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TEMPO

PARA TUDO
ORGANIZAÇÃO
E GESTÃO PESSOAL

DECO PROTESTE DIGITAL


INSTRUÇÕES DE NAVEGAÇÃO

ÍNDICE GERAL

A ÍNDICE REMISSIVO

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TEMPO PARA TUDO
Organização e gestão pessoal

Título e autor da obra original: Which? Way to Manage your Time


— and your Life, Mark Greener
Tradução da obra original: Alexandra Lemos
Revisão técnica e adaptação do original: Osvaldo Santos
Revisão técnica e adaptação da presente edição: Elisabete Santos e Helena Palma
Colaboraram nesta edição: Anabela Jorge, António Ribeiro e Nuno Rico
Projeto gráfico: Alexandra Lemos
Capa: Alexandra Lemos e João Ribeiro
Paginação: Sandra Pardal
Formato digital: Alda Mota e Isabel Espírito Santo
Coordenação editorial e redação: Alda Mota

Diretora e editora de publicações: Cláudia Maia


Coordenador dos guias práticos: João Mendes

© 2011, 2019 DECO PROTESTE, Editores, Lda.


Todos os direitos reservados por:
DECO PROTESTE, Editores, Lda.
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1900-221 LISBOA Tel. 218 410 800
Correio eletrónico: guias@deco.proteste.pt

Esta edição não contempla alterações


posteriores a fevereiro de 2019.

Data da presente edição: fevereiro de 2019

Depósito legal n.º 451326/19


ISBN 978-989-737-113-4

Impressão: AGIR
Rua Particular, Edifício Agir
Quinta de Santa Rosa
2680-458 CAMARATE

Esta edição respeita as normas


do novo Acordo Ortográfico.

Esta publicação, no seu todo ou em parte,


não pode ser reproduzida nem transmitida
por qualquer forma ou processo, eletrónico,
mecânico ou fotográfico, incluindo fotocópia,
xerocópia ou gravação, sem autorização prévia
e escrita da editora.

deco.proteste.pt/guiaspraticos
A

Índice
Porquê este livro? 7 As mulheres no mercado de trabalho 37

Nunca é tarde para começar 38


CAPÍTULO 1
Da cabana à sala de reuniões Seja gestor de si próprio 40

Impor a ordem  11
A nossa “caixa de ferramentas” 11 CAPÍTULO 3
O ritmo acelerado da vida 12 A necessidade de mudar
Desenvolvimento do trabalho a distância 13
A dinâmica do processo 42
Estratégias para sobreviver Estímulos desencadeadores 43
num mundo em mudança 13 A negação do problema 44
Caminhar em direção à mudança 44
Conhecimentos ao longo da vida 17 Entender o problema 45
Se a tentativa não for bem-sucedida 48
O preço das escolhas 18 Liberte-se da bagagem 48
Preparar a mudança e agir 51
Viver com autonomia 20
O centro de controlo 20 Manter a mudança 53
Estar consciente do que se quer 21

CAPÍTULO 4
CAPÍTULO 2 As prioridades
Gestão do tempo para todos
Recupere a vida 56
Stresse com conta peso e medida 24
O stresse laboral 26 Defina objetivos 58
O burnout 27 A sua declaração de missão 60
Outras abordagens 61
Trabalhadores compulsivos 29
Porquê o trabalho compulsivo? 31 Compreender as suas motivações 62
Os sintomas do trabalho compulsivo 32 O que é para si o sucesso profissional? 62
Em que perfil se enquadra? 64
Gastar, gastar, gastar 33 Três chaves para o poder 64
As compras compulsivas 34
Quando é preciso ajuda 34 O quadro geral 68
Avalie as suas competências 68
Lidar com o excesso de informação 37 Tome aquela decisão 70
A

CAPÍTULO 5 Organize-se! 113


Os elementos essenciais Trabalhe de forma eficaz
da gestão do tempo e eficiente 114
Aprenda a delegar 118
Para onde vai o tempo? 74 Modere o uso do telemóvel 119
Faça um registo do tempo 74
Trabalhe quando e onde Ergonomia no local de trabalho 120
for mais produtivo 76
Melhore a produtividade 77 Poluição sonora 122

A solução está no planeamento 79 Evitar as interrupções 123


Use uma agenda 79
Organize uma lista de tarefas 80 Domine a internet 125
Adapte-se 82
Gerir as reuniões 126
Manter a calma
em momentos de crise 83 Gerir a sua chefia 129
Uma relação de adulto
Simplificar 85 para adulto 130
Aprenda a dizer “não” 85 Faça uma proposta sólida 131
Desenvolva a capacidade de negociação 88
Ultrapasse a timidez 90 Pensar fora da caixa 131
Além do brainstorming 132
Sobre o acompanhamento personalizado 92 Deixe as tarefas no trabalho 136

CAPÍTULO 6 CAPÍTULO 8
Aumentar o tempo A gestão do tempo
e a família
Fadiga: um problema comum 96
Vença a fadiga 100 O horário familiar 138

A importância do exercício físico 105 Criar rituais  140

Meditação e relaxamento 106 As expectativas dos seus filhos 141


Meditação 106
Relaxamento 107 Acabar com o supérfluo 142

Progresso ou retrocesso? 144


CAPÍTULO 7
Gerir o tempo no trabalho As novas dependências 145

Produtividade e stresse 112 Você é um bom modelo? 145


A

CAPÍTULO 9
50 ideias para simplificar a vida

Gestão financeira 148

Vida familiar 156

Espiritualidade 160

Anexo: fontes consultadas 165

Índice remissivo 171


A Introdução

Porquê este livro?


Se está a ler este guia é porque, de alguma forma, pretende aprender estra-
tégias para melhor gerir o seu tempo de modo a sentir que tem, de facto,
“tempo para tudo”. Pois bem, a primeira coisa que queremos dizer-lhe é que
não é obrigado a ter tempo para tudo, mas que tem, sim, de ter tempo para
o que para si é mais importante em cada uma das áreas da sua vida (pessoal,
familiar, social e profissional). A segunda ideia que pretendemos transmitir-lhe
é que escolher onde investir o seu tempo, quais as atividades ou os assuntos
que deve priorizar e como conciliar as diversas exigências que lhe são feitas
nem sempre é uma tarefa fácil. Mas nós ajudamos.

A tecnologia avança a um ritmo cada vez mais alucinante. Há 30 anos, quantas


pessoas usavam a internet? Quantas tinham telemóvel? Como comunicávamos?
Como eram as nossas redes sociais?

Atualmente, os recursos tecnológicos fazem parte da nossa vida, sendo difícil


imaginarmo-nos a viver sem eles. Mas são, também, um pau de dois bicos.
Permitem-nos, sem dúvida, realizar mais tarefas num menor tempo, contribu-
indo para, a nível profissional, aumentar a nossa produtividade e eficiência; a
nível pessoal, geram mais tempo para dedicarmos a atividades pessoais, fami-
liares e sociais; e, a ambos os níveis, potenciam formas de nos relacionarmos,
mesmo à distância. Contudo, também contribuem para que vivamos num
ritmo mais acelerado, com mais exigências e que lhes dispensemos tempo.

A verdade é esta: com os avanços tecnológicos torna-se cada vez mais difícil
“desligar” ao longo do dia, reservando tempo só para nós. Mas, paralela-
mente, a tecnologia oferece-nos mais opções de escolha. Esta multiplicidade
(à partida, um aspeto positivo dos tempos modernos) acaba, muitas vezes,
por se transformar numa exigência adicional, consumindo-nos tempo e con-
tribuindo para que desviemos a nossa atenção de assuntos importantes. Ao
fazê-lo, poderemos deparar-nos com falta de tempo para realizar determina-
das tarefas, responder a exigências e concretizar objetivos que consideramos
prioritários, contribuindo, assim, para aumentar o stresse e a insatisfação. Em
suma, apesar de os avanços tecnológicos nos facilitarem a vida, estes também
requerem da nossa parte uma maior capacidade de gestão da sua utilização
e de conciliação com as nossas prioridades.

Torna-se, assim, evidente a necessidade de se encontrar um equilíbrio entre o


tempo que despendemos na nossa vida profissional, familiar, social e pessoal.
Num mundo em constante mudança e com crescentes exigências, conseguirmos

7
A Tempo para tudo

manter-nos (física e mentalmente) saudáveis e satisfeitos é cada vez mais um


desafio. Requer uma definição clara dos nossos valores e prioridades como
forma de melhor decidirmos como gerir o nosso tempo. Este guia pretende ser
uma ferramenta útil para o ajudar neste propósito, conciliando as exigências
nas diversas áreas da vida com vista a alcançar um maior nível de satisfação
e de bem-estar.

O diagrama abaixo mostra como o livro está organizado, permitindo uma


consulta em função do tema que pretende explorar. No final de cada capítulo,
explore as caixas onde resumimos as ideias principais que deve reter.

NUM PISCAR DE OLHOS…

O trabalho e a vida no mundo atual


(caps. 1 e 2)

Lidar com a mudança


e pô-la em prática
(cap. 3)

Decidir o que se deseja da vida:


prioridades, atitudes e valores
(cap. 4)

Elementos essenciais da organização


do tempo e da vida
(cap. 5)

Cuidar de si
(cap. 6)

Gerir o tempo no emprego Gerir o tempo em casa


(cap. 7) (cap. 8)

Simplificar a sua vida


(cap. 9)

8
Capítulo 1

Da cabana à sala
de reuniões
A Tempo para tudo

Dados recolhidos no âmbito do Inquérito nacional aos usos do tempo de


homens e de mulheres em Portugal, de 2016, indicam que quase metade da
população portuguesa considera não ter tempo suficiente para fazer tudo
o que quer. O facto de estar interessado neste livro sugere que pode fazer
parte desta fatia. Talvez gostasse de passar mais tempo com a família ou
de poder dedicar-se aos seus passatempos de forma mais empenhada. Ou
talvez se sinta apenas assoberbado pelas exigências da sua vida profissional.

Atualmente, a maioria das pessoas sente uma pressão crescente em termos


profissionais, sociais, familiares e pessoais. É preciso encaixar cada vez
mais compromissos nas 24 horas diárias: às solicitações para trabalhar até
cada vez mais tarde juntam-se as tarefas familiares (por exemplo, cuidar
da casa, dar assistência aos filhos e, em alguns casos, a familiares idosos) e
sociais (por exemplo, participar em atividades de voluntariado), pelo que
se torna realmente difícil ter tempo para investir nos interesses pessoais.
Esta dificuldade poderá contribuir para uma sensação de insatisfação e de
que se vive só para fazer face às exigências e responsabilidades.

Sejam solicitações profissionais, contas para pagar ou filhos para cuidar,


todos lidamos com responsabilidades às quais não podemos fugir. Do mesmo
modo, todos temos expectativas, sonhos e ambições. E não queremos des-
perdiçar tempo.

A tentativa, muitas vezes frustrada, de encaixar os compromissos profis-


sionais, familiares, sociais e pessoais num período limitado pode causar
stresse, e este pode desencadear (ou agravar) diversas perturbações físi-
cas e/ou psicológicas. Aliás, a combinação de stresse e horários exigentes

STRESSE: UM CÍRCULO VICIOSO

Horários Aumento
exigentes do stresse

Demora Dificuldade
na concretização na concretização
das tarefas das tarefas

10
A Da cabana à sala de reuniões

resulta facilmente num círculo vicioso. Senão vejamos: os horários exigentes


provocam um elevado nível de stresse; este prejudica a concretização das
tarefas; isto leva a que se demore ainda mais tempo para que estas sejam
concretizadas; gerando um aumento dos níveis de stresse.

Impor a ordem
Existem estratégias que visam trazer uma certa ordem para este caos. Estas
passam não só por gerir o tempo, conciliar as atividades que são para nós
importantes e melhorar a nossa produtividade, como também por estabe-
lecer um equilíbrio entre as várias solicitações que exigem tempo, tendo
em consideração os nossos objetivos de vida.

Especialistas em gestão, responsáveis por prestar apoio a grandes empresas


mundiais, reconhecem que ajudar os funcionários a restabelecer o equilíbrio
entre as diversas áreas das suas vidas melhora a sua produtividade. Essen-
cialmente, todas as ideias e estratégias para ganhar mais tempo têm como
objetivo simplificar a vida. Contudo, levar uma vida simples não implica
necessariamente viver numa cabana de madeira, mas, sim, organizar o
dia-a-dia de modo a evitar perdas de tempo desnecessárias, que em nada
contribuem para a concretização dos objetivos.

A nossa “caixa de ferramentas”


Segundo um artigo publicado pelo especialista em gestão britânico Brian
Clegg, “há demasiadas técnicas de gestão do tempo centradas no ‘fator tempo’.
Embora seja, de facto, relevante, trata-se apenas de um fator secundário,
pois a verdadeira organização do tempo e da vida tem de visar as prioridades
pessoais”. Clegg sugere que se determine quais os princípios, ideias e recursos
de gestão do tempo e da vida mais eficazes para cada indivíduo. De acordo
com as suas escolhas, cada pessoa poderá desenvolver uma espécie de “caixa
de ferramentas” pessoal para a gestão do tempo e da vida, à qual poderá
recorrer sempre que necessite.

No seu livro Time Management and Personal Development (em português,


A Gestão Eficiente do Tempo), John Adair, outro consultor de gestão, che-
gou a uma conclusão que vem ao encontro deste aspeto. Ele defendeu que
devemos encarar o tempo como “o nosso bem mais precioso”, que deverá
ser empregado cuidadosamente e de forma prudente. Esta atitude, sugeriu,

11
A Tempo para tudo

deve ser um elemento essencial em qualquer filosofia de vida. De facto,


quem gere o tempo gere a vida.

E não é preciso alterarmos a nossa personalidade de forma drástica para


conseguirmos gerir melhor a vida. Pequenas mudanças de comportamento
podem gerar alguma transformação, contribuindo para aumentar a nossa
satisfação e o sentido de realização pessoal. Não obstante, a mudança de
comportamento numa única área pode não ser suficiente. Por vezes, é neces-
sário uma abordagem mais alargada que garanta uma gestão equilibrada da
vida profissional, familiar, social e pessoal.

O ritmo acelerado da vida


Contrariamente ao que possa parecer, não é necessariamente verdade que
a época atual provoque mais stresse do que, por exemplo, a Idade Média; as
ameaças podem simplesmente ter-se alterado: da peste negra para as crises
económicas e sociais, por exemplo. Contudo, uma coisa é certa: o ritmo
cada vez mais acelerado da vida obriga a uma gestão do tempo mais eficaz.

Até meados do século xix, o sol comandava a vida, e as pessoas viam-se


obrigadas a encaixar tudo o que tinham para fazer nas horas em que ainda
havia luz natural. Apenas aqueles que podiam comprar velas tinham a pos-
sibilidade de evitar os padrões de trabalho tradicionais, baseados na dife-
rença entre dia e noite. Atualmente, graças à energia elétrica, podemos, se
o quisermos ou necessitarmos, estar ocupados 24 horas por dia.

Simultaneamente, a sociedade está em mudança devido à explosão de opções


em vários setores, por exemplo, no do consumo e no das novas tecnologias.
À primeira vista, isto pode parecer um aspeto positivo: afinal, é a variedade
que dá cor à vida. Mas, muito frequentemente, estas opções surgem em
áreas triviais ou periféricas. Em vez de tornar o nosso quotidiano mais
rico, a proliferação de opções contribui para aumentar a pressão, além de
implicar um maior dispêndio de tempo no processo de escolha. Exemplo
desta proliferação é a variedade de canais de televisão: existem dezenas,
mas quantos vemos realmente? Ou, outro caso: podemos escolher entre
milhões de sites, centenas de bloggers para seguir, mas quantos deles podem
ser verdadeiramente úteis ou interessantes para nós?

Assim, a pertinência de muitos dos aspetos que contribuem para acelerar


o ritmo da vida pode ser questionada: estamos assim com tanta pressa que
necessitamos de comprar a fast-food no drive-through ou que precisamos

12
A Da cabana à sala de reuniões

de "nos despachar" nas caixas express dos supermercados? Estes hábitos


contribuem para produzir uma sensação de que é necessário viver a um
ritmo frenético, sob pena de deixar escapar algo (embora possa não se
perceber bem o quê...). Consequentemente, muitas pessoas sentem que
não conseguem arranjar tempo para fazer aquilo que consideram verda-
deiramente importante.

Desenvolvimento do trabalho a distância


Outra tendência recente que tem vindo a alterar profundamente a sociedade
é o crescimento acentuado do número de pessoas que trabalham a partir de
casa. De acordo com um estudo promovido pela Randstad em 2018, mais
de metade dos portugueses indicam que a sua entidade empregadora lhes
providencia os equipamentos tecnológicos que permitem concretizar as
suas tarefas sem complicações a partir de casa ou de outra localização. É
claro que esta modalidade parece fazer todo o sentido: do ponto de vista
económico, as empresas conseguem reduzir até 70% o espaço ocupado
pelos escritórios físicos, o que se traduz numa diminuição considerável de
custos; do ponto de vista dos recursos humanos, permite aos trabalhadores
uma maior autonomia na gestão do tempo, contribuindo para que mais
facilmente possam conciliar as exigências e as necessidades nas diversas
áreas das suas vidas, com um maior nível de satisfação pessoal e, conse-
quentemente, um aumento da produtividade profissional. Isto, é claro, em
teoria. Na prática, contudo, para conseguir conciliar a vida profissional,
familiar, social e pessoal é preciso organizar o tempo de forma eficaz, e isso
requer muita disciplina. O que nem sempre acontece.

Estratégias para sobreviver


num mundo em mudança
Trix Webber, investigadora de gestão da Universidade de Brighton, no Reino
Unido, sugeriu dez estratégias para “sobreviver e ser bem-sucedido” do
ponto de vista empresarial. Dedicamo-nos aos seus conselhos nas páginas
seguintes.

13
A Tempo para tudo

1. Dedicar-se à aprendizagem
e ao desenvolvimento
As empresas estão, cada vez mais, a concentrar a sua atenção na apren-
dizagem e no desenvolvimento organizacional. Tal não é surpreendente,
se nos lembrarmos de que as empresas dotadas de tecnologia de ponta
(como as que estão ligadas às indústrias das telecomunicações, de infor-
mática e de produtos farmacêuticos) assumem que muitos dos seus
conhecimentos tecnológicos estarão ultrapassados em menos de uma
década. Esta ideia de “organização em aprendizagem constante” reflete
a necessidade crescente de as empresas desenvolverem e consolidarem
o capital intelectual de forma mais eficaz. Do mesmo modo, mas a um
nível individual, cada pessoa precisa de desenvolver e consolidar os
seus conhecimentos e a sua experiência, o que conduzirá a um uso mais
eficiente e criativo do tempo.

2. Desenvolver uma aprendizagem criativa


A criatividade é, cada vez mais, o segredo do sucesso. Talvez precise de
pensar de forma criativa para descobrir formas de ultrapassar os problemas
que enfrenta atualmente. E precisa com certeza de ser criativo para adaptar
estratégias de gestão do tempo à sua situação particular. Mas apenas poderá
aplicar a criatividade se estiver atualizado relativamente às suas áreas de
interesse (daí a necessidade de manter a aprendizagem e o desenvolvimento
pessoal como estratégia de base).

Todos possuímos um potencial de criatividade em muitas áreas da vida.


Precisamos é de oportunidades para o explorar e desenvolver. Em alguns
casos, estas áreas de interesse podem até transformar-se em carreiras pro-
fissionais de sucesso. Uma aprendizagem criativa dá-nos a possibilidade de
trabalhar para concretizar as nossas ambições.

3. Perspetivar o futuro
Atualmente, muitas empresas usam uma técnica denominada “visualização”
para a definição de objetivos e o planeamento das estratégias para os alcançar.
Como veremos no capítulo 4, poderá usar a “visualização” para imaginar
o seu futuro e dar à sua vida um objetivo que esteja em harmonia com os
valores e as filosofias que são mais importantes para si. Mas não se esqueça:
é fundamental rever o seu progresso com regularidade.

14
A Da cabana à sala de reuniões

4. Criar e gerir grupos e contactos


importantes em termos de apoio
Muito embora o apoio familiar, de amigos ou de vizinhos seja um fator promotor
do bem-estar e facilitador da gestão das adversidades, e não obstante estarmos
cada vez mais “ligados” através de meios de contacto online, tendemos a
viver de forma isolada: os familiares podem estar dispersos pelo país, ou até
mesmo pelo mundo, e poucas são as pessoas com grandes círculos de amigos.

Apesar desta propensão para um estilo de vida mais isolado, a espécie humana
é naturalmente social. No trabalho, por exemplo, as pessoas reúnem-se ins-
tintivamente — muitas vezes, à volta da máquina de café. E é cada vez mais
necessária a formação de grupos que sirvam para trocar ideias e partilhar
experiências.

Apesar de a falta de apoio contribuir para o aumento do stresse e prejudicar


a produtividade, nem sempre quem está por perto pode ajudar (por falta
de disponibilidade, por não ter as devidas competências ou, até, por fazer
parte do problema). Nestes casos, recorrer a um especialista (por exemplo,
um psicólogo, um terapeuta conjugal, um psiquiatra, o médico de família
ou um assistente social) pode ser de grande utilidade, por permitir ajudar a
encontrar estratégias para resolver os problemas. Leia mais sobre este assunto
na página 92).

5. Diminuir a dependência em relação ao emprego


Há pessoas que, por muito elevado que seja o seu salário, parecem nunca
ter dinheiro suficiente. De facto, a maioria das pessoas vive ao nível do seu
rendimento, e viver abaixo dele obrigaria a um ajustamento psicológico e
prático significativo. No entanto, é possível fazer esse ajustamento sem que,
para tal, seja necessário levar uma vida austera (veja os capítulos 8 e 9). Terá,
no entanto, de ser prudente com o dinheiro que tanto lhe custa a ganhar, e
isso significa acabar com o ciclo de “chapa ganha, chapa gasta” — ou de gastar
mesmo antes de receber o ordenado.

Esta atitude mais prudente levará também a uma diminuição da sua depen-
dência em relação ao seu emprego. É óbvio que, se estiver financeiramente
menos dependente do seu emprego, as consequências de ficar sem ele serão
menos significativas e poderá ter mais liberdade para escolher uma atividade
profissional que o realize. Ao ser prudente estará também a contribuir para
diminuir as tensões familiares, uma vez que as preocupações com o pagamento

15
A Tempo para tudo

das despesas constituem uma das principais causas de stresse. Por outras
palavras, a prudência é um fator importante, que o ajudará a gerir melhor a
sua vida e o seu tempo. Afinal, viver de forma mais comedida e poupada e
com um orçamento mais controlado até pode tornar a sua vida mais rica.

6. Reajustar os compromissos nas diversas áreas


Quando assumimos compromissos para com uma organização, seja ela
profissional ou comunitária, concordamos em passar algum tempo ao seu
serviço. Apesar disso, existe uma necessidade de equilibrar os nossos com-
promissos profissionais com os familiares, sociais e pessoais. Uma gestão
eficaz do tempo é, provavelmente, a melhor maneira de o fazer.

A ideia de que um emprego é para a vida toda praticamente desapareceu, é


certo, mas algumas empresas exigem mais compromisso da parte dos seus
funcionários nos dias de hoje do que antes. Isto contribui para fazer pender
o ponteiro da balança, em muitos casos, para o lado profissional e, por vezes,
isso indica que é chegada a altura de repensar as necessidades e prioridades
e ponderar o tempo e a energia dedicados às diversas áreas da vida.

Se considerar importante levar a que o ponteiro da balança gire na direção


contrária, terá de aprender a recusar algumas das solicitações feitas no
contexto do trabalho. E o facto de reajustar o seu compromisso não significa
que esteja a ser desleal; antes que se lembra de que também tem objetivos
e prioridades pessoais.

7. Manter expectativas realistas em relação às organizações


Repensar as suas necessidades, prioridades e compromissos permitirá dire-
cionar a sua energia para o desenvolvimento das capacidades necessárias
para atingir os seus objetivos.

Deve pensar no futuro, começando por avaliar as suas competências (veja a


página 68) e investindo na formação contínua. Não deve ficar à espera de que
a sua empresa olhe por si. Se investir numa atualização de conhecimentos
e repensar com regularidade o seu percurso profissional, conseguirá lidar
melhor com qualquer obstáculo imprevisto.

Mas lembre-se: poucas pessoas podem esperar uma viagem calma ao longo
de um percurso profissional. Reduções e cortes são uma realidade desagra-
dável e que ocorre mesmo em profissões especializadas.

16
A Da cabana à sala de reuniões

8. Estar atento às mudanças


Esta atitude permite-lhe agir rapidamente face a alterações das circunstâncias.
É importante reservar algum tempo para se manter a par das tendências
sociopolíticas, especialmente aquelas que possam vir a ter impacto na sua
qualidade de vida a médio e a longo prazo (veja os capítulos 8 e 9). Um exem-
plo é o do planeamento financeiro: caso pretenda evitar uma velhice com
o dinheiro contado, torna-se cada vez mais importante fazer poupanças e,
talvez até, investimentos.

9. Desenvolver a capacidade de negociação


Ser bom negociante é uma característica fundamental para algumas profis-
sões, nomeadamente, para diretores e representantes de vendas, freelancers e
pequenos empresários. Nos dias de hoje, esta característica tornou-se impor-
tante para todos, e nesse sentido devemos desenvolver a nossa capacidade
de negociação para fazer face a situações que podem ir desde a discussão de
um aumento salarial ao ajustamento dos prazos de execução de um trabalho.
Adiante, iremos analisar competências e estratégias facilitadoras do processo
de negociação (veja o capítulo 5).

10. Planear a carreira de forma inovadora e empreendedora


Como já afirmámos antes, a ideia de um emprego para a vida é cada vez
menos uma realidade. Atualmente, é necessário ter uma visão mais alargada
e desbravar caminho pela “floresta” do emprego, em vez de seguirmos as
pegadas dos outros. Para tal, temos de ser inovadores e empreendedores e
alicerçar o nosso lugar dentro da empresa para a qual trabalhamos ou até
mesmo constituir a nossa própria empresa. Para tal, é preciso estabelecer
necessidades e prioridades e identificar estratégias para equilibrar as solici-
tações concorrentes que exigem o seu tempo (veja o capítulo 4).

Conhecimentos ao longo da vida


A aprendizagem contínua e o desenvolvimento pessoal são temas comuns destas
dez estratégias para ser bem-sucedido que elencámos atrás. Para conseguir

17
A Tempo para tudo

planear uma carreira profissional pode ter de aprender mais sobre si, adquirir
conhecimentos numa determinada área e desenvolver novas capacidades.
O mundo está a mudar rapidamente, e não há escola ou curso universitário
que nos prepare convenientemente para a direção que a nossa vida e a nossa
carreira poderão seguir.

A aprendizagem contínua e o desenvolvimento pessoal implicam que lhes


dedique algum tempo. Se não gosta de aprender apenas por prazer, pense na
aprendizagem como um investimento. O tempo que investir agora reverterá
substancialmente a seu favor, uma vez que o sucesso no trabalho depende
cada vez mais do desenvolvimento das suas capacidades. Ao contratá-lo, a
entidade empregadora “compra” este conjunto de capacidades. É, afinal,
o que o distingue dos seus pares.

Aliás, as empresas estão a prestar cada vez mais atenção ao que está para além
da experiência e dos conhecimentos específicos que se encaixam na descrição
de uma função. A seleção de profissionais com base em aspetos como persona-
lidade, capacidades intelectuais, competências de relacionamento interpessoal
e talento, além do curriculum académico e profissional, permite à empresa
constituir equipas de trabalho de excelência. Neste sentido, o mercado de
trabalho obriga ao desenvolvimento ativo de novas capacidades e saberes, em
vez da simples atualização de conhecimentos e competências profissionais.
Assim, é importante dispor de tempo suficiente para investir numa aprendi-
zagem contínua, sem que, para isso, a vida tenha de sofrer um desequilíbrio.

Se tudo isto parece demasiado trabalhoso, lembre-se de que a aprendizagem


contínua também constitui uma oportunidade para diversificar as suas ati-
vidades e interesses. Além disso, adotar uma postura ativa, de procura de
novos conhecimentos e de desenvolvimento do conhecimento de si próprio,
permite-lhe aprender a gerir o stresse mais eficazmente do que se ficar sentado
a ver televisão ou a analisar os posts mais recentes nas suas redes sociais…

O preço das escolhas


A escolha das estratégias para desenvolvermos as nossas capacidades e melho-
rarmos a nossa vida conduz a outro conceito essencial: o preço das escolhas.

18
A Da cabana à sala de reuniões

Imagine, por exemplo, que quer comprar uma máquina de lavar loiça
sem recorrer ao crédito. Para tal, pode ter de adiar outras compras ou
aquela viagem de fim de semana que andava a planear. Por outras pala-
vras, o preço da máquina de lavar loiça é a possibilidade de ir de viagem
de fim de semana. Os economistas descrevem esta situação como custo
de oportunidade.

Este exemplo pode parecer trivial, mas a ideia do custo de oportunidade


está latente em todos os aspetos da gestão do tempo e do dinheiro na
sociedade, rica em termos económicos, mas pobre em termos de tempo.
Se trabalhar até mais tarde, perderá a oportunidade de passar mais tempo
com a família. Se seguir a tendência dos portugueses, que passam em
média, por dia, mais de três horas e meia a ver televisão, pode perder a
oportunidade de passar esse tempo a brincar com as crianças. Se se sentar
no sofá a comentar as fotos de uma rede social online de que faz parte
estará a perder tempo que poderia usar para fazer exercício ou dedicar
a si próprio.

Dados do inquérito referido no início deste capítulo demonstram que 47,6%


dos adultos consideram que os seus compromissos profissionais os impe-
diram de dedicar à família o tempo que gostariam e que 58,3% afirmam
ter-se sentido demasiado cansados depois do trabalho para usufruírem
da sua vida pessoal. Assim sendo, também o custo de oportunidade de
se comprometer demais com o trabalho é o tempo que poderia ter dedi-
cado aos seus familiares e amigos, bem como aos seus passatempos e ao
desenvolvimento pessoal. Em suma, cada vez que escolhemos despender
tempo fazendo alguma coisa, perdemos a oportunidade de fazer outra.
É um conceito óbvio, mas talvez nunca tenha pensado nele de forma
aprofundada.

Quando estiver perante uma situação em que pode escolher, sabendo que
essa escolha tem um preço, tente ter uma visão mais global. O custo de
oportunidade é um conceito importante que pode ajudar a manter o equi-
líbrio entre necessidades e prioridades concorrentes, uma vez que ajuda a
avaliar as implicações das diversas opções.

Tomar decisões pode ser complicado (no capítulo 4, referimos algumas


técnicas que o podem ajudar nesta tarefa). Mas, como salientou o filósofo
americano Irving Singer, “temos de pagar um preço por tudo o que conse-
guimos na vida”. Cada um de nós terá de decidir que preço está disponível
para pagar por uma determinada escolha.

19
A Tempo para tudo

Viver com autonomia


O conceito de custo de oportunidade permite-nos ter mais consciência das
consequências das nossas decisões e escolhas. Por outras palavras, dá-nos
o poder de tomar decisões com melhor conhecimento de causa. Esta atri-
buição de poder (empowerment) significa assumir a responsabilidade sobre
a vida e as escolhas e viver de forma autónoma.

O centro de controlo
O centro de controlo (ou locus de controlo) refere-se às expectativas que
temos sobre o controlo que conseguimos exercer nos acontecimentos que
ocorrem nas nossas vidas.

A perceção de que se tem controlo sobre os acontecimentos que ocorrem


nas nossas vidas é uma competência muito importante para gerir o stresse,
uma vez que permite à pessoa percecionar-se como sendo mais autónoma na
gestão dos acontecimentos e assumir a responsabilidade não só pelos seus
sucessos como também pelos erros cometidos — ou seja, tem um centro de
controlo interno. Sabe-se, por exemplo, que, quando uma pessoa controla a
forma como planeia e realiza o seu trabalho gere melhor o stresse inerente,
e isso ajuda-a a lidar com os desafios que se lhe apresentam.

Por sua vez, as pessoas que consideram ter pouco controlo sobre o que
acontece nas suas vidas têm menor autonomia na gestão do seu equilíbrio
e bem-estar. Diz-se que estão sujeitas a um centro de controlo externo. Para
elas, a vida corre, em grande medida, fora do seu controlo pessoal. Estas
pessoas tendem a atribuir aos outros a responsabilidade dos acontecimentos,
mesmo daqueles pelos quais são evidentemente responsáveis. Poderão, por
exemplo, dizer que não entregaram um relatório por causa da greve dos
comboios ou porque um superior lhes mandou fazer outra coisa. Por outro
lado, como não sentem controlo sobre o seu trabalho e como são outras
pessoas a determinar o ritmo ou a forma como trabalham, tenderão a sentir
um maior nível de stresse.

Os trabalhadores das linhas de montagem, os funcionários de caixa e os


trabalhadores dos call centers são casos típicos de pessoas com uma reduzida
perceção de controlo sobre as suas vidas profissionais. Apesar de o tema do
stresse dos executivos e quadros superiores das empresas estar na ordem

20
A Da cabana à sala de reuniões

do dia, estes trabalhadores beneficiam de maior autonomia no exercício


das suas funções, o que potencia uma maior capacidade para lidar com o
stresse decorrente das suas vidas profissionais.

Acresce que a reduzida perceção de autonomia numa área da vida se estende


muitas vezes a outras. As pessoas que se sentem sem autonomia no trabalho
podem, por exemplo, não ser capazes de deixar de fumar, beber de mais
ou comer alimentos pouco saudáveis.

A atribuição de poder é, então, uma estratégia que permite desenvolver um


centro de controlo interno. Ou seja, ao contribuir para aumentar a sensação de
poder (embora com aumento da responsabilidade), a sensação de autonomia
estará a ser fortalecida. Esta parece ser a diferença crucial entre as pessoas
que tentam resolver os seus problemas e as que se sentem incapazes para
o fazer. O desenvolvimento de um centro de controlo interno será, então,
importante para que as pessoas mais facilmente consigam implementar
uma ou mais estratégias que lhes permitam gerir os acontecimentos de
vida, nomeadamente, estratégias de gestão do tempo. O sucesso tende a
gerar mais sucesso e, por isso, à medida que for capaz de gerir melhor o
seu tempo e ultrapassar as dificuldades, sentir-se-á cada vez mais confiante
para continuar a fazê-lo.

As pessoas que consideram que a sua forma de lidar com os acontecimen-


tos de vida é eficaz (ou seja, que resulta nos efeitos desejados) adaptam-se
mais facilmente às mudanças. Sentem que têm controlo sobre a maioria dos
aspetos presentes na sua vida e no ambiente que as rodeia e apercebem-
-se da relação existente entre o seu comportamento e os acontecimentos.
As técnicas de gestão do tempo são, por isso, estratégias que vão permitir
aumentar a perceção de controlo sobre as diferentes áreas de vida.

Estar consciente do que se quer


A atribuição de poder implica termos noção exata daquilo que é importante
para nós. Henry Thoreau, nascido em 1817 em Massachusetts, nos Estados
Unidos da América, viveu durante dois anos numa cabana de madeira na
margem de um pequeno lago, no meio de uma floresta. O livro que relata a
sua experiência, Walden ou a Vida nos Bosques, editado em 1854, não atraiu
muitos leitores antes da sua morte, que ocorreu oito anos após a sua publi-
cação. Contudo, talvez Thoreau tenha nascido um século e meio antes do
tempo, já que, atualmente, Walden ou a Vida nos Bosques é uma das obras
preferidas dos que tentam simplificar e gerir a sua própria vida.

21
A Tempo para tudo

Thoreau descreveu a forma como simplificou a sua vida e reorganizou as suas


prioridades para se tornar no que hoje chamaríamos “uma pessoa com poder
e com um centro de controlo interno”. Em Walden ou a Vida nos Bosques,
escreveu: “Retirei-me para a floresta porque desejava viver conscientemente,
enfrentar apenas os factos essenciais da vida, e para ver se conseguia aprender
o que ela tem para ensinar, e para não descobrir, ao morrer, que não tinha
vivido. Desejava viver profundamente e sugar todo o tutano da vida.”

Neste texto, a palavra-chave é conscientemente. Embora a ideia de viver num


idílio rural pareça tentadora, poucas pessoas conseguem, ou desejariam real-
mente, dar um salto como este. Mas a filosofia de Thoreau de viver conscien-
temente e de se retirar da vida tudo o que ela tem para dar pode ser aplicada
a todos nós, quer se viva numa cabana de madeira ou numa sala de reuniões.
Todos temos de fazer escolhas, e estas devem ser feitas conscientemente.
É esse o objetivo da gestão do tempo.

NUM PISCAR DE OLHOS…


• A combinação de horários exigentes com stresse origina um círculo vicioso que gera, ele
próprio, mais stresse.
• Gerir bem o tempo implica decidir que coisas são importantes e planear o caminho para
chegar até elas. Trata-se de visualizar o todo e encontrar tempo para uma aprendizagem
e um desenvolvimento contínuos. E trata-se também de cuidar da saúde física e mental.
• O mundo está a mudar rapidamente. É preciso dedicar algum tempo à aprendizagem
contínua e ao desenvolvimento pessoal.
• Cada vez que escolhemos despender tempo fazendo alguma coisa, perdemos a oportu-
nidade de fazer outra.
• Dominar as técnicas de gestão do tempo permite aumentar a perceção de controlo sobre
as diferentes áreas.
• Todos temos de fazer escolhas, e estas devem ser feitas conscientemente.

22
Capítulo 2

Gestão do tempo
para todos
A Tempo para tudo

Num mundo em constante mudança, no qual somos pressionados a viver


rapidamente, a respeitar a prazos, a superar os limites sem abdicar das nossas
expectativas, sonhos e ambições, torna-se fundamental tirar o melhor partido
possível do tempo. Este capítulo trata de explicar por que razão a gestão de
tempo é uma necessidade para todos.
Começamos por abordar vários tipos de stresse, sobretudo associados ao mundo
laboral, antes de passar para dois problemas típicos dos tempos modernos:
o trabalho compulsivo (workaholism) e a compulsão para as compras. Ana-
lisamos também alguns dos problemas que contribuem significativamente
para a falta de equilíbrio entre os compromissos profissionais, familiares,
sociais e pessoais na sociedade moderna. No final do capítulo, abordamos
a importância da organização do tempo na terceira idade e a um nível indi-
vidual, sobretudo para quem tem responsabilidades de gestão de terceiros.

Stresse com conta peso e medida


A maioria das pessoas considera normal sentir stresse após um aconteci-
mento de vida significativo, tal como a morte de um familiar próximo, a
perda do emprego ou uma doença grave. Mas nem todas têm consciência de
que o stresse pode “instalar-se” aos poucos, como resultado do acumular de
pequenas dificuldades e problemas. Com uma boa gestão do tempo, poderá
conseguir criar momentos para realizar as suas atividades de lazer e, assim,
prevenir esta acumulação de stresse.

Em si, o stresse não é prejudicial. Em pequenas doses, pode até ser benéfico.
O stresse revela o nosso nível de excitação biológica: à medida que ficamos
mais despertos, o nosso nível de alerta vai crescendo de forma gradual e as
nossas capacidades físicas e mentais vão aumentando de modo que nos seja
possível fazer face aos compromissos e horários. Ou seja, o stresse vai aumen-
tando de forma adaptativa até chegarmos a um nível ótimo de desempenho.
Este stresse é tecnicamente designado de “eustress”.

A relação entre stresse e desempenho encontra-se representada no gráfico


da página seguinte. O stresse é inexistente somente quando estamos a dor-
mir, uma vez que até para sair da cama de manhã precisamos de um certo
nível de stresse. À medida que o dia avança, aumenta também o stresse que
sentimos, bem como a ativação psicológica que permite uma melhoria no
nosso desempenho. Para muitos atores e músicos, o stresse associado a pisar

24
A Gestão do tempo para todos

o palco aumenta a qualidade do desempenho. Pelo contrário, o défice de


stresse pode conduzir a um estado de enfado e apatia que prejudica a con-
centração e o desempenho.

Do mesmo modo que um défice de stresse pode ser prejudicial, o excesso de


stresse também o é. Se o nível de stresse continuar a aumentar de tal forma
que o pico da curva é ultrapassado, as pessoas sentem que o seu desempe-
nho começa a deteriorar-se. Este tipo de stresse é tecnicamente designado
de “distress”. Tal acontece quando as solicitações ultrapassam os recursos
existentes para lidar com elas. Nessa altura, surgem sintomas físicos e/ou
psicológicos que indiciam que a pessoa está a ultrapassar os seus limites.
Nestas situações, o melhor mesmo é parar.

Infelizmente, muitas pessoas não prestam atenção a estes sintomas; ignoram


estes sinais de aviso. O corpo está a dizer para abrandar, ou parar, e ponderar a
situação. Em vez disso, continuam a trabalhar cada vez mais horas por dia, na
tentativa de compensar a quebra de produtividade. Esta tendência pode levar a
que, mais cedo ou mais tarde, um pequeno acontecimento possa desencadear
uma situação de crise a que se dá o nome de “burnout” (veja a seguir). Esta
condição caracteriza-se por um estado de exaustão física e/ou psicológica,

RELAÇÃO ENTRE STRESSE E DESEMPENHO


Máxima qualidade
de desempenho

Ativação adequada
criatividade
satisfação
Desempenho

sucesso

Eustress Distress

Défice Excesso
de ativação de ativação
tédio fadiga
apatia ineficiência
frustração colapso
Stresse

25
A Tempo para tudo

sintomas depressivos, alterações repentinas de humor, apatia, desinteresse,


dificuldades de concentração, baixa autoestima e pessimismo em relação à vida.

O stresse laboral
Em Portugal, quatro em cada dez trabalhadores consideram que o seu horá-
rio de trabalho não se adapta aos seus compromissos familiares, pessoais ou
sociais. E mais de metade dos portugueses consideram que o trabalho pago
os impede de dedicar à família o tempo que gostariam, de realizar tarefas
domésticas necessárias e de usufruir dos seus tempos de lazer. Esta dificul-
dade na conciliação da vida familiar e profissional não deve ser encarada
de ânimo leve, pois constitui uma das principais fontes de stresse atual. E,
apesar de a legislação prever estratégias facilitadoras da articulação da vida
profissional com a vida familiar e pessoal (por exemplo, a jornada contínua
ou a flexibilidade de horário), são poucos os portugueses que as utilizam.

Já em 2013, dados da Agência Europeia para a Segurança e Saúde no Trabalho


apontavam Portugal como o sétimo entre os 31 países da Europa com maior
índice de stresse no trabalho, com uma taxa de incidência de 59%. Entre as
principais causas apontadas estavam a insegurança laboral, as longas jor-
nadas e uma carga de trabalho excessiva. E sabe-se que o stresse moderado
e elevado tem um impacto negativo na saúde física e mental dos trabalha-
dores, prejudicando a sua produtividade e bem-estar. O stresse debilita o
sistema imunitário, facilitando o aparecimento de problemas de garganta,
tensão muscular, inflamações e infeções e podendo, a longo prazo, trazer
complicações mais graves para a saúde, como doenças cardiovasculares ou
o comprometimento da função de outros órgãos.

A Agência Europeia para a Segurança e Saúde no Trabalho aponta o stresse


no local de trabalho como a causa de mais de 25% das ausências do trabalho
de duas ou mais semanas, sendo o segundo problema de saúde ocupacional
mais reportado na Europa, responsável pela perda de 50% a 60% dos dias de
trabalho. E, em abono da verdade, as ausências relacionadas com o stresse
tendem a ser mais prolongadas do que as que têm outras causas.

E o que dizer das razões apontadas? Prendem-se sobretudo com situações


de reorganização do trabalho, insegurança, horários alargados, volume de
trabalho excessivo, intimidação e assédio. Acresce a evidente perda de tempo
e de produtividade para as empresas, que, muitas vezes, deixa o funcionário
sob uma pressão ainda maior quando este regressa ao emprego depois de
uma ausência “forçada”.

26
A Gestão do tempo para todos

O burnout
Apesar de muitas pessoas associarem o burnout a determinadas profissões
(por exemplo, corretores da bolsa, médicos, professores, etc.), a verdade é
que esta condição é muito mais comum do que se pode imaginar, atingindo
todas as profissões de forma praticamente idêntica. Segundo o inquérito da
deco proteste a 1146 trabalhadores portugueses, realizado em 2018, os profis-
sionais em maior risco de desenvolver a chamada "síndroma de burnout" são
empregados de lojas e supermercados, profissionais de saúde não-médicos
(por exemplo, enfermeiros, fisioterapeutas e psicólogos) e quem trabalha em
serviços administrativos e em profissões ligadas ao ensino, como professores
e auxiliares de educação.

