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GELL, Alfred. Art and Agency.

1998

Tema do livro/enquadramento acadêmico: antropologia da arte

Prefácio
Aponta outras questões que não estão no capítulo 1

- Índices:
Antropologia da arte é construída como teoria da agência ou da mediação da agência por
índices, entendidos como entidades materiais que motivam inferências, respostas ou
interpretações. P.ix

Indicie1: uma entidade da qual se pode fazer uma inferência causal, ou inferência sobre as
intenções ou capacidades de outra pessoa p. 13
Índice, sendo o visível, pode ser o resultado ou o instrumento da ação social
Índice é uma inferência causal de algum tipo ou inferência sobre intenções ou capacidades de
uma outra pessoa. fumaça é um índice de fogo. Se o mesmo foi provocado por ação humana,
então temos agência. Parte de Pierce.

- Intencionalidades
Capitulo 6 (sobre arte decorativas) e 7 (sobre arte representativa): uma das principais teses
que objetos de arte mediam tecnologias para atingir certas finalidades, enredados em relações
e intencionalidades por agentes. Não é visão reducionaista da arte, que toma objetos como
veiculosde estratégias [Bourdieu], pq a complexidade formal e o fato do virtuosismo técnico
são centrais ao argumento. P.x

Objetivo do texto: delinear teoria antropológica da arte, que no caso é a definição do objeto.
Para tanto é necessário que ela se relacione a outras teorias antropológicas e se
distinga/diferencie de outras – as teorias da arte consolidadas como a estética, a semiótica e a
sociologia da arte.

Tentativa de construção de fronteiras para a antropologia da arte e para a Antropologia


propriamente, perante outras abordagens

1
[ALVES] Sua definição de índice vem logo sem seguida: uma entidade da qual se pode fazer uma
inferência causal, ou inferência sobre as intenções ou capacidades de outra pessoa (Gell, 1998, p. 13). E
por abdução ele entende uma regra empírica criada para tornar previsível o que de outra forma
permaneceria misterioso (Gell, 1998, p. 14). A dúvida é saber se essa formulação é suficiente para a
delimitação de contextos específicos de pesquisa.8 Nas páginas seguintes ele aprofunda a explicação
sobre esses termos. Para ele, índice, sendo o visível, pode ser o resultado ou o instrumento da ação
social. Agência existe em qualquer situação onde uma intenção é atribuída a uma pessoa ou coisa a qual
inicia uma seqüência causal.

1
Tentativa de estabelecimento dos objetos e objetivos das duas - antropologia da arte e para a
Antropologia

Principais interlocutores: Estética/crítica/filosofia; Semiótica [implícito Geertz]; Sociologia –


Bourdieu.

Estética/crítica/filosofia: p.2-3
Avaliação de trabalhos de arte particulares por meio de parâmetros universais, que por
generalizarem demais esvaziam o sentido, que está no contexto particular
As propriedades estéticas não podem ser abstraídas dos processos sociais circundantes p.5
“estética indígena” [fim p.4]: reifica a resposta estética independente do contexto social de sua
manifestação
[Precisaria contextualizar os princípios estéticos, quais seriam eles para os agentes que os
produziram]
Abordagem apreciativa

Teoria antropológica da estética: pode haver uma teoria antropológica da estética, ela deveria
tentar explicar porque agentes sociais em situações particulares produzem respostas a
trabalhos de arte particulares.

Semiótica p.6
Arte como língua/Linguagem/código visual de comunicação de sentidos ou significados
Representante: Geertz, não nomeado.
[SYLVIA] Não é o significado [Geertz] em si q importa, mas seu efeito social, influenciar o
campo de ação social

Usando língua/linguagem podemos falar dos objetos de arte e atribuir significados a eles no
sentido de achar algo a dizer sobre eles.
Objetos de arte visual não são parte da língua/linguagem [língua/linguagem é uma instituição
única, só ela tem significado) e nem constituem línguas alternativas. Eles não falam nem em
códigos gráficos.
Objeto de arte não são signos com significados [exceto em casos especiais]
Se eles tiverem significados então são parte da língua (ex signos gráficos), não há linguagem
visual separada.
Recuso a usar noção de significado simbólico.

