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RESENHA Maria Liicia C. V. O, Andrade RESENHA Paulistana ~ Editora ~ Sto Paulo 2008 Copyright © 2006 by Maria Lacia CO. Andrade Editora responsdvel Adela M. Mariano Ferreira Copa e diogramacie Alpha Design 11 5585-9709 Dados Internacionais de Catalogacao na Publicasao (CIP) (Camara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Andrade, Maria LiciaC. V. 0. Resenha / Maria Lucia C.V.0. Andrade. — Sao Paulo : Paulistana, 2006. ~ {Colegao aprenda a fazer) Bibliografia. ISBN 85 -99829-05-X 1, Elaboragao de resenhas - Técnicas I. Titulo. IL, Série. 98-4271 coD- 808.086 indices para catdlogo sistematico: 1. Resenhas : Técnicas : Retérica 808.066 Neshura parse desta pubcaio pode ser rproduide oy sania por ‘qualquer processo eletrénico, mecinico ou fotogrific, incuindo fotocépia, erocépin ou gravagio, sem autorizapio préva e escrita da Edtora Todos os direitos desta edigdo reservados & Apresentacao da Coleco A Coleco Aprenda a Fazer foi criada por professores uni- ‘versitérios com intuito de dirimir dificuldades encontradas pe- los alunos de graduago quando solicitados a produzir textos icos e/ou académicos, tais como: resumos, resenhas, Jat6rios, projetos de pesquisa e monografias. Tais, _géneros textuais so instramentos muito utilizados na pesquisa académica e, portanto, so essenciais para o bom desempenho os a produzir este material diditico pautado na objetividade ¢ nas quesiées praticas de elaboracdo de textos cientificos, consi- derando-se também a realidade s6cio-econémica dos alunos ¢ a dificuldade na aquisigio de obras académicas. essa forma, esperamos que a Colegdo Aprenda a Fazer seja uma ferramenta titil para todos aqueles que buscam um, aprendizado efetivo no mundo universitéio. Boa leitura e boa prétical A Editora Apresentacao deste Volume A resenba € talvez o género textual mais solicitado nas'at dades académicas e também nas relacionadas a algumas profis- ‘s0es, como jornalismo, teatro, cinema, misica, literatura. Por amplamente utilizado, é também denominado - algunas vezes - por outras designagbes: recensdo, resenha critica, exigindo que os textos a ele pertencentes contenham as informagoes hsicas sobre © contetido e também sobre o contexto situacional, sua onganiza~ ‘lo global, sua relagio com outros textos, ¢ que proporcionem a0 Teitor os comentarios do resenhista ndo apenas sobre o tema, mas também sobre todos esses outros aspectos da obra sob andl De modo geral, 0 livro foi elaborado com o intuito de abordar os principais pontos a serem observaclos em uma rese- ios para que 0 leitor que se interesse por 9 possa avaliar as resenhas que lé freqientemente, bem como tenha condigdes de fazer as suas proprias resenhas com éxito. Encerrando 0 volume, apresentamos uma minima sobre resenha, como suigestéo para que aprofundar seus conhecimentos sobre 0 assunto ygrafia AAutora Sumario 1 O Que £ RESENHA 2 As RESENHAS EM DIFERENTES GENEROS: MIDIATICOS E SUAS CONDICOES DE PRODUCAO.. 3 CoMo SE FAZ UMA RESENHA ACADEMICA .. 4 MARCAS DE SUBJETIVIDADE DO ENUNCIADOR 5 A POLIFONIA TEXTUAL... 6 A COMPREENSAO GLOBAL DO TEXTO A SER RESENHADO «. 