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Antônio
Carlos
FILOSOFIA DA
Persegueiro LINGUAGEM
1
PRESIDENTE DA REPÚBLICA: Michel Temer
3
Conselho Editorial
Bruno Fernandes de Oliveira
Eduardo Alexandre de Oliveira
Evandro Oliveira Brito
Marcelo Prates
Neli Maria Teleginski
Bibliografia
ISBN 978-85-68398-21-0
2017
APPREHENDERE
(42) 3304-0263
Rua Saldanha Marinho, 1591
Sala 05 - Centro - Guarapuava - PR
apprehenderepr@gmail.com
Todos os direitos reservados
4
APRESENTAÇÃO
5
senta essencialmente como discurso, e se faz com o instrumento inescapável da
linguagem, os filósofos contemporâneos invertem o axioma clássico de que a lingua-
gem é uma expressão do pensamento e do conhecimento para, ao contrário, assumir
que a natureza da linguagem é anterior e determina a natureza do pensamento. As
consequências dessa virada são profundas e influenciam a filosofia seja na sua ver-
tente analítica, seja naquela fenomenológico-hermenêutica. Quase todos os grandes
filósofos do século XX, de Carnap a Heidegger, de Wittgenstein a Gadamer, de Der-
rida a Habermas, tornaram a linguagem um tema central de sua reflexão.
Aos estudantes de Letras, o conhecimento dessa reflexão é essencial e per-
mite produzir a trans e a interdisciplinaridade tão necessárias às Humanidades,
muitas vezes isoladas na especificação requerida pela especialização inerente à di-
visão intelectual do trabalho na Academia e correspondente departamentalização
do saber em áreas isoladas e muitas vezes não comunicantes.
O professor Persegueiro adota, nesta introdução ao tema, uma aborda-
gem histórica, percorrendo de modo selecionado a totalidade da história da filo-
sofia, desde a filosofia grega até hoje, apresentando ao estudante o mapa de um
território extenso que convida ao estudo continuado. Utilizando-se de sua ampla
experiência no ensino, o autor se pauta pela preocupação em oferecer ao leitor uma
reflexão bastante completa sobre o assunto, que será útil não apenas ao curso para
o qual se destina, mas igualmente como material a ser utilizado de modo frutífero
em aulas no ensino médio e superior.
Finalmente, devemos lembrar que a produção deste material para o ensi-
no à distância representa o resultado de uma colaboração que envolve diversos ato-
res dentro e fora da UNICENTRO, quais sejam a Editora da UNICENTRO, o Mi-
nistério da Educação e Cultura (MEC), por meio do programa Universidade Aberta
do Brasil (UAB), os departamentos de Letras e de Filosofia (DELET e DEFIL) e os
setores da universidade envolvidos na viabilização de um amplo e já consolidado
programa de educação à distância na UNICENTRO, que permite levar o ensino
superior a muitos que a ele não teriam acesso em condições normais.
6
SUMÁRIO
05 APRESENTAÇÃO
09 I - A FILOSOFIA DA LINGUAGEM
E OS PRINCIPAIS OBJETIVOS
19 II - PLATÃO E A
CONVENCIONALIDADE DO SIGNO
33 IV - SANTO AGOSTINHO E A
FINALIDADE DA LINGUAGEM
53 VI - WITTGENSTEIN: PROPOSIÇÃO
E JOGOS DE LINGUAGEM
7
8
CAPÍTULO I
A FILOSOFIA DA
LINGUAGEM E
OS PRINCIPAIS
OBJETIVOS
“O trabalho do filósofo da linguagem
refere-se à análise dos conceitos que
são habitualmente usados para explicar
a estrutura e o funcionamento da
linguagem”.
(Carlo Penco)
9
de qualquer outra consideração, trata-se de “[...] uma grande realização humana.
Ela permitiu ao homem partilhar conhecimento, experiência e sentimentos com
seus semelhantes. Assim, a linguagem foi o fator decisivo no desenvolvimento da
cultura e sua transmissão de uma geração a outra.” (PERRY, 2002, p. 05). Frente
a tão significativas contribuições de apresentar e traduzir pensamentos, socializar
conhecimentos, particularmente o popular, artístico, mitológico, religioso e filosó-
fico-científico, a linguagem figura como elemento caro à filosofia e outras ciências.
Este capítulo delimitaremos aos elementos fundamentais oriundos da tra-
dição filosófica Ocidental, constituída a partir do encontro (e posteriores heranças)
da cultura judaica, filosofia grega, Cristianismo e Direito Romano. Veremos, pri-
meiramente, o conceito e, logo mais, as características da Filosofia da Linguagem,
sua formação e inserção em currículos acadêmicos universitários, como é este caso.
“1Todo o mundo se servia de uma mesma língua e das mesmas palavras. 2Como
os homens emigrassem para o Oriente, encontraram um vale na terra de Senaar e
aí se estabeleceram [...]. 4
Disseram: ‘Vinde! Construamos uma cidade e uma torre
cujo ápice penetre os céus! Façamo-nos um nome e não sejamos dispersos sobre
toda a terra!’
5
Ora, Iawheh desceu para ver a cidade e a torre que os homens tinham
construído. 6E Iahweh disse: ‘Eis que todos constituem um só povo e falam uma
só língua. Isso é o começo de suas iniciativas! [...] 7Vinde! Desçamos! Confundamos
a sua linguagem para que não mais se entendam uns aos outros.’ 8Iahweh os
dispersou daí por toda a face da Terra, e eles cessaram de construir a cidade. 9Deu-
se-lhe por isso o nome de Babel, pois foi aí que Iahweh confundiu a linguagem
de todos os habitantes da Terra e foi aí que Ele os dispersou sobre toda a face da
Terra.” Gn. 11, 1-9.
11
E o que dizer da Filosofia da Linguagem? Esta é uma subárea da Filo-
sofia que, mesmo sendo inserida em currículos acadêmicos na era moderna, tem
vasta riqueza textual por problemas, autores, orientações e teorias. Para se ter
uma noção dos estudos filosóficos acerca da linguagem, na atualidade, há quem
afirme haver em torno de duzentas grandes teorias de investigação sobre a lin-
guagem provenientes da Filosofia! Tão expressivo quanto este número, são as
produções acadêmicas de universidades que dispõem de linhas, grupos de pes-
quisas, Mestrados e Doutorados cujo foco é, justamente, a linguagem. Eis, então,
uma entre tantas constatações a respeito da investigação sobre a linguagem sob
o prisma da Filosofia.
Feitas essas considerações, emerge uma questão, a princípio singela, mas
de profunda necessidade e validade: por que a Filosofia se interessa pela lingua-
gem? Uma resposta é dada por Luiz Henrique de Araújo Dutra, filósofo brasilei-
ro. Segundo ele, “[...] porque se reconhece como uma atividade essencialmente
discursiva que versa sobre práticas humanas que são, todas elas, pelo menos em
parte, também atividades discursivas.” (DUTRA, 2014, p. 15). A Filosofia é um co-
nhecimento fundamentalmente discursivo que, no caso de nossa tradição, é ma-
joritariamente escrito e fazem-se plausíveis reflexões, leituras e apresentações de
avanços no tocante à linguagem. E ainda, quando feita a versão3 da expressão
discurso à língua grega, há a direta referência a lógos, particularmente, a signifi-
cação de enunciados e sentenças articulados, coesos e racionalmente elaborados,
formando, portanto, um discurso.
