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Rev Bras Neurol.

55(2):17-32, 2019

Canabinoides como uma nova opção


terapêutica nas doenças de Parkinson e de
Alzheimer: uma revisão de literatura
Canabinoid as a new therapeutic option in Parkinson’s and Alzheimer’s
diseases: a literature review
Marcelo Ferrari de Almeida Camargo Filho, Aline Puzzi Romanini, Beatriz Cavalheiro Pyrich, Erica Pedri, Giovanna Correa
Fontoura, Luís Augusto Zorrer, Vitoria Diana Mateus de Almeida Gonçalves Viktor Cleto Morais Gianini, Juliane Centeno
Müller

RESUMO ABSTRACT
Os derivados canabinoides podem ser vistos como novos potenciais Cannabinoid derivatives can be viewed as a novel therapeutic poten-
terapêuticos para o tratamento da doença de Parkinson e Alzheimer. tials for the treatment of Parkinson's and Alzheimer's disease. Thus,
Assim, esta revisão teve como objetivo descrever os efeitos terapêuti- this review aimed to describe the therapeutic and adverse effects of
cos e adversos do uso de canabidiol e de delta-9-tetrahidrocanabinol the use of cannabidiol and delta-9-tetrahydrocannabinol in Parkin-
nas doenças de Parkinson e de Alzheimer. Para tanto, foi realizada son's and Alzheimer's disease. A search of the Medline database was
uma busca na base de dados Medline no período entre 2007 e 2017. carried out between 2007 and 2017. The descriptors used were (Te-
Os descritores utilizados foram (Tetrahydrocannabinol OR Cannabi- trahydrocannabinol OR Cannabidiol) AND (Parkinson OR Alzheimer)
diol) AND (Parkinson OR Alzheimer) AND (Treatment OR Therapeuti- AND (Treatment OR Therapy). The results showed promising thera-
cs). Os resultados mostraram efeitos terapêuticos promissores do ca- peutic effects of cannabidiol and delta-9-tetrahydrocannabinol in
nabidiol e do delta-9-tetrahidrocanabinol nestas doenças, tais como Parkinson and Alzheimer's diseases, such as the reduction of motor
redução de sintomas motores e cognitivos, e ação neuroprotetora. and cognitive symptoms and neuroprotective action. These results
Estes resultados podem ser explicados, em parte, pelos efeitos an- may be explained, in part, by the anti-inflammatory and antioxidant
tioxidante, antiinflamatório, antagonista de receptores CB1, ou pela effects, by CB1 receptor antagonism, or by the activation of PPAR-
ativação de receptores PPAR-gama produzido por estas substâncias. -gamma receptors, produced by these substances. In addition, few
Além disso, poucos efeitos adversos foram descritos, como boca seca adverse effects have been reported, such as dry mouth and drowsi-
e sonolência. Nesse contexto, estes resultados evidenciam a neces- ness. In this context, these results highlight the need for further re-
sidade de novas pesquisas a respeito dos efeitos terapêuticos e ad- search on the therapeutic and adverse effects of cannabinoids with
versos de canabinoides com maiores doses e períodos de exposição, higher doses and periods of exposure, for whom, in the near future,
para quem sabe, em um futuro próximo, ser possível olhar estas it is possible to view these substances as a more effective and safe
substâncias como uma opção terapêutica mais eficaz e segura para therapeutic option for these patients.
estes pacientes.
Keywords: therapeutics, tetrahydrocannabidiol, cannabidiol, treat-
Palavras-chave: terapêutica, tetraidrocanabidiol, canabidiol, trata- ment, alzheimer, parkinson.
mento, alzheimer, parkinson.

Trabalho realizado no Curso de Medicina da Faculdades Pequeno Príncipe

Endereço para correspondência: Professora de farmacologia Juliane Centeno Müller, Av. Iguaçu, 333 Rebouças CEP: 80230-020, Curitiba –
PR, Tel.: (41) 3310-1500, e-mail: julimuller2@hotmail.com

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Müller JC, et al.

INTRODUÇÃO náusea, diarreia, vômito, perda de peso, insônia,infecção


O aumento da expectativa de vida observada no no trato urinário, entre outros.13 Alguns sintomas típicos
Brasil no início de 1940 ocorreu devido à redução da mor- comportamentais da DA são controlados com o uso de
talidade. Isso resultou em um aumento de doenças crôni- outros medicamentos de classes diversas, como antipsicó-
co-degenerativas, tais como a doença de Parkinson (DP) e ticos, antidepressivos, anticonvulsivantes e benzodiazepí-
a doença de Alzheimer (DA).1,2 nicos, aumentando o número de reações adversas e intera-
A DA é definida como uma doença neurodegene- ções medicamentosas.14,15,16
rativa com perda progressiva de memória e sintomas cog- Já na doença de Parkinson, descrita por James
nitivo-comportamentais.3 É uma das causas mais comuns Parkinson, em 1817 17, mantém sua definição até os dias
de demência e tem acometido cada vez mais indivíduos, de hoje. Parkinson detalhou movimentos involuntários
tornando-se um grande problema econômico e social.4 com força muscular diminuída em membros. Relatou pro-
Além disso, a progressão da doença é caracterizada pelo pensão de curvatura de tronco para frente e aceleração do
surgimento de sintomas tanto neuropsiquiátricos como ritmo de caminhada, com preservação dos sentidos e do in-
não-cognitivos, impactando a vida do enfermo e de seu telecto. Os principais sintomas, conhecidos como parkin-
cuidador. Dentre os diversos sintomas, pode listar-se perda sonismo, incluem sintomas motores e não motores.
da memória, agitação psicomotora, depressão, transtornos Os sintomas motores da doença de Parkinson in-
afetivos com isolamento social, falha no reconhecimento cluem tremor de repouso, rigidez muscular, bradicinesia
facial, entre outros.3,5 e acinesia, marcha parkinsoniana e redução na expressão
Exames anatomopatológicos post-mortem do cór- facial. Dentre os sintomas não motores estão a depressão,
tex temporal de pacientes com DA mostraram depósitos alterações cognitivas, alterações da qualidade da voz e
extracelulares de proteínas beta-amiloides, que formam distúrbios autonômicos.18,19 Grande parte desses sintomas
placas neurais. No meio intracelular, observou-se o desen- ocorre devido à perda gradual dos neurônios dopaminér-
volvimento de emaranhados de neurofibrilas de proteína gicos do mesencéfalo. Com isso, regiões que necessitam
tau hiperfosforilada. Esta proteína em sua ação normal é de dopamina, como os gânglios da base, tornam-se atro-
responsável pela organização do citoesqueleto dos neu- fiadas.20 Acredita-se que a bradicinesia seja resultado da
rônios.5 Esses achados, juntamente com o processo neu- ausência de dopamina no corpo estriado, que acaba pro-
roinflamatório e o aumento do estresse oxidativo presente vocando desequilíbrio entre as respostas inibitórias e ex-
nos tecidos neurais, estão relacionados com o surgimento citatórias. Isso se traduz em maior lentidão na progressão
e progressão da DA. 6,7 A neuroinflamação relaciona-se dos movimentos, especialmente os automáticos.21,22 A ri-
com a ativação da micróglia, que fagocita os depósitos gidez característica da doença acaba produzindo uma ex-
beta-amiloide liberando citocinas pró-inflamatórias (IL-1, pressão facial característica do paciente, chamada de hipo-
TNF-alfa e quimiocinas). Ocorre também a liberação de mimia.21,23 O paciente também apresenta postura corporal
glutamato e espécies reativas de oxigênio, resultando em característica em flexão - hiperlordose cervical -, causada
neurotoxicidade e dano oxidativo, levando ao aumento do por desordem nos sistemas vestibulares, visuais e proprio-
dano cerebral.8 Outro fator desencadeante é a redução da ceptivos.21,23
síntese de colesterol, processo que está ligado à neurode- O processo de perda neuronal ainda não está to-
generação e à etiologia da DA.9 talmente esclarecido, porém há fortes indícios de que o
As atuais terapias medicamentosas para a doença estresse oxidativo e a disfunção mitocondrial apresentam
de Alzheimer apresentam eficácia questionável, atuando papel importante na patogenia da DP.24
somente no alívio de sintomas. O tratamento não impede a O diagnóstico da DP é baseado na história clínica
progressão da doença, apenas oferece benefícios limitados do paciente. Segundo a Sociedade Internacional de Parkin-
na função cognitiva. Além disso, estão relacionados a son e Desordens do Movimento (MDS), o primeiro critério
vários efeitos adversos. 10,11 Entre as drogas aprovadas, é a presença de parkinsonismo - definido como bradicine-
os inibidores da acetilcolinesterase, como o Donepe- sia combinado com tremor ou rigidez, ou ambos -, somado
zil (Eranz®) 12 são as mais usadas, embora apresentem a (a) ausência absoluta de critério de exclusão de DP, (b)
efeito terapêutico em no máximo 20% dos pacientes com pelo menos dois critérios de suporte e (c) ausência de si-
Alzheimer. Essa classe apresenta como efeitos adversos nais de alerta.25 A terapia da DP utiliza medicamentos que