7 Faca SUA RESENHA RRFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS 1 O Qué E RESENHA Resensia € uma sintese seguida de comentirio sobre obra publicada, geraimente feita para revistas es das das diyersas areas, da ciéncia, arte € filosofia. As resenhas desempenham papel fundamental para qualquer estudante ou especialista, pois € por meio delas que tomamos conhecimento de um livro que acaba -ado, ¢ a partir dessa informagio podemos decidir ‘As resenhas permitem que 0 estudante ou 0 pesquisador faga uma selecdo bibliogeafica quando da leitura de fundamen: tagdo teérica para a elaboracio de um trabalho cientifico. S40 antes para a atualizacdo bibliogrética do est ‘oso e devem fazer parte do arquivo de documentagao biblio- ‘grifica ou geral da area de especializagio do estudante ou do profissional, Vejamos um exemplo de resenha publicada na revista Linha d’Agua, que tem como proposta promover debates sobre 6 ensino de lingua e literatura, direcionada a professores do eae ensino fundamental Nana Lica ANORADE médio e a estudantes de Letras que bus- cam 0 proprio aperfeicoamento. 0 teatro de Oswald de Andrade - Ideclogia, Intertextualidade e Escritwa Fla Gumaites (USP € UPMackens) CURY, Jose Joao. O teatro de Oswald de Andrade ~ Weslogia, intertextualidade e escritura. Sao Paulo: Annablume, 2003. uum lugar comum dizer-se que toda obra de arte pode ser inverpretada segundo perspectivas diferentes, nenhuma das quais completa, embora multassejam vilidss. Nesse exercico de interpre- tacho, corre-s¢orisco de prestar tributo a limitacdo de uma perspec: ‘€acaba-se pot falsear a obra ‘Noentanto, hi recortes que, se sabiamente apreendids, passin 4 fimeionae como stateses perfeitas da essencia da cbra em analise Eo que leltor pode Oswald de Andrade ~ ideologia, intertextualidade e escrtura de Jost Joto Cury nie a diddtica do professor ea visto percuciente do pesqul- sador, desdobram-se consideragces sobre o escritor Oswald de “Andrade temando posigto perante o seu tempo, dirigindo-se a seus ‘contemporineos, assumindo sua responsbilidade de mistante na sociedade, Analisa-se o dramaturgo que transcende as condigoes que fo circundam e afirma sua Uberdade numa literatura comprometida Junido de sélido instrumental trico e respaldado na inter- textualidade de t&s pecss oswaldianas ~ 0 ret da vela, O homem.¢ 0 cavalo, A morta — José Joto Cury explora a construcio do texto dra- rnético que ele v8 como “area producio de ideologismos”, mtegran~ do-se os dados que o constituem num encadeamento de natureza social, cultural, historica eMloseica Processo relacional e mimético por exceléncia, a inter extualidade oferece margem para a exploragio dos procedimentos configuradores da interseecao dos textos. Assim, por exemplo, a peca O vei da vela é analsada a luz de urna relagto 2 Rese intertextual com o discutso marxista,enquanto A morta ident como um “discurso apocaliptico, destruidor da cultura burgues O au scot, testemunhando seu convivio com a boa idatica, define e exemplifiea com exrema clareza recuts0s integra dos a rede incertexsual, tas como carnavalizacto, menipeia, parédt estilizagdo, pairase. Recolhe das tes pecas em pauta passagens ma- sistralmente elucidativas dos principics tedricos que the server de embasamento. Aponta Oswald de Andrade como escrito "vigoroso enta’,inspirado etn autores da estirpe de Marx, Engel, Lésin, Stalin, Trotsky. Remove, assim, da obra oswaldiana, a cortina discursiva que tolda os vatios estratos das ees pecasem estuda: de salojs 0 processo fiecional e preenche o claro com a pereepeio da ia civil do dramaturgo. Desvendarlhe a ideologia ou as rmuvitas tendencias estruturantes das pecas ~surrealismo, anarquismo, marxismo, fururismo, de ‘Vigora, pois, como berm demonsira o autor, 0 sco na trajetoria dramatirgica de Oswald de Andrade ‘Buscando, por intertextes, uma unidade na diversidade das propestas do autor, im de idetificar as ideolopas, Jost Joro Cary foanipula, com justeza e competéncia, o¢ textos que se inter- texcualizam como formas de adesto, de complementaridade ou de refutacdo as ideias veiculadas. interpreta, por exernplo, a peca Ohe- mem co cavalo como negagio do tragicomico visivel emi O rei da vela ‘Nessa mesma pega, rotulada de “parédia da Historia Universal", menciona “revolucgo" como termo recorrente ~ esta palavra patecendo fazer parte do vocabuldric oswaldiano, Mas n20 Como estigma ou labeu. E sim como titulo, Certamente, Oswald de “Andrade desvanecta-se por ser revoluciondrio. Experimentava 0 gosto da ruptura, do protesto€ estenla esse gosto & sua maneina de ser € de expressarse, Define-se ainda essa mesma postura pela selecdo de determinados papeis a serem desempenhados pels personagens. Assim, no personagem Pirote desenls-se a parddi do intelecual — ino dizer de José Joao Cury, “burgues farsante, representante de uma classe desengujada, new "A maneira como o autor analista conduz as etapas da andlise inca o letor a perguntar: "Pare 0 escitor, onde acaba a realidade? Bo Mana Ler Anonane Onde comeca a ficcAo? Talvez realidade ¢ fegio sejam inseparaveis Certamente, os fatos da transformam-se em parede, rossimilhanga ~ manipulados pela imaginacdo criadora” No rastro ainda dessa imaginacao criadora, ergue-se, pelo primor da analise,a figura de Oswald de Andrade cujas pesas revelam lum partidarismo apalxonado, um pathos profundamente crtico. S40 condigdes que, certamente, permitem a uma obra transcender 0 mo orico-geogrifico- em que nasceu ating, por isso, uma va.e uma dimensio universal apropositado, sem a menor inde- pelo reboco da ve- . nessa sua andlise magistral, os ensinamentos que rando na Escola de Comunicagdo e artes da Universi- Gade de So Paulo, bem como no Programa de Letras dos Cursos de Pos-Graduagdo da Universidade Presbiteriana Mackenzie, onde € professor ‘Outro estirmdvel valor acrescenta-se aos muitos méritos do professor autor:2 Apresentacio feta pela professora Nanci Fernandes ‘ue, em sabias reflexoes, explora os recursos multiplos oferecidos por Oswald de Andrade, ao lado de José Joao Cary (Qu: LinhadAgua, Sto Paulo: Humanitas, 2005, 17: 181-183) 2 AS RESENHAS EM DIFERENTES GENEROS MIDIATICOS E SUAS CONDIGOES DE PRODUGAO (Qs somsass puntos (Fotha de S. Paulo, Estado de S. Paulo, Jornal do Brasil, entre outros) ¢ as revistas semanais (Veja, Epoca, Istoé) contém segdes especificas para apresentar comentfirios de fil- mes, pecas teatrais, DVDs € CDs que sao langados ou mesmo as que fazem mais sucesso, e também apresentam os livros mais vendidos. Esses textos podem ser considerados resenhas, de acordo com nossa definiso, entretanto podem ser publicados com outro nome ou sem nome especifico, ov apenas com 0 nome da referida seco: Livros, Cinema, Critica, Teatro. Vejamos alguns exemplos: CINEMA: Vale 0 prego da pipoca 0 Plano Perfeito, de Spike Lee, ¢ um suspense divertido, des- pretensioso ¢ politicamente incor (0 Plano Perftio, com estrtiaprevsta para a sexta-feira 24,60 filme mais comercial jé feito pelo diretor american Spike Lee. Tem daquilo que se considera Upico do cineasta: questoes de rasa e pre: conceito sto secundarias, e a historia é, antes de mais nada, acio € para o mainstream. E com competencia ma é um cléssico do suspense: o assalto a banco. Um. letado por Dalton Russel (Cwen), invade uma agencia em yma funcionsrios