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- TERRA DO SOL -
novela de:
Ricardo Linhares
Escrita por:
Ricardo Linhares, Nelson Nadotti, Maria Elisa Berredo
Direção de:
Marcos Paulo, Roberto Naar, Luis Henrique Rios
Direção geral de:
Marcos Paulo, Roberto Naar
Núcleo
Marcos Paulo
- CAPÍTULO 1
Personagens:
BARNABÉ
MARTINHO
CUSTÓDIA
JULIANO
BILAC
TONHA
AVA MARIA
ANTÔNIO
JACIRA
IEDA
LÍVIA
OVÍDIO
REBECA
SELMA
NÉRIS
KAJÃO
JORGETE
ZÉ DA RAPADURA
MOLEQUE DE RECADOS (PARTICIPAÇÃO)
CENA 1 - PRAIA E ESTRADA ENTRE AS DUNAS DE AREIA/EXT/DIA -
Ieda já saindo do Salão. Olha procurando Antônio. Até que o vê lá adiante, junto à carrocinha
de Tonha. Ieda encaminha-se para eles.
CORTA para Tonha dando uma pamonha a Antônio, que a devora.
TONHA - Arre égua! Eu sei que minha pamonha é porreta,
mas coma de mansinho, esse menino! Depois tem
uma ziquezira aí e vai dizer que a culpa é minha.
ANTÔNIO - É que não comi nada em Fortaleza. Queria
voltar correndo pra cá.
Ieda chega e cumprimenta-os, sempre muito simpática.
IEDA - Boa tarde, dona Tonha. Antônio, pensei que
fosse voltar pra semana...
ANTÔNIO - Eu preciso que a senhora me faça um daqueles
favores... É urgente demais!
Os dois vêem que Tonha está de ouvido na conversa e disfarçam.
ANTÔNIO - Bote em minha conta, por favor.
Antônio pega outra pamonha e puxa Ieda pelo braço. Afastam-se.
TONHA - (no megafone) Chegue mais, freguesa/ que a
pamonha está na mesa!... Quem gosta de
pamonha/ vem comer na mão de Tonha!
CORTA para a porta do Salão Glamour: Lívia surge, discretamente, e reage ao ver Ieda e
Antônio cochichando, à distância.
CORTA para Ieda reagindo diante de Antônio. O tom é de segredo.
IEDA - Vou falar com Rebeca agora mesmo!
Corta rápido para:
Um vaso com belas flores do campo está sendo ajeitado sobre a mesa. O rosto de Rebeca
surge entre as flores, reagindo ansiosa diante de Ieda. Elas falam baixo, num clima de
cumplicidade e segredo.
Em algum lugar deve estar escrito: IGREJA DA SAGRADA SALVAÇÃO.
REBECA - Aconteceu alguma coisa?
IEDA - Ele mesmo vai lhe contar.
REBECA - Mas agora? Meu pai deve estar chegando, daqui
a pouco começa o culto, se eu não estiver aqui...
IEDA - Pegue o bugre de Ava Maria. Assim você vai
num pé e volta noutro...
LÍVIA - (OFF) Posso saber pra onde?
As duas se voltam num susto: Lívia está entrando.
IEDA - (brinca) Pras ruínas, procurar o tesouro do
fantasma! (explica) Rebeca vai fazer um
favorzinho pra mim.
LÍVIA - E se o pai perguntar eu digo o quê?
REBECA - Que não me demoro. Dona Ieda, vou em casa
passar uma escova no cabelo.
Rebeca sai, apressada. Ela vai para sua casa.
IEDA - Se houver algum problema, Lívia, eu me
entendo com pastor Bilac. (sai)
Lívia pensa um instante e sai na mesma direção em que foi Rebeca.
Corta para:
Rebeca, linda, de roupa trocada, está acabando de vestir a blusa. Olha-se no espelho, vaidosa.
Ajeita o cabelo, bem feminina. Lembra-se de algo. Abre uma gaveta e vasculha no fundo.
Reage estranhando ao não encontrar o que procura. Abre outra gaveta, procura mais.
CAM desvia para a porta, que entreabre sem que Rebeca veja. Lívia surge e fica observando a
irmã, divertindo-se, sem ser vista.
Rebeca procura em outros lugares, até que desiste.
LÍVIA - Está procurando por isso?
Rebeca volta-se para Lívia, que entra com um batom na mão.
REBECA - Meu batom! Você pegou por quê?
