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UNIVERSIDADE DE PASSO FUNDO


INSTITUTO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS
Curso de Secretariado Executivo Bilíngue
Campus I - Bairro São José - Fone (054) 3316-8330 - 8436
CEP 99001-970 - Passo Fundo - RS
secretariajunior@upf.br

Secretariado Executivo em Revist@


Nº5/2009
ISSN 1809-2802

Acesso
www.upf.br/secretariado

Conselho editorial desta edição


Profa. Celi Costi Ribeiro
Profa. Ms. Daniela Giareta Durante
Prof. Giezi Schneider
Profa. Ms. Josete Alzira Passamani Stocco
Profa. Ms. Magda Tyska Rodrigues
Profa. Ms. Maria Elisabete Mariano dos Santos
Prof. Ms. Olivo Tiago Giotto
Profa. Ms. Vera Eloci Estrasulas Daneli

Organização
Profa. Ms. Daniela Giareta Durante

Dezembro, 2009.
2

SUMÁRIO

Secretariado executivo: uma profissão inserida no contexto da evolução


do trabalho feminino ....................................................................................... 3
Josete Alzira Passamani Stocco

Competências complementares: secretário executivo e administrador ..... 13


Roselaine de Lima Cordeiro
Olivo Tiago Giotto

Gestão secretarial: semelhanças entre competências gerenciais e


secretariais ....................................................................................................... 28
Marli de Fátima Carvalho Tagliari
Daniela Giareta Durante

O profissional de secretariado e a tradução de textos técnicos ................... 44


Gisele Benck de Moraes
Natália Kunz Caselani

Um estudo sobre o assédio moral no trabalho para o profissional de


secretariado ...................................................................................................... 64
Cibelle da Silva Santiago
Maria Luzitana Conceição dos Santos

Gestão documental: aplicação da tabela de temporalidade de


documentos (TTD) .......................................................................................... 85
Luiza Wioppiold Vitalis
Leonardo José Andriolo

Conflitos no cotidiano secretarial .................................................................. 99


Luana de Farias

Curso técnico em secretariado e estudos extracurriculares: momentos de


leituras dirigidas .............................................................................................. 107
Cândida Martins Pinto
Cláudia Anita Guerra
3

SECRETARIADO EXECUTIVO: UMA PROFISSÃO INSERIDA NO


CONTEXTO DA EVOLUÇÃO DO TRABALHO FEMININO

Josete Alzira Passamani Stocco1

Resumo: É na história que encontramos embasamento para ampliar nossos


conhecimentos e dirimir nossas dúvidas, angústias, interesses. O presente estudo, de
cunho bibliográfico, consiste em relacionar a trajetória da mulher no mercado de
trabalho com a luta dos profissionais de secretariado, categoria profissional em
crescente ascensão no mercado de trabalho, mas com muitas dificuldades para fazer-se
consolidar e adquirir o devido valor pelas comunidades empresariais. Nesse sentido, a
abordagem do trabalho demonstra que as trajetórias se entrelaçam e as possibilidades
profissionais para a mulher e o secretariado estão em constante evolução.

Palavras-chave: Mulher. Profissional de secretariado. Mercado de trabalho.

1 Introdução

A inserção da mulher no mercado de trabalho vem crescendo consideravelmente


nas últimas décadas, em todas as áreas, destacando-se a profissão de secretariado.
Enquanto no início do século XX, sua presença no processo produtivo era incipiente e
restrita a trabalhos pouco especializados, hoje, a força de trabalho feminina é elemento
fundamental no alicerçamento da estrutura ocupacional.
A ampliação dos números relativos à participação das mulheres na População
Economicamente Ativa (PEA), não se traduz, necessariamente, em motivo para
celebração, pois ainda sofremos muitos preconceitos e injustiças e isso nos remete ao
histórico da profissão de secretariado, que também passou por muitas transformações e,
igualmente à trajetória da mulher, por muitas desigualdades em relação à condição
masculina, no que diz respeito às oportunidades, aos rendimentos e à qualidade de
emprego.
Visando a contribuir com essa discussão, esse artigo tem o intento de relacionar
a natureza, cultura e contracultura da mulher, aproximando ao contexto histórico-
cultural do profissional de secretariado, juntamente com o mercado de trabalho
feminino e a diversidade de funções da profissão, pois hoje o profissional assume vários
papéis de extrema importância dentro das organizações.

1
Mestre em Educação. Especialista em Gestão Secretarial. E-mail: josete@upf.br
4

Para tanto abordaremos, num primeiro momento, a trajetória da mulher quanto à


sua inserção no mercado de trabalho para, a partir daí, inserir a profissão de
secretariado, considerando as nuances de um trabalho que se evidencia, na prática,
feminino, embora nada impede que possa ser exercido por homens e mulheres. O
fechamento se dá com uma rápida incursão às possibilidades profissionais do
secretariado. Trata-se de um texto em que se procura relacionar a evolução do trabalho
secretarial à própria evolução da mulher no mercado de trabalho, numa tentativa de
aproximar um pouco mais a realidade da profissão à própria realidade da mulher.

2 Mulher: natureza, cultura e contra-cultura

A metódica opressão da mulher é um fato proeminente e nefasto da história.


Limitadas a estreitas esferas de atividade na vida da sociedade, com oportunidades de
educação e direitos humanos básicos negados, sujeitas à violência e, freqüentemente,
tratadas com desprezo, as mulheres foram privadas de compreender seu potencial
verdadeiro. Antigos padrões de submissão, refletidos na cultura popular, na literatura e
na arte, na lei, e até em escrituras religiosas, continuam, apesar de todas as mudanças já
ocorridas, a impregnar todos os aspectos da vida cotidiana de muitas mulheres, em
quase todas as partes do mundo.
Até a metade do século XX, as regras sociais, decorrentes do costume e da
tradição, determinavam que o homem fosse o provedor do lar. A mulher não necessitava
e não deveria contribuir com o sustento da família, e ganhar dinheiro não fazia parte de
suas funções. A submissão da mulher frente ao homem era uma questão de cultura
arraigada durante muito tempo. Na verdade, salvo raras exceções, a mulher era
considerada propriedade do homem, primeiramente do pai, e, por conseqüência, ao
casar, do marido, e o homem ao qual a mulher estivesse submetida tinha todos os
poderes para determinar a sua vida.
Quando a mulher ficava viúva, ou ficava sozinha, e precisava se sustentar e aos
seus filhos, fazia pequenos serviços manuais como doces por encomenda, arranjos,
bordados, aulas de piano, etc. Mas eram atividades pouco valorizadas e mal vistas pela
sociedade.
Cansada de ser submissa ao homem e responsabilizada por tarefas não nobres do
ponto de vista da sociedade, e de não ter os mesmos direitos legais, começa, então, uma
transformação de sua essência, pois pretende auto-afirmar-se, evidenciando que pode ter
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igualdade perante os homens e a sociedade. Muitas iniciativas, envolvendo algumas


mulheres, aconteceram para quebrar preconceitos e violências em casa, nas lutas sociais,
entre outras. Algumas destas lutas deram origem a movimentos e entidades feministas
de grande contribuição para o avanço da emancipação das mulheres.
Segundo Bobbio (1986), nas suas primeiras manifestações, o movimento
feminista buscava a libertação da mulher, o fim da opressão, o rompimento com uma
situação que há séculos fazia da mulher um ser subalterno. Na sua continuidade, no
entanto, isso já nas manifestações do século passado, o que o movimento buscava era a
igualdade de direitos, considerando, no entanto, o equilíbrio das diferenças.
Inicialmente, as mulheres lutaram por direitos de igualdade: direito ao voto, à igualdade
de direitos familiares (como o direito à herança, por exemplo). Com a evolução dos
movimentos feministas, e com a maior conscientização da mulher, o próprio movimento
se superou e, na sua fase final, em vez de igualdade, que é considerada sempre a partir
dos valores predominantes e, portanto, dos masculinos, o movimento busca a liberação,
acentuando as diferenças da mulher, ou, conforme Bobbio (1986, p. 486) “prescinde-se
da igualdade para firmar a diferença da mulher, entendida não como desigualdade ou
complementaridade, mas como assunção histórica da própria alteridade e busca de
valores novos para uma completa transformação da sociedade”. Os elementos clássicos
da mulher submissa eram: heterossexualidade, passividade, narcisismo e
sentimentalismo. Hoje, os elementos básicos da mulher liberada ocultam os anteriores e
aditam à mulher as peculiaridades deste novo ser emergente: individualismo,
autonomia, força, autocontrole, eficácia e racionalidade.
Não obstante as suas contradições, este modelo de mulher justifica-se
psicologicamente e permite socialmente, ao mesmo tempo, a relação conjugal, a
maternidade e, na esfera das relações econômicas, a divisão do trabalho com o homem.
Assim, as mulheres foram ocupando seu espaço, conseguindo direitos, mas,
infelizmente, algumas formas de exploração perduram ainda, haja vista as diferenças
acentuadas de remuneração entre os gêneros, justificadas pelo estigma de o homem
trabalhar e sustentar a mulher, mantendo-se o conceito de que a mulher não tem
necessidade de ganhar bons salários.
A insatisfação com a forma de vida a que eram obrigadas fez com que as
mulheres se empenhassem na busca da superação da opressão e da discriminação do
gênero feminino, caminhando, hoje, para a construção de uma sociedade com ideais de
liberdade e igualdade, ou seja, mais equilibrada e harmônica, em que se respeite que
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homens e mulheres são únicos, são, ambos, seres humanos. Nas palavras de Bobbio
entendemos o valor de liberdade e igualdade:

os dois valores, de liberdade e da igualdade, remetem um ao outro no


pensamento político e na história. Ambos se enraízam na consideração do
homem como pessoa. Ambos pertencem à determinação do conceito de
pessoa humana, como ser que distingue ou pretende distinguir de todos os
outros seres vivos. Liberdade indica um estado; igualdade uma relação. O
homem como pessoa – ou para ser considerado como pessoa – deve ser,
enquanto indivíduo em sua singularidade, livre; enquanto ser social, deve
estar com os demais indivíduos numa relação de igualdade (BOBBIO, 1996,
p. 7).

A história das mulheres é uma história de avanços e recuos, descreve Eric


Hobsbawm, em seu livro Era dos Extremos (1995, p. 306). Em certos períodos
históricos, as mulheres conquistaram direitos formais e informais que, em outros
períodos, foram perdidos. Por outro lado, outros foram conquistados, de maneiras
diversas e em contextos diversos, e assim por diante. São inegáveis os sinais de
mudanças significativas, e até mesmo revolucionárias, nas expectativas das mulheres
sobre elas mesmas, e nas expectativas do mundo sobre o lugar delas na sociedade. No
entanto, ainda persiste, como uma superestrutura cultural, uma forma um tanto arredia
de tratamento à mulher (embora não explicitamente) que mantém a mulher um passo
aquém das suas reais possibilidades. De um lado, as mulheres adquiriram os mesmos
direitos e deveres que os homens, no que diz respeito ao matrimônio, à família, ao
trabalho e à vida político-social. De outro lado, a mente masculina ainda está atrelada
àquela imagem das “mulheres de Atenas” – a mulher deve ser mantida, ser preservada, e
a figura ideal continua a ser a da mulher dócil, submissa e pronta para servi-lo. O
ingresso da mulher no mercado de trabalho acontece sob esse estigma.

3 A mulher e o mercado de trabalho

A sociedade humana é historicizada, muda conforme o padrão de


desenvolvimento da produção, dos valores e normas sociais. Assim, desde que o homem
começou a produzir seus alimentos, nas sociedades agrícolas, começaram a definir
papéis para os homens e para as mulheres. Nas sociedades agrícolas já havia a divisão
sexual do trabalho, marcada desde sempre pela capacidade reprodutora da mulher, o
fato de gerar o filho e de amamentá-lo. O aprendizado da atividade de cuidar foi sendo
desenvolvido como uma tarefa da mulher, embora ela também participasse do trabalho
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do cultivo e da criação de animais. O mundo do trabalho e o mundo doméstico eram


coincidentes.
A carga do trabalho doméstico era pesada, pensemos que não havia toda a
parafernália que hoje facilita a vida doméstica. Não havia água em rede, não havia luz,
não havia eletrodomésticos, não havia comida pronta, não havia costureiras ou
confecções, etc. O trabalho da mulher era árduo.
Com a revolução industrial, as famílias começaram a migrar dos campos para as
cidades, tanto voluntariamente, em busca de novas possibilidades de vida, quanto como
conseqüência dos despejos que os senhores de terra levaram a termo, devido à
necessidade de ocupar as terras para a criação de ovelhas, principalmente (matéria
prima para as tecelagens).
Habituada ao trabalho árduo e metódico, a mulher não teve dificuldade de
enfrentar os novos desafios que a revolução industrial impunha. A indústria absorveu o
trabalho feminino, como forma de baratear os salários e inseriu definitivamente a
mulher no mundo da produção.
Em 1872, Helena Raffalovich escreveu:

acho que para a emancipação da mulher o progresso virá de onde menos se


espera, isto é, das mulheres do povo, pressionadas pela necessidade de
vencer na luta pela existência... Numa palavra, acho que a causa das
mulheres está imediatamente ligada com aquela da democracia e que elas
triunfarão juntas. Deixemos as classes ricas apodrecerem na corrupção e
veremos de onde virá o progresso (RAFFALOVICH apud MANACORDA,
2000, p. 302).

Ela passou a ser obrigada a conviver com jornadas de trabalho que chegavam até
17 horas diárias, em condições insalubres, submetidas a espancamentos e ameaças
sexuais constantes, além de receber salários que chegavam a ser 60% menores que os
dos homens. Galbraith corrobora com a idéia,

Por volta de 1815, 1820, havia fábricas, especialmente tecelagens, nas quais,
em princípio, os moradores despejados de suas terras podiam arranjar
emprego. Os homens (...) não se adaptavam com facilidade ao ritmo das
máquinas.(...) As mulheres e jovens demonstraram ser um elemento
industrial bem mais maleável e melhor (1979, p. 20).

Durante a 1ª guerra mundial, as mulheres passaram a assumir os negócios da


família e a posição dos homens no mercado de trabalho. Começaram a ver que tinham
um importante papel na sociedade e, assim, reivindicar seus direitos.
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Após a década de 1940 cresceu a incorporação da força de trabalho feminina no


mercado de trabalho, havendo uma diversificação do tipo de ocupações assumidas pelas
mulheres. Porém, no Brasil, foi na década de 1970 que a mulher passou a ingressar de
forma mais acentuada no mercado de trabalho. A mulher ainda ocupa as atividades
relacionadas aos serviços de cuidar (a maioria das mulheres são enfermeiras e
atendentes, são professoras, educadoras em creches), serviços domésticos (ser
doméstica), comerciárias e uma pequena parcela na indústria e na agricultura.
No período que se sucedeu à Segunda Guerra, a mulher invadiu, de forma
maciça, a Universidade e o mercado de trabalho. Conforme dados de Hobsbawm
(1995), o número de mulheres que ingressou na educação superior nos últimos 30 anos
fez com que o número de rapazes e moças fosse equivalente. A possibilidade de
educação integral, com o acesso à universidade, viabilizou o ingresso da mulher no
mercado de trabalho em áreas mais nobres do mundo empresarial, permitindo-lhe ir
além do chão de fábrica.
Há, no entanto, muitos aspectos a serem superados. Os critérios de contratação
das mulheres no mundo do trabalho estão impregnados pela imagem da mulher
construída pela mídia e colocada como padrão de beleza. O empregador ainda busca a
moça de "boa aparência". Assim, as mulheres sofrem dupla pressão no mercado de
trabalho, a exigência de qualificação profissional e da aparência física. O assédio sexual
ainda é uma realidade para a mulher no mundo do trabalho. Isso decorre da própria
cultura patriarcal que colocou o homem como o senhor do corpo da mulher.
Apesar de tantas dificuldades as mulheres conquistaram um espaço de respeito
dentro da sociedade. As relações ainda não são de igualdade e harmonia entre os
gêneros feminino e o masculino. O homem ainda atribui à mulher a dupla jornada, já
que o lar é sua responsabilidade, mas muitos valores sobre as mulheres já estão
mudando. O homem também está em conflito com o papel que foi construído
socialmente para ele, hoje ser homem não é nada fácil, pois as mulheres passaram a
exigir dele um novo comportamento que ele ainda está construindo.

4 A secretária executiva nesse contexto histórico-cultural

A profissão de secretariado perpassa por várias transformações, sempre à luz da


busca do conhecimento. O que no início era uma profissão absolutamente masculina,
aos poucos, com o ingresso da mulher no mercado de trabalho, tornou-se feminina, não
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querendo dizer com isso que é exclusivamente voltada para a mulher. O perfil
profissional vem se modificando a partir da década de 80, acompanhando as rápidas
mudanças tecnológicas, as exigências do mundo do trabalho e aos novos modelos de
administração, pois o cenário exige profissionais com habilidades técnicas e humanas,
atitudes inovadoras que irão auxiliar os processos de gestão e garantir, a esse novo
profissional, competências para o enfrentamento desse mercado cada vez mais
competitivo. Lê-se em Torquato:

Minha previsão é de que a secretária tende a assumir maiores


responsabilidades na administração dos seus respectivos departamentos,
passando a gerenciar as questões rotineiras e a assessorar os chefes,
recebendo, para isso, maior soma de poderes decisórios. Em termos de novas
funções, imagino, por exemplo, que a secretária será responsável pela coleta
de dados, organização e planejamento do budget e planilhas de custos de
alguns serviços, controle de despesas, organização e operacionalização do
sistema de informações e bancos de dados computadorizados, assessoria
especial aos chefes para tomada de decisões sobre clima ambiental e re-
ordenamento de estruturas, supervisão de serviços prestados ao
departamento, etc. (1991, p.155).

Ao acrescentar novas competências ao seu perfil, o profissional de secretariado


acompanha as mudanças estabelecidas pelo mercado de trabalho e consequentemente
participa efetivamente do processo de gestão da empresa.
As mudanças nas empresas ocorreram a partir das exigências do novo mercado
econômico e da disseminação muito rápida do conhecimento, pois esta velocidade de
informações gerou ameaças, recessões, forçando, assim, o surgimento de novas formas
de gerenciamento das atividades empresariais, refletindo diretamente nas atividades do
profissional de secretariado.
Baseada em Julio (2002), na empresa do conhecimento, a mulher terá cada vez
mais importância estratégica, pois trabalha naturalmente com a diversidade e processos
multifuncionais. A sensibilidade feminina, por exemplo, permite a constituição de
equipes de trabalho marcadas pela diferença e pela heterogeneidade. E isso é bom?
Certamente que sim. Equipes desse tipo, quando atuam de forma sinérgica, fazem
emergir soluções variadas e criativas para problemas aparentemente insolúveis. A
empresa que aposta na singularidade de seus interlocutores internos se torna mais
inteligente, mais capaz e ágil. Julio salienta:

A vida profissional compartilhada com as mulheres tem se revelado mais


ativa, mais colorida e mais interessante. Esse intercâmbio de conhecimentos e
sensibilidades tem se mostrado proveitoso para ambas as partes. Troca-se a
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razão por criatividade, matemática por poesia, disciplina por afetividade. E


vice-versa. Reafirmo a necessidade de aprendizado permanente e as mulheres
são boas professoras por natureza. Enfim, diria que não importa o sexo ou a
opção sexual. Quem aspira a uma carreira de sucesso tem que assumir, de
agora em diante, um perfil mais feminino. E este conselho vale também para
as mulheres que ainda não descobriram suas próprias virtudes (JULIO, 2002,
p. 136).

A vida da mulher no trabalho é um paraíso? Não. Estamos muito longe disso,


pois temos que provar diariamente que somos capazes, além de toda a discriminação
que sofremos: baixos salários, dupla jornada de trabalho e o estigma que para nós tudo é
mais fácil. Assim, com coragem e perseverança manteremos nosso tão desejado lugar ao
sol.

5 Diversidade da atuação do profissional de secretariado

A trajetória para alcançar o sucesso profissional é pautada, em qualquer carreira,


por diversos aspectos, sejam eles culturais, sociais, psicológicos ou humanísticos, assim
o profissional de secretariado busca uma formação contínua para atender as diferentes
demandas que o seu cargo exige.
A diversidade de atuação do profissional começa por sua formação, pois o
mercado de trabalho exige essa diversificação devido à interdisciplinaridade e ao
sucesso de profissionais que aceitaram novos desafios que exploram de outras maneiras
as próprias aptidões, potencialidades e formação acadêmica em áreas completamente
distintas de sua formação original. Como exemplo podemos citar os profissionais de
secretariado que optaram em trabalhar com a docência, pois sua formação não foi para
ser professor, mas com muito esmero essa fatia do mercado de trabalho está sendo
abraçada pelos profissionais, que vislumbraram uma oportunidade e foram buscar
aperfeiçoamento através de curso de especialização, mestrado e doutorado.
Hoje, o profissional deve ser multifuncional, ter visão macro e agir
integradamente. A multifuncionalidade não só é uma vantagem, mas uma meta que as
empresas têm perseguido. E que até procuram incutir este perfil em seus funcionários.
Ela é uma exigência do mercado de trabalho, considerando que o profissional deva ter
muito mais do que só o desenvolvimento de tarefas e funções pertinentes ao cargo, mas,
principalmente, a capacidade de apreender novos conhecimentos e estar preparado para
oferecer soluções aos diversos problemas enfrentados pela organização.
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Assim a formação generalista que recebemos na formação acadêmica nos remete


a administrar os diversos processos em várias áreas de atuação, pois é comum
profissionais de secretariado atuando em bancos, hospitais, comércio, indústria, e
demais áreas como empresas de advocacia, por exemplo. Assim, somos gestores de
nossa carreira, somos donos do nosso futuro profissional. Como podemos observar
nossa profissão, rica em oportunidades, sempre nos permitiu o que hoje se tornou
novidade e desafio em outras profissões, outras áreas de conhecimento.

6 Considerações finais

Após a realização desse estudo bibliográfico, ficou claro que o perfil das
mulheres é muito diferente daquele do começo do século. Também, ao repensar a
evolução do trabalho feminino percebemos o quanto a profissão de secretariado está
inserida neste contexto. A mulher vem se desdobrando em diversas facetas: de ser
reconhecida, de ser respeitada, de ser acolhida, de ser plena... E o profissional de
secretariado não fica longe desse movimento, pois temos que provar todos os dias o
quanto nosso papel é importante para as organizações.
Cabe ao profissional aprimorar suas habilidades, pois quanto maior o número de
atributos, mais chances de conquistar uma oportunidade. E nisso as mulheres são
especialistas, e os profissionais de secretariado, mestres. Uma coisa é certa. A mulher e
o secretário executivo, de hoje e do futuro, estão cada vez mais sendo chamados à
responsabilidade profissional, familiar e social, sem perder suas características
fundamentais. Por isso, é primordial não deixar passar oportunidades de aprimoramento,
quer seja pessoal ou profissional.
Já está mais do que provado que as mulheres são perfeitamente capazes de
cuidar de si e conquistar aquilo que desejam, e de provocar profundas mudanças no
curso da história. Relacionando ao profissional de secretariado, também já está provado
que o profissional é capaz de ultrapassar as barreiras impostas pelo mercado de trabalho,
pois hoje tem condições de atuar como gestor, interagindo com processos, conflitos,
relacionamentos, pois é um agente arranjador das questões do trabalho, capaz de
perceber a necessidade de construção de pontes entre as diferentes facetas
organizacionais, de ser reflexivo, analítico e com agudo senso de percepção do seu
entorno, contribuindo, assim, para a otimização de resultados nas organizações onde
atue.
12

A realização desse estudo, incontestavelmente, contribuiu para minha


experiência pessoal e profissional. Como contrapartida, espero ter contribuído de
alguma forma com a temática levantada para a realização deste artigo. Com certeza, o
relato poderá ser acrescido de novos elementos, novas proposições, novos olhares,
quem sabe objeto para um próximo estudo...

Referências

AZEVEDO, Ivanize; COSTA, Sylvia Ignácio da. Secretária: Um Guia Prático. 4 ed.
São Paulo: Senac, 2004.

BOBBIO, Norberto. Igualdade e liberdade. Rio de Janeiro: Ediouro, 1996.

HOBSBAWN, Eric J. Era dos Extremos. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.

GALBRAITH, John K. A Era da Incerteza – história das idéias econômicas e suas


conseqüências. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1979.

JULIO, Carlos Alberto. Reinventando você: a dinâmica dos profissionais e a nova


organização. Rio de Janeiro: Campus, 2002.

MURARO, Rose Marie. Sexualidade da mulher brasileira. Corpo e Classe social no


Brasil. Rio de Janeiro: Vozes, 1983.

MANACORDA, Mario Alighiero. História da Educação. São Paulo: Cortez, 2000.

SABINO, Rosimeri Ferraz; ROCHA, Fábio Gomes. Secretariado: Memória, Cultura e


Tempo Presente. In: Secretarial: do escriba ao web writer. Rio de Janeiro: Brasport,
2004.

TORQUATO, G. Cultura, poder, comunicação e imagem: fundamentos da nova


empresa. São Paulo: Pioneira, 1991.
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COMPETÊNCIAS COMPLEMENTARES: SECRETÁRIO EXECUTIVO E


ADMINISTRADOR

Roselaine de Lima Cordeiro2


Olivo Tiago Giotto3

Resumo: O ambiente empresarial, em constante evolução em virtude das novas


tecnologias, das tendências e concorrência, mudou a sua forma de gerir pessoas. O
mercado de trabalho busca profissionais aptos, ou seja, com competências para
desempenharem suas funções de forma cada vez mais ágil, eficaz e competitiva. Assim,
secretários executivos e administradores vêm cada vez mais conquistando e
compartilhando espaços e atividades, já que são duas profissões que vêm evoluindo de
acordo com o que o ambiente organizacional exige. Este trabalho tem como objetivo
apontar as competências complementares entre o profissional de secretariado executivo
e o administrador, já que é fundamental que esses profissionais trabalhem em conjunto.
A pesquisa bibliográfica identifica, da mesma forma, competências afins entre esses
profissionais, além de descrever os aspectos comportamentais ou habilidades humanas
complementares e afins entre o secretário executivo e o administrador. Este trabalho
poderá servir de fonte quando forem descritos futuros perfis profissionais do secretário e
do administrador. A área secretarial e a área administrativa muito se aproximam, afinal
secretários executivos e administradores fazem parte do mesmo ambiente corporativo,
que, por sua vez, é mutável, competitivo, inovador e exigente. Assim, esta pesquisa
alcançou seu objetivo de identificar as competências complementares entre os
profissionais de secretariado executivo e da administração.

Palavras-chave: Competências. Secretariado Executivo. Administrador.

1 Introdução

Inseridos em um mercado de trabalho cada vez mais dinâmico, competitivo e


avançado tecnologicamente, profissionais são selecionados por suas competências: seus
conhecimentos, associados a habilidades e atitudes. Dessa forma, o objetivo central
desta pesquisa é identificar as competências complementares entre o secretário
executivo e o administrador. Para isso, é preciso identificar e descrever as competências
do profissional de secretariado executivo, bem como as competências do profissional da
administração.
O estudo pretende esclarecer e conscientizar as pessoas sobre a importância de
esses dois profissionais trabalharem em conjunto, pois são os responsáveis pelo sucesso
2
Acadêmica do VIII nível do curso de Secretariado Executivo Bilíngue da Universidade de Passo Fundo.
Contato: roselima@upf.br
3
. Mestre em Administração, Especialista em Gestão de Recursos Humanos e Bacharel em
Administração. Professor nos cursos de Secretariado Executivo Bilíngue, Administração, Tecnólogo em
Gestão de Pessoas da Universidade de Passo Fundo. Contato: olivo@upf.br
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do grupo empresarial em que estão envolvidos, já que apresentam perfis e competências


que o ambiente organizacional exige para liderar e desempenhar suas atividades num
universo corporativo em constante mutação.
Para buscar a complementaridade entre as competências do secretário
executivo e do administrador foi necessário recorrer àquilo que teóricos como Azevedo
e Costa (2002), Mattos (2000), Natalense (1995) e Sabino e Rocha (2004) trazem em
suas obras como perfil do secretariado executivo e as competências a ele atribuídas.
Assim, descrevem-se o perfil do profissional de secretariado e as competências a ele
associadas.
Para conseguir definir as competências complementares entre o secretário
executivo e o administrador, relata-se o que os estudiosos, especialmente Robbins
(2007) e Montana e Charnov (2006), da área administrativa traçam como competências
que compõem o perfil do profissional da administração.
A pesquisa realizada é bibliográfica e de cunho exploratório, pois pretende
definir quais são as competências complementares entre os profissionais de secretariado
executivo e da administração, isso baseado em obras de estudiosos das áreas citadas.
O presente artigo, num primeiro momento, descreve o perfil do profissional de
secretariado executivo, enfocando aspectos comportamentais e competências técnicas;
num segundo momento, trata do profissional da administração, descrevendo
competência administrativa e habilidades pessoais. Dessa forma, no tópico seguinte
identifica as competências complementares entre esses profissionais.

2 Perfil do secretário executivo

Um profissional em constante evolução, adaptável ao mercado de trabalho em


que está inserido e capaz de realizar seu trabalho com dinamismo e flexibilidade, assim
pode ser definido o profissional de secretariado executivo. Nesse sentido, a seguir
detalha-se o perfil desse profissional.

2.1 Secretário executivo

De acordo com a lei nº 9 261, de 10 de janeiro de 1996, pode-se considerar o


secretário executivo: “o profissional diplomado no Brasil por curso superior de
15

Secretariado, legalmente reconhecido, ou diplomado no exterior por curso superior de


Secretariado, cujo diploma seja revalidado na forma da Lei”. (BRASIL, 1996).
É interessante destacar a evolução nas atribuições do secretário executivo, como
se pode perceber na própria legislação da profissão. No art. 3° da lei 6 556, de 5 de
setembro de 1978, lê-se o seguinte sobre as atribuições do secretário: “a) executar
tarefas relativas à anotação e redação, inclusive em idiomas estrangeiros; b) datilografar
e organizar documentos; c) outros serviços de escritório, tais como: recepção, registro
de compromisso e informações, principalmente junto a cargos diretivos da
organização”. (BRASIL, 1978).
No art. 4° da lei 7 377, de 30 de setembro de 1985, lê-se sobre as atribuições do
secretário executivo:

I- planejamento, organização e direção de serviços de secretaria; II-


assistência e assessoramento direto a executivos; III- coleta de informações
para a consecução de objetivos e metas de empresas; IV- redação de textos
profissionais especializados, inclusive em idioma estrangeiro; V-
interpretação e sintetização de textos e documentos; 4VI- taquigrafia de
ditados, discursos, conferências, palestras de explanações, inclusive em
idioma estrangeiro; VII- versão e tradução em idioma estrangeiro, para
atender às necessidades de comunicação da empresa; VIII- registro e
distribuição de expedientes e outras tarefas correlatas; IX- orientação da
avaliação e seleção da correspondência para fins de encaminhamento à
chefia; X- conhecimentos protocolares. (BRASIL, 1985).

Essa descrição do que a legislação traz sobre o secretário confirma o quanto o


profissional evoluiu desde a sua origem, vinculada à atividade dos escribas.
Para Sabino e Rocha (2004), o secretário executivo tem uma gama de
possibilidades dentro da empresa, pois pode organizar eventos, trabalhar com a parte
burocrática e de métodos, além do domínio de idiomas, das técnicas secretariais,
informática, arquivo; também deve ser uma pessoa capaz de resolver conflitos no seu
ambiente de trabalho.
De acordo com Azevedo e Costa (2002, p. 146), o mercado de trabalho busca
profissionais preparados, que possam assessorar quem toma as decisões; atuar na
gestão, buscando a constante aprendizagem de técnicas gerenciais e, também, que
tenham competência empreendedora, ou seja, “[...] capacidade reflexiva e criativa,
promovendo práticas inovadoras”.

