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UM AQÜÍFERO AMEAÇADO
Resumo - O sistema aqüífero da Ilha do Maranhão situa-se na Bacia Costeira de São Luís, entre os
paralelos 02o27’11”/02o45’02”S e longitudes 44o11’11”/44o22’37”W. O sistema é constituído pelos
depósitos sedimentares das formações Barreiras (Terciário) e Itapecuru (Cretáceo), abrangendo
957,05 km2 e comportando quatro zonas aqüíferas suscetíveis de serem explotadas. O manancial
tem uma vazão de explotação da ordem de 113,88 bilhões de litros/ano e uma potencialidade de
210,93 bilhões de litros/ano, não sendo suficiente para atender a demanda hídrica estimada em
293,5 bilhões de litros/ano. Esta situação tende a se agravar quando forem incorporadas restrições
qualitativas para o uso da água potável. Tais restrições estão relacionadas à intrusão salina a partir
das bordas (setor noroeste) e ao risco de contaminação das águas subterrâneas em áreas
urbanizadas. Considerando ainda a tendência da diminuição da recarga dos aqüíferos, observou-se
que a aplicação de medidas de proteção das águas são fatores importantes para garantir a
sustentabilidade hídrica da região.
Abstract - The aquifer system of Maranhão Island is located in the São Luis Coastal Basin, from
parallels of 02o27’11” and 02o45’02”S to longitude of 44o11’11” and 44o22’37”W. This
hydrogeological system, consisting of Cretaceous-Tertiary sedimentary deposits (Itapecuru and
Barreiras formations), covers about 957.05 km2 and includes four aquifers zones suitable for
exploitation. The aquifer has a potentiality estimated in 210.93 billion liter/year, showing an
insufficiency to supply the water demand evaluated in 293.5 billion liter/year. This situation shows
a trend to get worse when will be incorporated qualitative restrictions to the use of fresh water.
These restrictions are related the intrusion of saline water starting from the borders (northwest sector)
and the risk of contamination of the underground water in the urban areas. Still considering the
tendency of the natural recharge decrease, it was observed that the application of water protective
measures, are important factors to guarantee the sustainability of water resources in the region.
1
Prof. MSc. CEFET-MA. São Luis; fone: (0¨98) 218-9038; e-mail: soterrab@ig.com.br.
INTRODUÇÃO
Este artigo tem por finalidade reunir, sintetizar e atualizar algumas informações extraídas, na
maioria, dos trabalhos de pesquisa realizados pelo autor, conforme consta das referências
bibliográficas, com o objetivo principal de alertar sobre a ameaça que pesa sobre o sistema aqüífero
da Ilha do Maranhão e sugerir algumas medidas de proteção das suas águas.
ASPECTOS HIDROCLIMATOLÓGICOS
A Ilha do Maranhão está localizada na Bacia Sedimentar Costeira de São Luís, situada entre
os paralelos 02o27’11”/02o45’02”S e longitudes 44o11’11”/44o22’37”W. O clima é tropical
quente semi-úmido com cinco meses secos. A temperatura do ar média anual é de 26,7o C,
oscilando entre os valores extremos de 34,4o C e 17,9o C. A evaporação anual média é de 1.020
mm, sendo que os valores mais altos ocorrem no período de agosto a dezembro, durante a estação
seca. Os valores médios do balanço hídrico calculado a partir da altura de precipitação de 2.010
mm/ano e uma capacidade de campo de 75 mm, são: 1.030 mm/ano para a evapotranspiração
efetiva; 670 mm/ano para o escoamento superficial e 310 mm/ano para a infiltração que recarrega
os aqüíferos (SOUSA, 1997).
A variada gama de climas tropicais, a qual pertence o clima da região, não se traduz em
grandes diferenciações térmicas, mas reflete-se em uma grande variedade climática marcada por
oscilações do ciclo anual das chuvas.
Em um extremo estão os climas equatoriais muito chuvosos, fazendo parte da cadeia dos
climas quentes, enquanto que os climas subtropicais áridos constituem a outra extremidade.
O fator que determina a chegada do período chuvoso (janeiro a junho), é a posição
latitudinal da Zona de Convergência Intertropical (ZCIT), dos alísios dos hemisférios Norte e Sul,
responsável pela dinâmica pluviométrica no litoral Norte/Nordeste do Brasil.
O ciclo anual das chuvas no litoral Norte/Nordeste segue um padrão unimodal, definido por
famílias de curvas caracterizadas por um só máximo, ocorrendo nos meses mais chuvosos, entre
março e maio, com acentuado declínio nos meses colaterais.
A estação meteorológica do Itapiracó do Instituto Nacional de Meteorologia - INMET
(coordenadas geográficas: 02º 32’S/044º 18’W; períodos: 1912-1943 e 1966-1990), tomada como
exemplo desse padrão de curvas mostra o ciclo mensal das chuvas na ilha do Maranhão (FIG. 1).
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Jan Fev Mar Abr Maio Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
média mensal
A análise dos dados meteorológicos no período mostra que a pluviometria é caracterizada por
um máximo ocorrendo entre março e abril, em torno de 400 mm, e um mínimo próximo de 20 mm,
ocorrendo entre setembro e novembro. A estação úmida, que vai de janeiro a julho, precipita 85%
do total da chuva anual, sendo que o trimestre mais chuvoso (março-abril-maio) corresponde a 50%
desse total.
