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1. Introdução

1.1. Saneamento ambiental, saúde pública e lixo......................................... 03


1.2. Minimização de resíduos................................................................... 04
1.3. Gerenciamento integrado de resíduos.................................................. 05
1.3.1. Plano Diretor de Resíduos......................................................... 06
1.4. Gestão compartilhada de resíduos...................................................... 07
1.5. Políticas públicas............................................................................ 08
1.5.1 Política Nacional de resíduos..................................................... 08
1.5.2 Políticas estaduais de resíduos.................................................. 09

2. Coleta Seletiva de Resíduos

2.1. Definição....................................................................................... 09
2.2. Concepção do programa................................................................... 10
2.3. Sistemas de coleta.......................................................................... 10
2.4. Etapas do planejamento................................................................... 12
2.5. Custos e benefícios......................................................................... 14

3. O que fazer com cada resíduo?

3.1. Papel, plástico, vidro e metais............................................................ 16


3.2. Embalagens multi-camadas (TetraPak)................................................. 18
3.3. Pneus............................................................................................ 19
3.4. Orgânicos....................................................................................... 19
3.5. Entulho (resíduos da construção civil).................................................. 20
3.6. Pilhas e baterias.............................................................................. 21
3.7. Lâmpadas fluorescentes.................................................................... 21
3.8. Embalagens de agroquímicos.............................................................. 22
3.9. Resíduos de serviços de saúde........................................................... 22
3.10. Óleos lubrificantes........................................................................... 23
3.11. Tintas, solventes e similares.............................................................. 23
3.12. Resíduos volumosos ......................................................................... 23
3.13. O resto.......................................................................................... 23

4. Leituras complementares............................................................... 29

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1. Introdução

1.1. Saneamento ambiental, saúde pública e lixo

Rio de Janeiro, capital federal, ano de 1904. O povo amotinado levanta barricadas. Bondes são depredados
e incendiados. Lojas saqueadas. O episódio fica conhecido como a Revolta da Vacina. O Rio de Janeiro é uma
cidade com ruelas estreitas, sujas. Cheia de cortiços onde se amontoa a população pobre. A falta de saneamento
básico e as condições de higiene fazem da cidade um foco de epidemias, principalmente febre amarela, varíola e
peste. Em 1895, ao atracar no Rio de Janeiro, o navio italiano Lombardia perdeu 234 de seus 337 tripulantes,
mortos por febre amarela.

“Viaje direto para a Argentina sem passar pelos perigosos focos de epidemias do Brasil”.

Com esta propaganda, uma companhia de viagem européia tranqüilizava seus clientes, no início do
século (TV Cultura/Alô Escola).

A relação entre o meio ambiente construído e a qualidade de vida neste ambiente é conhecimento
secular no Brasil. Em 1875, o Código de Posturas da cidade de São Paulo já trazia um artigo intitulado
“Dos resíduos sólidos e salubridade”, demonstrando a percepção da influência da má disposição do lixo no
surgimento das epidemias. Há muito tempo sabe-se, então, que as alterações do meio ambiente, a
degradação dos recursos naturais e o surgimento de riscos à saúde humana estão intimamente associados.
A preocupação com a saúde e as intervenções no ambiente foram, nas primeiras décadas do
século XX, essencialmente relacionadas à contaminação da água para consumo humano e ao controle de
insetos (como o mosquito Aedes aegypti, vetor da dengue), reservatórios ou hospedeiros (animais que
podem manter e transmitir doenças, como o cão e a raiva) e peçonhentos (animais que podem inocular
venenos, como algumas cobras e aranhas).
Cabe lembrar que os resíduos gerados até meados da década de 50 eram, em grande parte,
degradáveis ou retornáveis. A crescente complexidade do meio urbano trouxe novas características aos
resíduos e inúmeros outros fatores de riscos à saúde humana: contaminações dos recursos hídricos por
produtos que contêm metais pesados e outros componentes potencialmente perigosos, a não
degradabilidade de embalagens, seu excesso e descarte descuidado nas vias públicas - razão primeira
dos problemas sanitários causados pelas enchentes.
Atualmente, saneamento ambiental é o conjunto de ações que promove o esgotamento sanitário
de todos os domicílios e estabelecimentos, a universalização do abastecimento de água potável, a
revitalização dos corpos hídricos e o adequado gerenciamento dos resíduos sólidos municipais.
Evidentemente estas atividades estão associadas. O abastecimento de água potável, por exemplo, não
pode mais ser visto como a simples captação, tratamento biológico e distribuição. Há que se conter a
vertiginosa contaminação dos recursos hídricos pelo lançamento de efluentes industriais e pelo chorume
dos lixões e aterros mal operados.
Cada brasileiro produz cerca de 1 kg de lixo por dia. Do lixo que chega a ser coletado no país, mais de
75% é despejado em lixões, locais em que não recebe nenhum tratamento que diminua seu impacto no
ambiente. Aí gera poluição do solo, da água subterrânea e do ar, degrada a paisagem e atrai uma população
enorme de pessoas excluídas do mercado de trabalho. Há milhares de pessoas vivendo da catação de
resíduos nas ruas e nos lixões brasileiros! Infelizmente, segundo o último inventário de resíduos do Estado
de São Paulo, este número vem aumentando.
Mesmo nas cidades que possuem aterros sanitários, o problema persiste. Considerando a lenta
degradação dos resíduos (Anexo I), o lixo vai ocupando rapidamente todo o espaço disponível. E o país
não possui muitas áreas disponíveis ou adequadas, sob o aspecto ambiental e geomorfológico, onde
despejar os resíduos.
O que fazer, então, com tanto lixo? Sob o aspecto ambiental, os resíduos devem ser minimizados.
Operacionalmente, os resíduos devem ser gerenciados de modo integrado. Já sua gestão deve ser
compartilhada, ou participativa, envolvendo ações articuladas entre o poder público, a iniciativa privada e a
sociedade. Estas questões serão discutidas a seguir.

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1.2. Minimização de resíduos Reciclagem é a recuperação dos


materiais descartados, modificando-se suas
Diretrizes internacionais voltadas para a questão têm características físicas. Difere de
preconizado a minimização de resíduos, através de uma seqüência
reutilização, em que os descartados têm
de procedimentos didaticamente apresentada como os 3 Rs:
redução (na fonte geradora), reutilização direta dos produtos, e reaproveitamento mais direto, mantendo
reciclagem de materiais. suas feições.
A ordem dos 3Rs segue o princípio de que causa menor A reciclagem é considerada pré-
impacto evitar a geração do lixo do que reciclar os materiais após consumo, quando processa materiais
seu descarte. descartados ou sobras industriais na
No Brasil, a discussão em torno da minimização de própria linha de produção, como aparas
resíduos tomou impulso com a Agenda 21, documento que de papel, rebarbas metálicas, etc., ou pós-
representa o acordo entre as nações para melhorar a qualidade
consumo, quando recupera materiais que
de vida no planeta, elaborada durante a Conferência Rio-92. Seu
capítulo sobre Manejo Ambientalmente Saudável dos Resíduos foram descartados como lixo por seus
Sólidos afirma que a melhor maneira de combater o problema do usuários. Em ambos os casos os materiais
lixo é modificar os modelos de consumo. retornam como matéria-prima para o ciclo
A ordem dos 3Rs segue o princípio de que causa menor produtivo.
impacto evitar a geração do lixo do que reciclar os materiais após
seu descarte.
No Brasil, a discussão em torno da minimização de resíduos tomou impulso com a Agenda 21,
documento que representa o acordo entre as nações para melhorar a qualidade de vida no planeta,
elaborada durante a Conferência Rio-92. Seu capítulo sobre Manejo Ambientalmente Saudável dos Resíduos
Sólidos afirma que a melhor maneira de combater o problema do lixo é modificar os modelos de consumo.

Ursinhos para os solitários


A chave do estilo de vida ocidental é clara: CONSUMIR! Consumir para ser popular, consumir para ter mais que o
vizinho, consumir para esquecer os problemas, consumir para ser feliz. Lamentavelmente, nosso planeta não está preparado para
suportar esse tipo de comportamento. Nossa inocente saída às compras aos sábados é um dos principais motivos dos problemas de
que estamos falando neste livro - aquecimento global, chuva ácida, lixo...
Não adianta muito aliviarmos nossa consciência reciclando ou comprando uma caixa de sabão em pó biodegradável.
Precisamos parar de adquirir todas essas coisas de que não precisamos. Mas isso não é fácil para as crianças de hoje. Elas são
atacadas de todas as direções por um exército de monstros de plástico, brinquedos fofos e jogos eletrônicos, vinte e quatro horas por
dia, especialmente nos países desenvolvidos, em que as crianças freqüentemente passam a maior parte de seu tempo livre diante
da televisão. Muitos pais não têm tempo para seus filhos, por isso tentam compensar dando-lhes tudo que o dinheiro pode
comprar.
Entretanto, uma montanha de ursinhos de pelúcia não é consolo para uma criança solitária. Os adultos não passam de
crianças grandes. Em seus momentos de fraqueza, eles compram ursinhos de pelúcia para si próprios para secarem as próprias
lágrimas. Carros, por exemplo, um aparelho estéreo ou uma casa nova. Mais coisas! Serão eles tão fracos a ponto de não se
incomodarem que seus novos brinquedos estejam prejudicando o meio ambiente? Enquanto brincam, estão destruindo nosso
futuro.
Missão Terra – o Resgate do Planeta (Agenda 21 feita por crianças e jovens) - Ed. Melhoramentos, 1994

A Agenda 21 aponta: “a adoção de regulamentações nacionais e internacionais que objetivam implementar


tecnologias limpas de produção, resgatar os resíduos na sua origem e eliminar as embalagens que não sejam
biodegradáveis, reutilizáveis ou recicláveis, é um passo essencial para a criação de novas atitudes sociais e para
prevenir os impactos negativos do consumismo ilimitado”.
Devido às implicações político-econômicas e culturais que a mudança no padrão de consumo impõe
ao atual modelo, poucas iniciativas de redução têm sido efetivamente postas em prática. O enfrentamento
da problemática dos resíduos tem se centrado no último R – a reciclagem – que é perfeitamente compatível
e beneficiária dos atuais níveis de desperdício que cometemos.
Reciclar resíduos é pedir desculpas à natureza, uma tentativa de devolver ao ciclo produtivo recursos
que extraímos do ambiente, muitas vezes de modo excessivo e insustentável. Além disso, convém lembrar
que a reciclagem envolve processos industriais, que consomem água e energia, e também poluem. Sem
contar que muitos materiais descartados não são técnica ou comercialmente recicláveis no país. O que
podemos fazer, para citar apenas alguns exemplos, com resíduos têxteis, embalagens de celofane,
embalagens mistas (de papel, plástico e metais) e produtos cada vez mais complexos?

