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EFICIÊNCIA

ENERGÉTICA

VERSÃO REVISADA

AÇÕES DE ASSISTÊNCIA TÉCNICA EM REDUÇÃO


E CONTROLE DE PERDAS DE ÁGUA E USO
EFICIENTE DE ENERGIA ELÉTRICA

Secretaria Nacional
de Saneamento
Ambiental - SNSA
MINISTÉRIO DAS CIDADES tos Pedrosa, Hugo Fagner dos Santos Pedrosa,
Ítala Gomes dos Santos Jesus, Jair Jackson Dias
Ministro das Cidades Santiles, Jairo Tardelli Filho, Jardel Almeida de
Alexandre Baldy de Sant’anna Braga Oliveira, Jean Morillas, João Gustavo Ferreira Ju-
nior, João Roberto Rocha Moraes, José Fabiano
Secretário Executivo Barbosa, Julian Thornton, Ksnard Ramos Dantas,
Silvani Alves Pereira Leandro Moreira, Lineu Andrade de Almeida,
Luís Carlos Rosas, Luís Guilherme de Carvalho
Secretário Nacional de Saneamento Ambiental Bechuate, Luiz Fernando Rainkober, Mariana
Adailton Ferreira Trindade Freire dos Santos, Maurício Alves Fourniol, Mau-
rício André Garcia, Michel Vermersch, Milene
Diretor do Departamento de Planejamento e Cássia França Aguiar de Salvo, Nilson Massami
Regulação Taira, Paula Alessandra Bonin Costa Violante,
Ernani Ciríaco de Miranda Paulo Cezar de Carvalho, Pedro Frigério Paulo,
Pedro Gilberto Rodrigues da Mota, Pedro Paulo
Coordenadora da UGP/SNSA da Silva Filho, Pertony Ribeiro Guimarães, Ro-
Wilma Miranda Tomé Machado dolfo Alexandre Cascão Inácio, Rodrigo Andrade
de Matos, Rodrigo Martin Teresi, Sílvio Henrique
Equipe Técnica do INTERÁGUAS Campolongo, Thatiane Medeiros Soares de Al-
André Braga Galvão Silveira, José Dias Corrêa meida, Vinicius Kabakian, Wantuir Matos de Car-
Vaz de Lima, Paulo Rogério dos Santos e Silva valho, Wellington Luiz de Carvalho Santos

Consultor INTERÁGUAS Coordenação editorial


Airton Sampaio Gomes Alexandra De Nicola (MTb 23.341-SP), Rodolfo
Alexandre Cascão Inácio
BANCO MUNDIAL
Redação
Gerente de Projeto Alexandra De Nicola, José Fabiano Barbosa, Os-
Marcos Thadeu Abicalil valdo Luiz Cramer de Otero, Pedro Paulo da Silva
Paula Pedreira de Freitas de Oliveira Filho

INSTITUTO INTERAMERICANO DE COOPERAÇÃO Revisão


PARA A AGRICULTURA – IICA Airton Sampaio Gomes, Alexandra De Nicola, An-
dré Braga Galvão Silveira, José Dias Corrêa Vaz
Representante do IICA de Lima, Maurício Alves Fourniol, Rodolfo Alex-
Jorge Hernán Chiriboga andre Cascão Inácio

Equipe Técnica IICA Diagramação


Cristina Costa, Kilmara Ramos, Gertjan Beekman Traço Leal Comunicação

CONSÓRICO WMI - NG INFRA - SAGE Agosto/2018

Equipe Técnica
Alexandra De Nicola, Alexandre Savio Pereira
Ramos, Álvaro José Menezes da Costa, Ana Lú-
cia Floriano Rosa Vieira, Andrey Barbosa Dantas
Souza, Augusto Nelson Carvalho Viana, Bertrand
Dardenne, Cássio Caçula de Lima, Clênio Alberto
Argôlo Lopes, Diogo da Fonseca Reis, Eduardo
Augusto Ribeiro Bulhões Filho, Eudes de Olivei-
ra Bomfim, Fátima Carteado, Franz Bessa da Sil-
va, Geraldo Prado de Almeida, Hamilton Pollis,
Heber Pimentel Gomes, Hudson Tiago dos San-
Sumário
1. A SISTEMATIZAÇÃO DO PROJETO – METODOLOGIA E ESTUDOS DE CASO...................... 6
1.1 O Registro do Projeto Com+Água.2......................................................................................................6

2. A GESTÃO DA ENERGIA .................................................................................................. 7


2.1 Aspectos Conceituais.................................................................................................................................7
2.1.1 O Gerenciamento Energético e sua Importância na Avaliação de
Desempenho em Sistemas de Bombeamento......................................................................................8
2.1.2 Diagnóstico e Proposição de Alternativas..................................................................................9
2.1.3 A Ligação Entre a Eficiência Energética - EE e o Comportamento
Hidráulico do Sistema...................................................................................................................................10
2.1.4 Medidas Complementares................................................................................................................10
2.1.5 Avaliação Financeira de Ações de EE............................................................................................11
2.1.6 Verificação dos Resultados...............................................................................................................11
2.1.7 Mecanismos de Financiamento......................................................................................................12
2.1.7.1 Procel Sanear.................................................................................................................................12
2.1.7.2 Project Financing..........................................................................................................................13
2.1.7.3 Probiogás.........................................................................................................................................14
2.1.7.4 Proeesa.............................................................................................................................................14
2.1.7.5 Linhas de Financiamento do Ministério das Cidades......................................................14
2.1.7.6 PEE – Programa de Eficiência Energética da ANEEL........................................................14
2.2 Histórico Geral.............................................................................................................................................14

3. METODOLOGIA.................................................................................................................................... 19
3.1 Detalhamento da Metodologia At 4.....................................................................................................19
3.2 Atualização Metodológica em Relação ao Com+Água...................................................................19
3.2.1 Plano de Aplicação dos Recursos do Procel...............................................................................20
3.2.2 Normas da International Organization for Standardization - ISO......................................20
3.2.3 Softwares................................................................................................................................................21
3.2.3.1 Softwares de Gestão Energética.............................................................................................21
3.2.3.2 Retscreen.........................................................................................................................................23
3.2.3.3 Strata (Cotopaxi)...........................................................................................................................24
3.2.3.4 Sigma (Team).................................................................................................................................26
3.2.3.5 Softwares de Manutenção para Empresas de Saneamento..........................................27
3.2.3.6 SAP....................................................................................................................................................30
3.2.3.7 EAM...................................................................................................................................................30
3.2.3.8 Protheus..........................................................................................................................................31
3.2.3.9 SIM (ASTREIN)...............................................................................................................................32
3.2.3.10 Softwares de Operação de Sistemas de Abastecimento..............................................32
3.3 Diagnóstico Hidroenergético..................................................................................................................33
3.4 Medidas Administrativas e Redução de Gastos com Energia Elétrica.....................................35
3.4.1 Gestão de Contas.................................................................................................................................35
3.4.2 Medidas Institucionais.......................................................................................................................36
3.4.3 Medidas Operacionais não Ligadas Diretamente à Atividade-Fim....................................36
3.5 Projetos de Eficiência Energética com a Redução de Consumo e de
Demanda de Energia Elétrica........................................................................................................................36
3.5.1 Planejamento das Ações...................................................................................................................37
3.5.2 Operacionalização das Ações..........................................................................................................38
3.5.3 Redução das Perdas Reais de Água e Impacto no Consumo de Energia..........................38
3.5.4 Operação de Reservatórios de Água de Modo a Minimizar o
Bombeamento em Horários de Ponta.....................................................................................................40
Eficiência Energética

3.5.5 Redução da Altura Manométrica de Bombeamento, através de


Alterações Físicas ou Operacionais..........................................................................................................41
3.5.6 Melhoria do Rendimento dos Equipamentos.............................................................................41
3.5.7 Utilização de Inversores de Frequência em Conjuntos Motobombas
que Operem com Variação de Pressão e/ou de Vazão ao Longo do Tempo...............................43
3.6 Projetos de Microgeração de Energia Elétrica.................................................................................45
3.6.1 Geração Hidroelétrica, a Partir do Aproveitamento de Adutoras e
Reservatórios Existentes..............................................................................................................................45
3.6.2 Bomba Funcionando como Turbina...............................................................................................49
3.6.3 Geração Fotovoltaica Aplicando-se os Painéis Fotovoltaicos nos Telhados e
Coberturas de Construções em Estações Elevatórias de Tratamento de Água.........................51
3.6.4 Geração Termoelétrica Através do Aproveitamento do Biogás Produzido em
Reatores Anaeróbicos nas Estações de Tratamento de Esgoto - ETE...........................................53
3.7 Manutenção Preventiva e Preditiva Eletromecânica......................................................................53
3.7.1 Manutenção Preventiva.....................................................................................................................54
3.7.2 Manutenção Preditiva.........................................................................................................................54
3.7.3 Manutenção Corretiva........................................................................................................................54
3.7.4 Planejamento........................................................................................................................................54
3.7.5 Operacionalização...............................................................................................................................55

4. INDICADORES DE EFICIÊNCIA ENERGÉTICA EM SISTEMAS


DE ABASTECIMENTO............................................................................................................................. 57
4.1 Indicadores de Desempenho Operacional.........................................................................................57
4.1.1 Consumo Específico de Energia Elétrica - CE.............................................................................57
4.1.2 Consumo Específico de Energia Elétrica Normalizado - CEN...............................................58
4.1.3 Fator de Carga - FC..............................................................................................................................59
4.2 Indicadores de Desempenho Financeiro............................................................................................59
4.3 Determinação de Indicadores em Campo e Analise de
Pré-Viabilidade no Com+Água.2...................................................................................................................59

5. DESAFIOS PARA A MELHORIA DE DESEMPENHO NOS PRESTADORES............................. 63

Lista de Figuras
Figura 1. Consumo de Energia Elétrica no Saneamento...................................................................................17
Figura 2. Gestão de Energia........................................................................................................................................22
Figura 3. Software Retscreen......................................................................................................................................23
Figura 4. Tela do Software Retscreen......................................................................................................................23
Figura 5. Software Retscreen......................................................................................................................................24
Figura 6. Tela do Strata (Cotopaxi)............................................................................................................................25
Figura 7. Software Strata (Cotopaxi).........................................................................................................................25
Figura 8. Tela do Sigma (Team)..................................................................................................................................26
Figura 9. Softaware Sigma (Team)............................................................................................................................26
Figura 10. Indicadores de Gestão..............................................................................................................................27
Figura 11. Gráfico de Indicadores de Manutenção..............................................................................................28
Figura 12. Tela de Movimentação Visual................................................................................................................28
Figura 13. Tela da Ordem de Serviço.......................................................................................................................29
Figura 14. Tela de Cadastro de Ativos......................................................................................................................29
Figura 15. Tela da Ordem de Serviço com Procedimentos...............................................................................29
Figura 16. Tela do Sap...................................................................................................................................................30
Figura 17. Tela do Software Emanut.........................................................................................................................31
Figura 18. Tela do Software Protheus......................................................................................................................31
Figura 19. Software Sim...............................................................................................................................................32
Figura 20. Melhoria de Desempenho Hidroenergético.....................................................................................34
Figura 21. Etapas do Diagnóstico Hidroenergético............................................................................................34
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Eficiência Energética

Figura 22. Comparativo de Rendimento para Motores de 4 Polos, 60Hz....................................................43


Figura 23. Classificação do Porte das Usinas em Função da Potência Instalada.....................................45
Figura 24. Diagrama Esquemático de Geração Hidroelétrica.........................................................................46
Figura 25. Centrais Geradoras em Adutoras de Água Tratada.........................................................................46
Figura 26. Mapa de Medellim - Colômbia..............................................................................................................47
Figura 27. Dados das Centrais Geradoras em Adutoras de Água Tratada...................................................47
Figura 28. Centrais Geradoras em Adutoras de Água Bruta.............................................................................48
Figura 29. Dados das Centrais Geradoras em Adutoras de Água Bruta.......................................................48
Figura 30. Bomba Funcionando como Turbina.....................................................................................................49
Figura 31. Bomba Funcionando como Bomba......................................................................................................49
Figura 32. Desenho Esquemático de Captação – Captação Até a Casa de Força.....................................49
Figura 33. Turbinais Helicoidais para Gerar Energia Elétrica..........................................................................50
Figura 34. Sistemas Fotovoltaicos............................................................................................................................52
Figura 35. Características da Bomba de Inversão...............................................................................................60
Figura 36. Análise de Pré-Viabilidade Financeira – Ações de Eficiência Energética...............................61
Figura 37. Análise de Pré-Viabilidade Financeira – Geração Hidroelétrica................................................62
Figura 38. Análise de Pré-Viabilidade Financeira – Geração Fotovoltaica.................................................62

Lista de Fotos
Foto 1. Sistema BFT na Fazenda Boa Esperança em Minas Gerais..............................................................50
Foto 2. Turbinais Helicoidais para Gerar Energia Elétrica................................................................................51
Foto 3. Conjunto Motobomba da Inversão.............................................................................................................60

Lista de Tabelas
Tabela 1. Etapas do Diagnóstico Hidroenergético..............................................................................................39
Tabela 2. Determinação do Rendimento de Inversores de Frenquência de
Diversas Potencias Nominais.....................................................................................................................................44
Tabela 3. Dados Resumidos do Diagnóstico Hidroenergético........................................................................60

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Eficiência Energética

1. A SISTEMATIZAÇÃO DO
PROJETO – METODOLOGIA
E ESTUDOS DE CASO

1.1 O Registro do Projeto COM+ÁGUA.2

A
metodologia do Projeto COM+ÁGUA.2, A aplicação prática do projeto nas duas
para a gestão integrada e participa- áreas prioritárias selecionadas na chamada pú-
tiva visando o combate e o controle blica, ocorrida por meio de assistência técnica
das perdas de água e o uso eficiente de energia de consultores do Consórcio WMI/NG INFRA/
elétrica em sistemas de abastecimento de água SAGE às equipes da Companhia Pernambucana
selecionados na Chamada Pública nº 104/2014 de Saneamento - COMPESA e Empresa Baiana de
está descrita em seis livretos que compõem o Água e Saneamento S.A. - EMBASA, são apresen-
Compêndio Metodológico COM+ÁGUA.2: tadas em dois livretos de estudos de caso:

• O Projeto COM+ÁGUA.2; • Estudos de caso – COMPESA;


• Caderno Temático 1 - Mobilização Social; • Estudos de caso – EMBASA.
• Caderno Temático 2 - Perdas Reais;
• Caderno Temático 3 - Perdas Aparentes; Juntas, as oito publicações compõem uma
• Caderno Temático 4 - Gestão da Energia; caixa de onde se podem sacar oportunidades
• Caderno Temático 5 - Planejamento e Gestão. de conhecer uma metodologia diferenciada,
em que a Gestão Integrada & Participativa e a
O primeiro caderno é uma apresentação ge- Mobilização Social se apresentam como fatores
ral do COM+ÁGUA.2, suas Áreas Temáticas – AT de mudança cultural a provocar as empresas de
e a integração entre elas, as capacitações ge- saneamento a encontrarem um caminho fértil
rais e em processo e aspectos metodológicos. para o controle e diminuição das perdas em seus
Os seguintes são dedicados a cada uma das AT, sistemas de produção e abastecimento de água.
detalhando-as para melhor compreensão e re-
plicação da metodologia. Boa leitura e uso!

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Eficiência Energética

2. A GESTÃO DA ENERGIA

2.1 Aspectos Conceituais

A
escassez de energia vem assumindo 1997 e revisado continuamente. Publicou em
papel de relevância cada vez maior 2009 o International Energy Efficiency Finan-
no painel das preocupações de líderes cing Protocol (IEEFP), como guia para insti-
mundiais e de cientistas de todas as nacionali- tuições locais de financiamento, ao redor do
dades. Se, por um lado, a utilização de combus- globo, avaliarem e financiarem projetos reno-
tíveis fósseis e carvão para geração de energia váveis de eficiência energética.
elétrica, proporcionou grande desenvolvimento e OLADE - Organización Latino Americana de
econômico no passado, por outro lado acarretou Energia2, organização intergovernamental
problemas ambientais que assumem importân- internacional, criada em 1973, com sede em
cia crescente na busca por uma solução para Quito (Equador) para incentivar o melhor uso
o desenvolvimento sustentável, agravada pela dos recursos energéticos dos países da região,
superpopulação, crise dos combustíveis fósseis, contribuindo para sua integração, desenvol-
vimento sustentável e segurança energética,
escassez de água, poluição dos mananciais e
assessorando e impulsionando a cooperação
problemas climáticos, dentre outros.
e coordenação entre os países membros. Res-
Assim é que organizações internacionais de ponsável por algumas usinas hidroelétricas
todas as tendências e especialidades se têm de- binacionais, inclusive Itaipu.
bruçado sobre o assunto, explorando todas as e DGNB - ´Deutsche Gesellschaft für Nachhal-
vertentes, ramificações e imbricações, podendo- tiges Bauen3 (German Sustainable Building
-se citar como exemplo, dentre outras: Council), organização não governamental
sem fins lucrativos, fundada na Alemanha em
e EVO - Efficiency Valuation Organization1, or- 2007 por 16 iniciadores de áreas diversas do
ganização sem fins lucrativos com sede nos setor da construção e imobiliário, contando
EUA e escritório no Canadá, cuja missão con- hoje com mais de 1000 membros, com o ob-
siste em assegurar a medição e verificação jetivo de promover construções sustentáveis
correta da economia e impacto decorrentes e eficientes economicamente.
de projetos de sustentabilidade e eficiência e WGBC – World Green Building Council4, rede
energética, através de certificação IPVMP (In- mundial de conselhos independentes (orga-
ternational Performance Measurement and nizações não governamentais, sem fins lu-
Verification Protocol), por ela publicado em crativos), que visam fomentar a indústria de
1
https://evo-world.org/en/
2
www.olade.org
3
https://www.dgnb.de/en/council/dgnb/
4
www.worldgbc.org

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Eficiência Energética

construções sustentáveis. O Brasil tem seu Cerca de 95% dos consumos de energia
conselho integrado à rede5. no saneamento são devidos às instalações de
e COP – Conferência das Partes da Convenção- bombeamento.
-Quadro das Nações Unidas sobre mudanças De uma forma geral, avalia-se a eficiência
climáticas, órgão máximo da Convenção do energética de um sistema ou instalação pela re-
Clima (estabelecida durante a Rio-92), rea- lação entre o consumo de energia elétrica (kWh)
lizada anualmente desde 1995, visando a e o volume bombeado (m3), buscando-se obter
estabelecer acordos para redução das emis- o menor índice nas condições intrínsecas do sis-
sões de gases de efeito estufa. tema ou instalação estudados.
O setor saneamento, com uso intensivo de As prestadoras de serviço de abastecimen-
bombeamento, alia a possibilidade de conju- to de água, em sua maioria, não têm sistemas
gar o uso racional da água com o uso eficiente de gestão de energia implantados, seja por
da energia, tendo sido identificada a possibili- falta de conhecimento ou de recursos, e, às
dade de redução de consumo no setor em até vezes, de ambos.
45%, dos quais 20% decorrentes de medidas A gestão começa pelo entendimento e pela
de eficiência energética e 25% de redução de mensuração do processo. O sistema de medição
perdas de água6. e registro das grandezas envolvidas, necessário
Na mesma referência acima citada é pos- para identificação das oportunidades de melho-
sível encontrar, nas páginas introdutórias, uma ria do desempenho dos equipamentos e da ope-
listagem de associações, empresas, entidades de ração do sistema é o primeiro grande ausente
ensino e pesquisa e diversas outras conectadas na maior parte das prestadoras. Sem medição
ao tema no Brasil. e registro, falta também o acompanhamento on
Para obtenção e manutenção das economias line do desempenho, e reduz-se a possibilidade
previstas nos projetos de eficiência energética de ganhos (ou de redução de perdas) seja pela
é fundamental a implantação de sistemas de previsão dos problemas, seja por intervenção
gestão nas operadoras, que podem contar, como e correção rápidas quando da ocorrência dos
elementos de apoio indispensáveis ao trata- mesmos. Mais raros ainda são os centros de
mento dos dados em todas as áreas da empresa, operação do sistema, onde as informações das
com recursos computacionais que serão aborda- diferentes instalações de bombeamento pos-
dos em maior detalhe no item 4.2.3. sam ser centralizadas, processadas e analisadas,
permitindo automatização da operação e propi-
2.1.1 O Gerenciamento Energético e sua ciando feedback para revisão das rotinas opera-
Importância na Avaliação de Desempe- cionais. Este fato é explicável pela necessidade
nho em Sistemas de Bombeamento da implantação de um sistema de comunicação,
Água e energia são, cada vez mais, insumos além dos equipamentos de medição, monitores
caros e escassos. Acresce, pois, a importância da e computadores e programas.
utilização otimizada dos mesmos, tendo em vis- Na era da tecnologia, embora ainda de for-
ta a crise dos combustíveis fósseis e a necessi- ma incipiente, é notada uma tendência positiva
dade de preservação do meio ambiente. ao uso de sistemas de informação digitais como
Com os aumentos das tarifas de energia elé- auxiliares na gestão, incluindo-se planilhas para
trica dos últimos 10 anos, no Brasil, a represen- cálculo de balanço hídrico, bancos de dados com
tatividade dos custos com energia se posiciona cadastro de ativos e cadastros de clientes, co-
atualmente entre as três principais despesas das nectados a mapas georreferenciados. Menos co-
empresas de saneamento, chegando a represen- mum é o uso de programas específicos para ges-
tar até 30% dessas despesas operacionais. tão da energia e gestão da manutenção, entre
5
www.gbcbrasil.org.br
6
Ministério das Minas e Energia – Plano Nacional de Eficiência Energética – PNEF (2011).

