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Departamento de História
CAMPUS I.
2016
Introdução
É no recorte da cidade, utilizando o jogo de escalas de que nos fala REVEL (1998),
que distinguimos o local em que nos debruçamos em nosso metiê historiador e este, na
operação historiográfica, se distinguem pelo lugar do próprio historiador, vinculado quase que
instintivamente às fontes e ao espaço que se quer analisar (MEDEIROS, 2013).
São estes detalhes que dão sentido à história local que, uma vez contextualizada em
uma historicidade macro, ultrapassa os limites do isolacionismo que muitas vezes a
transformaram em conhecimento exótico e pitoresco (BARBOSA E MELO, 2015). A
História Local acadêmica busca, a todo custo, distanciar-se desse modelo, pois o risco de
buscar o local apenas pensando em fazer dele um campo de testes da história nacional deve
ser evitado.
Compartilhamos a compreensão de que a história da comunidade se legitima através
da personalização dos laços sociais tecidos no seu solo: Desde este punto de vista, uno de los
argumentos más utilizados para legitimar la historia local es su capacidad de aleccionar contra
la generalización desde la particularidade” (CORTE E FERNANDES 2007, pg. 223).
Ao pensarmos a produção histórica em seu contexto e sua relação com as demandas da
sociedade que a produziu, encontramos em CERTEAU (1982, pg. 66) as indicações a
respeito:
“Encarar a história como uma operação será tentar, de maneira necessariamente
limitada, compreendê-la como a relação entre um lugar (um recrutamento, um meio,
uma profissão etc.), procedimentos de análise (uma disciplina) e a construção de um
texto (uma literatura). É admitir que ela faz parte da ‘realidade’ da qual trata, e que
essa realidade pode ser apropriada ‘enquanto atividade humana’, ‘enquanto prática’.
Nesta perspectiva, gostaria de mostrar que a operação histórica se refere à
combinação de um lugar social, de práticas ‘científicas’ e de escrita. Essa análise das
premissas, das quais o discurso não fala, permitirá dar contornos precisos às leis
silenciosas que organizam o espaço produzido como texto. A escrita histórica se
constrói em função de uma instituição cuja organização parece inverter: com efeito,
obedece a regras próprias que exigem ser examinadas por elas mesmas.
A História da feira Central de Campina Grande, assim chamada por estar localizada no
centro da Cidade delineiam caminhos muito importante para a construção da História da
cidade campinense (Campina Grandense).
Inicialmente construída e localizada onde hoje é a Vila Nova da Rainha, a Feira
Central foi inicialmente um aldeamento de índios, comandado pelo português Teodósio de
Oliveira Ledo. Teodósio de Oliveira Ledo1 trouxera, das (terra do rio) Piranhas, uma nação
1
Uma família que teve bastante influência no processo de conquista de boa parte do sertão Paraibano foi a
família Oliveira Ledo. Provenientes da Capitania da Bahia, a família dos Oliveira Ledo teria iniciado a conquista
de terras na Capitania do Rio Grande, nas localidades dos rios Mipibu e Potengi, onde receberam duas
concessões, as chamadas sesmarias. Na América portuguesa, as sesmarias eram doações de terras realizadas pela
Coroa mediante as trocas de favores e serviços prestadas a mesma. A implantação do instituto das sesmarias
tinha por objetivo promover o povoamento. E foi com o intuito de povoar que a Coroa Portuguesa concedeu
várias sesmarias a famílias como os Oliveira Ledo, que se instituíram como elites locais.
Por volta do ano de 1650 a Capitania Paraibana só era conhecida em suas várzeas litorâneas. Apenas em meados
do século XVII, com a expulsão dos holandeses, é que começaram as empreitadas pelo sertão. No centro da
análise do processo de conquista e ocupação portuguesa do sertão, é de fundamental importância perceber o
de tapuias, chamados Ariús, que estão aldeados vizinho aos Cariris, num lugar chamado a
Campina Grande (ALMEIDA, 1979, P. 36). Nesse contexto, percebamos que a construção da
Cidade de Campina Grande converge com a História do surgimento da Feira, essa nasce com
a cidade e suas histórias são entrelaçadas.
Localizada em pontos estratégicos de rota, no espaço da Feira encontravam-se grandes
números de tropeiros, personagens bem conhecidos na História de Campina Grande. Em suas
rotas de idas e vindas, os tropeiros costumavam parar no centro da cidade para descanso dos
animais, e para abastecer suas cargas, já que as viagens eram longas, assim como os
boiadeiros que tinham também o centro da cidade como uma "parada certa", onde
aproveitavam para fazer trocas de mercadorias, daí surgido o comércio a base de trocas.
Podemos observar aqui que, para além de um espaço de sociabilidade na época, a Feira
começou a crescer como ponto comercial.
Nas disputas políticas assim como no dito popular: a feira trocava mais de local do que
alguém troca de roupa, isso porque a cada prefeito que se elegia, o lugar da feira era trocado
de acordo com os interesses políticos. Começando a fixar-se desde o ano de 1939, apenas no
ano de 1941 no governo de Vergniaud Wanderley a feira passou a ter um local definitivo e
que tem como principal dia de vendas, o sábado. Lembrando que, o comércio na feira central
é realizado todos os dias, sendo que o sábado é o seu dia principal.