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Canabinoides nas doenças de Parkinson e de Alzheimer

aliviam os sintomas da síndrome, sendoa levodopa a droga tetor em doenças neurodegenerativas, tais como o Alzhei-
mais prescrita. Embora este medicamento alivie os sinto- mer, o Parkinson, Huntington e outras.35 Sua eficácia como
mas, seu uso a longo prazo está associado a efeitos adver- agente neuroprotetor, anti-inflamatório e antioxidante já
sos motores, como discinesias, e a perda da eficácia.27 foi estudada.36,37 Ademais, ESPOSITO (2005, 2011)38,39
Os canabinoides naturais são derivados da planta demonstrou que o CBD preveniu a neurotoxicidade e a hi-
Cannabis sativa, que possui como principais compostos perfosforilação da proteína tau, e promoveu neurogênese
ativos o delta-9-tetrahidrocanabinol (Δ⁹-THC), o canabi- no hipocampo de ratos que foram submetidos a inocula-
nol (CBD) e o tetrahidrocanabivarin.28 O mecanismo de ção de peptídeo humano αβ no líquido cerebroespinhal.38,39
ação dos canabinoides baseia-se na ativação do sistema Tais achados favorecem o uso terapêutico de CBD na te-
endocanabinoide, através de receptores canabinoides, que rapia de DA. De maneira semelhante, o Δ⁹-THC reduziu
resulta na liberação de neurotransmissores, com destaque a agitação e a atividade motora involuntária em pacientes
para o glutamato.29 No sistema nervoso são encontrados com DA. 40
dois tipos de receptores canabinoides, o CB1, predominan- No Brasil, o uso medicinal da Cannabis ou de seus
te no sistema nervoso central, e o CB2, que constitui o derivados ainda é limitado. Em 2015, a Agência Nacional
principal receptor nos tecidos periféricos.29,30 de Vigilância Sanitária (ANVISA)41 liberou o uso medici-
Os receptores CB1 e CB2 fazem parte da grande nal de CBD após análise de diversos estudos clínicos, os
família dos receptores acoplados à proteína G e possuem quais demonstraram a possibilidade do uso terapêutico da
um agonista endógeno, cuja estrutura química é derivada substância. A decisão está contida na lista C1 da Portaria
do di-benzopiran: o próprio Δ⁹-THC. Existem ainda 3 ou- 344/98.41 Um ano mais tarde, a empresa discutiu a aprova-
tros grupos de agonistas sintéticos, que diferem em estru- ção de um novo medicamento para importação, a base de
tura química. O segundo grupo é representado pelo com- CBD e Δ⁹-THC (em concentração de no máximo 30 mg
posto CP 55, 940, semelhante ao Δ⁹-THC, mas sem anel de Δ⁹-THC por mililitro e 30 mg de CBD por mililitro).
piran. O terceiro grupo é formado por aminoalquil-indol, O produto aprovado para fase final do processo chama-
representado pelo WIN 55,212-2. O quarto grupo sintético -se Mevatyl® - que corresponde ao Sativex® no comércio
é derivado do ácido araquidônico. 29 exterior. Entretanto, até o presente momento, este medica-
A ligação entre o agonista e o seu receptor irá de- mento está liberado no Brasil apenas para o tratamento da
sencadear uma cascata de sinalização intracelular resultan- Esclerose Múltipla.42
do tanto na inibição da adenilato ciclase e dos canais de Atualmente a lista de produtos à base de canabi-
cálcio dependentes de voltagem, como também na ativa- diol para uso terapêutico conta com 11 produtos, dispo-
ção dos canais de potássio e proteínas quinase ativadas por níveis para importação mediante prescrição médica, ava-
mitógenos (MAP quinases). 29 liados e aprovados pela ANVISA. A lista, atualizada em
Os derivados canabinoides estudados já estão 2016, está contida no anexo I da Resolução da Diretoria
sendo utilizados na terapia de diversas doenças, como o Colegiada (RDC) 17/2015. É importante ressaltar que ne-
glaucoma 31, esclerose múltipla 32 e câncer 33. Seus efei- nhum dos produtos tem registro no Brasil ou passaram por
tos incluem redução de efeitos adversos do tratamento testes clínicos aprovados pela ANVISA; são apenas auto-
quimioterápico 33 e alívio sintomático dessas doenças 31,32. rizados para importação. 43
Suas ações envolvem: melhoria da náusea e vômito, esti- Diversos estudos demonstraram resultados benéfi-
mulação da fome em pacientes portadores de HIV e em cos na terapêutica de doenças como glaucoma, manejo de
tratamento por quimioterapia e analgesia 33, bem como efeitos adversos de quimioterapia, entre outras.Conside-
redução da pressão intraocular 31. Entretanto, o uso de ca- rando que os tratamentos atuais de Parkinson e Alzheimer
nabinoides já foi relacionado a efeitos adversos, como so- são limitados, devido à baixa eficácia e terapia predomi-
nolência, infecções do trato urinário, recaídas da esclerose nantemente sintomatológica, esta revisão de literatura tem
múltipla e dispneia.34 como objetivo descrever os principais efeitos terapêuticos
As propriedades do CBD, amplamente estudadas e adversos dos derivados canabinoides utilizando estudos
por diversos pesquisadores, tem amparado a ciência com in vitroe in vivo relacionados com a doença de Parkinson e
resultados que demonstram o amplo espectro de ação da Doença de Alzheimer.
substância em diferentes sistemas, além de seu efeito pro-

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Müller JC, et al.