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Eficiência Energética

outros, a serem abordados em seção específica, estendida, mas, a partir de determinado ponto,
conforme mencionado no item 3.1. os recursos requeridos podem não ser mais jus-
Mesmo sem a sofisticação acima referida, tificáveis, seja pelo retorno financeiro insuficien-
um primeiro passo importante (e ausente to- te, seja pelo montante dos recursos disponíveis.
tal ou parcialmente em significativa parte das
prestadoras) deve ser a criação e manutenção 2.1.2 Diagnóstico e Proposição de Al-
de indicadores de desempenho energético ternativas
que permitam acompanhar os resultados das Nesta etapa incluem-se as seguintes ativi-
ações de eficientização. dades e levantamentos:
A integração multidisciplinar entre as áreas
envolvidas (hidráulica, mecânica e elétrica) e Medições das grandezas elétricas e hidráu-
para a implantação de medidas que reduzam a licas de conjuntos motobomba, preferen-
ineficiência energética não faz parte da cultu- cialmente com registro ao longo do ciclo
ra da maioria das operadoras, excetuadas (em de operação;
muitos casos, apenas parcialmente) as grandes e Levantamento das curvas de demanda dos
empresas estaduais. reservatórios (volumes fornecidos ao sistema
O Projeto COM+ÁGUA.2 teve como alguns de distribuição);
de seus objetivos a disseminação dos conhe- e Levantamento do diagrama eletro-hidráulico
cimentos necessários à determinação das do sistema, propiciando a rápida visualiza-
condições de desempenho, à investigação das ção do conjunto de unidades consumidoras
oportunidades de melhoria e à implantação de (elevatórias de água bruta e tratada, estações
um sistema de acompanhamento e gestão per- de tratamento de água, boosters, com indica-
manente do consumo de energia elétrica e uso ção da quantidade e características nominais
racional da água. elétricas e hidráulicas dos conjuntos moto-
As ações para melhoria da eficiência na bomba), adutoras, reservatórios, redes de
operação do sistema podem ter seu efeito re- distribuição simplificadas, localização dos
duzido em curto prazo se não forem acompa- medidores de grandezas hidráulicas e abran-
nhadas por uma mudança organizacional, tanto gência das medições de energia elétrica;
na estrutura técnica e comercial como na área e Levantamento do diagrama unifilar elétrico
administrativa, englobando-se nesta última das unidades consumidoras;
as ações de conscientização dos funcionários e Levantamento do cadastro dos equipamentos;
quanto à importância do produto da empresa e Levantamento das caraterísticas técnicas das
para a sociedade brasileira, em particular, e, adutoras e acessórios, com perfil topográfico;
numa perspectiva holística, para a sustentabi-
e Levantamento dos equipamentos de medi-
lidade da vida no planeta.
ção existentes;
Destarte, a viabilidade de execução das ações
e Levantamento dos procedimentos de opera-
de eficiência energética a serem propostas deve
ção e manutenção;
ser iniciada por um amplo diagnóstico em todas
e Levantamento dos recursos auxiliares de
as áreas e pela sensibilização das equipes quan-
gestão existentes: sistemas georreferencia-
to à importância do tema. Paralelamente, pode
dos de cadastro técnico e comercial; centro
ser efetuada uma campanha educativa junto às
de controle operacional, com telemedição e
comunidades consumidoras, fundamental para o
comando remoto; modelagem computacio-
sucesso da racionalização do uso da água, re-
nal da rede hidráulica;
duzindo desperdícios e conscientizando-as em
e Verificações de campo para confirmação
relação a temas ambientais.
de dados.
As ações devem ser balizadas por padrões de
referência e pelos estudos de viabilidade eco- Muito embora não sejam estritamente
nômica dos investimentos associados, eis que a atividades de eficiência energética, a análi-
busca pela máxima eficiência pode ser sempre se tarifária, baseada no exame das contas de
9
Eficiência Energética

energia das unidades consumidoras, e a even- de vazão bombeada;


tual correção do fator de potência devem ser e Redução da vazão bombeada pelo sistema
efetuadas para maximização dos ganhos com pela redução das perdas reais de água;
as medidas de ordem técnica. Como exemplo e Dimensionamento correto da capacidade dos
dessa aplicação complementando soluções reservatórios;
técnicas, temos a possível solicitação de redu- e Operação adequada dos reservatórios, impe-
ção da demanda contratada à concessionária dindo-se que operem apenas como caixa de
de energia após redefinição no bombeamento passagem.
no horário de ponta. e Setorização da distribuição adequada em re-
O exame dos dados colhidos nesta etapa de lação às pressões operacionais.
diagnóstico servirá à elaboração das propostas
de intervenção que após cálculos e simulações Dado o grau elevado de perdas reais de água
efetuados terão o respectivo custo estimado, nos sistemas de distribuição, especial atenção
para a etapa final de análise de viabilidade eco- deve ser dada a este tópico, incluindo: verifica-
nômico-financeira e definição da alternativa a ções periódicas para detecção de vazamentos
ser implantada. visíveis e não visíveis; atendimento rápido para
Para outras considerações, veja também o consertos de vazamentos; registro das medições
item 5.3. e estimativas dos volumes totais produzidos e
entregues aos consumidores; controle de pres-
2.1.3 A Ligação Entre a Eficiência são na rede.
Energética - EE e o Comportamento Obviamente, são também benvindas as
Hidráulico do Sistema ações para redução das perdas aparentes, en-
Para melhorar a eficiência em sistemas de tretanto em sua maior parte elas implicam mais
abastecimento de água podem ser adotadas em recuperação da receita do que em redução
medidas tanto de redução da energia consu- de volume bombeado. Uma fraude (consumo
mida como também de otimização do com- não autorizado) legalizada terá o consumo me-
portamento hidráulico no sistema. A redução dido e cobrado, mas o volume correspondente
da energia consumida, bem como da demanda continuará a ser bombeado. Reduções de vazão
contratada, pode ser obtida por medidas re- ocorrerão, por exemplo, quando da desativação
ferentes aos equipamentos e atuação sobre de ligações ilegais. Da mesma forma, a instala-
grandezas elétricas: ção de medidores em ligações com cobrança es-
timada e aferição ou substituição de medidores
e Uso de conjuntos motobomba bem dimen- existentes deverão repercutir na recuperação de
sionados e mais eficientes;
receitas, sem alteração dos volumes bombeados.
e Modulação da carga (inversores de fre-
quência); 2.1.4 Medidas Complementares
e Monitoramento e comando remoto centra-
Algumas medidas complementares em outras
lizado.
áreas podem garantir maior eficiência do proces-
Da mesma forma, medidas referentes às va- so, dentre as quais podemos citar, como exemplos:
riáveis hidráulicas repercutem na melhoria da
eficiência energética: Na área de manutenção:

e Redução da perda de carga das tubulações


(redução de incrustações em adutoras; modi- e Padronização dos estoques de equipamentos
ficação do projeto geométrico de barriletes, e materiais, facilitando a substituição tempo-
eliminação de ar no sistema por introdução rária de unidades em manutenção,
de ventosas, etc.); e Evitar utilização de equipamentos superdi-
e Redução da altura manométrica pela mu- mensionados para substituição de outros en-
dança de traçado da adutora; pela redução viados para reparos;
10
Eficiência Energética

Na área da gestão corporativa: gidas pela intervenção deverão ser considera-


das idênticas às anteriores ou, caso alteradas,
passíveis de terem suas influências determi-
e Consideração não só do custo de aquisição
nadas e expurgadas.
como também do custo de operação durante
a vida útil como critério comparativo em lici- Os ganhos financeiros de projetos de eficiên-
tações para a aquisição de equipamentos; cia energética podem ser calculados tanto pela
ótica, consagrada em financiamentos concedidos
por entidades do setor elétrico, de benefícios
Na área operacional: para a sociedade, ou seja, de custos evitados
para o setor elétrico, como pela ótica do presta-
e Evitar variação de vazão de conjuntos moto- dor do serviço de abastecimento. Nem sempre os
bomba por registros de estrangulamento; benefícios para a operadora são os mesmos, por
e Racionalizar a operação dos reservatórios, exemplo, a redução de demanda na ponta, em
minimizando sempre que possível o bom- uma instalação alimentada em baixa tensão não
beamento, não só no horário de ponta, como repercute em reduções na conta de energia, mas
também fora de ponta, atendendo a demanda para o sistema elétrico é importante e, assim,
de água do sistema com o mínimo de consu- deve ser considerada na avaliação pelo primeiro
mo, mesmo que contrariando a “tradição” lar- ponto de vista.
gamente difundida, porém sem justificativa
perante o critério de eficiência energética, de 2.1.6 Verificação dos Resultados
manter o reservatório sempre cheio.
Após a implantação do projeto, os resultados
Para as áreas de planejamento e operações, devem ser avaliados por acompanhamento das
tecnologias digitais de modelagem de redes hi- contas de energia, medições de campo e demais
dráulicas estão disponíveis de forma gratuita, verificações, conforme metodologia prevista du-
permitindo a simulação de alternativas opera- rante a fase de elaboração, mantendo-se a linha
cionais e de expansão do sistema. de base anterior à intervenção.
Para as áreas de cadastro técnico e comer- Entretanto, é comum que, além do projeto em
cial, o uso de sistemas de informação georrefe- pauta, alterações tenham sido introduzidas no sis-
renciados (mapas e plantas associados a banco tema, obrigando a que se façam os devidos ajus-
de dados) facilita as pesquisas e visualização tes nas medições para determinar ou expurgar as
dos resultados, definição de rotas para equipes diferenças introduzidas. Se um projeto considera
de manutenção e leituristas etc. a melhoria de eficiência de uma elevatória, a con-
A importância do envolvimento da área de dição da rede a jusante não deve ser alterada. Caso
manutenção é fundamental quando se bus- haja alterações na rede, os custos respectivos de-
ca perenizar uma cultura em prol da eficiência verão ser incluídos no orçamento do projeto com a
energética, uma vez que usualmente é a área que penalização correspondente da relação benefício/
detém o maior conhecimento quanto às condi- custo. Os resultados, medidos na elevatória devem
ções dos equipamentos, qualidade de materiais, ser atribuídos ao conjunto das intervenções.
falhas de projeto e, principalmente, inconveniên- Da mesma forma, sempre que houver au-
cias técnicas de sistemas operacionais. mento de fornecimento por expansão do siste-
ma, não considerada no projeto, a avaliação da
2.1.5 Avaliação Financeira de Ações economia de energia deverá ficar limitada até a
de EE capacidade da instalação considerada no proje-
Após seleção das alternativas mais pro- to, ou seja:
missoras tecnicamente, devem ser calculados
os ganhos em eficiência a serem obtidos pelas e Economia de energia= [(kWh/m3) antes
intervenções previstas nos projetos. Para tan- - [(kWh/m3) depois] x (m3 antes).
to, as demais condições do sistema não abran-
11
Eficiência Energética

Mas se ocorrer aumento de fornecimento mas de saneamento pela implementação de


por otimização da operação ou redução de projetos e consolidação da metodologia de
perdas, e não por expansão do sistema, pode- diagnóstico hidroenergético”.
-se considerar:
“Executora: Rede LEHNS / ESCO (Empresas de
Serviços de Conservação de Energia), institui-
e Economia de energia= [(kWh/m3) antes ção capacitada para elaboração de plano de
- [(kWh/m3) depois] x (m3 depois). negócios da Rede LEHNS / ESCO e prestado-
res de serviços de saneamento”.
A redução nas perdas reais de água pode
permitir que a mesma instalação atenda a novos “Contexto:
consumidores, embora mantendo as condições
de eficiência na produção. Nestes casos, a me- ...
lhoria da eficiência deve ser avaliada em relação
ao volume entregue aos consumidores, antes e Para incentivar a retomada do planejamento
depois das intervenções. e execução de grandes obras de infraestrutura
social, urbana, logística e energética do país,
2.1.7 Mecanismos de Financiamento
foi criado em 2007 o Programa de Aceleração
O fomento de tais projetos passa, impera- do Crescimento – PAC, a partir do qual foram
tivamente, pelo oferecimento de recursos para estabelecidas parcerias com estados e muni-
implantação dos mesmos, dada a dificuldade da cípios para a execução de obras estruturantes
maior parte das operadoras de financiar essas visando à melhoria da qualidade de vida nas
intervenções com recursos próprios. cidades brasileiras. Entretanto, o fomento à
Podem ser citadas as seguintes fontes de fi- expansão dos sistemas de saneamento am-
nanciamento disponíveis na atualidade: biental do país não foi acompanhado. Embora
existam diversos instrumentos de financia-
2.1.7.1 Procel Sanear mento de projetos de eficiência energética, so-
Com a promulgação da Lei nº 13.280/2016, bretudo de recursos onerosos do FGTS e FAT,
que alterou a Lei nº 9.991/2000, disciplinou-se os prestadores de serviços de saneamento, em
a aplicação de recursos destinados a progra- sua maioria, não possuem capacitação técnica
mas de eficiência energética, oriunda de recur- ou capacidade de endividamento suficiente
sos dos programas de eficiência energética das para acessar esses recursos e financiar seus
concessionárias de distribuição, estabelecendo projetos de eficiência, tanto hidráulica (con-
que 20% deste montante sejam destinados a trole de perdas) como energética (uso racional
suportar o PROCEL. da energia elétrica)”.
A lei determina também que os investimen-
tos em eficiência energética devam priorizar a “Sabe-se que projetos em grandes sistemas
indústria nacional. O Plano 2016/2017 de apli- de saneamento possuem maior potencial de
cação de recursos do PROCEL estabelece um or- economia absoluta de energia, podendo con-
çamento de R$ 2,9 milhões (incluindo R$ 360 figurar-se como projetos-modelo para outros
mil para custeio da equipe técnica da ELETRO- prestadores de serviços”.
BRÁS) para a área de eficiência energética no
saneamento ambiental (PROCEL SANEAR). ...há necessidade de fomento a este setor por
Alguns trechos da publicação do PROCEL7 meio de capacitação, de disseminação do co-
são a seguir reproduzidos: nhecimento, de desenvolvimento científico e
tecnológico, da instituição de premiações espe-
“Objetivo: reduzir o consumo de energia elé- cíficas e da implementação de projetos pilotos
trica e as perdas de água em grandes siste- em prestadores de serviços de saneamento”.
7
GCEE/PROCEL – Plano Anual de Aplicação de Recursos do PROCEL (2017)

12
Eficiência Energética

2.1.7.2 Project Financing e Trans Alaska Pipeline System / TAPS, oleoduto


Como alternativa, pode ser explorado o re- de 1,3 mil km – Alaska, EUA;
curso de autofinanciamento das ações de efi- e Campo de Forties, British Petroleum – Mar do
ciência energética, através de mecanismos como Norte;
por exemplo o Project Financing8, que é uma e Mina de cobre Erstberg, Freeport Minerals –
modalidade de estruturação financeira para a Indonésia;
realização de projetos de grande porte, onde a e Mina de cobre Bouganville, Conzinc Rio Tinto
principal fonte de receita para o pagamento do – Papua Nova Guiné;
serviço da dívida de seu financiamento e do pro- e ELOS (ligação ferroviária de alta velocidade)
duto ou serviço resultante vem do fluxo de caixa – Portugal / Espanha.
gerado pela sua própria operação, como é o caso
dos projetos de eficiência energética. No Brasil, importantes projetos foram rea-
O Project Finance possui uma engenharia lizados com este tipo de financiamento como
financeira complexa e altamente alavancada. importantes usinas hidrelétricas, ampliação
Por este motivo, o foco de interesse principal é e operação de aeroportos, grandes obras de
a gestão de seus riscos, pois tudo depende da saneamento básico, linhas de transmissão,
estruturação do projeto, em especial quanto à ampliação e manutenção de rodovias, entre
estruturação das garantias. outras, muitas vezes aliando o capital público
Este tipo de financiamento é muito utilizado ao privado.
em todo o mundo há décadas e tem financiado O desafio atual do Project Finance no Brasil é
projetos ligados a  petróleo, gás, energia elétri- a alta taxa básica de juros da economia, que cria
ca, infraestrutura de transportes, mobilidade, um elevado patamar de custo de oportunidade
saneamento básico, entre outros. Em países de- para os projetos.
senvolvidos, o Project Finance é muito utilizado
desde os anos 1980, mas já era utilizado no fi- Principais características do Project Finance:
nanciamento comercial europeu do século VII.
e Financiamento pela geração de caixa do
Por ser uma fonte de financiamento ala-
próprio empreendimento, a qual pode ser
vancada, o sucesso de seus empreendimentos
oriunda da contraprestação pelo próprio
são importantes elementos impulsionadores
poder público em concessões administra-
ao desenvolvimento econômico dos países que
tivas (por exemplo, pelo pagamento de
os abrigam. O que existe de inovador nos dias
tarifa por fornecimento de produtos ou
atuais são as formas mais complexas de arranjo
serviços);
financeiro e inovação na mitigação de riscos.
e Necessidade de um fluxo financeiro futuro
Alguns exemplos de empreendimentos via-
(na operação do empreendimento) previsí-
bilizados por Project Finance:
vel. Não significa que seja fixo, mas apenas
que existam parâmetros de previsibilidade
e Eurotunnel – França e Inglaterra;
suficientes para assegurar a viabilidade do
e Sistema de satélites globais Iridium; projeto;
e Australian Inland Rail – Austrália; e Viabilização exclusiva de projetos de ele-
e Aeroporto Internacional de Berlim-Bran- vado valor de investimento em função dos
demburgo – Alemanha; altos custos de estruturação e complexi-
e North-South Expressway – Malásia; dade financeira;
e Bangkok Second Stage Expressway – Tailândia; e Por não ser produto de prateleira, a despesa
e Sidney Harbour Tunnel – Austrália; financeira depende do rating dado à SPE por
e Euro Disney – França; agências de classificação de risco;

8
Fonte: ricardotrevisan.com/2016/09/21/o-que-e-project-finance

13
Eficiência Energética

e Como a operação é montada desde o início, 2.1.7.3 Probiogás


e cada projeto é estruturado sob encomenda,
As ações apoiadas por este programa de
arranjos internacionais são indiretamente in-
centivados por não representar grandes adi- cooperação Brasil-Alemanha, iniciadas em 2013,
cionais de dificuldade em sua viabilização; estão detalhadas na seção 3.2 a seguir.
e Ausência de hipoteca como garantia;
2.1.7.4 Proeesa
e Evolução do projeto em duas fases – cons-
trução e operação; As ações financiadas por este programa de
e O grosso do investimento destina-se a ati- cooperação Brasil-Alemanha, firmado em 2016
vos tangíveis; e com previsão de conclusão em 2018, estão de-
e Investimentos costumam ser de longo prazo; talhadas na seção 3.2 a seguir.
e Finalidade única de cumprir a realização do
projeto, com tempo de vida limitado; 2.1.7.5 Linhas de Financiamento do Minis-
e Muitas partes interessadas na concretização tério das Cidades
do projeto (stakeholders). Desde 2017, as linhas de financiamento do
Ministério das Cidades para a área de saneamen-
Principais vantagens do Project Finance:
to incorporam critérios de eficiência energética.
e Melhor alocação de riscos entre os stakehol-
2.1.7.6 PEE – Programa de Eficiência Ener-
ders em função da especialidade de cada um;
gética da Aneel
e Economia de escala na operação;
e Benefícios fiscais – ao contrário dos dividen- Disponibilizado através das distribuido-
dos, os juros da dívida são dedutíveis; ras de energia elétrica9 em concursos anuais
e Liberação dos fluxos de caixa – ao fim da denominados CPPs – Consultas Públicas de
vida da SPE, há distribuição dos fluxos aos Projetos, incluem o financiamento tanto de
investidores; equipamentos mais eficientes, quanto dos ser-
e Melhor avaliação dos riscos; viços vinculados ao retrofit das instalações de
e Substituição de garantias tradicionais por bombeamento. A implantação de sistemas de
garantias de desempenho; gerenciamento de energia bem como de fon-
e Custo mais baixo para o produto ou servi- tes incentivadas, como a geração hidroelétrica
ço oferecido (ao cliente final), em função da ou fotovoltaica também são elegíveis no âm-
elevada alavancagem; bito desta linha de financiamento, desde que
e Redução dos custos de agência por melhor atendam ao critério mínimo de RCB – Relação
sistema de controle de conflitos (interesses Custo Benefício, nos termos da regulamenta-
e graus de aversão ao risco) entre acionistas ção estabelecida pelo PROPEE – Procedimen-
e gestores na SPE, quando for o caso. tos do Programa de Eficiência Energética.

