estrutura política e
administrativa, o Grão-Pará, marcado pelas baixas densidades demográficas e pelo extrativismo, passou
a ser uma unidade distinta de Estado do Brasil.
Com a independência do Brasil em 1822, o estado do Grão-Pará foi dissolvido e tornou-se parte do
Império Brasileiro, cujo poder administrativo concentrava-se no Rio de Janeiro. No entanto, dada a

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precariedade das suas redes de transporte e comunicações, a região permaneceu durante muito tempo
isolada do centro político e econômico do país.

A Conquista da Fronteira Interna


O empreendimento de conquista e incorporação efetiva da vasta porção setentrional do Brasil teve
início após a Revolução de 1930, marcada pela centralização do poder, e prosseguiu nas décadas
seguintes, quando a Amazônia Legal se tornou uma região de planejamento.
As políticas que orientaram essa conquista geraram um conflito entre dois tipos de ocupação do espaço
regional. O povoamento tradicional, em grande parte herdeiro das atividades missionárias, marcado
pelo extrativismo e pela agricultura de excedente, consistiu numa ocupação linear e ribeirinha, assentada
na circulação fluvial e na rede natural de rios e igarapés: a "Amazônia dos rios". O novo povoamento
seguia a trajetória dos eixos de circulação viária, na qual eram implantados núcleos urbanos e projetos
florestais, agropecuários e minerais; é a chamada "Amazônia das estradas".
O conflito entre o modo de ocupação tradicional e o moderno, representado pelos eixos viários,
expressou-se na tensão social que envolveu índios, posseiros e grileiros. Até os dias atuais, as disputas
por terra configuram um "arco de violência" nos municípios da Amazônia Legal.
De outro lado, a conquista da Amazônia resultou na modificação antrópica das paisagens e na
degradação progressiva dos ecossistemas naturais. Um "arco da devastação" demarca as áreas de
ocupação recente do Grande Norte. Nos estados de Tocantins, Pará e Maranhão, a devastação antrópica
atinge formações do Cerrado, da Floresta Amazônica e da Mata dos Cocais. No Mato Grosso e Rondônia,
manifesta-se com intensidade no Cerrado, na Floresta Amazônica e nas largas faixas de transição entre
esses domínios.

Focos de calor na Amazônia – 2000/2010

Os focos de calor marcam a ocorrência das queimadas que abrem os terrenos para as atividades
agropastoris ou minerais, resultando em um arco de devastação dos ecossistemas amazônicos.

Os Novos Eixos de Integração e a Ocupação do Espaço Amazônico


A construção de rodovias foi fundamental para a inserção da região amazônica nos fluxos e circuitos
econômicos nacionais. Belém e Manaus são os dois centros urbanos que polarizam a rede urbana
regional.

As políticas voltadas para a conquista integraram a Amazônia às dinâmicas territoriais nacionais. Esse
processo se realizou por meio de dois vetores.
Um primeiro vetor estruturou-se originalmente na década de 1960, em torno do eixo viário da Belém-
Brasília. Nas décadas seguintes, a exploração dos minérios da Serra de Carajás, a implantação da E. F.
Carajás e do Porto de Itaqui e a construção da hidrelétrica de Tucuruí reforçaram esse vetor, estendendo-
o até São Luís (MA).
Uma vasta mancha de povoamento, nucleada por áreas de intensa modificação das paisagens
naturais, desdobrou-se de sul a norte no estado de Tocantins e avançou pelas porções meridional e
oriental do Pará e por todo o oeste maranhense.
Um segundo vetor estruturou-se a partir da década de 1970, em torno do segmento sul da Cuiabá-
Santarém (BR-163) e da Brasília-Acre (BR-364). Portanto, a integração viária com o Centro-Oeste

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ocorre através de Rondônia, até Rio Branco, no Acre. Ao longo desse eixo aparecem as principais áreas
de desflorestamento, associadas à expansão da fronteira agrícola.
No norte de Mato Grosso e em Rondônia, a colonização agrícola impulsionada por migrantes do
Centro-Sul originou dezenas de novos núcleos urbanos. Ao mesmo tempo, a criação e consolidação da
Zona Franca de Manaus (ZFM) transformava a capital amazonense em importante centro industrial e
reforçava seus vínculos externos com os capitais e mercados do Centro-Sul.

Os Novos Caminhos para Manaus


Na década de 1980, a ocupação intensiva de Roraima foi facilitada pela pavimentação da rodovia
Manaus-Boa Vista (BR-174), que atravessa a fronteira setentrional do país, interligando-se às rodovias
da Venezuela. Ao longo do seu eixo, na porção central de Roraima e nas proximidades de Manaus,
surgiram em poucos anos largas faixas de devastação. A construção dessa estrada e a concomitante
implantação do imenso reservatório da hidrelétrica de Balbina desfiguraram a reserva indígena Waimiri-
Atroari, localizada no vale do Rio Jauaperi, a oriente do Rio Branco. A BR-174 foi a primeira rodovia
pavimentada a alcançar Manaus, que até então só podia ser atingida por via fluvial ou aérea.
O novo eixo destina-se a projetar a influência da ZFM para os países vizinhos. A produção industrial
do enclave amazonense é parcialmente responsável pelo superávit do Brasil nas trocas comerciais
realizadas com a Venezuela e pode impulsionar os fluxos de comércio do país com as economias centro-
americanas.
No entanto, o isolamento físico do enclave de Manaus está sendo rompido em outra direção. O projeto
de pavimentação da Porto Velho-Manaus (BR-319) pretende conectar a metrópole da Amazônia
Ocidental e o vetor de ocupação estabelecido em Rondônia. Com a Hidrovia do Madeira, essa estrada
tem como objetivo consolidar um corredor de exportação para os produtos agrícolas de Rondônia e Mato
Grosso, através do Rio Amazonas.
O eixo em implantação pode acarretar, porém, nova frente de devastação da Floresta Amazônica. A
fronteira agrícola de Rondônia já se moveu até Humaitá, no sudoeste do Amazonas, primeira cidade
alcançada pela pavimentação da BR-319. Em torno da cidade, uma larga mancha de desflorestamento
assinala a abertura da floresta para a exploração da madeira, acompanhada pelo avanço da
agropecuária.

Os Impactos da BR-319
"Se por um lado a construção e a pavimentação de estradas na Amazônia geram benefícios na forma
de redução de custos de transportes, por outro lado impulsionam o desmatamento, os conflitos sociais e
a ilegalidade. A eficiência econômica e os efeitos diversos dos projetos precisam ser identificados e
instrumentos que garantam uma distribuição mais equânime de custos e benefícios entre os atores
afetados precisam ser implantados.
Neste estudo, utilizamos a análise custo-benefício para avaliar a eficiência econômica do projeto de
recuperação do principal segmento da Rodovia BR-319, localizado entre os quilômetros 250,00 e 655,70,
no estado do Amazonas, de forma a contribuir com a discussão dessas questões. Este trecho encontra-
se fortemente deteriorado e virtualmente intransitável desde 1986.
Planeja-se sua recuperação dentro do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) do Governo
Federal.
[...] As obras aqui analisadas, com custo de implantação de cerca de 557 milhões de reais, incluem a
recuperação e a pavimentação da rodovia e a construção de quatro novas pontes entre Manaus e Porto
Velho, o que viabilizará o tráfego continuado entre Manaus e o resto do país.
A análise [...] demonstra que o projeto é inviável economicamente, gerando prejuízos de cerca de 316
milhões de reais, ou 33 centavos de benefícios para cada real de custos, em valores atuais. Isso significa
que para que o projeto alcance viabilidade econômica, os benefícios brutos estimados teriam de ser
multiplicados por três. [...]
Modelagens recentes indicam que o projeto provocará forte desmatamento no Interflúvio Madeira-
Purus, com a perda de importantes recursos naturais ainda em excelente estado de conservação, caso
políticas eficazes de contenção do desmatamento não sejam implantadas. Estimamos que o custo
econômico parcial do desmatamento [...] poderia alcançar aproximadamente 1,9 bilhão de reais, em
valores atuais. Destes, 1,4 bilhão corresponderia ao efeito negativo do projeto sobre as mudanças
climáticas globais, valor muito superior aos benefícios brutos gerados pelo projeto, de 153 milhões de
reais." FLECK. Leonardo C. Eficiência econômica, riscos e custos ambientais da reconstrução da rodovia BR-319. Lagoa Santa: Conservação Estratégica, 2009.
p. 19-20.

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Redes Urbanas Regionais
Enquanto a Amazônia se integrava ao Centro-Sul, a rede urbana regional tornava-se mais complexa
e diferenciada. Nesse processo, a influência vasta e difusa de Belém sobre todo o espaço amazônico
desvanecia-se, em razão da emergência de Manaus.
Na última década, configurou-se uma situação de dupla polarização, na qual se desenham esferas
de influência distintas das metrópoles do Amazonas.
Durante a década de 1970, com a fronteira agrícola avançando em Mato Grosso e em Rondônia,
ocorreu o acelerado desenvolvimento de Porto Velho e, em grau menor, dos núcleos instalados junto à
rodovia, como Vilhena, Cacoal, Ji-Paraná e Ariquemes.
Na década seguinte, a fronteira agrícola moveu-se até o sul do Acre, acompanhando o trecho
pavimentado da BR-364. Nas áreas das cidades de Xapuri e Brasileia, as atividades madeireiras
avançaram sobre os seringais, provocando conflitos e impulsionando a organização dos seringueiros.

Cenários Futuros: Entre a Devastação e a Tecnologia


Para romper o ciclo de devastação e desigualdade social será preciso o desenvolvimento de políticas
territoriais que valorizem as comunidades locais e a preservação da biodiversidade.
As políticas territoriais amazônicas implementadas pela ditadura militar nortearam-se pela meta
geopolítica de “conquista” da Amazônia. O planejamento regional elaborado nesse contexto
fundamentou-se num conceito distorcido de desenvolvimento, que estimula a acumulação de capital por
grandes empresas e o uso predatório dos recursos naturais. Os largos e extensos corredores de
devastação ambiental e as vastas manchas de desflorestamento, assim como a poluição de rios e
igarapés pelos subprodutos do garimpo, são resultado das opções de planejamento adotadas nesse
período.
As políticas amazônicas dissociaram a noção de desenvolvimento de seu conteúdo social. A abertura
de rodovias de integração e a implantação de grandes projetos geraram intensos fluxos migratórios para
a Amazônia, além do esvaziamento demográfico de várzeas e igarapés. A exclusão social se materializa
nas periferias das cidades médias, nos povoados miseráveis nascidos junto a empreendimentos minerais
e florestais e no surgimento de populações itinerantes, que vagueiam à procura de escassas
oportunidades de trabalho.
O novo ciclo de obras rodoviárias na Amazônia, especialmente a Cuiabá-Santarém (BR-163) e a
Porto Velho-Manaus (BR-319), visa estabelecer a ligação entre Manaus e Porto Velho, mas ameaçava
reproduzir, em escala ampliada, os desastres sociais e ambientais do ciclo anterior. A alternativa consistia
em redefinir o sentido do planejamento regional, priorizando o desenvolvimento social e a valorização dos
ecossistemas naturais. A geração de empregos e a exploração sustentável dos recursos naturais são as
metas a serem perseguidas por um planejamento regional renovado.

Um Zoneamento Econômico e Ecológico


O planejamento regional da Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia (Sudam) baseou-
se em estudos de pequena escala, inadequados para a definição das realidades sociais e vocações
ecológicas de áreas de médias e pequenas dimensões. Contudo, um planejamento regional voltado para
o desenvolvimento sustentável não pode abrir mão do reconhecimento dessas áreas e suas
peculiaridades. Atualmente, as imagens de satélite e as técnicas de cartografia computadorizada
fornecem os meios necessários para a elaboração de estudos em média e grande escala, produzindo um
zoneamento econômico e ecológico do imenso espaço amazônico.
A "conquista" da Amazônia deixou como herança um mosaico complexo, no qual vastas áreas de
paisagens naturais quase intactas intercalam-se com zonas de garimpo, grandes projetos e corredores
de devastação. Um zoneamento econômico e ecológico destina-se a elucidar a organização desse
mosaico, criando bases para a seleção de políticas específicas para cada área.
Um passo inicial consistiria em distinguir os espaços de preservação (reservas indígenas e unidades
de proteção ambiental) dos espaços disponíveis para a valorização econômica, e cartografá-Ios nas
escalas adequadas. Um segundo passo consistiria no planejamento das modalidades de uso do solo, das
instalações de infraestrutura viária e energética e no desenvolvimento urbano dos espaços disponíveis.
O incentivo ao aproveitamento econômico da biodiversidade também pode proporcionar vantagens
econômicas. Os produtos naturais da floresta encontraram novas e sofisticadas aplicações nas indústrias
farmacêutica, de cosméticos e de alimentos. Além disso, as universidades e os institutos científicos da
Amazônia pesquisam técnicas adequadas para o cultivo de espécies como a seringueira e a castanheira.
Esses projetos experimentais sugerem caminhos para a elaboração de modelos agrícolas a serem
implantados em áreas degradadas dos corredores de ocupação.

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Desmatamento causado pelo garimpo de diamantes na reserva indígena Roosevelt, em Vilhena (RO, 2007)

Transporte de carga na BR-155, no trecho que liga Marabá e Eldorado dos Carajás (PA, 2013)

Região Sul

Herdeira de uma padrão de colonização baseado em pequenas propriedades voltadas para os


mercados internos, a Região Sul atualmente se destaca na produção industrial e agrícola e apresenta
indicadores sociais acima da média nacional.
Quanto à distribuição populacional, a Região Sul é a mais homogênea do país devido à área reduzida
dessa região e à sua ocupação em pequenas propriedades com produções diversificadas, o que pode
ser relacionado com o processo de ocupação e desenvolvimento de núcleos populacionais no interior dos
estados.
Referente à distribuição de renda, a Região Sul apresenta uma distribuição menos desigual que a
média do Brasil. Enquanto a parcela da população com rendimento mensal de até um salário mínimo é
5,8% menor que a nacional, os percentuais das outras classes de rendimento dessa região são maiores
do que os brasileiros.

Diversificação Econômica
A diversificação em diferentes setores econômicos acarretou transformações sociais na Região Sul. A
modernização da agricultura e o fortalecimento da agroindústria aceleraram o êxodo rural, aumentando a
migração para outros estrados e a ocupação de áreas urbanas.
Por ser a população bem distribuída no território, a estrutura fundiária é a menos desigual do pais. As
terras parceladas em pequenas propriedades são características da agricultura familiar.
Em 2011, mais de 2,7 milhões de pessoas trabalhavam na indústria, compondo na Região Sul o maior
percentual regional de trabalhadores nessa atividade.
Embora se destaquem as indústrias têxtil e alimentícia na Região Sul, o segundo maior polo industrial
automobilístico brasileiro foi implantado na década de 1990 na Região Metropolitana de Curitiba.

Região Sul: Domínios Naturais


Entre os aspectos naturais da Região Sul destacam-se o clima subtropical, o relevo
predominantemente planáltico e a presença de formações vegetais características, como a Mata das
Araucárias e as pradarias.
A Região Sul é formada pelos estados do Paraná, Rio Grande do Sul e Santa Catarina. A região faz
fronteira com três países sul-americanos: a oeste com Paraguai e Argentina, e ao sul com Uruguai. Em
2011, a população da região chegava a 27.875.000 habitantes, ou seja, 14,27% da população do país.

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O clima subtropical predomina na região. No inverno, as baixas temperaturas que ocorrem
principalmente nas áreas serranas e planálticas provocam geadas e até neve. Regiões litorâneas e com
menores altitudes, como os vales dos rios Paraná e Uruguai, apresentam temperaturas elevadas no
verão. No norte do Paraná aparece o clima tropical.
Nos três estados da Região Sul predominam os planaltos recobertos originalmente pela Mata das
Araucárias. Os Planaltos e Chapadas da Bacia do Paraná se estendem a oeste do Paraná até o Rio
Grande do Sul, os Planaltos e Serras do Atlântico Leste-Sudeste, a leste, e o Planalto Sul-Rio-
Grandense, no extremo sul. No centro, aparece a Depressão Periférica da Borda Leste da Bacia do
Paraná, e mais ao sul a Depressão Periférica Sul-Rio-Grandense. No litoral do Rio Grande do Sul
predomina a Planície da Lagoa dos Patos e Mirim.
Ao longo do litoral, os planaltos da Região Sul apresentam escarpas de altitudes mais elevadas: a
Serra do Mar e a Serra Geral. No sudoeste do Rio Grande do Sul destaca-se a Campanha Gaúcha, com
relevo de coxilhas (levemente ondulado) coberto por campos limpos. Essa unidade de relevo é parte
brasileira da vasta planície platina, o Pampa, que abrange também o Uruguai e a Argentina. Nessas
áreas, aprecem os banhados, ecossistemas úmidos ricos em espécies animais e vegetais.

Região Sul – unidades da federação

http://files.planetagaia.webnode.com/200000586-08de109d58/mapa-regiao-sul.jpg.

Grande parte dos rios da Região Sul pertence à Bacia Platina, formada pelos rios Paraná, Paraguai
e Uruguai e afluentes. O Rio Uruguai nasce em território brasileiro, da fusão dos rios Canoas (SC) e
Pelotas (RS), e serve de divisa entre Santa Catarina e Rio Grande do Sul, Brasil e Argentina, e Uruguai
e Argentina, desaguando no Estuário do Prata. O Rio Paraná, segunda maior bacia fluvial em área e
potencial hidrelétrico do Brasil, oferece condições de navegabilidade. A Hidrovia Tietê-Paraná tornou-se
um importante sistema de transporte, aproximando o Brasil dos seus parceiros do Mercosul.
Outro problema ambiental que ocorre em áreas do sudoeste do Rio Grande do Sul é o processo de
arenização dos solos, ou seja, o aumento dos depósitos arenosos, dificultando a fixação da vegetação.
Em área subtropical úmida, onde o processo ocorre, a água e os ventos têm importante papel na
mobilidade dos sedimentos.
As enxurradas provocam erosão e os ventos dispersam a areia, formando dunas e expandindo o
processo.
A substituição da vegetação nativa dos pampas e pela pecuária extensiva ou agricultura comercial
explica a degradação dos solos na região. A arenização atinge quase 4 mil hectares, em áreas dos
municípios de Alegrete, São Francisco de Assis, Santana do Livramento, Rosário do Sul, Uruguaiana,
Quaraí, Santiago, Itaqui, Maçambará, Manoel Viana, São Borja, Unistalda e Cacequi.
No oeste do estado do Paraná, na fronteira com a Argentina, o Parque Nacional do Iguaçu, criado
em 1934 e tombado pela Unesco como patrimônio da humanidade em 1986. Constitui uma grande reserva
florestal e inclui parte da cabia hidrográfica do Rio Iguaçu, que percorre todo o estado do Paraná, e as
Cataratas do Iguaçu.

Ocupação Territorial
Iniciada pelos portugueses no século XVII, a colonização da Região Sul ganhou impulso no século
XIX, quando de estabeleceram os principais núcleos de povoamento fundados pr imigrantes europeus.
O território que hoje pertence aos estados da Região Sul inicialmente não fazia parte da América
portuguesa, tendo ficado fora dos limites estabelecidos pelo Tratado de Tordesilhas. Expedições
exploradoras haviam percorrido a costa no século XVI, mas somente no século XVII começaram as
atividades colonizadoras na região.

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Com o domínio espanhol sobre Portugal (1580-1640), o Tratado de Tordesilhas perdeu sua validade,
uma vez que todas as terras pertenciam ao monarca espanhol. Colonos portugueses então se
estabeleceram em territórios espanhóis, adquirindo para Portugal soberania sobre essas áreas. Jesuítas
ultrapassaram a linha de Tordesilhas ao sul, fundando missões em áreas da campanha gaúcha, onde
índios aldeados criavam gado - trazido dos territórios que formaram o Uruguai e a Argentina - e plantavam
erva-mate. Outros povoados também foram fundados, como o de Nossa Senhora do Desterro, atual
Florianópolis.
Ainda no século XVII, os bandeirantes pau listas iniciaram o apresamento dos índios aldeados nas
missões - que se destinavam à sua proteção e catequese - para vendê-las às capitanias luso-espanholas,
produtoras de açúcar.
Com a expulsão dos holandeses do Nordeste (1654), o tráfico negreiro voltou a abastecer os
engenhos. No entanto, quando o domínio espanhol chegou ao fim, as missões estavam praticamente
destruí das; o gado, solto, começou a se reproduzir nos campos do sul. Tropeiros paulistas, índios
aldeados e pessoas errantes passaram então a se dedicar à caça do gado selvagem e ao comércio de
couro.
Com a descoberta de ouro e o desenvolvimento das minas gerais durante o século XVIII, os tropeiros
desenvolveram um novo negócio: caçavam os animais, reuniam estes em currais e os transportavam até
as áreas mineradoras.
À Coroa portuguesa, porém, interessava garantir a posse das terras do sul. Para isso, na metade do
século XVIII, Portugal enviou casais de açorianos ao território do atual Rio Grande do Sul e de Santa
Catarina, especialmente para a faixa litorânea, com o objetivo de povoar a região. Lotes de terras também
foram doados a tropeiros, que, além de se fixar na área, deram início à criação do gado em grandes
estâncias - atividade que se transformaria numa das mais importantes do atual Rio Grande do Sul.
No século XIX, surgiram diversos núcleos de povoamento na Região Sul. Em 1808, famílias de
açorianos fundaram a cidade de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. Os primeiros imigrantes alemães se
dirigiram para a atual cidade de São Leopoldo, no vale do Rio dos Sinos, em 1824. Os italianos chegaram
a partir de 1875 e foram assentados em Caxias do Sul, Bento Gonçalves e Garibaldi.
Em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul, os alemães formaram colônias de povoamento baseadas
no cultivo de trigo e da policultura, ao passo que os italianos dedicaram-se ao cultivo da uva. No Paraná,
imigrantes eslavos voltaram-se para o extrativismo de madeira. Estavam lançadas as raízes de uma
economia rural diversificada, baseada na policultura e no trabalho familiar.

Região Sul: Dinâmicas Econômicas


Na Região Sul, os ramos industriais que mais se desenvolveram utilizam como matéria-prima os
produtos da agropecuária. Porto Alegre e Curitiba, porém, destacam-se pela diversidade de seus parques
industriais, que incluem também os setores metalúrgico e automobilístico.
No século XVIII, teve início uma das primeiras e mais importantes atividades econômicas da Região
Sul- a pecuária. Preocupada em garantir a posse das terras na área, evitando o avanço espanhol, a Coroa
portuguesa passou a distribuir lotes de terras aos tropeiros, permitindo que os rebanhos soltos, quase
dizimados pela caça e venda na região mineradora, passassem a ser criados em grandes estâncias, de
forma extensiva, espalhando-se pelo território do atual Rio Grande do Sul. Formava-se, assim, uma classe
de grandes pecuaristas, que comercializavam charque ou carne-seca.
Na região do atual Paraná, a extração das folhas dos arbustos de erva-mate teve início ainda no século
XVII, e aos poucos se transformou em uma das principais atividades econômicas da Região Sul. Na
segunda metade do século XIX, foi a vez do café. As primeiras fazendas já ocupavam o norte paranaense
quando agricultores mineiros e paulistas levaram mudas para a região.
No século XX, a Região Sul modernizou-se seguindo o contexto brasileiro e mundial, mas de acordo
com características próprias resultantes da base econômica, social e cultural construída durante os
períodos colonial, imperial e republicano, com importantes contribuições dos imigrantes. Nas áreas
urbanas o artesanato familiar evoluiu para a moderna e diversificada atividade industrial. Nas áreas rurais,
as pequenas e médias propriedades familiares se expandiram. Como resultado, a Região Sul apresenta
indicadores sociais favoráveis em relação a outras regiões brasileiras. Em 2010, dados do IBGE
indicavam menor taxa de analfabetismo das pessoas de 15 anos ou mais (5,5%), as menores taxas de
mortalidade infantil (15,10%) e a mais alta esperança de vida ao nascer (75,2 anos). Observe a tabela.

