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Ano 2015 | N.

º 88 | MENSAL Tiragem 500 exemplares | Distribuição Gratuita


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As opiniões expressas pelos autores nos artigos aqui publicados, não veiculam necessariamente o posicionamento da SAL & Caldeira Advogados, Lda.

ÍNDICE NOTA DO EDITOR


Caro Leitor:
A Aplicação do IVA na Agricultura –
Breve Referência à Proposta de Nesta edição são abordados temas como “A Aplicação do IVA na Agricultura – Breve
Alteração do Código do Imposto Sobre Referência à Proposta de Alteração do Código do Imposto Sobre o Valor Acrescenta-
o Valor Acrescentado em Vigor do em Vigor” , “Empréstimos Entre as Empresas Associadas – Uma Perspectiva Fiscal”
e “Regime Jurídico da Importação Temporária em Moçambique”
Empréstimos Entre as Empresas Associ-
Pode ainda, como habitualmente, consultar o nosso Calendário Fiscal e a Nova
adas – Uma Perspectiva Fiscal
Legislação Publicada.
Regime Jurídico da Importação
Tenha uma boa leitura !
Temporária em Moçambique

Nova Legislação Publicada Para evitar os efeitos nefastos deste tipo de O regime aduaneiro da importação
isenção sobre a cadeia de produção e o temporária, de certa forma, constitui um
Obrigações Declarativas e Contributivas produto final, o CIVA prevê, até aqui, dois incentivo para o empresariado, no sentido
- Calendário Fiscal 2015 - (Novembro) mecanismos principais, respectivamente: (i) de que ele abre uma oportunidade para que
uma vasta gama de isenções nas aquisições se importe equipamentos por um determi-
Informação Sobre A Nova Lei Que Cria de determinados inputs de produção e nado período de tempo, sem que o
O Sistema De Informação De Crédito equipamentos e (ii) a possibilidade de empresário tenha que suportar custos
De Gestão Privada renúncia do regime de isenção.Cont. Pág. 2 relacionados com os Direitos Aduaneiros,
IVA e outras imposições...Cont. Pág. 4

FICHA TÉCNICA
EDIÇÃO, GRAFISMO E MONTAGEM: SÓNIA SULTUANE - DISPENSA DE REGISTO: Nº 125/GABINFO-DE/2005
COLABORADORES: Rute Nhatave, Sérgio Ussene Arnaldo, Sharfaraz Cassamo Osman, Sheila Tamyris da Silva, Stela da Glória Silica, Vanda Ramalho Portugal.

SAL & Caldeira Advogados, Lda. é membro da DLA Piper Africa Group, uma aliança de firmas líderes de advocacia independentes que trabalham em conjunto com a DLA Piper, internacionalmente e em toda a África.

