Você está na página 1de 16

Discussão sobre as normativas sobre o Reitor na Ratio Studiorum e nas

Constituições.

1. Instruções do professor

1) Orientaçao do Professor: Discussão do objeto de estudo. O que vc quer


fazer? De que trata o seu estudo? Escrever claramente sobre isso.
2) Apresentar uma lista dos reitores dos colégios da companhia de Jesus
em Olinda.
3) Leituras e sistematizações da Obra de Serafim Leite e discutir – o que é
ser reitor neste contexto, quais as funções do reitor- para elaboração de
um capítulo mais geral que situaria o leitor na leitura, para em um
segundo capítulo falar do Colégio de Olinda, e as funções do Reitor
neste colégio.

2. Objeto de estudo

Mori, aqui você precisa de uma discussão do seu objeto – o que realmente
voce vai estudar e quais autores vai ler? O que pretende discutir? Que caminho
quer percorrer? Depois voce colocar seus objetivos e diz como estará
organizado o capítulo.

Os objetivos deste estudo é entender o que é ser reitor de um Colégio


Jesuíta da Companhia de Jesus. Portanto, iremos situar disposições presentes
no Ratio Studiorum, a partir de uma leitura específica da obra do Pe. Leonel
Franca: O método pedagógico dos Jesuítas. Após contextualizar e discutir o
texto de Franca, iremos dispor todas as regras incluídas no Ratio quanto as
atividades administrativas e pedagógicas dos Reitores.

RATIO STUDIORUM

O Ratio Studiorum é o plano de Estudos da Companhia de Jesus e teve


um papel central no desenvolvimento da educação moderna. Trata-se de um
Código de Ensino que orientou as atividades pedagógicas dos Colégios
Fundados pela Companhia de Jesus durante dois séculos. A Companhia de
Jesus dirigia um grande número de estabelecimentos de ensino e exercia
enorme influência sobre outros colégios, não integrados à ordem religiosa.
Diante desta abrangência, Franca (2019) afirma que a obra educativa da
Companhia de Jesus impulsionou a contrarreforma católica e tornou-se um
legado da “aristocracia intelectual dos últimos séculos”, nas palavras do autor.
Para justificar a sua afirmativa, o autor cita diversos intelectuais, de muitas
partes do planeta, que tiveram sua formação nos Colégios da Companhia de
Jesus.

Para uma maior compreensão da abrangência e da influência do Ratio,


Franca (2019) apresenta uma síntese das origens, fontes e linhas
características da Ratio, que esboçaremos a seguir.

Inicialmente, os Colégios da Companhia de Jesus não eram abertos à


estudantes que não pertenciam à Ordem Religiosa dos Jesuítas, no entanto, a
abertura para externos tornou-se uma prática diante da necessidade de
expandir a fé católica e a pedagogia jesuítica.

O primeiro grande Colégio da Companhia foi o Colégio de Messina,


instituído em agosto de 1548, que adotou o método de Paris como modelo de
ensino na organização do Colégio. Em parte, esta escolha deveu-se ao local de
formação da maioria dos docentes desta instituição. Há registros de que o
sucesso desta experiência foi espantoso, diante do número de estudantes
matriculados e também da aceitabilidade das famílias em proporcionar esta
formação aos seus filhos, com base na metodologia jesuítica. A partir desta
experiência, outros colégios foram se formando, como o Colégio de Palermo e
o Colégio Romano, entre outros. O corpo docente dos Colégios era formado
exclusivamente por Jesuítas provenientes de várias localidades, a partir de
critérios rigorosos de competência.

No início do século XVI já se contavam com 293 colégios dirigidos pela


Companhia de Jesus, e este número se multiplicou à medida em que as
escolas jesuítas foram crescendo em importância. Segue, nas palavras de
Franca (2019), um relato do primado das escolas jesuítas entre o século XVI e
XVII: “A impressão que se desprende da visão panorâmica dos fatos é que a
Nova Ordem, em pouco tempo, pelo número e pela valia dos seus colégios,
afirmou-se, no campo pedagógico, como uma instituição plenamente vitoriosa”
(p.16).