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Agropecuária
Em 2012, o Paraná respondia por 19.1 da produção agrícola nacional; o Rio Grande do Sul estava em
terceiro lugar, com 12.1, e Santa Catarina, em nono lugar, com 3,6. No que diz respeito à produção de
cereais, leguminosas e oleaginosas, o Sul perde apenas para o Centro-Oeste.
Na Região Sul, a produção agropecuária pode estar associada à indústria: é o caso da cultura da uva
à fabricação de vinhos, do cultivo do milho à criação de frangos e porcos ou da pecuária leiteira às usinas
de leite e fábricas de laticínios.
A modernização da agropecuária tem provocado mudanças na estrutura agrária em toda a Região Sul,
com o aumento da concentração fundiária e dos movimentos de luta pela terra, a partir da década de
1980. Pequenos proprietários e trabalhadores rurais perderam suas terras e trabalho, tendo como
consequência o aumento de boias-frias e de migrações para as cidades, para outras regiões ou mesmo
para outros países, como o Paraguai.
Nas pastagens naturais da Região Sul desenvolve-se a pecuária extensiva de corte, geralmente em
grandes propriedades e com poucos trabalhadores.

Indústria e Tecnologia
Os ramos industriais na Região Sul evoluíram inicialmente graças às matérias-primas fornecidas pela
agropecuária - couro e calçados (pecuária), móveis (pinho), têxteis (algodão) e bebidas (uva, mate).
O maior centro industrial da Região Sul é Porto Alegre. Bastante diversificado, conta com indústrias
alimentícias, de fiação e tecelagem, de produtos minerais não metálicos, siderúrgicas, mecânicas, de
material eletrônico, químicas, de couros e de bebidas. Rio Grande, Pelotas e Caxias do Sul destacam-se
nos setores de alimentos, tecidos, móveis e calçados. O complexo metal mecânico desenvolveu-se em
Gravataí, Canoas, Guaíba e Cachoeirinha. São Leopoldo e Novo Hamburgo são importantes pelos da
cadeia produtiva de artigos de couro. Em São Leopoldo está se formando um importante polo de
informática. A indústria automobilística ganhou força com a instalação de uma grande fábrica em Gravataí,
na Grande Porto Alegre, em 2000.
No Rio Grande do Sul, as aglomerações industriais se caracterizam por empresas que inovam e
diferenciam produtos, ou seja, a dinâmica industrial nessa região é influenciada por empresas de maior
conteúdo tecnológico.
Pequenas e médias empresas têm se destacado na busca de alternativas competitivas.
O setor industrial de Santa Catarina também é muito importante; porém, ao contrário das outras
capitais de estado no Brasil, a cidade de Florianópolis não ocupa o primeiro lugar na economia do estado.
Essa posição cabe a Joinville, município mais populoso no norte catarinense, importante polo metal
mecânico, além de centro de serviços. Com grandes empresas dos setores metal mecânico, químico,
plástico e têxtil, tornou-se um dos mais dinâmicos polos industriais do sul do país.
No Vale do Itajaí, onde se situam as cidades de Brusque, Blumenau, Pomerode, entre outras,
estabeleceu-se um dos mais importantes parques têxteis do país, a partir de pequenas unidades fabris
dos imigrantes europeus, sobretudo alemães. Blumenau destaca-se também por desenvolver um polo
tecnológico. No eixo Chapecó-Seara-Concórdia, a produção industrial voltou-se para o setor alimentício
de processamento de produtos suínos e avícolas.
Apresentam ainda índice de industrialização alto os municípios de Criciúma, Lages e Joaçaba. A
estrutura portuária concentra-se nos portos de Itajaí, Imbituba e São Francisco do Sul.
Curitiba é o segundo maior centro industrial da Região Sul, com destaque para os estabelecimentos
do setor mecânico e, mais recentemente, para as indústrias de ponta geradoras de maior valor agregado.
Em 1999, uma importante montadora de carros alemã instalou-se na região de São José dos Pinhais

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1634532 E-book gerado especialmente para GRAZIELA CRISTINA LEOTE
(área metropolitana de Curitiba); em seguida, estabeleceram-se uma americana e outra francesa,
consolidando um polo automobilístico na região.

Turismo e Integração
Com paisagens variadas e os invernos mais rigorosos do país, a Região Sul atrai grande número de
turistas. Cidades com características europeias, como Canela e Gramado, ou centros produtores de
vinho, como Bento 'Gonçalves e Caxias do Sul, são lugares procurados pela culinária e atrativos culturais
no Rio Grande do Sul.
Durante o verão, os litorais de Santa Catarina e do Paraná recebem muitos turistas estrangeiros.
Tradições e festas típicas são eventos que tornam concorridos lugares como Blumenau, onde se realiza,
em outubro, a festa da cerveja, chamada Oktoberfest, de origem alemã.
No Rio Grande do Sul, as ruínas das povoações jesuítas do século XVII, em São Borja e São Migue
das Missões, foram transformadas pela Unesco em patrimônio da humanidade. Em Ponta Grossa, no
Paraná, o Parque Estadual de Vila Velha apresenta interessantes formações rochosas esculpidas pela
erosão causada pelas chuvas e pelos ventos.
Todos os estados da Região Sul contam com zonas de fronteira, ou seja, faixas territoriais localizadas
de cada lado de um limite internacional. Nas zonas de fronteira desenvolveram-se diversas cidades
cortadas por limites internacionais. Essas cidades-gêmeas geralmente apresentam grande fluxo de
pessoas e mercadorias e integração econômica e cultural.

Oktoberfest em Blumenau (SC, 2010). A festa teve origem em Munique (Alemanha) no início do século XIX, e hoje é celebrada também em diversos municípios de
Rio Grande do Sul, Paraná e Santa Catarina.

Região Centro-Oeste

O Meio Natural e os Impactos Ambientais


A Região Centro-oeste é formada pelos estados de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás e pelo
Distrito Federal, ocupando cerca de 18% do território e abrigando pouco mais que 7% da população do
país.
O clima tropical é predominante na Região Centro-oeste, caracterizado por estação bem seca no
inverno e outra chuvosa no verão. O norte da região está’ sob influência do clima equatorial úmido e da
massa equatorial continental.
No extremo sul da região as frentes frias da massa polar atlântica causam instabilidades no inverno e
queda da temperatura, ocasionando as friagens, quando a temperatura pode cair bastante. No verão, as
temperaturas são mais elevadas, com máximas oscilando entre 30ºC e 40ºC.
O Cerrado predomina na Região Centro-Oeste. Em seu limite oeste, localiza-se o Pantanal, enquanto
o limite norte caracteriza-se pela presença da Floresta Amazônica; ao sul ocorrem remanescentes da
Mata Atlântica.
O Cerrado apresenta grande biodiversidade. Na vegetação, encontram-se formações florestais (mata
ciliar, mata seca e cerradão), formações savânicas (cerrado no sentido restrito, arque de cerrado,
palmeiral e vereda) e campestres (campo sujo, campo limpo e campo rupestre).
Variações do tipo de solo e nas formas de relevo explicam essas diferenças: a mata galeria, por
exemplo, formada por espécies arbóreas, ocorre nas margens de rios, em vales úmidos.
Nas últimas décadas, a expansão rápida e intensiva da agropecuária tem provocado a destruição de
matas ciliares e de reservas permanentes do Cerrado. Na região das nascentes do Rio Araguaia, por
exemplo, a erosão provoca voçorocas (erosões profundas que atingem o lençol freático). O
assoreamento dos rios e a poluição dos aquíferos também são problemas comuns no Cerrado.

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1634532 E-book gerado especialmente para GRAZIELA CRISTINA LEOTE
Iniciativas importantes do Governo Federal, como o Programa Nacional de Conservação e Uso
Sustentável do Bioma Cerrado e o Programa Cerrado Sustentável buscam promover a conservação,
a recuperação e o manejo sustentável desse bioma, além de incentivar a valorização e o reconhecimento
das populações tradicionais. Entretanto, isso não tem sido suficientes para conter a devastação.
Quatro bacias hidrográficas drenam a Região Centro-oeste: Amazônica (Rio Xingu e afluentes do
Amazonas), do Paraguai, do Tocantins-Araguaia e Platina (rios Paraná e Uruguai).
O relevo do Centro-Oeste é predominantemente planáltico.
Nele, destacam-se os Planaltos e Serras de Goiás-Minas, os Planaltos e Chapadas dos Parecis, os
Planaltos e Chapadas da Bacia do Paraná e as Serras Residuais do Alto Paraguai. Entre os Planaltos,
estão encaixadas depressões como a Marginal sul-amazônica, e do Alto Paraguai-Guaporé e a do
Araguaia.

O Pantanal
A planície do Pantanal Mato-Grossense e a do Rio Guaporé localizam-se a oeste da região. O
Pantanal é uma planícies sujeita a inundações sazonais, em decorrência da pequena declividade de seu
relevo e do padrão de drenagem da bacia do Rio Paraguai. A vegetação é mista (cerrados, florestas,
campos, charcos inundáveis e ambientes aquáticos), e mais de mil espécies animais, incluindo cerca de
650 tipos de aves aquáticas, vivem na região.
No Pantanal, a expansão da agropecuária e as queimadas acarretaram a supressão de parte da
vegetação e a contaminação dos corpos d’água por agrotóxicos. Além disso, o pantanal recebe os rejeitos
da atividade mineradora de exploração de diamantes e de ouro, especialmente o mercúrio, altamente
poluente. Diversos programas e políticas ambientais têm sido desenvolvidos pelo governo federal para
proteger o bioma, prevendo o manejo correto de bacias hidrográficas, saneamento e apoio ao produtor.
A Floresta Amazônica se estende pela metade norte do estado do Mato Grosso, e se encontra bastante
ameaçada por desmatamentos e queimadas. A expansão da fronteira agropecuária nessa área, para
plantio ou criação de gado, atinge áreas de conservação ambiental e provoca erosão e assoreamento
nos rios.

Ocupação Territorial e Dinâmicas Econômicas


Originalmente, os territórios que hoje compõem a Região Centro-Oeste eram habitados por diversos
agrupamentos indígenas, especialmente os bororo. Nos termos do Tratado de Tordesilhas, assinado
em 1494, essas terras pertenceriam à América espanhola. Entretanto, a partir do século XVI, sucessivas
ondas de bandeirantes paulistas se dirigiram para a região com a finalidade de aprisionar e escravizar
indígenas, desbravando o interior do Brasil.
No final do século XVII, estimulados pela descoberta de ouro em Minas Gerais, os bandeirantes
passaram a se aventurar em terras cada vez mais distantes. Subindo o Rio Cuiabá e alcançando o
território bororo, os bandeirantes encontraram ouro e iniciaram a conquista do território que atualmente
corresponde ao Mato Grosso. Enquanto isso, expedições pelo sertão descobriam minas de ouro no
território que hoje compreende o estado de Goiás, onde foi fundada a Vila Boa, embrião da atual cidade
de Goiás.
Em 1726, Rodrigo César de Meneses, capitão-geral de São Paulo, chegou às minas chamadas de
Cuiabá, fundando, no ano seguinte, a Vila Real do Bom Jesus, que já contava com dois portos fluviais.
Deles, partiam as expedições que visavam ao apresamento de indígenas no Pantanal.
A cidade de Goiás, conhecida como Goiás Velho, foi fundada em 1726 pelo filho do bandeirante
Bartolomeu Bueno da Silva, o Anhanguera. Em 2001 foi reconhecida pela Unesco como Patrimônio
Cultural da Humanidade.
Em 1748, preocupada com a posse dessas terras, a Coroa portuguesa criou a capitania de Mato
Grosso, com sede em Vila Bela da Santíssima Trindade, fundada pelo mineradores às margens do Rio
Guaporé. Posteriormente, a sede da capitania foi transferida para a Vila de Cuiabá. A Capitania de Goiás,
com sede em Vila Bela, também foi criada em 1748.
Em 1750, a assinatura do Tratado de Madri entre Portugal e Espanha legalizou a posse efetiva da
região pelos portugueses. Porém, com a anulação desse tratado, ocorrida em 1761, a Coroa portuguesa
passou a implantar uma rede de fortificações para garantir a posse da margem direta do Rio Guaporé: o
Forte de Conceição foi erguido em 1762 e o Forte de Príncipe da Beira, em 1776. O Tratado de Santo
Idelfonso, firmado pelas coroas ibéricas em 1777, finalmente ratificou a soberania portuguesa sobre o
território das duas capitanias ocidentais.
A partir de então, o povoamento luso-brasileiro passou a avançar na direção do Rio Tocantins,
dizimando os índios caiapó de Goiás, os xavante do Araguaia e, mais tarde, os canoeiro do Tocantins.

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Do século XIX em diante, com o declínio da mineração, as províncias de Mato Grosso e de Goiás
conheceram um longo período de decadência econômica e de isolamento. Apenas as atividades agrícolas
de subsistência, como a extração da borracha, a criação de gado e a exploração de erva-mate,
sobreviveram na região.

A Ocupação Moderna do Centro-Oeste


Ao longo do século XX, porém, o isolamento da região foi sendo vencido gradativamente com a
transformação dos estados do Centro-Oeste em área de atração populacional.
A inauguração de Goiânia, em 1933, a Marcha para o Oeste, iniciada por Getúlio Vargas na década
de 1940, a construção de Brasília, assim como as políticas de integração nacional consolidadas pela
ditadura militar na década de 1970, incentivaram a migração para o Centro-Oeste, contribuindo para
acelerar o povoamento da região.
No início do século XX, a abertura da Estrada de Ferro Noroeste Brasil (Bauru-Corumbá) ajudou a
intensificar os fluxos entre o Sudeste e o Centro-Oeste. A ferrovia abriu a fronteira para a pecuária do
Mato Grosso, permitindo o transporte do gado vivo até os frigoríficos de São Paulo e do Rio de Janeiro.
A partir da década de 1960, rodovias como a Belém-Brasília, a Cuiabá-Porto Velho e a Brasília-Acre
transformaram-se em plataforma para a conquista da Amazônia.
Em 1977 o estado de Mato Grosso foi desmembrado, e dois anos depois oficializou-se a criação do
estado de Mato Grosso do Sul.
Goiás, por sua vez, foi desmembrado em 1988, quando se criou o estado de Tocantins, que atualmente
pertence à Região Norte. Em ambos os casos, as justificativas utilizadas para o desmembramento foram
a grande extensão desses estados, as dificuldades de planejamento e de administração.

Cenário Econômico Recente


Na década de 1970, teve início um período de intenso desenvolvimento econômico nos estados do
Centro-Oeste, motivado principalmente pela modernização da agricultura. A mecanização, a
introdução de novas culturas e o desenvolvimento de tecnologias e técnicas como a adubação e correção
dos solos de cerrados impulsionaram a produtividade da agricultura regional, que se tornou altamente
competitiva nos mercados internacionais.
No entanto, essa modernização tem sido responsável por diferentes impactos ambientais, em especial
o desmatamento.
Desde a década de 1980, o incremento da produção agropecuária e os incentivos fiscais atraem
para o Centro-Oeste indústrias ligadas à transformação de matérias-primas de origem animal ou vegetal.
É o caso dos frigoríficos, das empresas de avicultura, do setor sucroalcooleiro e das indústrias que
processam os grãos de soja. Instaladas próximos aos polos produtores, essas indústrias lucraram com a
redução de despesas com fretes.
Sendo assim, o panorama industrial da região é pouco diversificado.
A exceção fica por conta de alguns polos produtivos instalados no eixo Brasília-Goiânia, em especial
em Anápolis, que concentra empresas do setor farmoquímico e farmacêutico.
Nas últimas décadas, o Mato Grosso do Sul foi o estado da região que apresentou maior crescimento
econômico. A agricultura, praticada principalmente na porção leste do estado, beneficiou-se da
proximidade com os grandes mercados consumidores do Sul e do Sudeste. Dados do Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística indicam que somente no estado de Mato Grosso, o crescimento da área
plantada de soja foi de 28,7% entre os anos de 2008 e 2011.
A expansão dos canaviais para o Centro-Oeste também é fato recente. Os maiores índices de
crescimento da produção de cana-de-açúcar são encontrados em Goiás e Mato Grosso do Sul.
Além do aumento da área cultivada, destaca-se a instalação de usinas na região, o que fortalece a
cadeia agroindustrial sucroalcooleira.
A indústria do turismo também tem apresentado rápido crescimento na Região Centro-Oeste. O
pantanal é a área mais visitada, embora os parques nacionais da Chapada dos Guimarães, em Mato
Grosso, da Chapada dos Veadeiros, em Goiás, e das Esmas, no sudeste goiano, também contribuam
para o aumento do número de turistas, atraídos pelas chapadas, cânions, quedas-d’água, cavernas e
diversos sítios arqueológicos.
No Rio Araguaia, na época da estiagem (junho a setembro), o nível das águas cai formando praias,
tornando a região uma atração turística.
Cidades históricas como Pirenópolis e Goiás, antiga capital goiana, atraem visitantes pelos sobrados
coloniais preservados e pelas igrejas de arquitetura barroca.
Em direção ao sul do estado, a cidade de Caldas Novas recebe em média um milhão de turistas por
ano, em busca de suas fontes de água quente.

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1634532 E-book gerado especialmente para GRAZIELA CRISTINA LEOTE
Brasília apresenta arquitetura moderna e é considerada Patrimônio da Humanidade.

Os Centros Urbanos
A rede urbana do Centro-Oeste desenvolveu-se de maneira linear, seguindo as rodovias de integração
e as ferrovias que ligam à Região Sudeste.
Brasília, metrópole nacional, Goiânia, metrópole, assim como Campo Grande e Cuiabá, capitais
regionais, situam-se sobre os grandes eixos viários. As cidades que exibem forte crescimento – como
Dourados (MS), Rondonópolis (MT) e Anápolis (GO) – estão também situadas nesses eixos.

A Cidade-Capital
Brasília representa um caso especial, entre as grandes cidades brasileiras. Não simplesmente por ser
uma cidade planejada: Belo Horizonte, fundada em 1897, e Goiânia, fundada em 1933, constituem outros
exemplos de cidades planejadas no Brasil. A singularidade de Brasília reside na finalidade específica que
orientou seu planejamento urbano – a criação de uma cidade-capital, condição que determinou a
expansão demográfica e econômica da região.
O Plano Piloto constitui o cerne da nova capital. É ele que está submetido ao plano urbanístico, com
seu rígido sistema de aprovação de plantas destinado a conservar as características originais da cidade.
Ideologicamente, esse plano, de autoria de Lúcio Costa, vinculava-se à tradição de pensamento
urbanístico do francês Le Corbusier e da escola arquitetônica da Carta de Atenas, cujos princípios
remontam ao IV Congresso de Arquitetura Moderna, realizado em 1933. A cidade deveria ser, a um só
tempo, funcional e harmônica: uma engrenagem de residências, consumo e trabalho. Para isso, os
planejadores deveriam dispor da capacidade de organizar o espaço de forma absoluta, excluindo as
incertezas e os conflitos inerentes ao desenvolvimento espontâneo das aglomerações urbanas. A ordem
seria um produto da autoridade e do saber urbanístico.
A base espacial do plano urbanístico reside na segregação funcional. No interior do Plano Piloto,
definiram-se as áreas reservadas às diferentes funções urbanas – administração pública, residências,
comércio local e central, etc.
Um eixo viário retilíneo, chamado Eixo Monumental, foi implantado e reservado aos palácios e edifícios
destinados aos órgãos de poder político, à administração e às embaixadas. Esse eixo é cortado por um
outro, arqueado, chamado Eixo Rodoviário, destinado à circulação expressa. Com 13 quilômetros de
extensão e cinco pistas sem cruzamentos, ele separa a circulação municipal da circulação local. Juntos,
os dois eixos têm o formato de asas de avião.
Ao longo do Eixo Rodoviário alinham-se as superquadras, destinadas à moradia. Nessas áreas
encontram-se escolas, igrejas e espaços de comércio local. Esses serviços localizam-se no interior dos
conjuntos de superquadras, direcionado a circulação de pessoas para dentro e não para as ruas. O
comércio de grande porte foi alocado em uma zona separada, no cruzamento entre os dois grandes eixos
da cidade. Todo o sistema de zoneamento e circulação da cidade prioriza o automóvel, a circulação
expressa.
Concebida por Oscar Niemeyer, a arquitetura da capital é coerente com o plano urbanístico, visando
reforçar simbolicamente a função de sede dos órgãos de poder político, que constitui a razão de ser de
Brasília.

A Cidade Polinucleada
O plano urbanístico não eliminou a clássica estruturação espacial das grandes cidades brasileiras: o
contraste entre as áreas centrais reservada às classes médias e às elites, de um lado, e as periferias
populares, de outro. No entanto, operou uma transformação radical nesse esquema, abrindo um espaço
vazio entre a área central (o Plano Piloto) e a periferia (as cidades-satélite). O elevado preço dos
terrenos no Plano Piloto empurrou os mais pobres para os núcleos urbanos satélites, que cresceram
como verdadeiras cidades-dormitório.
Embora não estivessem formalmente previstas no plano, as cidades-satélite desenvolveram-se para,
de certa forma, protege-lo, evitando a concentração da pobreza. Dessa maneira, a capital cresceu como
cidade polinucleada: uma única aglomeração urbana dispersa territorialmente em diversos núcleos
separados. Esses núcleos são chamados de regiões administrativas, já que a Constituição impede a
formação de municípios autônomos no Distrito Federal.
A maioria da população ativa que reside nas cidades-satélite trabalha no Plano Piloto e consome horas
diárias em deslocamentos entre o local de moradia e o local de emprego.
A concentração de recursos financeiros no Plano Piloto – que abriga uma elite de políticos, burocratas
da administração pública e diplomatas estrangeiros – dinamiza a economia do Distrito Federal, atraindo
migrantes para as cidades-satélite. Assim, o crescimento demográfico dos núcleos urbanos ao redor é

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muito superior ao da área central: em 1960, o Plano Piloto concentrava cerca de metade da população
do Distrito Federal; atualmente essa proporção é inferior a 15%.
Questões

01. (PGE/RO – Técnico da Procuradoria – FGV) O desenvolvimento econômico da região norte pode
ser entendido a partir da criação de um projeto ferroviário para interligar a região amazônica entre o final
do século XIX e a primeira metade do século XX. No entanto, com o advento do regime militar brasileiro,
nos anos 60 do século XX, o projeto ferroviário foi abandonado em razão da prioridade dada pelo regime
militar ao transporte:
(A) pluvial na região norte;
(B) naval pelo litoral da região norte;
(C) aéreo na região norte;
(D) misto aéreo e pluvial da região norte;
(E) rodoviário da região norte.

02. (PGE/RO – Técnico da Procuradoria – FGV) “A sensação térmica pode chegar a 38º C neste
sábado (5) na capital de Rondônia. De acordo com o Sistema de Proteção da Amazônia (Sipam), o tempo
deve ser firme em todo o estado no final de semana”.
A previsão é de céu claro sem chuvas em todo o centro sul. Já nas demais regiões, incluindo Porto
Velho, céu claro a parcialmente nublado com pancadas de chuvas e trovoadas em áreas isoladas,
podendo ser acompanhada de rajadas de ventos no período da tarde e noite. (Fonte: http://g1.globo.com/, 05/09/2015.
Acesso em 20/09/2015).
A descrição do tempo apresentada na notícia revela características de temperatura e pluviosidade
comuns na região norte do Brasil, onde predomina o clima:
(A) equatorial, com baixa amplitude térmica anual e estações bem diferenciadas em termos de
precipitação;
(B) tropical úmido, mesotérmico em termos de temperatura e de pluviosidade irregular;
(C) tropical semiúmido, de baixa amplitude térmica anual e duas estações pluviométricas bem
definidas;
(D) equatorial, com pequena variação de temperatura ao longo do ano e total pluviométrico anual
elevado;
(E) tropical, com temperaturas médias elevadas ao longo do ano e precipitação distribuída de forma
irregular ao longo do ano.