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A APLICAÇÃO DO IVA NA AGRICULTURA – BREVE REFERÊNCIA À PROPOSTA DE ALTERAÇÃO
DO CÓDIGO DO IMPOSTO SOBRE O VALOR ACRESCENTADO EM VIGOR
O presente artigo visa abordar o regime jurídico do Imposto sobre o Valor Acrescenta- algumas possíveis medidas de mitigação, como por exemplo o estabelecimento de um
do (IVA) vigente em Moçambique no sector da agricultura, bem como trazer à colação conjunto de requisitos mínimos para a aplicabilidade da medida (ou seja, a obrigatorie-
alguns aspectos relacionados com esta matéria, sujeitos à alteração nos termos da dade de contabilidade organizada, por exemplo) e a possível introdução de um modelo
proposta de alteração do Código do IVA, aprovado pela Lei n.º 32/2007, de 31 de especial de facturas que melhor assegure o controlo da medida.
Dezembro (CIVA), que foi colocada à disposição do sector privado para análise e
discussão. Sucessivamente, as alíneas a) e b) do número 13, do mesmo artigo, prevêem uma
isenção temporária, até 31 de Dezembro de 2015, da transmissão do açúcar, da
O IVA é um imposto indirecto que incide sobre o valor das transmissões de bens e aquisição de matérias-primas, produtos intermediários, peças, equipamentos e
prestação de serviços realizados no território nacional a título oneroso, por sujeitos componentes, efectuadas pela indústria nacional do açúcar e da transmissão de bens e
passivos agindo nessa qualidade, bem como sobre as importações de bens. O IVA recai prestação de serviços efectuadas no âmbito da actividade agrícola de produção de
sobre o preço dos produtos ou serviços sejam eles adquiridos por intermediários ou cana-de-açúcar e destinadas à indústria.
pelo consumidor final; contudo, diferentemente deste último, os intermediários podem
recuperar a diferença suportada, exercendo o direito de dedução ou pedindo o Esta isenção torna menos onerosa a transmissão do açúcar e das matérias-primas e
reembolso do IVA para que o valor pago recaia somente ou apenas sobre o valor equipamentos usados para a indústria do açúcar, mas torna todo IVA suportado por
acrescentado da produção do bem ou serviço. intermediários na aquisição de inputs para a produção de um bem ou serviço num
custo a ser incorporado no produto final.
Tendo em consideração o papel chave da agricultura na economia Moçambicana, o
governo decidiu apoiar o desenvolvimento deste sector vital, através da criação de A proposta de alteração do CIVA sugere uma prorrogação do prazo desta isenção
vários incentivos fiscais, que vão desde a redução da taxa do Imposto sobre o para até 31 de Dezembro de 2017. Sobre este aspecto, entendemos que embora o
Rendimento das Pessoas Colectivas actuando no sector (IRPC) para 10 %, redução da prazo da isenção esteja quase no final, os objectivos planeados neste sector pelo
taxa que incide sobre o combustível, isenção do pagamento do IVA nas transmissões Estado ainda não foram alcançados. Podemos ir mais longe afirmando que a extensão
internas de bens e serviços e importação de bens, entre outros benefícios. se afigura tímida, pois a escassez deste prazo pode impedir possíveis efeitos positivos
da manutenção da isenção, em particular na presente fase da economia mundial, que
Note-se que o regime geral para a agricultura, estabelecido no CIVA é o da isenção do em Moçambique se traduz em crescentes pressões inflacionistas.
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imposto nas explorações agrícolas - isenção simples - que se distingue da isenção


completa, por esta última permitir a dedução do IVA suportado. Em virtude da isenção Outras disposições que determinam isenções ao sector agrícola são: (i) o n.º 10 do
geral ser uma isenção simples, o IVA eventualmente incluído nos inputs do produtor artigo 9 do CIVA, para a transmissão do milho, 5
farinha de milho, arroz, pão, sal iodado,
agrícola não pode ser recuperado, tendo que ser assumido como um custo, conforme trigo e farinha de trigo, tomate, batata, cebola, (ii) a al. h) do n.º 12, para a transmissão
explanaremos mais adiante. de bens e equipamentos, sementes, adubos, pesticidas, herbicidas, fungicidas e similares,
constantes da Pauta Aduaneira; (iii) al. f) do n.º 13, para a transmissão de bens e
Para evitar os efeitos nefastos deste tipo de isenção sobre a cadeia de produção e o prestação de serviços efectuadas no âmbito da actividade agrícola de produção de
produto final, o CIVA prevê, até aqui, dois mecanismos principais, respectivamente: (i) cana-de-açúcar e destinados à indústria; (iv) artigo 12 do CIVA, para a importação dos
uma vasta gama de isenções nas aquisições de determinados inputs de produção e produtos previstos nas alíneas a) e b) do n.º 13, acima.
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equipamentos e (ii) a possibilidade de renúncia do regime de isenção.


