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RESUMO
O artigo apresenta um panorama geral acerca da “Nova” Reforma do Ensino Médio, abordando os
aspectos estruturantes que qualificam tal mudança e que se refletem nas bases econômico
pedagógicas, didático-pedagógicas, psicopedagógicas e pedagógico-administrativas influenciadoras,
estruturadoras e dinamizadoras do sistema educacional brasileiro, no atual período geográfico – o
período técnico-científico-informacional. O objetivo foi investigar a natureza dessa reforma, refletindo
sobre suas principais características, o lugar da Geografia e as ideias pedagógicas que a constituem,
através de investigação bibliográfica e documental envolvendo como base teórica contribuições de
Milton Santos, Yves Lacoste e do educador Dermeval Saviani, dentre outros. Dentre os resultados,
procura despertar para uma visão radical, crítica e contextualizante acerca das mudanças educacionais
em voga com essa reforma, que, revestida de terminologias inovadoras (Base Nacional Comum
Curricular, Itinerários Formativos...), percebidas nos documentos oficiais e discursos ideológicos, na
realidade são antigas pretensões marcadas por descentramento e desconstrução de ideias
pedagógicas anteriores, decorrentes das atuais mudanças no mundo do trabalho, ameaçando o futuro
da disciplina e ciência Geografia e, portanto a cidadania.
Palavras-chave: Ensino de Geografia; Novo Ensino Médio; Neoprodutivismo
ABSTRACT
This article presents an overview about the "New" Reform of High School, approaching the structuring
aspects that qualify such changes and reflect on the economic-pedagogic, didactic-pedagogic,
psychopedagogic and pedagogic-administrative bases that influence, structure and stimulate the
Brazilian educational system in the current geographic period - the technic-scientific-informational
period. The objective was to investigate the nature of this reform, reflecting on its main characteristics,
the place of Geography and the pedagogical ideas that constitute it, through bibliographical and
documentary research involving has as theoretical base contributions from Milton Santos, Yves Lacoste
and the teacher Dermeval Saviani, among others. As a result, it was verified the necessity of awakening
to a radical, critical and contextualizing view concerning to the educational changes in vogue with that
reform. Besides, the official documents and ideological discourses of that reform was coated with
innovative terminologies (National Curricular Common Base, Formative Itinerary), but, in fact, they are
old pretensions marked by decentralization and deconstruction of previous pedagogical ideas, coming
from the current changes in the work market, threatening the future of geography as a science and a
subject and, therefore, the citizenship.
Keywords: Geography Teaching; New High School; Neoprodutivism
1.INTRODUÇÃO
que o pacote das “reformas” em curso realizadas por esse governo, dentre elas a
exemplo da Geografia.
formação limitada.
2008a, 2008b, 2009), David Harvey (2008, 2014), Dermeval Saviani (20 13) e Marise
implica o tê-lo como fato, fator e instância social (SANTOS, 2009, 2008b). O
Espaço como fato significa que ele é um atributo material da superfície terrestre,
sendo passível de ser medido, localizado, pois é uma realidade objetiva. Como
estimulador, ora como inibidor desses processos. Por fim, como uma instância
natureza da atual reforma do Ensino Médio à uma lógica mais completa da qual
ela faz parte. O segundo, Saviani (2013), tomando o lapso temporal (1991-2001)
nacional, das quais essa Reforma no Ensino Médio não deixa de ser uma
continuidade.
dinâmica vinculada à maneira como o Estado toma para si suas relações com o
que dá base legal para privatização do ensino público gerando, com isso, o
instituições escolares privadas, em que terá como foco formar para o ensino
cursos técnicos não são sinônimo de emprego após o seu término, sobretudo
saber nele agir, já que a ciência geográfica e o Ensino de Geografia dado através
geógrafo Milton Santos (2008a, p. 115-116), para quem: “Para ter eficácia, o
época em que vivemos. Isso significa saber o que o mundo é e como ele se define
caracterizada por uma situação em que “[...] a ciência e a tecnologia, junto com a
usos.
