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Clínicas
CM
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CY
CMY
Editor
Juliano Silveira de Araújo
Coordenadores
Antônio Matheus Gomes Mota Laura Valério dos Reis
Bruno César de Aguiar Guerchman Lucas de Souza Bacellar
Francisco Daniel Gomes de Lima Filho Maria Luiza Cruz Caldas Lins
Gabriela Martins de Queiroz Nathalia Costa de Carvalho
Larissa Queiroz de Oliveira
INTRODUÇÃO
O acidente vascular cerebral (AVC) é classicamente definido como um déficit neuro-
lógico, geralmente focal, de início súbito e rápida progressão, com duração maior que
24 horas - ou menor que 24 horas, levando à morte – e provocado por patologia vascular.
Representa, na atualidade, uma das principais causas de morbimortalidade em todo
o mundo, ocupando, no Brasil, o primeiro lugar como causa de morte e incapacidade.
Os tipos de AVC são divididos em isquêmicos (AVCI) e hemorrágicos (AVCH), apre-
sentando causas, manifestações clínicas e tratamento distintos. O AVCI ocorre pela
diminuição do aporte de oxigênio e nutrientes a uma região encefálica, levando à is-
quemia do tecido, disfunção e morte celular. Já o AVCH é caracterizado pelo extravasa-
mento sanguíneo para o interior da cavidade craniana. Sabe-se que o tipo isquêmico é
responsável por cerca de 80% dos casos de acidente vascular cerebral, enquanto o tipo
hemorrágico responde pelos 20% restantes.
FATORES DE RISCO
Os fatores de risco incluem idade avançada, sexo masculino, doenças crônicas como
hipertensão arterial sistêmica e diabetes mellitus, tabagismo e etilismo. Fatores genéti-
cos também estão associados.
Algumas cardiopatias, a exemplo da fibrilação atrial e da cardiopatia chagásica,
estão envolvidas em eventos tromboembólicos, assim como vasculopatias periféricas.
Coagulopatias e disfunções plaquetárias podem associar-se a eventos hemorrágicos no
sistema nervoso central (SNC).
132
MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS
O AVC geralmente se apresenta com déficit neurológico focal de início súbito, embo-
ra algumas vezes possa evoluir de modo gradual ou em degraus. No quadro neurológico
podem constar afasia, cefaleia, hemiparesia, disartria, desvio de rima labial, ataxia, he-
mianopsia, parestesia e rebaixamento do nível de consciência, a depender do território
vascular acometido.
Na história clínica, deve-se sempre pesquisar sobre o tempo de início dos sinais e
sintomas – considerando o momento em que paciente foi visto acordado ou sem déficit
pela última vez –, assim como por doenças associadas, medicações em uso, presença de
sinais infecciosos, crises convulsivas e trauma, a fim de realizar concomitantemente o
diagnóstico diferencial com outras situações que podem cursar com déficits neuroló-
gicos.
O exame neurológico deve ser realizado através da aplicação da escala de acidente
vascular cerebral do National Institutes of Health (NIH), para qualificação e quantifi-
cação do déficit. É importante compreender que não é possível definir o tipo de AVC
somente a partir do quadro clínico. Embora existam sinais e sintomas que são mais pro-
váveis para um tipo que para outro – como cefaleia de forte intensidade, vômitos, rebai-
xamento do nível de consciência e pressão arterial elevada, indicando processo hemor-
rágico – é fundamental o exame complementar de imagem para fazer a diferenciação
entre AVCI e AVCH.
MANEJO INICIAL
Por tratar-se de uma emergência clínica, inicialmente deve ser realizada a avaliação
das funções vitais, manutenção de vias aéreas, respiração e circulação (ABC da urgência
e emergência), instalação de monitorização cardíaca, oximetria de pulso, glicemia capi-
lar e dois acessos venosos.
A avaliação por neuroimagem é a chave para a diferenciação entre lesões isquêmi-
cas e hemorrágicas. Na grande maioria dos serviços, a escolha inicial é pela tomografia
computadorizada (TC) de crânio sem contraste por sua maior disponibilidade, menor
custo e menor tempo de execução. A TC é altamente sensível para o diagnóstico agudo
de hemorragias intracerebrais, evidenciando lesões hiperdensas brancas focais dentro
do parênquima cerebral. Já a TC de crânio de um paciente com AVCI pode manter-se
inalterada por um período de até, aproximadamente, 24 horas do início dos sintomas,
133
sendo importante nessa situação buscar sinais precoces, tais como apagamento dos sul-
cos corticais, perda da diferenciação cortical-subcortical e dos núcleos da base e hiper-
2-B densidade da artéria cerebral média.
A avaliação complementar deve incluir hemograma, glicemia, provas de atividade
inflamatória, função renal, eletrólitos, coagulogramas, enzimas cardíacas, eletrocardio-
grama e raio-X de tórax. É importante lembrar que o resultado dos exames laboratoriais
não deve ser aguardado para dar início à trombólise.
O controle glicêmico deve ser intensivo, verificando a glicemia capilar a cada 6 horas.
A hipoglicemia é fator de risco isolado para lesão cerebral, devendo ser prontamente
corrigida com glicose via endovenosa. A hiperglicemia também está relacionada a uma
maior mortalidade e glicemias acima de 180 mg/dl têm que ser corrigidas com insu-
linoterapia. Do mesmo modo, a temperatura corporal deve ser mantida sob controle
rigoroso, uma vez que a hipertermia se correlaciona com maior grau de incapacidade.
Recomenda-se o uso de antipiréticos quando a temperatura for superior a 37,8ºC.
A avaliação da pressão arterial média (PAM) deve ser equilibrada, já que, em grande
parte dos casos, a PAM se encontra elevada em pacientes no quadro agudo, represen-
tando uma resposta apropriada para manter a perfusão cerebral. Deve-se ponderar o
perigo potencial de grandes aumentos na pressão sanguínea e a possibilidade de declí-
nio da função neurológica quando a pressão arterial é reduzida.
TRATAMENTO ESPECÍFICO
AVCI
A restauração do fluxo sanguíneo é a forma mais eficiente de recuperar o tecido
cerebral isquêmico que ainda não está infartado. O benefício da terapia de reperfusão
para o AVC isquêmico diminui de forma constante ao longo do tempo, existindo uma
janela estreita de tempo durante a qual isso pode ser realizado.
• TERAPIA ENDOVENOSA: o tratamento específico do AVCI baseia-se na terapia
trombolítica endovenosa, cujo objetivo é restaurar o fluxo sanguíneo o mais bre-
ve possível para a zona isquêmica.
134
Alteplase Dose de 0,9 mg/kg, com dose máxima de 90 mg; 10% da dose é feita em bolus e os 90%
(nome comercial) restantes são infundidos em BIC após 60 minutos.
Tenecteplase Dose única em bolus ajustada ao peso do paciente: abaixo de 60 kg = 30 mg; 60 a 69,9
(nome comercial) kg = 35 mg; 70 a 79,9 kg = 40 mg; 80 a 89,9 kg = 45 mg; acima de 90 kg = 50 mg.
135
AVCH
O controle pressórico rigoroso é fundamental no tratamento do AVCH, a fim de evi-
tar a expansão do hematoma e a deterioração neurológica dos pacientes acometidos.
Nos pacientes sem evidência de hipertensão intracraniana, a conduta é reduzir a
pressão arterial (PA) agressivamente se a pressão arterial sistólica (PAS) > 180 mmHg
136
ou a pressão arterial média (PAM) > 130 mmHg, objetivando níveis de PA de 160 x 90
mmHg ou de PAM de 110 mmHg.
Já nos pacientes com hipertensão intracraniana (rebaixamento do nível de consci- 2-B
ência progressivo, com sinais de herniação cerebral), deve-se solicitar uma avaliação
neurocirúrgica de urgência para monitorização da pressão intracraniana (PIC) e fazer o
manejo pressórico de modo que a pressão de perfusão cerebral (PPC = PAM – PIC) seja
superior a 60 mmHg. As medicações disponíveis para uso intermitente ou contínuo en-
dovenoso são enalapril, esmolol, diltiazem e nitroprussiato de sódio.
Os casos em que a causa do AVCH for o uso de anticoagulantes devem ser tratados
suspendendo as medicações anticoagulantes orais e controlando o INR para níveis nor-
mais o mais rápido possível. Para isso, pode ser utilizado o plasma fresco congelado na
dose de 10 ml/kg a 15 ml/kg ou o complexo protrombínico, ambos associados à vitamina
K 10 mg endovenosa.
Não existe consenso sobre critérios que indicam o tratamento cirúrgico nos casos
de AVCH. A avaliação deve ser individualizada para cada paciente, avaliando condição
clínica, localização do hematoma, riscos e benefícios do procedimento invasivo.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS
1. Evaristo EF. Acidente Vascular Cerebral. Em: Emergências Clínicas. 8 ed. Manole; 2013. p.
792-808.
2. Figueiredo MM, Bichuetti DB, Gois AFT. Evidências sobre diagnóstico e tratamento do aci-
dente vascular encefálico no serviço de urgência. Diagn Tratamento. 2012;17(4):167-72.
3. Shinosaki JSM, Aquino CCH. Doenças Encefalovasculares. Em: Manual de Neurologia. 1.
ed. Roca; 2010. p. 31-57.
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gency Cardiovascular Care. ACLS Suspected Stroke Algorithm. 2015. Disponível em:
<http://www.acls.net/acls-suspected-stroke-algorithm.htm>. Acesso em: 04 jan. 2016.
5. Filho JO, Mullen MT. Initial assessment and management of acute stroke. Up-
ToDate. 2019. Disponível em: <https://www.uptodate.com/contents/ini-
tial-assessment-and-management-of-acute-stroke?source=history_widget>. Acesso em:
22/02/2019.