À excepção do número 10 supra referido, as isenções mencionadas são simples. Assim
Estabelece o n.º 7 do artigo 9 do CIVA, que estão isentas do imposto as transmissões sendo, o sujeito passivo do mesmo não cobra/liquida o imposto aos seus clientes e em
de bens e as prestações de serviços, efectuadas no âmbito de uma actividade agrícola, contrapartida, não têm direito a deduzir o imposto suportado nas aquisições aos
silvícola, pecuária ou de pesca e, nestes, as de transformação efectuadas com carácter respectivos fornecedores.
acessório pelo próprio produtor sobre os produtos provenientes da respectiva produção,
utilizando os seus próprios recursos, desde que essa transformação seja efectuada por Ademais, o comerciante informal ao comercializar produtos agrícolas tem vantagem
meios geralmente utilizados nas explorações agrícolas, silvícolas, pecuárias e de pesca. relativamente aos intervenientes formais, porque lhe é permitido comprar e vender
sem IVA. Assim, todo aquele operador formal que transacciona com o operador
Esta norma visa essencialmente beneficiar o consumidor final, no âmbito da actividade informal deve, quando legalmente exigido, liquidar, reter e canalizar o IVA ao Estado;
agrícola, isentando a primeira operação do circuito económico e as subsequentes caso contrário, incorre em multas.
quando realizadas pelo produtor sobre os produtos provenientes da sua produção,
1
feitos com meios considerados como normalmente usados na sua actividade. Deste Adicionalmente, decorre do Código do Imposto sobre o Rendimento das Pessoas
modo, nas operações subsequentes, o comerciante grossista, retalhista e outros, devem Colectivas vigente (CIRPC) que a taxa de imposto para os encargos não devidamente
incluir no preço dos seus produtos o imposto, sendo que, por exemplo, o retalhista que documentos é de 35%. Desta forma, o operador formal que obtiver na sua contabili-
adquiriu do grossista um produto com IVA, pode recuperar por via da dedução do IVA dade encargos não devidamente documentados, é penalizado por estar sujeito à
e canalização ao Estado diferentemente do produtor. E, caso a dedução resulte numa aplicação da taxa de 35% sobre o valor das vendas realizadas e não devidamente
diferença negativa, este pode pedir o reembolso dessa diferença. documentadas. Esta taxa constitui um constrangimento sério à inserção do produto
2

familiar no mercado formal de produtos agrícolas, mas também um constrangimento


Como forma de evitar este impacto negativo, a lei permite que os mesmos abdiquem para as grandes empresas, que nas suas actividades transaccionam com operadores
desta isenção optando pela liquidação e dedução do IVA suportado. informais (que vendem a baixos preços) por, na sua actividade, requererem altas
quantidades.
De referir que a proposta de alteração do CIVA vem conceder aos sujeitos passivos
que beneficiam dessa isenção, o direito de dedução. Esta é a grande novidade do Para além das isenções supramencionadas, salienta-se que o IVA suportado na
projecto de lei em discussão. Nestes termos, os operadores que beneficiam da isenção aquisição de gasóleo para a actividade de transporte rodoviário de mercadoria é
poderão deduzir o imposto suportado nas aquisições que efectuarem, sem precisar de dedutível em 50% ou 100% dependendo dos casos, o que influencia directa e positiva-
3
renunciar da isenção, por forma a reduzir o impacto negativo da isenção. Consequente- mente o sector agrícola.
mente, a isenção irá não só beneficiar o produtor na realização das suas operações
activas, mas também nas aquisições de bens e serviços com vista à realização das suas Em suma, é de se assinalar a postura do governo de apoiar este sector de grande
actividades, além de diminuir as burocracias exigidas para a renúncia (apresentação de investimento no País, em criar incentivos fiscais e não só, para a actividade agrícola e
declaração perante a Autoridade Tributária). sectores relacionados; no entanto, apesar da proposta de lei sugerir o melhoramento
do regime do IVA na agricultura, muitos aspectos ainda há a serem regulados e
Mais, compreendendo embora os efeitos económicos positivos que tal medida possa consolidados, como por exemplo, a não isenção do IVA nas transmissões secundárias,
resultar, não se pode ignorar o facto de a medida poder criar uma pressão à os mecanismos para as transacções que envolvem informais, entre outras matérias.
Autoridade Tributária no sistema de reembolsos e a eminência de um grande risco
associado à medida, especialmente se a respectiva introdução não for acompanhada de

1
O consumidor final, ao adquirir bens e serviços isentos, suporta alguma carga fiscal, apesar da mesma ser
inferior à que resultaria da não-existência da isenção.
2
Sendo o mecanismo de reembolso moroso e burocrático, os intermediários normalmente não pedem o
Stela da Glória Cabral Silica reembolso, transformando-se o imposto não recuperado num custo.
Consultora Júnior 3
A proposta não está a referenciar algo tão inovador, na medida em que a porta para o direito à dedução
Advogada nunca esteve completamente fechada.
Email: ssilica@salcaldeira.com 4
Relacionado a este aspecto e por maioria de razão, talvez se justificasse na actual conjuntura, considerar
também a possível extensão do prazo de vigência da taxa de IRPC para a agricultura (10%).
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Isenção completa: pois dá direito à dedução do IVA suportado.
Relativamente à isenção do IVA na importação de açúcar, há que mencionar que pretendeu-se com esta
medida não discriminar o produto importado do produto nacional. É discutível até que ponto é favorável à
economia nacional manter esta isenção.

