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Saúde
Coletiva
DRA. MARCELA DEMITTO FURTADO
DRA. RAQUEL GUSMÃO OLIVEIRA
Híbrido
GRADUAÇÃO
Saúde Coletiva
Dra. Marcela Demitto Furtado
Dra. Raquel Gusmão Oliveira
DIREÇÃO UNICESUMAR
Reitor Wilson de Matos Silva, Vice-Reitor e
Pró-Reitor de Administração, Wilson de Matos
Silva Filho, Pró-Reitor Executivo de EAD William
C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação Victor Kendrick de Matos Silva, Pró-Reitor de
a Distância; FURTADO, Marcela Demitto; OLIVEIRA, Raquel Ensino de EAD Janes Fidélis Tomelin Presidente
Gusmão.
da Mantenedora Cláudio Ferdinandi.
Saúde Coletiva. Marcela Demitto Furtado; Raquel Gusmão
Oliveira.
Maringá-PR.: Unicesumar, 2019. NEAD - NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
152 p. Diretoria Executiva Chrystiano Mincoff, James
“Graduação - EAD”.
Prestes, Tiago Stachon , Diretoria de Design
1. Saúde. 2. Coletiva. 3. EaD. I. Título. Educacional Débora Leite, Diretoria de Graduação
ISBN 978-85-459-1725-0 e Pós-graduação Kátia Coelho, Diretoria de
Permanência Leonardo Spaine, Head de Produção
CDD - 22 ed. 610
CIP - NBR 12899 - AACR/2 de Conteúdos Celso Luiz Braga de Souza Filho,
Head de Metodologias Ativas Thuinie Daros,
Gerência de Projetos Especiais Daniel F. Hey,
Impresso por:
Gerência de Produção de Conteúdos Diogo
Ribeiro Garcia, Supervisão do Núcleo de Produção
de Materiais Nádila de Almeida Toledo, Projeto
Gráfico José Jhonny Coelho e Thayla Guimarães
Cripaldi, Fotos Shutterstock.
13
História da Saúde
Pública no Brasil
41
Vigilância em Saúde
67
Políticas Públicas
de Saúde no Brasil
95
Política Nacional de
Humanização (PNH)
125
55 Redes de Atenção à Saúde
Utilize o aplicativo
Unicesumar Experience
para visualizar a
Realidade Aumentada.
Dra. Raquel Gusmão Oliveira
PLANO DE ESTUDOS
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
• Discutir as mudanças e a evolução do conceito de saúde • Compreender o conceito da determinação social na saúde.
e doença. • Apresentar os principais determinantes sociais da saúde
• Conhecer os modelos de saúde preventivista e de pro- e seu impacto na realidade brasileira.
moção à saúde. • Conhecer os modelos de Atenção à saúde no Brasil.
Conceito de Saúde
e Doença
UNIDADE 1 15
A Multicausalidade
Um novo paradigma surge diante da crise de Para que uma população possa ser saudável,
desenvolvimento das sociedades modernas: o no paradigma da história social da saúde, é ne-
reconhecimento de que tudo o que existe é pro- cessário: paz (contrário de violência); habitação
duto da ação humana. adequada em tamanho por habitante, em condi-
A saúde de um indivíduo, de um grupo de indi- ções adequadas de conforto térmico; educação,
víduos ou de uma comunidade, depende, também, pelo menos fundamental; alimentação imprescin-
de coisas que o homem criou e faz, das interações dível para o crescimento e desenvolvimento das
dos grupos sociais, das políticas adotadas pelo go- crianças e necessária para a reposição da força de
verno, inclusive os próprios mecanismos de aten- trabalho; renda decorrente da inserção no mer-
ção à doença, do ensino voltado para os cursos da cado de trabalho, adequada para cobrir as neces-
área da saúde, da educação e das intervenções sobre sidades básicas de alimentação, vestuário e lazer;
o meio ambiente (SANTOS; WESTPHAL, 1999). ecossistema saudável preservado e não poluído;
Nesse sentido, Santos e Westphal (1999) res- justiça social e equidade, garantindo os direitos
saltam que ter saúde não pode ser apenas não fundamentais dos cidadãos (DE OTAWA, 1986).
estar doente, significa, também, a possibilidade No Brasil, o movimento de Reforma Sanitária,
de atuar, de produzir a sua própria saúde, quer articulado nos anos 80, formulou um “conceito
mediante cuidados tradicionalmente conheci- ampliado de saúde” e passou a entendê-la como
dos, quer por ações que influenciam o seu meio um estado resultante das condições de alimenta-
– ações políticas para a redução de desigualdades, ção, habitação, educação, renda, meio ambiente,
educação, cooperação intersetorial, participação trabalho, transporte, emprego, lazer, liberdade,
da sociedade civil nas decisões que afetam sua acesso à terra e aos serviços de saúde, apontan-
existência – para, usando uma expressão bem do, assim, para a determinação social e cultural
conhecida, o exercício da cidadania. da saúde e da doença.
