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GRADUAÇÃO

Saúde
Coletiva
DRA. MARCELA DEMITTO FURTADO
DRA. RAQUEL GUSMÃO OLIVEIRA

Híbrido
GRADUAÇÃO
Saúde Coletiva
Dra. Marcela Demitto Furtado
Dra. Raquel Gusmão Oliveira
DIREÇÃO UNICESUMAR
Reitor Wilson de Matos Silva, Vice-Reitor e
Pró-Reitor de Administração, Wilson de Matos
Silva Filho, Pró-Reitor Executivo de EAD William
C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação Victor Kendrick de Matos Silva, Pró-Reitor de
a Distância; FURTADO, Marcela Demitto; OLIVEIRA, Raquel Ensino de EAD Janes Fidélis Tomelin Presidente
Gusmão.
da Mantenedora Cláudio Ferdinandi.
Saúde Coletiva. Marcela Demitto Furtado; Raquel Gusmão
Oliveira.
Maringá-PR.: Unicesumar, 2019. NEAD - NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
152 p. Diretoria Executiva Chrystiano Mincoff, James
“Graduação - EAD”.
Prestes, Tiago Stachon , Diretoria de Design
1. Saúde. 2. Coletiva. 3. EaD. I. Título. Educacional Débora Leite, Diretoria de Graduação
ISBN 978-85-459-1725-0 e Pós-graduação Kátia Coelho, Diretoria de
Permanência Leonardo Spaine, Head de Produção
CDD - 22 ed. 610
CIP - NBR 12899 - AACR/2 de Conteúdos Celso Luiz Braga de Souza Filho,
Head de Metodologias Ativas Thuinie Daros,
Gerência de Projetos Especiais Daniel F. Hey,
Impresso por:
Gerência de Produção de Conteúdos Diogo
Ribeiro Garcia, Supervisão do Núcleo de Produção
de Materiais Nádila de Almeida Toledo, Projeto
Gráfico José Jhonny Coelho e Thayla Guimarães
Cripaldi, Fotos Shutterstock.

Coordenador de Conteúdo Lilian Rosana dos


Santos Moraes.
Designer Educacional Amanda Peçanha dos
NEAD - Núcleo de Educação a Distância Santos e Janaína de Souza Pontes.
Av. Guedner, 1610, Bloco 4 - Jardim Aclimação Revisão Textual Érica Fernanda Ortega.
CEP 87050-900 - Maringá - Paraná Editoração Isabela Mezzaroba Belido.
unicesumar.edu.br | 0800 600 6360 Ilustração Mateus Calmon.
Realidade Aumentada Kleber Ribeiro, Leandro
Naldei e Thiago Surmani.
PALAVRA DO REITOR

Em um mundo global e dinâmico, nós trabalha-


mos com princípios éticos e profissionalismo, não
somente para oferecer uma educação de qualida-
de, mas, acima de tudo, para gerar uma conversão
integral das pessoas ao conhecimento. Baseamo-
-nos em 4 pilares: intelectual, profissional, emo-
cional e espiritual.
Iniciamos a Unicesumar em 1990, com dois
cursos de graduação e 180 alunos. Hoje, temos
mais de 100 mil estudantes espalhados em todo
o Brasil: nos quatro campi presenciais (Maringá,
Curitiba, Ponta Grossa e Londrina) e em mais de
300 polos EAD no país, com dezenas de cursos de
graduação e pós-graduação. Produzimos e revi-
samos 500 livros e distribuímos mais de 500 mil
exemplares por ano. Somos reconhecidos pelo
WILSON DE MATOS SILVA MEC como uma instituição de excelência, com
REITOR IGC 4 em 7 anos consecutivos. Estamos entre os
10 maiores grupos educacionais do Brasil.
A rapidez do mundo moderno exige dos
educadores soluções inteligentes para as ne-
cessidades de todos. Para continuar relevante, a
instituição de educação precisa ter pelo menos
três virtudes: inovação, coragem e compromisso
com a qualidade. Por isso, desenvolvemos, para
os cursos de Engenharia, metodologias ativas, as
quais visam reunir o melhor do ensino presencial
e a distância.
Tudo isso para honrarmos a nossa missão que é
promover a educação de qualidade nas diferentes
áreas do conhecimento, formando profissionais
cidadãos que contribuam para o desenvolvimento
de uma sociedade justa e solidária.
Vamos juntos!
BOAS-VINDAS

Prezado(a) Acadêmico(a), bem-vindo(a) à Co-


munidade do Conhecimento.
Essa é a característica principal pela qual a
Unicesumar tem sido conhecida pelos nossos alu-
nos, professores e pela nossa sociedade. Porém, é
importante destacar aqui que não estamos falando
mais daquele conhecimento estático, repetitivo,
local e elitizado, mas de um conhecimento dinâ-
mico, renovável em minutos, atemporal, global,
democratizado, transformado pelas tecnologias
digitais e virtuais.
De fato, as tecnologias de informação e comu-
nicação têm nos aproximado cada vez mais de
pessoas, lugares, informações, da educação por
meio da conectividade via internet, do acesso
wireless em diferentes lugares e da mobilidade
WILLIAM DE MATOS SILVA dos celulares.
PRÓ-REITOR EXECUTIVO DE EAD As redes sociais, os sites, blogs e os tablets ace-
leraram a informação e a produção do conheci-
mento, que não reconhece mais fuso horário e
atravessa oceanos em segundos.
A apropriação dessa nova forma de conhecer
transformou-se hoje em um dos principais fatores de
agregação de valor, de superação das desigualdades,
propagação de trabalho qualificado e de bem-estar.
Logo, como agente social, convido você a saber
cada vez mais, a conhecer, entender, selecionar e
usar a tecnologia que temos e que está disponível.
Da mesma forma que a imprensa de Gutenberg
modificou toda uma cultura e forma de conhecer,
as tecnologias atuais e suas novas ferramentas,
equipamentos e aplicações estão mudando a nossa
cultura e transformando a todos nós. Então, prio-
rizar o conhecimento hoje, por meio da Educação
a Distância (EAD), significa possibilitar o contato
Janes Fidélis Tomelin
PRÓ-REITOR DE ENSINO EAD
com ambientes cativantes, ricos em informações
e interatividade. É um processo desafiador, que
ao mesmo tempo abrirá as portas para melhores
oportunidades. Como já disse Sócrates, “a vida
sem desafios não vale a pena ser vivida”. É isso que
a EAD da Unicesumar se propõe a fazer.
Seja bem-vindo(a), caro(a) acadêmico(a)! Você
está iniciando um processo de transformação,
pois quando investimos em nossa formação, seja
ela pessoal ou profissional, nos transformamos e,
consequentemente, transformamos também a so-
ciedade na qual estamos inseridos. De que forma
o fazemos? Criando oportunidades e/ou estabe-
lecendo mudanças capazes de alcançar um nível
de desenvolvimento compatível com os desafios
que surgem no mundo contemporâneo.
O Centro Universitário Cesumar mediante o Kátia Coelho
DIRETORIA DE GRADUAÇÃO
Núcleo de Educação a Distância, o(a) acompa- E PÓS-GRADUAÇÃO
nhará durante todo este processo, pois conforme
Freire (1996): “Os homens se educam juntos, na
transformação do mundo”.
Os materiais produzidos oferecem linguagem
dialógica e encontram-se integrados à proposta
pedagógica, contribuindo no processo educa-
cional, complementando sua formação profis-
sional, desenvolvendo competências e habilida-
des, e aplicando conceitos teóricos em situação
de realidade, de maneira a inseri-lo no mercado
de trabalho. Ou seja, estes materiais têm como
principal objetivo “provocar uma aproximação
entre você e o conteúdo”, desta forma possibilita Leonardo Spaine
DIRETORIA DE PERMANÊNCIA
o desenvolvimento da autonomia em busca dos
conhecimentos necessários para a sua formação
pessoal e profissional.
Portanto, nossa distância nesse processo de
crescimento e construção do conhecimento deve
ser apenas geográfica. Utilize os diversos recursos
pedagógicos que o Centro Universitário Cesumar
lhe possibilita. Ou seja, acesse regularmente o Stu-
deo, que é o seu Ambiente Virtual de Aprendiza-
gem, interaja nos fóruns e enquetes, assista às aulas
ao vivo e participe das discussões. Além disso,
lembre-se que existe uma equipe de professores e
tutores que se encontra disponível para sanar suas Débora Leite
dúvidas e auxiliá-lo(a) em seu processo de apren- DIRETORIA DE DESIGN EDUCACIONAL
dizagem, possibilitando-lhe trilhar com tranquili-
dade e segurança sua trajetória acadêmica.
APRESENTAÇÃO

Caro(a) aluno(a), seja bem-vindo(a)!


