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REVISTASANARMED N.

03

ARTIGOSSANARCON2020
400 trabalhos inscritos

10.000 espectadores

8 horas de apresentação

Links para vídeos das apresentações

TEMAS OS 3 MELHORES TRABALHOS


ABORDADOS: DO EVENTO:

Desafios da
inteligência artificial 1
Acurácia dos testes clínicos e da
ultrassonografia do ombro no diagnóstico das
lesões do tendão do supra-espinhal  Pag. 113
Covid-19
Teleatendimento
Neurologia
2
Morbimortalidade da população
indígena em MG  Pag. 133

Cardiologia
E muito mais
3
Criação de macro para controle do
calendário de vacinação pela rede
pública de saúde  Pag. 148
Revista SanarMed - n. 03

C O O R DEN A DO R Alexandra Monteiro; Viviane Sousa Ferreira;


Irailson Fateicha Neves Santos Andressa Escarlatte Avelino Daniella Almeida Brito;
de Sousa Dantas; Ana Luisa Ferreira Marques;
RE VI S O R T É C N I CO Ana Clara Silva Sousa; Maria Eduarda Arantes Castro;
Ilson Meireles Neto Ana Victoria Silva Sousa; Leonardo Tibiriçá Corrêa;
Maria Luiza da Paz; Dr. André Rinaldi Fukushima;
AU TO R E S DA EDIÇÃO William Avelino de Sousa Dantas; Pedro Ferreira Pasetto;
Amanda Pires Rezende; Zuleide Andrade Amaro; Bruno Monteiro Tavares Pereira;
Renata Costa Camargo; Adélia Dalva da Silva Oliveira; Eduardo Tavares Lima Trajano;
Vanessa Ferreira Santana; Rebeka Menezes Luz de Souza; Luiz Felipe Caramez Berteges;
Leticia Dias Escoura; Ana Carolina Lins dos Santos Silva; Adauri Silveira Rodrigues Júnior;
Marco Antônio de Melo; Lidiane Moura dos Santos; Rafael Maiolini;
Leticia Pereira Rosin; Natália Coelho Bione de Melo; Rodrigo Petrim Cruz;
Gabriel Nascimento Ingrid Hovsepian de Souza; Thaissa Aline Ribeiro;
Cerqueira Rodrigues; Beatriz Antunes de Souza; Raissa Monteiro Silva;
Marianna Dutra Milagres; Estela Hercos Fatureto; Izabela Silva Brito;
Luís Ferreira Neto; Isadora Senna Guimarães; Suélen Ribeiro
Guilherme Henrique Machado; Maria Eduarda Santos Resende; Miranda Pontes Duarte;
Thaís Mendes Pinheiro; Ricardo de Araújo Mello Júnior; Leonardo Oliveira;
André RTS Araujo; Stella Vasques Resende; Mateus Ribeiro;
Sandra Ventura; Valkíria César Monteiro; Pedro Henrique Barbosa Ribeiro;
Marcela de Moura Garcia Bini Dutra; Guilherme Henrique Machado; Caio Brasilio de Jesus Domingues;
Lara Inês Martins Dantas; Marcela Hercos Fatureto; Nathieli Bianchin Botari;
Felipe Vanderley Nogueira; Felipe Vanderley Nogueira; Marcel Jun Sugawara Tamaoki;
Deborah Sousa Vinhal; Lara Inês Martins Dantas; Cyntia Naomi Hirose;
Emylli de Sousa Araújo; Deborah Sousa Vinhal; Erika Kaneta Ferri;
Breno Rocha Coimbra; Emylli de Sousa Araújo; Mariana Pavão de Araújo
Evlyn Karolayne Bispo Andrade; Elyanne dos Santos Gomes; Gemperli Zatti;
Isabella Carla Barbosa Lima Angelo; Agata Layanne Soares da Silva; Aline Cabral Lira;
Gabriela Ferreira Kalkmann; Sara Brandão dos Santos; Barbara Mayumi Ferri;
Laura Beatriz Martins; Lucas Alexandre Pereira da Silva; Daniel Cunha José Karmouche;
Sonia Quézia Garcia Marques Zago; Willian Marciano da Silva; Emily Ruiz Cavalcante;
Milena Santana da Conceição; Igor Dutra Lima; Fabiana Moreira Coutinho;
Oscar José da Conceição Filho; Alexsander Silva de Oliveira; João Pedro Arantes da Cunha;
Marina Ferreira Magalhães; Gedivan Pereira de Gois; Paloma Almeida Kowalski;
Thania Gonzalez Rossi; Arlane Silva Carvalho Chaves; Rachel Carvalho Lemos;
Geyse Maria Lima da Piedade; Yasmin Castro Marques; Rafaela Picoli Machado de Souza;
Hannah Catharina Nepomuceno Juliana Arantes Calil; Pedro José Sartorelli Lantin;
Graça Ivankovics; Carolina Colombelli Pacca; Solange de Fatima Mohd
Marcel Lima Andrade; Claudia Edlaine da Silva; Suleiman Shama;
Ana Carolina Maués de Oliveira; Sara Brandão dos Santos; Marta Rosecler Bez;
Beatriz Maria Graça Ivankovics; Agata Layanne Soares Da Silva;
Juliana Magalhães Aguiar Cardoso; João Victor Da Cunha Silva;
Revista SanarMed - n. 03

INTRODUÇÃO

A revista SanarMed foi desenvolvida pela Sanar, em conjunto com a


comunidade de produtores de conteúdos parceiros da empresa, para que
os profissionais e estudantes de medicina tenham um material conciso com
informações relevantes para a comunidade médica.
Em sua terceira edição, vem com a proposta de trazer os artigos completos
apresentados no maior congresso on-line realizado pela empresa: o
SANARCON 2020.
Com mais de 25.000 inscrições, o evento contou com cinco salas
simultâneas e a participação de grandes nomes da área – um congresso
realizado completamente ao vivo e com a total interação dos profissionais e
estudantes que acompanharam as palestras e apresentações.
Alcançamos mais de 10.000 espectadores! Foram mais de 400 trabalhos
elaborados para o evento, dos quais 24 foram selecionados para serem
apresentados no dia – salientando que todos tiveram o acompanhamento
de professores da Sanar, que, além de supervisionar, realizaram suas
considerações ao final.
Um evento de tamanha proporção não poderia ficar de fora dessa edição!
Espero que você aproveite nossa revista enquanto conhece mais dos trabalhos.
Acompanhe também as apresentações que ficaram gravadas em nosso canal
do YouTube, os links estarão ao final de cada artigo.

Te desejamos uma ótima leitura,


Irailson Fateicha
Community Manager do SanarMed
Revista SanarMed - n. 03

SUMÁRIO
5 | ARTIGOS 93 | RESUMOS

6 | A contribuição do teleatendimento para o combate 94 | Necessidade de terapia anticoagulante como


da COVID-19 forma de prevenção de eventos tromboembólicos
em pacientes com Covid-19
11 | Hipótese glutamatérgica e hipofunção
dos receptores NMDA no tratamento 97 | Potencial atividade antiviral da azitromicina:
da esquizofrenia Revisão sistemática

27 | Desfecho cardiovascular dos antidiabéticos – 100 | Dispositivo de segurança no gerenciamento


revisão sistemática de literatura avançado das vias aéreas na era da Covid-19

33 | Manifestações Neurológicas do Covid-19 103 | O uso de metodologias ativas como estratégia


de inovação no ensino à saúde de escolas públicas
38 | Tireoidite subaguda associada à infecção viral por
e privadas em uma cidade no interior de Minas
COVID-19
Gerais: Relato de experiência
43 | Ética e legislação para telemedicina do pré ao pós
107 | Análise comparativa entre a Bahia e o Brasil
pandemia ao Brasil: para onde vamos?
quanto ao comportamento da pandemia
46 | Os desafios da inteligência artificial na medicina da Covid-19 entre março e junho de 2020

56 | Manifestações exantemáticas como apresentação 110 | Efeito do resveratrol sobre alterações


clínica da Covid-19: uma revisão de literatura comportamentais em animais congenitamente
infectados por toxoplasma gondii
60 | Impacto do projeto “Orienta Covid URA”
na população da cidade de Uberaba

63 | Abordagem imunológica para o tratamento


112 | OS 3 MELHORES
de Covid 19: Plasma convalescente TR ABALHOS
70 | Mecanismos de lesão cardiovascular em pacientes
com Covid-19 – Revisão sistemática de literatura 113 | Acurácia dos testes clínicos e da ultrassonografia
do ombro no diagnóstico das lesões do tendão
78 | Perfil da automedicação com antibióticos por
do supra-espinhal
estudantes de medicina
133 | Produção sobre morbimortalidade da população
84 | Covid-19: Adoecimento mental dos profissionais
indígena do estado de Mato Grosso do Sul
de saúde da linha de frente
148 | Criação de uma macro para controle do calendário
87 | Uso profilático da suplementação de vitamina
de vacinação pela rede pública de saúde
D contra o SARS-CoV-2: riscos e benefícios
Revista SanarMed - n. 03

ARTIGOS

Os artigos que deram origem


às apresentações do evento se encontram
em sua totalidade nas próximas páginas.
E para você que tem interesse em assistir
à apresentação junto a cada artigo está
o link para a apresentação realizada
no dia do evento.

5
Artigos

A contribuição do
teleatendimento para o
combate da COVID-19

Assista a
apresentação

Apresentado por
Amanda Pires Rezende

Autores: REZENDE, Amanda


Pires; CAMARGO, Renata
Costa; SANTANA, Vanessa
INT ROD U ÇÃO

E
Ferreira; ESCOURA, Leticia
Dias; MELO, Marco Antônio
de; ROSIN, Leticia Pereira; m janeiro, a Organização Mundial da Saúde (OMS), declarou emer-
RODRIGUES, Gabriel Nascimento gência de saúde pública mundial devido ao surto de pneumonia
Cerqueira; MILAGRES, Marianna
causada pelo novo vírus SARS-CoV-2 responsável pela COVID-19,
Dutra; FERREIRA NETO, Luís;
MACHADO, Guilherme Henrique
a qual gerou aumento na procura por atendimento médico, visto
que sua transmissão é rápida e ocorre entre pessoas por contato
direto ou por gotículas espalhadas em superfícies pela tosse ou espirro
de um indivíduo infectado1. Os sintomas da infecção pelo SARS-CoV-2 podem
ser brandos, sendo estes confundidos com uma síndrome gripal, como tosse,
febre, astenia, porém podem causar quadros mais graves de síndromes res-
piratórias e sepse em pacientes com imunodepressão ou doenças crônicas,
podendo evoluir para óbito2,3.
De acordo com a OMS, cerca de 80% dos pacientes podem ser assintomá-
ticos e 20% podem requerer atendimento hospitalar, assim, é necessário
o distanciamento e isolamento social1.
Os vírus SARS-CoV-2 são grandes vírus de RNA de fita simples, envelopa-
dos, encontrados em humanos e outros mamíferos, como cães, gatos, gali-
nhas, gado, porcos e pássaros. Esse vírus quando em contato com humanos

6
A contribuição do teleatendimento para o combate da COVID-19

causam doenças respiratórias, gastrointestinais e neuro- de risco para COVID-19 aumentou consideravelmente
lógicas, sendo confundidos com sintomas de resfriado durante a pandemia pelo vírus da SARS-CoV-2 o que lota
comum quando infectam indivíduos imunocompeten- o sistema de saúde, podendo colocar indivíduos não
tes4. O SARS-CoV-2 é o terceiro coronavírus que causou infectados em risco de contaminação. Atualmente, o uso
doença grave em humanos e a se espalhar globalmente de tecnologias de informação e telecomunicação tem
nas últimas 2 décadas4. O primeiro coronavírus descrito, sido colocado para uso em serviços multiprofissionais
causou a doença grave conhecida como a Síndrome de saúde, atividades de treinamento e informação em
Respiratória Aguda Grave (SARS), e que resultou na pan- saúde, sendo chamado de telesSaúde. O uso do recurso
demia de SARS-CoV de 2002-20035. O segundo corona- de telesSaúde pode promover muitos benefícios durante
vírus descrito na literatura ocasionou a Síndrome a pandemia, pois ajuda a reduzir a circulação de indiví-
Respiratória do Oriente Médio (MERS) que se originou duos em estabelecimentos de saúde, a diminuir o risco
na península da Arábia em 20126. de contaminação de pessoas e a disseminação da doença.
A estratégia de resposta ao aumento dos casos de con- Somado a esses benefícios, a telesSaúde permite apoiar
taminação por SARS-CoV-2 inclui o diagnóstico precoce, e promover cuidados clínicos e educação em saúde10.
isolamento do paciente, monitoramento dos sintomá- É visível que os sistemas de saúde no mundo vêm
tico, bem como casos suspeitos e confirmados, e uma enfrentando desafios sem precedentes com a rápida
quarentena de saúde pública. O impacto da pande- e inesperada disseminação da COVID-19, onde, são fun-
mia nos sistemas de saúde tem prejudicado o atendi- damentais o auto isolamento e distanciamento social
mento de rotina e acompanhamento, assim gerando para prevenir e reduzir as taxas de infecção. Dessa
um colapso no sistema de saúde que prejudica o aten- forma a telesSaúde ou o teleatendimento emerge como
dimento de todos os pacientes, tanto os acometidos pela uma ferramenta primordial para ajudar população em
COVID-19 quanto por outras enfermidades. Nesse con- geral e monitor os sintomáticos para COVID-19. Essa
texto, a telemedicina, em particular as videoconferên- ferramenta auxilia a conter o avanço da infecção e redu-
cias, tem sido promovida e ampliada para reduzir o risco zir a procura por hospitais sem a devida necessidade,
de transmissão, especialmente em países como o Reino através das informações prestadas a população, assim
Unido e Estados Unidos da América7,8. Embora essas contribuindo para menor sobrecarga nos atendimentos,
soluções possam ser úteis para apoiar e aliviar a pressão sendo estes os objetivos do nosso trabalho.
sobre os sistemas de saúde durante o surto de COVID-19,
até o momento, elas não estão integradas aos sistemas O B J E T IVO S
nacionais de saúde e em grande parte não comparti-
lham dados com as autoridades de saúde pública para Orientar e prestar atendimento de qualidade a popu-
vigilância epidemiológica. lação do Triângulo Mineiro sobre promoção da saúde,
Sabe-se que grande parte dos infectados pela COVID- isolamento e distanciamento social. Adicionalmente,
19 apresentam formas assintomáticas ou casos leves, triar e encaminhar à vigilância de saúde dos municípios
entretanto, dados da literatura mostram que 15% de Uberaba e Passos os sintomáticos para COVID-19 que
dos infectados podem desenvolver sintomas mais gra- procuraram o serviço de teleatendimento para monito-
ves e 5% podem necessitar de internações em unidades ramento a distância.
de terapia intensiva (UTI), além do suporte de venti-
lação mecânica9. A infecção por COVID-19 apresenta MÉ TO D O S
alta transmissibilidade e sua disseminação elevada
representa risco de sobrecarga para o atendimento O projeto consiste em uma orientação remota por tele-
dos pacientes sintomáticos e daqueles considerados fone às pessoas que possuem dúvidas acerca da COVID-
graves, o que gera o colapso do sistema de saúde como 19, bem como, facilita a busca, quando necessária,
já visualizado em alguns estados brasileiros, além disso, dos pacientes sintomáticos que pertencem ao grupo
essa sobrecarga eleva a letalidade da doença por dificul- de risco ou que sejam sintomáticos graves aos servi-
tar a rapidez em seu atendimento médico. ços de saúde especializados do munícipio. A iniciativa
A procura de pacientes febris, com tosse, que apre- da criação desse projeto foi a partir do desenvolvimento
sentam sintomas leves e não se enquadram nos grupos de discentes e docentes da Unicamp, e posteriormente

7
Artigos

foi introduzido na região do Triângulo Mineiro pelos odinofagia, mialgia, astenia, cefaleia e diarreia; o qua-
acadêmicos do curso de medicina da Universidade dro de dispneia, que pode estar relacionado à casos
de Uberaba. mais graves, não foi relatado em nenhum atendi-
O projeto “Orienta COVID Uberaba” é constituído mento. Dos 22 sintomáticos 2 eram acima dos 60 anos,
de 16 médicos que supervisionam 60 acadêmicos pertencendo ao grupo de risco, 2 eram crianças com 2
do curso de medicina. Todos os discentes voluntários e 6 anos e 18 indivíduos compreendiam a faixa etária
do projeto realizaram anteriormente ao teleatendi- entre 18 a 59 anos de idade. As principais dúvidas dessa
mento, cursos sobre manejo na COVID-19 da UNA-SUS. população eram com relação ao atendimento médico,
Além disso foi desenvolvido um fluxograma de aten- gravidade da doença e em qual situação deveriam se
dimentos na rede pública e privada de saúde do muni- submeter a exames confirmatórios. Todos os sinto-
cípio, além de um manual com perguntas e respostas máticos foram orientados pelo nosso projeto ao iso-
acerca das informações sobre a COVID-19, sendo todo lamento social, uso de máscaras quando necessário se
o manual baseado em informações do ministério colocar fora do isolamento e higienização das mãos
da saúde e em estudos comprovados cientificamente. e superfícies tocadas em casa. Caso a pessoa estivesse
Os acadêmicos foram distribuídos em grupos com sintomas leves e não pertencesse ao grupo de risco,
de 4 pessoas que atendiam em turnos de 4 horas sendo foi orientado a permanecer em casa em isolamento
esses alunos supervisionados por um médico durante e observar a evolução dos sintomas e deveria procurar
todo o atendimento. O serviço de atendimento era gra- atendimento médico apenas se os sintomas se agravas-
tuito através de número 0800, tendo horário de funcio- sem, já para os que se enquadravam em grupo de risco,
namento de segunda a sexta-feira das 07h às 19h. mesmo em casos leves, foi orientado a procurar o serviço
Durante todos os atendimentos foram preenchidos de saúde.
formulários com perguntas sobre idade, sexo, se teve Além de toda a orientação dada a população que
contato com caso suspeito ou confirmado para COVID- procurou por nosso teleatendimento, todos as fichas
19 e quais os sintomas caso estivessem presentes. Todos dos sintomáticos foram encaminhadas a vigilância
os indivíduos que apresentaram síndrome gripal rece- de saúde do município de Uberaba para monitoramento
beram orientações como procederem, tiveram seus à distância dos mesmos.
dados tabulados separadamente e suas fichas foram Atualmente, muitos estudos têm descrito que a carga
encaminhadas a vigilância de saúde para monitora- viral no trato respiratório superior parece atingir o pico
mento a distância. Ressalta-se que esse projeto não se máximo de replicação viral próximo ao início dos sin-
tratava de consulta médica e não prestava nenhum aten- tomas, além disso a eliminação e transmissão viral
dimento médico, sendo realizada apenas a orientação começa aproximadamente 2 a 3 dias antes do início
e informação a população. dos sintomas. Alguns estudos mostram que portado-
res assintomáticos e pré-sintomáticos também podem
RE SU LTA DO S E DIS CUS SÃO transmitir SARS-CoV-2. Em Cingapura, a transmissão
pré-sintomática foi observada em um grupo de pacien-
O projeto atendeu entre maio e julho de 2020 um total tes de contato próximo, aproximadamente, 1 a 3 dias
de 103 ligações, os quais 63,1% dos indivíduos eram antes que o paciente-fonte desenvolvesse os sintomas11.
do sexo feminino e 36,9% pertenciam ao sexo mascu- Acredita-se que a transmissão pré-sintomática seja
lino. Do total de indivíduos que procuraram por nosso uma das principais contribuições para a dissemina-
serviço de teleatendimento 27,2% relataram ter tido ção de SARS-CoV-2, o que corrobora com a importância
contato prévio com algum indivíduo que fosse caso sus- de manter o distanciamento social evitando a disse-
peito ou confirmado para COVID-19, os demais (72,8%) minação do vírus. Adicionalmente, excreção faríngea
negaram qualquer tipo de contato. Adicionalmente, den- é alta durante a primeira semana da infecção, período
tre os indivíduos que procuraram nosso projeto, 21,35% este que os sintomas ainda são leves, podendo ser con-
relataram sintomas gripais que os configuravam como fundidos com uma gripe ou resfriado, o que pode expli-
possível suspeito sintomático para COVID-19. car a transmissão eficiente do SARS-CoV-2, uma vez que
A maior parte dos sintomas relatados pela popu- os indivíduos infectados podem ser infecciosos antes
lação que procurou nosso projeto foram febre, tosse, mesmo de perceberem que estão doentes 3,12.

8
A contribuição do teleatendimento para o combate da COVID-19

Os dados epidemiológicos sugerem que as gotículas 2. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção
expelidas no decorrer da exposição face a face durante Primária à Saúde (org.). PROTOCOLO DE MANEJO
a fala, tosse ou espirro é o modo de transmissão mais CLÍNICO DO CORONAVÍRUS (COVID-19) NA ATENÇÃO
comum. A exposição prolongada, em que a pessoa fica PRIMÁRIA À SAÚDE. 7. ed. Brasília: Ministério da
menos de um metro e meio por 15 minutos de uma Saúde, 2020. 38 p.
pessoa infectado, e exposições mais breves próximas
3. Wiersinga WJ, Rhodes A, Cheng AC, Peacock
a sintomáticos, como exemplo a tosse, estão associa-
SJ, Prescott HC. Pathophysiology, Transmission,
das a um maior risco de transmissão, enquanto breves
Diagnosis, and Treatment of Coronavirus Disease 2019
exposições de contato com assintomáticos têm menos
(COVID-19): A Review. JAMA. Published online July 10,
probabilidade de resultar em transmissão13. Esses
2020. Doi:10.1001/jama.2020.12839.
dados da literatura sobre a proliferação do SARS-CoV-2
demonstram a importância do distanciamento social 4. Zhu N, Zhang D,WangW, et al; China Novel
e da adoção do uso de barreiras físicas como a utilização Coronavirus Investigating and Research Team. A
dos equipamentos de proteção individual para prevenir novel coronavirus from patients with pneumonia
o contágio. Dessa forma, o nosso atendimento remoto, in China, 2019. N Engl J Med. 2020; 382(8): 727-733.
através da identificação e monitoramento dos casos doi:10.1056/NEJMoa2001017.
suspeitos emerge como uma forma de conscientizar
5. Zhong NS, Zheng BJ, Li YM, et al. Epidemiology and
a população a se prevenir e evitar a infecção pelo vírus.
cause of severe acute respiratory syndrome (SARS)
in Guangdong, People’s Republic of China, in February,
C ON CL U SÃO
2003. Lancet. 2003; 362(9393): 1353-1358. doi:10.1016/
S0140-6736(03)14630-2.
Os estudos mostram que a COVID-19 é potencialmente
evitável através da utilização das medidas de controle 6. Zaki AM, van Boheemen S, Bestebroer TM, Osterhaus
de infecção, isso se faz necessário até que haja a adoção AD, Fouchier RA. Isolation of a novelcoronavirus from
de tratamentos eficazes e o desenvolvimento de vacinas. a man with pneumonia in Saudi Arabia. N Engl J Med.
O teleatendimento realizado por nosso projeto repre- 2012; 367(19): 1814-1820. doi:10.1056/NEJMoa1211721.
senta uma alternativa de orientação remota a popu-
7. Greenhalgh T, Wherton J, Shaw S, Morrison C.
lação, identificação e instrução dos sintomáticos para
Video consultations for covid-19. BMJ. 2020 Mar
manter a medidas de isolamento e distanciamento
12;368:m998. doi: 10.1136/bmj.m998.
social, prevenindo a disseminação do vírus.
O projeto atuou como uma ferramenta de auxílio 8. 2. Hollander JE, Carr BG. Virtually Perfect?
a vigilância de saúde no encaminhamento dos sinto- Telemedicine for Covid-19. N Engl J Med. 2020 Mar 11;
máticos para COVID-19 podendo, futuramente, utilizar doi: 10.1056/nejmp2003539.
as informações coletada para traçar um perfil epide-
9. Wu Z, McGoogan JM. Characteristics of and important
miológico do município. Assim, mesmo que não tenha
lessons from the coronavirus disease 2019 (COVID-19)
atingido toda a população, o teleatendimento é uma fer-
outbreak in China: summary of a report of 72,314 cases
ramenta importante na prevenção do contágio.
from the Chinese Center for Disease Control and
Prevention. JAMA 2020; [Epub ahead of print].
Palavras-chave: COVID-19; Teleatendimento;
Orientação; Distanciamento; Prevenção 10. Lurie N, Carr BG. The role of telehealth in the
medical response to disasters. JAMA Intern Med
R EF ER Ê N CI AS : 2018; 178:745-6

11. Wei WE, Li Z, Chiew CJ, Yong SE, TohMP, Lee VJ.
1. ROTHAN, Hussin A.; BYRAREDDY, Siddappa N. The
Presymptomatic transmission of SARS-CoV-2—
epidemiology and pathogenesis of coronavirus
Singapore, January 23-March 16, 2020. MMWR
disease (COVID-19) outbreak. Journal of autoimmunity,
Morb Mortal Wkly Rep. 2020;69(14): 411-415.
p. 102433, 2020.
doi:10.15585/mmwr.mm6914e1.

9
Artigos

12. Wölfel R, Corman VM, GuggemosW, et al. Virological


assessment of hospitalized patients with COVID-2019.
Nature. 2020;581(7809):465-469. doi:10.1038/
s41586-020-2196-x.

13. Chu DK, Akl EA, Duda S, et al; COVID-19 Systematic


Urgent Review Group Effort (SURGE) study authors.
Physical distancing, face masks, and eye protection
to prevent person-to-person transmission of SARS-
CoV-2 and COVID-19: a systematic review and
meta-analysis. Lancet. 2020;395(10242):1973-1987.
doi:10.1016/S0140-6736(20)31142-9

10
Artigos

Hipótese glutamatérgica e
hipofunção dos receptores
NMDA no tratamento
da esquizofrenia
Glutamergic hypothesis and hypofunction of NMDA
receptors in the treatment of schizophrenia

Hipótesis glutamatérgica e hipofunción de los


receptores nmda en el tratamiento dela esquizofrenia

Assista a
apresentação

Apresentado por
Thaís Mendes Pinheiro

Autores: Thaís Mendes Pinheiro


(thaismp83@hotmail.com)1, André
RTS Araujo (andrearaujo@ipg.pt)2,
Sandra Ventura (scventura@ipg.
RE SU M O

A
pt)3, Marcela de Moura Garcia Bini
Dutra (marcela.bini@gmail.br)3
esquizofrenia é uma doença mental crônica, caracterizada por
apresentar sintomas psicóticos. Hoje existem tratamento psi-
cológicos e farmacológicos para a doença, mas, muitas vezes,
1. Thaís Mendes Pinheiro, aluna de
podem ocasionar efeitos adversos que fazem o paciente aban-
Farmácia no Centro Universitário
donar o tratamento. Diante disso, alguns estudos têm sido feitos
Newton Paiva e intercambista
com a hipótese glutamatérgica, na qual constatou-se que alguns pacientes no Escola Superior de Saúde do
esquizofrênicos apresentavam diminuição de concentração de glutamato Instituto Politécnico da Guarda.
no Sistema Nervoso Central (SNC), com hipofunção nos receptores NMDA.
2. Escola Superior de Saúde,
Esse artigo de tem como objetivo fazer uma revisão de algumas visões com Instituto Politécnico da Guarda,
base em uma teoria de possíveis mecanismos que atuariam na hipofunção Rua da Cadeia, 6300-035 Guarda,
dos neuroreceptores NMDA, aumentando o nível de glutamato circulante Portugal
na fenda sináptica, tratando a doença e diminuindo as reações adversas cau-
3. Centro Universitário Newton
sada por outras classes de medicamentos. Trata-se de um artigo de revisão Paiva, Avenida Silva Lobo, 1.730
descritiva bibliográfica, com base em artigos, tese, dissertação e livros sobre Grajaú, Belo Horizonte, Minas
o assunto. Foram analisados 79 documentos entre os anos de 2000 e 2020. Gerais, Brasil
Conclui-se que a hipótese glutamatérgica e hipofunção do NMDA é uma via

11
Artigos

promissora para o tratamento da doença, melhorando nivel de glutamato circulante en la hendidura sináptica,
a qualidade de vida do paciente. tratando la enfermedad y reduciendo las reacciones
adversas causadas por otras clases de medicamentos. Se
Palavras-chave: Esquizofrenia, Glutamato, NMDA, trata de un artículo de revisión de la literatura basado
Neurotransmissores, Hipótese glutamatérgica. en artículos, tesis, disertaciones y libros sobre el tema.
Se analizaron 79 documentos entre 2000 y 2020. Se con-
A BST R ACT: cluye que la hipótesis glutamategia y la hipofunción del
NMDA es una forma prometedora de tratar la enferme-
The schizophrenia is a chronic mental illness, characte- dad, mejorando la calidad de vida del paciente.
rized by psychosis. Currently, there are psychological tre-
atments and pharmacological for this disease, however, Palabras clave: Esquizofrenia, Glutamato, NMDA,
these treatments can cause several adverse effects that Neurotransmisores, Hipótesis Glutamérgica.
can make the patients give up their treatment. Some stu-
dies have ben make with the hypothesis glutamatergic, IN T R O D U ÇÃO
in which some schizophrenic patients had decreased
Central Nervous System (CNS) glutamate concentration, A esquizofrenia é uma doença crônica e que afeta várias
with hypofunction in the receptors NMDA. This article funcionalidades no cotidiano do paciente. Pode impac-
aims to review some theories of mechanisms that func- tar o desempenho educacional, profissional e ocupacio-
tions as a hypofunction of NMDA neuroreceptors, incre- nal, mas é tratável com medicações e apoio psicossocial.
asing the level of circulating glutamate in the synaptic Essas pessoas têm até 3 vezes mais chances de morte pre-
cleft, treating the disease and decreasing adverse reac- coce, não só por suicídio, mas também devido as doen-
tions, caused by others medicines. It is a descriptive ças que podem ser evitadas, como cardiovasculares,
bibliographic review article, based on articles, thesis, infecciosas e metabólicas (World Health Organization
dissertation and books on the subject. It was analyzed [WHO], 2019; Ulysses, 2016).
79 documents between 2000 and 2020. In conclusion, the É uma doença neuropsicológica, marcada por psi-
glutamatergic hypothesis and hypofunction of NMDA, cose, como característica alucinações e delírios. A teoria
is a promising route for the treatment of the disease, mais aceita é de ser uma doença genética e hereditá-
improving the patient's quality of life. ria. Comumente, se manifesta na adolescência ou iní-
cio da fase adulta. Curiosamente, não é tão comum
Keywords: Schizophrenia, Glutamate, NMDA, em crianças, existindo a hipótese de que a criança
Neurotransmitters, Glutamateric Hypothesis. não possui o cérebro suficientemente maduro para
desencadear os distúrbios psicóticos (Regis et al., 2011;
RE SU M EN : Whalen et al., 2016). Afeta cerca de 20 milhões de pes-
soas no mundo, geralmente começando mais cedo em
La esquizofrenia es una enfermedad mental crónica homens. Nem sempre é facilmente percebida, podendo
caracterizada por síntomas psicóticos. Hoy en día exis- surgir com manifestações de comportamento e sinto-
ten tratamientos psicológicos y farmacológicos para mas pouco específicos. Costumam ser calados, introver-
la enfermedad, pero a menudo pueden causar efectos tidos e excluir-se socialmente, podem demorar meses
adversos que hacen que el paciente abandone el tra- para apresentarem sintomas psicóticos (Queiros et al.,
tamiento. En vista de ello, se han realizado algunos 2019; WHO, 2019; Organização Pan-Americana da saúde
estudios con la hipótesis del glutamato, en los que se [OPAS], 2018).
encontró que algunos pacientes esquizofrénicos tenían Ao buscarmos mais conhecimento em outras áreas
una menor concentración de glutamato en el Sistema do cérebro, talvez possamos melhorar a qualidade
Nervioso Central (SNC), con hipofunción en los recep- de vida desses pacientes. Um neurotransmissor impor-
tores NMDA. El presente artículo tiene por objeto exa- tante é o glutamato com grande função cerebral, princi-
minar algunas opiniones basadas en una teoría de los palmente na memória. Existem muitas pesquisas sobre
posibles mecanismos que actuarían sobre la hipofun- a ação dopaminérgica e serotoninérgica na esquizofre-
ción de los neurorreceptores del NMDA, aumentando el nia, mas este artigo de revisão objetiva olhar para outras

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Hipótese glutamatérgica e hipofunção dos receptores NMDA no tratamento da esquizofrenia

vias de sinalização central, como a glutamatérgica e seus do processo de amadurecimento do córtex pré-frontal
receptores com ênfase no N-metil-d-aspartato (NMDA). (Queiros et al., 2019).
O NMDA é um receptor neuronal excitatório do tipo Foi chamada de demência precoce, por começar
ionotrópico, encontrado nos neurônios do SNC (Katzung no início da vida, depois criou-se o termo “esquizofrenia”
et al., 2017; Lüllmann et al., 2017). (esquizo = divisão, phrenia = mente), pois apresenta rup-
Um dos receptores envolvidos nessa modulação tura com a realidade, entre pensamento, emoção e com-
são os neuroreceptores glutamatérgicos. Este artigo portamento, com alucinações, perturbações, ruptura
pretende abordar sobre a hipótese glutamatérgica com do fluxo de pensamento, esvaziamento afetivo e sin-
hipofunção dos receptores de NMDA. Sugere-se que há tomas catatônicos. O transtorno surge devido a causas
diminuição de concentração de glutamato no líquido internas e foi separado de outras doenças neuropsiqui-
encéfalo-raquidiano em pacientes esquizofrênicos. átricas com base nos sintomas e seu curso patológico
Abordar também sobre esse neurotransmissor, suas (Silva et al., 2006).
funções e relação entre suas disfunções e o apareci- Geralmente surgem na forma de sintomas negativos,
mento e/ou agravamento da esquizofrenia, e meios com como anedonia, apaticidade, retraimentos social e baixa
os quais possamos encontrar perspectivas para o tra- concentração. Ao longo do tempo apresentam os sinto-
tamento e melhorar a qualidade de vida dos pacientes mas positivos, como, desorganização conceitual, delírios
(Lieberman et al., 2018). (ciúmes, culpa, somáticos e outros) e alucinações (audi-
tivas ou verbais, táteis, olfativas, somativas e visuais).
ME TO DO LO GI A Alguns apresentam também alterações na função cog-
nitiva, desfoque de atenção, alterações de pensamento,
O presente trabalho consiste em uma revisão biblio- problemas na memória e função executiva (Celoto et
gráfica qualitativa descritiva, feita através de pesquisa al., 2019; Queiros et al., 2019; Dalgalarrondo et al., 2019).
utilizando os descritores: “esquizofrenia”, “glutamato”, Existe mais de um fator de risco que desencadeia
“hipofunção”, “NMDA”, “psicose”, “glutamate”, “hypofunc- a doença, sendo o principal o fator genético. Este é
tion”, “schizophrenia”.Estão disponibilizados nas bases associado a hereditariedade e polimorfismos. Há tam-
de dados: Biblioteca Visrtual de Saúde (BVS), Cambridge bém fatores relacionados com complicações obstétri-
University Press, Food and Drugs Administration,Medical cas e infecções na gestação por diversos patógenos,
Literature Analysis and Retrieval System Online como o vírus da rubéola, os vírus da família Herpes
(Medline), Medscape, National Library of Medicine simplex, os vírus influenza e parasitatoxoplasma
(PubMed), Scientific Eletronônic Library Online (Scielo), gondii. Também foi associado a epilepsias, drogas
World Health Organization, como a Cannabis, o ambiente de convívio do paciente
Foram incluídos artigos, monografias, disserta- e alterações imunológicas, dentre elas citosinas, como
ções, tese, livros e legislações sobre o tema. Com limite o aumento de células Th1 e Th2 e a diminuição de IL-2
de tempo entre 2000 e 2020, não foi limitado idiomas, e IL-6, causando uma resposta diminuída mediadas por
mas obteve-se artigos nos idiomas escritos em inglês, células T (Aguiar et al., 2010; Volk et al.,2019).
português e espanhol. Ao longo do tempo confirmou-se o alargamento
ventricular e diminuição do hipocampo e volume cor-
ESQUIZOFRENIA tical. Podem estar relacionadas a redução do número
de neurônios, e à diminuição do volume neuronal
A esquizofrenia é uma doença neurológica, marcada e ramificações axonais e dendríticas. Também tem sido
pela psicose. Importante destacar que os sintomas apontada a ausência de gliose (alteração da substância
presentes na esquizofrenia também podem ser encon- branca no cérebro) assimetria cortical como um apon-
trados em outras doenças neurológicas. É uma doença tador de alteração precoce na degeneração cerebral em
para o longo da vida, onde os sintomas podem aumen- esquizofrênicos (Neto et al., 2007; Weinberguer, 2017).
tar e diminuir no decorrer dos anos. Afeta entre 7,7 A hipótese mais aceita hoje é a alteração neuro-
e 43,0 a cada 100.000 habitantes, surgindo geralmente química de funções dopaminérgicas. Foi observado
entre a fase da adolescência e a fase adulta, no final exacerbações de sintomas psicóticos, principalmente
com o uso de substâncias psicoativas, como Cannabis,

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Artigos

cocaína e anfetaminas. Quando há aumento de interati- e galactorréia em mulheres. Efeitos extrapiramidais, dis-
vidade na via mesolímbica, manifestam-se os sintomas cinesia tardia, hiperprolactina, parkisonismo, distonia
positivos da doença, quando há diminuição de intera- de cabeça e pescoço estão atribuídos ao antagonismo
tividade na zona mesocortical predominam os sinto- de dopamina. Causam também hipotensão, sedação,
mas negativos (Stephen et al., 2006; Vaucher et al., 2017; e efeitos mais graves, como convulsões (Lopes-Munhoz
Sowunmi et al., 2019). et al., 2011; Ritter et al., 2016; Zito et al., 2019).
Pesquisas apresentam outros neurotransmissores Quanto a clozapina, um antagonista de 5-HT2A/2C,
envolvidos na fisiopatologia, como os serotoninérgicos, induz a exocitose de D-serina por células da glia, o que
GABAérgicos e glutamatérgicos. O sistema glutamatér- pode contribuir para a ação antipsicótica no tratamento
gico, tem efeito excitatório e não está envolvido apenas da doença. Tem eficácia sobre os sintomas negativos,
na esquizofrenia, mas em outras doenças neurais, como mas atualmente é usada apenas em paciente cujo tra-
epilepsia, isquemias, doença de Huntington, Alzheimer tamento de primeira linha não surgiu efeito. Pode cau-
e transtorno bipolar (Valli et al., 2014; Vita et al., 2019). sar agranulocitose, o que requer uma atenção maior
O tratamento da esquizofrenia é fundamentado a esses pacientes e um acompanhamento mais crite-
para a melhora dos sintomas e da qualidade de vida. São rioso com exames regularmente (Uno et al., 2019; Stahl,
apoiados em dois pilares: as terapias medicamentosa 2014; Stepnicki et al., 2018).
e psicossocial. Entre os tratamentos não farmacológi-
cos recomenda-se a psicoterapia, artesanato, exercícios F IS I O PATO LO G IAS D O S
físicos, ouvir música e atividades familiares. Já o trata- N E U R OT R A N S MIS S O R E S
mento medicamentoso melhora os sintomas psicóticos,
estabiliza o paciente, diminui recorrências das crises, Dopamina
mas também traz alguns efeitos adversos. Hoje os tra- Sendo o mais estudado atualmente, a hiperfunção
tamentos da farmacoterapia são feitos com os antip- do sistema dopaminérgico é o mais aceito para explicar
sicóticos típicos e atípicos, estabilizantes de humor a esquizofrenia. É sustentada pelo fato dos medicamen-
e alguns antidepressivos (Durão et al., 2006; Menezes tos usados serem bloqueadores de receptores dopami-
et al., 2011; Pinar RN et al., 2019; Who, 2019; Ministério nérgicos do tipo D2 e pelas anfetaminas induzirem
da saúde, 2013). quadros psicóticos, ao provocarem liberação de dopa-
mina (Bressan et al., 2003, Msd, 2018). Uma de suas ações
Tratamentos é a ativação da via mesolímbica responsável pela recom-
Hoje os tratamentos farmacológicos sem geral são pensa, e disfunções nestas vias estão ligadas a proble-
mais efetivos no controle dos sintomas positivos. mas como dependência e a esquizofrenia. É fortemente
Feitos principalmente com antagonista de dopamina influenciada por estímulos inibitório de GABA e excita-
e serotonina, sendo eles os antipsicóticos de primeira tórios do glutamato (Brunton et al., 2010; Costa, 2014).
geração, conhecidos como típicos (fenotiazina, clorpro- Grande parte dos neurônios da dopamina no estriado
mazina), os de segunda geração, atípicos (risperidona, conseguem liberar GABA, como co-transmissor (poten-
olanzapina, clozapina), antidepressivos (haloperidol) cializa a ação do transmissor principal) e em menor por-
e estabilizantes de humor (lítio). Os medicamentos ção glutamato de corelease. Especificamente no estriado
típicos podem trazer com eles alguns efeitos colaterais, dorsal, os neurônios dopaminérgicos não liberam glu-
entre eles distonia, sedação, discinesia tardia ou tremor. tamato (McCutheon et al.,2020).
Os de segunda geração, geralmente estão associados Considerada biologicamente inativa, teve comprova-
a ganho de peso, problemas no metabolismo de lipí- ção de seus efeitos quando estudos demonstraram que
deos, síndrome metabólica, e diminuição de tolerân- sua depleção causava inibição de movimentos, sendo
cia à glicose, aumentando o risco de diabetes mellitus revertido após administração de L-DOPA. Foi sintetizada
(Manual Merck On-line [MSD], 2018; Naime et al., 2020; pela primeira vez em 1910 como um tipo de adrenalina
Rev. Brasileira, 2003;Perobelli et al., 2018). fraca (McCutheon et al., 2020). Sua teoria deriva da des-
Esses medicamentos podem causar problemas coberta da clorpromazina. A hipótese da hiperatividade
endócrinos, como elevação da prolactina, diminui- da dopamina que levou a criação da primeira classe
ção do desempenho sexual, ginecomastia em homens

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Hipótese glutamatérgica e hipofunção dos receptores NMDA no tratamento da esquizofrenia

de antipsicóticos, chamada de antipsicóticos típicos Devido ao fato dos receptores de 5-HT3, estarem em
(Bruton et al., 2010). grande parte localizados na zona mesocortical ao blo-
Essa via é mais efetiva para o tratamento dos sin- quear ações da dopamina nesta região pelo seu antago-
tomas positivos da doença, mas é necessário um nível nismo, obtém-se efeito no tratamento da esquizofrenia
de bloqueio da dopamina para se obter resultado. Mas, (Lopez-Munhoz et al., 2011). Mas, a elevação de 5-HT causa
a quetiapina e clozapina, antipsicóticos atípicos se a síndrome serotoninérgica, levando a confusão, arre-
mostram eficazes mesmo bloqueando menos recep- pios, diarreia, taquicardia, febre, convulsão e até a morte
tores de dopamina, sugerindo assim o envolvimento (Bruton et al., 2010; Whalen et al., 2016). Logo foram cria-
de outros neuroreceptores (Bressan et al., 2003).Apesar dos os antipsicóticos atípicos, com diminuição dos efei-
disso, muitos pacientes não respondem a diferentes tos extrapiramidais, pois afetam 5-HT mas tem menor
antipsicóticos, evidenciando que esta doença envolve bloqueio sobre dopamina. Um dos medicamentos mais
mais que excesso dopaminérgico ou que pode haver conhecidos dessa classe é a clozapina (Girano et al., 2019).
um subtipo ‘não-dopaminérgico’ de esquizofrenia A clozapina tem atividade antipsicótica, rápido
(Theberge et al., 2003; Wenneberg et al., 2019). início de ação e não induz reações extrapiramidais.
A hiperatividade de dopamina no estriado ventral é Controla os sintomas positivos e negativos dos pacien-
causador de paranoides, alucinações e delírios. Ao blo- tes, sendo mais utilizada em pacientes com esquizo-
quear dopamina atingimos também a via nigroestriatal frenia refratária e/ou comportamento suicida. O grave
e estriado dorsal podendo causar distúrbio do movi- problema da clozapina é a agranulocitose, atingindo
mento como o parkinsonismo. Já a liberação do gluta- de 1% a 2% dos pacientes. Geralmente esse declínio
mato pode ser projetada ativando a via dopaminérgica de leucócitos totais, neutrófilos e granulócitos, podendo
mesolímbica levando a psicose (Sthal et al., 2018). resultar em neutropenia grave e propensão a infecções.
O aumento de dopamina no nigroestriatal pode levar Esses pacientes necessitam de um acompanhamento
também a discinesia tardia, mais comum em pacientes laboratorial mais frequente, com obrigatoriedade
mais velhos, caracterizada por movimentos repetitivos, de interrompimento do tratamento quando os níveis
indolores e involuntários, mas desaparecem durante estiverem baixos. Mas há casos de reduções abruptas,
o sono. Já o bloqueio na hipófise dos neurônios túbero- tendo que fazer a monitorização sanguínea semanal
fundibulares pode causar hiperprolactinemia. (Bruton (Durão et al., 2006; Food and Drugs Administration
et al., 2010). Mas essa hipótese não é perfeita, pois ela não [FDA], 2019).
explica os efeitos da fenilciclina (PCP), nem da cetamina,
anestésicos utilizados em cirurgia. A via dopaminérgica GABA
não exerce muito efeito nos sintomas negativos, não O ácido gamma-aminobutírico (GABA) é um aminoácido,
é responsável pelos déficits cognitivos e não explica transmissor inibitório abrindo os canais específicos
o antagonismo do NMDA (Lops-Munhoz et al., 2011). para os íons potássio e cloro. É sintetizado pelo ácido
glutâmico, sendo ele o balanço entre excitação e inibição.
Serotonina Quando adicionado a glutamato e NMDAR gera a expres-
A 5-Hidroxitriptamina (Serotonina) é um neurotrans- são do GAD, aumentando o nível de glutamato causando
missor presente no SNC, no TGI e no armazenamento exotoxicidade. Está envolvido na plasticidade do cérebro,
de plaquetas. Ela é responsável por inúmeras funções na memória, locomoção e no processo de aprendizagem.
tais como cognição, sono, atividade motora, comporta- Sua disfunção acarreta desordens neuronais como epi-
mento sexual, humor, secreção hormonal, temperatura, lepsia, Alzheimer, Parkinson e esquizofrenia (Lee et al.,
e percepção sensorial. Hoje tem medicamentos para 2019; Ritter et al., 2016).
tratar a impulsividade, enxaqueca e a esquizofrenia Quando o GABA atinge a via mesolimbica interage
(Bruton et al., 2010; Rang et al., 2016). Descobertas apoiam com glutamato diminuindo a liberação de dopamina
o envolvimento da serotonina na esquizofrenia. A psilo- nessa via. Mas, se houver diminuição de atividade
cibina ou dietilamida do ácido lisérgico (LSD), provocam de NMDA, haverá também diminuição de estímulos
estados mentais semelhantes a esquizofrenia através GABAérgicos. Sem esses estímulos há um aumento
de ativação de 5-HT2ARs (Garcia-Bea et al., 2019). de liberação de dopamina o que causa os sintomas
positivos da doença (Reis et al., 2011).