Para operar com o conceito ampliado de saúde, precisamos pensar na saúde como um processo em
detrimento da concepção de saúde como um atributo (tenho/não tenho).
(Stela Nazareth Meneghel)
UNIDADE 1 17
O Modelo
Preventivista
e o Modelo de
Promoção à Saúde
O Modelo Preventivista
Recuperação,
Período pré-patogênese Patogênese precoce Patogênese avançada
incapacidade ou morte
UNIDADE 1 19
O Modelo de Promoção
à Saúde
A teoria da transição epidemiológica, proposta por Omran (1971), foca nas complexas mudanças
dos padrões saúde-doença e nas interações entre eles, determinantes demográficos, econômicos e
sociais, e suas consequências. As ideias a seguir destacam em sua teoria:
I. O processo de mudanças nos padrões de mortalidade e adoecimento são longos, as pandemias
por doenças infecciosas são gradativamente substituídas pelas doenças degenerativas e agravos.
II. As mais profundas mudanças nos padrões de saúde-doença ocorrem nas crianças e nas mu-
lheres jovens.
III. As mudanças são fortemente associadas às transições demográfica e socioeconômica que cons-
tituem o complexo da modernização.
IV. As variações peculiares no padrão, no ritmo, nos determinantes e nas consequências das mu-
danças na população diferenciam três modelos básicos de transição epidemiológica: o modelo
clássico ou ocidental, o modelo acelerado e o modelo contemporâneo ou prolongado.
Fonte: Duarte e Barreto (2012).
UNIDADE 1 21
Fatores Condicionantes
e Determinantes do
Processo Saúde-Doença
de Trabalho
ais e Comun
s Soci itár Água e
d e ias Esgoto
Re a dos Ind
Educação
de Vid iv íd
los Serviços
uo
ti
Sociais de
Es
Produção
s
Saúde
Agrícola de
Alimentos Idade, Sexo e Habitação
Fatores hereditários
O modelo entende que a saúde compreende três ções concretas da existência que irão resultar nas
dimensões: a biológica, a social e cultural (BA- manifestações fenotípicas, como a idade/sexo e
RATA, 2012). fatores hereditários X estilo de vida. Na dimen-
A dimensão biológica compreende as caracte- são social, inclui os grupos sociais e as formas
rísticas biológicas marcadas pela interação genó- de consciência e condutas resultantes de suas
tipo-fenótipo, ou seja, a genética e a modulação interações, bem como a forma de constituição
das potencialidades são herdadas pelas condi- dessas comunidades.
UNIDADE 1 23
A dimensão cultural inclui as condições de biente de poluição, acesso à informação e
vida e de trabalho e suas formas de organização serviços de saúde e seu impacto nas con-
que compreende as condições socioeconômicas, dições de saúde dos diversos grupos da
culturais e ambientais gerais. população.
O relatório da Comissão Nacional de determi- 4. Redes sociais, comunitárias e saúde:
nantes sociais de saúde (COMISSÃO NACIONAL, inclui evidências sobre a organização co-
2008, on-line)2, ao analisar a situação de saúde de munitária e redes de solidariedade e apoio
uma população, relacionando os Determinantes para a melhoria da situação de saúde, des-
sociais de saúde, considera os seguintes itens: tacando, particularmente, o grau de de-
1. Situação e tendências da evolução de- senvolvimento dessas redes nos grupos
mográfica, social e econômica do país: sociais mais desfavorecidos.
traça um panorama geral de referência 5. Comportamentos, estilos de vida e saú-
para a análise da situação de saúde, des- de: inclui evidências existentes no Brasil
crevendo a evolução desses macrodeter- sobre condutas de risco, como hábito de
minantes, particularmente nas últimas fumar, alcoolismo, sedentarismo, die-
quatro décadas. Inclui dados sobre cresci- ta inadequada, entre outros, segundo os
mento populacional, fecundidade, morta- diferentes estratos socioeconômicos da
lidade, migrações, urbanização, estrutura população.