A incrível expansão da obra educativa dos Jesuítas também trouxe


inúmeras demandas de organização e disciplina, o que por um tempo foi
resolvido com as visitas dos Comissários Gerais, que implantaram um regime
de inspeção periódica. No entanto, as inspeções não eram suficientes para
garantir as normativas disciplinares e conduzir a pedagogia católica dos padres
jesuítas nas escolas.

É verdade que desde meados do século XVI foi criada por Inácio de
Loyola a IV parte das Constituições, que dispunha sobre a direção didático-
pedagógica dos colégios e teve grande influência sobre todo o ensino jesuíta.
Neste documento, consta a determinação e urgência de elaborar um código de
ensino que trate do método de ensino nos Colégios e Faculdades. A
determinação era, portanto, da elaboração de um Ratio Studiorum, um
documento que uniformizasse o modelo educativo dos jesuítas e funcionasse
como um Estatuto, imposto pela autoridade competente, e que não pudesse
ser alterado pelos costumes e opiniões divergentes. A este respeito, afirma
Franca (2019): “Um plano de estudos e de ensino, uniforme e sistemático,
diziam eles, traria imenso benefício à Igreja e à Companhia”(p.19/20).

Assim, foram elaborados o Ratio de 1586, que tinha um caráter mais


discursivo que imperativo. Tratou-se de uma versão que deveria ser examinada
por autoridades competentes para emissão de pareceres. Como o objetivo do
documento era orientar pedagogicamente a organização dos colégios, os
críticos desta primeira versão concordaram que o texto era impreciso e
excessivamente prolixo. Em 1591 foi encaminhada uma nova versão do Ratio
para análise, após importantes alterações do texto original, especialmente
quanto a clareza das regras e normativas para administradores, professores e
estudantes. Neste ano, o Ratio foi apresentado como Código de Leis que
deveria ser imediatamente aplicado, para que, após três anos fosse
efetivamente promulgado. Após os três anos, as províncias encaminharam
recomendações críticas, inclusive ainda sobre a prolixidade do texto. A terceira
versão da Ratio foi então promulgada em 1599, não como um projeto de
estudos, mas como um imperativo a ser cumprido rigorosamente em todos os
colégios. Os Jesuítas haviam elaborado e constituído o Código de Leis que
passaria a orientar a prática pedagógica da Companhia de Jesus.

Houve uma revisão em 1832, quase dois séculos depois da


promulgação do documento. Esta revisão previa a adaptação dos conteúdos
anteriores aos novos tempos, no entanto, Franca (2019) afirma que as
alterações foram pequenas e pouco significativas quanto aos conteúdos das
normativas. As mudanças implementadas na revisão tratavam principalmente
da estrutura curricular, como afirma o autor:

Como se vê, com pequenas exceções, as mudanças


introduzidas interessam sobretudo a organização do
Currículo . A orientação administrativa, metodológica e
disciplinar permaneceu fundamentalmente inalterada
(p.29).

Esta normativa alterada tinha caráter diretivo, não foi constituída como
autoridade de lei. Uma nova normativa foi elaborada em 1941, considerando as
mudanças nos contextos sociais e também as novas demandas dos contextos
escolares, particularmente no que se refere ao ensino superior.

Quanto às origens da Ratio, é possível afirmar, conforme Franca (2019)


que não trata-se de uma pedagogia inusitada ou revolucionária. Como
menciona o autor, os jesuítas “Ajustaram-se às exigências mais sadias de sua
época e procuraram satisfazer-lhes com a perfeição que lhes foi possível”
(p.31). Neste sentido, pode-se entender que a principal normativa jesuíta é filha
do século XVI e portanto, dialogou com as diversas correntes pedagógicas em
sua formulação e nas reflexões que suscita.

Pode-se afirmar que a principal influência da Ratio foi o método de


ensino da Universidade de Paris, onde se graduou Inácio de Loyola, veemente
defensor do modus parisiense de ensino. O momento histórico preciso onde se
dá esta influência é de emergência do Renascimento, que tem a Universidade
de Paris como precursora incontestável da corrente humanista. Assim, a
formação da pedagogia parisiense teve influências profundas sobre os
estudantes e docentes que a frequentaram no século XVI.
Franca (2019) também chama a atenção para o fato de que nos estudos
das humanidades a pedagogia jesuíta priorizou a antiguidade clássica,
especialmente de Quintiliano e outros autores clássicos. No entanto, no campo
da Teologia e Filosofia, conservou-se a herança dos estudos da Idade
Medieval. Segundo o autor, nos idos do século XVI assistiu-se a “um esforço
vigoroso de restauração da síntese clássica do pensamento medieval” (p.37).
Tratou-se de uma restauração tomista, muito influenciado também pela
Universidade de Paris. Assim, a Companhia de Jesus constituiu-se enquanto a
primeira Ordem Religiosa de influência tomista, depois da ordem dominicana.

