Você está na página 1de 43

PROFESSORES CARLOS ALFAMA E PAULO IGOR

DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS

DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS – PARTE V

9) TRIBUNAL DO JÚRI
XXXVIII - é reconhecida a instituição do júri, com a organização que
lhe der a lei, assegurados:
a) a plenitude de defesa;
b) o sigilo das votações;
c) a soberania dos veredictos;
d) a competência para o julgamento dos crimes dolosos contra
a vida;

COMPETÊNCIA DO TRIBUNAL DO JÚRI

Julga os crimes dolosos contra a vida (homicídio, participação em


suicídio, infanticídio ou aborto) e os crimes conexos.

CUIDADO! O crime de genocídio não é de competência do tribunal


do júri, salvo se houver conexão ou continência com crime doloso
contra a vida.

SOBERANIA E IMUTABILIDADE DO VEREDITO

O veredito dos jurados é soberano, mas não é imutável. Ou


seja, uma decisão proferida pelo júri pode ser alterada, porém
JAMAIS em sede de apelação pelo tribunal. A mudança será possível
por intermédio de um novo júri (ou seja, nova submissão aos
jurados).

Em recurso de apelação contra a decisão dos jurados não é


possível pedir a absolvição do réu, mas sim que o réu seja submetido
a novo júri.

CUIDADO! Se o réu for condenado por homicídio simples e


somente a defesa recorrer, será possível nova condenação, dessa
vez por homicídio qualificado, entretanto aplicando-se as penas do
homicídio simples.

Isso porque o novo julgamento não pode ter pena maior do que
a do primeiro julgamento se o recurso tiver sido exclusivo da defesa
(vedação a reformatio in pejus). É possível a capitulação de crime
mais grave no novo júri, mas a pena aplicada não pode ser maior.
1
Professores Carlos Alfama e Paulo Igor – ZERO UM CONSULTORIA
PROFESSORES CARLOS ALFAMA E PAULO IGOR
DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS

REVISÃO CRIMINAL

Revisão criminal é a nova discussão de um processo já


transitado em julgado. É cabível a revisão criminal em razão de
condenação por tribunal do júri.

CUIDADO! O pedido da revisão criminal pode ser a inversão do


decidido, ou seja, não é necessário submeter o réu a novo júri.
O próprio tribunal pode alterar a decisão proferida pelo júri em sede
de revisão criminal.

PLENITUDE DE DEFESA

Qual a diferença entre a plenitude de defesa e a ampla defesa?

No Tribunal do Júri, o advogado não precisa se limitar a uma


atuação exclusivamente técnica, sendo possível a utilização de
argumentação extrajurídica (ex. razões de ordem social, emocional,
de política criminal...).

Ao juiz presidente incumbe fiscalizar a plenitude da defesa


técnica, devendo declarar o acusado indefeso se a atuação do
advogado estiver prejudicando o acusado.

Sistemas de quesitação

Sistema norte-americano: apenas um quesito:


condenado ou não condenado.

Sistema francês: vários quesitos devem ser formulados


aos jurados.

O Brasil adota o sistema francês, porém com um quesito


genérico que sempre deve ser feito aos jurados, qual seja o quesito
da absolvição: Os jurados absolvem o acusado?

Quesito genérico de absolvição


O quesito genérico de absolvição é obrigatório em todo caso,
ainda que todas as teses da defesa tenham sido afastadas.

2
Professores Carlos Alfama e Paulo Igor – ZERO UM CONSULTORIA
PROFESSORES CARLOS ALFAMA E PAULO IGOR
DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS

Excesso de linguagem na pronúncia


O juiz, na decisão de pronúncia, não pode dar juízo de certeza
sobre a materialidade e a autoria. Caso o faça, haverá um excesso de
linguagem na pronúncia. Excesso de linguagem, portanto, é a
exagerada incursão do juiz sobre as provas dos autos, capaz de
influir no ânimo do conselho de sentença.
O excesso de linguagem é proibido porque o CPP afirma que os
jurados irão receber uma cópia da sentença de pronúncia e das
decisões posteriores que julgaram admissível a acusação e do
relatório do processo (art. 472, parágrafo único). Assim, se o juiz se
excede nos argumentos empregados na sentença de pronúncia, o
jurado irá ler essa decisão e certamente será influenciado pela
opinião do magistrado.
Havendo excesso de linguagem, o que o Tribunal deve
fazer? Deverá ANULAR a sentença de pronúncia e os consecutivos
atos processuais, determinando-se que outra seja prolatada.
Em vez de anular, o Tribunal pode apenas determinar
que a sentença seja desentranhada (retirada do processo) ou
seja envelopada (isolada)? NÃO. Não basta o desentranhamento e
envelopamento. É necessário anular a sentença e determinar que
outra seja prolatada. Isso porque, como já dito acima, a lei determina
que a sentença de pronúncia seja distribuída aos jurados. Logo, não
há como desentranhar a decisão, já que uma cópia dela deverá ser
entregue aos jurados. Se essa cópia não for entregue, estará sendo
descumprido o art. 472, parágrafo único, do CPP. STJ. 6ª Turma.
AgRg no REsp 1.442.002-AL, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado
em 28/4/2015 (Info 561).

3
Professores Carlos Alfama e Paulo Igor – ZERO UM CONSULTORIA
PROFESSORES CARLOS ALFAMA E PAULO IGOR
DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS

10) EXTRADIÇÃO
LI - nenhum brasileiro será extraditado, salvo o naturalizado, em caso de
crime comum, praticado antes da naturalização, ou de comprovado
envolvimento em tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, na forma da
lei;

EXTRADIÇÃO: A extradição é a medida de cooperação


internacional entre o Estado brasileiro e outro Estado pela qual se
concede ou solicita a entrega de pessoa sobre quem recaia
condenação criminal definitiva ou para fins de instrução de processo
penal em curso (art. 81 do Estatuto do Migrante – Lei nº 13.445/17)
Importante notar que a Constituição veda a extradição do
brasileiro nato, somente admitindo a extradição do brasileiro
naturalizado e do estrangeiro.
No caso de brasileiro naturalizado, é cabível quando praticar
crime comum antes da naturalização ou em caso de tráfico ilícito de
entorpecentes e drogas afins, no caso de comprovado envolvimento,
não importando o momento da prática do crime.

CUIDADO! É possível que o brasileiro nato perca a nacionalidade


brasileira, quando adquirir outra nacionalidade por naturalização
voluntária (art. 12 da CF/88). Nesse caso, será possível a extradição
do indivíduo. O reconhecimento da perda da nacionalidade pelo
Judiciário nesse caso terá natureza declaratória (reconhece e declara
uma situação de fato já consolidada). Nesse sentido, o STF na
Extradição 1.462.

Vale lembrar que o estrangeiro não poderá ser extraditado em


caso de crime político ou de opinião (art. 5º, inc. LII, CF).

EXPULSÃO: A expulsão é medida administrativa, prevista no


Estatuto do Migrante, que consiste na retirada compulsória de
migrante ou visitante do território nacional, conjugada com o
impedimento de reingresso por prazo determinado (depende do
trânsito em julgado de sentença judicial).

4
Professores Carlos Alfama e Paulo Igor – ZERO UM CONSULTORIA
PROFESSORES CARLOS ALFAMA E PAULO IGOR
DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS

Poderá dar causa à expulsão a condenação com sentença


transitada em julgado relativa à prática de:

I - crime de genocídio, crime contra a humanidade,


crime de guerra ou crime de agressão, nos termos definidos
pelo Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional, de
1998, promulgado pelo Decreto no 4.388, de 25 de
setembro de 2002; ou
II - crime comum doloso passível de pena privativa de
liberdade, consideradas a gravidade e as possibilidades de
ressocialização em território nacional.

DEPORTAÇÃO: A deportação é medida decorrente de


procedimento administrativo que consiste na retirada compulsória de
pessoa que se encontre em situação migratória irregular em território
nacional.

BANIMENTO: Consiste no envio compulsório do brasileiro ao


estrangeiro. É medida vedada pela CF (art. 5º, XLVIII).

11) DIREITO ADQUIRIDO, ATO JURÍDICO PERFEITO E


COISA JULGADA
XXXVI - a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico
perfeito e a coisa julgada;

Como regra, conferindo estabilidade às relações jurídicas, o


constituinte originário dispôs que a lei não prejudicará o direito
adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada.
 DIREITO ADQUIRIDO: é o direito que o seu titular, ou
alguém por ele, possa exercer, como aquele cujo começo
do exercício tenha termo prefixo, ou condição
preestabelecida inalterável, a arbítrio de outrem.

 ATO JURÍDICO PERFEITO: É o ato já consumado


segundo a lei vigente ao tempo em que se efetuou.

