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HISTÓRIA DA

ARTE E DO DESIGN

PROFESSORES
Dra. Paula Piva Linke
Me. Ana Paula Furlan
Esp. Dênis Martins de Oliveira
Esp. Vanessa Barbosa dos Santos
HISTÓRIA DA ARTE E DO DESIGN

NEAD
Núcleo de Educação a Distância
Av. Guedner, 1610, Bloco 4
Jd. Aclimação - Cep 87050-900 Maringá - Paraná
www.unicesumar.edu.br | 0800 600 6360

C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a Distância;


LINKE, Paula Piva; FURLAN, Ana Paula; OLIVEIRA, Dênis Martins de;
SANTOS, Vanessa Barbosa dos.

História da Arte e do Design. Paula Piva Linke; Ana Paula Furlan; Dênis
Martins de Oliveira; Vanessa Barbosa dos Santos.
Maringá - PR.:UniCesumar, 2017. Reimpresso em 2019.
182 p.
“Graduação em Design - EaD”.
1. História. 2. Arte. 3. Design. 4. EaD. I. Título.
ISBN 978-85-459-0442-7
CDD - 22ª Ed. 701.1
Impresso por: CIP - NBR 12899 - AACR/2

DIREÇÃO UNICESUMAR

Reitor Wilson de Matos Silva, Vice-Reitor Wilson de Matos Silva Filho, Pró-Reitor de Administração
Wilson de Matos Silva Filho, Pró-Reitor Executivo de EAD Willian Victor Kendrick de Matos Silva,
Pró-Reitor de Ensino de EAD Janes Fidélis Tomelin Presidente da Mantenedora Cláudio Ferdinandi.

NEAD - NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

Diretoria Executiva Chrystiano Mincoff, James Prestes, Tiago Stachon Diretoria de Design Educacional
Débora Leite, Diretoria de Graduação e Pós-graduação Kátia Coelho, Diretoria de Permanência
Leonardo Spaine, Head de Produção de Conteúdos Celso L. Filho, Gerência de Produção de Conteúdo
Diogo R. Garcia, Gerência de Projetos Especiais Daniel F. Hey, Supervisão do Núcleo de Produção
de Materiais Nádila de Almeida Toledo, Supervisão Operacional de Ensino Luiz Arthur Sanglard,
Coordenador(a) de Conteúdo Sandra Franchini e Larissa Camargo, Projeto Gráfico José Jhonny
Coelho, Editoração Melina Belusse Ramos, Designer Educacional Nayara G. Valenciano, Revisão
Textual Cíntia Prezoto Ferreira, Ilustração Gabriel Amaral, Fotos Shutterstock.

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Wilson Matos da Silva
Reitor da Unicesumar

Em um mundo global e dinâmico, nós trabalhamos IGC 4 em 7 anos consecutivos. Estamos entre os 10
com princípios éticos e profissionalismo, não maiores grupos educacionais do Brasil.
somente para oferecer uma educação de qualidade, A rapidez do mundo moderno exige dos educadores
mas, acima de tudo, para gerar uma conversão soluções inteligentes para as necessidades de todos.
integral das pessoas ao conhecimento. Baseamo- Para continuar relevante, a instituição de educação
nos em 4 pilares: intelectual, profissional, emocional precisa ter pelo menos três virtudes: inovação,
e espiritual. coragem e compromisso com a qualidade. Por
Iniciamos a Unicesumar em 1990, com dois cursos de isso, desenvolvemos, para os cursos de Engenharia,
graduação e 180 alunos. Hoje, temos mais de 100 mil metodologias ativas, as quais visam reunir o melhor
estudantes espalhados em todo o Brasil: nos quatro do ensino presencial e a distância.
campi presenciais (Maringá, Curitiba, Ponta Grossa Tudo isso para honrarmos a nossa missão que é
e Londrina) e em mais de 300 polos EAD no país, promover a educação de qualidade nas diferentes áreas
com dezenas de cursos de graduação e pós-graduação. do conhecimento, formando profissionais cidadãos
Produzimos e revisamos 500 livros e distribuímos mais que contribuam para o desenvolvimento de uma
de 500 mil exemplares por ano. Somos reconhecidos sociedade justa e solidária.
pelo MEC como uma instituição de excelência, com Vamos juntos!
boas-vindas

Willian V. K. de Matos Silva


Pró-Reitor da Unicesumar EaD

Prezado(a) Acadêmico(a), bem-vindo(a) à A apropriação dessa nova forma de conhecer


Comunidade do Conhecimento. transformou-se hoje em um dos principais fatores de
Essa é a característica principal pela qual a Unicesumar agregação de valor, de superação das desigualdades,
tem sido conhecida pelos nossos alunos, professores propagação de trabalho qualificado e de bem-estar.
e pela nossa sociedade. Porém, é importante Logo, como agente social, convido você a saber cada
destacar aqui que não estamos falando mais daquele vez mais, a conhecer, entender, selecionar e usar a
conhecimento estático, repetitivo, local e elitizado, mas tecnologia que temos e que está disponível.
de um conhecimento dinâmico, renovável em minutos, Da mesma forma que a imprensa de Gutenberg
atemporal, global, democratizado, transformado pelas modificou toda uma cultura e forma de conhecer,
tecnologias digitais e virtuais. as tecnologias atuais e suas novas ferramentas,
De fato, as tecnologias de informação e comunicação equipamentos e aplicações estão mudando a nossa
têm nos aproximado cada vez mais de pessoas, lugares, cultura e transformando a todos nós. Então, priorizar o
informações, da educação por meio da conectividade conhecimento hoje, por meio da Educação a Distância
via internet, do acesso wireless em diferentes lugares (EAD), significa possibilitar o contato com ambientes
e da mobilidade dos celulares. cativantes, ricos em informações e interatividade. É
As redes sociais, os sites, blogs e os tablets aceleraram um processo desafiador, que ao mesmo tempo abrirá
a informação e a produção do conhecimento, que não as portas para melhores oportunidades. Como já disse
reconhece mais fuso horário e atravessa oceanos em Sócrates, “a vida sem desafios não vale a pena ser vivida”.
segundos. É isso que a EAD da Unicesumar se propõe a fazer.
boas-vindas

Kátia Solange Coelho


Janes Fidélis Tomelin Diretoria de Graduação
Pró-Reitor de Ensino de EAD
e Pós-graduação

Débora do Nascimento Leite Leonardo Spaine


Diretoria de Design Educacional Diretoria de Permanência

Seja bem-vindo(a), caro(a) acadêmico(a)! Você está de maneira a inseri-lo no mercado de trabalho. Ou seja,
iniciando um processo de transformação, pois quando estes materiais têm como principal objetivo “provocar
investimos em nossa formação, seja ela pessoal ou uma aproximação entre você e o conteúdo”, desta
profissional, nos transformamos e, consequentemente, forma possibilita o desenvolvimento da autonomia
transformamos também a sociedade na qual estamos em busca dos conhecimentos necessários para a sua
inseridos. De que forma o fazemos? Criando formação pessoal e profissional.
oportunidades e/ou estabelecendo mudanças capazes Portanto, nossa distância nesse processo de crescimento
de alcançar um nível de desenvolvimento compatível e construção do conhecimento deve ser apenas
com os desafios que surgem no mundo contemporâneo. geográfica. Utilize os diversos recursos pedagógicos
O Centro Universitário Cesumar mediante o Núcleo de que o Centro Universitário Cesumar lhe possibilita.
Educação a Distância, o(a) acompanhará durante todo Ou seja, acesse regularmente o Studeo, que é o seu
este processo, pois conforme Freire (1996): “Os homens Ambiente Virtual de Aprendizagem, interaja nos
se educam juntos, na transformação do mundo”. fóruns e enquetes, assista às aulas ao vivo e participe
Os materiais produzidos oferecem linguagem das discussões. Além disso, lembre-se que existe
dialógica e encontram-se integrados à proposta uma equipe de professores e tutores que se encontra
pedagógica, contribuindo no processo educacional, disponível para sanar suas dúvidas e auxiliá-lo(a) em
complementando sua formação profissional, seu processo de aprendizagem, possibilitando-lhe
desenvolvendo competências e habilidades, e trilhar com tranquilidade e segurança sua trajetória
aplicando conceitos teóricos em situação de realidade, acadêmica.
autores

Dra. Paula Piva Linke


Doutorado em Ciência Ambiental pelo Procam (USP) com bolsa Capes, desenvolvendo pesquisa na área de Moda e
Sustentabilidade. Mestrado em História pela Universidade Estadual de Maringá (UEM). Especialização em História e
Sociedade (UEM). Especialização em Moda pelo Centro Universitário Cesumar (Unicesumar). Graduação em Moda (Uni-
cesumar). Atuou como professora do curso de Moda, Artes Visuais e Jornalismo no ano de 2013, e em 2014 apenas no
curso de Moda, ministrando as disciplinas de História da Moda e Laboratório de Criação (Unicesumar). Atualmente é
docente nos cursos de Educação a Distância (Unicesumar), no qual atua nas áreas de História da Moda e Desenho de
Moda. Também realiza pesquisas na área de sustentabilidade e moda, bem como moda e cultura.
Para informações mais detalhadas sobre sua atuação profissional, pesquisas e publicações, acesse seu currículo, dis-
ponível no endereço a seguir:
Link: <http://lattes.cnpq.br/1818751167908774>.

Me. Ana Paula Furlan


Mestrado em Educação para o Ensino de Ciência pela Universidade Estadual de Maringá (UEM). Especialização em
Design de Produto pela Universidade Estadual de Londrina (UEL). Graduação em Moda pelo Centro Universitário de
Maringá (Unicesumar). Atualmente é docente e coordenadora do setor de estágios no Unicesumar. Consultora de
produtos em empresas de confecção.
Para informações mais detalhadas sobre sua atuação profissional, pesquisas e publicações, acesse seu currículo, dis-
ponível no endereço a seguir:
<https://wwws.cnpq.br/cvlattesweb/PKG_MENU.menu?f_cod=C4EACC54908782E9D54FB7370F806F47>

Esp. Dênis Martins de Oliveira


Especialização em Docência no Ensino Superior pelo Centro Universitário de Maringá (Unicesumar/2016). Graduação
em Artes Visuais (Unicesumar/2012).
Para informações mais detalhadas sobre sua atuação profissional, pesquisas e publicações, acesse seu currículo, dis-
ponível no endereço a seguir:
Link: <http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4654860J3>

Esp. Vanessa Barbosa dos Santos


Especialização em Artes Visuais, Cultura e Criação pelo SENAC-PR (2013). Graduação em Design de Interiores pelo Centro
de Ensino Superior de Maringá (2007). Tem experiência na área de Artes, com ênfase em Design Gráfico.
Link: <http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K8153006Y1>
apresentação do material

HISTÓRIA DA ARTE E DO DESIGN


Paula Piva Linke; Ana Paula Furlan; Dênis Martins de Oliveira e Vanessa Barbosa dos Santos

Prezado(a) aluno(a) do curso de Tecnologia em Design, este é seu livro da dis-


ciplina de História da Arte e do Design. Ele integra cinco unidades de estudo e
foi elaborado para que você compreenda da melhor maneira possível os assuntos
referentes à disciplina.
Analisar a evolução histórica do ser humano, bem como as diferentes manifesta-
ções artísticas e estilísticas expressas nos diferentes períodos se faz necessário em
praticamente todas as profissões que têm em sua organização a essência criativa;
compreender como as manifestações de arte ocorreram nos diferentes períodos
trará a você, aluno(a), uma bagagem rica de conteúdos e assuntos pertinentes para
sua completa formação acadêmica.
A disciplina de História da Arte e do Design tem por objetivo levar a você conhe-
cimentos acerca dos principais movimentos artísticos e estilísticos, para que você
compreenda como as questões sociais influenciaram a arte e como contribuíram
para o despertar de novos conceitos e percepções nos mais diversos campos, dentre
eles, o do Design. Assim, iniciaremos nossos estudos a partir da História da Arte,
assunto que será abordado nas Unidades um, dois e três do livro.
Compreender o mundo ao nosso redor por meio das manifestações artísticas cons-
truídas até aqui é um dos objetivos deste livro. Munido do conteúdo pertinente à
história da humanidade, apresentado mediante as diversas expressões artísticas,
você, aluno(a), conhecerá como se deu a construção das diversas culturas nos
diferentes períodos e, também, como esta influenciou e está presente em nossa
sociedade até os dias atuais.
Assim, o livro de História da Arte e do Design foi elaborado a partir de referenciais
bibliográficos ricos em informações que, mesclados com nossa experiência nos
diferentes assuntos tratados no decorrer do livro, trarão a você, de maneira clara
e objetiva, os diferentes assuntos, para que você absorva da melhor forma todo o
conteúdo necessário para uma formação plena.
Iniciamos, então, nossos estudos, como mencionado, a partir dos conceitos per-
tinentes ao estudo da História da Arte. Na primeira Unidade, temos a definição
de arte, que se faz necessária para que você analise todo o conteúdo das unidades
um e dois com clareza; apresentam-se, também, as manifestações de arte expressas
na Pré-história, bem como no Egito Antigo, expressões essas em que suas carac-
terísticas perduram por diversos anos e refletem no estilo expressivo de outros
povos. Veremos, ainda, as manifestações de arte na Mesopotâmia e em Creta. Na
sequência, temos a importância da arquitetura, da pintura e da escultura na Grécia
antiga, bem como em Roma.
Na Unidade dois passamos pela influência da arte Bizantina, chegando à Idade
Média, com o estilo cristão, românico e gótico. Em seguida, há uma continua-
ção das questões históricas e artísticas, apresentando o período conhecido como
Renascimento, salientando as mudanças que ele trouxe não só para a sociedade,
mas também para as questões artísticas e estilísticas que foram se modificando
conforme as questões sociais foram se transformando. Assim, o homem passa a
compreender, de maneira clara, sua capacidade de transformar a realidade que
o cerca e um novo período ganha destaque na história, o Renascimento. Nessa
unidade, também analisaremos as manifestações de arte durante os séculos XVII e
XVIII, denominados Barroco e Rococó, e observaremos como tais manifestações
se fundiram com as manifestações sociais ocorridas no período.
Ainda em se tratando de História da Arte, na Unidade três veremos o surgimento
da Arte Moderna e os movimentos que a influenciaram, como o Impressionismo
e o Pós-impressionismo. Veremos, portanto, a arte do final do século XIX e os
movimentos que permeiaram o século XX.
Após finalizada a História da Arte, o livro busca apresentar, a você, o Design, por
meio das Unidades quatro e cinco. A Unidade quatro apresentará o significado
do termo design, assim como os principais movimentos artísticos e estilísticos
que influenciaram o design contemporâneo, como o Arts e Crafts e o Bauhaus.
Por fim, lhe será apresentado seu histórico e representação pelo mundo, além das
suas manifestações no Brasil.
Na última unidade de nosso livro, apresentamos os diversos tipos de design, suas
particularidades, bem como possíveis vertentes oriundas das especificidades de
cada tipo de design.
Desejamos a você, caro(a) aluno(a), um excelente estudo e sucesso em sua carreira,
pois acreditamos que os conteúdos aqui apresentados são de suma importância
para sua formação, que será plena e de grandes conquistas futuras.
sum ário

UNIDADE I UNIDADE IV
DOS PRIMÓRDIOS À O DESIGN
ARTE CLÁSSICA 118 O Design e sua Origem
14 A Origem Da Arte: Primeiras Manifestações 123 Movimentos Importantes para o Design
22 A Arte Egípcia 128 O Design pelo Mundo
26 Creta e Grécia
34 A Arte Romana UNIDADE V
ÁREAS DO DESIGN
UNIDADE II 150 Design de Interiores
DA IDADE MÉDIA 153 Design de Moda
AO SÉCULO XVIII
158 Design Efêmero
50 Idade Média
160 Design Gráfico
56 Renascimento
164 Design de Produto
64 Barroco e Rococó
165 Design Digital

UNIDADE III
ARTE
NO SÉCULO XIX E XX
86 Impressionismo e Pós-Impressionismo
92 Arte Moderna
100 Arte Pós-Moderna
DOS PRIMÓRDIOS À ARTE CLÁSSICA

Professora Dra. Paula Piva Linke


Professor Esp. Dênis Martins de Oliveira

Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta
unidade:
• A origem da arte: primeiras manifestações
• A arte egípcia
• Creta e Grécia
• A arte romana

Objetivos de Aprendizagem
• Descrever o conceito de arte e explicar como ela se
desenvolveu na Pré-História e na Mesopotâmia.
• Apresentar as principais características da arte no Egito
Antigo.
• Explicitar as principais características da arte em Creta e na
Grécia.
• Apresentar a Arte Romana e sua transição para o
Cristianismo.
unidade

I
INTRODUÇÃO

Olá caro(a) aluno(a), seja bem-vindo(a) à disciplina de História da


Arte de Design. O objetivo desta unidade é o de apresentá-lo(a) a arte, o
conceito propriamente dito e como ela se manifestou em diversas civili-
zações, especificamente da Pré-História à Antiguidade Clássica.
Esta unidade encontra-se dividida em quatro partes. A primeira delas
se refere a conceituação e ao entendimento do que é arte e, em seguida,
as primeiras manifestações artísticas do início da história do homem, ou
seja, na Pré-História e na civilização mesopotâmica, serão apresentadas.
A arte na Pré-História e na Mesopotâmia marcaram o início da jornada
do homem na produção de objetos e do belo, desenvolvendo-se em di-
versas outras civilizações.
Na segunda parte, você verá como se desenvolveu a arte na civiliza-
ção egípcia, uma civilização que se fundou no deserto, às margens do rio
Nilo, e que teve mais de 3.000 anos de história, cuja arte se voltou para os
aspectos religiosos que influenciavam a vida cotidiana dessa civilização.
Na terceira parte, você terá acesso a arte da civilização cretense e gre-
ga, duas civilizações que se destacaram devido a sua produção cultural,
filosófica e política. Destaca-se, nessas culturas, a arte voltada à arquite-
tura e escultura, assim como a utilização do mármore como material base
para as esculturas.
Por fim, na quarta parte, você verá a arte romana. Observará como
essa civilização, com base em muitos valores estéticos gregos, inovou e
criou suas próprias manifestação de arte. Essa civilização foi o berço do
Cristianismo, que também influenciou a arte em diferentes momentos
históricos.
O objetivo desta unidade, caro(a) aluno(a), é o de apresentá-lo(a) aos
primórdios da arte, desde as primeiras manifestações do homem. Espero
que aprecie a leitura e os conteúdos que lhe serão apresentados.
HISTÓRIA DA ARTE E DO DESIGN

A Origem da Arte:
Primeiras Manifestações
Olá caro(a) aluno(a), vamos iniciar nossos estudos tos, com os mais variados usos. Esses objetos foram
procurando entender o que é arte e como ela se criados por diversas civilizações ao longo do tempo
manifesta. Santos (2005) afirma que, desde os pri- e têm não somente uma valor funcional, mas estético
mórdios tempos, o homem esteve envolvido com o também, pois é da natureza humana desenvolver o
fazer, mas o fazer referente à produção de objetos e belo nos objetos mais corriqueiros (SANTOS, 2012).
conhecimento. Ao longo da história, esses objetos produzidos
Desde a Pré-História, o homem, ao aprender a pelas diversas civilizações foram estudados com o
confeccionar objetos, os utilizou como ferramentas intuito de decifrar como viviam os diferentes povos,
para auxiliá-lo nas mais diversas atividades, desde as e por apresentar particularidades que expressam a
domésticas até as relacionadas ao trabalho. Assim, cultura daquele povo, tais objetos passaram a ser re-
foram desenvolvidos uma grande variedade de obje- conhecidos como objetos de arte.

14
DESIGN

Em outras palavras, ou representativo de uma cultura, apresentando sécu-


los de idade ou valores que o identificam como um ob-
o homem cria objetos não apenas para se ser- jeto que deve ser mantido como obra de arte.
vir utilitariamente, mas também para expressar
Para o autor, ainda há muitos problemas em se de-
seus sentimentos diante da vida e, mais ainda,
para expressar sua visão de momento histórico finir o que é arte e quais são os objetos representativos
em que vive (SANTOS, 2005, p. 07). que devem ser colocados em museus. Isso se deve em
função das diversas linhas de pensamento que discu-
Por estar rodeados por objetos, a autora prossegue afir- tem e estudam a arte e sua história (COLI, 1995).
mando, ainda, que a arte é algo que não está desconec-
tada da vida cotidiana, mas sim intimamente ligado a SAIBA MAIS
ela, pois os objetos, assim como as moradias que foram
utilizadas em outros períodos, foram reconhecidos
O que é Arte?
como obras de arte por apresentarem significativa-
mente um hábito ou forma de viver de uma sociedade A arte é uma das melhores maneiras do ser
humano expressar seus sentimentos e emo-
em um dado período histórico (SANTOS, 2005).
ções. Ela pode estar representada de diversas
Contudo, a arte além do cotidiano também expres- maneiras: por meio da pintura plástica, da
sa valores estéticos reconhecidos como arte por uma escultura, do cinema, do teatro, da dança, da
música, da arquitetura, dentre outros. A arte é
determinada sociedade, objetos construídos para a con-
o reflexo da cultura e da história dos diferen-
templação. Assim sendo, pode-se entender a arte como: tes povos, considerando os valores estéticos
da beleza, do equilíbrio e da harmonia.
A obra de arte é um objeto de prazer, que visa
Considerando o contexto atual de socieda-
provocar determinada experiência gratificante, de, podemos, ainda, dizer que a arte pode
que consiste numa espécie de vivência senso- ser também definida como algo inerente ao
rial-perceptivo-intelectual, onde são engaja- ser humano, feito por artistas a partir de um
das especialmente a memória e a imaginação senso estético, com o objetivo de despertar
(TREVISAN, 1990, p. 91-92). e estimular o interesse da consciência de um
ou mais espectadores, além de causar algum
efeito. Cada expressão artística possui seu
Para Coli (1995), a obra de arte passa por um julgamen- significado único e diferente.
to estético de críticos e especialistas que determinam o
Fonte: História da Arte ([2017], on-line)1.
que é ou não reconhecimento como arte. Normalmen-
te, um objeto é considerado uma obra de arte devido a
sua estética ou historicidade, pois é um exemplar único

15
HISTÓRIA DA ARTE E DO DESIGN

No entanto, caro(a) aluno (a), a arte está relacionada foi possível até mesmo compreender como viviam
a produção cotidiana de uma determinada socie- os povos pré-históricos, os ancestrais do homem, e
dade, assim como templos, casas e palácios relacio- como se deu o processo civilizatório.
nados a personalidades importantes e aos objetos As primeiras manifestações artísticas se deram
construídos para contemplação, como por exemplo, ainda na pré-história. Vou usar a expressar arte para
os quadros. me referir a produção de objetos, artefatos, arquite-
Além disso, Santos (2012) chama atenção, ainda, tura e outras formas de expressão humana que pos-
para a temporalidade. Muitos dos objetos que per- sibilitam contar nossa história e são representativos
meiam os museus têm séculos de história e represen- de uma determinada civilização.
tam a forma como viviam determinadas sociedades. Veremos, a seguir, como se deu as expressões ar-
Compreender o valor desses objetos, muitas vezes, é tísticas na Pré-História e, em seguida, na civilização
uma tarefa difícil, pois tendemos a olhar com estra- mesopotâmica.
nheza aquilo que não nos é familiar, ou seja, avalia-
mos a arte com os olhos do presente, sem procurar PRÉ-HISTÓRIA
entender a importância dela para quem a produziu.
Assim sendo, ao observar uma obra de arte ou De acordo com Santos (2005), a Pré-História marca
mesmo durante a leitura deste livro, busque entender a o surgimento da civilização humana, onde não havia
arte como uma manifestação cultural de um determi- escrita e os objetos descobertos por escavações au-
nado período histórico e de uma civilização, compre- xiliam a contar a história de como viviam os povos
endendo os valores estéticos e as regras que a orientam. primitivos.
Contudo, você deve estar se perguntando: como
se deu o entendimento sobre a arte ou mesmo como Como a duração da pré-história foi muito longa,
os historiadores a dividiram em três períodos:
se conhece a história e os objetos de arte produzidos
Paleolítico inferior (cerca de 500.000 a.C), Pa-
por civilizações que desapareceram há milhares de leolítico superior (30.000 a.C) e Neolítico (por
anos? A resposta para essa pergunta não é simples, volta de 10.000 a.C) (SANTOS, 2005, p. 11).
mas graças a permanência de resquícios de civiliza-
ções que permaneceram, mesmo com o passar do Devido a extensão desse período e ao objetivo do li-
tempo, e ao trabalho de arqueólogos, antropólogos vro que é estudar a História da Arte, vamos nos ater
e historiadores é que foi possível entender a arte das a dois períodos específicos ao Paleolítico superior e
diversas civilizações que habitaram a terra (SAN- ao Neolítico, períodos que marcam os primeiros re-
TOS, 2012). gistros das manifestações artísticas do homem.
Os trabalhos de escavação de sítios arqueológi- De acordo com Santos (2012), as primeira mani-
cos, catalogação e pesquisa dos mais variados artefa- festação artísticas referentes ao Paleolítico superior
tos históricos permitem entender como viviam tais eram muitos simples. Sua maioria é encontrada em
civilizações e como se expressavam culturalmente, cavernas, pois, naquele momento, o homem ainda
produzindo arte. era nômade e habitava cavernas, locais que serviram
Graças aos estudos de diferentes pesquisadores, de base para suas manifestações.

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DESIGN

Inicialmente, os homens pré-históricos apenas A técnica de mão em negativo consistia em colocar


faziam riscos nas paredes ou “mãos em negativo”, a mão sobre as paredes das cavernas e, em seguida,
sendo que somente muito tempo depois começaram aplicar um pó colorido sobre as mãos e a parede, as-
a pintar animais. Os desenhos feitos nas paredes das sim, ao retirar as mãos, ficava a silhueta da mesma
cavernas são conhecidos como pinturas rupestres e na parede. Observe um exemplo na Figura 1.
são as formas de expressão do homem pré-histórico Após dominar a técnica de mãos em negativo,
(JANSON, H.; JANSON, A., 1996). iniciou-se o desenho com ilustrações de animais,
sendo a principal característica desses desenhos o
REFLITA
naturalismo, ou seja, se desenhava um animal de
acordo com a visão que se tinha dele (JANSON, H.;
O pó, que era a tinta utilizada na pintura de JANSON, A., 1996).
mãos em negativo, era obtido por meio da Em outras palavras, como afirmam Gombrich e
trituração de rochas com diversos pigmentos.
Cabral (1999), as pinturas rupestres apresentam certo
(Maria das Graças Vieira Proença dos Santos) grau de complexidade com traços, linhas e cores que
expressavam as características do animal, bem como

Figura 1 - Mãos em negativo

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HISTÓRIA DA ARTE E DO DESIGN

a crença de que ao pintar um animal ferido duran-


te uma caçada, permitia que ele morresse com mais
facilidade. Portanto, as pinturas também apresentam
um aspecto mítico. O autor prossegue afirmando que:

A explicação mais provável para as pinturas


rupestres ainda é a de que se trata das mais
antigas relíquias da crença universal no poder
produzido pelas imagens; dito em outras pa-
lavras, parece que esses caçadores primitivos
imaginavam que, se fizessem uma imagem de
sua presa- e até a espicaçassem com suas lanças
Figura 2 - Pintura rupestre e machados de pedra-, os animais verdadeiros
também sucumbiriam ao seu poder (GOM-
BRICH; CABRAL, 1999, p. 42).

As pinturas rupestres apresentam particularidades


referentes à construção do desenho. Santos (2005)
afirma que os animais que representavam força e mo-
vimento eram carregados de traços que expressavam
tais características, enquanto que para outros animais
mais dóceis, os traços eram mais leves e revelavam
fragilidade. Observe um exemplo na Figura 2.
Além da pintura, também havia trabalhos com a
escultura, onde predominava a figura feminina, assim
Figura 3 - Reprodução da Vênus de Willendorf
como na pintura rupestre. A escultura possuia forma
rudimentar, com a cabeça surgindo como um prolon-
gamento do pescoço, seios volumosos, ventre saltado
e grandes nádegas. Veja um exemplo na Figura 3.
Já no período seguinte, no Neolítico, por vol-
ta de 10.000 a.C, as manifestações de arte mudam
significativamente, primeiramente devido ao fato
que o homem aprende a construir instrumento
com pedra polida, mas principalmente devido ao
desenvolvimento da agricultura e da domesticação
de animais, o que possibilitou ao homem aban-
donar a vida nômade e se fixar em um território,
Figura 4 - Pintura rupestre do Neolítico
dando início às primeiras civilizações primitivas
(JANSON, H.; JANSON, A., 1996).

18
DESIGN

A partir de então, o homem aprendeu a tecer a


palha, construir cerâmica e moradias, assim como
aprendeu a produzir o fogo. Todas essas transforma-
ções são conhecidas como Revolução Neolítica, pois
modificou a forma de viver do homem primitivo
(SANTOS, 2012).
Todas essas transformações também modifica-
ram o estilo da arte, que deixou de ser naturalista
para se tornar simplificado e geometrizado. Inicia-se
aqui um processo de interpretação da imagem, onde
as figuras sugerem animais e seres humanos (STRI- Figura 5 - Baixo relevo da mesopotâmia
CKLAND; BOSWELL, 2014). Observe a Figura 4.
Além de representar animais, iniciou-se uma como guerras. Este é mais um exemplo das antigui-
nova temática, a vida cotidiana, sendo representa- dades da arte que foram descobertas por antropólo-
da por danças, colheitas e demais atividades. Com gos e que nos ajudam a entender um pouco sobre a
a preocupação de criar movimento nas pinturas, a história desse povo.
forma de desenho das figuras foi se solidificando, se As descobertas que ocorreram na pré-histó-
simplificando, com traços leves e fluidos e pouca cor. ria, como o controle sobre o fogo, a agricultura
A partir de então, surgiu o primeiro sistema de es- e a domesticação de animais, levou o homem a
crita baseado em figuras: a escrita pictográfica, que viver em comunidade, o que deu origem às pri-
consiste em representar seres e ideias por meio do meiras civilizações. Dentre essas civilizações des-
desenho (SANTOS, 2005). taca-se a Mesopotâmia (GOMBRICH; CABRAL,
Além da pintura, a cerâmica também se desenvol- 1999).
veu, havendo um forte senso estético, o objeto além A civilização mesopotâmica se desenvolveu
de funcional também deveria ser belo. A utilização do por volta do século VI a.C, mesmo período histó-
metal também se mostrou presente em esculturas que rico em que desenvolvia o Egito. Localizada entre
representavam mulheres e guerreiros. A construção dois rios, Tigre e Eufrates, território hoje corres-
de moradias também se tornou comum. Os Nuragues pondente ao Iraque e proximidades, essa civiliza-
eram edificações em pedra em forma de cone sem a ção foi povoada por diferentes povos, tais como:
utilização de argamassa que servia como moradia sumérios, assírios, babilônicos e persas (STRI-
(JANSON, H.; JANSON, A., 1996). CKLAND; BOSWELL, 2014).
A arte se desenvolveu de forma específica em
MESOPOTÂMIA cada um desses povos, contudo, há que se destacar
algumas características para escrita, arquitetura,
A Figura 5 traz um exemplo da arte de baixo relevo música, dentre outros elementos de manifestações
dos povos mesopotâmicos. Essa arte expressa, nor- que ocorreram nessa região. Vejamos cada uma de-
malmente, grandes autoridades ou fatos marcantes, las a seguir.

19
HISTÓRIA DA ARTE E DO DESIGN

A escrita que se desenvolveu na Mesopotâmia é vimento da arquitetura e mesmo da urbanização.


chamada de cuneiforme, foi desenvolvida pelos su- Gombrich e Cabral (1999) afirmam que os povos da
mérios e utilizada por outros povos. A característica Mesopotâmia foram os primeiros urbanistas, pois
principal dessa escrita é que cada imagem significava suas cidades eram organizadas e estruturadas.
uma ideia, e a mesma estava ligada a fins de registros Devido a escassez de pedras, utilizavam-se tijolos
religiosos e políticos. Essa escrita recebeu o nome de para a construção de templos e palácios caracteriza-
cuneiforme devido a presença de cunhas feitas em pla- dos pelo luxo e grandiosidades no espaço e formato.
cas de argila, o que proporcionou a construção da es- Os zigurates eram templos de base retangular, com vá-
crita, visto que ainda não havia o papel (GOMBRICH; rios andares, e se destacaram na arquitetura. Contudo,
CABRAL, 1999). Observe um exemplo na Figura 6. foram os jardins suspensos dos babilônios que cha-
Além da escrita, houve um intenso desenvol- mavam a atenção, pois os palácios eram construídos
possuindo vários andares, e em cada uma deles
havia imensos jardins (STRICKLAND;
BOSWELL, 2014). Observe, nas
imagens a seguir, o zigurate e o
jardins suspensos.
Já a escultura e pin-
tura se destacavam como
elementos decorativos. Na
escultura, se usava a técnica
do baixo relevo, onde o traba-
lho era desenvolvido sobre paredes
ou murais. As cenas retratadas
representavam criaturas míticas
ou então cenas de batalhas e seus
heróis. A pintura mural era um
complemento da escultura, nor-
malmente feita com cores vivas
e brilhantes, sendo utilizadas
largamente em paredes e
murais (GOMBRICH; CA-
BRAL, 1999). Veja o exem-
plo na figura que se segue.
A música, o canto e a
dança possuem valores mí-
Figura 6 - Escrita cuneiforme
tico-religiosos, ou seja, estão

20
DESIGN

ligados às crenças voltadas a religião, mitos e lendas de


cada povo que viveu nas terras entre os rios Tigre e Eu-
frates (GOMBRICH; CABRAL, 1999).
Outro elemento a ser destacado se refere a cerâmica
que era feita de argila, assim como tijolos esmaltados
utilizados na construção como elementos decorativos.
No que se refere a ourivesaria, houve destaque para a
produção de estátuas de cobre e ouro, assim como jóias
tais como: colares, braceletes e brincos, destacando-se
também utensílios domésticos produzidos em metais
finos, como afirma Gombrich (1999).
Além dos mesopotâmicos, muitas outras civili-
zações foram se desenvolvendo nesse período, como
o Egito, que veremos a seguir.

Figura 7 - Zigurate e jardins suspensos nos palácios Figura 8 - Escultura e pintura em baixo relevo

21
HISTÓRIA DA ARTE E DO DESIGN

A Arte Egípcia
O Egito se desenvolveu às margens do rio Nilo. A cultura, assim como o próprio império e sua
Inicialmente, as tribos nômades se fixaram às política, é fortemente influenciada pela religião. O
margens do rio para obtenção de água e aprende- Faraó é considerado chefe político e religioso, re-
ram a agricultura, que se mostrou bastante van- presentante de deus entre os homens. Assim sendo,
tajosa devido às cheias do rio que inundava as toda a produção cultural e social desse povo está
terras das margens e as fertilizava, deixando uma atrelada às crenças religiosas (SANTOS, 2005).
grande quantidade de húmus quando a água re- Havia uma grande preocupação com a vida ter-
tornava ao seu volume original (STRICKLAND; rena, a qual não só era garantida por meio de diver-
BOSWELL, 2014). sos rituais e oferendas, mas também com a passagem
Janson H. e Janson A. (1996) ressaltam que a so- para a morte e a vida após a morte, a qual exigia uma
ciedade egípcia iniciou-se como império por volta de morada para a alma e o corpo após a morte, assim
3.000 a.C, quando houve a unificação do alto e do bai- como a conservação do corpo para que se pudes-
xo Egito por meio do Faraó Menés, que deu origem a se retornar a vida após o julgamento de Osíris, deus
primeira das 30 dinastias que reinaram no Egito. responsável por julgar os mortos (SANTOS, 2012).

