Você está na página 1de 12

LINDB (Lei de Introdução às Normas do Direito brasileiro)

1. Noções gerais

Código de normas - Decreto/Lei 4657/42.

Norma Supralegal – Tem aplicação em qualquer ramo do Direito (Código de normas).

Tem status de lei ordinária e, a toda evidência, não está incluída no âmbito do Estatuto Civil, cujo
conteúdo se volta para a proteção das relações jurídicas de ordem privada.

Constitui um conjunto de normas preliminares de aplicação universal, à totalidade do ordenamento


jurídico.

2. Estrutura

 Vigência das normas (art. 1º e 2º);


 Obrigatoriedade (art. 3º);
 Integração das normas (art. 4º);
 Interpretação das normas (art. 5º);
 Aplicação da lei no tempo (art. 6º);
 Aplicação da lei no espaço (art. 7º).

3. Vigência das Normas

3.1. Elaboração, promulgação e publicação:

No que diz respeito à sua formação, se submete a norma legal a diferentes períodos pelos quais deve
passar obrigatoriamente para poder produzir efeitos: elaboração, promulgação e publicação.

No momento da promulgação uma norma ganha existência. Mas o fato de ela existir ainda não lhe
assegura vigência. Há um lapso entre esta e sua publicação.

Somente começa a vigorar a lei depois de publicada pelo Diário Oficial (imprensa oficial). É nesse
momento que se torna factível à norma ganhar força coercitiva ou obrigatoriedade.

Ainda assim, a vigência concomitante à publicação não é regra. Isso porque o legislador nacional
entende necessário que a lei possua um tempo mínimo de divulgação e amadurecimento, intervalo
no qual a norma já é existente, válida, mas desprovida de vigor. Tal lapso denomina-se vacatio
legis.

3.2. Vigência x Validade x Eficácia x Vigor:

Validade – Significa sua identificação como compatível ao sistema jurídico que integra. Validade
formal concerne à elaboração pelo órgão competente e com respeito aos procedimentos legais.
Validade material, está correlacionada com a necessidade de adequação da norma ao ordenamento
jurídico, em especial com o Texto Constitucional.

Vigência – Critério puramente temporal. É o período de validade da norma (seu tempo de duração).
Eficácia – É a norma existente que se encontra apta a produzir efeitos para os quais foi concebida.
Tal não significa que a norma gere efeitos na vida real, bastando que seja apta a produzi-los.

Vigor – Verifica a realização efetiva de resultados jurídicos; sua produção de efeitos. Ex.: norma
que vigente no período da abertura da sucessão, revogada por lei nova, deixa de ter vigência, mas
ainda vigora para as sucessões abertas durante sua vigência.

3.3. Início da vigência:

Art. 1º: salvo disposição contrária, a lei ganhará vigência 45 dias após sua publicação (salvo
disposição expressa em contrário, indicando o momento da obrigatoriedade).

§ 1º No território estrangeiro, após 3 meses, quando admitida (ex.: ato ou negócio jurídico praticado
fora do território brasileiro por particulares e por servidores das representações diplomáticas).

Obrigatoriedade imposta simultaneamente em todo território brasileiro: sistema da obrigatoriedade


simultânea.

Vacatio legis – É o período de tempo entre a publicação e a vigência da norma. A vacatio


corresponderá ao tempo necessário para que todos tomem conhecimento.
Destinado à facilitação da sua divulgação e a adoção de providências tendentes ao seu cumprimento
efetivo e sua respectiva aplicação. Durante o prazo de vacatio legis a lei já existe, embora não tenha
vigência.

Atenção! O art. 1º tornou-se residual! A vacatio legis apenas seguirá o prazo de 45 dias se não for
expresso o número de dias quando da sua publicação.

LC 95/98. Art. 8º. A vigência será indicada nela mesma de forma expressa e de modo a
contemplar prazo razoável.

Com isso, toda lei passa a ter prazo de vacatio legis (lapso temporal entre a publicação e vigência).

Exceto aquela reservada a cláusula "entra em vigor na data da sua publicação" restrita às leis de
pequena repercussão social.

Assim, quanto maior a repercussão da lei, maior deverá ser a vacatio legis.