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Artigos

Glutamato diminui a liberação de dopamina através de GABA. Se


O sistema glutamatérgico é o maior sistema excitatório houver hipofunção do NMDA no mesolímbico, haverá
do SNC, e está envolvido em funções cognitivas como menos estímulos aos neurônios GABAérgicos, não con-
aprendizado e memória. São neuroreceptores metabo- seguindo frear a liberação de dopamina nesta área,
trópicos e ionotrópicos são essenciais para a plastici- aumentando os sintomas positivos (Reis et al., 2011;
dade neuronal. Este sistema envolve vários receptores Stahl, 2014).
que são ativados pelo aminoácido glutamato (Zhand, Há dois alvos em ensaio clínico de fase III. O receptor
2019; Golan et al.,2014). metabotrópico de glutamato (mGluR2/3) e o transpor-
Em elevadas concentrações o glutamato age como tador de glicina (GlyT1). Eles afetam os níveis de glicina,
uma neurotoxina induzindo danos excitotóxicos em um co-agonista (necessitam de combinação de dois
neurônios, tendo o cálcio como intensificador do meca- ou mais agonistas para sua ação) do receptor NMDA.
nismo (Dempster et al., 2020). Implicam em várias doen- Outro alvo em investigação é o D-aminoácido oxidase
ças neurodegenerativas, como doença de Huntington (DAAO), afentando também o sitio NMDAr como co-ago-
e esclerose lateral amiotrófica (ELA). Mas por outro lado, nista. Em estudos post mortem, foi relatado expressão
em baixas concentrações ele pode causar esquizofrenia da subunidade NMDAr reduzidas no córtex pré-frontal
(Valli et al., 2014). (Bygrave, 2019).
Os receptores glutamaérgicos metabotrópicos
(mGluR), agem pelo segundo mensageiro ativado por E F E ITO S N O S N C
proteínas, produzindo uma corrente pós-sináptica
lenta. A entrada de Na+ e K+ nos canais iônicos favo- Receptores NMDA
recem a despolarização dos neurônios. São divididos Os receptores NMDA (NMDAr) tem papel importante
em receptores NMDA e não-NMDA, que inclui recepto- nos processos de desenvolvimento neuronal celular.
res cinato e alfa-amino-3-hydroxi-5-methyl-4 lisoxazole Atuam no controle e regulação de estruturas e função
propionic acid (AMPA), localizados na região teleence- das sinapses, importantes para o aprendizado e conso-
fálicas mediando a transmissão rápida das sinapses lidação da memória. Estão envolvidos também na aten-
excitatórias. Quando excitados induzem a despolariza- ção, cognição, ansiedade, humor, atividade locomotora
ção rápida do neurônio pós-sináptico, durando apenas e respiração (Snyder, 2019; Bygrave, 2019; Ritter et al.,
milissegundos (Bressan et al., 2003; Golan et al., 2014; 2016). Em altas quantidades podem ser tóxicos, com sin-
Ritter et al., 2016). tomas importantes no Parkinson, Alzheimer e doença
O glutamato tem um forte papel na modulação de Huntington. Sua presença predominante é no SNC,
dos sintomas psicóticos. É importante ressaltar que mas pode ser encontrado também na periferia somá-
o sítio de ligação glutamatérgico só pode ser acessado tica e visceral. Localizado na membrana pós-sináptica
quando o canal iônico está aberto (deslocamento dos dentrito, são ativados pelo glutamato nos canais
do Mg2+). Assim, os antagonistas não competitivos iônicos (Bruton et al., 2010; Harbeny et al., 2002; Whalen
agem somente nos receptores NMDA ativos (Bressan et al., 2016).
et al., 2003; Stahl, 2014). Estudos mostraram melho- Este canal só pode ser acessado com o canal iônico
ras clínicas ao atuar sobre o sistema glutamatérgico aberto (desolamento de Mg2+), agindo somente
equivalente de quando antagonisamos dopamina. nos receptores NMDA ativos (Bressan et al., 2003). O mag-
Comprovaram também que o antagonismo de gluta- nésio impede o influxo de cálcio, pois o aumento de cál-
mato está relacionado com o aumento de dopamina cio intensifica a ativação do NMDA, mas a calcineurina
circulante no estriado e no córtex (Fuente-Sandoval et reduz a atividade do NMDA. Acredita-se que ao dimi-
al., 2013; McCuteon et al., 2020; Sandoval et al., 2009). nuirmos os níveis de calcineurina aumentamos as fun-
O glutamato na via mesocortical interage com cionalidades do NMDA, tendo uma melhor resposta
os receptores NMDA, e quanto mais interação, mais aos sintomas esquizofrênicos (Reis et al., 2011). Além
dopamina é liberada. Se houver menos liberação da ligação com glutamato, ele também precisa da liga-
de glutamato, acarretará em pouca liberação de dopa- ção com a glicina. Isso sugere que em pacientes esqui-
mina, resultando nos sintomas negativos e cognitivos zofrênicos esses sítios de glicina não estão totalmente
da doença. Entretanto, o glutamato na via mesolímbica saturados (Bertram et al., 2017).

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Hipótese glutamatérgica e hipofunção dos receptores NMDA no tratamento da esquizofrenia

Foram observados que substâncias que antagoni- a cetamina induz alucinações esquizoides em não esqui-
zam o NMDA induzem sintomas positivos semelhan- zofrênicos, mas exacerbam os sintomas em portadores
tes ao da esquizofrenia. Alguns de seus antagonistas de esquizofrenia. A cetamina e o PCP prejudicam os sis-
não-competitivos, como a dizocilpina (MK801), fencicli- temas de impulsos cerebrais do glutamato, ao bloquear
dina (PCP) e cetamina, são importantes na esquizofrenia. NMDA, provocando distúrbios na função dopaminérgica
Começou-se a pensar nesta hipótese depois de observa- (Bygrave et al., 2019). Quando o PCP e a cetamina ligam
rem algumas reações no uso de uma substância espe- ao sítio PCP, impedem a abertura do canal glutamato/
cífica, o PCP. O PCP foi desenvolvido como anestésico, glicina, mas para se ligarem ao sitio de cálcio para blo-
mas foi usado como droga de abuso conhecida como queá-lo, ele tem que estar aberto (Kantrowitz et al., 2020;
“angel dust”. Percebeu-se que os usuários desenvolviam Stahl, 2014).
sintomas semelhantes aos da esquizofrenia, não só Alguns autores propõem que a psicose pelo anta-
positivo, mas também negativos e cognitivos, por meio gonismo dos receptores NMDA, é devido ao aumento
do bloqueio de receptores NMDA. Estes sintomas são de liberação de glutamato na fenda sináptica, e essa
difíceis de serem distinguidos entre psicose e esquizo- superestimulação dos receptores não-NMDA é o que
frenia (Bressan et al., 2000; Messias et al., 2007; Uno et causaria a psicose (Carobrez et al., 2003; Fuente-Sandoval
al., 2019). et al., 2009). A hipótese anterior pode ser reforçada pois
Isso também ocorre quando administramos ceta- as substâncias antagonistas da liberação de glutamato,
mina, um anestésico derivado do PCP. Sob o efeito como a mGluRs agonistas (subtipos II/III), podem rever-
da mesma, pessoas sem a doença apresentam difi- ter os efeitos da substância PCP em ratos (Kantrowitz et
culdade de aprendizado, de pensamento e armazena- al., 2020; Zhou et al., 2020).
mento de informações (Sayed et al., 2019). Raramente

Figura 2: Receptores de glutamato


que regulam a neurotransmissão.
São eles o N-metil-D-aspartato
(NMDA), ácido a-amino-3-hidroxi-5-
metil-isoxazol-propiônico (AMPA) e
cianeto (Stahl, 2014).

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Artigos

Histamina Muscarínico
A histamina (H1) está localizada no hipotálamo pos- Os receptores muscarínicos estão presentes na perife-
terior ventral, e seus antagonistas afetam a excitação, ria do corpo e no SNC. Tem grande afinidade pela ace-
dinâmica circulatória e a temperatura corporal, cau- tilcolina, com grande presença no córtex, hipocampo
sando sonolência (Bruton et al., 2010). e tálamo do cérebro. São receptores aclopados a proteí-
O agonismo de H3 aumenta os níveis de dopamina na-G, com estimulação dos receptores M1, M3 e M5, com
no córtex pré-frontal, mas sem modificações no stria- respostas mediadas por cálcio, enquanto os receptores
tum, podendo ser alvo no tratamento dos sintomas M2 e M4, inibem adenililciclase regulando os canais
negativos (Mahmood, 2016). O antagonismo da hista- iônicos por meio de proteína-G específica (Bruton et al.,
mina gera efeitos importantes, como ganho de peso pelo 2010; Golan et al., 2014).
aumento de apetite, e sedação. O efeito sedativo causado Receptores muscarínicos são afetados, bloqueando
mais pelos de medicamentos de baixa potência como, M1, M2, M3 e M5 e estimula M4, causando com isso alguns
tioridazina e clorpromazina e os atípicos como, que- efeitos indesejáveis como o excesso de saliva e sedação,
tiapina e clozapina. O ganho de peso é mais frequente pois também atua em receptores histamínicos (Uno et
em pacientes jovens e em início de tratamento (Bruton al., 2019; Stahl, 2014). A maior parte dos medicamentos
et al., 2010). psicóticos não tem afinidade muscarínica, com isso, sem
efeitos anticolinérgicos importantes (Bruton et al., 2010).

Figura 2: Receptores de glutamato que regulam a


neurotransmissão. São eles o N-metil-D-aspartato
(NMDA), ácido a-amino-3-hidroxi-5-metil-isoxazol-
propiônico (AMPA) e cianeto (Stahl, 2014).

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Hipótese glutamatérgica e hipofunção dos receptores NMDA no tratamento da esquizofrenia

Novas perspectivas para o Glutamato e NMDA Uma das estratégias empregadas atualmente é o ago-
Diante disso, parece bem promissor se pensar em ago- nismo ou agonismo parcial do sítio de ligação da glicina,
nistas dos receptores NMDA, e reverter sua hipofunção, o não sensível a estriquinina. A glicina é um modulador
prometendo ser outra classe de antipsicóticos visando alostérico, agonista de glutamato, que controla os sin-
minimizar os sintomas da esquizofrenia, atuando prin- tomas da doença sem produzir excitoxicidade (Gonda,
cipalmente nos sintomas negativos (Javitti, 2010). 2012; Ritter et al., 2016). Tem um papel como neuro-
Na atualidade pode ser quantificado in vivo a inte- transmissor inibidor com dois sítios de ligação no SNC:
ração do sistema glutamatérgico sobre o dopaminér- um localizado na medula, sensível à estriquinina
gico, por meio de técnicas de neuroimagem, tomografia e um que se localiza nos receptores NMDA. Ela aumenta
de emissão de pósitrons (PET) e espectroscopia de resso- a abertura dos canais de NMDA pelo GMS do NMDAR, se
nância magnética de protões ( 1 H-MRS). Constata que ligando ao mesmo tempo que o glutamato, mas não
o antagonismo glutamatérgico se associa ao aumento atravessa a barreira hematoencefálica facilmente. Tal
de dopamina no córtex cerebral e corpo estriado, indu- observação é comprovada por estudos que a adminis-
zindo alguns dos sintomas negativos (alogia, isolamento tração de substâncias glicinérgicos diminui os efeitos
social, abulia) e sintomas positivos (delírios e alucina- do antagonismo dos receptores NMDA (Beck,2016; Fone
ções), observados na esquizofrenia (Fuente-Sandoval et et al., 2020; Peyrovian et al., 2019).
al., 2009; Bustillo et al., 2020).

Figura 1: Bloqueio pelo antipsicóticos aos receptores


dopaminérgicos e serotoninérgicos, também aos
adrenérgicos, colinérgicos e histamínicos (Whalen et al.,
2016).

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Artigos

Pesquisadores da Universidade de Harvard descobri- efeitos para sintomas positivos e negativos, sem sinto-
ram que ao utilizar aminoácidos de glicina e D-serina mas extrapiramidais. Infelizmente em um estudo multi-
em pacientes tratados com neurolépticos, houve cêntrico de fase II, não demonstrou melhora comparado
diminuição entre 30% e 40% nos sintomas negativos, ao placebo, o mesmo aconteceu com o AZD8529. Isso
cognitivos e positivos. Já o laboratório Snyder eviden- mostra que alguns pacientes podem ser mais influen-
ciou a atividade endógena como co-agonista de NMDA ciados por disfunções glutamatérgicas que outros (Uno
da D-Serina, onde ela induz mais a ativação de NMDAR et al., 2019; Stepnicki et al., 2018).
que a glicina. A D-serina é uma enzima catalase membro Assim, a modulação da glicina e D-serina são uma das
da a família pyridoxal-5’-phosphate-dependent, deri- primeiras estratégias de um novo mecanismo de ação
vada da conversão de L-serina pelos neurônios. Está loca- para o tratamento da esquizofrenia, principalmente
lizada nas sinapses excitatória e inibitória (Uno et al., para os sintomas negativos, já que são agonistas e co-a-
2019; Stahl, 2014; Stepnicki et al., 2018). Como a D-serina gonistas de NMDA com baixo risco de toxicidade.
é liberada na pós-sinapse ela parece funcionar de forma
autócrina, o que garante que o GMS seja ocupado por ela D I S C U S SÃO
e respondendo mediante ao glutamato liberado. Logo
depois, é recaptada por astrócitos e catabolizada pelo A hipótese dopaminérgica está bem sustentada,
DAAO. Ao inibir a DAAO espera-se que aumente a con- mas o fato de muitos pacientes não conseguirem efeito
cetração de D-serina circulante. Estes estudos mostram sobre os sintomas negativos da doença sugerem que
também que a D-serina é a primeira co-agonista sináp- há outros mecanismos envolvidos. Outro ponto, é que
tica de NMDA no cérebro (Fone et al., 2020; Stepnicki et medicamentos como a clozapina, exercerem eficácias
al., 2018). no tratamento mesmo não sendo seu alvo a dopamina.
Outras hipóteses consistem na sarcosina A via dopaminérgica também não explica os efeitos
e na memantina adjuvante. A sarcosina é um inibidor do PCP e cetamina no organismo. Além disso, muitos
endógeno de GlyT-1, onde foi comprovada por estudos, pacientes não respondem a diferentes tratamentos,
que a sua associação ao tratamento, obteve-se diminui- demonstrando haver outros caminhos para psicopa-
ção dos sintomas positivos e negativos, comparados tologia da doença (Lops-Munhoz et al., 2011; Theberge
ao placebo e a D-serina. Porém, ao inibir GlyT-1, produz et al., 2003; Wenneberg et al., 2019).
efeitos colaterais como ataxia, o mesmo ocorreu com O envolvimento de glutamato e a hipofunção
os antagonistas não competitivos de GlyT-1, a bitoper- de NMDA é bem visível quando observados as substân-
tina e já o inibidor seletivo de GlyT-1, Org25935, não cias antagonistas de NMDA, onde induzem sintomas
houve melhora significativa dos sintomas. Há uma pro- positivos e em alguns casos, como o PCP, também indu-
messa em estudos com outros inibidores de GlyT-1, zem sintomas negativos. Essas substâncias, cetamina
ASP2535 e o PF-03463275171,72, demonstrando melho- e PCP, prejudicam os impulsos do glutamato ao bloquear
ras nos quadros de esquizofrenia (Beck, 2016; Uno et al., NMDA, que causa distúrbios dopaminérgicos ao impe-
2019; Stepnicki et al.,2018, Zhand et al., 2019). direm a abertura do canal de glutamato (Messias et al.,
A memantina tem afinidade moderada como antago- 2007; Stahl, 2014; Uno et al., 2019).
nista não competitivo de NMDAR, ligando-se no mesmo Estes neurotransmissores, dopaminérgicos, seroto-
local do PCP. Ela bloqueia o fluxo de corrente de Mg2+, ninérgico e glutamatérgicos estão interligados entre si.
mas somente com o canal aberto. Seria usada para Percebemos que se há hipofunção de NMDA, também
quando as concentrações de glutamato estiverem altas. haverá diminuição de estímulos de GABA, causando sin-
Comprovando que a memantina melhora os sintomas tomas positivos, por não conseguir frear a dopamina.
negativos, enquanto positivos e cognitivos não tiveram Se há mais glutamato interagindo com NMDA, há mais
efeitos. Mas ainda não é claro os efeitos e a tolerância liberação de dopamina, então se houver menos libera-
a longo prazo (Uno et al., 2019; Stepnicki et al., 2018). ção de glutamato, terá menos liberação dopaminérgica,
Há também uma opção com receptores com intera- acarretando em sintomas negativos da doença (Reis et
ção com NMDAR por ativação via proteínas de andai- al., 2011).
mes, como SHANK, HOMOR e GKAP-PSD95. Tem-se hoje Como já descritos no presente trabalho, atual-
um agonista de mGlu2/3, o LY2140023, mostrando mente o tratamento da esquizofrenia é feito com

20
Hipótese glutamatérgica e hipofunção dos receptores NMDA no tratamento da esquizofrenia

os antipsicóticos típicos e atípicos. Estes medicamen- para que não ocorra efeitos tóxicos ou aparecimento
tos atuam preferencialmente nos receptores dopami- de outras doenças.
nérgicos, e em menor proporção nos serotoninérgicos.
Mas ao explorarmos a via glutamatérgica vemos alguns C O N C L U SÃO
caminhos promissores, com novos fármacos e alguns já
existentes. Prova disso é a ação da clozapina ao bloquear A hipótese glutamatérica e a de hipofunção dos recep-
a capitação de glicina, a D-cicloserina (um antitubercu- tores NMDA, talvez seja um meio de pesquisa para
loso) que facilita a neurotransmissão glutamatérgica o surgimento de novas formas de tratamento para
pelo NMDAr e a sarcosina que demonstrou eficácia a esquizofrenia. Visando menos efeitos adversos e mais
no controle da psicopatologia e dos sintomas negati- ação sobre os efeitos negativos da doença, e também con-
vos da doença. trole dos sintomas positivos. Com avanços tecnológicos
Por outro lado, a glicina aumenta o tempo de aber- conseguimos visualizar melhor o cérebro do paciente
tura dos canais NMDA, e substancias glicinérgicas esquizofrênico, podendo ter melhor compreensão
diminuem o antagonismo dos receptores NMDA (Beck, de seu comportamento a nível molecular no Sistema
2016; Fone et al., 2020; Peyrovian et al., 2019). Também foi Nervoso Central. Promovendo assim, inúmeros estudos
relatado diminuições nos sintomas negativos e positi- e novas maneiras de se pensar sobre essa perspectiva.
vos em pacientes tratados com aminoácidos de glicina Procurando os níveis seguros e efetivos de glutamato,
e D-serina. Foi apontado que a D-serina induz ativação levando em consideração que a baixa de glutamato
de NMDA maior que a glicina (Stepnicki et al., 2018). no SNC, causa sintomas esquizofrênicos, enquanto em
A sarcosina em associação ao tratamento com antip- níveis altos pode ser tóxico ao organismo.
sicóticos, diminuiu os sintomas positivos e negativos Com avanços tecnológicos e especulações sobre até
comparado a placebo, porém com efeitos adversos (Uno então um novo caminho de pensamento, com base
et al., 2019). no glutamato e receptores NMDA, talvez em pouco
A memantina, usada quando as concentrações tempo teremos outros caminhos de tratamento,
de glutamato estão altas, melhora os sintomas nega- podendo melhorar assim, a qualidade de vida de pes-
tivos, mas sem efeitos nos sintomas positivos. Mesmo soas com esquizofrenia e outros transtornos psicóticos.
os estudos com o LY2140023, não tendo sido satisfatórios,
eles abrem margem para sugestão de que os pacientes B I B L IO G R A F I A
podem sofrer influencias de disfunções glutamatérgicas.
Entretanto alguns desses medicamentos apresentam 1. Aguiar, Carlos Clayton Torres, Alves, Claudênio
efeitos adversos consideráveis, dificultando sua utili- Diógenes, Rodrigues, Felipe Augusto Rocha, Barros,
zação (Uno et al., 2019; Stepnicki et al., 2018). Francisco Washington Araújo, Sousa, Francisca Cléa
Alguns inibidores de GlyT-1 estão em fase de teste Florenço de, Vasconcelos, Silvânia Maria Mendes, &
clínicos, mostrando resultados bem promissores, como Macedo, Danielle Silveira. (2010). Esquizofrenia: uma
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Fato é, que precisa-se de mais estudos e pesquisa
60832007000800010
na área, para a melhoria de alguns medicamentos exis-
tentes, como a clozapina e a memantina, quanto para
a criação de novas estratégias medicamentosas. Bem
como, obter relatos de níveis que provoquem resulta-
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26
Artigos

Desfecho cardiovascular
dos antidiabéticos –
revisão sistemática
de literatura
Cardiovascular outcome of antidiabetics - Systematic literature review

Assista a
apresentação

Apresentado por
Lara Inês Martins Dantas

Autores: Lara Inês Martins


RE SU M O Dantas1; Felipe Vanderley
Nogueira2; Deborah Sousa Vinhal1;
Emylli de Sousa Araújo1; Breno
Introdução: O tratamento do diabetes mellitus tipo 2 (DM2) vem sendo
Rocha Coimbra2.
muito estudado, principalmente após a restrição da rosiglitazona, pelo
aumento do risco cardiovascular, preocupação já inerente à patologia.
Com isso, nos últimos anos tem se investido na busca de medicamentos
com benefícios cardiovasculares, além de simplesmente controle glicêmico.
Os estudos recentes mostraram tais benefícios em especial com os inibido-
res do co-transportador sódio-glicose do tipo 2 (ISGLT-2) EMPAREG; CANVAS
E DECLARE e agonistas do receptor do peptídeo 1 do tipo glucagon (AR GLP1)
LEADER e SUSTEIN. Objetivo: Busca-se analisar de forma sistemática traba-
lhos que apresentam os benefícios da proteção cardiovascular dessas classes,
com foco nas atualizações do último ano. Material e métodos: Realizou-se
uma revisão bibliográfica do último ano, na base de dados do PubMed 1. Acadêmico(a) do curso de
usando como descritor “cardiovascular outcomes using antidiabetics” medicina da Faculdade Presidente
e busca pelos consensos das principais entidades dedicadas ao tratamento Antônio Carlos – FAPAC/PORTO
de DM2. Os critérios de inclusão foram artigos em português e inglês com 2. Médico, professor da disciplina
acesso livre, pesquisado para ensaios clínicos, randomizados, controlados de Saúde do Adulto e do Idoso II
por placebo, multicêntrico e meta-análises, obteve inicialmente 30 artigos. FAPAC/PORTO
Foram excluídos trabalhos que não associavam os antidiabéticos aos efeitos

27
Artigos

cardioprotetores, os que não obtiveram resultados satis- (AR GLP1) agonists. Objective: We seek to systematically
fatórios e aqueles com dados repetitivos. Assim, selecio- analyze works that present the benefits of cardiovas-
nou 10 artigos e 4 consensos, foi realizada uma leitura cular protection of these classes, with a focus on last
analítica com organização dos dados e sua apresentação. year updates. Material and methods: A bibliographic
Resultados: Sugerem o benefício dos inibidores da SGLT2 review of the last year was carried out in the PubMed
na insuficiência cardíaca pelo seu efeito na diurese database using “cardiovascular outcomes using anti-
e natriurese, avaliada no DAPA-HF, com dapagliflo- diabetics” as a descriptor and search for consensus of
zina 10mg que reduziu 17% a mortalidade geral (MG), the main entities dedicated to the treatment of DM2.
18% a mortalidade cardiovascular (MC) e 30% a inter- The inclusion criteria were articles in Portuguese and
nação por IC, com bons resultados inclusive em não English with free access, researched for clinical trials,
diabéticos além dos benefícios renais demonstrados randomized, placebo-controlled, multicentric and meta-
também no CREDENCE, com canagliflozina 100mg que -analyzes, initially obtained 30 articles. Studies that did
diminuiu 17% na MG, 20% no composto MC, IAM e AVC not associate antidiabetics with cardioprotective effects,
e 39% na internação por IC. Já em relação ao benefício those that did not obtain satisfactory results, and those
do AR GLP-1, o REWIND avaliou uso de dulaglutida 1,5mg with repetitive data were excluded. Thus, 10 articles and
semanal com declínio de 10% na MG, 4% no IAM, 24% 4 consensuses were selected, an analytical reading was
no AVC e 7% na internação por IC, e PIONEER com sema- carried out with data organization and presentation.
glutida oral reduziu 49% a MG, aumentou 13% o risco Results: Suggest the benefit of SGLT2 inhibitors in heart
de IAM, porém sem significância estatística, diminuiu failure due to their effect on diuresis and natriuresis,
26% de AVC e 14% de internação por IC, reforçando ainda assessed on DAPA-HF, with 10mg dapagliflozin that
mais o a indicação do uso dessas classes nos principais reduced overall mortality (MG) by 17%, cardiovascular
guias sugeridos pelas maiores sociedades para trata- mortality (MC) by 18% and 30 % hospitalization for HF,
mento de diabetes no Brasil (SBD) e no mundo (ADA/ with good results even in non-diabetics in addition to
EASD, AACE e Luso-Brasileiro) em pacientes DM2 com the renal benefits also demonstrated in CREDENCE, with
alto risco de doença cardiovascular, além daqueles com 100mg canagliflozin which decreased 17% in MG, 20%
doença cardiovascular estabelecida e disfunção renal. in the compound MC, AMI and stroke and 39% in hos-
Conclusão: Essas classes de antidiabéticos devem ser pitalization for HF. Regarding the benefit of AR GLP-1,
consideras no tratamento de pessoas com DM2 com REWIND evaluated the use of dulaglutide 1.5mg weekly
risco cardiovascular (IC, IAM, AVE), doença cardiovas- with a 10% decline in MG, 4% in AMI, 24% in stroke and
cular estabelecida e naqueles com nefropatia. 7% in hospitalization for HF, and PIONEER with semag-
glutide. oral administration reduced 49% of MG, increa-
Palavras-chave: Antidiabéticos. Diabetes Mellitus. sed the risk of AMI, but without statistical significance,
Doenças Cardiovasculares. Efeitos Adversos. decreased 26% of stroke and 14% of hospitalization for
Insuficiência Cardíaca. HF, further reinforcing the indication of the use of these
classes in the main guides suggested by the largest socie-
A BST R ACT ties for diabetes treatment in Brazil (SBD) and worldwide
(ADA / EASD, AACE and Luso-Brasileiro) in DM2 patients
Introduction: The treatment of type 2 diabetes melli- at high risk of cardiovascular disease, in addition to
tus (DM2) has been widely studied, mainly after the those with established cardiovascular disease and renal
restriction of rosiglitazone, due to the increased car- dysfunction. Conclusion: These classes of antidiabetics
diovascular risk, a concern that is already inherent to should be considered in the treatment of people with
the pathology. As a result, in recent years there has been DM2 at cardiovascular risk (HF, AMI, stroke), established
an investment in the search for drugs with cardiovas- cardiovascular disease and those with nephropathy.
cular benefits, in addition to simply glycemic control.
Recent studies have shown such benefits in particular Keywords: Antidiabetics. Diabetes Mellitus.
with inhibitors of the sodium-glucose co-transporter Cardiovascular diseases. Adverse events. Heart
type 2 (ISGLT-2) EMPAREG; CANVAS AND DECLARE and Failure.
LEADER and SUSTEIN glucagon-like peptide 1 receptor

28
Desfecho cardiovascular dos antidiabéticos – revisão sistemática de literatura

I N TR O DU ÇÃO MAT E R I A L E MÉ TO D O S

O
diabetes mellitus tipo 2 (DM2) é uma pato- O presente estudo trata-se de uma revisão bibliográfica
logia que aumenta o risco cardiovascular, do último um ano, na base de dados do PubMed usando
da mesma forma que alguns fármacos uti- como descritor “cardiovascular outcomes using antidia-
lizados inicialmente no seu tratamento betics” e busca pelos consensos das principais entidades
como a rosiglitazona. Mas vale ressaltar que dedicadas ao tratamento de DM2.
não é um efeito da classe tiazolidinediona, a pioglita- Para seleção inicial dos trabalhos foram utilizados
zona por exemplo foi avaliada no estudo IRIS e diminuiu os critérios de inclusão: artigos em português e inglês
o número de AVC (WALLACH et al., 2020; SCHMIDT, 2019). com acesso livre, pesquisado para ensaios clínicos, ran-
Apesar disso, com a descoberta do risco cardiovascu- domizados, controlados por placebo, multicêntrico
lar causado pela rosiglitazona, esta teve sua venda proi- e meta-análises, obteve inicialmente 30 artigos.
bida e a Food and Drug Administration (FDA) declarou Posteriormente os trabalhos passaram pelos crité-
obrigatoriedade de estudos de segurança cardiovascular rios de exclusão: artigos que não associavam os anti-
para os antidiabéticos.Com isso, nos últimos anos tem diabéticos aos efeitos cardioprotetores, os que não
se investido na busca de medicamentos com benefícios obtiveram resultados satisfatórios e aqueles com dados
cardiovasculares, além de simplesmente controle glicê- repetitivos. Assim, selecionou 10 artigos e 4 consensos,
mico. (WALLACH et al., 2020). foi realizada uma leitura analítica com organização
Os estudos recentes mostraram tais benefícios em dos dados e sua apresentação.
especial com duas classes, os inibidores do co-trans-
portador sódio-glicose do tipo 2 (ISGLT-2) EMPAREG; R E S U LTA D O S
CANVAS e DECLARE e agonistas do receptor do peptídeo 1
do tipo glucagon (AR GLP1) LEADER e SUSTEIN (FEI; TSOI; Inicialmente obteve-se um total de 30 artigos na base
CHEUNG, 2019). Tendo isso em vista, esta revisão busca de dados do PubMed ao pesquisar o termo “cardiovascu-
analisar de forma sistemática trabalhos que apresen- lar outcomes using antidiabetics”, após aplicar os crité-
tam os benefícios da proteção cardiovascular dessas rios de exclusão selecionou-se 10 artigos e 4 consensos.
classes, com foco nas atualizações do último ano. A tabela 01 demonstra o corpus escolhido para a reali-
zação deste estudo.

Tabela 1: Corpus da revisão sistemática

Autor Obra Amostra Periódico

Bertoluci et al. Portuguese-Brazilian evidence-based guideline on N/A Diabetology & Metabolic


2020 the management of hyperglycemia in type 2 diabetes Syndrome
mellitus

Buse et al. 2019 update to: Management of hyperglycaemia N/A Diabetes Care
2019 in type 2 diabetes, 2018. A consensus report by the
American Diabetes Association (ADA) and the European
Association for the Study of Diabetes (EASD)

Fei, Tsoi, Cheung Cardiovascular outcomes in trials of new antidiabetic N/A Cardiovascular
2019 drug classes: a network meta-analysis Diabetology

29
Artigos

Autor Obra Amostra Periódico

Garber et al. Consensus statement by the american association N/A Endocrine Practice
2020 of clinical endocrinologists and american college of
endocrinology on the comprehensive type 2 diabetes
management algorithm - 2020 executive summary

Gerstein et al. Dulaglutide and cardiovascular outcomes in type 2 n=9.901 Lancet


2019 diabetes (REWIND): a double-blind, randomised placebo-
-controlled trial

Husain et al. Oral Semaglutide and Cardiovascular Outcomes in n=3.183 New England Journal of
2019 Patients with Type 2 Diabetes Medicine

Kosiborod et al. Effects of Dapagliflozin on Symptoms, Function, and n=4.443 Circulation


2019 Quality of Life in Patients With Heart Failure and
Reduced Ejection Fraction: Results From the DAPA-HF
Trial

Matsumura, sugiura Effect of sodium glucose cotransporter 2 inhibitors on N/A Cardiovascular Ultrasound
2019 cardiac function and cardiovascular outcome: a systema-
tic review.

Mcmurray et al. Dapagliflozin in Patients with Heart Failure and Reduced n=4.744 New England Journal of
2019 Ejection Fraction Medicine

Perkovic et al. Canagliflozin and Renal Outcomes in Type 2 Diabetes n=4.401 New England Journal of
2019 and Nephropathy Medicine

Rodbard The Clinical Impact of GLP-1 Receptor Agonists in Type 2 N/A Diabetes Technology &
2019 Diabetes: Focus on the Long-Acting Analogs Therapeutic

Schmidt Diabetes Mellitus and Cardiovascular Disease N/A Arteriosclerosis,


2019 Thrombosis, and Vascular
Biology

Sociedade Brasileira de Diretrizes da Sociedade Brasileira de diabetes N/A Clanad Editora


Diabetes
2020

Wallach et al. Updating insights into rosiglitazone and cardiovascular N/A The British Medical Journal
2020 risk through shared data: individual patient and summary
level meta-analyses.

Fonte: Elaborado pelos autores

N/A = Não se aplica, n = número de pessoas na amostra da pesquisa

30
Desfecho cardiovascular dos antidiabéticos – revisão sistemática de literatura

Os resultados foram separados nos trabalhos mul- por insuficiência cárdica e do agravamento da função
ticêntricos, randomizados, duplo-cego, controlado renal em pacientes com diabetes (RODBARD, 2019).
com placebo que estudaram o benefício dos inibidores O estudo REWIND (2019) avaliou 9.901 pacientes com
da SGLT2, avaliada no DAPA-HF e no CREDENCE. E os que idade maior ou igual a 50 anos com DM2 e com evento
avaliavam o benefício cardíaco do AR GLP-1, o REWIND cardiovascular prévio ou fator de risco cardiovascular,
e o PIONEER. este trabalho buscou analisar a primeira ocorrência
Os ISGLT-2 produz uma resposta natriurética através de qualquer componente do desfecho composto por MG,
da inibição do SGLT2 no túbulo proximal e da inibição IAM, AVC e internações por IC. A amostra da pesquisa fez
do feedback tubuloglomerular, o que leva a redução uso de dulaglutida 1,5 mg por semana por um período
do conteúdo de sódio nos tecidos melhorando a fun- médio de 5,4 anos e resultou em declínio de 10% na MG,
ção diastólica do ventrículo esquerdo. Ademais, provoca 4% no IAM, 24% no AVC e 7% na internação por IC.
diminuição dos níveis citoplasmáticos de sódio e cál- Os dados foram corroborado pelo PIONEER (2019),
cio, o que consequentemente aumenta o nível de cálcio o qual teve 3.183 participantes de alto risco cardiovas-
mitocondrial e inibe a reabsorção de sódio, isto asso- cular, ou seja, com idade maior ou igual a 50 anos e com
ciado aos efeitos antifibróticos cardíaco desse fármaco DRC ou doença cardiovascular estabelecida ou com
ajudam a explicar a redução da IC. Além disso, esse idade maior ou igual a 60 anos e fator de risco cardio-
medicamento também leva a perda de peso e a redução vascular com o objetivo de avaliar a não inferioridade
da pressão arterial que podem contribuir para a prote- ao placebo. Essa população fez uso de semaglutida oral
ção cardiovascular (FEI; TSOI; CHEUNG, 2019). na dose de 14 mg//dia por 15,9 meses. O estudo obteve
O DAPA-HF (2019) foi um trabalho com 4.744 pacien- redução de 49% na MG, aumento de 13% no risco de IAM,
tes que apresentavam IC classe II, III ou IV de NYHA porém sem significância estatística, diminuição de 26%
e com fração de ejeção menor igual à 40% independente de AVC e 14% de internação por IC.
do paciente ter ou não DM2 com o objetivo de avaliar Estes trabalhos estão de acordo com estudos anterio-
a piora da IC (hospitalização) ou morte cardiovascular res como EMPAREG; CANVAS; DECLARE; LEADER e SUSTEIN,
com o medicamento. O estudo foi feito com dapaglifo- reforçando ainda mais a indicação do uso dessas classes
zina 10 mg/dia e durou 18,2 meses. Os resultados obtidos nos principais guias sugeridos pelas maiores sociedades
foram redução de 17% na mortalidade geral (MG), 18% para tratamento de diabetes no Brasil (SBD) e no mundo
na mortalidade cardiovascular (MC) e 30% na interna- (ADA/EASD, AACE e Luso-Brasileiro) em pacientes DM2
ção por IC, com bons resultados inclusive em não dia- com alto risco de doença cardiovascular, além daque-
béticos, além dos benefícios renais. les com doença cardiovascular estabelecida e dis-
Tais benefícios também foi demonstrado função renal.
no CREDENCE (2019) com uma amostra de 4.401 indiví-
duos que apresentavam DM2 associada a DRC com TFG C O N C L U SÃO
entre 30 a 90 ml/min, o objetivo primário era avaliar
o risco do fármaco em pacientes com DRC e o objetivo Em conclusão, esta revisão mostra que além
secundário analisar o desfecho cardiovascular. Foi utili- de não aumentar o risco cardiovascular, os inibidores
zado canaglifozina 100 mg/dia com acompanhamento do co-transportador sódio-glicose do tipo 2 e os agonis-
médio de 2,62 anos. Os resultados foram diminuição tas do receptor do peptídeo 1 do tipo glucagon são clara-
de 17% na MG, 20% no composto MC, IAM e AVC e 39% mente superiores na redução da mortalidade geral e por
na internação por IC, com interrupção do estudo antes causas cardiovasculares, assim como na redução de IAM,
do prazo por atingir os critérios de eficácia pré-especi- AVC, internações por insuficiência cardíaca e eventos
ficados no trabalho. renais em relação a outras classes de medicamentos
Em relação aos AR GLP-1, seu efeito está associado antidiabéticos.
a redução de HbA1c, colesterol LDL, pressão arterial Portanto, tais fármacos devem ser considerados
e peso. Além de melhorar a função endotelial a respos- no tratamento de pessoas com DM2 com risco cardiovas-
tas celulares à isquemia, função plaquetária e podem ter cular (IC, IAM, AVE), doença cardiovascular estabelecida
efeitos neuroprotetores diretos. Ademais, demonstrou e naqueles com nefropatia.
diminuição do risco cardiovascular, de hospitalização

31
Artigos

R EF ER Ê N CI AS BIBLIOGRÁF ICAS 9. MCMURRAY, Jhon J.V. et al. Dapagliflozin in Patients


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32
Artigos

Manifestações
Neurológicas do Covid-19

Assista a
apresentação

Apresentado por
Evlyn Karolayne Bispo Andrade

Autores: Evlyn Karolayne Bispo


Andrade (ANDRADE, E.K.B.);
Isabella Carla Barbosa Lima
Angelo (ANGELO, I.C.B.L.);
Gabriela Ferreira Kalkmann
(KALKMANN, G. F.); Laura Beatriz
Martins (MARTINS, L. B.); Sonia
Quézia Garcia Marques Zago
RE SU M O

O
(ZAGO, S.Q.G.M.); Milena Santana
da Conceição (CONCEIÇÃO,
presente trabalho visa relatar uma revisão de literatura sobre M.S.); Oscar José da Conceição
as manifestações neurológicas existentes na recente infecção Filho (CONCEIÇÃO FILHO, O.
pelo novo coronavírus (COVID-19). Atualmente, existem evi- J.); Marina Ferreira Magalhães
dências que o COVID-19, pode afetar o sistema nervoso, com (MAGALHÃES, M. F.);Thania
alterações neurológicas, e esses distúrbios neurológicos são Gonzalez Rossi (Rossi, T.G.)

agrupados em várias categorias, variando de sintomas mais comuns, como


cefaléia, distúrbios do sono, dor, ageusia, anosmia e parestesia. E sintomas
neurológicos mais graves, como encefalopatia, acidente vascular isquêmico
e ataque isquêmico transitório. Sabe-se, ainda, que pode ocorrer uma expres-
são do receptor SARS-CoV-ACE2, demonstrando que os neurônios senso-
riais são um alvo potencial para a entrada desse vírus no sistema nervoso,
apesar disso, é necessário mais estudos para a descoberta da principal via
de acesso desse vírus no sistema nervoso. Dessa forma, uma avaliação clínica

33
Artigos

e neurológica é necessária em pacientes acometidos MAT E R I A L E MÉ TO D O S


pelo COVID-19, visto que esse envolvimento neurológico
pode comprometer a qualidade e sobrevida do paciente. A revisão da literatura foi realizada em 15 de julho
de 2020, utilizando as seguintes bases de dados: PubMed,
Palavras-chave: Cefaléia, Delírio, Dor, Infecções por ScienceDirect, TripDataBase, Google Scholar e Scielo, em
Coronavirus, Manifestações Neurológicas. uso dos termos de busca: "Neurologic Manifestations"
AND "Coronavirus Infections", previamente busca-
I N TR O DU ÇÃO dos no DeCS (http://decs.bvs.br/), totalizando em 303
resultados.
Em 2019, a Organização Mundial da Saúde (OMS) foi noti- Os critérios de inclusão foram estudos epidemioló-
ficada da nova infecção na China causada pelo, então gicos observacionais, publicados na língua inglesa, refe-
denominado, coronavírus da síndrome respiratória rentes ao período de 2020, com indivíduos de qualquer
aguda grave 2 (SARS-CoV-2). Em março de 2020, a COVID- faixa etária determinada, diagnosticados com COVID-19
19 (doença causada pelo novo coronavírus) foi reconhe- e que manifestaram sintomas neurológicos decorren-
cida como uma emergência de saúde pública global, já tes da infecção respiratória. Estudos não desenvolvidos
resultando em um alto número de infectados mundial- em humanos, publicados nas bases de dados utilizadas
mente devido a sua rápida transmissão 1. Atualmente, com ausência de resumo, revisões sistemáticas, resu-
sabe-se que o coronavírus está frequentemente asso- mos de congresso e cartas ao editor foram excluídos.
ciado à alterações respiratórias, sendo os sintomas mais Estudos duplicados foram removidos, resultando em
comuns relatados a anosmia e disgeusia 2. No entanto, um total de 9 artigos que preencheram os critérios
a pandemia do COVID-19 tem apresentado diversas de inclusão, levando em conta suas citações e seus res-
variações da sua manifestação clínica, demonstrando pectivos impactos.
seu amplo espectro através dos relatos de sintomas
respiratórios, cardiovasculares, neurológicos e outros. R E S U LTA D O S E D I S C U S SÃO
Estudos demonstram importantes manifestações
e complicações neurológicas diversas, principalmente Os sintomas neurológicos mais comuns em associa-
em estados mais graves da doença 3-6. Alguns sintomas ção ao COVID-19, foram cefaléia, distúrbio do sono,
apresentados são inespecíficos como tontura e cefaleia dor, ageusia, anosmia e parestesia, principalmente
1, porém estudos têm relatado apresentações mais avan- no sexo feminino; encefalopatia, acidente vascular
çadas da doença como encefalite 7, evidenciando a pre- cerebral (AVC) e ataque isquêmico transitório, mais
sença do SARS-CoV-2 no líquido cefalorraquidiano (LCR) comumente em idade média de 71 anos; e convulsões,
e também casos de doenças cerebrovasculares 1. mialgia, vertigem, neuropatias periféricas, Síndrome
No entanto, devido ao seu pouco tempo de surgi- de Guillain-Barré, delirium e distúrbios extrapiramidais
mento, há limitações do conhecimento acerca da fisio- e do movimento 3-12.
patologia da infecção pelo SARS-CoV-2, assim como Atualmente, sabe-se da existência de sintomas neu-
do seu processo de infecção do sistema nervoso central rológicos associados ao COVID-19, porém o mecanismo
(SNC) ou periférico (SNP), demonstrando a necessidade desses sintomas e lesões neurológicas permanecem des-
de mais estudos 4. Dada a situação pandêmica do COVID- conhecido. Segundo Ana Lúcia R. Xavier e cols, a presença
19 e sua vasta manifestação clínica e presença de afec- de hiposmia, anosmia e hipoaugesia em pacientes sem
ções do SNC, o objetivo deste estudo foi avaliar o espectro rinorreia ou congestão nasal, aumentam a possibilidade
das alterações neurológicas existentes na infecção por de comprometimento neurológico pelo vírus, sendo
coronavírus através de uma revisão de literatura. que as pacientes do sexo feminino apresentaram mais
sintomas neurológicos que homens 3. Esse aumento
de possibilidade pode decorrer da expressão do recep-
tor SARS-CoV-ACE2 nos neurônios do gânglio da raiz
dorsal humana, expressão confirmada pelo estudo
de Stephanie Shiers e cols 4 em um estudo de tecidos
humanos demonstrando que os neurônios sensoriais

34
Manifestações Neurológicas do Covid-19

são um alvo potencial para invasão do sistema nervoso C O N C L U SÃO


por SARS-CoV-2, explicando a anosmia como sintoma
inicial. O Sars-CoV-2 infecta as células de suporte do epi- Dessa forma, percebe-se que a avaliação neurológica
télio olfativo utilizando as proteínas ACE2, desta forma dos pacientes com COVID-19 é imprescindível para
danificando as células de suporte e afetando os neurô- uma abordagem adequada do paciente. Visto que sinais
nios sensoriais olfativos. Mesmo com esse achado, ainda e sintomas neurológicos podem ser o único quadro
não se sabe qual a principal “porta de entrada” para clínico presente. Apesar dos estudos apresentarem-se
o SNC, visto que a maioria dos neurônios não expressa inconclusivos quanto a um padrão específico nos exa-
o receptor, sendo necessário mais estudos para esclare- mes de imagem do SNC, mostra-se uma predileção por
cer as lacunas 4. padrões de AVC e hemorragias intracranianas.
Em um estudo coorte de um hospital de Nova Iorque
com 10 pacientes, a maioria dos pacientes encontrados R E F E R Ê N C IAS
apresentou-se na sala de emergência com principais
queixas de déficits neurológicos ao invés da sintoma- 1. MAO, Ling; JIN, Huijuan; WANG, Mendgie; HU, Yu;
tologia respiratória 5. Em outro estudo, foram avaliados CHEN, Shengcai; HE, Quanwei; CHANG, Jiang; HONG,
32 pacientes com COVID-19, 8 apresentaram comprome- Candong; ZHOU, Yifan; Wang, David; MIAO, Xiaoping;
timento grave do SNC, 2 apresentaram AVC isquêmico LI, Yanan; HU, Bo. Neurologic manifestations of
e 1 com estado epilético em fase inicial, 6 com consci- hospitalized patients with coronavirus disease 2019
ência prejudicada prolongada após o término da seda- in Wuhan, China. JAMA Neurology. Access on 17 July
ção, 2 apresentavam hemiparesia e AVC isquêmico 2020. Epub April 10, 2020. https://doi.org/10.1001/
lacunar, 3 apresentaram estado de delírio temporário jamaneurol.2020.1127
8. Demonstrando que as afecções do SNC não acarreta
2. LECHIEN, Jerome R.; CHIESA-ESTOMBA, Carlos M.; DE
apenas disfunções neurológicas, mas também psiquiá-
SIATI, Daniele R.; HOROI, Michaela; LE BON, Serge D.;
tricas. Em um estudo do Reino Unido 6 de 125 pacientes
RODRIGUEZ, Alexandra; DEQUANTER, Didier; BLECIC,
incluídos no estudo, 62% (77 pacientes) apresentaram
Serge; EL AFIA, Fahd; DISTINGUIN, Lea; CHEKKOURY-
evento cerebrovascular e 31 % (39 pacientes) apresenta-
IDRISSI, Younes; HANS, Stéphane; DELGADO, Irene
ram estado mental alterado, desses 59% (23 pacientes)
Lopez; CALVO-HENRIQUEZ, Christian; LAVIGNE,
apresentaram diagnósticos psiquiátricos e quase todos
Philippe; FALANGA, Chiara; BARILLARI, Maria
eram novos diagnósticos. Dez dos 23 pacientes com dis-
Rosaria; CAMMAROTO, Giovani; KHALIFE, Mohamad;
túrbios neuropsiquiátricos tiveram psicose de início
LEICH, Pierre; SOUCHAY, Christel; ROSSI, Camelia;
recente, 6 tiveram síndrome neurocognitiva e quatro
JOURNE, Fabrice; HSIEH, Julien; EDJLALI, Myriam;
apresentavam um distúrbio afetivo.
CARLIER, Robert; RIS, Laurence; LOVATO, Andrea;
Diferente dos exames de imagem de tórax que exis-
DE FILIPPIS, Cosimo; COPPEE, Frederique; FAKHRY,
tem achados sugestivos para a infecção pelo COVID-
Nicolas; AYAD, Tareck; SAUSSEZ, Sven. Olfactory and
19, os exames de imagem neurológicos demonstram
gustatory dysfunctions as a clinical presentation of
alterações variáveis, sem padrão específico, mas domi-
mild-to-moderate forms of the coronavirus disease
nadas por infartos isquêmicos agudos e hemorragias
(COVID-19): a multicenter European study. European
intracranianas 13. Os mecanismos dessas alterações
Archives of Oto-Rhino-Laryngology. Access on 17 July
neurológicas e psiquiátricas ainda são desconheci-
2020. Epub April 06, 2020. https://doi.org/10.1007/
dos, mas os trabalhos demonstram que a abordagem
s00405-020-05965-1
do paciente com SARS-CoV 2 sob o ponto de vista neu-
rológico é extremamente importante.

