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Evangelho segundo espiritismo - capítulo VI

O Cristo Consolador
• O jugo leve • Consolador prometido • Instruções dos Espíritos: Advento do Espírito de
Verdade

O Jugo Leve

1 – Vinde a mim, todos os que andam em sofrimento e vos achais carregados, e


eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e
humilde de coração, e achareis descanso para as vossas almas. Porque o meu jugo é
suave e o meu fardo é leve. (Mateus, XI: 28-30)

2 – Todos os sofrimentos: misérias, decepções, dores físicas, perdas de seres


queridos, encontram sua consolação na fé no futuro, e na confiança na justiça de Deus,
que o Cristo veio ensinar aos homens. Sobre aquele que, pelo contrário, nada espera
após esta vida, ou que simplesmente duvida, as aflições pesam com todo o seu peso, e
nenhuma esperança vem abrandar sua amargura. Eis o que levou Jesus a dizer: “Vinde
a mim, vós todos que estais fatigados, e eu vos aliviarei”.
Jesus, entretanto, impõe uma condição para a sua assistência e para a felicidade
que promete aos aflitos. Essa condição é a da própria lei que ele ensina: seu jugo é a
observação dessa lei. Mas esse jugo é leve e essa lei é suave, pois que impõe como dever
o amor e a caridade.
Consolador Prometido

3 – Se me amais, guardai os meus mandamentos. E eu rogarei ao Pai, e Ele vos


dará outro consolador, para que fique eternamente convosco, o Espírito da Verdade, a
quem o mundo não pode receber, porque não o vê, nem o conhece. Mas vós o
conhecereis, porque ele ficará convosco e estará em vós. – Mas o Consolador, que é o
Espírito Santo, a quem o Pai enviará em meu nome, vos ensinará todas as coisas, e vos
fará lembrar de tudo o que vos tenho dito. (João, XIV: 15 a 17 e 26)

4 – Jesus promete outro consolador: é o Espírito da Verdade, que o mundo ainda


não conhece, pois que não está suficientemente maduro para compreendê-lo, e que o
Pai enviará para ensinar todas as coisas e para fazer lembrar o que Cristo disse. Se, pois,
o Espírito da Verdade deve vir mais tarde, ensinar todas as coisas, é que o Cristo não
pode dizer tudo. Se ele vem fazer lembrar o que o Cristo disse, é que o seu ensino foi
esquecido ou mal compreendido.
O Espiritismo vem, no tempo assinalado, cumprir a promessa do Cristo: o Espírito
da Verdade preside ao seu estabelecimento. Ele chama os homens à observância da lei;
ensina todas as coisas, fazendo compreender o que o Cristo só disse em parábolas. O
Cristo disse: “que ouçam os que têm ouvidos para ouvir”. O Espiritismo vem abrir os
olhos e os ouvidos, porque ele fala sem figuras e alegorias. Levanta o véu
propositalmente lançado sobre certos mistérios, e vem, por fim, trazer uma suprema
consolação aos deserdados da Terra e a todos os que sofrem, ao dar uma causa justa e
um objetivo útil a todas as dores.
Disse o Cristo: “Bem-aventurados os aflitos, porque eles serão consolados”. Mas
como se pode ser feliz por sofrer, se não se sabe por que se sofre?
O Espiritismo revela que a causa está nas existências anteriores e na própria
destinação da Terra, onde o homem expia o seu passado. Revela também o objetivo,
mostrando que os sofrimentos são como crises salutares que levam à cura, são a
purificação que assegura a felicidade nas existências futuras. O homem compreende que
mereceu sofrer, e acha justo o sofrimento. Sabe que esse sofrimento auxilia o seu
adiantamento, e o aceita sem queixas, como o trabalhador aceita o serviço que lhe
assegura o salário. O Espiritismo lhe dá uma fé inabalável no futuro, e a dúvida pungente
não tem mais lugar na sua alma. Fazendo-o ver as coisas do alto, a importância das
vicissitudes terrenas se perde no vasto e esplêndido horizonte que ele abarca, e a
perspectiva da felicidade que o espera lhe dá a paciência, a resignação e a coragem, para
ir até o fim do caminho.
Assim realiza o Espiritismo o que Jesus disse do consolador prometido:
conhecimento das coisas, que faz o homem saber de onde vem, para onde vai e porque
está na Terra, lembrança dos verdadeiros princípios da lei de Deus, e consolação pela fé
e pela esperança.

Advento do Espírito da Verdade


ESPÍRITO DE VERDADE

Paris, 1860

5 – Venho, como outrora, entre os filhos desgarrados de Israel, trazer a verdade e


dissipar as trevas. Escutai-me. O Espiritismo, como outrora a minha palavra, deve
lembrar os incrédulos que acima deles reina a verdade imutável: o Deus bom, o Deus
grande, que faz germinar as plantas e que levanta as ondas. Eu revelei a doutrina divina;
e, como um segador, liguei em feixes o bem esparso pela humanidade, e disse: “Vinde
a mim, todos vós que sofreis!”