SAL & Caldeira Newsletter N.º 88 2


EMPRÉSTIMOS ENTRE AS EMPRESAS ASSOCIADAS –
UMA PERSPECTIVA FISCAL

Muitas vezes para resolverem problemas de caixa, com pagamento de juros referentes aos aludidos emprésti- Relativamente ao que ficou dito no parágrafo anterior,
vista a satisfazer os seus compromissos, as empresas mos, em condições diferentes das do mercado ou nada não podemos deixar de referir que relativamente à
recorrem à figura de mútuo, comummente designada convencionem a título de juros, quando o mercado prospecção e pesquisa no sector mineiro e petrolífero,
de empréstimo e que pode tomar a mais diversas determina que haja aí juros, a administração fiscal possa indústria em ascensão em Moçambique, o quadro legal
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formas no contexto empresarial. proceder às respectivas correcções para efeitos de estabelecido pelas Leis nº 27/2014 e 28/2014, ambas
determinação de matéria colectável. de 23 de Setembro de 2014, nos artigos 26 e 36,
O mútuo é definido no artigo 1142 do Código Civil respectivamente, reputa como irrelevante a existência
(CC) em vigor como contrato pelo qual uma das Ora o preço fixado pelas partes a ser pago a título de de relações especiais para efeitos de subcapitalização.
partes empresta à outra dinheiro ou coisa fungível, juros, é também um aspecto que deve ser ponderado
ficando a segunda obrigada a restituir outro tanto do tendo em consideração aspectos fiscais a ele inerentes, As regras constantes do CIRPC e das Leis nº 27/2014 e
mesmo género e qualidade. Estabelece ainda o nº1 do nomeadamente os preços de transferência. 28/2014, ambas de 23 de Setembro de 2014, são
artigo 1145CC que as partes podem convencionar o similares sendo os dois últimos diplomas legais mais
pagamento de juros como retribuição do mútuo e que Sem prejuízo do princípio da liberdade contratual específicos, ao estabelecer o limite da dedução
este presume-se oneroso em caso de dúvida. subjacente nas relações de direito privado, o preço dos fiscalmente aceite a rácio de 2 de dívida para 1 de
juros não pode ser estabelecido pelas partes a seu capital, nos termos do nº 1 do artigo 26. Trata-se na
No lugar de se dirigirem a um banco, a opção de se belo prazer, na medida em que especial atenção deve verdade do mesmo limite, havendo como distinção o
recorrer a outra empresa que pode ou não pertencer ser dada àquilo que seria considerado razoável facto de para os dois últimos não interessar para efeitos
ao mesmo grupo empresarial, mostra-se economica- relativamente aos preços praticados no mercado, fiscais se há ou não relações especiais.
mente mais viável e vantajosa, considerando aspectos nomeadamente a moeda de expressão do financiamen-
como flexibilidade na (i) disponibilização da quantia em to. A terminar, importa dizer que embora as figuras de
questão sem necessidade de maiores burocracias e (ii) subcapitalização e de preços de transferência andem
fixação de taxas de juros relativamente mais baixas do Lembremos que, por preços de transferência deve muitas vezes de mãos dadas é preciso frisar que ambas
que as praticadas pelos bancos comerciais. entender-se o valor cobrado por uma empresa na têm origem e funções bem distintas em direito
venda ou transferência de bens, serviços ou proprie- tributário, sendo certo que o ponto comum entre
Com este artigo pretendemos apenas aflorar algumas dade intangível a empresa a ela relacionada. Tratando-se ambas é a existência de uma remuneração a título de
das questões que possam ser levantadas quando o de preços que não se negociaram num mercado livre juros com taxas bem diferentes daquelas que são
empréstimo seja acordado entre duas empresas que e aberto, podem eles desviar-se daqueles que teriam praticadas no mercado. A diferença reside sobretudo
pertençam ao mesmo grupo empresarial ou que sido acertados entre parceiros comerciais não no facto de que no caso dos preços de transferência
tenham entre si relações especiais, reguladas de modo relacionados em transacções comparáveis, nas mesmas está em causa a fixação do preço enquanto na subcapi-
geral pelo artigo 96 da Lei Geral Tributária e de modo circunstâncias. talização está em causa a operação de empréstimo em
mais específico pelo nº 5 do artigo 49 do CIRPC si e não o preço do juro.
relativamente a questão dos preços de transferência. Fica deste modo acautelado na lei, o risco de as
empresas desencadearem manobras entre si, por forma Muito embora os empréstimos entre as empresas
Ora, para os casos em que uma empresa empreste à a alterar o resultado de cada uma delas, em termos de sejam uma ferramenta prática do dia-a-dia das
outra uma determinada quantia mediante uma lucro a apurar para efeitos de tributação. empresas, com claras vantagens no que diz respeito à
remuneração previamente acordada, ou seja, mediante burocracia e taxas de juro favoráveis relativamente às
juros, determina o Código de Imposto sobre o Interessa ainda destacar, no contexto desta reflexão, a práticas bancárias, é preciso tomar o necessário
2

