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Universidade Licungo – Quelimane

Geografia Política

Dino Mussulmade

Nacionalismo europeu e africano

Josep (2000) O nacionalismo, enquanto ideologia paira entre nós desde há dois séculos. Estados
na Europa, na Ásia e em África estão a testemunhar convulsões nacionalistas sob a forma de
reivindicações de autonomia ou de independência total, apresentadas por (etno) nações
submetidas que existem dentro das suas fronteiras.

A nação, como comunidade cultural definida, é o valor simbólico mais importante da era
moderna, dotada como está de um carácter quase sagrado, comparável somente à religião. A
nação tornou-se o substituto laico ou então o mais poderoso aliado da religião. Simbolicamente,
a nação configura combates ideológicos complexos, nos quais participam vários grupos e dos
quais o estado moderno é frequentemente o beneficiário. As ideologias nacionais, ainda que
projectem uma imagem de continuidade, são atravessadas por descontinuidades.

Esta “continuidade” é patente no terror irracional dos povos pelo vazio da história, i.e.: nas suas
origens e bases, a identidade nacional é uma tentativa para preservar a “senda dos antepassados”.
A “descontinuidade” é razão do facto de a realidade estar em constante mudança. As ideologias
nacionalistas tendem a dar a perceber uma mesma imagem quando, na verdade, estão em causa
realidades distintas. O nacionalismo salienta a necessidade de tradição na vida de qualquer
comunidade e evoca a posse comum de uma herança de memórias

Nacionalismo europeu

O nacionalismo na Europa Ocidental é uma entidade “sui generis”, sem paralelo noutras partes
do mundo, a despeito das semelhanças superficiais que sugerem o contrário. O nacionalismo
enquanto ideia de força mudou a realidade social existente e modelou à sua imagem o mundo da
Europa Ocidental moderna.
A Revolução Francesa e outros acontecimentos históricos deram ímpeto ao nacionalismo, depois
ele seguiu o seu caminho inchando ou esvaziando de acordo com a conjuntura internacional e a
resistência encontrada. Com os filósofos Jean-Jacques Rousseau (francês) e Johann Gottfried von
Herder (alemão) houve uma mudança qualitativa na ideia de nação. Estes autores definiram a
nação como:

Uma forma de incorporar o indivíduo (o cidadão) numa unidade política mais ampla.
Incluindo a ideia de liberdade do indivíduo que, em conjunto, com outros, constitui por
consentimento mútuo a entidade política; Comunidade (cultural, linguística), uma projecção do
indivíduo na sociedade tradicional; Como sendo caracterizada pela sacralidade, idiossincrasia
emprestada à religião.

O termo “patrie” (pátria), em meados do séc. XVIII, era comummente designado como o lugar
de nascimento, o qual podia ser uma localidade, uma província ou uma região. Até 1750, o termo
“nation” designava um grupo de pessoas que viviam sob as mesmas leis e usavam a mesma
língua.

Com Rousseau (na sua obra O Contrato Social – 1762) o termo nação atingiu um sentido mais
preciso: nação e pátria convergem e nação torna-se também Estado. Com Montesquieu (na sua
obra O Espírito das Leis – 1748) o conceito de espírito geral da nação é composto por uma
variedade de factores: clima, religião, leis, máximas de governo, precedentes, hábitos e
costumes. Segundo este filósofo francês, a interacção de causas físicas e morais (i.e. sociais)
produzia o espírito da nação. Este autor tem sido acusado de ser um determinista climático ao
sustentar que, entre os povos primitivos, a natureza e o clima tudo ditavam.

Romantismo e nacionalismo

Entre muitas coisas que a literatura romântica veiculou encontram-se a consciência e o orgulho
nacionais. O desenvolvimento prodigioso do nacionalismo moderno no séc. XIX resultou do
efeito combinado da Revolução Francesa e do Romantismo. Uma série de ideias temáticas
emergiram durante o último quartel do séc. XVIII, que constituíram o núcleo de Romantismo e
directa ou indirectamente, contribuíram para difundir a visão nacionalista pelo mundo.
NOSTALGIA DO PASSADO: O futuro pouco interessava aos românticos, a sua obsessão com
o passado era uma forma de justificar e dar legitimidade a cada instituição ou crença. O elemento
religioso era muitas vezes crucial na idealização do passado, para isso a Idade Média era um pólo
de atracção para os Românticos devido à sua espiritualidade cristã.

Do ponto de vista do nacionalismo, a nostalgia do passado apresentou-se como um olhar


retrospectivo sobre uma época de vida da nação em que se atingiu glória literária, êxito político
ou quando se assistira ao seu desabrochar cultural

A lei é o resultado de forças inconscientes e não o fruto de actividades humanas livres e


conscientes. Nos tempos mais remotos a que se estende a “história autêntica”, já se encontra a lei
com um carácter fixo peculiar a cada povo (Volk), como a sua língua, maneiras e constituição.