Mas os homens ingratos se desviaram da estrada larga e reta que conduz ao Reino de
meu Pai, perdendo-se nas ásperas veredas da impiedade. Meu Pai não quer aniquilar a
raça humana. Ele quer que, ajudando-vos uns aos outros, mortos e vivos, ou seja, mortos
segundo a carne, porque a morte não existe, sejais socorridos, e que não mais a voz dos
profetas e dos apóstolos, mas a voz dos que se foram, faça-se ouvir para vos gritar: Crede
e orai! Porque a morte é a ressurreição, e a vida é a prova escolhida, durante a qual
vossas virtudes cultivadas devem crescer e desenvolver-se como o cedro.

Homens fracos, que vos limitais às trevas de vossa inteligência, não afasteis a tocha que
a clemência divina vos coloca nas mãos, para iluminar vossa rota e vos reconduzir,
crianças perdidas, ao regaço de vosso Pai.

Estou demasiado tocado de compaixão pelas vossas misérias, por vossa imensa
fraqueza, para não estender a mão em socorro aos infelizes extraviados que, vendo o
céu, caem nos abismos do erro. Crede, amai, meditai todas as coisas que vos são
reveladas; não misturem o joio ao bom grão, as utopias com as verdades.

Espíritas; amai-vos, eis o primeiro ensinamento; instruí-vos, eis o segundo. Todas as


verdades se encontram no Cristianismo; os erros que nele se enraizaram são de origem
humana; e eis que, de além túmulo, que acreditáveis vazios, vozes vos clamam: Irmãos!
Nada perece. Jesus Cristo é o vencedor do mal; sede os vencedores da impiedade!

ESPÍRITO DE VERDADE

Paris, 1861

6 – Venho ensinar e consolar os pobres deserdados. Venho dizer-lhes que elevem


sua resignação ao nível de suas provas; que chorem, porque a dor no Jardim das
Oliveiras, mas que esperem, porque os anjos consoladores virão enxugar as suas
lágrimas.
Trabalhadores, traçai o vosso sulco. Recomeçai no dia seguinte a rude jornada da
véspera. O trabalho de vossas mãos fornece o pão terreno aos vossos corpos, mas vossas
almas não estão esquecidas: eu, o divino jardineiro, as cultivo no silêncio dos vossos
pensamentos. Quando soar a hora do repouso, quando a trama escapar de vossas mãos,
e vossos olhos se fecharem para a luz, sentireis surgir e germinar em vós a minha
preciosa semente. Nada se perde no Reino de nosso Pai. Vossos suores e vossas misérias
formam um tesouro, que vos tornará ricos nas esferas superiores, onde a luz substitui
as trevas, e onde o mais desnudo entre vós será talvez o mais resplandecente.
Em verdade vos digo: os que carregam seus fardos e assistem os seus irmãos são
os meus bem-amados. Instrui-vos na preciosa doutrina que dissipa o erro das revoltas e
vos ensina o objetivo sublime da prova humana. Como o vento varre a poeira, que o
sopro dos Espíritos dissipe a vossa inveja dos ricos do mundo, que são freqüentemente
os mais miseráveis, porque suas provas são mais perigosas que as vossas. Estou
convosco, e meu apóstolo vos ensina. Bebei na fonte viva do amor, e preparai-vos,
cativos da vida, para vos lançardes um dia, livres e alegres, no seio daquele que vos criou
fracos para vos tornar perfeitos, e deseja que modeleis vós mesmos a vossa dócil argila,
para serdes os artífices da vossa imortalidade.

ESPÍRITO DE VERDADE

Bordeaux, 1861

7 – Eu sou o grande médico das almas, e venho trazer-vos o remédio que vos deve
curar. Os débeis, os sofredores e os enfermos são os meus filhos prediletos, e venho
salvá-los. Vinde, pois, a mim, todos vós que sofreis e que estais carregados, e sereis
aliviados e consolados. Não procureis alhures a força e a consolação, porque o mundo é
impotente para dá-las. Deus dirige aos vossos corações um apelo supremo através do
Espiritismo: escutai-o. Que a impiedade, a mentira, o erro, a incredulidade, sejam
extirpados de vossas almas doloridas. São esses os monstros que sugam o mais puro do
vosso sangue, e vos produzem chagas quase sempre mortais. Que no futuro, humildes
e submissos ao Criador, pratiqueis sua divina lei. Amai e orai. Sede dócil aos Espíritos do
Senhor. Invocai-o do fundo do coração. Então, Ele vos enviará o seu Filho bem-amado,
para vos instruir e vos dizer estas boas palavras: “Eis-me aqui; venho a vós, porque me
chamastes!
*

ESPÍRITO DE VERDADE

Havre, 1863

8 – Deus consola os humildes e dá força aos aflitos que a suplicam. Seu poder
cobre a Terra, e por toda parte, ao lado de cada lágrima, põe o bálsamo que consola. O
devotamento e a abnegação são uma prece contínua e encerram profundo
ensinamento: a sabedoria humana reside nessas duas palavras. Possam todos os
Espíritos sofredores compreender estas verdades, em vez de reclamar contra as dores,
os sofrimentos mortais, que são aqui na Terra o vosso quinhão. Tomai, pois, por divisa,
essas duas palavras: devotamento e abnegação, e sereis fortes, porque elas resumem
todos os deveres que a caridade e a humildade vos impõe. O sentimento do dever
cumprido vos dará a tranqüilidade de espírito e a resignação. O coração bate melhor, a
alma se acalma, e o corpo já não sente desfalecimentos, porque o corpo sofre tanto
mais, quanto mais profundamente abalado estiver o espírito.

