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Manuel Tavares
Roberto Jarry Richardson
Metodologías
Qualitativas
teoria e prática
Metodologias
Qualitativas:
teoria e prática
Nas sociedades contemporâneas, extraordinariamente mutáveis e
expectantes, denominadas, ideologicamente, sociedades da informação e do
conhecimento, a pesquisa, como conjunto de processos, estratégias e procedimentos
que têm em visto o construção do conhedmento e, em última instânda, a mudança
sodal, adquire cada vez maior relevândo e centralidade. As abordagens qualitativas
ocupam um lugar de relevo na construção do conhedmento, não porque se
contraponham às abordagens quantitativas, mas porque a utilização de ambas
contribui para a construção de um conhedmento de maior amplitude e
profundidade. Se tivermos em consideração a construção do conhedmento na área
das dêndas sodais e humanas e, espedficamente, na área da educação, o ideia de
pesquisa e a respetiva prática tornaram-se absolutamente essendais em qualquer
nível de educação e ensino, de modo a que a função docente se converte, cada vez
mais, numa atividade de pesquisa, única forma de o professor deixar de ser o
reprodutor de idéias feitas e se transforme num estimulador exemplar da construção
do conhedmento dentífico em situações dialéticas de aprendizagem. "Metodologias
Qualitativas: Teoria e Prática", resultado da contribuição de autores de renome
internadonal, destino-se a professores de todos os níveis de ensino, pesquisadores,
estudantes e a todo o público que tenha interesse pela pesquisa e pretende cumprir a
finalidade de aliar a fundamentação teórica à dimensão empírica, no âmbito das
metodologias qualitativas.
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EDITORA CRV
Organizadores
Manuel Tavares ^ i'
Roberto Jarry Richardson \ ^\
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Metodologías
Qualitativas:
teoria e prática
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Manuel Tavares
Roberto Jarry Richardson
(Organizadores)
METODOLOGIAS QUALITATIVAS:
teoría e prática
EDITORA CRV
Curitiba - Brasil
2015
Copyright © da l:üilora CRV Ltda.
Editor-chefe: Railson Moura
Diagramaçâo e C apa: Editora CRV
Revisão: Os Autores
Conselho Editorial:
Prof*, l y . Andréia da Silva Quiotanilha Sousa ( U N IR ) Prof. Dr. João Adalberto Campato Junior (F A P - S P )
Prof. Dr. Antônio Pereira G aio Júnior (U F R R J) Prof. D r iailson A h ie s dos Santos (U F R J )
Prof. D r Carlos Alberto Vilar Estêvão Prof. Dr. Leonel Severo Rocha (U R I)
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÀO-NA-FONTE
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS. RJ
M 552
Inclui bibliografìa
ISBN 978-85-444-0558-1
CDD: 121
15-25604
CDU; 165
17/08/2015 17/08/2015
2015
Foi feito 0 depósito legal conf Lei 10.994 de 14/12/2004
Proibida a reprodução parcial ou total desta obra sem autorização da Editora CRV
Todos os direitos desta edição reservados pela:
Editora CRV
Tei.; (41) 3039-6418
www.editoracrv.com.br
E-mail: sac(geditoracrv.com.br
APRESENTAÇÃO
Os Autores
Manuel Tavares
Roberto Jarry Richardson
PRIMEIRA PARTE
FUNDAMENTOS EPISTEMOLÓGICOS DA PESQUISA QUALITATIVA
SEGUNDA PARTE
METODOLOGIAS E TÉCNICAS QUALITATIVAS
FUNDAMENTOS EPISTEMOLOGICOS
DA PESQUISA QUALITATIVA
A EPISTEMOLOGIAAO
LONGO DA HISTORIA
Roberto Jarry Richardson
C am po d a epistem ologia
A epistemologia cartesiana
Afírma-se, com frequência, que este constrói uma ética de dois mun
dos, que contém exigências que nenhum ser humano é capaz de cum
prir, ou que, se forem cumpridas, levam a situações concretas de ex
trema injustiça. Invoca-se como argumento comum para sustentar esse
tipo de posicionamento a afínnação de Kant de que um dever como o
de não mentir permanece exigível ainda que seu cumprimento impli
que a entrega de um inocente a seu assassino (CURY, 2009, p. 12).
POPPER UKATOS
CATEGORIAS KÜHN (1922-1996) FEYERABEND (1924-1994)
(1902-1994) (1922-1974)
A Metodologia dos
A Lógica da A Estrutura das
OBRA Programas de Contra o Método
Pesquisa Revoluções Cientificas
FUNDAMENTAL Pesquisa Cientifica.
Cientifica
Programas de
Paradigma, Revolução Pluralismo metodológico.
pesquisa. Cinturão
Conjeturas Cientifica, Ciência Pluralismo filosófico.
protetor.
Refutações Normal, Anomalia, Pluralismo teórico. Anarquismo
CONCEITOS Núcleo firme. Poder
Testabilidade Incomensurabilidade epistemológico: Tudo vale.
FUNDAMEN heuristico. Heurística
FalsifIcabIlidade Matriz disciplinar Incomensurabilidade. Contra o
TAIS positiva e negativa
Demarcação Problemas Exemplares método.
Troca de paradigmas
Competição entre revoluções cientificas.
programas de É descontinuo e
COMO SE DÁ 0 Sucessão de pesquisa por meio revolucionário,
PROGRESSO DA conjeturas e de comprovação determinado pelas
Vale tudo. Violações
CIÊNCIA refutações. das hipóteses de anomalias e por
pesquisa. algumas condições
especiais.
Epistemologías de Popper, Lakatos, Kuhn e Feyerabend
POPPER UKATOS KUHN FEYERABEND
CATEGORIAS
(1902-1994) (1922-1974) (1922-1996) (1924-1994)
Contra o
Escolha Heurística, racionalismo
RACIONALIDADE racional de escolha de Escolha dos quebra-cabeças da ciência normal. crítico.
novas teorias problemas. A favor da
contraindução.
0 anarquismo
epostemológico
PAPEL DA Competição A história da ciência podería ser uma influência
Mostra falhas pode ser
HISTÓRIA DA entre negativa sobre os estudantes porque ela ceifa as
do indutivlsmo comprovado
CIÊNCIA programas. certezas do dogma científico.
na história da
ciência.
Fazem
previsões
Teorias
que
cientificas sâo
devem ser
conjeturas
confirmadas.
testáveis e As teorias apresentam anomalias que podem
QUAL 0 PAPEL Tornar o
refutáveis. ser corrigidas ou não, gerando revolução e
DAS TEORIAS programa de Devem competir
São tentativas sua substituição. Possuem compromissos
CIENTÍFICAS pesquisa
refutáveis paradigmáticos de nível superior.
mais
de prever
progressista
e explicar
garantindo
eventos.
as
heurísticas.
Periodo da
DIALÉTICOS Filosofìa
Sto. Anselmo (1033-1109) Escolástica
Pedro Abelardo (1079-1142)
João de Salisbury (1110-1182)
Alberto Magno (1193-1280)
Roger Bacon (1214-1294) Idade Média
São Boaventura (1221-1274) (476 e 1453)
Sto. Tomás de Aquino
(1225-1274)
João Duns Escoto (1265-1308) Guilherme de
Ockham
(1285-1349)
Meister Eckhart (1260-1327)
Inicio do
O Renascimento
Humanismo
HUMANISMO (1304-1576)
Moderno
Nicolau de Cusa (1401-1464)
EMPIRISMO
RACIONALISMO
Francis Bacon (1561-1626)
Rene Descartes (1596-1650)
Thomas Hobbes (1588-1679)
Benedict Spinoza (1632-1677)
John Locke (1632-1704)
Nicholas de Malebranche (1638-1715)
Isaac Newton (1642-1727)
Blaise Pascal (1623-1662)
George Berkeley (1685-1753)
Gottfried W. von Leibnitz (1646-1716
David Hume (1711-1776)
ILUMINISMO IDEALISMO
CRITICISMO
Johann Fichte (1762-1814)
KANTIANO
Baron de Montesquieu Friedrich W. von Schelling
(1689-1775) (1775-1854)
Jean Jacques Rousseau Friedrich Schleiermacher
Immanuel Kant
(1712-1778) (1768-1834)
(1724-1804)
Voltaire (1694-1778) Georg Hegel (1779-1831)
POSITIVISMO UTILITARISMO Johann Herbart (1776-1841)
FRANCÉS Jeremy Bentham Arthur Schopenhauer
August Comte (1798-1857) (1748-1832) (1788-1860)
ALEMÃO James Mill (1773- Rudolph Herman Lotze
Ludwig Fauerbach (1804-1872) 1836) (1817-1881)
Karl Marx (1818-1883) John Stuart Mill Gustav Theodor Fechner
Friedrich Engels (1820-1895) (1806-1873) (1801-1887)
PSICOLOGISMO ALEMAO
Friedrich Nietzsche (1844-1900)
IDEAUSMO Wilhelm Wundt (1832-1920)
CRÍTICO
Wilhelm
Windelband
(1848-1915)
IDEALISMO NORTEAMERICANO Henrich Richert
Josiah Royce (1855-1916) (1863-1936)
NEO-IDEALISMO
Borden Bowne (1847-1910) Wilhelm Dilthey
Thomas Hill Green (1836-1882)
(1833-1912)
Francis Herbert Bradley
Rudolph Eucken
(1846-1924)
(1846-1926)
Bernard Bosanquet (1848-1923)
Benedetto Croce (1866-1952)
EVOLUCIONISMO Giovanni Gentile (1875-1944)
Charles Darwin
(1809-1882)
PRAGMATICISMO
Herbert Spencer
Charles Sander Peirce(1839-1914)
(1820-1903) Ernst
Haeckel (1834-
1919)
(C ontinuação) Filosofia M oderna e C ontem porânea
NEOPOSITIVISMO
PRAGMATISMO Moritz Schlick (1882-1936)
PSICANÁLISE
William James (1842-1910) Ernst Mach (1838-1016)
Sigmund Freud (1856-1939)
John Dewey (1859-1952) Rudolf Carnap (1891-1970)
Ludwig Wittgenstein
(1889-1951)
John Wisdom (1904-1993)
Willard Van Orman Quine (1908-2000)
Max Black (1909-1988)
EXISTENCIALISMO INTUICIONISMO
Alfred J.Ayer (1910-1989)
Henri Bergson (1859-1941)
Soren Kierkegaard (1813-1855)
Karl Barth (1886-1968) FENOMENOLOGIA
Martin Heidegger (1889-1976) Edmund Husseri (1859-1938)
Karl Jaspers (1883-1969) Maurice Merleau-Ponty (1908-
Gabriel Marcel (1889-1973) 1961)
Jean Paul Sartre (1906-1980 E S C O U DE FRANKFURT
OBJETIVISMO
TEORIA CULTURAL. ESTRUTURALISMO. Ayn Rand (1905-1982)
POSTMODERNISMO. E DESCONSTRUTIVISMO Nathaniel Branden (1930- )
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PARAALEM
DO PENSAMENTO ABISSAL:
das linhas globais
a uma ecologia dos saberes *
Boaventura de Sousa Santos
Conclusão
* Este trabalho foi apresentado em diferentes versões no Fernand Braudel Center, Universidade de New York
em Binghamton, na Universidade de Glasgow, na Universidade de Victoria, na Universidade de Wisconsin-
Madison e na Universidade de Coimbra. Gostaria de agradecer a Gavin Anderson, Alison Phipps, Emilios
Christodoulidis, David Schneiderman, Claire Cutler, Upendra Baxi, James Tully, Len Kaplan, Marc Galanter, Neil
Komesar, Joseph Thome, Javier Couso, Jeremy Webber, Rebecca Johnson, e John Harrington, Antonio Sousa
Ribeiro, Margarida Caiafate Ribeiro, Joaquin Herrera Flores, Conceição Gomes e João Pedroso pelos seus
comentários. Maria Pauia Meneses, além de comentare texto, auxiiiou-me no trabalho de pesquisa pelo que Ihe
estou muito grato. Este trabalho não teria sido possivel sem a inspiração das longas conversas com Maria Irene
Ramalho sobre as relações entre as ciências sociais e as ciências humanas. Foi ela também a responsável pela
preparação da versão inglesa.
Foi publicado na R evista 78, Outubro 2007, p. 3-46.0 autor, tal como a direção da
Crítica d e C iê n c ia s So cia is,
R evista Critica d e C iê n c ia s So cia is, autorizaram a sua publicação na obra que se apresenta.