4
Segundo a lei nº 9 261, de 10 de janeiro de 1996, o art. 4º da lei 7 377, de 30 de setembro de 1985,
passou a ter seu inciso VI vetado.
16

O perfil do profissional de secretariado é composto por inúmeras características,


que precisam ser desenvolvidas, ou aprimoradas constantemente. Segundo Sabino e
Rocha (2004, p. 95), “[...] a Secretária deve ser: conhecedora de técnicas secretariais
com excelência; comprometida com a empresa; polivalente; negociadora; programadora
de soluções; pró-ativa e participativa”.
Para Azevedo e Costa (2002, p. 153) “o modo como compreendemos os fatos ou
adquirimos conhecimentos, integrando e utilizando a informação sensorial, constitui a
percepção”. Os autores comentam que “a percepção difere de pessoa para pessoa e o
que percebemos é conseqüência das nossas idéias e opiniões. O nosso comportamento
diante de situações ou pessoas varia de acordo com o que percebemos”. (p. 153). Ainda
referem que a criatividade também deve ser valorizada num profissional e que “todo ser
humano é movido por um impulso criativo, que o realiza como pessoa, dando-lhe
energia para resolver conflitos”. (p. 155).
Para Mattos (2000, p. 42), a eficiência e a eficácia também são atributos
indispensáveis a um secretário. Logo, “uma pessoa é eficiente quando ela promove a
ação para produzir um efeito. Isto é, quando toma uma atitude com o intuito de atingir
seu objetivo”. Em relação à eficácia, “uma pessoa é eficaz quando ela atinge seus
objetivos, os fins a que se propôs. Quando a finalização do que pretendia é alcançada de
forma produtiva e positiva”.
De acordo com Natalense (1995), o secretário precisa ser polivalente,
desempenhando várias atividades ao mesmo tempo e apresentando resultados
satisfatórios. Contribui Mattos (2000, p. 48-49) dizendo que um dos atributos do
secretário é o conhecimento da empresa: “[...] uma secretária precisa conhecer a
empresa em que trabalha. Estar consciente sobre quais os objetivos que ela almeja
atingir, qual é a sua área de atuação, quais seus produtos, fornecedores, concorrentes
[...]”. O dinamismo também é citado por Mattos (2000) como um atributo do secretário,
que consiste naquela força e alegria colocada em tudo o que faz, na vontade de realizar
atividades, deixando transparecer o prazer sentido e contagiando o ambiente de
trabalho, buscando sempre atingir os objetivos propostos.
Para Natalense (1995), o secretário precisa ser alguém que apresente soluções
ou, ao menos, lance ideias que possam resolver determinadas situações. Além disso,
esse profissional precisa ter iniciativa, ser participativo, mostrando-se comprometido
com as suas atividades.
17

Mattos (2000, p. 43) cita a iniciativa como um dos atributos do secretário. Da


mesma forma, a discrição é qualidade fundamental, razão por que tanto Natalense
(1995) quanto Mattos (2000) destacam-na como inerente ao profissional de
secretariado.
Mattos (2000) destaca a dedicação, ou seja, a capacidade de entrega por parte do
indivíduo ao seu trabalho, como uma característica fundamental do profissional de
secretariado. Além disso, destaca que o secretário executivo precisa ser um conhecedor
de cultura geral, pois está em constante contato com os mais variados diálogos. Por isso,
é importante estar sempre atualizado, fazendo cursos, visitas, enfim, tendo acesso a
informações variadas.
Outra atribuição fundamental do secretário é a pontualidade e assiduidade, pois,
sendo um profissional central e conhecedor das tarefas e atividades da empresa, suas
faltas prejudicam o bom andamento do trabalho da equipe. (MATTOS, 2000).
Os autores destacam características que são fundamentais ao secretário, como o
respeito, a lealdade, o bom senso e a sensibilidade. Natalense (1995, p. 38), assim como
Mattos, considera o respeito algo imprescindível para a atuação do profissional de
secretariado, dizendo que o secretário precisa respeitar “[...] a estrutura da sua empresa,
a personalidade e a forma de ser das pessoas”.
Além disso, para Mattos (2000), outro atributo é a lealdade. A empresa busca
esse perfil de colaborador, leal à organização e disposto a desempenhar da melhor forma
possível as suas atividades. Segue apontando o bom senso como um importante atributo
por parte do profissional de secretariado, não só relacionado às atividades do ambiente
de trabalho, mas também ao uso de roupas e acessórios, ao modo de falar e trato com as
pessoas.
Toda essa descrição visa mostrar uma parte do perfil do profissional de
secretariado, comprovando o quanto esse profissional vem se tornando completo. Com
essas definições entende-se como ele conduz o assessoramento de executivos, os
diálogos entre colegas de equipe e sua atuação na resolução de conflitos. Assim, para
chegar ao objetivo geral desta pesquisa, ou seja, definir as competências
complementares entre secretário executivo e o administrador, descreveram-se
brevemente o perfil do profissional de secretariado e os aspectos comportamentais que o
compõem. Visando complementar o perfil desse profissional, na sequência são
apresentadas e discutidas as competências administrativas, ou seja, planejamento,
organização, liderança e controle.
18

2.2 Competências do profissional de secretariado executivo

É importante, dentro do perfil profissional do secretário, analisar os aspectos


comportamentais e as competências técnicas que o compõem. Em relação às suas
competências, pode-se dizer que, para Natalense (1995, p. 25), são funções básicas da
gerência planejar, organizar e controlar “os recursos humanos e os recursos materiais
para que a empresa possa alcançar resultados de acordo com os objetivos traçados”, ao
passo que ao secretário executivo cabe planejar, organizar e controlar “a infra-estrutura
de atuação gerencial”. Ainda, “[...] a secretária terá sempre as mesmas
responsabilidades que seu executivo, porém atuando numa linha hierárquica e funcional
diferente”. (p. 32).
Conforme Natalense (1995, p. 25), o secretário tem como funções o
planejamento, a organização e o controle de seus trabalhos rotineiros, como reuniões,
preparação de viagens, entre outras atividades da sua competência. Além disso, precisa
aplicar o planejamento, a organização e o controle na medida em que auxilia seu gestor
a diminuir sua carga de trabalho. É importante também que o profissional aja como um
agente facilitador, criando condições para as relações interpessoais, ou seja, facilitando
e colaborando para que esses contatos fluam entre os diversos públicos que compõem a
empresa. Outro aspecto é a capacidade de assumir serviços de apoio, como PABX,
recepção, entre outros. Em todas essas atuações, o profissional de secretariado estará se
utilizando das funções de planejar, organizar e controlar.
Azevedo e Costa (2002, p. 147) tratam a respeito do planejamento dizendo que,
“no trabalho que desenvolve, a secretária deve se preocupar em definir prioridades. Ao
planejar deve considerar porque fazer (objetivo), o que fazer (ação), quando fazer
(prioridades e prazos) e como fazer (método)”. Ainda segundo os autores, “a
organização para a secretária implica a análise do volume de informações e tarefas, o
estabelecimento das atribuições entre as pessoas que possam desenvolvê-las mais
adequadamente [...]”. (AZEVEDO; COSTA, 2002, p. 149). Quando o secretário
executivo distribui responsabilidades, ele está delegando; agindo assim, mais produtiva
se tornará sua rotina de trabalho e da sua equipe.
Natalense (1995, p. 51) ressalta que a gerência usa ferramentas como motivação,
liderança e comunicação; o secretário também faz uso dessas técnicas. Por exemplo,
atua como um agente motivador entre chefia e subordinados, mostrando o lado bom de
19

seu trabalho e tratando a todos de forma equivalente (1995, p. 53). No que diz respeito à
liderança, “a secretária precisa conhecê-la para poder auxiliar seu gerente a praticá-la.
Também, porque, eventualmente, poderá exercer funções de líder”. A comunicação
também é utilizada pelo secretário, que comunica em toda a sua atividade laboral diária.
(1995, p. 54). Assim, Natalense diz que “a empresa desenvolve comunicações internas
e externas que estarão ligadas aos níveis hierárquicos, e poderão ser de natureza formal
ou informal”. (p. 59, grifo do autor).
Rotinas administrativas, viagens, eventos, reuniões, agenda e arquivos, todo esse
processo exige um planejamento, uma organização, liderança e controle. Assim, o
profissional de secretariado, atento a esses passos, desempenha essas atividades de sua
competência com total eficácia.
Sabino e Rocha (2004, p. 55), sobre o planejamento, organização e controle de
agenda, dizem que “uma agenda organizada é o mapa prévio do planejamento da rotina
da Secretária. Este recurso é essencial para o acompanhamento dos trabalhos que devem
ser executados, além de organizar o tempo tanto da Secretária quanto do seu superior”.
Da mesma forma, o secretário executivo precisa planejar, organizar, liderar e
controlar o arquivo de documentos nas organizações onde trabalha. Assim, é necessária
a busca por conhecimento nessa área e adquirir habilidade nesse processo, o que
envolve necessariamente atitude em relação a essa tarefa. Para Sabino e Rocha (2004, p.
85), “arquivar é guardar documentos de forma organizada, a fim de resgatá-los quando
necessário”. Além disso, “[...] o arquivamento depende de uma boa gestão documental,
para que informações preciosas não sejam extraviadas ou danificadas”.
O profissional de secretariado, ligado a diferentes públicos e sendo uma peça
estratégica na empresa, precisa ter conhecimento de técnicas de negociação, pois será
indispensável em seu dia a dia a prática de negociações, seja com a chefia, seja com os
colegas, clientes, enfim, tudo o que abrange a empresa. Azevedo e Costa (2002) dizem
que nesse processo o secretário precisa planejar exatamente aonde quer chegar, pois em
negociações não há um perdedor, mas duas partes que em comum acordo se tornam
vencedoras.
Em todas as profissões há a preocupação com o processo comunicativo, seja
oral, seja verbal. Assim, não poderia ser diferente com o profissional de secretariado,
que tem como uma das suas principais competências a capacidade de se comunicar de
maneira que atinja os objetivos propostos, pois uma comunicação efetiva é aquela que
tem como finalidade resultados. (MATTOS, 2000).
20

Embora se procurasse identificar na literatura da área secretarial as competências


desse profissional, sentiu-se a necessidade de registrar aspectos comportamentais
inerentes ao perfil do secretário executivo, já que se pode apenas caracterizar como
competências o que apresente a associação de conhecimentos, habilidades e atitudes
(DUTRA, 2001). Dessa forma, o que não apresentava esse tripé foi classificado da
mesma forma como parte fundamental do perfil do profissional de secretariado, porém
não com a nomenclatura de competência. Salienta-se que desde sua origem a evolução
dessa profissão é constante e, com certeza, muito ainda conquistará e evoluirá com as
mudanças diárias do mercado e exigências em virtude da globalização e da tecnologia.
Em seguida, passa-se a abordar as competências do administrador.

3 Profissional de Administração

Com o objetivo de descrever as competências desempenhadas pelo profissional


de administração, nesta seção relata-se o que os estudiosos da área associam a esse
profissional. Ressalta-se que o foco é identificar as competências complementares entre
o administrador e o profissional de secretariado executivo.
Primeiramente, é interessante destacar o que a legislação específica do
profissional da administração traz sobre suas atribuições. Conforme o decreto federal nº.
61.934, de 22 de dezembro de 1967, as atividades do administrador compreendem:

a) elaboração de pareceres, relatórios, planos, projetos, arbitragens e laudos


em que se exija a aplicação de conhecimentos inerentes às técnicas de
organização; b) pesquisas, estudos, análises, interpretação, planejamento,
implantação coordenação e controle dos trabalhos nos campos de
administração geral, como administração e seleção de pessoal, organização,
análise, métodos e programas de trabalho, orçamento, administração de
material e financeira, relações públicas administração mercadológica,
administração de produção, relações industriais, bem como outros campos
em que estes se desdobrem ou com os quais sejam conexos; c) exercício de
funções e cargos de Administrador do Serviço Público Federal, Estadual,
Municipal, Autárquico, Sociedades de Economia Mista, empresas estatais,
paraestatais e privadas, em que fique expresso e declarado o título do cargo
abrangido; d) o exercício de funções de chefia ou direção, intermediária ou
superior, assessoramento e consultoria em órgãos, ou seus compartimentos,
da Administração pública ou de entidades privadas, cujas atribuições
envolvam principalmente, a aplicação de conhecimentos inerentes às técnicas
de administração; e) magistério em matérias técnicas do campo da
administração e organização. (BRASIL, 1967).

Uma vez que a legislação elenca todas essas possibilidades de atuações do


administrador, percebe-se o quanto há de alternativas para esse profissional. Em
21

seguida, relata-se a competência administrativa e as habilidades pessoais a ele


associadas.

3.1 Competência administrativa

Para Stoner e Freeman, “a administração é o processo de planejar, organizar,


liderar e controlar os esforços realizados pelos membros da organização e o uso de
todos os outros recursos organizacionais para alcançar os objetivos estabelecidos”
(1985, p. 5), bem como, “em todos os níveis, os administradores planejam, organizam,
lideram e controlam” (1985, p. 8).
Segundo Montana e Charnov (2006, p. 3), “planejar é provavelmente a atividade
mais importante na vida do gerente. [...] Somente com objetivos definidos é que o
gerente pode controlar eficazmente e posteriormente avaliar o desempenho”.
Robbins (2007, p. 117) explica por que os gerentes devem planejar, já que
considera que “o planejamento dá direção, reduz o impacto da mudança, minimiza o
desperdício e a redundância e fixa os padrões para facilitar o controle”. Além disso, “ao
obrigar os gerentes a olhar para a frente [...] e desenvolver respostas apropriadas, o
planejamento reduz a incerteza e esclarece as conseqüências das medidas que os
gerentes podem tomar com respeito à mudança”. (ROBBINS, 2007, p. 118).
Na definição de Montana e Charnov (2006, p. 172), “os conceitos básicos de
organização são a análise, a identificação e a definição do trabalho a ser feito para
realizar os objetivos da empresa”. A liderança é a forma como alguém influencia outras
pessoas a determinada ação. No ambiente organizacional essa liderança é exercida pelo
gerente. Pode-se dividir o papel do líder em formal ou informal. Assim, “um líder
formal é alguém oficialmente investido de autoridade e poder organizacionais e
geralmente recebe o título de gerente, diretor ou supervisor”. Por sua vez, o líder
informal não tem um cargo específico; geralmente faz parte de seu perfil influenciar os
demais. (p. 243).
Conforme Robbins (2007, p. 371), a liderança é um “[...] processo de influência
pelo qual os indivíduos, com suas ações, facilitam o movimento de um grupo de pessoas
rumo a metas comuns ou compartilhadas”. O gerente influencia pessoas com sua
liderança formal, deixando claro a seus colaboradores o que é esperado deles; ele atua
da mesma forma facilitando o processo de coordenação dessas atividades.
22

Para Montana e Charnov (2006, p. 108), o processo de controle permite que


essas metas sejam efetivamente alcançadas; verifica se estão sendo usados os recursos
que foram disponibilizados, principalmente em relação aos recursos humanos da
organização. Os autores pontuam que no controle gerencial uma das tarefas mais
relevantes é o estabelecimento de padrões de desempenho individuais, já que, depois de
estabelecidas as metas e distribuídas as responsabilidades, espera-se que o resultado
final seja positivo e o indivíduo seja reconhecido por tal atividade. Ao se juntar todas as
tarefas bem-sucedidas de cada um, chega-se à meta determinada para ser alcançada.
Após o planejamento e o controle, passa-se à avaliação e ao feedback.
Assim, vê-se que o administrador utiliza a sua competência administrativa nas
suas tarefas diárias, ou seja, para atingir os objetivos da organização e auxiliar os
colaboradores. O profissional da administração planeja, organiza, lidera e controla;
logo, uma das competências fundamentais no perfil do administrador é a competência
administrativa.

3.2 Habilidades pessoais

Uma das habilidades marcadas pelos autores é a auto-objetividade, pois,


utilizando-a, o profissional é capaz de fazer uma avaliação de si mesmo de forma real.
Além disso, o pensamento analítico é fundamental, pois, segundo Montana e Charnov
(2006, p. 8-9), é a “habilidade para interpretar e explicar padrões nas informações”.
Além dessas, são pontuadas habilidades como ter um comportamento flexível e domínio
da comunicação oral e escrita, já que precisa se comunicar de forma eficaz expressando
suas opiniões e esclarecimentos. Outras habilidades relatadas são a resistência ao
estresse, ou seja, continuar tendo um bom desempenho mesmo perante as adversidades;
ser capaz de deixar um impacto pessoal, fundamental para transmitir confiança e
certeza, e tolerância às incertezas.
Outra habilidade do gerente é no que diz respeito à administração de conflitos.
Entende-se a administração de conflitos como a “[...] manutenção do nível ótimo de
conflito em um grupo”, já que “pouco conflito cria estagnação. Muito conflito cria
rupturas e brigas internas. [...] Dessa forma, o trabalho do gerente é equilibrar essas
forças utilizando técnicas de resolução e estimulação de conflitos”. (ROBBINS, 2007,
p. 430). Segundo o autor, é uma constante para os gerentes a negociação. Nesse sentido,
esses profissionais precisam ter cada vez mais propriedade nesse aspecto, sabendo que
23

uma negociação acontece quando pessoas trocam bens ou serviços e chegam a um


acordo, pelo qual ambas as partes saiam beneficiadas.
O gerente também precisa desenvolver habilidades de delegação, definida como
a “[...] atribuição de autoridade para que outra pessoa desempenhe atividades
específicas” (ROBBINS, 2007, p. 439-440). Além disso, é necessário que os gerentes
desenvolvam habilidades de aconselhamento, considerando que tal habilidade é a “[...]
discussão de um problema com um funcionário a fim de solucioná-lo ou, no mínimo,
ajudá-lo a lidar melhor com ele” (ROBBINS, 2007, p. 440).
Para Robbins (2007, p. 443), os gerentes devem desenvolver habilidades em
política dentro das organizações, porém não a politicagem, que é considerada o lado
ruim da política. “[...] quando os agentes (ou qualquer membro da organização)
convertem seu poder em ação, estão se dedicando à política. Os que possuem boas
habilidades políticas têm capacidade para usufruir eficazmente das bases de seu poder”.
Segue afirmando que os gerentes podem ser considerados como agentes de mudança,
que fornecem estímulo e assumem a responsabilidade no processo de mudança. Assim,
“as organizações atuais necessitam de líderes transformacionais que as reformulem e
consigam que os funcionários ‘vistam a camisa’ dos motins que acompanham as
mudanças abruptas” (p. 460).
Em seus estudos Robbins destaca as características de um gerente empreendedor
dizendo que esse profissional tem como motivação “independência, oportunidade para
criar, ganho financeiro” (2007, p. 131).
O gerente é considerado um tomador de decisão. A todo momento, em rotinas
diárias como selecionar um funcionário ou escolher a forma que será usada para motivar
a equipe, ele está tomando decisões. Além disso, quando o gerente tem de fazer seleções
de objetivos organizacionais, continua trabalhando com tomada de decisões: “[...] o
processo de tomada de decisões é visto por alguns analistas como cerne do cargo de
gerente”. (ROBBINS, 2007, p. 35). Nesse processo de tomada de decisões é
fundamental que o profissional seja criativo, pois, segundo Robbins (2007, p. 60), “a
criatividade permite a um tomador de decisões avaliar e entender mais plenamente um
problema e perceber questões que os demais não percebem”.
Vários aspectos são associados ao profissional da administração, tanto técnicos
quanto humanos. O planejamento, a organização, a liderança e o controle são atividades
constantemente focadas, além de outras habilidades humanas.
24

Ressalta-se que as habilidades pessoais são os elementos que impulsionam as


competências; é como se fossem um conjunto, que precisa funcionar num só ritmo,
fazendo com que o todo, ou seja, o perfil do administrador, seja completo.

4 Competências complementares entre o secretário executivo e o administrador

O presente artigo tem como objetivo principal identificar as competências


complementares entre o secretário executivo e o administrador. Neste momento,
apontam-se os aspectos comportamentais ou habilidades pessoais e as competências que
são afins entre as duas profissões e as que se complementam. Assim, segundo as obras
consultadas, sintetiza-se no quadro abaixo o que é idêntico e o que é complementar a
essas duas profissões.
25

Aspectos Comportamentais ou Habilidades Humanas e Competências Afins


Secretário Executivo Administrador
Tomada de decisões Tomada de decisões
Administração de conflitos Administração de conflitos
Delegação Delegação
Eficiência Eficiência
Perceptividade Perceptividade
Criatividade Criatividade
Competência Administrativa Competência Administrativa
Motivação Motivação
Negociação Negociação
Empreendedorismo Empreendedorismo
Comunicação Comunicação
Flexibilidade Flexibilidade
Domínio de tecnologias Domínio de tecnologias
Aspectos Comportamentais ou Habilidades Humanas e Competências Complementares
Agente facilitador Aconselhamento
Lealdade e discrição Política
Conhecimento da empresa e cultura geral Impacto social
Assistência e assessoramento direto a executivos; Elaboração de documentos especializados
interpretação e sintetização de textos e
documentos; versão e tradução em idioma
estrangeiro
Coleta de informações para a consecução de Atividades nos campos de administração geral,
objetivos e metas de empresas como administração e seleção de pessoal,
organização, análise, métodos e programas de
trabalho, orçamento, administração de material e
financeira, relações públicas administração
mercadológica, administração de produção,
relações industriais, bem como outros campos em
que estes se desdobrem ou com os quais sejam
conexos
Dinamismo e pró-atividade Supervisão
Comprometimento com a empresa; participação e Agenciamento de mudanças
dedicação
Conhecimentos protocolares; técnicas secretariais; Exercício de funções e cargos de administrador em
arquivo; registro e distribuição de expedientes; diversas áreas em que fique expresso e declarado o
orientação da avaliação e seleção da título do cargo abrangido
correspondência
Polivalência; iniciativa e planejamento, O exercício de funções de chefia ou direção,
organização, liderança e controle de viagens, intermediária ou superior, assessoramento e
eventos, reuniões, agendas e arquivos consultoria em órgãos, ou seus compartimentos, da
administração pública ou de entidades privadas,
cujas atribuições envolvam principalmente, a
aplicação de conhecimentos inerentes às técnicas
de administração
Quadro 1 – Resumo dos aspectos comportamentais ou habilidades humanas e competências dos
profissionais de secretariado executivo e da administração

Percebe-se, analisando o Quadro 1, que o secretário executivo e o


administrador, em suas rotinas diárias, têm colocado em prática competências afins, o
que se deve a aspectos comportamentais ou habilidades pessoais que ambos têm em
comum. Além disso, algumas atividades são de competência de ambos. Da mesma
26

forma, em suas atividades um tem a competência que complementa a do outro. É


interessante observar que elas tendem a tornar o trabalho mais produtivo e o alcance dos
objetivos e metas propostos mais ágil. O secretário tende a ser um suporte ao seu
executivo, como fica bastante evidente na complementaridade de competências de
ambos os profissionais. No entanto, nas atividades que dizem respeito ao secretário
diretamente, ele se mostra competente e capaz de ir além de um simples suporte para a
cúpula da empresa.

5 Considerações finais

Ao final desta pesquisa, percebe-se o quanto entre a profissão de secretariado


executivo e a de administração existem aspectos comportamentais ou habilidades
pessoais e competências afins e complementares. Foi possível identificar essa
complementaridade depois de analisar o perfil desses profissionais, que estão em
constante evolução e aprendizagem.
Nesse estudo chamou-se de “competências” apenas o que apresentava os três
pilares das competências, que são os conhecimentos, as habilidades e as atitudes.
Observou-se que os estudiosos não elencam todos os aspectos levantados como
competência do secretário executivo ou competência do administrador, porém
registram-nas como atribuições, habilidade e outros termos afins. Mais uma vez, pois,
sentiu-se uma grande dificuldade em definir o que seriam competências e o que seriam
características inerentes ao perfil desses profissionais. Além disso, é importante ressaltar
que a maioria dos estudiosos da área administrativa refere-se aos administradores como
gerentes. Assim, lê-se no texto a denominação “gerente” e os aspectos associados a ele.
Tanto o profissional de secretariado executivo quando o profissional da
administração possuem capacidade para cada vez mais conquistar espaços e
oportunidades dentro do ambiente corporativo, porque seus perfis são compostos por
aspectos de relevante importância. Nesse sentido, consideram-se esses aspectos
comportamentais ou habilidades humanas essenciais, afinal é bastante difícil um
profissional que agregue em si, além da técnica, a facilidade em tratar pessoas, em ter
equilíbrio e se relacionar da melhor forma possível dentro da empresa.
Portanto, ambas as profissões apresentam aspectos comportamentais ou
habilidades humanas afins complementares. Essas características foram identificadas
em ambos os perfis, segundo as obras consultadas, porém se percebe que muitas outras
27

são afins às duas profissões. Talvez, se a pesquisa realizada tivesse sido baseada em
maior bibliografia, outras características teriam sido reveladas nesses profissionais.
A área secretarial e a área administrativa muito se aproximam, afinal secretários
executivos e administradores fazem parte do mesmo ambiente corporativo, que, por sua
vez, é mutável, competitivo, inovador e exigente. Assim, esta pesquisa alcançou seu
objetivo de identificar as competências complementares entre os profissionais de
secretariado executivo e da administração.

Referências

AZEVEDO, I.; COSTA, S. I. Secretária: um guia prático. 3. ed. São Paulo: Senac,
2002.

BRASIL. Decreto n.o 61.934, de 22 de dezembro de 1967. Dispõe sobre a


regulamentação do exercício da profissão de administrador, de acordo com a lei n.o
4.769, de 9 de setembro de 1965 e dá outras providências. Brasília, DF: Ministério do
Trabalho. Disponível em: <http://www.crars.org.br/>. Acesso em: maio 2009.

BRASIL. Lei n.o 6.556, de 5 de setembro de 1978. Dispõe sobre a atividade de


Secretário e dá outras providências. Brasília, DF: Senado. Disponível em:
<http://www.sisergs.com.br/leis.php>. Acesso em: abr. 2009.

BRASIL. Lei n.o 7.377, de 30 de setembro de 1985. Dispõe sobre o exercício da


profissão de Secretário e dá outras providências. Brasília, DF: Senado. Disponível em:
<http://www.sisergs.com.br/leis.php>. Acesso em: abr. 2009.

BRASIL. Lei n.o 9.261, de 10 de janeiro de 1996. Altera a redação dos incisos I e II do
art. 2º, o caput do art. 3º, o inciso VI do art. 4º e o parágrafo único do art. 6º da Lei nº
7.377, de 30 de setembro de 1985. Brasília, DF: Senado. Disponível em:
<http://www.sisergs.com.br/leis.php>. Acesso em: abr. 2009.

DUTRA, J. S. (Org.). et al. Gestão por competências. 5. ed. São Paulo: Gente, 2001.

MATTOS, Vera. Super secretária. 2. ed. São Paulo: Nobel, 2000.

MONTANA, P. J.; CHARNOV, B. H. Administração. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2006.

NATALENSE, M. L. C. Secretária executiva: manual prático. São Paulo: IOB, 1995.

ROBBINS, S. P. Administração: mudanças e perspectivas. São Paulo: Saraiva, 2007.

SABINO, R. F.; ROCHA, F. G. Secretariado: do escriba ao web writer. Rio de Janeiro:


Brasport, 2004.

STONER, J. A. F.; FREEMAN, R. E. Administração. 5. ed. Rio de Janeiro: PHB, 1985.


28

GESTÃO SECRETARIAL: SEMELHANÇAS ENTRE COMPETÊNCIAS


GERENCIAIS E SECRETARIAIS

Marli de Fátima Carvalho Tagliari5


Daniela Giareta Durante6

Resumo: Desde a década de 1990, a atuação do secretário executivo vem se


modificando com a incorporação de atividades mais complexas que exigem maiores
responsabilidades e competências distintas. Dentre as atuais funções encontram-se as do
âmbito gerencial. Neste sentido, o objetivo principal deste estudo, é investigar as
atribuições e as competências atuais do secretário executivo que se relacionam com a
gestão, visando apontar as possibilidades de o secretário assumir cargos de gestão. Para
isso, identificamos as competências do gestor e relacionamos às competências do
secretário executivo. O resultado apontou que o perfil atual do profissional de
secretariado abrange competências idênticas às competências de gestão. Consideramos
que nossos questionamentos foram respondidos e evidenciamos que o secretário
executivo contempla o perfil necessário para assumir cargos de gestão nas organizações.

Palavras-chave: Secretário executivo. Gestão. Gestão secretarial. Competências


gerenciais.

1 Introdução

As atividades secretariais vem sendo modificadas, visando a atender as


transformações da sociedade, das organizações e do mercado de trabalho. O perfil do
secretário, antes restrito a técnicas e operações simplificadas, agora engloba atribuições,
competências e responsabilidades em nível gerencial, ampliando as possibilidades de
atuação nas diferentes estruturas organizacionais.
Neste sentido, surgem questionamentos que motivam a pesquisa e a construção
deste estudo: podemos considerar a gestão uma atribuição do secretário executivo?
Considerando formação acadêmica e preparação técnica, o profissional de secretariado
executivo está preparado para ser um gestor? São perguntas que buscaremos elucidar
no decorrer deste texto. Deste modo, o objetivo principal é investigar as atribuições e as
competências atuais do secretário executivo que se relacionam com a gestão, visando
apontar as possibilidades de o secretário assumir cargos de gestão.

5
Especialista em Gestão Secretarial e Bacharel em Secretariado Executivo. Secretária executiva na
Universidade de Passo Fundo (UPF). Contato: mtagliari@upf.br
6
Mestre em Desenvolvimento, Especialista em Pedagogia Empresarial e em Gestão Secretarial, Bacharel
em Secretariado Executivo. Professora e pesquisadora do curso de Secretariado Executivo Bilíngue
(UPF). Contato: gdaniela@upf.br.
29

Para o desenvolvimento deste estudo foi realizada uma pesquisa bibliográfica


para aprofundar o tema proposto e alcançar os objetivos delineados. Buscou-se ampliar
os conhecimentos a cerca da gestão, das competências gerenciais e suas relações com a
área secretarial, principalmente no que se refere aos avanços da profissão e a gestão
secretarial.
O texto está organizado em cinco partes, além dessa introdução. Inicialmente
aborda-se a gestão e competências gerenciais, seguindo com a apresentação do
secretário executivo, sua formação, competências e as atribuições que formam o perfil
deste profissional. Com essa base, a discussão volta-se ao secretário no campo da
gestão, ou seja, a gestão secretarial. Por último, considerações finais são elucidadas.