Números da Comissão Europeia revelavam que, em 2013, Portugal era o ter-


ceiro país europeu com maior proporção de trabalhadores que consideravam
muito comum o stresse relacionado com o trabalho, número que correspondia
quase ao dobro da média europeia. Estes dados são preocupantes, uma vez
que o stresse ocupacional pode ter consequências prejudiciais na qualidade
de vida — influenciando negativamente o bem-estar, as relações sociais, a
vida familiar e até mesmo a saúde física — e justifica mais de um quarto das
ausências no trabalho com duração igual ou superior a duas semanas, sendo
o segundo problema de saúde relacionado com o trabalho mais reportado
na Europa.

Existem diversas formas de avaliar se está a pisar o risco a este nível. Pode,
por exemplo, responder todos os dias (durante uma ou duas semanas de
trabalho típico) ao questionário da página seguinte. Quanto mais vezes tiver
respondido “sim” às perguntas do questionário, mais perto estará de atingir
o seu limite e, por isso, de poder entrar em burnout.

Este questionário pode também pôr em evidência problemas específicos


que talvez queira resolver. Por exemplo, se teve dificuldade em adormecer
durante três ou quatro noites, tente seguir as estratégias de higiene do sono
descritas nas páginas 102 e 103). Pode ainda avaliar de forma mais detalhada
o seu padrão de stresse, revendo o que fez durante os dias em que obteve
maior número de respostas “sim”. Esta estratégia pode revelar, por exemplo,
que os seus piores dias foram aqueles em que teve de se reunir com a sua
chefia, fazer uma apresentação ou cumprir um prazo. Se conseguir identificar
o que lhe provoca uma maior resposta de stresse, saberá quais as áreas em
que deverá fazer mudanças para diminuir o stresse sentido. As estratégias
de resolução de problemas apresentadas no capítulo 4, bem como as técni-
cas de gestão do tempo no local de trabalho a que dedicamos o capítulo 7,
poderão ser-lhe úteis.

27
A Tempo para tudo

QUESTIONÁRIO: ESTÁ À BEIRA DO BURNOUT?

Sentiu-se cansado ao longo do dia? Sim Não

Sentiu-se ansioso por ter de ir trabalhar? Sim Não

O seu dia de trabalho deixou-o emocionalmente exausto? Sim Não

Sentiu que perdeu o controlo sobre o seu tempo? Sim Não

Trouxe para casa problemas relacionados com o trabalho? Sim Não

Sente-se preocupado em relação ao futuro? Sim Não

Exaltou-se por coisas insignificantes? Sim Não

Os objetivos que estabeleceu para si eram irrealistas? Sim Não

Teve dificuldade em concentrar-se? Sim Não

Foi incapaz de se rir de si próprio? Sim Não

Tem tido dificuldade em relaxar? Sim Não

Sente que não tem sido suficientemente apoiado


Sim Não
pelas pessoas que são importantes para si?
A responsabilidade que teve hoje foi maior do que aquela
Sim Não
com que consegue lidar facilmente?
Foi incapaz de dizer “não” quando solicitado para realizar
Sim Não
tarefas irrealistas?

Teve dificuldade em tomar decisões? Sim Não

Ficou insatisfeito com o trabalho realizado? Sim Não

Teve dificuldade em adormecer ontem à noite? Sim Não

Sentiu-se desorganizado durante o tempo de trabalho? Sim Não

Sentiu-se pessimista? Sim Não

Sente que não tem o controlo sobre a sua vida pessoal? Sim Não

28
A Gestão do tempo para todos

Apesar de ser fácil identificar a principal forma de ultrapassar uma situação de


burnout, é difícil pô-la em prática: precisa de ter tempo para si. Isto significa
quebrar o ciclo de trabalhar cada vez mais e durante mais tempo. Lembra-se
da ideia do custo de oportunidade (veja a página 19)? Se tiver de trabalhar
até tarde, o custo de oportunidade será o tempo que não poderá passar com
a família e dedicar às suas atividades de lazer. Este desequilíbrio torná-lo-á
mais vulnerável a uma situação de burnout.

Pode ser difícil fazer uma pausa quando é preciso cumprir prazos, especial-
mente se trabalha por conta própria ou à comissão, condições nas quais
tempo é, efetivamente, dinheiro. Na realidade, muitas pessoas têm de fazer
horas extraordinárias de vez em quando para conseguirem dar resposta às
exigências profissionais. Quando assim for, acorde consigo próprio: se con-
seguir cumprir o prazo, faça uma pausa na semana seguinte para dedicar a
uma atividade de lazer. Reserve na sua agenda o tempo necessário para tal e
não abdique dele — a menos que surja um motivo de força maior.

Ultrapassar uma situação de burnout implica reservar períodos de descanso e


descontração tal como faz para marcar uma reunião. E cumprir. Embora seja
difícil em certas profissões, este princípio do tempo inegociável reservado
para o lazer pode aplicar-se a todos. Para o conseguir, terá de planear o seu
tempo com antecedência. Anote na sua agenda (veja a página 79) os dias de
pausa e planeie como pretende passá-los. Da mesma forma, marque anteci-
padamente as férias para que não surjam assuntos que venham impossibilitar
que as concretize.

Também pode, e deve, fazer pequenas pausas durante o dia. Fazer um inter-
valo no trabalho não significa perder tempo. As pausas permitem recuperar
energia, quebrar a monotonia e até mesmo reduzir o stresse, aumentando,
por isso, a produtividade.

Trabalhadores compulsivos
Ainda que os avanços tecnológicos e a implementação de políticas sociais de
proteção ao trabalhador tenham contribuído para a diminuição do número
semanal de horas de trabalho, números de 2017 revelavam que, em média, os
portugueses trabalhavam cerca de cem horas por ano a mais do que a média
dos trabalhadores dos 36 países membros da Organização para a Cooperação

29
A Tempo para tudo

JOÃO
O João sabia que estava em má forma física e com peso a mais. Queria fazer jogging,
mas, tendo uma vida tão ocupada como gestor de marketing, parecia nunca conseguir
arranjar tempo. Decidiu resolver este problema reservando uma hora na sua agenda, ao
fim da tarde, todas as segundas, quintas e sábados. O João passou a recusar a intromissão
de qualquer coisa – exceto uma verdadeira situação de crise – nesse agendamento. Via
a gestão do tempo como parte da sua autodisciplina. E precisava mesmo dessa força de
vontade, especialmente nas frias tardes de inverno, para não ser dissuadido por exigências
profissionais e pelas solicitações da mulher e dos filhos. Já perdeu o peso a mais e tenciona
participar na próxima Meia Maratona de Lisboa.

e Desenvolvimento Económico (OCDE). Mais: cerca de 30% dos portugueses


afirmam trabalhar durante o seu tempo livre para dar resposta a solicitações
do trabalho pago.

Tal como o João (da história acima) descobriu, gerir eficazmente o tempo requer
autodisciplina para cumprir os objetivos estabelecidos, realizar as atividades
planeadas e não permitir interferências de outras solicitações concorrentes.
Se conseguir estabelecer as suas prioridades familiares, profissionais, sociais
e pessoais, mais facilmente irá gerir as solicitações com sucesso.

Parece ser uma realidade o facto de as empresas exigirem mais dos seus
trabalhadores atualmente do que faziam no passado. De tal forma que a
compulsão para o trabalho pode até ser considerada um fator necessário
para que um candidato seja selecionado. Em Portugal, os horários de traba-
lho longos, acima de 40 horas semanais, abrangem ainda quase um em cada
três trabalhadores, pelo que não é de surpreender que algumas pessoas se
tornem dependentes do trabalho.

Diversas são as empresas onde, além de uma intensa carga horária sema-
nal, existe um elevado nível de exigência e pressão para o desempenho e
cumprimento de prazos apertados como constantes da vida profissional dos
trabalhadores. Apesar do stresse que pode induzir, esta pressão também é
responsável pela produção do neurotransmissor “adrenalina”, que produz
uma sensação de satisfação e de bem-estar quando é libertado no organismo,
o que acontece quando o trabalhador consegue cumprir o prazo solicitado. É
por isso que alguns trabalhadores se sentem realmente satisfeitos e produtivos
ao cumprir prazos bastante apertados, podendo inclusivamente chegar a

30
A Gestão do tempo para todos

ficar dependentes desta sensação. Ao terem de se mobilizar constantemente


para conseguir cumprir os prazos, tornam-se inevitavelmente bons gestores
do tempo. Conseguem, nem que seja por necessidade, concentrar-se nos
pontos realmente importantes para a realização de uma tarefa. No entanto,
esta pressão constante pode predispor o trabalhador para uma situação de
esgotamento caso as circunstâncias de trabalho, familiares ou pessoais se
alterem significativamente e originem uma situação de stresse agudo.

Apesar de poder parecer que trabalhar mais tempo significa ter maior produ-
tividade, tal não é necessariamente verdade. Ao trabalhar durante mais horas
sem uma boa gestão do tempo, o trabalhador pode até mesmo prejudicar
a sua produtividade: por disponibilizar mais tempo para realizar as suas
tarefas profissionais, o trabalhador poderá dispersar mais a sua atenção por
diversas tarefas, interferindo, assim, com a execução das tarefas prioritárias.
De salientar que, em alguns casos, a necessidade de trabalhar até mais tarde
pode ser uma forma de tentar evitar confrontar-se com problemas na vida
pessoal, familiar ou social.

Porquê o trabalho compulsivo?


Um trabalhador compulsivo tem tendência para trabalhar de forma excessiva.
Poderá fazê-lo com três intuitos: ajudar a gerir a ansiedade; ajudar a satisfazer
o perfeccionismo e ajudar a atingir objetivos.

Gerir a ansiedade
A tendência para trabalhar excessivamente poderá ter origem numa pertur-
bação do controlo dos impulsos. Com esta perturbação, as pessoas têm muita
dificuldade em resistir à vontade de realizar determinadas ações, mesmo que
estas sejam prejudiciais para si ou para terceiros. Além do trabalho compulsivo,
enquadram-se nesta situação comportamentos como roubar objetos mesmo
que estes não sejam necessários ou valiosos (cleptomania), jogar, ingerir
alimentos (bulimia ou anorexia) e consumir bebidas alcoólicas.

Sejam quais forem as manifestações, as pessoas que sofrem de perturbação


do controlo dos impulsos sentem uma ansiedade crescente, apenas aliviada
quando cedem ao impulso em questão. Alguns trabalhadores compulsivos
sentem uma ansiedade que os leva a praticar horários de expediente cada
vez mais longos. Este sentimento pode resultar de fatores externos, nomea-
damente pressões para cumprimento de prazos ou problemas familiares.

31
A Tempo para tudo

E pode também resultar de fatores internos, tais como a perceção de ser


profissionalmente pouco competente e, por isso, necessitar de mais tempo
para realizar as tarefas. Contudo, o impacto que este investimento excessivo
no trabalho poderá ter conduz frequentemente a um sentimento de culpa e
a conflitos familiares e tem muitas vezes como consequência a redução, ou
até mesmo abandono, das atividades de lazer. Esta situação pode também
originar frustração e ansiedade.

Caso considere estar a investir excessivamente no trabalho e que esse investi-


mento está a prejudicar o seu bem-estar, recomendamos que consulte o médico
de família ou que recorra a um psicólogo (veja as páginas 92 e seguintes).

Satisfazer o perfeccionismo
Para alguns trabalhadores compulsivos, as longas horas passadas a trabalhar
resultam de uma tendência perfeccionista que as impede de interromper
a execução de uma tarefa enquanto não considerarem que está perfeita.
Apesar de o perfeccionismo ser, em algumas profissões, uma característica
valorizada (caso dos bancários ou dos revisores de texto, por exemplo), nou-
tras é desnecessária e até mesmo contraproducente (por exemplo, quando
o trabalho exige sobretudo rapidez de execução).

Atingir objetivos
Para alguns trabalhadores compulsivos, o investimento excessivo nesta área
das suas vidas visa alcançar os objetivos que lhes irão permitir obter satis-
fação e realização pessoal — por exemplo, dedicar toda uma vida a investir
na carreira como forma de ser reconhecido como um especialista mundial
numa determinada matéria mesmo que para isso se tenha de desinvestir
completamente na vida familiar e social.

Os sintomas do trabalho compulsivo


Como poderá saber se é um trabalhador compulsivo? Provavelmente, o
melhor indicador é mesmo a opinião da sua família ou dos amigos mais
próximos: se eles lhe dizem constantemente que anda a trabalhar demais,
muito provavelmente é verdade. Do mesmo modo, se costuma sentir-se
culpado por causa do tempo que passa a trabalhar, pode estar, de facto, a
trabalhar demasiado.

32
A Gestão do tempo para todos

Recomendamos que anote o tempo que passa a trabalhar. Não se esqueça


do tempo que despende a trabalhar em casa e a tratar de assuntos de tra-
balho ao telemóvel ou por correio eletrónico fora do local de trabalho.
Como falaremos adiante, há aplicações para computador ou smartphone
que poderão facilitar-lhe este registo. Posteriormente, faça uma lista dos
compromissos que deveria cumprir e das atividades que gostaria de realizar
mas que não consegue. Analisando estes registos poderá, então, avaliar se
a sua vida está em desequilíbrio.

De forma complementar, analise se está presente algum dos quatro sintomas


característicos do trabalho compulsivo:

1. estar altamente envolvido no que faz;


2. ter uma dedicação e um comportamento obsessivos em relação às suas
funções profissionais, em detrimento de outras atividades;
3. gostar da sensação de ficar a trabalhar até tarde;
4. descobrir que trabalhar durante mais horas o ajuda a gerir o stresse e a
ansiedade.

Gastar, gastar, gastar


O hábito de consumir de forma desenfreada é particularmente difícil de con-
trolar, em parte devido à indústria publicitária, que nos encoraja a gastar o
que temos e o que não temos. Na maioria dos casos, a publicidade destina-se
a criar procura, independentemente do facto de o produto satisfazer ou
não as verdadeiras necessidades do consumidor. Para “piorar” a situação,
são cada vez mais os meios de pagamento à disposição e é cada vez mais
fácil ter acesso ao crédito. Por outro lado, a vida em sociedade parece estar
orientada no sentido de nos encorajar a ganhar mais para gastar mais, de
modo a refletir a nossa posição social.

Apesar de não haver nada de errado em querer rodear-se de coisas úteis ou


bonitas, é importante refletir sobre o ato de consumo na medida em que
um estilo de vida consumista poderá ter consequências significativas: por
um lado, poderá contribuir para aumentar a relação de dependência com
as entidades empregadoras; por outro, poderá influenciar ou até mesmo
limitar as opções ao nível da carreira profissional. Se pretende alcançar
uma promoção, poderá sempre refletir se pretende alcançá-la porque isso

33
A Tempo para tudo

ajudá-lo-á a concretizar os seus objetivos ou porque precisa do dinheiro


para financiar o seu estilo de vida. De facto, à medida que for evoluindo na
sua carreira poderá ter de passar cada vez mais tempo no trabalho e, assim,
correr o risco de desequilibrar a sua vida. Resta decidir se vale a pena pagar
esse custo de oportunidade (veja a página 19).

As compras compulsivas
Para algumas pessoas, comprar pode tornar-se numa compulsão. Esta per-
turbação tem a sua origem numa dificuldade no controlo dos impulsos.
As situações agudas de stresse podem conduzir a sintomas de ansiedade e
de depressão, e as compras compulsivas podem constituir uma estratégia
disfuncional para gerir este mal-estar psicológico.

Alguns estudos revelam que entre 2% e 8% da população europeia apresen-


tam padrões de compras compulsivas. Apesar de esta perturbação ser mais
prevalente em mulheres, também existem homens que compram compul-
sivamente. Os padrões de consumo feminino e masculino são, no entanto,
diferentes: enquanto as estatísticas revelam que as mulheres compram
sobretudo roupa, maquilhagem e pequenos artigos para o lar, os homens
adquirem frequentemente bens eletrónicos, equipamento desportivo, aces-
sórios de automóvel, etc. No entanto, ambos apresentam dificuldades em
resistir à vontade de comprar.

O desejo frequente de fazer compras (nomeadamente adquirindo coisas


de que não precisa ou que realmente não quer), o desejo de gastar mais do
que se pode e de perder mais tempo nisso do que inicialmente se desejaria
revela que pode haver um problema de compras compulsivas. É claro que
todos fazemos algumas destas coisas de vez em quando, mas as pessoas
que consomem compulsivamente fazem-no com muita regularidade, e a
sua preocupação com as compras afeta as suas rotinas diárias.

Quando é preciso ajuda


Tal como acontece com outros comportamentos problemáticos, é importante
determinar o grau de gravidade do comportamento, avaliando a frequência,
intensidade, duração, contexto e impacto. Se faz compras excessivas todos
os fins de semana e todos os intervalos de almoço, por exemplo, é bem
provável que tenha um problema. É frequente estes episódios de compras

34
A Gestão do tempo para todos

compulsivas ocorrerem também na sequência de acontecimentos pertur-


badores (por exemplo, após uma discussão com o companheiro ou se se
verificam problemas no trabalho). Nestas situações, as compras compulsivas
oferecem um alívio temporário do stresse e da ansiedade, uma vez que ir às
compras produz um pico de excitação. No entanto, esta “euforia” momen-
tânea dá depois lugar a uma sensação de frustração, vazio e culpabilidade.

Então, como saber se tem um problema de consumo compulsivo? Respon-


der ao teste da página seguinte pode ajudá-lo a descobrir. Quanto maior o
número de respostas “sim” ao questionário, maior é a probabilidade de ter
um problema de consumo compulsivo.

Os consumidores compulsivos têm um problema real e podem precisar de


ajuda profissional. Se considera poder ter um problema de consumo com-
pulsivo, sugerimos que consulte o seu médico de família ou um psicólogo
(veja as páginas 92 e seguintes).

Para melhor avaliar se tem ou não este problema, pode também registar as
vezes que sai para ir comprar alguma coisa e que perde o controlo sobre
os gastos, tomando nota do que sente quando vai às compras e analisando
os fatores que desencadeiam as crises de consumo. Uma vez identificados
esses fatores, estará em melhor posição para fazer algo em relação a eles
(usando, por exemplo, as técnicas de resolução de problemas referidas
no capítulo 4). Por exemplo, se gasta mais dinheiro quando está sozinho,
tente ir às compras só quando estiver com amigos ou família. Peça-lhes a
opinião sobre tudo o que tiver vontade de comprar. Se costuma comprar
por impulso, faça um esforço por esperar uns dias antes de decidir comprar
algo. Experimente também comprar só a pronto-pagamento, sem recorrer a
prestações nem a cartões de crédito (veja os nossos conselhos sobre gestão
financeira nas páginas 148 e seguintes).

De referir que o consumo compulsivo pode conduzir a dívidas conside-


ráveis. Consequentemente, a necessidade de gerir os pagamentos e de,
eventualmente, ter de pedir empréstimos bancários para fazer face a estes
pagamentos gera preocupações e sentimentos de culpa e poderá implicar
um considerável dispêndio de tempo nesta gestão financeira.

35
A Tempo para tudo

QUESTIONÁRIO: É UM CONSUMIDOR COMPULSIVO?

Vai sempre ou quase sempre às compras sozinho? Sim Não

Fica entusiasmado ou excitado quando vai às compras? Sim Não

Costuma gastar para aliviar a ansiedade ou a depressão? Sim Não

Costuma gastar quando está sujeito a maior stresse? Sim Não

Costuma gastar após uma discussão em casa ou no trabalho? Sim Não

Costuma comprar coisas que já tem? Sim Não

Costuma comprar coisas de que não precisa? Sim Não

Costuma comprar roupa sem a experimentar? Sim Não

Tem a mesma peça de roupa em cores diferentes? Sim Não

Compra roupa e sapatos que raramente usa? Sim Não

Compra livros que nunca lê? Sim Não

Compra objetos que nunca utiliza? Sim Não

Costuma andar com vários cartões de crédito na carteira? Sim Não

Gasta até ao limite de crédito desses cartões? Sim Não

Esconde as coisas que comprou? Sim Não

Mente acerca do valor das suas compras? Sim Não

Quer impressionar os outros com as coisas que compra? Sim Não

Ir às compras é o seu passatempo preferido? Sim Não

Ignora as contas, inclusive as do cartão de crédito? Sim Não

É incapaz de “namorar” uma montra sem comprar nada? Sim Não

36
A Gestão do tempo para todos

Lidar com o excesso de informação


Antigamente, eram os jornais, os livros, a rádio. Depois veio a televisão. Em
2017, dados disponibilizados pela Sociedade da Informação e do Conheci-
mento indicavam que mais de 77% das famílias portuguesas já tinham acesso
à internet. E com ela vêm as permanentes atualizações de notícias online, as
informações divulgadas nas redes sociais, muitas das quais de fonte duvidosa…

De facto, atualmente, temos de lidar com uma enorme e crescente quantidade


de informação que continua a chegar até nós de múltiplas formas (internet,
televisão, jornais, revistas, livros, etc.). É, contudo, impossível mantermo-nos
a par de toda a informação produzida e, também, destrinçar, entre o que está
a ser divulgado, o que é realmente importante ou real. E isto pode levar a uma
sensação de que nos pode ter escapado aquela informação fundamental que
poderia ter feito a diferença entre sermos bem-sucedidos numa tarefa ou não.

Assim, o excesso de informação gera problemas que vão desde o stresse para
tentar assimilar a maior quantidade possível de informação, a dificuldade em
gerir o tempo necessário para tal e a ansiedade por não conseguir fazê-lo. Acresce
que, atualmente, o sucesso é medido não só em termos de conhecimentos e de
desempenho, mas também em termos de rapidez de resposta. Em muitas áreas da
vida, a análise aprofundada parece ter sido substituída pela ideia curta e incisiva.

O excesso de informação também se estende às escolhas do consumidor. Basta


visitar qualquer supermercado para nos darmos conta da enorme variedade de
opções de pequeno-almoço, snacks ou frescos, comida saudável ou vegetariana,
opções de confeção rápida ou gourmet. A quantidade de opções disponíveis pode
ser avassaladora. A solução para não se perder na multiplicidade de opções é
focar a sua atenção naquilo de que realmente necessita. O excesso de opções tem
por objetivo levá-lo a gastar dinheiro em algo de que, muitas vezes, não precisa.
Ou não quer. E, demasiadas vezes, a fatura paga-se com dinheiro, tempo e saúde.

As mulheres no mercado de trabalho


Em 2017, quase metade da população ativa em Portugal era do sexo feminino e
o número de mulheres a desempenhar funções de gestão, cargos de liderança

37
A Tempo para tudo

e lugares na política tem aumentado de ano para ano. Apesar das lutas pela
igualdade entre géneros, e sendo certo que muitos homens gostariam de
restabelecer o equilíbrio e passar mais tempo com a família, ainda é comum
que as mulheres tenham um desafio acrescido à sua gestão do tempo, que
tem que ver com a conciliação da sua vida laboral com a maioria das respon-
sabilidades da casa e dos filhos.

De facto, apesar da crescente importância das mulheres no mercado de tra-


balho, as responsabilidades relacionadas com as tarefas domésticas e com
o trabalho de cuidado de terceiros (crianças, idosos e outros dependentes)
recaem sobretudo nas mulheres. O inquérito de 2016 referido logo no início
do primeiro capítulo revelou que as mulheres dedicam diariamente mais 55
minutos na prestação de cuidados a terceiros e mais uma hora e 12 minutos
nas tarefas domésticas, por comparação com os homens. Mas há mais: 10,5%
das mulheres portuguesas afirmam cuidar da roupa (ou seja, lavar e passar a
ferro) todos os dias durante uma hora ou mais, comparativamente com 1,4% dos
homens; quanto à limpeza da casa, 35,9% das mulheres dizem fazê-lo todos os
dias durante uma hora ou mais, comparativamente com 7,4% dos homens; na
preparação das refeições, a percentagem de mulheres que ocupa pelo menos
uma hora todos os dias nesta tarefa é de 74,3% (a dos homens é de 22,8%)…

Além desta sobrecarga com as tarefas familiares, ainda se verifica uma dispari-
dade considerável entre a média dos salários ganhos por homens e mulheres.
De acordo com dados revelados pela Comissão Europeia, em 2012 as mulheres
recebiam, por igual função laboral, salários em média 16,4% inferiores aos
homens. Em Portugal esta disparidade era de 15,7%.

Neste cenário, não admira que as mulheres se sintam insatisfeitas, com difi-
culdade em gerir o seu tempo e as suas prioridades e, por isso, com elevados
níveis de stresse. O inquérito referido revelou ainda que 48,9% das mulheres
consideravam não ter tempo suficiente para fazer tudo o que gostariam (para
os homens, a percentagem é de 42%). E mais de 45,4% das mulheres (36,6%
dos homens) referiam sentir que andavam apressadas no seu dia-a-dia.

Nunca é tarde para começar


Vivemos tempos excitantes. Pela primeira vez na história, a maioria das
pessoas tem uma esperança média de vida muito além do que atualmente

38
A Gestão do tempo para todos

consideramos ser a meia-idade. É uma oportunidade demasiado boa para


ser desperdiçada.

É, assim, um erro pensar que a gestão do tempo é só para os jovens. As condições


de vida e a medicina atuais levam a que a esperança de vida aumente todos os
anos (nos países desenvolvidos). Morrer antes dos 70 anos parece agora mais
uma tragédia do que um acontecimento comum. É inegável que algumas fun-
ções físicas e mentais se degradam com o envelhecimento. Afinal, o tempo vai
impondo limites às aspirações das pessoas. Contudo, como apontou Thomas Cole
no seu livro The Journey of Life (em português, A viagem da vida), “a liberdade e
a vitalidade humanas consistem em escolher viver bem dentro destes limites”.

Não obstante, nunca é tarde de mais para reclamar o tempo — e a vida. Conhe-
cem-se muitas histórias de pessoas que começaram apenas na meia-idade,
ou mais tarde, o trabalho que lhes trouxe a fama. Ian Fleming começou a
escrever o seu primeiro romance aos 43 anos. Esse livro, Casino Royale, deu
início à indústria de James Bond. Brahms terminou a sua primeira sinfonia
com a mesma idade. O Prémio Nobel da Literatura português, José Saramago,
embora tivesse publicado o seu primeiro romance aos 25 anos, só 19 anos mais
tarde é que voltou a publicar. Estes e muitos outros casos revelam que nunca
é demasiado tarde para começar.

Assim, a reforma pode ser uma etapa de oportunidades sem precedentes. Cada
vez mais pessoas precisarão de encontrar algo para fazer durante a reforma.
Um homem nascido em 1962 tem uma esperança de vida de 73 anos, e uma
mulher de 78. Os seus filhos e filhas nascidos em 1996 têm uma esperança de
vida de 75 e 80 anos, respetivamente.

Devido a estas alterações demográficas, é provável que a sociedade atravesse


em breve uma onda de mudança de atitudes em relação à velhice. O psicólogo
Carl Jung notou que, à medida que envelheciam, muitos pacientes sentiam que
a sua vida era vazia de sentido ou de objetivos. Contudo, atualmente, somos
cada vez mais capazes de combater os problemas da velhice, dos ataques car-
díacos ao cancro e à doença de Alzheimer. Isto significa que é possível passar
20 ou mais anos em boa saúde após a reforma.

As pessoas mais idosas dão mais importância à busca de um sentido na vida.


Podem descobrir um passatempo ao qual nunca puderam dedicar-se quando
tinham de ganhar a vida e criar uma família. Podem voltar-se para a espirituali-
dade ou para o trabalho voluntário ou até tirar um curso universitário. O próprio
facto de não estarem amarrados a uma rotina ditada pela necessidade de ganhar
o sustento coloca à sua frente uma espécie de tela em branco. A gestão do
tempo pode fornecer a essas pessoas os pincéis de que precisam para a pintar.

39
A Tempo para tudo

Seja gestor de si próprio


Para quem tem negócio próprio ou responsabilidades de gestão, será importante
aprender a gerir-se a si mesmo para melhor saber gerir os outros. É claro que,
enquanto gestor, o seu sucesso depende da maximização da produtividade
dos trabalhadores, sendo a gestão eficaz do tempo um aspeto crucial para
esta maximização.

O especialista norte-americano da gestão James Scarnati enumerou alguns


dos atributos necessários aos gestores para irem além da liderança. Um des-
tes atributos é a capacidade para identificar rapidamente as mudanças e
adotar respostas adequadas, o que implica ser suficientemente flexível para
compreender a mudança em diferentes perspetivas e adaptar-se de forma
criativa. Adicionalmente, a adoção de uma postura flexível na gestão das
equipas trará benefícios à forma como emprega o seu tempo, na medida em
que uma equipa de trabalho com mais poderes terá menos probabilidades
de fazer solicitações desnecessárias a si e ao seu tempo.

NUM PISCAR DE OLHOS…


• Em si, o stresse não é uma coisa má. Em pequenas doses, pode até ser benéfico. A ver-
dade é que tanto o défice como o excesso de stresse podem ser prejudiciais.
• Os sintomas físicos e/ou psicológicos relacionados com stresse excessivo estão a dizer ao
corpo para abrandar. Para evitar uma situação de burnout, precisa de ter tempo para si.
Isto significa quebrar o ciclo de trabalhar cada vez mais e reservar períodos de descanso.
• Trabalhar mais tempo não significa necessariamente ser mais produtivo. As pausas no
trabalho permitem recuperar energia, quebrar a monotonia e até mesmo reduzir o stresse,
aumentando, por isso, a produtividade.
• A diminuição do desempenho acontece quando as solicitações ultrapassam os recursos
existentes para lidar com elas.
• A sociedade parece estar orientada no sentido de nos encorajar a ganhar mais, para
consumir mais. Reflita sobre o modo como gasta o seu dinheiro.
•  Para saber gerir os outros é preciso aprender a gerir-se a si mesmo, compreender e
adaptar-se às mudanças de forma criativa e ser flexível.

40
Capítulo 3

A necessidade
de mudar
A Tempo para tudo

Nos capítulos anteriores, chamou-se a atenção para o facto de existirem cada


vez mais atividades a exigir o nosso tempo. Lidar com as pressões geradas
pelas mudanças significa recuperarmos a capacidade de gerirmos as nossas
vidas. Para tal, é preciso mudarmos a forma como gerimos o tempo, as prio-
ridades e as nossas relações familiares e profissionais.

Contudo, a mudança pode ser muito desgastante e, apesar de o resultado


ser benéfico, o processo é frequentemente exigente. Este capítulo aborda a
mudança como um processo e apresenta estratégias para a alcançar.

A dinâmica do processo
O planeamento é uma fase importante no processo de mudança. Pode ser
aplicável a mudanças simples (como, por exemplo, organizar melhor o seu
escritório) e a mudanças mais complexas (por exemplo, abrandar o ritmo de
trabalho). A elaboração de um plano tem sido alvo de pesquisas intensivas dos
psicólogos, na tentativa de descobrir como e em que circunstâncias decidimos
(e conseguimos) mudar as nossas vidas.

Compreender a dinâmica que está na base das mudanças pode encorajar as


pessoas a fazê-las. Por exemplo, muitas pessoas sabem que ter peso a mais, ter
um estilo de vida sedentário ou fumar é prejudicial para a saúde e, por isso,
poderão sentir necessidade de mudar. No entanto, a relação entre informa-
ção e motivação para a mudança é complexa. Por exemplo, segundo dados
do Instituto Nacional de Estatística de 2014, 16,8% dos portugueses fumam
diariamente. No entanto, o Serviço de Intervenção em Comportamentos
Aditivos e Dependências revelou que somente 1,6% dos fumadores referem
elevada motivação para deixar de fumar. Em alguns casos, serão capazes de
mudar os hábitos tabágicos apenas graças à motivação para o fazerem. Por
outras palavras, percorrerão rapidamente o caminho da mudança, com pouca
motivação exterior. Noutros casos, a mudança duradoura apenas surgirá após
uma série de retrocessos ou recaídas. Pode mesmo ser necessário recomeçar
várias vezes antes de conseguirem cessar os comportamentos que pretendem.

Para analisar as diferenças entre aqueles que conseguem alterar o seu


comportamento e os que têm dificuldade em fazê-lo, os psicólogos usam
o chamado “modelo transteórico de mudança”, criado em 1982 por
Prochaska e Diclemente, também chamado “modelo das fases da mudança”

42
A A necessidade de mudar

(veja o esquema apresentado abaixo). Esta ferramenta pode ajudar a com-


preender o processo por que terá de passar para conseguir realizar uma
mudança, seja ela pequena ou grande.

Este modelo é aplicável tanto à cessação de um comportamento prejudicial


à saúde, como à implementação de técnicas de gestão do tempo. Tomar
consciência do ponto em que se encontra no caminho para a mudança pode
ajudá-lo a avançar neste processo.

AS FASES DA MUDANÇA Manutenção


mantém a mudança
alcançada ao longo do
tempo
Ação
realiza mudanças
e empenha-se ativamente
nos novos comportamentos
Preparação
prepara um plano
de ação
Contemplação
considera a possibilidade
de mudança
Pré-contemplação
não pretende fazer
qualquer mudança

Estímulos desencadeadores
Seja simples ou complexa, qualquer mudança é sempre precedida por um
estímulo ou incentivo. Pense num hábito que tenha alterado. Conseguirá pro-
vavelmente identificar um estímulo que tenha contribuído para que sentisse
necessidade de realizar essa mudança. Nalguns casos, um acontecimento
em particular tê-lo-á motivado a mudar. Por exemplo, uma pessoa que sem-
pre resistiu à ideia de fazer uma dieta saudável pode aceitar essa mudança
mais facilmente após um problema cardíaco. O mais comum é a mudança
ser efetivada a um ritmo mais lento, avançando gradualmente através das
fases do processo de mudança. No entanto, algumas mudanças podem ser
súbitas, e, nestes casos, as pessoas avançam muito rapidamente através das
fases apresentadas no esquema. Essencialmente, passam quase diretamente

43
A Tempo para tudo

da fase da pré-contemplação para a fase de ação. Contudo, um dos grandes


desafios da mudança é manter o comportamento alterado.

A negação do problema
Quem se encontra na fase pré-contemplativa ainda não está interessado em
mudar, uma vez que não existe consciência do problema. Isto corresponde
frequentemente a uma “fase de negação”. Por exemplo, uma pessoa com con-
sumo abusivo de álcool pode negar que tem um problema. Do mesmo modo,
pessoas obesas podem negar a necessidade de emagrecer, apesar de toda a
informação existente sobre os problemas de saúde associados ao excesso de
peso. Alguém que se debata constantemente com problemas de produtividade
ou que tenha dificuldades em gerir o tempo pode estar sistematicamente a
arranjar desculpas para a sua falta de capacidade de resposta.

Esta negação pode, por vezes, esconder um sentimento de impotência. Ou


seja, as pessoas não se mobilizam para mudar os seus comportamentos porque
acham que não está ao seu alcance fazê-lo. No entanto, quando as evidências
do problema se tornam simplesmente impossíveis de ignorar, a pessoa começa
a perceber que é necessário mudar. Por exemplo, um consumidor abusivo
de álcool pode tomar consciência de que tem um problema e que tem de
mudar o seu comportamento quando começa a notar frequentes conflitos
com familiares ou amigos e problemas no trabalho ou de saúde.

A partir do momento em que se reconhece a existência do problema, passa-


-se à fase de contemplação, avançando-se assim no processo de mudança.

Caminhar em direção à mudança


Apesar de haver já consciência do problema, durante a fase de contemplação
ainda persistem dúvidas quanto à necessidade de mudar. Muitas vezes, a
alteração de um padrão de comportamento conduz a um sentimento de
perda, que pode ser difícil de ultrapassar. Além disso, nesta fase, parece haver
sempre uma série de obstáculos a transpor que poderão contribuir para que
o processo de mudança seja mais lento.

Por isso, é útil analisar os prós e os contras da mudança. Ou seja, há que pen-
sar no que vai ganhar, mas também no que vai perder com a implementação
da mudança em causa. Para tal, será importante recolher toda a informação

44
A A necessidade de mudar

que puder sobre o assunto em causa. Se considera ter excesso de peso e qui-
ser seguir um regime alimentar, fará sentido compreender melhor os riscos
associados a uma determinada dieta antes de decidir começar a fazê-la.

Nesta fase de contemplação há três perguntas essenciais a colocar a si próprio:


—— Porque é que eu acho importante mudar?
—— O que é preciso para eu mudar?
—— Quais são os obstáculos que me impedem de mudar?

A primeira pergunta revelará as suas motivações para o processo de mudança.


A segunda permite identificar os recursos necessários para ser bem-sucedido.
Podem ser recursos internos (por exemplo, capacidade para resistir a comer
doces ou para acordar mais cedo) ou recursos externos (por exemplo, ter
consultas com uma nutricionista para definição de um plano alimentar e
controlo regular do peso ou comprar um despertador). A terceira pergunta
ajuda a perceber quais são as dificuldades com que irá confrontar-se.

Atenção que, por vezes, pode ser difícil identificar os fatores que o impedem
de mudar. Nestes casos, a técnica do brainstorming pode ser muito útil: comece
por escrever uma lista de todos os fatores que podem estar a contribuir para
que venha a adiar a decisão de mudar. Não faça julgamentos sobre esses fatores,
pelo menos nesta fase. Anote tudo na lista, mesmo o que possa parecer-lhe
ridículo. Depois, elimine os fatores que não dependem da sua vontade (por
exemplo, idade, doenças físicas, etc.) e os que não pode resolver (por exemplo,
constrangimentos financeiros). De seguida, analise criteriosamente cada uma
dessas barreiras de forma a verificar o que é realmente impraticável e seja
honesto e rigoroso consigo mesmo. Se seguir estas indicações, restar-lhe-ão
os obstáculos e barreiras que estão sob o seu controlo.

Entender o problema
O passo seguinte é analisar concretamente estes obstáculos e encontrar uma
forma de os ultrapassar. Numa folha em branco, tente responder às perguntas:
—— Qual é o problema?
—— Quem contribuiu para ele?
—— Onde e quando ocorre?
—— Porque ocorre?
—— Como resolvê-lo?

Pode inspirar-se no quadro da página seguinte. Os próximos títulos dão uma


ajuda para elaborar as suas respostas.

45
A Tempo para tudo

ENTENDER O PROBLEMA
Quem
Qual é o Quando Porque Como
contribui Onde ocorre?
problema? ocorre? ocorre? resolvê-lo?
para ele?
       

       

       

Qual é o problema?
Tente definir o problema numa frase simples e clara (por exemplo, “não
consigo cumprir os prazos de entrega do relatório mensal de vendas três em
cada quatro vezes que tal me é pedido” ou “a maior parte das vezes que vou
às compras, acabo por comprar coisas de que não preciso”). Se não for capaz
de definir o problema numa frase simples, é possível que tenha mais do que
um. Neste caso, tente decompô-lo em partes.

Quem contribui para o problema?


Faça uma lista de todas as pessoas que, além de si, possam contribuir tanto
para o ajudar a resolver o problema como para o agravar. Mesmo nas situações
em que sinta que foram os outros os principais causadores do seu problema,
faça um esforço por pensar em que medida pode estar a contribuir (mesmo
que inadvertidamente) para que este se mantenha. Numa ótica de resolução
do problema, será mais adequado assumir a responsabilidade pelo processo
de resolução (estilo atribucional interno) do que atribuir esta responsabilidade
a terceiros (estilo atribucional externo) uma vez que tal lhe aumenta a sensação

46
A A necessidade de mudar

de depender de terceiros para ter o seu problema resolvido, ao mesmo tempo


que irá diminuir a perceção de poder fazer alguma coisa para o ultrapassar.

Onde e quando ocorre o problema?


É importante definir em que contexto ocorre o problema. Identificar se o pro-
blema ocorre em casa ou no trabalho pode ser uma forma de começar. Muitos
fumadores fumam mais quando têm situações stressantes no trabalho ou, pelo
contrário, em casa, quando estão a conviver com amigos que também fumem.

Do mesmo modo, analisar quando ocorre o problema pode ajudar a compreen-


der algumas razões que levam ao seu aparecimento e manutenção.

Porque ocorre o problema?


Analise as respostas anteriores. A análise das características do problema, a
identificação das pessoas envolvidas e dos contextos nos quais o problema se
manifesta poderá dar pistas sobre padrões de comportamento e, consequen-
temente, sobre os motivos pelos quais o problema ocorre. Se, por exemplo,
houver uma altura do mês em que se aperceba de que tem tendência para se
sentir mais ansioso ou preocupado ou até mesmo com dificuldade em dormir,
poderá chegar à conclusão de que estas dificuldades surgem sempre que tem
de entregar os relatórios, e que estas entregas o deixam ansioso e interfe-
rem negativamente com a sua capacidade para cumprir responsabilidades
familiares. Talvez este problema surja porque tem dificuldade em planear
as suas atividades ao longo do tempo e deixa para a última hora a redação
dos relatórios ou talvez tenha dificuldade em dizer que não aos seus colegas
quando estes lhe pedem ajuda nos dias que deveria dedicar à realização das
atividades preparatórias para o relatório. Ou talvez tenha dificuldade em
delegar algumas responsabilidades familiares e tenda a ficar assoberbado.

Como resolver o problema?


Um ponto de partida pode ser perguntar-se a si próprio: se estivesse num
mundo ideal, o que faria de maneira diferente?

Se o problema afeta várias pessoas, consulte o maior número possível de


partes interessadas na resolução do problema e incentive-as a sugerirem solu-
ções. Mais uma vez, pode ser útil utilizar o brainstorming (veja a página 132)
e com base nele fazer uma listagem exaustiva das ideias propostas por todos.

47
A Tempo para tudo

Esta estratégia de envolvimento das partes interessadas demonstra dispo-


nibilidade para ouvir os outros e considerar as suas opiniões, podendo dar
origem a soluções que inicialmente não tinha identificado.

Pode, então, dar o passo seguinte, pedindo às pessoas para indicarem as três
ou quatro soluções que consideram mais adequadas, por ordem de preferên-
cia. Uma forma de resolver a ansiedade, preocupação e as dificuldades de
sono que surgem quando tem o relatório trimestral para entregar será, por
exemplo, ir preparando a entrega dos relatórios com mais antecedência, esta-
belecendo datas ao longo do mês para a conclusão de tarefas mais pequenas
(por exemplo, marcar um prazo para a recolha da informação) e planear os
seus compromissos familiares de forma a não coincidir com esta altura do
mês. O treino da assertividade também pode ser útil (veja as páginas 86 e 87).

Se a tentativa não for bem-sucedida


Se, mesmo assim, não conseguir identificar o problema ou encontrar uma
solução, talvez seja boa ideia considerar a hipótese de consultar um profis-
sional habilitado (por exemplo, médico de família, psiquiatra, psicólogo,
assistente social, etc.). A perspetiva de alguém que esteja de fora pode ajudá-
-lo a compreender melhor os seus problemas, a colocá-los em perspetiva e a
identificar o que necessita de mudar.

O aconselhamento psicológico é uma especialidade da área da psicologia que


o pode apoiar neste processo, ajudando-o a perceber exatamente o que deve
mudar, o que necessita para o conseguir e que estratégias pode utilizar para
implementar e, posteriormente, manter a mudança (veja as páginas 92 e seguintes).

Liberte-se da bagagem
Estará na chamada fase de contemplação quando reconhecer a necessidade
de mudar alguma coisa na sua vida e conseguir começar a deixar para trás
parte da “bagagem” histórica que carrega — ou, pelo menos, começar a vê-la
sob outra perspetiva. A ideia de que temos de ser a mesma pessoa ontem,
hoje e amanhã é extremamente limitadora. O que já vivemos ficou para trás.

Não obstante, todos temos passado, e este pode condicionar bastante o pre-
sente — para o bem e para o mal. Podemos ver os dias de escola, os anos da
faculdade ou uma carreira profissional do passado como os melhores tempos

48
A A necessidade de mudar

da nossa vida, e isso dificultar a nossa adaptação ao presente e a uma realidade


necessariamente diferente. Apesar de, como referia o filósofo americano Irving
Singer, não podermos recuperar “as coisas boas do passado”, poderemos
certamente utilizar as vivências do passado como fontes de aprendizagem
e com base nestas consolidarmos as nossas escolhas no presente. Ajudará
se se perguntar: será que quero viver o presente agarrado ao passado? Pro-
vavelmente, não. Como defendia Singer, a nossa posição atual na vida, as
oportunidades que temos e os desafios a que nos propomos existem porque,
de alguma forma, avançámos em relação a um tempo passado.

Muitas vezes, as nossas ações são influenciadas pelas experiências precoces,


criando como que um guião de vida que vai orientar, mesmo que de forma
não consciente, a maneira como pensamos, sentimos e agimos face ao que
nos rodeia. Por exemplo, uma criança que durante a sua infância não seja
suficientemente reforçada, valorizada e elogiada e, pelo contrário, seja humi-
lhada, desvalorizada e punida irá provavelmente desenvolver uma autoestima
e autoconfiança deficitárias, o que certamente condicionará a sua forma de
se relacionar consigo própria e com os outros, bem como o modo como vê
o passado, o presente e o futuro. Este guião pode levar, por exemplo, a que
se lembre seletivamente de situações de desvalorização, humilhação e des-
valorização e reaja de forma mais desajustada e violenta a ocorrências que
associe a estas experiências precoces.

