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Universidade Católica de Moçambique

Instituto de Educação à Distância

Tema do Trabalho
Factores que contribuem com que a saúde reproductiva escape a muitas pessoas no
mundo

Nome e Código do Estudante


Afonso Sandra Amélia Tembe, 708200893

Curso: Licenciatura em ensino de


geografia
Disciplina: Metodologia de
Investigação Científica
Ano de Frequência: 1° ano

Maputo, Novembro de 2020


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Classificação
Categorias Indicadores Padrões Nota
Pontuação
do Subtotal
máxima
tutor
 Capa 0.5
 Índice 0.5
Aspectos  Introdução 0.5
Estrutura
organizacionais
 Discussão 0.5
 Conclusão 0.5
 Bibliografia 0.5
 Contextualização
(Indicação clara do 1.0
problema)
 Descrição dos
Introdução 1.0
objectivos
 Metodologia
adequada ao objecto 2.0
do trabalho
 Articulação e
domínio do discurso
académico
Conteúdo 2.0
(expressão escrita
cuidada, coerência /
coesão textual)
Análise e
 Revisão bibliográfica
discussão
nacional e
internacionais 2.
relevantes na área de
estudo
 Exploração dos
2.0
dados
 Contributos teóricos
Conclusão 2.0
práticos
 Paginação, tipo e
tamanho de letra,
Aspectos
Formatação paragrafo, 1.0
gerais
espaçamento entre
linhas
Normas APA
 Rigor e coerência das
Referências 6ª edição em
citações/referências 4.0
Bibliográficas citações e
bibliográficas
bibliografia
Folha para Recomendações de Melhoria: A ser preenchida pelo tutor
Índice
1. Introdução ............................................................................................................................... 1
1.1 Objectivos ......................................................................................................................... 1
1.1.1 Objectivo geral .......................................................................................................... 1
1.1.2 Objectivos específicos ............................................................................................... 1
1.2. Metodologia ..................................................................................................................... 1
2. Analise e Discussão ................................................................................................................ 3
2.1 Visão geral ........................................................................................................................ 3
2.2 Saúde reprodutiva ............................................................................................................. 4
2.2.1 Conceito ..................................................................................................................... 4
2.2.2 Princípios médicos, éticos e legais ............................................................................ 4
2.3 Saúde reprodutiva: uma preocupação das mulheres ......................................................... 5
2.3.1 Diferenciais na saúde em função do gênero .............................................................. 5
2.4 Factores que contribuem com que a saúde reproductiva escape a muitas pessoas no
mundo ..................................................................................................................................... 6
2.4.1 Desiquilíbrio no sistema de saúde ............................................................................. 6
2.4.2 A ineficiência no sistema de saúde ............................................................................ 7
2.4.2 A questão dos recursos .............................................................................................. 9
2.4.3 Migração .................................................................................................................. 10
2.4.4 Raça ......................................................................................................................... 15
2.4.5 Livre escolha de métodos ........................................................................................ 16
2.4.6 Informação aos usuários .......................................................................................... 16
2.4.7 Competência técnica dos provedores ...................................................................... 17
3. conclusão .............................................................................................................................. 19
4. Referências Bibliográficas .................................................................................................... 20
1. Introdução
A saúde sexual e reprodutiva representa actualmente uma das principais preocupações da Saúde
Pública internacional e nacional uma vez que os potenciais problemas afectam, directa ou
indirectamente, a saúde e bem-estar dos indivíduos/comunidades, e comprometem o nível
social e económico das sociedades em que estes fenómenos ocorrem, pois implicam custos
elevados ao nível do capital humano e da produtividade (UNFPA, 2006).
Na Conferência Internacional sobre População e Desenvolvimento, realizada no Cairo, em
1994, e de acordo com a proposta da Organização Mundial de Saúde (OMS), a saúde sexual e
reprodutiva é definida como a integração dos aspectos somáticos, emocionais, intelectuais e
sociais do ser humano, de um modo que seja positivamente enriquecedora e contribua para o
desenvolvimento dos indivíduos. Esta noção de saúde sexual e reprodutiva implica uma
perspectiva positiva da sexualidade humana e abarca todos os aspectos relacionados com o
sistema reprodutivo, suas funções e processos (UNFPA, 1996).
O acesso aos serviços de cuidados de saúde mostra-se ser vital para diminuir a vulnerabilidade
e promover a saúde sexual e reprodutiva das comunidades, verifica-se que a população não é
sistematicamente abrangida pelos sistemas existentes de informação, prevenção ou tratamento
(Mcmunn, Mwanje, Paine e Pozniak, 1998; Parlamento Europeu, 2003).
Por um conjunto complexo de factores, as populações tendem cada vez mais a não ser
abrangidas pela saúde sexual e reprodutiva.
Daí que este trabalho tem como objectivos:
1.1 Objectivos

1.1.1 Objectivo geral

 Falar dos factores que contribuem com que a saúde reproductiva escape a muitas pessoas
no mundo
1.1.2 Objectivos específicos

 Definir saúde sexual e reprodutiva


 Explicar a influência de cada fator
 Falar da saúde reprodutiva como uma preocupação das mulheres
1.2. Metodologia

De acordo com Lakatos & Marconi, (2003, p. 83), “método é o conjunto das atividades
sistemáticas e racionais que, com maior segurança e economia, permite alcançar o objetivo,
conhecimentos válidos e verdadeiros, traçando o caminho a ser seguido, detetando erros e
auxiliando as decisões do cientista”.
Portanto, para o alcance dos objetivos propostos no trabalho em mãos, recorreu-se ao seguinte
procedimento metodológico para a recolha de dados:

1
Revisão/Pesquisa bibliográfica- consistiu na busca de informações em livros, revistas,
enciclopédias, artigos científicos, blogs e em trabalhos científicos já feitos, que abordam o
mesmo tema.