do Mercado, se faz com o uso das normas. Enquanto leis e/ou regras criadas pelo
que afirma que “é o uso do território, e não o território em si mesmo, que faz
dele objeto da análise social” (SANTOS, 1998a, p. 15). O uso do território pelo
governo, o qual está a Reforma do Ensino Médio, pois implica no uso político do
Mercado Econômico.
compreender a lógica do sistema de ações para à qual essa reforma foi pensada,
2017, através da publicação da Lei Nº. 13.415, no Diário Oficial da União, faz um
de mudanças que esse nível de ensino realmente precisa e que tão bem apontam
vários pesquisadores brasileiros que há anos estudam este nível de ensino e que
tão bem conhecem a classe trabalhadora a ele ligado. É autoritário porque não
grupo que a atual Reforma do Ensino Médio não levou em consideração, pois são
quarto que versa sobre o Ensino Superior, a Lei Nº. 13.415, de 16 de fevereiro de
que são relativos a essa reforma, a mesma foge na sua maior parte das diretrizes
forma, essa lei se constitui com muitas interrogações sobre o futuro do Plano
Nacional de Educação.
país e das condições de oferta educacional que o país tem e das condições
tais nuances, pois após ser sancionada foi aprovada com muita rapidez, como,
aliás, tem acontecido com o conjunto das demais reformas que o referido
queremos negar, com isso, a relação que o sentido da Educação tem com a
Sem o saber pensar o espaço geográfico e sem o saber nele agir, dada a
nova reforma, resta aos jovens tornarem-se cada vez mais incluídos-excluídos.
os filhos da classe trabalhadora, uma vez que a estes as condições impostas para
A volta do Ensino Técnico vem nessa direção. Esse ensino técnico não é
pensado e planejado para os filhos da classe abastarda, mas sim para os filhos da
cotidiana desse mundo moderno que levam, é o que lhes restará: fazer cursos
existentes, já que a entrada para o Ensino Superior passa a ser cada vez mais
que lhes são retirados e negados. Com essa reforma, a Educação ofertada à
A Educação dual reforçada com esta reforma é mais uma das “[...] facetas da
totalidade da qual faz parte o Brasil atual, ainda guardião de valores históricos da
Nacional por Amostra por Domicílios (PNAD) do IBGE, que afirma que “Apenas
metade dos jovens de 15 a 17 anos está cursando o ensino médio e mais do que
reformuladores e este próprio estudo do Seade (2013, p. 4), “[...] pela revisão do
discurso comparando o Ensino Médio do Brasil aos dos países mais avançados do
mundo.
técnica e profissional, fato que abre cada vez mais brecha para a privatização da
educação pública nacional. Além disso, impacta também a Consolidaçã o das Leis
Decreto-Lei Nº. 236, de 28 de fevereiro de 1967. Por fim, revoga a Lei Nº. 11.161,
econômica, social e cultural brasileira que essa reforma do Ensino Médio visa
efetivar.
percebe no inciso I, onde estipula que a carga horária mínima será de oitocentas
que a carga horária mínima anual deverá ser ampliada de maneira progressiva,
ofertar, dentro do prazo de cinco anos, pelo menos mil horas anuais de carga
considerações podem ser feitas, sendo uma, uma interrogação, e a outra uma
financeiros por vinte anos. Essa situação coloca em mais evidência a realidade da
escola pública no Brasil, no sentido de que terão que improvisar mais para
Educação Técnica e Profissional. Toda essa realidade implica, em cada vez mais,
início pela qual essa reforma foi pensada: colocar de um lado os filhos da classe
passando de 2.400 para 1.400 horas. Do ponto de vista operacional isso não se
ano do Ensino Fundamental. À esta lei ainda é acrescentado o Art. 35-A, que trata
“Nova” Reforma. Isso significa que, por meio da Base Nacional Comum Curricular,
como já é feito como o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM). Tais sistemas de
jovens, apesar de frisar essa norma que tal reforma considera “[...] a formação
seu projeto de vida” (BRASIL, 2017), no sentido de que resta apenas a acentuação
Curricular e por itinerários formativos, que deverão ser orga nizados por meio da
local e a possibilidade dos sistemas de ensino” (BRASIL, 2017). Tais arranjos são
sabemos, encontram-se cada vez mais defasados, dado o modo político como são
pelas escolas que ofertarão e definirão e não a partir dos interesses e aspirações
das escolas e dos estudantes, como o governo quer fazer crer. É a realidade de
descaso para com a Educação mais cruel que possa se mencionar. Isso
sistemas de ensino, que por sua vez estão condicionados à certas condições
estruturais etc., e, não os jovens que escolherão. Isso é absurdo. Desse modo, as
uma falácia e um engodo, típico de um Estado que visa, com esses sistemas de