35
Artigos

3. XAVIER, Analucia R.; SILVA, Jonadab S.; ALMEIDA, 7. MORIGUCHI, Takeshi; HARII, Norikazu; GOTO, Junko;
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36
Manifestações Neurológicas do Covid-19

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13. MAHAMMEDI, Abdelkader; SABA, Luca; VAGAL,


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37
Artigos

Tireoidite subaguda
associada à infecção
viral por COVID-19

Assista a
apresentação

Apresentado por
Beatriz Maria Graça Ivankovics

Autores: Geyse Maria Lima da


Piedade1, Hannah Catharina Introdução: A tireoidite subaguda, ou tireoidite de Quervain, frequentemente
Nepomuceno Graça Ivankovics1,
é descrita como causa de dor na topografia da tireoide, tendo sua origem
Marcel Lima Andrade2, Ana
vinculada à infecção viral ou pós-viral. Com o advento da pandemia pelo
Carolina Maués de Oliveira3,
Beatriz Maria Graça Ivankovics4. SARS-CoV-2, raros casos dessa afecção da tireoide foram descritos associados
a Síndrome Respiratória Aguda pelo coronavírus. Objetivos: O objetivo desse
trabalho é relatar o caso de uma tireoidite subaguda relacionada a infecção
por SARS-CoV-2. Material e Métodos: Descrevemos as características clíni-
1. Médica com especialidade em cas, laboratoriais e radiológicas de uma mulher de 53 anos que manifestou
Clínica Médica pelo Hospital recorrência da febre após cerca de 15 dias da positivação do swab orofarín-
Ipiranga - SP geo para SARS-CoV-2 e persistência da odinofagia mesmo depois da reso-
2. Médico com especialidade em lução dos sintomas iniciais da infecção viral. A paciente teve um quadro
Clínica Médica pela Santa Casa de respiratório leve e recuperação completa após tratamento, sem necessidade
São Paulo de internação hospitalar. Resultados: Na investigação diagnóstica, os valo-
3. Médica com especialidade res de TSH e de T4 e T3 livre corroboraram com a hipótese de tireotoxicose,
em Clínica Médica pelo Hospital além dos anticorpos antitireoidianos, que se revelaram negativos. Ecografia
Ipiranga - SP tireoidiana com doppler revelou ecogenicidade reduzida, dimensões assi-
4. Acadêmica do 5º período de métricas às custas de aumento do lobo direito, onde havia aumento difuso
medicina do Centro Universitário e heterogêneo da vascularização, sugerindo áreas focais de tireoidite, bem
São Lucas - RO como aumento de linfonodos cervicais associado ao processo inflamatório
tireoidiano. No exame físico, a paciente apresentava frequência cardíaca

38
Tireoidite subaguda associada à infecção viral por COVID-19

ligeiramente aumentada e tireoide dolorosa à palpa- 2 . A PR E S E N TAÇÃO D O CAS O :


ção. Dois meses antes, a função tireoidiana e a avaliação
ultrassonográfica estavam normais e não condiziam Em maio de 2020, uma paciente do sexo feminino,
com os presentes achados descritos. Foi então diag- de 53 anos, procurou atendimento médico por quadro
nosticada tireoidite subaguda e iniciado tratamento de febre, odinofagia e mialgias, com cinco dias de evo-
com prednisona. Houve resolução da odinofagia em lução, sendo diagnosticada com quadro de infecção por
duas semanas de tratamento. Conclusão: Relatamos COVID-19 através do PCR viral em coleta de swab especí-
um caso raro de tireoidite subaguda após infecção por fico, além de sorologia viral com altos títulos de IgM. Não
SARS-CoV-2 para alertar a comunidade médica sobre apresentava hipoxemia ou qualquer comprometimento
as manifestações clínicas adicionais e não comumente pulmonar. Foi então iniciado tratamento domiciliar
relatadas nas infecções associadas ao COVID-19. com Azitromicina 500 mg/dia por 5 dias.
Após cerca de 15 dias do início dos sintomas, apresen-
1. I N T R O DU ÇÃO : tava persistência da odinofagia e recorrência da febre,

A
procurando novamente orientação médica, desta vez
Tireoidite subaguda, também conhecida em serviço hospitalar. Referia agravamento da dor, asso-
como Tireoidite de Quervain, é causa inco- ciada a sensação de aperto cervical. Queixava-se também
mum de tireotoxicose, sendo, porém, fre- de tremor recente em mãos, palpitações intermitentes
quentemente descrita como a principal e astenia.
causa de dor na glândula tireoide. Tem Na investigação diagnóstica, os valores de TSH e de T4
maior incidência no sexo feminino, principalmente e T3 livre (Tabela 1) corroboraram com a hipótese de tire-
entre 40 e 50 anos, e provável etiologia infeciosa viral ou otoxicose; foram pedidos adicionalmente anticorpos
associação com processo inflamatório pós-viral. A glân- antitireoidianos que se revelaram negativos. Realizou-se
dula tireoide tipicamente, apresenta-se aumentada, também ecografia tireoidiana com doppler, que revelou
firme e sensível a palpação (TABASSOM e EDENS, 2020). ecotextura difusamente heterogênea e ecogenicidade
O diagnóstico desse tipo de tireoidite é clínico, com reduzida, dimensões assimétricas às custas de aumento
o exame ultrassonográfico auxiliando no diagnós- do lobo direito, onde havia aumento difuso e heterogê-
tico diferencial com outras condições. O tratamento neo da vascularização ao doppler, sugerindo áreas focais
é de suporte, sendo seu curso benigno e autolimitado de tireoidite, bem como aumento de linfonodos cer-
dentro de algumas semanas (TABASSOM e EDENS, 2020). vicais associado ao processo inflamatório tireoidiano
Vários já foram os vírus relatados como agentes poten- (Figura 1).
cialmente causadores de tal afecção (DESAILLOUD A paciente apresentava ultrassonografia tireoidiana
e HOBER, 2009). prévia, realizada 2 meses antes do evento, sem alterações,
Em 2020, despontou no cenário mundial um novo apenas com à presença de pequeno cisto em lobo direito
vírus, o SARS-CoV-2 (coronavírus 2), com casos inicial- e esquerdo, bem como exames laboratoriais de fun-
mente em Wuhan, na China, capaz de causar Síndrome ção tireoidiana normais no período. Assim, perante
Respiratória Aguda Grave. Tal vírus se espalhou rapida- os achados ultrassonográficos novos e a notável eleva-
mente por todo o mundo (GUAN, NI e HU, 2020), sendo ção dos marcadores inflamatórios, além de exclusão
o Brasil um dos países mais severamente afetados, com de patologias autoimunes e bacterianas, foi realizado
numerosos óbitos relacionados à doença (MS, 2020). o diagnóstico de tireoidite subaguda.
Diante desse cenário de pandemia e de desco- Iniciada então terapêutica com prednisolona 40mg/
bertas em relação a manifestações clínicas causadas dia e propranolol para controle dos sintomas de tireo-
pelo COVID-19, relatamos o caso de uma paciente que toxicose na fase aguda, tendo-se observado resolução
desenvolveu tireoidite subaguda após infecção viral por da odinofagia em duas semanas. A terapêutica corticos-
Coronavírus 2. teroide foi mantida durante um mês, com descontinua-
ção paulatina, acompanhada de melhora dos sintomas
e da função tireoidiana.

39
Artigos

Figura 1: Tireoidite de Quervain. Observa-se áreas


hipoecogênicas de contornos irregulares e mal definidos
em lobo direito.

Valores de Referência Fevereiro/2020 Maio/2020 Junho/2020

Swab SARSCov2 Não realizado Detectado Não detectado

Sorologia SARSCoV2 Reagente: igual ou Não realizado IgM reagente / IgG não IgM reagente / IgG não
IgM/IgG superior à 1,10 reagente reagente

T4 livre 0,7-1,48 ng/dL 0,9 ng/dL 1,2 ng/dL 2 ng/dL

TSH 0,35-4,98 UI/ml 2,6 UI/ml 2,4 UI/ml 0,35 UI/ml

Leucometria 4000-10000/mm3 6000/mm3 11200/mm3 10000/mm3

PCR <0,3 mg/dL 0,2 mg/dL 1,5 mg/dL 3 mg/dL

Achados ultrassonográ- Nódulo sólido em lobo Ecotextura difusa-


ficos de tireoide esquerdo e pequeno mente heterogênea
cisto em lobo esquerdo e ecogenicidade
e direito reduzida, dimensões
assimétricas às custas
de aumento de lobo
direito

Tabela 1: Achados laboratoriais e descrição


ultrassonográfica conforme cronologia

40
Tireoidite subaguda associada à infecção viral por COVID-19

3 . DI S C U S SÃO : OLCHOVSKY, TSVETOV e SHIMON, 2005) (NISHIHARA,


OHYE e AMINO, 2008). O exame ultrassonográfico auxi-
A Tireoidite subaguda ou de Quervain é caracterizada lia no diagnóstico diferencial com outras condições,
por dor na topografia da glândula tireoide, associada como: tireoidite aguda, hemorragia tireoidiana ou
a quadro de febre leve a moderada, mialgia, fadiga abscesso da tireoide. Na tireoidite subaguda, evidencia
e por vezes artralgias. Mais incidente no sexo feminino um padrão heterogêneo hipoecóico (NISHIHARA, OHYE
e na faixa etária entre 40-50 anos, geralmente tem início e AMINO, 2008), tal qual observado na ultrassonografia
aproximadamente duas semanas após um quadro viral de tireoide da paciente relatada.
e pode evoluir com padrão flutuante entre 3 a 6 semanas, A captação radioativa de iodo (RAIU) é outro exame
a depender da intensidade dos sintomas (TABASSOM de suma importância para exclusão de diagnósticos
e EDENS, 2020). O caso descrito segue a epidemiologia diferenciais e normalmente encontra-se reduzida (< 1%)
e o padrão cronológico de manifestações clínicas típicas nos casos de tireoidite subaguda.
da doença. Dois meses antes do quadro, a paciente havia reali-
A tireoidite subaguda geralmente é precedida por zado exames de rotina, que mostravam função tireoi-
uma infecção respiratória superior. Além disso, vários diana e a avaliação ultrassonográfica da glândula
casos da doença têm relatados durante surtos virais normais, o que não condizia com os achados laborato-
(DESAILLOUD e HOBER, 2009) (BENBASSAT, OLCHOVSKY, riais e de imagem de junho de 2020.
TSVETOV e SHIMON, 2005). Muitos outros vírus, incluindo O tratamento da Tireoide de Quervain é de suporte,
caxumba, adenovírus, ortomixovírus, vírus Epstein- sendo seu curso benigno e autolimitado dentro de algu-
Barr, hepatite E, HIV, citomegalovírus, dengue e rubé- mas semanas (SWEENEY, L.B.; STEWART, C.; GAITONDE,
ola têm também foi relacionado a tireoidite subaguda 2014). Os anti-inflamatórios não esteroidais são opção
(BENBASSAT, OLCHOVSKY, TSVETOV e SHIMON, 2005). ao controle da dor e na falha dessa terapia estaria
Lesão de tireoide, em autópsia, já foi demonstrada em aceita a administração de corticosteroides, em doses
pacientes com infecção por SARSCoV durante o surto que variam de 15 a 20 mg por dia (TABASSOM e EDENS,
de 2002 (WEI, SUN e XU, 2007). A paciente relatada apre- 2020). Embora o benefício de glicocorticóide seja ainda
sentou infecção viral prévia por SARCoV-2 ocorrida em debatido (FATOURECHI, ANISZEWSKI e FATOURECHI, et al,
maio de 2020. 2003), em nosso serviço foi optado pela administração,
A disfunção tireoidiana geralmente segue um curso com boa resposta no tratamento.
trifásico: tireotoxicose, hipotireoidismo, seguidos Os beta-bloqueadores geralmente são utilizados
de eutireoidismo. Os sintomas de tireotoxicose ocor- na fase aguda da doença, para alívio do quadro de tire-
rem na maioria dos pacientes, enquanto hipotireoi- otoxicose. As drogas antitireoidianas não possuem
dismo clínico é incomum. Na fase aguda (tireotoxicose) benefício na abordagem terapêutica desta condição, já
há manifestações associadas ao estado de elevação que o excesso de hormônios tireoidianos é originado
dos hormônios tireoideanos, sendo que essa elevação da destruição dos folículos (TABASSOM e EDENS, 2020)
não ocorre por produção aumentada dos hormônios (NISHIHARA, OHYE e AMINO, 2008).
tireoidianos e sim por destruição folicular inflamatória
com liberação de hormônios tireoidianos pré-formados 4 . C O N C L U SÃO :
(TABASSOM e EDENS, 2020).
No exame físico, a glândula tireoide apresenta-se, Conclui-se que, diante da cronologia dos eventos clí-
em geral, aumentada, firme e sensível a palpação. Em nicos do caso descrito é possível realizar a associação
relação aos exames laboratoriais podemos observar do início da tireoidite subaguda com a infecção prévia
níveis elevados de marcadores inflamatórios como por SARS-CoV-2. Relatamos assim, um caso raro de tireoi-
velocidade de hemossedimentação (VHS) e proteína C dite subaguda após infecção por SARS-CoV-2 para alertar
reativa (PCR) (TABASSOM e EDENS, 2020) (NISHIHARA, a comunidade médica sobre as manifestações clínicas
OHYE e AMINO, 2008). adicionais e não comumente relatadas nas infecções
Embora o diagnóstico de tireoidite subaguda seja associadas ao COVID-19.
geralmente baseado na clínica, exames laboratoriais
e imagens do pescoço são muito úteis (BENBASSAT,

41
Artigos

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v. 90, n. 6, p. 389-396, 2014.

10. FATOURECHI, V.; ANISZEWSKI, J.P.; FATOURECHI, G.Z.;


ATKINSON E.J.; JACOBSEN, S.J. Clinical features and
outcome of subacute thyroiditis in an incidence cohort:
Olmsted County, Minnesota, study. J Clin Endocrinol
Metab.,v. 88, n. 5, p. 2100-2105, 2003.

42
Artigos

Ética e legislação para


telemedicina do pré ao
pós pandemia ao Brasil:
para onde vamos?

Assista a
apresentação

Apresentado por
Juliana Magalhães Aguiar Cardoso

A
Autoras: Juliana Magalhães Aguiar
Telemedicina surgiu na década de 70, a partir da necessidade Cardoso, Alexandra Monteiro

de melhorar o atendimento médico em áreas rurais nos Estados


Unidos da América (EUA). A ideia inicial era que o médico
pudesse atender seus pacientes e examiná-los, sem a necessidade
de se deslocar de um hospital para o outro. O primeiro projeto
foi idealizado e estabelecido no Hospital Geral de Boston, em Massachusetts,
nessa mesma época, criando a área de pesquisa denominada Telemedicina,
que envolvia Telecomunicação, Ciência da Computação e Saúde. Com o passar
do tempo, a Telemedicina começou a se expandir no mundo e a despertar
interesse em algumas instituições vinculadas à saúde como uma forma
de ampliar os serviços de saúde de centro desenvolvidos para áreas geo-
graficamente remotas, que não possuíam atendimento médico especia-
lizado. Em virtude do surgimento de novas tecnologias de comunicação
e informação, a 51a Assembléia Geral da Associação Médica Mundial (AMM)
em Outubro de 1999 adotou a declaração de Tel Aviv. Além de definir con-
ceitos, o texto buscou abordar desafios futuros ao definir responsabilida-
des e normas éticas na utilização da Telemedicina, assim tendo norteado
sua adoção pelos órgãos médicos ao redor do mundo. Não sendo exceção,
o Conselho Federal de Medicina (CFM), ao debater sobre o tema, contempla
as questões e princípios elencados pela AMM, abordando-os nas resoluções

43
Artigos

brasileiras. A Telemedicina, posteriormente, foi definida do Conselho Regional de Medicina do estado onde
pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) na Resolução estão situadas, com a respectiva responsabilidade téc-
nº 1.643/2002 como o “exercício da Medicina através nica de um médico regularmente inscrito no Conselho
da utilização de metodologias interativas de comuni- e a apresentação da relação dos médicos componen-
cação audiovisual e de dados, com o objetivo de assis- tes de seus quadros funcionais”. O Conselho Regional
tência, educação e pesquisa em saúde”. Desde então de Medicina deverá “estabelecer constante vigilância
sofreu uma expansão significativa no Brasil, principal- e avaliação das técnicas de Telemedicina no que con-
mente devido aos incentivos obtidos com as agências cerne à qualidade da atenção, relação médico-paciente
de fomento à pesquisa e com as ações governamentais. e preservação do sigilo profissional”. Já o Código de Ética
Em 11 de março de 2020 a COVID-19 foi caracteri- Médica veda ao médico o atendimento médico a distân-
zada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como cia, nos moldes da telemedicina ou de outro método.
uma pandemia. A evolução desse panorama tem modi- Tendo em vista o cenário de pandemia pelo corona-
ficado o cenário da regulamentação da telemedicina vírus, em 15 de abril de 2020 foi aprovada a lei nº 13.989
no Brasil. Dessa forma, o objetivo desse trabalho é pela Secretaria-geral da Presidência da República. Desse
apresentar a evolução do cenário da ética e legislação modo, o uso da Telemedicina é autorizado durante
em Telemedicina no Brasil tendo em vista a pandemia a crise ocasionada pelo SARS-CoV-2, em caráter emer-
do SARS-CoV 19. Para isso, foi realizada a revisão da lite- gencial. A telemedicina, nesse caso, é entendida como
ratura entre março e julho de 2020 na base de dados “o exercício da medicina mediado por tecnologias
Google Acadêmico com a utilização dos descritores para fins de assistência, pesquisa, prevenção de doen-
“Telemedicina”, “Telessaúde”, “Legislação”, “Legislação ças e lesões e promoção de saúde.”. Segundo essa lei,
como Assunto”, “Legislação em Saúde” e “Coronavirus”. o “médico deverá informar ao paciente todas as limita-
O critério de exclusão foi para artigos que citas- ções inerentes ao uso da telemedicina, tendo em vista
sem a legislação sem detalhamento das permissões a impossibilidade de realização do exame físico durante
para a Telemedicina. Além disso, foram pesquisadas a consulta.”. Ainda, a prestação do serviço de teleme-
Resoluções, Pareceres e Recomendações no site do CFM dicina deverá seguir os “padrões normativos e éticos
relacionados à Telemedicina e Telessaúde. Também foi usuais do atendimento presencial, inclusive em rela-
pesquisado no Diário Oficial da União (DOU) leis e por- ção à contraprestação financeira pelo serviço prestado,
tarias sobre o uso da Telemedicina. não cabendo ao poder público custear ou pagar por tais
De 58 artigos encontrados, apenas 2 foram seleciona- atividades quando não for exclusivamente serviço pres-
dos, já que os demais discutiam o futuro da Telemedicina tado ao Sistema Único de Saúde (SUS).”.
e Telessaúde, apresentavam reflexões sobre a sua Além disso, no CFM foi encontrado o Ofício CFM
expansão, propunham formas de implementá-las em nº 1.746 de 2020, que visa aperfeiçoar ao máximo
diversos locais e serviços, relatavam casos de seu uso a eficiência dos serviços médicos prestados em cará-
ou não tinham conteúdo relacionado à Telemedicina ter de excepcionalidade e enquanto durar a pandemia
e Telessaúde. No site do CFM foi encontrada a Resolução do coronavírus. Este define e permite a Teleorientação,
nº 1.643 de 2002, vigente no período anterior à pandemia, Telemonitoramento e Teleinterconsulta. Também foi
que define e disciplina a prestação de serviços através encontrada no DOU a Portaria nº 467 de 2020, que
da Telemedicina. Esta preconiza a “utilização de meto- dispõe, em caráter excepcional e temporário, sobre
dologias interativas de comunicação audiovisual as ações de Telemedicina. De acordo com esta, as ações
e de dados, com o objetivo de assistência, educação de Telemedicina podem contemplar o atendimento
e pesquisa em saúde”. Além disso, “em caso de emergên- pré-clínico, de suporte assistencial, de consulta, moni-
cia, ou quando solicitado pelo médico responsável, toramento e diagnóstico, por meio de tecnologia
o médico que emitir o laudo a distância poderá pres- da informação e comunicação.
tar o devido suporte diagnóstico e terapêutico, sendo Todas as medidas de caráter emergencial que
que a responsabilidade profissional do atendimento foram efetivadas durante a pandemia autorizaram
cabe ao médico assistente do paciente”. As pessoas a Telemedicina apenas durante a crise. Nesse viés,
jurídicas que prestarem serviços de Telemedicina a Telemedicina após pandemia irá exigir uma nova
“deverão inscrever-se no Cadastro de Pessoa Jurídica legislação, assim como um novo parecer do próprio CFM

44
Ética e legislação para telemedicina do pré ao pós pandemia ao Brasil: para onde vamos?

e entidades da área da saúde. Caso contrário, a Resolução


n° 1.643 de 2002 continuará sendo a que disciplina
Telemedicina no Brasil.

R EF ER Ê N CI AS BIBLIOGRÁF ICAS:

1. Organização pan-americana da saúde (OPAS).


Folha informativa – COVID-19 (doença causada
pelo novo coronavírus). Disponível em https://
www.paho.org/bra/index.php?option=com_
content&view=article&id=6101:covid19&Itemid=875
Acesso em 16 jul 2020

2. Keylla Sá Urtiga, Luiz A. C.Louzada, Carmen Lúcia B.


Costa. Telemedicina: uma visão geral do estado da
arte. Universidade Federal de São Paulo. Disponível
em: https://telemedicina.unifesp.br/pub/SBIS/
CBIS2004/trabalhos/arquivos/652.pdf Acesso em 04
de maio de 2020

3. Resolução CFM Nº 2.217/2018, Código de Ética Médica.


Conselho Federal de Medicina. Disponível em: https://
sistemas.cfm.org.br/normas/visualizar/resolucoes/
BR/2018/2217 Acesso em 04 de maio de 2020

4. RESOLUÇÃO CFM nº 1.643/2002, Define e disciplina


a prestação de serviços através da Telemedicina.
Conselho federal de Medicina. Disponível em: https://
sistemas.cfm.org.br/normas/visualizar/resolucoes/
BR/2002/1643 Acesso em 04 de maio de 2020

5. Chao Lung Wen. Telemedicina e Telessaúde – Um


panorama no Brasil. Informática Pública ano 10
(2): 07-15, 2008.

6. Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio de


Janeiro (CREMERJ). Resolução CREMERJ nº305/2020.
Acesso em 6 de maio de 2020. Disponível em https://
www.cremerj.org.br/resolucoes/exibe/resolucao/1435

7. Descritores de Ciências da Saúde (DeCS).


Telemedicina. Disponível em: http://decs.bvs.br/
cgi-bin/wxis1660.exe/decsserver/ Acesso em 05
de maio de 2020

8. Lei nº 13.989, de 15 de abril de 2020. Secretaria-geral


da Presidência da República. Disponível em https://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2020/
lei/l13989.htm Acesso em 27 de maio de 2020

45
Artigos

Os desafios da inteligência
artificial na medicina
Cardiovascular outcome of antidiabetics - Systematic literature review

Assista a
apresentação

Apresetado por
Andressa Escarlatte Avelino de Sousa Dantas

Autores: Andressa Escarlatte


Avelino de Sousa Dantas1, Ana RE S UMO
Clara Silva Sousa1, Ana Victoria
Silva Sousa1, Maria Luiza da Paz1,
Introdução: A Inteligência Artificial (IA) tem sido inovadora para medicina
William Avelino de Sousa Dantas1,
Zuleide Andrade Amaro1, Adélia ao redor do mundo. Entretanto, apesar de trazer inúmeras possibilidades
Dalva da Silva Oliveira2. para o futuro da Saúde, ainda há desafios referentes ao seu uso na Medicina,
que vão desde a sua inserção no ensino acadêmico até os limites do seu uso
em diagnósticos médicos. Objetivo: Identificar os desafios da Inteligência
Artificial na Medicina. Métodos: Trata-se de uma revisão integrativa estrutu-
rada por meio de 10 artigos encontrados nas bases de dados: Medline, Scielo
e Lilacs, publicados no período entre 2016 e 2020 a partir da combinação
de palavras-chaves cadastradas nos Descritores em Ciências da Saude (DECS):
Inteligência Artificial and Medicina and Algoritmos. Resultados: Apesar
de ser uma vantajosa ferramenta, a Inteligência Artificial levará algum
1. Acadêmicos do 3º período de tempo para ser inserida na educação médica, visto que ainda há um predo-
Medicina do Centro Universitário mínio do currículo tradicional nas Instituições de Ensino, o qual consiste
Uninovafapi - PI majoritariamente na memorização de conteúdos programáticos. Além
2. Dra. docente do curso de disso, há poucas evidências geradas a respeito da relevância da Inteligência
Medicina do Centro universitário Artificial na formação acadêmica, portanto, essa área precisa ser melhor
Uninovafapi - PI adaptada ao currículo. No âmbito profissional, a Inteligência Artificial pos-
sui desafios de implementação em especialidades médicas como radiologia,

46
Os desafios da inteligência artificial na medicina

neurocirurgia, cardiologia psiquiatria e outras áreas In addition, the inclusion of Artificial Intelligence in
relacionadas à saúde mental e à saúde do idoso, apesar medical practice involves ethical, legal and data privacy
de recentes resultados otimistas. Ademais, a inclusão issues that are being discussed. Despite the precision
da Inteligência Artificial na prática médica envolve capability of Artificial Intelligence in diagnostic hypo-
questões éticas, legais e de privacidade de dados que theses, there are limits to its use in medical diagnostics.
estão sendo discutidas. Apesar da capacidade de pre- The medical professional has a fundamental role in
cisão da Inteligência Artificial em hipóteses diagnós- patient care, being responsible for discussing a patho-
ticas, há limites do seu uso no diagnóstico médico. É logy and possible diagnoses based on clinical reasoning.
o profissional médico quem tem papel fundamental Conclusion: The challenges of Artificial Intelligence in
no atendimento ao paciente, sendo responsável por Medicine are the impasses in the insertion of Artificial
discutir a patologia e os possíveis diagnósticos com Intelligence in medical training, the obstacles to the
base no raciocínio clínico. Conclusão: Os desafios implementation of Artificial Intelligence in medical
da Inteligência Artificial na Medicina são os impas- specialties, such as ethical - legal issues - data privacy
ses na inserção da Inteligência Artificial na formação and limits of use of Artificial Intelligence in medical
médica, os obstáculos da implementação de Inteligência diagnostic.
Artificial nas especialidades médicas, as questões éti-
cas - legais - de privacidade de dados e os limites do uso Keywords: Artificial intelligence. Medicine. Algorithms.
da Inteligência Artificial no diagnóstico médico.
1 IN T R O D U ÇÃO

N
Descritores: Inteligência Artificial. Medicina.
Algoritmos. as últimas décadas, a tecnologia tem
sido uma grande aliada na construção
A B ST R ACT da ciência, auxiliando nas mais diver-
sas áreas, dentre elas a Medicina. Assim,
Introduction: Artificial Intelligence (AI) was innovative a Inteligência Artificial (IA), campo da ciên-
for medicine worldwide. However, despite offering seve- cia que preconiza o desenvolvimento, por meio do uso
ral possibilities for the future of Health, there are still de algoritmos, de sistemas que repliquem a capacidade
challenges related to its use in Medicine, ranging from humana da compreensão diante de um obstáculo para
its insertion in academic training to the limits of its use assim resolvê-lo, é um notável exemplo dessa sinergia
in medical diagnosis. Objective: To identify the challen- (LOBO, 2018).
ges of Artificial Intelligence in Medicine. Methods: This O nascimento dessa nova realidade se deu
is an integrative review structured in 10 articles found com a introdução do computador, que ocasionou
in the databases: Medline, Scielo and Lilacs, published uma importante ampliação da aptidão humana
between 2016 and 2020, based on the combination of de calcular e de arquivar extensos volumes de dados
keywords registered in the Health Sciences Descriptors em um ínfimo espaço de tempo. Esses avanços deram
(DECS): Artificial Intelligence and Medicine and a sensação de amplitude da memória humana, já que
Algorithms. Results: Despite being an advantageous tool, a informação chega de forma mais rápida e é armaze-
artificial intelligence will take some time to be inser- nada em um sistema eficaz de rápido e prático acesso,
ted in medical education, there is still a predominance funcionando quase como uma extensão do nosso cére-
of traditional curricula in educational institutions. In bro (LOBO, 2018).
addition, there are few exceptions and respect for the Dessa maneira, esse novo paradigma resultante
relevance of Artificial Intelligence in academic training, da mudança de uma época da informação e do conhe-
therefore, this is the best way to adapt to the curricu- cimento para uma época caracterizado por novas tec-
lum. In the professional field, Artificial Intelligence nologias , aponta para inúmeras utilidades.
has implementation challenges in medical specialties Na área médica, hodiernamente, esse ramo da ciên-
such as radiology, neurosurgery, cardiology, psychia- cia computacional é amplamente empregado no diag-
try and other areas related to mental health and the nóstico por imagens. Ademais, segundo Gutierrez
health of the elderly, despite the latest optimistic results. (2019), a IA também pode ser utilizada para apontar

47
Artigos

a incidência, a prevalência e a evolução das patologias, Este estudo foi operacionalizado por meio de seis
o que viabiliza a antecipação de surtos epidemiológicos etapas as quais estão estreitamente interligadas: 1)
e o estabelecimento de políticas preventivas. elaboração da pergunta norteadora, 2) busca na litera-
Além das suas finalidades atuais, a IA trará inúme- tura, 3) coleta de dados, 4) análise crítica dos estudos
ras possibilidades para o futuro da saúde. As previsões incluídos, 5) discussão dos resultados e 6) apresentação
para a aplicabilidade dessa tecnologia prenunciam da revisão integrativa (SOUZA; SILVA; CARVALHO, 2010).
o seu potencial de minimizar os dispêndios dos siste- Na formulação do problema apresenta-se a​
mas de saúde mundialmente. Isso irá ocorrer devido seguinte questão norteadora: Quais são os desafios
ao aumento da efetividade das assistências médicas, da Inteligência Artificial na Medicina?
já que essa modernização reduzirá consideravelmente A busca na literatura foi realizada nas bases
o déficit na relação médico-paciente, na execução de dados Medline (Medical Literature Analysis and
do exame físico e na dependência dos exames comple- Retrieval System Online), Scielo (Scientific Electronic
mentares, resultando em diagnósticos mais preciso Library Online) e Lilacs (Literatura Latino-Americana
(DADALTO; PIMENTEL, 2019). e do Caribe em Ciências da Saúde) utilizando-se a com-
Dessa forma, apesar dos inúmeros benefícios que binação de descritores controlados, aqueles estrutura-
a IA pode oferecer para a prática médica o uso dessa dos e organizados para facilitar o acesso à informação
tecnologia encontra alguns obstáculos que dificultam cadastrados nos Descritores em Ciências da Saúde (DECS)
sua aplicação. Mediante isso, o objetivo desse traba- (SILVEIRA, 2008): Inteligência Artificial and Medicina and
lho é identificar os desafios da Inteligência Artificial Algoritmos.
na Medicina. Estabeleceram-se como critérios de inclusão: arti-
Resolveu-se desenvolver esse tema em virtude gos científicos que contemplassem a temática, publi-
dos diversos aspectos positivos da IA e de sua pouca cados nos idiomas português e inglês no período
exploração no meio acadêmico, visto que quando de 2016 a 2020.
os alunos de medicina forem inseridos no mercado A partir da combinação dos descritores foram
de trabalho essas novas tecnologias já farão parte obtidos 4 artigos na base de dados Scielo, 456 artigos
do cotidiano e será preciso saber manuseá-las de forma nas bases de dados MedLine e Lilacs via BVS e 18.153 arti-
ética e eficiente. gos na base de dados MedLine via PubMed. Numa ava-
Aliado ao desejo de aprofundar o conhecimento liação inicial por meio dos resumos, verificou-se que 3
sobre esse assunto, outra justificativa seria incitar artigos depois da triagem de idioma, 113 artigos depois
o interesse de outras pessoas para o tema, o que permi- da triagem de período e idioma e artigos completos
tirá uma ampla discussão do assunto. Além disso, acre- na base de dado MedLine e Lilacs via BVS, e 25 artigos
dita-se que os resultados desse trabalho podem instigar filtrados por período , idioma, artigos completos de revi-
o desenvolvimento de ideias que possam solucionar são sistemática com questões ligadas a bioética sendo
as objeções a plena utilização da IA. utilizado como outros critérios de exclusão: artigos
incompletos, estudos fora da problemática do objetivo,
2 MÉ TO DO S teses e artigos de opinião, portanto, ao todo a revisão
integrativa foi estruturada pela seleção de 10 artigos
O estudo caracteriza-se como uma revisão integrativa. selecionados com foco na problemática do tema , e con-
Este método possibilita sumarizar as pesquisas publica- textualizando a pergunta central do trabalho.
das e obter conclusões a partir da pergunta norteadora. A análise dos dados foi realizada de forma descritiva.
Uma revisão integrativa bem realizada exige os mesmos Os estudos foram reunidos em 4 grupos, a qual permitiu
padrões de rigor, clareza e replicação utilizada nos estu- avaliar as evidências, bem como identificar a necessi-
dos primários (MENDES; SILVEIRA; GALVÃO, 2008). dade de investigações futuras acerca da temática.
A Revisão Integrativa da Literatura é a mais ampla
abordagem metodológica dentre as revisões, visto que 3 R E S U LTA D O S E D I S C U S SÃO
permite a utilização de estudos experimentais e não-
-experimentais para uma compreensão mais completa As literaturas analisadas foram apresentadas na tabela
do fenômeno analisado (TEIXEIRA et al., 2013). abaixo, conforme autor(ano), periódico de publicação/

48
Os desafios da inteligência artificial na medicina

base de dados, objetivos, tipo de abordagem e nível


de evidência.

Tabela - Artigos relacionados aos desafios da Inteligência


Artificial de acordo com Título,Autor(ano), Base de Dados,
Objetivo, Tipos de abordagem e Nível de Evidência,
Teresina, 2020.

Título Autor (ano) Periódico/Base Objetivos Tipo de Nível de


de dados abordagem Evidência

Where medical education Anneke Journal of The Impactos da IA na Educação Qualitativa 2C


meets artificial intelligence: et. al Association Médica
'Does technology care?' (2020) for the Study
of Medical
Education: ASME
/ Medline

Innovative Assisted Living Sapci et. al Journal of Identificar os avanços nos Qualitativa 1A
Tools, Remote Monitoring (2019) Medical Internet dispositivos de tecnologia
Technologies, Artificial Research / assistiva para idosos e a
Intelligence-Driven Solutions, Medline tecnologia de envelhecimento
and Robotic Systems for Aging que utilizam IA
Societies: Systematic Review

Demystification of AI-driven Savadjiev European Journal Identificar as restrições da IA Qualitativa 2C


medical image interpretation: et.al of Radiology / na interpretação de imagens
past, present and future (2019) Medline médicas

Introducing Artificial Paranjape Journal of Mostrar a necessidade de Quantitativo 2C


Intelligence Training in Medical et.al Medical Internet introdução ao treinamento em
Education (2019) Research / IA no ensino médico
Medline

Inteligência Artificial e Lobo Rev. bras. educ. Ressaltar a importância das Quantitativo 2C
Medicina (2017) Med/Scielo habilidades de ouvir, examinar
e orientar um paciente na era
da IA na medicina e mostrar
a importância do processa-
mento de dados em saúde
pela IA

Your Robot Therapist Fiske et.al Journal of Avaliar as implicações éticas Qualitativa 1A
Will See You Now: Ethical (2019) Medical Internet da IA em aplicativos de saúde
Implications of Embodied Research / mental
Artificial Intelligence in Medline
Psychiatry, Psychology, and
Psychotherapy

A Systematic Review Celtikci Journal of Implicações da IA e suas Qualitativa 1A


on Machine Learning in (2018) the Turkish limitações no ramo da
Neurosurgery: The Future of Neurosurgical Neurocirurgia
Decision-Making in Patient Society/ Medline
Care

49
Artigos

Título Autor (ano) Periódico/Base Objetivos Tipo de Nível de


de dados abordagem Evidência

Deep learning in medical Fourcade Revista de Investigar se os algoritmos de Qualitativa 1A


image analysis: A third eye for (2019) Estomatologia, aprendizagem profunda para
doctors Cirurgia Oral e reconhecimento de imagens
Maxilofacial / melhoraram o diagnóstico
MedLine visual em medicina

Applications of Artificial Días et. al Revista Española Esclarecer termos da Ia em Qualitativa 1A


Intelligence in Cardiology. The (2019) de Cardiología Medicina e sua contribuição,
Future is Already Here (English Edition) limitações e aspectos legais
/ MedLine em cardiologia

Artificial intelligence versus Nagendran The British Analisar estudos de desem- Quantitativa 1A
clinicians: systematic review et. Al (2020) Medical Journal penho de algoritmos de
of design, reporting standards, (BMJ) MedLine diagnóstico de aprendiza-
and claims of deep learning gem profunda para imagens
studies médicas com o de médicos
especialistas

No decorrer da construção da tabela observou-se em absorver o máximo de conhecimento possível para


uma predominância de publicações no ano de 2019, aplicá-lo no atendimento ao paciente, o que torna esse
na base de dados Medline, com abordagem qualita- processo vastamente baseado na memorização. Por con-
tiva e nível de evidência 1A. Ademais, considerando-se seguinte, resta menos tempo para o estudo de novas
os estudos dos artigos selecionados nesta revisão inte- tecnologias, como IA, aplicativos móveis de assistência
grativa, alcançou-se uma divisão para melhor sinteti- médica e telemedicina ( PARANJAPE et.al., 2019).
zar a temática, no qual delimitou-se quatro categorias, Mediante esse cenário, a educação médica enfrenta
sendo elas: Impasses da inserção da IA na formação um dilema pedagógico sobre como integrar os sistemas
médica, Desafios da implementação da IA nas especia- de IA no currículo e no conteúdo programático. Além
lidades médicas, Questões éticas, legais e de privacidade desse impasse, outra preocupação é também com os alu-
de dados e Limites do uso da IA no diagnóstico médico. nos, pois eles devem ver essas tecnologias apenas como
mediadoras de suas compreensões sobre problemas
3.1 Impasses da inserção da IA na formação médica médicos ( ANNEKE et. al., 2020).
A inserção da IA na educação médica é imprescindível De acordo com uma pesquisa de 2016 realizada pela
em virtude do surgimento de novas ferramentas tec- American Medical Association (AMA), 85% dos médicos
nológicas que envolvem conjuntos de dados, aprendi- compreenderem as vantagens das novas ferramen-
zado de máquinas e robôs e seus potenciais autônomos. tas digitais, entretanto, a inclusão da IA na educação
Entretanto, apesar da IA ter entrado no discurso médico médica ainda demorará. Isso em razão da ausência
em meados da década de 80 somente agora ela está de infraestrutura para o aprendizado e da deficiên-
sendo incorporada no ensino médico ( ANNEKE et. cia de educadores que dominem temas como ciências
al., 2020). da computação, matemática, etnografia e economia (
Isso, provavelmente, ocorre porque a forma- PARANJAPE et.al., 2019).
ção médica ainda é amplamente fundamentada Paranjape et.al. (2019) afirma que a implementação
no currículo tradicional. Nesse programa curricular, da IA na prática clínica pode ser problemática. Isso
uma extensa parte do treinamento médico concentra-se porque o treinamento médico tradicional baseia-se

50
Os desafios da inteligência artificial na medicina

nas relações com médicos assistentes, o que configura mesmo substituir parcialmente a medicina humana
um obstáculo prático, já que muitos desses profissio- em algumas tarefas, por meio da detecção de indica-
nais estão formados a muito tempo e têm pouca ou dores de doenças em imagens e da carga longitudinal
nenhuma experiência com IA. de alguma delas. Entretanto, é improvável que a IA sobre-
Outro fator que retarda o ingresso da IA no ensino ponha a experiência humana em radiologia.
médico é a quantidade ainda ínfima de evidências gera- Nagendran et. al. (2020) aprofunda o conhecimento
das. Dessa forma, a IA precisa comprovar sua relevância sobre IA quando explica que existem algoritmos que
e também legitimar que é uma temática essencial para aprendem sozinhos a fazer tarefas humanas por meio
o currículo médico. ( PARANJAPE et.al., 2019). de aprendizagem profunda (deep learning) usada
Ainda sob a ótica de Paranjape et.al. (2019), a inserção em técnicas de aprendizagem de máquina (machine
do treinamento da IA na educação médica não substi- learning). Esses mecanismos são muito utilizados
tuirá matérias do currículo existente. Na prática, com na radiologia para o reconhecimento de imagens de raio
o acréscimo dessa tecnologia na gradução os alunos x, no qual a máquina armazena várias imagens com
aprenderão os princípios básicos da IA. Por conseguinte, a patologia e aprende a detectar de forma exata futuras
não terão prejuízo quando as ferramentas atuais fica- imagens parecidas, formando, assim, um dataset (con-
rem desatualizadas e forem substituídas. junto de dados) e deixando o algoritmo com uma acu-
De acordo com Paranjape et.al. (2019) é fundamen- rácia maior ao longo do tempo.
tal o treinamento médico para o preenchimento cor- Dando sequência as explicações de Nagendran et. al.
reto dos registros eletrônicos de saúde, já que os dados (2020), o ramo do deep learning em IA tem como prin-
fornecidos por eles podem ser utilizados pelos algorit- cipal característica as chamadas redes neurais convu-
mos de IA. Dessa forma, informações incorretas podem lacionais que simulam as redes de neurônios cerebrais
gerar algoritmos tendenciosos. Ademais, o treinamento desenvolvendo seus próprios padrões, tendo a capaci-
existente hoje consiste apenas em ensinar as habilida- dade, assim, de descobrir recursos e classificações que
des básicas para o uso dessa ferramenta no cotidiano podem não ter sido notadas pelo ser humano.Dessa
das unidades de saúde não abordando temas como forma, a máquina pode descobrir melhores formas
a qualidade dos dados e o impacto do computador de diagnosticar e reconhecer imagens buscando áreas
na relação médico-paciente. em que o olho humano não consegue detectar.
Portanto, alunos e profissionais da medicina neces- Contudo, a utilização das redes neurais convulacio-
sitam ser treinados apropriadamente nessa nova tec- nais possui efeitos adversos. Uma das consequências
nologia. Somente assim terão mais entendimento não intencionais do uso clínico dessas redes pode ser
sobre suas vantagens para melhorar custo, qualidade uma dependência excessiva desse instrumento pelo
e acesso aos cuidados de saúde e suas deficiências, como profissional usuário. Dessa maneira, as redes neurais
transparência e responsabilidade. Para isso a IA precisa convulacionais colaborarão para otimizar atividades,
ser adequadamente adaptada nos diferentes aspectos tendo um potencial impacto positivo na prática, porém,
do currículo ( PARANJAPE et.al., 2019). não são soluções de substituição para médicos e devem
Em consonância com o pensamento de Paranjape ser concebidas como colegas, fornecendo segundas opi-
et.al. (2019), Anneke et. al (2020) acredita que a inserção niões (FOURCADE, 2019).
da IA na formação médica é crucial para o desenvolvi- Sob a visão de Savadjiev et. al. (2019), o maior desa-
mento de profissionais capacitados que saibam usar fiador neste momento consiste em determinar quais
essas ferramentas e possam oferecer para os pacientes tarefas clínicas da radiologia tem maiores ou menores
mais do que diagnósticos precisos. chances de se beneficiar dos algoritmos da IA, sendo
fato de que as hipóteses clínicas adequadas ainda per-
3.2 Desafios da implementação da IA nas manecem primordiais. Ainda é importante ressaltar
especialidades médicas que criar um padrão ouro de diagnóstico médico com
Segundo Savadjiev et.al. (2019), o setor da saúde está a IA também é algo desafiador, devido a questões de pri-
sofrendo transformações, sendo a radiologia uma das vacidade, considerações regulatórias e seleção de con-
primeiras áreas afetadas. Nesse campo, a IA aumenta junto de dados e de imagem de alta qualidade. Além
as ferramentas baseadas no computador, podendo até

51
Artigos

disso, experimentos de IA mal projetados podem resul- do paciente e não seguir os protocolos médicos da área,
tar em algum tipo de dano ao paciente. podendo, assim, se desviar do propósito que é de com-
Já para Nagendran et. al. (2020), o desafio plemento do tratamento médico e não a sua substitui-
da IA na medicina consiste na ausência de estudos ção total por um algoritmo.
clínicos randomizados (controlados) na área de ima- Prosseguindo no pensamento de Fiske et.al. (2019),
gem médica, acarretando na falta de padrões na área ainda não se sabe exatamente o efeito da terapia não
e aumentando o risco de distorções em relação a rele- humana, feita por algoritmos (chatbot) em longo prazo
vância clínica. Atualmente, os estudos clínicos não no entendimento das doenças e da condição psíquica.
randomizados (não controlados) não exigem a disponi- A própria falta de um protocolo ou “marco regulatório”
bilidade dos códigos dos algoritmos e os grupos de com- dificulta a compreensão, haja visto que se houvesse
parações humanos geralmente são pequenos, o que algo como uma exigência de um estudo transversal ou
representa um grande risco para os pacientes, visto que de prevalência antes desses softwares serem disponíveis
eles utilizarão máquinas com algoritmos que não foram para os pacientes se teria uma maior segurança, dados
testados com a eficácia e o rigor científico correto. científicos e literários para assegurar o paciente do uso
Ademais, Nagendran et. al. (2020) afirma que daquela tecnologia.
nos Estados Unidos os algortimos de deep learning Portanto, a incorporação da IA na saúde mental seja
para imagens médicas devem passar pela Food and na psicologia, psiquiatria ou psicoterapia é uma abor-
Drug Administration (FDA). Todavia, o FDA, atualmente, dagem promissora, mas para isso se tornar uma dis-
não exige uma publicação revisada desses estudos, rupção ainda é necessário mais pesquisas que abordem
fazendo, assim, apenas uma revisão interna. No entanto, as questões éticas e sociais nessas especialidade médi-
a mesma reconhece que suas diretrizes e protocolos não cas. Ademais, é válido lembrar que a IA não deve subs-
foram atualizados para a regulamentação de dispositi- tituir totalmente o trabalho do médico, terapeuta ou
vos médicos como a IA e tecnologias de aprendizagem psicólogo, sendo utilizado apenas como um comple-
de máquina. mento ou algo que tenha um trabalho humano por trás
Portanto, devido o pouco rigor clínico que é visto da máquina, visto que as habilidades socioemocionais
na maioria dos estudos clínicos com o uso de algoritmos que o paciente precisa para se sentir confortável e con-
de IA na área de diagnóstico por imagem deve-se mode- fiante, a máquina ainda não tem como oferecer (FISKE
rar um pouco ao receber notícias de que a máquina é et.al., 2019).
superior ao homem no diagnóstico de patologias em Além das alterações no ramo da saúde mental, tam-
imagem (Nagendran et. al., 2020). bém são observadas mudanças no campo da neuroci-
Assim como na radiologia, a implementação rurgia. De acordo com Celtikci (2018), o uso de machine
da IA na área da saúde mental também está em evidên- learning (aprendizado de máquina), que é um subcampo
cia com seus aplicativos (apps) em saúde, agentes vir- da teoria de aprendizado computacional da IA, na área
tuais e robóticos e psicoterapeutas online, o que acaba da neurocirurgia tem aumentado muito. O aprendi-
inferindo em questões éticas e de segurança de dados, zado de máquina tem a capacidade de analisar grandes
visto que as áreas que trabalham com saúde mental : quantidades de dados complexos através de algoritmos
psicologia, psiquiatria e psicoterapia atuam mais com computacionais e fazer previsões. Atualmente, a tomada
questões emocionais do ser humano e, por conseguinte, de decisão em neurocirurgia é feita por protocolos
necessitam de total sigilo para o paciente. Assim, a falta de prática clínica que citam amostras clínicas de ensaios
de treinamentos dos profissionais da saúde nessa área e publicações de séries de casos. Alguns métodos esta-
acaba deixando-os vulneráveis a apps e softwares online tísticos também são comuns, assim, se propôs utilizar
sem segurança (FISKE et.al., 2019). o aprendizado de máquina para gerar algoritmos em
Ainda sob o ponto de vista de Fiske et.al. (2019), neurocirurgia e auxiliar decisões médicas.
a falta de um “marco” ético e regulatório para esse tipo Os algoritmos mais comuns usados em neuroci-
de apps na área da saúde mental é um grande desa- rurgia são direcionados para a Hidrocefalia. Além
fio para a popularização da IA na área de atendimen- disso, há também redes neurais artificias usadas em
tos online em psiquiatria e psicologia, uma vez que estimulação cerebral profunda que utilizaram algo-
a falta de um “padrão” pode aumentar a insegurança ritmos de machine learning. A maioria desses estudos

52
Os desafios da inteligência artificial na medicina

se concentra em localização automatizada do núcleo que a maioria dos estudos existentes possuem amostra
subtalâmico (STN). Seu uso também em patologias neu- de pequeno tamanho e fraquezas metodológicas (SAPCI
rovasculares é encontrado na literatura médica. Sendo A.H ; SAPCI H.A 2019).
assim o uso da IA na neurocirurgia pode modificar seu A IA em medicina, portanto, tem o poder de substi-
processo de tomada de decisão (CELTIKCI, 2018). tuir tarefas mecanizadas na prática médica, mas não
Outro importante campo de atuação da IA é na car- tem a capacidade de substituir empregos na área e sim
diologia. Nessa especialidade médica, essa tecnologia de complementar e de facilitar a rotina cansativa
desemprenha inúmeras funções, dentre elas : segmen- dos profissionais que gastam um tempo grande em
tar e identificar diferentes estruturas do coração, detec- tarefas repetitivas tendo assim um maior tempo para
tar lesões, classificar tecidos de imagem histológicas realizar tarefas mais complexas e sensíveis com seus
e ainda gerar imagens artificiais realistas. Entretanto, pacientes ( DÍAS et. al., 2019).
apesar dos avanços na área do diagnóstico a inserção
da IA ainda apresenta alguns desafio. Um dos obs- 3.3 Questões éticas, legais e de privacidade de dados
táculos na área é obter diferentes fontes de imagem A inclusão da IA na assistência em saúde e na prática
aumentando o dataset (conjunto de dados) para que clínica de rotina enfrentará dilemas. Além dessa fer-
o algoritmo melhore e aumente sua acurácia , já que ramenta alterar as formas tradicionais de trabalho
os algoritmos de deep learning não detectam casos que do médico, problemas com o armazenamento dos dados
eles não viram anteriormente. Outro desafio na área é coletados dos pacientes e com a responsabilização a pos-
a confiabilidade e a qualidade da fonte dos dados que síveis danos são alguns dos desafios prenunciados (
é fundamental para o algoritmo ser realista e correto ( PARANJAPE et.al., 2019).
DÍAS et. al., 2019). Anneke et. al. (2020) comparou a IA com uma caixa
Seguindo a linha de pensamento de Días et. al. preta e afirmou que esta deve ser aberta para evitar que
(2019), técnicas de deep learning estão sendo utiliza- médicos forneçam soluções que não concordam, não
das com grande sucesso na detecção de tipos de arrit- compreendem ou que estão incorretas, o que aumenta
mias através da análise direta de imagens e sinais em dilemas éticos sobre responsabilidade. O autor também
Eletrocardiogramas (ECGS). Outros sistemas de machine reflete sobre a possibilidade da IA se tornar um objeto
learning se comparadas as escalas clássicas de risco descontrolado, desonesto ou autônomo, transforman-
otimizam as internações por insuficiência cardíaca, do-se em um agente patogênico.
identificando com maior precisão pacientes suscetí- Fourcade (2019) concorda que a transparência é
veis à descompensação cardíaca após alta do hospital. fundamental para o uso da IA na medicina. Ele deixa
Todavia, apesar desses benefícios a integração da IA em nítido ainda que a compreensão de como essa tecno-
contextos clínicos reais ainda configura um desafio. logia funciona é extremamente relevante e configura
Ademais, avanços tecnológicos também podem ser uma grande desafio na IA médica.
percebidos na área de cuidados com idosos. O desen- Outro obstáculo decorrente do crescente uso
volvimento de protótipos de sistemas, a implementação da IA descrito por Anneke et. al. (2020) é a promessa
de casas inteligentes usando sensores, o desenvolvi- de “solucionismo". Um exemplo do perigo dessa arro-
mento de robôs assistentes e o design de novos sistemas gância científica acontece com a edição de genes que,
de IA e aprendizado de máquina podem fornecer bene- geralmente, é a descrita por meio de metáfora por
fícios terapêuticos e dar mais autonomia para os idosos. uma parte da comunidade cientifica, isso leva a camu-
Todavia, apesar de estudos apresentarem taxas encora- flagem da complexidade e dos perigos potenciais dessa
jadoras de adoção no uso das tecnologias robóticas, é tecnologia.
bastante desafiador definir as vantagens e a repercussão Nagendran et. al. (2020) também discorreu sobre
a longo prazo dessas tecnologias, já que algumas dessas esse aspecto. Em sua tese ele afirma que manchetes
ferramentas podem se tornar amplamente adotadas não verificadas causam uma “euforia” ou promoção
com o tempo, enquanto outras não conseguem encon- extrema de uma ideia ou produto, aumentando a ape-
trar suporte suficiente para a implementação. Além tência dos consumidores pelo comercial da IA na saúde
disso, é preciso mais estudos para validar a adoção e acabam esquecendo de cobrar uma rigorosa base
dessas tecnologias em instituições de saúde, uma vez

53
Artigos

de evidências para o uso ou para a abordagem desse e comportamentais do profissional) para, assim, orien-
campo recente da tecnologia em saúde. tar o paciente da melhor formar (LOBO, 2017).
Outra grande dificuldade discutida por Paranjape Ainda de acordo com Lobo (2017), o uso de progra-
et.al. (2019) é a necessidade de uma grande quantidade mas com IA na medicina além de auxiliar no diagnós-
de dados para o desenvolvimento de algoritmos de IA, tico clínico poderiam diminuir os casos de erro médico
levando a muitos questionamentos em relação a priva- visto o nível alto de acurácia da maioria dos softwa-
cidade e controle de informações do paciente. Em con- res e programas desenvolvidos por algoritmos de IA.
trapartida, se a quantidade de dados for insuficiente, No entanto, o médico ainda é essencial no atendimento
os desenvolvedores de algoritmos treinam os protótipos ao paciente, uma vez que é através dele que vai se ter
com dados hipotéticos, o que pode acarretar em reco- o raciocínio clínico do estudo do porque da patologia
mendações incorretas. Ademais, os sistemas de IA estão e assim pedir os exames complementares se necessá-
suscetíveis a ataques cibernéticos, causando mau fun- rios, diminuindo também muitos exames que são feitos
cionamento dos algoritmos. desnecessariamente.
Lobo (2017) também discute sobre o uso dos dados Outro desafio apontado por Días et. al. (2019) é a falta
no desenvolvimento de algoritmos. O autor afirma que de padronização dos algoritmos em IA na medicina. Isso
hoje há um grande volume de informações por meio dificulta a interpretabilidade dos modelos de machine
de prontuários eletrônicos com dados de pacientes. learning em medicina na área de deep learning. As pre-
No entanto, ainda não há um sistema único no qual visões que os algoritmos fazem não tem a capacidade
esses dados possam ser transferidos de um local a outro de dar explicações biológicas, sendo assim o profissional
sendo assim, a necessidade de ainda digitalizar novos médico é fundamental para cumprir esta tarefa.
dados ainda é um grande desafio em IA médica. Ademais,
nessa digitalização poderá ocorrer um erro humano 4 C O N C L U SÃO
e acabamos no problema da perda da confiabilidade
de dados nos sistemas da saúde. Conclui-se que impasses da inserção da IA na formação
Outro obstáculo relacionado ao uso da IA na área médica, obstáculos da implementação da IA nas especia-
da saúde é a indeterminação do responsável pelo lidades médicas, questões éticas - legais - de privacidade
algoritmo, ou seja, não está evidente quem será res- de dados e limites do uso da IA no diagnóstico médico
ponsabilizado em casos de danos decorrentes de uma são os principais desafios da Inteligência Artificial
recomendação imprecisa do algoritmo. Diante disso, na Medicina. Uma das limitações que se teve para a ela-
para tentar mitigar os erros estão sendo desenvolvi- boração do estudo foi a escassez de trabalhos publicados
dos padrões para o uso de IA nos cuidados de saúde acerca do tema em comparação com a grande quanti-
(PARANJAPE et.al., 2019). dade de artigos sobre o uso da IA na medicina.
R E F E R Ê N C IAS
3.4 Limites do uso da IA no diagnóstico médico
A IA por meio da sua capacidade de processar dados 1. ARTHUR, F.; KHONSARI, R. (2019). Deep learning in
oferece sistemas de apoio a decisões clínicas por medical image analysis: A third eye for doctors. Journal
meio do processamento das informações dos pacien- of Stomatology, Oral and Maxillofacial Surgery. Pages
tes, formando, assim, hipóteses diagnósticas precisas 279-288. September 2019. Vol.120. Issue 4. Available
(LOBO, 2017). from < https://pesquisa.bvsalud.org/brasil/resource/
No entanto, apesar da ferramenta computacional pt/mdl-31254638 >. Access on 18 Apr.
ligada a IA ter a capacidade de fornecer o Know-What
2. CELTIKCI , E. A Systematic Review on Machine
(resultado de algo , o que é algo ) cabe ao médico dis-
Learning in Neurosurgery: The Future of Decision-
cutir a patologia e os possíveis diagnósticos com
Making in Patient Care. Turkish Neurosurery JTN. 2018;
o paciente explicando o Know-Why (o porquê ) do seu
28 (2): 167-17.Available from < https://www.ncbi.nlm.nih.
caso. Dessa forma, cabe ao médico sua capacitação tec-
gov/pubmed/28481395>. Access on 18 Apr.
nológica para desenvolver habilidades de hard skills
(habilidades técnicas) e de soft skills (habilidades socias

54
Os desafios da inteligência artificial na medicina

3. DADALTO, L.; PIMENTEL, W. Responsabilidade Civil 10. KOMOROWSKI, M.; HARVEY, H.; TOPOL, E. J.;
do Médico no Uso da Inteligência Artificial. Revista LOANNIDIS, J.; COLLINS, G. S.; & MARUTHAPPU,
IBERC – Responsabilidade Civil. v.2, n. 3, p. 01-21, M. (2020). Artificial intelligence versus clinicians:
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5. FISKE, A.; HENNINGSEN, P.; BUYX, A . Your Robot
Therapist Will See You Now: Ethical Implications 12. SAPCI, AH.; SAPCI, HA. Innovative Assisted Living
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Psychology, and Psychotherapy . Journal of Medical Intelligence-Driven Solutions, and Robotic Systems
Internet Research (JMIR) 2019;21(5):e13216. for Aging Societies: Systematic Review. Journal of
Available from < https://www.ncbi.nlm.nih.gov/ Medical Internet Research (JMIR). 2019;2(2):e15429.
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6. GUTIERREZ, M. Ciência de dados e Inteligência
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2019 , Outubro- Dezembro.11 (4). Disponível em Demystification of AI-driven medical image
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8. LOBO, L. C. Inteligência artificial, o Futuro da Medicina


e a Educação Médica. Rev. bras. educ. med. , Brasília,
v. 42, n. 3, p. 3-8, setembro de 2018. Disponível
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arttext&pid=S0100-55022018000300003&lng=en&nr
m=iso>. acesso em 20 de abril de 2020.