03. (Prefeitura de Santana do Jacaré/MG – Psicólogo – Reis & Reis) O Brasil segue, atualmente,
a divisão regional estabelecida em 1970, em quantas regiões se divide o território brasileiro?
(A) 06 regiões;
(B) 05 regiões;
(C) 04 regiões;
(D) 01 região.

04. (MPE/GO – Secretário Auxiliar – MPE/GO) A região Centro-Oeste é uma das cinco regiões do
Brasil definidas pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Sobre ela, é correto afirmar:
(A) É a primeira região do país em superfície territorial.
(B) É formada pelos Estados de Goiás, Tocantins e Mato Grosso.
(C) É formada somente pelos Estados de Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.
(D) É formada pelos Estados de Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e pelo Distrito Federal.
(E) É formada pelos Estados de Goiás, Tocantins, Minas Gerais e pelo Distrito Federal.

05. (CODAR – Motorista – EXATUS/PR) O Brasil é dividido em 5 Regiões Geográficas, estas abrigam
26 Estados e 1 Distrito Federal. Dadas estas informações, assinale a alternativa que apresenta as
Regiões Geográficas Brasileiras que são formadas por apenas 3 Estados?
(A) Apenas, Centro-Oeste.
(B) Centro-Oeste e Sul.
(C) Sul, apenas.
(D) Nenhuma alternativa responde corretamente ao enunciado da questão.

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Gabarito

01.E / 02.D / 03.B / 04.D / 05.B

AS REGIONALIZAÇÕES DO TERRITÓRIO BRASILEIRO65

A regionalização pode ser entendida como a divisão de um território em áreas que apresentam
características semelhantes, de acordo com um critério preestabelecido pelo grupo de pessoas
responsáveis por tal definição: aspectos naturais, econômicos, políticos e culturais, entre tantos outros.
Portanto, regionalizar significa identificar determinado espaço como uma unidade que o distingue dos
demais lugares o seu redor.
A divisão de um território em regiões auxilia no planejamento das atividades do poder público, tanto
nas questões sociais quanto econômicas, já que permite conhecer melhor aquela porção territorial.
O governo e as entidades privadas podem executar projetos regionais, considerando o número de
habitantes de cada região, as condições de vida de sua população, as áreas com infraestrutura precária
de abastecimento de água, esgoto tratado, energia elétrica, entre outros.

Os Critérios de Divisão Regional do Território

O Brasil é um país muito extenso e variado. Cada lugar apresenta suas particularidades e existem
muitos contrastes sociais, naturais e econômicos.
Como cada região diferencia-se das demais com base em suas características próprias, a escolha do
critério de regionalização é muito importante.
Um dos critérios utilizados para regionalizar o espaço pode ser relacionado a aspectos naturais, como
clima, relevo, hidrografia, vegetação, etc.
A regionalização também pode ser feita com base em aspectos sociais, econômicos ou culturais. Cada
um apresenta uma série de possibilidades: regiões demográficas, uso do solo e regiões industrializadas,
entre outras.

As Regiões Geoeconômicas
A fim de compreender melhor as diferenças econômicas e sociais do território brasileiro, na década de
1960, surgiu uma proposta de regionalização que dividiu o espaço em regiões geoeconômicas, criada
pelo geógrafo Pedro Geiger.
Nessa regionalização, o critério utilizado foi o nível de desenvolvimento, características semelhantes
foram agrupadas dentro da mesma região. De acordo com esse critério, o Brasil está dividido em três
grandes regiões: Amazônia, Nordeste e Centro-Sul, como pode observar-se no mapa a seguir.

Brasil: regiões geoeconômicas

http://www.geografia.seed.pr.gov.br/modules/galeria/uploads/5/normal_brasilgeoeconomico.jpg

65
FURQUIM Junior, Laercio. Geografia cidadã. 1ª edição. São Paulo: Editora AJS, 2015.
TERRA, Lygia. Conexões: estudos de geografia geral e do Brasil – Lygia Terra; Regina Araújo; Raul Borges Guimarães. 2ª edição. São Paulo: Moderna, 2013.

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1634532 E-book gerado especialmente para GRAZIELA CRISTINA LEOTE
Os limites da Amazônia correspondem à área de cobertura original da Floresta Amazônica. Essa
região é caracterizada pelo baixo índice de ocupação humana e pelo extrativismo vegetal e mineral.
Nas últimas décadas, a Amazônia vem sofrendo com o desmatamento de boa parte de sua cobertura
original para a implantação de atividades agropecuárias, como o cultivo de soja e a criação de gado.
A região Nordeste é tradicionalmente caracterizada pela grande desigualdade socioeconômica.
Historicamente, essa região é marcada pela presença de uma forte elite composta basicamente por
grandes proprietários de terra, que dominam também o cenário político local.

A região Centro-Sul é marcada pela concentração industrial e urbana. Além disso, apresenta elevada
concentração populacional e a maior quantidade e diversidade de atividades econômicas.

Essa proposta de divisão possibilita a identificação de desigualdades socioeconômicas e de diferentes


graus de desenvolvimento econômico do território nacional.
Seus limites territoriais não coincidem com os dos estados. Assim, partes do mesmo estado que
apresentam distintos graus de desenvolvimento podem ser colocadas em regiões diferentes. Porém,
esses limites não são imutáveis: caso as atividades econômicas, as quais influenciam as áreas do
território, passem por alguma modificação, a configuração geoeconômica também pode mudar.

Outras Propostas de Regionalização

Regionalização do Brasil por Roberto Lobato Corrêa

http://www.geografia.fflch.usp.br/graduacao/apoio/Apoio/Apoio_Rita/flg386/2s2016/Regionalizacoes_do_Brasil.pdf

Outro geógrafo, chamado Roberto Lobato Corrêa, também fez uma proposta de regionalização que
dividia o território em três: Amazônia, Centro-Sul e Nordeste.
No entanto, em sua proposta ele respeitava os limites territoriais dos estados, diferentemente da
proposta das regiões geoeconômicas que acabamos de observar acima.

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Regionalização do Brasil por Milton Santos

http://www.geografia.seed.pr.gov.br/modules/galeria/detalhe.php?foto=1551&evento=5
Os geógrafos Milton Santos e Maria Laura Silveira propuseram outra regionalização para o Brasil, que
divide o território em quatro regiões: Amazônia, Nordeste, Centro-Oeste e Concentrada.
Essa divisão foi feita com base no grau de desenvolvimento científico, técnico e informacional de cada
lugar e sua influência na desigualdade territorial do país.
A região Concentrada apresenta os níveis mais altos de concentração de técnicas, meios de
comunicação e população, além de altos índices produtivos.
Já a região Centro-Oeste caracteriza-se pela agricultura moderna, com elevado consumo de insumos
químicos e utilização de tecnologia agrícola de ponta.
A região Nordeste apresenta uma área de povoamento antigo, agricultura com baixos níveis de
mecanização e núcleos urbanos menos desenvolvidos do que no restante do país. Por fim, a Amazônia,
que foi a última região a ampliar suas vias de comunicação e acesso, possui algumas áreas de agricultura
moderna.

As Regiões do Brasil ao Longo do Tempo

Os estudos da Divisão Regional do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) tiveram início
em 1941. O objetivo principal deste trabalho foi o de sistematizar as várias divisões regionais que vinham
sendo propostas, de forma que fosse organizada uma única divisão regional do Brasil para a divulgação
das estatísticas brasileiras.
A proposta de regionalização de 1940 apresentava o território dividido em cinco grandes regiões:
Norte, Nordeste, Este (Leste), Sul e Centro. Essa divisão era baseada em critérios tanto físicos como
socioeconômicos.

Regionalização do Brasil → década de 1940

http://www.geografia.seed.pr.gov.br/modules/galeria/detalhe.php?foto=1557&evento=5

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IBGE e a Proposta de Regionalização
O IBGE surgiu em 1934 com a função de auxiliar o planejamento territorial e a integração nacional do
país. Consequentemente, a proposta de regionalização criada pelo IBGE baseava-se na assistência à
elaboração de políticas públicas e na tomada de decisões no que se refere ao planejamento territorial,
por meio do estudo das estruturas espaciais presentes no território brasileiro. Observe a regionalização
do IBGE de 1940 no mapa acima.

Regionalização do Brasil → década de 1950

http://www.geografia.seed.pr.gov.br/modules/galeria/detalhe.php?foto=1558&evento=5

Na década de 1950, uma nova regionalização foi proposta, a qual levava em consideração as
mudanças no território brasileiro durante aqueles anos.
Foram criados os territórios federais de Fernando de Noronha, Amapá, Rio Branco, Guaporé, Ponta
Porã e Iguaçu – esses dois últimos posteriormente extintos.
Note também que a denominação das regiões foi alterada e que alguns estados, como Minas Gerais,
mudaram de região.

Regionalização do Brasil → década de 1960

http://www.geografia.seed.pr.gov.br/modules/galeria/detalhe.php?foto=1560&evento=5

Na década de 1960, houve a inauguração da nova capital federal, Brasília. Além disso, o Território de
Guaporé passou a se chamar Território de Rondônia e foi criado o estado da Guanabara. Observe o mapa
a seguir.

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1634532 E-book gerado especialmente para GRAZIELA CRISTINA LEOTE
Regionalização do Brasil → década de 1970

http://www.geografia.seed.pr.gov.br/modules/galeria/detalhe.php?foto=1561&evento=5

Na década de 1970, o Brasil ganha o desenho regional atual. É criada a região Sudeste, que abriga
os Estados de São Paulo, Minas Gerais, Espírito Santo e Rio de Janeiro.
O Acre é elevado à categoria de estado e o Território Federal do Rio Branco recebe o nome de
Território Federal de Roraima.

A regionalização da década de 1980 mantém os mesmos limites regionais. No entanto, ocorre a fusão
dos Estados da Guanabara e do Rio de Janeiro e a criação do estado do Mato Grosso do Sul.
A mudança nas regionalizações ao longo dos anos é fruto do processo de transformação espacial
como resultado das ações do ser humano na natureza.
Assim, reflete a organização da produção em função do desenvolvimento industrial.

Regionalização do Brasil → década de 1980

http://www.geografia.seed.pr.gov.br/modules/galeria/detalhe.php?foto=1562&evento=5

A Regionalização Oficial do Brasil Atual

A regionalização oficial do Brasil é a de 1990 e apresenta as modificações instituídas com a criação


da Constituição de 1988.

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1634532 E-book gerado especialmente para GRAZIELA CRISTINA LEOTE
Os territórios de Roraima e Amapá são elevados à categoria de estado (o território de Rondônia já
havia sofrido essa mudança em 1981); é criado o estado de Tocantins; e é extinto o Território Federal de
Fernando de Noronha, que passa a ser incorporado ao estado de Pernambuco.

Regionalização oficial do Brasil atual

http://alunosonline.uol.com.br/geografia/regionalizacao-brasil.html

É importante refletir sobre a regionalização atual proposta pelo IBGE, já que ela não apresenta uma
solução definitiva para a compreensão dos fenômenos do território brasileiro.
A produção do espaço é um processo complexo, resultado da interação de diferentes fatores e não
pode ser encaixada dentro de uma categoria única e específica.
A atual divisão regional obedece aos limites dos estados brasileiros, mas não necessariamente aos
limites naturais e humanos das paisagens, os quais, muitas vezes, não são tão evidentes.
É o caso, por exemplo, do Maranhão. Grande parte de seu território apresenta características naturais
comuns à região Norte, principalmente devido à presença da Floresta Amazônica. Além disso, o estado
apresenta fortes marcas culturais que também remetem ao Norte, como a tradicional festa do Boi-Bumbá.
No entanto, segundo a regionalização oficial, o Maranhão faz parte da região Nordeste.

Região e Planejamento

A divisão do território brasileiro em regiões definidas pelo IBGE teve como objetivo facilitar a
implantação de políticas públicas que estimulassem o desenvolvimento de cada região.
Um dos aspectos marcantes do espaço geográfico brasileiro é a disparidade regional. Isso significa
que as diferentes regiões possuem níveis distintos de desenvolvimento. Uma das principais causas dessa
disparidade é a concentração da industrialização no Centro-Sul do país.
Para promover o desenvolvimento de regiões consideradas socioeconomicamente estagnadas, o
governo brasileiro empreendeu um programa federal baseado na criação de instituições locais fincadas
nesse objetivo, como é o caso da Superintendência para o Desenvolvimento do Nordeste (Sudene) e da
Superintendência para o Desenvolvimento da Amazônia (Sudam).
É o que veremos abaixo.

O Estado Brasileiro e o Planejamento Regional


No século XX, a concentração espacial das indústrias na região Sudeste impactou de maneira negativa
as estruturas produtivas de outras regiões brasileiras.
Para promover a desconcentração da economia, foram criadas políticas de integração e de
desenvolvimento regional.

Território e Políticas Públicas

Por meio das políticas de desenvolvimento regional, propunha-se a implantação de infraestruturas nas
regiões menos desenvolvidas, com a finalidade de atrair investimentos e aumentar a oferta de empregos.

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O desenvolvimento industrial iniciado na década de 1930 transformou, ao mesmo tempo, a economia
e a geografia do Brasil.
No plano da economia, o modelo agroexportador foi, aos poucos, sendo substituído pelo modelo
urbano e industrial que vigora no país até hoje. No plano da geografia, as diferentes regiões brasileiras
passaram a se articular de maneira cada vez mais intensa, de forma a prover tanto a matéria-prima quanto
a força de trabalho necessárias à produção industrial fortemente concentrada na Região Sudeste.
Esse novo contexto de industrialização e de integração nacional tornou, evidente a desigualdade de
desenvolvimento entre as regiões brasileiras. O crescimento da economia da Região Sudeste contrastava
vivamente com a estagnação da economia nordestina. No Nordeste, diante do desemprego resultante do
declínio das atividades nas lavouras de cana-de-açúcar e nas indústrias têxteis, dos baixos salários e da
concentração de terras nas mãos de poucos, muitos optaram por tentar a vida em outras regiões do país.
A Região Nordeste transformou-se em grande fornecedora de mão de obra para os principais centros
urbanos e industriais do país. São Paulo tornou-se o principal destino dos migrantes nordestinos: na
década de 1940, eles foram responsáveis por cerca de 60 do incremento populacional ocorrido na cidade.
Para combater a desigualdade, o governo federal lançou políticas de desenvolvimento regional. Por
meio delas, esperava-se promover a desconcentração da economia, atraindo investimentos e ampliando
a oferta de empregos nas regiões menos desenvolvidas. As regiões selecionadas receberiam
infraestrutura (energia, estradas, portos) e incentivos fiscais, ou seja, o governo passaria a isentar ou
cobrar menos impostos dos empresários que lá implantassem novos negócios.
Em meados da década de 1950, começaram a ser implementadas as agências de desenvolvimento
regional, órgãos federais que tinham o objetivo de centralizar e implementar essas políticas. A
Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (Sudene), a primeira delas, entrou em funcionamento
em 1959. A Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia (Sudam) foi criada em 1966. Sudene e
Sudam foram as mais importantes agências implantadas no Brasil.

O Estado e a Valorização da Amazônia

Para a valorização da economia regional da Amazônia e sua conexão aos centros mais dinâmicos do
território brasileiro, o governo federal priorizou a construção de estradas e a implantação de projetos
industriais (zona franca), minerais e de colonização.

A Integração Nacional
O propósito de integrar a Amazônia ao conjunto da economia nacional já estava na agenda do governo
federal na década de 1940, mas foi apenas na década de 1950 que as políticas de planejamento
começaram a atuar de fato na região.
Em 1953, nasceu a Superintendência do Plano de Valorização Econômica da Amazônia (SPVEA),
um órgão federal encarregado de valorizar a economia regional e conectá-la aos centros mais dinâmicos
do território brasileiro. A área de atuação da SPVEA recebeu o nome de Amazônia Brasileira, uma região
de planejamento.
Na época, o processo de industrialização demandava a criação de um mercado interno de dimensões
nacionais, o que exigia grandes transformações no território. A construção de estradas que
possibilitassem o intercâmbio de mercadorias e pessoas entre as diversas regiões brasileiras era
considerada uma tarefa prioritária para o governo federal. Uma nova capital, Brasília, estava sendo
construída em um planalto situado no Brasil central, até então pouco integrado.
Por meio de Brasília, pretendia-se integrar não apenas o Centro-Oeste mas também a Amazônia,
escassamente povoada e detentora de imensos potenciais. O planejamento e a execução da Rodovia
Belém-Brasília, por meio da qual o sistema viário brasileiro alcançou a Amazônia pela primeira vez, contou
com a colaboração da SPVEA.

Sudam: A Devastação Planejada


A política de planejamento regional voltada para a Amazônia ganhou novos contornos após o golpe
de 1960, quando os destinos do país passaram a ser comandados pela ditadura militar. Em 1966, a
SPVEA foi extinta e substituída por outro órgão, a Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia
(Sudam), cuja área de atuação recebeu o nome de Amazônia Legal. No ano seguinte, foi criada a
Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa).

A Indústria na Amazônia
A implantação de complexos industriais figurava entre as prioridades do projeto de valorização
econômica da Amazônia concebido pelos militares.

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1634532 E-book gerado especialmente para GRAZIELA CRISTINA LEOTE
Como vimos, a Sudam foi criada em 1966. No ano seguinte, seria a vez da Superintendência da Zona
Franca de Manaus (Suframa). Com ela, Manaus foi transformada em zona franca. Essa nova condição
significou para Manaus a isenção de taxas de importação das máquinas e matérias-primas necessárias
à produção industrial, bem como dos impostos de exportação das mercadorias industrializadas. Com
esses incentivos, indústrias transnacionais e nacionais foram atraídas para a cidade, e Manaus
transformou-se em um polo industrial importante, principalmente no setor de bens de consumo duráveis
(televisores, aparelhos portáteis e eletrodomésticos).
Atualmente, o polo industrial instalado em Manaus dinamiza boa parte da economia regional e
emprega diretamente cerca de 85 mil pessoas. A indústria local, no entanto, depende da manutenção da
zona franca. As mercadorias produzidas em Manaus viajam milhares de quilômetros até chegar aos
principais centros de consumo do país e incorporam em seu custo o preço desse transporte.
Na década de 1970, teve início o processo de crescimento industrial de Belém. Nesse caso,
predominam as indústrias de transformação mineral, em especial a siderurgia do ferro e do alumínio,
atraídas pela presença de matérias-primas e da energia proveniente da Usina Hidrelétrica de Tucuruí.
Uma das siderúrgicas mais importantes do setor de produção de alumínio está instalada no Porto de
Barcarena, situado nos arredores de Belém.

A Amazônia Legal

https://n.i.uol.com.br/licaodecasa/ensfundamental/geografia/mapa_amazonia_legal.gif

Na visão dos militares, a Amazônia era um imenso vazio demográfico que precisava ser conquistado
e explorado, de forma a transformar seu enorme potencial natural em riquezas que iriam financiar o
desenvolvimento do país. Para isso, eles propunham integrar a Amazônia implantando grandes projetos
minerais, industriais e agropecuários.
A população local, em grande parte concentrada nas margens dos rios e dos igarapés e vivendo do
cultivo de pequenos lotes de terra, foi praticamente desconsiderada nos novos planos do governo para a
região.
A Sudam foi criada para ser uma espécie de intermediária entre o governo e os empresários no
processo de valorização econômica da Amazônia. Além disso, o órgão também deveria formular projetos
de atração de migrantes, para promover o povoamento e consolidar um mercado de trabalho regional.
Muitos desses migrantes, a maior parte de origem nordestina, acabaram por se fixar nas periferias das
cidades amazônicas, que conheceram um crescimento explosivo a partir da década de 1870.
A Transamazônica, rodovia que corta a região no sentido latitudinal, foi planejada para ligar o
Amazonas à Paraíba e viabilizar o assentamento dos migrantes recém-chegados e representar uma rota
para os novos investimentos - ou, nas palavras do próprio governo, “a pista da mina de ouro”.
A Transamazônica não cumpriu o papel almejado por seus planejadores. Encravada no meio da
floresta e desconectada da rede viária nacional, a estrada não foi capaz de dinamizar os fluxos regionais
e acabou por se tornar um imenso atoleiro.

Nessas condições, os dois mais importantes eixos de penetração para a Amazônia passaram a ser as
rodovias Belém-Brasília e Brasília-Acre. Em suas margens, foi implantada a maior parte dos projetos
minerais e agropecuários incentivados pela Sudam. Não por acaso, esses eixos apresentam a maior taxa
de desmatamento e de degradação ambiental. Além disso, também são palcos de violentos conflitos, já
que posseiros, fazendeiros e madeireiros disputam a posse da terra valorizada pela presença das
estradas.

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1634532 E-book gerado especialmente para GRAZIELA CRISTINA LEOTE
O eixo da Belém-Brasília se estende até a Serra dos Carajás, onde se encontra a maior reserva de
minério de ferro do mundo. O ferro de Carajás, em exploração desde a década de 1970 pela Companhia
Vale do Rio Doce (privatizada em 1997), é escoado pela Estrada de Ferro Carajás, até o Complexo
Portuário de São Luís, no Maranhão. Nas margens da rodovia e da ferrovia, a floresta equatorial já foi
quase toda derrubada. Em seu lugar, surgiram núcleos urbanos e os mais diversos empreendimentos.

No outro extremo da Amazônia, o principal eixo de ocupação foi a Rodovia Brasília-Acre. O estado de
Rondônia, atravessado por esse eixo, foi alvo de um grande projeto de colonização e recebeu milhares
de migrantes, vindos especialmente das regiões Nordeste e Sul. Atualmente, Rondônia figura entre os
estados mais devastados da região.
A herança da Sudam permanece na realidade amazônica: está presente tanto na destruição do modo
de vida tradicional das populações ribeirinhas e indígenas quanto na grande mancha de devastação
ambiental produzida pelos empreendimentos aprovados pelo órgão. Definitivamente, esse modo
predatório de ocupação está em descompasso com os parâmetros atuais de valorização do patrimônio
ambiental amazônico, sobretudo no que se refere à enorme biodiversidade da formação florestal e à
presença de imensos reservatórios de água doce.

Planejamento Estatal e a Economia Nordestina

As políticas públicas para o desenvolvimento do Nordeste, implantadas pela Sudene, consideraram o


seu conjunto e não suas sub-regiões separadamente.
Garantiram a disponibilidade de energia e realizaram investimentos industriais, em especial no setor
petroquímico.

As Sub-Regiões Nordestinas
O Nordeste pode ser dividido em quatro sub-regiões: a Zona da Mata, o Agreste, o Sertão e o Meio-
Norte. Cada uma delas apresenta características naturais e econômicas particulares.

http://4.bp.blogspot.com/-a-BvOFZXprs/T8gu5KVAYAI/AAAAAAAAABM/WlZjI0_lOic/s1600/Meio+norte.jpg

A Zona da Mata, quente e úmida, foi transformada pela implantação de grandes propriedades
produtoras de cana-de-açúcar, ainda nos primeiros tempos de colonização. Os senhores de engenho,
também conhecidos como barões do açúcar, continuaram a dominar a economia e a política após a
independência. Em meados do século XIX, a economia açucareira entrou em crise, devido à concorrência
exercida pelo açúcar produzido nas Antilhas. Mais tarde, a produção de açúcar com técnicas mais
modernas na Região Sudeste, em especial no estado de São Paulo, deu continuidade ao longo período
de crise econômica no Nordeste. Atualmente, a Zona da Mata é uma região de economia dinâmica,
concentrando grande parte da população e os maiores polos industriais do Nordeste;

O Agreste, situado entre a Zona da Mata úmida e o Sertão semiárido, é tradicionalmente ocupado por
pequenas propriedades, dedicadas ao cultivo de subsistência e ao abastecimento alimentar dos
engenhos e cidades da Zona da Mata. Nessa sub-região, o padrão técnico rudimentar que caracteriza a
maior parte dos estabelecimentos agrícolas resulta em baixa produtividade e em expressiva pobreza rural;

O Sertão, dominado pelo clima semiárido, conheceu um primeiro movimento de valorização ainda
durante a colonização, quando se transformou em espaço da pecuária extensiva, produzindo carne para
os mercados da Zona da Mata. Depois, grandes latifúndios, de propriedade dos coronéis do sertão (nome

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1634532 E-book gerado especialmente para GRAZIELA CRISTINA LEOTE
pelo qual ficaram conhecidos os proprietários das grandes fazendas sertanejas), passaram a dominar a
paisagem. Em meados do século XIX, o cultivo de algodão tornou-se uma atividade econômica de
importância significativa no Sertão, em grande parte devido à crise na produção algodoeira dos Estados
Unidos decorrente da Guerra de Secessão. Durante muito tempo, o gado e o algodão iriam dividir o
espaço sertanejo;

O Meio-Norte, situado na transição entre o Sertão semiárido e a Amazônia equatorial, foi durante a
maior parte de sua história uma sub-região praticamente marginal no contexto da economia nordestina.
A pecuária extensiva, prolongamento da criação de gado sertaneja, e o extrativismo, em especial das
palmeiras babaçu e carnaúba, eram as atividades de maior destaque no Meio-Norte.
Em momentos históricos diferentes, duas sub-regiões nordestinas - Sertão e Zona da Mata - já haviam
sido objeto de programas governamentais de ajuda e de incentivo econômico muito antes da existência
da Sudene. Em ambos os casos, porém, as elites sub-regionais foram as principais beneficiadas.