5
Professores Carlos Alfama e Paulo Igor – ZERO UM CONSULTORIA
PROFESSORES CARLOS ALFAMA E PAULO IGOR
DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS

 COISA JULGADA: é a decisão judicial de que não caiba


mais recurso.
Algumas informações são importantes.
Não se pode invocar direito adquirido em face à nova
Constituição (poder constituinte originário). No entanto, em se
tratando de manifestação do poder constituinte reformador, entende-
se que os direitos adquiridos devem ser preservados.
Não se pode invocar direito adquirido em face de novo regime
jurídico administrativo instituído por lei para os funcionários públicos.
Coisa soberanamente julgada: Há coisa julgada quando a
decisão judicial se torna irrecorrível. No entanto, pelo prazo de 2 anos
caberá a denominada ação rescisória. Depois de esgotado o prazo da
ação rescisória, forma-se a denominada coisa soberanamente
julgada.
É possível a relativização da coisa soberanamente
julgada? Sim, de forma excepcional, por exemplo em uma ação de
reconhecimento de paternidade realizada antes da existência do
exame de DNA. O STF fundamentou a decisão no princípio da
busca da identidade genética (direito que toda pessoa tem de
conhecer as suas origens) – RE 363.889.

6
Professores Carlos Alfama e Paulo Igor – ZERO UM CONSULTORIA
PROFESSORES CARLOS ALFAMA E PAULO IGOR
DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS

12) INAFASTABILIDADE DE JURISDIÇÃO


XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou
ameaça a direito;

Trata-se do princípio da inafastabilidade da jurisdição, que, em


síntese, de um lado, outorga ao Poder Judiciário o monopólio da
jurisdição definitiva e, de outro, cria o direito de ação, ou seja, o
direito de provocação do judiciário em face de lesão ou ameaça a
direito.
Em relação ao princípio, importante constar que, pelo menos via de
regra, o acesso ao Poder Judiciário não depende de prévio
esgotamento das vias administrativas.
Exceções:
 Justiça Desportiva;
 O Habeas Data (exige prova da recusa de informações pela
autoridade);
 Reclamação ao STF por descumprimento de súmula
vinculante (exige-se o esgotamento da via administrativa).
No que diz respeito às ações judiciais que postulam concessão de
benefício previdenciário, o STF (RE 631.240) firmou entendimento no
sentido de que:
 A concessão de benefícios previdenciários depende de
requerimento do interessado, não se caracterizando ameaça ou
lesão a direito antes de sua apreciação e indeferimento pelo
INSS, ou se excedido o prazo legal para sua análise.

 No entanto, a exigência do prévio requerimento administrativo


não deve prevalecer quando o entendimento da Administração
for notório e reiteradamente contrário à postulação do
segurado, bem como nas hipóteses de revisão,
restabelecimento ou manutenção de benefício anteriormente
concedido, considerando que o INSS tem o dever legal de
conceder a prestação mais vantajosa possível.

7
Professores Carlos Alfama e Paulo Igor – ZERO UM CONSULTORIA
PROFESSORES CARLOS ALFAMA E PAULO IGOR
DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS

# A ELEIÇÃO PELAS PARTES DE JUÍZO ARBITRAL PARA


SOLUÇÃO DE CONFLITOS VIOLA O PRINCÍPIO DA
INAFASTABILIDADE DE JURISDIÇÃO?
Não! A opção de pessoas capazes por submeterem seus conflitos a
juízo arbitral não configura renúncia ao direito de ação, mas apenas a
escolha por se submeterem à jurisdição privada.
Além disso, a Lei nº 9.307/96 admite que seja declarada a nulidade
de sentença arbitral por decisão do Judiciário, nos casos previstos em
lei.
Obs.: A administração pública direta e indireta pode utilizar-se da
arbitragem para dirimir conflitos relativos a direitos patrimoniais
disponíveis.
13) DIREITO DE CERTIDÃO E DIREITO DE PETIÇÃO
XXXIV - são a todos assegurados, independentemente do
pagamento de taxas:
a) o direito de petição aos Poderes Públicos em defesa de
direitos ou contra ilegalidade ou abuso de poder;
b) a obtenção de certidões em repartições públicas, para
defesa de direitos e esclarecimento de situações de interesse pessoal;

Qual o remédio constitucional cabível em caso de


indeferimento injustificado na expedição de certidão com
informação de caráter pessoal?
Cabe o Mandado de Segurança! O indeferimento injustificado no
fornecimento de CERTIDÃO viola direito líquido e certo do indivíduo,
sendo cabível, portanto, o Mandado de Segurança.
Cabe Habeas Data para assegurar o conhecimento de
informações relativas à pessoa do impetrante, constantes de registros
ou bancos de dados de entidades governamentais ou de caráter
público e para a retificação de dados, quando não se prefira fazê-lo
por processo sigiloso, judicial ou administrativo.

8
Professores Carlos Alfama e Paulo Igor – ZERO UM CONSULTORIA
PROFESSORES CARLOS ALFAMA E PAULO IGOR
DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS

14) PRINCÍPIO DO JUIZ NATURAL


XXXVII - não haverá juízo ou tribunal de exceção;
LIII - ninguém será processado nem sentenciado senão pela
autoridade competente;

Consiste no direito de todo cidadão de conhecer previamente


qual a autoridade jurisdicional irá julgá-lo caso venha a praticar uma
infração penal.
O princípio do juiz natural busca assegurar a imparcialidade
do magistrado.
A) PREVISÃO LEGAL

 CF/88, art. 5º, LIII: “Ninguém será processado nem


sentenciado senão pela autoridade competente”.

 CF/88, art. 5º, XXXVII: “Não haverá juízo ou tribunal de


exceção”.

# O que é um juízo ou tribunal de exceção?


Tribunal de exceção é o órgão jurisdicional criado após a prática
do fato delituoso, especificamente para julgá-lo. Exemplo: Os
tribunais de Nuremberg (criados após a segunda guerra para julgar
os crimes nela ocorridos).

# A justiça especializada não configura violação ao princípio


do juiz natural, pois como não são criadas após o fato
especialmente para julgá-lo e possuem competência determinada por
normas gerais e abstratas não configuram juízos de exceção.

# O foro por prerrogativa de função não constitui juízo ou


tribunal de exceção. Se de um lado, o foro por prerrogativa de
função protege a função pública exercida de perseguições indevidas,
de outro também protege os julgadores de eventuais pressões que,
mais facilmente, poderiam ser exercidas sobre órgãos jurisdicionais
de primeiro grau. Trata-se, ao mesmo tempo, de garantia para o
acusado e de garantia para justiça.
9
Professores Carlos Alfama e Paulo Igor – ZERO UM CONSULTORIA
PROFESSORES CARLOS ALFAMA E PAULO IGOR
DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS

# Características dos tribunais de exceção:

 São criados “post factum”, fora das estruturas normais do


Poder Judiciário, com poderes específicos para julgar um caso
já ocorrido;

 Atribuição de sua competência com base em fatores específicos


e, normalmente, segundo critérios discriminatórios (raça,
religião, ideologia, etc.);

 Duração limitada no tempo;

 Procedimento célere e, normalmente, não sujeito a recurso;

 Escolha dos integrantes sem observância dos critérios gerais


para investidura dos magistrados e sem assegurar-lhes a
necessária independência.

Também é tribunal de exceção aquele criado “ad personam”,


isto é, com vistas ao julgamento específico de uma determinada
pessoa ou grupo de pessoas, mesmo que para fatos futuros.
B) REGRAS DE PROTEÇÃO DERIVADAS DO PRINCÍPIO DO
JUIZ NATURAL

i. Só pode exercer jurisdição os órgãos instituídos pela


Constituição.

ii. Ninguém pode ser julgado por órgão instituído após o fato.

iii. Entre os juízos pré-constituídos deve ser observado um rol


taxativo de competências. Não se admite discricionariedade
na escolha do juiz.

10
Professores Carlos Alfama e Paulo Igor – ZERO UM CONSULTORIA
PROFESSORES CARLOS ALFAMA E PAULO IGOR
DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS

# LEI POSTERIOR QUE ALTERA REGRAS DE


COMPETÊNCIA E SUA APLICAÇÃO AOS PROCESSOS EM
ANDAMENTO
O art. 2º do CPP determina que “A lei processual penal
aplicar-se-á desde logo, sem prejuízo da validade dos atos praticados
sob a vigência da lei anterior”. Trata-se do princípio da
imediatidade (ou tempus regit actum).
Assim, em regra, a lei que altera as regras de competência se
aplica imediatamente aos processos em andamento (STF, 2ª Turma,
HC 76.510/SP).
Exceção fica por conta dos processos em que já houver
sentença analisando o mérito, hipótese em que o processo
permanece no órgão jurisdicional em que tramita, salvo se tiver sido
suprimido (STF, HC 70.810).

EXEMPLO: Tráfico internacional de drogas praticado em


município que não seja sede de vara federal.

 Até 2006, o julgamento se daria pela Justiça Estadual com


recurso para o respectivo TRF (Lei nº 6.368/76, art. 27).

 Em 2006 (Lei nº 11.343/06), a competência passou a ser da


Vara Federal da circunscrição respectiva.