9. NAGENDRAN, M.; CHEN, Y.; LOVEJOY, C. A.;


Gordon, A. C.;

55
Artigos

Manifestações
exantemáticas como
apresentação clínica
da Covid-19: uma
revisão de literatura

Assista a
apresentação

Apresentado por
Rebeka Menezes Luz de Souza

Autores: Rebeka Menezes Luz


de Souza1; Ana Carolina Lins dos 1 . INT RO D U ÇÃO

A
Santos Silva1; Lidiane Moura dos
Santos1; Natália Coelho Bione de
Covid-19 é uma doença viral causada pelo SARS-COV-2 um novo
Melo1
tipo de coronavírus identificado em dezembro de 2019 na China
na cidade de Wuhan. Rapidamente se espalhou tornando-se
uma epidemia que resultou na crescente de casos por outros paí-
ses do Globo. Em março de 2020 a OMS elevou o estado de conta-
minação à pandemia de Covid-19. O número de casos confirmados no mundo,
segundo a OMS, superou a marca de 18 milhões até o início de agosto de 2020.
Já no Brasil, de acordo com o Ministério da Saúde, a primeira notificação
de caso confirmado ocorrido foi no dia 26 de fevereiro, e até o final de julho
de 2020 o número de casos confirmados no país ultrapassa 2,5 milhões.
É importante ressaltar que o perfil clínico ainda não está estabelecido
completamente, e necessita de mais investigações e tempo para caracte-
rização da doença. O espectro clínico da infecção por SARS-CoV-2 é muito
amplo, no entanto, os principais sinais e sintomas relatados são: febre, tosse
e dispnéia, além de acometimento cardiovascular, gastrointestinal e cutâneo.
1. Acadêmicos de Medicina da Com relação ao acometimento cutâneo na COVID-19, foram identificados
Uninassau potenciais manifestações dermatológicas devidas à COVID-19, porém a fre-
quência, o momento ou mesmo a gravidade do acometimento associada

56
Manifestações exantemáticas como apresentação clínica da Covid-19: uma revisão de literatura

à doença ainda não foram determinados. Essas podem e adaptativa, promovendo erupções como eritema,
assumir caráter urticariforme, exantemático, vascular lesões urticariformes e vesículas. Os danos endoteliais
e acro-papular e ainda não possuem patogênese defi- foram percebidos na junção dermo-hipodérmica, além
nida. A forma clínica exantemática pode ser variceli- de rins, intestino delgado e pulmão. Foi observado que
forme, pápulo-vesicular ou morbiliforme, necessitando a partir da captação de aerossóis de SARS-COV-2, ocorre
de diagnóstico diferencial com outras doenças de etio- a infecção da Enzima Conversora de Angiotensina tipo
logia viral. 2 (ECA 2). Além das células alveolares, essa enzima tam-
Assim, é necessária a comparação de estudos recen- bém está presente na camada basal da epiderme, células
tes para perceber a importância da suspeita diagnóstica endoteliais dos vasos sanguíneos dérmicos e em glân-
de infecção pelo coronavírus a partir de um quadro clí- dulas sudoríparas écrinas.
nico inicial dermatológico, havendo detecção precoce Ainda não é possível definir se as manifestações
que leve a uma conduta efetiva. dermatológicas são decorrentes da ativação excessiva
de mediadores inflamatórios ou da entrada direta
2. O B J E T I VO S do vírus no receptor, levando a danos endoteliais
dos vasos dérmicos.
2.1 Objetivo Geral Os exantemas apresentam padrões, gravidade e dura-
• Analisar estudos que relacionem manifestações ção diferentes, podendo surgir em qualquer fase do qua-
exantemáticas como repercussão da Covid-19. dro clínico. Os estudos citam que dentre os padrões
de exantema o variceliforme é o mais específico
2.2 Objetivos Específicos da Covid-19 e pode ser a única manifestação em assin-
• Demonstrar as principais manifestações tomáticos. O padrão desse tipo de exantema é de lesões
dermatológicas já relatadas em pacientes pápulo-vesiculares generalizadas que surgem 3 dias
com COVID-19. após os sintomas e duram cerca de 8 dias, está associado
• Identificar a real relevância desse tipo com gravidade moderada e se encontram geralmente
de apresentação dentro do quadro clínico em pacientes de meia idade. Em geral, o tronco é cons-
da doença. tantemente envolvido e o prurido é relatado em alguns
pacientes, histologicamente é visualizada uma dege-
neração vacuolar com queratinócitos desorganizados
3 . M AT ER I A L E M É TODOS e multinucleados.
Ademais, é possível diferenciá-lo clínica e histolo-
Foi realizada uma busca nas plataformas PubMed, Scielo gicamente do exantema do Varicella-Zoster. Já em rela-
e Medline, utilizando-se os descritores “EXATHEMA” ção ao exantema do tipo maculopapular é sabido que
e “COVID-19” com a conjunção AND entre eles. A pesquisa esse aparece concomitantemente com outros sintomas
resultou em 24 artigos, dos quais 7 foram selecionados, de infecção e dura um curto período de tempo (3-10 dias),
após serem excluídos aqueles que não se adequaram o prurido é relatado na maioria dos pacientes e está
às necessidades do estudo em questão. associada com doença grave em pacientes idosos.
Apesar dessas manifestações cutâneas ainda não
4 . R E S U LTA DO S serem conhecidas, cada vez mais relatos de casos sur-
gem na literatura. Isso pode ser visto no caso descrito
Os estudos apontaram que a infecção viral ativa res- em um dos estudos analisados, que relata a presença
postas imunes inatas e adaptativas, que podem ser de máculas e pápulas eritematosas em um homem
exacerbadas nos casos de Covid-19. A ativação de mas- de 60 anos que surgiram 3 dias após quadro gripal. Já
tócitos e basófilos é um evento possível e pode gerar em outro artigo, foi abordado o caso de uma menina
manifestações cutâneas. A repercussão cutânea pode de 8 anos com lesão cutânea papular que evoluiu com
ser causada por efeitos citopáticos nos vasos dérmicos vesículas, formando crostas depois. Ambos com resul-
ou estimulados por citocinas nas arteríolas. Essas cito- tado positivos para a Covid-19.
cinas podem atingir a pele e estimular células dendrí-
ticas dérmicas e demais células das imunidades inata

57
Artigos

C ON CL U SÃO

Os estudos sobre o aparecimento de lesões cutâneas


em pacientes com Covid-19 ainda não são suficientes
para dar robustez à hipótese da relação direta entre eles.
Contudo, cabe incluir o SARS-COV-2 como diagnóstico
diferencial em pacientes que apresentem alterações
cutâneas associadas à síndrome gripal pela semelhança
com as lesões de pele vistas em outras síndromes virais.
Visto que, essas alterações podem ser manifestações ini-
ciais da Covid-19 e o atraso no diagnóstico pode levar
ao retardo no tratamento e isolamentos adequados.

R EF ER Ê N CI AS

1. CRIADO, P.R., ABDALLA, B.M.Z., DE ASSIS, I.C. et al.


Are the cutaneous manifestations during or due to
SARS-CoV-2 infection/COVID-19 frequent or not?
Revision of possible pathophysiologic mechanisms.
Inflamm. Res. 2020 Jun; 69, 745–756

2. GISONDI, P., PLASERICO, S., BORDIN, C. et


al. Cutaneous manifestations of SARS-CoV-2
infection: a clinical update. J Eur Acad Dermatol
Venereol. 2020 Jun;

3. RIVERA-OYOLA R, KOSCHITZKY M, PRINTY R, et al.


Dermatologic findings in 2 patients with COVID-19. J
Am Acad Dermatol. 2020 Jun; 6 (6):537-539

4. GIANOTTI, R., RECALCATI, S.,FANTINI, F. et al.


Histopathological Study of a Broad Spectrum of Skin
Dermatoses in Patients Affected or Highly Suspected
of Infection by COVID-19 in the Northern Part of Italy:
Analysis of the Many Faces of the Viral-Induced Skin
Diseases in Previous and New Reported Cases. Am J
Dermatopathology. 2020 Jun; 0 (0): 1-7.

5. CRIADO, PR., PAGLIARI, C., CARNEIRO, FRO., Lessons


from dermatology about inflammatory responses in
Covid-19, Rev Med Virol . 2020 ; e2130

6. GENOVESE, G., COLONNA, C., MARZANO, AV.,


Varicella-like exanthem associated with COVID-19 in
an 8-year-old girl: A diagnostic clue?, Pediatr Dermatol,
2020 37: 435-436.

7. de Medeiros, V.L.S., Silva, L.F.T. Follow-up of skin


lesions during the evolution of COVID-19: a case report.
Archives of Dermatological Research. April. 2020

58
Manifestações exantemáticas como apresentação clínica da Covid-19: uma revisão de literatura

59
Artigos

Impacto do projeto
“Orienta Covid URA”
na população da
cidade de Uberaba

Assista a
apresentação

Apresentado por
Ingrid Hovsepian de Souza

Autores: SOUZA, Ingrid Hovsepian


de1; SOUZA, Beatriz Antunes INT ROD U ÇÃO :

A
de; FATURETO, Estela Hercos;
GUIMARÃES, Isadora Senna;
pandemia causada pelo SARS CoV-2, do ponto de vista milenar,
RESENDE, Maria Eduarda Santos;
MELLO JÚNIOR, Ricardo de não é a primeira a ser enfrentada pela humanidade. No século
Araújo; RESENDE, Stella Vasques; XIV surgiu na Europa a Peste Bubônica, mais conhecida como
MONTEIRO Valkíria César; Peste Negra, que resultou em cerca de 200 milhões de mortes.
MACHADO, Guilherme Henrique; Inclusive, nessa pandemia, surgiu o conceito de quarentena -
FATURETO, Marcela Hercos. intervenção adotada para conter o avanço da doença. Outro grande surto foi
a Gripe Espanhola, ocorrida no século XX, que registrou cerca de 50 milhões
de mortos (SANARMED, 2020). Desde a década de 1980, os surtos de doen-
ças humanas tornaram-se cada vez mais frequentes e diversificados
devido a imensuráveis fatores ecológicos, ambientais e socioeconômicos
(ALZARAC, 2020).
A COVID-19 é uma doença altamente infecciosa causada por um tipo
de coronavírus recém-descoberto. Os casos surgiram pela primeira vez
no final de dezembro de 2019, quando uma doença até então desconhecida
foi relatada em Wuhan, China (AHMAD, 2020). Sabe-se que cada paciente
1. Universidade de Uberaba - pode disseminar a infecção para outros dois ou quatro indivíduos. Dessa
Ingridhovsepian1997@gmail.com maneira, a COVID-19 se espalhou rapidamente na China e em outros paí-
ses ao redor do mundo, dando início a uma pandemia. Mundialmente, há

60
Impacto do projeto “Orienta Covid URA” na população da cidade de Uberaba

um total de 1.279.722 casos de COVID-19 e 72.614 mortes superlotação, diminuindo o risco de contamina-
foram confirmados em 212 países até 7 de abril de 2020 ção de pacientes e profissionais da saúde nos locais
(ALZARAC, 2020). E desde então, várias restrições foram de atendimento.
impostas ao movimento público para conter a propa-
gação do vírus (BARNEJEE, 2020). O B J E T IVO :
O campo da medicina é confrontado diariamente
com a disseminação de informações equivocadas, Avaliar a satisfação dos cidadãos e o impacto na popu-
imprecisas ou incompletas (CHOU, 2018). Concomitante lação dos atendimentos dos acadêmicos de Medicina
a esse cenário, temos a relevância do papel das mídias no projeto voluntário Orienta COVID URA.
sociais, que, se por um lado promovem a propagação
de informações necessárias para prevenção, diagnós- MAT E R I A L E MÉ TO D O S :
tico e tratamento de doenças, por outro facilitaram
a divulgação de informações não confiáveis, gerando Foi aplicado aos cidadãos no período de maio a julho
as fake news por todo o mundo, principalmente se de 2020 um formulário de perguntas elaborado por 60
tratando do novo Coronavírus (DELMAZO e VALENTE, acadêmicos de Medicina sob a orientação de 16 médicos
2018). Além disso, as incertezas e medos vividos durante de diferentes especialidades (infectologia, endocrino-
uma pandemia levam o público, muitas vezes, a acre- logia, pneumologia, pediatria, ginecologia e cardiolo-
ditar de prontidão no que uma mídia sensacionalista gia). Para o preparo dos atendimentos telefônicos - que
divulga. As evidências mostram que os profissionais foram realizados gratuitamente entre 7h e 19h - houve
de saúde podem impedir a disseminação de notícias participação prévia dos estudantes em cursos espe-
falsas, fornecendo fontes adequadas para combatê-las, cíficos sobre o manejo do COVID-19, em consonância
sendo este um grande desafio (O’CONNOR, 2020). É neces- com publicações do Ministério da Saúde (BRASIL, 2020a;
sário que haja uma orientação sobre onde buscar expla- 2020b). Os atendimentos telefônicos foram realizados
nações e que sejam claras e diretas, sem uso de termos por meio de um aplicativo de telefone móvel com
científicos para o entendimento da população leiga. o apoio de uma companhia telefônica. Os acadêmicos
Dessa forma, as intervenções propostas ao combate foram divididos em grupos de 4 pessoas sob orienta-
das fake news, que incluem orientar e sanar dúvidas ção de um médico plantonista durante um período
por profissionais capacitados para tal, em conjunto de 4 horas por grupo em um método de rodízio para
com as medidas de restrição, impedem um cresci- evitar a sobrecarga dos voluntários e garantir que todos
mento abrupto do número de casos e diminuem o pico pudessem participar e adquirir a experiência de um pro-
de demanda por serviços de saúde (OLIVEIRA, 2020). jeto voluntário. Além disso, foi elaborado um material
A regulamentação do uso da telemedicina pelo Conselho de apoio com possíveis perguntas e respostas para auxi-
Federal de Medicina (CFM) para a realização de con- liar em quaisquer dúvidas. Dessa maneira, 108 respostas
sultas médicas on-line foi importante para garantir foram colhidas durante os atendimentos telefônicos
o atendimento não somente das pessoas afetadas pela e analisadas pelos acadêmicos.
COVID-19, mas também de todas aquelas que necessi-
tem de assistência médica. Assim, evita-se a sobrecarga R E S U LTA D O S :
das Unidades de saúde, que poderiam ser foco de pro-
pagação da doença e terem seus leitos hospitalares As respostas do formulário incluíam informações pesso-
superlotados. ais, sintomas, contato prévio com um infectante, fontes
Em decorrência do atual cenário, acadêmicos usadas para orientação sobre a doença e a satisfação
de Medicina da cidade de Uberaba uniram-se para do atendimento. Verificou-se que 87,4% das pessoas
criar um projeto voluntário com a intenção de sanar usaram o atendimento telefônico deste projeto como
as principais dúvidas da população em relação à doença orientação sobre a doença, 20,4% usaram informações
do SARS CoV- 2. Assim, evitam-se, principalmente, a pro- do Ministério da Saúde e 2,9% orientações de médicos
pagação de fake news e o aumento da procura desne- plantonistas. Ainda, 89,8% consideraram o atendi-
cessária pelas Unidades de Saúde e sua consequente mento como ótimo, 10,2% bom e 0% ruim. Foram dadas
orientações sobre medidas de proteção adequadas

61
Artigos

frente ao quadro clínico apresentado pelo paciente 5. Conselho Federal de Medicina (BR). Resolução CFM
e esclarecidas dúvidas sobre exames e tratamentos, n. 2.227, de 26 de fevereiro de 2019. Define e disciplina
sem a prescrição de medicamentos pelos acadêmicos, a telemedicina como forma de prestação de serviços
além da orientação quanto ao uso correto das máscaras médicos mediados por tecnologias [Internet]. Diário
de proteção e à forma correta de fazer a higienização Oficial da União, Brasília (DF), 2019 mar 6
pessoal e de objetos. Além disso, também foram esclare-
6. DELMAZO e VALENTE. Fake news nas redes sociais
cidas dúvidas sobre o período de tempo de isolamento
online: propagação e reações à desinformação em
após contato com um infectante.
busca de cliques. Media & Jornalismo, Lisboa , v. 18, n.
32, p. 155-169. 2018.
C ON CL U SÃO :
7. MED, Sanar (ed.). Pandemias na História: o que há de
Portanto, evitou-se, até então, a propagação de fake news semelhante e de novo na covid-19. 2020. Disponível em:
por parte dos assistidos pelo projeto, uma vez que 87,4% https://www.sanarmed.com/pandemias-na-história-
dos ligantes usaram o ‘Orienta Covid URA’ como fonte comparando-com-a-covid-19. Acesso em: 26 ago. 2020.
de orientação sobre a doença. Foi possível orientar e dar
8. O'CONNOR e MURPHY M. Going viral: doctors must
informações verídicas aos assistidos. Seguindo essa
tackle fake news in the covid-19 pandemic. BMJ. 2020.
mesma lógica, houve uma orientação quanto à real
necessidade de atendimento, evitando buscas desne- 9. OLIVEIRA, et al. Como o Brasil pode deter a COVID-19.
cessárias por pronto socorro e, com isso, reduzindo Epidemiologia e Serviços de Saúde, 2020.
o risco de infecção de pacientes e profissionais da área
da saúde. Por fim, tendo em vista que 89,8% consideram
o atendimento como ótimo, fortaleceu-se o relaciona-
mento dos acadêmicos com a comunidade, gerando
promoção à saúde, trazendo tranquilidade e criando
uma corrente humanizada de cidadania e de apoio.
Isso tudo demonstra como a telemedicina se fez útil
em um momento de pandemia.

Palavras-chave: Assistência à Saúde. COVID-19.


Acadêmicos. População.

R EF ER Ê N CI AS:

1. Ahmad AR, Murad HR. The Impact of Social Media on


Panic During the COVID-19 Pandemic in Iraqi Kurdistan:
Online Questionnaire Study. J Med Internet Res.
2020;22(5):e19556. 2020.

2. Banerjee D, Rai M. Social isolation in Covid-19: The


impact of loneliness. Int J Soc Psychiatry. 2020.

3. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção


Primária à Saúde. Protocolo de manejo clínico do
Coronavírus (COVID-19) na atenção primária à saúde. 7.
ed. Brasília: Ministério da Saúde, 2020a.

4. BRASIL. Ministério da Saúde. Diretrizes para


diagnóstico e tratamento da Covid19. Brasília:
Ministério da Saúde, 2020b.

62
Artigos

Abordagem imunológica
para o tratamento
de Covid 19: Plasma
convalescente
Immunological Approach To Covid Treatment 19: Convalescent Plasma

Assista a
apresentação

Apresentado por
Agata Layanne Soares da Silva2

Autores: Agata Layanne Soares da


RE SU M O Silva1, Sara Brandão dos Santos2,
Lucas Alexandre Pereira da Silva2,
Willian Marciano da Silva2, Igor
Introdução: A doença de coronavírus (COVID-19) causada pela síndrome
Dutra Lima2, Alexsander Silva
respiratória aguda grave coronavírus-2 (SARS-CoV-2), foi relatada pela pri- de Oliveira2, Gedivan Pereira
meira vez no final de 2019. Na infecção por SARS-CoV-2, o hospedeiro é capaz de Gois2, Arlane Silva Carvalho
de gerar uma resposta imunológica, porém algumas cepas são capazes Chaves3
de escapar e proliferarem no corpo causado ao quadro clínico da COVID 19.
No entanto, ainda não existem tratamentos específicos comprovados por
alto nível de evidência científica. Diante disso, a imunoterapia com anticor-
pos específicos para vírus no plasma convalescente tem sido cada vez mais
estudada como uma alternativa para o tratamento de pacientes infectados,
sobretudo os pacientes em estado crítico. Objetivos: Analisar sistematica- 1. e-mail do autor principal:
mente as evidências dos benefícios da utilização do plasma convalescente agatalayanne@outlook.com
na terapêutica do COVID 19. Material e Métodos: Trata-se de uma revisão 2. Discente na Universidade
sistemática de literatura, na qual se utilizou as bases de dados Pubmed, Federal do Maranhão (UFMA),
MEDLINE com os descritores “convalescent Plasma”, “Immunoglobulin”, Imperatriz, Maranhão, Brasil
“COVID 19”, “coronavirus”, “treatment”, e o operador booleano AND. Como 3. Docente na Universidade
critério de inclusão, os artigos devem ter sido publicados no ano de 2020, Federal do Maranhão (UFMA),
possuir o idioma inglês e conter textos completos disponíveis. O critério Imperatriz, Maranhão, Brasil
de exclusão envolve a repetição entre as bases de dados e a fuga do objetivo

63
Artigos

deste estudo. Encontrou-se 105 artigos, aplicando os cri- MEDLINE with the descriptors "convalescent Plasma",
térios de inclusão e exclusão, selecionou-se 9 pesquisas. "Immunoglobulin", "COVID 19", "coronavirus", "treat-
Resultados: Diante do aumento do número de casos ment", and the boolean operator AND. As an inclusion
de pacientes infectados, cada vez mais diferentes tra- criterion, the articles must have been published in 2020,
tamentos estão surgindo a fim de controlar a pande- have the English language and contain full texts avai-
mia. Assim, um alvo terapêutico bem visto é a plasma lable. The exclusion criterion involves the repetition
convalescente. O plasma é coletado por plasmaferese, between the databases and the escape from the objec-
e é doado por pacientes com COVID-19 recuperados tive of this study. A 105 articles were found, applying
e saudáveis, assintomáticos por mais de 14 dias. Após the inclusion and exclusion criteria, and 9 studies were
a infusão a maioria dos estudos relataram melhora clí- selected. Results: In view of the increasing number of
nica com o uso do plasma convalescente. Alguns pacien- cases of infected patients, more and more different tre-
tes em ventilação mecânica passaram a não precisar atments are emerging in order to control the pande-
mais de suporte respiratório, melhorias significativas mic. Thus, a well-seen therapeutic target is convalescent
na temperatura corporal, na relação PaO2 FiO2, no score plasma. Plasma is collected by plasmapheresis, and is
Sequential Organ Failure Assessment (SOFA) e os níveis given by recovered and healthy, asymptomatic COVID-
séricos de ferritina. Houve, supressão da replicação viral, 19 patients for more than 14 days. After infusion most
diminuição de marcadores inflamatórios e melhora studies have reported clinical improvement with the
nas lesões pulmonares. Assim, é consenso entre os estu- use of convalescent plasma. Some patients on mecha-
dos que houve melhorar das taxas de sobrevivência nical ventilation no longer needed respiratory support,
COVID 19. Conclusão: Portanto, com o uso do plasma significant improvements in body temperature, PaO2
convalescente pacientes apresentaram evolução clínica FiO2 ratio, Sequential Organ Failure Assessment (SOFA)
favorável após a infusão de plasma convalescente, tor- score, and serum ferritin levels. There was, suppression
nando viável a sua utilização como recurso terapêutico of viral replication, decrease of inflammatory markers
e melhora da qualidade de vida dos pacientes, já que and improvement in pulmonary lesions. Thus, there
tem provado sua eficácia como tratamento potencial is consensus among the studies that there was an
para a COVID 19. improvement in COVID survival rates 19. Conclusion:
Therefore, with the use of convalescent plasma patients
Palavras-chave: Plasma convalescente; COVID 19; presented favorable clinical evolution after convales-
Tratamento; Benefícios; Imunoterapia cent plasma infusion, making feasible its use as a thera-
peutic resource and improvement of the quality of life
A B ST R ACT of patients, since it has proven its efficacy as a potential
treatment for COVID 19.
Introduction: Coronavirus disease (COVID-19) caused
by acute acute coronary artevirus-2 (SARS-CoV-2) res- Keywords: Convalescent plasma; COVID 19;
piratory syndrome was first reported in late 2019. In Treatment; Benefits; Immunotherapy
SARS-CoV-2 infection, the host is capable of generating
an immune response, but some strains are capable
of escaping and proliferating in the body caused to
the clinical picture of COVID 19. However, there are
still no specific treatments proven by a high level of
scientific evidence. Therefore, immunotherapy with
virus-specific antibodies in convalescent plasma has
been increasingly studied as an alternative for the
treatment of infected patients, especially critically ill
patients. Objectives: To systematically analyze evidence
of the benefits of using convalescent plasma in COVID
therapy 19. Material and Methods: This is a systema-
tic literature review, in which the databases Pubmed,

64
Abordagem imunológica para o tratamento de Covid 19: Plasma convalescente

1. I N T R O DU ÇÃO 2 . ME TO D O LO G I A

N
o final do ano de 2019 o mundo presencia Trata-se de uma revisão sistemática da literatura, ela-
uma infecção respiratória aguda se torna borada conforme todas as recomendações Cochrane
uma pandemia, e com isso um dos princi- Collaboration. Como aparato teórico, realizou-se a busca
pais problemas de saúde pública. identifi- de publicações contidas nas bases de dados U.S. National
cado como pneumonia viral aguda causada Institutes of Health (NIH), Medical Literature Analysis
por um novo coronavírus, por isso denominada sín- and Retrieval System Online (MEDLINE).
drome respiratória aguda grave coronavírus-2 (SARS- Para realizar a busca dos estudos, consultou-se
CoV-2), ou popularmente conhecida como doença o DeCS (Descritores em Ciências da Saúde): plasma con-
de coronavírus (COVID-19). Com alta txa de contágio, valescente, COVID-19, tratamento, imunoglobulina, coro-
o vírus se instala no trato respiratório se replicando navírus. Combinado com o operador booleano “AND”.
ativamente nas células alveolares pulmonares tipo 2, Para inclusão dos estudos, adotaram-se os seguintes
gerando a sintomatologia inicial do curso do paciente: critérios de elegibilidade: artigos disponíveis na íntegra,
febre, tosse, dor de garganta, cefaleia e fadiga, levando que contemplassem o tema proposto, estudos publica-
a dispneia progressiva e outras sintomas que elevam dos em inglês, português e espanhol publicados no perí-
o paciente a estado crítico. (LINDHOLM, 2020) odo de 2015 a julho de 2020. Por fim, foram aplicadas
Diante disso, urge um recurso terapêutico eficaz as ferramentas para avaliação qualitativa dos artigos:
capaz de curar os pacientes ou uma vacina capaz recomendações PRISMA, escala Jadad (para estudos ran-
de imunizá-los. Para isso, são variadas as tentativas domizados), escala Robbins (para estudos não randomi-
de pesquisadores, médicos e organizações com uso zados). Ao final desta etapa, resultou-se uma amostra
de outros medicamentos a fim de regredir a evolução de 09 estudos inclusos, os quais foram considerados
da doença, como agentes antivirais, como remdesivir elegíveis e submetidos à análise quantitativa.
e lopinavir / ritonavir, além de hidroxicloroquina, toci- A extração dos dados dos artigos foi direcionada atra-
lizumabe e sarilumabe. No entanto, atualmente, não há vés das diretrizes recomendada pela literatura, abran-
tratamento comprovado para a doença por coronavírus gendo conhecimentos que foram fundamentais para
em 2019 (Covid-19). Assim, é crucial buscar uma estraté- análise e aplicabilidade dos resultados: identificação
gia alternativa, como a terapia transfusão com plasma do artigo (título do artigo, autoria, ano de publicação,
convalescente, que consiste na administração de anti- base de dados, país), participantes (população, critérios
corpos coletados de pacientes com Covid-19 infectados de inclusão), base teórica utilizada, período da interven-
e curados para pacientes com Covid-19 como opção ção, desfechos (desfechos avaliados e período de avalia-
de tratamento. (ERKURT, 2020) ção) e resultados. Foi utilizado o protocolo PRISMA com
Terapias utilizando-se o plasma convalescente a finalidade de aprimorar a apresentação dos resultados
já foram utilizadas anteriormente na recuperação deste estudo. A figura 1 ilustra um fluxograma que vai
de doenças virais tais como Ebola, influenza, SARS ao encontro das delimitações do estudo esclarecidas
e MERS e, mais recentemente, COVID-19, como trata- anteriormente.
mento empírico demonstrando a hipótese de que o seu
uso pode ser benéfico em pacientes infectados com
SARS-CoV-2. (SHEN, 2020)
Desta maneira, o objetivo desse estudo é delinear
a utilização do plasma convalescente como opção
terapêutica em pacientes com COVID 19, relatando seus
benefícios durante o seu uso.

65
Artigos

Identificação

Remoção dos
artigos que não
PUBMED SCIELO
MEDLINE contemplaram os
(N=74) (N=74)
critérios de inclusão
(n=82)

Triagem

Artigos analisados
Artigos excluídos,
pois contemplavam os
Elegibilidade critérios de exclusão
(n=12)
Artigos Elegíveis
lidos na íntegra
Artigos excluídos
após a seleção da
amostra final e
Inclusão exclusão de trabalhos
duplicados
Artigos incluídos
na revisão

Figura 1: Estudos primários incluídos na revisão


sistemática de acordo com as bases de dados. Imperatriz
(MA), Brasil, 2020.

3 . R E S U LTA D O S E D I S C U S SÃO

A princípio, foram encontrados 105 artigos, dos quais


foram selecionados 9, de acordo com a adequação
dos mesmos aos critérios de inclusão citados anterior-
mente. Um total de 6 artigos selecionados nesta revisão
avaliaram a condição clínica e laboratorial dos pacien-
tes após sessão de transfusão com plasma convalescente
para o tratamento de COVID-19. Os aspectos particula-
res dos estudos mais relevantes analisados para a pes-
quisa, tais como, autoria, título da publicação, população
e resultados obtidos estão dispostos na Tabela 1.

66
Abordagem imunológica para o tratamento de Covid 19: Plasma convalescente

Legenda: N: número da população; F: feminino; M: masculino; VM: ventilação mecânica; TPC: tratamento com plasma
convalescente; N01: número caso 01; N02: número caso 02; IM: idade média; OS: oxigênio suplementar; OSBF: oxigênio
suplementar em baixo fluxo; OSAF: oxigênio suplementar em alto fluxo.

Autoria/Ano Título População Resultados

ERKURT et al., 2020 Live-Saving Effect N= 26, F=8, M=18 Os pacientes diagnosticados com COVID-19, por meio do
of Convalescent VM= 17 exame PCR, receberam uma sessão de transfusão de plasma
Plasma Treatment convalescente e após uma semana houve comparação dos
in COVID-19 valores laboratoriais, com os seguintes resultados:
Disease: Clinical Leucócitos, neutrófilos, linfócitos, valores de plaquetas,
Trial from Eastern Proteína C Reativa, ferritina, HDL, ALT, AST, saturação
Anatolia de O2 e bilirrubina total com diferença estatisticamente
insignificativa.
Valores de hemoglobina menores, possivelmente ocasionado
pela hidratação do paciente (anemia dilucional).
Dos 17 pacientes em ventilação mecânica, 6 foram a óbito. Por
outro lado, nos pacientes que não necessitavam de suporte
ventilatório não foi observado óbito.

SOCIETY; NW, 2021 Improved Clinical N= 1568, TPC= 138 Após 14 dias de terapia, com transfusão de plasma conva-
Symptoms and lescente, foi observada as seguintes alterações nos exames
Mortality on laboratoriais:
Severe/Critical Linfócitos
COVID-19 Neutrófilos
Patients Utilizing Proteína C Reativa
Convalescent Absorção da lesão pulmonar
Plasma Transfusion Acredita-se que esse tipo de tratamento melhora os sinto-
mas respiratórios dos pacientes com COVID-19 e ajuda no
desmame do suporte de oxigênio.

AHN et al., 2020 Use of N01= 1, N02=1 Após a transfusão do plasma convalescente em ambos pacien-
Convalescent tes, foram observadas as seguintes alterações laboratoriais:
Plasma Therapy PCR
in Two COVID-19 PaO2/FiO2
Patients with Raio X de tórax apresentou resolução de infiltrado em ambos
Acute Respiratory pulmões
Distress Syndrome Linfócitos normais
in Korea Leucócitos

OLIVARES-GAZCA Infusion of N= 10, M= 10, IM= 53, Após oito dias da transfusão de plasma convalescente, as alte-
et al., 2020 Convalescent VM= 5, OS= 5 rações laboratoriais e da condição clínica dos pacientes foram:
Plasma is SOFA
Associated Temperatura
with Clinical PaO2/FiO2
Improvement in Melhora da ferritina sérica
Critically ill Patients Raio X de tórax apresentou melhora dos infiltrados
with COVID-19: A pulmonares
Pilot Study Os 10 pacientes estavam em UTI e destes, 9 foram transfe-
ridos para enfermaria. Um paciente foi a óbito após embolia
pulmonar fatal no dia da alta hospitalar, possivelmente por
falta de terapia anticoagulante.

67
Artigos

Autoria/Ano Título População Resultados

SALAZAR et al., Treatment of N= 25, F= 14, M= Todos os pacientes receberam uma sessão de plasma
2020 Coronavirus 11, IM= 51, VM= 12, convalescente e foram avaliados nos dias 0, 7 e 14 dias após a
Disease 2019 OSBF= 10, OSAF= 3 transfusão. Dos 25 pacientes, 9 apresentaram melhora do qua-
(COVID-19) Patients dro clínico, com diminuição da Proteína C Reativa e ferritina;
with Convalescent 13 não apresentaram mudanças e 3 obtiveram deterioração da
Plasma condição clínica.

SALAZAR et al., Successful N=1 Paciente acometido por COVID-19, 100 anos, portador de
2020 Treatment of múltiplas comorbidades, recebeu transfusão de plasma con-
a Centenarian valescente, apresentando melhora da linfopenia, diminuição
with Coronavirus dos valores da Proteína C Reativa e Interleucina-6. Carga viral
Disease 2019 indetectável no 12° dia de hospitalização, recebendo alta no dia
(COVID-19) Using seguinte.
Convalescent
Plasma

A infecção pelo novo coronavírus desencadeia a ativa- ou ausência de melhora do quadro clínico (SOCIETY;
ção da imunidade inata, primeiro mecanismo de defesa NW, 2021).
do indivíduo diante de um patógeno, que, por sua vez, Em sua grande maioria, os estudos demonstraram
corrobora para o recrutamento de células e liberação que os pacientes infectados pelo SARS-CoV-2 apresen-
de citocinas inflamatórias com o objetivo de neutrali- taram melhora dos sintomas respiratórios e da con-
zar o vírus. Dessa forma, a maioria dos pacientes que se dição clínica. Os exames laboratoriais identificaram
recuperam do SARS-CoV-2 apresentam resposta imune resolução da linfopenia, redução dos valores dos neu-
humoral com anticorpos, a citar, a Imunoglobulina trófilos, da Proteína C Reativa, assim como da ferritina
M e a Imunoglobulina G, as quais são detectáveis, em sérica. Além disso, os exames de imagem demonstravam
média, a partir do 9° dia e da 2° semana do contágio, a absorção das lesões pulmonares. Por fim, os pacien-
respectivamente. Nesse sentido, diante de algumas tes mais críticos, internados na Unidade de Terapia
semelhanças patológicas e clínicas da SARS-CoV-2 com Intensiva (UTI), apresentaram uma redução do SOFA
a SARS e a MERS, atrelada às incertezas das atuais moda- e aumento da relação PaO2/FiO2. No entanto, o estudo
lidades de tratamento para o novo coronavírus, como realizado por ERKURT et al., 2020 com 26 pacientes com
os anti-inflamatórios e antivirais, pensou-se na uti- coronavírus não demonstrou alterações estatistica-
lização da imunoterapia passiva, procedimento bem mente significativas nos exames laboratoriais após
sucedido nas duas últimas patologias citadas, por meio serem submetido à transfusão de plasma convales-
do plasma convalescente coletado de pacientes curados, cente, sendo apenas identificado uma redução da hemo-
no tratamento da COVID-19. globina, possivelmente acarretada pela hidratação
Como demonstra o estudo LI et al., 2020, pacientes do paciente.
infectados e curados do novo coronavírus podem apre- Nessa linha de raciocínio, os pacientes idosos são
sentar diferentes titulações de imunoglobulinas em seu uma verdadeira preocupação em um cenário pandê-
plasma. Dentre os 64 doadores, 63 apresentavam título mico com superlotação dos serviços de saúde. Diante
maior ou igual a 1:320, enquanto um único paciente da baixa expectativa de vida, as múltiplas comorbidades,
apresentou título de 1:160. A identificação dessa propor- assim como a falta de um tratamento específico para
ção parece ser de suma importância, já que os pacientes COVID-19, faz esse grupo etário liderar as estatísticas
transfundidos com plasma contendo títulos maiores de óbito decorrente de complicações do novo coronaví-
de anticorpos neutralizantes, apresentavam significa- rus. Entretanto, o estudo realizado por KONG et al., 2020
tiva melhora da condição clínica, comparada àqueles mostrou que a transfusão de plasma convalescente em
que recebiam títulos menos, em que se observava pouca um paciente de 100 anos acometido pelo SARS-CoV-2 foi

68
Abordagem imunológica para o tratamento de Covid 19: Plasma convalescente

bem sucedido, com melhora do quadro clínico e carga 2. Erkurt MA, Sarici A, Berber İ, et al. Life-saving effect
viral indetectável. Portanto, essa imunoterapia passiva of convalescent plasma treatment in covid-19 disease:
pode ser um promissor tratamento e, com isso, melhorar Clinical trial from eastern Anatolia [published online
as expectativas de vida dessa população. ahead of print, 2020 Jun 27]. Transfus Apher Sci.
Em última instância, faz-se imperioso a necessi- 2020;102867. doi:10.1016/j.transci.2020.102867
dade de ampliar os estudos nesse eixo temático. Apesar
3. Lindholm PF, Ramsey G, Kwaan HC. Passive Immunity
de possivelmente ser uma ótima alternativa terapêu-
for Coronavirus Disease 2019: A Commentary on
tica, ainda não se pode afirmar se a melhoria da con-
Therapeutic Aspects Including Convalescent Plasma
dição clínica do paciente se deve somente à transfusão
[published online ahead of print, 2020 Jun 11]. Semin
do plasma convalescente ou se as modalidades de tra-
Thromb Hemost. 2020;10.1055/s-0040-1712157.
tamento utilizadas com antivirais e anti-inflamatórios
doi:10.1055/s-0040-1712157
também participam na melhor evolução clínica desses
pacientes. 4. Cheraghali AM, Abolghasemi H, Eshghi P. Management
of COVID-19 Virus Infection by Convalescent Plasma.
4 . CO N C L U SÃO Iran J Allergy Asthma Immunol. 19(S1):3-6.