137
INTRODUÇÃO
A cefaleia ou cefalalgia é definida como uma dor de intensidade variável, localiza-
da ou difusa, em qualquer parte do crânio. Pacientes com cefaleia constituem mais de
4,5% das visitas ao departamento de emergência. Do total, um pequeno número de
pacientes apresentam cefaleia potencialmente grave (5%) e a imensa maioria possui
cefaleia primária benigna (95%). A falha na identificação de uma cefaleia importante
pode acarretar consequências fatais e o diagnóstico etiológico acaba sendo o objetivo
mais desafiador para o médico.
Uma anamnese cuidadosa e um exame físico minucioso ainda são a etapa mais im-
portante na avaliação do paciente com dor de cabeça. Tais ferramentas permitem ao clí-
nico determinar quando o paciente está sob risco de um desfecho mal sucedido e qual
investigação adicional é necessária.
Vale destacar que ambos os tipos podem se apresentar clinicamente de forma muito
semelhante, o que torna o diagnóstico diferencial ainda mais desafiador para o profis-
sional de saúde.
138
MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS
No atendimento a um paciente cuja queixa principal é cefaleia, faz-se necessária
uma investigação pormenorizada da dor, dos antecedentes e hábitos de vida do pacien- 2-C
te, buscando ativamente pela presença de sinais de alarme.
• Caracterização da dor: modo de início, caráter, intensidade, localização, irradia-
ção, duração, período predominante no dia, frequência, fatores desencadeantes,
fatores de piora e melhora, sinais e sintomas associados, evolução.
• Uso excessivo de medicações (analgésicos, ergóticos, opioides), álcool ou subs-
tância ilícitas. Questionar também sobre dependência de alguma dessas subs-
tâncias que possam indicar crise de abstinência.
• Antecedentes pessoais e familiares; possibilidade de gravidez (precaução quanto
à investigação radiológica) e uso de anticoncepcional oral.
CEFALEIAS PRIMÁRIAS
A característica mais marcante das cefaleias primárias é sua recorrência e estereo-
tipia na apresentação clínica, de tal modo que a Sociedade Internacional de Cefaleia
pôde estabelecer critérios diagnósticos para os principais grupos. A implicação imedia-
ta dessa conduta é que há validação científica para que os pacientes que preencham
critérios para uma determinada cefaleia primária não necessitem de investigação com-
plementar.
Classicamente, os principais tipos de cefaleia primária se apresentam da seguinte
maneira:
139
CEFALEIAS SECUNDÁRIAS
As cefaleias secundárias recebem essa classificação por decorrerem de outros qua-
dros. Entre eles estão, por exemplo, hemorragia subaracnoidea (HSA), dissecção arterial
(causa comum de AVC em jovens), trombose venosa cerebral, síndrome da vasocontri-
ção cerebral reversível, hipotensão liquórica espontânea e hipertensão intracraniana.
São caracterizadas por apresentarem início recente, estão relacionadas a sua causa
de base e deve haver remissão parcial a total em até três meses do início do quadro.
EXAMES COMPLEMENTARES
Os pacientes que preenchem critérios para cefaleia primária e apresentam exame
clínico e neurológico normais não necessitam de investigação complementar, exceto
quando seja observado algum sinal de alarme ou quando o paciente chegue ao pronto
atendimento com um aspecto atípico na apresentação clínica.
Os exames necessários dependerão da hipótese diagnóstica escolhida. Por exem-
plo, quando se pensa em processo infeccioso, a realização de hemograma e provas de
atividade inflamatória são indispensáveis. Já no caso de arterite de células gigantes, a
velocidade de hemossedimentação (VHS) assume papel mais importante que o próprio
exame de neuroimagem.
Na maioria dos casos em que a investigação é indicada, um exame de imagem faz-
-se necessário. A tomografia computadorizada (TC) e a ressonância nuclear magnética
140
(RNM) são as opções, sendo essa última de qualidade superior, embora seja de mais
difícil acesso e mais onerosa. O próximo passo é a realização de punção liquórica.
2-C
TRATAMENTO FARMACOLÓGICO
MIGRÂNEA
• Triptanos: específicos para o tratamento da dor na migrânea e superam os ergo-
tamínicos por apresentarem muito menos efeitos adversos. Os efeitos adversos
dos triptanos são leves e transitórios como vertigens, tonturas, sensação de calor
e de fraqueza, náuseas e vômitos, dispneia e aperto no peito. As principais con-
traindicações são gravidez, doença coronariana, insuficiência vascular periférica
e hipertensão arterial grave.
• Sumatriptano: subcutâneo 6 a 12 mg/dia; oral 50 a 200 mg/dia; nasal 10 a 40 mg/
dia.
• Zolmitriptano e Naratriptano: oral 2,5 a 5 mg/dia.
• Rizatriptano: oral 5 a 10 mg/dia.
• Eletriptano: oral 40 a 80 mg/dia.
• Dipirona: bastante utilizado no Brasil e com excelentes resultados. Dose: 1 a 2
g via endovenosa; pode-se usar via oral, em gotas ou comprimidos na mesma
dosagem.
• Anti-inflamatórios não hormonais (AINH): efetivos na migrânea, pois reduzem a
inflamação neurogênica perivascular. Suas contraindicações são reação alérgica
conhecida, úlcera péptica e insuficiência renal. Deve-se evitar seu uso em hiper-
tensos e idosos.
• Corticoides: dexametasona na dose de 4 a 12 mg, via endovenosa. Também é útil
na crise aguda da enxaqueca, entretanto, não deve ser administrada isolada-
mente. Em geral, é associada a um analgésico ou AINH e um antiemético.
• Ergotamínicos: apresentam eficiência comprovada na migrânea, porém seus
efeitos colaterais (sintomas extrapiramidais) limitam seu uso, bem como o risco
aumentado de indução de cefaleia de rebote. Estão contraindicados na gravidez,
em pacientes com doença coronariana, doença vascular periférica, insuficiência
hepática ou renal, hipertireoidismo, porfiria e hipertensão arterial grave. A dose
total não deve ultrapassar 12 mg por semana.
• Tartarato de ergotamina: 1 a 2 mg, via retal ou sublingual.
• Mesilato de dihidroergotamina: 0,5 mg na forma de spray nasal.
• Opioides: seu uso deve ser reservado para situações específicas, no caso de refra-
tariedade às demais drogas, intolerâcia ou contraindicação.
141
CEFALEIA EM SALVAS
Para tratar as crises de cefaleia em salvas, os analgésicos comuns e os opioides não
apresentam boa eficácia e não devem ser prescritos.
• Oxigenioterapia: oxigênio a 100% deve ser a primeira escolha na emergência.
Utiliza-se um fluxo de 5 a 7 litros/minuto, por 10 a 15 minutos, com máscara e, de
preferência, com o paciente sentado ao contrário na cadeira levemente debruça-
do para frente.
• Triptanos: sumatriptano, 6 a 12 mg, via intramuscular. Os demais triptanos não
apresentam ainda experiência clínica suficiente e sua administração via oral não
é favorável, uma vez que as crises de cefaleia em salva costumam ser de curta
duração.
• Ergotamínicos: tartarato de ergotamina, 1 a 2 mg via sublingual ou dihidroergo-
tamina (DHE) 0,5 a 1 mg via endovenosa. A DHE por via intramuscular ou inala-
tória é menos eficiente.
• Lidocaína: 1 ml de lidocaína a 4% ou 6% instilado na narina ipsilateral à dor, com
o paciente em posição de Trendelemburg e rotação lateral para o lado da dor.
Tanto as cefaleias tensionais quanto as dores nas cefaleias secundárias podem ser
tratadas com analgésicos (paracetamol, dipirona), antiinflamatórios não hormonais ou
raramente com opioides, nos casos de refratariedade ou dor de forte intensidade.
142
FLUXOGRAMA 1 – MANEJO DIAGNÓSTICO DE CEFALEIAO PACIENTE PREENCHE CRITÉRIOS PARA CEFALEIA PRIMÁRIA?
2-C
143
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
2-C 1. UNITED KINGDOM. INTERNATIONAL HEADACHE SOCIETY. . The 3rd edition of Interna-
tional Classification of Headache Disorders (ICHD-3). 2016. Disponível em: <https://ichd-
3.org/>. Acesso em: 22 fev. 2019.
2. Neto AS, Velasco IT, Martins HS, Neto RAB. Emergências Clínicas - Abordagem Prática. 12ª
Edição, Editora Manole, 2017.
3. Calderaro M, Galvão ACR. Cefaleia. Em: Emergências Clínicas. 8 ed. Manole; 2013. p. 296-
311.
4. Shinosaki JSM, Aquino CCH. Cefaleias. Em: Manual de Neurologia. 1 ed. Roca; 2010. p.
12-30.
5. COMITÊ AD HOC DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE CEFALEIA. Consenso da Sociedade
Brasileira de Cefaleia. Recomendações para o tratamento da crise migranosa. Arq Neu-
ropsiquiatr. 2000;58(2-A):371-89.
144
INTRODUÇÃO
Dispneia é a sensação subjetiva de desconforto respiratório, conhecida como ‘falta
de ar’. um sintoma comum presente em até metade dos pacientes internados em hos-
pitais de atendimento terciário agudo e em 25% dos atendimentos ambulatoriais. Por
não possuir definição objetiva, a dispneia possui diferentes formas de apresentação, por
exemplo, sensação de trabalho ou esforço, constrição, falta de ar/inspiração insatisfa-
tória. Cabe ao médico em questão avaliar qual tipo está sendo descrito e definir como
proceder.