Contudo é importante esclarecer que a estação seca, que vai de agosto a início do mês de
dezembro, não se caracteriza por estiagens catastróficas. Durante a estação seca podem ocorrer dias
de chuva, porém sua insuficiência hidrológica é bastante para caracterizar a existência de uma
época em que as águas são deficientes.
Examinando-se as séries pluviométricas das estações meteorológicas representativas da
região, Itapiracó do INMET (coordenadas geográficas: 02º 32’S/044º 18’W; períodos: 1913-1943 e
1966-1988) e da ALUMAR (coordenadas geográficas: 02º 40’S/044º 20’W; período: 1989-2000), é
possível observar a ocorrência de anos chuvosos e de seca prolongada. Este fato é corroborado pelas
grandes oscilações no ciclo anual das chuvas registradas pelos valores extremos 842 mm, em 1919,
e 3.990 mm, em 1985 (FIG. 1A e 1B).
Os valores estimados pelo balanço hídrico indicam que a Ilha é uma região de baixa
vulnerabilidade a seca. Entretanto, a estação seca de cinco meses e a concentração de 50% do total
da precipitação anual, no trimestre março-abril-maio, pode constituir uma situação crítica para o
abastecimento dos reservatórios de superfície e recarga dos aqüíferos, quando ocorrerem desvios
pluviométricos negativos significativos no ciclo anual das chuvas.
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Figura 1A - Ciclo anual das chuvas na Ilha do Maranhão (Período 1913-1943)
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Precipitação ( mm )
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Figura 1B - Ciclo anual das chuvas na Ilha do Maranhão (Período 1966- 2000)
CONCLUSÕES
O sinal vermelho da crise de abastecimento de água na Ilha do Maranhão já se acendeu. São
essas as evidências:
SUGESTÕES
As zonas aqüíferas Z1, Z2 e Z3 representam os principais setores do sistema hidrogeológico
da Ilha do Maranhão, oferecendo as únicas perspectivas em termos de potencialidade hídrica, tanto
no volume total armazenado, quanto na facilidade de captação através de cacimbas, poços freáticos
e poços tubulares profundos. É óbvio que nessas zonas, além das medidas de proteção das águas
aqui sugeridas, é imprescindível que as mesmas sejam consolidadas em um plano de gestão próprio
e que a necessidade da preservação dos aqüíferos e sua condição de bem estratégico seja transmitida
à população através de campanhas educativas.
i. Dotar de sistemas de coleta e tratamento das águas residuárias as bacias hidrográficas dos
rios Anil, Bacanga, Paciência, Cururuca, Tibiri e Jeniparana;
ii. Remover o lixo e limpar os canais principais e secundários dos rios Anil, Bacanga,
Paciência, Cururuca, Tibiri, Jeniparana, Cachorros, Jaguarema, Calhau e Pimenta;
iii. Impermeabilizar o fundo das lagoas de estabilização ou de outros depósitos de esgotos
domésticos e industriais utilizados no tratamento das águas residuárias, de maneira a evitar a
infiltração do líquido e, conseqüentemente, a poluição das águas subterrâneas;
iv. Adotar a coleta e o tratamento seletivo dos resíduos perigosos e não perigosos, com
reciclagem de resíduos;
v. Construir aterros sanitários para disposição do lixo coletado nos municípios de São Luís,
São José de Ribamar, Paço do Lumiar e Raposa;
vi. Impermeabilizar o fundo dos aterros sanitários para evitar a penetração das águas lixiviantes
(chorume) as quais devem ser coletadas em drenos próprios e destinadas a uma estação de
tratamento;
vii. Adotar medidas de controle sobre a perfuração de poços tubulares, a fim de evitar poços mal
construídos, abandonados ou danificados que possam contaminar as águas subterrâneas;
viii. Estabelecer zonas de proteção especial em torno dos poços tubulares para abastecimento
urbano e industrial.
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
1. COMPANHIA DE PESQUISA DE RECURSOS MINERAIS. Programa Levantamentos
Geológicos Básicos do Brasil, São Luís Folha SA.23-Z-A. Cururupu. Folha SA.23-X-C
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2. EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA.
site www.cdbrasil.cnpm.embrapa.br, EMBRAPA:
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Universidade Federal do Paraná).
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jan./jun. 1998. CDU 628.1(811.11).
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2000.
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Foco/Universidade Estadual do Maranhão-PPGE, São Luís-MA, v.8 n.12, p.141-157,
jul./dez. 2000. CDU 620.91(812.1).
7. ____________ Bases para a proteção e gestão das águas subterrâneas da Ilha do Maranhão-MA.
In: IV DIÁLOGO INTERAMERICANO DE GERENCIAMENTO DE ÁGUAS. Foz do
Iguaçu-PR: SRH-MMA/OEA/RIRH, 2001.
8. TROVÃO, J. R., FERREIRA, A. J. Processo de ocupação espacial/uso e cobertura da terra da
microrregião da aglomeração urbana de São Luís. Secretaria de Estado do Meio Ambiente
do Maranhão, São Luís, 1998. 114 p.