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Reduzir o consumo – evitar a produção de lixo e ofender menos a natureza – certamente não é fácil
na nossa sociedade urbano-industrial, em que o avanço tecnológico, a propaganda e, fundamentalmente,
a desagregação das relações familiares e comunitárias contribuem para um estilo de vida fortemente
consumista. Mas este desafio deverá ser enfrentado se quisermos uma sociedade efetivamente sustentável,
num planeta com recursos preciosos e finitos.
Portanto, além de pensarmos num fim para nossos resíduos, precisamos considerar seu começo.
Isto é: de onde vem tanto lixo? Tudo o que usamos é realmente necessário?

1.3. Gerenciamento integrado

O gerenciamento integrado de resíduos é o conjunto de ações normativas, operacionais, financeiras,


e de planejamento, implementadas com base em critérios sanitários, ambientais e econômicos para minimizar
os impactos negativos associados aos resíduos sólidos. Em linhas gerais, o gerenciamento abrange medidas
de minimização de resíduos, controle e correção, conforme ilustra a Figura 1.

Figura 1 - Etapas do gerenciamento de resíduos

REDUÇÃO NA
GERAÇÃO

MINIMIZAÇÃO REUTILIZAÇÃO
DE RESÍDUOS

RECICLAGEM

T R ATA M E N T O

CONTROLE

DISPOSIÇÃO
FINAL

RECUPERAÇÃO DE
CORREÇÃO
ÁREAS DEGRADADAS

Fonte: Adaptado de CETESB (2004)

Gerenciar o lixo de forma integrada pressupõe:


• considerar que a quantidade e a qualidade do lixo gerada numa localidade depende do seu grau de
urbanização e do tamanho, das características socioeconômicas e dos hábitos de consumo da população
• atender a legislação ambiental e sanitária
• manter um sistema de coleta de resíduos adequado e otimizado, que atende o máximo da população
e
• garantir tratamento e destino ambientalmente seguros para os resíduos, utilizando tecnologia
compatível com a realidade local.
No gerenciamento integrado as operações são interdependentes. A coleta mal planejada, por
exemplo, encarece o sistema e gera reclamações dos usuários. A destinação mal equacionada causa
impactos ambientais e econômicos ao exigir, dependendo do dano, medidas de recuperação de áreas
degradadas, pagamento de multas, etc.

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1.3.1. Plano Diretor de Resíduos

O gerenciamento integrado de resíduos pode ser implementado por meio de um Plano Diretor de
Resíduos Sólidos, que deve:
• diagnosticar os problemas associados à coleta, tratamento e disposição final dos resíduos sólidos
• avaliar as atuais tecnologias disponíveis para destinação final de resíduos domiciliares, hospitalares e
industriais, observando-se os aspectos técnicos, econômico-financeiros e ambientais
• propor soluções e cenários para os próximos cinco, dez, quinze e vinte anos,
• adotar, nas análises e proposições, enfoque regional e integrado, priorizando parcerias com outras
prefeituras e consórcios intermunicipais; na construção de um aterro, por exemplo, a falta de áreas
disponíveis no município, os custos de implantação e/ou restrições ambientais tornam uma solução
consorciada bastante interessante
• ser discutido com a população
• ter dotação orçamentária própria
• após sua aprovação pelo poder legislativo, ser revisto periodicamente.

Dentre as diretrizes de um Plano Diretor de Resíduos, recomenda-se:


• estímulo a medidas que diminuam a geração de lixo, como a criação de tarifas diferenciadas de coleta
em função da quantidade de material descartado por gerador (veja box)
• estabelecimento de políticas especificas para os grandes
geradores de resíduos; em certos municípios, como o de Taxa do lixo
São Paulo, a lei considera grande produtor aquele que
descarta mais de 200 litros de lixo por dia; os estabeleci-
mentos enquadrados nesta categoria precisam pagar pela
Por meio de nova legislação de limpeza
coleta e descarga do seu lixo num aterro, por empresa urbana, a cidade de São Paulo instituiu a taxa
cadastrada junto à prefeitura. Como estes serviços são do lixo em 2002. Cada domicílio e
cobrados por metro cúbico ou tonelada, interessa aos estabelecimento comercial hoje paga um valor
grandes geradores diminuir sua produção de lixo pela remoção em função de volumes estimados
• subsídios para a organização e fortalecimento de de lixo, conforme critérios essencialmente
cooperativas de catadores (veja item 1.4) socioeconômicos (bairro em que se localiza o
• fortalecimento do mercado para reutilização incentivando domicílio ou estabelecimento).
feiras de trocas, empreendimentos que reutilizem
embalagens (para conservas, por exemplo), comércio de
Em algumas cidades européias a
produtos a granel, oficinas de restauro e reforma (de população é obrigada a dispor seu lixo em
roupas e calçados, aparelhos, mobiliário, etc.) e brechós, recipientes adquiridos junto às prefeituras. Como
sebos e outros estabelecimentos que lidem com bens este recipiente é vendido ao munícipe, comprar
usados mais recipientes sai mais caro. Assim, a
• implementação de programa de coleta seletiva (veja bloco população é “incentivada” a diminuir seu
2); na tentativa de garantir a continuidade política dos descarte através da alteração nos hábitos de
programas, algumas municípios inseriram a coleta seletiva compra: passa a preferir produtos com menos
em suas leis orgânicas ou em leis complementares;
embalagens, ou produtos menos descartáveis,
embora estas lei não obriguem a população a separar
seus resíduos, elas pelo menos determinam que a
embalagens menos volumosas e, ainda, reduz o
municipalidade ofereça o serviço de coleta seletiva desperdício. Em outras cidades, os domicílios
• manutenção de programas de educação da população possuem recipientes para lixo com códigos de
(para limpeza urbana e minimização de resíduos, incluindo barra. Dispostos na calçada, estes recipientes são
a coleta seletiva) pesados pelos caminhões coletores
• incentivo à compostagem dos resíduos orgânicos (veja computadorizados, que registram a quantidade
bloco 3), com utilização do composto na agricultura, de lixo produzida em cada domicílio. A tarifa
reflorestamento e recomposição vegetal e jardinagem mensal de limpeza, portanto, é cobrada de cada
municipal
estabelecimento em função desta pesagem.
• instalação de aterro sanitário
• fechamento dos lixões e recuperação das áreas É claro que todas estas estratégias só
eventualmente degradadas funcionam a serviço da limpeza urbana se houver
• controle ambiental das unidades de tratamento e de fiscalização. Caso contrário, para se livrar de
destinação final e seus resíduos lixo sem pagar, o munícipe menos
• avaliação permanente do sistema de gestão. cidadão vai queimar ou despejar seu lixo em
terreno alheio, etc.

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1.4. Gestão compartilhada

As prefeituras municipais, pela constituição brasileira, são responsáveis pela implementação das
ações relativas ao gerenciamento de resíduos. Nos sistemas tradicionais de limpeza urbana, a ênfase é
colocada nos aspectos operacionais e técnicos, acreditando-se que competências em engenharia e logística,
por exemplo, garantirão a qualidade dos serviços públicos de coleta e destinação dos resíduos.
É evidente, porém, que a população é inteiramente responsável, pelo menos, pelas atividades de
geração e acondicionamento dos resíduos. Neste sentido o êxito de um programa municipal de limpeza
depende de uma gestão compartilhada, ou participativa, destes resíduos.
A gestão compartilhada, pressupondo o envolvimento de parceiros, também contribui para a
sustentabilidade política e econômica, especialmente dos programas de coleta seletiva, cuja implementação
exige infraestrutura específica e, portanto, recursos adicionais.
A experiência brasileira é rica em exemplos de gestão compartilhada de resíduos, conceito fortalecido
com a criação, em 1998, do Programa Nacional Lixo e Cidadania, coordenado pelo UNICEF- Fundo das
Nações Unidas para a Infância (leia mais em www.lixoecidadania.org.br)
Algumas ações associadas à implementação de um Plano Diretor de Resíduos e seus respectivos
parceiros são exemplificadas no quadro a seguir. Para ressaltar a possibilidade de envolvimento de agentes
também financiadores neste processo, estes foram incluídos no quadro como “parceiros”.

Tabela 1 - Potenciais parceiros para algumas ações de um Plano Diretor de Resíduos

Na gestão compartilhada de resíduos, merecem destaque as parcerias firmadas entre as prefeituras


e cooperativas de catadores na operação de sistemas de coleta seletiva. Considerando que os catadores
de rua são responsáveis, há muito tempo, por parte substancial do que é reciclado no país, valorizar sua
atividade como profissão, fornecendo infra-estrutura física, capacitação e assessoria na formação de
associações e cooperativas contribui para a geração de emprego e renda. Segundo pesquisa do UNICEF,
em 2000, os catadores já estavam presentes em 3800 municípios brasileiros. Aliás, em algumas cidades,
os catadores desviam mais material dos aterros do que os programas formais de coleta seletiva.

Nesta parceria com os catadores, as prefeituras fornecem às cooperativas um ou mais dos seguintes
apoios:
• veículos para a coleta seletiva
• terrenos ou galpões para a criação de centrais de triagem e armazenamento de materiais
• equipamentos para triagem e beneficiamento de recicláveis (como mesas, prensas, trituradores e
balanças)
• uniformes e equipamentos de proteção individual
• capacitação técnico-administrativa e orientação profissional
• atendimento à saúde
• alfabetização e educação
• assistência social, na forma de creches para os filhos dos catadores, cestas básicas, inclusão em
programas de habitação, etc.

Em certos programas, a parceria com os catadores tem


respaldo na Lei Orgânica. Em Belo Horizonte, por exemplo, a lei
Leia mais em:
estabelece que a coleta seletiva deve ser realizada LAJOLO, R.D.(coord.)
preferencialmente por cooperativa de trabalhadores. Idealmente, Cooperativa de Catadores de
as cooperativas devem ser contratadas para realizar o serviço de Materiais Recicláveis: Guia
coleta de resíduos, hoje executado por empreiteiras em muitos para Implantação, Instituto
municípios. de Pesquisas Tecnológicas e
SEBRAE-SP, 2003, 111p.

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O conceito de gestão compartilhada também pressupõe a articulação das várias secretarias,


departamentos ou divisões dentro da própria prefeitura. Cuidar do lixo, num contexto de manutenção da
qualidade ambiental, é tarefa não só do setor de Meio Ambiente ou de Serviços Urbanos, como também da
Saúde, da Promoção Social, da Cultura, de Obras, enfim, de toda administração municipal. Esta articulação
também contribui para a continuidade político-administrativa do programa.

1.5. Políticas públicas

O equacionamento da problemática do lixo depende da criação de políticas públicas específicas.


Embora as prefeituras sejam as responsáveis pela coleta e destinação do lixo, elas não têm poder para
interferir diretamente na sua geração, isto é, nos processos industriais que produzem bens de consumo.
Portanto, para aliviar as municipalidades de coletarem e destinarem grandes (e até crescentes) quantidades
de lixo, são necessárias uma política nacional de resíduos, bem como políticas estaduais. A seguir são
discutidos apenas os aspectos destas políticas relativos à minimização dos resíduos (3Rs). Os projetos de
lei, na verdade, são bem mais abrangentes, abordando também questões de tratamento e disposição
final dos resíduos.