MÉTODO PARKINSON
Para a elaboração desta revisão de literatura, rea- Estudos realizados em animais
lizou-se busca de publicações indexadas na base de dados: No estudo de VAN VLIET et al. (2008)44 realizado
PubMed/Medline (National Library of Medicine and Na- com 9 saguis (Callitrix jacchus), foi aplicado uma dose
tional Institute of Health). Os descritores que delimitaram de 6,0 a 8,75mg/kg subcutânea de 1-metil-1,2,3,6-tetrahi-
a busca foram (Tetrahydrocannabinol OR Cannabidiol) dropiridina (MPTP) num período de 10 dias até a indução
AND (Parkinson OR Alzheimer) AND (Treatment OR e estabilização dos sintomas parkinsonianos e, após isso,
Therapeutics). receberam Δ⁹-THC em dose única oral de 4 mg/kg. Foi
A questão norteadora formulada foi: Quais são os observado melhora de locomoção e coordenação median-
efeitos do uso de CBD e Δ⁹-THC na terapia de Doença te o uso desta substância.44 Já no estudo de GARCÍA et
de Parkinson e Doença de Alzheimer? Os dados coletados al. (2011)45, ratos Sprague-Dawley foram lesionados com
para a pesquisa foram: país e ano da pesquisa, delineamen- 6-hidroxidopamina e com lipopolissacarídeo para indução
to de pesquisa, amostra, tipo de canabinoide, dosagem do de modelo de doença de Parkinson e após receberam 2 mg/
canabinoide, tempo de exposição ao canabinoide, seus mé- kg/dia por 14 dias de Δ⁹-THC. Os animais foram avaliados
todos de avaliação e os principais resultados encontrados. quanto aos comportamentos de antinocicepção (teste da
Foram excluídas as publicações realizadas há mais placa quente), locomoção (actímetro assistido por compu-
de 10 anos, revisões de literatura e abordagem diferente do tador), além das dosagens de dopamina e glutamato (imu-
tema proposto (endocanabinoides e derivados canabinoi- nohistoquímica). A administração do Δ⁹-THC na dose de
des sintéticos). 2mg/kg inibiu os efeitos comportamentais induzidos por
Para a análise dos dados, os resultados foram or- um potente agonista canabinóide (CP55.940), sugerindo
ganizados em duas tabelas (tabela 1 e 2) abordando os que o mesmo possa atuar como antagonista CB1. Além
dados citados acima, separadas por: Parkinson e estudos disso foi observado neuroproteção dos neurônios dopami-
em animais e células e estudos em humanos (tabela 1) e nérgicos nos ratos por sua ação antioxidante, e aumento
Alzheimer e estudos em animais e células e estudos em dos níveis de glutamato no núcleo estriado, provavelmente
humanos (tabela 2). pelo bloqueio do receptor CB1.45

RESULTADOS Estudos realizados em células


As substâncias utilizadas nos diversos estudos Nos estudos realizados em células que avalia-
analisados foram o CBD e o Δ⁹-THC. ram terapias derivadas de canabinoides no tratamento da
Os principais resultados, assim como as substân- doença de Parkinson, destaca-se o artigo de CARROLL
cias utilizadas e os métodos de avaliação de cada estudo et al. (2012)46 onde células humanas SH-SY5Y, derivadas
estão descritos nas tabelas 1 e 2, em anexo. de neuroblastoma, foram tratadas com neurotoxinas para
Nas tabelas 1 e 2 estão explicitados o tipo de pes- simular os efeitos da DP. Neste estudo observou-se uma
quisa, a amostra utilizada, o tipo de derivado canabinoide e ação neuroprotetora, antioxidante e antiapoptótica após a
a dose administrada, assim como os métodos de avaliação administração de Δ⁹-THC.Os autores demonstraram que
e os principais resultados obtidos em cada estudo referen- a infusão de neurotoxinas em cultivo celular produz um
tes às doenças de Parkinson e de Alzheimer. aumento na expressão de receptores CB1. Porém, quando
A análise dos dados possibilitou a divisão do estu- foi infundido um agonista CB1 para bloquear estes efeitos
do em efeitos terapêuticos do uso de derivados canabinoi- ou mesmo um antagonista CB1 para reproduzir estes efei-
des na Doença de Alzheimer e na Doença de Parkinson. As tos, os mesmos não tiveram êxito. Isto sugere que o efeito
publicações foram classificadas em categorias temáticas, neuroprotetor do Δ⁹-THC pode ser mediado por outra via.
possibilitando agrupar os achados de acordo com seus re- Finalmente, este mesmo estudo mostrou um aumento da
sultados. expressão de receptores gama ativados por proliferador de
peroxissoma (PPAR gama), e este efeito foi inibido quan-
do os pesquisadores associaram um antagonista PPAR
gama. Assim, esse resultado sugere a participação desta

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Canabinoides nas doenças de Parkinson e de Alzheimer

via no efeito neuroprotetor do Δ⁹-THC.46 aumento de doses dos antiparkinsonianos. Os pacientes


Em contrapartida, NGUYEN et al. (2016)47 reali- selecionados foram tratados inicialmente com 150 mg/dia
zaram experimentos utilizando cultivo de células do me- de CBD seguido por dose flexível (150 – 400 mg/dia) de
sencéfalo de ratos OF1/SPF coletadas no décimo quarto acordo com a resposta clínica, por 4 semanas. A resposta
dia de gestação. No 12º dia de incubação, diferentes con- ao tratamento proposto foi analisada através da aplicação
centrações de Δ⁹-THC (0,1; 1 e 10uM) foram adicionadas de diferentes questionários aos participantes (Bech’s ver-
com glutamato 30uM, ou sem o mesmo, e mantidas poste- sion of the Brief Psychiatric Rating Scale, Parkinson Psy-
riormente a 37 ºC por 48h. Os autores demonstraram um chosis Questionnaire, Unified Parkinson’s Disease Rating
efeito neuroprotetor e antiapoptótico do Δ⁹-THCinduzidos Scale, Clinical Global Impression – Improvement scale,
pelo glutamato. Este efeito foi inibido pela adição de um MiniMental Status Examination, Frontal Assessment Bat-
antagonista de receptor CB1, sugerindo que esta via possa tery). Os resultados foram comparados por meio de testes
estar associada aos efeitos neuroprotetivos do Δ⁹-THC.47 não paramétricos de Friedman e teste de Wilcoxon Signed.
Já na análise de SANTOS et al. (2015)48, no qual Os resultados mostraram melhora significativa dos sinto-
amostras de células PC12 com toxicidade induzida por mas psicóticos, ausência de piora na função motora e nas
MMP+ foram expostas a diferentes concentrações de CB- habilidades cognitivas, evidenciando assim um outro be-
Dpor 24 horas, e posteriormente, foram analisadas acerca nefício do uso do CBD nas complicações da evolução da
da neurogênese, receptores de NGF e proteínas neurais. doença do Parkinson, tais como a psicose.50
Os resultados revelaram que o uso de CBDaumentou a CHAGAS et al. (2014)51 avaliaram o uso de CBD
viabilidade e diferenciação celular e a expressão de pro- para o tratamento dos transtornos de comportamento do
teínas axonais e sinápticas. Apesar de não ter aumentado sono REM em pacientes portadores de DP. Durante 6 se-
a expressão do fator de crescimento de nervos NGF (do manas os pacientes receberam doses diárias de CBD (75
inglês: nerve grown fator - NGF), o CBD apresentou efei- mg/dia ou 300 mg/dia) e, posteriormente, foram avaliados
to protetor contra morte celular e perda neuronal mesmo quanto aos sintomas durante o sono REM, tais como falas,
diante dos efeitos tóxicos induzidos pela metaloproteinase gritos e gestos, além da polissonografia. A pesquisa reve-
de matriz, molécula ativa na DP. A pesquisa ainda sugere lou melhora imediata desses sintomas durante o uso do
que o CBD apresenta efeito neurorestaurador independen- medicamento, reduzindo a frequência dos episódios rela-
te do NGF, fator que pode contribuir para ação protetora cionados aos distúrbios de comportamento do sono REM,
contra MPP+.48 os quais retornaram após interrupção de CBD. 51
Um estudo retrospectivo realizado por VENDE-
Estudos realizados em humanos sobre a ROVÁ et al. (2004)52 avaliou as possíveis experiências
Doença de Parkinson do uso da Cannabis (frequência, regularidade, tempo,
Em um ensaio exploratório duplo-cego, 21 pa- qual parte da planta foi usada) e os possíveis efeitos te-
cientes diagnosticados com DP receberam 75 mg/dia ou rapêuticos da substância nos sintomas motores da doença
300 mg/dia de CBD por 6 semanas. Os pacientes que rece- de Parkinson, como rigidez muscular e bradicinesia, além
beram a maior dose relataram melhora no bem-estar emo- da melhora da discinesia induzidas pela levodopa, quan-
cional e na mobilidade, embora não tenha havido melhora do a mesma foi reportada. O estudo avaliou 339 pacientes
nos sintomas motores.49 com diagnóstico de DP, que faziam uso de diferentes tra-
ZUARDI et al. (2008)50, realizaram um estudo pi- tamentos antiparkinsonianos, através de um questionário
loto aberto, no qual foram avaliados 6 pacientes (58,8 ± modificado a partir de Consroe and colleagues.53 Antes
14,9 anos de idade) com diagnóstico de DP (10,6 ± 3,7 da realização do questionário foi primeiramente explica-
anos de tempo de diagnóstico), com manifestação de psi- do aos pacientes o significado de rigidez muscular, bra-
cose há pelo menos 3 meses, sem melhora com a redução dicinesia e discinesia. Em seguida os pacientes deveriam
dos antiparkinsonianos até o início do estudo. Como crité- preencher o questionáriorespondendo os dados pessoais,
rios de exclusão os autores usaram: diagnóstico primário os dados sobre o uso de Cannabis, e avaliar se houve mu-
de desordem psicótica ou desordens neurológicas e/ou psi- dança na intensidade de cada sintoma com o uso da planta
quiátricas, parkinsonismo atípico, e presença de demência de acordo com uma escala (melhora substancial, melhora
ou exacerbação de sintomas motores com necessidade de intermediária, sem alterações, piora moderada, piora subs-