Desta forma, o nosso guião de vida pode levar a que a implementação de


qualquer mudança se torne difícil, uma vez que “a natureza interior raramente
desaparece ou morre”, tal como referiu o psicólogo Abraham Maslow. Por
outras palavras, o seu guião de vida pode prejudicar as tentativas de mudança,
quer se trate de uma simples alteração do estilo de vida ou de modificações
mais amplas.

No entanto, o seu guião de vida não tem de ser prejudicial. Do mesmo modo
que reflete aspetos menos positivos, reflete também os nossos valores, sonhos
e ideais. Trata-se, por isso, de termos consciência dos conteúdos deste nosso
guião e ativamente escolhermos quais os que pretendemos dar expressão no
nosso projeto de vida presente e futuro. Poderemos ativamente deixar para
trás as inseguranças que adquirimos enquanto crianças e recuperar sonhos e
expectativas desenvolvidos na infância sem nos preocuparmos excessivamente
em encaixar na imagem do adulto “normal” e “bem-sucedido”. De facto, muitas
vezes, encaramos os sonhos de infância como algo “perigoso”. Como referiu
Maslow, virar as costas a esta parte do guião significa renegar muito do que
é fundamental na nossa natureza. Com esta rejeição, reduzimos o contacto
com as fontes das nossas alegrias e com a capacidade de brincar, bem como
com a capacidade de amar, rir e ser criativos.

49
A Tempo para tudo

As reações desajustadas
Devido à tendência para agirmos de acordo com o nosso guião de vida, quando
nos deparamos com situações semelhantes às que vivenciamos ao longo do
nosso desenvolvimento podemos ter reações desajustadas. Por exemplo, se
em criança era alvo de compaixão excessiva quando estava doente, é possível
que, enquanto adulto, quando está doente, necessite e espere que os outros
que lhe estão próximos demonstrem compaixão e que, quando tal não acon-
tece, reaja de forma apelativa (cobrando compaixão) ou até mesmo agressiva
(recusando qualquer tipo de apoio). E isto apesar de esta reação apelativa ou
agressiva em nada se ajustar à situação atual, podendo até mesmo inviabilizar
a obtenção dos cuidados de que precisa da parte de terceiros.

Para identificar eventuais reações desajustadas tente lembrar-se de um acon-


tecimento recente que lhe tenha provocado algum desconforto e que tenha
dado azo a sentimentos ou acontecimentos desproporcionados (veja abaixo).

Perceber onde estava, com quem, a fazer o quê e o que desencadeou a sua
reação poderá ajudá-lo a identificar os “gatilhos”. Os sintomas psicossomáticos
são outro tipo de reação desajustada às situações que ativam o nosso guião
de vida. Trata-se de sintomas orgânicos, cujo aparecimento, manutenção ou
agravamento resultam, em grande medida, de fatores psicológicos. Exemplos
disso são a asma, a hipertensão arterial, a úlcera gastrintestinal, etc.

Se conseguir identificar as reações desajustadas, será mais fácil procurar formas


de reagir que sejam adequadas a si e que funcionem e que não contribuam
para o desgastar a si e, muitas vezes, às pessoas mais próximas. Por exemplo,
porquê reagir com zanga a uma crítica construtiva a um comportamento
seu, quando sabe, no seu íntimo, que talvez tenha fundamento? Ou, mesmo
que considere não ter fundamento, que é somente a opinião de uma pessoa

QUESTIONÁRIO: TRATA-SE DE UMA REAÇÃO DESAJUSTADA?

Sentiu uma raiva desproporcionada ou uma tristeza profunda? Sim Não

Sentiu-se ansioso ou angustiado? Sim Não

Chorou, gritou ou danificou objetos? Sim Não

Foi verbal ou fisicamente agressivo com alguém? Sim Não

Ficou descontrolado? Sim Não

50
A A necessidade de mudar

sobre algo que fez? As reações desajustadas só levarão a que o seu processo
de mudança e de evolução como pessoa se atrase e complexifique. A reflexão
sobre o ano que passou ou a anotação dos momentos que, para si, se desta-
cam, pela positiva ou pela negativa, ajudá-lo-ão a compreender o seu guião.

Os momentos cruciais
Numa fase seguinte, poderá tomar em consideração os momentos cruciais
da sua vida. Ao longo dela, todos nos deparamos com uma série de escolhas
importantes que estabelecem um rumo para os anos seguintes — como a
escolha de um emprego ou de um companheiro. Por isso, reflita sobre os
momentos em que a sua vida poderia ter tomado rumos diferentes:
—— Porque escolheu um caminho em detrimento de outro?
—— Como se sentiu?
—— Se estivesse na mesma situação atualmente, mudaria alguma coisa?
—— Até que ponto a sua escolha foi influenciada por outras pessoas (compa-
nheiro, pais ou colegas/chefias)? Embora sejamos indivíduos com poder de
decisão sobre as nossas vidas, os desejos das pessoas mais próximas são,
geralmente, um fator de peso nas escolhas importantes que temos de fazer.

As escolhas que fazemos refletem, em muito, o nosso caráter, além de refleti-


rem o nosso guião de vida. A análise do guião de vida — eventualmente com
a ajuda de um profissional (veja as páginas 92 e seguintes) — pode ajudá-lo a
compreender a bagagem histórica que carrega e em que medida esta condi-
ciona as suas escolhas e decisões. Esta bagagem não é toda indesejável. Pode
querer manter parte dela e aprender a largar o que não lhe faz bem.

O processo de mudança, avaliação e revisão descrito neste capítulo pode


ajudá-lo a rescrever o seu guião de vida e a reagir de forma mais ajustada às
circunstâncias.

Preparar a mudança e agir


Quando sentir que é altura de tomar medidas específicas no sentido de pôr
em prática um plano de ação estará na chamada fase de preparação.

Aqui deverá definir exatamente que mudança pretende fazer. Poderá inclusi-
vamente fazer pequenas mudanças, mais fáceis de implementar, e perante as
quais se sinta mais seguro de ser bem-sucedido. Ao realizar estas pequenas
mudanças ficará mais confiante em si próprio para avançar no processo.

51
A Tempo para tudo

COMUNICAÇÃO EFICAZ EM SITUAÇÕES DE CONFLITO


De um modo geral, todos gostamos de sentir que somos apreciados por quem nos rodeia.
Um dos nossos maiores medos é o de sermos humilhados, rejeitados ou julgados, o que
pode acontecer devido a problemas na comunicação. É, assim, muito importante estabe-
lecermos um estilo de comunicação que seja eficaz, o que resulta do respeito genuíno por
si próprio e pelos outros. Se o seu objetivo ao comunicar com os outros é provar que está
certo, culpar o outro ou “vingar-se”, qualquer técnica de comunicação irá falhar. Porém,
se pretende resolver o problema e compreender o pensamento ou os sentimentos do seu
interlocutor, as técnicas que apresentamos ajudá-lo-ão a comunicar de forma eficaz e a
resolver conflitos.

a) Competências de escuta
• Estar atento à opinião ou ao ponto de vista do outro pode não chegar para garantir que
ele perceba que estamos ativamente a ouvi-lo. Será mais evidente se o demonstrarmos.
Para tal, aspetos simples como o comportamento não verbal (por exemplo, olhar, anuir ou
sorrir) são muito importantes. O uso do “hum-hum” também é muito útil. Neste sentido,
é importante ir dando a entender ao interlocutor que está a perceber o que ele quer dizer.
Isto faz-se, por exemplo, através de perguntas para clarificar a mensagem que o outro
procura transmitir: “O que queres dizer é que…?”
• Utilize a técnica da concordância: por exemplo, procure encontrar algum argumento acei-
tável ou compreensível no que a outra pessoa lhe diz. Identifique em que aspetos é que
ela poderá “ter razão”. Evite entrar numa situação de “eu estou certo, tu estás errado”:
é uma atitude que não leva a lugar nenhum. Ao concordar com a outra pessoa em algum
aspeto do seu discurso, ela tenderá a parar de argumentar e a procurar também pontos
de concordância.
• Se se sentir zangado ou atacado, expresse os seus sentimentos com afirmações não desa-
fiantes, iniciadas com “Eu sinto…” ao invés de “Tu fazes-me sentir…”. Evite a tentação de
discutir ou contra-atacar. Não se coloque na defensiva. Seja assertivo.
• Resista ao impulso de se enfurecer ou culpar a outra pessoa. Tente manter uma atitude de
respeito mútuo, de modo que ninguém se sinta humilhado ou perca a dignidade.

As pessoas que bebem em excesso podem tentar evitar os estímulos que


promovem este consumo abusivo: por exemplo, evitar ter bebidas alcoólicas
em casa.

Após algumas incursões nestas pequenas mudanças, poderá então tomar


as medidas necessárias para incorporar o novo comportamento na rotina
diária. Depois, é preciso mantê-lo durante o resto da vida. Afinal, quando
decidimos mudar um comportamento, o novo comportamento vai passar a
acompanhar-nos para sempre, o que requer da nossa parte capacidade para
manter a mudança alcançada.

52
A A necessidade de mudar

b) Empatia
• Ponha-se na pele da outra pessoa. Escute cuidadosamente e tente compreender as ideias
expressas pelas suas palavras. Diga-lhe o que acha que ela está a pensar, verbalizando algo
do tipo “parece que...” e repita (sem usar necessariamente as mesmas palavras) o que lhe
pareceu ter entendido: “Por aquilo que me disseste, fico com a ideia de que…”
• Tome conhecimento daquilo que a outra pessoa está a sentir com base no que diz e no
modo como o diz. Preste atenção à linguagem corporal. Faça uma pergunta do tipo “eu
posso imaginar que neste momento te sintas frustrado comigo, é isso?” para confirmar o
modo como a pessoa se está a sentir. Pergunte-lhe se entendeu de forma correta aquilo
que ela estava a pensar ou a sentir.
• Valide o que a outra pessoa está a sentir. Poderá dizer “eu sentir-me-ia do mesmo modo
se tivesse acontecido comigo”.
• Aceite os sentimentos da outra pessoa. Não seja hostil, crítico ou defensivo. Deixe-a saber
que está disposto a ouvir o que ela tem para lhe dizer.

c) Questionamento
• Algumas pessoas podem ter receio de expressar abertamente os seus sentimentos e opi-
niões. Poderão ter medo do conflito e, por isso, evitar dizer o que pensam ou o que estão
a sentir numa determinada situação. Por vezes, chegam mesmo a negar ou mascarar os
seus sentimentos e pensamentos. Uma das estratégias para ajudar a ultrapassar esta difi-
culdade poderá ser pedir à pessoa para falar abertamente e expressar disponibilidade para
aceitar o que ela terá para dizer.
• Também pode pedir à outra pessoa que diga especificamente o que a perturba. Os deta-
lhes, a frequência, como é que ela se sente a esse respeito e qual o seu papel no problema.
• Peça ao outro para lhe dizer diretamente o que fez ou disse que o magoou. Mas, depois,
não se coloque na defensiva. Em vez disso, use a empatia. Encontre algo de verdade no
que lhe foi dito. Se se sentir aborrecido, irritado ou humilhado, tente expressar os seus
sentimentos com uma afirmação iniciada por “perante o que me disseste, eu sinto que...”
• Use um tom de voz respeitoso, não desafiante. Não seja sarcástico.

Manter a mudança
Contam-se pelos dedos de uma mão as resoluções de Ano Novo que se mantêm
por mais de alguns dias ou semanas. Os velhos hábitos são difíceis de mudar.
Qualquer pessoa que tenha tentado perder peso, começar a fazer exercício
físico regular, deixar de fumar ou de beber ou deixar de chegar atrasado
lhe dirá isso mesmo. Os estudos comprovam-no: por exemplo, no caso da
dependência do tabaco, dos 35% dos fumadores que todos os anos tentam
deixar de fumar, menos de 5% têm efetivamente êxito.

53
A Tempo para tudo

Pode começar a pôr em prática mudanças de gestão do tempo e depois sentir-


-se novamente subjugado pelos hábitos que estava a tentar alterar. E quando
pensa que já conseguiu mudar e começa a tirar maior partido do seu tempo
e da sua vida, um problema inesperado pode prejudicar os seus esforços.
Um dia cansativo pode levar o fumador a pegar no maço de cigarros ou um
consumidor de álcool a fazer uma pausa para um copo.

Afinal, as recaídas são comuns. Quando isto acontece, é difícil retomar o


processo de mudança. Este terá de ser encarado como uma longa caminhada.
Pode bem escorregar. Contudo, o importante é levantar-se e não desistir.

Se, de facto, recair, é importante não fazer um raciocínio de “tudo ou nada”.


Por exemplo, para quem tenta perder peso, é comum, face ao incumprimento
do plano alimentar, pensar “não vale a pena o esforço”; “não consigo deixar de
comer doces e o melhor é resignar-me à ideia”. Contrarie estes pensamentos
e encare a recaída como uma oportunidade para se conhecer melhor, para
identificar as suas dificuldades e definir melhor as estratégias a usar. Descubra
as razões que o levaram a fraquejar. Consegue identificar o que desencadeou
a recaída? O que pode fazer para evitar que aconteça novamente? Voltando
ao exemplo, certamente que pode evitar algumas situações que promovam
comer doces ou, caso não as possa evitar, preparar snacks alternativos ou
receitas nutritivas com baixo teor calórico e levar consigo. Ao fim de alguns
meses, os novos padrões de comportamento tornam-se habituais, e a sua
vida muda para melhor. Não desista!

As fases de mudança oferecem-lhe um “mapa” para chegar a novos com-


portamentos. No próximo capítulo são abordadas ideias e estratégias para
escolher o caminho a tomar.

NUM PISCAR DE OLHOS…


• Compreender a dinâmica que está na base das alterações aos comportamentos pode
encorajar as pessoas a fazer as mudanças que pretendem.
• A ideia de que temos de ser a mesma pessoa ontem, hoje e amanhã é limitadora. O que
já vivemos ficou para trás. Desafie-se!
• As escolhas que fazemos refletem, em muito, o caráter de cada um, além de refletirem a
nossa bagagem histórica e emocional. É o nosso "guião de vida".
• Nem sempre é fácil manter a mudança pretendida. As recaídas são comuns. Quando isto
acontece, é essencial não desistir.

54
Capítulo 4

As prioridades
A Tempo para tudo

Não vale a pena tentar melhorar a sua capacidade de gestão do tempo se não
souber para onde quer ir. O que é que realmente quer da vida? Tendemos a
dedicar pouco tempo a dar resposta a esta questão. Normalmente, quando
o fazemos é quando estamos a vivenciar uma crise.

Por vezes, é difícil encontrar disponibilidade para descobrir e verbalizar os


nossos sonhos, valores e filosofia. O estilo de vida rápido e consumista imposto
pela nossa sociedade não nos deixa tempo nem espaço para determinar as
prioridades pessoais. Além disso, os media e as redes sociais, a publicidade
e as exigências da vida moderna tendem a distorcer a nossa perceção do
que é realmente importante. Mas, se não nos dedicarmos a este processo
de autoanálise, talvez nunca desenvolvamos todo o nosso potencial.

Este capítulo pretende ajudá-lo a identificar o que é realmente importante,


bem como a compreender as suas próprias atitudes e valores. Afinal, definir
prioridades é um dos segredos para uma boa gestão do tempo. O resto vem
por acréscimo.

MÁRIO
“Quando o meu pai morreu, atravessei um período de medo em relação à minha própria
mortalidade. Apesar de estar ainda na casa dos 30, sentia a morte ali mesmo ao virar
da esquina”, diz Mário, um ex-consultor de gestão que agora gere um negócio de livros
antigos e em segunda mão. “Foi uma experiência de grande sofrimento, mas o meu pen-
samento começou a concentrar-se no que era realmente importante para mim. Já tinha
estabelecido os alicerces antes, mas a morte dele e a perceção de que a nossa existência
não é um ensaio levaram-me a pôr a minha vida em ordem e a começar a fazer o que
sempre quis. Precisei de sair da via rápida. Mas acho triste ter precisado da morte do meu
pai para decidir quais as minhas prioridades...”

Recupere a vida
Esta secção demonstra como pode estabelecer prioridades a curto, médio e
longo prazo que, em conjunto, o conduzirão ao seu objetivo principal. Este
é um processo que deve demorar cerca de meia hora, mas os seus benefícios
podem durar uma vida inteira.

56
A As prioridades

Este processo — chamado “visualização” — permite-lhe compreender e ver-


balizar os seus princípios, atitudes e valores, já que estes funcionam como
uma base sobre a qual toma as decisões que o conduzem ao objetivo principal
da sua vida.

A maioria das pessoas que vivem nos países desenvolvidos só há relativa-


mente pouco tempo pôde dar-se ao luxo de refletir sobre a “arte de viver”.
Os nossos antepassados estavam demasiado ocupados com a luta diária pela
sobrevivência. Esse era o seu objetivo de vida, tal como ainda o é para uma
grande parte da população mundial.

A pirâmide das necessidades desenvolvida por Abraham Maslow ajuda-nos a


compreender as motivações básicas do ser humano (veja abaixo). Em primeiro
lugar, precisamos de satisfazer necessidades básicas, como comer e beber.
De seguida, precisamos de nos sentir protegidos e de ter um sítio onde nos
sintamos seguros (por exemplo, ter uma casa). Depois, precisamos de sentir
que pertencemos a um grupo e que estamos integrados numa comunidade.
Seguidamente, precisamos de nos sentir valorizados dentro desse grupo.
No topo da pirâmide está a realização pessoal. Segundo Maslow, apenas nos
orientamos para a satisfação desta última necessidade quando as anteriores
estiverem satisfeitas.

Atualmente, a maioria das pessoas dos países desenvolvidos está adequada-


mente alimentada e saciada, tem um grau de segurança razoável e sente-se,

PIRÂMIDE DAS NECESSIDADES DE MASLOW

Realização pessoal

Valorização

Desejo de pertença

Segurança

Fome e sede

57
A Tempo para tudo

em maior ou menor grau, integrada na sociedade. Embora em Portugal ainda


haja um número considerável de pessoas marginalizadas, vivendo na pobreza
(cerca de 23%, segundo dados do Eurostat de 2018), a maioria deseja a valo-
rização e a realização pessoal. Assim, se a sua necessidade de valorização e
realização pessoal não for satisfeita, poderá sentir-se desmotivado e insatisfeito.

Na prática, fazer uma gestão do tempo eficaz ajuda-o a subir na pirâmide e a


aumentar a sua satisfação pessoal. Se considera que o seu emprego não lhe
oferece as condições financeiras de que gostaria, poderá perguntar a si pró-
prio em que é que gastaria o dinheiro se fosse aumentado. Em coisas que lhe
fazem mesmo falta ou noutras que simplesmente lhe permitem manter uma
imagem de estatuto social? A resposta a esta pergunta talvez seja um reflexo
de que não se sente integrado ou reconhecido no seu grupo social atual.

Defina objetivos
Para definir os seus objetivos comece por colocar a si próprio estas questões:
—— Se pudesse escolher uma meta a alcançar antes de morrer, qual seria?
—— Quais são os meus objetivos pessoais para os próximos cinco anos? E para
o próximo ano? E para o próximo mês?
—— Quais são os meus objetivos familiares para os próximos cinco anos? E para
o próximo ano? E para o próximo mês?
—— Quais são os meus objetivos profissionais para os próximos cinco anos?
E para o próximo ano? E para o próximo mês?

Em alternativa, pode criar uma “lista de desejos” (veja na página seguinte).


Aqui, anote os desejos que ao longo da vida foi tendo e que não conseguiu
realizar. Não se preocupe se alguns lhe parecem triviais ou irrealistas, que
sejam fantasias de infância ou, simplesmente, sonhos impossíveis de alcançar.
Esta é a primeira etapa deste exercício, e aqui é importante ter total liberdade
de pensamento para criar uma lista o mais completa possível. Após alguns
dias, dê início à segunda etapa. Regresse à lista de desejos e exclua aqueles
que lhe pareçam irrealistas, improváveis de alcançar ou que não o motivem o
suficiente. Tenha em conta que há determinados desejos que lhe podem parecer
irrealistas, mas que, ligeiramente adaptados, podem tornar-se concretizáveis.

Dos desejos que sobrarem faça uma nova lista. Pode ordená-la de várias for-
mas (por exemplo, em termos de importância, do grau de dificuldade, etc.).

58
A As prioridades

Lista de desejos

Haverá certamente alguns que pode realizar rapidamente, enquanto outros


podem demorar um pouco mais de tempo até os conseguir concretizar.

Tente especificar os desejos o mais possível — por exemplo, “correr a Meia


Maratona de Lisboa” em vez de “ficar em forma”, ou “vestir o tamanho 38”
em vez de “perder peso”. Pensar em temas comuns pode ajudá-lo a identificar
os seus objetivos pessoais, familiares e profissionais.

Os seus objetivos tendem a estar em harmonia com os seus valores. Conscien-


temente ou não, estes valores influenciaram as suas decisões ao longo da vida.
Por exemplo, as nossas carreiras profissionais, relacionamentos e opiniões
políticas refletem aquilo em que acreditámos em determinadas alturas da

59
A Tempo para tudo

nossa vida. Podemos atualmente não nos identificar com essas opiniões ou
decisões. É normal, tudo muda, e também nós nos vamos transformando
ao longo do tempo. Existem valores que são mais consistentes e se mantêm
centrais na forma como nos vemos, como vemos os outros e como pensamos
o mundo. Certo é que podemos aprender com todas as nossas escolhas,
mesmo com aquelas de que nos arrependemos, e, ao analisá-las, é possível
encontrar novos caminhos por onde avançar.

A sua declaração de missão


As declarações de missão são expressões ou frases curtas e objetivas que abar-
cam os valores e a filosofia de uma pessoa ou de uma entidade. São usadas
muitas vezes como slogan ou para efeitos publicitários e visam mobilizar as
emoções dos trabalhadores e consumidores. A declaração de missão da Nike,
por exemplo, é “Just do it”. A da Disney é “Fazer as pessoas felizes”.

Estas declarações de missão oferecem um ideal ao qual a entidade em geral, e


cada trabalhador ou consumidor em particular, aspira. Devem ser concretas
e capazes de ajudar os trabalhadores ou consumidores a atingir um obje-
tivo, quer a nível pessoal, quer enquanto parte de uma equipa. Por exemplo,
quando perguntaram a um trabalhador responsável pela limpeza do Centro
Espacial Kennedy qual era a sua tarefa, ele terá respondido: “Estou a pôr o
homem na Lua.”

Definir uma declaração de missão pessoal pode ajudá-lo a identificar os seus


valores centrais e o seu propósito. Para tal, pergunte a si próprio o que quer
alcançar. Qual o seu propósito? Qual a filosofia que está na base do seu modo
de vida? Onde quer estar daqui a cinco ou dez anos? Esta declaração de mis-
são também deve refletir os diversos papéis que desempenha — conjugal,
parental, profissional, social, etc. —, bem como o que quer alcançar em cada
uma dessas áreas. Depois de escrever as respostas, tente resumi-las num tema
comum. Talvez seja “ser o melhor que puder, mantendo o equilíbrio”. Ou
então “fazer a diferença na vida da minha família”. Ou, se trabalha por conta
própria, “trabalhar durante os próximos três anos para manter ou melhorar
a competitividade do negócio”.

Ponha-o por escrito


Muitas pessoas escrevem a sua declaração de missão numa agenda pessoal,
na sua secretária, ou até mesmo no screensaver do computador. De facto,

60
A As prioridades

é importante escrevê-la. Há algo no ato de escrever que faz as ambições, ideias


e esperanças parecerem mais palpáveis, mais reais. Escrever pode até ser
terapêutico. Por exemplo, os psicólogos utilizam uma estratégia designada
por “escrita terapêutica” como forma de ajudar os clientes a elaborarem
sobre as suas emoções. Escrever algo dá-lhe um caráter de permanência e
legitimidade que, de outra forma, estariam ausentes. Uma declaração de
missão escrita aumenta a perceção de poder agir sobre ela. É um exercício
pessoal, que pode, ou não, decidir manter para si. Caso decida partilhar a
sua declaração, pense bem nas pessoas com quem vai fazê-lo.

Seja honesto e realista


Quando escreve a sua declaração é importante ser honesto consigo próprio
para que ela corresponda exatamente aos seus valores e propósitos. Redigir
uma declaração de missão pessoal é uma forma de entrar em contacto com os
seus valores, ambições e filosofias mais profundos, que estão frequentemente
escondidos sob várias camadas de preocupações e cuidados quotidianos.
O político e filósofo romano Cícero salientou: “Ninguém poderá dar-te um
conselho mais sábio do que tu próprio.” Contudo, este conselho só é válido
se for honesto e realista. Por exemplo, muitas pessoas acalentam uma vaga
ambição de trabalhar por conta própria, de preferência em casa. Embora seja
uma ideia tentadora, não podemos esquecer que trabalhar em casa só funciona
para certas pessoas. É preciso estar altamente motivado e disponível para
passar várias horas sozinho e para trabalhar fora da cultura corporativista.
Também deve estar preparado para lidar com a ausência de apoio social e
administrativo, algo que uma empresa grande oferece.

Outras abordagens
Há uma série de outras abordagens que podem ajudá-lo a identificar os seus
objetivos e ambições. Uma abordagem possível é pensar sobre quais são as
suas mais-valias. Em que é que fez a diferença na vida dos que o rodeiam em
particular e na sociedade em geral?

Outro exercício possível é imaginar que ganhou um grande prémio monetário,


por exemplo, o euromilhões. Se isso acontecesse, o que é que alteraria na sua
rotina? Daquilo que faz atualmente, o que é que continuaria a fazer? O que
é que deixaria de fazer? O que faria com o dinheiro? Este exercício permite-
-lhe determinar quais das suas atividades atuais são importantes para si,
bem como quais são os seus valores mais centrais. Imagine que não estava

61
A Tempo para tudo

condicionado por questões financeiras. Nesse caso, imaginava-se a abrir uma


livraria? Compraria um terreno para cultivar? Pintaria?

Sempre que tiver necessidade de tomar uma decisão importante, ou redefinir


o seu projeto de vida, consulte a sua declaração de missão. Este pequeno
ato poderá ajudá-lo a escolher os caminhos que estão mais de acordo com a
sua filosofia e os seus valores e verificar se os mesmos podem conduzi-lo à
concretização do objetivo principal: a sua satisfação pessoal.

Compreender as suas motivações


Quando planeia a sua vida, é importante ter em conta os seus valores e filosofia.
Ter consciência das suas motivações é uma condição importante para ser
bem-sucedido num mundo em mudança. Por exemplo, tradicionalmente, o
sucesso profissional é medido em termos de posição na hierarquia da empresa,
bem como de salário e outros benefícios. Porém, tudo isto está a mudar, e a
maioria das grandes empresas está a caminhar no sentido de uma estrutura
empresarial mais plana, com menos camadas intermédias de gestão. Com
esta reorganização, é mais difícil definir o sucesso em termos de posição.

Para compreender melhor as suas motivações, precisa de responder à ques-


tão: Porque é que é realmente importante para mim fazer isto? A resposta a
esta pergunta traduzirá as suas motivações. Assim, ficará numa posição pri-
vilegiada para escolher a melhor forma de alcançar aquilo a que se propõe,
otimizando a sua gestão do tempo.

O que é para si o sucesso profissional?


A psicóloga Jane Sturges classificou os fatores de motivação em sete critérios
de sucesso que, até certo ponto, se sobrepõem.

Recompensa
Para algumas pessoas, o salário e os benefícios dados pela empresa são o
principal sinal de sucesso.

62
A As prioridades

Resultados
Algumas pessoas precisam de sentir que são boas no que fazem, mas também
que são reconhecidas por isso. Este reconhecimento pode ser feito em termos
de salário ou de posição social. Para outras pessoas, o reconhecimento pode
traduzir-se em receber prémios, assistir a conferências ou apenas em receber
um elogio ou um agradecimento. Para outros ainda, o sucesso depende menos
do reconhecimento por parte dos outros. Nestes casos, o fator de sucesso
pode ser a sensação de se sentir realizado profissionalmente ou de se sentir
um especialista na sua área.

Realização pessoal
As pessoas alcançam o sentimento de realização pessoal de várias maneiras.
Ser um pioneiro na sua área de conhecimento, ter um perfil que permita
concretizar negócios difíceis, ser criativo ou desenvolver-se enquanto pessoa
através do trabalho são algumas das conquistas que permitem obter este
sentimento.

Satisfação
Se a pessoa sentir interesse e satisfação no seu trabalho este torna-se compen-
sador. Até mesmo aquelas pessoas que estão mais interessadas na recompensa
financeira e na posição social querem fazer um trabalho de que gostem. Por
outro lado, algumas pessoas recusariam uma promoção, caso isso significasse
deixar de fazer um trabalho com o qual se sentem satisfeitas. A satisfação é
um fator essencial para uma vida profissional equilibrada e compensadora.

Integridade
Agir com integridade significa compreender e agir de acordo com os valores
e filosofia pessoais. As bases da integridade são a coragem moral e o compor-
tamento ético. Muitas pessoas sentem que devem contribuir de alguma forma
para a sociedade e tornam-se voluntários desenvolvendo trabalho comunitário.

Equilíbrio
Atualmente, o equilíbrio entre a vida familiar e a profissional é apontado
como um fator fundamental para o bem-estar. De facto, a dificuldade para

63
A Tempo para tudo

manter este equilíbrio pode conduzir ao stresse e interferir negativamente


com a qualidade de vida.

Influência
Apesar de a maioria das pessoas desejar ser influente, a forma como pretendem
exercer essa influência poderá ser diferente. Algumas pessoas exercem a sua
influência através do dinheiro e da posição social. Outras fazem-no através
das opiniões que veiculam ou do trabalho que desenvolvem.

Em que perfil se enquadra?


Identificar o que realmente o motiva poderá ajudá-lo a tomar decisões e planear
um projeto de vida mais adequado às suas necessidades. A caixa da página
seguinte permite-lhe identificar os elementos caracterizadores de cada perfil.

Para melhor compreender as diferenças, e para determinar a que perfil per-


tence, imagine que um influente, um especialista, um autorrealizado e um
trepador estavam ao mesmo nível numa empresa:
—— o trepador veria a posição hierárquica e o salário oferecido por essa posição
como importantes em si mesmos;
—— o influente valorizaria a posição pela influência que lhe traria;
—— o especialista pensá-la-ia como uma forma de recompensa pelos seus
conhecimentos;
—— o autorrealizado encararia a sua posição como um ponto de referência na
viagem do seu desenvolvimento pessoal.

Em suma, o influente, o especialista e o autorrealizado veriam os benefícios


salariais mais em termos da sua utilidade do que da posição social que repre-
sentariam. Atenção que isto não significa que os trepadores sejam superficiais,
os autorrealizados demasiado centrados em si próprios para conseguirem
trabalhar em equipa, ou os influentes sedentos de poder.

Três chaves para o poder


Pamela Johnson, investigadora americana da área da gestão, recorreu a um
paradigma diferente para ajudar a compreender as motivações. Baseando-se
na conhecida obra O Feiticeiro de Oz, Johnson descreveu os trabalhadores como

64
A As prioridades

PERFIS PROFISSIONAIS
Sturges descreveu quatro perfis de pessoas de acordo com a importância que atribuem a
cada um dos critérios de sucesso profissional.

Trepadores
Os trepadores descrevem o sucesso profissional em termos da promoção hierárquica e de
recompensa financeira – em particular, o salário. Para os trepadores, uma promoção signi-
fica também sucesso e melhor posição social. Consequentemente, costumam ser pessoas
extremamente competitivas e centradas em objetivos que costumam encarar de forma
bastante positiva.
Não obstante, mesmo entre os trepadores, o dinheiro por si só não é suficiente para asse-
gurar uma carreira satisfatória em termos da realização pessoal. Os trepadores têm de
estar satisfeitos com o seu trabalho para se sentirem bem-sucedidos.

Especialistas
Para os especialistas, ter sucesso significa ser competente na sua função e ser reconhe-
cido como tal. Mais do que o dinheiro ou a posição que ocupam no local de trabalho,
os especialistas consideram como principal indicador de sucesso o facto de serem reco-
nhecidos como peritos, de receberem respeito, elogios e agradecimentos por parte dos
seus pares e chefias. A maioria dos especialistas encara as suas funções como algo mais
importante do que a sua posição na empresa e, consequentemente, até podem recusar
promoções.

Influentes
Os influentes desejam ter um efeito diferenciador, tangível e positivo no local de trabalho
e, talvez até, na sociedade em geral. Essencialmente, querem deixar a sua marca, atin-
gindo ao mesmo tempo autonomia e responsabilidade. Consequentemente, valorizam as
promoções pela influência adicional que estas lhes podem oferecer.
Muitos influentes tendem a envolver-se em atividades fora do emprego. São pessoas muito
ambiciosas, especialmente quando veem uma promoção para um cargo de chefia como a
melhor forma de exercer influência.

Autorrealizados
Os autorrealizados alcançam o sucesso através de satisfação de necessidades internas,
definindo-o nos seus próprios termos. Em muitos casos, as suas definições de sucesso
poderiam ser incompreensíveis para um influente, um especialista, um trepador ou até
para outro autorrealizado. De facto, muitos autorrealizados têm dificuldade em exprimir
exatamente o que entendem por sucesso, especialmente em termos profissionais. Não
obstante, o seu modelo interior de sucesso está na base de tudo o que atingem: dinheiro,
promoções, influência e por aí fora. Assim, os autorrealizados têm necessidade de que
o trabalho seja um desafio a nível pessoal, e todos os objetivos tendem a ser pontos de
referência no caminho para o objetivo principal. Contudo, talvez mais do que qualquer
outro grupo, os autorrealizados querem manter o equilíbrio entre as várias áreas da vida
(profissional, familiar, pessoal e social).

65
A Tempo para tudo

sendo Espantalhos, Homens de Lata ou Leões Cobardes. Por outras palavras,


as três “chaves para o poder” são o cérebro, o coração e a coragem. Sem estes
três elementos, defende, a força de trabalho é “passiva e desmotivada”. Por
outro lado, o desenvolvimento destas áreas produz pessoas “menos receosas
dos riscos, mais criativas e mais dispostas a apresentar soluções arrojadas”
— algo que a gestão moderna e global do tempo e da vida pretende atingir.

O que procura?
Todos temos um pouco de Espantalho, Homem de Lata ou Leão Cobarde — o
que, provavelmente, justifica o facto de O Feiticeiro de Oz ser uma história tão
cativante e ainda atual. Como refere Johnson, todas estas personagens se sen-
tem vulneráveis e “todas procuram o seu poder e auto-orientação”. Nalgumas
ocasiões, todos procuramos “um cérebro, um coração e, sobretudo, coragem”.

Por exemplo, para que os Espantalhos consigam tornar-se mais autónomos,


Johnson sugere que substituam as atitudes negativas e limitadoras por “uma
determinação feroz para atingir os seus objetivos”. Isto significa definir objeti-
vos, decidir como atingi-los e depois implementar o plano de ação, “fazendo
o que for necessário para os atingir”. As técnicas descritas ao longo deste
livro podem ajudar.

Já um Homem de Lata quer um coração. Johnson define isto como um desejo


de “propriedade psicológica”. Para tal, temos de encontrar um significado nas
nossas tarefas quotidianas, conseguir ver para além do salário que auferimos,
ter um espírito de comunidade, divertirmo-nos e sermos entusiásticos. Isto não
tem de significar mudar de emprego ou abandonar tudo para ir viver numa
cabana de madeira. Significa simplesmente mudar de atitude em relação ao
emprego ou estilo de vida. Muitas técnicas de gestão do tempo permitem-
-nos gerir melhor as nossas vidas cada vez mais frenéticas. À medida que
conseguimos corresponder às solicitações impostas no trabalho e em casa,
conseguiremos alcançar maior satisfação pessoal e profissional.

Por fim, o Leão da história queria coragem. Sentia-se impotente, deprimido,


zangado e assustado. Precisava de coragem para assumir a responsabilidade
dos seus atos, pensar de forma mais otimista e reagir aos acontecimentos,
encarando os problemas como desafios.

Pode tentar comparar o seu desempenho atual com estes três perfis. O que é
que normalmente tende a utilizar mais? A cabeça, o coração ou a coragem?
Precisa de melhor identificar os seus objetivos, para ter a certeza de que
consegue progredir no sentido da satisfação pessoal (cabeça)? Precisa de

66
A As prioridades

um emprego que preencha a sua necessidade de fazer algo pelos outros ou


que lhe permita passar mais tempo com a família (coração)? Quer ter maior
afirmação no trabalho ou começar o seu próprio negócio (coragem)? Deve
ser você a decidir o significado de cada um destes termos. Esta e outras
formas de descrever as pessoas são, em certa medida, apenas instrumen-
tos que nos oferecem alguma compreensão sobre nós próprios e sobre o
nosso funcionamento. Contudo, convidam a perspetivar-nos de uma forma
diferente da que estamos habituados, podendo contribuir para aprofundar
o autoconhecimento.

Ganhe coragem
Das três características descritas, a mais difícil pode ser ter coragem para
mudar. A próxima vez que se confrontar com um desafio exigente, como
pode ganhar coragem para avançar? Uma das estratégias pode ser imaginar
o que é o pior que pode acontecer. Na maior parte das vezes, a resposta
não é tão má como se pensa inicialmente. Descubra o que consegue fazer,
atingir ou corrigir, e faça-o. Identifique também aquilo que não está na sua
mão resolver e deixe de gastar energias desnecessárias em tentar fazê-lo.
Aceite que não é sua responsabilidade e ignore-o ou coloque-o de parte.

Caso tenha tendência para ter uma visão catastrofista da vida, tente fazer o
exercício anterior fantasiando dentro do limite do razoável. A tendência para
o pensamento catastrófico pode, por exemplo, levar a que alguém que ouviu
uma avaliação menos positiva da sua chefia pense logo na possibilidade de
ser despedido e perder a casa por impossibilidade de pagar o empréstimo.
Por isso, não dramatize.

Outra abordagem é pensar “qual o significado que isto terá, passado um


ano?” Se continuar a ter importância, então terá mesmo de pensar sobre o
assunto. Faça também o seguinte exercício: lembre-se do que considerou ser
um assunto muito importante no ano passado. Ainda tem o mesmo peso?
Se não, o que fez para o resolver? Ao realizar este exercício irá ficar admi-
rado com a influência que o tempo tem na diminuição da importância que
damos aos acontecimentos. Na realidade, assuntos importantes à primeira
vista acabam por se revelar insignificantes quando nos distanciamos deles.

Por fim, evite adiar. Mais tarde ou mais cedo, terá de arranjar coragem
para se confrontar com o problema. Vale a pena testar-se em problemas
menores e menos importantes. Quando tiver coragem para os resolver,
estará em melhor posição para se debruçar sobre desafios mais complexos
e exigentes.

67
A Tempo para tudo

O quadro geral
A este ponto, provavelmente já saberá quais são as suas motivações e os seus
valores e analisar as suas atitudes, bem como os problemas que enfrenta
e as formas de os resolver. Possivelmente, também terá uma ideia da sua
ambição principal: ser promovido, mudar-se para o campo ou passar mais
tempo com a família. O próximo passo é identificar as etapas que podem
ajudá-lo a avançar em direção ao seu objetivo. Deve dividir a viagem em
várias etapas e analisar o que é necessário para implementar cada uma
delas. Quanto tempo necessita para as pôr em prática? Que competências
precisa de ter (ou adquirir) para conseguir fazê-lo? Depois desta análise pode
chegar à conclusão de que cinco anos, por exemplo, é um prazo realista
para concretizar todas as etapas.

Avalie as suas competências


Durante a avaliação de competências, analise de forma crítica, mas realista, a
sua situação atual à luz do objetivo principal. Compreenderá, então, quais as
áreas em que é necessário melhorar para atingir esse objetivo. Com base nas
suas conclusões, pode estabelecer objetivos a curto, médio e longo prazo, de
forma a melhorar as suas competências. Também pode usar uma avaliação
de competências para ultrapassar problemas específicos no trabalho.

Comece por fazer uma lista dos seus pontos fortes. Provavelmente, terá muito
mais competências do que imagina. O quadro da página seguinte poderá ajudar.

Tente encontrar três a seis aprendizagens que fez em cada uma das suas
experiências profissionais, quer ao nível profissional, quer ao nível pessoal.
Lembre-se de que até a experiência menos positiva permite desenvolver com-
petências e ensinar algo de novo sobre nós próprios e sobre o mundo no geral.

Depois, pergunte a si próprio como é que estes aspetos podem ajudá-lo a


atingir o seu objetivo principal. Tente ser criativo. Por exemplo, se quer viver
de uma pequena exploração agrícola e tem conhecimentos de informática,
poderia dirigir um negócio online para aumentar o seu rendimento? Poderia
vender produtos biológicos pela internet?

A avaliação também deve ajudá-lo a identificar competências que ainda


necessita de desenvolver. Até que ponto lhe faltam conhecimentos em cada

68
A As prioridades

área importante? Por exemplo, talvez precise de mais formação na área das
tecnologias de informação. Então, encontre formas de colmatar esta carência:
cursos de formação, livros técnicos, ensino a distância, etc.

Seguidamente, divida as necessidades a colmatar em objetivos a curto,


médio e longo prazo. É importante lidar com cada uma destas necessidades
separadamente. Muitas vezes, as pessoas não conseguem mudar, não por
estabelecerem metas muito elevadas, mas porque tentam fazer demasiadas
coisas em pouco tempo. Portanto, deve estabelecer metas claras, especí-
ficas e atingíveis. As mudanças devem ser suficientemente pequenas para
se adaptarem à sua rotina diária. Por exemplo, não vale a pena estabelecer
um plano de estudos irrealista. Se o fizer, o mais provável é falhar, e é óbvio

AS MINHAS COMPETÊNCIAS
Organize os seus pontos fortes em termos profissionais à luz do seu objetivo principal.

Habilitações literárias

Habilitações profissionais

Interesses, competências
e conhecimentos no trabalho

Interesses, competências
e conhecimentos fora do trabalho

Prémios/reconhecimento
que possa ter tido

Cursos que realizou

O seu percurso profissional,


e o que aprendeu

69
A Tempo para tudo

que isso não trará qualquer sensação de sucesso. Por outro lado, se for bem-
-sucedido em alguns destes pequenos objetivos a curto prazo, conseguirá
desenvolver a confiança necessária para dar passos mais importantes e
seguir no seu processo de mudança. Por isso, deve decompor os grandes
projetos em etapas pequenas e exequíveis. Cada viagem, por mais longa
que seja, é constituída por uma série de pequenas etapas.

Além disso, deve avaliar de forma precisa o tempo que cada objetivo a curto,
médio e longo prazo irá consumir. Depois, acrescente cerca de 10% ou 20%
a cada estimativa, uma vez que a maioria das pessoas subestima a duração
de uma tarefa, especialmente se for algo que nunca tenha feito.

Por fim, faça uma revisão dos seus progressos regularmente. Para uma
monitorização eficaz pode realizá-la de três em três meses. De cada vez que
conseguir atingir os objetivos estabelecidos, recompense-se. Por exemplo,
ofereça a si mesmo algo de que gosta ou mesmo uns dias de férias. E tão
importante como a monitorização é o foco no destino. Durante esta viagem
é mesmo importante ser persistente e paciente consigo próprio.

Tome aquela decisão


Há cerca de 2000 anos, o historiador e orador Cornélio Tácito referiu que
o desejo de segurança se "sobrepõe a todas as grandes e nobres empresas”.
Nos dias de hoje, esta afirmação ainda se aplica: de facto, para a maioria
de nós, existe uma preferência pelo que é conhecido e está na nossa zona
de conforto em detrimento do que é desconhecido ainda que ao nosso
alcance. Mesmo nas situações que se sente necessidade de mudar. Após
todo o planeamento requerido no processo de mudança e tendo atingido
os seus objetivos a curto, médio e longo prazo, poderá ter de se aventurar
e avançar para concretizar o objetivo principal. Pode ter de abandonar um
emprego relativamente seguro. Talvez tenha de colocar a sua casa à venda
para se mudar para o campo para concretizar o tal sonho de ter uma pro-
dução biológica. Dar o passo final não é fácil, mas é necessário para que a
mudança se concretize.

Adiar não é solução. Além de fazer perder tempo, a partir do momento em


que adiar se torna um hábito, diminui a probabilidade de ser bem-sucedido
na mudança a que se propõe. Apesar de, a curto prazo, adiar poder ser neces-
sário para avançar — especialmente se se tratar de uma tarefa assustadora
ou desagradável, se temer o fracasso ou se for um perfeccionista —, o que é
um facto é que o adiamento pode encerrar a esperança de que o problema

70
A As prioridades

fique resolvido e a mudança deixe de ser necessária se adiar o suficiente. Mas


se queremos ser bem-sucedidos no trabalho ou na vida pessoal, por vezes
é essencial tomar a decisão certa na altura certa. Para conseguir dar esse
passo, a solução pode passar por obter a maior quantidade de informação
possível (sobre pessoas, custos, potencial a ganhar, concorrência, etc.) e
só então avançar. Também é preciso não esquecer que as coisas nunca são
perfeitas, que nunca se consegue ter uma compreensão perfeita e absoluta
de assuntos complexos e que, provavelmente, as condições ideais para
avançar nunca estarão todas reunidas ao mesmo tempo.