Crítica: é abordagem pouco antropólogica [pouco legitma] p.6


Em vez de ver significado simbólico, enfatizo a agência, intencionalidade, causa, resultado e
transformação. Eu vejo arte como sistema de ação pretendido a mudar o mundo do que
codificar proposições simbólicas sobre ele

2
A abordagem centrada na ação é mais inerentemente antropológica do que a semiótica, pq
está preocupada com o papel de mediação prático dos objetos de arte no processo social; do
que na interpretação dos objetos como se fossem texto [tapa no Geertz..]

Critica a critica de Gell


GELL X GEERTZ
[Posso criticar a critica que o Gell faz ao Geertz]
Geertz não decifra um código de arte. Pra Geertz : (2000, p. 181): “Para que se possa estudar a
arte de forma eficaz, a semiótica terá que ir além do estudo de sinais como meios de
comunicação, como um código a ser decifrado, e considerá-los como formas de pensamento,
um idioma a ser interpretado”; não uma nova “criptografia”, uma substituição de sinais, mas
“uma ciência capaz de determinar o sentido que as coisas têm para a vida ao seu redor”.

É muito mais fácil tecer uma crítica geral à idéia de arte enquanto linguagem do que a uma
formulação específica. A sua recusa principal, expressa em vários momentos, é à decifração de
um código visual de comunicação de significados. Nem a arte pode ser definida a partir do que
está ou não integrado a esse código, nem uma antropologia pode se colocar a tarefa de
decifrá-lo ou traduzi-lo. Um dos autores mais importante que utiliza essa analogia é Geertz,
porém ele não segue propriamente por nenhum dos caminhos que Gell supõe decorrerem
dessa opção.
Para Geertz (2000, p. 181): “Para que se possa estudar a arte de forma eficaz, a semiótica terá
que ir além do estudo de sinais como meios de comunicação, como um código a ser decifrado,
e considerá-los como formas de pensamento, um idioma a ser interpretado”; não uma nova
“criptografia”, uma substituição de sinais, mas “uma ciência capaz de determinar o sentido que
as coisas têm para a vida ao seu redor”.

Sociologia da Arte: paradigma/visão institucional; representante – Bourdieu e Berger; p.5 e 7


Objeto: instituições de arte sociedades de massas/ocidentais p.8
Definição de arte: arte é o qualquer coisa que seja tratada como arte pelos membros do
mundo da arte institucionalmente reconhecidos – críticos, comerciantes, colecionadores,
teóricos. P.5
Critica: afirma que não é o suficiente, pois em muitas sociedades estudadas pelos
antropólogos não há esse ‘mundo da arte’ [institucionalizado].
Pela visão institucional a arte indígena é arte pq a gente acha q é e não pq as pessoas q fizeram
pensam q é. P.5 [justamente! Concordo! Se eles não tem conceito de arte]

Há de fato uma florescente/próspera sociologia da arte que se preocupa precisamente com os


parâmetros institucionais de produção da arte, recepção e circulação. Contudo, não é
coincidência que a sociologia da arte (instituições) se preocupou primordialmente com arte
ocidental.
Não pode haver sociologia institucional da arte ao menos que exista relevantes instituições:
publico de arte, patronos, critica de arte, museus de arte, academias, escolas, etc.
3
Delineamento de uma teoria antropológica da arte

Objeto: é o que define a teoria [o texto é tentativa de definição do objeto]

- NÃO é a chamada “arte primitiva”


Não há razão para desenvolver uma teoria para a arte “ocidental” e outra para a
“primitiva”/”não ocidentais”/ “coloniais e pós-coloniais”, não são essencialmente diferentes,
podem ser abordada por qualquer teoria de arte.
Ele se justifica dizendo que usa termos objetos de arte ‘ocidentais’ x ‘indigenas’ ou
‘etnográficos’ de forma prototípica e pre-teorica por conveniência de causa

- Arte
Toma a arte como uma forma de tecnologia p.VIII
Definição de arte p.6 fim: sistema de ação, que quer mudar o mundo e não codificá-lo

- Rede de relações ao redor do objeto de arte


Antropologia da arte se preocupa a rede de relações ao redor de trabalhos de arte
particulares em configurações interativas especificas
Antropologia: mais preocupada com o contexto imediato das interações sociais e sua
dimensão pessoal

- Objeto de arte/ trabalhos de arte


Objetos de arte como dispositivos para garantir a consentimento dos indivíduos na rede de
intencionalidades em que estão enredados [prefacio]
O objeto não age independente de um campo de expectativas e entendimentos