Na data de vigência dessa mudança, todos os processos que


ainda não tinha tido sentença com julgamento de mérito que
tramitavam na Justiça Estadual foram remetidos para a Vara Federal
da circunscrição respectiva.
# CONVOCAÇÃO DE JUÍZES DE 1º GRAU PARA
SUBSTITUIÇÃO DE DESEMBARGADORES

PREVISÃO LEGAL: O art. 118 da Lei Complementar nº


35/79 (Lei Orgânica da Magistratura) prevê a possibilidade de

11
Professores Carlos Alfama e Paulo Igor – ZERO UM CONSULTORIA
PROFESSORES CARLOS ALFAMA E PAULO IGOR
DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS

substituição de Desembargadores por juízes de 1º grau em certos


casos (afastamentos prolongados e vaga).

CRITÉRIO PARA CONVOCAÇÃO: Não se admite que o juiz a


ser convocado seja designado por um dos desembargadores, nem
mesmo pelo Presidente do Tribunal. A convocação deve ser feita por
votação da maioria absoluta dos Desembargadores.

JURISPRUDÊNCIA: É perfeitamente possível o julgamento de


turma de Tribunal formada por maioria de juízes convocados, desde
que a convocação tenha respeitado os critérios legais (HC 96.821,
STF).

JUIZ CONVOCADO PARA SUBSTITUIR DESEMBARGADOR


TEM FORO POR PRERROGATIVA DE FUNÇÃO NO STJ? Não! O
juiz convocado não passa a ser Desembargador, logo continua tendo
foro no Tribunal de 2ª Instância.

15) DEVIDO PROCESSO LEGAL


LIV - ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o
devido processo legal;

CONTEÚDO: A pretensão punitiva deve perfazer-se dentro de um


procedimento regular previsto em lei, perante autoridade
competente, tendo por alicerce provas validamente colhidas,
respeitando-se o contraditório e a ampla defesa.

# PERSPECTIVAS: O devido processo legal deve ser analisado sob


duas perspectivas.

 Processual: O devido processo legal assegura a tutela aos


bens jurídicos por meio da observância do procedimento legal
previsto em lei (procedural due process of law).

12
Professores Carlos Alfama e Paulo Igor – ZERO UM CONSULTORIA
PROFESSORES CARLOS ALFAMA E PAULO IGOR
DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS

 Material (substancial): O princípio do devido processo legal


determina que na elaboração normativa deve-se prever um
procedimento que garanta o exercício dos direitos
constitucionais do acusado (substantive due process of
law).
PRINCÍPIO DA PROPORCIONALIDADE

Apesar de o princípio da proporcionalidade não ter previsão


expressa na Constituição Federal de 1988, decorre do princípio do
devido processo legal (art. 5º, LIV), em sua acepção material.
A doutrina tradicional estuda a PROPORCIONALIDADE
subdividindo-a em três subprincípios:

 Adequação: O meio empregado na atuação deve ser


compatível com o fim colimado. A medida deve ser apta a
atingir o objetivo.

 Necessidade/exigibilidade: A conduta deve ter-se por


necessária, não havendo outro meio menos gravoso ou oneroso
para alcançar o fim público, ou seja, o meio escolhido é o que
causa o menor prejuízo possível para os indivíduos. O princípio
da necessidade analisa se não há outro meio menos gravoso
para o indivíduo, mas que seja capaz de atingir o mesmo
resultado.

 Proporcionalidade em sentido estrito (razoabilidade): as


vantagens a serem conquistadas devem superar as
desvantagens. Corresponde à lei da ponderação: quanto
maior for a intervenção em um determinado direito, maiores
hão de ser os motivos que justifiquem esta intervenção. Pelo
princípio da proporcionalidade em sentido estrito deve haver
ponderação entre a intensidade da medida aplicada e os
fundamentos jurídicos que a justificam.

Surgem desse último subprincípio dois desdobramentos: a


PROIBIÇÃO DO EXCESSO e a VEDAÇÃO À PROTEÇÃO
DEFICIENTE.

13
Professores Carlos Alfama e Paulo Igor – ZERO UM CONSULTORIA
PROFESSORES CARLOS ALFAMA E PAULO IGOR
DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS

O Estado, ao aplicar o Direito a um fato, não pode agir de


forma excessiva (sob pena de infringir direitos e garantias
fundamentais do acusado) e nem deficitária (sob pena de se
fomentar a impunidade). Frise-se, no entanto, que a aplicação do
princípio da proibição da vedação deficiente no Direito Penal não pode
resultar em violação ao princípio da legalidade.

DIFERENÇA ENTRE PROPORCIONALIDADE E RAZOABILIDADE:


Ambos são princípios destinados à ponderação entre duas
situações (conflito entre direitos). Vejamos as diferenças apontadas
pela doutrina:

Origem: A proporcionalidade tem origem no direito alemão. A


razoabilidade tem origem no direito norte americano.

Estrutura: Na proporcionalidade há parâmetros claros para se


trabalhar o princípio no caso em concreto (com o desenvolvimento
dos três elementos). Na razoabilidade aplica-se uma noção mais vaga
do que seria racional ou equilibrado em determinada circunstância.

Abrangência: A proporcionalidade tem um campo de atuação


maior do que a razoabilidade: trata-se de um parâmetro para se
aferir a adequação e necessidade de uma determinada medida. A
razoabilidade tem como objetivo impedir a prática de atos que fogem
a razão e ao equilíbrio do pensamento comum.

14
Professores Carlos Alfama e Paulo Igor – ZERO UM CONSULTORIA
PROFESSORES CARLOS ALFAMA E PAULO IGOR
DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS

16) CONTRADITÓRIO E AMPLA DEFESA


LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos
acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa,
com os meios e recursos a ela inerentes;

A) PRINCÍPIO DO CONTRADITÓRIO
SINÔNIMO: Princípio da bilateralidade da audiência, audiência
bilateral ou “audiatur et altera pars” (seja ouvida também a parte
adversa).

CONTEÚDO: Traduz-se no binômio “ciência e participação”. O


princípio do contraditório impõe que às partes deve ser dado o
conhecimento dos atos e termos do processo bem como a
possibilidade de influir na formação do convencimento do juiz,
oportunizando-se a participação e manifestação sobre os atos que
constituem a evolução processual.

ELEMENTOS DO CONTRADITÓRIO:
1. Direito à informação;
2. Direito de participação.

DESTINATÁRIO DO DIREITO AO CONTRADITÓRIO: Ambas as


partes têm direito ao contraditório.

CLASSIFICAÇÃO DOUTRINÁRIA DO CONTRADITÓRIO:

 CONTRADITÓRIO PARA A PROVA (CONTRADITÓRIO REAL):


é a atuação das partes de forma contemporânea à produção da
prova. Pressupõe a cientificação prévia das partes de forma a
possibilitar a participação ampla na produção da prova. O
CONTRADITÓRIO REAL É A REGRA!

15
Professores Carlos Alfama e Paulo Igor – ZERO UM CONSULTORIA
PROFESSORES CARLOS ALFAMA E PAULO IGOR
DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS

 CONTRADITÓRIO SOBRE A PROVA (Contraditório Diferido


Ou Postergado): é a atuação das partes em momento posterior a
produção da prova. Após a produção da prova as partes são
cientificadas para se manifestarem sobre ela. É EXCEPCIONAL!

DOUTRINA MODERNA SOBRE O CONTRADITÓRIO: Trabalha-se


com a ideia do contraditório efetivo e equilibrado. Houve uma
mudança objetiva e uma mudança subjetiva. A mudança objetiva diz
respeito à necessidade de reação das partes (não mais possibilidade
de reação). Trata-se da paridade de armas. A mudança subjetiva
diz respeito ao dever do juiz de zelar pela paridade de armas na
ação penal.

B) PRINCÍPIO DA AMPLA DEFESA

ABRANGÊNCIA: O princípio da ampla defesa abrange a:

I - DEFESA TÉCNICA (defesa processual ou específica):


Realizada por profissional habilitado em benefício do acusado. É
obrigatória na ação penal. É IRRENUNCIÁVEL!

o Súmula nº 523, STF: No processo penal, a falta da


defesa constitui nulidade absoluta, mas a sua deficiência
só o anulará se houver prova de prejuízo para o réu.
ATENÇÃO! O Direito de nomear o advogado é do acusado. Diante da
renúncia do defensor constituído, não cabe ao juiz a nomeação de
defensor dativo antes da intimação do acusado para constituir outro.
o Súmula nº 708, STF: É nulo o julgamento da apelação se,
após a manifestação nos autos da renúncia do único
defensor, o réu não foi previamente intimado para constituir
outro.

o Súmula nº 707, STF: Constitui nulidade a falta de


intimação do denunciado para oferecer contra-razões ao
recurso interposto da rejeição da denúncia, não a suprindo a
nomeação de defensor dativo.