^ Não pretendo que o pensamento moderno ocidental seja a única forma de pensamento abissal. Pelo contrário,
é muito provável que existam, ou tenham existido, formas de pensamento abissal fora do Ocidente. Não é
meu propósito analisá-las neste texto. Defendo apenas que, abissais ou não, as formas de pensamento não
ocidental têm sido tratadas de um modo abissal pelo pensamento moderno ocidental. Também não trato aqui
do pensamento pré-moderno ocidental nem das versões do pensamento moderno ocidental marginalizadas ou
suprimidas por se oporem às versões hegemónicas, as únicas de que me ocupo neste ensaio.
2
Sobre a sociologia das ausências como crítica á produção de realidade não existente pelo pensamento
hegemónico, ver Santos, 2000,2003b, 2004,2006b e 2006c.
3
Esta tensão representa o outro lado da discrepância moderna entre as experiências atuais e as expectativas
quanto ao futuro, também expressas no mote positivista da ‘ordem e progresso’. O pilar da regulação social
é constituído pelo princípio do Estado, princípio da comunidade e princípio do mercado, enquanto o pilar
da emancipação consiste nas três lógicas da racionalidade: a racionalidade estético-expressiva das artes e
literatura, a racionalidade instrumental-cognitiva da ciência e tecnologia e a racionalidade moral-prática da ética
e do direito (Santos, 1995, p. 2). Ver também Santos, 2000 e 2002.
^ Embora de formas muito distintas. Pascal, Kierkegaard e Nietzsche foram os filósofos que mais
aprofundadamente analisaram e viveram as antinomias contidas nesta questão. Mais recentemente, merecem
menção Karl Jaspers (1952,1986,1995) e Stephen Toulmin (2001).
5
Para urna visão geral dos debates recentes sobre as relações entre a ciência e outros conhecimentos, veja-se
Santos, Meneses e Nunes, 2004. Ver também Santos, 1995, p. 7-55.
C
^ Em Santos, 2002, analiso em detalhe a natureza do direito moderno e o tópico do pluralismo jurídico (a
coexistência de mais de um sistema jurídico no mesmo espaço geopoiftico).
^ Neste trabalho, tomo por assente a ligação íntima entre capitalismo e colonialismo. Veja-se, entre outros,
Williams, 1994 (publicado originalmente em 1944); Arendt, 1951; Fanón, 1967; Horkheimer e Adorno, 1972;
Wallerstein, 1974; Dussel, 1992; Mignolo, 1995; Quijano, 2000,
“ Assim, 0 imperialismo é constitutivo do Estado moderno. Ao contràrio do que afirmam as teorias convencionais
do direito internacional, este não é produto de um Estado moderno pré-existente. O Estado moderno, o direito
internacional e o constitucionalismo nacional e global são produtos do mesmo processo histórico imperial. Ver
Koskennlemi, 2002; Anghie, 2005; e Tully, 2007.
^ A definição das linhas giobals ocorre graduaimente. Segundo Cari Schmitt (2003, p. 91 ), as linhas cartográficas
do século XV pressupunham ainda uma ordem espiritual global vigente de ambos os lados da divisão — a
R e sp u b llc a Christiana, simbolizada pelo Papa. Isto explica as dificuldades enfrentadas por Francisco Vitoria,
0 grande teólogo e jurista espanhol do século XVI, para justificar a ocupação de terras nas Américas. Vitoria
pergunta se a descoberta é suficiente como titulo jurídico de posse da terra. A sua resposta é muito complexa,
não só por ser formulada em estilo aristotélico, mas sobretudo porque Vitoria não concebe qualquer resposta
convincente que não parta da premissa da superioridade europeia. Este facto, contudo, não confere qualquer
direito moral ou positivo sobre as terras ocupadas. Segundo Vitoria, nem mesmo a supenoridade civilizacional
dos Europeus é suficiente como base de um direito moral. Para Vitoria, a conquista podia servir apenas de
fundamento a um direito reversível à terra, a jura contraria, nas suas palavras. Isto é, a questão da relação entre
a conquista e o direito à terra deve ser colocada inversamente: se os índios tivessem descoberto e conquistado
os Europeus, teriam eles igual direito a ocupar as terras? A justificação de Vitoria para a ocupação de terras
assenta ainda na ordem cristã medieval, na missão atribuída pelo Papa aos reis espanhol e portugués, e no
conceito de guerra justa (Schmitt, 2003, p. 101-125; ver também Anghie, 2005:13-31). A laboriosa argumentação
de Vitoria reflete o grau de cuidado da Coroa que, ao tempo, se preocupava mais com a legitimação dos direitos
de propriedade do que com a soberania sobre o Novo Mundo. Ver também Pagden, 1990, p. 15.
Do século XVI em diante, as linhas cartográficas, as chamadas amity Unes - a primeira das quais poderá ter
emergido em resultado do Tratado de Cateau-Cambresis (1559) entre a Espanha e a França - abandonaram a
ideia de uma ordem comum global e estabeleceram uma dualidade abissal entre os territórios deste lado da linha
e os territórios do outro lado da linha. Deste lado da linha, vigoram a verdade, a paz e a amizade; do outro lado da
linha, a lei do mais forte, a violência e a pilhagem. O que quer que ocorra do outro lado da linha não está sujeito
aos mesmos princípios éticos e jurídicos que se aplicam deste lado. Não poderá, portanto, dar origem ao tipo
de conflitos que a violação de tais princípios causaria se ocorresse deste lado da linha. Esta dualtoade permitiu,
por exemplo, aos reis católicos de França manterem, deste lado da linha, uma aliança com os reis católicos de
Espanha e, ao mesmo tempo, aliarem-se aos piratas que, do outro lado da linha, ata- cavam os barcos espanhóis.
De acordo com a Bula, “os índios eram verdadeiros homens e... não eram capazes de entender a fé Católica
mas, de acordo com as nossas informações desejam ardentemente recebê-la” “Sublimis Deus” encontra-se
em <http://www.papalencyclicals.net/Paul03/p3subli.htm> (acedido em 22 de Setembro, 2006)
4 ^
Como no caso famoso de Ibn Majid, um experiente piloto que indicou a Vasco da Gama o caminho marítimo
de Mombaça à índia (Ahmad, 1971). Outros exemplos podem encontrar-se em Burnett, 2002.
14
Diferentes perspectivas sobre esta “colônia privada' e sobre o Rei Leopoldo podem encontrar-se em
Emerson, 1979; Hochschild, 1999; Dumoulin, 2005; Hasian, 2002, p 89-112.
16
A suposta externalidade do outro lado da linha é, de facto, a consequência da sua pertença ao pensamento
abissal: como fundação e como negação da fundação.
^ Fanon denuncia esta negação da humanidade com insuperável lucidez (Fanon, 1963,1967). O radicalismo
da negação fundamenta a defesa que Fanon faz da violência como uma dimensão intrínseca da revolta
anticolonial. Embora partilhassem uma luta comum. Fanon e Gandhi divergiram a este respeito e essa
divergência deve ser objeto de uma reflexão cuidada, particularmente pelo facto de se tratar de dois dos mais
importantes pensadores-ativistas do século passado. Ver Federici, 1994, e Kebede, 2001.
18
Esta negação fundamental permite por um lado, que tudo o que é possível se transforme na possibilidade de tudo,
e por outro, que a criatividade exaltadora do pensamento abissal trivialize facilmente o preço da sua destrutividade.
19
Sobre Guantánamo e tópicos relacionados ver, entre muitos outros, McCormack, 2004: Amann, 2004a, 2004b;
2004; Sadat, 2005; Steyn, 2004; Borelli, 2005; Dickinson, 2005; Van Bergen e Valentine, 2006.
H u m a n R igh ts Watch,
20
Em vésperas da Segunda Guerra Mundial, as colónias e ex-colónias cobriam cerca de 85% da superficie do globo.
21
As origens múltiplas e subsequentes variações destes debates podem encontrar-se em Memmi, 1965;
Dos Santos, 1971; Cardoso e Faletto, 1969; Frank, 1969; Rodney, 1972; Wallerstein, 1974, 2004; Bambirra,
1978; Dussell, 1995; Escobar, 1995; Chew e Denemark, 1996; Spivak, 1999; Césaire, 2000; Mignolo, 2000;
Grosfoguel, 2000; Afeal-Khan e Sheshadri-Crooks, 2000; Mbembe, 2001; Dean e Levi, 2003.
22
Entre 1999 e 2002, realizei um projeto internacional sobre 'A R e in v e n ç ã o da E m a n c ip a ç ã o S o d a i que
envolveu 60 investigadores de 6 países (África do Sul, Brasil, Colômbia, índia, Moçambique e Portugal). Os
resultados principais da investigação estão publicados em sete volumes. Estão publicados em português os
cinco primeiros; em espanhol. Santos (org.), 2004b; em inglês. Santos (org.), 2005a, 2006 e 2007; e em italiano.
Santos (org.), 2003c, 2005b. Sobre as implicações epistemológicas deste projeto ver Santos (org.), 2003a e
Santos, 2004. Sobre as ligações entre este projeto e o Fórum Social Mundial, ver Santos, 2005 e 2006c.
23
Entre outros, ver Harris, 2003; Kanstroom, 2003; Sekhon, 2003; C. Graham, 2005; N. Graham 2005;
Scheppele, 2004a, 2004b, 2006; Guiora, 2005.
Ver Sassen, 1999; Miller, 2002; De Genova, 2002; Kanstroom, 2004; Hansen e Stepputat, 2004; Wishnie, 2004,
Taylor, 2004; Silverstein, 2005; Passel, 2005. Para urna visão mais radical sobre este tema, ver Buchanan, 2006.
25
Baseado no Orientalismo analisado por Edward Said (1978), Akram (2000) identifica urna nova forma de
estereótipo, a que chama neo-orientalismo e que afeta a avaliação metropolitana dos pedidos de asilo e refugio
por parte de pessoas provenientes do mundo árabe ou muçulmano. Ver também Akram, 1999; Menefee, 2004;
Bauer, 2004; Cianciarulo, 2005; Akram e Karmely, 2005
^ Sobre as implicações da nova vaga antiterrorísta e das novas ieis de imigração, ver os artigos oitados ñas
notas 23, 24, e 25 e também Im m igra n t R ig h ts CSnic, 2001; Chang, 2001; Whitehead e Aden, 2002; Zelman.
2002; Lobel, 2002; Roach, 2002 (sobre o caso canadiano); Van de Linde et al.. 2002 (sobre alguns países
europeus}: Miller, 2002; Emerton, 2004 (sobre a Austrália); Boyne, 2004 (sobre a Alemanha); Krishnan, 2004
(sobre a India); Barr, 2004; N. Graham, 2005.
77
Refiro-me aqui às regiões periféricas e semiperiféricas e aos países do sistema mundo moderno, que foram
denominados de Teroeiro Mundo, após a Segunda Guerra Mundial (Santos, 1995, pi 506-519).
OO
Como exemplo, os profissionais do direito são solicilados a adaptar-se á pressão proveniente da
reorganização da doutrina convencional, alterando regras de interpretação, redefinindo o objetivo dos prinoípios
e hierarquias entre eles. Um exemplo revelador é o debate sobre a constitucionalidade da tortura entre Álan
Dershowitz e os seus críticos. Ver Dershowitz, 2002,2003a, 2003b; Posner, 2002; Kreimer, 2003; Strauss, 2004,
oq
Resolução 1566 do Conselho de Segurança das Nações Unidas. Esta resolução antiterronsmo foi aprovada
a 8 de Outubro de 2004, na sequência da resolução 1373 que, por sua vez, foi aprovada como resposta aos
ataques terroristas de 11 de Setembro nos EUA. Para uma análise detalhada do processo de aprovação da
resolução 1566, verSaul, 2005.
TO
Utilizo 0 conceito de Estado de exceção para expressar a condição jurídico-politica na qual a erosão dos
direitos civis e poiiticos ocorre abaixo do radar da Constituição, isto é, sem a suspensão desses direitos, como
acontece quando é declarado o Estado de emergência. Ver Scheppele, 2004b; Agamben, 2004.
Um bom exemplo da lógica jurídica abissal subjacente à construção de uma vedação separando a fronteira
dos EUA do México pode ver-se em Glon, 2005.
32
Sobre condominios fechados, ver Blakely e Snyder, 1999; Low, 2003; Atkinson e Blandy, 2005; Coy, 2006.
^ Ver Amann, 2004a, 2004b; Brown, 2005. Urn novo relatório pelo Comité Parlamentar Temporário Europeu
sobre a atividade Ilegal da CIA na Europa (Novembro, 2006) mostra como os governos europeus atuaram
como facilitadores dos abusos da CIA. tais como a detenção secreta e a tortura. Estas operações à margem
da lei envolveram 1.245 voos e aterragens de aviões da CIA na Europa (alguns deles envolvendo transporte
de prisioneiros) e a criação de centros de detenção secreta na Polônia, Romênia e, provavelmente, também na
Bulgária, Ucrânia. Macedònia e Kosovo.