A natureza do objeto de arte é em função do social - matriz relacional na qual ela está inserida.
Não há natureza intrínseca independente do contexto relcional. p.7
Qq coisa pode ser objeto de arte do ponto de vista antropológico incluindo pessoas vivas

Na p.7 Gell diz que vai definir a Antropologia da Arte, mas na verdade define seu objeto: (de
supetão dentro de um parênteses!): “Pode ser grosseiramente definida como “relações sociais
na vizinhança de objetos mediadores/mediantes de agência social”; “social relations in the
vicinity of objects mediating social agency” p.7
[interpretação portuguesa:] Os objetos de arte são pensados enquanto agentes, constituídos
pelas relações sociais na vizinhança desses objetos de arte.

- Agencia e personificação
Eu vejo arte como sistema de ação pretendido a mudar o mundo do que codificar proposições
simbólicas sobre ele
Objetos de arte, na teoria de arte antropológica, tem que ser considerados como pessoas p.9
4
A teoria antropologia da arte é a teoria da arte que considera objetos de arte como pessoas
p.9
Objetos de arte são equivalentes a pessoas, mas precisamente a agentes sociais.

- Legitimação acadêmica do objeto/abordagem ou justificativa:


Desde o inicio da disciplina, antropologia se preocupou ostensivamente com as relações entre
pessoas e coisas, q pareciam ou faziam a vez de pessoas
Animismo: atribuição de vida e sensibilidade a coisas inanimadas, plantas e animais ; o q
definia a cultura primitiva

Malinowski e Mauss tbm tiveram essas preocupações de modo diferentes, com relação a troca
e com o tema da magia

Mauss e Lévi-Strauss p.9


Considera sua teoria é tributária de Mauss

Dar prestações ou presentes é tratado pela teoria da troca maussiana como (extensão de
pessoas, então há um obvio escopo/âmbito para ver objetos de arte como pessoas do mesmo
jeito. [a troca é extensão das pessoas, tudo é a arte é extnão das pessoas. Ele faz
personificação]
A teoria da troca da Mauss é exemplar, protótipo da teoria antropológica.
Na teoria da antropologia da arte invés de prestações[dádiva] são objetos de arte. O LS trocou
as prestações po r mulheres.
Gell fala q essas comparações são analogias, caricatura da teoria q está produzindo
Um teoria só é antropológica se se parec, em respeito a outras teorias antropológicas [o
campo é assim, vc tem q ser reconhecido no jogo]
Meu desejo é produzir teo antropológica da arte que tenha afinidades com outras teorias
antropológicas, não só Mauss [meu, não é assim, vc tem objeto e as teorias vão ser opoio pra
vc ler, daí vc cria outra com base naquela ou desenvolve mais aquela e não criar assim forçado
do nada, sem objeto, sem estudo. Ele tá querendo criar uma teoria sem estudo de um objeto,
mas não sei se não resto do livro rola. Tá querendo criar no fórceps a teoria]

Problemática:
- Estudo do contexto social de produção, circulação e recepção do objeto de arte
Parte da Sociologia da Arte e quer aplicar em sociedades não ocidentais. ]mas tbm quer
considerar critérios estéticos no contexto, agência, etc.]
“Há de fato uma florescente/próspera sociologia da arte que se preocupa precisamente com
os parâmetros institucionais de produção da arte, recepção e circulação. Contudo, não é
coincidência que a sociologia da arte (instituições) se preocupou primordialmente com arte
ocidental” Mtas sociedades não tem instituições especializadas em arte.

5
Diz que tem continuidade entre Sociologia e Antropologia da artes. Antropólogos não podem
ignorar as instituições. A antropologia da arte tem que considerar o quadro/enquadramento
institucional da produção e circulação dos trabalhos de arte, na medida em que eles existam.

