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THE PANDEMIC COVID-19: how to prevent the virus from becoming na excuse for
parental alienation.
RESUMO
O presente trabalho tem como objetivo o estudo do fenômeno da alienação parental, a partir
da implementação do divórcio no Brasil e os reflexos que pandemia da Covid-19 causou nas
relações familiares. A finalidade deste estudo é observar como as famílias tem se adequado a
essa nova realidade imposta pelo novo coronavírus, qual seja, o isolamento social. O estudo se
deu primeiramente a partir da contextualização da alienação parental, a partir da análise
histórica e da conceituação do que é a alienação parental, sob o enfoque da Lei 12.318/2010;
posteriormente, tratou-se da pandemia do novo coronavírus e de como essa nova realidade
pode servir de pretexto para que o genitor pratique a alienação parental, bem como formas de
tornar possível a manutenção do exercício parental, ainda que em tempos em que a
recomendação da OMS é o isolamento social. O método utilizado para o desenvolvimento
deste trabalho foi o dedutivo, através de pesquisas bibliográficas.
ABSTRACT
This paper aims to study the phenomenon of parental alienation, from the implementation of
divorce in Brazil and the reflexes that the Covid-19 pandemic caused in family relationships.
The purpose of this study is to observe how families have adapted to this new reality imposed
by the new coronavirus, that is, social isolation. The study took place first from the context of
parental alienation, from the historical analysis and the concept of what parental alienation is,
under the focus of Law 12.318 / 2010; subsequently, it dealt with the new coronavirus
Graduada em Direito pela Universidade Estadual de Londrina. Pós-graduanda em Direito de Família e
Sucessões pela mesma instituição. Vinculada ao projeto de pesquisa “11742 – Do acesso à Justiça no Direito
das Famílias”, do Departamento de Direito Privado do Centro de Estudos Sociais Aplicados – CESA, da
Universidade Estadual de Londrina. E-mail: gabrielamarquesadv@hotmail.com
Graduada em Direito pela Universidade Estadual de Londrina. Pós-graduanda em Direito Civil e Processo Civil
pela mesma instituição. Vinculada ao projeto de pesquisa “11797 – Negócios Biojurídicos: as Tecnologias e o
Direito Civil”, do Departamento de Direito Privado do Centro de Estudos Aplicados – CESA, da Universidade
Estadual de Londrina. E-mail: julia_gn_@hotmail.com
pandemic and how this new reality can serve as a pretext for the parent to practice parental
alienation, as well as ways to make it possible to maintain parental exercise, even in times
when the recommendation of the WHO is social isolation. The method used for the
development of this work was deductive, through bibliographic research.
INTRODUÇÃO
[...] A guarda exclusiva, atribuída pelo juiz em virtude de desacordo entre os pais, só
se verificaria na inviabilidade da guarda compartilhada, mas sempre respeitando o
melhor interesse do menor a partir da identificação do genitor que apresentar
melhores aptidões para o cuidado diário e efetivo do filho. Em 2014, a Lei 13.058
torna esta modalidade obrigatória. (MADALENO; MADALENO, 2018, p.36).
Dentre outras coisas, se extrai do supramencionado artigo, que os agentes que podem
protagonizar essa intervenção prejudicial na formação psicológica da criança ou do
adolescente não são somente os genitores, podendo ser avós ou qualquer um que possua a
guarda ou que esteja cuidando dos menores.
O inciso I do supramencionado dispositivo identifica uma forma de alienação parental
em que um dos genitores procura depreciar o desempenho do outro, fazendo com que o
mesmo não pareça qualificado para ser pai ou mãe, enquanto direciona para si a atenção, na
intenção de demonstrar que desempenha perfeitamente os papéis nos quais o outro genitor é
insuficiente, o que cria na criança uma confusão que, na maioria das vezes, gera o
afastamento do genitor que teve seu papel questionado (FIGUEIREDO; ALEXNDRIDIS,
2014, p.88).