2
2. Analise e Discussão
2.1 Visão geral

O conceito de saúde reprodutiva é recente e surgiu como resposta à fragmentação dos serviços
de saúde que actuam na área da saúde reprodutiva. A saúde, é definida por Cooks, Dickens &
Fathalla (2004, p.8) como sendo o estado de bem-estar físico, mental e social e não apenas a
ausência de doença ou enfermidade.

Ainda com base na definição dos autores, a saúde reprodutiva deveria ser compreendida como
sendo a possibilidade de as pessoas manterem uma vida sexual satisfatória e segura, com
condições de se reproduzirem e o direito à liberdade de decidir se, quando e com que frequência
serão mantidas as relações sexuais. A saúde reprodutiva não é uma questão importante apenas
na área da saúde, ela também envolve aspectos ligados ao desenvolvimento e aos direitos
humanos. Por seu impacto, sua urgência e por estar associada a injustiças sociais, a saúde
reprodutiva é uma preocupação mundial.

A definição de saúde sexual, por sua vez, deve incluir a possibilidade de as pessoas desfrutarem,
mutuamente, de relações sexuais, da proteção contra o abuso e a coerção sexual contra doenças
sexualmente transmissíveis DSTs e do sucesso na concepção ou na prevenção da gravidez.

A saúde reprodutiva é um elemento importante na saúde das mulheres e dos homens, mas ela é
mais crítica para as mulheres. Um grande número de doenças que afetam as mulheres está
relacionado às suas funções e ao seu potencial reprodutivo e ao modo como as sociedades,
influenciadas por questões de gênero, cuidam ou deixam de cuidar delas. A saúde das mulheres
vai além de aspectos ligados exclusivamente à saúde reprodutiva. A própria condição feminina
tem implicações para a saúde. As mulheres precisam de cuidados de saúde específicos, relativos
as suas funções sexuais e reprodutivas, que dizem respeito ao campo da saúde reprodutiva. O
sistema reprodutivo das mulheres é complexo e está sujeito a disfunções ou doenças que podem
se manifestar antes do início do seu amadurecimento ou mesmo depois que ele deixe de
funcionar.

Apesar de alguns progressos já terem sido alcançados na área da saúde sexual e reprodutiva,
ainda existem preocupações e deficiências importantes, como por exemplo, a falta de fontes de
recursos que acabam contribuindo para que a mesma escape a muitas pessoas no mundo, e neste
trabalho, daremos especial atenção aos factores que contribuem com que a saúde reproductiva
escape a muitas pessoas no mundo.

3
2.2 Saúde reprodutiva

2.2.1 Conceito

Durante a segunda metade do século XX, diversos avanços tecnológicos na área da saúde e
ampliações dos serviços possibilitaram a conquista de melhorias na área da saúde reprodutiva.
Entretanto, estes serviços eram oferecidos de forma fragmentada e não estavam orientados para
atender a todas as demandas.

O conceito de saúde reprodutiva surgiu recentemente como uma resposta à fragmentação dos
serviços existentes na área da saúde reprodutiva e ao encaminhamento dos mesmos. O conceito
de ‘saúde reprodutiva’ oferece uma abordagem completa e integrada dos cuidados com a saúde
relacionados à reprodução. Ele situa as mulheres no centro do processo e reconhece, respeita e
atende às necessidades das mulheres e não apenas às necessidades das mães, COOK, DICKENS
& FATHALLA (2004, p.12).

2.2.2 Princípios médicos, éticos e legais

O conceito de saúde reprodutiva foi amplamente discutido durante a Conferência das Nações
Unidas sobre População e Desenvolvimento (CIPD), realizada no Cairo, em 1994. Este conceito
foi visto como um meio de ampliar as visões limitadas dos programas de planeamento familiar.
2.2.3 Definição

Mahmoud F. Fathalla, durante trabalhos desenvolvidos junto à Organização Mundial da Saúde


(OMS), em 1987, elaborou uma definição de ‘saúde reprodutiva’ que acabou sendo publicada
em 1988. A definição foi a seguinte:

A saúde é definida pela Constituição da OMS como sendo o ‘estado pleno de bem-estar
físico, mental e social, e não apenas a ausência de doença ou enfermidade’. A saúde
reprodutiva, no contexto desta definição positiva, seria formada por uma série de
elementos fundamentais. Pressuporia a possibilidade de as pessoas reproduzirem e
regularem sua fecundidade; pressuporia também que as mulheres tenham uma gestação
e parto seguros; e que aquele processo reprodutivo resultasse em bebês e crianças com
expectativa de sobrevivência e bem-estar. A isso se poderia acrescentar a possibilidade
de as pessoas manterem relações sexuais seguras e prazerosas, COOK, DICKENS &
FATHALLA (2004, p.12).

4
Esta definição foi adotada e ampliada no Programa de Ação elaborado na CIPD realizado no
Cairo, em 19942, e na Conferência Internacional sobre Mulheres realizada em Pequim, em
1995. A definição afirma que:

A saúde reprodutiva é um estado de bem-estar físico, mental e social, e não apenas a


ausência de doença ou enfermidade, em todas as matérias relacionadas com o sistema
reprodutivo, suas funções e processos. A saúde reprodutiva implica, portanto, que as
pessoas estejam aptas a ter uma vida sexual satisfatória e segura, que tenham a
capacidade de reproduzir-se e a liberdade de decidir fazê-lo se, quando e quantas vezes
desejarem. Implícito nesta última condição está o direito de homens e mulheres de serem
informados e de terem acesso a métodos de planejamento familiar que sejam seguros,
eficazes e acessíveis. Pressupõe-se também que eles tenham acesso a outros métodos de
regulação de fecundidade que sejam de suas escolhas e que não sejam contra a lei, assim
como o direito ao acesso a serviços de saúde adequados e que ofereçam aos casais as
melhores chances de terem um filho saudável, COOK, DICKENS & FATHALLA
(2004, p.13).