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Müller JC, et al.

tancial ou não conseguiu optar).Os resultados revelaram autores realizaram outro estudo 56 usando ratos transgêni-
que 25,1% faziam uso da Cannabis predominantemente cos os quais foram tratados a partir de três meses de idade
por via oral, pelo menos uma vez ao dia, sem conhecimen- com 20mg/kg de CBD por 8 meses e submetidos à análises
to prévio de como usar. Estes pacientes referiram fazer o comportamentais e neuroquímicas utilizando marcadores
uso por conta própria utilizando as folhas frescas ou secas neuroinflamatórios do tecido cortical. Os autores demons-
da planta. Após o uso da Cannabis 45,9 % descreveram traram através dos testes comportamentais uma possível
uma melhora moderada ou substancial dos sintomas gerais melhora no retraimento social e no reconhecimento facial
da DP, 30,6% relataram uma melhora no tremor de repou- pelo tratamento a longo prazo com CBD. Além disso, os
so, 44,7% relataram alívio da bradicinesia, 37,7% alívio autores mostraram que estes resultados estavam relaciona-
da rigidez muscular e 14,1% na melhora da discinesia in- dos com uma redução da neuroinflamação, por mecanis-
duzida por levodopa.Outra variável analisada foi a dosa- mos ainda a serem esclarecidos .56
gem de metabólito urinário em sete pacientes que faziam ASO et al. (2014)57 utilizaram ratos transgênicos
uso crônico da Cannabis há alguns meses. Este resultado para a DA em estudo experimental, em que administraram
mostrou que somente os pacientes que tiveram níveis do doses diárias de 0,75 mg/kg de Δ⁹-THC, ou 0,75 mg/kg
metabólito urinário acima de 50 ng/mL reportaram através CBD, ou combinação de 0,75 mg/kg de ambas as substân-
do questionário melhora na bradicinesia e/ou rigidez .52 cias por 5 semanas. Esses animais passaram por análises
Em contrapartida, outro estudo, realizado porM- comportamentais, e, em seguida, foram realizados testes
cSHERRY et al. (2005)54 através de pesquisa cross-over, de imunohistoquímica, ELISA, imunofluorescência e ele-
randomizada e duplo-cego, avaliou a segurança, a tolera- troforese de proteína. Nos resultados, observou-se que a
bilidade e o alívio da discinesia induzida pela levodopa do combinação de Δ⁹-THC e CBD apresentou melhores efei-
extrato etanólico de Cannabis sativa padronizado (2,5 mg tos do que as substâncias isoladas em reduzir a resposta
deΔ⁹-THCe 1,25 mg de canabidiol por cápsula) adminis- inflamatória e modificar a composição da placa beta-ami-
trado por via oral. Cada fase do tratamento durou 4 sema- loide.57
nas. O extrato de Cannabis não teve efeito em comparação Já em outra análise experimental de ASO et.al.
com o placebo nas pontuações da Unified Parkinson’s Di- (2016) foram utilizados ratos transgênicos cruzados com
58

sease Rating Scale (UPDRS) - Parte I: atividade mental; ratos com deleção do gene de receptor CB2 submetidos
Parte II: Atividades de vida cotidiana; Parte III: motor; ao uso diário de uma combinação de solução de Δ⁹-THC e
Parte IV: complicações da terapia; e um escore de tremor CBD com 0.75 mg/kg de cada substância, durante 5 sema-
- ou PDQ-39 (que avaliou a qualidade de vida do pacien- nas. Os animais foram submetidos a testes comportamen-
te através de parâmetros como mobilidade, atividades de tais e, em seguida, foram realizados testes de imunohisto-
vida cotidiana, emoção, estigma, apoio social, cognição, química e ELISA. Os resultados encontrados evidencia-
comunicação e desconforto).54 ram que a falta do receptor CB2 contribuiu para o aumento
de beta amiloide. Entretanto, a ausência do receptor não
Estudos realizados em animais sobre a Doença afetou a viabilidade dos ratos, nem acelerou o déficit na
de Alzheimer memória. Os resultados sugeriram que esse receptor tem
Um estudo experimental realizado por CHENG, pouca influência no efeito terapêutico dos derivados da
D. et al. (2014)55utilizaram ratos transgênicos que desen- Cannabis nos ratos em estudo, mas indicou uma relação
volviam perda sináptica, produção de A e deposição de pla- entre os receptores CB2 e o processamento de beta-ami-
cas ao longo da vida. Estes animais foram tratados a partir loide.58
de seis meses de idade com 20mg/kg de CBD durante oito No mesmo ano, novo estudo de ASO et al. (2016)59,
semanas e submetidos à análise comportamental- pré e pós realizado com ratos transgênicos analisou a resposta dos
administração da substância. Os resultados evidenciaram murinos ao tratamento com doses diárias de 0,75 mg/kg de
reversão do déficit social e de reconhecimento de obje- Δ⁹-THC e CBD por 5 semanas. Os resultados - analisados
tos nos animais tratados com CBD em comparação com da mesma maneira que os estudos anteriores - mostraram
o grupo controle, sem interferir na memória, ansiedade e que a terapia é benéfica para a memória de ratos transgêni-
medo dos animais.55De maneira semelhante, os mesmos cos idosos que simulam a DA em fase avançada.59

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Canabinoides nas doenças de Parkinson e de Alzheimer

Estudos realizados em células sobre a Doença Estudos realizados em humanos sobre a