16
Professores Carlos Alfama e Paulo Igor – ZERO UM CONSULTORIA
PROFESSORES CARLOS ALFAMA E PAULO IGOR
DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS

O ACUSADO PODE EXERCER A SUA PRÓPRIA DEFESA


TÉCNICA? Poderá apenas se for advogado legalmente habilitado na
Ordem dos Advogados do Brasil (STF, HC 76.671/RJ).

PATROCÍNIO DA DEFESA TÉCNICA DE MAIS DE UM ACUSADO


PELO MESMO DEFENSOR: É possível, desde que não haja colisão de
teses individuais (HC 86.392/PA, STJ).

II – AUTODEFESA (Defesa material ou genérica): É


realizada pelo próprio acusado.
Em relação à autodefesa, importante saber que o acusado pode
optar pelo seu não exercício.
Abrange dois direitos:
o Direito de audiência: Deve-se assegurar ao acusado a
possibilidade de se defender por ocasião do interrogatório.

o Direito de presença: Deve-se dar possibilidade de o


acusado estar presente no momento da produção das provas
para que possa se manifestar sobre elas, inclusive tomando
posição sobre elas no momento de sua produção.

ATENÇÃO! O direito de presença possui natureza relativa. Se a


presença do acusado causar humilhação, temor ou constrangimento à
testemunha ou ao ofendido, de modo que prejudique a verdade do
depoimento, fará a inquirição por videoconferência e, somente na
impossibilidade dessa forma, determinará a retirada do réu,
prosseguindo na inquirição, com a presença de seu defensor (art. 217
do CPP).

17
Professores Carlos Alfama e Paulo Igor – ZERO UM CONSULTORIA
PROFESSORES CARLOS ALFAMA E PAULO IGOR
DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS

DESLOCAMENTO DE ACUSADO PRESO PARA OITIVA DE


TESTEMUNHAS PERANTE O JUÍZO DEPRECADO: O direito de
presença se estende ao acusado preso. O não deslocamento do preso
para a audiência de oitiva de testemunhas, no entanto, é causa de
nulidade relativa. Deve ser alegada na própria audiência (sob pena
de preclusão) e só anula o ato se causar prejuízo (STF, HC
100.382/PR).
CAPACIDADE POSTULATÓRIA AUTÔNOMA DO ACUSADO: O
acusado, ainda que não seja profissional da advocacia legalmente
habilitado na OAB, poderá:
 Interpor recurso;
 Provocar incidentes da execução penal (progressão de regime,
livramento condicional, etc).
 Impetrar Habeas Corpus.

AMPLA DEFESA NO PROCESSO ADMINISTRATIVO


DISCIPLINAR
Existe sim ampla defesa no âmbito do PAD. No entanto, não é
obrigatória a assistência de ampla defesa. Nesse sentido:

Súmula Vinculante nº 5: A falta de defesa técnica no processo


administrativo disciplinar não ofende a Constituição.

A Súmula nº 343 do STJ, que dizia que é obrigatória a


assistência de advogado em todas as fases do processo
administrativo disciplinar, de forma a assegurar a garantia
constitucional do contraditório está SUPERADA!

CUIDADO! A Súmula Vinculante nº 5 não é aplicável à execução


penal. Nesse sentido:

Súmula nº 533 do STJ: Para o reconhecimento da prática de falta


disciplinar no âmbito da execução penal, é imprescindível a
instauração de procedimento administrativo pelo diretor do
estabelecimento prisional, assegurado o direito de defesa, a ser
realizado por advogado constituído ou defensor público nomeado.”

18
Professores Carlos Alfama e Paulo Igor – ZERO UM CONSULTORIA
PROFESSORES CARLOS ALFAMA E PAULO IGOR
DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS

17) PROVAS ILÍCITAS


LVI - são inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por
meios ilícitos;

O estudo completo das provas ilícitas será feito na análise do


Direito Processual Penal.

# FINALIDADES DA VEDAÇÃO À PROVA ILÍCITA:

 Proteção dos direitos fundamentais.


 A vedação às provas ilícitas serve como fator de dissuasão à
adoção de práticas probatórias ilegais.

A) CONCEITO DE PROVAS ILÍCITAS


Provas ilícitas são aquelas obtidas por meio de violação a
normas constitucionais ou legais.

# AS PROVAS INOMINADAS SÃO ADMITIDAS NO DIREITO


PROCESSUAL PENAL BRASILEIRO?

Provas inominadas são aquelas não previstas em lei, como o


reconhecimento fotográfico de pessoas, por exemplo. Por não serem
regulamentadas em lei, podemos concluir que não são vedadas pelo
ordenamento jurídico, logo são provas lícitas e perfeitamente
admissíveis no processo.

# PROVAS ILÍCITAS X PROVAS ILEGÍTIMAS


A doutrina e a jurisprudência fazem distinção entre provas
ilícitas e ilegítimas.

Enquanto as primeiras violam normas de natureza material


(confissão mediante tortura, p. ex.) as últimas violam normas de
natureza processual (oitiva de testemunhas sem compromisso de
dizer a verdade, p. ex.).

19
Professores Carlos Alfama e Paulo Igor – ZERO UM CONSULTORIA
PROFESSORES CARLOS ALFAMA E PAULO IGOR
DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS

Parte minoritária da doutrina ainda aponta uma segunda


diferença: as provas ilícitas seriam extraprocessuais, ou seja,
produzidas em momento anterior ou concomitante ao processo, mas
em regra, produzidas fora dele. Já as provas ilegítimas seriam
produzidas dentro do processo (endoprocessuais).

A diferença tem importância prática em razão da consequência


de cada uma dessas espécies de ilegalidade. Enquanto as provas
ilícitas são sempre inadmissíveis, as provas ilegítimas são
sujeitas à teoria das nulidades, ou seja, para serem anuladas deve-se
demonstrar a ocorrência de prejuízo.

B) DESTINO DAS PROVAS ILÍCITAS


As provas ilícitas são inadmissíveis e devem ser
desentranhadas do processo (art. 157, CPP)! A determinação
consubstancia o denominado DIREITO DE EXCLUSÃO
(“exclusionary rules”).

Trata-se de limitação ao princípio da verdade real. Afinal,


mesmo que conduza à verdade dos fatos, a prova ilícita não pode
influir na formação da convicção do juiz.

Após o fim do prazo para recorrer da decisão de


desentranhamento, a prova declarada ilícita deve ser
inutilizada (§3°, do art. 157, CPP)!
Exceções (doutrina) - Não serão destruídas:
 Provas ilícitas que pertencerem licitamente a alguém serão
restituídas ao dono legítimo. Ex.: Computador apreendido em
busca domiciliar sem ordem judicial.
 Provas que forem lícitas em outro processo serão
encaminhadas ao processo a que pertencerem. Ex.: Mídia
digital contendo interceptação telefônica sem autorização, se
houver processo pelo crime decorrente da violação do sigilo
telefônico.

20
Professores Carlos Alfama e Paulo Igor – ZERO UM CONSULTORIA
PROFESSORES CARLOS ALFAMA E PAULO IGOR
DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS

C) RELATIVIZAÇÃO DA INADMISSIBILIDADE DAS PROVAS


ILÍCITAS
É importante saber que a jurisprudência não veda de forma
absoluta a utilização pelas partes de prova ilícita no Processo Penal.

A inadmissibilidade das provas ilícitas tem sido relativizada em


uma determinada hipótese: quando, para fins de defesa, a prova
ilícita for indispensável ela será admissível!

Essa exceção se funda na aplicação do princípio da


proporcionalidade, afinal, diante do conflito entre a
inadmissibilidade da prova ilícita e o direito de liberdade ponderou-se
que melhor seria admitir uma prova ilícita do que condenar um
inocente ao inadmiti-la.

D) PROVAS DERIVADAS DAS ILÍCITAS


Provas derivadas das ilícitas são provas produzidas sem nenhuma
violação a normas constitucionais ou legais, mas que tiveram como
causa de sua produção uma prova ilícita.

As provas derivadas das ilícitas também são inadmissíveis!

Trata-se da TEORIA DOS FRUTOS DA ÁRVORE


ENVENENADA, ou teoria da mácula, prevista no art. 157, §1º, do
CPP, segundo a qual as provas que derivaram da prova ilícita são
inadmissíveis, ainda que obtidas licitamente!

Por essa teoria, demonstrado o nexo de causalidade entre a


prova ilícita e qualquer outra prova, esta também deverá ser
declarada inadmissível.

Importante! A existência de uma prova ilícita não contamina todo o


processo, mas apenas as provas que guardarem relação de
causalidade com ela.

21
Professores Carlos Alfama e Paulo Igor – ZERO UM CONSULTORIA
PROFESSORES CARLOS ALFAMA E PAULO IGOR
DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS

ATENÇÃO!

A INADMISSIBILIDADE DAS PROVAS DERIVADAS DAS


ILÍCITAS NÃO ENCONTRA PREVISÃO EXPRESSA NA
CONSTITUIÇÃO!

Apesar de não haver previsão constitucional da inadmissibilidade das


provas derivadas das ilícitas, a teoria dos frutos da árvore
envenenada é aceita pacificamente pela jurisprudência do STF
desde 1966.