Observada a íntima vinculação entre linguagem e filosofia, é preciso acres-
centar que “[...] não há uma compreensão razoável dos problemas filosóficos que
não passe por uma discussão de determinados aspectos da linguagem humana ou
mesmo de uma investigação sistemática sobre ela.” (DUTRA, 2014, p. 15). Afinal,
pensamentos também são frutos do contexto cultural, social, religioso, político e,
de modo peculiar, linguístico. Disso se depreende o jargão popular segundo o qual
a filosofia é filha de seu tempo, no sentido que ela se pronuncia sobre os problemas
vividos – e provocados – pelos indivíduos, suas motivações, anseios e necessida-
des. Desse modo, é inconcebível dissociar filosofia de linguagem, haja vista a im-
bricação e, igualmente, dependência detectadas entre ambas.
Visualizada a concomitância entre linguagem e filosofia, utilizaremos a
analogia, a seguir, para melhor explicitar o interesse por esta primeira. Por exem-
plo, ao observarmos um trabalhador da construção civil, notamos que ele, seguidas
vezes, efetua a organização do ambiente, como também separa o material de melhor
qualidade, comparado ao inferior. Retira impurezas da parte bruta e do acabamen-
3 Exercício por meio do qual o estudante traduz um texto ou sentenças de seu idioma para a língua
em que foram escritos.
12
to, primando pela excelência da obra. Contudo, nem sempre isso acontece, infeliz-
mente. Por outro lado, supondo-se que o leitor tenha vivido uma situação como a
supracitada. Em hipótese afirmativa, o diferencial deste trabalhador é o que cha-
ma a atenção. Quem não aspiraria ter alguém com tais virtudes prestando-lhe ser-
viços? Pois bem, no plano da linguagem, a filosofia efetua um trabalho análogo ao
deste pedreiro: busca melhor entender definições, construções frasais, elementos
denotativos, conotativos, simbólicos e peculiaridades presentes na linguagem e na
língua da qual emissor e receptor servem-se para manifestar pensamentos4. Sob
esta perspectiva, é possível afirmar que “[...] o filósofo da linguagem defronta-se
com a tarefa de analisar conceitos como, por exemplo, expressão, enunciado, as-
serção ou afirmação, sentido, etc. (PENCO, 2006, p. 14). Diferentemente do que se
pensa à primeira vista, tais termos são passíveis de investigação filosófica. Afinal,
não são monolíticos, tampouco portadores de significação absoluta.
Devido, então, à constatação de certa dinamicidade das expressões, está
em questão, quando se afirma a importância da linguagem para a filosofia, efetuar
ajustes, melhoramentos e correções racionais em enunciados, sejam orais ou es-
critos. Não se enseja menosprezar ou reescrever pensamentos outrora manifestos,
negando-lhes a existência ou distorcendo-os. Não obstante, o trabalho empreen-
dido pelo estudioso da linguagem objetiva, acima de tudo, aprender com as limi-
tações, erros e avanços que dizem respeito a esta faculdade tão ímpar e indelével
do ser humano. Assim sendo, tais detecções e intervenções no plano da linguagem
correspondem às principais tarefas mediante as quais se ocupa a filosofia. Auxi-
liam-no a imergir em um vasto e profundo universo, lamentavelmente desbravado
por poucos, embora seja parte da natureza de todas as pessoas.
4 Não confundir com as atividades inerentes às aulas de gramática e outras subdivisões da língua.
Em Filosofia da Linguagem efetua-se a análise, ou seja, decomposição, ajustes, correções e orde-
nação lógica de pensamentos manifestos em linguagem e, é claro, em uma língua específica. As-
sim, o trabalho do profissional de letras e do filósofo da linguagem não se confundem, tampouco
realiza-se sob a mesma perspectiva.
13
A Filosofia da Linguagem não corresponde nem a um conceito, nem
a um campo disciplinar bem constituído. Entende-se por Filosofia da Lin-
guagem um conjunto de reflexões bem distintas: observações dos filósofos
a respeito da linguagem, análises técnicas construídas a partir dos forma-
lismos lógicos, avaliações do papel da linguagem comum, representações
construídas a partir dos saberes positivos que tomam a linguagem como
objeto (Filosofia da Linguística). Apesar de sua heterogeneidade [...], trata-
-se provavelmente do mais importante e mais difícil campo da Filosofia.
Com efeito, a questão da linguagem afeta aquilo que constitui a
especificidade da humanidade e a natureza da racionalidade. Cada campo
de nossa experiência é objeto de construções teóricas (aquilo que chama-
mos de ‘ciências’), as quais dão lugar a problemas filosóficos delicados; o
infinito para a matemática, a estrutura última da matéria para a física,
a natureza da vida para a biologia, a liberdade para o direito e a moral.
Para a linguagem, esses problemas são de duas ordens. A primeira se
refere à natureza da significação. Que tipo de entidade é a significação de
uma palavra ou de uma frase? De onde vem que a linguagem signifique? A
segunda refere-se à universalidade. Como é que me compreendem quando
falo e, ainda por cima, como posso ser traduzido para outra língua? Essa
questão, evidentemente, tem a ver com a natureza do pensamento.
Poderíamos dizer, no fundo, assim como o infinito é a chave meta-
física da matemática, a universalidade é a chave metafísica das ciências da
linguagem. [...] A filosofia da linguagem claramente não se reduz à filo-
sofia das ciências da linguagem. Muitos filósofos não têm nem mesmo um
conhecimento muito profundo da questão. E há várias razões para isso.
[...] Cada um de nós se encontra imerso na linguagem como seu
lugar natural, ali onde dominamos nossa presença no mundo e nossa
humanidade. Disso decorre uma apresentação espontânea da natureza
da linguagem, quase sempre apoiada nos conhecimentos elementares que
todo mundo adquire com a gramática escolar. [...] O homem se define pela
linguagem e pela razão, o que significa que, sem linguagem, não haveria
racionalidade. A razão e a linguagem podem ser confundidas como supu-
nham os projetos de língua universal? O que significa para a razão humana
o fato de a linguagem nos ser dada sob a forma de uma multiplicidade de
línguas diferentes?
(Auroux, Sylvain. Filosofia da linguagem.
p. 7-10, grifos no original)
14
Após observar as considerações atinentes ao que se propõe a Filosofia da
Linguagem, retornaremos a um dos tantos textos clássicos que a abordam. Neste
caso, selecionamos uma passagem do diálogo Fedro, no qual figura a escrita, sua
origem e conexões com a memória, jogos, números e demais atividades nas quais,
inegavelmente, a linguagem está implicada.
Texto complementar
Desde um passado
imemorial, o ser
humano necessita
representar seus
pensamentos por
pinturas e, mais tarde,
caracteres. À esquerda,
observa-se a Pintura
Rupestre do Sítio Xique-
Xique I, em Carnaúba
das Antas, Seridó, Rio
Grande do Norte. Note-
Créditos da imagem: ABAR (Associação Brasileira de
se, sobretudo, a presa
Arte Rupestre). Disponível em: http: //www.global-
presença da linguagem
rockart2009.ab-arterupestre.org.br/arterupestre.asp.
corporal.