de Alzheimer Doença de Alzheimer
Há relatos na literatura sobre uma relação crescen- AHMED et al. (2014)64 estudou a tolerância e a
te entre ATP e quantidade de cálcio intracelular: quanto segurança do Δ⁹-THC em idosos saudáveis. Os pacientes
mais células neuronais morrem, maior é a liberação de ATP foram submetidos a doses de Namisol® (produto que con-
para o líquido extracelular, que pode atuar em receptores tém Δ⁹-THC em tabletes, registrado na Holanda), que va-
purinérgicos na membrana de outros neurônios e células riaram de 3 a 6,5 mg em 4 ocasiões, intercaladas por duas
da glia aumentando o cálcio intracelular nestas células, e semanas de washout. O autor avaliou a segurança e farma-
consequentemente, ativando-as. MARTÍN-MORENO et cocinética da droga por análise laboratorial hematológica e
al. (2011)60 realizaram um estudo com cultura de células química, e uso de escalas de performance visual e cogniti-
da micróglia, retirada do córtex neonatal de ratos, trata- va (Visual analog scales e Test for Attenttional Performan-
das com ATP. Estes autores observaram que ao adicionar o ce). A pesquisa demonstrou boa segurança e tolerância ao
CBD no mesmo meio de cultura houve redução de cálcio uso de THC, sendo que os efeitos adversos, como sonolên-
intracelular proporcional à quantidade de CBD adicionada cia e boca seca, foram observados com maior frequência
ao meio. 60 em pacientes que usaram a maior dose (6,5 mg).64
A análise experimental de CAO et al. (2014)61 foi De maneira semelhante, VAN DEN ELSEN et al.
realizada com cultura de células N2a/AβPPswe, que ex- (2015) 65,65
investigaram, em dois estudos randomizados
pressam as proteínas αβ amilóide. Essas células receberam duplo-cego, a tolerância do Δ⁹-THC em pacientes com de-
tratamento com solução de Δ⁹-THC e cafeína por 48h e mência e o efeito da substância nos sintomas psiquiátricos
analisadas por imuno-histoquímica, ELISA e Western- associados à doença. Em um dos estudos, os pacientes re-
-Blot pelos pesquisadores. Os resultados mostraram que o ceberam Δ⁹-THC em doses de 0,75 mg duas vezes ao dia
Δ⁹-THC age de maneira sinérgica com a cafeína na redu- por 6 semanas, seguidas por 1,5 mg duas vezes ao dia por
ção de complexos beta-amiloide e reduz sua agregação de mais 6 semanas. Já no outro, foram aplicadas doses de 1,5
maneira dose dependente.61 mg três vezes ao dia por 3 semanas. A avaliação dos resul-
O estudo experimental de LIBRO et al. (2016)62 tados foi baseada em sinais vitais, efeitos adversos relata-
realizou duas culturas de células tronco mesenquimais: dos e aplicação da escala de avaliação de sintomas neurop-
um grupo controle e outro grupo de células que recebeu siquiátricos (Neuropsychiatric Inventory - NPI), tanto aos
um pré tratamento com CBD, 5 μM por 24 horas. Os re- pacientes, como aos seus cuidadores. Embora não tenham
sultados foram avaliados através de imuno-histoquímica. sido relatados melhora ou piora dos sintomas pesquisados,
No grupo pré tratado com CBD foi possível observar um o Δ⁹-THC demonstrou um bom padrão de segurança e boa
“downregulation” de genes relacionados à doença de Al- tolerabilidade, pois os efeitos adversos analisados (clas-
zheimer, como o gene GSK3beta, que apresenta papel cen- sificados como leves a moderados) através de perguntas
tral na patogênese DA.62 abertas e observações clínicas foram similares aos relata-
No estudo observacional descritivo realizado por dos no grupo que recebeu placebo.65,66
SCUDERI C., STEARDO L., ESPOSITO G. (2013)63, foi No ano seguinte, VAN DEN ELSEN et al.(2016)67
utilizado CBD em concentração de 10-9 a 10-6 M em 24 realizaram mais um estudo clínico, no qual foi avaliado
horas em uma cultura de células neuronais SHSY5Y e pos- os benefícios do Δ⁹-THC em sintomas motores estáveis
terior observação em imunofluorescência. Os resultados associados à demência. A dose utilizada foi de 1,5 mg de
revelaram que o CBD foi capaz de ativar seletivamente Δ⁹-THC (Namisol ®) duas vezes ao dia por 3 dias conse-
PPAR-g, a qual promove a ubiquitinação de APP e, conse- cutivos intercalados por 4 dias de intervalo. Duas horas
quentemente, reduziu a concentração de corpos beta ami- após a aplicação da substância ou do placebo foi avaliado
loide. Esses resultados demonstrados foram dose-depen- quantitativamente a marcha, o efeito no equilíbrio (balan-
dentes. Dessa forma, o estudo conclui que o CBD aumenta ço) estático (em pé) e em movimento (durante a marcha),
a sobrevivência neuronal, diminuindo taxa de apoptose.63 além da realização, ou não, de tarefas simultâneascomo
fechar os olhos e/ou tarefa cognitiva (ex.: aritmética). O
equilíbrio durante a postura em pé ena marcha foram ava-
liados através de um acelerômetro e a análise quantitativa
Revista Brasileira de Neurologia » Volume 55 » Nº 2 » ABR/MAI/JUN 2019 23
Müller JC, et al.

da marcha foi realizada utilizando uma passarela eletrôni- LISTA DE SIGLAS


• ANVISA – Agência Nacional de Vigilância Sanitária
ca. As reações adversas foram questionadasaos pacientes • APP – Proteína precursora de amiloide
e seus cuidadores em todas as visitas de estudo usando • ATP – Adenosina trifosfato
• CB1- Receptor canabinoide tipo 1
questões abertase observações clínicas. Os autores ob- • CB2 – Receptor canabinoide tipo 2
servaram que o Δ⁹-THC alterou o equilíbrio estático (em • CBD – Canabidiol
• CP 55, 940 – 5 (1,1 Dimethylheptyl)-2-[5hydroxy-2-(3-hydroxypropyl) ci-
pé) por aumentar significativamente a oscilação (balanço) clohexyl] phenol

com os olhos fechados, mas não com os olhos abertos. Em • DA – Doença de Alzheimer
• Δ⁹-THC – delta 9 tetrahidrocanabinol
relação a avaliação quantitativa da marcha, pode-se obser- • DP – Doença de Parkinson
• HIV – Vírus da imunodeficiência humana
var que durante a caminhada de velocidade preferida, o • IL 1 – Interleucina 1
Δ⁹-THC aumentou o comprimento da passada e a oscila- • MAP quinases – Proteínas quinases ativadas por mitógenos
• MMP+ - 1 metil 4 fenilpiridino
ção do tronco. Apesar disso, não foram relatadas quedas • MPTP – 1 metil-1,2,3,6 – tetrahidropiridina
ou outros efeitos adversos diferentes dos já observados em • NGF – Fator de crescimento neural
• PC12 – Linhagem celular derivada de um feocromocitoma da medula su-
outros estudos. Dessa forma, o Δ⁹-THC na dose especifi- prarrenal de rato

cada (3 mg/dia) tem efeitos benignos na mobilidade e foi • PPAR gama – Receptor gama ativados por proliferador de peroxissoma
• SH-ST5Y – Linhagem de células de neuroblastoma humano
bem tolerado pelos pacientes. 67 • Sono REM – Sono com Movimento Rápido dos Olhos
• TNF alfa – Fator de necrose tumoral alfa
• WIN 55, 212-2 – 5 methyl – 3 (morpholin-4ylmetyl)2-3 – dihydro [1,4] oxa-
CONCLUSÃO zino[2,3,4 – hi]indole

O envelhecimento da população brasileira é uma


realidade que contribui para o aumento da incidência de CONFLITOS DE INTERESSE
doenças crônico-degenerativas, tais como a doença de Os autores declaram não haver conflitos de inte-
Alzheimer e de Parkinson. As limitações terapêuticas que resse.
encontramos atualmente para minimizar os sintomas e re-
tardar a progressão destas doenças, evidencia a necessi- REFERÊNCIAS
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A presente revisão de literatura destaca os pos- org/10.1590/S0102-311X1992000200008
síveis benefícios do uso de Δ⁹-THC e CBD para a DP e 2. OMRAN A. The Epidemiologic Transition: A Theory of the Epidemiology of
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além de apresentar efeito neurorestaurador independente 5. Itagaki S, Mcgeer P, Akiyama H, Zhu S, Selkoe D. Relationship of microglia
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Os resultados dos estudos trazidos nesta revisão 10. Watt G, Karl T. In vivo Evidence for Therapeutic Properties of Cannabidiol
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cientes, bem como para avaliar os efeitos e a segurança do 13. Kaduszkiewicz H, Zimmermann T, Beck-Bornholdt H, van den Bussche H.
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Canabinoides nas doenças de Parkinson e de Alzheimer

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26 Revista Brasileira de Neurologia » Volume 55 » Nº 2 » ABR/MAI/JUN 2019