5. Xia X, Li K, Wu L, et al. Improved Clinical Symptoms


Diante do cenário exposto, a ausência de medicamentos
and Mortality on Severe/Critical COVID-19 Patients
específicos e vacinas a terapia como plasma convales-
Utilizing Convalescent Plasma Transfusion [published
cente apresenta um potencial escolha terapêutica, sobre-
online ahead of print, 2020 Jun 23]. Blood. 2020;
tudo nos pacientes críticos. Assim, com o uso do plasma
blood.2020007079. doi:10.1182/blood.2020007079
convalescente pacientes apresentaram evolução clínica
favorável após a infusão de plasma convalescente, tor- 6. Ahn JY, Sohn Y, Lee SH, et al. Use of Convalescent
nando viável a sua utilização como recurso terapêutico Plasma Therapy in Two COVID-19 Patients with
e melhora da qualidade de vida dos pacientes, sendo Acute Respiratory Distress Syndrome in Korea. J
necessária para tanto a eliminação de algumas difi- Korean Med Sci. 2020 Apr;35(14):e149. https://doi.
culdades logísticas e baixa evidências científicas, logo, org/10.3346/jkms.2020.35.e149
embora tenha provado sua eficácia como tratamento
7. Olivares-Gazca JC, Priesca-Marín JM, Ojeda-Laguna
potencial para a COVID 19, ainda é necessário estudos
M, et al. INFUSION OF CONVALESCENT PLASMA
mais amplos para predizer sua confiabilidade como
IS ASSOCIATED WITH CLINICAL IMPROVEMENT
tratamento. No entanto, na atual conjuntura, em pacien-
IN CRITICALLY ILL PATIENTS WITH COVID-19: A
tes com Covid-19 o tratamento com o plasma pode ser
PILOT STUDY. Rev Invest Clin. 2020;72(3):159-164.
uma opção de tratamento a ser aliada no esquema tera-
doi:10.24875/RIC.20000237
pêutico, desde que seguindo todos os cuidados médicos.
8. Salazar E, Perez KK, Ashraf M, et al. Treatment of
5 . CO N F L I TO S DE INT E RE S S E Coronavirus Disease 2019 (COVID-19) Patients
with Convalescent Plasma [published online ahead
Não houve conflitos de interesse. of print, 2020 May 27]. Am J Pathol. 2020; S0002-
9440(20)30257-1. doi:10.1016/j.ajpath.2020.05.014
6 . R EF ER Ê N CIAS
9. Kong Y, Cai C, Ling L, et al. Successful treatment of
a centenarian coronavirus disease 2019 (COVID-19)
1. Li L, Yang R, Wang J, et al. Feasibility of a Pilot Program
using convalescent plasma [published with online
for COVID-19 Convalescent Plasma Collection
ahead of print, 2020 May 21]. Transfus Apher Sci.
in Wuhan, China [published online ahead of print,
2020;102820. doi:10.1016/j.transci.2020.102820
2020 Jun 3]. Transfusion. 2020;10.1111/trf.15921.
doi:10.1111/trf.15921

69
Artigos

Mecanismos de lesão
cardiovascular em
pacientes com Covid-19
– Revisão sistemática
de literatura
Mechanisms of cardiovascular injury in patients
with Covid-19 - systematic literature review

Assista a
apresentação

Apresentado por
Felipe Vanderley Nogueira

Autores: Felipe Vanderley


Nogueira1; Lara Inês Martins
Dantas1; Deborah Sousa Vinhal1; RE S UMO
Emylli de Sousa Araújo1; Elyanne
dos Santos Gomes2. Introdução: O manejo do paciente com o novo coronavírus (COVID-19) é
um desafio. Diversos estudos revelam que as complicações cardiovasculares
presentes em alguns desses pacientes resultam da interação entre diversos
mecanismos, desde lesão direta a complicações secundárias provenientes
da resposta inflamatória exacerbada. Objetivos: Tendo isso em vista, esta
revisão busca reunir e analisar sistematicamente o que os estudos mais
recentes demonstram acerca dos mecanismos geradores de lesão cardiovas-
cular em pacientes com COVID-19. Material e Métodos: Trata-se de uma ampla
revisão de literatura usando as bases de dados PubMed, SciELO e Google
Acadêmico. Para a pesquisa foram utilizados os termos “COVID-19”, “cardio-
1. Acadêmico (a) do curso de
vascular injury” e “cardiomyopathy”. Foram encontrados 225.665 artigos
medicina na Faculdade Presidente e após aplicar os critérios de inclusão selecionou-se 9 artigos. Os critérios
Antônio Carlos – FAPAC/PORTO de inclusão foram: idiomas português e inglês e disponibilidade de acesso
ao texto na íntegra. Foram excluídos os artigos que possuem dados repe-
2. Médica, professora da disciplina
de Saúde do adulto e do Idoso II tidos ou que tratem de outro desfecho que não o cardiovascular. Após
na Faculdade Presidente Antônio a seleção, foi realizada uma leitura analítica com organização por temas
Carlos – FAPAC/PORTO e sua apresentação. Resultados: A lesão celular direta causada pelo vírus
é ocasionada, sobretudo, pelo aumento dos níveis de angiotensina 2 e sua

70
Mecanismos de lesão cardiovascular em pacientes com Covid-19 – Revisão sistemática de literatura

ação sobre diversos órgãos. Esse aumento se dá quando patients with COVID-19. Material and Methods: This is
a proteína viral spike se liga ao receptor da ECA 2 cau- a comprehensive literature review using the PubMed,
sando downregulation. Dois estudos de coorte retros- SciELO and Google Scholar databases. For the research,
pectivos e multicêntricos demonstraram que o aumento the terms "COVID-19", "cardiovascular injury" and "car-
dos marcadores dímero-D (>1 µg/ml), IL-6, ferritina, DHL, diomyopathy" were used. 225,665 articles were found
BNP e NT-proBNP foram preditores de mau prognóstico. and after applying the inclusion criteria, 9 articles were
Outros três estudos demonstraram que níveis aumenta- selected. The inclusion criteria were: Portuguese and
dos de troponina estiveram relacionados a um aumento English and availability of access to the full text. Articles
nos casos de miocardite, insuficiência cardíaca, infarto with repeated data or dealing with an outcome other
agudo do miocárdio e arritmias malignas, sobretudo than cardiovascular were excluded. After the selection,
a fibrilação ventricular. Alterações microvasculares an analytical reading was organized with themes and
semelhantes às presentes na coagulação intravascular their presentation. Results: The direct cell damage cau-
disseminada foram alterações apresentadas por alguns sed by the virus is caused, above all, by the increase in
pacientes. Um estudo demonstrou que 71,4% dos não the levels of angiotensin 2 and its action on several
sobreviventes apresentavam coagulação intravascu- organs. This increase occurs when the viral protein spike
lar evidente, enquanto entre os sobreviventes apenas binds to the ACE 2 receptor causing downregulation.
0,6% apresentaram a mesma alteração. Isso pode ser Two retrospective, multicenter cohort studies demons-
explicado pelo aumento de fatores inflamatórios e pela trated that increased D-dimer (> 1 µg / ml), IL-6, ferri-
lesão endotelial direta. Alguns relatos de caso pontuais tin, DHL, BNP and NT-proBNP markers were predictors
demonstraram também a ocorrência de cardiomiopa- of poor prognosis. Another three studies showed that
tia por estresse, acreditando-se que a resposta inflama- increased levels of troponin were related to an incre-
tória e o estado pró-coagulante aumentem esse risco. ase in cases of myocarditis, heart failure, acute myocar-
Outra alteração citada frequentemente é a incompati- dial infarction and malignant arrhythmias, especially
bilidade entre oferta e demanda de oxigênio, que pode ventricular fibrillation. Microvascular changes similar
ser explicada pelo estresse advindo da sepse e de graus to those present in disseminated intravascular coagu-
variados de insuficiência respiratória causada pelo lation were changes presented by some patients. One
vírus. Conclusão: A lesão cardiovascular na COVID-19 é study showed that 71.4% of non-survivors had evident
de causa multifatorial. Porém ainda há mecanismos não intravascular coagulation, while among survivors only
totalmente elucidados, corroborando mais ainda para 0.6% had the same change. This can be explained by
a importância de realizações de novos estudos acerca the increase in inflammatory factors and direct endo-
deste tema. thelial injury. Some occasional case reports have also
demonstrated the occurrence of stress cardiomyopathy,
Palavras-chave: Coração. Fisiopatologia. Infecções with the belief that the inflammatory response and the
cardiovasculares. Infecções por Coronavírus. procoagulant state increase this risk. Another alteration
Inflamação. frequently mentioned is the incompatibility between
oxygen supply and demand, which can be explained
A BST R ACT by the stress arising from sepsis and varying degrees
of respiratory failure caused by the virus. Conclusion:
Introduction: Managing the patient with the new coro- The cardiovascular injury in COVID-19 is a multifactorial
navirus (COVID-19) is a challenge. Several studies reveal cause. However, there are still mechanisms that have not
that the cardiovascular complications present in some been fully elucidated, further corroborating the impor-
of these patients result from the interaction between tance of further studies on this topic.
several mechanisms, from direct injury to secon-
dary complications resulting from the exacerbated Keywords: Heart. Pathophysiology. Cardiovascular
inflammatory response. Objectives: With this in mind, infections. Coronavirus infections. Inflammation.
this review seeks to systematically gather and analyze
what the most recent studies demonstrate about the
mechanisms that generate cardiovascular injury in

71
Artigos

I N TR O DU ÇÃO ME TO D O LO G I A

A
infecção pelo novo Coronavírus (COVID- O presente estudo se trata de uma revisão sistemática
19) se iniciou na cidade de Wuhan, capi- de literatura, do tipo descritiva, utilizando-se as bases
tal da província de Ubei na China, e após de dados PubMed, Scientific Electronic Library Online
poucos meses de expansão da doença esta (SciELO) e Google Acadêmico. O período de realização
foi decretada como uma pandemia pela da pesquisa foi entre os meses de junho e julho de 2020.
Organização Mundial de Saúde (OMS) no dia 11 de março No decorrer desta, foram utilizados os seguintes termos
de 2020. No mês de agosto de 2020, o número de infec- “COVID-19”, “cardiovascular injury” e “cardiomyopathy”.
tados globalmente já ultrapassara 20.000.000 de casos, A seleção foi feita levando em consideração a análise
com detecção da doença em mais de 187 países, dos 195 dos títulos e resumos disponíveis e incluíram-se aqueles
existentes no mundo (CABALLERO et al., 2020). que contemplassem os mecanismos geradores de lesão
Este novo vírus é o sétimo de uma família de corona- cardiovascular no contexto da infecção por COVID-19,
vírus já identificados como causadores de síndrome gri- que estivessem nos idiomas português ou inglês e que
pal, síndrome respiratória aguda grave (SARS, do inglês tivessem disponibilidade de acesso ao texto na íntegra
Severe Acute Respiratory Syndrome), síndrome respi- de forma gratuita. Foram excluídos os artigos que pos-
ratória do oriente médio (MERS, do inglês Middle East suíam dados repetidos, cujo texto não fosse obtido por
Respiratory Syndrome) e pneumonia em humanos acesso em via eletrônica ou que tratassem de outro des-
(COSTA et al., 2020). Possui em sua estrutura um envelope fecho da COVID-19 que não o cardiovascular. Após coleta
de cadeia única e RNA como material genético, sendo dos artigos e formação do corpus da revisão, foi reali-
o sétimo coronavírus conhecido por causar infecções zada uma leitura analítica com organização por temas
em humanos. Estudos demonstram que o SARS-CoV-2 e sua apresentação. Estes foram separados levando em
difere daqueles que causaram as epidemias em 2002 consideração o tipo de mecanismo proposto.
(SARS-CoV) e em 2012 (MERS-CoV), e acredita-se que este
seja advindo de morcegos, assim como outros vírus
da família, mas que tenha passado por um hospedeiro
intermediário, como o pangolim malaio, do qual pos-
sui 91% de identidade nucleotídica (ASKIN, TANRIVERD,
ASKIN, 2020).
O manejo do paciente com o novo Coronavírus, desde
o seu surgimento na China, tem-se mostrado desafiador.
Diversos estudos realizados ao redor do mundo revelam
que parte significativa dos pacientes, sobretudo aqueles
que já apresentam fatores de risco subjacentes como
a senilidade e condições médicas crônicas como hiper-
tensão, diabetes, doença cardiovascular, doença renal
crônica e obesidade, possui maior propensão a desen-
volver complicações cardiovasculares (CABALLERO et al.,
2020). Estas complicações, por sua vez, resultam de uma
interação entre diversos mecanismos. Tendo isso em
vista, esta revisão busca reunir e analisar de forma sis-
temática o que os estudos mais recentes demonstram
acerca dos mecanismos geradores de lesão cardiovas-
cular em pacientes com COVID-19.

72
Mecanismos de lesão cardiovascular em pacientes com Covid-19 – Revisão sistemática de literatura

RE SU LTA DO S

Tabela 01: Corpus da revisão sistemática

Autor Título Periódico Amostra Resultado/Desfecho Mecanismo


proposto

Costa et al. O Coração e a Arquivos N/A Mecanismo multifatorial Lesão viral


COVID-19: O que Brasileiros de direta, incom-
o Cardiologista Cardiologia patibilidade
Precisa Saber entre oferta e
demanda

Figueiredo Neto Doença de Arquivos N/A Mecanismo multifatorial Aumento de


et al. Coronavírus-19 e Brasileiros de fatores inflama-
o Miocárdio Cardiologia tórios, alterações
microvasculares

Guo et al. Cardiovascular JAMA Cardiology n=187 Pacientes com doença cardiovascu- Aumento
implications of lar prévia e aumento de troponina de fatores
fatal outcomes tiveram taxa de óbito 10 vezes maior inflamatórios
of patients with que entre quem não tinha
coronavirus
disease 2019
(COVID-19)

Huang et al. Clinical featu- Lancet n=150 Dano miocárdico e IC irreversí- Aumento
res of patients veis associados ao aumento de de fatores
infected with troponina inflamatórios
2019 novel coro-
navirus in Wuhan,
China

Meyer et al. Typical takot- European Heart n=1 Resposta inflamatória exacerbada e Cardiomiopatia
subo syndrome Journal estado pró-coagulante por estresse
triggered by
SARS-CoV-2
infection

Minhas et al. Takotsubo Journal of n=1 Resposta inflamatória exacerbada e Cardiomiopatia


Syndrome in the American estado pró-coagulante por estresse
the Setting of College of
COVID-19 Cardiology

Shi et al. Association of JAMA Cardiology n=416 Valores altos de fatores inflamató- Aumento
cardiac injury rios, como dímero-D (>1 μg/ml), IL-6, de fatores
with mortality ferritina, DHL, BNP e NT-proBNP. inflamatórios
in hospitalized
patients with
COVID-19 in
Wuhan, China

73
Artigos

Autor Título Periódico Amostra Resultado/Desfecho Mecanismo


proposto

Tang et al. Abnormal Journal of n=183 71,4% dos não sobreviventes Coagulação
coagulation Thrombosis apresentavam CIV, 0,6% dos sobre- Intravascular
parameters are Haemostasis viventes apresentavam a mesma
associated with alteração
poor prognosis
in patients with
novel coronavi-
rus pneumonia

Zhou et al. Clinical course Lancet n=191 Aumento de troponina (média de Aumento
and risk factors 8,8 pg/ml para 290 pg/ml) entre de fatores
for mortality of não sobreviventes, versus valo- inflamatórios
adult inpatients res estáveis de 2,5 pg/ml entre
with COVID-19 sobreviventes
in Wuhan, China:
a retrospective
cohort study

Fonte: Elaborado pelos autores


N/A = Não se aplica, n= número de pessoas na amostra da pesquisa

Após a busca nas bases de dados foram encontrados A ECA-2 também é expressa no coração, tendo
um total de 225.665 artigos e após aplicar os critérios um papel de suma importância na neutralização
de inclusão e exclusão selecionou-se 9 artigos, presentes dos efeitos da angiotensina II em patologias como
na tabela 01, separados de acordo com o mecanismo a hipertensão arterial sistêmica, insuficiência cardí-
de lesão cardiovascular proposto, com a amostra estu- aca e aterosclerose, favorecendo a conversão da AT-2
dada e com os resultados principais do estudo. em outras formas que possuem efeito cardioprotetor.
Após a montagem do corpus do presente estudo, Outros sítios em que a ECA-2 é expressa incluem o epi-
foram detectados 5 mecanismos principais conheci- télio intestinal, rins, endotélio vascular, pulmões, dentre
dos que causam lesão cardiovascular em pacientes com outros, o que explica o mecanismo de falha de múlti-
COVID-19: lesão viral direta, aumento dos fatores infla- plos órgãos observada na infecção pelo vírus (ASKIN,
matórios, alterações microvasculares, cardiomiopatia TANRIVERD, ASKIN, 2020; COSTA et al., 2020; FIGUEIREDO
por estresse e incompatibilidade entre oferta e demanda NETO et al., 2020).
de oxigênio. Os estudos de Shi et al. (2020) e Guo et al. (2020),
A lesão viral direta é causada por uma proteína viral dois estudos de coorte retrospectivos e multicêntricos,
denominada spike, presente em sua superfície. Essa pro- demonstraram que o aumento dos marcadores tropo-
teína se liga aos mesmos receptores da enzima conver- nina, dímero-D (sobretudo quando em níveis maiores
sora de angiotensina 2 (ECA-2) e causa nestes receptores que 1 µg/ml), IL-6, ferritina, DHL, BNP e NT-proBNP foram
um downregulation. A ação da angiotensina que fica preditores de mau prognóstico e são potenciais respon-
acumulada devido ao downregulation se torna aumen- sáveis pela lesão cardiovascular na COVID-19.
tada, o que pode levar aos efeitos deletérios da ativação Shi e colaboradores realizaram uma coorte com
crônica do sistema renina-angiotensina-aldosterona 416 pacientes cuja principal patologia crônica era
(SRAA), tais como vaso constrição, remodelamento mio- a hipertensão e correlacionaram a injúria miocárdica
cárdico e alterações de permeabilidade vascular (COSTA ao aumento de fatores inflamatórios. Pacientes que
et al., 2020; FIGUEIREDO NETO et al., 2020). já eram portadores de doença arterial coronariana,

74
Mecanismos de lesão cardiovascular em pacientes com Covid-19 – Revisão sistemática de literatura

hipertensão arterial sistêmica e doença cerebrovascu- Alterações microvasculares semelhantes às presen-


lar foram os que mais apresentaram injúria miocárdica tes na coagulação intravascular disseminada foram
com aumento de troponina. Estes ainda apresentaram alterações apresentadas por alguns pacientes. O estudo
valores altos de outros fatores inflamatórios já cita- Tang et al. (2020) demonstrou que 71,4% dos não sobrevi-
dos e se relacionaram a uma taxa de óbito aumentada ventes apresentavam coagulação intravascular evidente,
em comparação com aqueles que não apresentavam enquanto entre os sobreviventes apenas 0,6% apresen-
aumento destes fatores. taram a mesma alteração. O mecanismo por trás desta
Já Guo e colaboradores realizaram uma coorte com alteração é bastante complexo, mas acredita-se que
187 pacientes, dos quais 35% possuíam doença car- possa ser explicado pelo aumento de fatores inflamató-
diovascular e 23% vieram a óbito. Os resultados deste rios (IL-6, TNF-α) e pela lesão endotelial direta, potenciais
estudo demonstraram que houve uma mortalidade mecanismos geradores de um estado pró-coagulante
relativamente baixa em paciente sem doença cardio- à custa do aumento da expressão do fator tecidual.
vascular pré-existente e que possuíam níveis baixos Portanto, estes mecanismos podem gerar disfunção
de troponina (7%). Porém, entre pacientes com lesão microvascular, coagulação intravascular disseminada
cardiovascular e aumento de troponina a taxa de óbito e consequentemente lesão miocárdica (FIGUEIREDO
subiu para 10 vezes este valor. Ao comparar os valores NETO et al., 2020; TANG et al., 2020).
dos exames laboratoriais entre pacientes com tropo- Alguns relatos de caso pontuais publicados por
nina normal e troponina aumentada, percebeu-se que Meyer et al. (2020) e Minhas et al. (2020) demonstraram
os pacientes com lesão cardiovascular subjacente, que já também a ocorrência de cardiomiopatia por estresse,
possuíam troponina aumentada, tiveram também valo- também denominada de síndrome de Takotsubo ou
res aumentados de biomarcadores cardíacos (hsCRP, pro- síndrome do coração partido. Esta se trata de uma
calcitonina, globulina, CK-MB, NT-proBNP, mioglobina) disfunção sistólica ventricular esquerda transitória,
e inflamatórios. Isso demonstra que a lesão miocárdica usualmente cursando com dor torácica associada,
está significativamente associada a um resultado fatal e alterações de biomarcadores cardíacos e alterações
da COVID-19, enquanto o prognóstico de pacientes sem eletrocardiográficas que mimetizam um IAM. Ao reali-
lesão miocárdica é relativamente favorável. Os autores zar exames de imagem é percebida, caracteristicamente,
inferiram ainda que a inflamação pode ser um meca- uma discinesia transitória da parede anterior do ven-
nismo potencial para lesão do miocárdio e em linhas trículo esquerdo com acentuação da cinética em base
gerais está ligada a um pior prognóstico. ventricular (LEMOS et al., 2008). Acredita-se que esta sín-
Já os estudos de Huang et al. (2020), Zhou et al. (2020) drome seja causada como resultado de um estado pró-
e Costa et al. (2020), demonstraram que níveis aumenta- -coagulante decorrente da infecção e de uma resposta
dos de troponina estiveram relacionados a um aumento inflamatória exacerbada causada por uma tempestade
nos casos de miocardite, insuficiência cardíaca, infarto de citocinas pró-inflamatórias (MEYER et al.,2020).
agudo do miocárdio e arritmias malignas, sobretudo Outra alteração citada frequentemente é a incompa-
a fibrilação ventricular. tibilidade entre oferta e demanda de oxigênio, que pode
No estudo de Huang, uma coorte com 150 pacientes, também ser classificado como um infarto agudo do mio-
7% deles desenvolveram dano miocárdico e insuficiên- cárdio do tipo II, ou seja, que não é causado necessaria-
cia cardíaca irreversíveis, associados a elevações signi- mente por uma oclusão por placa ateromatosa, mas pelo
ficativas dos níveis de troponina. Já o estudo de Zhou desequilíbrio entre a oferta e a demanda de Oxigênio
e colaboradores demonstrou que, no quarto dia após no músculo cardíaco. Esse mecanismo pode ser expli-
o início dos sintomas, os níveis médios de troponina cado pelo estresse advindo da sepse e de graus varia-
foram de 8,8 pg/mL em não sobreviventes, contra 2,5 dos de insuficiência respiratória causada pelo vírus.
pg/mL entre os sobreviventes, valores esses que não se A sepse causa uma diminuição da perfusão nos tecidos
alteraram significativamente entre os sobreviventes, ao redor do corpo, e essa diminuição na perfusão causa
mas que aumentou até 290 pg/ml entre os não sobrevi- um desequilíbrio entre o oxigênio que chega e o que é
ventes. Ambos demonstraram que a lesão cardiovascular necessário para o coração realizar sua função. A insufi-
com aumento de troponina leva a desfechos piores que ciência respiratória, do mesmo modo, causa uma dimi-
entre aqueles que não apresentam a mesma alteração. nuição no teor de oxigênio circulante e efeitos deletérios

75
Artigos

no músculo cardíaco (COSTA et al., 2020; FIGUEIREDO 5. GUO, Tao et al. Cardiovascular implications of fatal
NETO et al., 2020). outcomes of patients with coronavirus disease
2019 (COVID-19). JAMA Cardiology, e201017, 2020.
C ON CL U SÃO Disponível em: <https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/
articles/PMC7101506/>. Acesso em: 02 jul. 2020.
A lesão cardiovascular na infecção por COVID-19 é
6. HUANG, Chaolin et al. Clinical features of patients
de causa multifatorial, e esta ocorre, sobretudo, naque-
infected with 2019 novel coronavirus in Wuhan, China.
les que já possuem fatores de risco para lesão cardio-
Lancet, v. 395, n.10223, p.497-506, 2020.
vascular. Os estudos demonstram uma interação entre
diversos mecanismos, como a lesão viral direta atra- 7. LEMOS, Alessandra Edna Teófilo et al . Síndrome
vés da proteína viral spike e seu downregulaton para do coração partido (síndrome de Takotsubo).
com a ECA2, o aumento de diversos fatores inflamató- Arquivos Brasileiros de Cardiologia, São Paulo, v.90,
rios e biomarcadores cardíacos, sobretudo em quem n.1, p.e1-e3, 2008.
já possui fatores de risco, alterações microvasculares,
8. MEYER, Philippe et al. Typical takotsubo syndrome
cardiomiopatia por estresse e incompatibilidade entre
triggered by SARS-CoV-2 infection. European Heart
oferta e demanda de oxigênio. Porém ainda há diver-
Journal, v.41, n.19, p.1860, 2020. Disponível em: <https://
sos mecanismos que não estão totalmente elucidados,
pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/32285915/>. Acesso
como no caso da síndrome de Takotsubo e do estado
em 02 jul. 2020.
pró-coagulante. Esse fato corrobora mais ainda para
a importância da realização de novos estudos acerca 9. MINHAS, Anum S. et al. Takotsubo Syndrome in
desta temática. the Setting of COVID-19. Journal of the American
College of Cardiology (in press), 2020. Disponível
R EF ER Ê N CI AS em: <https://casereports.onlinejacc.org/content/
early/2020/06/03/j.jaccas.2020.04.023>. Acesso
1. ASKIN, Lutfu; TANRIVERDI, Okan; ASKIN, Husna em 02 jul. 2020.
Sengul. O Efeito da Doença de Coronavírus 2019 nas
10. SHI, Shaobo et al. Association of cardiac injury with
Doenças Cardiovasculares. Arquivos Brasileiros de
mortality in hospitalized patients with COVID-19
Cardiologia, 2020. Disponível em: <http://publicacoes.
in Wuhan, China. JAMA Cardiology, 2020. [Data de
cardiol.br/portal/abc/portugues/2020/v11405/
publicação online: 25/03/2020]. Disponível em:
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2. CABALLERO, A. E. et al. COVID-19 in people living fullarticle/2763524>. Acesso em 02 jul. 2020.
with diabetes: An international consensus. Journal of
11. TANG, Ning et al. Abnormal coagulation parameters
diabetes and it complications, v.34 p.1-9, 2020.
are associated with poor prognosis in patients with
3. COSTA, Isabela Bispo Santos da Silva et al. O Coração novel coronavirus pneumonia. Journal of Thrombosis
e a COVID-19: O que o Cardiologista Precisa Saber. Haemostasis, v. 18, n.4, p.844-847, 2020. Disponível
Arquivos Brasileiros de Cardiologia, 2020. Disponível em: <https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/32073213/>.
em: <http://publicacoes.cardiol.br/portal/abc/ Acesso em: 02 jul. 2020.
portugues/aop/2020/AOP_2020-0279.pdf>. Acesso
12. ZHOU, Fei et al. Clinical course and risk factors for
em: 02 jul. 2020.
mortality of adult inpatients with COVID-19 in Wuhan,
4. FIGUEIREDO NETO, José Albuquerque et al. Doença China: a retrospective cohort study. Lancet, v. 395,
de Coronavírus-19 e o Miocárdio. Arquivos Brasileiros n. 10229, p.1054-1062, 2020. Disponível em: <https://
de Cardiologia, 2020. Disponível em: <http:// www.thelancet.com/journals/lancet/article/PIIS0140-
publicacoes.cardiol.br/portal/abc/portugues/2020/ 6736(20)30566-3/fulltext>. Acesso em 02 jul. 2020.
v11406/pdf/11406012.pdf>. Acesso em 02 jul. 2020.

76
Mecanismos de lesão cardiovascular em pacientes com Covid-19 – Revisão sistemática de literatura

77
Artigos

Perfil da automedicação
com antibióticos por
estudantes de medicina

Assista a
apresentação

Apresentado por
Yasmin Castro Marques

Autoras: Yasmin Castro Marques1,


Juliana Arantes Calil1, Carolina RE S UMO
Colombelli Pacca 2

Introdução: A automedicação é um dos principais fatores que contribuem


para o uso indiscriminado e incorreto de fármacos. Quando o medicamento
em questão se trata de um antibiótico, um alerta a mais se levanta devido
à resistência bacteriana, formando um ciclo de medicação–resistência–
reincidência. Já foi demonstrado que os maiores adeptos da automedicação
são aqueles que dispõem de maior informação e que o acúmulo de conhe-
cimento gera uma maior confiança naqueles que se automedicam. Sendo
assim, este estudo teve como objetivo conhecer a prevalência e os principais
motivos da automedicação entre graduandos do curso de medicina. Métodos:
Trata-se de um estudo transversal, que consistiu na aplicação de um questio-
nário a estudantes do curso de medicina do primeiro ao quarto ano. As vari-
áveis analisadas foram sociodemográficas, se os participantes realizavam
automedicação com antibiótico, qual o período da realização da autome-
1. Discente. FACERES, São José do dicação, sintomas, princípios ativos utilizados, interrupção do tratamento
Rio Preto/SP e motivação pela utilização do medicamento. Os dados foram analisados
2. Professora Doutora. FACERES, estatisticamente por frequência absoluta (n) e relativa (%) por meio do teste
São José do Rio Preto/SP Qui-Quadrado e Teste Exato de Fisher. Resultados: Totalizaram 207 participan-
tes na pesquisa. Na análise da automedicação com antibióticos, 141 (67,8%)

78
Perfil da automedicação com antibióticos por estudantes de medicina

relataram ler a bula, sendo que 168 (80,8%) fez o uso Sua definição é caracterizada pela iniciativa de um indi-
sob prescrição médica. Dos entrevistados 84 (40,4%) víduo enfermo, ou de seu responsável, em obter ou pro-
administraram a droga nos últimos 30 dias. As princi- duzir e utilizar um produto, com a crença de benefícios
pais drogras foram Amoxacilina (41,3%), Azitromicina no tratamento de doenças ou alívio de sintomas. O uso
(24%), Amoxacilina+Clavulanato (14,4%); Ciprofloxacino de medicamentos de forma incorreta pode acarretar
(8,7%); Sulfametoxazol+Trimetropima (5,8%). Os sinto- o agravamento de uma doença, uma vez que a utiliza-
mas relatados justificando a automedicação foram: dor ção inadequada pode esconder determinados sintomas,
de garganta (57,7%), febre (21,6%), tosse (14,4%), disúria além de reações alérgicas e dependência química (Paulo
(7,7%) e congestão nasal (1,4%). Em relação à interrup- e Zanine, 1998). Entretanto, A decisão de levar um medi-
ção do tratamento, 118 (56,7%) interromperam antes camento da palma da mão ao estômago é exclusiva
do término do tratamento. Dentre os participantes, do paciente. A responsabilidade de fazê-lo depende,
47,1% são conscientes da obrigatoriedade da prescri- no entanto, de haver ou não respaldo dado pela opinião
ção, 23,1% confia na indicação farmacêutica, 11,5% uti- do médico ou de outro profissional de saúde (Rev Ass
lizam amostra grátis e 46,2% afirmam não apresentar Med Brasil 2001).
dificuldade no acesso a consulta médica. Conclusão: Muitas motivações podem levar indivíduos à prática
automedicação com antibióticos, mesmo sabendo que de automedicação. Em um estudo realizado em estu-
a prescrição médica é obrigatória, é uma prática comum dantes de enfermagem na cidade de São Carlos, um dos
entre estudantes de medicina. motivos citados foi a dificuldade de acesso a serviços
de saúde. Em um estudo qualitativo realizado com
I N TR O DU ÇÃO pessoas na sala de espera de um centro de tratamento

S
para DSTs no Distrito Federal a procura por medicamen-
egundo a Organização Mundial da Saúde tos sem prescrição foi justificada majoritariamente
(OMS), o uso racional de medicamentos pela insatisfação com o sistema de saúde. Esses dados
pode ser definido como pacientes rece- demonstram um aspecto social da automedicação
bendo medicações apropriadas para suas no Brasil bastante significativo o qual pode acarretar em
necessidades clínicas, em doses compatí- grandes problemas monetários para o Estado (Santiago
veis com suas individualidades, durante um período et al., 2016; Oliveira et al., 2008).
de tempo adequado, e pelo menor custo possível a eles Segundo Dourado e colaboradores (2016), a autome-
e à comunidade (WHO, 1985). Entretanto, essa definição dicação no Brasil está relacionada principalmente à dor,
não é observada na prática: em âmbito mundial, mais sendo os analgésicos a classe de medicamentos mais
de 50% dos medicamentos são prescritos, dispensados prevalentes nos dados sobre automedicação. Relaxantes
e vendidos inadequadamente, e mais de 50% dos países musculares e anti-inflamatórios ocupam o segundo
não implementam políticas básicas para promover uso e terceiro lugar, respectivamente (Dourado et al., 2016).
racional de medicamentos (WHO, 2002). A maioria dos medicamentos citados no estudo
São muitos os riscos do uso irracional de medica- de Dourado e colaboradores são isentos de prescrição,
mentos, entre eles está a resistência antimicrobiana, rea- contudo, não se pode ignorar o papel, ainda que em
ções adversas a medicamentos e erros de medicação com menor proporção, dos antibióticos, classe que necessita
possibilidade de intoxicações, dificuldades financeiras de porte de prescrição para comercialização segundo
ao indivíduo ou família na aquisição de medicamentos a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA).
desnecessários e mascaramento de doenças evolutivas De acordo com o autor, os antibacterianos de uso sis-
(WHO, 2002). têmico aparecem entre as classes de medicamentos
Em 2013, medicamentos foram a principal causa citadas para a automedicação, com 2,3% dos casos.
de intoxicações no Brasil e a automedicação está entre Portanto, esse dado demonstra que a automedicação
as principais causas de intoxicações medicamentosas, no Brasil passa também por um problema de fiscaliza-
sendo responsável por 241 casos naquele ano (Ministério ção (Dourado et al., 2016).
da Saúde). Segundo a OMS, em muitos lugares os antibióticos
A automedicação é um dos principais fatores que con- são usados excessivamente e mal utilizados em pessoas
tribuem para o uso indiscriminado de medicamentos. e animais, muitas vezes sem supervisão profissional,

79
Artigos

causando um aceleramento no processo de resistência R E S U LTA D O S


bacteriana (WHO, 2016). Como resultado, os medicamen-
tos estão se tornando inefetivos. Sem antimicrobianos Dentre os estudantes convidados, 208 responderam
efetivos para prevenção e tratamento de infecções, pro- o questionário e destes, 121 (58,2%) eram do sexo femi-
cedimentos médicos como transplantes de órgãos, qui- nino e 87 (41,8%) do sexo masculino, com idade variando
mioterapia, tratamento de diabetes e cirurgias grandes entre 17 e 40 anos (mediana= 22).
se tornam muito arriscados (WHO, 2016). Dentre os entrevistados, 44 (21,2%) cursavam
Existem estudos que concluem que os maiores a segunda etapa; 41 (19,7%) a terceira etapa; 40 (19,2%)
adeptos da automedicação são aqueles que dispõem a quarta etapa; 11 (5,3%) a quinta etapa; 26 (12,5%)
de um maior grau de informação. Demonstra-se que a sétima etapa; 20 (9,6%) a oitava etapa e 26 (12,5%)
o acúmulo de conhecimento, seja ele adquirido nas ins- a nona etapa, onde não houve diferença significativa
tituições educacionais ou em experiências de vida, gera na prevalência da automedicação.
uma maior confiança naqueles que se automedicam Em relação ao estado civil dos participantes, 142
(ANTÔNIO et al., 2006; VILARINO et al.,1998). (68,3%) estudantes são solteiros, 57 (27,4%) namoram,
Como descrito acima, o uso abusivo de medicamen- 4 (1,9%) são casados, 2 (1%) amasiados e apenas 1 (0,5%) é
tos, controlados ou não, é extremamente preocupante divorciado. Quanto ao desempenho no último semestre,
em âmbito nacional. Nesse contexto, é importante res- 198 (95,2%) classificaram- se como aprovados no curso,
saltar a necessidade de a população obter informações 6 (2,9%) alunos de dependência no último semestre
adequadas e suficientes sobre o correto uso dos medica- e 3 (1,4%) reprovados.
mentos, visando a uma utilização mais racional, segura A respeito da renda familiar dos estudantes, 158 (76%)
e eficaz. Portanto, o presente trabalho tem por objetivo dos mesmos apresentaram renda superior a 10 salários
analisar a prevalência da prática de automedicação em mínimos, 30 (14,4%) na faixa de 5 a 10 salários mínimos
estudantes de medicina da Faculdade Ceres, de São José e 4 (1,9%) vivendo com 1 a 5 salários mínimos.
do Rio Preto. No que diz respeito à aquisição das medicações,
156 (75%) dos acadêmicos afirmaram obter as drogas
MAT E R I A L E M É TODOS : por aconselhamento com farmacêuticos, 149 (71,6%)
receberam indicações não solicitadas, 169 (81,3%) por
O grupo do estudo foi constituído por 207 participan- meio de conselhos de outras pessoas e 167 (80,3%) destes
tes, com mais de 18 anos de idade, de ambos os sexos usuários já aconselharam outros indivíduos a comprar
e sem distinção de etnia que foram abordados em medicações, justificando a prática abusiva da autome-
uma Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto dicação nessa população em estudo (90,9%).
– SP. Inicialmente, o projeto foi aprovado pelo Comite Em se tratando dos antibióticos utilizados, 141
de Ética em Pesquisa (CAAE 67382017.5.0000.8083) e a par- (68,8%) relataram ler a bula, sendo que 168 (84,8%) afir-
ticipação dos discentes ocorreu entre Junho a Dezembro mou fazer o uso sob prescrição médica. Dos 84 (42,4%)
de 2017. Os estudantes responderam um questionário entrevistados que administraram a droga nos últimos
estruturado com variáveis sociodemográficas, além 30 dias, 13 (10,3%) fez o uso menos de 1 vez por semana,
de questões relacionadas à automedicação com anti- 6 (4,8%) usou 1 a 2 vezes por semana, 6 (4,8%) usou 3
microbianos e o motivo deste ato. Após coleta dos dados, a 4 vezes por semana, 2 (1,6%) usou 5 a 6 vezes na semana
foi realizada análise estatística para identificar grupos e 6 (2,9%) usou diariamente. Em relação às drogas rela-
e fatores de risco para essa prática em questão. A descri- cionadas a automedicação, a Amoxacilina foi a mais
ção dos dados foi expressa por frequência absoluta (n) utilizada 86 (68,8%), seguida da Azitromicina 50 (40%);
e relativa (%). Por meio do teste Qui-Quadrado e Teste Amoxacilina + Clavulanato 30 (24%); Ciprofloxacino
Exato de Fisher foram investigadas as variáveis dicotô- 18 (14,4%); Sulfametoxazol + Trimetropima 12 (5,8%);
micas. Para todos os testes adotou- se o nível de signifi- Cefalexina 11 (5,3%); Gentamicina 9 (4,3%); Eritromicina
cância menor ou igual a 5%, sendo utilizado Software 4 (1,9%); dentre outros 7 (3,4%).
SPSS versão 20.

80
Perfil da automedicação com antibióticos por estudantes de medicina

Antibiótico usado sem prescrição N % D I S C U S SÃO


(N=208)

Não sabe qual utilizou 87 69


Os resultados não demostraram diferença significativa
do hábito em relação a gênero, renda, idade ou estado
Amoxicilina 86 68,8 civil, já que 90,9% da população afirmou realizar auto-
Azitromicina 50 40 medicação. O que diverge com um estudo realizado
no Centro Universitário São Lucas (UniSL), onde a pre-
Amoxicilina+Clavulanato 30 24 valeceu a automedicação no sexo feminino, superando
Ciprofloxacino 18 14,4 o masculino em 2, 26% e referente a renda onde o hábito
relacionou-se mais fortemente aos jovens com renda
Sulfametoxazol + trimetropima 12 9,6
familiar entre 2 a 3 salários mínimos. (Fachinello, A et al)
Outros 40 32 Estudo semelhante na Faculdade de Medicina
de Marília (Famema), mostrou uma prevalência de 98,3%
na prática de automedicação entre os acadêmicos. Assim
como na Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF)
Sintomas relacionados à automedi- N % quanto na Faculdade de Medicina da Universidade
cação com antibiótico (N=208) Metropolitana de Santos (Unimes), onde mostra-se
Dor de garganta 120 85,1
presente em 76,05% e 94,36% dos acadêmicos do Curso
de Medicina, respectivamente. (Masson, W, et al. ,
Febre 45 32,1 Chehuen, NJA et al., Fonseca, FIRM et al.)
Congestão nasal 30 21,4 A maioria automedica-se por iniciativa própria;
adquire-os na farmácia e procura esclarecimentos ou
Tosse 30 21,4 informações adicionais acerca do medicamento. Nota-se
Dor ao urinar 16 11,4 ainda que quase todos os inquiridos admitam conhe-
cer os riscos que a medicação lhes poderá causar. Assim
como visto em nossos dados onde 75% dos acadêmicos
afirmaram obter as drogas por aconselhamento com
farmacêuticos, 81,3% por meio de conselhos de outras
A dor de garganta 120 (85,1%) representa o sintoma pessoas e 80,3% destes usuários já aconselharam outros
que mais levou os participantes a comprarem ou usa- indivíduos a comprar medicações, onde em sua maioria
rem os antibióticos sem prescrição. Febre 45 (32,1%), afirmavam conhecer os riscos de tais drogas. (Masson,
tosse 30 (21,4%), congestão nasal 30 (21,4%) e disúria 16 W, et al., Silva, RCG et al.).
(11,4%) também foram as demais queixas apresenta- Em relação ao uso de antibióticos, em estudo reali-
das. No entanto, 118 (61,1%) referem ter interrompido zado em uma instituição privada de estudo no noroeste
o tratamento antes do período indicado na bula ou pela do Rio Grande do Sul notou-se que os principais motivos
prescrição médica. que levaram ao uso foram gripe e inflamações, respec-
Apesar de 96 (90,6%) afirmarem não apresentar tivamente 18,6% e 17,9%, diferentemente dos dados
dificuldade no acesso a consultas e 98 (92,5%) terem encontrados no atual trabalho, onde foi encontrado
a conscientização de que a receita médica é obrigatória, um predomínio de 57,7% em razão de dor de garganta,
a autorização do farmacêutico 48 (45,3%) mostrou- se seguido de 21,6% por febre. Um dado semelhante entre
o principal motivo que levou os entrevistados a com- tais estudos encontra-se no uso sob prescrição médica
prarem ou usarem os antibióticos sem o receituário maior que 75% nas duas instituições e o interrompi-
médico. Ademais, a oferta de amostra grátis 24 (22,9%) mento do uso antes do período indicado na bula ou pelo
e a insatisfação com o sistema de saúde também 3 (2,8%) prescritor, que foi de 48,9% na primeira e 56,7% no atual
corroboraram para a prática em questão. trabalho. (Silva, RCG et al, Campos, LS et al.)
Referente ao ato interrompe o uso do medicamento
antes do indicado, temos uma porcentagem alarmante
de 61,1% em nossa amostra e de 48,96% em pesquisa

81
Artigos

realizada no sul do país, apesar da maioria dos partici- 6. Chehuen Neto JA, Sirimarco MT, Choi CMK, Barreto
pantes do estudo (72,41%) afirmarem ler a bula como AU, Souza JB. Automedicação entre estudantes da
68,8% daqueles que responderam ao nosso questionário. Faculdade de Medicina da Universidade Federal de
(Campos, LS et al.) Juiz de Fora. HU Revista 2006; 31(3):59-64

7. Amaral POM, Lages BMA, Sousa OBL, Almeida MCL,


C ON CL U SÃO
Santos LJM, Dias AM, et al. Automedicação em jovens
e adultos da região centro de Portugal. Millenium.
Nota- se um elevado número da prática da autome-
2014;47: 97‐109
dicação com antibióticos dentro da população estu-
dada, mesmo sendo estes estudantes da área da saúde 8. Masson, Wallan, et al. "Automedicação entre
e conhecendo os efeitos colaterais e possíveis danos acadêmicos do curso de medicina da Faculdade de
do fármaco utilizado, e tendo ciencia da obrigatorie- Medicina de Marília, São Paulo." Revista Brasileira
dade da prescrição médica, tornando esta uma prática de Pesquisa em Saúde/Brazilian Journal of Health
comum entre estudantes de medicina. Research (2012).

9. Fonseca FIRM, Dedivitis RA, Smokou A, Lascane


R EF ER Ê N CI AS
E, Cavalheiro RA, Ribeiro EF, et al. Frequência de
automedicação entre acadêmicos de faculdade de
1. Arrais, P. S. D., Fernandes, M. E. P., Pizzol, T. D. S. D.,
medicina. Diagn Tratamento 2010
Ramos, L. R., Mengue, S. S., Luiza, V. L., ... & Bertoldi, A.
D. (2016). Prevalência da automedicação no Brasil e 10. Silva RCG, Oliveira TM, Casimiro TS, Vieira
fatores associados. Revista de Saúde Pública, 50, 13s. KAM, Tardivo MT, Faria Júnior M, Restini CBA.
Automedicação em acadêmicos do curso de medicina.
2. Silva J.R., Souza M., Paiva A.S. Avaliação do uso
Medicina (Ribeirão Preto) 2012; 45(1):5-11
racional de medicamentos e estoque domiciliar. Ensaio
e ciência: ciências biológicas, agrárias e saúde. 2012; 11. da Silva Campos, Laísa, Bruna Caroline Teixeira,
16(1);109-124. and Caroline Eickoff Copetti Casalini. "PERFIL
DA AUTOMEDICAÇÃO EM ESTUDANTES DE
3. Brasil. Agência Nacional de Vigilância Sanitária,
ENSINO SUPERIOR: IMPACTO NA RESISTÊNCIA
Gerência de Monitoramento e Fiscalização de
BACTERIANA." REVISTA SAÚDE INTEGRADA
Propaganda, de Publicidade, de Promoção e de
12.24 (2019): 67-78.
Informação de Produtos Sujeitos a Vigilância Sanitária
– GPROP, PROJETO EDUCAÇÃO E PROMOÇÃO DA
SAÚDE NO CONTEXTO ESCOLAR: O contributo da
Agência Nacional de Vigilância Sanitária para o uso
racional de medicamentos. Brasília: Agência Nacional
de Vigilância Sanitária, 2007.

4. Centro de Informações sobre Medicamentos do RS,


Prática profissional: Descarte de medicamentos. RS:
CIM- RS, 2011.

5. Fachinello, A Carolina Rimoldi, et al.


"AUTOMEDICAÇÃO ANALGÉSICA ENTRE OS
ACADÊMICOS DO 3º E 8º PERÍODO DO CURSO
DE MEDICINA DE UMA INSTITUIÇÃO DE ENSINO
SUPERIOR DE PORTO VELHO RONDÔNIA." Revista
Saber Científico 8.2 (2019): 52-61.

82
Artigos

Covid-19: Adoecimento
mental dos profissionais
de saúde da linha de frente

Assista a
apresentação

Apresentado por
Claudia Edlaine da Silva

Autores: Claudia Edlaine da Silva1


Palavras-chave: Adoecimento; Coronavírus; Pandemia; Profissionais de
saúde; Transtorno mental.

1 . INT RO D U ÇÃO

A
pandemia do coronavírus de 2019 (COVID-19) é uma emergência
internacional de saúde sem precedentes na atualidade. Além
do contexto biológico, e devido às amplas e duradouras mudan-
ças na vida cotidiana que pode causar, enfrentá-la representa
um desafio à resiliência psicológica. Estudos anteriores demons-
traram que epidemias e surtos de contaminação de doenças foram seguidos
por drásticos impactos psicossociais individuais e coletivos, que eventual-
mente se tornam mais difundidos do que a própria epidemia.
Atualmente, devido a essa pandemia, altos níveis de ansiedade, estresse
e depressão já foram observados na população em geral. Em decorrência
do aumento exponencial da demanda por assistência médica nos tempos
1. Psicóloga, pós-graduanda de pandemia, enquanto a sociedade desacelera suas atividades diárias,
em Neuropsicologia – Centro os profissionais de saúde seguem na direção oposta, enfrentando longos
Universitário dos Guararapes turnos de trabalho, muitas vezes com poucos recursos e infraestrutura pre-
cária. Além disso, muitos profissionais podem se sentir despreparados para

84
Covid-19: Adoecimento mental dos profissionais de saúde da linha de frente

realizar intervenção clínica em pacientes infectados depressão, ansiedade e TEPT foram observados após
por um novo vírus, sobre o qual pouco se sabe e para algum tempo de afastamento do ambiente laboral.
o qual não existem protocolos ou tratamentos clínicos A síndrome de Burnout também foi relatada por pro-
bem estabelecidos. fissionais de saúde envolvidos na assistência a pacien-
Existe, também, a preocupação com a possibili- tes. Embora essa condição seja geralmente estabelecida
dade de espalhar o vírus para familiares e amigos. Isso longitudinalmente e esteja relacionada a fatores orga-
pode levá-los a se isolar da família nuclear ou extensa, nizacionais (como clima institucional, assédio moral,
mudar sua rotina e restringir sua rede de apoio social. excesso de carga de trabalho, baixos salários, entre
A sobrecarga de trabalho, sensação de impotência outros), a severidade da pandemia pode desencadear
ao testemunhar o número significativo de mortes pela exaustão emocional.
COVID-19 e os sintomas relacionados ao estresse tornam Estresse traumático secundário, um fenômeno
os profissionais de saúde especialmente vulneráveis no qual os profissionais de saúde experimentam sin-
ao sofrimento psicológico, o que aumenta a chance tomas semelhantes aos dos pacientes devido à exposi-
de desenvolver distúrbios psiquiátricos. ção contínua, também é comum durante as catástrofes
e pôde ser identificado. Os sintomas desse trauma indi-
2. O B J E T I VO S reto são perda de apetite, fadiga, declínio físico, distúr-
bios do sono, irritabilidade, medo e desespero.
Diante desse contexto, este estudo teve como objetivo No outro extremo do espectro, uma tendência que é
analisar o desenvolvimento de adoecimentos psicológi- desencadeada durante a pandemia da COVID-19, é dar
cos em profissionais de saúde, em decorrência do traba- aos profissionais de saúde um status de super-heróis e,
lho que desenvolvem junto a pacientes com a COVID-19, se por um lado, agrega valor, por outro, tem pressão adi-
e ampliar o campo de visão sobre a temática. cional, porque super-heróis não falham, não desistem
ou ficam doentes. O sofrimento moral também pode
3 . M AT ER I A I S E M É TODOS levar a situações como o colapso do sistema de saúde,
impedindo que os profissionais tomem decisões ade-
Este trabalho foi construído a partir de uma revisão quadas devido a pressões internas (medo, incapaci-
integrativa da literatura. Realizou-se o levantamento dade de enfrentar sofrimento, falta de conhecimento)
dos artigos, indexados no PubMed, entre os anos de 2019 ou pressões externas (pressão hierárquica, problemas
e 2020, que respondessem à questão norteadora: “Os pro- de comunicação e organização, falta de recursos e apoio
fissionais de saúde que estão na linha de frente no com- de outros serviços).
bate à COVID-19 podem apresentar algum adoecimento Recentemente, um estudo com enfermeiros e médi-
mental?”. A amostra final foi constituída por quatro arti- cos envolvidos no tratamento da COVID-19 encontrou
gos científicos, selecionados pelos critérios de inclusão uma alta incidência de estresse, ansiedade e TEPT,
previamente estabelecidos. com níveis mais altos de ansiedade em mulheres
e enfermeiros em comparação com homens e médi-
4 . R E S U LTA DO S cos, respectivamente. Isso pode ser explicado pelo fato
de os enfermeiros terem turnos de trabalho mais longos
Após a análise do material encontrado foi possível cons- e contato mais próximo com os pacientes, o que pode
tatar que, os profissionais de saúde que atuam no com- facilmente levar a fadiga e tensão. Outro estudo com
bate à COVID-19 podem experimentar sérios problemas amostra semelhante constatou que, o nível de apoio
emocionais e sintomas psiquiátricos. Os profissionais social dos médicos estava significativamente associado
da linha de frente demonstraram maior risco de desen- à eficácia e qualidade do sono, e negativamente asso-
volver transtorno de estresse pós-traumático (TEPT), que ciado à ansiedade e estresse.
persistiu mesmo após um período de ausência do tra-
balho. Também existem estudos relatando que as impli- 4.1Adoecimentos identificados
cações para a saúde mental dos profissionais de saúde Foi possível observar a existência de adoecimen-
envolvidos nos cuidados de saúde durante pande- tos como transtorno de estresse pós-traumático,
mias podem ser persistentes. Altos níveis de estresse, ansiedade, síndrome de Burnout, estresse, sintomas

85
Artigos

depressivos e exaustão emocional. Esses adoecimentos 2. Lee SM, Kang WS, Cho AR, Kim T, Park JK.
decorrem dos diferentes níveis de pressão psicológica, Psychological impact of the 2015 MERS outbreak
que também podem desencadear sentimentos de soli- on hospital workers and quarantined hemodialysis
dão e desamparo, e uma série de estados emocionais patients. Compr Psychiatry 2018; 87: 123-7.
disfóricos, como irritabilidade, fadiga física e mental
3. Li Z, Ge J, Yang M, Feng J, Qiao M, Jiang R, et al. Indirect
e desespero. Indispensáveis, os profissionais da saúde
trauma in the general public, members and non-
da linha de frente, atuando no combate à COVID-19,
members of medical teams that assist in the control of
estão entre os grupos mais vulneráveis às consequên-
COVID-19. Brain Behav Immun, 2020.
cias emocionais e psicológicas da pandemia.
4. Wang C, Pan R, Wan X, Tan Y, Xu L, Ho CS, et al.
5 . CO N C L U S Õ ES Immediate psychological responses and associated
factors during the early stage of the 2019 Coronavirus
Os profissionais de saúde que estão em contato direto disease epidemic (COVID-19) among the general
com os pacientes infectados precisam ter sua saúde population in China. Int J Environ Res Public Health
mental regularmente examinada e monitorada, pois 2020; 17: E1729.
essa atuação resulta em diferentes níveis de pressão psi-
5. Xiao H, Zhang Y, Kong D, Li S, Yang N. The effects of
cológica, aumentando a chance de desenvolver algum
social support on the quality of sleep of the medical
adoecimento mental. Portanto, sempre que necessário,
team treating patients with Coronavirus disease 2019
tratamentos psicológicos/psiquiátricos devem ser for-
(COVID-19) in January and February 2020 in China. Med
necidos à saúde desses profissionais.
Sci Monit 2020; 26: e923549.
Também é importante destacar a necessidade
de desenvolver a comunicação nas equipes de saúde,
a fim de estabelecer um clima de reciprocidade e coope-
ração empática, permitindo a expressão de sentimentos
e sintomas como esgotamento e exaustão emocional.
Além disso, psicoeducação e orientação sobre sinto-
mas de estresse pós-traumático, ansiedade e depressão
devem ser fornecidas às equipes para que possam iden-
tificar esses sintomas em si mesmos e em seus pares,
ainda nos estágios iniciais de adoecimento.
Atualmente, existem poucos estudos científicos
publicados que abordam dados epidemiológicos e mode-
los de intervenção focados na saúde mental de profis-
sionais de saúde envolvidos na assistência a pacientes
com COVID-19. A maioria desses estudos disponíveis foi
realizada na China. Portanto, além da barreira da língua,
esses dados não podem ser generalizados para outros
locais com características socioculturais diferentes,
principalmente em países em desenvolvimento como
o Brasil, nos quais precisam ser abordadas especifici-
dades associadas à estrutura de seu sistema de saúde.