A influência tomista, conforme Franca (2019) teve repercuções diretas


sobre a organização pedagógica dos Colégios. Assim foi sintetizada pelo autor:

Deste modo, a ordenação geral dos estudos da


Companhia, elaborada na segunda metade do século
XIV, fundiu em síntese harmoniosa o que de melhor nos
havia legado o esforço intelectual da Idade Média com as
conquistas mais sadias e duradouras do humanismo
cristão da Renascença (p.39).

Além das contribuições tomistas da Idade Média e do humanismo cristão


do Renascimento, também afirma-se que a Ratio pode ter-se inspirado em
produções não católicas, o que atraiu muitas críticas a Inácio de Loyola e
outros formuladores. Franca (2019) admite não haver documentos históricos
que comprovem esta inspiração, no entanto é incontestável segundo o autor,
que parece haver alguma proximidade nos métodos de ensino dos Calvinistas
e Jesuítas no documento. A explicação está no uso de fontes comuns na
produção das suas pedagogias, entre estas fontes, está a Universidade de
Paris.

No entanto, pode-se afirmar que o Plano de estudos dos Colégios


Jesuítas foi se estruturando a partir da aplicação da experiência pedagógica,
como Franca descreve habilmente:

O Ratio, portanto, é filho da experiência, não da


experiência de um homem ou de um grupo fechado, mas
de uma experiência comum, ampla de tal amplitude, no
tempo e no espaço, que lhe assegura uma grandeza
majestosa, talvez singular na história da pedagogia
(FRANCO, 2019, p.46).
É importante mencionar, como bem esclarece Franca, que o Ratio não é
um manual de pedagogia, não expõe princípios de educação, inclusive porque
esta prática não era comum no século XVI – o seu alvo era formação humana e
cristã.

Administrativamente, a Companhia dividia-se em Províncias e


Circunscrições Territoriais, nas quais se incluíam os vários colégios da Ordem
dos jesuítas. No comando de cada província havia um Provincial, que era
responsável por nomear o Prefeito, cuidar da formação docente, qualificar os
estudos e zelar pelo cumprimento das normas descritas no Ratio, além de
sugerir modificações nas normativas diante dos contextos próprios das
Províncias.

O Reitor, cujas funções são objeto central deste estudo, cumpria a


principal função administrativa nos Colégios. Segundo Franca (2019), o reitor:
“distribui os ofícios, convoca e dirige as reuniões dos professores, preside as
grandes solenidades escolares. Exerce, em seu colégio, a autoridade mais alta,
subordinada, porém, na Província, à do Provincial e, fora dela, à do Geral, por
quem é nomeado” (p.50).

Como mencionado anteriormente, o objetivo deste trabalho é entender a


função do Reitor nos colégios dirigidos pelos padres jesuítas da Companhia de
Jesus, de modo específico, entender como a prática administrativa e política
estava presente no Colégio de Olinda a partir de um conjunto de reitores.
Portanto, interessa-nos a estrutura administrativa, as atividades desenvolvidas,
a influencia religiosa que estas figuras expressaram neste período.

Subordinado ao Reitor estava o Prefeito de Estudos, que o auxiliava na


orientação pedagógica e acompanhava de perto o desenvolvimento escolar
dos estudantes e assegurava o cumprimento das normas e regulamentos.

