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2. Equilíbrio
2.2.1. Estabilidade
2. Equilíbrio
Uma das maiores aplicações da Termodinâmica na indústria química é o
estudo dos estados de equilíbrio. Uma situação de equilíbrio constitui sempre um
limite que não se pode transpor, mantidas constantes as condições de um sistema.
A força motriz para a transferência de momento, calor e massa é sempre a tendência
ao estado de equilíbrio – e ao Engenheiro Químico cabe justamente manipular essa
tendência ao equilíbrio par a obter um resultado prático adequado.
Define-se equilíbrio como um estado em que as propriedades do sistema não
variam com o tempo, e em que não existem fluxos líquidos de massa ou energia. Esse
estado é único para um sistema submetido a um conjunto de restrições. Dessa
maneira, a questão que que devemos responder é: considerando um sistema sujeito
a um conjunto de restrições, qual será seu estado de equilíbrio?
Analisemos inicialmente um sistema isolado, isto é, um sistema no qual a
energia interna, o volume e a quantidade de matéria sejam constantes. Um
raciocínio apressado poderia levar à conclusão de que, como 𝑑𝑈 = 0 e 𝑑𝑉 = 0, pois
pela definição de entropia
1 𝑃
𝑑𝑆 = 𝑑𝑈 + 𝑑𝑉 ( 2-1 )
𝑇 𝑇
teríamos necessariamente 𝑑𝑆 = 0. Essa conclusão é incorreta pelo fato de esta
equação ser válida somente para um sistema homogêneo – e por enquanto nada se
sabe a respeito da homogeneidade do sistema. Para um raciocínio mais geral
consideramos o enunciado da segunda lei que diz que em qualquer processo a
entropia total do sistema e de suas vizinhanças não pode diminuir, mantendo-se
constante somente no caso de processos reversíveis. Como o sistema é isolado, não
existe influência das vizinhanças em seu comportamento, de modo que a entropia
total do sistema não pode diminuir. Se transformações reversíveis ocorrem no
sistema, sua entropia mantém-se constante; se transformações irreversíveis
ocorrem, sua entropia aumenta. De todo modo, no equilíbrio sua entropia deve ser
máxima com respeito a todos os estados acessíveis: se houver alguma mudança em
que a entropia total pode aumentar, o sistema ainda não estará em equilíbrio. Esse
critério é descrito matematicamente por meio das equações:
𝑑𝑆 = 0 ( 2-2 )
𝑑2𝑆 ≤ 0 ( 2-3 )
Portanto, a conclusão de que 𝑑𝑆 = 0 é válida, mas em virtude desse
raciocínio. Posteriormente esse critério será aplicado a sistemas não-homogêneos
(multifásicos), levando a que outras conclusões sejam obtidas.
Esse critério toma formas diferentes caso o sistema esteja sujeito a outras
restrições. Consideremos um sistema mantido a temperatura e volume constantes.
Qual relação deve ser satisfeita no equilíbrio? Para isso consideremos um sistema
composto, formado pelo sistema de interesse (sistema 1) em contato com um
sistema homogêneo mantido em temperatura constante (sistema 2), conforme a
figura seguinte.