A sensação de falta de fôlego afeta até 50% dos pacientes na emergência de hospi-
tais terciários e, em mais de 3% dos casos, é a queixa principal da anamnese. A propor-
ção de pacientes que possui essa queixa aumenta conforme a idade e tem seu máximo
nas faixas etárias entre 55 e 69 anos.
Para avaliar o grau de dispneia, existem escalas e questionários que têm o objetivo
de facilitar o diagnóstico, já que a dispneia pode estar relacionada a inúmeras patolo-
gias. Dentre as classificações há a do órgão britânico Medical Research Council (MRC) - fi-
gura 1 -, que é a mais utilizada por facilitar a compreensão do paciente, e a classificação
de Borg (figura 2), que é menos objetiva.
185
3-A
0 Nenhuma
0,5 Muito, muito leve
1 Muito leve
2 Leve
3 Moderada
4 Pouco intensa
5 Intensa
6
7 Muito Intensa
8
9 Muito, muito intensa
10 Máxima
186
apresentações não esperadas, como dispneia isolada e sem dor ou com dor atípica, que
atingem principalmente mulheres, pessoas com diabetes mellitus e a partir de 75 anos.
O paciente pode estar sudorético e hipotenso e possuir ritmo de galope com 3ª ou 4ª bu-
lhas na ausculta cardíaca, além de estertores na ausculta pulmonar. Alterações no ECG e
nas enzimas cardíacas normalmente estão presentes.
Conduta inicial na emergência: aspirina e outros agentes antiplaquetários, betablo-
queadores, nitratos e anticoagulantes são usados como tratamento inicial em diferen-
tes formas de SCA.
ASMA AGUDA
Manifesta-se principalmente pela tríade dispneia, opressão torácica e sibilância,
sendo presente pelo menos um desses sintomas em mais de 90% dos pacientes. Ou-
tros achados respiratórios comuns são roncos, tosse e uso da musculatura intercostal.
A dispneia é de início súbito e o paciente pode ter tido exposição a alérgenos e possivel-
mente possui histórico de asma. Pessoas com asma aguda requerem tratamento ime-
diato. As diretrizes da British Thoracic Society definem a asma aguda grave de acordo com
a presença de qualquer uma das seguintes características:
• Pico do fluxo expiratório de 33% a 50% do melhor valor ou do valor previsto
• Frequência respiratória ≥ 25 por min, frequência cardíaca ≥ 110 por min
• Incapacidade de completar frases em uma única respiração
187
PNEUMONIA GRAVE
O diagnóstico clínico da pneumonia baseia-se em um grupo de sinais e sintomas
relacionados à infecção do trato respiratório inferior com presença de dispneia, febre
acima de 38ºC, tosse, expectoração, dor torácica e sinais de invasão do espaço alveolar.
Pacientes idosos, em particular, frequentemente são afebris e podem apresentar con-
fusão mental e agravamento das doenças subjacentes. É provável que o paciente que
chegue ao pronto-socorro com dispneia provinda de pneumonia apresente outros sin-
tomas mais prevalentes, contudo, por ser uma doença de alta incidência no país, é ne-
cessário saber proceder na emergência. Faz-se necessário avaliar também se o paciente
precisa de tratamento hospitalar. Para isso, são utilizados escores que serão vistos em
outros capítulos.
188
PNEUMOTÓRAX
A dispneia de início súbito associada à dor torácica unilateral pode indicar pneumo-
tórax agudo. O pneumotórax espontâneo pode ocorrer em pessoas altas e longilíneas,
usuários de crack ou portadoras de HIV. O pneumotórax secundário pode agravar doen-
ças pulmonares pré-existentes, como a doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) e a
linfangioleiomiomatose. No exame físico, os murmúrios vesiculares são unilateralmen-
te ausentes e a percussão do tórax ipsilateral pode revelar timpanismo.
189
DISSECÇÃO DE AORTA
Manifesta-se com dispneia e dor torácica intensa que pode irradiar para as costas.
Pode ser acompanhada por hipotensão. O exame do sistema vascular periférico pode
demonstrar ausência de pulsos periféricos ou diferenças nas medidas da pressão arte-
rial entre as extremidades superiores e inferiores. É mais predominante em idosos aci-
ma de 75 anos e pessoas com distúrbios de colágeno. É grave e fatal na maioria dos casos.
Conduta inicial na emergência: a anamnese e exame físico são cruciais para o diag-
nóstico e uma ecocardiografia de emergência ou angiotomografia de tórax são usadas
para confirmar. A conduta pós-diagnóstico é cirúrgica ou clínica, a depender do local da
aorta que ocorre a dissecção.
CONTUSÃO PULMONAR
É causada por trauma no tórax, seja de forma perfurativa (armas de fogo ou armas
brancas) seja por contusão (acidentes automobilísticos ou quedas). Nesse tipo de lesão,
ocorre rompimento do tecido alveolar, o que resulta em hemorragia pulmonar, edema
pulmonar e surgimento de infiltrados irregulares. Devido ao grande volume de sangue
que pode se acumular no espaço pleural, o hemotórax pode se apresentar com dispneia,
colapso circulatório e choque.
190
DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS
Existem outras doenças, além das citadas, presentes no pronto-socorro que cursam
com dispneia. Dentre elas, pode-se citar: 3-A
EXAMES COMPLEMENTARES
Os exames complementares nos casos de dispneia no pronto atendimento são im-
portantes, já que por vezes auxiliam o médico a concluir o diagnóstico específico. Con-
tudo, vale a ressalva de que mais de 80% dos pacientes que apresentam essa queixa são
diagnosticados exclusivamente com anamnese e exame físico. Os exames serão dividi-
dos da seguinte forma.
191
TRATAMENTO
Como já citado, o tratamento para dispneia depende da sua etiologia. De modo
geral, todo paciente com dispneia deve ser levado para a sala de emergência e receber
oxigênio complementar, se necessário. Caso, na avaliação geral, esses pacientes estejam
em parada respiratória iminente (presença de rebaixamento do nível de consciência,
inabilidade de respirar, cianose), o suporte ventilatório invasivo deve ser cogitado. O tra-
3-A tamento específico poderá ser iniciado após a estabilização do paciente.
É importante lembrar que o suporte de oxigênio é obrigatório em todos os pacientes
com hipoxemia e que todos os pacientes com queixas de dispneia devem ser monitora-
dos até o início do tratamento específico.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. Kuzinar TJ. Assessment of dyspnea. BMJ BEST PRACTICE, 2018.
2. Martins HS et al. Emergências clínicas: abordagem prática. 12ª ed. Barueri – SP: Editora
Manole, 2017.
192
INTRODUÇÃO E DEFINIÇÕES
Equilíbrio é definido como a capacidade do corpo em manter a postura, em con-
trolar o centro de massa em relação à gravidade e superfície de apoio. Os distúrbios do
equilíbrio se manifestam como a dificuldade de se manter em posição ortostática ou
deambular por uma sensação de desequilíbrio ou tontura. A sua avaliação pode ser fei-
ta com o paciente em posição ortostática (equilíbrio estático) e caminhando (equilíbrio
dinâmico)1.
O distúrbio do equilíbrio impacta na qualidade de vida e independência dos pacien-
tes, uma vez que pode provocar quedas e, por conseguinte, morbidade e mortalidade. A
prevalência de problemas de equilíbrio aos 70 anos é de 36% nas mulheres e 29% nos
homens.
As falhas que desencadeiam transtornos do equilíbrio podem ocorrer a nível central,
periférico ou sistêmico, sendo responsável por cerca de 4% de consultas ambulatoriais
e 5% das consultas de urgência e emergência. O paciente pode se apresentar com quei-
xas inespecíficas, que incluem tontura ou lipotimia, vertigem e desequilíbrio. Dentre as
causas principais, são descritos distúrbios vestibulares periféricos agudos, distúrbio ves-
tibulares centrais agudos, causas clínicas e cardiológicas e vertigens posicionais2,3.
O passo inicial da avaliação é definir o tipo de queixa do paciente:
• Lipotimia ou tontura: queixa de mal estar, fraqueza, sensação e desmaio;
• Vertigem: sensação de rotação ou oscilação de si mesmo ou do ambiente;
• Desequilíbrio: dificuldade em manter a posição ortostática.
171
tibular ou não. Em caso de se tratar de vertigem, deverá ser definido se ela é periférica
ou central e qual o lado acometido. Por fim, através de uma anamnese completa, exame
2-G
2-D físico e de acordo com o protocolo de Hints, deve-se definir o grau de acometimento e
etiologia para nortear o tratamento.
ETIOLOGIA
Os distúrbios do equilíbrio podem ser causados tanto por alterações no aparelho
vestibular quanto do cerebelo, sistema extrapiramidal, medula espinhal neuromuscu-
lar. Também pode haver causas sistêmicas para essa condição.
Neurite Vestibular
Doença de Ménière
Vestibular Periférica Aguda
Toxicidade Medicamentosa
VPPB
Enxaqueca/Migrânea Vestibular
Vestibular Central Aguda AVEi/AVEh
Encefalopatia de Wernicke
Distúrbios Metabólicos
Anemia
Causas Sistêmicas
Hipotensão
Arritmias Cardíacas
Outras Causas Transtornos Psiquiátricos
DISTÚRBIOS VESTIBULARES
As vestibulopatias relacionam-se ao desequilíbrio do tônus vestibular, são autolimi-
tadas e provocam vertigem verdadeira (sensação de que o paciente ou o ambiente estão
girando), muitas vezes associada a náuseas e vômitos. Suas causas mais comuns são:
172
173
ENXAQUECA/MIGRÂNEA VESTIBULAR
A enxaqueca vestibular é caracterizada por uma cefaleia occipital associada a sinto-
2-G
2-D mas de disfunção do tronco encefálico e/ou pares cranianos, podendo ser citados distúr-
bios visuais, vertigem rotacional ou posicional, tontura, intolerância à movimentação
cefálica, ataxia, distúrbios da fala, zumbido e alterações sensoriais das extremidades.