2.2 Histórico Geral


As ações conjuntas entre o setor saneamen- ciência Energética em Saneamento Ambiental
to e o setor elétrico começaram a ocorrer em - PROCEL SANEAR.
2003, quando, após uma primeira fase de ações Em 1993, já havia ocorrido o início do Pro-
pontuais no setor de saneamento (1996/2002), grama de Modernização do Setor de Sanea-
as Centrais Elétricas Brasileiras S.A. - ELETRO- mento - PMSS, vinculado à Secretaria Nacional
BRAS instituíram, em 2003, o Programa de Efi- de Saneamento Ambiental, do Ministério das

9
http://www.aneel.gov.br/programa-eficiencia-energetica

14
Eficiência Energética

Cidades - SNSA/MCidades, que financiou investi- Em 2005, o PROCEL SANEAR procedeu ao


mentos em expansão e melhorias operacionais lançamento dos centros de excelência - Labora-
nos sistemas de água e esgoto, bem como o de- tórios de Eficiência Energética e Hidráulica no
senvolvimento institucional dos prestadores de Saneamento – LENHS – como resultado de um
serviços. O programa teve suas ações voltadas à acordo de cooperação técnica e financeira entre
criação das condições propícias a um ambiente a ELETROBRÁS e as Universidades Federais do
de mudanças e de desenvolvimento do setor sa- Pará, Paraíba, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais
neamento no país. e Paraná, às quais se juntaria posteriormente a
O Programa Nacional de Conservação de Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
Energia Elétrica - PROCEL já vinha atuando des- Ainda em 2005, a ELETROBRÁS disponibi-
de 1985, quando foi instituído pelo governo fe- lizou recursos da Reserva Global de Reversão
deral por meio da Portaria Interministerial no - RGR para projetos de eficiência energética e
1.877 e, especificamente, no setor de saneamen- redução de demanda na ponta.
to desde 1996, porém seu foco estava restrito ao Também em 2005, o Ministério das Cidades,
uso eficiente de energia elétrica nos conjuntos. por sua Secretaria Nacional de Saneamento
Com a criação do PROCEL SANEAR este enfoque Ambiental - SNSA, representada por seu órgão
foi ampliado e, atualmente, abrange também técnico Programa de Modernização do Setor Sa-
ações quanto à conservação da água, visando neamento – PMSS, lançou a Chamada Pública
integrar os dois temas e o desenvolvimento e a CP nº 004/05, com o objetivo de contratação de
operacionalização de projetos e políticas gover- consultoria e assistência técnica para a imple-
namentais articuladas. mentação de projetos demonstrativos visando
Outra ação governamental importante foi a à modernização, melhoria da qualidade e uni-
criação do Programa Nacional de Combate ao versalização dos serviços de abastecimento de
Desperdício de Água - PNCDA. Em 1997, em arti- água de forma sustentável através de:
culação com o Ministério do Meio Ambiente, dos
Recursos Hídricos e da Amazônia Legal e com o
e Mecanismos de controle operacional;
Ministério das Minas e Energia, o Ministério do
e Manutenção hidráulica por meio de inter-
Planejamento e Orçamento finalmente instituiu
venções físicas;
um programa de conservação e uso racional da
e Desenvolvimento de tecnologias de ge-
água de abastecimento público na esfera federal.
renciamento integrado de perdas reais e
PROCEL SANEAR e PMSS passaram a atuar
aparentes;
de forma conjunta em 2003, quando lançaram
e Uso eficiente de energia elétrica;
a primeira chamada pública de projetos de de-
monstração de eficiência energética e redução e Planejamento e controle com modelos hi-
de perdas de água, na qual foram selecionados dráulicos calibrados;
12 projetos de todas as regiões do país, sendo e Mobilização e qualificação das pessoas.
três de empresas municipais e os demais de es-
Em 2006 foi assinado o contrato com o con-
taduais, dos quais quatro tornaram-se casos de
sórcio vencedor para implantação dos projetos
sucesso em eficiência energética e hidráulica no
em 10 operadoras selecionadas:
setor de saneamento ambiental.
Em 2004 foi formalizado o Protocolo de
Cooperação Técnica entre o Ministério de Mi- e SEMASA – Santo André/SP;
nas e Energia - MME e o Ministério das Cidades e SAAE – Sorocaba/SP;
– MCidades. Ainda em 2004, foram lançados o e SAAEG – Guaratinguetá/SP;
Primeiro Plano de Ação do PROCEL SANEAR e o e COPASA – Montes Claros/MG;
Programa de Capacitação em Eficiência Energé-
e CORSAN – Santa Maria/RS;
tica para profissionais do setor de saneamento,
e SAMAE – Caxias do Sul RS;
este em parceria com a Associação Brasileira de
Engenharia Sanitária e Ambiental - ABES. e SAE – Ituiutaba/MG;

15
Eficiência Energética

e SAAE – Viçosa/MG; des, e o governo alemão, por meio da Deutsche


e EMBASA – Ilhéus/BA; Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit
e SAMAE – São Bento do Sul/SC. (GIZ) GmbH, o PROBIOGÁS tem como foco prin-
cipal o aproveitamento do biogás gerado no tra-
As atividades receberam o sugestivo nome tamento anaeróbio dos esgotos sanitários, dos
de Projeto COM+ÁGUA, sendo esta etapa encer- resíduos sólidos urbanos, agropecuários e dos
rada em 2008. efluentes agroindustriais.
A segunda etapa, ou COM+ÁGUA.2, iniciou- De forma mais detalhada, o PROBIOGÁS atua
-se em 2015 com o Termo de Referência para junto a órgãos governamentais em prol da me-
contratação de empresa de consultoria para lhoria das condições regulatórias relacionadas à
ações de assistência técnica em redução e con- produção de energia a partir do biogás. No setor
trole de perdas de água e uso eficiente de ener- acadêmico busca aproximar instituições de ensi-
gia elétrica em sistemas de abastecimento de no e de pesquisa brasileiras entre si e das alemãs
água, consultoria a ser desenvolvida no âmbito para consolidar as informações científicas e me-
do Programa INTERÁGUAS, resultado do Acordo lhorar a formação no mercado, além de apoiar a
de Empréstimo n.º 8074-BR firmado entre Ban- formação de rede de laboratórios para a análise
co Internacional para Reconstrução e Desenvol- de substratos. Ademais, o projeto fomenta a in-
vimento - BIRD e o governo brasileiro por meio dústria brasileira para desenvolvimento nacional
do Ministério das Cidades, e gerenciada através de tecnologia e aproxima empresas brasileiras e
da Unidade de Gerenciamento do Programa – alemãs para o intercâmbio de conhecimento.
UGP/PMSS/SNSA. Além dessas atividades, o PROBIOGÁS busca
Os prestadores e sistemas previamente sele- capacitar profissionais brasileiros em diversos ní-
cionados na Chamada Pública 104/2014 foram: veis, contemplando atores que integram a cadeia
de biogás, visando fortalecer o mercado no Brasil.
e COMPESA – Caruaru e Salgueiro/PE. Mas afinal, o que é o biogás?  É uma fonte
e EMBASA – Salvador e Feira de Santana/BA. de energia renovável que se apresenta como
ótima alternativa para o mercado nacional. Todo
A consultoria objeto do Edital coube ao resíduo orgânico, como os restos de comida, fru-
Consórcio WMI/NG INFRA / SAGE. tas e vegetais, resíduos industriais de origem
Em 2013 iniciou-se o Projeto Brasil-Alema- animal e vegetal e esterco animal, sofre ações
nha de Fomento ao Aproveitamento Energético de bactérias que decompõem estes materiais
de Biogás no Brasil - PROBIOGÁS10, que tem o e geram gases, principalmente dióxido de car-
objetivo de ampliar o uso energético eficiente bono e metano, que quando não aproveitados,
do biogás em saneamento básico e em inicia- são liberados no meio ambiente, contribuindo
tivas agropecuárias e agroindustriais, inserir o para o aumento das taxas de emissão de ga-
biogás e o biometano na matriz energética na- ses indutores do efeito estufa. Esta decomposi-
cional e, por conseguinte, contribuir para a re- ção pode ser realizada de maneira controlada,
dução de emissões de gases indutores do efeito possibilitando a geração de energia, por meio
estufa. Para atingir seus objetivos, o PROBIOGÁS: do aproveitamento do metano, presente em
grandes concentrações no biogás. É a partir da
e Atua pela melhoria das condições regulatórias; geração de energia proveniente dos processos
e Aproxima instituições de ensino e pesquisa e; de biodegradação de compostos orgânicos que
o biogás possibilita um retorno positivo para o
e Fomenta a indústria nacional de biogás.
setor saneamento básico no Brasil, bem como a
Fruto da cooperação técnica entre o gover- redução de custos no setor agropecuário e da
no brasileiro, por meio da Secretaria Nacional de agroindústria, contribuindo para a redução do
Saneamento Ambiental, do Ministério das Cida- efeito estufa.
10
Fonte: http://www.cidades.gov.br/saneamento-cidades/probiogas

16
Eficiência Energética

A Agência Alemã de Cooperação Interna- atingiram R$ 3,5 bilhões, tendo sido consu-
cional – Deutsche Gesellschaft für Internationale midos 12,74 TWh. Esta quantidade equivale
Zusammenarbeit (GIZ) GmbH, como empresa fe- ao consumo doméstico anual de cerca 22 mi-
deral de utilidade pública, apoia o governo fe- lhões de habitantes no Brasil. A informação do
deral da Alemanha em seus objetivos na área consumo energético e dos respectivos gastos
de cooperação internacional para o desenvolvi- dos prestadores de serviço é recolhida e pro-
mento sustentável. No Brasil, a cooperação atua cessada pelo Sistema Nacional de Informa-
principalmente em duas áreas temáticas: a pro- ções sobre o Saneamento - SNIS. O SNIS é uma
teção e o uso sustentável dos recursos naturais reconhecida referência internacional em fer-
e a eficiência energética e a inclusão de fontes ramentas de monitoramento e diagnóstico da
renováveis na matriz energética brasileira. prestação dos serviços públicos, gerido pela
Em 2014, as despesas com energia elétri- Secretaria Nacional de Saneamento Ambien-
ca dos prestadores de serviço de saneamento tal, do Ministério das Cidades.

Figura 1. Consumo de Energia Elétrica no Saneamento

CONSUMO ANUAL DE ENERGIA CONSUMO ENERGIA ELÉTRICA SANEAMENTO


ELÉTRICA NO SANEAMENTO
14,00 De acordo com dados o Sistema Nacional de
Água (AG028) Esgoto (ES028)
12,00 informações em Saneamento, o consumo de
10,00 energia elétrica do setor de saneamento tem
sido crescente nos últimos anos.
(TWh)

8,00
6,00 O objetivo de universalização do atendimento
4,00 estabelecido pelo PLANSAB e os crescentes
2,00 desafios para aceder a novos mananciais de
0,00 abastecimento tornam imperatica uma
melhor utilização da energia elétrica no setor.
03

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Fonte: Snis (2016)


Fonte: SNIS (2016)

Visando, pelo exposto, uma melhor utilização tadoras de serviço. O objetivo é aproveitar o poten-
da energia elétrica no setor, o projeto de coopera- cial de economia existente nos sistemas de abas-
ção em eficiência energética no abastecimento de tecimento. Pretende-se, a médio prazo, alcançar
água - PROEESA11 foi pactuado entre a Secretaria reduções significativas nas despesas de eletricida-
Nacional de Saneamento Ambiental, do Ministé- de, nos consumos energéticos e nas perdas de água,
rio das Cidades, do Brasil e o Ministério Federal com inerentes melhorias na conservação das redes
da Cooperação Econômica e do Desenvolvimento de distribuição e de instalações de bombeamento.
(BMZ) da Alemanha, sendo a parceria executada O PROEESA incide na análise de instru-
pela Cooperação Alemã para o Desenvolvimento mentos de financiamento e de fomento de efi-
Sustentável - Deutsche Gesellschaft für Interna- ciência energética, no intercâmbio de entes no
tionale Zusammenarbeit (GIZ). A colaboração teve setor de saneamento e de energia e também
início em janeiro de 2016 e a conclusão prevista na adequação de ferramentas e instrumentos
para o final de 2018. metodológicos. As diferentes áreas de atuação
O PROEESA atua na melhoria das condições são acompanhadas com medidas de informação,
para a implantação de medidas nas entidades pres- sensibilização, capacitação e assessoria.

11
Fonte: http://www.cidades.gov.br/saneamento-cidades/proeesa

17
Eficiência Energética

A cooperação atua em três níveis: no nível Em 2016, com a promulgação da Lei nº


macro são apoiadas instituições com relevân- 13.280, que alterou a Lei nº 9.991/2000, disci-
cia nacional nas áreas de saneamento e ener- plinou-se a aplicação de recursos destinados
gia para que – no médio e longo prazo – haja a programas de eficiência energética, oriunda
uma melhoria nas condições do quadro. No ní-
de recursos dos programas de eficiência ener-
vel meso, as instituições são apoiadas em ações
gética das concessionárias de distribuição, es-
que visam o levantamento, a padronização e a
tabelecendo que 20% deste montante sejam
interpretação de dados, bem como a difusão de
informação sobre eficiência energética. No nível destinados a suportar o PROCEL, tendo o Plano
micro, por meio de medidas demonstrativas, são 2016/2017 de aplicação de recursos do PROCEL
apoiados o desenvolvimento e a implementação estabelecido um orçamento de R$ 2,54 milhões
de planos de redução de perdas de água e ener- (já descontado o custeio da equipe técnica da
gia num conjunto de prestadoras de serviço de ELETROBRÁS) para a área de eficiência energéti-
âmbito municipal. ca no saneamento ambiental (PROCEL SANEAR).
Como resultados, espera-se que: Além do apoio aos projetos de eficiência
energética, a lei determina também que os in-
e Os prestadores de serviço de saneamen- vestimentos devam priorizar a indústria nacional.
to utilizem instrumentos de fomento que Desde 2017 os critérios de eficiência ener-
contêm requisitos de eficiência energética gética estão incorporados aos requisitos para
para o planejamento ou a modernização de
concessão de financiamentos do Ministério das
infraestruturas;
Cidades para a área de saneamento.
e As análises de custos e de potenciais de eco-
Verifica-se, pois, uma consolidação da políti-
nomia derivadas da eficiência sejam consi-
deradas na elaboração de medidas técnicas ca de cooperação intersetorial, e a continuidade
ou políticas do setor; dos esforços para capacitar o pessoal e fomentar
e Haja maior coordenação de iniciativas de as indústrias ligadas ao setor de saneamento.
eficiência energética intersetorialmente.

18
Eficiência Energética

3. METODOLOGIA

3.1 Detalhamento da Metodologia AT 4

A
metodologia preconizada no COM+ e Subprojeto 5: Controle e Redução de Perdas
ÁGUA.2 tem como base estruturante Aparentes;
os DMC como pilares estratégicos no e Subprojeto 6: Sistema de Planejamento;
combate às perdas de água. e Subprojeto 7: Instâncias Participativas;
A metodologia do COM+ÁGUA havia sido e Subprojeto 8: Comunicação Social;
elaborada em torno dos seguintes subprojetos: e Subprojeto 9: Educação e Cultura.

Já no COM+ÁGUA.2 os subprojetos foram es-


e Subprojeto 1: Macromedição e Automação; truturados por Áreas Temáticas - AT, objetivando
e Subprojeto 2: Sistema Cadastral Técnico e assegurar a integração e a participação, evitan-
Modelagem Hidráulica; do visão segmentada que feriria o cerne da pro-
e Subprojeto 3: Controle e Redução de Per- posta metodológica, ficando a Área Temática 4
das Reais; para a Gestão da Energia. As atividades da AT 4
e Subprojeto 4: Gestão do Uso da Energia; são o objeto deste Caderno Metodológico.

3.2 Atualização Metodológica em


Relação ao Com+Água
Comparando os subprojetos da primeira de Reversão – RGR, da ELETROBRÁS. Apesar da
versão do COM+ÁGUA com os que compõem o execução de vários diagnósticos, não chegou a
COM+ÁGUA.2, verifica-se que o Subprojeto 4 – ser apresentado qualquer projeto com aquela
Gestão do Uso da Energia transformou-se numa finalidade. Na atual versão apresentam-se estu-
Área Temática: AT 4 – Gestão da Energia, na qual
dos de caso, em publicações específicas, que re-
se incluem como subprojetos temas importan-
presentam uma consolidação da metodologia e
tes - abordados mais adiante em itens específi-
cos - que ganham desta forma maior relevância. da capacitação do pessoal das operadoras, e que
Na primeira versão do COM+ÁGUA foi fa- poderão ser submetidos às fontes de financia-
cultado aos prestadores elaborar projetos para mento como projetos de eficiência energética,
submissão ao financiamento via Reserva Global visando a obtenção de recursos.
19
Eficiência Energética

3.2.1 Plano de Aplicação dos Recursos e Medir os resultados;


do Procel e Rever como a política funciona;
e Melhorar continuamente a gestão da energia.
A metodologia da AT 4 do projeto
COM+ÁGUA.2 encontra-se alinhada com as di- A International Organization for Standardi-
retrizes estabelecidas para as atividades de fo- zation - ISO é uma federação mundial de orga-
mento ao setor saneamento estabelecidas no nismos nacionais de normalização (organismos
plano de ação do PROCEL SANEAR. membros da ISO). O trabalho de preparação de
Grande parte das atividades previstas na normas internacionais normalmente é realizado
metodologia do COM+ÁGUA.2 são também pre- através de comitês técnicos da ISO. Cada mem-
vistas no Plano de Ação do PROCEL SANEAR, bro interessado em um assunto para o qual foi
como por exemplo: criado um comitê técnico tem o direito de ser
representado nesse comitê.
A principal tarefa dos comitês técnicos é
e Capacitar técnicos na metodologia de diag-
preparar as normas internacionais. Os projetos
nóstico hidroenergético;
de normas internacionais adotados pelos comi-
e Elaborar diagnósticos hidroenergéticos em
tês técnicos são distribuídos aos membros para
sistemas de saneamento;
votação. A publicação como norma internacio-
e Implementar projetos de eficiência energé- nal requer aprovação de, pelo menos, 75% dos
tica e hidráulica, em âmbito nacional, em membros com direito a voto. A ISO 50.001 foi
sistemas de grande porte; preparada pelo Projeto Comitê ISO/PC 242, Ges-
e Realizar campanhas de sensibilização seto- tão de Energia.
rial para prestadores de serviço.
e ISO 50.001:2011 – Sistema de Gestão de
3.2.2 Normas da International Organi-
Energia
zation for Standardization - ISO
O objetivo desta norma é permitir que as or-
A metodologia da AT 4 do COM+ÁGUA.2 foi
ganizações estabeleçam os sistemas e processos
elaborada em conformidade com os requisitos
necessários para melhorar o desempenho ener-
mais atuais estabelecidos por organismos in-
gético, incluindo a eficiência energética, uso e
ternacionais, em particular no que se refere aos
consumo. A implantação desta norma se destina
sistemas de gestão de energia conforme preco-
à redução nas emissões de gases de efeito estu-
nizados na norma ISO 50.001:2011.
fa e outros impactos ambientais relacionados à
Mais especificamente, a ênfase na criação energia e aos custos/economia que esse sistema
dos Comitês Gestores - CG, o envolvimento de de gestão de energia promoverá. Esta norma é
todas as áreas da empresa, o estabelecimento aplicável a todos os tipos e tamanhos de organi-
de indicadores de gestão energética, entre ou- zações, independentemente de condições geo-
tras, são atividades em total sintonia com a nor- gráficas, culturais ou sociais. A implementação
ma citada, como se pode verificar observando bem-sucedida depende do comprometimento
o quadro de exigências da ISO 50.0012 para as de todos os níveis e funções da organização e,
organizações: especialmente, da gestão de topo.
Esta norma especifica os requisitos do sis-
e Desenvolver uma política para o uso mais tema de gestão de energia (Energy Management
eficiente da energia; System - EnMS), sobre os quais uma organização
e Fixar metas e objetivos para atender a essa pode desenvolver e implementar uma política
política; energética e estabelecer objetivos, metas e pla-
e Usar dados para melhor compreender e to- nos de ação que levem em conta os requisitos
mar decisões sobre o uso de energia; legais e informações relativas ao uso significati-
12
https://www.iso.org/files/live/sites/isoorg/files/store/en/PUB100400.pdf