22
DESIGN

Devido a essas crenças, muitos conhecimentos fo- do Egito, como afirma Santos (2005). Observe um
ram desenvolvidos de forma avançada no Egito, como exemplo dessa pirâmide na Figura 10.
a medicina e o embalsamamento para a conservação
do corpo; a arquitetura por meio de grandes monu-
mentos; e grandes obras de engenharia, como canais
de irrigação e palácios. A arte, assim como a forma de
se viver no Egito, também se voltava à religião.
O conhecimento que se tem da cultura e da for-
ma de vida dos egípcios se deve ao fato de que eles
desenvolveram um sistema de escrita organizado.
A escrita hieroglífica era formada pela combinação
dos hieróglifos - são pequenas figuras que possuíam
significado próprio e que, agrupadas, proporciona-
vam a construção da escrita, como afirma Janson H.
e Janson A. (1996). Veja um exemplo na Figura 9.
Os egípcios deixaram registros detalhados de
sua forma de vida, organização social e crenças por Figura 9 - Escrita egípcia por meio de hieróglifos
meio de sua escrita, o que nos possibilita entender
como viviam.
Além da escrita, também desenvolveram a ar-
quitetura por meio de monumentos mortuários,
como as pirâmides do egito, que são os túmulos que
deveriam abrigar o corpo e a alma do Faraó após a
morte. As pirâmides se desenvolveram de diferentes
formas ao longo da história do Egito, assim como a
arte. Com mais de 3 mil anos de história, dividiu-se a
história do Egito em Antigo Império (2.700 — 2200
a.C.), Médio Império (2.033 — 1.710 a.C.) e Novo
Império (1559 — 1.069 a.C.) (SANTOS, 2005).
No Antigo Império, iniciou-se a construção das
pirâmides. É nesse momento que se iniciam as cons-
truções monumentais, a primeira delas foi a pirâ-
mide de Djoser, construída pelo arquiteto Imotep, Figura 10 - Pirâmide de Djoser
sendo a primeira das obras de grandes proporções

23
HISTÓRIA DA ARTE E DO DESIGN

Além da pirâmide, que era o túmulo do Faraó, todo o


seu interior era preparado para a nova vida do sobera-
no, a fim de garantir que fosse julgado de forma corre-
ta. Sendo assim, o interior da pirâmide era preparado
para a nova vida. No interior desses monumentos, a
vida do faraó deveria ser contada e todos os seus feitos
narrados, para tanto, os escritos eram feitos nas diver-
sas paredes das câmaras que compunham a pirâmide.
Além disso, havia também a presença da pintura e de
baixos relevos para ornamentar e enfatizar os feitos do
Figura 11 - Pirâmides do Egito
soberano (GOMBRICH; CABRAL, 1999).
Após experimentos e anos de prática, os egíp-
cios mudaram o formato da pirâmide, adaptando
o modelo de Imotep e construindo as pirâmides de
Quéops, Quéfren e Miquerinos. Ademais, entre as
grandes obras também se destacou a Esfinge, que re-
presenta o faraó Quéfren. Contudo, devido ao tem-
po, acabou mudando sua aparência para uma figura
enigmática como destaca Santos (2005).
Santos (2005) ressalta que a pintura e o baixo re-
levo seguiam a lei da frontalidade, obrigatória na
arte egípcia. “Essa lei determinava que o tronco da
pessoa fosse representado sempre de frente, enquan-
to sua cabeça, suas pernas e seus pés eram vistos de
perfil” (SANTOS, 2005, p. 19).

REFLITA

A pintura e mesmo a escultura em baixo re-


levo representavam muitas vezes a figura do
Faraó perante Osíris, o deus responsável por
julgar os mortos. Esses dois elementos artís-
ticos eram muito usados na decoração de
interiores em composições com a escrita para
registrar os grandes feitos do faraó.

(Maria das Graças Vieira Proença dos Santos)


Figura 12 - Pintura de baixo relevo seguindo a lei da frontalidade

24
DESIGN

A intenção dessa forma de pintura era que o ob- sibilitou rever alguns padrões estéticos, como ocorre
servador entendesse imediatamente que se tratava no caso da pintura, onde se ousou representar mo-
de uma mera representação. Observe um exemplo vimento e figuras mais elaboradas; contudo, devido
na Figura 12. às disputas de poder e retomada do poder por parte
Em se tratando da escultura, cabe ressaltar ain- dos sacerdotes, fez com que a pintura voltasse a lei da
da que havia uma grande preocupação em repre- frontalidade.
sentar os indivíduos em seus mínimos detalhes, Os autores destacam, ainda, o desenvolvimen-
desde a fisionomia do rosto ao formato do corpo. to de objetos fúnebres, objetos que eram colocados
De acordo com Santos (2005), a escultura foi a ma- na câmara do faraó, tais como urnas, vasos, mobília,
nifestação artística que possuiu maior representa- jóias, carroças, dentre outros objetos. Destaca-se en-
tividade, pois ganhou as mais belas representações tre esses objetos o sarcófago, uma urna mortuária que
do Antigo Império. guardava o corpo mumificado do faraó (GOMBRI-
O Médio Império trouxe pouca representativi- CH; CABRAL, 1999). Observe um exemplo de sarcó-
dade a arte, continuou com a pintura e escultura em fago na Figura 13.
baixo relevo; no entanto, a escultura tradicional mu- Os egípcios dominaram o trabalho com metais
dou drasticamente, pois nesse período havia uma e pedras preciosas, assim uma grande parte dos
preocupação em representar um ideal e não mais o objetos, inclusive o sarcófago, eram feitos de outro
indivíduo em sua aparência real. Assim, a escultura maciço e adornados com pedras preciosas (SAN-
tornou-se apenas decorativa e apresenta os sobera- TOS, 2012).
nos e deuses com uma aparência eleita como perfei- Contudo, apesar dessa vasta riqueza, assim
ta (JANSON, H.; JANSON, A., 1996). como qualquer império, o Egito teve suas crises e
Os autores prossegue afirmando que o Novo Im- passou por diversas invasões, o que provocou mu-
pério trouxe grandes transformações a arte, princi- danças significativas em sua cultura e arte, modifi-
palmente no que se refere a construção de grandes cando o estilo de vida desse povo. O império entrou
monumentos e as modificações na estrutura da pin- em decadência após ser invadido por diversos po-
tura (JANSON, H.; JANSON, A., 1996). vos, como gregos e romanos.
Gombrich e Cabral (1999) destacam que os Fa-
raós diminuíram o poder dos sacerdotes, o que pos-

REFLITA

A arte egípcia retrata uma forma de pensar


e viver onde a religião e as crenças estão
intimamente ligadas à vida cotidiana e que
permanece até a atualidade.
Figura 13 - Sarcófago

25
HISTÓRIA DA ARTE E DO DESIGN

Creta e Grécia
Assim como se desenvolveu o Egito às margens do Essa civilização existiu por volta de 2.600 a 1.460
rio Nilo, muitas outras civilizações se desenvolve- a.C, sendo extinta devido às invasões de outros po-
ram e se destacaram, deixando vestígios que nos vos. No que se refere à arquitetura, ela era bastante
permitem entender sua história. Uma das civiliza- complexa para a época, sendo o Palácio de Cnossos
ções que se desenvolveu no que seria hoje atuais seu maior exemplar.
ilhas gregas, foi a civilização de Creta, ou civilização
Minóica (SANTOS, 2012). Cnossos destaca-se como sítio arqueológico
mais importante de Creta. As escavações reali-
Janson H. e Janson A. (1996) apontam que essa ci-
zadas entre 1900 e 1935 por sir Arthur Evans
vilização apresenta uma história bem peculiar. Pouco se na região, revelam afrescos, belos e delicados
sabe ainda sobre seu estilo de vida e cultura, pois sua es- recipientes pintados e estatuetas de mármore e
crita ainda não foi decifrada. Além disso, Santos (2005) fiança. Todas essas descobertas proporcionaram
destaca que são poucos os resquícios de monumentos e informações importantes sobre a indumentária
e a Arte cretense (COSGRAVE, 2012, p. 33).
objetos produzidos por tal cultura que permaneceu, já
que seus monumentos eram, em sua maioria, feitos de Observe, caro(a) aluno(a), o palácio de Cnossos na
tijolos de barro, não resistindo à passagem do tempo. Figura 14.

26
DESIGN

A arquitetura do palácio apresenta características


importantes; a primeira delas se refere à organiza-
ção do espaço com salas que levam a imensos pátios,
proporcionando luminosidades e ambientes abertos
para descanso e jardins. Outro aspecto relevante é
que o mesmo possuía, no mínimo, dois andares; es-
tima-se que fossem três ou quadro, o que pressupu-
nha distribuir colunas e escadas de forma adequada
para dar sustentação ao prédio.
Para Janson H. e Janson A. (1996), o palácio é
um exemplar elaborado da arquitetura que também
expressa a arte decorativa, muito utilizada, especial-
mente, em murais.
A pintura era empregada como decoração em
grandes afrescos e murais decorativos. Os temas
mais comuns envolvem atividades cotidianas e mes-
Figura 14 - Palácio de Cnossos
mo a vida marinha, visto que Creta era uma ilha.
Observe alguns exemplos na Figura 15:

Figura 15 - Murais decorativos do Palácio de Cnossos

27
HISTÓRIA DA ARTE E DO DESIGN

A pintura seguia alguns padrões. Ela tinha influên- Dentre os povos da Antiguidade, os gregos foram os
cia egípcia, pois aplicava alguns dos princípios da lei que mais tiveram liberdade artística, não se subme-
da frontalidade, a diferença aqui é que havia mais tendo a sacerdotes ou reis autoritários, mas sim prio-
dinamicidade e cor nos afrescos. As cores mais uti- rizado a criação e a valorização da estética, buscan-
lizadas eram o vermelho, azul e branco, assim como do sempre produzir o belo (SANTOS, 2005).
tons de ocre, azul e marrom (SANTOS, 2005). A civilização grega se desenvolveu por volta do
Além da pintura havia um intenso trabalho com século XII a.C, quando os diversos povos que viviam
metais e cerâmica. E, em termos de metais, havia na região começaram a intensificar o comércio entre
larga fabricação de joias e pequenos adereços, assim si e fortalecer suas fronteiras formando as cidades
como pequenas estátuas de bronze e ferro (COS- estados ou as Pólis. Contudo, é somente a partir do
GRAVE, 2012). Já a escultura se desenvolveu em pe- século VII a.C que essas cidades se fortalecem e,
quenos exemplares decorativos, e havia uma grande devido ao comércio com outros povos, acabam por
representação de mulheres. Essa civilização ainda é incorporar certas influências e adaptá-las à sua cul-
um mistério, mas podemos observar seu desenvolvi- tura, nascendo assim uma identidade cultural entre
mento pelos afrescos e pintura. as cidades, formando a civilização grega (SANTOS,
A Grécia, assim como o Egito, é uma civilização 2012).
que deixou muitos vestígios para estudos e desen- A arte grega passou por três momentos distintos:
volveu-se de forma bastante ampla nas artes, princi- Período Arcaico (800 a 500 a.C), Período Clássico
palmente na escultura e na arquitetura. (500 a 336 a.C) e Período Helenístico (336 a 146 a.C).
Janson H. e Janson A. (1996) afirmam que cada um
desses períodos apresenta características marcantes
SAIBA MAIS em termos de desenvolvimento artístico. Vejamos
cada um deles.
A Grécia possuía abundância e variedade de No Período Clássico (500 a 336 a.C) se desta-
materiais para utilização em diversas áreas, ca a arquitetura e a escultura e também a pintura.
como a arquitetura e escultura. Dentre esses No que se refere à arquitetura, cabe destacar que os
materiais destacam-se a madeira, as pedras
calcárias e o mármore. gregos tinham uma preocupação maior com obras
monumentais dedicadas aos deuses ou ao estado,
O mármore foi um dos materiais mais utili-
zados, sendo empregado em grandes cons- ficando as moradias em segundo plano (GOMBRI-
truções públicas e templos, assim como em CH, 1999).
decoração de interiores. Contudo, é na escul- A base das construções gregas se dá por meio
tura grega que esse material possibilitou a
elaboração de estátuas detalhadas em termos das colunas, que é o suporte para qualquer tipo de
de anatomia e vestuário, visto que possibilita- construção. As colunas são compostas por três par-
va entalhar com detalhes rugas, expressões tes: base, fuste e capitel.
faciais, dobras de roupas e tecidos.

Fonte: Gombrich (1999). • Base: o suporte da coluna, uma espécie de


pedestal entre o piso do edifício e o fuste.

28
DESIGN

• Fuste: o corpo alongado vertical da coluna, palmente por meio do modelo do capitel que pode
que determina a altura da construção. Ge-
ser no estilo Dórico, Jônico e Coríntio. Veja como
ralmente, tem a forma cilíndrica.
• Capitel: é a parte superior da coluna, cuja ca- Trindade (2007) descreve cada uma delas e observe
racterística decorativa é a mais evidente nas o exemplo na figura seguinte:
ordens gregas (TRINDADE, 2007, p. 37). • Ordem Dórica: simples e maciça.
• Ordem Jônica: mais detalhada e com mais
As colunas não servem apenas como sustentação, leveza.
mas também como elementos decorativos, princi- • Ordem Coríntia: carregada de detalhes, mais
ornamentada e detalhada do que a Jônica.

Figura 16 - Estilos das colunas gregas, Dórico, Jônico e Conríntio.

29
HISTÓRIA DA ARTE E DO DESIGN

rígida e sem movimento. Esse tipo de escultura era


chamado de Kouros, que significava homem jovem.
Observe o exemplo na Figura 17.
No que se refere à pintura, nada restou dos pai-
néis e murais presentes em tempos. A cerâmica é
que nos oferece uma grande quantidade de exempla-
res da pintura no período arcaico. As temáticas que
aparecem se referem a cenas cotidianas, mitologia e
lendas, como afirma Janson H. e Janson A. (1996).
Nesse período, as cores da cerâmica eram aper-
feiçoadas de forma que as figuras fossem trabalhadas
com tinta preta e detalhadas com uma ferramenta
que retirava a cor, proporcionando maiores detalhes
aos exemplares e movimento (SANTOS, 2012).
O período arcaico apenas marca o ínicio da arte
na Grécia. É no Período Clássico (500 a 336 a.C)
que a arte grega floresce, expandindo-se e ganhando
maior apelo estético, principalmente na escultura,
como destaca Trindade (2007).
A arquitetura do Período Clássico mostra-se monu-
mental. O maior exemplo desse período é o Parthenon,
templo dedicado a deusa Atena, protetora da Cidade de
Figura 17 - Polímedes de Argos — Os irmãos Cleóbis e Biton (c.615-590 a.C.)
Fonte: Wikipédia (2015, on-line)2. Atena. A estrutura do templo foi pensada de forma a dar
estabilidade e proporcionar amplitude. Havia uma preo-
A principal manifestação arquitetônica desse perío- cupação muito grande com a estética, o que proporcio-
do foram os templos, construídos não somente como nou o surgimento e utilização da coluna no estilo Corín-
locais para adoração aos deuses, mas sim como local tio, largamente utilizada por ser mais decorada. Observe
de proteção as estátuas dos deuses (SANTOS, 2005). o templo da deusa Atena na Figura 18.
O grande destaque da arquitetura desse momen- Além dos templos, muitos teatros foram cons-
to vai para o tempo de Héraion de Olímpia, dedi- truídos. Nesse período, o teatro era composto “por
cado a deusa Hera, como afirma Trindade (2007). 3 partes: uma cena, a orquestra (espaço circular ou
Os templos também apresentavam ornamentação e semicircular central, onde ficava o coro) e um semi-
culturas ainda bastante primitivas. círculo de degraus onde ficava a platéia” (TRINDA-
As esculturas do período arcaico têm uma forte DE, 2007, p. 40).
influência egípcia, são bastante rígidas e apresentam Os gregos apreciavam a música, a dança e
a lei da frontalidade assim como uma preocupação também a encenação, que se dava em espaços pú-
exagerada com as simetria, o que tornava a escultura blicos dedicados a essas atividades, os teatros. De-

30
DESIGN

Figura 18 - Parthenon

senvolveu-se, na Grécia, os gêneros de comédia e homem era o centro da representação, havendo uma
tragédia. preocupação muito grande com a perfeição estética
Ainda nesse período, a arquitetura era voltada na construção da pintura e também da escultura.
para obras públicas e monumentais que passaram É nesse período que a escultura se desenvolve
a receber ornamentos cada vez mais sofisticados, buscando movimento, leveza e estética, assim os ar-
como as esculturas. tistas estudam a forma do corpo, posições, músculos
A escultura e a pintura, como afirma Janson H. e e materiais que possibilitem compor as novas estátu-
Janson A. (1996), eram antropocêntricas, ou seja, o as. Inicialmente, o material utilizado era o mármore,
contudo, devido a sua fragilidade, em muitos casos
REFLITA era substituído pelo bronze (SANTOS, 2005).
Nesse período, a preocupação era que a escul-
O teatro tem sua origem na Grécia Antiga, tura apresentasse movimento e perfeição estética.
tendo como destaque, principalmente, os A obra deveria ser bela de todos os ângulos, sendo
gêneros de tragédia e comédia. as estátuas, exemplificadas na Figura 19, os maiores
exemplares desse período.

31
HISTÓRIA DA ARTE E DO DESIGN

Figura 19 - Poseidon e Discóbolo em mármore


Fonte: Trindade (2007, p. 41).

Na pintura, houve inversão nas cores, pois antes domínio de Alexandre, O Grande, que conquistou
elas eram representadas em preto e, nesse período, muitas terras e disseminou a cultura grega que aca-
passaram a ser representadas em tons claros, crian- bou por ser influenciada por outros elementos cul-
do maior contraste cromático e movimento. Obser- turais também (TRINDADE, 2007).
ve a diferença na Figura 20. Esse é o momento em que o escultor tem maior
Ao inverter as cores proporciona-se maior har- liberdade de expressão e veremos a temática feminina
monia e movimento, assim como leveza ao trabalho entrando com força na escultura. Mulheres seminuas
de pintura em cerâmicas. ou nuas aparecem com frequência; além disso, a dra-
O período Helenístico (336 a 146 a.C) marca maticidade é incorporada à escultura (SANTOS, 2012).
uma fase onde as culturas grega e oriental se fun- Em se tratando da escultura, a intenção era
diram, dando origem ao mundo Helenístico sob proporcionar ao observador inquietação, seja pela

32
DESIGN

Figura 20 - Pintura no estilo arcaico e pintura no estilo clássico

beleza ou pela dramaticidade da obra. A expressão No que se refere à escultura, ela se volta para
corporal e mesmo facial era trabalhada em detalhes a moradia, que passa a ganhar atenção com co-
para expressar vida e provocar emoções. lunas, murais e ambientes suntuosos. Os teatros
Os maiores exemplares desse período foram Vênus também se modificam, aproximando mais o pú-
de Milo e Vitória (Nike) de Samotrácia. A primeira re- blico dos atores.
presenta a deusa Vênus seminua, com corpo delineado Após esse período, a cultura grega começa a en-
apresentando sensualidade. A segunda é uma estátua trar em decadência devido às invasões e influências
que representa a vitória de uma batalha militar; a es- de outros povos. Contudo, ela influenciou profun-
tátua foi colocada na proa de um navio. Essa obra traz damente outra civilização, Roma, que aprimorou
movimento devido as asas simbolizando a vitória e ao muito do que se desenvolveu na Grécia.
drapeado, que parece se esvoaçar com o vento.

33
HISTÓRIA DA ARTE E DO DESIGN

A Arte Romana
A formação de Roma envolve uma série de lendas e Em se tratando da arquitetura, dos etruscos, os
mitos sobre dois irmãos alimentados por uma loba, romanos aprenderam a projetar a abóbada, compos-
contudo, apesar desses mitos, se sabe que essa civi- ta por várias pedras, formando um espaço côncavo,
lização teve origem por volta dos anos de 700 a.C e onde as pedras se apoiavam umas sobre as outras,
sofreu fortes influências dos etruscos e gregos que dispensando o uso exagerado de colunas como fa-
habitavam a região da Itália, dando origem aos ro- ziam os gregos (SANTOS, 2012).
manos (SANTOS, 2005). A autora prossegue afirmando que dos gregos
Gombrich e Cabral (1999) ressaltam que os ro- os romanos utilizaram as colunas, não apenas como
manos construíram sua cultura com bases etruscas sustentação, mas como elementos decorativo que
e gregas para, então desenvolver um estilo próprio. compunham a estrutura de templos e prédios públi-
Janson H. e Janson A. (1996) destacam que, devido cos (SANTOS, 2012).
a essas influências, a arquitetura romana desenvol- Devido a essas duas influências, a arquitetura ro-
veu-se de forma distinta e promoveu inovações no mana tornou-se mais ampla, com grandes espaços
mundo antigo. internos, que possibilitam a circulação de pessoas e

34
DESIGN

proporcionam a sensação de amplidão. O referido O maior exemplo desse tipo de arquitetura é o tem-
autor destaca que por volta do século I d.C, os roma- plo chamado de Panteão, projetado para reunir uma
nos possuíam um estilo próprio. grande variedade de deuses, possibilitando que uma
No que se refere a construção de templo, os ro- quantidade opulenta da população pudesse se reu-
manos valorizavam o espaço interno por meio das nir para o culto. Observe esse templo na Figura 21.
abóbadas e apreciavam também as colunas que eram Os romanos também desenvolveram diferentes
utilizadas nas fachadas frontais e mesmo como ele- aspectos na arquitetura do teatro. Muito apreciado-
mentos decorativo na parte interna, sem a função de res de diversos espetáculos, assim como as lutas en-
sustentação. tre gladiadores, os romanos desenvolveram diversos
Além disso, Trindade (2007) destaca que os teatros e anfiteatros. Ao dominar a arquitetura base-
templos eram construídos em planos mais elevados, ada em arcos, os romanos aprenderam a distribuir o
sendo acessados por meio de escadarias que davam peso e dar maior sustentação à construção, podendo
acesso a uma fachada frontal, bem diferente das la- fazê-la em qualquer espaço com proporções gigan-
terais do templo, aspecto bem divergente dos gregos. tescas (TRINDADE, 2007).

35
HISTÓRIA DA ARTE E DO DESIGN

Por apreciar as lutas entre gladiadores, que podia


ser vista de todos os ângulos, os romanos construí-
am um novo estilo de arquitetura para o espetáculo,
com uma arena central oval e as arquibancadas dis-
tribuídas ao redor da arena. O maior exemplar desse
tipo de arquitetura é o Coliseu.
Além do anfiteatros e templos, outro elemento
que tinha fundamental importância para os roma-
nos eram as moradias. Santos (2012) destaca que os
romanos possuíam uma estrutura rígida e formal
para as casas, que consistia em um retângulo no qual
a entrada se dava por uma das partes menores, onde
havia uma sala principal, o átrio. Nessa sala havia
um espaço aberto no teto e um tanque para coletar
água da chuva no chão, bem embaixo do espaço do
teto. Esse espaço aberto possibilitava a entrada de ar
e luz no ambiente.
Figura 21 - Panteão

SAIBA MAIS

Posteriormente, na Era Cristã, o Panteão foi


adaptado a religião católica, sendo um dos
únicos templos pagãos que hoje é ocupado
por uma igreja cristã.

Toda a estrutura externa e interna do templo


se manteve; as colunas decoradas, o frontão
e o espaço aberto na parte da frente também.
O monumento se manteve e é considerado
patrimônio cultural.

Embora o templo traga uma influência não


cristã, sua adaptação a religião católica o fez
permanecer.

Fonte: Santos (2005).

Figura 22 - Vista interna do Coliseu

36
DESIGN

A partir dessa entrada, o átrio se seguia para o


cômodo principal da casa e para dos demais cômo-
dos. Os cômodos eram bem organizados, contu-
do, os romanos apreciavam o peristilo, um espaço
aberto rodeado por colunas que foi incorporado aos
fundos das casas romanas, dando acesso a outros
cômodos. Observa-se, portanto, que os romanos
incorporaram elementos de diferentes culturas à ar-
quitetura, adaptando-os às suas necessidades.
A pintura que se desenvolveu em Roma é bas-
tante particular, estando muito ligada a decoração
de interiores e é classificada em quatro estilos, como
afirma Santos (2005).
O primeiro deles não se refere especificamente à
pintura, mas sim a recobrir as paredes de uma sala
com gesso imitando mármore; contudo, mais tarde,
o gesso foi dispensado, pois os pintores perceberam
que apenas a pintura poderia imitar o mármore, sem
a necessidade do gesso (SANTOS, 2005).
O segundo estilo se refere à possibilidade de
criar painéis que davam a ilusão de janelas abertas
com paisagens cotidianas, ou seja, por meio do estu-
do de profundidade e iluminação, criava-se ilusões
de portas e janelas com diversas paisagens ou faziam
grandes pinturas murais, acrescentando barrados Figura 23 - Escultura do Imperador Augusto
próximos ao piso e ao teto e montavam cenas deco-
rativas em toda a parede (SANTOS, 2005).
Santos (2005) afirma que o terceiro estilo valo- REFLITA

rizava a delicadeza com pequenos detalhes; assim,


as grandes pinturas murais foram aos poucos aban- Os estádios de futebol foram inspirados no
donadas, isso por volta do século I a.C. Já o quarto Coliseu graças a sua estrutura.
estilo é a junção da ilusão do espaço buscando am- Devido a sua distribuição de espaço, o Coli-
plitude e da delicadeza do terceiro estilo. Nesse esti- seu serviu de inspiração para a construção
lo, pequenos painéis eram distribuídos nas paredes, dos estádios de futebol dos dias atuais.

proporcionando harmonia e delicadeza.

37
HISTÓRIA DA ARTE E DO DESIGN

No que se refere à escultura, os romanos eram desenvolveu muito como elemento decorativo de pai-
grandes admiradores da escultura grega e aprende- néis e paredes, ou seja, a escultura mural, como afirmam
ram muito ao observar e estudar tal estilo; contudo, Gombrich e Cabral (1999). A escultura mural relatava
os romanos apresentavam uma preocupação mais grandes feitos de generais, imperadores e batalhas. Esse
realista, ou seja, buscavam retratar os indivíduos tipo de escultura era comum em palácios, templo, obras
com todos o seus traços, inclusive imperfeições, bem públicas e mesmo no interior de algumas casas.
diferente do ideal de beleza grega (SANTOS, 2012). As esculturas romanas eram muito detalhadas
Portanto, as estátuas romanas apresentam-se e expressivas, assim como sua arquitetura. Após o
de forma a colocar os traços étnicos no indivíduo, século I d.C., Roma começou a sofrer invasões cons-
de acordo com suas imperfeições; o mesmo se valia tantes e, por volta do século V, foi completamente
para o vestuário, que expressava movimento e acom- invadida pelos povos bárbaros, marcando a queda
panhava o corpo. As poses buscavam imponência e do império e o início da Idade Média.
respeito, retratando perfeitamente a anatomia do Caro(a) aluno(a), espero que tenha apreciado a
corpo, como afirma Santos (2005). leitura referente ao início da arte e como ela se de-
Além das estátuas, a escultura romana também se senvolveu nas civilizações antigas. Até breve.

Figura 24 - Escultura mural

38
considerações finais

Caro(a) aluno(a), entender o que é arte e como ela se manifesta não é algo simples. Lem-
bre-se que a arte está relacionada aos objetos que o ser humano produz e que são represen-
tativos de uma determinada cultura, seja pelo seu valor histórico ou pela raridade.
Portanto, podemos entender que, em sua maioria, a produção humana está ligada à
arte. Desde a Pré-História até os dias atuais, o homem produz objetos para contar sua
história, seja com utensílios ou para simples contemplação; são esses objetos que nos per-
mitem entender como viviam os povos da Antiguidade.
A arte da Pré-História estava mais associada às pinturas rupestres; no entanto, com
o desenvolvimento das civilizações, a arte se desenvolveu de forma diferenciada em cada
uma delas.
As civilizações que se desenvolveram à margem dos rios Tigre e Eufrates deram origem
a Mesopotâmia, que trouxeram elementos importantes para a urbanização, assim como
jardins suspensos.
Os egípcios, por exemplo, têm em sua arte uma forte influência religiosa voltada para
a vida após a morte. O conhecimento dessa cultura se deu devido ao sistema de escrita
detalhado, que possibilitou entender como viviam.
Já os gregos se inspiraram nos egípcios, mas aprimoraram a arte se desenvolvendo
muito na escultura e arquitetura. Na escultura, usaram as colunas como suporte para seus
templos, assim como elementos decorativos, havendo uma proporção com a naturalidade
da obra, assim como a estética.
Os romanos tiveram influência grega e também etrusca e inovaram na arquitetura por
meio dos arcos e abóbadas, criando o Panteão e o Coliseu. Na escultura, se preocuparam
com a expressão da realidade, retratando os indivíduos como eram, com suas imperfeições
e características particulares.
O que podemos perceber, caros(as) alunos(as), é que a arte assume características úni-
cas para cada período histórico e para cada civilização. Espero que tenham apreciado a
leitura. Até breve!

39
atividades de estudo

1. Os objetos fazem parte do cotidiano e muitos deles expressam a arte devido ao seus
valor histórico e de raridade. Por que os homens criam objetos? Explique.

2. Os homens pré-históricos deram início às manifestações artísticas. Qual é a mani-


festação artística mais comum desse período?
a. Pintura em cerâmica.
b. Cestaria.
c. Pinturas rupestres.
d. Escultura.
e. Nenhuma das opções anteriores está correta.

3. A Mesopotâmia é uma civilização que se desenvolveu entre os rios Tigre e Eufrates.


Referente a arte que ali se desenvolveu, leia as alternativas que seguem.
I. A escrita que se desenvolveu na Mesopotâmia é chamada de multiforme.
II. Devido a escassez de pedras, utilizavam-se tijolos para a construção de templos e
palácios caracterizados pelo luxo e grandiosidades no espaço e formato.
III. Já a escultura e pintura se destacavam como elementos decorativos.
IV. Havia grandes construções de palácios com jardins suspensos.

Marque a alternativa correta.


a. I, II e III estão corretas.
b. I e III estão corretas.
c. I, II e IV estão corretas.
d. II, III, e IV estão corretas.
e. Nenhuma das alternativas anteriores está correta.

4. O Egito foi uma das civilizações mais avançadas e produziu grandes monumentos
artísticos. Referente à arte egípcia, leia as alternativas e marque V para verdadeiro e
F para falso.
( ). Desenvolveram um sistema de escrita organizado, a escrita hieroglífica, formada pela
combinação dos hieróglifos, pequenas figuras que possuíam significado próprio.
( ). Desenvolveram a arquitetura por meio de monumentos mortuários, como as pirâmi-
des do Egito, que são túmulos que deveriam abrigar o corpo e a alma do Faraó após
a sua morte.

40
atividades de estudo

( ). A pintura e a escultura seguiam a lei da simetria.


( ). A escultura foi a manifestação artística que possuiu maior representatividade, pois
ganhou as mais belas representações do Antigo Império.
Marque a alternativa correta.
a. V, V, V, F.
b. F, V, V, V
c. V, F, V, V
d. V, V, F, V
e. Nenhuma das alternativas anteriores está correta.

5. Creta foi uma civilização que se desenvolveu em uma das diversas ilhas gregas, apre-
sentando várias particularidades referentes à arte. Leia as alternativas abaixo e
marque a opção incorreta referente à arte cretense.
a. Cnossos destaca-se como sítio arqueológico mais importante de Creta.
b. A arquitetura era bela, mas pouco desenvolvida.
c. A pintura era empregada como decoração em grandes afrescos e murais decorati-
vos.
d. O trabalho com metais e cerâmicas era bem desenvolvido.
e. Nenhuma das opções anteriores está correta.

6. A escultura e a pintura grega eram antropocêntricas. Explique o que isso significa.

7. Roma sofreu duas grandes influências na construção de sua arte. Que influências
foram essas? Marque a opção correta.
a. Etrusca e grega.
b. Cretense e grega.
c. Egípcia e etrusca.
d. Egípcia e grega.
e. Nenhuma das opções anteriores está correta.

41
LEITURA
COMPLEMENTAR

Origem da arte
O mundo da arte pode ser observado, compreendido e apreciado. É através do conheci-
mento que o ser humano desenvolve sua imaginação e criação adquirindo conhecimento,
modificando sua realidade, aprendendo a conviver com seus semelhantes e respeitando
as diferenças.
A arte é quase tão antiga quanto o homem, pois ela é uma forma de trabalho, e o traba-
lho é uma propriedade do homem. Entre suas características, pode ser definida como um
processo de atividades deliberadas para adaptar as substâncias naturais as vontades hu-
manas; é a relação de conexão entre o homem e a natureza, comum em todas as formas
sociais.
O homem executa seu trabalho através da transformação da natureza. A arte, como um
trabalho mágico do homem, é utilizada como uma tentativa de transformação da natureza,
que sonha em modificar os objetos, dar uma nova forma à sociedade. Trata-se de externar
uma imaginação do que significa a realidade, portanto, o homem é considerado, por princí-
pio, um mágico, pois é capaz de transformar a realidade através da arte.
Para executar suas atividades, o homem, através das artes, como por exemplo, as pinturas
em paredes, gerou conhecimento e criou ferramentas para atender seus interesses. O ho-
mem cria a arte como uma forma para sobreviver no meio, expressar o que pensa, divulgar
suas crenças (ou a de outros), para estimular e distrair a si mesmo e aos outros, para explo-
rar novas formas de olhar e interpretar objetos e cenas.
Para que a arte exista é necessário a existência de três elementos: o artista, o observador e
a obra de arte. O artista é aquele que tem o conhecimento concreto, abstrato e individual
sobre determinado assunto, que se estressa e transmite esse conhecimento através de um
objeto artístico (pintura, escultura, dentre outros) que represente suas ideias. O segundo, o
observador, é aquele que faz parte do público que observa a obra para chegar ao caminho
de mundo que ela contém. Ainda terá que ter algum conhecimento de história e história da
arte para poder entender o contexto de tal arte. O terceiro, a obra de arte, é a criação do
objeto artístico que vai até o entendimento do observador, pois todas as artes têm um fim
em si, ou seja, uma tradução.
Fonte: Ferreira e Oliveira ([2017], on-line)3

42
DESIGN

História da arte
Maria das Graças Vieira Proença dos Santos
Editora: Ática
Sinopse: poucas obras conseguem, como esta, apresentar de
maneira tão abrangente e tão didática toda a história da arte
ocidental. Da Pré-História ao Pós-Moderno, desfilam por suas
páginas as obras mais significativas da produção cultural do
Ocidente. O texto do livro - conciso e agradável - é apoiado por
mais de 350 reproduções, além de numerosos esquemas. Uma leitura utilíssima para estu-
dantes e para o público em geral.

O vídeo apresenta brevemente as mais importantes obras da arquitetura e da Arte Romana,


explicando sua estrutura e função.
Acesse o link disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=J8s6UiJV3jo>.

43
referências

COLI, J. O que é Arte. 15. ed. São Paulo: Editora Brasiliense, 1995.
COSGRAVE, B. História da indumentária e da moda: Da antiguidade aos dias atu-
ais. Barcelona: GG moda, 2012.
GOMBRICH, E. H.; CABRAL, Á. A história da arte. 16. ed. Rio de Janeiro: LTC,
1999.
JANSON, H. W.; JANSON, A. F. Iniciação a história da arte. 2. ed. São Paulo: Mar-
tins Fontes, 1996.
SANTOS, M. G. V. P. História da arte. 16. ed. São Paulo: Ática, 2005.
______. História da arte. 17. ed. São Paulo: Ática, 2012.
STRICKLAND, C.; BOSWELL, J. Arte comentada: da pré-história ao pós-moderno.
15. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2014.
TREVISAN, A. Como apreciar a arte; do saber ao sabor: uma síntese possível. Porto
Alegre: Mercado Aberto, 1990.
TRINDADE, S. História da Arte. Bahia: Faculdade de Tecnologia e Ciências, 2007.

REFERÊNCIAS ON-LINE

1
Em: <http://historia-da-arte.info/o-que-e-arte.html>. Acesso em: 02 ago. 2017.
2
Em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Kouros>. Acesso em: 02 ago. 2017.
3
Em: <https://www2.ufersa.edu.br/portal/view/uploads/setores/241/texto%205.
pdf>. Acesso em: 25 set. 2017.

44
gabarito

1. O homem cria objetos não apenas para se servir utilitariamente, mas também
para expressar seus sentimentos diante da vida e, mais ainda, para expressar
sua visão do momento histórico em que vive.