1.5.1. Política Nacional de Resíduos

Uma política nacional de resíduos voltada a reduzir a geração de lixo deve valorizar de modo
diferenciado embalagens e produtos, rever incentivos econômicos para a exploração de matéria-prima
virgem, e fortalecer o mercado para recicláveis.
Na valorização de embalagens e produtos, devem ser privilegiadas a produção de utensílios e
embalagens retornáveis, ou reutilizáveis (cascos, vasilhames, garrafas com “depósito”). Este tipo de
embalagem já é incentivado em vários países. Na Alemanha, o Ministério Federal do Meio Ambiente fixou a
parcela de participação deste tipo de embalagem no mercado: 79% em 1998 e 81% no ano 2000. A
Dinamarca, por sua vez, proibiu, em 1977, o uso de embalagens descartáveis para bebidas não-alcoólicas,
e em 1981, para cerveja.
A política nacional de resíduos também pode limitar a distribuição de produtos e utensílios
descartáveis, como sacolas de supermercado. Com objetivo de diminuir a sujeira nas ruas do país e a
quantidade de lixo, o governo da África do Sul, por exemplo, proibiu que lojas distribuam a seus clientes
sacolas plásticas para carregar mercadorias. O comerciante que der sacolas para seus clientes poderá
receber uma multa de cerca de US$ 14 mil e até ser condenado a dez anos de prisão. Já na Irlanda, um
imposto cobrado em sacolas plásticas, antes distribuídas “gratuitamente” aos consumidores, reduziu em
90% o uso destas sacolas. O consumidor que quiser a sacola paga 15 cents por unidade, contribuindo
para um fundo de projetos de gerenciamento de resíduos.
Em segundo lugar, uma política nacional de resíduos deve promover, dentre as descartáveis, as
embalagens que sejam pelo menos recicláveis. Neste sentido, a política deve responsabilizar os produtores
pela criação de mecanismos efetivos de recuperação destas embalagens, que podem incluir o apoio financeiro
às prefeituras interessadas na implantação de programas de coleta seletiva e o incentivo para a criação
de empresas recicladoras. Aliás, as próprias indústrias podem trabalhar de forma integrada, organizando
sistemas de coleta e estruturando suas centrais de triagem, a exemplo do que ocorre em algumas localidades
na França. Neste caso, o poder público local pode se concentrar mais nas atividades de educação da
comunidade, supervisão do programa e fiscalização.
Por último, uma política nacional de resíduos deve desestimular a produção e distribuição de
embalagens e produtos que sejam simultaneamente descartáveis e não-recicláveis, que inevitavelmente
se transformam em lixo. É o caso de certos tipos de espumas, celofane, sacos compostos de diversos
materiais (como papel plastificado e papel aluminizado), dentre outros, que não são recicláveis sob o
aspecto tecnológico ou, pelo menos por enquanto, não são reciclados em escala comercial no Brasil.
Com o intuito de incentivar a recuperação de materiais, uma política nacional de resíduos também
deve fazer frente às atuais políticas econômicas que subsidiam a exploração de matéria-prima virgem e o
uso de energia nos diversos processos produtivos. Da mesma forma devem ser revistas as diretrizes
econômicas que facilitam a importação de “resíduos”, como aparas para a produção de papel reciclado e
pneus usados. Além disso, uma política nacional de resíduos deve estar alinhada às políticas de apoio ao
desenvolvimento econômico, que poderão ter como princípio destinar parte de sua verba à gestão de
resíduos sólidos.
Uma política nacional de resíduos também deve fortalecer o mercado para recicláveis, através de
instrumentos normativos, creditícios e administrativos. O próprio governo, que é um grande comprador,
deve adquirir, sempre que possível, produtos reciclados, exigindo o mesmo de seus fornecedores. O mercado
também pode ser indiretamente fortalecido por medidas que estipulem taxas mínimas de reciclagem. Na

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Alemanha, o Ministério do Meio Ambiente determinou que, a partir de 1995, 80% das embalagens teriam
de ser desviadas dos aterros, e 90% destas, recicladas – estes percentuais não podem incluir a incineração.
Já em Portugal, um decreto-lei rege que, até o final do ano 2005, deve ser valorizado um mínimo de 50%
em peso dos resíduos de embalagens.
A proposta brasileira de Política Nacional de Resíduos, ainda em discussão, tem por objetivo não só
a minimização dos resíduos, mas também:
ƒ proteger a saúde humana e a qualidade ambiental
ƒ preservar os recursos naturais
ƒ dar sustentabilidade aos padrões de consumo
ƒ incentivar a produção mais limpa
ƒ aumentar a produtividade do sistema econômico
ƒ estimular a geração de emprego e renda
ƒ promover a inclusão social de catadores

Dentre seus princípios estão a prevenção, a precaução, o conceito de poluidor-pagador, a


responsabilidade solidária, o direito à informação, a participação social e o desenvolvimento sustentável.
Seus principais instrumentos são:
ƒ avaliação do ciclo de vida do produto
ƒ cadastro técnico federal de atividades potencialmente poluidoras
ƒ normas técnicas que regulam a produção, acondicionamento, armazenagem, transporte, comercialização
e descarte de bens de consumo, matérias primas, insumos e rejeitos
ƒ portarias e resoluções de diversos ministérios
ƒ licenciamento ambiental
ƒ incentivos fiscais, financeiros e econômicos
ƒ serviços públicos de saneamento básico
ƒ planos de gestão integrada de resíduos.

1.5.2. Políticas estaduais de resíduos

As políticas de gerenciamento de resíduos, em nível estadual, podem tratar de alguns itens


mencionados para a política nacional. São citados, a seguir, apenas dois exemplos.
Em São Paulo, tramita na Assembléia Legislativa o Projeto de Lei 281, que estabelece a Política
Estadual de Resíduos Sólidos. O governo pretende incentivar a implementação de tecnologias que utilizem
quantidades menores de matéria-prima, estimular a reutilização de embalagens, a reciclagem e a
recuperação ambiental segura dos resíduos inevitáveis do processo produtivo, definir a responsabilidade
do produtor pelos resíduos gerados pós-consumo e responsabilizar agentes econômicos pelos danos
causados por seu lixo.
No Rio de Janeiro, a lei 3369/2000 estabelece que todas as empresas que utilizam garrafas e
embalagens plásticas na comercialização de seus produtos são responsáveis pela destinação final
ambientalmente adequada das mesmas. A mesma lei determina que as empresas estabeleçam e
mantenham procedimentos para a recompra das garrafas plásticas após o uso do produto pelos
consumidores.

2. Coleta Seletiva

Este bloco discute alguns aspectos da criação de programas de coleta seletiva.

2.1. Definição Leia mais em:


EIGENHEER, E. M., (org.)
Embora popularmente a expressão coleta seletiva seja usada Coleta seletiva de lixo:
para se referir à coleta dos principais resíduos recicláveis (papéis, experiências brasileiras,
vidros, plásticos e metais), na verdade esse sistema tem a função n. 2, UFF/CIRS/
de encaminhar resíduos diferentes para destinos diferentes. Assim, Ecomarapendi, Rio de
lâmpadas fluorescentes podem ser coletadas seletivamente para Janeiro, 1998. 208p.
tratamento (descontaminação pelo mercúrio) Sobras de alimentos e GRIMBERG, E., BLAUTH, P.
material de poda e capina podem ser coletados seletivamente e Coleta Seletiva - reciclando
encaminhadas para compostagem. materiais, reciclando valores.
A coleta seletiva, portanto, é o recolhimento diferenciado, São Paulo, Instituto Pólis,
por catadores, sucateiros, entidades, prefeituras, etc., dos resíduos 1998, 104p. disponível no
www.lixoecidadania.org.br/
já separados nas fontes geradoras. Normalmente ocorre em dias
lixoecidadania/publicacoes

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pré-determinados, alternados com a coleta do lixo propriamente dito.


Neste sentido, não fazemos a coleta seletiva em casa mas, sim, o descarte seletivo ou separação
dos materiais em categorias. Na criação do programa de coleta seletiva, especialmente no escopo das
atividades de educação da população, estas categorias para separação dos resíduos devem ser bem
claras e mutuamente exclusivas. Devem se evitar denominações como lixo seco e lixo orgânico, que podem
causar confusão. Uma folha de papel, por exemplo, é ao mesmo tempo orgânica e seca. Lixo limpo, para se
referir à categoria dos recicláveis, também não atende às características dos resíduos. Um pedaço de
tecido não é reciclável mas também não é sujo. Dentro do possível, na busca por uma reconceituação
didática dos resíduos, convém também evitar-se a palavra lixo - “... tudo o que não presta e se joga fora”1 .
Considerando-se que os materiais descartados “prestam”, sim, sugere-se que cada categoria seja
denominada segundo sua destinação alternativa ideal: recicláveis, compostáveis, reutilizáveis, etc. Lixo,
neste caso, será tudo aquilo que ainda não puder ser desviado do aterro. E assim, a menos que se mudem
radicalmente os padrões de produção e consumo vigentes, a gestão de resíduos sólidos, em qualquer
caso, precisará reservar áreas para a instalação de aterros. Neste sentido, a expressão “lixo zero”,
empregada em certos programas de coleta seletiva, é equivocada.

2.2. Concepção do programa de coleta seletiva

Em linhas gerais, os motivos para se criar e desenvolver um programa de coleta seletiva têm a
seguinte natureza:

1) ambiental/geográfica, em que as preocupações estão voltadas à falta de espaço para disposição do


lixo, à preservação da paisagem, à economia de recursos naturais (matérias-primas, água e energia), e à
diminuição do impacto ambiental de lixões e aterros; muitos municípios foram “forçados” a buscar alternativas
de destinação de resíduos face à iminente saturação de seus aterros; outros se viram impedidos de
construir novos aterros pela Resolução CONAMA 3/97, que proibiu a instalação de sistemas de tratamento
de lixo num raio de 20 km de aeroportos, para que a eventual presença de urubus não ofereça risco ao
tráfego aéreo;
2) sanitária, em locais onde a disposição inadequada do lixo, às vezes associada à inexistência de qualquer
sistema de coleta regular, traz inconvenientes estéticos e de saúde pública;
3) social, quando o trabalho enfoca a geração de empregos e o resgate da dignidade, estimulando a
participação de catadores;
4) econômica, com o intuito de reduzir os gastos com a limpeza urbana e investimentos em novos aterros,
ou para auferir renda com a comercialização de materiais recicláveis; embora alguns programas de coleta
seletiva no Brasil tenham surgido do pressuposto de que “lixo dá lucro”, é consenso dentre os gestores de
que o programa requer investimento, justificado por inúmeros outros benefícios diretos e indiretos, que
podem incluir a redução em outras despesas com limpeza pública
5) educativa, que vê um programa de coleta seletiva como estratégia para mudar, no nível individual,
valores e atitudes para com o ambiente, incluindo a revisão de hábitos de consumo e, no nível político,
para mobilizar a comunidade e fortalecer o espírito de cidadania
6) judicial, decorrentes de ações propostas junto ao Ministério Público relativas à destinação inadequada
dos resíduos.