do mercado de trabalho, distribuição de 6. Saúde materno-infantil e saúde indí-
renda e educação. gena: por sua importância social e por
2. A estratificação socioeconômica e a saú- apresentarem necessidades específicas de
de: apresenta a situação atual e tendências políticas públicas, são dedicadas seções
da situação de saúde no país, destacando especiais sobre saúde materno-infantil e
as desigualdades de saúde segundo va- saúde indígena.
riáveis de estratificação socioeconômica,
como renda, escolaridade, gênero e local Além disso, podem ser incluídos: saúde e am-
de moradia. biente nas grandes cidades; seguridade social e
3. Condições de vida, ambiente e traba- saúde; cultura e promoção da saúde; distribuição,
lho: apresenta as relações entre situação acesso e utilização de serviços de saúde em áreas
de saúde e condições de vida, ambiente urbanas; violência e saúde; iniciativas comunitá-
e trabalho, com ênfase nas relações entre rias de promoção e proteção da saúde; desempre-
saneamento, alimentação, habitação, am- go e saúde, entre outros.
A COMISSÃO NACIONAL SOBRE OS DETERMINANTES SOCIAIS DA SAÚDE foi criada, em 2006, para
produção de conhecimentos e informações sobre os determinantes sociais e de saúde (DSS), bem
como revisão e análise de políticas e programas de intervenção sobre os DSS e comunicação sobre
a importância e possibilidades de atuação sobre eles.
Fonte: Comissão Nacional (2008, on-line)2.
UNIDADE 1 25
1. Tendências demográficas, social e 2006, é 9 anos inferior ao do Japão, país com a maior
econômica expectativa de vida ao nascer em todo o mundo.
O crescimento rápido do peso relativo dos ido-
A urbanização foi apontada como um fator impor- sos tem um impacto importante na economia e
tante de mudanças, em que, a partir da década de na sociedade, obrigando a definição de políticas
70, influenciada pela industrialização, promoveu públicas que possam fazer frente a esse fenômeno
mudanças no setor econômico e na forma de viver sem paralelo na experiência mundial.
das pessoas que, saindo do campo para viver na ci- O Brasil gasta 7% do Produto Interno Bruto
dade, buscavam trabalho e melhores condições de (PIB) em saúde, cerca de 530 dólares per capita,
vida; no entanto, a oferta de infraestrutura e servi- abaixo de Argentina (US$ 1.045), Chile (US$ 827)
ços urbanos não acompanhou a grande demanda, e Uruguai (US$ 781), para citar alguns países do
a tal ponto que, em 1980, havia 38,2 milhões de Cone Sul.
moradores em domicílios urbanos inadequados.
O PIB per capita passou de 2.060 dólares, em 2. Redes sociais
1960, para 5.250, em 2000 e 5.720, em 2006. En-
tretanto, esse extraordinário aumento da riqueza Diversos estudos mostram que não são as socie-
produzida e a modernização da economia não dades mais ricas que possuem melhores níveis
significaram melhoria na distribuição e urbaniza- de saúde, mas as que são mais igualitárias e com
ção; o crescimento do transporte e das indústrias, alta coesão social. Nessas sociedades, as pessoas
assim como a expansão da fronteira agrícola, cria- são mais envolvidas com a vida pública, vivem
ram as condições propícias para uma permanente mais, são menos violentas e avaliam melhor sua
exposição de contingentes populacionais, pro- própria saúde.
gressivamente maiores à poluição atmosférica e Um importante indicador da riqueza do ca-
dos corpos hídricos. pital social é relação de confiança entre as pes-
Alterações na fecundidade: a taxa média geo- soas. Segundo dados da Pesquisa Social Brasileira
métrica de crescimento anual da população pas- (PSB), que realizou 2.363 entrevistas entre julho
sou de 2,89%, no período 1960/1970, para 1,64%, e outubro de 2002, as relações de confiança, no
no período 1991/2000. A taxa de fecundidade, que Brasil, são extremamente débeis, praticamente
se mantinha estável desde 1940, passou a cair de limitando-se à confiança em familiares; enquanto
maneira acelerada a partir de 1960. 84% das pessoas confiam na família, apenas 15%
Envelhecimento da população e aumento da confiam na maioria das pessoas.