20
Eficiência Energética

vo de energia. Um EnMS colabora para que uma temas de Gestão de Energia);


organização atinja seus compromissos políticos, e ISO 50.004 - Energy Management Systems
tome as medidas necessárias para melhorar o – Guidance for the Implementation, Main-
seu desempenho energético e esteja de acordo tenance and Improvement of an Energy
com os requisitos da norma. Management System (Sistemas de Gestão
A ISO 50.001 é baseada no modelo de sis- de Energia – Guia para a Implementação,
tema de gestão de melhoria contínua, também Manutenção e Melhoria de Um Sistema de
utilizado para outros padrões bem conhecidos, Gestão de Energia);
como ISO 9.001 e ISO 14.001. Isto facilita para e ISO 50.006 - Energy Management Systems
as organizações integrarem o gerenciamento de – Measuring Energy Performance Using
energia em seus esforços a fim de melhorar a Energy Baselines (ENB) and Energy Perfor-
qualidade e gestão ambiental. mance Indicators (ENPI) – General Princi-
ples and Guidance (Sistemas de Gestão de
e A ISO no Brasil Energia – Medição do Desempenho Energé-
tico Usando Linha Base de Energia e Indi-
Até o final de 2015, quase 30 empresas já cadores de Desempenho Energético – Prin-
haviam se certificado no país e várias organi- cípios Gerais e Guia);
zações se mostraram interessadas, sendo que a e ISO 50.007 – Energy Services – Guidelines
maior procura foi no setor industrial. Isto acon- for the Assessment and Improvement of the
tece porque as organizações são influenciadas Energy Services to Users (Serviços de Ener-
por fatores internos e externos no momento gia - Diretrizes para a Avaliação e Melhoria
da decisão da adoção da norma. A crise inter- dos Serviços de Energia para Usuários).
nacional com mudanças abruptas das condições
macroeconômicas é um grande exemplo, já que
atrai a atenção e precaução para si.
3.2.3 Softwares
Para implementar essa norma é prudente fa- A metodologia da AT 4 do projeto
zer uma avaliação das condições organizacionais COM+ÁGUA.2 é ainda direcionada para o apro-
como o ritmo de atividade produtiva, para fazer veitamento de recursos tecnológicos dispo-
uma previsão e o alinhamento dos objetivos da níveis, fato este ao qual nenhuma atividade
certificação com os da organização. Em alguns humana em nosso tempo pode estar alheia, par-
casos é necessário buscar capacitação dos fun- ticularmente em área técnica de engenharia.
cionários internos envolvidos no processo. Softwares aplicativos específicos foram de-
senvolvidos para as áreas de operação, gestão
e A família ISO 50.001 e manutenção de sistemas de operadoras de sa-
neamento básico, com rotinas já incorporadas ou
Desde que a ISO 50.001 foi publicada, em com possibilidades de incorporação de módulos
2011, outras normas relacionadas foram desen- adicionais, podendo executar cálculos, simula-
volvidas pelo comitê técnico ISO/TC 301, Gestão ções, cadastros de ativos e comerciais, determina-
da Energia e Economia de Energia. Estas incluem: ção de listas de materiais, levantamento de perfis,
diagnósticos de gestão e estudos de viabilidade.
e ISO 50.002 – Energy Audits – Requirements
With Guidance for Use (Auditorias Energéti- 3.2.3.1 Softwares de Gestão Energética
cas – Requisitos e Guia Para Uso); Existem diversos softwares de gestão
e ISO 50.003 – Energy Management Systems energética disponíveis no mercado, depen-
– Requirements for Bodies Providing Au- dendo da aplicação e da utilização a que os
dits and Certification of Energy Manage- mesmos se destinam.
ment Systems (Sistemas de Gestão Ener- Esses softwares podem possuir maior ou me-
gética - Requisitos para Organismos que nor grau de automatismo, também de acordo com
Fornecem Auditorias e Certificação de Sis- os objetivos do prestador e da disponibilidade de
21
Eficiência Energética

suporte técnico e qualificação do pessoal de ge- Informação confiável sobre consumo de


renciamento e de manutenção. energia e volume de água requer medição, ou
De uma forma geral, o objetivo do software é seja, os elementos básicos do sistema são os
melhorar o desempenho energético dos sistemas medidores, que por sua vez se conectam a uma
consumidores de energia, com ou sem interferên- Gateway, que disponibiliza essas informações
cia automática, que no caso das empresas de sa-
para o software de análise de dados e geração
neamento são basicamente as operações dos con-
de indicadores e relatórios.
juntos de bombeamento, através da utilização de
informações confiáveis do consumo de energia e Um exemplo de arquitetura para esse siste-
do volume de água bombeada, ou dos seus indica- ma foi desenhado para uma estação elevatória
dores de consumo específico e de custo específico. da EMBASA e se apresenta a seguir:

Figura 2. Gestão de Energia

Fonte:

No Brasil, dada a complexidade da nossa es- tarifas para os consumos e tarifas nos horários
trutura tarifária de energia elétrica, é importan- de ponta e fora de ponta, os encargos por even-
te que esse software esteja desenvolvido consi- tuais ultrapassagens de demanda e por reativo
derando os algoritmos da Resolução 414/2010 excedente, impostos, etc...
da ANEEL, ou seja, considerando as diferentes

22
Eficiência Energética

3.2.3.2 Retscreen
Figura 3. Software Retscreen

Fonte: www.nrcan.gc.ca/energy/software-tools/7465

O software RETScreen13, desenvolvido pelo regime operacional de conjuntos motobomba,


governo canadense e disponível em português, etc., bem como para a implantação de micro,
é o programa mais utilizado no mundo para a mini e pequenas usinas geradoras de energia
análise de viabilidade de ações de Eficiência a partir de fontes limpas, como a energia solar,
Energética, como por exemplo a substituição eólica e a hidráulica.
de motores antigos de rendimento padrão por As análises incluem avaliações técnica, finan-
outros de alto rendimento, o uso de inverso- ceira e ambiental, com cálculo dos principais in-
res de frequência em substituição a válvulas dicadores utilizados pelos tomadores de decisão,
reguladoras de vazão/pressão, a alteração de como Pay-back e TIR – Taxa Interna de Retorno.

Figura 4. Tela do Software Retscreen

Fonte: www.nrcan.gc.ca/energy/software-tools/7465

13
https://www.nrcan.gc.ca/energy/software-tools/7465

23
Eficiência Energética

Seus módulos possuem então as seguintes e Analisador de energia virtual - consumo típi-
funções: co de um edifício para localização especifica
(não requer diagnóstico energético em cam-
e Análise de Viabilidade – modelação de
po, inicialmente).
projetos de energia limpa com análise de
energia, custo, emissões, financeira e sen- Outras características importantes incluem:
sibilidade/risco;
e Análise de Desempenho – monitoramento, e Modelos de Tecnologias de Energia Limpa
análise e anotações de dados chave do de- e Dados de Produtos Internacionais de mais
sempenho energético; de 1.000 fornecedores de equipamentos
e Análise de Benchmarking/ Ponto de referên- e Dados climáticos Internacionais
cia – edifícios modelados em comparação com e 1.000 estações de monitoramento terrestre
outros edifícios similares no mundo inteiro; e Conjunto de dados meteorológicos e de
e Análise de Portfólio – gestão de energia de energia solar fornecidos por Satélites da
várias unidades operacionais, considerando- NASA
-se as medidas de eficiência energética em e Manual do Usuário Online
um único local ou em diversos locais.

Figura 5. Software Retscreen

Fonte: www.nrcan.gc.ca/energy/software-tools/7465

O software entretanto, ainda não está dis- Os programas ficam residentes na nuvem e
ponível em uma versão “em tempo real” ou com os dados obtidos pelos medidores e transferidos
coleta automática de dados, sendo necessário a pela Gateway são então automaticamente anali-
inserção manual dos dados ou a importação a sados pelo software.
partir de um banco de dados disponível.
Dentre os softwares de gerenciamento em 3.2.3.3 Strata (Cotopaxi)
tempo real, no qual as informações chegam au- É um software para avaliação do desem-
tomaticamente, bem como são analisadas e au- penho energético das instalações elétricas e
tomaticamente geram os chamados “relatórios hidráulicas, em tempo real, com aplicabilidade
de exceção”, destacam-se o STRATA da COTOPA- direta em operações de bombeamento de água.
XI e o SIGMA da TEAM, ambos ingleses, porém Strata14 foi desenvolvido pela empresa Cotopaxi.
com versões em português. O software de gerenciamento de energia é um

14
Fonte: http://www.cotopaxienergy.com/energy-management-software/

24
Eficiência Energética

centro integrado de conhecimento, métricas, in- eletrônicos possibilitando fácil acesso ao siste-
formações e ferramentas de relatórios para aju- ma dos dados coletados a qualquer momento.
dar uma quantidade ilimitada de usuários a re- O programa gera gráficos de desempenho
duzir os custos operacionais (energia, recursos e hidroenergético de um único equipamento (con-
matérias-primas), melhorar a qualidade, reduzir junto motobomba) ou de uma estação completa,
os prazos de entrega e reduzir o risco ambien- gerando os indicadores que forem configurados,
tal.  O sistema coleta dados de processo de alta como kWh/m3, R$/kWh e R$/m3, em tempo real,
frequência ou incrementa os dados de vazão de que possibilita uma gestão eficaz do consumo
água para análise de exceção, em tempo real. energético e do desempenho hidroenergético
Tem disponível mecanismo de pesquisas e filtra- dos sistemas de bombeamento. Seu algoritmo
gens inteligentes e intuitivas, que se constituem utiliza como base a metodologia de medição,
de ferramentas fundamentais para as pesquisas monitoramento e definição de metas, em linha
de desempenho energéticos das instalações com a ISO 50001 de gestão energética.
elétricas, disponíveis em diversos dispositivos

Figura 6. Tela do Strata (Cotopaxi)

Fonte: http://www.cotopaxienergy.com/energy-management-software/

Figura 7. Software Strata (Cotopaxi)

Fonte: http://www.cotopaxienergy.com/energy-management-software/

25
Eficiência Energética

3.2.3.4 Sigma (Team) neçam decisões e estratégias que possibilitem


É um software para avaliação do desempenho melhores respostas para os relatórios. O Sigma
energético das instalações elétricas e hidráulicas. possibilita a otimização desses dados de uma
maneira mais rápida, fornecendo uma abordagem
Sigma15 é um software de gerenciamento de
estruturada, coordenada e integrada para o geren-
energia desenvolvido pela empresa Team Energy,
ciamento de energia. Sua estrutura e funcionali-
apresenta como principais características a inte-
dades são similares ao do STRATA.
ração com os dados, realizando analises que for-

Figura 8. Tela do Sigma (Tteam)

Fonte: teamenergy.com/energy-management-software/sigma-energy-intelligence-reporting/

Figura 9. Software Sigma (Tteam)

Fonte: teamenergy.com/energy-management-software/sigma-energy-intelligence-reporting/

15
Fonte: https://www.teamenergy.com/energy-management-software/sigma-energy-intelligence-reporting/

26
Eficiência Energética

3.2.3.5 Softwares de Manutenção para Em- Em uma pesquisa realizada pela Rede Bra-
presas de Saneamento sileira de Manutenção – RBM16, foram identifi-
Muitas empresas ainda usam planilhas ele- cados os softwares de gerenciamento da manu-
trônicas ou outras ferramentas de baixo custo, tenção mais usados no Brasil por empresas dos
para realização de registro e controle dos ati- mais variados segmentos, incluindo as empresas
vos existentes em suas instalações. de saneamento, que seguem a mesma tendência.

Figura 10. Indicadores de Gestão

TOTVS SIM
13% (ASTREIN)
SAP 9%
37%
ENGEMAN OUTROS MANTEC
8% 5% 4%

MAXIMO SMI ORACLE

SIGMA
13% 6% 4% 1%

Fonte: indicadoresdegestao.com

O esquema indicado abaixo sintetiza os A correta aplicação e utilização de um sis-


resultados. tema de gerenciamento da manutenção pode
Os softwares existentes no mercado podem proporcionar:
ser adaptados para uso e controle em prestado-
ras de serviços de saneamento, principalmente e Análise e redução de falhas;
para controle e gerenciamento da manutenção. e Identificação dos agentes causadores de fa-
Uma boa gestão dos ativos de uma empre- lhas em equipamentos;
sa, pode reduzir em até 50% os custos de horas e Tempo efetivo gastos com horas de manu-
extras de manutenção, em até 20% o tempo de tenção e reparos;
parada dos equipamentos, além de aumentar a e Tempo gastos em deslocamentos e trajetos;
vida útil dos equipamentos. e Custos totais de manutenção;
A maioria das prestadoras possuem os siste- e Custos com peças de reposição;
mas de produção, tratamento e distribuição des-
centralizados, e afastados dos centros urbanos, o Além das funcionalidades elementares do
que ocasiona grandes deslocamentos para rea- programa de gerenciamento da manutenção de
lização das atividades de manutenção e reparos. ativos físicos, existem outras funcionalidades que
Com um bom gerenciamento é possível reduzir levam em conta aspectos econômio-financeiros,
o tempo de deslocamento, além de otimizarem- o que facilita a realização das atividades diárias
-se os processos de manutenção. das equipes, podendo-se citar, dentre outros:

16
Fonte: www.indicadoresdegestao.com

27
Eficiência Energética

e Criação de Planos Preditivos; e Nivelamento e gestão de recursos de mão


e Plano de inspeção, calibração e lubrificação; de obra;
e Controle de estoque; e Acompanhamento de verbas financeiras;
e Elaboração de redes PERT de atividades de
manutenção;

Figura 11. Gráfico de Indicadores de Manutenção

Fonte: http://engeman.com.br/pt-br/?gclid=EAIaIQobChMIgKXH-dm13QIVDAuRCh3iPQcfEAAYASAAEgIa-vD_BwE

Figura 12. Tela de Movimentação Visual

Fonte: ENGEMAN

28
Eficiência Energética

Figura 13. Tela da Ordem de Serviço

Fonte: ENGEMAN

Figura 14. Tela de Cadastro de Ativos

Fonte: Totvs

Figura 15. Tela da Ordem de Serviço com Procedimentos

Fonte: ENGEMAN

29
Eficiência Energética

3.2.3.6 SAP alcance mundial. Hoje, a SAP é a líder global de


SAP SE é uma empresa de origem alemã,
17 mercado em soluções de negócios colaborativos
criadora de softwares de gestão de empresas. e multiempresas, tendo como grande objetivo
Ao longo de quatro décadas, a SAP evoluiu de ajudar o mundo na estimulando de inovações
uma empresa regional para uma organização de na gestão de negócios das empresas.

Figura 16. Tela do SAP

Fonte: https://blogs.sap.com/2013/08/08/how-to-manage-sap-report-layout/

3.2.3.7 EAM uma única solução amigável e de custo muito


O Software eManut é desenvolvido pela
18 razoável. Tendo acesso a múltiplas localidades,
empresa eManut Enterprises, possui funcio- em várias línguas, a partir de qualquer sistema
nalidades para gerenciar ordens de serviços, e via browser, inclusive smartphones. Os técnicos
solicitações de serviços, manutenções preven- e os operadores de linha se adaptam facilmente
tivas, controle de inventário e compras de ma- à interface de usuário do programa de gestão
teriais, planejamento e programação, histórico eManut e aprendem rapidamente a ver e exe-
dos ativos, captura dos custos de manutenção, cutar o trabalho atribuído e também submeter
monitoramento de condição e uma área robus- solicitações de trabalho dentro do software de
ta de geração de relatórios e indicadores em manutenção industrial de equipamentos.

17
Fonte: https://www.sap.com/brazil/index.html
18
Fonte: http://emanut.com.br/mmsoftware

30
Eficiência Energética

Figura 17. Tela do Software eManut

Fonte: http://emanut.com.br/mmsoftware

3.2.3.8 Protheus um gerenciamento das informações de todas


 PROTHEUS é uma linha de software inte-
19 áreas. Entre as características do sistema, es-
grados da TOTVS. O sistema contempla todos tão a  facilidade de customizar e parametrizar
os principais processos das empresas por meio dados, a independência de sistema gerenciador
de módulos onde cada um deles corresponde a de banco de dados relacional e framework com
uma área específica de gestão, possibilitando desenvolvimento robusto.

Figura 18. Tela do Software Protheus

Fonte: www.totvs.com/home
19
Fonte: https://www.totvs.com/home

31
Eficiência Energética

3.2.3.9 SIM (Asstrein) cos de manutenção em mais de 350 empresas


dos mais variados segmentos.
A Astrein Engenharia de Manutenção20 é
O software SIM possibilita ainda, o controle
desenvolvedora do software SIM21 – Sistema In-
de qualquer tipo de manutenção (corretiva, pre-
formatizado de Manutenção – um sistema para
ventiva, preditiva) e de qualquer especialidade
gerenciamento informatizado de manutenção,
(elétrica, mecânica, eletrônica, hidráulica, civil),
que envolve atividades de planejamento, pro- proporcionando redução de custos, das paradas
gramação e controle de manutenção em equi- dos equipamentos, do tempo de detecção de fa-
pamentos móveis, equipamentos estacionários, lhas, e agilidade nos trabalhos administrativos –
veículos e instalações prediais, e serviços técni- indispensáveis às empresas com ISO 9000 e GMP.