22
Professores Carlos Alfama e Paulo Igor – ZERO UM CONSULTORIA
PROFESSORES CARLOS ALFAMA E PAULO IGOR
DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS

18) PRINCÍPIO DA PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA


LVII - ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de
sentença penal condenatória;

# SINÔNIMOS: Princípio da presunção de não culpabilidade ou


princípio do estado de inocência.

A.1) CONCEITO: Consiste no direito de não ser considerado culpado,


senão após o trânsito em julgado da sentença penal condenatória.

A.2) PREVISÃO NO ORDENAMENTO JURÍDICO:

Art. 5º, LVII, CF/88 Pacto de San Jose da


Costa Rica
(Art.8º, §2º,)
“Toda pessoa acusada de um delito
“Ninguém será considerado culpado
tem direito a que se presuma sua
até o trânsito em julgado de
inocência, enquanto não for
sentença penal condenatória”;
legalmente comprovada sua culpa”.

LIMITE TEMPORAL: A presunção


de inocência deve ser observada
até a formação legal da culpa. O
Pacto de San José da Costa Rica
LIMITE TEMPORAL: A presunção
assegura o direito ao duplo grau de
de inocência deve ser observada até
jurisdição no art. 8º, §2º, ‘h’.
o trânsito em julgado de sentença
penal condenatória.
Assim, a culpa considera-se
comprovada após o exercício do
duplo grau de jurisdição
(julgamento do recurso de
apelação)

23
Professores Carlos Alfama e Paulo Igor – ZERO UM CONSULTORIA
PROFESSORES CARLOS ALFAMA E PAULO IGOR
DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS

ATENÇÃO! Para a maioria da doutrina, presunção de inocência e não


culpabilidade são sinônimos. É a informação que deve ser levada
para uma prova objetiva de concurso público.

Todavia, parcela da doutrina que entende que o Pacto de San José da


Costa Rica contempla o princípio da presunção de inocência enquanto a
CF/88 contempla o princípio da não culpabilidade.

# DIVERGÊNCIA ENTRE O LIMITE TEMPORAL

Diante da divergência entre o limite temporal estabelecido na CF/88 e o


Pacto de San Jose, deve prevalecer a CF/88, pelas seguintes razões:

 A CF/88, na hierarquia das normas, é superior ao Pacto de San José da


Costa Rica.

 O princípio do “pro homine”, estabelecido no próprio Pacto de San José


da Costa Rica, determina que deve prevalecer a disposição mais
vantajosa ao acusado.

A.3) DESDOBRAMENTOS: Duas principais regras derivam do


princípio da presunção de inocência.

I - REGRA PROBATÓRIA (REGRA DE JULGAMENTO): Recai


sobre a acusação o ônus de comprovar a culpa do acusado já que o
acusado presume-se inocente. Assim:

o A não comprovação da culpa do acusado irá levar a sua


absolvição.

o “IN DUBIO PRO REO”: O juiz não pode se abster de julgar a


demanda. Caso não tenha certeza da culpa do acusado deve
decidir em favor dele. É uma regra de tratamento que deriva
do princípio da presunção de inocência (STF, HC 73.338/RJ).

24
Professores Carlos Alfama e Paulo Igor – ZERO UM CONSULTORIA
PROFESSORES CARLOS ALFAMA E PAULO IGOR
DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS

ATENÇÃO! Na revisão criminal não se aplica o “in dubio pro


reo”. A revisão criminal se dá após o trânsito em julgado da sentença
penal condenatória, momento em que não vigora o princípio da
presunção de inocência. Assim, em relação à revisão criminal vigora o
“in dubio contra reum”, recaindo sobre o condenado o ônus de
provar o que alega.

II - REGRA DE TRATAMENTO: O acusado/investigado deve


ser tratado como inocente até a decisão condenatória definitiva.

Assim, em regra, o acusado deve permanecer em liberdade durante a


persecução penal: a prisão cautelar deve ser medida excepcional
(medida de ultima ratio), mesmo no caso de crimes hediondos.

o VEDAÇÃO GENÉRICA À LIBERDADE PROVISÓRIA: Como


consequência da regra geral de tratamento, os tribunais
superiores tem entendido que a gravidade em abstrato do
delito não pode fundamentar a vedação genérica à liberdade
provisória.
 Lei de Drogas (art. 44): Informativo nº 665, STF.
 Estatuto do Desarmamento: ADI 3112-1/DF.

o EXECUÇÃO PROVISÓRIA DA PENA: É a execução da pena


imposta judicialmente antes do trânsito em julgado da
sentença condenatória.

O recurso especial (STJ) e o recurso extraordinário (STF) não


são dotados de efeito suspensivo (art. 637 do CPP), assim, discute-se
a possibilidade de execução provisória da pena após o acórdão que
mantém a condenação em 2º grau de jurisdição.

No dia 17/02/2016, a jurisprudência do STF sofreu


importante alteração em seu posicionamento:

25
Professores Carlos Alfama e Paulo Igor – ZERO UM CONSULTORIA
PROFESSORES CARLOS ALFAMA E PAULO IGOR
DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS

ENTENDIMENTO ENTENDIMENTO ATUAL


ANTERIOR
HC 84.078-7 (2009) HC 126.292 (17/02/2016)
O STF entendia que enquanto A execução provisória de acórdão
não houver o trânsito em julgado penal condenatório proferido em
não será possível a execução de grau de apelação, ainda que
uma pena, apenas cabendo a sujeito ao recurso especial ou
restrição de liberdade do acusado extraordinário, não viola o
no curso do processo nos casos princípio da presunção de
EXCEPCIONAIS de prisão inocência.
cautelar.

# FUNDAMENTOS DO ATUAL ENTENDIMENTO DO STF:


 O princípio da presunção de inocência pode ser
relativizado: na Lei da Ficha Limpa (LC nº 135/2000) a
sentença condenatória proferida por juízo colegiado gera
inelegibilidade antes do trânsito em julgado.

 Após o 2º grau de jurisdição não se discute mais os fatos


e as provas, mas apenas a matéria de direito, o que
permite a relativização do princípio da presunção de inocência
após esse momento.

 Princípio da harmonização (concordância prática): Deve


ser buscado o necessário equilíbrio entre o princípio da
presunção de inocência e a efetividade da prestação
jurisdicional penal, que deve atender a valores caros não
apenas aos acusados, mas também à sociedade.

 Direito Comparado: Em nenhum país do mundo, depois de


observado o duplo grau de jurisdição, a execução de uma
condenação fica suspensa aguardando o referendo da Suprema
Corte.

 Evitam-se recursos protelatórios: O entendimento de que a


execução da pena somente pode ocorrer após o trânsito em
julgado incentiva como estratégia de defesa a interposição de

26
Professores Carlos Alfama e Paulo Igor – ZERO UM CONSULTORIA
PROFESSORES CARLOS ALFAMA E PAULO IGOR
DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS

múltiplos recursos protelatórios, pois o último marco


interruptivo da prescrição antes do início do cumprimento da
pena é a publicação da sentença ou acórdão recorríveis.

 Os eventuais equívocos das instâncias ordinárias podem ser


questionados por instrumentos jurídicos adequados que, no
caso concreto, podem suspender a execução provisória da pena
(HC e medidas cautelares de efeito suspensivo ao RE e ao
REsp).

 A presunção de inocência tem sentido dinâmico, modificando-se


conforme se avança a marcha processual. No início da
persecução penal, deve-se dar máxima efetividade à presunção
de inocência, através de mais institutos destinados a sua
proteção (sigilo do inquérito policial, não configuração de maus
antecedentes, etc.). Ao longo da persecução penal, será
possível a relativização do princípio da presunção de inocência
diante da necessidade de se garantir a efetividade da prestação
jurisdicional.

CONCLUSÃO: A EXECUÇÃO PROVISÓRIA DA PENA NÃO VIOLA A


CONSTITUIÇÃO. A EXECUÇÃO DA PENA DEVE SER INICIADA APÓS O
ACÓRDÃO CONDENATÓRIO NO SEGUNDO GRAU DE JURISDIÇÃO
(STF, HC 126.292).

O ENTENDIMENTO GANHOU EFEITO VINCULATIVO NO


JULGAMENTO DO ARE 964.246 – Repercussão Geral/SP.

ATENÇÃO! O entendimento ganhou força no julgamento das ADC’s


43 e 44. Nesses julgados, o Plenário do STF entendeu que o art. 283
do CPP não impede o início da execução da pena após condenação
em segunda instância.

# EXECUÇÃO PROVISÓRIA DA PENA E PENDÊNCIA DO


JULGAMENTO DE EMBARGOS DE DECLARAÇÃO:
Não é possível a execução provisória da pena se foram
opostos embargos de declaração contra o acórdão
27
Professores Carlos Alfama e Paulo Igor – ZERO UM CONSULTORIA
PROFESSORES CARLOS ALFAMA E PAULO IGOR
DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS

condenatório proferido pelo Tribunal de 2ª instância e este


recurso ainda não foi julgado (STJ. 6ª Turma. HC 366.907-PR,
Rel. Min. Rogério Schietti Cruz, julgado em 6/12/2016) - Informativo
595.

