Regu açao
da Função
Pública
Notariale de Registro
B
PGR
617.430
=
çJa".,.-
ISBN 978.85-02 07386-9
Vendas:(1
1) 3613.3344(te1.)/{11) 36113268 Ifox}
SAC: (1 1 ) 361 3-321 0 (Grande SP} / 0800557688 (outras localidades) Ribeiro, luís PoDIaAliend
Ruo
ÂQ®ino
Dórea,
23- Broas
cone:(71) 3381-5854/ 3381-5895 0847008 CDU.351.755.5:347.961
fox: (71) 3381 0959 - Solvüdor
Av.
Independõnda,
S330
- Setor
hopono EditoraHanuellaSantos
Fone:(62) 3225.2882 / 321 2 2806 insistenteseditoriaisRosado SimoneSilvo 6'
fax: (62) 3224.3016 - Colónia
loíissaCasares )
WTO GROSSO
DO SUUMTO GROSSO Q
hodtMo editorial ligiaAlves
Rw14deJulho,
3148
-Conho s'
forte: (67) 3382-3682 - Fox:(67) 33B2.0112 - CampoGrande CIOIISSO Baías(hIMQ[IQ COU{Q
N
MINAS GEMIA Estagiário Vinicius
AsevedoVieiro
RuaAlém Poíüho, 449 - lagoinha
Fone: {31 ) 3429.8300 -
Fax: (31) 3429 8310 - Belo Hoózonte Preparação de originais Malta lúcio de Oliveira Godos S
PARÜAMPA Artee diagramaçõo
Cíistina
Aparecida
Agudo
defreios
Trwessa ©inügés, t86 - patim Campos Know.How Editorial
fine: (91) 3222-9034 / 3224 9038 Revisão de provas Rifa de Cássia Queiroz Goígoti
fax: (91) 324T 0499 - Belün
Know.How Editorial
PAMNÜSANTA maRINA
R}0DEJANEIROASPIRIT0
UNTO
Rua Vbcondo de Santo lsabel, 113 o119 - Vila lsübel INATA DE FECHAMENTO DA EDIÇÃO: 21-7.2008
Fow: (21) 2577.9494 - Fax: (21 ) 2577.8867 / 2577.9S65
Rio de Janeiro
134
135
pretendido, que é a satisfação do interesse público e das necessidades da cole- direito,
que não é elaborado e imposto unilateralmente pelo Estado, mas
tiüdade. Essa atuação de garantia se efetiva por meio da regulação.
resulta do consenso,de negociação, de participação dos interessadosna ma
Vital Moreira e Fernanda Maçãs'80falam em um novo se/züdoda regu- teria a ser regulada
/anão,em que o papel que o Estado é chamado a desempenhar, mais do que
O tema da regulação tem sido estudado, com maior intensidade, com
o de comandar diretamente os atores sociais, é o de estabelecer as regras do
açao à atividade económica, como um meio de intervenção indireta no
jogo e vigiar pelo seu cumprimento. Segundoos autores, o conceito de re- domínio económico,'*: mas não se restr
gulação, etimologicamente, gira em torno de duas idéias fundamentais: o
estabelecimento e a implementação de regras, normas e a manutenção ou
',«''.,..«i;;3=..=,
:=;:=:=:=;
;sseaspectopor abranger, o que sustenta Mana
" -luç ouõ çllLa lvlarla
Svl-
õyl-
vía Zanella Di Pietro ao concluir que " . a regulação constitui-se como o
garantia de funcionamento equilibrado de um sistema. A partir destas idéias
básicas,apresentam um conceito operativo de regulação económica, que, conjunto de regras de conduta e de controle da atividade económica públi-
ca e privada e das ativídades sociais não exclusivas do Estado, com a finali-
embora longe de congregar o consenso unânime dos autores, se traduz
dade de proteger o interessepúblico."i8' ' ' '"- - --w
no estabelecimento e implementação de regras para a actividade económica
destinadasa garantir o seu funcionamento equilibrado, de acordo com de- Instrumento para que o Estado exerça de modo efetivo a responsabi
lidade de garantia que assumiu ao promover a "apropriação pública"n4 de
terminados objectivos públicos.
O estabelecimento de regras de conduta para os regulados é, portanto,
somente uma das facesda regulação,em sentido amplo, que também envol-
ve a garantia de aplicação e execução das normas, a fiscalização de seu cum-
primento e a aplicação de sanções aos transgressores.
136
137
uma tarefa e transferir seu exercício a agentesprivados, não há justificativa
ou fundamento jurídico para limitar a regulação à atuação do Estado em wstasi8óo que correspondeao processo de regulação,assim descrito por
face da ordem económica
Ao apropriar-se da atividade notarial e de registros, qualinicá-la "Um processo de regulação implica tipicamente as seguintes
como ftlnção pública e de imediato atribuir seu exercício, por delegação,
bases:6ormulaçao das orientações da regulação; def nação e
a particulares, a Constituição da República do Brasil estabeleceu para es- operacionalização das regras; implementação e aplicação das
sasprofissõesoficiais ou profissõespúblicas independentes o regime de regras;controle da aplicação das regras; sancionamento dos
exercício privado de função pública, o que não somente legitima como
1. nsgressores;decisão dos recursos. Condensando e agregan-
impõe ao Estado o dever de instituir e exercer uma regulação particular- do estesdiversos níveis, podem ser reunidos em três e''' as es
mente intensa,i's correspondente à responsabilidade institucional de ga-
senciais:(a) aprovação das normas pertinentes (leis, regda-
rantia que assumiu. os, códigos de conduta, etc.);(b) implementação concreta
A regulação da função notarial e de registros, no Brasil, cabe ao Poder das referidas regras(autorizações, licenças, injunções, etc.);(c)
Judiciário, incumbido, pela Constituição Federal, da isca/{zação dos ates âscalização do cumprimento e punição das inâ'acções)."18?
dos notários e registradores, encargo cujo pleno exercício pressupõe o esta-
belecimento,o controle e a verificação do cumprimento de regras, com a
correspondente aplicação, aos inâatores, das penalidades legalmente pre-
138
139
ncoerência e sem que operação diversa se deva consumar
quando a interpretação sqa de norma constitucional."i88
GODOY, Cláudio Luiz Bueno de. Poder judiciário e a delegaçãodos serviços MARQU. P.NETOm ]oriano Peixoto de Azevedo. Agências reguladoras. Ob.
notariais e de registros. In: FREITAS, Vladimir Passosde (Coord.). Corregedo- IVI
rias do poderjudiciário. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2003. pp. 257-258
O caráter nacional do Poder Judiciário foi reconhecido pelo Pleno do Supremo
Tribunal Federal no julgamento, em 28/02/2007, da Medida Caiitelar na Ação
Direta de Inconstitucionalidade n. 3854DF, rel. min. Cezar Peluso,em que se
decidiu pela inadmissibilidade de fixação diferenciada de limite ou teto remu
neratório para os membros da magistratura federal e estadual. Destacou-se, na
oportunidade, a unicidade e indivisibilidade da jurisdição e que a modelagem
constitucional de toda a magistratura observa idênticos princípios e normas
fundamentais, com plena abstração das várias categorias de Justiça a que este.
íam seusmembros vinculados.
140
141
por conseqüência, o sancionatório, os de conciliação e os de recomendação, ' 92
foi pela Constituição da República atribuído ao Poder Judiciário, o que veda de oz/folga: prerrogativa de emissão de atos concretos para o acesso
do particular ao exercício da atividade regulada; --'
a atribuição dessasfunções a autoridade administrativa independente e ex-
terna a essePoder; além disso, impõe a busca, na estrutura do Judiciário, de
órgãos públicos nos quais estejam presentes,ao lado da autoridade, tam-
bém os atributos da finalidade regulatória e da independência.