O Livro dos Espíritos

19. Não pode o homem, pelas investigações científicas, penetrar alguns dos segredos da
Natureza?

“A Ciência lhe foi dada para seu adiantamento em todas as coisas; ele, porém, não pode
ultrapassar os limites que Deus estabeleceu.” Quanto mais consegue o homem penetrar nesses
mistérios, tanto maior admiração lhe devem causar o poder e a sabedoria do Criador.
Entretanto, seja por orgulho, seja por fraqueza, sua própria inteligência o faz joguete da ilusão.
Ele amontoa sistemas sobre sistemas e cada dia que passa lhe mostra quantos erros tomou por
verdades e quantas verdades rejeitou como erros. São outras tantas decepções para o seu
orgulho.

145. Como se explica que tantos filósofos antigos e modernos, durante tão longo tempo,
hajam discutido sobre a ciência psicológica e não tenham chegado ao conhecimento da
verdade?

“Esses homens eram os precursores da eterna Doutrina Espírita. Prepararam os caminhos. Eram
homens e, como tais, se enganaram, tomando suas próprias ideias pela luz. No entanto, mesmo
os seus erros servem para realçar a verdade, mostrando o pró e o contra. Demais, entre esses
erros se encontram grandes verdades que um estudo comparativo torna apreensíveis.”
147. Por que é que os anatomistas, os fisiologistas e, em geral, os que aprofundam a ciência
da Natureza, são, com tanta frequência, levados ao materialismo?

O fisiologista refere tudo ao que vê. Orgulho dos homens, que julgam saber tudo e não admitem
haja coisa alguma que lhes esteja acima do entendimento. A própria ciência que cultivam os
enche de presunção. Pensam que a Natureza nada lhes pode conservar oculto.”

148. Não é de lastimar que o materialismo seja uma consequência de estudos que deveriam,
contrariamente, mostrar ao homem a superioridade da inteligência que governa o mundo?
Deve-se daí concluir que são perigosos?

“Não é exato que o materialismo seja uma consequência desses estudos. O homem é que deles
tira uma consequência falsa, pela razão de lhe ser dado abusar de tudo, mesmo das melhores
coisas. Acresce que o nada os amedronta mais do que eles quereriam que parecesse, e os
espíritos fortes, quase sempre, são antes fanfarrões do que bravos. Na sua maioria, só são
materialistas porque não têm com que encher o vazio do abismo que diante deles se abre.
Mostrai-lhes uma âncora de salvação e a ela se agarrarão pressurosamente.” Por uma aberração
da inteligência, pessoas há que só vêem nos seres orgânicos a ação da matéria e a esta atribuem
todos os nossos atos. No corpo humano apenas vêem a máquina elétrica; somente pelo
funcionamento dos órgãos estudaram o mecanismo da vida, cuja repetida extinção observaram,
por efeito da ruptura de um fio, e nada mais enxergaram além desse fio. Procuraram saber se
alguma coisa restava e, como nada acharam senão matéria, que se tornara inerte, como não
viram a alma escapar-se, como não a puderam apanhar, concluíram que tudo se continha nas
propriedades da matéria e que, portanto, à morte se seguia a aniquilação do pensamento. Triste
consequência, se fora real, porque então o bem e o mal nada significariam, o homem teria razão
para só pensar em si e para colocar acima de tudo a satisfação de seus apetites materiais;
quebrados estariam os laços sociais e as mais santas afeições se romperiam para sempre.
Felizmente, longe estão de ser gerais semelhantes idéias, que se podem mesmo ter por muito
circunscritas, constituindo apenas opiniões individuais, pois que em parte alguma ainda
formaram doutrina. Uma sociedade que se fundasse sobre tais bases traria em si o gérmen de
sua dissolução e seus membros se entredevorariam como animais ferozes. O homem tem,
instintivamente, a convicção de que nem tudo se lhe acaba com a vida. O nada lhe infunde
horror. É em vão que se obstina contra a idéia da vida futura. Ao soar o momento supremo,
poucos são os que não inquirem do que vai ser deles, porque a idéia de deixar a vida para sempre
algo oferece de pungente. Quem, de fato, poderia encarar com indiferença uma separação
absoluta, eterna, de tudo o que foi objeto de seu amor? Quem poderia ver, sem terror, abrir-se
diante si o imensurável abismo do nada, onde se sepultassem para sempre todas as suas
faculdades, todas as suas esperanças, e dizer a si mesmo: Pois que! depois de mim, nada, nada
mais, senão o vácuo, tudo definitivamente acabado; mais alguns dias e a minha lembrança se
terá apagado da memória dos que me sobreviverem; nenhum vestígio, dentro em pouco, restará
da minha passagem pela Terra; até mesmo o bem que fiz será esquecido pelos ingratos a quem
beneficiei. E nada, para compensar tudo isto, nenhuma outra perspectiva, além da do meu corpo
roído pelos vermes! Não tem este quadro alguma coisa de horrível, de glacial? A religião ensina
que não pode ser assim e a razão no-lo confirma. Mas, uma existência futura, vaga e indefinida
não apresenta o que satisfaça ao nosso desejo do positivo. Essa, em muitos, a origem da dúvida.
Possuímos alma, está bem; mas, que é a nossa alma? Tem forma, uma aparência qualquer? É
um ser limitado, ou indefinido? Dizem alguns que é um sopro de Deus, outros uma centelha,
outros uma parcela do grande Todo, o princípio da vida e da inteligência. Que é, porém, o que
de tudo isto ficamos sabendo? Que nos importa ter uma alma, se, extinguindo-se nos a vida, ela
desaparece na imensidade, como as gotas dágua no Oceano? A perda da nossa individualidade
não equivale, para nós, ao nada? Diz-se também que a alma é imaterial. Ora, uma coisa imaterial
carece de proporções determinadas. Desde então, nada é, para nós. A religião ainda nos ensina
que seremos felizes ou desgraçados, conforme ao bem ou ao mal que houvermos feito. Que
vem a ser, porém, essa felicidade que nos aguarda no seio de Deus? Será uma beatitude, uma
contemplação eterna, sem outra ocupação mais do que entoar louvores ao Criador? As chamas
do inferno serão uma realidade ou um símbolo? A própria Igreja lhes dá esta última significação;
mas, então, que são aqueles sofrimentos? Onde esse lugar de suplício? Numa palavra, que é o
que se faz, que é o que se vê, nesse outro mundo que a todos nos espera? Dizem que ninguém
jamais voltou de lá para nos dar informações. É erro dizê-lo e a missão do Espiritismo consiste
precisamente em nos esclarecer acerca desse futuro, em fazer com que, até certo ponto, o
toquemos com o dedo e o penetremos com o olhar, não mais pelo raciocínio somente, porém,
pelos fatos. Graças às comunicações espíritas, não se trata mais de uma simples presunção, de
uma probabilidade sobre a qual cada um conjeture à vontade, que os poetas embelezem com
suas ficções, ou cumulem de enganadoras imagens alegóricas. É a realidade que nos aparece,
pois que são os próprios seres de além-túmulo que nos vêm descrever a situação em que se
acham, relatar o que fazem, facultando-nos assistir, por assim dizer, a todas as peripécias da
nova vida que lá vivem e mostrando-nos, por esse meio, a sorte inevitável que nos está
reservada, de acordo com os nossos méritos e deméritos. Haverá nisso alguma coisa de anti-
religioso? Muito ao contrário, porquanto os incrédulos encontram aí a fé e os tíbios a renovação
do fervor e da confiança. O Espiritismo é, pois, o mais potente auxiliar da religião. Se ele aí está,
é porque Deus o permite e o permite para que as nossas vacilantes esperanças se revigorem e
para que sejamos reconduzidos à senda do bem pela perspectiva do futuro.