Evidentemente a motivação para a implantação de um programa de coleta seletiva reúne vários


destes aspectos. A escassez de áreas para aterros, freqüente em regiões metropolitanas e litorâneas,
muitas vezes faz com que um município precise destinar seus resíduos a outro município, encarecendo o
custo de transporte e disposição, aumentando, por sua vez, a “motivação” econômica.
Como premissas para qualquer programa, recomendam-se:
ƒ a incorporação do conceito de minimização (3 Rs), incentivando menos desperdício
ƒ a gestão participativa, mobilizando a comunidade, dinamizando parcerias
ƒ a inclusão de catadores e
ƒ a priorização da sensibilização da população (ao invés de meras campanhas ou gincanas de resultado
pouco consistente e efêmero), num processo de fortalecimento da cidadania.

2.3. Sistemas de coleta seletiva

A coleta seletiva pode ser realizada 1) porta a porta, em que o veículo coletor percorre todas as
vias públicas, recolhendo os materiais pré-selecionados, dispostos em frente aos domicílios, estabelecimentos
comerciais, ou 2) em postos (ou pontos) de entrega voluntária, chamados popularmente de PEVs.

1 Dicionário Aurélio, 1986.

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Os postos de entrega voluntária costumam ser caçambas, containers ou conjuntos de tambores


que recebem materiais previamente selecionados pela comunidade. Em certos casos são identificados
segundo o Conselho Nacional do Meio Ambiente-CONAMA, que determina o padrão de cores para os
diferentes tipos de resíduos, conforme a Tabela 2.

Tabela 2 - Padrão de cores para identificação de recipientes para descarte seletivo de resíduos
(CONAMA, Resolução n° 275/ 2001)

A adoção do código na identificação


de recipientes é obrigatória nos programas
de órgãos públicos (federal, estadual e

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municipal), e recomendada nos programas de
coleta seletiva da iniciativa privada,
cooperativas, escolas, igrejas, organizações
não-governamentais e demais entidades
interessadas.
A Figura 2 ilustra o modelo adotado
pelo Programa de Coleta Seletiva Solidária
da Cidade de São Paulo, onde cada
recipiente recebe todas as categorias de
recicláveis.
Os PEVs são instalados em pontos
estratégicos da cidade (escolas, Figura 2 - PEV do Programa de Coleta Seletiva de São
estacionamentos de supermercados, praças, Paulo

etc.), com grande afluxo de pessoas e fácil acesso para carga e descarga, como a proximidade de
estacionamentos, etc. Devem ser dimensionados em função do volume de recicláveis gerado na sua área
de abrangência e da disponibilidade de infraestrutura para coleta. Ou seja, o PEV pode ser relativamente
menor se a coleta for mais freqüente, devendo ser maior se a coleta for mais esporádica. Embora a
composição do lixo urbano das cidades brasileiras seja similar, é interessante que se tenha um diagnóstico
dos resíduos do local onde será instalado.
Os PEVs podem ter um design personalizado, produzidos pela própria municipalidade ou comprados
de fornecedores especializados. O modelo adotado também deve levar em consideração se o PEV ficará
totalmente ao ar livre ou sob alguma cobertura, a facilidade de limpeza e manuseio pelos coletores, e a
altura das aberturas (no caso de PEVs em escolas, por exemplo, cujo público alvo é essencialmente infantil).

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Em ambiente interno, de acesso


restrito, como pátios de escolas e
condomínios, o PEV pode ser um

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conjunto de sacos reforçados de ráfia
(os big bags), de fácil manuseio,
transporte e limpeza (Figura 3).
O PEV contribui para otimizar
a coleta nos bairros com baixa
densidade populacional, como em
zonas rurais, evitando trechos que
seriam improdutivos numa coleta porta
a porta. Neste sentido, os PEVs são
especialmente úteis nos municípios
com atividade de veraneio, cuja
população sazonal costuma estar
ausente da cidade nos dias em que Figura 3 - Modelo simplificado de PEV (interno)
há coleta dos recicláveis.
Já no sistema de coleta
seletiva porta a porta, o gerador deposita seus materiais previamente selecionados diretamente junto à
calçada (em lixeira, container, etc.). A coleta destes materiais normalmente é feita em dias (ou períodos) em
que não ocorre a coleta de lixo.
Em muitos municípios o programa de coleta seletiva envolve os dois sistemas.

2.4. Etapas de planejamento

Existem boas publicações sobre como implantar programas de coleta seletiva nos mais diversos
contextos – municípios, condomínios, empresas, escolas, etc.

A seguir é apresentado um roteiro simplificado de


Leia mais em: planejamento de programa, acompanhado de questões a serem
respondidas. O nível de complexidade das ações varia em função de
Secretaria de Estado do o programa ser implementado numa cidade, numa empresa, numa
Meio Ambiente/CETESB, escola.
2003. Coleta Seletiva – Guia
de Implantação –
Prefeitura. 32p.
O planejamento de um programa de coleta seletiva deve
prever, pelo menos, as 10 ações a seguir, algumas desenvolvidas
Secretaria de Estado do simultaneamente:
Meio Ambiente/CETESB,
2002. Coleta Seletiva – na 1) Constituição de uma equipe multidisciplinar articulada, envolvendo
escola, no condomínio, na profissionais da área de planejamento, educação, direito, publicidade,
empresa, na comunidade, e gerenciamento operacional, dentre outros; convém verificar se estes
no município. 16p.
técnicos já existem no quadro funcional das prefeituras, ainda que
publicações disponíveis no
sediados em diferentes secretarias ou departamentos.
www.ambiente.sp.gov.br/
educ_amb/novo/ 2) Definição conjunta dos objetivos e metas
material_educativo Quais são os resultados esperados do programa?

3) Levantamento das rotinas que se pretende alterar


Como é feito, atualmente, o descarte, acondicionamento, coleta,
tratamento e disposição dos resíduos? Devem ser pesquisadas também as destinações “paralelas”, como
a venda informal de resíduos, a coleta de sobras para alimentação de animais e a queima de resíduos.

4) Análise gravimétrica dos resíduos


Quanto (em peso e volume) é descartado por dia (ou semana, ou mês)?
Que materiais são descartados? No planejamento de programas menores (não municipais), o estudo da
composição do lixo pode ser feita com base na planilha do Anexo II, utilizando-se uma balança de plataforma,
de banheiro ou de gancho (tipo dinamômetro). O diagnóstico do lixo municipal já envolve procedimentos
mais sofisticados, até porque a composição dos resíduos varia dentre os setores de coleta, em função das
características socioeconômicas da população.
Leia mais em:
ALMEIDA, M. L. O. et al. Lixo municipal: manual de
gerenciamento integrado. São Paulo, IPT/
CEMPRE, 200. 370p.
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É importante se levantar, também, as possíveis variações sazonais na produção de lixo, decorrentes de


reformas, poda e capinação, “limpeza” de arquivo, etc. Nos programas internos, de instituições, a composição
dos resíduos também pode ser avaliada indiretamente, através de consulta ao almoxarifado sobre a relação
de materiais descartáveis consumidos.

5) Avaliação do potencial para minimização dos resíduos


Que resíduos podem ter sua geração evitada?
Quais são as alternativas de destinação de cada material? (veja também o bloco 3)
O que (e quanto) pode ser reaproveitado internamente?
O que (e quanto) pode ser encaminhado para reciclagem?
O que (e quanto) pode ser transformado em composto orgânico?

6) Planejamento operacional da coleta


No sistema público de coleta seletiva, é fundamental otimizar a coleta, transportando o máximo de material
por quilômetro rodado, com o menor custo possível. Os principais pontos a serem considerados são
abrangência, roteiro, equipe, horário e frequência,

7) Planejamento da destinação dos materiais


Qual é a quantidade mínima para retirada?
Quais são os níveis de mistura aceitos?
Que equipamentos e ajudantes serão necessários para carga e descarga?
A funcionamento do “destino” está regular (alvará, licenças ambientais, etc.)?
Quais são as condições de estocagem e operação do “destino” (considerando também a segurança de
funcionários) e do veículo de coleta?
No caso de venda de recicláveis, pode ser usada a ficha para cadastro de potenciais compradores sugerida
no Anexo III.
Nos programas municipais, é interessante a Prefeitura se envolver também como consumidora de produtos
reciclados, como entulho, em habitações populares e composto orgânico na jardinagem municipal, produzido
de resíduos de poda e capina, sobras de feiras, etc.

8) Planejamento do acondicionamento e identificação das categorias de resíduos


Na escolha dos recipientes para descarte seletivo, considere:
9 o acesso dos usuários e coletores, e a “prevenção” de animais domésticos
9 o material empregado: deve ser de fácil limpeza e ergonômico
9 o diagnóstico dos resíduos, o interesse das pessoas em trazerem materiais de casa, no caso de um
programa institucional, corporativo ou escolar, o espaço disponível e a freqüência de retirada
9 o padrão de cores para identificação dos recipientes para descarte seletivo, indicado no item 2.3

9) Elaboração de um programa de mobilização


Como a população será motivada a participar do programa?
Leia mais em:
Se a Prefeitura, ou instituição proponente do programa
de coleta seletiva, não tiver apoio técnico especializado, GRIMBERG, E., BLAUTH, P. Coleta Seletiva -
sugere-se a contratação de educadores profissionais. Em reciclando materiais, reciclando valores. São
linhas gerais, recomenda-se que o trabalho educativo: Paulo, Instituto Pólis, 1998, 104p. disponível
9 utilize linguagem acessível, evitando excesso de no www.lixoecidadania.org.br/publicacoes
GRÜN, Mauro. Ética e Educação Ambiental.2ª
termos técnico-científicos, tanto em materiais
ed. Campinas: Papirus, 2000.
impressos quanto em apresentações LAYRARGUES, P.P. A Cortina de Fumaça: o
9 explore exemplos práticos/cotidianos de minimização Discurso Empresarial Verde e a Ideologia da
de resíduos Racionalidade Econômica. São Paulo:
9 valorize as iniciativas já existentes Annablume, 1998
9 evite um enfoque catastrófico da problemática do lixo LEIS, H.R. A modernidade insustentável.
9 evite uma abordagem financeira e concursos e Petrópolis/RJ: Vozes, 1999
gincanas como estímulo à adesão da população ao Secretaria de Estado do Meio Ambiente/
CETESB. 1998. A cidade e o lixo. 99 p.
programa
Secretaria de Estado do Meio Ambiente/SMA.
9 estimule o espírito de solidariedade e cooperação, 2003. Guia Pedagógico do Lixo. 100p.
ao invés de fortalecer o individualismo e a competição SACHS, Ignacy. Caminhos para o
Desenvolvimento Sustentável. Rio de Janeiro:
10) Avaliação do desenvolvimento do programa Garamond, 2000
Conforme os objetivos e metas, o programa deve ser TRAJBER, Rachel (org.). Avaliando a educação
avaliado com base em alguns indicadores, tais como: ambiental no Brasil: materiais impressos. São
9 abrangência da coleta (habitantes e número de es- Paulo: Gaia, 1996
tabelecimentos)
9 adesão dos domicílios e estabelecimentos (%)

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9 quantidade coletada seletivamente (t/mês, por roteiro)


9 rejeito na coleta (%)
9 índice de vandalismo às lixeiras coletivas e demais equipamentos associados à limpeza urbana (como
placas)
9 grau de “sujidade” das ruas
9 despesas com marketing e educação (R$/hab/ano)
9 quantidade de reclamações/não conformidades na coleta, feitas pelos usuários (indicador de ineficácia)
9 produção média de recicláveis por roteiro (t, descontando rejeito)
9 produtividade na triagem (t/hora por pessoa)
9 rejeito na triagem (%)
9 índice de recuperação de materiais (% do total de lixo encaminhada para reciclagem)
9 preço médio de comercialização do “mix” de material reciclável (R$/ t)
9 custo da coleta e triagem
9 quantidade de itens de materiais recicláveis comercializados

Na avaliação do êxito do programa deve ser considerada sua confiabilidade perante a população.
A comunidade deve estar segura de que há seriedade no serviço, o que pode ser percebido pela regularidade
da coleta, pela motivação dos funcionários ou catadores envolvidos, pela clareza, precisão e acessibilidade
das informações pertinentes e pela transparência na destinação dos materiais coletados. Todos estes
cuidados devem ser tomados para manter a credibilidade da programa, lembrando que é muito mais difícil
retomar um programa interrompido do que iniciá-lo, tendo que lidar com as expectativas frustradas da
comunidade.