Na mesma linha da definição acima, define-se a área da saúde reprodutiva como sendo o
conjunto de métodos, técnicas e serviços que influenciam a saúde reprodutiva e o bem-estar das
pessoas através da prevenção e solução de problemas de saúde. O conceito de saúde reprodutiva
também inclui a saúde sexual, cujo propósito é a melhoria da qualidade de vida das pessoas e

das relações pessoais, e não apenas a orientação e o tratamento de questões ligadas à reprodução
e a doenças sexualmente transmissíveis.

2.3 Saúde reprodutiva: uma preocupação das mulheres

2.3.1 Diferenciais na saúde em função do gênero

A saúde reprodutiva é um componente da saúde muito importante para as mulheres e para os


homens, mas ela é mais crítica para as mulheres. Uma grande parte das doenças que afetam as
mulheres está relacionada à função, ao potencial reprodutivo e ao modo como a sociedade trata
ou deixa de tratar as mulheres em função do gênero. Enquanto os homens são mais susceptíveis
a morrerem de causas ligadas ao que poderíamos chamar de seus ‘vícios’, as mulheres, em
geral, são mais afetadas por seu papel fisiológico natural na sobrevivência da espécie, e pelas
tarefas ligadas a este papel. Um estudo elaborado pelo Banco Mundial sobre os investimentos

5
em saúde classificou as cinco principais causas de incidência de doenças entre adultos jovens
(15 a 44 anos) de países em desenvolvimento, COOK, DICKENS & FATHALLA (2004, p.15).

Classificação Femininas Masculinas

1 Maternidade Infecção por HIV

2 Doenças sexualmente transmissíveis Tuberculose

3 Tuberculose Acidentes com veículos motorizados

4 Infecção por HIV Homicídio e violência

5 Doenças depressivas Guerra

2.4 Factores que contribuem com que a saúde reproductiva escape a muitas pessoas no
mundo

Que a saúde reprodutiva tem escapado a muitas pessoas no mundo inteiro já é sabido, a seguir,
apresentaremos alguns dos factores que têm contribuído grandemente para que tal aconteça.

2.4.1 Desiquilíbrio no sistema de saúde

Um sistema que funcione bem deve responder, de forma adequada, às necessidades de saúde
da população. Apesar de grandes avanços e melhorias na área da saúde e do desenvolvimento,
os sistemas de saúde têm sido incapazes de atender às necessidades de saúde de grandes
segmentos da população mundial. As deficiências dos sistemas variam de país para país e
também dentro de um mesmo país. Entre as carências que devem ser abordadas está a
distribuição desigual dos serviços, a utilização ineficiente, e a falta de receptividade pelas
expectativas e perspectivas das mulheres.

2.4.1.1 Unidades de saúde

Existe um consenso crescente da necessidade de um melhor equilíbrio entre as unidades de


saúde em vários níveis. Nas províncias ou distritos, as instalações consistem basicamente em
um sub-centro (uma clínica ou um dispensário), localizado na periferia, um centro de saúde e
um hospital distrital (rural) ou provincial. Em vários países, no topo do sistema estão os grandes
hospitais urbanos, que atendem uma parcela pequena e relativamente afluente da população.
Esta parcela da população é claramente beneficiada e, de forma injusta, exerce um verdadeiro
monopólio dos recursos. Esta situação torna praticamente impossível a implantação equilibrada
6
de um número maior de instalações de serviços básicos de saúde. As pessoas preocupadas com
a universalização dos serviços de saúde solicitam que se acabe com esta tendência a construir
grandes hospitais. Estes recursos poderiam, assim, ser utilizados na rápida expansão de uma
rede de centros básicos de saúde de menor porte.

Para Cooks, Dickens & Fathalla (2004, p.42) a área da saúde reprodutiva é a mais afetada por
este desequilíbrio na estrutura do sistema. Os serviços na área da saúde reprodutiva diferem de
outros tipos de serviços médicos, na medida em que eles não atendem a necessidades ocasionais
de uma pequena parcela desafortunada da população. Ao contrário, todas as pessoas sadias
necessitam de serviços que permitam a regulação da fecundidade, a proteção contra doenças
sexualmente transmissíveis, e uma maternidade segura. Para oferecer o acesso universal a estes
cuidados, é necessária uma estrutura mais balanceada nos sistemas de saúde.

2.4.1.2 Recursos humanos

Em termos de recursos humanos para a saúde, existem quatro tipos de desequilíbrios que podem
ser encontrados nos sistemas de saúde:

1. Carência (ou excesso) de pessoal de uma categoria específica para suprir as necessidades de
saúde do país;

2. Desproporção entre a formação profissional e as exigências do trabalho, especialmente o


treinamento inadequado dos profissionais sobre o papel potencial que desempenharão na
promoção da saúde;

3. Uma proporção inadequada das diferentes categorias (em geral poucos enfermeiros para cada
médico);

4. Distribuição geográfica deficiente dos profissionais, vista como uma profunda disparidade
no acesso a serviços básicos, não apenas entre áreas e/ou populações menos providas de um
mesmo país, mas também entre países, e entre especialidades médicas.

2.4.2 A ineficiência no sistema de saúde

Falando sobre a ineficiência no sistema de saúde, Cooks, Dickens & Fathalla (2004, p.44) dizem
que em geral, pode-se diferenciar três padrões de ineficiência: deficiência, sub-utilização e
super medicalização. Estes padrões de inadequabilidade se aplicam a todo o campo de saúde,
mas eles são mais evidentes na área da saúde reprodutiva.