2. c)

3. d)

4. d)

5. b)

6. O homem era o centro da representação, havendo uma preocupação muito


grande com a perfeição estética na construção da pintura e também da escul-
tura.

7. a)

45
DA IDADE MÉDIA AO SÉCULO XVIII

Prof.ª Dr.ª Paula Piva Linke


Prof.ª Me. Ana Paula Furlan

Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta
unidade:
• Idade Média
• Renascimento
• Barroco e Rococó

Objetivos de Aprendizagem
• Descrever a arte na sociedade bizantina e na Idade Média.
• Caracterizar as mudanças sociais e artísticas que
ocorreram entre os séculos XIV e XVI.
• Apresentar e caracterizar o Barroco e o Rococó.
unidade

II
INTRODUÇÃO

Olá, caro(a) aluno(a), seja bem-vindo(a) a segunda Unidade do livro de


História da Arte e do Design. O objetivo desta unidade é o de apresentar
a você a arte do período medieval, renascentista e os movimentos que se
desenvolveram no século XVII e XVIII, ou seja, o Barroco e o Rococó.
A intenção é que você compreenda como a sociedade humana evo-
luiu ao longo do tempo e como isso se reflete na arte e na forma de viver,
portanto, é sempre importante associar os períodos históricos às mani-
festações artísticas.
Iniciaremos esta unidade com a arte medieval. Após a queda do Im-
pério Romano, houve um grande êxodo urbano e as pessoas passaram a
morar em grandes propriedade rurais, sobre a proteção dos senhores feu-
dais. Assim surgiu o feudalismo, que marca a Idade Média, assim como a
influência religiosa na arte.
No fim da Idade Média, por volta do final do século XIV, mas cer-
tamente no século XV, houve o renascimento do comércio, da vida na
corte e nas cidades. Esse período ficou conhecido como Renascimento,
movimento artístico e cultural que teve início na Itália e marcou a reto-
mada de alguns valores artísticos da antiguidade clássica, principalmente
inspirados na Grécia e em Roma.
Por volta do século XVII, inicia-se outro movimento artístico, o Bar-
roco, que influencia principalmente a arquitetura, apresentando grandes
proporções na decoração de interiores com muitos elementos decorati-
vos, pouca luz e tons escuros. Em seguida, no século XVIII, vem o Roco-
có, que nega os exageros do Barroco e preza por uma arte mais leve, com
forte apreço decorativo em tons mais claros, com mais luz e cores mais
leves.
O que veremos nesta unidade, além do vasto período histórico que
estudaremos, é como se deu as transformações na arte, desde a pintura
até a arquitetura, e como elas refletem os ideais de uma sociedade. Espero
que aprecie a leitura.
HISTÓRIA DA ARTE E DO DESIGN

Idade Média
A Idade Média foi um período que durou mil anos, maioria, eram apenas pequenas pinturas realizadas
aproximadamente entre o século V e o século XIV. nas catacumbas com adorno ao túmulo dos católicos.
Nesse período, se desenvolveram manifestações artís- Para Santos (2012), essa arte era ainda muito pri-
ticas condizentes com o modo de vida da população. mitiva e feita pela população, não havendo artistas.
Santos (2005) destaca que a Idade Média tem Contudo, com o fim das perseguições e com o Império
uma forte influência cristã na arte, isso se deve ao Romano se tornando cristão, essa arte foi desenvolvida
fato de que a Igreja Católica adquiriu alto poder po- em pequenas estátuas e as pinturas se tornaram mais
lítico e espiritual, influenciando a arte. elaboradas. Entretanto, devido a invasão dos povos
A arte cristã se iniciou muito antes da Idade Mé- bárbaros, a população europeia que vivia nas cidades
dia, por volta do séculos III e IV, momento em que os foi aos poucos migrando para grandes propriedades
cristãos ainda eram perseguidos pelo Império Roma- de terras, vivendo sob a proteção de um lorde, assim, a
no. Gombrich e Cabral (1999) ressaltam que, devido a vida na cidade deu lugar a vida no campo.
essas perseguições, as manifestações artísticas, em sua Contudo, Janson H. e Janson A. (1996) desta-

50
DESIGN

Figura 1 - Basílica de Santa Sofia

cam que houve uma parte do Império Romano que tetura dessa civilização é a Basílica de Santa Sofia.
sobreviveu, na cidade de Constantinopla, e formou Além da arquitetura, desenvolveu-se a pintura,
um pequeno império, que permaneceu até o século os mosaicos e a pintura de ícones, como destaca
XV, quando foi invadida. Trindade (2007). Esses elementos eram muito utili-
Nessa sociedade, a arte adquiriu características zados na decoração de interiores.
específicas, visto que o imperador era também um Na pintura foi utilizada a frontalidade, que con-
representante de deus na terra, tornando as obras sistia em desenhar as figuras sempre na posição
públicas monumentais, assim como as basílicas. frontal, como sinônimo de imponência e superio-
Gombrich e Cabral (1999) ressaltam que a arqui- ridade, respeitando também a visão do observador,
tetura seguiu algumas influências romanas, com colu- que poderia contemplar a figura em sua vista mais
nas, arcos e abóbadas, mas a estrutura foi melhorada de expressiva. Trindade (2007) acrescenta, ainda, que a
forma a se tornar mais resistente e proporcionar maior posição dos pés, mãos, dobras das roupas e demais
suporte aos monumentos. O maior exemplar de arqui- detalhes foram cuidadosamente estudados.

51
HISTÓRIA DA ARTE E DO DESIGN

Cabe destacar, ainda, que os imperadores eram cebia uma camada de tinta à base de ouro e a figura
representados quase como santos, e a própria figu- de santos era pintada sobre essa base dourada, sendo
ra de Jesus era representada como imperador, ou os detalhes de bordados e rendas feitos por uma fer-
seja, aproximava-se a figura terrena e divina (STRI- ramenta que retirava uma camada de tinta, deixan-
CKLAND; BOSWELL, 2014). do a mostra o fundo dourado (SANTOS, 2012).
Os mosaicos seguiram basicamente as mesmas Enquanto isso, no restante da Europa, até o sécu-
regras da pintura, mas ao invés de tinta usavam-se lo X, apenas alguns povos bárbaros se dedicavam à
pedras preciosas para representar cenas bíblicas, produção de pequenos objetos decorativos e de ouri-
personalidades importantes e demais elementos que vesaria, visto que a outra parte da população vivia no
faziam parte da cultura bizantina. campo e pouco se dedicou a esse ofício. O pouco que
A pintura de ícones nos quadros seria a repre- se produzia vinha dos conventos, contudo, por volta
sentação dos ancestrais. Tais pinturas eram realiza- do século XVIII e IX, o Império Carolíngio, sobre o
das sobre placas de metal ou couro. Esse material re- governo de Carlos Magno, desenvolveu no palácio do
imperador uma escola voltada à produção artística, na
qual eram produzidos pequenas esculturas, pinturas
e objetos voltados à decoração e ao cristianismo, mas
após a morte do imperador essa iniciativa desapareceu.
Entre os séculos XI e XII desenvolveu-se o estilo
românico, que se fortaleceu, principalmente, na ar-
quitetura. O grande avanço desse estilo se deu por
meio da invenção da abóbada de berço e abóbada de
aresta. As principais características desse estilo são:
a utilização de abóbodas; pilares maciços; paredes
Figura 2: - Mosaico da civilização bizantina
espessas, para dar sustentação; e aberturas estreitas,
como janelas (SANTOS, 2005).
As paredes espessas e os pilares davam susten-
tação às abóbadas que ainda apresentavam proble-
mas em sua estrutura, pois exigiam grandes colunas
e uma boa base para sustentação, fazendo com que
o ambiente fosse mais pesado e com pouca ilumina-
ção, como afirma Trindade (2007).
As igrejas românicas eram consideradas “for-
talezas de Deus” devido ao seu tamanho e solidez.
Nesse período, a arte é uma extensão do serviço di-
vino, como destaca Santos (2005), visto que toda a
produção era voltada às questões religiosas.
Figura 3 - Mosteiro de Saint-Pierre — arquitetura românica
Contudo, é nos séculos XII, XIII e XIV que a

52
DESIGN

arte começa a se desenvolver de forma mais intensa.


Isso se deve ao fato de que inicia-se no século XII,
e se intensifica no século XIII, o renascimento do
comércio e da vida nas cidades, o que impulsiona a
arte de forma significativa.
Nesse período (séculos XII — XIV) se desenvol-
ve o estilo gótico. “O termo gótico foi empregado
de modo pejorativo, em 1.550, por Vasari, para de-
signar este estilo considerado por ele como bárbaro
(dos godos)” (TRINDADE, 2007, p. 53). De acordo
com Read (1983), a arte gótica se desenvolveu devi-
do ao renascimento urbano-comercial e expressa o
sentimento transcendental religioso.
Trindade (2007) afirma que esse estilo possui ca-
racterísticas específicas, tais como:

[...] o verticalismo; o arco quebrado ou ogival;


abóboda de arcos cruzados; paredes altas e del-
gadas com aberturas amplas e altas graças ao uso
de arcobotantes e contrafortes, que ajudavam na
sustentação da construção; fachada com três
portais; estrutura com três a cinco naves; vitrais
coloridos e rosáceas (TRINDADE, 2007, p. 53).

O primeiro exemplar desse estilo foi Abadia de Saint


Denis. Cabe lembrar, que em sua maioria, as catedrais e
igrejas desse estilo encontram-se em cidades, devido à
retomada da vida em centros urbanos (STRICKLAND;
BOSWELL, 2014). Contudo, o exemplar mais famoso
desse estilo é a Catedral de Notre-Dame, em Paris.

REFLITA

A retomada na vida na cidade faz com que


haja uma nova organização social, que se
reflete na arte e passa a se manifestar mais
intensamente nos centros urbanos por meio
da arquitetura. Figura 4 - Catedral de Notre-Dame em Paris — estilo gótico

53
HISTÓRIA DA ARTE E DO DESIGN

A escultura e os vitrais também foram muito utiliza- A arquitetura desse estilo se desenvolveu basicamen-
dos, porém como elementos complementares à arqui- te em igrejas, contudo, começou a ser aplicada em
tetura, ou seja, como elementos decorativos embuti- algumas moradias de nobres ou ricos comerciantes,
dos na estrutura das catedrais e demais monumentos. ou mesmo em prédios públicos, mas sua maior ex-
No que se refere aos vitrais, eles não são apenas ele- pressão encontra-se nas temáticas religiosas.
mentos decorativos, mas também são compostos por No que se refere à pintura, houve uma preocu-
imagens bíblicas, com o intuito de catequizar, possi- pação com o realismo, sendo a temática religiosa
bilitar a iluminação e adornar as igrejas. a mais explorada. “As figuras representadas eram
Read (1983) destaca que os temas voltados ao pouco volumosas, cobertas por muita roupa, com o
louvor eram muito comuns nos vitrais e as cores olhar voltado para cima, em direção ao plano celes-
eram sempre variadas, sendo o azul e o vermelho as te” (TRINDADE, 2007, p. 54).
mais comuns. O estilo de pintura que se desenvolveu, embora
preocupado com o naturalismo, ainda era bastante
rígido e engessado, não havia perspectiva nas obras
ou movimento, por isso, as figuras formavam obras
estáticas e sólidas. Contudo, conforme se aproxima-
va do período do Renascimento, no final do século
XVI, as obras foram se tornando mais complexas.

SAIBA MAIS

A rosácea é um vitral em forma circular que


normalmente é colocado acima da entrada
principal da igreja, proporcionando decora-
ção e iluminação. Os vitrais das rosáceas são
construídas com temas variados.

Como o próprio nome já diz, esse elemento


tem o formato de uma flor e é representada
por meio de um círculo, com uma pequena
esfera central da qual saem nervuras, as quais
representam as pétalas de uma flor. Devido
ao seu local de destaque na arquitetura, os
vitrais são bem detalhados e coloridos.

Esse elemento arquitetônico encontra-se em


praticamente todas as igrejas do estilo gótico,
entre os séculos XII e XIV.

Fonte: Santos (2005).


Figura 5 - Vitral da rosácea de Notre-Dame

54
DESIGN

Os pintores desse período que mais se destacaram Juntamente com todas essas mudanças na arte, vem
foram Giotto di Bondone (1267-1337) e Jan van também as mudanças na forma de vida. Com a retoma-
Eyck (1309-1441). Para Trindade (2007), Giotto da da vida nas cidades, surge uma nova classe social: a
“estava em busca do humano, almejava dar um burguesia, que é composta pelos comerciantes.
caráter humano às figuras que representava, um Muitos desses comerciantes enriqueceram e pas-
prenúncio do humanismo renascentista” (TRIN- saram a consumir obras de arte em larga escala, pa-
DADE, 2007, p. 54), enquanto que Van Eyck trocinando pintores e incentivando estudos e diversos
trabalhos voltados à escultura, pintura e arquitetura.
procurava registrar na pintura os aspectos da Portanto, a partir da retomada da vida nas cida-
vida urbana e da sociedade de sua época. Em
des e do fortalecimento do comércio, veremos tam-
suas pinturas evidencia-se um cuidado com a
perspectiva, objetivando mostrar os detalhes e bém um renascimento nas artes e na ciência. Tema
as paisagens (TRINDADE, 2007, p. 54). do nosso próximo tópico.

Figura 6 - Quadro central do políptico. Retábulo do Cordeiro — Adoração do Cordeiro Mútico (1426- 1432), de Jan Van Eyck

55
HISTÓRIA DA ARTE E DO DESIGN

Renascimento
O Renascimento marca um período histórico de mento caracteriza a passagem da Idade Média para
grande desenvolvimento artístico, filosófico e cien- a Idade Moderna.
tífico. Esse desenvolvimento que ocorreu entre os Cabe destacar ainda que houve um grande flo-
séculos XIV e XVI marca uma busca intensa pelos rescimento da arte, ou seja, devido ao retorno da
conhecimentos greco-romanos, assim como um in- vida na corte, nas cidades e ao fortalecimento dos
tenso desenvolvimento que superou a herança da reis, havia um terreno propício para a arquitetura
Grécia e de Roma (SANTOS, 2012). e pintura, que foram largamente patrocinadas por
Janson (1996) afirma que nesse momento a burgueses enriquecidos e nobres ansiosos para de-
filosofia moral do homem se deslocou da religião monstrar seu poder e status (BAUMGART, 1999).
para o homem, ou seja, surgiu o humanismo (an- Assim sendo, o Renascimento movimentou,
tropocentrismo), onde o homem é o centro do consideravelmente, o mercado pela diversificação
universo. Para o autor, essa mudança de pensa- dos produtos de consumo na Europa, a partir do sé-

56
DESIGN

culo XV. Alguns europeus, enriquecidos com o co- O Renascimento se estendeu do século XIV ao XVI,
mércio nesta época, melhorando suas condições fi- e depois deu origem ao Maneirismo, que foram di-
nanceiras, posteriormente, passaram a ter condições ferentes interpretações do Renascimento ocorridas
para investir em obras de arte de escultores, pintores em cada país, dando origem, em seguida, ao Barro-
e arquitetos (CHENEY, 1995). co. Devido ao extenso período de tempo em ascen-
Esses artistas tinham apoio financeiro dos gover- são, o Renascimento é dividido em fases: Trecento,
nantes europeus e também do clero, assim como de Quattrocento e Cinquecento. Vejamos as caracterís-
nobres e burgueses. Essa ajuda, que era conhecida na tica de cada uma delas.
época como mecenato, vinha dos mecenas — gover- - Trecento: aconteceu no século XlV e foi um
nantes e burgueses — e algumas famílias favorecidas período de mudança da cultura medieval para a
financeiramente, chamadas de Nobres. Eles favoreciam cultura renascentista. Mesclava sentimentos, carac-
os artistas, pois encomendavam a eles pinturas de re- terísticas físicas e comportamentos da vida humana
tratos e esculturas possibilitando um amplo campo de com a religiosidade. O dialeto toscano, oriundo da
trabalho (GOMBRICH; CABRAL, 1999). língua italiana, estava presente nas obras literárias,
Cabe destacar que o Renascimento cultural reve- assim como o humanismo; houve um resgate da cul-
lou-se primeiro na região italiana de Toscana, mais tura greco-romana, visível na literatura renascentis-
precisamente nas cidades de Florença e Siena, mas ta (JANSON; LEAL, 2001).
logo se estendeu para o restante da Península Itálica - Quattrocento: aconteceu no século XV. Nesse
e, finalmente, alargou-se para quase todos os países período, era possível perceber fortemente aspectos
da Europa Ocidental. Cosgrave nos fala: da cultura greco-romana e do paganismo, caracte-
rizado pela mitologia e personagens da literatura
O Renascimento foi difundido pela Europa clássica; acontecia o mecenato; as artes plásticas
oriental, mas os principais encontravam-se nos
utilizavam-se dos métodos de pintura a óleo; houve
estados ricos da Itália central e setentrional, em
particular, Florença, Roma e Veneza e em Fran- a quebra de aspectos das artes plásticas e literatura
dles, que se tornou um importante centro para da Idade Média, e a arquitetura vivenciou o apogeu;
o comércio e as artes (COSGRAVE, 2012, p. pinturas e esculturas apresentavam perfeição esté-
117). tica, com uma mistura do moderno com o clássico
(JANSON; LEAL, 2001).
REFLITA
- Cinquecento: aconteceu no século XVI. Nesse
período, houve uma conciliação de temas profanos
Durante o Renascimento o comércio se de- com temas religiosos; houve a compleição do huma-
senvolveu na Península Itálica. As cidades
de Veneza, Gênova e Florença assistiram um nismo na literatura, também na pintura e escultura;
expressivo movimento artístico e, por essa ra- houve também a expansão do Renascimento à ou-
zão, a Itália passou a ser considerada o berço tros países da Europa: Holanda, Espanha, Portugal,
do Renascimento.
França e Alemanha (JANSON; LEAL, 2001).
(Horst Woldemar Janson) Durante o Renascimento, que apresenta essas fa-
ses distintas, houve uma preocupação muito grande

57
HISTÓRIA DA ARTE E DO DESIGN

com a educação, ou seja, um indivíduo bem educa- Fiore —, o Hospital dos Inocentes e a Capela Pazzi”
do e formado deveria dominar diferentes conheci- (SANTOS, 2005, p. 79). Observe a igreja de Santa
mentos e isso foi expandido para a arte, o que possi- Maria del Fiore a seguir.
bilitou desenvolver obras que se destacaram devido
à perfeição e às técnicas utilizadas em sua execução
(STRICKLAND; BOSWELL, 2014).

SAIBA MAIS

O Universalismo era uma característica mar-


cante no Renascimento. Para ser universalista,
era preciso um desenvolvimento de todas as
áreas do saber. O pintor Leonardo da Vinci
era considerado um modelo de homem uni-
versalista, pois era matemático, físico e pintor.
Figura 7 - Igreja Santa Maria del Fiore
Fonte: as autoras.

A construção da cúpula da Igreja Santa Maria del


Em se tratando da arte, destaca-se em especial a Fiore exigiu estudos de geometria e estrutura. Fi-
arquitetura, a escultura e a pintura. Vejamos agora lippo Brunelleschi estudou o Panteão e depois de-
como cada uma delas se manifestou na Itália, berço senvolveu uma estrutura que pudesse apenas ser
do Renascimento. assentada sobre o tambor octagonal, integrando-se
Em termos da arquitetura renascentista, a prin- completamente à estrutura da igreja projetada por
cipal característica consiste em: outro arquiteto (SANTOS, 2005).
Além da arquitetura, a escultura teve notorie-
[...] busca de uma ordem e de uma disciplina dade, mais especificamente devido a dois escul-
que superasse o ideal de infinitude do espaço
tores, Michelangelo e Verrochio. De acordo com
das catedrais góticas. Na arquitetura renascen-
tista, a ocupação do espaço pelo edifício baseia- Santos (2012), Andrea del Verrochio tem um tra-
-se em relações matemáticas estabelecidas de balho minucioso na escultura. Ele começou como
tal forma que o observador possa compreender ourives, o que acabou por influenciar suas escultu-
a lei que o organiza, de qualquer ponto em que ras, cujos detalhes são extremamente bem traba-
se coloque (SANTOS, 2005, p. 79).
lhados. Em uma de suas esculturas, trabalhou de
forma detalhada os arreios de um cavalo, mostran-
Um dos primeiros arquitetos que veio a desenvolver do sua maestria como ourives e escultor. A grande
a arquitetura renascentista foi Filippo Brunelleschz, contribuição de Verrochio se deu por meio da ex-
que projetou “a cúpula da catedral de Florença — pressão de volumes, assim como estudos para ex-
conhecida também por igreja de Santa Maria del plorar luz e sombra.

58
DESIGN

Michelangelo trabalha suas esculturas com vi- ele se destaca ao trabalhar de maneira significativa a
gor, estudando atentamente o corpo humano. Ele expressão facial de suas estátuas, não apenas a pose,
explora o equilíbrio dos membros, dos músculos, mas o rosto revela sentimento. Essa é uma das gran-
das veias e estuda as poses com cuidado. Contudo, des contribuições de Michelangelo.

Figura 8 - Davi e Pietá — Michelangelo

59
HISTÓRIA DA ARTE E DO DESIGN

Uma das grandes contribuições do Renascimento


está na pintura. As principais características da pin-
tura desse período, segundo Janson e Leal (2001),
são a perspectiva, o uso do claro e escuro e o realis-
mo.
De acordo com Gombrich e Cabral (1999), esses
elementos já foram dominados em outros períodos,
mas a arte assumiu outras características, sendo es-
tes os elementos mais explorados no final da Idade
Média e no Renascimento. Outra inovação é que
nesse momento se desenvolve o estilo pessoal de
cada artista e não apenas uma arte a serviço da Igre-
ja ou do Estado. Nesse momento, o artista se desen-
volve elaborando suas técnicas, estilo e criatividade.
Cabe aqui destacar alguns dos nomes mais fa-
mosos do renascimento: Masaccio, Fra Angelico,
Paollo Uccello, Piero della Francesca, Botticelli, Le-
onardo da Vinci, Michelangelo e Rafael. Vejamos al-
gumas características de cada um deles.
• Masaccio: primeiro pintor do século XV a
conceber a pintura como imitação do real —
realismo intenso.
• Fra Angelico: herdeiro do realismo de Ma-
saccio, contudo acrescentou a seu trabalho
uma tendência religiosa. Suas obras estão im-
pregnadas de um sentido místico.
• Paollo Uccello: trabalha suas obras segundo
os princípios da matemática. Seus temas são,
em sua maioria, fantasias medievais. Sua con-
tribuição vem da fluidez do movimento.
• Botticelli: preocupava-se em expressar um
ideal de beleza por meio do ritmo. Suas obras
expressam beleza e melancolia; beleza por
herdarem a graça divina e melancolia por te-
rem perdido essa graça.

Figura 9 - Madona com o menino — Masaccio


Fonte: Santos (2005, p. 83).

60
DESIGN

Figura 10 - Anunciação — Fra Angelico

Figura 12 - A Ressurreição de Cristo – Piero della Francesca


Fonte: Santos (2005, p. 85).

Figura 11 - São Jorge e o Dragão - Paollo Uccello


Fonte: Santos (2005, p. 84).

61
HISTÓRIA DA ARTE E DO DESIGN

Figura 13 - A Primavera — Botticelli


Fonte: Santos (2005, p. 87).

• Leonardo da Vinci: foi muito mais do que Estes são os pintores que mais se destacaram na Itá-
um simples pintor, estudou anatomia, urba- lia. Cabe destacar ainda que o Renascimento se es-
nismo e ciência de uma forma geral. Na pin-
palhou para outros países, assumindo características
tura, se destacou por seus trabalhos com do-
mínio das técnicas de luz e sombras, dando variadas. Após o renascimento surge um movimen-
dramaticidade e leveza aos temas que pintou. to chamado Maneirismo. Para Trindade:
• Michelangelo: Michelangelo também traba-
lhou na pintura de forma a expressar a per- O termo Maneirista foi usado por Vasari para
feição do corpo, seus movimentos, músculos designar a maneira individual do trabalho ar-
e suavidade na composição. tístico. Bellori e Malvasia, no século XVII, liga-
ram esse conceito a um estilo afetado e trivial
• Rafael: representou de forma exemplar os da arte, uma ruptura do classicismo renascen-
ideais clássicos de harmonia e regularidade tista. Para alguns historiadores da arte, o Ma-
das formas e cores. Trabalhava com o equilí- neirismo é o declínio do Renascimento ou a
brio e a simetria para proporcionar regulari- transição entre o Renascimento e o Barroco e,
dade, ou seja, ordem e segurança. para outros, é um estilo artístico (TRINDADE,
2007, p. 60).

62
DESIGN

Caro(a) aluno(a), o Maneirismo faz parte de um em seguida, do Rococó. Após compreender como se
momento de transição, marcando o fim do Renas- expressava a arte no Renascimento, veremos, enfim,
cimento e posteriormente a ascensão do Barroco e, o Barroco e o Rococó.

Figura 15 - A Criação do Homem — Michelangelo


Fonte: Santos (2005, p. 89).

Figura 14 - A Virgem dos Rochedos — Leonardo Da Vinci Figura 16 - A Escola de Atenas — Rafael
Fonte: Santos (2005, p. 88). Fonte: Santos (2005, p. 90).

63
HISTÓRIA DA ARTE E DO DESIGN

Barroco e Rococó
Caro(a) aluno(a), para darmos continuidade à Histó- to do Barroco é marcado por uma série de conflitos,
ria da Arte, veremos, neste tópico, o estilo Barroco e mais especificamente religiosos, pois a Igreja Católica
também o Rococó. Iniciemos pelo Barroco. De acor- passava por uma reforma com o intuito de restaurar a
do com Trindade (2007), esse movimento se desen- espiritualidade e combater a corrupção dentro da Igre-
volveu na europa entre os anos de 1600 e aproxima- ja. Portanto, há uma série de conflitos e o homem se
damente 1730, ou seja, entre os séculos XVII e XVIII. sente dividido entre o terreno e o espiritual.
“O significado do termo barroco é irregular, grotesco, Além disso, Janson e Leal (2001) destacam que
deriva da palavra portuguesa que designava uma pé- nesse período houve o fortalecimento dos Estados
rola de formato irregular” (TRINDADE, 2007, p. 62). Absolutistas, ou seja, dos reinos, do poder dos Reis
Assim como definição do termo que se refere a irre- e a estruturação de uma cultura e língua para cada
gularidades, o próprio movimento carrega consigo uma país europeu. Assim sendo, o Barroco encontra um
série de inquietações que irão se manifestar na arte. terreno propício para se propagar, sendo patrocina-
Santos (2012) ressalta que o momento de surgimen- do pela Igreja e também pelos nobres e reis que de-

64
DESIGN

sejavam expor seu poder e riqueza por meio da arte, Em outras palavras, evidencia-se no Barroco a dra-
seja na arquitetura, pintura ou escultura. maticidade e a capacidade de expressão das obras de
De acordo com Santos (2005, p. 103), o Barroco arte. Vejamos então como esse movimento se mani-
festou na arquitetura, escultura e pintura.
originou-se na Itália, mas não tardou a irradiar- Em termos gerais, a arquitetura barroca deixa
-se por outros países da Europa e a chegar tam-
de lado o racionalismo do Renascimento e trabalha
bém ao continente americano, trazido pelos
colonizadores portugueses e espanhóis. com os exageros, o luxo e as curvas, havendo uma
valorização dos efeitos decorativo. Isso também é
A autora prossegue afirmando que, ao se difun- válido para os arredores dos monumentos, pois os
dir em diversos países, esse estilo adquiriu diferentes jardins, praças e demais ambientes externos são
características, pois foi influenciado pela cultura de considerados como elementos integrantes da arqui-
cada país. Contudo, existem várias características tetura. Cabe salientar que a arquitetura barroca se
comuns que precisam ser destacadas, são elas: voltou para a construção de palácios e igrejas, como
destacam Gombrich e Cabral (1999).
[...] as obras barrocas romperam o equilíbrio en- Um dos maiores exemplos da arquitetura barro-
tre o sentimento e a razão ou entre a arte e a ciên-
ca é o Palácio de Versalhes, construído sobre o rei-
cia, que os artistas renascentistas procuram rea-
lizar de forma muito consciente; na arte barroca, nado de Luís XIV.
predominam as emoções e não o racionalismo
da arte renascentista (SANTOS, 2005, p. 103).

Figura 17 - Palácio de Versalhes

65
HISTÓRIA DA ARTE E DO DESIGN

Cabe destacar que o Barroco não preocupava-se A intenção do interior era expor a beleza da de-
apenas com a parte externa e a grandiosidade das coração e deixar o observador perplexo pela gran-
construções, mas também com o interior, que deve- diosidade dos detalhes compostos pela fusão entre a
ria ser ricamente trabalhado por meio da escultura pintura, arquitetura e escultura. Observe um exem-
e pintura. Os interiores da arquitetura barroca têm plo na Figura 19.
como característica a sobrecarga de elementos deco- A intenção do interior era expor a beleza da de-
rativos, uso exagerado da cor dourada, uso de tons coração e deixar o observador perplexo pela gran-
escuros e a pintura e a escultura se fundem com a diosidade dos detalhes compostos pela fusão entre a
arquitetura. Observe na figura a seguir o interior do pintura, arquitetura e escultura. Observe um exem-
Palácio de Versalhes, que serve como exemplo para plo na figura a seguir.
a explicitação.
Em relação à escultura, Santos (2005) afirma que:

Havia nas esculturas renascentistas um equilí-


brio entre os aspectos intelectuais e emocionais.
Já nas obras barrocas, esse equilíbrio desapare-
ce, dando lugar à exaltação dos sentimentos. As
formas procuram expressar o movimento e re-
cobrem-se de efeitos decorativos. Predominam
as linhas curvas, os drapeados das vestes e o uso
do dourado. Os gestos e os rostos das persona-
gens revelam emoções violentas e atingem uma
dramaticidade desconhecida no Renascimento
(SANTOS, 2005, p. 107).

Figura 18 - Interior do Palácio de Versalhes


O escultor e também arquiteto que mais se destacou
foi Bernini. Uma de suas obras foi nomeada com
um dos mais belos exemplares da arquitetura bar-
roca: Êxtase de Santa Teresa. Observe a escultura na
Figura 20.
Além da escultura, a pintura também se desta-
cou, seja por meio de quadros ou complementan-
do cenários arquitetônicos em ambientes internos,
como palácios e igrejas (TRINDADE, 2007).

Figura 19 - A Glória de Santo Inácio


Fonte: Santos (2005, p. 106).

66
DESIGN

SAIBA MAIS

A fusão entre a arquitetura, pintura e escul-


tura ocorria de tal forma no Barroco que, em
muitos casos, era difícil separar ou mesmo
visualizar onde termina um elemento e se
inicia o outro. Essa é uma das características
muito marcantes do Barroco.

Essa fusão não permitia a existência de espa-


ço abertos, sem decoração, vazios. A intenção
é que todos os espaços internos fossem pre-
enchidos, teto, paredes, colunas. Assim sendo,
esse estilo arquitetônico causava deslumbre
devido ao excesso de informações e a falta de
luminosidades, visto que não haviam espaços
vazios para a propagação de luz.

Assim, a pintura, em junção com entalhes e es-


culturas, criava um ambiente completamente
diferente do externo, que era mais limpo. Em
sua maioria o teto era preenchido com pintu-
ra e adornado com entalhes, enquanto que
as colunas eram preenchidas por estátuas e
entalhes. Os temas religiosos eram os mais
utilizados nesse tipo de decoração.

Fonte: Janson e Leal (2001).

Figura 20 - Êxtase de Santa Teresa — Bernini

Santos (2005, p. 104) destaca que a pintura tem algu- Existem vários pintores representativos desse movi-
mas característica específicas, tais como: mento, mas merece destaque Caravaggio. Janson e
• O primeiro é a disposição dos elementos dos Leal (2001) afirmam que o pintor buscava seus mo-
quadros, que sempre forma uma composição delos entre o povo, inovando ao retratar cenas que
em diagonal. envolviam o cotidiano e não apenas a aristocracia.
• As cenas representadas envolvem-se em Ele revolucionou a pintura por trabalhar de forma
acentuado contraste de claro-escuro, o que
inovadora a técnica de luz e sombra, não apenas
intensifica a expressão de sentimentos.
como incidência de luz solar, mas como elemento
• A pintura barroca é realista, mas a realidade
que lhe serve de ponto de partida não é só a que amplia a dramaticidade da pintura.
vida de reis e rainhas de cortes luxuosas, mas
também a do povo simples.

67
HISTÓRIA DA ARTE E DO DESIGN

quadros que representavam a vida na corte, assim


como pequenas estatuetas muito apreciadas como
objetos decorativos (SANTOS, 2012). Portanto,

A arte do Rococó refletia, portanto, os valores


de uma sociedade fútil que buscava nas obras
de arte algo que lhe desse prazer e a levasse a
esquecer seus problemas reais. Os assuntos ex-
plorados pelos artistas deveriam ser as cenas
graciosas, realizadas de tal forma que refletissem
uma sensualidade sutil (SANTOS, 2005, p. 116).

Com o intuito de promover o prazer por meio da


arte, o Rococó desenvolveu um estilo particular na
arquitetura, escultura e pintura.
Na arquitetura, o Rococó se destacou na deco-
ração de interiores com uma proposta mais leve em
relação ao Barroco. As salas e salões eram preferen-
Figura 21 - Vocação de São Mateus
Fonte: Santos (2005, p. 105). cialmente ovais, com decoração suaves nas paredes,
devido ao uso de ramos, folhas e flores, assim como
O Barroco perdurou por quase um século e tem pinturas leves em tons pastel e a presença de espe-
como característica marcante o exagero. Contudo, lhos (SANTOS, 2005).
no início do século XVIII, veremos um processo de Podemos citar como exemplo da arquitetura Ro-
mudanças que levará ao surgimento do movimento cocó o Petit Trianon. Um detalhes a se observar é
Rococó. Janson e Leal (2001) afirmam que essa arte que as entradas de luz são maiores, com grandes ja-
é voltada aos interesses da aristocracia e visava expor nelas, e o interior é mais iluminado e amplo.
os ideais de uma sociedade fútil. O Rococó se de-
senvolveu aproximadamente entre os anos de 1710 REFLITA
e 1780, influenciando as artes e também as formas
de vestir.
O Rococó dá continuidade ao Barroco em
Com a morte de Luiz XIV, a corte francesa mu- termos de arte, mas rompe com a dramati-
dou-se para Paris, onde uma aristocracia rica patro- cidade e os exageros do movimento anterior,
cinava uma grande quantidade de pintores e artis- produzindo novos valores estéticos.
tas que se especializaram na produção de pequenos

68
DESIGN

Figura 22 - Petit Trianon Figura 23 - Voltaire — Houdon.


Fonte: Santos (2005, p. 121).

69
HISTÓRIA DA ARTE E DO DESIGN

No que se refere à escultura, destaca-se o fato de que Contudo, Santos (2005, p. 121) enfatiza que o es-
o Rococó inovou ao produzir estátuas decorativas de tilo Rococó substituiu os
porcelana em tamanhos variados, mas em sua maio-
ria eram pequenas peças decorativas para ambientes volumes que indicam o vigor e a energia bar-
rocos por linhas suaves e graciosas. A escultu-
internos, como salas de músicas. Gombrich e Cabral
ra, que se torna intimista, geralmente procura
(1999) destacam que essas peças eram muito apre- retratar as pessoas mais importantes da época.
ciadas devido ao seu pequeno tamanho, podendo
ser colocadas em qualquer ambiente, como escritó- Percebe-se, portanto, que a arte Rococó busca
rios, salas de música ou leitura. retratar o cotidiano dos aristocratas, ou seja, é uma
arte voltada à satisfação das classes mais abastadas.
Uma das obras mais famosas é a estátua de Voltaire,
produzida por Houdon.
Em se tratando da pintura, Trindade (2007) des-
taca que há grandes diferenças em relação ao bar-
roco. Veja a seguir as principais características do
rococó descritas por Santos (2005);
• desenvolvia temas mundanos, ambientados em
parques e jardins ou em interiores luxuosos.
• As personagens não são mais de inspiração po-
pular, e sim membros de uma aristocracia ociosa
que vive seus últimos tempos de fausto antes da
Revolução Francesa.
• Desaparecem os contrastes radicais de claro-escu-
ro e passam a predominar as tonalidades claras e
luminosas.
• A técnica do pastel passa a ser bastante utilizada,
pois ela permite a produção de “certos efeitos de
delicadeza e leveza dos tecidos, maciez da pele fe-
minina, sedosidade dos cabelos, luzes e brilhos”
(SANTOS, 2005, p. 119).