Programas Pioneiros: Sertão


No caso do Sertão, desde o período imperial existiram políticas de combate à seca e, principalmente,
aos seus efeitos. Em 1881, após um período de estiagem que causou a morte de milhares de pessoas e
de uma parcela considerável do gado, o imperador mandou construir um grande açude em Quixadá, no
Ceará, visando reservar água e evitar futuras catástrofes.
Nos primeiros decênios da República, essas políticas cresceram e tornaram-se institucionais. Em
1909, foi criada uma Inspetoria Federal de Obras Contra as Secas (Ifocs), com o objetivo de espalhar
açudes em todo o Sertão, além de construir estradas para facilitar o escoamento e a comercialização dos
produtos sertanejos.
Em 1945, a Ifocs passou a se chamar Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs),
mas sua linha de atuação continuou a mesma. Entretanto, além dos açudes, das barragens e das
estradas, o Dnocs passou a organizar também frentes de trabalho. Quando ocorriam as secas, a
população carente era recrutada para trabalhar nas obras federais, e, assim, ganhava um meio de
sobrevivência, mesmo que muito precário.
Na maior parte dos casos, os açudes e as estradas construídos pelos sertanejos pobres acabavam
por tornar ainda mais valiosas as terras dos coronéis, nas quais (ou nas proximidades delas) as obras
eram realizadas. Além disso, os coronéis não precisavam se preocupar com a sobrevivência de seus
trabalhadores durante a estiagem, já que o Estado cuidava disso. Quando as chuvas voltavam, era só
aproveitar as melhorias de suas terras e recrutar de volta os trabalhadores. Desse modo, o governo
ajudava a enriquecer os que já eram ricos e mantinha os pobres - a maioria da população - no limite da
sobrevivência.

Programas Pioneiros: Zona da Mata


Os “barões do açúcar” da Zona da Mata também receberam auxílio do governo, ainda que de forma
indireta. Na década de 1930, a agricultura canavieira paulista começou a se modernizar, ampliando sua
base técnica, e passou a ameaçar a economia açucareira nordestina.
Nesse contexto, o governo criou o Instituto do Açúcar e do Álcool (IAA), com o objetivo de
estabelecer cotas de produção de açúcar entre os estados brasileiros e garantir um preço mínimo para o
produto. Assim, o IAA reservava uma parcela do mercado açucareiro aos produtores da Zona da Mata
nordestina, além de garantir preços compatíveis com seus custos de produção relativamente elevados.
Durante longos decênios, o IAA ajudou a garantir a presença do açúcar nordestino no mercado
brasileiro, fornecendo-lhe condições de sobrevivência. Em longo prazo, porém, a estratégia revelou-se
ineficiente: protegidos pelas cotas e pelos preços governamentais, os produtores nordestinos investiram
pouco em modernização, e desde 1990, quando o IAA foi extinto, vêm perdendo parcelas crescentes do
mercado para os produtores paulistas.

A Sudene e a Industrialização do Nordeste


A criação da Sudene modificou inteiramente a direção das políticas públicas de desenvolvimento do
Nordeste. Em primeiro lugar, essas políticas ganharam uma nova dimensão: não era uma ou outra sub-
região, mas o conjunto do Nordeste que seria alvo do planejamento estatal. A lei que criou a Sudene
delimitou também a área de atuação do órgão, que não coincide exatamente com a Região Nordeste
definida pelo IBGE, já que incluiu o norte de Minas Gerais. Em 1998, parte do Espírito Santo também
entrou para essa “região de planejamento”.
Em segundo lugar, por estarem baseados em uma nova visão acerca dos problemas regionais, os
planos da Sudene foram orientados para outra direção.

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Já estudamos que, até então, a intervenção governamental nos assuntos nordestinos tinha se
destinado, sobretudo, a solucionar os problemas do campo, beneficiando os grandes proprietários da
terra e reforçando a concentração fundiária tanto no Sertão quanto na Zona da Mata. A Sudene trouxe
uma nova prioridade: de acordo com o diagnóstico de seus fundadores, o maior problema do Nordeste
não era a falta de chuvas ou a baixa competitividade da produção açucareira, mas a falta de indústrias
modernas, capazes de dinamizar a economia como um todo. A solução, portanto, estava no incentivo à
industrialização.
Para tanto, era preciso primeiro garantir a disponibilidade de energia. Essa tarefa ficou a cargo das
Centrais Hidrelétricas do Rio São Francisco (Chesf), que transformou a Bacia do São Francisco em
uma importante produtora de energia de origem hídrica.
O governo federal também tomou para si a tarefa de realizar investimentos industriais, em especial no
setor petroquímico. A criação do Polo Petroquímico de Camaçari, o principal complexo industrial
nordestino, nasceu das políticas levadas a efeito pela Sudene. A Refinaria Landulfo Alves, de
propriedade da Petrobras, abastece as empresas públicas e privadas que operam no polo.
Além disso, foram concedidos financiamentos públicos e incentivos fiscais aos conglomerados
industriais que implantassem fábricas na região. O setor de bens intermediários (tais como produtos
químicos e metalúrgicos) foi o principal beneficiário, pois acreditava-se que ele seria capaz de dinamizar
a economia regional e gerar mercado para o setor de bens de consumo (tais como alimentos e
vestuário). Desse modo, esse setor também acabaria por implantar-se no Nordeste. Devido aos
incentivos, diversos grupos empresariais inauguraram unidades produtivas no Nordeste.
Com a Sudene, a economia industrial chegou às capitais nordestinas, em especial a Recife e Salvador.
Mas sabe-se hoje que isso não bastou para eliminar as desigualdades entre o Nordeste e o Sudeste e/ou
para melhorar a qualidade de vida da população regional. O Nordeste brasileiro ainda espera por políticas
capazes de gerar crescimento econômico com inclusão social.

Questões

01. (SEDF – Professor de Geografia – CESPE/2017) No atual período histórico, caracterizado pela
forte internacionalização do modo de produção capitalista, importantes transformações de ordem técnica,
política e econômica têm promovido intensa reestruturação produtiva e regional do Brasil e do mundo. A
intensificação do poder das empresas transnacionais sobre o espaço mundial é uma dessas
manifestações. Iná Elias de Castro. Política pública e conflito no espaço urbano. In: GEOgraphia, ano 18, n.º 36, 2016 (com adaptações).
Considerando esse texto, julgue o item a seguir.
A divisão regional do Brasil em cinco macrorregiões de planejamento é uma referência para o ensino
de geografia atualmente. Entretanto, para a compreensão das dinâmicas atuais de uso e reorganização
do território nacional, é necessário abordar as novas regionalizações, como a divisão por complexos
regionais (Amazônia, Nordeste e Centro-Sul) e a divisão em quatro regiões (Concentrada, Centro-Oeste,
Amazônia e Nordeste).
(....) Certo (....) Errado

02. (Prefeitura de Sobral/CE – Agente Administrativo – UVA/2017) Entre as últimas alterações da


divisão regional oficial do Brasil, podem-se destacar:
(A) a extinção dos territórios federais e a criação do Distrito Federal.
(B) a criação de Fernando de Noronha e a do território de Roraima.
(C) a extinção do Distrito Federal e a criação do território federal de Tocantins.
(D) a extinção dos territórios e a criação do Estado de Tocantins.

03. (SEDF – Professor de Geografia – CESPE/2017) Com relação aos processos de regionalização
no Brasil e no mundo, julgue o item subsequente.
Décadas depois da implementação do primeiro órgão responsável pelos estudos de planejamento
macrorregional no Brasil, a SUDENE, os principais problemas e disparidades regionais do país persistem.
(....) Certo (....) Errado

Gabarito

01.Certo / 02.D / 03.Certo

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Comentários

01. Resposta: Certo


A atual divisão regional obedece aos limites dos estados brasileiros, mas não necessariamente aos
limites naturais e humanos das paisagens, os quais, muitas vezes, não são tão evidentes.

02. Resposta: D
Com as mudanças da Constituição de 1988, ficou definida a divisão brasileira que permanece até os
dias atuais. O estado do Tocantins foi criado a partir da divisão de Goiás e incorporado à região Norte;
Roraima, Amapá e Rondônia tornaram-se estados autônomos; Fernando de Noronha deixou de ser
federal e foi incorporado a Pernambuco.

03. Resposta: Certo


Um dos aspectos marcantes do espaço geográfico brasileiro é a disparidade regional. Isso significa
que as diferentes regiões ainda possuem níveis distintos de desenvolvimento. Uma das principais causas
dessa disparidade é a persistente concentração da industrialização no Centro-Sul do país.

4) O Espaço Humano: demografia: transição demográfica, crescimento


populacional, estrutura etária; política demográfica e mobilidade espacial
(migrações internas e externas); mercado de trabalho: estrutura ocupacional e
participação feminina; desenvolvimento humano: os indicadores
socioeconômicos;

POPULAÇÃO BRASILEIRA66

Quem são os Brasileiros? - A Formação do Povo Brasileiro

Diversos intelectuais buscam definir o que seria o povo brasileiro. Obviamente, essa tarefa não parece
ser uma das mais fáceis, levando em conta a diversidade étnica e cultural da nossa população, além do
processo histórico de povoamento das diversas regiões do país.
Se adotarmos como critério o tempo de ocupação, os indígenas foram os primeiros habitantes do que
hoje é o território brasileiro. Porém, os indígenas dividem-se em diversos grupos étnicos, logo é impossível
afirmar que eles representam uma única nação, pois não possuem os mesmos vínculos históricos e
culturais.
Atualmente representam a menor parcela da população do Brasil e vivem em áreas menores e
diferentes daquelas que ocupavam em 1500. Observe o mapa abaixo.

Brasil: povos indígenas na época do descobrimento

https://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Mapa-dos-Povos-Indigenas-na-Epoca-do-Descobrimento.jpg.

66
FURQUIM Junior, Laercio. Geografia cidadã. 1ª edição. São Paulo: Editora AJS, 2015.

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Para conhecer as características e as diferenças da população brasileira, é necessário compreender
como se deu o processo histórico de povoamento da região que hoje é o Brasil.

A População no Brasil Colonial

O território do Brasil atual era ocupado exclusivamente por povos indígenas até o início do Século XVI.
Mesmo após a chegada da primeira embarcação portuguesa na região no ano de 1500, comandada por
Pedro Álvares Cabral, a Coroa portuguesa não promoveu nenhuma política concreta de colonização do
local até 1530.
Estima-se que, no final do século XVI, a população branca na Colônia era de cerca de 30 mil
habitantes, concentrada no litoral, especialmente na região correspondente ao atual Nordeste brasileiro,
na época o centro econômico do país. Entre os imigrantes portugueses, estavam: nobres e pessoas ricas
ligadas à produção de açúcar ou à administração da Colônia; membros do clero; aventureiros; e pessoas
condenadas por crimes em Portugal.
Nesse mesmo século, parte da Colônia portuguesa foi ocupada por franceses que se estabeleceram
na região do Rio de Janeiro. Mais tarde, a França também ocupou a região do Maranhão, entre os anos
de 1594 e 1615 – enviando colonos para lá.
No período colonial, o número de mulheres brancas que imigravam para a Colônia não era muito
significativo – uma vez que as terras na América eram vistas como selvagens e perigosas pelos europeus.
Dessa forma, a Coroa portuguesa enviava garotas órfãs para se casarem com os brancos que aqui viviam.
O pequeno número de mulheres brancas solteiras na Colônia foi um dos motivos que levaram à
miscigenação dos colonos europeus com mulheres indígenas ou negras – que, por serem escravas,
muitas vezes eram forçadas a tal pelos homens brancos. Com isso, ao longo do período colonial, ocorreu
a formação de uma população mestiça na Colônia.
Durante o século XVII, deu-se continuidade ao processo de colonização portuguesa no Brasil, de modo
que a ocupação de territórios no continente avançou para as regiões do Pará e do Maranhão (onde
também ocorreu um intenso processo de miscigenação).
Porém, entre 1630 e 1654, a região de Pernambuco foi ocupada por holandeses e também por judeus,
que imigraram para lá por conta da liberdade religiosa que o governo local lhes propiciava (algo que na
época não costumava acontecer em territórios católicos).
Após a expulsão dos holandeses de Pernambuco, a Coroa portuguesa buscou retomar as políticas de
povoamento, de modo a proteger a Colônia de novas invasões estrangeiras. Estima-se que no final do
século XVI a população branca na Colônia era de cerca de 100 mil pessoas, o que representava cerca
de 30% da população local. O restante era composto por negros, indígenas e mestiços.
Porém, com a descoberta de ouro em Minas Gerais e também nas atuais regiões de Goiás e Mato
Grosso, houve um grande aumento do fluxo migratório de europeus ao longo do século XVIII. Esses
imigrantes mudaram-se para o território brasileiro e povoaram as regiões das minas em busca de metais
preciosos e enriquecimento. Nesse período verificou-se um aumento significativo da população da
Colônia. As estimativas da tabela a seguir indicam que a população local passou a ser de 3,2 milhões de
habitantes no final daquele século.

A população do Brasil em 1798

Os dados anteriores representam estimativas da população brasileira em 1798. Apesar de se


considerar os mestiços como negros ou indígenas, essa tabela nos fornece um panorama da demografia
colonial nesse período, separando a quantidade de população negra da indígena. A porcentagem da
população indígena é a mais baixa, enquanto, o número de brancos e negros é bem mais alto. É preciso
destacar que a maior parte dos habitantes do território brasileiro possuía origem africana – fossem eles
mestiços ou não.

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A Composição da População Brasileira

O Brasileiro no Período Pós-independência


Com a independência brasileira em 1822, o recém-criado Estado brasileiro tinha como difícil tarefa
manter a sua unidade territorial, combatendo movimentos separatistas. Para isso, era de fundamental
importância a criação de um sentimento nacional – inexistente até então. Em outras palavras, era
necessário que os habitantes das diversas regiões do Brasil se sentissem pertencentes a uma mesma
nação, com os mesmos vínculos históricos e culturais.
Não devemos esquecer que, até a independência brasileira, o sentimento de ser brasileiro não existia.
O único vínculo histórico que os habitantes possuíam era a relação com a Coroa portuguesa. Além disso,
em cada região do território, o processo de povoamento, miscigenação e desenvolvimento econômico e
cultural ocorreu de modo diferente. Ao longo do século XIX, portanto, a preocupação era promover a
construção da identidade brasileira e do entendimento sobre quem era o povo com o qual contávamos
para construir o país.
Até 1888, a sociedade brasileira esteve estruturada com base em relações escravocratas, nas quais
os negros eram considerados socialmente inferiores. Dessa forma, o fato de a população brasileira ser,
em sua maioria, afrodescendentes representava um incômodo para a elite local: branca e culturalmente
vinculada com a Europa.
Assim como em outros países vizinhos, o debate sobre a construção da identidade nacional no Brasil
envolveu um embate ideológico: valorizar a cultura dos povos originários ou adotar como referência a
cultura europeia. No caso brasileiro, devido aos vínculos culturais da elite local, o modelo cultural europeu
foi adotado como ideal de civilização. Com isso, no século XIX, o Estado brasileiro passou a promover
gradualmente a imigração de colonos europeus, visando “embranquecer” a sua população.
Um dos primeiros fluxos migratórios foi o de colonos alemães para o Sul do país, nos estados do Rio
Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná. Em seguida, deu-se início a um intenso processo de imigração
de italianos nessas regiões e, principalmente, no estado de São Paulo.
Devido ao seu grande desenvolvimento econômico a partir da segunda metade do século XIX, São
Paulo passou a receber a maior parte do fluxo de imigrantes estrangeiros nesse período.
Em um primeiro momento, a região recebeu um intenso fluxo de italianos, que foram trabalhar nas
plantações de café no interior do estado. Posteriormente, os imigrantes italianos passaram a se dirigir
para as zonas urbanas em busca de emprego. O principal destino foi a cidade de São Paulo que, devido
ao seu crescimento econômico, possuía maior oferta de trabalho.
A partir do final do século XIX e no início do século XX, São Paulo recebeu diversos fluxos de imigrantes
europeus (entre eles espanhóis, portugueses e judeus), como também de sírios, libaneses e japoneses.
Mais tarde, ocorreria a migração de nordestinos para a região. Essa população tinha como objetivo
trabalhar em diversas atividades econômicas, como agricultura, comércio, indústria e construção civil.

A População Brasileira nos Dias Atuais


Atualmente, a população estimada do Brasil é de um pouco mais de 200 milhões de habitantes, número
que o classifica como o quinto país mais populoso do mundo.
Segundo dados disponibilizados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), referentes
ao ano de 2014, 51,3% da população brasileira à época, era feminina. Já os homens representavam
48,7% do total de habitantes.
Em relação à distribuição dos habitantes no território brasileiro, pode-se dizer que é um reflexo do
processo histórico de povoamento durante o período colonial, uma vez que há maior concentração nas
regiões onde historicamente houve maior desenvolvimento econômico. O mapa a seguir retrata esse
fenômeno.

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1634532 E-book gerado especialmente para GRAZIELA CRISTINA LEOTE
Brasil: densidade populacional (2010)

http://saladeimprensa.ibge.gov.br/noticias.html?view=noticia&id=1&idnoticia=2501&busca=1&t=ibge-lanca-mapa-densidade-demografica-2010.

Como é possível notar, a maior parte dos habitantes ainda se concentra nas áreas próximas ao litoral,
principalmente nas regiões Sul e Sudeste, onde se localizam os maiores centros urbanos. O interior do
país, que envolve grande parte da região Centro-Oeste e, sobretudo, Norte, continua sendo menos
povoado.
Segundo o mapa, é possível verificar que as capitais, como São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador, Bahia
e Fortaleza, são áreas de grande concentração populacional. Desde a década de 1960, a maior parte da
população brasileira vive em zonas urbanas.
Dados de 2014 divulgados pelo IBGE indicam que cerca de 85,43% dos habitantes à época, moravam
em zonas urbanas – principalmente nas capitais de estados. Os 14,7% restantes estavam distribuídos
nas zonas rurais. As cidades são as regiões mais povoadas devido à sua maior oferta de emprego.
O crescimento da população brasileira também está vinculado aos variados fluxos migratórios
ocorridos em direção ao território brasileiro – os quais resultaram em diferentes tipos de migração.
Entre o final do século XIX e o início do XX, a região Sudeste do país, sobretudo a cidade de São
Paulo, foi a que recebeu o maior número de imigrantes. Esse fenômeno ocorreu graças ao
desenvolvimento econômico local, que possibilitou a criação de mais ofertas de trabalho. As cidades de
São Paulo e do Rio de Janeiro receberiam, mais tarde, uma grande leva de nordestinos, igualmente
atraídos pelo mercado de trabalho da região.
Devido ao seu processo histórico de povoamento da região e à miscigenação, a população brasileira
possui uma grande diversidade étnica e cultural.

Composição da população brasileira por cor de pele (2013)

Segundo os dados do IBGE apresentados na tabela anterior, a maioria da população brasileira declara
ser ou ter origem predominantemente branca; logo em seguida, há aqueles que afirmam ser pardos, ou
seja, frutos de qualquer mistura envolvendo brancos, indígenas ou negros. Em contrapartida, apenas
8,1% dos entrevistados consideram-se negros, e 0,8%, amarelos (de origem asiática) ou indígenas.

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1634532 E-book gerado especialmente para GRAZIELA CRISTINA LEOTE
Em relação à distribuição populacional, pode-se dizer que o perfil étnico-cultural dos habitantes varia
consideravelmente de região para região no país. Essas diferenças estão diretamente relacionadas com
os processos de imigração e miscigenação que ocorreram nas diferentes regiões brasileiras a partir do
século XVI.
Na região Sul, por exemplo, a maior parte da população (76,8%) afirma ser de cor branca, o que se
deve em grande parte à imigração europeia na região: portugueses e espanhóis, durante o período
colonial; e alemães e italianos, no século XIX. Devido aos intensos fluxos migratórios que recebeu ao
longo da história, a região Sudeste é a que apresenta maior diversidade em termos raciais. Desde o
século XVIII, com a descoberta do ouro em Minas Gerais, e sobretudo no século XX, o Sudeste recebeu
tantos estrangeiros (europeus e asiáticos) como brasileiros de outras regiões (principalmente
nordestinos).
As regiões Norte e Nordeste são as que apresentam as maiores taxas da população parda (70,2% e
62,5%, respectivamente). No caso do Nordeste, a população parda se destaca. No Norte, a maior parte
da miscigenação ocorreu entre brancos e indígenas, devido às características históricas do povoamento
na região.
O número de indígenas no Brasil é maior nas regiões Norte e Centro-Oeste. Nesta última, a população
é predominantemente branca, parda também em função da miscigenação entre brancos e indígenas, e,
em menor escala, indígena.

O Crescimento da População nos Séculos XX e XXI


O processo de desenvolvimento econômico e urbano ocorrido no Brasil no século XX trouxe avanços
que resultaram no aumento significativo da expectativa de vida da população brasileira e na redução das
taxas de mortalidade. Esses avanços estão relacionados tanto à medicina como às infraestruturas
urbanas, como saneamento básico e água tratada, à maior produção de alimentos e à redução da
pobreza.
A redução das taxas de mortalidade no Brasil, associada ao alto número de nascimentos ainda
registrados no início do século XX, provocou um grande aumento populacional. Porém, a partir das
décadas de 1940 e 1950, a população brasileira passou a apresentar uma diminuição de suas taxas de
natalidade e de fecundidade, o que reduziu a sua taxa de crescimento vegetativo.
A diminuição das taxas de natalidade observadas no Brasil indica que a nossa população vem
reduzindo o número de filhos. Esse fenômeno, associado ao aumento da expectativa de vida, tem
provocado um envelhecimento da população brasileira – uma vez que o número de jovens diminui e o
número de idosos aumenta.
A queda das taxas de natalidade no Brasil está relacionada a uma série de transformações culturais e
econômicas. Entre elas, pode-se destacar a inserção das mulheres no mercado de trabalho, o que fez
que muitas delas optassem por ter filhos mais tarde ou não tê-los. Da mesma forma, o elevado custo de
vida nas cidades, onde vive a maioria dos brasileiros, também levou à queda na média de filhos por
família.
Observe os gráficos abaixo, conhecidos como pirâmides etárias. Elas indicam a quantidade de
habitantes, homens e mulheres, em um país, por faixas etárias. As diferentes faixas etárias estão
mostradas no canto esquerdo da imagem. Já o número absoluto de homens e mulheres correspondentes
a cada faixa etária está indicado na parte inferior dos gráficos.
A base dos gráficos representa a quantidade de pessoas jovens no país. Já as partes superiores
mostram a proporção de pessoas mais velhas. Quanto maior (ou mais larga) a base desse gráfico, maior
é a proporção de jovens na população local. A mesma lógica aplica-se às regiões intermediárias e
superiores do gráfico, que representam as populações adulta e idosa, respectivamente.
Os gráficos indicam o perfil da população brasileira em 2013 e quais são as mudanças previstas para
2040 e 2060, com base em estudos feitos pelo IBGE. É possível verificar que o crescimento vegetativo
brasileiro continuará diminuindo progressivamente até a década de 2040. Dessa forma, a população do
país crescerá cada vez menos até esse período. A partir de 2040, espera-se que o número de habitantes
do país diminua, por causa das taxas de natalidade que serão menores do que as de mortalidade,
resultando em um crescimento vegetativo negativo.