- objeto da antropologia x objeto da sociologia: a diferença de objeto justifica a relativa


autonomia da antropologia da sociologia da arte [fim p.8 e inicio da 9]
Objeto da antropologia: contexto locais, sem instituições especificas de arte
Esses contextos locais, os quais a arte é produzida não em função da existência de instituições
de arte especificas, mas como produto de mediação da vida social e da existência de
instituições de finalidades mais gerais, justificam a afirmação [da Antrpologia] de ao menos.
Dá para separar a antropologia da arte do estudo das instituições de arte ou do mundo da arte

- Princípios estéticos: não são descartados, mas são considerados apenas no curso da interação
social
Exemplo: foto do escudo
Suas propriedades estéticas são totalmente irrelevantes para suas implicações antropológicas.
Antropologicamente não é um escudo bonito, mas um escudo indutor de medo. Não pode
generalizar tanto a estica a ponto de tornar-se sem sentido

Abordagem teórico-metodológico:
- Relação com a teoria antropológica: criar teoria da arte que seja antropológica por se parecer
com teorias antropológicas p.4
Considera sua teoria é tributária de Mauss

Antropologia

Objeto: relações sociais; interações sociais; [e não a cultura], numa temporalidade biográfica,
que contemple o ciclo de vida dos agentes. (não um foco tão amplo da sociologia, que perde o
agente e nem tão pequeno como os encontros da psicologia)
Teorias antropológicas são reconhecíveis como teorias sobre relações sociais p.5

Teoria antropológica se distinguem por tratar das relações sociais, que ocupam um certo
espaço biográfico, sobre as quais a cultura foi escolhida, transformada e passada pra frente
por séries de fases da vida.
O estudo das relações sobre a vida em curso, relações onde a cultura é adquirida e
reproduzida.
Tarefa do antropólogo: explicar pq as pessoas se comportam como fazem, mesmo q pareça
irracional

6
O objetivo da teoria antropológica é fazer sentido o comportamento no contexto das relações
sociais (numa dimensão de escala biográfica)
Correspondentemente, o objetivo da antropo da arte é dar conta da produção, circulação dos
objetos de arte como uma função deste contexto relações sociais (numa dimensão de escala
biográfica)

Construção de fronteiras entre disciplinas para definição da Antropologia


Disse que admitiu a ambiguidade de distinção da antropologia com outras disciplinas:
sociologia, historia, social geografia, etc. [admitiu mas fica tentando separar]

Em relação as outras disciplinas , a antropologia faz de melhor é uma análise próxima [micro]
de comportamento, performance, expressões aparentemente irracionais.

Antropologia x Sociologia x Psicologia Social


Diferença é em termos de profundidade/ajuste de foco, com relação a periodicidade, recorte
temporal

- Antropologia: visão ‘biográfica’, que é replicar a perspectiva dos agentes deles mesmos.
Antropologia foca no ato no contexto da vida; fase da vida do agente
A periodicidade fundamental da antropologia é o ciclo de vida [a periodicidade//o recorte
temporal é a fronteira q ta criando agora.]
Contexto biográfico as relação são vistas como parte de series biográficas entradas em
diferentes fases do ciclo de vida.
Relações antropológicos biográficas articulam o projeto de vida ao agente biográfico

- Sociologia e história: visão supra-biográfica, ciclo de vida se perde


Exs.: relações entre classes, castas

- Psicologia sócia: visão infra-biográfica


Micro escala do laboratório cognitivo.
Relações são encontros

Cultura
Ele desqualifica, substitui pela interação social, mas acaba utilizando.

Substitui cultura por interação social e depois diz que a interação é condicionada pela cultura
“Antropólogos resolvem a aparência de irracionalidade localizando e contextualizando não na
cultura (que é uma abstração) nas dinâmicas da interação social, q pode ser condicionada pela
cultura, mas q é melhor vista como um processo real ou dialético”

7
Exemplo de onde usou: “A antropologia da arte tem objetivo semelhante, exceto que os
‘modos de ver’ não são de um período histórico, mas de sistemas culturais”.p.2

Critica a cultura: Boas reifica cultura; enquanto observação e registro de comportamento


cultural ; [separação ‘nos’ x ‘eles’?] como se relacionam com “outros” específicos na interação
social p.4

Baxandall [como o Geertz tbm usa mto, dá pra comparar]


A antropologia da arte tem objetevo semelhante, exceto que os ‘modos de ver’ não são de um
período histórico, mas de sistemas culturais.
Baxandall: a recepção da arte em períodos específicos da historia da arte ocidental depende de
como a arte era vista no momento, os “modos de ver” mudam com o tempo Para apreciar a
arte de um periodo deve-se recapturar os ‘modos de ver’ q os artistas assumiram q seu publico
traria ao trabalho.