expectativa de vida: a proporção de jovens de 0 a
14 anos que era de 42,6%, em 1960, passou para 3. Condições de vida e de saúde
30%, em 2000, e deverá atingir 18% em 2050, en-
quanto que a de idosos maiores de 65 anos, que Os índices de cobertura dos serviços de água e
era de 2,7%, em 1960, passou para 5,4%, em 2000, esgoto, no período de 1999 a 2004, têm aumentado.
e no ano de 2050 deverá superar a de jovens, al- Entretanto, enquanto nas regiões Sul e Sudeste, res-
cançando 19%. pectivamente, 83% e 91% da população estava co-
Quanto à esperança de vida ao nascer, houve um berto pela rede geral de abastecimento de água, na
ganho de mais de 20 anos, entre 1960 e 2006, para região Norte, a cobertura desses serviços alcançava
o Brasil como um todo. O valor de 72,4 anos, em apenas 54,8% da população, e no Nordeste 72%. Es-
UNIDADE 1 27
drão alimentar, baseado no consumo de cereais, sequências contribuem para o agravamento dos
feijões, raízes e tubérculos, por uma alimentação problemas sociais que o país enfrenta.
mais rica em gorduras (especialmente hidroge- No Brasil, verifica-se a presença de algumas
nadas) e açúcares, além da crescente ingestão de doenças já controladas em países desenvolvidos,
ingredientes químicos, aumentando o risco de como a silicose e outras pneumoconioses, enve-
sobrepeso e obesidade, aparecimento de doenças nenamento por chumbo, asbestose, síndrome do
crônicas e incapacidades. túnel do carpo, doenças dermatológicas causadas
Os fatores relacionados a comportamentos e por compostos químicos, além dos sintomas e
estilos de vida, como tabagismo, baixo consumo desordens mentais relacionadas ao stress, como
de frutas, de legumes e de verduras e o consumo a síndrome do Burnout.
de álcool são os principais fatores de risco para A poluição também é uma preocupação, devi-
morte por câncer em países de baixa e média ren- do aos efeitos adversos sobre a saúde das popula-
da, o que é o caso brasileiro. ções expostas. Estima-se que o número de mortes
Estima-se que o tabagismo seja responsável causadas por problemas decorrentes da poluição
por 18% das mortes por câncer; o baixo consumo atmosférica no mundo é de cerca de 3 milhões por
de frutas, legumes e verduras por 6%; e o consumo ano, o que representa 5% do total de 55 milhões
de álcool por 5%. de mortes que ocorrem anualmente no mundo.
A saúde do trabalhador também é uma preo- Em algumas populações, cerca de 30% a
cupação, pois os problemas de saúde dos traba- 40% dos casos de asma e 20% a 30% de todas as
lhadores estão intimamente relacionados com o doenças respiratórias podem ser relacionadas à
grau de desenvolvimento alcançado por um país poluição atmosférica. Outros efeitos referem-se
ou uma região. a perdas econômicas, aumento no absenteísmo
A esses problemas se associam o deteriora- escolar, dias de trabalho perdidos e nebulizações.
mento das condições de trabalho e crescentes da- Busque saber sobre os membros da Comis-
nos ambientais. Os acidentes de trabalho são um são Nacional de Determinantes Sociais de Saú-
dos subprodutos dessas tendências, juntamente de (CNDSS) e reflita sobre a importância da
com uma grande carga de doenças profissionais diversidade de olhares sobre os determinantes
e doenças relacionadas ao trabalho, cujas con- de saúde.
Para saber mais e se inteirar, acesse o relatório da comissão nacional sobre os determinantes sociais
da saúde, intitulado “As causas sociais das iniquidades em saúde no Brasil”.
Fonte: Comissão Nacional (2008, on-line)2.
UNIDADE 1 29
1. Sanitarismo Campanhista de trabalhadores e empregados da gestão pela cres-
cente influência da indústria farmacêutica, médico
Tal tendência vigorou no país do início do século hospitalares e os proprietários de hospitais.
XX até 1945 e recebeu esse nome porque tinha,
nas campanhas sanitárias, sua principal estratégia 3. Modelo médico assistencial privatista
de saneamento.