As Constituições estabeleciam que os alunos deviam aprender a língua


do país onde o colégio estava instalado, como mencionado no seguinte trecho:
“As constituições lembraram-lhes que, para pregar com fruto, importa bem
aprender a língua falada pelo povo”. A este respeito, Franca mencionou:
Este espírito levou ainda os filhos de S. Inácio, nos
países das missões, a dedicar-se com rara perseverança
e notáveis resultados aos estudos das línguas indígenas.
No México, no Peru e na Colômbia bem cedo fundaram-
se cursos de línguas nativas dos Índios. No Brasil,
Anchieta, primeiro, Figueira, mais tarde, reduziram a Arte
a língua tupi-guarani, que já era ensinada no Colégio da
Baía em 1556 e em Pernambuco em 1587 (p. 58).

A revisão do Ratio em 1832 incentivou ainda mais a sólida formação na


língua pátria, como é possível observar na citação acima.

Quanto às correções físicas, a posição dos jesuítas era mais branda em


relação aos calvinistas.

Os Colégios também foram os berços das Academias, em que eram


eleitos por seus membros presidente, conselheiros e secretários. Segundo o
Ratio Studiorum, estas academias foram precursoras dos seminários de
história e filologia das universidades modernas.

A mais brilhante menção do Ratio no texto de Franca afirma que : O


Ratio “conseguiu organizar e sistematizar o que de melhor havia no tempo”
(p.60). Impressiona-nos ainda o relato de Paulsen, reconhecido autor
protestante, escrito em 1919:

Que o Ratio Studiorum tenha sido elaborado com grande


sabedoria e diligência invulgar é o que se não pode pôr
em dúvida. Nem tão pouco é possível constestar que, no
seu conjunto, o seu plano de estudos se adapta bem às
exigências do tempo; tudo o que tinha valor no mundo
científico do século XVI foi nele levado em consideração.
Não duvido tao pouco que, pela sua organização escolar,
a Ordem tenha promovido eficazmente a difusão da
cultura intelectual e, em particular, o conhecimento das
línguas clássicas nos países católicos, onde os jesuítas
eram os mestres mais instruídos e zelosos (Paulsen, E
1919 apud FRANCO, 2019, p.60).

Um aspecto importante da pedagogia jesuíta refere-se as disciplinas


físicas. É sabido que a Ordem contribuiu muito para diminuir os castigos
corporais. Inclusive, nas Constituições está registrado que: “na medida do
possível a todos se trate com espírito de brandura, de paz e da caridade” (p.10)
As normas disciplinas dos Jesuítas instruíam que os castigos físicos seriam
administradas pelo Corretor, que receberia a ordem para punir do Prefeito de
Estudos. No entanto, é possível afirmar que também que honravam o bom
esforço, premiando o estudante com bom desempenho e comportamento,
conforme bem discriminados no Ratio.

A partir dos Colégios, eram criadas as Academias, que reuniam os


estudantes mais premiados por seus resultados escolares. Estes eram
orientados por um padre, que era nomeado pelo Reitor. Nestas academias os
estudantes eram incentivados à investigação cientifica e ao desenvolvimento
de atividades extraclasse, que tinham como objetivo gerar entusiasmo “pela
cultura intelectual e pela glória das letras”. Porém, esta “emulação “ou incentivo
à concorrência entre os estudantes não deveria ocorrer sem antes os
estudantes serem submetidos a uma séria formação moral, para que a glória
não fosse almejada sem o esforço devido. A este tipo de incentivo Inácio de
Loyola chamou de “emulação santa”, nas Constituições.

Ao tratar de estratégias didáticas, é sabido que a Ratio regulamenta o


teatro como atividade pedagógica, que visava, além da recreação, “a formação
cívica, moral e religiosa da juventude” (p.77). Assim, toda a formação dos
Colégios Jesuítas tinha como principal finalidade a formação integral, de base
religiosa, fazendo convergir para este propósito todo o currículo, todas as
metodologias de ensino e estratégias didáticas. Segue abaixo um texto escrito
por Inácio de Loyola nas Constituições, que retrata bem a visão do autor sobre
a formação dos colégios jesuítas:

Como o fim da Companhia é levar as almas ao fim para o


qual foram criadas; e como para atingi-lo, além do
exemplo da vida, é necessária a doutrina e o modo de
propô-la; uma vez que os candidatos houvessem lançado
os fundamentos da abnegação de si mesmos e do
progresso das virtudes, deverá construir-se o edifício das
letras e o modo de servir-se delas para melhor conhecer
e servir a Deus criador e Senhor nosso. Para este fim,
funda a Companhia Colégios e também, às vezes,
Universidades (Constituições)