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https://fernandonogueiracosta.files.wordpress.com/2010/12/pirc3a2mides-etc3a1rias-absolutas.png.

A dinâmica demográfica do Brasil torna-se mais compreensível a partir da análise de dois processos
que a compõem:
* Crescimento vertical, mais conhecido como crescimento vegetativo;
* Crescimento horizontal, resultante dos fluxos migratórios internacionais.

O comportamento das populações muda ao longo do tempo, bem como o ritmo de sua dinâmica. Por
isso, o estudo da população sempre acompanha as mudanças históricas.
Geralmente, toma-se como ponto de partida o período posterior à Segunda Guerra Mundial, quando
profundas transformações socioeconômicas afetaram o Brasil, provocando grandes variações na
dinâmica demográfica.

O Crescimento vegetativo de um país é o índice que resulta da diferença entre a taxa de natalidade
e a de mortalidade observadas num determinado período. Pode ser, portanto, positivo ou negativo.

O Crescimento horizontal de um país resulta da diferença entre o total de imigrantes e o de


emigrantes registrada num dado período. Pode ser, também, positivo ou negativo.

Envelhecimento Populacional e Previdência Social no Brasil


No Brasil, o déficit da previdência aumenta a cada ano, pois, se por um lado há um aumento da
expectativa de vida da população, por outro, há uma grande quantidade de trabalhadores que não são
contribuintes do sistema previdenciário – em 2001, os não – contribuintes perfaziam 50% da população
ocupada em alguma atividade econômica.
Mas a mudança na dinâmica demográfica, por si só, não explica os problemas da previdência social.
O sistema permite alguns milhares de aposentadorias extremamente elevadas ao lado de milhões de
aposentadorias miseráveis.
Além disso, a previdência foi fraudada durante décadas e não são raros os casos de quadrilhas
formadas no Brasil para roubar o sistema previdenciário.

Questões

01. (Colégio Pedro II – Segmento do Ensino Fundamental – Colégio Pedro II) A pirâmide etária
representa a estrutura de uma população por gênero e por idade. Observe as pirâmides etárias do Estado
do Rio de Janeiro em dois momentos distintos.

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1634532 E-book gerado especialmente para GRAZIELA CRISTINA LEOTE
As alterações na base e no topo da pirâmide têm como causa, respectivamente
(A) o aumento da natalidade e o aumento da expectativa de vida.
(B) a queda de natalidade e o aumento da expectativa de vida.
(C) o aumento da natalidade e a diminuição da expectativa de vida.
(D) a queda da natalidade e a diminuição da expectativa de vida.

02. (SEDU/ES – Professor de Geografia – FCC) Segundo relatório do IBGE, a taxa de mortalidade
infantil (TMI) de crianças entre 0 e 5 anos de idade era de 53,7 mortes por mil nascidos vivos em 1990 e
passou para 17,7 em 2011. O relatório mostra que a queda mais significativa registrada da mortalidade
na infância ocorreu na faixa entre um e quatro anos de idade.
A leitura do texto e os conhecimentos sobre a dinâmica demográfica brasileira permitem afirmar que
(A) em 2011, o Brasil atingiu a meta de redução da TMI prevista pelos Objetivos do Milênio
estabelecidos pela ONU.
(B) a redução da TMI observada no período 1990-2011 teve grande influência no crescimento
demográfico do país.
(C) ao longo do período 1990–2011 pôde-se constatar uma relativa homogeneização das TMI em todas
as regiões do país.
(D) a queda da TMI em duas décadas possibilitou ao Brasil tornar-se o país com menores TMI em toda
a América Latina.
(E) a diminuição da TMI produz inúmeras consequências, dentre as quais o aumento da base da
pirâmide etária do Brasil.

03. (IBGE – Recenseador – CESGRANRIO) Com relação à expectativa de vida dos brasileiros, os
recenseamentos do IBGE comprovam que, nos últimos anos, verificou-se
(A) retrocesso significativo.
(B) estagnação relativa.
(C) desaceleração abrupta.
(D) aumento progressivo.
04. (SEE/MG – Professor de Geografia – FCC) Observe o gráfico.

Os dados do gráfico estão corretamente interpretados em:


(A) O excesso de população em relação à capacidade de produção agrícola do território explica a
projeção do IBGE para a possível redução da população brasileira a partir de 2040.
(B) Fatores como a urbanização e a entrada da mulher no mercado de trabalho ajudam a explicar a
tendência na dinâmica populacional brasileira de redução do crescimento da população.
(C) As melhorias na economia brasileira a partir de 1990 explicam a aceleração do crescimento
populacional, enquanto se espera uma crise econômica a partir de 2040.
(D) O aumento da população brasileira desde a década de 1950, apesar da redução do crescimento
vegetativo, é explicado pela lenta, porém contínua, entrada de imigrantes no País.

05. (IF/SE – Analista – IF/SE) O Brasil já ultrapassou a etapa de elevado crescimento vegetativo e,
sob o impacto da urbanização, apresenta redução contínua das taxas de natalidade. Essa dinâmica da
sociedade brasileira tem repercussões na estrutura etária e exerce influência sobre as políticas públicas.

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1634532 E-book gerado especialmente para GRAZIELA CRISTINA LEOTE
A partir da reflexão sobre o texto e de seus conhecimentos sobre a sociedade brasileira, aponte a
afirmativa correta:
(A) Atualmente, verifica-se na população brasileira um gradual aumento das taxas de natalidade.
(B) A população brasileira é, hoje, predominantemente urbana e a força de trabalho concentra-se no
setor secundário da economia.
(C) As habitações e o intenso favelamento das cidades diminuíram em face das medidas
governamentais preventivas e das políticas públicas que favorecem a população mais precária.
(D) Com relação às tendências do mercado de trabalho, no Brasil, há uma redução expressiva do
número de pessoas ocupadas no mercado informal do trabalho.
(E) Umas das razões da mobilidade populacional brasileira está na diferença de desenvolvimento
econômico existente entre as várias regiões do país.

06. (ABIN – Agente de Inteligência – CESPE)

Com auxílio dos dados apresentados no gráfico, que mostra a pirâmide etária brasileira no ano de
2000 e a sua projeção para 2020, julgue o seguinte item.
Observa-se uma previsão de diminuição da população brasileira até 2020.
(....) Certo (....) Errado

07. (ANTT – Especialista em Regulação – CESPE) Julgue o seguinte item, relativo ao perfil da
população brasileira, incluindo suas desigualdades.
Um novo padrão de ocupação do território revela acelerado processo de urbanização e de
concentração da pobreza em áreas urbanas. A atual dinâmica demográfica acentua a concentração
populacional nas grandes cidades e em cidades de porte médio que compõem a rede urbana brasileira,
com o consequente esvaziamento do campo e mudanças na natureza e na concentração da pobreza.
(....) Certo (....) Errado

Gabarito

01.B / 02.A / 03.D / 04.B / 05.E / 06.Errado / 07.Certo

Comentários

01. Resposta: B
A expectativa de vida da população brasileira aumentou bastante nos últimos anos. De acordo com o
IBGE, atualmente, a média de vida de um cidadão brasileiro é de 75,5 anos. Vários são os fatores que
propiciaram isso: o crescimento econômico do país, melhor distribuição da renda, melhor acesso aos
sistemas de saúde (tanto público quanto privado), desenvolvimento de novos medicamentos, acesso à
água tratada e esgoto, etc.

02. Resposta: A
O Brasil alcançou com antecedência mais dois Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM)
fixados pela Organização das Nações Unidas (ONU) para 2015: reduzir pela metade a população sem
acesso a saneamento e em dois terços a mortalidade até cinco anos de idade.
Segundo o relatório nacional, conseguiu atingir a meta em 2011, reduzindo os óbitos de 53,7 para 17,7
em mil.

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03. Resposta: D
A esperança de vida dos brasileiros aumentou, isso segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística). Vários foram os fatores que propiciaram essa ascensão, dentre muitos, o crescimento
econômico do país, acesso à água tratada e esgoto, aumento do consumo, entre outros.

04. Resposta: B
A partir daquela década, as taxas de crescimento começaram a declinar até atingir 1,6%, conforme
resultados do Censo de 2000 – e continuam em queda.
Esse declínio, deve-se à maior inserção da mulher no mercado de trabalho, à disseminação do uso de
pílulas anticoncepcionais, ao aumento do número de abortos provocados e à esterilização de mulheres,
entre outros fatores, relacionados ao rápido processo de urbanização que caracterizou o Brasil na
segunda metade do século passado.

05. Resposta: E
(A) Atualmente, verifica-se na população brasileira uma gradual diminuição das taxas de natalidade.
(B) A população brasileira é, hoje, predominantemente urbana e a força de trabalho concentra-se no
setor terciário da economia.
(C) As habitações e o intenso favelamento das cidades aumentaram em face das medidas
governamentais preventivas e das políticas públicas que favorecem a população mais precária.
(D) Com relação às tendências do mercado de trabalho, no Brasil, há um aumento expressivo do
número de pessoas ocupadas no mercado informal do trabalho.

06. Resposta: Errado


Há uma redução da natalidade, mas isso não significa necessariamente que a população se reduzirá.
Apesar de nascerem menos pessoas que antes, elas vivem muito mais tempo, gerando, portanto, um
aumento da população mais velha.
A população brasileira continuará crescendo, ainda que em ritmo menos acelerado.

07. Resposta: Certo


A atual dinâmica demográfica acentua a concentração populacional nas grandes cidades e em cidades
de porte médio que compõem a rede urbana brasileira, entre outros fatores, relacionados ao rápido
processo de urbanização que caracterizou o Brasil na segunda metade do século passado.

MOVIMENTOS POPULACIONAIS67

Movimentos Migratórios

Movimentos migratórios referem-se aos diversos tipos de migração, a qual, por sua vez, é entendida
como os deslocamentos de determinada população de um lugar para outro. Portanto, qualquer migração
possui dois movimentos: o de saída de um lugar e o de entrada em outro.
As migrações são muito variadas. Podem ocorrer dentro do mesmo território ou de um país para outro.
Quando são realizadas dentro do mesmo país, são chamadas de migrações internas. Quando ocorrem
de um país para outro, são chamadas de migrações externas. Observe a imagem a seguir:

Migrantes nordestinos no Terminal Rodoviário do Tietê. Este é um grande fluxo de migração interna que existe no Brasil. São Paulo, SP, 2010.

67
FURQUIM JUNIOR, Laercio. Geografia cidadã. 1ª edição. São Paulo: Editora AJS, 2015.

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1634532 E-book gerado especialmente para GRAZIELA CRISTINA LEOTE
As migrações externas são caracterizadas por dois movimentos: emigração e imigração.
O movimento de entrada de estrangeiros em um país é chamado de imigração. O movimento de saída
de indivíduos de um país é chamado de emigração.
Por exemplo, imagine que uma família está se mudando da Colômbia para o Equador. Em seu país de
origem, a Colômbia, eles são considerados emigrantes. Já no país de destino, o Equador, eles são
considerados imigrantes. Observe a imagem a seguir:

Família de imigrantes espanhóis, São Paulo, cerca de 1890.

Por que as Pessoas Migram?


As migrações podem acontecer de forma forçada ou espontânea. A migração forçada é aquela em que
a pessoa não migra por vontade própria, como foi o caso dos africanos que vieram para cá escravizados
durante o período colonial. A ocorrência de fenômenos naturais, como grandes terremotos, tsunamis,
explosões vulcânicas ou inundações, por exemplo, também pode provocar a migração forçada. Grandes
guerras e perseguições políticas ou religiosas também são motivos que levam as pessoas a saírem de
seu lugar de origem.
A migração espontânea ocorre quando as pessoas migram por vontade própria. Ou seja, decidem
deslocar-se de um lugar a outro em busca de melhores condições de vida.
No entanto, devemos perceber que essa migração espontânea está baseada em um movimento de
expulsão e atração. Ou seja, de alguma maneira, as pessoas sentem-se repelidas por um lugar e atraídas
por outro.
As condições econômicas e sociais de um país podem fazer que uma pessoa decida buscar melhores
condições de vida em outro. A falta de emprego, a escassez de terras para os agricultores, a precarização
das condições de trabalho, a mecanização da produção e outros processos similares são fatores que
muitas vezes dificultam a vida do trabalhador, levando-o a se mudar.

Migração Temporária e Migração Pendular


A migração temporária é o deslocamento populacional que ocorre por determinado período. Por
exemplo, no caso da construção de uma grande obra de engenharia, milhares de pessoas são atraídas
para um lugar onde antes não havia oportunidades de emprego. Quando a construção terminar, essas
pessoas retornarão ao seu lugar de origem ou irão procurar emprego em outros lugares.
Outro exemplo de migração temporária é a que acontece em determinados períodos do ano, como na
época da colheita de certos produtos agrícolas, que atrai pessoas de diferentes regiões para trabalhar
durante esse período.
Já a chamada migração pendular consiste no movimento diário da população que se desloca de um
lugar a outro para estudar ou trabalhar. Geralmente, ocorre entre municípios vizinhos.

Imigração no Brasil
Com o processo de colonização, iniciou-se um período de atração de diferentes povos para as novas
terras. Uma boa parte da atual população brasileira é formada por imigrantes e seus descendentes.
Os primeiros a chegar aqui foram os portugueses, seguidos pelos africanos trazidos na condição de
escravos. Séculos depois, com o fim da escravidão, muitos outros imigrantes vindos da Europa e da Ásia
estabeleceram-se no Brasil, principalmente a partir de meados do século XIX, para substituir a mão de
obra escrava.
Estudaremos a seguir alguns dos povos que vieram para o Brasil em períodos específicos. São
milhares de pessoas que saíram de seus países de origem e vieram para cá, influenciando a cultura e os
hábitos do povo brasileiro.
Além deles, muitos outros povos vieram para o Brasil, como os libaneses, os poloneses e os russos,
porém em quantidades menores e durante períodos mais curtos.

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1634532 E-book gerado especialmente para GRAZIELA CRISTINA LEOTE
Portugueses
Os portugueses foram os colonizadores das terras que vieram a se tornar o Brasil. Sua entrada foi
constante e contínua durante todo o período colonial. A migração dos portugueses trouxe sérios impactos
para os povos indígenas que já habitavam aqui. Eles foram perseguidos, mortos e escravizados. Houve
também uma intensa imigração portuguesa para o Brasil entre os anos de 1881 e 1967.

Africanos

Gravura que retrata o embarque de escravos em um navio negreiro.


Negros no fundo do porão de navio, Johann Moritz Rugendas, Brasil, séc. XIX.

Entre os séculos XVI e XIX, de 2 a 4 milhões de africanos foram forçados a vir para o Brasil na condição
de escravos. Eles pertenciam a diferentes povos, principalmente da região da África Central, cada um
com costumes, língua e fisionomia diferentes. Contudo, as culturas desses povos não só influenciaram
um a outro, mas também todos os demais que viviam na Colônia, como os próprios portugueses e até os
indígenas.
Todas essas pessoas que vieram para cá sofreram com as duras condições de vida, trabalhando em
situações precárias - isso para dizer o mínimo - e privadas de sua liberdade. Desenvolveram diferentes
tipos de trabalho, ligados principalmente à agricultura.

Alemães

Tradicional festa alemã em Blumenau (SC), 2013

Os alemães começaram a chegar ao Brasil de forma expressiva em meados do século XIX. O primeiro
grupo de imigrantes alemães chegou ao Brasil em 1824, mas o período mais intenso de imigração ocorreu
entre 1848 e 1933.
A grande maioria desses imigrantes estabeleceu-se nas serras dos estados do Sul do Brasil, formando
as chamadas colônias, onde preservavam os hábitos e sua terra natal, inclusive muitas vezes sem falar
o português.
Dedicaram-se principalmente à agricultura e à criação de animais.

Italianos
Os imigrantes italianos chegaram ao Brasil após os alemães. Assim como eles, vieram em busca de
promessas de uma vida melhor, fugindo das duras situações em que viviam na Europa. Dirigiram-se
principalmente para os estados de São Paulo - a fim de trabalhar nas lavouras de café e, posteriormente,
nas indústrias paulistas - e do Rio Grande do Sul, onde também formaram colônias. Observe a imagem
a seguir.

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Embarque de italianos para o Brasil, Itália, 1910

Japoneses
A imigração maciça de japoneses teve início no século XX. Em 1908, aportou em Santos o primeiro
navio de imigrantes japoneses, chamado Kasato Maru. A grande maioria deles estabeleceu-se no estado
de São Paulo, trabalhando nas lavouras de café e, posteriormente, no cultivo de hortaliças e frutas.
Observe a imagem a seguir.

Imagem do Kasato Maru, navio que trouxe os primeiros imigrantes japoneses ao Brasil. Santos, 1908

Migração Interna
No Brasil, há uma grande mobilidade da população de região para região. Isso significa que existem
milhares de pessoas que não moram no lugar em que nasceram. De acordo com dados do Censo de
2010, a cada 100 brasileiros, 37 não nasceram no município onde estão estabelecidos atualmente.

Êxodo Rural
O processo de urbanização no Brasil teve início no século XX, a partir do processo de industrialização,
que atraiu milhares de pessoas da área rural em direção à urbana. Esse deslocamento do campo para a
cidade é chamado de êxodo rural. Atualmente, mais de 80% da população brasileira vive em áreas
urbanas. Observe o gráfico a seguir, que mostra a taxa de urbanização brasileira entre 1940 e 2010.

Fonte: INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E Estatística, [s.d.] apud GOBBI,


Leonardo Delfim. Urbanização brasileira. Globo. com, [s.d.]. Educação. Geografia.

No gráfico acima, podemos observar progressivamente, os anos 1940, 1950, 1960, 1970, 1980, 1991,
2000, 2010. A parte cinza representa a população urbana, e a parte verde, a população rural.

O êxodo rural está ligado a um movimento tanto de expulsão dessa população do campo quanto de
atração pela cidade. As condições de vida para a população rural tornaram-se cada vez mais difíceis, já

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que muitos trabalhadores perderam seus empregos e suas terras com a modernização da agricultura - a
mão de obra de muitos trabalhadores do campo foi substituída por máquinas e tratores sofisticados.
Por outro lado, as cidades surgem como uma grande oportunidade de melhoria de vida, ainda que
muitas vezes isso não aconteça na prática. Na maioria dos casos, esses migrantes são obrigados a
enfrentar situações muito precárias.

Fluxos Migratórios Inter-Regionais


A migração inter-regional, ou seja, entre as diferentes regiões do Brasil, começou a ser estudada com
mais precisão a partir do estabelecimento da regionalização brasileira, em meados da década de 1930.
A grande disparidade entre as regiões estimulou a continuidade de um fluxo regular de migrantes em
diferentes períodos do século XX.

Décadas de 1930-1940
O principal fluxo inter-regional estabeleceu-se do Nordeste para o Sudeste. Milhares de migrantes
dirigiram-se ao Sudeste em busca de melhores condições de vida, fugindo das secas que assolavam a
região Nordeste.

Décadas de 1950-1970
Nesse período foram realizadas grandes obras de integração regional, como a construção da nova
capital do país, Brasília, inaugurada em 1960 no governo do presidente Juscelino Kubitschek (1956-
1961), e da Rodovia Transamazônica no início da década de 1970 durante o período militar, sob o governo
do general e presidente Emílio Garrastazu Médici (1969-1974). A construção de Brasília atraiu migrantes
de todas as partes do Brasil para a região Centro-Oeste. A rodovia, por sua vez, estabeleceu um fluxo de
trabalhadores do Nordeste para o Norte que se dirigiram principalmente às áreas de extração do látex
para a fabricação de borracha nos chamados seringais.

Décadas de 1970-1990
O fluxo entre Nordeste e Sudeste se manteve. Além disso, muitos migrantes do Sul dirigiram-se para
outras áreas da região Norte, como o Acre, e também para o Centro-Oeste, graças ao auxílio do governo,
que estimulava esse Fluxo por meio do oferecimento de facilidades, como pequenos lotes de terra. Na
década de 1990 intensificaram-se os fluxos no interior do país e inicia-se uma corrente de migração do
Sudeste para o Nordeste.
Observe abaixo os mapas que demonstram os principais fluxos migratórios entre os períodos de 1950
a 1990.

Fonte: Disponível em: <http://www.padogeo.com/atividade-migracoes.htrnl>

A Migração Atual
Nos últimos anos, houve uma profunda mudança no padrão das migrações internas brasileiras. As
regiões ainda apresentam muita disparidade entre si. No entanto, a saída de migrantes da região Nordeste
em direção ao Sudeste diminuiu significativamente.
Isso se deve principalmente à redução das ofertas de emprego nas indústrias e no setor de serviços
no Sudeste e também à recente industrialização do Nordeste. Além disso, muitos migrantes estão votando
para as suas regiões de origem, em um movimento conhecido como migração de retorno.
Entre os grupos de imigrantes que se dirigem atualmente ao Brasil, podemos destacar os haitianos e
os bolivianos. O Haiti sofre historicamente com a pobreza e a miséria.

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Em 2010, um terremoto dizimou o país, o que afetou a vida de milhões de habitantes e deixou milhares
de mortos. Isso contribuiu para a decisão de vários cidadãos de buscar no Brasil trabalho e melhores
condições de vida. A maioria dos haitianos entra no Brasil pelo estado do Acre, de onde se dirige para as
demais regiões do país.
Os bolivianos, por sua vez, também migram para o Brasil em busca de melhores condições de vida e
ofertas de emprego. Como a Bolívia faz fronteira com o nosso país, o caminho mais comum é entrar pela
cidade de Assis Brasil, também localizada no Acre.
É importante destacar que esses imigrantes muitas vezes entram de foram ilegal no Brasil. Com isso,
acabam tendo maiores dificuldade para arranjar emprego e bons salários, sendo obrigados, muitas vezes,
a trabalhar em troca de salários muito baixos ou até em condições mais precárias, semelhantes à
escravidão.

Questões

01. (DER/CE – Geografia – UECE/CEV) Sobre as migrações internas no Brasil, é correto afirmar que
(A) houve um fluxo de nordestinos para o Sudeste, atraídos pela expansão industrial, e para a
Amazônia, atraídos pelos projetos agropecuários, minerais e industriais.
(B) o maior fluxo migratório interno se deu dos estados da região Norte para a região Sul do Brasil,
devido à expansão da soja e da cana-de-açúcar.
(C) os movimentos migratórios internos ocorreram numa escala muito pequena e de forma isolada nas
regiões metropolitanas das grandes metrópoles do Sudeste.
(D) ocorreram apenas nas décadas de 1940 e 1950 do Nordeste para o Sudeste por causa das secas
que castigavam a região.

02. (IF/SP – Professor de Geografia – FUNDEP) Analise este gráfico:

Brasil e regiões: participação relativa das regiões no total populacional do país


(1960 – 2000)

Considerando-se que, no Brasil, a quase totalidade dos movimentos migratórios ocorridos em sua
história estiveram relacionados com condições socioeconômicas, a região brasileira que tem sido lugar
de partida de grandes movimentos migratórios é
(A) o Centro-Oeste.
(B) o Nordeste.
(C) o Norte.
(D) o Sul.