O Brasil tinha sua economia baseada na agri- O modelo médico assistencial privatista marca o
cultura e na exportação do café; o comércio e o es- período entre 1960 a 1980, caracterizado pela prá-
paço nos portos era prioridade, devendo ser livre tica médica curativa, individual, assistencialista e
de doenças e saneados. Devido a isso, o sistema de especializada em detrimento da saúde pública e
saúde adotado foi o modelo das campanhas sanitá- a criação com intervenção estatal de um comple-
rias, com foco no combate das endemias urbanas e xo médico privado, organizando o estado como
rurais. A assistência individual era privada, hospitalar financiador, o setor privado nacional como pres-
com caráter de assistência social e as Santa Casas de tador de serviços e o setor privado internacional
Misericórdia atendiam quem não podia pagar. como produtor de insumos.
Em 1923, com a Lei Elói Chaves, surge a as- O Brasil vivia o período da ditadura militar,
sistência previdenciária no país e a criação das marcado por atos institucionais e decretos pre-
Caixas de Aposentadoria e Pensão nas empresas sidenciais de cunho arbitrário e que alteravam
de estradas de ferro para os empregados, as quais direitos de cidadania, informação, organização
ofereciam benefícios de aposentadorias e pen- social e política.
sões, assistência médica e farmacêutica; logo em A saúde, que estava ligada à assistência social,
seguida, os portuários e marítimos criaram seus tem sua ampliação na década de 70, com a cober-
Institutos de Previdência, nascendo uma nova tura para os trabalhadores rurais, as empregadas
estrutura de previdência social por categoria de domésticas e os trabalhadores autônomos domés-
trabalhadores, denominadas de Institutos de Apo- ticos. Em 1974, cria-se o Ministério da Previdência
sentadorias e Pensão (IAP). e Assistência Social, que atua no atendimento mé-
Em 1930, o ministério da Educação e Saúde dico assistencial individualizado e o Ministério da
passa a coordenar as ações de saúde coletiva. Saúde se volta ao atendimento coletivo e vigilância
sanitária.
2. Período de Transição Com a crise econômica no final da década de
70, foi impulsionado o Movimento da Reforma
Esse período é compreendido entre 1945 a 1960, Sanitária que discutia reformas nas políticas de saú-
marcado pelo pós-guerra e a crise previdenciária. de, surgindo as ideias de medicina comunitária e
Nesse período, a previdência social passa a ter o conceito de Atenção Primária à Saúde (OMS).
grande importância e a ser utilizada como instru- O Movimento da Reforma Sanitária ajuda a
mento político; também foi nesse período que o fortalecer o processo de Transição democrática,
Ministério da Saúde foi criado (1953). ocorrido em 1984 com a 8° conferência Nacional
Ocorre, também, a unificação dos Institutos de Saúde, em 1986, em que se discutiu a criação
(IAPs), em 1967, e a criação do Instituto Nacional do Sistema Único de Saúde (SUS) e culminou
de Previdência Social (INPS), marcada pela exclusão com sua promulgação na Constituição em 1988.
A partir de 1988, o Sistema Único de Saúde (SUS) Em síntese, gostaria de trazer o pensamento de
foi incluído ao sistema de saúde brasileiro privado, Cohn (2012) acerca da política de saúde brasileira,
garantindo acesso universal e igualitário às ações e o qual considera que tanto sua configuração e
serviços de saúde a todos os brasileiros, colocando implementação são processos complexos de jo-
a saúde como direito de todos e dever do estado. gos de interesses e valores múltiplos existentes
O setor lucrativo privado de atenção médica na sociedade e que, em nossa sociedade desigual,
supletiva, que iniciou-se em 1954, fortalece na dé- as políticas sociais e de saúde devem priorizar os
cada de 80 pela precariedade dos serviços públicos, segmentos socialmente mais vulneráveis, com a
criando, assim, a medicina de grupo, as cooperati- lógica da universalização, integralidade e da equi-
vas médicas, e os seguro saúde. Regulamentados dade da atenção à saúde, o que depende tanto
e fiscalizados pelo Estado, aliado ao setor não lu- da vontade política dos governantes quanto da
crativo, as instituições filantrópicas (Santas Casas) sociedade, para que os direitos sociais se consti-
configuram o sistema de saúde atual brasileiro. tuam como uma realidade marcada com maior
justiça social.