Rendimento das Pessoas Colectivas, doravante CIRPC, subcapitalização. A doutrina costuma referir-se a cuidado de modo que não sejam aplicáveis ao negócio
que sejam os referidos juros objecto de retenção na subcapitalização, do inglês thin capitalization como as figuras de subcapitalização e preços de transferência.
fonte à taxa de 20%, exceptuando-se os casos em que capitalização magra, insuficiente, disfarçada ou dissimula- Tanto uma como outra figura desempenham um papel
exista um acordo para evitar a dupla tributação da. preponderante para efeitos de tributação quando
internacional. Com efeito, estes acordos prevêem, por estamos perante um empréstimo entre duas empresas
regra, taxas de retenção na fonte mais baixas do que as Quer isto dizer, ao nível da tributação de rendimentos de alguma forma relacionadas entre si, exceptuando-se
constantes do CIRPC, que podem variar dos 0% até de pessoas colectivas, que os juros que uma empresa o caso das situações abrangidas pelas Leis nº 27/2014 e
aos 10% nos acordos, até à data, celebrados entre (mutuária) coloque à disposição de outra (mutuante) 28/2014 de 23 Setembro retro mencionadas, onde se
Moçambique e outros países. como resultado de um contrato de mútuo, podem ser abre mão desta especialidade das relações.
deduzidos para efeitos de apuramento da matéria
Nos casos em que a administração fiscal entenda colectável; contudo, esta dedução ocorre sempre, para Podemos então concluir que as figuras de sub
invocar a existência de relações especiais nos termos efeitos tributários, dentro dos limites do que é capitalização e de preços de transferência constituem
do já citado artigo 96 da LGT, entre as empresas fiscalmente aceite, ou seja, o endividamento não pode ferramentas legais que permitem que a administração
contratantes (mutuária e mutuante), é preciso tomar ser superior ao dobro do valor da correspondente tributária corrija a matéria colectável apurada ajustando
em consideração a questão dos preços de transferência participação no capital próprio do sujeito passivo o preço, num caso, ou respeitando os limites de rácio
tal como disposto no artigo 49 do CIRPC. Pretendeu o quando se mostrem verificadas as circunstâncias dept/equity, noutro caso.
legislador, com esta norma, assegurar que duas concretas referidas no nº 3 do artigo 52 do CIRPC.
empresas com relações especiais que convencionem o

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A concessão de empréstimos é regulada nos termos da Lei das
instituições de crédito e sociedades financeiras, Lei nº 15/99 de 01 de
Novembro, alterada pela Lei nº 9/2004 de 21 de Julho e, é uma
Vanda Ramalho Portugal actividade exclusivamente da competência das instituições de crédito e
Consultora Sénior sociedades financeiras, nos termos do artigo 7 da referida lei. Não
Jurista obstante podemos entender que são admitidas situações excepcionais
Email: vportugal@salcaldeira.com no âmbito da actividade comercial, a saber, (i) casos de créditos
concedidos por fornecedores aos seus clientes e geralmente por
curtos períodos de tempo, após a entrega de determinado bem ou
serviço e (ii) casos das holdings em que são concedidos empréstimos
para empresas participadas do mesmo grupo empresarial.
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Ainda sobre os juros, atente-se ao disposto no nº 1146 CC.