34
O governo indireto foi uma forma de política colonial europeia largamente praticada nas antigas colônias
britânicas, onde as estruturas tradicionais de poder local, ou pelo menos uma parte delas, foram incorporadas
na administração coloniai estatal. Ver Lugard, 1929; Perham, 1934; Malinowski, 1945; Furnivall, 1948; Morris e
Read, 1972; Mamdani, 1996,1999.
^ Analiso em detalhe a emergência do fascismo social como consequência da quebra da lógica do contrato
social em Santos, 2002:447-458 e 2006b: 295-316.
^ Um dos exemplos mais dramáticos é a privatização da água e as consequências sociais daí resultantes. Ver
Bond, 2000, e Buhiungu et al., 2006 (para o caso da África do Sul); Oliveira Filho, 2002 (para o caso do Brasil);
Olivera, 2005 e Flores, 2005 (para o caso da Bolivia); Bauer, 1998 (para o caso do Chile); Trawick, 2003 (para o
caso do Peru); Castro, 2006 (para o caso do México). Sobre dois ou mais casos, ver Donahue e Johnston, 1998;
Balanyá et al., 2005; Conca, 2005; Lopes, 2005. Ver também Klare, 2001 ; Hall, Lobina e de la Motte, 2005.
37
Para o caso da Colômbia, ver Santos e Garda Villegas, 2001.
^ Uma vasta literatura tem vindo a ser produzida nos últimos anos teorizando e estudando empiricamente novas
formas de governo da economia que assentam na colaboração entre atores não estatais (firmas, organizações
cívicas, ONGs, sindicatos, etc.) em lugar da regulação estatal de cima para baixo. Apesar da variedade de
designações sob as quais os cientistas sociais e académicos do direito têm vindo a prosseguir esta abordagem, a
ênfase recaí mais na "moleza" do que na dureza, na obediência voluntária mais do que na Imposição: ‘regulação
responsiva" (Ayres e Braithwaite, 1992), “lei pós-regulatória”(Teubner, 1986), "lei mole" (Snyder, 1993,2002; Trubek
e Mosher, 2003; Trubek e Trubek, 2005; Morth, 2004), “experimentalismo democrático" (Dorf e Sabel 1998; Unger
1998), “governação cooperativa" (Freeman, 1997), “regulação outsourcecf (O’Rourke, 2003) ou simplesmente
“governação" (Mac Neil, Sargent e Swan 2000; Nye e Donahue, 2000). Para uma critica, ver Santos e Rodriguez-
Garavito, 2005, p. 1-26 e 29-63; Rodriguez-Garavito, 2005, p. 64-91.
41 Este tipo de lei é eufemisticamente denominada soft por ser soft com aqueles cujo comportamento
empreendedor era suposto regular (empregadores) e dura com aqueles que sofrem as consequências do seu
não cumprimento (trabalhadores).
42
Não me ocupo aqui dos debates atuais sobre o cosmopolitismo. Na sua longa historia, cosmopolitismo
significou universalismo, tolerância, patriotismo, cidadania global, comunidade global de seres humanos, culturas
globais, etc. O que ocorre mais frequentemente quando este conceito é aplicado - seja como instrumento
especifico para descrever uma realidade ou como instrumento em lutas políticas - é que a incondicional natureza
inclusiva da sua formulação abstrata tem vindo a ser utilizada para prosseguir interesses excludentes de um
grupo social específico. De certo modo, o cosmopolitismo tem sido privilégio daqueles que podem tê-lo. A
forma como revisito este conceito prevê a identificação dos grupos cujas aspirações são negadas ou tornadas
invisíveis pelo uso hegemónico do conceito, mas que podem ser beneficiados pelo uso alternativo do mesmo.
Parafraseando Stuart Hall, que levantou uma questão semelhante em relação ao conceito de identidade (1996),
eu pergunto: quem precisa do cosmopolitismo? A resposta é simples: todo aquele que for vitima de intolerância
e discriminação necessita de tolerância; todo aquele a quem seja negada a dignidade humana bãsica necessita
de uma comunidade de seres humanos; todo aquele que seja não cidadão necessita da cidadania mundana
numa dada comunidade ou nação. Em suma, os socialmente excluidos, vítimas da concepção hegemónica
de cosmopolitismo, necessitam de um tipo diverso de cosmopolitismo. O cosmopolitismo subalterno constitui,
deste modo, uma variante de oposição. Da mesma forma que a globalização neoliberal não reconhece quaisquer
formas alternativas de globalização, também o cosmopolitismo sem adjetivos nega a sua própria especificidade.
O cosmopolitismo subalterno de oposição é uma forma cultural e política de globalização contra-hegemónica. É o
nome dos projetos emancipatórios cujas reivindicações e critérios de inclusão social vão além dos horizontes do
capitalismo global. Outros, com preocupações similares, também adjectivaram o cosmopolitismo: cosmopolitismo
enraizado (Cohen, 1992), cosmopolitismo patriótico (Appiah, 1998), cosmopolitismo vernáculo (Bhabha, 1996:
Diouf, 2000), etnicidade cosmopolita (Werbner, 2002), ou cosmopolitismo das classes trabalhadoras (Wrebner,
1999). Sobre formas distintas de cosmopolitismo, ver Breckeridge et al. (org.), 2002.
43
Sobre a dimensão cosmopolita do Fórum Social Mundial, ver Nisula e Sehm-Patomaki, 2002; Fisher e
Ponniah, 2003; Sen eí al., 2004; Polet, 2004; Santos, 2006c; Teivainen, no preio.
Sobre o meu anterior confronto crítico com a epistemologia moderna, ver Santos. 1988,1995, p. 7-55,2000;
p. 209-235,2004; Santos (org.), 2003a. Ver também Santos, Meneses e Nunes, 2004.
45
Gandhi é, provavelmente, o pensador-ativista dos tempos modernos que mais consistentemente pensou
e atuou em termos não abissais. Tendo vivido e experiendado as exclusões radicais típicas do pensamento
abissai, Gandhi não se desviou do seu proposito de construir urna nova fórma de universalidade capaz de
libertar tanto o opressor corno a vitima. Como Ashis Nandy reafirma corretamente' “A visào gandhiana desafia a
tentação de igualaro opressor na violência e de readquirir uma autoestima própria ' omooompetidor num mesmo
sistema. É uma visão assente numa identificação com os oprimidos que exclui a fantasia da superioridade do
estilo de vida do opressor, tão profundamente enraizada na consciência daqueles que reclamam falarem nome
das vítimas da história’ (1987, p. 35).
46
Sobre a ecologia de saberes ver Santos, 2006b, p. 127-153.
47
Se, hipoteticamente, um camponês africano e um funcionário do Banco Mundial no decurso de uma rápida
incursão rural se encontrassem num campo africano, de acordo com o pensamento abissal, o encontro seria
simultâneo (o pleonasmo é intencional), mas eles seriam não contemporâneos: pelo contrário, de acordo com o
pensamento pós-abissal, o encontro é simultâneo e tem lugar entre dois indivíduos contemporâneos.
49
As epistemologías feministas têm sido centrais para a crítica dos dualismos "clássicos” da modernidade,
como sejam natureza/cultura, sujeito/objeto, humano/não humano, e da naturalização das hierarquias de
classe, sexo e raça. Para alguns contributos relevantes para as críticas feministas da ciência, ver Keller, 1985;
Harding, 1986,1998,2003; Schiebinger, 1989,1999; Haraway, 1992,1997; Soper, 1995; Fausto-Sterling, 2000;
Gardey e Lowy, 2000. Creager, Lunbeck, e Schiebinger, 2001, oferece urna panoràmica Interessante, ainda que
centrada no Norte global.
^ Entre muitos outros, ver Alvares, 1992; Dussel, 1995; Santos, 1995; Santos (org.), 2003a e 2004a; Guha
e Martinez-Alier, 1997; Visvanathan, 1997; Ela, 1998; Ptakash, 1999; Quijano, 2000; Mignolo, 2000; Mbembe,
2001; e Masolo, 2003.
A prevalência dos juízos cognitivos ao levar a cabo uma determinada prática de conhecimento não choca
com a prevalência dos juízos êtico-políticos na decisão a favor de um determinado tipo de intervenção real
que esse conhecimento específico possibilita em detrimento de intervenções alternativas possibilitadas por
conhecimentos alternativos.
52
O mesmo argumento pode ser usado em relação a um diálogo entre religiões.
53 Sobre este assunto, ver Eze, 1997; Karp e Masolo, 2000; Hountondji, 2002; Coetzee and Roux,
2002; Brown, 2004. ^ Nesta área, os problemas estão frequentemente associados com a linguagem, e esta
é, de faoto, um instrumento chave para o desenvolvimento de uma ecologia dos saberes. Como resultado, a
tradução deve operar a dois níveis, o linguístico e o cultural. A tradução cultural será uma das tarefas mais
desafiantes que se apresenta a filósofos, cientistas sociais e ativistas no século XXI. Trato deste assunto com
maior detalhe em Santos, 2004 e 2006b.
^ Sobre este assunto e o debate que ele suscita, ver Wiredu, 1997, e a discussão do seu trabalho em Osha, 1999.
De uma perspectiva distinta, a ecologia dos saberes prxura a mesma complementaridade que, no
Renascimento, Paracelso (1493-1541) identificou entre “Archeus’, a vontade elementar na semente e no
corpo, e “Vulcanus", a força natural da matéria. Ver Paracelso, 1989; 33 e todo o texto sobre ‘microcosmos e
macrocosmos”(1989, p. 17-67). Ver também Paracelso, 1967.
O conceito de c lin a m e n entrou na teoria literária pela mão Harold Bloom. É uma das rationes revisionistas
da sua teoria da influência poética. Em T h e A n x ie ty o f In flue nce, Bloom serve-se da noção de clin a m e n para
explicar a criatividade poética como uma tresleitura que é antes trans- leitura (o termo bloomiano é m isreading,
um ler-mal que é também ler-mais-do-que-bem, ou corrigir). Diz Bloom: “Um poeta desvia-se do poema do seu
precursor, executando um clin a m e n em relação a ele”(Bloom, 1973, p. 14).
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l_
EPISTEMOLOGIAS NÃO
EUROCÊNTRICAS:
uma abordagem preliminar
Epistemologias do Sul (Boaventura
de Sousa Santos) e a colonização do
imaginário (Serge Gruzinski)
Manuel Tavares
0 conceito üe epistemologías do Sul não tem um sentido geográfico, no âmbito da dicotomia Norte-Sul.
Representa, na perspectiva de Santos (2010, p. 33), ‘uma metáfora do sofrimento humano causado pelo
capitalismo e colonialismo a nível global e da resistência para o superar e minimizar.'
A expressão filosofia andina não significa a ausência de contaminação de outras culturas que a
influenciaram, nomeadamente a cultura ocidental; não se trata de uma filosofia pré-colonial incaica,
tiawanacota, púcara ou wari, mas é o resultado de um processo sincrético de mestiçagem cultural dos
últimos 500 anos (ESTERMANN, 2008, DÍAZ GUZMÂN, 1991).
da natureza, de muitas fonnas de vida, uma natureza que se transformou
num objeto duplamente oprimido: pelo homem e pela imposição de uma
única forma de conhecimento.
O pressuposto metateórico do paradigma dominante e do respectivo
conhecimento é a ideia de ordem e estabilidade da natureza, a ideia de que
“o passado se repete no futuro” (SANTOS, 1987, p. 17). Esta forma de
conhecimento, tem como pressupostos uma concepção mecanicista, cau-
salista e determinista de natureza, que se constituem como os grandes sus
tentáculos da ideia de progresso, ideia central da modernidade, e, por sua
vez, determinantes das transformações tecnológicas operadas na realidade.
As concepções determinista e mecanicista são “o horizonte certo de uma
forma de conhecimento que se pretende utilitário e funcional, reconhecido
menos pela capacidade de compreender profundamente o real do que pela
capacidade de o dominar e transformar” (SANTOS, 1987, p. 17).
O problema do conhecimento é indissociável da sociedade e dos con
textos que o produziram. Neste sentido, o modelo de conhecimento da
modernidade, essencialmente matemático, está de acordo com o modelo
social dos séculos XVII e XVIII, e, naturalmente, com os grandes interes
ses e aspirações da burguesia em ascensão “que via na sociedade em que
começava a dominar o estádio final da evolução da humanidade” (Ibidem).