O Conselho Nacional de Justiça, órgão criado pela Emenda Constitu-
; E:U=li';=:;:; :i
sancio?zaíódo:aplicação das penalidades previstas na Lei n. 8.935/94
e outras, de caráter administrativo, previstas em ]ei;
cional n. 45/2004, integra o Poder Judiciário; suasatribuições são de âmbi-
to nacional e têm competência expressa para a expedição de atou regula-
mentares, fiscalizaçãoe aplicação de sanções.A Corregedoria Geral da
Justiça é o órgão superior dos Tribunais de Justiça, existente em todos os
.===1=;nu
Estados, que exerce a fiscalização dos serviços notariais e de registro.'9a =::\===:===
Não há dificuldade para a constataçãode que o Conselho Nacional de
Justiça e as Corregedorias Gerais da Justiça dos Estados são órgãospzíb/iras poderá rozzprerrqgadv ) de recomendaçlão:prerrogativa de subsi
dotadosde a loddade, o que remete ao estudo do seu oHefo ouPnalidade doar,informar ou orientaro PoderPolítico, recomendandomedi
para, com apoio no estudo de Floriano de AzevedoMarques Neto e com as das ou decisões a serem editadas no âmbito das políticas públicas.
necessárias adaptações ao fato de que o serviço público notarial e de regis-
tros não seinsere no âmbito da regulaçãoeconómica-- veriâlcarquanto à
presençadas característicasi94que viabilizam, em face dessafunção pública,
o exercício da moderna regulação: amplitude de poderes, capacitação técni-
ca, permeabilidade à sociedade e processualidade.
Os poderesque o regulador da atividade notarial e de registros deve
manejar são:
142
143
tamento das pessoasencarregadasda regulaçãoleve em conta fatores de
capacidadeespecífica,conhecimento técnico e experiência relacionada com
a ativídade regulada, mas também que tais condições sejam preservadas,
revelando-se adequada para a atualização e aprimoramento dos protissio
naif envolvidos, especialmente dos magistrados e delegados de notas e re-
gistros, a atuação das Escolas da Magistratura.i
Não há óbice em que estaatividade administrativa do Poder Judiciá-
rio se exercite sem apego demasiado à postura tradicional dos órgãos públi-
cos, com permeabí/idade à socidade, considerada nos seusdois sentidos: o
diálogo permanente, transparentee aberto do regulador, com os agentes
sujeitos à regulação, e a busca permanente da participação dos demais ato-
res da sociedade (consumidores, grupos de interesse, associações, entidades
de classe e agentes económicos).'9*
A idéia de processua/idade,
ou seja,a estrita observância do devido
processo legal substantivo, requisito do manejo destes múltiplos poderes, é
compatível com a atuação das Corregedorias. É nessesentido a orientação
normativa publicada no D.O.J. de 01/12/2005, aprovada pelo des. JoséMá-
rio Antonio Cardinale, com fundamento em parecer de minha autoria lan- Estão presentes, portanto, nestes órgãos superiores do Poder ]udiciá
çado nos autos dos Protocolados CG n. 49.720/2001 e CG n. 19.797/2004 da
nos as característicasde uma autoridade reguladora independente.
Comarca da Capital, com a determinação, no âmbito das atribuições da
Corregedoria Geral da Justiça de SãoPaulo, da adoção de procedimento
3.1.1 0 ConselhoNacionalde Justiça e a regulaçãode âmbito nacional
participativo e transparente para a criação, extinção, acumulação e desacu-
mulação, no Estado de SãoPaulo, de unidades do serüço delegado de notas
e de registro.
144
145
1-- zelar pela autonomia do Poder Judiciário e pelo cumpri-
1 -- receber as reclamações e denzíncias de qualquer interessado
mento do Estatuto da Magistratura, podendo expedir aios
regulamentares, no âmbito de saa competência, ou recomett- relativas aos magstrados e aos serviços judiciários auxi lares.
dendo desconstítuí los, revê los ou/imrprazopara quere ada procedentes ou despidas de elementos mínimos para a sua
compreensão, de tudo dando ciência ao reclamante:
tem as previdências necessáriasao excito cumprimento da !ei, sem
prejuízo da competênciado Tribunal de Contas da União; 11-- determinar o processamento das reclamações que aten
111-- receber e cora/tecer das reclamações contra membros ou dam aos requisitos mínimos de admissibilidade, recebendo
órgãos do Poder Judiciário, inclusive contra seus serviços as correspondentes defesas prévias e propondo perante o
auxiliares, sem'etzfíase órgãos prestadores de sen'aços /zofadaís Plenário a rejeição do pedido ou a instauração do compe
e de regbtro que atraem poí delegação do poder público ou o$- :ente processoadministrativo disciplina 6
ciatizados, sem prejuízo da competência disciplinar e correccio- 111-- realizar si/laica/zcías inspeçõese coneíções, quando hou
nal dos nibu?país,podendo avocar processosdisciplinares em ver fatos gravesou relevantesque asjustiâquem, propondo
curso e determinar a remoção, a disponibilidade ou a apo- ao Plenário a adição de medidas adequadasa süPdr as ne-
sentadoria com subsídios ou proventos proporcionais ao :essiãadesou de$ciêncüs consta ad ;
tempo de serviço e ap/içar outras sançõesadm nísfraüpas, as-
IV -- feqzzisííarma sfrado$.delegando-lhes atribuições;
segurada ampla d($sq"(Grifos nossos)
V -- requisitarse/'odoresde Juízosou Tribunais, delegando-
Ihesatribuições; "' '''õ
Estão presentes, portanto, todas as fases do processo de regulação: o
estabelecimento de regras de conduta para os regulados, a garantia de apli- VI -- elaborar e apresentar relatórios referentes ao conteúdo
cação e execução das normas, a fiscalização de seu cumprimento e a aplica- próprio de suasatividades de correcção,inspeção e sindicân-
ção de sanções. cia, periodicamente ou sempre que solicitados pelos Conse
Conta, ainda, o Conselho Nacional de Justiça com a Corregedoria Na- Iheíros ou órgãos competentes do Conselho;
cional da Justiça, cujas atribuições, previstasno $ 5' do artigo 103-B da Vll -- íÍaÜlzar dentre os magstrados requisitados,.jures azzü
Constituição da Repúblicae no artigo 31 do RegimentoInterno do Conse- /laresda Co/re8edorlado Co/zseZbo,
com competênciaddegada;
lho, incluem os poderes regulamentar, de fiscalização e sancionatório, além Vlll -- expedir instruções, provimen ros e outros aios norma
das prerrogativas de conciliação e recomendação que o regulador deve ma- tivos para o füncíonamento dos serviços da Corregedoria;
nejar. Consta do Regimento Interno:
IX -- sugere ao Plenário do Conselho a expedição de recorre?z(ü-
[...] çlães
e elos /lqu/ameníara que assegurema autonomia do Poder
Judiciárioe o cumpiímento do Estatuto daMagistratura;
Art. 31. Compete ao Nlínistro Conegedor, além de outras atri-
buições quejhe forem cometidas pelo Estatuto da Magistratura: X -- wecutar afazer exect4tar as ordens e deliberações do (:on
selho relativas a matéria de sua competência;
146
147
XI -- dirigir-se, relativamente às matérias de sua competên- Nacional de Justiçaatuou no estrito exercício de ativídade de regulação,que
cia, às autoridades judiciárias e administrativas e a órgãos ou
tem por fundamento a atribuição ao Poder Judiciário, expressano artigo 236
entidades, assinando a respectiva correspondência; da Constituição Federal, de fiscalização dos serviços notariais e de registro,
Xll -- indicar ao Presidente, para gins de designação ou no- conjugada com a competência do Conselho para velar pela observância do
meação, o nome dos ocupantes de função gratificada ou car- artigo 37 da Carta e pela escorreita prestação de tais serviços públicos; isto
go em comissãono âmbito da Corregedoria, cabendo-lhe porque a finalidade do ato normativo foi o impedimento da contratação,
dar-lhes posse; pelo prestador de serviço público sujeito a âscalização e controle, de parentes
Xlll -- promover reurzÍões
e sugefír.ao Presidente, a criação de da autoridade incumbida de atividades correicionaís, situação em que há sé
mecanismos e meios para a co/eta de dados necessáriosao rio indício de ofensaaos princípios da moralidade e da impessoalidade.20'
bom desempenho das atividades da Corregedoria; Outro ato normativo expedido pelo ConselhoNacional de JustiçafQi
XIV -- míztzfel"con afo dírefo com as demais Corregedoriasdo a Resolução n. 35, de 24 de abril de 2007, que disciplina a aplicação da Lei
PoderJudiciário; n. 11.441/2007 pelos serviços notariais e de registro. Referida lei, publicada
em 4 de janeiro de 2007, alterou o Código de Processo Civil para possibili
XV -- promover reuniões periódicas para estudo, acompanha-
tar a realizaçãode inventário, partilha, separaçãoconsensuale divórcio
mento e sugestõescom os magistrados envolvidos na atividade
consensual por via administrativa.