OBS: Normas parcialmente vetadas – posteriormente promulgadas pelo legislativo por recusa do
veto: diferenciados prazos de vacatio; um iniciado da sanção e outro da promulgação pelo
legislativo.

3.4. Contagem do prazo de vacatio:

Art. 8º, §1º: Inclusão da data da publicação e do último dia do prazo.

Escapa à regra geral do art. 132 (prazos de direito material).


Ademais, não importa se o prazo termina em dia não útil, já que a lei é obrigatória também nesses
dias.

Assim: inclui o primeiro, inclui o último e só entra em vigor no dia seguinte (dia útil ou não).

3.5. Correção da redação de lei:


§ 3º: Se uma lei que está em período de vacatio for corrigida, deverá ser novamente publicada,
reiniciando a contagem dos prazos a partir da nova publicação.

Há suspensão da contagem dos prazos, com nova vacatio apenas para a parte republicada.

Atenção! A modificação da lei após a sua publicação deve se dar por meio de lei nova. Aqui, trata-
se de correção de texto de lei quanto a erros materiais e falhas ortográficas.

§ 4º: Se o texto de lei já está em vigor, apenas poderá ser modificado por lei nova.

Assim, conforme Cristiano Chaves, toda e qualquer modificação de uma norma legal em período de
vacatio legis (já existente, portanto) tem de se operar através de lei nova. Todavia, em se tratando
de mera correção de erros materiais ou de falhas ortográficas, bastará uma republicação da lei, sem
necessidade de elaboração de novo diploma legal. Nesse caso, somente a parte retificada submeter-
se-á a um novo período de vacatio legis.

Nada disso vale para os atos normativos administrativos. Estes entram sempre em vigor na data
da sua publicação. Art. 5º, dec. 572/1890.

3.6. Princípio da continuidade das leis:

Art. 2º: uma vez em vigor, a lei vigorará indeterminadamente.

Essa vigência cessa somente com a sua revogação.

Exceto quanto àquelas que são de vigência temporária (elaboradas com termo estabelecido ou para
atender circunstancias específicas).

Enquanto não houver outra lei, esta permanece em vigor. Somente outra lei pode revogar uma lei.

OBS: Não pode ser revogada pelo costume ou desuso (inadmissibilidade do desuetudo).

 Revogação total: Ab-rogação.


 Revogação parcial: Derrogação.

Exceções: leis temporárias e circunstanciais – apenas caducam; em razão de termo previamente


ajustado ou quando deixar de existir a situação que lhe deu origem.

§ 1º: Será a revogação expressa (há declaração. Quando a lei posterior expressamente estabelecer)
ou tácita (lei for com ela incompatível ou quando regule inteiramente a matéria de que tratava
anteriormente).

LC 95/98. Art. 9º: a cláusula de revogação de uma lei deverá enumerar, expressamente, as leis ou
disposições legais revogadas.

Ou seja, deixa clara uma preferência pela revogação expressa.

§ 2º: a lei nova com disposições gerais ou especiais, ao lado das já existentes, não revoga ou
modifica.

Com isso, não basta que a lei nova trate da mesma matéria para que haja a revogação; é
imprescindível que traga disposições colidentes.

OBS: A lei revogadora deve ter hierarquia normativa superior ou idêntica à norma revogada.
A modalidade de revogação tácita tem sua importância em poder evitar a manutenção de
incoerências e inconsistências no ordenamento jurídico, revogando por incompatibilidade lei
anterior.

A fim de melhor solucionar as antinomias no sistema, Noberto Bobbio desenvolveu critério


metajurídicos de solução de antinomias aparentes (as reais são solucionadas pelos métodos de
integração):

1. Critério hierárquico – norma superior afasta norma inferior (mais forte);


2. Critério da especialidade – norma especial prevalece sobre norma geral;
3. Critério cronológico – norma posterior prevalece sobre norma anterior (mais fraco).

Ultratividade: É a possibilidade de produção de efeitos por uma lei já revogada. Vislumbra-se a


aplicabilidade do diploma revogado às situações consolidadas durante a sua vigência.