Figura 19. Software SIM

Fonte: astrein.com.br/

3.2.3.10 Softwares de Operação de Siste- No que tange à operação, alguns softwares


mas de Abastecimento permitem integrar informações de distintas pla-
Existem alguns softwares usados para a ges- taformas, formando uma única base de dados,
tão completa ou parcial do sistema das pres- facilitando o gerenciamento de:
tadoras. Hoje estes softwares são modulares, e Manobras de registros e válvulas;
podendo ser formatados de acordo com as ne- e Pontos de coletas;
cessidades e complexidade da operação que se
e Pontos de amostragens;
deseja controlar.
e Captação;
Os softwares integrados permitem desde a
e Instalação de hidrantes;
gestão de produção até a emissão de faturas
para os clientes/usuários. e Instalação de macromedidores;
e Localização de redes coletoras de esgoto;

20
Fonte: http://www.astrein.com.br/
21
Fonte: https://www.manutencaoesuprimentos.com.br/

32
Eficiência Energética

O uso de ferramentas com possibilidade de • Controle de débitos;


integração de banco de dados pode trazer para a • Controle de parcelamento;
prestadora muitos benefícios, tais como: • Controle de inadimplência;
• Controle de protocolo de atendimento;
e Benefícios estratégicos:
e Benefício de gestão operacional, como:
• Controle e dimensionamento de in-
fraestrutura de redes de água; • Lançamento e acompanhamento de
leituras de macromedidores;
• Controle e dimensionamento de in-
fraestrutura de redes de esgoto; • Cálculo de consumo direto;
• Controle de estações de tratamento • Cálculo de consumo em cascata;
de água; • Cálculo de consumo misto.
• Controle de estações de tratamento Para a operação de sistemas de saneamento,
de esgoto; os mais comuns são:
• Lançamento de análises de parâmetros
de água; HIDRO22
e Benefício de gestão comercial, como: SISPER23

3.3 Diagnóstico Hidroenergético


Dentre outras ações necessárias, já mencio- registradas em loggers sincronizados, no caso de
nadas no item 3.1.2 deste relatório, a realização não haver telemetria com registro de dados em
de eventos de diagnóstico e monitoramento dos software supervisório.
sistemas de bombeamento tem como atividade No COM+AGUA.2 foram utilizados: um anali-
mais representativa a avaliação do desempenho sador de energia por motor funcional; medições
energético das estações de bombeamento, a partir de vazão de entrada no tanque de sucção, quan-
da qual poderão ser propostas ações viáveis cor- do justificado; de saída do bombeamento; me-
relatas de eficiência energética, bem como outras dições de nível em todos os tanques e reserva-
que certamente utilizarão as informações colhidas. tórios envolvidos no sistema adutor do qual faz
Essa avaliação deve ser realizada com a maior parte o bombeamento; levantamento de cotas
precisão possível, ou seja, com a utilização de ins- topográficas por Global Positioning System - GPS
trumentos de medição, devidamente calibrados e topográfico; medições de pressão de sucção e
em conformidade com as metodologias definidas. recalque, pós-barrilete e pressão média do siste-
Os diagnósticos deverão identificar e carac- ma distribuidor que requisita o bombeamento;
terizar a situação do sistema de bombeamento medições de parâmetros mecânicos (instantâ-
selecionado, reunindo documentos existentes e neos): rotação dos motores, vibração; termogra-
levantamentos efetuados em campo. fia de mancais, motores e quadros elétricos.
Com os equipamentos instalados, é então A partir do monitoramento e diagnóstico foi
realizado o monitoramento contínuo por perío- necessário estabelecer linha de base; analisar os
do desejável de sete dias dos parâmetros elé- resultados das medições; diagnosticar as medi-
tricos, mecânicos e hidráulicos da instalação de das de melhoria; avaliar os benefícios e custos
bombeamento selecionada, com dados registra- potenciais, tanto pela ótica do usuário quanto
dos a cada três minutos no máximo, medições pela ótica do setor elétrico.

22
http://www.agili.com.br/Produtos/administrativa/hidro
23
www.engenharias.net

33
Eficiência Energética

Figura 20. Melhoria de Desempenho Hidroenergético

Um diagnóstico hidroenergético é
uma avaliação sistemática do uso Finalidade - buscar oportunidades de melhoria no seu
de energia e água de uma unidade desempenho hidroenergético.
consumidora.

• Estação de bombeamento simples com um conjunto moto-


bomba;
Unidades consumidoras • Vários conjuntos moto-bombas em paralelo;
podem ser: • Com uma adutora ou várias adutoras;
• Captação de água bruta de um rio, lago ou poço;
• Estação de tratamento de água;
• Sistema de distribuição de um bairro ou cidade.

Fonte: Elaboração COM+ÁGUA.2

A elaboração do diagnóstico considera as Deve ser notado que a toda redução de con-
etapas de execução indicadas na figura abaixo: sumo de energia elétrica corresponde um efeito
O relatório, a ser elaborado após a coleta ambiental positivo, pela redução de emissões
e análise dos dados, deve ser objetivo, porém de gases do efeito estufa, desde que haja usinas
com informações suficientes para a tomada de termoelétricas sendo despachadas para aten-
decisão por parte do prestador e conterá além dimento às necessidades de geração, o que é o
dos aspectos técnicos, como relação de ações de caso do sistema elétrico interligado brasileiro,
eficiência energética, economia do consumo de principalmente no horário de ponta. Usinas ter-
energia e Redução da Demanda na Ponta - RDP, moelétricas podem ser a gás, a óleo, a carvão ou
também o investimento estimado, a economia outro combustível primário, cuja queima libe-
calculada, a análise de viabilidade financeira e a rará maior ou menor quantidade de GEE, sendo
redução de emissões equivalentes de Gases do a avaliação efetuada pelo equivalente em CO2
Efeito Estufa - GEE. estabelecido para cada um.

Figura 21. Etapas do Diagnóstico Hidroenergético

Etapas do Diagnóstico Hidroenergético:

Plano de Medições e Relatório e


Planejamento medições análises encerramento

• Reunião de • Inspeção; • Relatório técnico;


• Equipe;
abertura; • Ensaios de • Apresentação dos
• Instrumentação;
• Coleta de dados; desempenho; resultados;
• Metodologia.
• Visita prévia. • Monitoramento. • Plano de ações.

Fonte: Elaboração COM+ÁGUA.2

34
Eficiência Energética

3.4 Medidas Administrativas e Redução de


Gastos com Energia Elétrica
Medidas administrativas são aquelas que inferior a um ano. Contudo, para que se obtenha
não exigem alteração nas caraterísticas ou no um resultado mais seguro e evitar imprecisão, por
modus operandi de equipamentos utilizados na exemplo, por influência de sazonalidade, o melhor
atividade fim da empresa. é analisar as faturas de pelo menos três anos.
São medidas corretivas de má gestão admi- É a partir dessa análise que se torna possível
nistrativa por desconhecimento de meandros ou visualizar as relações de hábito e de consumo,
aspectos técnicos da legislação. Geralmente po- além dos padrões de uso de energia em dife-
dem ser efetuadas com baixo ou nenhum custo, rentes faixas horárias, ou seja, fora de ponta do
sendo exceção, dentre outras, a instalação de sistema elétrico, ou na ponta.
capacitores para correção do fator de potência Para o desenvolvimento da análise deve-se
onde há necessidade de aquisição e montagem considerar o enquadramento tarifário e determi-
de equipamentos. A realização das medidas ad- nação da demanda a ser contratada, diante da
ministrativas constitui, usualmente, um pré-re- demanda registrada nas contas, nos horários de
quisito para a concessão de financiamentos de ponta e fora de ponta. Além desses, deve-se ava-
projetos de eficiência energética. liar a necessidade de correção do fator de po-
tência (por instalação de banco de capacitores),
3.4.1 Gestão de Contas o que é obtido pela verificação da ocorrência ou
A inspeção das contas de energia para rene- não de multas, expressas nas contas sempre que
gociação do valor de demanda contratada com a este fator ficar abaixo de 0,92.
concessionária é uma atividade administrativa. Por Em geral, para se realizar uma análise com-
si só não seria elegível para obtenção de financia- pleta se faz necessário conhecimento técnico e
mento de uma linha do PROCEL SANEAR para uma alguma experiência.
empresa do setor. Entretanto, se decorrer de uma Contudo, qualquer pessoa que tenha acesso
medida operacional proposta, pela qual se reduziu a uma literatura sobre esse procedimento e que
o consumo modificando o escalonamento do acio- seja treinada pode chegar a conclusões que le-
namento de conjuntos em uma elevatória, ou se vem a oportunidades de redução de gastos com
substituiu um equipamento por outro de dimen- energia elétrica, por exemplo, a partir de uma
sionamento adequado, deve ser considerada na recontratação de modalidade tarifária.
avaliação da medida operacional proposta. A análise é facilitada pela utilização de
O consumidor industrial, comercial e o pú- planilhas para simulação da aplicação de dife-
blico contam com diferentes alternativas de rentes modalidades tarifárias (uma para cada
enquadramento tarifário de consumo e de de- planilha), onde se lançam os valores mensais
manda, que influenciam diretamente na despesa de consumo e demanda dos últimos anos, ob-
mensal com energia elétrica. tidos das contas e se verifica o resultado mais
Para que seja possível realizar uma contra- econômico, podendo ainda simular valores das
tação ou modificar um contrato de fornecimento demandas contratadas diferentes dos vigentes.
de energia é necessário que primeiramente seja No COM+ÁGUA.2 foram disponibilizadas as pla-
realizada uma cuidadosa análise de suas faturas, nilhas e treinamento às operadoras.
a chamada análise tarifária, para determinação No que se refere à fatura de energia, é pos-
dos valores de consumo e demanda adequados. sível visualizar em detalhe os itens que a com-
Nesse contexto é importante levar em coside- põem, a partir de um exemplo constante no site
ração que o período a ser analisado não deve ser de uma prestadora24.
24
www.ceb.com.br/index.php/conhecendo-sua-conta

35
Eficiência Energética

3.4.2 Medidas Institucionais também surtem bons resultados são medidas


gerais de racionalização do uso da energia nas
A adoção de quaisquer medidas de eficiên-
edificações, tais como:
cia energética, sejam elas administrativas ou
operacionais, deve começar pela conscientiza-
ção do pessoal de todas as áreas do prestador e Condicionadores de ar de janela:
de serviços através da disseminação da cultura • Implantação de programa de limpeza
de eficiência energética, periódica dos filtros dos condicionado-
Eventos de sensibilização, seminários, con- res de ar;
cursos internos para slogans, cartazes e apre- • Desbloqueio da circulação do ar capta-
sentação de poesias, peças teatrais e músicas do para circular através do condensador
ligadas ao tema, são utilizados como fator moti- dos condicionadores;
vacional interno. • Verificação das condições físicas e de
As comunidades supridas pelo prestador necessidade de limpeza das aletas do
devem também ser objeto de oficinas, cursos e condensador e do evaporador.
outras informações pertinentes à racionalização
e Sistema de iluminação:
do uso de água e energia.
No âmbito do COM+ÁGUA.2, os Comitês As medidas a serem adotadas no sistema de
Gestores - CG das prestadoras deverão desem- iluminação devem ser consideradas a partir
penhar esse papel de condução do processo de de análise técnica e podem ser as seguintes:
uso eficiente da água e da energia elétrica, sen- • Setorização das luminárias dos dife-
do responsáveis pela elaboração, implantação rentes ambientes;
e acompanhamento das metas do Programa de • Instalação de sensor de presença;
Conservação de Energia e divulgação ampla e • Substituição das lâmpadas incandes-
transparente dos seus resultados. centes ou fluorescentes, por lâmpadas a
Light Emitting Diode - LED (essa substi-
3.4.3 Medidas Operacionais não Liga- tuição deve ser realizada a partir de me-
das Diretamente à Atividade-Fim dições e análises que levem à melhora
Outras medidas que geram pouco impacto ou preservação de níveis seguros para os
no consumo de energia devido à sua baixa re- diferentes usos e pode ser realizada na
presentatividade no setor saneamento, mas que medida em que as antigas queimem).

3.5 Projetos de Eficiência Energética com


a Redução de Consumo e de Demanda
de Energia Elétrica
A cada ano, a oferta de água para atender metros cúbicos de água tratada por ano, segun-
os diversos setores consumidores, tais como do dados do Banco Mundial25.
o industrial, de saneamento e agricultura fica Tomando por base o setor de saneamento
mais crítica. no Brasil, segundo dados do Sistema Nacional
Entretanto, na contramão de tudo isso, o ní- de Informações sobre Saneamento – SNIS26, em
vel de desperdício de água no mundo é cada vez 2016, o índice anual de perdas médias de água
mais elevado, chegando a cerca de 32 bilhões de foi de cerca de 32%.

25
Kingdow, Liemberger, & Marin, 2006
26
http://www.snis.gov.br

36
Eficiência Energética

Contudo, segundo consta no International No caso específico das ações de eficiência


Benchmarking Network (IBNET) for Water and energética, há necessidade de planejar tanto as
Sanitation Utilities Databook – Blue Book – 2014, atividades de diagnóstico para proposição das
esse índice pode passar de 40%. medidas necessárias como as intervenções cor-
Considerando que as informações inseridas respondentes à execução dessas ações.
no SNIS são baseadas em dados predominante- Bastante já foi dito sobre a execução do
mente estimados, uma vez que a cultura de medi- diagnóstico, nos itens 3.1.2 e 4.3, incluindo as
ção não é uma prática comum nesse setor, fica fá- informações a serem coletadas, a realização de
cil entender como mais preciso o índice do IBNET. medições no campo e a elaboração do relató-
Nesse cenário de perdas elevadas é impor- rio de apresentação do projeto. Neste item en-
tante também mencionar que as usinas hidrelé- focaremos recomendações adicionais, visando
tricas correm grande risco de terem o volume de facilitar os trabalhos que sejam realizados com
seus reservatórios comprometidos e como con- participação de equipes externas, como no caso
sequência terem comprometida a capacidade de do COM+ÁGUA.2, assim como detalharemos al-
geração de energia elétrica, pois necessitam de gumas das previamente apresentadas:
grande volume de água.
Por tudo isso, a busca pela eficiência na ope- e Realização de uma reunião de abertura para
ração dos sistemas de abastecimento de água conhecimento dos participantes e estabele-
torna-se cada vez mais importante e necessária. cimento dos critérios e padrões de trabalho,
É sempre bom lembrar que, seja qual for a reunião essa que pode ser presencial (prefe-
medida adotada para redução de consumo de rivelmente), mas também por teleconferên-
energia elétrica nesses sistemas, sempre deverá cia, ou por outros recursos eletrônicos;
ser considerada a sinergia entre a água e a ener- e Levantamento de toda e qualquer interven-
gia elétrica, ou seja, quanto menor for o nível ção prevista nas áreas de abrangência do
de perda de água, seja real ou aparente, tanto estudo que possa interferir na qualidade dos
menor será o consumo de energia elétrica. Por dados a serem levantados;
outro lado, quanto mais adequado for o dimen-
e Obtenção de dados cadastrais de motores,
sionamento dos conjuntos motobomba, tanto
bombas, quadros elétricos e transformado-
melhor e mais seguro será o atendimento ao
res; cópia das faturas de energia das uni-
conjunto de usuários finais, o que inclui custos
dades consumidoras dos últimos 12 meses,
mais baixos em reais, por metro cúbico de água
pelo menos; cadastros dos medidores exis-
produzido e entregue.
tentes na instalação como de pressão das
Nesse conjunto de alternativas pode-se optar
bombas e do barrilete, de vazão das bombas
por diferentes projetos que incluam redução do
e da instalação, de nível de reservatórios, de
consumo de energia, com ou sem a inclusão da re-
rotação e de grandezas elétricas;
dução da demanda máxima, nos horários de ponta
e/ou fora de ponta conforme o conjunto de ações e Preparação de pelo menos uma visita prévia
que serão descritas nas diversas alternativas. para a visualização in loco das condições em
que serão realizados os trabalhos de campo;
3.5.1 Planejamento das ações27 e Definição de um local nas instalações da
Toda e qualquer intervenção que se pretenda prestadora em que seja possível guardar de
implementar deve ser precedida de planejamen- forma segura os equipamentos e instrumen-
to. Para as prestadoras de serviços de abasteci- tos que serão utilizados durante a realização
mento de água, as ações devem ser planejadas dos trabalhos de campo. Isso inclui mesas
de modo a evitar a possibilidade de desabasteci- para verificação de desenhos técnicos, uso
mento durante a realização dos trabalhos. de notebooks, apoio de outros objetos, cadei-

27
GUIA PRÁTICO VOL. 03 – PLANEJAMENTO E BOAS PRÁTICAS EM CAMPO, publicado pelo Programa Nacional de
Conservação de Energia Elétrica – PROCEL

37
Eficiência Energética

ras em número compatível com a dimensão 3.5.2 Operacionalização das ações28


da equipe de trabalho, acesso a tomadas
As medições em campo para o diagnóstico
de energia elétrica com tensão compatível
exigem uma equipe técnica multidisciplinar.
para que seja possível recarregar baterias de
O tempo gasto nos trabalhos de campo para a
notebooks, rádios transceptores (esse recur-
instalação de equipamentos e de instrumentos,
so é importante para que os componentes
período de medição e recolhimento dos dados,
das equipes possam se comunicar em caso
costuma ser de uma a duas semanas.
de atuarem em locais diferentes ao mesmo
É importante lembrar que em razão da si-
tempo), equipamentos de medição e telefo-
nergia entre a água e a energia elétrica, as
nes celulares;
medições hidráulicas e elétricas deverão ser
realizadas simultaneamente. Para tanto, todos
e Verificação dos Indicadores de Eficiência os equipamentos, instrumentos e relógios dos
Energética - IDE existentes;
membros da equipe deverão estar sincronizados.
e Obtenção de desenhos técnicos que conte-
Da mesma forma, as programações dos in-
nham as descrições de materiais das tubula-
tervalos de medição dos diferentes equipamen-
ções, seus diâmetros e suas extensões, as pres-
tos e instrumentos deverão ser as mesmas.
sões nos diferentes trechos dessas adutoras;
Para a operacionalização das intervenções
e Obtenção das indicações das diferentes co-
no campo devem ser selecionados todos os
tas topográficas dos locais que compreen-
equipamentos, instrumentos, Equipamentos de
dem o escopo do trabalho.
Proteção Individual - EPI e Equipamentos de
Para a etapa de execução das medidas pre- Proteção coletiva EPC, se for o caso. Deve-se
vistas no projeto, especial atenção deve ser dada montar um mapa de ação, de modo que todos os
à verificação da linha de base prevista. Dado o membros da equipe técnica de trabalho saibam
tempo usualmente decorrido entre o diagnóstico quais serão os seus papéis no desenvolvimento
e o início da implantação do projeto é comum dos trabalhos, em conformidade com o exigido
que tenham ocorrido alterações nos sistemas ou pelas as Normas NBR 5410 - Instalações Elé-
equipamentos, seja por substituição de equipa- tricas de Baixa Tensão, NR 10 – Segurança em
mentos em manutenção, seja por expansões do Instalações e Serviços em Eletricidade e NR 35
sistema não previstas por ocasião do diagnóstico, - Trabalho em Altura.
seja por substituição de componentes da rede de Dentre os aspectos a serem levados em conta
distribuição por outros de características diversas. na operacionalização da implantação podemos
Neste caso, há necessidade de levantar e citar o cumprimento de exigências relativas a
quantificar tais alterações, programando novos placas e almoxarifados de obra, banheiros quími-
levantamentos de forma a refazer os cálculos da cos, roupas e equipamentos (EPI e EPC), vigilân-
linha de base que servirá para comparar com os cia, segurança do público, depósito e destinação
resultados após a implantação. de resíduos, garagem para máquinas e veículos,
Quanto à execução da obra, dependendo do proteção da vida selvagem e outras determina-
porte da mesma, há que atentar às exigências ções legais de ordem técnica ou ambiental
legais, técnicas e ambientais, que possam ser
aplicáveis à implantação, planejando os deta- 3.5.3 Redução das Perdas Reais de Água
lhes com antecedência. e impacto no Consumo de Energia
O trabalho de planejamento deverá ainda Um programa de redução de perdas de
prever as atividades pós-implantação, que in- água gera resultados bastante satisfatórios
cluirão o acompanhamento e avaliação dos re- quando bem planejado e executado, em ter-
sultados, pela verificação dos IDE, e constatação mos da redução do consumo de energia da
das economias obtidas. operação de bombeamento.

28
Conforme descrito na Nota 23

38
Eficiência Energética

Uma vez que praticamente toda a água cap- Dentre as várias alternativas de planilhas
tada, tratada ou distribuída sofre bombeamento, disponíveis na internet para estabelecimen-
a ocorrência de perda de água significará perda to do balanço hídrico estão a Calculadora de
da energia utilizada neste processo de bombea- BH.xls, da Associação Brasileira das Empresas
mento, ou seja, há uma associação direta entre Estaduais de Saneamento Básico, disponível
perdas de água e de energia, expressa através gratuitamente no site da associação29, hoje
do indicador kWh/m³. em dia mais utilizada no Brasil do que a da
A partir da quantificação do volume de água American Water Works Association – AWWA e a
não faturada e da visualização de seus compo- da WB-Easy Calc (da Liemberger), disponível
nentes, do cálculo dos indicadores de desempe- em diferentes idiomas.
nho apropriados e da transformação dos volu- Apresenta-se abaixo um exemplo de efe-
mes de perdas de água em valores monetários, tividade das ações de redução de perdas num
essas perdas podem ser entendidas de modo sistema hipotético, sendo os resultados compa-
adequado e isso facilita a visualização das ações rados aos obtidos com uma ação exclusiva de
necessárias a serem adotadas. eficiência energética no bombeamento (redução
Para tanto, o primeiro passo a ser dado é o do consumo específico de energia elétrica – CE)
desenvolvimento e o estabelecimento do ba- e, finalmente, a potencialização dos resultados
lanço hídrico. Esse recurso auxilia os gestores a pela realização simultânea das ações de redu-
entender a magnitude e o custo do volume de ção de perdas e melhoria do CE.
água não faturado. O quadro abaixo30 resume os resultados
A IWA desenvolveu uma estrutura e uma para o caso base e os casos a, b e c, estando os
terminologia padronizadas de balanço hídrico dados em fundo amarelo e os valores calculados
internacional que foi adotada por associações em fundo cinza.
nacionais em muitos países ao redor do mundo.