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A deficiência é apenas parcialmente resultante da falta de recursos. Ela também é causada pela
ineficiência na alocação de recursos. De acordo com uma avaliação feita pela OMS sobre a
implantação da estratégia global de oferecer saúde a todos, em países em desenvolvimento a
cobertura dos serviços de saúde é deficiente e tem um viés evidente para as áreas urbanas. Os
níveis de cobertura dos serviços de saúde materna permanecem inadequados na maioria dos
países em desenvolvimento. Em países de economia de mercado e de economia em transição,
mais de 90% das mulheres grávidas recebem atendimento pré-natal e são acompanhadas por
uma pessoa treinada para ser parteira durante o parto.

Nos países menos desenvolvidos, apenas 50% das grávidas recebem atenção pré-natal, e
somente 30% dão à luz com a ajuda de um assistente de parto qualificado.

Em outros países em desenvolvimento, estas percentagens giram em torno de 70 e 60%


respectivamente. Os níveis de cobertura pós-parto são especialmente baixos: abaixo de 30%
para vários países em desenvolvimento. Em 1965, nos países em desenvolvimento, apenas 9%
das mulheres casadas em idade reprodutiva, ou os seus parceiros, usavam um método
contraceptivo confiável. Atualmente, estes valores se aproximam dos 60%.

Apesar deste aumento mundial da regulação da fecundidade nos últimos trinta anos, ainda
existem diferenças marcantes entre as áreas desenvolvidas e as em desenvolvimento do mundo,
e entre regiões da área em desenvolvimento. Ainda existem amplos segmentos da população
mundial que não tiveram as suas necessidades de regulação da fecundidade supridas pelos
métodos e serviços atualmente disponíveis. Em 1990, estimou-se que 200 milhões de casais
usavam métodos de planeamento familiar considerados por eles insatisfatórios ou inseguros.
Isto contribui para as estimadas 30 milhões de gravidezes não planeadas que ocorrem, a cada
ano, entre pessoas que fazem uso de contraceptivo.

Além disso, pelo menos outros 100–200 milhões de casais não estavam usando nenhum método
contraceptivo apesar de desejarem espaçar as gravidezes ou limitar a sua fecundidade. Ainda,
as opções contraceptivas disponíveis nos países em desenvolvimento são frequentemente
limitadas, com uma pesada confiança nos métodos permanentes (esterilização masculina e
feminina), que corresponde a 50% dos métodos usados.

A sub-utilização do sistema de saúde é um fenômeno aflitivo em alguns países em via de


desenvolvimento. Culturalmente inapropriados, estranhos, e sem relevância social, os serviços
de saúde estão destinados à rejeição. A introdução de conceitos e tecnologias da medicina

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científica moderna, quando as diferentes sociedades têm as suas próprias tradições de prevenção
e tratamento de doenças, será mais eficiente, apenas, se ela se adaptar e se ajustar a estes
sistemas existentes. Os profissionais de saúde não vacilam em culpar os pacientes pela falta de
utilização dos serviços, e reivindicam uma melhor educação para os pacientes. É menos
aceitável para os profissionais de saúde, porém mais verdadeiro, culpar o sistema de saúde. A
pergunta não deve ser a razão por que os pacientes não fazem uso dos serviços que eles
oferecem, mas sim por que os profissionais de saúde não oferecem aos pacientes os serviços
que eles irão aceitar.

A super-medicalização do sistema de saúde está se tornando comum em sociedades afluentes.


A utilização de tecnologia está deixando de ser apropriada para ser indiscriminada. A sede por
tecnologia e pelo consumo médico excessivo vem elevando os custos da atenção à saúde em
proporções desconcertantes. As mulheres também vêm manifestando as suas preocupações com
esta super medicalização de fenômenos fisiológicos de suas vidas. Há uma necessidade de que
se continue a considerar o parto normal algo natural.

2.4.2 A questão dos recursos

2.4.2.1 Os recursos em geral

Atualmente, os sistemas de saúde representam um dos maiores setores da economia mundial.


Estima-se que, em 1997, tenham sido gastos no mundo em torno de US$ 2.985 bilhões com a
saúde, ou quase 8% do produto interno bruto mundial. A Organização Internacional do
Trabalho (OIT) estima que havia 35 milhões de trabalhadores da área de saúde, até 2004, no
mundo, COOK, DICKENS & FATHALLA (2004, p.56).

Acredita-se que hoje o número de empregos no campo da saúde seja substancialmente maior.
O nível de recursos financeiros que um país destina ao setor de saúde depende de uma variedade
de aspectos. Os determinantes mais importantes incluem os níveis de renda, a relativa
priorização dada à saúde em comparação com outros setores, o custo de alguns elementos, como
a mão-de-obra e o tamanho do setor privado.

Os recursos destinados aos sistemas de saúde são distribuídos de forma muito desigual e não
acompanham, de maneira alguma, a proporção da distribuição dos problemas de saúde.

Nos governos, vários ministros de saúde direcionam as atenções para o setor público e,
frequentemente, desprezam o - muitas vezes maior - setor de recursos privados e de oferta de
serviços. Um desafio crescente para os governos é reunir as energias dos setores privado e de
9
voluntários, para alcançar melhores níveis de desempenho dos sistemas de saúde, ao mesmo
tempo em que compensem as falhas dos setores privados.

2.4.2.2 Prioridades na alocação de recursos

Determinar prioridades entre os problemas de saúde para a alocação de recursos não é uma
tarefa fácil. Deve-se considerar não apenas a prevalência do problema de saúde, mas também a
sua gravidade. Além disso, a gravidade não significa apenas o risco de mortalidade. É preciso
considerar, também, o risco de morbidade ou incapacidade no curto e longo prazos. A idade em
que o problema de saúde se manifesta também deve ser contabilizada nesta equação. Um
problema de saúde que afeta apenas as pessoas idosas é diferente de um problema que afeta as
pessoas nos primórdios de suas vidas. Em 1993, um relatório do Banco Mundial tentou
quantificar todas as considerações acima, para chegar a uma estimativa do ônus das doenças
expressas como anos de vida ajustados à invalidez (o índice DALY) para cada problema de
saúde.