2 Gestão: em busca de uma melhor compreensão

A gestão é um tema amplo que ainda não possui um conceito definido e


específico. Não podemos tratar dessa temática sem retomar seus fundamentos, aspectos
que no decorrer das décadas ainda permanecem como referencial. O termo gerência
originou-se na área privada “para significar a função subordinada àqueles que estão nos
conselhos superiores”, enquanto a profissão Administração originou-se na rede pública.
“O administrador era, assim, o executor das decisões emanadas dos órgãos políticos
superiores” (MOTTA, 2004, p.13).
Na concepção de Motta (2004, p.14), a forma como eram vistos o
administrador, o gerente e o diretor, passou a ser muito próxima nas organizações e as
titulações apresentavam apenas um caráter hierárquico. Estas denominações sofreram
um desgaste e devido à modernidade passou-se a utilizar o termo gestão, o que não
causou diferenciação nas atividades gerenciais: “Gestão é um termo genérico que
sugere, tanto quanto seus sinônimos, a idéia de dirigir e de decidir” (p. 16).
“Cada área da economia requer uma gestão adaptada às suas necessidades”.
Assim Morin (1997, p.7, grifo do autor), estudioso francês, introduz o texto de seu livro
e pode-se entender a partir da afirmação que a gestão não é uma teoria estanque, ao
mesmo, tempo não é uma teoria dos tempos modernos. “A gestão não é uma invenção
do século XIX contrariamente a uma ideia muito divulgada. A gestão existe desde a
antiguidade [...] para se desenvolver tem necessidade de um conjunto de saberes” (1997,
p.8). Ao contrário do que se pensa, a gestão é antiga e também moderna, pois é uma
teoria que se adapta ao momento econômico e histórico de cada organização. As
30

civilizações antigas recorriam a métodos de gestão idênticos aos nossos quanto ao


espírito e aos objetivos.
Morin (1997, p.13) ainda diferencia a teoria de gestão da teoria empresarial
salientando que a teoria de gestão lista as soluções para problemas de gestão, enquanto a
teoria empresarial é a ação dos gestores sobre a gestão que praticam, aliados a suas
experiências e concepções. Argumenta que uma teoria complementa outra e podem ser
comparadas a ações em um tabuleiro de xadrez onde uma é o manual e a outra o
jogador. A maneira como será desenvolvida uma jogada depende apenas do jogador e
das probabilidades de maior ou menor eficiência e eficácia nos resultados.
A Escola Clássica da Administração constitui-se num importante marco para a
Administração e a gestão. Antes de Frederick W. Taylor, engenheiro inglês, Pai da
administração científica, não se escreviam teorias acerca da administração, as práticas
eram apenas pensadas e aplicadas, sem a preocupação com a retomada de estudos e sua
aplicabilidade como ciência. Montana e Charnov (2003, p. 13,14) escrevem que “os
gerentes não viam a necessidade de uma teoria escrita em administração. [...] As
habilidades em administração e liderança não eram vistas como possíveis de se
aprender, mas sim como habilidades herdadas”.
Em 1916, Henri Fayol, engenheiro francês e estudioso de destaque, a partir do
livro Administração geral e industrial tornou pública a clássica divisão de funções do
administrador que são: planejar, organizar, coordenar, comandar e controlar. Montana e
Charnov (2003, p. 18-19) relatam que “Fayol afirmava que [...] essas funções definiam
o gerente e, juntas, significavam uma definição funcional de administração”. Essas
funções são detalhadas da seguinte forma:
1. planejamento - função que consiste em prever eventos futuros e determinar as
atividades futuras mais eficazes para a empresa;
2. organização - função que consiste em como a estrutura organizacional está
estabelecida e em como a autoridade e a responsabilidade são passadas para os
gerentes (delegação);
3. comando - função relacionada à maneira como os gerentes administram os
funcionários a partir da comunicação eficaz, comportamentos gerenciais e uso
de recompensas e de punições na discussão sobre como um gerente deveria
comandar os funcionários;
31

4. coordenação - função referente às atividades destinadas a criar uma relação entre


todos os esforços da organização (tarefas individuais) para realizar um objetivo
comum; e
5. controle - função relacionada ao modo como os gerentes avaliam o desempenho
dentro da organização.

Motta e Vasconcellos (2003, p.19-20) salientam ainda que estas funções foram
revolucionárias na época que Fayol as escreveu, e ainda são consideradas “uma das
maneiras mais significativas para compreender a administração” (grifo do autor).
Atualmente, parte-se da concepção de gestão em torno do planejamento, organização,
liderança e controle, ou seja, com alguns aperfeiçoamentos, as definições de Fayol
continuam sendo referencial na academia e na prática gerencial.
A partir da Administração Científica e no decorrer do século XX emergiram
vários modelos de gestão. Quinn et al. (2003) realizaram um estudo e agruparam os
modelos gerenciais em torno de quatro grandes modelos: metas racionais e processos
internos (1900 – 1925), relações humanas (1926 – 1950) e sistemas abertos (1951 –
1975). O modelo de metas racionais tem como principal critério a produtividade e
lucros. O de processos internos complementa o anterior e tem como foco a hierarquia, a
estabilidade e a continuidade. A ênfase do modelo de relações humanas recaiu sobre o
compromisso, coesão e moral, com foco de eficiência na igualdade e abertura. O
modelo de sistemas abertos coincide com o contexto mais atual, em que as organizações
têm necessidade de competir no mercado, tomar decisões de forma ágil e dinâmica e
serem flexíveis. Os modelos e teorias de gestão continuam sendo alvo de estudos,
podendo-se citar recentemente as teorias contigenciais, ambientais e transformacionais,
entre outras (MOTTA; VASCONCELLOS, 2003).
Quinn et al. (2003) enfatizam a importância de se compreender os modelos
para auxiliarem no desempenho das atividades gerenciais, bem como a ideia de que os
gerentes devem agregar conhecimentos para atingirem um grau de excelência e
acompanhar a modernidade das organizações. Os modelos são apresentados num
contexto temporal, porém o conhecimento de um não sobrepõe o outro, pois os modelos
se aprimoram, sendo que os gestores recorrem aos modelos dependendo do momento e
da necessidade da aplicação de cada um deles.
Apesar das demarcações e simplificações em torno de modelos, Motta (2004,
p.19) argumenta que a função gerencial não tem uma definição concreta e que
32

permanece ambígua e misteriosa para muitos. Podemos entender que não se trata de
uma função simples de ser desempenhada, contém lados ocultos que não são ensinados
ou treinados nem mesmo na academia. Afirma o autor “Ser dirigente é como reger uma
orquestra, onde as partituras mudam a cada instante e os músicos têm liberdade para
marcar seu próprio compasso”.
Motta (2004, p.26) entende a gerência como uma arte, pois não envolve apenas
os aspectos científicos, envolve também o pensar, decidir, agir, fazer acontecer, obter
resultados, os quais somente são obtidos por meio da interação de pessoas, por isso a
“capacidade gerencial é mais rara, pois exige habilidades mais complexas, capacidade
analítica, de julgamento, de decisão e liderança e de enfrentar riscos e incertezas”
(p.27). Assim, constatamos que a gestão envolve muito mais que conhecimento teórico,
competências e habilidades. Ela congrega os valores, crenças e uma gama de
experiências implícitas em cada indivíduo. Entretanto, é uma função que pode ser
apreendida.

3 Aprendizado e competências gerenciais

O aprendizado gerencial é algo constante aos que se dedicam a essa função ou


pretendem ingressar nela, pois fomenta a ampliação dos conhecimentos administrativos
e da capacidade de reconhecer problemas e soluções.
Para Motta (2004, p.32) “o desenvolvimento de habilidades gerenciais
significa uma adição ou complementação à formação de profissionais de outras áreas
inclusive os de administração”. Em suma o aprendizado gerencial não é atribuição
exclusiva da área de administração, pelo contrário, o autor insiste que o treinamento
gerencial consiste em desenvolvimento pessoal, formação de nova visão de futuro, de
carreira, aliado às experiências adquiridas e assim fazer uso em prol da organização. Por
isso, para o gestor atingir o sucesso profissional a sua formação acadêmica, específica
em Administração, não é o aspecto mais relevante, pois o perfil do gestor deve
contemplar habilidades, competências, e uma lógica de ação, que vão além do
conhecimento técnico e o capacita a gerir pessoas, processos e a organização de modo
geral.
Quinn et al. (2003, p. 24) consideram o processo de aprendizagem como um
produto resultante da mescla entre conhecimento, comportamento e valores, que
agregados capacitam o indivíduo a responder de forma adequada às situações que se
33

apresentam, gerando aprendizado. Salientam que o desenvolvimento de certas


competências demanda a aplicação das habilidades e não apenas o conhecimento
teórico: “uma competência implica a detenção tanto de um conhecimento quanto da
capacidade comportamental de agir de maneira adequada”.
Amorim e Freitas (2003, p.1) definem que “os gestores são fundamentais na
condução dos subordinados em prol dos objetivos individuais, coletivos e
organizacionais”, fato que condiz com a realidade nas organizações. O gestor,
geralmente, é o líder, pessoa que melhor visualiza as atividades e as pessoas ao seu
entorno. Os líderes quando ocupam posição estratégica podem ser o diferencial
competitivo, mas em todos os níveis são imprescindíveis para liderarem seus
colaboradores, levando a organização a agir através das pessoas que nela trabalham, em
direções previamente traçadas, as quais devem estar em consonância com as estratégias
organizacionais.
Ruas (2000, p.4) argumenta que o gestor, atualmente, tem um papel que
envolve conhecimentos de mercado, financeiro, sócio-cultural e ambiental. Suas
atividades envolvem muito mais que apenas gerenciar demandas das organizações. Em
suas pesquisas, identificou competências altamente relevantes que compõem o perfil de
um gestor inserido no mercado globalizado que são: integridade, visão estratégica,
capacidade de liderança, capacidade de decisão, capacidade de negociação, motivação,
trabalhos em equipe, habilidade interpessoal e atitudes pró-ativas.
Quinn et al. (2003, p.25), a partir do agrupamento dos modelos de gestão em
quatro, discutidos no tópico anterior, também definiram dois papéis do gestor em cada
um dos modelos, resultando então em oito papéis, a saber: mentor, facilitador, monitor,
coordenador, diretor, produtor, negociador e inovador. Alguns papéis com
características da Administração Científica possuem um viés mais controlador como
coordenador, monitor e diretor, já outros são mais flexíveis, oriundos da Escola de
Relações Humanas e do modelo de sistemas abertos como negociador, facilitador e
inovador. Igualmente, alguns papéis são mais direcionados ao público interno
(facilitador) enquanto outros ao externo (produtor). O importante disso, é o gestor
reconhecer a situação e agir de acordo com a necessidade daquela circunstância e
daquelas pessoas envolvidas, pois em certos casos é fundamental um controle mais
intenso e em outros uma flexibilidade maior.
34

Motta (2004, p.40-41) também colabora na identificação das competências


gerenciais ao apresentar as quatro grandes áreas do conhecimento administrativo
essenciais na formação de dirigentes (quadro 1).

Áreas de conhecimento Habilidades e conhecimentos básicos


Capacidade de análise de fatores externos e internos para melhor uso
Estratégia de recursos escassos no alcance dos objetivos.
Conhecimento de planejamento estratégico e principalmente de
formulação, análise e avaliação de diretrizes
Capacidade de compreensão de técnicas gerenciais básicas para
Racionalidade propor seu uso na busca de meios mais eficientes.
administrativa Conhecimento de técnicas de programação, orçamentação, sistemas
de informação, organização e de apoio gerencial
Capacidade de agregar pessoas em função de objetivos comuns, de
Liderança e habilidades visão e perspectiva além de seu contexto próximo e imediato e de
interpessoais comunicação. Conhecimentos sobre fundamentos de liderança,
técnicas de comunicação e de habilidades interpessoais
Capacidade de compreende processos organizacionais de decisão, de
Processo decisório forma a facilitar a arte de julgamento e a ação na solução de
problemas. Conhecimento sobre comportamento administrativo,
dinâmica organizacional e processos de inovação e mudança
Quadro 1 – Áreas do Conhecimento Administrativo
Fonte: Motta (2004, p. 40-41)

As competências gerenciais apontadas principalmente por Ruas (2000), Quinn


et al (2003) e Motta (2004) são muito semelhantes. Com nomenclaturas diferenciadas,
porém com a mesma essência, as competências definem o perfil dos profissionais de
gestão, chegando a características básicas para o desenvolvimento das atribuições de
gestor. Assim, para focarmos o objetivo deste estudo, tomamos a liberdade de agrupá-
las em torno de: visão estratégica, planejamento, organização, controle, liderança,
comunicação, trabalho em equipe, motivação, processo decisório, negociação, pró-
atividade, criatividade, flexibilidade e competência interpessoal.
Além das competências que formam o perfil do gestor, Ruas (2000) reforça
que as organizações, ainda, buscam mais. Buscam profissionais considerados super–
homens com habilidades ou capacidades que vão além das competências. E para estes
projetam expectativas maiores, tais como: a capacidade para atuar com emissão e
recepção de informações; para sintetizar e criar; habilidade para comandar grupos,
assessores e outras redes de pessoas; para estimulá-las a enfrentar desafios; desaprender
periodicamente e reaprender; familiarizar-se com geografia, mas especialmente com as
diferenças e conflitos culturais; abertura para novas ideias e novas perspectivas de
mercado, produto ou processo, em suma capacidade para “ouvir”, “ver” e “perceber”;
levar as competências além das fronteiras das unidades de negócios.
35

Observamos que com as transformações da sociedade, do mundo do trabalho e


das organizações, as exigências para os profissionais da área de gestão foram
aprimoradas. As atividades tornaram-se mais complexas e abrangentes, não limitadas
aos aspectos operacionais e técnicos, contemplam competências que ressaltam valores,
ética, crenças e comportamento humanos. Esta tendência das organizações na ênfase
dos valores humanos é responsável pela formulação de um novo perfil de gestão e,
consequentemente, um novo perfil de profissional.

4 A profissão de secretariado executivo

Em um breve relato histórico pretendemos apresentar a evolução da profissão


de secretariado. Para Sabino e Rocha (2004, p.9), secretário é “uma pessoa empregada
por um corpo público, ou por uma companhia ou por um indivíduo, cabe a ela escrever
ordens, cartas e registros, documentos públicos ou privados”. Conceito que data de 1947
e foi descrito no primeiro dicionário de Merriam-Webster.
Nonato Júnior (2009, p. 80) apresenta o processo histórico do secretariado,
porém se aprofunda no trabalho do assessor, o qual data da criação do homem. Salienta
que “para organizar, selecionar, assistir e encaminhar fontes de saber é necessário estar
assessorado por outras pessoas. Assim a origem da assessoria advém da origem
humana”.
A origem do secretariado remonta à Dinastia Macedônica, enfatizam Sabino e
Rocha (2004, p.3-4, grifo dos autores) e as atividades de secretariar começaram nas
civilizações antigas, pelos escribas, considerados os primeiros secretários da história,
que desenvolveram um sistema de anotação rápida, a taquigrafia. Afirmam que o
desenvolvimento da função de secretariar deu-se pela cultura, em razão do domínio da
escrita e da necessidade de registrar a história, realizando atividades bastante ligadas aos
governantes. Os autores contextualizam a proximidade dos secretários aos grandes
líderes sendo pessoas fiéis e confiáveis, com acesso a documentos de relevante
importância. Nonato Júnior (2009, p.81) complementa este pensamento ao escrever “a
assessoria configura-se como uma das ações intelectuais mais antigas da história da
humanidade”. As atividades intelectuais eram exercidas pelos escribas, a quem cabiam
várias funções devido ao domínio da escrita.
Na Idade Média, a função do secretário ficava restrita aos homens e a
necessidade da função do secretário reaparece na Revolução Comercial (1400-1700) e
36

no mercantilismo. A Revolução Industrial na Inglaterra (1750) criou uma nova estrutura


empresarial que exigiu funções de auxiliar nas administrações, consolidando assim, o
papel da secretária. E foi somente com as duas Grandes Guerras Mundiais (a primeira
de 1914 a 1918 e a segunda de 1939 a 1945), que surge a utilização da mão-de-obra
feminina nas funções ditas administrativas. Isso ocorreu devido à própria guerra que
gerou escassez da mão-de-obra masculina. “Foram essas máquinas que permitiram a
incorporação de mulheres à indústria para substituir os contingentes masculinos
enviados à guerra” (HELOANI, 1996, p. 36). Deste modo, a evolução na profissão de
secretário não foi um movimento isolado, esse fato ocorreu devido à situação política e
econômica vivida a partir dos anos 1900.
As mulheres que mantinham suas atividades apenas para pessoas conhecidas
pela proximidade e confiança passaram a expandir a profissão de secretariado mantendo
seus empregos mesmo após o término da 1ª Guerra Mundial. No Brasil, a visibilidade
do profissional de secretariado ocorreu a partir das décadas de 1950, período que se
destacavam apenas as técnicas secretariais (NONATO, JÚNIOR, 2009, p.90).

De fato percebemos que o contexto das organizações contribuiu para alavancar


a profissão secretarial e delinear novos rumos nesta carreira, que se consolidou com a
implantação de cursos superiores em Secretariado, com os esforços das entidades de
classe que levou à aprovação das Leis nº6. 556, de 5 de setembro de 1978, nº 7.377, de
30 de setembro de 1985 e nº9.261, de 10 de janeiro de 1996, à criação da Federação
Nacional de Secretárias e secretários – FENASSEC, em 31 de agosto de 1988 e, por
fim, à conquista do Código de Ética do Profissional de Secretariado no Brasil publicado
no Diário Oficial de 7 de julho de 1989.

Este breve histórico da profissão de secretário é fundamental para que


entendamos as origens da profissão em torno da cultura e do conhecimento, bem como
sua evolução em termos de técnicas, processos, atribuições e formação do perfil
profissional.

5 A gestão no enfoque secretarial

O secretário, durante boa parte do século XX, teve como atribuição a


assessoria direta a executivos com a realização de atividades operacionais, restringindo-
37

se “ao fazer” a partir de solicitações e ordens feitas pelos superiores. No entanto, a partir
dos anos 1990 o secretário passou a assumir responsabilidades, funções e atribuições
mais complexas, exigindo a construção de um perfil menos técnico e mais humanístico,
holístico e gerencial. O secretário, processualmente, vem migrando do campo
operacional para o gerencial. Atualmente, não se pode reduzir a potência do
Secretariado às técnicas de trabalho, confiando-o em um campo de praticismo, seria
negar toda a evolução intelectual pela qual este conhecimento passou nas últimas
décadas (NONATO JÚNIOR, 2009).

O Código Brasileiro de Ocupações do Ministério do Trabalho e Emprego –


sob o código 2523, prevê as áreas de atuação das secretárias executivas e bilíngues:
assessorar executivos/área, atender pessoas (cliente externo e interno), gerenciar
informações, elaborar documentos, controlar correspondências, prestar serviços em
idiomas estrangeiros, organizar eventos e viagens, supervisionar equipes de trabalho,
sistematizar atividades e suprimentos, arquivar documentos e demonstrar competências
pessoais (MTE, 2009).
Textualmente, encontramos no CBO as seguintes competências para
secretárias executivas e bilíngues (2523): manter postura profissional, adaptar-se a
mudanças, demonstrar senso de organização, ouvir atentamente, demonstrar bom
humor, cultivar autocontrole, demonstrar dinamismo, demonstrar bom senso, trabalhar
com ética profissional, demonstrar iniciativa, cultivar espírito de liderança, trajar-se
apropriadamente, manter-se atualizada, inspirar confiança, administrar estresse,
demonstrar polidez, comunicar-se com fluência, contornar situações adversas,
demonstrar discrição, demonstrar sensibilidade, dominar técnicas de redação, dominar
língua estrangeira, sugerir melhorias de procedimentos e métodos de trabalho,
manusear equipamentos, usar internet, observar normas de cerimonial, dominar
informática (MTE, 2009).
Alguns aspectos citados no CBO nos remetem à gestão, tais como a própria
assessoria, adaptação a mudanças, organização, supervisão de equipes, gerenciamento
de informações, espírito de liderança, comunicação, sugerir melhorias de procedimentos
e métodos. As competências pertinentes aos secretários podem, inicialmente, aparentar
simplicidade, mas no dia-a-dia de trabalho é que se vivenciam as habilidades em
resolver situações que demandam competências de gestão pelos secretários.
38

As Diretrizes Curriculares Nacionais para o Secretariado Executivo


(Resolução da Câmara de Educação Superior nº 3/2005) também contemplam o viés da
gestão. O parágrafo único do artigo terceiro apresenta:

o bacharel em secretariado executivo deve apresentar sólida formação geral


e humanística, com capacidade de análise, interpretação e articulação de
conceitos e realidades inerentes à administração pública e privada, ser apto
para o domínio em outros ramos de saber, desenvolvendo postura reflexiva e
crítica que fomente a capacidade de gerir e administrar processos e pessoas,
com observância dos níveis graduais de tomada de decisão, bem como,
capaz para atuar nos níveis de comportamento microorganizacional,
mesoorganizacional e macroorganizacional (BRASIL, 2005).

Este documento deixa bastante claro o perfil gerencial desejado do secretário


executivo, especialmente quando menciona a capacidade de gerir e administrar
processos e pessoas, reforçando também a questão chave deste estudo que se refere às
possibilidades do profissional de secretariado executivo absorver a função de gestor.
Cabe destacar ainda, que a partir das diretrizes curriculares, os cursos de graduação em
secretariado buscam proporcionar aos acadêmicos conhecimentos e técnicas que
auxiliem os mesmos a desenvolverem competências que os habilitem ao exercício da
gestão.
O artigo 4º da Resolução também cita as competências e habilidades que o
secretário executivo deve revelar cuja grande maioria possui relação com a gestão. Para
enfatizar a formação e qualificação profissional do secretário para o desenvolvimento da
gestão, optamos por destacar apenas cinco das competências e habilidades:
- exercício das funções gerenciais de planejamento, organização, liderança e
controle;
- habilidade de lidar com modelos inovadores de gestão;
- receptividade e liderança para o trabalho em equipe na busca da sinergia;
- gerenciamento de informações;
- gestão e assessoria administrativa de acordo com as metas departamentais e
empresariais.

Além do MTE e das diretrizes curriculares, vários autores apresentam e


discutem o perfil do secretário, suas competências e atribuições. Cordeiro (2009, p. 34),
em recente pesquisa na literatura disponível da área secretarial sintetizou o perfil atual
deste profissional, em termos de aspectos comportamentais e competências, conforme
quadro 2.
39

Profissional de secretariado executivo


Aspectos comportamentais Competências
Administração de conflitos Planejamento, organização e direção de serviços de secretaria
Comprometimento com a Assistência e assessoramento direto a executivos
empresa Coleta de informações para a consecução de objetivos e metas de
Polivalência empresas
Pró-atividade Redação de textos profissionais especializados, inclusive em idioma
Participação estrangeiro
Perceptividade Interpretação e sintetização de textos e documentos
Criatividade Versão e tradução em idioma estrangeiro para atender as necessidades
Eficiência e eficácia de comunicação da empresa
Conhecimento da empresa Registro e distribuição de expedientes e outras tarefas correlatas
Visão da totalidade da empresa Orientação da avaliação e seleção da correspondência para fins de
Dinamismo encaminhamento à chefia
Iniciativa Conhecimentos protocolares, organização de eventos
Discrição Idiomas, técnicas secretariais, informática, arquivo
Dedicação Negociação, competência administrativa
Cultura geral Motivação
Pontualidade Capacidade de assumir serviços de apoio como PABX e recepção
Assiduidade Comunicação
Respeito Habilidade em áreas diversificadas como administração, economia,
Lealdade contabilidade, finanças, marketing, matemática financeira, legislação,
Bom senso recursos humanos, domínio da língua portuguesa
Sensibilidade Domínio de habilidades de escritório
Boa aparência Planejamento, organização, liderança e controle de viagens, eventos,
Tomada de decisões reuniões, agenda e arquivos
Delegação Empreendedorismo, domínio de tecnologias
Agente facilitador Trabalho com a parte burocrática e de métodos
Flexibilidade Programação de soluções
Quadro 2 – Síntese dos aspectos comportamentais e das competências do secretário executivo
Fonte: Cordeiro (2009, p. 34)

Dentre as competências listadas por Cordeiro (2009) relacionamos


planejamento, organização, liderança, assessoria, negociação, motivação, comunicação,
empreendedorismo, flexibilidade e tomada de decisão como competências relativas à
gestão que são desempenhadas pelos secretários executivos, atualmente, no contexto
organizacional. Assim, constatamos que várias das competências também pertinentes ao
gestor já são desenvolvidas pelos secretários em suas rotinas de trabalho.
Além das competências devemos considerar os aspectos comportamentais,
pois o ato de gerir exige o atendimento aos requisitos clássicos do gerenciamento, bem
como a visão holística dos processos e das pessoas, os aspectos comportamentais,
valores e experiências, além da flexibilidade para as mudanças e inovações. Neste
ponto, podemos considerar que a formação, em nível superior, do secretário possibilita
essa amplitude de conhecimentos e desenvolvimento de habilidades.
No tocante a gestão secretarial, Natalense, estudiosa da área, já em 1995
caracterizou o secretário como gestor relacionando o desempenho de suas atividades aos
40

processos de gerenciais com o uso de ferramentas como planejamento, organização,


liderança e controle. Durante (2009, p. 139-140) salienta que a visão clássica da gestão
está presente em maior ou menor proporção nas atribuições do secretário dentro das
organizações, aspectos que deflagram a gestão secretarial. Salienta também a
necessidade de o secretário negociar acordos, gerenciar informações de forma que sejam
usadas apropriadamente na tomada de decisão, manter relações interpessoais sadias com
os diferentes públicos.
Ainda para Durante (2009, p.139), o secretário executivo, de certa forma,
intermedeia o contato entre partes na organização através do uso da comunicação, do
diálogo e da criatividade. Entende-se que sua atuação na organização vai além das
atividades meramente operacionais administrativas, pois o secretário interage como
agente no processo de aprendizado organizacional. A atuação deste profissional é muito
mais subjetiva que objetiva, portanto, a gestão que desenvolve vai além das funções
administrativas, com uma atuação proativa e adequada ao seu contexto.
Em Rodighero e Grzybovski (2009, p.160) também encontramos a afirmação
do secretário executivo ligado a gestão. O seu papel “está sendo revisto constantemente
e as transformações observadas na estrutura das organizações empresariais requerem
desse profissional novas atitudes diante do trabalho [...] está diretamente envolvido nos
processos de gestão”.
Diante do exposto no CBO, nas diretrizes curriculares e na pesquisa de
Cordeiro (2009) e demais autores, constatamos que as competências essenciais do
secretário executivo que formam o seu perfil atual e que se relacionam com a gestão
são: organização, planejamento, liderança, comunicação, trabalho em equipe,
motivação, adaptação a mudanças, negociação, tomada de decisão, gerenciamento de
informações, controle, dinamismo, iniciativa, conhecimento técnico, ética profissional,
autocontrole, flexibilidade, criatividade, empreendedorismo e programador de soluções.
Na busca de atingir o objetivo desse estudo que procura investigar as
competências atuais do secretário executivo que permeiam a gestão, visando apontar as
possibilidades de o secretário assumir cargos de gestão, traçamos um paralelo entre as
competências do gestor e as do secretário executivo (quadro 3).
41

Gestor Secretário executivo


visão estratégica
planejamento planejamento
organização organização
controle controle
liderança liderança
comunicação comunicação/gerenciamento de informações
trabalho em equipe trabalho em equipe
motivação motivação
processo decisório tomada de decisão
negociação negociação
pró-atividade pró-atividade/dinamismo/iniciativa
criatividade criatividade
flexibilidade flexibilidade/adaptação a mudanças
competência interpessoal autocontrole, gerenciamento de conflitos
Quadro 3 – Paralelo entre competências gerencias e secretariais

Com base no quadro, percebemos que das 14 competências do gestor, apenas


uma – visão estratégica – ainda não é contemplada no perfil do secretário executivo. No
entanto, outras competências como empreendedorismo, busca de soluções, tomada de
decisão e planejamento exigem deste profissional uma visão estratégica, por isso,
implicitamente a mesma está presente no seu cotidiano. Por outro lado, temos que
considerar que a gestão desenvolvida pelo secretário, na maioria das vezes, é no nível
tático, ou seja, departamental ou setorial e não no nível macro da organização, onde se
definem as estratégias competitivas do negócio.

6 Considerações Finais

As atividades e responsabilidades secretariais tem evoluído buscando atender


as transformações da sociedade e das organizações. Um perfil profissional apenas
técnico já não é suficiente Os secretários executivos, através de uma formação
acadêmica voltada às habilidades técnicas e com foco especial para a área
administrativa e línguas estrangeiras, tornou-se um profissional com habilidades e
competências próprias adequadas aos cenários das organizações modernas. As relações
humanas, comunicação, criatividade e flexibilidade são competências que
complementam esse novo perfil.
Ao realizarmos este estudo acerca da gestão, do perfil dos gestores,
relacionando com o aprendizado, habilidades e competências gerenciais, percebemos
que as competências necessárias para o desempenho da gestão são muito semelhantes
tanto para os profissionais com formação em administração ou áreas afins como para os
profissionais secretários executivos. Constatamos que o aprendizado gerencial não se
42

restringe à administração, mesmo sendo essa sua raiz. O aprendizado e o desempenho


da gestão dependem do grau de conhecimento de gestão, das habilidades, das
competências bem como das experiências de cada indivíduo.
O objetivo do estudo foi plenamente atingido, pois ao confrontarmos as
informações de vários estudiosos dos campos gerencial e secretarial constatamos as
semelhanças das competências atribuídas ao gestor e ao secretário executivo. Deste
modo, o resultado encontrado é considerado positivo e em termos de expectativas e
projeção elucidamos que o secretário pode, sim, desempenhar o papel de gestor nas
organizações, confirmando a gestão secretarial.

Referências

AMORIM, T. N. F.; FREITAS, T. S. “Terninho e gravata” Opção ou obrigação para as


executivas?. In: ENCONTRO NACIONAL DA ASSOCIAÇÃO DE PÓS-GRADUAÇÃO
EM ADMINISTRAÇÃO, 2003, Anais do Encontro Nacional da Associação de Pós-
graduação em Administração, Atibaia/SP, 2003, p.1 - 16.

BRASIL. Câmara de educação superior. Resolução nº3, de 23 de junho de 2005.


Diretrizes curriculares nacional dos cursos de graduação em secretariado executivo.
Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Poder Executivo, Brasília, DF, nº121,
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44

O PROFISSIONAL DE SECRETARIADO E A
TRADUÇÃO DE TEXTOS TÉCNICOS

Gisele Benck de Moraes7


Natália Kunz Caselani8

Resumo: Este estudo tem por objetivo fazer uma análise dos aspectos contextuais da
tradução, bem como das dificuldades encontradas pelo profissional de Secretariado
Executivo Bilíngue no que diz respeito à compreensão e tradução de textos de nível
técnico, observando seus reflexos no âmbito empresarial, considerando que a cada dia o
mercado de trabalho vem se tornando mais competitivo, exigindo assim, profissionais
competentes, perceptivos e capacitados, ou seja, profissionais melhores preparados para
enfrentar as diversas situações impostas pela globalização. Sendo assim, o domínio de
línguas estrangeiras pode ser um grande diferencial para quem deseja se destacar em sua
profissão, em especial o Secretário(a) Executivo(a) Bilíngue, devido a suas
responsabilidades e atribuições diárias. Salienta-se também que o profissional deve se
preocupar constantemente com a busca pela atualização e qualificação, a fim de atender
as tendências e influências no ramo da tradução, pois é necessário além de
conhecimentos técnicos acerca do assunto, ser dotado de um conhecimento aprofundado
da língua materna, pois compreendê-la e aplicá-la são requisitos fundamentais para um
bom profissional. Conhecer somente a língua é o mesmo que restringir o próprio
crescimento profissional e até cultural, já que o sucesso em oportunidades de emprego
está diretamente ligado à capacidade de se expressar devidamente por meio da língua
falada e escrita. Para isso realizou-se uma pesquisa bibliográfica acerca do assunto e
fez-se uma análise das traduções de um texto técnico na área de língua inglesa. Também
optou-se pela aplicação de um questionário para profissionais da área de secretariado,
conhecedores também do inglês como língua estrangeira. Durante a análise mostrou-se
que traduzir é muito mais do que conhecer a língua, mostrou-se que traduzir é conhecer
o contexto e a cultura em que o termo técnico foi utilizado.