Uma das obras que bem representa esse período é O


Balanço, de Fragonard.
Cabe destacar alguns nomes importantes da
pintura, que se desenvolveu por meio de pequenas
obras, mas não menos expressivas. Os principais
pintores do período foram Antoine Watteau (1684-
Figura 24 - O Balanço
Fonte: Santos (2005, p. 1116).

70
DESIGN

Rococó (TRINDADE, 2007, p. 64).


1721), François Boucher (1703-1770) e Jean-Ho-
noré Fragonard (1732-1806), como afirma Trindade Observe, caro(a) aluno(a), o quadro Retrato da Mar-
(2007). A autora prossegue afirmando ainda que: quesa de Pompadour, que representa o Rococó.
Vemos, portanto, que cada pintor desenvolveu um
Todos atuaram na corte. Wateau caracterizou- estilo e inovou em algum aspecto, contudo, os temas
se pelo gênero das fêtes galantes, que inventou.
de suas obras sempre se referiam a vida da aristocracia.
Esse gênero foi usado por Fragonard, o pintor
etéreo do amor e da natureza. Boucher foi pro- Caro(a) aluno(a), percebemos, aqui, que há
tegido de Madame Pompadour, realizando be- uma ruptura de valores estéticos entre o Barroco e
los retratos da favorita do rei Luís XV dentro o Rococó, e isso se repete quando há a emergência
do espírito alegre, descontraído e sensual do de novos movimentos artísticos. Espero que tenha
apreciado a leitura.

Figura 25 - Retrato da Marquesa de Pompadour


Fonte: Trindade (2007, p. 64).

71
considerações finais

Caro(a) aluno(a), nesta unidade, você teve contato com a arte que se desenvolveu
desde a Idade Média até o século XVIII, ou seja, Renascimento, Barroco e Rococó.
Cabe destacar aqui que, em cada um desses momentos históricos que deram ori-
gem às diversas manifestações artísticas, percebe-se um processo de rompimento
com os padrões anteriores, assim como uma preocupação com a estética que foi se
desenvolvendo de diferentes formas, em cada um dos estilos estudados, manifestan-
do-se na arquitetura, escultura, pintura e decoração.
Na Idade Média, vemos o surgimento de uma arte cristã que já se manifestava no
Império Romano e que amadurece ao longo do período medieval, com uma temática
voltada à valorização da Igreja Católica. A arquitetura nesse período, assim como
a pintura, se voltavam para a construção e decoração de Igrejas. Vemos, portanto,
nesse período, os estilos românico e gótico que antecedem o Renascimento.
Com o fim da Idade Média, vemos a arte mudando de feições, não apenas as ques-
tões religiosas são o centro da arte, mas a vida nas cidades, assim como a vida de
personalidades marcantes. O mecenato se desenvolve, proporcionando aos artistas a
possibilidade de explorar a arte graças ao patrocínio de burgueses, nobres e reis. De-
vido a esse fato, veremos um grande desenvolvimento da arte em todos os sentidos.
Após o Renascimento, vemos o Barroco e, em seguida, o Rococó. O Barroco se
opõe à racionalidade da arte renascentista e busca explorar a dramaticidade e o sen-
timento tanto na arquitetura quanto na pintura e escultura. Já o Rococó surge após
o Barroco com outros valores estéticos, voltados a vida fútil da sociedade aristocrata.
A arte desse movimento era mais leve e delicada em relação ao Barroco, tendo como
função proporcionar prazer por meio da suavidade e delicadeza.
Vemos, portanto, caro(a) aluno(a), que a arte expressa o estilo de vida de cada
sociedade, os anseios e acontecimentos históricos que influenciam a vida cotidiana.

72
atividades de estudo

1. A arte cristã surgiu muito antes da Idade Média. Referente a essa arte, leia as
afirmativas e marque a alternativa correta.
I. A arte cristã surgiu no momento em que os cristãos ainda eram perseguidos
pelo Império Romano.
II. As manifestações de arte eram realizadas em igrejas e túmulos.
III. As manifestações artísticas, em sua maioria, eram pequenas pinturas realiza-
das em catacumbas, com adorno ao túmulo dos católicos.
IV. Esse tipo de arte era aceito pelos romanos, que também eram católicos, não
havendo perseguição.

Marque a alternativa correta.


a. I, II e III estão corretas.
b. I e III estão corretas.
c. I, II e IV estão corretas.
d. II, III, e IV estão corretas.
e. Nenhuma das alternativas anteriores está correta.

2. No período medieval se desenvolveu a arte na civilização Bizantina e também


na Europa Ocidental, cada qual com suas características. Leia as afirmativas e
marque a alternativa correta.
I. O maior exemplar de arquitetura da civilização Bizantina é a Basílica de Santa
Sofia.
II. Entre os séculos XI e XII desenvolveu-se o estilo românico. As principais carac-
terísticas desse estilo são: a utilização de abóbodas, pilares maciços, paredes
espessas para dar sustentação e aberturas estreitas, como janelas.
III. As igrejas góticas eram consideradas “fortalezas de Deus” devido ao seu tama-
nho e solidez. A arte gótica se desenvolveu devido ao renascimento urbano-
-comercial e expressa o sentimento transcendental religioso.
IV. No que se refere à pintura gótica, houve uma preocupação com o realismo,
sendo a temática religiosa a mais explorada.

73
atividades de estudo

Marque a alternativa correta.


a. I, II e III estão corretas.
b. I e III estão corretas.
c. I, II e IV estão corretas.
d. II, III, e IV estão corretas.
e. Nenhuma das alternativas anteriores está correta.

3. O Renascimento refere-se a um período entre os séculos XIV e XVI que traz


grandes mudanças na arte. A arquitetura renascentista apresenta diversas ca-
racterísticas. Quais são elas?

4. Existiram vários pintores que se destacaram no período do Renascimento. Re-


lacione as colunas entre pintores e suas características e, em seguida, marque
a sequência numérica correta.
1. Masaccio.
2. Fra Angelico.
3. Paollo Uccello.
4. Piero della Francesca.
5. Botticelli.
6. Leonardo da Vinci.
7. Michelangelo.
8. Rafael.

( ) Preocupava-se em expressar um ideal de beleza por meio do ritmo.


( ) Trabalhava suas obras segundo os princípios da matemática. Seus temas são,
em sua maioria, fantasias medievais.
( ) Representou de forma exemplar os ideais clássicos de harmonia e regulari-
dade das formas e cores.
( ) Acrescentou a seu trabalho uma tendência religiosa, suas obras estão im-
pregnadas de um sentido místico.
( ) Primeiro pintor do século XV a conceber a pintura como imitação do real -
realismo intenso.

74
atividades de estudo

( ) Também trabalhou na pintura de forma a expressar a perfeição do corpo,


seus movimentos, músculos e suavidade na composição.
( ) Trabalha suas obras com base na geometria, aproximando a figura humana
dos padrões geométricos, representando detalhes do corpo e sua estrutura
de forma imprescindível.
( ) Na pintura se destacou por seus trabalhos com domínio das técnicas de luz e
sombras, dando dramaticidade de leveza aos temas que pintou.

Marque a alternativa correta.


a. 1- 3- 5- 7- 4- 2- 6- 8.
b. 5 -3 -8- 2- 1- 7- 4- 6.
c. 5- 4- 7- 2 -1- 8- 3- 6.
d. 1- 3- 7- 5 -4- 8- 6 -2.
e. Nenhuma das alternativas anteriores está correta.

5. O Barroco se desenvolveu entre os anos de 1600 e aproximadamente 1750 e


influenciou a arquitetura e a decoração de interiores. Sobre o Barroco, leia as
alternativas e marque a opção incorreta.
a. Na arte barroca predominam as emoções e não o racionalismo da arte renas-
centista.
b. Em termos gerais, a arquitetura barroca deixa de lado o racionalismo do Re-
nascimento e trabalha com os exageros, o luxo e as curvas.
c. A intenção do interior era expor a beleza da decoração e deixar o observador
perplexo pela grandiosidade dos detalhes compostos pela separação entre a
pintura, arquitetura e escultura, que eram distribuídos em diferentes espaços,
separados uns dos outros.
d. Na escultura barroca o equilíbrio desaparece, dando lugar à exaltação dos
sentimentos. As formas procuram expressar o movimento e recobrem-se de
efeitos decorativos.
e. Nenhuma das opções anteriores está correta.

6. A arte Rococó foi feita para uma determinada classe social, a aristocracia. Que
valores refletia a arte Rococó?

75
LEITURA
COMPLEMENTAR

Como sugestão para leitura complementar e para que você, caro(a) aluno(a), vislumbre
mais uma das vertentes onde a arte se manifesta, apresento-lhe este artigo que narra uma
reflexão acerca do conteúdo Arte e Moda, assim você pode conhecer um pouco mais sobre
a sinergia que acontece entre essas duas áreas.

ROUPA DE ARTISTA: A ROUPA COMO LINGUAGEM NA ARTE

Resumo
A Roupa de Artista, como linguagem artística, pode estabelecer interessantes conexões
entre a moda e a arte. Apresentamos aqui uma breve reflexão em que buscamos compre-
ender de que forma a arte se apropria da roupa como objeto expressivo e como linguagem,
e que tipos de diálogos podem ser estabelecidos pela arte por meio da Roupa de Artista.
Palavras-chave: Roupa de artista. Arte. Moda. Linguagens artísticas.

[...]

A Roupa como linguagem da arte

Muito se discute a respeito do que pode ser classificado como arte. Desde muito cedo, a
estética e a filosofia da arte se ocupam dessa questão. Com os alargamentos sofridos pela
arte, e com suas transversalidades, muitas confusões surgiram no momento em que obje-
tos de uso cotidiano adentraram as portas dos museus e ali se instalaram. Danto (2010, p.
42, grifo do autor) chega a indagar-se: “afinal, que tipo de predicado é “uma obra de arte?”.
Afirmar, hoje, que um objeto é ou não uma obra de arte acaba se tornando um verdadeiro
desafio, em um momento em que uma infinidade de coisas podem ser chamadas de arte.
Archer (2001, IX) sugere que, “quanto mais olhamos, menos certeza podemos ter quanto
àquilo que, afinal, permite que as obras sejam qualificadas como “arte”, pelo menos de um
ponto de vista tradicional”. Enquanto alguns estudiosos continuam defendendo o caráter
essencialmente espiritual e não utilitário da obra de arte, outros, como Danto e Ostrower,
buscam revisar as teorias da arte, a fim de adequá-las à nova realidade:

76
LEITURA
COMPLEMENTAR

Para ser arte, tem que ser linguagem. Qualquer ato pode ser
significativo. Por exemplo, uma bofetada. Mas não precisa ter
significado artístico. Para tanto, o conteúdo do ato teria que ser
objetivado através de formas de linguagem, e comunicado, atra-
vés dessas mesmas formas (OSTROWER, 1999, p. 76).
Inserir a moda, ou mais especificamente a roupa, como linguagem artística, nos coloca
diante do desafio de buscar seu espaço na arte. Mendonça (2006, p. 11, grifo do autor)
comenta que “a criação do vestuário é forçosamente arte visual aplicada e, portanto, con-
figura uma linguagem artística”. Se considerarmos as ideias de Ostrower (1999, p. 197)
quando afirma que “o que determina o caráter artístico de uma imagem é a expressividade
das formas de linguagem”, então estaremos mais perto de encontrar nosso denominador
comum entre a arte e a moda.

Fonte: adaptado de Basso, (2014).

77
HISTÓRIA DA ARTE E DO DESIGN

História da indumentária e da moda, Da Antiguidade


aos dias atuais
Bronwyn Cosgrave
Editora: GG Moda
Sinopse: a indumentária de cada cultura é um reflexo dos valo-
res de cada sociedade em sua época. Por funcionalidade, osten-
tação ou pura questão estética, o vestuário sempre serviu para
comunicar o que, para a autora, é o verdadeiro significado da
moda: a manifestação da personalidade de cada indivíduo.
Com base em uma extensa pesquisa histórica, História da indumentária e da moda apre-
senta a indumentária e a evolução da moda desde os povos da Antiguidade aos grandes
estilistas do século XX, e a indústria das marcas internacionais. Cada capítulo é ricamente
ilustrado e aborda a indumentária e os costumes das culturas e dos períodos históricos mais
representativos por meio de seu contexto histórico e do papel da mulher na sociedade em
questão e descreve o vestuário de homens e mulheres e os tecidos utilizados, além de cha-
péus, acessórios de cabeça, penteados, maquiagem, perfumes e demais cuidados pessoais.
Comentário: o livro nos apresenta a história da Arte e da indumentária de modo objetivo,
em que as divisões do conteúdo nos posiciona a cerca de elementos, como o papel da mu-
lher nas diferentes civilizações, o papel do homem ainda o contexto histórico, bem como a
indumentária e os pontos sobre as manifestações sociais e artísticas.

Maria Antonieta
Idalberto Chiavenato, Arão Sapiro
Ano: 2005
Sinopse: a princesa austríaca Maria Antonieta (Kirsten Dunst) é en-
viada ainda adolescente à França para se casar com o príncipe Luis
XVI (Jason Schwartzman), como parte de um acordo entre os países.
Na corte de Versalles, ela é envolvida em rígidas regras de etique-
ta, ferrenhas disputas familiares e fofocas insuportáveis, mundo
em que nunca se sentiu confortável. Praticamente exilada, decide criar um universo à parte
dentro daquela corte, no qual pode se divertir e aproveitar sua juventude. Só que, fora das
paredes do palácio, a revolução não pode mais esperar para explodir.
Comentário: excelente estudo sobre arquitetura, arte, pintura e indumentária da época,
além de uma visão única sobre a corte, bem como seus costumes.

78
DESIGN

Como vimos nesta unidade, há uma continuidade das manifestações artísticas desde a re-
nascença até a atualidade e, por isso, prosseguimos também com o documentário. Assista a
continuidade de História da Arte — Das Origens ao Legado Grego (PARTE II).
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=UkD-CgyXYIM>.

79
referências

BASSO, A. T. Roupa de Artista: a roupa como linguagem na arte. 10. Colóquio de


moda - 7. edição Internacional, 1. Congresso Brasileiro de Iniciação Científica em
Design e Moda, 2014. Disponível em: <http://www.coloquiomoda.com.br/anais/
anais/10-Coloquio-de-Moda_2014/ARTIGOS-DE-GT/GT08-MODA-e-TERRITO-
RIO-DE-EXISTENCIA-processos-de-criacao-e-subjetivacao/GT-8-ROUPA-DE-
-ARTISTA-A-ROUPA-COMO-LINGUAGEM-NA-ARTE.pdf> Acesso em: 25 set.
2017.
BAUMGART, F. Breve história da arte. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1999.
CHENEY, S. História da arte. Sao Paulo: Rideel, 1995.
COSGRAVE, B. História da indumentária e da moda: Da antiguidade aos dias atu-
ais. Barcelona: GG moda, 2012.
GOMBRICH, E. H.; CABRAL, Á. A história da arte. 16. ed. Rio de Janeiro: LTC,
1999.
JANSON, H. W.; JANSON, A. F. Iniciação a história da arte. 2. ed. São Paulo: Mar-
tins Fontes, 1996.
JANSON, H. W.; LEAL, M. B. História geral da arte: renascimento e barroco. 2. ed.
São Paulo: Martins Fontes, 2001.
READ, H. Arte e alienação: o papel do artista na sociedade. Rio de Janeiro: Zahar,
1983.
SANTOS, M. G. V. P. História da arte. 16. ed. São Paulo: Ática, 2005.
_____. História da arte. 17. ed. São Paulo: Ática, 2012.
STRICKLAND, C.; BOSWELL, J. Arte comentada: da pré-história ao pós-moderno.
15. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2014.
TRINDADE, S. História da Arte. Bahia: Faculdade de Tecnologia e Ciências, 2007.

80
gabarito

1. b

2. c

3. A busca de uma ordem e de uma disciplina que superasse o ideal de infinitude


do espaço das catedrais góticas. Na arquitetura renascentista, a ocupação do
espaço pelo edifício baseia-se em relações matemáticas estabelecidas de tal
forma que o observador possa compreender a lei que o organiza, de qualquer
ponto em que se coloque.

4. b

5. c

6. A arte do Rococó refletia, portanto, os valores de uma sociedade fútil que bus-
cava nas obras de arte algo que lhe desse prazer e a levasse a esquecer seus
problemas reais. Os assuntos explorados pelos artistas deveriam ser as cenas
graciosas, realizadas de tal forma que refletissem uma sensualidade sutil.

81
ARTE NO SÉCULO XIX E XX

Professora Dra. Paula Piva Linke

Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta
unidade:
• Impressionismo e Pós-impressionismo
• Arte Moderna
• Arte Pós-moderna

Objetivos de Aprendizagem
• Apresentar as características do Impressionismo e Pós-
impressionismo, que deram espaço a Arte Moderna.
• Apresentar os movimentos que fazem parte da Arte
Moderna e seus artistas.
• Apresentar os movimentos que fazem parte da arte Pós-
moderna e seus artistas.
unidade

III
INTRODUÇÃO

Olá caro(a) aluno(a), seja bem-vindo(a) à terceira Unidade do livro de


História da Arte e do Design. O objetivo desta unidade é o de conhecer-
mos um pouco mais sobre o período e os movimentos que deram origem
à Arte Moderna e Pós-moderna, ou seja, a partir dessa distinção pode-
mos entender a arte contemporânea, que faz parte da nossa realidade,
principalmente a arte do século XX.
Iniciaremos nossos estudos com o Impressionismo e o Pós-impres-
sionismo, pois esses movimentos proporcionam uma quebra dos padrões
estéticos anteriores, possibilitando aos artistas maior liberdade criativa.
Em seguida, veremos a Arte Moderna, como ela se desenvolveu, quais
movimentos artísticos estão ligados a ela e quais os maiores representan-
tes desses movimentos. Você vai perceber que, a partir da Arte Moderna,
os movimentos são muito mais rápidos e dinâmicos, não há uma ruptura
temporal muito definido, mas sim uma ruptura estética mais forte. Os
movimentos da Arte Moderna estão, em sua maioria, associados ao sé-
culo XX até os anos de 1950 ou 1960.
Em se tratando da arte Pós-moderna, veremos o que ela implica, o
que significa e como se relaciona com o contexto histórico em que está
inserida, como se manifesta e quais as vanguardas ou tendências artísti-
cas que estão relacionadas a esse movimento.
Pode-se dizer, caro(a) aluno(a), que o final do século XX, que marca
o surgimento da arte Pós-moderna, marca justamente um processo de
aceleração da vida, da tecnologia, da produção do conhecimento e vá-
rios estilos estéticos que se manifestaram ao mesmo tempo, sem que um
único estilo fosse absolutamente dominante. Isso significa que veremos
diferentes artistas inovadores e criativos, com personalidades fortes e es-
tilos únicos.
Finalizaremos a História da Arte para, então, darmos continuidade
ao tema Design. Espero que aprecie a leitura.
HISTÓRIA DA ARTE E DO DESIGN

Impressionismo e
Pós-Impressionismo
Caro(a) aluno(a), após o Rococó, temos ainda mo- arte, por meio do Impressionismo, movimento que
vimentos artísticos que se desenvolveram nos sécu- se inicia no final do século XIX e vai influenciar
los XVIII e XIX e que vão preparar as bases para o drasticamente o século XX.
Impressionismo. Estamos falando dos estilos Neo- Além do Impressionismo, veremos também o
clássico, Romantismo e Realismo. Todos esses mo- Pós-impressionismo, para então entender como se
vimentos ocorreram em um curto espaço de tempo, desenvolveu a Arte Moderna e também a Pós-mo-
em média um século, ou pouco menos de 100 anos. derna, ou seja, como os padrões artísticos se altera-
Contudo, como afirma Trindade (2007), é a partir ram mais drasticamente no século XX, como desta-
do século XX que veremos uma ruptura maior na ca Trindade (2007).

86
DESIGN

O Impressionismo foi um movimento que se nos quadros, em pequenas pinceladas. É o


desenvolveu entre os séculos XIX e XX, aproxima- observador que, ao admirar a pintura, com-
damente entre os anos de 1850 e 1900, contudo, no bina várias cores, obtendo o resultado final.
A mistura deixa, portanto, de ser técnica para
período de seu nascimento não foi muito bem acei-
ser óptica (SANTOS, 2005, p. 140).
to, sendo bastante criticado devido a intensa ruptu-
ra com os padrões estéticos anteriores. Esse movi- Assim como Santos (2005), Janson e Leal (2001)
mento se desenvolveu densamente na pintura, onde destacam que essas regras eram a base para a elabo-
podemos ver diversos pintores desenvolvendo uma ração de qualquer obra impressionista, destacando-
nova perspectiva estática (TRINDADE, 2007). -se uma série de pintores, dentre eles podemos citar:
Santos (2005) ressalta que esse movimento se Claude Monet (1840-1926), Pierre Auguste Renoir
desenvolveu de maneira bastante particular, não ha- (1841-1919), Edgar Degas (1834-1917) e Auguste
vendo uma escola ou técnicas para a pintura, mas Rodin (1840-1917). Vejamos, a seguir, como se deu
sim uma série de regras que deveriam ser seguidas o trabalho de cada um desses pintores.
como o intuito de produzir um pintura impressionis- Santos (2012) destaca que Claude Monet (1840-
ta. Veja a seguir a lista de indicações para os pintores: 1926) era um verdadeiro observador que exercia seu
• A pintura deve registrar as tonalidades que os ofício por meio do trabalho com pincéis e tintas ao
objetos adquirem ao refletir a luz solar num observar a luz e como ela incidia sobre diferentes
determinado momento, pois as cores da na- ambientes ou um mesmo ambiente.
tureza se modificam constantemente, depen-
dendo da incidência da luz do sol (SANTOS,
Sua temática eram as paisagens, que se torna-
2005, p. 140).
vam o mote para o seu foco principal: a luz. As
• As figuras não devem ter contornos nítidos, pois suas séries retratam as paisagens em diferentes
a linha é uma abstração do ser humano para re- momentos de iluminação (TRINDADE, 2007,
presentar as imagens (SANTOS, 2005, p. 140). p. 69).
• As sombras devem ser luminosas e coloridas,
tal como é a impressão visual que nos cau-
sam, e não escuras ou pretas, como os pin-
tores costumavam representá-las no passado
(SANTOS, 2005, p. 140).
• Os contrastes de luz e sombra devem ser
obtidos de acordo com a lei das cores com-
plementares. Assim, um amarelo próximo a
um violeta produz uma impressão de luz e
de sombra muito mais real do que o claro-es-
curo, tão valorizado pelos pintores barrocos
(SANTOS, 2005, p. 140).
• As cores e tonalidades não devem ser obtidas
pela mistura das tintas na paleta do pintor.
Figura 1 - Mulheres no Jardim de Monet
Pelo contrário, devem ser puras e dissociadas
Fonte: Santos (2005, p. 141).

87
HISTÓRIA DA ARTE E DO DESIGN

Figura 2 - La Grenoutlliere — Renoir


Fonte: Santos (2005, p. 142).

Figura 3 - O Ensaio — Degas Figura 4 - O Beijo — Auguste Rodin


Fonte: Santos (2005, p. 143). Fonte: Trindade (2007, p. 70).

Seu objetivo é capturar o momento de um mo-


Além de Monet, também se destaca Pierre Auguste vimento. O teatro e a dança o fascinam, utili-
Renoir (1841-1919), que se preocupava em pintar pai- zando cenas desses como referências figurativas
sagens urbanas de pessoas em movimento. Sua preo- em seu trabalho. Diferentemente dos demais
cupação era a de pintar, como destacam Janson e Leal impressionistas, trabalhava em estúdio e não ao
ar livre (TRINDADE, 2007, p. 70).
(2001), a alegria de viver, ou seja, o jogo de luzes e
sombra expressa vivacidade em suas obras (Figura 2).
Já Edgar Degas (1834-1917) trabalha o Impres- O que vemos, portanto, é que esses pintores desen-
sionismo de forma diferente dos outros artistas. Se- volviam suas técnicas de acordo com seus gostos
gundo Trindade (2007): pessoais. No caso de Degas, seu objeto era o movi-

88
DESIGN

mento em si, cujos temas envolvem bailarinas e ca- de que o Pós-impressionismo foi uma continuida-
valos. Veja uma de suas obras na Figura 3. de do Impressionismo, como o objetivo de romper
Apesar de o Impressionismo ter se desenvolvido barreiras e levar o movimento a um outro patamar.
de forma mais intensa na pintura, há que se desta- Podemos citar como representantes desse movi-
car o trabalho de Auguste Rodin (1840-1917), que mento Paul Cézanne (1839-1906), Vicent Van Gogh
se volta para a escultura. O artista obtém excelentes (1853-1890) e Eugène-Henri-Paul Gauguin (1848-
resultados buscando capturar, de forma tridimen- 1903).
sional, um determinado movimento humano. Trin- Para Janson e Leal (2001), muitos pintores que
dade (2007) afirma que sua obra mais significativa se destacaram no Pós-impressionismo foram tam-
foi a escultura “O beijo” (Figura 4). bém precursores do Cubismo, pois já buscavam uma
Os pinotes citados até o momento trouxeram simplificação baseada em formas geométricas, como
novos olhares para a arte, mas este era apenas o é o caso de Paul Cézanne, que tem a natureza morta
começo. Entre os anos de 1886 e aproximadamente como um de seus temas prediletos. Esse pintor tra-
1908, quando se dá o surgimento do Cubismo, vere- balha com volume e cores essenciais, ressaltando os
mos um novo momento do Impressionismo, ou seja contornos em preto.
o Pós-impressionismo (SANTOS, 2012).
Para Gombrich e Cabral (1999), esse movimen-
to chamado de pós-impressionista foi uma busca de
inovação na arte percorrida por artistas que busca-
vam novas formas de expressão.
Assim sendo, Janson e Leal (2001) afirmam que
essa expressão pós-impressionista:

[...] designa um grupo de artistas que, tendo


passado por uma fase impressionista, se sen-
tiram insatisfeitos perante as limitações do es-
tilo e o ultrapassaram em diferentes direções.
Como não partilhavam um objetivo comum,
torna-se difícil encontrar para eles um termo
mais descritivo que o de Após-Impressionismo.
Em todo caso, não eram ‘anti-impressionistas’.
Longe de tentarem desfazer os efeitos da ‘Revo-
lução de Manet’, quiseram, pelo contrário, levá-
-la mais além. O Após-Impressionismo é uma
fase mais tardia do movimento que começara
na década de 1860 com quadros como o Déjeu-
ner de Manet (JANSON; LEAL, 2001, p. 149).

O que Janson e Leal (2001) descrevem, e Santos Figura 5 - Madame — Cézanne


(2005) e Trindade (2007) enfatizam, reforça a ideia Fonte: Santos (2005, p. 147).

89
HISTÓRIA DA ARTE E DO DESIGN

Figura 6 - Os Comedores de Batata — Van Gogh


Fonte: Santos (2005, p. 149).

Já Vicent Van Gogh desenvolveu um aspecto bas- perspectiva e o volume são descartados” (TRINDA-
tante particular na pintura relacionado a cor. Para DE, 2007, p. 72).
Gombrich e Cabral (1999), esse pintor desenvolve Vê-se, portanto, que esse pintor realizava seus tra-
na cor uma estrutura conturbada e emocional. Em balhos de forma simplificada sem, no entanto, deixar
suas obras, as cores primárias são predominante- a expressividade e o trabalho com a cor tornar suas
mente fortes, especialmente o amarelo. As cores peças irrelevantes, pelo contrário, a harmonia entre a
permanecem sobre as formas, sendo trabalhadas composição, as cores e os traços é fundamental.
por meio de pinceladas pequenas e dinâmicas que, No Pós-impressionismo, vimos que todos os
unidas, compõem a cena. pintores estão em fase de experimentação e que a
Eugène-Henri-Paul Gauguin realizou um traba- forma e a cor são os temas centrais, ora priorizando
lho sobre a inspiração do romantismo. Inicialmen- um, ora o outro (SANTOS, 2005).
te, buscou paisagens campestres se concentrando A partir do Pós-expressionismo, veremos uma
no Taiti. Sua obra preocupa-se com a cor: “forte e série de movimentos artísticos que se desdobram
vibrante é a essência de sua obra. Suas formas são e vão dar início ao que se chama de arte moderna,
simples, sintéticas, estáticas, suas cores chapadas, a tema de nosso próximo tópico.

90
DESIGN

SAIBA MAIS

Van Gogh teve diferentes fases em sua pin-


tura e acabou por influenciar movimentos,
como Expressionismo, o Fauvismo e o início
do Abstracionismo. Contudo, apesar de ter
uma grande produção artística, morreu sem
ser reconhecido pelos críticos ou mesmo pe-
las reformas na estética que pretendia fazer.

Esse pintor participou de diversos movimen-


tos, o que expressa as contribuições de sua
arte, mas como ocorreu em muitos outros
casos, as ideias e novas estéticas propostas
por ele não foram aceitas de imediato e sua
arte foi reconhecida muito tempo após a sua
morte.

Esse é um fato comum para a maioria dos


grandes artistas, sejam eles da renascença
ou da arte moderna. Normalmente, quando
surge um novo valor estético o mesmo não
é aceito com facilidade e seus precursores
não são bem vistos, e somente anos após
sua morte é que o valor de seu trabalho é
reconhecido.

Fonte: Santos (2012).


Figura 7 - Jovens Taitianas com Flores de Manga — Gauguin
Fonte: Santos (2005, p. 146).

91
HISTÓRIA DA ARTE E DO DESIGN

Arte Moderna

92
DESIGN

O século XX traz transformações marcantes para o Cubismo (1907-1914), Expressionismo (1905-1930)


mundo da arte, principalmente devido ao processo e o Surrealismo (1924- ) enquanto que o restante dos
de industrialização que vinha ocorrendo desde o sé- movimentos serão apresentados mais brevemente.
culo XX, assim como uma busca constante por di- Iniciamos nossos estudos com o Movimento
versos artistas em desenvolver uma ruptura com os Art Noveau (1880/1890-1914), que se desenvolveu
valores academicistas e promover o desenvolvimen- na virada do século XIX para o século XX e não só
to do novo, de uma arte que acompanhasse as novas marca um processo de transição entre temporal, mas
configurações do mundo (AGRA, 2004). também uma preocupação entre a junção da arte e
Assim sendo, o conceito de Arte Moderna en- da indústria (STRICKLAND; BOSWELL, 2014).
globa um período referente aos anos de 1890 a 1950, Esse movimento se voltou para as artes decora-
aproximadamente. Período esse marcado por uma tivas e se desenvolveu em Paris em uma galeria de
intensa produção artística e cultural diversificada exposições, marcando o apogeu da Europa, período
que se desenvolveu ao longo de apenas 560 anos de grande prosperidade, conhecido como Belle Épo-
(DEMPSEY; MOURA, 2005). que (1880-1914).
No século XX, aconteceu o surgimento e tam- Esse movimento, também conhecido como Arte
bém a morte de diversas ideologias políticas. Pode- Nova, se desenvolveu na decoração de interiores,
mos entender que esse século marcou grandes ino- arquitetura, produção de objetos decorativos, assim
vações e transformações, nas mais variadas áreas, como na pintura e escultura. Observe, a seguir, as
como, por exemplo, a solidificação do cinema e da principais características desse movimento:
televisão. Além de que esse século foi, realmente, de • Foi um estilo internacional eminentemen-
te decorativo, um estilo para a vida cotidia-
suma importância, porque nele várias pessoas im-
na moderna.
portantes passaram a fazer sua história. As contradi-
• Baseia-se na natureza, nas formas orgâni-
ções e complexidades do século XX tornaram-se um
cas, principalmente vegetais, concebidas
rico território para a criação de novas considerações em linhas sinuosas e assimétricas e cores
na área das artes. frias, tons pastéis.
Portanto, podemos citar como movimentos re- • É uma apologia à beleza, à ornamental gra-
levantes para o período: Art nouveau (1880/1890- ciosa, delicada, integrada. Pretende-se in-
1914), Fauvismo (1905-1907), Cubismo (1907- tegrar as formas orgânicas à vida humana
moderna.
1914), Futurismo (1909-1914), Expressionismo
(1905-1930), Dadaísmo (1916-1921) e Surrealismo • Materiais como o vidro e o ferro ganham
nova vida.
(1924- ) (DEMPSEY; MOURA, 2005).
Dentre os movimentos aqui citados, percebemos • As artes manuais, artesanais são valoriza-
das (TRINDADE, 2007, p. 73).
que muitos deles se desenvolveram simultaneamente
em termos temporais, o que indica a intensidade da Os elementos ligados ao Art Noveau têm a preocu-
produção artística do início desse século. Para me- pação de trabalhar de forma delicada e integrada o
lhor compreensão desses movimentos, veremos com decorativo, a estrutura dos objetos ou mesmo de uma
mais detalhes o Art Nouveau (1880/1890-1914), o obra arquitetônica (GOMBRICH; CABRAL, 1999).

93
HISTÓRIA DA ARTE E DO DESIGN

Em termos de arquitetura, esse movimento bus- Cabe destacar ainda que:


cou trabalhar a integração de diferentes materiais, e
o ferro tornou-se não apenas um suporte, mas um As esculturas Art Nouveau são elegantes e mo-
vimentadas, orientando-se pela curva sinuosa.
material decorativo muito empregado em janelas,
Não há, contudo, grandes obras, pois o seu ca-
lustres, corredores e demais lugares onde pudesse ráter é eminentemente ornamental e inserem-
ser empregado. Santos (2012) destaca que a suavida- -se no programa arquitetônico ou decorativo
de, as cores leves e as curvas foram muito empregas (TRINDADE, 2007, p. 73).
na arquitetura interior e exterior.
Esse movimento, portanto, se baseia na união da
arte decorativa e de diversos elementos arquitetôni-
cos, com o objetivo de produzir uma arte mais in-
dustrializada voltada à contemplação do belo.
Em sequência vem o Fauvismo (1905-1907), es-
cola que utilizava de cores vibrantes e iniciou a re-
dução da linguagem da pintura aos essenciais: cor,
forma e pincelada. “Esse curto movimento artístico
da pintura, entre 1905 e 1907, nasceu na França. Sua
denominação deve-se ao termo “fauve”, fera selva-
gem em francês” (TRINDADE, 2007, p. 74).
O Cubismo (1907-1914) foi um movimento de
grande impacto para a pintura, foi inspirado por
Cézanne e tem por objetivo a desconstrução da re-
alidade por meio de formas geométricas, como afir-
ma Santos (2012).
Esse movimento artístico foi iniciado em Paris e
pregava a substituição das representações do espaço
tridimensional, da perspectiva, pelo uso faz peque-
nas formas decompostas e geometrizadas em obser-
vação a uma obra.
Esse movimento tem duas correntes distintas, o
Cubismo Analítico e Sintético.
• O Cubismo Analítico foi desenvolvido por
Picasso e Braque, aproximadamente entre
1908 e 1911. Esses artistas trabalharam com
poucas cores — preto, cinza e alguns tons de
marrom e acre —, já que o mais importante
Figura 8 - Janela no estilo Art Noveau e casa Tesel — Bélgica (1903) para eles era definir um tema e apresentá-lo
Fonte: Trindade (2007, p. 73).