LÍVIA - (provoca) Já imaginou se fosse o pai que tivesse
encontrado?...
Rebeca ignora e vai pegar o batom, mas Lívia não dá, atiçando-a.
LÍVIA - E se eu falasse pro pai que encontrei escondido
no fundo de sua gaveta? Acha que ele faria o
quê?
REBECA - Por que você contaria, me diga?
LÍVIA - (debocha) Pra lhe proteger, minha irmã! O pai
não diz que pintura é artifício de Satanás pra
tentar os homens? Você está se entregando à
luxúria, Rebeca... E o caso perdido nessa família
sou eu. Você é a filha boazinha. Pelo menos por
fora.
Rebeca avança e toma o batom das mãos de Lívia, que ri.
REBECA - (firme) De minha vida cuido eu.
Rebeca sai, decidida. Lívia vai atrás, já falando.
LÍVIA - Mudou de roupa por quê?
Corta rápido para:
Rebeca vindo do quarto, seguida por Lívia, que já vem falando, provocadora. Juliano está
estudando a Bíblia, sentado à mesa.
LÍVIA - Pra prestar um favorzinho à dona Ieda precisa se
botar nos trinques desse jeito? Vai se fingir de
surda? (segura-a) Responda, minha irmã! Aonde
você vai? Fazer o quê?!
REBECA - Não lhe devo satisfação nenhuma!
Rebeca encara-a e solta-se com firmeza. Sai para a rua.
Lívia vai segui-la, mas Juliano cresce sobre ela e impede, firme.
JULIANO - Você devia parar de perseguir sua irmã e se
ocupar de sua própria vida.
LÍVIA - E você devia estudar sua Bíblia e não se meter
em minha vida.
JULIANO - Um dia eu vou ser pastor, feito seu pai. Escreva
o que lhe digo: vou ser o pastor mais importante
dessa região!... (intenso) E queria demais que
você estivesse ao meu lado, Lívia, me ajudando
nessa missão...
LÍVIA - Nem morta! Eu quero ir embora desse fim de
mundo. Quero ser rica!...
JULIANO - (passional) E eu quero você...
Juliano segura Lívia, que não gosta daquilo.
JULIANO - (com emoção) Se você me quiser, eu lhe dou o
possível e o impossível, lhe dou até as riquezas de
Salomão...
LÍVIA - Pare com isso, me deixe em paz...
JULIANO - Você sabe que eu sou desatinado por você... Por
que vive fugindo de mim?
LÍVIA - (tenta se soltar dele) Já disse que não quero nada
contigo, Juliano.
JULIANO - Por quê? Você gosta de outro?
LÍVIA - (solta-se) Não é de sua conta!
Lívia diz isso abrindo a porta da rua para sair. Ela reage num susto: é Bilac quem está lá, com
a chave na mão. Ia entrar em casa.
BILAC - Está gritando por quê?
LÍVIA - (recua) Nada, não senhor.
BILAC - Vai sair?
LÍVIA - Vou até a padaria, meu pai.
BILAC - E Rebeca, cadê?
JULIANO - Saiu...
BILAC - Sem me pedir permissão? Foi aonde?
JULIANO - Não sei, não senhor.
BILAC - Pois tenho certeza que Lívia sabe.
LÍVIA - Talvez eu saiba, talvez não...
BILAC - Eu confio em Rebeca. Sei que ela não está
fazendo nada de mal.
LÍVIA - Se o senhor tem tanta certeza...
Lívia lança um olhar provocador e sai para a rua.
BILAC - Deus colocou esta filha em meu caminho pra
me testar... mas me deu a benção de ter a outra.
(se emociona) Rebeca vai ser nossa salvação.
Minha e sua. Já disse, Juliano: antes de se tornar
pastor, você deve se casar com Rebeca. E
constituir uma boa família. Foi pra isso que lhe
criei... pra dar continuidade ao meu trabalho e à
minha família. E tenho certeza que você não vai
me decepcionar.
Bilac sai, deixando Juliano lá, incomodado com a cobrança.
Corta pra:
Diante do Salão, Rebeca já está colocando o cinto, dentro do bugre de Ava Maria - que não
deve ter capota. Ava Maria e Ieda com ela.
REBECA - Ava, nem sei como agradecer.
Rebeca sorri agradecida e dá a partida no bugre. Afasta-se.
CAM desvia e mostra Lívia escondida, observando a saída da irmã.
CORTA para Ava Maria e Ieda voltando para o Salão Glamour.