Este material foi cuidadosamente preparado para você! Tendo como ob-
jetivo introduzir alguns temas da Saúde Coletiva em uma perspectiva
atualizada, buscando ajudá-lo(a) na compreensão acerca da temática e
subsidiar sua prática como Profissional da Saúde.
Este material está dividido em cinco Unidades:
A Unidade 1 busca discutir o binômio saúde-doença, em uma perspectiva
atualizada, discutindo as mudanças e a evolução do conceito de saúde ao
longo dos tempos e os modelos de saúde preventivista e de promoção à
saúde; também discute os fatores condicionantes e determinantes no pro-
cesso saúde-doença e seu impacto na realidade brasileira; e, ainda nesse
sentido, apresenta os modelos de Atenção à saúde no Brasil.
A Unidade 2 trata da História da Saúde Pública no Brasil, tendo como marco
o Sistema Único de Saúde (SUS), descrevendo seu período antecedente, seus
processos de construção, destacando interesses, conflitos e necessidades
sociais que deram origem ao SUS, seus princípios e diretrizes, bem como
as diretrizes do pacto pela Saúde e as Redes de Atenção à saúde.
A Unidade 3 discute Vigilância em saúde, os sistemas de informação em
saúde, indicadores de saúde e os desafios atuais diante do trabalho no
contexto da vigilância.
A Unidade 4 sintetiza as principais políticas de saúde no Brasil, relaciona-
das à Saúde da mulher, da criança, do adulto e idoso, bem como políticas
voltadas às populações vulneráveis e à saúde mental.
Finalmente, a Unidade 5 destaca os objetivos e princípios da Política Na-
cional de Humanização (PNH), bem como suas diretrizes e os dispositivos,
relacionando-os aos direitos e a segurança do paciente, à saúde do traba-
lhador e aos desafios de sua operacionalização no contexto hospitalar.
Nossa intenção não é esgotar o assunto, mas abrir as portas para a ampliação
do seu conhecimento, estimulando novas buscas para que possa enriquecer
sua área de atuação e torná-lo(a) um profissional mais crítico e reflexivo,
capaz de atuar de forma eficiente em seu contexto de trabalho.

Um grande abraço e uma ótima leitura!


CURRÍCULO DOS PROFESSORES

Dra. Marcela Demitto Furtado


Doutora pelo Programa de Pós-Graduação do Departamento de Enfermagem da UEM. Mestre
pelo Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da UEM. Pós-graduada em Enfermagem
Pediátrica pelo Departamento de Enfermagem da Universidade Estadual de Londrina - UEL
(modalidade: Residência em Enfermagem em Saúde da Criança). Enfermeira graduada pela
Universidade Estadual de Maringá - UEM (2007). Atualmente é professora adjunta do depar-
tamento de enfermagem da UEM, na área de saúde de criança.
Currículo Lattes disponível em: <http://lattes.cnpq.br/8007832036059597>.

Dra. Raquel Gusmão Oliveira


Doutora pela Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto – Universidade de São Paulo (2018).
Mestre em Ciências da Saúde pela Universidade Estadual de Maringá (2005). Graduada em
Enfermagem pela Universidade Estadual de Maringá (2000). Docente do Curso de Medicina
do Unicesumar - Maringá. Tem exercido docência no ensino superior nos últimos 10 anos,
com ênfase em Saúde Coletiva, Saúde da Família e Gestão de Serviços de Saúde.
Currículo Lattes disponível em: <http://lattes.cnpq.br/7567016444404983>.
Saúde e Doença -
uma Perspectiva
Atualizada

13

História da Saúde
Pública no Brasil

41
Vigilância em Saúde

67

Políticas Públicas
de Saúde no Brasil

95

Política Nacional de
Humanização (PNH)

125
55 Redes de Atenção à Saúde

Utilize o aplicativo
Unicesumar Experience
para visualizar a
Realidade Aumentada.
Dra. Raquel Gusmão Oliveira

Saúde e Doença - uma


Perspectiva Atualizada

PLANO DE ESTUDOS

O modelo preventivista e o Os principais determinantes


modelo de promoção à saúde sociais de saúde no Brasil

Conceito de Fatores condicionantes e Organização dos serviços


saúde e doença determinantes no processo de saúde no Brasil
saúde-doença

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

• Discutir as mudanças e a evolução do conceito de saúde • Compreender o conceito da determinação social na saúde.
e doença. • Apresentar os principais determinantes sociais da saúde
• Conhecer os modelos de saúde preventivista e de pro- e seu impacto na realidade brasileira.
moção à saúde. • Conhecer os modelos de Atenção à saúde no Brasil.
Conceito de Saúde
e Doença