Pacientes também podem relatar fotofobia, hiperacusia e fonofobia.
Deve-se diferenciar a enxaqueca vestibular da enxaqueca clássica. Na versão clássica,
os sintomas de aura duram de poucos segundos até 60 minutos enquanto na enxaqueca
vestibular os sintomas geralmente persistem por horas, dias e até mesmo semanas.
ENCEFALOPATIA DE WERNICKE
A encefalopatia de Wernicke é uma afecção neurológica causada pela deficiência de
tiamina, podendo ser potencialmente grave. Ocorre mais comumente em pacientes al-
coólatras e desnutridos, porém também pode estar associada à hiperêmese gravídica,
obstrução do trato gastrointestinal, nutrição parenteral prolongada, jejum prolongado,
nefropatias crônicas em hemodiálise, dentre outras condições.
A clínica pode se apresentar como vertigem, ataxia, alteração do nível de consciên-
cia, oftalmoparesia e nistagmo.
CAUSAS SISTÊMICAS
Diversas são as causas não vestibulares de vertigem. Dentre elas, as principais estão
relacionadas a distúrbios metabólicos, como deficiência de vitamina B12, hipercoleste-
rolemia e alterações glicêmicas agudas (hipo ou hiperglicemia), distúrbios da tireoide,
podendo levar a queixas de desequilíbrio e déficit aferente.
Além disso, outras causas comuns são as cardiopatias, que podem desencadear des-
de vertigens a síncopes ou pré-síncopes.
174
OUTRAS CAUSAS
Os distúrbios psiquiátricos são as principais causas de tontura não específica, sendo
depressão grave, ansiedade generalizada, transtorno de pânico, transtorno de somatiza- 2-G
2-D
ção, dependência de álcool e transtorno de personalidade os mais frequentes. Transtor-
nos mal definidos, como a fibromialgia, também foram associados à tontura e vertigem.
Os distúrbios psiquiátricos podem afetar pacientes com causa principal de tontura
não psiquiátrica, atuando como fator contribuinte.
MANEJO
Para o diagnóstico da causa do desequilíbrio, é importante que se faça uma história clí-
nica detalhada, sendo o clínico capaz de estabelecer a duração e características da tontura,
o curso do tempo, fatores provocantes e agravantes, sintomas concomitantes, idade, medi-
camentos em uso, condições pré-existentes - principalmente fatores de risco cardiovascular,
como diabetes, hipertensão e hiperlipidemia. Tais avaliações, aliadas ao exame neurológico,
são capazes de sugerir o sistema mais provavelmente acometido no distúrbio de equilíbrio.
Sintomas como vertigem rotatória, desequilíbrio moderado, náuseas, vômitos e osci-
loscopia (descrição de ver as coisas girando ao seu redor) podem indicar uma síndrome
vestibular periférica. Por sua vez, o paciente com lesão vestibular central pode apresentar
vertigem rotatória ou oscilatória, desequilíbrio moderado a grave, náuseas, vômitos, osci-
loscopia, diplopia, alteração visual, disartria, disfagia, déficit motor ou sensitivo.
O exame neurológico deve incluir a análise do nível de consciência, equilíbrio estáti-
co, força muscular, sensibilidade, coordenação, mobilidade ocular extrínseca, manobras
específicas como a de Dix-Hallpike - paciente colocado em posição sentada e sua cabeça
é rodada 45º para lado comprometido e, em seguida, ele é rapidamente colocado em
decúbito dorsal, com deflexão da cabeça e rodada para lado examinado - positiva na
vertigem paroxística posicional benigna, além do uso do Protocolo de Hints.
As principais alterações neurológicas correspondentes ao comprometimento vesti-
bular agudo são:
• Nistagmo horizonto-rotatório batendo para o lado bom;
• Alteração do equilíbrio, com tendência de queda para o lado lesado;
• Reflexo vestíbulo-ocular (VOR) alterado do lado lesado.
• Já as alterações neurológicas indicativas de lesão central são:
• Nistagmo horizonto-rotatório, que muda de direção nas diferentes posições do olhar;
• Nistagmo vertical puro ou rotatório puro;
• Desvio skew;
• VOR normal , exceto em lesão na lesão de entrada no VIII nervo no tronco encefá-
lico e nos casos de comprometimento vestibular prévio;
• Alteração importante do equilíbrio.
175
PROTOCOLO DE HINTS
O protocolo de Hints é compreendido por três testes clínicos provocativos que bus-
cam identificar sinais oculomotores que evidenciam se há envolvimento do SNC no
quadro de vertigem: head impulse test (HI), nistagmo semiespontâneo (N) e o teste de
skew deviation (TS), compondo a sigla inglesa HINTS1.
Sua importância se dá principalmente por ser uma alternativa rápida, sem custos e
de grande sensibilidade e especificidade, capaz de identificar AVEis envolvendo o ce-
rebelo e tronco cerebral. Isso se torna ainda mais indispensável devido à baixa sensibi-
lidade da tomografia computadorizada em infartos encefálicos, especialmente na fos-
sa posterior, e pelo fato de a RNM cranioencefálica muitas vezes não estar disponível.
Consequentemente, os exames à beira do leito se tornam essenciais na identificação
de sinais, que podem estar presentes até 42 horas antes do início dos sintomas e alte-
rações na RNM.
Seus testes consistem em:
• Head impulse test (h-HIT) ou impulso horizontal da cabeça (figura 01): através
desse teste, avalia-se o reflexo vestíbulo-ocular. Quando há uma vestibulopatia
periférica presente e comprometimento de um dos labirintos, o paciente não
consegue manter o olhar fixo quando sua cabeça é rotacionada bruscamente
para o lado comprometido. Quando o teste se apresenta normal, deve-se suspei-
tar de lesões agudas no SNC.
176
2-G
2-D
TERAPÊUTICA
No tratamento sintomático da fase aguda de crises vertiginosas, podem ser usados o
dimenidrato (1 amp EV ou 1 comp VO 6/6h), a meclizina ( 25mg 1 comp VO 8/8h ou 6/6h)
e medicações ansiolíticas como diazepam 10 mg ou clonazepam 1 a 2 mg, assim como a
metoclopramida para controle das náuseas.
177
Para a neurite vestibular, pode ser usada a metilpredinisolona por acelerar o quadro
de recuperação do paciente.
2-G
2-D No caso da Doença de Ménière, a betaistina pode ser usada na dose de 8 a 24 mg
12/12h para prevenir crises subsequentes.
Já para o tratamento específico da vertigem central aguda, a medicação deve ser de-
finida de acordo com a etiologia. Por exemplo, deve-se seguir o tratamento de acidente
vascular cerebral caso essa seja a causa da vertigem.
Em se tratando de VPPB, as manobras de Epley e de Semont movimentam os cristais
de cálcio para que retornem ao utrículo e possuem resolubilidade de até 80% dos causos.
A manobra de Epley é feita rotacionando a cabeça do paciente para lado comprome-
tido e rapidamente o paciente deve ser colocado em decúbito dorsal com a cabeça abai-
xo da linha do corpo. Em seguida, tanto o corpo quanto a cabeça do paciente devem ser
girados para o decúbito lateral do lado não comprometido e, por fim, o paciente deve
ser sentado (figura 2).
178
2-G
2-D
Por sua vez, na manobra de Semont (figura 3), a cabeça do paciente é rodada em 45
graus para o lado são (A) e depois o paciente é deitado do lado comprometido (B) per-
manecendo por 2 a 3 minutos. Em seguida, é deitado do lado oposto (C), permanecendo
por cerca de 5 minutos. Por fim, é colocado na posição sentado (D).
Para as causas de desequilíbrio por ação psiquiátrica, a terapia comportamental
cognitiva em combinação com técnicas de relaxamento ou reabilitação vestibular pode
ajudar a gerenciar esse tipo de tontura.
179
TONTURA
OU
2-G
2-D VERTIGEM?
< 50 anos,
>50 anos, com AVC
Causa comum: VPPB sem fator de Não sugere
fator de risco agudo
Alterações risco AVC agudo
psiquiátrica
Manobra de Epley
Controle da
Solicitar RM do Tratamento do
Crise aguda
Encéfalo AVC agudo
Alta
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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chiatry 2000;68(2):129-134. doi:10.1136/jnnp.68.2.129
181
INTRODUÇÃO
A dor abdominal é uma das queixas mais desafiadoras no pronto-socorro (PS). Isso
ocorre, principalmente, devido às suas múltiplas etiologias, múltiplas variantes clínicas
e da sua evolução, que pode ser de benigna a grave.
É importante chamar atenção aos pacientes idosos, imunocomprometidos e mulhe-
res em idade fértil, pois eles são pacientes que demandam ainda mais minuciosidade
na sua avaliação. Os idosos geralmente apresentam queixas vagas e inespecíficas e até
mesmo quadros clínicos atípicos de doenças mais graves. Os imunocomprometidos por
sua vez também possuem manifestações atípicas das doenças. Já nas mulheres, é im-
portante deter-se a diagnósticos diferenciais que envolvam alterações do sistema repro-
dutor e alterações anatômicas relacionadas à gestação.
Para que o diagnóstico se torne mais fácil e preciso, é muito importante a coleta de-
talhada da anamnese e a execução minuciosa do exame físico. Além disso, se faz neces-
sário excluir o diagnóstico de o abdome agudo como forma de diminuir a morbimorta-
lidade do paciente.