Tabela 1. Recomendações do Banco Mundial em Função das Categorias de Desempenho Técnico

VALORES DADOS a) Redução de perdas b) Redução do CE de 1,00 c) Redução do CE c/


CASO BASE
E A CALCULAR de 30 para 20% para 0,80 kWh/m3 redução de perdas

Volume
1.000.000 875.000 1.000.000 875.000
produzido (m3)
Volume
700.000 700.000 700.000 700.000
faturado (m3)
Consumo de
1.000.000 875.000 800.000 700.000
energia (kWh)
Perdas (V não
30% 20% 30% 20%
faturado)
CE (kWh/m3) na
1,00 1,00 0,80 0,80
produção
CE (kWh/m3) no
1,428 1,250 1,142 1,000
consumo

Fonte: Ed. Universitária – UFPB (Organizador: Heber Pimentel Gomes)

29
www.aesbe.org.br/materialbibliografico/
30
Adaptado do livro Sistemas de Bombeamento – Eficiência Energética – 2012, Ed. Universitária – UFPB (Organiza-
dor: Heber Pimentel Gomes), capítulo 6

39
Eficiência Energética

A conclusão inequívoca é a confirmação da me distribuído no dia de consumo máximo31. En-


sinergia entre as ações para redução das perdas tretanto, é possível determinar com a realização
de água e as de racionalização do consumo de de estudos prévios, a partir de medições hidráuli-
energia elétrica, ou seja, quanto menor for o nível cas (vazão e pressão) e elétricas, sempre de modo
de perda de água, seja real ou aparente, menor será simultâneo, o volume mínimo útil do reservatório
o consumo de energia elétrica, conforme enuncia- e também deslocar o bombeamento total ou par-
do em 5.5 acima. cialmente para fora do horário de ponta. A este
Para maior aprofundamento no tema “perdas”, volume mínimo deverão ser adicionados os vo-
consultar os cadernos temáticos AT2 e AT3. lumes requeridos para combate a incêndio e para
a manutenção de pressões adequadas na rede de
3.5.4 Operação de Reservatórios de distribuição suprida pelo reservatório.
Água de Modo a Minimizar o Bombea- Dependendo do volume demandado, será
mento em Horários de Ponta possível manter o abastecimento por gravidade
Uma alternativa que contribui em muito durante todo o período de ponta, ou por um pe-
para a diminuição de consumo e demanda de ríodo parcial, garantindo uma reposição de água
energia elétrica em horário de ponta é a opera- no reservatório de modo a garantir a segurança
ção otimizada do volume de reservatórios. Ela se do abastecimento.
dá quando é possível garantir que o reservatório Uma das alternativas de análise de operação
esteja cheio no início do horário de ponta e com de reservatórios é o método dos volumes diferen-
volume seguro ao final desse período. ciais para o que se necessitam a curva da deman-
Para tanto, alguns cuidados precisam ser da assistida pelo reservatório (que define a taxa
tomados para que se evite o desabastecimen- com a qual o reservatório é esvaziado) e as taxas
to em casos de emergência (acidentes, reparos, horárias com que é alimentado, que depende da
etc.), bem como para a preservação de volumes configuração do bombeamento (supondo-se que
para combate a incêndio e para a manutenção seja suprido por uma estação de bombeamento).
de pressões adequadas na rede de distribuição. Para a estação elevatória que alimenta o re-
Pode ser possível realizar a distribuição de servatório faz-se necessário realizar uma análise
água somente por gravidade, seja durante as para que se obtenha a composição de operação
três horas do horário de ponta, seja durante al- mais econômica dos conjuntos motobomba, a
guma faixa de tempo dentro desse período com partir da avaliação das diferentes possibilida-
bombeamento parcial, de modo a garantir o ní- des, podendo ser simulada operação do reser-
vel seguro do reservatório. vatório ao longo do dia, comparando os volumes
Em muitos sistemas é possível otimizar ou de entrada e saída e determinando o volume mí-
ampliar a reservação existente, reduzindo ou nimo de operação, que será a soma dos saldos
até eliminando o bombeamento no horário de positivos (negativos também, se desejar manter
ponta. A viabilidade econômica das medidas de- sempre o mesmo volume inicial) com o volume
verá ser verificada para justificar que os inves- inicial desejado, no dia de consumo máximo.
timentos necessários para esse deslocamento Para cada hora de bombeamento será calcu-
tenham retorno financeiro através dos ganhos lado o gasto de energia, que será totalizado ao
com a demanda evitada. final das 24 horas. Para isto, devem ser conheci-
Algumas práticas de uso largamente difundi- dos os rendimentos de cada conjunto. Com estes
do devem ser evitadas, por exemplo, a operação recursos, determina-se a configuração mais eco-
com os reservatórios sempre no nível máximo. nômica de operação.
Isto geralmente conduz a um gasto excessivo e É importante ressaltar que para a implan-
desnecessário de energia elétrica. tação segura e precisa desse tipo de recurso
No Brasil é geralmente adotado, como capa- é fundamental a instalação de dispositivos de
cidade mínima de reservação, um terço do volu- monitoramento de nível e de vazão, tanto na en-
31
Livro Abastecimento de Água – Milton Tomoyuki Tsutiya-2004.

40
Eficiência Energética

trada, quanto na saída dos reservatórios, o que Um recurso que pode ser utilizado para
não é prática da maior parte das operadoras, que limpeza e desobstrução de adutoras e conse-
costumam instalar medidores apenas na entra- quentemente recuperação de sua capacidade
da dos reservatórios. hidráulica é a passagem de Pipeline Inspection
Deve-se também realizar análise técnica e Gauge - PIG (torpedo), procedimento que é feito
econômica para que se avalie a possibilidade utilizando-se a própria passagem da água cir-
de implantação de sistema de telemetria e de culante na adutora para a movimentação desse
automação, de forma a que os despachos dos dispositivo entre dois pontos previamente de-
conjuntos sejam feitos à distância e, de prefe- terminados e preparados para essa manutenção.
rência, automaticamente. O PIG é inserido no sistema e direcionado
para seguir um caminho previamente determi-
3.5.5 Redução da Altura Manométrica nado acompanhando a direção do fluxo da água.
de Bombeamento, Através de Altera- A passagem do PIG efetuará a remoção e sub-
ções Físicas ou Operacionais sequente descarga de todo o material estranho
Um dos principais fatores que interfere na al- acumulado, antes aderido ou depositado na pa-
tura manométrica de sistemas de bombeamento rede interna da adutora.
é a ocorrência de incrustação em tubulações, que É importante esclarecer que, dependendo da
aumenta na medida em que estas envelhecem. idade da adutora, o procedimento mais adequado
A incrustação gera perda de carga, tanto e seguro a ser adotado pode ser a sua substituição.
por causa da diminuição do diâmetro interno, Ainda em relação a alterações físicas, modi-
quanto pelo aumento da rugosidade e conse- ficações na geometria do arranjo dos barriletes
quente alteração do coeficiente C da tubulação. podem reduzir as perdas de carga.
No caso de tubulações novas, as rugosidades Atenção também deve ser dada ao trajeto
são conhecidas e obtidas a partir de tabelas e das linhas de adução, geralmente entre a cap-
em função de seu material e de sua fabricação. tação e a Estação de Tratamento de Água – ETA.
Na medida em que a tubulação envelhece, é Muitas vezes, o caminho mais curto passa por
comum ocorrer a formação de incrustações ou cotas mais elevadas, resultando numa perda de
sedimentações, fatores que aumentam a perda carga maior do que pelo caminho mais longo.
de carga da mesma. Nestes casos, a correção do traçado por um
Uma forma de verificar a rugosidade é me- by-pass pode ser avaliada do ponto de vista eco-
dir as pressões estáticas entre dois pontos de nômico-financeiro, podendo os ganhos em econo-
um trecho da adutora estando, quando possível, mia de energia superar os investimentos requeri-
esses pontos a uma distância de pelo menos um dos em prazos abaixo dos máximos estipulados.
km um do outro. Para tanto, deve ser instalado Sob o ponto de vista operacional, o processo
um TAP (registro de derivação ou uma luva) em de redução da altura manométrica mais utili-
cada ponto de instalação da medição. zado é o uso de inversores de frequência, a ser
Simultaneamente deve-se também medir a examinado em detalhe no item 5.5.5.
vazão média com uso de tubo de Pitot tipo Cole,
ou de medidor ultrassônico. Além dessas grande- 3.5.6 Melhoria do Rendimento dos
zas, também é necessário medir as cotas de cada Equipamentos
ponto de medição e o diâmetro interno da adutora. É comum observar-se em sistemas de
De posse desses dados e aplicando-se a abastecimento de água a utilização de con-
equação de Bernoulli entre esses pontos, pode- juntos motobomba mal dimensionados, prin-
-se explicitar o coeficiente de perda de carga de cipalmente pela prática de dimensionarem-se
Darcy-Weisback, ou o coeficiente C de perda de novos conjuntos a partir dos dados de placa
carga, de Hazen-Willians32. previamente existentes.
32
A descrição detalhada desses cálculos pode ser obtida no capítulo 7 do livro Sistemas de Bombeamento – Eficiên-
cia Energética – 2012, Ed. Universitária – UFPB (Organizador: Heber Pimentel Gomes)

41
Eficiência Energética

É comum também verificar-se a existência fornecidas pelo fabricante, pois o desgaste das
de motores antigos, que já foram submetidos a mesmas com o uso normalmente é mais acen-
vários tipos de manutenção como, por exemplo, tuado que o dos motores: as bombas estão em
o enrolamento de rotor, que normalmente de- contato com o fluido, há desgaste dos rotores,
gradam em muito o rendimento desses motores. que são trocados ou modificados muitas vezes
Para que se obtenha um melhor rendimento sem registro.
desses equipamentos, o correto a se fazer é a A evolução tecnológica tem permitido a
realização de campanhas de medições de gran- construção de motores com perdas cada vez
dezas hidráulicas e elétricas simultâneas que mais reduzidas e os requisitos para produção
possibilitem a visualização das reais necessida- de motores elétricos mais eficientes têm sido
des dos sistemas de recalque e de distribuição estabelecidos por diversos países. Em nível in-
de água, para que se minimize o alto índice de ternacional, tem-se a IEC 60034-30-1, de 2014,
ineficiência operacional dos sistemas de abaste- que já inclui motores com classe de desempe-
cimento de água observado historicamente. nho IE4 (super premium). No Brasil, em 2013, foi
O rendimento de um conjunto motobomba publicada a ABNT NBR 17094-1:2013 Máquinas
pode ser expresso em função de grandezas de- Elétricas Girantes Motores de Indução Parte 1:
terminadas pelas medições como33: Trifásicos, uma revisão da ABNT NBR 17094-
1:2008, que estabelece requisitos mínimos para
h = hbx hme = (9,81 x Q x H) / Pel: motores de indução trifásicos. A norma prevê au-
mento dos rendimentos e apresenta os motores
h = rendimento do conjunto motobomba. premium (classe IR3).
hb = rendimento da bomba. Com a Portaria Interministerial nº 553, de
hme = rendimento do motor elétrico. 2005, desde 2010 só podem ser fabricados, co-
mercializados e importados no Brasil motores
Q = vazão (m3/s)
elétricos com eficiências iguais ou superiores
H = altura manométrica (m). aos de alto rendimento (IR2). Já a Portaria Inter-
Pel = potência elétrica de entrada do ministerial nº 1, de 2017, prevê a fabricação ou
importação de motores mais eficientes a partir
motor (kW)
de 2019. O documento abrange equipamentos
com potência nominal de 0,12-370 kW/0,16-
Para determinar individualmente os rendi- 500 cv, de dois, quatro, seis e oito polos. Os ren-
mentos do motor e da bomba seria necessário dimentos mínimos estabelecidos variam confor-
executar medições e registros da potência me- me a potência e a quantidade de polos, sendo de
cânica no eixo de acoplamento motor-bomba. 62 a 95,8 (dois polos), 66 a 96,2 (quatro polos),
Esta medição não é executada em praticamente 64 a 95,8 (seis polos) e 59,5 a 95 (oito polos).
nenhuma instalação, seja por indisponibilida- No gráfico a seguir, é apresentado um “com-
de de equipamentos de medição, seja por difi- parativo entre os níveis de rendimento dos motores
culdade de acesso ao local de medição, sendo W22 IR2, IR3 Premium e IR4 Super Premium, para
substituída pelo procedimento de estimar o motores de quatro polos. Como normalmente os
valor do rendimento do motor, atribuindo-se motores operam por milhares de horas, o ganho
fator de redução ao rendimento nominal (valor de eficiência através da substituição por moto-
de placa), por idade, tipo de operação e rotinas res de rendimento mais elevado se traduz numa
de manutenção e determinar o rendimento da economia considerável que se pagará em poucos
bomba dividindo o rendimento do conjunto pelo anos ou mesmo em meses. O projeto dos motores
rendimento do motor. W22 IR4 Super Premium, que apresenta perdas de
A prática citada é mais segura do que a es- 20% a 40% menores em comparação com os mo-
timativa do rendimento da bomba pelas curvas tores elétricos convencionais, oferece os níveis de
33
Livro Sistemas de Bombeamento – Eficiência Energética – 2012, Ed. Universitária – UFPB (Organizador: Heber
Pimentel Gomes), capítulo 2.

42
Eficiência Energética

rendimento mais altos disponíveis para motores dade e disponibilidade da planta. A economia de
elétricos de indução. Devido a isso, o investimento energia será ainda maior se o motor antigo tiver
para a substituição de motores já instalados pe- sido submetido a rebobinagens durante a sua vida,
los motores W22 IR4 Super Premium retorna num pois cada rebobinagem pode reduzir o rendimento
período muito curto, resultando não somente em de 1% a 5% conforme EASA – Electrical Apparatus
economia de energia, mas também na confiabili- Service Association.”

Figura 22. Comparativo de Rendimento para Motores de 4 Polos, 60Hz

η (%)
97,00

96,00

95,00
W22 IR2*
94,00
W22 IR3 Premium
93,00
W22 IR4 Super Premium
92,00
* Níveis de rendimento mínimos
determinados pela portaria 553
91,00
40 50 60 75 100 125
150 175 (cv)
200
250
Comparativo de rendimento para motores de 4 polos, 60 Hz.

Fonte: http://ecatalog.weg.net/files/wegnet/WEG-w22-super-premium-50041203-catalogo-portugues-br.pdf

3.5.7 Utilização de Inversores de Fre- direta das redes de distribuição de água, nas


quência34 em Conjuntos Motobombas quais o uso de boosters é prática frequente nos
que Operem com Variação de Pressão sistemas públicos de abastecimento, nem sem-
e/ou de Vazão ao Longo do Tempo pre com reservatórios de jusante. Nestes casos,
Ainda hoje é comum observar o uso de vál- o uso dos inversores de frequência para modula-
vulas (por exemplo, de gaveta) para promover a ção da carga permite atender às variações de de-
variação de vazão de sistemas de abastecimento manda ao longo do dia. Com um mecanismo de
de água. Ocorre que esse tipo de procedimento, feedback como a pressão de saída pode ser va-
além de manter os motores dos conjuntos mo- riada a potência demandada pela instalação, evi-
tobomba operando em rotação nominal, gera tando-se a pressurização excessiva do sistema,
grande perda de carga, altera o ponto de ope- sempre acarretando os indesejáveis aumentos
ração das bombas, proporcionando um aumento das perdas reais de água e do consumo elétrico.
na perda de eficiência do sistema. Quando a rotação da bomba é reduzida, o
O uso de inversores de frequência para con- mesmo acontece com a energia aplicada ao
trole da velocidade de rotação da bomba tem se fluido, diminuindo por consequência o con-
mostrado como solução eficaz e moderna para sumo de energia elétrica do motor. Por outro
a substituição das válvulas reguladoras no con- lado, a utilização de inversores de frequência
trole de vazão e ou pressão hidráulica, devido nesses sistemas precisa ser avaliada com mui-
à consequente redução das perdas de eficiência to cuidado, pois existem parâmetros a serem
ocasionadas pela operação das válvulas. levados em consideração.
Outra aplicação indicada é na pressurização e Normalmente esse dispositivo consome de
34
A descrição detalhada desses cálculos pode ser obtida no capítulo 5 do livro Sistemas de Bombeamento – Eficiên-
cia Energética – 2012, Ed. Universitária – UFPB (Organizador: Heber Pimentel Gomes)

43
Eficiência Energética

0,5% a 3,5% (em valores médios) da ener- tências, em razão da baixa variação de vazão
gia absorvida para acionar o conjunto mo- requerida;
tobomba, sendo estas perdas dependentes e Por ser um dispositivo eletroeletrônico,
da operação (normal ou pesada, respectiva- quando em operação gera harmônicos que
mente) do inversor; (*) são injetados na rede elétrica na forma de
e De maneira geral, recomenda-se que a sua ruído. Por isso deve ser avaliada a necessi-
operação fique na faixa de 30 Hz a 60 Hz; dade de instalação de filtro de harmônico.
e Em sistemas em que a demanda por água ao (*) O quadro abaixo apresenta um cálculo de
longo do dia tende a permanecer pouco va- perdas em inversores de potências variáveis de
riável, provavelmente a melhor solução seja 5 a 50 cv, onde os rendimentos foram calculados
a composição de bombas de diferentes po- conforme metodologia indicada pelo fabricante35.

Tabela 2. Determinação do Rendimento de Inversores de Frenquência de Diversas Potencias Nominais

Pot. nominal Tipo de Pot. parente Dissipação Rendimento


Tensão (V) Corrente (A) Perdas (%)
(cv) Operação (kVA) (W) (%)
Normal 200 15,1 5,23 38 99,3% 0,7%
Pesada 200 11,7 4,05 141 96,6% 3,4%
5
Normal 240 12,9 5,36 Não Info. Não calc. Não calc.
Pesada 240 10,2 4,24 Não Info. Não calc. Não calc.
Normal 200 39,3 13,61 62 99,5% 0,5%
Pesada 200 27,2 9,42 452 95,4% 4,6%
15
Normal 240 32,9 13,68 Não info. Não calc. Não calc.
Pesada 240 23,1 9,60 Não Info. Não calc. Não calc.
Normal 200 66,7 23,11 97 99,6% 0,4%
Pesada 200 53,1 18,39 595 96,9% 3,1%
25
Normal 240 54,5 22,66 Não Info. Não calc. Não calc.
Pesada 240 44,9 18,66 Não info. Não calc. Não calc.
Normal 200 128 44,34 156 99,6% 0,4%
Pesada 200 104,7 36,27 1141 97,0% 3,0%
50
Normal 240 107,8 44,81 Não info. Não calc. Não calc.
Pesada 240 88,6 36,83 Não info. Não calc. Não calc.