correiciona!;
Com relação a este ato normativo, constata-se que o Conselho Nado
XVI -- delegar atribuições sobre questões especíâlcasaos de-
nal de Justiça can$rma sua egeüvaahaçõo na regra/anão
da atividade notarial
mais Conselheiros."(Grifos nossos)
e de.registro e que exerceu o poder rqzz/ameníar que Ihe foi atribuído pela
O Conselho Nacional de Justiça possui, portanto, os requisitos para o Constituição Federal, com o objetivo de estabelecer aos notários e registra
desempenho, com relação à atividade notarial e de registro, de uma regula- dores odenfação para a adição de medidas uniáurmes quanto à aplicação da
ção de âmbito nacional, necessáriapara a coordenação e correção de assi- nova lei em todo o terdrórío nacional,com vistas a prevenir e evitar confli-
metrias nas atuações dos Tribunais de Justiça dos Estados e das demais Cor- tos, o que cumpre a sua atribuição de regulação no âmbito nacional.
regedorias do Poder Judiciário.
Embora seja recente a criação do órgão, já em duas oportunidades Sustentou-se,no subitem 2.4, que a regra se apresentasuficientemente mota
foram editados atos normativos significativos voltados para a atividade no- vada e não tem por objetivo indevida incursão no gerenciamento das unidades
tarial e de registro. otariais e de registro, mas a atuação do Estado,como garante da adequada
prestação dos serviços públicos, cujo exercício foi delegado ao particular, para
Um deles,já mencionado no subitem 2.4, foi a Resolução n. 20, de 29 assegurar,no que se refere à atiüdade correccional ou de âscalização,que inte-
de agosto de 2006, que disciplina a contratação, por delegados extrajudi- gra a parcelapública das notas e dos registros e estásujeita ao regime jurídico
ciais, de cônjuge, companheiro e parente, nas linhas reta e colateral, até ter- de direito público, o respeito aos princípios da moralidade e da impessoalidadc
Diversa seria uma regra que viesse a impedir a contratação de parentes e ami
ceiro grau, de magistrado incumbido da corregedoria do respectivo serviço
gos do próprio titular, por não se apresentar, nessa hipótese de contratação de
de notas ou de registro e que foi objeto de análise referente à atuação regu- empregadossob o regime da CLT e mediante remuneração pagacom parcela
latória do Judiciário eH face das atividades de notas e de registros. da receita auÊrida pelo delegado, restrita, portanto, ao âmbito privado da atívi
dado notarial e de registro, ânalidade pública que demandasseproteção, do que
Concluiu-se, ao analisar o ato em face da autonomia do notário e do
resultaria indevida intromissão no gerenciamento privado da unidade corres
registrador no gerenciamento administrativo da unidade, que o Conselho pendente à delegação
148 149 51
Constata-se, ainda, que o ato normativo foi editado após a obtenção
de sz4gestões
apresentadas pelos Corregedores-Gerais de Justiça dos Estados regadasda regulação desta singular atividade, é moldada na órbita estadual
e do Distrito Federal em reunião promovida pela Corregedoria Nacional da
o quê não afeta o coráeer urritário e nacional da função notarial e de regis-
Justiça e que sobre o tema foram out'idos o Conselho Federal da Ordem dos
notários e registradores. rmas fundamentais são idênticos para todos os
Advogados do Brasil e a Associaçãode Notários e Registradoresdo Brasil, o
que revela atuação do regulador pautada pela permeabí/idade à sociedade.
Mas, com a ressalvade que isto não se apresenta, em princípio, com
relaçãoao ato normativo mencionado, é preciso lembrar que um cuidado
há de ser mantido na atuação regulatória e se refere ao risco, sempre presente,
de que a busca pela uniformização de condutas possa implicar, de qualquer [ ...]
150 3
151
datos, o juízo co/npeíe/zre proporá à auroddade co/apele/zfe a
Art. 4' Os serviços notariais e de registro serão prestados, de
extinção do serviço e a anexaçãode suas atribuições ao ser-
modo eâciente e adequado, em dias e horários estabelecidos
viço da mesma natureza mais próximo ou àquelelocalizado
pelo jtzízo competerzíe,atendidas as peculiaridades locais, em
na sededo respectivo Município ou de Município contíguo.
local de fácil acessoao público e que ofereça segurança para
o arquivamento de livros e documentos. Expressam o poder de fiscalização do regulador, ou seja,de controle
[...] da aplicação das regras, a determinação geral do artigo 37, já mencionada,
'Art. 30. São deveres dos notários e dos oficiais de registro: assim como o $ 2' do artigo 20 e o artigo 38 da Lei n. 8.935/9.;: -"
[...]
Xlll -- encaminhar ao .juízo compefefzfe as dúvidas levantadas
Art. 20. Os notários e os oâciaís de registro poderão, para o
pe[os interessados, obedecida a sistemática processual fixada
desempenho de suas ftlnções, contratar escreventes,dentre
pelalegislação respectiva;
eles escolhendo os substitutos, e auxiliares como emprega-
XIV -- observar as normas técnicas estabelecidas pelo .juízo
dos, com remuneração livremente ajustada e sob o regime
competente. dalegislaçãodotrabalho
[...] [...]
:Art. 38. O.juízo compare/zfezelará para que os serviços nota- $ 2' Os notários e os oâciais de registro encaminharão ao
riais e de registro sejam prestados com rapidez, qualidade juízo compefenfeos nomes dos substitutos
satisfatória e de modo eâciente, podendo sugerir à autodda:
de competente a elaboração de planos de adequada e melhor
prestação dessesserviços, observados, também, critérios po- Art. 46. Os livros, fichas, documentos, papéis, micro6llmes e
152
153
Art. 35. A perda da delegação dependerá: A justinicatívado
a mensagemn. 1.034,foi de que o
1 -- de sentença judicial transitada em julgado; ou
"P;.'+;;b;=:;:=.=;:==== rsamentedo tratamento dado à 6is-
11-- de decisão decorrente de processo administrativo instaura-
calizaçao nT íaz remissão a nenhum dos poderes ao mencionar a delega
do pelo juízo co/npetenfe, assegurado amplo direito de defesa. çao. Esseveto não impede, no entanto, que se reconheça, como imperativo
$ 1' Quando o caso configurar a perda da delegação,o .juízo do exercício pleno da atividade regulatória, inerente ao ixider (le outo--
competentesuspenderao notário ou oâcial de registro, até a ser o Judiciário o poder delegante.;i '' ' ''- ""v-Õa,
decisão anal, e designará interventor, observando-se o dis- A regulação constitui-se na atuação de garantia imposta ao Poder PÚ
posto no art.36. blico pela própria Constituição da República ao atribu r a agentesprivados
$ 2' (Vetado) o exercício das atividades notariais e de registro, tarefa assumida pelo Esta-
do como serviço público
Art. 36. Quando, para a apuraçãode faltasimputadas a notários
ou a oâciaisde registro, for necessárioo afastamento do titular -.. Essaatuação de garantia foi conferida, pela Constituição, ao Poder
do serviço, poderá ele sersuspenso, preventivamente, pelo pra- Judiciário e seu exercício pressupõe que o regulador detenha todos os pode
zo de 90 (noventa) dias,prorrogável por mais 30 (trinta). res merentes ao processo de regulação, do que resulta o reconhecimento de
$ 1' Na hipótese do capzzí,o juízo competetzfedesignará in- que com fundamento no artigo 37 da Lei n. 8.935/94, aos Tribunais de Jus-
terventor para responder pela serventia, quando o substituto tiça dos Estados e do Distrito Federal foi atribuída, na sua integralídade, a
também for acusadodas faltas ou quando a medida se reve- regulação dlreta dos serviços junto aos notários e registradores abrangidos
pela respectiva competência territorial
lar conveniente para os serviços.
concursospúblicos:
154
155
A organização judiciária, a terminologia e a distribuição interna dessa
atividade administrativa do Judiciário varia muito de Estado para Estado, com a atribuição e pesloai dministratíva, de organização fünciona] de suas
sem que existaum nome padronizado, especialmenteno que se refere ao
juiz competente para a âscalização,no dia-a-dia de cada comarca ou muni
copio,das atividades dos respectivos notários e registradores.