Por vezes, mudar significa saber quando parar de perder. Investimos décadas
de vida num casamento que não era satisfatório, milhares de euros numa
companhia à beira da falência ou anos de dedicação num emprego que
detestamos. Por termos feito estes investimentos, continuamos a “enterrar”
os nossos recursos, tentando manter-nos à tona. Podemos observar este
comportamento em qualquer casino: pessoas que perderam dinheiro, mas
não conseguem deixar de jogar, na esperança (geralmente vã) de recuperar
o dinheiro perdido. A maioria das pessoas aconselharia o jogador a parar de
perder. Contudo, este é um conselho que poucos conseguem seguir na vida
quotidiana quando aplicado a assuntos com que nos deparamos diariamente.

Neste sentido, evitar adiar significa também aceitarmos um certo grau de


incerteza quanto aos resultados que iremos obter. A mudança é praticamente
a única certeza nos dias de hoje. Pode ser difícil aprender a lidar com a
incerteza, mas essa é a chave para a capacidade de gestão da vida no geral
e do tempo em particular.

NUM PISCAR DE OLHOS…


• Pergunte a si próprio: o que quer alcançar?; qual o seu propósito?; qual a filosofia que
está na base do seu modo de vida?; onde quer estar daqui a cinco ou dez anos? A resposta
a estas questões permitir-lhe-á redigir uma “declaração de missão”. Consulte-a sempre
que tiver necessidade de tomar uma decisão importante.
• Mantenha o equilíbrio entre a vida familiar e profissional e contrarie uma visão catas-
trofista da vida.
• Se chegar à conclusão de que precisa de mudar, estabeleça metas claras, específicas e
atingíveis, suficientemente pequenas para se adaptarem à sua rotina, e que lhe permitam
desenvolver a confiança necessária para dar passos mais importantes no seu processo.
• Adiar não é solução. Além de fazer perder tempo, a partir do momento em que adiar
se torna um hábito, diminui a probabilidade de ser bem-sucedido na mudança a que se
propõe.
• Pode ser difícil lidar com a incerteza, mas essa é uma das chaves para a capacidade de
gestão da vida no geral e do tempo em particular.

71
Capítulo 5

Os elementos
essenciais da
gestão do tempo
A Tempo para tudo

As técnicas apresentadas no capítulo anterior permitem determinar quais são


os seus valores, filosofias e ambições, além de ajudarem a traçar um plano
para avançar em direção ao seu objetivo final. Agora, precisa de organizar o
seu tempo para pôr o plano em ação.

Pensar nas coisas de forma crítica e aproveitar o que é útil para si são dois dos
princípios fundamentais. Algumas das estratégias de gestão do tempo podem
parecer ideais na teoria, mas quando as aplicamos ao nosso quotidiano sim-
plesmente não funcionam. Por isso, é importante refletir sobre cada estratégia
aqui proposta e verificar se, no seu caso, é viável. Pergunte a si mesmo: esta
mudança é mesmo necessária? Vale a pena o esforço e o tempo que vou per-
der a implementá-la? Na maioria dos casos, a resposta será "sim". Mas, se fizer
sempre estas perguntas, lembrar-se-á mais facilmente das razões que estão por
detrás das mudanças desejadas.

Para onde vai o tempo?


Um cliché empresarial diz que "20% do esforço produz 80% dos resultados".
Isto é o mesmo que dizer, por exemplo, que cerca de 80% das vendas de uma
empresa vêm de 20% dos clientes. Em muitos casos, 80% do que se produz
deriva de 20% do nosso tempo. O seu objetivo deverá ser rescrever esta equa-
ção, para que destine cerca de 80% do seu tempo às suas prioridades, em casa
e no trabalho.

Antes de mais, é importante decidir quais são as suas prioridades (veja o


capítulo anterior). Após a sua definição, poderá, então, decidir quanto tempo
terá de destinar a cada uma delas. Contudo, para conseguir fazer isto de forma
eficaz, tem de saber exatamente onde gasta o seu tempo.

Faça um registo do tempo


É certo que todos os dias têm 24 horas, mas quantas vezes dá por si sem perceber
para onde lhe fugiram os minutos? Ter um registo da sua atividade ao longo do
dia é a forma mais eficaz de analisar e compreender onde gasta o seu tempo.
O que antes só podia ser feito de forma manual (com recurso a papel e caneta
ou, quando muito, a uma folha de excel), hoje já é uma tarefa “facilitada” por

74
A Os elementos essenciais da gestão do tempo

funcionalidades e aplicações digitais, disponíveis em computadores e smar-


tphones. Por exemplo, no que diz respeito à utilização do tempo passado a
interagir com o telemóvel, o computador ou o tablet, alguns sistemas operativos
já permitem fazer o resumo das aplicações utilizadas, limitando inclusive a sua
utilização ao fim de um determinado período.

Certo é que, independentemente da forma como decida fazer o seu registo de


tempo — e embora tal possa ser trabalhoso e exigir alguma autodisciplina — vale
o esforço, pois permite-lhe ficar a saber como realmente gasta o seu tempo em
oposição a como pensa que o gasta.

Primeiro, é essencial analisar a sua posição atual. Por exemplo, pense nalgu-
mas tarefas que tem de realizar durante as próximas duas semanas. Depois,
faça uma estimativa de quanto tempo considera que necessita para realizar
cada uma dessas tarefas. Durante essas duas semanas faça um registo diário
do tempo que disponibiliza para a realização das atividades do seu dia-a-dia.
Passado esse período, compare o registo sobre o tempo estimado com o registo
do tempo efetivamente dedicado à realização das tarefas. O resultado desta
análise pode surpreendê-lo. A maior parte das vezes tendemos a subestimar
o tempo que dedicamos a realizar as tarefas do nosso quotidiano, e isso pode
explicar a sensação que às vezes surge de que nos falta tempo. Este exercício
permite ganharmos maior consciência sobre onde aplicamos o nosso tempo.

Em segundo lugar, deve ter presente o tempo que gasta a realizar cada tarefa,
tentando interferir o menos possível com o seu desempenho. Para que isto
realmente resulte, é importante ser regrado e anotar tudo. Durante uns dias,
tem de apontar quanto tempo gasta a tomar o pequeno-almoço, a trabalhar
efetivamente, nos passeios para desentorpecer as pernas ou nas escapadelas para
consultar as redes sociais online. Nalguns casos, pode descobrir que consegue
estar apenas alguns minutos a desempenhar uma tarefa antes de se distrair com
outra coisa. No que diz respeito ao trabalho feito ao computador, é possível
instalar aplicações que monitorizam quais os programas que utiliza e os sites
que visita e durante quanto tempo o faz. Com esta informação, é produzido um
relatório pormenorizado (diário, semanal ou mensal) que lhe permite consultar
onde investiu o seu tempo à secretária ou a usar o smartphone.

Também pode criar uma tabela com os dias da semana e com o tempo dividido
em secções de 15-30 minutos. Ao fim de cada hora, registe o que fez. É possível
que só se sinta motivado a fazer este registo durante não mais do que um ou
dois dias. Contudo, este exercício pode ser útil, quanto mais não seja para
permitir perceber o que faz com o seu tempo. Com as crianças e os jovens,
este pode inclusive ser um bom exercício para estipular períodos de estudo
intercalados com outros de lazer.

75
A Tempo para tudo

O problema destes métodos é não permitirem detetar pequenos “ladrões de


tempo” (como, por exemplo, interrupções de apenas dois ou três minutos) que
acabam por se acumular e ter um peso significativo. Muitas vezes, após uma
interrupção, é difícil ou até mesmo impossível continuar de imediato a tarefa
que estava a fazer. Por este motivo, é importante ter consciência da ocorrência
destas interrupções e registá-las.

Seja qual for a abordagem utilizada, a avaliação do tempo pode ajudá-lo a fazer
descobertas muito importantes. Além de ganhar consciência sobre quais são as
atividades em que gasta o seu tempo, permite também desenvolver o sentido
do valor do tempo, especialmente se tiver de o pagar. Calcule quanto custa cada
hora do seu dia de trabalho, quer para si, quer para a sua empresa, e perceba o
preço que paga (ou que perde) por cada atividade que realiza ou cada distração.

Trabalhe quando e onde for mais produtivo


Num mundo ideal, trabalharíamos apenas quando e onde estivéssemos mais
produtivos. Por exemplo, cada vez mais pessoas trabalham desde casa e acabam
por perceber que a sua produtividade aumenta. Contudo, sabe-se que isto não
é verdade para todos.

Em primeiro lugar deve tentar, tanto quanto possível, executar as tarefas mais
difíceis durante a parte do dia em que trabalha de forma mais eficiente. Algumas
pessoas tendem a trabalhar melhor durante a manhã; outras à tarde. Há razões
biológicas comprovadas para estas variações. Muitas funções do corpo, como
a produção hormonal e os ciclos de sono/vigília, variam ao longo do dia. Estes
padrões são designados por “ritmo circadiano”.

Para identificar qual o seu ritmo circadiano, esteja atento ao seu nível de
energia e analise, a cada meia hora, o seu grau de alerta, numa escala de 1
a 4 (em que 1 é nada, 2 é pouco, 3 é moderadamente e 4 é muito) durante
alguns dias. Faça uma média diária e trace um esquema do seu desempenho
ao longo do dia. Depois, tente reservar, tanto quanto possível, as tarefas mais
exigentes a nível físico e mental para as alturas em que se verificam os seus
picos de energia.

Para perceber onde somos mais produtivos, também a tecnologia dá uma ajuda:
já existem aplicações para computadores e smartphones que funcionam com
tecnologia GPS e permitem que o utilizador associe espaços físicos a tarefas
específicas. Este tipo de programas tanto permite, por exemplo, ao utilizador
perceber que gasta demasiado tempo num espaço dedicado às pausas para

76
A Os elementos essenciais da gestão do tempo

café, levando a que, por exemplo, o ajuste para ser mais rentável a trabalhar
(diminuindo o tempo dedicado a estes intervalos), como pode levar outra pes-
soa a perceber que trabalhar em determinado espaço foi bastante produtivo
e — porque não? — a utilizá-lo para tarefas mais exigentes.

Isto também pode ser útil para uma avaliação do tempo se a sua ocupação
principal for doméstica. Quanto tempo gasta no supermercado por semana?
Quanto tempo dedica à lida da casa? E quanto do seu dia dispersa nas redes
sociais online? Consciencializar-se de tudo poderá permitir-lhe perceber por
que razão não está a conseguir ter uns minutos só para si.

Melhore a produtividade
Depois de fazer a avaliação do tempo, pode começar a trabalhar no sentido de
melhorar a sua produtividade. Selecione as tarefas que o seu registo revelou
serem as que lhe ocupam mais tempo. De seguida, anote concretamente o
tempo que gasta a desempenhá-las. Também pode ordenar as tarefas tendo
em conta a sua prioridade. Muitas aplicações permitem-lhe priorizar as tarefas
de acordo com a sua urgência, mas mesmo num caderno é possível sublinhar
tarefas com cores diferentes consoante a urgência e num placard é possível
inserir bandeirolas ou post-its, por exemplo, para destacar os elementos mais
importantes — basta ver o que resulta no seu caso específico!

Depois, estabeleça um prazo para a realização de cada tarefa. Tente ser realista
e não comprometa a qualidade a favor da rapidez. Ainda assim, muitas pessoas
conseguem reduzir o tempo de cada atividade em 5% ou 10%, especialmente se
limitarem a ocorrência dos pequenos “ladrões de tempo” que já referimos atrás
(por exemplo, se interrompermos sistematicamente a redação de um relatório
para abrirmos alertas de notícias que tenham surgido no ecrã do computador,
talvez esteja na hora de desativarmos algumas notificações).

Durante as semanas seguintes, registe o seu progresso. Há tarefas que se reve-


larão impossíveis de realizar mais rapidamente. E existirão outras que pode-
rão ser feitas em muito menos tempo. Por exemplo, pode conseguir poupar
várias horas se optar por ir ao supermercado uma vez por semana em vez de
o fazer todos os dias; ou se encomendar online e pedir entrega ao domicílio. A
única forma de descobrir se está a ser mais produtivo é mantendo o seu tempo
“debaixo de olho”.

Também pode observar o impacto que terá cada técnica de gestão do tempo que
adotar. Neste caso, a avaliação irá revelar os seus pequenos ganhos e encorajá-lo

77
A Tempo para tudo

a prosseguir com as suas mudanças. Pode, por exemplo, fazer uma lista, como
a que mostramos abaixo. Lembre-se de que, para preencher a última coluna,
terá de fazer um registo do tempo.

Em muitos casos, pode ser preciso esperar algumas semanas para ver os bene-
fícios trazidos pelas mudanças introduzidas. No entanto, é expectável que,
gradualmente, se vá dando conta das melhorias. Embora seja um cliché, não
deixa de ser verdade que Roma e Pavia não se fizeram num dia. Conte com
recaídas e conceda-se algum tempo para lidar com elas. A tabela abaixo é uma
forma de confirmar se está mesmo a fazer progressos e permite quantificar os
benefícios que está a obter, o que o encorajará a manter as mudanças implemen-
tadas. Os psicólogos chamam a este encorajamento o “reforço positivo”. Outra
análise que sugerimos fazer ao seu registo implica perguntar-se a si próprio:
—— O que fiz com o tempo que ganhei?
—— Como é que isto se encaixa na minha missão (veja a página 60)?
—— Em que medida isto me aproxima dos meus objetivos no trabalho e na vida
em geral?

ESTRATÉGIAS PARA POUPAR TEMPO


Identifique os "ladrões do tempo" e defina estratégias para os combater.

Atividade Estratégia de gestão do tempo Tempo poupado

Desativar notificações e limitar


Acesso a publicações o acesso à Internet a períodos 2 horas
digitais e redes sociais específicos do dia

78
A Os elementos essenciais da gestão do tempo

A solução está no planeamento


A capacidade de planeamento é uma das características que nos distingue
do restante reino animal. Aproveitar algum tempo para fazer planos é,
provavelmente, a forma mais eficaz de pôr ordem no caos que nos rodeia.

Use uma agenda


Provavelmente, já tem uma ou mais agendas, em papel ou só no telemóvel.
O ideal é usar apenas uma. Caso contrário, terá de fazer um esforço acres-
cido por as manter sincronizadas (quando fizer alterações na sua agenda
de papel, deve marcá-las na sua agenda do telemóvel, por exemplo). Mas
atenção: isso poderá levá-lo a perder tempo!

Inclua sistematicamente na agenda o seu plano anual de férias, ou marque


datas importantes da sua agenda profissional e pessoal. Assim, poderá ante-
cipar os seus afazeres tentando não interferir com os seus compromissos.

Utilizar uma agenda permite evitar confusões e ajuda-o a manter o equilí-


brio entre tarefas profissionais, familiares e pessoais. Permite igualmente
diminuir a probabilidade de se esquecer dos aniversários e de outras datas
comemorativas, evitando possíveis constrangimentos.

Também pode usar a agenda para traçar projetos a longo prazo. Nalguns
casos, isso não será suficiente e pode ser necessário usar um software mais
sofisticado de planeamento de projetos, sobretudo se precisar de coorde-
nar recursos materiais e humanos. Neste campo, há variados programas
informáticos de gestão de projetos que permitem não só ter uma ideia do
andamento das várias tarefas como partilhá-las com outros envolvidos e
definir ou estimar o tempo necessário para a execução de cada uma das
fases do trabalho.

Pode também utilizar a agenda para planear o que vai fazer ao longo do seu
dia e quando o vai fazer. Mais uma vez, isto ajuda-o a trabalhar de acordo
com o seu ritmo de desempenho. Contudo, não se esqueça de acrescentar
algum tempo a mais para interrupções e imprevistos. Quer os smartphones
quer os computadores disponibilizam hoje em dia funcionalidades que per-
mitem não deixar expirar as suas tarefas sem o alertar, antevendo imprevistos
sob a forma de lembretes ou alarmes, definidos consoante a data e hora ou

79
A Tempo para tudo

até a sua localização. Por exemplo, antevendo a necessidade de ir buscar


o filho à escola às seis da tarde, há aplicações que não só têm em conta as
coordenadas GPS do trajeto que terá de percorrer do trabalho até lá como
integram sistemas de gestão de tráfego em tempo real de modo a avisá-lo de
que deverá sair do trabalho com uma determinada antecedência de modo
a chegar a horas ao destino.

MARA E PAULO
A filha mais nova da Mara e do Paulo pediu uns patins em linha novos para o seu aniver-
sário. Paulo, sempre atento aos preços dos produtos à venda na internet, optou por fazer
a encomenda online e, uma semana depois, recebeu uma guia de encomenda para levan-
tar o presente. Face às funcionalidades disponíveis no seu telemóvel, o Paulo tirou uma
fotografia à guia da encomenda que recebeu, que associou à criação de uma tarefa para
ir levantar o pacote no sítio indicado. Depois, partilhou essa tarefa com a Mara, ativando
um alarme baseado na localização do ponto de recolha. Assim, o primeiro dos elementos
do casal que passasse pelo local onde se encontrava a encomenda seria avisado da possi-
bilidade de a levantar. Quando, no dia seguinte, a Mara passou em frente à loja indicada
como ponto de recolha, recebeu o referido alerta e foi levantar a encomenda. A tarefa foi
dada como terminada e os patins levados para casa.

Organize uma lista de tarefas


Depois da organização da sua agenda, é preciso elaborar uma lista de tarefas
e atualizá-la diariamente (a atualização diária permite diminuir a probabili-
dade de se ir deitar a pensar nas suas preocupações). Nesta lista, pode, por
exemplo, agrupar as tarefas ou projetos por categorias: contactos a fazer,
tarefas a concluir e prioridades pessoais.

Mais uma vez, a ideia é decompor os projetos ou tarefas mais complexas em


tarefas mais simples e fáceis de realizar. Esta regra aplica-se tanto à redação
de um relatório como ao desenvolvimento de um projeto de negócio ou a
uma mudança de casa. Tente definir o projeto numa frase. Depois, decom-
ponha-o em várias etapas. Para um relatório, por exemplo, as etapas podem
ser: pesquisa, tratamento de dados, discussão com pares ou chefia, escrita,
revisão e apresentação. Por sua vez, cada uma destas etapas é constituída por
várias fases mais específicas. Na fase de pesquisa, estas podem ser: visitas
a outras empresas, ir a bibliotecas, pesquisas na internet. Depois, ordene

80
A Os elementos essenciais da gestão do tempo

estas etapas numa sucessão lógica e acrescente-as à sua lista. Desta forma,
um projeto complexo torna-se, de repente, muito menos “assustador”.
Dependendo da duração do projeto, as tarefas podem ir sendo intercaladas
com o resto do seu trabalho.

Os programas de gestão de projetos que referimos atrás podem dar aqui


uma boa ajuda também.

Quando tiver a sua lista completa, será necessário dar a cada tarefa a devida
prioridade. Nalguns casos, isto pode significar identificar a tarefa com a priori-
dade mais elevada e ir decrescendo. Contudo, vale a pena, se possível, alternar
tarefas menos motivadoras com outras mais interessantes, bem como intercalar
tarefas mais físicas ou automáticas com outras mentalmente mais exigentes.

Há várias formas de organizar por prioridades a sua lista de tarefas. A forma


mais simples é ordená-la por urgência. Para tal, por exemplo, pode dar uma
nota a cada tarefa, de “0” (nada urgente) a “5” (extremamente urgente).
Se quiser fazer uma avaliação mais minuciosa, além da urgência poderá
avaliar o grau de importância. Muitas pessoas tendem a lidar primeiro com
os problemas mais urgentes, independentemente da sua importância. Con-
sequentemente, têm menos tempo de qualidade para dedicar às tarefas
importantes. A atribuição de um valor a cada tarefa ajuda-nos a escolher
dentro das tarefas mais urgentes as que são mais importantes.

Nas primeiras vezes que tentar priorizar as tarefas, é possível que quase todos
os tópicos da sua lista lhe pareçam importantes e mais ou menos urgentes.
Contudo, com um pouco de prática, será capaz de atribuir a prioridade de
cada tarefa com maior rigor. Inicialmente, pode achar útil pedir aos seus
familiares, amigos, colegas ou chefe que o ajudem a definir as prioridades.
Por outro lado, se, após consideração cuidadosa, ainda deparar com uma
série de tarefas importantes e urgentes, tem duas opções: executa primeiro
a mais fácil (terminar uma tarefa tem a vantagem de levar a que fique psi-
cologicamente bem, e esta sensação poderá estender-se às outras tarefas
da lista); realiza primeiro os trabalhos mais difíceis e aborrecidos deixando
para o fim aqueles que mais o motivem e lhe interessem. A escolha é sua.

A lista de prioridades deverá ser revista e atualizada regularmente. Em


muitos casos, tal pode significar passar qualquer coisa como 5 a 30 minutos
por dia a reescrevê-la ou reordená-la: transferir para a nova lista as tarefas
que ficaram por fazer, fazer uma nova atribuição de prioridades e decidir a
importância e a urgência das novas tarefas. O tempo passado a organizar o seu
trabalho será recompensado com um aumento de eficácia. Funcionalidades
integradas em programas como o Outlook permitem-lhe facilmente fazer

81
A Tempo para tudo

esta gestão de tarefas sem perder o tempo associado à escrita e reescrita


de tarefas, com ganhos substanciais de tempo e eficácia.

Os assistentes virtuais inteligentes são uma preciosa ajuda neste campo.


Trata-se de dispositivos com acesso à internet cuja interface com o utilizador
é realizada através de comandos por voz. Como o próprio nome indica, não
são mais do que programas que simulam um assistente pessoal para gerir
as suas tarefas e obter informações de forma prática e rápida. Siri, Alexa,
OK Google e Cortana são alguns dos exemplos de assistentes que podem ser
utilizados em computadores, telemóveis, televisões e dispositivos específicos
como facilitadores dos processos de gestão do tempo. Se tiver um smart-
phone, experimente solicitar ao seu assistente virtual a marcação de uma
tarefa, por exemplo, e ficará surpreendido com a sua eficácia.

Claro que a necessidade de investir em tecnologia depende do trabalho e do


estilo de vida de cada um. Algumas pessoas consideram suficiente ter uma
lista atualizada semanalmente (por exemplo, à sexta-feira), e, para tal, serve
perfeitamente um caderno onde possa reunir ideias e anotações e manter
todos os registos num só sítio. Pode marcar ou sublinhar o que tem para
fazer no próprio dia e depois ir riscando as tarefas que estão feitas. Mas não
se esqueça de deixar algum espaço livre para novas tarefas.

A revisão diária ou semanal permite-lhe também avaliar a sua eficiência


até esse momento. Se sistematicamente não conseguir cumprir os seus
objetivos, pergunte-se:
—— Estou a tentar fazer muita coisa em pouco tempo?
—— Podia estar mais bem preparado?
—— Atribuí as prioridades de forma correta?
—— Houve algum imponderável que tenha interferido com os meus planos?
—— Faltou-me autodisciplina?
—— As tarefas eram aborrecidas ou demasiado exigentes?
—— Adiei?
—— Estou preocupado com outros assuntos?

Depois, veja o que pode fazer para melhorar a situação.

Adapte-se
Embora uma boa gestão do tempo dependa, de uma forma ou de outra, de uma
agenda e de uma lista de tarefas, é fundamental experimentar e desenvolver
o seu próprio sistema de gestão, em vez de tentar encaixar à força o seu estilo

82
A Os elementos essenciais da gestão do tempo

de vida num sistema predefinido. O que funciona para um executivo empre-


sarial — que se move entre várias reuniões, chamadas e relatórios — pode não
ser apropriado para um artista que tem de terminar um trabalho de grande
envergadura ao longo de várias semanas. Assim, é importante descobrir qual
o sistema que funciona e quais as sugestões de gestão do tempo apresentadas
neste guia que são as mais adequadas para o seu caso.

A flexibilidade é um atributo importante, quer se use uma agenda no telemóvel


ou simplesmente um calendário de parede. Se um problema inesperado per-
turba o seu planeamento, lide com esse problema imediato e depois reavalie
o calendário. Da mesma forma, se à medida que avança para o seu objetivo
final descobrir outra área essencial que é preciso tomar em consideração,
aceite-a e redefina o seu plano.

Manter a calma
em momentos de crise
Muitas crises podem ser previstas, e a melhor forma de lidar com elas é agir
antecipadamente. As crises são pontos de viragem nas nossas vidas em casa e
no trabalho. Podem ser simultaneamente uma ameaça à harmonia e ao bem-
-estar e uma oportunidade de mudança. De facto, o conceito chinês de crise é
representado pelas palavras “ameaça” e “oportunidade”. Os acontecimentos
adversos e desagradáveis podem, efetivamente, representar oportunidades
para desenvolver relações, ajudar a estabelecer um sentido de competência
e integridade e abordar questões difíceis e importantes.

Contudo, durante qualquer crise, profissional ou pessoal, o tempo é um


elemento importante, e, por isso, uma gestão eficaz dos recursos é essencial.
Gerir convenientemente uma situação de crise envolve, entre outras coisas:
—— reconhecer que se atravessa realmente um momento de crise;
—— tomar medidas adequadas para gerir a situação;
—— mostrar que se está a fazê-lo (se a crise envolver outras pessoas).

Em última análise, ninguém está à espera de viver num mundo isento de


riscos. Os acidentes acontecem na vida privada e nos negócios. Por outro
lado, se ninguém vê a organização ou o indivíduo que se encontra no centro

83
A Tempo para tudo

da crise a tomar medidas adequadas para a ultrapassar, o sentimento inicial


de choque depressa se transforma em raiva.

Em qualquer situação de crise, pessoal ou empresarial, as pessoas sentem


necessidade de saber:
—— O que aconteceu?
—— Porquê?
—— De quem é a responsabilidade?
—— Quando é que as pessoas envolvidas pensaram primeiro que isso podia
acontecer?
—— O que estão a fazer agora?
—— Como podemos ter a certeza de que não volta a acontecer?

As pessoas que estão envolvidas na crise sentirão a pressão a aumentar. Sentirão


surpresa; perceberão que lhes falta informação; enfrentarão uma crescente
onda de acontecimentos; e terão a sensação de que perderam o controlo.
Estarão também sob uma avaliação intensa, que conduzirá a uma atitude de
cerco e a pânico.

Tomar medidas em situações de crise envolve sempre riscos. É necessária


uma estratégia para decidir quando definir um acontecimento como situação
de crise, quando tomar medidas e quando trabalhar em colaboração para a
resolver. A capacidade de manter a calma quando tudo está a desabar é uma
qualidade valorizada nos líderes, especialmente porque a aparente confiança
que mostram é muito reconfortante para os colegas.

Uma gestão de crise baseia-se, sobretudo, em saber tomar a iniciativa — assumir


o controlo dos acontecimentos antes que a organização e as pessoas envolvidas
se sintam assoberbados pelos acontecimentos. Uma boa gestão do tempo e o
foco nos objetivos são estratégias absolutamente essenciais para a gestão da
crise. Só assim é possível gerir os compromissos de forma adequada, racionar
cuidadosamente os recursos e o tempo e reagir aos acontecimentos de forma
prática, responsável e sensível. Uma boa gestão de crise passa por:
—— desenvolver uma atitude positiva;
—— compreender o risco e reconhecer os acontecimentos;
—— pensar em formas de melhorar os processos e o desempenho (por exem-
plo, através do aperfeiçoamento das normas de saúde e segurança, da
formação das pessoas, etc.);
—— instalar sistemas de aviso precoce para vigiar potenciais problemas;
—— implementar um processo claro de comunicação;
—— saber quem é necessário contactar;
—— trabalhar em equipa.

84
A Os elementos essenciais da gestão do tempo

Simplificar
O objetivo da gestão do tempo pode ser resumido numa única palavra: sim-
plificar. Mas, ao mesmo tempo, terá de agir de forma preventiva: livrar-se da
desordem (veja o capítulo 8), controlar as finanças pessoais (veja o capítulo 9)
e aprender a lidar com a gestão do tempo em casa e no trabalho (veja os
capítulos 7 e 9). Estas medidas devem tornar a vida mais simples e permitir
que ganhe mais tempo para fazer outras coisas.

Aprenda a dizer “não”


Aceitar as solicitações pouco razoáveis de uma chefia, de um companheiro
ou de uma criança é, provavelmente, das tarefas que mais consomem tempo.
Quantas horas, quantos dias, ou até mesmo quantos anos perde, simplesmente
porque não consegue dizer “não” na altura certa? Muito provavelmente esta
dificuldade está associada à necessidade de agradar a alguém. Mas a quem
está a tentar agradar? Como se sente e como é o seu desempenho quando
faz algo que realmente não quer fazer?

É importante aprender a dizer “não”, sobretudo às solicitações que não lhe


pareçam razoáveis, seja por não ter tempo suficiente, seja porque a solicitação
não se enquadra com os seus valores. Aprender a dizer “não” permite também
ganhar o respeito dos outros. Por exemplo, um dos custos de não saber dizer
que “não” pode ser a ocorrência de incumprimentos, acabando por interferir
com o seu desempenho e até mesmo com a sua relação com os outros (por
exemplo, desiludir um colega ou um amigo com quem se comprometeu com
algo que não conseguiu cumprir).

Por isso, antes de aceitar um pedido, avalie se tem condições para o fazer.
Algumas tarefas podem exigir mais tempo do que à primeira vista poderia
parecer. Nesse sentido, é importante acrescentar mais 10% a 25% de tempo
quando elabora a sua estimativa. Outra estratégia que pode utilizar quando
assume um compromisso é informar à partida qual o tempo que tem disponível
para a realização da tarefa que lhe propõem. Pode, por exemplo, informar
que vai poder ajudar durante umas horas por semana, sendo importante
cumprir o estipulado. Por outro lado, ter consciência dos seus valores e das
suas necessidades leva a que seja mais fácil dizer “não” sem se sentir culpa-
bilizado por o fazer.

85
A Tempo para tudo

TREINAR A ASSERTIVIDADE
O treino assertivo é uma técnica comportamental em que se treinam comportamentos
apropriados de afirmação pessoal, através da expressão honesta e direta de sentimentos,
preferências, necessidades e opiniões. Não é uma forma de se conseguir o que se quer ou de
controlar ou manipular os outros. Ser assertivo implica defender os seus direitos, mas sem-
pre com respeito pelos direitos dos outros. O comportamento assertivo pode ser treinado e
integra as seguintes fases:
1. Identifique em que ocasiões (falar em público, fazer um pedido, fazer uma crítica, dizer
“não”, etc.) e com que pessoas (os seus pais, o seu chefe, algum amigo, etc.) sente
maior dificuldade em comunicar as suas ideias, emoções, necessidades e preferências,
acabando por ter uma atitude passiva ou agressiva.
2. Procure perceber quais as suas convicções sobre os direitos e responsabilidades de cada
pessoa implicada em situações problemáticas (incluindo os seus). Por exemplo, se acre-
dita que tem de aceitar todos os pedidos (por mais abusivos que sejam) do seu chefe,
dificilmente poderá ser assertivo com ele no sentido de recusar trabalho excessivo.
Outros exemplos de convicções que impedem o comportamento assertivo são: “eu não
tenho o direito de dizer ‘não’ aos pedidos dos meus amigos”; “eu não tenho o direito
de pedir aos meus amigos coisas que impliquem algum esforço da parte deles”; “eu
não tenho o direito de questionar as autoridades”.
3. Determine as consequências do seu comportamento a curto e a longo prazo. O que
é que tem ganho com o facto de ser muito passivo no local de trabalho? Ou de não
conseguir dizer “não” e acabar por ferver num copo de água? O que ganharia, e o
que perderia, em ser mais assertivo nessas situações? Inicialmente, o uso da asserti-
vidade pode aumentar a tensão (até porque, se não costuma ser assertivo, os outros
irão estranhar este novo comportamento... tal como poderão estranhar quando muda
a cor do cabelo ou o estilo de roupa). Mas quais as consequências a longo prazo, nome-
adamente quando começarem a habituar-se ao facto de não poderem pedir-lhe tudo e
mais alguma coisa? É claro que ser assertivo poderá proporcionar mais vantagens em
algumas situações do que noutras.
4. Teste comportamentos assertivos em situações mais fáceis. De entre as situações identi-
ficadas anteriormente para pôr em prática o comportamento assertivo, escolha a mais
fácil (por exemplo, fazer um pedido a um familiar). Decida então de que forma vai ser
assertivo. Para o efeito, pode ser muito útil treinar o comportamento com alguém em
quem confie (ou com um profissional). Desta forma, poderá perceber quais são as suas
dificuldades numa situação mais protegida e, por isso, menos causadora de ansiedade.
Quando conseguir ser assertivo nesta situação com menor dose de ansiedade, está na
altura de avançar para situações mais desafiantes.
5. Avalie os resultados e procure compreender que técnicas de comunicação deverá melhorar
da próxima vez (veja Comunicação eficaz em situações de conflito, nas páginas 52 e 53).
É muito importante ter um comportamento consistente (sistemático). Se pretende que as
pessoas percebam e aceitem a sua mudança, deve ser assertivo sempre que achar necessá-
rio. Por outro lado, procure avaliar, situação a situação, se ser assertivo é o comportamento
mais adequado. A avaliação das suas crenças pessoais face aos seus direitos e deveres nas
relações com os outros tem aqui um papel fundamental. As principais técnicas de comunica-
ção assertiva são as seguintes:

86
A Os elementos essenciais da gestão do tempo

• quando fala com alguém (na sua presença), olhe nos olhos. O impacto da mensagem é
afetado pelo contacto visual. Quando a pessoa está ansiosa, tende a olhar para tudo menos
para o interlocutor, dando uma impressão de insegurança. Consequentemente, o outro pode
não levar a sério a sua afirmação ou pedido;
• tente manter uma postura descontraída. Um aspeto muito rígido ou tenso, além de inibir a
expressão das suas necessidades ou opiniões, sugere insegurança;
• diga o que realmente quer dizer, isto é, seja concreto. Muitas vezes, as pessoas não o fazem e,
por conseguinte, sentem-se frustradas ou incapazes de alcançar os seus objetivos. Por exem-
plo, dizer a um vizinho que tem o hábito de pôr a música muito alta à noite “tenho andado
cansado por não conseguir adormecer cedo” é diferente de dizer “eu não consigo dormir por
causa da música que vem de sua casa. Gostava que passasse a ouvi-la mais baixo”;
• expresse o pedido (ou opinião) de forma concisa e direta. Desta forma, a mensagem torna-se
mais fácil de perceber. Por exemplo, ao fazer um pedido a um amigo, em vez de dizer “Olá,
João! Sabes, os miúdos hoje saem das aulas mais cedo. Que é que os teus filhos fazem esta
tarde? Talvez os meus pudessem fazer a mesma coisa... Importavas-te? É que eu tenho uma
reunião e preferia não os levar comigo...”, é bem mais eficaz e assertivo dizer simplesmente
“Olá, João! Hoje tenho uma reunião. Podes ficar com os meus miúdos até acabar?”;
• não dê grandes explicações ou desculpas ao fazer um pedido. Quando expressa um senti-
mento, não tem de explicar ou desculpar-se por ele. Tem o direito de sentir-se do modo como
o afirmou. Por vezes, pode ser importante acrescentar algum facto ou alguma razão para
que o outro perceba melhor a sua ideia. Mas, geralmente, não é necessário envolver-se em
grandes explicações ou pedidos de desculpa. Por exemplo, se está zangado pelo facto de a
sua companheira se ter atrasado para um encontro, pode dizer “eu estou aborrecido por te
teres atrasado. Sabes que gosto de chegar a horas e que não gosto de ficar à espera. Gostava
que me tivesses telefonado a avisar que te irias atrasar para que eu pudesse aproveitar para
ir fazer coisas que precisava”. Não precisa de justificar o seu comportamento, dizendo “eu sei
que sou um tipo nervoso e que não devia preocupar-me tanto, mas estou mesmo aborrecido
por chegares tão tarde. Se calhar é por ter tido aquele acidente com o carro e estou muito
sobressaltado, mas podias ter telefonado, não é? Desculpa lá estar tão preocupado...”. Ao
desculpar-se ou explicar-se em demasia, a mensagem fica menos forte e pode dar azo a
discussões paralelas e indesejáveis;
• evite afirmações começadas por “tu...”. Estas afirmações soam a crítica e, normalmente,
desencadeiam uma atitude defensiva ou de contra-ataque no interlocutor, podendo dar ori-
gem a zangas e discussões. Alguns exemplos são: “tu estás sempre a...”, “tu nunca...”, “tu
estás errado”, “tu não devias...”, “tu não tens o direito...”, “a culpa é tua”, “estás a deixar-me
zangado”. Evite amuar, calar-se, resmungar, bater com as portas, fazer-se de vítima, ser sar-
cástico ou crítico, ficar carrancudo, ser rude, etc.;
• ao expressar os seus sentimentos, use afirmações iniciadas por “eu sinto”. Por exemplo, os
sentimentos negativos podem ser expressos dizendo “eu sinto-me...”, seguido de palavras
como “preocupado”, “frustrado”, “zangado”, “coagido”, “pressionado”, “incompreendido”,
“desconfortável”, etc.;
• procure exteriorizar os seus desejos. Diga, por exemplo: “eu gostava de passar mais tempo
contigo”; “eu gostava mesmo que resolvêssemos este problema e voltássemos a ficar próxi-
mos”; “eu gostava que tentasses entender o meu ponto de vista”.

87
A Tempo para tudo

Se a sua chefia lhe fizer uma solicitação pouco razoável, informe-a de que para
realizar essa solicitação irá ter de sacrificar outra tarefa que tenha em mãos.
Envolva-a nessa decisão. Não se sinta culpado por isso. Decidir entre tarefas de
prioridade semelhante é uma capacidade central de gestão. Também convém
dar uma ajuda ao seu chefe. Explique, por exemplo, que não pode trabalhar
imediatamente num projeto em particular, mas que já estará disponível na
próxima semana. Por agora, isto pode parecer-lhe difícil de propor, mas, com
a prática, tornar-se-á mais fácil. Se a sua chefia é você próprio, tente decidir
quais as tarefas que tem de executar e quais as que tem de delegar e atribuir
estas últimas a outro colega (caso possa fazê-lo).

Desenvolva a capacidade de negociação


O desenvolvimento da capacidade de negociação é uma estratégia essencial
para fazer face aos problemas e evoluir, independentemente das circunstân-
cias. Contudo, isto implica compreender a forma como interagimos com os
outros quando comunicamos. Tal pode ajudar-nos a desenvolver a capaci-
dade de negociação e a adaptar as nossas estratégias a situações específicas.
Se tivermos consciência do nosso comportamento estaremos em melhor
posição para lidar com ele.

Podemos funcionar em mais do que um dos modos referidos na caixa abaixo


em situações diversas e, por vezes, ao mesmo tempo. Por exemplo, ao falar-
mos em público, podemos estar no modo de adulto e de pai. A apresentação

PAI, ADULTO OU CRIANÇA?


O psicólogo americano Eric Berne sugeriu que a forma como comunicamos se encaixa em
três modos de comportamento: pai, adulto ou criança.
• No modo de pai, é provável que assuma uma atitude crítica ou carinhosa. Se é chefe, poderá
dizer, por exemplo, aos elementos da sua equipa que têm de fazer alguma coisa. Este modo
é designado de “pai opressivo”. No entanto, pode também mostrar o seu lado preocupado.
Neste modo, designado de “pai que apoia”, se um dos funcionários tem um problema, ten-
derá a mostrar o lado paternal, oferecendo-se, por exemplo, para “tratar do assunto por ele”.
• O modo de adulto torna-se mais óbvio, em princípio, quando fala com os seus pares ou
com o/a seu/sua companheiro/a. Neste modo, toma decisões racionais e equilibradas,
livres de preconceitos, obrigações ou emoções.
• O modo de criança (ou infantil) leva a que as emoções determinem as suas escolhas e
decisões. É “ativado” quando sente felicidade, raiva, ciúmes, medo ou curiosidade.

88
A Os elementos essenciais da gestão do tempo

em si pode ser uma expressão do modo de pai, enquanto a discussão que


se segue pode situar-se mais ao nível do modo de adulto. Também pode ter
um pouco do modo de criança, devido à ansiedade. Quando confrontado
com a sua chefia, também pode estar no modo de criança, enquanto que
é provável que fale de “pai para pai” com um dos seus pares. Finalmente,
há a interação de “criança para criança”, quando, por exemplo, se diverte
com um amigo.

Nestas “transações cruzadas”, o aparecimento de problemas ou conflitos é


inevitável. Isto pode acontecer quando a resposta de um dos interlocutores
não corresponde às expectativas do outro. Por exemplo, um dos seus colegas
pode estar à espera de uma conversa de adulto para adulto, ou mesmo de
adulto para pai que apoia, acerca de um problema no trabalho. Se responder
com os seus próprios problemas, estará no modo de criança.

Os problemas tendem a surgir quando as pessoas utilizam exclusivamente um


dos estados. Quem se fixa no estado de pai dominador ou de pai que apoia
acaba por se tornar autoritário. As pessoas que utilizam apenas o modo adulto
costumam ser frias e calculistas. No outro extremo, as que apenas utilizam o
modo de criança são, muitas vezes, incapazes de tomar decisões.

Não obstante, qualquer pessoa pode alterar este estilo relacional (ou tran-
sacional). Uma metodologia utilizada por psicólogos para perceber em que
situações a pessoa funciona em cada um destes registos é esta chamada
"análise transacional".

Tendo consciência destes diferentes modos de resposta, será mais fácil adaptar
o discurso ao seu interlocutor. Se tem um cargo de chefia e se na sua equipa
tem um elemento mais jovem e imaturo, este pode responder melhor a uma
abordagem de pai que apoia. Outros podem preferir uma interação de adulto
para adulto, especialmente se forem mais maduros. Por exemplo, como chefe,
pode passar do modo de pai para o de adulto, encorajando um funcionário a
passar do modo de criança para o de adulto colocando as perguntas de uma
forma específica. Por exemplo, pode, antes de mais, constatar “sabemos o
que está mal” e, depois, sugerir “estas são as opções”, antes de perguntar:
“Qual é que prefere?”

A análise transacional também pode ajudá-lo a compreender as suas próprias


reações. Se se sente humilhado e cerra os punhos durante uma conversa tele-
fónica difícil, ou se está sempre a adiar os seus compromissos e tarefas, pode
estar no modo de criança. O desenvolvimento de estratégias que facilitem a
tomada de decisões pode ativar o seu modo de adulto.

89
A Tempo para tudo

Ultrapasse a timidez
Muitas pessoas sentem dificuldade em lidar com situações nas quais se
sentem avaliadas. Esta dificuldade pode ser tão intensa que o indivíduo
pode mesmo chegar a evitar estas situações. Fala-se, então, na chamada
"ansiedade social" ou "fobia social". Trata-se, essencialmente, de uma per-
turbação mental caracterizada por um medo intenso, irracional e persistente
de situações sociais em que a pessoa pode ser avaliada pelos outros. Nestes
casos, a pessoa teme ser avaliada de forma negativa pelos outros e estar em
situações que podem resultar em humilhação, constrangimento, embaraço
e que podem provocar a rejeição ou ofender outros. As pesquisas sugerem
que cerca de 9,5% das mulheres e 4,9% dos homens apresentam critérios
de fobia social alguma vez ao longo da vida, sendo a terceira perturbação
mental mais frequente.

A fobia social pode ser mesmo incapacitante, causando um desconforto tão


elevado que o indivíduo não o consegue gerir e acaba por evitar a situação.
Por exemplo, a pessoa pode-se sentir incapaz de falar ou de agir em público
ou comer quando está a ser observado. Inevitavelmente, a sua vida pessoal,
profissional, social e familiar ressente-se. Estudos indicam que a produtivi-
dade no trabalho de quem tem fobia social é significativamente reduzida,
apresentando, por exemplo, uma taxa três vezes superior de desempre-
gados comparativamente com a população no geral. Além disso, cerca de
70% destas pessoas desenvolvem outros problemas psicológicos, sendo que
50% apresentam também sintomas de fobia específica e de perturbação de
ansiedade generalizada.

A recuperação espontânea da fobia social é rara, pelo que se recomenda a


procura de ajuda especializada (normalmente, um tratamento combinado de
consulta de psicologia e de psiquiatria — veja a caixa da página 93). Este trata-
mento pressupõe a aprendizagem de estratégias de gestão da ansiedade, tais
como a reestruturação cognitiva, a respiração diafragmática e o relaxamento
muscular, bem como o treino de competências sociais. À medida que a pessoa
se vai sentindo mais confiante é convidada a expor-se de forma gradual às
situações que lhe provocam desconforto, partindo das mais fáceis para as mais
difíceis. Em Portugal, infelizmente, a acessibilidade aos cuidados de saúde
nesta área deixa muito a desejar. De qualquer modo, comece por consultar
o seu médico assistente. Alguns centros de saúde dispõem de psicólogos
clínicos que poderão fazer um diagnóstico e intervir de forma apropriada,
no sentido de resolver o problema.