Dados do fabricante
Calculado COM+ÁGUA.2
Fonte: COM+ÁGUA.2

Os valores extremos obtidos foram de 0,4% tudo na partida, de forma suave, sem picos;
a 4,6% e Economia de energia;
Entretanto, o uso desse dispositivo oferece e Aumento do fator de potência;
as seguintes vantagens: e Elimina a necessidade de válvulas para par-
tir e parar o bombeamento;
e Aumento da confiabilidade do sistema; e Melhora o controle do processo;
e Aumento da vida útil da bomba, mancais e e Minimiza a necessidade de paradas do siste-
vedações, em relação ao uso convencional; ma ou elimina os saltos de produção;
e Proteções elétricas incorporadas no próprio e Possibilita a automação do sistema;
equipamento, com redução do número de e Diminui o número de rompimentos nas tu-
componentes e do tamanho do painel; bulações.
e Controle da corrente do motor elétrico, sobre-
35
Schneider Electric, site www.se.com/br/pt/product/ATV630

44
Eficiência Energética

3.6 Projetos de Microgeração de


Energia Elétrica
O Brasil tem pouca tradição na autoprodução elétrica a partir da energia hidráulica. Seja atra-
da energia elétrica para sistemas de abastecimen- vés de aproveitamentos convencionais (barra-
to de água. Isso se deve a um histórico de tarifas gens existentes e outros aproveitamentos a fio
baixas e também de falta de marco regulatório. d’água), quanto através da instalação de turbi-
Nos últimos anos, essa situação tem se al- nas em redes adutoras, principalmente em lo-
terado consideravelmente em função dos au- cais onde há necessidade de redução/controle
mentos de tarifas de energia, bem como dos no- da pressão a jusante. Esses aproveitamentos
vos marcos regulatórios estabelecidos através podem ocorrer tanto em redes de água bruta
das resoluções nº 482/2012 e nº 687/2016, da quanto de água tratada.
ANEEL, que possibilitam a autogeração, a cone- Em geral, os aproveitamentos hidroelétricos
xão em paralelismos permanente com a rede da podem fornecer energia para sistemas em:
distribuidora de energia e a compensação de
energia em outras unidades consumidoras. e Rede interconectada;
Outros países na região da América Latina, e Redes isoladas e;
tais como o Equador e a Colômbia, têm tido ex- e Fornecimentos remotos de energia.
periências bem exitosas na geração própria, in-
Apresentando vantagens para o sistema como:
clusive em alguns casos em que a produção de
energia supera o consumo interno, auxiliando
e Confiabilidade;
desta forma a capacidade de geração de energia
e Custos operacionais muito baixos;
do país, além de reduzir os custos operacionais
e Exposição reduzida à volatilidade no preço
dessas empresas.
de energia.
No âmbito do projeto COM+ÁGUA.2 foram
avaliados alguns potenciais de geração própria Os sistemas são normalmente classificados
de energia, conforme as seguintes tecnologias: pelo porte, ou seja:
No Brasil, a interconexão de sistemas até 5
3.6.1 Geração Hidroelétrica, a Partir do MW pode ser feita de forma permanente, com
Aproveitamento de Adutoras e Reser- relativamente pouca burocracia, em função da
vatórios Existentes resolução nº 687/2016, sobre geração distribuí-
Os operadores de saneamento possuem da sendo, portanto, o foco dos temas tratados
diversas oportunidades de geração de energia nesta capacitação.

Figura 23. Classificação do Porte das Usinas em Função da Potência Instalada

RETScreen® RETScreen®
Potência Típica
Vazão diâmetro do fluxo

Micro < 100 kW < 0,4 m³/s < 0,3 m

Mini 100 a 1.000 kW 0,4 a 12,8m³/s 0,3 a 0,8 m

Pequena 1 a 50 MW > 12,8 m³/s > 0,8 m

Fonte: Software RETScreen™

45
Eficiência Energética

Adicionalmente, sistemas com microgera- repassado ao consumidor em casos de sistemas


ção até 75 kW (75.000 W) tem o custo da ins- de maior porte.
talação do medidor bidirecional absorvido pela Configuração de um sistema de geração
distribuidora de energia sendo, evidentemente hidroelétrica

Figura 24. Diagrama Esquemático de Geração Hidroelétrica

Lâmina d’água
Altura (m)
Barragem
e
captação Casa de Força

Grade de proteção
adução Painel de controle
Conexão à rede Pátio de
manobra

Vazão (m³/s)
gerador Turbo
de dre
no
turbina
Potência ≈ 7 x Altura x Vazão
Corredeira

Fonte: Software RETScreen™

Considerações sobre custos de sistemas de • Manutenção periódica de equipa-


geração hidroelétrica: mentos, os principais requerem serviço
externo.
e 75% dos custos dependem da planta;
e Altos custos iniciais: e Desenvolvimento de grandes quedas (altu-
ras) tendem a ser menos caro;
• Porém obras civis e equipamentos po-
dem durar mais de 50 anos. e Faixa típica: 1.200$ a 6.000$ por kW instalado.

e Custos de manutenção e operação muito Exemplos de sistemas instalados na Amé-


baixos: rica Latina
a) Colômbia – Empresas Públicas de
• Um operador em tempo parcial é su-
ficiente; Medellin – EPM (ou EEPPM)

Figura 25. Centrais Geradoras em Adutoras de Água Tratada

CENTRAIS GERADORAS EM
ADUTORAS DE ÁGUA TRATADA

Fonte: Empresas Públicas de Medellin

46
Eficiência Energética

Figura 26. Mapa de Medellim - Colômbia

EPM - MEDELLÍN - COLÔMBIA

Mercado principal
Medellin y Área Metropolitana del Valle
de Aburrá
3,6 millones de habitantes

Outros mercados nacionales


Bogotá, Manizales, Armenia, Pereira,
Bucaramanga, Barraquilla, Cartagena, Cali,
Cúcuta

Presencia internacional
Panamá (HET - Proyecto Bonyic) -
Ecuador (ventas de energia elétrica)

Fonte: Empresas Públicas de Medellin

Figura 27. Dados das Centrais Geradoras em Adutoras de Água Tratada

CENTRAIS GERADORAS EM ADUTORAS DE ÁGUA TRATADA

Potência média Geração unitária


Microcentral Vazão média (m3/s) Queda (m)
(kW) média (kWh/m3)

BELLO 0,30 225,00 235 0,2175

AMERICA 0,45 165,00 383 0,2348

CAMPESTRE 0,60 160,00 384 0,1777

NUTIBARA 0,60 190,00 390 0,1805

Fonte: Empresas Públicas de Medellin

47
Eficiência Energética

Figura 28. Centrais Geradoras em Adutoras de Água Bruta

CENTRAIS GERADORAS EM ADUTORAS DE ÁGUA BRUTA

Fonte: Empresas Públicas de Medellin

Figura 29. Dados das Centrais Geradoras em Adutoras de Água Bruta

CENTRAIS GERADORAS EM ADUTORAS DE ÁGUA BRUTA

Geração unitária
Microcentral Vazão média (m3/s) Queda (m) Potência média (kW)
média (kWh/m3)

PEDRAS BLANCAS 0,80 530 1.000 0,3472

AYURA 5,50 380 14.000 0,7070

MANANTIALES 3,60 88 2.200 0,1697

Fonte: Empresas Públicas de Medellin

48
Eficiência Energética

3.6.2 Bomba Funcionando como Turbina na rotação da bomba operando como turbina, do
A utilização da bomba funcionando como mesmo modo da geração em usinas hidrelétri-
turbina é um método de geração de energia cas. Esse tipo de geração distribuída é de fácil
que consiste no aproveitamento do potencial implementação e simples configuração, porém
hidráulico de um local na conversão de energia é principalmente aplicado nos casos em que a
potencial da queda d’água em energia cinética vazão hidráulica é relativamente constante.

Figura 30. Bomba Funcionando como Bomba Figura 31. Bomba Funcionando como Bomba

Saída Saída Entrada Entrada

BFB BFT

Entrada Saída

Fonte: Elaboração COM+ÁGUA.2

Esse método de geração de energia apre- e Facilidade de obtenção de peças para re-
senta algumas vantagens em relação às turbi- posição;
nas convencionais como: e Facilidade e rapidez de aquisição;
e Equipamento robusto.
e Custo extremamente reduzido;

Figura 32. Desenho Esquemático de Captação – Captação até a Casa de Força


Casa de força e
canal de fuga

Conduto Forçado

Câmara de carga

Canal
de adução

Tomada
d’água

Barragem

Fonte: Elaboração COM+ÁGUA.2

49
Eficiência Energética

A aplicação desse tipo de tecnologia, apesar e Tecnologia bomba funcionando como turbi-
das vantagens relacionadas, tem tido ainda pouca na e seu motor como gerador (grupo gerador
aplicação no Brasil. Um dos casos recentes foi o de baixo custo):
de uma fazenda em Minas Gerais onde a solução e el = 43kW; Qt = 0,250m3/s; Ht = 20m.
foi implantada com as seguintes características:

Foto 1. Sistema Bft na Fazenda Boa Esperança em Minas Gerais

Fonte: Livro Bombas funcionando como turbinas, do Prof. Augusto Nelson Carvalho Viana

Figura 33. Turbinais Helicoidais para Gerar Energia Elétrica

Fonte: Prof. Augusto Viana

Para áreas que apresentam quedas menores funcionamento se baseia na bomba de Arqui-
que 10 metros são utilizados turbinais helicoi- medes ou parafuso de Arquimedes funcionando
dais para gerar energia elétrica. O princípio de como turbina.
50
Eficiência Energética

Foto 2. Turbinais Helicoidais para Gerar Energia Elétrica

Foto: Prof. Augusto Viana

As turbinas helicoidais apresentam algumas A aplicação dos sistemas fotovoltaicos no Bra-


características principais: sil vem crescendo de forma expressiva nos últi-
mos anos, principalmente a partir de 2014, quan-
e São mais eficazes em aproveitamentos onde
do se tornou possível a interconexão em caráter
turbinais convencionais normalmente são
permanente com a rede da concessionária (distri-
inviáveis;
buidora de energia elétrica), desonerando esses
e Podem operar com vazões entre 0,1 até 10 investimentos, visto que não seria mais necessária
m³/s e quedas entre 1 e 10 metros; a instalação de baterias, de modo que os consu-
e Capacidade de 1 a 500kW; midores seguissem alimentados durante a noite.
e Aplicável em localidades onde há águas ex- Mais recentemente, a resolução nº 687/2016
cedentes nas barragens; possibilitou também o sistema de compensação,
e Construção nova em águas corrente. ou seja, a energia produzida em um determinado
mês pode ser utilizada nos meses subsequentes,
Algumas aplicações no setor de saneamento
em prazo de até 60 meses.
foram avaliadas tanto aplicadas em locais onde
existem Válvulas Redutoras de Pressão – VRP, Via de regra, um sistema fotovoltaico pos-
quanto em redes com descargas da pressão at- sibilita a conversão da energia do sol em ele-
mosférica, conforme se pode constatar na publi- tricidade através de painéis de silício monocris-
cação Eficiência energética no setor de sanea- talino ou policristalino. Os monocristalinos são
mento publicado pela SANEPAR36. mais eficientes do que os policristalinos em ge-
ral, porém esses últimos são mais baratos.
3.6.3 Geração Fotovoltaica Aplicando- Os sistemas fotovoltaicos podem fornecer:
-se os Painéis Fotovoltaicos nos Telha-
dos e Coberturas de Construções em e Eletricidade (CA/CC);
Estações Elevatórias de Tratamento e Água bombeada.
de Água
36
Fonte: http://site.sanepar.com.br/sites/site.sanepar.com.br/files/publicacoes/Livro-Eficiencia_Energetica_no_Sa-
neamento.pdf

51
Eficiência Energética

Apresentando vantagens para o sistema como: Uma instalação típica consiste de painéis
instalados em telhados ou no solo, dependen-
e Confiabilidade; do da área disponível para essa instalação, que
e Simplicidade; alimenta um inversor de frequência (que trans-
e Modularidade; forma a corrente contínua em alternada, para
uso pelos sistemas atualmente existentes nas
e Imagem;
empresas e residências).
e Silêncio.

Figura 34. Sistemas Fotovoltaicos

PAINÉIS FOTOVOLTAICOS

INVERSOR

ENERGIA
COMPRADA
MEDIÇÃO
CONSUMO
QUADRO
GERAL
MEDIÇÃO
EXCEDENTE
TOMADAS E ILUMINAÇÃO
ENERGIA
CEDIDA COMO
CRÉDITO

Fonte: RETScreen™

Os sistemas fotovoltaicos podem ser inter- ou para outro local de consumo de energia do
conectados de forma permanente à rede da em- usuário final.
presa de distribuição de energia elétrica (parale- A título de referência, o custo do sistema
lismo permanente), ou operar de forma isolada. instalado vem caindo substancialmente nos úl-
No caso de paralelismo permanente será timos três anos e ficando no início do segundo
instalado pela distribuidora de energia um novo semestre de 2018 no valor por kWp instalado
medidor bidirecional de energia, pois caso a estava da ordem de R$ 5.000,00, contra cerca de
energia gerada pelo sistema não seja integral- R$ 5.300,00/kWp no início do ano.
mente absorvida pelos equipamentos consumi- Considerações sobre o recurso solar:
dores, essa energia excedente é então fornecida
para a rede da distribuidora e registrada como
e 1 Wp de FV= 800 a 2.000 Wh por ano, depen-
crédito para compensação futura pelo usuário.
dendo da:
O prazo de compensação atualmente é de
até 60 meses (resolução nº 687/2016 ANEEL) • Latitude;
e a compensação pode ser feita para o mesmo • Nebulosidade.
52
Eficiência Energética

e Recurso solar no inverno é crítico para siste- a oito anos, dependendo principalmente da
mas fora da rede: tarifa de energia do consumidor final.

• Maiores ângulos de absorção (latitude


+15º); 3.6.4 Geração Termoelétrica Através do
• Sistemas híbridos.
Aproveitamento do Biogás Produzido
em Reatores Anaeróbicos nas Estações
e Recurso solar anual crítico para sistemas em de Tratamento de Esgoto - ETE
rede: O biogás é produzido a partir da decompo-
• Ajuste quando grande proporção de ra- sição da matéria orgânica (resíduos orgânicos)
diação luminosa. por bactérias. Na geração de energia do biogás
ocorre a conversão da energia química do gás
Conclusões sobre o sistema fotovoltaico de em energia mecânica por meio de um proces-
energia elétrica: so controlado de combustão. Essa energia me-
cânica ativa um gerador que produz  energia
e Eletricidade oriunda de Sistemas Fotovoltai- elétrica. O biogás também pode ser usado em
cos - FV pode ser conectada em rede e fora caldeiras por meio de sua queima direta para a
rede ou para bombeamento d`água; cogeração de energia.
O esgoto que vem da rede coletora é trans-
e O recurso solar é bom em todo o mundo:
portado até a estação elevatória, onde as partí-
• Existem sistemas FV instalados em culas maiores são retidas, e então é destinado
todos os climas. a uma Estação de Tratamento de Esgoto - ETE.
Os resíduos sólidos são destinados a um aterro
e Custo de capital é relativamente alto, porém sanitário, enquanto o líquido é enviado a um
vem caindo drasticamente nos últimos anos: reator onde há o processo de digestão da ma-
Atualmente R$ 5.000,00/kWp; téria orgânica pelas bactérias ali presentes e
de lá segue para uma etapa de pós-tratamen-
• Previsão para 2018 – R$ 4.500,00/kWp; to. O  gás  produzido pela atividade bacteriana
pode ser queimado ou pode ser reaproveitado
e A análise de viabilidade prevê a utilização de
na forma de biogás.
softwares específicos, como o RETScreen®
O processo de conversão do biogás em ener-
que permite análise anual com recurso de
gia elétrica é realizado normalmente em motores
cálculos mensais que pode atingir precisão
a combustão, especificamente desenhados para
comparável a modelos de simulação horária,
essa aplicação, dado as peculiaridades desse tipo
o PV Sol e o PV Syst, além de outros;
de combustível, tais como a variação da composi-
e O retorno do investimento varia de quatro ção e consequentemente do poder calorífico.

3.7 Manutenção Preventiva e Preditiva


Eletromecânica
A falta da programação da realização da ma- aumentos dos custos devido às necessidades de
nutenção adequada nos sistemas de bombea- intervenções emergenciais.
mento é causa frequente de interrupções opera- Fazendo uma analogia do sistema de abas-
cionais, que tem como consequência a redução tecimento de água com nosso sistema circulató-
ou paralização do fornecimento dos sistemas rio, poderíamos dizer que a estação de bombea-
de tratamento e distribuição de água, além de mento das empresas de saneamento é o coração
provocar a redução de receitas operacionais e desse sistema.

53
Eficiência Energética

Para que se possam obter bons resultados O principal objetivo da realização da manu-
operacionais é fundamental não só que se di- tenção preditiva é a verificação dos equipamen-
mensionem seus componentes adequadamente, tos e componentes a fim de antecipar eventuais
como também é de extrema importância que problemas que possam causar gastos desneces-
todo esse processo seja garantido por meio de sários e paradas indesejadas para a realização
manutenção adequadamente planejada e gerida. de manutenções corretivas.
Nesse contexto, três metodologias e técni- O estudo e a análise das informações co-
cas de manutenção são caracterizadas pela for- letadas dos instrumentos de medição indicam
ma como é executada a intervenção nos siste- também as condições reais de funcionamento
mas, conforme descrito a seguir: e operação dos equipamentos. Estas condições
predizem o tempo de vida útil dos componentes
3.7.1 Manutenção Preventiva37: e as condições para que esse tempo seja mais
É a execução de serviços de caráter preven- bem aproveitado ou expandido pelo usuário.
tivo, com o objetivo de revisar sistematicamente Em geral, nas estações de bombeamento, as
equipamentos e componentes a partir do esta- falhas mais comuns identificadas, são:
belecimento de periodicidade cronológica, ou de Vibração excessiva em conjuntos motobomba;
número de horas de operação dos equipamentos
e Sobreaquecimento em mancais de conjun-
e componentes eletromecânicos, com o objetivo
tos girantes;
de garantir a confiabilidade e desempenho ope-
e Sobreaquecimento nas bobinas dos motores;
racional das instalações e equipamentos.
e Motores operando com correntes e/ou ten-
Os intervalos de tempo, ou horas entre in-
sões desequilibradas;
tervenções são estabelecidos segundo especifi-
e Bombas operando em condições adversas;
cações dos fabricantes para manutenção da vida
e Falhas nos dispositivos de acionamento e
útil, mantendo a eficácia dos componentes e lu-
proteção de motores elétricos;
brificantes aplicados.
Os procedimentos de manutenção preventi-
va consistem nas lubrificações periódicas, revi- 3.7.3 Manutenção Corretiva
sões sistemáticas do equipamento, execução dos É aquela efetuada para corrigir deficiências
planos de calibração e de aferição de instrumen- funcionais nos equipamentos.
tos, mantendo as recomendações do fabricante. O objetivo de uma boa gestão de manuten-
ção é minimizar a ocorrência destas interven-
3.7.2 Manutenção Preditiva38: ções, que acarretam gastos desnecessários e
É uma metodologia que tem como base a interrupção dos processos produtivos.
realização de avaliação dos equipamentos e
componentes envolvidos no processo, de modo 3.7.4 Planejamento
a evitar interrupções operacionais por deficiên- Um planejamento bem elaborado propor-
cia funcional dos mesmos. ciona economia de tempo e dinheiro na execu-
A manutenção preditiva faz o acompanha- ção das atividades de manutenção.
mento e aquisição de dados periódicos das Muitas empresas ainda realizam apenas ma-
máquinas e componentes eletromecânicos nutenção em caráter emergencial, que, na maio-
com o uso de instrumentos de verificação e ria dos casos, deixa providências pendentes e
medição. Com base nas análises dos dados co- origina uma quantidade de retrabalhos consi-
letados, determinam a durabilidade e vida útil deráveis. Considere-se, por exemplo, o inconve-
dos equipamentos e componentes envolvidos niente e os custos de a equipe ter que retornar
no processo. ao local para conclusão das atividades e efetuar
37
A descrição detalhada desses procedimentos pode ser obtida no capítulo 8 do livro Sistemas de Bombeamento –
Eficiência Energética – 2012, Ed. Universitária – UFPB (Organizador: Heber Pimentel Gomes)
38
Fonte: https://www.manutencaopreditiva.com/manutencao/manutencao-preventiva-x-preditiva