Caridade e Amor ao Próximo

886. Qual o verdadeiro sentido da palavra caridade, assim como a entendia Jesus?

“Benevolência para com todos, indulgência para as imperfeições dos outros, perdão das
ofensas.” 280 Capítulo XI O amor e a caridade são o complemento da lei de justiça, pois amar o
próximo é fazer-lhe todo o bem que nos seja possível e que desejaríamos que nos fi zessem.
Esse é o sentido das palavras de Jesus: Amai-vos uns aos outros, como irmãos. A caridade,
segundo Jesus, não se restringe à esmola; ela abarca todas as relações que temos com nossos
semelhantes, sejam eles nossos inferiores, nossos iguais, ou nossos superiores. Recomenda-nos
a indulgência, porque nós mesmos necessitamos dela; proíbe-nos de humilhar o desafortunado,
contrariamente ao que comumente se pratica. Se uma pessoa rica se apresenta, temos para
com ela mil atenções, mil deferências; se ela for pobre, parece-nos que não necessitamos nos
incomodar com ela. Quanto mais lamentável for a sua posição, ao contrário, mais devemos
hesitar em aumentar sua desgraça pela humilhação. O homem verdadeiramente bom procura
elevar o inferior aos seus próprios olhos, diminuindo a distância entre eles.

887. Jesus também disse: Amai mesmo os vossos inimigos. Ora, o amor pelos nossos inimigos
não será contrário às nossas tendências naturais e a inimizade não provirá da falta de simpatia
entre os Espíritos?

“Certamente, não se pode ter pelos inimigos um amor terno e apaixonado; não foi isso o que
ele quis dizer; amar seus inimigos é perdoar-lhes e retribuir-lhes o mal com o bem; quem age
assim torna-se superior a eles; quem busca vingança coloca-se abaixo deles.”
888. O que se deve pensar da esmola? “Reduzido a pedir esmola, o homem se degrada moral
e fisicamente: embrutece-se. Uma sociedade baseada na lei de Deus e na justiça deve prover
à vida do fraco, sem que haja humilhação para ele. Deve assegurar a existência daqueles que
não podem trabalhar, sem lhes deixar a vida por conta do acaso e da Boa vontade.” a)
Condenais a esmola?