CUIDADO! A execução provisória da pena não se confunde com a


ANTECIPAÇÃO DOS BENEFÍCIOS PRISIONAIS!
EXECUÇÃO PROVISÓRIA ANTECIPAÇÃO DOS
DA PENA BENEFÍCIOS PRISIONAIS
Execução provisória da
pena é a restrição de liberdade Já a antecipação dos
do acusado independente da benefícios prisionais é a
decretação de uma prisão concessão de benefícios da Lei de
cautelar. A privação da liberdade Execução Penal ao preso
aqui possui natureza jurídica de cautelar.
prisão penal.

A antecipação dos
A execução provisória da
benefícios prisionais é possível ao
pena após a decisão no segundo
preso cautelar, inclusive com a
grau de jurisdição não viola a
progressão de regime e o
CF/88 (STF, HC 126.292).
livramento condicional (Súmula
nº 716, STF).
# DIMENSÕES DE ATUAÇÃO DO PRINCÍPIO DA PRESUNÇÃO DE
INOCÊNCIA

 DIMENSÃO INTERNA: É a manifestação do princípio da


presunção de inocência no processo. A dimensão interna tem
como desdobramentos a regra de tratamento e a regra
probatória.

 DIMENSÃO EXTERNA: É a manifestação do princípio da


presunção de inocência fora do processo. A presunção de
inocência exige uma proteção do investigado e do acusado
contra a publicidade midiática abusiva, evitando assim sua
estigmatização perante a sociedade.

28
Professores Carlos Alfama e Paulo Igor – ZERO UM CONSULTORIA
PROFESSORES CARLOS ALFAMA E PAULO IGOR
DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS

(FAPEMS – 2017 – PCMS – DELEGADO DE POLÍCIA) O princípio


da presunção de inocência ou da não culpabilidade está previsto na
Constituição Federal e impõe o dever de tratamento do réu como
inocente apenas na dimensão interna do processo, ou seja, atribui ao
acusador demonstrar a culpabilidade do acusado e não este sua
inocência. GABARITO OFICIAL: ERRADO!

19) PRINCÍPIO DA NÃO AUTOINCRIMINAÇÃO (“Nemo


tenetur se detegere)
20)
A) CONTEÚDO: Ninguém pode ser obrigado a gerar provas contra si
mesmo.

Nemo tenetur se detegere


=
“Ninguém é obrigado a contribuir para sua própria destruição”.

B) PREVISÃO NO ORDENAMENTO JURÍDICO:


 CF/88. Art. 5º, LXIII - o preso será informado de seus direitos,
entre os quais o de permanecer calado, sendo-lhe assegurada a
assistência da família e de advogado;

 Pacto de San José da Costa Rica: O princípio da não


autoincriminação é previsto também no art. 8° letra ‘g’, do Pacto
de San José da Costa Rica.

 Art. 186 do CPP: “O silêncio, que não importará em confissão,


não poderá ser interpretado em prejuízo da defesa”.

C) TITULAR DO DIREITO À NÃO AUTOINCRIMINAÇÃO


A redação do art. 5º, LXIII, CF/88 pode fazer parecer que o
direito a não autoincriminação é exclusivo do preso.

29
Professores Carlos Alfama e Paulo Igor – ZERO UM CONSULTORIA
PROFESSORES CARLOS ALFAMA E PAULO IGOR
DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS

Todavia, o direito a não autoincriminação não é direito


exclusivo do preso, mas sim de qualquer pessoa a quem seja
feito um questionamento do qual possa resultar uma
autoincriminação, em regra o investigado ou o acusado.

# O PRINCÍPIO DA NÃO-AUTOINCRIMINAÇÃO É DIREITO


EXCLUSIVO DO INVESTIGADO/ACUSADO?

ATENÇÃO! Em regra, a testemunha não pode se calar


alegando o direito a não autoincriminação, pois em regra as
perguntas feitas às testemunhas não podem resultar em
autoincriminação. Responderá por falso testemunho (art. 342,
CP).
Todavia, deve-se frisar que o nemo tenetur se detegere não é
direito exclusivo do acusado: pode ser alegado por qualquer
pessoa que seja intimada a depor em processos judiciais e não
judiciais sobre fatos que possam gerar uma autoincriminação,
inclusive a pessoas intimadas na condição de testemunhas (STF, 2ª
HC 106.876/RN e STF, RHC 122.279/RJ).

D) DESDOBRAMENTOS DO PRINCÍPIO DA NÃO


AUTOINCRIMINAÇÃO

1. DIREITO AO SILÊNCIO

CPP. Art. 186 “O silêncio, que não importará em confissão, não


poderá ser interpretado em prejuízo da defesa”.

O art. 198 do CPP diz que “O silêncio do acusado não importará


confissão, mas poderá constituir elemento para a formação do
convencimento do juiz”. Prevalece o entendimento de que a
parte final do dispositivo não foi recepcionada pela CF/88,
pois o exercício do direito ao silêncio não pode resultar em
prejuízo ao acusado/investigado.

30
Professores Carlos Alfama e Paulo Igor – ZERO UM CONSULTORIA
PROFESSORES CARLOS ALFAMA E PAULO IGOR
DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS

# O PRINCÍPIO DA NÃO-AUTOINCRIMINAÇÃO ABRANGE O


DIREITO DE O ACUSADO FALTAR AO SEU ATO DE
INTERROGATÓRIO?
O art. 260 do CPP é expresso no sentido de que o acusado que
faltar ao seu interrogatório será conduzido à presença do juiz:

CPP, art. 260: Se o acusado não atender à intimação para o


interrogatório, reconhecimento ou qualquer outro ato que, sem ele,
não possa ser realizado, a autoridade poderá mandar conduzi-lo à
sua presença.

No entanto, o dispositivo acima não foi totalmente recepcionado


pela CF/88. A condução coercitiva para o interrogatório não é
possível, pois, tendo o réu o direito de não produzir prova contra si
mesmo, não haveria sentido em exigir sua presença para que
permanecesse calado.
Foi o posicionamento adotado pela banca CESPE, no ano de
2013, que cobrou o tema na prova de Técnico Judiciário (Área
Administrativa) do TJDFT e entendeu que o acusado que não
comparecer ao seu interrogatório, mesmo quando devidamente
intimado, não pode ser conduzido coercitivamente por ordem do juiz:

(CESPE - 2013 - TJ-DF - Técnico Judiciário - Área


Administrativa) Se o acusado, devidamente intimado, não
comparecer ao interrogatório, poderá ser conduzido coercitivamente
por ordem do juiz. GABARITO OFICIAL DEFINITIVO: E

# O EXERCÍCIO DO DIREITO AO SILÊNCIO PODE SER


UTILIZADO PELA ACUSAÇÃO NO TRIBUNAL DO JÚRI COMO
ARGUMENTO PARA BUSCAR A CONDENAÇÃO?
Não, sob pena de nulidade!

Art. 478. Durante os debates as partes não poderão, sob pena de


nulidade, fazer referências:

(...)

II – ao silêncio do acusado ou à ausência de interrogatório por falta


de requerimento, em seu prejuízo.

31
Professores Carlos Alfama e Paulo Igor – ZERO UM CONSULTORIA
PROFESSORES CARLOS ALFAMA E PAULO IGOR
DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS

2. INEXIGIBILIDADE DE DIZER A VERDADE.

No Brasil, não existe o crime de perjúrio. Perjúrio é a


conduta do acusado que mente em juízo. Sendo assim, pelo menos
em regra, não se previu meios jurídicos para se exigir que o
acusado/investigado fale a verdade caso opte por apresentar sua
versão dos fatos.

ATENÇÃO! Assim, é correto afirmar que o direito à não


autoincriminação abrange a possibilidade de o acusado negar
falsamente a prática do crime HC 68.929/SP (STF).

# O DIREITO À NÃO AUTOINCRIMINAÇÃO ABRAGE O DIREITO


À MENTIRA?

1ª CORRENTE: Sim! (Luís Flávio Gomes, p. ex.).

2ª CORRENTE: Não! Não se pode dizer que o princípio da não


autoincriminação abrange o direito à mentira! Isso porque não se
pode entender que o ordenamento jurídico protege a título de
“direito” situações imorais e reprováveis.

Argumenta a segunda corrente no fato de que, se a


mentira configurar algum delito (falsa identidade, p. ex.), o
agente não estará isento de responsabilização (Súmula nº 522,
STJ: “A conduta de atribuir-se falsa identidade perante autoridade
policial é típica, ainda que em situação de alegada autodefesa.”).