2.5. Custos e benefícios

Embora a coleta seletiva de materiais não esteja dissociada da economia, e não possa ignorar
questões como eficiência e custo/benefício, a motivação para a criação de um programa e os indicadores
de seu sucesso não podem ser encontrados numa simples planilha de balanço financeiro.
A análise econômica de um programa de coleta seletiva deve incluir itens como os custos de coleta,
as exigências do mercado, as despesas com outras alternativas de destinação dos resíduos (como
tratamento e aterramento) e infra-estrutura e tecnologia para triagem e reciclagem.
As prefeituras investem em sistemas de limpeza urbana. A Prefeitura do Município de São Paulo,
por exemplo, gasta mais de R$ 1 milhão por dia para recolher o lixo da cidade, quase um terço do que
aplica em educação.
O custo médio observado para a coleta de uma tonelada de materiais pré-selecionados do lixo
domiciliar é superior ao da coleta convencional. Por outro lado, para cada tonelada destes materiais que é
recuperada, as municipalidades também deixam de gastar com a coleta destes como lixo e seu posterior
aterramento.
Os custos de um programa municipal de coleta seletiva estão condicionados às tarefas que as prefeituras
executam. Quanto menos compartilhada a gestão dos resíduos, com o envolvimento de menos parceiros,
a prefeitura terá despesas crescentes se couber a ela:
1) a coleta apenas em PEVs, diminuindo os percursos a serem percorridos pelos veículos;
2) a coleta porta a porta mas não a triagem dos materiais; nas parcerias com catadores, por
exemplo, o custo do programa recai mais na coleta, pois a triagem é feita nas cooperativas;
3) a coleta porta a porta e a triagem dos materiais; dentre estes programas os custos poderão ser
menores também em função da proximidade entre o “programa” e o mercado reciclador; cidades mais
distantes de centros industriais, cujo escoamento dos recicláveis é mais difícil e “encarecido” pelas despesas
maiores com frete, tenderão a ter menor retorno financeiro da comercialização destes materiais.
Embora seja cobrada dos domicílios e demais estabelecimentos urbanos uma taxa municipal de
remoção de lixo, contida no IPTU – Imposto Predial e Territorial Urbano, o montante arrecadado pela
municipalidade é normalmente muito inferior às reais despesas dos serviços de limpeza. Além disso, a taxa
de remoção de lixo só passa a ser cobrada quando um indivíduo declara que construiu em terreno de sua
propriedade, após o pagamento da taxa de habite-se, o que não acontece em vários municípios devido a
posses, grilagens e falta de fiscalização em obras particulares. Aliada, ainda, à inadimplência, essa baixa
arrecadação agrava a situação dos cofres públicos, muitas vezes desestimulando, por parte das prefeituras,
a criação de programas que exigem certo investimento... como os de coleta seletiva. Este quadro poderá
ser revertido com a implementação de políticas públicas voltadas para a minimização de resíduos, que
incluam mecanismos e instrumentos capazes de “cobrar” de todos os geradores (produtores e consumidores)
sua participação econômica no equacionamento da problemática do lixo urbano.

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Face aos custos dos programas de coleta seletiva, muitos se perguntam se não existem alternativas
mais baratas, mas igualmente apropriadas sob o aspecto ambiental, de destinação de resíduos. Cabe
ressaltar, perante esta dúvida, que a coleta seletiva não é uma simples opção para o tratamento do lixo.
Quando baseada num consistente programa de Educação Ambiental, a coleta seletiva é, antes de tudo,
um ponto de partida, ou suporte, para o desencadeamento de mudanças de comportamento. Mesmo a
existência de uma usina eficientíssima de reciclagem e compostagem (se tal instalação existisse) não
estimula a discussão de noções básicas de higiene, de combate ao desperdício, de padrões de consumo/
consumismo, enfim, de uma nova mentalidade ambiental que favoreça a reflexão sobre a cidadania e o
direito de descartar e gerar lixo.
Neste sentido, as análises convencionais da relação custo/benefício de um programa de coleta
seletiva, feitas por administradores municipais, pesquisadores e até pela imprensa, tem sido simplistas,
esquecendo-se de abordar as vantagens sócio-educativo-ambientais da separação de resíduos para
reciclagem (ou reuso ou compostagem) que também têm valor econômico. Quanto uma prefeitura deixa de
gastar, por exemplo, com o serviço de varrição de ruas, quando as pessoas estão mais sensibilizadas a
não jogar lixo em logradouros públicos? (No Rio de Janeiro, por exemplo, a Companhia de Limpeza Urbana-
COMLURB verificou que cerca de 40% do lixo recolhido na cidade é oriundo da varrição de ruas, e não da
coleta regular nos estabelecimentos.) E com assistência à saúde da população, se as pessoas adotam
hábitos mais higiênicos e solidários, reduzindo, inclusive, o risco de acidentes, até por parte dos coletores?
E com material de consumo, se os funcionários (das próprias instituições gestoras de programas de coleta
seletiva) estão motivadas a evitar desperdícios?
Enquanto a simples destinação do lixo a um aterro, em seus aspectos técnicos, costuma ser
competência e atribuição de uma só secretaria municipal, como a de Serviços Urbanos, um programa de
coleta seletiva é da alçada de toda uma administração pública, envolvendo os setores responsáveis pelas
pastas de Meio Ambiente, Cultura, Educação, Saúde, Promoção Social, pelo menos. Assim, se os custos do
programa fossem distribuídos entre os orçamentos das diversas secretarias envolvidas, como ocorre com
seus benefícios, as prefeituras perceberiam que a coleta seletiva, na verdade, não pesa tanto aos cofres
municipais.
As análises de custos e benefícios que normalmente questionam a viabilidade de investimentos em
programas de coleta seletiva também subestimam os gastos reais, diretos e indiretos, da manutenção de
aterros ou da existência de lixões. Há casos curiosos do impacto de um lixão numa cidade. Em Lins, por
exemplo, interior de São Paulo, o aeroporto precisou ser

interditado devido à grande população de urubus do lixão, que colocava em risco o tráfego aéreo. Isso não
interfere na vida econômica do município?
Enquanto “continuarmos a achar que a destinação de resíduos a lixões é grátis, certamente qualquer
alternativa será mais cara” (IPT/CEMPRE, 1995). Além disso, o custo da coleta regular de lixo, na prática,
não é um valor fixo. Se ele incorporar o investimento necessário à construção de novos aterros, crescerá
de forma inversamente proporcional à taxa de “esgotamento” dos atuais aterros. Evidentemente um
programa de coleta seletiva terá um valor mais palpável nos municípios que não dispõem de áreas para a
instalação de aterros e/ou que já possuem aterros cuja operação é cara. Aponta-se, portanto, a necessidade
deste cálculo de custos incluir: a desapropriação de novos terrenos, cada vez que um lixão/aterro é saturado,
considerando também que as áreas disponíveis tornam-se cada vez mais caras; o aumento nas distâncias
a serem percorridas (da geração ao destino), considerando que estas áreas ficam cada vez mais afastadas
dos centros urbanos, muitas vezes em municípios vizinhos; a eventual despesa em técnicas de
descontaminação do solo; a obtenção de material para cobertura dos resíduos, cada vez mais escasso; e
a recuperação vegetal da área degradada, dentre outros pontos.
Algumas pesquisas brasileiras sobre coleta seletiva, inclusive de cunho acadêmico, levantam a
questão de que a coleta seletiva no Brasil ainda não é auto-sustentável. Na verdade, a preocupação não
procede se entendermos a coleta seletiva como estratégia dentro de programas mais abrangentes de
saneamento básico, de saúde e de educação. Por outro lado, a adoção de uma abordagem macroeconômica
e macro-espacial na avaliação dos programas de coleta seletiva, voltados para a reciclagem de materiais
(ou reuso ou compostagem), poderá melhor demonstrar a relevância desta atividade para o desenvolvimento
economicamente sustentável do País. Considerando-se inúmeros outros critérios na análise econômica,
como redução no consumo de água e energia e nos custos de controle ambiental, cada tonelada de
material que se deixa de reciclar no município de São Paulo significa R$ 712 não ganhos (CALDERONI,
1997).

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3. O que fazer com os resíduos?

Este bloco aborda alternativas de destinação para alguns grupos de resíduos, mais frequentes no
lixo urbano. Não são apresentadas alternativas de tratamento e destinação de resíduos industriais, de
responsabilidade de seus geradores, com base em rigorosa legislação ambiental.
São apontadas também algumas possibilidades de redução na geração e formas de tratamento,
como a compostagem, para resíduos orgânicos, e a esterilização, para resíduos de serviços de saúde.

3.1. Papel, plásticos, vidro e metais

A coleta seletiva têm como alvo principal materiais recicláveis como papel, plásticos, vidro e metais,
que compõem cerca de 35% do peso do lixo, mas representam uma parcela significativamente maior em
volume (que é o que ocupa espaço nos aterros!).

As associações setoriais da indústria de vidro, plástico, papel/papelão, alumínio e aço, em parceria


com o Compromisso Empresarial para a Reciclagem (CEMPRE), desenvolveram símbolos padronizados (Figura
4), que auxiliam na segregação desses materiais.

Figura 4 – Símbolos usados para identificar materiais recicláveis

vidro aço papel alumínio plástico

Fonte: CEMPRE (2003)

Entretanto, estes símbolos são às vezes usados indiscriminadamente no Brasil, em embalagens e


produtos que não são recicláveis, técnica ou comercialmente. Para certificar-se da reciclabilidade do material,
é bom consultar o fabricante através do serviço de atendimento ao consumidor, cujo contato está indicado
na embalagem do produto.
As vantagens ambientais da reciclagem destes materiais, comparada ao processo de produção dos mesmos
a partir de matéria-prima virgem, podem ser vistas no próximo quadro a seguir (Tabela 3).