desse ensino. Por fim, as escolas também poderão firmar convênios com
ensinar, uma vez que altera o Art. 61 da Lei nº. 9.394, de 20 de dezembro de
1996, deixando evidente que profissionais com notório saber poderão ministrar
aponta para mudanças nos currículos dos cursos de formação de docentes que
terão que ter por referência a Base Nacional Comum Curricular. Tal concepção é
(2006) em sua Didática Magna, obra datada do século XVII, onde descreve
métodos de trabalho que o professor deveria ter para ensinar. Não basta para
um professor apenas saber seu conteúdo. Isso é fundamental, mas não basta,
conforme também evidencia José Carlos Libâneo em sua Didática, ao falar das
docente não basta apenas instruir e, que, para ensinar é preciso desenvolver
ações, meios e condições para a realização da instrução, fato que parece não
norma altera o Art. 318 da CLT, aprovada pelo Decreto-Lei Nº. 5.425, de 1º de
de ensino por mais de um turno, o que faz com que, com essa “nova” normativa,
a educação passa a ser estruturada cada vez mais nos moldes empresariais.
transparecer nessa normativa do “novo” Ensino Médio, por dois motivos: 1) a lei
2017; grifos nossos). Esta última é a constatação mais evidente de que o Plano
Nacional e Estaduais de Educação ficam realmente sem sentido, uma vez que o
ato normativo revoga a Lei nº. 11.161, de 5 de agosto de 2005, que dispunha
Língua Inglesa, fato que nos faz inferir algumas notas: a) o ensino de Língua
cultura unipolar capitalista que tem o inglês como idioma oficial e o dólar como
moeda oficial. Essa premissa nos faz pensar na ordem geopolítica mundial em
que insere cada vez mais o Brasil nos moldes relacionais de subordinação do
Por fim, o que essa reforma torna, é cada vez mais consistente a
neoliberal. Nesse sentido, tornar os jovens com uma formação ética, estética e
assumir as posições curriculares que lhes são impostas. Esses processos são de
Isso implica, por um lado, uma análise de conjuntura política e econômica, e por
outro lado, uma inquirição acerca das ideias pedagógicas que formatam os
segundo essa mesma autora, busca atender pelo menos três propósitos, quais
sejam:
Essa situação não passou a fazer-se presente apenas nas empresas, mas
desenvolvimento (RAMOS, 2006; SAVIANI, 2013), pois estes espaços como são
espacial dos fenômenos que configuram cada sociedade” (BRASIL, 1998, p. 30;
grifos nossos). Minada por essa concepção, a Educação caracteriza -se por uma
série de dinâmicas que nos faz questionar a função social de tal proposta
pedagógica. E uma reflexão não muito esforçada basta para percebermos que é
Hoje, sob o pretexto de que é preciso formar os estudantes para obter um lugar
num mercado de trabalho afunilado, o saber prático tende a ocupar todo o espaço
da escola, enquanto o saber filosófico é considerado como residual ou mesmo
desnecessário, uma prática que, a médio prazo, ameaça a democracia, a
república, a cidadania e a individualidade. Corremos o risco de ver o ensino
reduzido a um simples processo de treinamento, a uma instrumentalização
das pessoas, a um aprendizado que se exaure precocemente ao sabor das
mudanças rápidas e brutais das formas técnicas e organizacionais do trabalho
exigidas por uma implacável competitividade. Daí, a difusão acelerada de
propostas que levam a uma profissionalização precoce, à fragmentação da
ilustram bem essa situação e nos chama a atenção para a importância da clarez a
participativa:
espaço geográfico para nele se saber agir (LACOSTE, 1988). O alemão Friederich
nem tampouco da concepção dos professores, das quais nos falava Lacoste
(1988). De acordo com esse autor, o saber pensar o espaço e o saber nele agir na
professores, essa premissa geográfica, na época, e ainda nos dias atuais, diz
dos alunos, que visa dar ao Estado sempre o maior controle daquilo que lhes é
para a formação de deficientes cívicos, pois “[...] a geografia não é uma ciência de
a ser ensinado passa a ser uma incógnita. De igual modo encontra -se, também, o
futuro dos profissionais docentes desse saber e conhecimento, já que não terá
Assim, aparecer como elemento transversal e/ou diluído nos demais eixos
estão fora de uso é de uma estupidez tão grande que chega até ser um ato
enquanto etapa final da educação básica. Aliás, desta última normativa este
princípio já foi retirado desde 2013, através da Lei Nº. 12.796, de 4 de abril de
educacional básica e universal para a grande maioria dos jovens do pais, além de
atrofiar e/ou reduzir o conhecimento que lhes são de direito construírem nessa
Uma quinta razão, que, aliás, já vem desde a Lei Nº. 9.394/1996, em seu Art.