ETIOLOGIA
Com o objetivo de guiar nossa conduta clínica e diagnóstica no atendimento de pa-
cientes com dor abdominal, podemos dividir a dor em 3 mecanismos (Tabela 1): (1) dor
visceral, (2) dor parietal e (3) dor referida.
235
Dor Visceral É uma sensação dolorosa resultante da irritação da parede dos órgãos intra-abdominais.
Dor Somática É uma sensação dolorosa resultante da irritação do peritônio parietal.
Dor Referida É uma sensação dolorosa em um local diferente da sua origem.
Fonte: Autoria própria (2019).
Além disso, também podemos guiar nosso raciocínio clínico pela localização da dor
abdominal (Tabela 2).
236
QUADRO CLÍNICO
O quadro clínico do paciente com dor abdominal depende da etiologia desta dor,
assim como da idade e sexo deste paciente. Na tabela 4, veremos as características das
principais causas de dor abdominal.
Contudo, o médico não precisa apenas conhecer quais os quadros clínicos possíveis
para uma dor abdominal. Ele precisa, ainda, definir quais os pacientes possuem quadro
clínico com gravidade (Tabela 5) e interferir o mais rápido possível no seu tratamento.
237
Anamnese
Idade > 65 anos;
Imunocomprometidos (HIV, tratamento crônico com corticoide);
Alcoolismo;
Doença cardiovascular (como DAC, DVP, hipertensão, fibrilação arterial);
Comorbidades (como câncer, diverticulose, cálculos biliares, doença inflamatória intestinal, pancreatite, insuficiência
renal);
Cirurgia prévia ou instrumentação gastrointestinal recente;
Gravidez precoce (risco de gravidez ectópica).
Características da dor
Início súbito;
Dor intensa desde o início;
Dor com vômito subsequente;
Dor constante com menos de dois dias de evolução.
Exame físico
238
Anamnese
Abdome em tábua;
Contrações involuntárias;
Sinais de choque.
Fonte: Adaptado de UptoDate, 2018.
EXAMES COMPLEMENTARES
Por mais que os exames complementares sejam fundamentais em muitos diagnós-
ticos de dor abdominal, eles não substituem uma anamnese e exame físico bem deta-
lhados e, algumas vezes, não evidenciam alterações.
4-A
EXAMES LABORATORIAIS:
• Um hemograma com leucocitose com desvio à esquerda é sugestivo de infec-
ções, resposta inflamatória ou até em casos de grande perda de sangue.
• Os eletrólitos são importantes para avaliar o paciente como um todo e evidenciar
possível desidratação ou distúrbios hidroeletrolíticos e acidobásicos.
• Enzimas cardíacas: são utilizadas na investigação de isquemia cardíaca.
• Glicose: quando elevada, pode indicar cetoacidose diabética;
• Ddímero: é importante no diagnóstico de TEP e TVP.
• Amilase e Lipase pancreática: enquanto a lipase é mais específica de pancreatite,
a amilase pode indicar pancreatite e outras patologias como, doença renal, obs-
trução intestinal, isquemia mesentérica e úlcera péptica perfurada.
• AST, ALT, fosfatase alcalina, gama GT, BT, BI, BD e estudos da coagulação, podem
ser pedidos em ocasiões mais específicas, como presença de icterícia e hepato-
megalia.
EXAMES DE IMAGEM:
• Radiografia simples de abdome é utilizada para o diagnóstico de perfuração de
víscera, obstrução intestinal, cálculos renais, pneumonia, derrame pleural e ou-
tros.
• US abdominal é um exame examinador dependente, de baixo custo e que pode
ser utilizado à beira do leito. Nele é possível ver as vias biliares, o trato genituri-
nário, o apêndice, fígado e vasos hepático, além de detectar possíveis derrames
cavitários.
• A tomografia computadorizada, é um ótimo exame para diagnóstico de dor ab-
dominal, contudo, possui como barreira o quadro clínico de emergência de mui-
tos pacientes, que não podem esperar pela TC para iniciar o tratamento. Porém,
239
possui excelente acurácia nos casos de litíase renal, apendicite, dissecção de aor-
ta e diverticulite, entre outros.
• ECG é um exame importante, principalmente, em pacientes com causas extra-
-abdominais, como causas cardíacas e em consequência à metabólitos.
DIAGNÓSTICO DIFERENCIAIS
Além das etiologias abdominais, as etiologias extra-abdominais também podem
causar dor abdominal. Deste modo, é importante saber as principais causas de dor ab-
dominal extra-abdominal (Tabela 6).
TRATAMENTO
Inicialmente, é importante se atentar ao quadro geral do paciente (estável ou não),
com o objetivo de diminuir a sua morbimortalidade. Pacientes instáveis devem receber
todos os cuidados possíveis para tornarem-se estáveis: monitorização, estabilização he-
modinâmica, vias aéreas e oxigenação se necessário, dois acessos venosos calibrosos,
coleta de exames (de acordo com seu quadro clínico), reposição volêmica e diagnóstico
precoce.
Já em pacientes estáveis, uma coleta detalhada da anamnese e de exame físico são
essenciais para guiar ao diagnóstico etiológico e seu consequente tratamento.
Ademais, não se deve retardar a analgesia do paciente com dor abdominal aguda,
pois analgésicos narcóticos, incluindo a morfina, não prejudicam o diagnóstico clínico.
240
Morfina 0,05 mg/kg a cada vinte minutos até o controle da dor, mantendo o cuidado
naqueles pacientes que já estavam com náuseas e vômitos como sintomas iniciais.
Anti-inflamatórios ou opioides podem ser utilizados em pacientes com litíase renal.
4-A
REFERÊNCIAS
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nível em: <http://www.uptodate.com/online>. Acesso em: 22 maio 2019.
2. KENDALL, John L. Evaluation of the adult with abdominal pain in the emergency depart-
ment. UpToDate. 2018. Disponível em: <http://www.uptodate.com/online>. Acesso em:
22 maio 2019.
241
4-A
242
INTRODUÇÃO
O Estado de Mal Epiléptico é definido como uma crise epiléptica com duração igual
ou superior a 30 minutos ou crises epilépticas subentrantes sem recuperação completa
da consciência. O conceito temporal da definição (30 minutos) é baseado em estudos
prognósticos, estando significativamente relacionado ao aumento da mortalidade e
morbidade neurológica1.
É uma emergência clínica com altas taxas de morbidade e mortalidade. A probabili-
dade de um indivíduo apresentar uma crise epiléptica em qualquer momento da vida é
relativamente alta. Esse risco é estimado entre 5% e 10%. Em muitos desses casos, um
fator desencadeante de crises pode ser identificado e, uma vez removido, a crise não
deverá se repetir2. A taxa de mortalidade varia entre 3% e 40%, sendo mais prevalente
quanto maior for a idade e mais prolongado o episódio. A maioria dos óbitos deve-se à
causa que originou a crise e não à crise em si, portanto, a causa deve ser reconhecida e
adequadamente conduzida.
Alguns termos importantes para a compreensão do assunto abordado são:
• Crise epiléptica: expressão clínica de uma desordem elétrica excessiva e anormal
do tecido cerebral.
• Crise aguda sintomática: crise provocada por causas identificadas, como distúr-
bios metabólicos, intoxicação aguda, abstinência de drogas sedativas ou insulto
neurológico agudo.
• Epilepsia: doença neurológica que se caracteriza pela presença de crises espon-
tâneas.
145
ETIOLOGIA
A crise tônico-clônica é o estado de mal epiléptico mais grave e ameaçador à vida,
acontece pela atividade elétrica paroxística cortical, que pode ser decorrente dos se-
guintes quadros:
• Exacerbação de epilepsia pré-existente, interrupção ou uso inadequado dos an-
tiepilépticos ou manifestação inicial de epilepsia.
• Lesões neurológicas agudas (geralmente com lesão cortical): tumores, neuroin-
fecções, hipóxia, infarto, doenças desmielinizantes, hemorragia, traumas, neuro-
cirurgias.
• Processos agudos sistêmicos: distúrbios metabólicos/eletrolíticos, deficiência
vitamínica, toxicidade/retirada de medicamentos, álcool ou narcóticos, medica-
ções que diminuem o limiar convulsivo, encefalopatia hipertensiva, septicemia e
falência de órgãos.
QUADRO CLÍNICO
Quadros de crise tônico-clônica generalizada são frequentes no pronto-socorro. Ge-
ralmente, o paciente chega ao hospital no período pós-ictal sonolento ou confuso, não
se recorda do ocorrido ao acordar e queixa-se de dores no corpo e intensa cefaleia.
Se as crises forem em decorrência de uma condição clínica ou neurológica, o pacien-
te pode apresentar outros sintomas condizentes com o seu diagnóstico.
146
Exame físico:
• Exame físico geral
• Pesquisa de sinais de infecção grave
• Exame da pele: podem evidenciar doenças como esclerose tuberosa, neurofibro-
matose, doença renal ou hepática crônica
• Exame neurológico completo, incluindo avaliação de memória, função da lingua-
gem e pensamento abstrato.
EXAMES COMPLEMENTARES
• A glicemia capilar deve ser realizada imediatamente
• Causas clínicas: hemograma, plaquetas, gasometria, exames de coagulação, gli-
cemia, função renal, função hepática, eletrólitos (sódio potássio, cálcio e magné-
sio), EAS, hemoculturas
• Intoxicações: perfil toxicológico
• Dosagem sérica de antiepilépticos
147
DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL
Síncope: geralmente possui situação predisponente e início gradual. O paciente
apresenta movimentos clônicos não coordenados de baixa amplitude, respiração su-
perficial e lenta, náuseas, palidez e vômitos, não apresenta incontinência e mordedura
da língua e o episódio é de pouca duração.