R EF ER Ê N CI AS

1. Kim JS, Choi JS. Factors that influence the burnout of


emergency nurses during an outbreak of coronavirus
with respiratory syndrome in the Middle East in Korea.
Asian Nurse Res (Korean Soc Nurs Sci) 2016; 10: 295-9.

86
Artigos

Uso profilático da
suplementação de
vitamina D contra o SARS-
CoV-2: riscos e benefícios
Prophylactic use of vitamin D supplementation
against SARS-Cov-2: risks and benefits

Assista a
apresentação

Apresentado por
Autores: Sara Brandão dos
Sara Brandão dos Santos
Santos1, Agata Layanne Soares
Da Silva2, João Victor Da Cunha
Silva3, Viviane Sousa Ferreira4

RE SU M O 1. Graduanda em Medicina
pela Universidade Federal do
Introdução: A Covid-19 é doença respiratória grave, que pode incluir manifes- Maranhão – UFMA, Imperatriz
– Maranhão; http://lattes.cnpq.
tações digestivas e sistêmicas. Diante disso, a situação emergencial causada
br/6815760055451436
pela mesma, trouxe consigo incertezas quanto às prevenções e tratamentos
corretos para conduzir o manejo dos casos. No entanto, evidenciou-se em 2. Graduanda em Medicina
pesquisas de referência que ao administrar doses e espaçamentos adequados, pela Universidade Federal do
Maranhão – UFMA, Imperatriz
a vitamina D teria caráter profilático e protetor contra a infecções agudas
– Maranhão; http://lattes.cnpq.
do trato respiratório em geral, o que destaca uma importância clínica e eco-
br/2273481726474920
nômica significativa. Objetivos: Analisar a suplementação da 25-hidroxi-
vitamina D na população como medida profilática à Covid-19, sobretudo 3. Graduando em Medicina
pela Universidade Federal do
os riscos e benefícios associados. Material e Métodos: Trata-se de uma revisão
Maranhão – UFMA, Imperatriz
sistemática de literatura, na qual se utilizou as bases de dados IBECS, LILACS – Maranhão; http://lattes.cnpq.
e MEDLINE com os descritores “vitamina D”, “COVID-19” e “profilaxia” além br/8373117545877802
de seus correspondentes em inglês. Como critério de inclusão, os artigos
4. Doutora em Biotecnologia pela
devem pertencer aos anos de 2015 a 2020, possuir o idioma inglês, português
Universidade Federal Rural de
ou espanhol e dispor sobre a suplementação de vitamina D para preven- Pernambuco – UFRPE, Imperatriz
ção da Covid-19. O critério de exclusão envolve a repetição entre as bases – Maranhão; http://lattes.cnpq.
de dados e a fuga do objetivo deste estudo. Encontrou-se 13 artigos, aplicando br/9540852892015299
os critérios de inclusão e exclusão, selecionou-se 10 pesquisas. Resultados:

87
Artigos

Os estudos avaliados demonstraram divergências criterion, the articles should belong from the years
vastas. Além de disparidades populacionais, as doses 2015 to 2020, to be in English, Portuguese or Spanish
ministradas e a sua periodicidade foram contrastantes. language and explain about vitamin D supplementa-
Com isso, alguns estudos relataram que a deficiência tion for Covid-19 prevention. The exclusion criterion
de vitamina D está correlacionada a uma maior pro- involves the repetition between the databases and the
pensão de infecções virais do trato respiratório e a lesão escape of the objective of this study. We found 13 arti-
pulmonar aguda (LPA), já que o seu agonista, calcitriol, cles, applying the inclusion and exclusion criteria, and
exibiu efeitos protetores contra a LPA. Tal raciocínio selected 10 researches. Results: The studies evaluated
apoia o papel da deficiência de vitamina D como fator showed wide divergences. In addition to population
patogênico no COVID-19. No entanto, outras pesqui- disparities, the doses given and their frequency were
sas não evidenciaram benefícios relevantes de caráter contrasting. Thus, some studies have reported that vita-
preventivo na suplementação de vitamina D, indepen- min D deficiency is correlated to a greater propensity
dentemente das doses, a não ser para a saúde óssea, rati- for viral infections of the respiratory tract and acute
ficando somente os efeitos já comprovados e opondo-se lung injury (LPA), since its agonist, calcitriol, exhibited
ao uso indiscriminado de altas doses suplementares protective effects against LPA. This reasoning supports
de vitamina D. Conclusões: Depreende, portanto, que the role of vitamin D deficiency as a pathogenic factor in
as evidências encontradas são insuficientes e pouco COVID-19. However, other studies did not show relevant
respaldadas quanto à legitimidade do uso da vitamina benefits of a preventive nature in vitamin D supplemen-
D na prevenção da Covid-19. É importante que estudos tation, regardless of doses, except for bone health, con-
adicionais e qualificados sejam feitos, pois assim será firming only the effects already proven and opposing
possível estimar o real benefício da 25-hidroxivitamina the indiscriminate use of high supplementary doses.
D em diferentes graus de gravidade da doença. Por fim, Conclusions: In follows, therefore, that the evidence
caso comprovada seus efeitos profiláticos e protetores, found is insufficient and poorly supported as to the
essa pode ser uma possível terapia adjuvante. legitimacy of the use of vitamin D in the prevention of
Covid-19. It is important that more and qualified stu-
Palavras-chave: COVID-19; Infecção; Profilaxia; dies should be done, as it will be possible to estimate
Vitamina D the real benefit of 25-hydroxyvitamin D in different
degrees of severity of the disease. Finally, if proven pro-
A BST R ACT phylactic and protective effects, this may be a possible
adjuvant therapy.
Introduction: Covid-19 is a severe respiratory disease,
which may include digestive and systemic manifesta- Keywords: COVID-19; Infection; Prophylaxis; Vitamin D
tions. Therefore, the emergency situation caused by the
same, brought with it uncertainties regarding the pre-
vention and correct treatments to conduct the mana-
gement of cases. However, it was evidenced in reference
researches that when administering adequate doses and
spacing, vitamin D would have prophylactic and protec-
tive character against acute infections of the respiratory
tract in general, which highlights a significant clini-
cal and economic importance. Objectives: Analyze the
supplementation of 25-hydroxyvitamin D in the popu-
lation as a prophylactic measure to Covid-19, especially
the associated risks and benefits. Material and Methods:
This is a systematic review of the literature, in which we
used the IBECS, LILACS and MEDLINE databases with the
descriptors "vitamin D", "COVID-19" and "prophylaxis" in
addition to their English counterparts. As an inclusion

88
Uso profilático da suplementação de vitamina D contra o SARS-CoV-2: riscos e benefícios

1. I N T R O DU ÇÃO 2 . ME TO D O LO G I A

U
m novo surto de doença coronavírus em Trata-se de uma revisão sistemática da literatura, ela-
2019 (COVID-19) é uma pandemia dramática borada conforme todas as recomendações Cochrane
global que está afetando de forma incomen- Collaboration. Como aparato teórico, realizou-se
surável nossas comunidades. Considerando a busca de publicações contidas nas bases de dados
a enorme carga econômica e para a saúde Irish Business and Employers Confederation (IBECS),
da pandemia de COVID-19, qualquer meio pelo qual Medical Literature Analysis and Retrieval System Online
melhorar a condição dos pacientes para acelerar a recu- (MEDLINE), Latino-Americana de informação bibliográ-
peração e reduzir o risco de deterioração e morte seria fica em Ciências da Saúde (LILACS).
considerado de significativa importância clínica e eco- Para realizar a busca dos estudos, consultou-se
nômica (EBADI, MONTANO 2020). o DeCS (Descritores em Ciências da Saúde): vitamina
Nesse contexto, um fator geralmente esquecido que D, COVID-19 e profilaxia. Combinado com o operador
pode influenciar o resultado do COVID-19 é o status rela- booleano “AND”.
tivo de vitamina D das populações. Como as pessoas são Para inclusão dos estudos, adotaram-se os seguintes
aconselhadas a ficar em casa o máximo possível, a suple- critérios de elegibilidade: artigos disponíveis na íntegra,
mentação é algo considerável, durante esta pandemia. que contemplassem o tema proposto, estudos publica-
A suplementação de vitamina D pode ser especialmente dos em inglês, português e espanhol publicados no perí-
importante para pessoas idosas, pois elas apresentam odo de 2015 a julho de 2020. Por fim, foram aplicadas
alto risco de resultados ruins com COVID-19 e deficiência as ferramentas para avaliação qualitativa dos artigos:
de vitamina D (MITCHELL 2020). recomendações PRISMA, escala Jadad (para estudos ran-
Com isso, alguns artigos sugeriram o possível envol- domizados), escala Robbins (para estudos não randomi-
vimento da vitamina D na redução do risco de infec- zados). Ao final desta etapa, resultou-se uma amostra
ções do trato respiratório, especialmente no contexto de 10 estudos inclusos, os quais foram considerados
da influenza e COVID-19. Além disso, o papel da suple- elegíveis e submetidos à análise quantitativa.
mentação de vitamina D na redução do risco de infec- A extração dos dados dos artigos foi direcionada atra-
ção ainda está sob investigação, no entanto, nenhuma vés das diretrizes recomendada pela literatura, abran-
evidência clínica foi relatada ainda (AVOLIO et al., 2020). gendo conhecimentos que foram fundamentais para
Desta maneira, o objetivo desse estudo é delinear análise e aplicabilidade dos resultados: identificação
a vitamina D como um possível fator de proteção em do artigo (título do artigo, autoria, ano de publicação,
agentes anti-infecciosos que podem proteger con- base de dados, país), participantes (população, critérios
tra a infecção e os fatores que melhoram o resultado de inclusão), base teórica utilizada, período da interven-
uma vez que a infecção foi produzida ção, desfechos (desfechos avaliados e período de avalia-
ção) e resultados. Foi utilizado o protocolo PRISMA com
a finalidade de aprimorar a apresentação dos resultados
deste estudo. A figura 1 ilustra um fluxograma que vai
ao encontro das delimitações do estudo esclarecidas
anteriormente.

89
Artigos

Identificação

Remoção dos
artigos que não
PUBMED SCIELO
MEDLINE contemplaram os
(N=74) (N=74)
critérios de inclusão
(n=82)

Triagem

Artigos analisados
Artigos excluídos,
pois contemplavam os
Elegibilidade critérios de exclusão
(n=12)
Artigos Elegíveis
lidos na íntegra
Artigos excluídos
após a seleção da
amostra final e
Inclusão exclusão de trabalhos
duplicados
Artigos incluídos
na revisão

Figura 1: Estudos primários incluídos na revisão


sistemática de acordo com as bases de dados. Imperatriz
(MA), Brasil, 2020.

3. R ES U LTA DO S E DISCUS SÃO

A situação atual é socialmente anômala devido à repen- Os mecanismos pelos quais a vitamina D pode pro-
tina mudança dos hábitos de vida cotidianos. Com isso, teger contra os sintomas da infecção por COVID-19 são
a relação com o meio social foi prejudicada pelos perí- especialmente aumentando o nível de ACE2 nos pul-
odos de confinamento por conta da pandemia COVID- mões e tendo um papel durante a inflamação por meio
19, especialmente em termos de privação de liberdade. da atividade quimiotática. Nesse contexto, o principal
Assim, com o confinamento temos um período prolon- receptor da célula hospedeira da COVID-19, ACE2, desem-
gado de baixa exposição ao sol, mais longo do que o nor- penha um papel protetor nas doenças cardiovasculares
mal para a maioria da população. Consequentemente, e na SARS. Os resultados foram a inibição da propagação
foi observada uma potencial associação entre baixas da SARS e também proteção dos pacientes com a infec-
concentrações médias de vitamina D e a prevalência ção de desenvolver insuficiência pulmonar. Ademais,
e mortalidade de COVID-19. há indícios que o tratamento com ACE2 pode suprimir

90
Uso profilático da suplementação de vitamina D contra o SARS-CoV-2: riscos e benefícios

significativamente os estágios iniciais das infecções 4 . C O N C L U SÃO


por SARS-CoV-2.
Consequentemente, o tratamento com vitamina Diante do cenário exposto, depreende-se que as evidên-
D pode diminuir o risco de incidência da infecção por cias encontradas são insuficientes e pouco respaldadas,
COVID-19, aumentando o nível de ACE2, que é expresso já que ainda não há número de pesquisas consideráveis,
em células alveolares tipo II dos pulmões, bem como quanto à legitimidade do uso da vitamina D na preven-
diminuir a mortalidade e a gravidade dos pacientes ção da Covid-19. Nesse sentido, é de extrema importância
com COVID-19, já que muitos pacientes desenvolvem que haja estudos adicionais e qualificados, pois assim
a síndrome do desconforto respiratório agudo (SDRA), será possível estimar o real benefício da 25-hidroxivi-
que pode causar danos a múltiplos órgãos. Por esse tamina D em diferentes graus de gravidade da doença,
motivo, nas novas estratégias de tratamento, aumentar com variáveis como sexo, idade e estilo de vida. Por fim,
a ECA2 tende a ótimos resultados no combate à infecção caso comprovada seus efeitos profiláticos e protetores,
por COVID-19. essa pode ser uma possível terapia adjuvante.
Concomitantemente, o efeito protetor e profilático
também pode ser expresso pela proteína de ligação 5 . PO N TO S F O RT E S E L I MI TAÇ Õ E S
à vitamina D, conhecida, em inglês, como Vitamin D bin-
ding protein (DBP), a principal proteína de transporte A força de nosso estudo é que, até onde sabemos, esta
da vitamina D, pode desempenhar um papel importante é a primeira revisão sistemática sobre a utilização
no desenvolvimento da síndrome respiratória aguda de vitamina D como medida profilática para a COVID-
(SARS) devido à infecção por SARS-CoV-2. Anteriormente 19, focalizando e resumindo os achados inovadores,
conhecida como componente específico de grupo a fim de preencher essa lacuna. A principal limitação
(GC-globulina), é uma proteína plasmática multifuncio- do nosso estudo é a escassez de literatura disponível
nal. Além da ligação à vitamina D de alta afinidade, pode e assim a ínfima quantidade de informação sobre
ligar a actina, CD44 e anexina A2. A DBP provavelmente o assunto. Contudo, a qualidade do estudo se mantém.
desempenha um papel crucial durante a inflamação,
pois pode aumentar significativamente a atividade qui- 6. C O N F L ITO S D E IN T E R E S S E
miotática dos neutrófilos quimioatrativos.
Em paralelo, os baixos níveis de vitamina D têm Não houve conflitos de interesse.
consequências fisiopatológicas e por meio de vários
mecanismos pode haver redução do risco de infec- 7. R E F E R Ê N C I AS :
ções, consequentemente, seu déficit pode constituir
um aumento da suscetibilidade à infecção pelo coro- 1. AGUILERA J, et al. Recomendacione sobre exposición
navírus. Por esse motivo, podem ser recomendadas solar y fotoprotección del Grupo Espanol de
exposições diretas, diárias, embora breves, ao sol para Fotobiología de la AEDV adecuadas al período de
aumentar os níveis séricos de vitaminas D. No entanto, desconfinamiento durante la pandemia por SARS-
a suplementação deve ser analisada com mais cautela, CoV-2. Actas Dermosifiliogr. 2020. doi: 10.1016/j.
por mais que sua utilidade contra o vírus não seja com- ad.2020.06.001.
provada, os efeitos para saúde óssea, quando orientada
2. AYGUN, H. Vitamin D can prevent COVID-19
a suplementação são factíveis e sem malefícios.
infection-induced multiple organ damage. Naunyn-
Schmiedeberg's Arch Pharmacol, v.393, p. 1157–1160,
2020. doi: 10.1007/s00210-020-01911-4.

3. EBADI, M., Montano-Loza, A.J. Perspective: improving


vitamin D status in the management of COVID-19.
Eur J Clin Nutr, v.74, p. 856–859, 2020. doi:10.1038/
s41430-020-0661-0.

91
Artigos

4. AVOLIO A, et al. 25-Hydroxyvitamin D Concentrations


Are Lower in Patients with Positive PCR for
SARS-CoV-2. Nutrients, v. 12, p. 1359, 2020. doi:
10.3390/nu12051359.

5. GRANT W.B,et al. Evidence that Vitamin D


Supplementation Could Reduce Risk of Influenza and
COVID-19 Infections and Deaths. Nutrients, v. 12, p. 988,
2020. doi: 10.3390/nu12040988.

6. ILIE, P.C.; Stefanescu, S. & Smith, L. The role of vitamin


D in the prevention of coronavirus disease 2019
infection and mortality. Aging Clin Exp Res, v. 32, p.
1195–1198, 2020. doi: 10.1007/s40520-020-01570-8.

7. KOW, C.S.; Hadi, M.A.; Hasan, S.S. Vitamin D


Supplementation in Influenza and COVID-19
Infections Comment on: “Evidence that Vitamin D
Supplementation Could Reduce Risk of Influenza and
COVID-19 Infections and Death. Nutrients, v. 12, n.4, p.
988, 2020. doi: 10.3390/nu12061626.

8. MITCHELL F. Vitamin-D and COVID-19: do deficient


risk a poorer outcome?. The lancet. Diabetes &
endocrinology, v. 8, p. 570, 2020. doi: 10.1016/S2213-
8587(20)30183-2.

9. RIBEIRO H, et al. Does Vitamin D play a role in the


management of Covid-19 in Brazil?. Rev. Saúde Pública,
São Paulo, v.54, n. 53, 2020. doi:10.11606/s1518-
8787.2020054002545.

10. SPEECKAERT, M.M.; Delanghe, J.R. Association


between low vitamin D and COVID-19: don’t forget the
vitamin D binding protein. Aging Clin Exp Res, v. 32, p.
1207–1208, 2020. doi: 10.1007/s40520-020-01607-y.

92
Revista SanarMed - n. 03

RESUMOS

Alguns dos artigos não puderam ser


apresentados em sua totalidade por motivos
diversos. Assim, seguem os resumos
do restante dos trabalhos apresentados
no Sanarcon 2020.

93
Resumos

Necessidade de terapia
anticoagulante como
forma de prevenção de
eventos tromboembólicos
em pacientes com Covid-19

Assista a
apresentação

Apresentado por
Daniella Almeida Brito

Autores: Daniella Almeida Brito,


Ana Luisa Ferreira Marques, Maria
Eduarda Arantes Castro Palavras-chave: COVID-19, complicações, tromboembólicos, marcadores
clínicos, coagulopatia

Introdução: O crescente número de casos começou a elucidar complica-


ções hematológicas como Embolia Pulmonar, alertando a necessidade
de nova abordagem à doença. Sabe-se que o vírus penetra nas células
através do receptor da enzima conversora de angiotensina 2 iniciando
um processo inflamatório intenso com liberação de citocinas pró-infla-
matórias e ativação do sistema complemento. Esse processo, assim como
ocorre na SIC (Coagulopatia Induzida pela Sepse) pode gerar um estado
pró trombótico no paciente culminando em uma CIVD (Coagulação Intra
Vascular Disseminada). Embora não seja totalmente compreendido se a CAC
advém de um processo de SIC e posterior CIVD ou se é efeito de característi-
cas do próprio SARS-Cov-2, o que se sabe é que a partir do 7º dia de doença
alterações em marcadores de coagulação já começam a aparecer e que
a atuação em profilaxia e/ou tratamento para tromboembolismo é a única
ferramenta que vem se mostrando útil para reduzir esses eventos adversos.
Objetivo: Demonstrar a necessidade de acompanhar os padrões de coa-
gulação nos pacientes com COVID-19 a fim de instituir uma intervenção
para prevenir eventos tromboembólicos. Material e métodos: Pesquisa em

94
Necessidade de terapia anticoagulante como forma de prevenção de eventos tromboembólicos em pacientes com Covid-19

diversas bases de dados (Cochrane, MEDLINE, Pubmed), R E F E R Ê N C I AS :


com avaliação de cerca de 20 trabalhos sobre as carac-
terísticas hematológicas no COVID-19. Resultados: 1. 1.TOSHIAKI, Iba et al. The unique characteristics of
Os pacientes observados tiveram uma importante pre- COVID-19 coagulopathy. Critical Care, Tokio, ano
disposição a complicações trombóticas (21-49%), com 2020, p. 1-8, 2020. DOI https://doi.org/10.1186/
destaque para a embolia pulmonar. É válido ressaltar s13054-020-03077-0. Disponível em: https://ccforum.
que estudos de Wuhan indicam que marcadores clíni- biomedcentral.com/articles/10.1186/s13054-020-
cos como trombocitopenia, elevação do tempo de pro- 03077-0. Acesso em: 16 jul. 2020.
trombina e elevação do dímero D contribuíram para
2. CONNORS, Jean et al. COVID-19 and its implications
aumento da gravidade da doença e estiveram associa-
for thrombosis and anticoagulation. The American
dos ao aumento da mortalidade entre os pacientes com
Society of Hematology, [s. l.], v. 135, 4 jun. 2020.
COVID-19. Ademais, a primeira série de autópsias rea-
DOI 10.1182/blood.2020006000. Disponível
lizadas nesses pacientes descreveram extensos danos
em: https://ashpublications.org/blood/article-
alveolares difusos e trombos presentes em pequenos
pdf/135/23/2033/1743274/bloodbld2020006000c.
vasos periféricos nos pulmões, os quais podem causar
Acesso em: 16 jul. 2020.
obstrução microvascular e gerar falências orgânicas.
Em outro grupo de pacientes foram examinados teci- 3. GIANNIS, Dimitrios; ZIOGAS, Ioannis A.; GIANNI,
dos pulmonares e cutâneos de pacientes com o vírus, Panagiota. Coagulation disorders in coronavirus
e 60% deles apresentavam características consistentes infected patients: covid-19, sars-cov-1, mers-cov and
de um estado pro coagulante sistêmico, com níveis lessons from the past. Journal Of Clinical Virology, [s.l.],
de dímero D acentuadamente elevados. Os estudos v. 127, p. 104362, jun. 2020. Elsevier BV. http://dx.doi.
histológicos e imuno-histoquímicos desses pacientes org/10.1016/j.jcv.2020.104362.
definiram um padrão de patologia envolvendo lesão
4. SARDU, Celestino; GAMBARDELLA, Jessica; MORELLI,
microvascular e trombose. Conclusão: Diante desse
Marco Bruno; WANG, Xujun; MARFELLA, Raffaele;
dados, infere-se que a incidência de eventos trombo-
SANTULLI, Gaetano. Hypertension, Thrombosis,
embólicos é significativa nos pacientes com COVID-19.
Kidney Failure, and Diabetes: is covid-19 an endothelial
Logo, medidas devem ser instituídas a fim de evitar
disease? a comprehensive evaluation of clinical and
maiores complicações, tais como a análise de dados
basic evidence. Journal Of Clinical Medicine, [s.l.], v.
laboratoriais a cada 2-3dias: tempo de protrombina,
9, n. 5, p. 1417, 11 maio 2020. MDPI AG. http://dx.doi.
contagem de plaquetas, dímero D e fibrinogênio. Além
org/10.3390/jcm9051417.
disso, as evidências têm mostrado que o uso de HBPM
nos pacientes com COVID-19 admitidos no hospital pode 5. KOLLIAS, Anastasios; KYRIAKOULIS, Konstantinos
resultar numa melhora do prognóstico daqueles que G.; DIMAKAKOS, Evangelos; POULAKOU, Garyphallia;
apresentam estado hipercoagulável. STERGIOU, George S.; SYRIGOS, Konstantinos.
Thromboembolic risk and anticoagulant therapy in
COVID‐19 patients: emerging evidence and call for
action. British Journal Of Haematology, [s.l.], v. 189,
n. 5, p. 846-847, 4 maio 2020. Wiley. http://dx.doi.
org/10.1111/bjh.16727.

6. KLOK, F.a.; KRUIP, M.j.h.a.; MEER, N.j.m. van Der;


ARBOUS, M.s.; GOMMERS, D.a.m.p.j.; KANT, K.m.;
KAPTEIN, F.h.j.; VAN PAASSEN, J.; STALS, M.a.m.;
HUISMAN, M.v.. Incidence of thrombotic complications
in critically ill ICU patients with COVID-19. Thrombosis
Research, [s.l.], v. 191, p. 145-147, jul. 2020. Elsevier BV.
http://dx.doi.org/10.1016/j.thromres.2020.04.013.

95
Resumos

7. CONNORS, Jean M.; LEVY, Jerrold H.. COVID-19 and


its implications for thrombosis and anticoagulation.
Blood, [s.l.], v. 135, n. 23, p. 2033-2040, 4 jun. 2020.
American Society of Hematology. http://dx.doi.
org/10.1182/blood.2020006000.

8. MAGRO, Cynthia; MULVEY, J. Justin; BERLIN, David;


NUOVO, Gerard; SALVATORE, Steven; HARP, Joanna;
BAXTER-STOLTZFUS, Amelia; LAURENCE, Jeffrey.
Complement associated microvascular injury and
thrombosis in the pathogenesis of severe COVID-19
infection: a report of five cases. Translational
Research, [s.l.], v. 220, p. 1-13, jun. 2020. Elsevier BV.
http://dx.doi.org/10.1016/j.trsl.2020.04.007.

96
Resumos

Potencial atividade
antiviral da azitromicina:
Revisão sistemática

Assista a
apresentação

Apresentado por
Leonardo Tibiriçá Corrêa

Autores: Leonardo Tibiriçá


Corrêa1, Dr. André Rinaldi
RE S U M O Fukushima 2

Introdução: Os macrolídeos são um grupo de fármacos pertencentes à classe


dos antimicrobianos, caracterizados pela presença do anel lactona macrocí-
clica, ao qual possui a eritromicina como principal representante. O meca-
nismo de ação antibacteriano se dá através da ação bacteriostática ligando-se
a subunidade 50S ribossômica bacteriana e inibindo a síntese proteica. Além
de ser uma das principais terapias contra infecções respiratórias, atuam
no tratamento da fibrose cística, asma e inflamações brônquicas, devido
aos seus mecanismos imunomodulatórios. A azitromicina é um dos prin-
cipais representantes dessa classe, porém há uma dificuldade em adesão
1. Departamento de farmacologia
ao tratamento, devido aos seus efeitos colaterais no trato gastrointestinal,
- Instituto de Ciências Biomédicas
sobretudo ocorrência de náuseas e gastrite. Objetivo: O objetivo do presente - Universidade de São Paulo – São
trabalho é fornecer evidências, sistematicamente, quanto a potencial ati- Paulo/SP – leonardo.correa10@
vidade antiviral, servindo como base para possíveis novos estudos clínicos etec.sp.gov.br
metodologicamente bem estruturados. Material e métodos: Para a realização
2. Faculdade de Medicina
do presente trabalho, foi feito busca na base de dados do PubMed, utilizando Veterinária e Zootecnia –
como estratégia de busca os termos “azitromicina” e “antiviral” interliga- Universidade de São Paulo – São
dos pelo termo booleano AND, que totalizou 78 artigos. Estes artigos foram Paulo/SP
divididos em dois grupos, a fim de avaliar os resumos, excluindo aqueles

97
Resumos

que não possuíam relação com tratamento antiviral 4. DA SILVA FILHO, L.; PINTO, L.; STEIN, R. Use of
ou tratava-se de doenças bacterianas oportunistas em macrolides in lung diseases: recent literature
pacientes com doenças virais já instaladas e artigos controversies. Jornal de Pediatria. v. 91, p. 52-
de revisão e relatos de caso. Totalizou-se 22 resumos, 60, 2015. Supl.1.
que foram divididos em 2 grupos e lidos na íntegra.
5. FAGE, C.; PIZZORNO, A.; RHÉAUME, C.; ABED, Y.;
Tanto a leitura de resumos quanto na íntegra houve
BOIVIN, C. The combination of oseltamivir with
dupla checagem, trocado entre os autores. Resultados:
azithromycin does not show additional benefits
Para a execução do presente trabalhos, utilizaram-se
over oseltamivir monotherapy in mice infected with
16 artigos após a leitura na íntegra e dupla-checagem.
influenza A(H1N1)pdm2009 virus. J Med Virol. v. 89, n.
12 artigos (75,0%) concluíram que a azitromicina pos-
12, p. 2239-2243, 2017.
sui atividade antiviral, frente aos vírus: Zika vírus,
rinovírus, influenza A, enterovírus A17. Contra o vírus 6. GAUTRET, P.; LAGIER, J.; PAROLA, P.; HOANG, V.;
Ebola demonstrou atividade antiviral, mas não eficácia MEDDEB, L.; MAILHE, M. et al. Hydroxychloroquine
no tratamento. A azitromicina não demonstrou ativi- and azithromycin as a treatment of COVID-19:
dade antiviral em 4 artigos (25,0%) frente ao vírus sin- results of an open-label non-randomized clinical
cicial, poliovírus e Coxsackievirose tipo B. Conclusão: trial. International Journal of Antimicrobial
Com base no presente trabalho, é possível verificar Agents. 2020, 105949.
uma potencial atividade antiviral que deve ser mais
7. GIELEN, V.; JOHNSTON, S.; EDWARDS, M.
investigada com protocolos clínicos bem estabelecidos
Azithromycin induces anti-viral responses in bronchial
e metodologias cientificas que evidenciem resultados
epithelial cells. Eur Respir J. v. 36, p. 645-654, 2010.
in vivo. No mais, a azitromicina possui interesse clínico
no controle de doenças respiratórias, pois tendo ativi- 8. GRASSLY, N.; PRAHARAJ, I.; BABJI, S.; KALIAPPAN,
dade antiviral ou não, é notável seu papel imunomo- S.; GIRI, S.; VENUGOPAL, S. et al. The effect of
dulador como preservação da estrutura tecidual sem azithromycin on the immunogenicity of oral poliovirus
o comprometimento da resposta imune ou efeitos cola- vaccine: a double-blind randomised placebo-controlled
terais significativamente relevantes, além de prevenir trial in seronegative Indian infants. Lancet Infect Dist.
infecções bacterianas oportunistas durante a terapia. v. 16, n. 8,p. 905-14, 2016.

9. KANOH, S.; RUBIN, B. Mechanisms of action


Palavras-chave: Azitromicina; antiviral; revisão
and clinical application of macrolides as
sistemática
immunomodulatory medications. Clin Microbiol Rev. v.
23, p. 590-615, 2010.
R E F E R EN C I AS
10. KNEYBER, M.; VAN WOENSEL, J.; UIJTENDAAL, E.;
1. AGARWAL, A.; CHANDER, Y. Chronic Chlamydia UITERWAAL, C.; KIMPEN, J. Dutch Antibiotics in RSV
pneumoniae infection and bronchial asthma: is there a Trial (DART) Research Group. Azithromycin does not
link? Indian J Med Microbiol. v. 26, p. 338-41, 2008. improve disease course in hospitalized infants with
respiratory syncytial virus (RSV) lower respiratory
2. WONG, E.; PORTER, J.; EDWARDS, M.; JOHNSTON, S.
tract disease: a randomized equivalence trial. v. 43, n. 2,
The role of macrolides in asthma: current evidence and
p. 142-9, 2008.
future directions. v. 2, n. 8, p. 657-70, 2014
11. LEE, N.; WONG, C.; CHAN, M.; YEUNG, E.; TAM,
3. BOSSEBOEUF, E.; AUBRY, M.; NHAN, T.; DE PINA, J.;
W.; TSANG, O. et al. Anti-inflammatory effects of
ROLAIN, J.; RAOULT, D. et al. Azithromycin Inhibits
adjunctive macrolide treatment in adults hospitalized
the Replication of Zika Virus. Journal of Antivirals &
with influenza: A randomized controlled trial. Antiviral
Antiretrovirals. v. 10, n. 1, p. 6-11, 2018.
Res. v.144, p. 48-56, 2017.

98
Potencial atividade antiviral da azitromicina: Revisão sistemática

12. LI, C.; ZU, S.; DENG, Y.; LI, D.; PARVATIYAR, K.; 22. SCHÖGLER, A.; KOPF, B.; EDWARDS, M.; JOHNSTON,
QUANQUIN, N. et al. Azithromycin Protects against S.; CASAULTA, C.; KIENINGER, E.; et al. Novel antiviral
Zika virus Infection by Upregulating virus-induced properties of azithromycin in cystic fibrosis airway
Type I and III Interferon Responses. Antimicrob Agents epithelial cells. Eur Resp J. v. 45, n. 2, p. 428-39, 2015.
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23. SHINKAI, M.; FOSTER, G.; RUBIN, B. Macrolide
13. LUDWIG, S.; WOLFF, T.; EHRHARDT, C. et al. MEK antibiotics modulate ERK phosphorylation and IL-8
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without emergence of resistant variants. FEBS Lett. v. cells. Am J Physiol Lung Cell Mol Physiol. v. 290, n. 1,
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Chemother. v. 31, p. 1-9, 1993. 15-membered macrolide antibiotic, inhibits influenza
A(H1N1)pdm09 virus infection by interfering with virus
17. MENZEL, M.; AKBARSHAHI, H.; BJERMER, L.; ULLER,
internalization process. The Journal of Antibiotics. v. 72,
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n. 10, p. 759-768, 2019.
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Disponível em: https://www.who.int/dg/speeches/
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Influenza virus propagation is impaired by inhibition of
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the Raf/MEK/ERK signalling cascade. Nat Cell Biol. v. 3,
Dis. v. 12, n. 10, p. 1-15, 2018.
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use in patients with cystic fibrosis. Eur J Clin Microbiol
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LAURIE, M.; SANDOVAL-ESPINOSA, C. et al. Zika 362-369, 2019.
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inhibition by azithromycin. Proc Natl Acad Sci U S A.
v.113, n. 50, p. 14408-14413, 2016.

99
Resumos

Dispositivo de segurança
no gerenciamento
avançado das vias aéreas
na era da Covid-19

Assista a
apresentação

Apresentado por
Pedro Ferreira Pasetto

Autores: Pedro Ferreira Pasetto,


Bruno Monteiro Tavares Pereira,
Eduardo Tavares Lima Trajano, Introdução: O gerenciamento das vias aéreas pode ser clinicamente desa-
Luiz Felipe Caramez Berteges, fiador, apresentando inúmeras particularidades inerentes à própria intu-
Adauri Silveira Rodrigues Júnior bação endotraqueal. É considerado um procedimento de alto risco com
grande potencial de complicações. O êxito deste procedimento depende
não só da capacidade do médico em ter um plano seguro e exequível, como
também de prever e antecipar as adversidades1,2. O processo de intubação
endotraqueal representa um momento de elevada atenção3, pelas próprias
dificuldades inerentes ao procedimento e possibilidade elevada do risco
de transmissão de doenças infecciosas na forma de aerossóis ou gotículas4.

Objetivos: O objetivo deste trabalho é apresentar um dispositivo de bar-


reira, denominado Protection Fencing Device – PFD®, capaz de mitigar ou
anular o contato dos profissionais médicos que atuam na linha de frente
nos setores de emergência, centro cirúrgico e unidade de terapia intensiva
com secreções e aerossóis durante o gerenciamento avançado das vias aéreas,
a fim de diminuir a possibilidade de exposição e contaminação.

Materiais e métodos: Revisão da bibliografia a partir de artigos veiculados


em periódicos indexados pela Coordenação de Aperfeiçoamento de pes-
quisa de Pessoal de Nível Superior (CAPES), pelos portais PubMed NCBi,

100
Dispositivo de segurança no gerenciamento avançado das vias aéreas na era da Covid-19

Lilacs e Scielo, utilizando-se os termos “covid”, “covid-19”, 3. Dost, B., Koksal, E., Terzi, Ö., Bilgin, S., Ustun, Y. B., &
“emergency”, “airway”. Desenvolveu-se um dispositivo Arslan, H. N. (2020). Attitudes of Anesthesiology
de segurança para o gerenciamento avançado das vias Specialists and Residents Toward Patients Infected
aéreas na era da COVID-19 utilizando-se o software CAD with the Novel Coronavirus (COVID-19): A National
3D SolidWorks© 2013, da empresa Dassault Systèmes Survey Study. Surgical Infections.
S.A. O primeiro protótipo de bancada foi confeccio-
4. doi:10.1089/sur.2020.097.
nado com PLA. A evolução do projeto para impressão 3D
utilizou o material ABS. 5. Tran, K., Cimon, K., Severn, M., Pessoa-Silva, C. L., &
Conly, J. (2012). Aerosol Generating Procedures and
Resultados: O Potection Fencing Device – PFD® trata- Risk of Transmission of Acute Respiratory Infections
-se de um kit de barreira para tubo endotraqueal com to Healthcare Workers: A Systematic Review. PLoS
tampa vedante acoplado a clamp para o manejo avan- ONE, 7(4), e35797. doi:10.1371/journal.pone.0035797.
çado das vias aéreas. Possui registro de pedido de inven-
6. Brewster, D. J., Chrimes, N., Do, T. B., Fraser, K.,
ção sob o número BR 10 2020 010672 4, e seu nome está
Groombridge, C. J., Higgs, A. Gatward, J. J. (2020).
registrado com o pedido número 920053920, ambos
Consensus statement: Safe Airway Society principles
no Instituto Nacional da Propriedade Industrial - INPI.
of airway management and tracheal intubation
É formado pelos seguintes componentes:
specific to the COVID ‐19 adult patient group.
Medical Journal of
Dispositivo de vedação: composto de material flexível,
com formato circunferencial, possui um orifício virtual 7. Australia. doi:10.5694/mja2.50598
central, correspondente à uma fragilidade do material
8. Li, W., Huang, J., Guo, X., Zhao, J., & Mandell, M. S. (2020).
nessa região, para a passagem do fio-guia; 2. Clamp: per-
Anesthesia Management and Perioperative Infection
mite o “clampemanento” atraumático do tubo, possibili-
Control in Patients With the Novel Coronavirus.
tando a vedação de até 100% da sua luz quando em uso.
Journal of Cardiothoracic and Vascular

Conclusões: Com o potencial de criar hábitos, modifi- 9. Anesthesia. doi:10.1053/j.jvca.2020.03.035


car protocolos, ou até mesmo influenciar na maneira
10. Weber DJ, Rutala WA, Schaffner W (2010) Lessons
que hoje são produzidos os tubos endotraqueais, o PFD®
learned: protection of healthcare workers from
é um produto inovador e original, desenvolvido para
infectious disease risks. Crit Care Med 38: S306–S314.
aumentar a segurança do profissional médico ao risco
de contaminação por aerossol e gotículas durante intu- 11. Huang C, Wang Y, Li X, et al. Clinical features of
bação endotraqueal. patients infected with 2019 novel coronavirus in
Wuhan, China. Lancet 2020; 395:497e506.
Palavras-chave: “COVID-19”; “vias aéreas”;
12. Zhu N, Zhang D, Wang W, et al. A novel coronavirus
“intubação endotraqueal”; “dispositivo de segurança”;
from patients with pneumonia in China, 2019. N Engl J
“emergência”.
Med 2020; 382:727–733.

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Annals of Emergency Medicine (2020), doi: https://doi.
14. Liu, Y. et al. Aerodynamic analysis of SARS-CoV-2 in
org/10.1016/ j. annemergmed.2020.04.004.
two Wuhan hospitals. Nature https://doi.org/10.1038/
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Emerg Med Clin N Am 36 (2018) 61–84 https://doi.
org/10.1016/j.emc.2017.08.006.

101
Resumos

15. Dost, B., Koksal, E., Terzi, Ö., Bilgin, S., Ustun, Y. B., & 25. Dost, B., Koksal, E., Terzi, Ö., Bilgin, S., Ustun, Y. B., &
Arslan, H. N. (2020). Attitudes of Anesthesiology Arslan, H. N. (2020). Attitudes of Anesthesiology
Specialists and Residents Toward Patients Specialists and Residents Toward Patients
Infected with the Novel Coronavirus (COVID-19): Infected with the Novel Coronavirus (COVID-19):
A National Survey Study. Surgical Infections. A National Survey Study. Surgical Infections.
doi:10.1089/sur.2020.097 SURGICAL INFECTIONS Volume 21, Number X, 2020.
doi:10.1089/sur.2020.097
16. World Health Organization. Summary of probable
SARS cases with onset of illness from 1 November 26. Protocolo de manejo clínico da Covid-19 na Atenção
2002 to 31 July 2003. www.who.int/csr/sars/country/ Especializada [recurso eletrônico] / Ministério da
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20. Mehra, M. R., Desai, S. S., Kuy, S., Henry, T. D., & Patel, the airway in patients with COVID-19 Guidelines
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College of Anaesthetists. Anaesthesia 2020.
21. Ruan Q, Yang K, Wang W, Jiang L, Song J. Clinical
doi:10.1111/anae.15054.
predictors of mortality due to COVID-19 based
on an analysis of data of 150 patients from Wuhan, 29. Editorial. COVID-19: protecting health-care workers.
China. Intensive Care Med 2020 March 3 (Epub The Lancet, Vol 395 March 21, 2020
ahead of print).

22. Shi S, Qin M, Shen B, et al. Association of cardiac injury


with mortality in hospitalized patients with COVID-19
in Wuhan, China. JAMA Cardiol 2020 March 25 (Epub
ahead of print).

23. Guo T, Fan Y, Chen M, et al. Cardiovascular implications


of fatal outcomes of patients with coronavirus disease
2019 (COVID-19). JAMA Cardiol 2020 March 27 (Epub
ahead of print).

24. Arentz M, Yim E, Klaff L, et al. Characteristics and


outcomes of 21 critically ill patients with COVID-19
in Washington State. JAMA 2020 March 19 (Epub
ahead of print);

102
Resumos

O uso de metodologias
ativas como estratégia
de inovação no ensino à
saúde de escolas públicas
e privadas em uma cidade
no interior de Minas
Gerais: Relato
de experiência
Assista a
apresentação

Apresentado por
Rafael Maiolini

Autores: Rafael Maiolini1, Rodrigo


Petrim Cruz¹, Thaissa Aline
Introdução: O uso de metodologias ativas, na busca pela substituição Ribeiro¹, Raissa Monteiro Silva¹,
do ensino tradicional, aponta a importância de focar na aprendizagem Izabela Silva Brito¹, Suélen Ribeiro
do aluno, através do envolvimento, da motivação e do diálogo, ganhando Miranda Pontes Duarte2
cada vez mais visibilidade em graduações. Diante disso e conhecendo seus
benefícios, tornou-se possível a aplicação dessas estratégias como forma
de tecnologia e inovação para a saúde em escolas de nível fundamental
e médio, essas que ainda persistem em metodologias tradicionais, fazendo
uso de aulas expositivas, em que o aluno é coadjuvante no processo de ensi-
no-aprendizagem. Objetivos: Relatar a experiência dos acadêmicos de medi-
cina no uso de metodologias ativas como estratégia de inovação no ensino
à saúde. Métodos: Proveniente do projeto de extensão “MED Educa”, desen-
volvido no ano de 2018, vinculado à Faculdade de Medicina de Itajubá (FMIt),
1. Academic of the Medical School
a orientadora e os acadêmicos envolvidos trabalharam com alunos de ensino of Itajubá, Av. Renó Júnior 368 –
fundamental e médio de escolas públicas e privadas da cidade de Itajubá/ Bairro: São Vicente | CEP 37502-
MG com diversos temas relacionados à saúde, tais como: obesidade infantil, 138 | Itajubá – MG, Brasil.
bullying, vacinação, infecções sexualmente transmissíveis, depressão e sui-
2. Professor of the Medical School
cídio. Para isso, foram utilizadas metodologias ativas, aqui caracterizadas of Itajubá, Av. Renó Júnior 368 –
por: aplicação de questionários, desenvolvimento de dinâmicas, jogos, desa- Bairro: São Vicente | CEP 37502-
fios e rodas de conversa. Resultados: Ao todo, foram atingidos 606 alunos, 138 | Itajubá – MG, Brasil.
e, diante dessa alteração no método de ensino-aprendizagem, foi possível

103
Resumos

identificar crianças e adolescentes que passavam por 3. PAIVA, José Hícaro Hellano Gonçalves Lima; BARROS,
problemas relacionados aos temas abordados, como Levi Coelho Maia; CUNHA, Samuel Frota; et al. O Uso
por exemplo casos de depressão e/ou bullying. Com isso, da Estratégia Gameficação na Educação Médica.
os acadêmicos puderam atuar como agentes multipli- Revista Brasileira de Educação Médica, v. 43, n. 1,
cadores, orientando esses indivíduos na procura de tra- p. 147–156, 2019. Disponível em: http://www.scielo.
tamento juntamente aos órgãos públicos competentes. br/pdf/rbem/v43n1/1981-5271-rbem-43-1-0147.pdf.
Por fim, um outro resultado importante foi a parceria Acesso em: 18.mar. 2019.
firmada entre o projeto com a Prefeitura Municipal
4. Cavaca, SD; Millioreli CR; Conti MFF; dos Santos VN;
de Itajubá para 2019, em que os acadêmicos trabalha-
Júnior AC; Emerich TB; Cavaca AG. Observatório de
rão com a Estratégia de Saúde da Família (ESF) através
Saúde na Mídia – Regional Espírito Santo: relato de
do Programa de Saúde na Escola (PSE). Conclusão: Em
uma experiência interdisciplinar em Saúde Coletiva.
virtude do protagonismo desempenhado pelos alunos,
Rev. Bras. Pesq. Saúde, Vitória, 20(2): 149-156, abr-jun,
conclui-se que a aplicação dessas metodologias, além
2018. Disponível em: https://pesquisa.bvsalud.org/
de conferir maior adesão dos estudantes, possibilita
portal/resource/pt/biblio-912331.
maior lucidez a respeito dos temas. Além disso, o projeto
se mostra relevante à sociedade, uma vez que a orien- 5. Ribeiro RM; Simião LG; Sousa MDC; Maneo PBM. A
tação realizada pelos acadêmicos, conforme os princí- prática de um projeto de extensão e sua contribuição
pios básicos do Sistema Único de Saúde (SUS), possibilita para a formação inicial do licenciando em matemática.
a prevenção de doenças. v. 2 n. 1 (2017): Revista Compartilhar. Disponível em:
https://ojs.ifsp.edu.br/index.php/compartilhar/
Palavras-chave: Extensão Comunitária; Educação article/view/637.
para a Saúde; Assistência à Saúde, Gestão de Ciência,
6. De Arruda MP. Extensão Comunitária: um caminho
Tecnologia e Inovação em Saúde, Metodologia.
para a formação médica. Lages, SC. ACM arq. catarin.
med ; 38(4)out.-dez. 2009.. Associação Médica
R E F E R ÊN C I AS:
Brasileira – AMB. Disponível em: http://www.acm.org.
br/revista/pdf/artigos/765.pdf.
1. ANDRADE, Luciana Dantas Farias de; et al.
Promovendo Ações Educativas sobre Sífilis Entre 7. Leandro Iuamoto, Mauro Oide Junior, Jéssica
Estudantes de uma Escola Pública: Relato de Nakayama, Regina Shiotuki, Juliana Kato, Renato
Experiência. Revista Brasileira de Ciências da Saúde, Kurebayashi, et al. Extensão Médica Acadêmica: um
[s.l.], v. 18, n. 2, p.157-160, 2014. Portal de Periodicos projeto da Faculdade de Medicina da Universidade
UFPB. http://dx.doi.org/10.4034/rbcs.2014.18.02.10. de São Paulo para treinamento clínico e humanização
Disponível em: http://www.periodicos.ufpb.br/index. do cuidado em saúde de alunos da medicina, nutrição
php/rbcs/article/viewFile/15289/12921. Acesso e fisioterapia. Rev Med (São Paulo) [Internet]. 18 de
em: 18 mar. 2019. setembro de 2012 [citado 15 de julho de 2020];91(3).
Disponível em: http://www.revistas.usp.br/revistadc/
2. MORÁN, José; SOUZA, Carlos Alberto de; MORALES,
article/view/58982.
Ofelia Elisa Torres. Convergências midiáticas,
educação e cidadania: aproximações jovens: 8. Key Utsunomiya, Elizabeth Ferreira, Amanda Oliveira,
Mudando a educação com metodologias ativas. 2. Henrique Arai, Maria Aparecida Basile. MadAlegria
ed. Ponta Grossa: Ebook, 2015. 180 p. Disponível – Palhaços de hospital: proposta multidisciplinar
em: http://www2.eca.usp.br/moran/wp-content/ de humanização em saúde. Rev Med (São Paulo)
uploads/2013/12/mudando_moran.pdf. Acesso [Internet]. 18 de setembro de 2012 [citado 15 de julho de
em: 18 mar. 2019. 2020];91(3). Disponível em: http://www.revistas.usp.br/
revistadc/article/view/58984.