94
DESIGN

de todos os lados, simultaneamente. Levada Seu primeiro quadro cubista foi Les Demoiselles
às últimas consequências, essa tendência che- d’Avignon, de 1907, que pode ser observado na
gou a uma fragmentação tão grande dos se-
Figura 9.
res, que tornou impossível o reconhecimen-
to de qualquer figura nas pinturas cubistas Observa-se que a obra é composta por diver-
(SANTOS, 2005, p. 154). sas faces geométricas e que não possui formas mais
• Cubismo Sintético. Basicamente, essa ten- definidas, imitando uma imagem de caleidoscópio
dência procurou tornar as figuras novamente ou um espelho quebrado. A desconstrução real da
reconhecíveis. Mas, apesar de ter havido uma figura e sua construção por meio dessas formas ge-
certa recuperação da imagem real dos obje- ométricas, assim como o jogo de tons claros e es-
tos, isso não significou o retorno a um trata- curos, ainda permite observar profundidade e tri-
mento realista do tema. O Cubismo Sintético
dimensionalidade.
foi chamado também de Colagem porque
introduziu letras, palavras, números, pedaços Depois do Cubismo, temos ainda o Futurismo
de madeira, vidro, metal e até objetos inteiros (1909-1914), movimento dirigido para o futuro,
nas pinturas (SANTOS, 2005, p. 155). cravando o aniquilamento da arte anterior, impres-

Esses dois estilos do Cubismo provocaram gran-


des transformações na arte, sendo seu precursor o
espanhol Pablo Picasso (1881-1973), pioneiro do
Cubismo.

SAIBA MAIS

Pablo Picasso (1881-1973), tendo vivido 92


anos e pintado desde muito jovem, até pró-
ximo à sua morte, passou por diversas fases.
Entretanto, são mais nítidas a fase azul (1901-
1904), que representa a tristeza e a melanco-
lia dos mais pobres; para essa fase as cores
mais usadas eram o azul e o verde azulado,
além de outros tons mais escuros. A fase
rosa (1905-1907) se refere a uma fase mais
alegre em que pinta acrobatas e arlequins
com cores leves e alegres com variações de
rosa e laranja. As obras que mais se destacam
desse pintor se referem ao Cubismo, onde
trabalhou as formas geométricas de modo a
construir diversas figuras.

Fonte: Santos (2005, p. 156).


Figura 9 - Les Demoiselles d’Avignon — Pablo Picasso (1907)
Fonte: Santos (2005, p. 156).

95
HISTÓRIA DA ARTE E DO DESIGN

Figura 10 - O Grito
Fonte: Santos (2005, p. 152).

96
DESIGN

sionista, naturalista. Cultuava a mudança, a inven- Observamos que cada um desses movimentos têm
ção, a velocidade, a produção e a máquina. Esse suas inquietações e que elas se ampliam com o pas-
movimento artístico e literário nasceu na Itália, em sar do anos. Assim como o Expressionismo demons-
1909, tendo como objetivo trava inquietação por meio dos sentimento, o Dada-
ísmo (1916-1921), que nasceu durante a 1º Guerra
representar a realidade em movimento, o mo- Mundial (1914-1918), é fruto da falta de sentido que
mento em ação, colocando o espectador no
se abateu na Europa nesse período. Eles vão de en-
centro da obra. Era uma influência da nova
sociedade do automóvel, da velocidade (TRIN- contro aos princípios construtivos da antiga ordem,
DADE, 2007, p. 74). baseada no racionalismo e na lógica.
Assim, eles adotam a desordem, o caos, a incoe-
Outro movimento que veio a trazer grandes rom- rência, o absurdo, o ilógico. Seu objetivo era chocar,
pimentos foi o Expressionismo (1905-1930). Esse foi um movimento literário e artístico de amplitude
movimento artístico é marcado pela insatisfação, por internacional, que cultuava, basicamente, o desejo de
um desespero, por uma angústia perante a realidade revolucionar ideias tradicionais (TRINDADE, 2007).
que é transmitida às telas por meio de formas e cores Contudo, é no Surrealismo (1924 - ) que veremos
fortes que causam grande impacto ao observador. uma ruptura bastante forte e o nascimento de uma
O Expressionismo carregava consigo a essência arte com o intuito de buscar novos caminhos sob a
de uma sociedade que entrava em uma crise exis- influência do Dadaísmo. Além dessa influência, ve-
tencial, onde a tecnologia e a barbárie começavam remos a desconstrução cubista e o expressionismo se
a aparecer. Para Santos (2005, p. 152), esse movi- aliando para dar origem a algo novo (AGRA, 2004).
mento “procurou expressar as emoções humanas e Cabe destacar ainda que o Surrealismo é muito mais
interpretar as angústias que caracterizam psicologi- complexo e carrega consigo outras influências que
camente o homem do início do século XX”. não somente a artística, mas sim aquelas que vêm dos
O movimento traz a tona reflexões existenciais e o estudos dos sonhos, de Freud, da psiquiatria que co-
lado obscuro do ser humano, o egoísmo, a individuali- meça a se desenvolver no período. Portanto, o Surre-
dade e arrogância, que são traduzidos em cores, linhas alismo carrega consigo essa influência do sonho, do
e formas que expressam nitidamente esses elementos. surreal, do inconsciente, como destaca Agra (2004).
O precursor do movimento foi o pintor Edvard Para os surrealistas, as obras de arte assumem
Munch, que em sua famosa obra “O Grito” conse- características distintas. Santos (2005) enumera al-
guiu expressar uma profunda angústia e desespero. guns prontos importante, vejamos:
Isso se deu por meio da utilização de pinceladas • A obra de arte não é o resultado de mani-
festações racionais e lógicas do consciente;
curvas e distorção dos objetos por meio delas; assim
como o contraste em cores frias e quentes e a expres- • As obras de arte são as manifestações do
subconsciente, absurdas e ilógicas, como as
são contida na figura humana representada na tela
imagens dos sonhos e das alucinações, que
criam um cenário de completo desespero e angústia. produzem as criações artísticas mais inte-
Observe, caro(a) aluno(a), na Figura 10. ressantes;

97
HISTÓRIA DA ARTE E DO DESIGN

• Às vezes são as manifestações do subcons- De acordo com Trindade (2007), o espanhol


ciente, absurdas e ilógicas, como as ima-
Salvador Dali (1904-89) foi um dos pintores que
gens dos sonhos e das alucinações, que
produzem as criações artísticas mais inte- mais se destacou nesse movimento. Ele criou o con-
ressantes (SANTOS, 2005, p. 166). ceito de “paranóia crítica” para referir-se à atitude
de quem recusa a lógica que rege a vida comum das
Ao lermos esses três pontos, observamos que as pessoas. Segundo o próprio pintor, é preciso “con-
obras surrealistas são permeadas por duas caracte- tribuir para o total descrédito da realidade” (SAN-
rísticas básicas, a realidade e o sonho, que são traba- TOS, 2005, p. 166).
lhados de forma a coexistirem e criarem um cenário Assim sendo, suas obras carregam sempre ilusões
inexistent, mas que leva a indagações contextuais de ótica e mesmo figuras com múltiplas interpreta-
sobre suas mensagens implícitas. ções. Observe algumas das obras de Salvador Dali.

Figura 11 - A Persistência da Memória e Galatéia


Fonte: A lista de Lucas (2012, on-line)1 .

98
DESIGN

O Surrealismo abriu as portas para o irreal e a ima-


ginação; assim, a arte passou a expressar muito mais
do que valores estéticos, mas confrontações, pro-
blemas sociais e também o desenvolvimento que se
dava em meados do século XX. Portanto, o Surrea-
lismo foi um movimento literário e artístico carac-
terizado pela expressão espontânea e automática do
pensamento, ditada apenas pelo inconsciente, glori-
ficava a prevalência incondicional do sonho e prega-
va a renovação de valores morais, políticos, científi-
cos e filosóficos.
O Surrealismo propunha uma renovação e uma
libertação de padrões artísticos. Era uma arte mais
autoral e se estendeu até o início da Segunda Guerra
Mundial, que trouxe mudanças significativas no es-
tilo de vida das pessoas. Entre os anos 1939 e 1945,
momento que acontecia a Guerra, foi um período de
ruptura que influenciou a arte drasticamente.
O que vemos, aqui, caro(a) aluno(a), é um pro-
cesso de constante transformações no que entende-
mos por arte e o surgimento de novos valores estéti-
cos e culturais que afetam a forma como entendemos
o que é arte e como ela se manifesta. Vejamos, a se-
guir, como é arte contemporânea ou Pós-moderna.

REFLITA

Acontecimentos históricos acabam por im-


pactar sobre as expressões artísticas, promo-
vendo rupturas ou continuidades e levando
a novos padrões estéticos.

99
HISTÓRIA DA ARTE E DO DESIGN

Arte Pós-Moderna
A Segunda Guerra Mundial trouxe mudanças sig- sumo e formas de expressão. Nesse momento, a arte
nificativas ao estilo de vida da sociedade, e com elas passa por novas experimentações, adquirindo novas
ocorreram uma série de questionamentos e uma configurações (SANTAELLA, 1994). Portanto, o
vida voltada ao consumo, à produção, ao progresso
e tudo que adivinha com eles. [...] pós-moderno não é apenas uma outra pa-
lavra para a descrição de um estilo particular.
Os bens de consumo passaram a ser produzidos
É também um conceito periódico cuja função
levando em consideração o design; a estética e a arte é relacionar a emergência de novos caracteres
também passaram por essas influências ao se torna- formais na cultura com a emergência de um
rem mais abertas às novas configurações que envol- novo tipo de vida social e uma nova ordem eco-
viam a mídia e o consumo. nômica – ou seja, aquilo que é sempre eufemis-
ticamente chamado de modernização, socieda-
Assim, a arte Pós-moderna, ou Contemporânea,
de pós-industrial ou de consumo, sociedade das
vem dessa junção entre arte e industrialização, con-

100
DESIGN

mídias ou do espetáculo, ou capitalismo multi- tador uma sensação de movimento, e a Pop-Art é a


nacional (...). Chega-se ao sentimento geral de abreviatura em inglês de “arte popular” e representa
que, em algum ponto, após a Segunda Guerra
um movimento nascido mais ou menos na metade
Mundial, uma nova espécie de sociedade come-
çou a emergir (SANTAELLA, 1994, p. 19). dos anos 50, que focava na desconstrução das ima-
gens pertencentes às culturas de massa, a chamada
Essa nova sociedade em emergência, como afirma “cultura pop”; expressam, de um modo ou de outro,
a autora, faz da arte uma nova ferramenta para ex- a perplexidade do homem contemporâneo (AGRA,
pressar valores e aguçar o senso estético por meio de 2004; GOMBRICH; CABRAL, 1999).
novas propostas. Podemos citar como característi- Assim como a indústria passou a produzir bens,
cas dessa arte: também influenciou a arte, sua produção e repro-
• Buscar a originalidade e o que é mais inova- dução, tornando-a acessível.
dor; Observe um exemplo da arte de cada estilo.
• Possibilitar a criação de obras voltadas essen-
cialmente para a própria arte, sem estarem
presas a entidades governamentais ou reli-
giosas;
• A utilização das modernas tecnologias;
• Apresentar subjetividade e maior liberdade
criadora;
• Misturar diversos estilos artísticos;
• Usar materiais variados;
• União da arte com a realidade e a vida;
• Maior interação entre a cobra e espectador;
• Empregar meios mais mecânicos para repro-
dução do trabalho artístico. Por exemplo: a
fotografia ganha força e a impressão tipográ-
fica se torna uma aliada na reprodução de
imagens.
• Utilizar qualquer tipo de material e técnica
nas criações.
Em outras palavras, as características aqui citadas
expressam a busca pelo novo e para a experimenta-
ção. Podemos citar como exemplo dois movimentos
do pós-guerra: Op-Art e Pop-Art.
A Op-Art é um movimento artístico cujo nome
significa “arte óptica”, caracterizado por obras que
oferecem figuras geométricas, em preto e branco ou Figura 12 - Triond — Op-Art
coloridas, combinadas para que provoque no espec- Fonte: Santos (2005, p. 168).

101
HISTÓRIA DA ARTE E DO DESIGN

Em suas obras, Romero Britto, muitas vezes, traba-


lha com formas básicas e objetos cotidianos que, ao
terem seus traços alterados pelas inserções de linhas,
cores e estampas, adquirem um aspecto mais ex-
pressivo, e ao mesmo tempo, lúdico. Observe alguns
exemplos da obra desse artista.

Figura 13 - Marilyn Monroe — Pop-Art


Fonte: Santos (2005, p. 170).

O que se vê nesses dois movimentos é a junção entre


tecnologia e arte, onde há livre experimentação. Um
dos pintores que veio a colaborar com a arte con-
temporânea é Romero Britto.

SAIBA MAIS

Romero Britto desenvolve sua arte sobre a in-


fluência do Pop-Art, acrescentando caracteres
estilísticos das histórias em quadrinhos, assim
como da arte gráfica. Seu estilo é carregado
com formas e cores fortes.

Em suas obras, normalmente se vê uma figura


básica, um rosto, um animal ou um objeto
que é estruturado com linhas grossas, como
contornos, cores fortes, preenchimento e uso
de linhas, esferas, flores e demais elemen-
tos decorativos para preencher espaços. A
intenção é dar ao objeto desenhado um ar
de irreverência, onde o real e o imaginário
se cruzam.

Fonte: as autoras.
Figura 14 - Obras de Romero Britto

102
DESIGN

As obras de Romero Britto são apenas um exemplo A arte contemporânea é composta por artistas
do que se pode encontrar enquanto arte contempo- reconhecidos e também por artistas anônimos que
rânea. Santos (2005) afirma que com o desenvolvi- colorem muros, paredes ou espaços com diversas
mento das tecnologias, veremos o cinema enquanto composições, dando origem ao grafite de rua.
expressão de arte; a fotografia crítica, às instalações Portanto, caro(a) aluno(a), conceituar e enten-
onde o público interfere nas obras; a arte performá- der essa arte que nos rodeia vai muito mais além
tica, a arte que vem das ruas, como o grafite. do que simplesmente reconhecer grandes pintores,
Para Santos (2005), a arte que se desenvolveu a mas, acima de tudo, é necessário entender que ela
partir da Segunda Guerra Mundial aos dias de hoje assume diferentes configurações estéticas e que vai
corresponde a uma ampla variedade de manifesta- muito além da escultura, pintura e arquitetura. Ela
ções, onde tecnologias, materiais e técnicas se com- perpassa o industrial, o artesanal, o conceitual e o
binam para dar vida a novas formas de expressão, reprodutível. Espero que tenha apreciado a leitura
nos mais variados ambientes. e até breve.

Figura 15: - Arte em grafite

103
considerações finais

Caro(a) aluno(a), chegamos ao fim de nossos estudos sobre a história da arte. Nesta
unidade, você percebeu que há uma grande variedade de formas de expressão ligadas
à arte do século XX.
Isso se deve ao fato de que houve um grande processo de desenvolvimento tecno-
lógico que acabou por influenciar a vida cotidiana e também a arte. Aliás, em termos
de arte, você deve ter percebido que muitos movimentos se desenvolveram simulta-
neamente, ou seja, no mesmo período histórico ou sem grandes rupturas temporais.
O Impressionismo e o Pós-impressionismo são dois movimentos que trouxeram
grandes rupturas e novos olhares sobre a arte, abrindo caminho para a experimen-
tação e novas possibilidades de interferência sobre as obras, como no caso do Cubis-
mo, que acrescentou colagens em algumas obras.
A arte moderna é marcada por uma série de movimentos que passam a questio-
nar padrões estéticos e o estilo da sociedade e, ao mesmo tempo, refletem os avanços
dela. No caso do Surrealismo, vemos a psiquiatria influenciando a arte e isso irá
acontecer de forma ainda mais intensa na arte Pós-moderna, onde a tecnologia e
o consumo vão transformar meros objetos em expressão de arte, como é o caso do
rosto de Marilyn Monroe, que faz parte do Pop-Art.
Temos, ainda, o exemplo do pintor Romero Britto, que trabalha suas obras com
elementos cotidianos acrescentando traços de ilustração gráfica e um carácter lúdico
sobre a influência da Pop-Art.
Portanto, podemos dizer que no século XX não falamos em arte, mas expressões
artísticas em movimentos e estilos que coexistem e se desenvolvem em diferentes
momentos. Podemos citar como exemplo o grafite de rua, o cinema e as instalações
como expressão da arte contemporânea, ou seja, uma arte plural que se manifesta de
formas variadas.
Espero que essa leitura sobre a história da arte o ajude a entender um pouco
mais sobre como utilizamos materiais, formas, cores e texturas para expressar nossos
ideais e valores contemporâneos.

104
atividades de estudo

1. A pintura impressionista se desenvolveu de forma bastante particular e teve a


colaboração de diversos pintores. Referente a este estilo, leia atentamente as
afirmativas abaixo e marque a opção correta.
I. A pintura deve registrar as tonalidades que os objetos adquirem ao refletir a
luz solar num determinado momento.
II. Destacam-se como pintores impressionistas: Claude Monet (1840-1926),
Pierre Auguste Renoir (1841-1919), Edgar Degas (1834-1917), Auguste Rodin
(1840-1917) e Pablo Picasso (1834-1917).
III. A temática de Monet eram as paisagens, que se tornavam o mote para o seu
foco principal: a luz. As suas séries retratam as paisagens em diferentes mo-
mentos de iluminação.
IV. O Pós-impressionismo foi uma continuidade do impressionismo buscando
romper barreiras e levar o movimento a um outro patamar.

Marque a alternativa correta.


a. I, II e III estão corretas.
b. I e III estão corretas.
c. I, III e IV estão corretas.
d. II, III, e IV estão corretas.
e. Nenhuma das alternativas anteriores está correta.

2. O século XX é marcado por diversos movimentos artísticos que se enquadram


em duas grandes categorias. Quais são essas categorias?
a. Art Noveau e Arte Moderna.
b. Arte Moderna e Arte Contemporânea.
c. Arte Pós-moderna e Arte Contemporânea.
d. Arte Contemporânea e Pop-Art.
e. Nenhuma das alternativas anteriores está correta.

105
atividades de estudo

3. A Arte Moderna é marcada por uma série de movimentos que se desenvolve-


ram na primeira metade do século XX. Quais são eles?
a. Art Nouveau — Fauvismo — Cubismo — Futurismo — Expressionismo — Da-
daísmo — Surrealismo — Op-Art.
b. Impressionismo — Fauvismo — Cubismo — Futurismo — Expressionismo —
Dadaísmo — Surrealismo.
c. Impressionismo — Fauvismo — Cubismo — Futurismo — Expressionismo —
Dadaísmo — Surrealismo — Pop-Art.
d. Art Nouveau — Fauvismo — Cubismo — Futurismo — Expressionismo — Da-
daísmo — Surrealismo.
e. Nenhuma das alternativas anteriores está correta.

4. Assinale Verdadeiro (V) ou Falso (F):


( ) O Dadaísmo foi um movimento literário e artístico de amplitude internacional
que cultuava o desejo de revolucionar ideias tradicionais.
( ) O Fauvismo era uma escola que utilizava cores vibrantes e iniciou a redução
da linguagem da pintura aos essenciais: cor, forma e pincelada.
( ) O Cubismo era um estilo artístico e movimento iniciado em Paris, pregava
a substituição das representações do espaço tridimensional, da perspectiva,
pelo uso faz pequenas formas decompostas e geometrizadas em observação
a uma obra.
( ) O Surrealismo sofre influência da psiquiatria e faz a junção entre o real e o
surreal.

Marque a alternativa correta.


a. V, V, V, V.
b. F, V, V, V.
c. V, F, V, V.
d. V, V, F, V.
e. Nenhuma das alternativas anteriores está correta.

106
atividades de estudo

5. A arte contemporânea apresenta características variadas e se desenvolve de


forma plural. Que movimentos de arte podemos citar como exemplo da arte
nesse período?
a. Pop-Art e Surrealismo.
b. Op-Arte e Pop-Arte.
c. Op-Arte e Art Noveau.
d. Surrealismo.
e. Nenhuma das alternativas anteriores está correta.

6. Romero Britto é um dos grandes nomes da pintura contemporânea. Explique


as influências de sua obra.

107
LEITURA
COMPLEMENTAR

Considerando as questões que permeiam o universo que compreende as áreas de Arte


e da Moda, como sugestão para leitura complementar à sua formação, caro(a) aluno(a),
sugerimos o artigo que apresenta uma visão sobre as duas áreas expressas, juntamente
com o contexto do design e do trabalho conceitual que conecta Arte e Moda. Boa Leitura!

ARTE E MODA CONCEITUAL: UMA REFLEXÃO EPISTEMOLÓGICA


José Mário Martinez Ruiz
RESUMO: Esse texto tem por objetivo fazer conexões possíveis entre arte e moda conceitu-
al, bem como questionar se existe uma relação entre essas formas de linguagem e qual é o
propósito das coleções conceituais. Para isso, utilizaremos a literatura especializada como
arcabouço teórico para análise de três estilistas: Alexander McQueen, Alexandre Herch-
covitch e Jum Nakao. PALAVRAS-CHAVE: Arte conceitual; moda conceitual; criação; design;
moda contemporânea.

Depois de Duchamp (1887-1969) ter levado um urinol para um espa- ço consagrado da


arte e ter declarado que aquele objeto é arte, depois de as vanguardas artísticas do início
do século 20 proporem o rompimento da diferenciação entre arte e cotidiano, hoje, no início
do século 21, não seria o local onde pretensamente é lugar privilegiado para se discutir
moda? (OLIVEROS, 2004, p. 57).
A pergunta pertinente do jornalista faz refletir sobre quanto ainda precisamos avançar nas
pesquisas relativas à moda, apesar de pesquisadores conceituados, como Gilberto Freyre e
Gilda de Mello e Souza, no Brasil, e Gilles Lipovetsky e Roland Barthes, no exterior, no início
e meados do século passado, terem proposto uma análise mais profunda sobre a moda. É
preciso responder a uma série de indagações a esse respeito; por isso, muitos pesquisado-

108
LEITURA
COMPLEMENTAR

res da atualidade estão se atendo a esse fenômeno de consumo e linguagem. Com o am-
paro teórico da literatura especializada e também de relatos colhidos em revistas de moda,
este artigo procura responder a algumas dessas indagações: de que forma a moda e a arte
conceitual se relacionam? Existe um paralelo possível entre essas formas de linguagem?
Afinal, qual é o propósito das coleções conceituais? Para dissertar sobre esse assunto tor-
na-se necessário, primeiramente, verificar o que é a arte conceitual e o que ela representou
em termos de mudança da linguagem no campo das artes. Após essa explanação, o texto
procura tratar de moda conceitual, e para isso utiliza três estilistas conceituados: o inglês
Alexander McQueen e os brasileiros Alexandre Herchcovitch e Jum Nakao.

Fonte: RUIZ (2007). Disponível em: <http://periodicos.unicesumar.edu.br/index.php/


revcesumar/article/view/488/442>.

109
HISTÓRIA DA ARTE E DO DESIGN

História Ilustrada do Vestuário, um estudo da indu-


mentária, do Egito antigo ao final do século XIX.
Melissa Leventon
Editora: Publifolha
Sinopse: é uma obra ilustrada que combina dados históricos
com estudos de dois artistas gráficos do século XIX — Auguste
Racinet e Friederich Hottenroth. Apresentados cronologicamen-
te e divididos por temas, os desenhos acompanham textos de especialistas e trazem informa-
ções sobre a história da vestimenta. Traz ainda um capítulo sobre acessórios e um glossário.
Comentário: com ilustrações ricas em detalhes, o livro apresenta, de maneira clara e objeti-
va, o contexto histórico representado por meio da vestimenta, uma alternativa interessante
para auxiliar você, caro(a) aluno(a), a compreender a evolução histórica do homem nos dife-
rentes períodos.

Sede de viver
Ano: 1956
Sinopse: o filme conta a vida de um dos maiores gênios de todos
os tempos da pintura, Vincent Van Gogh. Famoso artista dividido
entre a prodigiosa inspiração do seu gênio e a angustiante escuri-
dão de uma mente atormentada.

O vídeo apresenta em detalhes como se deu o surgimento da Arte Moderna e seu contexto
histórico em sua relação com a Arte Contemporânea.
Acesse o link disponível em: <http://https://www.youtube.com/watch?v=c7WAbSnINuQ>.

110
referências

AGRA, L. História da arte do Século XX: ideias e movimentos. São Paulo: Anhembi
Morumbi, 2004.
DEMPSEY, A.; MOURA, C. E. M. Estilos, escolas e movimentos: guia enciclopédico
da arte moderna. São Paulo: Cosac Naify, 2005.
GOMBRICH, E. H.; CABRAL, Á. A história da arte. 16. ed. Rio de Janeiro: LTC,
1999.
JANSON, H. W.; LEAL, M. B. História geral da arte: renascimento e barroco. 2. ed.
São Paulo: Martins Fontes, 2001.
RUIZ, J. M. M. A arte e a moda conceitual: uma reflexão epistimologica. Rev. Cesu-
mar Ciências humanas e ciências aplicadas. On-line, v. 12, N. 1, 2007. Disponível em:
Acesso em: 26 set. 2017.
SANTAELLA, L. Pós-moderno & semiótica. In: CHALLUB, S. (org.). Pós-moderno
&: semiótica, cultura, psicanálise, literatura, artes plásticas. Rio de Janeiro: Imago,
1994.
SANTOS, M. G. V. P. História da arte. 16. ed. São Paulo: Ática, 2005.
______. História da arte. 17. ed. São Paulo: Ática, 2012.
STRICKLAND, C.; BOSWELL, J. Arte comentada: da pré-história ao pós-moderno.
15. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2014.
TRINDADE, S. História da Arte. Bahia: Faculdade de Tecnologia e Ciências, 2007.

REFERÊNCIA ON-LINE

1
Em: em: <https://alistadelucas.wordpress.com/2012/02/04/as-15-melhores-obras-
-de-salvador-dali/>. Acesso em: 29 jul. 2017.

111
gabarito

1. C.

2. B.

3. D.

4. A.

5. B.

6. Em suas obras, Romero Britto, muitas vezes, trabalha com formas básicas e
objetos cotidianos que, ao terem seus traços alterados pelas inserções de li-
nhas, cores e estampas, adquirem um aspecto mais expressivo e, ao mesmo
tempo, lúdico.
Romero Britto desenvolve sua arte sobre a influência do Pop-Art, acrescen-
tando caracteres estilísticos das histórias em quadrinhos assim como da arte
gráfica. Seu estilo é carregado com formas e cores fortes.

112
UNIDADE
IV
O DESIGN

Professora Dra Paula Piva Linke


Professora Esp Vanessa Barbosa dos Santos

Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta
unidade:
• O design e sua origem
• Movimentos importantes para o design
• O Design pelo mundo

Objetivos de Aprendizagem
• Apresentar o conceito de design e seu surgimento.
• Apresentar os movimentos mais importantes para o design
como: Arts e Crafts e Bauhaus.
• Apresentar como o design se manifestou em alguns
países, inclusive no Brasil.
unidade

IV
INTRODUÇÃO

Olá, caro(a) aluno(a)! Seja bem-vindo(a) a quarta Unidade do livro sobre His-
tória da Arte e do Design. Após você conhecer mais sobre a História da Arte
e como ela se manifestou por meio do desenvolvimento das civilizações, nesta
unidade, vamos entender a palavra Design em nosso meio, como ela está presen-
te em nossa vida diariamente, qual o significado da palavra, onde e quando ela
surgiu e como foi o início de sua influência em nosso mundo.
Depois, vamos conhecer o princípio de sua história, quais eram os aconteci-
mentos que o permeavam, os processos de transformação, algumas de suas ca-
raterísticas e relações com o Design e conhecer sobre a história da Revolução
Industrial.
É importante lembrar que o Design não caminha sozinho, não são os pro-
cessos e as teorias somente que fazem ele funcionar, e sim o desenvolvimento e
comportamento humano, os acontecimentos da sociedade, os movimentos his-
tóricos, as descobertas e as inovações, as oposições e apoios de determinados
conceitos e assuntos. Todo esse mover, que faz o mundo caminhar cada dia, é que
transformam o Design no que estudamos e vivenciamos hoje. Portanto, veremos
os dois movimentos que mais o influenciaram: Arts e Crafts e Bauhaus.
Também vamos compreender a forma de atuação do Design nos principais
países em que ele atua e perceber que existem correlações entre eles, mesmo
quando falamos de sociedades diferentes. Conheceremos os autores principais
nesses países, suas características e ideais seguidos.
E, por último, veremos como o Design chegou ao Brasil, quais eram as prin-
cipais características no início, percebendo essa correlação entre os países, as in-
fluência do desenvolvimento da História da Arte ao surgimento do Design em
nosso país, e conheceremos como nossa profissão tem se desenvolvido em nosso
próprio país.
Esteja preparado e aguce a vontade de ler e aprender sobre esses tópicos. Es-
peramos que seja um tempo produtivo e de grande aprendizado.
HISTÓRIA DA ARTE E DO DESIGN

O Design e Sua Origem


Todos os dias estamos recebendo novas informa- com ela, a palavra Design acabou se universalizando
ções, novas ideias, novas criações. O mundo está no inglês. Segundo Cardoso (2008, p. 20):
em constante mudança, e é a partir desse processo
de transformação que o Design surge em nosso A origem imediata da palavra está na língua
inglesa, na qual o substantivo design se refere
vocabulário.
tanto à ideia de plano, desígnio, intenção, quan-
É muito comum, ao você conversar com alguém to à de configuração, arranjo, estrutura (e não
sobre algo novo que surgiu no mercado, se referir apenas de objetos de fabricação humana, pois é
por meio do termo: novo design de uma roupa, um perfeitamente aceitável, em inglês, falar do de-
carro, uma lâmpada etc. Qual o verdadeiro significa- sign do universo de uma molécula).

do da palavra Design?
A palavra em si não existe no contexto da língua Contudo, a origem mais remota da palavra está no la-
portuguesa, porém, como o inglês é uma língua con- tim designare, verbo que abrange ambos os sentidos,
siderada universal, e estamos habituados a conviver o de designar e o de desenhar (CARDOSO, 2008).

118
DESIGN

Em 1958, a palavra Design foi mencionada pela pri- que é a Revolução Industrial, entre os séculos XVIII
meira vez no “Oxford Dictionary”, descrita como: e XIX, a qual veremos no próximo capítulo desta
• Um plano desenvolvido pelo homem ou um unidade.
esquema que possa ser realizado É aqui que vemos o Design se inserindo na so-
• O primeiro projeto gráfico de uma obra de ciedade como parte da história política, social, eco-
arte ou nômica e cultural, mostrando a necessidade de uma
• Um objeto das artes aplicadas ou que seja útil nova forma de agir e pensar em relação ao funcio-
para a construção de outras obras (BURDEK;
namento e desenvolvimento do dia a dia do homem.
CAMP, 2006, p. 15).
Para finalizar o estudo da palavra e do significa-
A palavra Design é dotada de vários significados, do do Design, vamos entender o que o Internacional
como planejar, designar, desenhar e formar. E é den- Design Center, de Berlim, em 1979, por ocasião de
tro desse conflito de significados que o Design surge uma de suas exposições, descreveu sobre o Design:
para ir além do que a arte já sugeria ao homem. • Bom design não se limita a uma técnica de
Vamos pensar em uma obra de arte, por exem- empacotamento. Ele precisa expressar as par-
plo, criada por Van Gogh, que pintava seus quadros ticularidades de cada produto por meio de
uma configuração própria;
com uma intenção de forma, cores e luz, para chegar
• Ele deve tornar visível a função do produto,
em um resultado final de uma imagem de girassó-
seu manejo, para ensejar uma clara leitura do
is. Se ele quisesse vender quadros de girassóis, será usuário;
que conseguiria pintar todos eles exatamente iguais?
• Bom design deve tornar transparente o esta-
(AZEVEDO, 2014). Seria praticamente impossível, do mais atual do desenvolvimento da técnica;
uma vez que, a cada quadro que ele pintasse, a mis- • Ele não deve se ater apenas ao produto em si,
tura da tinta poderia sofrer alterações, a influência mas deve responder a questões do meio am-
da luz e temperatura seriam diferentes, até sua mão biente, da economia de energia, da reutiliza-
poderia fazer traços diferentes. De alguma forma, ção, de duração e ergonomia;
esses quadros teriam detalhes únicos, e é aí que o • O bom design deve fazer relação do homem e
trabalho do Design entra para agir de forma dife- do objeto o ponto de partida da configuração,
especialmente nos aspectos da medicina do
rente, por meio dos mecanismos, do planejamento e
trabalho e da percepção (BURDEK; CAMP,
dos princípios envolvidos, o projeto de uma imagem
2006, p. 15).
ou objeto seriam sempre o mesmo.
É a partir desse trabalho do artista ou artesão, Podemos concluir que a palavra Design surgiu da
e do desenvolvimento humano e da sociedade, que necessidade de elaboração de projetos, para a pro-
surge a necessidade de processos mais práticos, em dução em série de objetos por meios mecânicos
que os projetos são feitos a partir de esboços, mode- (CARDOSO, 2008, p. 21). Devido ao crescimento
los e planos que sugerem a ideia de uma produção da população mundial, o desenvolvimento de tec-
em massa (CARDOSO, 2008). nologias e a expansão das cidades, uma fabricação
Podemos dizer que o Design surgiu a partir de apenas artesanal dos produtos não sanaria as neces-
um momento muito importante em nossa história, sidades de todos em um tempo hábil.

119
HISTÓRIA DA ARTE E DO DESIGN

Segundo Cardoso (2008), o design é fruto de três trias e uma longa jornada até que você possa tomar
grandes processos históricos entre os séculos XIX e seu cafezinho. Antigamente, nada disso existia e o
XX. O primeiro é a industrialização, que trabalha a café era consumido por quem plantava e colhia em
reorganização de fabricação e distribuição de bens sua própria terra de vivência. Como nosso mundo
devido ao crescimento de produtos e consumidores. mudou, nada disso seria capaz de acontecer se não
O segundo é a urbanização moderna, onde a popu- existisse o Design.
lação passa a se aglomerar nas metrópoles. E o ter- Vamos começar pela Revolução Industrial, que
ceiro, é a globalização, que faz as redes de comércio ocorreu entre os séculos XVIII e XIX, na Europa,
crescerem, transporte, comunicação e sistemas de que foi o processo de modificação da fabricação de
funcionamento para todo esse crescimento. produtos que gerou transformação do dia a dia do
Podemos pensar em como o Design contribuiu homem. Diferente do processo do artesão, que fa-
para viabilizar as mudanças em nossa sociedade no bricava e vendia diretamente o seu produto, a indus-
exemplo que Cardoso (2008) explicou sobre o café: trialização começou a criar sistemas de produção,
Existe um desafio por trás de uma simples xícara de em que esses produtos eram feitos em massa para
café que você toma. Depois de plantado, colhido e atender a demanda da população.
ensacado, o café precisa ser transportado, secado,
torrado, moído e passar por processos industriais
antes de ser embalado e vendido a você. Essa cadeia
de produção e distribuição exige processos de trans-
porte, engenharia, identidade visual dos rótulos e
embalagens, marketing, desenvolvimento das indús-

SAIBA MAIS

Em um retrospecto histórico, Leonardo da


Vinci é mencionado de bom grado como o
primeiro designer. Em paralelo a seus estudos
científicos de anatomia, ótica e mecânica ele
é considerado como precursor do conheci-
mento de máquinas, ao editar, por exemplo,
REFLITA
o “Manual de Elementos de Máquinas”.

Além disso, se destacou na pintura, onde de-


senvolveu as técnicas de luz e sombra, assim Assim como a natureza tem seu próprio ca-
como profundidade. Poderia ser dito que Le- minho através dos organismos naturais, o ho-
onardo da Vinci foi um dos mais completos mem faz dos meios urbanos a sua natureza,
estudiosos de sua época, pois entendia de ma- a natureza urbana. Percorre os caminhos na-
temática, filosofia, arte, anatomia e mecânica. turais, mas muitas vezes prefere planejá-los.