“Não; não é a esmola que é condenável; é a maneira pela qual, frequentemente, é dada. O
homem de bem, que compreende a caridade segundo Jesus, vai ao encontro do desgraçado,
sem esperar que este lhe estenda a mão. A verdadeira caridade é sempre boa e benévola; ela
está tanto na forma, quanto no fato de praticá-la. Um serviço prestado com delicadeza tem
duplo valor; se o for com altivez, a necessidade pode fazer com que seja aceito, mas o coração
não se comove. Lembrai-vos também de que a ostentação retira, aos olhos de Deus, o mérito
do benefício. Jesus disse: “Que vossa mão esquerda ignore o que dá vossa mão direita”; ele vos
ensina, desta forma, a não macular a caridade com o orgulho. É preciso distinguir a esmola,
propriamente dita, da beneficência. O mais necessitado nem sempre é o que pede; o temor de
uma humilhação detém o verdadeiro pobre, que, freqüentemente, sofre sem se queixar; é este
que o homem verdadeiramente humano sabe ir procurar, sem ostentação. Amai-vos uns aos
outros, eis toda a lei; lei divina, através da qual Deus governa os mundos. O amor é a lei de
atração para os seres vivos e organizados; a atração é a lei de amor para a matéria inorgânica.
Nunca vos esqueçais de que o Espírito, sejam quais forem seu grau de adiantamento e sua
situação como reencarnado ou errante, está sempre colocado entre um superior, que o guia e
o aperfeiçoa, e um inferior, com relação ao qual ele tem estes mesmos deveres a cumprir. Sede,
pois, caridosos, não apenas com esse tipo de caridade que vos leva a tirar da bolsa o óbolo que,
friamente, dais àquele que vo-lo ousa pedir, mas ide ao encontro das misérias ocultas. Sede
indulgentes para com os defeitos dos vossos semelhantes; em vez de desprezar a ignorância e
o vício, instruí-os e moralizai-os; sede brandos e benevolentes para com tudo o que vos seja
inferior; sede-o para com os seres mais ínfi mos da criação e tereis obedecido à lei de Deus.” São
Vicente de Paulo

889. Não há homens reduzidos à mendicância por sua própria culpa?

“Certamente; mas, se uma boa educação moral lhes ensinasse a praticar a lei de Deus, eles não
cairiam nos excessos que causam suas perdas; é disso, principalmente, que depende a melhoria
do vosso planeta

890. O amor materno é uma virtude, ou um sentimento instintivo, comum aos homens e aos
animais?

“Ambos. A Natureza deu à mãe o amor pelos seus filhos, no interesse da conservação deles;
mas, no animal, este amor está limitado às necessidades materiais: cessa, quando os cuidados
se tornam dispensáveis; no homem, ele persiste durante toda a vida e comporta um
devotamento e uma abnegação que são virtudes; sobrevive mesmo à morte e acompanha o
filho além do túmulo; bem vedes que há nele algo diferente do que o que existe no animal.”

891. Visto que o amor materno está na Natureza, por que há mães que odeiam seus fi lhos e,
freqüentemente, desde o nascimento deles?

“É, algumas vezes, uma prova escolhida pelo Espírito da criança, ou uma expiação, se ele próprio
tiver sido mau pai, ou mãe ruim, ou mau filho, numa outra existência. Em todos os casos, a mãe
má só pode ser animada por um mau Espírito, que tenta atrapalhar o Espírito do filho, a fim de
que sucumba ante as provas que escolheu; porém, essa violação das leis da Natureza não ficará
impune e o Espírito do filho será recompensado pelos obstáculos que conseguir superar.”

892. Quando os pais têm filhos que lhes causam desgostos, não serão desculpáveis por não
sentirem por eles a ternura que sentiriam, em caso contrário?

“Não, porque é um encargo que lhes foi confi ado e a missão deles é fazer todos os esforços
para conduzi-los ao bem. Mas esses desgostos são, muitas vezes, a conseqüência do mau
costume a que se habituaram, desde o ber- ço; colhem, então, o que semearam.”

893. Qual é a mais meritória de todas as virtudes?

“Todas as virtudes têm seu mérito, porque todas são sinais de progresso no caminho do bem.
Há virtude todas as vezes que há resistência voluntária ao arrastamento dos maus pendores;
mas a sublimidade da virtude consiste no sacrifício do interesse pessoal pelo bem do seu
próximo, sem segunda intenção; a mais meritó- ria é a que está baseada na caridade mais
desinteressada.”

894. Há pessoas que fazem o bem espontaneamente, sem que tenham que vencer qualquer
sentimento contrário; terão tanto mérito quanto aquelas que precisam lutar contra sua
própria natureza e a vencem?

“Aqueles que não precisam, absolutamente, lutar, já realizaram em si o progresso: outrora


lutaram e triunfaram. É por isso que os bons sentimentos não lhes custam esforço algum e suas
ações lhes parecem muito simples: o bem tornou-se para eles um hábito. Deve-se, portanto,
honrá-los como velhos guerreiros que conquistaram seus postos. Como ainda estais distante da
perfeição, estes exemplos vos espantam, pelo contraste, e vos admirais tanto mais, quanto mais
raros eles são; mas fi cai sabendo que, nos mundos mais adiantados que o vosso, o que entre
vós é uma exceção, constitui a regra. Neles o sentimento do bem é, por toda a parte,
espontâneo, porque são habitados somente por bons Espíritos, e uma única má intenção seria
uma exceção monstruosa. Eis por que, neles, os homens são felizes; o mesmo acontecerá na
Terra, quando a Humanidade estiver transformada e quando compreender e praticar a caridade,
na sua verdadeira acepção.”