COMPLICAÇÕES CLÍNICAS
• Pneumonia aspirativa
• Hipertensão arterial sistêmica
• Hipertermia secundária à atividade muscular (excluir infecção)
• Liberação excessiva de catecolaminas pode levar a alterações cardíacas
• Edema agudo de pulmão neurogênico
148
149
150
2-D
151
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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4. Souza, H. P. de et al. Emergências Clínicas: abordagem prática. Editora Manole Ltda, 13ª
ed. 2019.
152
CONCEITO
O contato do organismo com substâncias tóxicas exógenas pode cursar com sinais e
sintomas diversos, podendo ocorrer por ingesta, inalação ou inoculação intencionais ou
acidentais de forma expressiva, ou por baixo metabolismo do tóxico no corpo. Devido à
vasta manifestação clínica, toda doença aguda deve exigir diagnóstico laboratorial com
intoxicações agudas e vice-versa.
577
MANEJO
A priori, deve-se garantir a estabilidade clínica do paciente. A história clínica pode
ser realizada de maneira paralela, buscando a possível etiologia:
• A: checar perviedade de vias aéreas
• B: observar padrão respiratório, frequência cardíaca, presença de desconforto
respiratório e necessidade de auxílio ventilatório
• C: registrar continuamente pressão arterial, frequência cardíaca, saturação pe-
riférica de oxigênio e avaliar necessidade de expansão volêmica e uso de drogas
vasoativas
• D: checar status neurológico através da Escala de Coma de Glasgow, presença de
déficits motores e alterações pupilares
• E: procurar por possíveis sítios de inoculação (uso de drogas por via intravenosa,
picadas por animais peçonhentos)
EXAMES COMPLEMENTARES
Os exames laboratoriais inespecíficos podem ser realizados em pacientes muito sin-
tomáticos, visando avaliar o acometimento de sistemas específicos. Avaliar necessidade
de hemograma, dosagem de eletrólitos, coagulograma, função renal, função hepática,
EAS, gasometria arterial e outros.
O exame toxicológico (screening) pode ser considerado em casos não elucidados pela
história clínica, mas não influencia na terapia de suporte.
PREVENÇÃO DA ABSORÇÃO
Na vigência de intoxicação aguda, uma alternativa é impedir a absorção total da
substância causadora, dependendo da via. Deve-se optar por lavagem da pele e olhos
ou remoção dos inoculadores (por exemplo, ferrão de insetos).
Na intoxicação por via oral, a lavagem gástrica está indicada caso o período trans-
corrido desde a ingesta seja inferior a 60 minutos no paciente com bom nível de consci-
9-B
9-A
ência, caso a substância seja desconhecida ou potencialmente tóxica. O carvão ativado,
que apresenta propriedade de impedir a absorção no trato gastrointestinal, pode ser
usado por via oral em dose única (1 g/kg) ou a cada 4 horas (0,5 g/kg), diluído em água
ou soro fisiológico.
AUMENTO DA EXCREÇÃO
Algumas substâncias tóxicas podem ser eliminadas associando hiper-hidratação
(mantendo débito urinário entre 100 e 400 ml/h) com soro fisiológico e alcalinização da
578
urina com bicarbonato de sódio (mantendo pH > 7,5). A diálise pode ser considerada, se
disponível e se não houver contraindicações.
ANTÍDOTOS ESPECÍFICOS
Se disponível, é prudente administrar o antídoto do tóxico responsável, havendo cer-
teza do seu uso:
• Benzodiazepínicos: administrar flumazenil
• Opioides: administrar naloxona
• Acetaminofeno (paracetamol): administrar acetilcisteína
• Betabloqueadores: administrar glucagon
• Organofosforados (inseticidas): administrar atropina
• Anticoagulantes: utilizar plasma fresco congelado e vitamina K, mantendo a cas-
cata da coagulação
• Bloqueadores de canais de cálcio: administrar gluconato de cálcio e glucagon
• Digoxina: administrar anticorpo específico antidigoxina
• Isoniazida: administrar vitamina B6
• Anticolinérgicos (alguns antidepressivos tricíclicos, anti-histamínicos e anti-
parkinsonianos): administrar fisostigmina
TENTATIVA DE SUICÍDIO
Frente a uma situação de tentativa de suicídio, o profissional de saúde deve seguir
condutas que intermedeiem as ações lesivas do paciente e procurem impedir o ato. A
depender da forma de autoagressão, o manejo é individualizado.
Caso o paciente tome atitudes autolesivas de forma física (tentativa de pular de
grandes alturas, causar ferimentos perfurantes ou cortantes e outros), é imprescindível
assumir uma escuta ativa, buscando causas, conflitos pessoais, situação psiquiátrica,
enquanto tenta acalmar e acolher o paciente:
• Iniciar comunicação confortável ao paciente, buscando atender a demandas
9-B
9-A
como privacidade e expressão de seus conflitos
• Mostrar-se interessado e empático às situações, com frases como “gostaria de
ajudar” e “desejo entender como se sente e pelo que está passando”
• Seguir o ritmo do paciente, não esperando que ele se acalme rapidamente
• Evitar confrontos, desafios ou julgamentos
• Procurar, no discurso ou nos antecedentes pessoais, doenças psiquiátricas, tenta-
tivas prévias de suicídio e tratamentos realizados de forma geral para condições
como depressão, doenças oncológicas, doenças crônicas e outras. Buscar tam-
579
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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vel em: <bvsms.saude.gov.br>. Acesso em: 17 de maio de 2019.
9-B
9-A
580
INTRODUÇÃO
A lombalgia tem como definição a dor, rigidez ou sensação de tensão muscular lo-
calizada abaixo da margem costal, mas acima da região glútea. Estima-se que até 84%
dos adultos têm dor lombar em algum momento de suas vidas e é, depois da cefaleia,
a causa mais comum de dor, representando cerca de 5% das consultas em serviços de
emergência. Na maioria dos casos, os episódios são autolimitados.
Alguns autores subdividem a lombalgia em aguda (até 4 semanas), subaguda (entre
4 e 12 semanas) e crônica (≥ 12 semanas). Embora existam muitas etiologias de dor lom-
bar, a maioria dos pacientes atendidos nas unidades de emergência terão dor lombar
inespecífica (>85%). Portanto, raramente, a lombalgia é um prenúncio de uma etiologia
grave (<1% dos casos).
583
risco importante para lombalgia por metástase, sendo os sítios primários mais comuns
pulmão, mama, próstata, tireoide e ovário). Outras condições não mecânicas importan-
tes são as de natureza inflamatória (como a espondilite anquilosante, espondilite psori-
ática, síndrome de Reiter e a doença inflamatória intestinal) e as de natureza infecciosa
(como a osteomielite, a discite séptica, o abscesso paraespinal, o abscesso epidural, o
herpes-zóster, a tuberculose vertebral, a sífilis terciária, entre outras). Doenças sistêmi-
cas como a sarcoidose, as vasculites, a neuropatia diabética, a acromegalia e a doença de
Paget podem manifestar-se com lombalgia.
Devemos sempre lembrar as causas viscerais de dor lombar, que podem ser dividi-
das em doenças pélvicas (como a prostatite e a endometriose), doenças renais (nefroli-
tíase, pielonefrite e abscesso perinéfrico), doença gastrointestinal (pancreatite aguda,
colecistite e úlcera péptica perfurada), doença vascular (como o aneurisma de aorta).
584
O exame físico tem como principal finalidade identificar características que sugiram
a necessidade de avaliação adicional. Ele deve conter: inspeção do dorso e da postura,
verificação da temperatura, exame ectoscópico da pele, procurando por lesões elemen-
tares, sinal de Lasègue, palpação e percussão da coluna vertebral e o exame do abdome.
Ademais, o exame neurológico faz-se necessário na avaliação da sensibilidade, marcha,
reflexos e trofismo muscular dos segmentos corporais, a depender da raiz nervosa ava-
liada.
585
EXAMES COMPLEMENTARES
Devido ao caráter autolimitado da maioria dos casos, não se torna necessário testes
de laboratório e exames de imagem, exceto na presença de sinais de alarme ou após
observação e tratamento clínico por mais de quatro semanas.
Em alguns pacientes com suspeita de processos inflamatórios, infecciosos e neoplá-
sicos, a velocidade de hemossedimentação (VHS) maior que 40 mm tem alta sensibili-
dade diagnóstica, podendo servir como exame de screening para condições de lombalgia
de maior gravidade. Demais exames, como hemograma, eletrólitos, eletroforese de pro-
teínas, eletroneuromiografia, entre outros, devem ser solicitados quando há suspeita
de uma etiologia específica.
Os exames de imagem podem sugerir causas específicas para a lombalgia. Deve-se
salientar, porém, que pacientes assintomáticos podem ter resultados anormais, o que
torna difícil correlacionar os sintomas aos achados na imagem. Ainda, mesmo quando
os achados radiológicos são consistentes com a apresentação clínica, a magnitude de-
les não se correlacionam necessariamente com a gravidade clínica, e a melhora clínica
pode não se correlacionar com a resolução da alteração radiográfica. Portanto, o exame
de imagem deve ser solicitado de acordo com a suspeita clínica e analisado minunciosa-
mente. A ressonância magnética (RNM) é o exame de imagem de melhor performance
para o diagnóstico.
A radiografia simples de coluna pode fornecer informações importantes (como ali-
nhamento da coluna vertebral, tamanho, estrutura, forma dos corpos vertebrais e pos-
síveis lesões ósseas), além de poder mostrar alterações específicas de determinadas
etiologias (Tabela 2).
586
TRATAMENTO
O tratamento da lombalgia depende da condição causadora. Por serem as mais co-
muns nos serviços de emergência, daremos enfoque no tratamento das causas muscu-
loesqueléticas.