Quando decidimos ser profissionais da área da saú-


de, muitas preocupações vem a nossa mente, nos
preocupamos com as ações de saúde que podemos
realizar, que recursos temos disponíveis, como me-
lhorar a vida das pessoas e como contribuir para
um mundo melhor e com saúde. Isso é muito im-
portante!
Contudo, muito além de nos preocuparmos
com tudo isso, precisamos estar cientes e com-
preender, antes de realizar ou propor qualquer
ação, que por trás de toda ação existe um conceito
ou um modo de entender a realidade, tendo como
pressuposto básico que ela é dinâmica, sujeita a
modificações, influenciadas pela cultura, política
e momento histórico.
Vamos observar, nesta unidade, que, ao longo
da história humana, a saúde das pessoas sempre foi
alvo de preocupação, por isso convidamos você para
dar uma volta na história, tanto antiga quanto atual,
e reconhecer pensamentos e ações acerca da saúde.
O conceito de saúde sofreu mudanças no decor-
rer dos tempos, várias explicações foram dadas e,
ainda hoje, vários entendimentos coexistem quando
buscamos entender o processo saúde-doença.
Entretanto, queremos destacar no texto dois
modelos explicativos acerca do processo saúde-
-doença: um com características biologicistas e partiam do princípio de que ela era resultado de
outro buscando compreender o ser humano de ação de forças alheias ao organismo, eram conse-
forma integral, considerando sua história, cultura, quência de pecado ou de maldição, um sinal de
contexto e estilos de vida. desobediência ao mandamento divino. Tal ideia
Buscamos, também, ampliar o entendimento perdurou por muito tempo e teve seu ápice na
do conceito de saúde e os seus determinantes so- Idade Média (SCLIAR, 2007).
ciais (estilos de vida, rede sociais e comunitárias e Na Idade Média europeia, a influência da reli-
as condições de vida e de trabalho), visando uma gião cristã manteve a concepção da doença como
compreensão da evolução do cenário da saúde da resultado do pecado e a cura como questão de fé; o
população brasileira e da estruturação e organização cuidado de doentes estava, em boa parte, entregue
dos serviços de saúde ao longo dos anos. a ordens religiosas, que administravam, inclusive,
Vamos juntos, então, nos aproximar desse uni- o hospital, o qual era visto não como um lugar de
verso de conhecimento tão fundamental para o cura, mas de abrigo e de conforto para os doentes
trabalho de um profissional da saúde. (SCLIAR, 2007).
Para começar, gostaria de fazer uma pergunta:
– O que significa ter saúde para você? Pense nisso
por alguns minutos… A Unicausalidade
Pergunte para algumas pessoas próximas a você:
o que é ter saúde? No início da modernidade, a concepção religiosa
Agora, compare as respostas. Você, certamente, foi superada devido ao desenvolvimento do co-
vai perceber que a ideia de saúde entre as pessoas é nhecimento na época. A evolução da mecânica
diferente, cada uma possui um entendimento acerca influenciou as ideias de René Descartes (1596-
do que é ter saúde. 1650), no século XVII, que postulava um dualismo
Ao longo da história, muitas explicações foram mente-corpo e o funcionamento do corpo como
dadas acerca do que é ter saúde ou estar doente: as uma máquina. Com o desenvolvimento da ana-
explicações mágico-religiosas, a explicação natu- tomia, identificou-se que a doença era localizada
ralística, o olhar bacteriológico, a explicação mul- nos órgãos (SCLIAR, 2007). No final do século
ticausal e a produção social da saúde e da doença. XIX, os estudos de Louis Pasteur (1822-1895) e a
Vejamos um pouco dessas explicações. descoberta do microscópio revelou a existência de
micro-organismos causadores de doença, possibi-
litando a introdução de soros e vacinas.
As Explicações Foi uma revolução, pois, pela primeira vez, fa-
Mágico-religiosas tores causais, até então desconhecidos, estavam
sendo identificados; as doenças, agora, poderiam
Na Antiguidade, acreditava-se que as doenças ser prevenidas e curadas. Para cada doença, um
poderiam ser causadas por elementos naturais agente etiológico deverá ser identificado e com-
ou sobrenaturais. Nesse período, a compreensão batido por meio de vacinas ou produtos químicos
das doenças era por meio da filosofia religiosa, (SCLIAR, 2007).

UNIDADE 1 15
A Multicausalidade

A insuficiência da formulação unicausal só ficou evidente no início


do séc. XX, devido ao processo de mudanças ocorridas na sociedade
e na insuficiência de dar explicações sobre a saúde e a doença das
pessoas e das comunidades, bem como o efeito da transição epide-
miológica - fenômeno no qual evidencia a diminuição de doenças
infecciosas e o aumento de doenças crônicas degenerativas, em que
o homem passa a ser considerado como um ser biopsicossocial.
Nesse sentido, a saúde e a doença são reconhecidas como o
equilíbrio e/ou desequilíbrio entre o ambiente, o agente e o hos-
pedeiro, envolvendo dimensões subjetivas e não apenas biologica-
mente científicas e objetivas. No entanto, a crítica a tal explicação
se dá ao fato de não considerar as variações das doenças verificadas
historicamente, em relação ao seu aparecimento e desaparecimen-
to, aumento ou diminuição de sua frequência, da menor ou maior
importância, que adquirem nas variadas formas de organização
social (BACKES et al., 2009).
Uma nova proposta de consenso sobre saúde ocorreu em 7 de
abril de 1948 (desde então, o Dia Mundial da Saúde), implicando
o reconhecimento do direito à saúde e da obrigação do Estado na
promoção e proteção da saúde. “Saúde é o estado do mais com-
pleto bem-estar físico, mental e social e não apenas a ausência de
enfermidade” (SCLIAR, 2007).
O conceito da Organização Mundial da Saúde (OMS) reflete,
de um lado, uma aspiração nascida dos movimentos sociais do
pós-guerra: o fim do colonialismo, a ascensão do socialismo. Saúde
deveria expressar o direito a uma vida plena, sem privações, um
conceito amplamente difundido, mas que carrega em si um estado
inatingível de equilíbrio em um cenário de neutralidade, que o
torna pouco operacional e prático (BACKES et al., 2009).

O livro de Moacyr Scliar, intitulado Do Mágico ao Social: trajetória da


saúde pública, apresenta, de uma forma mais detalhada, os caminhos
percorridos pela condição humana no contexto da saúde e da doença,
em uma perspectiva histórica, apontando olhares e características das
matrizes do pensamento sobre o paradoxo saúde-doença.

16 Saúde e Doença - uma Perspectiva Atualizada


A Produção Social
da Saúde e da Doença

Um novo paradigma surge diante da crise de Para que uma população possa ser saudável,
desenvolvimento das sociedades modernas: o no paradigma da história social da saúde, é ne-
reconhecimento de que tudo o que existe é pro- cessário: paz (contrário de violência); habitação
duto da ação humana. adequada em tamanho por habitante, em condi-
A saúde de um indivíduo, de um grupo de indi- ções adequadas de conforto térmico; educação,
víduos ou de uma comunidade, depende, também, pelo menos fundamental; alimentação imprescin-
de coisas que o homem criou e faz, das interações dível para o crescimento e desenvolvimento das
dos grupos sociais, das políticas adotadas pelo go- crianças e necessária para a reposição da força de
verno, inclusive os próprios mecanismos de aten- trabalho; renda decorrente da inserção no mer-
ção à doença, do ensino voltado para os cursos da cado de trabalho, adequada para cobrir as neces-
área da saúde, da educação e das intervenções sobre sidades básicas de alimentação, vestuário e lazer;
o meio ambiente (SANTOS; WESTPHAL, 1999). ecossistema saudável preservado e não poluído;
Nesse sentido, Santos e Westphal (1999) res- justiça social e equidade, garantindo os direitos
saltam que ter saúde não pode ser apenas não fundamentais dos cidadãos (DE OTAWA, 1986).
estar doente, significa, também, a possibilidade No Brasil, o movimento de Reforma Sanitária,
de atuar, de produzir a sua própria saúde, quer articulado nos anos 80, formulou um “conceito
mediante cuidados tradicionalmente conheci- ampliado de saúde” e passou a entendê-la como
dos, quer por ações que influenciam o seu meio um estado resultante das condições de alimenta-
– ações políticas para a redução de desigualdades, ção, habitação, educação, renda, meio ambiente,
educação, cooperação intersetorial, participação trabalho, transporte, emprego, lazer, liberdade,
da sociedade civil nas decisões que afetam sua acesso à terra e aos serviços de saúde, apontan-
existência – para, usando uma expressão bem do, assim, para a determinação social e cultural
conhecida, o exercício da cidadania. da saúde e da doença.

Para operar com o conceito ampliado de saúde, precisamos pensar na saúde como um processo em
detrimento da concepção de saúde como um atributo (tenho/não tenho).
(Stela Nazareth Meneghel)

UNIDADE 1 17
O Modelo
Preventivista
e o Modelo de
Promoção à Saúde

É possível verificar que o conceito de saúde foi


influenciado, no decorrer dos tempos, por ques-
tões sociais, culturais e econômicas. Vale destacar
que as ações de saúde e a forma de organização da
assistência também acompanham as mudanças
do conceito de saúde.
Na tentativa de explicar essas mudanças, di-
versos autores propuseram modelos explicativos
do processo saúde-doença. Vejamos dois deles:
o modelo de Atenção à Saúde Preventivista e o
Modelo da Promoção à Saúde.

O Modelo Preventivista

O modelo preventivista surge devido à crise do


capitalismo e à incapacidade dos governos de ar-
carem com os custos da saúde no contexto médi-
co hospitalar, com base na proposta de Leavell e
Clarck do modelo da história natural da doença
(evolução natural da doença).