e clientes como reféns. O detetive Frazier (Washington) chega para negoctar com os criminasos. Out personagem € o diretor do banco (Christopher Plummes), preacu- ado néo com os reféns, e sim com um segredo de seu passado, escondido no colt. (O roteizo segue com avancos ¢ rectos no tempo, oferecendo pistas pare desvendar a charada. Lee tem o bom senso de néo opor vildes e mocinhos: todos os protagonistas guardam uum esqueleto no aemario. “Gosto de questionar padrées morais’, disse 0 cineasta em entrevista @ EPOCA. Ainda que secundarias, as piadss sobre cava dao urn bem-vindo toque p 70s, hindus e até albaneses. O nico destize de Lee é ra além da conta — um corte de 15 minutos nto faria mal 2 file Ainda assim, © Plano Perftt vale 0 prego da pipoca ‘exe Veloso, Revista Epc! 20 re 2008) ‘TEATRO: Terga fnsana © show de humor se tepete a cada semana com um tera diferente ¢ novas inspiracdes A proposta da Terca insana, alem de trazer 20 pablico muito humor, é variar os temas do espetdculo a cada més, abrindo sempre espaco para criagoes. Novas cemas € tipos se agregam ao elenco, que € fixo, 2s- sim como as personagens principais. O enredo gira em torno da vida urbana de Sdo Paulo ¢ tudo ¢ abordado com uma fina ds ssa ironia, ‘Gio Sebo, Em abril, os convidados sto: Danie! Waren, ator que desponta como a revelagio da nova geracto de comediantes. Paricipou da sravacdo da I e 2 séries do Programa Art Atack, da Disney ma ingle- terra, além de intimeros comercizis, ¢ Agnes Zuiant, formada em In- texpretacdo Teatal pelo Lee Srasberg Theatre Insituteem Nova York, indicada ao Premio Shell de melhor atriz em 1995 por sua interpre tagao em Bon Notte, Mat. Aideia da Tercalnsana foi da atriz Grace Gianoukas, que dirige o espetaculo. A principio, 0 projeto ert umm espaco de experimenta- do para que a comédia deixasse a sua mestnice, Assim, buscou-se ¢ itreverencia eo desprendimento de formalismos nas atuacdes. O projeto langou urn DVD com 0s melhores momentos do grupo. Ficha Técnica Directo: Grace Gianoukas. Elenco: Grace Gianoukas, tlana Kaplan, Octavio Mendes € Roberto Cannargo. Este més, 0s convidados so Marcelo Tas ¢ Dantel Waren, Duragdo: 90 minutes. Censura: 14 anos (new guiadasernana combs em 03 malo 2006) DVD: Conflitos Internos - (Wu Jian Dao, Hong Kong, 2002. Buens Vista) Por dez anos, um policial atua como agente ‘numa gangue da mifia chinesa em Hong Kong, Enquant um chefe de policia corrupto faz 0 oposto: trabalha como ¢s- pido a servico dos mafiosos em seu depatamento. Quando recebem a misso de perseguir um ao outro, os dois entram em crise de identidade, sem saber ao certo de que lado do con- Fito estdo. Inédito nos cinemas brasileitos, esse thriller foi su- Iheteria na Asia. A fita tem sequencias de agto € suspense, além de contar com dtimas atuagdes. No ano que vem, devera ganhar uma refilmagem do ditetor americano Martin Scorsese ~ Matt Damon e Leonardo DiCaprio foram es- calados para os papéis principais. cesso de ‘Revita Veja, 17 ago, 2008) Maa Tea Anceans DISCO: Tudo 0 que o Tempo Me Deixou Alafde Costa (Lua Music) De voz pequens mas graciosa, acantora Alaide Coste partic pou de movimentos como a bossa nova e o Clube da Esquina, Tam. bem fez patcetias com nomes como Tom Jobim e Vinicius de Moraes Produaido por Gilson Peranzzetta, um des musicos mais celebrados do meio instrumental nacional, Tudo o que o Tempo Me Detxou marca sua volts ao disco, depois de uma ausencia de quatro anos. © CD contérn cangoes come Voce & Amor, feta por Alatde e Tom Jobim em 1960, ¢ Meu Sono, na qual ela teve Johnny Alf como parceiro, Nas reze fainas restantes, a cantora interpreta musicas de compositores como Dolores Duran Golidao) (Revista Vea, 17 agp, 2005) LIVRO: Elementos para a Critica da Cibercultura, dle Francisco Rudiger (Ed. Hacker, 160 pigs.) ‘Qual € o objeto das cigncias da comunicagdo? As respostas a essa pergunta paracem ter envelhecido subitamente, Falat em cb- jeto pressupoe, evidentemente, um sueito, © estruturalismo ja havia dlecretado a morte do sujeito; na sequencia, 0 pos-modetnismno pre~ tendeu dissolver a propria realidade, Os estudos recentes sobre a comiunicagia, herdeiros dessas vertentes, pretendem assegurar sua autonoiia diante das cigncias sociais: as transformacdes tecnolégicas estariam dando inicio ao ciberespago ¢ & figura do ciborgue, produto da fusto entre homem ¢ maquina, vida e tecnologia. A desintegracio de sujeito ¢ de objeto ocorre simulta~ neamente, na visio prospectiva de um mundo inteiramente cibernético, em que restariam apenas “subjetividedes futuantes” Apotado em vasta bibliografia, o autor apresenta, com erudicdo © clareza, os contornos do debate contemporaneo entre 08 comunicélogos. A fascinagio pelos novos desafios teéricos ¢ por seus idedlogos convive, em surpreendente tensdo, com um referencia critico apoiado em autores tio diferentes como Martin Heidegger e Theodor Adorno. luo Frederico jornal de Resenhas, Fala de. Paul, 17 out 2003) Rasen ‘Vejamos agora uma obra literdia que foi foco de atencto de duas grandes revistas de cio nacional na semana de seu langamento. & interessante observar a opiniio de cada um dos resenhistas a respeito do livro, bem como 0 trecho que cada um seleciona para apresentar a0 leitor. a) O retrato da ditadura por Milton Hatoum no tema forga de seus comances anteriores ‘© amazonense Milton Hatoum € um escritor sem pressa. Es- teow em 1989, com Relato de um Certo Oriente, enos dezesseis anos {que se seguiram so produaiu mais dois romances ~ Doi Irmaos, de 2000, ¢ Cineas do Norte (Companhia das Letras, 312 paginas: 39 reais), que chega as livarias nesta semana. A longa espera enire wt liveo ¢ outto talvez revele um escritor seguro, que nao quer se dis- persat, Mas tem uma con a expectativa do Teltor. Quem se impressionou com o exatne acurado de relagbes 50- cai e familiares de Dois Irmdos esperava que Hatoum, cinco anos depois, conseguisse se superar. Nao foto que aconteceu. Cnzas do Norte nto chega a ser un mau romance, mas decepciona. Como nos livtes anieiores, historia se passa em Manaus (desta vez, porem, of personagers mio sto descendentes de libane- 42s). O romance ¢ narrado por Lavo, win érf8o pobye que, ctiado pela tia costureira, consegue se tornat advogado. Ele conta sua ami- zade com o artista Raimundo (ou Mundo), flo de Alicta, a sedutora ‘lpinista social que conseguiu um casamento rico mas infeliz com o cempresitio Trajano (ou Jano). Homem de mentalidade pri reite, Jano vive ds turras com as ambigdes at (a divida sobre a verdadeira paternidade de Mundo s6 ¢ resolvida nas titimas paginas). Esse carregado drama familiar quet set uma espécie de retrato espicitual da ditaduta militar, As datas sto signi cativas: a amizade entre Lavo e Mundo comeca em 1964, ¢ a acdo prossegue até as vésperss da posse malograda de Tancredo Neves em 1985, ‘A trama se perde entre o embate trégico de pai ¢ filho © 0 retrato me! ‘As referéncias a ura guerrilina na Amazonia meio do livro, sem Mania