Sendo uma revolução científica que ocorre numa sociedade ela pró
pria revolucionada pela ciência, o paradigma a emergir dela não pode
ser apenas um paradigma científico (o paradigma de um conhecimento
prudente), tem de ser também um paradigma social (o paradigma de
uma vida decente) (1987, p. 37 e 2000, p. 71).
Perante a Academia de Dijon, Rousseau, há mais de dois séculos e melo, perguntava: «haverá alguma razão
de peso para substituirmos o conhecimento vulgar que temos da natureza e da vida e que partilhamos com
os homens e mulheres da nossa sociedade pelo conhecimento cientifico produzido por poucos e inacessível
à maioria?» (in SANTOS, 1987, p. 7); à questão formulada Rousseau responde, categoricamente, Não!
na existência e, muitas vezes, lhe dá sentido. Ao contrário da ciência mo
derna, “a ciência pós-modema sabe que nenhuma forma de conhecimento
c, cm si mesma, racional; só a configuração de todas elas é racional. Tenta,
pois, dialogar com outras formas de conhecimento deixando-se penetrar
por elas” (p. 55).
.lá afirmamos que a compreensão da riqueza do mundo na sua mul
ti variedade não pode confinar-se a um único discurso e, sobretudo, a um
tlisciirso que traz a marca do etnocentrismo e androcentrismo. Essa con-
linação significaria que veríamos o mundo por uma única janela ficando
com uma visão absolutamente redutora e pobre acerca dele. A valorização
c reabilitação do senso comum, de outros conhecimentos produzidos por
outras culturas, diferentes da Ocidental, que possuem histórias diferentes,
representações do mundo e da vida também diferentes, outras concepções
de espaço e de tempo, outras perspectivas sobre desenvolvimento e pro
gresso (algumas delas nem conhecem o conceito de progresso!), outras
leituras da realidade natural e ainda outro tipo de relação com ela, pode
conduzir à construção de uma nova racionalidade ou, dito de outro modo,
“a uma racionalidade feita de racionalidades” (SANTOS, 1987, p. 57), afi
nal, a um mosaico de racionalidades. Nesta perspectiva, na nova ciência,
0 maior salto não é o que se dá em relação ao ftituro, mas pode bem ser
um salto em relação ao passado, o que põe em causa a ideia moderna de
progresso. A recuperação de formas de vida tradicionais, de relações de
respeito e dialógicas com a natureza, de formas de comunicação com os
outros e de solidariedades perdidas, é uma forma de progresso, mas de sal
to para o passado e uma construção do futuro no presente. O maior desafio
que se coloca atualmente ao conhecimento científico, numa perspectiva
pós-colonial, é o modo como será capaz de dialogar com outros saberes,
com aqueles saberes que, numa espécie de lógica perversa, silenciou, do
minou e colonizou.
Todavia, esta característica do novo paradigma científico tem um
alcance maior do que a sua dimensão epistemológica. Tradicionalmente,
o conhecimento científico foi construído de acordo com uma lógica de
enclausuramento e de elitismo da comunidade científica nos meios aca
dêmicos como se o conhecimento científico fosse propriedade privada e
não fosse patrimônio da humanidade. Os próprios cientistas foram social
mente representados como seres superiores, estranhos à sociedade, viven
do em comunidades científicas fechadas controladas e dominadas, muitas
vezes, pelo poder político e econômico. A ciência não se afirmou histórica
e socialmente como um saber democrático, mas como um saber de elites.
inacessível à maioria da população. Todo o conhecimento visa transfor-
mar-se em senso comum significa, também, que o saber científico tende
a ser restituido à comunidade de acordo com uma lógica de participação
democrática da comunidade na humanização do conhecimento e como fa
tor de emancipação social. A justiça social deve ser acompanhada por uma
Justiça cognitiva. Não são lutas paralelas, mas simultâneas, o que significa
que o avanço por uma epistemologia emancipatória deve ser acompanha
do pelo avanço das lutas sociais contra todas as formas de opressão sobre
grupos sociais minoritários e culturas minoritárias.
a investigação que tem por objetivo mostrar que o que não existe é,
de fato, ativamente produzido como não existente, ou seja, como uma
alternativa não credível ao que existe. O seu objeto empírico é impossí
vel a partir do ponto de vista das ciências sociais convencionais. Trata-
se de transformar objetos impossíveis em objetos possíveis, objetos
ausentes em objetos presentes.
‘Os topo/ são os lugares comuns retóricos mais abrangentes de determinada cultura. Funcionam como
premissas de argumentação que, por não se discutirem, dada a sua evidência, tornam possível a
produção e a troca de argumentos”(SANTOS, 2004, p. 341).
Significa Lei na sua maior amplitude, seja lei natural ou lei divina. Tem, nas concepções hindus, sobretudo,
um sentido moral, como vida harmoniosa, virtude, vida justa, equilibrada que permite a libertação do ser
humano. Pode ser considerado um princípio de natureza moral que rxmfigura os direitos e os deveres
O termo U m m a , no Islão, significa Comunidade (étnica, linguística ou religiosa). A ideia que preside
ao conceito é a de unidade primordial. No princípio não havería distinção entre os seres humanos e
a humanidade formaria, supostamente, uma Cinica U m m a (comunidade). É, pois, um conceito que
significa unidade, indistinção entre os membros de um grupo ou comunidade que segue e se rege pelos
mesmos princípios.
enraizada nas sociedades ocidentais e, por outro lado, a visão religiosa
das concepções hinduísta e islâmica. A primeira observação que poderá
ser apresentada diz respeito à incomparabilidade entre uma e outras con
cepções, dado que a primeira estabelece bem a distinção entre o secular e
0 religioso, enquanto que as segundas têm uma visão mais holística, não
individualizada e não estabelecem essa distinção.
11 Entendemos por pensamento derivativo aquela forma de pensamento que, emtxira aitica, se encontra
enredada nos mecanismos conceptuais e na lógica do pensamento dominante. Se pensarmos nas
teorias críticas ocidentais, elas próprias não reconheceram outras racionalidades e, por isso, outras
lógicas de pensamento. Foucault, por exemplo, desconstruiu o pensamento ocidental, mas não pensou
para além do Norte. É necessãrio, pois, que o pensamento crítico se torne num pensamento não-
derívativo, não apenas desconstrutor de uma única lógica e da redutibilidade do monoculturalismo, mas
que se coloque do outro lado da linha, que seja, afinal, pós-abissal.
senhor e do escravo, o processo de conscientização da opressão consti
tui o pressuposto lundamental para a emancipação dos povos oprimidos.
Este é o desafio colocado, permanentemente, ás epistemologias do Sul e
a todos aqueles que, mesmo sendo geograficamente do Norte, se colocam
do lado do Sul, construindo uma teoria crítica não derivativa.
1. A Colonização do Imaginário
12 Para que se tenha uma ideia do holocausto provocado pela colonização espanhola, de 1519 a 1532 a
população do México central tinha baixado para 16,8 milhões e para 6,3 milhões em 1548, até chegar a
2,6 milhões em 1568 e, em 1585, não havia no pais mais de 1,9 milhões de indigenas (cf. GRUZINSKI,
2003, p. 128-129).
O' sistema educativo, reservado aos nobres, preparava os lUturos diri
gentes por intermédio de urna educação austera e sofisticada “que associa
va conhecimentos, modos de dizer e modos de ser” (GRUZINSKI, 2003,
p. 25). Aprendia-se, por exemplo, os versos de canto, escritos em caracte
res pinitados e que serviam para cantar os hinos divinos. A aprendizagem
dos hirios divinos era feita seguindo as respectivas pinturas. Para além da
questãtf» hereditária, era a educação que distinguia os nobres dos plebeus,
fazendo deles seres intelectual e moralmente superiores e, por isso, desti
nados jao exercício do poder.
A;S culturas do México central são predominantemente orais e, por
isso, o:S conhecimentos, o modo como essas culturas perspectivavam o
mundo' e a vida, eram expressos através da transmissão oral e da pictogra-
fia dado que, antes da conquista espanhola não conheciam nenhuma forma
de escrita alfabética. O modo como a informação era transmitida baseava-
-se, assim, numa aliança entre a pintura e a palavra. O campo de expressão
pictogfáfica abarca diversos domínios, tais como:
13 Escolas da nobreza.
de culto indígenas. Para além de terem abandonado os santuários das ci
dades e se refugiarem em lugares afastados, como em grutas, nas monta
nhas e junto dos lagos, a colonização provocou efeitos nefastos nas suas
próprias crenças e representações acerca do sagrado. O processo coloniza
dor, intencionalmente violento, introduziu novos conceitos que pretendiam
reorganizar as subjetividades e a sua relação com o sagrado. Gruzinski
(2003, p. 34) refere a este propósito:
l ü i i i - i » w w - r 11 » » i p p i c i m p
“i f * l f l f u » | - ■ . IS • i'- ils * !
- — - ! •.}“|5 ,mm.
14 Boaventura de Sousa Santos. Doutorado em Sociologia do Direito pela Universidade de Yale (1973),
é Professor Catedrático da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra, Distinguished Legal
Scholar da Universidade de Wisconsin-Madison e Global Legal Scholar da Universidade de Warwick.
É Director do Centro de Estudos Sociais da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra,
Director do Centro de Documentação 25 de Abril da Universidade de Coimbra e Director da Rev/sfa
Critica de Ciência Sociais.
Prêmio de Ensaio Pen Club Português 1994; Prêmio Gulbenkian de Ciência, 1996; Prêmio Bordalo
da Imprensa - Ciências, 1997; Prêmio JABUTI (Brasil) - Área de Ciências Humanas e Educação,
2001; Prêmio Euclides da Cunha da União Brasileira de Escritores do Rio de Janeiro, 2004; Prêmio
“Reconocimiento al Mérito", concedido pela Universidade Veracruzana, México, 2005; Prêmio de Ensaio
Ezequiel Martínez Estrada 2006, da Casa de Ias Américas, Cuba, 2006.
Os seus temas de pesquisa situam-se no âmbito da Epistemología, sociologia do direito, teoria pós-
colonial, democracia, interculturalidade, globalização, movimentos sociais, direitos humanos.
Na entrevista concedida à Revista Lusófona de Educação e aqui reproduzida aborda, sobretudo, os
temas relacionados com a construção de um novo paradigma socioepistemológico, mais de 20 anos
depois da publicação da obra emblemática Um Discurso sobre as Ciências.
social; racionalidade ou irracionalidade; etc) deixaram de ter consistencia,
importância ou mesmo validade, eu parto da ideia de que tais problemas
continuam válidos e importantes, só que as soluções modernas para eles
não nos servem. Daí que, em textos posteriores, tenha chamado à minha
concepção “paradigma pós-modemo de oposição”. Acontece que, dada a
hegemonia da posição convencional, não consegui que esta designação
se impusesse. E, sendo assim, é melhor abandoná-la. Acresce que o pós-
-modemismo é hoje uma designação usada para caracterizar uma enorme
diversidade de temas, da epistemologia à política, à cultura e à arte e, por
tanto, confunde mais do que esclarece. A prova disto mesmo é o facto de
a crítica ao pós-modemismo vir tanto dos sectores da direita conservadora
como dos sectores marxistas mais ortodoxos.
As mudanças no paradigma dominante são mais evidentes que a
emergência de um novo paradigma. É possível que isto aconteça em todas
as transições. Vemos melhor o que vai mudando no que está do que o que
de novo vai emergindo nos interstícios das mudanças do que está. Ou seja,
a novidade na mudança nem sempre é novidade da mudança, e os sinais
num ou noutro sentido são equívocos. Por outro lado, pode ser que o pa
radigma emergente seja, de facto, um conjunto de paradigmas, ou seja,
a coexistência de uma pluralidade de epistemologías irredutíveis a uma
epistemologia geral.
Tendo isto presente, penso que as mudanças principais nos últimos
vinte anos foram as seguintes. Primeiro, o discurso epistemológico deslo
cou-se da física para as ciências da vida, sobretudo para a genética, e com
isso surgiram novos problemas: a relação entre genética, biologia da evo
lução e biologia do desenvolvimento; os fenómenos biológicos entre a lin
guagem físico-química da vida e a linguagem da informação; os problemas
éticos da investigação genética a regulação desta; a relação entre a indústria
da biotecnologia e a investigação científíca; o patenteamento de formas de
vida ou de processos ligados à vida. Segundo, estes desenvolvimentos de
ram origem a novas fracturas entre paradigmas reducionistas e paradigmas
da complexidade, das quais emergiram novas questões no seguimento das
que eu tinha identificado em Um Discurso-, o conhecimento como resulta
do de processos locais e, portanto, situado e contextual izado; valorização
epistemológica do pragmatismo. Terceiro, também confirmando as minhas
orientações prospectivas, a crescente saliência de áreas de conhecimento
em que a distinção entre “ciências naturais” e “ciências sociais” colapsa:
ciências do ambiente, ciências cognitivas, biodiversidade, ciências da saú
de. Finalmente, o reconhecimento crescente, sobretudo nas duas últimas
áreas que acabei de referir, do carácter parcial do conhecimento científico e
da necessidade de procurar diálogos entre ele e conhecimentos não cientí
ficos, por vezes, incorrectamente, designados como “etno-saberes”. A esse
diálogo venho chamando a ecologia dos saberes {Gramática do Tempo).