Pontes de Miranda: há subsunção anterior – ou seja, normas cujos efeitos são produzidos mesmo
depois de revogadas, pois já incidiram à época da ocorrência do fato.

A ocorrência do fenômeno da ultratividade não depende de expressa previsão legal, uma vez que
decorre da garantia de não retroatividade das normas.

Ex.: direito das sucessões (norma vigente na abertura da sucessão); Súmula 112 – imposto causa
mortis: alíquota da época da morte.

§ 3º: O direito brasileiro não admite a repristinação: se uma lei foi revogada por outra, sendo esta
última revogada, não significa que a primeira será reestabelecida. Salvo disposição contrária.

O efeito repristinatório, porém, se configura quando há o renascimento de uma lei já revogada, mas
sem a aludida menção em uma nova norma.

Assim, o direito brasileiro admite efeitos repristinatórios, ainda que não admita a repristinação.

Na hipótese de Controle de Constitucionalidade, há possibilidade de efeitos repristinatórios.

Assim, se a lei revogadora for objeto de ADIN, afirmada a inconstitucionalidade da lei revogadora,
os efeitos da lei revogada serão restabelecidos, em virtude da perda de eficácia daquela.

Entretanto, é possível a modulação da eficácia do controle de constitucionalidade, para que a


Corte module os efeitos, declarando-os não retroativos.

Pautada na segurança jurídica, dignidade humana e ordem pública, pode, inclusive, manter a
vigência da norma por determinado período.

Outra hipótese é a reprodução de texto normativo – quando a lei nova revoga a revogadora,
trazendo em seu conteúdo as disposições constantes na primeira que foi revogada. Há efeito
repristinatório. (B revoga A e é revogado por C que dispõe o mesmo que A dispunha).

4. Obrigatoriedade das normas

Art. 3º: Presunção de conhecimento universal das leis. Proibição de alegação de erro de direito.

Presunção juris tantum. Não é absoluto, admitindo temperamentos, em hipóteses nas quais venha a
lei, expressamente, a admitir o erro de direito.
Mais comum no direito penal. Art. 8º, da lei de contravenções, Art. 21, CP (erro de proibição) e Art.
65, II, CP: atenuante da pena.

No direito civil: 2 casos: Art. 1561 (casamento putativo – erro de fato ou de direito: boa-fé); Art.
139, III, CC (erro pode ser de direito. Invalidade do negócio jurídico: vicia e torna anulável.
Quando o agente estiver de boa-fé e a ignorância da lei tiver sido a causa determinante da
declaração de vontade).

Direito Civil: leis cogentes (não podem ser afastadas pelas partes) e leis dispositivas (a autonomia
privada pode afastar).

5. Integração da norma

O ordenamento jurídico é pleno, complexo, trazendo mecanismos para o preenchimento das lacunas
que podem existir nas normas jurídicas, a fim de garantir a completude do ordenamento jurídico
como um todo.

A ordem jurídica é completa, não tem vazios. O direito, como ordenamento global, não pode ter
lacunas, não pode ter vácuos insuperáveis. Já a lei pode ser omissa, pois o legislador não consegue
regular todas as situações que surgirão no meio social.

5.1. Proibição ao “non liqued”:

O juiz não pode se eximir do dever de julgar, alegando desconhecimento ou a lacuna da lei. "Narra-
me os fatos que eu te darei o direito".

Exceto: Art. 337, CPC: direito municipal, estadual, estrangeiro e consuetudinário. Ele pode
obrigar a parte a provar a existência quanto a vigência da lei.

Atenção! Ele não pode desconhecer o direito do município ou estado no qual ele exerce sua
jurisdição (Alexandre Câmara).

Protocolo de las leñas: presume-se que o juiz conheça a lei dos países integrantes do Mercosul.

Quando houver lacuna, o juiz deve se valer dos métodos de integração das normas.

5.2. Mecanismos de Comatação / Integração:

Art. 4º: Havendo omissão, o juiz decidirá de acordo com analogia, costumes, princípios gerais de
direito. (Rol preferencial – hierárquico - taxativo)

a) Analogia

Recurso de comparação. É o processo de aplicação a uma hipótese não prevista em lei de


disposição concernente a caso semelhante. Utiliza uma disposição similar.