Loc ANDRAS desenvolvimento, Como representante tipico do emprestrio que apoiow a ditadtra, jano ¢ um personagem um tanto esquematico, E alguns episédios que deverlam ser crucials desenvolvem-se ouma correria desabalada: 0 esbaforido Lavo adentra a sala bem ho so- mento culminante de uma discussio entre Mundo ¢ Jano, que en seguida tomba no chio, & beita da morte. Esses momentos melo- dlramniticos seriam plausiveis em uma dpera, no em um romance O livro cresce nas paginas finais, quando Mundo volta do para morrer no Rio de Janeiro, E s6 endo que se afina o tom fo drama dos personagens ¢ a tragedia coletiva da ditadura idade que Festa na ditadura ‘Murdo me puxou para um canto da cozinka, aponiou 05 cn dados ¢ cochichou: ‘Aquele grandathao ali é 0 Albino Palka... amigo ¢ conseihetro do meu pai. Se derete tado na frente dos mitvares. Otka como bajula os cara. SO fala per Zanda. Aquele esqueletn corcunda € 0 p cial. Quando fate, parece que esta numa tribuna. O leso se considera um histortador Os outros sao cupinchas e penetras. Minha mae oda essa gente. Jd etd bebendo.... (Trecho de Cinzas do Notte) (Geronimo Tenet, Revi We, 15 ago. 2005) b) Amargura fulminante No romance Cinzas do Norte, o escritor Milton Hatoum constroi uma historia triste e irresistivel. Obra Relata de um Certo Oriente e Dois Irmaos ganheram 0 Prémio Jabuti, Milton Harourn integra a rara cepa de eseritores capazes de transforma fiegdo em meméra, Seus livres tém aroma, sabot ¢tex- tura, tem temperatura e umidade, sio repletos de nuidos e sons, A — 1 Rese, medida que a leitura avanca, detalhes como‘o cheiro de limao, alho c pimenta que vem de uma cozinha ou ‘a gritaria de peixeiros, am- Dulantes e carregadores’ num porto de Manaus vio formando uma cspécie de teperterio de lembrancas na mente doleitor. E urna rama inventada, criada com riqueza de imaginacdo © torna-se uma histéria tdo real que patece ter sido vivide de f assim com Relato de um Certo Oriente (1989), obra de estréia do au. tor, com o seguinte, Dais Irmacs (2000) ¢ agora, a bordo de uma amargura fulminante, com Cinzes do Norte, que chega as livrarias na terga-feira 16. A historia se passa, mais uma vez, na capital amazonenst, cidade natal de Hatoum. E um entedo aflito ¢ desgra- © livzo deixa 0 gosto do passado que assombra 0 de diger. ora de dois araigas. La narra tudo em primeira pessoa, € um orfio, ctiado por Ri Ramira, dois tios pobres, irmaos da mae falecida, Mundo, ow Raimundo, nascido numa faailia ica e decadent, vive numa con tenda cruel com o pai, que despreza a rebeldia¢ 05 talentos aristicos do fitho, com quem dispute o amor da mulher, Alteia, me do garo- to, Nocorrer das paginas, vio surgindo intrgas e vincules mal resol- vidos entre 08 dois miciees, e tudo & desvenidado com sutileza - a5 ‘yezes apenas sugerido. Outros narradores somam-se a Lavo, € a5 diferentes versoes da histéria acabam por formar um cfrculo que se fecha apenas nas linhas finais. Desavencas familiares, competicdo pelo amor de uma mulher e rivalidade entre pai e filho (como ne novo romance) ou entre i ‘mos (como no anterior) sto temas recorrentes na curta porém Vigo rosa bibliografia de Hatourn, Nascido numa cidade meio isolada do resto do Brasil, 0 eseritor morou também em Brasilia, Paris e Barce- Jona, e atualinente vive em Sao Paulo. Sou um pouco desses dois personagens, dividido entre ficar na provincia e sair para o mundo’, diz o romancista. Esse desejo de pertencer a alguma lugar e a sensa- cdo permanente de