895. Postos de lado os defeitos e os vícios sobre os quais ninguém poderia enganar-se, qual o
sinal mais característico da imperfeição?

“É o interesse pessoal. As qualidades morais são, freqüentemente, como a douradura colocada


num objeto de cobre e que não resiste à pedra de toque. Um homem pode possuir qualidades
reais que fazem dele um homem de bem, segundo o mundo; essas qualidades, porém, embora
constituam um progresso, nem sempre suportam certas provas e, algumas vezes, basta que se
toque a corda do interesse pessoal para colocar o fundo a descoberto. O verdadeiro desinteresse
é mesmo uma coisa tão rara na Terra que, quando ele se apresenta, admiram-no como se fosse
um fenômeno. O apego às coisas materiais é um sinal notório de inferioridade, porque, quanto
mais o homem se prende aos bens deste mundo, menos compreende o seu destino; pelo
desinteresse, ao contrário, ele prova que vê o futuro de um ponto de vista mais elevado.”

896. Há pessoas desinteressadas, mas sem discernimento, que prodigalizam seus bens sem
proveito real, por não fazerem deles um emprego racional; têm elas algum mérito?

“Têm o mérito do desinteresse, mas não o do bem que poderiam fazer. Se o desinteresse é uma
virtude, a prodigalidade irrefl etida é sempre, pelo menos, uma falta de juízo. A fortuna não é
dada de preferência a alguns para ser lançada ao vento, nem a outros para ser encerrada num
cofre forte; é um depósito de que terão que prestar contas, pois terão que responder por todo
o bem que poderiam ter feito e não fi zeram; por todas as lágrimas que poderiam ter secado,
com o dinheiro que deram àqueles que dele não precisavam.”

897. Será repreensível aquele que faz o bem, sem visar uma recompensa na Terra, mas com a
esperança de que lhe seja levado em conta na outra vida e de que lá sua posição seja tanto
melhor por isso? E esse pensamento lhe prejudica o progresso?

“É preciso fazer o bem por caridade, isto é, desinteressadamente.”

a) Entretanto, cada um tem o desejo muito natural de progredir para sair do estado penoso
desta vida; os próprios Espíritos nos ensinam a praticar o bem com esse objetivo; será, então,
um mal pensar que, fazendo o bem, pode-se esperar coisa melhor do que na Terra?

“Não, certamente; mas aquele que faz o bem, sem segunda intenção e só pelo prazer de ser
agradável a Deus e ao seu próximo que sofre, já se encontra num certo grau de adiantamento
que lhe permitirá chegar bem mais depressa à felicidade do que seu irmão que, mais positivo,
faz o bem por cálculo e não é impelido pela caridade natural do seu coração.”

b) Não haverá aqui uma distinção entre o bem que se pode fazer ao seu próximo e o cuidado
que se tem para corrigir-se dos seus defeitos? Concebemos que fazer o bem com a idéia de
que ele nos será levado em conta na outra vida é pouco meritório; mas emendar-se, vencer
suas paixões, corrigir seu caráter, tendo em vista aproximar-se dos bons Espíritos e se elevar,
é igualmente um sinal de inferioridade?

“Não, não; por fazer o bem, nós queremos dizer, ser caridoso. Aquele que calcula o que cada
boa ação pode render-lhe na vida futura, tanto quanto na vida terrena, 284 Capítulo XII age
como egoísta; porém não há egoísmo algum em melhorar-se, tendo em vista aproximar-se de
Deus, visto que é o objetivo para o qual todos devem tender.”

898. Já que a vida corpórea é apenas uma estada temporária neste mundo e que nosso futuro
deve ser nossa principal preocupação, será útil esforçar-se para adquirir conhecimentos
científi cos que só digam respeito às coisas e às necessidades materiais?

“Sem dúvida; primeiramente, isso vos coloca em condições de aliviar vossos irmãos; depois,
vosso Espírito subirá mais depressa, se já tiver progredido em inteligência; no intervalo das
encarnações, aprendereis, em uma hora, o que vos exigiria anos na vossa Terra. Nenhum
conhecimento é inútil; todos contribuem mais ou menos para o progresso, porque o Espírito
perfeito deve saber tudo e porque, se o progresso deve cumprir-se em todos os sentidos, todas
as idéias adquiridas auxiliam o desenvolvimento do Espírito.”

899. De dois homens ricos, um nasceu na opulência e nunca conheceu a necessidade; o outro
deve sua fortuna ao seu trabalho; ambos a empregam exclusivamente em sua satisfação
pessoal; qual é o mais culpado?

“Aquele que conheceu os sofrimentos; ele sabe o que é sofrer; conhece a dor que não alivia e,
muito freqüentemente, nem se lembra mais dela.”

900. Aquele que acumula, incessantemente, e sem fazer o bem a pessoa alguma, encontra
uma desculpa válida na idéia de que acumula para deixar maior soma aos seus herdeiros?