Na década de 70, considerada a maior feira ao ar livre do Brasil, a Feira Central
detinha uma forte imposição na economia Campinense, contudo, ao longo das décadas
passam a surgir no cenário local os concorrentes da feira, os mercadinhos. Esses mercados
que se instalaram em suas imediações, trouxeram à época consequências que para muitos é
percebida até os dias atuais. É o que nos Relata José, conhecido na feira como “Seu Biu”:
“Antigamente a feira era muito boa, era tanta da gente que não se tinha espaço para
as pessoas. As vendas da feira eram as melhores que tinham, e realmente se obtinha
lucro, e faturava bem, mas, depois que se abriram os mercadinhos dentro da própria
feira e com essas redes de supermercados que se tem tudo que tem na feira, e com
um preço por muitas vezes mais em conta, as pessoas então preferem ir pra lá2.”
papel desempenhado pelo grupo familiar dos Oliveiras Ledo, chegando à Capitania da Paraíba, provavelmente por volta
do ano de 1665 esse foi o principal núcleo familiar responsável pela interiorização das entradas além da Serra da Copaoba,
Borborema e instituição de uma nova frente colonizadora. Construindo em diversos níveis teias que envolveram as relações
decorrentes de estratégias e de alianças, como vínculos de parentesco que os envolviam, os Oliveira ledo não devem ser
compreendidos apenas a partir de grupos isolados, mas devem ser considerados as suas relações dinâmicas dentro da
sociedade, mediante o jogo de interesses que estavam se constituindo, especialmente no âmbito local, possibilitando a
Capitania da Paraíba ao longo desse processo de conquistas, empreendimentos que tiveram como principais consequências o
desdobramento de uma série de garantias e privilégios concedidos pela administração colonial em formas de mercês reais.
(FORMIGA, 2014).
2
Depoimento concedido por José Silva, Campina Grande, 25 de Agosto de 2016.
Figura 1 Seu José em seu estabelecimento na Feira Central
José trabalha na feira desde 1960, para ele a feira representa não só um espaço
econômico, mas também social, afetivo e de construção de relações. Através da feira José
conheceu pessoas, construiu sua família, e lá ele rememora tudo o que um dia já viveu, já que
trabalhara neste local desde muito jovem.
“A feira representa tudo pra mim, tudo, tudo, foi aqui que eu construí a minha
história, e minha maior realização é estar vivendo esse momento aqui com vocês, o
fato de estarem me entrevistando, me emociona (seu Biu faz uma pausa, e lágrimas
escorrem em sua face.), pois, o reconhecimento é muito gratificante, e eu agradeço
por vocês me fazerem essa visita.3”
4
A década de 1930 foi uma década promissora para Campina Grande, essa conhecida como a Liverpool
Brasileira por ser a segunda maior exportadora de algodão do mundo, estava atrás somente da Inglaterra, vivia
seus anos dourados, quando o algodão era sinônimo de ouro.
de todos os deleites que aquele lugar possuía, até as roupas eram exigidas, só poderia entrar
no local o rapaz que estivesse de sapatos bem arrumados, paletó e gravata.
“O eldorado era muito bonito, grande, famoso, só frequentava este lugar quem fosse
rico, no eldorado existia jogos de mesa, e recebia visitas de muitos famosos, as
noites nesta rua eram muito movimentadas, muitos cantores como Jackson do
Pandeiro.”
5
Depoimento concedido por Antônio Clarindo Barbosa Souza. Campina Grande, 25 de Agosto de 2016.
Figura 2Frente do cassino Eldorado
Fonte: juntandomochilas
3. A Feira Representa
Para Maria a motivação de estar ali naquele espaço, além das questões que trazem à
memória os seus laços de vida, e a questão econômica, são as Histórias que essa vivencia e
experimenta nesse espaço:
“Além de gostar daqui como já havia dito, aqui eu vivencio e presencio várias
histórias, algumas histórias alegres, como por exemplo, quando alguém vem
comprar uma rosa pra dar presente a sua mãe, a sua namorada, a uma pessoal
especial, outras por sua vez são histórias tristes, principalmente quando mães vêm
aqui em prantos pra comprar rosas, mas não por ser uma data especial, e sim porque
naquele dia um de seus filhos já não estava mais para compartilhar os sorrisos,
então, no meu estabelecimento eu aprendi uma frase que vou levar para o resto da
vida, que diz assim: as lágrimas molham as rosas, e as rosas enxugam as lágrimas
(prantos).7”
Certamente pode haver nessas falas um certo tipo de romantismo, contudo, essas estão
Figura 4 Maria em sua floricultura no espaço da feira, e os historiadores da UEPB
Para tanto, de acordo com CHARTIER (2009, p. 49), o objeto fundamental de uma
história que se propõe a reconhecer a maneira como os atores sociais dão sentido as suas
práticas e a seus enunciados se situa, portanto, da tensão entre, de um lado, as capacidades
inventivas dos indivíduos ou das comunidades e, por outro lado, as restrições e as convenções
que limitam, de maneira mais ou menos clara conforme a posição que ocupam nas relações de
dominação, das quais lhes possibilitam pensar, dizer e fazer.
Considerações Finais
Referências
ALMEIDA, Maria Regina Celestino de. Os índios na história do Brasil. Rio de Janeiro: FGV,
2010.
CERTEAU, Michel de. A invenção do Cotidiano: 1. Artes de Fazer. 15. ed. Tradução de
Ephraim Ferreira Alves. – Petrópolis, RJ: Vozes, 2008.
MEDEIROS, Ana Paula Garcia de. Igreja e religiosidade na urbanização de cidades coloniais
nas Américas, nos séculos XVI a XVIII. Revista Urutágua (Online), v. 21, p. 57-71, 2010.
OLIVEIRA, Júlio César Melo de. Campina Grande a cidade se consolida no século XX.
Monografia apresentada ao Curso de Geografia da Universidade Federal da Paraíba. João
Pessoa – PB, 2007.