Canabinoides nas doenças de Parkinson e de Alzheimer

Tabela 1: Estudos sobre o uso de derivados canabinoides na doença de Parkinson

Canabinoide
Delineamento utilizado,
Autor País, ano Amostra Método de avaliação Principais efeitos e resultados
de pesquisa dosagem e tempo
de exposição
VAN VLIET, S. A. Holanda, Estudo 9 saguis (MPTP) modelos Δ9-THC, 4mg/kg, Avaliação dos sintomas com D9-THC melhorou as atividades de
M. et al. (42) 2007 experimental. para doença de Parkinson, em dose única. uma escala de avaliação locomoção e coordenação, mas não
que receberam dose de comportamental (locomoção e induziu efeitos secundários, podendo
modafinil por 10 dias coordenação mão-olho). complementar terapias existentes para
antes de iniciar a dose doença de Parkinson.
de THC.
GARCÍA, C. et Espanha, Estudo Ratos machos (Sprague- Δ9-THC, 2 mg/kg/ Avaliação comportamental A administração de Δ9-THCV tende
al. (44) 2011 experimental. Dawley) lesionados com dia por 14 dias. (Actimetro assistido por a aumentar os níveis de glutamato
6-hidroxidopamina e computador, teste do prato no núcleo estriado, e é possível que
ratos lesionados com quente), determinação da esse efeito cause o bloqueio do
lipopolisacarídeos, para concentração de glutamato e receptor CB1 localizado nos terminais
produzir modelo de dopamina (dissecação e análise glutamatérgicos do sistema cortico-
doença de Parkinson. imuno-histoquímica). estriado.
Os estudos indicam que o tratamento
com Δ9-THCV é neuroprotetor nos
estudos com ratos devido mais ao
seu efeito antioxidante do que à sua
habilidade em ativar receptores CB2.
CARROLL, C. B. Reino unido, Estudo Cultura de células Δ9-THC, CBD e Avaliação de efeitos na morte Foi verificado aumento da expressão
et al. (45) 2012 experimental humanas SH- outros canabinoides celular, viabilidade, apoptose e dos receptores CB-1 frente a ação
com cultura de SY5Y derivada de sintéticos, em dose estresse oxidativo. das toxinas, além de verificado,
células. neuroblastoma, tratada não especificada, também, uma ação protetora do
e exposta a toxinas por 48h. THC que não foi associado com
que simulam efeitos de os receptores CB-1, mas sim com
doença de Parkinson. os receptores gama ativados por
proliferador de peroxissoma (PPAR
gama), demonstrando uma proteção
neurológica.
NGUYEN, C. H. et Áustria, 2016 Estudo Culturas de células Δ9-THC, 0.1, Avaliação dos efeitos do THC THC protegeu os neurônios
al. (46) experimental mesencefálicas de ratos 1, e 10μM, sobre os efeitos neurotóxicos dopaminérgicos e outros tipos
com cultura de OF1/SPF, coletadas no 14º adicionadas, ou do glutamato através de celulares dos efeitos neurotóxicos
células. dia de gestação. não, com glutamato imuno-histoquímica e Ensaio de induzidos por glutamato. Ainda, o
30μM, mantidas Resazurina. THC neutralizou a despolarização
posteriormente a da membrana mitocondrial e a
37ºC por 48h. apoptose induzidas pelo glutamato.
Um antagonista de CB1 (SR141716A)
bloqueou o efeito protetor do THC na
cultura celular. Foi concluído que o
THC tem efeitos anti-apoptóticos, e
restaura o potencial de membrana
mitocondrial por mecanismo
dependente de receptor CB1,
demonstrando que a substância
canabinoide é benéfica nos processos
de degeneração celular como o
Parkinson, pois retarda a morte
neuronal.

Revista Brasileira de Neurologia » Volume 55 » Nº 2 » ABR/MAI/JUN 2019 27


Müller JC, et al.

SANTOS, N. A. G. Brasil, 2015 Estudo Células PC12 com CBD, 1mM/100 Avaliação da neurogênese, O CBD aumentou a viabilidade e
et al. (47) experimental toxicidade induzida por μM MPP+; CBD receptores NGF e proteínas diferenciação celular, e a expressão
com cultura de MPP+. (1, 5, 10, 25 e 50 neurais. de proteínas axonais e sinápticas.
células. μM); e 1mM/100 CBD não aumentou a expressão
μMMPP++CBD de NGF (nerve grown factor) mas
(1, 5 e 10 μM), por impediu sua redução induzida por
24h. MPP+. Em células que não possuem
o receptor de NGF (trkA), o efeito do
CBD não foi observado, o que permite
supor o envolvimento desse receptor
na indução da neuritogênese. O
estudo sugere que o CBD tem efeito
neurorestaurador independente
do NGF, que pode contribuir para
neuroproteção contra o MPP+,
neurotoxina relevante na doença de
Parkinson.
CHAGAS, M. H. Brasil, 2014 Ensaio 21 pacientes CBD, 75mg/dia Avaliação de sintomas com O estudo foi conclusivo em relação
N. et al. (48) exploratório diagnosticados com ou 300mg/dia em auxílio de questionários (UPDRS as melhoras de qualidade de vida
duplo-cego. DP acompanhados por dose diária por 6 e PDQ 39), escalas de avaliação em pacientes com DP tratados com
neurologistas, psiquiatras semanas. para efeitos colaterais de CBD 300mg/dia em comparação
e neuropsicólogos por 24 canabidiol (UKU) e, como testes com os pacientes que fizeram uso
meses. complementares, dosagem de placebo. Foram encontradas
de BDNF (Fator Neutrófico diferenças significativas na melhora
Derivado do Cérebro) e H1-MRS do bem estar emocional nos pacientes
(Espectroscopia de Prótons). que usaram a maior dose de CBD
diária (300mg/dia). Em relação aos
testes da UPDRS, o resultado não foi
satisfatório. Conclui-se que, apesar de
não terem apresentado melhora nos
sintomas motores, os pacientes que
fizeram uso de CBD tiveram melhora
na qualidade de vida. Apesar das
teorias neuroprotetoras do CBD, não
foi possível mensurar nos exames de
BDNF e H1-MRS, provavelmente pelo
curto período de teste (6 semanas) e
pela ampla variedade individual dos
níveis de BDNF.
ZUARDI, A. et Brasil, 2009 Estudo piloto 6 pacientes com CBD, 150 mg/ Avaliação dos sintomas Melhoria significativa na pontuação
al (49) aberto. diagnóstico de Parkinson dia seguida por pela Brief Psychiatric Rating das escalas BPRS e PPQ após
e psicose por pelo dose progressivas Scale (BPRS) e Parkinson tratamento com CBD, o qual não
menos 3 meses, tratados semanais (150mg/ Psychosis Questionnaire (PPQ), piorou a função motora e diminuiu a
com L-dopa (há pelo dia, 250mg/dia, e avaliaçõessecundarias pontuação total na escala UPDRS; não
menos 7 dias, com dose 325mg/dia e 400 através da Unified Parkinson houve decréscimo na função cognitiva
estabilizada de L-dopa). mg/dia),conforme a Disease Rating Scale (UPDRS), com base no MMSE. Não foram
resposta clínica, por Clinical Global Impression - observados efeitos colaterais durante
4 semanas. Improvement Scale (CGI-I), o tratamento, indicando que o CBD
Minimental Status Examination pode ser eficaz, seguro e bem tolerado
(MMSE) e Frontal Assessment para tratar a psicose na doença de
Baterry (FAB). Parkinson.
CHAGAS, M. H. Brasil, 2014 Estudos de 4 pacientes isolados com CBD, 75mg/dia Avaliação de sintomas (fala, Os quatro pacientes obtiveram
N. et al. (50) casos isolados. doença de Parkinson ou 300mg/dia em gritos, empurrões, gestos, melhora imediata e persistente,
e com transtorno de dose diária por 6 chutes) e polissonografia. reduzindo a frequência de episódios
comportamento do sono semanas. relacionados ao transtorno do
REM (perda da atonia comportamento do sono REM, os
muscular durante o sono quais retornaram após a interrupção
REM). da administração de CBD.