Palavras-chave: Tradução. Textos técnicos. Secretariado Executivo Bilíngue

1 Introdução

Com o mundo globalizado, as trocas de informações tornam-se instantâneas, e


para uma organização que visa estabelecer laços mais fortes de lucros, é essencial a
presença de pessoas aptas para estarem à frente das negociações. É por este motivo que
a área secretarial vem ganhando cada vez mais espaço e autonomia no âmbito
empresarial, destacando-se pela sua habilidade de comunicação, principalmente a
fluência em idiomas estrangeiros (em especial o inglês). Além disso, o profissional de

7
Mestre em Letras. Professora do curso de Letras e Secretariado Executivo Bilíngüe da UPF. E-mail:
gbenck@upf.br.
2 Acadêmica do VII nível do curso de Secretariado Executivo Bilíngüe da Universidade de Passo Fundo.
Contato: 85286@upf.br/ taia_caselani@hotmail.com.
45

secretariado tem a formação e perfil adequados ao cenário internacional, com


atribuições que vão desde as mais simples (porém não menos importantes) como
agendamento, atendimento a clientes e preparação de roteiros de viajem, até as mais
sofisticadas, como organização de eventos, tomadas de decisão, direção de reuniões e
ainda representação da empresa no exterior.
Aprender uma nova língua é muito mais complexo do que simplesmente
decorar regras de gramática e vocabulário. Comunicar-se em outra língua não inclui
apenas aspectos formais, mas também alguns informais que não são tão óbvios. Assim,
somente quem tem experiência e conhecimento dessas peculiaridades, provenientes das
mais diversas culturas, é que vai decifrar o que está implícito, pois “cada tradução exige
do tradutor a capacidade de confrontar áreas específicas de duas línguas e duas culturas
diferentes, e esse confronto é sempre único, já que suas variáveis são imprevisíveis e
seus sentidos diversos” (BEZ, 2008, p. 100). Além disso, “toda tradução é um
verdadeiro campo minado. Sempre há um ou outro termo, uma ou outra construção
frasal que leva o tradutor a pensar um pouco mais em qual seria o equivalente no outro
idioma, em vez de traduzir quase mecanicamente” (SAID, 2008, p. 01).
Assim, ao longo deste artigo, procurar-se-á demonstrar a importância do
conhecimento de determinados aspectos da tradutologia, podendo servir de guia para
futuros profissionais de secretariado que trabalhem diretamente com tradução ou que
desejam fazê-lo, ressaltando as qualidades indispensáveis para um bom tradutor. Diante
disso, serão analisadas as dificuldades encontradas na tradução de um texto técnico,
bem como seus reflexos dentro da empresa e no âmbito da classe executiva, levando em
conta que somente com uma sólida formação e com um conhecimento técnico-cultural
específico é que se poderá atingir um nível contextual satisfatório, visando também
evidenciar o valor da constante busca pela atualização e qualificação, a fim de atender
as tendências e influências no ramo da tradução, pois é necessário, além de
conhecimentos técnicos acerca do assunto, possuir conhecimento aprofundado da língua
materna, pois compreendê-la e aplicá-la são requisitos fundamentais para o bom
andamento do ofício.
Na primeira seção se abordará sobre a tradução e contexto; na segunda, os
conhecimento e métodos específicos necessários para uma tradução eficiente; na
terceira será apresentado o texto, suas traduções, bem como a análise dos resultados
obtidos e, para finalizar, algumas considerações serão levantadas.
46

2 Tradução: assimilação contextual

Às vezes, acontece de se ler um texto e, apesar de muito esforço, não conseguir


entender o que realmente o autor quis dizer. Isso também ocorre com os textos ou
manuais em outras línguas e a sua causa pode ser a falta de conhecimento das normas
cultas da língua de origem de quem o formulou, o que acaba dificultando muito o seu
processo de decodificação.
Eco (2007, p. 190) afirma que:

uma tradução não diz respeito apenas a uma passagem entre duas línguas,
mas entre duas culturas ou duas enciclopédias. Um tradutor não deve levar
em conta somente as regras estritamente lingüísticas, mas também os
elementos culturais, no sentido mais amplo do termo.

Dessa forma, pode-se perceber que a tradução de um texto de qualquer gênero,


seja técnico ou literário, não é baseada apenas na simples substituição de signos
linguísticos, ou seja, palavra por palavra, mas sim, no desafio de encontrar termos e
expressões que se encaixem corretamente no contexto do assunto em questão.
Sá (2004, p. 10) também concorda dizendo que “a compreensão de um texto não
se dá apenas por parte da assimilação individual das palavras. Ocorre por conta da
assimilação contextual que as mesmas possuem”.
Outro fato que ocorre muito são palavras e expressões repetidas no decorrer do
texto. Mas isso não quer dizer que elas tenham necessariamente o mesmo significado.
Tudo depende do contexto no qual a expressão está inserida, levando em conta também
que, não existe apenas uma única tradução correta de um texto. Pelo contrário, são
várias as possibilidades. Como se pode constatar quando o autor afirma que, “embora as
palavras tenham o mesmo significado formal na língua-fonte e na língua-alvo, podem
não admitir tradução ao pé da letra e exigir uma adaptação ao contexto” (SAUAYA,
2001, p. 03).
A problemática com a questão da fonte e do destino acontece principalmente
quando o texto fonte é muito antigo e, portanto, se torna muito difícil encontrar termos
que se igualem àquele da época. Nesses casos é muito importante levar em conta que
uma tradução - de maior ou menor fidelidade em relação ao texto fonte - pode exercer
influência na cultura de chegada, e é aí que surge a velha dúvida: “uma tradução deve
47

levar o leitor a compreender o universo linguístico e cultural do texto de origem ou deve


transformar o texto original para torná-lo aceitável ao leitor da língua ou da cultura de
destino? (ECO, 2007, p. 201)”.
Eco (2007, p. 201) ainda explica que se deve considerar o fato, que afinal é
comprovado, de que as traduções envelhecem: “o inglês de Shakespeare permanece
sempre o mesmo, mas o italiano das traduções shakespearianas de um século atrás
denuncia a própria idade”. Isso significa que os tradutores, ainda que tentando restituir a
língua e o período histórico de origem, acabam modernizando de alguma forma o
original, mesmo sem intenção.
Assim, os homens conseguem comunicar-se e influenciar-se mutuamente através
de traduções literárias, e isso é uma evidência histórica. O to be or not to be de
Shakespeare, por exemplo, é hoje patrimônio universal graças às mil traduções suas
(NOUGUÉ, 2006, p. 06).
É interessante ressaltar que no momento que o tradutor encontrar obstáculos
linguísticos e culturais - devido muitas vezes à época em que foi escrito o texto original
e também à inexistência de alguns termos na língua-alvo -, cabe a ele contorná-los e
perceber qual o tipo de linguagem apropriada para a finalidade do texto, procurando
chegar o mais próximo possível do original, sem distorcer o seu sentido.

3 Conhecimentos específicos

3.1 Relevância do conhecimento técnico-cultural

Para traduzir qualquer texto, é de suma importância o profundo conhecimento


técnico do assunto em questão. Para melhor compreensão, pode-se imaginar a seguinte
situação: em um dia comum de trabalho de um secretário executivo bilíngue, é
solicitado que traduza um manual sobre equipamentos de segurança do inglês para o
português. Sua função, nesse momento, é decodificar a mensagem do manual, tornando-
a simples e clara. Se isso acontecer, seu objetivo estará cumprido.
Num caso como esse, duas peças serão fundamentais: a primeira será a
eficiência do secretário diante do vocabulário estrangeiro; a segunda será o seu
conhecimento técnico, o qual pode ser adquirido através de ajuda especializada.
Tratando mais especificamente do caso apresentado, o secretário poderia pedir auxílio a
um técnico em segurança do trabalho da empresa, pois, se ele contribuísse com o
48

conhecimento em línguas e o técnico com o conhecimento prático nas questões de


segurança, o seu trabalho seria praticamente perfeito, porque o encaixe das palavras
seria adequado e os erros de interpretação seriam minimizados.
Outra questão que cabe ainda ao exemplo acima citado é que quando solicitado a
tradução do manual de equipamentos de segurança do inglês para o português, é
importante conhecer o inglês (assim como o português), mas igualmente e pelo menos
tão profundamente é preciso ter o conhecimento sobre equipamentos de segurança.
Conforme Resende (2004, p. 109),

ao se fazer uma tradução, não é necessário somente o conhecimento da língua


de partida e de chegada. Para se fazer uma boa tradução é essencial que o
tradutor tenha muito conhecimento dos problemas estruturais, lingüísticos e
dos fatores culturais.

Como se não bastasse as inúmeras dificuldades linguísticas encontradas pelos


tradutores, ainda há que se preocupar com os dialetos. É por isso que ter conhecimentos
acerca da cultura do país ou região a qual o texto é destinado implica diretamente para a
eficácia da tradução. Pode-se pegar como exemplo o português: em cada região do
Brasil, uma mesma palavra se altera inúmeras vezes; cada povo agrega denominações
novas ao sentido original da palavra; cada estado tem suas tradições, seu modo de viver
e, consequentemente, seu jeito de se expressar. Então, não se pode ter a língua como um
paradigma que não tem quebra, pois uma mesma palavra tem vários significados
corretos, basta saber e entender a cultura na qual está inserida (SILVA, 2005, p. 03).
Sousa (2004), também enumera os conhecimentos necessários ao ofício ou à arte
de traduzir, e os divide em três grupos:

Grupo 1: las dos lenguas y sus culturas, necesarias para verter de una a otra y
el dominio del lenguaje en ambas lenguas. Grupo 2: conocimientos
ortográficos, gramaticales, léxicos y lingüísticos. Grupo 3: conocimientos
tipográficos y de ortografía técnica (orto tipografía), y conocimientos de
escritura científica y bibliológicos.

Resende esclarece que os fatores culturais implicam as gírias, provérbios ou


expressões idiomáticas, e ainda os problemas sociais, econômicos, políticos, os textos
técnicos, as ideologias, etc. Destaca ainda que “as barreiras culturais são encontradas até
mesmo dentro de uma mesma sociedade, entre homens e mulheres, brancos e negros e
outros – classes sociais, sexo, raça e crenças” (2004, p. 111).
49

Silva ainda orienta que “mais que tudo, o tradutor não pode perder de vista a
finalidade para qual o texto foi construído, sem jamais deixar de observar as
peculiaridades de cada texto a traduzir” (2005, p. 04).
Gambier (1998, p. 201) explica que:

Ao falar em valores culturais podemos referir-nos tanto à cultura elevada, que


gera o conhecimento, como à cultura popular, que transmite sonhos. Há um
tipo de cultura que adquirimos através do aprendizado, e uma outra
modalidade que permeia nossa memória e nossos atos. Os dois tipos de
cultura produzem mitos, estereótipos e símbolos. O próprio termo “valor”
pode incluir a noção de modelos ou normas – estéticas, estilísticas, retóricas,
éticas e ideológicas. Alguns valores são dominantes, legitimados e
reproduzidos pela instrução escolar; outros são dominados, percebidos às
vezes como marginais ou divergentes. Mas todos os valores são afetados
pelas relações de poder, colhidos por tensões e contradições algumas vezes
produtivas, por vezes inibidoras.

Dessa forma, cabe ao secretário(a) executivo(a) bilíngue verificar os diversos


significados das palavras e adequar o melhor para determinado texto, seguindo é claro,
seu conhecimento técnico-cultural.

3.2 Métodos e procedimentos para a tradução de textos técnicos

Infelizmente, grande parte das tecnologias as quais os brasileiros utilizam


diariamente, vem de territórios internacionais, e algumas vezes seus manuais não são de
boa qualidade, sendo difícil de entendê-los. É nessas horas que ter um conhecimento
técnico do assunto em questão, como já foi explicado anteriormente, é de grande valia.
Primeiramente quando o secretário for trabalhar na tradução de um manual de
instruções de um equipamento que acabou de chegar do Japão, por exemplo, ele deve
munir-se de alguns dicionários (monolíngue, bilíngue e outro de termos técnicos do
assunto) e até utilizar alguns artigos já traduzidos na mesma área, pois quanto mais
recursos disponíveis, melhor.
Depois de reunido o material, o próximo passo é a leitura completa do manual,
buscando o entendimento total do assunto. Para compreendê-lo melhor, pode-se
conversar com alguém que trabalhe na área, um engenheiro, por exemplo, ou melhor,
com alguém que vá trabalhar com o equipamento – quem vai operá-lo. Assim, chega-se
a um entendimento melhor de seu funcionamento e, enquanto isso, o secretário pode
colher algumas informações que poderão ser úteis no processo.
50

Oliveira (2003, p.01) diz que a leitura prévia é necessária para o reconhecimento
da obra, ou seja, “para se ter a informação geral do assunto a ser traduzido e a
familiarização de sua forma e conteúdo”.
Após um primeiro contato com os termos técnicos utilizados através da leitura
prévia, uma segunda leitura poderia esclarecer algumas dúvidas, verificar a coerência do
texto e a compreensão do assunto pelo tradutor, já que em uma única leitura não se
consegue pegar todo o contexto em si.
Após a análise textual, inicia-se a tradução propriamente dita, buscando sempre
enquadrar as palavras que melhor se correlacionem com o sentido original e, como se
tratam em sua maioria de termos técnicos, a atenção deve ser sempre redobrada, pois
existem algumas particularidades que podem ter seu sentido alterado com o passar dos
tempos. Nesses casos, um pequeno erro de decodificação pode gerar enormes
conseqüências.
Cruz (2004, p. 65) dá um exemplo sobre a dificuldade de tradução para uma
língua indígena: “quando o Padre Anchieta quis traduzir a Bíblia para os indígenas, ele
teve de observar os contextos que estimulavam uma aproximação. Assim, Jesus ficou
sendo o Deus do Trovão, Maria, a lansá... Houve, desta forma, uma tradução literária,
cultural e lingüística”, depois faz um breve comentário de que “uma tradução pode
alterar o texto original sob influência do contexto da literatura de chegada” (2004, p.
67).
Deve-se procurar sempre aproximar a linguagem a ser utilizada ao universo do
leitor, preocupando-se em chamar sua atenção sobre a relevância do assunto para a sua
prática profissional. É por este motivo que é muito importante saber qual será o público-
alvo do texto, bem como seu nível sócio-cultural.
Para facilitar a tradução e a aproximação do sentido de textos técnicos pode-se
usar um software chamado Trados, muito utilizado por tradutores já profissionais ou
técnicos. Seu processo de utilização ocorre da seguinte maneira: primeiro é necessário
abrir o Word e selecionar o arquivo a ser traduzido. Depois se abre o programa Trados
Workbench (área da memória). Após isso, é importante que se disponha as telas dos
dois programas na área de trabalho de forma que a visualização fique mais fácil.
A segunda etapa envolve a criação de uma nova memória ou a utilização de uma
já existente. Para se criar uma memória, é preciso selecionar o idioma de origem e
aquele para o qual se vai traduzir. Ainda é necessário escolher o nome da memória e o
local de armazenamento – preferencialmente colocar o nome do cliente e o par de
51

idiomas para facilitar referências futuras, quando finalizar a tradução, esta ficará
armazenada no banco de dados do programa e poderá ser utilizada para outras
traduções.
Deve-se considerar que há dois tipos de memória – em arquivo TMW e em
arquivo TXT – que apesar de iguais, têm procedimento de abertura diferente.
A memória TMW, por se encontrar em formato de arquivo do Trados, já está
pronta para ser aberta e utilizada. O procedimento é muito simples, é só clicar em “file”,
selecionar “open” e procurar a memória (LEÃO, 2009, p. 08).
A memória TXT, é a que foi exportada em forma de arquivo de texto. Sua
manipulação é mais fácil e é utilizada no intercâmbio de memórias com outras
ferramentas. Seu procedimento também é muito simples, é só repetir os mesmos passos
para se criar uma memória vazia, em seguida clicar em “file”, “import”, e selecionar a
memória que deseja importar (LEÃO, 2009, p. 08)
Na medida em que se têm um número significativo de traduções armazenadas no
banco de dados, o processo vai ficando mais fácil e rápido, pois existem várias
expressões já traduzidas, as quais aparecem na cor azul na tela, e as demais na cor
amarela.
O Trados é amplamente utilizado por profissionais altamente qualificados, já
que se trata de um software de alto custo e é constantemente atualizado, o que dificulta
a pirataria, pois sua atualização também tem um valor expressivo.
Como se pode ver, o processo tradutório não é uma tarefa tão fácil, requer muita
determinação e estudo, sem contar na constante atualização. Por outro lado, muitas
vezes a satisfação e o reconhecimento por tão grande esforço são compensadores e os
méritos tanto financeiros quanto pessoais e profissionais são significativos, confirmando
assim, que dominar outros idiomas é um diferencial.

4 Tradução na Prática

4.1 Metodologia

Buscando investigar a qualidade das traduções técnicas bem como os


conhecimentos e habilidades essenciais aos profissionais que atuam nesta área, realizou-
se primeiramente um estudo bibliográfico na literatura disponível e, posteriormente,
52

solicitou-se a dois participantes a tradução de um pequeno texto, do inglês para o


português, juntamente com um questionário acerca do tema.
A escolha do texto em língua inglesa se deu pelo fato de ser a mais falada
mundialmente e também a principal ferramenta de comunicação nas negociações
internacionais, e, como a pesquisa era sobre textos técnicos, optou-se por um livro
científico, com um nível de dificuldade médio, de onde foi retirado apenas uma parte do
segundo capítulo a qual fala da Primeira Lei da Termodinâmica.
Tendo em vista a avaliação das traduções, a preocupação inicial foi selecionar os
sujeitos da pesquisa com conhecimento da língua em questão e que realizassem
traduções periodicamente. O segundo critério foi sua formação. Idade e sexo não foram
levados em consideração. Assim, optou-se por dois profissionais de áreas distintas: uma
engenheira ambiental e também professora de inglês de um cursinho de línguas
estrangeiras e uma secretária executiva de uma multinacional, ambas atuantes na cidade
de Marau.
Decidiu-se ainda, que seria interessante testar um programa de computador para
cruzar com as outras duas traduções. Após algumas pesquisas na Internet, foi escolhido
o sistema de tradução automática oferecido pelo Altavista (dito Babel Fish), disponível
no site http://babelfish.yahoo.com/translate_txt.
Para a análise dos resultados utilizou-se o método qualitativo – interpretativista,
tendo como suporte a teoria já estudada nas seções anteriores.

4.2 Análise dos resultados

Inicialmente têm-se o texto em inglês seguido de suas três traduções – a primeira


realizada pela secretária executiva, a segunda pela professora de inglês e a terceira pelo
tradutor automático -, e, logo após, a sua análise.

The First Law of Thermodynamics


The equivalence of heat and work
At the very dawn of history man learned by experience that mechanical energy or work will
produce heat, and made use of this experience when rubbing together two pieces of dry wood or striking
a flint to obtain fire. Practical proof of the possibility of converting heat into work was given by the first
steam engines set in motion by the heat produced in boiler fire-boxes by the combustion of fuel.
Heat, like every other form of energy, is quantitatively measurable; the technical unit is the
Calorie, the amount of heat needed to raise the temperature of 1kg of water by 1ºC. Since this amount
varies together with the temperature, even if only insignificantly, the Soviet Standard (OCT 6259) defines
the Calorie as the amount of heat required to raise the temperature of 1kg of water from 19.5º to 20.5º
(known as the 20º Calorie). This definition is practically the mean between temperatures from 0º to
100ºC. This technical Calorie is also known as the great calorie or kilogram-calorie (Cal, spelt with a
53

capital C – is the abbreviation we shall use) to distinguish it from the gram-calorie (cal) used in physics
and amounting to 0.001 of a technical Calorie.
The technical unit of work is the kilogram-metre (kgm).
According to the law of the conservation of energy, discovered by Lomonosov, heat and work
are the equivalents of each other and may be converted one into the other, following the law of
proportionality:
Q = AL
Where: Q – the amount of heat in Cal that is converted into work;
L – the work in kgm obtained from Q;
A – a constant multiplier, the coefficient of proportionality.
We see from this that there is a definite relation between the units of heat and work so that it is
quite in order to measure heat in kgm and work in Cal.
The equivalence of heat and mechanical energy (work) led to the formulation of the general law
of the conservation of energy which states that energy can be neither created and destroyed but only
converted from one form into another and that the amount of energy in one form that “disappears”
during the conversion is replaced by an equal amount of the new form. The equivalence of heat and work
is obviously a particular case of the general law and is not connected with any specific concepts of the
nature of heat energy and the structure of matter. From the point of view of the kinetic theory of heat and
matter the equivalence of heat and work is a foregone conclusion since that theory states that the heat of
a material body is nothing but the mechanical energy of the movements of its minutest particles, the
molecules and atoms.
The constant multiplier of equality 2-1, A = Q/L, determines the number of Cal that are the
equivalent of 1kgm and is therefore known as the heat equivalent of work. Its magnitude was determined
experimentally; the first accurate measurements were made in the forties of the last century and produced
a mean figure of A = 1/424 Cal/kgm, which was considered accurate up to the end of the century. Today,
the figure obtained as the result of later investigations is taken as A = 1/427 Cal/kgm. (2-2)
The inverse magnitude of the heat equivalent 1/A = L/Q = 427 kgm/Cal, determines the number
of kgm that are the equivalent of 1 Cal, and is called the mechanical equivalent of heat. Both the heat and
mechanical equivalents, therefore, are multipliers to be used in converting kgm into Cal and vice versa.
The principle of equivalence of heat and work may be given the following detailed formulation:
in the conversion of heat into work every kgm of work provides 1/427 Cal of heat and, consequently,
every “vanishing” Cal provides 427 kgm of work. The simplest expression of this relation is 1 Cal = 427
kgm, from which we see that the great calorie is a much bigger unit of energy than the kilogram-metre.
In general the kilogram-metre is too small a unit for industrial use and in power engineering the
horse-power hour is used. Horse power (hp) is the industrial unit of power, the work done in one second,
i. e., 1 hp = 75kgm/sec, from which we get 1hp-hr = 75x60x60 = 270,000 kgm, which in unit heats is
1hp-hr = 270,000/427 = 632 Cal. The industrial unit of electrical energy is the kilowatt-hour (kwh), the
work of one kilowatt for one hour. The kilowatt (kw) is the industrial unit of electric power, and, 1 kw =
102 gm/sec = 1.36 hp, therefore, 1 kwh = 367,200/427 = 860 Cal.
In connection with this the London International conference on steam tables, held in 1929,
defined the Calorie as the amount of heat equivalent to 1/860 kwh (“the international great calorie”).
This definition is superior to those given earlier since it excludes the dependence of the Calorie
temperature, latitude and height above sea-level, insofar as gravitational acceleration and, therefore, the
mass of 1 kg water depends on those factors. The kilowatthour is a unit that is definite, is measurable
with great precision and is universally accepted, not only in Europe, but in Britain and the U.S.A as well;
the international Calorie, therefore, deserves universal recognition and application.

Tradução 1 – Secretária Executiva:

A primeira lei da termodinâmica


A equivalência de calor e trabalho
Nos primórdios da história o homem aprendeu por experiência que energia mecânica ou trabalho
produzirão calor, e fez uso desta experiência quando esfregando dois pedaços de madeira seca ou
golpeando uma pederneira obteve fogo. Prova prática da possibilidade de converter calor em trabalho foi
determinada pelo primeiro conjunto de máquinas a vapor em movimento, pelo calor produzido em
caldeira de caixas de fogo pela combustão de combustível.
Calor, como toda outra forma de energia, é quantitativamente mensurável; a unidade técnica é a
Caloria, a quantia de calor necessária para elevar a temperatura de 1kg de água por 1ºC. Desde que esta
quantia varie junto com a temperatura, até mesmo se insignificantemente, o Padrão Soviético (OCT 6259)
54

define a Caloria como a quantia de calor exigida para elevar a temperatura de 1kg de água de 19.5º a
20.5º (conhecido como a 20º Caloria). Esta definição é praticamente a média entre temperaturas de 0º
para 100ºC. Esta Caloria técnica também é conhecida como a grande caloria ou quilograma-caloria (Cal,
escrita com um C maiúsculo - é a abreviação usada) para distinguir isto da grama-caloria (cal) usado em
físicas e chegando a 0.001 de uma Caloria técnica.
A unidade técnica de trabalho é o quilograma-metro (kgm).
De acordo com a lei da conservação de energia, descoberta por Lomonosov, calor e trabalho é a
equivalência de um ao outro e podem ser convertidos para outro, seguindo a lei de proporcionalidade:
Q = AL
Onde: Q - a quantia de calor em Cal que é convertido em trabalho;
L - o trabalho em kgm obtido de Q;
A - um multiplicador constante, o coeficiente de proporcionalidade.
Nós vemos através disto que há uma relação definida entre as unidades de calor e trabalho, de
forma que isto está totalmente em ordem para medir calor em kgm e trabalho em Cal.
A equivalência de calor e energia mecânica (trabalho) conduziu à formulação da lei geral da
conservação de energia, onde estados que a energia não pode nem ser criada e nem pode ser destruída,
mas só pode ser convertida de uma forma em outro e que a quantia de energia em uma forma que
"desaparece" durante a conversão é substituída por uma quantia igual da forma nova. A equivalência de
calor e trabalho é obviamente um caso particular da lei geral e não está conectado com qualquer conceito
específico da natureza de energia de calor e a estrutura em referência. Do ponto de vista da teoria cinética
de calor e a equivalência de calor e trabalho é uma conclusão passada desde aqueles estados de teoria que
o calor de um corpo material está nada mais que a energia mecânica dos movimentos de suas partículas,
as moléculas e átomos.
O multiplicador constante de igualdade 2-1, A = Q/L, determina o número de Cal que é o
equivalente de 1kgm e é então conhecido como o calor equivalente de trabalho. Sua magnitude era
experimentalmente determinada; as primeiras medidas precisas foram feitas nos anos 40 do último século
e produziram uma figura de A = 1/424 Cal/kgm que foram considerados necessários até o fim do século.
Hoje, a figura obtida como o resultado de investigações posteriores é como A = 1/427 Cal/kgm. (2-2)
A magnitude inversa do calor equivalente 1/A = L/Q = 427 kgm/Cal, determina o número de
kgm que é o equivalente de 1 Cal, e é chamado o mecânico equivalente de calor. O calor e equivalente
mecânico, então, são multiplicadores a ser usado convertendo kgm em Cal e vice-versa.
O princípio de equivalência de calor e trabalho pode ser dado a formulação detalhada seguinte:
na conversão de calor em trabalho, cada kgm de trabalho provê 1/427 Cal de calor e, por conseguinte,
todo Cal "desaparecendo" provê 427 kgm de trabalho. A expressão mais simples desta relação é 1 Cal =
427 kgm dos quais nós vemos que a grande caloria é uma unidade muito maior de energia que o
quilograma-metro.
Em geral o quilograma-metro é uma unidade muito pequena para uso industrial e em engenharia
o "horse-power hora" é usada. Horse power (hp) é a unidade industrial de força/energia, o trabalho feito
em um segundo, ex: 1 hp = 75kgm/sec dos quais nós obtemos 1hp-hr = 75x60x60 = 270,000 kgm que em
calores de unidade são 1hp-hr = 270,000/427 = 632 Cal. A unidade industrial de energia elétrica é a
quilowatt-hora (kwh), o trabalho de um quilowatt durante uma hora. O quilowatt (kw) é a unidade
industrial de energia elétrica, e, 1 kw = 102 gm/sec = 1.36 hp, então, 1 kwh = 367,200/427 = 860 Cal.
Com relação a isto, a conferência Internacional de Londres, em 1929, definiu a Caloria como a
quantia de calor equivalente a 1/860 kwh ("a grande caloria internacional"). Esta definição é superior
àquelas dadas antes, desde que exclui a dependência da temperatura de Caloria, latitude e altura sobre
nível do mar, bem como aceleração gravitacional e, então, a massa de 1 água de kg depende desses
fatores. O kilowatt hora é uma unidade que está definida, é mensurável com grande precisão e é aceito
universalmente, não só na Europa, mas também na Inglaterra e os U.S.A; então, a Caloria internacional
merece reconhecimento universal e aplicação.

Tradução 2 – Professora de línguas:

A primeira lei da termodinâmica


A equivalência do calor e do trabalho
No completo surgimento da história o homem aprendeu pela experiência que a energia mecânica
ou o trabalho produzira calor, e faz uso dessa experiência quando esfrega dois pedaços de madeiras ou
pedras para obter fogo. Um prova concreta da possibilidade de converter calor em trabalho foi dada pelas
primeiras locomotivas a vapor colocadas em movimento pelo calor produzido pela fornalha de caldeira
pela combustão do combustível.
55

O calor, como qualquer outra forma de energia, é quantitativamente mensurável, a unidade


técnica é a caloria, a quantidade de calor necessária para elevar a temperatura de 1 kg de água em 1ºC.
Desde que esse valor varia junto com a temperatura, mesmo que apenas de modo insignificante, o Padrão
Soviético (OTC 6259) define a caloria como quantidade de calor necessária para elevar a temperatura de
1 kg de água de 19,5º para 20,5º (conhecido como a caloria 20º). Esta definição é praticamente a média
entre as temperaturas de 0º a 100ºC. Esta caloria técnica é também conhecida como a grande caloria ou
quilograma calórico (Cal, soletrado com letra maiúscula C – é a abreviação que usaremos) para distingui-
la da caloria-grama (cal) usada em física e a quantia de 0,001 da Caloria técnica.
A unidade técnica de trabalho é o quilograma metro (kgm).
De acordo com a lei de conservação da energia, descoberta por Lomonosov, calor e trabalho são
equivalentes para cada um e pode ser convertido um no outro, seguindo a lei da proporcionalidade.
Q=AL
Onde: Q - quantia de calor em caloria que é convertida em trabalho;
L - o trabalho em kgm obtido de Q;
A - um constante multiplicador, o coeficiente de proporcionalidade.
Vemos a partir deste que há uma clara relação definida entre as unidades de calor e de trabalho
que é completamente aceitável medir o calor em kgm e o trabalho em Cal.
A equivalência de calor e energia mecânica (trabalho) molda a formulação da lei geral de
conservação de energia a qual define que a energia não pode ser nem criada e nem destruída, mas apenas
convertida de uma em outra e que a quantia de energia de uma forma que “desaparece” durante a
conversão é resposta por uma igual quantia da nova forma. A equivalência do calor e trabalho é
obviamente um caso particular da lei geral e não é conectado com nenhum conceito específico da
natureza da energia do calor e da estrutura da matéria. Do ponto de vista da teoria cinética o calor e a
matéria de calor equivalente e trabalho é uma prévia conclusão desde que a teoria declara que o calor de
um corpo material não é nada, mas a energia mecânica do movimento destas pequenas partículas, as
moléculas e os átomos.
O constante multiplicador de igualdade 2-1, A=Q/L, determina o número de Cal que é
equivalente a 1 kgm e é conseqüentemente conhecido como o calor equivalente de trabalho. Sua
magnitude foi determinada experimentalmente, a primeira medição exata foi feita nos quarenta do último
século e produziu uma figura média de A=1/424 Cal/kgm, a qual foi considerada exata até o final do
século. Hoje, a figura obtida como os resultados de investigações posteriores são tomados como A=1/427
Cal/kgm (2-2).
A magnitude inversa do calor equivalente 1/A = L/Q = 427 kgm/Cal, determina o número de
kgm que é equivalente a 1 Cal, e é chamado de equivalente mecânico de calor. Ambos o calor e os
equivalentes mecânicos, conseqüentemente são múltiplos a serem usados na conversão de kgm em Cal e
vice-versa.
O princípio da equivalência do calor e do trabalho ser dado seguindo a formulação detalhada: na
conversão do calor em trabalho cada kgm de trabalho fornece 1/427 Cal de calor e, conseqüentemente,
cada Cal “perdida” fornece 427 kgm de trabalho. A simples expressão desta relação é 1 Cal = 427 kgm,
com a qual nós vemos que a maior caloria é uma unidade muito maior de energia que o quilograma
metro.
Em geral o quilograma metro é uma unidade demasiado pequena para o uso industrial e na
engenharia o poder do cavalo a vapor hora é usado. O cavalo a vapor é a unidade industrial de força, o
trabalho feito em um segundo, exemplo, 1hp 75 kgm/seg., do qual nós pegamos 1hp – hr = 75 x 60 x 60 =
270,000 kgm, o qual em unidade de calor é 1hp – hr = 270,000/427 = 632 Cal. A unidade industrial de
energia elétrica é o quilowatt hora (kWh), o trabalho de um quilowatt por uma hora. O quilowatt (kW) é a
unidade de força elétrica industrial, e, 1kw = 102 gm/seg. = 1,36hp, conseqüentemente, 1kwh =
367,200/427 = 860 Cal.
Em relação com a Conferência Internacional de Londres sobre a tabela de vapores, realizada em
1929, definindo a caloria como a quantia de calor equivalente a 1/860 kWh (“a grande caloria
internacional”). Esta definição é superior aquelas dadas antecipadamente desde que isso exclua a
dependência da temperatura da caloria, latitude e da altitude acima do nível do mar, a medida que a
aceleração gravitacional e, conseqüentemente, a massa de 1kg de água depende destes fatores. O
quilowatt hora é uma unidade que é definida como sendo mensurável com ótima precisão e é
universalmente aceita, não apenas na Europa, mas na Grã-Bretanha e nos Estados Unidos também, a
Caloria internacional, conseqüentemente, merece reconhecimento e aplicação universal.