18 Saúde e Doença - uma Perspectiva Atualizada


Quadro 1 - Modelo da História Natural da Doença

Recuperação,
Período pré-patogênese Patogênese precoce Patogênese avançada
incapacidade ou morte

Doença subclínica Doença com manifes-


Interação entre agente e tação clínica
Horizonte clínico
hospedeiro Ultrapassagem do ho-
Alterações celulares rizonte clínico
Prevenção primária Prevenção secundária Prevenção terciária
Promoção Proteção
Diagnóstico Precoce Limitação do dano Reabilitação
à saúde específica

Fonte: Meneghel (2015).

O modelo pressupõe que toda doença tem um percurso natural


de pré-patogênese, patogênese e de recuperação, e que, para cada
momento da história natural da doença, preconiza ações sanitárias
que correspondem aos três níveis de prevenção: primário, secun-
dário e terciário (MENEGHEL, 2015).
No período pré-patogênico, os agentes causadores de doenças
e o indivíduo vivem em equilíbrio com o ambiente. No perío-
do patogênico, inicialmente, não há sinais e sintomas da doença,
também chamado de período de incubação, só então aparecem
as manifestações clínicas da doença, que podem evoluir para re-
cuperação, incapacidade ou morte.
As intervenções nos diferentes estágios da doença são chama-
das de prevenção primária, secundária e terciária e têm como obje-
tivo prevenir doenças ou seu agravamento. As ações de prevenção
primária podem ser medidas gerais e educativas de resistência
e bem-estar geral dos indivíduos; as de prevenção secundária
buscam a redução de fatores de risco; e as de prevenção terciária
reduzem e intervêm nas sequelas de doenças.
A crítica a esse modelo se dá pelo fato dele não considerar os
efeitos positivos e negativos das condições de vida e de trabalho e
a inserção social dos indivíduos nos níveis de saúde da população,
o que reduz o conceito de saúde como estritamente biológico, ig-
norando a dimensão social que envolve o processo saúde-doença
(MENEGHEL, 2015).

UNIDADE 1 19
O Modelo de Promoção
à Saúde

Com as mudanças ocorridas na sociedade pós- destacar a I Conferência Internacional de Pro-


-guerra, os estudiosos descreveram um fenômeno moção à Saúde, realizada no Canadá, em 1986,
denominado de transição demográfica e epidemio- que redigiu a Carta de Otawa, a qual propõe um
lógica no mundo todo. conceito amplo de saúde, relacionando-a ao bem-
Tal fenômeno apontou para incapacidade do -estar dos indivíduos e na ampla causalidade do
Modelo da história natural da doença dar expli- processo saúde doença, em que a saúde é consi-
cações para várias doenças e agravos, como as derada um recurso para a vida e não objetivo de
doenças crônicas, os acidentes, a crescente violên- vida (WESTPHAL, 2012).
cia, entre outros. Diante disso, diversas propostas Em uma visão ampliada da saúde, considera-se
foram elaboradas no sentido de buscar uma visão os fatores socioambientais na produção e determi-
e atenção mais integral da saúde. nação da saúde e da doença, sendo que a promoção à
Discussões acerca do tema “saúde integral” saúde prevê uma visão holística e socioambiental do
foram realizadas no cenário Internacional. A mesmo processo, colocando-se como uma prática
Conferência realizada em Alma-Ata, em 1978, é emancipatória e um imperativo ético, com foco no
considerada um marco para a discussão de uma cidadão, na família, na coletividade, nas condições
visão de saúde integral, pois reconhece, em seu de vida, nas iniquidades e potencialidades do territó-
relatório, que a saúde é um direito; também vale rio em que vivem e trabalham (WESTPHAL, 2012).

A teoria da transição epidemiológica, proposta por Omran (1971), foca nas complexas mudanças
dos padrões saúde-doença e nas interações entre eles, determinantes demográficos, econômicos e
sociais, e suas consequências. As ideias a seguir destacam em sua teoria:
I. O processo de mudanças nos padrões de mortalidade e adoecimento são longos, as pandemias
por doenças infecciosas são gradativamente substituídas pelas doenças degenerativas e agravos.
II. As mais profundas mudanças nos padrões de saúde-doença ocorrem nas crianças e nas mu-
lheres jovens.
III. As mudanças são fortemente associadas às transições demográfica e socioeconômica que cons-
tituem o complexo da modernização.
IV. As variações peculiares no padrão, no ritmo, nos determinantes e nas consequências das mu-
danças na população diferenciam três modelos básicos de transição epidemiológica: o modelo
clássico ou ocidental, o modelo acelerado e o modelo contemporâneo ou prolongado.
Fonte: Duarte e Barreto (2012).

20 Saúde e Doença - uma Perspectiva Atualizada


Quadro 2 - Visão socioambiental da saúde, determinantes
e estratégias e programas de saúde
Conceitos Bem-estar biopsicossocial.
de saúde Necessidades de saúde.
Determi-
nantes de Condições de riscos diversas.
saúde
Ação política, espaços sau-
dáveis, empoderamento da
Estratégias população, desenvolvimento
de habilidades e reorientação
de serviços.
Desenvol-
vimento Comunidade em diálogo crítico
de progra- com profissionais e agências.
mas
Fonte: Westphal (2012).

A agenda 2030 da ONU prevê 17 medidas para


a transformação do mundo, a terceira trata da
saúde - Assegurar uma vida saudável e promover
o bem-estar para todos, em todas as idades.
A promoção de saúde é considerada uma estra-
tégia fundamental para enfrentar as iniquidades
sociais e de saúde. Juntamente com outras 16
medidas, dando a ideia de um conceito ampliado
de saúde.
(Organização das Nações Unidas)

UNIDADE 1 21
Fatores Condicionantes
e Determinantes do
Processo Saúde-Doença

Porque as pessoas adoecem?


Desde as primeiras investigações acerca da saú-
de de grupos e populações, foi possível identificar as
diferenças sociais existentes das condições de vida
e da situação de trabalho, dentre estas destacam-se
Engels, que investigou os trabalhadores ingleses;
Snow, que descobriu a cólera em Londres; Louis,
trabalhadores na França; e Virchow, o Tifo na Si-
lésia, ressaltando o excesso de risco de adoecer e
morrer entre as camadas mais pobres da população
(BARATA, 2012).
Na América Latina, estudos sobre desigualdades
sociais e saúde são recentes, datam da segunda meta-
de do século XX, surgindo devido às consequências
da globalização sobre as condições de vida e a situa-
ção de saúde dos povos sob a ótica da exclusão social.
O Processo Saúde Doença – está diretamente
atrelado à forma como o ser humano, no decor-
rer de sua existência, apropria-se da natureza para
transformá-la, buscando o atendimento às suas ne-
cessidades, representando um conjunto de relações
e variáveis que produz e condiciona o estado de
saúde e doença de uma população, que se modifica
nos diversos momentos históricos e do desenvol-
vimento científico da humanidade; não sendo um

22 Saúde e Doença - uma Perspectiva Atualizada


conceito abstrato, ele varia segundo a época em que vivemos, assim como os interesses dos diversos grupos
sociais (GUALDA; BERGAMASCO, 2004).
Diante disso, é necessário conhecer os determinantes mais complexos do comportamento humano,
além das condições materiais de vida, para que seja possível a efetivação das práticas de promoção e
prevenção da saúde e a diminuição das desigualdades, visto que o Brasil ocupa a 11ª posição entre os
lugares mais desiguais do mundo (COMISSÃO NACIONAL, 2008, on-line)2.
Há uma vasta literatura sobre aspectos concei-
tuais e modelos de referência relacionados aos de-
terminantes sociais e iniquidades em saúde.
A Comissão Nacional de Determinantes So-
ciais de Saúde os define como “fatores sociais, eco- Desigualdades sociais em saúde
nômicos, culturais, étnicos/raciais, psicológicos e Diferença na inserção social dos indivíduos, re-
comportamentais que influenciam a ocorrência partição do poder e propriedade.
de problemas de saúde e seus fatores de risco na Positiva = valores de cooperação e solidariedade.
população” (BUSS; PELLEGRINI FILHO, 2007, p. Negativa = exploração, dominação e produção
78). E adotou o modelo de determinação social de doença.
da saúde proposto por Dahlgren e Whitehead (Rita Barradas Barata)
(WESTPHAL, 2012).
as, Culturais e A
e co nômic mbi
cio ent
o ais
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Educação
de Vid iv íd
los Serviços
uo
ti

Sociais de
Es

Produção
s

Saúde
Agrícola de
Alimentos Idade, Sexo e Habitação
Fatores hereditários

Figura 1 - Modelo de determinação social da saúde proposto por Dahlgren e Whitehead


Fonte: Comissão Nacional (2008, on-line)2.