A terapia deve se concentrar no alívio sintomático temporário, para maximizar o
conforto do paciente. Os analgésicos não opioides e os anti-inflamatórios não esteroi-
des (AINEs) são as drogas de primeira escolha. Os AINEs devem ser mais considerados
em pacientes mais jovens, sem lesão renal ou gástrica significativa, ou comorbidade
cardiovascular. Paracetamol pode ser indicado para pacientes sem comprometimento
hepático que não toleram os AINEs. O uso de analgésicos a longo prazo deve ser evitado.
Em caso de resistência à dor ou dor severa, podem ser utilizados opioides de menor
potência (como codeína e tramadol) e, se necessário, opioides de maior potência (como
a morfina e a oxicodona). Devem ser prescritos para uso a curto prazo, em um horário
fixo, ao invés de apenas se necessário. Não prescrever glicocorticoides sistêmicos em pa-
cientes com dor lombar.
Pacientes com idade < 65 anos com dor moderada a grave, que não respondem à
monoterapia e podem tolerar os efeitos sedativos, pode ser prescrito um relaxante mus-
cular não benzodiazepínicos (como ciclobenzaprina) em associação aos AINEs.
O repouso absoluto não é aconselhando em pacientes com dor lombar aguda, pois
tem uma recuperação mais lenta do que os pacientes que optam por modificação de
atividade mínima. Sugere-se a prática proporcional ao limite do paciente, devendo-se
aumentar a intensidade progressivamente. Alternativas incluem compressas mornas e
fisioterapia. 10-A
587
FLUXOGRAMA
10-A
588
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Manole; 2015.
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em: www.uptodate.com.
4. LONGO DL, et al. Medicina interna de Harrison. 18. ed. Rio de Janeiro: Artmed; 2013. 2 v.
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gy 2005;8,5-15.
6. Chen MYN, Pope TL, Ott DJ. Radiologia básica. 2. ed. Porto Alegre: AMGH; 2012.
10-A
589
INTRODUÇÃO
A consciência é o estado em que há o perfeito conhecimento de si mesmo e do am-
biente. Compreende o grau de alerta e o conteúdo da soma de funções cognitivas e
afetivas.
A alteração do nível de consciência é um quadro frequente no pronto-socorro e,
como possui várias etiologias, seu diagnóstico é sindrômico e não etiológico.
Em coma, o indivíduo não tem conhecimento de si ou do ambiente, apresentando
ausência do nível de alerta e permanecendo não responsivo aos estímulos internos e
externos, com os olhos fechados. É um estado sustentado, o que o diferencia de uma
síncope.
Ao avaliar a consciência, é necessário considerar o seu nível ou grau de alerta, que
depende da interação entre o sistema reticular ativador e o córtex, e também o seu con-
teúdo, que está relacionado a funções cognitivas e afetivas que dependem do córtex.
O estado de consciência possui várias gradações:
• Vigília: o paciente está acordado, mas pode não ter o conteúdo de consciência
preservado.
• Sonolência: o paciente está orientado no tempo e no espaço e obedece a coman-
dos, acordando quando solicitado.
• Torpor: o paciente acorda após estímulo mecânico, tem noção de quem é, mas
não está orientado no tempo e no espaço.
153
ETIOLOGIA
Encefalopatia focal supratentorial (diencéfalo e telencéfalo) e infratentorial (tronco
encefálico e cerebelo): hemorragias, tumores, hidrocefalia, abscesso, infartos, desmieli-
nização, aneurismas.
Encefalopatias difusas e multifocais: geralmente transtornos metabólicos e intoxi-
cações.
AVALIAÇÃO DO PACIENTE
ABORDAGEM INICIAL
• ABCD primário e secundário, garantindo a patência das vias aéreas
• MOV com glicemia capilar. Se não for possível descartar a hipoglicemia, fazer gli-
cose IV (100 ml de G50%) + tiamina IV (100 mg)
• Colher gasometria arterial
• Tratar crises epilépticas (fenitoína IV 20 mg/kg, se necessário)
• Se o coma não for por causa imediatamente reversível, proceder à intubação oro-
traqueal.
HISTÓRIA CLÍNICA
Devido a sua condição neurológica, o paciente deve estar na presença de acompa-
nhante, que não deve ser liberado até que a avaliação completa seja realizada.
PONTOS-CHAVE
• Início do quadro:
• Súbito: sugere intoxicação exógena ou lesão estrutural
• Gradual: causa metabólica
• Sintomas prévios (déficit motor ou sensitivo focal, sintomas psiquiátricos, crise
epiléptica, diplopia, cefaleia): compressão gradual por lesões expansivas
• História de trauma recente: hematoma subdural em expansão
• Antecedentes pessoais e hábitos de vida
• Medicações em uso: excesso ou abstinência podem levar a alterações do nível de
consciência
• Flutuação do estado mental: intoxicação e confusão mental.
154
EXAME INICIAL
EXAME NEUROLÓGICO
Avaliar o nível de consciência, pupilas e fundo de olho, motricidade ocular extrínse-
ca, padrão respiratório, padrão motor.
• Nível de consciência – medido pela Escala de Coma de Glasgow.
• Função do tronco encefálico:
• Resposta pupilar: forma, tamanho, simetria e reflexos fotomotor direto e con-
sensual.
155
EXAMES COMPLEMENTARES
• Dependerão do contexto clínico e dos achados do exame físico.
• Exames para causas tóxicas, metabólicas, infecciosas ou sistêmicas: hemogra-
ma completo, eletrólitos (sódio, fósforo, potássio, cálcio e magnésio), gasometria
arterial, função renal, função e enzimas hepáticas, glicemia, EAS, enzimas cardí-
acas, dosagem de hormônios tireoidianos e exames toxicológicos.
• Exames para investigar causas neurológicas: tomografia computadorizada de
crânio (suspeita de hipertensão intracraniana e déficits focais), ressonância mag-
nética (suspeita de encefalite herpética, isquemia aguda, encefalopatia de Wer-
nicke ou lesão axonal difusa), punção liquórica, angioressonância ou angiotomo-
grafia (suspeita clínica de oclusão vascular aguda de artéria basilar).
156
DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL
• Síndromes de heminegligência
• Afasia de Wernicke: O paciente tem um discurso fluente, mas desconexo. A aten- 2-D
2-E
ção geralmente é preservada, o que é evidenciado pelo contato visual e esforço
em tentar estabelecer uma comunicação.
• Delirium: O quadro clínico cursa com um déficit global agudo da atenção que se
desenvolve em horas ou dias, podendo apresentar flutuações.
• Fatores de risco: paciente acima de 60 anos, sexo masculino, deficiência visual
ou auditiva, isolamento social ou ambiente novo, demência ou alteração cog-
nitiva prévia, antecedente de delirium, dependência funcional, imobilização,
história de quedas, uso de psicotrópicos, múltiplas medicações ou abuso de
álcool, infecções, desidratação e nutrição, distúrbios hidroeletrolíticos, meta-
bólicos ou endócrinos, hipotermia ou hipertermia.
• Quadro clínico: transtorno de vigilância e aumento no nível de distração, in-
capacidade de manter coerência de pensamento, incapacidade de executar
séries de movimentos com objetivos definidos.
• Conduta:
• Suporte clínico: vias aéreas, ventilação, circulação, desfibrilação, exame
físico (ABCD).
• Procurar e tratar causas reversíveis.
• Medidas gerais: proteger vias aéreas, manter a volemia, promover mu-
dança de decúbito, evitar restrição no leito ou dispositivos que dificultem
a mobilidade, evitar polifarmácia, deixar o paciente com seus óculos ou
aparelhos de surdez, procurar manter o ciclo sono-vigília e estimular a
memória e a percepção sensorial.
• Tratamento farmacológico: realizar se o paciente apresentar risco para si
mesmo, se o quadro persistir ou se os fatores precipitantes forem desco-
nhecidos. (holoperidol 10 mg/dia Vo ou 5 mg, IV/IM repetindo após 20-30
minutos sob monitorização; risperidona 0,5mg, 2 vezes/dia, olanzapina
2,5-5mg/ dia, quetiapina 25 mg, 2 vezes/dia e periaciazina 20-60 mg/dia,
VO).
• Investigar e tratar causa específica.
• Demência: possui um longo tempo de evolução.
• Psicose aguda: geralmente cursa com alucinações auditivas e visuais.
• Epilepsia: em pós-convulsivos ou em crises parciais complexas.
• Depressão grave.
157
MORTE ENCEFÁLICA
É caracterizada pela deterioração do estado neurológico para uma situação irreversí-
vel e pela ausência de funções neurológicas. A Resolução do CFM nº 2.173/17 estabelece
que os procedimentos para a determinação de morte encefálica devem ser iniciados em
todos os pacientes que apresentem coma não perceptivo, ausência de reatividade su-
praespinhal e apneia persistente.
Os procedimentos para a determinação da morte encefálica devem ser iniciados em
todos os pacientes que apresentarem os seguintes pré-requisitos:
• Coma não perceptivo;
• Ausência de reatividade supraespinhal;
• Apneia persistente;
158
159
O exame deve ser repetido por um segundo médico (nenhum médico responsável
por determinar a confirmação de morte encefálica pode compor a equipe de retirada
2-D
2-E e transplante). Na repetição do exame clínico (segundo exame) por outro médico será
utilizada a mesma técnica do primeiro exame. Não é necessário repetir o teste de apneia
quando o resultado do primeiro teste for positivo (ausência de movimentos respirató-
rios na vigência de hipercapnia documentada).
O intervalo mínimo de tempo a ser observado entre 1º e 2º exame clínico é de uma
hora nos pacientes com idade igual ou superior a dois anos de idade.