28 Revista Brasileira de Neurologia » Volume 55 » Nº 2 » ABR/MAI/JUN 2019


Canabinoides nas doenças de Parkinson e de Alzheimer

CAROLL et. al. Reino Unido, Estudo cruzado, 19 pacientes com Extrato oral da Avaliação de escalas A substância foi bem tolerada, sem
2004 randomizado, doença de Parkinson Cannabis, com relacionadas aos sintomas da ações pró ou antiparkinsonianas e seu
controlado por idiopática em uso de dose estimada em doença: Unified Parkinson’s uso não demonstrou evidências de
placebo. antiparkinsonianos e 0.25 mg/kg/dia Disease Rating Scale (UPDRS), melhora ou tratamento efetivo para
discinesia induzida pela de THC, divididas Rush scale, Bain scale, Tablet a discinesia induzida pela levodopa,
medicação, conforme em duas vezes ao Arm Drawing Task, Dyskinesia segundo os escores avaliados.
escala UPDRS. dia, por 4 semanas Activities of Daily Living (ADL)
de intervenção, scale, the PDQ-39, on-off
seguidas de 2 diaries
semanas de
intervalo e após
mais 4 semanas de
intervenção.
VENDEROVÁ et al República Retrospectivo. 339 pacientes que faziam Uso pessoal de Questionários, enviados 25% dos pacientes faziam uso
(2004) Checa, 2004 uso de Cannabis para Cannabis. por e-mail, sobre possíveis de Cannabis - sendo que todos,
responder o questionário experiências com Cannabis, exceto um, utilizavam a planta de
+ 7 pacientes em uso de no qual avaliavam o padrão de forma oral, ingerindo folhas frescas
Cannabis para análise de uso (frequência, regularidade, ou secas, associadas com alguma
urina. tempo, qual parte da planta) refeição, estritamente por informações
e os possíveis efeitos da coletadas na mídia, não prescritas por
substância nos sintomas médicos e nunca de forma recreativa.
motores da doença de Desses, quase metade descreveram
Parkinson ou discinesias algum benefício após o uso da
induzidas pela levodopa e droga, - o que ocorreu em média, 1,7
sua relação com uso da mês após o início do uso - a qual
planta + urina analisada aliviou, forma leve a moderada os
quantitativamente para sintomas em geral, sendo relatados
substâncias relacionadas à melhora no tremor essencial, alívio
Cannabis. da bradicinesia, alívio da rigidez
muscular e melhora na discinesias
induzidas pela levodopa. Uma pequena
porcentagem de pacientes (4,7%)
referiu piora dos sintomas.

Tabela 2: Estudos sobre o uso de derivados canabinoides na doença de Alzheimer

Canabinoide
utilizado,
Autor País, ano Tipo de estudo Amostra Método de avaliação Principais efeitos e resultados
dosagem e tempo
de exposição
MARTÍN- Espanha, Estudo experimental Cultura de células de CBD, 20mg/kg, Avaliação do aprendizado CBD é capaz de modular a função
MORENO, A. M. 2011 com cultura de micróglia de ratos em em dose diária espacial no labirinto de aguda microglial in vitro e induzir efeitos
et al. (51) células. um modelo de DA, por uma semana, de Morris. benéficos in vivo em um modelo de DA.
células micróglias seguida de doses 3x Seus mecanismos incluem a inibição
BV-2 e N13. por semana por 2 de geração de oxido nítrico, promoção
semanas. da migração de células da micróglia
e prevenção do dano cognitivo nos
animais.
CHENG, D. et Austrália, Estudo experimental. Ratos transgênicos CBD, 10mg/kg, em Fenótipo comportamental, teste Os animais foram isolados durante uma
al. (52) 2014 (A-beta-PPSwe/ PS1- dose diária por 8 de preferência social (SPT), hora e permitidos, posteriormente, para
delta-E9). semanas. Ratos teste de condicionamento de explorar 5 câmaras diferentes, sendo
com 2 meses e medo. duas fechadas e 3 abertas, nas quais
meio. um outro rato diferente ficaria em uma
câmara. Os ratos puderam explorar
essas câmaras por 5 minutos. Todos os
ratos tratados, nesse teste, preferiram
ficar nas câmaras com o outro rato,
passando mais tempo lá do que nas
câmaras vazias, demonstrando, assim,
um efeito benéfico do uso de CBD
sobre o reconhecimento social.

Revista Brasileira de Neurologia » Volume 55 » Nº 2 » ABR/MAI/JUN 2019 29


Müller JC, et al.

CAO, C. et al. Estados Estudo experimental Células N2a/ Δ9-THC, em 100 Imuno-histoquímica. Com esse estudo, demonstrou-se que
(53) Unidos, 2014 com cultura de AβPPswe. ml de solução a terapia com THC tem efeito anti-βA
células. (THC, cafeína e e sua ação aumenta com o tempo de
melatonina) por 48h. tratamento. Observou-se que a dose
de THC necessária para reduzir a
concentração de β-amiloides é menor
do que a dose necessária de cafeína,
estando bem abaixo da dose tóxica.
Além da redução da quantidade total
de proteínas β-amiloides, também
notou-se que o THC atua reduzindo
a propriedade de agregação dessas
proteínas. Isso pode ser devido à forças
de interação intermoleculares.
ASO, E.; Espanha, Estudo experimental. Ratos AβPP/PS1. Δ9-THC e CBD, Análise de memória (teste de Demonstrou-se que, quando
ANDRÉS-BENITO, 2016 0.75 mg/kg de cada reconhecimento de dois objetos) administrados o Δ9-THC e CBD em
P.; FERRER, I. substancia, por 5 e análise imuno-histoquímica, estado precoce de demência, há
(56) semanas. ELISA e imunofluorescência de benefícios para a memória. No entanto,
B-amiloide. esse efeito não foi percebido em
ratos de 12 meses tipo selvagem com
perda de memória. Conclui-se que os
cérebros de ratos jovens respondem
diferentemente ao tratamento quando
comparados aos ratos de 12 meses.
O tratamento crônico com Δ9-THC
e CBD não demonstrou mudança
significativa nos depósitos de proteínas
β-amiloides, nos ratos AβPP/PS1, ao
contrário do que foi percebido em ratos
nos estágios iniciais da doença.
LIBRO, R. et al. Itália, 2016 Estudo experimental Células estaminais CBD, 5 mg por 24h. Avaliação imuno-histoquímica CBD levou à downregulation de genes
(54) com cultura de mesenquimais. de genes relacionados a DA. ligados à AD, incluindo genes que
células. codificam as cinases responsáveis ​​
pela fosforilação de tau e para as
secretases envolvidas na geração
de Aβ. Paralelamente, a análise de
imunocitoquímica mostrou que CBD
inibiu a expressão de GSK3β, um
gene de papel central na patogênese
de AD, promovendo sinalização PI3K /
Akt. Foi sugerido que os GMSCs sejam
pré-condicionados com CBD possuem
um perfil molecular que pode ser mais
benéfico para o tratamento de AD.
CHENG, D. et Austrália, Estudo experimental. Ratos AβPPswe / CBD, 20 mg/kg em Análise de comportamentos O estudo fornece a primeira evidência
al. (61) 2014 PS1ΔE9. dose diária por 8 sociais(teste de preferência do potencial terapêutico de CBD em
semanas. social, tarefa de um modelo de ratos transgênico
reconhecimento de objetos para AD. O tratamento crônico da
novos e condicionamento de CDB reverteu os déficits sociais e
medo) e ansiedade (labirinto reconhecimento de objetos, sem afetar
elevado). o medo associado, comportamento de
memória ou ansiedade. Assim, a CDB
pode ter potencial terapêutico como
tratamento para pacientes com AD.