54
Eficiência Energética

as correções definitivas, principalmente em es- trumentalizados, mantendo o foco em con-


tações de bombeamento, que quase sempre es- fiabilidade operacional e eficiência hidro
tão distantes do escritório central. energética;
As falhas mais comuns encontradas em es- e Elaboração, implantação e avaliação da eficá-
tações de bombeamento podem ser evitadas cia dos planos de manutenção desenvolvidos;
com a aplicação de um plano de manutenção, e Desenvolvimento de procedimentos e méto-
seja ele preventivo ou preditivo, além de poder dos aplicados nas medições, testes e ensaios;
detectar as possíveis falhas durante a execução e Determinação e avaliação dos indicadores
deste plano de manutenção. de desempenho, tais como: disponibilidade,
Os planos de manutenções são ferramentas confiabilidade, qualidade e tempo médio de
fundamentais para a realização do gerencia- reparos dos equipamentos e componentes
mento e prevenção de falhas, permitindo até das estações de bombeamento;
prover dados para ações de eficiência energética
e Avaliação e análise de falhas de projetos e
nas estações de bombeamento.
aplicação de melhorias nas especificações
Para a elaboração de um plano de manu- de insumos e componentes;
tenção devem ser aplicados pelo menos os se-
e Implantação de práticas para maior eficiên-
guintes requisitos:
cia das equipes de manutenção;
e Determinação e avaliação de indicadores de
e Cadastro de ativos;
eficiência energética, tais como: fator de car-
e Levantamento de histórico de paradas;
regamento, custo médio e eficiência;
e Realização de reuniões periódicas com as
e Prospecção e planejamento de recursos fi-
equipes de operação;
nanceiros para realização das atividades de
e Verificação e análise das necessidades espe- manutenções e melhorias;
cíficas e operacionais;
e Convênios de cooperação técnica com ter-
e Elaboração do plano de ações;
ceirizados através de contratos de desempe-
e Descrição das necessidades para a execução nho para ações de eficientização;
das ações;
e Busca de alternativas para otimização de
e Determinação e mensuração da previsão or-
procedimentos operacionais, tais como se-
çamentaria;
torização de zonas de abastecimento, con-
e Elaboração de planejamento e cronograma trole de pressão e nível e outras ações que
de execução; possam refletir direta ou indiretamente na
e Programação das atividades previstas no eficiência energética.
plano de manutenção;
e Execução do plano de manutenção. Estas atividades podem ser controladas e ge-
renciadas em formato físico, com o uso de papeis
e formulários padrões, ou de forma eletrônica.
3.7.5 Operacionalização
Com o advento e popularização dos recur-
A área de manutenção deve focar no desen- sos de informática se tornaram mais fáceis e rá-
volvimento e implantação de técnicas e melho-
pidos a criação, acompanhamento e controle do
rias nas ações e na aplicação de projetos de mo-
plano de manutenção dos ativos que compõem
dernização com o intuito de manter a operação
a estação de tratamento.
dos equipamentos e instalações com desempe-
Existem no mercado softwares preparados
nho o mais próximo possível do desempenho de
para aplicação dedicada ao controle, gerencia-
equipamentos novos.
mento e operação da área de manutenção, aju-
Desta forma as principais atividades desen-
dando até no controle e planejamento de esto-
volvidas pela área de manutenção, são:
que, disponibilidade de peças, insumos e mão de
e Capacitação dos profissionais em técnicas obra necessária para execução das atividades de
investigativas, por métodos visuais e ins- forma eficiente e econômica.
55
Eficiência Energética

No item 4.2.3 são apresentados diversos soft- de uma cultura de gestão em todas as áreas,
wares para utilização com essa finalidade e outros, possibilitando que dirigentes e líderes da alta
na gestão energética ou na gestão operacional. gestão das concessionárias de saneamento dei-
Foi possível identificar, ao longo da execu- xem de visualizar a área de manutenção como
ção do projeto COM+ÁGUA.2, que as realidades um setor que só gera despesas, passando a tra-
encontradas nas Áreas Prioritárias podem ser tá-la como um investimento de alto retorno.
bastante discrepantes, evidenciando estágios Manutenções feitas de forma adequada,
distintos no processo de evolução rumo a um pelas quais se poderão prever ou antecipar al-
sistema de gestão efetivo e consolidado. Isto é gumas possíveis falhas, tomando as medidas
um reflexo da situação do setor no Brasil, em que adequadas tempestivamente, certamente deve-
as prestadoras apresentam realidades díspares. rão aumentar a disponibilidade operacional e
Para reverter tal quadro, iniciativas como o o ganho de receita, sem contar os ganhos não
COM+ÁGUA.2 contribuem para a disseminação mensuráveis com a imagem do prestador.

56
Eficiência Energética

4. INDICADORES DE EFICIÊNCIA
ENERGÉTICA EM SISTEMAS DE
ABASTECIMENTO

O
s Indicadores de Desempenho Energé- pamentos em manutenção por outros de ca-
tico - IDE são fundamentais para uma racterísticas diversas, recaindo, eventualmen-
gestão eficiente dos sistemas de bom- te, em um ou ambos os casos acima citados;
beamento. Mesmo que não ocorram expansões e Redução no diâmetro útil das tubulações
do sistema ou substituição de componentes, as por incrustações com aumento da perda de
condições operativas tenderão a sofrer altera- carga, exigindo maior potência dos conjun-
ções com a passagem do tempo. Isto se deve a tos motobomba;
diversos fatores, tais como, entre outros: e Ocorrência de vazamentos não detectados,
exigindo acréscimo na produção para forne-
e Perda de rendimento de motores por opera- cimento dos mesmos volumes ao consumo,
ção indevida (sobrecarga, excesso de parti- com aumento da energia elétrica consumida.
das acarretando superaquecimento etc.);
O acompanhamento dos indicadores é o
e Queda de rendimento das bombas por ope- recurso que permite identificar a ocorrência de
ração fora do ponto nominal devido a varia- padrões anormais na operação e fornecer dados
ção da altura manométrica; para planejamento das medidas corretivas ou de
e Substituição provisória de conjuntos ou equi- expansão do sistema.

4.1 Indicadores de Desempenho Operacional


Os indicadores de eficiência energética são CE= Consumo de energia/Volume bombeado
obtidos a partir de valores medidos das grandezas (kWh/m3)
elétricas (potência, tensão, corrente e fator de po-
tência) e hidráulicas (vazão e altura manométrica). Como exemplo, se desejar medir o Consumo
Para obtenção dos valores das grandezas Específico de Energia Elétrica – CE (em kWh/m3)
elétricas e hidráulicas são necessários medido- de uma elevatória composta de dois conjuntos
res especificados apropriadamente, com valores motobomba em paralelo, tem-se que efetuar o
nominais e precisão compatíveis com as grande- registro da energia total consumida pelos dois
zas a medir e localizados de forma a permitir a grupos em um dado período de tempo (integral
caracterização inequívoca da grandeza desejada. da potência) e dividir pelo volume total bom-
beado pelos mesmos conjuntos no mesmo inter-
4.1.1 Consumo Específico de Energia valo (integral da vazão). Para obter esse mesmo
Elétrica - CE indicador relativo a cada grupo, deve-se locali-
O CE é o indicador de eficiência energética zar os medidores de forma diversa, de forma a
de uso mais difundido e o de maior utilidade, registrar individualmente a energia elétrica con-
assim expresso: sumida e o volume bombeado por cada grupo.
57
Eficiência Energética

O CE pode ser obtido de forma global para Energia – massa de 1 m3 de água x acelera-
todo um sistema; ou para um subsistema; para ção da gravidade x 100 m
várias ou uma só elevatória; para associação de Energia = 1000 kg x 9,8 m/s2 x 100 m = 9,8
conjuntos motobomba em série ou em parale- x 105 J
lo; ou para um único conjunto. Entretanto, por si Potência hidráulica = 9,8 x 105 J / 1 hora =
só não é indicativo do desempenho do conjun- 9,8 x 105 / 3600 J/s = 0,2725 x 103 W = 0,272 kW
to, uma vez que reflete a eficiência do conjunto
mais a eficiência do sistema hidráulico a jusante e A energia hidráulica requerida, em kWh é:
da bomba. Ele permite comparar o desempenho
de uma mesma instalação ao longo do tempo,
Whidr = 0,272 x 1 hora = 0,272 kWh
mas não serve para comparar o desempenho de
estações de bombeamento diferentes, visto que
e Se o rendimento do conjunto é de 54%, a
estas recalcam água a alturas manométricas di-
energia elétrica fornecida pela rede será:
ferentes, consumindo, portanto, diferentes quan-
tidades de energia elétrica, ainda que os rendi-
mentos dos equipamentos possam ser iguais. Wrede = Whidr / 0,54 = 0,272 / 0,54 = 0,5 kWh

4.1.2 Consumo Específico de Energia e Esta foi a energia elétrica consumida para
Elétrica Normalizado - CEN recalcar 1 m3 de água a 100 m, portanto:
No intuito de contornar esta dificuldade e
estabelecer um parâmetro para comparação do CEN = 0,5 kWh/m3
desempenho de conjuntos diferentes, a Inter-
Este indicador não avalia os processos hi-
national Water Association (IWA, 2000) propôs o
dráulicos a jusante dos conjuntos, apenas a
artifício de reduzir as alturas manométricas de
eficiência dos conjuntos. Do ponto de vista do
diferentes instalações à altura única de 100m,
conjunto, não interessa se os 100 m a serem
criando assim o Consumo Específico de Energia
vencidos são referentes a desnível geométrico
Elétrica Normalizado – CEN, que serve como
ou perda de carga das linhas de recalque.
uma medida indireta do rendimento médio dos
Conhecido o CEN, pode-se determinar o ren-
conjuntos motobomba:
dimento do conjunto pela proporção:

CEN = (Consumo de energia/Volume bom-


h1 / h2 = CEN 2 / CEN 1
beado) x (100 / Hman)

Usando-se os valores conhecidos de 0,5 e


Demonstra-se que o CEN de 0,5 kWh/m3 re-
0,54 para CEN 2 e h 2, temos:
presenta um rendimento médio de 54% do con-
junto, como segue: 39
h1 = 0,54 x 0,5 / CEN 1

e Cálculo da potência hidráulica necessária


Para o cálculo deste indicador referente a um
para bombear 1 m3 de água a 100 m de al-
sistema, o procedimento detalhado pela IWA (IWA,
tura em 1 hora:
2000), disponível em versão portuguesa 40 é:

Energia = força x deslocamento = peso de 1 CEN = D1 / D2, onde:


m3 de água x 100 m
39
A descrição detalhada desses cálculos pode ser obtida no capítulo 6 do livro Sistemas de Bombeamento – Eficiên-
cia Energética – 2012, Ed. Universitária – UFPB (Organizador: Heber Pimentel Gomes)
40
Referência: ALEGRE, H.; HIRNER, W.; BAPTISTA, J.M.; PARENA, R. Indicadores de desempenho para serviços de
abastecimento de água. Tradução e adaptação de Patrícia Duarte, Helena Alegre e Jaime Melo Baptista. Lisboa: IWA/
Lab. Nacional de Engenharia Civil/ Instituto Regulador de Águas e Resíduos, 2004

58
Eficiência Energética

D1 = soma do consumo real de energia de Ao utilizar valores instantâneos (potência),


todo o equipamento de bombeamento de água tem-se o rendimento em um momento da ope-
do sistema, avaliado a partir dos medidores de ração. Dispondo-se de instrumentos registrado-
consumo de energia, e preferencialmente em res, utilizar as energias, e obter o rendimento
período de um ano (*). médio no intervalo medido.

D2 = fator de uniformização = soma de D2 (i) 4.1.3 Fator de Carga - FC


para todas as bombas do sistema, sendo:
Outro indicador importante na mensuração
D2(i) = V(i) x h(i) / 100, onde: do grau de utilização da energia disponível é o
Fator de Carga – FC41, definido por:
V(i) é o volume em m3 bombeado pela bom-
ba i ao longo do período de avaliação e
FC = Consumo do período (kWh) / [Demanda
h(i) é a altura manométrica em metros da contratada (kW) x no de horas período (h)]
bomba i.
Um baixo FC é penalizado pelo sistema
tarifário, pois indica que a demanda contrata-
Quando houver variação significativa da
da está elevada em relação à demanda média
altura manométrica ao longo do ano, convém
medida, ou seja, a operadora paga uma deman-
subdividir o ano em um número limitado de in-
da que não utiliza. Elevar o FC tão próximo da
tervalos, fazendo uma média ponderada.
unidade quanto possível pode proporcionar
(*) Para períodos inferiores a um ano, todas economia substancial na conta de energia. Para
as comparações internas e externas devem ser tanto, o ideal seria conseguir evitar os picos de
feitas com prudência. demanda, por exemplo, substituindo um conjun-
É preciso notar que o rendimento determi- to de grande potência que não opera de forma
nado por este processo, ou pela relação entre contínua por outros de menor potência, que se-
a energia (ou potência) hidráulica na saída e a riam acionados em degraus, quando necessário.
energia (ou potência) elétrica na entrada, é o A utilização de inversores de frequência pode
rendimento do conjunto motobomba, ou seja: também ser avaliada, particularmente quando
hconj = hmotor x hbomba as variações dos volumes solicitados sejam fre-
quentes e de amplitudes muito diversas.

4.2 Indicadores de Desempenho Financeiro


Os indicadores financeiros ligados ao de- sendo, por isso, indicadores tão somente de
sempenho dos sistemas de bombeamento são eficiência do uso da energia. Podem ocorrer
o Custo Médio da Energia Elétrica (R$/MWh) e o melhorias nestes índices sem que tenham sido
Custo Médio da Energia Elétrica por Metro Cúbi- implementadas medidas de eficiência, apenas
co Bombeado (R$/1000 m3). por revisão dos contratos de fornecimento de
Embora medidas de eficiência energética energia elétrica.
venham a se refletir nesses indicadores, eles Devem, porém, ser monitorados, pois sua
refletem também o efeito das modalidades de melhoria se traduz em ganhos financeiros
contratação do fornecimento da energia, não para o operador.

4.3 Determinação de Indicadores em Campo


e Analise de Pré-Viabilidade no Com+Água.2
41
Livro Sistemas de Bombeamento – Eficiência Energética – 2012, Ed. Universitária – UFPB (Organizador: Heber
Pimentel Gomes), capítulo 6.

59
Eficiência Energética

Na atual versão apresentam-se estudos de terminação de indicadores e parâmetros de con-


caso, em publicações específicas, que represen- juntos motobomba, uma das quais é aqui repro-
tam uma consolidação da metodologia e da ca- duzida, para ilustração do que foi acima exposto.
pacitação do pessoal das operadoras. Dentre as A seguir, a título de exemplo, são apresen-
atividades efetuadas durante estes estudos de tados dados resumidos do diagnóstico de uma
caso, ressaltamos as medições de campo para de- unidade selecionada.

Figura 35. Características da Bomba de Inversão

Bomba Inversão

Marca KSB

Modelo RDL 250-400

Número de série 667617

H (m) 72

Q (m³/h) 900

Rotação (rpm) 1750

Pot (cv) 250

Diâm. Do rotos (mm) 400

Tipo Bipartida axialmente

Fonte: COM+ÁGUA.2

Tabela 3. Dados Resumidos do Diagnóstico Hidroenergético

Bombas Q (m³/h) H (m) Pel (kW) CE (kWh/m³) CEN (kWh/m³/100) Rendimento

Sistema Inversão 660 69,3 211,8 0,321 0,463 59%

Fonte: COM+ÁGUA.2

Foto 3. Conjunto motobomba da inversão

Fonte: Acervo COM+ÁGUA.2

60
Eficiência Energética

No caso da unidade operacional menciona- cifico médio em R$/kWh, para fins de análise de
da foi ainda definido o indicador de custo espe- pré-viabilidade.

Custo específico (R$/kWh)


0,40
0,39
0,39
0,38
0,37
0,36
0,35
0,34 0,34

0,33
0,32
0,31
ETA PETROPOLIS COHAB

Foi então utilizado o software RETscreen • motores x 250 CV + 1 motor de 60 CV


para realizar a análise de pré-viabilidade finan- com Inversores de Frequência + software
ceira, nas oportunidades inicialmente identifica- de Análise do Desempenho Energético
das, conforme descrito a seguir. • Gerenciamento de energia
• Software de gestão de manutenção
1. Ações de eficiência energética • Software de análise de viabilidade de
projetos de EE & ER– licença anual para
e Troca de motores de rendimento padrão por 10 acessantes.
Alto Rendimento e outras ações: • Investimento estimado: R$ 449.000,00.

Figura 36. Análise de Pré-Viabilidade Financeira – Ações de Eficiência Energética

Fonte: RETScreen

Foi constatado que o payback do projeto é 2. Geração de energia hidrelétrica


ligeiramente superior a 1 ano, a TIR foi superior
a 80% em além de apresentar um gráfico do Houve interesse na avaliação da implantação
fluxo de caixa. de um protótipo de microgeração hidroelétrica,

61
Eficiência Energética

aplicando se uma turbina de 10 kW, a um custo es- O resultado da avaliação indicou um payback
timado de R$ 90.000,00, na chegada da água bruta do projeto de menos de 5 anos, TIR superior a 20%,
para a estação de tratamento de água. além de apresentar um gráfico do fluxo de caixa.

Figura 37. Análise de Pré-Viabilidade Financeira – Geração Hidroelétrica

Fonte: RETScreen

3. Geração de energia fotovoltaica fícios e dos reservatórios apoiados, da unidade


operacional, com potência de 150 kWp, a um
Houve também interessa da avaliação de custo de R$ 1.000.000,00, que seria interligado
implantação de uma mini usina fotovoltaica, ao quadro geral de distribuição de energia.
com painéis instalados nas coberturas dos edi-

Figura 38. Análise de Pré-Viabilidade Financeira – Geração Fotovoltaica

Fonte: RETScreen

O resultado da avaliação indicou um pay- superior a 7%, além de apresentar um gráfico do


back do projeto um pouco superior a 7 anos, TIR fluxo de caixa.
62
Eficiência Energética

5. DESAFIOS PARA A MELHORIA


DE DESEMPENHO NOS
PRESTADORES

C
omo detectado nos estudos de caso, e Melhoramento de metodologias de gerencia-
alguns dos principais desafios enfren- mento e implantação de ações de monitora-
tados para a implementação exitosa da mento do consumo energético online;
metodologia adotada no COM+ÁGUA.2 em um e Desenvolvimento de metodologias de análise
ou ambos os prestadores foram, dentre outros: das faturas de energia, que possibilite a reali-
zação de ações administrativas e técnicas nas
e Indisponibilidade dos valores de indica- unidades da COMPESA;
dores de eficiência energética, por falta de e Gerenciamento efetivo dos contratos de forne-
equipamento de medição ou mecanismos de cimento de energia elétrica, sendo que o valor
gestão adequados; pago é da ordem de R$ 180 milhão/ano, es-
e Falta de mecanismos de gestão de ativos da tando este entre os três maiores valores pagos
infraestrutura, principalmente no tocante à pela COMPESA;
renovação de redes e ramais; e Realização de treinamentos e capacitações
e Falta de uma cultura de manutenção predi- em processo, teóricos e práticos, para melhor
tiva e preventiva; disseminação do conceito e da importância
e Falta de recursos humanos e materiais. do desenvolvimento de ações de eficiência
Citamos, a seguir, uma constatação retirada energética;
do relatório de um dos estudos de caso: e Implantação do programa de cadastro de ati-
vos e elaboração de planos de manutenções
Adicionalmente ao diagnóstico hidroenergéti- preventiva e preditiva nas AP. A implementação
co foram avaliadas as iniciativas de desenvol- dos planos irá facilitar o gerenciamento das
vimento de programas e projetos de eficiência atividades desenvolvidas em cada ativo (bom-
energética e a estruturação da Coordenação bas, motores, válvulas, transformadores e etc.),
de Eficiência Energética – CEN (*): além de gerar histórico dos equipamentos, per-
e Criação de novos Indicadores de Desempenho mitindo um melhor acompanhamento da vida
Energético - IDE, como o kWh/m³ bombeado. útil de cada um.
Atualmente a CEN (*) e as AP consideram como
indicadores de eficiência energética o índice de No modelo atual de gerenciamento e aná-
ultrapassagem de demanda e cobrança de mul- lise das faturas de energia elétrica aplicado
tas por parte da Companhia Energética de Per- na COMPESA, as APs não recebem as faturas
nambuco - CELPE por baixo fator de potência; de energia, ficando restrito apenas à CEN (*).
e A importância da criação de IDE tendo como Desta forma os gestores operacionais das
base a norma ISO 50.001, que estabelece uma áreas ficam impossibilitados de realizar uma
estrutura para que as empresas possam geren- análise mais criteriosa. As AP recebem uma
ciar e melhorar o consumo de energia elétrica; planilha em meio digital, chegando quase
63
Eficiência Energética

trinta dias após o faturamento, com as infor- Específico Normalizado – CEN. (Nota desta
mações resumidas, cabendo ao gestor local publicação)
apenas analisar:
Essas constatações corroboram a necessi-
dade da continuidade de programas como o
e Verificação do consumo de energia se está
COM+ÁGUA.2, visando a fixar nos prestadores
na média do histórico;
de serviço a cultura da gestão, tanto no que se
e Comparação da demanda lida, em relação à
refere ao uso racional da água como à eficiên-
contratada, verificando se houve redução ou
cia energética.
ultrapassagem;
Os programas de sensibilização das equi-
e Verificação e correção do fator de potência
pes dos prestadores são ferramentas essen-
lido nas instalações, sendo que este deve ser
ciais para a conscientização da importância
maior que 0,92 obrigatoriamente.
dos mecanismos de gestão em todas as áreas
dos prestadores.
(*) Não confundir Coordenação de Eficiência
Energética - CEN com o indicador Consumo

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Apoio

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