35º, Inciso II, está no fato de que, enquanto etapa final da Educação Básica, o
Ensino Médio ter que fazer com que os jovens se adaptem com flexibilidade à
Isso não promove a cidadania, mas sim adestra-se para o Mercado Econômico e
Brasil, porque ainda é carente o saber pensar o espaço geográfico e o saber nele
inferior. Por isso, essa reforma “legaliza o apartheid social na educação no Brasil”
precisa, “[...] saber pensar o espaço para saber nele se organizar, para saber ali
lhes fazem ver uma Educação como fábula, no sentido de que lhes dizem que
agora podem fazer escolhas nos seus currículos e ter uma vida melhor,
destina aos filhos dos que comandam a sociedade e que são treinados a
função social que essa ciência e disciplina têm, e isso é inaceitável, já que é de
quer dizer que os outros profissionais da Educação não os sejam também, mas
profissional com notório saber v, sobretudo “[...] para o avanço social, para as
discussões sociais” (MORAES, 2002, p. 13), que tanto ainda faz falta na sociedade
Geografia tem sua parcela de contribuição na luta por essa empreitada, através
ele vive, tudo isso será profundamente permeado pelo conteúdo da Geografia
escolar” (MORAES, 2002, p. 13-14). Sem isso, tem-se “deficientes cívicos” (SANTOS,
2002).
visão fechada da realidade e nem tão pouco sectária, isto é, estreita, da vida
estimular a reflexão política do aluno, porém, sem engessar essa reflexão política
Geografia precisa ser revalorizado no rol das Ciências Humanas como um todo e
totalidade social, é um fato que hoje está evidente, mesmo quando lemos em
Caio Prado Júnior é um desses autores que afirmou a importância que tem
conhecimento geográfico:
Dessa forma, como destaca o historiador Caio Prado Jr., é preciso valorizar -
se mais o Ensino de Geografia no país e não o retirar e/ou o diluir nos demais
desigualdades.
Uma leitura consistente, completa do mundo não pode ser feita sem o
existência humana no mundo, a partir desse olhar próprio dela, que tem
Ensino da Geografia – passa a ser um direito negado com a Lei Nº. 13.415/2017.