Fonte: Burdek e Camp (2006, p.13) (Wilton Azevedo)

120
DESIGN

Os produtos primários da agricultura eram comer- Esse processo de industrialização, para Cardoso
cializados em várias partes do mundo para obter (2008), fazia com que a grande quantidade de traba-
lucro por meio da troca desses produtos e, a partir lhadores fosse cortada se existisse profissionais mais
daí, desenvolver a mecanização do trabalho, já que capacitados, no caso, o Designer, para desenvolver
as inovações tecnológicas começaram a surgir no fi- processos de produção mais eficientes e sem a ne-
nal do século XVIII, fazendo com que esse ciclo de cessidade de tanta mão de obra. Porém, não era tão
comercialização pudesse ser mais rápido (CARDO- fácil assim fazer isso em todas as fábricas, e o fato da
SO, 2008). mecanização crescer, tornou mais fácil o início da
Segundo Cardoso (2008), os principais produ- pirataria dos produtos. Foi assim que surgiu a ne-
tos desenvolvidos eram considerados artigos de cessidade de sigilo entre os profissionais que traba-
luxo, utilizados, claro, pela sociedade nobre, em que lhavam em determinado projeto. Entre os anos de
o sistema mais completo de produção de artigos de 1830 e 1860 começaram a surgir os sistemas de leis e
luxo foi desenvolvido na França, por Luís XIV e seu patentes para valorizar o trabalho do designer.
superintendente Jean-Baptiste Colbert, produzindo No século XIX, essa industrialização acarretou
móveis, vidros e tapeçarias para o rei. E essa ideia foi em um crescimento urbano muito grande e rápido.
passada para os outros países, que começaram a de- Foram surgindo as metrópoles, bairros residenciais
senvolver suas manufaturas, baseadas nos produtos e industriais, redes de transporte e comunicação vi-
que possuíam em abundância em suas terras ou nas sual. As pessoas começavam a conviver mais tempo
terras que dominavam em outras regiões. entre si, já que faziam os trajetos para o trabalho,
Cardoso (2008) diz que esse processo na orga- ficavam horas trabalhando juntos e obtendo essas
nização industrial passou por quatro fases: a esca- experiências urbanas. E o trabalho assalariado co-
la de produção que aumentou significativamente, meçou a aumentar o número de pessoas que podiam
atendendo mercados distantes; as fábricas e oficinas consumir algo além das necessidades primárias.
crescendo em tamanho, equipamento e número de Uma curiosidade apresentada por Cardoso
trabalhadores; a produção feita de forma mais seria- (2008) é de que entre as mercadorias mais consumi-
da e técnica para que um determinado produto fos- das depois dos produtos primários estão os impres-
se cada vez mais parecido na produção em massa; e sos, que trouxeram uma explosão de alfabetização
a divisão de tarefas e funções para execução de um das pessoas e uma necessidade de se ter algo para
projeto. fazer nos momentos em que eles não trabalhavam.
O que podemos refletir é que, a princípio, diría- Foi assim que surgiu o conceito de lazer popular e
mos que a Revolução Industrial foi muito mais um a necessidade de se criar espaços compostos de mu-
processo de desenvolvimento tecnológico e de má- seus, teatros, locais de exposição, parques e jardins.
quinas do que outra coisa. No entanto, se pensar- Toda essa transformação da sociedade trouxe a
mos melhor, veremos que foi mais uma mudança na necessidade de criação e organização das informações
organização de trabalho, de produção e distribuição e sinalização das ruas, cidades e locais de convivência
devido às transformações sociais que a sociedade es- pública. Surge, então, o crescimento dos impressos, da
tava sofrendo. comunicação e da informação por meio da imagem.

121
HISTÓRIA DA ARTE E DO DESIGN

O Design, aqui, passa a ir além das paredes no- e artistas da época também diziam que essa indus-
bres e reais, de se alimentar de objetos de luxo para trialização era uma ameaça às tradições e causavam
alcançar o público urbano, principalmente devi- exploração aos trabalhadores.
do às necessidades de organização desses espaços. Surge a proposta de fazer o uso do Design como
Assim, o Design teve o seu papel nessa reconfigu- agente de transformação (CARDOSO, 2008, p. 76),
ração da vida social, contribuindo para projetar sendo uma necessidade de cuidado com os excessos
a cultura material e visual da época (CARDOSO, e com uma perda dos padrões morais da sociedade.
2008, p. 73).
É interessante observarmos que o papel do De- Derivando de Ruskin a ideia de que qualidade
do objeto fabricado deveria refletir tanto a uni-
sign começa a se expandir em várias áreas relacio-
dade de projeto e execução quando o bem-estar
nadas ao dia a dia do homem, como no transporte, do trabalhador (CARDOSO, 2008, p. 79).
na moradia, no lazer, nas roupas que usa, na higie-
ne, saúde e informação. Pense, então, que as diver- O Design entra em um processo de transforma-
sas áreas do Design, como gráfico, de produto e de ção em todo o funcionamento urbano, industrial, do
moda começam a se desenvolver nessa época. trabalhador e do homem em si. Seus processos vi-
É claro que, para uma revolução dessa propor- sam a praticidade, agilidade, comércio e bem-estar,
ção, não seriam todos que ficariam felizes com es- tanto do trabalhador quanto do consumidor final.
sas transformações. Uma reforma de cunho social Agora que você já entendeu o que é e como sur-
atinge principalmente a aristocracia e a igreja que, giu o Design, vejamos, a seguir, quais movimentos o
na época, dominavam o “sistema”. E os pensadores influenciaram.

122
DESIGN

Movimentos Importantes
para o Design
Olá caro(a) aluno(a), existem diversos movimentos lhos com uma estética mais detalhada, vemos que
que influenciaram o Design, como o Neogótico ou uma sequência de um novo movimento com enor-
Revivalismo Gótico, Arts e Crafts, Bauhaus, Moder- me repercussão mundial entre o final do século XIX
nismo e Pós-modernismo. Dentre esses movimen- e o início do século XX surge. Conhecido como Arts
tos destacam-se o Arts e Crafts e o Bauhaus como and Crafts (Artes e Ofícios), foi um dos movimentos
os mais significativos para o Design. Vejamos, então, históricos mais importantes do Design. A partir da
como foram esses dois movimentos. década de 1880, surgiu, na Grã-Bretanha, diversas
organizações dedicadas a projetar e produzir artefa-
O ARTS & CRAFTS tos de forma artesanal ou semi-industrial.

Após o Revivalismo Gótico, com o trabalho de Mor- A filosofia do movimento Arts and Crafts gira-
va em torno da repercussão dos valores produ-
ris voltado à editoração e à procura por criar traba-

123
HISTÓRIA DA ARTE E DO DESIGN

tivos tradicionais defendidos por Ruskin... Os se torna um dos principais responsáveis pela implan-
integrantes do movimento buscavam promover tação da arquitetura moderna nos Estados Unidos.
maior integração entre projeto e execução, re-
Algumas sociedades e associações fundadas nes-
lação mais igualitária e democrática entre os
trabalhadores envolvidos na produção, e ma- sa época foram: a Century Guild, Art Worker’s Guild,
nutenção de padrões elevados em termos da Guilda dos Trabalhadores de Arte (1884), a Guild
qualidade de materiais e de acabamento (CAR- and School of Handicraft e a Arts and Crafts Exhibi-
DOSO, 2008, p. 83).
tion Society, exposição quadrienal de móveis, tape-
çaria, estofados e mobiliário, realizada em Londres,
Os ideais repercutidos desse movimento ficaram em 1888.
conhecidos como craftmanship, palavra inglesa que Já no Brasil, as preocupações com relação ao in-
expressava ideias de grande acabamento artesanal e dustrialismo eram quase nulas, porém a filosofia do
profundo conhecimento do ofício. movimento Arts & Crafts trouxe uma reflexão base-
Logo, esses ideais foram se espalhando para ou- ada nas deficiências da sociedade imperial, na falta
tros países europeus e para os Estados Unidos, exer- de mão de obra qualificada, já que a maioria eram
cendo influência sobre o surgimento dos primeiros escravos. Por isso, por volta de 1850, surgiram ini-
movimentos modernistas. Segundo Cardoso (2008), ciativas de promover a formação técnica e artística
temos o exemplo de Frank Lloyd Wright, que utiliza do trabalhador brasileiro. Cardoso (2008) diz que,
interpretações inovadoras dos princípios de Ruskin e em 1855, uma reforma feita por Araújo Porto-Ale-
Morris, com gosto simples, naturalista e artesanal, e gre, diretor da Academia Imperial de Belas Artes,
passou a ministrar um curso para alunos artífices,
que ensinava o desenho industrial.
Assim, começaram a surgir escolas de artes e
ofícios no Brasil, como o Liceu de Artes e Ofícios

SAIBA MAIS

Frank Lloyd Wright foi um arquiteto e escritor


que tinha como conceito que cada projeto
deve ser individual, de acordo com sua loca-
lização e finalidade. É considerado um dos ar-
quitetos mais importantes do século XX, que
influenciou os rumos da arquitetura moderna.
Seu principal projeto foi a casa da Cascata,
tendo como base a arquitetura orgânica.

O americano foi um dos principais arquitetos


a pensar o modo de vida do homem moderno.

Fonte: Azevedo (2014, p. 44).


Figura 1 - Estilo Arts e Crafts — acabamento artesanal
Fonte: Reber (2009, on-line)1

124
DESIGN

no Rio de Janeiro e similares em São Paulo. O que


mostra que a união da arte e indústria no Brasil foi
um elemento de progresso e modernidade.

Talvez a contribuição mais duradoura desses


movimentos reformistas tenha sido a ideia de
que o design possui o poder de transformar a
sociedade e, por conseguinte, que a reforma
dos padrões de gosto e de consumo poderia
acarretar mudanças sociais mais profundas
(CARDOSO, 2008, p. 85).

Aqui, é importante refletirmos sobre o quanto os va-


lores serão sempre motivo de questionamento nos
movimentos influentes do Design, mais referente à Figura 2 - Mesquita com decoração em mosaicos de vitrais
relação de trabalho, trabalhador e sociedade do que
à estética em si do produto.

Na sociedade industrial tardia, mais do que A BAUHAUS


nunca, as pessoas parecem creditar às formas
exteriores geradas pelo design e pela moda o
poder de transmitir verdades profundas sobre a Com o intuito de repensar a arte e sua relação
identidade e a natureza de cada um (CARDO- com o mundo moderno surge a Bauhaus. Sen-
SO, 2008, p. 85). do assim, a relação do homem, da arte e o novo
sistema de produção será pensado nessa escola.
Foi a partir de 1890 que o Arts & Crafts se conec-
tou ao estilo Art Nouveau, indo por toda a Europa, É na linha de frente artesão-máquina que surge
a escola Bauhaus, fundada em 1919, na Alema-
com uma filosofia um pouco distinta, utilizando de
nha, por Walter Gropius. Seria impossível en-
materiais do mundo moderno, como ferro, vidro e tender hoje, o que é design, sem entender o que
cimento, assim como conhecimentos das ciências e foi a Bauhaus (AZEVEDO, 2014, p.19).
engenharia, mesmo criticando os processos de pro-
dução em massa. Vemos, aqui, que, assim como o Revivalismo Gótico
Nos anos de 1920, o movimento se ligou ao Art e o Arts & Crafts, as bases da ideologia da Bauhaus
Déco, com a decoração sendo o elemento mediador e também está firmada na integração da produção
se colocando entre arte e indústria da mesma forma. artística e industrial. Contudo, segundo Azevedo
A diferença é que o Art Nouveau representava linhas (2014), sua meta principal é desenvolver o design
mais curvas e rebuscadas, enquanto o Art Déco busca- moderno, que estaria em constante contato com as
va linhas mais retas e estilizadas e formas geométricas. relações do homem e de seu espaço.

125
HISTÓRIA DA ARTE E DO DESIGN

Após a Primeira Guerra Mundial, a Alemanha pas-


sava por um processo de recuperação e saiu da mo-
narquia para se transformar em república com sede
em Weimar. Foi quando, segundo Souza (1997), a
Bauhaus resultou da fusão da Academia de Arte e da
Escola de Artes e Ofícios.
A Bauhaus foi uma das primeiras escolas a mi-
nistrar aulas com a intenção de transformar o ar-
tesão em produtor industrial (AZEVEDO, 2014, p.
28). O importante era o aluno conhecer sobre os
materiais, as funções e a produção, para poder, de-
pois, escolher qual área iria seguir.
Segundo Cardoso (2008), a Bauhaus passou por
fases bastante distintas, sob a gestão de três diretores
(Gropius, Hannes Meyer e Mies van der Rohe), em
três diferentes cidades (Weimar, Dessau e Berlim),
Figura 3 - Escola Bauhaus
mas sempre dominada por um ideário socialista, por
isso essa constante mudança devido a fatores políticos.
Podemos citar dois grandes pintores da época
que passaram pela escola da Bauhaus: o russo Wasii-
ly Kandinsky e o alemão Paul Klee.
Cada artista e diretor que passou influenciou
uma determinada escola, orientando sua produção.
Essa capacidade da escola de reunir muitas pesso-
as criativas e muito diferentes não só foi o que deu for-
ça para a Bauhaus, mas também gerou conflitos pelas
personalidades fortes e contradições de pensamentos.

Do ponto de vista pedagógico, a escola também


esteve em constante mutação, com trocas fre-
quentes de docentes, de cursos e de enfoques.
Costuma-se dividir essas fases pedagógicas de
acordo com a ascendência de professores in-
dividuais: por exemplo, muitos estudiosos da
Bauhaus separam o período inicial, quando
prevaleceram as ideias expressionistas e místi-
cas de Gropius e Itten, da fase subsequente em
Figura 4 - Projeto de design que dominaram o tecnicismo e o racionalismo
Fonte: Bauhaus (on-line).

126
DESIGN

de Moholy-Nagy e Meyer, ou da fase final sob tografia. O fundamento principal era que essas ofici-
Mies van der Rohe, em que o ensino da arquite- nas sempre ensinassem sobre os princípios da forma
tura passou a ser privilegiado quase que exclu-
e da cor.
sivamente (CARDOSO, 2008, p. 133).
É possível percebermos que a escola da Bauhaus
A ideia de se aliar a estética à variedade de materiais deixou o legado do funcionalismo, em que a forma
produzia objetos cuja funcionalidade aparente ga- ideal de um objeto é determinada pela sua função,
nhava irreverência na estética e um ar de inovação. trazendo, muitas vezes, fórmulas prontas, em que
Não se trata de um objeto de arte, mas sim de um alguns nem mesmo sabiam o porquê de as usarem
objeto funcional com valor de arte, como mostra a e quais as razões de elas existirem. Claro, isso tam-
Figura 4, que traz uma cadeira. bém resultou na produção em massa dos processos
O design na Bauhaus sempre foi pensado como industriais, mesmo que a maioria dos alunos fossem
uma ação construtiva, como atividade unificada e artistas e artesãos.
global e refletindo em muitos aspectos humanos. Por fim, as crises de teorias que cada um impu-
Por isso existiam aulas e oficinas de várias discipli- nha na escola, as crises sociais e políticas, o Nazis-
nas, como cerâmica, metal, tecelagem, mobiliários, mo e a Segunda Guerra Mundial fizeram com que
vitrais, pintura mural, pintura de cavalete, escultu- a escola fosse fechada em 1933. Contudo, mesmo
ra e talha, encadernação, impressão gráfica, teatro, fechada, transmitiu seus ideais para o modernismo
arquitetura, design de interiores, publicidade e fo- do Design e a expansão dele na sociedade.

127
HISTÓRIA DA ARTE E DO DESIGN

O Design pelo Mundo

128
DESIGN

GRÃ-BRETANHA

Caro(a) aluno(a), neste livro já estudamos o concei- Para você se situar geograficamente, a Grã-Bretanha
to da palavra Design e suas funções, como ele surgiu representa uma das muitas ilhas britânicas da Euro-
no mundo, em que contexto histórico foi inserido e pa e, nela, está incluso: Escócia, Inglaterra e País de
as transformações que gerou nas sociedades. O que Gales.
você vai ver neste capítulo é a forma como o Design
se comportou em alguns países mais relevantes, já Costuma-se chamar a Grã-Bretanha como ter-
ra mãe do design, já que lá se iniciou no século
que, como vimos, o Design não é apenas uma for-
18 a industrialização, que foi decisiva para o de-
ma de criar e produzir algo, mas se relaciona com senvolvimento do design industrial (BURDEK;
o comportamento do homem, a sociedade que está CAMP, 2006, p. 73).
inserido, a história, a cultura, a política, a economia
e tudo que envolve o funcionamento de um deter- Depois da invenção da máquina à vapor, em 1765,
minado local. pelo escocês James Watt, o período de industrializa-
ção cresceu muito rápido. As máquinas começaram
a ser desenvolvidas para influenciar no transporte,
no trabalho, nos materiais e na vida das pessoas.

Figura 5 - Máquina à vapor

129
HISTÓRIA DA ARTE E DO DESIGN

Os mais significativos representantes do design bri- Já após a Segunda Guerra Mundial, o que cresceu na
tânico para Nikolaus Pevsner (1957) eram: John região foram as empresas automobilísticas, uma vez
Ruskin, William Morris, Christopher Dresser, Char- que as inovações tecnológicas começaram a se jun-
les Rennie Mackintosh, Walter Crane e C. R. Ashbee. tar às tradições do design. Podemos citar a Jaguar,
Em 1915, foi até criada a Design and Industries Mini Cooper, Rover, entre outras.
Association (Associação do Design e da Indústria), Nos anos de 1960, vemos que a cultura pop bri-
que visava uma transformação no modo de pensar tânica influenciou muito o design, a propaganda, a
design e indústria. arte, a música, a fotografia, a moda, o artesanato e a
Depois da Primeira Guerra Mundial, os desig- arquitetura de interiores. Foi uma época de mudan-
ners se voltaram para a tradição artesanal, proje- ça de estilo de vida, principalmente do jovem lu-
tando móveis, vidros e têxteis, como um exemplo, a tando contra o conservadorismo. Bandas, como os
Wegdwood, que até hoje é uma das maiores empre- Beatles, Rolling Stones e Pink Floyd representavam
sas do mundo na indústria de cerâmica, porcelana e esse estilo dos jovens. Esse fenômeno estético cul-
vidro (BURDEK; CAMP, 2006). Outro exemplo foi tural atingia ramos como o da arquitetura, em que
Douglas Scott, que trabalhou para a London Trans- o grupo Archigram, por exemplo, desempenhou
port e projetou o legendário ônibus de dois andares o papel de movimento de vanguarda (BURDEK;
(Double-Decker) em 1946. CAMP, 2006).
A produção dos objetos para o Design de inte-
riores cresceu muito por meio de Sir Terence Con-
ram, que criou a rede de lojas Habitat, em 1964, com
uma moderna cultura de massa e uma conscienti-
zação progressista do design. Temos exemplos de
grandes escritórios de Design, conhecidos até hoje
como FITCH, IDEO e Pentagram.
Quando os anos 1980 chegaram, as instituições
britânicas começaram a investir pesado no ensino
e, assim, todas as áreas do Design vão tomando
proporções ainda maiores na sociedade: design de
moda, design corporativo, design visual e o design
digital. Estudiosos calculam que, no início do século
XXI, cerca de 10% do PIB da Grã-Bretanha seriam
produzidos pelo design e seus serviços (BURDEK;
CAMP, 2006, p. 83).

Figura 6 - Ônibus em frente ao Big Ben, em Londres

130
DESIGN

ALEMANHA • Um forte incentivo estatal que se instalou


após a Segunda Guerra Mundial.
A Alemanha esteve dividida até a Segunda Guerra • Uma orientação clara de colocação de temas
Mundial, e a República Federal e a República Demo- políticos-sociais, por décadas.
crática possuíam características diferentes. • Uma discussão teórica intensa, no início dos
anos 80, com as questões do funcionalismo
A República Federal obteve influências culturais
e da semântica dos produtos (BURDEK;
da Bauhaus e da Ulm, que desenvolveu um padrão CAMP, 2006, p. 103).
do Design Alemão associados ao conceito de fun-
cional, objetivo, sensato, econômico, simples e neu- As primeiras tarefas do designer nessa região da
tro (BURDEK; CAMP, 2006). Alemanha eram relacionadas ao domínio público,
Existia os definidos “Dez Mandamentos” que trabalho, transporte, habitação ou lazer. Somente
obedeciam os principais fundamentos do Design ale- nos anos 1960 que começou a crescer uma produ-
mão: ção de bens de consumo e, no fim dos anos 1980,
1. Alto uso prático. iniciou-se uma verdadeira produção desses bens
2. Segurança suficiente.
(BURDEK; CAMP, 2006).
3. Longo prazo de vida e validade.
4. Adaptação ergonômica. Quando o Design começou a se desenvolver nos
5. Personalidade técnica e formal. bens de consumo, trazia, principalmente, influências
6. Ligações com o contexto. americanas, italianas e escandinavas. E o design e a arte
7. Amigável com o meio ambiente.
caminhavam juntos, pois tinham um princípio aberto,
8. Visualização do uso.
9. Alta qualidade de configuração. que lidava com as necessidades dos objetos e ambien-
10. Estimulação sensorial e intelectual (BUR- tes, sendo que se melhorava a configuração, mas que
DEK; CAMP, 2006, p. 84). não fosse deixado de lado as tendências de moda ou
vida efêmera, por exemplo. Inicia-se, assim, o foco no
Era importante utilizar esses fundamentos de for- usuário do design, o que, naquela época, não era um
mas diferentes, dependendo do projeto a ser cria- pensamento muito aceitável (BURDEK; CAMP, 2006).
do, e o funcionalismo era o principal a ser defendi- Ainda segundo Burdek e Camp (2006), Claus
do pelo Design Alemão. Podemos citar o nome de Dietel e Lutz Rudolph eram as mais conhecidas per-
grandes empresas fundamentadas nesse funciona- sonalidades da República Democrática e faziam o
lismo, como: Siemens, Audi, Porshe, Volkswagen, que estava aos seus alcances para irem contra essa
entre outras. ideologia funcional de não pensar no usuário.
Segundo Burdek e Camp (2006), somente na vira- As discussões de colóquios e seminários da
da do século XX para o XXI é que esse conceito do fun- Bauhaus objetivavam mostrar que o funciona-
cionalismo foi deixado de lado para o caminho mais lismo era um princípio de configuração, não um
pluralista do Design. Já o Design na República Demo- estilo, mas um método de trabalho. Esse lado da
crática da Alemanha foi marcado por três aspectos: Alemanha democrática quis transmitir uma preo-
cupação social ao se fazer Design.

131
HISTÓRIA DA ARTE E DO DESIGN

ITÁLIA O Design italiano tinha grande engajamento na


política, nas discussões relacionadas ao consumis-
A Itália foi o país que mais teve publicações a res- mo, na integração do design com a arte e nas teorias
peito do Design. do design. A partir da década de 1990, porém, com
o crescimento do design internacional, o Design ita-
Com o Império Romano foi fundada uma tra- liano foi perdendo sua força e migrando para os ar-
dição civilizadora e cultural, que se atualizou na
redores como a Espanha, por exemplo.
Renascença por meio do arquiteto Palladio com
seus inúmeros prédios clássicos até os dias de
hoje... A ininterrupta importância da arquitetu- ESPANHA
ra, design, arte, literatura, moda e música para a
vida cultural da Itália, em especial a abertura de Depois do regime de Franco, em 1975, começou um
pequenos empresários para estes temas, além de
desenvolvimento cultural na Espanha que envolveu
uma abertura para experimentação no design,
incrementaram a liderança mundial do “design vários setores, incluindo o Design. E a estrutura in-
italiano” (BURDEK; CAMP, 2006, p. 120). dustrial do país era muito semelhante ao norte da Itá-
lia, com empresas pequenas e de estrutura semi-arte-
A diferença do Design italiano era o de se orien- sanal, buscando uma nova cultura e novas tendências.
tar pelo “máximo da existência” a mistura de de-
sign gráfico, mídia, industrial, arte e arte aplicada. SAIBA MAIS
O ambiente como um todo é o tema (BURDEK;
CAMP, 2006). O estilista Giorgio Armani, conhecido como o
Na Itália, o Design de Moda assume um papel “Imperador de Milão”, nasceu em 11 de julho
importante. Armani, Dolce & Gabbana, Gucci, Pra- de 1934, na cidade de Piacenza, localizada
no norte da Itália (ao sul de Milão). Antes de
da, entre outros, demonstram que o design determi- entrar no mundo da moda, ele cursou dois
na a sua existência (das Sein). anos de medicina e, depois, começou a tra-
É interessante observar que, na década de 1980, balhar como vitrinista. Em 1970, iniciou sua
carreira independente no mundo da moda,
desfazia-se o “american way of life”, a favor de um encorajado pelo seu grande amigo Sergio Ga-
modo fino de vida italiano na moda, mobiliário, au- leotti, desenhando e costurando para inú-
tomóveis, na comida ou bebida os padrões globais meras grifes famosas. Alguns anos depois,
abriu sua própria empresa e, em 24 de julho
de cultura eram italianos (BURDEK, 2006). de 1975, apresentou sua primeira coleção,
A Itália é caracterizada pelo contraste entre o composta por roupas femininas e masculi-
norte altamente industrializado e o sul agrário (BUR- nas, e seu estilo logo se tornou símbolo de
elegância, com uma alfaiataria sofisticada,
DEK, 2006). Um papel importante foi feito pela as- altas doses de androginia, vestidos de noite
sociação de Design italiana Associazione per il Di- cheios de glamour, sobriedade nas cores e
segno Inustriale (ADI), que desenvolveu as questões nenhuma influência das tendências da época,
constituindo roupas e acessórios atemporais.
relacionadas a impostos, direitos e contratos daque-
les que participavam ativamente da vida cultural. Fonte: Mundo das marcas (2006, on-line)2.

132
DESIGN

Figura 7 - Park Guell em Barcelona — Antonio Gaudi

Na virada do século 19 para o 20, o arquiteto


Antonio Gaudi projetou prédios expressivos, rou na Espanha foi em 1992, provocado pelos Jogos
desenhou interiores e móveis que tiraram sua Olímpicos, em Barcelona, haja vista que ocorreram
importância destes mesmos valores tradicio- muitos projetos de prédios, design público, lojas e
nais. Gaudi partia do princípio da obra de arte locais, além de trabalho de design gráfico para rece-
total, onde a arquitetura, o mobiliário e a de-
coração do interior de um prédio deveriam ter
ber os jogos, o que acarretou em grande desenvolvi-
uma mesma “linguagem”, de modo a se comple- mento do design (BURDEK; CAMP, 2006).
tarem e complementarem (BURDEK; CAMP,
2006, p. 145). RÚSSIA

A Figura 7 apresenta uma das obras de Gaudi. A URSS também contribuiu para o desenvolvimento
do Design por meio da Vanguarda Soviética. Foi um
Nos anos 1980, a Espanha tinha forte influência do movimento que teve início no começo deste século e
design italiano, com um movimento de vanguarda e tinha relação com uma reformulação da estética do
característica neomodernas. Contudo, é importan- design. É importante sabermos que esse movimento
te saber que a época que o Design realmente estou- de vanguarda queria entender a forma de um ponto

133
HISTÓRIA DA ARTE E DO DESIGN

de vista tal que permitisse levar os objetos ao povo alguns dos pontos que influenciaram a expressão do
(AZEVEDO, 2014). Design (BURDEK; CAMP, 2006, p. 177).
A preocupação dos artistas e designers, nessa Os Estados Unidos foi um país que difundiu
época, era reforçar uma profunda mudança social, o design orientado para o sucesso, o domínio do
para que o povo fosse o maior beneficiado nas ações produto-cultural. Alguns dos principais imigran-
da arte e do design. Ao mesmo tempo que esse movi- tes que vieram para o país foram Herbert Bayer,
mento acontecia na União Soviética, sofria influên- Walter Gropius e Ludwig Mies van der Rohe. Eles
cias do Manifesto Futurista da Europa, que mostrava trouxeram algumas tendências funcionalistas da
que não era possível descartar a máquina, mas que Bauhaus.
o homem tinha que compreender as mudanças que A produção em massa do século XX foi bem
ela traria, além de desenvolver a coletividade urbana desenvolvida nos EUA por causa da mecanização
e não ter medo do futuro. É aí que o movimento da e automação. Diferente de um aspecto só funcio-
vanguarda entra, colocando o Design como inter- nalista, os Estados Unidos reconheceu o incenti-
mediário do homem e da máquina. vo à venda de um bom design (BURDEK; CAMP,
A palavra de ordem era construir (AZEVEDO, 2006).
2014, p. 27). Foi a partir desse lema que surgiu o Surge, então, a década do Streamline, derivado
Construtivismo na Rússia, mas essa reformulação es- de princípios aerodinâmicos, símbolo da mobilida-
tética foi derrubada na década de 1930, quando Sta- de da sociedade americana. O que os designers que-
lin assumiu o poder e trouxe de volta a arte tradicio- riam era tornar seus produtos irresistíveis, de acordo
nal figurativa, conhecida como Realismo Socialista. com o desejo do usuário. A pesquisa de novos ma-
Depois do Socialismo veio o Comunismo, e as teriais e tecnologias cresceu e muitos profissionais e
mudanças de estrutura da sociedade e economia empresas começaram a surgir.
também geraram mudanças no Design. Aos poucos, Os anos 1960 foi um período de conflito pelos
o Design foi entrando no mercado competitivo, mas movimentos de crítica social e econômica, relacio-
mesmo assim passou por muitas crises relacionadas nadas ao consumo excessivo. Contudo, não impediu
às condições de trabalho. que os EUA chegassem aos anos 1980 como um país
de enorme influência global no aspecto do design.
ESTADOS UNIDOS Podemos citar como exemplo empresas atualmen-
te conhecidas, como Ford, Harley Davidson, Apple,
Vemos que, a partir do século XVIII, muitos imi- IBM, Microsoft, Xerox, Nike e Tupperware, que sur-
grantes foram para a América do Norte, levando giram nessa época.
junto suas influências culturais, técnicas e econô- E, para finalizar, podemos citar como uma re-
micas, tornando-se um público tolerante à diversi- gião de extrema importância mundial para o De-
dade de mídias e estilos. Puritanismo e cultura pop, sign, o Vale do Silício, localizado na Califórnia, que
espírito inovador e obsessão econômica, presença é considerado o centro mundial do Design. Um
hegemônica e preservação de culturas regionais são centro cheio de grandes nomes e empresas relacio-

134
DESIGN

Figura 8 - Vale do Silício

nadas ao desenvolvimento de produtos e pesquisa BRASIL


de Design.
É interessante percebermos como o Design Após falarmos sobre o Design no contexto de alguns
não acontece isoladamente nos diferentes países do países mais importantes, se tratando da história e
mundo, como alguns movimentos e ideais sempre desenvolvimento dele, vamos, agora, ter um parâ-
se utilizam de conceitos de outro, ou até usam de metro da história do Design no Brasil, quais foram
exemplo para contrariar totalmente aquela ideia da suas influências principais e os autores que contri-
qual não concordam. buíram para que, hoje, o Design seja tão importante
E, assim, nascem os designers, as empresas, as em nosso país.
marcas, os produtos e serviços que transformam
a vida do homem como usuário, como sociedade, A tarefa de esboçar um histórico do Design
Gráfico brasileiro é, sem dúvida, uma em-
como história de um todo influenciado por esse
preitada complicada. Dependendo da diretriz
grande poder do Design até hoje. adotada é possível apontar pontos de partida

135
HISTÓRIA DA ARTE E DO DESIGN

completamente diferentes. Uma corrente mais


comprometida com o Modernismo, o qual do- É quando surge, por exemplo, o Tropicalismo no
minou boa parte da produção artística dos anos Brasil, com um Design racionalista que se aproxima
1910 a 1960 costuma relacionar o surgimento da cultura popular.
do Design no Brasil aos desdobramentos des- Foi na década de 1970 que o Design começou a
ta época, com as experimentações do Instituto
de Arte Contemporânea do MASP, em 1951, e
ser discutido no âmbito político, e surge a necessi-
a inauguração da Escola Superior de Desenho dade de uma busca pelo Design nacional, não só no
Industrial (ESDI), em 1963 (PUC-RIO, 2015, p. Brasil, mas em vários países. A busca de identidade
23, on-line)3. é motivada pelo desejo de autonomia, vale dizer, o
poder e a capacidade de determinar o próprio futuro
Foi nessa época que o Design começou a ser visto no (BONSIEPE, 1997, p. 15).
Brasil como conceito, profissão e ideologia. Contudo Vemos que, com a tecnologia em rápido desen-
a atividade projetual em si já existia antes mesmo do volvimento, os anos 1980 entram com tudo no que o
Modernismo, visto que, com a Revolução Industrial, Design vai enxergar como forma e estilo, aquilo que
o Brasil também se envolveu com as transformações é criado é visto como objeto de desejo, de culto.
ditadas pela evolução de máquinas e trabalho. E caminhando para a década de 1990, até hoje,
Porém, podemos dizer que o Brasil foi além das
características ditadas por movimentos internacio-
SAIBA MAIS
nais, como a Bauhaus, escola de Ulm e o Neoplas-
ticismo, porque se trata de um país de variedade
cultural e tradição rica autenticamente brasileira Tropicalismo
(PUC-Rio, 2015)3. Logo depois de sua “explosão” inicial, transfor-
Na década de 1950, vemos que o Design surgiu mou-se num termo corrente da indústria cul-
com a ideia de produtividade, racionalização e padro- tural e da mídia. Em que pesem as polêmicas
geradas inicialmente (e não foram poucas), o
nização, para se diferenciar dos processos artísticos. Tropicalismo acabou consagrado como ponto
Criam-se processos de desenvolvimento, e o Design é de clivagem ou ruptura em diversos níveis:
inserido na gestão das empresas. Contudo, no Brasil, comportamental, político-ideológico e estéti-
co. Ora apresentado como a face brasileira da
nessa época, o design era usado apenas para maquiar contracultura, ora apresentado como o ponto
os projetos com alguns traços (BONSIEPE, 1997). de convergência das vanguardas artísticas
Já na década de 1960, essa padronagem é que- mais radicais (como a Antropofagia Modernis-
ta dos anos 20 e a Poesia Concreta dos anos
brada devido aos movimentos sociais e contra-cul- 50, passando pelos procedimentos musicais
turais. Há uma crítica à sociedade de consumo e um da Bossa Nova), o Tropicalismo, seus heróis e
desejo de desenvolvimento do Design como uma “eventos fundadores” passaram a ser amados
ou odiados com a mesma intensidade.
cultura fora dos padrões consumistas. No fim dessa
década, os movimentos culturais utilizavam muito Fonte: Napolitano e Villaça (1998).

de materiais gráficos para suas expressões públicas.

136
DESIGN

começamos a enxergar o Design no Brasil como algo Campana, que têm feito um trabalho de mobiliário
além de processos, forma ou estilo e movimento cul- baseado no artesanato e projeto peculiar, com mate-
tural. Design é projetar para o desenvolvimento de riais geralmente descartados ou improváveis.
uma sociedade que tenta sempre melhorar em suas Espero que você tenha apreciado a leitura e com-
questões políticas, sociais, econômicas, ambientais, preendido a importância do design, os movimentos
com uma procura maior por sustentabilidade devi- que mais o influenciaram e como ele se desenvolveu
do ao crescimento exorbitante das tecnologias e des- pelo mundo.
truição de matéria-prima e meio ambiente.
Segundo Burdek e Camp (2006), os pontos fortes
das atividades de Design no Brasil são a indústria do
mobiliário, com bastante exportação, e, desde os anos
1980, o que vem crescendo é a indústria da compu-
tação e das telecomunicações. O design no Brasil é
uma atividade relativamente nova e ainda tem muitos
campos a explorar em relação a outros países.
E, para finalizar, podemos citar como autores
principais do desenvolvimento do Design no Brasil
Alexandre Wollner, que criou a Escola Superior de
Desenho Industrial (ESDI), no Rio de Janeiro, no
início dos anos 1960, baseado na escola de Ulm, que
ele cursou na Alemanha; Sérgio Rodrigues, um ar-
quiteto que se especializou em design de mobiliário
e que criou a empresa OCA, inclusive, ganhou um
prêmio com a criação da poltrona Mole no Con-
curso Internacional de Design de Móveis de Cantu,
na Itália (BURDEK; CAMP, 2006).Também temos
Lina Bo Bardi, que criou o estúdio Palma, em São
Paulo, em 1948, executando projetos das primeiras
cadeiras dobráveis para serem empilhadas, por meio
da ideia “do it yourself ” (faça você mesmo); Oscar
Niemeyer, arquiteto que projetou Brasília, em 1957,
transpirando pela primeira vez o design brasileiro
no âmbito internacional, trabalhando sempre com
linhas orgânicas e construções esculturais de con-
creto (AZEVEDO, 2014). E, atualmente, os irmãos

137
considerações finais

Caro(a) aluno(a), nesta unidade, aprendemos o significado da palavra design e as


diversas funções que o Design fomenta em nossas sociedades.
Também descobrimos o processo histórico do Design por meio da Revolução
Industrial e como a história contribuiu para o desenvolvimento do conceito e carac-
terísticas do Design no mundo.
É interessante percebermos o quanto nossa história influenciou os conceitos e os
processos de desenvolvimento de nossa profissão, desde o desenvolvimento inicial
da indústria; o Arts & Crafts, que enfrentava a crise do artesanal x industrial procu-
rando a integração entre esses dois elementos.
Em seguida veio a Bauhaus, que foi criada em tempos de guerra, lutando contra
os princípios nazistas e tentando reerguer uma nação e refletir sobre os caminhos do
Design por meio de técnicas e de novos materiais.
Conhecemos alguns países de importante influência do Design, como Grã-Bre-
tanha, Itália, Espanha, Estados Unidos e suas caraterísticas semelhantes e contrárias
do comportamento do Design. E podemos perceber como é impossível, por mais que
sejam países diferentes, as características e movimentos históricos não se cruzarem.
Por fim, conhecemos o cenário do design brasileiro e as características principais
de cada década até os dias de hoje, percebendo que esse cenário em nosso país é
ainda mais recente do que em outros países e que o Design ainda passa por um gran-
de processo de desenvolvimento e valorização. Lembrando que o Brasil possui uma
grande diversidade cultural, que contribuiu para características peculiares e variadas
do Design.
Não se esqueça: conhecer o que é Design e de onde ele surgiu é muito importante
para sua formação como profissional, dito que saber de onde viemos, o que fazemos
e para onde vamos faz o caminho de nossa profissão ser o melhor possível.