Dois tipos: legis e juris.

Na analogia legis, quando se compara uma situação disciplinada com outra não disciplinada
em lei. Consiste em obter a norma adequada à disciplina do caso, a partir de outro
dispositivo legal.
Ex.: Art. 489, CC: uma pessoa casada pode vender bem não comum para o cônjuge. Assim,
quem vive em união estável também pode aproveitar.
A analogia juris é uma comparação com valores que inspiram o sistema jurídico. Infere-se a
norma de todo o sistema jurídico, utilizando-se a doutrina, a jurisprudência e os princípios
que disciplinam a matéria semelhante ou até os princípios gerais do direito.
ADIN 4277 STF: reconhece caráter familiar da união homo afetiva. União estável pode ser
homoafetiva.

OBS: em matéria de direito penal e tributário não se admite analogia em prejuízo do réu
ou contribuinte. Sendo apenas permitida in bona partem.

b) Costumes

É a conduta reiterada a partir da falsa impressão de existir norma jurídica a respeito da


matéria.

O Brasil possui 3 categorias diferentes: secundum legem (a própria lei que diz que deve ser
julgado conforme os costumes. Art. 444, CC); contra legem (ato ilícito; abuso do direito);
praeter legem (uso decorre da falta de lei).

Não havendo lei e não sendo possível integrar pela analogia, será pelos costumes.

Apenas praeter legem é método de integração. No secundum legem há, em verdade, uma
opção legislativa em não disciplinar a matéria, remetendo-a aos costumes.

OBS: O sistema jurídico reconhece o costume secundum legem e o praeter legem,


inadmitindo o costume contra legem.

Art. 337, CPC: impõe a quem alega o ônus de provar, em juízo, o costume invocado.

c) Princípios gerais do direito

São formulações gerais do ordenamento jurídico, extrai-se um substrato mínimo do que o


ordenamento reputa fundamental, independentemente de expressa previsão legal: não lesar
a ninguém; dar a cada um o que é seu; viver honestamente.

Força normativa dos princípios:

Dois diferentes tipos de princípios no direito. Os informativos/gerais e os fundamentais.


Estes últimos estão previstos nas normas; constituem a própria norma. Têm força normativa,
já os informativos são meras fontes de integração, regras de desempate (lógico, político,
jurídico e econômico).

OBS: às vezes, é possível ser julgado pela equidade. Aquilo que é justo, razoável.
Compreensão que varia entre as pessoas, de modo que só é possível nos casos previstos em
lei, vez que gera grande insegurança.

Ex.: procedimentos de jurisdição voluntária; alimentos; fixação de honorários advocatícios


nas causas sem perspectiva econômica.

Não se olvide que a atividade integratória, através da colmatação das lacunas, tem de estar
sintonizada, imperativamente, com os princípios e valores constitucionais, especialmente os
princípios fundamentais.

6. Interpretação da norma jurídica


6.1. Preferência pela interpretação social/finalística:

Art. 5º: “(...) o juiz atenderá aos fins sociais a que ela se dirige e às exigências do bem comum” .
Interpretar é buscar sentido, alcance e conteúdo. Os fins sociais a que a norma se dirige.
FINALIDADE SOCIAL.

O STJ vem assim entendendo: a interpretação de uma norma deve sempre se preocupar com o
impacto social que ela causa. Preocupada em harmonizar com os valores sociais.

A CF/88 marca um novo tempo na interpretação normativa, impondo uma concepção socializada do
direito, através dos vetores da solidariedade social, da igualdade, da liberdade e da própria
dignidade humana.

O art. 5º da LINDB opta nitidamente pela afirmação de uma finalidade social do direito, revelando
que o legislador considera primordiais valores sociais sobre os individuais. Afinal, o Texto
Constitucional estabelece como valores fundamentais a solidariedade social, a dignidade da pessoa
humana e a igualdade substancial.

6.2. Significado da interpretação:

A interpretação pode desaguar em diferentes resultados, a depender do sentido e alcance afirmados


pelo intérprete. Poderá ser: ampliativo, restritivo ou declarativo. A depender do elastecimento ou
não do alcance do texto.

A interpretação delimita o alcance da norma: ampliativo, declarativo ou restritivo.