BSS: As pro opostas epistemológicas, que tenho vindo a fazer nos úl
timos vinte anos 3 não apontam, apenas, para novos tipos de conhecimen
to; apontam, tamhbém, para novos modos de produção de conhecimento.
Defino-os, em ge;eral, como epistemologias do Sul, entendendo por Sul a
metáfora do sofrifimento humano, sistematicamente causado pelo capita
lismo. Trata-se, pipois, de um Sul não imperial (porque há um Sul imperial,
que reproduz no S Sul os interesses do Norte) que resiste contra a opressão,
a exploração e a e;exclusão. Esse conhecimento pode ser produzido no Norte
mas sempre apreiendendo com o Sul não imperial. E a vigilância episte
mológica tem de 3 ser constante pois, doutro modo, a fala alternativa pode
transformar-se, ra'apidamente, em silenciamento alternativo.
Foucault deiEu um enorme contributo para desarmar epistemológica
mente o Norte, mnas não pôde reconhecer os esforços do Sul não imperial
para se armar episistemologicamente. É que estavam em causa outros sabe
res e outras expenriências de saber de cuja existência ele não se apercebeu.
BSS: A resposta cabal a esta pergunta exigiria uma reflexão mais detalha
da. No espírito desta entrevista, saliento os aspectos epistemológicos do FSM,
pois penso que sem uma nova epistemologia não serão possíveis novas polí
ticas transformadoras. O FSM é o primeiro movimento intemacionalista do
século XXI, originário do Sul global e segundo premissas culturais e políticas
que desafiam as tradições hegemónicas da esquerda. A sua novidade, fortale
cida com a mudança de Porto Alegre para Mumbai e mais tarde para Nairobi,
reside no facto de as tradições hegemónicas de esquerda, em lugar de serem
descartadas, terem sido convidadas a estar presentes, ainda que não nos seus
termos, ou seja, como únicas tradições legítimas. Junto com elas foram convi
dadas muitas outras tradições de conhecimentos críticos, de práticas transfor
madoras e concepções de uma sociedade melhor. O facto de movimentos e or
ganizações provenientes de tradições críticas díspares - unidos pelo propósito,
muito genericamente definido, de lutar contra a globalização neoliberal e pela
aspiração, ainda mais genérica, por “um outro mundo possível” - poderem
interagir durante diversos dias e planear acções conjuntas teve um impacto
profundo e multifacetado na relação entre a teoria e a prática.
Primeiro, tomou claro que o mundo, no seu todo, está repleto de expe
riências e de actores transformadores que não correspondem aos parâme
tros estabelecidos pela esquerda ocidental. Tomou igualmente claro que a
discrepância entre a teoria (esquerda nos livros) e a prática (esquerda em
acção) é acima de tudo um problema ocidental. Noutras partes do mundo
e mesmo no ocidente entre as populações não ocidentais (como os povos
indígenas) existem outros entendimentos de acção colectiva para os quais
esta discrepância não faz muito sentido.
Fm scgiiiuio liig:ir, o l'SM mostrou que o conhecimento científico, a
que sempre foi concedida prioridade absoluta no cânone da esquerda ociden
tal é, no espaço aberto do FSM, uma forma de conhecimento entre muitas
outras. Para certos movimentos e causas, é mais importante do que para
outros e, em muitas instâncias, c utilizado cm articulação com outros co
nhecimentos: leigos, populares, urbanos, camponeses, femininos, religiosos,
artísticos etc. Deste modo, o FSM coloca uma nova questão epistemologica:
se as práticas sociais e os actores colectivos recorrem a diferentes tipos de
conhecimento, uma avaliação adequada da sua utilidade para a emancipa
ção social só pode ser fiondada numa epistemologia, que, ao contrário das
epistemologías hegemónicas do Ocidente, não conceda supremacia a priori
ao conhecimento científico (produzido sobretudo no Norte) e permita assim
um relacionamento mais justo entre as diferentes formas de conhecimento.
Por outras palavras, não existe justiça global sem justiça cognitiva global.
Assim, para captar a variedade imensa de discursos e práticas críticas e valo
rizar e maximizar o seu potencial transformador, é necessária uma reconstru
ção epistemológica. Isto significa que não precisamos tanto de alternativas
como de um pensamento alternativo de alternativas.
Esta reconstrução epistemológica deve partir da ideia de que o pen
samento hegemónico de esquerda e a tradição crítica hegemónica, além de
norte-cêntricos, são colonialistas, imperialistas, racistas e também sexis
tas. Para ultrapassar esta condição epistemológica, e assim descolonizar o
pensamento e a prática de esquerda, é imperativo ir para o Sul e aprender
com Sul, o que designei acima por epistemologia do Sul. Esta epistemo
logia de modo algum sugere que o conhecimento científico, o pensamento
crítico e as políticas de esquerda nortecêntricas sejam descartados como
parte do lixo da história. O seu passado é, sob muitos aspectos, um passado
honroso com um contributo significativo na libertação do mundo e, portan
to, também do Sul global. Em vez disso, é imperativo iniciar um diálogo
e uma tradução intercultural entre os diferentes conhecimentos e práticas:
sulcêntricos e nortecêntricos, populares e científicos, religiosos e secula
res, femininos e masculinos, urbanos e rurais, etc., etc. Designo acima este
vasto processo de tradução intercultural como ecologia dos saberes.
O terceiro impacto do FSM no relacionamento entre a teoria e a prá
tica, e provavelmente o mais decisivo para o seu sucesso, é a forma como
valoriza a diversidade de filosofias, discursos, estilos de acção e objectivos
políticos presentes nas suas reuniões. Neste domínio, dois aspectos mere
cem ser salientados. Por um lado, o FSM tem até agora resistido à redu
ção da sua abertura em nome da eficácia ou da coerência política. Como
menciono mais abaixo, existe um intenso debate dentro do FSM sobre este
assunto, mas, do meu ponto de vista, a ideia de que não existe uma teoria
geral da transformação social capaz de captar e classificar a imensa diver
sidade das idéias e práticas oposicionistas presentes no FSM tem sido uma
das idéias mais inovadoras e produtivas. Por outro lado, esta inclusividade
potencialmente incondicional tem vindo a contribuir para criar uma nova
cultura política que privilegia as semelhanças em detrimento das diferen
ças, e promove a acção comum mesmo na presença de diferenças ideoló
gicas, desde que os objectivos, não importa quão limitado o seu alcance,
sejam claros e adoptados por consenso.
Nos antípodas da ideia de uma teoria geral abrangente ou de uma
linha correcta vinda de cima, as coligações e articulações possibilitadas
entre os movimentos sociais são geradas de baixo para cima, tendem a
ser pragmáticas e a durar enquanto for necessário para os objectivos de
cada movimento. Por outras palavras, enquanto na tradição da esquerda
eonvencional, especialmente no Norte global, politizar uma questão era
equivalente a polarizá-la, o que conduziu frequentemente ao fraccionismo
e ao facciosismo, no FSM parece estar a emergir uma outra cultura polí
tica, onde a politização vai de mãos dadas com a despolarização, com a
busca de terrenos comuns e de limites consensualmente assumidos para
a pureza ou impureza ideológicas. Do meu ponto de vista, a possibilidade
de uma ação colectiva global assenta no desenvolvimento de uma cultura
política deste tipo.
Introdução
15 Facultad de Ciencias Sodales, Universidad Nacional Mayor de San Marcos (Lima, Perú), jvmenaterta.com pe
sinèrgica de Haken e a teoria autopoiética de Maturana questionam as pre
missas do modelo da ciência moderna. As ciências naturais desenvolvem
uma conceituação fundada em um futuro indefinido, os equilíbrios são as
excepções, a auto-organização como um processo complexo da realidade
e, portanto, a racionalidade da complexidade implica que os fenômenos
confrontam-se com um conjunto de alternativas sucessivas, não a determi
nismos preestabelecidos que governam o mundo (2), o que Ilya Prigogine
(1997), Prêmio Nobel de química, chama o fim das certezas.
Estamos perante uma crise das bases do conhecimento científico,
incluido o social e o filosófico, que engloba as formas de produzir pen
samentos na modernidade. Na América Latina, a crise do conhecimento
social se formula como urna crise da subjetividade positivista moderna,
desencadeada como parte da mutação de um período histórico: aquele as
sociado à modernidade europeia, cuja exaustão envolve os fundamentos
epistemológicos que sustentavam os modelos europeus de conhecimento
aplicados em todo o mundo, desde o século XVI. Nesse sentido, estamos
perante uma crise das ciências sociais e da própria construção do conheci
mento científico.
Neste artigo, procuramos dar conta do impacto da crise nas ciências
sociais e o surgimento de novas respostas epistemológicas nesta parte do
continente. Em particular, destaca-se o desenvolvimento de um paradigma
emergente que está transformando as formas de fazer pesquisa social na
América Latina.
Rever a epistemologia da pesquisa social tem raízes próprias. Na
América Latina tem sido salientado, por diversos autores, que tratam sobre
esse assunto. Por um lado, podem-se mencionar os trabalhos que são de
senvolvidos por influência de Humberto Maturana, que enfatizam o esforço
teórico de uma perspectiva sistêmico-construtivista (3) e, por outro lado,
os trabalhos de Pablo González Casanova e Boaventura de Sousa Santos
que, de maneira geral e não isentos de contradições, enfatizam a corrente
chamada “colonialidade” do poder (4). As duas tendências são marcos fun
damentais no desenvolvimento de uma epistemologia da pesquisa social,
baseada na racionalidade da complexidade (WALLERSTEIN, 2001).
Por essa razão, na primeira parte deste artigo, discutem-se as bases
cognitivas da pesquisa social. Além disso, se analisam os avanços do pen
samento da complexidade na América Latina. A segunda parte do tra
balho, faz referência às contribuições metodológicas dos paradigmas de
pesquisa social na América Latina, particularmente, no que diz respeito às
mudanças propostas no processo de conhecimento. Por último, no nível
tecnológico, examina-se como é feita a pesquisa, apontam-se os instru
mentos mais adequados para levar a cabo a produção de conhecimento a
partir das nossas próprias especificidades e realidades.
Conclusão
(2) Mayntz 2002, Wallerstein, 1999. Para aprofundar conhecimento sobre América Latina procurar as
obras de Martínez 1993 e Sousa Santos 2003.
(3) Os aportes de Humberto Maturane aos estudos da complexidade têm permitido uma enorme
colaboração entre as ‘ciências duras", especialmente a biologia e as ciências sociais na “escola chilena".
É importante destacar o texto de Osório (2004).
(4) Perspectiva muito ampla que está sendo desenvolvida por Anibal Quijano, Orlando Fals Borda, Walter
Mignolo, Edgardo Lander, entre outros. Em especial podemos destacar o livro de Lander (2000).
(5) Os estudos culturais são núcleos acadêmicos dos países desenvolvidos, países da periferia e países
ocidentais e orientais, embora representem práticas intelectuais que existiam e existem na América
Latina independentemente daquelas das nações de língua inglesa. Ver Mato (2001).
(6) Especialmente o trabalho de González Casanova (2004) por seu impacto na América Latina. Consúlte
se também o número especial sobre complexidade da revista Sociologias 15 de 2006, Rodríguez e Arnold
(2007), De Sousa Santos (2006), Martinez (1999). Existem também importantes contribuições na Cinta
de Moebio (Chile), e a Revista de Epistemologia de Ciencias Sociales da Faculdade de Ciências Sociais
da Universidade de Chile.
(7) Cabe destacar que essas caraterísticas não são exclusivas do conhecimento social, também foram
desenvolvidas pela física. Em física mecânica sujeito e objeto se encontram separados, enquanto que
na física quântica o objeto, as partículas altamente sensíveis do mundo atômico, são modificadas pelo
sujeito que as estuda. O sujeito torna-se reflexivo, ver Ibáñez (1990:34-35).