Tal dificuldade, apontada por Narciso Orlandi Neto,:': embora obste,
nesta abordagem geral, a utilização de termos especíâcos de um dado Tri-
bunal, não impede o reconhecimento ea análise dos pontos comuns a todos
os entes reguladores estaduais,como a existência, em todos os Estados, da
Corregedoria Geral da Justiça, órgão superior dos Tribunais de Justiça que,
entre outras ativídades de caráter administrativo, exerce a maioria dos po-
deres referentes à regulação estatal das atividades notariais e de registro.
: il;l $:$ ::::::
3.2.1 As atribuições dos Tribunaisde Justiça
ORLANDI NETO, Narciso. Ob. cit., 2003. p. 335. Confirma Narciso Orlandi
que: "A organização judiciária de cada Estado de6lne quem é o juiz competente
de que fala a lei federal. Há Estados em que competente para a fiscalização é o
juiz diretor do fórum, em relaçãoa todos os serviçosnotariais e de registro da
comarca. É o caso do Mato Grosso do Sul. Em outros, como São Paulo, a Cor.
regedoria Geral da Justiça designa um juiz corregedor permanente para cada
serviço, ou para mais de um serviço. É claro que as comarcascom vâFâÚnica asdeliberações sobre a realização dos concursos públicos e a edição
que têm um único juiz, não podem ter mais de um corregedor, mas o ideal é dos atos regulamentares correspondentes; -- ' ' '''v'
não concentrar muita atividade fiscalizadora nas mãos de um único juiz, para
a criação e extinção de unidades do serviço delegado.
que seja realmente eficaz. É de todo conveniente também que a atividade dique
cargo de especialista, sendo improdutiva a cumulação de corregedoria de ta
belionatos com corregedoria de registros.
Ibidem, pp. 335-336 e FRESTAS,Vladimir Passosde. Ob. cit., 2003. P. 33.
156
157
Disso resulta que a abertura dos concursos e o ato efetivo de outorga por prazo superior a seis meses,editou, o Conselho Superior da Magistra.
da delegaçãocaibam ao Presidente do Tribunal. tura, para viabilizar o concurso, o Provimento CSM 612/98.
A realização dos concursos públicos, a outorga e a perda da delegação,
Esseato normativo constitui-se,já, em expressãodo poder regula
assim como a criação e extinção de unidades de ser'üço, são temas polêmicos
e que foram objeto de efetiva atuação administrativa do Tribunal de Justiça de
São Paulo, o que deu ensejo a acirradas disputas judiciais, sucessivas propos-
tas de alteração legislativa e relevante debate doutrinário, ao qual se acrescenta, gramento mínimo necessáriopara a realização do concurso
nos itens seguintes,a aârmativa de que a atuação do Poder Judiciário de São
Paulo vem se desenvolvendo no exercício da moderna regulação da atividade ]. Publicado o edital de abertura do concurso, foi aprovado, em regime
de urgência, substitutivo ao Prometode Lei n. 778/95, que desvirtuava total
notarial e de registro.
mente o original, e que, sem que o governador do Estado se maníÉestasse
55
158 159
:Essafase de transição teve início com a realização do Pri-
dos Notários e Registradores do crash(Anoreg/BR), que formulou perante
meiro concurso,relativo àsdelegaçõesda Comarca da Capital,
o Conselho Nacional de Justiça, em Facedo edital do 4' Concurso, o Prole
de todas as especialidades,para, na seqüência, depois de ne- dimento de Controle Administrativo n. 456
cessária reorganização dos serviços, implementada, segundo
Impugnada, conjuntamente, a legalidadedo Provimento CSM 612/98.
critérios técnicosexpressosem lei, por meio dos Provimen-
tos CSM 747/00 e 750/01, promover os concursos destina- a constitucionalidade da realização de provas em concurso de remoção e a
legalidade da determinação, constante da Portaria Conjunta 7.268/2005, que
dos ao provimento das delegações das Comarcas do Interior
do Estado. possibilitou a oferta de vagas remanescentes de cada uma das listas, de ingres-
so ou remoção, para os aprovados em critério diverso, por decisão de 26 de
A realização desses concursos obedece sequência previa-
junho de 2007, cujo relator Éoio conselheiro Joaquim Falcão,Foramjulgados
mente estabelecida, com a realização do Segundo concurso
improcedentes todos os pedidos da requerente. É o que consta da ementa:
(Registro de Imóveis, Títulos e Documentos e Civil de Pes-
soa Jurídica), do Terceiro certame (Tabelião de Notas e de "4o. Concurso Público de Provas e Títulos para a Outorga de
Protesto de Letras e Títulos), ambos já findos, e do Quarto Delegações de Notas e de Registro do Estado de São Paulo
(Registro Civil das Pessoas Naturais das Sedes de Comarca), Nulidade de Edital. Necessidadede realizaçãode concurso
atualmente em curso. público. Existência de decisão jurisdicional pela inconstitu-
Há previsão da realização de mais três concursos, o Quinto cionalidade de concurso apenas de títulos. Impossibilidade
(de Registro de Imóveis, de Títulos e Documentos, Civil de de realização de escolhacruzada entre as listas de ingresso e
Pessoa Jurídica, Civil das Pessoas Naturais e de Interdições e remoção, respeitando-se a ordem de classificação, para fins
Tutelas das Sedesdas Comarcas novas e recentemente insta- de respeito ao artigo 236, $ 3', da CF/88. Improcedência dos
ladas) cuja abertura já foi aprovada pelo Colendo Conselho pedidos. Não há impedimento para que o TJ realize concur-
Superior da Magistratura, o Sexto(Registro Civil das Pessoas so de provas e títulos para a remoção, quando seentende que
Naturais e Tabelião de Notas dos Municípios e Distritos) e, os concursos apenas de títulos violam os princípios do art
por fim, último dessafase de transição, o Sétimo, abrangen- 37 da CF. Supremacia do interesse público na oferta de vagas
do, então, todas as delegações vagas do Estado, este, à seme- remanescentes da lista de ingresso para os aprovados em re
lhança do Primeiro, referente a todas as especialidades. moção e na oferta de vagasda lista de remoção para os apro-
vados em ingresso, desde que respeitada fielmente a ordem
A multiplicidade dos concursos sejustiâca, neste Estado, em
de classificação
razão do grande número de delegaçõesa serem outorgadas,
para que segaranta, em cada certame, a possível.homogenei-
Destaca-se,com relação ao tema da regulação da atividade notarial e
dade quanto às especialidades e à qualificação técnica exigida
de registros, o fato de que o Conselho Nacional de Justiça foi provocado por
de cada profissional do direito, assim como a viabilidade de entidade representativa dos notários e registradores para o exercício da ati
eficiente exame e avaliação dos candidatos.