138
atividades de estudo

1. Qual é a origem da palavra Design na língua inglesa? Assinale a alternativa


correta.
a. Projetar.
b. Criar e planejar.
c. Desenhar.
d. Planejar, designar.
e. Designar e criar.

2. O Internacional Design Center de Berlim, em 1979, por ocasião de uma de


suas exposições, descreveu sobre o Design. Leia as afirmativas a seguir e assi-
nale a alternativa correta.
I. O bom design se limita a uma técnica de empacotamento. Ele não precisa
expressar as particularidades de cada produto por meio de uma configuração
própria.
II. Ele deve tornar visível à função do produto.
III. O bom design deve tornar transparente o estado mais atual do desenvolvi-
mento da técnica.
IV. Ele não deve se ater apenas ao produto em si, mas deve responder a outras
questões.
V. O bom design não, necessariamente, faz relação do homem e do objeto, o
ponto de partida da configuração.

Marque a alternativa correta.


a. I e II.
b. II, III e IV.
c. II, III e V.
d. I, III e IV.
e. IV e V.

139
atividades de estudo

3. A Alemanha Democrática foi marcada por algumas características no Design.


Dentre elas, qual está correta?
a. Um forte incentivo estatal.
b. Nenhum apelo político-social.
c. Discussões contra o funcionalismo.
d. Uma distância da política.
e. Nenhuma das alternativas anteriores está correta.

4. A filosofia do movimento “Arts and Crafts” girava em torno da repercussão dos


valores produtivos tradicionais defendidos por Ruskin. Diante disso, assinale
a afirmativa correta.
a. Maior integração entre projeto e execução.
b. Divisão de fases na produção.
c. Valorização muito maior do projeto.
d. Qualidade dos materiais somente na execução.
e. Nenhuma das afirmativas anteriores.

5. É na linha de frente artesão-máquina que surge a escola Bauhaus, fundada


em 1919, na Alemanha, por Walter Gropius. Seria impossível entender, hoje, o
que é design sem entender o que foi a Bauhaus (AZEVEDO, 2014, p. 19). Fale,
então, sobre as três fases distintas lideradas por três líderes diferentes na
Bauhaus e, depois, comente sobre os fatos que levaram ao fechamento da
escola.

140
LEITURA
COMPLEMENTAR

Brasilidade deve ser meio, não fim.


Para começo de conversa, o tema da identidade nacional é sempre delicado. Quando lou-
var a nação torna-se um fim em si mesmo, descambando para o ufanismo, as consequên-
cias podem ser desastrosas. Na esfera política, essa verdade é mais facilmente constatável,
mas o argumento não é menos verdadeiro se aplicado ao design ou à moda. Aliás, em
qualquer campo, o resultado da aplicação da ideia de identidade nacional terá sempre uma
componente política.
Por isso, pus as barbas de molho com relação à onda do “Brasil grande” que vivemos nos
últimos anos, especialmente diante da ideia de que o país está (ou estava) na moda. Se é
inegável que a tal brasilidade ganhou o seu “momentum”, muito atrelado aos influxos do
mercado financeiro global, preocupava-me muito mais o que aconteceria quando a maré
virasse, como está ocorrendo agora. A onda internacional favorável ao Brasil vai se dissi-
pando para dar lugar ao que ela nunca deixou de ser: uma miragem ideológica, instrumen-
talizada pelo poder para vender a ideia de que tudo vai bem, só que não.
De qualquer modo, o “identikit” brasileiro evoluiu neste início de milênio, sobretudo do
ponto de vista externo, e o design é um dos campos que tem mais espaço para explorar
tais valores agregados à cesta do que define o “ser brasileiro”. Em certos casos, já o faz,
mas pode fazer mais e melhor. Por exemplo, a imagem brasileira “para gringo ver” não se
limita mais aos eternos clichês praia-futebol-e-carnaval. A percepção de um país urbano e
mais moderno, cuja maioria da população tem um nível de renda médio (em que pesem
as controvérsias sobre a definição de “médio”), sem dúvida abre espaço para marcas e de-
signers mais inovadores, menos atrelados a estereótipos. O imaginário ligado à natureza
exuberante, outro dado da nossa identidade desde os tempos coloniais, ainda tem muito
que evoluir para uma linguagem mais moderna, incluindo a de um país que pode ser líder
em desenvolvimento sustentável (isto é, se o descaso e a inépcia dos governos não sepul-
tarem de vez essa possibilidade, como vem ocorrendo). Nessa área, o design tem muito a
contribuir — não só o ecodesign, categoria que não tardará a perder o sentido: todo design
será sustentável ou não será.
Tentando equacionar as relações entre identidade nacional e design, num plano mais geral
e global, vejo três estratégias em curso, atualmente. Marcas, produtos e serviços forte-
mente internacionalizados posicionam-se com design e linguagem universalizantes, pouco
informados por códigos nacionais ou locais (no sentido de que a Hyundai não tem nada de

141
LEITURA
COMPLEMENTAR

especificamente coreana, nem a H&M de sueca ou a Embraer de brasileira). Por outro lado,
e esta é a segunda estratégia, isso não exclui a existência de traços culturais distintivos que
possam ser apropriados como território de posicionamento. Um bom exemplo é o das
marcas de moda cariocas, que têm tido sucesso comunicando em condensado a ideia de
um estilo de vida jovem e descolado, associado à praia e ao verão. Tal estratégia também é
marcante no trabalho de designers mais autorais. Finalmente, uma terceira via, mais recen-
te, surge cruzando identidades e dando origem a linguagens que desafiam as classificações
tradicionais. É o caso da Shang Xia, nova marca de luxo que se originou da parceria entre a
francesa Hermès e a estilista chinesa Jiang Qiong Er. O resultado é um híbrido de elegância
minimalista europeia com estética orientalizante.
Para concluir, cito um trecho do capítulo novo que escrevi para o relançamento em e-book
do meu livro “Universo da Moda”, e que vem bem a calhar: “Querer a todo custo emitir
sinais de ‘identidade brasileira’ pode ser tão desastroso quanto o esforço para ser engra-
çado. É grande o risco de que o resultado seja o oposto daquilo que se pretendia: o ser
vira parecer, a piada perde a graça. Em pleno século XXI, a brasilidade não deve ser tratada
como um fim a ser alcançado em si mesmo, mas como um meio de dizer outras coisas, de
contar outras histórias, muito mais relevantes para o consumidor do que a reafirmação de
uma identidade nacional”.

Fonte: Caldas (2016, on-line)4.

142
DESIGN

Arquitetura e Design
Adélia Borges
Editora: Editora Viana e Mosley
Ano: 2003
Sinopse: dia 22 de setembro de 2007, o arquiteto e designer Sér-
gio Rodrigues comemora 80 anos e, para homenageá-lo, a editora
Viana & Mosley está publicando uma reedição comemorativa do
livro “Sergio Rodrigues”, com texto de Adélia Borges. Nesta nova edição acrescida, convi-
damos também alguns designers e arquitetos para escreverem frases em homenagem ao
Sérgio Rodrigues. Como parte da coleção Arquitetura e Design, este livro é uma introdução
à obra do designer Sergio Rodrigues, com 44 imagens e um texto de autoria da jornalista
Adélia Borges.

Alexandre Wollner, um dos pioneiros do Design no Brasil, fala sobre suas experiências de
trabalho pessoais, os conhecimentos adquiridos na escola de Ulm, na Alemanha, e como ele
enxerga a evolução do Design em nosso país.
Acesse o link disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=s7LOZLMRRO0>.

143
referências

AZEVEDO, W. O que é design. São Paulo: Brasiliense, 2014.


BONSIEPE, G. Design do material ao digital. Florianópolis: FIESC/IEL, 1997.
BURDEK, B. E.; CAMP, F. V. Design: história, teoria e prática do design de produtos.
São Paulo: Edgard Blücher, 2006.
CARDOSO, R. Uma introdução à história do design. 3. ed. São Paulo: Edgard Blü-
cher, 2010.
DEBOLON V. Heinze. Disponível em: <http://www.heinze.de/alles-zu/kunststoffbe-
lag-trittstufenformteile/5271244>. Acesso em: 27 set. 2017.
NAPOLITANO, M.; VILLAÇA, M. M. Tropicalismo: As Relíquias do Brasil em De-
bate. Rev. bras. Hist. v. 18, n. 35, São Paulo, 1998. On-line version ISSN 1806-9347.
SOUZA, P. Notas para uma história do Design. Rio de Janeiro: 2AB, 1997.

REFERÊNCIAS ON-LINE
1
Em: <https://ericreber.wordpress.com/2009/04/13/the-arts-and-crafts-movemen-
t/#jp-carousel-124>. Acesso em: 02 ago. 2017.
2
Em: <http://mundodasmarcas.blogspot.com.br/2006/07/giorgio-armani-o-em-
prio-da-moda.html>. Acesso em: 02 ago. 2017.
3
Em: <www2.dbd.puc-rio.br/pergamum/tesesabertas/0510309_07_cap_02.pdf>.
Acesso em: 27 set. 2017.
4
Em: <http://www.abcdesign.com.br/deve-ser-meio-nao-fim/>. Acesso em: 27 set.
2017.

144
gabarito

1. d.

2. b.

3. a.

4. a.

5. A Bauhaus passou por fases bastante distintas, sob três diretores (Gropius,
Hannes Meyer e Mies van der Rohe), em três diferentes cidades (Weimar, Des-
sau e Berlim). Sempre sendo dominada por um ideário socialista, por isso essa
constante mudança devido a fatores políticos.
Por fim, as crises de teorias que cada um impunha na escola, as crises sociais
e políticas, o Nazismo e a Segunda Guerra Mundial fizeram com que a escola
fosse fechada em 1933. Contudo, mesmo fechada, transmitiu seus ideais para
o modernismo do Design e a expansão dele na sociedade.

145
ÁREAS DO DESIGN

Professora Dra Paula Piva Linke


Professora Esp Vanessa Barbosa dos Santos

Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
• Design de interiores
• Design de moda
• Design efêmero
• Design gráfico
• Design de produto
• Design digital

Objetivos de Aprendizagem
• Conhecer a área de atuação em interiores, os processos e as ferramentas de trabalho
e os projetos desenvolvidos por um profissional da área.
• Entender os projetos de Design Efêmero, quais são as áreas de atuação, os principais
conhecimentos necessários e exemplos de projetos.
• Conhecer sobre a profissão do design em Moda e as principais áreas de atuação no
mercado de trabalho.
• Descobrir o objetivo desta área profissional, quais os ramos de criação e trabalho, as
ferramentas utilizadas e os tipos de projeto a serem executados pela profissão.
• Compreender as atuações de um designer de produto, as fases de criação e
desenvolvimento e seu posicionamento no mercado.
• Entender os processos de transformação das tecnologias, e os processos da evolução
do design para o mundo de hoje e sua atuação no mundo digital.
unidade

V
INTRODUÇÃO

Caro(a) aluno(a),
Seja bem-vindo(a) à última unidade deste livro, na qual você pode-
rá aprender mais sobre a História da Arte e do design, seus principais
estilos, as épocas mais marcantes, seus significados, autores e obras en-
volvidas.
Em nosso dia a dia, podemos perceber que o Design está inserido em
praticamente todas as nossas ações, em tudo que temos em nossa volta.
Desde a casa em que moramos, o tênis que usamos, a escova de dente, a
marca do leite que tomamos no café da manhã, o ônibus que pegamos
para ir pro trabalho, a xícara do café, as redes sociais que acessamos e até
o cartaz do show que queremos ir. Tudo no mundo, hoje, se interliga por
meio do design e, para que isso chegue até nós, os profissionais precisam
estudar e desenvolver seus conhecimentos teóricos e práticos para chega-
rem a um resultado que se adeque às necessidades e desejos do público
final.
Nesta unidade, vamos conhecer mais sobre as áreas que um profis-
sional de Design pode atuar e quando elas começaram a ganhar força no
mercado e na sociedade. Quais são os tipos de trabalho que o profissional
de design pode desenvolver, quais as ferramentas que você deve conhecer
e as ramificações dentro de uma área.
Dentro dessas áreas que se manifestam o Design, vamos conhecer: o
Design de interiores, o Design Gráfico, o Design de Moda, o Design de
Produto e o Design Digital.
HISTÓRIA DA ARTE E DO DESIGN

DESIGN DE
INTERIORES
O Design de interiores é uma área que vem crescendo O que, anteriormente, era denominado como de-
cada dia mais no mercado do Design. O que antes era coração de interiores, em que se faziam pequenas
apenas um ramo desenvolvido por arquitetos que cria- transformações com objetos, iluminação e materiais,
vam mobiliário ou projetavam alguns espaços internos, hoje, é estudado como a ciência de projetar os espa-
baseados em suas construções, ou até mesmo artistas ços baseados no comportamento das pessoas, para
que se interessavam devido a uma aptidão específica, criar algo relacionado à funcionalidade e à necessi-
hoje, se tornou uma profissão de renome e que exige dade dessas pessoas.
estudos específicos para projeção de interiores.

150
DESIGN

Numa acepção mais ampla, significa o pla-


nejamento, a organização, a decoração e a Além disso, é importante uma compreensão da mar-
composição do layout espacial de mobiliário, ca, do tipo de produto ou serviço do estabelecimen-
equipamentos, acessórios, objetos de arte etc., to, pois isso também influencia no projeto com rela-
dispostos em espaços internos habitacionais, ção aos materiais, as cores, aos objetos e aos espaços
de trabalho, cultura, lazer e outros semelhantes
(GOMES FILHO, 2006, p. 21).
obrigatórios, sendo um diferencial grande do pro-
fissional. Caso a marca ainda não possua uma iden-
Conforto, funcionalidade e beleza é o que o Designer tidade visual, pode também ser desenvolvida pelo
de Interiores procura em seus projetos e, para isso, próprio designer, para que todo seu projeto interior
busca um conhecimento em cores, materiais, história, esteja relacionado à marca.
acabamentos, desenho técnico, conforto, iluminação e
ergonomia. Além disso, busca analisar as necessidades
do cliente, seu perfil de vida, estilo e comportamento.
Como Designer de Interiores, o profissional
pode atuar em projetos como:

PROJETOS RESIDENCIAIS
A área mais conhecida para projetos de interior é a
área de projetos habitacionais; para isso, é necessário
um briefing baseado em seu cliente. É preciso que o
Design estude a fundo seus hábitos, suas preferências,
suas necessidades e, a partir daí, comece a desenvol-
ver o projeto do espaço, a distribuição e a criação de
mobiliário, a escolha de cores e materiais, o estilo, o
revestimento e o acabamento, a iluminação, que esta-
beleçam relação com o briefing feito no início.

PROJETOS COMERCIAIS
Os projetos comerciais não são muito diferentes de
projetos residenciais, pois o desenvolvimento da
ideia, os briefings e os conhecimentos para o desen-
volvimento do projeto são os mesmos. Porém, em
projetos comerciais, tem-se um diferencial, pois não
haverão pessoas habitando o local; entretanto, há,
além do dono do estabelecimento, o consumidor que
vai usufruir do espaço em um determinado tempo.
É necessário, então, um conhecimento do perfil do
cliente, para que ajude na criação do projeto.

151
HISTÓRIA DA ARTE E DO DESIGN

PAISAGISMO MOBILIÁRIO
Uma outra área em que o Designer de Interiores Para finalizar as área de interiores, temos, aqui, os
pode atuar é a de paisagismo. Tanto em áreas ex- projetos de mobiliário, que podem ser projetados
ternas quanto internas, públicas ou privadas, o pai- para um espaço completo, conhecidos como móveis
sagismo vem obtendo uma exigência ainda maior planejados, podendo ser um mobiliário específico,
daqueles que procuram o projeto de um designer. É como as cadeiras, por exemplo. Existem profissionais
importante saber sobre paisagem, cidade, história, que trabalham so-
espécies e plantas e suas relações com o local do pro- mente nessa área
jeto, empreendedorismo, sustentabilidade, urbanis- e cabe dizer que,
mo e processos de instalação. para criação de
mobiliário, é im-
ILUMINAÇÃO portante saber sobre
A área de iluminação é um outro setor em ascensão no o Design em geral,
Design de Interiores, que exige alguns conhecimen- história, contex-
tos técnicos e tecnológicos mais aguçados. Cálculo e to e conceito de
softwares serão muito utilizados, também, conheci- criação, prática
mentos sobre conforto ambiental, iluminação natural de projeto e desen-
e artificial, luminárias, projetos cenográficos, de lazer, volvimento de pro-
obras públicas e saúde. Há, ainda, os conhecimentos duto; veremos mais a
sobre sustentabilidade, já que estamos falando de pro- seguir sobre o Design
jeto que consome energia, gestão e instalação. de Produto.

152
DESIGN

DESIGN DE
MODA
Por que o homem se veste? A esta pergunta tão
essencial, foram muitas as tentativas de respos-
tas, mas estas sempre estiveram repertoriadas em
torno de três aspectos fundamentais: pudor, pro-
teção e ornamentação. Pudor para esconder sua
nudez, proteção contra as intempéries e adorno
para se fazer notar (CIDREIRA, 2005, p. 39).

Por mais que possamos pensar que se vestir é algo


que o homem faz desde os tempos primórdios, po-
demos notar que a moda em si não surgiu naquela
época, pois, segundo Cidreira (2005), a moda é uma
construção cultural, localizada no tempo e no espaço,
e os povos primitivos desconheciam esse conceito.
Podemos dizer, então, que a moda apareceu no
fim da Idade Média, Século XV, no período do Re-
nascimento, mais precisamente na França, por causa
da organização da vida nas cortes; depois, com a vida
urbana em crescimento, as pessoas começaram a ter
o desejo de imitar as roupas dos nobres.

Moda vem do latin modus, significando “modo”,


“maneira”. Em inglês, moda é fashion, corruptela
da palavra francesa façon, que também quer dizer
“modo”, “maneira” (PALOMINO, 2003, p. 15).

Então, a moda surge para ditar o modo ou a maneira


como as pessoas se vestem relacionadas ao seu com-
portamento, pensamentos, cultura, história, econo-
mia e política em que elas estão inseridas.
É a partir daí que a o Design de Moda se insere como
precursor principal da disseminação estética do homem.

153
HISTÓRIA DA ARTE E DO DESIGN

Segundo Matharu (2011), o Designer de Moda deve


ter entendimento sobre 3D, técnicas de fabricação,
habilidades comunicativas, de gerenciamento, com-
preensão dos métodos de produção e conhecimento
geral do mercado - identificando os desejos do clien-
te, analisando os sucessos e os fracassos e implemen-
tando mudança para o próximo ciclo.
Veja, então, as possíveis áreas para o profissional
de Design de Moda seguir:

DESIGN E CRIAÇÃO
Nessa área, o designer pode trabalhar como estilista,
a tão conhecida e cobiçada área da Moda, desenvol-
ver produtos, acessórios ou superfícies relacionados
à Moda, ser ilustrador ou joalheiro. Para trabalhar
com a área de criação, é necessário desenvolver habi-
lidades de criatividade, processos criativos, conhecer
sobre a história do Design, cores, materiais, indús-
O conceito de “estar na moda” se auto-explica e
se confunde. Tratar de moda implica lidar com tria e produção, além de estar sempre conectado às
elementos os mais complexos, especialmente transformações do mundo e da sociedade, cultura,
quando combinados. Entrando nesse assunto, economia, política e meio-ambiente.
tangemos valores como imagem, auto-imagem,
auto-estima, política, sexo...estética, padrões de
beleza e inovações tecnológicas, além de um ca-
leidoscópio de outros temas: desde condições cli-
máticas, bailes, festas, restaurantes ou uniformes
até cores (e a ausência delas), modelos, top mo-
dels, supermodels ou gente “normal”, mídia, foto-
grafia de moda, moda de rua, tribos (e a ausência
delas); música e diversão, mas também crise e
recessão, criatividade e talento. Dinheiro tam-
bém. E vaidade, competitividade, ego, modismos
e atemporalidades, história e futuro, excessos, ra-
dicalismos e básicos (PALMONIO, 2003, p. 8-9).

E nessa mistura de conteúdos, o profissional De-


signer de Moda trabalha com vários conteúdos e
conhecimentos, podendo atuar em áreas diferentes
dentro da própria Moda. É isso que vamos conhecer
um pouco neste tópico.

154
DESIGN

CONSULTORIA
Essa é uma área que não trabalha diretamente com
a criação, e sim com o usuário dos produtos finais
da Moda. Podendo ser personal stylist, consultor
de Moda, consultor de imagem, personal shopper,
agente de modelo e colorista.
Para trabalhar com consultoria, é necessário um
ótimo relacionamento interpessoal, conhecimento
de comportamento humano e estilos, já que, mais do
que escolher uma roupa considerada da moda atual,
é importante conhecer o cliente de maneira pessoal,
sua história, sua forma de pensar, o contexto em que
está inserido, para guiá-lo a uma melhor forma de se
comportar no seu dia a dia.

TEATRO E TELEVISÃO INDÚSTRIA


Outra área cobiçada pelos Designers de Moda é a área O Designer de Moda que atua na indústria trabalha-
de figurinista, podendo atuar no mercado da arte, rá como tecnólogo têxtil, obtendo conhecimentos
como o teatro, as novelas e os filmes. Nesse área, as- sobre fios, malhas, tecidos, tinturaria e maquinário.
sim como na criação, é necessário um conhecimento Além do conhecimento das tendências de mercado da
abrangente não só da Moda, mas, principalmente, ter moda que serão atingidas pela produção da indústria.
aptidão para pesquisar e conhecer outras áreas, já que,
em se tratando de uma produção de uma peça de teatro PRODUÇÃO
ou uma novela, por exemplo, existe todo um contexto O profissional que atua na área de produção já tem
histórico, o comportamento das personagens, cenário, o produto final e vai trabalhar para que esse produto
que devem estar em relação com o figurino criado. chegue da melhor forma possível ao consumidor da
Moda. São esses os vitrinistas, os responsáveis pelo
COMUNICAÇÃO merchandising e direção de marketing. É importante
Considerada a área que mais cresce na atualidade, aqui estudar e desenvolver as melhores formas de se
a comunicação em Moda vem obtendo um papel estabelecer a relação do produto com o consumidor.
muito importante na sociedade, devido à explosão
de meios de comunicação e redes sociais disponíveis INFORMÁTICA
hoje em dia. Como exemplo, temos o blogueiro, o Nesse setor, os conhecimentos de Moda são os mes-
colunista, o jornalista, o editor, o assessor de impren- mos, porém há a necessidade de conhecimento de
sa e relações públicas, ou seja, todas essas áreas que tecnologias e softwares para desenvolvimento das
exigem uma habilidade de se expressar, falar em pú- áreas, como ilustrador, desenhista técnico, modelis-
blico, expor ideias e ideais por meio das mídias. ta, design de estampa e colorista.

155
HISTÓRIA DA ARTE E DO DESIGN

CONFECÇÃO MARKETING
Esse é o setor em que se coloca “a mão na massa”. Nessa área, pode-se trabalhar como produtor de
O profissional pode trabalhar como modelista, cos- moda, de desfile, fotógrafo, cabelo e maquiagem. São
turar, ser desenhista técnico, pilotista, tecnólogo de áreas do marketing da moda, em que o profissional
vestuário e gerente de produção. Quando uma co- trabalha para entregar, da melhor forma possível, um
leção é desenvolvida, por exemplo, após passar pela novo produto da Moda. Um lançamento de marca,
etapa de pesquisa e criação, ela vai ser executada e é uma nova coleção, uma nova tendência e/ou conceito.
aqui que entra o trabalho desses profissionais.
PESQUISA
ADMINISTRATIVA Na área de pesquisa, pode-se trabalhar como coo-
O setor administrativo é o responsável pela parte lhunting, curador de moda, historiador e professor
racional e comercial do Design de Moda. O são áreas relacionadas à pesquisa de moda, em que
empresário, administrador, gerente de moda e de todas as outras áreas são necessárias para o estudo, o
produto vai gerenciar e administrar a relação do conhecimento e o ensino. Além de saber do passado
produto com o mercado, conforme as transformações da Moda, é importante saber dos movimentos atuais
desse mercado, de uma marca ou uma empresa. Nessa e das possíveis transformações da Moda em si, da
área, é necessário desenvolver um conhecimento de sociedade como um todo e das influências que uma
marketing, administração e economia. tem sobre a outra.

156
DESIGN

Figura 1 - Áreas de Moda


Fonte: adaptado de Fagundes (2015, on-line)1.

É interessante conhecermos as áreas de atuação de dos a ver em desfiles famosos. Vai muito além disso
um Designer de Moda, para quebrarmos o paradig- e existe um contexto de pesquisa, desenvolvimento e
ma de que a Moda está relacionada somente ao esti- conhecimento muito importante dentro do Design
lista e todo aquele glamour que estamos acostuma- da Moda em nossa sociedade.

157
HISTÓRIA DA ARTE E DO DESIGN

DESIGN
EFÊMERO

Os projetos efêmeros são aqueles que são transitó- rotina. Isto é, os projetos efêmeros são espaços que
rios e passageiros, que crescem no mercado de forma não estavam ali ontem e, talvez, não estejam amanhã,
explosiva no século XXI. Esse tipo de projeto tem- mas que bem projetados ficarão marcados na memó-
porário pode ser executado por profissionais da área ria daqueles que o viram.
de Design de Interiores, utilizando-se dos mesmos
princípios e processos de projeto e execução, inclu- PROJETO DE STAND
sive, essa área foi incluída em algumas matrizes de Começamos com projetos de vitrine, que são os
ensino do curso, por se tratar de uma área em grande projetos feitos em lojas comerciais, para divulgar
crescimento no mercado e com possibilidades muito o lançamento de novas coleções, novos produtos e
interessantes de atuação e criação. marcas, eventos, estações e promoções. São peque-
Como o nosso mundo caminha em constante nos cenários montados na entrada da loja e, para de-
mudança e inovação, cada dia mais rápido, os proje- senvolvê-los, é importante pensar no projeto de for-
tos efêmeros têm sido muito valorizados, pois são de ma a agregar ao produto em destaque os materiais,
forma intensa e, em prática, projetados, trazendo o as texturas, a iluminação, os objetos e os possíveis
olhar das pessoas pra algo que sai da monotonia, da manequins.

158
DESIGN

Depois, temos os projetos de stands, que podem


ser fixos, são mais conhecidos como quiosques,
em shoppings, ou stands, em exposições e even-
tos temporários. No stand, o projeto desenvolve,
também, uma estrutura específica e, quando se
trata de eventos e exposições, a ideia é trabalhar a
criatividade para algo diferente, inovador, que faça
o olhar das pessoas se prenderem ao projeto, inte-
ragirem e reconhecerem o conceito da marca em
divulgação.
Vemos, também, os cenários, que podem ser
projetados em diversas áreas, como filmes, novelas,
shows, tv, teatros e eventos. Vale dizer que é neces-
sário projetar pensando em materiais de fácil manu-
seio, pois estes dependem de montagem e desmon-
tagem de forma rápida e eficaz e, também, serão
reutilizados em novos espaços e momentos. Isso, po-
rém, não descarta a importância de um bom projeto,
pensando nos materiais, na tecnologia e nos objetos
a serem utilizados.
As exposições e os eventos podem ser relaciona-
Figura 2 - Imagem
dos à cultura, à música, à arte, às pessoas, à história Fonte: Imagem ([2017], on-line)2.

e a vários outros assuntos. São projetos temporários


que exigem um conhecimento que vai bem além do
Design e de projetar em si, procura interação e re-
lação com o público bem mais intensa e de forma
criativa.
Por último, as intervenções urbanas, que são
criadas em espaços públicos nos mais variados te-
mas, provocam reflexão, crítica, interação, melho-
ria de espaços e diversão para as pessoas que ali
circulam. Geralmente, essas intervenções são rea-
lizadas pelos designers, arquitetos, artistas, que, de
alguma forma, sentem a necessidade de expressar
algo, mostrar opções de mudança para uma vida
Figura 3 - A arte salva
melhor. Fonte: Eduardo Srur (apud Franco [2017] on-line)3.

159
HISTÓRIA DA ARTE E DO DESIGN

DESIGNGRÁFICO
O Design gráfico é a mais universal de todas realiza diversas funções, como classificar e diferen-
as artes. Está em toda parte, explicando, deco- ciar, informar, atuar em nossas emoções e dar for-
rando, identificando - impondo significado ao
ma aos nossos sentimentos em relação a tudo que
mundo. Está nas ruas, em tudo que lemos, sobre
os nossos corpos. Interagimos com o design da nos cerca. Nosso mundo, hoje, não vive mais sem o
sinalização de trânsito, da publicidade, das re- Design gráfico, pois, sem ele, nosso contato, nossas
vistas, dos maços de cigarro, dos medicamentos, informações voltariam a ser escassas e não sobrevi-
do logo da nossa camiseta, da etiqueta de ins-
truções de lavagem da nossa jaqueta (NEWA- veríamos, nossa comunicação seria difícil como an-
RK; FURMANKIEWICZ, 2009, p. 6). tigamente e, devido ao crescimento populacional e
ao desenvolvimento tecnológico e industrial, a falta
Segundo Newark e Furmankiewicz (2009), o design do Design gráfico seria inviável.

160
DESIGN

O pai do termo “Design Gráfico” foi o americano, TIPOGRAFIA


William Addison Dwiggins, que, em 1922, escreveu O designer, aqui, trabalha com o desenvolvimen-
que era necessário utilizar o senso prático em um to de tipos, criação e desenho de fontes. Os tipos
layout e esquecer a arte, pois a função do design é poderão ser usados em impressos, como jornais,
transmitir uma mensagem clara e prática. revistas e livros, anúncios e, também, em marcas,
Para Paul Rand: identidade visual e sinalização. É importante co-
nhecer sobre as famílias tipográficas e as partes
[...] o design gráfico, em síntese, lida como espec-
tador, e como o objetivo do designer é ser per-
existentes em uma fonte.
suasivo ou pelo menos informativos, conclui-se
que os problemas do designer apresentam dois
lados: antecipar as reações do espectador e aten-
der as suas próprias necessidades estéticas (apud
NEWARK; FURMANKIEWICZ, 2009, p. 13).

Podemos dizer que o design gráfico surgiu por meio


de uma revolução de impressão feita por Guttenberg
em 1440, quando só existiam as xilogravuras. Ele criou
os tipos móveis, letras individuais feitas de aço que po-
deriam ser compostas de infinitas formas, surgindo,
assim, a imprensa. Isso foi o início de uma nova Era
que geraria o design gráfico cerca de 500 anos depois.
E quem é o Designer gráfico? Para Newark e Fur-
mankiewicz (2009), é aquele que propõe a existência
das atividades na prática do design. A primeira, a de
fazer sentido, é um instinto de simplificar e esclare-
cer. Todo design tem de dar forma a sua matéria-
-prima, sequenciá-la, ordená-la e classificá-la para
dar-lhe uma hierarquia.
A segunda atividade é a de “criar a diferença”, em
que o produto ou a empresa precisa ser exclusivo e,
facilmente, reconhecido, escolhido e diferenciado
entre milhares de outros.
A partir disso, vamos conhecer um pouco sobre
as áreas em que o designer gráfico pode atuar.

161
HISTÓRIA DA ARTE E DO DESIGN

IDENTIDADE VISUAL
A área de identidade visual se inicia no desenvol-
vimento da marca, com a criação de logotipo, tipo-
grafia, símbolo e até o nome do produto ou serviço;
para isso, é necessário todo conhecimento teórico de
Design, mais o briefing do cliente e a pesquisa do
mercado em que essa marca vai atuar.
A partir daí, segue, também, o desenvolvimen-
to da identidade visual, que vai desenvolver os ele-
mentos corporativos, todos os materiais utilizados
na empresa, sinalização, ambientação e divulgação,
tudo de acordo com a marca criada.

EMBALAGENS
“Criar embalagens é contar histórias em uma área com-
ILUSTRAÇÃO pacta” (NEWARK; FURMANKIEWICZ, 2009, p. 130).
A ilustração é a parte do Design mais conectada à Arte, As embalagens devem caracterizar
na qual ele consegue imprimir valores autorais e sua o produto e diferenciá-lo
identidade em uma imagem feita, na maioria das ve- dos concorrentes, porém,
zes, à mão. Hoje, possuímos vários materiais para de- ainda é uma área que ten-
senvolver uma ilustração, desde tinta, lápis, nanquim, ta quebrar o paradigma do
até softwares. As ilustrações podem ser utilizadas tan- conservadorismo do design.
to para a divulgação de algo, como para ambientação O mercado de embala-
de um espaço, exposição ou expressão pessoal. gens é muito amplo e, em-
bora não existam muitos
FOTOGRAFIA escritórios que trabalham
Newark e Furmankiewicz (2009) afirmam que é co- com isso, as próprias fábri-
mum dizer que a invenção da fotografia revolucio- cas, indústrias e empresas,
nou a Arte. Foi uma transformação da expressão da contratam profissionais
imagem por meio de meios mecânicos, trazendo o para desenvolver em suas
Design para outro reino. embalagens. O profissional
E, para atuar no ramo da fotografia, é necessá- de designer de produto pos-
rio conhecer as ferramentas de uso, processos de sui essa habilidade e conhe-
impressão e revelação, iluminação, película de filme, cimento para desenvolver
estilos de fotografia e edição. projetos de embalagens.

162
DESIGN

EDITORAÇÃO
A área de editoração pode trabalhar com li-
vros, revistas e jornais e é um mercado am-
plo tanto para trabalhos impressos quanto
para trabalhos na web. É uma área que exi-
ge conhecimento de diagramação, tipografia,
cores, papéis e, também, o profissional deve
estar antenado aos assuntos relacionados ao
material a ser editado.

SINALIZAÇÃO
O design de sinalização trabalha mais do que
nenhum outro a função do projeto, pois precisa
sinalizar tanto locais que você procura, como si-
nalizar situações de alerta e aviso. Nesse sentido,
é importante saber que o trabalho com tipografia,
símbolo e cores sempre vão seguir uma certa legis-
lação que atenda a um certo grupo de usuários. As
sinalizações podem ser feitas em empresas priva-
das, ambientes públicos, trânsito, eventos especiais,
ou qualquer espaço que necessite de informação de
orientação ao público que ali transita.

163
HISTÓRIA DA ARTE E DO DESIGN

DESIGN DE
PRODUTO
É especialmente um campo de atuação que en-
volve a concepção, a elaboração, o desenvolvi-
mento do projeto e a fabricação do produto, de
configuração física predominantemente tridi-
mensional (GOMES FILHO, 2006, p. 27).