32
Professores Carlos Alfama e Paulo Igor – ZERO UM CONSULTORIA
PROFESSORES CARLOS ALFAMA E PAULO IGOR
DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS

3. DIREITO DE NÃO PRATICAR QUALQUER


COMPORTAMENTO ATIVO QUE POSSA INCRIMINÁ-LO.
Exemplos: Bafômetro (etilômetro): O suspeito não é obrigado a
soprar o bafômetro. Ex. 2: Exame grafotécnico (exame pericial que
busca conhecer a autoria de determinado documento através da
comparação de escritos). O acusado não é obrigado a fornecer o
padrão grafotécnico. Ex. 3: Reconstituição do fato delituoso
(reprodução simulada dos fatos): o investigado não é obrigado a
participar ativamente da diligência.

ATENÇÃO! O “nemo tenetur se detegere” não abrange o direito de


não praticar um comportamento passivo. Ex.: Reconhecimento
de pessoas. O acusado/investigado é colocado ao lado de pessoas
para que a vítima ou uma testemunha aponte qual, dentre aquelas,
foi a autora do delito.

4. DIREITO DE NÃO PERMITIR A PRÁTICA DE PROVA


INVASIVA1.
Provas invasivas são as intervenções corporais que pressupõem
penetração no organismo humano para dele se extraírem células.
Ex.: Coleta de sangue, coleta de saliva no interior da boca do
acusado/investigado.

ATENÇÃO! O “nemo tenetur se detegere” não abrange o direito de


não se sujeitar a uma prova não invasiva. Ex.: Apreender bituca de
cigarro descartada para perícia em resquícios de saliva. Ex. 2: O STJ
entende que o raio-X é uma prova não invasiva (STJ, HC 149.146).

B.5) ADVERTÊNCIA QUANTO AO DIREITO DE NÃO


PRODUZIR PROVA CONTRA SI MESMO
A CF/88 determina que o preso seja informado de seus direitos,
dentre os quais o de permanecer calado. Assim, prevalece que deve
haver prévia advertência quanto ao direito de não produzir
prova contra si mesmo (STF, HC 80.949).

33
Professores Carlos Alfama e Paulo Igor – ZERO UM CONSULTORIA
PROFESSORES CARLOS ALFAMA E PAULO IGOR
DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS

# CONSEQUÊNCIA DA NÃO ADVERTÊNCIA QUANTO AO


DIREITO AO SILÊNCIO: A ausência da advertência pode gerar a
nulidade relativa de eventual confissão. Sendo relativa a nulidade,
somente se anula o ato se for comprovado o prejuízo. Ex.: Gravação
de conversa de policiais com o preso/investigado (interrogatório
sub-reptício): Caso o investigado não tenha sido advertido de seu
direito de permanecer calado, tal gravação é considerada prova
ilícita.

(CESPE – 2008 – MPE/RR – PROMOTOR DE JUSTIÇA) Alex, ao


ser interrogado em processo penal, não foi comunicado pelo juiz
acerca de seu direito constitucional de se manter em silêncio.
Durante seu interrogatório, confessou as infrações penais que lhe
foram imputadas. Nessa situação, mesmo sendo considerado o
interrogatório como meio de prova e de defesa, configura-se causa
de nulidade relativa, em razão da aplicação do princípio nemo
tenetur se detegere.

GABARITO OFICIAL: C

ATENÇÃO! Se o agente produziu voluntariamente a prova contra si


mesmo não há que se falar em prova ilícita sob fundamento no
direito à não autoincriminação, ainda que não tenha sido feita a
advertência quanto ao direito ao silêncio.

(CESPE - 2013 - TJ-DF - Analista Judiciário - Área Judiciária)


Se o teste em etilômetro (teste do bafômetro) for realizado
voluntariamente, sem qualquer irregularidade, não haverá violação
do princípio do nemo tenetur se detegere (direito de não produzir
prova contra si mesmo), ainda que o policial não tenha feito
advertência ao examinado sobre o direito de se recusar a realizar ao
exame. Gabarito Oficial: Correto!

34
Professores Carlos Alfama e Paulo Igor – ZERO UM CONSULTORIA
PROFESSORES CARLOS ALFAMA E PAULO IGOR
DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS

# ORIGEM NA NECESSIDADE DE ADVERTÊNCIA QUANTO AO


DIREITO AO SILÊNCIO (AVISO DE MIRANDA): A necessidade da
advertência quanto ao direito ao silêncio encontra sua origem em
precedente da Suprema Corte Americana, que, no julgamento
MIRANDA X ARIZONA (1966), entendeu que a confissão não possui
nenhuma validade se não forem feitas ao preso três advertências:
 Que o preso tem o direito de não responder;
 Que tudo que disser pode ser utilizado contra ele;
 Que o preso tem direito à advogado.

# ENTREVISTAS COM A IMPRENSA: O dever de advertência não


se aplica à imprensa (STF, HC nº 99.558). A confissão perante a
imprensa é válida ainda que não tenha sido realizada a advertência
em relação ao direito ao silêncio.

# GRAVAÇÃO AMBIENTAL FEITA POR UM DOS


INTERLOCUTORES: É lícita a gravação ambiental realizada por um
dos interlocutores sem o conhecimento do outro, podendo ela ser
utilizada como prova em processo judicial (Informativo nº 809, STF
– Prisão Preventiva do Senador Delcídio do Amaral).

35
Professores Carlos Alfama e Paulo Igor – ZERO UM CONSULTORIA
PROFESSORES CARLOS ALFAMA E PAULO IGOR
DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS

21) PRINCÍPIO DA PUBLICIDADE DOS ATOS PROCESSUAIS


Art. 5º, LX, CF/88 - a lei só poderá restringir a publicidade dos atos
processuais quando a defesa da intimidade ou o interesse social o
exigirem;

Em regra, é garantido a todo e qualquer cidadão o acesso aos


atos praticados no curso do processo. Excepcionalmente, o sigilo é
admitido, quando a defesa da intimidade ou o interesse social o
exigirem.
O princípio da publicidade está relacionado ao caráter
democrático do processo penal.
Nos ensinamentos de FERRAJOLI, o princípio da publicidade é
uma garantia de segundo grau ou garantia de garantia. Isso
porque a publicidade proporciona o controle sobre outras garantias.

# FUNDAMENTOS JURÍDICOS:
 Art. 5º, LX, CF/88 - a lei só poderá restringir a publicidade
dos atos processuais quando a defesa da intimidade ou o
interesse social o exigirem;

 CF/88, art. 93, IX - todos os julgamentos dos órgãos do


Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas as
decisões, sob pena de nulidade, podendo a lei limitar a
presença, em determinados atos, às próprias partes e a seus
advogados, ou somente a estes, em casos nos quais a
preservação do direito à intimidade do interessado no sigilo não
prejudique o interesse público à informação;

 CADH, art. 8º, 5. O processo penal deve ser público, salvo no


que for necessário para preservar os interesses da justiça.

 Art. 792, CPP. As audiências, sessões e os atos processuais


serão, em regra, públicos e se realizarão nas sedes dos juízos e
tribunais, com assistência dos escrivães, do secretário, do
oficial de justiça que servir de porteiro, em dia e hora certos,
ou previamente designados. § 1o Se da publicidade da
audiência, da sessão ou do ato processual, puder resultar

36
Professores Carlos Alfama e Paulo Igor – ZERO UM CONSULTORIA
PROFESSORES CARLOS ALFAMA E PAULO IGOR
DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS

escândalo, inconveniente grave ou perigo de perturbação da


ordem, o juiz, ou o tribunal, câmara, ou turma, poderá, de
ofício ou a requerimento da parte ou do Ministério Público,
determinar que o ato seja realizado a portas fechadas,
limitando o número de pessoas que possam estar presentes.

# CLASSIFICAÇÃO DA PUBLICIDADE

I – Quanto ao sigilo do conteúdo do ato processual


 PUBLICIDADE EXTERNA (AMPLA OU GERAL): É a
permissão para que qualquer cidadão tenha conhecimento do
ato processual.
É a regra no Direito Processual Penal.
Da publicidade externa emergem três direitos:

o Direito de assistir à realização dos atos processuais.


o Direito de narração dos atos processuais (direito de
descrever o que ocorreu na realização dos atos
processuais).
o Direito de consulta dos autos.

 PUBLICIDADE INTERNA (RESTRITA OU ESPECÍFICA): É a


permissão de conhecimento do ato somente pelas partes ou por
sujeitos processuais específicos. Ocorre quando é aplicada,
excepcionalmente, uma restrição à publicidade do ato
processual. Trata-se do segredo de justiça. Se o juiz tiver
decretado o segredo de justiça, somente ele mesmo ou
autoridade judiciária superior poderá afastar essa restrição da
publicidade (STF, Pleno, MS 27.483/DF). Exemplo: CPI não
pode.

Pode se dar em duas situações:

o Restrição da publicidade ao público em geral.


Exemplo: art. 234-B, CP. Os processos em que se
37
Professores Carlos Alfama e Paulo Igor – ZERO UM CONSULTORIA
PROFESSORES CARLOS ALFAMA E PAULO IGOR
DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS

apuram crimes definidos nesse título correrão em segredo


de justiça (crimes contra a dignidade sexual).
o Restrição da publicidade às partes.