AVA MARIA - Olhe lá, minha mãe: eu sei que você está
acobertando alguma coisa...
IEDA - (fazendo mistério) Será?...
AVA MARIA - Só espero que essa menina não esteja fazendo
nada que contrarie o pai dela, senão...
CORTA para Lívia agradecendo a um rapaz, que lhe dá a chave de seu bugre. Ela entra no
carro e parte, indo na mesma direção de Rebeca.
Corta rápido para:
DETALHE dos lábios de Rebeca, refletidos no espelho do bugre, que está parado numa rua de
pouco movimento. Ela está passando batom. Rebeca sorri aprovando o que vê. Acelera e sai
da cidade.
CAM desvia e mostra Lívia em outro bugre, seguindo-a.
Corta rápido para:
C O M E R C I A L
A missa já vai à meio. A igreja cheia. Entre os fiéis, Jacira. Padre Ovídio em seu lugar, já
lendo o Evangelho de Mateus 5,38.
OVÍDIO - (com sentimento) ..."Ouvistes o que foi dito:
olho por olho, dente por dente. Eu porém vos
digo: não resistais contra a maldade. Pelo
contrário, se alguém te ferir na face direita
oferece-lhe também a outra/
O padre se corta porque ouve-se a voz de Tonha, no megafone.
TONHA - (OFF, no megafone) Quentinha, fresquinha e
saborosa! Eta pamonha gostosa!... Vamos
chegando, minha gente/ que a pamonha está
quente!
Zunzum na igreja, todos comentando chocados o berreiro.
O padre perde a concentração, mas tenta ignorar. Segue lendo, tentando falar mais alto que
Tonha. Eles falam ao mesmo tempo.
TONHA - (OFF, no megafone) Qualidade e garantia/ aqui
tem todo dia!...
OVÍDIO - "Ouvistes o que foi dito: amarás o teu próximo e
odiarás teu inimigo!...
TONHA - (OFF, no megafone) Pamonha boa de danar/ pra
comer e se fartar!
OVÍDIO - "Eu porém vos digo: amai os vossos inimigos e
fazei o bem aos que vos odeiam. Orai pelos que
vos caluniam!
TONHA - (OFF, no megafone) Quem gosta de pamonha/
vem comer na mão de Tonha!
O padre perde a paciência. Vai tirando os paramentos e saindo.OVÍDIO- Os senhores me
desculpem... mas assim não dá! Essa criatura já foi longe demais. Vou botar um ponto final
nessa provocação agora mesmo!
O padre sai da igreja, sob o olhar de aprovação de Jacira.
Corta rápido para:
Antônio e Rebeca estão num ponto da praia diferente do final da Cena 13, talvez sobre as
pedras, ou deitados na areia, de costas, olhando o céu - para mostrar que algum tempo se
passou.
Estão vestidos, deve ficar claro que não transaram.
Eles estão abraçados, mais calmos, trocando carinhos.
REBECA - Dona Ieda disse que você tem uma notícia
importante pra me dar... Sei lá, me deu um
pressentimento ruim.
ANTÔNIO - Na verdade, Rebeca, eu tenho duas notícias.
Uma boa. Outra má.
REBECA - Prefiro que fale a boa primeiro...
ANTÔNIO - Eu passei no vestibular. Pra melhor faculdade
de medicina de Fortaleza.
REBECA - Meu amor, que coisa boa! Parabéns! (tom) E a
má notícia... qual é?
ANTÔNIO - Pra estudar em Fortaleza eu vou ter que ir
embora de São Tomás de Trás. Vou ter que me
mudar pra capital.
Reação forte de Rebeca.
Corta para:
C O M E R C I A L
O culto já em andamento. O templo está cheio. Entre os fiéis, Ieda. Pastor Bilac está
empolgado, conduzindo o coro de gospel que canta, cheio de bossa e suingue, uma música
vibrante (no estilo do grupo que Nelson Motta descobriu em Nova York, "Mount Moriah"). A
solista é Tonha da Pamonha. Os cantores vestem batas coloridíssimas. Juliano acompanha
tocando violão. Lívia trabalha em algo.
Um tempo. Até que Ava Maria irrompe salão adentro, num fôlego só.
AVA MARIA - Desculpe interromper! Mil perdões! Dona
Tonha, venha correndo. Começou uma Operação
Arrastão! Pra varrer os ambulantes da cidade!