Os colégios jesuítas ocupavam-se da formação secundária, e para esta,


apostaram em uma pedagogia humanista, que priorizou muito mais a formação
de habilidades e no desenvolvimento das capacidades humanas, do que na
transmissão do conhecimento científico acumulado até então. Nas palavras de
Franco:”

O curso secundário deve ser essencialmente humanista,


pendente mais para a arte que para a ciência [...] Todo o
esforço do educador deve concentrar-se, nesta fase da
vida, em desenvolver as capacidades naturais do jovem,
em ensinar-lhe a servir-se da imaginação, da inteligência
e da razão para todos os misteres da vida (FRANCO,
2019,p.89).

Em síntese, a pedagogia inaciana, que orienta o Ratio é humanista e


ativa. E isto era incentivado a partir da produção constante dos estudantes, no
sentido de estimular a formação das faculdades humanas, como já
mencionado. O método ativo não previa unicamente a transmissão de
conhecimentos, mas o acompanhamento do trabalho artístico dos alunos em
sua própria formação humanística.

Uma preocupação importante exposta no Ratio era a formação do


professor. A ele exigia-se rigorosa formação moral. O plano de formação de
docentes da Companhia de Jesus incluía dois anos dedicados à formação da
alma do professor, fazendo referência à sua moralidade, boa conduta e
práticas cristãs. Seguiam-se aos primeiros dois anos, à formação intelectual do
professor. Ao reitor cabia garantir que o entusiasmo, a vivacidade e o bom
espírito prevalecessem nas relações estabelecidas entre professores e
alunados. Ou seja, parece atribuir ao reitor uma função de dar continuidade a
formação moral e pedagógica dos docentes, ou pelo menos, garantir que sejam
exercidas em seu colégio.

2. AS FUNÇOES DO REITOR NO RATIO STUDIORUM

Pode-se afirmar que, do ponto de vista administrativo e religioso, o


Reitor é o principal protagonista dos Colégios Jesuítas, apenas subordinado ao
Provincial na Província e ao Geral 1, que o nomeava. Entre suas funções
situavam-se a distribuição de ofícios, a convocação e direção das reuniões dos
professores e a presidência das solenidades escolares, conforme o Ratio
Studiorum.

O Reitor era assessorado pelo Prefeito de Estudos, que realizava o


acompanhamento da vida acadêmica, bem como da formação de novos
professores. Este prefeito de estudos será, como o próprio Ratio denomina,
“um instrumento geral do Reitor na boa ordenação dos estudos”. Esta
afirmativa indica-nos que cabia ao Reitor zelar pelo bom andamento das
atividades pedagógicas, já que lhe era necessário um Prefeito de Estudos para
auxiliá-lo. O Prefeito de Estudos era indicado pelo Reitor para o Provincial, e
devia ser: “um homem versado nas letras e nas ciências, qualificado pelo seu
zelo e discrição, para o desempenho das incumbências que lhe forem
confiadas”.

Ao reitor também cabia, juntamente com o Prefeito, Consultores e


Professores, a autorização para afastamento com vistas a estudos de
aprofundamento teológico do Provincial. Após este período, podia-se obter
títulos de mestre ou Doutor.

Cabia ainda ao Reitor, no caso específico da avaliação da formação em


Filosofia. Após iniciarem a formação os alunos deverão ser avaliados duas
vezes pelos professores de Teologia e Filosofia e pelo Prefeito de Estudos. O
Reitor e seus consultores devem estar presentes nestas avaliações, e se
possível, também o provincial. Aqui reforça-se a função disciplinar, garantidora
do cumprimento das normativas da pedagogia jesuíta. Observa-se que o Reitor
mesmo não aplicava as avaliações, nem era o responsável pela sua
elaboração. Mas cumpria um papel que parecia ser de uma certa vigilância
pedagógica, que indicava uma inspeção da qualidade formativa, especialmente
no campo do conhecimento filosófico.