Críticas:

Criação de fronteiras
Está forçando para criar fronteiras, para fazer uma separação/fronteiras rígida. Vale a pena
criar esse foço? É possível criar esse foço?
“the scope of a genuinely anthropological theory of art” p.8

Seu texto lembra Tylor “A ciência da cultura” no Cultura Primitiva, citado por Gell, pra falar da
preocupação da Antropologia clássica com a relação entre objetos e pessoas, através do
animismo.
Tylor tenta definir a antropologia se separando do senso comum, da filosofia e dos
historiadores, se aproximando da biologia e ciências da natureza, que seriam o modelo.
Tirando o conteúdo a formula é parecida. Apesar dos contextos históricos absolutamente
diversos, Gell tbm quer forjar uma teoria se aproximando de umas e se afastando de outras.

Concordo com visão institucional/ universalismo/ essencialização da arte


Pela visão institucional a arte indígena é arte pq a gente acha q é e não pq as pessoas q fizeram
pensam q é. P.5 [justamente! Concordo! Se eles não tem conceito de arte]

Mtas sociedades não tem instituições especializadas em arte [então no meu ponto de vista a
arte não existe enquanto categoria ou instituição, não há esse problema, fim. A arte como
problema teórico universal é um falso problema. Rendimento da arte como problema teórico
qual é? Conheço rendimento do conceito de campo, de discurso, de arte?] minha critica]

8
A verdade é que não é possível a existência do objeto artístico sem que pelo menos um
pequeno grupo o reconheça como tal. [ALVES] 2

[ALVES] O que ele está evocando é a natureza humana, a realização de uma tendência natural
e universal, espontânea. A existência do artefato “boneca”, a sua semelhança com o ser
humano e a relação da criança com ela precisam ser explicadas em primeiro lugar, antes de
qualquer passo de análise. O que esse exemplo revela, mais profundamente, é a dificuldade
que temos em transpor para a arte, enquanto objeto antropológico, alguns procedimentos que
aplicamos a qualquer objeto.

[ALVES] O ponto de partida de toda sua teoria é o objeto artístico, qualquer que seja a sua
definição. A pergunta inicial de investigação, sugerida por Mauss, ainda é a melhor alternativa:
o que faz com que algo seja considerado aquilo que é. Do contrário, estaremos cometendo,
como demonstrou Schaeffer (2004), uma perigosa ontologização do objeto.

[SYLVIA] Não tem arte/instituições, mas tem o eficácia estética ligada aos seres que ela
representa. Só que ok, se os nativos/sujeios fazem essa ligação ok, ela existe, ela é empírica. Se
eles concebem a estetica/o belo, ok.. Mas como teóricos, quere ver agencia onde ela não é um
problema colocado aí é foda]Como as coisas agem, eficácia ligada as seres.. Coisas tem a~çção
dada pelas relações sociais, seres que representam [isso é bem Mauss] Nestas sociedades, ao
contrario da nossa, a estética não é concebida como um campo autônomo e a palavra arte não
figura no léxico de suas línguas. As imagens tem, nestas sociedades, uma enorme eficácia
estética, com diz Gell e está eficácia das imagens está relacionada ao poder dos seres que elas
representam e que delas emana. P.466

Agencia
[mas gente, não são as coisas q tem agencia são as representações! Não tem coisa pro si só!]
Malinowski e Mauss tbm tiveram essas preocupações de modo diferentes, com relação a troca
e com o tema da magia

Teoria: não considero o que fez uma teoria, só definiu o objeto, não fez pesquisa encima de
uma mepiria que resultasse num modelo; não tem teoria; mas não li o resto do livro.
O que ela denuncia é que quadros teóricos viraram declaração de princípios, mais do que
construção de referências analíticas. Gell é muito bom nisso, em declarar princípios com os
quais, em boa parte, eu concordaria, mas tenho dúvidas se isso é suficiente para estabelecer
as bases de uma antropologia da arte

Pouco diálogo com Geertz e LS


Não dialoga profundamente com LS e Geetz que são bibliografia antropológica
sobre arte importante

2
ALVES, Caleb Faria. A agência de Gell na antropologia da arte. Horizontes Antropológicos, Porto
Alegre, ano 14, n. 29, p. 315-338, jan./jun. 2008

9
Critica: ausente de relações sociais
A questão que isso nos coloca é até que ponto ele não reproduz o que condena, ou seja, um
discurso, em última instância, ausente de relações sociais, pelo menos nos moldes propostos
por
Marcel Mauss.