Tradução 3 – Altavista:
56

A primeira lei de Thermodynamics


A equivalência do calor e do trabalho
No alvorecer mesmo do homem da história aprendido pela experiência que a energia mecânica
ou o trabalho produzirão o calor, e empreg esta experiência ao friccionar junto duas partes de madeira
seca ou ao golpear um sílex para obter o fogo. A prova prática da possibilidade de calor de conversão no
trabalho foi dada pelos primeiros motores de vapor ajustados no movimento pelo calor produzido em fire-
boxes da caldeira pela combustão do combustível.
Aqueça, como cada outro formulário de energia, seja quantitativa mensurável; a unidade técnica
é a caloria, a quantidade de calor necessário para levantar a temperatura de 1kg da água por 1ºC. Desde
que esta quantidade varia junto com a temperatura, mesmo se somente insignificanta, o padrão soviético
(OUTUBRO 6259) define a caloria como a quantidade de calor exigida para levantar a temperatura de
1kg da água de 19.5º para 20.5º (conhecido como a caloria 20º). Esta definição é praticamente o meio
entre temperaturas de 0º a 100ºC. Esta caloria técnica é sabida igualmente como a grande caloria ou a
quilograma-caloria (Cal, soletrado com um C importante - é a abreviatura que nós nos usaremos) para
distingui-la da grama-caloria (cal) usada na física e em atingir 0.001 de um Calorie.
A unidade técnica de trabalho é o quilograma-medidor (kg).
De acordo com a lei da conservação de energia, descoberta por Lomonosov, o calor e o trabalho
são os equivalentes de se e podem ser convertidos um no outro, seguindo a lei da proporcionalidade:
Q = AL
Onde: Q - a quantidade de calor no Cal que é convertido no trabalho;
L - o trabalho em kg obtido de Q;
A - um multiplicador constante, o coeficiente da proporcionalidade.
Nós vemos deste que há uma relação definitiva entre as unidades de calor e o trabalho de modo
que seja completamente a fim medir o calor em kg e no trabalho no Cal.
A equivalência do calor e da energia mecânica (trabalho) conduzidos à formulação da lei geral
da conservação de energia que indic que a energia não pode ser nenhuma criada e destruída mas
convertida somente de um formulário em outro e que a quantidade de energia em um formulário que
“desaparece” durante a conversão está substituída por uma quantidade igual do formulário novo. A
equivalência do calor e do trabalho é obviamente um exemplo particular da lei geral e não é conectada
com nenhuns conceitos específicos da natureza da energia calorífica e da estrutura da matéria. Do ponto
de vista da teoria de calor cinética e importa a equivalência do calor e o trabalho é um inevitável desde
que a teoria indic que o calor de um corpo material não é nada mas a energia mecânica dos movimentos
de suas partículas mais minuciosas, das moléculas e de átomos.
O multiplicador constante da igualdade 2-1, A = Q/L, determina o número de Cal que é o
equivalente de 1kgm e é sabido conseqüentemente porque o equivalente de calor do trabalho. Seu valor
foi determinado experimental; as primeiras medidas exatas foram feitas nos anos quarenta do século
passado e produziram uma figura média de A = 1/424 de Cal/kg, que foi considerado exato até o fim do
século. Hoje, a figura obtida como o resultado de umas investigações mais atrasadas é tomada como A =
1/427 de Cal/kg. (2-2)
O valor inverso do equivalente de calor 1/A = L/Q = 427 kg/Cal, determina o número de kg que
é o equivalente de 1 Cal, e é chamado o equivalente mecânico do calor. O calor e os equivalentes
mecânicos, são conseqüentemente multiplicadores a ser usados em converter kg no Cal e reciprocamente.
O princípio de equivalência do calor e do trabalho pode ser dado a seguinte formulação
detalhada: na conversão do calor no trabalho cada kg do trabalho fornece 1/427 de Cal do calor e,
conseqüentemente, cada Cal “de desaparecimento” fornece 427 kg do trabalho. A expressão a mais
simples desta relação é 1 Cal = 427 kg, de que nós vemos que a grande caloria é uma unidade muito mais
grande de energia do que o quilograma-medidor.
Geralmente o quilograma-medidor é uma unidade demasiado pequena para o uso industrial e na
engenharia de poder a hora do cavalo-força é usada. O poder de cavalo (cavalo-força) é a unidade
industrial de poder, o trabalho feito em um segundo, isto é, 1 cavalo-força = 75kgm/sec, de que nós
começ 1hp-hr = 75x60x60 = 270.000 kg, que na unidade se aquece é 1hp-hr = 270.000/427 = 632 Cal. A
unidade industrial de energia elétrica é o kilowatt-hour (kwh), o trabalho de um quilowatt para uma hora.
O quilowatt (quilowatt) é a unidade industrial de energia eléctrica, e, 1 quilowatt = 102 gm/sec = 1.36
cavalos-força, conseqüentemente, 1 kwh = 367.200/427 = 860 Cal.
Em relação a isto a Conferência Internacional de Londres sobre as tabelas de vapor, realizadas
em 1929, definiu a caloria como a quantidade de equivalente de calor a 1/860 de kwh (“a grande caloria
internacional "). Esta definição é superior àquelas dadas mais cedo desde que exclui a dependência da
temperatura, da latitude e da altura da caloria acima do nível do mar, tanto que a aceleração gravitacional
e, conseqüentemente, a massa de 1 quilograma de água dependem daqueles fatores. O kilowatthour é uma
unidade que seja definitiva, seja mensurável com grande precisão e seja aceitada universal, não somente
57

em Europa, mas em Grâ Bretanha e nos EUA também; a caloria internacional, merece conseqüentemente
o reconhecimento e a aplicação universais.

Far-se-á agora a análise, abordando as principais diferenças e também as


semelhanças entre as três versões. Iniciando pelo título, pode-se observar que houve
diferenças quando da tradução do termo the equivalence of heat and work, o qual fora
feito de duas formas: a equivalência de calor e trabalho e a equivalência do calor e do
trabalho, o que aos olhos de um leigo pode parecer a mesma coisa, porém representam
diferenças semânticas, sendo que a primeira é mais abrangente, pois refere-se ao calor
em geral - pode ser qualquer calor, do dia, da noite, do sol...-, e, a segunda é mais
específica, devido à presença do artigo definido (o), ou seja, diz respeito única e
exclusivamente ao calor que pode ser convertido em trabalho, ou vice-versa.
Também, já no início do primeiro parágrafo verifica-se que ocorreu uma
discordância de idéias, pois nenhuma das três foi parecida. A secretária, por exemplo,
traduziu a frase at the very dawn of history como nos primórdios da história, a
professora, por sua vez entendeu como no completo surgimento da história (o que pode-
se considerar um pouco vago para uma tradução técnica), já o Altavista interpretou a
expressão de uma forma completamente confusa, no alvorecer mesmo do homem da
história, deixando claro que este tipo de tradutor não é o mais indicado para traduções
técnicas, servindo apenas como auxiliar para outras mais casuais.
Nota-se inda, ao longo do texto traduzido pelo Altavista, que o programa deixou
muito a desejar, pois algumas palavras aparecem cortadas e alguns termos não foram
traduzidos, tais como: fire-boxes (que no entendimento da secretária significa caldeira
de caixas de fogo e para a professora é uma fornalha de caldeira), kilowatthour
(quilowatt hora) e calorie (calor). Em compensação, o programa traduziu outros termos
que na verdade não deveria como é o caso, por exemplo, da sigla ”OCT 6259”, a qual
foi traduzida como Outubro (provavelmente porque oct é a abreviação em inglês para
October). Nesses casos, quando não se tem certeza de seu significado, é preferível
deixar o termo técnico por traduzir, como fizeram as participantes, ao invés de arriscar.
Por isso seria interessante o uso de um programa de tradução com lista de palavras.
Outra expressão traduzida erroneamente pelo software é kilogram-metre
(quilograma-metro) cuja sigla é kgm. O programa não só traduziu errado, por
quilograma-medidor, mas também eliminou uma letra da sigla, deixando apenas como
kg.
58

Eco (2007, p. 33) explica que o Altavista está condenado ao fracasso por não
possuir um dicionário que contenha o que se chama de “seleções contextuais”, ele faz
apenas a tradução literal e, portanto, não é capaz de discernir que as palavras assumem
significados diversos segundo o contexto.
Porém, na expressão were made in the forties of the last century, foi o Altavista
que o traduziu da melhor forma, no que diz respeito ao contexto, pois foi o que mais
especificou o período de tempo referido no texto original - nos anos quarenta do século
passado. Já a professora ao transcrever nos quarenta do último século não especificou
que se tratava dos anos quarenta ou da década de 1940. Não que sem tal especificação
não dê para entender o que está implícito, mas apenas quer-se ressaltar que está menos
completa, pois em se tratando de tradução técnica, qualquer termo deve ser transcrito, a
fim de passar a mensagem da forma mais clara possível para o receptor, sem deixar
margem a outras interpretações.
No trecho heat and work are the equivalents of each other and may be converted
one into the other, following the law of proportionality fica nítida a idéia de que o
melhor é a tradução contextual e não a literal, pois todas as versões reproduziram mais
de uma vez as expressões “cada um” e “um no outro” deixando o parágrafo um pouco
confuso e repetitivo. Bastava passar a idéia de que calor e trabalho são equivalentes e,
portanto, podem ser convertidos um no outro.
Mais um aspecto que vale comentar é a palavra this constante da expressão we
see from this, que é melhor aplicada à tradução por disto (conforme a secretária), do que
por deste (como os demais), já que disto se refere à expressão anteriormente
exemplificada (Q=AL) sobre a lei da proporcionalidade.
Ainda, nota-se na versão da secretária que há uma passagem confusa, trata-se da
tradução da frase every “vanishing” Cal provides 427 kgm of work, a qual fora
transcrita como todo Cal "desaparecendo" provê 427 kgm de trabalho. Esta não fora a
melhor das versões porque primeiramente deve-se lembrar que Cal é a abreviação da
unidade técnica da caloria e não a abreviação de calor e, portanto, o correto é dizer toda
Cal (feminino). Se Cal se referisse a calor, estaria correto o uso do adjetivo masculino
todo. Em segundo lugar, a tradução para o termo vanishing como desaparecendo não
condiz tanto com o contexto como a expressão perdida, a qual fora exprimida pela
professora de línguas.
Uma das últimas expressões técnicas que aparece no texto é Horse Power, mais
conhecida como HP, a qual muitos traduzem como cavalo a vapor, porém, deve-se ter
59

cuidado, pois as duas são unidades diferentes e não tradução uma da outra. Neste
contexto, por exemplo, ela tem o sentido de potência. Assim, é importante ressaltar mais
uma vez a importância do conhecimento técnico, para saber discernir qual a melhor
tradução para determinado termo ou se é preferível não traduzi-lo, por inexistir uma
expressão equivalente que caiba ao contexto.
Em geral, pode-se dizer que todas as versões utilizaram o método de tradução
literal a maior parte do tempo, e não o contextual, que é o mais recomendado e aceito
pelas empresas que contratam os serviços de tradutores profissionais, pois elas
necessitam que as traduções sejam claras e concisas, para que o seu público-alvo possa
entender mais facilmente.
Também é importante ressaltar que o tradutor deve se preocupar em reproduzir o
mesmo efeito do texto original, como explica Eco (2007, p. 92) ao afirmar que:

Muitos autores, em vez de equivalência de significado, falam de equivalência


funcional ou de skopos theory: uma tradução (sobretudo no caso de textos
com finalidade estética) deve produzir o mesmo efeito que o original visava.
Nesse caso fala-se de iguadade do valor de troca, que se torna uma entidade
negociável.

Assim, após esta breve análise textual, pôde-se confirmar o que anteriormente
foi discutido na teoria, que um bom profissional deve agregar não só qualidade,
agilidade e comprometimento, dentre outras competências, mas principalmente o
conhecimento técnico, lingüístico e cultural, evidenciando que não é qualquer pessoa
que pode se infiltrar pelos árduos caminhos da tradução.
Partir-se-á agora para a análise do questionário, o qual é composto de cinco
questões pertinentes à prática tradutória das duas participantes e a relação com a
profissão de cada uma.
Primeiramente, as participantes foram questionadas sobre o método utilizado
para a tradução do texto “The first Law of Thermodynamics”, a qual responderam
basicamente a mesma coisa. Primeiro fizeram uma leitura prévia do texto para se
familiarizar com seu conteúdo e linguagem e depois foram traduzindo cada parágrafo a
partir do próprio conhecimento e também com o auxílio de dicionários. Como o texto
não é tão complicado e não apresenta um grande número de termos técnicos, não houve
a necessidade de utilizar um programa de computador. A secretária executiva ainda
acrescentou que sua experiência no ramo da indústria facilitou seu trabalho.
60

A segunda questão dizia respeito à frequência com que cada uma realiza
traduções. Assim, a secretária respondeu que faz praticamente todos os dias, devido às
atribuições referentes ao cargo (Staff Diretoria) e que os textos mais solicitados são: e-
mails referentes a obras, contatos com clientes, documentos e contratos bancários,
“invoices”, ordens de compra, expressões em projetos de engenharia e cartas comerciais
dos executivos, ou seja, suas traduções são mais casuais, de cunho profissional e,
portanto, não tão exigente quanto a tradução técnica que prima pelo uso de recursos
mais aperfeiçoados, sendo mais complexa e difícil.
A professora de línguas também disse que as faz frequentemente, mas que estas
se resumem a materiais didáticos, textos utilizados em aula.
Quando questionadas se já fizeram algum curso de tradução, ambas afirmaram
que nunca fizeram nenhum curso específico na área, apenas curso de idiomas, e que
somente a experiência do dia-a-dia, nas aulas de inglês (professora) e na prática do
“listening” quando da presença de estrangeiros na empresa (secretária), as fez
desenvolver a habilidade.
Perguntou-se também sobre a utilização de algum software para tradução técnica
e, mais uma vez, a resposta de que nenhuma utiliza programas específicos e também
não sabem como operá-los, pois acreditam que a tradução feita por softwares nem
sempre confere com a realidade do que se quer expressar. Apenas procuram em
dicionários técnicos algumas palavras que não conhecem. Segundo a secretária
executiva, sua obrigação é passar a idéia principal, assim, ela traduz da melhor maneira
possível e depois o lê junto com a área solicitante para ver se fecha com a realidade.
Porém, um bom programa de computador com listas de palavras e memórias de
tradução como o Trados seria ideal para evitar confusões ou diferentes traduções e até
para agilizar o processo.
A última pergunta foi direcionada à área de atuação das entrevistadas.
Sendo assim, questionou-se a secretária sua opinião com relação à atuação do
secretário executivo como tradutor e se ele tem a preparação e a formação necessária
para atuar nesse campo, ou há a necessidade de um curso específico. Desta forma, a
secretária opinou que somente o curso de secretariado não é suficiente, justificando que
o curso é muito amplo e mostra apenas direções. Ela afirma que há necessidade de
aprimoramento e sugere que se faça um curso paralelo de idiomas e mais tarde um curso
específico de tradução, e assegura que aliar o conhecimento teórico com a prática no
ambiente de trabalho é um método eficaz.
61

Por meio deste breve questionário, portanto, pôde-se comprovar que uma
tradução eficaz se realiza por meio de um conjunto de fatores, como, formação em uma
área afim, conhecimento aprofundado da língua fonte e da língua de destino,
conhecimento e aprimoramento constante das técnicas de tradução - através de cursos
específicos e da utilização de softwares de alta tecnologia – e acima de tudo, prática,
pois é a cada processo que se ampliam os conhecimentos e se aprimoram as técnicas.

5 Considerações finais

Através do presente artigo, pôde-se identificar e analisar os aspectos contextuais


e culturais da tradução, bem como as dificuldades enfrentadas pelo profissional de
secretariado executivo bilíngüe no que diz respeito à compreensão e tradução de textos
de cunho técnico, dando ênfase à necessidade de possuir um diferencial para se destacar
no mercado de trabalho, que está se tornando cada vez mais competitivo devido à
grande procura por profissionais competentes, perceptivos, capacitados e dotados de
aptidões variadas, capazes de se adaptar às exigências do mercado.
Sendo assim, as análises da tradução do texto e do questionário possibilitaram a
comprovação da teoria, discutida anteriormente, mostrando que a tradução de um texto
técnico não é de maneira alguma simples como a maioria pensa, e que não é qualquer
pessoa que tem a capacidade de fazê-la de forma eficaz, ou seja, para uma tradução
casual precisa-se reunir os requisitos básicos que são o conhecimento da língua materna
e da língua fonte, e suas regras de gramática, porém, para se fazer uma tradução de nível
técnico é necessário muito mais do que isso, por ela ser mais complexa e exigir outras
habilidades do profissional, além do uso de recursos mais aperfeiçoados.
Através deste estudo pode-se dizer que o profissional de Secretariado deve
preocupar-se constantemente com a busca pela atualização e qualificação, a fim de
atender as tendências e influências no ramo da tradução, pois é necessário, além de
conhecimentos técnicos sobre a área em questão, a ciência da língua fonte e da língua de
destino, a noção da cultura para a qual vai traduzir, o desenvolvimento de técnicas de
tradução, o domínio de tecnologias – como softwares de tradução técnica -, o uso de
boas fontes de pesquisa, entre outras competências, além da percepção de que cada
tradução é única e, portanto, exige do tradutor a capacidade de discernir qual o melhor
método que deve ser empregado de modo a possibilitar a transferência do material
62

textual de uma língua para outra, confrontando áreas específicas de duas línguas e
culturas distintas.

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64

UM ESTUDO SOBRE O ASSÉDIO MORAL NO TRABALHO


para o Profissional de Secretariado

Cibelle da Silva Santiago9


Maria Luzitana Conceição dos Santos10

Resumo: Esse artigo trata sobre o assédio moral no trabalho voltado para o profissional
de secretariado, o qual vem elevar sua importância para o estudo, devido a uma análise
feita, objetivando a verificação dos motivos, pelos quais esse profissional tem para se
submeter a este crime, e se há alguma punição para o agressor. O objetivo desta
pesquisa é verificar se o profissional sabe identificar as ações de Assédio Moral, assim
como expandir informações sobre os danos causados às vítimas deste crime. O assédio
moral pode ser considerado como crime, por que o comportamento do agressor está
referenciado no artigo 483 da Consolidação das Leis Trabalhistas (doravante, CLT,
2009), de forma que ele tem sido imperativo nas organizações, pois as informações
explicativas sobre essa variância no comportamento, tanto do agressor quanto do
profissional de secretariado, estão sendo cada vez mais restritas. Essa restrição faz com
que a empresa, que visa apenas a sua lucratividade, não perca a relação empresa –
empregado, não viabilizando nenhuma ação que possa expandir esse tipo de situação no
âmbito corporativo. O empregador por sua vez, não quer se expor a sociedade
corporativa como vítima desse crime, por isso se omite enfrentando problemas sociais,
psicológicos, físicos e familiares, a fim de manter o seu emprego. Sendo assim, foram
levantadas as conseqüências sofridas pelo profissional de secretariado, assim como a
argumentação pela importância de uma revisão no Código de Ética de Secretariado,
objetivando maior assistência a este profissional, perante este crime.

Palavras-chave: Assédio Moral. Profissional de Secretariado. Mundo do Trabalho.

1 Introdução

A sociedade vem sofrendo mudanças. O fenômeno de incorporação de novos


costumes, culturas, padrões, valores e princípios morais têm, com dinamicidade, gerado
uma sociedade de risco. Os riscos dessa sociedade turbulenta têm crescido tanto, que já
é normal gravidez na adolescência, analfabetismo, evasão escolar, expansão imperativa
do uso de drogas, aumento do desemprego, corrupção na política etc. Em meio a tantas
variações nos padrões de comportamento para manter o bem – estar social é que a ética
tem sido banalizada, por causa da busca insaciável do ser humano em suprir interesses e

9
Graduanda em Secretariado Executivo pela Universidade Federal de Pernambuco. Contato:
santiago.cibelle@gmail.com.
10
Professora Orientadora. Mestranda em Gestão do Desenvolvimento Local Sustentável. Especialista
em Gestão da Qualidade e Produtividade e em Docência do Ensino Superior. Bacharel em
Secretariado Executivo. Gerente de Recursos Humanos da Escola Politécnica - Universidade de
Pernambuco. Contato: luzdosol.pe@gmail.com
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necessidades. Perante esses interesses está à sociedade que tem se ajustado ao mercado
de trabalho conforme os preceitos que ele mesmo tem citado. A mercadologia
profissional é uma relação explícita entre indivíduos e empresa, onde cada um defende
um interesse próprio. Por causa da globalização, a empresa tem adotado o sistema de
planejamento estratégico para alcançar seus próprios interesses. Planejamento
estratégico é o conjunto de atividades necessárias para determinar metas, gerenciando os
meios disponíveis de uma empresa para manter ou melhorar posições relativas, no que
tange a potenciais favoráveis, e futuras ações para o mercado de trabalho. Sendo assim,
o funcionário visando garantir sua permanência na empresa, se submete a uma longa
jornada de trabalho a fim alcançarem as metas estabelecidas. Essa busca de resultados
tem sido avaliada devido à inserção de um novo indivíduo no mercado de trabalho, pois
o novo trabalhador tem sido formado para ultrapassar metas e quebrar paradigmas, que
por sua vez tem gerado uma constante opressão no ambiente de trabalho, pois os
resultados favoráveis à empresa nem sempre são recompensador ao empregado.
Essa opressão faz com que muitos funcionários prezem pelo seu emprego,
passando a cursar um ensino superior e elevando o seu nível de formação, pois o
mercado de trabalho é competitivo e a maioria das oportunidades está para pessoas que
se profissionalizam a cada dia. As conseqüências dessa opressão repercutem na vida
cotidiana do trabalhador com sérias interferências na sua qualidade de vida, gerando
desajustes sociais e transtornos psicológicos. É nesse contexto que surge o Assédio
Moral no trabalho, ou seja, um conjunto de comportamentos abusivos (gestos, palavras
e atitudes), os quais, por sua reiteração, ocasionam lesões a integridade física ou
psíquica de uma pessoa, com a degradação do ambiente de trabalho.
O Assédio Moral no trabalho tem estado presente nas organizações devido à
inexistência de uma lei específica. A CLT (ANGHER, 2009) possui apenas projetos de
leis ou leis que, em sua especificidade perante o comportamento dos indivíduos
envolvidos, são levados em consideração para repressão do agressor. As mulheres estão
mais expostas ao assédio moral que os homens, pois é importante ressaltar que na
maioria das vezes, o assédio moral começa com o assédio sexual, conforme a psicóloga
do trabalho, Barreto (2000). Ela ainda diz que todo assédio moral é discriminatório e,
com atos de humilhação, intencionalidade e direcionalidade constantes e repetitivos, o
opressor coage o funcionário quanto aos resultados esperados.
O curso de secretariado da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) é
composto de 518 alunos, sendo 491 mulheres e 27 homens, conforme dados cedidos
66

pela coordenação do curso de secretariado, referente à última entrada do ano 2007.


Dessa forma é que percebemos a probabilidade de maior incidência desse crime para
este profissional, pois temos o conhecimento de abrangência por parte desse gênero.
Desde então é que ratificamos o profissional de secretariado como umas das vítimas
mais propícias, pois como já foi abordado pela psicóloga do trabalho Barreto (2000), o
assédio moral em algumas situações vem depois do assédio sexual, onde para esta
última situação está a mulher, uma espécie mais vulnerável a esse tipo atitude.
Esse artigo traz relevância às atitudes da vítima e mudanças no seu
comportamento. Justifica-se a fomentação deste estudo, a busca por quais motivos esses
funcionários se submetem a tal violência, quase sempre configurada na desinformação
sobre essa temática, sobre as formas de identificação da configuração do assédio ou no
medo de perder o emprego. Hipotetiza-se que o medo do desemprego, um dos
fenômenos do mundo do trabalho, é uma das causas para a construção de um quadro
silencioso ante ao assédio moral. Segundo um levantamento feito pela Coordenação de
Seguridade Social e Benefícios do Servidor Público, em 2004, diz que pelo menos 33%
dos servidores públicos federais relataram casos de Assédio Moral. (SINDICATO
NACIONAL DOS FUNCIONÁRIOS DO BANCO CENTRAL - SINAL, N° 21)
Outra situação seria a dificuldade em efetivar a comprovação do assédio moral,
que acontece em setores de diversos seguimentos seja no mundo do trabalho, seja no
âmbito da economia. Esse dado é uma amostra para ser analisado o quanto que esse
crime, que está especificado na lei 1163/2000, tem crescido, pois 33 % dos servidores
públicos são assediados. Mediante a essa situação é que surge uma indagação: Por que
os profissionais de secretariado, com alto nível de formação, permanecem como
atores passivos diante do Assédio Moral?

2 Referencial Teórico

2.1 Conceito, Causa e Efeito do Assédio Moral

O assédio moral, também conhecido como hostilização no trabalho, ou assédio


psicológico no trabalho, ou também, ainda, como psicoterror, mobbing, bullying ou
harcèlement moral. Não é um fenômeno novo, sendo tão antigo quanto o próprio
trabalho, podendo ser conceituado como: uma conduta abusiva (gestos, palavras,
comportamentos, atitudes.) que atente, por sua repetição ou sistematização, contra a
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dignidade ou integridade psíquica ou física de uma pessoa, pondo em perigo sua


posição de trabalho ou deteriorando o ambiente de trabalho.
No mundo do trabalho, mobbing significa:

Todos aqueles atos e comportamentos provindos do patrão, gerente, superior


hierárquico ou dos colegas, que traduzem uma atitude de contínua e
ostensiva perseguição que possa acarretar danos relevantes às condições
físicas, psíquicas e morais da vítima. (GUEDES, 2003, p. 33).

Apesar disso, o referido fenômeno vinha sendo tratado e confundido com


outros problemas do mundo do trabalho como estresse ou conflito natural entre colegas
e agressões pontuais, o que sempre prejudicou a caracterização e prevenção. Segundo
Hirigoyen (2002, p.17)

O assédio moral no trabalho é definido como qualquer conduta abusiva


[gesto, palavra, comportamento, atitude...] que atente, por sua repetição,
contra a dignidade ou integridade psíquica ou física de uma pessoa,
ameaçando seu emprego ou degradando o clima de trabalho.

Nos casos em que se caracteriza o assédio moral, identifica-se o propósito de


demonstrar à vítima que se trata efetivamente de uma perseguição, de terror psicológico,
com o objetivo de destruí-la. As atitudes do assediador são sempre temidas, fortificada
em face das dificuldades de se obter e de se manter em um emprego, em que a
globalização cada vez mais reduz postos de trabalho, aumentando com expressivamente
o desemprego e criando toda sorte de incertezas. Enfatiza-se já conhecido fenômeno de
exposição dos trabalhadores e em geral a situações humilhantes e constrangedoras,
repetitivas e prolongadas vezes durante a jornada de trabalho e no exercício das funções
profissionais. O assédio moral decorre de um desvio no exercício do poder nas relações
de trabalho, que visa criar ao trabalhador um ambiente hostil, desestabilizando o
trabalhador que, hostilizado e com medo do desemprego, o torna dócil e menos
reivindicativo.
Como diz Lydia Ramirez (2002), Secretária da Diretoria Nacional da
Sociedade Cubana de Direito do Trabalho e Seguridade Social, em geral, a pessoa
assediada é escolhida porque tem características pessoais que perturbam os interesses do
elemento assediador, com ganância de poder, dinheiro ou outro atributo ao qual lhe
resulta inconveniente o trabalhador ou trabalhadora, por suas habilidades, destreza,
conhecimento, desempenho e exemplo, ou simplesmente, quando estamos em presença
de um desajustado sexual ou psíquico. Ela prossegue sua observação assinalando como
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causas do assédio moral, entre outras, as deficiências na organização do trabalho, a (des)


informação interna e a gestão, assim como os problemas de organização prolongados e
não resolvidos, que são um entrave para os grupos de trabalho e podem desembocar em
uma busca de bodes expiatórios. (RAMIREZ, 2002).
Para nosso entender, nas condições de uma economia submetida às influências
do neoliberalismo, não se pode deixar de notar a precariedade de emprego, a
flexibilização das relações de trabalho, o ritmo pressionante da economia, o interesse
por reduzir os custos de trabalho, a existência do desemprego, as manifestações da
terceirização, o crescimento do setor informal, a migração continuada, a fuga ou o roubo
de cérebros, a tendência à contratação por tempo determinado verso à estabilidade do
trabalho, a desregulação a favor da desproteção de determinadas camadas e setores
populacionais aos quais poderiam se mencionar como causas certas da tendência ao
crescimento do assédio moral. Não obstante, pensa-se que ainda frente aos altos índices
de pobreza, falta de serviços e recursos básicos, de desemprego e subemprego que afeta
a todos os países e muito mais os países em via de desenvolvimento e as difíceis
condições de trabalho na indústria e no campo que ainda continuam latentes, o trabalho
deve valorar-se em sua dimensão de auto-realização e dignidade da pessoa humana. Em
uma empresa orientada para o mercado, requer-se uma competitividade empresarial
superior para poder sobreviver à pressão da economia. Por isso, o empregador buscará
os melhores talentos, assim como o pessoal mais dócil, manejável, capaz de assumir
funções sem protestar e, tratará de libertar-se dos que já não são convenientes.
O desabrochar do individualismo reafirma o perfil do novo trabalhador:
autônomo, flexível, capaz, competitivo, criativo, qualificado e empregável. Estas
habilidades o qualificam para a demanda do mercado. Estar apto significa
responsabilizar os trabalhadores pela formação/qualificação e culpabilizá-los pelo
desemprego, aumento da pobreza urbana e miséria, desfocando a realidade e impondo
aos trabalhadores um sofrimento perverso. A humilhação repetitiva e de longa duração,
interfere na vida do assediado de modo direto, comprometendo sua identidade,
dignidade e relações afetivas e sociais, ocasionando graves danos à saúde física e
mental, que podem evoluir para a incapacidade laborativa, desemprego ou mesmo a
morte, constituindo um risco invisível, porém concreto, nas relações de condições de
trabalho.
69

2.2 Tipologia e características do assédio moral mais comum ao profissional de


secretariado

O assédio moral tem atingido várias corporações, de forma que em quase todos
os níveis hierárquicos pode haver vítimas. Segundo Guedes (2003), há vários tipos de
assédio moral no trabalho, entretanto apenas três apresentam relevância à discussão em
tela, quais sejam: Ascendente, Horizontal, Descendente.
Configura-se assédio ascendente quando “um colega é promovido sem a
consulta dos demais, ou quando a promoção implica um cargo de chefia cujas funções
os subordinados supõem que o promovido não possui méritos para desempenhar”
(Guedes, 2003, p.37). Essa situação é agravada ainda mais quando a comunicação não é
eficaz entre superiores e subordinados. Já no tipo horizontal a ação discriminatória é
“desencadeada pelos próprios colegas de idêntico grau na escala hierárquica. Os fatores
responsáveis por esse tipo de perversão moral são a competição, a preferência pessoal
do chefe porventura gozada pela vítima, a inveja, o racismo, a xenofobia e motivos
políticos” (Guedes, 2003, p.36). A tipologia descendente é quando “a violência
psicológica é perpetrada por um superior hierárquico [...] pode este contar com a
cumplicidade dos colegas de trabalho da vítima e através destes a violência pode ser
desencadeada. [...] o grupo tende a se alinhar com o perverso, creditando à vítima a
responsabilidade pelos maus-tratos.” (Guedes, 2003, p.36).
Com base em pesquisa realizada na França, Hirigoyen (2005) demonstrou que
58% dos casos de assédio moral vêm da hierarquia, ou seja, são “assédios verticais
descendentes”. Em 29% dos casos, eles decorrem de colegas e chefias imediatas e 12%
constituem casos de assédio de colegas. Apenas 1% dos assédios são provenientes de
subordinados.
O profissional de secretariado, por ser um profissional que esta altamente em
ligação ao seu chefe, por interligar setores, departamentos, e em algumas empresas,
coordenar os seus tipos de atividades, torna-se um profissional mais vulnerável a esse
tipo de comportamento, podendo ser vítima dos três tipos de assédio conceituados.
É importante ressaltar que a situação mais conivente é o assédio descendente,
pois as muitas tarefas executadas por este profissional, na maioria das vezes, são
ordenadas de um superior. É nesse momento em que se observam atos de humilhação,
de sobre carga de atividades, de aumento exploratório de outras atividades, rejeição etc.
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Assim, conforme Barreto (2000, p.4) percebe-se que o assédio moral


caracteriza-se pela degradação deliberada das condições de trabalho em que prevalecem
atitudes e condutas negativas dos chefes em relação a seus subordinados, constituindo
uma experiência subjetiva que acarreta prejuízos práticos e emocionais para o
trabalhador e a organização.
No caso do profissional de secretariado, este começa a ser isolado do grupo
sem explicações, passando a ser hostilizado, ridicularizado, inferiorizado, culpabilizado
e desacreditado diante dos pares. Estes, por medo do desemprego e a vergonha de serem
também humilhados associado ao estímulo constante à competitividade, rompem os
laços afetivos com a vítima e, freqüentemente, reproduzem e reutilizam ações e atos do
agressor no ambiente de trabalho, instaurando o pacto da tolerância e do silêncio no
coletivo, enquanto a vítima vai gradativamente se desestabilizando e fragilizando,
perdendo sua auto-estima.
O processo que desencadeia o assédio moral pode levar à total alienação do
indivíduo do mundo social que o cerca, julgando-se inútil e sem forças e levando até ao
suicídio. Levando isso em conta, a não configuração do assédio moral pela ausência do
dano psíquico não exime o agressor da devida punição, pois a conduta será considerada
como lesão à personalidade do indivíduo, ensejando o dever de indenizar o dano moral
daí advindo.

