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Aluna: Angela Andreolli Schussler

Disciplina: Fundamentação da ênfase I C


Curso: Psicologia
Semestre: 20.2

Resenha crítica do texto O que pode ​fazer o psicólogo na escola? ​de Albertina Mitjáns
Martinez

A educação, no campo da história da humanidade, emerge enquanto matéria de análise


para diversos pensadores, pesquisadores e estudiosos sob os mais diversos enfoques teóricos e
epistemológicos. No que concerne ao âmbito da psicologia, a educação ocupou e ocupa
grande espaço de construção reflexiva e dialética no pensar sobre o papel do psicólogo diante
daquilo que se transpassa e toca o campo educacional, sobre quais ações se constroem e são
construídas sob esse pensar e que agem, desse modo, sobre as materialidades das quais a
educação transverssa. A escola é um dos lugares privilegiados em que os processos
educativos tomam forma em nossa sociedade atual, o que faz com que o psicólogo se encontre
em constante movimento dentro dessa instituição. A partir disso, surgem diversas questões
possíveis de abordagem sob o enfoque psicológico e, em síntese, é o que intenciona a autora
Martinez, A. M. (2010) em seu artigo intitulado ​O que pode fazer o psicólogo na escola?
Segundo a autora, o papel do psicólogo nas escolas ainda é cercado de
questionamentos e dúvidas. A psicologia não está ausente, dentro do campo da representação
social, de sentir os impactos do modelo psiquiátrico clínico que se fundamentou de forma
determinista ao longo dos anos no Brasil; desse modo, a relação desse modelo terapêutico -
apesar de muito ser discutida e modificada pela própria psicologia - não está isenta frente às
ações históricas dos psicólogos escolares. Portanto, levantam-se perguntas acerca da função
do psicólogo nas escolas, quais seriam as especificidades de seu trabalho e no que se diferem
dos outros profissionais que estão envolvidos nesse mesmo campo. Martinez (2010) busca
responder tais questões, dialogando com diferentes formas de pensar a atuação desse
profissional na escola.
Partindo da conceitualização e especificidade da psicologia escolar, a autora vai dizer
que o trabalho do psicólogo escolar se volta para a atuação nas escolas sob a compreensão
complexa e ampla dos diversos fatores ali envolvidos, sejam eles de ordem psicológica,
relacional, pedagógica, organizacional, entre outros. Logo, a psicologia requer o uso de
diversos saberes organizados que contribuem para o contexto escolar visto de forma complexa
e interligada; assim como também se possibilita o pensar sobre os sujeitos considerando seus
aspectos históricos e culturais como fundamentais à constituição humana, sem reduzi-lo aos
essencialismos (modos de pensar e agir que nem sempre fizeram parte da história da
psicologia).
Dialogando dentro dessas problemáticas construtivas, Martinez (2010) vai pensar
sobre o compromisso de mudança e ação social dos psicólogos; a fim de reverberar tais
compreensões, ela classifica as formas de atuação do psicólogo escolar em dois grupos, sendo
eles: "tradicionais" e "emergentes". Dentro desses grupos ela discute diferentes ações que
caracterizam o papel do psicólogo, sendo as do primeiro grupo: avaliação, diagnóstico,
encaminhamento de alunos com dificuldades, orientação a alunos e pais, orientação
profissional, orientação sexual, formação e orientação de professores, elaboração e
coordenação de projetos educativos específicos; os do segundo grupo, por sua vez, são:
diagnóstico, análise e intervenção em nível institucional (subjetividade social da escola),
construção, acompanhamento e avaliação da proposta pedagógica escolar, participação no
processo de seleção dos membros de equipe pedagógica, contribuição para a coesão da equipe
de direção pedagógica, coordenação de disciplinas e de oficinas direcionadas ao
desenvolvimento integral dos alunos, contribuição para a caracterização da população
estudantil com o objetivo de subsidiar o ensino personalizado, realização de pesquisas,