Imagem acessada em 20/02/2017.
15
O valor atribuído à escrita: uma contribuição de Platão
A origem da escrita. (Fedro 274c-275b; 275c-275e.)
Sócrates: “Pelo menos posso te narrar uma tradição dos antigos
[274]. Eles conhecem a verdade. Se pudéssemos, por nós mesmos, descobrir a
verdade, importar-nos-íamos ainda com aquilo que as pessoas acreditam?”
Fedro: “Que pergunta! Mas me conta essa tradição de que falas.”
Sócrates: “Bem, ouvi dizer que viveu perto de Eucrates, no Egi-
to, um dos antigos deuses daquele país. Chamam Íbis ao pássaro que lhe
é consagrado e ele mesmo é chamado Tot [d]. Foi ele quem inventou os
números com o cálculo, a Geometria, a Astronomia e também o jogo de
damas, os dados e, enfim, e sobretudo, a escrita. Naquele tempo, daquela
grande cidade da região elevada que os gregos denominavam Tebas, do
Egito e a cujo deus chamam Amon, Tamuz reinava sobre todo o Egito. Tot
veio encontrar-se com ele e mostrou-lhe as artes que tinha inventado, di-
zendo-lhe que era preciso difundi-las entre os outros egípcios. Então, o rei
perguntou-lhe qual podia ser o uso de cada uma delas. À medida que Tot
os expunha e dependendo das explicações lhe parecerem boas ou más, o rei
reprovava isso, louvava aquilo. Dizem que numerosas foram as observa-
ções que Tamuz fez a Tot, a favor ou contra cada arte. Seria muito longo
relatá-las em detalhes.”
“Mas quando se chegou à escrita: ‘Este é, ó rei’, disse Tot, ‘um co-
nhecimento que tornará os egípcios mais sábios e lhes aumentará a memó-
ria; memória e ciência encontram seu remédio’.”
“O rei respondeu-lhe: ‘Muito engenhoso Tot, uma coisa é ser capaz
de inventar as artes. Outra, julgar em que medida prejudicarão ou serão
úteis àqueles que as deverão usar.E tu, neste momento, como és o pai da
escrita, lhes atribuis, por [275] benevolência, os efeitos contrários ao que
tem, pois, por negligenciarem a memória: ela fará aumentar o esqueci-
mento na alma daqueles que a tiverem adquirido; fiando-se na escrita, é
do exterior, mediante caracteres estranhos, e não do interior e graças ao
esforço pessoal, que se fará aflorarem à memória as lembranças. Portanto,
não encontraste um remédio para fortificar a memória, mas para ajudar a
rememoração [...]’.”
Fedro: “Que facilidade tens, Sócrates, em criar histórias [...] ao
seu alvedrio! [...]”
Sócrates: “[c] Assim, pois, aquele que acredita deixar depois de si
16
uma arte registrada por meio dos caracteres da escrita e aquele que, por
sua vez, a recolhe com a ideia de que dela provirão a certeza e consistência
são, sem dúvida, tolos e desconhecem, certamente, o Oráculo de Amon, se
creem que discursos escritos são algo mais do que um meio de fazer relem-
brar àquele que [d] já o conhece aquilo de que trata aquele escrito.”
Fedro: “É isso mesmo.”
Sócrates: “A escritura apresenta, meu caro Fedro, um inconvenien-
te que, aliás, se encontra também na pintura. Efetivamente, os seres que esta
última dá à luz têm a aparência de vida, mas, caso se lhes faça uma per-
gunta, manterão, dignamente, silêncio. O mesmo acontece com os discursos
escritos. Poderíamos crer que falam como seres sensatos, mas se os interro-
garmos com a intenção de compreender o que dizem, limitam-se a exprimir
uma única coisa, sempre a mesma. Uma vez escrito, cada discurso chega aos
mais [e] variados lugares e é recebido tanto por aqueles que entendem do as-
sunto quanto por aqueles que não podem entendê-lo; ignora a quem deve e a
quem não se deve dirigir. Se vozes discordantes se fazem ouvir a seu respei-
to, se é injustamente injuriado, tem sempre que recorrer ao seu pai. Sozinho,
com efeito, é incapaz de repelir um ataque ou se defender.”
Fedro: “Perfeitamente.”
Fragmentos citados por DRÓZ, Geneviève.
Os mitos platônicos. p. 167-168.
17
18
CAPÍTULO II
PLATÃO E A
CONVENCIONALIDADE
DO SIGNO
9 Os nomes que se assemelham à verdade e aqueles que dizem a mesma coisa de si mesmos.
23
24
CAPÍTULO III
ARISTÓTELES:
LINGUAGEM E
PENSAMENTO E A
IMPORTÂNCIA DA
PROPOSIÇÃO
O Órganon
O sistema de livros que a tradição liceal11 formulou com os es-
critos lógicos de Aristóteles e discípulos, destinado à escola peripatética 12,
intitula-se Órganon, que se traduz por órgão, instrumento. Órgão é ele-
mento de aparelho, e nesta acepção Aristóteles inventou o nome: elemento
do aparelho analítico, a Analítica, que a escolástica latina baptizou (sic)
com o nome de Lógica. O aparelho inclui, além da Analítica, a Gramática
e a Retórica, mas os fundamentos do trívio13 constam deste compêndio
do pensamento rigoroso e não paralogista dos livros orgânicos, fonte da
10 Propedêutica significa uma introdução a determinado conhecimento, relacionado aos demais.
É preliminar aos demais cujo objetivo é fazer a compreensão avançar. Visa preparar o indivíduo
para etapas formativas mais complexas.
11 Quer dizer, dos textos e ensinamentos comuns ao Liceu, escola fundada por Aristóteles, em
Atenas.
12 Escola Peripatética era outro nome atribuído à instituição de Aristóteles. Era comum vê-lo lecionar
caminhando com seus alunos. De perípathos derivamos a expressão, os que estudam andando.
13 Trívio vem do latim Trivium, quer dizer, o trivial, elementos ou conteúdos indispensáveis,
fundamentais.
26
lógica formal, a pontos de o próprio Aristóteles reconhecer que, antes dele,
nada havia a citar, apesar da penosidade que sofreu em busca de eventuais
fontes anteriores, de onde o seu exercício analítico e retórico constituir o
primeiro na escola grega e, por efeito, nas demais escolas.
Organizador da lógica dedutiva, baseada no instrumento racional
do silogismo14, que funciona qual operação aritmética de matemática pura,
ainda hoje a humanidade não dispõe de outra lógica dedutiva que não seja
a de Aristóteles. [Francis] Bacon, no Novum Organon, ensaiou uma lógica
indutiva, mas não conseguiu, nem alterar as regras universais da lógica
dedutiva, nem demonstrar erro nas teses de Aristóteles quanto à indução,
que minorava, por achar que, nos acidentes15, não há forma de progredir
senão pela análise de acidente a acidente, sem hipótese de universalização
de uma série, classe ou conjunto de acidentes. [...]