humana. Essa lei não tem a intenção de formar um cidadão completo, já que ela
não se vincula à ideia de autonomia humana. Em primeiro lugar ela não faz parte
de uma solução para crise na Educação, pois não existe essa crise na Educação,
possibilitar aos jovens pensar em educação como formação, mas deformar sua
educação política, que reflete sobre si mesma, sobre seus limites e seus
formação” (SANTANA, 2014, p. 10). Com essa reforma, os estudantes perdem sua
forças repressoras presentes nessa reforma que dificultam cada vez mais a
Ensino Médio, nos coloca uma indagação: para onde vai a formação do professor
de Geografia? Isso nos leva a uma investigação mais ampla, da qual as ideias
ENSINO MÉDIO
imposta pela Lei Nº 13.415/2017? Quais as teorias pedagógicas por traz dessa
concepção se faz presente na Lei Nº. 13.415/2017. Ou seja, ela contribui para a
quebra de uma visão de totalidade dos processos sociais que possibilitam aos
filosófica sobre a qual escreveram este documento, fato que contribui para a
(OLIVEIRA, 1999, p. 54), tal qual a “Nova” Reforma do Ensino Médio também
Geografia “[...] não concordam com o movimento crítico que dominou a geografia
mundial [...]” no final do século XX. Isso significa a adesão à ideologia capitalista
os autores dos PCNs procuram registrar sua posição contrária a uma concepção
posição ideológica que visa construir uma Geografia e uma Educação voltadas
individualistas (OLIVEIRA, 1999), o que contraria uma posição de classe, que por
sua vez dificulta a luta por uma sociedade menos desigual e contribui para a
Este fato transforma o documento num verdadeiro ‘samba do crioulo doido’, sem
caráter pedagógico assumido por essa reforma, pois segue o perfil educacional
com este perfil será o principal desafio da educação no próximo século” (CASTRO,
simbólica, ao passo que antes da produção dos objetos que vão c onfigurar novas
visa, por um lado, atacar o Estado e regular por outro. Busca defender
massa, equilíbrio fiscal, abertura cada vez mais intensa das economias nacionais
mais do que nunca, efetivadas e impostas a todo vapor pelas elites ec onômicas e
políticas nacionais no Brasil. De acordo com Saviani (2013, p. 428), “Nesse novo
denominação das mesmas busca se firmar “[...] lançando mão das categorias
total, cujo foco é reorganizar as escolas e redefinir o papel do Estado através das
bases pedagógico-administrativas.
2013, p. 429).
à escola foi imposto, a partir da década de 1990, no Brasil, “[...] deriva de uma
lógica voltada para a satisfação de interesses privados, ‘guiada pela ênfase nas
2002, p. 51)” (SAVIANI, 2013, p. 430; RAMOS, 2006). Isso significa que não cabe
discurso da inclusão, de que agora o indivíduo pode fazer escolhas e que só ele é
o responsável pelo seu sucesso e/ou fracasso. É uma situação que busca
[...] o mais importante não é ensinar e nem mesmo aprender algo, isto é,
assimilar determinados conhecimentos. O importante é aprender a aprender,
isto é, aprender a estudar, a buscar conhecimentos, a lidar com situações
novas. E o papel do professor deixa de ser daquele que ensina para ser o de
auxiliar o aluno em seu próprio processo de aprendizagem (SAVIANI, 2013, p.
431).
montagem dos currículos de todas as escolas do país. Isso significa que se trata,
práticas educativas em vários espaços. Tais práticas, como enfatiza Saviani (2013,
p. 434),
O que passa uma falsa imagem aos sujeitos de que são eles que agora
concordamos mais uma vez com Saviani (2013, p. 437), para quem
uma nova função, qual seja: abandonar o ensino centrado nas disc iplinas de
evidenciado por Ramos (2006) e Saviani (2013) para o caso das reformas
principal papel a ser exercido pelo Estado, já que é o Estado que avalia o ensino
em todos os níveis (BRASIL, 1996; BRASIL, 2017). Conforme Saviani (2013, p. 439),
cada vez mais tratar o professor como um prestador de serviço, os alunos como
clientes e a Educação um “[...] produto que pode ser produzido com qualidade
expressam nada de novo como se quer com a atual reforma do Ensino Médio –
Estado para com esse direito social e subordinando cada vez mais a sociedade ao
[...] para atingir essas metas quantitativas, a política educacional lança mão de
mecanismos como a divisão do ensino em ciclos, a progressão continuada, as
classes de aceleração que permitem às crianças e aos jovens permanecer um
número maior de anos na escola, sem o correspondente efeito da
aprendizagem efetiva. Com isso, embora incluídas no sistema escolar, essas
crianças e esses jovens permanecem excluídos do mercado de trabalho e da
participação ativa na vida da sociedade. Consuma-se, desse modo, a ‘inclusão
excludente’ (SAVIANI, 2013, p. 442).
de leis/normas, como se notou com o “Novo” Ensino Médio imposto pela Lei Nº.