Tabela 3 – Vantagens ambientais da reciclagem

* A variação nos valores deve-se aos processos industriais envolvidos.


Fonte: Worldwatch Institute, 1987.

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Os dados apresentados mostram que, apesar de apresentar menor impacto ambiental que a
produção original de cada material, a reciclagem, como qualquer atividade industrial, também consome
água e energia, polui o ar e a água... e gera seus próprios resíduos. A reciclagem de papel, por exemplo,
produz um efluente com fibrículas e sulfato de alumínio e libera gases como monóxido de carbono e dióxido
de enxofre, quando da queima de combustíveis durante a secagem, e fuligem, se for usada lenha (CEMPRE,
1995).
Outra limitação associada à reciclagem, como panacéia para o problema do lixo, está no uso de
material reciclado em certos produtos. restrições legais, por exemplo, para o uso plástico reciclado pós-
consumo. Este não pode ser utilizado na produção de brinquedos, insumos hospitalares e embalagens de
bebidas e de alimentos, devido aos riscos de contaminação por outras substâncias. Plástico reciclado
normalmente é usado na produção de peças como mourões, vigas, eletrodutos, mangueiras, tubos, lonas,
sacos para lixo, material de enchimento e embalagens para produtos de limpeza.
Por tudo isso, continua sendo mais interessante ambientalmente reduzir a geração de resíduos. A
Tabela 4 exemplifica a possibilidade de substituição de alguns produtos descartáveis por outros duráveis.

Tabela 4 - Produtos descartáveis e seus substitutos duráveis

A Tabela 5 apresenta exemplos de objetos e produtos recicláveis e não-recicláveis por categorias de


materiais. Convém lembrar que a efetiva reciclagem dos materiais depende não só da tecnologia disponível
mas, principalmente, da existência de mercado.

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Tabela 5 – Exemplos de materiais recicláveis e não-recicláveis (por categoria)

Este quadro não inclui materiais perigosos que


Leia mais nas páginas abaixo,
são recicláveis ou que tenham que ser devolvidos aos mantidas por entidades e associações
fabricantes, conforme exige a legislação, como certas setoriais:
pilhas e baterias, embalagens de agrotóxicos e pneus,
cuja destinação será discutida mais adiante. Compromisso Empresarial para
Reciclagem - www.cempre.org.br
3.2. Embalagens cartonadas multicamadas (Tetrapak) Latas de alumínio -
www.rexamcan.com.br
Associação Brasileira das Indústrias
Embora já se tenha desenvolvido tecnologia para
de Vidro - www.abividro.com.br
a reciclagem das embalagens longa vida, a comercialização Associação Brasileira da Indústria
das mesmas pelos programas de coleta seletiva ainda é Química (comissão dos plásticos) -
difícil. Há poucos compradores e a estocagem das grandes www.plastivida.org.br
quantidades exigidas por eles causa mau cheiro e atrai Associação Brasileira das Indústrias
insetos e ratos, pois raramente os resíduos dos alimentos de PET - www.abipet.com.br
e bebidas são totalmente eliminados no enxágüe, antes Associação Brasileira de Celulose e
do descarte. Por isso as alternativas para sua destinação Papel - www.bracelpa.org.br
devem ser levantadas local e regionalmente.

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As telhas de caixas longa vida atualmente comercializadas, embora possuam qualidades bem
superiores às de amianto - são isolantes térmicos, duráveis e visualmente agradáveis - são fabricadas
basicamente com refugos da própria indústria da embalagem.

3.3. Pneus

Normalmente pneus não são coletados como lixo pelos sistemas municipais de limpeza pública. Por
outro lado, quando são efetivamente encaminhados a aterros, podem acumular gases no seu interior
gerando riscos de explosão.
Preocupados com esta disposição inadequada, que acumula água ou compromete sistemas de
drenagem, e a queima freqüente nos próprios borracheiros, alguns programas de coleta seletiva passaram
a abranger pneus. Normalmente seu destino é a recauchutagem – os “carcaceiros” brasileiros recuperam
cerca de 2/3 da produção nacional. Outra opção é a reciclagem da borracha, que recupera 10% dos pneus
descartados.
Visando regulamentar a destinação dos pneus inservíveis, o CONAMA publicou a Resolução 258/
99, impondo que as empresas fabricantes e produtoras façam a coleta e dêem uma destinação final
ambientalmente adequada aos resíduos, empreendendo metas progressivas para diminuir o passivo
ambiental.
A ANIP - Associação Nacional de Indústrias Pneumáticas tem sido parceira de alguns programas de
coleta seletiva. Os pneus coletados por alguns programas municipais e da iniciativa privada são
encaminhados para fornos das indústrias cimenteiras.

3.4. Orgânicos

Os resíduos orgânicos (domiciliares e comerciais de cozinhas, sanitários e material de jardim)


representam, em média, 60% do peso do lixo brasileiro. Grande parte deste lixo orgânico resulta do
desperdício de alimentos, na sua produção, industrialização, armazenagem, transporte e distribuição.
Estes resíduos devem, antes de tudo, ter sua geração reduzida por meio de:
1) o aprimoramento nos sistemas de produção, armazenamento, transporte e apresentação dos alimentos;
2) a revisão nas formas de servir nos estabelecimentos de alimentação; observou-se, por exemplo, uma
diminuição em 15% (em peso) no desperdício de alimentos num restaurante quando o sistema de “bandejão”,
onde a comida era servida por funcionários, foi transformado em self-service;
3) a mudança nos hábitos alimentares da população, revendo-se
preconceitos da nossa cultura gastronômica; possuem grande
potencial para aproveitamento partes de produtos normalmente Leia mais em:
desprezadas, como talos de verduras, cascas de frutas, etc., em
COSTA, C. Alternativas
escala domiciliar e comunitária/comercial, o que pode ser incentivado
Contra a Fome, 1993.
pela instalação de cozinhas alternativas. SÃO PAULO (Estado)
Secretaria de Agricultura
Quanto aos resíduos de jardinagem e manutenção de áreas e Abastecimento. Diga
verdes, reduzir sua geração depende de projetos paisagísticos não ao Desperdício.
usando plantas que exigem menos corte, podas e reposição (como 1994. 48p.
espécies perenes, em substituição às anuais), e que derrubam menos INSTITUTO AKATU. A
folhas e de procedimentos especiais de manutenção. Se um gramado, nutrição e o consumo
consciente. São Paulo.
por exemplo, for aparado mais freqüentemente, o pouco material
2003. 111p.
resultante pode ser deixado sobre o próprio gramado para se
incorporar ao solo.
Depois que o resíduo orgânico estiver “produzido”, pode ser
encaminhado para alimentação de animais, fornos (no caso de madeiras), ou para compostagem. Sobras
de comida humana são tradicionalmente empregadas como alimento para animais domésticos. Sistemas
informais de coleta destas sobras, denominadas “lavagem”, por carroceiros que recolhem em bares,
lanchonetes, etc., destinam o resíduo para porcos. Isso é permitido pela legislação sanitária apenas se
forem usados recipientes exclusivos para este fim, limpos e desinfetado, e se as sobras forem cozidas pelo
criador, isto é, os restos não podem ser aproveitados in natura.
Quanto à madeira, pode ser aproveitada na produção de carvão vegetal, em fornos de pizzarias, etc.,
dentre outras alternativas de reuso, desde que autorizadas pelos órgãos ambientais.
O tratamento mais difundido no Brasil para os resíduos orgânicos, ainda que de modo muito tímido,
tem sido a compostagem.

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A compostagem é uma forma muito antiga de tratamento de resíduos, já empregada rusticamente


pelas primeiras sociedades agrícolas. É um processo aeróbico controlado, desenvolvido por uma colônia
mista de microorganismos que trata e estabiliza resíduos para a produção de fertilizante orgânico. Ou
seja, além de diminuir a quantidade de lixo, a compostagem resulta em material para uso doméstico,
agrícola ou municipal (jardinagem), que melhora as características físico-químicas do solo.
Os locais ou estruturas onde ocorre a compostagem são chamados de composteiras ou, em
escala maior, de pátios de compostagem. As figuras 5 e 6, a seguir ilustram um pátio, dentro das
dependências de uma empresa, e uma composteira comunitária.

Figura 5 – Pátio de compostagem Figura 6 – Composteira comunitária

Mais do que produzir material valioso para o solo,


Leia mais em:
como atestam as análises do composto orgânico, a
compostagem tem especial relevância didática. O www.cecae.usp.br/recicla/
acompanhamento do processo e o manuseio do composto compostagem - receita prática
permitem que as pessoas revejam seus preconceitos com para pequenas composteiras
relação à matéria orgânica descartada e à própria noção de
decomposição biológica. A compostagem tem um valor KRAUSS, P. & EIGENHEER, E. Como
educativo inestimável, re-aproximando as pessoas dos ciclos preservar a terra sem sair do
da natureza, dos organismos do solo, das (temidas) quintal, CIRS, Niterói, Rio de
Janeiro, 1996. 40p.
bactérias, fungos, etc. O processo, desde que bem
PEREIRA NETO, J.T. Manual de
controlado, é tão seguro sob o aspecto sanitário que há Compostagem. Belo Horizonte,
composteiras instaladas em faculdades, escolas e até SLU-UNICEF, 1996. 56p.
creches.

Leia mais em: Alguns resíduos orgânicos, como cascas de coco, por serem de difícil
decomposição, não costumam ser compostados. Em certos casos, as fibras
CEMPRE. Reciclagem são aproveitadas na confecção de vasos (como xaxins) e tubetes para o
& Negócios - Fibras plantio de mudas.
de Coco, 1998.