“É um compromisso com a consciência má.”


PÃO NOSSO (pelo Espírito Emmanuel)

130

Onde estão?
“Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de c
oração; e encontrareis descanso para as vossas almas.” Jesus (Mateus, 11:29)

Dirigiu-se Jesus à multidão dos aflitos e desalentados proclamando o


divino propósito de aliviá-los. – “Vinde a mim! – clamou o Mestre – tomai sobre
vós o meu jugo, e aprendei comigo, que sou manso e humilde de coração!”

Seu apelo amoroso vibra no mundo, através de todos os séculos do Cristianismo.


Compacta é a turba de desesperados e oprimidos da Terra, não obstante o amorável
convite. É que o Mestre no “Vinde a mim!” espera naturalmente que as almas
inquietas e tristes o procurem para a aquisição do ensinamento divino. Mas nem
todos os aflitos pretendem renunciar ao objeto de suas desesperações e nem todos
os tristes querem fugir à sombra para o encontro com a luz. A maioria dos
desalentados chega a tentar a satisfação de caprichos criminosos com a proteção de
Jesus, emitindo rogativas estranhas. Entretanto, quando os sofredores se dirigirem
sinceramente ao Cristo, hão de ouvi-lo, no silêncio do santuário interior,
concitando-lhes o espírito a desprezar as disputas reprováveis do campo inferior.
Onde estão os aflitos da Terra que pretendem trocar o cativeiro das próprias paixões
pelo jugo suave de Jesus Cristo?

Para esses foram pronunciadas as santas palavras “Vinde a mim!”, reservando-lhes o


Evangelho poderosa luz para a renovação indispensável.

Caminho Verdade e Vida


11 CONFORTO

“Se alguém me serve, siga-me.” — Jesus. (JOÃO, capítulo 12, versículo 26.)

Freqüentemente, as organizações religiosas e mormente as espiritistas, na atualidade,


estão repletas de pessoas ansiosas por um conforto. De fato, a elevada Doutrina dos
Espíritos é a divina expressão do Consolador Prometido. Em suas atividades
resplendem caminhos novos para o pensamento humano, cheios de profundas
consolações para os dias mais duros. No entanto, é imprescindível ponderar que não
será justo querer alguém confortar-se, sem se dar ao trabalho necessário...
Muitos pedem amparo aos mensageiros do plano invisível; mas como recebê-lo, se
chegaram ao cúmulo de abandonar-se ao sabor da ventania impetuosa que sopra, de
rijo, nos resvaladouros dos caminhos?

Conforto espiritual não é como o pão do mundo, que passa, mecanicamente, de mão
em mão, para saciar a fome do corpo, mas, sim, como o Sol, que é o mesmo para
todos, penetrando, porém, somente nos lugares onde não se haja feito um reduto
fechado para as sombras.

Os discípulos de Jesus podem referir-se às suas necessidades de conforto. Isso é


natural. Todavia, antes disso, necessitam saber se estão servindo ao Mestre e
seguindo-o. O Cristo nunca faltou às suas promessas.

Seu reino divino se ergue sobre consolações imortais; mas, para atingi-lo, fazse
necessário seguir-lhe os passos e ninguém ignora qual foi o caminho de Jesus, nas
pedras deste mundo.

41 - A REGRA ÁUREA

“Amarás o teu próximo como a ti mesmo.” — Jesus. (MATEUS, 22, 39.)

Incontestavelmente, muitos séculos antes da vinda do Cristo já era ensinada no


mundo a Regra Áurea, trazida por embaixadores de sua sabedoria e misericórdia.
Importa esclarecer, todavia, que semelhante princípio era transmitido com maior ou
menor exemplificação de seus expositores. Diziam os gregos: “Não façais ao próximo
o que não desejais receber dele.” Afirmavam os persas: “Fazei como quereis que se
vos faça.” Declaravam os chineses: “O que não desejais para vós, não façais a outrem.”
Recomendavam os egípcios: “Deixai passar aquele que fez aos outros o que desejava
para si.” Doutrinavam os hebreus: “O que não quiserdes para vós, não desejeis para o
próximo.” Insistiam os romanos: “A lei gravada nos corações humanos é amar os
membros da sociedade como a si mesmo.” Na antigüidade, todos os povos receberam
a lei de ouro da magnanimidade do Cristo. Profetas, administradores, juizes e
filósofos, porém, procederam como instrumentos mais ou menos identificados com a
inspiração dos planos mais altos da vida. Suas figuras apagaram-se no recinto dos
templos iniciáticos ou confundiram-se na tela do tempo em vista de seus testemunhos
fragmentários. Com o Mestre, todavia, a Regra Áurea é a novidade divina, porque
Jesus a ensinou e exemplificou, não com virtudes parciais, mas em plenitude de
trabalho, abnegação e amor, à claridade das praças públicas, revelando-se aos olhos
da Humanidade inteira.
Francisco Cândido Xavier - Pai Nosso - pelo Espírito Meimei
22 - A Necessidade do Esforço