160
2-D
2-E
161
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. Neto AS, Velasco IT, Martins HS, Neto RAB. Emergências Clínicas - Abordagem Prática -
2-D
2-E 12ª Edição, Editora Manole, 2017.
2. Conselho Federal de Medicina. RESOLUÇÃO CFM Nº 2.173/2017. 2017. Disponível em:
<https://sistemas.cfm.org.br/normas/visualizar/resolucoes/BR/2017/2173>. Acesso em:
20 fev. 2019.
3. Young GB. Diagnosis of brain death. 2018. Disponível em: https://www.uptodate.com/
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4. Braunwald E, Fauci AS, Hauser SL, Kasper DL, Longo DL Jameson JL. Harrison Medicina
Interna - 2 Volumes - 18ª Edição, Editora Artmed, Rio de Janeiro, 2013.
5. McPhee SJ, Rabow MW, Papadakis MA. Current Medical Diagnosis And Treatment 2013 –
Editora McGraw-hill Interamericana-id, 2013.
162
INTRODUÇÃO
Síncope é uma perda transitória de consciência (TLOC – em inglês, Trasient Loss of
Consciusness) associada à perda do tônus postural e rápido retorno espontâneo à função
neurológica basal, não precisando, assim, de procedimentos de ressucitação.
A síncope representa cerca de 1% a 3% das visitas ao departamento de emergência
por ano e de 2% a 6% das internações hospitalares nos EUA. O primeiro episódio, em ge-
ral, ocorre entre 10 e 30 anos, tendo como causa principal a síncope vasovagal, e há outro
pico de incidência aos 65 anos, geralmente ocasionado pela hipotensão ortostática ou
doença cardiovascular.
Sua causa advém de um período inadequado de fluxo de nutrientes cerebrais – de 8
a 10 segundos , que, na maioria das vezes, é consequência da queda abrupta da pressão
arterial. Períodos mais longos de perda de consciência real ou aparente sugerem que o
evento não é síncope ou não é apenas síncope.
Por ser uma síndrome que pode ser causada por condições benignas e também po-
tencialmente fatais, a síncope é uma razão relativamente comum para se apresentar à
emergência.
ETIOLOGIA
Após o evento sincopal ter sido resolvido e o paciente estar hemodinamicamente
estável, deve-se, então, buscar a etiologia da síncope, que geralmente é agrupada em
quatro categorias principais: síncope reflexa, síncope ortostática, arritmias cardíacas e
doença cardiopulmonar estrutural.
A síncope reflexa é uma resposta hemodinâmica mista que combina características
cardioinibitórias e vasodepressoras, embora seja possível ter eventos sincopais unica-
163
QUADRO CLÍNICO
Inicialmente, é importante entender que a síncope e a pré-síncope são conceitos
diferentes, mas que, na grande maioria das vezes, acontecem de forma subsequente:
primeiro a pré síncope e logo após a síncope.
Os sintomas clássicos associados à síncope e à pré-síncope, principalmente na sínco-
pe reflexa, que é a mais comum, incluem tontura, sensação de estar quente ou frio, suar,
palpitações, náusea ou desconforto abdominal sem especificidades, desfoque visual
com ou sem escurecimento temporário, diminuição da audição e/ou ocorrência de sons
incomuns e palidez.
Em alguns casos, os pacientes podem não ter nenhum sintoma de alerta ou podem
não se lembrar dos sintomas após a ocorrência da síncope, especialmente pacientes
idosos.
164
EXAME FÍSICO:
• Verificar o pulso e a pressão sanguínea com o paciente deitado e em pé e nos
diferentes braços;
• Frequência cardíaca;
• Exame físico cardiovascular;
• Exame físico pulmonar;
• Verificar a presença de achados neurológicos focais (são sugestivos mas não
diagnósticos).
EXAMES COMPLEMENTARES
• Solicitar um ECG;
• Solicitar ecocardiografia quando a cardiopatia estrutural for uma hipótese diag-
nóstica;
• Avaliação laboratorial em pacientes com síncope não é apoiada por evidências e
raramente ajuda no manejo clínico;
• Eletroencefalograma é utilizado na diferenciação entre síncope e convulsão.
165
DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL
Transtornos com perda de consciência parcial ou completa, mas sem hipoperfusão cerebral global
2-D
2-F
Epilepsia
Doenças metabólicas incluindo hipoglicemia, hipóxia, hiperventilação com hipocapnia
Intoxicação
AVE isquêmico transitório
Parada cardiorespiratória
Transtornos sem comprometimento da consciência
Cataplexia
Quedas
TABELA 1 – ESTRATIFICAÇÃO DE RISCO EM PACIENTES COM SÍNCOPE NA AVALIAÇÃO INICIAL NA DEPARTAMENTO DE EMERGÊNCIA
QUADRO SINCOPAL
Baixo risco
Associado ao pródromo típico de síncope reflexa (tontura, sensação de calor, sudorese, náusea, vômito)
Após súbita e inesperada visão desagradável, som, cheiro ou dor
Depois de longos períodos em pé ou sentado, locais quentes.
Durante uma refeição ou pós-prandial
Provocado por tosse, defecação ou micção
Com rotação ou pressão da cabeça ou seio carotídeo
Em pé, em decúbito dorsal ou sentada por muito tempo
Alto risco
Maior
Novo aparecimento de desconforto no peito, falta de ar, dor abdominal ou dor de cabeça
Síncope durante o esforço ou quando está em decúbito dorsal
Palpitação de início súbito imediatamente seguida por síncope
Menor
Nenhum sintoma de alerta ou pródromo curto (menor que 10 segundos)
História familiar de SCD em idade jovem
Síncope na posição sentada
166
QUADRO SINCOPAL
ANTECEDENTES PESSOAIS
Baixo risco
2-D
2-F
Longa história de síncope recorrente com características de baixo risco com as mesmas características do episódio
atual
Ausência de doença cardíaca estrutural.
Alto risco
Maior
Doença arterial coronariana ou estrutural grave (insuficiência cardíaca, FEVE baixa ou infarto do miocárdio prévio)
Adaptado de ESC Guidelines para o diagnóstico e gestão da síncope, European Heart Journal 2018;39(21).
TABELA 2 – ESTRATIFICAÇÃO DE RISCO EM PACIENTES COM SÍNCOPE NA AVALIAÇÃO INICIAL NA DEPARTAMENTO DE EMERGÊNCIA.
EXAME FÍSICO
Baixo risco
Normal.
Alto risco
Maior
PA sistólica inexplicada no setor de emergência, 90 mmHg
Sugestão de sangramento gastrintestinal no exame reativo
Bradicardia persistente (< 40 bpm) em estado de vigília e na ausência de treinamento físico
Sopro sistólico não diagnosticado
ECG
Baixo risco
ECG normal
Alto risco
Maior
Alterações eletrocardiográficas consistentes com isquemia aguda
Mobitz II bloqueio atrioventricular de segundo e terceiro grau
Baixa velocidade arterial (< 40 bmp)
Bradicardia sinusal persistente (< 40 bpm) ou bloqueio sino-atrial repetitivo ou pausas sinusais superiores a 3 segun-
dos em estado de vigília e abscesso de treinamento físico
Bloqueio de ramo, distúrbio de condução intraventricular, hipertrofia ventricular ou ondas Q consistentes com
cardiopatia isquêmica ou cardiomiopatia
Taquicardia ventricular sustentada e não sustentada
Disfunção de um dispositivo cardíaco implantável
Padrão Brugada tipo 1
Elevação do segmento ST com morfologia tipo 1 nas derivações V1-V3 (padrão de Brugada)
QTc > 460 ms em ECGs repetidos de 12 derivações, indicando síndrome de QT longo
Menor (alto risco somente se a história for consistente com a síncope arritmítica)
167
EXAME FÍSICO
Bloqueio AV de segundo grau Mobitz I e bloqueio atrioventricular de primeiro grau com intervalo PR marcadamente
prolongado
Bradicardia sinusal assintomática (40-50 bpm) ou fibrilação atrial lenta (40-50 bpm)
2-D
2-F
Taquicardia supraventricular paroxística ou fibrilação atrial
Complexo QRS pré-excitado
Intervalo QTc curto (< 340 ms)
Padrões atípicos de Brugada
Ondas T negativas nas derivações precordiais direitas, ondas épsilon sugestivas de cardiomiopatia ventricular direita
arritmogênica
Fonte: Adaptado de ESC Guidelines para o diagnóstico e gestão da síncope, European Heart Journal 2018;39(21).
TRATAMENTO FARMACOLÓGICO
A terapia farmacológica pode ser considerada em pacientes com síncope recorrente,
apesar das modificações na sua educação e no seu estilo de vida.
A fludrocortisona foi o único fármaco que obteve maior benefício clínico no trata-
mento de síncope reflexa. Os betabloqueadores e alfa-agonistas (midodrina) obtiveram
mais efeitos colaterais do que melhora clínica e, por isso, não são comentados aqui.
Fludrocortisona é um corticosteroide utilizado para o aumento da reabsorção renal
de sódio e para a expensão do volume plasmático que, consequentemente, pode neu-
tralizar a cascata fisiológica do reflexo vasovagal ortostático.
Há evidências moderadas de que esse medicamento pode ser eficaz na redução das
recorrências sincopais em pacientes jovens com valores normais de PA arterial e sem
comorbidades. Já nos pacientes com insuficiência cardíaca e hipertensão arterial, a flu-
drocortisona não é indicada.
168
2-D
2-F
169
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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2-D
2-F nível em: <https://www.uptodate.com/contents/syncope-in-adults-clinical-manifesta-
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6. Santos ECL. Manual de Cardiologia Cardiopapers. São Paulo: Atheneu, 2013.
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