O uso da dedução racional é uma analítica, que melhor se exprime
na forma verbal usada por Aristóteles, a épistémê. O substantivo lógica, é
uma forma adjectivada (sic), refere o próprio do lógos, o discurso lógico,
mas é forma tardia, mais devida ao eclectismo alexandrino e romano do
que ao magistério liceal.
O Organon é o conjunto de seis livros sobre a arte de filosofar, a
propedêutica a toda a arte de filosofar. Não é a filosofia propriamente dita, é
a arte de exercitar a filosofia, como o adro16 que está antes do santuário. [...]
(Prefácio de Pinharanda Gomes à edição portuguesa do Órganon
de Aristóteles. p. 09-10, grifos no original).
Linguagem e pensamento
Uma das razões para a linguagem despontar como tema filosófico é, entre
outros elementos, a íntima relação estabelecida com o pensamento. Ambos, além
de dependentes e complementares, exercem influências mútuas sobre o indiví-
14 Silogismo é o tipo de raciocínio formado por duas proposições que antecedem a conclusão, denomi-
nadas de premissas. Normalmente a primeira é chamada de premissa maior, seguida da premissa
menor e, finalmente, a proposição que encerrará a afirmação ou negação intitulada conclusão, de-
preendida das suas premissas. Ex.: Todos os humanos são mortais. Ora, Antônio Carlos é homem.
Logo, Antônio Carlos é mortal.
15 Acidentes significam elementos acessórios à substância, o que subsiste e não necessita de outro
para tal. Por exemplo, na noção de carro a substância é, justamente, o veículo e acidentes são seus
acabamentos e demais adereços.
16 Adro é o pátio frontal ou lateral de um templo. Segundo o texto, é um local adequado para conver-
sar, ao passo que, em seu interior, o ambiente é propício às orações e ao silêncio.
27
duo, grupos e comunidades. Todavia, sem especificá-las, dado o foco ora proposto,
cumpre ater-nos, brevemente, à vinculação entre linguagem e pensamento sob o
prisma de Aristóteles. Segundo o filósofo, a vinculação acontece, necessariamente,
pela atuação da mente. Pelos sentidos, ocorre a assimilação do mundo exterior e de
seus objetos. Assim, a linguagem está imbricada com outra relação, entre matéria
e forma mediada pela mente.
É no plano mental, além da realidade sócio-política que observamos e es-
tudamos a linguagem, pois, para Aristóteles, ela tem vinculações com o pensamen-
to e vice-versa. Segundo ele, na instância do pensamento, a mente é responsável
por relacionar e ordenar logicamente palavras, enunciados, sentenças, proposições
e períodos. Ademais, “[...] o conhecimento que se constitui pelo pensamento ante-
cede a linguagem e é autônomo em relação a ela. A linguagem expressa, portanto,
um pensamento que se constitui de maneira prévia e autônoma em relação à sua
expressão linguística.” (MARCONDES, 2010, p. 23). Nem todos os pensamentos
são expressos por meio da linguagem. Quando o são, passam a ser alvo de investi-
gação a partir da relação entre linguagem e pensamento. Se ainda não são lingusi-
ticamente expressos, podem ser estudados, mas sob outra perspectiva.
Todavia, ao observar, particularmente, as palavras, unidades pertencen-
tes ao conjunto da língua e, amplamente, da linguagem humana, Aristóteles distin-
gue duas classes, a saber:
29
Dentre as enunciações, Aristóteles investiga a proposição. Esta consiste
na apresentação de um juízo falso ou verdadeiro, ou ainda, o tipo de enunciado
que, após ser apresentado, é passível de prova. Além destas acepções, a proposição
é uma unidade linguística formada por sujeito e predicados, propensa de união
com demais proposições, estejam estas subordinadas à primeira ou vice-versa.
Nesse sentido, extrai-se que “[...] toda a proposição depende necessariamente de
um verbo ou da flexão de um verbo e, com efeito, a noção de homem, à qual não
acrescentemos, nem é, nem era, nem será, nem nada deste género (sic), ainda não
constitui uma proposição.” (ARISTÓTELES, 1985, II, 2, 5).
Conforme observado, a proposição distingue-se do conceito pelo fato de
ser um tipo de enunciação, apresentar elementos e julgamentos atinentes ao su-
jeito e, por outro lado, não explicar o que é o objeto, o ser humano ou o nome. Ao
mesmo tempo, é a proposição “[...] que exprime, seja uma coisa, seja uma unidade
de coisas resultante da ligação das partes [...].” (ARISTÓTELES, 1985, II, 2, 5). À
distinção de Platão, no Crátilo, em que o nome, muitas vezes isolado, figura como
foco dos estudos sobre a linguagem, na proposição acontece outra situação, pois
uma vez solto da enunciação, o nome não permite averiguar o sentido do conjunto,
o que somente é dado pela proposição. “[...] não podemos raciocinar indo da na-
tureza das palavras à das coisas (condenação da etimologia ‘cratiliana’) e, de certo
modo, nada limita as possibilidades de um som ser o signo de um conceito qual-
quer.” (AUROUX, 2009, p. 24). Para Aristóteles está em questão a análise do todo,
da sentença apresentada sob a forma de proposição. Nela examina-se o significado
do nome, sem somente fazer com que a investigação gravite em torno dele. Para
além do nome, é pertinente inquirir enunciados e proposições, bem como seus pe-
ríodos. Dessa forma, encaminhamos a análise da linguagem ao conjunto do escrito,
como ensina Aristóteles.
No âmbito do todo aristotélico, as proposições são divididas em simples
e compostas. A simples é “[...] uma emissão de voz com um significado relativo à
presença ou à ausência de um predicado em um sujeito, em conformidade com os
tempos.” (ARISTÓTELES, 1985, II, 2, 5). Diz respeito ao particular ou individu-
al, no caso, a um sujeito com ou sem elementos que podem ser predicados. Já as
proposições compostas são as “[...] que exprimem multiplicidade, e não um uno,
ou em que as partes não estão ligadas.” (ARISTÓTELES, 1985, II, 2, 5). São partes
diversificadas desse todo que se relacionam diretamente e indiretamente. Também
ocorrem em diversas sentenças cujo objeto seja-lhes distinto, porém, mesmo as-
sim, remetem à dita multiplicidade. Importa, enfim, “[...] que a proposição de que
tal coisa pertence ou não pertence a um sujeito se aplique tanto ao universal como
30
ao particular (ARISTÓTELES, 1985, II, 2, 7-17b).
Neste capítulo estudamos algumas contribuições de Aristóteles à investi-
gação sobre a linguagem. Vimos que, embora a filosofia da linguagem propriamen-
te dita surgiu na modernidade, os préstimos aristotélicos são de expressiva impor-
tância e validade. Afinal, sem a lógica, instrumento do pensamento e propedêutica
das ciências, o que poderia ser feito em termos de linguagem? Certamente, nada.
E ainda, observamos que, embora conceitualmente distintos, linguagem
e pensamento se relacionam particularmente pela interação firmada com a mente.