Era necessário, também que houvesse nos Colégios um conjunto de


assistentes, chamados “coadjutores, que ficavam encarregados dos serviços
domésticos. Não estava claro se estes irmãos auxiliares realizavam um
1
Aqui definir o GERAL.
trabalho voluntario, em benefício da fé, ou eram funcionários da Escola. No
entanto, percebe-se aqui a clara função administrativa do Reitor: “Nos colégios,
principalmente nos menores, procure que haja bastantes irmãos coadjutores a
fim de que o Reitor se não veja obrigado a lançar mão de mestres e discípulos
para os serviços domésticos” (30). Neste sentido, pode-se inferir que ao Reitor
cabia a distribuição de tarefas, desde as pedagógicas às domésticas, para
garantir o bom andamento da formação dos estudantes, sem envolvimento com
atividades que poderiam incorrer em fonte de distrações.

Parte do Ratio dedica-se a expor exclusivamente as normativas dirigidas


aos Reitores. É o que discutiremos a seguir.

A primeira regra mencionada diretamente aos reitores está o zelo pelos


estudos. Esta regra parece ser o fim último da Companhia de Jesus e o maior
objetivo dos Colégios, já que tratam-se de centros de sólida formação católica,
que se ocupa com a disseminação das virtudes morais da tradição cristã. Vê-se
que espera-se que os alunos formados nos Colégios da Companhia de Jesus
“comuniquem ao próximo o que aprenderam”. Neste caso, a responsabilidade
do Reitor ao zelar pelos estudos dos formandos era imensa, uma vez que
estaria responsável pela disseminação de uma perspectiva cristã de vida, que
não seria exclusiva dos professores e alunado do Colégio, mas que tinha a
clara expectativa de uma propagação a partir da influência dos estudantes.

A segunda regra refere-se à designação de um assistente, o já


mencionado Prefeito de Estudos, que será designado pelo Reitor. Este
prefeito tinha autoridade para desempenhar integralmente seu ofício. Percebe-
se que o Prefeito de Estudos era um auxiliar que poderia desempenhar funções
semelhantes à do Reitor, no zelo pelos estudos e na condução administrativa
dos Colégios, porém, sob o seu comando e autoridade.

A terceira regra indica que o Reitor deveria regular e distribuir atividades


visando promover os exercícios literários. Além disso, a presença do Reitor
deveria ser constante nas aulas, nas disputas filosóficas e teológicas. Um dos
objetivos desta presença constante, ao que o texto indica, era a avaliação
permanente das estratégias pedagógicas. Observamos o seguinte trecho:
“observe se e por que estes exercícios não dão os resultados esperados”. Esta
afirmativa dava a ideia de que ao Reitor não cabia diretamente a avaliação
dos/as estudantes, mas avaliar as estratégias pedagógicas dos Colégios.

A quarta normativa refere-se às ocupações que não se devem


permitir aos estudantes. Parece-nos que esta regra diz respeito à função
reguladora e disciplinadora do Reitor, que deveria cuidar da frequência dos
estudantes nas disputas e atividades gerais do Colégio, e ao mesmo tempo,
avalie se as opções de atividades correspondem aos objetivos maiores de
aprofundamento nos estudos.

Cabia também ao Reitor estar atento aos que precisavam repetir a


formação em teologia, cuidando para que a repetição ocupe o menor tempo
possível.

Eventualmente, os estudantes poderiam tornar-se substitutos dos


mestres, sobretudo de Teologia e Filosofia. Também é possível que os
estudantes presidam algumas atividades pedagógicas, ou eventualmente, até
lecionar Filosofia e Teologia, com a autorização do Provincial. Não fica muito
claro, neste caso, qual a função do reitor, mas podemos pensar que pode ser
observar o desempenho geral destes alunos no processo formativo e emitir
parecer favorável à sua indicação como substituto nestas atividades. Isso nos
faz pensar que a primeira regra, o zelo pelos estudos, pode estar diretamente
relacionada com a indicação dos estudantes para substituir eventualmente
docentes em suas atribuições cotidianas.