3.5. Entulho

Enquanto no mundo, em geral, a média de perdas de materiais na construção civil é de 10%, no


Brasil oscila de 20 a 30%. Para que estes resíduos sejam reduzidos nas fontes geradoras, é necessário
um plano de construção que otimize o consumo de materiais e um esforço de supervisão de todas as
atividades construtivas, diminuindo quebras de alvenaria, desperdício de madeiras, etc.
Quanto aos materiais não incorporados à obra final, como peças de madeira de andaimes, tapumes,
etc., deve ser incentivado seu reuso através de centrais de empréstimo ou reaproveitamento.
A reciclagem do entulho é um processo já estabelecido em vários países. Nos Estados Unidos, é
utilizada há mais de 30 anos na produção de agregados para bases e sub-bases de pavimentos. Já na

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Europa, a reciclagem é uma questão cultural, decorrente da dificuldade de obtenção de matéria–prima


natural (areia e brita) e da pouca disponibilidade de áreas para disposição de resíduos. Na Holanda, por
exemplo, cerca de 70% do entulho é reciclado.
No Brasil, que ainda não tem políticas públicas específicas para o entulho, a reciclagem ainda é incipiente.
Alguns municípios, como Belo Horizonte, Ribeirão Preto, Londrina, São Paulo, entre outros, já possuem
usinas de reciclagem. Segundo especialistas, a instalação de uma usina de recuperação deste entulho
pode ter seu investimento recuperado em até seis meses após entrar em funcionamento. Em certos
casos, pode inclusive custear a implantação de um programa de coleta seletiva. Além de permitir o
reaproveitamento destes resíduos, as centrais de entulho contribuem para diminuir os bota-foras
clandestinos, que costumam ser pontos de acúmulo de lixo, e também de alívio do sistema de drenagem
urbana.
É importante lembrar que as obras também geram resíduos considerados perigosos (Classe I,
segundo a Associação Brasileira de Normas Técnicas-ABNT): tintas, solventes, cupinicidas,
impermeabilizantes, anticorrosivos e similares devem ser, obrigatoriamente, destinados a aterros industriais,
respeitadas todas as exigências legais para transporte e armazenamento. Cabe ao responsável pela
obra cuidar para que o manuseio desses resíduos seja cuidadoso, evitando a contaminação do solo, da
água e dos funcionários.
A constante modernização da indústria da construção civil no Brasil insere constantemente no
mercado novos produtos. Isso promove a geração de resíduos também novos, ainda sem possibilidade
tecnológica de reciclagem: vidros temperados, laminados, espelhados, gesso, isopor, entre outros, são
sobras cujo destino atual são os “bota-foras” clandestinos, posto que os aterros domiciliares não podem
mais recebê-los e poucos municípios no Brasil já têm aterros especiais para restos de obras. As alternativas
de destinação, portanto, devem de consulta à prefeitura local.
Com vistas a disciplinar a destinação deste conjunto de
resíduos, o Conselho Nacional do Meio Ambiente formulou resolução Leia mais em:
específica que obriga prefeituras e grandes geradores a elaborarem
www.mma.gov.br/conama
planos de gerenciamento de resíduos da construção civil.
www.entulhobom.org

3.6. Pilhas
As pilhas contêm elementos muito tóxicos como chumbo, níquel, cádmio, mercúrio e zinco.
Descartadas inadequadamente, liberam estes elementos para o ambiente, podendo contaminar o solo e
cursos d’água, chegando também à cadeia alimentar humana. Neste caso, podem provocar sérios efeitos
à saúde, incluindo disfunções pulmonares, renais, estomacais, neurológicas e cerebrais.
No Brasil, a Resolução 257/99 do CONAMA definiu que “as pilhas e baterias que contenham em suas
composições chumbo, cádmio, mercúrio e seus compostos, necessárias ao funcionamento de quaisquer tipos
de aparelhos, veículos ou sistemas, móveis ou fixos, bem como os produtos eletro-eletrônicos que as contenham
integradas em sua estrutura de forma não substituível, após seu esgotamento energético, serão entregues
pelos usuários aos estabelecimentos que as comercializam ou à rede de assistência técnica autorizada pelas
respectivas indústrias, para repasse aos fabricantes ou importadores, para que estes adotem, diretamente ou
por meio de terceiros, os procedimentos de reutilização, reciclagem, tratamento ou disposição final ambientalmente
adequada”.
No entanto, pela mesma resolução, a diminuição desses metais pesados nas pilhas desobriga os
fabricantes e importadores desta coleta e orienta os consumidores a descartá-las no lixo comum. Ainda
que o conteúdo tóxico de uma única pilha possa ser desprezível, o efeito da somatória das pilhas descartadas
continua sendo impactante. Neste sentido, é interessante reduzir o consumo de pilhas e, sempre que
necessário, adotar o modelo recarregável.

3.7. Lâmpadas Fluorescentes

Lâmpadas fluorescentes contêm metais pesados nocivos ao ambiente, especialmente o mercúrio


metálico. A lâmpada rompida libera vapor de mercúrio, que causa intoxicação pelas vias respiratórias e
pele, promovendo danos ao fígado e ao sistema nervoso. Dependendo da temperatura do ambiente,
este vapor pode permanecer no ar muito tempo – até 20 dias no inverno! O mercúrio ficou conhecido após
o acidente na Baía de Minamata, no Japão, onde uma fábrica despejou enorme quantidade nas águas,
logo absorvido por ostras e mariscos, afetando a população pela cadeia alimentar, gerando defeitos
congênitos e mortes. Estas conseqüências danosas ao ambiente e à saúde da população também podem
ocorrer quando as lâmpadas são destinadas a lixões e aterros: o mercúrio infiltra no solo, atingindo
mananciais.

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Apesar dos resíduos de mercúrio serem classificados como tóxicos pela NBR 10.004, existe uma
lacuna na legislação brasileira no tocante ao descarte, acondicionamento, coleta e disposição final das
lâmpadas fluorescentes. No Estado de São Paulo existem inúmeras indicações e apenas projetos de lei
dispondo sobre o descarte e destinação final das lâmpadas.
O município de São Paulo possui legislação específica sobre lâmpadas fluorescentes. A Lei 12.653/
98 proíbe sua coleta pelos serviços de remoção de lixo e determina que o Poder Executivo crie um serviço
especial para destinar esses resíduos. Esta lei, porém, não vem sendo aplicada.
Uma opção para a destinação das lâmpadas fluorescentes é a reciclagem de seus componentes, basicamente
o mercúrio, o alumínio e o vidro. Em São Paulo existe a Apliquim, em Paulínia (www.apliquim.com.br), que
possui licença ambiental (estadual e do IBAMA) para esta atividade. A reciclagem das lâmpadas é paga
pelos usuários, já que a venda dos recicláveis não cobre os custos do processo de descontaminação.
Neste sentido, a destinação adequada das lâmpadas descartadas vem sendo assumida basicamente por
empresas realmente engajadas com a preservação ambiental.

3.8. Embalagens de agrotóxicos

Embalagens vazias de agrotóxicos, descartadas inadequadamente, vem causando crescente impacto


no meio rural, nocivo tanto para o ambiente quanto para a saúde pública. Há resolução do CONAMA
responsabilizando o fabricante pelo recolhimento, transporte e destinação final das embalagens, também
obrigando o usuário pela tríplice lavagem e devolução das embalagens aos revendedores ou fabricantes.
Se as embalagens forem devidamente lavadas e coletadas seletivamente, podem ser encaminhadas
para reciclagem. Um programa de educação voltado para agricultores vem sendo desenvolvido pela
Associação dos Engenheiros Agrônomos de São Paulo – AEASP, e a coleta e destinação das embalagens
têm sido monitoradas pela CETESB – Companhia de Tecnologia e Saneamento Ambiental do Estado de São
Paulo. Um programa de âmbito federal tem o apoio do Instituto Nacional de Processamento de Embalagens
vazias. Leia mais em: www.inpev.org.br.

3.9. Resíduos de Serviço de Saúde (RSS)

Embora sejam gerados em hospitais, clínicas, laboratórios, consultórios odontológicos e veterinários,


farmácias e postos de saúde, a destinação destes resíduos está sendo abordada pois é preocupação
freqüente da população.
Na América Latina, pelo menos nos hospitais, a média de geração de resíduos varia de 1 a 4,5 kg/
leito/dia. Por sua periculosidade potencial, costumam já ter coleta separada do restante do lixo em alguns
municípios, sendo destinados a incineradores, valas especiais ou, muitas vezes... aos próprios lixões!
Até 1993, a Portaria nº 13/79 do Ministério do Interior determinava que os RSS fossem incinerados.
Esta obrigatoriedade foi suspensa pela Resolução CONAMA 5/93, ao se levar em conta que, em linhas
gerais, que a incineração causava riscos ao ambiente e à saúde pública maiores do que aqueles oferecidos
pelos próprios RSS. Segundo esta Resolução, cabe a cada estabelecimento gerador de RSS elaborar um
Plano de Gerenciamento de Resíduos Sólidos, que considere “princípios que conduzam à reciclagem, bem
como a soluções integradas ou consorciadas” (artigo 5º).
Ao analisarmos a composição dos RSS, constataremos que apenas alguns materiais, que
correspondem de 10 a 40% dos resíduos, podem oferecer algum risco: os biológicos (gazes, algodão,
órgãos e tecidos, meios de cultura, sangue, animais usados em testes, luvas descartáveis, etc.) e os
pérfuro-cortantes (agulhas, lâminas, seringas, etc.). Se estes objetos/materiais forem separados, na origem,
do restante dos resíduos (alimentos, embalagens, papel de escritório, etc.), poderão ser coletados
seletivamente e encaminhados para reciclagem. Materiais como chapas de raio-X e fixadores, inclusive,
tem boa colocação no mercado de recicláveis.
As vantagens desta segregação são: redução nos riscos para a saúde e o ambiente, impedindo que as
pequenas frações de resíduos perigosos contaminem os outros resíduos; diminuição de gastos, já que
apenas uma parcela dos resíduos exigirá tratamento especial; e recuperação de alguns materiais para
reciclagem.
A destinação dos resíduos potencialmente perigosos para Leia mais em:
esterilização torna-se muito mais fácil após a retirada dos resíduos
comuns, que diminui sobremaneira sua quantidade. Considerando- ZANON, U. Riscos infecciosos
se que o serviço de coleta especial de RSS costuma ser muito mais imputados ao lixo hospitalar:
caro que a coleta convencional, podendo ser, inclusive, superior ao realidade epidemiológica ou
da coleta seletiva, torna-se economicamente interessante separar ficção sanitária? Rev. Soc. Bras.
de Medicina Tropical, 23(3):
estes resíduos.
163-170. 1990.
Para os resíduos de saúde descartados fora dos OPAS/OMS-Organização Mundial
estabelecimentos de saúde – nas nossas casa, por exemplo – ainda de Saúde. Guia de Manejo de
não há coleta diferenciada, e seu destino tem sido o do lixo municipal Resíduos de Serviços de Saúde.
como um todo. 1997.

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3.10. Óleos lubrificantes

Segundo a agência de proteção ambiental americana (EPA), um litro de óleo usado tem o potencial
para contaminar até 1 milhão de litros de água potável. (EPA, 1994). O óleo usado pode ser reutilizado
como lubrificante ou matéria-prima no refino de outros produtos da indústria petroquímica.
A Resolução CONAMA 9/93 define os diversos óleos lubrificantes, sua reciclagem, combustão e seu
re-refino, prescreve diretrizes para sua produção e comercialização e proíbe o descarte indevido de óleos
usados. No Brasil, os óleos são trocados em oficinas e postos especializados, donde são coletados por
empresas cadastradas no Departamento Nacional de Combustíveis.

3.11. Tintas, solventes, impermeabilizantes, anticorrosivos e similares

Usados em larga escala nas obras e nos domicílios e vendidos sem qualquer orientação sobre
formas adequadas de manuseio, descarte e destino, esses produtos geram resíduos que podem contaminar
solo, água e pessoas. Não há, até o momento, nenhuma legislação que co-responsabilize as indústrias
que os fabricam, os comerciantes e os usuários. A saída, por enquanto, é avaliar a real necessidade de
uso destes produtos. Eventuais sobras, em suas embalagens originais, devem ser doadas.