2.4.3 Migração

No contexto da globalização, os movimentos migratórios têm vindo a ganhar um carácter de


heterogeneidade e complexidade, representando um desafio para a generalidade dos países.
Actualmente, assiste-se a várias redefinições dos «mapas da migração» na medida em que
surgem novos percursos com diferentes locais de origem, trânsito e destino. Assim, diversas
organizações internacionais, tais como a Organização Internacional para a Migração (OIM) e a
Organização Mundial de Saúde (OMS), têm sublinhado a importância de reconhecer a migração
internacional como um processo que envolve os países de origem, trânsito, destino e retorno.

Os dados mais recentes estimam que cerca de 3% da população mundial vive, temporariamente
ou em permanência, fora do seu país de origem (GCIM, 2005; IOM, 2005; UN, 2006). Estima-
se que a Europa é região de trânsito ou de destino para grande parte dos imigrantes
internacionais, seguindo-se a Ásia, a América do Norte e África (GCIM, 2005; UN, 2006).

Não representando, por si mesma, um factor de risco para a saúde, a migração e as condições
em que se processa podem aumentar a vulnerabilidade à doença. De acordo com o relatório A
Passage to Hope – Women and International Migration, o número de mulheres migrantes tem
vindo a aumentar significativamente, o que coloca importantes desafios em saúde pública, uma
vez que, frequentemente, as migrações no feminino representam maiores riscos e
vulnerabilidades (UNFPA, 2006). As questões de género, associadas a outros factores, como o

10
tipo de migração, as condições a que o migrante é sujeito nos países de acolhimento, as políticas
e atitudes destes países em relação à equidade e igualdade de oportunidades, o tipo de contacto
mantido com o país de origem e a possibilidade de retorno e reintegração, determinam o
impacto da migração nas populações (JOLLY e REEVES, 2005; IOM, 2004ª apud DIAS,
ROCHA & HORTA 2009, p.13).

A literatura tem apontado no sentido de que as mulheres imigrantes têm piores indicadores de
saúde comparativamente às mulheres autóctones, no que respeita, em particular, à mortalidade
materna, perinatal e infantil, prematuridade, baixo peso à nascença, taxa de incidência de IST e
taxa de prevalência de violência contra as mulheres.

Sobre as populações emigrantes Dias, Rocha & Horta (2009, p.15) escrevem que:

A população imigrante não é sistematicamente abrangida pelos sistemas existentes de


informação, prevenção ou tratamento (Mcmunn, Mwanje, Paine e Pozniak, 1998;
Parlamento Europeu, 2003). Estudos demonstram que, por um conjunto complexo de
factores, os imigrantes tendem a adoptar menos comportamentos preventivos, a recorrer
com menor frequência aos cuidados de saúde e a receber pouca assistência pré-natal, o
que os coloca em situação de risco e aumenta a dificuldade e custo do tratamento em
caso de doença (UNFPA, 2006). Estudos anteriores sugerem que factores como o
desconhecimento dos direitos no acesso aos cuidados de saúde, os costumes, as
tradições e as crenças de saúde podem condicionar a necessidade percebida de aceder
aos serviços de saúde e ser determinantes no uso e na procura dos mesmos por estas
populações, fazendo-o apenas em situações de urgência ou em estado avançado da
doença (Dias, Matos e Gonçalves, 2002; Fongwa, 2001), DIAS, ROCHA & HORTA
(2009, p.15).

Por outro lado, o desconhecimento da cultura e dos sistemas de crenças habituais nas minorias
étnicas, em particular alguns mitos, tabus e práticas culturais que envolvem os comportamentos
sexuais, para além das barreiras linguísticas, dificultam a abordagem da questão da sexualidade
junto das populações migrantes (Sormati, Pereira, E-Bassel, Witte e Gilbert, 2001). Estes são
alguns aspectos considerados como obstáculos à eficácia das mensagens preventivas junto dos
grupos de intervenção a que se destinam e que tornam grande parte das estratégias de prevenção
e de promoção da saúde sexual e reprodutiva pouco eficientes (Dawson e Gifford, 2001).

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Nos países de acolhimento, os imigrantes encontram-se muitas vezes num estado de transição
em que mantêm determinadas representações de saúde e crenças culturais enquanto,
simultaneamente, se adaptam a um novo contexto, situação que pode constituir factor de
vulnerabilidade e falta de cuidados de saúde, em particular a reprodutiva (IOM, 2004b).

Atendendo ao frequente isolamento social das populações imigrantes e à opinião pública


corrente nos países de acolhimento sobre a imigração, estas populações podem ser alvo de
atitudes discriminatórias quanto à sua origem étnica, crenças religiosas ou condição de
imigrante, o que condiciona a sua adaptação e integração na sociedade de acolhimento, com
impacto no seu bem-estar físico, psicossocial e na sua saúde reprodutiva em especial,
(SCHEPPERS et al., 2006; STAMPINO, 2007).

Tradicionalmente, a investigação na área da saúde sexual e reprodutiva tem estado associada a


questionários epidemiológicos de conhecimentos, atitudes e práticas, começando a existir uma
tendência para complementar tais dados com investigações qualitativas capazes de identificar
as necessidades dos migrantes na área da saúde sexual e reprodutiva.

A metodologia qualitativa, apesar de não conseguir analisar tendências em grandes grupos,


permite uma visão mais aprofundada das necessidades e prioridades das comunidades
imigrantes e dos factores e especificidades do contexto pessoal, social, cultural e político. Este
tipo de análise é essencial para o desenvolvimento de políticas e planeamento de acções que
permitam alcançar ganhos na saúde sexual e reprodutiva (Crawford e Popp, 2003).