(8) A investigação realizada entre 1996 e 2000, pelo centro de estudos sociais da Faculdade de Economia
da Universidade de Coimbra. Projeto em que 75 pesquisadores colaboraram em uma obra coletiva sobre
democracia participativa, sistemas alternativos de produção, multiculturalismo, justiça, cidadania cultural,
luta pela biodiversidade entre conhecimentos rivais e novo Internacionalismo laboral. A ser publicado em
sete livros, cada um com mais de 500 páginas (Santos, 2004).
(10) Giddens (1993:80-82). Também pode-se consultar Luhmann, que define a pesquisa social como
um realização de segunda ordem, e consiste em observar a realidade social como algo diferente e, ao
mesmo tempo, tem que se entender a distinção usada pelos sujeitos. Pode-se consultar seu artigo ‘Como
podemos observar estruturas latentes?" (Luhmann 1995:65).
(11) Na América Latina recebe um impulso decisivo na década de 1960. Paulo Freire desenvolve
0 conceito de educação popular que se fundamenta nos conceitos da perspectiva participativa e no
compromisso com os setores populares. Orlando Fals Borda aplicou essa forma de pesquisa participativa
em diferentes niveis de intervenção social. O objetivo é que a população e investigadores intervenham
desde o início do trabalho até aos resultados alcançados. O Simpósio Mundial sobre Critica y Politica en
las Ciencias Sociales, Cartagena, Colombia, de 1977, é o ponto de partida para o seu lançamento global
(Villasante, 1994:403).
REFERENCIAS
WALLERSTEIN, !.. Impensar las ciencias sociales. México: Siglo XXI y Centro
de Investigaciones Interdisciplinarias en Ciencias y Humanidades UNAM, 1999.
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Introdução
Cada vez que se fala de um mesmo tema, ele não é repetido, mas ex
presso de um modo singular em cada situação, porque, quando o retoma
mos, fazemo-lo com nossas disposições do momento, com as aquisições
de leituras, com o saber de experiência feito, com as projeções, aspirações
e ideais incorporados desde sua última apresentação. Em outras palavras,
em cada oportunidade que exploramos determinado assunto, ele é refeito
- até mesmo na hora da apresentação, especialmente por causa das reações
dos ouvintes - , o que nos obriga a afirmar, de início, que a teoria é sempre
dinâmica e, nesse sentido, cada ideia, por mais categórica que seja, cada
tese, por mais correta que seja, cada proposta, por mais sedutora que seja,
é sempre transitória e, por isso mesmo, provisória.
Mas, por que estamos dizendo isto, logo de entrada, numa apresentação
que se propõe a tratar de “fundamentos teóricos para elaboração de trabalho
científico”, quando, supostamente, em uma ocasião como esta, devemos
situar-nos no terreno firme e seguro das certezas e das teorias absolutas e
eternas - ou, no mínimo, convincentes e longevas - , e não, no pântano das
incertezas e das concepções voláteis? Será que podemos mesmo afirmar
que não existem teses, mas, apenas hipóteses?
Dizem que quando adentramos o imiverso acadêmico, quando somos
incorporados nos nichos da comunidade científica, é porque queremos sair
do senso comum, daquele já mencionado “conhecimento de experiência
feito”, para penetrar na estrada real que, pelo “recorte cirúrgico ilo objeto”,
pelo “foco preciso da mirada”, pela “clareza absoluta dos objetivos”, pela
“rigorosa metodologia (distinta das técnicas e dos procedimentos)”, pelo
“controle vigilante das variáveis”, logramos fazer chegar à luz do conheci
mento “científicamente consistente”, da “massa crítica consolidada”. Ora,
mas as teses aí construídas, ou deduzidas, não deverão ser socializadas
com toda a sociedade para se tomarem senso comum? Neste caso, esta
remos duplamente exasperados: por um lado, ao fazer pesquisa, pisamos
um solo que desaparece sob nossos pés; por outro, o ineditismo de nossas
idéias, o appeal de nosso vanguardismo gnosiológico parece condenado ao
mais prosaico destino da banalização, por sua socialização com o comum
dos mortais.
Cabe explicar que pusemos no título desta intervenção a expressão
“ensino superior”, pensando, evidentemente, no ensino superior de
educação, porque, se até a década de sessenta a pesquisa não era predo
minantemente produzida nas Instituições de Ensino Superior (lESs), na
década seguinte, pode-se afirmar, com Bemadete Gatti (2002, p. 16) que:
Referencial teórico
M etodologia
Procedim entos
ALTHUSSER, Louis. Acerca del “Contrato Social”. In: VERÓN, Eli.scn (ilii »
El proceso ideológico. 2. ed., Buenos Aires: Tiempo Contemporáneo. I‘í /1
HAGUETTE, Teresa Maria Frota (oig.). Dialética hoje. Petrópolis: Vozes, 1990.
___. O que é dialética. São Paulo: Brasiliense, 1981 (Col. “Primeiros Passos”).
WEBER, Max. Sobre a teoria das ciências sociais. Lisboa: Presença, 1974.
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UM DEBATE QUALITATIVO
E QUANTITATIVO:
um dualism o a prescrever
discussões em tom o de m étodos
Lionel-Henri Groulx
1) Esse dualismo refere-se a diferentes formas de pensar o social, a verdade e o conhecimento. A oposição
dos dois tipos de pesquisa refletem filosofias diferentes, respectivamente, positivista ou convencional e
construtivista. Os autores utilizam, alternativamente, os conceitos de filosofia, paradigma ou teorema para
sustentar a sua incompatibilidade. A análise tem como base o fracasso da ciência positivista e a necessidade de
desenvolver uma abordagem construtivista ou hermenêutica que assegure o desenvolvimento do conhecimento
do social e da sociedade.
2) No entanto devemos reconhecer que existe relação entre as posições adotadas pelos autores e suas práticas.
A discussão em torno de métodos que, também, envolve a parte do mercado das subvenções para pesquisas,
parece ter sido Incorporada pelos pesquisadores que se apresentam como investigadores “qualitativos" e que
vivem a sua situação ou sua posição no mercado como uma posição desfavorecida em comparação com a
posição de investigadores do “quantitativo". Os debates em torno dos métodos não são apenas técnicos, mas
também, se não mais, econômicos e politicos, pois eles envolvem a equidade na distribuição de subsídios
entre ditas metodologias de pesquisa. Essa distribuição, tem efeito sobre a autoridade intelectual ou científica
adquirida por esses métodos no universo acadêmico ou intelectual.
REFERENCIAS
DENZIN, N., The Research Act. Englewood Cliffs, Prentice Hall, 1989.
METODOLOGIAS E TECNICAS
QUALITATIVAS
PESQUISA QUALITATIVA
EM EDUCAÇÃO:
possibilidades de investigação em educação
Daniel Quilaqueo Rapimán
A sociologia compreensiva
M etodologia e método
O term o qualidade
O papel do investigador
A subjetividade
A competência
Pluralidade de termos
Etnologia etnografia
antropologia cultural enfoque construtivista
pesquisa-ação • etnociência
fenomenologia • investigação interpretativa
microssociologia ■nova sociologia
investigação refiexiva • investigação descritiva
história de vida ■interação simbólica
estudos de caso ■observação participante
investigação naturalista ■investigação de campo
etnometodologia • avaliação naturalista
sociologia compreensiva
Esta lista de termos pode ajudar a eolocar em evidéneia as relações
que existem entre determinadas dimensões dos conceitos enumerados e a
metodologia qualitativa nas ciências onde a compreensão dos problemas e
dos fenómenos sociais é urna prioridade.
Etnografìa
Teoria e etnografia
Interacionismo simbólico
Conhecimento
buscado,
esperado
Pertinência social
Pertinência científica
Elementos de um a problemática
O rigens: divergências
Ilustrar uma metodologia com alguns estudos que a emprega pode nos
trazer compreensão quanto a suas possibilidades. Os estudos a seguir apre
sentados mostram a importância de referentes teóricos para tomar possível
fugir de tautologias e obviedades nas análises de grupos focais. Ilustram a
variedade de áreas do conhecimento que os empregam e a variedade temá
tica que lhes dá corpo.
Gomes et al. (2006) utilizaram grupos focais para estudar a violên
cia na ótica de alunos adolescentes do Distrito Federal. A pesquisa teve
como objetivo captar as percepções dos adolescentes sobre as violências
nas escolas e nas comunidades. Sendo que a literatura mostra que tanto em
escolas públicas como privadas as violências são comuns, mesmo que de
naturezas diferentes, o trabalho focalizou as diferenças entre os dois tipos
de escolas. Nove gmpos se reuniram em período diurno e dois no noturno.
Cada gmpo contou com 8 a 12 adolescentes com equilíbrio de participação
por gênero. Foram cinco grupos em escolas públicas e seis gmpos em es
colas particulares. Em uma cidade Satélite foram realizados quatro gmpos
em escolas públicas e dois grupos em escola confessional. No Plano Piloto,
um grupo em escola pública, três em escola confessional e um em escola
privada leiga. Revelou-se entre elas o espectro de um “apartheid social”.
Foi possível detectar e analisar com o trabalho com os grupos como a esco
la espelha a sociedade, como os adolescentes lidam com a violência, como
gangues e galeras se mostram e refletem o gregarismo dos adolescentes,
tanto em um tipo de escola como noutro; ainda, os adolescentes mostraram
aspectos importantes do viver no DF, o medo e insegurança em relação
às violências que constatam existir, as restrições que isso traz para suas
vidas; mostraram estereótipos que existem nas comunidades de referência,
valores pré-formulados, as discriminações sociais, as segmentações físicas
do DF onde vivem grupos com precaríssimas formas de comunicação, em
que prevalece um diálogo de surdos. Os estereótipos mútuos são obstácu
los à comunicação entre grupos. Recorrendo à sociologia durkheimiana, a
W. Waller, a J. S. Coleman, F. Dubet e D. Martuccelli, os pesquisadores
elaboraram inferências a partir da análise das discussões, mostrando “que a
escola, à parte o fato de sua dependência administrativa se depara com de-
saflos de grande porte. As violências não são localizadas, são transversais
e atingem, no foco deste trabalho, adolescentes e jovens das mais variadas
condições sociais”. Verificou-se que a “sociedade adolescente se parece
com uma capsula que sujeita ao rolo compressor da mídia, firma um limite
às influências escolares e familiares.” (op. cit, p. 32).
Mendes e Vaz (2009) realizaram investigação que teve por objetivo
compreender o que professores consideram relevante para a abordagem de
temas de educação ambiental na escola. Os autores buscaram entender não
apenas como professores lidam com essa prática educativa, mas, também,
que reflexões fazem sobre as suas práticas. Partiram do pressuposto que a
narrativa de experiências permite maior motivação entre interlocutores em
grupo e provoca uma troca mais dinâmica, em que se elabora um discurso
e se toma consciência de saberes. O delineamento metodológico caminhou
na direção de promover possibilidades de se narrar episódios ricos de sig
nificado, possibilitando aos pesquisadores acompanhar o processo coletivo
de formação de opinião, com o que se pode verificar o repertório de co
nhecimentos sobre educação ambiental formalizada para aulas nas escolas.
Aqui, o grupo focal possibilitou a criação de ambiente para essa interação,
a partir das questões trazidas pelo moderador de grupo, gerando discussão,
que, transcrita permitiu a “busca de idéias trazidas coletivamente, e não
individualmente” que é o que “identificou nossa pesquisa com essa meto
dologia.” e permitiu “produzir dados e idéias que seriam menos acessíveis
ao pesquisador mini contexto de entrevista individual.” (op. cit., p. 401).
Para reunir voluntarios para a investigação foi anunciada a oferta de urna
oficina sobre Formação de Líderes de Grupos de Discussão em Educação
Ambiental, deixando claros os objetivos da pesquisa. A oficina foi aberta
com técnica que permitiu a seleção de cinco temas gerais que serviram
de base para o grupo focal em que os participantes foram instados a ex
plicar o porqué da opção desses temas em educação ambiental na escola
relatando experiências próprias. Isso permitiu verificar que os professores
têm formas diversas de lidar com a questão na escola: seja por mobiliza
ção (discutir), por instrumentalização (conhecimentos científicos e idéias
sobre ações no meio ambiente), ou por vivências - experimentando no
ambiente problemas, ou por sensibilização (ter a atenção atraída). Seus
procedimentos incorporam diagnósticos, abordagem local das questões do
ambiente, discutindo concepções, incentivando iniciativas, tendo a escola
como esfera de ação ambiental, e, abordando assuntos do universo cultural
dos alunos (op. cit., p. 409). A diversidade mostrou convergência comuni
tária e preocupação com consciência socio-ambiental e os limites postos
pela conjuntura socioeconómica local.