3.12. Resíduos volumosos (equipamentos, móveis, etc.)

Alguns programas de coleta seletiva municipais reservam datas para a coleta especial destes
objetos, como o Cata-Treco. Algumas entidades assistenciais também oferecem serviços de remoção de
móveis, livros, roupas e outros utensílios, mesmo que requeiram conserto ou reforma. Consulte as
possibilidades de destinação em cada localidade.

3.13. O resto

O “resto”, ou rejeito, aquilo que não pode ser coletado seletivamente pois não poderá ser
aproveitado, é composto de:
• materiais não recicláveis tecnológica ou comercialmente, como madeira, isopor, couro, tecidos, espumas,
fitas adesivas, espelhos, vidro plano, lâmpadas incandescentes, celofane, cerâmica, peças mistas,
etc. (veja mais na tabela 5)
• materiais recicláveis muito sujos, como embalagens com resíduos de alimentos,
• resíduos perigosos como lâmpadas fluorescentes, pilhas, medicamentos, frascos de venenos, solventes,
etc.
Estes resíduos devem ter sua geração reduzida, sempre que possível, ser coletados pela Prefeitura
e encaminhados a aterros.

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Anexo I - Sobre a degradação de materiais descartados

Observação

Os estudos de degradação de materiais normalmente são realizados em “laboratório”, ou seja, em


condições controladas de temperatura, umidade, oxigenação, etc. Estas condições nem sempre se
assemelham às dos lixões e aterros, onde uma camada de lixo normalmente fica compactada, seca,
“protegida” das intempéries pelas camadas superiores de lixo. Em certos casos a contaminação ambiental
nestes locais, devido à presença de metais pesados, restos de agrotóxicos, etc. é tal que inviabiliza a
sobrevivência de bactérias, fungos e outros agentes decompositores.
Convém também lembrar que a categoria papel, por exemplo, compreende inúmeros tipos de
produtos, desde papel toalha, perceptivelmente mais degradável, até papel parafinado, aluminizado,
plastificado, etc. cuja decomposição certamente é mais complexa e demorada. O mesmo vale para madeira,
que pode variar desde compensado até espécies de lei, com diversos tipos de “proteção” (tintas, seladoras,
vernizes, etc.).
Didaticamente é preferível generalizarmos – a decomposição é muito lenta – a sermos precisos,
mas sem fundamentação científica.

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Anexo II - Incineração

A incineração é o processo de redução de peso e volume do lixo através da combustão controlada,


resultando gás carbônico (CO2), dióxido de enxofre (SO2), nitrogênio (N2), vapor d’água, cinzas e escória
(composta, dentre outros, de metais e materiais inertes como vidro, entulho, etc.).
Os principais atrativos da incineração de lixo são os potenciais de redução no seu volume (até 90
%) e de recuperação de energia – há quem use a expressão ‘reciclagem energética” como sinônimo de
incineração.
Por outro lado, além de ser desvantajosa pelo alto custo de implantação e manutenção de um
incinerador, a queima de resíduos vem sendo cada vez mais debatida sob o aspecto ambiental. Critica-se
muito a eficiência do controle de emissões atmosféricas, em especial de substâncias tremendamente nocivas
como as dioxinas e furanos. A incineração estaria mudando o estado dos resíduos: de sólidos para gasosos,
líquidos (já que os filtros precisam de lavagem, gerando esgotos) e também sólidos (as cinzas e escória).
Nos EUA este questionamento levou a EPA a se manifestar oficialmente contra a instalação de novos
incineradores no país, onde 10% do lixo municipal são incinerados. A pressão popular contra a incineração
vem crescendo, ao passo que esta porcentagem de resíduos incinerados vem diminuindo. Mais grave que
os problemas ambientais diretos, porém, é a própria concepção deste tipo de instalação. Ao tratar os
resíduos como “combustíveis renováveis”, a incineração supostamente contribuiria para gerar mais energia,
de certa forma sugerindo que o atual perfil perdulário de consumo, especialmente de bens com alto conteúdo
energético, deva ser mantido ou, até, intensificado.

Leia mais em:

FIGUEIREDO, P.J.M. Sociedade do Lixo: os resíduos, a questão energética e a crise ambiental.


Piracicaba : UNIMEP, 1994. 240p.
DEBATES SÓCIO-AMBIENTAIS. A polêmica em torno da proposta das usinas de incineração da
cidade de São Paulo. São Paulo, CEDEC, ano I, n. 1, jun-set 95.

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Anexo III – Usina de reciclagem e compostagem

Uma usina de compostagem é um conjunto de máquinas (esteira rolante, eletroímãs, peneiras, etc.)
e funcionários que separam objetos recicláveis da massa principal de lixo, que será transformada em
adubo. Num programa de coleta seletiva, a usina é a própria comunidade, separando resíduos nos domicílios
e estabelecimentos, destinando-os a uma central de triagem para separação mais fina e beneficiamento.
Do lixo que chega a uma usina recuperam-se, em média, 3% de recicláveis. Papel e papelão,
presentes em grande quantidade, são quase sempre perdidos por estarem sujos e misturados com papéis
sanitários. A produção de rejeito (aquilo que não se aproveita da triagem, como as embalagens compostas
de vários materiais ou a vácuo, papel carbono, isopor, tecidos, etc.) é de 42%, em média. A eficiência das
operações está diretamente ligada à competência e boa vontade dos funcionários, o que torna o processo
muito vulnerável. Num programa de coleta seletiva recuperam-se cerca de 90 % de recicláveis – os 10 %
restantes são rejeito.
O composto orgânico formado na usina contém cacos de vidro, tampinhas e outras miudezas
inorgânicas que “escapam” da triagem, e às vezes está contaminado com metais pesados (como mercúrio,
chumbo e cobre) e líquidos tóxicos (que vazam de pilhas, por exemplo), segundo estudo realizado em 21
usinas de alguns estados brasileiros. Essa baixa qualidade do composto levou a usina de Araras, no
interior de São Paulo, por exemplo, a estocar 9 mil toneladas deste composto, para as quais não havia
compradores interessados. Já o resíduo orgânico coletado seletivamente pode ser compostado em montes
com umidade e arejamento adequados. Isso não exige máquinas, pois o material já vem separado pela
população.
Os materiais separados na usina, devido à contaminação, valem muito menos que aqueles coletados
seletivamente. Este valor é normalmente determinado por decreto, enquanto os recicláveis oriundos de
coleta seletiva são negociados livremente com sucateiros e indústrias.
Uma usina costuma ser apresentada (e vendida!) a administradores municipais como um equipamento
milagroso, que consegue “dar um fim ao problema do lixo” (segundo diversos prospectos e folhetos de
propaganda), dispensando outras alternativas para seu tratamento e, ainda, gerando lucro. É bom lembrar
que sua operação tem custo alto, exigindo troca periódica de peças e um tempo “de descanso” para
manutenção. O retorno financeiro de uma usina é nulo. Nenhuma usina brasileira é, sequer, auto-sustentável.
Apesar destes inconvenientes, muitas usinas se mantêm no País, operadas por empreiteiras
remuneradas pelas prefeituras de acordo com o número de toneladas de lixo processadas. Se a
produtividade fosse remunerada em função das toneladas efetivamente recuperadas, de recicláveis e
compostáveis, talvez as operadoras tivessem mais interesse em aprimorar o rendimento da triagem,
diminuindo os rejeitos do processo.
Mais grave, porém, que todos estes aspectos operacionais, é o fato de que a instalação de uma
usina numa cidade não contribui para a reflexão em torno do desperdício e da geração de resíduos. Pelo
contrário, alivia a consciência da comunidade, que se sente no direito, graças à nova parafernália tecnológica,
de consumir livremente e descartar tudo aquilo que não quer mais...

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Anexo IV – Planilha para análise da composição do lixo

Local: ______________________________________________ Data: ___________


nº de sacos analisados: ____________ Peso total antes da separação: ________________

1) Que itens podem ter sua geração reduzida?


2) Que itens podem ser reutilizados?
3) Que materiais podem ser separados para reciclagem e compostagem?
4) Afinal, qual é o percentual (em peso e volume) possível para minimização?

Este modelo pode ser adaptado: categorias podem ser criadas, para destacar componentes freqüentes
no lixo, e agrupadas, também em função do local e época da amostragem. Cada componente do lixo
deve ser ensacado e pesado com uma balança de gancho (tipo dinamômetro), de banheiro ou de
plataforma.

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Anexo V - Ficha para cadastro de compradores de recicláveis


(caso os recicláveis não sejam doados)

Nome:____________________________________________________________________

Responsável: ______________________________________________________________
Endereço: _________________________________________________________________

Fone: _______________________

Frequência e forma de retirada: _____________________________________

Responsabilidade pelas pesagens: ___________________________________

Dias e horário de funcionamento: ____________________________________

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4. Leituras Complementares

ASSOCIAÇÃO Brasileira de Normas Técnicas. NBR 1004 e 1007. São Paulo, 1987.

CALDERONI, S. O$ Bilhõe$ Perdido$ no Lixo, Humanitas Editora, Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências
Humanas/USP, São Paulo, 1997. 348p.

CETESB. Resíduos Domésticos: Tratamento, São Paulo, 1990.

CONSUMERS INTERNATIONAL. Consumo sustentável. Secretaria de Meio Ambiente, 1998. 128p.

EIGENHEER, E. M., (org.) Coleta seletiva de lixo: experiências brasileiras, n. 2, UFF/CIRS/Ecomarapendi, Rio
de Janeiro, 1998. 208p.

EIGENHEER, E. M., (org.) Raízes do Desperdício. Instituto de Estudos da Religião, Rio de Janeiro, 1993. 102p.
GRIMBERG, E., BLAUTH, P. Coleta Seletiva - reciclando materiais, reciclando valores. São Paulo, Instituto Pólis,
1998, 104p. disponível para download no site www.lixoecidadania.org.br/publicacoes
GRÜN, Mauro. Ética e Educação Ambiental.2ª ed. Campinas: Papirus, 2000.

IBGE-Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. PNSB - Pesquisa Nacional de Saneamento Básico 2000,
São Paulo, IBGE.

ALMEIDA, M. L. O. et al. Lixo municipal: manual de gerenciamento integrado. São Paulo, IPT/CEMPRE, 200.
370p.

LAJOLO, R.D.(coord.) Cooperativa de Catadores de Materiais Recicláveis: Guia para Implantação, Instituto de
Pesquisas Tecnológicas e SEBRAE-SP, 2003, 111p.

LAYRARGUES, P.P. A Cortina de Fumaça: o Discurso Empresarial Verde e a Ideologia da Racionalidade


Econômica. São Paulo: Annablume, 1998.

LEIS, H.R. A modernidade insustentável. Petrópolis/RJ: Vozes, 1999.

SÃO PAULO (Estado). Secretaria de Meio Ambiente. A cidade e o lixo. São Paulo, CETESB, 1998. 99 p.

SACHS, Ignacy. Caminhos para o Desenvolvimento Sustentável. Rio de Janeiro: Garamond, 2000.

TRAJBER, Rachel (org.). Avaliando a educação ambiental no Brasil: materiais impressos. São Paulo: Gaia,
1996.

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Texto: Patricia Blauth

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