Já a timidez é bem mais comum. As pessoas tímidas precisam de mais


tempo para se adaptarem a novas situações — incluindo reuniões e eventos

90
A Os elementos essenciais da gestão do tempo

AUMENTAR A AUTOESTIMA
Há uma série de estratégias que pode experimentar para melhorar a sua autoestima,
muitas das quais funcionam com base no princípio de que uma transformação exterior
conduz a uma mudança interior. Outros métodos têm por objetivo melhorar a imagem
que tem de si. Se o seu guião de vida (veja o capítulo 3 na página 49) revelar uma ten-
dência para se ter em fraca consideração, isso irá refletir-se em tudo o que fizer, inibin-
do-o. Terá mais dificuldade para dizer “não” a pedidos desajustados e menos probabili-
dades de avançar na direção dos seus objetivos principais de vida. Por outras palavras,
a falta de autoestima pode prejudicar a implementação das suas estratégias de gestão
do tempo.
1. Imagine-se a ser bem-sucedido e afaste os pensamentos negativos.
2. Não se compare com outras pessoas, quer favorável, quer desfavoravelmente. Se se
comparar desfavoravelmente, é claro que a sua autoestima diminuirá. Se se compa-
rar favoravelmente com outras pessoas, elas podem exceder as suas expectativas, o
que prejudicará a sua capacidade de avaliação e, por conseguinte, diminuirá ainda
mais a sua autoestima.
3. Se não estiver profissionalmente ativo ou se o seu trabalho for muito solitário, ofe-
reça-se para realizar trabalho de voluntariado. Este tipo de atividade diminui a sensa-
ção de isolamento, permite estar distraído dos seus pensamentos mais negativos e é
uma ótima oportunidade para treinar as suas competências de socialização.
4. Evite pessoas que o critiquem severamente, que sejam intrusivas ou que não sejam
de confiança (por exemplo, pessoas que frequentemente criticam, enganam ou
manipulam) – se fazem isto aos outros, o mais provável é que também o façam a si.
5. Cuide da sua aparência. Ir ao cabeleireiro e atualizar o seu guarda-roupa são ótimas
estratégias para aumentar a autoestima.
6. Não se leve demasiado a sério – sorria! Assim, é mais provável que as pessoas à sua
volta também sorriam e reajam positivamente.
7. Pense nos sinais não verbais que transmite. Os psicólogos creem que cerca de 80%
de qualquer mensagem que transmitimos ou recebemos é não verbal. Apenas 20%
deriva das palavras que usamos ou ouvimos. Se estiver cabisbaixo ou com os ombros
descaídos, é provável que as pessoas o achem deprimido e com falta de confiança e
empenho, independentemente do que disser ou de como se sentir. E, claro, o inverso
também acontece.
8. Considere a possibilidade de fazer um treino de assertividade (reveja as páginas
86 e 87). Se tem dificuldade em afirmar-se quando é necessário, o treino de asserti-
vidade pode ajudá-lo a defender os seus direitos, respeitando os dos outros. Durante
um treino de assertividade pode, por exemplo, encenar situações em que é neces-
sário dizer “não” – como recusar um pedido da sua chefia para ficar a trabalhar até
mais tarde. Geralmente, este treino implica o recurso a um especialista na área (por
exemplo, um psicólogo). Recorre-se normalmente à simulação de situações de treino,
podendo as mesmas ser gravadas em vídeo para que possa rever e comentar o seu
desempenho. Deverá concentrar-se em elementos como a linguagem verbal e a não
verbal. Lembre-se de que a maior parte das mensagens que envia são não verbais.
O treino de assertividade é uma forma muito eficaz de melhorar a sua autoestima.

91
A Tempo para tudo

sociais — e costumam fazer comparações injustas (que as desfavorecem)


relativamente a outras pessoas. 

Qual é a solução? Antes de mais, não deve encarar a timidez como algo inte-
rior. É importante parar de pensar na sua própria insegurança e tornar-se
mais consciente das pessoas à sua volta, ou seja, deixar de ser excessivamente
autovigilante (de ter um pensamento dirigido para o interior) e dirigir a aten-
ção e o pensamento para o exterior, nomeadamente, para os outros. Uma
estratégia indispensável é criar oportunidades para interagir mais com outras
pessoas, de modo a ter mais oportunidades para praticar as suas competên-
cias sociais. É importante tentar interpelar o seu interlocutor (o que leva a
que altere o ponto de atenção do seu interior para a outra pessoa). Se consi-
dera difícil iniciar uma conversa ou se tem dificuldade em gerir os silêncios
quando está a falar com alguém, pode pensar antecipadamente em algumas
frases para começar uma conversa e experimentar formas de a manter. Além
disso, é também importante pensar de forma positiva. Se esperar uma reação
negativa por parte do outro, o mais provável é recebê-la. Tente interessar-se
genuinamente pelos outros. Também não deve esquecer-se de que há uma
probabilidade de o seu interlocutor ser, pelo menos, tão tímido como você.
Mais uma vez, a ajuda de um psicólogo pode ser de enorme utilidade, quer
para o desenvolvimento de técnicas e competências relacionais, quer para a
definição de estratégias para melhorar a sua vida social.

Sobre o acompanhamento
personalizado
Se considerar que as estratégias anteriores não estão a ter os resultados
pretendidos, considere a hipótese de recorrer a um psicólogo para o ajudar
a avaliar a origem das suas dificuldades. Estas podem resultar de problemas
mais simples de solucionar (por exemplo, dificuldade em dizer "não") ou
de problemas mais complexos (por exemplo, necessidade de agradar aos
outros). O acompanhamento psicológico permitir-lhe-á identificar estes
problemas e encontrar formas de lidar com eles e de os ultrapassar, con-
tribuindo, assim, para melhorar o seu bem-estar e abrir caminho a uma
gestão eficaz do tempo.

92
A Os elementos essenciais da gestão do tempo

A sua atitude relativamente ao processo em psicologia é um fator importante


para o sucesso. Aceitar que precisa de ajuda e que pode ser ajudado é um dos
primeiros passos. Aceitar que para se sentir melhor há coisas que é necessário
mudar na sua forma de estar consigo e com os outros é outro passo impor-
tante. Mudar implica tempo, dedicação e persistência.

Um aspeto fundamental na construção da relação entre o cliente e o psicólogo


é a confiança. Por um lado, é importante que confie para se conseguir expor
e falar dos seus problemas, por outro é importante que confie na competên-
cia técnica do seu psicólogo para o ajudar a ultrapassar as suas dificuldades.
Antes de agendar consulta procure obter referências sobre o profissional
escolhido. Saiba que existem diferentes abordagens psicoterapêuticas (umas

ESCOLHER UM PSICOTERAPEUTA
Existem diversas formas de encontrar apoio psicológico: uma vez que já há vários cen-
tros de saúde com psicólogos clínicos, poderá perguntar ao seu médico de família onde
obter este tipo de apoio no Serviço Nacional de Saúde. Por exemplo, para adolescentes
e jovens, o Aparece – Centro de Atendimento a Adolescentes Amigável constitui um bom
exemplo de atendimento especializado para adolescentes que residam na área metro-
politana de Lisboa.
Se for beneficiário de um subsistema de saúde (por exemplo, ADSE ou SAMS), se tiver
um seguro de saúde ou possibilidade de custear as consultas a título privado, poderá
obter uma lista de profissionais diretamente no site da Ordem dos Psicólogos Portugue-
ses (encontreumasaida.pt). A pesquisa pode ser feita por tipo de problema ou por área
geográfica.

Quem pode fazer psicoterapia?


Em Portugal, a especialidade de psicoterapia está regulamentada pelo Regulamento
Geral de Especialidades Profissionais da Ordem dos Psicólogos Portugueses (Regula-
mento n.º 107-A/2016). Este estabelece que os psicoterapeutas têm de ter uma forma-
ção de base em Psicologia e uma pós-graduação em Psicoterapia, que, além da com-
ponente teórica, tenha uma componente de supervisão e de desenvolvimento pessoal.

Psiquiatra ou psicólogo?
Será também importante perceber a diferença entre psiquiatras e psicólogos: os psiquia-
tras são médicos com uma formação específica para diagnosticar problemas do foro
psiquiátrico e, sendo médicos, podem prescrever medicamentos. Para adquirirem com-
petências de psicoterapia, têm de fazer uma pós-graduação específica; os psicólogos são
profissionais licenciados em Psicologia. Os psicólogos clínicos são os que optaram por
esta variante do curso, mais direcionada para a terapia. Também necessitam de uma
formação específica para adquirirem competências psicoterapêuticas.

93
A Tempo para tudo

mais centradas na resolução dos problemas, outras no inconsciente, outras


nas emoções, outras ainda no desenvolvimento pessoal, etc.).

A maioria dos psicólogos faz uma consulta inicial para avaliar os seus problemas
e história pessoal. Pode aproveitar este primeiro encontro para avaliar se se
sente à vontade para revelar as suas preocupações a este profissional. Por isso,
não basta que o psicólogo escolhido tenha um bom currículo; é importante
que sinta confiança, empatia e à-vontade na sua presença.

NUM PISCAR DE OLHOS…


A gestão do tempo pode ser sintetizada em dez princípios básicos que oferecem uma estru-
tura de apoio, à medida que analisa a sua vida, põe em prática novos métodos de trabalho
e avança na direção do seu objetivo principal.
• Desenvolva uma filosofia pessoal e um conjunto de valores.
• Identifique objetivos a longo prazo que estejam de acordo com esta filosofia pessoal e
estes valores.
• Depois, estabeleça objetivos a curto prazo que o ajudem a atingir cada objetivo de longo
prazo.
• Equilibre os seus compromissos profissionais, familiares e pessoais de acordo com a sua
filosofia e os seus valores.
• Planeie cada dia, usando uma agenda e uma lista de tarefas.
• Use 80% do tempo que passa em casa e no trabalho em tarefas prioritárias.
• Organize e simplifique a sua vida em casa e no trabalho.
• Gira a saúde com o mesmo cuidado com que gere o trabalho (veja o capítulo seguinte).
• Empenhe-se numa aprendizagem contínua, mas mantenha uma postura crítica.
• Avalie os seus progressos a todos os níveis, desde o impacto das pequenas mudanças ao
progresso que faz na direção dos seus objetivos de vida.

94
Capítulo 6

Aumentar o tempo
A Tempo para tudo

O objetivo da gestão do tempo é contribuir não só para um desempenho mais


eficaz e eficiente, como também para uma conciliação mais equilibrada e har-
moniosa entre a sua vida familiar, laboral, social e pessoal. Do mesmo modo
que dificilmente se consegue desenhar um diagrama técnico preciso com
um lápis que não esteja afiado, também não podemos atingir o nosso melhor
desempenho quando estamos doentes, não fazemos uma dieta saudável ou
não relaxamos física e mentalmente durante semanas. Se estiver cansado e
sonolento, é menos provável que se sinta motivado — ou mesmo com ener-
gia — para pôr em prática as mudanças identificadas nos capítulos anteriores.

É claro que não podemos fazer o tempo esticar. Contudo, se cuidar de si,
sentir-se-á mais eficaz e conseguirá fazer mais coisas durante o tempo dispo-
nível. Este capítulo analisa algumas formas de reduzir a fadiga e de melhorar
o desempenho, aperfeiçoando, assim, a sua gestão do tempo.

Fadiga: um problema comum


Investigações recentes em Portugal apontam para cerca de 15 mil portugueses
com fadiga crónica. Estes números são baseados em pessoas que já consi-
deram o problema suficientemente grave para consultar um médico. Muitas
outras haverá que, apesar de sentirem os mesmos sintomas, não recorrem
a ajuda médica.

Se nos últimos seis meses tem sentido dores musculares, dores articulares,
dores de cabeça, dificuldades em dormir, dificuldade de concentração e de
memória, náuseas, tonturas, taquicardia e se se sente exausto após esforço
físico ou mental, mesmo após 24 horas de repouso, então deverá procurar
o seu médico assistente para avaliar a eventualidade de sofrer de síndroma
de fadiga crónica.

Fatores de risco
Há uma série de fatores que parecem contribuir para aumentar o risco de
sofrer de fadiga crónica, incluindo infeções bacterianas ou virais, desequilíbrios
hormonais, insónia, “síndroma do edifício doente”, stresse e certos medica-
mentos. A fadiga é cerca de quatro vezes mais comum em mulheres do que
em homens. Fatores como a menopausa e o período menstrual contribuem

96
A Aumentar o tempo

para a aumentar. Já nos homens, invalidez ou doenças graves são as razões


principais da fadiga crónica.

A idade e os ritmos
Tanto a sonolência durante o dia como a fadiga tornam-se mais comuns à
medida que envelhecemos, algo que, nos idosos, não será alheio ao facto de o
sono ser mais superficial e fracionado nesta faixa etária. Um inquérito a 1106

JET LAG
O jet lag surge quando se atravessam vários fusos horários, sobretudo se houver uma dife-
rença horária considerável entre o local de partida e o de destino. O estado de desequilí-
brio entre o ritmo biológico do organismo humano e os indicadores externos ambientais
(a variação dia/noite, por exemplo) que normalmente lhe servem de referência é causado
principalmente pelas viagens de avião (por serem rápidas) em direção a este ou a oeste.
Por exemplo, é mais fácil adaptarmo-nos quando viajamos de Portugal para os Estados
Unidos do que o contrário porque o dia se alonga e o nosso corpo se adapta, em geral,
mais facilmente. Os principais sintomas do jet lag são sonolência e/ou insónia, cansaço,
irritabilidade, dores de cabeça, problemas de estômago e intestinais e diminuição do ren-
dimento físico e mental. Em média, para superar completamente os efeitos do jet lag, é
necessário cerca de um dia de recuperação por cada hora de diferença em relação à ori-
gem. Felizmente, pode seguir uma série de passos para vencer o jet lag.
• Se a estada durar menos de 48 horas, procure manter o horário de Portugal. Tente
comer e dormir no horário a que o seu relógio biológico está habituado e agendar os
seus compromissos para horários que não atrapalhem essa rotina. Porém, se a deslocação
durar mais de 48 horas, é preferível adotar de imediato os horários do local de destino,
desde o início da viagem.
• Antes de viajar e durante toda a viagem evite fazer refeições pesadas e beba bastante
água. Faça o possível por dormir bem na noite anterior.
• Evite estimulantes durante a viagem, incluindo café, chá e bebidas energéticas.
• Durante a viagem, use roupas largas e sapatos confortáveis.
• Evite o álcool. Este facilita a desidratação, que é uma das causas da fadiga.
• Tente manter-se ativo: durante a viagem (por exemplo, de duas em duas horas), levante-
-se, estique os braços e as pernas e ande um pouco pelo corredor do avião.
• À chegada, se for uma estada superior a dois dias, faça as refeições no horário local,
passe o máximo de tempo possível no exterior ou, pelo menos, em locais com janelas,
para se habituar às novas condições de luz e para que esta estimule a vigília, e deite-se só
quando chegar a noite, mesmo que esteja muito cansado.
• Se nada disto funcionar, pode considerar a possibilidade de tomar comprimidos durante
um curto período, para ajudar a estabelecer um padrão de sono local. Contudo, evite o uso
de medicação para dormir por mais de alguns dias (veja também as páginas 102 e 103).

97
A Tempo para tudo

portugueses levado a cabo pela deco proteste entre maio e julho de 2016
revelou que 41% das pessoas sofrem de sonolência durante o dia. Vários estudos
mostram também que os trabalhadores por turnos e os que têm horários de
trabalho irregulares são especialmente vulneráveis a este problema, uma vez
que este tipo de horários interfere com uma adequada rotina de sono e com
o respeito pelos ritmos circadianos que orientam o padrão natural de sono,
o que leva à aplicação de medidas para minimização destes efeitos. Além de
serem perigosas (nomeadamente por estarem associadas a um aumento dos
acidentes laborais e de viação), a sonolência diurna e a fadiga comprometem
a capacidade de trabalho, o humor e as relações sociais.

Medicamentos
Há uma série de medicamentos amplamente usados que aumentam a sono-
lência e a fadiga, entre os quais se destacam alguns antidepressivos, ansiolíti-
cos e hipnoindutores (medicamentos para dormir). Existe atualmente muita
informação sobre os perigos do abuso dos hipnoindutores, nomeadamente
a diminuição dos reflexos e da capacidade cognitiva, o efeito de tolerância
(necessidade de tomar uma dose cada vez maior de medicamento para pro-
duzir o mesmo efeito) e os sintomas de abstinência gerada quando se deixa de
consumir estes medicamentos. Ainda assim, e segundo os dados recolhidos
pela deco proteste, cerca de um quarto dos portugueses tomam este tipo de
medicamentos e, mais grave ainda, alguns fazem-no por iniciativa própria ou
aconselhados por amigos ou familiares.

Como alternativa à toma de medicamentos para dormir, sugerimos-lhe que


experimente algumas técnicas de higiene do sono (veja as páginas 102 e 103).
Em muitos casos, funcionam tão bem ou melhor do que os medicamentos,
e com a vantagem de não terem quaisquer efeitos secundários.

Também existem alguns medicamentos (mesmo os ditos "naturais") cujos efei-


tos secundários estão relacionados com sonolência e fadiga durante o dia.
Se acha que a sua fadiga piorou desde que começou a tomar algum medicamento
ou suplemento, exponha a situação ao seu médico ou farmacêutico.

Qualidade do ar ambiente
Apesar de estarmos cada vez mais conscientes quanto às questões ambientais,
continuamos a ser expostos a substâncias químicas diariamente. Estamos
expostos, de forma continuada, a químicos industriais, pesticidas, aditivos
alimentares e metais pesados, bem como a drogas legais e ilegais.

98
A Aumentar o tempo

Estima-se que, nas sociedades industrializadas, as pessoas passem cerca de


90% do seu tempo em ambientes interiores, pelo que a qualidade ambiental
desses espaços é particularmente importante. A Organização Mundial da
Saúde (OMS) considera a falta de qualidade do ar interior um sério problema
de saúde pública.

Alguns edifícios são considerados “doentes” devido à baixa qualidade do


ar que se respira dentro destes edifícios e que origina nos seus ocupantes
um conjunto de sintomas de desconforto tais como pele seca, comichão e
irritação das vias respiratórias, problemas no aparelho digestivo e nos olhos,
tosse, dores de cabeça, náuseas e tonturas. Crê-se que a síndroma do edifício
doente origine fadiga e outras doenças, nomeadamente respiratórias, e até
alguns tipos de cancro.

O problema parece residir nos sistemas modernos de ventilação. Estudos demons-


tram que esta síndroma é mais frequente nas pessoas que trabalham em edifícios
com ventilação mecânica ou com ar condicionado e que os sintomas associados
a ela diminuem consideravelmente quando os trabalhadores se mudam para
edifícios com sistemas de ventilação melhorados. Assim, a solução parece ser
deixar entrar um pouco de ar fresco no escritório.

A sua casa também pode estar a contribuir para a sensação de mal-estar e


fadiga. Fatores como a contaminação do ar interior por poluentes químicos e
agentes biológicos, a temperatura e a velocidade do ar e a humidade podem
contribuir para ambientes prejudiciais para a saúde. A falta de renovação do ar,
os materiais de acabamento, os fumos que vêm da rua ou as bactérias que se
desenvolvem no ar condicionado são alguns dos prováveis culpados. Também
aqui, a melhoria da ventilação é uma boa aposta.

Vários estudos mostram que as pessoas residentes em casas mais húmidas têm
mais probabilidade de sofrer de sinusite e bronquite aguda, bem como de tosse
e falta de ar noturnas. Têm ainda maior probabilidade de sofrer de inflamações
na garganta, constipações e amigdalites. Do mesmo modo, as pessoas que
habitam casas com bolor são mais suscetíveis às constipações, tosse diurna e
noturna, inflamações de garganta e rinite. Além disso, a exposição ao bolor
provoca fadiga e dificuldades de concentração. Obviamente, estes fatores pre-
judicam o desempenho e, por isso, afetam a sua capacidade de gerir o tempo.

O excesso de cafeína
A maioria dos portugueses consome diariamente café ou bebidas com cafeína.
A ingestão desta substância em quantidades elevadas pode provocar ansiedade,

99
A Tempo para tudo

tremores, irritações gástricas, etc. No entanto, sendo uma substância estimu-


lante do sistema nervoso central, a cafeína pode, em alguns organismos,
produzir sintomas semelhantes aos da ansiedade, mesmo se o consumo não
ultrapassar um ou dois cafés por dia.

Esteja atento a estes sintomas. Se sentir que fica agitado quando bebe café,
está na altura de reduzir o seu consumo. Atenção que, para quem está habi-
tuado a tomar café com regularidade, deixar de o fazer de forma súbita tem
efeitos negativos no desempenho cognitivo, podendo provocar também
sensação de fadiga. Mas pode não ser preciso fazer um corte radical: reduza
a quantidade e lembre-se de que o chá e as bebidas energéticas também
contêm cafeína. O efeito da cafeína decresce, ou pelo menos estabiliza, com
o aumento do consumo.

Vença a fadiga
Se conseguir evitar ou minimizar as situações que acabámos de descrever,
estará a dar o primeiro passo para combater a fadiga. Mas há muito mais a
fazer, se quiser vencê-la definitivamente. As sugestões seguintes têm como
denominador comum um princípio básico essencial: procure manter-se
sempre física e mentalmente saudável.

Beba água suficiente


A ingestão regular de água aumenta a produtividade e reduz a fadiga. Há
provas científicas que confirmam que o homem adulto sedentário precisa
de quase dois litros (e a mulher de um litro e meio) de líquidos sem cafeína e
sem álcool por dia. Isto não significa necessariamente água — também pode
ingerir líquidos através de bebidas não açucaradas, sem cafeína e sem álcool,
sopas e outros alimentos (os alimentos sólidos contribuem com cerca de um
litro de líquidos por dia).

Muitas pessoas sofrem de uma desidratação crónica ligeira por não inge-
rirem água ou líquidos em quantidade suficiente. Por exemplo, uma desi-
dratação de apenas 2% pode prejudicar o desempenho físico e psicológico,
contribuindo também para um aumento da fadiga — que, muitas vezes, é o
primeiro sinal de desidratação. Em casos mais graves, o baixo consumo de
líquidos contribui para o desenvolvimento ou agravamento de uma série
de doenças, tais como os cálculos do trato urinário, a obesidade e mesmo
alguns tipos de cancro.

100
A Aumentar o tempo

Há vários fatores que aumentam a probabilidade de ficar desidratado, nomea-


damente a ingestão de substâncias diuréticas (como a cafeína e o álcool),
a prática de exercício físico e a exposição a temperaturas elevadas.

Assim, beba pelo menos sete copos de água por dia — ou mais, se praticar
exercício físico regularmente. A ingestão de água é uma forma simples de
atingir o auge do seu desempenho.

Durma bem
Há milhares de anos que procuramos formas de dormir melhor e de controlar
a fadiga. Os antigos egípcios recorriam a práticas nada recomendáveis para
dormir melhor, nomeadamente beber vinho (que pode ajudar a relaxar,
mas conduz a um sono de pior qualidade) e fumar ópio. Já no século xx,
nos anos 60, as companhias farmacêuticas lançaram as benzodiazepinas,
substâncias soníferas que — sabemo-lo hoje — causam dependência e podem
prejudicar o desempenho no dia seguinte, designadamente devido aos seus
efeitos sobre a memória e estado de alerta. De facto, estes medicamentos
são um grave problema de saúde pública, quer pelo número de pessoas que
os usam, quer pelo facto de, muitas vezes, o fazerem sem qualquer tipo de
orientação médica. Dados do Ministério da Saúde e do Infarmed referentes
a 2016 e 2017 revelam que Portugal é um dos países da União Europeia com
maior utilização de benzodiazepinas e análogos.

A falta de horas de sono é um problema comum: de acordo com a Organização


Mundial da Saúde, a perturbação de sono afeta cerca de 40% da população
mundial, sendo considerada um problema de saúde pública. A curto prazo,
a falta de sono provoca instabilidade emocional e compromete a capaci-
dade de trabalho, nomeadamente a capacidade de atenção, concentração e
memória, o tempo de reação, o raciocínio lógico e a capacidade para tomar
decisões. Como consequência, entre outras, existe o risco aumentado de
acidentes. A longo prazo, a privação do sono reduz as defesas do organismo,
aumenta o risco de problemas cardiovasculares (hipertensão, AVC e enfarte
do miocárdio), obesidade, diabetes e até mesmo de alguns cancros.

No estudo da deco proteste aos hábitos de sono dos portugueses feito em


2018, mais de um quinto dos inquiridos apontaram problemas financeiros
ou no trabalho, ansiedade, depressão ou dores como os responsáveis pelas
noites mal dormidas. Quatro em cada dez referem um nível de sonolência
preocupante que afeta a produtividade e aumenta o risco de acidentes.
Acresce que, na nossa sociedade, o sono parece ter passado para segundo
plano, sendo frequentemente adiado para "esticar" o dia e as atividades.

101
A Tempo para tudo

HIGIENE DE SONO
Apesar de os problemas de sono serem comuns, a maioria das pessoas consegue vencer
a insónia sem recorrer aos comprimidos, apenas seguindo algumas regras simples, mas
fundamentais, para um satisfatório nível de bem-estar.
• Tome atenção ao seu estado de saúde: várias doenças e problemas físicos podem pertur-
bar o seu sono, bem como o do seu companheiro, promovendo a sonolência diurna e a
fadiga crónica. Exemplos muito frequentes são: as dores, a depressão ou a apneia do sono
(doença em que as pessoas param de respirar durante o sono por mais de dez segundos,
geralmente por obstrução das vias respiratórias. Isto leva a que as pessoas acordem várias
vezes durante a noite, em sobressalto, com falta de ar).
• Não tome medicamentos para dormir por iniciativa própria.
• Evite a nicotina, a cafeína e o álcool, especialmente perto da hora de deitar. Muito prova-
velmente, a cafeína levará a que tenha mais dificuldade em adormecer. Por outro lado,
a ingestão de álcool antes de ir para a cama pode ajudá-lo a adormecer mais depressa,
mas os ciclos do sono são alterados, tornando o sono cada vez mais leve e fragmentado.
O álcool também agrava os casos de apneia do sono. Quanto à nicotina, sendo um esti-
mulante do sistema nervoso central, deixa-o ainda mais alerta e, por isso, não o ajuda a
dormir (além de todos os outros problemas de saúde que lhe estão associados).
• Mantenha um horário regular de sono, procurando deitar-se e levantar-se sempre à
mesma hora, mesmo aos fins de semana e feriados. Tente não ficar mais do que oito
horas na cama. A maioria das pessoas precisa de dormir entre seis e oito horas. Descubra
qual a sua necessidade média de sono: num dia de atividade normal, sem que tenha feito
esforços fora do comum, deite-se e durma até acordar por si, sem despertador. Sente-se
descansado? Veja quantas horas dormiu. É essa a duração de sono de que, à partida,
necessita. Ajuste os seus horários de forma a respeitar esta necessidade.
• Estabeleça uma rotina. Lembra-se de como punha (ou põe) os seus filhos a dormir – e
como os seus pais o faziam? Provavelmente seguia uma rotina de sono – talvez um banho,
seguido de uma história para adormecer. Assim, siga o seu próprio conselho e estabeleça
uma rotina de sono: tome um banho quente para ajudar a relaxar (e a ficar com sono),
escove os dentes e programe o despertador, por exemplo.
• Não conte carneiros. Se não consegue adormecer, levante-se e vá para outra divisão da
casa fazer uma atividade relaxante, como ler, até que o sono chegue.
• Não veja as horas. Vire o relógio para a parede porque estar a ver as horas passarem só lhe
aumenta a ansiedade por perceber que não está a conseguir dormir, e dará por si a fazer
contas de quantas horas tem para descansar antes de se levantar.
• Faça exercício físico regularmente pela manhã, durante a tarde ou ao princípio da noite.
Fazê-lo com luz natural é especialmente benéfico (a luz do sol ajuda a regular o ciclo de sono/
/vigília). Já o exercício físico imediatamente antes da hora de dormir pode dificultar o sono.
• Utilize o quarto apenas para dormir e para a atividade sexual. Não leia, não veja televisão,
não navegue nas redes sociais, não coma na cama. Computadores, telemóveis e consolas
de jogos não devem estar por perto. Deve criar uma associação entre o quarto e o sono.

102
A Aumentar o tempo

Algumas pessoas adormecem no sofá a ver televisão e quando vão para a cama não con-
seguem adormecer. O que se passa é que associam dormir a outro local que não o quarto
e acabam por associar o quarto à dificuldade em adormecer.
• Evite as sestas durante o dia. Só precisa de uma certa quantidade de sono por cada 24
horas. Por isso, se dormir durante o dia, precisará de dormir menos durante a noite. De
qualquer modo, se precisa mesmo de uma sesta, não a prolongue por mais de 20 a 40
minutos, para não entrar em fases de sono profundo, que dão inércia de sono ao acordar.
Para que seja revigorante, pode seguir a estratégia do pintor Salvador Dali: sente-se num
sofá confortável, feche os olhos e relaxe, com os braços esticados e uma colher na mão.
Quando a colher cair no chão (cerca de 15 minutos de sono), o ruído irá, à partida, des-
pertá-lo: chegou a altura de se levantar.
• Evite comer antes de ir para a cama, especialmente se costuma ficar com o estômago irri-
tado depois de refeições condimentadas. Se tiver fome, tome uma refeição ligeira.
• Se acorda de noite para ir à casa de banho, limite a ingestão de líquidos nas duas horas
antes de ir dormir.
• Se, quando se deita, tem tendência para começar a pensar nos problemas ou no que vai
fazer no dia seguinte, opte por escrever as suas preocupações ou afazeres antes de ir para
a cama e colocar a lista na mesa de cabeceira. Se se lembrar de mais alguma coisa que
queira acrescentar na lista, poderá fazê-lo e, assim, evitar ficar a ruminar sobre o assunto.
A dificuldade em “desligar” é uma das principais causas de insónia e, em alguns casos,
esta dificuldade pode requerer uma intervenção especializada.
• Use as técnicas de relaxamento e de respiração que adiante lhe apresentamos (veja as
páginas 106 e seguintes). Reserve algum tempo para descomprimir antes de ir dormir.
Experimente tomar um banho quente, ouvir música calma ou até mesmo ler (desde que
não o faça na cama).
• Torne o seu quarto num espaço relaxante e aprazível e faça da sua cama um local o mais
confortável possível.

Em conjunto, estas técnicas são uma boa ajuda para que consiga descansar bem, evitar
a fadiga diurna e ser produtivo durante o seu período de trabalho. Se, tendo utilizado
todas estas técnicas, considerar que continua a não conseguir descansar conveniente-
mente, é aconselhável ir ao médico. Aliás, também é indicado consultar um médico se:
—— ressonar e sentir que isso afeta o seu dia-a-dia (sonolência, cansaço crónico, falhas de
concentração e de memória, irritabilidade, etc.);
—— ressonar e sofrer de alguma doença cardiovascular;
—— adormecer facilmente em eventos sociais ou sentir muita sonolência ao volante.

Comece por ir ao seu médico de família. Se sente que os seus problemas de sono o afetam
realmente, insista para que este considere a hipótese de o encaminhar para uma consulta
do sono (existente nalguns dos principais hospitais do Serviço Nacional de Saúde).

103
A Tempo para tudo

Contudo, dormir pouco e/ou mal prejudica o seu desempenho, levando


a que tenha de trabalhar cada vez mais para conseguir manter o ritmo
produtivo. Consequentemente, será cada vez mais difícil conseguir uma
boa noite de sono, pelo que há maior probabilidade de se sentir fatigado.
Compreende-se, então, como é fácil ficar preso a um círculo vicioso de
fadiga e insónia. Uma boa noite de sono melhora o desempenho e é essen-
cial para quem pretende implementar as estratégias de gestão do tempo
apresentadas neste livro.

Coma para vencer a fadiga


Somos, em grande medida, o que comemos. Por isso, se nos alimentamos
principalmente de “comida de plástico” (fast-food), não é de admirar que
o nosso desempenho se ressinta — para não falar dos problemas de saúde
que estamos a potenciar.

Uma dieta pobre contribui para o aumento da fadiga. Isto significa que
pode melhorar os níveis de energia mudando a dieta, tornando-a mais nutri-
tiva e equilibrada. Aproximadamente metade das calorias que ingere devem
provir de alimentos ricos em hidratos de carbono, como massa, pão, batatas
e feijão. Os hidratos de carbono complexos são considerados açúcares de
absorção lenta: libertam açúcar lentamente na corrente sanguínea, forne-
cendo aos músculos e ao cérebro a energia necessária para combater a fadiga
e aumentar a produtividade. Entre 25% e 30% das calorias ingeridas devem
provir de alimentos de baixa gordura saturada, como o azeite e os peixes
gordos — e as restantes de alimentos ricos em proteínas, como leguminosas,
aves e peixe. Certifique-se também de que toma, pelo menos, cinco porções
de fruta e/ou legumes por dia, de forma a manter níveis adequados de vita-
minas e minerais. O mais importante é fazer uma dieta equilibrada.

VENCER A FADIGA ATRAVÉS DA ALIMENTAÇÃO


• Evite alimentos com excesso de açúcar, como chocolates ou refrigerantes. O aumento
rápido dos níveis de açúcar no sangue confere, inicialmente, um estímulo mental. Contudo,
à medida que o corpo tenta acompanhar este estímulo, os níveis de açúcar caem rapida-
mente, o que leva a que se sinta ainda mais fatigado do que antes.
• Evite grandes almoços, que podem deixá-lo sonolento durante a tarde, especialmente se
também beber álcool à refeição.
• Tome um bom pequeno-almoço. Caso contrário, pode sentir um rápido decréscimo dos
níveis de açúcar no sangue. Esta é uma das causas das quebras a meio da manhã, que pre-
judicam a concentração e o desempenho.

104
A Aumentar o tempo

A importância do exercício físico


A falta de tempo é uma das justificações mais utilizadas para que não prati-
quemos exercício físico. No entanto, praticá-lo pode ter um efeito surpreen-
dente. O exercício físico regular contribui para reduzir o stresse, promovendo
uma sensação de vivacidade mental e bem-estar físico. Isto significa que
estará em condições de aproveitar melhor o seu tempo e de atingir o auge
da produtividade.

Pense nisto como um investimento: umas horas investidas todas as semanas


em exercício podem melhorar a sua produtividade durante o resto do tempo.
O mesmo se aplica à meditação e ao relaxamento (atividades como o tai chi chuan
e o ioga permitem-lhe relaxar ao mesmo tempo que mantém a atividade física).

O exercício pode bem ser a forma principal de aumentar o seu tempo ao longo
da vida. Números da Direção-Geral de Saúde divulgados em 2016 mostram que
a atividade física reduz as taxas de mortalidade por todas as causas bem como
a prevalência de doença coronária, hipertensão, trombose (AVC), síndroma
metabólica, diabetes tipo 2, cancro da mama e colorretal e depressão. Há ainda
evidência de melhoria na condição cardiorrespiratória e muscular, no peso e
na composição corporal, na saúde óssea e na função cognitiva. 

Agora tenha em atenção que a prática de exercício físico deverá servir para lhe
aumentar o bem-estar e não para lhe aumentar o stresse: se encarar o exercício
físico como mais uma obrigação, como mais uma área na qual tem de dar o
máximo e ser o melhor, se adotar uma atitude demasiado exigente e focada no
seu desempenho, pode até sentir-se ainda mais tenso ao terminar.

Exercício físico de intensidade moderada poderá adaptar-se melhor ao seu


estilo de vida, o que potencia a continuidade da sua prática. O mais impor-
tante é conseguir manter esse estilo de vida sem dificuldade. Por isso, o
exercício físico com uma intensidade moderada é, à partida, a opção mais
conveniente para quem não tem muito tempo livre e quer manter uma boa
condição física.

Reserve algum tempo para fazer exercício. Uma semana tem 168 horas; em
média, precisa de apenas três (meia hora por dia) para se manter em forma.
Não tem este tempo? Nos dias mais "cheios", divida-o em intervalos de dez
ou quinze minutos: acrescente uma caminhada na ida para o trabalho e no
regresso a casa, talvez saindo do autocarro umas paragens antes ou estacio-
nando o carro mais longe ou faça um pequeno passeio ritmado, por exemplo,

105
A Tempo para tudo

depois de almoço. Mais: mantenha-se ativo. Suba e desça as escadas em vez


de usar o elevador e talvez possa ir de bicicleta para o emprego em vez de
levar o carro...

Está visto que, ainda que não disponha de muito tempo livre, manter a ativi-
dade física é quase sempre possível. Será, contudo, necessário encontrar uma
opção de que goste e que seja fácil de integrar no seu dia-a-dia. Por exemplo,
se dispuser de condições para tal, poderá ver a sua série de televisão favorita
se instalar uma bicicleta ou uma passadeira estacionária na sala de estar… Nem
toda a gente quer ir para uma aula de aeróbica ou correr uma maratona, mas
é quase certo que há de haver uma forma de exercício físico que lhe agrade
— talvez precise apenas de experimentar várias até descobrir qual é.

Meditação e relaxamento
A meditação e o relaxamento são, sem dúvida, formas muito eficazes de dimi-
nuir os seus níveis de stresse, aprender a gerir momentos de tensão e aumentar
a capacidade de atenção, concentração e coordenação psicomotora. Existem
inúmeras atividades que pode experimentar: meditação, relaxamento, ioga ou
respiração diafragmática são alguns exemplos. Estas atividades podem melhorar
a qualidade de vida, reduzir os níveis de stresse, diminuir a tensão arterial e
aliviar os sintomas de depressão moderada, ansiedade e insónia.

Meditação
Tradicionalmente, a meditação consiste em estar sentado sobre um tapete — de
pernas cruzadas e com os olhos fechados — e em concentrar-se na respiração ou
em algumas palavras (mantra), durante 20 ou 30 minutos, duas ou três vezes por
dia. A chamada "meditação transcendental" requer sessões mais curtas, de 15 a 20
minutos. Isto pode parecer um compromisso de tempo considerável, sobretudo
se tem uma vida bastante ocupada. Contudo, as pessoas que fazem meditação
sentem normalmente que ocupar 40 ou 60 minutos por dia com esta atividade
ajuda a fazer mais com menos esforço — que é o objetivo principal da gestão do
tempo. Além disso, a meditação ajuda a lidar com o stresse — uma das principais
causas de uma gestão ineficaz do tempo.

106
A Aumentar o tempo

Para aprender a meditar corretamente, precisa realmente de procurar um


professor. Contudo, pode experimentar a meditação sozinho antes de investir
o seu tempo e dinheiro num curso. Encontre um sítio calmo. Sente-se con-
fortavelmente: não é preciso ser na posição completa de lótus com as pernas
cruzadas — uma cadeira serve perfeitamente. Certifique-se de que consegue
ficar sentado e quieto durante cerca de 20 minutos sem ser distraído por cãibras
e outras sensações corporais.

Agora, respire profundamente. Os professores de meditação sublinham que


a maioria das pessoas tende a inspirar para o peito e não para o abdómen.
A concentração na respiração pelo abdómen é preferível, já que permite respirar
mais devagar e profundamente em situações de stresse. Esta capacidade parece
ajudar os que meditam a gerir melhor os seus níveis de stresse em situações
difíceis. Esta pode ser uma das razões pelas quais a meditação se relaciona com
um aumento da produtividade.

As pessoas que praticam meditação transcendental usam um mantra — uma


expressão ou lema pessoal. Escolha o seu próprio mantra. Não é preciso ser
uma expressão exótica. Qualquer palavra ou frase simples e não emotiva
que lhe agrade serve. Repita a expressão mentalmente sem parar. Se a sua
mente começar a divagar, faça-a voltar a focar-se no mantra. O objetivo é
concentrar a sua atenção num único ponto, neste caso, a palavra ou expres-
são repetida.

Em alternativa, também pode tentar concentrar-se no movimento da respira-


ção pelo nariz e boca, numa chama ou num cristal. Todos ajudam a focalizar
a mente e a afastar as distrações.

Manter a concentração durante 20 minutos é muito mais difícil do que parece.


Provavelmente descobrirá que a sua mente começa a divagar. Aceite estes
“passeios” e volte a centrar a sua atenção na frase, na imagem ou no objeto
escolhido. Não se aborreça consigo. Se acha que este método funciona e gostaria
de o aperfeiçoar, poderá ser útil procurar um professor.

Relaxamento
Além da meditação, pode experimentar as técnicas de relaxamento. O princípio
do relaxamento é que a descontração do corpo ajuda a descontrair a mente.
Por isso, se aprender a descontrair os seus músculos de forma consciente, a sua
mente também irá ficar mais descontraída.

107
A Tempo para tudo

TREINO DE RELAXAMENTO MUSCULAR PROGRESSIVO


A maioria das pessoas vive durante anos com uma tensão muscular considerável, à qual
acaba por se habituar. No entanto, existem muitas técnicas de relaxamento a que se
pode recorrer para alterar esta situação. O treino de relaxamento muscular progressivo é
das mais estudadas e cujos resultados terapêuticos estão particularmente comprovados.
Promove a aprendizagem da contração e descontração de vários grupos musculares e,
ao mesmo tempo, a tomada de consciência sobre as sensações físicas e emocionais que
acompanham os estados de tensão e de relaxamento.
Escolha um local calmo e agradável, onde se possa sentar confortavelmente (por exem-
plo, numa cadeira com costas). Utilize roupas largas e confortáveis e pondere, se usa
óculos ou lentes de contacto, retirá-los. A versão mais longa deste exercício consiste em
contrair durante 10 segundos e depois descontrair durante 30 segundos cada um dos
grupos musculares trabalhados.
É fundamental descontrair imediatamente, como se fosse um “despejar de energia”, de
forma a libertar a tensão rapidamente. Depois de relaxar um grupo muscular, convém
não voltar a movê-lo. Portanto, só deve mover-se se isso o puder ajudar a chegar a
uma posição mais confortável. Feche os olhos e mantenha-os assim durante o treino.
Pode dizer em voz alta e eventualmente gravar as instruções seguintes para conseguir
memorizá-las – desta forma, poderá fazer o exercício sob a orientação da sua própria
voz. Esteja muito atento às sensações que acompanham a tensão e o relaxamento nos
vários grupos musculares.
• Comece pela mão e pelo antebraço direito: contraia os músculos, fechando fortemente o punho
e mantendo o braço esticado durante dez segundos. Deve sentir a tensão na mão, nos dedos,
nas articulações do punho e nos músculos do antebraço. Sente essa tensão? Agora, relaxe.
• Dirija agora a atenção para os músculos do braço direito. Para os contrair, pode empur-
rar o cotovelo contra o braço da cadeira, ou empurrar o cotovelo para baixo e, simulta-
neamente, para dentro, contra o corpo. Evite levantar a mão e o antebraço da cadeira,
dobrando demasiado o cotovelo. Deve conseguir sentir a tensão no braço, sem lhe associar
os músculos da mão e do antebraço. Contraia. Sente a tensão? Pode relaxar.
• Completa a aprendizagem do relaxamento da mão, antebraço e braço direitos, pode pas-
sar para o lado esquerdo, contraindo e descontraindo os músculos, tal como fez nos passos
anteriores.
• Passe agora à face. Comece pela parte superior da face: para contrair esses músculos,
com os olhos fechados, erga as sobrancelhas o mais possível e sinta a tensão na testa e no
centro do couro cabeludo. Contraia. Sente a tensão? Agora, relaxe.
• Concentre-se seguidamente nos músculos da parte central da face. Para os contrair, feche

Uma forma muito simples de relaxamento passa por escolher uma divisão
calma onde se possa sentar numa cadeira confortável ou mesmo deitar-se.
Desligue o telemóvel e apague a luz. Instale-se comodamente e use roupas
confortáveis. A sala não deve estar demasiado quente nem demasiado fria.
Concentre-se na sua respiração. Se possível, tente inspirar pelo nariz e
expirar pela boca. Coloque uma mão sobre o peito e outra sobre o abdómen

108
A Aumentar o tempo

fortemente os olhos e, ao mesmo tempo, procure franzir o nariz, levantando-o. Contraia.