deslocamento, onde quer que se esteja, S80 ou- tros dilemas comuns aos personagens. Matiaus, com seu calor opres- sivo e sus fronteiras ilhadas por bracas de rio, @ uma espécie de Clausura para os protagonistas de Cinzas do Norte. Mas sair representa iberdade. Mundo citcula pelo Rio de Janeiro, por Berlim pete an ec | | Te tia Gata Man Loci Avorn Londres, apenas para se perceber preso 20 passado que sua cidade de origera representa: ‘Minha reclusio nio ¢ atributo da geografia’ conelui ele, numa carta a Lavo. Pequenas porgdes de realidade parecem ser pegas importantes nallteracura de Hatoum. A propria hisi6tia do autor serve como base ainda que, digase, o romance ndo seja autobiogrfico. Mestno as- sim, o escitor, arquiteto por formagio, parte de fundagoes reais para erguer sua ficcto. Os dois protagonistas s¥o contemporaneos de Hiatoum, nascidos no infio dos anos 50. Ao longo da tratna, acompa- sham 0 que ele mesmo vit: 0 golpe de 1964, es Anos de Chunbo. o tnilagre economico ¢ @ abertura. O colégio Pedro Il de Manaus, por ‘onde pissam Lavo ¢ Mundo, teve como aluno 0 autor. ‘0 escritor serapre paga um ditto ao real’, conforma-se o autor. Com essa mis- tura de memoria ficedo, dramas bem urdidos e detalnes que enchem a narrativa de verdade ¢ cotidiano, Milton Hatcum enjaula o leitor, torna-o reférn de sua hiséria triste ¢ iresistivel. Cinzas do Norte ¢ uma pisdo amarga, a imagem da trajetora dos personagens. Mas nos pro- porciona o prazer que é. letura de um grande romance. Trecho Cresct owvindo meus tos brigarem por causa de ‘movado nuon bairro vicina, ‘eu nascimento que, no entanto, anda era comentada no Morro da Catita epavecia naoter fim. Certa ve, eu e mina tia avistamos Alicia ¢ Jano na rua da instalacco, saindo da Casa Vinte e Dots Paulista. Vinhamn abraga- dos ¢ sorridentes em. dveydo a nds; tia Ramira diminuit 0 passo, ficou. nervosa, me puxou pelo brag, 1a, € 05 dis se aproximaram, el Jano cumprimertou Ramira, com um sorriso, erguendo a mao, Vio rosto ‘magutado de Alicia, sent sua mao espanar meu cabel, os dedos perf ‘mades rogarem meus labios, e owt a vox dizer: ‘Como esta grandinho, é a cara da mae’ (ese Vellso, Revista Epoea! 15 ago. 2005) a i i 3 COMO SE FAZ UMA RESENHA ACADEMICA ‘A sesenia ACADEMTCA estrutura-se nas seguintes partes (cf. Severino, 2000: 131): 1+ Cabegatho: onde sto transcritos os dados biloliograficos completos da publicagdo resenhada, 2. Informagdo sobre o autor. esta parte deve ser breve € pode ser dispensavel se o autor for bastante conhecido, 3- Exposigao sintética do contetido do texto: esta sintese deve ser clara e objetiva, apresentando os pontos prin- cipais da obra analisada. Deve transmitir ao leitor, se- gundo Severino, “uma visio precisa do contetido do texto, de acordo com a anilise temnitica, destacando 0 assunto, 0s objetivos, a idéia central, os principais pas- io do autor’ (p. 13: ico: avalingao critica elaborada pelo rese- nhista que pode assinalar aspectos positivos (contribui- do para determinados setores da cultura, sua qualidade ientffica, floséfica ou literéria, sua originalidade) ou 2 Masia Loci Asonaon, negativos (falhas, incoeréncias, Cabe lembrar que as crit \gbes) do texto em as devem ser relacio- idéias e posi¢des do autor, jamais a sua pessoa. £ sempre adequado contextualizar a obra sob anilise no ambito do pensamento do autor, relacionando-a com suas de- mais producées e com as condigées gerais da cultura ou da ciéncia na época de sua publicagio. Vejamos, a seguir, uma