Estudos indicam que, na maior parte dos países desenvolvidos receptores de imigrantes, muitas
vezes, as populações imigrantes não beneficiam de todos os serviços disponíveis e não são
sistematicamente abrangidas pelos sistemas de informação, prevenção ou tratamento (Mcmunn,
Mwanje, Paine e Pozniak, 1998; IOM, 2004a). O acesso e a utilização dos serviços de saúde
podem ser condicionados por diferentes níveis de barreiras e/ou obstáculos, nomeadamente
legislativos, estruturais, económicos e culturais (Dias e Gonçalves, 2007; Dias, Gonçalves,
Luck e Fernandes, 2004; Fennelly, 2004).

A instabilidade e precariedade da situação laboral dos imigrantes, a dificuldade em obter


protecção social e o custo associado aos cuidados de saúde podem constituir barreiras à
utilização dos serviços de saúde por parte destas populações (Dias e Gonçalves, 2007). Também
as condições estruturais dos próprios serviços de saúde, nomeadamente as infra-estruturas e
funcionamento (localização, horário e tempo de espera para atendimento), podem condicionar

12
o acesso e utilização por parte das populações imigrantes (Gonçalves, Dias, Luck, Fernandes e
Cabral, 2003; Scheppers et al., 2006). Muitas vezes, os imigrantes dependem economicamente
de vários empregos, o que impossibilita recorrerem aos serviços de saúde durante o horário de
funcionamento, que coincide em geral com o horário de trabalho.

Por outro lado, no acesso aos cuidados de saúde, muitas vezes são impostas restrições aos
imigrantes devido à sua situação irregular. Os profissionais dos serviços de saúde apresentam,
frequentemente, um limitado conhecimento do quadro legal do acesso aos cuidados de saúde
ou da sua aplicabilidade, o que pode resultar na exclusão das comunidades imigrantes do
sistema de saúde (Dias e Gonçalves, 2007). Adicionalmente, verifica-se, muitas vezes, o receio
de imigrantes indocumentados verem denunciada a sua situação de irregularidade pelos
profissionais e serviços de saúde às autoridades para a imigração (Carta et al., 2005; CCHS,
1997; Hansen e Krasnik, 2007; Kullgren, 2003; Gonçalves et al., 2003; IOM, 2005) apud DIAS,
ROCHA & HORTA (2009, p.14).

Falando da questão documental, Dias, Rocha & Horta escreveram:

Dados indicam que as mulheres de grupos socialmente desfavorecidos, imigrantes e/ou de


grupos étnicos têm menor probabilidade de receberem o acompanhamento necessário durante a
gravidez, o parto e o período pós-parto (Alderliesten et al., 2007; Gwyneth et al., 2001; IOM,
2004a; Thorp, 2003). Conclusões de um estudo de Machado e colaboradores (2006) apontam
no sentido de que o início da vigilância da gravidez é mais tardio nas mulheres imigrantes em
comparação com as mulheres nativas. Um estudo realizado em Genebra, entre 2005 e 2006,
indicou que as mulheres grávidas indocumentadas apresentavam um risco mais elevado de
iniciação tardia dos cuidados pré-natais, em comparação com as imigrantes documentadas
(WOLFF et al., 2008).

Estas situações podem levar a que as populações imigrantes evitem utilizar os serviços de saúde
Os costumes, as tradições, a religião, as questões de género, e as crenças e representações sobre
saúde e doença influenciam as práticas de saúde, os comportamentos de risco e a percepção dos
imigrantes sobre a necessidade da utilização dos serviços de saúde (Dias, Matos e Gonçalves,
2002; Fongwa, 2001; Stronks, Ravelli e Rejineyveld, 2001; Fenton et al., 2005; Gonçalves et
al., 2003; IOM, 2004a; Marston e King, 2006; Scheppers et al., 2006). Práticas de saúde
utilizadas nos países de origem, como o recurso à medicina tradicional em detrimento da
medicina convencional, podem perpetuar-se nos países de acolhimento, traduzindo-se numa
menor procura dos serviços de saúde. Por outro lado, a relação entre utilizadores e prestadores
de cuidados pode ser condicionada pelas diferenças culturais e linguísticas, a par da falta de
13
preparação dos profissionais de saúde para lidarem com a diversidade cultural (Chu, 2005;
Maggi e Cattacin, 2003; Scheppers et al., 2006). Também a discriminação e estigmatização,
socialmente produzidas e associadas à situação de imigrante (sobretudo a de irregular), podem
ser importantes obstáculos (Dias e Gonçalves, 2007; IOM, 2004a; Maggi e Cattacin, 2003;
Scheppers et al., 2006; Wolffers, Verghis e Marin, 2003).

(Eshiett e Parry, 2003; Fenton, 2001) apud Dias, Rocha & Horta (2009, p.24), dizem que no
seu conjunto, estas barreiras contribuem para um sentimento de insatisfação por parte do
utilizador, resultando numa reduzida utilização dos serviços. Neste contexto, as oportunidades
de intervenção nas áreas da promoção da saúde e da prevenção e tratamento da doença tornam-
se limitadas, com impacto nos resultados em saúde.