Ao prestar a assistência ao indivíduo, à família
ou à comunidade, deve ser considerado quem é
Para saber mais da história do sistema brasileiro ou quem são os usuários, como se apresentam na
de saúde, leia o texto de Paim et al(2011) “O situação de necessidade de saúde, seus direitos,
sistema de saúde brasileiro: história, avanços deveres, valores e prerrogativas. O ser humano é
e desafios”, disponível em: <http://download. complexo e não há como abranger sua totalidade
thelancet.com/flatcontentassets/pdfs/brazil/ por uma única definição. Mesmo que a pessoa seja
brazilpor1.pdf>. Acesso em: 19 out. 2018. considerada um ser biopsicossocial e espiritual,
O artigo, publicado em 2011 pelo periódico The não consegue expressar toda sua individualidade
Lancet, faz parte de uma série de publicações que e singularidade. Os profissionais da saúde apren-
analisam as melhorias nas condições de saúde e dem sobre estrutura e função humana por meio
na expectativa de vida da população brasileira. do estudo da anatomia, da fisiologia, da psicolo-
Nesse artigo, é apresentado um panorama das gia, da sociologia e da patologia, além das várias
principais conquistas e desafios relativos às maneiras de assistir, de abordar e se relacionar
políticas públicas de saúde no Brasil, com especial profissionalmente com o indivíduo, a família ou
destaque ao Sistema Único de Saúde (SUS). a comunidade.
UNIDADE 1 31
Não podemos nos esquecer de que o am- de parte significativa da sociedade para assegu-
biente é o local onde a pessoa se encontra com rar a dignidade da vida humana.
as coisas ao seu redor e que exercem nela in- Cabe aos profissionais da saúde rever em sua
fluências, afetando-a de várias maneiras. É ne- prática, buscando entender que não basta traba-
cessário compreender as condições impostas lhar com as doenças, é necessário compreender
como passíveis de interferência e atentar para o indivíduo no todo como alguém que vive a ex-
não culpar os indivíduos quando tais condições periência da necessidade, do adoecimento, carre-
forem insalubres e interferirem em seu estilo gada de valores e significados subjetivos, únicos,
de vida. Trabalhar com as condições de vida capazes de interferir na qualidade do cuidado
impostas requer um trabalho interdisciplinar prestado. Assim, resta-nos, como profissionais da
e intersetorial. A área da saúde, sozinha, não saúde, enfrentar o desafio de construir estratégias
consegue assegurar qualidade de vida e, conse- para conceber a saúde no âmbito da atenção bá-
quentemente, de saúde. É na esfera da ética que sica de forma mais solidária e menos punitiva na
compreenderemos a necessidade do empenho convivência com os estilos de vida individuais.
2. Procure uma música ou um filme que traga uma percepção da situação de saú-
de ou noção de saúde, ou que retrate a “cara” da sociedade em que vivemos,
registre em seu caderno e justifique a escolha com base nos determinantes
sociais de saúde.
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LIVRO
WEB
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FILME
35
BACKES, M. T. S. et al. Conceitos de saúde e doença ao longo da história sob o olhar epidemiológico e antro-
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BUSS, P. M.; PELLEGRINI FILHO, A. A saúde e seus determinantes sociais. Physis, v. 17, n. 1, p. 77-93, 2007.
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coletiva. São Paulo: Hucitec, p. 635-668, 2012.
REFERÊNCIA ON-LINE
36
1. C.
2. O aluno é livre na escolha, mas deve justificá-la relacionando os determinantes sociais de saúde (biológico,
social e cultural).
3.
Bem-estar biopsicossocial.
Conceitos de saúde
Necessidades de saúde.
Determinantes de
Condições de riscos diversas.
saúde
Ação política, espaços saudáveis, empoderamento
Estratégias da população, desenvolvimento de habilidades, reo-
rientação de serviços.
Desenvolvimento Comunidade em diálogo crítico com profissionais
de programas e agências.
4. O modelo entende que a saúde compreende três dimensões: a biológica, a social e cultural.
5. “E um sistema público de saúde dual, políticas de saúde centralizadas e verticalizadas, tradição histórica
da saúde vinculada ao mercado de trabalho, o sistema privado prestador com origem na década de 20
como fruto da política previdenciária, distribuição de equipamentos de saúde altamente desigual, modelo
de atenção comandado pela lógica médica e hospitalocêntrico, duplo comando da previdência social que
prestava serviços de assistência à saúde e o Ministério da Saúde relativos a ações coletivas, dualidade
na assistência dos trabalhadores por categorias (década de 30), e na diferenciação do acesso segundo a
posição no mercado de trabalho (década de 70), herança de um setor privado de produção de assistência
médica que se constituiu sob as sombras e financiamento do Estado”.
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