Existem limites para a atividade interpretativa, devendo ser interpretadas restritivamente as normas
que estabelecem privilégios ou sanções, bem como as normas restritivas de direitos. Em sede de
direito administrativo, a intepretação normativa deve ser, ao máximo, declarativa, em face da
necessidade de respeitar o princípio da legalidade. Por sua vez, os direitos e garantias fundamentais,
individuais e sociais reclamam interpretação ampliativa, com o propósito de dar efetividade à
proteção elementar da pessoa humana.

 Direitos e garantias fundamentais e sociais = ampliativo;


 Direito administrativo = declarativo;
 Direito penal, fiança, aval = restritiva.

Interpretação ≠ Integração: Na primeira busca-se sentido e alcance da norma já existente. Na


segunda, há uma busca de preenchimento de lacuna.

OBS: "In claris interpretatio cecis" – ultrapassado! Toda norma carece de interpretação.

Interpretar é descobrir o sentido da norma, determinar o seu conteúdo e delimitar o seu exato
alcance.

A interpretação da lei está relacionada ao problema da aplicação do direito, já que a questão da


interpretação da lei apenas surge quando da efetiva aplicação da norma, uma vez que diz respeito à
atividade realizada pelo julgador no momento da decisão.

Toda atividade interpretativa tem como finalidade facilitar a solução dos conflitos de interesses nos
casos concretos, formulando parâmetros para a efetiva aplicação da norma.

6.3. Classificação:
1) Quanto às fontes:

Poderá ser: jurisprudencial ou judicial (fixada pelos tribunais); doutrinária ou doutrinal


(realizada pelos cientistas do direito); autêntica ou literal (procedida pelo próprio
legislador, através de outro ato normativo).

2) Quanto aos meios:

Poderá ser: gramatical ou literal (regras de linguística, gramaticais, buscando o sentido


filológico); lógica (raciocínio lógico. Fixar o alcance e extensão da lei a partir das
motivações políticas, históricas e ideológicas); histórica (averiguação da origem do texto a
ser interpretado); sociológica ou teleológica (adaptar a lei às exigências atuais e concretas
da sociedade); sistemática (a lei não existe isoladamente, devendo ser alcançado o seu
sentido em consonância com as demais normas que inspiram aquele ramo do direito).

Atenção! As referidas técnicas interpretativas não se excluem, devendo ser procedida a


interpretação a partir da combinação de diferentes critérios.

7. Aplicação da lei no tempo

7.1. Critérios fundamentais:

1. Irretroatividade, não se aplicando a lei às situações jurídicas constituídas antes de sua


vigência;

2. Efeito imediato e geral, incidindo a nova lei a todas as situações concretizadas sob sua
égide.

7.2. Retroatividade:

Art. 6º: lei é regra geral irretroativa, salvo disposição contrária.

A lei não retroage para alcançar os fatos pretéritos. Quando a lei previr expressamente a retroação,
ela retroagirá, porém, não violará o ato jurídico perfeito, os direitos adquiridos e a coisa julgada.

Assim, a própria LINDB traz exceção à irretroatividade, admitindo-se efeitos retroativos


CUMULATIVAMENTE:

a) Há expressa disposição normativa;


b) Não atinjam o ato jurídico perfeito, direitos adquiridos e coisa julgada.

 Ato jurídico perfeito: Ato cuja eficácia já se encerrou. Efeitos já se exauriram. Consumado
sob a lei vigente.

Ato continuativo – relação jurídica de trato sucessivo, ou seja, que se prolonga no tempo.
Há aplicação imediata da lei nova. (CC, 2.035 – existência ou validade – norma vigente no
tempo da celebração; eficácia - norma atualmente em vigor).

 Coisa julgada: Qualidade que reveste os efeitos de decisão judicial contra a qual já não
cabe mais recurso.

OBS: a jurisprudência superior vem admitindo a relativização da garantia de coisa julgada


nos casos em que há conflito com direitos fundamentais.
 Direito adquirido: O que já se incorporou ao patrimônio do indivíduo.