A reduzida utilização dos serviços de saúde pode ainda dever-se ao desconhecimento das
próprias populações imigrantes sobre os direitos estatuídos nos países de acolhimento, no que
respeita ao acesso aos cuidados de saúde. Alguns estudos indicam que tende a haver maior
percepção da necessidade de aceder aos serviços de saúde por parte dos imigrantes que estão
há mais tempo no país de acolhimento e que têm maior grau de alfabetização (Abbott et al.,
2000; Dias, Severo e Barros, 2008; Gonçalves et al., 2003). Os imigrantes que residem há
menos tempo no país, para além de se encontrarem numa situação de maior vulnerabilidade (e
com maior dificuldade de compreensão e expressão verbal), muitas vezes desconhecem os
serviços existentes e os direitos que lhes assistem, o que pode determinar uma subutilização dos
serviços de saúde (Dorr e Faist, 1997; Fenton, 2001; Fowler, 1998; Neale, Ngeow, Skull e
Biggs, 2007; Pécoud e Guchteneire, 2004; Reijneveld, 1998; Scheppers et al., 2006; Sonis,
1998; Stampino, 2007; Stronks, Ravelli e Rejineyveld, 2001).

O desconhecimento, por parte dos técnicos de saúde, acerca dos aspectos culturais relacionados
com o comportamento sexual e reprodutivo dos migrantes, bem como a existência de atitudes
discriminatórias e de preconceitos face a estes grupos podem ter impacto na utilização dos
cuidados de saúde e na forma como se vivencia a experiência da gravidez, parto e maternidade
(Bulman e McCourt, 2002; Dias, Matos e Gonçalves, 2002; Janssens, Bosmans e Temmerman,
2005; House of Commons Health Committee, 2003; WHO, 2003a).

Outro aspecto importante a referir diz respeito às práticas de saúde nos países de origem que,
muitas vezes, se caracterizam pelo recurso à medicina tradicional, especialmente durante e após
a gravidez, traduzindo-se numa menor procura e utilização dos serviços de saúde, podendo
afectar negativamente a saúde da mãe ou do bebé (Ayaz e Efe, 2008).
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Há um outro conjunto de diferentes barreiras que os emigrantes encontram quando tentam
aceder ou utilizar os serviços de saúde, tais como: barreiras administrativas, funcionamento dos
serviços não adaptado às suas necessidades (dificuldade de marcação de consultas, longo tempo
de espera, entre outros) e atitudes dos profissionais.

Outra das dificuldades enfrentadas pelos imigrantes prende-se com a marcação de consultas,
que geralmente encontram dificuldades na sua marcação. É também realçado que o
funcionamento dos serviços de saúde é, muitas vezes, pouco adaptado às exigências das vidas
profissionais dos imigrantes. O facto de terem de faltar ao trabalho para irem ao médico
constitui uma dificuldade na utilização destes serviços, o custo associado aos cuidados de saúde
influencia a escolha dos serviços a utilizar, e por fim, o longo tempo de espera é uma barreira
frequentemente apontada.

2.4.4 Raça

Perpétuo (2000, p.2) diz que uma perspectiva de análise mais recente, e menos optimista,
assume que a inserção social de um indivíduo na sociedade é diretamente relacionada à sua cor,
e que a persistência histórica da raça como princípio classificatório não deve ser encarada como
herança do passado mas como um mecanismo social de reprodução da desigualdade racial,
servindo aos interesses do grupo racialmente hegemônico.

Uma série de estudos tributários têm documentado a segregação da população negra em


dimensões variadas, tais como a distribuição espacial, o acesso à educação, a inserção no
mercado de trabalho, acesso à serviços de saúde, entre outros.

A literatura, por outro lado, principalmente nos EUA, tem mostrado que a raça continua a
impedir o acesso a serviços de saúde, com os brancos os usando mais, e por mais tempo, mesmo
quando todas as variáveis sócio-económicas pertinentes são mantidas constantes (Falcone &
Broyles 1994, Becker et al 1993, Wenneker & Epstein 1989), apud PERPÉTUO, (2000, p.3).

O menor acesso por exemplo da mulher negra à saúde estaria associado à cor da sua pele e seria
também um reflexo de sua pobreza, isto é, estaria associado ao fato de muitas mulheres negras
morarem em áreas onde a cobertura dos serviços de saúde é mais baixa e de terem menores
níveis educacionais e poder aquisitivo, o que implica uma maior dificuldade de acesso a estes
serviços.

15
2.4.5 Livre escolha de métodos

Existem muitas restrições à livre escolha, derivadas, por um lado, da falta de opções
anticoncepcionais e, por outro, pela atitude dos próprios provedores. O acesso a alguns métodos
é quase inexistente, como por exemplo, no caso do diafragma. São poucos os serviços que têm
o método disponível e com pessoal treinado para sua utilização. Este é só um exemplo, porém
restrições estendem-se a outros métodos como o DIU, os injetáveis, etc. As dificuldades de
acesso afetam, em alguns serviços, também os métodos mais prevalentes como a pílula e a
laqueadura. É importante salientar que a falta de acesso a alguns métodos pode dever-se à falhas
estruturais dos serviços, como falta de pessoal treinado ou de suprimentos ou falhas no sistema
de distribuição, quer porque estes não são comprados, quer pela falta real deles.

Diaz & Diaz (2012, p.4) dizem que:

Além do acesso, a livre escolha está afetada também pela falta de capacitação adequada dos
provedores de serviços em relação ao componente de educação/orientação, ou seja, à maneira
como devem ser oferecidos os métodos. Embora tenha sido feito um importante esforço para
difundir o conceito de que o planeamento familiar é um direito que envolve uma livre escolha
de métodos, poucos são os provedores que realmente possibilitam tal escolha. A grande maioria
dos serviços indica ou prescreve os métodos de acordo com as preferências dos provedores ou
da disponibilidade de métodos. A maioria dos provedores continua tendo uma atitude
paternalista e/ou autoritária, decidindo pelas usuárias, sem considerar as suas reais necessidades,
o seu direito e a sua capacidade de decidir. Existe, entre os médicos, uma tendência a considerar
que a população está muito mal informada e não tem capacidade para entender os métodos,
razão pela qual eles devem escolher pelas usuárias.