vidade regulatória, de âmbito nacional, o que se efetivou, mais uma vez. no
exercício da moderna regulação, com o reconhecimento administrativo da
A atuação do Tribunal de Justiça de SãoPaulo, com relação aos con-
legalidadedo exercício, pelo Tribunal de SãoPaulo, do poder regulamentar
cursos públicos, foi objeto de questionamentoadministrativo pela Associação
também inerente à parte que Ihe cabe dessaregulação, e de que não há ím
160
161
pedimento para que o Tribunal regulamente, por ato administrativo, como 3.2. 1.2 A criação e extinção de unidades de serviço
fez ao editar o Provimento CSM 612/98, os concursos públicos de provas e
títulos para outorga de delegaçõesde notas e títulos. As medidas de reorganização, por ocasião de cada pontual vacância,
de unidades que se encontrem na situação descrita nos artigos 26z07
e 49 da
A atuação regulatória referente aos concursos realizados em São Pau-
lo somenteteve êxito em facedo anterior exercício,pelo Poder Judiciário,
do poder regulamentar, o que se verificou não somente com a edição do ato do SenadoFederale que busca acrescentarà Lei n. 8.935/94o artigo 2-A, com
normativo que estabeleceuas regraspara o concurso, mastambém com os a proposta, dentre outras medidas tendentesa regulamentar a designaçãode
atou do Conselho Superior da Magistratura de reorganização das comarcas responsáveispor unidades vagas e seus direitos, de que a outorga das delega
çoes se constitua em ato privativo do Poder Executivo dos Estados-membros e
do interior, medida imperativa para o atendimento do comando expresso
do Distrito Federal, e de que a criação, extinção, acumulação, desacumulação,
no artigo 49 da Lei n. 8.935/94.z's
anexação e desanexação.de serviços notariais e de registro, assim como qualquer
Ao 6lnal de cada concurso, por ato do Presidente do Tribunal, foram modificação das,atribuições das respectivas serventias, somente seja deita por
outorgadas as delegações aos aprovados, o que caracteriza o pleno exercício lei. Esserisco já 6oi compreendido por integrantes do Poder Legislativo, como
consta da Emenda Modificativa n. 01, apresentada pelo senador Flexa Ribeiro
do poder de outorga inerente à regulaçãoestatal.
e que, embora rejeitada pelo parecer de 19/12/2007 da CCJ, favorável à redação
A questão da autoridade competente para a edição do ato de outorga original do prqeto, propunha a regra de que a outorga da delegação depende
é relevante, porque muito já se discutiu quanto à competência para a apli- de concurso de provas e títulos, a limitação em doze mesespara a pemlanência
do designado para responder por expediente vago e o automático aímtamento
cação da pena de perda de delegação,o que se caracteriza como expressão
do titular que deixar de apresentar ao Tribunal, por dois exercícios ânanceiros,
do poder sancionatório, atribuição que seinsere no âmbito de competência balanço de suas atividades e respectivos registros contábeis. Sem ingressarno
de cada Corregedoria Geral da Justiça e não pode ser atribuída a autoridade mérito destanova proposta, é relevante, no que se refere ao texto original, a
que não integre o Poder Judiciário. fundamentação da emenda,de que: "0 ordenamento jurídico atual tem levado
a diversasdisputas entre substitutos e donos de cartórios. A proposta original
Essaregulação,de matriz constitucional, impõe, portanto, o reconhe-
do prometovisa dar poderes ao Governador para distribuir aos seusaliados poli
cimento de que permaneçacom o Judiciário a multiplicidade de poderes tacosa outorga ou delegaçãodo exercício da atividade notarial. Não nos parece
que integram o processo de regulação.Disso resulta a manifesta inconstitu- apropriado que os governadores ãe Estadostenham essaprerrogativa, pois é um
cionalidade de propostas de modificação legislativa tendentes a embaralhar mecanismo que abre espaçopara negociaçõespolíticas numa atividade bastante
demandada pela população de modo geral Além disso, a emenda seguena linha
entre os três poderes uma ou outra destasfases,de forma a inviabilizar o
do que recomendou o Conselho Nacional de Justiçaque criou comissãopam ana-
atendimento ao comando constitucional que fixa o prazo de seis mesespara lisar a questão e exigia'concursos públicos para os cartórios, como determina a lei
que as unidades vagas sejam colocadas em concurso e acrescenta a tarefa Nossa proposta visa assegurar a manutenção do concurso público para notários
que deve ser pautada por critérios técnicos, definidos na Lei n. 8.935/94, e oficiais de registro, para adequar a proposta ao que estabeleceo art. 14 da Lei n.
Ingredientes políticos incompatíveis com o exercício da atividade regulató- 8.93S/94.Assim evitaríamos casoscomo os que acontecem atualmente, quando
alguns substitutos permanecem como oficiais interinos por mais de dez anos e
ria, de garantia, do exercício privado de uma função pública.z"
ão se ârmando como novos donos dos cartórios, mesmo ao arrepio da lei. Do
mesmo modo, asseguramosum dos princípios basilares de serviço público que é
o ingresso na atividade por meio de concurso público. Por âm, medida proposta
[...] Art. 49. Quando da primeira vacânciada titularidade de serviço notarial no $ 3o visa evitar o que acontece atualmente que é a recusapor parte de alguns
ou de registro, será procedida a desacumulação, nos termos do art. 26. notários em prestar contas de suasatividades aos respectivos Tribunais aos quais
Nessesentido.o artigo ''007 e o recadodeZapaíero':veiculadopelaInternet(www. estãosubordinados, conÉeríndomaior transparência à atividade. Trata. se de me
conlur.com.br), em 25/02/2005,no qual seprocurou destacaro risco de graveseíei dadamoralizadora, que merece o total apoio dos nobres pares
tos institucionais resultantes da aprovação de uma proposta como a do PLC 7/2005 't..l Art. 26. Não são acumuláveis os serviços enumerados no art. 5o.
162 }5
163
Lei n. 8.935/94, são preparatórias da realizaçãode novo concurso referente Tais modificações, embora impliquem em alteração no feixe de com
a essasunidades, o que se insere, no contexto regulatório, como tarefa ne- petências públicas representado por cada unidade de serviço, não repercu
cessáriapara a manutenção do equilíbrio do sistema regulado; isto signiâca tem em cargo público, nem alteram o comprometimento do erário público,
que as medidas de acumulação, desacumulação, anexação e desanexação de tampouco influem na ocupação e uso de próprios do Estado, caracterizan-
serviços se fazem no curto período em que tais unidades permanecem va- do, muitas vezes,conduta administrativa plenamente vinculada, resultante
gas,o que deve se realizar com rapidez, para atendimento do prazo consti- das modificações legislativas que criam municípios ou comarcas.
tucional máximo de seismesese se pautar por critérios técnicos, relativos Foram estas as premissas que orientaram a edição dos Provimentos
ao volume de serviço e à viabilidade económica, ou seja, a partir da renda CSM n. 747/2000 e 750/2001, que determinaram a completa reestruturação
auferida e do número de atos praticados, o que deve considerar, em separa- dos serüços notariais e de registro do interior do Estado de São Paulo, atos
do, cada uma das especialidadestípicas: notas, protesto de títulos, registro normativos questionados por meio da ADIN n. 2415, cujo pedido de limi-
de títulos e documentos e civil das pessoas jurídicas, registro civil das pes- nar para a suspensão dos seus efeitos foi expressamente negado pelo Pleno
soasnaturais e registro de imóveis. do Colendo Supremo Tribunal Federal, conforme decisão de 13 de dezem-
A reorganização dos serviços deve seguir o modo e os critérios previstos bro de 2001,cujo relator foi o ministro limar Galvão.
no artigo 38 da Lei n. 8.935/94,:'* ou sqa, ser orientada para a adequada e satis- A decisãoconfirma o entendimento de que essasmodificaçõesnos
fatória prestação dos serviços, observados critérios populacionais e socioeconó- feixes de competência correspondentes às unidades do serviço delegado
micos, mediante proposta do "juízo competente" à "autoridade competente':
não se caracterizam como criação, supressãoou modificação de cargos pú
A definição do juízo e da autoridade competentes cabe às regras de blicos, razão pela qual não dependem da edição de lei e podejn ser realiza
organização judiciária de cada Tribunal de Justiça. Em São Paulo, entende-se das por ato administrativo dos Tribunais:
por "juízo competente" o juízo corregedor permanente da respectiva uni-
dade de serviço ou a própria Corregedoria Geral da Justiça, órgãos aos quais 'AÇÕES DIRETAS DE INCONSTITUCIONALIDADE.
cabe a tarefa de identificar e postular as providências necessárias à melhoria MEDIDAS CAUTELARES. PROVIMENTO N. 747/2000,
da prestaçãodo serüço notarial e de registros, conforme dispõe o artigo DO CONSELHO SUPERIOR DA MAGISTRATURA DO
221, inciso XXXll do Regimento Interno do Tribunal de Justiça. As propos- ESTADO DE SÃO PAULO, COM AS ALTERAÇÕESIN-
tas são encaminhadas ao Presidente do Tribunal, na qualidade de Presiden- TRODUZIDAS PELO PROVIMENTO N. 750/2001.REOR-
te do Conselho Superior da Magistratura, que o define como "autoridade GANIZAÇÃO DAS DELEGAÇÕESDE REGISTROE DE
competente" para apreciar a matéria. NOTAS DO INTERIOR DO ESTADO. AROS NORMATI.