Veja-se, nesse sentido, várias das análises que ele faz em seu livro a título de exemplificação
das suas propostas, nas quais ele omite praticamente todo o contexto de existência dos
objetos, que fica reduzido a um conjunto de relações de agência bastante limitado, porque
tipificado, como se fosse a única existente num determinado momento e meio.

Na página 29, Gell, com base na noção de abdução, monta uma tabela que cruza tipos de
agência e de pacientes. As colunas e as linhas contêm os mesmos elementos: artista, índice,
protótipo,15 recipiente. O artista, assim, pode estar na condição de agente ou paciente. Se em
ambos há duas alternativas, como agente ele é a fonte da arte criativa, como paciente ele é
testemunha do ato de criação.
Os processos interativos entre pessoas e entre elas e objetos, de quaisquer tipos, me parecem
bem mais complexos do que essa tabela pode conter [p.333]

Critica sobre a relação com a Estética


Nesse ponto em especial, Geertz é bem mais audacioso que Gell, e suas proposições tornam a
questão da aproximação com a estética, no termos do segundo, primárias. Há duas formas de
lidar com a relação entre estética e antropologia, a primeira é na forma de estudo, como
objeto da antropologia, da mesma forma que a antropologia pode tomar a si mesma e
qualquer área por
objeto de estudo; a segunda é dialogando com a bibliografia ligada à estética.
Nenhuma das duas opções responde à pergunta sobre ser ou não a estética uma categoria
transcultural.
Já no segundo, seria preciso encontrar pontes possíveis entre os dois campos de estudo, se é
que existem (e eu aposto que sim). Um cuidado deve ser mencionado.
A estética não compreende uma opinião fechada ou definida sobre nada, não há consenso
sobre seu objeto, menos ainda sobre como tratá-lo.
Classificar uma produção como estética requer a identificação do autor ou linha de
pensamento a partir da qual falamos e de onde tiramos as referências para tal.
A questão de ser ou não a estética uma categoria transcultural é falsa. É preciso, em primeiro
lugar, definir uma referência para estética, em segundo, averiguar se ela é útil à antropologia e
aos diálogos que estabelece interna e externamente, com outros campos do conhecimento,
grupos ou povos.13 Um ponto importante da utilidade é, sem dúvida, a compreensão que
gera, com a qual é preciso grande cuidado para não cairmos na velha armadilha do
etnocentrismo. Colocada em termos genéricos, para reforçar e concluir, a questão não faz
sentido e a possibilidade não deve ser descartada.

10
Salvação

- Parece interessante juntar abordagens institucional, com estética contextualizada [agora


esquece lance de agencia dessa forma]

Salvamento e resumo das criticas


[ALVES] Há uma série de pontos no livro de Gell com os quais eu certamente concordo: que a
antropologia da arte tem que fazer mais do que decifrar códigos [QUE NÃO É O Geertz
propriamente], que não lhe compete avaliar trabalhos artísticos, que devemos incorporar a
agência dos objetos em termos mais audazes do que o usual, e penso que é por essas
características que o livro ficou famoso. A maneira como ele aproximou a arte de todas essas
perspectivas da moderna antropologia é realmente inovadora e deve ser aprofundada. É, no
entanto, bastante temerosa a sua imprecisão conceitual, como no caso dos termos que
incorporou de Peirce; a ausência de teoria antropológica, deixando grandes falhas na sua
análise; a sua indistinção entre níveis de análise e os princípios que os orientam, entre
metodologia e teoria; por último, é um pouco assustadora a maneira como ele coloca o foco
no objeto, tomando a arte como um dado (vide sua análise de Duchamp criticada acima),
quase nos reconduzindo à comparação positivista entre elementos descontextualizados.