Sente a tensão em redor dos olhos, no nariz e no alto das bochechas? Agora, relaxe.
• Passe para a parte inferior da face. Para contrair estes músculos, aperte fortemente os
maxilares e empurre os cantos da boca para trás, como se quisesse sorrir exageradamente.
Sente a tensão à volta dos maxilares e no queixo? Pode relaxar.
• Passe agora para os músculos do pescoço. Para os contrair é necessário empurrar com
força o queixo para baixo, contra o peito, mas, ao mesmo tempo, evitar que o queixo
toque no peito. Pretende-se, assim, contrapor os músculos dianteiros do pescoço aos mús-
culos da parte de trás. À medida que contrai esses músculos deve sentir um pequeno tre-
mor. Sente a tensão no pescoço? Mantenha a posição. E relaxe. Como alternativa, talvez
possa empurrar a cabeça contra as costas da cadeira.
• Passe para os músculos do peito, dos ombros e da parte superior das costas. Inspire profun-
damente, enchendo o peito de ar. Mantenha o ar dentro dos pulmões e, ao mesmo tempo,
empurre ombros e omoplatas para trás, como se fosse possível tocar com um ombro no
outro. Contraia. Sente a tensão no peito, ombro e costas? Não respire. Agora, relaxe. Como
alternativa, pode erguer os ombros o mais alto possível.
• Passe agora para os músculos do abdómen, concentrando-se no estômago. Para contrair
estes músculos, tem de encolher fortemente o abdómen, como quando se evita que nos
batam nesta parte do corpo. Deve sentir o estômago tenso e apertado. Agora, relaxe.
• Passe para os músculos da parte inferior do corpo. Contraia a nádega direita, encolhendo-
-a fortemente. Contraia também os músculos da parte superior da perna direita. Contraia
a nádega e a perna direitas. Sente a tensão? Agora, relaxe. Como alternativa, pode levan-
tar ligeiramente a perna.
• Concentre-se agora nos músculos da parte inferior da perna direita. Para os contrair,
empurre os dedos do pé para cima, com força, em direção ao teto. Sente a tensão na
barriga da perna? Agora, relaxe.
• Chegámos ao pé direito. Para conseguir a tensão, volte o pé para dentro e, simultanea-
mente, dobre os dedos. Não é preciso contrair esses músculos com muita força. Sente a
tensão na planta do pé? Agora, relaxe.
• Passe agora para a coxa, barriga da perna e pé do lado esquerdo e proceda da mesma
maneira.
• No final, permita-se saborear, durante alguns segundos, a sensação de calma e descon-
tração que atingiu. À medida que lhe for confortável, comece a movimentar as mãos, os
braços e as pernas e abra os olhos. Estará com certeza mais tranquilo e relaxado e, por isso,
em melhores condições de enfrentar o resto do dia.

e respire normalmente. Pode descobrir (especialmente se estiver tenso)


que a mão que está sobre o peito se move, enquanto a que está sobre o
abdómen permanece quase quieta. Se tal acontecer, significa que está a
fazer uma respiração mais superficial (associada a um estado de tensão
e ansiedade) e não uma respiração profunda/abdominal (associada a um
estado de relaxamento e bem-estar). A mão que está sobre o abdómen é a

109
A Tempo para tudo

mão que deve subir e descer, enquanto a que está sobre o peito deve ficar
praticamente parada. Não se preocupe se constatar que a sua respiração
é mais superficial: a maioria das pessoas respira superficialmente, usando
apenas a parte superior da cavidade torácica. A boa notícia é que pode
aprender a corrigir o seu padrão de respiração e aprender a respirar de
forma mais profunda e com isso aumentar os seus momentos de relaxa-
mento e tranquilidade.

Existem muitas técnicas de relaxamento. A caixa das páginas anteriores exem-


plifica apenas uma delas. Seja qual for a que escolher, tente treinar todos os
dias. A aprendizagem do relaxamento é como qualquer outra aprendizagem
de aptidões psicomotoras: andar, jogar futebol ou ténis, passear de bici-
cleta ou em patins. Por isso, tenha paciência para ir aprendendo aos poucos
e pratique com regularidade.

A melhor altura para praticar o relaxamento é de manhã. Evite fazê-lo ao fim


da tarde, pois pode acabar por adormecer. Também não deve tentar esta
prática após as refeições — nesta altura, o sangue afasta-se dos músculos em
direção ao estômago, e pode ficar com cãibras ao tentar relaxar os músculos,
estando estes tensos e pouco irrigados. Além disso, o relaxamento aumenta
a consciência das funções físicas e um estômago cheio pode constituir um
foco de desatenção.

Haverá dias em que sentirá maior facilidade em relaxar do que noutros.


Não desista e mantenha a regularidade. Ao fim de algum tempo, as sessões
de relaxamento passarão a fazer parte do seu dia-a-dia. Sentir-se-á menos
cansado e tenso. A produtividade aumentará e será capaz de aproveitar melhor
o tempo.

NUM PISCAR DE OLHOS…


• Manter um corpo saudável contribuirá certamente para melhorar o seu nível de bem-
-estar e, consequentemente, para que se sinta em condições de escolher as estratégias
de gestão do tempo que melhor se aplicam a si.
• Pratique exercício físico e siga uma alimentação saudável.
• Descanse convenientemente e aprenda a relaxar.
• Tomar conta de si é, no fundo, uma parte central da gestão do tempo.

110
Capítulo 7

Gerir o tempo
no trabalho
A Tempo para tudo

Olhe para a sua secretária. Que lhe diz ela acerca da forma como trabalha?
Está coberta de papéis? E o seu e-mail? Está cheio de lembretes e respostas
pendentes? Tem um monte de pessoas à espera de receber a sua chamada?
Anda numa roda-viva a debater-se constantemente com os prazos? Leva
trabalho para casa? Sente-se stressado? O monitor do seu computador está
coberto de post-its?

Mesmo que responda “sim” a apenas duas destas perguntas, provavelmente


precisa de repensar a forma como gere o seu tempo no local de trabalho.
Ao perder o controlo sobre o tempo, a sua produtividade diminui, os seus
níveis de stresse aumentam e a sua saúde ressente-se. Se tiver de passar mais
tempo no local de trabalho, o mais provável é que chegue exausto a casa e,
desta forma, desequilibre a sua vida.

Certo é que os portugueses passam diariamente em média oito horas e meia


nos seus locais de trabalho e aproximadamente três horas e meia na realiza-
ção de tarefas domésticas e de prestação de cuidados a menores (ou outros
dependentes), pelo que podemos dizer que a maioria das pessoas passa mais
tempo no trabalho do que em casa com a família. Mas, se conseguirmos
gerir bem o nosso tempo no trabalho, será certamente mais fácil termos
disponibilidade para todas as outras atividades e, é claro, para as pessoas
que são importantes para nós.

Produtividade e stresse
Na maioria das vezes, quando se considera a gestão do tempo, pensa-se em
formas de melhorar a produtividade no trabalho. É cada vez mais comum as
chefias esperarem que os trabalhadores produzam cada vez mais em cada vez
menos tempo. Os prazos para realizar as tarefas são cada vez mais curtos e
muitos trabalhadores sentem-se obrigados a passar mais tempo no escritório
para conseguirem cumprir todos os compromissos. Segundo o Inquérito nacio-
nal aos usos do tempo de homens e de mulheres em Portugal, que já referimos
antes, cerca de 30% dos portugueses afirmaram ter trabalhado durante o
seu tempo livre várias vezes por mês durante os últimos 12 meses de forma
a conseguir dar resposta a solicitações do trabalho. Mas, como para tudo, há
um preço a pagar por trabalhar demais (leia sobre o "custo de oportunidade"
nas páginas 18 e seguintes). Alguns estudos mostram que trabalhar durante
demasiadas horas pode prejudicar a saúde, especialmente se à quantidade de

112
A Gerir o tempo no trabalho

trabalho estiver associado o stresse. Também as relações familiares e sociais


e o seu tempo de lazer se ressentem com o excesso de trabalho.

Elevado preço a pagar, ainda mais se considerarmos que não há necessaria-


mente uma relação direta entre o número de horas passadas a trabalhar e a
produtividade. Por isso, se gerir melhor o seu tempo, conseguirá fazer mais
em menos tempo — isto significa pensar em termos de eficácia e eficiência.

Muitas pessoas usam estes termos de forma indistinta, mas a verdade é que
se pode ser eficaz sem se ser eficiente e vice-versa. Ou seja, se se é eficaz,
realiza-se a tarefa correta; se se é eficiente, realiza-se a tarefa correta corre-
tamente. Assim, pode realizar-se a tarefa correta (eficácia) da forma errada
(ineficiência). E pode realizar-se a tarefa errada (ineficácia) da forma cor-
reta (eficiência). É claro que, para melhorar a produtividade no trabalho e
aproveitar ao máximo o seu tempo em geral, é preciso ser simultaneamente
eficiente e eficaz.

Ao melhorar a sua eficácia e eficiência no trabalho, aumentará a qualidade


e quantidade do mesmo, além de reduzir os seus níveis de stresse. Simul-
taneamente, notará que lhe sobra mais tempo para dedicar à família, aos
amigos e a si próprio. Este capítulo dá-lhe algumas ideias e recursos práti-
cos, a partir dos quais poderá escolher quais as estratégias que funcionam
melhor consigo — uma “caixa de ferramentas” de gestão do tempo a que pode
recorrer sempre que for necessário. Pode ter de fazer algumas experiências
para saber quais destas técnicas são mais adequadas para si e para o seu
trabalho. Depois de criar a sua própria caixa de ferramentas de gestão do
tempo e de pôr em prática as mudanças necessárias (veja o capítulo 3, a
partir da página 42), conseguirá trabalhar de forma mais inteligente, em vez
de trabalhar apenas mais.

Organize-se!
“Um destes dias, vou organizar tudo; é só arranjar tempo” é um comentário
comum no local de trabalho. Contudo, se não fizermos algumas alterações,
talvez nunca consigamos arranjar tempo para nos organizarmos. Até a fase
de preparação para a mudança (veja a página 51) consome algum tempo. Por
isso, precisa de se organizar usando técnicas que melhorem a gestão do tempo
passo a passo — muitas vezes, as mudanças em casa e no trabalho fracassam
porque tentamos fazer tudo em simultâneo.

113
A Tempo para tudo

Pode ser necessário ficar a trabalhar até tarde ou fazer umas horas durante
o fim de semana para conseguir implementar as mudanças pretendidas.
Isto não vai contra tudo o que foi dito acerca de manter o equilíbrio da vida.
Pelo contrário, se trabalhar algumas horas durante um fim de semana para
desenvolver um procedimento de trabalho mais eficaz e eficiente, pode
estar a ganhar algum tempo para a família, para os amigos e para si próprio.
Deve encarar este tempo extra dedicado à sua organização como um inves-
timento que lhe permitirá ganhar mais tempo no futuro.

Trabalhe de forma eficaz e eficiente


A maioria dos conselhos que se seguem têm por objetivo fazê-lo trabalhar de
forma mais eficiente. Contudo, deve começar por analisar a sua eficácia. Pense
na sua posição dentro da empresa para a qual trabalha, talvez analisando o
organigrama ou a descrição das suas funções. Anote também os maus hábitos
seus e dos membros da sua equipa, colegas e chefias que pensa que podem
estar a prejudicar a sua eficácia. Por exemplo, tente registar o número de
vezes que a falta de planeamento de outra pessoa prejudicou os seus planos.

Considere, então, os seus objetivos prioritários no trabalho — não devem


ser mais de três. Por outras palavras, pergunte a si próprio: o que é que eu
posso fazer para promover o cumprimento dos objetivos empresariais no
meu departamento em particular e na minha empresa no geral? Considere
as suas áreas de responsabilidade. Quais os aspetos que estão sob a sua
influência? Lembre-se de que pode ter acumulado algumas responsabilidades,
ao longo dos anos, que nem estão incluídas na descrição das suas funções.
Nesse caso, talvez queira discutir a atribuição das mesmas a outra pessoa ou
uma redefinição de responsabilidades — esta é mais uma boa ocasião para
afinar as suas capacidades de negociação (veja a página 88): talvez consiga
até aproveitar esta oportunidade para negociar um aumento salarial.

Mantenha uma pasta de leitura


A maioria das pessoas acumula uma série de artigos, relatórios e outros docu-
mentos para ler. Quando os receber, comece por lhes dar uma vista de olhos
rápida para decidir se tem de se dedicar a ele imediatamente. Se não for o
caso, mas tiver de os analisar mais tarde, guarde os ficheiros numa pasta de
leitura alojada, se lhe parecer adequado, por exemplo, no ambiente de tra-
balho do seu computador. No caso de livros ou outros elementos impressos,
pode guardar os mais urgentes, por exemplo, num tabuleiro na sua secretária.

114
A Gerir o tempo no trabalho

Faça periodicamente uma revisão ao local onde guarda os documentos e, se


achar que começa a ter demasiados (mais do que aqueles que, realisticamente,
vai conseguir ler), livre-se do que parecer desnecessário ou desatualizado. Em
casos extremos, pode simplesmente eliminar tudo o que for anterior a uma
determinada data.

Organize o seu arquivo online


Não guarde nos Favoritos todos os sites que visita. Reserve esta funcionalidade
apenas para os que lhe poderão ser realmente úteis. Se vir interesse, pode criar
uma pasta para fazer um arquivo mais abrangente e organizado. Se não tornar
a visitar algum site num prazo razoável, pondere apagar o respetivo endereço.

Evite a papelada
Assuma uma postura crítica em relação a tudo o que guarda. Analise cada papel
ou ficheiro e pergunte a si mesmo se é, de facto, necessário. Guarde apenas
o que for útil para o seu trabalho e aquilo a que não possa aceder de outra
forma. Precisa mesmo de guardar aquele recorte de jornal? Quantas vezes irá
consultá-lo? Se for importante em termos pessoais, considere a hipótese de o
guardar em casa.

Se possível, mantenha em papel apenas a última versão dos documentos.


Guarde as mais antigas apenas em formato digital (dê nomes idênticos às dife-
rentes versões alterando a data de gravação, por exemplo). Avalie se é mesmo
necessário guardar relatórios muito antigos e faça a “limpeza” do armário.

Pense antes de arquivar


É uma necessidade incontornável arquivar os documentos que a lei obriga a
guardar, como as informações fiscais, contratos, regulamentos, etc. Contudo, isso
tem mesmo de ser guardado no seu gabinete? Não há mais nenhum sítio onde
possa arquivar a papelada? A menos que precise de aceder a esta informação
regularmente, talvez valha a pena pensar noutro local onde possa depositá-la.

Sempre que possível, guarde apenas as versões digitais. Para arquivar, deve
desenvolver um sistema flexível que vá ao encontro das suas necessidades.

Para os arquivos em formato digital, pense se prefere separar os documentos


por temas, fontes ou projetos, por exemplo. Crie pastas para os trabalhos

115
A Tempo para tudo

que tem em mãos no momento e copie atalhos destas pastas para o seu
ambiente de trabalho: assim poupa algum tempo nos acessos a estas pastas, o
que acaba por ser relevante se lhes aceder com frequência. Para os arquivos
em suporte de papel, pode usar “botas” de arquivo onde vai colocando os
documentos por temas, mas sem uma organização em particular, ou então
dossiês com separadores. A escolha do método de organização depende do
seu trabalho e do seu estilo: o objetivo é conseguir aceder rapidamente à
informação de que precisa, utilizando um sistema suficientemente flexível
para acompanhar as alterações no seu trabalho.

Aprenda a escrever de forma eficaz


Escrever de forma clara e objetiva é uma excelente forma de poupar tempo à
pessoa que vai ler. Mas também lhe poupa tempo a si: quantas vezes teve de
explicar alguma coisa porque o que escreveu não foi suficientemente claro?

Há muitos livros que o podem ajudar a escrever de uma forma eficaz. Muitas
vezes, o segredo está em evitar a terminologia demasiado técnica e sofisticada
e limitar-se a frases simples e curtas. Contudo, antes de conseguir escrever
com clareza, é necessário ter primeiro uma ideia organizada na cabeça. Mais
uma vez, isso implica que reserve algum tempo para se preparar. Planeie o
que vai dizer e anote ideias, antes de redigir o documento.

Mantenha uma política de secretária limpa


Algumas empresas, muitas vezes por razões de confidencialidade, aplicam
uma “política de secretária limpa”. Todas as secretárias têm de estar limpas
de papel ao fim de cada dia; o incumprimento desta regra até pode ser con-
siderado uma transgressão disciplinar. A política de secretária limpa ajuda-o
também a manter o controlo sobre a papelada, obrigando-o a arrumar, deitar
fora e arquivar de forma eficaz e eficiente.

Inclua instruções breves nos formulários


A maioria das empresas exige o preenchimento de formulários para despesas,
horários, recomendações de aquisições, etc. Inclua junto a estes documentos
instruções abreviadas de preenchimento. Isto reduzirá o número de erros e
a necessidade de terem de ser sistematicamente pedidas indicações sobre
a forma de usar cada formulário, especialmente se estes não costumam ser
preenchidos com regularidade.

116
A Gerir o tempo no trabalho

Use um "saco de trabalho"


Muitas empresas de publicidade, relações públicas e media usam “sacos de
trabalho”. Estes são — por vezes, literalmente — sacos ou pastas (físicas ou
digitais) contendo todos os e-mails, cartas, relatórios das reuniões, custos
do trabalho em curso, etc., que dizem respeito a um projeto. Vai tudo para
dentro do “saco de trabalho”; quando o projeto está concluído, guardam-se
apenas os documentos essenciais.

Se possível, peça a todos os que estão a trabalhar num projeto para utilizarem
a mesma pasta partilhada. Nesta pasta pode incluir um documento que resuma
as tarefas, as pessoas envolvidas interna e externamente (com números de
contacto), datas de finalização para cada fase e o prazo final, bem como um
espaço para anotações. Este sistema mantém organizados e centralizados
todos os documentos necessários para um determinado projeto, permitindo,
assim, o acesso facilitado a todos os que nele estão envolvidos e evitando a
perda de tempo na procura de documentos dispersos.

Recorra a lembretes
Muitas vezes, é necessário estar atento a um acontecimento importante num
futuro mais ou menos próximo. Mas pode acontecer, sobretudo se andar
assoberbado com compromissos e responsabilidades, esquecer-se do mesmo.
Não por não ser importante, mas simplesmente porque a mente humana tem
uma capacidade limitada de atenção e porque a memória tem as suas falhas,
sobretudo quando se está em sobrecarga. Poderá, por isso, utilizar algumas
ferramentas que o ajudem a lembrar-se, por exemplo, mantendo a sua agenda
atualizada (veja a página 79). Também os calendários de programas como o
Outlook ou o smartphone permitem a configuração de alertas para os dias
antes ou o próprio dia.

E que tal acabar com os post-its?


Os post-its são uma ferramenta que pode ser bastante útil para fazer anotações
em livros e em revistas sem os estragar, escrever recados ou tarefas a con-
cretizar, etc. Mas dá por si a escrever diversas anotações em post-its e depois
a esquecer-se de as transferir para a sua lista de tarefas (veja a página 80)?
Exageros à parte, já consegue praticamente forrar uma parede com eles?
Então, é provavelmente um viciado em post-its. Se considera que escrever
post-its não o ajuda a concretizar tarefas, então se calhar o melhor é deixar de
os usar durante um mês até recuperar o hábito de recorrer à lista de tarefas.

117
A Tempo para tudo

Aprenda a delegar
Saber quando e como delegar é uma das pedras de toque de uma gestão eficaz
do tempo no local de trabalho e em casa. Se é um gestor, deve lembrar-se de
que é essa a sua função.

Um gestor atinge objetivos coordenando as tarefas dos outros. Isto significa


que uma delegação eficaz e eficiente é uma das capacidades centrais para se
ser um bom gestor. Permite-lhe tirar o maior partido da sua equipa, dando-lhe
igualmente mais tempo a si para se concentrar nas suas prioridades. Além
disso, promove o desenvolvimento das capacidades dos seus colaboradores e
melhora a motivação da equipa como um todo.

Pode começar por analisar a sua lista de tarefas. De certeza que tem de ser
mesmo você a fazer tudo? Provavelmente poderá delegar pelo menos alguns
desses afazeres. E, se assim for, já estará a poupar algum tempo. Lembre-se
do provérbio: grão a grão… Atenção: o critério não deverá ser o de delegar as
tarefas de que não gosta (aliás, ganhará respeito entre os colegas se assumir
algumas das mais aborrecidas), mas sim as mais simples, de execução mais
rápida, as que não são urgentes ou que não são assim tão importantes. Será
porventura ajustado manter para si as tarefas de maior responsabilidade ou
com maior impacto, o que não significa que não possa delegar atividades mais
simples e/ou de menor responsabilidade que façam parte da tarefa maior.

Não obstante, terá de gerir e coordenar a delegação cuidadosamente. Faça uma


lista das tarefas que delegou, com o prazo e o nome da pessoa a quem as
entregou. Nalguns casos, pode valer a pena colocar a lista acessível a todos os
implicados (funciona como um “lembrete” delicado). Assim, todos compreen-
derão o que se espera deles, e em que prazos. Por outras palavras, a delegação
eficaz significa estabelecer claramente as fronteiras de cada projeto delegado
e das responsabilidades de cada indivíduo.

Por outro lado, quando se delega, é importante considerar a dinâmica e a


competência técnica do grupo. Algumas pessoas podem estar mais habilitadas
do que outras a desempenhar determinadas tarefas. Também pode decidir
propositadamente delegar tarefas que levem a que um membro da equipa
se esforce mais. Embora, ao fazer isto, deva estar preparado para os erros,
esta não deixa de ser uma forma útil de desenvolver as competências da sua
equipa e de ganhar tempo para si no futuro. O tempo e o dinheiro que investir
formando você mesmo uma pessoa ou sugerindo-lhe um curso trará benefícios
sob a forma de aumento da produtividade. Além disso, o aumento de produ-
tividade do seu departamento ou grupo de trabalho poderá refletir-se no seu
estatuto de gestor.

118
A Gerir o tempo no trabalho

A partir do momento em que recorra à delegação, ela pode passar a fazer


parte da cultura do seu escritório. Todos os relatórios que são da sua respon-
sabilidade podem passar a incluir tarefas, datas de finalização e o nome das
pessoas que trabalharam no projeto. Pode também tentar formular aquilo
que é designado por "procedimento de ação padrão" (PAP) para tarefas de
rotina que queira delegar. O PAP define o processo (normalmente passo a
passo) necessário para concluir uma tarefa, descrevendo sistemas, resulta-
dos e mecanismos de controlo da qualidade. O PAP também deve incluir um
plano de ação, determinando o que fazer caso as coisas corram mal. Se usar
um PAP, apenas precisará de explicar uma vez a forma de desempenhar
determinada tarefa. Além disso, ao escrevê-lo, está a obrigar-se a “dissecar” as
ações a realizar, o que, muitas vezes, permite encontrar formas de melhorar
a eficiência do trabalho.

É claro que tem de acreditar na capacidade dos seus colegas para desempe-
nharem bem a tarefa que lhes delegar. Evite a tentação de estar sempre a
espreitar por cima do ombro para ver como estão a correr as coisas. Por outro
lado, terá de dar alguma resposta e ou opinião na altura certa. Uma boa prática
é estabelecer, em concordância com a pessoa a quem vai delegar o trabalho,
datas de conclusão de tarefas, com bastante antecedência relativamente aos
prazos oficiais de término do projeto. Além disso, deve ligar este aumento de
responsabilidade a uma recompensa — financeira ou outra.

A delegação eficaz é mais uma arte do que uma ciência. Trabalhadores motivados
e um departamento mais produtivo cedo começarão a dar os frutos pretendi-
dos, e isso irá com certeza refletir-se numa gestão mais eficaz do tempo para si.

Modere o uso do telemóvel


Hoje em dia, mais do que nunca, o smartphone é uma ferramenta indispensável,
e a sua importância continua a crescer. De acordo com os dados da Anacom,
em 2018, 96,5% dos residentes em Portugal com mais de dez anos tinham
telemóvel. Contudo, é evidente que o facto de usarmos o telemóvel dezenas de
vezes por dia não significa necessariamente que o aproveitemos ao máximo.

Talvez não seja descabido refletir um pouco sobre o uso que faz do telemóvel.
Quantas chamadas faz e recebe por dia? Qual a sua duração média? Quantos e
quais dos telefonemas que faz ou recebe são realmente necessários? E quanto
às mensagens? Quais as realmente relevantes? Quanto tempo despende em
chats e, desses, quais os que poderia dispensar? Aponte o número de vezes e as
razões por que usa o telemóvel durante cerca de duas semanas. Há aplicações

119
A Tempo para tudo

que pode instalar no smartphone que o podem ajudar a fazer estas contas.
Com base nelas, determine quantas conversas foram essenciais. Ao reduzir
o tempo que passa a falar ou a trocar mensagens ao telemóvel inutilmente,
estará a ganhar tempo para pensar, para estar a conviver com os seus familia-
res e amigos, para concretizar os seus hobbies e, porque não, para não fazer
nada e simplesmente descansar a cabeça.

Além disso, lembre-se de que os telemóveis podem ser desligados e que


não é obrigado a estar permanentemente contactável. Aliás, o “offline” é
uma nova tendência, a ganhar adeptos.

É certo que poderá perder uma ou outra chamada, uma ou outra notificação,
uma ou outra notícia. Mas, em caso de urgência, existem sempre as mensagens
que lhe permitirão devolver o contacto… Por outro lado, se aproveitar esse
tempo para pensar sem ser interrompido, isso pode conduzir a uma ideia
estratégica inovadora. As interrupções triviais do seu telemóvel são, pelo
menos, tão inoportunas como alguém entrar no seu espaço de trabalho sem
ter marcado uma reunião para falar consigo.

Quando finalmente decidir pegar no telefone, lembre-se de que estará a gerir


o seu tempo de forma muito mais eficaz se executar tarefas semelhantes de
uma vez só — por exemplo, juntar todos os telefonemas que quer retribuir ou
escrever, de uma assentada, por sua própria iniciativa, resposta às mensagens
que se forem acumulando.

Ergonomia no local de trabalho


A maioria de nós passa mais tempo à secretária do que em casa. Muitas vezes,
o único exercício que fazemos durante o dia de trabalho é o movimento
dos dedos e das mãos sobre o teclado e o rato do computador. Esta falta de
atividade física contribui para um estado de tensão muscular que é muitas
vezes agravado tanto pelo stresse como pela adoção de posturas incorretas
no local de trabalho (especialmente em funções sedentárias em escritórios
concebidos com um design pouco ergonómico).

Esta combinação de tensão muscular, stresse e escritórios mal concebidos


põe em risco a nossa saúde, limita a produtividade e torna-nos menos efica-
zes. Pode também provocar problemas no sistema musculoesquelético, tais

120
A Gerir o tempo no trabalho

como dores nas costas e lesões crónicas nos músculos e nos ossos. Investir
na ergonomia e no design do escritório não é algo dispensável: trata-se, sim,
de uma ajuda valiosa que lhe permitirá aproveitar o tempo no trabalho de
forma mais eficiente e zelar pela sua saúde.

Se não quiser ou não puder, não é necessário contratar um consultor de


ergonomia para redesenhar o seu espaço de trabalho. Há algumas medidas
simples que pode tomar para o tornar mais cómodo e eficiente em termos
de aproveitamento do tempo. Deixamos algumas pistas.

1. Tente certificar-se de que tem espaço suficiente na secretária.

2. Quando estiver a conceber o seu escritório ou local de trabalho, coloque


os livros, o equipamento e restante material mais usado (como canetas e
agrafador, por exemplo) o mais próximo possível de si.

3. Mantenha nas proximidades a informação e os documentos utilizados com


mais frequência. Se possível, guarde o arquivo noutro local.

4. Certifique-se de que tem a iluminação adequada.

5. Ajuste o monitor do computador de forma a estar à altura do olhar.


Posicione-o de modo a evitar os reflexos de janelas ou candeeiros.

6. Escolha uma cadeira confortável. Uma cadeira de boa qualidade é funda-


mental, sobretudo se passa a maior parte do tempo sentado.

7. Mantenha uma postura correta. Quando estiver sentado, tente manter os


ombros descontraídos e em linha reta com a cabeça. Mantenha as costas
direitas e os pés assentes no chão. Se colocar uma almofada na base da
coluna, será mais fácil manter uma boa postura.

8. Coloque o teclado de forma a não ter de levantar ou curvar os braços.


Os cotovelos devem formar ângulos retos e os pés devem ficar bem assentes
no chão. Considere a hipótese de adquirir um apoio para os pulsos ou um
teclado ergonómico — quando se habituar à nova disposição das teclas,
verá que a utilização é mais confortável. Os teclados ergonómicos também
podem aumentar a velocidade de datilografia.

9. Se está sempre a usar o teclado, faça intervalos de cinco minutos a cada


30 a 60 minutos: realize exercícios de contração/relaxamento (veja as
páginas 108 e 109) para aliviar a tensão muscular na zona do pescoço e dos
ombros. Levante-se regularmente e ande um pouco. Procure identificar

121
A Tempo para tudo

sinais de tensão muscular. Faça exercícios de relaxamento ao menor


sinal de tensão.

10. Caso use muito o telefone, se possível, utilize um headset ou auriculares


em vez de prender o aparelho entre a cabeça e o ombro.

Poluição sonora
Hoje sabe-se que a poluição sonora não é apenas um fator que perturba o
pensamento e prejudica a produtividade, mas também um claro perigo para
a saúde. Já é suficientemente difícil ser produtivo sem ter a pressão acrescida
de um martelo pneumático a trabalhar por baixo das nossas janelas. Se duas
pessoas que trabalham a dois metros uma da outra precisam de gritar para
conseguirem fazer-se ouvir, é porque o local de trabalho é perigosamente
ruidoso e prejudicial à saúde. Caso tenha dúvidas sobre o nível de ruído no
seu local de trabalho, saiba que a Autoridade para as Condições do Trabalho
disponibiliza na sua página (www.act.gov.pt) uma lista de verificação para
controlo de ruído que ajuda a avaliar se o seu local de trabalho está em
conformidade com a legislação em vigor.

Além do ruído de elevado volume, importa também considerar o impacto dos


ruídos de baixo volume. Enquanto muitos especialistas do ruído defendem
que 85 decibéis é o ponto a partir do qual podem surgir lesões no ouvido
— uma pessoa a gritar atinge aproximadamente 80 decibéis —, quem traba-
lha por muito tempo em ambientes com níveis de ruído inferiores também
está sujeito a problemas de saúde física (fadiga crónica, dores de cabeça,
etc.) e mental (maior irritabilidade, ansiedade, dificuldades de memória e
de concentração).

Considerando as consequências que o ruído pode ter na sua saúde, será


expectável que a sua produtividade também seja prejudicada pelos ambientes
ruidosos. Ao precisar de fazer um esforço maior para se manter concen-
trado ou se tiver de repetir várias vezes o que quer dizer a um colega até
se fazer ouvir, é natural que leve mais tempo a concretizar as suas tarefas
e, por isso, que a sua gestão do tempo saia bastante prejudicada. Por isso,
sempre que possível, procure limitar a sua exposição a ambientes ruidosos
ou então use auscultadores para minimizar o impacto do ruído no seu
desempenho.

122
A Gerir o tempo no trabalho

Evitar as interrupções
As interrupções são a principal causa da perda de tempo no trabalho. E são um
problema especial porque, por definição, não podem ser planeadas. Podem, no
entanto, ser minimizadas. Mas, mesmo que ponha em prática todas as técnicas
para evitar ser interrompido, poderá continuar a sê-lo. Por isso, o melhor é
manter uma atitude tolerante em relação às interrupções, acrescentando algum
tempo à sua estimativa de duração das tarefas.

Espere o inesperado
É claro que não se pode realmente esperar o inesperado. Contudo, pode modi-
ficar as suas estimativas horárias, de modo a incorporar as interrupções que
não pode evitar. Uma regra prática é acrescentar 20% a 50% à sua estimativa
inicial do tempo necessário para uma tarefa. O uso de um registo de tempo
(veja a página 74) ajudá-lo-á a calcular o tempo necessário em cada caso.

Afaste-se do escritório
Trabalhar em casa, noutro escritório, numa sala de reuniões ou na biblioteca,
pelo menos durante o tempo em que precisa de estar mais concentrado, poderá
ajudar a diminuir o número de vezes que é interrompido. Se precisa de refle-
tir ou de fazer planos estratégicos, aproveite a hora de almoço para ir a um
café sossegado da zona, a uma biblioteca ou um parque onde não possa ser
interrompido. E não se esqueça de desligar o telemóvel. Encontrar tempo para
refletir e planear é uma das formas mais importantes de melhorar a criatividade.

Mantenha as pessoas de pé
Quando for interrompido no escritório, evite que as pessoas se sentem.
Ao limitar o número de lugares sentados no seu escritório, conseguirá desen-
corajar as visitas mais longas.

Elimine as visitas de ocasião


Pode fazê-lo usando uma barreira visual ou fechando a porta. Num escritório em
espaço aberto, pode, por exemplo, pendurar um bilhete dizendo que não quer

123
A Tempo para tudo

(ou não pode) ser interrompido. Em casa, pode ser necessário separar o
seu espaço para trabalhar do espaço familiar e estabelecer um acordo com
as crianças, por exemplo, reservando esta área como um local protegido.
Algumas pessoas que trabalham em casa estabelecem como regra que, se
a porta estiver fechada, é porque querem privacidade.

Estabeleça regras básicas


Quando um colega o interromper num momento inoportuno, pergunte-
-lhe se é essencial lidar imediatamente com o problema. Se não for o caso,
peça-lhe que espere por uma hora mais conveniente para ambos (nesse
caso, é importante não se esquecer e tomar a iniciativa de voltar a falar com
esse colega). Faça isto algumas vezes, e os que o costumam interromper
vão perceber a mensagem.

Evite conversas marginais


Aprenda a cortar as conversas que não estão relacionadas com o propósito
da interrupção, sugerindo, por exemplo, que voltem a abordá-las na hora
do almoço, quando tiverem mais tempo disponível.

Relógio à vista de todos


Tenha um relógio à vista e, caso veja necessidade, olhe para ele de vez
em quando (de forma que a pessoa que o interrompeu perceba que talvez
esteja na hora de terminar o encontro). Outra estratégia consiste em ajus-
tar o alarme no seu relógio de pulso, do seu telemóvel ou do computador
por, por exemplo, cinco minutos. Ative-o quando alguém entrar. Quando
disparar, terá uma desculpa para acabar o encontro. Se a interrupção for
mesmo importante, pode sempre ignorar o alarme e dar à pessoa que o
interrompeu toda a sua atenção.

Não interrompa os outros


Tente não interromper os outros com frequência. Pergunte a si próprio se o
assunto pode esperar. Use, em alternativa, o e-mail ou uma nota — especial-
mente se houver vários assuntos a tratar. Ir falar pessoalmente resulta muitas
vezes em entrar em discussões paralelas (ou excessivamente prolongadas)
que farão perder tempo aos dois.

124
A Gerir o tempo no trabalho

Domine a internet
Não há dúvida de que o universo online transformou o mundo. Se isso é bom
ou mau para a gestão do tempo é menos claro. Muitas pessoas sentem que
a tecnologia moderna apenas lhes trouxe mais solicitações sobre o tempo
disponível. Já não temos de lidar apenas com um tabuleiro de entrada de
documentos, mas também com um e-mail a “abarrotar”, grupos de men-
sagens no telemóvel sempre a serem alimentados...

Há algumas técnicas simples que o podem ajudar a dominar as tecnologias.

1. Não ative os pop-ups para novos e-mails ou mensagens, a menos que


esteja à espera de alguma mensagem que lhe exigirá atenção imediata;
este é um grande motivo de distração. Se lhe for possível, inspecione
a caixa de entrada dos seus e-mails apenas duas ou três vezes por dia.

2. Se o seu trabalho o permitir, faça o envio de vários e-mails de seguida e


evite estar ligado à internet em permanência. Depois, "desligue" e dedi-
que-se a outras tarefas.

3. Muitas pessoas recebem dezenas ou centenas de e-mails por dia. Por isso,
quando redigir uma mensagem, lembre-se: seja breve. E não espere uma
resposta imediata.

4. Utilize pastas para organizar o correio eletrónico. Separe os e-mails por


temas, por projetos e/ou por prioridade (como faria com qualquer outro
documento — por exemplo, “pendentes” e “urgentes”). Estabeleça um
prazo para responder e tente cumpri-lo.

5. Precisa mesmo de reencaminhar ou de dar conhecimento de determi-


nado e-mail a determinada pessoa? Não inclua destinatários de forma
indiscriminada. Se quiser reencaminhar uma mensagem de correio ele-
trónico para várias pessoas em simultâneo escondendo de cada um dos
destinatários o endereço eletrónico dos restantes, faça-o em Bcc (Blind
carbon copy, ou cópia cega).

6. Considere as suas subscrições de mailing lists e publicações eletrónicas


e anule as que não lhe forem interessantes ou úteis.

7. Releia os e-mails antes de os enviar. Evita perdas de tempo posteriores


se detetar e tiver de corrigir erros. Embora o e-mail seja relativamente

125
A Tempo para tudo

informal, uma ortografia correta leva a que tenha uma aparência mais
profissional. Apesar da informalidade, é um registo permanente e reflete
o seu profissionalismo do mesmo modo que um telefonema ou uma carta.

8. Utilize filtros para evitar o correio eletrónico indesejável. Alguns programas


permitem analisar os e-mails em busca de palavras-chave e "arrumá-los" por
categorias de acordo com a prioridade e o assunto, por exemplo.

9. Certifique-se de que escreve o assunto da mensagem de forma clara e sem


erros ortográficos. Assim, será mais fácil organizar as mensagens e encon-
trá-las quando for necessário. Isto também ajuda a que os destinatários reco-
nheçam a importância da sua mensagem.

10. Mantenha os seus contactos atualizados. Os programas informáticos mais


comuns permitem a inserção automática do endereço (evitando erros) e
ajudam-no a não perder de vista os seus contactos.

11. Considere a hipótese de preparar respostas-tipo para perguntas ou pedidos


de informação frequentes. Isto permitir-lhe-á poupar tempo. Ainda assim,
releia a mensagem antes de a enviar para evitar lapsos ou partilha involun-
tária de dados.

Gerir as reuniões
As reuniões são, provavelmente, a maior causa de perdas de tempo em qualquer
empresa. Quantas vezes assistiu a reuniões inúteis, aborrecidas e sem qual-
quer consequência? Quantas vezes um e-mail ou telefonema podiam ter tido
o mesmo efeito? Quantas vezes teve de ficar a trabalhar até mais tarde porque
a reunião demorou mais do que o previsto? E com que frequência sentiu que
os responsáveis pela reunião não foram capazes de as dirigir de forma eficaz?

Há três pedras de toque na gestão eficaz de reuniões. Em primeiro lugar, certifi-


que-se de que a reunião é realmente necessária. Em segundo lugar, certifique-se
de que todos os convidados estão devidamente preparados. Por último, durante
a reunião, certifique-se de que todos têm oportunidade de falar.

As técnicas de análise transacional (veja a página 89) são especialmente úteis


para presidir e participar em reuniões — especialmente se surgirem conflitos

126
A Gerir o tempo no trabalho

ou se alguém não estiver a dar o contributo esperado. Em seguida analisamos


aspetos mais específicos que podem ser úteis para gerir reuniões eficazmente.

A reunião justifica-se?
Comece por perguntar a si próprio se a reunião é mesmo necessária — ou
faça esta pergunta a quem a marcou. Pode, por exemplo, fazer uma lista
das reuniões que tem todos os meses. Depois, ordene-as por importância e
resultados em termos de objetivos alcançados para a empresa e seus depar-
tamentos. Poderia passar sem 25% dessas reuniões (as menos importantes)?
Um dos argumentos mais persuasivos contra as reuniões é o dos custos.
Pense se o proveito da reunião compensa realmente os gastos.

Defina o assunto
As reuniões de trabalho eficazes e eficientes devem ter por objetivo discutir
e resolver um problema bem definido. Por exemplo, uma reunião pode ser
adequada para discutir estratégias que melhorem as vendas ou procedimen-
tos mais eficazes para gerir a comunicação entre departamentos. E todos
os participantes devem ser incentivados a participar na reunião, quer na
caracterização do problema quer na identificação de soluções. Desta forma,
não só se promove a responsabilização de todos os elementos na resolução
dos problemas da empresa, como ainda se evitam reuniões monótonas,
centralizadas, e que os trabalhadores sentem como uma perda de tempo
para todos.

Faça circular informação


Faça circular os documentos importantes para a reunião com o máximo
de antecedência possível. Rever e apresentar a informação que as pessoas
já podiam (ou deviam) ter lido antes é pura e simplesmente uma perda de
tempo e acabará por se tornar um hábito. Por outro lado, certifique-se de
que os participantes têm a oportunidade de levantar questões sobre assuntos
que não compreenderam ou de que discordem.

Considere mudar o local da reunião


Considere a hipótese de fazer a reunião fora do escritório. Usar a sala de
conferências de um hotel pode ser mais eficaz em termos de custos se, por

127
A Tempo para tudo

exemplo, muitos dos membros da equipa estiverem em viagem e precisa-


rem de fazer grandes deslocações para a casa-mãe. Ajuda a minimizar as
interrupções e mantém as pessoas concentradas no assunto.

Evite a deslocação das pessoas


Considere o uso da tecnologia. Poderia fazer uma reunião virtual? Reunir
para discutir assuntos pessoalmente é cada vez menos necessário. Hoje em
dia, dispomos, por exemplo, de videoconferências, de teleconferências e de
grupos de conversação na internet (e até nas redes internas das empresas),
entre outras opções que evitam a deslocação dos intervenientes.

Selecione os convidados
Convide as pessoas em termos de “quem precisa de saber”. Limite os con-
vites para a reunião às pessoas que precisam realmente de estar envolvidas
e que podem dar um contributo informado. Não se sinta na obrigação de
convidar alguém apenas por boa educação. Desta forma, terá a certeza de que
as pessoas convidadas têm algum contributo a dar. Por isso, deve certificar-se
de que têm a oportunidade de falar, especialmente se souber que são tímidas
ou novas no grupo. Se houver outras pessoas interessadas ou implicadas no
assunto da reunião (não tendo participado na mesma), considere a hipótese
de fazer circular minutas ou atas detalhadas do que foi discutido ou decidido.

Defina uma agenda de trabalhos


Certifique-se de que todas as reuniões em que participa ou que dirige têm
uma agenda de trabalhos. Faça uma lista com os tópicos a abordar e mar-
que a reunião apenas quando a lista tiver tópicos suficientes para formar
uma agenda de trabalhos. Envie esta ordem de trabalhos às pessoas que
forem convocadas. Durante a reunião, utilize-a para o ajudar a ordenar os
assuntos a abordar. Determine e informe os outros do tempo que destinou
para cada tópico.

Apure os seus dotes de moderador


Dirigir uma reunião não é fácil. Trata-se de uma capacidade que vai surgindo
com a prática. Uma gestão eficaz de reuniões assenta sobretudo na firmeza
do moderador, a quem é pedido que consiga manter a reunião nos eixos, sem

128
A Gerir o tempo no trabalho

abafar as discussões e o debate. O segredo do dinamismo do encontro está


em assegurar a relevância dos tópicos discutidos e impedir que a discussão
se torne demasiado técnica. Pode ser relevante pedir ao orador para definir
e explicar os termos com os quais a audiência pode não estar familiarizada.
A análise transacional (veja a página 89) é útil também neste tópico.

Delegue a logística
Se puder, peça a alguém que se assegure de que a sala de reuniões dispõe dos
meios audiovisuais necessários, canetas, papel, café ou chá e água. Se possível,
também pode delegar em alguém a preparação e redação das minutas ou atas.

Respeite os horários
Defina claramente, respeite e faça respeitar a hora de início e de fim. Marque
as reuniões para o final do dia ou para antes da hora de almoço, se quiser que
sejam mais breves. Se quiser que a reunião aconteça à hora combinada, é
preferível (na maior parte dos casos) marcá-la para sexta-feira à tarde. Dê um
prazo nunca superior a dez minutos para os atrasados, e depois comece a
reunião. Para algumas pessoas, chegar atrasado pode tornar-se uma rotina.

Analise a eficácia da reunião


Os objetivos estabelecidos foram atingidos? Há um resultado identificável?
A minuta ou ata resultante da reunião indica quem vai fazer o quê até quando?
Também pode aproveitar uma pausa para café ou almoço para rever o anda-
mento da reunião e colocá-la novamente no caminho certo.

Gerir a sua chefia


Como qualquer gestor sabe, é preciso gerir a chefia tão bem como os cola-
boradores, ou até mesmo melhor. A atitude e a abordagem corretas são
essenciais para o fazer de forma eficaz. Isto significa compreender o que a
sua chefia pretende. Para tal, peça informação sobre a sua agenda de tra-
balhos e prepare-se para abordar os tópicos mencionados nessa agenda.

129
A Tempo para tudo

Uma vez estabelecida uma relação confortável, poderá negociar com facilidade
quer os prazos, quer as tarefas a desempenhar.