resenha produzida por alunos do 2° ano de graduacdo do curso de Historia da UNESP de Assis (Sdo Paulo) Daniel Valle Ribeito - A Cristandade do Ocidente ‘Medieval: uma leitura dos alunos da graduacao, Sob um mistico véu, ora repleto de criticasa sua tenebrosidade, ora romanticemente exaltada no reluzente britho das armaduras, 0s dez séculos que compreendem o medievo foram responsiveis pela ‘montagem da Europa e pela configuracio do mundo moderno econ- temporaneo, Pode-se alitmar que a Idade Média fot um divisor de ‘4guas na historia da humanidade ocidental, onde se destaca o papel da religiosidade ¢ da Igreja Catolica E exatamente isso que mostra a obra “A Cristandade no Oci- dente Medieval’, de Daniel Velle Ribeiro, Num formato paradidatico, © livro publicado pela Editors Atual, em 1998, com 106 paginas, figura como tm pratico manual que, com suas informacdes gerais, dispoe ume essencialleitura de base para o assum Nesse estudo, Daniel Ville Ribeiro aborda as fatos€as conjun- turas mais relevantes da fgreja Catdlica e seu desenvolvimento no Ocidente Medieval. Pera tanto, traz sua trajetoria desde onascimento da crenga, na Judeia, ¢ da fundamental agéo do apéstolo Paulo para sua propagacio. A maneira com que trata o tema nos traz um claro entendimento de questdes que costumamn promover diversas davidas, principalmente nas extensas e dificultosas publicagées academicas nas quiais os autores escrevem para os seus pares, As cisdes que softew o velho culto cristo, dando origem as diversas outras relgides, como eet Resin 0s Gnésticos, seguidores ce Marcito e monistas, assim como 0 rest ‘mo de suas douerinas, sto informacdes que nem sempre, excetuan- do-se 0s dicionarios especificos, sto reunidas de forma to esclarecedota. Tal qual no tocante da expansto cristk no Oct que deu-se de forma 7 ra no ambito Orient 's proporcio- lacar entre a expansio no O de Constantino sob 0 signo cris- tdo, pelo bispo de Roms, vigario de Pedro, como decretara o Papa Leio | (440-461) e entre a aco dos doutores da Igreja, S20 Jeronimo, que traduziu 0 Antigo eo Novo Testamento do hebraico edo grego para o latim, a famosa Vulgata; Santo Ambrosto, desta- cando-se pela autonomia da Igreja diante do Estado, um dos mais {nto Agostinho, que iluminow os caminkos da igreja com seu pensamento e suas obras. Tals telacdes lazem a compreen- sho da genese crista enquanto insticuicdo bastance acesstvel, incl sive para lelgos, que encontram na obra um porte seguro para © intcio de seus estudos. (Os primorcios de Igreja ocidental sto abordados de maneira singular pelo autor, demonstrando um dominio ortundo de su oneiras experiéncias nos estudos da Al Ribeiro exp8e os problemes que a in ‘uma interpretagdo da tindade cist heretizada em Niedia, seu papel de reorgenizadora da pars accidentals. Ja detentora de grandes por- oes de tertas, a [greja comegava a tomar as rédeas do Oeste Euro- peu e despontar como nica insti Outro ponto forte da obra é a constante contexwualizacao lo da cobra em questo, a propos de estucdo seja a Crstandade Ociden- tal, ha questdes fundamentais para seu estabelecimento que advern do Oriente, Tratadas multas vezes de maneiras supertcialmente sepregadas, ou academicamente aprofundadas, a diferenca entre os prismas obtidos pelo Ocidente ¢ pelo Oriente em fatos como os cismas, sobretudo de 1054, ou mesmo a iconoclast, todas ques- es fundamentais pare a Historia de arnbas Tgrejas @ povos, sio

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