CF/88, art. 93, IX - todos os julgamentos dos órgãos do Poder


Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob
pena de nulidade, podendo a lei limitar a presença, em
determinados atos, às próprias partes e a seus advogados, ou
somente a estes, em casos nos quais a preservação do direito à
intimidade do interessado no sigilo não prejudique o interesse público
à informação;

II – Quanto à voluntariedade do conhecimento do ato


 Publicidade ativa: Os atos são informados sem prévia
provocação.
 Publicidade passiva: A cientificação do ato processual
depende de provocação/pedido de alguém.

III – Quanto à acessibilidade do ato


 Publicidade imediata: A publicidade dos atos está disponível
a todos, indistintamente.
 Publicidade mediata: A publicidade dos atos ocorre mediante
certidão ou cópia.
ATENÇÃO! A publicidade dos atos às partes garante o exercício do
contraditório e da ampla defesa, bem como do plexo de direitos que
os sujeitos possuem no processo.
# SEGREDO DE JUSTIÇA: O juiz tomará as providências
necessárias à preservação da intimidade, vida privada, honra e
imagem do ofendido, podendo, inclusive, determinar o segredo de
justiça em relação aos dados, depoimentos e outras informações
constantes dos autos a seu respeito para evitar sua exposição aos
meios de comunicação (art. 201, §6º, CPP). O segredo de justiça
pode ser determinado em toda a persecução criminal.

38
Professores Carlos Alfama e Paulo Igor – ZERO UM CONSULTORIA
PROFESSORES CARLOS ALFAMA E PAULO IGOR
DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS

22) PRISÃO CIVIL


A prisão civil é a privação da liberdade de alguém em razão do
não pagamento de uma dívida. É prevista na Constituição Federal
de 1988, no art. 5º, LXVII:

LXVII - não haverá prisão civil por dívida, salvo a do


responsável pelo inadimplemento voluntário e inescusável de
obrigação alimentícia e a do depositário infiel;

Apesar de a Constituição Federal ter autorizado a prisão civil no


caso do depositário infiel, a aplicação dessa hipótese é condicionada a
existência de uma lei (o dispositivo não é autoaplicável).
A Convenção Americana de Direitos Humanos (Pacto de San
José), tratado internacional ratificado pelo Brasil em 1992, veda, em
seu art. 7º, item 7, a prisão civil do depositário infiel.
O supracitado diploma normativo possui hierarquia supralegal,
por versar sobre direitos humanos. Diante disso, o STF (RE 466.346)
entendeu ser impossível a prisão civil do depositário infiel, em razão
de a CADH ter tornado inaplicáveis os dispositivos infraconstitucionais
que permitiam a prisão civil do depositário infiel. Nesse sentido:

Súmula Vinculante nº 25: “É ilícita a prisão civil de


depositário infiel, qualquer que seja a modalidade do depósito”.

CONCLUSÃO: Atualmente, a única hipótese de prisão civil


existente em nosso ordenamento jurídico é a decretada em virtude
do inadimplemento voluntário e inescusável de obrigação alimentícia.
ATENÇÃO! Os crimes tributários não caracterizam prisão civil
por dívida.

39
Professores Carlos Alfama e Paulo Igor – ZERO UM CONSULTORIA
PROFESSORES CARLOS ALFAMA E PAULO IGOR
DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS

23) PRINCÍPIO DA RAZOÁVEL DURAÇÃO DO PROCESSO


LXXVIII - a todos, no âmbito judicial e administrativo, são
assegurados a razoável duração do processo e os meios que
garantam a celeridade de sua tramitação.

O dispositivo foi incluído na CF pela Emenda Constitucional nº 45, de


2004. Há doutrina que entende que os dispositivos inseridos no art.
5º pelo poder constituinte derivado não configuram cláusula
pétrea. O tema é, todavia, divergente.

CONTEÚDO: A atuação dos órgãos de persecução penal, seja na


investigação preliminar ou na ação penal, deve se dar em tempo
razoável. Busca-se evitar dois extremos: o processo não pode ser
moroso, pois a lentidão traz consequências danosas tanto para a
vítima como para o acusado, mas também não pode ser conduzido às
pressas atropelando-se o exercício do contraditório e da ampla
defesa.
# HÁ UM PRAZO DEFINIDO PARA DURAÇÃO DO PROCESSO
PENAL?
Foi adotada a teoria do não prazo: A análise da razoável duração
do processo deve ser feita caso a caso pelo juiz. Não há um prazo
fixo para que se considere excessivo o prazo de duração do processo.
Os prazos estabelecidos em lei para a instrução criminal não
desnaturam a teoria do “não prazo” porque a lei não estabelece uma
sanção para seu descumprimento.

# SÚMULAS RELACIONADAS:
 Súmula nº 21, STJ: Pronunciado o réu, fica superada a
alegação do constrangimento ilegal da prisão por excesso
de prazo na instrução.

 Súmula nº 52, STJ: Encerrada a instrução criminal, fica


superada a alegação de constrangimento por excesso de
prazo.

 Súmula nº 64, STJ: Não constitui constrangimento ilegal


o excesso de prazo na instrução, provocado pela defesa.

40
Professores Carlos Alfama e Paulo Igor – ZERO UM CONSULTORIA
PROFESSORES CARLOS ALFAMA E PAULO IGOR
DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS

ESTUDO DIRIGIDO

01) Qual a competência do tribunal do júri?

02) No procedimento do tribunal do júri é possível pedir


a absolvição do acusado no recurso de apelação?

03) O princípio da proibição da reformatio in pejus é


aplicável ao procedimento do tribunal do júri? Como
conciliá-lo com a soberania dos vereditos?

04) Na revisão criminal, pode-se pleitear a anulação do


julgamento ou o pedido deve ser a realização de novo
júri?

05) Qual a diferença entre a plenitude de defesa e a


ampla defesa?

06) Quais são os sistemas de quesitação apresentados


pela doutrina no que diz respeito ao procedimento do
tribunal do júri? Qual foi o sistema adotado pelo
Brasil?

07) O que é o excesso de linguagem na pronúncia?

08) Havendo excesso de linguagem, o que o Tribunal


deve fazer?

09) Quem pode ser extraditado no Brasil?

10) Brasileiro nato que perder a nacionalidade


brasileira pode ser extraditado?

11) Qual a diferença entre extradição, expulsão,


deportação e banimento?

12) O acesso ao Poder Judiciário depende de prévio


esgotamento das vias administrativas?

13) Qual o remédio constitucional cabível em caso de


indeferimento injustificado na expedição de certidão
com informação de caráter pessoal?

14) No que consiste o princípio do juiz natural?

41
Professores Carlos Alfama e Paulo Igor – ZERO UM CONSULTORIA
PROFESSORES CARLOS ALFAMA E PAULO IGOR
DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS

15) O que é um juízo ou tribunal de exceção? Quais são


as suas características?

16) A justiça especializada configura violação ao


princípio do juiz natural? E o foro por prerrogativa de
função?

17) Quais são as regras derivadas do princípio do juiz


natural?

18) Lei posterior que altera regras de competência é


aplicável aos processos em andamento?

19) É possível o julgamento de turma de Tribunal


formada por maioria de juízes convocados?

20) Quais são as perspectivas do devido processo legal?

21) Quais são os três subprincípios do princípio da


proporcionalidade?

22) Qual a diferença entre proporcionalidade e


razoabilidade?

23) No que consiste o direito ao contraditório? Quais


seus elementos? Quais os seus destinatários? Quais
as suas classificações?

24) O que diz a doutrina moderna sobre o direito ao


contraditório?

25) Quais os desdobramentos do princípio da ampla


defesa?

26) É obrigatória a presença de advogado no PAD? Isso


vale para o PAD destinado a reconhecer falta grave na
execução penal?

27) O que são provas ilícitas? São admissíveis? Existe


exceção?

42
Professores Carlos Alfama e Paulo Igor – ZERO UM CONSULTORIA
PROFESSORES CARLOS ALFAMA E PAULO IGOR
DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS

28) No que consiste o princípio da presunção de


inocência? Quais os seus desdobramentos?

29) Admite-se a execução provisória de acórdão


proferido em grau de apelação (2ª instância)?

30) Quais são as dimensões do princípio da presunção


de inocência?

31) Qual o conteúdo do direito à não autoincriminação?


Possui fundamento constitucional? Quem é titular
desse direito?

32) Quais os desdobramentos do direito à não


autoincriminação?

33) É lícita a gravação ambiental realizada por um dos


interlocutores sem o conhecimento do outro?

34) Qual a diferença entre a publicidade interna e


publicidade externa?

35) Em quais casos se admite a prisão civil?

36) Qual o conteúdo do princípio da razoável duração


do processo?

43
Professores Carlos Alfama e Paulo Igor – ZERO UM CONSULTORIA

Você também pode gostar