A sétima regra refere-se ao estímulo para que se formem Academias de


Línguas, especialmente de Hebreu e Grego, no sentido que se exercite a
prática destas línguas. Aqui a função do Reitor é promover oficinas de línguas,
atividades regulares e sistemáticas, que poderiam ser incluídas em uma
espécie de calendário acadêmico, já que deveria ser praticado com frequência.
Como o próprio texto explicita: “[Nas Academias de Línguas] ...nelas se
exercitem os acadêmicos duas ou três vezes por semana durante um tempo
determinado, por exemplo, durante as férias, de tal modo que daí saiam
homens capazes de honrar em particular e em público o conhecimento e a
dignidade destas línguas”.
Cabia também ao Reitor zelar pelo uso do latim entre os estudantes.
Esta norma determinava o uso permanente da língua, com raras exceções,
como nos dias feriados e nos intervalos. As cartas e declamações públicas
também deveriam ser proferidas em latim, especialmente nas solenidades
públicas. Neste caso, compreende-se que o Reitor era uma espécie de
guardião da língua latina, e por ser a maior autoridade nos Colégios, deveria
fazer cumprir a determinação de uso obrigatório do latim entre os alunos.

A nona regra refere-se aos cuidados com a preparação de novos


professores. Antes de finalizada a formação dos novos docentes de
humanidades, o reitor deveria indicar um tutor, com grande experiência de
ensino, para treinar os novos mestres e instruí-los sistematicamente antes de
iniciarem o novo ofício. Mais uma vez, esta norma associa-se a primeira, ao
zelo pelos estudos. Zelar pelos estudos significaria, para o Reitor, garantir que
os professores dos Colégios teriam uma formação sólida e estariam prontos
para a atividade docente. Vemos que o Reitor era responsável pela distribuição
de atividades formativas, tanto dos alunos como dos docentes.

O Reitor também deveria, conforme a décima regra, regular a frequência


dos estudantes nas aulas públicas de retórica e humanidades, para zelar
pela disciplina acadêmica e o bom ensino. Quando necessário, o Reitor deverá
incubir estudantes mais experientes na tarefa de exercitar os estudantes com
maiores dificuldades, com a direção do professor de retórica. A regra aqui é
conduzir o aprendizado de maneira uniforme, de forma a manter a aumentar a
qualidade da aprendizagem.

Estimular a proclamação de discursos e poemas, em áreas públicas e


proferidos em latim e grego, de preferência, de conteúdo teológico, de modo
que os demais presentes desfrutassem de reflexões religiosas.

O Reitor também deveria prestar conselhos aos externos de retórica,


conforme a regra número 12. Sugeria-se que os alunos estudassem retórica
antes de estudar filosofia, este conselho também era devido aos externos dos
colégios. Neste caso, entendemos que o reitor tinha a função de aconselhar
quanto ao cumprimento do currículo dos estudantes, fossem internos ou
externos à escola.
As tragédias e comédias deveriam ser encenadas em latim, e não
conter nada inconveniente ou escandaloso. Segundo o Ratio, o conteúdo das
encenações deveria ser “sagrado e piedoso”. O Reitor portanto, era o
garantidor da boa moral e dos conteúdos religiosos propagados.

A condução dos prêmios por desempenho acadêmico também deveria


ser conduzida pelo Reitor. As despesas poderiam ser custeadas por terceiros,
mas não deveriam ser estravagantes e nem trazer prejuízos morais ou
intelectuais aos estudantes.

O Reitor também deveria garantir, conforme a 15 regra, que os


professores mais destacados nos Colégios conduzissem a oração pública na
inauguração dos cursos. Apreende-se deste fato que o Reitor, na qualidade de
condutor geral dos processos pedagógicos e administrativos dos colégios,
também supervisionava a atividade docente e de algum modo, avaliava os
docentes. Quando se afirma que a oração era um reconhecimento público da
qualidade do trabalho docente, sugere-se que de alguma maneira este trabalho
é avaliado. Pode-se supor que o Reitor, quem conferia a honra da oração
pública, era este avaliador.

Alguns escritos deviam ser registrados em livro especial, guardado pelo


Prefeito de Biblioteca. Ao Reitor cabia zelar pelo que era escrito e publicado,
que deveria ser escolhido pelo Prefeito de Estudos, mas contar com a
Anuência do Reitor. O que era exposto publicamente poderia determinar a
maneira como os colégios eram vistos de fora. A supervisão geral dessa
exposição cabia ao Reitor.