13.415/2017.
concorre. Há tempos, na história desse país, foi diferenciado o que deveria ser
com o Ensino da Geografia e precisamos atentar-se para o fato de que não cabe à
econômica” (SOUZA NETO, 1999, p. 14), pois os custos sociais são enormes sem o
saber pensar o espaço e sem o saber nele agir, já que é isso que, dentre outros
É preciso que a forma de ler e explicar o mundo tomando como refer ência
perca. E para que isso não ocorra, é preciso que ao Ensino da Geografia seja
REFERÊNCIAS
iii Tais constatações de Saviani tiveram como embasamento teórico Karl Marx, pois foi este
quem evidenciou primeiro que “o trabalho como criador de valôres-de-uso, como trabalho
útil, é inseparável da existência do homem, - quaisquer que sejam as formas de sociedade, - é
necessidade natural e eterna de efetivar o intercâmbio material entre o homem e a natureza
e, portanto, de manter a vida humana” (MARX, 1996, p. 50). Acrescenta ainda em outra obra
que “Uma aranha executa operações semelhantes às do tecelão, e uma abelha envergonha
muitos arquitetos com a estrutura de sua colmeia. Porém, o que desde o início distingue o
pior arquiteto da melhor abelha é o fato de que o primeiro tem a colmeia em sua mente
antes de construí-la com a cera. No final do processo de trabalho, chega-se a um resultado
que já estava presente na representação do trabalhador no início do processo, portanto, um
resultado que já existia idealmente” (MARX, 2013, p. 327). Tudo isso significa que “o trabalho é
um processo entre o homem e a Natureza, um processo em que o homem, por sua própria
ação, media, regula e controla seu metabolismo com a Natureza. Ele mesmo se defronta com
a matéria natural como uma força natural. Ele põe em movimento as forças naturais
pertencentes a sua corporalidade, braços e pernas, cabeça e mão, a fim de apropriar-se da
matéria natural numa forma útil para sua própria vida. Ao atuar, por meio desse movimento,
sobre a Natureza externa a ele e ao modificá-la, ele modifica, ao mesmo tempo, sua própria
natureza. Atuando assim sobre a natureza externa e modificando-a, ao mesmo tempo
modifica sua própria natureza” (MARX, 1983, p. 149).
v Estamos a dizer, e neste caso com Moraes (2002, p. 17), que não basta “[...] apenas o
domínio do conteúdo específico da disciplina [para ensinar], mas também uma formação
pedagógica e humanista ampla. Certos temas da Filosofia e da Ciência Política, por exemplo,
se impõem na sua formação [do professor de Geografia], somando-se aos temas didáticos e
pedagógicos, já comentados, e ao conteúdo específico da disciplina. [...]. Além do conteúdo
específico da disciplina, além do conteúdo específico da Pedagogia, há a necessidade dessa
formação crítica e humanista, em cujo campo básico nós teremos de avançar [...], sobretudo
frente ao atual cenário em que se encontra o Ensino de Geografia”. Dessa forma, “Ter uma
visão clara da disciplina é um pressuposto básico para um bom ensino de Geografia”
(MORAES, 2002, p. 18), coisa que falta ao profissional com notório saber.
vii “O conceito de ‘qualidade total’ está ligado à reconversão produtiva promovida pelo
toyotismo ao introduzir, em lugar da produção em série e em grande escala visando a
atender a necessidade do consumo de massa, a produção em pequena escala dirigida ao
atendimento de determinados nichos de mercado altamente exigentes. [...] o conceito de
‘qualidade total’ expressa-se em dois vetores, um externo e outro interno. Pelo primeiro vetor
essa expressão pode ser traduzida na frase ‘satisfação total do cliente’. Pelo segundo vetor
aplica-se uma característica inerente ao modelo toyotista que o diferencia do fordismo:
capturar, para o capital, a subjetividade dos trabalhadores. Nessa dimensão, ‘qualidade total’
significa conduzir os trabalhadores a ‘vestir a camisa da empresa’. A busca da qualidade
implica, então, a exacerbação da competição entre os trabalhadores que se empenham
pessoalmente no objetivo de atingir o grau máximo de eficiência e produtividade da
empresa” (SAVIANI, 2013, p. 439-440).