A Revolução Francesa e as suas sequelas

A Revolução foi um acontecimento crucial para o desenvolvimento do nacionalismo, tanto


do francês como dos demais países. A Revolução Francesa foi a primeira revolução
nacionalista moderna, que mais tarde se tornou o modelo doutros países europeus. Há duas
dimensões do nacionalismo: o nacionalismo como ideologia vinculada pelos desenvolvimentos
internos da Revolução Francesa e passível de ser imitado por outros países e o que foi suscitado
pela reacção contra as políticas imperialistas de Napoleão.

A Revolução Francesa, em apenas alguns anos, determinou mudanças radicais no conceito de


nação francesa. De uma situação em que o monarca era visto como símbolo da nação até uma
nação concebida como vontade geral do povo.

As vozes federalistas durante a Revolução foram silenciadas, a unidade do povo não era
negociável independentemente da vontade do povo. O resultado final foi um regime altamente
centralizado, sem paralelo na História da Europa Ocidental.

Nacionalismo africano

Nacionalismo africano é um termo genérico que se refere a um grupo de ideologias políticas,


principalmente dentro da África Subsaariana, que são baseados na ideia de autodeterminação
nacional e a criação de Estados nacionais. A ideologia surgiu sob domínio colonial europeu
durante os séculos 19 e 20 e foi livremente inspirado por ideias nacionalistas da Europa.
Originalmente, Africano nacionalismo foi baseado em exigências de autodeterminação e
desempenhou um papel importante em forçar o processo de descolonização da África ( c. 1957-
1966).

Nacionalistas primeiros esperava para superar a fragmentação étnica através da criação de


estados-nação . Em seu período mais antigo, que foi inspirado pelo Africano-americanos e afro-
caribenhos intelectuais do movimento Back-to-África que importaram ideais nacionalistas atuais
na Europa e as Américas na época.

Os nacionalistas africanos iniciais eram elitistas e acreditava na supremacia da cultura ocidental,


mas buscou um maior papel para si na tomada de decisão política. Eles rejeitaram religiões
tradicionais africanas e tribalismo como "primitivo" e abraçou ideias ocidentais do Cristianismo,
modernidade e do Estado-nação. No entanto, um dos desafios enfrentados pelos nacionalistas em
unificar sua nação após regra europeia foram as divisões de tribos e a formação de etnicismo.

Nacionalismo africano surgiu pela primeira vez como um movimento de massas nos anos após a
Segunda Guerra Mundial, como resultado de mudanças em tempo de guerra na natureza do
regime colonial, bem como a mudança social na própria África.

Nacionalismo africano na era colonial foi muitas vezes enquadrado puramente em oposição ao
regime colonial e foi, portanto, frequentemente pouco claras ou contraditórias sobre os seus
outros objectivos. Segundo o historiador Robert I. Rotberg , o nacionalismo Africano não teria
surgido sem colonialismo. Nacionalistas africanos do período também foram criticados por seu
uso continuado de ideias e políticas associadas a estados coloniais.

A evolução do movimento das nacionalidades entre 1815 e 1914*


RÉMOND (1994), a história da ideia nacional no séc. XIX cabe quase inteiramente nas
oscilações entre nacionalismo de esquerda e o de direita, entre democracia e tradição. No
Congresso de Viena de 1815, soberanos e diplomatas, ocupados em destruir a obra da
Revolução, não levaram em conta a reconstrução da Europa, a aspiração à independência e à
unidade que tinha sublevado os povos contra Napoleão e os tinha situado ao lado dos soberanos.

As revoluções de 1830 apresentam este duplo carácter de revoluções liberais e revoluções


nacionais. Onde triunfam instituem a independência e a liberdade. É assim que a Bélgica se
subtrai à dominação de Haia e se dota em 1831 de uma constituição liberal.

Entre 1830 e 1850, o nacionalismo evolui de liberal para democrático. Em Itália, “a jovem Itália”
criada por Mazzini, combina as aspirações a uma república democrática e à independência e
unidade da Itália. Esta ligação entre democracia e o fenómeno nacional expande-se com as
revoluções de 1848, quando se fala nesta época de uma primavera de povos, tal significa
simultaneamente a emancipação nacional e a afirmação da soberania do povo.

Estes movimentos fracassam e em 1850 (aproximadamente) é restaurada a Europa do Congresso


de Viena, a Europa dos soberanos. Uma terceira vaga do movimento das nacionalidades de 1850
a 1870 é mais decisiva. O princípio das nacionalidades é então admitido como um princípio do
direito internacional.

Em 1870, o mapa da Europa está profundamente modificado, surgem novas potências no coração
da Europa, nascidas da aspiração à independência e à unidade nacional. Se o nacionalismo
decorrente da revolução de 1848, proclamou a paz no mundo, o nacionalismo francês posterior a
1870 é facilmente xenófobo e exclusivo. Esta mutação prepara o deslizar do nacionalismo
europeu para as teorias autoritárias e para o fascismo pós-1918. No fim do séc. XIX com o
nascimento de uma consciência de classe operária e a crescente difusão das ideias socialistas, o
nacionalismo achou-se mais remetido para a direita

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