Além desta ação implicar na produção do conhecimento, auxilia a ordenar pen-
samentos, enunciados e sentenças. Neste exercício, Aristóteles apresenta a pro-
posição, modalidade de emprego das palavras e asserções voltadas à detecção de
verdade ou mentira, juntamente com juízos de valor e estéticos, por exemplo.
Em seguida, mudamos de assunto em relação à linguagem. Saímos de um
contexto lógico-analítico para enveredar por breves recortes provenientes de San-
to Agostinho, filósofo que investiga a finalidade da linguagem. Limitar-nos-emos
aos questionamentos do diálogo com Adeodato, seu filho: a linguagem nos leva a
conhecer? E, por ela, podemos ensinar alguém?
31
32
CAPÍTULO IV
SANTO AGOSTINHO
E A FINALIDADE DA
LINGUAGEM
21 Segundo o filósofo, sinal é aquilo que é utilizado para indicar outra coisa. Em seu conjunto, “[...]
denomino sinais a tudo o que se emprega para significar alguma coisa para além de si mesmo.”
(AGOSTINHO, 2002, p. 43). Esta definição implica alguns tipos de sinais, relacionados e diferen-
ciados pelo autor. Porém, devido à delimitação da disciplina, tais elementos não serão abordados.
Para maiores estudos, consultar A Doutrina Cristã e Sobre o Mestre.
36
[...] — Há todavia, creio, certa maneira de ensinar pela recordação, ma-
neira sem dúvida valiosa, como se demonstrará nesta nossa conversa-
ção. Mas, se tu pensas que não aprendemos quando recordamos ou que
não ensina aquele que recorda, eu não me oponho; e desde já declaro
que o fim da palavra é duplo: ou para ensinar ou para suscitar recorda-
ções nos outros ou em nós mesmos. (AGOSTINHO, 1980, p. 350).
[...] Tu, porém, indagas de coisas que, sejam quais forem, de modo
nenhum podem considerar-se palavras; e, no entanto, também sobre
essas tu me interrogas com palavras. Começa tu a interrogar-me sem
palavras, para que depois eu te possa responder da mesma forma.
(AGOSTINHO, 1980, p. 355).
37
A esta altura do diálogo, juntamente com a intenção do filósofo de testar e
promover a capacidade de raciocínio e de arguição do filho, fica explícita a impos-
sibilidade de dirigir-se a algo, seja a parede, uma pessoa ou objeto, sem recorrer
a sinais. Portanto, embora Santo Agostinho possa, em termos, confundir o pensa-
mento do filho, quer aplicar-lhe um recurso pedagógico, enfatizando a validade e
necessidade da dialética para que, apresentada uma afirmação ou pergunta, poder
chegar a algum lugar. Nos fragmentos em análise, é observada a reafirmação da
função sinalizadora da linguagem, sua relevância intrínseca para que o indivíduo
diga algo sobre si mesmo, o outro e, por fim, o mundo circundante.
39
o dedo não se depreende, porém, nada de explícito sobre aquilo com o que
a palavra se relaciona. Dito de outro modo: nem sinais linguísticos nem
gestos podem explicar em razão do que um ouvinte está em condições de
entender um objeto indicado, sobretudo quando palavras podem também
ser ambíguas. Antes, pelo contrário, a coisa designada já tem de ser conhe-
cida, caso deva haver a possibilidade de prová-la com um sinal.
[...] Nesse momento, a tese de partida do diálogo é refutada. Pala-
vras são, com efeito, sinais, mas elas não possuem nenhuma força constitu-
tiva de conhecimento. Antes, sua função consiste unicamente em ‘lembrar’
ou ‘admoestar’ (admonere). Com isso, Agostinho alcançou um ponto ao
qual chega com especial prazer nos seus escritos iniciais e intermediários:
o exterior é meramente apto a nos chamar algo à consciência, enquanto a
verdade ensina ‘no interior’ do ser humano (cf. Foris admonet, intus docet:
De libero arbitrio II,14,38). Isso em nada muda o fato de que palavras,
para Agostinho, têm uma utilidade significativa; somente é o caso que
essa não consiste numa fundação do conhecimento, tal como se pode ver
no diferir de palavra e coisa. Afinal, um falante pode, com suas palavras,
equivocar-se sobre a realidade de quatro maneiras: primeiramente, no
caso de uma mentira; em segundo lugar, num erro; em terceiro lugar, na
reprodução sem entendimento de um conteúdo; em quarto lugar, numa
confusão de palavras. Fôssemos nós instruídos nas palavras, ao invés de
conhecer os próprios estados de coisas, nesse caso não poderíamos em ab-
soluto notar tal engano de conteúdo das palavras (14,46). A intenção coma
qual essa teoria é apresentada é a comprovação de que, através da nossa
experiência ou através dos mestres humanos, não aprendemos nada, mas
exclusivamente através de Cristo como o ‘mestre interior’ ou através da
‘luz interior’ (11,38). Somente o mestre interior intermedeia os conteúdos
sensíveis e os espirituais, aos quais os mestres humanos podem meramente
chamar atenção por meio do seu uso de sinais.
HORN, Cristoph. Agostinho e a teoria dos sinais. Veritas.
Porto Alegre: EDIPUC-RS, v. 51, no. 01, p.9-13, março de 2006.
40
fragmentos de Santo Agostinho, afinal, lemos, mesmo que pouquíssimas passa-
gens, de um dos maiores autores clássicos da civilização.
Em seguida, seguiremos para uma mudança de ares na filosofia da lingua-
gem. Longe de desprezar contribuições nominalistas, realistas e conceitualistas,
típicas da Idade Média, voltaremos nossa atenção à modernidade, época de muitos
avanços e contradições. Especificamente com a filosofia da linguagem, pontuare-
mos em que consiste e quais são as principais motivações da Filosofia Analítica
e do movimento intitulado Virada Linguística (The Linguistic Turn). Logo após,
analisaremos alguns dos préstimos de dois expoentes da área: Gottlob Frege e Lu-
dwig Wittgenstein.
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42
CAPÍTULO V
A VIRADA
LINGUÍSTICA E
GOTTLOB FREGE
23 A etimologia de“[...] ‘moderno’ parece ser o advérbio latino ‘modo’, que significa ‘agora mesmo’,
‘neste instante’, ‘no momento’, portanto designando o que nos é contemporâneo, é este o sentido
que ‘moderno’ capta, opondo-se ao que é anterior, e traçando, por assim dizer, uma linha, ou
divisão entre os dois períodos.” (MARCONDES, 2004, p. 140).
24 A Escolástica (do lat. Scholastica) é o pensamento filosófico e teológico de origem cristã, predo-
minante entre os séculos VIII e XVI. Concilia fé e razão tendo como base as filosofias de Platão
e, sobretudo Aristóteles. Em termos de linguagem, nominalismo, realismo e conceitualismo são
denominadas de escolasticismo, sinônimos de parte desta filosofia.
44
conhecimento, sendo que estas devem a determinadas mentes inquietas, patroci-
nadores (mecenas) e, acima de tudo, amantes desinteressados do conhecimento,
suas próprias existências.
Ademais, importa acentuar que a modernidade atinge seu ápice entre os
séculos XVII e XVIII, com a Revolução Científica Moderna, o Iluminismo (Au-
fklärung25) e, mais tarde, em 1831, com a morte de Georg Wilhelm Fredrich Hegel.