O modelo entende que a saúde compreende três ções concretas da existência que irão resultar nas
dimensões: a biológica, a social e cultural (BA- manifestações fenotípicas, como a idade/sexo e
RATA, 2012). fatores hereditários X estilo de vida. Na dimen-
A dimensão biológica compreende as caracte- são social, inclui os grupos sociais e as formas
rísticas biológicas marcadas pela interação genó- de consciência e condutas resultantes de suas
tipo-fenótipo, ou seja, a genética e a modulação interações, bem como a forma de constituição
das potencialidades são herdadas pelas condi- dessas comunidades.

UNIDADE 1 23
A dimensão cultural inclui as condições de biente de poluição, acesso à informação e
vida e de trabalho e suas formas de organização serviços de saúde e seu impacto nas con-
que compreende as condições socioeconômicas, dições de saúde dos diversos grupos da
culturais e ambientais gerais. população.
O relatório da Comissão Nacional de determi- 4. Redes sociais, comunitárias e saúde:
nantes sociais de saúde (COMISSÃO NACIONAL, inclui evidências sobre a organização co-
2008, on-line)2, ao analisar a situação de saúde de munitária e redes de solidariedade e apoio
uma população, relacionando os Determinantes para a melhoria da situação de saúde, des-
sociais de saúde, considera os seguintes itens: tacando, particularmente, o grau de de-
1. Situação e tendências da evolução de- senvolvimento dessas redes nos grupos
mográfica, social e econômica do país: sociais mais desfavorecidos.
traça um panorama geral de referência 5. Comportamentos, estilos de vida e saú-
para a análise da situação de saúde, des- de: inclui evidências existentes no Brasil
crevendo a evolução desses macrodeter- sobre condutas de risco, como hábito de
minantes, particularmente nas últimas fumar, alcoolismo, sedentarismo, die-
quatro décadas. Inclui dados sobre cresci- ta inadequada, entre outros, segundo os
mento populacional, fecundidade, morta- diferentes estratos socioeconômicos da
lidade, migrações, urbanização, estrutura população.
do mercado de trabalho, distribuição de 6. Saúde materno-infantil e saúde indí-
renda e educação. gena: por sua importância social e por
2. A estratificação socioeconômica e a saú- apresentarem necessidades específicas de
de: apresenta a situação atual e tendências políticas públicas, são dedicadas seções
da situação de saúde no país, destacando especiais sobre saúde materno-infantil e
as desigualdades de saúde segundo va- saúde indígena.
riáveis de estratificação socioeconômica,
como renda, escolaridade, gênero e local Além disso, podem ser incluídos: saúde e am-
de moradia. biente nas grandes cidades; seguridade social e
3. Condições de vida, ambiente e traba- saúde; cultura e promoção da saúde; distribuição,
lho: apresenta as relações entre situação acesso e utilização de serviços de saúde em áreas
de saúde e condições de vida, ambiente urbanas; violência e saúde; iniciativas comunitá-
e trabalho, com ênfase nas relações entre rias de promoção e proteção da saúde; desempre-
saneamento, alimentação, habitação, am- go e saúde, entre outros.

A COMISSÃO NACIONAL SOBRE OS DETERMINANTES SOCIAIS DA SAÚDE foi criada, em 2006, para
produção de conhecimentos e informações sobre os determinantes sociais e de saúde (DSS), bem
como revisão e análise de políticas e programas de intervenção sobre os DSS e comunicação sobre
a importância e possibilidades de atuação sobre eles.
Fonte: Comissão Nacional (2008, on-line)2.

24 Saúde e Doença - uma Perspectiva Atualizada


Os Principais
Determinantes
Sociais de Saúde
no Brasil

E a saúde do Brasil, como vai?


A situação de saúde, vida e trabalho da po-
pulação brasileira vem passando por grandes
transformações nas quatro últimas décadas, in-
fluenciadas pelas mudanças econômicas, sociais
e demográficas ocorridas no país, é o que mostra
o Relatório elaborado pela Comissão Nacional
sobre os Determinantes Sociais da Saúde.
A seguir, elaboramos uma síntese com base
no Relatório, destacando os principais aspec-
tos que marcam a evolução demográfica, social
e econômica relacionadas à saúde, questões de
vida, ambiente e trabalho, as redes sociais e o
comportamento e estilo de vida dos brasileiros,
agrupados em três grandes itens: 1) Tendências
demográfica, social e econômica; 2) Redes socias,
e 3) Condições de vida e de saúde (COMISSÃO
NACIONAL, 2008, on-line)2.

UNIDADE 1 25
1. Tendências demográficas, social e 2006, é 9 anos inferior ao do Japão, país com a maior
econômica expectativa de vida ao nascer em todo o mundo.
O crescimento rápido do peso relativo dos ido-
A urbanização foi apontada como um fator impor- sos tem um impacto importante na economia e
tante de mudanças, em que, a partir da década de na sociedade, obrigando a definição de políticas
70, influenciada pela industrialização, promoveu públicas que possam fazer frente a esse fenômeno
mudanças no setor econômico e na forma de viver sem paralelo na experiência mundial.
das pessoas que, saindo do campo para viver na ci- O Brasil gasta 7% do Produto Interno Bruto
dade, buscavam trabalho e melhores condições de (PIB) em saúde, cerca de 530 dólares per capita,
vida; no entanto, a oferta de infraestrutura e servi- abaixo de Argentina (US$ 1.045), Chile (US$ 827)
ços urbanos não acompanhou a grande demanda, e Uruguai (US$ 781), para citar alguns países do
a tal ponto que, em 1980, havia 38,2 milhões de Cone Sul.
moradores em domicílios urbanos inadequados.
O PIB per capita passou de 2.060 dólares, em 2. Redes sociais
1960, para 5.250, em 2000 e 5.720, em 2006. En-
tretanto, esse extraordinário aumento da riqueza Diversos estudos mostram que não são as socie-
produzida e a modernização da economia não dades mais ricas que possuem melhores níveis
significaram melhoria na distribuição e urbaniza- de saúde, mas as que são mais igualitárias e com
ção; o crescimento do transporte e das indústrias, alta coesão social. Nessas sociedades, as pessoas
assim como a expansão da fronteira agrícola, cria- são mais envolvidas com a vida pública, vivem
ram as condições propícias para uma permanente mais, são menos violentas e avaliam melhor sua
exposição de contingentes populacionais, pro- própria saúde.
gressivamente maiores à poluição atmosférica e Um importante indicador da riqueza do ca-
dos corpos hídricos. pital social é relação de confiança entre as pes-
Alterações na fecundidade: a taxa média geo- soas. Segundo dados da Pesquisa Social Brasileira
métrica de crescimento anual da população pas- (PSB), que realizou 2.363 entrevistas entre julho
sou de 2,89%, no período 1960/1970, para 1,64%, e outubro de 2002, as relações de confiança, no
no período 1991/2000. A taxa de fecundidade, que Brasil, são extremamente débeis, praticamente
se mantinha estável desde 1940, passou a cair de limitando-se à confiança em familiares; enquanto
maneira acelerada a partir de 1960. 84% das pessoas confiam na família, apenas 15%
Envelhecimento da população e aumento da confiam na maioria das pessoas.
expectativa de vida: a proporção de jovens de 0 a
14 anos que era de 42,6%, em 1960, passou para 3. Condições de vida e de saúde
30%, em 2000, e deverá atingir 18% em 2050, en-
quanto que a de idosos maiores de 65 anos, que Os índices de cobertura dos serviços de água e
era de 2,7%, em 1960, passou para 5,4%, em 2000, esgoto, no período de 1999 a 2004, têm aumentado.
e no ano de 2050 deverá superar a de jovens, al- Entretanto, enquanto nas regiões Sul e Sudeste, res-
cançando 19%. pectivamente, 83% e 91% da população estava co-
Quanto à esperança de vida ao nascer, houve um berto pela rede geral de abastecimento de água, na
ganho de mais de 20 anos, entre 1960 e 2006, para região Norte, a cobertura desses serviços alcançava
o Brasil como um todo. O valor de 72,4 anos, em apenas 54,8% da população, e no Nordeste 72%. Es-