Corta rápido para:
CENA 21 - DELEGACIA/INT/DIA
CAM ABRE nos pés do delegado Néris, que estão descansando em cima da mesa. Ele está
recostado na cadeira, fazendo palavras cruzadas. Ao fundo, os dois guardas estão dormindo.
NÉRIS - Tumulto... Com oito letras.
Ieda está entrando, agitadíssima, e já vai respondendo.
IEDA - Furdunço!
NÉRIS - Furdunço... Coube direitinho!
IEDA - Furdunço é o que está sucedendo lá na praça. E
você tem que intervir!
NÉRIS - (descansado) Mas Iedinha, falta tão pouco pra
eu me aposentar...
IEDA - Não interessa. Néris, levante! Enquanto a
aposentadoria não chega você é a autoridade
policial desta cidade. E não pode fugir a seu
dever de impor a ordem e a segurança!...
NÉRIS - (suspira e levanta) Não vejo a hora de pendurar
a cartucheira...
Ieda bate nas mesas, acordando os guardas.
IEDA - Chega de leseira, minha gente!...
NÉRIS - (incorporando a autoridade) Está bem, mulher!
Deixe que eu cuido de minha função. Guardas,
atenção. Sentido! Há um furdunço tomando conta
da cidade. E é preciso resolvê-lo!
Corta rápido para:
Custódia se afasta da janela. A CAM não deve mostrar seu rosto, nem revelá-la de corpo
inteiro. Apenas através de detalhes que passem seu estilo e sua postura autoritária. As mãos
com longas unhas muito bem feitas. Talvez ela fume piteira. Seu vulto, talvez de turbante,
visto de relance no espelho. A echarpe que voa.
Deve haver sempre um clima em torno da figura de Custódia.
Custódia vai até um cordão e puxa-o várias vezes, com decisão.
Corta rápido para:
CAM ABRE no detalhe de um sino preso à parede por um cordão tocando muitas vezes,
histericamente.
Jorgete, Selma e Kajão correm vindo de diferentes lugares, feito baratas tontas. Eles se
esbarram para passar nas portas, derrubam móveis, atropelam-se para chegar mais depressa ao
sino. E ficam lá parados, bestificados, olhando para o sino que não pára de tocar.
SELMA - Dona Custódia está com a moléstia!
KAJÃO - Alguém tem que atender a patroa!
JORGETE - Vá você, que é homem!...
KAJÃO - Sou homem mas não sou besta! Vá a senhora,
que é a secretária dela!
JORGETE - Arre, sempre sobra pra mim!...
Jorgete vai para a sala, seguida pelos dois. CAM vai com eles, aproveitando o trajeto para
revelar a imponência do casarão.
Eles param diante da escadaria. Jorgete toma coragem e sobe, sob o olhar cheio de expectativa
dos dois.
Corta rápido para:
CAM ABRE no delegado reagindo em pânico diante de Jorgete. Os mesmos da Cena 22 estão
à parte, na expectativa, em silêncio.
NÉRIS - Dona Custódia mandou me buscar?!...
JORGETE - Disse que ela mesma é quem vai resolver o
sangangu aqui da praça.
Néris se volta para o padre e o pastor, explodindo.
NÉRIS - A culpa é de vocês dois, que vivem de rififi! E
quem não tem nada com a briga é que se dana!
(tom) Agora eu vou ter que enfrentar a fera...
BARNABÉ - Delegado, não caia na esparrela!
O delegado nem dá ouvidos. Se afasta em direção ao casarão, seguido por Jorgete. O povo,
temeroso, abre espaço para eles passarem.
BARNABÉ - Dona Custódia mandou lhe chamar só pra me
provocar, como sempre!
O delegado pára diante do casarão. E lança um último olhar à Ieda e à Ava Maria, como se
estivesse indo para a guilhotina.
BARNABÉ - Há 30 anos ela não põe os pés fora de casa, que
direito pensa que tem de meter o bedelho na vida
da cidade?
Selma abre a porta. O delegado e Jorgete entram. A porta fecha atrás deles. Sonoplastia:
estrondo exagerado na porta se fechando.
BARNABÉ - Não me interessa o que ela fale. A palavra final
vai ser minha, que sou o prefeito, sou autoridade!
Todos olham para Barnabé, sem acreditar muito nisso.
Corta para:
C O M E R C I A L
Antônio e Rebeca saindo do mar, correndo e rindo, felizes. (Eles devem ter tirado parte da
roupa, é claro.)