Cabia ao Reitor orientar o bibliotecário a manter o Prefeito de Estudos a


par de todo o processo de distribuição de livros. Esta norma parece indicar a
função do Reitor de distribuir e supervisionar a realização das tarefas no
Colégio.

A regra 18 refere-se à consulta aos professores. O Ratio indica que


deveria haver uma reunião regular, de dois em dois meses, para apresentar e
discutir as regras morais e religiosas dos colégios e as regras dos mestres,
para em seguida serem discutidas as dificuldades em garantir o seu
cumprimento. A reunião deveria ocorrer com o Reitor, os Professores, o
Prefeito de Estudos e o Prefeito de Disciplina. Aqui parece que se tratava de
um processo de avaliação do cumprimento das normativas, e da pertinência
destas regras no contexto escolar, diante dos objetivos de garantir a
organização pedagógica e o bom andamento dos estudos.

Garantir que se cumpra o feriado semanal. Parece que se refere a um


descanso semanal, que segundo o Ratio deveria ser um dia inteiro ou a
metade de um dia. Apesar de ser uma regra curta e com uma discussão
limitada, parece que se previa a concessão de um descanso semanal, que
deveria ser obrigatoriamente observado. Para tanto, caberia ao reitor garantir
que estivesse previsto no calendário de estudos.

Uma das regras que nos parece mais curiosa é a 20: conservar o zelo
alegre dos professores. De muitas maneiras, o Reitor deveria suscitar o
entusiasmo dos estudantes e docentes pelo estudo e pela disciplina
escolásticas. Também se referia ao Reitor a tarefa de conservar este zelo entre
os professores, inclusive, cuidando para não os sobrecarregar de trabalho.
Neste caso, pode-se auferir que o reitor poderia interferir sobre a carga horária
estipulada para o trabalho docente, poderia tornar mais brandas as jornadas de
trabalho dos docentes, de maneira que permanecessem motivados com o
trabalho.

Ao prefeito também caberia garantir que os estudantes fossem


advertidos regularmente, ou ao menos lembrados das regras administrativas e
religiosas do Colégio. A esta função do Reitor o Ratio chama de Exortação
aos alunos. Esta exortação poderia ser aplicada como avisos ou lembranças
regulares do bom cumprimento das regras do alunado, dos deveres e
compromissos assumidos com a boa formação escolar. Deveriam ser
conduzidas por um padre mais velho ou pelo Prefeito de estudos, mas caberia
ao Reitor garantir que estas exortações estivessem ocorrendo
sistematicamente.

O Provincial poderia conceder ao Prefeito de Estudos um assistente,


este chamado de Prefeito de disciplina. O Ratio menciona que se aplicam a
este todas as normas de comportamento atribuídas ao Prefeito de Estudo e
também a participação nos exames dos novos alunos. A existência desta
função parece estar entre as atribuições do Reitor, já que não o designa. No
entanto, o fato de contar com mais alguém na equipe administrativa que se
ocupará de avaliação escolar e avaliação de conduta, afeta diretamente as
funções pedagógicas e administrativas do Reitor, já que este deveria garantir a
qualidade dos estudos e o zelo da boa moral dos colégios.

O Reitor também deveria garantir a introdução do seu Colégio da


Congregação de Nossa Senhora da Anunciação do Colégio Romano. Para
constituir as Academias Literárias os estudantes deveriam estar inscritos na
Congregação. As atividades da Congregação e das Academias não deveriam
coincidir com outras atividades religiosas que os estudantes devessem
participar. Não está claro no texto quais os objetivos da criação desta
congregação, mas parece que cabia ao reitor incentivar a integração dos
estudantes nas rotinas religiosas da tradição católica.

Por fim, na regra 24 o Reitor era instruído a consultar o Provincial em


tudo e estar disposto e disponível para o cumprimento cabal do que ele
determinasse. O Reitor assim, dispunha de relativa autonomia, já que nos
colégios ele podia guiar, supervisionar, dividir tarefas, conferir graus e prêmios,
exortar, corrigir e avaliar. Mas havia questões, como por exemplo, a revisão da
teologia e outros assuntos referentes aos conteúdos da fé, ou mesmo questões
administrativas mais complexas, que deveriam ser discutidas amplamente com
o Provincial, para em seguida ser encaminhada e executada.

Você também pode gostar