9. Martins M. Participação do Projeto de Extensão


SaBuComu na Formação de Graduandos da Área da
Saúde. Rev bras ciênc Saúde. 2015;19(4):285–90.

104
OusodemetodologiasativascomoestratégiadeinovaçãonoensinoàsaúdedeescolaspúblicaseprivadasemumacidadenointeriordeMinasGerais:Relatodeexperiência

10. Belém FJM et al. PROJETO DE EXTENSÃO act as multiplier agents, guiding these individuals on
UNIVERSITÁRIA “RESPIRE BEM E CRESÇA seeking treatment to competent public bodies. Finally,
MELHOR”: RESULTADOS DA AÇÃO. Arq. Catarin another result important was the partnership signed
Med. 2017 out-dez; 46(4):50-61. Disponível em: http:// between the project and the City Hall of Itajubá for the
www.acm.org.br/acm/seer/index.php/arquivos/ year of 2019, in which academics will work with the
article/view/195/204. Family Health Strategy (Estratégia Saúde da Família, ESF)
through the School Health Program (Programa Saúde
na Escola, PSE). Conclusion: Due to the protagonism
played by the students, it is concluded that the appli-
cation of such methodologies, in addition to granting
greater adherence from student, provides more knowle-
dge regarding the topics studied. Additionally, the pro-
ject proves relevant to the society, since the orientation
The use of active methodologies as a strategy of made by the academics, in agreement with the basic
innovation in school about health education at principles of the Sistema Único de Saúde (SUS), enables
school an interior city from Minas Gerais: Experience the prevention of diseases.
Report
Introduction: The use of active methodologies, on the Keywords: Community Extension, Health Education,
search for the substitution of traditional teaching, Health Care, Health Sciences, Technology, and
points to the importance of focusing on student lear- Inovation Management, Methodology.
ning through involvement, motivation and dialogue,
gaining more visibility in the educational context of REFERENCES:
graduations. Based on that and knowing the benefits,
it became possible to apply the strategies as a form of 1. ANDRADE, Luciana Dantas Farias de; et al.
technology and health innovation at elementary and Promovendo Ações Educativas sobre Sífilis Entre
high schools, which still make use traditional methodo- Estudantes de uma Escola Pública: Relato de
logies such as lecturing, in which the student is a co-ad- Experiência. Revista Brasileira de Ciências da Saúde,
jutant on the teaching-learning process. Objectives: To [s.l.], v. 18, n. 2, p.157-160, 2014. Portal de Periodicos
report from the perspective of medical students the UFPB. http://dx.doi.org/10.4034/rbcs.2014.18.02.10.
experience gathered in the use of active methodolo- Disponível em: http://www.periodicos.ufpb.br/index.
gies as an strategy of innovation on health education. php/rbcs/article/viewFile/15289/12921. Acesso
Methods: Those used in the MEDEduca program, an em: 18 mar. 2019.
extension project developed in 2018 in association
2. MORÁN, José; SOUZA, Carlos Alberto de; MORALES,
with Faculdade de Medicina de Itajubá (FMIt), the cou-
Ofelia Elisa Torres. Convergências midiáticas,
nselor and academics involved with project developed
educação e cidadania: aproximações jovens:
dynamics activities with elementary and high school
Mudando a educação com metodologias ativas. 2.
students from public and private schools in Itajubá /
ed. Ponta Grossa: Ebook, 2015. 180 p. Disponível
MG on several health-related topics such as: childhood
em: http://www2.eca.usp.br/moran/wp-content/
obesity, bullying, vaccination, sexually transmitted
uploads/2013/12/mudando_moran.pdf. Acesso
infections, depression and suicide. For this, it was used
em: 18 mar. 2019.
active methodologies, characterized by: application
of questionnaires, development of dynamics, games, 3. PAIVA, José Hícaro Hellano Gonçalves Lima; BARROS,
challenges and round table. Results: At total, 606 stu- Levi Coelho Maia; CUNHA, Samuel Frota; et al. O Uso
dents were reached, and, faced with this change in the da Estratégia Gameficação na Educação Médica.
teaching-learning method, it was possible to identify, Revista Brasileira de Educação Médica, v. 43, n. 1,
with greater ease, children and teenagers who had pro- p. 147–156, 2019. Disponível em: http://www.scielo.
blems related topics, such as isolated cases of depres- br/pdf/rbem/v43n1/1981-5271-rbem-43-1-0147.pdf.
sion and / or bullying. Thus, the academics were able to Acesso em: 18.mar. 2019.

105
Resumos

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para a formação inicial do licenciando em matemática.
v. 2 n. 1 (2017): Revista Compartilhar. Disponível em:
https://ojs.ifsp.edu.br/index.php/compartilhar/
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a formação médica. Lages, SC. ACM arq. catarin. med
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Nakayama, Regina Shiotuki, Juliana Kato, Renato
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projeto da Faculdade de Medicina da Universidade
de São Paulo para treinamento clínico e humanização
do cuidado em saúde de alunos da medicina, nutrição
e fisioterapia. Rev Med (São Paulo) [Internet]. 18 de
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de humanização em saúde. Rev Med (São Paulo)
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9. Martins M. Participação do Projeto de Extensão


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10. Belém FJM et al. PROJETO DE EXTENSÃO


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106
Resumos

Análise comparativa
entre a Bahia e o Brasil
quanto ao comportamento
da pandemia da
Covid-19 entre março
e junho de 2020

Assista a
apresentação

Apresentado por
Leonardo Oliveira

Autores: Leonardo Oliveira,


Mateus Ribeiro, Pedro Henrique
I N T R O DU ÇÃO

S
Barbosa Ribeiro.

egundo a OMS a COVID-19 é uma doença causa pelo SARS-CoV-2


que tem um quadro clínico variante entre sintomas respirató-
rios leves a quadros respiratórios graves onde 20% dos casos
requer atendimento hospitalar e aproximadamente 5% pre-
cisa de suporte ventilatório, essa necessidade de atendimento
hospitalar e suporte ventilatório para alguns pacientes leva a necessidade
do estado tomar medidas como implementação de leitos de terapia intensiva
e reforça a importância de cuidados preventivos preconizados pelo minis-
tério da saúde e as secretárias de saúde estaduais. O presente trabalho visa
comparar o comportamento da pandemia na Brasil e no estado da Bahia,
com isso podemos avaliar o impacto da doença para a medicina da Bahia
com relação ao Brasil.

OB J ET I VO

Comparar o número de casos, o número de óbitos, a taxa de incidência


e a taxa de mortalidade entre o Brasil e a Bahia e analisar o comportamento
da pandemia.

107
Resumos

MAT E R I A I S E M É TODOS R E S U LTA D O S

Essa análise descritiva é um estudo observacional, agre- A análise mostra a Bahia com coeficientes melhores
gado de corte transversal que compara a Bahia com quando comparada com o Brasil como um todo, tendo
as cinco regiões do Brasil, bem como com o próprio cerca de 20% a menos de incidência e 49% a menos
país, no que tange ao comportamento da pandemia de mortalidade.
de COVID-19 entre 27/02/2020 e 13/07/2020. O estado baiano ainda apresentou números melho-
Para levantar hipóteses sobre a eficiência das medi- res que as regiões Norte, Nordeste, Sudeste e Centro-
das de controle contra a SARS-COV-2 na Bahia, foram Oeste na proporção de 100.000 habitantes, mostrando
comparados os coeficientes de incidência e mortalidade estar com coeficientes piores apenas quando compa-
do estado com os dos estados brasileiros e do Brasil. rada à região sul, onde a comparação mostra a Bahia
Tais dados foram obtidos via o painel geral do Governo com incidência cerca de 59% maior e mortalidade 51%
Federal através da plataforma digital: covid.saude.gov.br, maior que as do sul do país.
assim como pela análise dos Boletins Epidemiológicos
disponibilizados pelo Ministério da Saúde. Os dados
foram tabulados e comparados pelo Microsoft Excel 2010.
A análise dos dados foi iniciada em 14/07/20.
O recorte temporal do estudo foi determinado a par-
tir do critério: primeiro relato da COVID 19 no Brasil
e última atualização dos dados nas plataformas oficiais
do Governo Federal (13/07/2020 ás 18:00 horas).

CASOS OBITOS CI CM

BAHIA 106.891 2.535 718,7 17

NORTE 323.717 10.552 1756,4 57,3

NORDESTE 635.612 23.610 1113,7 41,4

SUL 127.053 2.601 423,8 8,7

SUDESTES 647.352 33.036 732,5 37,4

CENTRO-OESTE 151.233 3.034 928 18,6

BRASIL 1.884.967 72.833 897 34,7

Tabela 1: Dados da COVID 19 entre 27 de fevereiro e


13 de julho de 2020. CI (coeficiente de incidência), CM
(coeficiente de mortalidade). Fonte: covid.saude.gov.br

108
Análise comparativa entre a Bahia e o Brasil quanto ao comportamento da pandemia da Covid-19 entre março e junho de 2020

C O N C L U SÃO

Os dados e hipóteses levantadas na presente pesquisa


compõem diversos fatores que contribuíram direta-
mente no perfil da medicina e suas adaptações, em que
envolvem desde ferramentas e tecnologias, até gestão
destes para o enfretamento da pandemia de COVID-
19. Dessa forma, concomitante a exploração de dados,
as comparações realizadas, levantaram indagações
acerca do desempenho do estado da Bahia à contenção
da pandemia em relação as demais regiões brasileiras,
caracterizando o desempenho do estado como mais efi-
ciente, contrapondo-se, apenas, com a região Sul do país,
até o presente momento da pesquisa.

R E F E R ÊN C I AS

1. Corona Vírus (COVID-19): Boletim Informativo


[Internet]. Brasília-DF: Ministério da Saúde; 2020
Apr 23 [cited 2020 Jul 14]. Available from: https://
portalarquivos.saude.gov.br/images/pdf/2020/
April/27/Boletim-informativo-n---12-23042020.pdf.

2. Clinical management of COVID-19 [Internet]. [place


unknown]: WHO Global; 2020 Mar 13 [cited 2020 Jul 14].
Available from: https://www.who.int/publications/i/
item/clinical-management-of-severe-acute-
respiratory-infection-when-novel-coronavirus-(ncov)-
infection-is-suspected.

109
Resumos

Efeito do resveratrol
sobre alterações
comportamentais em
animais congenitamente
infectados por
toxoplasma gondii

Assista a
apresentação

Apresentado por
Caio Brasilio de Jesus Domingues

Autores: DOMINGUES, C.B.J. 1 (IC);


BOTTARI, N.B.1(O)
Introdução: a toxoplasmose é uma infecção causada pelo protozoário
Toxoplasma gondii, parasita intracelular obrigatório cuja transmissão ocorre
por meio da ingestão de água ou alimentos contaminados. O parasita invade
o citoplasma de qualquer célula nucleada e multiplica-se formando cistos
teciduais, que persistem, dormentes, durante anos, em especial no sistema
nervoso central. Em gestantes, a doença pode se apresentar de forma aguda
ou crônica, onde ocorre transmissão vertical do protozoário via transplacen-
tária, com maior risco no primeiro trimestre de gestação. Caso não tratada,
a toxoplasmose pode evoluir para forma congênita causando diversos pro-
blemas ao feto, como alterações de cunho oftalmológico, falha na formação
dos ventrículos cerebrais, hidro e microcefalia, transtornos de formação
do sistema vascular, morte neonatal e déficits cognitivos. Atualmente a única
forma de tratamento da neurotoxoplasmose congênita utiliza um antimi-
crobiano inespecífico. Objetivo: buscar novas alternativas terapêuticas utili-
zando um polifenol natural, o resveratrol (RSV) encontrado na casca das uvas,
vinhos e amendoins. RSV possui propriedades antioxidantes, anti-infla-
matórias e neuroprotetoras bem elucidadas Metodologia: para este estudo,
camundongos fêmeas foram infectadas com a cepa de VEG de T. gondii (oral-
mente 50 cistos/mL) (CEUA nº 9509010915). Vinte dias após o nascimento,
os recém-nascidos foram divididos em grupos (n = 8): CTL (não infectados

110
Efeito do resveratrol sobre alterações comportamentais em animais congenitamente infectados por toxoplasma gondii

e não tratados); RSV (tratado com RSV 50 mg / kg); INF R E F E R Ê N C IAS :


(infectado com T. gondii); INF + RSV (infectado e tra-
tado com RSV 50 mg / kg). Parâmetros comportamen- 1. ABBAS, K.A. Imunologia celular e molecular. 9.ed.
tais relacionados a ansiedade, memória e locomoção Elsevier, 2009,576p.
foram avaliados. Resultados: os dados comportamen-
2. BOTTARIA, N. B. Efeito do Resveratrol sobre
tais mostraram um comportamento ansiogênico em
alterações comportamentais em animais
camundongos infectados (INF; 2%) quando comparados
congenitamente infectados por toxoplasma gondii.
ao grupo controle (CN; 90%). Além disso, camundongos
2015. 96f. Monografia (Mestrado em Bioquímica
recém-nascidos infectados (INF; 20% e 15%) diminuem
toxicológica) – Universidade Federal de Santa Maria.
a memória de curto e longo prazo na tarefa de reconhe-
cimento de objetos quando comparados ao controle 3. NEVES, D.P. Parasitologia humana.13ed.
(CN; 45% e 35%). O tratamento com RSV estimulou a ati- Atheneu, 2016, 616p.
vidade exploratória de animais infectados (RSV+INF;
4. SAÚDE.GOV. Toxoplasmose: sintomas, tratamentos e
70%) quando comparados ao grupo controle (INF; 30%)
como prevenir. Disponível em: <https://saude.gov.br/
além de reparar a perda de memória 4 e 24 h após o teste
saude-de-a-z/toxoplasmose>. Acesso em: 10 jul. 2020
de reconhecimento do objeto (RSV+INF; 45% e 40%).
Conclusões: nossos dados sugerem o RSV um alvo tera- 5. SILVA,N.M et al.Toxoplasma gondii: The severity
pêutico importante, uma vez que restaurou as alterações of toxoplasmic encephalitis in C57BL/6 mice is
neurocomportamentais induzidas por T. gondii. associated with increased ALCAM and VCAM-1
expression in the central nervous system and
Palavras-chave: Resveratrol; Toxoplasmose; higher blood- brain barrier permeality. Experimental
Tratamento; Camundongos; Recém-nascido. Parasitology, V. 126, n.2, p.167-177,2010.

111
Revista SanarMed - n. 03

OS 3 MELHORES
TRABALHOS

Durante todo o processo de seleção


e apresentação dos trabalhos houve
uma avaliação pela equipe de profissionais
que acabaram por eleger os 3 melhores
trabalhos apresentados no evento.
Foram considerados para isso o trabalho
submetido, sua qualidade técnica, escrita,
apresentação no dia do evento entre
outros tópicos.
Os selecionados foram
anunciados e premiados ao final
do dia. Confira os artigos e apresentações
nas próximas páginas.

112
os 3 melhores trabalhos

Acurácia dos
testes clínicos e da
ultrassonografia do
ombro no diagnóstico
das lesões do tendão do
supra-espinhal1
1. Universidade Federal de São Paulo, Escola Paulista
de Medicina - UNIFESP, Departamento de Ortopedia e
Traumatologia, Projeto de Iniciação Científica, Processo
2018 / 02739-7, Período de vigência: 01/05/2018 a
30/04/2019, Relatório parcial, Período 10/10/2019 a
30/04/2020, São Paulo, 2020
Assista a
apresentação

Apresentado por
Cyntia Naomi Hirose

Autores: Dr. Marcel Jun Sugawara


Tamaoki1, Cyntia Naomi Hirose 2
C O N F L I TO DE I NT E RE S S E :

Os autores declaram não haver conflito de interesse relacionado a esse


estudo.

RE S U M O

Introdução: A realização dos testes clínicos é importante para o diagnóstico


de lesões do manguito rotador; no entanto, atualmente há um aumento
abusivo das solicitações de exames de imagem do ombro, especialmente
o ultrassom e a ressonância magnética, para pacientes com queixa de dores
no ombro. Objetivo: avaliar a acurácia destes testes clínicos e da ultrasso-
nografia do ombro no diagnóstico das lesões do tendão do supra-espinal.
Métodos: trata-se de um estudo de acurácia prospectivo de onze* testes clí-
nicos do ombro, em pacientes de ambos os sexos, acima de 18 anos, com
queixa de dor no ombro há pelo menos 1 mês, e a ultrassonografia, com- 1. Orientador Responsável,
parados com a ressonância magnética do ombro (exame de referência). marceltamaoki@gmail.com
Os testes realizados foram: o teste de Jobe (Empty Can Test), Full Can test, 2. Aluna da graduação, naomi.
teste de Patte, Drop arm test, teste da Rotação Externa Contra Resistência hirose83@gmail.com
(Resistes Lateral Test), teste de Hawkins, teste de Yocum, sinal de Neer

113
os 3 melhores trabalhos

(Neer’s sign), teste de Speed, Arco doloroso (Painful Arc público de saúde de países em desenvolvimento, custo
test) e teste da Adução Forçada (Cross Body Adduction elevado, com uma aceitação limitada pelos pacientes;
Test); após isso, os pacientes foram submetidos aos exa- no entanto, é um exame não invasivo, não é examina-
mes de imagem do ombro. Foram calculados a sensibili- dor dependente, permite avaliar claramente o tama-
dade, a especificidade, o valor preditivo positivo, o valor nho e a localização da lesão, a degeneração gordurosa
preditivo negativo, acurácia e razão de verossimilhança e lesões associadas, como a tendinopatia do cabo longo
desses testes. Resultados: Para as roturas, o teste de Jobe do bíceps e lesões labrais, além de possuir como carac-
apresentou maior sensibilidade (81,4%), e o teste Drop terísticas alta acurácia, sensibilidade e especificidade
Arm, maior especificidade (97,8%). A ultrassonografia (MAGEE &WILLIAMS, 2006; TAWFIK, EL-MORSY, BADRAN,
apresentou baixa sensibilidade (45,2%) e alta especi- 2014; VAN KAMPEN et al., 2014).
ficidade (92,3%) para as roturas. Conclusão: O exame O USG e a RM do ombro apresentam acurácia seme-
físico apresentou importantes valores diagnósticos para lhantes para o diagnóstico da ruptura total do manguito
as roturas do supra-espinal, com maiores resultados rotador, e são usados como exame de referência para
de sensibilidade e especificidade do que a ultrassono- o diagnóstico destas lesões; no entanto, há poucos estu-
grafia. O teste de Jobe foi o mais sensível, e os mais espe- dos específicos para a lesão do tendão do supra-espinal,
cífico foi o teste Drop arm. e destes, muitos apresentam baixa qualidade, falhas
metodológicas, falta de padronização dos testes clíni-
*Os testes Champagne Toast e Uppercut foram retira- cos, pequeno número de participantes, e muitos não
dos do estudo devido a impossibilidade de aplicação são estudos de acurácia prospectivos ou não são claros
do teste em muitos dos pacientes. O motivo da exclusão quanto ao tempo entre os testes clínicos e os exames
destes testes foi a dor referida pelos pacientes, inviabili- de imagem (LENZA et al., 2013).
zando a continuidade na aplicação dos mesmos. Tanto o USG quanto a RM do ombro têm sido uti-
lizados em excedência pelos ortopedistas, sendo mui-
1. I N T R O DU ÇÃO E JUST IF ICAT IVA tas vezes superindicados, o que aumenta os custos

A
e a demora para a indicação terapêutica para os pacien-
s lesões do manguito rotador (LMR) são tes. Há poucos estudos na literatura sobre dados epide-
a principal causa de dor no ombro em miológicos e custos para a saúde com exames de imagem
pacientes adultos VECCHIO et al. (1995) do ombro; em um estudo realizado nos Estados Unidos,
e LEWIS (2009); e o tendão do supra-espinal foram gastos mais de 400.000,00 dólares em um ano
o mais acometido. E, diversos testes clínicos com a realização de exames de RM do ombro (DINNES
do ombro são realizados rotineiramente para o diagnós- et al., 2003).
tico da lesão deste tendão (LASBLEIZ et al., 2014). Assim, objetiva-se avaliar a acurácia dos testes
A solicitação de exames de imagem complementa clínicos do ombro rotineiramente utilizados pelos
o exame clínico, e auxilia na confirmação diagnós- ortopedistas, para o diagnóstico de lesão do tendão
tica e programação terapêutica; no entanto, houve do supra-espinal, o que poderia dispensar a reali-
um aumento abusivo da solicitação de exames comple- zação destes exames de imagem, que muitas vezes
mentares do ombro, que muitas vezes, gastam tempo são de acesso limitado, caros e dispendiosos para
para serem realizados, são caros, e de acesso restrito a população.
para a população.
A ultrassonografia (USG) do ombro é um exame roti- 2 . O B J E T I VO S
neiramente utilizada na prática clínica; não invasivo,
de fácil acesso para os pacientes (tanto em serviços Determinar a sensibilidade e especificidade de 11 testes
de saúde primários quanto terciários), de baixo custo, clínicos e da ultrassonografia do ombro no diagnóstico
com alta aceitabilidade e que permite excelente visu- de lesão do tendão do supra-espinal usando o exame
alização dos tendões do manguito rotador (ALSHAWI, de ressonância magnética como referência.
BADGE, BUNKER, 2008).
A ressonância magnética (RM) do ombro é um exame
de acesso mais restrito, principalmente no sistema

114
Acurácia dos testes clínicos e da ultrassonografia do ombro no diagnóstico das lesões do tendão do supra-espinhal

3 . M AT E R I A L E MÉ TODOS 3.2 Local de trabalho


Ambulatório de Ombro e Cotovelo do Hospital São Paulo,
3.1 Desenho do estudo: Universidade Federal de São Paulo.
Trata-se de um estudo de acurácia prospectivo, com
pacientes de ambos os gêneros, consecutivos provenien- 3.3 Critérios de inclusão no estudo
tes de Ambulatório de Ombro e Cotovelo do Hospital São Pacientes de ambos os gêneros, acima de 18 anos, com
Paulo, no período de 2018 a 2019, que foram submetidos queixa de dor no ombro (segundo ilustração em anexo
aos exames clínicos e aos exames de imagem de USG – figura 1) com pelo menos 1 mês de duração.
e RM do ombro. O projeto de pesquisa foi aprovado pelo
Comitê de Ética e Pesquisa da UNIFESP, nº 1661/2016.
Este projeto de Iniciação Científica faz parte do pro-
jeto de doutorado do aluno João Alberto Yazigi Júnior,
regularmente matriculado no programa de pós gra-
duação em cirurgia translacional da Escola Paulista
de Medicina – Unifesp e que concluiu e defendeu a sua
tese em junho de 2020, obtendo o título de doutor.
Na primeira consulta todos os pacientes aderiram
ao Termo de Livre Consentimento. Os envolvidos foram
orientados sobre o prognóstico, possíveis complicações
e os objetivos do trabalho.

Figura 1: Localização da dor no ombro

115
os 3 melhores trabalhos

3.4 Critérios de não inclusão


Perda do movimento passivo do ombro (osteoartrose
grave, capsulite adesiva); déficit sensitivo e motor
do membro acometido; fraturas, luxações, lesões neo-
plásicas ou cirurgias prévias no membro acometido.

3.5 Critérios de exclusão


Alterações cognitivas do paciente que impeça compre-
ensão do tratamento proposto; falta a retorno ambu-
latorial; exame de imagem com mais de três meses
da avaliação clínica do paciente; evento traumático
ou inesperado no ombro acometido entre a RM, o USG
e o exame físico.
Os pacientes foram recrutados consecutivamente
dos ambulatórios de Ombro e Cotovelo do Hospital;
podendo ser encaminhados de outros profissionais
e de uma central reguladora, em que o paciente marca
diretamente a consulta.

3.6 Testes Clínicos


Na primeira consulta, todos os pacientes foram subme-
tidos aos seguintes testes clínicos por avaliadores espe-
cialistas em Cirurgia do Ombro e Cotovelo, com mais
de cinco anos de experiência, treinados e familiarizados
e treinados com os testes, diferentes do que avaliaram
as imagens. As manobras foram realizadas seguindo
uma ordem aleatória; e após a realização da manobra
de Jobe, se positiva para dor, os pacientes assinalaram
a Escala Visual Analógica (EVA) de Dor. Também foram
avaliados a idade, gênero, tempo dos sintomas, latera-
lidade, dominância do membro acometido, e o arco
de movimento ativo do ombro (elevação, rotação interna
e externa).
Os testes específicos avaliados foram:

1. Teste de Jobe / Empty can test: Teste realizado


com uma rotação interna do ombro (polegar
apontando para baixo), elevação de 90°, e paciente
faz uma resistência isométrica a força aplicada
pelo examinador (figura 2). O teste é positivo se
dor ou perda de força ao realizar a manobra para
avaliar o supra-espinal (JOBE & MOYNES, 1982).

Figura 2: Teste de Jobe

116
Acurácia dos testes clínicos e da ultrassonografia do ombro no diagnóstico das lesões do tendão do supra-espinhal

Foi aplicada a EVA para dor no ombro (figura 13) se


o teste de Jobe for positivo.
O paciente assinalou na linha de EVA a dor que
estava sentindo no momento do teste.
Figura 13

2. Teste Full can: Teste realizado com uma rotação 3. Teste de Patte: O braço é posicionado passivamente
neutra do ombro (polegar apontando para cima), pelo examinador, colocando o ombro em abdução
elevação de 90°, e o paciente faz uma resistência de 90º e o cotovelo fletido 90°. O paciente faz
isométrica a força aplicada pelo examinador uma rotação externa ativa contra a resistência
(Figura 3). O teste é positivo se dor ou perda imposta pelo examinador (figura 4). O teste
de força ao realizar a manobra para avaliar é positivo se houver dor ou perda de força
o supra-espinal (KELLY, KADRMAS, SPEER, 1996). ao realizar a manobra (PATTE & GERBER, 1987).

Figura 3: Teste de Jobe Figura 4: Teste de Patte

117
os 3 melhores trabalhos

4. Drop arm test: O teste não foi claramente


descrito na sua fonte primária. Por convenção,
o teste é realizado da seguinte maneira: o braço
é colocado passivamente pelo examinador em
90º de abdução, retirado o apoio e o paciente
abaixava o braço ativamente no plano coronal
(figura 5). O teste foi considerado positivo se braço
caísse abruptamente ou o paciente apresentava
incapacidade para a sustentação do braço
(CODMAN, 1934; HANCHARD et al., 2013).

Figura 5: Teste drop arm.

118
Acurácia dos testes clínicos e da ultrassonografia do ombro no diagnóstico das lesões do tendão do supra-espinhal

5. Teste da rotação externa contra resistência 6. Teste de Hawkins-Kennedy: O ombro é colocado


(resisted lateral test): O paciente faz uma rotação a 90º de flexão e rodado internamente pelo
externa contra resistência com o ombro examinador até o paciente relatar dor ou até
a 0º de abdução, com o braço ao lado do tronco a rotação da escápula observada pelo examinador
e o cotovelo fletido 90º (figura 6). O teste é positivo (figura 7). O teste é positivo se dor durante esta
se dor ou perda de força ao realizar a manobra manobra (Hawkins & Kennedy, 1980).
(LEROUX et al., 1995).

Figura 6: Testes da rotação externa contra resistência Figura 7: Teste de Hawkins-Kennedy

119
os 3 melhores trabalhos

7. Teste de Yocum: O paciente coloca a mão 8. Sinal de Neer: A escápula é estabilizada pelo
do membro acometido no ombro contra lateral examinador e o ombro é fletido passivamente até
e solicita-se para o mesmo elevar o cotovelo sem o paciente relatar dor ou até a flexão completa
elevar o ombro (Figura 8). O teste é positivo se dor (figura 9).
durante a manobra (NAREDO et al., 2002). O teste é positivo se dor anterior ou lateral
no ombro, tipicamente entre 900 e 1400 de flexão
(NEER, 1972).

Figura 8: Teste de Yokum Figura 9: Sinal de Neer

120
Acurácia dos testes clínicos e da ultrassonografia do ombro no diagnóstico das lesões do tendão do supra-espinhal

9. Teste de Speed: O ombro é colocado em 10. Arco doloroso: O paciente eleva ativamente
90º de flexão, com o cotovelo em extensão o ombro no plano da escápula até a elevação
e o antebraço supinado. O paciente faz uma força completa e abaixa o braço no mesmo plano (Figura
para flexão do ombro contra a resistência aplicada 11). O teste é considerado positivo se dor entre 60º
no punho do paciente (figura 10). O teste é positivo e 120º de elevação (CYRIAX, 1982; PARK et al., 2005).
se dor localizada do sulco biciptal (CRENSHAL
&KILGORE,1966).

Figura 10: Teste de Speed Figura 11: Arco de movimento doloroso do ombro

121
os 3 melhores trabalhos

11. Teste da adução passiva (cross body adduction 3.7 Ultrassonografia


test) : O braço é colocado a 90º de flexão e então A ultrassonografia do ombro foi realizada após os tes-
realizada uma adução passiva pelo examinador tes clínicos, por radiologistas, mascarados com relação
(Figura 12). O teste foi considerado positivo se dor aos dados epidemiológicos e testes clínicos dos pacien-
ao realizar a manobra (CYRIAX, 1982; HANCHARD et tes. Foram utilizados aparelhos com transdutores 7,5
al., 2013). e 10 mHz, e o tendão supra-espinal foi avaliado nos cor-
tes sagital, coronal e axial. As lesões do supra-espinal
foram classificadas em: tendinopatia, rotura parcial
e rotura total.

3.8 Ressonância magnética


A ressonância magnética do ombro foi realizada após
os testes clínicos, em aparelhos de 1,5 e 3,0 Tesla, com
bobina específica para ombro, cortes de 4 a 5 mm
de espessura, ponderação T1 e T2, com e sem supressão
de gordura, nos cortes coronal oblíquo, sagital e axial.
As lesões do tendão supra-espinal foram classificadas
em: tendinopatia, rotura parcial e rotura total; as roturas
parciais foram subdivididas em relação a localização
anatômica: bursal, articular, intra substancial; e foram
medidas a retração (em centímetro) no maior eixo
do plano coronal oblíquo para as roturas totais. Além
disso, foram avaliadas a frequência das lesões associa-
das: roturas do infra-espinal (parcial e total) e do subes-
capular (parcial e total), lesões da cabeça longa do bíceps
(tendinopatia, rotura ou luxação), e degeneração da arti-
culação acromioclavicular. As imagens da RM do ombro
de cada paciente foram avaliadas por dois radiologis-
tas, mascarados em relação aos testes clínicos e exame
de ultrassonografia do ombro. A RM apresenta alta sen-
sibilidade e especificidade para as roturas do manguito
rotador e é uma das principais modalidades de imagem
para a detecção dessas lesões e, portanto, foi escolhida
como exame de referência (LIU et al., 2020).

3.9 Cálculo amostral


A população alvo era de no mínimo 306 pacientes
no período estudado (fonte: secretaria dos ambulató-
Figura 12: Teste da Adução Passiva rios do Hospital São Paulo) que tinham a referida queixa,
em um ano de coleta, no seguinte local: ambulatórios
de Ombro e Cotovelo do Hospital São Paulo. Desta
forma, utilizando a fórmula mostrada abaixo para cal-
cular o tamanho amostral com um erro de 5%, temos
uma amostragem total de 77 pacientes.
Essa quantidade amostral foi definida conforme
a metodologia expressa na fórmula abaixo, onde com
base no Teorema do Limite Central e a Leis dos Grandes

122
Acurácia dos testes clínicos e da ultrassonografia do ombro no diagnóstico das lesões do tendão do supra-espinhal

Números, esse tamanho amostral garante que análises Se: a porcentagem do teste ser positivo nos pacientes
estatísticas serão fidedignas. com a lesão.
A fórmula utilizada para o cálculo amostral foi Se = a/(a+c)
a seguinte:
n0 = 1/E20, onde Es: a porcentagem do teste ser negativo nos pacientes
n0= primeira aproximação para tamanho da amostra sem a lesão.
E20 = erro amostral tolerável Es= d/(b+d)

Se a população for muito grande (digamos, mais de vinte VPP: a porcentagem da presença da lesão quando o teste
vezes o valor calculado 𝑛0), então 𝑛0 já pode ser adotado é positivo.
como tamanho da amostra (𝑛 = 𝑛0). Caso contrário é suge- VPP =a/(a+b)
rido a seguinte sugestão:
n = N×n0/N+n0 VPN: a porcentagem da ausência de lesão quando
o teste é negativo.
3.10 Forma de análise dos resultados: VPN= d/(c+d)
Após as coletas e tabulação dos dados, foram elaboradas
tabelas de dupla entrada (quadro 1) de cada teste clínico Ac: proporção dos verdadeiros positivos e negativos
isolado e da USG (index teste) em função da RM (exame na população em estudo.
de referência), e assim calculado a sensibilidade (Se), Ac= (a+d)/(a+b+c+d)
a especificidade (Es), acurácia (Ac), o valor preditivo posi-
tivo (VPP) e negativo (VPN), a razão de verossimilhança RV +: a probabilidade do teste ser positivo nos indiví-
positiva (RV +) e negativa (RV -). A sensibilidade, especifi- duos com a doença sobre aqueles que não possuem
cidade, acurácia foram apresentados com os intervalos a doença.
de confiança de 95% (IC 95%). RV + = Se/(1-Es)
RM1: ressonância magnética; USG2: ultrassonografia
RV -: a probabilidade do teste ser negativo nos indiví-
duos com a doença sobre aqueles que não possuem
a doença.
RV - = (1-Se)/Es

Quadro 1: Quadro de dupla entrada


para o cálculo estatístico

RM1

Positivo Negativo

Testes clínicos / Positivo a b a+b


USG2
Negativo c d c+d

a+c b+d a+b+c+d

123
os 3 melhores trabalhos

4 . E TA PAS DA PES QUISA, CRONOGRAM A E


P L A N O DE T R A BALHO:

As etapas da pesquisa foram dividas por mês, de acordo


com a exigência de tempo para serem cumpridas,
segundo os cronogramas no Quadro 2 e no Quadro 3.

coleta de dados (pode variar de


Elaboração do projeto levanta-
mento de dados da literatura

de avaliação de exame físico


Treinamento e padronização

Recutamento de pacientes e

Submissão de manuscrito
imagem (USG e RM)

Análise de estudo
6 a 12 meses)

Manuscrito
Estatística
Registro

Mês 1 O

Mês 2 O

Mês 3 O

Mês 4 O

Mês 5 O

Mês 6 O

Mês 7 O

Mês 8 O

Mês 9 O

Mês 10 O

Mês 11 O

Mês 12 O

Quadro 2: Cronograma O - realizado / X - a ser realizado nas etapas seguintes

124
Acurácia dos testes clínicos e da ultrassonografia do ombro no diagnóstico das lesões do tendão do supra-espinhal

Recrutamento de Estatística Análise do estudo Manuscrito Submissão de


pacientes e coleta manuscrito
de dados (pode
variar de 6 a 15
meses*)

Mês 1 O

Mês 2 O

Mês 3 O

Mês 4 O

Mês 5 O

Mês 6 O

Mês 7 O

Mês 8 O

Mês 9 O

Mês 10 O

Mês 11 O

Mês 12 O

Quadro 3: Cronograma das etapas seguintes: período de O - realizado / X - a ser realizado nas etapas seguintes
renovação da bolsa

125
os 3 melhores trabalhos

5. R ES U LTA DO S F INAIS:

5.1 Resultados finais:


Inicialmente, foram incluídos no estudo o total de 1065
pacientes, sendo excluídos 445, restando 575 pacientes
para a análise (o fluxograma detalhado está na figura
14 abaixo).
As características da amostra são:

• Sexo: 52,2% sexo masculino e 47,8% sexo feminino


• Média de idade de 50 anos
• Tempo de sintomas: 34 meses (média)
• Lateralidade: 62,7% ombro direito / 37,3%
ombro esquerdo (sendo a dominância de 63,7%
dominante e 36,3 não dominante)
Quadro 3: Cronograma das etapas
O fluxograma de participantes detalhado está está seguintes: período de renovação da
na figura 14 abaixo. bolsa

Elegíveis para o estudo Não incluídos


n = 1065 n = 332
- Cervicobraquialgia (n = 50)
- Pós operatório n = (n = 12)
- Capsulite adesiva (n = 40)
- Artrose (n = 56)
Participantes incluídos - Fratura prévia no membro avaliado (n=57)
n = 773 - Luxação glenoumeral invertida (n=17)

Excluídos
n = 33
- Não realizou os testes clínicos (n = 10)
Realizaram exame físico e USG
- Falta a consulta de retorno (n = 23)
n = 700

Excluídos
n = 46
- Não realizaram RM
Realizaram exame físico, USG e RM
n = 654
Excluídos
n = 79
- Tempo entre index teste e RM > 3 meses

Diagnóstico final n = 575


- Tendão intacto (n = 40)
- Tendinopatia (n = 191)
- Rotura parcial (n = 172)
- Rotura total (n = 172)

126
Acurácia dos testes clínicos e da ultrassonografia do ombro no diagnóstico das lesões do tendão do supra-espinhal

5.2 Tabelas
Tabelas de sensibilidade, especificidade e​acurácia calcu- Tabela 1: Diagnóstico de rotura
lados com 575 pacientes (análise final dos resultados): (parcial ou total) do supra-espinal

Testes clínicos Se Es Ac VPP VPN RV + RV – p


[IC 95%] [IC 95%] [IC 95%]

Arco doloroso 78,1% 38,1% 62% 65,2% 54% 1,26 0,57 <0,05
[73,5% a 82,2%] [32,1% a 44,5%] [58% a 66%]

D ou P 81,4% 37,7% 63,8% 66% 57,6% 1,30 0,49 <0,05


[76,9% a 85,1%] [31,7% a 44%] [59,9% a 67,7%]

D 73,1% 40,6% 57,7% 57,8% 57,6% 1,23 0,66 <0,05


[67,1% a 78,3%] [34,3% a 47,3%] [53,2% a 62,3%]

P 8,6% 95,6% 57,8% 60% 57,6% 1,95 0,95 0,33


Teste de Jobe

[4% a 17,5%] [89,2% a 98,3%] [50,1% a 65,4%]

DeP 61% 87% 70,8% 88,5% 57,6% 4,69 0,45 <0,05


[53,3% a 68,1%] [79% a 92,2%] [65,3% a 76,3%]

D ou P 75% 45% 63% 67% 54,7% 1,36 0,55 <0,05


[70,2% a 79,3%] [38,7% a 51,5%] [59% a 66,9%]

D 66,5% 48,4% 58,3% 60,6% 54,7% 1,29 0,69 <0,05


[60,6% a 72%] [41,8% a 55%] [53,8% a 62,7%]

P 6,5% 97,2% 55,3% 66,7% 54,7% 2,32 0,96 0,31


Teste full can

[3% a 13,5%] [92,1% a 99%] [48,4% a 62,2%]

DeP 48,5% 88,9% 65,1% 86,2% 54,7% 4,36 0,57 <0,05


[41,4% a 56%] [81,9% a 93,4%] [59,6% a 70,6%]

D ou P 68,6% 57,6% 64,2% 70,6% 55,2% 1,61 0,54 <0,05


[63,5% a 73,3%] [51,1% a 63,8%] [60,2% a 68,1%]

D 55,7% 61,6% 58,5% 62,1% 55,2% 1,45 0,72 <0,05


Rotação lateral contra

[49,5% a 61,8%] [54,9% a 67,8%] [54% a 63%]

P 13,6% 97,8% 57,5% 85% 55,2% 6,16 0,88 <0,05


resistência

[8,7% a 20,7%] [93,7% a 99,2%] [51,5% a 63,5%]

DeP 43,5% 91,7% 64,3% 87,4% 55,2% 5,25 0,62 <0,05


[36,6% a 50,5%] [86,1% a 95,2%] [59,2% a 69,4%]

D ou P 43,6% 74,9% 56,2% 72,1% 47,1% 1,74 0,75 <0,05


[38,5% a 48,9%] [68,9% a 80%] [52,1% a 60,2%]

D 35,8% 76,2% 53,1% 66,7% 47,1% 1,50 0,84 <0,05


[30,6% a 41,3%] [70,3% a 81,3%] [48,9% a 57,4%]
Teste de Patte

P 2% 98,9% 47,4% 66,7% 47,1% 1,77 0,99 0,69


[0,8% a 5,1%] [95,9% a 99,7%] [42,4% a 52,5%]

DeP 16,4% 98,9% 51,8% 95% 47,1% 14,3 0,84 <0,05


[12,2% a 21,7%] [95,9% a 99,7%] [47% a 56,7%]

127
os 3 melhores trabalhos

Testes clínicos Se Es Ac VPP VPN RV + RV – p


[IC 95%] [IC 95%] [IC 95%]

Teste da adução 51,9% 44,6% 48,9% 58,2% 38,4% 0,93 1,07 0,44
passiva [46,6% a 57,1%] [38,3% a 51%] [44,9% a 53%]

Teste drop arm 16% 97,8% 48,9% 91,7% 44% 7,41 0,86 <0,05
[12,5% a 20,3%] [95% a 99%] [44,9% a 53%]

Sinal de Neer 63,3% 57,6% 60,1% 68,9% 51,3% 1,49 0,64 <0,05
[58% a 68,2%] [51,1% a 63,8%] [57% a 64,9%]

Teste de Speed 47,8% 70,6% 57% 70,7% 47,7% 1,62 0,74 <0,05
[42,6% a 53,1%] [64,4% a 76,1%] [52,9% a 61%]

Teste de 64,7% 55,4% 60,1% 68,3% 51,4% 1,45 0,64 <0,05


Hawkins- [59,5% a 69,6%] [48,9% a 61,7%] [57% a 64,9%]
Kennedy

Teste de Yocum 72% 44,1% 60,8% 65,7% 51,5% 1,29 0,63 <0,05
[67% a 76,5%] [37,9% a 50,6%] [56,8% a 64,8%]

D: dor; P: perda de força; Se: sensibilidade; Es: especi-


ficidade; Ac: acurácia; VPP: valor preditivo positivo; VPN:
valor preditivo negativo; RV+: razão de verossimilhança
positivo; RV-: razão de verossimilhança negativo; IC 95%:
intervalo de confiança 95%; DOR: diagnostic odds ratio;
p < 0,05 foi considerado estatisticamente significante.