Além disso, os serviços públicos de planeamento familiar não oferecem acesso livre aos
homens, que têm restrições até para obter preservativos nesses locais. Uma parte dos serviços
oferece preservativos só aos companheiros ou maridos das usuárias. Outros homens
habitualmente não têm acesso.

2.4.6 Informação aos usuários

Em geral, a informação oferecida às usuárias não é completa nem imparcial. Novamente, a falta
de treinamento, somada à falta de material educativo atualizado e de boa qualidade, leva a que
se passe informação incorreta e incompleta. Mesmo nos serviços em que existem materiais e os
provedores estão mais atualizados, a entrega de informação, habitualmente, é feita de maneira
vertical, sem permitir a participação da usuária, ou seja, não se considera o que a usuária já

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sabe, nem o que ela deseja saber. É comum que as usuárias recebam uma enorme quantidade
de informações, às vezes detalhada, sobre coisas que não precisam ou não desejam saber, e não
tenham a oportunidade de perguntar aspectos que são realmente importantes para elas. Além
disso, são poucos os profissionais que investigam e desconstroem os mitos, crenças e
informações equivocadas.

A falta de informação adequada acfeta não só a escolha de métodos, mas também aspectos
fundamentais relacionados com o acompanhamento clínico e com os efeitos colaterais mais
frequentes durante o uso do método e de como agir quando eles ocorrem. É comum que algumas
mulheres interrompam o uso de um método anticoncepcional simplesmente por não saber o que
fazer frente a algum efeito secundário, ou outra intercorrência, por exemplo, um pequeno
sangramento, falta de menstruação nos sete dias em que a mulher não toma a pílula,
esquecimento de um ou mais comprimidos, ou aumento de sangramento em usuária de DIU,
etc.

Muitas vezes as mulheres não são informadas sequer de qual é o esquema de acompanhamento
ou a quem recorrer em casos de efeitos secundários e/ou complicações.

2.4.7 Competência técnica dos provedores

Analisaremos agora a competência técnica, sem considerar a competência em relação às


relações interpessoais, que inclui a entrega de informação e de orientação às usuárias, já
analisada, mas sem esquecer que as deficiências naquela área também comprometem a
competência técnica e são cruciais na determinação da qualidade dos serviços, DIAZ & DAZ
(2012, p.6).

Ainda segundo os mesmos autores é difícil generalizar ao se analisar a competência técnica por
exemplo em Brasil, já que existem grandes diferenças entre as regiões. Ainda mais, é frequente
observar grandes diferenças no nível de qualidade entre serviços de uma mesma cidade ou
bairro. No entanto, apesar dessas variações, podemos afirmar que, em geral, as principais
deficiências em competência técnica são:

-Falta de treinamento em planeamento familiar. O problema começa pelo fato de que a grande
maioria das faculdades de medicina e enfermagem não incluem o ensino de planeamento
familiar nos seus currículos. Aquelas que o fazem focalizam somente as informações em relação
aos métodos anticoncepcionais, deixando de lado aspectos como a sexualidade, técnicas de
comunicação, etc.

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-A concentração das ações e responsabilidades no médico também diminui a competência
técnica com que se executam algumas atividades. Por exemplo, consultas de acompanhamento
de usuária de pílula ou injetável e, inclusive de DIU, poderiam ser executadas por enfermeiras
e/ou auxiliares treinadas. Alguns serviços têm demonstrado que até as inserções de DIU podem
ser executadas por enfermeiras, com o mesmo nível de competência ou ainda melhor do que
quando são feitas por médicos (Diaz et al, 1992). Além disso, o profissional de enfermagem
dedica mais tempo para a mulher, pelo contrário, o médico, habitualmente, atende as consultas
em curtíssimo tempo, sem dar à mulher muitas possibilidades de falar e perguntar sobre as suas
dúvidas ou problemas.

-Finalmente, mas não menos importante, existe pouca preocupação com a competência técnica
do pessoal não médico (auxiliares, recepcionistas, etc) que, às vezes, interfere na qualidade dos
serviços. Esta interferência negativa é muito clara quando pessoal não treinado transmite e
reproduz preconceitos e mitos injustificados sobre os métodos, o que dificulta a sua aceitação
por parte das usuárias.

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3. conclusão

Com o presente trabalho concluiu-se que existe a necessidade de adequar as intervenções no


sector da saúde de forma a lidar com as diferenças e as necessidades específicas de todos os
grupos. É necessário adoptar uma abordagem holística da saúde sexual e reprodutiva que
contemple as várias dimensões do conceito e o bem-estar das populações. Esta estratégia poderá
conduzir as intervenções mais congruentes com desejos, valores e necessidades pessoais,
criando maior aceitação por parte das populações imigrantes e, consequentemente, ir
aumentando a eficácia das acções implementadas.
Conclui-se ainda que é importante considerar a população masculina no desenvolvimento e
implementação de estratégias de promoção da saúde sexual e reprodutiva.
Esforços devem ser envidados de modo que inserção social de um indivíduo na sociedade não
seja diretamente relacionada à sua cor, e que a persistência histórica da raça seja ainda o
princípio classificatório das massas, pois isto traz grandes prejuízos à sociedade no geral e em
particular na saúde.
É preciso lutar para eliminar ou diminuir o desiquilíbrio no sistema de saúde, pois um sistema
que funcione bem deve responder, de forma adequada, às necessidades de saúde da população.
Apesar de grandes avanços e melhorias na área da saúde e do desenvolvimento, os sistemas de
saúde têm sido incapazes de atender às necessidades de saúde de grandes segmentos da
população mundial.
Esse equilíbrio deve ser acompanhado pela distribuição equitativa dos recursos (no geral), a
construção de mais hospitais que possam responder às necessidades de todas populações, não
fazendo apenas hospitais grandes nos grandes centros urbanos, que acabam penas favorecendo
a quem lá vive, e criando escassez no subúrbio.

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4. Referências Bibliográficas

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