3 Projetos de lei relacionados ao assédio moral

Muitos são os projetos de lei em trâmite no Brasil, com a finalidade de reprimir


a prática de assédio moral. Existem projetos em âmbito municipal, estadual e federal, os
quais objetivam ser introduzidos no Código Penal Brasileiro, com pena de detenção e
multa àquele que se enquadrar nessa prática abusiva. A primeira cidade brasileira a
aprovar lei nesse sentido foi Iracemápolis (SP), regulamentada em abril de 2001.
Merece destaque a Lei n.º 13.288, sancionada no município de São Paulo, em 10 de
janeiro de 2002 (GONÇALVES JÚNIOR, 2003), pela então Prefeita Marta Suplicy, já
havendo posicionamentos no sentido de admitir sua aplicação subsidiária ao Direito do
Trabalho. Sendo assim essa lei municipal conceitua o assédio moral assim:

Para fins do disposto nesta lei, considera-se assédio moral todo tipo de ação,
gesto ou palavra que atinja, pela repetição, a auto-estima e a segurança de
um indivíduo, fazendo-o duvidar de si e de sua competência, implicando em
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dano ao ambiente de trabalho, à evolução da carreira profissional ou à


estabilidade do vínculo empregatício do funcionário, tais como: marcar
tarefas com prazos impossíveis; passar alguém de uma área de
responsabilidade para funções triviais; tomar crédito de idéias dos outros;
ignorar ou excluir um funcionário só se dirigindo a ele através de terceiros;
sonegar informações de forma insistente; espalhar rumores maliciosos;
criticar com persistência; subestimar esforços (artigo 1º, parágrafo único,
Lei n.º 13.288/02).

Segundo a advogada trabalhista Sônia Nascimento (2004), a reação do


empregado contra chefes tiranos pode começar dentro da própria empresa. As situações
previstas no artigo 483 da CLT (ANGHER, 2009) correspondem às condutas que se
configuram em assédio moral. Entre elas, está a exigência de serviços muito superiores
às suas possibilidades (alínea “a”), o rigor excessivo (alínea “b”), atos lesivos de honra e
boa fama (alínea “e”), e a redução do trabalho com diminuição da remuneração (alínea
“g”).

Art. 483 da CLT:


a) forem exigidos serviços superiores às suas forças, defesos por lei,
contrários aos bons costumes, ou alheios ao contrato;
b) for tratado pelo empregador ou por seus superiores hierárquicos com rigor
excessivo;
e) praticar o empregador ou seus prepostos, contra ele ou pessoas de sua
família, ato lesivo da honra e boa fama;
g) o empregador reduzir o seu trabalho, sendo este por peça ou tarefa, de
forma a afetar sensivelmente a importância dos salários. (ANGHER, 2009,
p.769)

Até meados da década de 80 eram poucos os países que haviam adotado


normas específicas sobre o assédio moral. Não obstante ainda há poucos instrumentos
internacionais que abordem especificamente o assédio e hostilização sexual em escala
internacional, como a Recomendação Geral de 1992, adotada no marco da Convenção
das Nações Unidas sobre a Eliminação da Discriminação contra a Mulher.
Sendo cada vez mais freqüente, o assédio moral nos locais de trabalho, requer-
se adotar a legislação correspondente para que as vítimas possam denunciar os fatos na
segurança de que haverá uma sanção, não se vendo na obrigação de encobrir os
assediadores com desculpas.
Amparado pelo artigo 483 da CLT (ANGHER, 2009), o empregado poderá
rescindir o contrato e pedir indenização por danos morais. De acordo com Nascimento
(2004) o juiz vai decidir o valor da indenização a partir da intensidade do assédio e do
poder aquisitivo do funcionário e de seu chefe. O funcionário deve apresentar o maior
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número possível de evidências que comprovem o assédio, como a utilização de


testemunhas e documentos. Ainda segundo Nascimento (2004), será muito útil no
processo o depoimento de pessoas que presenciaram momentos em que, por exemplo, o
chefe grita com o empregado, além disso, qualquer bilhete ou e-mail ameaçador pode
ser decisivo no tribunal.
Sendo assim, a CLT (ANGHER, 2009) desde 1.943, prevê como motivo de
rescisão indireta (hipótese de rescisão de iniciativa do empregado por culpa do
empregador), que podem ser invocados para respaldar eventual ação de indenização por
assédio moral, duas hipóteses de falta grave do empregador: quando forem exigidos
serviços superiores às forças do empregado, defesos por lei, contrários aos bons
costumes, ou alheios ao contrato (artigo 483, alínea “a”), e quando o empregado for
tratado pelo empregador ou por seus superiores com rigor excessivo (artigo 483, alínea
“b”).
Como decorrência do entendimento dessa necessidade, existe em processo no
Congresso Nacional, diversos projetos de lei que prevêem punições que vão de
advertências à demissão do agressor, chegando a penalizar a empresa solidária com esse
tipo de pratica com pesadas multas a título de indenização por danos morais, mediante
sua normatização reguladora para eximir as práticas de assédio moral.
Dentre vários projetos, cita-se: 1) Projeto de lei federal de reforma do Código
Penal, sobre assédio moral, de iniciativa de Marcos de Jesus, Deputado Federal pelo PL
– PE; 2) Projeto de lei sobre assédio moral, de iniciativa de Rita Camata, Deputada
Federal pelo PMDB – ES; 3) Projeto de lei federal de reforma do Código Penal, sobre
coação moral, de coordenação do Deputado Federal Inácio Arruda, PCdoB – CE.
(RAMIREZ, 2002).
Além de registrar as informações sobre a base legal que vem sendo constituída
acerca da temática, entende-se como oportuno registrar algumas informações estatísticas
no sentido de perceber o assunto sob olhares distintos das áreas de conhecimento, o que
se pode ver em seguida.

4 Informações estatísticas de assédio moral

Um estudo realizado pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) e a


Organização Mundial de Saúde (OMS) mostra que as perspectivas para os próximos
vinte anos são alertantes no que tange ao impacto psicológico nos trabalhadores das
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novas políticas de gestão na organização do trabalho, vinculadas às políticas neoliberais.


Segundo tal pesquisa, predominará nas relações de trabalho as depressões, o estresse,
angústias, desajustes familiares e outros danos psíquicos, denotando o dano ao meio
ambiente laboral. (NASCIMENTO, 2004).
A OIT ainda detectou a grave situação em que se encontram os milhares de
trabalhadores que sofreram esse ataque perverso do assédio moral. Estudos realizados
na União Européia explicitam que 8% (oito por cento) dos trabalhadores, o que
corresponde a 12 milhões de pessoas, convivem com o tratamento tirânico de seus
chefes. Este foi o mesmo percentual encontrado por um estudo patrocinado pela União
Européia em 1996, baseado em 15.800 entrevistas realizadas nos 15 Estados-Membros,
que segundo Nascimento (2004) revelam que:
-4% dos trabalhadores (6 milhões) foram vítimas de violências físicas no ano anterior;
-2% (3 milhões) foram vítimas de assédio sexual;
-8% (12 milhões) tinham sido vítimas de "atos de intimidação e de trotes.
Estima-se que entre 10% (dez por cento) e 15% (quinze por cento) dos
suicídios na Suécia sejam decorrentes desse comportamento abusivo. Conforme
relatado em matéria jornalística, na Folha de São Paulo (01/07/2001), no Brasil o tema é
ainda pouco discutido, mas os números também assustam.
Estudo feito em com 97 empresas de São Paulo (setores químico, plástico e
cosmético) mostra que, dos 2.072 entrevistados, 870 deles (42%) apresentam histórias
de humilhação no trabalho. Já o estudo realizado pela médica Barreto (2000),
pesquisadora da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo) mostra que as
mulheres são as maiores vítimas - 65% das entrevistadas têm histórias de humilhação,
contra 29 % dos homens. (FOLHA DE SÃO PAULO, CADERNO DE EMPREGOS,
2001).
Por fim, em pesquisa realizada no Brasil com um universo de 4.718
profissionais ouvidos em todo o território, 68% deles afirmaram sofrer algum tipo de
humilhação várias vezes por semana, sendo que a maioria dos entrevistados (66%) disse
ter sido intimidado por seus respectivos superiores. (FOLHA DE SÃO PAULO,
CADERNO DE EMPREGOS, 2001).

5. Direito, moral e ética: uma breve reflexão conceptual


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Para que se possa ter uma concepção do atual contexto histórico e jurídico que
envolve o assédio moral, deve-se perquirir a respeito do conceito de Direito. Parte-se do
estudo elaborado por Radbruch (2004) quando trata sobre Direito e Moral. Este autor
comenta que o conceito de Direito é um conceito cultural, de uma situação em que há
referência a valores cujo sentido é o de estar a serviço destes. Conclui, em seguida, que
o Direito é a realidade que tem o sentido de servir ao valor jurídico, à idéia do Direito.
Já em relação ao estudo sobre a moral, tem-se o seu significado como sendo
“atinente à conduta e, portanto, suscetível de avaliação moral, especialmente de seis
avaliações Moral positiva” (ABBAGNAMO, 2000, p. 682). Nesse conceito, ainda que,
não há o que se falar apenas de atitude moral para mencionar um ato moralmente
valorável, mas também de coisas positivamente valoráveis e, portanto, boas. A moral,
ao ser definida, não pode ser entendida como sinônimo de ética.
Radbruch (2004, p.66) aborda com propriedade, ao tratar da moral, que “só a
Moral pode fundamentar a força obrigatória do direito. Pode-se falar somente de normas
jurídicas, do dever de ser jurídico, de validade jurídica e de deveres jurídicos quando o
imperativo jurídico for abastecido pela própria consciência com a força de obrigação
moral”. Essas considerações são importantes ao tratar a questão do Assédio Moral,
justificando e definindo as partes que agem, sob impulso, prejudicando seu semelhante,
sob a égide de um cargo ou função, alegando uma “boa intenção”.
Segundo Moreira (1999) a ética nas profissões e organizações é considerada
um fator importantíssimo para a sobrevivência das mesmas, inclusive de pequenas e
grandes empresas. Estas vêm percebendo a necessidade de utilizar a ética, para que o
“público” tenha uma melhor visualização do seu “slogan”, que permitirá, ou não, um
crescimento da relação entre funcionários e clientes.
Desse modo, é relevante ter consciência de que toda a sociedade vai se
beneficiar através da ética aplicada dentro da empresa, bem como os clientes, os
fornecedores, os sócios, os funcionários, o governo etc. Se a empresa agir dentro dos
padrões éticos, só tende a crescer, desde a sua estrutura em si, como aqueles que a
compõem.
Seguindo este linha de raciocínio e reportando-se à profissão secretarial, vê-se
registrado no Código de Ética da referida profissão uma significativa abordagem a
questão da moral e ética, colocando os deveres fundamentais a serem seguidos pelo
citado profissional. Esta abordagem está referenciada no Art. 5°, do capítulo III, sendo
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claro onde diz (alínea “b”): b) direcionar seu comportamento profissional, sempre a bem
da verdade, da moral e da ética. (FENASSEC, 2008).
Ratifica-se que este código não possui nenhuma lei que acoberte ou proteja esse
profissional contra esse crime corporativo. Em abril de 2007 foi promulgado o Parecer
Nº 226/2007, que é um projeto de lei mais especifico para o Assédio Moral, dando
segurança para os funcionários que são abordados com esse tipo de violência
corporativa. O Sindicato das Secretárias do Estado de São Paulo (SINSESP) afirma que
30% de suas filiadas já foram assediadas no trabalho. Portanto é imprescindível que este
Código de Ética, em acordo com a CLT (ANGHER, 2009) seja reformulado, a fim de
que haja diminuição de casos de assédio moral nessa categoria profissional.

6 O primeiro caso de assédio moral – jurisprudência

O primeiro caso de assédio moral no trabalho foi na França, de uma pessoa em


que se colocou muita pressão no trabalho. Na realidade era assédio moral, mas, a
empresa dizia que somente estavam lhe pedindo para trabalhar muito mais. Este caso é
interessante por ser um caso que se tornou jurisprudência, ou seja, um caso levado à
justiça e julgado mesmo sem ter uma lei promulgada. (PEREIRA, 2004).
Era um senhor, um executivo comercial de uma empresa, o qual era um bom
funcionário que tinha bons resultados. Houve, então, uma mudança de superior
hierárquico: colocaram um jovem superior hierárquico recém-saído de uma Escola de
Comércio que quis colocar cada vez mais pressão. Ele não suportava este senhor porque
ele era mais velho, tinha 53 anos e passou então a vigiá-lo diariamente, a telefonar para
saber o que estava fazendo, a perguntar por tudo, a exigir que justificasse tudo, a
ridicularizá-lo porque era mais velho. Foi exigido dele objetivos cada vez mais
importantes a realizar e, ao mesmo tempo, seu "setor geográfico de atuação" e suas
possibilidades de trabalho foram limitadas.
Após algum tempo, enviaram uma primeira carta registrada dizendo que ele
não trabalhava o suficiente. Pouco tempo depois, enviaram uma segunda carta
registrada, dizendo que ele precisava produzir mais. Quando este senhor recebeu a
terceira carta registrada, ele deu um tiro na cabeça e se suicidou, no seu carro, indo para
o trabalho. Na terceira carta registrada ele escreveu: "O que vocês fizeram não é ético".
O que este senhor escreveu antes de morrer resume bem o que se pode pensar do
assédio moral. O assédio moral não é somente algo destruidor, mas moralmente é algo
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antiético. O que é interessante, no caso deste senhor que morreu, é que sua viúva deu
queixa antes que existisse alguma lei sobre o respectivo assunto. Ela procurou um
advogado para dar queixa e os advogados que ela consultava diziam que não era
possível, afirmando: "a senhora não terá ganho de causa porque esta situação não
existe na lei". Esta senhora insistiu e, finalmente, encontrou um advogado corajoso que
a acompanhou ao longo do processo judicial. O juiz retomou, então, todos os objetivos
que haviam sido exigidos deste senhor, analisou todas as situações de trabalho, o que
lhe era pedido para fazer e o que era possível de ser feito. O juiz constatou que o que era
exigido dele eram coisas absolutamente impossíveis de realizar. Este senhor estava
numa armadilha, não era possível fazer o que lhe era exigido e ele ficou tão
desestabilizado com a situação, que acabou se suicidando.

7 Metodologia

Partindo de uma leitura exploratória, seletiva e analítica no sentido de alcançar


os objetivos delineados, o presente artigo propôs-se ao desenvolvimento de uma
pesquisa explicativa, de natureza qualitativa, dada a utilização de referências para
explicar o Assédio Moral voltada para a perspectiva no mundo do trabalho do
profissional de secretariado.
Os levantamentos bibliográficos e documentais serviram como método de
procedimento para investigação acerca da temática abordada e coleta de dados, uma vez
que relatos já registrados foram localizados em publicações periódicas (jornais e
revistas) e em leituras correntes, além de outros impressos, utilizando-se para
localização das fontes bibliotecas e ambientes virtuais, como o site da Federação
Nacional de Secretários e Secretárias (FENASSEC), por exemplo, além de periódicos
da área secretarial.
O universo pesquisado dispõe nos limites de atuação do profissional de
secretariado, com enfoque nos relatos circundantes de uma secretária de uma empresa
privada em Salvador, na Bahia.

8 O caso de assédio moral de um profissional de secretariado


77

A história de Maria11, portadora de deficiência física em um dos braços, inicia-


se em julho de 2002, período em que começa a exercer atividades profissionais na
empresa Samba Refrigerantes, indústria de refrigerantes de Salvador (BA) O seu
ingresso naquela empresa deu-se por intermédio da Associação dos Portadores de
Deficiência da Bahia – ABADEF, na função de auxiliar - administrativo, lotada no setor
de produção. Nesse período, não manifestou nenhum tipo de ocorrência de maus-tratos
no ambiente do trabalho porque mantinha relações cordiais e respeitosas com seus
superiores. A partir de fevereiro de 2003, é transferida para o setor de vendas como
secretária, para o exercício de tarefas vinculadas ao gerente daquela área. O primeiro
contato com o novo superior é marcado por diálogos recheados de piadinhas e diretas
alusivas a sexo, como por exemplo: “se era do seu conhecimento o teste de
profundidade de vagina”; ouviu, ainda, que “a sua deficiência não estava no braço,
e sim na vagina, que era muito grande”, conforme depoimentos à Delegacia Regional
do Trabalho na Bahia e à Delegacia Especial de Atendimento à Mulher, em 28 de maio
e 08 de julho de 2003, respectivamente.
Apesar do estranhamento da conduta moral e ética do superior hierárquico,
Maria permaneceu por mais alguns meses exercendo suas funções naquela empresa,
onde presenciou outras atitudes discriminatórias, extensivas também a outros
empregados, inclusive aos vendedores externos. Esses colegas de trabalho eram
obrigados a se expor ao ridículo, como usar saia quando não atingia a cota de vendas
estabelecidas pela empresa, além de manusear um pênis de borracha oferecido pelo
chefe, gerente de vendas do setor, durante as reuniões matinais, conforme depoimento
de uma das testemunhas da Ação Civil Pública, em 13 de outubro de 2003. Segundo
Barreto (2000), esse tipo de constrangimento, utilizando os vendedores como platéia
tem um único objetivo: impor o controle a todos, manter a ordem no ambiente,
reafirmar a autoridade do agressor, manipular o medo e aumentar as vendas do
refrigerante. Tais atitudes, entretanto, revelam que há, na verdade, uma busca de poder
pelo agressor e o mascaramento da sua incompetência no trabalho, com resultados
operacionais obtidos, exclusivamente, sob pressão e ameaças.
Percebe-se que a prática de procedimentos humilhantes contra os empregados
era norma da empresa, representada por aquele gerente, que incorpora o papel de senhor
absoluto da situação, com visível abuso de poder e com uma visão microscópica do ser

11
O nome da pessoa entrevistada e da empresa é fictício, a fim de resguardar a identidade de ambos. A
localização de realização dos fatos é real.
78

humano trabalhador (TAYLOR, 1963). Percebe-se essa prática quando ele coloca a sua
secretária como prêmio para vendedores e compradores do refrigerante: “Você não
pega essa neguinha aí, não?”, dizia o chefe aos seus ouvintes, nos encontros diários no
setor de vendas. Maria afirma também ter sido apresentada como uma espécie de objeto
sexual para vendedores e compradores, conforme dados extraídos de entrevista
concedida ao jornal A Tarde, de 19 de dezembro de 2003. Além das ações descritas, a
empregada declara em entrevista ao jornal A Tarde, Caderno Cidades, de 20 de
dezembro de 2003, que “teve as nádegas queimadas com um isqueiro”, também pelo
mesmo agressor.
Outro episódio, responsável pela saída provisória de Maria daquela empresa,
demonstra a incontrolável ação de mando e desmando do seu chefe. Em abril de 2003, a
empregada foi trancada em uma sala com o gerente de vendas e mais outros quatro
homens, compradores do refrigerante, com o objetivo de servir de objeto sexual para o
grupo. As tentativas de abuso sexual ocorreram quando esse grupo a forçou a retirar
suas roupas, mesmo gritando “que não ia fazer aquilo”, conforme atesta em matéria
veiculada no jornal anteriormente citada. Quando tentou fugir daquela situação, ao abrir
a porta da sala levou uma queda, caindo embaixo da mesa do computador, causando-lhe
traumatismo no braço e na boca. As seqüelas físicas são confirmadas em laudo médico,
obrigando o seu afastamento por licença-saúde pelo período de cinco meses, originado
por “sinusite traumática de punho e mão esquerdos”, agravando a sua deficiência física,
registrado em Comunicação de Acidente de Trabalho (CAT), de 23 de abril do mesmo
ano. Tais fatos foram objetos de denúncia ao Departamento de Crimes Contra a Vida, da
Delegacia Especial de Atendimento à Mulher.
Quando retorna ao trabalho, em outubro de 2003, é demitida, apesar da
ilegalidade do ato, pois se tratava de afastamento por acidente no local de trabalho, com
garantia de 12h de permanência no emprego durante a fase de estabilidade, prevista em
legislação trabalhista pertinente. Maria justifica ter suportado esses atos de humilhação
da seguinte maneira: Não foi o medo da exposição, mas de perder o emprego, conforme
entrevista publicada no jornal A Tarde, de 20 de dezembro de 2003. Esta ação, segundo
Barreto (2000) e Hirigoyen (2001), tem o poder de paralisar o indivíduo deixando-o
frágil e transformando-o em presa fácil para gerentes de espécie admitida pela empresa
Samba Refrigerantes.
79

Diante da incontestável presença do assédio moral no presente caso, para sua


coibição, somos favoráveis ao entendimento descrito por Guedes (2003, p. 112):
“admite-se a inversão do ônus da prova, revertendo para o agressor o encargo de provar
a inexistência do assédio”.

9 Resultados empíricos

Foi realizada uma análise no Código de Ética do Profissional de Secretariado, no


que tange às especificidades do crime de Assédio Moral, onde não foi encontrada
nenhuma referência nesse instrumento profissional, o qual é uma ferramenta básica para
o direcionamento correto, tanto do profissional, quanto da empresa. A profissão de
secretariado foi reconhecida em lei federal desde o ano de 1985, onde em 1996, a
FENASSEC junto aos sindicatos filiados, articularam-se em prol de um movimento em
busca da criação do conselho regional e federal da profissão de secretariado. A
motivação em busca desse órgão deve-se ao fato ineficiente e com bastante desinteresse,
por parte das Delegacias Regionais do Trabalho (DRT) em garantir o cumprimento da
lei. Dessa forma, vê-se a necessidade de discussão e reavaliação sobre o Código de
Ética, englobando também a perspectiva do Assédio Moral, fato evidente nas relações
profissionais. (FENASSEC, 2008).
Com esse estudo, observou-se que o desemprego tem aumentado velozmente.
Segundo o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos
(DIEESE) em estudo realizado fevereiro (2008) houve um aumentou de 4% no número de
pessoas desempregadas no Grande Recife, comparado com janeiro de 2007. Ainda em
fevereiro, o índice de desemprego total chegou a atingir 20,9% da População
Economicamente Ativa (PEA) da região, segundo a mesma fonte, o desemprego total
em janeiro de 2009, registrado pela Pesquisa de Emprego e Desenvolvimento (PED) foi
de 20,1% (BARRETO, 2008).
Acredita-se que o aumento do desemprego tem feito com que as pessoas
trabalhem em situações constrangedoras de humilhação e exploração laboral. Indivíduos
de todas as faixas etárias e nível educacional têm se submetido a várias horas de
trabalho sem recompensas, à sobre carga de atividades, a deteriorização da capacidade
física e mental, pois muitas vezes são pais e mães que precisam sustentar seus filhos ou
são estudantes universitários que precisam custear seus estudos. As pessoas com o
primeiro grau incompleto e com apenas o ensino médio concluído lideram o ranking dos
80

desempregados. São 150,7 mil em cada categoria. Em seguida, vêm os que não
completaram o segundo grau — 35,3 mil — e os que só terminaram o primeiro grau,
com 32,7 mil. As pessoas que estão cursando uma faculdade ficam em quinto lugar,
com 14,2 mil, seguidas pelos que fizeram faculdade (10,6 mil) e pelos analfabetos (4,4
mil). (BARRETO, 2008).
Um estudo feito pela PED a maior taxa de desocupação é entre as mulheres,
sendo este gênero também significativo na atuação. Elas são 57% do total de
desempregados. Consideram-se desempregados para a PED, pessoas que não tem renda
há 30 dias. Em contrapartida, cabe ressaltar que o ingresso da mulher no mercado de
trabalho tem aumentado e que a profissão de secretariado tem estado presente em quase
todas as organizações. Conforme dados da Universidade Federal de Pernambuco no
período de outubro de 2007, o curso de Secretariado era composto de 94,80% de
mulheres e 5,20% dos homens, o que significa dizer que o nível educacional das
mulheres tem aumentado a fim terem um aumento na participação da sociedade
economicamente ativa. O aumento dessa participação, ainda não é suficiente para o
gênero feminino quer seja no aspecto competitivo na relação homem e mundo do
trabalho, quer seja na rendição dele como vítima desse crime (BARRETO, 2008).
Esse estudo foi realizado com a intenção de propagar as informações desse
crime, quanto ao seu surgimento e atuação nas empresas para os alunos, professores e
profissionais da referida profissão, pois segundo Hirigoyen (2002, p. 158):

Dentre as causas que geram a conduta assediante, podem mencionar


algumas como: deficiências na organização do trabalho, precariedade de
comunicação e informação interna, corrida pela competitividade e
lucratividade, ausência de uma política de relações humanas, rivalidade
dentro do setor, gerenciamento sob pressão para forçar a adaptação e a
produtividade, inveja, ciúmes, e até mesmo a perversidade inerente a
muitas pessoas.

Dessa forma, a psicóloga ainda diz que na maioria dos casos esses
profissionais não sabem identificar as ações de assédio moral. Eles acham que os seus
superiores estão apenas pedindo mais trabalho e produtividade. Nem sempre a prática
do assédio moral é de fácil comprovação, porquanto, na maioria das vezes, ocorre de
forma velada, dissimulada, visando a minar a auto-estima da vítima e a desestabilizá-la
emocionalmente. Esses comportamentos podem se camuflar em uma "brincadeira", mas
que tem o intuito de afetar o jeito de ser da vítima, ou de uma característica pessoal
e/ou familiar. De formas insinuantes de humilhação, essa caótica situação não
81

compreendida por todos, tem uma sutileza tornando cada vez mais impossível a defesa
do assediado, sob pena de ser visto como paranóico ou destemperado.
É importante ressaltar que, em meio a tantas camuflagens sobre o assédio
moral, podemos identificar uma grande quantidade de profissionais que não tem a
percepção seletiva deste tipo de atitude, o que faz com que eles achem que seja apenas
um pedido de muita lucratividade para a empresa. A falta de informação tem se tornado
um fator imperativo, pois a maioria das empresas tem se omitido perante as atitudes
opressoras de seus próprios funcionários, devido aos contratos trabalhistas e prestações
de serviços. Portanto, as empresas que são éticas e prezam pela sua imagem devem
avaliar os fatores psicossociais, identificar e determinar os problemas, admitir a
existência desses problemas, definir a violência moral, informar e sensibilizar o
conjunto dos funcionários acerca dos danos e agravos à saúde, em conseqüência do
assédio moral, informando ao empregador dos custos para a empresa; elaborar política
de relações humanas e éticas em atos; difundir o resultado das práticas preventivas para
o conjunto dos trabalhadores.
Essa pesquisa aborda os danos causados à saúde mental e psicológica, com a
finalidade de mostrar as suas consequências na vida social e familiar, para que o
profissional de secretariado possa se desvencilhar dessa situação. Sendo assim,
Hirigoyen (2002, p.159-182) ressalta bem os sintomas apresentados pelas vítimas de
assédio moral, os quais são os mais diversos e variam de acordo com a intensidade e a
duração da agressão, a saber:

Estresse, ansiedade, depressão, distúrbios psicossomáticos, que acontecem


sob a forma de emagrecimento intensa ou então rápida aumentos de peso,
distúrbios digestivos, distúrbios endocrinológicos, crises de hipertensão
arterial incontrolável, mesmo sob tratamento, indisposições, vertigens,
doenças da pele, dentre outras; estresse pós-traumático, desilusão, vergonha
e a humilhação, perda do sentido e modificações psíquicas.

As conseqüências de quem sofreu assédio moral não se limitam somente à


saúde psicofísica, mas, também, geram repercussões sociais e econômicas, por que a
vítima perde a confiança em si, tornando-se exageradamente desconfiada ou
simplesmente desmotivada, ficando incapaz de reunir as energias suficientes para
procurar um novo emprego.

10 Considerações finais
82

O assédio moral no âmbito corporativo passou a ser frequente e perceptível


quando as opressões físicas foram desaparecendo. No que se refere ao profissional de
secretariado, observa-se o envolvimento de aspectos como a cultura organizacional, que
influencia diretamente a atitude das pessoas que estão inseridas em um mesmo
ambiente. Se a cultura de uma organização não estiver sida baseada em princípios
éticos, ela poderá incorrer em casos de assédio moral.
O tema assédio moral é multidisciplinar. Engloba sociologia, direito,
psicologia, psiquiatria, cultura organizacional, ética e medicina do trabalho. O assédio
moral no trabalho é caracterizado por práticas de condutas agressivas, e em sua maioria
os agressores são pessoas com nível hierárquico superior ao das vítimas, e que usa de
maneira inadequada o seu “poder”, prejudicando seus subordinados e causando-lhes
danos à saúde física e mental.
A agressão moral ao profissional de secretariado dentro do seu ambiente de
trabalho prejudica as duas partes envolvidas, o lado da organização, que perde as
qualidades do funcionário, mediante as práticas inadequadas dos seus líderes; e o lado
da vítima, que passa a conviver com sintomas doentios. Para a empresa, a perda de
qualidade do funcionário implicará na diminuição considerável da produtividade,
causando elevado absenteísmo. Enquanto que se percebe falta na lucratividade, a vítima
apresenta um quadro psíquico em turbulência, devido às depressões, angústias,
humilhações etc. Para que esses atos criminosos sejam represados dentro da
organização, é necessário impor uma lei, porém essa lei ainda não existe na constituição
civil, nem trabalhista. Conforme estudo, os Profissionais de Secretariado tem recebido
ajuda apenas de algumas leis que, em referência ao comportamento do agressor, tem
sido considerado um crime, o qual está especificado na lei 483 da CLT (ANGHER,
2009, p.769). Essa foi a única que se pôde encontrar a favor deste profissional. No caso
relatado da empresa Samba Refrigerantes, compreende-se que o aumento do
desemprego e a falta de estabilidade profissional, seja um dos indicadores mais
enfáticos que fazem com que as vítimas subsistam às práticas de assédio moral, pois
sabem do compromisso que assumiram economicamente e socialmente. A referida
vítima teve o seu caso explícito neste artigo, devido a sua posição profissional, onde faz
referência à profissão de Secretariado.
Sendo assim, por ser a temática de vasta amplitude, entende-se por oportuno
dar continuidade a futuras pesquisas, a serem realizadas no âmbito organizacional para a
profissão de secretariado, a fim de que sua função estratégica dentro da empresa seja
83

percebida como um funcionário disseminador de ações contra a prática de assédio


moral.
Dessa forma, é necessário que o profissional de secretariado, juntamente a
FENASSEC, mobilize-se objetivando a implementação de uma lei contra os
assediadores no Código de Ética do Profissional de Secretariado.