Assim, podemos perceber que o objetivo principal


de se fazer design é por meio da busca da forma e da
função para aquilo que se projeta. E, para isso, é im-
portante trabalhar as questões estéticas, funcionais,
ergonômicas, ecológicas, produtivas, mercadológi-
cas, econômicas e sociais.

Os tipos de produto a serem desenvolvidos, são:


• Produtos de uso: são aqueles produtos de utili-
dade, como veículos, mobiliários, utensílios do-
mésticos, eletrodomésticos, eletroeletrônicos,
calçados, jóias, embalagens, brinquedos e outros.
• Máquinas e equipamentos: são os produtos
com função operacional, como ferramentas,
instrumentos, máquinas, dispositivos e aces-
sórios.
• Produtos componentes de ambientes em ge-
ral: produtos que compõem o ambiente de
trabalho, de atividades, inseridos em espaços
arquitetônicos.
• Artigos do lar: são os artigo domésticos, como
cama, mesa e banho, cortinas, tapetes. Fazen-
do uso aqui da especialidade em Design Têxtil.

164
DESIGN

“O design não é apenas o que


se vê e o que se sente. O design
é sobre como funciona”.
Steve Jobs.

Design digital
O Design digital vai tratar de todas as áreas que en- SAIBA MAIS
volvem projetos com softwares, sendo online ou of-
fline. O importante é que, por meio desses projetos,
Em se tratando de Design Digital, a Pixar é con-
vai se estabelecer interação com o público que utili- siderada a maior empresa de animação do
zará o resultado final do produto. mundo. Foi comprada por Steve Jobs em 1986,
antes era chamada Lucasfilm, e foi renomeada
Nessa área, a informática entra como ferramen-
para Pixar, que era uma junção das palavras
ta principal dos projetos de Design Digital, já que Pixar e Art. A primeira animação criada foi Toy
as mídias digitais fazem parte da nossa vida quase Story, em 1995, e hoje possui um acervo de
muitas animações conhecidas. Vale a pena
como o ar que respiramos.
conhecer mais sobre o trabalho desse grande
É possível desenvolver interfaces empresa- estúdio de Design de animação.
riais, aplicativos, jogos, animação, vídeos, ensino Para saber mais sobre a Pixar, acesse o link
a distância, videogames e sites. Pode-se, então, disponível em: <http://mundodasmarcas.blo-
trabalhar em empresas de mídias digitais, escritó- gspot.com.br/2006/05/pixar-studios-good-s-
teve-jobs.html>.
rios de Design, agências de publicidade, produto-
ra de cinema e animação, televisão e provedores Fonte: a autora.

de internet.

165
considerações finais

Caro(a) aluno(a),
Nesta unidade, conhecemos sobre as áreas de atuação do Designer como
profissional, quais suas definições e ramificações possíveis de trabalho dentro da
área.
Percebemos que, dentro das áreas de Design gráfico, de produtos, de inte-
riores, de moda, efêmero e digital existem muitas opções de trabalho para se de-
senvolver. É claro que, inicialmente, é necessário estudar o Design em geral, seu
conceito e história, de onde veio, qual seu objetivo e qual caminho tem traçado
ao longo de nossa história. Também é importante desenvolver habilidades e se
aprofundar em estudos específicos para melhorar seu conhecimento e descobrir
qual área você se identifica como profissional.
Lembre-se, também, de que Design vai além de conhecimento prático e te-
órico da área que você escolheu, mas é importante perceber o mundo em sua
volta, estar atento aos acontecimentos da sociedade, se relacionar e conhecer as
pessoas, ler, pesquisar, descobrir sobre cultura, arte, história, lugares etc, porque
Design é criar e projetar a partir do mundo em que vivemos.

166
atividades de estudo

1. Escolha entre as áreas de Interiores ou Moda e use um profissional do


ramo brasileiro, para expor um de seus projetos de Design.

167
LEITURA
COMPLEMENTAR

DESIGN, ARTE E TECNOLOGIA


Design e/é Arte

As relações, a proximidade, as fronteiras entre design, arte e tecnologia são discussões


recorrentes e instigantes em um campo que, sendo interdisciplinar, estabelece um rico
diálogo com essas questões.
Muitas vezes, encontramos em alguns discursos da área quase a necessidade de es-
tabelecer arte e design como campos oponentes e contraditórios. Me parece também
que essa discussão toma importância no Brasil e ocorre como uma necessidade de afir-
mação para a área de design ser respeitada como um campo independente. Talvez pela
indicação histórica do surgimento da área do design a partir do campo da arte. Deve-
mos lembrar a atuação dos liceus de artes e ofícios, a arte industrial como disciplina dos
cursos de ensino básico e médio e o nascimento de muitos cursos de graduação em
design nos departamentos de artes de várias universidades. Talvez, este seja o motivo
principal do discurso separatista de design e arte. Hoje, porém, o design já está mais do
que estabelecido e respeitado como campo de conhecimento.
Essas questões sempre me inquietaram, pois, quanto mais dentro do campo do de-
sign, mais ouvia o discurso renitente e a necessidade das justificativas e explicações do
porquê design não é arte. Ao mesmo tempo, me defrontava com o discurso e a prática
interdisciplinar e transdisciplinar que fala no rompimento de fronteiras e de barreiras
que levam a uma troca positiva entre diferentes campos de conhecimento que se so-
mam e resultam em propostas mais complexas e abrangentes.
A preocupação deste texto não é a de estabelecer limites e nem delimitar os campos
da arte e do design como oponentes e contraditórios, mas sim questionar como esses
campos podem estabelecer relações de proximidades de modo a somar, contribuir e
ampliar a ação da própria área. Ao invés de dividir e fragmentar, somar e possibilitar.
Este texto já foi discutido/apresentado em minha tese de doutorado e agora é
apresentado de forma ampliada como resultado de minhas pesquisas e da vivência no
campo do ensino em design.
Sabemos que o design está relacionado à cultura e a produção de linguagem, fato que
aproxima esse campo do universo de criação, colocando-o, muitas vezes, como um
universo implícito e, outras vezes, como universo paralelo à arte. O design atua a partir
da relação com a arte enquanto processo de criação, de referência e, também, a partir
de interferências, influências e inter-relações entre esses dois campos.

168
LEITURA
COMPLEMENTAR

Vamos nos remeter a alguns importantes autores que trazem essa discussão à tona e
evidenciam as relações entre arte e design.
Segundo o filósofo Vilém Flusser (1999), o design e a arte são derivados da arte e da
ciência e este “cruzamento fertilizado” leva à complementação criativa dessas duas áreas;
enquanto o designer Bruno Munari (1993), no final dos anos de 1980, relacionava tanto a
arte quanto o design como ofícios. Neste sentido, acreditava-se que o design deveria ser
remetido à ideia de arte, em que o designer restabelecia o contato entre a arte e o públi-
co, entre a arte viva e o seu destinatário/observador/usuário. Uma arte integrada à vida,
rompendo com a separação de coisas belas para admirar (por exemplo: uma pintura)
e coisas feias (por exemplo: um eletrodoméstico) para utilizar. Podemos perceber que
para Munari, a arte e a estética são importantes e devem estar presentes nos objetos e
produtos de design. Não é a arte destinada à contemplação pura, a fruição estética, mas
sim a arte para o cotidiano, para o uso nos atos da vida, onde produtos são desenvolvi-
dos com finalidades específicas e geram prazer na utilização, povoando o nosso univer-
so material, distantes e além do supérfluo (que Munari denomina de acaso ou capricho).
Partindo desse princípio, para Munari, o designer é, também, um artista, artista do nosso
tempo, pois deve enfrentar e resolver as necessidades e exigências da sociedade com
humildade e competência. Isso é possível quando o designer conhece o seu ofício, as téc-
nicas e os meios mais adequados para resolver qualquer problema de design com total
independência de qualquer preconceito estilístico. Portanto, para Bruno Munari (1993), o
designer é o profissional capaz de encontrar as soluções para os problemas estéticos co-
letivos e o usuário, quando utiliza um objeto ou um produto projetado por um verdadeiro
designer, tem consciência da presença de um artista que trabalhou para ele, melhorando
as condições da vida humana e favorecendo a relação com o mundo da estética.
O arquiteto e crítico de arte Giulio Carlo Argan (2000) também se refere aos designers
como artistas com conhecimento da esfera produtiva que atuam em equipe e lidam
com produções de caráter cíclico. Para o autor, a arte está no design desde a tarefa cria-
tiva até a determinação de um ritmo estético e econômico dos atos da vida cotidiana.

É a redução da arte a uma socialidade plena e integrada, funcional e não hierárqui-


ca; e simultaneamente o modo de restituir um sentido e uma alegria criativa a um
fazer que o moralismo tradicional considerava condenação e pena, porque através
da propriedade estética do desenho industrial um valor de conhecimento ou de
experiência do real é positivamente religado aos atos práticos do trabalho de cada
dia (ARGAN, 2000, p. 122 -123).

169
LEITURA
COMPLEMENTAR

Segundo o que vimos e de acordo com os autores apresentados, a questão da arte pre-
sente no design não é apenas um ato de criação, mas uma arte destinada à sociedade,
na construção da cultura material de uma sociedade em uma determinada época.
Gillo Dorfles (1998), em seu texto As oscilações do gosto, trata o design como um campo
que dialoga com a arte, especialmente, pela questão do valor estético e compara o
design a um ‘tipo de arte popular’, pois acredita que o objeto criado em série equivale a
alguns objetos artesanais.
Para Alexandre Wollner (1998, p. 224), o designer é a evolução do artesão e do artista.
Vejamos, a seguir, esta definição.

[...] o artista sofre uma metamorfose evolutiva que parte do artesão essencialmen-
te inspirado e intuitivo, passando gradativamente a integrar a tecnologia (gráfica,
tipográfica) e a ciência (gestalt, semiótica), nos sistemas das redes de comunicação
e, hoje, a estruturar e organizar todo um sistema de informações, via multimídia.
O artista desenvolve um equilíbrio entre a sua inspiração/ intuição e o seu conhe-
cimento técnico-científico. Esses suportes são necessários para a sua criatividade.

Ainda segundo Wollner (1998), ao longo da história da arte, o artista passa a ser soli-
citado para a elaboração de produtos, tais como cartazes, jornais, revistas, integrando
conhecimentos que se estabelecem além do universo das artes e dos ofícios e exem-
plifica dizendo que nos anos pós-guerra, especificamente, na década de 50, na Europa,
surge a denominação programador visual, que pode ser definida como o artista com o
treinamento de designer, um planejador dos meios de comunicação visual, com forma-
ção altamente técnica, científica e social – econômica – política.
Podemos, assim, perceber que a relação arte e design é explicada por vários autores a
partir de comparações entre o papel do artista e o do designer, bem como com o papel e a
função da arte e do design, onde o designer é visto como um profissional que associa arte,
técnica, tecnologia, planejamento e conhecimento para as esferas culturais e produtivas.
O designer é, também, considerado um artista contemporâneo, onde suas produções -
objetos da cultura material e imaterial - são importantes e presentes na vida cotidiana
do ser humano.
O design é visto como o cruzamento, a relação entre arte e ciência; a partir da integra-
ção das artes e ofícios e também como arte popular no sentido da arte prática presente
no cotidiano destinada ao homem na sociedade da cultura material e imaterial.

170
LEITURA
COMPLEMENTAR

Essas questões são polêmicas no meio do design profissional, tanto que percebemos
que muitos autores não as enfrentam profundamente. No máximo, as discussões a
esse respeito, quando aceitas, resumem-se a pequenas comparações, chegando-se ao
absurdo de estabelecer que a maioria dos profissionais não têm condições de dominar
a matéria dessa discussão. Então, a saída mais simples e prática é dizer que design não
é arte e ponto final.
Entretanto, falta a reflexão e a discussão mais profunda das relações e inter-relações
estabelecidas entre o universo da arte e o do design. Muitos artistas são designers e
muito designers são artistas ou transitam entre essas duas áreas, a da Arte e do Design,
e praticam as experimentações típicas da atividade artística. Há, portanto, estreitas re-
lações entre esses universos de limites tênues.
Agnaldo Farias (1999) em seu texto Design é Arte? publicado na revista da ADG (Asso-
ciação dos Designers Gráficos/Brasil) exemplifica muito bem essa relação, observando
que: “a sedimentação do ‘mito da objetividade’ e das poéticas racionalistas que atraves-
sam a arquitetura e artes gráficas como o sol por uma vidraça...”. O autor argumenta
dizendo que essa atitude sedimentada e estabelecida nega a discussão e a abertura
para novas posições estéticas. Ao se estabelecer uma análise mais profunda, sem ran-
ços tradicionalistas, podemos perceber que o design gráfico contemporâneo se abre a
experimentações de toda a natureza, em poéticas densas e ruidosas.
Farias comenta acerca dos trabalhos de dois designers brasileiros: Rico Lins e Gringo
Cárdia e também aos estrangeiros: Tibor Calman e David Carson, que são profissionais
de grande relevância no campo do design, mas que estabelecem uma relação evidente
de seus trabalhos com as artes visuais, “chamando a atenção às propostas que, a des-
peito do imperativo de legibilidade tão cara aos racionalistas, rondavam perigosamente
a incompreensão, o que não as impedia de serem absorvidas e mesmo estimuladas
pelo mercado” (FARIAS, 1999, p. 27-28).
Como vimos, o design estabelece relações com a arte ora mais distantes e ora próxi-
mas, mas a discussão nessa área profissional sempre remete ao fato de que, na con-
temporaneidade, apesar do design pertencer à esfera produtiva, ainda guarda relação
e interface com a arte (VILLAS BOAS, 1998).
Farias, que nos lembra que, tendo em vista o avanço da produção cultural, cada área do
conhecimento humano deve ser aberta a debates e exemplifica:

171
LEITURA
COMPLEMENTAR

[...] retomam-se exposições de design gráfico porque é anacrônico prosseguir


mantendo a oposição entre arte e design, pois um produto resultante de um proje-
to de design, tal como um logotipo, pode ter a mesma força de um haikai; não tem
fundamento estabelecer que aquilo que se destina ao mercado e a uma empresa
deva ser rigidamente separado do que é produzido artisticamente, fosse assim a
capela Sistina não deveria ter a importância que tem por ter sido encomendada
pela Igreja (FARIAS, 1999, p. 29).

Ainda, segundo esse autor, a arte

[...] não é uma questão de assunto, mas de tratamento formal de um determinado


assunto. Ademais, desde que Marcel Duchamp realizou o primeiro ready-made,
ficou patente que um dos aspectos basilares da produção artística era o questio-
namento de suas fronteiras. Vale dizer que muito do que hoje se faz em nome
da arte é contra as compreensões correntes do que seja arte. Vai daí que discutir
se design gráfico é arte ou não é perder-se em uma falsa questão. Discute-se a
pertinência de um rótulo e, em contrapartida, perde-se de vista a densidade da
dimensão estética de um determinado produto, uma dimensão que jamais poderá
ser reduzida às demandas funcionais, sob pena de perder seu interesse no âmbito
da cultura (FARIAS, 1999, p. 29).

Design é (também) Tecnologia


Anteriormente, dissemos que o design tem relações de proximidade, de referência e
diálogo com a arte. Design é produção de cultura e de linguagem, porém um projeto
não existe, isto é, não pode ser materializado sem a tecnologia.
Considerando que a principal característica do design é a reprodução de uma comuni-
cação ou das informações, deve-se lembrar que os meios de reprodução se estruturam
e ocorrem no universo da tecnologia e das relações, dos sistemas e dos procedimentos
técnicos e tecnológicos.
Por esse motivo, outro aspecto recorrente e muito enfocado nas definições de design é
o da tecnologia ser e estar implícita nesse universo e, por isso, muitas vezes este campo
é definido assim: o design é tecnologia.
Entretanto, dizer que design é somente tecnologia não traduz, plenamente, a definição
e o conceito desse campo, pois a área não se sustenta apenas pela tecnologia. Ela se

172
LEITURA
COMPLEMENTAR

faz a partir dela; antes da tecnologia ser aplicada, é preciso ter um projeto, que se
estabelece a partir das questões de criação, de pesquisa e de conceituação e, também,
por meio da tecnologia. Isto é, antes da tecnologia ser aplicada, empregada, deve existir
um projeto com conceito e propostas, indicando a aplicação, a sistematização e a utili-
zação da tecnologia.
Podemos afirmar, então, que o design tem uma estreita relação com a tecnologia, sen-
do esta um dos pilares do design e podemos dizer o mesmo com relação à arte. Não há
como se desenvolver um projeto sem a tecnologia e, também, sem os procedimentos
de criação, invenção e de inovação que advém da arte. É importante lembrar que um
projeto não é apenas e tão somente a tecnologia, ou puro tecnicismo ou pura arte
contemplativa ou vivencial (como as instalações e sites especificos da arte contempo-
rânea), mas sim a integração da tecnologia e da arte que dão sustentação aos aspectos
culturais, estéticos, funcionais e de linguagem do projeto que serão refletidas no pro-
duto que foi desenvolvido.
Sobre isso, e respondendo às definições que apontam o design como tecnologia, a de-
signer Escorel (2000, p. 63) questiona esse fato, argumentando que essa definição lhe
parece como uma tentativa não somente de apaziguar “[...] uma ansiedade classifica-
tória, mas também como se a tecnologia pudesse ser vista como um terreno defendido,
imune aos riscos representados pela intuição, pelo aleatório, pelo arbitrário” . A autora
ainda aborda e completa dizendo que se esse aspecto fosse tomado como único, o de-
sign, assim como qualquer outra atividade, poderia se inserir apenas em uma ‘unidade
tecnológica’.
A autora, ainda relaciona designer com design como sendo

[...] uma forma de expressão fantástica, absolutamente sintonizada com a tecno-


logia mutante de nosso tempo e de dispor de um método de trabalho capaz de
resolver as mais diversas questões através do projeto ou das atividades de asses-
soria e planejamento (ESCOREL, 2000, p. 73).

A autora destaca, ainda, que, sendo o design uma linguagem, as renovações tecno-
lógicas não bastam “(...) para que uma linguagem alargue seus limites. É necessário,
também, que sua cota de informação não seja dissolvida, pois não há criatividade que
resista ao temor do novo, ao compromisso com o já feito e experimentado” (ESCOREL,
2000, p. 68).

173
LEITURA
COMPLEMENTAR

Sem o projeto não há como o design estabelecer uma relação com a tecnologia e com a
arte, a não ser como um exercício aleatório repleto de puro tecnicismo ou do livre fazer
criativo. Por consequência, a tecnologia - que é de suma importância, pois todo o projeto
para se materializar, para tomar forma, necessita do emprego da tecnologia - estabele-
ce estreita relação com o design, mas não o define completamente. A tecnologia, assim
como a arte, estabelece relações com o campo do design e essas áreas são encontradas
no universo e nas definições do design. Flusser (1999) nos lembra que a palavra grega
“techne significa ‘arte’ está relacionada a tekton, um ‘carpinteiro’. A ideia básica aqui é
que a madeira (hyle em grego) é um material sem forma ao qual o artista, o técnico, dá a
forma, fazendo com que ela apareça em primeiro lugar. “A objeção básica de Platão à arte
e à tecnologia era que elas traíam e distorciam formas teoricamente inteligíveis (‘ideias’)
quando transferiam isso para dentro do mundo material” (FLUSSER, 1999, p. 17).
Podemos observar que há certas palavras e definições que sempre estão presentes na
pesquisa de uma definição de design. O autor diz, ainda, que essa situação se deve ao
fato de essas palavras estarem ligadas a esse campo e também ligadas umas às outras,
configurando um campo comum de conhecimentos e de ações.
As palavras design, máquina, tecnologia e arte estão relacionadas uma com as outras,
um termo é impensável sem os outros, e todos eles derivam da mesma visão existen-
cial do mundo. Entretanto, essa ligação interna tem sido negada por séculos

Carta a um jovem designer

Pelo menos desde a Renascença, a cultura burguesa moderna fez uma divisão
entre o mundo das artes e o da tecnologia e máquinas; assim a cultura dividiu-se
em dois ramos exclusivos: um científico, quantificável e ‘duro’, o outro estético,
avaliável e ‘flexível’. Essa divisão infeliz começou a tornar-se irreversível no final do
século dezenove. Na lacuna, a palavra design formou uma ponte entre os dois, ela
pôde fazer isso porque expressa a ligação interna entre arte e tecnologia (FLUS-
SER, 1999, p. 17).

E o mesmo ocorre quando se fala de beleza, de estética e de senso estético. Por exem-
plo, Bruno Munari (1993) se refere à beleza no campo do design como beleza aplicada
à técnica e à tecnologia, e não como beleza entendida no sentido abstrato do termo.

174
LEITURA
COMPLEMENTAR

Para ele, a beleza presente no campo do design contém uma coerência formal. Assim,
o autor expõe sua crença de como a beleza deve ocorrer em um projeto, o sentido
estético associado ou talvez subordinado à forma e à função de determinado produto.
O design é o campo, é a área por excelência que surge e atua a partir da relação com a
tecnologia. Devemos lembrar que foram as mudanças que ocorreram no processo de
industrialização que incentivaram as mudanças tecnológicas no momento em que o
design foi impulsionado e desenvolvido, sendo apontado, também, como o momento
de seu surgimento por muitos autores. Giulio Carlo Argan, em um artigo de sua autoria,
escrito em 1961 e publicado em 2000, diz que:

O homem moderno, o homem das grandes cidades, não identifica seu ambiente
com a natureza, mas com o mundo das coisas artificiais, feitas pelo homem para
o homem mediante uma tecnologia da qual sente orgulho como de uma criação
própria: ele quer, portanto, inserir o objeto no contexto de um mundo não natural,
mas social (ARGAN, 2000, p.127).

O ICSID – International Council of Societies of Industrial Design foi fundado em 1957 e seu
primeiro congresso ocorreu em 1959, em Estocolmo. O ICSID mantém suas atividades
até os dias atuais.
Em 1957, a definição do design foi realizada por essa instituição e ratificada em 1959,
tendo sido utilizada durante doze anos. A definição dizia que

[...] um designer industrial é uma pessoa que se qualifica por sua formação, seus
conhecimentos técnicos, sua experiência e sua sensibilidade visual para a tarefa de
determinar os materiais, as estruturas, os mecanismos, a forma, o tratamento de su-
perfície e a decoração dos produtos fabricados em série, por meio de procedimen-
tos industriais. Segundo as circunstâncias, o designer poderá se ocupar de um ou de
todos estes aspectos. Pode se ocupar também dos problemas relativos à embalagem,
à publicidade, as exposições e ao marketing, e no caso das soluções destes problemas,
além disto de um conhecimento técnico e de uma experiência técnica, requerendo
também uma capacidade de valorização (apreciação) visual” (BONSIEPE, 1978, p. 20).

A definição, a seguir, foi revista e substituída por uma proposta de Tomás Maldonado
e foi utilizada até os anos 70:

175
LEITURA
COMPLEMENTAR

“O desenho industrial é uma atividade projetual que consiste na determinação das


propriedades formais dos objetos produzidos industrialmente. Por propriedades
formais não se deve considerar unicamente aquelas exteriores, mas, sobretudo a
relação funcional e estrutural que fazem com que um produto tenha uma unida-
de coerente seja do ponto de vista do produtor ou do usuário. Pois, enquanto a
preocupação exclusiva com as características exteriores de um objeto nascem do
desejo de fazê-lo mais atraente ou ainda mascarar alguma fraqueza constitutiva,
as propriedades formais de um objeto – pelo menos tal como está entendido aqui
– são sempre o resultado da integração de diversos fatores, sejam estes do tipo
funcional, cultural, tecnológico ou econômico. Dito de outra maneira, assim como
as características exteriores fazem referência a qualquer coisa como uma reali-
dade estranha, quer dizer, não ligada ao objeto e que não foi desenvolvida com
ele, de maneira contrária as propriedades formais constituem uma realidade que
corresponde a sua organização interna, vinculada a ela e desenvolvida a partir dela
(MALDONADO apud BONSIEPE, 1978, p. 21).

No Congresso do ICSID, ocorrido em 1973, a definição de design ficou definida como

[...] uma atividade no extenso campo da inovação tecnológica. Uma disciplina en-
volvida nos processos de desenvolvimento de produtos, estando ligada a questões
de uso, função, produção, mercado, utilidade e qualidade formal ou estética de
produtos industriais, com a ressalva de que a definição de design se daria de acor-
do com o contexto específico de cada nação (NIEMEYER, 1997, p. 24).

Atualmente, o ICSID (on-line apud MOURA, 2005, p. 11) assim define o design:

[...] o design é uma atividade criativa cujo alvo é o de estabelecer as qualidades mul-
tifacetadas dos objetos, dos processos, dos serviços e dos seus sistemas de vida em
ciclos completos. Conseqüentemente, o design é o fator central da humanização e
da inovação das tecnologias e o fator crucial da troca cultural e econômica.

Podemos perceber que, também, na definição de outra importante organização profis-


sional, para a ICOGRADA (International Council of Graphic Design Associations), o design é
apontado como uma área relacionada à técnica e à tecnologia.

176
LEITURA
COMPLEMENTAR

O projeto gráfico é uma atividade intelectual, técnica e criativa, relacionada não


simplesmente com a produção das imagens, mas com a análise, a organização e os
métodos da apresentação de soluções visuais para problemas de comunicação. A
informação e a comunicação são a base da vida interdependente da rede mundial,
seja nas esferas comerciais, culturais ou as sociais (MOURA, 2005 p. 11).

A definição não tem como propósito apresentar conclusões definitivas, mas sim de
apontar temáticas presentes no universo do design como questões a serem ampliadas,
desenvolvidas, discutidas. Questões que devem ser analisadas, observadas por meio
das interfaces que essas áreas – design, arte e tecnologia - estabelecem, modificam e
constroem, como o design contemporâneo. Fica aqui o convite para a análise da arte e
da tecnologia e suas consequências para a cultura e para a sociedade contemporânea
por meio da vivência do design.

Referências Bibliográficas da Leitura Complementar


ARGAN, G. A. A História na Metodologia do Projeto. In: Caramelo, n. 6, São Paulo, FAU/
USP, 1992, pp.157-170.
______. Projeto e Destino. São Paulo: Ática, 2000.
BOMFIM, G. A. A Morfologia dos Objetos de Uso: uma Contribuição para o Desenvol-
vimento de uma Teoria do Design. In: Anais do P&D Estudos em Design, v. 1, Rio de
Janeiro, Teoria & Design Aend-BR, 1996, pp.27-41.
COUTO, R M. Contribuição para um Design Interdisciplinar. In: Estudos em Design, n. 1,
v. 7, Rio de Janeiro: AEND, 1999, pp. 79-90.
COUTO, R. M.; OLIVEIRA, A. J. Formas do Design. Rio de Janeiro: 2AB, 1999.
DORFLES, G. As Oscilações do Gosto. Lisboa: Horizonte, 1989.
______. O Desenho Industrial. História da Arte, Tomo 10. São Paulo: Salvat Editora, 1978,
pp. 101 -127.
ESCOREL, A. L. O Efeito Multiplicador do Design. São Paulo: Senac, 2000.
FARIAS, A. Design é Arte? In: Revista da ADG, n. 18, São Paulo: ADG, 1999, pp. 25-29.
FLUSSER, V. The Shape of Things: A Philosophy of Design. Londres, Reaktion Books,
1999.
LIPOVETSKY, G. Os Tempos Hipermodernos. São Paulo: Barcarolla, 2005.

177
LEITURA
COMPLEMENTAR

MALDONADO, T. El Diseño Industrial Reconsiderado. México: Gustavo Gili, 1993.


MOURA, M. Design, Arte e Tecnologia. Mario Santiago. Disponível em:
<http://www.mariosantiago.net/Textos%20em%20PDF/Design%20e%20é%20arte.
pdf>. Acesso em: 30 dez. 2015.
MUNARI, B. A Arte como Ofício. Lisboa: Editorial Presença, 1993.
______. Das Coisas Nascem as Coisas. São Paulo: Martins Fontes, 1998.
______. Design e Comunicação Visual. São Paulo: Martins Fontes, 1999.
PEVSNER, N. Os Pioneiros Do Desenho Moderno – De Williams Morris a Walter Gro-
pius. 2. Ed. São Paulo: Martins Fontes,1994.
VILLAS-BOAS, A. O Que é e o Que Nunca foi Design Gráfico. Rio de Janeiro: 2AB, 1998.
______. Utopia e Disciplina. Rio de Janeiro: 2AB, 1998.
WOLLNER, A. A Emergência do Design Visual. In: AMARAL, A. (org). Arte Construtiva no
Brasil. São Paulo: Melhoramentos e DBA Artes Gráficas, 1998, pp. 223-259.
______. Fundamentos de uma Teoria Transdisciplinar do Design: morfologia dos objetos
de uso e sistemas de comunicação In: Estudos em Design, n. 2, v. 5, Rio de Janeiro,
Aend-BR, 1997, pp. 27-41.
______. Textos Recentes e Escritos Históricos. São Paulo: Ed Rosari, 2002.

178
DESIGN

O que é Design Gráfico


Quentin Newark
Editora: Bookman
Sinopse: o livro está dividido em três partes: Questões, Anatomia
e Portfólios e discute todos os aspectos relevantes do design gráfi-
co. A evolução do design ao longo dos séculos, o dilema do artista
versus o designer gráfico, os elementos que compõem a disciplina,
como a tipografia, a imagem e o texto são aspectos abordados nes-
sa obra, ideal para iniciantes na área. O Que é Design Gráfico? é totalmente colorido e ilus-
trado com exemplos de projetos contemporâneos de agências e profissionais conceituados.

O que é Design de Interiores?


Graeme Brooker e Sally Stone
Editora: Senac São Paulo
Sinopse: o design de interiores pode ser definido como a arte de
planejar e arranjar ambientes segundo padrões de funcionalidade
e estética. A pergunta que dá nome à obra, O que é design de inte-
riores? é respondida ao longo desse manual completo sobre a pro-
fissão. No primeiro momento, aborda-se a história do design de in-
teriores como campo profissional, bem como as teorias intrínsecas
à prática e às questões contemporâneas relativas ao ofício, como
a restauração, a conservação e a sustentabilidade. O designer de
interiores pode projetar residências, salas comerciais, lojas ou espaços em locais públicos,
usando estratégias e táticas próprias da profissão, e trabalha com itens relativos ao mobi-
liário, à iluminação, aos objetos, às superfícies e aos revestimentos, assuntos amplamente
explorados nesse livro. E, para ilustrar toda a teoria, o livro traz ‘Portfólios’ contendo projetos
dos designers mais aclamados mundialmente e uma gama de trabalhos desenvolvidos por
empresas de design de interiores de todos os tamanhos e áreas de atuação, acompanhada
de belas fotografias.

179
HISTÓRIA DA ARTE E DO DESIGN

O que é Design de Moda?


Gurmit Matharu
Editora: Bookman
Sinopse: dividido em três partes, O que é Design de Moda? exami-
na os aspectos fundamentais da indústria da moda. Começando
com um apanhado histórico, “Questões”, discute a transformação
da moda em um dos maiores negócios do mundo e analisa sua
relação com a mídia e a cultura das celebridades. Também aborda
questões éticas, como o uso de peles e o impacto ambiental e humano do movimento fast
fashion. “Anatomia” examina os diferentes setores da indústria e os eventos mais importan-
tes do calendário da moda. Em seguida, decompõe todo o processo de design, do esboço
inicial ao lançamento da coleção e dá dicas práticas para quem busca uma carreira na moda.
“Portfólios” apresenta o perfil de alguns dos maiores designers de moda do mundo, de-
monstrando a diversidade dentro da indústria por meio da análise de trabalhos e de belas
fotografias de coleções.

Inspirado nos figurinos de filmes famosos de Hollywood, o portal M de Mulher resolveu recriar
a história da moda por meio do cinema. O resultado é uma lista de 10 filmes super bacanas que
retratam a cena cultural de cada geração, começando pelo século XX até os dias atuais.
Disponível em: <https://www.silviadoring.com.br/a-historia-da-moda-atraves-do-cinema/>. Aces-
so em: 30 dez. 2015.

Conheça um pouco do trabalho do escritório Liquens, que trabalha com conceito, arquitetura
e design, principalmente os projetos efêmeros.
Disponível em: <http://www.liquens.com.br>. Acesso em: 30 dez. 2015.

Conheca um site sobre Design de embalagens muito criativo para você se inspirar e conhecer.
Disponível em: <http://www.thedieline.com>. Acesso em: 30 dez.2015.

Você pode conhecer um pouco mais sobre intervenções urbanas no documentário feito pelo
canal Futura, com o título “Intervenções artísticas urbanas” no canal do Youtube.
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=WcPDyajKnok>. Acesso em: 30 dez. 2015.

180
referências

BROOKE, G.; STONE, S. O que é design de interiores? São Paulo: Senac, 2014.
CARDOSO, R. Uma introdução à história do design. São Paulo: Edgard Blücher,
2004.
CIDREIRA, R. P. Os sentidos da moda: vestuário, comunicação e cultura. São Paulo:
Annablume, 2005.
GOMES FILHO, J. Design do objeto – bases conceituais. São Paulo: Escrituras, 2006.
MATHARU, G. O que é design de moda? Porto Alegre: Bookman, 2011.
NEWARK, Q.; FURMANKIEWICZ, E. O que é design gráfico. Porto Alegre:
Bookman, 2009.
PALOMINO, É. A moda. São Paulo: Publifolha, 2003. (Folha Explica).

REFERÊNCIAS ON-LINE
1
Em: <http://meiguiceaparte.com/faculdade-de-moda-mercado-de-trabalho-em-
-quais-areas-posso-atuar/>.
2
Em: <https://i.pinimg.com/originals/db/39/9d/db399d685100a-
41849246ab0e9881841.jpg>. Acesso em: 27 set. 2017.
3
Em: <https://papodehomem.com.br/25-intervencoes-urbanas-de-cair-o-queixo/>.
Acesso em: 27 set. 2017.

181
HISTÓRIA DA ARTE E DO DESIGN

conclusão geral

Prezado(a) aluno(a) do curso de Tecnologia em De- Você, como um(a) profissional do Designer, seja
sign, estamos finalizando o livro de História da Arte de Moda ou de Design de Interiores, deverá carregar
e do Design e estamos felizes que você chegou ao fim consigo o conceito de sua profissão, o que ela signi-
desta etapa. Esperamos que a análise da evolução fica e como atua em nossa sociedade, principalmen-
histórica do ser humano e as manifestações artísti- te porque aqueles que não estão inseridos em nosso
ca vivenciadas, sofridas e manifestadas por ele sirva meio profissional confundem muito sobre o real sig-
para que você entenda a essência criativa do ser hu- nificado do Design, sabendo também dos principais
mano e como isso se manifestará na própria realiza- movimentos do Design, de como ele se comportou
ção do seu trabalho. pelos diversos países e também aqui no Brasil. Não
Que você carregue consigo um pouco da história se esqueça de que essa história sempre irá influenciar
dessas manifestações artísticas, das suas caracterís- características, movimentos, conceitos e tudo o que
ticas, dos autores que contribuíram para evolução e permeia o Design.
transformação desses movimentos e das influências Esteja sempre atento às opções e novidades de
trazidas para nosso mundo e para a sociedade até atuação, aos ramos de trabalho e como você poderá
aqui. Que o conceito sobre arte e design estejam in- aperfeiçoar sua profissão e seu conhecimento, para
trínsecos em sua mente, para exercer suas habilida- que o Design influencie sempre, da melhor forma
des com mais excelência. possível, o mundo em que vivemos.
Lembre-se do conteúdo da história antiga, de Desejamos que você, caro(a) aluno(a), tenha
suas expressões e reflexões entre os povos, quais aprendido com este livro e que ele seja uma ponte
eram as formas de expressão artística, a influência para o sucesso em sua carreira, pois acreditamos que
na arquitetura, na burguesia e na sociedade. É im- os conteúdos aqui apresentados farão parte do seu
portante saber que as questões sociais serão sempre processo de conhecimento e dos passos para uma ex-
um dos principais motivos dessas transformações e celente profissão. Parabéns!
evoluções.

182

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