26 Saúde e Doença - uma Perspectiva Atualizada


tudos apontam para o fato que 53% da população No entanto, o relatório aponta que, apesar des-
brasileira ainda não teria acesso a um saneamento ses inegáveis avanços na produção de serviços e
adequado, e no atual ritmo de ampliação do acesso dos princípios de universalidade e equidade que
à universalização só se daria em 115 anos. regem o SUS, ainda se observam importantes de-
Quanto à educação, em 1940, 56% da popula- sigualdades na oferta de recursos e serviços, assim
ção brasileira era analfabeta, percentual que cai como uma forte influência da posição social dos
para 40%, em 1960, e 13,6%, no ano 2000. No nível indivíduos no acesso, utilização e qualidade dos
fundamental, a cobertura é quase universal, en- serviços de saúde.
tre 7 a 14 anos em todas as regiões, tanto na área Quanto à situação de saúde, a taxa de mor-
urbana como rural; já no ensino médio, a taxa talidade infantil (TMI), que era de 124 óbitos no
de frequência entre 15 a 17 anos ainda é bastan- primeiro ano de vida para cada mil nascidos vivos,
te baixa para o Brasil como um todo; no ensino em 1960, caiu para 48,3, em 1990; 35,26, em 2000;
superior, é possível observar que quanto maior a e 25,1, em 2006.
renda, maior é o acesso ao ensino superior público A proporção de mortes de menores de um
em todas as regiões. ano de idade, sobre o total de óbitos, reduziu-se
Os efeitos do nível de instrução se manifestam de 24%, em 1980, para 5%, em 2005, variando de
das mais diferentes formas: na percepção dos 11,3%, na Região Norte, a 3,4%, na Região Sul. Em
problemas de saúde; na capacidade de entendi- 2003, 58% dos óbitos informados ocorreram na
mento das informações sobre saúde; na adoção faixa de 60 ou mais anos de idade, com variações
de estilos de vida saudáveis; no consumo e uti- de 43%, na Região Norte, a 62%, na Região Sul.
lização dos serviços de saúde; e na adesão aos Quanto à mortalidade masculina e a feminina,
procedimentos terapêuticos. entre 1960 e 2006, a sobremortalidade masculina
O acesso equitativo aos serviços de saúde é de cresceu acentuadamente, principalmente na faixa
grande importância para a qualidade de vida e de dos 20 aos 24 anos de idade: em 1960, a chance de
saúde de um país; os números do SUS impressio- um homem com 20 anos de idade morrer antes
nam pela magnitude. No ano de 2005, foram reali- de passar para o grupo etário seguinte (25 a 29
zadas cerca de 450 milhões de consultas médicas; anos) era 1,1 vez maior que a de uma mulher do
11,8 milhões de internações; 2,6 milhões de partos; mesmo grupo etário.
250 milhões de exames laboratoriais; 40 milhões Em 2006, a chance masculina, na mesma com-
de vacinações; 80 mil cirurgias cardíacas e 20 mil paração com a chance feminina, no mesmo grupo
transplantes de órgãos. etário (20 a 24 anos), aumentou para 4,1 vezes. A
O Programa de saúde da família, iniciado em principal causa do aumento da sobremortalidade
1994, conta, em 2008, com cerca de 27,5 mil equi- masculina são os óbitos por causas externas (ou
pes (mais de 150 mil profissionais) atuando em violentos).
5.131 municípios (92% do total de municípios Nas regiões Sudeste e Sul, pela primeira vez, a
brasileiros, com cobertura de 44% da população). mortalidade por doenças cardiovasculares superou
O Programa Nacional de Imunização (PNI) al- a mortalidade por doenças infecciosas, o que viria
cançou uma cobertura praticamente universal a ocorrer nas Regiões Norte, Nordeste e Centro-
em menores de um ano de idade, a partir de 1999, -Oeste duas décadas depois, durante os anos 80.
quando chegou a 94,7%, enquanto que, em 1978, Observa-se um processo de transição nutri-
atingia somente 40% das crianças. cional, que consiste na substituição de um pa-

UNIDADE 1 27
drão alimentar, baseado no consumo de cereais, sequências contribuem para o agravamento dos
feijões, raízes e tubérculos, por uma alimentação problemas sociais que o país enfrenta.
mais rica em gorduras (especialmente hidroge- No Brasil, verifica-se a presença de algumas
nadas) e açúcares, além da crescente ingestão de doenças já controladas em países desenvolvidos,
ingredientes químicos, aumentando o risco de como a silicose e outras pneumoconioses, enve-
sobrepeso e obesidade, aparecimento de doenças nenamento por chumbo, asbestose, síndrome do
crônicas e incapacidades. túnel do carpo, doenças dermatológicas causadas
Os fatores relacionados a comportamentos e por compostos químicos, além dos sintomas e
estilos de vida, como tabagismo, baixo consumo desordens mentais relacionadas ao stress, como
de frutas, de legumes e de verduras e o consumo a síndrome do Burnout.
de álcool são os principais fatores de risco para A poluição também é uma preocupação, devi-
morte por câncer em países de baixa e média ren- do aos efeitos adversos sobre a saúde das popula-
da, o que é o caso brasileiro. ções expostas. Estima-se que o número de mortes
Estima-se que o tabagismo seja responsável causadas por problemas decorrentes da poluição
por 18% das mortes por câncer; o baixo consumo atmosférica no mundo é de cerca de 3 milhões por
de frutas, legumes e verduras por 6%; e o consumo ano, o que representa 5% do total de 55 milhões
de álcool por 5%. de mortes que ocorrem anualmente no mundo.
A saúde do trabalhador também é uma preo- Em algumas populações, cerca de 30% a
cupação, pois os problemas de saúde dos traba- 40% dos casos de asma e 20% a 30% de todas as
lhadores estão intimamente relacionados com o doenças respiratórias podem ser relacionadas à
grau de desenvolvimento alcançado por um país poluição atmosférica. Outros efeitos referem-se
ou uma região. a perdas econômicas, aumento no absenteísmo
A esses problemas se associam o deteriora- escolar, dias de trabalho perdidos e nebulizações.
mento das condições de trabalho e crescentes da- Busque saber sobre os membros da Comis-
nos ambientais. Os acidentes de trabalho são um são Nacional de Determinantes Sociais de Saú-
dos subprodutos dessas tendências, juntamente de (CNDSS) e reflita sobre a importância da
com uma grande carga de doenças profissionais diversidade de olhares sobre os determinantes
e doenças relacionadas ao trabalho, cujas con- de saúde.