Referências

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TAYLOR, Frederick W. Princípios de Administração Científica. 5 ed. São Paulo. Atlas,


1963.
85

GESTÃO DOCUMENTAL:
aplicação da Tabela de Temporalidade de Documentos (TTD)12

Luiza Wioppiold Vitalis13


Leonardo José Andriolo14

Resumo: A Tabela de Temporalidade Documental (TTD) é uma ferramenta da Gestão


Documental, que faz parte da Gestão por Processos, sendo fundamental para a execução
das rotinas da empresa, através do mapeamento de suas atividades, contribuindo para
que sejam alcançados os objetivos da organização. Através da TTD é possível verificar
os documentos gerados e quais deverão ser guardados em meio físico (folhas
arquivadas) e/ou em meio eletrônico (digitalização). A tecnologia da informação nesse
momento ganha espaço com o Gerenciamento Eletrônico de Documentos (GED) e os
softwares específicos para digitalização. Nesse sentido, este trabalho tem por objetivo
aplicar e propor melhorias à Tabela de Temporalidade de Documentos em um ambiente
secretarial de uma organização. Para o desenvolvimento do trabalho e aplicação dessa
proposta, foi escolhido um setor de uma instituição de ensino superior. O trabalho foi
baseado em uma metodologia específica para desenvolvimento e aplicação de Tabela de
Temporalidade Documental (TTD), proposta por Paula (1995). Dos resultados
encontrados, destacou-se a agilidade e praticidade na busca pela informação dos
usuários do setor; eliminação de documentos e pastas desnecessárias, o que só foi
possível com a aplicação da TTD nos processos que o setor executa, melhorando a
organização do espaço físico. Pretende-se, com os resultados alcançados, implantar
futuramente o GED, aproveitando todos os benefícios que as tabelas de temporalidade
documental proporcionam, assim como a constante melhoria do processo de
arquivamento.

Palavras-chave: Tabela de Temporalidade Documental. Gestão Documental.


Gerenciamento Eletrônico de Documentos.

1. Introdução

A implementação da Tabela de Temporalidade de Documentos (TTD) tem sua


relevância em determinar o prazo de guarda dos documentos. É através da utilização da
TTD que são definidos os prazos de permanência dos documentos no arquivo corrente,
o momento de passá-los ao arquivo intermediário e quais, ao passar ao arquivo
permanente, deverão ser digitalizados e/ou guardados, ou descartados.

12
Artigo baseado no Relatório de Estágio apresentado na disciplina de Estágio em Secretariado II, do
Curso de Secretariado Executivo – UNISC. Orientador: Prof. Ms. Leonardo José Andriolo.
13
Formanda 2009/2 do Curso de Secretariado Executivo da Universidade de Santa Cruz do Sul.
Secretária do Programa de Pós-Graduação em Letras – UNISC. Contato: luyzzaw@yahoo.com.br /
luizaw@unisc.br.
14
Mestre em Administração pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS. Contato:
landriol@unisc.br
86

A Tabela de Temporalidade dos Documentos (TTD) é uma ferramenta da Gestão


Documental, que por sua vez faz parte da Gestão por Processos, sendo fundamental para
a execução das rotinas da empresa, através do mapeamento de suas atividades,
alcançando os objetivos da organização. Este estudo tem como tema a aplicação da
Tabela de Temporalidade Documental (TTD) e os benefícios que essa ferramenta pode
trazer para a organização dos documentos gerados nas rotinas secretariais.
Nesse sentido, a TTD foi posta em prática em um determinado setor de uma
instituição de ensino superior. A Universidade em questão possui suas rotinas
secretariais e demais processos mapeados. Com base na metodologia de Paula (1995),
se fez uma análise da documentação existente, foi aplicada a Tabela de Temporalidade
Documental conforme os processos do setor, atividades vinculadas a esses processos e a
documentação gerada, visando à melhoria do processo de arquivamento desse
departamento.
A partir da combinação da TTD com a Gestão por Processos, foi possível verificar
os documentos gerados pelas atividades que o setor desenvolvia. Essas atividades
faziam parte dos processos mapeados. Como resultado, obteve-se a definição de quais
documentos poderiam ser guardados em meio físico (folhas arquivadas) e/ou em meio
magnético (digitalização). A tecnologia da informação, nesse contexto, ganha espaço
com o Gerenciamento Eletrônico de Documentos (GED) e os softwares específicos para
digitalização.
O texto está organizado em seis tópicos, sendo que o primeiro está constituído por
essa introdução. Nos tópicos dois ao quatro, apresenta-se o referencial teórico, os tipos
de documentos gerados pelas rotinas secretariais, Gestão Documental e Tabela de
Temporalidade Documental, bem como a implantação da TTD atendendo às demandas
da Qualidade Total e dos Programas de ISO. No quinto tópico é desenvolvida a
metodologia aplicada neste estudo. O último tópico contempla as considerações finais.

2 Documentos gerados

Uma das atribuições do profissional de secretariado é manter em perfeita ordem os


documentos relevantes para a organização em que atua. Segundo Feijó (1988),
documentos são todos os papéis contendo informações que ajudem a tomar decisões,
comuniquem decisões tomadas, registrem assuntos de interesse da organização ou do
indivíduo.
87

Já Avedon (2001) define que documento é um conjunto de informações em


formato portátil, em formato papel, microfilme ou eletrônicos (magnético ou ópticos).
O ato de arquivar significa guardar esses documentos de forma organizada, com o
objetivo de serem consultados quando necessário. Conforme Sabino e Rocha (2004), o
tempo para que esses documentos permaneçam arquivados é definido por lei e ou norma
interna, dependendo da utilização e importância do documento.
O arquivamento somente é eficaz quando o método de arquivamento e sua
disposição são conhecidos pelos demais colegas de setor ou da própria empresa, mesmo
estando sob responsabilidade desse profissional.
Paes (2002) define que a principal finalidade dos arquivos é servir à
administração, constituindo-se, com o decorrer do tempo, em base do conhecimento da
história. A função do arquivo, por sua vez, é tornar disponível as informações contidas
no acervo documental sob sua guarda.
Como os tipos de arquivamento podem variar, os documentos a serem arquivados
também podem ser de diferentes gêneros. Além dos escritos ou textuais, mais
conhecidos e utilizados, os documentos podem aparecer em formatos eletrônicos, ou
ainda de outras maneiras, como é o caso dos iconográficos (fotografias, desenhos,
gravuras), sonoros (CDs e fitas K7) ou ainda cartográficos (mapas e plantas).
Vale comentar, visto que a aplicação desse trabalho é em um setor de uma
instituição de ensino superior, que os “clientes” do setor são alunos que frequentam o
curso e professores, isto é, parte da documentação a ser encontrada será acadêmica, vida
escolar dos alunos, documentos comprobatórios dos docentes. Feijó (1988) define
documentação escolar como sendo um conjunto de documentos contendo informações
sobre a vida escolar, tanto da organização como do indivíduo. O autor classifica os
documentos escolares em permanentes e descartáveis:

Permanente: é o documento que pela natureza e importância dos registros,


não poderá ser eliminado da documentação escolar, sob pena de
comprometer, total ou parcialmente, as informações sobre a vida escolar de
determinada pessoa. (FEIJÓ, 1988, p. 25)

Descartável: é o documento que pela natureza e importância dos registros


poderá ser eliminado da documentação escolar, não comprometendo as
informações sobre a vida escolar da pessoa. (FEIJÓ, 1988, p. 26)

Os documentos gerados precisam de um destino. Fazer esse planejamento, e


definir o que será conservado e/ou descartado, contribui para organização do setor e
88

para facilitar a localização do que está sendo buscado. A Gestão Documental e a


aplicação da Tabela de Temporalidade são as ferramentas para o sucesso da guarda de
documentos, que são abordados no tópico a seguir.

3 Gestão Documental e a Tabela de Temporalidade

A nova realidade do mundo empresarial é constituída pelos Sistemas Integrados


de Gestão, que contemplam itens como qualidade, meio ambiente, saúde e segurança.
Segundo Baldam, Valle e Cavalcanti (2002), a documentação, que é de extrema
relevância para a certificação por normas ISO e por outras, terá que ser controlada e
descrita nos manuais de gestão, assegurando:

- que haja um registro sistemático de procedimentos, de decisões e de


eventos;
- que nenhum documento esteja disponível para consulta, sem antes ter sido
analisado e aprovado pelas pessoas autorizadas para isto;
- que os documentos possam ser rápida e corretamente localizados;
- que os documentos sejam periodicamente analisados e, quando necessário,
revisados, com aprovação de pessoas autorizadas para isto;
- que todos os locais de trabalho possam dispor das versões atualizadas dos
documentos que lhes sejam pertinentes;
- que todos os documentos obsoletos sejam removidos não só dos seus locais
de origem, mas também dos locais de uso;
- que os documentos relacionados a exigências legais ou à memória técnica
identificados e conservados. (BALDAM; VALLE; CAVALCANTI, 2002, p.
23)

Nesse sentido, a Gestão Documental ganhou ênfase. Nas mãos do profissional de


Secretariado, o arquivamento passou de tarefa comum a mecanismo de guarda das
principais informações da empresa, que não podem ser extraviadas, tão pouco
danificadas.

Os documentos constituem provas, e devem ser tratados como um patrimônio


da empresa, pois ele poderá, oportunamente, definir questões vitais da
organização, ou ainda salva-la de prejuízos, devido a não comprovação de
documentos legais ou fiscais. (SABINO; ROCHA, 2004, p. 85)

Segundo Nazário (2008), a Gestão Documental pode ser definida como todo
processo relacionado ao recebimento, guarda, tramitação e recuperação dos documentos
que suportam as atividades operacionais, finais e estratégicas de uma empresa, área ou
departamento, visando de maneira ágil e integrada.
89

Essas etapas fazem parte do ciclo de vida de documentos, que segundo os autores
Baldam, Valle e Cavalcanti (2002) tem um maior acesso nas fases de criação,
publicação e destinação, culminando com o uso ativo desse documento. Após sua
utilização, o manuseio não é mais tão frequente, decaindo para as fases de pós-decisão,
arquivo e, finalmente, seu descarte.
Para acompanhar a vida dos documentos emitidos e gerados em uma organização,
por exemplo, é necessária a elaboração de uma tabela de temporalidade documental
(TTD). Paula (1995) considera a tabela um instrumento norteador desse
acompanhamento. Segundo Paes a

Tabela de Temporalidade é o instrumento de destinação que determina os


prazos em que os documentos devem ser mantidos nos arquivos correntes
e/ou intermediários, ou recolhidos aos arquivos permanentes , estabelecendo
critérios para microfilmagem e eliminação. (PAES, 2002, 106)

Já Sabino e Rocha (2004) complementam que a tabela é o esquema do ciclo de


vida documental da organização, elaborado após a análise da documentação. Através
dessa tabela, empresas e órgãos definem o que deve permanecer e o que deve ser
descartado. As contribuições estão na agilidade em recuperar documentos e na eficácia
sobre a gestão documental.
Paula (1995) relaciona mais benefícios, tais como: racionalização de espaço
físico; velocidade de respostas às questões formuladas ao sistema; padronização e
adequação de materiais arquivísticos; menor envolvimento de homem/hora na atividade
de processamento de informações; melhoramento do processo de tomada de decisões
em todos os níveis organizacionais; contribuição à excelência pessoal considerando a
satisfação do cliente; e, preservação da memória técnico-administrativa.
Ao elaborar uma TTD, deve-se verificar os documentos / formulários que
circulam no setor ou empresa. Sabino e Rocha (2004) destacam que a tabela deve ser de
conhecimento de todos os setores envolvidos, e aprovados pela alta administração. Os
itens a serem contemplados são, na maioria dos exemplos: competências, atividades,
documentos gerados, tempo de arquivamento, destino e índice de recuperação.

Os dados básicos a serem incluídos em uma tabela são: nome do órgão e da


atividade administrativa, espécie e assunto do documento, existência de vias
e/ou reproduções em outros setores, prazos de guarda nos arquivos corrente e
intermediários, destinação. (SABINO; ROCHA, 2004, p 87).
90

As primeiras tabelas contemplavam itens como competências, que seriam os


objetivos de determinadas atividades ou documentos gerados (planejar, coletar,
controlar...). Hoje, com a gestão por processos, a tendência está sendo listar os
processos da empresa ou setor, identificar as atividades neles relacionados e os
documentos gerados.
Ao implantar a TTD devem ser considerados os conceitos de tipos de arquivos, ou
seja, saber que os documentos que serão consultados com mais frequência serão
armazenados no Arquivo Corrente ou Ativo. Há também o Arquivo Intermediário, onde
são arquivados os documentos de consulta mediana. Já no Arquivo Inativo ou
Permanente serão armazenados os documentos cuja frequência de busca é eventual, mas
de valor fiscal, legal, técnico e/ou histórico.
A consequência da não utilização dessa Gestão Documental implicará na
reorganização frequente do acervo documental, conforme explica Paula (1995):

A organização de uma massa documental que não esteja norteada por uma
Tabela de Temporalidade, em pouquíssimo tempo necessitará novamente de
uma reorganização, pois não se definindo por quanto tempo manter ou
quando e o que deve ser expurgado, este acervo crescerá desordenadamente e
estará de novo, em breve, precisando de nova triagem. O mais grave, é que se
terá que retrabalhá-lo por inteiro, pois não há como separar o “joio do trigo”
sem que se passe pasta por pasta. (PAULA, 1995, p. 31)

Dessa forma, a Gestão Documental vem ganhando espaço, através da aplicação da


TTD, pois essa também é um dos dispositivos necessários para a implantação da
Qualidade Total e dos programas de certificação, visto que o destino dos documentos da
organização também é um ponto a ser avaliado pelos consultores. Esse tema é tratado
no próximo tópico.

4 Da implantação da TTD à Qualidade Total e à implantação dos Programas ISO

É possível relacionar a aplicação da Gestão Documental e o uso da TTD, com a


Qualidade Total e a implantação das certificações das ISOs. Conforme Maranhão
(2002), as maneiras de arquivar os documentos variam com o passar do tempo e das
pessoas que lidam com estes:

Por mais perfeitas que sejam as práticas, elas se degradam com o tempo,
além de serem voláteis. Por quê? Porque as práticas estão organizadas na
memória das pessoas, que podem mudar de empresa, de humor ou de
91

objetivos, podem faltar ao trabalho, adoecer ou morrer. Há necessidade,


portanto, de consolidar as práticas, mediante documentação normativa
(normas ou padrões de trabalho). Tais documentos formam a base
documentada da organização. A base documentada forma o alicerce de
conhecimento explícito da organização uma vez que o conhecimento
implícito está na cabeça das pessoas e não é necessariamente difundido ou
aproveitado para agregação de valor. (MARANHÃO, 2002, p.18)

Já Paula (1995) explica que o requisito Documentação da ISO 9000, Qualidade


Total, instrui sobre a necessidade de se definir o tempo de guarda e local de
arquivamento dos documentos, garantindo decisões tomadas com mais precisão, devido
às informações estarem atualizadas e em perfeita ordem. Com a aplicação da TTD, será
possível documentar o tempo de guarda dos documentos, quais foram digitalizados e
guardados em formato físico, bem como padronizar a maneira de arquivamento, não
importando quem está ou estará neste cargo no setor ou empresa.
A Tecnologia da Informação (TI), através do Gerenciamento Eletrônico de
Documentos (GED), traz inúmeros recursos para esse fim.

A tecnologia da Informação (TI) tem sido considerada como um dos


componentes mais importantes do ambiente empresarial atual, sendo que as
organizações brasileiras têm utilizado ampla e intensamente esta tecnologia
tanto em nível estratégico como operacional. (ALBERTIN; ALBERTIN,
2005, p. 1)

O GED, Gerenciamento Eletrônico de Documentos, segundo Koch (1998), é a


somatória de todas as tecnologias e produtos que visam gerenciar informações de forma
eletrônica. É através desse sistema que é possível disponibilizar o documento,
informação, a vários setores na empresa auxiliando na tomada de decisão. Conforme
Guimarães (2005, p. 81), “a qualidade das decisões na empresa está ligada aos dados
disponíveis, à sua facilidade de comunicá-los a qualquer momento”.
Guimarães (2005) também destaca que o método tradicional de processamento da
informação está sendo substituído pelo automatizado. Isso significa que o processo
tradicional, que consiste na guarda de documentos em arquivos físicos, está passando
gradativamente a ser automatizado. Com este processo, o arquivo físico passa a ser um
sistema de gerenciamento de dados multiusuário. Segundo Avedon (2002, p. 3), o
Gerenciamento Eletrônico de Documentos (GED) “é uma técnica, um sistema, uma
metodologia para o tratamento e o processamento automatizado de documentos em
papel e/ou suas cópias em microfilme”. Também consiste em
92

uma configuração de equipamentos, software e, normalmente, de recursos de


telecomunicações baseada em computador e automatizada que armazena e
gerencia imagens de documentos – e seus índices codificados – que podem
ser lidas por máquinas e processadas por computador para recuperação sob
solicitação. (AVEDON, 2002, p. 11).

As vantagens de um Gerenciamento Eletrônico de Documentos, do ponto de vista


organizacional, segundo Avedon (2002), são: quantidade de usuários que terão acesso à
informação, auxílio à tomada de decisão; número de estações de trabalho
automatizadas; produtividade e redução de funcionários adicionais; tempo de acesso à
documentação; melhor atendimento aos clientes, respostas e dados consultados em
menor tempo; além de redução de espaço físico e documentos/arquivos perdidos.
Finalizando, citamos Baldam, Valle e Cavalcanti (2002), que relatam as vantagens
do GED sob os seguintes aspectos:
a) Para o usuário e o cliente: redução do tempo de processamento e manuseio do
papel; aumento de satisfação do usuário; incremento à produtividade; melhoria da
satisfação com o trabalho; acesso imediato e multiusuário a qualquer informação;
melhoria da qualidade do trabalho; alta velocidade e precisão na localização de
documentos; e melhor atendimento ao cliente por proporcionar respostas mais precisas e
instantâneas.
b) Para a gestão documental: melhor controle dos documentos; redução do espaço
físico de armazenagem; facilidade de implementar temporalidade documental; e
minimização de perda e extravio de documentos.
c) Para o pessoal de TI (Tecnologia da Informação): integração com outros sistemas
e tecnologias; facilidade adicional para implantar empresa virtual; disponibilidade
instantânea de documentos sem limites físicos; gerenciamento e otimização do
workflow; possibilidade da empresa virtual sem limites físicos; maior agilidade nas
transações entre empresas; e maior velocidade na implementação de mudanças nos
processos.
d) Para a redução e proteção de investimentos: redução de custos com novos
escritórios/depósitos/equipamentos; proteção do patrimônio; eliminação de retornos;
proteção contra processos; eliminação de fraudes, principalmente em agências
governamentais; e proteção contra catástrofes que poderiam danificar seu acervo.
Com base nos conceitos apresentados, desde o que é um documento até o que será
feito dele após seu manuseio, ressalta-se a importância de sua destinação. Os usuários
terão como acessá-lo e localizá-lo a qualquer tempo e a empresa terá um planejamento
93

de seu fluxo documental. O tópico a seguir destina-se à definição da metodologia


utilizada neste estudo.

5 Metodologia e aplicação da Tabela de Temporalidade

Para por em prática o desenvolvimento e a aplicação da Tabela de Temporalidade


Documental, utilizou-se a metodologia específica de Paula (1995), que define as etapas
a serem executadas.
Essas etapas foram compostas por:
− análise do setor: foi observado que na secretaria do setor são gerados e
arquivados todos os documentos comprobatórios das atividades. O espaço físico
existente é pequeno, porém comporta o volume documental gerado até o momento.
Como medida de prevenção, a criação da TTD regrou e eliminou alguns documentos
que não são mais necessários, principalmente dos alunos egressos do curso;
− levantamento dos itens documentais: foi feito um levantamento da
documentação arquivada, buscando as prioridades iniciais do trabalho, a identificação
dos métodos e técnicas de arquivamento utilizadas, bem como o espaço disponível para
a guarda desses documento.
Identificou-se que o método de arquivamento que prevalece é o alfabético, sendo
que os documentos estão divididos em três blocos, sendo eles:
a) os documentos ativos correspondentes aos documentos dos alunos, que
frequentam o curso;
b) os documentos ativos gerais, que fazem parte das rotinas secretariais (atas,
documentos recebidos, expedidos e regimentos); e
c) os documentos do arquivo permanente, que foram alocados e separados de
forma mais racional.
Os documentos bibliográficos (livros e trabalhos de conclusão) e materiais
especiais (fotos, Cds) não possuem uma aplicação na Tabela de Temporalidade
Documental (TTD), por isso não foram incluídos no estudo;
- embasamento legal: notou-se uma carência de material sobre esse tema, quando
desenvolvido o estudo. No âmbito nacional, foram encontradas algumas resoluções que
serviram como base, como, por exemplo, a Resolução nº 14, de 24 de outubro de 2001,
aprova a Resolução n.º 4, de 28 de março de 1996, que dispõe sobre o Código de
Classificação de Documentos de Arquivo para a Administração Pública e os prazos de
94

guarda e a destinação de documentos estabelecidos na Tabela Básica de Temporalidade


e Destinação de Documentos.
Quanto à digitalização de documentos, está tramitando no Senado Federal o
Projeto n.º 146 de 2007, que trata da digitalização e arquivamento de documentos em
mídia ótica ou eletrônica. Regulamentada está a Lei n.º 5.433, de 8 de maio de 1968,
amparada pelo Decreto n.º 1.799, de 30 de janeiro de 1996, que regula a microfilmagem
de documentos oficiais, método pouco utilizado hoje pela evolução das tecnologias.
Com base no Regimento Interno do setor e do Regimento Geral da instituição,
teve-se uma ideia do tempo de duração das atividades e dos eventos ocorridos durante a
vida acadêmica dos discentes dentro do curso, de acordo também com as necessidades e
prioridades do setor. Buscou-se também o conhecimento do destino da documentação
junto a outros setores da universidade, com rotinas e formulários idênticos ou
semelhantes;
- entrevista para a elaboração da TTD: procurou-se agendar com a coordenação do
curso reuniões para acompanhamento dos trabalhos e apresentação de modelos de
tabelas de temporalidade.
Buscou-se contato com a Assessoria de Desenvolvimento Organizacional da
instituição, para ver o trabalho realizado em outros setores da instituição, com
atividades e rotinas semelhantes. Para nossa surpresa, o modelo de tabela aplicado
poderia ser substituído por outro que contemple os processos mapeados.
Assim, a antiga tabela, que tinha as colunas de “competências”, “atividades”,
“documentos gerados pelas atividades”, “tempo de arquivamento na unidade”, “destino
dos documentos” e “índice de recuperação”, teria a substituição do item “competência”,
por “processo”, do qual as atividades fariam parte, conforme modelo da TTD de outro
curso da instituição;
- definição do layout e criação do banco de dados coletados: os itens a serem
contemplados são, na maioria dos exemplos encontrados: competências, atividades,
documentos gerados, tempo de arquivamento, destino e índice de recuperação.
A TTD começou a ser preenchida conforme o modelo aprovado em reunião. Na
primeira coluna foram inseridos os “processos” que o setor executa, seguido por suas
“atividades”, “documentação gerada por essas atividades”, “tempo de arquivamento na
unidade”, “destino dos documentos”. Procurou-se fazer o preenchimento do “índice de
recuperação”, ou seja, palavra-chave para busca, no caso de digitalização e uso de
algum software. Registra-se que a instituição utiliza o DocuWare para o gerenciamento
95

eletrônico de documentos. Finalizou-se com a coluna de “legislação”. Inicialmente, se


fez um levantamento dos processos e atividades realizadas. Concluída essa etapa, houve
uma reunião com a coordenação do setor para rever os prazos estabelecidos nas outras
tabelas de temporalidade;
− organização e destinação dos documentos aos tipos de arquivos: com a
finalidade de melhorar o método e as técnicas de arquivamento, nessa etapa procurou-se
adequar e organizar os documentos do setor, definindo os documentos pertencentes ao
acervo passivo e permanente do setor;
− elaboração da última versão da TTD e aprovação: finalizando a nova disposição
dos arquivos, reuniu-se com a coordenação do setor para apresentar a versão final da
tabela e apontar as melhorias iniciais no espaço físico. A coordenação irá submeter
futuramente a tabela ao Colegiado do Curso, e instâncias superiores para aprovação.
Sugeriu-se contatar o setor de GED da instituição para o início do trabalho de
digitalização de alguns documentos; colocar a TTD em prática; e, à medida que forem
ocorrendo eventos, como conclusão de curso e bancas de trabalhos de conclusão,
descartar os documentos desnecessários àquele aluno.

6 Considerações finais

Nas primeiras etapas da execução do trabalho, se identificou e analisou a


documentação existente. Notou-se que muitos dos documentos poderiam ser alocados
de outra maneira e alguns descartados, conforme os processos no qual o setor se
envolve e necessita. Neste sentido, a adaptação ao novo modelo de TTD e a elaboração
da tabela através dos processos, foi de muita valia.
A aplicação da TTD não foi plenamente executada. A tabela foi apresentada à
coordenação do setor e esta deverá submeter ao Colegiado e outras instâncias da
instituição para aprovação definitiva. Entretanto, algumas mudanças no espaço físico
foram realizadas e alguns documentos julgados repetidos foram descartados.
A partir da aprovação da TTD e do descarte inicial de parte significativa dos
documentos, o processo de arquivamento, principalmente no acervo permanente, poderá
ser controlado, guardando apenas o que é solicitado na tabela e os documentos que
servirão para futuras pesquisas.
96

Na nova realidade do mundo empresarial, são ações como essas – uma simples
organização de arquivos e a definição do destino dos documentos – que compõe os
Sistemas Integrados de Gestão, contemplando itens como qualidade, meio ambiente,
saúde e segurança.
O tema, ligado à área de documentação e arquivística, surgiu para suprir algumas
necessidades do setor em questão, em termos de documentação arquivada, bem como
auxiliar nas rotinas diárias da secretaria, em que a informação poderia ser buscada com
mais agilidade e praticidade.
Inicialmente, através da pesquisa dos itens documentados, notou-se que alguns
documentos não tinham razão para ainda serem arquivados, principalmente em termos
de vigência. A realocação de outros documentos, seja na sua disposição ou aproximação
por tema, facilitaria a consulta dos gestores e da secretária, como foi o caso do material
referente ao relatório de acompanhamento de bolsas.
O modelo de TTD adotado contribuiu, através da utilização dos processos
realizados pelo setor, para ter uma noção real da documentação necessária. A tabela
proposta em 2007 às secretárias dos outros setores de mesma natureza, e já adotada na
época por outras áreas da organização, não contemplavam os processos.
O volume documental que foi sugerido à eliminação ainda é pequeno em relação a
outros setores que se tem conhecimento, mas significativo em relação aos documentos
que o setor possui. Pode-se prevenir a questão da falta de espaço físico que poderia ser
gerada.
Como os resultados foram rápidos e práticos, projeta-se para o futuro a
implantação do GED, aproveitando todos os benefícios que as tabelas de temporalidade
documental proporcionam. O trabalho a ser realizado requer cuidados, mas a realização
pessoal e profissional, assim como o reconhecimento de ser uma tarefa necessária e com
muitos benefícios a seus usuários, impulsiona à busca de melhorias contínuas, tanto em
reavaliações nos métodos de arquivamento, como na preocupação da informação estar
disponível a qualquer tempo.
A Gestão Documental, através da sua aplicação pela TTD, contribui com o
profissional de Secretariado no fornecimento de informações necessárias para atingir
metas e objetivos das organizações. Ao implantar o GED, através de seus softwares, o
conhecimento poderá se propagar para mais setores da instituição, compartilhando
documentos comuns.
97

Referências

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informação: desafios da tecnologia de informação aplicada aos negócios. São Paulo:
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98

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writer. Rio de Janeiro: Brasport, 2004.
99

CONFLITOS NO COTIDIANO SECRETARIAL

Luana de Farias15

Resumo: Conflitos são comuns nas relações interpessoais especialmente no âmbito


organizacional, que reúne pessoas com experiências, valores e objetivos diferentes. Os
profissionais de secretariado, por estarem ao lado dos diretores e intermediarem as
negociações entre diferentes públicos (clientes, empresa, fornecedores, superiores,
subordinados), têm de estar devidamente preparados para lidar com situações difíceis e
imprevisíveis. Neste sentido, questiona-se sobre a habilidade de gerir conflitos: como se
pode resolver um conflito? Os conflitos são de todo ruins? O secretário pode
desempenhar o papel de gestor de conflitos? Então, este estudo, de caráter bibliográfico,
busca elucidar a importância de os profissionais desenvolverem a habilidade de
resolução de problemas de cunho relacional. Elucidamos que os conflitos são de
diversas naturezas, cuja gestão consiste na percepção e utilização das formas mais
indicadas de resolvê-los, isto porque podem ser solucionados de forma destrutiva ou
construtiva. Destrutiva quando promovem violência, desentendimentos,
constrangimentos e construtiva quando as diferenças de opiniões e os posicionamentos
contrários são aproveitados para o benefício do grupo e organização, gerando
aprendizagens e inovações e um ambiente de trabalho agradável, criativo e de
confiança. Assim, os conflitos podem ser trabalhados de forma positiva, através da
maturidade psicológica de cada um. Os profissionais de secretariado possuem papel
significativo neste processo de resolução dos conflitos no âmbito das organizações.

Palavras-chave: Conflitos. Gestão de conflitos. Secretário executivo.

1 Introdução

Os conflitos nas organizações são temas constantemente abordados, já que para


ocorrer um conflito basta existir pessoas e relacionamentos entre elas. Por ser um
assunto bastante eminente e que pode causar prejuízos tanto institucionais quanto
pessoais, é que os gestores procuram profissionais preparados para administrarem essas
controvérsias. Os profissionais de secretariado, por estarem ao lado dos diretores e
intermediarem as negociações entre diferentes públicos (clientes, empresa,
fornecedores, superiores, subordinados), têm de estar devidamente preparados para lidar
com difíceis e diferentes situações.
O perfil profissional moderno do secretário executivo contempla habilidades no
trato com as pessoas haja vista que seu trabalho depende de pessoas e o resultado do seu
trabalho interfere nas pessoas. Com esse entendimento, Hansen e Silva (2009, p. 77),

15
Acadêmica do VI semestre do curso de Secretariado Executivo Bilíngüe/UPF. Contato: 92357@upf.br.
100

discutindo a gestão secretarial sob o ponto de vista ético, destacam a importância da


discrição, sigilo, respeito, capacidade de relacionamento multicultural, habilidade na
resolução de problemas e gerenciamento de conflitos, na atuação dos secretários
executivos.
Neste sentido, questiona-se sobre a habilidade de gerir conflitos: como se pode
resolver um conflito? Os conflitos são de todo ruins? O secretário pode desempenhar o
papel de gestor de conflitos? Então, este estudo busca elucidar a importância de os
profissionais desenvolverem a habilidade de resolução de problemas de cunho
relacional especialmente os secretários que se envolvem com vários públicos
necessitando atenderem a diferentes demandas e interesses.
Este estudo, de caráter teórico, baseia-se principalmente em Nascimento e Sayed
(2002) que tratam os conflitos como um dos principais problemas nas organizações, e
usam então a administração de conflitos como um referencial para a boa convivência e
bem estar dos membros no interior das instituições.
O texto está organizado em quatro tópicos, sendo que o primeiro corresponde a
essa introdução. O segundo dedica-se a abordagem conceitual de conflito e gestão de
conflitos. Causas dos conflitos e ações diante deles são discutidas no terceiro tópico. Na
quarta parte são apresentadas considerações finais.