Sistema 2 Q Sistema 1
𝑇 = 𝑇1 𝑇 = 𝑇1
𝑉 𝑉 = 𝑉1
Essa equação é válida para um sistema fechado. Das duas relações anteriores,
temos:
𝜕𝑈
( ) =𝑇 ( 2-21 )
𝜕𝑆 𝑉
𝜕𝑈 ( 2-22 )
( ) = −𝑃
𝜕𝑉 𝑆
𝜕𝑈 ( 2-28 )
( ) = −𝑃
𝜕𝑉 𝑆,𝑛
𝜕𝐻 ( 2-34 )
( ) =𝑉
𝜕𝑃 𝑆,𝑛
𝜕𝐻 ( 2-35 )
( ) =𝜇
𝜕𝑛 𝑆,𝑉
Para a energia de Helmholtz, segue-se analogamente:
𝐴 = 𝑈 − 𝑇𝑆 ⇒ 𝑑𝐴 = 𝑑𝑈 − 𝑑(𝑇𝑆) = 𝑑𝑈 − 𝑇𝑑𝑆 − 𝑆𝑑𝑇 ( 2-36 )
𝑑𝐴 = −𝑆𝑑𝑇 − 𝑃𝑑𝑉 + 𝜇𝑑𝑛 ( 2-37 )
𝜕𝐴 ( 2-38 )
( ) = −𝑆
𝜕𝑇 𝑉,𝑛
𝜕𝐴 ( 2-39 )
( ) = −𝑃
𝜕𝑉 𝑇,𝑛
𝜕𝐴 ( 2-40 )
( ) =𝜇
𝜕𝑛 𝑇,𝑉
e, consequentemente, para a energia de Gibbs:
𝑑𝐺 = −𝑆𝑑𝑇 + 𝑉𝑑𝑃 + 𝜇𝑑𝑛 ( 2-41 )
𝜕𝐺 ( 2-42 )
( ) = −𝑆
𝜕𝑇 𝑃,𝑛
𝜕𝐺 ( 2-43 )
( ) =𝑉
𝜕𝑃 𝑇,𝑛
𝜕𝐺 ( 2-44 )
( ) =𝜇
𝜕𝑛 𝑇,𝑃
Deve-se notar que, pelas expressões acima, o potencial químico pode ser
escrito simultaneamente como:
𝜕𝑈 𝜕𝐻 𝜕𝐴 𝜕𝐺
𝜇=( ) =( ) =( ) =( ) ( 2-45 )
𝜕𝑛 𝑆,𝑉 𝜕𝑛 𝑆,𝑉 𝜕𝑛 𝑇,𝑉 𝜕𝑛 𝑇,𝑃
Pode-se notar que o potencial químico pode ser obtido de maneira mais
direta a partir das energias de Helmholtz e Gibbs, em razão das variáveis que devem
ser mantidas constantes. Especificamente a energia de Gibbs guarda uma relação
direta com o potencial químico. Lembremo-nos de que a energia de Gibbs extensiva
(como qualquer grandeza derivada da energia interna) pode ser escrita como:
𝐺[𝑃, 𝑇, 𝑛] = 𝑛𝐺[𝑇, 𝑃] ( 2-46 )
da qual segue diretamente:
𝜕(𝑛𝐺 )
𝜇=( ) = 𝐺[𝑇, 𝑃] ( 2-47 )
𝜕𝑛 𝑇,𝑃
+ 𝜆𝑈 (𝑈 𝐼 + 𝑈𝐼𝐼 − 𝑈)
em que são os multiplicadores de Lagrange. Como é função das propriedades
dos dois subsistemas, podemos derivá-la separadamente com respeito às
propriedades de cada um dos subsistemas. Por exemplo, com respeito à energia
interna do subsistema I:
𝜕𝛬 𝜕𝑆 𝐼 ( 2-53 )
= ( 𝐼) + 𝜆𝑈 = 0
𝜕𝑈𝐼 𝜕𝑈 𝑉 𝐼 ,𝑛𝐼
e do subsistema II:
𝜕𝛬 𝜕𝑆 𝐼𝐼 ( 2-54 )
= ( ) + 𝜆𝑈 = 0
𝜕𝑈𝐼𝐼 𝜕𝑈𝐼𝐼 𝑉 𝐼𝐼 ,𝑛𝐼𝐼
2.2.1. Estabilidade
Deve-se notar que a restrição 𝑑𝑆 = 0, condição necessária de equilíbrio em
um sistema isolado, também é satisfeita em pontos de máximo de entropia. A
discriminação entre pontos de máximo ou mínimo (ou de sela) de funções de várias
variáveis é matematicamente complexa, mas alguns resultados têm forma bastante
simples – e útil para a aplicação em Termodinâmica. Vamos apresentar esses
resultados aqui, mesmo sem apresentar o devido desenvolvimento matemático. Tais
restrições são conhecidas por condições de estabilidade.