O trabalho de Candau e Leite (2011) abordou os dilemas docentes no
ensino fundamental. Conforme explicam as autoras, buscou-se focalizar a
tensão desigualdade-diferença evidenciada nas representações de profes
sores expressas no grupo focal, o qual foi desenvolvido no contexto de uma
ampla investigação sobre multiculturalismo, direitos humanos e educação.
O estudo situou-se na perspectiva intercultural, e, nas interações entre os
participantes do grupo focal se problematizou as significações atribuídas
à palavra “diferença”, discutindo a associação dessa expressão em rela
ção a preconceito e discriminação, e sua significação como desigualdade.
Segundo as autoras, o grupo focal “se mostrou espaço privilegiado para a
interação dos participantes, oportunizando construções discursivas menos
direcionadas pela pesquisa e mais próximas de suas práticas cotidianas.”
(op. cit., p. 950). Na composição do grupo de participantes o principal
critério foi a constatação da existência de manifestações de professores
evidenciando sensibilidade às diferenças culturais no cotidiano escolar,
bem como, a busca de ter presente áreas curriculares diferentes, atuação
em séries diferentes do Ensino Fundamental e experiência na rede públi
ca de ensino. 12 profissionais participaram do grupo focal, 3 homens e
9 mulheres, tendo sido feita gravação em áudio e vídeo, em clima cons
truído de acolhida mútua, diálogo e envolvimento. Conforme relatam, a
equipe de pesquisadores, em alguns momentos, enviou por escrito para
a moderadora, mensagens relativas a temas que emergiam e cujo apro
fundamento era importante para a investigação. As análises procedidas
e o diálogo das pesquisadoras com vários autores que tratam da questão
permitiu aprofundar aspectos como a associação da palavra “diferença”
com preconceito e discriminação, até como sinônimos, sendo um sinal da
“frequência e da gravidade que essa forma de emergência da questão da
diferença pode assumir no cotidiano escolar, o que mais uma vez reforça
nossa convicção da necessidade de se trabalhar com essa problemática,
tanto na formação de professoras/es, como no dia a dia da escola em geral”
(op. cit., p. 967). Para as autoras surpreendeu o silêncio sobre as diferen
ças individuais de ordem psicológica no ritmo de aprendizagem. Houve
ainda aproximações de diferença com desigualdade, levando à discussão
de quanto essa significação - de desigualdade - apoia-se na conformação
social em que vivemos, sobrepondo-se à afirmação e aos direitos à dife
rença. Mas, de qualquer modo, a partir da experiência, consideram que há
possibilidades de na escola atuar-se “pela reversão das pressões estruturais
pela desigualdade e pela homogeneização cultural” (op. cit., p. 968).
Fávero e Abrão (2006), considerando o papel da mídia no desenvolvi
mento psicológico, investigaram questões relativas a gênero presentes nas
falas de adolescentes, em interações desenvolvidas em trabalho de grupo
focal tendo como mote uma cena de uma telenovela brasileira. Os oito gru
pos focais realizados comportaram, no total, 47 estudantes frequentando a
sexta e oitava séries do ensino fundamental e da primeira e terceira séries
do ensino médio, com equilíbrio entre os sexos. Verificou-se nos alunos do
ensino fundamental o predomínio do julgamento moral conservador, mas,
constatou-se sobre a questão um silenciamento por parte dos meninos. Os
estudantes do ensino médio deslocaram as discussões para outros focos,
como o papel da mídia e a educação, com verbalizações distribuídas en
tre os dois sexos. A análise, com apoios em teorizações da psicologia do
desenvolvimento e psicologia do gênero, bem como sobre o contato de
segmentos sociais com tecnologias de comunicação, indicou a manutenção
dos papéis diferencias e tradicionais, masculino e feminino, privilegiando
o status masculino.
O estudo de Duarte et al. (2008) foi realizado com pessoal de biblio
tecas universitárias localizadas no estado da Paraíba., representados em
uma pequena amostra de oito participantes de grupo. O trabalho do grupo
focal teve seu planejamento e um roteiro bem detalhados. Aprofundaram-
se compreensões em tomo da dimensão pessoas-aprendizagem o que per
mitiu identificar como as organizações estão trabalhando a questão da
aprendizagem no seti ambiente mostrando limites encontrados na direção
da aprendizagem organizacional, não se encontrando grandes diferencia
ções nos processos promovidos em entidades públicas ou privadas. Por
outro lado, as autoras mostraram que, a técnica de grupo focal pode fa
vorecer essa aprendizagem na direção dos interesses profissionais, pela
construção de um conhecimento coletivo pelo compartilhamento de expe
riências. Ou seja, 0 grupo focal, em organizações formais, pode auxiliar
na aprendizagem organizacional e na geração de novas ideias e inovações
pela colaboração.
Silva (2012) utilizou grupo focal em pesquisa qualitativa sobre con
cepções e práticas de leitura com jovens. A base teórica para desenvolvi
mento e análise da pesquisa foi a abordagem socio-histórica da linguagem
de Mikhail Bakhtin. Centrou sua perspectiva analitica nas interações entre
os participantes dos grupos, tomando sequências interativas. Foram reali
zados quatro grupos focais com duração de IhSOmin em média, a partir de
roteiro com tópicos para aberturas diversas na abordagem dos participan
tes. O espaço interativo criado, estabelecido pela linguagem, passa pelas
negociações de sentido, nas hesitações, nas entonações, nos risos, configu
rando a importância do lugar de onde o sujeito fala. Na expressão da autora
“Ao se tentar compreender o modo como as interações se desenvolvem
no grupo focal, chamam a atenção os níveis de autorização por meio dos
quais os enunciados vão se estabelecendo no jogo de interlocução.” Assim,
o participante passa para a condição de autor, agente, com enfáticos co
mentários na temática (op. cit., p. 178). A sequência das interações mos
tra isso e valida as interpretações feitas. Evidencia que o moderador não
ocupa um lugar neutro, que não se perde de vista também o lugar social,
quer do moderador, quer dos participantes - o lugar identificador. Nessa
perspectiva, escola, leitura e espaços de formação vão sendo significados
enquanto realidades históricas situadas, por exemplo: o conceito de leitura
“no cenário da escola dos participantes exprime má-formação dos futuros
professores, relação inadequada com a dimensão da palavra escrita, pre
cariedade na manutenção dos livros e má conservação do espaço físico da
biblioteca [...]” (op. cit., p. 184). A condição de leitores/não leitores emer
ge e a importância da leitura em relação à prática docente futura passa a
ser tomada de modo sério no que respeita ao exercício da profissão. Enfim,
com a perspectiva teórica adotada, foi possível redimensionar o significa
do do conceito de leitura para os jovens dessa escola, na precarização de
seu contexto, evidenciando perspectivas além da dicionarização do con
ceito de leitura que, para eles, se integra indelevelmente às suas vivências
cotidianas da leitura. Encontrou-se um forte tom de ironia por parte dos
jovens com relação à leitura “incentivada”, mas não incentivada/ “enve
lhecida”, pela escola. Quanto à importância da leitura para a prática docen
te, silêncio inicial e, tom de seriedade depois, marcando talvez rupturas na
produção de significados para leitura quando considerada uma atuação de
trabalho. Evoca-se os diferenciais da leitura teórica e a mediação com ex
periências de leitura vivenciadas no Estágio e em Prática de Ensino. O de
senvolvimento das interações mostrou que as significações se modificam
conforme a ação dos participantes sobre a realidade e sobre os enunciados.
Últímas Considerações
KRUEGER, R.A., CASEY, M.A. Focus Group: a practical guide for ap
plies research. Sage Publications, Inc., London, 2000, 3“ ed..
MORGAN, D.L., KRUEGER, R.A. When to use focus groups and why. In
MORGAN, D.L. (Ed.). Successful focus groups: advancing the state of
the art, Sage Publications, Newsbury Park, CA„ 1993, p.3-9.
SILVA, M.C. da. Grupo focal em pesquisa qualitativa sobre leitura com
jovens. Educar em Revista, UFPR: Curitiba, n.43, 2012, p. 189 - 203.
M , «1
•üúísfôâá wfe#SÄ l);g< ilfe© íí3^
Kíl ?':;!'«il|ïîl i. Tit ‘ì'i'ie’iw iciiìij @? Hòcü.t íímí/ps itaUi’ípuiííí|§<^!ô|Bi^Â
- ----- . ►- í / . « 4 i ä iä ^ l Íífe(¡S&<í
TEORIA FUNDAMENTADA:
uma breve introdução
Bob Dick
Roberto Jarry Richardson
Considerações gerais
Fonte: H e rn a n d e z y S a n c h e z (2 0 0 8 )
Quadro 2 - Convergências
Fonte: H e rn a n d e z y S a n c h e z (2 0 0 8 )
Versão autor
Tradicional Evoluída Construtiviela
(Strauss e Corbin) (Charmaz)
(Glassar 1978) 1994/98 2006/08
Características
- Entrada no
- Aceita a revisão da -Arelatlvid.i'iii
campo com poucos
literatura para epistemolòijii > a
pensamentos
estimular o pensamento a reflexivldiiilii iln
predeterminados ou,
Sensibilidade analítico; investigadoi *"
idealmente, como
teórica - Recurso a técnicas de príncípiosfundiiiiM'iii
ta b ula ra sa ;
análise para dapesqiiii >
- Não revisão da
estimular a reflexão e - As represuni.". -
literatura sobre o
desenvolver a das construçòir ■ ■ ■
assunto para não
sensibilidade do fazem parle do|H
contaminar a
investigador. de investii), I',
análise.
continuação
Versão autor
Tradicional Evoluida Construtivista
(Strauss e Corbin) (Charmaz)
(Glasser 1978) 1994/98 2006/08
Caracteristicas
- Desenvolve métodos
- Os dados são vistos
complexos,
como uma
rigorosos de
entidade separada
codificação; Diversos níveis de
-d o
- Tipos de codificação: codificação através dos
investigador e dos
aberta, axial e seletiva; quais propõe a
Codificação e participantes:
- P a ra d ig m a d e a n á lise : operacíonalização do
Diagramação - Codificação:
condições, método de comparação.
-ferramenta analitica
ações/Interações e São eles; código
fundamental
consequências: inicial, focalizado e
-tipos: inicial, teórica e
- Considera o uso teórico.
comparativa.
de diagramas
-Considera 16 familias
fundamental, para a
de códigos.
análise
Visão G eral
Anotações
Codificação
Anotações Codificação
Memos
• Comparação Constante
Após algum tempo uma categoria (as vezes mais) poderá aparecer
com muita frequência e, talvez, ligada a outras categorias emergentes.
Esta é a categoria principal. E pouco recomendável escolher, muito
cedo, uma categoria de base, no entanto, quando resulta evidente que
uma categoria é mencionada muitas vezes e está bem ligada a outras
categorias, pode-se adotar como a categoria principal.(Se surge mais
de uma categoria principal, Glaser e outros autores, recomendam tra
balhar uma de cada vez. Se o pesquisador desejar, a outra pode ser
analisada posteriormente).
Voltando ao exemplo anterior, suponhamos que os 5 alunos entrevis
tados mencionam o uso que eles fariam de que estão aprendendo. Isso se
constitui em uma categoria que pode ser identificada como “aplicação”,
adequando-se aos dois critérios de frequência e ligação.
Quando se identifica uma categoria principal, o pesquisador dei
xa de codificar frases que não façam referência a essa categoria. Assim,
no decorrer do estudo a codificação torna-se mais rápida e eficiente.
Codifica-se a categoria principal, categorias relacionadas com ela, e as
propriedades de ambas.
Os “memos” são utilizados para registrar as relações identificadas en
tre categorias. E importante fazer isso, acrescentando à amostra quando
necessário (ver, ponto sobre amostragem), até conseguir a saturação.
• Saturação
Amostragem
Classificação
E laboração do relatório
DICK, Bob (1999) Sources o f rigour in action research: addressing the is
sues of trustworthiness and credibility. Association for Qualitative Research
Conference “Issues of rigour in qualitative research” at the Duxton Hotel,
Melbourne, Victoria, 6-10 July 1999.
HELLER, Frank A., e BROWN, Alan (1995) Group Feedback Analysis ap
plied to longitudinal monitoring of the decision making process. Human
Relations, 48(7), 815-836.
KVALE, Sleinar (1996) Interviews: an introduction to qualitative rese
arch interviewing. Thousand Oaks: Sage.