OBS: Não há direito adquirido quanto ao poder constituinte (seja ele originário ou
derivado). Assim, em entendimento questionável tecnicamente, o STF vem entendendo que
não há direito adquirido nem mesmo em face do poder constituinte derivado (emendas).

STF também entende que não há direito adquirido ao regime jurídico previdenciário (apenas
ao quantum estabelecido no valor da pensão); não há direito adquirido a remição da pena se
há justa causa.

Retroatividade benigna – possibilidade de aplicação das leis penal e tributárias novas aos fatos
pretéritos, desde que mais benéficas ao réu ou contribuinte.

8. Aplicação da lei no espaço

8.1. Princípio da territorialidade moderada:

Dentro do espaço territorial brasileiro, aplicam-se as leis brasileiras.

Regra geral: aplicação da lei brasileira no espaço brasileiro.

Admite-se, entretanto, o princípio da extraterritorialidade (em determinadas hipóteses, a aplicação


da norma estrangeira em território nacional ou aplicação da lei brasileira em território estrangeiro).

8.2. Regras de conexão:

Normas de Direito Internacional Privado: Regras de Conexão (norma alienígena e ordenamento


brasileiro): Objetos de conexão (matéria); Elementos de conexão (critérios).

Elementos: Pessoais (Nacionalidade / Residência / Domicílio); Reais (Localização do bem);


Conducistas (Local de celebração / Local de execução / Autonomia).

OBS: Pela autonomia da vontade, as partes elegem o elemento.

Art. 7º: Estatuto pessoal: lei do domicílio

Lei do país em que a pessoa tiver domicílio rege: começo e fim de personalidade, nome, capacidade
e direito de família.

§ 1º: Impedimentos e Formalidades do casamento: Local da celebração.

§2º: Exceção à regra do local da celebração: Casamento de estrangeiros celebrado pelas


autoridades diplomáticas do país de ambos os nubentes: nacionalidades dos nubentes.

OBS: Também aplica à situação equiparada dos brasileiros no estrangeiro (Art. 18, Caput):
autoridades consulares brasileiras são autorizadas a celebrar casamento e atos de registro civil e
tabelionato de brasileiros.

§ 3º: Invalidade: Domicílio conjugal (primeiro domicílio conjugal, se possuem os nubentes


domicílio distinto).

§ 4º: Regime de bens: Domicílio conjugal. (Se diverso, o primeiro).


§ 7º: Salvo se há abandono, o domicílio do chefe de família se estende ao cônjuge e filhos não
emancipados.

§ 8º: Se a pessoa não tem domicílio: lugar da residência ou onde se encontre.

8.3. Direito internacional de família:

 O ordenamento jurídico brasileiro acolhe a lei do domicílio como elemento de conexão para
nortear as questões de família;

 O casamento realizado no território nacional deve atender às normas do código civil quanto
às formalidades e impedimentos;

 O casamento de brasileiro realizado fora do território nacional, por autoridade estrangeira,


tem que ser aqui registrado para ter eficácia entre nós;

 Casamento consular – celebrado no Brasil, perante autoridade diplomática/consular de


ambos os noivos – produzirá efeitos em nosso país;

 Quanto ao divórcio:

1. Se celebrado o casamento no exterior, com regular registro no brasil e os cônjuges aqui


estiverem domiciliados, compete à justiça brasileira julgar;

2. Se decretado por autoridade judiciária estrangeira, exige-se homologação do STJ (não


há mais exigência do prazo de 1 ano de separação por conta da EC 66/10 que deixou de
exigir prazo de separação para a dissolução do casamento). § 6º

OBS: nada impede, inclusive que seja homologada a partilha de bens situados no brasil,
realizada pelo juiz estrangeiro (a partilha a que refere o art. 89, II, CPC diz respeito à
partilha de bens transmitidos pela morte).

3. Art. 18, parágrafos 1º e 2º: autoridades consulares podem aplicar a lei brasileira no que
tange a divórcio consensual, sem incapazes e assistidos com advogado.

4. Súmula 381 STF – não se homologa sentença estrangeira de divórcio obtida por
procuração em país no qual os cônjuges não são nacionais.