2 Conflitos: breve revisão conceitual

Os conflitos existem desde o início dos tempos. Para que ocorram basta existir
pessoas e relacionamentos entre elas e são necessários para o desenvolvimento da
sociedade. Conforme Nascimento e Sayed, “os conflitos existem desde o início da
humanidade, fazem parte do processo de evolução dos seres humanos e são necessários
para o desenvolvimento e o crescimento de qualquer sistema familiar, social, político e
organizacional” (2002, p. 47).
O conflito consiste numa “oposição de interesses entre duas ou mais partes, cuja
solução poderá surgir através de medidas de violência, negociações ou intermediação de
uma terceira pessoa” (CHALVIN; EYSSETTE, 1989, p. 9). As medidas de violência,
no entanto, devem ser evitadas, pois não resolvem, apenas agravam a situação fazendo
com que os envolvidos tomem atitudes precipitadas e impensadas, tornando o conflito
ainda maior.
101

A negociação, a mediação e o diálogo devem ser priorizados e quando isso


ocorre o conflito adquire caráter positivo porque motiva a interação e o entendimento
entre as pessoas. A negociação é a opção mais adequada de resolver o problema, assim,
uma conversa amigável poderá ser estabelecida e as partes poderão escolher a melhor
forma de proceder conforme o debate em questão. Mas, quando as partes buscam o
consenso, e mesmo assim, não conseguem é necessária à presença de uma terceira
pessoa, para que ela possa instruir e também expor a sua visão do problema para as
partes envolvidas.
Os profissionais de secretariado desempenham com frequência o papel de
intermediador de relações interpessoais nas organizações. Por se tratar de uma função
presente nos diferentes níveis organizacionais e que exige conhecimento do todo da
instituição, desde processos, políticas, até mesmo dos interesses individuais, o secretário
normalmente é o que está mais próximo e possui a maior quantidade de informações
para mediar a situação. Por conta disso, é comum a referência de o secretário ser o elo
entre a empresa e clientes, fornecedores e empresa, superiores e subordinados,
subordinados e superiores. Nas palavras de Hansen e Silva: “o secretário executivo
planeja, organiza, controla e avalia os trabalhos realizados, atuando assim, como um
gestor secretarial, desempenhando também a função de elo entre a administração
superior e os demais setores da instituição” (2009, p. 81).
Assim, podemos dizer que os métodos utilizados para amenizar e evitar essas
controvérsias podem ser utilizados pelas pessoas envoltas no conflito, ou pelas pessoas
que intermediarão nele. Também se deve ressaltar que o próprio secretário pode estar
envolvido no conflito, por isso a importância da habilidade de reconhecer a situação e
resolvê-la, buscando o seu bem estar e do outro.
A gestão de conflitos consiste “exatamente na escolha e implementação das
estratégias mais adequadas para se lidar com cada tipo de situação” (NASCIMENTO;
SAYED, 2002, p. 48). Ou seja, é a estratégia escolhida que nos fará reagir de forma
positiva diante do conflito, e assim, obter resultados positivos.
Os conflitos, de acordo com Nascimento e Sayed (2002), podem ser de caráter
hierárquico, que são os que acontecem quando um superior não tem sua autoridade
reconhecida pelos subordinados, e também pessoal, que são os gerados pelas
desavenças entre os colaboradores. Ainda, podem ser considerados positivos, negativos
ou ter uma posição equilibrada entre estas duas partes. São positivos quando funcionam
102

como elementos de socialização e envolvimento a uma causa, assim como ajudam a


equilibrar relações de poder e formação de alianças. O conflito ainda consiste numa

fonte de ideias novas, podendo levar a discussões abertas sobre


determinados assuntos, o que se revela positivo, pois permite a expressão e
exploração de diferentes pontos de vista, interesses e valores. Em alguns
momentos, e em determinados níveis, o conflito pode ser considerado
necessário se não se quiser entrar num processo de estagnação. Assim, os
conflitos não são necessariamente negativos; a maneira como lidamos com
eles é que pode gerar algumas reações. (NASCIMENTO; SAYED, 2002,
p.47).

Em maior proporção, os conflitos podem ter consequências negativas quando


desviam os grupos ou as pessoas dos seus objetivos reais, tornam a vida dos envolvidos
uma derrota e favorecem a percepção estereotipada. Nestes casos, as pessoas começam
a se designar por grupos, surgindo os perdedores, os ganhadores, os culpados e os
inimigos. (NASCIMENTO; SAYED, 2002, p. 52).
Apesar de os conflitos levarem á mudanças e por isso serem altamente positivos,
a conotação negativa, infelizmente, é mais comum no ambiente organizacional, que tem
como característica marcante a competitividade inclusive entre os membros
organizacionais. Tal competitividade leva os sujeitos a um maior distanciamento a
aproximação diante de um conflito e, até mesmo a medidas de violência na tentativa de
obter melhores resultados. As metas e resultados devem ser buscados, no entanto, com
respeito e credibilidade entre os membros, promovendo um ambiente colaborativo de
trabalho e o bem estar social.
Assim, os profissionais devem buscar a gestão de conflitos como uma forma de
se manter mais serenos diante das diversas situações do seu dia a dia e também como
processo de aprendizagem e de aprimoramento profissional, já que, cada vez mais o
perfil de solucionador de conflitos é procurado pelas corporações e que o bem estar no
trabalho é fundamental.
Igualmente, a empresa que consegue gerir adequadamente os conflitos que
surgem em seu interior cria um diferencial positivo. Os conflitos não ou mal resolvidos
repercutem negativamente na empresa, visto que desmotivam o funcionário e reduzem
sua produtividade. Por isso, a empresa não deve aguardar a intervenção da área de
recursos humanos, como costumeiramente. Todos os profissionais envolvidos são
responsáveis por resolverem o problema e, se for o caso, buscarem auxílio de colegas,
gestores e do setor de recursos humanos.
103

Portanto, a positividade dos conflitos está em vê-los de modo construtivo e agir


diante deles com sabedoria, visando o bem estar entre as partes. Espera-se
especialmente dos profissionais de secretariado, que estão o tempo todo em interação
com pessoas, essa atitude construtiva perante os conflitos que estiverem envolvidos,
bem como dos que atuarem como intermediadores. Da mesma forma, espera-se a
habilidade em buscar e analisar outros pontos de vista, aceitar críticas e melhorar a sua
prática com as pessoas a cada dia.

3 Causas e ações perante conflitos

O conflito passa por diferentes níveis antes que seja notado, ou seja, “o processo
de conflito é lento, e as pessoas não se confrontam imediatamente, mas dão pistas da
sua insatisfação” (GRAMIGNA, 2002, p. 149). Para a autora, quando a pessoa se torna
agressiva, fica de mau humor, trata mal as outras pessoas, comete atrasos e até reduz seu
nível de produtividade, pode estar sinalizando a existência de conflitos. Os gestores
devem saber identificar estes indicadores e ficar atentos na existência deles, que podem
ser normais quando cometidos esporadicamente, pois, todos os seres humanos passam
por momentos difíceis, mas quando cometidos diariamente indica que algo não está
bem.
Nascimento e Sayed (2002, p. 50) diferenciam quatro níveis dos conflitos:
latente, percebido, sentido e manifesto.

Conflito latente: não é declarado e não há, mesmo por parte dos
elementos envolvidos, uma clara consciência de sua existência.
Eventualmente, não precisam ser trabalhados.
Conflito percebido: os elementos envolvidos percebem, racionalmente
a existência do conflito, embora não haja ainda manifestações abertas
do mesmo.
Conflito sentido: é aquele que já atinge ambas as partes, e em que há
emoção e forma consciente.
Conflito manifesto: trata-se do conflito que já atingiu ambas as parte,
já é percebido por terceiros e pode interferir na dinâmica da
organização.

Após perceber o grau do conflito, deve-se buscar identificar a sua origem. As


causas dos conflitos são de inúmeras naturezas. Podem ter origem na própria
incapacidade pessoal de atingir metas ou satisfazer os seus desejos. Também na
diversidade de personalidade e princípios das pessoas e grupos, gerando conflitos pelas
diferentes formas de comportamento. Ainda o conflito pode surgir em razão das
104

diferentes experiências e conhecimentos entre os envolvidos, fazendo que as ideias de


uma pessoa não sejam aceitas pela outra. (NASCIMENTO; SAYED, 2002).
A comunicação é um bom exemplo ligado à questão das diferentes experiências
e vivências, pois quando falamos, imaginamos que o nosso interlocutor receberá nossa
mensagem da mesma forma que a concebemos. Porém, quando nos expressamos
envolvemos sentimentos e memórias, mas quando a outra pessoa recebe a mensagem,
faz com que a mensagem passe pelos seus filtros mentais, que provavelmente, possuem
referências e experiências anteriores diferentes, fazendo com que na maioria das vezes,
a mensagem passada não seja a mesma recebida. (NASCIMENTO; SAYED, 2002).
A comunicação é considerada um dos principais geradores de conflitos,
principalmente nas organizações, pois as pessoas estão submetidas a conviverem
diariamente umas com as outras. Por esta razão os profissionais devem se preocupar
com o processo comunicativo, a forma como se comunicam e o resultado dessa
comunicação, especialmente os profissionais de secretariado que, como já referido,
estão em constante interação e comunicação com diferentes públicos, que possuem
diferentes níveis de conhecimento e experiências diversas. Se o secretário não se
comunicar eficazmente poderá originar conflitos constantemente. Assim, a habilidade
na comunicação faz parte do perfil desse profissional, tal habilidade pode reduzir a
existência de conflitos e facilitar na solução dos mesmos.
Além da habilidade na comunicação, Chalvin e Eyssette (1989, p. 13)
argumentam que os conflitos pessoais e também profissionais podem ser mais bem
resolvidos ou evitados quando as pessoas têm o hábito de reavaliar a sua maturidade
emocional, a aceitação das diferenças das pessoas e a capacidade de ouvir, aceitando
que os outros têm o direito de discordar com as suas ideias e pontos de vista, sem com
isso se sentir rejeitadas. Qualidades estas que devem estar presentes nos gestores e
secretários que necessitam solucionar conflitos a todo o tempo.
Chalvin e Eyssette (1989, p. 12) explicam ainda que os conflitos sempre
possuem certo grau de influência, ou seja, as pessoas sofrem influência de experiências
de outros conflitos e ações vividas. Portanto, suas ações se dão pela sua própria
manipulação interna. Deste modo, o primeiro passo para o fortalecimento da maturidade
é a mudança na atitude psicológica – a não manipulação interna. Temos que ter
consciência de como resolver nossos próprios conflitos positivamente e de que, muitas
vezes, no conflito, insistimos em ideias que não levam a lugar algum. Igualmente temos
que compreender que estabelecer relações positivas apenas trazem resultados positivos e
105

não deixamos de ser a mesma pessoa por isso. Esta alteração traz vantagens pessoais e
também aos demais envolvidos no conflito, pois as pessoas deixam de olhar somente
para dentro de si e começam a ver a realidade exatamente como ela é. Este método
consiste em tomar atitudes individuais de aceitação, ou seja, “sem mudar os outros, mas
aceitando-os como são” (CHALVIN; EYSSETTE, 1989, p. 14).
Este método depois de aplicado em si mesmo se torna útil para elevar a
maturidade das outras pessoas, fazendo com que elas vejam a diferença que a sua
atitude psicológica pode ter na resolução do conflito. Isso não deixa de se tratar de
opções individuais importantes para a solução de conflitos grupais, pois “é necessário
que as pessoas envolvidas no conflito concordem com um resultado satisfatório da
disputa” (WEISS, 1994, p. 87). E para haver esta concordância, é necessário que ambas
as partes cedam e cheguem a um consenso. Não esquecendo que, “somos seres com
capacidade e habilidade para ouvir e entender nossos semelhantes. Com esta postura
silenciamos nossa voz interna e deixamos crescer a voz do outro, permitindo que soe
clara dentro de nós” (NASCIMENTO; SAYED, 2002, p. 56).
Portanto, o papel do secretário é significativo na gestão de conflitos ao
estabelecer elos entre diferentes públicos promovendo relações interpessoais positivas e
um ambiente de confiança, bem como estimular as pessoas para que se abram para um
processo reflexivo, o qual visa elevar a maturidade emocional de cada um, já que, ela é
o alicerce para todas as ações e comportamentos.

4 Considerações finais

A gestão de conflitos compreende uma visão abrangente das causas do conflito


e das possibilidades para solucioná-lo, quais as melhores atitudes a serem tomadas.
Existe, no entanto, o modo destrutivo e o construtivo de proceder. Podemos tratar de
duas formas, uma negativista, que percebe o conflito como algo somente prejudicial,
devendo ser evitado, e a segunda alternativa é trabalhá-lo, procurando os benefícios que
as diferenças de opiniões e os posicionamentos contrários podem trazer gerando a
aprendizagem pessoal e profissional. Assim, os conflitos podem ser positivos e
trabalhados, através da maturidade psicológica de cada um.
Nenhuma organização ou pessoa está livre de conflitos, pois são inerentes aos
seres humanos e grupos, praticamente todos sofrem e se beneficiam com eles. Os
conflitos são responsáveis por sérias ameaças à estabilidade das organizações, mas
106

também podem agir de maneira construtiva estimulando o potencial de inovação. A


administração deve encarar o conflito como uma força constante no interior da
organização e procurar gerenciá-lo para que estes atuem de maneira construtiva através
das técnicas de administração de conflitos propostas, gerando um ambiente de trabalho
agradável, criativo e de confiança.
Os profissionais de secretariado podem contribuir nesse processo agindo
positivamente, de forma reflexiva e construtiva, nas relações que estabelecem com
superiores, subordinados, colegas, fornecedores, clientes, concorrentes. O fato de o
secretário estar em constante contato e interação com pessoas pode elevar o índice de
envolvimento com conflitos, concomitantemente aumentar as oportunidades de
colaboração com soluções construtivas destas controvérsias.

Referências

CHALVIN, Dominique; EYSSETTE, François. Como resolver os pequenos conflitos no


trabalho. São Paulo: Nobel, 1989.

GRAMIGNA, Maria Rita. Modelo de Competências e Gestão dos Talentos. São Paulo:
Makron Books, 2002.

HANSEN, Gilvan Luis; SILVA, Rosely Dias da. A importância da ética na gestão
secretarial. In: PORTELA, Keyla; SCHUMACHER, Alexandre. Gestão Secretarial: o
desafio da visão holística. Cuiabá: Adeptus, 2009.

NASCIMENTO, Eunice Maria; SAYED, Kassen Mohamed El. Administração de


Conflitos. In: GESTÃO DO CAPITAL HUMANO, volume V, Coleção Gestão
Empresarial - FAE Business School, Curitiba, Editora Gazeta do Povo, 2002, Cap. 4,
p.47-56. Disponível em: <http://www.fae.edu/publicacoes/colecao_gestao.asp>. Acesso
em : 26 de maio de 2009.

WEISS, Donald H., Como resolver (ou evitar) conflitos no trabalho. São Paulo: Nobel,
1994
107

CURSO TÉCNICO EM SECRETARIADO E ESTUDOS


EXTRACURRICULARES: MOMENTOS DE LEITURAS DIRIGIDAS

Cândida Martins Pinto16


Cláudia Anita Guerra17

Resumo: Este artigo tem por objetivo divulgar e refletir sobre os momentos de Leituras
Dirigidas que acontecem semanalmente no Instituto Federal Farroupilha – Campus São
Vicente do Sul. Os encontros buscam promover debates e leituras críticas de textos
acadêmicos na área secretarial. Dessa forma, alunos e professores do Curso Técnico em
Secretariado, bem como interessados em geral, reúnem-se para tais discussões com a
finalidade de incentivar estudos, promover reflexão sobre textos atuais, fomentar
possíveis pesquisas na área e divulgar o curso. Espera-se que este artigo traga
contribuições para motivar docentes e discentes a também mobilizarem-se em
atividades extracurriculares.

Palavras-chave: Secretariado. Estudos extracurriculares. Leituras dirigidas.

1 Introdução

O mundo atual, com todas as dificuldades de ordem social, política, econômica e


ambiental, não deixa dúvidas no que se refere ao aspecto educativo e da informação.
Tamanho é o consenso a esse respeito que passou a ser chamada de Sociedade do
Conhecimento.
A nova revolução nas comunicações, a descoberta de novos materiais, a
preocupação com o meio ambiente, a internacionalização da cultura, a robotização das
fábricas, a participação maior do Terceiro Setor da economia e o rearranjo no trabalho
vêm provocando novas necessidades de gestão de pessoas, tanto ao nível de formação
como de reeducação, trazendo assim novos desafios às instituições educativas.
No campo da Administração, ficou evidente que ela não é eficaz nem eficiente
quando voltada somente para o produto ou para o mercado, mas sim quando a
preocupação maior são as pessoas. O desenvolvimento sustentável leva em
consideração o indivíduo, as pessoas como elementos essenciais à vida, ecológica e
social.

16
Profª. Ms Português/Inglês do Instituto Federal Farroupilha – Campus São Vicente do Sul; Coordenadora do Curso
Técnico em Secretariado.Contato: candidamartins@svs.iffarroupilha.edu.br.
17
Mestre em Educação, Secretária Executiva SRTE/RS SE nº 1299. Docente do Curso Técnico em Secretariado do Instituto
Federal Farroupilha-SVS. Contato: escribavirtual@ymail.com
108

Na vida social e econômica das instituições, a gestão de pessoas quanto à forma


de dirigir (liderança, chefia, etc.), da formação de equipes (de autogestão, de criação, de
relações públicas, etc.), como de formas de atuação (autocrática, democrática,
autoritária, etc.), de organização (hierarquia de funções e papéis) e comportamento
(relacionamento interpessoal, organização de reuniões, comunicação, etc.) conduziu a
uma necessidade coletiva de atualização e formação de novos profissionais para
acompanhar a dinâmica das transformações globais e locais.
Um dos segmentos mais antigos, no que se refere à necessidade de atualização e
formação de novos profissionais, no campo da Administração, é o secretariado. O papel
essencial do(a)a secretária(o), na administração das diversas instâncias e funções das
instituições públicas e privadas, é reconhecido desde o antigo Egito, na Grécia e na
América pré-colombina civilizada. E permanece até hoje.
A profissão de secretário Executivo é regulamentada pelas leis 7377/85 e
9261/96, exigindo (desde 1985) a formação específica para os profissionais que desejam
ingressar na profissão em qualquer área de atuação e é a terceira profissão do mundo,
segundo pesquisa realizada pala ONU, em 1996. O cientista Robert Reich, em o
Trabalho das Nações – Preparando-se para o capitalismo no Século 21, reconhece que a
profissão de Secretariado é uma das que mais cresceram nos últimos dez anos e entende
que continuará crescendo, porque tem características das três atividades que
prevalecerão neste século: atividades de rotina, interpessoais e analítico-simbólicas.
O desenvolvimento tecnológico e as constantes transformações impostas às
empresas e aos setores públicos e privados têm demonstrado, e mesmo exigido, que a
qualificação/capacitação de profissionais que contribuam e cooperem cada vez mais
com o desenvolvimento da empresa em que atuam – com criatividade, profissionalismo
e competência – é uma necessidade.
A profissão de Secretariado está envolta em características de multiplicidade e
diversidade de atividades, exigindo do profissional criatividade, iniciativa, sensibilidade
e ações antecipadas aos acontecimentos.
Sabe-se que atualmente, o diferencial, em se tratando de campo de trabalho, está
intimamente ligado à qualificação do profissional. Os desafios de uma sociedade em
constante mudança causam impactos determinantes na atuação do profissional,
sobretudo no que tange às inovações tecnológicas e organizacionais – tanto introduzidas
no processo produtivo quanto no que diz respeito ao novo conceito de emprego.
109

Dessa forma, o Curso Técnico em Secretariado do Instituto Federal Farroupilha


– Campus São Vicente do Sul (IFFarroupilha-SVS), em conformidade com seu plano
de curso, adota uma metodologia de ensino que estimula a iniciativa dos estudantes,
desafiando-os à pesquisa participante e remetendo-os a questionamentos sócio-políticos
e culturais, mostrando comprometimento com a concepção de uma proposta de
educação democrática e popular. Nossa metodologia de trabalho visa à ampliação de
debates, envolvendo técnicos, professores e alunos, permitindo uma análise crítica,
contendo novas questões pertinentes e sugestões de aperfeiçoamento.
Para tanto, no segundo semestre de 2009, iniciaram-se momentos de debates,
reflexões e análises de textos voltados à área secretarial, destinados a alunos,
professores e interessados. Esses encontros, chamados de Leituras Dirigidas,
aconteceram todas às quintas-feiras pela manhã, no Centro Integrado de Ensino,
Pesquisa, Prática e Extensão (CIEPPESE), nas instalações do Instituto Federal
Farroupilha – Campus São Vicente do Sul. Objetivam, portanto, incentivar a leitura de,
principalmente, artigos científicos, fomentar debates na área, promover possíveis
pesquisas e divulgar o curso.
Nesse sentido, analisamos, a seguir, alguns aspectos pontuais que não apenas
auxiliam os participantes das Leituras Dirigidas na sua qualificação profissional, como
também contribuem para parametrizar novas estratégias que poderão ser utilizadas a
posteriori nesse e em outros momentos extracurriculares do Curso Técnico em
Secretariado do IFFarroupilha-SVS.

2 Leituras dirigidas e qualificação profissional

O Curso Técnico em Secretariado do IFFarroupilha-SVS oportuniza o


desenvolvimento de conhecimentos e habilidades para atuar com dinamismo e
responsabilidade na área secretarial, gerenciando as situações de conflitos, de maneira
compreensível.
A dialogicidade aparece como um princípio ético-existencial de um projeto
humanista e solidário, respeitador das diferenças e da pluralidade e visões do mundo,
porém crítico e propositivo perante as desigualdades e injustiças sociais. Propõe-se a
estimular todos os procedimentos e atividades que permitam ao aluno reconstruir ou
reinventar o conhecimento, entre eles a experimentação, a execução de projetos, a
contextualização do conteúdo de ensino, apresentado por meio de um currículo
110

elaborado de forma interdisciplinar, o que efetivamente ocorre no ensino de boa


qualidade.
São por esses motivos que as Leituras Dirigidas surgem como instrumento de
diálogo entre docentes, discentes e interessados, que juntos constroem o conhecimento
em uma espiral de complexidade, atendendo particularidades e mediando dificuldades
de todo participante. Dessa forma, nos subcapítulos que seguem apresentar-se-ão
algumas abordagens e características trabalhadas nesse momento extracurricular.

2.1 Currículo do curso

O Curso Técnico em Secretariado tem por objetivo formar profissionais


polivalentes, que transitem em várias áreas do conhecimento: ciências humanas, sociais
aplicadas, além dos temas específicos da área secretarial. Consequentemente, implica
grade curricular abrangente e a necessidade, ainda maior, do foco na
interdisciplinaridade, para que os estudantes percebam que, apesar da multiplicidade de
saberes, sua formação é coesa.

A interdisciplinaridade visa a garantir a construção de um conhecimento


globalizante, rompendo com as fronteiras das disciplinas. Para isso, integrar
conteúdos não seria suficiente. Seria preciso uma atitude e postura
interdisciplinar. Atitude de busca, envolvimento, compromisso,
reciprocidade diante do conhecimento. (INSTITUTO PAULO FREIRE,
2009)

O mesmo artigo, do Instituto Paulo Freire (2009), aponta para a construção de


uma escola participativa, com uma visão geral da educação, de forma progressista e
libertadora, na qual o sujeito, autônomo, constrói seu conhecimento ao mesmo tempo
em que organiza seu mundo, relacionando, diretamente, autonomia intelectual e
interdisciplinaridade.
Com esse propósito, as Leituras Dirigidas cumprem seu papel de estreitar os
laços, de estabelecer relações com (e entre as) disciplinas da grade curricular. A
multifuncionalidade exigida desses profissionais, em contrapartida, viabiliza a riqueza
das temáticas que são abordadas nos momentos de Leituras Dirigidas, contribuindo não
somente para a formação técnica, mas aumentando o que chamamos de “cultura geral”
de todos os envolvidos.
Considerando-se as discussões na literatura e o contexto sociocultural e
econômico, pode-se pressupor que as finalidades da educação não são simples nem
111

unidimensionais, mas envolvem, ao contrário, um conjunto intencional e subjetivo que


torna a formação profissional mais abrangente do que somente as ações educativas
encontradas numa estrutura curricular (PERES, ANDRADE e GARCIA, 2007). É por
esses motivos que o currículo deve ser concebido como artefato cultural, como um
campo de produção de cultura, além de reprodução de cultura, como um campo de
conflito em torno da definição de conhecimento. Esses conflitos, no sentido positivo do
termo, são colocados em voga no momento em que alunos, professores e interessados
interagem, expõem suas ideias, trocam experiências. O conhecimento, dessa forma, é
construído a partir do contraste entre as experiências prévias dos envolvidos com os
conceitos veiculados nos artigos lidos. Dessa forma, surgem novas culturas e novos
parâmetros.

2.2 Qualidades desenvolvidas e competência profissional

“A educação técnica é, antes de tudo, educação.” (Educação Profissional -


Referenciais Curriculares Nacionais da Educação Profissional de Nível Técnico, 2000,
p.89) e, por isso deve ser integral, rompendo com a segmentação; estimulando o
aperfeiçoamento das habilidades profissionais, mas também a formação de cidadãos
éticos, que atuem com responsabilidade social e voluntariado. Pois, para atuação no
mundo do trabalho, somente a qualificação técnica não é suficiente; se faz necessário
somar as habilidades sociais. É preciso ampliar o conceito de competência “como
capacidade pessoal de articular saberes (saber, saber fazer, saber ser e conviver)
inerentes a situações concretas de trabalho.” (idem, p.96).
Ainda, de acordo com os Referenciais Curriculares Nacionais da Educação
Profissional de Nível Técnico (2000), o desenvolvimento da qualificação profissional
está relacionado à proposição de situações reais ou simuladas, que possam desencadear
ações resolutivas, seja em ações de pesquisa, disciplinas, seminários, atividades
experimentais/laboratoriais.
Portanto, com o projeto Leituras Dirigidas, procurou-se proporcionar este
espaço para articulação dos saberes e aperfeiçoamento das competências; um espaço de
encontro: de docentes e discentes; de participantes voluntários; de diferentes temáticas e
ideias; momentos em que é possível aprender a fazer, ser e conviver e, sobretudo,
aprender a aprender.
112

Diante do desafio profissional que está posto, decorrente das inovações


tecnológicas, permanente mudança e necessidade de atualização constante, as Leituras
Dirigidas proporcionam o desenvolvimento de qualidades e habilidades fundamentais
para o exercício da profissão; para atuação nas organizações – sejam públicas, privadas
ou não governamentais.
O projeto Leitura Dirigidas estimula a “capacidade de raciocínio, autonomia
intelectual, pensamento crítico, iniciativa própria e espírito empreendedor, bem como
capacidade de visualização e resolução de problemas”, conforme prevê os Referenciais
Curriculares Nacionais da Educação Profissional de Nível Técnico (2000, p. 86).
Além do estímulo à leitura e o consequente aumento vocabular, as discussões
premiam aprender a ouvir; a escutar as diferentes opiniões – mesmo as divergentes das
nossas – exercitando o respeito às diferenças culturais, ideológicas, sociais.

Na educação profissional, respeito ao bem comum, solidariedade e


responsabilidade manifestam-se sobretudo nos valores que ela deve
testemunhar e constituir em seus alunos no que respeita à relação com o
trabalho. (EDUCAÇÃO PROFISSIONAL - Referenciais Curriculares
Nacionais da Educação Profissional de Nível Técnico, 2000, p.93)

A expressão oral também é aperfeiçoada. Ao expor suas ideais, o aluno exercita


sua oratória e a argumentação, habilidades tão importantes para a imagem e exercício
profissional.
Diante dessas qualidades, acredita-se que o processo reflexivo da prática
profissional é de extrema importância até mesmo quando o aprendiz está em fase de
pré-serviço. Um sujeito que tem consciência que o bom profissional busca construir
ações com responsabilidade, ética, respeito e sabedoria desde a fase de instrução, já está
se qualificando para enfrentar o mercado de trabalho. É nesse sentido que ações como o
projeto que ora se apresenta concretizam-se como pontos importantes na formação
desse indivíduo.

2.3 Consequências eminentes

Atividade de extensão, por excelência e regularidade, está estreitamente ligada


com a pesquisa e o ensino. As Leituras Dirigidas são, no componente
curricular, “atividades complementares”, isto é, atividades que não fazem parte da
obrigatoriedade do aluno, mas que complementam o currículo previsto. Assim sendo,
113

além de possibilitar os momentos de estudo extraclasse, ampliando o contato com os


colegas, docentes e temáticas da profissão, também se integram ao currículo escolar,
proposto pelo Curso Técnico em Secretariado do IFFarrroupilha – SVS.
Outrossim, o contato com textos da área profissional escolhida (artigos
científicos, artigos de opinião), passa a ser um incentivo à produção científica – faz com
que alunos e discentes, a partir das leituras e discussões, desejem registrar e difundir o
conhecimento que está sendo produzido e compartilhar com a comunidade interna e
externa, democratizando-o.
A atividade extracurricular reveste-se da maior importância no conjunto das
atividades discentes, porque é através dela que o conhecimento produzido no interior da
instituição é difundido e democratizado, levando à comunidade/sociedade informações
e/ou alternativas para a solução de problemas que apenas a sala de aula não resolve e
para o desenvolvimento integrado dos saberes. Se a atividade de extensão vier
acompanhada de produção científica, torna-se um instrumento para o Curso e a
Instituição mostrarem os resultados, a pertinência e a relevância de suas ações. É
também, o espelho do desempenho docente e discente, nas atividades indissociáveis de
ensino, pesquisa e extensão.

3 Considerações finais

Adotando uma metodologia simples, de leitura/reflexão/discussão, os encontros


foram agradáveis e de muita produtividade, uma vez que são incorporados ao texto, as
experiências e visão de mundo dos envolvidos, bem como a contextualização no
ambiente local/regional.
Assim, os envolvidos avaliaram suas participações e salientaram que o projeto
auxiliou também na visão crítica sobre assuntos de diferentes áreas do saber; viabilizou
o conhecimento de um texto técnico (artigo científico); promoveu o conhecimento de
vocabulário e expressões da área; incentivou a leitura e ajudou na interação das turmas.
Além disso, pode-se afirmar que os envolvidos estão mais preparados para participar de
eventos da área secretarial com produção científica e apresentação oral de
comunicações.
Para o aluno, a obtenção de um certificado a partir da participação em estudos
extraclasses potencializa o currículo, isto é, abre maiores oportunidades para enfrentar o
mercado de trabalho, pois sabemos que um bom currículo é primordial.
114

Para o professor, participar do crescimento intelectual do aluno e poder


vivenciá-lo em momentos extraclasses é a satisfação do dever cumprido. Além disso,
estar constantemente em contato com leituras e temas da área do Curso em que se
ministra aulas auxilia na compreensão das diversas possibilidades de atuação do(a)
secretário(a) no mundo do trabalho e, consequentemente, a boa conduta em sala.
Portanto, decidiu-se que o projeto será aplicado em outras oportunidades do
próximo ano, sempre resgatando os objetivos-chave: incentivar a leitura, fomentar
debates na área secretarial, promover possíveis pesquisas e divulgar o Curso Técnico
em Secretariado do Instituto Federal Farroupilha – Campus São Vicente do Sul.

Referências

DIMENSTEIN, G.; ALVEZ, R. Fomos maus alunos. São Paulo: Papirus, 2003.

EDUCAÇÃO PROFISSIONAL. Referenciais Curriculares Nacionais da Educação


Profissional de Nível Técnico. Brasília: MEC, 2000.

INSTITUTO PAULO FREIRE. Inter-Transdisciplinaridade e Transversalidade.


Disponível em: http://www.inclusao.com.br/projeto_textos_48.htm; Acesso em 26 de
novembro de 2009.

PERES, C. M.; ANDRADE, A. S.; GARCIA, S. B. Atividades extracurriculares:


multiplicidade e diferenciação necessárias ao currículo. Disponível em:
http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0100-
022007000300002&script=sci_arttext&tlng=e!n; Acesso em 17 de novembro de 2009.

REICH, ROBERT B. O Trabalho das Nações – Preparando-se para o capitalismo no


Século 21. São Paulo: Educator, 1994.

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