SAL & Caldeira Newsletter N.º 88 3


REGIME JURÍDICO DA IMPORTAÇÃO TEMPORÁRIA EM MOÇAMBIQUE

Com o presente artigo pretende-se abordar as vantagens que o empre- Imposições em Meticais % Da Garantia a prestar
sariado moçambicano tem no âmbito da sua actividade comercial, Menos de 125,000.00 100%
particularmente, para os que importam bens ou equipamentos para a Igual ou superior a 125,000.00 mas menor que 75%
250,000.00
prossecução das suas actividades bem como os desafios ou entraves que Igual ou superior a 250,000.00 mas menor que 50%
encontram. 500,000.00
Igual ou superior a 500,000.00 mas menor que 25%
1250,000.00
Para o efeito, iremos efectuar uma breve análise ao regime jurídico da Igual ou superior a 1250,000.00 mas menor que 10%
importação temporária, as limitações impostas pela legislação que regula- 2500,000.00
Igual ou superior a 2500,000.00 e ate 5%
menta a matéria e, no fim, vamos tecer algumas considerações que 25000,000.00
julgamos pertinentes à volta desta temática. Acima de 25000,000.00 5% ou montante a determinar pelo Director –
Geral das Alfandegas, sob requerimento do
interessado.
O regime aduaneiro da importação temporária, de certa forma, constitui
um incentivo para o empresariado, no sentido de que ele abre uma Após a importação do equipamento em regime de importação
oportunidade para que se importe equipamentos por um determinado temporária, o sujeito passivo está obrigado a reexportar o equipamento
período de tempo, sem que o empresário tenha que suportar custos dentro do prazo estabelecido, sendo que o não cumprimento dos
relacionados com os Direitos Aduaneiros, IVA e outras imposições prazos, dá lugar ao:
aduaneira. a) Levantamento do processo fiscal por cometimento de infracção
tributária por transgressão e;
Importa-nos, para o propósito do presente artigo, compulsar os seguin- b) Cancelamento imediato do regime concedido, aplicando-se ao valor
tes instrumentos legais: o Decreto nº 34/2009, de 06 de Julho de 2009, aduaneiro que consta da declaração aceite à entrada, as taxas e o regime
que aprova as Regras Gerais do Desembaraço Aduaneiro de Mercadori- pautal em vigor, calculada à taxa do câmbio do dia.
as; o Diploma Ministerial n.º 16/2012, que aprova o Regulamento do
Desembaraço Aduaneiro de Mercadorias; e o Diploma Ministerial nº A autorização do pedido de importação temporária depende da
116/2013, que aprova o Regulamento de Trânsito Aduaneiro. natureza do bem, razão pela qual existe uma hierarquia para conceder a
referida autorização, na seguinte ordem crescente:
De salientar, que a Legislação acima mencionada, entre outros regimes, • Chefes das Estâncias aduaneiras;
regula de forma específica as regras para a Importação Temporária. • Directores Regionais;
• Director Geral das Alfândegas; e
Nos termos do nº 1 do artigo 28 do Decreto nº 34/2009, a importação • Presidente da Autoridade Tributária.
temporária, é a entrada de mercadorias no território aduaneiro, com um
fim diferente de consumo e que permaneçam temporariamente dentro Conforme referido acima, o Decreto nº 34/2009, de 06 de Julho, contém
do país, objectos de posterior reexportação, gozando de suspensão no uma tabela listando os equipamentos que podem ser objecto de impor-