VOS ABSTRATOS E GENÉRICOS. CABIMENTO. LEGITI-
MIDADE ATIVA. ENTIDADE DE CLASSEDE ÂMBITO
Parágrafo único. Poderão, contudo, ser acumulados nos Municípios que não
comportarem, em razão do volume dos serviços ou da receita; a instalação de NACIONAL. RECONHECIMENTO. ORGANIZAÇÃO DO
mais de um dos serviços. SERVIÇO NOTARIAL E DE REGISTRO. COMPETÊNCIA
[...] Art. 38. O juízo competente zelará para que os serviços notariais e de re- DOS TRIBUNAIS. ART. 96, 1, B DA CF. AUSÊNCIA DE
gistro sejam prestados com rapidez, qualidade satisfat(ária e de modo eficiente, PLAUSIBILIDADEDA ALEGAÇÃO DE VIOLAÇÃO AO
podendo sugerir à autoridade competente a elaboração de planos de adequada e
PRINCÍPIO DA RESERVALEGAL. 1.Evidenciadaa presen-
melhor prestaçãodessesserüços, observados,também, critérios populacionais
e sócio-económicos, publicados regularmente pela Fundação Instituto Brasilei- ça de comandos que dispõem genericamente e para o futuro
ro de Geografia e Estatística. sobre todas as serventias de notas e registros do interior pau
164 165
lista, possui o Provimento impugnado a característica de ato de autuação em procedimento autónomo, com notícia de
normativo passível de exame no controle concentrado de
precedente especíâcoe instrução padronizada, com a requi.
constitucionalidade. 2. A legitimidade atava da ANOREG -- siçãode informações junto ao Juízo Corregedor Permanente
associaçãocujo enquadramento na hipótese prevista do art. correspondente, solicitação de informes das autoridades dos
103, IX, 2' parte da CF já foi confirmado por este Tribunal PoderesExecutivo e Legislativo municipais, requisição de
não pode ser afastada por mera manifestação em sentido manifestação dos delegados,de notas e de registro, que pos-
contrário promovidapor seccionalde outra entidadesimi- sam de algum modo ser atingidos pela alteração proposta e
lar. 3. Não se tratando da criação de novos cargos públicos, solicitação de dados às instituições o6lciaisde estatística.
possuem os Tribunais de Justiça estaduais competência para Colhidas as manifestações, facultativas no caso dos Poderes
delegar, acumular e desmembrar serviços auxiliares dos juí- Legislativo e Executivo, será a proposta objeto de apreciação
zos, ainda que prestado por particulares, como os desempe- pela Corregedoria Geral da Justiça, que, sem prquízo da
nhados pelas serventias extrajudiciais. 4. Medida cautelar realização de diligências outras, decidirá, sempre de forma
indeferida, por maioria, pela ausênciade conveniência na motivada, pelo seuarquivamento ou pelasua continuidade,
suspensão dos Provimentos impugnados e de plausibilidade estaem uma segunda fasedo procedimento.
dos fundamentos da inicial.
O pronto arquivamento dar-se-á sempre que os dados ini.
cialmente coligidos revelarem, de plano, a inviabilidade, a
A organização dos serviços no processo de regulação atende a crité-
inconveniência ou desnecessidadeda alteração proposta.
rios técnicos de necessidadedos usuários, do aumento ou diminuição da
população ou da atividade económica em cada comarca ou município, o Verificada, por outro lado, a viabilidade inicial da proposta,
que repercute na renda auferida e no número de atos praticados, tudo como será estaincluída, oportunamente, em expediente conjunto,
previsto na Lei n. 8.935/94 e sem injunções de ordem política. a ser processado com oportunidade de manifestação de to
dos os delegados interessados, de suasinstituições represen-
A prática dessesatos no exercício de atividade administrativa exige a
tativas e com a adoção de um meio de participação, adotado
instituição, pelos Tribunais, de procedimentos claros,permeáveisà sociedade,
acritério da Corregedoria Geral da Justiça, segundo a abran
o que é objeto de específicaorientação normativa da Corregedoria Geral da
gência das alterações propostas, dentre as opções previstas
Justiçade São Paulo, aprovada pelo des.JoséMário Antonio Cardinale, pu-
nos artigos 3 1a 35 da Lei n. 9.784/99 (Lei do ProcessoAdmi-
blicada no DO/de 01/12/2005 e que tevepor origem e fundamento o parecer
nistrativo) cujos critérios, não obstante fixados para a Admi
que redigi, a partir de casos concretos constantes dos Protocolados CG n.
nistração Pública Federal, mostram-se adequados para o âlm
49.720/2001e CG n. 19.797/2004da Comarca da Capital, com determinação,
aquipretendido.
no âmbito das atribuições da Corregedoria Geral da JustiçadeSão Paulo, da
adoçãode procedimento participativo etransparente para acriação, extinção, Dentre os princípios a serem adotados destacam-se aqueles
acumulação e desacumulação, no Estado de São Paulo, de unidades do servi- destinados à garantia de publicidade e segurança jurídica.
ço delegadode notas e de registro. Consta do referido parecer: A publicidade dos atos e a possibilidadede acessoàs infor.
mações dão ao sistema a necessária transparência.
proponho que toda postulação de alteração da estrutura A motivaçãodasdecisões,tomadasem meio a um procedi-
organizacional dos serviçosnotariais e de registros seja objeto mento, viabiliza o controle e deverásedar de forma abran-
166 167
gente, nos termos do que se entende hoje como o princípio para compor sua equipe de assessoramento,conhecimento que se relaciona
da confiança legítima, ou seja,garantindo a todos que com com a atividade regulada, especialmente com a atividade jurídica de quali-
base na lei ou no regramento vigente tenham feito opção ficação de que incumbidos os notários e registradores.
coerente e válida, o estabelecimento de regras de transição. No âmbito estadual, as Corregedorias Gerais da Justiça editam atos e
decisõesnormativas inerentes à atividade regulamentar outorgada pela
Tem, portanto, amparo constitucional na regulação o exercício desta Constituição ao Poder Judiciário,:'' que integram com as competênciase
atribuição administrativa ampla, pelo Poder Judiciário, o que deve ser rea-
atribuições constantes dos regimentos internos dos Tribunais respectivos.
lizado com independência quanto a ingerências políticas e com a adição de
Esta atividade normativa também encontra fundamento no vínculo
procedimento adequado, que garanta permeabilidade à sociedade, assegure
de sujeição especial:': que une a essesórgãos superiores dos Tribunais de
o de'üdo processo legal e viabilize o controle.
168 169
Justiçaos delegados que, mediante seleçãopor concurso público ao qual se mercado, que afetam a concorrência, que prejudicam o ser.
submeteram e lograram aprovação, tiveram outorgada, aceitaram e recebe- viço público e seus usuários, que geram conflitos, elas vão
ram a parcela do serviçopúblico notarial e de registros correspondenteà baixando atos normativos para decidir essescasos concretos.
sua delegação. Para essetipo de ato também não há óbice de ordem jurídi
A função normativa dasCorregedorias Gerais da Justiça compreende, ca. Trata-se do tipo de atividade mais típica da função regu
ainda, as formas de atuaçãodescritaspor Mana Sylvia Zanella Di Pietro ladora: ela vai organizando determinado setor que Ihe está
com relação à Anatel e à ANP, às quais reconhece, em razão de sua previsão abeto,respeitando o que resulta das normas superiores (e
constitucional como órgãos reguladores, a possibilidade, observada a lei, de que garantem o aspecto de estabilidade, de continuidade, de
baixar atosnormativos para decidir casosconcretos,interpretar ou explici- perenidade) e adaptando as normas às situações concretas,
tar conceitos indeterminados, a atribuição de definir e alterar cláusulas re- naquilo que elas permitem certa margem de flexibilidade ou
gulamentares dos contratos de concessão,ou, entendida a regulação como de discricionariedade. Sãoos dois aspectosjá assinaladosda
um novo tipo de direito, a possibilidadede produza-lo mediante negocia- regulação: estabilidade e flexibilidade.