Introdução
Estratégias e técnicas
D e f in iç ã o d o m a t e r i a l
I
A n á lis e d a s i t u a ç ã o c o n te x tu a l
U
C a ra c te rís tic a s fo rm a is d o m a te ria l
d
F o c o d a a n á lis e
D if e re n c ia ç ã o t e ó r ic a d a s p e r g u n ta s
D e te r m in a ç ã o d a té c n ic a d e a n á lis e
S u in a r íz a ç ã o —E x p lic a ç ã o — E s t r u tu i 'a ç ã o
D e fin iç ã o d a s c a te g o r ia s d e a n á lis e
H
D e fin iç ã o d a s u n i d a d e s d e a n á lis e
d
R e a liz a ç ã o d a a n á l i s e d o m a te r ia l
R e v a l i d a ç ã o d o s is te m a c a te g o r ia !
N o v a p a s s a g e m p e lo m a t e r i a l
d
R e s u m o e i n t e r p r e t a ç ã o d o s r e s u lta d o s
d
V e r ific a ç ã o d a v a lid a d e
As etapas do esquema padronizado da ACQ serão explicitadas a se
guir de forma mais detalhada ilustrando-as por meio de um estudo sobre
os impactos do programa Brasil Alfabetizado (PBA) às políticas públicas
de EJA em municípios do sertão paraibano (COSTA SANTOS, 2012).'*
1. Definição do material
2. Análise da situação
16 Nossos profundos agradecimentos cabem a Profa. Patrícia Fernanda da Costa Santos pela gentileza de
possibiltar o acesso à parte dos dados colecionados no percurso da sua pesquisa.
3. Características formais do material
8. Análise do material
Exemplo: Sendo que o objetivo da análise era filtrar e agrupar as falas re
lacionadas ao objetivo da pesquisa em assuntos/temas, se trata de acordo
com Mayering (2010, p.98) de uma análise do tipo estruturadora quanto ao
conteúdo. “Trata-se da leitura e releitura do texto de referência, destacando as
falas mais relacionadas ao objetivo da pesquisa, agrupando-as por assuntos/
temas . . . As anotações à margem, como também a frequência com que es
ses assuntos se apresentam, no conjunto das falas, apontam os caminhos
para o reagrupamento, permitindo a elaboração de sínteses provisórias, de
unidades temáticas” (p. 59)
9. Interpretação
17 Além da análise de dados propriamente dita, existem outros aplicativos que podem oferecer um apoio
relevante ao trabalho do pesquisador. ‘Existem diversos tipos de CAQDAS, tais como os voltados para
gerenciamento de dados, pesquisa de textos, construção de mapas conceituais e construção de teona
com base em atividades de codificação e recuperação" (Campos Lage & Schmidt Godoy(2008, p. 77).
Veja também o online MAXQDA tutonal. Para uma apresentação completa veja o MAXQDA'“ Manual
(2011) <http://www.maxqda.com/download/manuals/MAX10_manual_eng.pdf>.
O toolbar permite o acesso rápido às funções mais usadas com uma
estrutura conhecida dos programmas de MS-Office.
Ecbt T«d Cede» Memos tribute» Attaljs» VnitflToots Windovrt MAXÚKtio Unguag# (Language Tootoats î
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2.
Document System
Code System
Novo projeto Abrir projeto existente 12 3-1 3. Document-Browser
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BERG, C. & Milmeister, M. (2008): Im Dialog mit den Daten das ei
gene Erzählen der Geschichte finden. Über die Kodierverfahren der
Grounded-Theory-Methodologie. Forum: Qualitative Social Research,
9(2), Art. 13. <http://www.qualitative-research.net/index.php/> fqs/arti-
cle/view/417/904 [04.01.13],
Hermenêutica romântica
Hermenêutica fenomenològica
PHENOMENOLOGICAL
SYSTEM OF NTBíPRETATION
Hermenêutica Dialética
CRITICAL
SYSTEM OF WTERPRETATION
Estrutura
Sistema Concepção de Concepção de
Objetivo da relação
Hermenêutico sujeito objeto
hermenêutica
Realista incompieto. Emana do sujeito
Hermenêutica Sem os contextos A verdade é uma por mediação
Cartesiano
Romàntica^" temporais e intenção autoritária do texto e dos
socioculturaís contextos
Hermenêutica Realista e completa A verdade é a coisa
Cartesiano Emana do texto
Fenomenològica no próprio sujeito em si
20 O termo romântico é u s a d o como referência ao romantismo, movimento (Séc. XVII a XIX) literário,
artístico e cultural, d o qual Schieiermacher fazia parte.
O contexto temporal refere-se às circunstâncias históricas que cercam o texto e o contexto cultural
refere-se às circunstâncias culturais em função das quais o texto foi produzido. Em geral, quanto maior a
distância entre o momento do leitor e o contexto temporal do texto, maior a dificuldade de interpretação
e mais necessária se torna a hermenêutica.
Uma estudante d e história filipina, p o r exemplo, vai achar que ê mais difícil ler um livro de memórias
ilustrado d o sêc. XIX d o que ler o diário de um seu amigo filipino, pela razão de que há uma ampla
distância temporal entre o aluno e o livro d e memórias do século XIX em comparação com a distância
temporal entre si e o diário d o seu amigo. Por outro lado, quanto maior for a distância entre o contexto
cultural d o leitor e o contexto cultural d o texto, a interpretação torna-se mais trabalhosa e a hermenêutica
mais necessária. E devido às diferenças dos contextos culturais, a leitura de um épico de uma tribo
africana será mais dificil do que a leitura de um romance filipino moderno.
O termo fenomenologia deriva da palavra fenómeno que significa o que aparece, o que na filosofía de
Immanuel Kant (1724-1894) foi considerado como o que aparece à consciência do sujeito, em oposição
ao n ú m e n o ou coisa-em-si, inacessível ao sujeito do ponto de vista gnosiológico.
O conceito de dialética é de origem grega e significa diálogo e debate. O termo crítica é também de
origem grega e significa juiz ou julgar.
O termo pós-estruturalismo refere-se a um movimento filosófico e cultural que, tanto pode ser
considerado um desdobramento do estruturalismo como a sua antítese, como defendiam Ferdinand de
Saussure e Claude Lévi-Strauss.
conlinuaçâo
Estrutura
Sistema Concepção de Concepção de
Objetivo da relação
Hermenêutico sujeito objeto
hermenêutica
Emana do
Deformada pela A verdade é texto e penetra
Hermenêutica
Cartesiano ideologia e pelo ideologicamente profundamente
Crítica
poder “purificada” na estrutura
linguística do texto
Descentrado, A verdade é Combinação das
Deformada pela
oscilando ideologicamente relações das
ideología e pelo
Hermenêutica Pós- entre o “purificada”e o hermenêuticas
poder e contém
Estruturalista existencialismo seu significado romântica,
urna infinidade de
eo relaciona-se com o fenomenològica,
significados
cartesianismo aquí e o agora dialética e crítica
Wilhelm Dilthey^'
<
H ERM ENEU TIC S A S P R A XIS |
H E R M EN EU T IC S A S THEORY
PRAOMATiC HERMENEUTICS
METHODIC HERMENEUTICS
REPETITION , Futuft
BIsc OJ£trrAO£LS£ 8 ls
K IE R K E G A A R D 'S N O T IO N O F F A L L A N D R E D E M P T IO N
22 Abbau (Redução) é uma palavra sugestiva e menos enganadora do que, Destruktion o que implica um
puro nivelamento ou demolição. Abbau significa um desmantelamento ou destruição de um aparelho de
superficie que tem permitido acumular mais do que uma experiência-originária; desmantelamento, não
de uma dimensão da vida, mas a sua recuperação. Sendo assim, a sua função é positiva, dado que
permite romper o incrustado que se forma ao longo da vida, a fim de recuperar as experiências vivas.
CAPUTO, Retrieval and the Circular Being of Dasein.
Kultur (Cultura), ou mais propriamente educação, que, após Wilhelm von Humboldt, se define corno “algo mais
elevado e mais interior, ou seja, a atitude do espirito que, a partir do conhecimento e sentimento do esforço
intelectual e moral flui harmoniosamente na sensibilidade e no caráter. GADAMER, Verdade e Método.
É enganador traduzir sensus communis para senso comum. De acordo com Quito, o equivalente correto
deste termo é “o francês te bon sens, o bom senso prático.” QUITO, Os filósofos da Hermenêutica.
Gadamer está ciente de que este titulo é irónico. Em suas Reflexões sobre o ensaio Viagem Filosófica,
explica como acabou usando este título. “A questão do título do livro era bastante difícil. Os meus
colegas de filosofia, tanto na Alemanha como no estrangeiro esperavam que se chamasse hermenêutica
filosófica. Mas quando sugeri esse titulo, o editor perguntou: “0 que é isso?” GADAMER, Reflexões
sobre a minha Viagem Filosófica.
Gadamer compartilha os mesmos sentimentos com Heidegger que, na obra Introdução à Metafísica,
eloquentemente fala do triunfo da ciência e da tecnologia que ele alegou ter trazido ‘a fuga dos deuses,
a destruição da terra, a transformação dos homens em uma massa, o ódio e a desconfiança de tudo o
que é livre e criativo” (die Flucht der Götter, de Zerstörung der Erde, morrer Vermassung der Menschen,
der Vorrang des Mittelmassigen).
aspecto, Heidegger ainda parece fiel ao método fenomenològico criado
pelo seu mentor Edmund Husserl (1855-1938). Mas uma bifurcação sis
temática ocorreu que demarcou o que era husserliano e o que eventual
mente se toma distintamente heideggeriano. Heidegger não podia aceitar
a exigência de Husserl de Einklamerung, ou seja, o escalonamento de to
das as dimensões subjetivas do intérprete do mundo da vida. Na verdade,
Heidegger negou a possibilidade de um procedimento tão transcendental
e demonstrou que a compreensão e a hermenêutica são mediadas pelas
mesmas subjetividades do mundo da vida do intérprete.
Para Heidegger, Verstehen (compreensão), é, essencialmente, prag
mática, existencial e não metódica, é o ponto de partida da Auslegung
(interpretação). Auslegung é o Ausarbeitung (processo de trabalho) da
Verstehen. Verstehen e Auslegung, diferem apenas em termos de grau
quantitativo. Qualitativamente, as duas operações são as mesmas. Ambas,
Verstehen e Auslegung procedem como a pesca com redes, onde o fenô
meno é o peixe e a rede é a parte dianteira das estruturas de compreensão.
Assim como o pescador tem que lançar a sua rede para pescar peixe, o in
térprete deve utilizar as estruturas do entendimento tendo em vista a inter
pretação do fenómeno e a compreensão do seu significado. É o movimento
do sujeito em direção ao fenómeno e a sua captação que criam o padrão da
hermenêutica circular.
Para Heidegger, o entendimento tem três estruturas primeiras: Vor-
Habe (primeiro plano), Vor-Sicht (previsão), e Vor-griff (capacidade de
captação). O primeiro plano se refere ao ato de posse antecipando a ideia
holística do fenômeno sob investigação, incluindo o sistema ao qual tal
fenômeno pertence. Tem algo a ver com a posse de uma visão abrangente
do fenômeno. Graficamente, podemos representar o escopo de Vor-habe
com o círculo externo da seguinte configuração:
Vor-sicht, ou previsão, refere-se ao ato de ver com antecedência o
esquema geral do fenòmeno sob investigação. Graficamente, podemos
representar o seu alcance com o círculo interno do configuração acima.
A diferença entre Vor-habe e Vor-sicht reside na extensão do seu foco.
Vor-habe c a preocupação com o fenòmeno e o seu sistema de circunscri
ção, Vorsicht é imediatamente referente ao fenòmeno em si. Por ùltimo,
Vor-grìff, é o ato de ter previamente um sistema articulado de conceitos
úteis na captura dos detalhes do fenòmeno sob investigação. Graficamente,
podemos representar o seu alcance com as grades dentro do círculo interno
da configuração acima. A diferença entre Vor-griff e Vor-sicht novamente
reside na extensão de seu foco. Vor-sicht preocupa-se com a ideia holística,
Vor-griff se preocupa, essencialmente, com os detalhes.
Verstehen e Auslegung são qualitativamente os mesmos, ambos to
mam as estruturas primeiras como o seu ponto de partida. Uma vez fundi
das, estas estruturas constituirão o horizonte, que será preenchido poste
riormente pelo fenòmeno. A diferença crucial entre Verstehen e Auslegung
é o facto de que o último envolve a acumulação consciente da estrutura
primeira da hermenêutica.
O terceiro círculo de Heidegger, o círculo estratégico, refere-se à sua
própria aplicação no mesmo círculo hermenêutico para descobrir o misté
rio da existência humana.
^ .9 .. M jnipuljtion &
S«duclion)