03. (IBGE – Pesquisa e Mapeamento – CESGRANRIO) No Brasil, durante muito tempo, as migrações
internas, do Norte para o Sul e do mundo rural para as cidades, constituíram uma tentativa de resposta
individual à extrema pobreza de algumas regiões. Fator de diversificação do tecido social e de
desenvolvimento de associações e ONG, essa mobilidade contribuiu para a riqueza do Sul, assim como
para a expansão das favelas urbanas. A esses efeitos devem-se acrescentar, hoje, fluxos populacionais
mais diversificados. DURAND, M-F. et al. Atlas da mundialização. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 130. Adaptado.
Na atual realidade brasileira, ocorre um novo e recente fluxo populacional denominado
(A) movimento pendular
(B) êxodo rural
(C) migração de retorno
(D) transumância
(E) transmigração

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Gabarito

01.A / 02.B / 03.C

O MUNDO DO TRABALHO68

As Novas Relações de Trabalho – Profissões e Inovações Tecnológicas

Vivemos o período pós-fordista. As relações de são agora "flexíveis". O que significa isso?
O modelo atual exige que os funcionários disponham do seu tempo de acordo com as necessidades
da empresa. Dessa forma, em períodos de grande demanda, os horários serão ampliados e, em períodos
de menor produção, as jornadas serão reduzidas, sem que essa dinâmica implique perdas ou ganhos
salariais.
Os funcionários integram-se à empresa, numa relação de responsabilidade com a produção e os
prazos. A satisfação dos clientes garante a manutenção dos seus empregos.
A flexibilização também se estende para as contratações. Com a anuência do Estado e com o
enfraquecimento dos sindicatos, os contratos de trabalho não obedecem mais às leis trabalhistas.
Segundo os neoliberais, desonerar as empresas de encargos trabalhistas traz benefícios a todos. Mas
quem são todos?
O empregado fica sem nenhuma estabilidade e garantia legal, mas os preços não estão baixando em
decorrência disso. Ao contrário, com o monopólio de mercado, a lei da oferta e da procura é coisa do
passado.
Novamente, observa-se que a flexibilização atende somente aos interesses de maior acumulação de
capital por parte dos grupos empresariais em detrimento da qualidade de vida e bem-estar dos
trabalhadores. E ainda assim, grande parte da população mundial pleiteia esses empregos, porque não
há outra perspectiva, apenas o desemprego e a diminuição das políticas públicas de amparo aos
desempregados.
O método de produção atualmente empregado chama-se toyotismo devido à empresa que o criou e
colocou em prática - a japonesa Toyota.
Para desenvolver um produto dentro do prazo prometido ao cliente, a empresa é obrigada a contar
com a pontualidade dos fornecedores e com a flexibilização dos seus funcionários. Estes são altamente
capacitados e suprem qualquer ausência de um colega; eles têm a noção completa da produção e não
apenas de um segmento do produto.
Com a expansão da rede mundial de computadores, muitas vezes não é preciso nem mesmo se fazer
um novo pedido. À medida que um produto é vendido numa loja, por exemplo, a empresa fornecedora
recebe um relatório e entende que precisa fabricar um novo produto para suprir o que foi comercializado.
Dentro de uma linha de produção, esse sistema é chamado de kanban, palavra japonesa que significa
cartão.
Através desse método, um kanban é criado com a descrição de um determinado número de peças
produzidas. A produção e o kanban são enviados para o próximo setor de montagem. Quando todas as
peças forem utilizadas, o kanban volta para o seu local de origem, indicando que há necessidade de
confecção de novas peças.
Esse sistema evita que determinados componentes sejam fabricados em demasia, o que, por sua vez,
regula os fluxos de estoque.
A tecnologia permite que o cartão kanban seja substituído por controles virtuais. Dentro de uma
empresa de montagem de automóveis, por exemplo, o esquema kanban funciona eletronicamente.

Áreas Industriais e Empregos

Até as primeiras décadas do século XX, os imigrantes saíam da Europa Ocidental em busca de
melhores condições de vida na América, África e Ásia. Aos europeus desprovidos de bens, restava a
emigração, muitas vezes incentivada pelos seus governos como forma de diminuir as tensões sociais da
época.
Esse movimento é considerado como o primeiro grande fluxo migratório da Era Moderna e aconteceu
aproximadamente entre os anos de 1870 a 1920.
Posteriormente, entre a Segunda Grande Guerra e o início dos anos 1970, uma nova onda de
migrações se instalou no mundo, ligada ao trabalho. Os países europeus incentivaram as imigrações
68 MARTINI, Alice de. Geografia. /Alice de Martini; Rogata Soares Del Gaudio. 3ª edição. São Paulo: IBEP, 2013. PNLD – 2015 a 2017 – FNDE – Ministério da
Educação.

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objetivando o preenchimento de vagas de menor qualificação, que não eram ocupadas pelas populações
nativas.
Predominantemente, eram imigrantes que se deslocavam de colônias ou ex-colônias de cada país da
Europa. Tais movimentos se deram em um contexto em que a economia nos países centrais do
capitalismo estava mais estável e existia a presença de um "Estado de Bem-Estar" para uma parte da
população nativa.
Vejamos a seguir alguns exemplos de áreas economicamente importantes e a relação com a mão de
obra empregada.

Vale do Ruhr - Alemanha


As regiões industriais tradicionalmente atraem trabalhadores de diversas regiões e países. À medida
que a política do Welfare State era introduzida nos países desenvolvidos, a política do pleno emprego e
as condições de vida satisfatórias despertaram o interesse de trabalhadores de áreas mais pobres.
A perspectiva de melhoria de vida atraiu multidões, aumentando a oferta de mão de obra e reduzindo
os salários. Uma das regiões europeias da indústria pesada tradicional é o Vale do Ruhr, na Alemanha.
O Vale do Ruhr agrega mineradoras, siderúrgicas, metalúrgicas e indústrias químicas. Diversos
trabalhos braçais mal remunerados eram executados por imigrantes, sobretudo turcos.
A antiga Alemanha Ocidental mantinha uma relação diplomática muito próxima com a Turquia,
facilitando a imigração. Os imigrantes exerciam funções que os alemães não desejavam. Na década de
1980, noticiou-se que, em muitas funções, os trabalhadores imigrantes eram submetidos a situações que
colocavam em risco a sua saúde e a sua vida, como inalação de produtos e resíduos químicos, contato
com substâncias nocivas e até radioatividade em usinas nucleares.

Grandes Lagos - EUA


O Nordeste dos EUA, também conhecido como manufacturing belt, é a mais tradicional área industrial
daquele país. A união do carvão dos Montes Apalaches com o ferro dos Grandes Lagos possibilitou a
formação de uma importante indústria pesada. A mão de obra imigrante, sobretudo da Europa, nos
séculos XVIII e XIX, foi decisiva para o crescimento e desenvolvimento dos EUA.
Os dizeres presentes na Estátua da Liberdade nos reportam àquela época: “Dê-me seus exaustos,
seus pobres; suas massas desordenadas ansiando por respirarem livres ... eu erguerei minha lâmpada
ao lado da porta de ouro”.
Com a consolidação do Nordeste como a principal área econômica dos EUA, as relações de trabalho
também foram se aprimorando na medida em que as leis trabalhistas se aperfeiçoavam e os sindicatos
ficaram mais atuantes.
No século XX, buscando uma nova geografia de expansão econômica, os EUA se voltam também para
a Ásia, a princípio estreitando relações com o Japão e os Tigres Asiáticos e, mais tarde, com a China. A
costa do Pacífico ganha atenção como área de entrada e saída de produtos para o Oriente, fato que se
traduziu no desenvolvimento de um novo parque industrial na Califórnia, o Vale do Silício, especializado
na indústria da informática, de última geração.
As vantagens da costa oeste não paravam aí. Com sindicatos menos atuantes e mão de obra mais
barata, não tardou para que conglomerados do Nordeste se transferissem para lá.
O número estimado de imigrantes nos EUA é de 12 milhões, a maior parte de latino-americanos ilegais.
A fronteira do México com os EUA, particularmente com a Califórnia, é uma das principais rotas de acesso
ilegal aos EUA.
A cidade mexicana de Tijuana encontra-se junto à fronteira, facilitando a passagem para os EUA. Nem
mesmo os desertos, as cercas e o muro ali existente têm conseguido evitar a entrada de milhares de
pessoas aos EUA todos os anos. Os imigrantes anseiam por perspectivas de trabalho, ainda que em
situações precárias.

Austrália
A Austrália é o mais importante país da Oceania, não apenas pela vantagem territorial, mas pelo
desenvolvimento econômico e social.
Embora cerca de 50% do país, a porção oeste, seja ocupado por desertos, a parte leste apresenta um
crescimento contínuo.
Os ramos industriais de destaque são o alimentício, o têxtil, a mineração, a siderurgia, a química e
uma ampla oferta de serviços e comércio.
Ocupa papel de destaque em IDH e na boa qualidade de vida da população. Esse perfil
socioeconômico atrai trabalhadores de países subdesenvolvidos como Filipinas, Indonésia e mesmo
Vietnã.

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Nos últimos anos, o governo australiano tem demonstrado preocupação com o fluxo crescente de
imigrantes clandestinos que se utilizam de embarcações simples para chegar à Austrália.
Em 2005, foi veiculada uma propaganda que alertava para o risco que esses imigrantes corriam ao
tentar, inadvertidamente, alcançar a costa australiana. Segundo ela, diversos imigrantes haviam sido
atacados pelos crocodilos que habitam a costa nordeste e leste. A finalidade disso era exatamente de
intimidar futuras incursões ilegais.

França
A França, outra potência econômica da Europa, possui vários centros econômicos importantes, mas a
capital, Paris, é o maior e o mais dinâmico.
Paris é um centro multicultural. Pela sua condição socioeconômica, atrai pessoas do próprio país, do
Leste Europeu e das ex-colônias francesas na África em busca de trabalho.
Esse movimento populacional contínuo gerou uma estratificação social que também tem origem étnica.
Existem os franceses, os franceses descendentes de imigrantes, os imigrantes legais e ilegais.
A hierarquia social se consolidou pelas oportunidades oferecidas de maneira desigual. Os subúrbios
parisienses contrastam com o "glamour” da área central e turística. Lá, a infraestrutura é precária. Milhares
de famílias vivem à margem do progresso e da Política do Bem-Estar Social, em sua maioria de imigrantes
ou de filhos de imigrantes.
Entre outubro e novembro de 2005, a França viveu uma onda de violência civil. O incidente envolveu
os jovens do subúrbio que são filhos, netos e bisnetos de imigrantes, grande parte de origem africana,
mais precisamente das antigas colônias francesas naquele continente.
Os jovens incendiaram cerca de 9 mil automóveis em 20 dias. Os policiais, mais de 10 mil, não
conseguiam manter a ordem porque as ações ocorriam em vários pontos ao mesmo tempo.
O episódio que desencadeou essas ações foi a morte de dois jovens, filhos de imigrantes que, ao
tentarem fugir da polícia, esconderam-se em uma estação de energia elétrica e morreram eletrocutados.
A violência não foi encarada como um fato específico e isolado. Os distúrbios dos subúrbios
parisienses mostraram os contrastes sociais, o racismo e a xenofobia. Ficou evidente a ação do Estado
como repressor, ineficiente como articulador de políticas públicas que atendam às necessidades de todas
as camadas sociais do país.
A abordagem superficial dos fatos leva a conclusões errôneas e precipitadas. Os jovens dos subúrbios
não fazem parte de organizações criminosas organizadas, eles manifestaram a sua indignação com o
descaso com que são tratados. A maior parte desses jovens está desempregada e sem perspectivas,
vivendo diariamente a realidade do preconceito e sendo tratados como “indesejáveis”.
Os distúrbios não ocorrem devido às diferenças étnicas ou religiosas, mas sim devido ao apartheid
social, presente até nos maiores centros europeus.

As Mulheres no Mercado de Trabalho

“Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas;


Vivem pros seus maridos, orgulho e raça de Atenas;
Quando amadas, se perfumam
Se banham com leite, se arrumam
Suas melenas
Quando fustigadas não choram
Se ajoelham, pedem, imploram
Mais duras penas
Cadenas”. (BUARQUE, Chico, BOAL, Augusto. Mulheres de Atenas. In: Chico Buarque. Meu Caro Amigo, CD Universal, 1983).

Embora a letra da música retrate o papel subserviente da mulher grega no passado, tem-se notícia da
luta feminina pela igualdade de direitos desde 195 d.C. Foi quando um grupo de mulheres reivindicou,
junto ao Senado Romano, o direito das mulheres de utilizar o transporte público, uma vez que este era
um privilégio masculino.
Muitos séculos se passaram para que as mulheres conseguissem direitos equiparados aos dos
homens. As Revoluções Industriais e as Guerras Mundiais impeliram as mulheres ao mercado de
trabalho, tornando-as arrimos de família. Porém, o trabalho fora de casa não significava que as mulheres
tivessem equiparação de salários e direitos iguais aos dos homens, pelo contrário, a contratação de
mulheres tinha como objetivo reduzir os custos para o empresariado dos séculos XIX e XX.

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Dia 8 de Março: Dia Internacional da Mulher
Em 1857, 129 tecelãs da Fábrica de Tecidos Cotton, em Nova York, entraram em greve por redução
da jornada de trabalho de aproximadamente 14 horas. O movimento foi duramente reprimido pela polícia,
obrigando essas mulheres a se refugiarem nas dependências da empresa.
No dia 8 de março daquele ano, policiais trancaram as portas e atearam fogo no estabelecimento,
carbonizando todas as operárias.
A partir de 1910, a ativista Clara Zetkin propôs que o dia 8 de março fosse considerado o Dia
Internacional da Mulher em memória das tecelãs e como bandeira de luta pela igualdade de direitos para
todas as mulheres do mundo.

A Posição da Mulher Hoje

Na China
A China tem um contingente masculino superior ao feminino, explicado pela preferência dos casais por
filhos homens. Abortos motivados pelo sexo da criança, infanticídio e abandono de meninas não são
atitudes legalmente admitidas, mas são culturalmente aceitas.
Na faixa etária adulta, já faltam mulheres, o que significa que diversos homens não constituirão uma
família.
O paradoxo é que, mesmo vivenciando tal situação, a mulher chinesa não tem valorização social. É
encarada por muitos como uma serviçal e procriadora. Dentre as muitas histórias individuais sobre as
mulheres chinesas, destacam-se as de estupro na própria família, além de rapto e escravização.

No Brasil
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) demonstra, a partir da sua pesquisa sobre
domicílios, que o papel da mulher no mercado de trabalho está crescendo exponencialmente ao longo
das últimas décadas. Na década de 1970, 18% das mulheres em idade produtiva trabalhavam fora; hoje
esse percentual subiu para 50%.
Em meados da última década do século passado, 20,81% dos lares tinham como chefe uma mulher.
Em 2000, houve o acréscimo desse percentual para 26,55%. Em 2011, a Pesquisa Nacional por Amostra
de Domicílio revelou que esse índice aumentou para 37,4%. Isso indica que em mais de um terço das
famílias brasileiras, as mulheres são as responsáveis pelo orçamento.
Segundo dados da Fundação Carlos Chagas e do IBGE, no início do século XXI, 25 dos chefes de
família brasileiros eram do sexo feminino.

Onde as mulheres brasileiras são chefes de família:


→ A maior taxa encontra-se na região Norte, 28,7%;
→ O estado do Amapá lidera a taxa de mulheres que sustentam as famílias no Brasil, com percentual
de 40,7%;
→ A maioria recebe rendimentos de até 3 salários mínimos;
→ Nos últimos dez anos quadruplicou a proporção de famílias chefiadas por mulheres (em relação aos
casais sem filhos, o índice passou de 4,5% para 18,3% desde o início da primeira década do século XXI,
enquanto entre casais que têm filhos subiu de 3,4% para 18,4%).

Outro dado refere-se à cor das mulheres chefes de família: na maior parte dos estados elas são negras
ou pardas. Com relação aos rendimentos, eles são menores que os masculinos, o que ajuda a manter a
situação de pobreza e desigualdades sociais, especialmente nos países mais pobres ou emergentes.
Em relação à proporção de trabalho, as mulheres estão sujeitas a uma jornada mais longa que os
homens. Isso ocorre pela sobrecarga de trabalho doméstico acumulado ao profissional. Enquanto os
homens gastam, em média, 9,2 horas com trabalhos domésticos, as mulheres dedicam 20,9 horas no
mesmo período.
Relatório divulgado pela OIT (Organização Internacional do Trabalho) em 2010 demonstrou que
permanece no Brasil, a desigualdade de gênero.
De acordo com esse relatório, o desemprego entre as mulheres ainda é superior ao dos homens e, a
despeito de sua escolaridade média ser maior que a dos homens (em média três anos a mais de estudo),
elas encontram maiores dificuldades em conseguir trabalho.
O mesmo relatório da OIT apontou crescimento do número que mulheres que são chefes de família
(responsáveis pela manutenção de filhos, netos, sobrinhos, pais): de 25,9% em 1998 para 34,9% em
2008.

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Associando-se as atividades do trabalho às tarefas domésticas, as mulheres trabalham, em média,
57,1 horas por semana na atualidade.
Políticas de equiparação salarial e de oportunidades de trabalho para homens e mulheres tenderiam
a reduzir a pobreza. Desse modo, a busca pela equidade social de gênero implica não apenas em ganhos
econômicos e sociais, mas também em maior solidariedade e melhoria geral da condição humana para
homens e mulheres.

Trabalho Escravo na Atualidade

Relatório publicado pela OIT em 2005 calculou que, em todo o mundo, cerca de 12,3 milhões de
pessoas estariam submetidas a trabalhos forçados.
A OIT pretendia recuperar, aproximadamente, 6 milhões de pessoas que estão submetidas a trabalho
escravo em todo o mundo, até 2015. Para isso, pretendeu gastar cerca de 25 milhões de dólares em
ações na América Latina, Ásia, África e Oriente Médio, principalmente.
Para atingir esse objetivo, a Organização adotou uma estratégia dividida em três prioridades que vai
da pesquisa e administração do conhecimento sobre o trabalho forçado, passa pela eliminação desse tipo
de trabalho das cadeias produtivas, chegando à implementação de intervenções nacionais.
Os tipos mais comuns de trabalho forçado estão relacionados à exploração econômica, seguida pelo
trabalho compulsório imposto pelo Estado e exploração sexual.
A OIT considera que o trabalho forçado corresponde a "todo trabalho ou serviço exigido de uma pessoa
sob a ameaça de sanção e para o qual ela não tiver se oferecido espontaneamente". Considera ainda
que a escravidão é um tipo de trabalho forçado, que assume diversas formas na atualidade: escravidão
por dívida, rapto ou sequestro, comércio de pessoas, coação psicológica, engano ou falsas promessas
de trabalho, confinamento no local de trabalho, retenção ou não pagamento de salários, retenção de
documentos de identidade, entre outros, praticados por Estados (prisões, por exemplo), por agentes
privados para exploração sexual ou econômica.
São mulheres e crianças as principais vítimas desse tipo de exploração, enquanto mulheres e meninas
representam 40%, de pessoas submetidas a formas de trabalho escravo, no tocante à exploração sexual
esse índice sobe para 98%.
Os casos mais comuns de escravidão são a de mulheres enganadas com promessas de emprego ou
raptadas para servirem à prostituição. As crianças também são alvo fácil. Em países subdesenvolvidos,
elas são retiradas das famílias ou compradas por traficantes, alegando que darão a elas uma vida melhor
e uma profissão.
Normalmente, são levadas para oficinas ou casas de família e submetidas a trabalhos forçados, com
longas jornadas e cerceamento de liberdade. Muitas vezes são, ainda, submetidas à violência física,
psicológica e sexual.
A escravidão do século XXI cresce na proporção da miséria e da impunidade. A seguir apresentamos
alguns países nos quais a prática do trabalho escravo foi detectada no século XXI:

China → Trabalho forçado na indústria de tijolos, minas de carvão e na construção civil;


Índia → Presença de servidão por dívida em olarias, moinhos de arroz e na agricultura;
Suécia → Trabalho forçado de mulheres na prostituição, serviços domésticos, restaurantes, estradas
e jardinagem. País apresenta elevado índice de ameaças e abuso sexual;
Estados Unidos → Trabalho forçado em serviços domésticos, agricultura, indústria e construção civil.
Ocorre recrutamento das vítimas em outros países, principalmente da América Latina;
Mianmar → Trabalho forçado para homens e mulheres da etnia cristã Chin que são usados para limpar
campos minados e construir templos.

Peonagem no Brasil
Peonagem refere-se à uma reedição da "escravidão por dívida" que existiu no século XIX no Brasil,
com os imigrantes que vieram trabalhar nas fazendas de café.
Devido à miséria que assola grande parte da população brasileira e à falta de perspectivas, os
aliciadores de trabalhadores rurais, chamados de "gatos", contratam jovens desempregados de áreas
pobres para serviços temporários em fazendas, sobretudo do Pará e de Mato Grosso.
Após um período de trabalho, o indivíduo é informado que tem dívidas com o dono da propriedade. As
dívidas referem-se à alimentação e moradia que sempre ultrapassam o valor a ser recebido. Dessa forma,
enquanto a dívida não for quitada, o trabalhador não pode deixar a propriedade.

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Os fiscais do Ministério do Trabalho, com ajuda policial, já conseguiram desmantelar dezenas de
propriedades que mantinham trabalho escravo, mas acredita-se que existam outras dezenas ainda
praticando o trabalho escravo.
Como exemplo dessa prática, observemos o caso de Unaí, em Minas Gerais: Em janeiro de 2004, três
fiscais e o motorista da Delegacia Regional do Trabalho (DRT) foram mortos, em meio a investigações
de denúncias de trabalho escravo na zona rural daquela cidade.

Trabalho Infanto-Juvenil e Políticas Públicas

O trabalho infanto-juvenil (entre 5 e 16 anos), apesar de ser condenado e passível de punição,


representa, de um lado, a possibilidade de sobrevivência para as famílias ou grupos muito pobres; de
outro, mão de obra farta e barata para fazendeiros e empresários.
Historicamente, desde a primeira Revolução Industrial, no século XVIII, utiliza-se trabalho infanto-
juvenil, por ser mais barato, pelo fato de as crianças e jovens serem mais ágeis e por não existir uma
legislação reguladora desse tipo de trabalho até recentemente.
No Brasil, a inserção de crianças e adolescentes no mundo do trabalho é decorrência do baixo
rendimento salarial de seus pais. O trabalho infanto-juvenil, dessa forma, é considerado complemento da
renda familiar.
Desde 1891, existem tentativas de regulamentação do trabalho infanto-juvenil. Em 1927, o primeiro
Código de Menores limitava a idade mínima para ingresso no mercado de trabalho em 12 anos e proibia
o trabalho noturno para crianças e adolescentes.
Em 1943, a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) regulamentou as normas especiais de tutela e
proteção do trabalho infanto-juvenil e, em 1969, a Emenda Constitucional número 1 fixou a menoridade
trabalhista de 12 a 18 anos de idade.
Em 1988, a nova Constituição brasileira fixou em 14 anos a idade mínima para ingresso no mercado
de trabalho, exceto na condição de "aprendiz" (que não foi regulamentada nem esclarecida).
Em 1990, com o Estatuto da Criança e do Adolescente, a lei passou a prever proteção integral às
crianças e adolescentes, inclusive no caso daqueles que estavam ingressando no mercado de trabalho.
Recentemente, o Brasil ratificou acordo internacional junto à OIT, prevendo como idade mínima para
ingresso no mercado de trabalho os 16 anos.
No entanto, por ser uma atividade "invisível", uma vez que a exploração do trabalho infanto-juvenil é
ilegal, e no caso das meninas que trabalham, essa atividade pode ser realizada no lar (o emprego
doméstico), fora da ação de fiscais, os dados sobre trabalho infanto-juvenil não são exatos.
Os dados apontam para um contingente de 3,8 milhões de crianças e adolescentes com idades entre
5 e 16 anos trabalhando no Brasil atualmente. Todavia, esses valores não são exatos e variam conforme
as grandes regiões brasileiras e entre o meio rural e urbano.
O trabalho em idade precoce dificulta o pleno desenvolvimento do ser humano, incidindo sobre sua
escolaridade que, por sua vez, influenciará seus salários. Quanto maior for o nível de escolaridade de
uma pessoa, maiores serão suas chances de ingressar no mercado de trabalho formal e obter bons
ganhos salariais.
Por sua vez, crianças e jovens que começam a trabalhar muito cedo logo abandonam a escola (em
média, os jovens brasileiros possuem 7,4 anos de estudo) e recebem uma baixa remuneração por seu
trabalho (em torno de 1,46 salário mínimo).
Em razão desses problemas, a Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência
e a Cultura) preparou e divulgou em 2007 um relatório sobre o índice de Desenvolvimento da Juventude
(IDJ - que considera jovens na faixa etária dos 15 aos 25 anos), semelhante ao IDH para os estados
brasileiros.
O IDJ varia de O a 1%. Próximo de zero (O) são encontrados os piores resultados, ao passo que,
quanto mais próximo de 1%, melhores são os indicadores sociais para a juventude. Os estados brasileiros
foram classificados, portanto, de acordo com sua melhor posição no ranking (Distrito Federal, Santa
Catarina, São Paulo e Rio Grande do Sul, com os melhores indicadores - entre 0,673 e 0,622%). O tipo
de atividade desenvolvida por crianças e adolescentes também varia conforme a região
De acordo com o Unicef, o trabalho infanto-juvenil prejudica o desenvolvimento físico, intelectual e
emocional desses jovens trabalhadores. Desse contingente de crianças trabalhando, estima-se que 20%
não frequentem escolas e, entre os adolescentes que trabalham, somente 25,5% conseguiram concluir
oito anos de escolaridade.
No ano de 2007, o IBGE calculou um elevado índice de exploração do trabalho infantil no território
brasileiro, apesar de a legislação brasileira proibir qualquer tipo de trabalho para menores de 14 anos.