Para saber mais e se inteirar, acesse o relatório da comissão nacional sobre os determinantes sociais
da saúde, intitulado “As causas sociais das iniquidades em saúde no Brasil”.
Fonte: Comissão Nacional (2008, on-line)2.

28 Saúde e Doença - uma Perspectiva Atualizada


Organização dos Serviços
de Saúde no Brasil

É possível observar as mudanças ocorridas nas


condições de vida e de saúde da população bra-
sileira, condicionadas aos fatores econômicos,
socioculturais e políticos, ao longo dos anos.
Agora, quando tomamos como foco os servi-
ços de saúde no Brasil, é possível observar mudan-
ças significativas no decorrer dos anos, do mesmo
modo, influenciados por fatores econômicos, so-
cioculturais e políticos.
Diversos autores fazem análises e escrevem
sobre o sistema de saúde brasileiro, mas tomamos
por referência a análise de Carvalho, Martin e
Cordoni Jr (2001), os quais identificaram quatro
tendências: Sanitarismo Campanhista, período de
Transição, Modelo médico assistencial privatista
e o Modelo plural.
Vejamos um pouco de cada uma dessas ten-
dências.

UNIDADE 1 29
1. Sanitarismo Campanhista de trabalhadores e empregados da gestão pela cres-
cente influência da indústria farmacêutica, médico
Tal tendência vigorou no país do início do século hospitalares e os proprietários de hospitais.
XX até 1945 e recebeu esse nome porque tinha,
nas campanhas sanitárias, sua principal estratégia 3. Modelo médico assistencial privatista
de saneamento.
O Brasil tinha sua economia baseada na agri- O modelo médico assistencial privatista marca o
cultura e na exportação do café; o comércio e o es- período entre 1960 a 1980, caracterizado pela prá-
paço nos portos era prioridade, devendo ser livre tica médica curativa, individual, assistencialista e
de doenças e saneados. Devido a isso, o sistema de especializada em detrimento da saúde pública e
saúde adotado foi o modelo das campanhas sanitá- a criação com intervenção estatal de um comple-
rias, com foco no combate das endemias urbanas e xo médico privado, organizando o estado como
rurais. A assistência individual era privada, hospitalar financiador, o setor privado nacional como pres-
com caráter de assistência social e as Santa Casas de tador de serviços e o setor privado internacional
Misericórdia atendiam quem não podia pagar. como produtor de insumos.
Em 1923, com a Lei Elói Chaves, surge a as- O Brasil vivia o período da ditadura militar,
sistência previdenciária no país e a criação das marcado por atos institucionais e decretos pre-
Caixas de Aposentadoria e Pensão nas empresas sidenciais de cunho arbitrário e que alteravam
de estradas de ferro para os empregados, as quais direitos de cidadania, informação, organização
ofereciam benefícios de aposentadorias e pen- social e política.
sões, assistência médica e farmacêutica; logo em A saúde, que estava ligada à assistência social,
seguida, os portuários e marítimos criaram seus tem sua ampliação na década de 70, com a cober-
Institutos de Previdência, nascendo uma nova tura para os trabalhadores rurais, as empregadas
estrutura de previdência social por categoria de domésticas e os trabalhadores autônomos domés-
trabalhadores, denominadas de Institutos de Apo- ticos. Em 1974, cria-se o Ministério da Previdência
sentadorias e Pensão (IAP). e Assistência Social, que atua no atendimento mé-
Em 1930, o ministério da Educação e Saúde dico assistencial individualizado e o Ministério da
passa a coordenar as ações de saúde coletiva. Saúde se volta ao atendimento coletivo e vigilância
sanitária.
2. Período de Transição Com a crise econômica no final da década de
70, foi impulsionado o Movimento da Reforma
Esse período é compreendido entre 1945 a 1960, Sanitária que discutia reformas nas políticas de saú-
marcado pelo pós-guerra e a crise previdenciária. de, surgindo as ideias de medicina comunitária e
Nesse período, a previdência social passa a ter o conceito de Atenção Primária à Saúde (OMS).
grande importância e a ser utilizada como instru- O Movimento da Reforma Sanitária ajuda a
mento político; também foi nesse período que o fortalecer o processo de Transição democrática,
Ministério da Saúde foi criado (1953). ocorrido em 1984 com a 8° conferência Nacional
Ocorre, também, a unificação dos Institutos de Saúde, em 1986, em que se discutiu a criação
(IAPs), em 1967, e a criação do Instituto Nacional do Sistema Único de Saúde (SUS) e culminou
de Previdência Social (INPS), marcada pela exclusão com sua promulgação na Constituição em 1988.

30 Saúde e Doença - uma Perspectiva Atualizada


4. Modelo plural

A partir de 1988, o Sistema Único de Saúde (SUS) Em síntese, gostaria de trazer o pensamento de
foi incluído ao sistema de saúde brasileiro privado, Cohn (2012) acerca da política de saúde brasileira,
garantindo acesso universal e igualitário às ações e o qual considera que tanto sua configuração e
serviços de saúde a todos os brasileiros, colocando implementação são processos complexos de jo-
a saúde como direito de todos e dever do estado. gos de interesses e valores múltiplos existentes
O setor lucrativo privado de atenção médica na sociedade e que, em nossa sociedade desigual,
supletiva, que iniciou-se em 1954, fortalece na dé- as políticas sociais e de saúde devem priorizar os
cada de 80 pela precariedade dos serviços públicos, segmentos socialmente mais vulneráveis, com a
criando, assim, a medicina de grupo, as cooperati- lógica da universalização, integralidade e da equi-
vas médicas, e os seguro saúde. Regulamentados dade da atenção à saúde, o que depende tanto
e fiscalizados pelo Estado, aliado ao setor não lu- da vontade política dos governantes quanto da
crativo, as instituições filantrópicas (Santas Casas) sociedade, para que os direitos sociais se consti-
configuram o sistema de saúde atual brasileiro. tuam como uma realidade marcada com maior
justiça social.
Ao prestar a assistência ao indivíduo, à família
ou à comunidade, deve ser considerado quem é
Para saber mais da história do sistema brasileiro ou quem são os usuários, como se apresentam na
de saúde, leia o texto de Paim et al(2011) “O situação de necessidade de saúde, seus direitos,
sistema de saúde brasileiro: história, avanços deveres, valores e prerrogativas. O ser humano é
e desafios”, disponível em: <http://download. complexo e não há como abranger sua totalidade
thelancet.com/flatcontentassets/pdfs/brazil/ por uma única definição. Mesmo que a pessoa seja
brazilpor1.pdf>. Acesso em: 19 out. 2018. considerada um ser biopsicossocial e espiritual,
O artigo, publicado em 2011 pelo periódico The não consegue expressar toda sua individualidade
Lancet, faz parte de uma série de publicações que e singularidade. Os profissionais da saúde apren-
analisam as melhorias nas condições de saúde e dem sobre estrutura e função humana por meio
na expectativa de vida da população brasileira. do estudo da anatomia, da fisiologia, da psicolo-
Nesse artigo, é apresentado um panorama das gia, da sociologia e da patologia, além das várias
principais conquistas e desafios relativos às maneiras de assistir, de abordar e se relacionar
políticas públicas de saúde no Brasil, com especial profissionalmente com o indivíduo, a família ou
destaque ao Sistema Único de Saúde (SUS). a comunidade.