Deve também, dentro do possível, tornar-se indispensável para a sua chefia


não por lhe estar sempre a dizer que sim, mas pelas suas ações. Quando
concluir uma tarefa, certifique-se de que a sua chefia é informada disso.
Partilhe com a sua chefia o processo e os resultados do seu trabalho e, sempre
que possível, envolva-a na divulgação dos resultados obtidos, mencionando
o contributo da sua chefia na concretização do trabalho em causa. Estará
certamente a contribuir para que a sua chefia se torne mais recetiva às suas
ideias e a ajudá-lo no futuro.

Pode e deve também colocar-se no lugar da sua chefia e tentar ver as coisas
da sua perspetiva. Isto implica perceber o que o motiva. Veja se ela se encaixa
em algum dos modelos descritos no capítulo 4 (veja a página 65): trata-se de
um trepador ou de um especialista? Se adaptar as suas ideias tendo em conta
a resposta a esta pergunta, as hipóteses de sucesso aumentarão.

Pode também perguntar a si próprio o que pretenderia dos seus colaborado-


res se estivesse no lugar da sua chefia. Reflita sobre as razões que poderiam
levá-lo a acolher favoravelmente uma ideia sua. Se não conseguir lembrar-se
de boas razões, o mais provável é a ideia ser um fracasso. Deve também
antecipar críticas prováveis e tentar formular respostas à altura. Se possível,
apalpe o terreno antes de mergulhar de cabeça e escolha bem a altura certa.
Quando se trata de gerir a chefia, há uma regra que se sobrepõe a todas as
outras: trave apenas as batalhas que acha que pode ganhar.

Uma relação de adulto para adulto


Recorde as ideias discutidas acerca da análise transacional (veja a página 89).
O objetivo é ter uma relação de adulto para adulto com a sua chefia, seja qual
for a vossa posição dentro da hierarquia da empresa. Isto significa esforçar-se
por compreender bem as suas próprias motivações (veja a página 62), mas
também os seus objetivos e ambições (veja a página 56). Terá também de
conhecer a sua chefia e saber qual o seu estilo e os seus objetivos e ambições.
Será, então, necessário desenvolver uma relação de adulto para adulto, que
permita atingir, tanto quanto possível, os seus objetivos e a sua agenda de
trabalhos, sem que os mesmos colidam com os da sua chefia. Este tipo de
reflexão pode também ajudá-lo a repensar algumas questões que estejam
a ser motivo de conflito entre ambos. Poderá, assim, decidir qual a melhor
forma de abordar estas questões.

130
A Gerir o tempo no trabalho

Faça uma proposta sólida


Finalmente, se quer algo específico — formação, por exemplo —, apresente
a ideia à sua chefia como se fosse uma proposta de negócio, de preferência
acompanhada de custos e prazos. Construa uma proposta sólida, mostrando-lhe
a importância da mesma para o aumento da produtividade do departamento
e, consequentemente, para o benefício da empresa. Saliente o modo como a
formação irá aumentar a produtividade, o que deverá ser fácil se, por exem-
plo, pretender receber formação ao nível das tecnologias de informação.
Explique como este aumento de produtividade lhe permitirá recuperar os
atrasos no trabalho. Mais tarde, se puder provar — talvez fazendo um registo
da situação antes e depois — que a formação alterou alguma coisa, será mais
fácil argumentar em favor de futuras propostas suas.

Pensar fora da caixa


Para conseguir lidar com as rápidas mudanças no mundo atual é preciso ser
criativo. Chamemos a esta estratégia “sair do sistema” ou “pensar fora da
caixa”. Por outras palavras, poderá ser necessário desafiar o conhecimento
estabelecido para implementar métodos de trabalho mais eficazes.

Sair do sistema significa questionar, e possivelmente mudar, a forma como


se aborda um problema. No mundo atual, seja qual for o produto ou serviço
vendido, a criatividade é essencial para se ser profissionalmente competitivo.
Além disso, o uso criativo do tempo melhora a produtividade, permitindo
fazer mais em menos tempo.

Basicamente, criatividade significa trazer à luz do dia algo novo. Em muitos


casos, isso pode traduzir-se na junção de duas ideias que anteriormente
nada tinham a ver uma com a outra (um exemplo disso é a criação do con-
ceito de “inteligência emocional” — tradicionalmente vistos como ideias
quase incompatíveis). Pode implicar ultrapassar o que é mais consensual,
rebelar-se contra os seus conhecimentos e reavaliar as formas estabelecidas
de fazer as coisas.

Por exemplo, em 1663, Isaac Newton, então aluno em Cambridge, no Reino


Unido, parou de fazer anotações a meio de uma aula. Deixou dezenas de
páginas em branco antes de começar uma nova página, com Quaestiones

131
A Tempo para tudo

Quaedam Philosophicae (Alguns Problemas Filosóficos). Michael White, autor


de uma biografia do cientista, referiu que isto “marca o ponto em que Newton
se afastou da tradição e começou a questionar o que lhe tinham ensinado”.
Esta busca levaria à alteração radical da nossa visão do universo material.
A ideia de questionar conhecimentos preestabelecidos pode ser aplicada em
casa, no escritório e na vida em geral.

As pessoas naturalmente criativas são, pelo menos a nível intelectual, inde-


pendentes. São mais influenciadas pelos seus padrões interiores do que pelos
estabelecidos pela sociedade ou profissão que desempenham. Trabalhar em
função dos seus valores e princípios pode libertar a sua criatividade.

Além do brainstorming
Uma reunião de brainstorming é a forma convencional de desenvolver a criati-
vidade no trabalho. Visa ajudar os participantes a vencer as suas limitações em
termos de inovação e criatividade. Criada por Osborn, em 1963, uma sessão de
brainstorming dura normalmente cerca de 30 minutos (embora possa manter-se
por várias horas, consoante o número de pessoas e a dificuldade do tema). Este
exercício assenta em quatro regras fundamentais:
—— nunca criticar uma sugestão;
—— encorajar as ideias bizarras;
—— preferir a quantidade à qualidade;
—— ignorar a “propriedade intelectual”.

Além de zelar para que todos os participantes (geralmente 6 a 12 pessoas)


cumpram as regras, o líder da sessão deve manter um ambiente relaxante e
propício à geração de novas ideias.

E como nascem as ideias novas? Não há uma resposta fácil para esta pergunta.
Contudo, há uma série de truques que podem ajudá-lo a encarar um problema
de outra perspetiva.

Ande sempre com um bloco de notas


Muitas vezes, as melhores ideias surgem quando menos se espera. O gráfico
da página seguinte mostra os resultados de um inquérito levado a cabo pela
revista de gestão Management Today, que perguntava a gestores e diretores de
empresas onde tinham tido as suas melhores ideias. Para pouco mais de um
quinto, tinha sido no escritório ou numa sessão de brainstorming. Os restantes

132
A Gerir o tempo no trabalho

NOVAS IDEIAS: EM QUE CONTEXTO SURGEM?

Em reuniões e sessões
de brainstorming
Em casa
No banho
18% 7%
12%

Durante o tempo
de lazer ou na praia 17% Outros
14% locais/não sabe

17% 15%
Durante as viagens No escritório
casa-trabalho

tinham tido as suas melhores ideias fora do escritório. Contudo, a melhor ideia
do mundo é inútil se não conseguir lembrar-se dela. Se andar com um bloco de
notas (e quem diz bloco de notas diz aplicações para tirar notas no telemóvel),
poderá registá-la. Esta ferramenta também pode ser útil para registar lembretes
ou fazer anotações quando lê um livro ou um jornal.

Brinque
Liberte-se! Uma criança que brinca constrói castelos no ar e mundos de fan-
tasia e sonha acordada. Todos estes atos são criativos. Muitos adultos perdem
a capacidade de sonhar acordados. Podem até sentir-se envergonhados por
causa do tempo que “perdem” com devaneios. É verdade que por cada cem
sonhos que tem quando acordado, talvez aproveite apenas uma ideia. Mas
esta pode mudar o mundo — ou, pelo menos, a sua vida!

133
A Tempo para tudo

Divirta-se
O riso também pode fazer disparar a criatividade, provavelmente por ser,
muitas vezes, um ato subversivo. Contudo, embora o humor possa auxiliar a
criatividade, é necessária alguma seriedade quando chega a hora de decidir
se a ideia é válida e qual a melhor forma de a pôr em prática.

Explore outras abordagens


Muitos artistas sentem que visitar uma galeria de arte estimula o apareci-
mento de ideias que podem utilizar no seu trabalho. Não se trata de plágio.
Olhar para o ponto de vista de outro artista ajuda a olhar para o próprio
trabalho com uma nova perspetiva. Experimente visitar uma exposição de
um artista que não conhece ou ler algo novo e diferente sobre o assunto
em que tem trabalhado. Nova informação pode libertar a sua criatividade.

Decomponha o problema
Esta abordagem é sobretudo útil quando se analisam sistemas ou práticas de
negócios que se desenvolveram ao longo de um período extenso. Experimente
decompor um problema que tenha no momento. O que é que está errado
na situação atual? Comece pelo problema e vá recuando, analisando cada
fase do processo que conduziu à situação atual, para assim descobrir o que
se passa.

Dê-se tempo
Por vezes, pode precisar de um "período de incubação" mais longo. O período
de incubação, tanto para A Origem das Espécies de Darwin, como para a pri-
meira sinfonia de Brahms, foi de 20 anos! Assim, se não conseguir encontrar
imediatamente uma solução, não insista e volte a olhar para a questão após
alguns dias.

Mude o ambiente
Algumas empresas consideram que mudar a configuração do escritório
também ajuda. Pode parecer uma ideia disparatada, mas algumas pessoas
sentem que mudar o ambiente tem um efeito psicológico positivo, trazendo,
muitas vezes, novas perspetivas para práticas instaladas.

134
A Gerir o tempo no trabalho

Experimente fazer mapas conceptuais


Esta técnica tem por base o pressuposto de que o cérebro não é um compu-
tador com processamento linear de conceitos. E, por isso, para executar um
mapa conceptual deve começar por escrever a ideia central — por exemplo,
o tópico de uma apresentação ou o título de um relatório — no centro de
uma página em branco. Depois, deve identificar quais os diversos tópicos
ou capítulos que contribuem para a ideia e escrevê-los também na folha.
De seguida, acrescente palavras-chave ligadas a cada um destes tópicos.
Também pode desenhar, usar setas de ligação, símbolos, imagens — o que
quiser.

Vários livros, por exemplo os de Tony Buzan, o inventor dos mapas con-
ceptuais, descrevem este sistema com detalhe. Existem também programas
informáticos que ajudam a fazer mapas conceptuais. Para mais informações
sobre as técnicas desenvolvidas por Tony Buzan, e caso não tenha dificul-
dades com o inglês, pode consultar o site imindmap.com.

Pense lateralmente
Em mais de 60 livros, Edward de Bono desenvolveu teorias e técnicas para
melhorar a criatividade, baseando-se na enorme capacidade que o nosso
cérebro tem de estabelecer relações entre tudo, gerindo a informação em
sistemas auto-organizáveis. Um exemplo é o chamado "pensamento late-
ral", que basicamente consiste na geração de novas ideias e no abandono
das obsoletas. De Bono distingue este processo (descontínuo e destinado à
geração de ideias) do "pensamento vertical" (contínuo e orientado para as
desenvolver). Ou seja, enquanto o pensamento lateral cria ideias, o vertical
desenvolve-as.

A popularidade das técnicas de criatividade de De Bono mostra até que ponto


as pessoas consideram as suas abordagens eficazes. Para mais informações
sobre as técnicas desenvolvidas por Edward de Bono, e caso não tenha
dificuldades com o inglês, consulte o site www.edwdebono.com.

Pense por si
Reserve tempo para pensar por si sem ser interrompido. Se não consegue
arranjar tempo no trabalho, experimente chegar mais cedo uma vez por
semana e assegure-se de que consegue estar sozinho a pensar em assuntos
que requeiram uma abordagem mais criativa.

135
A Tempo para tudo

Faça uma análise


A chamada análise SWOT (strengths, weaknesses, opportunities e threats) — em
português, análise FOFA (forças, oportunidades, fraquezas e ameaças) — é um
exercício muito útil. Numa folha de papel, anote as forças, oportunidades,
fraquezas e ameaças com que se depara atualmente. Se, por exemplo, está
a pensar em formas de aumentar as vendas, analise as forças e fraquezas
do produto (para tal, terá de ser realista e lúcido em relação a ele). Com
base nas suas conclusões, analise as oportunidades que as forças oferecem,
quer no mercado atual, quer noutros mercados possíveis. Considere então
as ameaças ao produto por parte de rivais, alterações dos mercados, etc.

Deixe as tarefas no trabalho


As ferramentas e técnicas apresentadas neste capítulo podem ajudá-lo a
ter um desempenho mais eficaz no trabalho. Do mesmo modo, poderão
contribuir para que consiga diminuir o tempo necessário para caminhar
em direção aos seus objetivos e ambições pessoais. Não se esqueça de que
a ideia central é manter o equilíbrio entre os compromissos profissionais,
familiares, sociais e pessoais. Para conseguir este equilíbrio, tanto quanto
possível, deixe as suas tarefas profissionais no trabalho — mesmo que trabalhe
em casa. Lembre-se: todos precisamos de trabalhar; mas não precisamos de
nos tornar workaholics. As técnicas aqui propostas não devem ser encaradas
como formas de ganhar tempo para aumentar as suas responsabilidades
(aceitando novos projetos, por exemplo). Não se pretende que trabalhe
mais... mas sim que trabalhe de forma mais inteligente e produtiva de forma
que lhe sobre tempo para dedicar a outras atividades e pessoas importantes
para o seu bem-estar.

NUM PISCAR DE OLHOS…


• Para ser produtivo é preciso trabalhar de forma eficaz e eficiente, ou seja, realizar as
tarefas corretas e da forma mais acertada.
• Ao melhorar a sua eficácia e eficiência no trabalho, aumentará a qualidade e quantidade
do mesmo, além de reduzir os seus níveis de stresse.
• Organizar o fluxo de trabalho, melhorar o seu espaço, evitar as interrupções, tirar par-
tido das tecnologias e gerir bem as reuniões são alguns dos passos para aumentar a sua
produtividade. É também importante manter uma boa relação com os colegas e aprender
a lidar com a sua chefia.
• Pensar “fora da caixa” fomenta a criatividade e permite obter resultados brilhantes.

136
Capítulo 8

A gestão do tempo
e a família
A Tempo para tudo

Estudos recentes revelam que quase quatro em cada dez pessoas consideram
que o horário de trabalho não se adapta aos compromissos familiares, pessoais
ou sociais. São sobretudo as famílias com crianças menores de 15 anos quem
tem mais dificuldade em adequar os horários de trabalho aos compromissos
de natureza familiar, pessoal e social. E são exatamente os adultos entre
os 25 e os 44 anos (etapa do curso de vida em que os constrangimentos de
natureza familiar tendem a colocar-se com particular relevância) os que mais
dificuldade revelam ter para tirar uma ou duas horas durante o horário de
trabalho para tratar de assuntos pessoais ou familiares.

É evidente que a maioria das pessoas gostaria de passar mais tempo em


ambiente familiar. E, a este nível, as técnicas de gestão do tempo não se
destinam apenas a permitir-lhes passar mais horas em casa, mas também a
melhorar a qualidade do tempo passado em família. Refletir sobre a forma
como gere esta parte do dia contribuirá para aumentar a qualidade dos
tempos livres.

Com o desenvolvimento das novas tecnologias, entram novos dados na equa-


ção: segundo números da Marktest, o tempo dedicado às redes sociais pelas
famílias portuguesas era, já em 2016, em média, de cerca de 81 minutos por
dia, sendo que os jovens entre os 15 e os 24 anos chegavam a gastar mais de
duas horas a utilizar estas plataformas. A atualização do estudo com dados
recolhidos em 2018 revelava outra evolução: aceder às redes sociais não era
um ato isolado; 60% dos utilizadores faziam-no enquanto viam televisão.

Significa isto que será necessário “desligar-se” do mundo exterior para


ganhar tempo? Talvez não seja realista pensá-lo desta maneira. Neste capí-
tulo dedicamo-nos, sim, a sugerir pequenas alterações que acreditamos que
podem potenciar a maneira como gere o tempo com a família.

O horário familiar
A história que apresentamos na página seguinte mostra como, em algumas
circunstâncias, é possível uma pessoa libertar-se do rebuliço da vida e aumen-
tar a quantidade e a qualidade do tempo passado com a família. Mas implica
esforço. No seu caso, talvez não seja necessário uma mudança tão radical
como a de Sara. Mas haverá, com certeza, coisas que pode experimentar.
Uma das medidas mais simples passa por fazer um horário familiar.

138
A A gestão do tempo e a família

SARA
Sara tinha uma vida centrada na sua carreira profissional. Era mãe solteira e geria uma
empresa. Casou-se e, um ano depois, geria a empresa juntamente com o marido. Ao
fim de sete anos, Sara e o marido tinham de cuidar de seis crianças, contando com os
anteriores filhos dele.
“Apercebi-me do quanto perdia das vidas dos meus filhos por causa do trabalho e tomei a
decisão de deixar de trabalhar e voltar para casa”, diz. “Para poder fazê-lo, tive de contratar
alguém que preenchesse o meu lugar e, por isso, abdiquei de 80% dos meus rendimentos.”
“Sabia que as coisas em casa tinham de mudar, mas não sabia bem como. Vivemos
numa casa com cerca de 300 metros quadrados, com um pequeno terreno. Estava deter-
minada a manter estas condições”, lembra. “Comecei por andar literalmente de divisão
em divisão, à procura de uma forma de gerir melhor a casa. Decidi que podia fazê-lo
de uma forma diferente, para que a minha família não sofresse devido à diminuição do
ordenado. Só precisávamos de mudar o modo como fazíamos as coisas.” A Sara come-
çou pela cozinha e repensou tudo, desde a culinária à limpeza. “Reduzimos a conta da
mercearia em dois terços. Aprendi a cultivar legumes, a fazer conservas com a comida,
a usar as sobras”, diz. “Nada é desperdiçado, nem sequer o lixo orgânico, que é em
grande parte aproveitado como adubo para o jardim.” Começou também a comprar
quase todas as roupas em segunda mão e a passá-las de irmão para irmão. Olhando de
uma forma crítica, “aprendeu a esperar pelas coisas”.
A Sara conseguiu transmitir esta nova forma de vida à sua família. “O meu marido e
os rapazes mais velhos estavam dispostos a mudar, porque a minha presença em casa
fazia uma diferença muito grande”, diz. “Os meus filhos preferiam ter-me aqui do que
beneficiar de um rendimento mais elevado.”
“Esta mudança não foi fácil”, admite. “Mas, na vida, com dedicação e consistência, tudo
pode ser alcançado.” Por exemplo, foi-lhe difícil deixar de ser “o patrão e alguém muito ocu-
pado e sempre em conversas adultas", para passar a estar em casa, sem se "sentir ‘impor-
tante’ e perder todo o contacto com os adultos“. Era uma mudança de estilo de vida que eu
queria fazer, mas que era difícil”, reconhece. “Porém, agora sinto que não há dinheiro no
mundo que me faça voltar ao meu emprego. Sei que fiz o melhor para a minha vida.”
Esta mudança radical na vida da Sara trouxe-lhe mais felicidade. “Antigamente, achava
que era feliz, mas não me sentia realizada. Agora, já não vivo para trabalhar”, afirma.
“Quando o telemóvel toca porque há uma emergência na escola, o meu primeiro pensa-
mento não é ‘Ups... hoje tenho uma reunião, deixa-me ver quem é que pode tratar disto
por mim.’ As minhas prioridades limitam-se ao meu bem-estar e ao da minha família.”

Atualmente, muitas crianças participam em numerosas atividades extracur-


riculares, levando a que os pais tenham de ajustar os seus compromissos
aos deles. Convém anotar estas atividades à vista de todos. Isto ajudará toda
a família a saber quem faz o quê e a ver quando e se há sobreposição dos
diversos compromissos. Além disso, analisando o horário, poderá descobrir

139
A Tempo para tudo

que, afinal, podem passar mais tempo juntos. Pare um pouco, faça a análise
e pergunte a si próprio e aos seus filhos se querem realmente fazer todas as
atividades extracurriculares em que estão envolvidos.

Lembra-se da ideia do custo de oportunidade (veja a página 19)? Se quer


passar mais tempo com a família, o custo de oportunidade pode ser eliminar
alguma das atividades extracurriculares. Equacionar as coisas desta forma,
em conjunto com os seus filhos, levará a que compreendam desde cedo o
custo de oportunidade relacionado com o tempo, ensinando-os a geri-lo
melhor à medida que crescem. Aproveite para repensar também as suas
próprias atividades de tempos livres.

Por outras palavras, tem de planear o tempo passado com a família da


mesma forma que planeia o tempo no trabalho. Isto não significa necessa-
riamente comprometer a espontaneidade! Pode, claro, reservar um período
de “descontração familiar” e decidir no último minuto o que vão fazer.

Anotar o tempo passado com a família é uma forma excelente de avaliar se a


sua vida está de acordo com os seus valores e filosofia pessoais. Experimente
registar durante uma ou duas semanas as atividades realizadas em família,
avaliando o grau de satisfação e de utilidade das mesmas numa escala de
1 a 3 (em que 1 é nada; 2 é pouco e 3 é muito). Convidar todos os elementos
da família a fazer esta avaliação poderá inclusive ser divertido. Levará even-
tualmente à conclusão de que uma determinada atividade pode ser útil e
não particularmente satisfatória ou o contrário. O objetivo deste exercício
é eliminar as atividades que não são satisfatórias nem úteis.

Criar rituais
Ao passar mais tempo com a família, poderá recuperar alguns rituais que
o ritmo acelerado de vida possa ter eliminado. Mesmo as festas religiosas,
como o Natal e a Páscoa (tradicionalmente dedicadas à família), perderam
algo devido ao frenesim típico destas datas. Todos os anos, inúmeras pessoas
queixam-se do consumismo exagerado associado ao Natal, mas quantas
fazem alguma coisa para contrariar isso?

Até os rituais do dia-a-dia, como jantar em família, jogar, brincar, ler, tocar
música, visitar amigos ou familiares, parecem estar a desaparecer. Estes

140
A A gestão do tempo e a família

rituais permitem-nos estreitar laços e abrandar o ritmo de um mundo


frenético que nos consome. Registe quanto tempo dedica diariamente à
refeição em família e avalie se esse tempo vos permite uma convivência
satisfatória. Caso contrário, planeie novos hábitos de convívio segundo a
vontade de todos.

E porque não tentar recuperar alguns dos rituais das épocas festivas e tentar
apreciá-los de forma menos apressada? Não tem de ser algo complicado
ou dispendioso. Apenas terá de pensar em formas de tornar mais espe-
ciais estas datas, o que pode significar apenas passar mais tempo com os
seus familiares mais próximos. Por exemplo, pode organizar uma noite de
jogos. Há quanto tempo não desafia alguém para uma tarde com um jogo
de tabuleiro, perguntas de cultura geral, cartas ou uma partida de xadrez?

E se, em vez de comprar as decorações de Natal, as fizer em família? Pode,


por exemplo, aproveitar um passeio para recolher pinhas e decorá-las em
casa. Sobretudo as crianças irão certamente adorar, e todos ganharão uma
peça decorativa original. Na Páscoa, também pode organizar uma caça aos
ovos. Uma vez mais, seja criativo e envolva a família nestes rituais. Pode
também recuperar uma tradição familiar que possa ser transmitida à pró-
xima geração e às seguintes. Pense se havia alguma coisa que os seus pais
ou avós fizessem de que gostasse especialmente e que seja possível fazer
agora com os seus filhos ou familiares.

A nível conjugal, é importante também criar rituais. Por exemplo, pode


definir um dia da semana para fazer um programa a dois e decidir que a
proposta para essa saída será organizada, à vez, de forma alternada, por
cada um dos membros do casal. Considere também a hipótese de ter um
passatempo que possam partilhar, como, por exemplo, aprender a dançar
ou, até, melhorar as competências na cozinha.

As expectativas dos seus filhos


Muitas vezes, as expectativas dos filhos causam nos pais uma grande pressão
difícil de gerir. Alguns pais podem sentir-se culpados se não conseguirem
satisfazer todos os desejos das crianças ou comprar tudo o que eles pedem.
Uma forma de gerir esta culpabilidade é pensar que muitas destas necessida-
des e expectativas estão condicionadas pela publicidade que alicia as crianças

141
A Tempo para tudo

e os próprios pais para coisas de que não precisam ou das quais não tiram
qualquer benefício real ou duradouro.

Não é fácil ultrapassar esta tendência consumista. Pode tentar simplesmente


explicar aos seus filhos porque é que o dinheiro não chega para tudo. Experi-
mente usar a ideia do custo de oportunidade descrita no capítulo 1. Normal-
mente, mesmo as crianças relativamente jovens conseguem compreender que
comprar um brinquedo ou um equipamento eletrónico caro ou fazer mais uma
atividade extraescolar pode implicar abdicar de outra coisa de que gostem.

Pode também tentar reduzir o número de horas que passam em frente ao


televisor ou agarrados ao telemóvel. Encoraje a família a manter a atividade
física, organizando passeios ou incentivando a prática desportiva individual
ou em grupo.

E lembre-se: não há nada de errado em querer comprar brinquedos ou jogos


para as crianças. No entanto, os melhores presentes não vêm em caixas ou
sacos de compras. Se puder, dê-lhes o melhor: a sua companhia.

Acabar com o supérfluo


As coisas supérfluas dificultam a vida e são uma perda de tempo. Contudo,
muitas pessoas vivem rodeadas de objetos de que, muitas vezes, já não gostam
ou que já não têm utilidade. Responda às seguintes questões e avalie se tem
dificuldades em dispensar coisas acessórias:
—— guarda revistas antigas e papéis que nunca voltou a consultar?
—— armazena com frequência a publicidade que lhe põem no correio?
—— a sua garagem parece um ferro-velho?
—— guarda o vestuário que deixa de servir aos seus filhos?
—— tem um guarda-fatos cheio de roupas que já não usa há vários anos?
—— desconfia que os seus armários da cozinha tenham comida fora de prazo?
—— possui vários pequenos eletrodomésticos que nunca usa?
—— os seus armários e gavetas têm coisas e produtos que não usa há mais de
um ano?
—— tem uma gaveta (que destina à "tralha") cheia de chaves velhas, ímanes,
cupões, menus de comida para fora e objetos de metal ou plástico de aspeto
estranho que parecem ter aparecido não se sabe bem de onde?

142
A A gestão do tempo e a família

Se respondeu afirmativamente à maioria destas questões, tem provavelmente


uma tendência para acumular objetos de que não necessita. Livrar-se deles pode
ser uma tarefa difícil; por isso, comece por tentar fazer uma arrumação geral.
Talvez até consiga poupar algum dinheiro. Quantas vezes já comprou algo
que veio a descobrir ter na despensa ou na garagem? As coisas supérfluas
acrescentam realmente muito pouco à sua vida e ofuscam as que são real-
mente importantes, além de que cuidar delas consome tempo. Há 200 anos,
Thoreau referiu: “Tinha três pedras calcárias em cima da secretária, mas
fiquei horrorizado ao perceber que tinha de lhes limpar o pó todos os dias...
e atirei-as pela janela, repugnado.”

AS CRIANÇAS E O CONSUMO
Eis algumas estratégias que pode tentar pôr em prática para melhor gerir as expectativas
dos seus filhos face ao consumo.
• Encoraje-os a fazer os seus próprios cartões e presentes de aniversário para oferecer no
Dia da Mãe, no Dia do Pai, na Páscoa, no Natal, etc. Terão mais significado para quem os
recebe e ajudarão as crianças a compreender que não é preciso gastar dinheiro para fazer
as pessoas felizes. Será também uma boa forma de promover a criatividade.
• Evite fazer promessas que não possa cumprir. É demasiado fácil dizer “sim” quando os
seus filhos lhe pedem para comprar um brinquedo ou um equipamento novo. É claro que
pode fazer-lhes uma surpresa de vez em quando (e, se conseguir reduzir a despesa das
pequenas coisas que lhe pedem regularmente, até pode ser um presente especial).
• Estabeleça limites financeiros para os seus filhos. Encoraje-os a poupar parte das suas
mesadas. Assim, compreenderão que não podem ter tudo o que querem, quando querem.
Isto também poderá ensiná-los a dar valor à poupança e à necessidade de, por vezes, ter
de se esperar para conseguir o que se quer. Inicialmente, pode ter de suportar alguns
amuos, sobretudo se os seus filhos estão habituados a que ceda facilmente aos seus capri-
chos, mas rapidamente verá mudanças.
• Deixe que sejam os seus filhos a comprar (com a sua própria semanada ou mesada) aquela
última novidade que tanto querem. Isso levará a que compreendam a ideia do custo de opor-
tunidade, uma vez que perderão a hipótese de gastar o dinheiro noutra coisa qualquer.
• Ajude-os a compreender a diferença entre o que se quer, o que se necessita e o que é
um luxo.
•Compense-os monetariamente quando fizerem algumas tarefas extras. Por um lado,
conseguirá mais algum tempo para si, por outro, isso irá permitir-lhes ganhar um pouco
mais de dinheiro para alguma coisa que queiram comprar. Também é uma forma de lhes
ensinar a ideia do custo de oportunidade que referimos atrás.
•Se tiver de organizar uma festa, experimente fazer regressar alguns jogos tradicionais.
Passar algum tempo com os seus filhos a planear e a preparar uma festa é tão ou mais
importante do que a comemoração em si. De facto, algumas festas parecem ter como único
objetivo impressionar os outros pais, em vez de proporcionarem um divertimento às crianças.

143
A Tempo para tudo

Ao livrar-se do que é supérfluo, conseguirá encontrar mais depressa as coisas


de que necessita. Além disso, a casa irá parecer maior. Escolha o destino a
dar a esses objetos: lixo, reciclagem, doação, venda. Se tem dúvidas quanto a
desfazer-se de alguma coisa, guarde-a numa caixa. Se após um ano não sentiu
necessidade de usar qualquer objeto que tenha guardado aí, deite fora a caixa.

Progresso ou retrocesso?
Muitos estudos mostram que passamos tanto tempo a executar as tarefas
domésticas como os nossos antepassados. A razão é simples. Por exemplo,
antigamente, as pessoas tinham menos roupa, e as nossas avós e mães reser-
vavam apenas um dia por semana para tratar dela. Agora, embora a máquina
permita lavar a roupa mais depressa, também há mais roupa para lavar.
Consequentemente, usamos mais energia (além de mais água e mais deter-
gente), o que, além de nos consumir mais tempo, prejudica mais o ambiente.

Cada vez mais mulheres trabalham fora de casa. Contudo, ainda são elas que
fazem a maior parte do trabalho doméstico. Dados recentes do Instituto Nacio-
nal de Estatística revelam que, em média, as mulheres ainda investem quase o
dobro do tempo dos homens nos afazeres da casa. Dividir as responsabilidades
de forma equitativa entre o casal, atribuir aos filhos determinadas obrigações
ou investir nos serviços de uma empresa de limpezas são algumas hipóteses
de diminuir uma eventual assimetria na realização das tarefas domésticas.
Experimente elaborar uma lista com tudo o que é preciso fazer com recor-
rência (por exemplo, diária ou semanalmente) e faça por responsabilizar
cada elemento da família pela sua fatia do bolo. Este pode inclusive ser um
exercício divertido com os mais novos, que terão bem definidas as respon-
sabilidades em casa.

Analise a lista com um olhar crítico e seja perspicaz. Confecionar uma porção
mais generosa de uma refeição que possa ser mantida no frigorífico permite-
-lhe poupar o tempo que gastaria a cozinhar no dia seguinte. Também pode
guardar no congelador sacos com legumes já lavados e cortados que servirão
para, com rapidez, preparar um estufado ou uma sopa.

Além disso, considerando a decoração da casa, tente optar por uma que não
exija muitos cuidados. Demasiados tapetes, almofadas, bibelôs ou outros
elementos decorativos que acumulem sujidade e pó não poderão ser evitados?

144
A A gestão do tempo e a família

As novas dependências
Graças à tecnologia moderna, a forma como trabalhamos, como passamos os
tempos livres e como nos relacionamos parece estar a alterar-se. Relativamente
à internet, são cada vez mais as pessoas que navegam pela autoestrada da
informação, mas muitas não conseguem encontrar o caminho de saída ou
forma de parar. Para muitos, a dependência é tal que os utilizadores podem
experimentar sintomas de privação, caso se vejam subitamente privados do
acesso a redes sociais e afastados dos seus hábitos de navegação na internet.

Além de fazer perder muito tempo, a dependência da internet pode levar a


conflitos conjugais, insucesso escolar ou profissional, dívidas e/ou isolamento
social. Se acha que pode haver um problema de dependência da internet por
parte de algum elemento da família, pode promover uma pequena reunião
familiar, por exemplo, e sugerir períodos em que o uso do smartphone é
mais ou menos “interdito” (uma opção é propor que, à chegada a casa,
todos os elementos da família coloquem os seus telemóveis num determi-
nado local, de onde os equipamentos só devem ser retirados por motivos
de força maior). Isto permitirá que, pelo menos em teoria, diminuam as
hipóteses de uma conversa em família ser interrompida por notificações
para chats ou de algum elemento ser tentado a consultar um post recente
durante as refeições. Claro que isto não funcionará em todas as casas e,
se considerar que pode estar perante um problema grave, pondere procurar
ajuda psicológica (veja a página 92) ou fale com o seu médico assistente.

Para perceber melhor como utiliza as tecnologias em geral e o telemóvel


em particular, pode, por exemplo, registar o tempo que passa online. Há
já aplicações que permitem fazê-lo de forma automática. Mais uma vez,
recorde-se do conceito de "custo de oportunidade". Enquanto "escolhe" usar
a internet, não estará a perder a hipótese de fazer outra coisa?

Você é um bom modelo?


Os seus pais ou educadores foram (e são) modelos para si, para o bem e para
o mal. Do mesmo modo, você é um modelo para as crianças que tem a seu
cuidado.

145
A Tempo para tudo

Se quer ser um bom modelo no que se refere à gestão do tempo, talvez queira
pensar, questionar e rever aspetos que passam de pais para filhos. Também
aqui educamos pelo exemplo. Alguns destes aspetos são:
—— a divisão das tarefas domésticas entre homens e mulheres;
—— a tendência para adiar as tarefas que não se gosta de realizar;
—— a tendência para chegar atrasado aos compromissos;
—— a tendência para ser excessivamente perfeccionista na concretização de
tarefas;
—— a dificuldade em planear e organizar as tarefas e compromissos.

NUM PISCAR DE OLHOS…


• Eliminar as atividades que não são satisfatórias nem úteis é uma forma de aumentar o
tempo para a família.
• Recuperar rituais de convivência e diversão em família, bem como promover saídas a
dois, permite enfrentar as exigências familiares com novo fôlego.
• Combater a tendência consumista e acabar com o supérfluo permite poupar tempo e
dinheiro.
• Para haver equilíbrio na gestão familiar é essencial repartir tarefas e controlar as novas
dependências, nomeadamente a do acesso à internet.
• A maneira como agimos influencia a educação que damos. Também na gestão do
tempo educamos pelo exemplo.

146
Capítulo 9

50 ideias para
simplificar a vida
A Tempo para tudo

Como mostrámos nos vários capítulos que constituem este guia prático,
o objetivo da gestão eficaz e eficiente do tempo é tornar a vida mais simples,
evitando que se desperdicem escusadamente recursos (sejam eles temporais,
financeiros ou espirituais) em coisas com pouca ou nenhuma importância.
Rematamos este livro com 50 sugestões práticas que o podem ajudar a sim-
plificar a sua vida. Provavelmente algumas delas não farão sentido para a sua
realidade ou não poderão ser implementadas neste momento. Mas poderá,
certamente, aproveitar algumas ideias e, quem sabe, adaptá-las, para gerir de
forma mais equilibrada os seus recursos, abrindo caminho à concretização
dos seus objetivos.

Gestão financeira
Uma das pedras de toque da gestão do tempo consiste em cuidar da nossa vida
financeira. Trabalhamos, pelo menos em parte, para satisfazer os primeiros
degraus da pirâmide das necessidades de Maslow (veja a página 57). Acontece,
porém, que, por vezes, acabamos por tentar acompanhar o nível de vida dos
que nos rodeiam ou adquirir alguns dos bens materiais que associamos ao
ser bem-sucedido e influente como forma a satisfazer algumas necessidades
dos degraus mais avançados. Na maioria dos casos, isso obriga-nos a traba-
lhar mais tempo para ganhar mais dinheiro. Consequentemente, temos de
diminuir o tempo que temos disponível para estar em casa, com a família e
com os amigos, e, consequentemente, o stresse aumenta.

Um dos "dez mandamentos" para a sobrevivência e sucesso num mundo em


mudança é reduzir a dependência em relação às organizações — o que pode
significar viver de acordo com as suas possibilidades. Seguir este princípio
permite lidar melhor com imprevistos que possam ameaçar a sua situação
financeira. E, se estiver financeiramente menos dependente da sua empresa,
terá mais opções, caso decida mudar de vida profissional.

Um exercício útil para perceber como gere as suas finanças é imaginar o que
aconteceria se amanhã ficasse sem trabalho. Conseguiria manter o nível de
vida atual? Por quanto tempo conseguiria continuar a pagar as prestações da
casa, do carro e do cartão de crédito?

De seguida, apresentamos uma lista de sugestões para uma gestão mais eficaz
e eficiente dos rendimentos.

148
A 50 Ideias para simplificar a vida

1. Modere o uso dos cartões de crédito


É difícil "sobreviver" sem recorrer ao cartão de crédito, sobretudo para quem
viaja com frequência. Porém, se não tiver um cartão de crédito, sentir-se-á menos
tentado a comprar por impulso sem considerar o saldo bancário disponível.

Se considera importante ter cartão de crédito (por ser uma forma de paga-
mento segura e que facilita o comércio eletrónico, por exemplo) então adote
medidas de uso responsável.

Se está preocupado com a forma como utiliza os cartões de crédito, tente


não os utilizar durante umas semanas, assim como evite utilizar outro tipo
de meios de pagamento para realizar compras na internet, por exemplo.
Se costuma liquidar a dívida em prestações e paga juros por isso, estude a
possibilidade de pagar mensalmente o extrato na totalidade ou deixar de
utilizar o cartão. Se tem vários cartões de crédito, comece por — definitiva
ou temporariamente — cancelar os mais caros (ou tente renegociar a taxa de
juro dos mesmos), por exemplo, até ficar apenas com um (de preferência
o que tiver as taxas de juro mais baixas). A acumulação de muitas pequenas
dívidas de vários cartões diferentes poderá originar dívidas astronómicas,
quase sem se aperceber disso. Sai mais barato juntar tudo num só cartão
com juros mais baixos. Se não consegue controlar o impulso em o utilizar,
pondere optar por outros meios de pagamento que não envolvam crédito.

2. Pague em dinheiro
De certa forma, o recurso ao crédito é demasiado fácil. Portanto, nas despesas
do dia-a-dia, sempre que possível, pague com dinheiro. Isto pode ajudá-lo a
perceber quanto é que gasta. O objetivo é fazê-lo refletir sobre os seus hábitos
de consumo e alterar os que lhe pareçam desnecessários e supérfluos. Tente
limitar-se a uma soma fixa para cada semana — fazer um orçamento pode
ajudá-lo a pensar duas vezes antes de gastar.

3. Saiba quanto gasta


É incrível como poucas pessoas sabem para onde vai o dinheiro que tanto custa
a ganhar. Muitas não sabem qual o valor atual da prestação do empréstimo
da casa; quanto gastam no gás, na luz, na água... Para recuperar o controlo
sobre a sua situação financeira, faça um registo diário de quanto gasta e
em quê. Deve incluir tudo, do jornal ao café, da manicure aos artigos mais
dispendiosos. Analise também os pagamentos por transferência bancária
ou débito direto. Fazer um registo do que se gasta pode ser esclarecedor e
é uma forma bastante eficaz de acompanhar as suas finanças, sobretudo a
curto prazo, quando muda os seus hábitos de consumo. Mas, obviamente,
exige uma disciplina considerável. O nosso Caderno Proteste Dinheiro pode
ajudar a não perder o rasto ao dinheiro.

149
A Tempo para tudo

Em alternativa, pode começar por analisar os gastos — do último mês, por


exemplo — que aparecem no extrato da conta (acessível através do home
banking). Se perceber que os seus gastos desconhecidos são sobretudo em
dinheiro, evite andar com notas e moedas no bolso e mude para um método
de pagamento que permita um registo.

Seja qual for a abordagem escolhida, a ideia não é ficar desencorajado em


relação às conclusões a que chegar. Encare isso de forma positiva. Saber para
onde vai o dinheiro permitir-lhe-á controlar melhor os gastos.

4. Faça um orçamento
Depois de fazer um registo diário dos seus gastos e de analisar as suas despesas
diárias, semanais e mensais, avalie se está satisfeito com o destino que tem
dado ao seu dinheiro. Avalie os pagamentos por transferência bancária e veja
se consegue reduzi-los (veja a sugestão número 7). Divida o seu orçamento
em gastos essenciais (coisas em que tem mesmo de gastar dinheiro) e compras
desejáveis, que não precisa de fazer obrigatoriamente. Considere a hipótese
de reduzir o valor das despesas essenciais, mudando o empréstimo da casa
para outro banco, alterando a sua seguradora ou o fornecedor de gás, etc.
Faça uma análise periódica das ofertas existentes no mercado.

Após analisar as despesas, desenvolva um orçamento para cada área que


lhe permita viver melhor (dentro das suas possibilidades) enquanto poupa
para o futuro. No orçamento para a alimentação, por exemplo, descobrirá
que consegue reduzir as despesas de supermercado sem grande dificuldade
optando por marcas brancas, cozinhando em quantidades superiores (e con-
gelando pequenas porções), levando o almoço para o trabalho e passando
a fazer em casa os jantares com amigos, etc. Outro exemplo, noutra área:
pode mudar de fornecedor de telecomunicações e internet para ter condi-
ções mais vantajosas.

5. Saiba quanto tem na sua conta


Em complemento, mantenha a sua conta bancária debaixo de olho. Vale
a pena verificar o seu saldo com regularidade, sobretudo se está a alterar
a forma como gasta. Felizmente, esta tarefa está hoje facilitada graças ao
homebanking, às aplicações para os telemóveis e aos extratos que pode obter
nas máquinas multibanco.

Ao proceder a esta consulta com regularidade, conseguirá evitar mais facil-


mente que a conta fique a descoberto (ou, pelo menos, limitar o tamanho da
dívida). Mas não se esqueça de que o saldo contabilístico pode não ser igual
à quantia disponível para gastar (no caso de ter feito uma compra a crédito,
por exemplo).

150
A 50 Ideias para simplificar a vida

6. Invista
Vale a pena acompanhar a evolução de ações, fundos de investimento,
obrigações, planos de poupança reforma (PPR) e outros tipos de investi-
mento. Mantenha-se sempre atento, compare a evolução do rendimento e
mude de produto, se for vantajoso. O caso dos PPR é um bom exemplo, já que
as pessoas subscrevem um produto muitas vezes desajustado do seu perfil de
risco, com comissões elevadas, desconhecem o rendimento e nem sabem que
podem transferir. Quem opta pelos simples depósitos a prazo, deve sempre
procurar as melhores taxas de juro, escolhendo os bancos com melhores pro-
postas e menores custos de manutenção. Em muitos produtos, como ações,
fundos de investimento, obrigações e até PPR (especialmente sob a forma
de fundo), é necessário ter uma perspetiva a longo prazo e não se preocupar
demasiado com as variações de curto prazo. Em www.deco.proteste.pt/investe,
pode obter a informação de que precisa e recomendações sobre produtos
financeiros.

7. Reveja os débitos diretos


Pagar as despesas mensais por débito direto poupa tempo e, nalguns casos,
dinheiro (algumas empresas fazem um desconto a quem utiliza este método de
pagamento). Mais: evita que se esqueça de fazer um pagamento, com eventuais
contratempos que daí possam advir. Mas não há só vantagens. O problema é
que o débito direto não lhe permite ter uma perceção tão apurada das reais
despesas que está a ter, pois o pagamento é feito e muitas vezes nem se aper-
cebe de quanto é que realmente pagou. Por isso, deve rever frequentemente
os seus débitos diretos, para ter a certeza de que não está a pagar prestações
(por exemplo, de seguro) demasiado elevadas ou até por serviços que não
utiliza. Veja abaixo alguns exemplos de situações que poderá avaliar:
—— não estará a pagar demasiado pelo empréstimo da casa ou pelo seguro
multirriscos-habitação?
—— pode reduzir a sua despesa com a operadora de telecomunicações e internet?
—— precisa mesmo de todas as apólices de seguro que contratou, ou haverá
sobreposição de coberturas que pode evitar?
—— vê mesmo todos os canais de televisão que paga mensalmente?

A ideia é questionar-se sobre todos os itens que paga por débito direto e pes-
quisar o mercado para encontrar o melhor preço. Vale a pena reservar algum
tempo para tal. No nosso site (em www.deco.proteste.pt), disponibilizamos
regularmente comparadores que permitem simular se está a fazer boas opções.