pagamento de direitos aduaneiros e demais imposições, desde que tação temporária e os respectivos prazos. No entanto, esta lista é
satisfeitas as condições determinadas em legislação específica. limitada. Esta limitação sente-se mais ainda com o aumento do investi-
mento estrangeiro no País que tem culminado com a uma série de novos
Na sequência do mesmo artigo acima, no nº 3, refere-se que a impor- e diversificados projectos em Moçambique. A área dos megaprojectos é
tação temporária é somente aplicável às mercadorias que tenham (i) um exemplo de uma área que tem impulsionado sobremaneira a impor-
marcas; (ii) números de fabrico ou (iii) outros meios de pagamento. A tação de equipamentos temporariamente, por causa da necessidade de
razão principal da restrição consiste em determinar facilmente bens condução de estudos especializados, incluindo mas não se limitando, a
importados temporariamente para que possam ser reexportados para o estudos de avaliação de impactos e durante a fase de construção de
seu país de origem findo o período da importação temporária. Assim, instalações de projectos de liquefacção de gás, por exemplo.
existindo uma referência do bem, esta será facilmente conferida pelo
Alfandegário, assegurando-se desta forma a efectiva reexportação dos De salientar, que a legislação é omissa sobre estas situações e por sua vez
bens importados temporariamente. esta omissão cria dificuldades ao empresário não só para importar o
equipamento, como também se perde muito tempo a obter as devidas
As mercadorias sujeitas ao regime de importação temporária encon- autorizações; como resultado, por vezes, o interessado acaba desistindo
tram-se listadas no quadro VI – Mercadorias Elegíveis ao Regime de da importação do equipamento. Note que, durante este período de
Importação Temporária, do Decreto nº 34/2009. Os prazos da espera, o empresário já está incorrer em custos no exterior, relacionados
permanência dos bens, dependem essencialmente da natureza de cada com o aluguer do equipamento, sem contar que o empresário fica ainda
equipamento, e variam de 30 a 360 dias. prejudicado porque não vai desenvolver a actividade dentro do período
previamente determinado, por não lhe ter sido ainda concedido o
A importação temporária está sujeita à apresentação de uma garantia equipamento importado, por causa das burocracias alfandegárias.
(artigo 18, Diploma Ministerial 116/2013), a garantia pode ser prestada
em (i) numerário; (ii) cheque visado; (iii) apólice de seguro; (iv) carta de Notas Finais
garantia bancária ou de instituição financeira e (v) termo de responsabili-
dade. A garantia deve ser apresentada em função daquilo que o sujeito Tem-se notado que os Diplomas Legais referentes à importação
passivo pagaria enquanto a realizar a importação definitiva. temporária não são bastante conhecidos pela comunidade empresarial.
Esperamos que este artigo ajude a elucidar a comunidade empresarial,
As garantias devem ser estabelecidas em função das imposições devidas sobre o significado da importação temporária e sobre os procedimentos
(nº 7 do artigo 28 do Decreto nº 34/2009), em anexo a tabela – e constrangimentos a ela inerentes, em Moçambique.