Estabilidade mecânica: uma compressão isotérmica leva necessariamente a
uma diminuição do volume.
𝜕𝑃 ( 2-58 )
( ) <0
𝜕𝑉 𝑇
Intuitivamente, imaginamos que essa condição seja naturalmente satisfeita
por todos os materiais: se aumentamos a pressão exercida sobre um sistema, seu
volume diminui. O que a condição de estabilidade nos diz é que essa é uma condição
necessária para que um sistema exista.
Estabilidade térmica: um aumento de temperatura em um sistema a volume
constante leva necessariamente a um aumento na energia interna.
𝜕𝑈 ( 2-59 )
( ) >0
𝜕𝑇 𝑉
ou, simplesmente, 𝐶𝑉 > 0. Também é uma condição que intuitivamente imaginamos
seja sempre satisfeita.
Essas condições têm de ser respeitadas por quaisquer fases estáveis; caso
haja mais de uma fase em equilíbrio, elas devem ser respeitadas em todas. Existe
uma terceira condição de estabilidade (química) que será introduzida
posteriormente.
Um sistema em que a entropia não seja máxima (ou as energias de Gibbs e
Helmholtz não sejam mínimas, dependendo das condições a que o sistema esteja
sujeito), mas em que as condições de estabilidade sejam satisfeitas, pode existir: é o
chamado estado metaestável.
Por exemplo, em um processo de aquecimento, um líquido pode ter sua
temperatura elevada acima do ponto de ebulição – ou, em um processo de
resfriamento, sua temperatura pode diminuir abaixo da temperatura de fusão.
Ocorrências desse tipo fazem parte do cotidiano. Estados metaestáveis são estáveis
com respeito a pequenas perturbações, mas não a perturbações significativas.
Um estado em que as desigualdades acima se tornem igualdades é
denominado limite de estabilidade.
2.3. A equação de Clapeyron
No caso de sistemas com uma única substância, o cálculo do estado de
equilíbrio se resume, basicamente, a definir a relação entre pressão e temperatura
de equilíbrio. Nesse caso específico, sabe-se que ao longo de uma curva de equilíbrio
entre duas fases I e II, tem-se:
𝜇 𝐼 [𝑃, 𝑇] = 𝜇 𝐼𝐼 [𝑃, 𝑇] ( 2-60 )
𝑑𝜇 𝐼 = 𝑑𝜇 𝐼𝐼 ( 2-61 )
em que os índices I e II identificam as duas fases. Como o potencial químico é função
de pressão e temperatura:
𝜕𝜇 𝜕𝜇
𝑑𝜇 = ( ) 𝑑𝑇 + ( ) 𝑑𝑃 = −𝑆𝑑𝑇 + 𝑉𝑑𝑃 ( 2-62 )
𝜕𝑇 𝑃 𝜕𝑃 𝑇
Nessa equação, usamos a identidade entre o potencial químico e a energia de
Gibbs molar. Desse modo:
−𝑆 𝐼 𝑑𝑇 + 𝑉 𝐼 𝑑𝑃 = −𝑆 𝐼𝐼 𝑑𝑇 + 𝑉 𝐼𝐼 𝑑𝑃 ( 2-63 )
que resulta em:
𝑑𝑃 ∆𝐼−𝐼𝐼 𝑆
| = ( 2-64 )
𝑑𝑇 𝐼−𝐼𝐼 ∆𝐼−𝐼𝐼 𝑉
em que ∆𝐼−𝐼𝐼 𝐹 é a variação de F associada à mudança de fases em questão. Podemos
também mudar essa equação considerado que, pela igualdade entre potencial
químico e energia de Gibbs molar:
∆𝐼−𝐼𝐼 𝐻 ( 2-65 )
𝜇 𝐼 = 𝜇 𝐼𝐼 ⇒ 𝐻 𝐼 − 𝑇𝑆 𝐼 = 𝐻 𝐼𝐼 − 𝑇𝑆 𝐼𝐼 ⟹ ∆𝐼−𝐼𝐼 𝑆 =
𝑇
que resulta em:
𝑑𝑃 ∆𝐼−𝐼𝐼 𝐻
| = ( 2-66 )
𝑑𝑇 𝐼−𝐼𝐼 𝑇∆𝐼−𝐼𝐼 𝑉
Essa equação é conhecida como equação de Clapeyron. Ela é exata, e pode ser
usada para descrever qualquer transição de fases.
