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O perigo vem do alto

As belas fachadas pintadas, que se tornaram moda há poucos anos, ficaram para trás.
Hoje, caminhar pelas calçadas da cidade pode ser um perigo: obras irregulares,
marquises infiltradas, má conservação dos revestimentos etc., oferecem todo tipo de
risco para carros e transeuntes. Só este ano, três acidentes

ocuparam as páginas dos jornais. O cenário é fruto da desinformação dos


administradores prediais. Aos condomínios cabe não só a responsabilidade social de
garantir condições de tráfego seguro de carros e pedestres nas cercanias, como a
responsabilidade civil pelas perdas materiais e pessoais que possam advir desses
acidentes. Não vale a pena pagar para ver: a conta costuma ser alta.

Manhã de 17 de abril na Av. Rio Branco, coração financeiro do Rio: pedestres


ensangüentados, caídos na calçada, gritavam pedindo ajuda; clientes da agência
bancária atiravam-se no chão; pessoas em pânico corriam em diversas direções,
desesperadas; estilhaços de granito e vidros espalhados por todo lado; seis carros
atingidos e nove pessoas feridas. Todos imaginaram a explosão de uma forte bomba.
Não era. Foram placas de granito que se soltaram do beiral da cobertura de um
condomínio. A fachada mal conservada estava em obras – sem segurança alguma, nem
licença da Prefeitura. As placas caíram do 37º andar sobre uma multidão de carros e
pedestres.

Manhã de 18 de abril, Copacabana: o aposentado Leonardo Ribeiro Sanchez, 74 anos,


caminha tranqüilamente em direção ao banco, na calçada da Rua Santa Clara, por volta
de 11h. Subitamente, algo como um forte soco o atinge na cabeça, que passa a sangrar
muito. Do alto de um prédio de 11 andares, um pedaço de madeira (caibro) despencou
da cobertura em obras e atingiu o aposentado na parte de trás da cabeça. Sanchez levou
quatro pontos no Hospital Rocha Maia.

Tarde de 19 de abril, Rua Pedro Lessa, Centro do Rio: o digitador Márcio Alves
Martins, 26 anos, conversa com um amigo em frente ao prédio da Previdência Social,
por volta das 15 horas, período em que centenas de pessoas trafegam no local. Do
sétimo andar do edifício cai um arquivo metálico com cerca de 10 quilos, raspa a cabeça
do digitador e o atinge em cheio no braço. Quem assistiu à cena garante: Márcio nasceu
outra vez. Atendido no Hospital Souza Aguiar, levou pontos no braço e foi para casa
com um galo na cabeça.

Os três acidentes – ocorridos em três dias consecutivos – não são mais novidade (ver
box). A não ser pelo destaque que ganharam na mídia, em virtude de terem acontecido
em locais centrais, de grande movimento, e com intervalo de 24 horas. Fora isso, já
fazem parte da cena urbana carioca.

Apesar do componente trágico dos acidentes que envolvem desabamento de fachadas, a


multa máxima prevista na legislação municipal para esses casos é de apenas R$ 150,00.
Alfredo Sirkis, secretário municipal de Urbanismo, está elaborando um projeto de lei
cujas penalidades serão drásticas como as multas de legislações ambientais.

Sirkis reconhece que, mesmo que a Prefeitura pudesse aplicar multas draconianas, teria
de contar com a população para evitar acidentes: a Secretaria de Urbanismo tem apenas
seis fiscais para cobrir a área do Centro (70 mil imóveis), além de outros tantos em São
Cristóvão, Santa Teresa, Rio Comprido e Paquetá.

No entanto, se a multa é pequena, os prejuízos decorrentes de ações de responsabilidade


civil para o condomínio podem ser grandes.

Responsabilidade civil

Aurélio Rodrigues, consultor de seguros, lembra que, “se objetos ou pedaços da fachada
atingem pessoas e carros, a responsabilidade civil é do condomínio”. Não só do ponto
de vista material, como também do ponto de vista moral.

Indenizações são um ponto comum a todos os acidentes que envolvem objetos ou


pedaços de fachadas que caem dos prédios. Só entre as vítimas do recente acidente que
feriu nove pessoas na Av. Rio Branco, seis delas afirmaram que vão processar o
condomínio. Sem falar nos proprietários dos carros atingidos, alguns bastante
danificados.

Mas o problema não pára aí: além do prejuízo para o condomínio, sobra para o síndico.
Quem for negligente ficará vulnerável: “As atribuições conferidas ao síndico pelo artigo
22, parágrafo 18, alínea a, da Lei 4.591, determinam sua competência para representar
ativa e passivamente o condomínio em juízo ou fora dele, e praticar os atos de defesa
dos interesses comuns. Se ele deixar de cumprir isso, estará omisso e sujeito a sanções
penais que são previstas no artigo 159 do Código Civil”, assegura Rodrigues.

Além de cuidados periódicos com a manutenção da fachada do edifício, o consultor


recomenda aos síndicos a contratação de seguro de responsabilidade civil, “feito no bojo
do seguro obrigatório e que dá cobertura a esses eventos”, explica.

O seguro obrigatório está previsto no artigo 13 da Lei do Condomínio, “contra incêndio


ou outro sinistro que cause destruição no todo ou em parte” (da edificação). “O seguro
de responsabilidade civil é agregado ao primeiro, e se faz necessário tanto pelo Código
Civil quanto pelo Penal”, conclui Rodrigues.

Acidentes fatais por queda de objetos ou pedaços de fachadas caídos de edifícios,


nos últimos anos:

• em 2001, uma marreta de três quilos caiu de um prédio na Av. Rio Branco e matou o projetista Jorge
Claudino Vieira, 50 anos, que passava na calçada;
• em 94, na mesma avenida, um pedaço de reboco do 16º andar do prédio da Junta Comercial caiu e
matou a costureira Maria Rey Martinez Vasques, 70 anos;
• em 93, a estudante Rosimar de Sousa, 17 anos, morreu na esquina das Ruas Pompeu e Camarino,
atingida também por um pedaço de reboco;
• em 92, mais uma vez a queda de uma placa do reboco do Edifício Iacumã, no Leme, provocou a morte
do aposentado Joaquim Rodrigues Silva, 77 anos.

Fonte: site http://www.gerenciamentoverde.com.br

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