Embora seus ecos sejam visíveis ainda hoje, tem-se que “[...] o conceito de mo-
dernidade está sempre relacionado para nós ao ‘novo’, àquilo que rompe com a
tradição. Trata-se, portanto, de um conceito associado quase sempre a um sentido
positivo de mudança, transformação e progresso.” (MARCONDES, 2004, p. 139,
grifo no original). Dentre seus principais traços está a valorização do indivíduo, a
referência ao progresso, o afastamento em relação à crença na ação e influências
divinas na vida humana e a contestação da tradição. Apesar de cada um desses
aspectos se manifestar em situações específicas, afirma-se as influências e efeitos
da modernidade até hoje. Estudiosos nos definem como filhos da era moderna26.
Feitas essas considerações, são auferidos alguns dos traços e ações da
modernidade, o que não encerra a explanação, pois ela se mostra inesgotável em
diversos temas. Na sequência, estudamos alguns dos principais elementos da filo-
sofia da linguagem de Gottlob Frege, um dos maiores teóricos desta área. Cumpre
registrar que o filósofo também sofre influências da modernidade e de outros auto-
res de seu tempo. Para tanto, teremos de preceder, a título de informação e preparo
do leitor, duas grandes manifestações filosóficas imprescindíveis ao entendimento
da linguagem: Filosofia Analítica e Virada Linguística.
Filosofia Analítica
Filosofia Analítica é uma daquelas expressões que, por melhor definida,
ainda porta inúmeras outras formas de ser feita. Assim procedendo, o vocábulo ori-
gina-se de análise, ou seja, o exercício de “[...] demolir ou decompor alguma coisa.”
(STRAWSON, 2002, p. 15). Em termos filosóficos, o emprego desta palavra é antigo,
mas com significações diferenciadas. Mas, sem efetuar um histórico acerca da análi-
25 O movimento cultural denominado Iluminismo, ocorrido entre os séculos XVII e XVIII, conheci-
do nas tradições filosóficas alemã por Aufklärung (Esclarecimento) e inglesa Enlighnment (Ilumi-
nação, Movimento das Luzes), significa valorizar e aplicar a razão em prol da emancipação do ser
humano, favorecendo, então, sua autonomia e emancipação. É uma das manifestações e heranças
da modernidade em nossa civilização.
26 É provável que você já tenha lido ou apreciado alguma fala sobre a pós-modernidade, um momen-
to que se iniciou a partir da década de sessenta do século XX. Esta é uma discussão complexa que
não será tratada aqui.
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se e das acepções atribuídas, importa dizer que o uso desta palavra implica em uma
espécie de reforma de discursos, refletindo detalhadamente sobre eles. À diferença
de outras modalidades de se fazer filosofia, a análise foca-se na linguagem, em sua
modalidade enunciativa27. Portanto, Filosofia Analítica é a parte do pensamento que
investiga a constituição e a significação de enunciados e proposições.
O exemplo da reforma é pertinente pelo fato de, ao propor efetuá-la, não
estamos inteiramente certos sobre o que será encontrado nesta execução. Analo-
gamente ao imóvel a ser ajustado, passar por intervenções e melhorado, está o
discurso, sobretudo o que emitimos oralmente sem maior atenção e, igualmente, o
que escrevemos. Diante disso se afirma que “[...] o papel do filósofo analítico con-
siste em endireitar a postura de nosso pensamento ou auxiliar em nossa reforma
intelectual; consiste em libertar-nos de confusões obsessivas, dos falsos modelos
que dominam o pensamento e nos tornar capazes de ver claramente o que está
diante de nós.” (STRAWSON, 2002, p. 16).
Embora desenvolvida por filósofos muito diferentes, depreende-se que o
ponto comum detectado na Filosofia Analítica é a promoção e decomposição de
sentenças, frases e períodos com o objetivo de evitar omissões, devaneios e equí-
vocos. Nesse sentido, “[…]concebe a análise da linguagem como método filosófico,
como procedimento por meio do qual a reflexão filosófica se desenvolve.” (MAR-
CONDES, 2004b, p. 17). Frente a este elemento comum à Filosofia Analítica é im-
possível serem preteridas e, também, encontradas incompreensões decorrentes do
mau uso da linguagem e do pensamento. Tal emprego diz respeito à irrefletida e
ausente organização lógica na enunciação, à deficitária formação do indivíduo ou
grupo, além de problemas de falta de educação, o que depõe contra a dignidade e
importância das palavras, enunciações e da linguagem como um todo.
Visando, então, constatar a existência de discursos claros, bem erigidos,
passíveis de investigação e questionamentos, pontua-se que, a partir do início do
século XX, quando filósofos se inclinam à linguagem, com afinco, sob um prisma
até então pouco ou nem observado, ela torna-se um dos maiores temas de pesqui-
sas filosóficas. Até porque, no âmbito do desenvolvimento, contradições e proble-
mas da modernidade, urge “[...] depurar a linguagem de elementos subjetivos, ar-
bitrários e de todos os que, uma vez confrontados, comprometam a objetividade”
(PERSEGUEIRO, 2014, p. 42, grifo no original). Cada um, ao seu modo, aventura-
-se neste exercício, em diuturna busca por significação e ajustamento discursivo.
27 Entre o final do século XIX e início do século XX começa a ganhar força uma mudança de ares
relativa a elementos transcendentais os quais, agora, passam a não figurar tanto quanto antes em
pesquisas de Filosofia da Linguagem. Há, por exemplo, “[...] a passagem efetuada entre a noção de
ideia, (predominante do período grego clássico até a filosofia moderna), a enunciados e proposi-
ções, em tese, rigorosamente elaborados, ajustados e articulados” (PERSEGUEIRO, 2014, p. 68).
46
Virada linguística
47
esperando que o objeto funcionasse.
É evidente que, no plano linguístico, a situação porta maior complexidade
do que o sucinto exemplo. Tais práticas linguísticas demandam investigação, pois
o modo como são conduzidas geram incompreensões, conflitos e não aceitação dos
porquês ou justificações de crenças. Tudo isso é resultado de nossa própria culpa e
omissão diante de ações mal observadas, ajustadas e ausentes de autocorreções e
correções mútuas feitas, em tese, no seio da comunidade dos indivíduos.
Em seguida, apresentamos determinados préstimos de Gottlob Frege,
pensador que proporcionou à Filosofia da Linguagem o enriquecimento teórico.
Pertencente à matriz analítica, ele orienta a empreender um caminho em sincronia
com a objetividade e fixar-se na significação, principais recortes aqui abordados.
49
Sentido e referência de enunciados: o pensamento
Frege procurava uma teoria semântica sistemática em que cada
expressão tivesse tanto um sentido como uma referência. Como estender a
distinção aos enunciados? Frege define ‘pensamento’ como o sentido de um
enunciado e ‘valor de verdade’ como a sua referência. Para chegar a essas
duas definições, serve-se de dois argumentos diferentes:
O primeiro argumento tem por base uma ideia intuitiva: se dois
enunciados podem ser racionalmente julgados um verdadeiro e outro fal-
so, então exprimem pensamentos diferentes (princípio da diferença intuiti-
va de pensamentos). Por exemplo, uma pessoa [...] sem contradizer-se pode
acreditar que seja verdade que a Estrela da manhã é um planeta, e ao mes-
mo tempo acreditar que seja falso que a Estrela vespertina é um planeta.