Conta-se que, no principio da vida terrestre, o alimento das criaturas era encontrado
como oferta da Divina Providência, emtoda parte.
Em troca de tanta bondade, o Pai Celeste rogava aos corações mais esforço no
aperfeiçoamento da vida.
O povo, no entanto, observando que tudo lhe vinha de graça, começou a menosprezar
o serviço.
O mato inútil cresceu tanto, que invadia as casas, onde toda a gente se punha a comer
e dormir.
Ninguém desejava aprender a ler.
A ferrugem, o lixo e o mofo apareciam em todos os lugares.
Animais, como os cães que colaboram na vigilância, e aves, como os urubus que auxiliam
nas obras de limpeza, eram mais prestativos que os homens.
Vendo que ninguém queria corresponder à confiança divina, o Pai Celestial mandou
retirar as facilidades existentes, determinando que os habitantes da Terra se
esforçassem na conquista da própria manutenção.
Desde esse tempo, o ar e a água, o Sol e as flores, a claridade das estrelas e o luar
continuaram gratuitos para o povo, mas o trabalho forçado da alimentação passou a
vigorar como sendo uma lei para todos, porque, lutando para sustentar-se, o homem
melhora a terra, limpa a habitação, aprende a ser sábio e garante o progresso.
Deus dá tudo.
O solo, a chuva, o calor, o vento, o adubo e a orientação constituem dádivas dEle à Terra
que povoamos e que devemos aprimorar, mas o preparo do pão de cada dia, através do
nosso próprio suor e da nossa própria diligência, é obrigação comum a todos nós, a fim
de que não olvidemos o nosso divino dever de servir, incessantemente, em busca da
Perfeição.

23 - O Exemplo da Árvore

Dizem que quando a primeira árvore apareceu na Terra, trazia do Pai Celestial a
recomendação de alimentar o homem e auxiliálo, em nome do Céu, por todos os meios
que lhe fosse possível.
Resolvida a cumprir a ordenação do Senhor, certo dia foi visitada por um ladrão,
perseguido pela Justiça.
Ele sentia fome e, por isso, furtou-lhe vários frutos.
Em seguida, decepou-lhe muitos galhos, deles fazendo macia cama para descansar e
refazer-se.
A árvore não se agastou com o assalto. Parecia satisfeita em ajudá-lo e até se mostrava
interessada em adormecê-lo, agitando harmoniosamente as folhas, tangidas pelo vento.
Erguendo-se, fortalecido, o pobre homem ouviu o ruído dos acusadores que o buscavam
e, angustiado, sem saber que rumo tomar na várzea deserta, notou que o nobre vegetal,
em silêncio, como que o convidava a asilar-se em seus ramos.
Imediatamente, à maneira de um menino, o infeliz escalou o tronco e escondeu-se na
copa farta.
Os guardas vieram e, desistindo de encontrá-lo em razão da busca infrutífera, retiraram-
se para lugarejo distante.
Foi então que o desventurado desceu para o solo, impressionado e comovido,
reparando que se achava à frente de humilde mensageira do Céu.
Roubara-lhe os frutos e mutilara-lhe as frondes; entretanto, oferecera-lhe, ainda, seguro
abrigo.
O homem infeliz começou a meditar no exemplo da árvore venerável, incumbida por
Deus de cooperar na distribuição do alimento de cada dia na Terra, e, nela
reconhecendo verdadeira emissária do Céu, que lhe saciara a fome e lhe dispensara
maternal proteção, abandonou o mal em que se havia mergulhado e passou a ser outro
homem.

24 - O Alimento Espiritual

O professor lutava na escola com um grande problema.


Os alunos começaram a ler muitas histórias de homens maus, de roubos e de crimes e
passaram a viver em plena insubordinação.
Queriam imitar aventureiros e malfeitores e, em razão disso, na escola e em casa
apresentavam péssimo comportamento.
Alguns pronunciavam palavrões, julgando-se bem-educados, e outros se entregavam a
brinquedos de mau gosto, acreditando que assim mostravam superioridade e
inteligência.
Esqueciam-se dos bons livros.
Zombavam dos bons conselhos.
O professor, em vista disso, certo dia reuniu todas as classes para a merenda
costumeira, apresentando uma surpresa esquisita.
Os pratos estavam cheios de coisas impróprias, tais como pães envolvidos em lama,
doces com batatas podres, pedaços de maçãs com tomates deteriorados e geléias
misturadas com fel e pimenta.
Os meninos revoltados gritavam contra o que viam, mas o velho educador pediu silêncio
e, tomando a palavra, disse-lhes:
– Meus filhos, se não podemos dispensar o alimento puro a beneficio do corpo,
precisamos também de alimento sadio para a nossa alma. O pão garante a nossa energia
física, mas a leitura é a fonte de nossa vida espiritual. Os maus livros, as reportagens
infelizes, as difamações e as aventuras criminosas representam
substâncias apodrecidas que nós absorvemos, envenenando a vida mental e
prejudicando-nos a conduta. Se gostamos das refeições saborosas que auxiliam a
conservação de nossa saúde, procuremos também as páginas que cooperam na defesa
de nossa harmonia interior, a fim de nunca fugirmos ao correto procedimento.
Com essa preleção, a hora da merenda foi encerrada.
Os alunos retiraram-se cabisbaixos.
E, pouco a pouco, a vida dos meninos foi sendo retificada, modificando-se para melhor.

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