30 Revista Brasileira de Neurologia » Volume 55 » Nº 2 » ABR/MAI/JUN 2019


Canabinoides nas doenças de Parkinson e de Alzheimer

SCUDERI, C.; Itália, 2013 Estudo observacional Células SH-SY5Y. CBD, 10-9-10- Avaliar a modulação de CBD é capaz de reduzir a expressão
STEARDO, L.; descritivo. 6M, em dose APP (proteína precursora do de APP e, consequentemente,
ESPOSITO, G.. única. Resultados b-amiloide) e envolvimento com de beta-amiloide. Tal atividade é
(63) observados após PPAR-g (receptores nucleares resultado da ativação seletiva de
24h. que funcionam como fatores PPAR-g (ativação de PPAR-g resulta
de transcrição) através de na diminuição da expressão de APP).
imunofluorescência. Como consequência da diminuição de
APP e redução de beta-amiloide, CBD
promove aumento da sobrevivência
de neurônios diminuindo sua taxa
apoptótica. Aumento da regulação
ou agonismo de PPAR-g promove
ubiquitinação da APP.
ASO, E. et al. Espanha, Estudo experimental. Ratos transgênicos Δ9-THC BDS e CBD Avaliação da função A falta do receptor CB2 aumenta
(57) 2015 (A-beta-PP/PS1) BDS, 0.75mg/kg de cognitiva (através de teste de a deposição cortical de beta-
cruzados com ratos cada substancia, reconhecimento de dois objetos, amiloide e aumenta os níveis de
knockout de receptor por 5 semanas. teste de Teste de prevenção beta-amiloide solúvel. Entretanto,
CB2. ativa) e avaliação do beta- a ausência do receptor não afeta a
amiloide (imuno-histoquímica, viabilidade dos ratos, nem acelera o
ELISA, imunofluorescência em déficit na memória, não modifica a
rotulagem dupla). hiperfosforilação da proteína tau e
não atenua o efeito cognitivo positivo
induzido pela medicina baseada na
Cannabis. Os resultados sugerem que
o receptor CB2 tem pouca influência
no efeito terapêutico por derivados da
Cannabis nos ratos em estudo, mas
indica uma relação entre os receptores
CB2 e o processamento de beta-
amiloide.
ASO, E. et al. Espanha, Ratos transgênicos Δ9-THC, 0.75mg/ Avaliação da função Foi observado uma redução na
(55) 2014 (A-beta-PP/PS1). kg ou CBD 0.75mg/ cognitiva (através de teste de astrogliose, microgliose e moléculas
kg ou Δ9-THC+CBD, reconhecimento de dois objetos, anti-inflamatórias nos ratos tratados;
0.75 mg/kg, por 5 teste de Teste de prevenção esses resultados foram mais
semanas. ativa) e avaliação do beta- importantes no uso de THC+CBD
amiloide (imuno-histoquímica, do que o uso de substancias
ELISA, imunofluorescência isoladas. Também foi observado
em rotulagem dupla), RNA as proteínas redox thioredoxin 2 e
microarray, PCR quantitativa e a proteínas de sinalização Wnt16
eletroforese em gel. como substratos significativos para
os efeitos induzidos por THC + CBD.
Os resultados permitem concluir que
a combinação de THC+CBD exibem
efeitos terapêuticos melhores do que
cada canabinoide isolado. Com isso,
os autores apoiam o desenvolvimento
de medicamentos à base de Cannabis
para terapia da doença de Alzheimer.
VAN DEN ELSEN, Holanda, Ensaio de 20 pacientes Δ9-THC, 0,75 Avaliação sintomática através Não foi registrado efeito do THC
G. A. H. et al. (58) 2015 crossover repetido diagnosticados com mg 2x ao dia da Neuropsychiatric Inventory comparado com placebo na
randomizado, duplo- DA que sofriam por 6 semanas, Scale (NPI). escala de NPI, ou seja, não alterou
cego, controlado por de sintomas seguida de 1,5 (reduziu ou aumentou) os sintomas
placebo e repetido. neuropsiquiátricos mg 2x ao dia por neupsiquiátricos. Além disso,
clinicamente outras 6 semanas; ocorreram efeitos adversos similares
relevantes. administrados entre THC e placebo. Apesar disso, o
durante 3 dias tratamento demonstrou boa tolerância
consecutivos para o uso de THC em pacientes com
intercalados por 4 demência.
dias de intervalo.

Revista Brasileira de Neurologia » Volume 55 » Nº 2 » ABR/MAI/JUN 2019 31


Müller JC, et al.

AHMED, A. I. A. Holanda, Estudo de fase 12 pacientes acima de Δ9-THC (Namisol), Análise da segurança e O THC foi seguro e bem tolerado,
et al. (62) 2014 1, randomizado, 65 anos, saudáveis, 3 mg, 5mg ou 6,5 farmacocinética de drogas sendo que os efeitos adversos mais
duplo-cego, excluindo aqueles mg, em dose oral embasadas no THC, através frequentes foram sonolência (27%) e
duplo-manequim, com risco elevado de diária por 4 dias de análise laboratorial boca seca (11%) - mais acentuadas
controlado por quedas, uso regular de intervenção hematológica e quimica,Visual nos pacientes que receberam a
placebo e cruzado. de Cannabis, história intercaladas por 2 analog scales, e Test for dose maior (6,5mg) comparado as
de sensibilidade a semanas. Attentional Performance. demais doses e placebo. Além disso,
Cannabis, história houve uma variação na concentração
de abuso de álcool plasmática do THC. Os efeitos
e drogas e severas farmacocinéticos do THC foram
comorbidades. menores se comparado aos efeitos
previamente descritos.
VAN DEN ELSEN, Holanda, Estudo de fase II, 18 pacientes com Δ9-THC, 1,5mg 2x Avaliação do efeito do THC na THC aumentou significativamente
G. A. et al. (60) 2016 randomizado, duplo- diagnostico provável ao dia por 3 dias mobilidade de pacientes com a oscilação(balanço) durante o
cego e cruzado de demência do tipo seguidos de um demência, através de testes repouso com olhos fechados, mas
Alzheimer, vascular ou intervalo de 4 dias SwayStar e GAITRite de olhos não com olhos abertos. Ademais,
mista, clinicamente sem medicação. fechados e abertos, andar em aumentou o comprimento do passo
relevante, e sintomas velocidade preferida com e sem e a oscilação (balanço) do tronco
neuropsiquiátricos tarefa cognitiva associada. Os durante a marcha em velocidade
estáveis efeitos foram avaliados em duas preferida. Não ocorreram quedas após
horas após a administração a administração do THC e não foram
do THC, em 2 dias durante a observadas diferenças no número
semana de intervenção e tipo de efeitos adversos. Concluiu
que 3mg diárias de THC tem efeito
adversos benignos quanto à mobilidade
e foi bem tolerado nos pacientes com
demência.
VAN DEN ELSEN, Holanda, Estudo 50 pacientes Δ9-THC, 1.5mg Avaliação de sintomas Uso de 4,5mg diárias de THC
G. A. H. et al. (59) 2015 randomizado,duplo- diagnosticados com 3x ao dia por 3 neuropsiquiátricos através da demonstrou não ter benefício nos
cego e controlado doença de Alzheimer, semanas. escala de Neuropsychiatric sintomas neuropsiquiátricos. Não houve
por placebo. demência vascular ou Inventory no início do melhora significativa na pontuação de
demência mista de tratamento e após 14 e 21 dias. agitação, qualidade de vida e atividade
acordo com critérios Avaliação de agitação (Cohen- de vida diária. Entretanto, não foram
diagnósticos que Mansfield Agitation Inventory) observados efeitos nos sinais vitais,
apresentam sintomas e qualidade de vida (Quality peso e episódios de memória, o que
neuropsiquiátricos of life-Alzheimer’s Disease) demonstra que o THC foi bem tolerado,
clinicamente e atividades de vida diária permitindo o estudo com doses mais
relevantes (Barthel Index). elevadas.
(agitação, agressão,
comportamento motor
errôneo) por pelo
menos mês.

32 Revista Brasileira de Neurologia » Volume 55 » Nº 2 » ABR/MAI/JUN 2019

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