Sharfaraz Cassamo Osman


Consultor Júnior
Jurista
Email: sosman@salcaldeira.com

SAL & Caldeira Newsletter N.º 88 4


NOVA LEGISLAÇÃO PUBLICADA

Rute Nhatave Lei nº 6/2015 de 6 de Outubro de 2015 - Cria o Sistema de Informação de Crédito de Gestão Privada.
Arquivista / Bibliotecária
Email: rnhatave@salcaldeira.com
Lei nº 7/2015 de 6 de Outubro de 2015 - Altera e republica a Lei n.º 24/2013, de 1 de Novembro, que aprova a Lei
Orgânica da Jurisdição Administrativa.

Lei nº 8/2015 de 6 de Outubro de 2015 - Altera e republica a Lei n.º 14/2014, de 14 de Agosto, que aprova a Lei da
Organização, Funcionamento e Processo da Secção de Contas Públicas do Tribunal Administrativo.

Diploma Ministerial nº 94/2015 de 9 de Outubro de 2015 - Aprova o Regulamento Interno do Ministério do Trabalho,
Emprego e Segurança Social.

OBRIGAÇŌES DECLARATIVAS E CONTRIBUTIVAS - CALENDÁRIO FISCAL 2015

Sérgio Ussene Arnaldo    


Assessor Fiscal e Financeiro
NOVEMBRO
Grupo de Prática: Tributário - Assessoria e Treino
Email: sussene@salcaldeira.com INSS 10 Entrega das contribuições para segurança social referente ao mês de Outubro
de 2015.
IRPS 20 Entrega do imposto retido na fonte de rendimentos de 1ª, 2ª , 3ª , 4 ª e 5ª
categoria bem como as importâncias retidas por aplicação de taxas liberatóri-
as durante o mês de Outubro 2015.
IRPC 20 Entrega do imposto retido durante o mês de Outubro de 2015.

PEC 30 3ª Prestação do Pagamento especial por Conta do IRPC.


IS 20 Entregar as importâncias devidas pela emissão de letras e livranças, pela
utilização de créditos em operações financeiras referentes ao mês deOutubro
de 2015.

IPM 30 Entrega do Imposto pela extracção mineira referente ao mês de Outubro de


2015.

IPP 30 Entrega do Imposto referente a produção de petróleo referente ao mês de


Outubro de 2015.
ICE 30 Entrega da Declaração, pelas entidades sujeitas a ICE, relativa a bens produzi-
dos no País fora de armazém de regime aduaneiro, conjuntamente com a
entrega do imposto liquidado (nº 2 do artigo 4 do Regulamento do ICE).
IVA 30 Entrega da Declaração periódica referente ao mês de Outubro acompanhada
do respectivo meio de pagamento (caso aplicável).

INFORMAÇÃO SOBRE A NOVA LEI QUE CRIA O SISTEMA DE INFORMAÇÃO


DE CRÉDITO DE GESTÃO PRIVADA
Sheila Tamyris da Silva A lei 6/2015 de 6 de Outubro cria o Sistema de instruções do Banco de Moçambique, pondo em risco
Assistente Informação de Crédito de Gestão Privada em Moçam- a sua solvência, a guarda e a integridade dos dados e
Grupo de Prática: Bancário & Cambial
Email: ssilva@salcaldeira.com bique e estabelece as normas do seu funcionamento. das informações de credito, a eficácia das suas
operações e a confiança do público.
A constituição de centrais de informação de crédito
está sujeita ao licenciamento prévio do Banco de A revogação da autorização implica a dissolução e
Moçambique, cujo pedido da licença deve ser liquidação da Central de Informação de Crédito.
acompanhado de documentos que comprovem a
idoneidade dos proponentes, a capacidade financeira Os requisitos gerais para a constituição de uma central
dos mesmos para garantir a estabilidade da Central de de informação de crédito são:
Informação de Crédito e a viabilidade do projecto. a) Adoptar a forma de sociedade anónima;
b) Ter a sua sede na República de Moçambique;
A licença requisitada caduca se a instituição não for c) Ter por objecto exclusivo o exercício de actividades
constituída no prazo de doze meses a contar da data legalmente permitidas na presente lei;
da autorização, se a instituição não iniciar a actividade d) Ter capital social, integralmente subscrito e realizado,
no prazo de doze meses a contar da data da não inferior ao mínimo legal;
autorização, ou se os requerentes a ela expressamente e) Ter o capital social representado obrigatoriamente
renunciarem antes do início da actividade. por acções nominativas ou registadas ao portador.

O Banco de Moçambique pode revogar a licença As centrais de informação de crédito não devem ser
concedida à central de Informação de Crédito a participadas, directa ou indirectamente, em mais de
qualquer momento, se a mesma deixar de operar por 20% do seu capital social por um provedor, individual-
um período superior a três meses, sem autorização mente considerado, ou em mais de 49% do seu capital
prévia do Banco de Moçambique; se tiver obtido a social por provedores globalmente considerados, e
licença através de falsas declarações ou por meios nem devem adquirir participações nestas instituições.
fraudulentos; se a mesma solicitar por escrito e
voluntariamente a revogação da licença com uma O capital mínimo das centrais de informação de crédito
antecedência mínima de quatro meses da data da é fixado por regulamento.
cessão da actividade; se deixar de satisfazer os
requisitos de licenciamento aplicáveis; se violar o dever A presente Lei entra em vigor no dia 04 de Janeiro de
de segredo; ou ainda, se violar as leis ou regulamentos 2016, 90 dias a contar da data da sua publicação (06 de
que disciplinam a actividade ou ainda, não observar as Outubro de 2015).

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