Elsje Maria Lagrou. Antropologia e Arte: uma relação de amor e ódio. ILHA - Florianópolis, v.5,
n.2, dezembro de 2003, p. 93-113

Um dos autores visados pela crítica de Gell, sem no entanto ser citado, é, evidentemente,
Geertz (1983), o último a propor antes de Gell um método geral de abordagem antropológica
da arte. Poderíamos dizer, em defesa de Geertz, que para este autor os símbolos, e as artes
enquanto sistemas simbólicos, agem tanto como modelos de ação quanto para a ação; ou seja,
Geertz seria o primeiro a afirmar que símbolos não somente representam mas transformam o
mundo. Também para Lévi-Strauss, que trabalha com o modelo lingüístico e enfatiza a
qualidade comunicativa da arte, atos falam e palavras agem, sendo impossível separar ação,
percepção e sentido (1958; 1993; Charbonnier, 1961) p.100

11
Ilana Seltzer Goldstein. ARTE EM CONTEXTO: O ESTUDO DA ARTE NAS CIÊNCIAS SOCIAIS. IV
ENECULT - Encontro de Estudos Multidisciplinares em Cultura. 28 a 30 de maio de 2008.
Faculdade de Comunicação/UFBa, Salvador-Bahia-Brasil.

Alfred Gell: a arte enquanto modalidade de relação

Alfred Gell é, hoje, o antropólogo mais citado por quem estuda arte. O autor teve uma
morte prematura e seu livro Art and Agency (1998) foi publicado postumamente, sendo, de
certa forma, uma obra inacabada. Analisa o modo como as pessoas se relacionam com os
objetos e não, as propriedades sensíveis ou formais dos objetos em si. As obras de arte,
segundo Gell, suscitam sensações, idéias, reações nas pessoas, podem mesmo levá-las a agir.
Portanto, a arte não está nos objetos, ela é uma atividade, reside naquilo que acontece com e
por causa dos objetos.
Nessa perspectiva, a arte se explica dentro de um campo de ações e reações em série,
ligadas por nexos causais e intenções. A ação do artista é fundamental, mas não é a única.
Seriam quatro os tipos de agentes envolvidos no processo artístico, segundo o autor: o
“artista”; o “index” (a obra de arte material); o “protótipo” (o modelo que originou a
representação, pode ser uma pessoa ou um conceito que inspirou a obra); e o “receptor”
(mecenas, crítico de arte, público etc.).
Todos esses elementos podem agir, mas também são sujeitos às agências dos demais
envolvidos no encadeamento artístico. Em cada momento, o agenciamento está
predominantemente nas mãos de um ou outro agente. Gell rompe, desse modo, com a
distinção entre a produção e a recepção, considerando a obra de arte como um processo
contínuo, que nunca chega ao pleno acabamento, diverso daquele em que ocorreria apenas
uma recepção pura, passiva.
Um exemplo dado pelo autor é a pintura de uma dama nua (“Madona no Espelho”),
assinada por Velásquez, pertencente à National Gallery, que a feminista Mary Richardson
esfaqueou, em 1914, para protestar contra a prisão de uma líder do movimento feminista
inglês, que estava fazendo greve de fome naquele momento. Gell desenvolve um esquema
para analisar como se chegou ao resultado da tela rasgada e mostra como alguns agentes se
tornam “pacientes” e vice-versa, dentro da complexa cadeia de agenciamentos. Seu esquema
gráfico pode ser utilizado para explicitar as intencionalidades e agenciamentos compreendidos
em cada processo artístico (mas também em outros tipos de processos que envolvam relações
entre seres humanos e objetos).
Para Gell, a qualidade artística é indissociavelmente ligada à eficácia do objeto ou
processo artístico. O que nos fascina nos objetos artísticos, segundo o autor, são as
intencionalidades, os indícios do espírito das pessoas que os fabricaram ou utilizaram. Cada
objeto artístico consiste, assim, numa rede de intencionalidades – que pode inclusive incluir o
desejo de sua destruição, como no caso de máscaras rituais.
Embora o modelo de Alfred Gell seja rico e sofisticado, em nenhum momento
diferencia os objetos artísticos de outros objetos igualmente capazes de suscitar reações nas
pessoas e igualmente passíveis de múltiplos agenciamentos. O leitor de seus textos chega a se
perguntar se existiria, para ele, alguma diferença entre uma escultura de Rodin e um crucifixo
carregado em uma procissão religiosa. Por fim, Gell não preocupa, em momento algum, com
os aspectos sensíveis da contemplação/participação artística, nem com peculiaridades formais

12
das obras de arte. Sua noção de estética é puramente lógica, trata-se de uma modalidade de
relação entre homens e coisas.

13

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