Esses dois enunciados, portanto, representam pensamentos diferentes. Na
base dessa ideia está o seguinte argumento: O que há de diferente nos dois
enunciados? Somente a expressão Estrela vespertina e Estrela da manhã,
expressões com a mesma referência e sentido diferente [...]
O segundo argumento tem uma base intuitiva e se fundamenta so-
bre a diferença entre poesia e ciência, e sobre motivos pelos quais estamos
interessados na verdade de um enunciado. Frege se pergunta que diferença
se dá ao considerar ‘Ulisses desembarcou em Ítaca’ no caso de ‘Ulisses’ se
referir a um indivíduo de carne e osso ou no caso de se achar que ‘Ulisses’
seria simplesmente um nome de ficção poética [...] A diferença entre os dois
modos de se compreender a frase é que no primeiro caso não estamos inte-
ressados na verdade, mas apenas em seu valor poético; e no segundo caso,
estamos, ao contrário, interessados na verdade. Estamos, assim, interes-
sados na verdade só quando se pensa que as partes componentes de um
enunciado tenham uma referência. A passagem do interesse pelo sentido
ao interesse pela referência coincide com a passagem do interesse pela po-
esia ao interesse pela pela verdade. [...] Portanto, é razoável identificar a
referência de um enunciado com seu valor de verdade (uma consequência
que se costuma atribuir a Frege a partir dessas ideias é que um enunciado
que contenha um nome sem referência não tem referência, ou seja, não tem
valor de verdade).”
PENCO, Carlo. Introdução à filosofia da linguagem.
p. 59-60, grifos no original.
50
Neste capítulo estudamos os traços da modernidade e percebemos suas
determinações em nossas vidas, ficando apenas no planos do pensamento, do co-
nhecimento e da vida sócio-política. A modernidade trouxe muitas contradições e,
aos poucos, mostrou crises, algumas que perduram até hoje. Logo após, observa-
mos a eclosão da Filosofia Analítica seguida pela Virada Linguística. Aprendemos
que, cada uma ao seu modo, mudou a forma de fazer filosofia e, paralelamente,
orientou-nos a ter maior atenção com a linguagem, a ponto de hoje ser ela um dos
maiores campos de investigação filosófica.
Por fim, fomos apresentados, sucintamente, à teoria do significado de
Gottlob Frege, pensador que inovou a lógica e a filosofia da linguagem. Particular-
mente notamos uma atenção peculiar conferida aos nomes e sinais, bem como a
demais termos acrescidos do valor objetivo e universal de determinados vocábulos,
juntamente com o sentido e a referência, imprescindíveis à filosofia da linguagem.
Agora, estudaremos outro filósofo de orientação analítica, Ludwig Wittgenstein,
tão importante quanto Frege, e observaremos, então, algumas de suas peculiarida-
des e valiosos préstimos conferidos à linguagem.
51
52
CAPÍTULO VI
WITTGENSTEIN:
PROPOSIÇÃO
E JOGOS DE
LINGUAGEM
53
mental, árido e inesgotável, o Tractatus Logico-Philosophicus29. O manuscrito foi
concluído em 1918, momento em que Wittgestein era prisioneiro de guerra dos
italianos30 e, graças ao mestre Bertrand Russell, foi encaminhado para publicação.
Este livro, embora de difícil assimilação, exerce influências e causa curiosidade nos
amantes da linguagem. Nele é apresentado que “[...] a forma gramatical e a forma
lógica da linguagem não coincidem.”(MARCONDES, 2010, p. 104). Detecta, por
assim dizer, a ausência de sincronia entre dois aspectos caros e imprescindíveis à
linguagem que ocorrem sem a devida tomada de atenção.
Para Wittgenstein, uma das maiores preocupações do Tractatus é inves-
tigar a constituição, o que é próprio da linguagem, bem como sua relação com o
mundo. Assim como demais autores da tradição filosófica analítica, elege como foco
de pesquisa as enunciações, visto que “[4] o pensamento é a proposição com senti-
do” (WITTGENSTEIN, 1993, p. 165). Nesta afirmação há a valorização conferida à
modalidade de linguagem, da língua – lógica e gramaticalmente organizada – que
explicita pensamentos dotados de conteúdos detectáveis na própria apresentação.
Aliás, embora já estudada, o que é mesmo proposição? É a enunciação
frasal dotada de juízo considerada verdadeira ou falsa mediante averiguação racio-
nal. Também diz respeito aos enunciados iniciais (e de outros trechos) do discurso,
propriamente da etapa através da qual se explana o que será discutido. Importa,
em todo caso, acentuar que a proposição devidamente articulada, que isolada ou
em seu conjunto tem um ou mais argumentos corresponde a “[...] essa condição
necessária [que]31 distingue os argumentos de vários gêneros dos não-argumentos
com que são, às vezes, confundidos.” (COPY, 1978, p. 30).
No intuito de promover o pensamento ordenado e transmitido em con-
sonância com as leis da lógica e da gramática, portanto, linguisticamente dado, o
filósofo infere que “[4.01] a proposição é uma figuração da realidade. A proposição
é um modelo da realidade tal como pensamos que seja.” (WITTGENSTEIN, 1993,
p. 165). A propósito, o que vemos, aquilo que é usual e a própria presença de al-
guém ou algo corresponde à figuração. A mesma manifesta-se porque o mundo
e a linguagem estão intimamente relacionados. Ao indivíduo compete, no uso de
sua razão, explicitar a figuração por proposições, dado que “[4.021] [...] sei qual é
a situação por ela representada, se entendo a proposição. E entendo a proposição
29 O Tractatus Logico-Philosophicus apresenta em toda sua estrutura a redação ordenada em for-
mato de aforismos, a saber, sentenças, em geral, pequenas ou médias (extensão) que, à moda de
máximas, exprimem enunciações relativas à linguagem, à realidade, ao conhecimento, à lógica, à
ética, dentre outros.
30 Conforme observamos, o Tractatus Logico-Philosophicus tem peculiaridades em relação a outros
tipos de textos. “[...] Foi publicado em alemão em 1921 e pouco tempo depois em alemão e inglês
com uma introdução de Russell. O Tractatus [...] consiste numa série de parágrafos numerados,
muitos dos quais apenas com uma única frase.” (KENNY, 1999, p. 453).
31 Minha inserção.
54
sem que seu sentido me tenha sido explicado.” (WITTGENSTEIN, 1993, p. 169).
Ressalve-se que não está em discussão o menosprezo pela subjetividade,
tampouco emoções, empatias e antipatias, mas a constatação de que, na imbrica-
ção entre linguagem e mundo a proposição é emitida justamente pelo contato tido
com, independentemente de qual tipo, a realidade. Ademais, sem elencar, tampou-
co classificá-las, é preciso ter em mente que “[4.001] a totalidade das proposições
é a linguagem.” (WITTGENSTEIN, 1993, p. 165). A esta altura, percebemos uma
diferença de Wittgenstein a respeito do que é abarcado enquanto linguagem. Se
comparado à grande maioria dos filósofos, observaremos que muitos elementos
que não podem ou não são apresentados sob a forma de proposições ficarão de fora
desta concepção de linguagem. A esta postura denominamos de reducionismo lin-
guístico, pois elementos de ordem metafísica, de crença e que não são assimiláveis
e facilmente abstraídos não serão englobados na totalidade das proposições.