No inciso III deste artigo, é abordado o convívio familiar e como este não pode ser
rompido com o fim do casamento ou convívio dos pais. Isso porque esse contato deve ir muito
além dos momentos estipulados para a visita, podendo ser utilizado o telefone, troca de
mensagens, vídeo-chamada, entre outros. De maneira que, quando o genitor que possui a
guarda do filho dificulta esse contato, pode estar praticando alienação parental.
O dispositivo fala também, no inciso IV, a respeito da situação onde o genitor dificulta
de alguma maneira não somente outros meios de convivência, mas as visitas legalmente
estipuladas. Mesmo diante da regulamentação de visitas, se o genitor que possui a guarda agir
de maneira a impedi-las de qualquer maneira, também será considerado alienador No inciso
V, é disposto a respeito da prática de omitir do genitor, que não está com a guarda,
informações pessoais a respeito dos filhos, de maneira que ele não consiga participar
efetivamente da vida deles.
A seguir, no inciso VI, evidencia-se que a alienação parental também pode ser
promovida através de falsas denúncias contra o outro genitor ou familiares, sejam elas de
maus tratos ou abuso sexual, ambas extremamente graves e que causam consequências não só
para o genitor acusado e para os filhos, mas para toda família (FIGUEIREDO;
ALEXNDRIDIS, 2014, p.101).
Adiante, no artigo 3º, da Lei 12.318/10, é abordado que a alienação parental vai contra
o direito fundamental da criança e do adolescente a um bom convívio familiar, ferindo, assim,
o princípio da dignidade da pessoa humana. Nesse sentido, a prática vai contra valores que
são indissociáveis à proteção constitucional dada à família.
O inciso I, do art. 6º da supramencionada Lei, traz a possibilidade de advertir o
alienador para que interrompa a prática; essa advertência, facultada ao magistrado, deve
conter cunho educativo e reiterar as demais consequências caso o alienador continue com as
mesmas ações. No inciso II, a Lei aborda a possibilidade de “ampliar o regime de convivência
familiar em favor do genitor alienado” justamente para mitigar as consequências do
afastamento gerado pela prática da alienação parental. O inciso III menciona a possibilidade
de aplicação de multa ao alienador. Já o inciso IV de acompanhamento psicológico. Isto
porque parte do princípio de que o fenômeno ocorre a partir de desvios de comportamento do
alienador, por isso a possibilidade de submetê-lo a tratamento psicológico.
Por fim, da análise da Lei 12.318/10, convém ressaltar o inciso V, do artigo 6º, que
prevê a faculdade do juiz de determinar a alteração ou inversão da guarda e a suspensão do
poder familiar, diante dos casos de alienação parental; baseado no fato de que ao alienar, o
genitor detentor da guarda não está agindo de acordo com o princípio do melhor interesse do
menor, podendo, portanto, acarretar nessas medidas.
Além disso, a deputada aponta que a Lei fere princípios constitucionais, quando acaba
por entregar “crianças e adolescentes a pais acusados de violência física ou sexual” e o
Estatuto da Criança e do Adolescente, “ao desconsiderar a primazia do direito da criança e do
adolescente à proteção contra qualquer forma de violência ou agressão, permitindo até que se
desacredite nas palavras da própria criança ou daqueles que buscam protegê-la em benefício
da de seu algoz” (PORTELLA, 2019, p. 6).
Porém, em que pese, por um lado, a Lei da Alienação Parental sofra severas críticas,
parte dos especialistas aponta que sua revogação representaria um atraso para a justiça
brasileira, defendendo então que a mesma passe por alterações ao invés de ser revogada.
Nesse sentido, a advogada Silvia Felipe (2019) aponta que:
O quadro ideal é aquele em que há efetivos esforços dos genitores a fim de manter a
convivência dos filhos com ambos e o consenso entre eles de que o que deve ser priorizado é
o bem estar e a saúde do menor; em relação a vínculos de filiação, não há espaço para utilizar-
se dos filhos como forma de vingança. Não importa se os genitores possuem uma relação
amigável, é preciso que o interesse do menor seja sempre colocado em primeiro lugar, a fim
de não trazer nenhum trauma a este.