8. Agregue as suas dívidas


Se não consegue liquidar as dívidas dentro de um prazo razoável, considere
a hipótese de as fundir num único empréstimo com uma taxa de juro relati-
vamente baixa, fazendo a chamada “consolidação de créditos”. Pesquise no

151
A Tempo para tudo

mercado por ofertas deste género e opte pela que apresentar a taxa efetiva
mais baixa. Esta estratégia de gestão financeira só funciona se saldar todas
as outras dívidas (caso contrário, pode correr o risco de o novo empréstimo
se transformar em apenas mais uma dívida...). Deixar a conta a descoberto,
quando previamente aprovado pelo banco, pode sair mais barato do que
recorrer aos cartões de crédito e a outros empréstimos, pois as taxas de juro
tendem a ser mais baixas. Por outro lado, fazê-lo sem o acordo da entidade
bancária pode sair mais caro, devido às taxas cobradas mensalmente. Por
isso, pode não ser a solução mais adequada se precisar de algum tempo para
saldar as dívidas. O segredo está em fazer uma pesquisa para descobrir qual
a melhor solução para o seu caso.

9. Gira as despesas… e as dívidas


Se estiver com muitas despesas, deve pagá-las por ordem de importância.
Para a maioria das pessoas, as mais importantes são a renda ou as presta-
ções do empréstimo da casa; seguem-se as contas do gás, da eletricidade e
os impostos; depois, os empréstimos pessoais, cartões de crédito e contas a
descoberto. Se sentir que está a começar a afundar-se em dívidas, é essencial
contactar os seus credores o mais depressa possível no sentido de tentar
renegociar as dívidas e evitar que o processo acumule juros e penalizações.
Isso irá provavelmente poupar-lhe algum tempo, e pode ser que consiga
estabelecer novos prazos de pagamento. Recorrer ao Gabinete de Apoio ao
Sobre-Endividado da DECO pode ser muito útil, até mesmo para o contacto
com os credores.

10. Reduza os pequenos gastos


Este conselho, apesar de muito simples, é uma forma importante de o ajudar
a controlar os gastos gerais. Deve certificar-se primeiro de que tem resolvidos
os assuntos mais importantes que afetam a sua vida financeira atual (e futura).
Por exemplo, uma sandes no supermercado, um almoço no bar ou mesmo
um café a caminho do trabalho podem não parecer grande coisa, mas
as pequenas despesas depressa se acumulam, perfazendo somas elevadas.
Experimente ver quanto poupa ao fim do mês, se levar o almoço de casa,
em vez de ir almoçar todos os dias ao snack-bar da zona. Uma refeição pode
custar cinco a dez vezes mais no restaurante do que em casa.

Também pode reduzir os gastos noutras áreas menores — e o dinheiro irá


acumular-se depressa. Por exemplo:
—— se tiver um sistema de aquecimento em casa, baixe o termóstato um grau
centígrado e habitue-se a andar mais agasalhado em casa. Provavelmente, nem
dará pela diferença, mas poderá reduzir bastante a conta do aquecimento;
—— experimente combinar de forma diferente as roupas que tem, em vez de
comprar roupa nova;

152
A 50 Ideias para simplificar a vida

—— se é fumador, registe quanto gasta em tabaco por ano. E pondere deixar


de fumar (poupará na carteira e na saúde!);
—— se bebe álcool com regularidade quando sai à noite, registe quanto gasta
em cada saída e faça a soma ao final do ano.

Lembre-se de que, apesar de o controlo das pequenas despesas poder ajudá-


-lo a poupar uns euros e a controlar os seus gastos, deve sempre manter-se
atento ao quadro geral. O controlo das pequenas despesas apenas acrescenta
detalhes ao quadro geral. Não basta por si só.

11. Questione as suas necessidades


Durante os anos 50 do século passado, o economista John Galbraith defendia
que o sistema económico ocidental é alimentado pela criação da necessidade
artificial de produtos supérfluos, através da publicidade e de outras técnicas
de venda. Galbraith sublinhava que estes “desejos criados” geram dívidas.

Cada vez nos sentimos menos preocupados por contrair dívidas para pagar
bens materiais. Hoje, vemos o consumo como algo que traz “felicidade” por
si só, e comprar bens e serviços de consumo acabou por se tornar um fim
em si mesmo.

É preciso questionar tudo, desde as alegações da publicidade às normas sociais.


Se ainda achar que a compra de determinado produto ou serviço vai ao encon-
tro das suas necessidades, ótimo. A maioria das pessoas quer usar roupas que
estejam na moda, por exemplo. Mas é mesmo preciso mudar o guarda-roupa,
todas as estações, sobretudo se para tal precisa de recorrer ao cartão de
crédito ou utilizar dinheiro destinado a outras despesas essenciais? Também
pode ser útil obter avaliações independentes a bens e serviços de consumo de
organizações como a nossa (veja no nosso site — www.deco.proteste.pt — os
resultados dos testes, que atualizamos com regularidade). Não acredite de
forma cega na publicidade. Se, após uma análise crítica, decidir comprar os
bens, avance: é uma decisão consciente e deliberada. Caso contrário, terá
poupado dinheiro e tempo.

12. Informe-se sobre os impostos


Reveja as suas obrigações e benefícios fiscais de modo a pagar os impostos
devidos. Por exemplo, a atualização do valor patrimonial do seu imóvel
poderá eventualmente reduzir o valor de IMI a pagar, o que lhe permitirá
poupar dinheiro.

Para mais informações sobre fiscalidade, pode consultar o Guia Fiscal


(que publicamos anualmente) e também contactar os nossos serviços
(através do 218 418 743).

153
A Tempo para tudo

13. Reflita sobre a sua motivação para as compras


Como vimos no capítulo 2 (veja a página 33), as pessoas que estão numa
situação próxima da adição ao consumo gastam, muitas vezes, para aliviar a
ansiedade. Se analisar não só as somas despendidas, mas também o que sente
quando gasta, conseguirá perceber se tem este tipo de padrão comportamental.
Estará, então, em melhor posição para resolver o problema, eventualmente
procurando ajuda especializada. Também pode ser útil experimentar algumas
técnicas de relaxamento e meditação de forma a gerir melhor a sua ansiedade
sem ter necessidade de ir fazer compras com este propósito (veja também
as sugestões 39 e 40).

14. Reveja o seu serviço de telecomunicações e internet


Se fez as contas aos seus gastos mensais, tal como propusemos no terceiro
conselho que demos, concordará que, muitas vezes, o pagamento dos servi-
ços de telecomunicações e internet representa uma grande despesa. Assim,
é boa ideia debater com os restantes elementos da família uma forma de
adequar os serviços contratados às efetivas necessidades de cada um. Poderá
também, eventualmente, reduzir a sua fatura cancelando alguns serviços. Além
disso, deve manter os planos de preços atualizados e considere a hipótese de
mudar de empresa prestadora dos serviços.

15. Organize a papelada
Com as facilidades introduzidas pelo e-fatura, não precisamos de guardar tantos
papéis como antigamente, mas o certo é que temos, ainda assim, obrigação de,
por razões fiscais, manter alguns documentos (inclusive algumas faturas), por
vezes durante anos. Sabe onde para a sua papelada? E, por exemplo, se neces-
sitar da garantia do seu frigorífico ou da sua máquina de lavar loiça, tem ideia
onde deve procurá-la? E as faturas mais recentes de água/luz/gás, os contratos
com a sua operadora de telecomunicações ou fornecimento de internet? Se a
resposta é “não”, então pode estar na hora de (re)organizar os seus papéis.
Algumas pessoas caem no extremo oposto, guardando todos os recibos do
cartão de crédito dos últimos 15 anos e até cartões de lojas que já nem exis-
tem. Se isto lhe soa familiar, pergunte-se se não está na hora de fazer uma
“limpeza à casa”.

16. Modernize-se
Se está habituado a usar a internet, tire partido dos serviços de home banking.
Seja através do computador, seja de aplicações no smartphone, estes serviços
permitem consultas eletrónicas ao saldo, aos movimentos das contas bancá-
rias e às transações automáticas, que podem ser bastante úteis e ajudá-lo a
poupar tempo. Também pode utilizar ordens de transferência automáticas
para ir pondo de parte algum dinheiro para a sua poupança. Mas, sobre isto,
veja os próximos conselhos.

154
A 50 Ideias para simplificar a vida

17. Faça um pé-de-meia…
Poupar para algo em especial, a curto e a médio prazo, pode impor alguma
disciplina sobre os seus gastos, mas vale a pena. Uma forma de juntar dinheiro
é transferir para outra conta (por exemplo, uma conta especificamente para
acumular poupança) 5% ou 10% do seu salário, nos dias de pagamento.
Outra abordagem possível é esperar até ser promovido e depois pôr de parte
pelo menos metade do aumento. De facto, optar por manter o seu estilo de
vida (ao invés de o melhorar) apesar de ter sido promovido ou de ter mudado
para um emprego mais bem pago pode ajudá-lo a controlar os gastos e até a
colocar algum dinheiro de parte. Mas lembre-se sempre de pagar as dívidas
primeiro.

18. …ou crie um fundo de emergência


Esta sugestão não estará certamente ao alcance de todos. Passa por constituir
aquilo que é chamado de “fundo de emergência”. Caso tenha essa disponibili-
dade, pode aplicar cerca de seis salários em produtos financeiros sem risco e
com elevada liquidez (depósitos a prazo ou certificados de aforro). Assim, no
caso de surgir um imprevisto, facilmente acede à sua poupança de reserva,
sem afetar outras poupanças de mais longo prazo.

Outra alternativa é optar pelos investimentos mais de longo prazo e com algum
risco. Desde que não esteja com dificuldades em pagar o empréstimo da casa
e não tenha credores à porta, provavelmente irá descobrir que ainda sobra o
suficiente para pagar as contas. É claro que terá de fazer algumas escolhas —
o custo de oportunidade é, mais uma vez, uma questão importante.

19. Faça um orçamento para o Natal e para as férias


O ideal será, ao longo do ano, poupar dinheiro para os aniversários, Natal e
férias. Mas faça um orçamento específico para estes fins e mantenha-se fiel
ao mesmo. Desta forma, limitará os pagamentos com cartão de crédito ou
os saldos negativos.

20. Espere antes de comprar alguma coisa


Um dos segredos do sucesso financeiro é perguntar a si próprio até que ponto
precisa, ou quer, alguma coisa, antes de a comprar. Se possível, não compre
o artigo imediatamente. Espere uns dias e veja se ainda acha que é suficien-
temente útil ou belo para valer as horas que passou a trabalhar para o pagar.

21. Faça listas de “necessidades”, “coisas que quer” e “luxos”


Precisa realmente de um telemóvel novo ou daquela mala de marca? Aquele
computador portátil topo de gama é um luxo ou trata-se de algo que vai
melhorar a sua produtividade nos negócios e poupar-lhe tempo? Há uma
alternativa mais barata para algum dos itens da sua lista de “luxos”? Também

155
A Tempo para tudo

vale a pena pensar nas questões éticas, ambientais e sociais que estão por
detrás de muitos produtos e serviços.

22. Gira o seu dinheiro


Como provavelmente já terá reparado, hoje há mais oportunidades para fazer
dinheiro do que nunca. Estas vão desde o mercado de ações aos negócios a
partir de casa. Pode ser uma boa ideia passar algum tempo por dia (digamos,
meia hora) investigando estratégias e oportunidades de negócio que possam
trazer-lhe maior independência financeira.

Embora muitas pessoas não queiram envolver-se a este ponto, vale bem a
pena dedicar algum tempo a gerir o dinheiro de forma eficaz. Dependendo
da complexidade — ou estado de confusão — das suas finanças, pode ser útil
reservar mais ou menos uma hora por semana para analisar as suas despesas e
receitas. Pode aproveitar para verificar os extratos (os bancos também erram),
acompanhar os investimentos, assegurar-se de que está a cumprir o seu orça-
mento, analisar os débitos diretos, etc. Talvez não precise de uma hora, mas,
se reservar algum tempo, vai ver que a rotina o ajuda a restabelecer o controlo
sobre as suas finanças.

23. Tire partido dos seus hobbies


Uma forma de aumentar os seus recursos financeiros é tirar partido dos seus
hobbies (fotografia, escrita, pintura, jardinagem, bricolagem, etc.) Nos dias
de hoje, com a criação de um blogue ou uma página nas redes sociais, por
exemplo, facilmente cria um negócio com as suas obras e os seus trabalhos.
Este é um modo de esticar o orçamento familiar.

Vida familiar
Uma das principais razões que nos levam a querer melhorar a forma como
gerimos a nossa vida é o desejo de passar mais tempo com a família. É claro
que muitas pessoas estão de tal forma pressionadas pelos prazos e pela falta
de tempo que nem conseguem lidar com as tarefas diárias — muito menos
passar mais tempo com os filhos. Contudo, é possível adotar várias medidas
no sentido de simplificar a vida em casa.

156
A 50 Ideias para simplificar a vida

24. Prepare-se de véspera
Sempre que possível, organize, na véspera, a manhã de toda a família (a ida
para a escola, para o trabalho, etc.). Certifique-se de que todos preparam
antecipadamente a roupa para vestir. Coloque os casacos, as pastas e os
sacos à porta e certifique-se de que todos têm o que precisam. Também deve
determinar um local certo para guardar os objetos pessoais de uso diário,
como telemóvel, chaves do carro (e da casa), carteira, etc.

25. Partilhe os contactos importantes


Além de os ter no seu telemóvel, escreva os números de telefone que usa
mais (por exemplo, serviços de entrega de comida do domicílio, do médico,
de um amigo mais próximo) num quadro ou numa agenda que esteja
num local acessível a todos os elementos da família e certifique-se de que
todos sabem para onde ligar, em caso de necessidade.

26. Planeie a duração das viagens


Para compensar ou anular atrasos de última hora antes de sair de casa, pro-
blemas na estrada, etc., acrescente, dependendo da distância, 5 a 30 minutos
à duração normal de todas as viagens. Mesmo tendo em conta as estimativas
dadas pelas aplicações que permitem gestão de tráfego, é melhor jogar pelo
seguro, pois estas não são infalíveis, e os imprevistos acontecem. Desta forma,
conseguirá chegar à maioria dos encontros a horas, sem confusões e sem
multas por excesso de velocidade.

27. Agrupe tarefas
Há alguma viagem que possa fazer com outras pessoas da família ou do tra-
balho? Tire partido da nova “moda” do carsharing e verá que pode, inclusive,
poupar algum dinheiro, por exemplo, partilhando o custo de portagens ou
combustível. Pode ir ao banco na mesma altura em que vai ao supermercado?
Poupará duas viagens se fizer tudo numa só. Pode ir buscar a roupa à lavan-
daria quando for levar o seu filho à escola? Aproveite o embalo. Analise o seu
registo de tempo para ver quais as tarefas que pode agrupar.

28. Partilhe as tarefas
Partilhe as tarefas de fim de semana — trabalho doméstico, bricolagem, etc.
Para repartir os afazeres de forma justa, o ideal é fazer um registo do tempo
gasto atualmente por cada elemento da família em compromissos domés-
ticos bem como das tarefas que é necessário passar a desempenhar. E não
se esqueça dos filhos: eles também podem dar uma ajuda (mesmo que isso
signifique "incentivá-los" com um aumento na mesada).

157
A Tempo para tudo

29. Organize os tempos livres familiares


Se quisessem experimentar uma nova atividade em família, de que é que
teriam de abdicar? Provavelmente não teriam tempo para fazer tudo. Volte-
mos à ideia do custo de oportunidade — enveredar por um novo passatempo
pode implicar passar menos tempo no sofá. Se querem começar a praticar um
desporto ou aprender coisas novas, certifique-se de que têm disponibilidade
para o fazer de forma adequada. No que diz respeito às atividades extracur-
riculares, acrescentar uma pode implicar que suspendam outra. Pedir-lhes
para escolherem também o ajuda a determinar se é só “fogo de vista” ou se
é alguma coisa que querem mesmo fazer.

30. Arrume em conjunto
Quando os seus filhos comprarem um brinquedo ou um jogo novo, encoraje-
-os a abdicarem de outro brinquedo ou jogo que não utilizem ou que já não
seja para a idade deles que até poderão oferecer a uma instituição ou a outra
criança que lhe possa dar uso. Também pode ajudá-los a passar revista aos
quartos, deitando fora os brinquedos mais velhos, estragados e os puzzles
sem as peças todas. Assim, será mais fácil manter os quartos arrumados e
encontrar espaço para os novos passatempos.

Da mesma forma, mesmo que imprimamos cada vez menos fotos, a verdade
é que a maioria das pessoas ainda tem algumas guardadas em caixas ou enve-
lopes. Selecione-as com a família. Deite fora as desfocadas ou que o fazem
“torcer o nariz”. Fique com aquelas de que gosta e coloque-as em álbuns.
Deixe os miúdos usarem as restantes em trabalhos manuais.

31. Reserve tempo para si


Por mais atolado que esteja em compromissos, tem de conseguir reservar
algum tempo para si no fim de cada dia, nem que seja só meia hora. Leia
um livro, ouça música, tome um banho — algo que o faça relaxar. Reservar
tempo para si permite-lhe também refletir sobre o dia que passou ou mesmo
escrever um diário (veja o ponto 47). Ambas as atividades podem ajudá-lo a
acompanhar a sua progressão quanto aos seus objetivos de vida.

32. Dedique-se à jardinagem ou aos trabalhos manuais com a família


A jardinagem e os trabalhos manuais ou a bricolagem são formas eficazes de
combater o stresse: podem ajudá-lo a atingir a quota desejável de exercício
físico diário e geralmente dão satisfação pelos resultados obtidos. Não tem
jardim? Planeie uma ida a um parque florestal: dedique-se, com a família,
a limpar de troncos e folhas a área que reservarão, por exemplo, para um
piquenique e faça um passeio para reunir material para um herbário. Além
disso, muitas crianças costumam gostar de trabalhos manuais e de bricolagem.

158
A 50 Ideias para simplificar a vida

Estas atividades podem ser uma verdadeira experiência de intensificação


dos laços familiares.

33.Conviva mais vezes em casa


Jantar fora pode sair caro — e arranjar quem fique com as crianças muitas
vezes é um pesadelo logístico. Fazer convívios em casa pode ser uma alter-
nativa muito menos dispendiosa. Isto não significa organizar festas formais;
simplesmente peça a cada amigo que contribua para que se faça uma espécie
de buffet, por exemplo.

34. Pense na forma como compra


Os supermercados e hipermercados existem, supostamente, para nossa con-
veniência. Contudo, acabamos por passar mais tempo do que seria desejável
nestas grandes superfícies. Pode valer a pena apontar na sua agenda as suas
visitas semanais ao súper ou hipermercado e ver se consegue juntá-las numa
só. Faça regularmente uma lista do que tem de comprar: à mão, no compu-
tador, no telemóvel… Há aplicações para telemóvel que permitem partilhar
listas de compras entre os utilizadores, o que pode levar a que, por exemplo,
os responsáveis pelas compras lá de casa possam ir acrescentando ou remo-
vendo itens à lista à medida que se nota a sua falta ou que são adquiridos. A
poupança, sobretudo de tempo, pode ser considerável.

Outra forma de poupar tempo e dinheiro é fazer compras através da internet


(alguns hipermercados oferecem esta possibilidade, sendo a entrega gratuita
em algumas circunstâncias). Se concentrar as compras do mês numa única
visita virtual ao hipermercado, pode poupar tempo, energia e, por vezes,
até dinheiro.

35. Cozinhe em quantidades maiores


À medida que o tempo começa a escassear, a nossa alimentação tende a
perder qualidade sobretudo devido à falta de tempo para cozinhar de forma
saudável. E, consequentemente, a saúde ressente-se: por exemplo, os alimen-
tos pré-confecionados têm, normalmente, quantidades elevadas de gorduras
saturadas e sal, cujo consumo deve ser limitado. Contudo, preparar uma
refeição após um dia de trabalho pode parecer uma tarefa pesada. A solução
pode ser utilizar o congelador e cozinhar para mais do que uma refeição.
Cozinhe o dobro das quantidades que faz normalmente e congele o que não
come na primeira refeição. Pode descongelar e aquecer a porção congelada
quando estiver com pouco tempo.

Cozinhar em quantidades maiores ajuda a reduzir o recurso à fast-food durante


a semana e permite poupar dinheiro.

159
A Tempo para tudo

36. Aceite o facto de não ser perfeito


Muitas pessoas querem ter as suas casas perfeitamente limpas, arrumadas
e organizadas e, ao mesmo tempo, ter uma carreira profissional e uma vida
pessoal bem-sucedidas. É claro que isto é difícil, se não mesmo impossível. O
dia simplesmente não tem horas que cheguem para fazer tudo na perfeição.
Terá de decidir o que é mais importante para si. É mais importante ver a sua
casa imaculada e não ter vida além disso ou uma que está arrumada e limpa
a maior parte das vezes? Aceite uns brinquedos espalhados ou uma cama por
fazer. A desarrumação depende realmente da forma como se olha para ela.
Brinquedos espalhados pela sala são um sinal de que os seus filhos desem-
penham um papel central na sua vida.

37. E que tal uma ajuda doméstica?


Contratar alguém para o ajudar nas tarefas domésticas pode ser uma maneira
eficaz de ganhar algum tempo valioso. Algumas pessoas não conseguiriam ter
tempo para si se não recorressem a esta opção. Sobretudo para quem tenha
de responder a numerosas solicitações, a ajuda doméstica é, seguramente,
uma forma de ganhar tempo. Contudo, não se esqueça: contratar alguém para
este trabalho pode sair caro. Por isso, é necessário pôr na balança, de um
lado, os custos financeiros e, do outro, os benefícios que esta opção implica.

38. Organize as suas coisas


Guarde os sapatos num só sítio e os utensílios de cozinha todos juntos. Estes
são apenas dois exemplos. No que diz respeito aos objetos menos utilizados,
recorra, por exemplo, a caixas com etiquetas. Quando quiser mudar a deco-
ração, planeie os espaços de arrumação de modo que as coisas do mesmo
tipo fiquem todas guardadas no mesmo sítio.

Espiritualidade
Desenvolver o seu lado espiritual ajudá-lo-á certamente a manter o equilíbrio
que a gestão do tempo ajuda a alcançar. A meditação, por exemplo, seja ela
transcendental ou tradicional, evita que a nossa verdadeira natureza per-
maneça escondida pelas exigências que pendem sobre nós, sejam elas de
natureza profissional, familiar ou social. Como escreveu Thoreau: “A maioria
dos homens [...] está tão ocupada com cuidados artificiais e trabalhos supér-
fluos que não consegue colher os melhores frutos da vida.” Se desenvolver

160
A 50 Ideias para simplificar a vida

o seu lado interior, conseguirá reduzir estes “cuidados artificiais e trabalhos


supérfluos” ao mínimo indispensável.

39. Pratique tai chi chuan...


O tai chi chuan tem por objetivo promover o equilíbrio entre a mente e o corpo.
Embora possa parecer simples, é exigente do ponto de vista mental, físico
e espiritual. Sabia que o tai chi chuan implica a execução de cem posições
diferentes?

Há várias escolas de tai chi chuan, que diferem na abordagem a esta prá-
tica, sendo que, dentro de cada escola, cada professor pode interpretar esta
prática de forma pessoal. Por exemplo, alguns professores podem enfatizar
o lado marcial, enquanto outros podem dar mais ênfase à espiritualidade.
Não obstante, todas as escolas integram a meditação, a autodefesa e a terapia.

40. ... ou ioga
Milhões de pessoas em todo o mundo encontram no ioga uma sensação de
paz interior, de bem-estar geral e alívio do stresse, bem como melhorias em
termos da sua saúde física. O ioga ajuda a manter a mente e o corpo flexíveis,
relaxados, fortes e em equilíbrio e união. De facto, a palavra em sânscrito que
deu origem a “ioga” significa união.

As posições de ioga (asanas) implicam controlo mental, respiração correta e


o uso do corpo de uma forma eficiente e eficaz. Como as asanas alongam e
contraem suavemente os músculos e as articulações, ensinam a movermo-nos
de forma mais livre e melhoram a resistência, a flexibilidade e a força. Exigem
também uma concentração considerável e um treino da mente, elevando a
consciência. Além disso, como a respiração correta é essencial, o praticante
sente-se com mais energia. De facto, como acontece com a maioria das formas
de meditação, o ioga ajuda a controlar os processos mentais e físicos. Muitas
pessoas que sofrem de asma e depressão ligeira ou moderada encontram
alívio dos sintomas na prática de ioga (embora não dispense outras terapias,
nomeadamente a toma dos medicamentos receitados pelo médico).

Pode ter uma ideia do que é o ioga através de uma grande variedade de livros e
vídeos, mas é necessário participar em aulas e praticar durante 20-30 minutos
por dia para tirar algum benefício.

41. Leia algo inspirador todos os dias


Pode ser um livro de poesia, religioso ou filosófico ou uma antologia de cita-
ções. Sublinhe as passagens mais importantes para si e recorde a leitura ao
longo do dia. Use os conteúdos para lidar com os seus problemas práticos
a partir de uma perspetiva diferente.

161
A Tempo para tudo

42. Leia biografias
Ler acerca da vida de outras pessoas (inclusivamente que viveram noutras
épocas) ajuda-nos a relativizar a importância que atribuímos aos nossos
problemas e até a normalizá-los porque constatamos que outros já passaram
por situações semelhantes e conseguiram ultrapassar os obstáculos. Ao ler
histórias semelhantes à sua, estará também a aprender estratégias concretas
para conseguir lidar com a sua própria história. As biografias também podem
ser inspiradoras e ajudá-lo a motivar-se para percorrer o caminho em direção
ao seu desenvolvimento e realização pessoal.

43. Reveja os seus “favoritos”


Muitas pessoas leem o mesmo jornal durante anos, consultam sempre os
mesmos sites, veem os mesmos programas e as mesmas séries, ouvem a
mesma música, visitam os mesmos lugares, compram livros sobre os mesmos
assuntos. Contudo, explorar temas, atividades e locais diferentes do habitual
estimula-nos e enriquece o nosso repertório de experiências, contribuindo
para nos manter mentalmente alerta e ativos. Pode apresentar-se-lhe um
mundo completamente novo, capaz até de despertar a sua criatividade,
tão importante para fazer face aos desafios diários.

44. Faça uma pausa


Quando o stresse aperta, é por vezes necessário fazer uma pausa e, então,
afastarmo-nos por alguns dias da nossa rotina e dos locais que frequentamos.
Este afastamento permitir-nos-á reduzir a intensidade dos sintomas de stresse,
uma vez que deixamos de estar tão próximos daquilo que nos deixa stressados,
apreensivos, pressionados. E esta redução do stresse é muitas vezes tudo o
que precisamos para conseguir pensar em soluções e estratégias alternativas
para resolver (ou pelo menos minimizar) os nossos problemas.

Passar algum tempo junto da natureza pode ser uma boa estratégia. Aprecie
o momento: veja o pôr do Sol ou admire a flora e a fauna. É uma excelente
forma de recarregar as baterias físicas e mentais.

45. Não idealize as férias


Muitos anúncios e programas de televisão, bem como artigos de revistas e
jornais sobre estilos de vida e viagens, parecem sugerir que as férias são o
antídoto para o stresse. Não parta do princípio de que as suas férias terão esse
efeito. De facto, até podem ser um acontecimento gerador de stresse, uma vez
que implicam que saia da sua zona habitual de conforto, altere algumas das
suas rotinas e assuma responsabilidades adicionais (como cozinhar todas as
refeições, estar a tomar conta das crianças todos os dias durante todo o dia,
etc.). Pode, inclusive, ser um dos períodos mais cansativos do ano.

162
A 50 Ideias para simplificar a vida

Em vez de marcar as férias para um intervalo mais longo, talvez seja melhor
descobrir os prazeres simples da vida durante pequenas pausas regulares ao
longo do ano, em casa ou noutro local. Essas pausas podem constituir uma
valiosa estratégia para prevenir o stresse ou para ajudar a geri-lo caso ele já
tenha começado a instalar-se. Estas pequenas pausas serão certamente uma
oportunidade para estreitar os laços familiares e usufruir do tempo que con-
seguir ganhar ao usar as técnicas apresentadas neste livro.

46. Alimente a criatividade
Como referimos, a criatividade é um dos segredos do sucesso no trabalho e
na vida em geral. Contudo, ser criativo também pode ajudá-lo a manter-se
em contacto com o seu lado interior, além de ser uma forma excelente de
descomprimir. Onde exercita a sua criatividade não é o mais importante:
pode ser criativo a cozinhar e a cuidar da casa ou a escrever poesia e a pintar.
Frequentar um curso sobre um tema apelativo pode ajudá-lo a explorar o seu
potencial. Além disso, se alimentar a sua criatividade numa área, ela pode
estender-se a outras dimensões da vida. Assim, se desenvolver um passatempo
criativo, pode conseguir tornar-se também mais criativo no trabalho e em casa.

47. Escreva um diário
Os historiadores estariam perdidos sem os registos e os diários escritos pelos
nossos antepassados. Falando de forma mais prosaica, escrever um diário
pode ajudá-lo a delinear os seus objetivos e motivações. Funciona ainda como
um registo das dificuldades enfrentadas e como uma descrição do caminho
percorrido. Finalmente, escrever também pode ter uma função terapêutica.
Exprima os seus pensamentos e sonhos mais íntimos e tente manter-se em
contacto com o seu lado criativo e emotivo.

48. Abrande
Vivemos tempos em que a pressa nos domina: corremos para o trabalho, almo-
çamos num instante, respondemos aos e-mails o mais rapidamente possível,
saímos à pressa para ir buscar os miúdos, cozinhamos qualquer coisa para o
jantar, despachamo-nos para ir dormir. Estamos sempre em "correria", e isso
muitas vezes impede-nos de apreciar as subtilezas da vida e desfrutar dos
bons momentos. É preciso abrandar. Viver e sentir mais e não deixar a vida
passar-nos ao lado para manter o contacto com os nossos valores e princípios.

Pode experimentar alterar alguns dos seus hábitos: escolha um dia por semana
para andar mais a pé e aprecie o que está à sua volta; coma mais devagar
e saboreie os alimentos; marque um café com os amigos durante o fim de
semana para saber das novidades; sente-se no chão do quarto dos seus filhos
a brincar com eles depois do jantar.

163
A Tempo para tudo

49. Aprenda a relativizar
Todos nós já nos sentimos zangados, irritados, aborrecidos por situações
que, se pensarmos nem, não têm assim tanta importância. Na realidade, as
situações em si mesmas não têm significado; somos nós que lhes atribuímos
significado com base na nossa experiência prévia, nas nossas dificuldades,
no que fomos aprendendo e vendo ao longo da vida.

Por isso, também poderemos aprender a relativizar a importância que damos a


determinadas situações, questionando-nos a nós próprios sobre a importância
que uma determinada situação realmente merece da nossa parte. É impor-
tante não nos deixarmos levar por insignificâncias, e impedir que estas se
sobreponham ao que é realmente importante. Dessa forma, conseguiremos
manter o foco nos nossos planos principais, ficar menos tensos e aproveitar
melhor o tempo. Até porque as preocupações desnecessárias, de facto, nos
levam a perder tempo.

50. Use a imaginação
As ideias apresentadas neste capítulo são apenas sugestões. Como especialista
na sua própria vida, será certamente capaz de encontrar outras estratégias e
atividades que lhe permitam simplificar o dia-a-dia e, assim, poupar tempo e
recursos para as coisas que realmente importam. Identifique os seus valores
e princípios, descubra o que quer para si e para os que o rodeiam e, a partir
daí, defina onde quer passar a investir o tempo que estará a poupar ao sim-
plificar a sua vida.

164
Anexo

Fontes
consultadas
A Tempo para tudo

Este livro teve como base o guia prático Which? Way to Manage your Time —
and your Life, de Mark Greener. Muito mudou na nossa sociedade e na nossa
vida desde que esta obra foi editada em Londres pela primeira vez. Nesta
segunda edição preparada para os consumidores portugueses, seguimos
o modelo original incluindo, sempre que possível, informações e estudos
recentes referentes à realidade no nosso país. Abaixo encontra a lista de
entidades e fontes externas à nossa organização consultadas para que atua-
lização fosse possível. O acesso online foi feito em outubro de 2018. As fontes
que não estão precedidas de QR code foram consultadas em papel.

Agência Europeia para a Segurança e Saúde no Trabalho (EU-OSHA)


osha.europa.eu

Inquérito de opinião pan-europeu sobre segurança e saúde ocupacional,


EU-OSHA (2013).

Cálculo do custo do stresse e dos riscos psicossociais relacionados com o


trabalho, Observatório Europeu dos Riscos (2014).

Guia eletrónico sobre a gestão do stresse e dos riscos psicossociais no local de


trabalho.

Como enfrentar os riscos psicossociais e reduzir o stresse no trabalho — síntese


de um relatório da agência (2002).

Anacom
www.anacom.pt

Serviços móveis 2017,


Anacom (2018).

166
A Anexo

Comissão para a Igualdade no Trabalho e no Emprego (CITE)


cite.gov.pt

Os usos do tempo de homens e de mulheres em Portugal, Centro de Estudos


para a Intervenção Social e CITE (2016).

Direção-Geral da Saúde (DGS)


www.dgs.pt

Cessação tabágica na gravidez: guia para profissionais de saúde, DGS (2015).

Relatório do Programa nacional para prevenção e controlo do tabagismo 2017,


DGS (2017).

Eurodata TV Worldwide
www.mediametrie.com

One Television Year in the World


(2018).

Infarmed
www.infarmed.pt

Psicofármacos: evolução do consumo em Portugal Continental (2000-2012),


Infarmed (2013).

Informa D&B
www.informadb.pt

Presença feminina nas empresas em Portugal,


Estudo Informa D&B (2014).

167
A Tempo para tudo

Instituto Nacional de Estatística (INE)


www.ine.pt

Inquérito à ocupação do tempo,


INE (2002).

Inquérito à utilização de tecnologias da informação e da comunicação nas


famílias, Sociedade da Informação e do Conhecimento (2017).

Inquérito nacional de saúde 2014,


INE (2016).

Internet World Stats


www.internetworldstats.com

Internet Users in the European Union — June 2017


(2018).

Marktest
www.marktest.com

Audimetria/MediaMonitor
2008.

Comportamento face às Telecoms,


Barómetro telecomunicações Marktest 2018.

Ministério da Saúde — Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo (ARS-LVT)


www.arslvt.min-saude.pt

Utilização de benzodiazepinas: um grave problema de saúde pública,


Boletim terapêutico n.º 1/2017, ARS-LVT (2017).

168
A Anexo

National Center for Complementary and Integrative Health (EUA)


nccih.nih.gov

Complementary, Alternative, or Integrative Health: What’s In a Name?,


US National Institutes of Health (2018).

Ordem dos Psicólogos Portugueses


www.ordemdospsicologos.pt

Intervenção em Riscos Psicossociais e Gestão do Stress em Contexto


Laboral e de Saúde — Contributo dos Psicólogos,
Ordem dos Psicólogos Portugueses, 2014.

Organização Mundial da Saúde (OMS)


www.who.int

WHO technical meeting on sleep and health,


OMS, Alemanha (2004).

Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico


www.oecd-ilibrary.org

Average annual hours actually worked,


OECD iLibrary (2018).

PORDATA
www.pordata.pt

Duração média semanal do trabalho efectivo dos trabalhadores por conta de


outrem: total e por sector de actividade económica (2018).

Serviço Nacional de Saúde/Serviço de Intervenção


nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências
www.sicad.pt

III Inquérito nacional ao consumo de substâncias psicoativas na população


geral — Portugal 2012, SICAD/Centro de Estudos de Sociologia da
Universidade Nova de Lisboa (2014).

169
A Tempo para tudo

Statista
www.statista.com

Average time spent watching television daily in European countries in 2016


and 2017 (in minutes) (2018).

The Journal of Korean Oriental Medicine


www.jkom.org

Review of the Prevalence of Chronic Fatigue Worldwide. Vol. 33. No. 2. 25-33.,
The Journal of Korean Oriental Medicine (2012).

Universidad de Murcia
www.um.es

Estudio europeo de adicción al consumo y el sobreendeudamiento, Instituto


Europeo Interregional de Consumo, C. López Soler, Universidad de Murcia,
Hospital Universitario V. de la Arrixaca.

170
Índice
remissivo
Tempo para tudo

A Crises���������������������������� (veja Conflitos e crises)


Adaptar Curriculum������������������������ (veja Competências)
a gestão do tempo����������������������������� 24-40 Custo de oportunidade�������� 18-19, 29, 34, 112,
o discurso�������������������������������������������� 88-89 140, 142-143, 145, 158
Adiar��������������������������������������������������� 67, 70-71
Agenda��������������������������������������������������� 79-80 D
Alimentação equilibrada����������������������������� 104 Decidir mudar�������������������������������������������70-71
Aprendizagem������������������������������������� 14, 16-18 Declaração de missão������������������������������60-61
Arrumar ����� 142-144 (veja também Organizar-se) Delegar����������������������������������� 88, 118-119, 129
Assertividade�������������������������������������� 17, 85-89 Dependências� (veja Problemas, Tecnologias e
Atenção��������������������������������������������������������� 37 também Trabalho e gestão de tempo)
Aumentar o tempo�������������������������������� 96-110 Desapego ���������������������������������������������142-144
Autonomia ��������������������������������������������� 20-22 Desejos ��������������������������(veja Lista de desejos)
Desenvolvimento pessoal
B e profissional����������������������������������� 14, 17-18
Bagagem emocional���������(veja Guião de vida) (veja também Competências)
Beber água�������������������������������������������100-101 Desporto��������������������������(veja Exercício físico)
Brainstorming�������������������������������� 45, 132-136 Dinâmica da mudança��������������������������� 42-53
Burnout���������������������������������������� 25, 27-29, 31 Dormir bem������������������������������������� 97, 101-104

C E
Cafeína ������������������������������������������������� 99-100 Empatia���������������������������������������������������������53
Calma ��������������������������� (veja Manter a calma) Empreender�������17 (veja também Criatividade)
Cansaço���������������������������������������� (veja Fadiga) Equilíbrio pessoal e profissional������ 7-8, 63-64
Carreira����� (veja Trabalho e gestão de tempo) Ergonomia���������������������������������������������120-122
Cartões de crédito�������������(veja Gerir finanças) Escutar�����������������������������������������������������������52
Centro de controlo���������������������������������� 20-22 Esgotamento������������������������������(veja Burnout)
Chefias��������������������������������������� 88-89, 129-131 Espiritualidade�������������� 160-164 (veja também
Competências������������������������������������������68-70 Meditação e relaxamento)
(veja também Aprendizagem) Esticar o tempo�������������������������������������� 96-110
Compras compulsivas������������ (veja Compulsão Estímulos do problema��������������������� 43, 45-47
para as compras) Evolução da gestão do tempo ���������������� 10-22
Compulsão para as compras������������������� 33-36 Exercício físico�������������������������������������� 105-106
Comunicação eficaz ������������������������������� 52-53 Exigências laborais����� (veja Trabalho e gestão
Conflitos e crises��������������������������52-53, 83-84 de tempo)
Consciencialização ���������������������������������� 21-22 Expectativas���������������� (veja Gerir expectativas)
Consumismo������������������������143 (veja também
Compulsão para as compras) F
Contactos de apoio ����������������� (veja Ter apoio Fadiga����������������������������������������������������96-104
profissional) Família������������������������������������138-146, 156-160
Coragem������������������������������������������������������� 67 Fases da mudança���������������������������������� 42-54
Crédito�������������������������������(veja Gerir finanças) Finanças ���������������������������������������������� 148-156
Criatividade���������������������������������14, 17, 131-136 (veja também Consumismo)

172
Índice remissivo

Flexibilidade mental�������������������������������������83 Lista de


(veja também Criatividade) desejos������������������������������������������������� 58-60
Fobia social��������������������������������������������� 90-92 tarefas������������������������������������������������� 80-83
Focar a atenção��������������������������������������������� 37
Formação ����������������������� (veja Aprendizagem) M
Manter a calma��������������������������������������� 83-84
G Medicamentos para dormir ��������������������97-98
Gastar demasiado������������������ (veja Compulsão Médicos�����������������(veja Ter apoio profissional)
para as compras e Gerir finanças) Meditação e relaxamento���������������������106-110
Gerir Modelos de referência�������������������������� 145-146
chefias������������������������������������� (veja Chefias) Momentos cruciais��������������������������������������� 51
equipas���������������������������������������������������� 40 Motivações ����������������������������������������������62-67
expectativas����������������������������������16, 141-142 Mudança����������������������������12-17, 42-54, 93-94
finanças�������������������������������������������� 148-156 Mulheres��������������� (veja Tempo das mulheres)
reuniões�������������������������������������������� 126-129
tempo em família��������������138-146, 156-160 N
Grupos de apoio������������������������������������������� 15 Negociação����������������������������������������17, 88-89
Guião de vida ������������������������������������������48-51 (veja também Assertividade)
Novas exigências ������������������������������������ 10-22
H (veja também Tecnologias)
Habilitações���������������������� (veja Competências)
Horários em família ����������������������������� 138-141 O
Objetivos���������������������������������������������16, 56-71
I Organizar-se ����������������������������������������� 113-120
Ideias para simplificar a vida��������������� 148-164
Idosos ��������������������������������������� (veja Reforma) P
Informação em excesso ������������������������������� 37 Pensamento crítico��������������������������������������� 74
Inovar ����������������������������������(veja Criatividade) Perfis profissionais����������������������������������� 64-67
Internet�������������������������������� (veja Tecnologias) Perspetivar o futuro��������������������������������������� 14
Interrupções �����������������������������������������123-124 (veja também Planeamento)
Pirâmide das necessidades��������������������������� 57
J Planeamento������������������������������79-83, 138-141
Jet lag ����������������������������������������������������������� 97 Poluição sonora ����������������������������������������� 122
Pontos fortes�������������������� (veja Competências)
L Poupar tempo������������������������������������������74-94
Lidar com Preço das escolhas ������������������������� (veja Custo
atualidade����������������������������������������13-17, 37 de oportunidade)
(veja também Ideias Prioridades ������������������������������������11, 16, 56-71
para simplificar a vida) Problemas
chefias������������������������������������� (veja Chefias) analisar����������������������������������������������� 44-45
interrupções��������������������������������������123-124 entender��������������������������������������������� 45-48
mudanças����������������������������(veja Mudança) mudar������������������������������������������������� 42-54
stresse��������������������������������������(veja Stresse) negar���������������������������������������������������������44

173
Tempo para tudo

Produtividade�������������������������������������������77-78 T
Profissionais de apoio��������������� (veja Ter apoio Tarefas������������������������������� (veja Planeamento)
profissional) Tecnologias�������������� 7, 18-19, 37, 56, 75, 77-78,
Psicólogos�������������(veja Ter apoio profissional) 102, 119-120, 125-126,
Psicoterapeutas�����(veja Ter apoio profissional) 138, 145, 156
Psiquiatras�������������(veja Ter apoio profissional) Telemóveis���������������������������� (veja Tecnologias)
Tempo das mulheres����� 37-38, 96-97, 144, 146
Q Ter apoio profissional ���������� 15, 35, 48, 61, 78,
Qualidade do ar ambiente�������(veja Síndroma 90, 92-94
do edifício doente) Terapeutas�������������(veja Ter apoio profissional)
Questionar o outro���������������������������������������53 Terceira idade ��������������������������� (veja Reforma)
Timidez ��������������������������������������������������� 90-92
R Trabalho
Reações desajustadas������������������������������50-51 compulsivo ����������������������������������������� 29-33
Realização�����������������������������(veja Prioridades) e gestão de tempo ����������10-22, 88, 112-136
Recaídas ������������������������������������������������� 53-54
Redes sociais������������ 7, 18-19, 37, 56, 75, 77-78, V
102, 138, 145, 156 Ventilação�����������������������������������������������������99
Reforço positivo���������������������������������������������78 Visualização��������������������������������������������������� 57
Reforma��������������������������������������������������� 38-39
Registo do tempo������������������������������������74-94 W
Relaxamento��� (veja Meditação e relaxamento) Workaholism����������(veja Trabalho compulsivo)
Reuniões���������������������������������������������� 126-129
Ritmo circadiano���������������������������76-78, 97-98
Rituais em família��������������������������������� 140-141
Ruído�����������������������������(veja Poluição sonora)

S
Satisfação����������������������������������������������� 56-58
Simplificar���������������������������������85-92, 148-164
Síndroma do edifício doente������������������� 98-99
Slogan����������������� (veja Declaração de missão)
Smartphone ������������������������ (veja Tecnologias)
Sono ����������������������������������� (veja Dormir bem)
Stresse������������� 10-13, 18, 20-21, 24-32, 112-113
Sucesso profissional ��������������������������������62-67
Sugestões para simplificar a vida�������� 148-164

174
Mude para melhor. Neste guia, damos uma nova
ideia para cada semana do ano.
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