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A partir de ações associadas à geração de renda e assistência às famílias mais pobres implantadas
pelo Estado brasileiro, o IBGE também avaliou que houve uma queda do trabalho infantil, de 4,5% em
2006, para 4% em 2007. A exploração do trabalho infantil também demonstra as desigualdades do Brasil,
pois o perfil médio do trabalhador mirim é constituído principalmente por crianças oriundas de famílias de
baixa renda (até um salário mínimo).
Muitas dessas crianças e jovens que trabalham, enfrentam, além de irregularidades trabalhistas,
atividades aviltantes: carvoarias, atividades potencialmente mutilantes como quebra de pedras ou corte
de sisal, entre outras, redes de prostituição e tráfico de drogas, semi-escravidão ou escravidão.
E como observado pela análise do IDJ, a entrada precoce no mundo do trabalho pode ser prejudicial
ao desenvolvimento posterior desse contingente populacional, afetando sua escolaridade e sua renda.
Mas segundo resultados do Censo 2010, a exploração do trabalho infanto-juvenil diminuiu em várias
regiões do Brasil.

Trabalho e Lazer

As atividades de lazer com as quais nos envolvemos representam, na atualidade, uma das mais
importantes fontes de geração de emprego e riquezas. A maior "disponibilidade de tempo livre" para
aqueles trabalhadores formalmente inseridos no mercado de trabalho significou, efetivamente, a
transformação desse tempo em fonte de riqueza e consumo.
A discussão sobre trabalho e lazer na contemporaneidade está relacionada à forma como trabalhamos
e produzimos riquezas.
Toda tecnologia é, em si, poupadora de mão de obra. No entanto, historicamente, à medida que
máquinas e equipamentos eram incorporados ao trabalho, houve, inicialmente, um aumento das horas
trabalhadas: com a Revolução Industrial, passou-se a trabalhar 14 a 16 horas nas fábricas. Por isso,
durante a Primeira Revolução Industrial, os trabalhadores ingleses procuraram resistir às mudanças em
seu modo de vida quebrando as máquinas, considerando-as responsáveis pelo desemprego, pelos baixos
salários e pelas péssimas condições de trabalho então vigentes.
Aos poucos, os movimentos organizados dos trabalhadores conquistaram melhores condições de
trabalho, inclusive com redução da jornada para algo entre 10 e 8 horas, que predominou no mundo da
produção até a década de 1970.
Novamente, uma outra revolução tecnológica permitiu aumentar o "tempo livre" a partir da
incorporação da robótica e da cibernética na linha de produção. Porém, ao invés de "tempo livre",
podemos observar o crescimento do desemprego e a captura desse tempo livre: não mais o "ócio criativo",
dedicado ao aprimoramento pessoal ou à convivência, mas um tempo em que também nos inserimos no
consumo: consumo de viagens, de bares e restaurantes da moda, de passeios nos shoppings (eles
mesmos, grandes centros de consumo), de idas e vindas aos teatros, cinemas, etc. Por isso, uma das
indústrias que mais cresce atualmente no mundo é a indústria do entretenimento.
A indústria do entretenimento ocupou o tempo livre duramente conquistado e transformou o lazer em
consumo, envolvendo milhares de empregos no setor terciário: a criação, execução e exibição de filmes,
vídeos, novelas implicam a produção, comercialização e exibição que, por sua vez, implicam o famoso
merchandising, ou seja, a divulgação de marcas e ideias nas películas.
Além da produção associada à imagem (caso do cinema e da televisão), observamos o grande
desenvolvimento da indústria do turismo, que também emprega milhares de trabalhadores e gera bilhões
de dólares em todo o mundo.
O turista, ao viajar, necessita dos meios de transporte e locomoção, de hospedagem para visitar,
fotografar, filmar. Nessa atividade, geradora de empregos e, ao mesmo tempo, transformadora do "tempo
livre" em "tempo de consumo" há o "consumo de paisagens, locais históricos, locais sagrados".
É tão grande a pressão social para que realizemos em nossas "férias" e "feriados" essas atividades
que nossos colegas estranham quando dizemos que não fizemos nada, que optamos por ficar em casa
e conviver com a família, ler um bom livro, ouvir nossas músicas preferidas.
Em outras palavras, nosso tempo não é realmente livre: ou estamos ocupados produzindo, ou estamos
ocupados consumindo e mantendo os mecanismos da produção.
As áreas preferenciais para os turistas são aquelas que detêm maior infraestrutura, localizadas nos
países centrais. Ao mesmo tempo, a porcentagem maior de turistas circulando no mundo também é
oriunda dessas regiões e circula entre elas.
No entanto, essa "indústria do entretenimento" e o consumo do "tempo livre" somente é possível para
aquelas parcelas populacionais integradas ao mercado consumidor, ou seja, aquelas pessoas
formalmente integradas ao mercado de trabalho.

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1634532 E-book gerado especialmente para GRAZIELA CRISTINA LEOTE
Como pudemos perceber anteriormente, o aumento do desemprego tem levado, na realidade, ao
aumento das horas de trabalho, à precarização das condições de trabalho e a uma maior concentração
de renda em escala global. Desse modo, ao lado desse crescimento do consumo, observamos,
proporcionalmente, um aumento da miséria e da violência.
Se ser cidadão nessa sociedade do futuro é ser incluído como consumidor e, se para ser consumidor
é necessário ter renda; se, para ter renda, é necessária uma atividade econômica capaz de gerar
excedentes em dinheiro, inclusive pessoais, como é possível aos milhões de desempregados se inserirem
neste contexto? Como é possível aos 550 milhões de pessoas que vivem com menos de 1 dólar por dia
se integrar ao "sistema"?
Não é possível. Logo, é provável apontarmos para um aumento da violência global: são hordas de
pessoas desterritorializadas (expatriadas, refugiadas, clandestinas) em todos os países, prontas para
integrarem gangues, grupos terroristas, grupos paramilitares. São grupos de pessoas em busca de uma
identidade, de um grupo, de uma sociedade e sociabilidade que Ihes permita existir.
Ao longo dessa história do trabalho e dos trabalhadores, podemos dizer também que houve uma
dissociação entre trabalho e vida: o trabalho é realizado em um espaço público, fora de casa. A vida -
pessoal, sobretudo, e do âmbito privado.
Mais uma vez, as mudanças no mundo do trabalho vêm modificar um pouco esse quadro: existem
inúmeros trabalhadores que realizam suas atividades produtivas em seu espaço privado, porém sem
conseguir reassociar trabalho e lazer. Todo o tempo disponível é utilizado na produção, ainda que esta
se realize no espaço das próprias residências.
E o "tempo livre" é gasto nas viagens, compras intermináveis, bares, restaurantes da moda, carros etc.
Nesses casos, compramos a ideia de que o produto em si basta.

Trabalho, Consumo e Violência

Para compreendermos essa associação, é preciso considerar um pouco de sua historicidade. Na


década de 1970, no Brasil, havia quase uma associação imediata entre pobreza e violência: as regiões e
populações mais pobres eram consideradas mais violentas, e esta violência era provocada principalmente
pela necessidade de sobrevivência.
Assim, a violência era associada quase que somente a um problema estrutural do capitalismo: por ser
concentrador de renda, impossibilitava o acesso a melhores condições de vida, em alguns casos, impedia
inclusive a sobrevivência, e isto era a causa maior das manifestações violentas. Valia aquela ideia de
que, quanto maior a pobreza, maior a violência.
No entanto, a partir do final da década de 1980, essas ideias passaram a ser muito criticadas, uma vez
que, se por um lado havia trabalhadores super explorados ou desempregados que se tornavam violentos,
de outro, centenas de trabalhadores nas mesmas condições não apelavam para a violência como forma
de sobrevivência. E mais: inúmeras pesquisas constataram a expansão da violência para áreas
consideradas nobres, atingindo populações de maior poder aquisitivo.
Atualmente, acredita-se que as causas do aumento da violência sejam múltiplas: pobreza; maiores
dificuldades de acesso aos bens públicos (saúde, educação, lazer); desemprego e/ou trabalho precário;
características pessoais como necessidade de autoafirmação (para integrar gangues, por exemplo);
necessidade de consumir drogas; problemas psíquicos (como as psicoses e esquizofrenias); necessidade
de atender às demandas do consumo (associado não necessariamente à pobreza, mas à vaidade e à
autoafirmação); participação em grupos ultrarradicais (caso dos skinheads, por exemplo, que praticam
violência gratuita contra grupos raciais ou sexuais).
Porém, uma constatação pode ser feita: a violência é, em geral, maior nas áreas ocupadas por
populações de menor poder aquisitivo e menor acesso aos bens públicos, apesar de ocorrer em todas as
classes sociais.
Outra constatação que pode ser feita, observando a realidade atual, é o aumento da violência
associada aos diversos tipos de tráfico: drogas, armas, pessoas, órgãos humanos. Esse aumento do
tráfico não é um fenômeno isolado, mas está presente em todo o globo. Assim, se falamos de globalização
econômica, é preciso considerar que houve também uma globalização da violência, com difusão global
das máfias (italianas, japonesas, russas etc.).
Um exemplo de violência relacionada à baixa renda é constatado em um estudo que mostra a chance
de sobrevivência de crianças carentes. As crianças que recebem exclusivamente alimentação oferecida
pelos pais de baixa renda têm mais chance de desenvolver qualquer tipo de subnutrição do que aquelas
que saem das suas casas quando os pais estão trabalhando e pedem esmolas ou alimentos nas ruas.
Estas acabam ingerindo uma quantidade maior de proteínas do que as que se mantiveram em casa.

255
1634532 E-book gerado especialmente para GRAZIELA CRISTINA LEOTE
Em resumo, a precariedade dos baixos salários e o desemprego impelem as crianças para a rua.
Soma-se a isso a violência doméstica, e temos um contingente de crianças e adolescentes vivendo à
margem da sociedade, extremamente suscetíveis ao aliciamento de grupos criminosos.
O consumo também é um gerador de violência na medida em que ele demarca o “status” social do
indivíduo. Quando o consumo ocorre frequentemente num ritmo além da necessidade, ele sinaliza uma
necessidade pessoal de autoafirmação, de sublimação do ego, de relativizar carências pessoais ou,
ainda, da necessidade de se sentir aceito por um determinado grupo ou esfera social. A propaganda
trabalha com esses vínculos para produzir novos consumidores.
Dessa forma, existem violência e auto violência em nome do consumismo.
A sujeição de jovens de todas as classes aos apelos do consumo reflete o poder da mídia e a mudança
de valores. Quando as relações humanas são “coisificadas”, temos uma sociedade doente e insensível a
qualquer tipo de responsabilidade, seja de natureza ambiental ou social.
O grau de individualismo desemboca no "consumo alienado", em que se vislumbra apenas a satisfação
pessoal, ainda que efêmera. Vive-se numa situação de isolamento social, em que nada do que ocorre
fora do círculo individual de relacionamentos interessa. Essa alienação também se constitui numa forma
de violência.
O trabalho alienado, o consumo alienado são traços da globalização econômica, em que tudo é
padronizado e criteriosamente desenvolvido, para que as pessoas com potencial de consumo se sintam
especiais, usando artefatos de massa, que mesmo assim, sejam diferenciadas da massa, não pelo estilo
próprio ou ideias, mas pela marca.
Os efeitos da padronização e da "necessidade" de consumo de bens, que definem o status quo,
atingem todas as classes sociais. Eles são nocivos porque têm o poder de dividir e de discriminar. E uma
sociedade "apartada", com discriminação social, só poderá gerar todo tipo de violência.
Logo, apesar de a violência não poder ser associada exclusivamente à pobreza ou à concentração de
renda, o estímulo ao superconsumo nas sociedades atuais acaba por estimulá-la, principalmente quando
consideramos o aumento global do desemprego.
É preciso considerar que a violência não se refere apenas à agressão física, mas a humilhações,
discriminação (racial, sexual), menosprezo do outro, indiferença. Essas são consideradas formas
"invisíveis" da violência, por isso mesmo, as estatísticas sobre o tema abordam sua manifestação
material: assassinatos, roubos, estupros, sequestros.
A legislação atual tem procurado coibir ações violentas no âmbito doméstico (violência familiar,
geralmente envolta em um manto de silêncio) e mesmo no trabalho (assédio sexual e/ou assédio moral).
No entanto, essas formas de violência, por serem "invisíveis" e constrangedoras, são, muitas vezes,
subdimensionadas.

Assédio Moral

Corresponde a perseguições, pressão psíquica, humilhações a que os trabalhadores podem ser


submetidos em seu trabalho. De difícil detecção, o assédio moral é responsável por crises de depressão,
queda da produtividade, demissão (solicitação própria ou iniciativa da empresa), podendo ser cometida
por um chefe contra seus subordinados e/ou entre colegas de trabalho.
Nessa nova ordem mundial, determinada peça expansão dos negócios em escala global, máfias
recrutam, entre trabalhadores pobres, desempregados e subempregados, mão de obra farta e disponível
para atuarem no mercado ilegal (de drogas, armas, venda de órgãos, crianças, mulheres).
E assim se alimentam as estatísticas e as notícias sobre a violência, miséria, consumo, degradação
ambiental em todo o globo.
Caetano Veloso traduziu ironicamente essas contradições na canção: “Alguma coisa está fora de
ordem, fora da nova ordem mundial”.

Questões

01. (TJ/DFT – Titular de Serviços de Notas e Registros – CESPE/2019) Acerca de aspectos


relacionados ao impacto da tecnologia no mercado de trabalho, julgue os itens que se seguem.
I Os impactos da tecnologia no mundo do trabalho não são necessariamente imediatos, mas, a longo
prazo, podem implicar no desaparecimento de determinadas profissões.
II Projeções sobre o futuro do mercado de trabalho dão destaque às profissões de índole criativa no
mercado de trabalho dominado pela tecnologia.

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1634532 E-book gerado especialmente para GRAZIELA CRISTINA LEOTE
III As revoluções tecnológicas demandam capacidade de inovação para estimular a competitividade,
aspecto que tem sido explorado por políticas públicas brasileiras que elevaram a posição do Brasil no
ranking internacional de competitividade.
IV Devido aos impactos resultantes da tecnologia no mercado de trabalho, a maioria das escolas
brasileiras da rede privada e pública já tem em seus currículos disciplinas relacionadas a programação e
robótica.
Estão certos apenas os itens
(A) I e II.
(B) I e IV.
(C) III e IV.
(D) I, II e III.
(E) II, III e IV.

02. (IF/TO – Professor de Geografia – IF/TO/2019) A Revolução Industrial inaugurou um ciclo de


inovações tecnológicas que permeiam as atividades humanas desde o século XVIII. O uso disseminado
das máquinas, advindas dessas inovações, modificou as relações de trabalho, como satirizado na charge
seguinte, ampliou a produção e a produtividade, impulsionou a urbanização e assim reestruturou a
organização do espaço no mundo.

Analise as alternativas seguintes sobre a Revolução Industrial, suas fases e os reflexos econômicos e
sociais no espaço mundial e brasileiro e assinale a correta:
(A) Como estratégia para promover o crescimento econômico e o desenvolvimento industrial, a Grã-
Bretanha, nos primórdios da Revolução Industrial, adotou uma postura protecionista, executando medidas
tanto para impedir transferência de tecnologia para os principais concorrentes, como reduzindo ou
abolindo as tarifas alfandegárias de importação de matérias-primas importantes para sua atividade
industrial, além de conceder subsídios para a exportação de seus produtos industriais. Essa política de
fomento de sua atividade industrial durou até meados do século XIX.
(B) A 2ª Revolução Industrial, iniciada em meados do século XIX, também denominada de Revolução
Técnico-Cientifico-Informacional, ampliou a industrialização para além do continente europeu, abarcando
o continente americano como um todo e parte do continente asiático.
(C) Os fatores locacionais para a instalação de unidades industriais configuram-se como vantagens
competitivas de um lugar em detrimento de outro. Para as indústrias de alta tecnologia, os fatores
locacionais mais importantes são, em ordem decrescente: amplo mercado consumidor, incentivos fiscais,
disponibilidade de matéria-prima e mão de obra altamente qualificada.
(D) A importância alcançada pelas empresas transnacionais no mercado global possibilitou a
descentralização industrial e, por meio da fragmentação do processo produtivo, favoreceu o
desenvolvimento industrial de países não industrializados como o Brasil e a Rússia. Nestes países, desde
o início de seu desenvolvimento industrial, o consumo foi ampliado por meio da obsolescência
programada.
(E) Na 1ª Revolução Industrial a exploração dos trabalhadores foi intensa. Cargas horárias de trabalho
excessivas, poucos ou nenhum direito trabalhista, baixas remunerações e condições insalubres de

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1634532 E-book gerado especialmente para GRAZIELA CRISTINA LEOTE
trabalho foram e são enfrentadas por todos os trabalhadores do setor secundário até a atualidade nas
economias emergentes.

03. (Câmara de Petrolina /PE – Agente Administrativo – IDIB/2019) Sobre o tópico “Desemprego”,
assinale a alternativa incorreta:
(A) As inovações tecnológicas introduzidas nas indústrias aumentaram a produtividade; por outro lado,
reduziram os empregos, o que implica em sérias questões sociais.
(B) Os computadores e as novas tecnologias pouco diminuem a participação humana no processo
produtivo.
(C) As inovações tecnológicas do passado acabaram com alguns postos de trabalho, mas deram
origem a outros, em novos setores da economia.
(D) Dentre as principais causas do desemprego podemos apontar o desaquecimento da economia,
que provoca demissões em larga escala.

Gabarito

01.A / 02.A / 03.B

Urbanização brasileira: processo de urbanização; rede urbana; hierarquia


urbana; regiões metropolitanas e Regiões Integradas de Desenvolvimento
(RIDEs); espaço urbano e problemas urbanos.

CIDADES E URBANIZAÇÃO BRASILEIRA69

A fundação de Brasília, em 1960, e a abertura de rodovias integrando a nova capital ao restante do


país provocaram significativas alterações nos fluxos migratórios e na urbanização brasileira. Os
municípios já existentes cresceram, outros foram inaugurados e, consequentemente, houve reflexos na
malha municipal brasileira.

O que consideramos Cidade?

No mundo, atualmente, há cidades de diferentes tamanhos, densidades demográficas e condições


socioeconômicas. Em algumas, apenas uma função urbana recebe destaque, enquanto em outras são
desenvolvidas múltiplas atividades. Muitas se estruturaram há séculos, outras começaram a se
desenvolver há poucos anos ou décadas. Há ainda cidades que apresentam grande desigualdade social
e aquelas nas quais as desigualdades são menos acentuadas. Todos esses aspectos se refletem na
organização do espaço e são visíveis nas paisagens urbanas.
Dependendo do país ou da região em que se localiza, uma pequena aglomeração de alguns milhares
de habitantes pode apresentar grande diversidade de funções urbanas ou, simplesmente, constituir uma
concentração de residências rurais. Por exemplo, na Amazônia, onde a densidade demográfica é muito
baixa, um pequeno povoado pode contar com diversos serviços, como posto de saúde, escola e serviço
bancário, enquanto no inteiro do Estado de São Paulo, onde a rede urbana é bastante densa, o distrito
de um município de pequeno porte pode se constituir apenas como local de moradia de trabalhadores
rurais, com comércio de produtos básicos, sem apresentar outras funções urbanas. Quanto à população,
uma cidade localizada em regiões pioneiras pode ter muito menos habitantes que uma vila rural de um
município muito populoso localizado em uma região de ocupação mais antiga.
Na maioria dos países, tanto desenvolvidos como em desenvolvimento, a classificação de uma
aglomeração humana como zona urbana ou cidade costuma considerar algumas variáveis básicas:
densidade demográfica, número de habitantes, localização e existência de equipamentos urbanos, como
comércio variado, escolas, atendimento médico, correio e serviços bancários. No Brasil, o IBGE considera
população urbana as pessoas que residem no interior do perímetro urbano de cada município, e
população rural as que residem fora desse perímetro.
Entretanto, as autoridades administrativas de alguns municípios utilizam as atribuições que a lei lhes
garante e determinam um perímetro urbano bem mais amplo do que a área efetivamente urbanizada.
Dessa forma, muitas chácaras, sítios ou fazendas, inegavelmente áreas rurais, acabam registradas como

69 SENE, Eustáquio de. Geografia geral e do Brasil. Volume único. Eustáquio de Sene, João Carlos Moreira. 6ª edição. São Paulo: Ática, 2018.

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1634532 E-book gerado especialmente para GRAZIELA CRISTINA LEOTE
parte do perímetro urbano e são taxados com o Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU), e não com o
Imposto Territorial Rural (ITR). Com o IPTU, o governo dos municípios obtém ima arrecadação muito
superior à que obteria com o ITR.
Em 2017, 94,5% dos municípios brasileiros tinham até 100 mil habitantes e abrigavam 43,5% da
população do país; neles, as diversas atividade rurais ocupavam grande parte dos trabalhadores e
comandavam o modo de vida das pessoas.
Já que todos os municípios, independente de sua extensão territorial e população, têm,
obrigatoriamente, uma zona estabelecida como urbana, algumas aglomerações cercadas por florestas,
pastagens e áreas de cultivo são classificadas como áreas “urbanas”. Segundo esse critério, o estado do
Amapá e de Mato Grosso têm índices de urbanização equivalentes ao da região Sudeste. Portanto, como
não há um critério uniforme, a comparação dos dados estatísticos de população urbana e rural entre o
Brasil e outros países fica comprometida.
Alguns estados com grau de urbanização maior (acima de 70%) localizam-se em regiões de floresta,
de expansão agrícola ou reservas indígenas e ecológicas (principalmente na região Norte do país), nas
quais as atividades rurais, como agropecuária e extrativismo, são dominantes. Por exemplo, segundo o
IBGE, o Amapá, que em 2017 possuía apenas 797 mil habitantes distribuídos em 16 municípios, sendo
474 mil habitantes em Macapá, apresenta índices de urbanização igual ao de outros estados do Centro-
Sul.