ção, consenso e participação dos interessados.:
Reconhece também a tais entes reguladores a possibilidade de, "... por
Di Pietro parte da distinção entre os aros normafípospropriamente di-
meio de ates normativos, interpretar ou explicar conceitos indeterminadas
tos, que, à semelhança da lei, ditam regras de condutas futuras, e os aios
contidos nas leis e regulamentos, especialmente os de natureza técnica", por-
ormaü os de deíros concretos, que define como aqueles que se apresentam,
que tratam-se de conceitos que se inserem na idéia de especializaçãodas
formalmente, como atos normativos, mas, quanto ao conteúdo, são verda-
agências e que, sem inovar na ordem jurídica, exigem deânição mais precisa.
deiros atou administrativos, porque decidem casosconcretos, o que corres-
Por âm, tomada a palavra regulaçãocomo um novo tipo de direito,
ponde ao tipo de atividade mais típica da função reguladora:
destaca que este não se caracteriza como imposição unilateral de regras de
'À medida que as agênciasvão se deparando com situações conduta, deve resultar de negociação, consenso e participação dos interes-
irregulares, com atividades que quebram o equilíbrio de sados e, ainda, a necessidade da adoção de um procedimento de participa-
ção, a ser observado pelos entes reguladores para conferir legitimidade às
normas por eles baixadas.
cabe-lhes expedir normas que se encontrem abrangidas pelo campo da cha-
mada 'supremacia especial'(cf. Capítulo XIV, ns. 12 a 15). De toda sorte, ditas Todas estascondutas identificam-se com a atuaçãode corregedoria,ati-
providências, em quaisquer hipóteses, sobre deverem estar amparadas em fun- vidade administrativa que a Constituição atribui aos Tribunais e que não se
damento legal, jamais poderão contravir o que esteja estabelecido em .alguma confunde com a atividadejurisdicional, razãopelaqual, como bem adverte
lei ou por qualquer maneira distorcer-lhe o sentido, maiormente para agravar
Narciso Orlandi,::s as decisõesproferidas no seu exercício não fazem coisa
a posição jurídica dos destinatários, da regra ou de terceiros; assim como não
poderão também ferir princípios jurídicos acolhidos em nosso sistema,sendo julgada material e nada impede sua discussãonas vias jurisdicionais.
aceitáveis apenas quando indispensáveis, na extensão e intensidade requeridas
para o atendimento do bem jurídico que legitimamente possamcurar e obse-
quiososà razoabf/idade. " BANDEIRA DE MELLO, Celso Antõnio. Curso de di Ibidem, pp. 212-213.
reito administrativo. 19. ed. São Paulo: Malheiros, 2005. p. 157. Os destaques ORLANDI NETO, Narciso. Ob. cit., 2003. p. 335. Destacao autor que o juiz
são do original. competente de que fala a Lei n. 8.935/94 exerceatividade administrativa paralela
DI PIETRO, Mana Sylvia Zanella. Ob. cit., 2006. pp. 212-213. à atividade jurisdicional e que com esta não se confunde.
170 171
A Corregedoria Geral da Justiça disciplina, em cada Estado, sempre com Essaatuação regulatória e normativa pode, sem prejuízo para o exer-
estrita obediência à lei, a prestação dos serviçosnotariais e de registro. Pode cício da autoridade inerente à função de corregedoria, ser objeto de signifi-
atuar, nos termos da organizaçãojudiciária de cadaEstado,como segundains- cativo aprimoramento, cujo caminho é indicado pelo direito administrati-
tância em alguns processos administrativos, disciplinares ou não.21ó vo atual e importa na instituição de procedimentospara que a atuação
Exerce, diretamente ou por meio dos juízes corregedores de cada co- administrativa se faça de forma transparente e motivada, com a efetiva par
marca, a fiscalização dos serviços, o que, segundo Narciso Orlandi, é feito ticipação dos interessados e da população; disto resultará a legitimação da
diuturnamente no examedos papéisque, de qualquer modo, chegam ao atividade regulatória, com maior possibilidade de mediação ou da obten-
conhecimento da autoridade incumbida dessafunção, que não selimita à ção, se não no convencimento, de um maior grau de aceitação das decisões
apuração de irregularidades que Ihe são comunicadas, mas é exercida, prin- desfavoráveispor aquelesque ao menos tiveram a chancede semanifestar e
cipalmente, com visitas às unidades prestadoras dos serviços. viram apreciadas as questões pertinentes aos seus interesses.
postulaçõesquanto àviabilidade de implementação de políticas públicas, re- de um preciso procedimento a ser cumprido com a necessidadede funda-
clamaçõessobre irregularidades ou sugestõesrelativas ao serviço regulado. mentação da decisão final se mostra, em princípio, como importante ins
trumento para o controle judicial da atividade regulatória, indeclinável em
A solução dessescasosconcretos pode dar origem a decisõesque, pela
sua relevância, potencial de orientação para a deânição de outros casos ou faceda garantia expressano art. 5', XXXV, da Constituição Federal.
solução geral de conflitos, soam adotadascom efeitos normativos, adaptan-
do as normas às situações concretas, o que corresponde, com exatidão, à
3.3 A AUTO REGUUÇÃO OU REGULAÇÃO PRIVADA
organização permanente do setor regulado, atividade mais típica da função
reguladora e que, como a6lrmaMana Sylvia Zanella Di Pietro, reúne seus A regulação desempenhada pelo Poder Judiciário em face das ativida
aspectosde estabilidade e flexibilidade. des notariais de registro é, como toda regu]ação estatal, uma /zetero-regra/a-
não, ou seja, é exercida por uma instância estadual sobre os agentes presta-
A capacitação técnica e a especializaçãodos integrantes do órgão re-
gulador também permitem à Corregedoria Geral interpretar e explicar con- dores de um serviço público.
ceitos indeterminados presentes nas leis e regulamentos voltados para as Vital Moreira, que desenvolveo tema da azzfo-regra/anão
profissional
atividades notariais e de registro. em face da regulação da economia, lembra que a distinção entre organis-
mos reguladores e sujeitos regulados é essencialà regulação pública, que
pode sedar em virtude da Administração direta ou por intermédio de ins-
lbidem, p. 336. EsclareceNarciso Orlandi que "As visitas às repartições em que tâncias públicas de regulação mais ou menos independentes, como asagên-
são prestados os serviços notariais e de registro chamam-se correcções, e são feitas
ciasreguladoras.
a critério exclusivo do juiz competente. Independem de aviso, hipótese em que
sãochamadascorrecçõesextraordinárias, ou são previamente comunicadas ao ti- Podem os regulados, entretanto, ser também os reguladores, quando,
rar e ao público em geral, que é convocado para a apresentaçãode reclamações então, a regulação se apresenta como auto-regulação. Essa atuação efetiva-
Neste caso são chamadas correcções ordinárias. Alguns Estados estabelecem a
obrigatoriedade de realização de pelo menos uma correcçãoordinária por ano
DI PIETRO, Mana Sylvia Zanella. Ob. cit., 2006. PP. 212-213. MOREIRA, Vital. Auto-regulação profissional. Ob. cit., 1997.p. 52
172 173
se por meio de "... esquemas organizatórios adequados, necessariamente 3.3.1 A Auto-Regulação Profissional
através de decisões ou acordos estabelecido por e entre as suas organizações
A auto-regulação, de competência dos próprios agentes do setor, si
associativas ou representativas.
multaneamente autores e destinatários da regulação, não é menos artificial
A auto-regulação, que na sua deânição mais elementar é a regulação
que a regulação estatal e também implica na formulação de normas e sua
levada a cabo pelos próprios interessados, caracteriza-se, conforme Vital
implementação, de modo a influenciar, condicionar, proibir e constranger a
Moreira, por três traços:
atividade dos agentessujeitos a essaforma de regulação.Não é exclusiva da
a. É uma forma de regulação, e não a ausência desta; é uma espécie ordem económica e pode existir em outros setores da regulação social, o
do gêneroregulação.