facilitação da implementação de políticas públicas de forma crítica, reflexiva e criativa.
Essas formas de classificação, segundo a autora, buscam a visibilidade e debate acerca
das ações do profissional nas escolas, uma vez que ambas, tradicionais e emergentes, não são
excludentes entre si, pelo contrário, elas coexistem e se relacionam no dia a dia escolar.
Porém, vale salientar que as ações ditas emergentes se relacionam mais com a compreensão
acerca da instituição escolar, aspecto que possibilita ampliar o conhecimento das vivências
escolares dentro do contexto amplo que é a instituição.
Por fim, a autora dialoga com a importância do pensar o trabalho do psicólogo escolar
em constante relação com os demais profissionais que atuam no local, uma vez que faz parte
do seu interesse profissional a participação ativa nas ações conjuntas frente às demandas da
escola. Dessa forma, bem como se constitui sua atuação naquilo que concerne sua formação,
ou seja, o funcionamento humano (Martinez, 2010), também o faz as ações interligadas aos
demais processos em constante conexão com a equipe multiprofissional.
Se torna claro ao longo do texto que a autora busca fundamentar amplamente os
processos que fazem parte das ações profissionais do psicólogo escolar. Tendo em vista o
aspecto de constituição histórica da escola, a autora nos possibilita refletir sobre quais seriam
tais aspectos constituídos e constitutivos historicamente que se relacionam, hoje, com a
realidade escolar. Sem dúvidas, o psicólogo pode ser visto como um profissional privilegiado
no que tange às possibilidades de ações diante daquilo que se contempla fundamentalmente
em seu processo de formação; entretanto, parece ficar claro que a pesquisa nunca cessa de
acontecer.
A complexidade que nos alerta Morin (2005) nos diz da multidimensionalidade da
constituição humana e o quanto vivemos dentro dessas diferenças, sejam elas relacionais,
empíricas, técnicas, simbólicas, mitológicas ou mágicas. Dessa forma, muitas vezes o
psicólogo atua sob diferenças vastas, seja dentro do pensar a constituição dos diferentes
sujeitos que ocupam a sociedade e, por conseguinte, a escola, até mesmo o pensar a própria
escola. É inegável o caráter multideterminado dos contextos nacionais no que tange a
educação e a territorialidade. Vivemos num país extenso culturalmente, carregado de
processos históricos coloniais que nos atingem constantemente e que fazem, para os olhos
atentos, perceber as injustiças sociais constantes, as violências que atuam sobre os corpos e
que ditam, à seu modo, modos hegemônicos calcados em interesses de poderio. A escola não
está isenta. A psicologia não está isenta.
Walter Benjamin (1987), em seus escritos sobre a arte, nos presenteou com a seguinte
frase: "A história deve ser escovada a contrapelo" (p. 225). Nesse movimento "a contrapelo",
contrário aos aspectos naturalizados e necessário, principalmente, para se fazer emergir aquilo
que (com esforço) tentam encobrir, podemos aludir também a um dos aspectos possíveis da
ação do psicólogo escolar: escovar a realidade escolar a contrapelo. E disso, portanto, criar
espaços para trazer à superfície aspectos fundamentais da constituição humana, bem como da
própria instituição, para pensar, dialogar e construir formas outras de estar naquele contexto;
formas pensadas em conjunto com os demais profissionais e com os próprios estudantes,
formas de tornar a vida escolar e os processos de desenvolvimento e aprendizagem mais
humanos, sociais e críticos.
Referências

Benjamin, W. (1987). Sobre o conceito da história. In W., Benjamin, ​Magia e técnica, arte e
política: Ensaios sobre literatura e história da cultura ​(3a ed., pp. 222-232). São Paulo:
Brasiliense.

Martinez, A. M. (2010). O que pode fazer o psicólogo na escola? ​Aberto, 23(​ 83), 39-56.

Morin, E. (2005). Epistemologia da complexidade. In E. Morin, ​Introdução ao pensamento


complexo (​ pp. 95-118). Porto Alegre: Sulina.

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