Podemos simplificar a equação anterior para transições que envolvam uma
fase vapor (vaporização ou sublimação) considerando que:
a) o volume da fase vapor é muito maior que o da fase densa,
b) em pressões baixas, o volume da fase vapor é igual ao volume de um gás ideal.
Vamos escrever os resultados correspondentes para a vaporização
(transição líquido-vapor); para a sublimação, o raciocínio é semelhante.
Substituindo, nesse caso, ∆𝐼−𝐼𝐼 𝑉 pelo volume do gás ideal:
𝑑𝑃𝑣𝑎𝑝 𝑃∆𝑣𝑎𝑝 𝐻 𝑑𝑙𝑛(𝑃𝑣𝑎𝑝 ) ∆𝑣𝑎𝑝 𝐻
= ⟹ = ( 2-67 )
𝑑𝑇 𝑅𝑇 2 𝑑𝑇 𝑅𝑇 2
Se a faixa de temperaturas não for muito grande, esta equação pode ser
integrada considerando-se o valor da entalpia de vaporização constante. Assim:
𝑃𝑣𝑎𝑝 [𝑇2 ] ∆𝑣𝑎𝑝 𝐻 1 1
𝑙𝑛 ( 𝑣𝑎𝑝 )=− ( − ) ( 2-68 )
𝑃 [𝑇1] 𝑅 𝑇2 𝑇1
Essa equação é chamada de equação de Clausius-Clapeyron. Ela não é exata,
e pode ser usada para descrever apenas transições que envolvam fase vapor em
baixas pressões. A equação de Clausius-Clapeyron mostra que o logaritmo da
pressão de vapor se relaciona com o inverso da temperatura. Por essa razão,
equações que ajustam a pressão de vapor com a temperatura normalmente têm a
forma:
𝑘 (2)
𝑙𝑛𝑃𝑣𝑎𝑝 [𝑇] = 𝑘 (1) + + 𝑓[𝑇] ( 2-69 )
𝑇
em que 𝑓[𝑇] é uma função da temperatura, e 𝑘 (1) e 𝑘 (2) são parâmetros ajustáveis,
dependentes de cada substância. Como exemplo, a equação de Antoine é uma
modificação desta equação, útil para ajustar dados de pressão de vapor em faixas
não muito extensas de temperatura:
𝑘 (2)
𝑙𝑛𝑃𝑣𝑎𝑝 [𝑇] = 𝑘 (1) − ( 2-70 )
𝑇 + 𝑘 (3)
Outras equações úteis, e que em certo sentido estendem essa abordagem, são
a equação de Riedel:
𝑘 (2)
𝑙𝑛𝑃𝑣𝑎𝑝 [𝑇] = 𝑘 (1) + + 𝑘 (3) 𝑙𝑛𝑇 + 𝑘 (4) 𝑇 6 ( 2-71 )
𝑇
e a equação de Wagner:
𝑃𝑣𝑎𝑝 [𝑇] 𝑘 (1) 𝜏 + 𝑘 (2) 𝜏 1,5 + 𝑘 (3) 𝜏 2,5 + 𝑘 (4) 𝜏 5
𝑙𝑛 = ( 2-72 )
𝑃𝐶 1−𝜏
em que:
𝑇
𝜏=1− ( 2-73 )
𝑇𝐶