Para quem já usa o expediente da alienação parental, parece que o isolamento
social obrigatório virou uma desculpa perfeita para retirar completamente da vida
do filho a presença de um dos pais. A questão é muito sensível e merece especial
atenção. É preciso verificar se esse afastamento específico é realmente necessário
para preservar a saúde do menor ou não. Em caso positivo, deve ser utilizada toda
a tecnologia disponível para minimizar a distância (internet, smartphones etc)
entre pais e filhos, bem como precisam ser verificadas futuras compensações.
(NEGRELLI, 2020).
Dessa forma, para que seja considerada alienação parental, é preciso analisar caso a
caso; há situações em que realmente o filho estaria sendo exposto se convivesse com o genitor
(em caso deste último ser da área de saúde, por exemplo); há situações em que não há
possibilidade de o menor manter contato via meios tecnológicos com seu genitor, sendo,
portanto, a suspensão de visitas uma quebra total de convivência. É necessário também
analisar a intenção do genitor que se encontra com o menor, observar se o distanciamento é
realmente justificado ou está servindo como uma “desculpa” para a alienação.
O artigo 1.586 do Código Civil dispõe que: “havendo motivos graves, poderá o juiz,
em qualquer caso, a bem dos filhos, regular de maneira diferente da estabelecida nos artigos
antecedentes a situação deles com os pais” (BRASIL, 2002). Assim, resta claro que a
pandemia é um motivo grave e, a depender do caso concreto, o contato físico dos genitores
com os filhos podem sim ser restringido.
O fato é que se trata de uma situação excepcional e inesperada, portanto, torna-se
importante que os genitores busquem acordos entre si, observando o melhor para a criança ou
o adolescente.
A inclinação do Judiciário tem sido no sentido de suspender a convivência presencial,
em vista da recomendação da OMS. Trata-se de uma tentativa de preservar o menor, em vista
dos riscos a que esse poderá ser exposto na manutenção das visitas.
O jurista Rodrigo da Cunha Pereira (2020) tece uma importância crítica acerca da
posição adotada pelo Judiciário:
A suspensão das “visitas”, na maioria dos casos, é sempre em favor da mãe. E aqui
tem funcionado como nos juizados de violência doméstica: a medida protetiva é
sempre concedida, e se torna até mesmo uma medida de segurança para os juízes,
pois caso a negue, e o marido/companheiro/namorado, mate a mulher, o juiz estaria
implicado em alguma responsabilidade pela não concessão da medida protetiva. Da
mesma forma, poderiam ser responsabilizados, se a não suspensão da “visita”
resultar em contaminação pelo vírus. Melhor pecar pelo excesso do que pela falta,
até porquê ficar sem contacto físico com o filho por um ou dois meses, por mais
doloroso que seja, não mata ninguém. Mas o contrário, sim, pode matar. Imagino
que esta seja a lógica da maioria destas decisões.
[...] entristece o fato de a quarentena estar sendo utilizada como um pretexto para
tolher o vínculo afetivo da criança ou adolescente e o seu progenitor, levando em
consideração que as consequências geradas pelo ato da alienação parental podem ser
devastadoras na vida de uma criança ou adolescente.
Espera-se que o período de quarentena sirva como um momento de reflexão, para
que nos tornemos humanos mais solidários e tenhamos um novo olhar sobre as
relações familiares. Somente assim, garantiremos a observância do princípio do
melhor interesse da criança e, por fim, combateremos a triste síndrome da alienação
parental.
Não há uma regra especial adotada pelo Judiciário acerca do exercício da guarda
compartilhada e do direito de visita durante a pandemia.
Explica a magistrada Fabrícia Calhau Novaretti (TJES, 2020):
Em suma, é preciso ponderar o que visa o melhor interesse do menor, a fim de não se
tomar medidas drásticas; a busca pelo meio termo é imprescindível e é um fato que o direito
de família enfrenta e enfrentará desdobramentos na seara da família durante essa pandemia e
no período pós-pandemia.
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
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