A ultrassonografia apresentou baixa sensibilidade


e alta especificidade para as roturas do supra-espinal
(Es = 92,3%, p < 0,05). Os resultados da ultrassonografia Tabela 2: Resultados da
para o diagnóstico das lesões do supra-espinal foram ultrassonografia para as lesões do
expostos na tabela 2. supra-espinal

Ultrassonografia Se Es Ac VPP VPN RV + RV – p


[IC 95%] [IC 95%] [IC 95%]

Rotura 45,2% 92,3% 65,6% 88,6% 56,1% 5,88 0,59 <0,05


[39,5% a 51,2%] [87,9% a 95,2%] [61,3% a 69,8%]

Se: sensibilidade; Es: especificidade; Ac: acurácia;


VPP: valor preditivo positivo; VPN: valor preditivo nega-
tivo; RV+: razão de verossimilhança positivo; RV-: razão
de verossimilhança negativo; IC 95%: intervalo de con-
fiança 95%

128
Acurácia dos testes clínicos e da ultrassonografia do ombro no diagnóstico das lesões do tendão do supra-espinhal

5.3 DI S CU S SÃO descritos para as lesões do infra-espinal e cabeça longa


do bíceps, com a intenção de avaliar se a combinação
Finalizada a coleta de dados, devido registro em tabela destes testes apresentaria boa acurácia diagnóstica para
e eliminados os pacientes com critérios de exclusão, as lesões do supra-espinal, assim como outros autores
obteve-se uma amostra maior do que o esperado em realizaram em estudos prévios (PARK et al., 2005; SGROI
relatório anterior, o que é muito positivo em relação et al., 2018). Porém, neste estudo não conseguimos apro-
aos resultados estatísticos obtidos. fundar esta análise.
De acordo com uma amostra de 575 pacientes (total No presente estudo não foi avaliada a reproduti-
de 1065 com exclusão de 445 pacientes), a acurácia é bilidade dos testes clínicos e dos exames de imagens;
maior para o USG (65,6%), a sensibilidade é maior para no entanto, tanto o exame físico quanto a USG e a RM
Teste de Jobe (Se = 81,4%) e a especificidade é maior para foram executadas por profissionais experientes e espe-
o Drop arm teste (Es = 97,8%), resultados que demons- cialistas e especificamente para os testes clínicos foi
traram a importância diagnóstica dos testes clínicos realizado um treinamento e padronização prévia entre
do ombro para as roturas do tendão supra-espinal. os avaliadores, com base nas descrições originais.
Os resultados da especificidade foram semelhantes Por último, neste estudo não foram avaliados os fato-
aos da ultrassonografia encontradas neste estudo res de risco associados às lesões do manguito rotador,
e da ressonância magnética demonstrada nos estudos como diabetes mellitus, obesidade, hipercolesterolemia,
publicados anteriormente (LENZA et al., 2013; ROY et tabagismo e o tipo de atividade laborativa ou esportiva
al., 2015). dos pacientes. Sugerimos a realização de futuras pesqui-
Quantos aos exames de imagens, diferentemente sas sobre estes fatores de risco para consolidar os dados
de alguns resultados encontrados na literatura, a ultras- publicados em estudos prévios (AMERICAN ACADEMY OF
sonografia apresentou baixa sensibilidade (Se = 45,2%) ORTHOPAEDIC SURGEONS, 2019).
e alta especificidade (Es = 92,3%) para o diagnóstico
das roturas do supra-espinal, com muitos resultados 5.3.2. Conclusão:
falsos negativos. Estudos mais recentes demonstraram A realização do exame físico nos pacientes com suspeita
que a USG apresenta alta sensibilidade e especificidades de lesão do manguito rotador é fundamental para a ela-
para as roturas do manguito rotador (LIANG et al., 2020). boração diagnóstica, e neste estudos foi demonstrada
Acredita-se que essa diferença seja devido a inclusão a validade dos testes clínicos especiais comparando com
de pacientes com dor no ombro sem suspeita de rotura os exames de imagens. Com isso, os autores sugerem
prévia do MR, evitando com isso, esse viés de seleção, a elaboração de algoritmos diagnóstico para as lesões
o que pode ser um dos fatores da baixa sensibilidade do manguito rotador baseados na anamnese, testes clí-
encontrada. nicos e exames complementares de baixo custo, como
a radiografia e a ultrassonografia do ombro, com o obje-
5.3.1 Limitações tivo de reduzir a solicitação da ressonância magnética
A perda de força foi avaliada de forma manual de acordo e consequentemente o custo ao sistema de saúde.
com a força aplicada de cada examinador ou compa-
rada com lado contralateral, no entanto, não utilizamos 5.4 Apresentação/divulgação do projeto:
um dinamômetro para esta avaliação, o que poderia Finalizados os cálculos nos meses 7 e 8 (de acordo
demonstrar resultados mais precisos em relação perda com o cronograma do quadro 2), foi feita uma análise
de força. Outra limitação foi a inclusão de muitos tes- do estudo para iniciar a elaboração do manuscrito, com
tes clínicos na avaliação, 11 no total, o que pode levar objetivo de submissão do projeto em revista científica
a estafa do paciente e sensibilidade a dor, mesmo que, de alto impacto.
realizados de forma aleatória, não foi seguido uma ran- Durante o período de vigência, o projeto foi apre-
domização, mas é importante salientar que todos os tes- sentado e divulgado em congressos, sendo um deles
tes foram realizados após os pacientes apresentarem o V Congresso Acadêmico da UNIFESP, no qual foi apre-
melhora do sintoma de dor provocado pelo teste ante- sentado em forma de pôster e apresentação oral. Outro
rior. Incluímos diversos testes clínicos não somente congresso onde foi apresentado o projeto é o BRAINCOMS
específicos para as lesões do supra-espinal, mas também (Brazilian International Congress of Medical Students),

129
os 3 melhores trabalhos

na forma de pôster, recebendo premiação como melhor 10. Crenshaw AH, Kilgore WE. Surgical treatment
pôster na categoria de cirurgia e ortopedia, mesmo com of bicipital tenosynovitis. J Bone Joint Surg Am.
resultados preliminares (Certificado anexado - Anexo 1 1966;48(8):1496–502.
do relatório parcial de 10/2019).
11. Cyriax JH. Textbook of orthopaedic medicine:
Será apresentado este ano no VI Congresso
Diagnosis of soft tissue lesions. 8th Edition. Vol. One,
Acadêmico da UNIFESP, que devido à atual situação
London: Balliere Tindall, 1982.
de pandemia, será apresentado em forma de vídeo
e discutido em forma de reunião virtual em julho/2020. 12. Dinnes J, Loveman E, McIntyre L, Waugh N. The
effectiveness of diagnostic tests for the assessment
6 . R E F E R ÊN C IAS : of shoulder pain due to soft tissue disorders:
a systematic review. Health Technol Assess.
1. Al-Shawi A, Badge R, Bunker T. The detection of full 2003;7(29):iii,1-166.
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AL, Thune C, Sloth C, Pedersen ST. The value of clinical
DL, Bierma-Zeinstra SM. Does this patient with
tests in acute full-thickness tears of the supraspinatus
shoulder pain have rotator cuff disease?: The Rational
tendon: does a subacromial lidocaine injection
Clinical Examination systematic review. JAMA.
help in the clinical diagnosis? A prospective study.
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3. Beaudreuil J, Nizard R, Thomas T, Peyre M, Liotard
more useful, the “full can test” or the “empty can
JP, Boileau P, Marc T, Dromard C, Steyer E, Bardin
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130
Acurácia dos testes clínicos e da ultrassonografia do ombro no diagnóstico das lesões do tendão do supra-espinhal

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131
os 3 melhores trabalhos

42. van Kampen DA, van den Berg T, van der Woude HJ,
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132
os 3 melhores trabalhos

Produção sobre
morbimortalidade da
população indígena
do estado de Mato
Grosso do Sul

Assista a
apresentação

Apresentado por
Mariana Pavão de Araújo Gemperli Zatti

Autores: Prof. Dra. Erika Kaneta


RE S U M O Ferri1, Mariana Pavão de Araújo
Gemperli Zatti2, Aline Cabral Lira2,
Barbara Mayumi Ferri2, Daniel
Introdução: o Estado de Mato Grosso do Sul, segundo informações
Cunha José Karmouche2, Emily
da Secretaria Especial de Saúde Indígena, possui a segunda maior população Ruiz Cavalcante2, Fabiana Moreira
indígena do Brasil, aproximadamente 70.383 mil pessoas. Sendo que, em sua Coutinho2, João Pedro Arantes
maioria, vivem um contexto marcado pela expropriação territorial e cor- da Cunha2, Paloma Almeida
respondente confinamento em terras indígenas exíguas, com os recursos Kowalski2, Rachel Carvalho
naturais profundamente comprometidos. Assim, sua forma de subsistência Lemos2, Rafaela Picoli Machado
de Souza2
tem configurado um cenário de pobreza em algumas comunidades; no Brasil,
como um todo, 83,0% das pessoas indígenas de 10 anos ou mais de idade
recebem até 1 salário mínimo ou não possuem rendimentos, conforme afir-
mação do estudo do IBGE. Objetivo: a questão norteadora deste artigo é: qual
o conhecimento produzido acerca do perfil de morbimortalidade entre indí-
genas do estado de Mato Grosso do Sul? Para responde-la a presente pesquisa
teve como objetivo realizar revisão integrativa sobre a produção acadêmica
do perfil de morbimortalidade entre indígenas do MS, entre os anos de 2011
a 2017. Material e métodos: a presente pesquisa trata de uma revisão integra- 1. Coordenadora e primeira autora
tiva realizada em cinco etapas: (1) elaboração de questão norteadora; (2) pes- 2. Discentes Colaboradores e
quisa usando combinações das palavras-chave nas seguintes bases de dados: autores
PUBMED, BIREME, SCIELO e LILACS, entre janeiro de 2011 a dezembro de 2017;

133
os 3 melhores trabalhos

(3) peneira dos resultados e releitura dos artigos selecio- das etnias Guarani Ñandeva, Guarani-Kaiowá, Terena,
nados; (4) organização por categoria; e (5) a conclusão Kadiwéu, Kinikinau, Guató, Kamba e Ofaié.
e síntese do estudo. Na segunda etapa, a pesquisa, foram Nesse Estado os indígenas, em sua maioria, vivem
encontrados 132 artigos; após refinamento foram sele- um contexto marcado pela expropriação territorial
cionados 19 artigos, dos quais sete abordaram o tema e correspondente confinamento em terras indígenas
Tuberculose, três de câncer de Colo de útero e Infecções exíguas, com os recursos naturais profundamente
Sexual Transmissíveis (IST) dois de Hipertensão Arterial comprometidos. Assim, sua forma de subsistência tem
Sistêmica (HAS) e dois de Diabetes Mellitus (DM), dois configurado um cenário de pobreza em algumas comu-
de suicídio, um de obesidade, um de Vigilância ali- nidades, no Brasil, como um todo, 83,0% das pessoas
mentar e nutricional, e um sobre Êntero-parasitismo. indígenas de 10 anos ou mais de idade recebem até 1
Resultados: no geral, evidenciou-se que as condições salário mínimo ou não possuem rendimentos, con-
de pobreza, falta ou limitação de acesso aos serviços forme afirmação do estudo do IBGE (2012).
de saúde, uso abusivo de álcool, deficiências nutricio- Atualmente, nas populações indígenas do Brasil
nais e presença de comorbidades, justificam e englobam constata-se a incidência e prevalência das doenças crô-
a população indígena num cenário major de vulne- nicas não transmissíveis, entre elas destaca-se a obesi-
rabilidade para doenças infecto-parasitárias como dade, hipertensão arterial sistêmica e diabetes mellitus,
a tuberculose em comparação a outros segmentos em muitos casos em decorrência das mudanças e incor-
populacionais. Há prevalência de sobrepeso, obesidade poração de novos hábitos culturais, como o consumo
e diabetes mellitus correlacionadas entre si são resul- de alimentos industrializados e diminuição das ativi-
tado do sedentarismo e dietas ricas em carboidratos; dades físicas. No entanto, em alguns grupos indígenas
em contrapartida há uma significativa redução da des- ainda há o predomínio das doenças infecciosas, parasi-
nutrição infantil no período estudado, estando em tárias e desnutrição, agravos intimamente relacionados
consonância com os dados nacionais. Do mais, o risco às questões sócio- econômicas (FERREIRA, 2011).
de suicídio na população indígena é oito vezes maior Diante desta diversidade e complexidade, estu-
do que na população não indígena, além de uma preva- dos de morbidade e morbidade tem se tornado cada
lência de 76,9% indígenas com infecção por helmintos. vez mais importantes em relação a essas populações
Conclusão: em suma, fica evidente a falta de estudos e constituem importantes ferramentas na compreen-
acerca da saúde indígena atrelada à precariedade são do perfil epidemiológico de grupos populacionais
da assistência sua saúde, sendo fundamental aumentar vulneráveis, já que contribuem para a avaliação da gravi-
o número de trabalhos e pesquisas sobre o tema. dade das doenças, para vigilância e controle de agravos,
na análise do acesso e utilização dos serviços de saúde,
Descritores: Indicadores, Povos Aborígenes, assim como no planejamento em saúde (CARDOSO et
Evidências Científicas, Saúde de Populações Indígenas, al, 2010).
População Indígena. Somado e este cenário e as parcas publicações acerca
do tema, especialmente as populações indígenas no ter-
1. I N T R O DU ÇÃO ritório sul-mato-grossense, a questão norteadora deste

D
artigo é: qual o conhecimento produzido acerca do perfil
e acordo com os resultados do Censo de morbimortalidade entre indígenas do estado de Mato
Demográfico realizado pelo Instituto Grosso do Sul? Para responder à questão norteadora,
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, a presente pesquisa tem como objetivo realizar revi-
2012), provenientes do quesito cor ou raça, são integrativa sobre a produção acadêmica do perfil
817,9 mil pessoas se declararam indíge- de morbimortalidade entre indígenas do estado de Mato
nas, representando 0,4% da população total do Brasil. Grosso do Sul, entre os anos de 2011 a 2017.
Nesse âmbito, o Estado de Mato Grosso do Sul, segundo
informações da Secretaria Especial de Saúde Indígena
(2012), possui a segunda população indígena do Brasil,
aproximadamente 70.383 mil pessoas, compondo-se

134
Produção sobre morbimortalidade da população indígena do estado de Mato Grosso do Sul

2 . M AT E R I A L E MÉ TODOS for Biotechnology Information, U.S National Library of


Medicine (PUBMED), Scientific Electronic Library Online
Trata-se de uma Revisão Integrativa (RI) de literatura, tal (SCIELO), Literatura Latino-americana e do Caribe em
método contribui para a Prática Baseada em Evidência Ciências da Saúde (LILACS) e Centro Latino-Americano
e proporciona a síntese de conhecimento e a incorpora- e do Caribe de Informação em Ciências da Saúde
ção da aplicabilidade de resultados de estudos signifi- (BIREME). Delimitou-se como recorte temporal o perí-
cativos na prática (SOUZA et al, 2010; SOARES et al, 2014). odo de janeiro de 2011 a dezembro de 2017.
A RI foi realizada em cinco etapas, na primeira etapa, foi A busca foi realizada a partir combinações das pala-
formulada a questão norteadora: Qual o conhecimento vras-chave: Morbidade, mortalidade, população indígena
produzido acerca do perfil de morbimortalidade entre e Mato Grosso do Sul obtidos na consulta aos Descritores
indígenas do estado de Mato Grosso do Sul? em Ciências da Saúde (DeCS). Optou-se por utilizar os ter-
A segunda etapa consistiu na busca na literatura por mos na língua portuguesa e na língua inglesa e o ope-
meio do levantamento das produções científicas, cole- rador boleano AND, conforme apresentado no quadro
tadas em bancos de dados nacionais e internacionais 1 a seguir.
na área da saúde, indexadas nas fontes: National Center

Base de Dados Estratégia de Busca * Número de artigos


Português e Inglês encontrados

BIREME “Mortality” AND “Morbidy “ AND “Indigenous Population” AND “Brazil” AND “Mato Grosso 06
do Sul”
Morbidade” AND “mortalidade” AND “população indígena” AND “Brasil” AND “Mato
Grosso do Sul”

PUBMED Mortality” AND “Morbidy “ AND “Indigenous Population” AND “Brazil” AND “Mato Grosso 11
do Sul”
Morbidade” AND “mortalidade” AND “população indígena” AND “Brasil” AND “Mato
Grosso do Sul”

SCIELO Mortality” AND “Morbidy “ AND “Indigenous Population” AND “Brazil” AND “Mato Grosso 67
do Sul”
Morbidade” AND “mortalidade” AND “população indígena” AND “Brasil” AND “Mato
Grosso do Sul”

LILACS Mortality” AND “Morbidy “ AND “Indigenous Population” AND “Brazil” AND “Mato Grosso 48
do Sul”
Morbidade” AND “mortalidade” AND “população indígena” AND “Brasil” AND “Mato
Grosso do Sul”

Total 132

Elaborado pelos autores.

135
os 3 melhores trabalhos

Para compor o estudo, foram utilizados os seguintes A terceira etapa consistiu na etapa denominada
critérios de inclusão: estudos disponíveis online que de primeira peneira, através da leitura criteriosa
continham os descritores listados e publicados em dos resumos, levando-se em conta o critério de exaus-
periódicos nacionais e internacionais, artigo originais tão e pertinência da coleta dos dados, denominada
publicados no período de 2011 a 2017. Foram excluídos: de segunda peneira. Foi realizada releitura dos mate-
editoriais; Cartas; Artigos de Opinião; Comentários; riais pré-selecionados com avaliação crítica e sistema-
Ensaios; Anais; Publicações duplicadas; dissertações, tização dos dados em categorias. Esta avaliação seguiu
teses e Documentos oficiais de Programas Nacionais o modelo analítico de Ganong (1987).
e Internacionais; Trabalho de Conclusão de Curso; Já na quarta etapa, os artigos selecionados foram
Boletins epidemiológicos; Relatórios de gestão; Materiais organizados por categorias. Após, avaliados e discuti-
publicados em outros idiomas que não sejam: inglês, dos baseados em pesquisas realizadas que continham
espanhol, português; e, estudos que não contemplem o escopo da pesquisa, apresentados a seguir. Por fim,
o escopo da RI. Os critérios de inclusão e exclusão foram na quinta etapa correspondeu a conclusão e síntese
aplicados e foram selecionados 19 (dezenove) artigos do estudo.
para compor a amostra do estudo, conforme apresen-
tado na Figura 1, a seguir 3 . R E S U LTA D O S E D IS C U S SÃO

Os dados foram analisados e organizados e posterior-


Levantamento dos artigos nos bancos de dados mente agrupados em quadros nas seguintes variáveis:
título, autor/ano, periódico, Tipo de pesquisa, público
alvo e resultados. Em relação as temáticas, do total
Conexão de descritores: Morbidade, de 132 artigos encontrados, foram identificados 34 arti-
mortalidade, população indígena, Brasil, Mato gos no total que se enquadraram nos critérios de inclu-
Grosso do Sul (2011 a 2017) são e exclusão, após a exclusão de artigos duplicados
totalizou-se 19 artigos, dos quais 7 (sete) abordaram
o tema Tuberculose, 2 (dois) de Hipertensão Arterial
Sistêmica (HAS) e 2 (dois) de Diabetes Melitus, 1(um)
Lilacs Scielo Pubmed Bireme de obesidade, 2 (dois) de suicídio, 1 (um) de Vigilância
alimentar e nutricional, 3 (três) de câncer de Colo
de útero e Infecções Sexual Transmissíveis (IST), 1
(um) Enteroparasitismo. Para melhor compreensão
Aplicação dos Critérios de inclusão e exclusão
dos aspectos analisados, nos quadros a seguir estão des-
critos os principais achados dos artigos, o quais foram
organizados por grupos e categorias.
N= 04 N= 13 N= 04 N= 02
A. Tuberculose
No que se refere a temática tuberculose, foram iden-
tificados 7 (sete) estudos entre os anos de 2011 a 2017
desenvolvidos no estado de Mato Grosso do Sul. Do total
Total: 23 de 7 (sete) artigos encontrados, 5 (cinco) se referem a pes-
quisas quantitativas e 2 (duas) pesquisas qualitativas,
com destaque para o ano de 2014 com 4 (quatro) publi-
cações, sendo as populações indígenas mais estudadas
Exclusão de Duplicados
as do sul do estado, fronteiriças e privadas de liberdade,
conforme se observa no quadro 2 a seguir.

Total final de artigos revisados: 19 Figura 1: Banco de dados


pesquisados e artigos selecionados.

136
Produção sobre morbimortalidade da população indígena do estado de Mato Grosso do Sul

Quadro 2: Pesquisas desenvolvidas com a temática


tuberculose e população indígena do Mato Grosso do Sul,
variáveis: Título, autor, ano, Periódico, Tipo de Pesquisa,
público alvo e resultados, de 2011 a 2017.

Título / Ano / Tipo / Público Resultados


Autores Periódico alvo

Teste tubercu- 2011 Quantitativa/ Alguns programas/serviços não realizavam o Teste tuberculínico (TT). A
línico. Pesquisa J. bras. Coordenadores equipe de enfermagem realizava os TTs, não havia leitores especialistas,
operacional no pneumol. de Serviço de e treinamentos eram raros. O total de TT realizados foi de 2.305, dos quais
Mato Grosso Scielo saúde 1.053 (46%) foram realizados em populações indígenas, 831 (36%) foram
do Sul Oliveira realizados em ambientes prisionais para fins de treinamento (inquéritos), e
et al apenas 421 (18%) foram realizados em contatos de pacientes com tubercu-
lose e em populações vulneráveis. O tratamento de tuberculose latente foi
realizado em 4 pacientes vulneráveis e em 126 indígenas.

Diagnóstico 2013 Quantitativo/ Dos 49 pacientes, 27 (56%) eram menores de 5 anos, 33 (67%) demonstra-
da tuberculose J. bras. pneu- População indí- vam sintomas sugestivos de tuberculose, 24 (49%) possuíam baixo peso,
em indígenas mol. 2013 gena da região e 36 (73,5%) foram vacinados com bacilo de Calmette-Guérin (BCG). O
menores de Scielo sul do estado teste tuberculínico foi reator em 28 pacientes (57%), sendo que 18 (64%)
quinze anos apresentaram enduração > 10 mm. Foram realizadas radiografias de tórax
por meio de em 37 casos (76%), sendo que 31 (84%) fizeram um único exame. Desses
um sistema de 37 pacientes, os achados radiológicos eram sugestivos de tuberculose em
pontuação em 16 (43%), de infiltrado/condensação em 10 (27%) e normais em 4 (11%). A
Mato Grosso pontuação do SP-MS foi verificada em 30 pacientes (61%). Dos 30 casos
do Sul pontuados, os escores indicaram diagnóstico de TB muito provável, possí-
Santos et al vel e pouco provável em 16 (53%), 11 (37%) e 3 (10%), respectivamente.

Desigualdades 2013 Qualitativa/ Os resultados evidenciaram 6.962 casos novos de tuberculose no período,
sociais e tuber- Rev Saúde População sendo 15,6% entre indígenas. Houve predomínio em homens e adultos (20
culose: análise Pública indígena total a 44 anos) em todos os segmentos. A incidência média no estado de Mato
segundo raça/ Scielo do estado Grosso do Sul foi 34,5/100.000 habitantes, 209,0; 73,1; 52,7; 23,0 e 22,4 entre
cor, Mato Lilacs indígenas, amarelos, pretos, brancos e pardos, respectivamente. Doentes
Grosso do Sul de 20 a 44 anos, do sexo masculino e de raça/cor preta, houve também
Basta et al associação com abandono de tratamento, enquanto doentes maiores de 45
anos e com a forma mista apresentaram associação com óbito. Apesar de
representarem 3,0% da população, os indígenas foram responsáveis por
15,6% das notificações no período. A maioria dos doentes indígenas residia
na zona rural (79,8%) e 13,5% dos registros nos indígenas ocorreram em
menores de 10 anos.

Incidence and 2014 Quantitativo Os resultados indicaram que, dos 3.093 casos identificados de 1999 a 2001,
transmission /População 610 (~ 20%) eram pacientes indígenas (incidência média: 377 / 100,000 /
patterns of Mem Inst indígena total ano). O uso do método de cultura Ogawa-Kudoh (O-K) aumentou a quan-
tuberculosis Oswaldo Cruz do estado tidade de casos diagnosticados em 34,1%. Dos isolados genotipos de 52
among indige- Scielo pacientes indígenas, 33 (63,5%) pertenciam aos padrões RFLP do cluster,
nous popula- indicando a TB recentemente transmitida.
tions in Brazil
Cunha et al

137
os 3 melhores trabalhos

Título / Ano / Tipo / Público Resultados


Autores Periódico alvo

Aspectos epi- 2014 Quantitativo/ As estimativas de risco mais elevadas do que a população geral do estado
demiológicos Rev Bras População fron- de Mato Grosso do Sul, e até extremamente altas, foram obtidas em três
da tuberculose Epidemiologia teiriça; indígena populações específicas: população fronteiriça com a Bolívia e o Paraguai;
pulmonar em Scielo e privada de população indígena e população privada de liberdade. Quanto aos presi-
Mato Grosso liberdade diários, nos quais se detectou um risco relativo de 25,2 (IC95% 22,3 - 28,5),
do Sul já a população indígena, como de risco mais elevado, com um risco relativo
Ferraz e de 7,32 (IC95% 6,1 - 8,8), pois tem apresentado, desde longa data, menor
Valente resistência à TB. Já nas áreas de fronteiras, observou-se um risco relativo
de 1,74 (IC95% 1,46 - 2,07), menor do que nas populações de presidiários e
indígenas, porém estatisticamente mais elevado do que na geral de estado
do Mato Grosso do Sul.

Magnitude da 2014 Quantitativo/ Na região de fronteira, as taxas de incidência (49,1/100 mil habitantes),
tuberculose População indí- mortalidade (4,0/100 mil) e de abandono do tratamento (11,3%) foram
pulmonar na Cad. Saúde gena da região 1,6, 1,8 e 1,5 vez maiores do que na região não fronteiriça. Entre indígenas
população Pública fronteiriça do fronteiriços, as taxas de incidência (253,4/100 mil habitantes), mortalidade
fronteiriça de Scielo estado (11,6/100 mil) e coinfecção por HIV (1,9/100 mil) foram, respectivamente,
Mato Grosso Lilacs 6,4, 3,2 vezes e 1,9 vez maiores do que entre os não indígenas nesta mesma
do Sul (Brasil), localidade. Entretanto, estar na abrangência da fronteira revelou-se fator
Paraguai e de proteção contra coinfecção por HIV. Constatou-se também associação
Bolívia entre ser indígena e não abandonar o tratamento.
Marques et al

Health-service 2014 Qualitativa / Os resultados evidenciaram que o atendimento primário (APS) foi o
performance of População primeiro tratamento no início dos sintomas, e os diagnósticos foram
TB treatment BMC Health indígena do tipicamente realizados por serviços especializados. Foi observado que 51%
for indigenous Services Polo Base de da população indígena experimentaram diagnósticos de TB atrasados que
and non-indige- Research Dourados exigiram mais de três consultas médicas. Os povos indígenas receberam
nous popula- Pubmed apoio social, como pacotes de compras de necessidades básicas e visitas
tions in Brazil: a domiciliares de profissionais de saúde, com ênfase no desempenho de
cross-sectional estratégias de tratamento observadas diretamente.
study
Lemos et al

Elaborado pelos autores


Fonte: Scielo, Lilacs, Pubmed e Bireme.

Pesquisas no Brasil apontam que as condições No que se refere a população fronteiriça os estudos
de pobreza, falta ou limitação de acesso aos serviços encontrados indígenas fronteiriços, as taxas de incidên-
de saúde, uso abusivo de álcool, deficiências nutricio- cia, mortalidade e coinfecção por HIV foram, respecti-
nais e presença de comorbidades colocam a popula- vamente, maiores do que entre os não indígenas nesta
ção indígena num cenário de maior vulnerabilidade mesma localidade, refletido pelas condições de assistên-
ao adoecimento por tuberculose em comparação com cia a saúde nestas regiões, representando um desafio
outros segmentos da população (OLIVEIRA et al, 2011; constante para os gestores.
SANTOS et al, 2013; BASTA et al, 2013; CUNHA, 2014;
FERRAZ e VALENTE, 2014; LEMOS et al, 2014; MARQUES et
al, 2014; SALES et al, 2015).

138
Produção sobre morbimortalidade da população indígena do estado de Mato Grosso do Sul

B. Hipertensão Arterial Sistêmica, Obesidade e No que se refere a temática os estudos relacionados


Diabetes Melitus a Diabetes Melitus, Obesidade e Hipertensão Arterial
Na temática Hipertensão Arterial Sistêmica, Obesidade Sistêmica, observa-se que os mesmos em sua maioria
e Diabetes Melitus, foram encontrados no total 5 (cinco) foram realizados no município de Dourados, onde há
estudos, entre eles 2 (dois) estudos com a temática dia- presença de indígenas da etnia Terena, os resultados
betes, 2 (dois) estudos relacionados a obesidade e 1 (um) apontaram a prevalência de obesidade e sobrepeso em
estudo sobre hipertensão arterial. Publicados entre indígenas desta aldeia é alta, associada ao sexo femi-
os anos de 2011 e 2016, sendo que quatro desses arti- nino e entre os obesos apresentavam hipertensão,
gos realizaram a pesquisa com a população da aldeia alteração na glicemia capilar em comparação aos resi-
Jaguapiru em Dourados e um estudo realizou com dentes na Aldeia Bororó. Vários autores evidenciaram
a aldeia Bororó (também do município de Dourados) alterações metabólicas e antropométricas em popula-
e com a aldeia Jaguapiru. Todos os artigos publicados ções indígenas, relacionadas às mudanças nos padrões
de caráter quantitativo, conforme se observa no quadro alimentares e atividades físicas.
3 a seguir.

Quadro 3: Pesquisas desenvolvidas com a temática


Diabetes Melitus, Obesidade e Hipertensão Arterial
Sistêmica entre população indígena do Mato Grosso
do Sul, variáveis: Título, autor, ano, periódico, Tipo de
pesquisa, público alvo e resultados, de 2011 a 2017.

Título / Autor Ano Tipo / Público Resultados


Periódico alvo

Prevalência de 2011 Quantitativo Indicaram prevalência de 4,5% de DM e 2,2% de tolerância diminuída a gli-
diabetes melito Rev Panam Indígenas de cose, sendo mais frequente em mulheres. Do total de diabéticos avaliados,
e tolerância à Salud Publica Dourados 44,4% não tinham o diagnóstico prévio a realização da pesquisa. Obesidade
glicose diminu- Scielo em 14,2% da população masculina e em 30,8% na população feminina. Em
ída nos indíge- Bireme relação a comorbidades, entre os diabéticos e pacientes com tolerância
nas da Aldeia diminuída a glicose, 67,5% apresentaram hipertensão arterial; o restante da
Jaguapiru, população teve prevalência de 29,7%. O artigo concluiu que embora a preva-
Brasil. lência de glicose tenha sido menor do que em relação a média brasileira, a
Oliveira et al prevalência de obesidade está maior nessa população e a de hipertensão
arterial se equipara.

Prevalence of 2014 Quantitativo Indicaram que da amostra composta por 385 mulheres, 7% apresentaram
hypertension PLoS One Indígenas de alteração na glicemia capilar alterada, sugestiva de Diabetes Mellitus.
and associated Pubmed Dourados Prevalência superior na aldeia Jaguapiru (4,1%) em relação a aldeia Bororó
factors in an (2,9%). Os maiores índices de alteração de glicemia capilar na aldeia
indigenous Jaguapiru quando comparada a aldeia Bororó está relacionado ao fato de
community of a população desta aldeia ser composta por apenas 58% de habitantes da
central Brazil: a etnia Guarani, enquanto na aldeia Bororó são 97% dessa etnia.
population-ba-
sed study.
Oliveira et al

139
os 3 melhores trabalhos

Título / Autor Ano Tipo / Público Resultados


Periódico alvo

Prevalence of 2015 Quantitativo Indicaram prevalência de obesidade de 23,2% (IC95% 20,9-25,1%). A


Obesity and Obes Facts Indígenas de obesidade foi mais prevalente entre 40 a 49 anos e excesso de peso entre
Overweight in Pubmed Dourados pessoas de 50 a 59 anos de idade. Obesidade foi positivamente associada
an Indigenous ao sexo feminino, maior renda e hipertensão. Foram encontradas intera-
Population in ções com hipertensão e sedentarismo - hipertensão no sexo masculino e
Central Brazil: sedentarismo no sexo feminino. A prevalência de obesidade e sobrepeso
A Population- em indígenas desta aldeia é alta. O estilo de vida sedentário e hipertensão
Based Cross- alavancam as taxas de obesidade.
Sectional
Study.
Oliveira et al

Prevalência de 2016 Quantitativo A prevalência de hipertensão foi de 29,5% e não houve diferença estatis-
diabetes melli- Cad. Saúde Indígenas de ticamente significante entre homens e mulheres, além disso, entre estes,
tus e fatores Pública Dourados apenas 19% tinham valores normais de pressão arterial. Na associação
associados Scielo entre variáveis demográficas, socioeconômicas e clínicas e a prevalência
em mulheres de hipertensão arterial, 44,8% dos obesos apresentavam hipertensão e,
indígenas do entre os fatores de risco, os mais prevalentes nos hipertensos foram idade
Município de avançada, consumo de álcool, obesidade e diabetes. O tabagismo e a renda
Dourados, familiar não apresentaram associação com a prevalência de hipertensão.
Mato Grosso
do Sul, Brasil.
Freitas et al

Total and 2016 Quantitativo A prevalência de hipertensão foi de 42,0% (IC 95%: 37,0–47,2). Na análise
Abdominal PLoS One. Residentes em multivariada, os entrevistados com CC de 80 a 87 cm e ≥ 88 cm apresen-
Adiposity and Pubmed duas aldeias taram taxas de prevalência de hipertensão cerca de duas vezes maiores
Hypertension da reserva em comparação com aqueles com CC <80 cm após o ajuste para fatores de
in Indigenous indígena de confusão e não houve associação entre o índice de massa corporal (IMC) e
Women in Dourados hipertensão no presente estudo. O artigo concluiu que a prevalência global
Midwest Brazil. de hipertensão foi alta e associada apenas à adiposidade abdominal, mas
Almeida et al não ao IMC.

Elaborado pelos autores


Fonte: Scielo, Lilacs, Pubmed e Bireme.

140
Produção sobre morbimortalidade da população indígena do estado de Mato Grosso do Sul

C. Suicídio Quadro 4: Pesquisas desenvolvidas


Na temática suicídio foram identificados 2 (dois) arti- com a temática suicídio entre
gos, 1 (um) de caráter qualitativo e 1 (um) quantitativo, população indígena do Mato Grosso
público alvo Jovens Guarani Kaiowá e população indí- do Sul, variáveis: Título, autor, ano,
gena e não indígena do estado de Mato Grosso do Sul, periódico, Tipo de pesquisa, público
conforme se observa no quadro 4 a seguir. alvo e resultados, de 2011 a 2017.

Título /Autor Ano Periódico Tipo Resultados


/Público alvo

Suicídio de 2011 Psicologia: Qualitativa Ocorreram 410 suicídios nessa nação de 2000 a agosto de 2008. A maioria
Jovens Guarani Ciência e Jovens Guarani dos suicidas são homens, 65% na faixa etária de 15 a 29 anos, e o método
Kaiowá de MS, Profissão Kaiowá mais frequente é o enforcamento. Referentes às causas do problema,
BR Scielo destacando-se a concepção de feitiço, com implicações nos conceitos de
Grubits et al instinto de vida e de morte, inconsciente coletivo e sugestão; também o pro-
cesso de confinamento compulsório ao qual o grupo vem sendo submetido,
com superpopulação das aldeias, imposição de crenças, valores e lideranças
estranhos a sua cultura são citados como fatores causais.

Spatial- 2016 Quantitativo/ O risco de suicídio na população indígena foi 8,1 (IC95% 7,2-9,0) vezes maior
temporal Rev. Bras. população do que na população não indígena. Para os indígenas residentes na faixa
trends and risk Psiquiatr indígena e não etária de 15 a 24 anos, o risco foi de 18,5 (IC95% 17,5-6,6) vezes superior ao
of suicide in indígena do da população não indígena. A maioria dos casos indígenas concentrou-se
Central Brazil: Scielo estado de Mato em algumas aldeias em áreas de reserva, ocupadas principalmente pelos
an ecolo- Grosso do Sul grupos Guarani-Kaiowá e Guarani-Ñandeva. Padrões de taxas permanece-
gical study ram estáveis ao longo do tempo em ambos os grupos.
contrasting
indigenous and
non-indigenous
populations
Orellana et al

Elaborado pelos autores


Fonte: Scielo, Lilacs, Pubmed e Bireme.

No que se refere aos resultados na temática suicídio,


os resultados apontam que a maioria dos suicidas são
homens, 65% na faixa etária de 15 a 29 anos, e o método
mais frequente é o enforcamento e o risco de suicí-
dio na população indígena foi 8,1 vezes maior do que
na população não indígena. Entre as causas apontadas
foram: concepção de feitiço, com implicações nos con-
ceitos de instinto de vida e de morte, inconsciente cole-
tivo e sugestão; também o processo de confinamento
compulsório ao qual o grupo vem sendo submetido,
com superpopulação das aldeias, imposição de crenças,
valores e lideranças estranhos a sua cultura (GRUBITS et
al, 2011; ORELLANA et al, 2016).

141
os 3 melhores trabalhos

D. Vigilância alimentar e nutricional


Na temática Vigilância alimentar e nutricional
o estudo de Silva et al (2014), houve aumento da cober- Quadro 5: Pesquisas desenvolvidas
tura do Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional com a temática Vigilância alimentar
(SISVAN) indígena e significativa redução da desnutrição e nutricional entre população
infantil no período estudado; entretanto, não se pode indígena do Mato Grosso do
negligenciar os grandes desafios, todavia existentes, Sul, variáveis: Título, autor, ano,
para promoção da saúde e nutrição infantil nessa popu- periódico, Tipo de pesquisa, público
lação, conforme se observa no quadro 5 a seguir. alvo e resultados, de 2011 a 2017.

Título /Autor Ano/ Periódico Tipo Resultados


/Público alvo

Vigilância alimentar e nutri- 2014 Epidemiol. Serv. Saúde Quantitativo Observou-se nos resultados
cional de crianças indígenas Scielo Indígenas Menores de 5 anos aumento da cobertura do
menores de 5 anos em Mato Lilacs do MS SISVAN Indígena de 82,0%
Grosso do Sul 2002-2011 em 2002 para 97,2% em 2011,
Silva et al acompanhado da redução na
prevalência de baixo peso de
16,0 para 6,5% no período.

Elaborado pelos autores


Fonte: Scielo, Lilacs, Pubmed e Bireme.

E. Câncer de colo de útero e Infecções Sexualmente


Transmissíveis (IST’s)
Nas pesquisas desenvolvidas com a temática Câncer
de colo de útero e IST’s entre população indígena
do Mato Grosso do Sul, observa-se que na totalidade
os estudos foram quantitativos, o público foi as mulhe-
res das Aldeias Jaguapirú e Bororó e as residentes
no estado de Mato Grosso do Sul. Apresentando como
resultado nos estudos encontrados, que houve redução
na gravidade das lesões cervicais no decorrer da implan-
tação do programa de rastreamento (PEREIRA et al, 2011),
soroprevalência de anticorpos anti-T. gondii entre
os indígenas da etnia Terena (BORGUEZAN et al, 2014)
e o alarmante resultado de subnotificação dos casos
de sífilis em gestantes (TIAGO et al, 2017), conforme se
observa no quadro 6 a seguir.

142
Produção sobre morbimortalidade da população indígena do estado de Mato Grosso do Sul

Quadro 6: Pesquisas desenvolvidas com a temática


Câncer de colo de útero e IST’s entre população indígena
do Mato Grosso do Sul, variáveis: Título, autor, ano,
periódico, Tipo de pesquisa, público alvo e resultados, de
2011 a 2017.

Título /Autor Ano Tipo Resultados


/Periódico /Público alvo

Morbidade 2011 Quantitativo O exame tem sido realizado mais em mulheres entre 15 e 34 anos; a cober-
por câncer de Cogitare mulheres tura do rastreamento aumentou na aldeia Jaguapirú e diminuiu na Bororó.
colo uterino Enferm. das aldeias Quanto às alterações citopatológicas, 5,7% dos exames em mulheres da
em mulheres Bireme Jaguapirú aldeia Jaguapirú indicaram lesões pré-malignas; na aldeia Bororó esse
de reserva indí- e Bororó, resultado foi 2,9%. Evidenciou-se redução na gravidade das lesões cervi-
gena no Mato da Reserva cais no decorrer da implantação do programa de rastreamento.
Grosso do Sul Indígena de
Pereira et al Dourados

Soroprevalência 2014 Quantitativo Entre os 256 indígenas estudados, 67 (26,17 %) apresentaram anticorpos
de anticorpos Revista Cubana indígenas da de classe IgG anti-T gondii, com títulos iguais ou superiores a 1:16. Não foi
anti-toxo- de Medicina etnia Terena encontrada positividade para IgM em nenhuma das amostras analisadas.
plasma gondii Tropical Constatou-se dessa forma, que a soroprevalência de anticorpos anti-T.
em indígenas Scielo gondii entre os indígenas da etnia Terena indica que essa população teve um
da etnia Terena, contato anterior com o parasito. O fator de risco identificado como prová-
MS, Brasil vel responsável pela transmissão foi coabitação entre pessoas e gatos. A
Borguezan et al prevalência de soropositividade foi maior na faixa etária entre 21 e 25 anos.

Subnotificação 2017 Quantitativo As maiores taxas de incidência de sífilis em gestante foram observadas
de sífilis em Epidemiol. Serv. povos indíge- em 2014 (41,1/1000 nascidos vivos) e de sífilis congênita em 2013 (10,7/1000
gestantes, Saude, nas em Mato nascidos vivos); observou-se importante subnotificação, de 45/79 casos
congênita e Grosso do Sul de sífilis em gestante no SINAN em 2014, 8/17 casos de sífilis congênita no
adquirida entre Scielo DSEI-MS em 2014, e 5/9 e 10/18 casos de sífilis adquirida no SINAN em 2011
povos indíge- e 2013, respectivamente.
nas em Mato
Grosso do Sul,
2011-2014
Tiago et al

Elaborado pelos autores F. Estudos Demográficos


Fonte: Scielo, Lilacs, Pubmed e Bireme. Conforme se observa no quadro 7 a seguir, nas pesquisas
desenvolvidas com a temática estudos Demográficos
entre população indígena do Mato Grosso do Sul, foi
encontrado 1 (um) estudo, constatando que a maior
proporção de indivíduos menores de 15 anos e menor
de idosos e taxas mais elevadas de mortalidade em
idade precoce e por doenças infecciosas e parasitárias.
Os homens indígenas apresentaram taxas significativa-
mente maiores para as causas externas, doenças do apa-
relho respiratório e doenças infecciosas.

143
os 3 melhores trabalhos

Quadro 7: Pesquisas desenvolvidas com a temática


estudo demográfico entre populações indígenas do Mato
Grosso do Sul, variáveis: Título, autor, ano, periódico, Tipo Elaborado pelos autores
de pesquisa, público alvo e resultados de 2011 a 2017. Fonte: Scielo, Lilacs, Pubmed e Bireme.

Título /Autor Ano / Tipo Resultados


Periódico /Público alvo

Aspectos 2011 Quantitativo Na população indígena, comparativamente à do estado, maior proporção de


demográficos Cad. Saúde população indí- indivíduos menores de 15 anos e menor de idosos e taxas mais elevadas de
e mortalidade Pública gena do MS mortalidade em idades precoces e por doenças infecciosas e parasitárias.
de populações Scielo Os homens indígenas apresentaram taxas significativamente maiores para
indígenas do as causas externas, doenças do aparelho respiratório e doenças infeccio-
Estado do Mato sas. Entre as mulheres, apenas as causas externas e doenças infecciosas se
Grosso do Sul, destacaram. A grande importância dos suicídios na juventude apresentou-
Brasil -se como aspecto relevante.
Ferreira et al

O perfil de morbimortalidade de tais comunidades G. Enteroparasitismo


está estritamente relacionada às condições de vida, No que se refere a pesquisa desenvolvida com a temática
sendo acometidos por doenças e agravos como a pneu- Enteroparasitismo, do tipo quantitativa com a popu-
monia, tuberculose, desnutrição infantil, alcoolismo, lação terena, constatou-se Infecções por helmintos,
drogas e a violência. Além de outras como as Doenças com positividade de 76,9% das amostras, conforme se
Sexualmente Transmissíveis, hipertensão e Diabetes observa no quadro 8, a seguir.
(PICOLI et al, 2006; GUIMARÃES e GRUBITS, 2007; FÁVARO
et al, 2007; MARQUES et al 2010; FERRI e GOMES, 2011). Quadro 8: Pesquisa desenvolvida com a temática
Enteroparasitismo, variáveis: Título, autor, ano, periódico,
delineamento da pesquisa e público alvo, de 2011 a 2017

Título /Autor Ano /Periódico Tipo Resultados


/Público alvo

Enteroparasitismo 2014 Quantitativo Os resultados apontaram Infecções por helmintos nematoides


em indígenas Rev. salud pública Terenas das espécies Ascaris lumbricoides, Ancylostomidae, Enterobius
Terena no Estado Scielo vermicularis, Strongyloides stercoralis e Trichuris trichiura
de Mato Grosso do Lilacs foram identificados; cestodos das espécies Hymenolepis
Sul, Brasil nana e Taeniaspp. Também por protozoários das espécies
Neres-Norberg Cryptosporidium spp., Giardia lamblia, Endolimax nana,
et al Entamoeba coli e Entamoeba histolytica. Das amostras inves-
tigadas, 23,1% foram negativas; dos 76,9% parasitados, houve
diferença estatisticamente insignificante para o parasitismo
em homens e mulheres examinados, de um a 33 anos, e em mono
parasitismo específico, ou com simultaneidade de espécies.
Como diversidade parasitária, foram encontradas sete espécies
de helmintos e cestóides de nematoides e cinco de protozoários,
flagelados e enterozoários de Archamoebae.

Elaborado pelos autores


Fonte: Scielo, Lilacs, Pubmed e Bireme.

144
Produção sobre morbimortalidade da população indígena do estado de Mato Grosso do Sul

4. Considerações Finais e medidas efetivas que mudem tal situação sejam apli-
Considerando-se o fato de que as pesquisas na área cadas, afim de melhorar a qualidade de vida geral dessa
da saúde indígena são relativamente recentes e muitas população que representa com tanta importância e sin-
vezes apresentam-se de forma restrita quanto à cober- gularidade o Brasil.
tura no que se refere a carência de fontes de dados
capazes de gerar indicadores por etnia, constata-se 5 . R E F E R Ê N C IAS B I B L IO G R Á F I CAS
que as pesquisas relacionados a morbidade e mortali-
dade da população indígena do estado de Mato Grosso 1. ALMEIDA, J.B.; KIAN, K.O; LIMA, R.C; SOUZA, M.C.C.
do Sul apresentam parcas publicações e inúmeras lacu- Adiposidade Total e Abdominal e Hipertensão Arterial
nas a serem preenchidas, sendo necessária a realização em Mulheres indígenas no Centro-Oeste do Brasil.
de mais trabalhos científicos para melhor elucidação PloSOne.2016;11(6):e 0155528.
da presente temática indígena em seu atual contexto.
2. BASTA, Paulo Cesaret al. Desigualdades sociais e
O presente estudo identificou trabalhos a res-
tuberculose: análise segundo raça/cor, Mato Grosso
peito de patologias como a Tuberculose, Hipertensão
do Sul. Revista de Saúde Pública [online]. 2013, v.
Arterial Sistêmica, Diabetes Melitus, obesidade, sui-
47, n. 5, pp. 854-864. Disponível em: <https://doi.
cídio, Vigilância alimentar e Nutricional, câncer
org/10.1590/S0034-8910.2013047004628. Acessado
de Colo de útero, Infecções Sexual Transmissíveis (IST)
em 15 Jan 2019.
e Enteroparasitismo.
Constata-se, a partir dos artigos identificados que 3. BORGUEZAN, Celso et al. Soroprevalência de
a sífilis apresenta elevada incidência e a subnotificação anticorpos anti-Toxoplasma gondii em indígenas
de casos nos sistemas de informações oculta a magni- da etnia Terena, Mato Grosso do Sul, Brasil. Rev
tude da doença entre indígenas de Mato Grosso do Sul. Cubana Med Trop, Ciudad de la Habana , v. 66, n. 1,
Ademais, no âmbito doenças crônicas destaca-se os estu- p. 48-57, março 2014 . Disponivel em <http://scielo.
dos sobre Hipertensão Arterial Sistêmica, Diabetes sld.cu/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0375-
Melitus e obesidade, agravos relacionados as mudanças 07602014000100005&lng=es&nrm=iso>. Acesso
de hábitos comportamentais e alimentares, cenário esse em 13 jan 2019.
marcantemente presente em comunidades indígenas
4. CARDOSO, Andrey Moreira; COIMBRA JR., Carlos E.A.;
especialmente da etnia Terena.
TAVARES, Felipe Guimarães. Morbidade hospitalar
Evidencia-se, também um paradoxo: ao mesmo
indígena Guarani no Sul e Sudeste do Brasil. Rev.
tempo que há prevalência e incidência elevada
bras. epidemiol., São Paulo , v. 13, n. 1, p. 21-34, Mar.
de Hipertensão Arterial Sistêmica, Diabetes Melitus
2010. Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.
e obesidade, há entre a população indígena do estado
php?script=sci_arttext&pid=S1415-790X201000010
crianças em situação de desnutrição infantil, mesmo
0003&lng=en&nrm=iso>. Acesso em 05 Maio 2015.
com a redução na prevalência de baixo peso de 16,0 para
http://dx.doi.org/10.1590/S1415-790X2010000100003.
6,5% no período. Destacando-se que os estudos apontam
maior prevalência entre os Kaiowá guaranis, residentes 5. CUNHA, Eunice Atsuko et al . Incidence and
nas aldeias do sul do estado. transmission patterns of tuberculosis among
No âmbito das doenças psíquicas, o suicídio assume indigenous populations in Brazil. Mem. Inst.
papel de um grave problema de saúde pública em Mato Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro , v. 109, n. 1, p. 108-
Grosso do Sul, tendo impacto alarmante e despropor- 113, Feb. 2014. Disponível em <http://www.scielo.
cional na população indígena há mais de uma década. br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0074-
Conclui-se que os resultados apresentados permi- 02762014000100108&lng=en&nrm=iso>. Acesso em
tem afirmar a inferioridade das condições de saúde 15 Jan. 2019.
da população indígena em relação a população geral,
apresentando lacunas tanto relacionadas as diversas
áreas de conhecimento quanto as etnias. Assim, é essen-
cial a realização de estudos atuais que visem o preen-
chimento de tais lacunas para que atenção apropriada

145
os 3 melhores trabalhos

6. FÁVARO, Thatiana; RIBAS, Dulce Lopes Barboza; 14. HECK Egon D., MACHADO Flávio (Org). As violências
ZORZATTO, José Roberto; SEGALL-CORRÊA, Ana contra os povos indígenas em Mato Grosso do Sul e as
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146
Produção sobre morbimortalidade da população indígena do estado de Mato Grosso do Sul

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questão social: uma revisão sistemática de estudos
brasileiros. Rev. Bras. Pesq. Saúde, Vitória, 17(4): 156-
175, out-dez, 2015.

147
os 3 melhores trabalhos

Criação de uma macro


para controle do
calendário de vacinação
pela rede pública de saúde
Obs: Por motivos de força maior o artigo não pôde ser colocado em
sua totalidade sendo apresentado aqui somente o seu resumo.

Assista a
apresentação

Apresentado por
Pedro José Sartorelli Lantin

Autores: Pedro José Sartorelli


Lantin; Solange de Fatima Mohd Introdução: Em meio à pandemia causada pelo SARS-CoV-2, o Brasil ainda
Suleiman Shama; Marta Rosecler
enfrenta surtos de sarampo e febre amarela1. O ressurgimento de surtos
Bez
causados por doenças preveníveis por vacina pode ser reflexo da baixa cober-
tura vacinal do país2 ou falha na adesão aos reforços3 que podem, por sua
vez, terem como causa o esquecimento dos pais sobre a necessidade de uma
imunização, indicando que o atual sistema de controle vacinal precisa ser
repensado.

Objetivo: O objetivo deste trabalho é apresentar a criação de uma macro


no software Excel que realiza o controle do calendário vacinal da população
cadastrada, alertando o cidadão e o agente de saúde sobre a necessidade
de uma nova imunização.

Método: O desenvolvimento se deu com o uso do Visual Basic for Application


(VBA) para a criação de macros, seguindo a metodologia tradicional de desen-
volvimento de software4.

Resultado: Ao ser acionado, o instrumento desenvolvido emite um alerta


na tela do computador sobre a necessidade de uma nova imunização, aler-
tando o agente comunitário de saúde (ACS) e lhe dando a opção de enviar

148
Criação de uma macro para controle do calendário de vacinação pela rede pública de saúde

um e-mail padronizado convidando o cidadão a compa- 4. 4 Kroll P, Kruchten P. The rational unified process made
recer na unidade de saúde. Dessa forma, o instrumento easy: A practioner's guide to the RUP. 4th ed. USA:
tem sua funcionalidade de controle e alerta preservada Addison-Wesley Professional; 2004.
mesmo em ambiente offline à medida em que deixa
o ACS ciente da situação. O corpo do texto do e-mail tam-
bém contém uma breve informação sobre a(s) doença(s)
que aquela vacina previne, servindo como uma forma
de informar e educar a população.

Conclusão: Foi desenvolvido um protótipo de um instru-


mento que é capaz de funcionar mesmo em localidades
desprovidas de internet e que, apesar do uso da tecno-
logia, não se esquece do fator fundamental na promo-
ção e educação em saúde na atenção básica, que é o ACS,
permitindo que o Estado busque os faltosos e os convide
a se cuidarem. A partir desse protótipo é necessário se
pensar no desenvolvimento de softwares que façam esse
gerenciamento, que também emitam alertas por outras
formas como SMS e mensagens de whatsapp e que se
comuniquem com os prontuários eletrônicos existentes
nos municípios para unificar as informações de saúde
da população, permitindo uma melhor gestão de indi-
cadores de saúde.

Palavras-chave: Vacinas. Programa Nacional de


Imunização. Cobertura Vacinal. Informática Médica.
Agentes Comunitários de Saúde.

R E F E R ÊN C I AS BIBLIOGRÁF ICAS

1. 1 Giannini D. País tem surto de sarampo e revive febre


amarela durante a pandemia. R7 [Internet]. 2020 Jul
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r7.com/saude/pais-tem-surto-de-sarampo-e-revive-
febre-amarela-durante-a-pandemia-12072020

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índice mais baixo em 16 anos. Folha de S. Paulo.
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vacinacao-de-criancas-no-pais-atinge-
indice-mais-baixo-

3. 3 Guerra FA. Delays in Immunization Have Potentially


Serious Health Consequences. Pediatric Drugs. 2007
Maio; 9(3): p. 143-148.

149
Bem vi ndo à
VIDA MÉDICA SANAR UP

6º ano

5º ano SANAR UP

4º ano

3º ano

2º ano

SANAR UP 1º ano

Bem vi ndo à
SANAR|MED

SAIBA MAIS SOBRE

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