O filósofo efetua determinado reducionismo típico do início do século XX,
haja vista o foco investigativo adotado, bem como o objetivo de melhor empre-
ender o uso da linguagem. Notamos, assim, no primeiro momento da filosofia de
Wittgenstein, o florescimento da teoria pictórica do significado, isto é, a aborda-
gem segundo a qual “[...] a linguagem consiste em proposições que representam o
mundo pictoricamente32. As proposições são as expressões perceptíveis dos pensa-
mentos e estes são imagens lógicas dos factos; o mundo é a totalidade dos factos.
(sic)” (KENNY, 1999, p. 453). Por isso, a insistência quanto à figuração da reali-
dade seguida da valorização do mundo, instância por meio da qual a linguagem
se desenvolve eé avaliada, discutida e compreendida em termos proposicionais.
Novamente, evidenciamos o reducionismo do autor e o interesse frente ao uso de
palavras e proposições por meio da seguinte inferência: “[4.0031] Toda filosofia é
‘crítica da linguagem’.” (WITTGENSTEIN, 1993, p. 165). Eis mais um dos reflexos
de que, na contemporaneidade, a linguagem é um dos maiores problemas com os
quais a filosofia se ocupa, sob uma perspectiva lógico-analítica bem peculiar.
Por conseguinte, entre os anos trinta e quarenta do século XX, Wittgens-
tein redireciona suas preocupações, o que favorece a elaboração da chamada teoria
dos jogos de linguagem. Devido a esta guinada na vida intelectual de Wittgenstein,
“[...] tradicionalmente seu pensamento se divide em duas fases: a primeira apre-
sentada pelo Tractatus e a segunda [...] tem como obra principal as Investiga-
ções Filosóficas [...]” (MARCONDES, 2010, p. 103). Desse modo, também há uma
mudança na própria concepção de filosofia, pois com o Tractatus ela é restrita à
análise e crítica da linguagem ao passo que, com as Investigações Filosóficas, des-
tacam-se os jogos de linguagem e, a partir do segundo texto, não estamos perqui-
A filosofia de Wittgenstein
Wittgenstein pensava que se prosseguirmos com a análise da
proposição, chegaremos finalmente a símbolos que denotam inteiramente
objetos não complexos. Assim, uma proposição completamente analisada
consistirá numa combinação muito longa de proposições atómicas, cada
uma das quais conterá nomes de objectos simples, nomes relacionados
entre si de formas que representarão pictoricamente, verdadeira ou fal-
samente, as relações entre os objectos que representam. Uma tal análise
completa de uma proposição é sem dúvida humanamente impossível; mas
o pensamento expresso pela proposição encerra já a complexidade da pro-
posição completamente analisada. O pensamento relaciona-se com a sua
expressão na linguagem comum por meio de regras extremamente compli-
cadas que operam inconscientemente a cada momento.
A conexão entre a linguagem e o mundo é feita pela correlação
entre os elementos últimos destes pensamentos escondidos e os objectos
56
simples ou átomos que constituem a substância do mundo. Wittgenstein
não explica como se operam estas correlações; é um processo profunda-
mente misterioso que cada um de nós, ao que parece, deve empreender por
si mesmo, criando, por assim dizer, uma linguagem privada. Grande parte
do Tractatus é consagrada a mostrar como, com a ajuda de várias técnicas
lógicas, se podem analisar proposições de diferentes tipos em combina-
ções de imagens atómicas. O valor de verdade das proposições da ciência
dependeria do valor de verdade das proposições atómicas a partir das
quais aquelas se constroem. As proposições dialógica seriam tautologias,
isto é, proposições complexas que são verdadeiras independentemente dos
valores de verdade das suas proposições atómicas; um exemplo óbvio é a
proposição «p ou não -p», que é sempre verdadeira, quer p seja verdadeira
quer p seja falsa. Pretensas proposições insusceptíveis de análise em pro-
posições atómicas revelam-se afinal pseudoproposições, que não fornecem
imagens do mundo. Entre estas surgem as proposições da filosofia, incluin-
do as proposições do próprio Tractatus. No fim do livro, Wittgenstein com-
para-o a uma escada que se deve subir e depois deitar fora se quisermos
ver o mundo correctamente.
Os metafísicos tentam descrever a forma lógica do mundo, mas
isso é impossível. Uma imagem tem de ser independente do que é repre-
sentado; tem de poder ser uma imagem falsa. Mas uma vez que qualquer
proposição contém a forma lógica do mundo, não pode representá-la. O
que o metafísico tenta dizer não pode ser dito, pode apenas ser mostrado.
A filosofia não é uma teoria, mas antes uma actividade: a actividade de
clarificar proposições não-filosóficas.(sic)
KENNY, Anthony. História concisa da Filosofia. p. 455-456.
57
linguagem é uma parte de uma atividade ou de uma forma de vida.
Imagine a multiplicidade dos ‘jogos de linguagem’ por meio destes
exemplos e de outros:
Comandar e agir a comandos –
Descrever um objeto conforme a aparência ou medidas –
Produzir um objeto segundo uma descrição (desenho) –
Relatar um acontecimento –
Conjeturar sobre o acontecimento –
Expor uma hipótese e prová-la –
Apresentar o resultado de um experimento e por meio tabe-
las e diagramas –
Inventar uma história; ler –
Representar teatro –
Cantar uma cantiga de roda –
[...]
Pedir, agradecer, maldizer, saudar, orar –
– É interessante comparar a multiplicidade das ferramentas
da linguagem e seus modos de empregos, a multiplicidade de espécies de
palavras e frases com aquilo que os lógicos disseram sobre a estrutura da
linguagem (E também o autor do Tractatus Logico-Philosophicus)”.
WITTGENSTEIN, Ludwig. Investigações Filosóficas. p. 33-34.
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REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. 4.
ed. São Paulo: Martins Fontes, 2000.
60
ANTÔNIO CARLOS PERSEGUEIRO é Licenciado
em Filosofia pela Universidade Estadual do Centro-O-
este, UNICENTRO (2003-2006), Especialista em Filoso-
fia e Sociologia (2007) por esta mesma Universidade e
Mestre em Filosofia Moderna e Contemporânea pela
Universidade Estadual do Oeste do Paraná, UNIOES-
TE, Toledo (2012-2014). Possui experiência docente no
Ensino Médio na rede pública (QPM-SEED-PR.) e pri-
vada. Também lecionou no Ensino Superior Privado,
concentrando-se em Disciplinas de Filosofia, Antropo-
logia e Sociologia. É Professor Colaborador do Depar-
tamento de Filosofia da UNICENTRO, Guarapuava, PR.
(2011 até o presente), setor o qual leciona Disciplinas
desta área em demais cursos, tendo interesses princi-
pais em Licenciaturas e na formação docente.
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