REBECA - A gente perdeu a noção da hora...
ANTÔNIO - (sedutor) Mas não valeu a pena?
Rebeca sorri, fazendo que sim. Beija-o mais, mais, mais...
REBECA - A gente vai ter que inventar uma desculpa pro
sal no cabelo...
ANTÔNIO - Eu sei de um jeito ótimo de nos secar. Ao
vento!...
CORTA DESCONTÍNUO para os dois, vestidos, montando o cavalo.
REBECA - Aonde você vai me levar?
ANTÔNIO - Ao céu. Até as estrelas!...
Antônio toca o cavalo para subir uma duna de areia dura ou um barranco. Deve ser uma coisa
mágica, sem preocupação com realismo. A CAM enquadra-os de baixo, sem mostrar as patas
do cavalo tocando o chão, como se estivessem subindo em direção ao céu, contra o vento. Um
tempo na subida, talvez em SLOW.
Fusão para:
Antônio e Rebeca, à cavalo, chegam no alto da duna, de onde descortinam uma vista
deslumbrante do mar.
Eles saltam, vão até a beira do penhasco.
CAM enquadra os dois, abraçados, recortados contra o horizonte.
EFEITO ESPECIAL: neste momento, lentamente anoitece. O céu se torna estrelado. Uma
estrela cadente risca o céu. Importante: não há lua. Sob a luz das estrelas, os dois se
beijam.
Corta para:
CAM ABRE numa enorme bandeja de maravilhosos pães sendo retirada do forno e posta
sobre a mesa. CAM corrige e mostra Martinho, que examina os pães e fala para o forneiro,
aprovando.
MARTINHO - No ponto certo!... Podem levar pro balcão, já
tem uma fila de fregueses atraídos pelo cheiro...
Ava Maria entra e vai até Martinho, bastante sem jeito.
AVA MARIA - Seu Martinho, desculpe incomodar...
Martinho deve passar, pelo olhar, o amor que sente por Ava Maria, que não se toca disso.
MARTINHO - A senhora não incomoda nunca, dona Ava
Maria. Em que posso lhe ser útil?
AVA MARIA - O senhor sabe se Inácio/ (olha os funcionários e
se corrige) Dr. Inácio já voltou da fazenda?
MARTINHO - Me disse que só ia voltar amanhã.
AVA MARIA - Diacho!... (explica) É que dona Custódia
mandou prender dona Tonha da Pamonha. E eu
queria que Inácio fizesse a irmã voltar atrás.
MARTINHO - Sinto demais não poder lhe ajudar. (à sério) Só
de pensar em me meter em quizila política, olhe
só... (coça o braço) Começa a me dar urticária.
AVA MARIA - (à sério) Não se apoquente, eu sei que o senhor
é alérgico a política. (tom) Eta, até quando dona
Custódia vai mandar e desmandar nesta cidade?!
MARTINHO - O que se pode esperar de um povo que sonha
em enriquecer achando um tesouro escondido há
300 anos?...
AVA MARIA - (suspira) Até Inácio voltar, não há nada que se
possa fazer...
Corta para:
Movimento habitual das manhãs. Muita gente comprando o pão quente. Estão na fila,
afastadas: Lívia e Jacira, que fala ao atendente:
JACIRA - Seis pãezinhos carecas. Mas não me dê os
quimadinhos, não...
Ela pega o pão, paga e vai saindo. Cruza com Antônio, que entra.
Lívia reage discreta ao ver Antônio. Fica à parte, de olho nele.
JACIRA - Antônio, quem diria que você fosse tão
estudioso... Passar pra melhor faculdade de
medicina de Fortaleza!
Antônio reage surpreso ao ouvir aquilo.
JACIRA - O padre me contou as novas, depois da missa
das seis. Ele disse que você vai ter que se mudar
pra capital...
CAM mostra que Lívia fica abalada com o que ouve.
JACIRA - Coitado, vai sentir sua falta.
ANTÔNIO - E eu a dele. Com licença.
Antônio afasta-se e vai para a fila.
Jacira comenta, venenosa, com uma vizinha de fila.
JACIRA - Padre Ovídio é tão apegado a esse menino.
Impressionante! Como se fosse pai de verdade...
(sai)
CORTA para Lívia, que toma uma decisão e sai.
CORTA para Antônio, na fila, respondendo ao atendente.
ANTÔNIO - Tudo bem, eu espero a broa sair...
Corta para:
C O M E R C I A L