População Urbana e Rural

A metodologia utilizada na definição das populações urbana e rural resulta em distorções. É


inquestionável, entretanto, que os índices de população urbana tenham aumentado em quase todo o país
em razão da migração rural-urbana, embora atualmente ela seja menos intensa do que nas décadas
anteriores.
Até meados dos anos 1960, a população brasileira era predominantemente rural. Entre as décadas de
1950 e 1980, milhões de pessoas migraram para as regiões metropolitanas e capitais de estados. Esse
processo provocou crescimento desordenado, segregação espacial e aumento das desigualdades nas
grandes cidades, mas também melhoria em vários indicadores sociais, como a redução da natalidade e
dos índices de mortalidade infantil, além do aumento na expectativa de vida e nas taxas de escolarização.
Veja a tabela a seguir.

Brasil: Índice de Urbanização por Região (%)


Região 1950 1970 2015
Sudeste 44,5 72,7 93,1
Centro-Oeste 24,4 48,0 89,8
Sul 29,5 44,3 85,6
Norte 31,5 45,1 75,0
Nordeste 26,4 41,8 73,1
Brasil 36,2 55,9 84,7

Observe que o Centro-Oeste apresenta o segundo maior índice de urbanização entre as regiões
brasileiras. Isso se explica por dois fatores: toda a população do Distrito Federal (cerca de 3 milhões de
habitantes em 2017) mora dentro do perímetro urbano de Brasília, que é o único aglomerado urbano
dessa unidade da Federação; e houve a abertura de rodovias e a expansão das fronteiras agrícolas com
pecuária e a agricultura mecanizada (que usam pouca mão de obra), o que promoveu o crescimento
urbano nas cidades já existentes e o surgimento de outras.
Atualmente, a distinção entre população urbana e rural torou-se mais complexa, pois é considerável o
número de pessoas que trabalham em atividades rurais e residem nas cidades, assim como moradores
da área rural que trabalham no meio urbano.
São inúmeras as cidades que surgiram e cresceram em regiões do país que têm a agroindústria como
propulsora das atividades econômicas secundárias e terciárias. Ao mesmo tempo, vem aumentando e se
diversificando o número de atividades econômicas secundárias e terciárias instaladas na zona rural, que,
assim, se torna cada vez mais integrada à cidade.

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1634532 E-book gerado especialmente para GRAZIELA CRISTINA LEOTE
A Rede Urbana Brasileira

Nas primeiras décadas da colonização foram fundadas várias vilas no Brasil. Em 1549, foi fundada
Salvador, a capital do Brasil até 1763, quando a sede foi transferida para o Rio de Janeiro. As demais
vilas da Colônia, assim que atingiam certo nível de desenvolvimento, recebiam título de cidade. A partir
da República, as vilas passaram a ser chamadas de cidades, e seu território (perímetro urbano e zona
rural) passou a ser designado município.
Ao longo da história da ocupação do território brasileiro, houve grande concentração de cidades na
faixa litorânea, em razão do processo de colonização do tipo agrário-exportador.
Durante o auge da atividade mineradora, ocorreu um intenso processo de urbanização e uma
efervescência cultural em Minas Gerais, além da ocupação de Goiás e Mato Grosso. Mas, com a
decadência da mineração, essas regiões, mais distantes do litoral, perderam população. A forte migração
para a então província de São Paulo, onde se iniciava a cafeicultura, possibilitou o desenvolvimento de
várias cidades, como Taubaté, Bragança Paulista e Campinas.
Além da cidade, os municípios podem conter outros núcleos urbanos, chamados distritos, que são
subdivisões administrativas. Em alguns casos, esses distritos crescem e se tornam maiores que a cidade,
incentivando movimentos de emancipação. Entretanto, muitos desses novos municípios não têm
arrecadação suficiente para manter as despesas inerentes, como Prefeitura, Câmara Municipal e serviços
públicos.
Considerando a viabilidade financeira dos novos municípios, ou seja, a relação entre receitas e
despesas, conclui-se que nem sempre há condições para sua autonomia econômica. Assim, muitos
municípios acabam deficitários, dependentes do auxílio estadual e federal.
Porém, para a população local, a criação de um novo município costuma parecer uma grande
conquista, pois, em geral, sente-se marginalizada e reivindica mais atenção e investimentos. A partir de
2001, essas emancipações diminuíram muito porque a Lei de Responsabilidade Fiscal estabeleceu certa
autonomia econômica aos distritos e regulamentou as condições de repasse de verbas entre as esferas
de governo.
O Brasil tinha em 1960, 2766 municípios; em 1980, 3991; em 2000, 5507; em 2010, 5565 e em 2017,
5570.
O processo de urbanização e estruturação da rede urbana brasileira pode ser dividido em quatro
etapas.

Brasil: Integração Regional


Até a década de 1930 as migrações e o processo de urbanização se organizavam predominantemente
em escala regional, com as respectivas metrópoles funcionando como polos de atividades secundárias e
terciárias. As atividades econômicas, que impulsionam a urbanização, desenvolviam-se de forma
independente e esparsa pelo território nacional. A integração econômica entre São Paulo (região
cafeeira), Zona da Mata nordestina (cana-de-açúcar, cacau e tabaco), Meio-Norte (algodão, pecuária e
extrativismo vegetal) e região Sul (pecuária e policultura) era muito restrita. Com a modernização da
economia, as regiões Sul e Sudeste formaram um mercado único que, posteriormente, incorporou o
Nordeste e, mais arde, o Norte e o Centro-Oeste.
A partir da década de 1930, à medida que a infraestrutura de transportes e telecomunicações se
expandia pelo país, o mercado se unificava, mas a tendência à concentração das atividades urbano-
industriais na região Sudeste fez com que a atração populacional ultrapassasse a escala regional,
alcançando o país como um todo. Os dois grandes polos industriais do Sudeste, São Paulo e Rio de
Janeiro, passaram a atrair um enorme contingente de mão de obra das regiões que não acompanharam
o mesmo ritmo de crescimento econômico e se tornaram metrópoles nacionais. Foi particularmente
intenso o afluxo de mineiros e nordestinos para as duas metrópoles, que, por não atenderem às
demandas de investimento em infraestrutura, tornaram-se centros urbanos com diversos problemas em
setores como moradia e transportes.
Entre as décadas de 1950 e 1980 ocorreram intenso êxodo rural e migração inter-regional, com forte
aumento da população metropolitana no Sudeste, Nordeste e Sul. Nesse período, o aspecto mais
marcante da estruturação da rede urbana brasileira foi a concentração progressiva e acentuada da
população em grades cidades, como São Paulo, Rio de Janeiro e outras capitais que cresciam
velozmente.
Da década de 1980 aos dias atuais observa-se que o maior crescimento tende a ocorrer nas
metrópoles regionais e cidades médias, com predomínio da migração urbana-urbana-deslocamento de
população das cidades pequenas para as médias e retorno de moradores das cidades de São Paulo e

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1634532 E-book gerado especialmente para GRAZIELA CRISTINA LEOTE
Rio de Janeiro para as cidades médias, tanto da região metropolitana quanto para outras mais distantes,
até de outros estados.

A Integração Econômica

A mudança na direção dos fluxos migratórios e na estrutura da rede urbana é resultado de uma
contínua e crescente reestruturação e integração dos espaços urbano e rural. Isso resulta da dispersão
espacial das atividades econômicas, intensificada a partir dos anos 1980, e da formação de novos centros
regionais, que alteraram o padrão hegemônico das metrópoles na rede urbana do país. As metrópoles
não perderam a sua primazia, mas os centros urbanos regionais não metropolitanos assumiram algumas
funções até então desempenhadas apenas por elas.
Com novas funções, muitos desses centros urbanos geraram vários dos problemas da maioria das
grandes cidades que cresceram sem planejamento.

Principais Problemas Urbanos


Moradia
A especulação imobiliária tem tornado o solo urbano cada vez mais caro, excluindo a população de
baixa renda das áreas com melhor infraestrutura, porque são as mais valorizadas. Assim, grande parte
da população se instala em assentamentos irregulares, como encostas de morros e várzeas de rios,
muitos deles consideradas áreas de risco para estabelecer moradia.

Trânsito
A necessidade de percorrer grandes distâncias diariamente no percurso casa-trabalho-casa, em
função da distribuição desigual de empregos pela cidade, e a falta de um transporte público eficiente
geram um número elevado de automóveis particulares nas vias públicas. Além disso, a verticalização70
característica dos grandes centros urbanos, alternativa encontrada para o adensamento71, quando feita
sem planejamento, influencia diretamente o aumento do transito de automóveis.
O aumento da concentração de poluentes na atmosfera nos centros urbanos é causado pelo
lançamento de partículas geradas, sobretudo, pela queima dos combustíveis dos veículos. Doenças
cardíacas e respiratórias têm sido associadas à presença de partículas poluentes nos pulmões e na
corrente sanguínea dos habitantes dos grandes centros urbanos, segundo a Organização Mundial da
Saúde.

Violência
A violência em geral é maior nos grandes centros urbanos, onde a desigualdade social é mais
acentuada.
Na tentativa de diminuir a sensação de insegurança, proliferam os condomínios residenciais fechados
e o setor privado de segurança. Fora dos condomínios residenciais, a busca por segurança incentiva a
procura por prédios para moradia, o que contribui para a verticalização dos grandes centros urbanos.
O crescimento do número de shopping centers nos grandes centros materializa o desejo de espaços
mais seguros para o lazer e as compras.

As Regiões Metropolitanas Brasileiras

As regiões metropolitanas brasileiras foram criadas por lei aprovada no Congresso Nacional em 1973,
que as definiu como “um conjunto de municípios contíguos e integrados socioeconomicamente a uma
cidade central, com serviços públicos e infraestrutura comum”, que deveriam ser reconhecidas pelo IBGE.
A Constituição de 1988 permitiu a estadualização do reconhecimento legal das metrópoles, conforme
o artigo 25, §3º: “Os Estados poderão, mediante lei complementar, instituir regiões metropolitanas,
aglomerações urbanas e microrregiões, constituídas por agrupamentos de municípios limítrofes, para
integrar a organização, o planejamento e a execução de funções públicas de interesse comum”.

As Regiões Integradas de Desenvolvimento (Rides) também são regiões metropolitanas, mas os


municípios que as integram situam-se em mais de uma unidade da Federação e, por causa disso, são
criadas por lei federal.

70 Verticalização é um processo urbanístico que ocorre em metrópoles e consiste na construção de grandes e inúmeros edifícios, o que acaba, inevitavelmente,
dificultando a circulação de ar, devido à diminuição do espaço físico plano para construção. Ademais, é decorrente a formação de ilhas de calor nesses locais.
71 Fenômeno associado ao crescimento populacional das cidades, que resulta no uso intensivo do espaço urbano. Aglomeração de pessoas em um espaço
pequeno.

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Em 2017, de acordo com a Empresa Paulista de Planejamento Metropolitano (Emplasa), havia 74
regiões metropolitanas no país, abrigando 115,9 milhões de pessoas, 55,9% da população brasileira.
Veja a tabela a seguir, na qual estão listadas as quinze maiores regiões metropolitanas (incluída a
Ride do Distrito Federal).

Brasil: Maiores Regiões Metropolitanas e Rides - 2017


Região Metropolitana População
São Paulo 21.391.624
Rio de Janeiro 12.377.305
Belo Horizonte 5.314.930
Ride DF e entorno 4.373.841
Porto Alegre 4.293.050
Fortaleza 4.051.744
Salvador 4.015.205
Recife 3.965.699
Curitiba 3.572.326
Campinas 3.168.019
Vale do Paraíba e Litoral 2.497.857
Norte
Goiânia 2.493.792
Manaus 2.488.336
Belém 2.441.761
Sorocaba 2.088.321

Na tabela acima estão listadas regiões metropolitanas reconhecidas por lei estadual que trata-se do
reconhecimento legal como conjunto de cidades conturbadas com infraestrutura comum.
À medida que as cidades vão se expandindo horizontalmente, ocorre a conturbação, ou seja, elas se
tornam contínuas e integradas. Embora com administrações diferentes, espacialmente é como se fossem
uma única cidade. Portanto, os problemas de infraestrutura urbana passam a ser comuns ao conjunto de
municípios que formam a região metropolitana.
Das 74 regiões metropolitanas existentes em 2017, duas, São Paulo e Ri ode Janeiro, são
consideradas metrópoles nacionais, pelo fato de polarizarem o país inteiro. Ambas também são
consideradas cidades globais por estarem mais fortemente integradas aos fluxos mundiais. É nessas
cidades, sobretudo em São Paulo, que estão as sedes dos grandes bancos e das indústrias do país,
alguns dos centros de pesquisa mais avançados, as Bolsas de Valores e mercadorias, os grandes grupos
de comunicação, os hospitais de referência, etc.
A conturbação entre duas ou mais metrópoles não significa que as malhas urbanas sejam contínuas;
ela envolve plena integração socioeconômica, com intensidade de fluxos entre os municípios, mesmo
com a presença de zona rural entre eles.

Hierarquia e Influência dos Centros Urbanos no Brasil - Mobilidade

Dentro da rede urbana, as cidades são os nós dos sistemas de produção e distribuição de mercadorias
e da prestação de serviços diversos, que se organizam segundo níveis hierárquicos distribuídos de forma
desigual pelo território.
Por exemplo, o Centro-Sul do país possui uma rede urbana com grande número de metrópoles,
capitais regionais e centros sub-regionais bastante articulados entre si. Já na Amazônia, as cidades são
esparsas e bem menos articuladas, o que leva centros menores a exercerem o mesmo nível de
importância na hierarquia urbana regional que outros maiores localizados no Centro-Sul.
Outro fator importante que devemos considerar ao analisar os fluxos no interior de uma rede urbana é
a condição de acesso proporcionada pelos diferentes níveis de renda da população. Um morador rico de
uma cidade pequena consegue estabelecer muito mais conexões econômicas e socioculturais que um
morador pobre de uma grande metrópole. A mobilidade das pessoas entre as cidades da rede urbana
depende de seu nível de renda.
Segundo o IBGE, as regiões de influência das cidades brasileiras são delimitadas principalmente pelo
fluxo de consumidores que utilizam o comércio e os serviços públicos e privados no interior da rede
urbana. Ao realizar o levantamento para a elaboração do mapa da rede urbana, investigou-se a

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organização dos meios de transporte entre os municípios e os principais destinos das pessoas que
buscam produtos e serviços.
O IBGE classificou as cidades em cinco níveis:

Metrópoles – os doze principais centros urbanos do país, divididos em três subníveis, segundo o
tamanho e o poder de polarização:
a) Grande metrópole nacional – São Paulo, a maior metrópole do país (21,2 milhões de habitantes,
em 2016), com poder de polarização em escala nacional;
b) Metrópole nacional – Rio de Janeiro e Brasília (12,3 milhões e 4,3 milhões de habitantes,
respectivamente, em 2016), que também estendem seu poder de polarização em escala nacional, mas
com um nível de influência menor que o de São Paulo;
c) Metrópole – Belo Horizonte, Porto Alegre, Fortaleza, Salvador, Recife, Curitiba, Campinas e
Manaus, com população variando de 2,6 (Manaus) a 5,9 milhões de habitantes (Belo Horizonte), são
regiões metropolitanas que têm poder de polarização em escala regional.

Capital regional – Neste nível de polarização existem setenta municípios com influência regional. É
subdividido em três níveis:
a) Capital regional A – engloba 11 cidades, com média de 955 mil habitantes;
b) Capital regional B – 20 cidades, com média de 435 mil habitantes;
c) Capital regional C – 39 cidades, com média de 250 mil habitantes.

Centro sub-regional – Engloba 169 municípios com serviços menos complexos e área de polarização
mais reduzida. É subdividido em:
a) Centro sub-regional A – 85 cidades, com média de 95 mil habitantes;
b) Centro sub-regional B – 79 cidades, com média de 71 mil habitantes.

Centro de zona – São 556 cidades de menor porte que dispõem apenas de serviços elementares e
estendem seu poder de polarização somente às cidades vizinhas. Subdivide-se em:
a) Centro de zona A – 192 cidades, com média de 45 mil habitantes;
b) Centro de zona B – 364 cidades, com média de 23 mil habitantes.

Centro local – as demais 4.473 cidades brasileiras, com média de 8.133 habitantes e cujos serviços
atendem somente à população local, não polarizam nenhum município, sendo apenas polarizadas por
outros.

Plano Diretor e Estatuto da Cidade

Em 10 de julho de 2001, foi sancionado o Estatuto da Cidade, documento que regulamentou itens de
política urbana que constam da Constituição de 1988. O estatuto fornece as principais diretrizes a serem
aplicadas nos municípios, por exemplo: regularização da posse dos terrenos e imóveis, sobretudo em
áreas de risco que tiverem ocupação irregular; organização das relações entre a cidade e o campo;
garantia de preservação e recuperação ambiental, entre outras.
Segundo o Estatuto da Cidade, é obrigatório que determinados municípios elaborem um Plano
Diretor, que é um conjunto de leis que estabelecem as diretrizes para o desenvolvimento socioeconômico
e a preservação ambiental, regulamentando o uso e a ocupação do território municipal, especialmente o
solo urbano. O Plano Diretor é obrigatório para municípios que apresentam uma ou mais das seguintes
características:
Abriga mais de 20 mil habitantes;
Integra regiões metropolitanas e aglomerações urbanas;
Integra áreas de especial interesse turístico;
Insere-se na área de influência de empreendimentos ou atividades com significativo impacto ambiental
de âmbito regional ou nacional;
É um local onde o poder público municipal quer exigir o aproveitamento adequado do solo urbano sob
pena de parcelamento, desapropriação ou progressividade do Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU).
Os planos são elaborados pelo governo municipal – por uma equipe de profissionais qualificados, como
geógrafos, arquitetos, urbanistas, engenheiros, advogados e outros. Geralmente se iniciam com um perfil
geográfico e socioeconômico do município. Em seguida, apresenta-se uma proposta de desenvolvimento,
com atenção especial para o meio ambiente.

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A parte final, e mais extensa, detalha as diretrizes definidas para cada setor da administração púbica,
ou seja, habitação, transporte, educação, saúde, saneamento básico, etc., assim como as normas
técnicas para ocupação e uso do solo, conhecidas como Lei de Zoneamento.
Assim, o Plano Diretor pode alterar ou manter a forma dominante de organização espacial e, portanto,
interfere no dia a dia de todos os cidadãos. Por exemplo, uma alteração na Lei de Zoneamento pode
valorizar ou desvalorizar os imóveis e alterar a qualidade de vida em determinado bairro.
Outro exemplo prático de planejamento urbano constante no Plano Diretor é o controle dos polos
geradores de tráfego, uma vez que os congestionamentos são um sério problema para os moradores das
grandes e médias cidades. Para isso, tem colaborado bastante a difusão dos Sistemas de Informações
Geográficas (SIGs).
Os SIGs permitem coletar, armazenar e processar, com grande rapidez, uma infinidade de dados
georreferenciados fundamentais e mostrá-los por meio de plantas e mapas, gráficos e tabelas, o que
facilita muito a intervenção dos profissionais envolvidos com o planejamento urbano.
Antes de ser elaborado pela Prefeitura (Poder Executivo) e aprovado pela Câmara Municipal (Poder
Legislativo), o Plano Diretor deve contar com a “cooperação das associações representativas no
planejamento municipal”. A participação da comunidade na elaboração desse documento passou a ser
uma exigência constitucional que prevê, ainda, projetos de iniciativa popular (geralmente na forma de
abaixo-assinado), que podem ser apresentados desde que contem com participação de 5% do eleitorado,
conforme inciso XIII do artigo 29 da Constituição.
Além de um Plano Diretor bem-estruturado, é importante que o poder público e os cidadãos respeitem
as regras estabelecidas, colaborando, assim, para que os problemas das cidades sejam minimizados.
Entretanto, o planejamento das ações governamentais e a sua execução demandam um processo
composto de várias fases, e algumas (como preparar uma licitação ou aprovar o orçamento no Legislativo)
dificilmente podem ser organizadas pela população.
Como o encaminhamento dessas fases exige uma ação administrativa complexa, na prática a
participação popular no planejamento e na execução de intervenções urbanas só se concretiza quando a
pressão popular e a vontade dos governantes convergem nessa direção.
Aplicações do Plano Diretor
Cada Plano Diretor trata de realidades particulares dos diversos municípios, mas maioria deles
apresenta as seguintes aplicações práticas:

Lei do Perímetro Urbano – Estabelece os limites da área considerada perímetro urbano, em cujo
interior é arrecadado o IPTU.

Lei do Parcelamento do Solo Urbano – A principal atribuição dessa lei é estabelecer o tamanho
mínimo dos lotes urbanos, o que acaba determinado o grau de adensamento de um bairro ou zona da
cidade. Por exemplo, num bairro onde o lote mínimo tenha área de 200 m², a ocupação será mais densa
que em outro onde ele tenha 500 m².

Lei de Zoneamento (uso e ocupação do solo urbano) – Estabelece as zonas do município nas quais
a ocupação será estritamente residencial ou mista (residencial e comercial), as áreas em que ficará o
distrito industrial, quais serão as condições de funcionamento de bares e casas noturnas e muitas outras
especificações que podem manter ou alterar profundamente as características dos bairros.

Código de Edificações – Estabelece as áreas de recuo nos terrenos (quantos metros do terreno
deverão ficar desocupados na sua parte frontal, nos fundos e nas laterais), normas de segurança (contra
incêndio, largura das escadarias, etc.) e outras regulamentações criadas por tipo de construção e
finalidade de uso, como escola, estádio, residência, comércio, etc.

Leis Ambientais – Regulamentam a forma de coleta e destino final do lixo residencial, industrial e
hospitalar e a preservação das áreas verdes: controlam a emissão de poluentes atmosféricos, normatizam
ações voltadas para a preservação ambiental;

Plano do Sistema Viário e dos Transportes Coletivos – Regulamenta o trajeto das linhas de ônibus
e estabelece estratégias que facilitem ao máximo o fluxo de pessoas pela cidade por meio da abertura de
novas avenidas, corredores de ônibus, investimentos em trens urbanos e metrô, etc.

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Questões

01. (Enem) Subindo morros, margeando córregos ou penduradas em palafitas, as favelas fazem parte
da paisagem de um terço dos municípios do país, abrigando mais de 10 milhões de pessoas, segundo
dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). MARTINS, A. R. A favela como um espaço da cidade. Disponível
em: http://www.revistaescola.abril.com.br. Acesso em: 31 jul. 2010.
A situação das favelas no país reporta a graves problemas de desordenamento territorial. Nesse
sentido, uma característica comum a esses espaços tem sido
(A) o planejamento para a implantação de infraestruturas urbanas necessárias para atender as
necessidades básicas dos moradores.
(B) a organização de associações de moradores interessadas na melhoria do espaço urbano e
financiadas pelo poder público.
(C) a presença de ações referentes à educação ambiental com consequente preservação dos espaços
naturais circundantes.
(D) a ocupação de áreas de risco suscetíveis a enchentes ou desmoronamentos com consequentes
perdas materiais e humanas.
(E) o isolamento socioeconômico dos moradores ocupantes desses espaços com a resultante
multiplicação de políticas que tentam reverter esse quadro.

02. (Enem) Em um debate sobre o futuro do setor de transporte de uma grande cidade brasileira com
trânsito intenso, foi apresentado um conjunto de propostas. Entre as propostas reproduzidas a seguir,
aquela que atende, ao mesmo tempo, à implicações sociais e ambientais presentes nesse setor é
(A) proibir o uso de combustíveis produzidos a partir de recursos naturais.
(B) promover a substituição de veículos a diesel por veículos a gasolina.
(C) incentivar a substituição do transporte individual por transportes coletivos.
(D) aumentar a importação de diesel para substituir os veículos a álcool.
(E) diminuir o uso de combustíveis voláteis devido ao perigo que representam.

Gabarito

01.D / 02.C

Comentários

01. Resposta: D
As aglomerações de moradias subnormais são construídas em terrenos públicos e particulares
invadidos. Como as áreas de risco suscetíveis a enchentes e a desmoronamentos geralmente estão
desocupadas, tornam-se alvo de invasão e construção de moradias para a população que não tem acesso
aos programas habitacionais do poder público.

02. Resposta: C
A substituição do transporte individual por coletivo reduz a quantidade de veículos em circulação e,
portanto, reduz os congestionamentos.

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