que inclui os serviços profissionais. Independentemente de sua naturezaju-
b. É uma forma de regulação coletiva, que envolve uma organização rídica pública ou privada,o quesenota a partir do modo como sevinculam
coletiva e que estabelece e impõe aos seus membros certas regras e os interessados,voluntário na auto-regulação privada e imposto por instân-
certa disciplina (não existe regulação individual e a autocontenção cia oâcialmente reconhecida pelo Estado e dotada de estatuto e de poderes
ou autodisciplina de cadaagente,por motivos morais ou egoístas, públicos na auto-regulação pública, ambas podem funcionar como instân-
não éregulação). ciasde auto-regulação.:
c. É uma forma de regulação não estatal.2zo Adverte, ainda, Vital Moreira, que as associaçõescom flinções de au-
A expressão auto-regulação, aplicada ao sistema económico, é utiliza- to-regulação são também organizaçõesde representação profissional, isto é,
da na literatura com três diferentes sentidos, listados por Moreira: são grupos de interesse que têm por objetivo a defesae promoção dos inte-
ressesprofissionais de seusmembros, razão pela qual, em regra, prevaleceo
'a) Como capacidadede funcionamento equilibrado da eco- 6im de representação sobre as funções de regulação. Independentemente da
nomia, sem necessidadede normas exteriormente impostas adoção de formas mais simples ou complexas de organização, apresentam,
aos agenteseconómicos --, é assim que se fala nos 'poderes em especialquando oâlcialmente impostas ou reconhecidas, problemas or-
auto-reguladores do mercado' (Mayntz, 1087: 58); ganizatórios relativos à impossibilidade de que o Estado reconheçamais de
b) Como regulaçãode um determinado grupo por meio de uma instância auto-regulat6ria, do que resulta situação de monopólio da
normas voluntárias e autovinculação voluntária (auto-regu- auto regulação e à questão do fee-rldm, que se beneâlcia das conquistas
lação privada); coletivas sem arcar com os custos nem participar do trabalho do grupo.223
c) Como capacidadede um determinado grupo de seregular Da mesma forma que a regulação estatal, a auto-regulação abrange a de-
a si mesmo mediante reconhecimento oâcial e com meios de finição de normas e asaçõescorrespondentesa sua aplicaçãoe cumprimento.
direito público (poder regulamentar, disciplinam,etc. obriga- As relaçõesentre a auto-regulação privada e a regulação estadual são
tório paratoda a categoria)."::' definidas pelo doutrinador português em três ordens: "... preempção (a pri
medradispensaa segunda),substituição (a primeira toma o lugar da segunda)
Ibidem, p. 52
Ibidem, pp. 52-53. Ibidem, p. 53.
Ibidem, p. 53. Ibidem, pp. 63-69
174
175
e adição (a primeira acresceà segunda)", e as modalidades de auto-regula- Essaanálise permite avaliar de forma rigorosa o papel da auto-regula-
ção compreendem três estágios:pura, negociada e delegada.2:' ção em cada espaçoregulatório concreto, pois elucida não somente sobre a
Estes dados permitem verificar, com Vital Moreira, o que ele designa participação ou não de instâncias de auto-regulação no correspondente
formato regulatório "... como sobretudo nos faculta a idéia sobre a sua laca.
por regime rqzz/afórío, ou seja,a extensão e o modo como uma certa ativi-
lização nos diversos segmentos do espaço regulado e sobre o seu peso rela.
dadeou procissãoé regulada:
tiro no contexto global do regime.
:É a noção que apreende a regulação sob o ponto da profis- Define Vital Moreira, por âm, que os sistemasregulatórios podem ser
são ou actividade regulada, independentemente de saber classificados segundo a repartição das tarefas regulatórias ao longo de duas
quem procede à regulação, seja o Estado ou uma associação coordenadas: a repartição vertical entre o Estado e as instâncias supra-esta
profissional. É de acordo com o regime regulatório que uma duais ou ínfra-estaduais, e entre as instâncias públicas propriamente ditas e
profissão ou actividade se diz muito ou pouco regulada e se os organismos pro6lssionais. Os modelos de conjugação destasduas coorde.
nadas em cada sistema regulatório são designados pelo referido autor por
verifica em que momentos éque elaé regulada. Por exemplo,
tipo regra/afórío (ou tipo de regulação).::*
revelam do regime regulatório o acessoà profissão, o exercí-
As noçõesapresentadaspermitem verificar que, no Brasil, à falta de
cio da actividade, a disciplina profissional."22s
uma organização privada de notários e registradores que exerça a auto-re-
O regime regulatório é um conjunto de normas e regras cuja origem e gulação privada, temos, com relação aos serviços notariais e de registro,
natureza variam conforme o sistema regülatório, e nada impede que as três uma regulação forte, resultado natural da obrigação de garantia assumida
dimensões essenciais do regime de regulação(o estabelecimento das regras, a pelo Poder Público ao estabelecero exercício privado da função pública.
Essa regulação estatal é imprescindível, e não se sujeita a dispensa ou subs-
sua implementação concreta e a sanção pelas faltas cometidas) estejam repar-
tituição em face da implantação de efetiva auto-regulação privada das ativi-
tidas em diferentes instâncias regulatórias, o que define o formato regulató-
dades notariais e de registro.229
rio, isto é, a configuração orgânica de cada sistema de regulação.
a expressão concreta de cada área regulatóría, que conjuga o A necessidadede forte regulação estatal é da natureza das atividades notariais e
de registro. É o que se verifica na referência de Pedro Gonçalves à atividade no
formato regulatório com o regime regulatório e com os instru-
tarial em Portugal: "Neste caso específico, diremos até que a disciplina jurídica
mentos de regulação utilizados(instrumentos normativos, particularmente restritiva prevista na lei não é uma conseqüênciada publici
administrativos, sancionatórios), tendo em conta a repartição zação da profissão, mas antes uma implicação da aucfarífas que normalmente
seassociaao notário. Na tradição jurídica partilhada pelo direito portuguêsse.
destespelos vários titulares de flinções reguladoras, em relação ria diâcil(e arriscado) conceber a profissão notarial como uma proâssão livre e
a cada um dos seguimentos ou níveis do sector em causa."22ó desregulada;desdelogo, a importância social da actividade notarial reclama uma
especial credibilidade do notário.'Mesmo que não elos encontremos diante da
única via pensável,a ligação do notário ao Estado, por 6ol'çada publicização da
profissão (e do controle do acesso,bem como da fiscalização pública), constitui,
Ibidem, pp. 69-99.
aos nossosolhos, um meio legítimo de realizaçãodo interessepúblico: especi-
Ibidem, p. 112. ficamente, o interesse de atribuir à função notarial a seriedadee a credibilidade
Ibidem, p. 1 15. de que elacarece."Cf. GONÇALVES, Pedro. Ob. cit., 2005.pp. 477-478.
176 177
O que seapresentaviável e necessáriona regulaçãode tais atividades Disso resulta a necessidade de que, por meio da regulação, sejam ado-
é um acréscimo de regulação, ou seja,a efetiva instituição de organismos de tadas medidas que possam contribuir para que a situação se mantenha
auto-regulação que venham acrescerà regulação estatal para alcançar situa- equilibrada
ções nas quais podem se apresentar mais eficientes, como, por exemplo, A atuação estatal necessária para a solução deste problema é a moder-
com relação às questões de concorrência entre delegados envolvendo espe- na regulação, com permeabilidade do órgão regulador estatal aos agentes
cialidades de notas e de registro de títulos e documentos, nas quais podem regulados e uso de prerrogativas de conciliação, e que seria fortalecida com
se verificar problemas dessa natureza. a existência de uma organização privada incumbida da auto-regulação dos
A efetiva instituição de uma legítima organização de auto-regulação notários e registradores.
dos notários e registradores, para atuação conjunta e complementar à regu- Apresenta-se, nessecontexto, quadro favorável para a instituição, pe-
lação estatal, seria útil também para o fortalecimento institucional das no- los profissionais oficiais encarregadosda ativídade notarial e de registro, de
tas e dos registros. uma forma efetiva de auto-regulação pro6lssional,modalidade privada de
A realizaçãodos concursos públicos, relatada no subitem 3.2.1.1 não regulação que complementa a regulação estatal.
178 179