UNIDADE 1 31
Não podemos nos esquecer de que o am- de parte significativa da sociedade para assegu-
biente é o local onde a pessoa se encontra com rar a dignidade da vida humana.
as coisas ao seu redor e que exercem nela in- Cabe aos profissionais da saúde rever em sua
fluências, afetando-a de várias maneiras. É ne- prática, buscando entender que não basta traba-
cessário compreender as condições impostas lhar com as doenças, é necessário compreender
como passíveis de interferência e atentar para o indivíduo no todo como alguém que vive a ex-
não culpar os indivíduos quando tais condições periência da necessidade, do adoecimento, carre-
forem insalubres e interferirem em seu estilo gada de valores e significados subjetivos, únicos,
de vida. Trabalhar com as condições de vida capazes de interferir na qualidade do cuidado
impostas requer um trabalho interdisciplinar prestado. Assim, resta-nos, como profissionais da
e intersetorial. A área da saúde, sozinha, não saúde, enfrentar o desafio de construir estratégias
consegue assegurar qualidade de vida e, conse- para conceber a saúde no âmbito da atenção bá-
quentemente, de saúde. É na esfera da ética que sica de forma mais solidária e menos punitiva na
compreenderemos a necessidade do empenho convivência com os estilos de vida individuais.

32 Saúde e Doença - uma Perspectiva Atualizada


Você pode utilizar seu diário de bordo para a resolução.

1. O grande desafio do conceito ampliado de saúde é a operacionalização de suas


particularidades pelos trabalhadores da saúde, em especial aqueles que lidam
diretamente com a população. Diante disso, em relação às premissas a seguir,
assinale a alternativa que possibilita a concretude e expressão do conceito nas
práticas cotidianas dos serviços.
a) Criando ambientes favoráveis à saúde, reforçando a ação comunitária, aumen-
tando o número de serviços de saúde.
b) Reforçando a ação comunitária, desenvolvendo habilidades pessoais e forman-
do um maior número de profissionais de saúde.
c) Criando ambientes favoráveis à saúde, reforçando a ação comunitária, desen-
volvendo habilidades pessoais.
d) Reforçando a ação comunitária, educando a população e formando um maior
número de profissionais de saúde.
e) Aumentando o número de serviços de saúde, formando mais profissionais de
saúde e criando ambientes favoráveis à saúde.

2. Procure uma música ou um filme que traga uma percepção da situação de saú-
de ou noção de saúde, ou que retrate a “cara” da sociedade em que vivemos,
registre em seu caderno e justifique a escolha com base nos determinantes
sociais de saúde.

3. De acordo com a Visão Socioambiental da saúde, descreva o conceito de saúde,


seus determinantes, as estratégias e os programas de saúde.

4. Explique o modelo de determinação social da saúde proposto por Dahlgren e


Whitehead.

5. Qual a crítica ao Modelo Plural de saúde brasileiro?

33
LIVRO

Tratado de Saúde Coletiva


Gastão Wagner de Sousa Campos
Editora: Hucitec
Sinopse: o livro apresenta um panorama dos principais assuntos de que se
ocupa a saúde coletiva, estabelecendo um diálogo com docentes e discentes
de graduação e pós-graduação das profissões de saúde.

WEB

Visite o portal da saúde do Ministério da Saúde. Você encontrará: Blog da saúde,


Web rádio saúde e Canal saúde, que contribuem com informações e notícias
sobre a saúde, aberto a todos os cidadãos, trabalhadores e gestores de saúde
e Ministério da Saúde.
Para acessar, use seu leitor de QR Code.

34
FILME

Políticas de saúde no brasil: Um século de luta pelo direito à saúde


Ano: 2006
Sinopse: O documentário conta a história das políticas de saúde em nosso país,
mostrando como ela se articulou com a história política brasileira, destacando
os mecanismos que foram criados para sua implementação, desde as Caixas
de Aposentadorias e Pensões até a implantação do SUS. Sua narrativa central
mostra que a saúde era considerada, no início do século XX, um dever da po-
pulação, com as práticas sanitárias implantadas autoritariamente pelo Estado,
de modo articulado aos interesses do capital, e como, no decorrer do século,
por meio da luta popular, essa relação se inverteu, passando a ser considerada,
a partir da Constituição de 1988, um direito do cidadão e um dever do Estado.
Toda essa trajetória é contada por meio de uma narrativa ficcional, vivida por
atores, com reconstrução de época, apoiada por material de arquivo. Para tor-
nar a narrativa mais leve e atraente, o filme se vale da linguagem dos meios de
comunicação dominantes em cada época, como o jornal, o rádio, a TV Preto e
branco, a TV colorida e, por fim, a internet.
O filme foi realizado por iniciativa da Secretaria de Gestão Estratégica e Partici-
pativa, do Ministério da Saúde, em parceria com a Organização Pan-Americana
da Saúde - OPAS e a Universidade Federal Fluminense/UFF. A obra, de caráter
formativo, terá distribuição gratuita em todo o país, dirigida especialmente aos
Conselhos de Saúde, instituições de ensino e movimentos sociais ligados à saúde.
Estimula-se que o filme seja utilizado nas etapas municipais e estaduais da 13ª
Conferência Nacional de Saúde. Uma versão legendada em espanhol e inglês
está sendo discutida com a OPAS, para divulgação junto a países da América
Latina, Caribe e África, que buscam no SUS uma referência. O documentário
é composto por 5 capítulos, que podem ser assistidos em sequência, com 60
minutos de duração, ou separadamente; cobrindo os seguintes períodos: 1900
a 1930; 1930 a 1945; 1945 a 1964; 1964 a 1988; e 1988 a 2006.

35
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______. História do conceito de saúde. Rev. Saúde Coletiva. Rio de Janeiro, v. 17, n. 1, p. 29-41, 2007.

WESTPHAL, M. F. Promoção da saúde e prevenção de doença. In: CAMPOS, G. W. S. et al. Tratado de saúde
coletiva. São Paulo: Hucitec, p. 635-668, 2012.

REFERÊNCIA ON-LINE

Em: <https://nacoesunidas.org/pos2015/agenda2030/>. Acesso em: 18 out. 2018.


1

Em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/causas_sociais_iniquidades.pdf>. Acesso em: 18 out. 2018.


2

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1. C.

2. O aluno é livre na escolha, mas deve justificá-la relacionando os determinantes sociais de saúde (biológico,
social e cultural).

3.

Bem-estar biopsicossocial.
Conceitos de saúde
Necessidades de saúde.
Determinantes de
Condições de riscos diversas.
saúde
Ação política, espaços saudáveis, empoderamento
Estratégias da população, desenvolvimento de habilidades, reo-
rientação de serviços.
Desenvolvimento Comunidade em diálogo crítico com profissionais
de programas e agências.

4. O modelo entende que a saúde compreende três dimensões: a biológica, a social e cultural.

A dimensão biológica compreende as características biológicas marcadas pela interação genótipo-fenótipo,


ou seja, a genética e a modulação das potencialidades são herdada pelas condições concretas da existência
que irão resultar nas manifestações fenotípicas, como exemplo, a idade/sexo e fatores hereditários X estilo
de vida. Na dimensão social, inclui os grupos sociais e as formas de consciência e condutas resultantes de
suas interações, bem como a forma de constituição dessas comunidades. A dimensão cultural inclui as
condições de vida e de trabalho, suas formas de organização que compreende as condições socioeconô-
micas, culturais e ambientais gerais.

5. “E um sistema público de saúde dual, políticas de saúde centralizadas e verticalizadas, tradição histórica
da saúde vinculada ao mercado de trabalho, o sistema privado prestador com origem na década de 20
como fruto da política previdenciária, distribuição de equipamentos de saúde altamente desigual, modelo
de atenção comandado pela lógica médica e hospitalocêntrico, duplo comando da previdência social que
prestava serviços de assistência à saúde e o Ministério da Saúde relativos a ações coletivas, dualidade
na assistência dos trabalhadores por categorias (década de 30), e na diferenciação do acesso segundo a
posição no mercado de trabalho (década de 70), herança de um setor privado de produção de assistência
médica que se constituiu sob as sombras e financiamento do Estado”.

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