8.4. Outros elementos de conexão:

1) Bens de situação permanente – Lugar onde estiverem situados – lex rei situae (Art. 8º)

2) Bens móveis transportados e penhor – Lei do domicílio do proprietário/possuidor. (§ 1º e §


2º)

3) Sucessão/Ausência –Lei do domicílio do defunto

4) Sucessão de BENS de estrangeiros situados no Brasil – procedimento de inventário tramita


no Brasil quanto aos bens aqui situados (hipótese de competência territorial absoluta).

Aplicando a Lei mais favorável (bens pertencentes ao estrangeiro morto e situados no Brasil:
lei mais favorável ao cônjuge e filhos brasileiros) – Art. 10, Caput e § 1º.

5) Capacidade para suceder – Domicílio do herdeiro/legatário (Art. 10, § 2º).


6) Contratos (reputa-se constituída a obrigação) – Lugar da residência do proponente (Art. 9º, §
2º)

7) Obrigações – Lugar onde se constituíram – locus regit actum (Art. 9º) § 1º

OBS: contrato celebrado no exterior, com escopo de produzir efeitos no Brasil, deverá atender à
forma da lei nacional, admitidas as peculiaridades da lei estrangeira no que concerne aos
requisitos extrínsecos do ato. Ex.: dívida de jogo contraída no estrangeiro pode ser executada no
Brasil.

Obrigação de indenizar – local onde se manifestou o ato ilícito.

8) Pessoas jurídicas – Lei do lugar onde se constituírem. (Art. 11, Caput)

Art. 11, § 1º: Filiais – Atos constitutivos devem ser aprovados pelo governo brasileiro e são
sujeitas à lei brasileira.

Art. 11, § 2º e § 3º: Pessoa jurídica de direito público estrangeira – Não podem adquirir no
Brasil bens imóveis ou suscetíveis de desapropriação. Podem adquirir os prédios necessários à
sede dos representantes.

Art. 12, Caput: Competência Concorrente – Réu domiciliado no Brasil ou aqui tiver que ser
cumprida a obrigação. (Art. 88, CPC: + originar de fato ocorrido ou ato praticado no Brasil).
§ 1º: Competência Exclusiva – ações relativas a imóveis situados no Brasil (+ Partilha/inventário
de bens situados no Brasil. CPC).

§ 2º: Diligências deprecadas por autoridade estrangeira: autoridade judiciária brasileira


cumprirá, depois de concedido o exequatur e segundo a forma estabelecida pela lei brasileira. Lei
estrangeira será observada quanto ao objeto das diligências.

Art. 13: A prova dos fatos ocorridos no exterior: Lei que vigorar no respectivo país (lex loci)
para a verificação do fato – modo de produção, porém, quanto ao ônus e aos meios de prova, aplica-
se a lei do foro (lex fori), não sendo permitida a utilização de provas que a lei brasileira não admita.

Art. 14: Juiz, desconhecendo a lei, pode exigir de quem invoca a prova do texto e vigência de lei
estrangeira.

Art. 15: Homologação de sentença estrangeira: Para que se cumpra no Brasil uma decisão
judicial estrangeira (laudos arbitrais estrangeiros, cartas rogatórias estrangeiras e sentenças
judiciais), devem ser observados alguns requisitos: 1) Trânsito em julgado, 2) Compatibilidade com
ordenamento interno e 3) Cumprimento das formalidades do 483 e 484, CPC e art. 5º, res. 09/05
STJ.

“a” – Juiz competente; “b” – citação válida; “c” – trânsito em julgado e formalidades para execução
no local onde proferida; “d” – tradução juramentada; “e” – homologação STJ

STJ dará o exequatur – o cumpra-se do STJ. Cognição restrita – não poderá se atentar ao mérito
da decisão proferida no estrangeiro, apenas observância dos requisitos de homologação.
Decisão monocrática do presidente ou encaminha para decisão do colegiado (quando há
impugnação).
Deverá ser ouvido o MP como fiscal da ordem pública.

Porém, o juiz federal de 1ª instância irá executar.


OBS: títulos executivos extrajudiciais não estão submetidos à homologação.

Art. 16: Proibição de Reenvio.

Art. 17: Devem observar a Soberania nacional, a Ordem pública e os Bons costumes.

Você também pode gostar